Reflexão sobre os Aforismos de Śiva A Consciência é o Si. Por não

Transcrição

Reflexão sobre os Aforismos de Śiva A Consciência é o Si. Por não
Disciplina: Śivaísmo da Caxemira
João Carlos B. Gonçalves (11/2014)
Curso livre de formação em Filosofia do Yoga
Instituto Paulista de Sânscrito
śivasūtra-vimarśinī
Reflexão sobre os Aforismos de Śiva
caitanyam ātmā ||1||
A Consciência é o Si.
iha acetitasya kasyāpi sattvābhāvāt, citi-kriyā sarva-sāmānya-rūpā iti,
Por não existir aqui realidade alguma que não seja dotada de "cit", a
atividade de "citi" é de natureza universal.
cetayate iti cetanaḥ sarva-jñāna-kriyā-svatantraḥ
"Cetana" faz "cit". E é autônoma (no âmbito) de toda cognição e atividade.
tasya bhāvaḥ caitanyaṃ
svātantryam ucyate |
sarva-jñāna-kriyā-saṃbandha-mayaṃ
paripūrṇaṃ
Seu estado é "caitanya", definido como a autonomia plena que se relaciona
com cognição e atividade.
tacca parama-śivasyaiva bhagavataḥ asti; anāśritāntānāṃ tatparatantra-vṛttitvāt |
E apenas o Deus Parama-śiva a possui, visto que há uma atividade
dependente dele por parte daqueles que estão no limite de independência.
sa
ca
yadyapi
nityatva-vyāpakatvāmūrtatvādy-ananta-dhārmatmā,
tathāpi
nityatvādīnām anyatrāpi saṃbhāvyatvāt, anyāsaṃbhavinaḥ svātantryasyaiva
uddhurīkāra-pradarśanam idam |
E, mesmo que ele (Śiva Supremo) tenha em sua natureza as qualidades da
eternidade, ubiquidade, imaterialidade, e tais qualidades, como eternidade,
etc., potencialmente existam em outro lugar, esse (enunciado) apresenta
que a autonomia não predomina em outra (condição).
itthaṃ dharmāntara-pratikṣepataś ca, caitanyam iti bhāva-pratyayena darśitam |
Daí que se refutem as outras qualidades e o termo "caitanya" seja
construído com um sufixo de abstração.
Disciplina: Śivaísmo da Caxemira
João Carlos B. Gonçalves (11/2014)
Curso livre de formação em Filosofia do Yoga
Instituto Paulista de Sânscrito
tad etat ātmā; na punaranyaḥ ko'pi bhedavādyupagato bhinna-bhinna-svabhāvaḥ |
Portanto ele é o "ātman", não outra coisa qualquer, de natureza múltipla,
alcançada pelos que professam a pluralidade (bheda-vādin).
(...)
atha ca 'ātmā ka' iti jijñāsūn upadeśyān prati bodhayitum
Então, o que é o "ātman"? Para esclarecer os aprendizes desejosos de
conhecimento:
na
śarīra-prāṇa-buddhi-śūnyāni
laukika-cārvāka-yogācāra-mādhyamikādyabhyupagatāni ātmā; api tu yathoktaṃ caitanyam eva |
O ātman não é o corpo, o alento, o poder intelectivo ou a vacuidade, como
alcançado pelos Laukika, Cārvāka, Yogācāra, Mādhyamika, entre outros.
Mas sim, como foi dito, é "caitanya".
tasyaiva
śarīrādi-kalpita-pramātṛ-pade'pi
satyapramātṛtvena sphuraṇāt |
akalpitāhaṃ-vimarśa-maya-
Pois a manifestação (sphuraṇa) dele existe como um observador (pramātṛ)
verdadeiro, que consiste da percepção reflexiva de um "eu" (aham) não
imaginado, mesmo na condição daquele observador (pramātṛ) que o
imagina (o ātman) como o corpo, etc.
tad uktaṃ śrī-mṛtyujid-bhaṭṭārake
'paramātma-svarūpaṃ tu sarvopādhi-vivarjitam |
caitanyam ātmano rūpaṃ sarva-śāstreṣu paṭhyate |'
Assim se diz no venerável (Tantra) Mṛtyu-jit:
"Em todos os tratados, se ensina que 'Caitanya é a natureza do ātman,
a essência do ātman supremo, livre de todas as limitações.' "
Disciplina: Śivaísmo da Caxemira
João Carlos B. Gonçalves (11/2014)
Curso livre de formação em Filosofia do Yoga
Instituto Paulista de Sânscrito
śrī-vijñānabhairave'pi
'cid-dharmā sarva-deheṣu viśeṣo nāsti kutracit |
ataś ca tan-mayaṃ sarvaṃ bhāvayan bhava-jit-janaḥ ||'
E também no (Tantra) Vijñāna-bhairava:
"As qualidades de 'cit' estão presentes em todos os corpos, e não há
diferença em parte alguma. Dessa forma, contemplando tudo como sendo
constituído por ela, a pessoa torna-se soberana em relação à manifestação
(bhava)."
śrīmad-ucchuṣma-bhairave |
'yāvan na vedakā ete tāvad vedyāḥ kathaṃ priye |
vedakaṃ vedyam ekaṃ tu tattvaṃ nāsty.aśucis tataḥ ||'
No excelso (Tantra) Ucchuṣma-bhairava:
"Querida, como pode haver observados se não houver observadores?
Observador e observado são uma única realidade. Portanto, não existe
nada impuro."
yataḥ caitanyaṃ viśvasya svabhāvaḥ tata eva tat-sādhanāya pramāṇādi varākam
anupayuktam; tasyāpi svaprakāśa-caitanyādhina-siddhikatvāt,
Devido a "caitanya" ser a essência do universo, para a sua realização
(sādhana), o conjunto dos meios válidos de conhecimento (pramāṇa) é
inadequado e falho, uma vez que a realização depende de caitanya, que é a
própria luz inata (do universo),
caitanyasya ca prokta-yuktyā kenāpi āvarītum aśakyatvāt sadā prakāmānatvāt |
(e também), conforme foi dito, porque não é possível encobrir "caitanya"
com nada, já que está sempre luzindo (em tudo).

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