Abuso de Poder Susana e os Velhos é um tema bíblico católico

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Abuso de Poder Susana e os Velhos é um tema bíblico católico
Abuso de Poder
Susana e os Velhos é um tema bíblico católico, contado no Livro do Profeta
Daniel. A narrativa reporta-se ao período em que os judeus viviam na
Babilônia, em regime de cativeiro. Um rico proprietário, de nome Joaquim, era
marido de uma encantadora e sensual mulher chamada Susana. Em sua
confortável residência o casal recebia ilustres judeus. Entre eles, estavam dois
anciões, nomeados juízes recentemente. Eles, e provavelmente todos os
demais convidados, cobiçam a linda Susana, cujo nome, em hebraico, significa
Lírio, símbolo de pureza. Ela, casta e inocente, ignorava o apetite libidinoso dos
convidados. Certo dia, sob forte calor, resolveu banhar-se em um rio dentro de
sua propriedade, tendo determinado que fossem fechados todos os portões,
para proteger seu corpo desnudo de olhares não autorizados. Não sabia a bela
jovem pudica e casada, que os dois velhos juízes permaneceram escondidos
em conduta de invasão de domicílio. Tranquila e despida, Susana buscou
refrescar-se. Os magistrados, pressionados pelo licencioso desejo vindo de
suas entranhas, ao verem-na só, exigiram da recatada mulher que lhes
facilitasse o corpo para saciarem suas pulsões luxuriosas, sob pena de ser
caluniada, pois lhe acusariam de adultério, crime, na época (hoje também),
punido com a morte. A força da pudicícia permitiu a Susana não se submeter
ao terror do medo e da desonra, tendo se negada a condescender à celerada
proposta dos magistrados.
O relato bíblico, como mito, permite variadas interpretações. Uma delas, e que
me seduz, é ver na atitude dos velhos juízes o atual abuso de poder. Muitos
eram os convidados e, quase certo, todos cobiçavam aquelas belas e sensuais
formas de um escultural corpo de mulher. Mas entre todos, só aqueles
possuidores de importante cargo, exatamente o de julgar seus semelhantes,
partiram para a ação, usando como argumento amedrontador o uso da própria
Lei, cujo conhecimento não lhes faltavam. O abuso e a condição de autoridade
andam constantemente juntos. Vão da atitude crua e nua da criminalidade em
nome da Lei e chegam até a atos de sutileza, como o excesso de prisão
preventiva hoje existente, muitas vezes determinadas sem argumentos sólidos
e sobre tênue legalidade. Em muitos casos a prisão é necessária, mas em
muitos outros apenas serve para ser usufruído o gozo do poder de poder
prender o semelhante. O mundo anímico do ser humano e seu submundo
inconsciente dificultam a relação entre sujeito e poder. A sexualidade, energia
mestra das ações humanas, encontra no poder uma de suas fortes expressões.
A beleza da história de Susana foi retratada em diversas obras de arte plástica,
esta admirável forma de expressão da genialidade humana. Seguem algumas
das melhores.
Tintoretto, 1518-1594. O pintor italiano maneirista Tintoretto, cujo nome era
Jacopo Bobusti ou Jacopo Comin, por duas vezes retratou o tema, cuja marca
é a expressão de inocência de Susana.
Lorenzo Lotto, 1480-1556. O também italiano, da escola de Veneza, Lorenzo
Lotto, pintor de temas religiosos, retrata Susana como uma santa e opondo
resistência a seu assédio.
Artemisia Gentileschi, 1593-1653. A napolitana Artemisia Gentileschi, uma das
poucas mulheres pintoras do barroco, sofreu na própria pele as consequências
do desejo sexual descontrolado. Não aceita na escola de Roma, foi ser
aprendiz do pintor Agostino Tassi, que acabou estuprando-a. O ar de terror da
mulher está explícito em sua obra de arte.
Guido Reni, 1575-1642. Outro italiano representante do Barroco foi Guido Reni.
Proeminente artista, nas expressões dos olhos de Susana encontramos a
surpresa de quem é vítima do abuso.
Guido Cagnacci, 1601-1663. Outro italiano representante do barroco foi Guido
Cagnacci, que apresenta uma Susana mais madura e com postura de desdém
em relação a seus algozes.
Jacopo Bassano, 1510-1592. Um dos mais influentes pintores da renascença
veneziana foi Jacopo Bassano, apresenta uma Susana mais conivente e os
juízes suplicantes.
Peter Paul Rubens, 1577-1640. Fora da Itália, o pintor flamengo Peter Paul
Rubens, um dos artistas mais importante de todos os tempos, grande
representante do barroco, confeccionou uma Susana mais feia e aterrorizada.
Van Dyck, 1599-1641. Discípulo de Rubens, o ingles Antoon Van Dyck pintou
os juízes ameaçadores diante de uma Susana assustada.
Rembrandt, 1634-1634. Outro berço de grandes pintores, a Holanda brindou a
humanidade com o mestre das artes plásticas Rembrandt Harmenszoon van
Rijn. Em sua primeira obra, Susana esta desconfiada e os magistrados
celerados estão quase imperceptíveis. Já na segunda, Susana mais jovial esta
sendo atacada, com um dos juízes tocando-a.
Salomon Koninck, 1609-1656. Seguidor fiel de Rembrandt, o artista plástico
flamengo Salomon Koninck retratou Susana sendo invadida fisicamente e
tentando se defender dentro do possível.
Alessandro Allori, 1535-1607. O italiano Alessandro Allori, também conhecido
como Alessandro Bronzino, discípulo de Miguel Ângelo e Bronzino, em uma
pintura clara, coloca Susana na iminência da consumação do ato sexual.
Pompeo Batoni, 1708-1787. Pintor mais moderno, do período Rococó, o artista
italiano Pompeo Batoni nos apresenta Susana semi desnuda e os magistrados
agindo física e veementemente para consumar seus intentos de luxuria.