A “Nova” História do Caribe: uma leitura de De Cristóbal Colón a

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A “Nova” História do Caribe: uma leitura de De Cristóbal Colón a
11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas
A “Nova” História do Caribe: uma leitura de De Cristóbal Colón a Fidel
Castro I e II: El Caribe, fronteira imperial de Juan Bosch
¹ Maciel Pereira da Rocha
² Dernival Venâncio Ramos
¹ Aluno do Curso de História; Campus de Araguaína; e-mail: [email protected]
PIBIC/CNPq
² Orientador(a) do Curso de História; Campus de Araguaína ; e-mail:
[email protected]
RESUMO
Este trabalho analisa como Juan Bosch articula memória e história no seu ensaio De
Cristóbal Colón a Fidel Castro I e II: El Caribe, fronteira imperial, escrito 1969. Bosch
escreve seu ensaio no contexto posterior à Revolução de 1959. Nesse sentido, o ensaio que
ora analisemos nesse contexto pode ser visto como um discurso legitimador das revoluções no
presente ao construir a memória “e a história da resistência e da rebeldia” caribenha contra o
imperialismo. O ensaísta descreve detalhadamente em sua obra, divido em dois tomos, do
momento em que América foi “descoberta” até o “triunfo” da Revolução de Cuba, marcando
os momentos de rebeldia contra os projetos imperiais que “perpassam” a história do Caribe.
PALAVRAS CHAVE: história, memória e memória da rebeldia.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo central refletir como Juan Bosch articula memória e
história no seu ensaio De Cristóbal Colón a Fidel Castro I: El Caribe, fronteira imperial,
escrito 1969, sob o impacto portanto do 1959. Contexto esse descrito por Ramos (2008, p.
461) assim:
Depois da Revolução em Cuba, a independência de Jamaica e Trinidad-Tobago em
1962 e Guiana e Barbados em 1966, tiveram a importância de colocar o Caribe
dentro da geografia mundial da resistência ao imperialismo e da descolonização.
Bosch (1985) descreve detalhadamente na obra do momento em que América foi
descoberta até o triunfo da Revolução de Cuba. Ele acreditava que o triunfo da Revolução em
Cuba significava o início de outra etapa histórica na região caribenha e o fim do caribe como
fronteira imperial europeia e norte-americana. A obra é escrita como rompimento como o
silêncio em relação aos conflitos entre colonizados e colonizadores; como o emergir, enfim,
de “lembranças traumatizantes, lembranças que esperam o momento propício para serem
expressas” (POLLAK, 1989, p. 3). Nesse sentido, essas obras seriam a ruptura do “tabu, uma
vez que as memórias subterrâneas conseguem invadir o espaço público, reivindicações
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múltiplas e dificilmente previsíveis se acoplam a essa disputa da memória” (POLLAK, 1989,
p. 3). A obra de Bosch seria a memória da rebeldia caribenha contra todos os colonizadores.
Estudos como o que realizamos possibilitam perceber que a memória não é uma
combinação aleatória das memórias dos diferentes grupos sociais, nela incorre questões como
a história e o poder. Ela é uma constante construção, seleção, exclusão, e significação feita no
presente a partir de momentos vividos ou de experiências ocorridas no passado. Assim, a
Revolução Cubana abriu a possibilidade de se emergirem novas representações discursivas
sobre o passado caribenho. E nesse caso a rebeldia ao imperialismo como centro da questão
foi fundamental.
MATERIAL E METÓDO
O referencial teórico-metodológico adotado advém da chamada História Cultural que vê
a memória como discurso e narrativa e provocou o despertar o interesse dos historiadores pelo
modo como o passado é representado. De acordo com Barros (2009, p. 55) “A Memória tem
se redesenhado no quadro das preocupações contemporâneas como uma de suas principais
temáticas. Ela aparece tematizada tanto na ensaística como na literatura, ou mesmo no
Cinema, em filmes (...)”. No caso, o que pretendemos é nos perguntar como o ensaio estudado
nos dar acesso às complexas relações entre memória e história nos anos posteriores à
revolução. A perspectiva adotada aqui está relacionada, assim, com a memória enquanto
construção social, como significação e ressignificação discursiva interessada do passado.
RESULTADO E DISCUSSÃO
O contexto da pesquisa são anos posteriores ao êxito da Revolução de 1959 em Cuba.
Nesse sentido, o ensaio que ora analisemos nesse contexto pode ser visto como um discurso
legitimador das revoluções em todo o Caribe. A legitimação da Revolução ocorre pela
tentativa de escrever uma história da resistência caribenha ao imperialismo. Escolheremos
alguns trechos que evidenciam essa hipótese. A resistência a colonização, a Revolução
Haitiana e Revolução Cubana.
Desde a chegada dos primeiros colonizadores, se poderia notar as “naturales
sublevaciones de unos pueblos que se negaban a ser esclavizados y exterminados en sus
propias tierras por extraños que habían llegado de países lejanos y desconocidos” (BOSCH,
1985, p. 40). Portando, os que recusavam “ser esclavizados” usavam-se da rebeldia como
forma de resistência.
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Além da rebelião dos nativos, os escravos negros também são aí descritos: “los
acontecimientos del siglo XVI dimos cuenta de las principales rebeliones de esclavos en esa
centuria, (...). En realidad, el siglo XVIII fue el siglo de las rebeliones de esclavos en el
Caribe” (BOSCH, 1985, p. 35/36).
Sobre as rebeliões que levo à independência do Haiti: “El estado de rebeldía no se daba
sólo en Panamá; estaba produciéndose también en Haití y en la antigua República
Dominicana,(...) y había vuelto a llamarse Santo Domingo, como se llamaba en los tiempos
coloniales”.
Desta forma, Bosch ao falar das relações entre colonizadores e colonizados opta por
fazer uma história da resistência e rebeldia ao colonizador. Afirma Bosch (1985, p. 348) que a
“cultura da rebeldia” caribenha continua nas lutas pela independência cubana de 1898 esteve
sempre presente no contexto de rebeldia no caribe até o triunfo da Revolução cubana, contra
as tropas americanas, na Playa Girón.
A obra assim traça uma espécie de história da resistência ao colonialismo no Caribe que
teria desembocado na Revolução de 1959, como se pode ver na seguinte citação:
Ese día caían en manos de las fuerzas cubanas los últimos grupos de
expedicionarios. La batalla de Cuba había terminado (...). La vieja frontera imperial,
que había quedado rota para los imperios europeos em el siglo XIX y había sido
reconstruida por los Estados Unidos en el siglo XX, quedaba deshecha
definitivamente en Cuba el 19 de abril de 1961. (BOSCH, 1985, p. 390)
Juan Bosch conclui seu ensaio que teria o propósito de romper com o “tabu” de “memórias
subterrâneas” de resistência ao imperialismo no Caribe e contar essa “outra história” da
região. Contudo, essa “memória” é ideologicamente armada para legitimar a Revolução que
como mostra Alberto Aggio (2000) se funda no discurso da rebelião política contra o
imperialismo. Nesse sentido, obra mesmo se tratando de um ensaio histórico, é mais memória
legitimadora que História.
O seu exemplo mostra o impacto da Revolução Cubana nos intelectuais da esquerda
caribenha. Mesmo não sendo cubano, o dominicano Juan Bosch acaba por construir uma
representação do passado caribenho que legitima a revolução que ocorre na vizinha ilha de
Cuba.
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LITERATURA CITADA
AGGIO, Alberto. “Repensando o sentido da rebeldia na Revolução Cubana.” Estudos de
História (Faculdade de História, Direto e Serviço Social - UNESP) França, SP, Brasil, Editora
Olho d’Água, 2000, p. 215 a 229.
BARROS, José D’Assunção. “História e memória: uma relação na confluência entre tempo e
espaço”. MOUSEION, vol. 3, n.5, Jan-Jul/2009, p. 35 a 67.
BOSCH, Juan. De Cristóbal Colón a Fidel Castro (I): el Caribe, fronteira imperial. Madrid;
Sapre,1985.
___________. De Cristóbal Colón a Fidel Castro (II): el Caribe, fronteira imperial. Madrid;
Sapre,1985.
LE GOFF, Jacques; CHARTIER, Roger; REVEL, Jacques. História Nova. São Paulo:
Martins Fontes, 2005. (p. 31 a 84)
POLLAK, Michael. “Memória, Esquecimento, Silêncio”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
__________. “Memória e identidade social”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10,
1992, p. 200-212.
RAMOS, Dernival Venâncio. “A Invenção do Caribe como Contracultura e a Revolução
Cubana.” Revista Brasileira do Caribe. Vol. VIII, n° 16. Goiânia: Editorial CECAB, 2008, p.
459 a 471. RUSEN, Jörn. Razão Histórica. Brasília: Editora da UnB, 2001.
AGRADECIMENTOS
“O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT”. Agradeço aos meus
professores da UFT e, sobretudo o Prof. Dr. Dernival Venâncio Ramos. E agradecer minha
família pelo apoio e incentivo em minha formação acadêmica.

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