potencial zoonótico da microbiota oral e prevalência de lesões orais
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potencial zoonótico da microbiota oral e prevalência de lesões orais
POTENCIAL ZOONÓTICO DA MICROBIOTA ORAL E PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM MACACOS-PREGO (CEBUS LIBIDINOSUS) MANTIDOS NO PARQUE ZOOBOTÂNICO DE TERESINA. Larissa Campos Rodrigues Pinheiro (bolsista do PIBIC/UFPI), Marcelo Campos Rodrigues (Orientador, Depto de Biofísica e Fisiologia – UFPI) Introdução A saúde e segurança públicas são assuntos de importância primordial em relação à importação e manutenção de primatas não humanos (PNH). Em ambiente natural ou em cativeiro, estes animais podem carrear patógenos causadores de zoonoses (Elkhoury et al., 2009). No entanto, a preocupação com a criação de PNH não está ligada somente ao risco de transmissão de doenças contagiosas aos seres humanos, mas, sobretudo por lesões cutâneas traumáticas ou infecciosas causadas por mordeduras (Aspis et al., 2003). A cavidade bucal dos macacos, de um modo geral, constitui meio hiperséptico, associando floras saprófitas e patogênicas extremamente polimorfas, além de enzimas e produtos de degradação biológicos, muitas vezes tóxicos (Dortu, 1978). As patologias orais comumente tratadas em PNH incluem tártaro e cálculo, gengivite, fraturas e cáries, doença periodontal, abcessos e osteomielite (Delaney, 2008). No entanto, a prevalência de lesões orais em PNH ainda é desconhecida (Fecchio, 2005). Dessa forma, o estudo da microbiota oral bem como da prevalência de lesões orais em PNH consiste em um importante levantamento e ação preventiva para melhoria da Saúde Pública. Metodologia Foi utilizado um grupo de 10 primatas não humanos pertencentes à espécie Cebus libidinosus, entre jovens e adultos, mantidos no parque Zoobotânico de Teresina. Os quais foram capturados utilizando-se gaiolas do tipo gatoeira e imobilizados fisicamente, com luvas de couro e quimicamente com associação de tiletamina /zolazepam (5mg/kg, IM). Foi realizado minucioso exame físico e avaliação dos aspectos clínicos odontológicos de cada animal. Em seguida foi realizada a coleta de material junto à transição muco-gengival maxilar dos animais. As amostras foram mantidas refrigeradas e encaminhadas ao Laboratório Central de Saúde Pública do Piauí (LACEN/PI) para cultivo e identificação microbiológica. Resultados e discussão O presente trabalho pôde evidenciar o alto índice de prevalência de lesões orais em macacos-prego mantidos em cativeiro no estado do Piauí, onde todos os animais avaliados apresentavam algum tipo de lesão. Dentre as quais, aquelas relacionadas à presença de cálculo e gengivite (100%) e os desgastes dentários acentuados (100%) se mostraram mais prevalentes. Foram ainda observadas hiperplasia gengival, giro-versão, maloclusão, apinhamento dental e cárie dentária. Fraturas coronárias que ocorreram em três animais machos (30%) foram mais frequentes em dentes caninos. Tal fato pode estar relacionado a diversos fatores, como brigas na disputa de melhor condição hierárquica no bando além do fato de que o comprimento dos dentes caninos nos machos é maior que nas fêmeas, ficando mais sujeitos às fraturas dentais (Fecchio, 2005). A diferença entre a dieta oferecida em cativeiro e aquela que o animal tinha acesso em vida livre parece predispor ao acúmulo de placa bacteriana em animais cativos (Amand; Tinkelman, 1985). Considerando-se que os animais avaliados foram oriundos de ações de repressão ao tráfico de animais silvestres, resgate de fauna e entrega voluntária de animais mantidos em cativeiros domiciliares, justifica-se a presença de cálculo dentário e gengivite nos 10 animais (100%), visto que dietas inadequadas quanto à sua composição nutricional, forma e textura são uma constante no dia-a-dia de animais mantidos ilegalmente em cativeiro. Quando comparada a prevalência das lesões orais entre jovens e adultos, não foram observadas diferenças quantitativas quanto à presença de cálculo, placa dental, gengivite e desgastes dentários acentuados. Contudo, foi observada maior predisposição dos jovens às fraturas coronárias, traumas dentários, e mobilidade dentária aumentada e dos adultos à hiperplasia gengival, giroversão, cárie, dentes impactados, presença de raízes residuais, e maloclusão. Tais dados são pouco conclusivos por si só, dada à variedade de componentes que podem interferir. Cárie dentária foi observada em apenas um (10%) dos animais avaliados. De forma semelhante ao observado na literatura, a cárie não é frequentemente observada entre primatas não-humanos (Amand; Tinkelman, 1985). O isolamento significativo de porcentagem de Staphylococcus spp no presente estudo, (50%), pressupõe risco de processo inflamatório infeccioso em caso de mordedura por estes animais. Os dados sobre a ocorrência de mordeduras infligidas por animais são escassos, os relacionados a estudo bacteriológico das lesões também o são, e em relação aos acidentes provocados com primatas não humanos os registros também são escassos (Aspis et al., 2003). Cepas bacterianas de Escherichia coli são importantes agentes de doenças entéricas, especificamente a diarréia, e estão freqüentemente associadas com morbidade e mortalidade em primatas não humanos mantidos em cativeiro (Carvalho et al, 2002). Os resultados aqui apresentados demonstram prevalente identificação de cepas de Escherichia coli dentre os animais avaliados (80% da amostra). Para além do impacto que estas bactérias podem ter sobre a saúde de colônias de animais mantidos em cativeiro, há também o risco potencial de transmissão para os seres humanos, o qual caracteriza o potencial zoonótico destas infecções (Carvalho et al, 2002). Conclusão A posse dos dados gerados permitiu apontar alto índice de lesões orais nos animais avaliados (100%), o que demonstra que a atual condição oral dos macacos-prego (Cebus libidinosus) cativos no Parque Zoobotânico de Teresina/Piauí é insatisfatória. Além de demonstrar a presença de cepas bacterianas com risco potencial de transmissão para outros animais mantidos no parque bem como para seres humanos em contato com esses animais. A pesquisa realizada é inédita no estado e colabora com dados ainda escassos na literatura nacional e internacional referente à espécie. Apoio Apoio financeiro fornecido pela UFPI através do Programa institucional de bolsas de iniciação científica (PIBIC). Referências bibliográficas 1. Elkhoury A N S M, et al. Situação Epidemiológica das Zoonoses de Interesse à Saúde Pública. Ministério da Saúde:Boletim eletrônico epidemiológico 2009;(1). 2. Aspis D; Baldassi L; Germano P M L; Fedullo J D L.; Passos E C; Gonçalves M A. In vitro susceptibility to antibiotics in Staphylococcus spp e Micrococcus spp strains isolated from oral mucosae of captive capuchin monkeys (Cebusapella). Braz J of Vet 2003 (40):83-89. 3. Dortu J. Ulcère de jambe par morsure de singe.Phlebologie1978; ( 31):113-117. 4. Parr L A et al. Allogrooming in captive brown capuchin monkeys, Cebus apella. Anmal Behaviour 1997; (54):361-367. 5. Pachaly J R; Gioso M A. The oral cavity. Ames, Iowa University Press 2001:457-463. 6. Delaney J A C. Topicsiin Medicine and Surgery: Nonhuman Primate Dental Care. Journal of Exotic Pet Medicine 2008; (17):138–143. 7. Costa R C S; Botteon R C; Neves D M; Valladares M C; Scherer P O. Saúde oral de , primatas da espécie Cebus apella (linnaeus, 1758) mantidos no centro de triagem de animais silvestres-ibama, estado do Rio de janeiro 2012 Rev. Bras. Med. Vet., (34):86-90. 8. Fecchio R S. Prevalência de lesões orais em macacos-prego (Cebus apella) mantidos em cativeiro no estado de São Paulo. Universidade Metodista de São Paulo- Faculdade de Medicina Veterinária. São Bernardo do Campo, 2005. 9. Amand W B; Tinkelman C L.Oral diseases in captive wild animals.Vet Dent1985:289-308. 10. Levy B M. Animal analogues for the study of dental and oral diseases. De Biol Stand 1980;(45):51-59 11. Robinson P.T. Oral pathology in mammals at the San Diego Zoo and Wild Animal Park. Proc. Am. Assoc. Zoo. Vet 1997;( 44): 96-98 12. Carvalho et al. Characterization of Monkey Enteropathogenic Escherichia coli (EPEC). Journal of Clinical Microbiology 2003;(41):1225-1234. Palavras-chave: Macaco-prego. Microbiota oral. Lesões Orais.