Relatório Anualde 2008
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Relatório Anualde 2008
Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Relatório Anual de 2008 Melhores ferramentas, melhores colheitas, melhores níveis de vida Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas 1 2 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Relatório Anual de 2008 A F R I C A N A G R I C U LT U R A L T E C H N O LO G Y F O U N D AT I O N FUNDAÇÃO AFRICANA PARA AS TECNOLOGIAS AGRÍCOLAS better tools, better harvests, better lives melhores ferramentas, melhores colheitas, melhores níveis de vida melhores ferramentas, melhores colheitas, melhores níveis de vida Relatório Anual de 2008. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas ISSN XXXX-XXXX © African Agricultural Technology Foundation 2009. Todos os direitos reservados A editora incentiva o uso equitativo deste material, desde que a sua origem seja mencionada adequadamente Colaboradores: Daniel Mataruka, Francis Nang’ayo, George Marechera, Gospel Omanya, Grace Wachoro, Hodeba Jacob D. Mignouna, Jennifer Thomson, Moussa Elhadj Adam, Nancy Muchiri, Nompumeleo Obokoh e Sylvester Oikeh Editores: Nancy Muchiri, Tiff Harris, Liz Ng’ang’a e Peter Werehire Concepção: Nancy Muchiri Design e composição gráfica: Imagine IMC Tradução e composição gráfica: Green Ink Ltd (www.greenink.co.uk) Fotografias: AATF, Africa Rice Centre, Institute for Agricultural Research, Photolibrary.com. Impressão: English Press, Quénia 4 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Índice Mensagem da Presidente do Conselho de Administração............................................................................................................................................................2 Mensagem do Director Executivo............................................................................................................................................................................................................4 Quem Somos....................................................................................................................................................................................................................................................6 Marcos Importantes da AATF em 2008..................................................................................................................................................................................................8 Na Ofensiva – Alargar os Esforços de Controlo da Planta-Parasita Striga nas Culturas de Milho em África...............................................................10 Ensaios de Campo Controlados de Feijão-Frade Resistente a Maruca para África...............................................................................................................14 Aumentar a Resistência à Murchidão Bacteriana da Banana........................................................................................................................................................18 Desenvolver Milho com Eficiência Hídrica para África.....................................................................................................................................................................22 O Nosso Projecto de Arroz NUEST............................................................................................................................................................................................................26 Controlar a Aflatoxina: Trabalhar para Evitar o Inevitável...............................................................................................................................................................30 Extrair Energia da Mandioca: Desenvolver uma Indústria do Etanol Baseada na Mandioca na África Subsariana................................................32 Progresso, Desafios e Oportunidades: Uma Síntese da Primeira Análise Externa da AATF..............................................................................................34 Regulamentar as Culturas GM em África: Seguir na Direcção Certa..........................................................................................................................................36 As Vantagens Ocultas das Parcerias Público-Privadas......................................................................................................................................................................38 Adquirir uma Perspectiva Africana: Alargar o Fórum Livre sobre Biotecnologia Agrícola em África...........................................................................40 Relatório Financeiro.......................................................................................................................................................................................................................................42 Conselho de Administração da AATF – 2008.......................................................................................................................................................................................44 Pessoal da AATF – 2008.................................................................................................................................................................................................................................46 Publicações da AATF – 2008.......................................................................................................................................................................................................................48 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas 1 Mensagem da Presidente do Conselho de Administração Professora Jennifer Ann Thomson Presidente do Conselho de Administração da AATF O progresso conseguido pela AATF em 2008 no sentido de melhorar a produtividade agrícola de pequenos agricultores de escassos recursos na África Subsariana foi excelente. Durante o ano tivemos de lidar com alguns desafios difíceis que afectaram as nossas operações, mas graças ao trabalho árduo, criatividade e profissionalismo do nosso pessoal, isso não nos impediu de atingir os nossos objectivos. O ano iniciou-se com a negociação bem sucedida e a assinatura de um acordo de colaboração tripartido entre a AATF, o CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo) e a Monsanto, para o desenvolvimento de milho resistente à seca para África. Este acordo preparou o caminho para o financiamento pela Fundação Bill and Melinda Gates e Fundação Howard Buffet. Também deu origem ao projecto Milho com Eficiência Hídrica para África (WEMA), uma parceria público-privada que está agora a ser implementada no Quénia, Uganda, Tanzânia, Moçambique e África do Sul. Esta iniciativa empolgante está a tratar de uma das causas mais significativas da insegurança alimentar em África. Também é significativo que o projecto WEMA está a responder directamente a um dos desafios ambientais globais mais urgentes dos nossos tempos – a ameaça das alterações climáticas. Em meados de 2008 celebrámos um acontecimento memorável com os primeiros ensaios de campo confinados de feijão-frade resistente a Maruca. O feijão-frade é uma cultura importante para África, especialmente a África Ocidental, mas onde cresce o feijão-frade em geral também cresce a voraz Maruca, brocadas-vagens. 2 Existe pouca resistência natural a este insectopraga devastador e as perdas resultantes sofridas pelos agricultores e comerciantes de feijão-frade são enormes. A AATF e os seus parceiros estão a tentar resolver este problema através da aplicação cuidadosa de tecnologias de transformação genética. Os resultados laboratoriais do trabalho de investigação realizado pela CSIRO (Austrália) confirmaram a presença de genes de resistência num número crescente de linhas de feijão-frade transformado e em 2008 conseguimos avançar para a importante etapa seguinte do processo de desenvolvimento – testar as linhas de elite em ensaios de campo confinados em Porto Rico. Os resultados forneceram provas encorajadoras de protecção intrínseca contra o insecto, nas condições dos ensaios de campo. Os parceiros do projecto esperam agora com antecipado interesse a realização de ensaios de campo semelhantes em África, assim que forem obtidas as necessárias aprovações regulamentares. Durante o ano a Tanzânia libertou oficialmente a semente de milho StrigAway®, numa iniciativa para controlar a erva-de-bruxa (spp. Striga), passando assim a ser o segundo país, depois do Quénia, a comercializar a semente entre os agricultores de África. A AATF e os parceiros do projecto, CIMMYT e BASF, trabalharam com uma empresa de sementes local, a Tanseed International, e o Ministério da Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Agricultura no sentido de acelerar o processo de comercialização da variedade. Com o aumento da disponibilidade da sua semente, a StrigAway proporcionará aos pequenos agricultores de milho da Tanzânia uma ferramenta eficaz na sua luta contra a Striga. Dr. Daniel assumiu as suas funções de novo Director Executivo em Março de 2009. Gostaria de agradecer ao nosso pessoal, ao Conselho de Administração e aos nossos parceiros o seu apoio incondicional durante o período de transição. Outro desenvolvimento empolgante foi o lançamento de um projecto para desenvolver arroz capaz de utilizar o azoto com maior eficiência e com maior tolerância ao sal. O cultivo do arroz está a alastrar-se rapidamente na África Subsariana e as variedades melhoradas que se espera obter com este projecto permitirão aos agricultores conseguir o maior rendimento possível dos fertilizantes aplicados e alargar a produção às áreas de solos salinos. O Conselho de Administração também sofreu algumas alterações. Cheguei ao fim do meu mandato e o Professor Walter Alhassan foi eleito em Novembro como seu Presidente, por um mandato de três anos. O Dr. Mike Trimble, um dos primeiros membros do nosso Conselho de Administração, terminou o seu mandato. As suas contribuições oportunas e bem informadas para as discussões do Conselho, especialmente no que se refere aos aspectos técnicos dos projectos da Fundação, valorizaram imenso as discussões e sentiremos muito a sua falta. Contudo, o Conselho tem o prazer de dar as boas-vindas ao Professor Michio Oishi, da Universidade de Tóquio, que começou o seu mandato de três anos em Janeiro de 2008, trazendo para o Conselho os seus vastos conhecimentos e experiência de biotecnologia e genética. A actuação da AATF também teve um papel determinante na realização, juntamente com o ABSF e outros parceiros, do primeiro congresso pan-africano de biotecnologia (First AllAfrica Biotechnology Congress) em Nairóbi em Setembro de 2008. A questão da biotecnologia – e a informação frequentemente enganadora e contraditória que é comunicada aos decisores sobre a sua natureza – é assunto de grande preocupação. A voz bem informada da comunidade científica tem necessidade de ser ouvida nos debates em curso. Este congresso ofereceu essa oportunidade e reuniu mais de 400 delegados de África e de outros continentes para trocarem informações, apresentarem pontos de vista alternativos e procurarem um consenso comum. Este ano também trouxe os seus desafios. Alguns foram universais, como o aumento rápido do preço dos alimentos e a crise financeira internacional. A AATF também enfrentou um desafio nas suas operações por ocasião da saída do seu Director Executivo, Dr. Mpoko Bokanga, no final do ano. Como primeiro Director Executivo da Fundação, o Dr. Bokanga contribuiu dedicadamente para a criação da organização, em especial para a implementação das suas estruturas operacionais e organizacionais inaugurais, em linha com o nosso mandato. Após uma busca extensa, tivemos a sorte de trazer para a Fundação o Dr. Daniel Mataruka, do Zimbabwe, para o cargo de novo Director Executivo da Fundação. A carreira brilhante do Dr. Mataruka abrange mais de 25 anos. Em 1983 começou a sua carreira trabalhando como agrónomo do milho para os Serviços Especializados e de Investigação do Governo do Zimbabwe. Em 1992 foi para a Universidade do Natal, na África do Sul, onde assumiu um cargo no departamento de ciência das culturas. Seguidamente, em 1996, entrou ao serviço de uma agro-empresa de grande escala muito importante, a Tongaat Hulett Starch (THS), que opera em toda a África meridional. A sua experiência dos sectores público e privado dá-lhe uma perspectiva única das potenciais contribuições que a AATF pode fazer e do que é necessário para que a Fundação atinja os seus objectivos. O Resumindo, a AATF teve um ano muito bom, com a expansão das suas actividades e responsabilidades na África Subsariana, tendo também progredido solidamente para o alcance do nosso objectivo de proporcionar aos pequenos agricultores o acesso a tecnologias exclusivas que podem aumentar significativamente a sua produtividade. Ao chegar ao fim do meu mandato, e em nome dos meus colegas do Conselho de Administração, gostaria de manifestar a minha gratidão a todo o pessoal da AATF, aos nossos parceiros e às nossas muitas partes interessadas – especialmente os nossos investidores – pela sua confiança e apoio constante prestado à Fundação. Jennifer Ann Thomson Presidente do Conselho de Administração Resolver as Limitações Mensagem dos Agricultores da Presidente Através do Conselho de Intervenções de Administração Científicas 3 Mensagem do Director Executivo Dr. Daniel F. Mataruka Director Executivo da AATF Ao tomar posse das minhas responsabilidades como novo Director Executivo da AATF fiquei impressionado com as realizações substanciais já conseguidas pela organização e pela qualidade extraordinária do seu pessoal. Criou-se um alicerce firme para a construção da organização e estou grato ao Conselho de Administração e a todo o pessoal da AATF por me darem a oportunidade de dirigir esta organização inovadora e altamente relevante. Não fiz parte da equipa em 2008, período coberto por este relatório anual, mas quero usar esta oportunidade para partilhar as minhas ideias sobre a Fundação Africana para as Tecnologias Agrícolas. A agricultura é o sustentáculo da actual economia de África e deve servir como trampolim para o futuro desenvolvimento e prosperidade do continente. Mas a agricultura africana enfrenta muitos desafios. Citando apenas alguns: • Ano após ano as culturas sofrem perdas enormes infligidas por pragas de insectos aparentemente insaciáveis; • Plantas-parasitas invasoras restringem a produção; • Erosão extensa e fraca fertilidade do solo limitam a produtividade; e • Secas e inundações frequentes destroem as culturas e ameaçam a segurança alimentar. Além disto, os agricultores africanos ainda não beneficiam das novas tecnologias agrícolas, como variedades de culturas de maior rendimento que toleram a seca e que possuem uma 4 resistência genética intrínseca às pragas e doenças dominantes. Acredito que o futuro de África está nas mãos dos seus milhões de pequenos agricultores. Cerca de 70% de todos os africanos dependem da agricultura para o seu sustento e, destes, cerca de 80% são pequenos agricultores, que lutam diariamente contra todas as adversidades para poderem sustentar-se a si próprios e às suas famílias. Acredito que o melhoramento da produtividade dos pequenos agricultores de escassos recursos deste continente é a solução para desbloquear o vasto potencial de África para um desenvolvimento económico sustentável. Para isso, devemos colocar as modernas tecnologias agrícolas nas mãos destes pequenos agricultores. Ainda há outros passos a dar ao longo de toda a cadeia de valores agrícolas. Estes incluem melhorar a infra-estrutura rural, aumentar a eficiência dos mercados, proporcionar crédito aos agricultores assim como a agro-empresas de pequena e média escala, estabilizar os preços dos produtos, implementar políticas que favoreçam o desenvolvimento agrícola em vez de o limitar, etc. A lista é muito longa e muitas das acções necessárias estão fora do âmbito do mandato da AATF. A nossa visão de “agricultores prósperos e uma África Subsariana com segurança alimentar” é clara, Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas assim como a nossa missão de “aumentar a produtividade dos agricultores de escassos recursos da África Subsariana, facilitando a transferência, distribuição e adopção de tecnologias agrícolas exclusivas apropriadas”. Isto coloca a AATF numa posição única para ajudar a aumentar as receitas rurais e a segurança alimentar. Durante os seus primeiros cinco anos a Fundação avançou a passos largos no cumprimento da sua missão. Chegou a altura de capitalizarmos o nosso “momentum” e o renovado empenhamento nacional e internacional numa agricultura africana. Concordo plenamente com a visão e a missão da AATF e farei o possível por as actualizar através de quatro objectivos que estou a definir para a organização. Estes constituirão as prioridades principais que determinarão o nosso avanço: • Ter a presença da AATF o mais possível em toda a África Subsariana. Para isso devemos alargar os nossos projectos e actividades para além da sua concentração actual na África Oriental e em algumas partes da África Meridional e Ocidental; – das tecnologias agrícolas avançadas, tais como a modificação genética de certas culturas. Podemos estar tranquilos por saber que as nossas decisões sobre que tecnologias aceder e promover serão esclarecidas pelas necessidades dos agricultores, a disponibilidade das melhores opções para resolver limitações específicas e a experiência e conselhos práticos da comunidade científica africana. Continuaremos também a contar com o apoio dos nossos parceiros seleccionados, trabalhando como “intermediário honesto” com várias organizações em todo o mundo. No desempenho do meu cargo de novo Director Executivo da AATF prometo a todas as nossas partes interessadas transparência operacional ao enfrentarmos juntos algumas das limitações mais difíceis ao aumento da produtividade agrícola africana. Peço a todos os que partilham connosco da visão de uma África melhor para se unirem a nós na nossa luta em prol dos pequenos agricultores do continente. • Alargar a gama de tecnologias a que a AATF tem acesso de modo a incluir técnicas de melhoramento inovadoras e de transformação alimentar (valor acrescentado); • Alargar o nosso portfólio de doadores; e • Proporcionar uma gestão exemplar das relações com as partes interessadas principais. Claridade na selecção de prioridades, no entanto, não implica ausência de desafios. Um dos principais obstáculos que enfrentamos está relacionado com o nível de compreensão e aceitação – tanto em África como fora dela Daniel F. Mataruka Director Executivo A nossa visão de «agricultores prósperos e uma África Subsariana com segurança alimentar» é clara, assim como a nossa missão de «aumentar a produtividade dos agricultores de escassos recursos da África Subsariana, facilitando a transferência, distribuição e adopção de tecnologias agrícolas exclusivas apropriadas». Resolver as Limitações dos Agricultores Através Mensagem de Intervenções do Director Científicas Executivo 5 Quem Somos A Fundação Africana para as Tecnologias Agrícolas é uma organização sem fins lucrativos que facilita às parcerias públicoprivadas o acesso e distribuição de tecnologias agrícolas exclusivas apropriadas, para utilização por pequenos agricultores de escassos recursos da África Subsariana. A AATF oferece competências na identificação, acesso, desenvolvimento, distribuição e utilização de tecnologias agrícolas patenteadas. A Fundação contribui também para a criação de capacidade em África, envolvendo instituições do continente em diversas parcerias através das quais executa o seu mandato. A AATF é uma instituição de beneficência registada ao abrigo da legislação da Inglaterra e do País de Gales e recebeu isenção fiscal nos EUA. Está registada no Quénia e no Reino Unido e foi-lhe concedido o estatuto de país anfitrião pelo governo do Quénia onde tem a sua sede. Visão – o que desejamos para os agricultores de África Agricultores prósperos e segurança alimentar para África através de uma agricultura inovadora. Missão – o que fazemos em prol dos agricultores de África Aceder e distribuir tecnologias agrícolas acessíveis para uso sustentável pelos pequenos agricultores, em especial os agricultores de escassos recursos da África Subsariana, através de parcerias inovadoras e da gestão responsável e ética das tecnologias e produtos ao longo de toda a cadeia de valor dos alimentos. 6 Valores Fundamentais – o que nos dá força Empenhamo-nos por defender três valores fundamentais duradouros: Integridade, Dedicação e Acessibilidade. Estes valores guiam as nossas decisões, acções e relações no trabalho que realizamos para o cumprimento da nossa missão. A Nossa Estratégia Os aspectos-chave da nossa estratégia são a facilitação das parcerias público-privadas, a gestão responsável e ética da tecnologia e a gestão da informação e dos conhecimentos. Fundamentamos as nossas actividades em três vertentes estratégicas: • Negociação do acesso a tecnologias exclusivas que aumentam a produtividade da agricultura em África; • Gestão de parcerias para a formulação de projectos, desenvolvimento e implementação do produto, para introduzir tecnologias agrícolas inovadoras nos sistemas de exploração agrícola africana; e • Gestão de conhecimentos e da informação para apoiar a identificação e o desenvolvimento da tecnologia, assim como ajuda na criação de enquadramentos de políticas mais propícios ao desenvolvimento agrícola dos pequenos agricultores. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas As Nossas Raízes O modelo para a Fundação Africana para as Tecnologias Agrícolas foi o resultado de dois anos de consultas efectuadas pela Fundação Rockfeller e o Meridian Institute a várias partes interessadas africanas, norte-americanas e europeias. As sessões, designadas por “Diálogos de Biotecnologia” foram realizadas a fim de determinar modos de reduzir a crescente lacuna entre a ciência agrícola controlada por países desenvolvidos e as necessidades dos pobres nas regiões em desenvolvimento da África Subsariana. O envolvimento das partes interessadas nestas deliberações foi assegurado mediante um Comité Consultivo de Design (DAC) que incluía representantes dos serviços nacionais de investigação agrícola africanos, os centros do Grupo Consultivo para a Investigação Agrícola Internacional (CGIAR), empresas africanas de sementes e de biotecnologia, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), empresas de ciência das culturas e organizações de doadores. O DAC foi o arquitecto da AATF, definindo os princípios subjacentes principais e um modelo operacional para a Fundação, para lidar com os desafios da segurança alimentar e da redução da pobreza. O Comité também esclareceu a fundamentação lógica da AATF e os seus princípios fundamentais, missão e modelo de negócio. Governância A AATF é uma organização flexível projectada para responder às necessidades variáveis das suas partes interessadas. O Conselho de Administração define o curso decidindo quais as intervenções que possuem maior potencial para a redução da pobreza e o aumento da segurança alimentar. Isto cria uma distinção saudável entre a definição das prioridades e a monitorização do progresso, por um lado, e a gestão do dia-a-dia e as operações por outro lado. Os membros do Conselho da AATF são indivíduos de renome de todo o mundo, enquanto o pessoal da Fundação são cidadãos de países da África Subsariana. Investidores • A Fundação Rockfeller: Uma fundação mundial que se baseia em conhecimentos, empenhada em enriquecer e sustentar as vidas e as condições de vida das pessoas pobres e excluídas em todo o mundo; • A Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID): A agência responsável por proporcionar e gerir a ajuda económica e humanitária dos EUA em todo o mundo; • Ministério para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID): O ministério do Reino Unido que é responsável pela promoção do desenvolvimento económico e redução da pobreza a nível mundial; • Fundação Bill and Melinda Gates: Guiada pelo princípio de que todas as vidas têm o mesmo valor, a Fundação Bill and Melinda Gates trabalha no sentido de ajudar todas as pessoas a viverem uma vida saudável e produtiva. Nos países em desenvolvimento a sua ênfase é melhorar a saúde das pessoas e dar-lhes a oportunidade de saírem da fome e da pobreza extrema. Nos Estados Unidos a fundação procura assegurar que todas as pessoas – especialmente as que possuem menos recursos – tenham acesso às oportunidades de que necessitam para poderem ter êxito na escola e na vida; • Fundação Howard Buffet: Uma fundação privada que apoia principalmente o desenvolvimento agrícola e a distribuição de água potável nas áreas rurais, focalizando-se em África e na América Central; e • A Fundação Africa Harvest Biotech Foundation: Uma organização sem fins lucrativos concebida para usar a ciência e a tecnologia, especialmente a biotecnologia, para ajudar os pobres em África a conseguir segurança alimentar, bem-estar económico e desenvolvimento rural sustentável. Parceiros • Produtores e consumidores agrícolas; • Instituições e agências nacionais e regionais (NARs, SROs, RECs, ECA, FARA, AU/NEPAD); • Instituições e agências internacionais (CGIAR, ARIs); • ONGs locais/internacionais; • Detentores dos direitos de propriedade intelectual da indústria da tecnologia agrícola (Monsanto, Arcadia Biosciences, BASF, Dow Agro, Pioneer/DuPont, Syngenta); • Organizações africanas de comércio e agroempresas africanas; • Governos africanos. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Quem Científicas Somos 7 Marcos Importantes da AAFT em 2008 Janeiro Março A AATF, o CIMMYT e a Monsanto assinaram um acordo de colaboração tripartido para o desenvolvimento de milho tolerante à seca para África, preparando o caminho para o financiamento do projecto. O projecto WEMA (Milho com Eficiência Hídrica para África), uma parceria público-privada para o desenvolvimento de variedades de milho tolerante à seca para África, foi lançado em Kampala, Uganda, após uma reunião de planeamento com a duração de dois dias na qual participaram 25 partes interessadas, incluindo representantes dos países participantes no projecto – Quénia, Uganda, Tanzânia e África do Sul. A Fundação Bill and Melinda Gates e a Fundação Howard G Buffett disponibilizaram USD 47 milhões distribuídos ao longo de cinco anos, para financiamento de projectos para o desenvolvimento de milho tolerante à seca para África. Fevereiro A Arcadia Biosciences e a AATF assinaram um acordo de licenciamento para a utilização das tecnologias da Arcadia para o desenvolvimento de variedades de arroz com utilização eficiente de azoto e tolerantes ao sal, que serão disponibilizadas aos pequenos agricultores em África sem encargos de “royalties”. Jacob Mignouna, Gestor de Operações Técnicas da AATF, assina o acordo WEMA na presença de outro pessoal da AATF. 8 Abril Em Kampala, Uganda, realizou-se uma reunião de estudo e planeamento para o Projecto da Murchidão Bacteriana da Banana. Os participantes analisaram o progresso do trabalho de colaboração da NARO, IITA e AATF para o desenvolvimento de um germoplasma da banana resistente à murchidão bacteriana e desenvolveram um mapa de planeamento do trabalho do projecto. George Njogu, da AATF, entrega produtos de mercearia a um jovem do Lar de Crianças Meta Meta. Imbuídos do espírito de confraternidade do Natal, o pessoal da AATF contribuiu com dinheiro e comprou produtos para o lar das crianças. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Em Uagadugu, Burkina Faso, realizou-se uma reunião para definir a estratégia global de comunicações para o projecto de transformação do feijão-frade resistente a Maruca e para descrever as actividades a serem realizadas em cada país participante no projecto. Maio Em Bagamoyo, Tanzânia, realizou-se um workshop de harmonização dos planos do projecto WEMA, para todos os parceiros do projecto. Estes analisaram e reajustaram os seus planos de trabalho relativamente à proposta, orçamentos e cronologia do projecto. Junho Em Abuja, Nigéria, realizou-se uma reunião de revisão e planeamento para o projecto do feijão-frade resistente a Maruca, à qual assistiram 54 participantes. O fórum discutiu o plano necessário para garantir o êxito do desenvolvimento e ensaios de variedades de feijão-frade resistentes a Maruca, assim como a sua distribuição pelos agricultores de África. As discussões incidiram sobre actividades relacionadas com o desenvolvimento e selecção de linhas de elite, ingresso de características genéticas, testes, conformidade com os regulamentos, consciencialização e aceitação por parte do público e implementação do produto nos países-alvo. Os representantes do Fórum Livre sobre a Biotecnologia Agrícola em África (OFAB) participaram no primeiro congresso pan-africano de biotecnologia (First All-Africa Biotechnology Congress) realizado em Nairóbi, Quénia. Mais de 400 cientistas, decisores, especialistas dos meios de comunicação social, agricultores, investigadores, parceiros de desenvolvimento, regulamentadores e empresários de todo o mundo assistiram à reunião, centrando-se as discussões no futuro da biotecnologia em África. Dezembro O milho resistente a Imazapyr, (IR), também conhecido por milho StrigAway®, foi comercializado na Tanzânia pela Tanseed International Ltd sob o nome comercial Komesha Kiduha. A reunião inicial para o projecto do Arroz NUEST para África realizou-se em Davis, Califórnia, nos EUA. A reunião analisou o avanço conseguido pelo projecto desde 2005, descreveu o seu plano de acção para 2009 e anos seguintes e esclareceu várias funções institucionais. Julho As equipas do projecto WEMA reuniram-se em Nairóbi para um workshop de Team Building durante o qual chegaram a um consenso sobre as modalidades de implementação das actividades necessárias para alcançar os marcos importantes acordados para o projecto. Setembro O Public Intellectual Property Resource for Agriculture (PIPRA) e a AATF assinaram um acordo sobre o desenvolvimento de um sistema de transformação baseado em transposões para o projecto do Arroz Com Utilização Eficiente de Azoto e Tolerante ao Sal (NUEST) para África. Jacob Mignouna, Gestor de Operações Técnicas da AATF, explica o projecto de controlo de Striga ao Presidente da Assembleia do Togo durante a Cimeira dos Chefes de Estado realizada em Adis Abeba em Março de 2008. Participantes na reunião de Team Building do projecto WEMA realizado em Nairóbi, Quénia, de 30 de Junho a 2 de Julho de 2008. O Sr. Isaka Mashauri, CEO da Tanseed International Ltd, Tanzânia, explica aos agricultores a eficácia da tecnologia do milho IR no controlo da plantaparasita Striga num talhão de demonstração em Morogoro, na Tanzânia. Resolver as Limitações dos Agricultores Marcos Através Importantes de Intervenções da AATFCientíficas em 2008 9 P r o j e c t o s d a AAT F Na Ofensiva: Alargar os Esforços de Controlo da Planta-Parasita Striga nas Culturas de Milho em África 2,5 milhões A Striga infesta cerca de 2,5 milhões de hectares de milho no continente, originando perdas económicas anuais superiores a USD 1 milhar de milhão. A Striga, uma planta-parasita do milho e de outros cereais, continua a ser um problema grave que limita a produtividade de grandes áreas de cultivo africanas e as condições de vida de milhões de produtores de milho de escassos recursos. Anos de investigação e de ensaios na quinta resultaram na descoberta de uma arma forte contra esta planta-parasita agressiva. A Striga, conhecida por erva-de-bruxa, é uma plantaparasita extremamente invasora e destruidora que reduz dramaticamente o rendimento do milho e de outros cereais na África e na Ásia. Na realidade, não é raro acontecer que os agricultores percam toda a cultura, ou que abandonem os seus campos, devido a grave infestação pela Striga. De facto, esta planta resistente e enganadoramente bonita é uma das principais causas da insegurança alimentar e da estagnação rural em África. A Striga infesta cerca de 2,5 milhões de hectares de milho no continente, originando perdas económicas anuais superiores a USD 1 milhar de milhão. Por este motivo, um dos primeiros projectos formulados pela AATF após a sua fundação foi a redução da ameaça apresentada pela Striga para a produção de milho na África Subsariana (ASS). Durante dezenas de anos os pequenos agricultores de África observaram, impotentemente, o alastramento da Striga de campo para campo. Quando as plântulas de milho emergem, as suas raízes exsudam estimulantes que induzem a germinação das sementes de Striga na sua proximidade. As raízes da Striga germinada fixam-se às raízes do milho, parasitando a planta do milho. Felizmente existem agora novas tecnologias que controlam a Striga e que, se forem adoptadas extensivamente, podem ajudar 10 a resolver o problema da segurança alimentar. Nas duas últimas décadas a investigação colaborativa entre o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), a empresa química alemã BASF e o instituto israelita Weizmann Institute of Science resultou em variedades e híbridos de milho de alto rendimento resistentes ao herbicida Imazapyr, que é eficaz na destruição da Striga. As sementes de milho resistentes são revestidas com o herbicida antes do plantio e, quando as plântulas de milho emergem, a Striga fixa-se às raízes do milho absorvendo o herbicida que as mata. Esta tecnologia foi comercializada sob o nome comercial StrigAway ®. Ao fim de poucos anos de utilização de StrigAway, o banco de sementes de Striga no solo diminui significativamente, reduzindo imenso a ameaça que a planta-parasita representa para a cultura do milho e o sustento dos agricultores. Dos ensaios à implementação O Projecto de Controlo da Striga envolve extensos ensaios de campo e demonstrações de StrigAway ® em campos de agricultores. O projecto demonstrou de forma conclusiva a eficácia desta tecnologia, com aumentos do rendimento do milho até quatro vezes o rendimento médio obtido em talhões infestados com Striga. Tal como acontece com qualquer nova tecnologia, provar a sua eficácia é uma coisa, mas incentivar a sua adopção generalizada e uso correcto por agricultores adversos a risco é outra. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Portanto, o Projecto de Controlo da Striga dá grande ênfase ao aumento do conhecimento de StrigAway pelos agricultores e ao incentivo para a adopção da tecnologia e do seu uso sustentável. O projecto dá apoio a demonstrações do produto, disseminação da informação, comercialização e gestão responsável e ética do produto. Estas iniciativas visam assegurar a disponibilidade consistente de sementes de milho IR de alta qualidade e o seu uso por agricultores, para um controlo eficaz da planta-parasita Striga e óptima produtividade do milho. Estas actividades de implementação estão em curso, em vários graus, no Quénia, Uganda e Tanzânia. Progresso com STEP no Quénia Em 2008 iniciou-se na região ocidental do Quénia uma iniciativa com a duração de um ano para a disseminação das tecnologias de controlo de Striga, que teve o apoio da AATF. Este projecto, conhecido por Striga Technology Extension Project (STEP), ou Projecto de Extensão das Tecnologias para a Striga, foi implementado pela Aliança Regional Ocidental para a Avaliação de Tecnologias (WeRATE), constituída por 18 membros, sob a liderança do Fórum para a Gestão de Recursos Orgânicos e Tecnologias Agrícolas (FORMAT). Durante o ano de 2008 o principal objectivo de STEP foi a implementação de um pacote de milho IR e de outras tecnologias inovadoras de controlo da Striga. Os parceiros procuraram identificar as tecnologias de gestão de Striga mais apropriadas para os vários contextos agro-ecológicos e socioeconómicos. Também deram alta prioridade à criação de uma consciencialização entre os agricultores de que a ameaça representada pela Striga é uma condição do campo que pode ser corrigida. O projecto STEP ainda procurou definir uma estratégia mais ampla para a expansão e reprodução de Um campo de milho infestado por Striga. iniciativas económicas e flexíveis de redução da Striga na África Subsariana. Infelizmente 2008 foi um ano difícil para o Quénia. No início do ano o país esteve embrenhado em distúrbios resultantes de uma eleição presidencial contestada. A insegurança generalizada que se seguiu resultou em custos mais elevados para os insumos agrícolas e para o transporte, assim como atrasos na implementação dos pacotes de tecnologia Striga. Contudo, apesar disto, quase todos os 25.000 agregados familiares visados receberam os novos materiais a tempo do plantio. Mas a seca, principalmente na bacia do Lago Vitória, desencadeou perdas generalizadas das colheitas que deixaram os agricultores sem a possibilidade de pagar pelos insumos agrícolas que o projecto tinha disponibilizado a crédito. Agricultores tanzanianos escutam o Sr. Deogratias Kinawiro, (foto inserida), Comissário Distrital do distrito de Mkinga, Tanzânia, durante um workshop de campo de IR organizado pela Tanseed International Ltd e a AATF. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 11 Implementação de Komesha Kiduha na Tanzânia Na Tanzânia a StrigAway ® é conhecida pelo seu nome Kiswahili, Komesha Kiduha, que significa “erradicar a Striga”. A Tanseed International Ltd, uma empresa de sementes privada que está a liderar o trabalho da Striga no país, criou cerca de 3.000 talhões de demonstração no primeiro semestre de 2008 nas áreas onde a planta-parasita é endémica. O trabalho preliminar de demonstrações de produto, ensaios e workshops de consciencialização facilitaram a libertação comercial da primeira variedade de milho IR StrigAway (Tan 222) pelo Instituto Oficial de Certificação de Sementes da Tanzânia (TOSCI) em Dezembro de 2008. Como preparação para a sua libertação, a Tanseed produzira antecipadamente durante o ano duas toneladas de sementes-mãe (sementes geradoras) para satisfazer a produção projectada de 100 toneladas de semente certificada durante a estação de cultivo seguinte. Parte da semente destina-se a um programa alargado de gestão responsável e ética do produto, para aumentar a consciencialização e utilização do mesmo, enquanto o resto será vendido a agricultores através de agentes agrários. O agricultor Kennedy Okumu (centro) por ocasião da sua visita à AATF para dar as boas novas da sua cultura de milho saudável. Kennedy Okumu, agricultor Outras actividades de consciencialização criadas para informar os agricultores sobre a eficácia da tecnologia Komesha Kiduha incluíram dias no campo, workshops de formação e os meios de comunicação social. Este trabalho foi fundamental para possibilitar o forte apoio às actividades do milho IR por decisores como os Directores de Investigação e de Produção de Culturas e os Comissários Regionais do governo da Tanzânia. Para gerar dados sobre o potencial de rendimento e outras características agronómicas, foram plantadas e avaliadas várias outras variedades de polinização aberta e híbridos do milho StrigAway em vários locais da Tanzânia, como preparação para os ensaios de desempenho nacional. Não surpreende que os híbridos tenham originado rendimentos muito superiores por comparação com as variedades de polinização aberta (7 t/ha a 9 t/ha, por comparação com 1,3 t/ha a 4,6 t/ha). Além disto, as avaliações efectuadas em quintas revelaram uma preferência distinta dos agricultores pelos híbridos, baseada não só no maior potencial de rendimento, mas também no aspecto atraente da cor branca do grão e no sabor da farinha cozinhada. Controlo da planta-parasita Striga no Uganda Em 2008 foram estabelecidos 1.000 ensaios em quintas na região oriental do Uganda, nos distritos de Busia, Budaka, Tororo e Namutumba, altamente infestados por Striga. Este trabalho foi realizado em parceria com Africa 2000 Network, o parceiro principal da iniciativa de implementação, a Organização Nacional para a Investigação Agrícola (NARO), os Serviços Consultivos Agrícolas Nacionais (NAADS), o Ministério da Agricultura, a BASF e o CIMMYT. A NARO também está a testar seis híbridos de milho IR promissores, com potencial para libertação comercial em Uganda. 12 O milho é uma cultura muito importante para nós. É o nosso alimento principal e quase todas as nossas refeições, sejam elas o pequeno-almoço, o almoço ou o jantar incluem o milho. Comemos milho até mesmo nas grandes celebrações, como casamentos, barazas do chefe e funerais. Preparamos o milho de várias maneiras diferentes, como em nyuka (papas de aveia), nyoyo (milho cozido com feijões), kuon (papas de aveia espessas) e band abula (milho assado). Por este motivo, todos os agricultores da minha área plantam milho, principalmente para uso pessoal e, se houver um excedente, para ser vendido no mercado. Contudo, a minha avó aconselhou-me a não plantar milho. Ela disse-me que a terra tinha sido amaldiçoada pelos nossos antepassados e, portanto, a cultura do milho não se desenvolveria ali. Aconselhou-me a construir uma casa em vez de esbanjar o dinheiro a tentar cultivar milho. Não segui os seus conselhos e tentei plantar milho, mas para dizer a verdade, os meus esforços foram fúteis. Tenho sofrido muito nesta terra. Estação após estação a minha colheita é pobre. Isto deve-se a Kayongo (Striga) que não deixa crescer o milho. Por vezes colho apenas seis gorogoros (uma lata de dois quilos usada para medir o milho nos mercados) no meu terreno de três quartos de um hectare, o que não basta para sustentar a minha família. Não importa o número de vezes que eu limpo a terra das ervas daninhas, porque o kayongo vence sempre. Portanto fiquei muito contente quando ouvi falar de uma semente de milho que não é destruída por Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas kayongo e pedi para a experimentar. O que observei é para mim um verdadeiro milagre – e eu sou um ervanário! Agora o meu milho é muito saudável e a minha mulher está disposta a matar as ervas daninhas, encorajada pela boa colheita. Os meus vizinhos também notam a diferença. Até mesmo o chefe da nossa área veio ver o meu milho e quer experimentar este milho milagroso! E a minha avó observa atentamente, para ver se a semente irá quebrar a maldição da nossa terra. Pessoalmente estou muito satisfeito e gostaria que outros agricultores tivessem também a semente, para juntamente podermos encher os nossos celeiros com este cereal que é tão importante para as nossas vidas. A começar o trabalho de controlo da Striga no Malawi A AATF está a colaborar com o CIMMYT-Zimbabwe para facilitar as actividades de implementação com uma empresa de sementes local, a ZUM Seeds Ltd. Inicialmente esta empresa de sementes produziu 300 kg de milho StrigAway OPV (variedade de polinização aberta) a partir de quatro quilos de sementes geradoras (foundation seeds). Também adquiriu mais 70 kg de semente de milho IR de polinização aberta (OPV) do CIMMYT. Foi também planeada para 2009 uma reunião de planeamento e revisão para as partes interessadas, na qual se desenvolverá mais detalhadamente uma estratégia de implementação para o Malawi. Intensificação da ofensiva contras as plantas-parasitas Striga A AATF continuará a alargar as iniciativas de controlo da Striga a países-alvo da ASS (África Subsariana). Para isso estão em curso consultas com parceiros públicos e privados no Zimbabwe, Moçambique, África do Sul, Nigéria e Gana, para desenvolver estratégias e planos de implementação do milho StrigAway. O principal desafio enfrentado pela AATF e os seus parceiros na campanha contra a Striga é como intensificar a produção de semente de milho IR certificada e o seu acesso pelos agricultores em países onde a tecnologia foi comprovada e comercializada. Contudo, nenhum planeamento será eficaz sem recursos de implementação adequados. Por isso, a AATF está a empenhar-se de modo especial para identificar e obter financiamento para projectos que permitam a produção de semente certificada suficiente e a gestão responsável e ética do produto, para benefício dos agricultores. Isto contribuirá para que a promessa do milho StrigAway seja uma realidade e, deste modo, transforme a vida de milhões de pequenos agricultores de milho africanos. Para mais informações, contacte Gospel Omanya ([email protected]) Projectos da AATF 13 Ensaios de Campo Controlados de Feijão-Frade Resistente a Maruca para África 70% a 80% Os agricultores de feijão-frade continuam a sofrer perdas nas colheitas da ordem dos 70% a 80% devido a várias limitações bióticas e abióticas. O feijão-frade é considerado a leguminosa para grão alimentar mais importante nas savanas secas da África tropical. É consumido por cerca de 200 milhões de pessoas em África onde é cultivado em mais de 12,8 milhões de hectares de terreno. O legume é rico em proteína de qualidade e é uma fonte de proteína alternativa para os que não têm meios para comprar carne ou peixe. Além disto, o feijão-frade tem um valor energético quase equivalente ao dos cereais. Também é uma boa fonte de forragem para o gado e uma receita para milhões de pessoas. Além disso, a cultura também aumenta a fertilidade do solo devido à sua capacidade de fixar o azoto, além de proporcionar um bom controlo da erosão dos solos. A primeira é o uso de insecticidas na cultura. Contudo, os produtos químicos apropriados são em geral caros e inacessíveis à maioria dos pequenos agricultores. Isto obriga-os a usar alternativas não aprovadas e perigosas, que são nocivas à sua saúde e para o ambiente. Em alguns casos, os agricultores simplesmente toleram os danos causados pelo insecto porque não possuem uma maneira eficaz de controlar a Maruca. A segunda estratégia provável para este problema da Maruca é a resistência da planta hospedeira, com variedades de feijão-frade que possuam uma capacidade intrínseca para se protegerem contra o ataque da praga. Uma vez desenvolvida esta abordagem, ela facilitará e tornará mais económica a produção de feijão-frade para os agricultores em áreas onde esta praga constitui um problema. Contudo, os agricultores de feijão-frade continuam a sofrer perdas nas colheitas da ordem dos 70% a 80% devido a várias limitações bióticas e abióticas. A maior parte dos danos é causada pela praga Maruca, uma broca-das-vagens voraz que ataca intensamente a cultura e a destrói durante as fases de floração e formação das vagens. Devido a estas perdas, os rendimentos médios de feijão-frade em África são bastante baixos, cerca de 0,05 t/ha a 0,55 t/ha, muito inferior ao rendimento potencial de 2,0 t/ha a 2,5 t/ha, de acordo com estudos realizados pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) e pelo Programa de Apoio à Investigação Colaborativa do Feijão/ Feijão-Frade da USAID (Universidade de Purdue). Há duas soluções possíveis para o controlo dos danos causados pela broca-das-vagens Maruca nas culturas de feijão-frade. Este projecto coordenado pela AATF envolve a introdução no feijão-frade do gene que codifica uma proteína insecticida de uma bactéria que ocorre natural e extensamente no solo, chamada Bacillus thuringiensis ou Bt. Existem mais de 500 estirpes diferentes de Bt, cada uma das quais tóxica para uma gama específica de espécies de insectos, mas que se provou não serem nocivas para os seres humanos e animais, por exemplo, pássaros, peixes e insectos benéficos. O principal constituinte de Bt que é tóxico para os insectos é uma proteína cristalina (toxina). Portanto, o projecto está a focalizar-se nas proteínas Bt que se sabe serem tóxicas para as brocas-das-vagens, especialmente O primeiro ensaio de campo de feijão-frade resistente a Maruca foi realizado em Porto Rico em 2008. Este foi um marco decisivo na busca de feijão-frade de alto rendimento, capaz de resistir à voraz broca-das-vagens, para os pequenos agricultores. 14 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas para a Némesis dos agricultores de feijão-frade africanos, a Maruca vitrata. O objectivo final é aumentar significativamente o rendimento das culturas de feijão-frade para milhões de pequenos agricultores em África sem ser necessário recorrer a pesticidas perigosos para o ambiente, insumos agrícolas caros que, de qualquer modo, estão fora do alcance das suas posses. Feijão-frade transgénico testado no campo Uma das maiores realizações do longo e vigilante processo de desenvolvimento de um feijão-frade resistente a Maruca têm sido os ensaios de campo controlados (ECC) das melhores linhas transgénicas experimentais de feijão-frade para determinar como elas resistem a forte infestação de insectos. O local seleccionado para esta etapa decisiva foi Porto Rico, não só devido à grande incidência da praga Maruca, mas também devido aos regulamentos e protocolos de segurança biológica bem desenvolvidos do país. Além disto, Porto Rico possui condições agro-climáticas semelhantes às das principais áreas produtoras de feijão-frade em África. Também existe um relacionamento de colaboração entre a Universidade de Porto Rico em Mayaguez e os parceiros do projecto. A autorização para a investigação foi solicitada aos Serviços Regulamentares de Biotecnologia (BRS) da USDA-APHIS, ao Ministério da Agricultura de Porto Rico e ao Comité Institucional para a Segurança Biológica da Universidade de Porto Rico. Os ECC realizados em Porto Rico incluíram as 14 linhas transgénicas principais desenvolvidas até à data pelo Dr. T. J. Higgins e pela sua equipa no laboratório de Indústria de Plantas da Organização da Investigação Científica e Industrial da Commonwealth (CSIRO) na Austrália. De modo geral este ensaio de campo controlado inicial indicou que as linhas cresciam e se desenvolviam bem nas condições de campo. Os ensaios também mostraram que a proteína Bt oferece resistência às brocas-das-vagens Maruca, por comparação com os controlos. Os resultados observados neste ensaio são típicos dos valores encontrados anteriormente para produtos de culturas GM. Os parceiros do projecto consideram os ECC como boa experiência de aprendizagem no que respeita ao modo como os ensaios devem ser geridos e à futura selecção de linhas transgénicas a serem testadas. A informação recolhida neste primeiro ensaio está a ajudar os investigadores a identificarem linhas transgénicas adicionais promissoras, de entre as que estão a ser produzidas na CSIRO. De facto, algumas das linhas dos ECC realizados em Porto Rico serão incluídas em ensaios adicionais em sessões semelhantes planeadas para 2009 naquele país e, possivelmente, na Nigéria. O evento final seleccionado para libertação será substancialmente equivalente a linhas isogénicas, em termos da composição e das qualidades agronómicas. O Dr. Mohammad Ishiyaku examina o desempenho do feijão-frade numa estufa. Dr. Mohammad Ishiyaku Comecei a trabalhar com o feijão-frade (conhecido por “feijão” ou “feijão miúdo” na Nigéria) em 1989. Interessei-me por esta cultura devido ao seu grão significativamente nutritivo, que contém um grande teor de proteínas. De facto, é por esta razão que o feijão-frade é conhecido na Nigéria por “naman talaka”, um termo da língua hausa que significa “carne dos pobres”. De modo geral o feijão-frade tem um papel essencial na vida do meu povo. É preparado de formas diferentes para cada refeição, ou como snacks como Kosai, moimoi, Tubani Kato-da-lage e danwake. Também comercializamos a cultura e usamo-la como forragem para o nosso gado. O feijão-frade é conhecido por aumentar a fertilidade do solo e controlar a sua erosão. Também proporciona emprego e em alguns casos é usado como medicamento. Queria aliar-me ao “exército” de combate à malnutrição e fome existente entre os africanos, ajudando a aumentar a disponibilidade desta cultura incrivelmente resistente por meio do desenvolvimento de variedades mais produtivas. A produção de feijão-frade é muito limitada, especialmente por pragas de insectos – especialmente a broca-das-vagens Maruca. Estação após estação observo o desapontamento nos rostos dos agricultores quando as suas colheitas são muito inferiores ao esperado. Quanto a mim, o ponto de viragem na luta contra esse insecto ocorreu em 2001 com a criação da Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 15 Rede para a Melhoria Genética do Feijão-Frade para África (NGICA). Finalmente, pensei, a situação difícil dos agricultores de feijão-frade estava a ser tomada a sério e procuravam-se soluções eficazes. E eu tinha razão. A NGICA, um órgão internacional voluntário de indivíduos empenhados na melhoria genética do feijão-frade, reúne cientistas e outros especialistas de todo o mundo para partilharem o seu conhecimento e as suas experiências. Foi através da NGICA que se sugeriu uma solução possível para o combate à Maruca – a transformação genética do feijão-frade a fim de criar resistência ao insecto. Quando a NGICA abordou a AATF para a ajudar a aceder aos direitos de utilização do gene Bt (cry1Ab) da Monsanto Company para o desenvolvimento de feijão-frade resistente à Maruca, comecei a ter esperança para os nossos agricultores. Hoje vejo essa esperança prestes a transformar-se em realidade e anseio pelo dia em que poderei partilhar a semente de feijão-frade resistente à Maruca com os agricultores. Para realizar qualquer trabalho é importante ter nas mãos as ferramentas necessárias. Para mim, o acesso ao gene de resistência e o trabalho com uma parceria forte, dedicada e bem coordenada proporcionaram-me as ferramentas de que necessito para ajudar o meu povo. Esta parceria dá-me a mim, assim como a outros cientistas em África e no estrangeiro, a oportunidade de fazer uma diferença nas condições de vida do nosso povo. Para uma conformidade com os regulamentos nos paísesalvo A AATF iniciou em 2008 o processo para a realização de ECC em África em três países-piloto, Burkina Faso, Gana e Nigéria, em 2009. A infra-estrutura regulamentar destes três países ainda está em desenvolvimento e o nível de experiência de pedidos de realização de ensaios de campo de organismos geneticamente modificados (OGMs) varia muito. Mesmo assim, conseguiu-se um progresso significativo. Em Burkina Faso, o Instituto do Ambiente e das Pesquisas Agrícolas (INERA) dirigirá a obtenção das aprovações necessárias, enquanto em Gana essa actividade será dirigida pelo Instituto de Investigação Agrícola CSIR-Savanna. Na Nigéria, o Instituto de Investigação Agrícola (IAR) em Zaria criou formalmente o Comité Institucional para a Segurança Biológica (IBC), para acelerar a análise do pedido de ensaio de campo controlado de feijão-frade resistente à Maruca submetido ao Comité Nacional para a Segurança Biológica do Ministério Federal do Ambiente. Espera-se a aprovação na Nigéria para o início de 2009. Em Gana e na Nigéria foram identificados os locais dos ECC, que em breve serão seleccionados em Burkina Faso. Para mais informações, contacte Nompumelelo H. Obokoh ([email protected]). Os agricultores são outra parte importante do meu trabalho: considero-os como meus parceiros-chave e estou frequentemente em contacto com eles, escutando-os, discutindo com eles maneiras de fazer as coisas diferentemente, ou simplesmente conversando sobre a lavoura e a vida em geral. O meu relacionamento estreito e fácil com eles é uma das minhas ferramentas de trabalho principais. Ao fim e ao cabo, a minha vida tem sido vivida e moldada por estas pessoas, de cujo trabalho e suor tanto depende o continente. Um agricultor num campo de feijão-frade na Nigéria. 16 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 17 Aumentar a Resistência à Murchidão Bacteriana da Banana 25% As bananas fornecem mais de 25% do consumo energético de cerca de 100 milhões de pessoas na África Subsariana. A banana e a banana-de-são-tomé são fontes de alimento importantes em vários países da África Subsariana (ASS). Contudo, os agricultores de bananas, principalmente os da região dos Grandes Lagos, enfrentam uma limitação crescente à produção da cultura devido à disseminação de uma doença devastadora conhecida por murchidão bacteriana da banana ou murchidão Xanthomonas da banana (BXW em inglês). Quando infectadas, as bananeiras murcham e morrem rapidamente. Isto representa uma perda, não só para os agricultores mas também para os consumidores, porque a escassez crescente deste alimento base importante faz aumentar o seu preço no mercado. Cerca de um terço de todas as bananas produzidas anualmente no mundo são cultivadas na África Subsariana (ASS) onde as colheitas fornecem mais de 25% do consumo energético de cerca de 100 milhões de pessoas. A África Oriental e Central são as regiões de maior produção e consumo de bananas do continente. Nestes países a cultura contribui com mais de 30% do consumo calórico diário per capita, assim como com uma porção significativa da receita dos pequenos agricultores. Infelizmente, a produção desta cultura está a ser cada vez mais ameaçada pela murchidão Xanthomonas da banana (BXW), causada pela Xanthomonas campestris pv. Musacearum. As perdas anuais devidas à BXW estão actualmente estimadas em mais de USD 500 milhões. A BXW afecta quase todas as cultivares comuns de bananas e o dano causado é muito grande, por ser muito rápido. A BXW foi comunicada pela primeira vez na Etiópia há cerca de 40 anos, onde parecia estar isolada até 2001, quando foi 18 observada pela primeira vez em Uganda, o segundo maior produtor de bananas depois da Índia. Desde então a doença alastrou rapidamente através da África Oriental e Central, ameaçando o sustento e a segurança alimentar de milhões de pessoas. O impacto económico da BXW é devido à morte da planta-mãe, que é essencial para o ciclo de produção normal da planta. Os campos infestados com BXW não podem voltar a ser plantados com bananeiras durante pelo menos seis meses, devido à migração de inóculum presente no solo. E até mesmo então é difícil controlar a doença e impossível erradicá-la totalmente. A experiência de doenças da murchidão bacteriana de outras culturas mostra que, frequentemente, o meio mais sustentável e económico de controlar a doença é a utilização de variedades resistentes. Contudo, não há fontes conhecidas, actualmente disponíveis, de resistência genética natural à BXW no germoplasma da banana, o que limita a possibilidade de utilizar meios convencionais de melhoramento da planta para produzir cultivares resistentes. O projecto BXW No início de 2004 os cientistas do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), em parceria com a Organização Nacional para a Investigação Agrícola (NARO) do Uganda, iniciaram o desenvolvimento de bananas transgénicas resistentes a BXW. Em Março de 2005 o IITA abordou Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas a AATF procurando aceder a genes candidatos que pudessem dar resistência contra a BXW. Consequentemente essas duas organizações, em colaboração com a NARO, lançaram um projecto com o objectivo de produzir cultivares de banana resistentes a BXW através de transformação genética. Desde então conseguiu-se um progresso considerável no sentido de movimentar dois genes resistentes isolados do pimentão, com base no trabalho realizado pela Academia Sinica em Taiwan. É possível que este genes, o gene de proteína tipo ferrodoxina do pimentão (pflp) e o gene de proteína que auxilia a resposta à hipersensibilidade (hrap), possam oferecer a solução de que tão urgentemente se necessita para a pandemia da BXW. Foram transformadas cinco cultivares de bananas preferidas localmente – Pisang Awak (Kayinja), Nakitembe, Mpologoma, Sukali Ndizi e Nakinyika – utilizando genes pflp ou hrap que foram testados em condições laboratoriais para determinar a sua resistência a BXW, com resultados convincentes. Os investigadores têm agora à sua disposição várias linhas transformadas contendo os genes pflp ou hrap para testes laboratoriais adicionais e ensaios de campo confinados. A etapa seguinte do projecto consiste em demonstrar que a combinação dos genes pflp e hrap nas mesmas cultivares de bananas aumenta a sua resistência. Este trabalho foi iniciado em 2008 e continuará em paralelo com a preparação de estratégias de aprovação regulamentar e planos de acção para os países-alvo da região dos Grandes Lagos de África. A auditoria da micropropagação da banana É essencial que o trabalho laboratorial de transformação e a preparação regulamentar exaustiva sejam complementados pela capacidade de implementação de práticas de produção de culturas de tecidos (CT) dos países-alvo. Estes países também necessitam de ter sistemas para a produção de plântulas de Banana geneticamente modificada na Estação de Investigação de Kawanda, Uganda. banana melhoradas. Além disto, também é importante que os agricultores consigam ter acesso a estas plântulas quando elas estiverem disponíveis para o projecto. Por este motivo em 2008 a AATF comissionou ao Centro Africano para o Bio-empreendedorismo (CABE), com sede em Nairóbi, uma auditoria de tecnologia independente para a região dos Grandes Lagos com três objectivos primários: • Aceder ao estado actual das facilidades de produção de CT e identificar as principais limitações à adopção e utilização de tecnologias da banana para CT na região; • Propor intervenções possíveis que possam salientar a adopção e utilização das tecnologias de CT mais recentes; • Rever a produção de plântulas e as tendências de marketing, avaliar os contactos entre as diferentes instituições envolvidas e os enquadramentos de políticas locais dos países dos Grandes Lagos. A auditoria mostrou que todos os laboratórios da região têm as facilidades básicas necessárias para produzir materiais para CT, embora o seu nível de desenvolvimento e sofisticação varie consideravelmente. O pessoal e membros do Conselho de Administração da AATF durante uma visita à Estação de Investigação de Kawanda em Março de 2008. Por outro lado, a capacidade de produção é geralmente limitada por falta de equipamento apropriado e de pessoal com a devida formação. O estudo revelou a existência de fortes ligações entre as instituições de investigação chave, tais como universidades e organizações nacionais de investigação agrícola, e entre elas e os parceiros de desenvolvimento que operam na região. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 19 Estas incluem agências de desenvolvimento internacionais, organizações não governamentais (ONGs), organizações baseadas na comunidade (OBCs), organizações de crédito, etc. O estudo do CABE indica que a principal limitação ao desenvolvimento e implementação da tecnologia de CT na região dos Grandes Lagos é a falta de financiamento adequado para o processo, o que não surpreende. Os investimentos iniciais necessários para estruturas e equipamento são significativos, assim como os custos subsequentes de sustentação do trabalho de CT ao longo do tempo. Outras dificuldades incluem práticas de produção ineficazes, ausência de estratégias de marketing eficazes, envolvimento mínimo dos agricultores e enquadramentos de políticas não solidárias. A auditoria fez várias recomendações para a resolução das deficiências do actual sistema, incluindo: • Criação de um fundo especial, ou estabelecimento de acordos com organizações de crédito, para apoiar o desenvolvimento de uma infra-estrutura em condições mais favoráveis; • Criação de um fórum para as partes interessadas envolvidas na supervisão do desenvolvimento das facilidades de produção de CT e directrizes; • Exploração de meios para aumentar a eficiência dos processos de CT, tais como a adopção de “micropropagação fotoautotrópica”; • Subcontratação de serviços laboratoriais que não constituam actividades principais ou que só sejam necessários ocasionalmente; e • Exercer pressão sobre os governos dos países-alvo da região para renunciarem a direitos de importação sobre materiais laboratoriais seleccionados a fim de estimular a produção de CT. Etapas seguintes Como seguimento à auditoria do CABE, a AATF planeou um workshop sobre a propagação de CT a realizar em 2009, em colaboração com a Academia Sinica. O workshop tratará de questões de controlo de qualidade do processo de CT, rendimento da produção, assim como oportunidades para a implementação de plântulas de CT através de organizações dos sectores público e privado que visem especificamente os pequenos agricultores. O trabalho de laboratório também continuará a bom ritmo, com transformações e ensaios de eficácia in-vitro adicionais a realizar, especialmente em relação à combinação dos genes pflp e hrap. Para mais informações, contacte Hodeba J. Mignouna ([email protected]) 20 O Sr. Erostus Nsubuga (à esquerda), CEO e proprietário da Agro-Genetic Technologies Ltd durante uma visita à Academia Sinica em Taiwan. Sr. Erostus Nsubuga Antes de fundar a Agro-Genetic Technologies Ltd em 2001 desempenhei vários cargos para várias organizações de negócios. Isto deu-me a oportunidade de adquirir experiência empresarial em marketing internacional em África, Ásia e na Europa. A AGT é a primeira, e até à data a única, empresa privada no Uganda que usa biotecnologia (cultura de tecidos) para a micropropagação de várias culturas. Dependendo do tipo de cultura, conseguimos produzir anualmente até 10 milhões de plântulas. O negócio traz muitos desafios em alguns casos, mas também traz satisfação e entusiasmo. Ele dá-me a oportunidade de aprender constantemente e de fazer novos amigos em todo o mundo. Aquilo que me dá uma satisfação especial no meu trabalho é o facto de ele contribuir directamente para as condições de vida dos meus clientes – os pequenos agricultores – e, através disso, para o desenvolvimento económico do meu país. Portanto, estou empenhado em desenvolver a AGT e em geral acolho com agrado as iniciativas e parcerias que contribuam para o crescimento do negócio. Nesse contexto tenho imenso prazer e considero um privilégio ter sido convidado pela AATF para, juntamente com outras organizações de culturas de tecidos da região dos Grandes Lagos, viajar até Taiwan para observar e aprender técnicas de produção melhoradas que nos poderão ajudar a alcançar os nossos objectivos de negócio. O que vimos em Taiwan foi muito encorajador e ofereceu oportunidades para aumentarmos os nossos níveis de produção de plântulas e para reduzir os Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas custos de produção. As novas técnicas devem permitir que os nossos clientes tenham acesso a mais plântulas de culturas de tecidos livres de doenças e pragas a preços mais acessíveis do que antes. A disponibilidade de materiais de plantio de tão alta qualidade para os agricultores não só aumenta o rendimento, mas também reduz o alastramento de várias doenças, como a murchidão bacteriana da banana. Os nossos desafios agora são dar formação ao pessoal da AGT nas técnicas que aprendemos em Taiwan e também adquirir o equipamento laboratorial e os produtos químicos de que necessitamos para tirar o máximo benefício das novas práticas de produção de plântulas. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 21 Desenvolver Milho com Eficiência Hídrica para África 2,5 a 4 vezes A combinação de abordagens de melhoramento convencional de plantas e de biotecnologias avançadas permitirá a obtenção de ganhos genéticos específicos num prazo de 10 a 15 anos, o que é 2,5 a 4 vezes mais rápido do que utilizando apenas o melhoramento convencional de plantas. A seca é um problema recorrente em muitas partes da África Subsariana (ASS). A maioria dos pequenos agricultores da região cultiva o milho como sua cultura principal, tanto para consumo doméstico como para venda nos mercados locais, dependendo das chuvas para produzir as colheitas. Os ciclos da cultura do milho são, contudo, frequentemente caracterizados por chuvas erráticas e períodos de seca que ameaçam o sustento e a segurança alimentar de milhões de pessoas. Em Março de 2008 a AATF e vários parceiros, incluindo os Sistemas Nacionais de Pesquisa Agrícola (NARS) do Quénia, Moçambique, África do Sul, Tanzânia e Uganda, a Monsanto Company e o Centro Internacional para o Melhoramento de Milho e de Trigo (CIMMYT) lançaram uma importante parceria público-privada com o objectivo de reduzir o risco que as secas periódicas representam para os pequenos agricultores africanos. A iniciativa, conhecida por Milho com Eficiência Hídrica para África (WEMA) é financiada pela Fundação Bill and Melinda Gates e pela Fundação Howard G Buffet para uma fase inicial de cinco anos. O projecto WEMA pretende capitalizar uma combinação inovadora de melhoramento convencional do milho, selecção assistida por marcadores e biotecnologias de ponta, com o objectivo final de produzir variedades de milho de maior rendimento e tolerantes à seca, que possam originar rendimentos mais consistentes em condições de seca moderada, e torná-las acessíveis a milhões de pequenos produtores de milho africanos na ASS. 22 O projecto WEMA foi viabilizado por um acordo histórico anterior assinado em Janeiro de 2008 pela AATF, a Monsanto Company e o CIMMYT. No acordo o CIMMYT e a Monsanto comprometeram-se a desenvolver novas variedade de milho tolerantes à seca e a oferecer à AATF o licenciamento dos materiais melhorados sem encargos de royalties, para facilitar a sua distribuição pelos pequenos agricultores de África. A parceria do WEMA desenvolverá as vantagens comparativas de cada parceiro, permitindo-lhes atingir mais resultados juntos do que obteriam individualmente. O projecto reúne a vasta experiência dos parceiros em biotecnologia e métodos convencionais de melhoramento de plantas. Por exemplo, a Monsanto traz para o projecto o seu germoplasma exclusivo, competências em melhoramento convencional e molecular de plantas e transgenes com tolerância à seca, adquiridos através do seu programa comercial de tolerância à seca. Por seu lado o CIMMYT possui dezenas de anos de experiência de campo de melhoramento convencional do milho para tolerância à seca. A organização também tem acesso a germoplasma de milho avançado que já contém muitas das características preferidas Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas pelos agricultores africanos. Os cinco parceiros dos NARS contribuirão com a sua competência em ensaios de campo e facilitarão a interacção com as partes interessadas nos países respectivos, como parte do processo de criação de sistemas regulamentares. Na sua qualidade de líder global do projecto, a capacidade e experiência de desenvolvimento de produtos, gestão responsável e ética do produto e implementação do produto da AATF serão extremamente úteis. Além disso, a iniciativa também terá sólido apoio devido à merecida reputação da Fundação, de “mediador honesto” capaz de assegurar uma gestão aberta e imparcial das parcerias público-privadas. Organização do projecto e progresso alcançado em 2008 O projecto WEMA está organizado em torno de quatro conjuntos de actividades principais: • Desenvolvimento do produto; • Conformidade regulamentar; • Iniciativas de comunicação e alcance; e • Gestão do projecto e governância. Estas actividades chave são realizadas através de equipas especializadas cujos membros são seleccionados das organizações de parceria. As equipas ajudam o Gestor de Projecto a conseguir alcançar as metas e marcos importantes. A supervisão do projecto é efectuada por meio de um Comité de Operações e de um Quadro Consultivo Executivo. Foram constituídas as equipas de projecto responsáveis pela implementação e/ou a supervisão de cada uma destas áreas de trabalho. Cada uma delas desenvolveu estratégias e planos de trabalho que foram integrados numa estratégia de implementação global e coerente do WEMA. No que se refere à investigação, a Monsanto e o CIMMYT estão a usar o seu germoplasma de elite de milho tolerante à seca para utilização no melhoramento convencional de plantas, no desenvolvimento de populações de duplos haplóides, projectos de melhoramento assistido por marcadores e para a integração de transgenes tolerantes à seca. O germoplasma inclui linhas consanguíneas de milho de elite que estão adaptadas às ecologias tropicais de média altitude da ASS. Na África do Sul iniciaram-se os testes de milho transgénico tolerante à seca (TTS), para começar o desenvolvimento de testes e protocolos de conformidade apropriados para o projecto. Ao mesmo tempo avançou-se consideravelmente com a instalação de facilidades para o desenvolvimento e teste do germoplasma do milho. Isto incluiu locais em campo para os ensaios de seca controlados para o melhoramento convencional na Monsanto e CIMMYT, assim como para os ensaios de campo confinados das variedades tolerantes à seca em cada um dos cinco países dos NARs. Na área da conformidade regulamentar foi criada uma equipa de regulamentação do projecto global. Até agora, ela desenvolveu um plano de acção geral para o cumprimento dos vários requisitos de segurança biológica nos cinco países do WEMA. Adicionalmente, constituíram-se em cada país equipas de regulamentação no Quénia, Uganda, Tanzânia e África do Sul, cada uma delas com um mandato claro para orientar as suas actividades. Em Outubro foram comissionados os serviços de um consultor para examinar o panorama regulamentar nos cinco países parceiros e o primeiro relatório preliminar foi entregue no fim do ano. Além disto, a equipa de regulamentação do WEMA colaborou com a equipa de desenvolvimento de produto do projecto para definir os critérios de selecção de locais de quarentena aberta nos cinco países. Com estes critérios, os parceiros dos NARs prosseguiram com a identificação de locais candidatos para os ensaios de campo nos seus países e a selecção final será concluída no início de 2009. No início do projecto constituiu-se uma equipa de comunicações e alcance do WEMA incluindo especialistas em comunicações, assuntos públicos, políticas e representação da AATF, CIMMYT, Monsanto, Fundação Bill and Melinda Gates e dos cinco países do projecto. Em 2008 desenvolveu-se uma estratégia global e planos de acção específicos O Dr. Stephen Mugo (à direita) do CIMMYT explica aos produtores de milho dos Sistemas Nacionais de Pesquisa Agrícola do projecto WEMA como opera o local de quarentena na estação de Kibobo, por ocasião de uma visita de campo. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 23 do país, que foram testados pela primeira vez em Março por ocasião do anúncio público formal do projecto em Kampala, Uganda. O evento suscitou um interesse considerável, e de modo geral muito positivo, durante todo o ano entre os meios de comunicação internacionais. Em termos de governância do projecto criou-se um Quadro Consultivo Executivo do Projecto WEMA para proporcionar conhecimentos especializados para o projecto, quando necessário. Implementou-se um Comité de Operações para ajudar a garantir que os marcos importantes do projecto são alcançados atempadamente. O Comité de Operações comunica pelo menos uma vez por mês com as outras equipas de implementação para resolver os problemas que possam ocorrer e consulta regularmente o Quadro Consultivo. Impactos esperados Esperam-se vários impactos no decorrer da vida do projecto. Prevê-se que a disponibilidade de transgenes da seca, sem encargos de royalties, assim como de germoplasma do milho da Monsanto e do CIMMYT estimule a formação e a criação de capacidade do programa nacional e das empresas privadas de sementes em actividades relacionadas com a produção de variedades melhoradas tolerantes à seca. O projecto WEMA acelerará substancialmente a distribuição de variedades de milho tolerante à seca pelos pequenos agricultores de África. Está projectado que a combinação inovadora de abordagens de melhoramento convencional de plantas e de biotecnologias avançadas permitirá a obtenção de ganhos genéticos específicos num prazo de 10 a 15 anos, o que é 2,5 a 4 vezes mais rápido do que utilizando apenas o melhoramento convencional de plantas. A seca recorrente é um problema importante para milhões de pequenos agricultores em toda a África Subsariana e, à medida que as alterações climáticas continuam, prevê-se um aumento da frequência e gravidade dos períodos de seca na região. Melhorando a estabilidade do rendimento durante os períodos de seca moderada, as novas variedades de milho ajudarão a proteger as condições de vida dos agricultores. Por seu lado, isto possibilitará e incentivará potencialmente a diversificação de culturas a nível da quinta e os investimentos na utilização de práticas melhoradas de gestão de culturas. A nível nacional, isto traduzir-se-á em redução da pobreza, redução da importação de alimentos e uma base mais sólida para o desenvolvimento económico futuro. Para mais informações, contacte Sylvester Oikeh ([email protected]) 24 O Dr. Alois Kullaya (em primeiro plano) num campo de milho em Kiboko, Quénia, durante uma actividade de formação do WEMA sobre melhoramento do milho com tolerância à seca em Setembro de 2008. Dr. Alois Kullaya Trabalho no melhoramento de plantas há 28 anos, dedicando a maior parte da minha carreira à pesquisa de vias de melhoramento dos rendimentos do coco, a cultura oleaginosa perene mais importante da Tanzânia. Desde Junho de 2008 que coordeno o projecto Milho Com Eficiência Hídrica para África (WEMA) na Tanzânia. O projecto procura desenvolver variedades de milho tolerante à seca usando as ferramentas da biotecnologia. Estou muito interessado em biotecnologia e nas vantagens que pode oferecer aos agricultores da Tanzânia e à segurança alimentar global do país. De facto, sou um dos poucos cientistas da Tanzânia envolvidos em actividades de consciencialização do público em geral, para que este aprecie as vantagens da biotecnologia para o país. O milho é o alimento base da Tanzânia. É o principal ingrediente dos pratos locais tanzanianos de ugali (mistura densa de água e farinha de milho), uji (papas de aveia) e akande (mistura de milho e feijões) e é cultivado em cerca de dois a três milhões de hectares. Na Tanzânia, tal como acontece em outros países de África, o milho temse tornado, infelizmente, cada vez mais escasso ao longo dos anos. Entre as principais causas dos baixos rendimentos contam-se as sementes de milho de qualidade inferior e o baixo uso de fertilizantes. O problema é agravado pelas secas e pragas que parecem ter conspirado para assegurar que os rendimentos de milho continuam Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas baixos. Consequentemente, a produção média de milho em África é de apenas uma tonelada e meia por hectare, comparada com cerca de oito toneladas em muitos países desenvolvidos. Como cientista agrícola, este cenário preocupa-me. Tenho conjecturado como ajudar os agricultores do meu país a lidarem com as alterações climáticas e com a seca, especialmente devido ao efeito destes factores na sua fonte de alimento principal. Além disto a seca tem tido um efeito adverso, não só nos agricultores mas também no país em geral. Devido ao seu uso generalizado, a oferta decrescente de milho tem enormes implicações económicas na Tanzânia. A economia do país depende fortemente da agricultura, que representa mais de 30% do PIB. Quando a AATF abordou o governo da Tanzânia para participar no projecto WEMA em 2007, começou a brilhar uma luzinha ao fundo do túnel para os agricultores da Tanzânia. Quando o Ministério da Agricultura, Segurança Alimentar e Cooperativas me nomeou para coordenar o projecto WEMA na Tanzânia, fiquei imensamente entusiasmado. Agora tenho a oportunidade de contribuir de modo significativo para a exploração agrícola do milho no meu país e de ajudar os pequenos agricultores a tirarem mais lucro do seu trabalho árduo. Em minha opinião, o que deverá ajudar os agricultores de milho a tirar mais partido das suas quintas é proporcionar-lhes a possibilidade de acederem a sementes melhoradas e a crédito para a compra de fertilizantes e de outros insumos agrícolas. A longo prazo, as variedades de milho tolerante à seca serão uma solução sustentável. E para conseguir isso, a biotecnologia desempenhará um papel muito importante. Algumas pessoas criticam a biotecnologia, principalmente porque não a compreendem, mas tenho esperança de que um dia virá em que a ciência e a tecnologia serão vistas como impulsionadoras dos planos de desenvolvimento económico africano. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 25 O Nosso Projecto de Arroz NUEST 6% A procura de arroz nas dietas africanas está a crescer a uma taxa anual de cerca de 6%. A produção e consumo de arroz em África estão a aumentar rapidamente. Infelizmente o aumento da procura deste alimento base tão importante ultrapassa a sua capacidade de produção pelos pequenos agricultores africanos. Para responder a esta situação a AATF lançou recentemente um importante projecto para aumentar a produtividade do arroz dos pequenos agricultores nas áreas marginais. A procura de arroz nas dietas africanas está a crescer rapidamente no continente, a uma taxa média de 6% ao ano. Contudo, a produção da cultura está a aumentar a um ritmo mais lento, de cerca de 3,5% ao ano. Uma das maiores limitações à produção de arroz em África é a salinização do solo, especialmente em áreas irrigadas nas quais em cada época de colheita são depositadas da água de irrigação 2,5 toneladas de sal por hectare. Outro desafio é o baixo teor de azoto, principalmente devido ao baixo uso de fertilizantes na ASS, que está estimado em 9 kg/ha por comparação com 240 kg/ha na Ásia Oriental. Na África Ocidental apenas, há cerca de 650.000 hectares de produção de arroz ameaçados pela salinização, enquanto nos planaltos há mais de 3 milhões de hectares de arroz (pluvial) afectados por baixos níveis de azoto. O resultante défice da produção de arroz em África, actualmente cerca de 7 milhões de toneladas anuais, força os governos a gastar um total anual estimado em USD 1,7 milhares de milhões na importação de arroz, o que constitui um esgotamento enorme e desnecessário de reservas de moeda estrangeira. Actualmente a maior parte do aumento da produção de arroz resulta da expansão de terreno para a cultura do arroz. 26 Contudo, um estudo de viabilidade realizado pela AATF em 2007 mostrou que se forem cultivadas variedades melhoradas em apenas 10% desta área-alvo, e se essas variedades aumentarem o rendimento em apenas 30% (uma estimativa baixa), os agricultores de arroz produziriam mais 380,000 toneladas do grão por ano. Em Dezembro de 2008 a AATF lançou oficialmente um projecto sobre a transformação genética das variedades de planalto e de planície do Novo Arroz para África (NERICA), para melhorar a sua produtividade em solos pobres em azoto e em campos que com o decorrer do tempo se tornaram demasiado salgados. O lançamento do projecto Arroz Com Utilização Eficiente de Azoto e Tolerante ao Sal (NUEST) para África rematou dois anos de planeamento, estudos de viabilidade e negociações com fornecedores de tecnologia do sector privado, organizações nacionais de investigação agrícola africanas e outras partes interessadas. O projecto foi financiado pela USAID e deve ser implementado ao longo de um período de 10 anos. Ele proporcionará aos pequenos agricultores de arroz variedades de maior rendimento bem adaptadas a áreas de cultura de arroz nos planaltos e planícies de África, onde a depleção do azoto (nos planaltos) e os solos salgados (nas planícies) limitam a sua produção. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Parceiros do projecto As discussões com potenciais fornecedores de tecnologia iniciaram-se já em 2005. Dois anos mais tarde, a AATF concluiu as negociações com a Arcadia Biosciences e o Public Intellectual Property Resource for Agriculture (PIPRA). Em Fevereiro de 2008 foi assinado um acordo formal com a Arcadia para acesso a genes que promovem a utilização eficiente de azoto e a tolerância ao sal. Em Setembro de 2008, a AATF formalizou um acordo com o PIPRA para a doação das necessárias tecnologias de transformação de plantas. Os actuais parceiros de investigação agrícola nacional incluem o INERA (Burkina Faso), CSIR-CRI (Gana), NCIR (Nigéria) e a NARO (Uganda). Estes institutos de investigação nacionais realizarão os ensaios de campo necessários para testar o desempenho das linhas transgénicas. Também realizarão os melhoramentos assistidos por marcadores necessários para movimentar as características desejadas para as variedades de arroz já conhecidas e preferidas dos agricultores e consumidores. Adicionalmente, estes parceiros assegurarão a disseminação de novas variedades pelos pequenos produtores de arroz. O papel da AATF no projecto é a coordenação da parceria e a facilitação da distribuição do produto aos agricultores. Avanço da investigação em 2008 • Validação de Arabidopsis AtPhyB como marcador eficaz da excisão do transposão no arroz (os testes iniciais não permitiram tirar conclusões e estão ser repetidos); e • Construção de vectores de transformação de plantas baseados em transposões que são personalizados para as variedades africanas de arroz com utilização eficiente de azoto e tolerantes ao sal. Estas foram as etapas iniciais para o desenvolvimento das tecnologias de transformação específicas necessárias para o êxito do projecto. Impactos e benefícios previstos do projecto Prevêem-se vários benefícios do projecto do arroz NUEST: • Disponibilizar-se-ão aos investigadores da África Subsariana tecnologias comprovadas, de classe mundial, para o desenvolvimento de variedades de arroz melhor adaptadas a solos salgados e de baixo teor de azoto; • As variedades de arroz preferidas pelos agricultores serão transformadas para Além do estabelecimento formal da estrutura e plano de negócio e de assegurar o financiamento a longo prazo para o projecto NUEST, conseguiu-se um progresso notável em várias áreas relacionadas com a investigação. Durante o ano a Arcadia Biosciences: • Estabeleceu um método inicial de selecção in-vitro para a detecção de plantas de arroz transgénicas com utilização eficiente de azoto; • Melhorou a indução de callus embriogénico a partir da semente madura de variedades NERICA de planalto, testando o uso de resistência à canamicina como marcador seleccionável alternativo para a transformação do arroz; e • Aumentou as sementes de variedades NERICA de planalto disponíveis a fim de assegurar material genético adequado para as experiências de transformação e iniciou a importação de semente das variedades NERICA de planície do Centro Africano do Arroz (WARDA). Com início em 2008, o PIPRA começou a focalizar-se em três objectivos-chave do projecto: • Desenvolvimento de protocolos de transformação de arroz utilizando o gene não exclusivo GR6 HemL como marcador seleccionável; Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 27 melhorar o desempenho em ambientes seleccionados e mais tarde serão disponibilizadas aos agricultores através de canais de sementes comerciais; • A introdução bem sucedida de arroz transgénico de maior rendimento que é desenvolvido e libertado de acordo com os protocolos e regulamentos internacionais de segurança biológica servirá no futuro como exemplo para outras actividades de melhoramento de outras culturas semelhantes; • A capacidade técnica dos investigadores agrícolas africanos, assim como as facilidades por eles utilizadas, serão reforçadas pelo projecto, permitindo-lhes envolverem-se mais eficazmente em actividades de biologia molecular e melhoramento de culturas, cumprir os importantes procedimentos de segurança biológica e gerir eficientemente os programas de testes participativos da tecnologia em quintas; • À medida que as variedades de arroz NUEST são disseminadas, a necessidade de fertilizantes de azoto importados caros diminuirá e/ou o retorno económico resultante da utilização de tais insumos aumentará; • À medida que a produtividade dos pequenos agricultores de arroz aumentar poderão passar de simples agricultura de subsistência para o domínio da agricultura comercial; e • As novas variedades permitirão que os agricultores retomem terrenos de cultura previamente abandonados, reduzindo a escassez de terrenos nas áreas-alvo, ao mesmo tempo que aumentam a produção de arroz. Aos preços actuais do arroz, a produção anual adicional de arroz prevista através da implementação do projecto teria um valor de cerca de USD 10 milhões. Isto implica uma recuperação quase total do investimento a 10 anos de cerca de USD 11 milhões no projecto. Finalmente, uma vez que a importância do arroz nas dietas africanas continua a aumentar, a disponibilidade de variedades novas e mais produtivas que se desenvolvem em solos salgados e de baixo teor de azoto continuará a aumentar a segurança alimentar, bem como a receita dos pequenos agricultores de arroz. Além disto, o potencial para a diversificação de operações na quinta de modo a incluir culturas de alto valor e, em áreas irrigadas, a produção de peixe, ajudará a estabilizar as condições de vida e a nutrição dos agregados familiares nos países-alvo. Para mais informações, contacte Nompumelelo H. Obokoh ([email protected]) 28 O Sr. Eric Rey, Presidente e CEO da Arcadia Biosciences Inc. A Arcadia Biosciences A Arcadia Biosciences foi constituída em 2003 com a missão de desenvolver plantas que aumentem a produtividade e a rentabilidade que os agricultores obtêm das suas terras, ao mesmo tempo que beneficiam a saúde humana e o ambiente. A nossa premissa operacional é que as biotecnologias modernas podem ser utilizadas para desenvolver variedades de plantas melhoradas, que os agricultores desejarão utilizar porque são mais produtivas. Acreditamos também que o uso de tais plantas beneficiará a saúde das pessoas, assim como o ambiente. Por exemplo, a nossa tecnologia para a utilização eficiente de azoto (NUE – nitrogen use efficiency) reduz a necessidade de fertilizante de azoto em cerca de 50%. Isto oferece um benefício económico para os agricultores e, porque é necessário aplicar menos azoto, reduz a lixiviação do elemento para os cursos de água subterrânea, assim como as emissões de óxido nitroso para a atmosfera, protegendo deste modo o ambiente. As nossas tecnologias relacionadas para tolerância ao sal e eficiência hídrica criam oportunidades semelhantes para os agricultores e possuem vantagens ambientais igualmente significativas. Embora a Arcadia seja uma empresa com fins lucrativos com foco principal em sistemas de distribuição de tecnologia convencional, também estamos fortemente empenhados em conseguir extrair das nossas tecnologias o maior valor e Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas alcance possíveis. Com isto em mente, criámos uma política empresarial para disponibilizar tecnologias seleccionadas para certas culturas sem custos e, sempre que possível, em países em desenvolvimento. Após a adopção desta política começámos a procurar oportunidades de aplicação da mesma e foi por isso que me familiarizei com a AATF. Após um diálogo intensivo convencemo-nos de que a AATF era o parceiro ideal para a nossa primeira actividade deste tipo. Ficámos impressionados com a abordagem profissional e pragmática da AATF relativamente aos seus projectos e tranquilizados que as questões-chave envolvendo a gestão responsável e ética do produto estariam em boas mãos. Com base nestas considerações doámos tecnologias NUE e de tolerância ao sal para serem utilizadas no arroz NERICA em toda a África. Esta doação foi feita com a condição específica de que os agricultores africanos nunca teriam de pagar por esta tecnologia. Acreditamos que as variedades melhoradas de arroz desenvolvidas com estas tecnologias permitirão aos pequenos agricultores de arroz africanos aumentarem de maneira sustentável a sua produção e o seu lucro, mesmo face a condições ambientais variáveis e frequentemente difíceis. O nosso objectivo é, pois, aumentar a produtividade do pequeno agricultor e a segurança alimentar, com uma redução paralela dos impactes ambientais negativos da agricultura. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Projectos Científicas da AATF 29 Ac t u a l i z a ç õ e s d e C o n c e i t o s d e P r o d u t o s Controlar a Aflatoxina: Trabalhar para Evitar o Inevitável 4,5 milhares de milhões mais de 4,5 milhares de milhões de pessoas que vivem em países em desenvolvimento podem estar cronicamente expostas a aflatoxinas nas suas dietas. A aflatoxina é um veneno carcinogénico altamente tóxico produzido por muitas espécies de Aspergillus, um fungo ubíquo que facilmente infecta o milho, amendoim e várias outras culturas. Estão agora a ser desenvolvidos novos métodos económicos de controlo biológico para África, que prometem reduzir drasticamente esta ameaça para os pequenos agricultores e consumidores de todo o continente. De modo geral a contaminação dos alimentos por aflatoxinas ocorre em consequência de condições ambientais, especialmente clima húmido e quente, assim como de métodos tradicionais de agricultura, como a secagem do grão no solo e o armazenamento inadequado. As estirpes de Aspergillus que originam as aflatoxinas, e que se encontram geralmente em climas tropicais, atacam facilmente as culturas sob stress causado, por exemplo, pela seca ou infestação de insectos, que são as maiores limitações à produção de alimentos que frequentemente se encontram na África Subsariana (ASS). Não surpreende que os grãos para consumo alimentar em muitos países africanos incluindo Benim, Burkina Faso, Camarões, Gâmbia, Gana, Guiné, Quénia, Moçambique, Nigéria, Senegal, África do Sul e Zâmbia possuem altos teores de aflatoxinas. Nestes países os principais produtos de base e culturas de rendimento – entre estes o milho, mandioca, sorgo, inhame, arroz, amendoim e caju – podem ser gravemente afectados por estes venenos. Devido às suas implicações potencialmente graves para a saúde, a contaminação de alimentos e de rações de animais por aflatoxinas pode conduzir a importantes perdas económicas. Por exemplo, os 30 países africanos perdem anualmente até USD 1,2 milhares de milhões de produtos rejeitados por não estarem em conformidade com a segurança alimentar e a qualidade devido a contaminação por micotoxinas, incluindo as aflatoxinas. Os especialistas consideram as aflatoxinas um contaminante inevitável dos alimentos e rações, mesmo onde se praticam boas práticas de fabrico. Nos países desenvolvidos os rigorosos regulamentos de segurança alimentar e a monitorização de culturas susceptíveis limitam com êxito os seus níveis nas fontes de alimentos. Contudo, em muitos países em desenvolvimento, incluindo a África, a situação é diferente. Nestas regiões os governos frequentemente não possuem técnicas económicas para testar as aflatoxinas e a maioria dos pequenos agricultores não consegue evitar a contaminação durante a produção e armazenamento das suas culturas. Em consequência, mais de 4,5 milhares de milhões de pessoas que vivem em países em desenvolvimento podem estar cronicamente expostas às aflatoxinas nas suas dietas. A AATF está a responder ao desafio que as aflatoxinas representam para as condições de vida e segurança alimentar dos pequenos agricultores africanos facilitando o desenvolvimento e disponibilidade de “tecnologia de exclusão competitiva” microbiana Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas (TEC). Esta abordagem pode controlar a produção de aflatoxinas em culturas de rendimento ou de alimentos base. Isso envolve o estabelecimento de estirpes benignas de estirpes de Aspergillus seleccionadas nos solos em redor das culturas susceptíveis durante o crescimento destas. O objectivo é que a estirpe benigna domine e elimine em grande medida as estirpes produtoras de aflatoxinas do fungo. Esta forma de controlo biológico inicialmente desenvolvida pelo Serviço de Investigação Agrícola do Ministério da Agricultura dos EUA (USDAS-ARS) foi extensamente testada no algodão e no amendoim nos EUA com êxito considerável. A tecnologia foi subsequentemente licenciada para comercialização a uma organização de cultivadores sob o nome AF36 e a uma empresa privada que o comercializa com o nome AflaGuard®. Em 2005 a AATF começou a negociar com a empresa o acesso à tecnologia, com o objectivo de a adaptar às condições africanas. Infelizmente estas negociações não progrediram como se esperava, o que forçou a AATF a enveredar por um caminho diferente. Em 2008 a Fundação começou a trabalhar com o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) na Nigéria e com o USDA-ARS na Universidade de Arizona (EUA) para desenvolver fontes alternativas de tecnologia de exclusão competitiva (TEC) para utilização no milho e no amendoim em África. Contudo, antes de investir recursos significativos no desenvolvimento da tecnologia, os parceiros acordaram a realização de um estudo para avaliar a viabilidade técnica e comercial da utilização da TEC no controlo da contaminação por aflatoxinas num contexto africano. O estudo, que foi comissionado pela AATF, foi concluído em 2008 e chegou às seguintes conclusões gerais sobre os potenciais benefícios das novas tecnologias de controlo biológico: • O controlo de aflatoxina contribuiria significativamente para maior produção de culturas, maiores receitas, melhor nutrição e melhor saúde para as pessoas; • Há indicações claras de que o controlo de aflatoxina ajudaria a expandir os mercados de exportação para os produtos afectados, principalmente para o amendoim e, portanto, maiores receitas comerciais para os países da África Subsariana; e • Análises da potencial rentabilidade decorrente do uso das novas tecnologias, efectuadas para diferentes cenários de eficácia, indicam que os investimentos na investigação e disseminação de TEC seriam bem aplicados, mesmo que estas tivessem apenas uma eficiência de 20%. Além disto, trabalhos de investigação recentes reforçam a viabilidade técnica da TEC. Os investigadores do IITA e do USDA-ARS desenvolveram uma TEC microbiana para a redução da contaminação do milho por aflatoxina na Nigéria. Eles também identificaram estirpes benignas locais de Aspergillus que são capazes de dominar as estirpes produtoras de toxinas, o que por sua vez leva a uma redução directa da produção de aflatoxina no milho. No laboratório, e em ensaios de campo em estações agrárias, estas estirpes competitivas reduziram a contaminação por aflatoxina em 95% a 99%. A uma escala maior, nos ensaios em estações agrárias realizados em quatro locais da Nigéria, a produção de aflatoxina foi reduzida em 50% a 99%. Além disso, a implementação da TEC em campo é fácil e eficaz, envolvendo apenas semear à mão no solo uma mistura apropriada de estirpes benignas locais de Aspergillus. Com base nestes estudos de investigação e nos resultados animadores do estudo de viabilidade, os parceiros do projecto estão a planear avaliações adicionais da eficácia da TEC microbiana nos campos de agricultores da Nigéria durante 2009. O objectivo desta fase de testes seguinte é determinar a extensão da redução da contaminação do milho por aflatoxinas em condições que se assemelham mais às condições agrícolas reais. Se estes testes forem tão bem sucedidos como se prevê, a AATF trabalhará com os seus parceiros para criar um projecto completo para o desenvolvimento e disseminação de TEC microbiana localmente adaptada para o controlo da aflatoxina no milho e no amendoim. Para mais informações, contacte Hodeba J. Mignouna ([email protected]) Resolver as Limitações dos Agricultores Actualizações Através de deIntervenções Conceitos deCientíficas Produtos 31 Extrair Energia da Mandioca: Desenvolver uma Indústria do Etanol Baseada na Mandioca na África Subsariana 75% A África produz mais de metade da oferta mundial de mandioca. A África produz mais de metade da oferta mundial de mandioca, apesar de os rendimentos médios serem os menores de entre todos os países produtores de mandioca. O potencial para o aumento da produtividade desta cultura essencialmente de subsistência é enorme. Contudo, os agricultores africanos necessitam de garantia relativamente à disponibilidade de mercados para o seu excedente, antes de efectuarem os investimentos necessários para aumentar o seu produto. Uma das principais limitações à produção de mandioca em África – quase toda produzida por pequenos agricultores, principalmente como cultura de subsistência ou de sobrevivência – é a falta de máquinas apropriadas para o processamento das culturas depois da colheita. O investimento nesta tecnologia que acrescenta valor só é atractivo para os que têm acesso seguro aos mercados para o produto processado. Uma solução para aumentar a capacidade de comercialização da mandioca é criar usos alternativos para ela, além do consumo humano directo. Fizeram-se esforços consideráveis para o desenvolvimento de outros usos, por exemplo, como ração para gado, produção comercial de amido e como aditivo para a farinha de trigo. Com base no exemplo da utilização de milho para a produção de etanol, a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), juntamente com a União Africana (através da Iniciativa Pan-africana para a Mandioca da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África, NEPDA) e o governo do Brasil, está a promover o uso da mandioca como fonte de biocombustível em África. No contexto africano, contudo, a utilização de mandioca para a produção de etanol exige um grande número de fábricas de processamento de mandioca de pequena escala. Sem esta capacidade de 32 processamento aumentada, os agricultores não conseguirão capitalizar qualquer destas novas oportunidades. O problema reside no facto de o equipamento de processamento produzido localmente ser geralmente de má qualidade, mesmo quando copiado de protótipos produzidos por fabricantes estrangeiros. Por outro lado, estes fornecedores de equipamento estrangeiro têm relutância em fornecer máquinas para empresas africanas com receio de pirataria e de perda de potencial quota de mercado. O ponto crítico identificado pela AATF é incentivar os fabricantes de equipamento estrangeiro a trabalharem directamente com empresários africanos para produzirem equipamento de processamento de mandioca de alta qualidade. A Fundação abordou alguns destes fabricantes estrangeiros com a hipótese de actuar como mediadora de tais parcerias, que foi recebida com interesse reservado. As vantagens potenciais do aumento da mecanização do processamento da mandioca pós-colheita são enormes, principalmente tendo em vista a potencial produção de etanol. A criação de uma indústria do etanol baseada na mandioca aumentaria a segurança da energia nacional e recompensaria milhares de empresários agrários de pequena a média escala envolvidos no processamento da mandioca. A diversificação a nível da quinta ajudaria a aumentar Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas e a estabilizar as receitas, melhorando as condições de vida de milhões de pequenos agricultores produtores de mandioca. Além disto também iria libertar as divisas estrangeiras utilizadas na importação de combustível para outras prioridades de desenvolvimento. A AATF está agora a finalizar uma proposta para actualizar este conceito de produto, que será apresentada à ONUDI, FAO, Aliança para Uma Revolução Verde em África (AGRA) e outros doadores potenciais. Pressupondo a disponibilidade de recursos, a etapa seguinte será trabalhar com parceiros potenciais e partes interessadas para desenvolver um plano de negócios que guiará o desenvolvimento e a implementação do projecto. Para mais informações, contacte Hodeba J. Mignouna ([email protected]) “Uma solução para aumentar a capacidade de comercialização da mandioca é criar usos alternativos para ela, além do consumo humano directo.” Resolver as Limitações dos Agricultores Actualizações Através de deIntervenções Conceitos deCientíficas Produtos 33 Progresso, Desafios e Oportunidades: Uma Síntese da Primeira Análise Externa da AATF Cinco anos após o início da sua actividade, a AATF progrediu significativamente na obtenção dos seus objectivos. A Fundação deve agora empenhar-se em ultrapassar vários desafios operacionais e capitalizar novas oportunidades. Em Março de 2008 um painel independente de especialistas internacionais* em áreas relevantes para o trabalho da AATF concluiu a primeira análise formal e exaustiva das iniciativas da Fundação até à data. A análise foi efectuada segundo o plano de negócios da AATF, que exigia que a Fundação comissionasse uma análise independente das suas actividades que abrangesse os primeiros quatro anos. O objectivo deste processo é avaliar o progresso, incluindo uma avaliação inicial do impacto, como base para recomendações sobre as futuras actividades e questões organizacionais da AATF. O painel reuniu-se com membros do Conselho de Administração da AATF, a direcção e o pessoal e com várias autoridades, partes interessadas e parceiros do governo e de empresas privadas. A equipa teve a oportunidade de viajar no Quénia, Uganda e Nigéria para dialogar com pequenos agricultores, várias organizações baseadas na comunidade e outras entidades não governamentais. Também recolheu as opiniões e ideias de instituições de investigação nacionais, regionais e internacionais e de outros parceiros da AATF. No seu relatório final o painel comenta: “A equipa de análise está impressionada com o trabalho da AATF nestes anos iniciais. A AATF criou e manteve boa reputação como instituição de valor, adicional e equitativa no combate à baixa produtividade agrícola e à insegurança alimentar e pobreza com ela relacionadas.” A missão da equipa de análise foi concebida para determinar onde seriam necessárias melhorias de estratégia, governância e operações. Os especialistas notam, portanto, que o seu relatório é “necessariamente crítico, mas de maneira construtiva”. Nessa base, o grupo salienta a validade do papel, mandato e direcção estratégica da AATF. O painel comentou que o cenário político se alterou desde o desenvolvimento da estratégia original da AATF em 2003, principalmente no que respeita ao nível de atenção que se concede actualmente ao processo de inversão de décadas de negligência do sector agrícola de África. Contudo, a biotecnologia, e especialmente o uso de OGMs, continua a ser controversa. Apesar disso, o painel considera-a “…um componente essencial das ferramentas a serem usadas pela AATF para o êxito do seu mandato”. Por isso, a equipa aconselha vivamente a AATF a permanecer focalizada no seu mandato e a “continuar a trabalhar com outros para a defesa delicada da tecnologia de OGM”. Os especialistas, contudo, sugerem que isto seja feito conjuntamente com a promoção de uma agenda de projectos equilibrada, programada de modo a trazer as vantagens das tecnologias agrícolas avançadas para os pequenos agricultores de África. * O Sr. Ebbe Schiøler (Dinamarca), o Dr. Hamidou Boly ( Burkina Faso), o Dr. Adrian Dubock (RU), o Sr. Dreyer Lotter (África do Sul) e o Dr. Shadrack Moephuli (África do Sul). 34 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas O painel pensa que, no prosseguimento do seu objectivo de aceder proactivamente a tecnologias exclusivas em nome dos agricultores africanos, a AATF deve alargar a sua busca de modo a incluir mais instituições africanas. Também recomenda maior especificidade nos acordos de licenciamento da AATF com os detentores da tecnologia, para evitar eventuais problemas de liberdade de operação, assim como o reforço dos seus procedimentos de desenvolvimento de produto. A AATF está a tomar estas recomendações muito a sério para os seus planos futuros. Durante o seu processo de análise o painel encontrou muitas manifestações de apreço pelos esforços da AATF no sentido de comunicar informação credível sobre biotecnologia e de facilitar um diálogo de qualidade entre as audiências relevantes no Quénia e, cada vez mais, em outros países da África Subsariana. A equipa de análise observou que este trabalho contribuiu para a “alta consideração de que a Fundação goza nos círculos profissionais e políticos pertinentes”. O painel acredita que, para conseguir concretizar as vantagens das novas tecnologias, a AATF deve apoiar-se na sua credibilidade cuidadosamente estabelecida para apresentar uma defesa informada e proactiva da biotecnologia, do ponto de vista africano. Ele recomenda que a Fundação envolva outras organizações activas na educação sobre biotecnologia em África para aperfeiçoar a mensagem sobre os potenciais benefícios da biotecnologia e que a AATF “apoie internamente o projecto, como parte essencial da introdução do produto”. Além disto, o painel pensa que a Fundação pode ajudar governos seleccionados a desenvolver regulamentos de segurança biológica sólidos, eficientes e de menor custo, que permitirão a introdução segura, e apesar disso mais rápida, de novas tecnologias para os pequenos agricultores. O painel de análise afirmou estar convencido de que, dada a importância da missão da Fundação, a AATF está destinada a crescer. Ele recomenda que a AATF aceite e facilite o seu crescimento desenvolvendo contactos oficiais com organizações chave e novas modalidades de financiamento. Devem ser negociados Memorandos de Entendimento formais com várias entidades do continente para alargar a presença operacional da Fundação em África. Com o tempo a Fundação também deve empenhar-se em se tornar menos dependente de financiamento de doadores, por exemplo, explorando várias formas complementares de financiamento para assegurar a sua estabilidade e sustentabilidade financeira a longo prazo. O painel observa que o crescimento acarretará consigo um espectro de mudanças, especialmente em termos de competência e de conhecimentos do pessoal nas áreas de governância e gestão. O painel recomenda, por exemplo, o recrutamento de pessoal adicional com fortes credenciais do sector privado em “desenvolvimento comercial do produto de biotecnologia, OGMs e licenciamento de variedades (germoplasma) de empresas de sementes”. O objectivo aqui seria facilitar o networking com empresas do sector privado e outras que necessitem de estar envolvidas na introdução de novos produtos e incentivar a sua adopção pelos agricultores. Ao longo do tempo também devem ser adquiridas competências adicionais para complementar as capacidades actuais do pessoal da AATF. O painel comenta que o actual tamanho relativamente pequeno da Fundação lhe dá um ar aberto e produtivo de informalidade e transparência. Mas à medida que a AATF aumenta o seu alcance geográfico e se envolve numa crescente variedade de projectos, deve preparar-se para adoptar sistemas e estilos de governância que lhe permitam crescer como organização, expandir geograficamente e realizar mais eficientemente o seu mandato. Isto, observa o painel, pode incluir a redefinição de cargos de gestão e maior grau de delegação. O Conselho de Administração da AATF terá de se focar mais em questões de conteúdo técnico e políticas, em vez de questões meramente operacionais. E o painel recomenda a formação de um Comité Executivo de Gestão constituído pelo Director Executivo e gestores seleccionados e a redefinição das práticas de tomada de decisões altamente participativas da Fundação, para permitir que as resoluções chave sejam tomadas por especialistas nos assuntos. O painel de análise acredita no papel único da AATF no aproveitamento dos benefícios das tecnologias agrícolas avançadas em nome dos pequenos agricultores de escassos recursos de África. De igual modo, também não duvida da eficácia demonstrada pela organização até à data e da sua viabilidade no futuro. De facto, as observações e recomendações feitas pela equipa de especialistas visam tornar ainda mais forte uma organização que já de si é forte, com base na garantia de que a AATF continuará a percorrer o seu caminho bem definido para melhorar a produtividade dos pequenos agricultores através do uso da ciência. Resolver as Limitações dosUma Agricultores Síntese daAtravés Primeira deAnálise Intervenções Externa Científicas da AATF 35 Regulamentar as Culturas GM em África: Seguir na Direcção Certa Para explorar os potenciais benefícios da biotecnologia moderna, ao mesmo tempo que se salvaguarda contra riscos potenciais, a maioria dos países africanos adoptou os instrumentos internacionais relevantes. A biotecnologia moderna, uma bênção para alguns e uma cruz para outros, continua a ser um assunto controverso em toda a África. A solução para se maximizar as suas vantagens e minimizar as suas ameaças é um processo de regulamentação claro, aberto e baseado na ciência, que proteja os interesses de todas as partes interessadas. A biotecnologia moderna, principalmente a tecnologia de modificação genética (GM) é considerada como tendo o potencial de resolver várias limitações agrícolas críticas. Estas incluem desde as culturas de rendimento intrinsecamente baixo até aos limites induzidos por stress resultante da acção de pragas, doenças, deficiências de nutrientes do solo, salinidade e secas recorrentes. Contudo, há preocupações constantes sobre os aspectos da segurança dos organismos geneticamente modificados para os consumidores e para o ambiente. Isto necessita de uma regulamentação firme e equitativa dos produtos GM. Para explorar os potenciais benefícios da biotecnologia moderna, ao mesmo que se salvaguarda contra riscos potenciais, a maioria dos países africanos adoptou os instrumentos internacionais relevantes, como a Convenção sobre a Diversidade Biológica e o Protocolo de Cartagena sobre a Segurança Biológica. Ao assinar e ratificar estas convenções os países são obrigados a implementar as medidas legais administrativas e outras, necessárias e apropriadas, para assegurar que o desenvolvimento, manipulação, transporte, utilização, transferência e libertação de organismos vivos modificados são realizados de acordo com normas de 36 segurança internacionalmente aceites. Uma vez que os OGMs devem ser manipulados de modo a prevenir ou reduzir os riscos para a saúde humana e para a diversidade biológica, cada signatário da Convenção e do Protocolo deve desenvolver Quadros de Segurança Biológica Nacional (NBFs) funcionais. Isto geralmente envolve um processo de quatro etapas: 1) formular uma política nacional de biotecnologia, 2) propor leis e regulamentos de segurança biológica que constituam o regime regulamentar do país para a biotecnologia, 3) estabelecer um sistema administrativo para lidar com os pedidos e emissão de autorizações, e 4) estabelecer um mecanismo para a participação do público no processo de tomada de decisões sobre a segurança biológica. Desde 2007 apenas cinco países da África Subsariana, nomeadamente Burkina Faso, ilhas Maurícias, África do Sul, Sudão e Zimbabwe, seguiram estas quatro etapas básicas para o desenvolvimento de NBFs funcionais descritos no Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica. A grande maioria dos países africanos desenvolveu NBFs provisórios que satisfizeram alguns, mas não todos, os critérios de qualificação do Protocolo. Contudo, durante o ano de 2008 alguns países conseguiram um progresso significativo. No Quénia, por exemplo, o anteprojecto de lei sobre a Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas segurança biológica, que tinha sido debatido e alterado desde 2002, foi finalmente aprovado como lei pelo Parlamento. Este foi um desenvolvimento crítico que elevou o estatuto do Quénia à categoria de países africanos com NBFs totalmente funcionais. Nos outros países da África Oriental, o Uganda aprovou uma Política Nacional de Biotecnologia e Segurança Biológica em Abril de 2008. O objectivo desta política é “contribuir para os objectivos nacionais de erradicação da pobreza, melhores cuidados de saúde, segurança alimentar e industrialização e a protecção do ambiente através da aplicação segura da biotecnologia”. Este desenvolvimento deixa o Uganda apenas a um passo de adquirir um quadro totalmente funcional para a supervisão da segurança biológica. Esperamos que isto seja conseguido assim que o projecto de lei sobre a segurança biológica for debatido e aprovado como lei pelo Parlamento do país. Na África Ocidental, três países, Gana, Togo e Mali, aproximaram-se mais do desenvolvimento de NBFs funcionais em 2008. No Gana, por exemplo, promulgou-se em Janeiro um Instrumento Legislativo para permitir a realização de ensaios de campo confinados de culturas GM, dependendo da aprovação de um projecto de lei sobre segurança biológica. Quase no final do ano, o Togo e o Mali aprovaram leis de segurança biológica para a supervisão de actividades com culturas GM. Esperase que em breve ambos os países considerem o desenvolvimento de directrizes e regulamentos que facilitem a implementação das leis. Os recentes desenvolvimentos verificados com a regulamentação de culturas GM em África mostram claramente que, após um período de aparente calma, existe uma sensação renovada de empenhamento em tirar partido das potenciais vantagens da biotecnologia moderna, ao mesmo tempo que se salvaguarda contra potenciais riscos. O desafio – um que a AATF monitorizará com muita atenção no futuro – é sustentar este “momentum” através da criação de capacidades, debates informados e desenvolvimento de políticas sólidas. Para mais informações, contacte Francis Nang’ayo ([email protected]) Resolver as Limitações dos Agricultores Regulamentar Através deasIntervenções Culturas GMCientíficas em África 37 As Vantagens Ocultas das Parcerias Público-Privadas Relações pessoais entre os participantes que determinam o bom funcionamento de uma parceria. A promoção das parcerias público/privadas é fundamental para a estratégia da AATF, de trazer os benefícios das novas tecnologias agrícolas para os pequenos agricultores de África. Embora os cépticos argumentem que tais parcerias não valem o esforço extra que elas exigem, a nossa experiência demonstrou o contrário. altos e demoram mais tempo a dar frutos. Também há a convicção de que, devido à maior ênfase no trabalho em equipa, as PPPs não reconhecem o esforço individual, o que por sua vez leva ao desânimo dos que estão envolvidos nelas. Recentemente, as parcerias público-privadas (PPPs) tornaramse cada vez mais populares. Estes empreendimentos são criados para lidar com problemas do domínio público que as entidades do sector público não conseguem resolver por si sós e que não seriam normalmente consideradas pelas organizações do sector privado, mas de cuja resolução elas beneficiam e/ou para as quais gostariam de contribuir. A ideia é apreender as sinergias potenciais que podem ser criadas quando organizações dos sectores público e privado colaboram para um mesmo fim. Custos mais altos, maiores benefícios As PPPs foram caracterizadas como uma forma organizacional que alia o factor humano a uma mentalidade de negócio. A faceta de negócio envolve a definição clara das funções, juntamente com as responsabilidades das pessoas envolvidas, e a monitorização cuidadosa dos respectivos marcos importantes. Mas são as relações pessoais entre os participantes que determinam o bom funcionamento de uma parceria. Algumas pessoas argumentam que a energia gasta ao criar, gerir e trabalhar através de PPPs é excessiva e que disposições contratuais directas, baseadas no pagamento de uma taxa, são mais eficientes e eficazes. Os que propõem esta teoria alegam que as PPPs implicam custos transaccionais intoleravelmente 38 A confiança da AATF nas PPPs está alicerçada na experiência da Fundação, que indica que embora sejam necessários maiores esforços para realizar as PPPs, as vantagens ultrapassam de longe os custos. As várias parcerias de projecto que a AATF gere actualmente sugerem duas áreas que contribuem significativamente para a natureza “dispendiosa” das PPPs: a sua “natureza virtual” e as diferenças nas culturas de trabalho organizacional que frequentemente existem entre os parceiros. Contudo, a experiência da AATF também mostra que, em vez de dificultar o sucesso de uma PPP, estes factores podem na realidade ser transformados em vantagens, se tratados com profissionalismo e com a dose certa de sensibilidade. A natureza virtual das parcerias pede um planeamento claro, para que todos os que estão envolvidos possam participar totalmente e contribuir de maneira útil e atempada. Para a AATF isto significa que as reuniões de planeamento do projecto não se limitam à definição de actividades e marcos importantes, Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas definindo estruturas de gestão, métodos de implementação e processos de comunicação. Isto é essencial para a gestão das diferenças de distâncias e horas entre os parceiros. De modo geral dá-se ênfase a consultas e partilha de informações através de reuniões frequentes dos participantes – face a face ou por teleconferências, apresentação de relatórios do projecto, boletins informativos e actualizações. Estas iniciativas de comunicação frequentemente roubam a maior parte do tempo nas fases iniciais da criação do projecto, para assegurar que os parceiros compreendem claramente os desafios a resolver e como trabalhar em conjunto para o seu êxito. As diferenças nas culturas organizacionais podem constituir um desafio importante para a eficácia de uma PPP. Estas diferenças na “cultura de trabalho” frequentemente surgem em consequência de estilos contraditórios em instituições públicas e negócios privados. Também podem surgir diferenças culturais dependentes da origem geográfica dos parceiros, uma vez que europeus, norte-americanos e sul-americanos, asiáticos ou africanos podem ter maneiras específicas de actuarem. Além disto, organizações de tamanhos diferentes tendem a operar de maneira diferente, com as organizações mais pequenas a terem tendência a serem mais informais e menos burocráticas do que as organizações de maior dimensão. A AATF empenha-se em resolver estas questões propondo aos parceiros que definam “uma actuação específica do projecto”, que garantirá o bom desenvolvimento do trabalho desde o início das suas actividades. À maneira do projecto WEMA No início do projecto WEMA (consultar a página 22) a AATF trabalhou com os parceiros para definir a cultura de trabalho desejada. O processo começou por reconhecer e caracterizar explicitamente os diferentes estilos de trabalho de cada organização que poderiam afectar o cumprimento de marcos importantes ou criar expectativas não realistas entre os parceiros. Seguidamente as partes interessadas identificaram o estilo de trabalho que melhor ajudaria a alcançar os objectivos de curto e longo prazo do projecto. Isto determinou os processos do WEMA, a sua estrutura de governância, as funções de equipas específicas e as relações entre elas, o modo de lidar com as sugestões e como tomar decisões, prazos e assim por diante. A definição e a integração de uma cultura de trabalho do WEMA foi um processo moroso, mas assegurou que cada parceiro tinha uma ideia clara do que era necessário fazer, porquê e como, face a qualquer actividade a realizar. Também esclareceu mais o modo como as actividades individuais se interpenetravam para formar o todo e ainda o que os parceiros deviam esperar uns dos outros. Isto passou a ser conhecido como a “maneira do projecto WEMA” e fornece um ponto de referência fundamental quando é necessária clareza sobre determinada questão. Mais do que marcos importantes As PPPs são sistemas únicos que podem produzir mais do que as actividades e marcos importantes definidos para o projecto. Os que argumentam a favor das PPPs, incluindo a AATF, acreditam que o valor de um grupo de pessoas que trabalham genuinamente em prol de um bem comum é maior: elas partilham um problema comum, possuem os processos necessários para a sua resolução e as eventuais soluções. Frequentemente este pacote não é introduzido na equação que avalia os custos e benefícios da criação e gestão de qualquer tipo de parceria. Isto é assim principalmente quando a parceria recorre aos talentos e competências de organizações dos sectores público e privado, em que cada parceiro contribui com a sua vantagem comparativa. Para mais informações, contacte Nancy Muchiri ([email protected]) As Vantagens Ocultas das Parcerias Público-Privadas 39 Adquirir uma Perspectiva Africana: Alargar o Fórum Livre sobre Biotecnologia Agrícola em África Nos últimos anos os doadores e os parceiros de desenvolvimento aumentaram os seus esforços no sentido de assegurar que os pequenos agricultores de África beneficiassem mais das novas tecnologias agrícolas. Contudo, a aplicação da biotecnologia no continente – e especialmente dos OGMs – continua a ser um tema controverso. A AATF está convencida de que as iniciativas desenvolvidas para a inversão de décadas de negligência da agricultura africana têm de ser apoiadas pela partilha proactiva de informação credível sobre biotecnologia entre as partes interessadas envolvidas. Uma das principais limitações da adopção de produtos derivados da biotecnologia em muitos países africanos é o facto de os decisores serem frequentemente confrontados com informação contraditória sobre os potenciais benefícios e riscos associados a estes produtos. Frequentemente os debates inflamados sobre biotecnologia em África salientam demasiadamente as considerações de natureza social, ética e política, à custa dos factos científicos. Mas enfrentados com uma população que cresce rapidamente, uma produtividade agrícola em declínio e recursos reduzidos para a investigação no sector, os decisores africanos sentem-se pressionados a tomarem as decisões correctas relativas a testes e distribuição de produtos de biotecnologia. Portanto, frequentemente procuram respostas e uma orientação clara sobre problemas relacionados com a biotecnologia. Para responder a isto a AATF lançou em 2006 o Fórum Livre sobre Biotecnologia Agrícola (OFAB) em África, em parceria com organizações com a mesma filosofia, incluindo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de 40 Agrobiotecnologia (ISAAA), o Conselho Nacional para a Ciência e a Tecnologia (UNCST) de Uganda e o Programa para Sistemas de Segurança Biológica (PBS). A iniciativa, cuja reunião inaugural teve lugar no Quénia em Setembro de 2006, reúne um grande leque de partes interessadas no desenvolvimento agrícola africano. O fórum possibilita uma interacção directa entre cientistas, jornalistas, industrialistas, representantes de organizações da sociedade civil, legisladores e autores e influenciadores de políticas do sector agrícola. O OFAB oferece oportunidades para estes grupos partilharem os seus conhecimentos e experiências, trocarem informações, estabelecerem novos contactos e explorarem novas maneiras de trazer até aos pequenos agricultores de África as vantagens da biotecnologia. Ao mesmo tempo dá aos participantes a oportunidade de apresentarem as suas preocupações, de se informarem sobre os riscos e de deliberarem sobre assuntos relacionados com a regulamentação dos OGMs. A participação nas reuniões mensais do fórum no Quénia cresceu rapidamente, atingindo um pico em Julho de 2008, quando 95 pessoas assistiram a uma sessão intitulada “Agricultura, Biodiversidade e Biotecnologia – uma Tríade de Potencial e Desafios para a Segurança Alimentar em África”. O discurso inaugural desta reunião foi proferido pelo DirectorGeral Adjunto da Biodiversity International, Dr. Kwesi Atta Krah. Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas No Uganda, onde o OFAB foi lançado em 2008, as reuniões forneceram informação pertinente sobre várias preocupações com a biotecnologia. Os fóruns também passaram a ser plataformas para consultas participativas de partes interessadas sobre questões de biotecnologia. Um facto importante é que as sessões contribuíram para o anteprojecto de lei sobre segurança biológica que está actualmente a ser preparado para ser apresentado ao Gabinete. Além do número crescente de participantes e do alargamento da sua presença geográfica, o “sabor” das discussões do OFAB já evoluiu. O fórum está agora a facilitar o debate sobre vários produtos de biotecnologia com potencial de alto retorno, problemas de segurança biológica e de biodiversidade, assim como questões regulamentares, de gestão responsável e ética do produto e direitos de propriedade intelectual. Estas discussões mais amplas reflectem uma progressão natural do tema “quente” dos OGMs para debates baseados em factos sobre questões de interesse comum para todos os que estão envolvidos no desenvolvimento agrícola africano. Da direita para a esquerda: Os Drs. Kenneth M. Hosea, da Universidade de Dar-es-Salaam, Margaret Karembu, do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia, e Norah Olembo, do Fórum de Partes Interessadas em Biotecnologia Africana, trocam dados de contacto durante a reunião do OFAB realizada em Julho de 2008 em Nairóbi. Como se observou na Análise Externa da AATF, (consultar a página 34), as iniciativas da Fundação no sentido de facilitar o diálogo entre audiências relevantes e partilhar informação credível sobre biotecnologia de modo mais abrangente são muito apreciadas pela comunidade de desenvolvimento agrícola africano e não só. Mas o trabalho da AATF nesta área está longe de estar concluído. A Fundação continuará a reforçar o que já se alcançou através do OFAB, no Quénia e em outros países, para fornecer informação fundamentada e proactiva sobre biotecnologia agrícola do ponto de vista africano. Em 2009 a AATF está a planear, em colaboração com os parceiros, a criação de Chapters do OFAB em mais países, começando com a Tanzânia. (www.ofabafrica.org) Para mais informações, contacte Nancy Muchiri ([email protected]) Os participantes seguem com interesse os debates durante a reunião do fórum em Outubro de 2008. Alargar o Fórum Livre sobre Biotecnologia Agrícola em África 41 Relatório Financeiro Esta demonstração financeira auditada cobre o período de Janeiro de 2008 a Dezembro de 2008 e fornece dados comparativos para os dois exercícios anteriores (2006 e 2007). Receita mais recursos às actividades programáticas do que aos custos gerais administrativos, com 90% das despesas da Fundação relacionadas com projectos e apenas 10% com serviços de apoio. A receita total para este período aumentou substancialmente por comparação com os anos anteriores em resultado de dois novos doadores: a Fundação Bill and Melinda Gates (B&MGF) e a Fundação Howard G Buffet (HGBF). Estas duas fundações estão a apoiar um novo projecto da AATF conhecido por Milho com Eficiência Hídrica para África (WEMA). O orçamento total aprovado para o projecto (2008-2013) é de USD 47.450.823, contribuindo a Fundação Bill and Melinda Gates e a Fundação Howard G Buffet com, respectivamente, USD 42.450.000 e USD 5.000.823. Apreciamos imensamente a confiança e o apoio contínuo e vital dos nossos parceiros financeiros fundadores: a Fundação Rockefeller, a USAID e o DFID, e agradecemos calorosamente o apoio significativo dos novos doadores, B&MGF e HGBF. Despesas O aumento notável das despesas relativas às actividades do projecto em 2008 reflecte o grande aumento da receita total para esse período. Além disto, uma análise da atribuição de fundos ilustra o modelo operacional da AATF e o seu empenhamento em trabalhar por meio de parcerias. Do total de USD 13.085.971 gastos, USD 9.017.257 (69%) foram dedicados a actividades de investigação subcontratadas. O padrão de despesas do ano também demonstra claramente que foram atribuídos 42 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Financeiro As tabelas abaixo são um resumo das actividades e um extracto da posição financeira. Resumo da demonstração de actividades (versão resumida) Para o período de Janeiro a Dezembro de 2008 2008 2007 2006 (USD) (USD) (USD) Receita Subsídios 14.794.436 3.508.693 3.595.458 189.267 83.905 45.345 14.983.703 3.592.598 3.640.803 Despesas relacionadas com o projecto 11.827.954 2.920.759 2.836.385 Despesas de gestão e despesas gerais 1.258.017 711.131 860.548 13.085.971 3.631.890 3.696.933 1.897.732 -39.292 -56.130 76.061 30.911 56.789 Outras receitas Receita total Despesas Despesa total Superavit/(défice) para o período Parecer das posições financeiras (versão resumida) A 31 de Dezembro de 2008 Activos Activos imobilizados Equipamento e veículos a motor Activos incorpóreos - - - 76.061 30.911 56.789 Banco e caixa 541.840 388.538 562.777 Depósito fixo 1.283.669 1.042.076 950.726 323.122 408.435 2.776.235 1.753.736 971.212 2.852.296 1.784.647 1.028.001 Activos a curto prazo Devedores Activos totais Passivos e saldos do fundo Passivos a curto prazo Subsídios inesperados a pagar - Credores e despesas acumuladas 423.184 253.267 457.329 423.184 1.253.267 457.329 Limitado 1.283.731 165.528 206.728 Ilimitado 1.145.381 365.852 363.944 Saldo total do fundo 2.429.112 531.380 570.672 Passivo total e saldo total do fundo 2.852.296 1.784.647 1.028.001 Passivo total 1.000.000 - Saldo do fundo Relatório Financeiro 43 Conselho de Administração da AATF – 2008 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 44 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas 1. Jennifer Ann Thomson (Presidente do Conselho de Administração) Professora de Biologia Molecular e Celular, Universidade da Cidade do Cabo, Cidade do Cabo, África do Sul 2. Walter S. Alhassan (Vice-Presidente do Conselho de Administração) Coordenador, Projecto II de Apoio à Biotecnologia Agrícola (ABSPII) Coordenador Sub-regional da Região Oeste e Central de África, Programa para Sistemas de Segurança Biológica (PBS) Acra, Gana 3. Mpoko Bokanga Director-Executivo Fundação Africana Para as Tecnologias Agrícolas Nairóbi, Quénia 4. Assétou Kanouté Coordenador, Rede Oeste e Centro de África para a Investigação Agrícola Participativa/Rede Oeste e Centro de África para a Promoção de Investigação Agrícola Participativa (ROCAPA/WECANPAR) Bamako, Mali 5. Kevin B. Nachtrab Consultor Sénior de Patentes, Johnson & Johnson Bélgica 6. Eugene Terry Atecho & Associates Washington DC, EUA 7. Wilson Songa Secretário da Agricultura, Ministério da Agricultura Nairóbi, Quénia 8. Michael W. Trimble Director, Trimble Genetics International Johnston, Iowa, EUA 9. Alhaji Bamanga Mohamed Tukur Presidente do Grupo, BHI Holdings Limited (Grupo de Empresas Daddo) Lagos, Nigéria 10.Josephine Okot Directora-Geral, Victoria Seeds Ltd Kampala, Uganda 11.Michio Oishi Director, Kazusa DNA Research Institute Kazusa-Kamatari, Kisarazu, Chiba, Japão 12.Adrianne Massey Directora, A. Massey & Associates Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA Resolver as Limitações dos Agricultores ConselhoAtravés de Administração de Intervenções da AATF Científicas - 2008 45 Pessoal da AATF – 2008 1 2 5 1. Mpoko Bokanga Director Executivo 2. Richard Boadi Conselheiro Legal 3. Zainab Ali Assistente Especial do Director Executivo 4. Hodeba Jacob D. Mignouna, Gestor de Operações Técnicas 5. Francis Nang’ayo Gestor de Assuntos Regulamentares 8 46 3 4 6 7 6. Gospel Omanya Gestor de Sistemas de Sementes 7. George Marechera Especialista de Negócios Agrícolas 8. Nompumelelo H. Obokoh Gestor de Projecto, Feijão-Frade 9. Stella Simiyu-Wafukho Funcionária do Programa 10.Jacquine Kinyua Assistente Administrativa 11.David Tarus Assistente do Programa 9 10 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas 11 12 13 14 16 17 18 15 17. Maurice Ojow Contabilista do Projecto 18. Samuel M. Kariuki 12. Nancy Muchiri Assistente Administrativo Gestora de Comunicações e Parcerias 19. Joan Abila Oballa 13. Peter Werehire Assistente de Administração e Funcionário de Publicações e Website Operações 14. Grace Wachoro 20. Gordon Ogutu Funcionária de Comunicações do Assistente de Protocolos e Ligação Projecto 21. George Njogu 15. Moussa Elhadj Adam Motorista Gestor de Administração e Finanças 16. Martin Mutua Funcionário de Contabilidade 19 20 21 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Pessoal da AATF Científicas - 2008 47 Publicações da AATF – 2008 AATF [African Agricultural Technology Foundation]. 2008. Annual Report 2006: Delivering the Promise: Impacting Lives with New Technologies. Nairóbi, Quénia: Fundação Africana Para as Tecnologias Agrícolas. 39 pp. AATF [African Agricultural Technology Foundation]. 2008. Feasibility Study on Technologies for Improving Banana for Resistance Against Bacterial Wilt in Sub-Saharan Africa. Nairóbi, Quénia: Fundação Africana Para as Tecnologias Agrícolas. 92 pp. AATF [African Agricultural Technology Foundation]. 2008. Rapport Annuel 2006: Tenir la promesse. Changer les vies grâce aux nouvelles technologies. Nairóbi, Quénia: Fundação Africana Para as Tecnologias Agrícolas. 39 pp. Alene Arega D, Manyong Victor M, Omanya Gospel O, Mignouna Hodeba D, Bokanga Mpoko and Odhiambo George D. 2008. Economic Efficiency and Supply Response of Women as Farm Managers: Comparative Evidence from Western Kenya. World Development 36: 1247–1260. Boadi RY. 2008. National and International Comparisons. Em: Castle D (ed). 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Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas 49 50 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas Membre du Conseil d'administration de l'AATF 2008 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas 51 AFRICAN AGRICULTURAL TECHNOLOGY FOUNDATION FUNDAÇÃO AFRICANA PARA AS TECNOLOGIAS AGRÍCOLAS P.O. Box 30709-00100 Nairóbi, Quénia Tel.: 254-20-422 370 • Fax: 254-20-422 3701 Via EUA – Tel.: 1 650 833 6660 • Fax: 1 650 833 6661 E-mail: [email protected] • Website: www.aatf-africa.org 52 Resolver as Limitações dos Agricultores Através de Intervenções Científicas