Fevereiro - 2013 - Revista Canavieiros
Transcrição
Fevereiro - 2013 - Revista Canavieiros
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 1 2 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Novidades em ciência e tecnologia É hora de inovação tecnológica, de usarmos tudo o que há de novidades em ciência e tecnologia, desenvolvidas para o setor, visando alavancar a produtividade quer seja na área agrícola ou na área industrial. O setor perdeu muito em competitividade nos últimos anos e sofremos consequências já anunciadas por várias pessoas. O fato é que, a face às incertezas existentes quer sejam na área produtiva ou governamental, precisamos reagir rapidamente. Nosso custo de produção agrícola e industrial cresceu de forma acentuada. Nossa decantada alta competitividade face aos baixos custos há muito ficou para trás. Embora com muita área para expandir, nosso setor enfrenta cada vez mais dificuldades para fazê-lo. Há cada vez mais restrições e obstáculos. Temos a alternativa de no curto prazo, centrarmos nosso foco no ganho de produtividade, e produzirmos mais na mesma área. Devemos retomar as atenções no que a ciência e a tecnologia têm de mais atual e fazermos uso disso. Expediente: Conselho Editorial: Antonio Eduardo Tonielo Augusto César Strini Paixão Clóvis Aparecido Vanzella Manoel Carlos de Azevedo Ortolan Manoel Sérgio Sicchieri Oscar Bisson Editora: Carla Rossini - MTb 39.788 Projeto gráfico e Diagramação: Rafael H. Mermejo Mais cana-de-açúcar, mais etanol, mais açúcar e mais energia elétrica por unidade de área. Novos produtos, desenvolvendo a alcoolquímica. Buscar com o aumento da produtividade a necessária redução de custos que viabilize nossos negócios. Agricultura de precisão pode viabilizar melhores plantios, cultivos e colheitas, melhorar o rendimento, reduzir perdas, enfim, trazer mais eficiência por meio de máquinas e implementos modernos com GPS e computadores. Um bom plantio é fundamental. O sistema MPB (Mudas Pré Brotadas) para instalação de viveiros e áreas comerciais já é uma realidade. Novos softwares para gestão chegam ao mercado. As novas técnicas de comunicação e ensino favorecem a capacitação e treinamentos de colaboradores. A transgenia sendo utilizada nas novas variedades para adequá-las à condição de seca, controle de pragas e doenças, resistência a herbicidas, alto teor de fibra propiciando maior produção de etanol, energia elétrica ou pellets quer seja com o uso do bagaço ou da palha de Manoel Ortolan, presidente da cana, cujo recolhimento já vem Canaoeste, ganhando ênfase, dentre outros. diretor da Isso tudo é muito bom. A Copercana e inovação tecnológica tem dis- vice-presidente da Sicoob ponibilizado nas mais variaCocred das áreas, técnicas para que possamos dar esse salto de produtividade. Nesta edição especial da Canavieiros, trazemos um pouco do muito que está acontecendo e que temos disponível. Boa leitura a todos e mãos à obra. Equipe de redação e fotos: Carla Rodrigues (MTb 55.115), Fernanda Clariano, Murilo Sicchieri e Rafael H. Mermejo Comercial e Publicidade: Marília F. Palaveri (16) 3946-3311 - Ramal: 2008 [email protected] Impressão: São Francisco Gráfica Tiragem DESTA EDIçÃO: 21.700 exemplares A Revista Canavieiros é distribuída gratuitamente aos cooperados, associados e fornecedores do Sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred. As matérias assinadas e informes publicitários são de responsabilidade de seus autores. A reprodução parcial desta revista é autorizada, desde que citada a fonte. Endereço da Redação: A/C Revista Canavieiros Rua Augusto Zanini, 1591 Sertãozinho – SP - CEP:- 14.170-550 Fone: (16) 3946 3300 - (ramal 2190) [email protected] www.revistacanavieiros.com.br Fevereiro www.facebook.com/RevistaCanavieiros - 2013 www.twitter.com/canavieiros | Edição Especial nº1 | 3 Artigo Perspectivas para o setor sucroenergético paulista Mônika Bergamaschi, Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de São Paulo Mônika Bergamaschi, Secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de São Paulo S ão Paulo detém aproximadamente 60% de toda área plantada com cana-de-açúcar em território brasileiro. Em termos de uso e ocupação do solo, é a segunda maior no estado, precedida apenas pela área coberta com pastagens, que soma 7,6 milhões de ha, mas é a primeira na composição do valor bruto da produção agropecuária paulista, respondendo por mais de 40%. Além de aspectos econômicos e ambientais, o setor sucroenergético é um importante gerador de empregos. A queda na rentabilidade já reduziu mais de 14 mil empregos diretos, e cerca de 30 mil indiretos somente nos últimos dois anos. O etanol não apenas é a principal fonte de energia renovável da matriz energética paulista, composta por 57% de energia limpa, como também é imprescindível para que, junto com a energia de cogeração, São Paulo cumpra a meta definida na Política Estadual de Mudanças Climáticas de chegar a 69% de energia limpa em sua matriz até o ano de 2020. Um desafio e tanto! O uso do etanol como combustível nos motores flex-fuel contribui de maneira inequívoca para a melhoria da qualidade do ar, via redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Em 2012, com a safra menor, deixaram de ser produzidos 6 bilhões de litros de etanol, que foram substituídos por 4,2 bilhões de litros da gasolina C importada, fato que impactou negativamente não apenas o meio ambiente como também o saldo da balança comercial brasileira. A queda de produtividade veio em consequência de um inacreditável conjunto de fatores que não estimulou investimentos na atividade. O ponto de partida foi a crise financeira mundial de 2008, depois a ferrugem alaranjada, identificada no Brasil em dezembro de 2009, sucedida pela seca de 2010, a reincidência de pragas e doenças antes controladas com a queima da palha da cana, o florescimento da cana provocado por grandes variações de temperatura, a idade avançada dos canaviais, que deixaram de ser re- 4 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br novados por questões econômicas, a ausência de oferta de mudas de qualidade, entre outros. A ausência de investimentos, tanto nas agroindústrias, quanto nos canaviais tem como resultado a queda de produção verificada nos últimos anos. Mas o problema que mais afeta o setor é, sem sombra de dúvidas, a inexistência de um planejamento estratégico que norteie a produção de bioenergia no Brasil, agravada pela falta de transparência na formação dos preços dos combustíveis. O caminho para a superação da crise do setor passa pelo desenvolvimento tecnológico. Mas são necessárias políticas públicas de curto prazo, que evidenciem e diferenciem as externalidades positivas das energias limpas, de fonte renováveis. Além, claro, de planejamento de médio e longo prazo, alicerçado em cristalina orientação política sobre a participação do etanol e da energia elétrica de biomassa na matriz energética brasileira. O governo paulista tem manifestado ao longo do tempo seu apoio e confiança no setor. Um importante passo foi a desoneração da carga tributária do etanol hidratado nas vendas ao consumidor, reduzindo o ICMS para 12% (nos demais estados da Federação o índice médio varia de 25 a 28%). Mais recentemente incentivos fiscais para aquisição de equipamentos para cogeração de energia. Ciente da importância do desenvolvimento tecnológico, somas significativas vêm sendo investidas na reorganização da pesquisa sucroenergética com a criação do Centro Apta Cana IAC, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, em Ribeirão Preto. O Centro é considerado um dos principais polos de excelência tecnológica da fitotecnia sucroenergética. Por meio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), tem fomentado a pesquisa deste setor, estimulando a geração de conhecimento nas áreas de bioenergia, fabricação de biocombustíveis, biorrefinarias, aplicações para motores automotivos, impactos socioeconômicos, ambientais e uso da terra. Estes projetos têm sido incentivados pelo programa Bioen (Bioenergy Program), que até o momento multiplicou por dez o número de projetos relacionados ao uso da biomassa, destinando mais de R$ 80 milhões aos grupos de pesquisa de instituições públicas como USP, Unicamp, Unesp, e Institutos vinculados à SAA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento). Os resultados atingidos pelo Bioen desencadearam outra ação, que foi o Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, formado pelas três universidades estaduais de São Paulo e que a partir de 2013 abrigará os projetos da iniciativa. Estão previstos investimentos de cerca de R$ 100 milhões nos próximos anos. Vale mencionar ainda os investimentos que vêm sendo feitos pela iniciativa privada, no desenvolvimento de novas tecnologias de produção de biomassa, e que deverão também estar disponíveis para os produtores em futuro próximo. Todo este esforço tecnológico deverá levar a ganhos significativos na produtividade da cultura, inclusive em áreas antes restritivas por aspectos edafoclimáticos. Os avanços e o melhoramento dos processos de fabricação do etanol também acenam para saltos quantitativos no rendimento industrial. Tudo isto leva a crer que em uma década teremos soluções tecnológicas disponíveis para alcançar produtividades superiores a 12.000 litros de etanol/ha, praticamente o dobro dos bons índices atuais que giram em torno de 7.000 litros/ha. O governo paulista está ciente da necessidade de recompor essa his- tória vitoriosa, e conta com a parceria e com a ação coordenada de todos os elos da cadeia produtiva. É passada a hora de desmistificar o setor, mostrar, explicar, fazer entender a sua real dimensão e importância. É preciso que a sociedade compreenda e valorize esse imenso tesouro que o Brasil e os brasileiros têm nas mãos, e que clamem pela oportunidade singular de crescer em bases sustentáveis. Não há desenvolvimento possível sem energia. Guerras sangrentas são travadas ao redor do globo por causa dela, traduzida na forma de petróleo. O Brasil reúne todas as condições não apenas para gerar toda a energia de que precisará para crescer, mas ainda de fazê-lo de forma limpa e renovável, sem avançar sobre biomas intocados, de forma pacífica, gerando renda, empregos e sem preterir a produção de alimentos e fibras. Somente o trabalho orquestrado e uma boa estratégia de comunicação trarão os efeitos capazes de devolver o setor sucroenergético à sua ascendente trajetória, construída com competência e merecimento. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 5 Índice Entrevista Artigo Artigo A busca pelo etanol de segunda geração Ganha Ganha ou Perde Perde Sustentabilidade e o futuro da cana Pesquisadores da Embrapa Dra. Cynthia Maria Borges Damasceno e Dr. Rubens Augusto de Miranda pag. 08 Alexandre Figliolino diretor do Banco Itaú BBA André Nassar - diretor geral do ICONE (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais) pag. 12 Artigo Técnico Irrigação de Cana-de-açúcar Por: Ronaldo Souza Resende Pesquisador em Irrigação e Drenagem Embrapa Tabuleiros Costeiros pag. 22 Pesquisa Artigo Técnico Sensores ópticos de dossel: alternativa para o manejo do nitrogênio em taxa variável Centros de Melhoramento em Cana-de-açúcar A base do agronegócio cana-de-açúcar é o melhoramento genético pag. 40 Máquinas pag. 14 Insumos Por: Lucas Rios do Amaral, Gustavo Portz, Hugo José Andrade Rosa e José Paulo Molin pag. 46 Insumos Primeiro simulador de colheitadeira de cana é entregue à usina Cana-de-açúcar – Nutrindo com consciência Pessoas + Inovação + Sustentabilidade = Química do Sucesso Pensando em antecipar as necessidades do mercado e oferecer soluções viáveis pag. 63 Hamilton Seron Pereira e Gaspar Henrique Korndorfer Interpretando as necessidades da agricultura com base em pesquisas e ações pag. 70 6 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br pag. 68 Artigo Capa Tendências do Setor Sucroenergético O desafio da inovação diante da crise João Sampaio - vice-presidente de relações institucionais do Grupo Marfrig pag. 18 Máquinas Rede experimental do IAC (Instituto Agronômico) Com atuação em diversas áreas da cultura da cana-de-açúcar, o Instituto é referência em desenvolvimento de tecnologias e produtividade O Programa de desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar do IAC (Instituto Agronômico, de Campinas) é o projeto de melhoramento de cana-de-açúcar em atividade mais antigo do país, desde 1933, e pode ser considerado um dos mais antigos do mundo. pag. 26 Mais: TMA em busca da excelência no sistema de mecanização Preocupada em superar as exigências do setor canavieiro investe-se em tecnologia e qualidade pag. 60 Insumos - Políticas Públicas – como garantir o abastecimento e o mercado - Biocombustíveis na Aviação - Certificação Valore Bayer CropScience - Biomassa de cana-de-açúcar - Maior trator em operação na América Latina - Massey Ferguson: MF7415 (Linha Dyna-6) perfeita integração entre modernidade, tecnologia e rentabilidade - Valtra anuncia com a Série S uma nova tendência no mercado - Uniport 3000 garante alto rendimento e economia - Case IH lança família de tratores Puma com produção nacional - Adubação Fluida é destaque no consumo brasileiro - Adubação foliar em cana de açúcar - É preciso inovar para alcançar a melhor condição de desenvolvimento no canavial 16 20 50 52 53 54 56 58 62 64 66 72 Patrocinadores desta edição “Inovações em Fertilizantes” Eng. Agr. Lucas Cruciol Maia Supervisor Técnico da Fertilizantes Heringer pag. 74 Empresas Dupont Lojas Copercana Heringer Jacto Agronegócios Copercana Sicoob Cocred Syngenta LL Cultivar Agrishow Canaoeste TMA Fertiplus Omex Basf Bayer Páginas: 02 13 15 17 19 27, 31 e 73 38 49 55 57 59 61 69 75 76 Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 7 Pesquisadores da Embrapa Dra. Cynthia Maria Borges Damasceno e Dr. Rubens Augusto de Miranda A busca pelo etanol de segunda geração Carla Rodrigues N a corrida pelo aumento da produção de etanol, o Brasil vai a fundo nas pesquisas e tecnologias disponíveis em biomassa para alcançar seu objetivo: produzir cada vez mais etanol sem precisar aumentar o tamanho da área cultivada. Sendo assim, a Revista Canavieiros entrevistou os pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Milho e Sorgo, Dra. Cynthia Maria Borges Damasceno (Biologia Molecular) e o Dr. Rubens Augusto de Miranda (Economia Agrícola), que com base nos recentes estudos e trabalhos desenvolvidos dentro da empresa, falaram detalhadamente sobre a condição atual do Brasil em produzir etanol de segunda geração, seus benefícios e mercado. Acompanhe! Revista Canavieiros: O que é o etanol de segunda geração? Dr. (a) Cynthia/Rubens: O etanol de segunda geração ou celulósico é um biocombustível renovável, obtido a partir da hidrólise ou quebra da biomassa vegetal em açúcares simples, os quais podem ser utilizados para produção de etanol a partir da fermentação, como é feito com o caldo da cana-de-açúcar ou sorgo sacarino (etanol de primeira geração). A biomassa vegetal é composta principalmente pelos constituintes da parede celular: celulose, hemicelulose e lignina. A celulose é a principal fonte de açúcares da 8 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br biomassa e é o polímero orgânico mais abundante na natureza. Resumidamente, o processo industrial de produção de etanol de segunda geração envolve as etapas de pré-tratamento da matéria-prima (biomassa), sacarificação, fermentação e destilação. A etapa de pré-tratamento é feita para “afrouxar” os componentes da biomassa, permitindo sua extração e maior exposição aos agentes biofísicos, químicos e biológicos do processo de conversão. Essa etapa pode envolver fatores físicos (temperatura e pressão), químicos (principalmente ácidos ou bases) e enzimáticos. A etapa de sacarificação ou hidrólise permite a quebra da celulose e hemicelulose em açúcares simples, utilizando-se enzimas hidrolíticas. Nessa etapa, o uso de enzimas hidrolíticas em grandes quantidades constitui um dos fatores que dificultam a viabilidade econômica do processo. Uma vez que os açúcares simples são liberados, eles são utilizados por leveduras e a produção de etanol acontece pelo processo de fermentação. Entrevista O processo de destilação é similar ao utilizado para a obtenção de etanol de primeira geração. Os principais gargalos técnicos da produção de etanol a partir da biomassa hoje são: a) altos teores e/ou composição do composto lignina, componente da biomassa, o qual dificulta a etapa de pré-tratamento; b) ausência de leveduras que possam fermentar açúcares de cinco (5C) e seis carbonos (6C) em escala industrial; c) alto custo e relativa baixa eficiência das enzimas hidrolíticas necessárias para a etapa de hidrólise da celulose e hemicelulose em açúcares simples fermentescíveis. O custo relacionado ao uso dessas enzimas contribui fortemente para o alto custo de todo o processo, apesar de o preço já ter sido reduzido bastante nos últimos anos. Há vários grupos de pesquisa no país trabalhando nessas diversas áreas, tentando solucionar esses gargalos. Revista Canavieiros: Quais os benefícios que esta fonte pode trazer para a produção de etanol do país? Dr.(a) Cynthia/Rubens: No caso específico do Brasil, o principal benefício do uso da biomassa a partir da cana-de-açúcar é o aumento da produção de etanol com a maximização do aproveitamento de resíduos orgânicos (matéria orgânica vegetal), bem como da cultura e uso do solo, sem concomitante aumento da área cultivada, uma vez que a planta inteira é utilizada no processo. Isso é possível porque em termos químicos existe muito mais energia estocada na parede celular do que no caldo da cana. Além disso, uma vez que essa tecnologia esteja disponível no país, em escala comercial, será possível derivar outras indústrias para beneficiamento de resíduos químicos gerados durante a pro- dução do etanol celulósico, agregando valor ao processo, como acontece com o refinamento de petróleo e a indústria petroquímica. É importante lembrar que todo o processo deve ser sustentável e apresentar um balanço energético positivo para que os benefícios citados sejam válidos. Revista Canavieiros: Qual a capacidade de produção de etanol de segunda geração do Brasil? Dr. (a) Cynthia/Rubens: O Brasil produz, anualmente, mais de 1 bilhão de toneladas de matéria orgânica vegetal. E, considerando-se a concentração de algumas espécies desta matéria-prima, como é o caso do bagaço de cana, palhadas de restos culturais, capins e resíduos florestais, pode-se depreender que o Brasil "...o principal benefício do uso da biomassa a partir da cana-de-açúcar é o aumento da produção de etanol com a maximização do aproveitamento de resíduos orgânicos..." tem grande potencial de produção de etanol de material lignocelulósico. Ademais, o Brasil tem condições favoráveis para ampliar seu parque industrial de produtos biocombustíveis, alcoolquímica e de cogeração de energia. Rotas tecnológicas e processos especialistas para a produção de etanol de segunda geração estão em franco desenvolvimento. Entretanto, é difícil avaliar com precisão a capacidade de produção de etanol de segunda geração pelo Brasil, atual e futura. A questão central é que a tecnologia ainda não foi aplicada em escala industrial no país e somente quando isso acontecer algumas interrogações relativas ao processo produtivo do etanol de segunda geração poderão ser respondidas. Há uma expectativa de que o etanol de segunda geração aumente a produção de álcool entre 30% a 40% por hectare. Ou seja, isso daria algo entre 6 a 8 bilhões de litros do combustível, em relação à área plantada no Brasil atualmente. Por outro lado, no futuro precisaremos avaliar os custos de oportunidade de disponibilização da matéria-prima lignocelulósica, de fontes específicas, como é o caso do bagaço de cana, para alternativas concorrentes, como é o caso da cogeração de energia (calor e bioeletricidade). Hoje no país há vários grupos fortes trabalhando nos diversos aspectos ligados à produção de etanol de segunda geração. Revista Canavieiros: Os produtores brasileiros estão preparados para produzir etanol de segunda geração? Dr. (a) Cynthia/Rubens: Usinas e fornecedores buscam ajus- Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 9 Entrevista Institutos de pesquisa estão desenvolvendo variedades com maior quantidade de biomassa. tar seus negócios em bases tecnológicas e comerciais. No Brasil, a tecnologia de produção de etanol de segunda geração deverá ser complementar, e não substitutiva da tecnologia de primeira geração. A tecnologia do etanol de primeira geração já está no setor sucro-energético do Brasil. A partir do momento que a tecnologia de segunda geração se mostrar economicamente viável, com alguns projetos piloto ampliando suas escalas comerciais, o setor deverá ampliar muito positivamente sua agenda para esta produção complementar de bioetanol e coprodutos. Entretanto, o dilema que persistirá é o aproveitamento do bagaço para a produção de bioetanol ou para a cogeração de energia elétrica. Revista Canavieiros: Como está o avanço desta tecnologia no país? Dr. (a) Cynthia/Rubens: Hoje no país há vários grupos fortes trabalhando nos diversos aspectos ligados à produção de etanol de segunda geração. Esses grupos são privados e públicos (universidades, instituições de pesquisa, como a Embrapa, por exemplo). Dentre os temas mais importantes estão o desenvolvimento de tecnologias de pré-tratamento mais eficientes e econômicas; desenvolvimento de leveduras com maior eficiência de fermentação de açúcares de C5 e C6; identificação e produção em escala industrial de enzimas hidrolíticas para desconstrução da biomassa; dentre outros. Estudos de diferentes fontes de biomassa são bastante promissores, mas o melhoramento da cana com ênfase para produção de etanol celulósico já está também em andamento. Inclusive, há alguns grupos trabalhando com a possibilidade de modificação da biomassa da cana por transgenia, a fim de aumentar a eficiência do processo de produção de etanol de segunda geração. Também já existem algumas plantas piloto para testar a produção de etanol de segunda geração, e recentemente foi reportado que uma empresa multinacional brasileira já está planejando iniciar a produção de etanol de segunda geração em escala comercial a partir desse ano. Um outro ponto importante é que o mercado de detenção de patentes é muito importante para a produção de etanol de segunda geração, visto que hoje não existe uma única maneira para obtenção desse biocombustível. Assim, é estrategicamente importante que o Brasil desenvolva tecnologia própria para não depender tecnologicamente de outros países, o que poderia onerar a implantação comercial da produção do etanol de segunda geração no país. Revista Canavieiros: É possível dizer quando estará disponível no mercado? Dr. (a) Cynthia/Rubens: Atualmente, grande parte do etanol de segunda geração no Brasil é produzido apenas em laboratórios e existem poucas plantas-piloto, como a da Petrobras. É esperada para o final de 2013 e no decorrer de 2014 a produção 10 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br em escala industrial por algumas empresas. Dentre as quais, merece destaque a GraalBio Investimentos S.A., que construirá uma usina de etanol de segunda geração em Alagoas. A usina, que será a sexta do mundo a produzir etanol celulósico, terá condições de gerar 82 milhões de litros do combustível de segunda geração. Somente quando isso acontecer é que questões importantes sobre o processo produtivo serão respondidas. Em grande parte das tecnologias atuais, os custos do etanol de segunda geração seriam até 50% superiores aos da primeira geração, o que de certa forma inviabiliza a produção adicional. Entretanto, o AEC (Conselho Avançado de Etanol) dos Estados Unidos ressalta no seu relatório sobre produção de etanol celulósico da safra 2012/13 que os custos das enzimas diminuíram 80% na última década e que já seria possível produzir etanol de segunda geração a U$ 2 o galão. Tomando-se por R$ 2 cada dólar, chegar-se-ia a R$ 1,20 o litro, valor não muito acima do que é considerado competitivo atualmente, que é R$ 1,10 o litro. Somente a produção em escala industrial no Brasil permitirá identificar de uma forma mais clara os gargalos no processo produtivo, e a partir dessa informação será possível desenvolver plantas de escala comercial que diminuam esses custos. Resolvidos os problemas do processo produtivo, é factível esperar a produção inicial em escala comercial do etanol de segunda geração para daqui a quatro ou cinco anos, mas a tecnologia só deve se generalizar no mercado daqui a uma década. Assim, a disponibilização do etanol de segunda geração comercialmente dependerá de avanços na pesquisa e solução de gargalos do processo, investimentos do se- tor privado, interesse dos produtores e políticas públicas para seu incentivo. Revista Canavieiros: Como está o trabalho desenvolvido pela Embrapa? Dr. (a) Cynthia/Rubens: A Embrapa tem focado em pesquisa, desenvolvimento e inovação em várias vertentes do processo de produção de etanol de segunda geração, desde o melhoramento genético de culturas agroenergéticas de alta biomassa à otimização das várias etapas do processo de conversão industrial para a produção de etanol de segunda geração. A Embrapa trabalha o conceito de biorrefinaria, focando no desenvolvimento e domínio tecnológico de vários processos críticos necessários para a produção de etanol de segunda geração. A Embrapa Agroenergia coordena este processo na rede PD&I Embrapa em matérias-primas de qualidade com alto conteúdo energético, eficiência de processos de conversão industrial (escala de bancada e piloto) e aproveitamento de resíduos e coprodutos, e tem como missão viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento sustentável e equitativo do negócio da agroenergia no Brasil, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício da sociedade brasileira. Unidades de PD&I, como a Embrapa Milho e Sorgo, estão focando principalmente na produção e disponibilidade de matéria-prima de qualidade, ampliando os esforços no melhoramento de culturas alternativas, como o sorgo-energia (sacarino e de alta biomassa), que apresenta grande potencial para complementação da cultura canavieira. Avanços também têm sido feitos em colaboração com instituições nacionais e estrangeiras, principalmente dos EUA e da Europa. Revista Canavieiros: Fale um pouco sobre o etanol disponível hoje no mercado. Teremos o suficiente para abastecer os mercados interno e externo? Com a produção de etanol de segunda geração, o cenário poderia ser diferente? Dr. (a) Cynthia/Rubens: Nas questões anteriores foi dito que o etanol de segunda geração será tecnicamente viável nos próximos anos, mas um questionamento que devemos ter em mente é se ele será desejável em termos mercadológicos. Atualmente, o mercado interno de etanol não é rentável e o setor vem passando por dificuldades nos últimos anos. A sustentação dos preços de combustível a níveis artificialmente baixos tem atuado como desincentivo aos investimentos no setor. Segundo dados do Fórum Nacional Sucroenergético, os investimentos em projetos greenfield de usinas na região Centro-Sul do Brasil têm caído acentuadamente. Em 2008/09, foram construídas 30 novas unidades na referida região, enquanto que em 2011/12 e 2012/13 esse número caiu para, respectivamente, duas e três novas unidades. Além disso, esse desincentivo também afetou a renovação dos canaviais, cujo envelhecimento acarretou queda na produtividade. Outro problema enfrentado pelo setor são as oscilações anuais que inviabilizam o negócio em determinados anos. Por exemplo, o preço médio do etanol anidro em São Paulo no mês de abril de 2010 ficou em R$ 0,9084, mas no mesmo período em 2011 os preços ficaram em R$ 2,3750, o que representa um aumento de 161% em um ano. Em abril de 2012, o preço médio foi de R$ 1,2597, uma queda de 47% em relação a 2011. Esse comportamento oscilatório é inerente à atividade agrícola, mas ao contrário das culturas temporárias tradicionais, nas quais se o preço estiver baixo o produtor pode simplesmente plantar outra cultura e ajudar a reequilibrar os preços, no setor sucroenergético o produtor fica “preso” pelos grandes investimentos de construção de usinas e no dispêndio de cultivar um canavial. Entretanto, segundo informações recentes, há um cenário positivo para o etanol na safra de cana de 2013/14. O mercado externo demandará muito etanol e há a expectativa de aumento do volume de exportações, especialmente para os Estados Unidos. Adicionalmente, segundo informações da Safras & Mercado, a renovação recente dos canaviais levará a um aumento de quase 19% da produção, passando de 19,80 bilhões de litros na safra 2012/13 para 23,5 bilhões de litros em 2013/14. Cabe ressaltar que somente as exportações permitirão o acomodamento desse acréscimo da produção. Em um cenário futuro, com a tecnologia do etanol de segunda geração disponível, somente as condições de preços vigentes na ocasião determinarão o que será do mercado, assim como no mercado atual. A ideia é a seguinte: no momento, o produtor de cana opta por produzir etanol ou açúcar de acordo com os preços do mercado. O mercado também será o parâmetro para o etanol de segunda geração: o produtor somente optará por produzí-lo se o etanol estiver mais remunerador do que a queima do bagaço para a produção de energia elétrica. Especialistas creem que o Brasil demanda, atualmente, mais energia elétrica do que combustível e isso pode ser um fator restritivo para o etanol de segunda geração. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 11 Artigo Ganha Ganha ou Perde Perde Alexandre Figliolino diretor do Banco Itaú BBA I nfelizmente assistimos nos últimos tempos uma situação que não tem sido positiva para as empresas do setor sucroenergético. À medida que uma parcela relevante delas não tem conseguido gerar caixa suficiente para fazer frente aos pagamentos necessários (entre eles, manutenção da atividade com custos razoáveis e vencimentos do serviço da dívida contraída no último ciclo de investimento), esses grupos têm seu endividamento aumentado, mesmo sem investir no crescimento da capacidade de produção. Parte da fraca geração de caixa das usinas é explicada pelo baixo preço do etanol, parametrizado pela gasolina (seu competidor direto que tem seu preço congelado nas bombas) e que aliado a problemas climáticos e operacionais atravessados nas últimas safras aumentaram substancialmente os custos unitários e tornaram a atividade deficitária. Outros grupos, que estão mais bem estruturados (tanto na área financeira como operacional) e com geração de caixa positiva graças aos preços remuneradores que o açúcar teve nos últimos tempos, não se sentem seguros a retomar investimentos de forma mais vigorosa. Falta de segurança causada pelo cenário do etanol e pelas incertezas e indefinições das regras de longo prazo que afetam o setor, que, como diz a expressão caipira, faz todos “ficarem atrás do toco”. Sendo assim, os investimentos concentram-se basicamente na área 12 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br agrícola, desgargalamentos industriais e melhoria no mix, visando maior produção de açúcar e etanol anidro. Pouco destes investimentos são direcionados a expansão industrial ou geração de bioeletricidade, não obstante a farta disponibilidade de linhas de crédito em condições de preço e prazo extremamente favoráveis. Paralelamente a isso, assistimos um cenário preocupante no setor elétrico. À medida que a escassez e irregularidade das chuvas têm baixado de forma preocupante o nível dos reservatórios de importantes bacias, como por exemplo, as bacias do Rio Grande e do Rio Parnaíba, todo o parque de termoelétricas a óleo, gás e carvão tem sido despachado com custo de energia elevado, entre R$ 200 e R$ 1.000,00 por MWH. Enquanto essa situação perdurar, esse cenário fatalmente irá onerar as próximas faturas de energia elétrica dos consumidores. Além disso, vimos também o preço de energia no mercado spot disparar, atingindo na segunda semana do ano valores superiores a R$ 540/MWH. Há muito tempo que o setor sucroenergético vem reivindicando ao governo a realização de leilões regionais e por fonte de combustível. O racional da reivindicação é que, apesar de não maximizar a modicidade tarifária, estaria criando valor para a sociedade em função de estimular investimentos em fontes alternativas de energia limpa, diversificando a matriz de geração distribuída produzida no centro de carga do sistema, com menor custo de transmissão, e ser extremamente complementar a hidroeletricidade (cada vez mais operando a fio d’água). A pergunta que não quer calar é: será que não é hora de reconhecer as externalidades positivas da cogeração de biomassa e criar os estímulos necessários para que ela prospere, principalmente porque sua viabilização pode ajudar também a viabilizar a produção de etanol notadamente nas regiões de fronteira, onde a produção de açúcar não encontra condições logísticas favoráveis? Ganha ganha ou perde perde? Na questão dos combustíveis líquidos, assistimos ao aumento do déficit entre o volume de petróleo refinado localmente e o consumo interno de combustíveis, que cresce a taxas elevadas, sendo previsto na média em 2013 chegar a 285 mil barris/dia, provocando um aumen- to acelerado nas importações e impactado negativamente e crescente o saldo de balança comercial. Esta importação tem provocado também prejuízo a Petrobrás, na medida em que o custo do combustível importado é superior aos preços praticados internamente. Outra pergunta que não cala: não seria mais positivo para o país reconhecer as externalidades positivas do etanol em relação ao combustível fóssil e criar estímulos à retomada dos investimentos na produção de etanol, energia limpa e “...O racional da renovável, levando desenvolvimen- reivindicação é que, apesar de to e empregos de ótima qualidade a não maximizar regiões longínquas onde as oportua modicidade nidades são escassas, colaborando tarifária, para a interiorização do desenvolvi- estaria criando mento e ao mesmo tempo redução valor para a do nosso déficit na conta de imporsociedade...” tação de derivados de petróleo, ajudando a balança comercial e melhorando a qualidade dos números de balanço da Petrobrás? Ganha ganha ou perde perde? Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 13 Artigo Sustentabilidade e o futuro da cana André Nassar - diretor geral do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais) O setor sucroenergético brasileiro, mais do que qualquer outra cadeia, incorporou em definitivo as exigências de sustentabilidade na produção de cana-de-açúcar e na sua cadeia de valor. Muitas empresas já estão certificadas ou estão em processo de certificação, e já percebem valor em certificar seus produtos. Existe também um esforço que diferencia a cadeia das demais de produção agropecuária no Brasil na busca pela regularização ambiental, que é um passo fundamental para garantir a certificação da cadeia de valor. Incorporar a sustentabilidade e garantir a certificação, no entanto, não significa que o setor não tenha desafios de sustentabilidade para enfrentar. Pelo contrário, existem alguns que precisam ser analisados no processo de expansão da produção de cana-de-açúcar para fins energéticos. Uma cadeia jamais será sustentável se o pilar econômico não estiver bem equilibrado. A expansão da produção de etanol, açúcar e bioeletricidade passam pela construção de novas usinas e expansão das existentes (greenfields e brownfields). Desde 2010 as condições de mercado não viabilizam novos investimentos, além do necessário para a renovação do canavial. A retomada das condições econômicas para viabilizar greenfields e brownfields passar por remunerar melhor a cana na forma de etanol e eletricidade mais rentáveis, além de 14 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br uma importante e necessária retomada dos níveis de produtividade. Se a produtividade depende muito mais das ações do setor, a melhor remuneração do etanol e da eletricidade dependem muito de marcos regulatórios e ações dos governos federal e estadual. Esse é o grande calcanhar de Aquiles do pilar econômico ainda não resolvido. Uma segunda variável que poderia reequilibrar o pilar econômico seria o desenvolvimento do mercado internacional de etanol. Os EUA voltaram a importar etanol do Brasil em 2012, mas assim como ocorre por aqui, o mercado para o chamado etanol avançado (mercado para o etanol de cana do Brasil) tem sofrido ataques dos demais setores que estão de olho nele, sobretudo no etanol de milho e, mais recentemente, no biodiesel de soja. Nos EUA existe uma grande resistência em se dividir o mercado do RFS (Renewable Fuel Standard - lei de combustíveis renováveis) com biocombustíveis importados, como ocorreu no ano passado com o etanol de cana. Do lado europeu, embora seja um mercado potencial menor do que o norte-americano, os biocombustíveis de base agrícola passam por um momento difícil. A Comissão Europeia optou pelo chamado princípio da precaução, o que a levou a definir um teto máximo de consumo de etanol de primeira geração e biodiesel, que equivale a 50% do mandato de mistura de biocombustíveis nos combustíveis líquidos. A consequência desta decisão é que o mercado europeu para etanol de primeira geração e biodiesel praticamente deixa de crescer, embora o mandato de mistura continue crescendo. As motivações são as questões de sempre: competição com alimentos e uso da terra. Assim, mesmo sabendo que o etanol de cana tem mínimos impactos nos preços dos alimentos e na mudança do uso da terra, para não ter que diferenciá-lo das lavouras que efetivamente geraram esses impactos, a Comissão Europeia resolveu agrupar todos. A cana-de-açúcar tem dois grandes desafios quando falamos em sustentabilidade de forma geral. No campo interno, trazer de volta o equilíbrio econômico do setor para promover os investimentos necessários na oferta de etanol e eletricidade. No campo externo, será fundamental separar a cana das matérias-primas que são fontes diretas de alimentos. Para isso, os argumentos de sustentabilidade serão fundamentais porque, sem a menor dúvida, a cana se diferencia de todas as lavouras produtoras de etanol de primeira geração e biodiesel. Um terceiro desafio, mas que se concretizará num futuro mais distante, é a inserção da cana-de-açúcar no mercado de etanol de segunda geração e de tecnologias avançadas de produção de energia a partir de resíduos e biomassa. Nesse mercado, a grande maioria das matérias-primas existentes não terá problemas de sustentabilidade ambiental e social como hoje possuem as matérias-primas de base agrícola. No entanto, a cana sairá na frente por ser mais competitiva e possuir cadeias de produção já otimizadas para produção de etanol de primeira geração e bioeletricidade. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 15 Artigo Políticas Públicas – como garantir o abastecimento e o mercado Adriano Pires - diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) O setor de etanol tem sido criticado por autoridades do governo por não ser capaz de suprir a demanda nacional do produto, por conta do baixo crescimento da produtividade. O governo não parece se dar conta de que as mazelas do setor derivam da política de stop-and-go que atrapalha a previsibilidade, inibindo os investimentos e o crescimento da produtividade. O que falta é um marco regulatório estável que defina uma política de longo prazo. No entanto, a confusão regulatória e de planejamento não é específica do setor de biocombustíveis. Todo o setor energético do país vem sofrendo com o elevado nível de intervenção estatal e a instabilidade regulatória. Bons exemplos são as alterações recentes no setor elétrico, que diminuíram drasticamente a receita das empresas, limitando a sua lucratividade e a capacidade de investimento. A realização de leilões nos quais as diversas fontes de energia competem entre si vem deixando de fora fontes como a biomassa. Isso acaba prejudicando o setor sucroalcooleiro pela complementaridade da produção de etanol com o uso do bagaço de cana na geração de eletricidade, pois não conseguem competir com fontes que possuem maiores benefícios, como é o caso da energia eólica. No caso da indústria do petróleo, criou-se um vácuo regulatório derivado da dificuldade política em resolver a questão dos royalties e os anos de intervenção na Petrobras levaram à ausência de leilões, redução na área de concessão em exploração, queda da produção e da eficiência operacional dos campos da Petrobras. A política de preços dos combustíveis que mantêm o preço doméstico da gasolina e do diesel abaixo do mercado internacional tem prejudicado não só o setor de petróleo, mas também o de etanol, na medida em que o combustível renovável perde competitividade frente ao preço do combustível fóssil subsidiado. É inacreditável que os combustíveis fósseis ficaram isentos do pagamento da CIDE (Contribuição Sobre Intervenção no Domínio Econômico). Sem competitividade, reduziram-se os investimentos no setor, o que contribuiu para resultar na perda da liderança do Brasil na produção mundial de etanol. Segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e da EIA (Estudo de Impacto Ambiental), no Brasil, nos últimos cinco anos, a produção de etanol de cana cresceu 29%, enquanto nos Estados Unidos, o salto foi de 185% no etanol de milho. Em 2000, as usinas americanas fabricavam apenas 57% do volume das usinas brasileiras, enquanto em 2011, a produção de etanol norte americana representou mais que o dobro da brasileira, 230%. Com o baixo crescimento da produção, o Brasil foi ultrapassado pelos EUA na liderança do setor. Qual a receita do sucesso americano? Previsibilidade. Até 2022, o Governo Norte-Americano se comprometeu por lei a comprar 136 bilhões de litros de etanol, a um preço mínimo de US$ 1,07, reajustados anualmente. A falta de previsibilidade no setor de biocombustíveis ainda tem consequências mais graves, uma vez que é composto majoritariamente por empresas privadas, diferentemente do setor elétrico e de petró- 16 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br leo que contam com empresas de elevada participação governamental, capazes de garantir a sua sobrevivência mesmo com lucratividade limitada. No caso do etanol, as empresas já lidam com questões aleatórias, inerentes à atividade, como por exemplo, as variações climáticas, além das condições financeiras e de financiamento de mercado. O resultado do planejamento ener-gético confuso no Brasil é que hoje falta tudo. Falta gasolina o que faz com que as importações tenham atingido nível recorde e gerado vultosos prejuízos para a Petrobras. Há a ameaça de racionamento de energia elétrica, o que, com a entrada em operação de usinas a fio d’agua deve se tornar cada vez mais comum em períodos de pluviosidade adversa. Falta etanol para que a mistura na gasolina volte para os 25%, diminuindo a emissão de CO2 na atmosfera. Isso porque o país cresceu apenas 1% em 2012. Imagine se as previsões do Governo de um crescimento entre 3 e 4% se confirmassem? Enquanto o planejamento do setor de energia estiver baseado na conjuntura política e econômica, ao invés de em ações claras e transparentes de longo prazo, o setor de biocombustíveis continuará convivendo com o movimento de stop-and-go. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 17 Artigo Tendências do Setor Sucroenergético O desafio da inovação diante da crise João Sampaio - vice-presidente de relações institucionais do Grupo Marfrig F alar da crise do setor sucroalcooleiro é repetir análises e diagnósticos já exaustivamentes descritos. Em inacreditáveis quatro anos (tudo começou em 2009), fomos do paraíso ao purgatório, que é onde nos encontramos hoje. Da curva ascendente de exportações de etanol, passamos a importadores em 2011. Com o setor alavancado, em meio a uma crise mundial que insiste em não nos deixar, o governo demorou para mexer no preço da gasolina e a rentabilidade e os investimentos sumiram. Os investimentos em tecnologia minguaram e o etanol que não chegou a se consolidar como uma commodity, adoece do mesmo mal das demais: falta de investi- mento em inovação. Nem mesmo investimentos no desenvolvimento de eficiência dos motores flex tivemos, acomodou-se no nível de relação média de 70% de consumo de etanol, quando comparado com o uso da gasolina. Mas o caminho será sempre a inovação, mesmo nos momentos mais profundos da crise. Não da para dependermos da presença do açúcar brasileiro no mercado internacional ou do nosso mercado interno de etanol, regulado e engessado. Só isto não será suficiente para garantir rentabilidade e crescimento para toda a cadeia produtiva. Não é fácil falar disto em meio ao endividamento e estagnação, mas é preciso e absolutamente ne- 18 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br cessário a ousadia. Os desafios de agregação de tecnologia, conhecimento e valor terão que ser superados, este tem sido o motor do progresso do setor. Da indústria açucareira, do etanol, da co-geração de energia a partir do bagaço, agora temos a nossa frente a revolução da alcoolquímica, os bioplásticos e a indústria cosmética; o etanol celulósico. Além disto, para voltarmos aos combustíveis , temos o diesel de etanol e a querosene de aviação que precisam avançar. Este é o país do agronegócio, com sede de combustíveis alternativos, visando redução nos seus custos de produção. Iniciativas e experiências bem-sucedidas de produção e uso de novas tecnologias no setor sucroalcooleiro é o único caminho iluminado que nos resta para ultrapassarmos a crise e nos apresentarmos a um novo mercado. A oferta de produtos agregados, principalmente estes vindos da produção agrícola, sofre menos resistência e barreiras comerciais dos países importadores. Nas commodities, ficamos todos no mesmo nível e a briga se limita a escala e preço. O que acontece hoje com a indústria sucroalcooleira é tendência também em outras cadeias produtivas. Quando analisamos a trajetória e as potencialidades do agronegócio, vemos que o setor responde bem ao chamamento tecnológico. O nosso setor sucroalcooleiro talvez seja a maior representação de que é nos momentos de crise que nos unimos e buscamos, com trabalho, dedicação e inovação um modelo sustentável de produção, geração de renda e qualidade de vida. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 19 Artigo Técnico “A indústria do biocombustível para aviação nasce diferente do etanol e do biodiesel, pois será parte de um esforço global” Fernanda Clariano Biocombustíveis na Aviação O Brasil é visto mundialmente como “o país dos biocombustíveis” e o biocombustível na aviação surge como uma nova e grande oportunidade O impacto dos combustíveis de aviação sobre o meio ambiente ainda é relativamente pequeno quando comparado ao de muitos outros setores, que responde por cerca de 2% do total de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa). Mas estudos apontam que essa participação tende a crescer nos próximos anos, proporcionalmente à intensificação da atividade aeronáutica, razão pela qual a indústria assumiu o compromisso de reduzir em 50% suas emissões globais produzidas até 2050 (tendo como referência o que era produzido no ano de 2005). Isso passa pela otimização do consumo de combustível aeronáutico, que demanda investimentos na melhoria do rendimento das aeronaves, do gerenciamento do tráfego aéreo e de infraestrutura aeroportuária mundial, mas a meta só poderá ser atingida com o uso de biocombustíveis que apresentem um ciclo de carbono favorável, ou seja, que no seu ciclo de vida emitam menos GEE que o combustível tradicional produzido a partir do petróleo. A indústria tem se mobilizado em todo o mundo para desenvolver e tornar economicamente viáveis estes combustíveis. Nesse cenário, naturalmente os olhos se voltam para o Brasil: a reputação de “país dos biocombustíveis”, conseguida de forma muito merecida, é resultado de muito esforço em pesquisa e mobilização. Para o país, esta indústria que agora surge representa uma nova e grande oportunidade, com enormes desafios: o volume de querosene de aviação utilizado no mundo hoje é de cerca de 250 bilhões de litros por ano, dez vezes o volume de etanol produzido no país, apenas para oferecer uma base de comparação. “A indústria do biocombustível para aviação nasce diferente do etanol e do biodiesel, pois será parte de um esforço global, e o Brasil tem condições de atender boa parte da demanda por estes biocombustíveis. A oportunidade já está colocada, o Brasil tem as credenciais para assumir a liderança, mas para que isso aconteça ainda falta uma definição de prioridades e a inclusão do biocombustível para a aviação nas políticas públicas de biocombustíveis do país”, afirmou o vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da Embraer, Mauro Kerm. A Embraer, que tem a sustentabilidade entre seus valores, tem participado do esforço e mobilização da indústria global para buscar combustíveis que possam atender às exi- 20 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br gências ambientais e mercadológicas. A empresa participa de pesquisas e parcerias com universidades, órgãos de fomento e outras empresas brasileiras e estrangeiras no campo dos biocombustíveis. Apoia o desenvolvimento de biocombustíveis alternativos ao querosene de aviação, realizando testes em laboratórios, bancadas e em voo, avaliando comparativamente os combustíveis para jatos em relação a uma série de padrões. Dentre as vantagens do biocombustível na aviação está a de garantir a segurança energética da aviação com combustíveis produzidos a partir de fontes alternativas ao petróleo, possivelmente contribuir para a redução ou estabilização dos preços do querosene de aviação, que tem grande impacto no custo operacional das empresas aéreas, e reduzir as emissões de GEE. Além da busca por fontes de energia alternativas ao petróleo que sejam viáveis econômica e ambientalmente, que é condição fundamental para um transporte aéreo sustentável. Inovações e desafios - a Embraer incentiva ações que buscam soluções de combustível “drop in”, isto é, que tenham desempenho comparativamente igual ou superior ao do querosene de aviação nas aeronaves atuais, e que atendem às especificações internacionais vigentes de querosene de aviação (Jet A/A-1). Sob o ponto de vista técnico, o combustível ser “drop in” e apresentar um potencial de redução da emissão dos gases que causam o efeito estufa, são condições fundamentais para garantir a viabilidade técnica do biocombustível na aviação. “A Embraer entende que, atendendo a essas premissas, há uma grande gama de matérias primas e processos de conversão que potencialmente podem ser utilizados para a produção de bioquerosene. Num país com dimensões continentais e grande diversidade de biomassas é muito provável que as soluções sejam regionalizadas, ou seja, não haverá uma única biomassa a ser utilizada no Brasil. A condição é que essa matéria-prima possa ser produzida de modo sustentável e que este bioquerosene seja economicamente competitivo com o querosene de aviação tradicional. Também é fundamental que esta matéria-prima atenda indicadores socioambientais, tais como não competir com alimentos e nem ameaçar a biodiversidade, entre outros”, diz Kerm. Hoje, há uma série de pesquisas e testes com biocombustíveis alternativos ao querosene tradicional de aviação em andamento em todo o mundo. Na Europa, nos EUA e no México, por exemplo, já estão sendo realizados voos comerciais, ainda em pequena escala. Os primeiros testes em voo com bioquerosene na Embraer foram realizados em agosto de 2011, em uma cooperação entre Embraer e GE (General Eletrics). Foi realizada uma série de voos com um jato Embraer 170, com o objetivo de avaliar as características operacionais da aeronave e do motor utilizando um bioquerosene produzido por meio do processo HEFA (Ésteres de Ácidos Graxos Hidro-processados), derivado da camelina. Durante os testes um motor do avião foi alimentado com uma mistura de que- rosene de aviação convencional, produzido a partir do petróleo (Jet-A1) e HEFA, na proporção de 1:1 em volume. Este combustível foi o primeiro querosene renovável aprovado para uso na aviação comercial. Sua aprovação, por organizações e autoridades competentes dos EUA e Europa, ocorreu em julho de 2011. Em 2012 foi realizado um voo de demonstração, ida e volta entre Campinas e Rio de Janeiro, durante a Rio + 20, fruto de uma parceria da Embraer com a Amyris, fornecedora do combustível, a Azul Linha Aérea e a GE, fabricante dos motores do avião. O combustível produzido pela Amyris a partir da fermentação da cana-de-açúcar brasileira foi obtido com microorganismos modificados que convertem o açúcar em hidrocarbonetos, que são convertidos em um bioquerosene. Este bioquerosene abasteceu o jato Embraer 195 da Azul, equipado com motores CF34-10E da GE, numa mistura com querosene de aviação (Jet A-1), numa proporção de 1:1 em volume. Iniciativas semelhantes estão sendo conduzidas em outros países, com outros tipos de biomassa e outras rotas de conversão. A Embraer também participou do consórcio europeu Swafea, que avaliou os impactos técnicos, econômicos, ambientais e sociais de potenciais alternativas para produção de biocombustíveis aeronáuticos. Está também participando do consórcio europeu ITAKA que irá avaliar uma série de aspectos relacionados ao uso de bioquerosene em voos comerciais, com o envolvimento de dois operadores de aviões da Embraer na Europa. Participa ainda do projeto SABB (Sustainable Aviation Biofuels for Brazil), junto com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Boeing e vários outros parceiros, que tem como objetivo identificar os principais desafios para se implementar uma indústria de bioquerosene sustentável no Brasil. Quanto às perspectivas de adoção dos biocombustíveis em larga escala, há uma série de fatores envolvidos para se chegar a essa resposta: o custo do petróleo, o montante do investimento em pesquisas de novas tecnologias, o investimento necessário no aumento da escala de produção dos biocombustíveis e políticas públicas que venham a ser adotadas para estimular os novos biocombustíveis, tudo isto dentro de um contexto de crise econômica mundial. “Dependendo da evolução destes aspectos, os biocombustíveis poderão se tornar economicamente viáveis no médio prazo. A avaliação da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) é que aproximadamente 6% do total de querosene de aviação utilizado em 2020 seja de bioquerosene”, afirma Kerm. Certificação de sustentabilidade de biocombustíveis na aviação - A certificação de sustentabilidade é o processo por meio do qual é demonstrado que o biocombustível atende a critérios definidos de sustentabilidade econômica, ambiental e social. Devem ser avaliados, entre outros, aspectos como mudança do uso da terra, a conservação da biodiversidade, o cumprimento com a legislação ambiental e trabalhista, e ciclo de carbono do combustível. Não há uma harmonização sobre os princípios, critérios e processos para se obter a certificação de sustentabilidade de biocombustíveis na aviação, e este é um aspecto importante e de difícil solução, principalmente quando consideramos que a aviação é uma indústria global. A ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), também tem trabalhado no sentido de superar este desafio. Atualmente existem algumas instituições trabalhando com certificação de sustentabilidade de biocombustível de aviação, sendo que a que tem tido maior reconhecimento por parte das linhas aéreas é a organização suíça RSB (Roundtable of Sustainable Biofuel). Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 21 Artigo Técnico Ronaldo Resende Sistema carretel enrolador irrigando cana. Irrigação de Cana-de-açúcar Por: Ronaldo Souza Resende Pesquisador em Irrigação e Drenagem - Embrapa Tabuleiros Costeiros I NTRODUÇÃO A irrigação de cana-de-açúcar é efetivada principalmente sob duas modalidades: 1. Irrigação plena, em que se busca atender de forma contínua toda ou parte da demanda hídrica da cultura não atendida pela precipitação e 2. Irrigação suplementar, onde a aplicação é efetuada em épocas específicas, visando mitigar o efeito do déficit na fase inicial de desenvolvimento da cultura. O censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2007) registra que de 192,8 mil estabelecimentos pesquisados que colheram cana apenas 10,8 mil utilizaram irrigação (5,6%). O Censo relacionou esse número de estabelecimentos a uma área de 1,7 milhão de hectares, o que correspondeu a 30,6% da área total colhida de 5,6 milhões de hectares; é de supor que os dados de área apontados não correspondem à irrigação plena da cana. A principal dificuldade de se obter estatísticas mais precisas advém do fato que a maior parte da irrigação da cana se constitui em irrigação suplementar. Embora não se disponha de estatística com essa segmentação, uma estimativa aponta para algo em torno de 5 a 8% da área plantada com irrigação plena. Embora a área de cana atendida com irrigação plena tenha apresentado um crescimento considerável nos últimos dez anos, ainda predomina na cultura a irrigação suplementar, a qual consiste na aplicação de dois a três lâminas (geralmente em torno de 50-60 mm), em épocas de pós-germinação e 30 dias após o plantio – DAP (e 60 DAP se aplicada a terceira lâmina). Mesmo sendo prática corrente, o fato é que para muitas condições essa manejo resulta em uma elevada porção de água não 22 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br aproveitada pela cultura, uma vez que tal lâmina excede significativamente a capacidade de armazenamento do solo na profundidade considerada para a fase de cultivo em que é feita a aplicação. A demanda hídrica anual para a cana-de-açúcar é estimada pela FAO (Organização da Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) como sendo de 1500 a 2500 mm; idealmente essa lâmina deveria ser uniformemente distribuída ao longo do seu ciclo de cultivo (DOORENBOS e KASSAN, 1979). As áreas tradicionais de produção de cana-de-açúcar apresentam um regime hídrico anual que atende essa faixa de demanda, porém, de modo geral, tal regime é concentrado nos meses de novembro a março na região sudeste e de março a agosto, na região nordeste do país, sendo então necessário aporte hídrico via irrigação com propósito de se obter incrementos de produtividade. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO Nas usinas de cana-de açúcar os métodos de irrigação mais utilizados são o de irrigação por aspersão e irrigação localizada. Com relação aos primeiros, os sistemas autopropelidos (carretel-enrolador, pivô-central e lateral móvel) se destacam e são utilizados tanto para irrigação plena como suplementar, sendo essa última predominante para esses sistemas. Além da aplicação de água, eles são também utilizados na distribuição de vinhaça em campo. O método de irrigação por superfície é menos utilizado, ficando restrito principalmente nas áreas de várzea (controle de lençol freático). Na irrigação localizada predomina o uso da irrigação por gotejamento subsuperficial, sendo esse, pela característica de elevada frequência de aplicação inerente ao método, mais utilizados para irrigação plena. Para esse sistema a intrusão radicular constitui um dos principais aspectos de manejo a ser considerado visando assegurar a vida útil prevista em projeto (Camp et al., 2000). Na cultura da cana-de-açúcar o problema é ampliado por causa do sistema radicular do tipo fasciculado, aliado às características de plantio em linha contínua. As principais medidas adotadas pela indústria de equipamentos para contenção da intrusão radicular baseiam-se em princípios químicos, através da incorporação de herbicidas no material plástico do gotejador ou da aplicação de um herbicida ministrado diretamente na água de irrigação, e de princípios físicos, ligados à arquitetura interna ou configuração do orifício de saída do gotejador. A barreira química à intrusão de raízes em gotejamento subsuperficial se constitui em importante ferramenta no sentido de minimizar o problema. O principal mecanismo de imposição de barreira química é a utilização de herbicida tendo a trifluralina como princípio ativo. Entretanto, além dos aspectos ligados às questões ambientais (resíduo, persistência no solo, contaminação de lençol freático, inexistência de produtos registrados), é mínima a quantidade de estudos envolvendo o manejo da aplicação desses produtos. Questões como dosagens em diferentes tipos de solo, variabilidade do volume de solo tratado dentro da parcela de irrigação e suas implicações no desenvolvimento do sistema radicular da cultura, custos do tratamento, etc, carecem de estudos científicos. Tem sido comum referir-se aos sistemas de irrigação localizada como mais eficientes na aplicação de água. Cada um dos sistemas apresentam vantagens e desvantagens para utilização na irrigação da cana-de-açúcar. De modo geral, seria prudente afirmar que não há um sistema mais adequado; o fator chave para alcançar a maior eficiência de aplicação e de uso de água pela cultura é o correto manejo da irrigação. De modo geral, embora o setor produtivo venha realizando elevados investimentos na aquisição de equipamentos de irrigação, não tem sido observado o mesmo nível de esforço na utilização de técnicas mais racionais de manejo. Vale lembrar que cada milímetro de lâmina de irrigação economizado com um manejo de irrigação mais racional corresponde a 10 mil litros de água por hectare. Além do desperdício do recurso água e energia elétrica, as consequências de um manejo deficiente significam perda de fertilizante, com consequente elevação do potencial de contaminação de lençol freático e, em última instância, redução de produção. Um exemplo pode ser visualizado na Figura 1 que representa um perfil de umedecimento do solo em irrigação localizada subsuperficial de cana (RESENDE et al., 2012). Como para essa situação o sistema radicular da cana estava localizado a uma profundidade máxima de 0,25 m (Figura 2a), fica evidente que o bulbo úmido formado pela irrigação e boa parte do fertilizante, que era todo aplicado via irrigação, se encontrava abaixo do sistema radicular, resultando em provável baixa eficiência de uso de água. Pode-se também observar nessa Figura que ocorreu a formação de uma zona de acumulação de umidade na profundidade abaixo de 0,60 m. Assim, no caso de situações onde ocorrem restrições ao desenvolvimento radicular em profundidade, faz-se necessário rever estratégias de manejo e/ou sistemas no sentido de se adequar a uma situação ambiental específica. Estação de bombeamento e cabeçal de controle de sistema de irrigação por gotejamento subsuperficial, na Usina Coruripe-AL. Figura1: Perfil de umedecimento do solo (umidade em % v/v) em irrigação por gotejamento subsuperficial. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 23 Artigo Técnico Uma questão que impacta fortemente o manejo da irrigação é a existência de camadas de impedimento no solo. Tais camadas, tendo como origem fatores quími- Figura 2. Perfil de distribuição de raízes (a) e de resistência à penetração - RP, em MPa (b). cos ou físicos, restringe o desenvolvimento em profundidade das raízes. Camadas de impedimento de caráter físico podem ser desenvolvidas a partir da ação antrópica (cultivo mecânico do solo, p. ex.) ou serem de origem pedogenética. Uma característica marcante dos solos dos tabuleiros costeiros do Nordeste brasileiro, principal área de produção de cana-de-açúcar da região Nordeste, é a existência de “camadas coesas”, formada na gênese do solo e localizada a uma profundidade que varia 0,25 a 0,40 m. A Figura 2 (a) mostra o perfil de desenvolvimento radicular da variedade RB-927515, plantada na região de Coruripe – AL e a Figura 2 (b) apresenta um perfil característico de resistência à penetração – RP em solos com presença de “camada coesa”. Embora a umidade reduza bastante a expressão dessa camada de impedimento, pode não ser suficiente para permitir o completo desenvolvimen- to radicular da cana. Observa-se que a profundidade do desenvolvimento da raiz coincide com a zona do perfil com RP (Figura 2b) abaixo de 2 MPa, sendo que esse valor de RP é apontado na literatura como o limite para o desenvolvimento radicular da maioria das culturas. RESPOSTA DA CULTURA À IRRIGAÇÃO Em função da sua característica de metabolismo (C4), a cana-de-açúcar é uma gramínea de elevada eficiência fotossintética e de uso de água. De modo geral, a cultura apresenta uma elevada resposta às condições de umidade do solo, desde que também satisfeitas a sua demanda por outras variáveis ambientais, notadamente a luminosidade. Levando-se em conta a não uniformidade do regime anual de precipitação a resposta da cana-de-açúcar à irrigação se torna dependente da magnitude e época de ocorrência do déficit hídrico e das condições climáticas prevalecentes nesse período. Nas regiões tradicionais de produção do Sul e Sudeste do país a época de ocorrência de déficit hídrico está associada ao momento de menor demanda evapotranspirométrica e mais baixa temperatura; de modo contrário, na região Nordeste há uma coincidência entre o momento de ocorrência do déficit hídrico com o de maior demanda evaporativa da atmosfera, potencializando o efeito do déficit hídrico, mas ao mesmo tempo, aumentando o potencial de resposta da planta à irrigação. Com base nas normais climatológicas do período 1961-1990, fornecidas pelo Inmet, pode-se visualizar na Figura 3 o período de ocorrência bem com a magnitude do déficit hídrico para diferentes regiões de produção de cana, tanto tradicionais como de expansão. Como exemplo, para a safra 2007/2008 o déficit hídrico de verão (aqui considerando apenas como a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração de cultivo – ETo) foi de 572 mm para a região de Coruripe e de 747 mm, para a região de Teresina. Figura 3. Balanço hídrico climatológico para diferentes áreas de produção de cana-de-açúcar (Fonte: www.inmet.gov.br) 24 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Sistema lateral móvel irrigando cana recém-plantada Um componente importante de manejo da irrigação da cana é o conhecimento dos coeficientes utilizados para estabelecer a Evapotranspiração do cultivo - ETc em diferentes estágios do seu desenvolvimento, a partir da estimativa da Evapotranspiração de referência – ETo. Esse coeficiente, denominado Coeficiente de cultivo – Kc, é comumente obtido a partir do Boletim 56, publicado pela FAO (ALLEN et al., 1998), embora diversos trabalhos os venham determinando para as condições específicas das áreas de produção do Brasil. Os valores recomendados no Boletim da FAO são: 0,40 para a fase de desenvolvimento inicial (Fase 1), 1,25 para a fase de formação da produção (Fase 3) e 0,75 para a fase de maturação (Fase 4). Para a fase de crescimento da cultura (Fase 2), o Kc assume valores intermediários entre as fases 1 e 3. Além de questões de natureza genética, pode-se dizer que enquanto na região Sudeste o nível de resposta da cana à irrigação está fortemente relacionado ao efeito da temperatura e energia radiante de inverno, na região Nordeste a resposta está mais relacionado à magnitude do déficit hídrico de verão. Na Figura 4, é apresentada a curva de produção de cana da variedade RB-927515, conduzida nas safras 2006/2007 à 2008/2009, em função de diferentes níveis de irrigação localizada subsuperficial, tendo sido esses níveis calculados como percentuais de reposição de 0% (sem irrigação), 45%, 90%, 135% e 180% da evapotranspiração de referência – ETo. Foi observado que o manejo da irrigação com base em 135% da ETo foi o que proporcionou os maiores níveis de produtividade ao longo de três ciclos de cultivo. O incremento médio de produtividade em relação ao plantio conduzido sem irrigação foi de aproximadamente 14%. Um incremento de 16 e 11% em relação à cana não irrigada foi obtido com irrigação de cana por Carretero (1982) para os ciclos de cana planta e primeira soca, respectivamente. Já na região de Botucatu, Dalri (2002) obteve incremento de produção de colmos de 45%, em relação à cana não irrigada. O incremento de produtividade física da cana (toneladas de cana por hectare – TCH) em função da irrigação tem sido amplamente observada. Já o efeito nas características qualitativas do caldo não tem sido observado com a mesma frequência. De modo geral, o uso da irrigação não tem redundado em alterações estatisticamente significativas de variáveis qualitativas do caldo, como POL do caldo, °Brix, ATR, entre outros. Os ganhos de produtividade de açúcar ou álcool têm sido mais diretamente relacionados aos ganhos em TCH que a essas variáveis. Figura 4. Curva de produção de cana variedade RB-867515, para três ciclos de plantio, sob diferentes níveis de irrigação. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 25 Artigo Técnico Na Figura 5, é apresentada a resposta da cana à fertirrigação com doses variadas de nitrogênio e potássio visando estabelecer, para diferentes níveis de irrigação, a combinação desses fatores que maximizam a produção de cana no estado de Alagoas. Trabalhos com propósito idêntico estão sendo conduzidos no Piauí (ANDRADE JUNIOR et al., 2012) e Pernambuco. Figura 5. Resposta da fertirrigação combinada com nitrogênio e potássio na variedade RB-927515, no estado de Alagoas. custo da irrigação (R$/mm) e custo de produção da cana (R$/ha). A partir do estabelecimento da função de produção para o fator água foi estabelecido para as condições da região de Coruripe - AL a lâmina de irrigação que maximiza a renda líquida para diferentes níveis de preço da cana e do custo operacional da irrigação (aqui não incluído o custo da água, pois não há pagamento de outorga); para esse caso, a renda que maximizou a produção de colmos foi 358 mm (Tabela 1). Observa-se que quanto menor o valor dos itens de custo e maior o valor dos itens de receita, mais próximos ficam os valores da lâmina que maximiza a produção e da lâmina que maximiza a renda líquida. Tabela 1. Lâmina que maximiza a renda líquida em função do preço da água (Pw - R$/mm) e da cana (Py - R$/Ton.) Uma questão relacionada à irrigação de cana-de-açúcar se refere à viabilidade econômica dessa técnica, principalmente em regiões de produção do país de maiores latitudes, em função das características de clima acima mencionadas. Para as condições da região Norte do Estado de São Paulo, Mattiole (1998) demonstrou a viabilidade econômica do uso da irrigação, para a cana colhida nos meses de maio a julho, quando considerando os benéficos diretos e indiretos proporcionados do seu uso. Na região Nordeste, Santos (2005) concluiu que existe viabilidade econômica, também considerando os benefícios diretos e indiretos, para a irrigação suplementar de cana plantada nos mês de janeiro e inviabilidade para a cana plantada em março. Além do nível de resposta da planta em função das condições ambientais prevalecentes, a viabilidade econômica da irrigação, em termos de benefícios diretos, é determinada principalmente pelos fatores preço de venda da cana (ou açúcar ou álcool, em R$/unidade do produto), CONCLUSÃO Os benefícios diretos e indiretos do uso da irrigação em cana-de-açúcar, em base racional, certamente resultaram na viabilidade dessa técnica tanto para as áreas de expansão como para grande parte das áreas tradicionais. Embora a prática da irrigação da cana de açúcar venha recebendo críticas em função de se estar utilizando recurso hídrico para produção de biocombustível (dicotomia food x fuel), vale lembrar que a cultura é, historicamente, 50-55% destinada à produção de açúcar e, portanto, significativamente alimentar. O esforço de P&D deve focar métodos e principalmente estratégias de manejo da irrigação, além dos estudos de demanda hídrica para diferentes ambientes de produção, visando minimizar a quantidade do recurso (água) por quantidade do produto (cana, açúcar, álcool). Adicionalmente, tem havido um esforço de investimento do setor canavieiro em estrutura de reservação hídrica própria, reduzindo o impacto sobre os corpos hídricos. Tais esforços possibilitarão estabelecer, de forma mais abrangente, a viabilidade técnica e econômica da irrigação na cana-de-açúcar. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration - guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. 326p. FAO Irrigation and Drainage Paper 56 ANDRADE JUNIOR, A.S.de,; BASTOS, E.A.; RIBEIRO, V.Q.; DUARTE, J.A.L.; BRAGA, D.L.; NOLETO, D.H. Níveis de água, nitrogênio e potássio por gotejamento subsuperficial em cana‑de‑açúcar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília. v.47, n.1, p.76-84, jan. 2012 CAMP, C.R.; LAMM, F.R.; EVANS, R.G.; PHENE, J. Subsurface drip irrigation-past, present and future. In: DECENDIAL NATIONAL IRRIGATION SYMPOSIUM, 4, Phoenix.2000. Proceedings. St. Joseph: ASAE, 2000, p.363-372. CARRETERO, M.V. Utilização do tanque de evaporação Classe “A” para o controle da irrigação por gotejamento em soqueira de cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Piracicaba, 1982. 86p. Dissertação- (Mestrado em Irrigação e Drenagem) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. DALRI, A.B.; CRUZ, R.L. Efeito da frequência de irrigação subsuperficial por gotejamento no desenvolvimento da cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Revista Irriga, Botucatu, v.7 n.2 2002 p. 29-34. DOORENBOS, J.; KASSAN, A. H. Yeld response to water. Rome: FAO, 1979. 193p. (FAO, Irrigation and Drainage Paper, 33) MATIOLI, C. S. Irrigação suplementar de cana-de-açúcar: modelo de análise de decisão para o Estado de São Paulo. Piracicaba, 1998. 122p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. RESENDE, R. S.; COSTA, J.V.T. da,; RODRIGUES, A. K. M.; AMORIM, J.R.A.de. Perfil de umedecimento do solo em diferentes manejos da irrigação por gotejamento subsupeficial em cana-de-açúcar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 41., Londrina, 2012. Anais. CD-ROOM. Londrina. 2012. SANTOS, M. A. dos,. Irrigação suplementar de cana-de-açúcar (Saccharum spp) : um modelo de análise de decisão para o Estado de Alagoas. Piracicaba, 2005. 100p. Tese - (Doutorado em Irrigação e Drenagem) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. 26 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 27 Rede experimental do IAC (Instituto Agronômico) Capa Com atuação em diversas áreas da cultura da cana-de-açúcar, Instituto é referência em desenvolvimento de tecnologias e produtividade Marcos Landell, diretor do Centro de Cana e pesquisador do IAC (Instituto Agronômico), de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Carla Rodrigues O Programa de desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar do IAC (Instituto Agronômico), de Campinas, é o projeto de melhoramento de cana-de-açúcar em atividade mais antigo do país, desde 1933, e pode ser considerado um dos mais antigos do mundo. As primeiras variedades foram lançadas a partir de 1959 e foram importantes para viabilizar a implantação do Proalcool, pois foi neste momento que a cana-de-açúcar saiu de solos antes ocupados pela cultura do café e migrou para áreas consideradas naquele momento como marginais, ou seja, áreas com solos de baixa fertilidade e com carências de informações. Por sorte, as variedades do IAC estavam, na ocasião, dentre as que mais se adaptaram nestes solos. Foi a partir de 1994 que o Programa Cana IAC, se organizou com um pouco mais de recursos e parceiros, ampliando sua rede experimental. Foi criado o projeto Procana IAC, que procurava or- ganizar esforço comum em forma de rede, multiplicando sobremaneira a capacidade de observação experimental em diferentes solos e regiões, gerando informações sobre o desempenho de inúmeros clones e variedades nesta multiplicidade ambiental. Em 1995 já somavam 16 empresas na rede Procana, que foi se aprimorando e originando uma rede de experimentação de quase 500 ensaios no Centro Sul do Brasil, tornando uma das maiores redes de experimentação para desenvolvimento varietal e estudos de estabilidade no Brasil. De acordo com o diretor do Centro de Cana e pesquisador do IAC, de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Marcos Landell, esta rede gerou diversas informações e modelos, inclusive na parte de manejo varietal, como a Matriz de Ambientes, que é uma das tecnologias geradas nos últimos anos. “A partir desta rede conseguimos identificar e organizar as informações dentro de uma matriz composta por dois fatores, ambiente de produção e época de colheita, 28 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br com três níveis cada um. Assim organizamos o fator “ambiente” em ambientes superiores, médios e inferiores, e o fator “época de colheita”, em colheita de início, meio e final de safra, que eu chamo de outono, inverno e primavera”, disse Landell. Esta interação entre três níveis de solos ou de ambientes de produção e três épocas de colheita, gerou uma matriz de nove “caselas”, causando um impacto na produtividade da cana, na variedade, e com isso o IAC passou a interpretar toda a produção de informações desta grande rede para cada um dos materiais em desenvolvimento. “Nós passamos a gerar uma resenha dentro dessa matriz, como se fosse uma bula para utilização de um medicamento. Isso foi considerado uma inovação, uma das principais inovações tecnológicas na área de variedades porque não é só a variedade que está sendo lançada e sim a variedade com a maneira como ela deve ser utilizada. Isso tem produzido resultados muito importantes em empresas que aplicam este método de uma maneira disciplinada”, explicou o diretor. fotos: Rafael Mermejo Durante entrevista exclusiva à Canavieiros, Landell falou também sobre os mais novos projetos do Centro Cana IAC, como o Bioen, que a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) criou para apoiar a área de bionenergia, promovendo a pesquisa em várias universidades, instituições, grupos e também na área industrial. O projeto Bioen foi responsável pela aquisição de importantes equipamentos dos laboratórios do Centro, pelo núcleo de produção de mudas, a área de infraestrtura, veículos, caminhão-balança, etc. Segundo Landell, este projeto chegou num momento muito importante para que o IAC se destacasse no setor. Em contrapartida, o Instituto se propôs a tentar desenvolver uma cana com perfil mais bioenergético, fazendo com que promovesse uma série de esforços importantes nos últimos anos. “Primeiro estudamos a nossa população para ver se havia variabilidade entre os genótipos do nosso banco de germoplasma no que se refere a teor de fibra e perfil bioenergético, ou seja, produtividade de biomassa - e chegamos à conclusão que a nossa coleção era muito restrita. Então começamos a fazer várias ações para tentar montar uma coleção mais completa, importando genótipos de coleções americanas e australianas, introduzindo no quarentenário IAC. Desta forma, demos início ao projeto de biomassa”, completou. As canas que fazem parte deste projeto não são teoricamente uma cana-de-açúcar porque contém pouco açúcar, mas possuem muita fibra e biomassa, com produtividades que chegam a 500 toneladas por hectare. Este material não será moído pelas indústrias que se têm hoje e sim, pela indústria do futuro. “Quando tivermos outra indústria anexa que consi- ga processar esta biomassa e, que a partir do processamento gere novos caminhos como o da própria bioenergia/cogeração ou da produção de bactérias que atuem sobre a produção de etanol de segunda geração, aí sim teremos a indústria do futuro, mas se o melhoramento não começar agora, quando esta indústria chegar, não teremos esta matéria-prima, fazendo com que ela aproveite o que temos hoje, que é pouco eficiente em nossa concepção”, explicou Landell. Sala de cultura em vitro de Cana já era sentida há muitos anos. Porém, efetivamente, o Laboratório de Biotecnologia do Centro de Cana do IAC, surgiu em 2005 após a contratação de novos pesquisadores na área de melhoramento genético da cana-de-açúcar, dos quais duas, Silvana Creste e Luciana Rossini, apresentavam formação em melhoramento genético com ênfase em Biotecnologia. As pesquisas na área de biotecnologia são desenvolvidas de forma integrada ao Programa de Melhoramento de Cana-de-açúcar do IAC, visando contribuir para o desenvolvimento de cultivares de cana-de-açúcar que atendam as demandas do setor. O trabalho consiste em desenvolver Projetos de Pesquisa Científica com fomento de agências de Luciana Rossini, pesquisadora do IAC, de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo . Biotecnologia Para saber um pouco mais sobre as novidades em inovação que o Instituto apresenta, a Canavieiros conversou com os pesquisadores responsáveis por cada área de atuação dentro do instituto. A pesquisadora do IAC, de Campinas, da Secretaria de agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo que atua na área de biotecnologia, Luciana Rossini, falou sobre os trabalhos que vêm sendo realizados por ela e pelos pesquisadores desta área, Silvana Creste e Luciana Souza, para contribuir com o estudo de novas tecnologias disponíveis para favorecer o setor sucroenergético Para entender, a biotecnologia é a utilização de organismos vivos para a produção de produtos ou de determinadas substâncias de interesse para o homem. Por exemplo, na antiguidade o homem já aplicava a biotecnologia através da utilização de microrganismos para produção do pão e também do vinho. Hoje, a biotecnologia moderna utiliza-se de ferramentas moleculares para o benefício do homem na produção de hormônios e vacinas, e também em termos de agricultura no desenvolvimento de plantas mais resistentes aos estresses bióticos e abióticos através da transgenia. A necessidade de ter um laboratório de biotecnologia no Centro Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 29 “O Laboratório de Biotecnologia, surgiu em 2005 após a contratação de novos pesquisadores na área de melhoramento genético da cana-deaçúcar...” O laboratório presta serviço que trazem benefícios tanto para o produtor quanto para a própria canade-açúcar. pesquisa Fapesp e CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) focados em temas importantes e de impacto para a cultura da cana-de-açúcar, muitos dos quais em parcerias com as Universidades. Em paralelo com o desenvolvimento da pesquisa científica, o trabalho desenvolvido pelo IAC dentro da área da biotecnologia abrange também a prestação de serviço ao setor. Atualmente, o laboratório presta serviço de diagnóstico molecular do raquitismo da soqueira, e identificação de cultivares pela análise comparativa do perfil molecular (fingerprinting varietal). Há também a produção de mudas de cana-de-açúcar por cultura de tecidos coordenados pela pesquisadora do IAC, Silvana Creste. De acordo com a pesquisadora Luciana Rossini, os benefícios desta ferramenta de tecnologia podem ser voltados tanto para o produtor quanto para a própria cana-de-açúcar. “Estes benefícios podem ser associados ao aumento dos lucros, ganhos em produtividade, já que cultivares mais resistentes a pragas e doenças, por exemplo, diminuem os custos com defensivos, fungicidas etc. Além disso, o diagnóstico molecular para detecção de patógenos tem colaborado para o plantio de mudas sadias e dimi- nuição da disseminação de doenças importantes nos canaviais, da mesma forma, que a produção in vitro de cana-de-açúcar (micropropagação)”, explicou Rossini. A biotecnologia também pode ser parceira da sustentabilidade, um exemplo disso são os biocombustíveis, principalmente, o etanol combustível produzido a partir da cana-de-açúcar, a qual representa uma fonte de energia renovável e de alta sustentabilidade. Outro exemplo é o desenvolvimento de plantas tolerantes a seca, plantas que demandam pouca água para o seu desenvolvimento (uso eficiente de água), plantas que apresentam resistência a pragas e doenças e que, portanto, reduzem ou eliminam a aplicação de defensivos agrícolas, diminuindo o impacto ambiental. A pesquisadora também explica que o Brasil tem se destacado em termos de biotecnologia em diversas áreas de pesquisa, tais como a área médica (desenvolvimento de pesquisas com células tronco), produção de fármacos, na área de biocombustíveis entre outros. Já é considerada a ciência do futuro e vem ganhando cada vez mais importância dentro do país. Em termos do desenvolvimento de pesquisas na área de bioenergia, as Instituições de Pesquisa e Ensino do Estado de São Paulo têm contado com apoio financeiro da Fapesp, através do Programa Bioen (Bioenergy Program) como também do INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia). O investimento na formação e capacitação de recursos humanos (estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores) também tem aumentado em Centros de Pesquisa de excelência no exterior através de Programas de Capacitação financiados pela Fapesp, CNPq e recentemente pelo Programa Ciência sem fronteiras. Mas, para Luciana, apesar 30 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br dos incentivos acima citados, o desenvolvimento de pesquisas na área de biotecnologia ainda tem um custo elevado para os pesquisadores brasileiros. “A maioria dos reagentes e os chamados ‘kits de biologia molecular’, em geral, são importados e repassados a valores bem elevados, o que encarece a pesquisa e contribui para um dos gargalos no desenvolvimento da Biotecnologia no Brasil. A contratação de técnicos para dar suporte ao andamento das pesquisas nas instituições públicas também é um ponto importante a ser considerado”, disse a pesquisadora. Projeto Ambicana O Centro de Cana do IAC tem vários projetos dentro do Programa Procana, que é coordenado pelo Dr. Marcos Landell. Um destes projetos é o Ambicana, coordenado pelo pesquisador do IAC, Hélio do Prado, que tem como meta qualificar os ambientes de produção de cana-de-açúcar das empresas parceiras. Os objetivos do Ambicana são: socializar os conhecimentos em classificação dos solos e enquadramento destes solos nos ambientes de produção para técnicos das empresas parceiras, permitindo a identificação do potencial produtivo dos mesmos para estabelecimento de manejos mais específicos. Este projeto é fundamental, por exemplo, para otimizar o manejo varietal. Para isso, a equipe do projeto Ambicana, solicita a empresa in- formações de onde variam as produtividades, onde variam as cores de solos e onde variam o teor de argila. Com esta informação, os pesquisadores fazem o treinamento intensivo em classificação dos solos, coletando amostras de solo na camada arável e principalmente abaixo dela porque mostra as condições químicas naturais dos solos. Tal treinamento ocorre nos locais indicados pela empresa, com acompanhamento mensal até que todos técnicos se sintam seguros em fazer este trabalho. O ambiente de produção original mede o potencial de produtividade na média de cinco cortes considerando o manejo básico correto em relação ao preparo do solo, controle de ervas daninhas, calagem, adubação, épocas de plantio e de colheita, além das condições cli- máticas tradicionais da região. Se for feito o manejo avançado com a aplicação de vinhaça, torta de filtro, adubação verde e irrigação, certamente o ambiente de produção original deslocará para muito mais favorável. De acordo com Prado, cada vez mais os empresários dependem do conhecimento do clima e dos solos para ter sucesso em suas atividades econômicas. A importância deste conhecimento é de grande relevância, desde a compra e arrendamento de terras, do preparo e conservação do solo, da época do Hélio do Prado, pesquisador do IAC e coordenador do projeto Ambicana. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 31 Capa plantio e colheita até a alocação de variedades em função dos ambientes de produção. “O que torna estes conhecimentos tão importantes é justamente saber antecipadamente quais são as decisões da empresa. Caso esse estudo não seja feito antes, corre-se o risco de comprar ou arrendar terras que não têm o valor de mercado, de manejar o solo incorretamente, prejudicando a produtividade prevista na tabela IAC de ambientes de produção e de alocar erradamente a variedade de cana-de-açúcar”, explicou o coordenador do projeto, Hélio do Prado. Na região de Ribeirão Preto os solos predominantes classificam-se como Latossolos Vermelhos com enorme diferença da condição química natural na profundidade de 80-100 cm. O manejo centenário de adubação e calagem em quase nada influiu nessas condições químicas profundas de 80100 cm que é aquela que regula a longevidade e a queda de produtividade a partir do terceiro corte. “Se nessa profundidade, a fertilidade natural é alta, as raízes exploram maior volume de solo, aumentando o vigor da planta, caso contrário, as raízes ficam mais superficiais com menor disponibilidade hídrica, ou seja, o ambiente fica muito mais restritivo. Com relação a mecanização, a pequena declividade da paisagem da nossa região favorece a mecanização”, disse Prado. Atualmente a principal pesquisa continua sendo a disponibilidade de água no solo com ênfase aos aspectos práticos e não teóricos. Em relação a isso, sem nada modificar na linha de pesquisa, há uma década o projeto Ambicana do IAC foi reconhecido como o primeiro do Brasil a considerar que a disponibilidade hídrica do solo é muito mais importante do que a fertilidade do solo. Câmara de Fotoperíodo Os cruzamentos de cana geralmente são realizados no Nordeste, onde a condição de temperatura e umidade é adequada, mas não são em todos os países que essa condição existe, como por exemplo, na Austrália. Sendo assim, a Câmara de Fotoperíodo começou a ser implantada nestes países com o objetivo de simular a temperatura ideal para que ocorra uma indução Maximiliano Salles Scarpari, pesquisador do artificial da cana. Apesar IAC e responsável pela Câmara de Fotoperíodo de o Brasil ser um país com solo e clima favoráveis para O trabalho realizado com uma a indução natural da planta, na re- variedade até ela ser liberada cogião de Ribeirão Preto isto é depen- mercialmente é muito longo, podente das condições de temperatu- dendo durar até 12 anos. “Este ra e umidade no período indutivo. tipo de trabalho tem que ser muito Para tanto foi construída uma bem feito hoje para que você tenha câmara no Centro de Cana IAC a chance de selecionar um mate- pioneira no país e instalada em rial que vá atender as necessidades 2010 - para fazer sincronismo de dos produtores em 2025”, destacou floração e também para fazer a in- o pesquisador do IAC, de Campitrogressão, ou seja, cruzar cultiva- nas, da Secretaria de Agricultura e res que estão no mercado com ma- Abastecimento do Estado de São teriais nobres a fim de aumentar Paulo e responsável pela Câmara a variabilidade genética. Isso só é de Fotoperíodo, Maximiliano Salpossível através da Câmara de Fo- les Scarpari. toperíodo que permite controlar a Em todo caso, hoje o IAC já está temperatura e o comprimento dia. olhando esta ferramenta de duas 32 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br foto: assessoria IAC maneiras – o trabalho de melhoramento clássico, que é o trabalho visando o açúcar e também com a Câmara, é possível apontar para trabalho que desenvolvam a cana energia, que é uma cana com mais fibra e maior potencial produtivo. Para o pesquisador, o problema do melhoramento brasileiro está em ser fundamentado na seleção de materiais ricos em açúcar. “Se você tem uma característica que ficou para trás em termos de fibra, tolerância a doença e a seca, esse gene não está mais disponível para a seleção. Então você faz um cruzamento com um material nobre, você tenta buscar esse gene novamente para colocá-lo na bandeja da seleção, aumentando a base genética e sua variabilidade”. Funcionamento Na Câmara, o tratamento fotoperiódico mantém as condições ideais de temperatura e luz para o florescimento da planta. A partir da flor, serão feitos cruzamentos genéticos que resultarão, ao final, em novas variedades de cana-de-açúcar. Sistema computadorizado controla três suportes que comportam 70 vasos de plantas cada um. Automaticamente, esses apoios se movimentam para a área externa do prédio onde está instalada a Câmara para expor as plantas ao sol. No instante em que a temperatura passa do programado, os suportes são automaticamente recolhidos para a área interna, onde a temperatura é ideal. O ganho de tempo e eficiência nas pesquisas requer investimentos constantes em infraestrutura e recursos humanos. No Centro de Cana do IAC, o próximo passo esperado pela equipe é a instalação de uma sala de cruzamentos com temperatura e umidade controladas para a obtenção de sementes de qualidade. Novos projetos serão apresentados junto a agências de fomento com essa finalidade. Sistema MPB (Mudas Pré-Brotadas) A necessidade do desenvolvimento de métodos de multiplicação rápida, os quais viabilizem a adoção de novas tecnologias varietais associados ao resgate da aplicação dos protocolos de produção de muda sadia, roguing, termoterapia e diagnósticos de doenças motivaram a equipe do Programa Cana IAC a desenvolverem o sistema MPB (Mudas Pré-Brotadas). Neste sentido, o método possibilita que novas variedades possam ganhar áreas expressivas num curto espaço de tempo. A taxa de multiplicação pode chegar a 1:7000 no período de 18 meses. A mudança básica implícita no método é conceitual, ou seja, não mais se utiliza o colmo semente diretamente no sulco de plantio. De acordo com o pesquisador do IAC, de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que atua na área de MPB, Mauro Alexandre Xavier, neste sistema a planta é produzida em ambiente controlado num núcleo de produção. Posteriormente é realizado o plantio a campo, o que implica em uma série de desdobramentos e facilitadores do manejo ao longo do ciclo de produção da cana-de-açúcar. “Como exemplo, citamos o melhor aproveitamento espacial (13332 plantas/hectare) e manejo de herbicidas em pré-plantio. O método é simples podendo ser praticado tanto pelo grande, quanto pequeno produtor, o que de certa forma socializa o conhecimento indistintamente. O mesmo apresenta potencial de redução direto de custos de implantação via maximização da utilização de mudas, o que pode ser agregado em forma de receita ao produtor”, explicou Xavier Para ilustrar este método, o pesquisador o subdividiu em diferentes estágios: Estágio 1 – Retirada dos colmos, corte e preparo dos minirebolos Essas etapas deverão ser realizadas a partir de viveiros básicos com idade fisiológica de seis a dez meses, o que permite maior aproveitamento das gemas ao longo do colmo. Nesta etapa são utilizados instrumentos de corte tipo “podão”, os quais deverão ser previamente desinfetados com produtos a base de amônia quaternária. Re- Pesquisador do IAC, Mauro Alexandre Xavier atua na área de MPB Os instrumentos de corte devem ser previamente desinfestados com produtos a base de amônia quaternária Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 33 Capa Estágio 2 – Tratamento das gemas A duração desse período é variável, sete a dez dias O sistema de proteção dos minirebolos é realizado com produtos a base de Azoxistrobina ou Pyraclostrobin a 0,1% na solução. O método utilizado para o controle é a imersão em solução por três minutos. Outros tratamentos complementares como, por exemplo, promotores de enraizamento, poderão ser utilizados com o objetivo de ampliar a sanidade e vigor inicial das mudas. Estágio 3 – Brotação Esta etapa do processo ocorre em substrato e para tanto são utilizadas caixas plásticas dimensionadas para conter 80 minirebolos. Os minirebolos deverão ser distribuídos nas caixas cobertos com substrato e mantidos à 32 ºC em câmara ou casa de vegetação climatizada. Nesta fase, o molhamento deve ser suficiente para garantir a manutenção do processo de pré-brotação. A duração desse período é variável, sete a dez dias, sendo função da variedade e idade fisiológica da gema a ser utilizada. Estágio 4 – Individualização ou “repicagem” A indiviualização ou “repicagem” ocorre imediatamente após o período de pré-brotação. Nesta fase são utilizados tubetes, suportes e substrato. Ao substrato são adicionados fertilizantes com diferentes dinâmicas de liberação. Este manejo contribui para o adequado desenvolvimento da nova planta. Destaca-se que nesta etapa há um segundo processo de seleção, onde as gemas que não brotaram são descartadas. Estágio 5 – Aclimatação fase 1 Após a individualização, os tubetes com gemas brotadas permanecerão em aclimatação em casa 34 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br fotos: Rafael Mermejo comenda-se efetuar a despalha em local isolado do núcleo de produção de mudas, evitando o eventual transporte de pragas, atividade, que preferencialmente deverá ser realizada manualmente, o que reduz danos às gemas. Para o corte e preparação dos minirebolos (gema individualizada), sugere-se a utilização de um sistema de guilhotina com lâmina dupla devidamente desinfestado. O espaçamento entre as lâminas determina o tamanho do minirebolo, o que para esse modelo de multiplicação é sugerido 3 cm, viabilizando a utilização da gema individualizada no tubete. Nesta etapa permite-se a realização de uma seleção das melhores gemas. Essa seleção elimina do processo os minirebolos com sintomas de Diatraea saccharalis e eventuais danos mecânicos das gemas, maximizando etapas posteriores. de vegetação por um período de 21 dias. Nos primeiros sete dias utiliza-se uma proteção na parte superior da casa de vegetação com tela de sombrite a 50%, a qual no decorrer da etapa vai sendo retirada. Este procedimento associado à manutenção de elevada umidade relativa do ar no ambiente, tem como objetivo minimizar os efeitos negativos de altas temperaturas. As lâminas e turnos de irrigação são definidos de acordo com o desenvolvimento das plantas. Ao final dessa etapa há uma primeira poda foliar realizada com tesouras devidamente desinfetadas, ou mesmo manualmente. Esse manejo estimula o desenvolvimento radicular e minimiza as perdas de água. Estágio 6 – Aclimatação fase 2 A etapa final do processo ocorre em bancadas a pleno sol. Nesta etapa o objetivo principal é adaptar a muda às condições de plantio no campo. Basicamente há um controle de irrigação com quatro turnos de rega totalizando 4 mm/dia. O manejo de podas foliares é intensificado, com três podas ao longo de 21 dias. Ao final dessa etapa, a muda apresenta-se em condições de ser retirada do tubete, embalada e transportada para o plantio Pragas A pesquisadora do IAC, de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e diretora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento, Leila Luci Dinardo-Miranda, contou à Canavieiros sobre o trabalho que realiza na área de pragas na cultura canavieira. De acordo com ela, seu trabalho é fundamentado na tentativa de montar um programa de manejo integrado das principais pragas que atacam a cana-de-açúcar, entre elas a broca da cana, a cigarrinha das raízes, os besouros Sphenophorus levis e Migdolus fryanuss. Além de trabalhar com estas pragas, o IAC também atua na área de nematóides, principalmente em relação às espécies mais importantes para o Brasil e o mundo, que são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Pratylenchus zeae e Pratylenchus brachyurus. Para isso, o IAC desenvolve métodos de estudos sobre a distribuição espacial e temporal destas pragas e nematóides a fim de definir planos de amostragem. Quando o agricultor tem algum problema com pragas ou nematóides, é necessário fazer um manejo e, con- sequentemente uma amostragem desta área para saber onde tem a praga e qual é sua população. “Para cada praga e situação o método de amostragem é diferente”, explicou Dinardo-Miranda. Outra informação importante é sobre os danos que a praga causa em cada variedade/situação para tentar definir quando justificaria fazer o seu controle. O produtor tem que saber se a população encontrada vai causar um dano que justifique economicamente adotar uma medida de controle. “Em entomologia, esses parâmetros são conhecidos como nível de dano econômico e nível de controle, e são específicos para cada praga, tipo de solo, variedade, etc.”, explicou Dinardo-Miranda. A outra parte dos trabalhos envolve a definição de eficiência das medidas de controle, tais como inseticidas químicos e biológicos, rotação de culturas, destruição de soqueiras infestadas, etc. “É importante a realização deste trabalho, pois só com essas informações poderemos informar aos produtores quais serão os possíveis métodos de controle que ele poderá usar em suas áreas”, justificou a pesquisadora. Ainda na área de pragas, a pesquisadora do IAC, Luciana Souza, explica que existem vários métoBesouros Sphenophorus levis cotesia flavipes depositando seus ovos na lagarta da broca Leila Luci DinardoMiranda, pesquisadora do IAC e diretora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Luciana Souza, pesquisadora do IAC. dos de intervenção para combater os danos, entre eles o controle biológico e controle químico. De uma forma geral, a maioria das pessoas opta pelo controle biológico inicialmente porque provoca menos impacto ambiental e é mais barato, e só quando a situação está grave é que eles partem para o controle químico. No caso da broca da cana (Diatraea saccharalis), que é uma mariposa que deposita os ovos na folha da cana, existem alguns inimigos naturais, como as vespinhas tricogama agaloi e a cotesia flavipes, introduzida no Brasil na década de 70. Segundo Souza, esta vespinha é multiplicada nos laboratórios onde é feito o cálculo da quantidade necessária de vespinhas para realizar o controle do canavial, de Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 35 portações de matrizes nativas. “É como se fosse o melhoramento genético das vespinhas. Assim como com a cana-de-açúcar, teremos que refazer todo o histórico dela para entendermos a sua diversidade e aplicar a estratégia ideal para melhorar a sua atuação”. “...o trabalho com pragas no IAC é fundamentado na tentativa de montar um programa de manejo integrado das principais pragas que atacam a canade-açúcar...” acordo com o grau de infestação da broca. “Eles pegam os copinhos com as vespinhas e vão espalhando no canavial de acordo com a necessidade. Esta vespa é chamada de parasitóide, então ela encontra a lagarta da broca, deposita nela os seus ovos, eles se desenvolvem dentro dela e acabam matando-a”. A pesquisadora comenta que uma das coisas que está chamando a atenção dos produtores é que eles estão tendo a impressão de que diminuiu sua eficiência, de que antes a cotésia (vespinha), conseguia predar mais e voar mais longe. “Nós levantamos a hipótese de que talvez por ela (cotésia) não ser nativa, a sua diversidade genética esteja baixa, e é aí que meu trabalho entra em ação. Estamos coletando uma série da cotésia da broca em todos os laboratórios para fazermos uma série de análises moleculares, avaliando a diversidade genética. Dependendo destes valores é que vamos começar a descobrir o que está acontecendo com esta vespinha”, explicou Souza. Uma das hipóteses levantada pela pesquisadora é a diferença da diversidade genética nos laboratórios, por exemplo, em um laboratório a diversidade é muito baixa e em outro é mais alta. Desta maneira, é possível para os laboratórios trocarem as matrizes entre si para aumentar esta diversidade. Outro ponto é que elas foram introduzidas uma vez no Brasil na década de 70, sendo assim, é importante que esta informação seja passada documentalmente para o governo, a fim de liberar novas im- Matologia O estudo das plantas daninhas na cultura canavieira é realizado através da matologia. Na cana, assim como em qualquer outra cultura, há a presença de infestação de mato, que podem se tornar agressivas, absorvendo mais luz, nutrientes e água do solo, deixando a cultura em desvantagem. Por exemplo, na região de Ribeirão Preto é comum encontrar corda de viola, capim-colonião, capim-braquiarias e capim-carrapichos. A cana-de-açúcar sofre com esta interferência, e com isso ela vai crescer menos, vai fazer menos fotossíntese e acumulará menos sacarose. Para que isso não ocorra é preciso que o produtor aja com meios e ferramentas que possibilitem o controle deste mato, ou seja, destas plantas daninhas que estão no meio do canavial. Existem várias ferramentas que podem ser utilizadas, mas que não são viáveis nos dias de hoje, como arrancar o mato através do trabalho braçal. Porém, há equipamentos que podem ser adaptados aos tratores, mas com alguns efeitos colaterais, como desestabilização do solo, erosão e prejuízo à conservação do solo. Segundo o pesquisador do IAC, de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que atua na área de matologia do Instituto, Carlos Alberto Mathias Azania, o trator vai controlar muito bem a entrelinha do canavial, mas as plantas que se desenvolveram no 36 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Dr. Carlos Alberto Mathias Azania, professor e pesquisador do IAC, responsável pela área de matologia do Instituto pé da cana-de-açúcar, o implemento não tem como tirar, então é necessário algo mais sofisticado e é por isso que as pessoas utilizamse do herbicida. Os herbicidas são substâncias químicas que servem para controlar o mato, sendo considerado o meio mais eficiente para esta atividade. Hoje a área de cana é muito vasta no Estado de São Paulo e as unidades não têm tempo hábil para cuidarem deste mato somente na época primavera-verão, e sim o ano todo, então por isso que há a necessidade de se usar o herbicida inclusive em períodos de estiagem (outono-inverno). “A aplicação do herbicida é muito importante, mas às vezes há também a necessidade de ser usado junto do herbicida, o tratamento mecânico, que seria o trator e seus implementos. Isso é o que chamamos de manejo integrado de planta daninha, que é quando é usado mais de um método de controle. O herbicida é o que ocupa 80% dos casos, mas ele tem que ser também trabalhado com outras técnicas para ser mais eficaz”, explicou Azania. fotos: Murilo Sicchieri Atualmente existem muitos herbicidas disponíveis e cada vez mais, novos produtos são lançados no mercado. Para indicar um herbicida é necessário ter alguns conhecimentos, como o tipo de solo, condição climática, as características física e química do herbicida e as principais espécies de mato que infestam aquele canavial. Somente sabendo estes quatro itens é possível saber qual herbicida usar. Para conseguir uma molécula nova de herbicida não é uma tarefa fácil. São poucas as novas Área de testes do IAC moléculas no mundo que serão lançadas nos próximos anos. A molécula mais nova que será lançada futuramente é a indaziflan, que agirá na planta inibindo a síntese de celulose. Para o pesquisador, mesmo as moléculas que estão registradas hoje são consideradas eficazes. “Em termo de inovação acredito que estamos bem supridos na área da matologia, principalmente para a cultura da cana. O que falta é os produtores se conscientizarem mais e utilizar-se do conhecimento das plantas daninhas do canavial, das características físicas e químicas dos produtos, da condição climática e do solo no momento da aplicação para ele alocar o herbicida correto no local correto”, disse. Outra questão na matologia que vai trazer uma inovação nos próximos anos bastante grande é a tecnologia dos transgênicos – organismos geneticamente modificados em cana-de-açúcar. Por exemplo, a cana é uma cultura resistente a glifosato e isto não é tão interessante porque o glifosato é uma molécula utilizada exatamente para erradicar a cana quando a produção do canavial diminui e é necessário renová-lo. Então, se a cana for transgênica vai matá-la com o que? O pesquisador explica que para isto pode-se perder a molécula de glifosato e não ter necessariamente outra para suprí-la. Hoje existem equipamentos e tratores que podem erradicar a cana-de-açúcar mecanicamente, mas os efeitos colaterais provocados são grandes devido ao revolvimento do solo. “Solo revolvido quando chega a chuva gera problemas de erosão e de assoreamento de rios e nascentes. Com a aplicação do glifosato, este impacto ambiental é menor. Não sou defensor de glifosato, mas eu vejo que cana geneticamente modificada para resistência a glifosato pode não ser uma opção muito interessante no momento da erradicação”. Azania diz que a cana geneticamente modificada seria muito interessante, por exemplo, se resistente ao produto 2,4D, que pode ser usado durante todo período. Ele é um herbicida hormonal, podendo ser utilizado na cana antes dela formar o colmo, depois deste período não pode mais utilizá-lo porque provoca efeitos colaterais muito sérios para o crescimento da cana. Produtos residuais e usados apenas em pré-emergência da cultura também podem ser interessantes para a tecnologia transgênica. O mesmo também se aplica a herbicidas como MSMA e paraquat que não são seletivos a cultura. “Eu vejo com bons olhos a tecnologia geneticamente modificada para cana, para alguns produtos, para outros não. E desta maneira, através de pesquisas e relacionamentos com toda a cadeia do setor, nós sabemos que algo está sendo desenvolvido neste sentido nos próximos anos”, comentou o professor e pesquisador. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 37 38 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 39 Pesquisa Centros de Melhoramento em Cana-de-açúcar A base do agronegócio cana-de-açúcar é o melhoramento genético Fernanda Clariano O s programas de melhoramentos da cana-de-açúcar são realizados para desenvolver variedades mais produtivas e com maior tolerância ao estresse hídrico, maior resistência às pragas e doenças e melhor adaptação ao plantio e a colheita mecanizada. Os órgãos de pesquisas que desenvolvem estes programas, utilizam conhecimentos das áreas de biotecnologia, ciências do solo, nutrição de plantas, climatologia, fisiologia, fitopatologia, entomologia, economia e outras. Atualmente, existem quatro programas ativos de melhoramento genético em cana-de-açúcar no Brasil: o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), a Ridesa (Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro), o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), e a Canavialis. Jardim Varietal no IAC Ribeirão Preto IAC (Instituto Agronômico) O Programa Cana IAC vem adotando desde o início da década de noventa, um aspecto básico que é a regionalização da seleção para o desenvolvimento de novos cultivares de cana-de-açúcar. No Brasil, tínhamos aproximadamente 5 milhões de hectares cultivados com cana-de-açúcar, o Estado de São Paulo tinha aproximadamente 3 milhões de hectares com esta cultura. A grande expansão que se deu entre 2003 a 2008 praticamente dobrou esta área, ocupando solos de baixa fertilidade e regiões de acentuado déficit hídrico, como é o caso do Oeste paulista ou do Centro-Oeste brasileiro. Portanto, tornou-se ainda mais relevante o desenvolvimento de cul- tivares que contemplem esta ampla diversidade ambiental, e isto se dá estabelecendo estratégias, não apenas de seleção local, mas também de eleição de parentais com aptidão regional que através de inúmeras combinações venham a constituir famílias mais adaptadas. “Hoje as variedades consagradas na região mais tradicional de São Paulo, não necessariamente, tem bom desempenho em Goiás, por exemplo. Nestas outras regiões, um novo grupo varietal tem surgido com performance agroindustrial mais destacada. Outro aspecto de destaque em nosso programa é o biótipo varietal que buscamos, com características mais adaptadas ao con- 40 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Coordenador do Programa de Cana IAC e pesquisador científico, Dr. Marcos Landell. texto de mecanização que hoje prevalece no setor. Para tanto, há mais de uma década, os genótipos selecionados pelo IAC, via de regra, tem hábito de crescimento mais ereto, uniformidade biométrica dos colmos, boa capacidade de sobreamento ou fechamento das entrelinhas, boa brotação sob palha das socas, boa capacidade de brotação das gemas plantadas mecanicamente, reduzindo riscos de falhas na operação do plantio mecânico, etc”, afirmou o coordenador do Programa de Cana IAC e pesquisador científico, Dr. Marcos Landell. Diante os desafios os quais o setor vem enfrentando como plantio mecanizado, colheita mecanizada, safras cada vez mais longas, plantio o ano todo, pragas e doenças, o Programa Cana IAC desenvolveu o conceito da Matriz de Ambientes baseada na ampla rede experimental que possui. Este conceito é básico para alocação varietal, mas também, para estabelecer estratégia de épocas de corte considerando o potencial dos ambientes disponíveis para um determinado produtor. A Matriz cria uma escala hierárquica entre os ambientes possíveis, dados pelo potencial do solo somado ao manejo a ele conferido, e pelos três períodos de colheita (outono, inverno e primavera). Desta forma, são formadas nove caselas de ambiente, o que permite o estabelecimento de estratégias de produção a partir do conhecimento do solo e do manejo a ele conferido. Esse método é determinante na Região Centro-Sul, pois considera o déficit hídrico da região. Alguns produtores que adotaram estes conceitos já obtiveram ganhos gerais de mais de 20% sobre a produtividade agroindustrial. “As variedades IAC são desenvolvidas sob este contexto e desta forma, quando lançadas, temos condições de detalhar a responsibilidade de cada uma delas, e gerar uma “bula varietal” para otimização da variedade em questão. Esta tecnologia procura mitigar efeitos negativos dos ambientes cada vez mais restritivos para onde a canavicultura do Centro-Sul tem se expandido”, disse Landell Outro conceito lançado pelo IAC é o sistema M.P.B. (Muda Pré-Brotada), um novo sistema de multiplicação de viveiros e áreas comerciais que traz como grande vantagem a redução radical da quantidade de muda gasta para plantar um hectare, agiliza o processo de multiplicação de novas variedades, fomentando a inclusão e adoção de novas tecnologias nesta área e promove uma retomada dos cuidados básicos de viveiro, gerando maior segurança fitossanitária. Como consequência, espera-se que o M.P.B. permita a sobra de aproximadamente 15 toneladas de cana/ ha em relação ao plantio mecânico, reduzindo para números ínfimos as falhas dos canaviais. Também, permitirá a redução expressiva do custo de transporte de mudas, o que estimulará a distribuição estratégica de viveiros satélites considerando os mais atuais preceitos de manejo varietal. Além das inovações como: a Matriz de Ambientes e o M.P.B., o Programa Cana IAC desenvolve projetos para a seleção de variedades com alta resposta nas áreas irrigadas. Este projeto iniciou-se em 2005 no Oeste da Bahia e hoje tem se expandido para outras regiões do Brasil. “Os resultados até o momento, nos permitem uma grande expectativa, e imaginamos que a tecnologia de irrigação somente será plenamente viabilizada com o uso de variedades mais aptas para grandes respostas. Também, mantemos desde 2008, um projeto de seleção de cana energia que venha a atender em um futuro próximo a indústria que surgirá incorporando o uso pleno da matéria prima de hoje. Temos que nos atentar para as inovações que podem aumentar as produtividades agroindustriais, como àquelas relativas ao aproveitamento do excedente de bagaço e palha para a produção de energia, biocombustíveis e bioquímicos”, explicou Landell. Estas futuras variedades de cana energia deverá ter um biotipo mais adequado para atender esta nova indústria que foca a produção de biomassa. No futuro, pode ser que a importância das fibras ganhe tanta relevância que suplante a sacarose, que hoje é o foco principal da indústria sucroalcooleira. “destaque em nosso programa é biótipo varietal que buscamos, com características mais adaptadas ao contexto de mecanização que hoje prevalece no setor...” Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 41 Pesquisa Ridesa (Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro) A Ridesa, tem como base para o desenvolvimento da pesquisa 13 estações experimentais estrategicamente localizadas nos Estados onde a cultura da cana-de-açúcar apresenta maior expressão. Além dessas estações experimentais, a Rede também desenvolve pesquisa nos campus das sete universidades federais, envolvendo, principalmente, pesquisas conduzidas nos diferentes cursos de pós-graduação, em nível de mestrado e doutorado. Nesta nova fase a Rede liberou 46 cultivares, dando incalculável retorno aos investimentos aplicados à pesquisa. Mais importante que o número de cultivares liberadas é o nível de adoção das mesmas pelo setor produtivo. Atualmente, as cultivares de sigla RB estão sendo cultivadas em mais de 50% da área plantada com cana-de-açúcar no país, chegando em algumas regiões a representar até 70%. De acordo com os conceitos básicos de desenvolvimento de novos cultivares da Ridesa, o melhoramento genético da cana-de-açúcar tem por objetivo desenvolver cultivares com elevado rendimento em açúcar, que depende em primeira ordem de dois componentes: produzir colmos com elevada massa e produzir colmos com elevado conteúdo em açúcares. Nesse sentido, tem-se buscado o modelo ou o tipo de cana ideal, conhecido como “ideótipo”. O “ideótipo” deve ter as seguintes características: máxima capacidade de interceptação da radiação solar, máximo aproveitamento de nutrientes disponíveis no solo, máxima eficiência no uso da água disponível no solo e no ar, máxima capacidade de tolerar as mudanças nas temperaturas do ar e ser eficiente na formação dos compostos orgânicos, que serão transforma- dos em água, açúcar e fibra. No entanto, são inúmeros os fatores que restringem ou limitam a produção, reduzindo o rendimento potencial da cultivar e da formação da biomassa, tais como: Fatores abióticos: solos de baixa fertilidade natural, com impedimentos físicos e em topografia inadequada ao cultivo; períodos de cultivo com escassez de água (seca); períodos de cultivo com baixas temperaturas (geada); entre outros fatores ambientais. Fatores bióticos: doenças, pragas e plantas invasoras, que causam redução dos rendimentos e prejuízo ao produtor. Para aumentar o potencial de rendimento da cultivar e aproximar do rendimento potencial da cultura, o melhoramento genético tem aprimorado na busca do “ideótipo”, através do desenvolvimento de cultivares com melhor arquitetura da touceira, do colmo e da folha, cultivar com maior sistema radicular. Tem buscado cultivares com as seguintes características: touceiras contendo de 12 a 13 colmos industrializáveis e sem brotos chupões; colmos uniformes, longos, de diâmetro grosso, eretos, firmes, com alto teor de açúcares, médio teor de fibra e melhor densidade de carga no transporte; cana com menor impureza vegetal (menor palmito);resistente ao pisoteio por ocasião do corte e que tenha alta brotação das socarias. Segundo o coordenador de melhoramento genético da Universidade Federal de Alagoas e professor, Dr. Geraldo Veríssimo, “é de fundamental importância obter cultivares para atender os diversos segmentos 42 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Coordenador de melhoramento genético da Universidade Federal de Alagoas e professor, Dr. Geraldo Veríssimo de maturação (início, meio e final de safra) e assim obter as canas de maturação precoce, média e tardia, respectivamente, ou mesmo aqueles que tenham maturação apropriada a um longo período de industrialização. Além dessas características, procura-se obter cultivares refratárias ao florescimento, tolerantes às principais doenças e pragas de cada região de cultivo, tolerantes à seca, à geada, à salinidade e à toxidade de solos”, disse. Ainda de acordo com Veríssimo, “não é possível reunir num único cultivar, ou em alguns cultivares, todas essas características, dada a complexidade genética e da fisiologia da cana-de-açúcar. Muitas dessas características têm correlações negativas entre elas, ou seja, ao melhorar uma característica, piora a outra. Para tanto, é necessário que o produtor ou técnicos do sistema produtivo entendam o melhor manejo das cultivares, alocando-as nos ambientes adequadas para cada tipo e nas devidas épocas de plantio e de colheita, e assim obter os melhores resultados”. Com a extensão dos canaviais para áreas marginais, mecanização total do plantio e da colheita, plantio e colheita o ano inteiro, dificilmente os rendimentos em açúcar serão os mesmos, quando comparados com os melhores ambientes de cultivo. Muitas regiões do mundo têm enfrentado esses desafios e apresentado soluções através do melhoramento - áreas com períodos longos de baixas temperaturas ou períodos longos de estiagem - e o que se conseguiu é desenvolver cultivares mais rús- ticas, com maior tolerância aos estresses, maior rendimento em colmos, mas com menor conteúdo de açúcar, exemplos: Índia, África do Sul, países da América do Norte e América Central. As tentativas de desenvolvimento de cultivares geneticamente modificada são grandes, mas sem sucesso, dada a complexidade do genoma cana. Os programas de melhoramento têm disponibilizado inúmeros cultivares que atendem vários ambientes de cultivo da cana. Muitos dos conhecimentos desenvolvidos e já dominados não estão sendo postos em prática. Assim, para elevar os rendimentos potenciais, os produtores devem observar as recomendações de manejo de cada cultivar, alocando em ambientes adequados, adotar as medidas de correção e adubação do solo, uso de “mudas” de qualidade, usar a irrigação em ambientes secos, controlar as pragas e as plantas invasoras, otimizando os seus rendimentos. CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) Gerente de Desenvolvimento de Produto do CTC, Marcos Virgílio Casagrande O CTC atua há mais de 40 anos no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o setor canavieiro. As pesquisas abrangem os elos da cadeia produtiva de cana-de-açúcar, álcool, açúcar e bioenergia, permitindo agregar valor às diversas etapas do processo e contribuindo com a evolução equilibrada do setor. Além de pioneiro na colheita mecanizada dos ensaios do seu programa de melhoramento, inova ao ser o primeiro programa a plantar mecanicamente seus experimentos, garantindo que as futuras variedades CTC tenham ainda maior adaptação à mecanização. “Atualmente o CTC conta com dezenas de variedades, adaptadas as mais diversas condições edafoclimáticas e de manejo das unidades produtoras. Essas variedades já representam 5% do market-share nacional e as suas áreas de cultivo estão crescendo ano após ano”, afirmou o gerente de Desenvolvimento de Produto do CTC, Marcos Virgílio Casagrande. Ainda de acordo com Casagrande, as próximas gerações de variedades do CTC trarão consigo ainda mais aderência à crescente demanda por variedades regionais, resolvendo geneticamente alguns problemas que ameaçam a produtividade, levando o setor sucroenergético a um novo patamar de tecnologia. Quando se fala em conceitos básicos de desenvolvimento de novos cultivares de cana-de-açúcar a palavra chave é produtividade, ou seja, gerar mais ATR por hectare com um menor custo. O aumento da produção de sacarose pode ocorrer por meio de variedades que produzam um maior número de colmos com mais peso e menos sacarose ou com aquelas com maior concentração de açúcar. “Temos neste caso, o exemplo da CTC9, uma variedade com altíssima concentração de sacarose, resultando em excelentes produções de ATR/ ha no início de safra. Variedades como a CTC9, quando bem manejadas, proporcionam reduções no custo de produção de açúcar e etanol, gerando maiores lucros aos produtores. Para serem mais produtivos, os novos cultivares devem apresentar uma série de características com maior ou menor relevância em função da região de produção, estando adaptados as demais tecnologias do setor. Por exemplo, é inegável a necessidade dos novos cultivares serem adaptados ao plantio mecanizado e para isso devem apresentar algumas características, tais como: aptidão à colheita mecanizada, bom perfilhamento, colmos uniformes e não muito grossos, despalha natural, entrenós mais curtos, porte ereto, boa velocidade de brotação das gemas e tolerância aos patógenos de solo, especialmente ao fungo causador da podridão abacaxi”, disse Casagrande. Segundo Casagrande, para o CTC, o fornecedor é antes de tudo, um produtor que deseja aumentar seus lucros e os programas de melhoramentos lutam para aumentar a produtividade das variedades. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 43 Pesquisa “A produtividade é decorrente de uma série de características, incluindo peso dos colmos, teor de sacarose, adaptação à mecanização, tolerância a pragas e doenças, tolerância à seca, relutância ao florescimento entre outras. Os produtores e fornecedores estão interessados na mesma coisa: produzir mais com menor custo. Contudo, algumas características sempre são citadas pelos fornecedores: PUI (Período Útil de Industrialização) longo, permitindo a flexibilização da colheita, longevidade de soqueira, que pode ser traduzida em estabilidade de produção ao longo dos cortes e, obviamente, produtividade”, ressaltou Casagrande. O uso de variedades mais ricas também auxilia o fornecedor visto que grande parte de seus custos estão relacionados à colheita e ao transporte, fatos que impactam enormemente em seu resultado financeiro. Um ótimo exemplo de riqueza e longevidade com estabilidade de produção é a CTC4, uma variedade com excelente colheitabilidade que tem transmitido muita confiança aos fornecedores. Outro ponto fundamental é que os fornecedores tenham acesso às mudas de variedades mais modernas e produtivas, iniciando seus canaviais com mudas vigorosas e 100% sadias. Mesmo frente as dificuldades, o setor tem um domínio de conhecimento para atingir as atuais produtividades e os programas de melhoramentos têm pesquisado e trabalhado pensando na verticalização da produção que depende de uma série de fatos, incluindo as variedades que obrigatoriamente necessitarão ser mais produtivas e estáveis ao longo dos cortes. Uma das estratégias do CTC para obter variedades mais produtivas é a regionalização do seu programa de melhoramento. “A regionalização de variedades de cana-de-açúcar é, antes de tudo, uma ação de sustentabilidade para o setor sucroalcooleiro. A atividade sustentável na agricultura envolve não apenas questões ambientais, mas também aspectos sociais e econômico-financeiros. Assim, a exploração racional do potencial agrícola de cada região é ferramenta importante e a rentabilidade no setor sucroalcooleiro está intimamente relacionada ao potencial climático de cada região, o que influencia nos principais componentes do rendimento econômico”, disse Casagrande. Recentemente, a ocupação de novas fronteiras agrícolas tem contribuído para reduções de produtividade. Além de ocupar os piores solos, a expansão está expondo os produtores aos ambientes com condições climáticas mais restritas, cujo manejo adequado ainda não é dominado. Grande parte dessa expansão foi realizada com cultivares desenvolvidos para as condições de São Paulo e Sul de Minas, com condições edafoclimáticas muito diferentes das encontradas nas novas fronteiras agrícolas do setor. Ao regionalizar a seleção dos cultivares, o CTC consegue potencializar a mais complexa variável agrícola: a interação genótipo X ambiente, produzindo variedades mais produtivas e adaptadas às particularidade de cada região. Além da regionalização, o CTC conta com um programa de biotecnologia para a produção de variedades transgênicas e tem realizado forte investimento em pesquisa para o desenvolvimento de novas variedades e novas tecnologias, visando incrementar a eficiência na produção de açúcar, álcool e energia, tendo como desafio dobrar, de maneira economicamente sustentável, a taxa de inovação do setor. Possui também um dos maiores programas de desenvolvimento de variedades de 44 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br cana-de-açúcar do mundo, por meio do melhoramento genético tradicional, do uso de marcadores moleculares e da biotecnologia, conta também com a produção em escala de mudas com qualidade, sanidade e vigor, visando atender a crescente demanda por fontes de energia renovável. Além disso, possui um programa de assistência técnica aos produtores de cana do Brasil, por meio de carta de solos e ambientes de produção, mapeamento de canaviais por imagens de satélite e manejo varietal. O CTC é o principal centro mundial de desenvolvimento e integração de tecnologias disruptivas da indústria sucroenergética e reconhecidamente responsável pela evolução genética da cana-de-açúcar no Brasil. Em tradicional evento do setor, que aconteceu em dezembro de 2012 em São Paulo, a novidade ficou por conta do lançamento da Série de Variedades CTC9000, que contêm as variedades CTC9001, CTC9002 e CTC9003. Estas novas variedades foram especialmente criadas para trazer produtividade no atual cenário canavieiro. “Diferentemente do que era feito há dez anos, hoje o plantio e a colheita mecanizados é uma realidade cada vez mais crescente nas plantações. Além disso, a queima da palha da cana será proibida por lei no Brasil a partir de 2017, portanto a variedade de cana plantada hoje deveria ser compatível com este contexto modernizado”, afirmou Casagrande. O CTC apresentou também um novo programa de melhoramento genético, um projeto inovador que consiste na redução do tempo de desenvolvimento das variedades do Centro de Tecnologia Canavieiro. Com essa inovação, o processo durará oito anos, quase a metade do que era feito antigamente, que era de aproximadamente 14 anos. CanaVialis / Monsanto Gerente de Desenvolvimento Tecnológico da CanaVialis, Maurício Oliveira A CanaVialis é a marca comercial da Monsanto para os negócios de Cana-de-Açúcar e Sorgo Sacarino no Brasil e investe no desenvolvimento de novas cultivares para essas culturas, através das mais avançadas técnicas de melhoramento genético e desenvolvimento de produtos. Além disso, possui uma ampla estrutura de pesquisa em biotecnologia focada no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar geneticamente superiores. Hoje, o programa de melhoramento genético da CanaVialis bus- ca sempre atender as necessidades do mercado. Um ponto importante nesse sentido é que as novas variedades pesquisadas tenham sempre um ganho genético superior aos padrões de mercado. Dessa maneira, sempre buscam lançar variedades que atendam e superem as necessidades do mercado. Diante os desafios, os quais o setor vem enfrentando como: plantio e colheita mecanizada, safras cada vez mais longas, plantio o ano todo, pragas e doenças, a CanaVialis entende que o fornecedor de cana-de-açúcar é parte integrante do mercado sucroenergético, e todos os benefícios das variedades de cana-de-açúcar também vão atender às necessidades desses fornecedores. Com a tendência do aumento do plantio e colheita mecanizada, a CanaVialis vem estudando desde as fases iniciais da seleção de novas variedades, materiais que se adaptem à mecanização, que é crescente e irreversível. “Nesta safra, o plantio mecanizado pode ultrapassar 40%. Características como brotação de soqueira, porte ereto, colheitabilidade e brotação em plantio mecanizado estão presentes nas atuais variedades de CanaVialis, que são CV7231, CV6654 e CV7870. Além disso, apresentam boa riqueza e produtividade. Buscamos variedades que atendam todos os períodos de maturação, desde variedades precoces até tardias, cobrindo todo o período de safra”, disse o gerente de Desenvolvimento Tecnológico da CanaVialis, Maurício Oliveira. A CanaVialis busca expressar todo o potencial genético de suas variedades, mostrando no campo o ganho genético que elas possuem em relação às variedades padrão de mercado. Altas produtividades no mesmo hectare, uma maneira sustentável de uso do solo, para produzir mais com a mesma área é um dos compromissos que a empresa tem com o mercado sucroenergético. Novos processos de seleção de variedades estão sendo utilizados, como marcadores moleculares para identificar características desejáveis para uma boa variedade, além de utilizar mecanização colheita mecanizada - nas fases de seleção das novas variedades. “Temos o sorgo sacarino, que é utilizado na entressafra da cana-de-açúcar e contribui para o aumento da produção de etanol e para a diminuição do período em que a indústria/usina tem pouca disponibilidade de cana-de-açúcar para moagem. Além de implicar nesse aumento de produção de etanol, implica também na redução dos custos fixos, ganhos extras com a venda de energia gerada pela queima do bagaço do sorgo sacarino, dentre outros. Tivemos o lançamento de dois novos híbridos, o CV568 e CV198, que apresentam boa produtividade e pensando em novidades para o futuro, podemos citar a biotecnologia, área em que a Monsanto é líder no mercado. Já estamos trabalhando em uma plataforma de biotecnologia para cana-de-açúcar”, explicou Oliveira. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 45 Artigo Técnico José Paulo Molin Sistema carretel enrolador irrigando cana. Sensores ópticos de dossel: alternativa para o manejo do nitrogênio em taxa variável Lucas Rios do Amaral¹, Gustavo Portz¹, Hugo José Andrade Rosa¹, José Paulo Molin² ¹Pós-graduando – USP, ESALQ, Laboratório de Agricultura de Precisão ²Professor Associado – USP, ESALQ, Depto. Engenharia Biossistemas O manejo da adubação da cana-de-açúcar, dentro dos preceitos da Agricultura de Precisão, vem sendo basicamente realizada a partir de amostragem georreferenciada de solo em grade, com aplicação de fertilizantes (P e K) e corretivos (calcário e gesso) em taxa variável, mediante prévia confecção de mapas de aplicação. Entretanto, além dessa técnica ter sua efetividade questionada em razão da baixa densidade amostral realizada, devido principalmente a limitações econômicas, a amostragem de solo não traz um indicativo confiável da disponibilidade de nitrogênio (N) para as culturas. Dessa forma, a aplicação de um dos nutrientes mais demandados pela cana-de-açúcar, o N (atrás apenas do potássio), ainda é realizada em taxa fixa, tendo como base, prioritariamente, a idade do canavial, o ambiente de produção e a produção do ciclo anterior. Com esse manejo frequentemente ocorre má utilização de fertilizante nitrogenado, uma vez que, em razão da dinâmica complexa do N no solo, há sub ou superestimação da dose a ser aplicada, variável em função da disponibilização ou imobilização do N pelo solo. Sendo assim, é essencial lançar-se mão de ferramentas que possibilitem um melhor uso desse fertilizante, não só por motivos econômicos, mas também ambientais, já que o N é potencial contaminante de corpos d´água. 46 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Nesse contexto, estão entrando no mercado brasileiro sensores voltados para aplicação de N. Esses sensores, chamados de sensores de refletância do dossel ou sensores ópticos de dossel, têm como princípio básico a emissão de luz e a captação da refletância da vegetação em diferentes comprimentos de onda do espectro eletromagnético, calculando índices de vegetação com base nessas refletâncias (ex: NDVI e NDRE), os quais, indiretamente, indicam o vigor vegetativo das plantas, relacionando-se a biomassa presente e ao teor de clorofila e, consequente, a necessidade de N da cultura de forma especializada na lavoura (Figura 1). Em outras palavras, a planta expressa em vigor a sua nu- Figura 1. Mapa do índice de vegetação NDRE obtido com o sensor CropCircle ACS-430 (a); e mapa de recomendação de nitrogênio de acordo com as leituras do sensor, aplicando mais fertilizante nas regiões com vigor vegetativo intermediário. trição nitrogenada, indicando se o N extraído do solo está adequado para seu desenvolvimento, e os sensores de dossel tem o objetivo de mensurar essa informação. A utilização desse equipamento pode ser feita mediante prévia coleta de dados (leitura/avaliação) na área com o sensor, confecção dos mapas em escritório para posterior aplicação do fertilizante em taxa variável (aplicação via mapa), ou então, mediante aplicação em tempo real. A primeira opção possibilita a análise dos dados e recomendação consciente do que será aplicado, enquanto a segunda opção, embora mais fácil e prática, demanda maior ajuste dos algorítmos de fertilização, não possibilitando grandes ajustes por parte do técnico responsável. A melhor opção para cada caso deverá ser analisada individualmente em razão da mão de obra e material disponíveis, além dos objetivos pretendidos. Ótimos resultados vêm sendo obtidos com esse tipo de equipamento no exterior, principalmente em culturas de grãos, sendo que no Brasil essa técnica é ainda incipiente. O LAP - USP/ESALQ (Laboratório de Agricultura de Precisão da Universidade de São Paulo) está desde 2007 pesquisando a utilização desses sensores na cultura da cana, e vem obtendo bons resultados, tanto para aplicação de N (uso mais nobre), quando para a estimativa de produtividade e do vigor vegetativo da cultura, o que pode direcionar amostragens a título de identificação dos causadores da variabilidade dentro das lavouras (Figura 1). Uma das primeiras conclusões quando do uso desse equipamento é que, para se ter avaliações confiáveis, é necessário que haja massa vegetal suficiente. Dessa forma, o LAP recomenda que as avalia- ções voltadas para aplicação de N devem ser realizadas quando a cultura apresenta 30 a 60 cm de altura de colmos (Figura 2). Logo, duas estratégias de manejo do N estão sendo cogitadas. Uma delas é o parcelamento do N, aplicando uma pequena dose logo após o corte e o restante guiado pelo sensor no momento adequado. A segunda e aparentemente mais viável economicamente é uma única aplicação no momento adequado. Questões vêm sendo levantadas sobre a efetividade dessa aplicação tardia, mas na maioria dos casos não se observa queda de rendimento da cana. Há algumas formas de se utilizar a informação obtida pelos sensores de dossel no manejo do N, variável em função do sensor utilizado e da metodologia requerida. Uma das formas mais simples visa uma melhor distribuição do fertilizante a partir de algoritmos de fertilização. Essa metodologia busca distribuir da melhor forma possível uma dose de N pré-estabelecida, aplicando mais onde há maior chance de ser obter resposta à aplicação. Com essa visão, uma das estratégias seguidas pelo LAP é apostar que em regiões com vigor há maiores chances de resposta ao N aplicado, uma vez que em regiões muito fracas há interferência de outros fatores, como compactação do solo, doenças, pH e demais nutrientes, etc., e em regiões mais Figura 2. Desenvolvimento da cana-de-açúcar (20 cm de altura de colmos) onde ainda há pouca biomassa e muita interferência do solo (a); desenvolvimento da cana no momento ideal para avaliação com o sensor (plantas com 40 cm de altura de colmos) (b). Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 47 Artigo Técnico fortes (maiores valores do sensor) o solo é capaz de fornecer o N requerido e condições para o pleno desenvolvimento da cultura. Dessa forma, se aplica maior quantidade de N nas regiões intermediárias em detrimento das regiões mais fracas e mais fortes (Figura 3a). Numa outra linha, se adota aumento conforme o aumento do vigor (Figura 3b – ajuste B), quando se considera que outros fatores podem estar sendo limitantes ao desenvolvimento da cultura, ou então se adota aumento da dose em regiões com menor vigor (Figura 3b – ajuste A), assumindo-se que o N é o fator mais limitante a produção na situação em questão. Outra forma de recomendação de N que a literatura internacional vem apontando como promissora é o uso de áreas de referência dentro da lavoura somada a estimativas de produtividade para cada porção da mesma. Nessa metodologia, preconiza-se a aplicação prévia da dose cheia de N logo após o corte da cana em uma pequena porção ou faixa da lavoura que represente o máximo possível o restante da área. Quando a cana-de-açúcar estiver no momento ideal para avaliação com o sensor de dossel (entre 40 e 60 cm) procede-se a avaliação primeiramente nessa área de re- Figura 4. Modelo para estimativa de produtividade a partir de avaliações com um sensor de dossel (CropCircle ACS-210), ambos baseados em valores relativos configuráveis pelo usuário. Figura 3. Estratégia de manejo do nitrogênio aplicando mais fertilizante nas regiões intermediárias da lavoura (a); estratégia de aplicação com maiores doses de nitrogênio em locais com maior (A) e menor vigor (B) (b). ferência (também chamada faixa rica em N), buscando-se avaliar a magnitude de resposta da cultura ao N em determinada condição de cultivo. Somando-se essa resposta ao N à produtividade estimada pelas leituras com o sensor de dossel (Figura 4), é possível estimar quanto de cana será produzido a mais com a aplicação de N. A aplicação de N busca então suprir a demanda para a produção dessa quantidade de N, que pode variar de 0,9 a 2 kg por tonelada de cana esperada. Essa segunda metodologia parece ser mais completa e confiável ao levar diversos fatores em consideração dentro de uma safra e uma situação de cultivo específica, podendo-se recomendar mais ou menos fertilizante em uma lavoura, diferentemente da primeira metodologia que apenas distribui melhor a dose padrão. Entretanto, sua adoção é mais com- plicada, pois necessita que a área de referência seja instalada cada ano em um lugar, demanda maior número de operações e exige que haja um modelo que correlacione valor obtido com o sensor e a produtividade da cana-de-açúcar. A melhor forma de utilização desse equipamento ainda não foi definida tanto nacional quanto internacionalmente, uma vez que depende do sensor de dossel em questão (CropCircle, GreenSeeker, N-Sensor, apenas para citar alguns – Figura 5), dos anseios, objetivos e experiência do usuário, assim como das características do sistema de cultivo. Experimentos vêm sendo conduzidos pelo LAP - USP/ESALQ e espera-se que em pouco tempo se tenha dados comprovando a eficácia desse equipamento no direcionamento da adubação nitrogenada em cana-de-açúcar, independentemente da metodologia adotada. Figura 5. N-Sensor ALS (Yara International ASA, Duelmen, Alemanha), Crop Circle ACS-210 (Holland Scientific, Lincoln, NE, EUA) e o GreenSeeker (Trimble Navigation, Ltd., Sunnyvale, CA, EUA), acoplados em um Uniport 3000 NPK (Máquinas Agrícolas Jacto AS, Pompéia, SP, Brasil). 48 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 49 Certificação Produtores da Guarani, que participam do projeto piloto do programa acabam de receber a certificação Certificação Valore Bayer CropScience O Brasil é visto mundialmente como “o país dos biocombustíveis” e o biocombustível na aviação surge como uma nova e grande oportunidade C Fernanda Clariano riado em 2009 pela Bayer CropScience, o programa de certificação Valore tem como principal objetivo viabilizar uma produção segura, agregar valor à cadeia produtiva e assegurar a competitividade do produtor brasileiro, por meio de um acompanhamento rigoroso do processo de produção agrícola, respeitando o meio ambiente, e a segurança dos trabalhadores. O processo de certificação agrícola ganha cada vez mais espaço, pela grande exigência de mercado e dos próprios consumidores, que querem saber a procedência do alimento adquirido. Por isso, o programa beneficia todos os elos da cadeia produtiva e a sociedade de uma forma geral, por viabilizar a produção de alta qualidade, em quantidade suficiente e com a segurança alimentar esperada para alimentar a crescente população mundial. As propriedades e seu processo de produção são avaliadas e os produtores que decidem aderir ao programa assinam um termo de compromisso e recebem um documento com todas as exigên- cias e etapas necessárias para que possam conquistar o certificado e o selo Valore. Entre as exigências estão: utilização correta e adequada dos produtos registrados para a cultura, estratégicas de manejo integrado, atendimento às normas trabalhistas e de preservação ambiental, além do compromisso de seguir rigorosamente as orientações de uma equipe técnica especializada para o cumprimento dos protocolos desenvolvidos pela Bayer CropScience. A partir da adesão, os produtores rurais passam por treinamentos e contam com apoio e orientação para se adequarem às normas exigidas. Com o Valore, o produtor poderá conquistar certificações internacionais como Globalgap (certificação de segurança alimentar), e Fairtrade (comércio justo), entre outras. Na prática, o programa adota protocolos (geral e específico – por cultura agrícola), contendo os parâmetros necessários para atingir os três níveis de certificação: Valore Bronze: concedida aos produtores que cumprem os princípios básicos do programa, com sistema de gestão integrada, ado- 50 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br ção de boas práticas agrícolas, preocupação com o meio ambiente e com a saúde humana. Valore Prata: concedida aos produtores que alcançarem a excelência na produção rastreada, sustentável e segura, além da alta qualidade da safra produzida. Permite ao produtor acesso diferenciado ao mercado internacional, pois viabilizará a busca pelas certificações internacionais exigidas. Valore Gold: chancela máxima do programa Valore, certifica o produtor que não apenas tem uma produção sustentável e de alta qualidade, mas se preocupa com as relações e práticas comerciais agrícolas e com as exigências do consumidor do mercado internacional. Ele representa o nível mais alto de certificação da produção agrícola, com rastreabilidade total, alta qualidade e segurança alimentar dos produtos agrícolas. A diretora de Desenvolvimento Sustentável da Bayer Cropscience, Adriana Ricci, falou sobre a importância do programa para o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira e sobre os benefícios que traz aos agricultores. “O certificado Valore é fornecido pela Bayer CropScience após validação da TÜV Rheinland, uma das principais empresas de certificação do mundo. Ao participar do programa, os produtores são orientados e acompanhados durante toda a safra por uma equipe especializada que avalia e indica as melhorias necessárias para atingir os padrões de certificação, fornecendo treinamento e apoio técnico. Com o Valore, produtores de cana, poderão realizar novos e melhores negócios nos exigentes mercados interno e externo, que cada vez mais buscam produtos agrícolas certificados”, explicou Adriana. As ações do Valore englobam suporte técnico na área produtiva, ambiental, trabalhista, jurídica e na área administrativa. No processo para conquistar a certificação, o produtor conquista inúmeras vantagens como: • Sustentabilidade dos negócios no longo prazo; • Vantagens na comercialização - garantia de compra do produto; • Acesso a novos mercados com certificações internacionalmente reconhecidas; • Assistência (técnica) custos da consultoria e auditoria patrocinados pela Bayer; • Boas práticas agrícolas, incluindo o uso racional de insumos agrícolas e recursos naturais; • Qualificação profissional; • Melhor qualidade do produto agrícola; • Ferramenta que auxilia para o aumento de produtividade; • Melhora da gestão dos negócios: alocação/utilização dos recursos de forma mais eficiente; • Diminuição dos custos da produção. Para a cultura da cana-de-açúcar, dois importantes clientes aderiram ao programa Valore. Após um trabalho de consultoria especializada os fornecedores de cana dos grupos Guarani e Raízen, foram orientados e acompanhados durante toda a safra por uma equipe especializada da Bayer CropScience. “A certificação Valore mostra a parceria que a Guarani possui junto aos produtores, que fidelizaram com a empresa nesta caminhada, aceitando as mudanças necessárias para implantação do programa e contribuindo para a sustentabilidade”, disse o diretor Agrícola da Guarani, Jaime Stupiello. “Após quase um ano e meio de trabalho em parceria com a Bayer no programa Valore, conseguimos certificar mais de 8 mil hectares de área plantada de oito de nossos fornecedores. Foi uma grande conquista para todos, pois trata-se de um primeiro e grande passo rumo a um processo mais abrangente de certificação de nossos parceiros produtores. Os benefícios gerados a todos os envolvidos neste projeto confirmaram que a adoção de boas práticas administrativas e operacionais são fundamentais para que sejamos cada vez mais eficientes e sustentáveis”, afirmou o diretor de Fornecedores de Cana e Parcerias Agrícolas da Raízen, Carlos Martins. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 51 Máquinas Biomassa de cana-de-açúcar “Estamos caminhando para um cenário de colheita 100% mecanizada, sem queima, então é Fonte: Assessoria de Imprensa da New Holland fundamental o aproveitamento nindo o conceito de Samir Fagundes, o projeto tem um da biomassa biomassa ao agrone- viés de grande importância econôna geração gócio, a New Holland mica dentro das usinas, já que se de energia” Palha da cana vira energia limpa em projeto da New Holland em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira U está aplicando no Brasil um projeto que permite gerar energia sustentável através da palha da cana-de-açúcar. Desenvolvido em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), o projeto busca utilizar a palha da cana-de-açúcar (gerada na colheita mecanizada) para produção de energia. A pesquisa, baseada na aplicação da enfardadora BB9000 da New Holland, está sendo desenvolvida desde maio de 2010 e já apresenta resultados favoráveis. O CTC, sediado em Piracicaba (SP), realiza diversos estudos nesta área há mais de 40 anos e representa mais de 60% das indústrias do setor sucroalcooleiro. De acordo com o responsável pelos projetos de biomassa desenvolvidos Responsável pelos projetos de biomassa pela New Holland, da New Holland, Samir Fagundes trata de uma matriz com menor custo por geração de MW/h. “O usineiro completa o ciclo produtivo da cadeia, pois tem aproveitamento de resíduos, podendo inclusive tornar-se autossuficiente em energia elétrica e até mesmo lucrar com o excedente”, explica Fagundes que destaca os incentivos políticos do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) e da Lei 10.762. A utilização de biomassa na geração de energia por sistemas de cogeração vem crescendo ano após ano. Um dos principais fins deste tipo de energia é o suprimento de eletricidade para demandas isoladas da rede elétrica. “Se fizermos uma análise podemos constatar que ¼ de toda a força energética nacional é gerada através da cana-de-açúcar. Isso quer dizer que, mais do que nunca, o agronegócio já está ligado à sustentabilidade”, afirma Fagundes. Fagundes ressalta que a bioeletricidade tem uma série de vantagens: é um recurso renovável, que polui menos, tem risco e prazo de execução menor, maior facilidade em estimar a energia a ser gerada, além de diver- 52 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br sificar, mais ainda, a matriz energética nacional. O processo possibilita ainda as perdas de transmissão, pois muitas vezes a geração é feita próxima aos centros consumidores. “Estamos caminhando para um cenário de colheita 100% mecanizada, sem queima, então é fundamental o aproveitamento da biomassa na geração de energia”, afirma Fagundes. Segundo dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), a estimativa é que em aproximadamente dez anos a bioeletricidade gere energia equivalente a três usinas Belo Monte. Os investimentos para produção de bioeletricidade também são mais baixos: de acordo com a ANEEL, o processo de geração de bioeletridade é R$16,65/ MWh mais barato do que a produção energia hidrelétrica. O processo se divide em uma série de etapas, começando pelo acúmulo da palha gerada após a colheita mecanizada da cana-de-açúcar. Após a colheita, a palha permanece exposta ao tempo por um período de até dez dias para que seque. Quando o material estiver com cerca de 10% de umidade é feito o aleiramento, que reúne a palha em linhas (leiras). Em média, há cerca de 150 quilos de palha seca para cada tonelada colhida, o que totaliza, aproximadamente, 15 toneladas de palha por hectare por ano, dos quais são retirados do campo de 50-60%, de acordo com as condições edafoclimáticas do local.. Após o acúmulo da palha em leiras, uma enfardadora BB9000 acoplada ao trator passa recolhendo o material e fazendo os fardos. Chamados de “gigantes”, cada um tem cerca de 2 metros de comprimento e 450 quilos. Por último, a carreta recolhedora de fardos encaminha o material para o ponto de carregamento, de onde seguem para a usina. De acordo com Fagundes, este processo possibilita um custo menor em relação a outros métodos, trazendo maiores vantagens ao produtor. Fagundes ressalta que a Agrishow 2012 foi a primeira oportunidade que o cliente teve para conhecer de perto todas as máquinas que compõe a solução agrícola do recolhimento de palha: o Aleirador H5980, a enfardadora BB9080 e a carreta acumuladora de fardos PT2010. “É interessante destacar que, por termos como parceiro para este projeto o CTC, todos os aspectos relacionados ao recolhimento foram observados, seja do ponto de vista agronômico, agrícola ou industrial. Hoje temos condições de ofertar a solução como um todo e o que é mais importante, orientar nosso cliente a melhor maneira de processar esta fardo para queima em caldeiras e consequente cogereção”, destaca Fagundes. Maior trator em operação na América Latina Série T9 de tratores, exposta na Expointer, chega ao Brasil para atender um novo nicho de mercado D urante a Expointer a New Holland apresentou sua série T9 de tratores com o modelo T9.560, que alcança até 560cv. O alto nível de potência da máquina é aliado ao sistema de transmissão avançado, ao robusto chassi e ao design e conforto da cabine. É ideal para aqueles que precisam de mais potência, sendo o maior trator em operação na América Latina. Com isso também atendem a demanda crescente do mercado de mega plantadeiras e implementos, que estão sendo utilizados principalmente por usineiros e grandes produtores de grãos. “A oferta deste equipamento para o mercado brasileiro mostra a preocupação que temos em trazer o que há de mais moderno para os produtores. Estamos preocupados em oferecer soluções para todos os tamanhos de propriedade e, esta máquina é uma ótima opção para aqueles que precisam de mais potência, sendo o maior trator em operação na América Latina. Com isso também atendemos a demanda crescente do mercado de mega plantadeiras e implementos.”, afirma Marco Cazarim, especialista de tratores da New Holland. Segundo o especialista, com sistema EPM, ou “Gerenciamento da Potência do Motor”, o T9 alcança até 50cv adicionais de potência, garantindo o desempenho durante aplicações exigentes, mas sem perder força. “Com o EPM, o T9.560, que tem potência nominal de 507cv, pode desenvolver potência de até 557cv, de acordo com a necessidade da operação”, comenta. Com isso, estima-se que em áreas de cultivo de larga escala o T9 tenha capacidade de substituição de até quatro tratores de média potência. Os tratores da série T9 foram projetados para trabalhar com a tecnologia de Agricultura de Precisão da New Holland, o que proporciona o aumento da produtividade e do conforto do operador. “A máquina sai de fábrica com sistema de piloto automático IntelliSteer™ totalmente integrado. O sistema utiliza a tecnologia DGPS e também conta com os opcionais OmniStar e RTK para garantir uma precisão ainda maior durante as operações”, explica o es- pecialista. De acordo com Cazarim, através de um único monitor – o IntelliView™ III, o produtor pode configurar todos os sistemas de orientação de piloto automático, além de controlar as informações de operação do trator. Espaçosa e de grande visibilidade, a cabine dos tratores T9 vem equipada com o apoio de braço SideWinderTM, que permite um controle cômodo e preciso nas operações. “Todos os Marco Cazarim, especialista de tratores da New Holland controles principais são acessados a partir dele – acelerador, controle da transmissão e sistema hidráulico. Os controles e recursos avançados proporcionam acesso rápido, fácil e intuitivo, com indicações e ilustrações de fácil entendimento. A alta tecnologia embarcada no T9 veio para simplificar as operações e proporcionar o mais alto desempenho”, explica Cazarim. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 53 Máquinas Coordenador de Marketing de Produto de Tratores da Massey Ferguson, Eder Dornelles Pinheiro Massey Ferguson: MF7415 (Linha Dyna-6) perfeita integração entre modernidade, tecnologia e rentabilidade M Fonte: Assessoria de Imprensa da M.F. arca líder em tratores no Brasil, a Massey Ferguson disponibiliza ao mercado sucroalcooleiro um de seus modelos ícone em modernidade aliado a alto desempenho, o MF7415 da linha Dyna-6, lançada no Brasil em 2010. Além dos 215 cv de potência, entre os diferenciais da linha destaca-se a transmissão inteligente Dyna-6, que permite selecionar automaticamente a marcha com a melhor relação entre economia e desempenho. A transmissão utiliza quatro grupos sincronizados de troca automatizada, cada uma com seis velocidades Dynashift, resultando em 24 velocidades para frente e 24 velocidades para trás, sem a necessidade do uso do pe- dal de embreagem. A troca de marchas pode ser completamente automática, realizada de forma eletro-hidráulica e controlada pelo sistema eletrônico do trator, ou de forma manual por meio de toques na alavanca de comando; frente e trás. De acordo com o modo de operação selecionado, manual, Speed ou Autodrive, o sistema possibilita uma seleção de velocidades, manual, parcial, ou totalmente automática respectivamente. A transmissão inteligente 24X24 Dyna-6 se caracteriza pela versatilidade e facilidade de uso. Ela possibilita ao usuário as melhores opções para as mais diversas condições de trabalho e as mais diferentes aplicações nas 54 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br rotinas dos trabalhos em cana, do preparo do solo ao transporte. Segundo o Coordenador de Marketing de Produto de Tratores da Massey Ferguson, Eder Dornelles Pinheiro, tanto o 7415 quanto os demais tratores da linha 7000 Dyna-6 podem ser usados em qualquer tipo de solo ou uso agrícola. “O produtor que busca este trator está buscando um alto rendimento operacional e um baixo consumo de combustível, ou seja, o que todos querem, então ele foi desenvolvido para ser utilizado desde os solos alagados do cultivo do arroz irrigado até o plantio convencional da cana, passando pelo algodão e soja do Centro-Oeste”, disse Dornelles. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 55 Máquinas Valtra anuncia com a Série S uma nova tendência no mercado brasileiro Empresa traça novas estratégias diante do aumento da demanda por grandes tratores Coordenador de Marketing do Produto de Tratores da Valtra, Rogério Zanotto A Fonte: Assessoria de Imprensa da Valtra Valtra, marca do Grupo AGCO, com mais de meio século de tradição em tratores pesados, anuncia o lançamento da S293 e S353, máquinas de alta potência que colaboram com a ampliação da capacidade produtiva e sustentável das áreas agrícolas. A série S é importada da Europa. As máquinas herdaram a expertise e designer global da Valtra aliadas a tecnologia AGCO. Tem capacidade de levante de 12 toneladas e bomba de fluxo variável de 200 litros por minuto controlada automaticamente. O trator AGCO POWER 84 WI – 4V, TR 2, ou seja com baixa emissão de gases poluentes que, associado ao sistema de gerenciamento inteligente, busca o equilíbrio entre a potência e torque e, de acordo com a força exercida na transmissão, pode economizar até 10% no uso de combustível. De acordo com o Coordenador de Marketing do Produto de Tratores da Valtra, Rogério Zanotto, outro importante destaque do novo modelo é o câmbio AVT (AGCO Variable Transmition), que difere das tecnologias de mudanças de marcha automáticas conhecidas no mercado. Este câmbio regula a rotação do motor de acordo com a velocidade desejada. “O câmbio trabalha por meio de quatro modos de programação divididos em dois grupos de velocidade, estes separados de acordo com o tipo de tarefa. O primeiro (Grupo A – Modo Trabalho) de 0,03 km/h a 28km/h e o segundo (Grupo B – Modo Transporte) varia de 0,03 km/h a 40km/h”, explica Zanotto. Os módulos para atuação da máquina dividem-se em: • Módulo Automático É a configuração padrão quando se liga o motor. Utiliza a razão de transmissão mais elevada possível para otimizar a economia de combustível. Por exemplo, ao puxar uma carga em um terreno mais difícil a transmissão ajusta a relação (a velocidade do motor) para manter uma velocidade constante. • Módulo Automático com TDP (tomada de potência) Ao usar o TDP a velocidade do motor é definida. A transmissão 56 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br diminui a velocidade de condução quando a carga excede a energia disponível. • Módulo semi-automático No modo semi-automático o operador define a rotação do motor e a velocidade operacional, independentes uma da outra, de acordo com a operação desejada. • Módulo manual No modo manual a rotação do motor e a velocidade de deslocamento devem ser ajustadas, pois a inteligência do câmbio AVT não faz os ajustes automáticos. As inovações que chegam por meio da Valtra também aparecem em itens na cabine como os sistemas AutoComfort (suspensão pneumática da cabine) e os comandos no Armrest, que permitem um máximo conforto nas operações, além do sistema “Easy-to-use de programação do sistema hidráulico. A suspensão pneumática para o assento giratório ajusta a posição do operador de acordo com a declividade do campo. O assento possui no suporte de braço o controle das programações que podem ser memorizadas. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 57 Máquinas Uniport 3000 garante alto rendimento e economia Carla Rodrigues P rojetado especialmente para trabalhar sob as mais severas condições da lavoura de cana, a nova adubadora desenvolvida pela Jacto denominada Uniport 3000 NPK, oferece grande rendimento operacional, aplicação de alta precisão e qualidade e principalmente redução nos custos de aplicação. Confira todas as informações apresentadas pelo gerente de Produtos da Jacto,Wanderson Tosta sobre este novo implemento. Uniport 3000 NPK e suas características O Uniport 3000 NPK é uma adubadora automotriz desenvolvida e projetada exclusivamente com tecnologia Jacto, proporcionando qualidade e robustez necessárias para o trabalho intensivo na cultura canavieira. Realiza aplicação de fertilizantes granulados para cultura canavieira e suas características principais são a elevada capacidade operacional aliada à alta qualidade de aplicação de fertilizantes e precisão no controle da dosagem aplicada. Necessidades de mercado O mercado canavieiro tem uma importância muito grande dentro da Jacto e ao longo de muitos anos estão sendo desenvolvidos vários produtos específicos para o setor canavieiro. Dentro deste contexto, a crescente demanda do mercado canavieiro por soluções para adubação que agregassem valor ao negócio e reduzissem os custos operacionais, levou a Jacto a pensar e projetar o Uniport 3000 NPK. Calibração inteligente Áreas para utilização As áreas mais adequadas ao uso do equipamento são as áreas mecanizáveis, mas é importante reforçar também que é fundamental que se tenha um bom apoio logístico de abastecimento de fertilizante, planejamento adequado das áreas a serem trabalhadas e a utilização de um fertilizante de boa qualidade. Todas estas questões são muito importantes para se retirar o máximo rendimento do equipamento, que chega a tratar mais de 30.000 ha/ano. Público Alvo para a adubadora O público para esta adubadora são usinas, prestadores de serviço e fornecedores de cana de médio a grande porte, que estejam buscando reduzir seus custos de aplicação de fertilizantes por hectare, melhorar a qualidade da aplicação e também reduzir os desperdícios dado a precisão que o equipamento oferece na aplicação. Facilidade operacional Alto rendimento operacional Aplicação direcionada Dosagem precisa Características e diferenciais da adubadora Várias características fazem do Uniport 3000 NPK uma inteligente solução para mecanização da operação de adubação em cana-de-açúcar: Distribuição uniforme Alto desempenho 58 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Wanderson Tosta gerente de Produtos da Jacto Aplicação em taxa variável Maior vão livre e menor compactação de solo Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 59 Máquinas TMA em busca da excelência no sistema de mecanização Preocupada em superar as exigências do setor canavieiro, nova marca da Tracan Indústria investe em tecnologia e qualidade P Carla Rodrigues Diretor Comercial da TMA, Dário Wilian Sodré ara aumentar sua participação no mercado canavieiro o Grupo TRACAN que começou sua história como concessionário CASE IH em 1997, passou a desenvolver, em 2004, alguns protótipos de plantadoras de cana-de-açúcar e transbordos, com o intuito de completar o sistema mecanizado para a lavoura de cana-de-açúcar. Nasceu assim a indústria do Grupo, a TMA, que atua do plantio à colheita. Hoje 80% de todo negócio da empresa vem do setor canavieiro. A equipe técnica da TMA trabalha em conjunto com clientes e profissionais especializados de importantes institutos de pesquisas, para colocar no mercado produtos de ponta, que tragam, além de inovação, robustez e agilidade. Segundo seu diretor Comercial, Dário Wilian Sodré, os clientes hoje exigem qualidade associada ao resultado operacional e financeiro. “As plantadoras significam aproximadamente 20% da nossa produção. A demanda do transbordo, que é equivalente a 80% da nossa produção, é maior justamente porque a mecanização da colheita tem um índice muito superior ao do plantio”. Um dos destaques da empresa é o transbordo VTX 21000, lançado há quatro anos e hoje amplamente utilizado na colheita da cana. De acordo com Sodré, este transbordo é um equipamento inovador e com vários ganhos operacionais durante a fase da colheita. É um transbordo que vale por dois alardeia a 60 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br empresa: “Este projeto somente a TMA produz, então sempre estamos buscando melhorá-lo, a carga líquida distribuída nos quatro eixos faz toda diferença para o solo, mais agilidade e menor compactação. O cliente que o adquire fica satisfeito com os resultados técnicos, logísticos e econômicos que ele proporciona, além de poder substituir dois outros transbordos de modelos convencionais”, argumenta Dário Sodre. Na área de plantio, a TMA possui uma plantadora totalmente mecanizada com ou sem cabine, que planta em duas linhas com espaçamento de 1,40, 1,50 metros ou combinados, tem capacidade de plantio de 0,7 a 1 hectare por hora. A diferença entre estes dois equipamentos é que o equipamento sem cabine não precisa de operador na plantadora, pois utiliza o sistema de agricultura de precisão, através do piloto automático. Neste caso, somente com um operador é possível realizar toda a operação do trator e da plantadora. Há cerca de um ano, a TMA também lançou a distribuidora de mudas, um equipamento que vem sendo bastante usado por aqueles que querem migrar do plantio manual para o mecanizado, mas com um investimento menor, aproveitando toda estrutura de equipamentos que já tem. “Nos últimos 15 anos temos visto uma evolução na colheita mecanizada; saímos de 20% e saltamos para 78% da área mecanizada no país, sendo que já temos regiões quase 100% mecanizadas, mas o setor canavieiro ainda está em fase de pesquisa, desenvolvimento e investimentos embrionários em relação à Agricultura de Precisão, muito embora, vários produtores já tenham essa tecnologia incorporada há vários anos”, diz Sodré. Ainda existem vários fatores que precisam ser dominados pelo setor na área da mecanização, um deles é o de plantio, que é a última fase da mecanização da cultura canavieira. O aperfeiçoamento do trabalho não está simplesmente no equipamento, e sim na parte operacional, que engloba desde a variedade da cana que será plantada mecanicamente até a sistematização, preparo de solo e vários outros fatores que são provenientes deste processo. “A maior parte do sistema que possuímos hoje existe em função do plantio manual, mas a transição para o plantio mecanizado trará algumas vantagens, como conseguir minimizar o índice de perda de área, através do sistema de georreferenciamento a médio e longo prazo. Já está comprovado em vários casos que com a utilização do piloto automático do sistema de agricultura de precisão, é possível ter ganhos de área plantada de ate 6,5% ”, explicou Sodré. Na Usina São Martinho, por exemplo, o plantio mecanizado de cana-de açúcar já alcança o índice de 100%, com plantadora e trator com piloto automático e GPS, o que garante um paralelismo per- feito entre as ruas e trás vantagens visíveis do não pisoteio e mais rendimento de cana por hectare. A usina conseguiu um aumento de 6% no número de ruas de cana na mesma área plantada, um número que não é diretamente proporcional à produtividade, mas a balança já comprova que se colhe mais na mesma área. Segundo Luiz Gustavo Teixeira, coordenador de plantio na Usina, outros fatores devem ser levados em conta, a logística da operação, o preparo de solo, a qualidade da muda, entre outros. A preocupação atual é o alto consumo de cana por hectare com o plantio mecanizado, segundo a TMA suas plantadoras, utilizadas em vários clientes importantes do setor, já apresentam um consumo de mudas por hectare similar ao plantio manual, visto que a tecnologia dos equipamentos foram desenvolvidas em função das demandas dos clientes . “Hoje o que importa não é só a questão da tonelada por hectare, mas muito mais a quantidade de gemas viáveis ao longo dos sulcos. Eu diria que com os avanços agronômicos que o nosso setor tem alcançado, em muito pouco tempo vamos ter as melhores variedades, com os melhores tamanhos de toletes, com a melhor dosagem por metro e essa preocupação será absorvida em muito pouco tempo, pois iremos conseguir índices que estão sendo atingidos em países onde a mecanização no plantio já é fato”, completa Sodré. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 61 Máquinas Case IH lança família de tratores Puma com produção nacional Série reúne versatilidade e eficiência em qualquer aplicação Assessoria de Imprensa da Case IH A Case lançou durante a Expointer 2012 a versão nacional da família de tratores Puma, que passa a ser fabricado na planta de Curitiba da marca. As duas máquinas da família, Puma 205 e 225, foram apresentadas ao mercado brasileiro no início do ano em versão importada e agora passam a ser produzidas no Brasil, mantendo todas as características do equipamento anterior. Com potência nominal de 197 cv e 213 cv, respectivamente, os novos tratores Puma são equipados com motores Case IH de certificação Tier III, com capacidade para 6,75l. O sistema de injeção eletrônico Commom Rail da série permite que as máquinas trabalhem em aplicações pesadas como plantio e preparo do solo com gradeamento e subsolagem sem perder rendimento, garantindo um baixo consumo de combustível. Os tratores são equipados ainda com o Power Boost, responsável 62 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br por um aumento de potência de até 35hp nas operações TDF, no transporte, em condições de alta exigência de fluxo hidráulico ou em terrenos íngremes. De acordo com Lauro Rezende, especialista de marketing de produto da Case IH, o lançamento da versão nacional é parte da estratégia da marca para oferecer um sistema completo de mecanização agrícola. “A ideia é oferecer uma ampla gama de tratores, em diversas faixas de potência, atendendo a todas as necessidades e perfis de produção do agricultor brasileiro”, explica. “Os tratores Puma têm uma excelente relação peso-potência, o que possibilita o uso em aplicações pesadas sem perder rendimento ou aumentar o consumo de combustível. Além disso, as máquinas contam com o gerenciamento eletrônico do conjunto de motor e transmissão responsável pelo ajuste automático da máquina de acordo com a aplicação no campo”, afirma Rezende. Primeiro simulador de colheitadeira de cana é entregue à usina F Carla Rodrigues – com informações da Assessoria de Imprensa oi pensando em antecipar as necessidades do mercado e oferecer soluções viáveis, que a empresa investiu em uma tecnologia inédita no mundo para desenvolver o primeiro simulador virtual de colhedora de cana. Apresentado na Agrishow 2011, o simulador da série A8000 foi montado no Centro de Treinamento de Piracicaba. Sendo assim, no dia 25 de outubro a Case IH entregou comercialmente o primeiro simulador de colheita de cana-de-açúcar, tecnologia exclusiva da marca, para a Usina Santa Adélia. Localizada na região norte do Estado Paulista, 60 quilômetros a Oeste de Ribeirão Preto (SP), a usina investiu no equipamento para capacitação de operadores de colhedora de cana. O especialista de marketing de produtos para cana-de-açúcar da Case IH, Fábio Balaban explica que o equipamento se resume em uma cabine da colhedora transformada para abrigar o simulador, utilizando os vidros como tela (tendo as imagens projetadas no mesmo) e principalmente mantendo todos os comandos originais da colhedora, garantindo a imersão total na experiência que conta ainda com a presença de tratores para o transbordo e capacita o profissional para a situação real. Da mesma maneira que ocorre, por exemplo, com simuladores de treinamento de pilotos de avião. “A principal característica de um simulador é permitir o erro e a partir dele o aprendizado, isso faz com que o operador chegue até a situação real sem dúvidas dos procedimentos que deve adotar em cada situação, seja ela rotineira ou excepcional”, diz Balaban. Luis Spadotto, diretor Agrícola na Usina Santa Adélia, ressalta que entre as três usinas do grupo 85% das lavouras já estão mecanizadas, chegando a 100% em 2014. “Lembro que vimos o simulador da Case IH na Agrishow de 2010, na época era um sonho e hoje contamos com essa importante tecnologia dentro da nossa casa”, afirma. Ele destaca também que o si- mulador não serve apenas para diminuir o risco de danificar o maquinário, mas também melhora o treinamento do operador impedindo que haja alto índice de impureza mineral comumente levado para dentro da usina pela operação inadequada das colhedoras. “O treinamento virtual tira a necessidade de um maquinário e espaço específico na lavoura para o aprendizado”, finaliza Spadotto. De acordo com Balaban, em 2013 o simulador vai estar disponível para venda por toda a rede de concessionários, “nós temos dez unidades que serão entregues até o final do ano, além de outros cinco para entidades de ensino como Senai e o Senar. Primeiro simulador de colheita de cana-de-açúcar Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 63 Entrevista Adubação Fluida é destaque no consumo brasileiro Carla Rodrigues N o Brasil, o uso de adubos fluidos é relativamente recente. Com a instalação de uma fábrica, na cidade de Jaú, pela Ultrafértil (atual Bunge Fertilizantes S.A.), no ano de 1981, sua participação aumentou bastante em relação aos demais tipos de fertilizantes e com um enorme potencial de crescimento. Segundo o engenheiro agrônomo do Departamento de Fertilizantes Fluidos – Bunge Fertilizantes S.A, Ricardo Curione Zion Almeida, estima-se que em 2011 o consumo no Brasil de fluidos foi de 600 mil toneladas. No mesmo ano, a Argentina consumiu um volume de 700 mil toneladas. E esta tecnologia não para por aí, ela vem crescendo em vários países, como Europa, Uruguai, Chile, África do Sul, Austrália, Índia, China, entre outros. Veja abaixo a entrevista completa com o engenheiro agrônomo, Ricardo Almeida. Revista Canavieiros: Quais são as vantagens deste método? Ricardo: A utilização dos fertilizantes na forma fluida apresentam vantagens operacionais e agronômicas, em relação aos tradicionais fertilizantes sólidos. Citaremos abaixo as vantagens e benefícios dos fluidos: Vantagens e benefícios dos Fertilizantes Fluidos a) Dosagem de aplicação precisa - Evita falta ou excesso de nutrientes na adubação; - Adubação homogênea; - Cultura com desenvolvimento uniforme. b) Maior autonomia dos equipamentos aplicadores - Menos paradas para reabastecimento; - Adubações com maior rendimento operacional; - Menor custo/ha na adubação. c) Pouca exigência em mão de obra - Menores custos operacionais; - Mão de obra pode ser deslocada para outras atividades. d) Versatilidade nas Formulações - Permite uma adubação agronomicamente correta, conforme a necessidade apontada por análises de solo e folha. e) Fácil Armazenamento - Dispensa construção de armazéns; - Produto é enviado em caminhões tanque, direto da fábrica para a adubação, eliminando perdas; - Inexistência de grandes estoques na propriedade. f) Compatibilidade com Defensivos - Muitos defensivos (herbicidas, inseticidas e fungicidas) são compatíveis com os fertilizantes fluidos, permitindo uma aplicação conjunta, com redução do custo operacional. g) Aplicação Homogênea de Micronutrientes - Os micros encontram-se homogeneamente solubilizados, total ou parcialmente, nas soluções claras, ou suspensões, permitindo uma aplicação uniforme. h) Fontes Nitrogenadas com Inibidor de Urease. i) Aplicação conjunta do Fertilizante Fluido Mineral com o Orgânico, resultando no Organo-mineral (em uma mesma aplicação). j) Sinergia com a Agricultura de precisão. Obs: Devido a estas vantagens operacionais e agronômicas (eficiências) citadas acima, os Fertilizantes Fluidos estão cada vez mais sendo utilizados nas diversas culturas. Revista Canavieiros: O produtor / usina pode utilizar as mesmas fórmulas da adubação sólida? Ricardo: Sim, Podem ser utilizadas as mesmas fórmulas da adubação sólida, Ex: 12-06-12; 15-0515; 20-05-10; 10-10-10; etc. Ou mesmas relações N-P-K, Ex: 20-05-20 Sólida, trabalhamos com 16-04-16 Líquida; 20-00-20 Sólida, trabalhamos com a 16-00-16 Líquida, 05-25-25, trabalhamos com 64 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Engenheiro agrônomo, Ricardo Almeida. 03-15-15 Líquida, pois no caso dos Fertilizantes Líquidos, não conseguimos concentrar algumas formulações aos mesmos moldes dos Fertilizantes Sólidos, assim devemos aumentar a dosagem para equivalência de nutrientes. Revista Canavieiros: Quais são as fontes de NPK utilizadas e micros? Ricardo: Fontes de Nitrogênio: As matérias-primas nitrogenadas utilizadas na produção do Fertilizante Líquido são praticamente as mesmas do Fertilizante Tradicional Sólido (Nitrato, Uréia e Sulfato), e uma grande vantagem do Fluido é a fonte nitrogenada Uran (blend de Nitrato + Uréia) que apresenta nitrogênio nas formas nítrica, amídica e amoniacal, uma combinação que permite ótimo aproveitamento do nutriente com menor perda por volatilização e maior absorção pela planta. - Fonte de Fósforo: A matéria-prima fosfatada utilizada é o MAP ou Acido Fosfórico. - Fonte de K2O: É o Cloreto de Potássio (KCl pó branco importado). Os micronutrientes utilizados são todos sais solúveis, prontamente disponíveis para a cultura quando aplicados ao solo: ácido bórico, sulfato de zinco, sulfato de cobre, molibdato de sódio, etc. Revista Canavieiros: O produtor/usina precisa de algum equipamento especial para aplicá-lo? Ricardo: A Bunge poderá oferecer em comodato, sem qualquer custo adicional, equipamentos aplicadores e oferecer toda assistência técnica, para que o produtor rural possa perceber na prática as vantagens da adubação líquida. O transporte dos produtos da fábrica até o local de aplicação, é feito por caminhões e/ou carretas-tanque. E a transferência dos produtos aos equipamentos aplicadores é feita por bombeamento, ganhando-se tempo e economizando-se mão de obra na operação. Revista Canavieiros: O produtor / usina precisa de algum lugar específico para armazená-lo? Ricardo: Não, a entrega do Fertilizante Líquido é feita de acordo com a programação do cliente, em que a Fábrica de Jaú é o Armazém do cliente (“Fiel Depositário”), com exceção das áreas que trabalham com fertirrigação onde encontramos nas propriedades os tanques de armazenagem para soluções. Revista Canavieiros: O produtor / usina pode aplicá-lo com o solo seco? Ricardo: Podemos salientar que o momento ideal para se aplicar qualquer fertilizante seja sólido ou líquido, é no período úmido (na época das águas), mas o Fertilizante Fluido tem uma vantagem quando comparado com o Fertilizante Sólido, a matéria prima já se encontra solubilizada, e assim, os nutrientes estarão prontamente disponíveis para a cultura quando aplicado no solo, diferente do Fertilizante sólido que necessitará ser primeiramente solubilizado para depois entrar na solução do solo; Revista Canavieiros: Qual é a forma de aplicação dos Fertilizantes Fluidos? Ricardo: Podem ser aplicados das mais diversas formas: superficialmente (em área total, filete, faixas, etc), incorporado, aérea, irrigação (fertirrigação via gotejo, aspersão, pivô, etc). Revista Canavieiros: Qual dosagem ideal para líquido e sólido? Ricardo: Não podemos dizer que existe uma dosagem ideal geral para adubação líquida ou sólida (como receita de bolo), e sim que as dosagens devem ser recomendadas pelos engenheiros agrônomos e de acordo com a análise do solo, ambiente de produção, variedades, etc. Revista Canavieiros: Qual custo de aplicação por ha (comparação sólido e líquido) e o rendimento operacional? Ricardo: Trabalhos já publicados e que foram realizados nas culturas do café, citros e cana-de-açúcar mostraram que na média a adubação líquida tem um custo por ha reduzido em torno de 20%, podendo chegar a 35% ou até mais em alguns casos quando comparado com a adubação sólida. O rendimento operacional da adubação líquida é em média de 15 a 25% superior que a adubação sólida. Revista Canavieiros: Em quais regiões/usinas/fornecedores a técnica já está sendo utilizada? Quais segmentos? Ricardo: Atualmente, os Fertilizantes Fluidos estão sendo utilizados em larga escala pelas usinas/ destilarias/fornecedores de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo nas mais diversas regiões. Ex: Usinas na Região de Catanduva; Usinas na Região de Jaú; Usinas na Região de Ribeirão Preto; Usinas/destilarias na Região de Pirassununga; Usinas na Região de Jaboticabal; Usinas na Região de Araçatuba; Usinas na região de São Jose do Rio Preto; E observamos que está muito crescente a utilização desta técnica pelos fornecedores de cana-de-açúcar nas diversas regiões do Estado de São Paulo. Revista Canavieiros: Onde se localiza a fábrica da empresa no País? Ricardo: A Fábrica da Bunge Fertilizantes S/A está localizada na cidade de Jaú, marco central do Estado de São Paulo. São comercializadas cerca de 120 mil toneladas ao longo do ano agrícola nas mais diversas culturas (cana-de-açúcar/ citros/café/reflorestamento/grãos e cereais/pastagem/hortaliças/fruticultura em geral), mas sem dúvida que o maior mercado é o da cana-de-açúcar que representa mais de 75% do volume comercializado. Revista Canavieiros: Esta técnica deve se expandir no país? Ricardo: Com certeza, aos mesmos moldes dos EUA (onde hoje o consumo dos Fertilizantes Fluidos é em torno de 50%) e da Argentina que já chega a 30%, e de outros países que também comentamos da utilização desta tecnologia e principalmente devido às facilidades operacionais e vantagens agronômicas já citadas. É uma tecnologia disponível, de fácil acesso e podemos dizer que é um caminho sem volta. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 65 Insumos Adubação foliar em cana de açúcar Hamilton Seron Pereira professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador do Laboratório de Fertilidade do Solos e Nutrição de Plantas Gaspar Henrique Korndorfer A professor titular da Universidade Federal de Uberlândia umentar a produtividade do canavial tem sido uma meta constante na agroindústria sulcroalcooleira, através da introdução de novos processos tecnológicos e aperfeiçoamento do tradicional sistema de produção. A adubação foliar até alguns anos atrás era desacreditada em cana-de-açúcar, mas hoje sua aplicação em complemento a adubação de solo mostra-se como uma alternativa para ganhos em produtividade no campo e no rendimento industrial da cana. A proposta da técnica não é de substituir as práticas comuns de adubação por via solo, e sim contribuir para a correção e/ou prevenção de deficiências, principalmente, de micronutrientes. A disponibilidade desses elementos, principalmente, cobre, zinco, manganês e ferro, sofrem grande influência do pH elevado considerando os níveis de correção do solo praticados na cultura da cana-de-açúcar. Como a parte aérea das plantas também possuem a capacidade de absorver água e nutrientes, diversos estudos têm contribuído para que a prática da adubação foliar possa ser mais intensivamente pesquisada. Para a adubação foliar, podem ser usados os adubos líquidos, que são sais minerais ou quelatos solúveis, e os adubos sólidos em solução/suspensão. Em geral, os nutrientes aplicados às folhas são absorvidos e translocados para todas as partes do vegetal. Mas apesar desses conhecimentos, aqueles relativos as vias de entrada de substâncias nas folhas e o seu respectivo mecanismo de absorção e translocação são conceitos ainda muito discutidos. Hamilton Seron Pereira Gaspar Henrique Korndorfer Quando nos referimos a absorção foliar, é importante que se faça uma menção sobre a absorção ativa e a penetração. A absorção ativa refere-se a uma cadeia de concorrências que inicia com a entrada da substância à superfície da folha e dá seguimento ao seu movimento dentro dela, ou é translocada para fora da folha. No percurso desse trajeto, pode haver uma alteração física ou química da substância. Por outro lado, a penetração é o processo de absorção que vai do local de aplicação, isto é, da superfície da folha, até os locais de entrada no simplasto (translocação entre células, sem que haja movimento extra-celular), sendo pois considerada a fase positiva da absorção. Os íons são classificados em: móveis (N, P, K, Mg e Cl), parcialmente móveis (S, Zn, Cu, Mn, Fe e Mo) e imóveis (Ca e B). Os íons móveis são aqueles que são rapidamente absorvidos além de se translocarem para outras áreas da folha e daí para outras partes do vegetal, envolvendo-se assim com os compostos do metabolismo. Outros fatores inerentes aos nutrientes refere-se ao diâmetro iônico e a hidratabilidade dos íons; a velocidade de difusão dos íons aumenta, quando diminui o seu raio iônico, e vice-versa. Os íons hidratatos são mais lentos em se difundirem que os não hidratados de mesmo diâmetro. Isto ocorre porque a água que é adsorvida a superfície dos íons, forma uma capa relativamente espessa de água imobilizada ao redor desses íons, de acordo com o seu potencial de hidratação, fazendo aumentar dessa forma o diâmetro do conjunto. Mas quando se trata de velocidade de difusão dos sais dissociados, verifica-se que depende da velocidade dos íons de maior diâmetro que se incorporam na composição desses sais. Isto ocorre devido a atração eletroquímica 66 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br entre os íons que compõem o sal dissociado. O íon de menor diâmetro carrega o íon de maior diâmetro, fazendo com que aumenta a sua velocidade, e o íon de maior diâmetro retém o de menor, diminuindo a sua velocidade. As soluções a serem aplicadas nas folhas das plantas devem ser feitas com muito cuidado, porque podem prejudicar a planta. Por isso, a concentração destas soluções mais adição de produtos molhantes e protetores na mesma solução e o pH das soluções deverão estar compatibilizados, para que quimicamente o produto final beneficie à planta e não cause injúrias. É comum o uso de agentes protetores como é o caso dos adjuvantes (formulações), dos açúcares e dos sais de magnésio, com o objetivo de reduzir os prejuízos que os íons acompanhantes podem causar às folhas. Para se colocar os agentes protetores, é preciso que o seu efeito seja comprovado antes de serem utilizados, evitando os efeitos tóxicos que impeçam a absorção dos nutrientes. Os agentes umectantes são substâncias que impedem a evaporação rápida da solução que se aplica a superfície foliar. É reponsável também em manter os nutrientes em contato com a folha por mais tempo (estado iônico). Isto quer dizer que quanto mais tempo a solução do nutriente permanecer em contato com a superfície da folha, maior será a absroção. Já os agentes molhantes, conhecidos também como espalhantes ou ainda surfactantes, são detergentes que são colocados à solução de nutrientes, para diminuir a tensão superficial das gotículas aplicadas as folhas, e com isso, promover o seu espalhamento. Tornam-se benéficos quando diminuem a tensão superficial da solução nas gotículas, diminuem o ângulo de contato com a superfí- cie da folha, proporcionando o seu umedecimento. Vários são os efeitos do pH na solução sobre a absorção foliar de nutrientes. Por exemplo, a uréia absorve melhor em pH 5 e 8 e absorve menos em pH 6 e 9. No caso de micronutrientes como cobre, zinco, manganês e ferro, podem precipitar em pH elevado podendo ter sua absorção prejudicada. O período mais adequado para a aplicação foliar em cana coincide com a época de maior crescimento da cultura, isso ocorre na região Sudeste e Centro-Oeste entre dezembro e fevereiro, época também em que ocorre o fechamento do canavial de cana-soca, quando a massa foliar proporciona total interceptação do produto. Os problemas nutricionais mais comuns observado nos canaviais é a deficiência de boro (B), este problema é mais comum em solos arenosos, com baixo teor de M.O. (Matéria Orgânica) e boa drenagem. A principal fonte de B no solo é a M.O., assim, em períodos quente e chuvosos, dependendo das condições do solo, a M.O. não consegue repor o B em quantidade suficiente para a cultura que apresenta-se em pleno crescimento. Em períodos com muita chuva o B é lixiviado no solo mais rápido do que a cultura possa absorvê-lo, por isso solos com alta capacidade de drenagem também costumam apresentar deficiência de B. A recomendação atualmente é a aplicação de 200 a 300 g/ha de B podendo ser feita com uniporte com aplicação de 100 a 150 L/ha de calda ou quando a cana já apresenta um maior porte o comum é a aplicação com avião na dose de 50 L/ha de calda. Canas com maior potencial produtivo como cana-planta, cana-soca ou cana para muda, também tem sido aplicado formulações com nitrogênio, molibdênio, zinco e manganês nas quantidades de 12500, 150, 600, 200 g/ha respectivamente. Os resultados observados são de acréscimo de produtividade e ATR principalmente na associação do N, B e Mo, refletindo diretamente em um canavial mais sadio e vigoroso. Também se observa o acréscimo de bagaço obtido pelo aumento de produtividade, o que, em tempos de co-geração de energia, tem um valor bastante significativo. O uso do zinco e manganês é menos comum, mas deve ser recomendado em solos com frequente histórico de deficiência destes elementos. Atualmente o uso de boro tem sido preconizado na maturação da cana junto ou substituindo o maturador, assim como junto com o inibidor de florescimento com resultados promissores. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 67 Insumos Cana-de-açúcar – Nutrindo com consciência Jorge A. M. Silveira Gerente de Desenvolvimento Omex A pesar do cultivo de cana-de-açúcar ser bastante antigo no Brasil, estudos com foco em micronutrientes datam da década de 60, e sem comprovação de ganhos significativos estatisticamente. A cultura muito evoluiu de lá pra cá, com expressivos ganhos de produtividade e rendimento industrial (açúcar e álcool), muito devido a melhoramento genético, manejo agronômico, melhoria em processos e equipamentos industriais, etc. Vivemos uma nova realidade na qual a cana-de-açúcar tem que dar mais uma vez um salto tecnológico, devido a pressões de mercados mais exigentes, escassez de recursos e competitividade setorial e outros. Desta forma o foco da pesquisa vem mudando e de novo estamos estudando a aplicação de micronutrientes em cana-de-açúcar. De acordo com novas estratégias os pesquisadores têm encontrado respostas significativas em relação ao uso de micronutrientes, ganhos estes de produtividade, qualidade e rendimento. Muito disto se dá por conta de que os novos materiais, são mais exigentes, mais produtivos e por esta razão tem uma extração nutricional mais alta, além do que com a expansão canavieira para outras áreas tem colocado a cultura em solos de menor fertilidade. Ainda hoje muitos têm dúvidas em relação ao uso de micronutrientes na cultura, muito disto se dá devido ao uso de sub-doses. Esta sub-dose apresenta-se devido a alguns fatores: - Dose comercial – Para atender a demanda da cultura são necessários muito mais litros por hectare, o que inviabiliza economicamente o uso de alguns produtos; - Fitoxidez – Para atender a demanda da cultura em apenas uma única aplicação, os produtos comuns de mercados promovem fitoxidez muitas vezes irreversíveis e que causam danos e perdas de produtividade; - Operacional – Por conta da fitotoxidez que certos produtos podem causar o produtor se vê obrigado a fazer inúmeras aplicações para atender a demanda da cultura, o que tornam esta pratica anti-econômica. E neste cenário que a Omex oferece produtos formulados de alta tecnologia (eba® technology) e com alta concentração de nutrientes que atendem a demanda nutricional da cultura em uma única aplicação, sem causar fitotoxidez as plantas e desta forma promovendo um me- 68 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br lhor desenvolvimento da cana-de-açúcar aumentando a produtividade e rendimento industrial. A Omex empresa inglesa líder na produção de fertilizantes líquidos na forma de suspensões, dispõem de produtos concentrados e formulados (eba® technology) com a mais alta tecnologia disponível para aplicação de nutrientes para as plantas. Sempre procurando manejos mais adequados que visam suprir as necessidades da extração, mantendo as plantas com maior vigor, sanidade e desenvolvimento adequado, proporcionando melhor rendimento e qualidade ao final do ciclo. Você que está em busca de maior lucratividade, entre em contato com a equipe da Omex e Distribuidor da região e venha ouvir nossas soluções criativas de manejo da cana-de-açúcar para busca de maior produtividade e rendimento. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 69 Insumos Pessoas + Inovação + Sustentabilidade = Química do Sucesso Interpretando as necessidades da agricultura com base em pesquisas e ações, FMC aposta nesta fórmula para manter-se na liderança do setor O Fonte: Assessoria de Imprensa da FMC “...existem diversos recursos para serem aplicados como soluções para uma agricultura sustentável e produtiva...” mundo evolui constantemente e promover uma agricultura responsável é imprescindível para a humanidade. O crescimento da sociedade tem sido exponencial, chegando a um bilhão de pessoas em pouco mais de uma década. Dessa forma, a FMC aposta em uma fórmula para o sucesso, que consiste em Pessoas, Inovação e Sustentabilidade para resultar na química perfeita, gerando ao produtor os melhores resultados em produtividade e rentabilidade e focada em incluir em seu portfólio produtos em harmonia com o meio ambiente. Hoje existem diversos recursos, moléculas e ingredientes ativos com potencial para serem aplicados como soluções para uma agricultura sustentável e produtiva. De acordo com o gerente de Tecnologia e Inovação da FMC, Yemel Ortega, com as atuais novas tecnologias, ainda é possível ao homem incrementar as possibilidades de encontrar alternativas inovadoras que cumpram com as exigências da sociedade moderna. “Mas se não houver conhecimento e criatividade para extrair o máximo do po- tencial de cada elemento, de maneira integrada e estável, e desenvolver combinações sinérgicas voltadas à necessidade da agricultura, toda essa gama de elementos disponíveis será desperdiçada”, ressalta. Dessa forma, a FMC, líder no fornecimento de proteção de cultivos para cana-de-açúcar, transforma materiais químicos, orgânicos e biológicos em soluções para maximizar o rendimento das culturas com uma melhor qualidade e, consequentemente, um maior valor para o agricultor. Ortega ressalta ainda que a criação de produtos de alta qualidade requer formulações eficazes que permitam uma ação sinérgica ou aditiva entre os diferentes componentes para ter o melhor desempenho, controlando, de forma preventiva ou curativa, os principais problemas de pragas, doenças e plantas daninhas. “Dessa maneira, nosso objetivo é atingir, da forma mais prática e econômica possível, as necessidades atuais e futuras”, comenta. “Sabemos que os sistemas agrícolas não são estáticos e as mudanças ocorrem diariamente”, completa. Investimentos e novas tecnologias Gerente de Tecnologia e Inovação da FMC, Yemel Ortega Atendendo as demandas dos produtores e do mercado, o presidente FMC América Latina, Antonio Carlos Zem, ressalta que a empresa con- 70 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br tinuará apostando na parte química tradicional, mas que, muito mais do que pesquisar e investir na descoberta de moléculas, a empresa almeja a Presidente FMC América Latina, Antonio Carlos Zem aquisição de outras novas. “Adquirimos três moléculas nos últimos dois anos e estamos em fase de aquisição de mais duas ou três, que esperamos poder anunciar em breve”, destaca. Essa conduta é justificada pelas extensas e concentradas áreas de soja, milho e algodão, que serão uma realidade na agricultura do amanhã, tornando-se natural um aumento das pressões de pragas e doenças. “Temos o sentimento de que somente a resposta química não sustentará o todo. Precisamos de uma combinação de métodos. Trazer produtos biológicos, naturais, trabalhar mais a nutrição de plantas, a transgenia. Com todos esses aspectos combinados e articulados, teremos uma agricultura mais sustentável e poderemos, de fato, conseguir alavancar mais ainda a produção que buscamos”, explica Zem. Primeiro maturador da FMC Diante do desafio de produzir cada vez mais, aumentar a rentabilidade nas lavouras e facilitar o dia a dia do produtor rural, a FMC trouxe para o mercado sua mais nova fórmula e primeiro maturador da Companhia para cana, o Strada. A empresa expande seu portfólio, reconhecido como o mais completo do mercado de cana e reforça sua posição, apresentando sua solução tecnológica. Os benefícios do Strada aumentam o potencial de produtividade nos canaviais, que podem chegar a 40%, segundo resultados já comprovados pelas pesquisas encomendadas pela FMC. “Ele antecipa e acelera a maturação natural da cana, incrementa o teor da sacarose, sem perder a produtividade, além de auxiliar na flexibilidade da colheita”, destaca o gerente de produtos herbicidas da FMC, Jonas Cuzzi. Outro destaque do maturador é a boa seletividade à cana-de-açúcar. “O Strada mantém a produtividade, pois não mata a gema apical, responsável pelo crescimento da planta, não afeta a brotação da soqueira e possibilita o menor encurtamento dos entrenós da cana”, explica Cuzzi. A FMC disponibilizou o Strada em setembro de 2012 para os produtores rurais. Seu cadastro ainda está em andamento nos estados do Paraná e no Espírito Santo. O ingrediente ativo contém Orthossulfamuron e seu grupo químico Sulfamoiluréias. “Por ser um maturador sistêmico com solução hidrossolúvel WG, o produtor passa a ter um melhor manejo fitossanitário de seu canavial. É compromisso da FMC investir em tecnologia, ajudando o produtor com as suas soluções para produzir mais e alimentar o mundo”, ressalta Cuzzi. No Brasil, a FMC Agricultural Products, uma das principais empresas do segmento de defensivos agrícolas, está sediada em Campi- nas (SP). Com uma extensa linha de produtos para controle de pragas, plantas daninhas e doenças em várias culturas, a FMC vem reforçando sua posição no mercado de produtos voltados ao cultivo de grãos, HF, Café e Citrus. Com faturamento anual de US$ 600 milhões em 2011, a FMC Agricultural Products é focada em nichos de mercado nos quais a liderança é conquistada por meio de investimentos em pesquisa, orientação ao cliente, novas tecnologias, segurança e, principalmente, em pessoas motivadas e predispostas em se inovar e se superar. Até 2014, a empresa lançará mais de 40 novos produtos, cujos registros já estão em andamento. A expansão do portfolio faz parte dos investimentos da empresa em tecnologia em prol de melhor rentabilidade na produção agrícola. Dentro de quatro anos, a empresa visa dobrar seu faturamento anual. “Temos o sentimento de que somente a resposta química não sustentará o todo. Precisamos de uma combinação de métodos...” Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 71 Insumos É preciso inovar para alcançar a melhor condição de desenvolvimento no canavial P Fonte: Assessoria de Imprensa da Arysta ara gerar condições mais favoráveis ao estabelecimento, desenvolvimento e longevidade dos canaviais, a Arysta LifeScience desenvolveu uma solução que reúne proteção e nutrição da planta, por meio do conceito ProNutiva Cana. A solução tem como destaque o produto Biozyme, capaz de melhorar o arranque inicial do canavial, Na figura 1. Área na região de São José do Rio Preto (SP), no plantio de inverno, podemos ver o melhor arranque inicial e uniforme que Biozyme proporcionou, oferecendo, desde o início, melhores condições de desenvolvimento ao canavial, e já minimizando os riscos de assoreamento do sulco de plantio. Na figura 2, de um canavial em Guaíra (SP) já com emergência finalizada e stand estabelecido foram avaliados perfilhamento e falhas no stand, que ocorrem naturalmente dentro do sistema de plantio da cana-de-açúcar. perfilhamentos, maior enraizamento e menores falhas no plantio, características fundamentais para alcançar melhor rendimento e produtividade na cultura da cana-de-açúcar. Para demonstrar os benefícios de Biozyme na prática, foram realizados testes em dezenas de áreas nos canaviais da região dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Nesse cenário, a equipe da Arysta e os produtores acompanharam desde o plantio e estabelecimento da cultura até a colheita. Em parte da área foi utilizada somente a tecnologia tradicional de plantio, enquanto a outra parte adicionou Biozyme. Na avaliação das falhas nas linhas de cana-de-açúcar utilizando a metodologia desenvolvida no IAA (Instituto Açúcar e Álcool), houve uma significativa redução de falhas de plantio em 14% na área que utilizou Biozyme. De acordo com os parâmetros da metodologia e estimativa de produtividade, o resultado representa uma produtividade 5% maior na área com Biozyme já no primeiro corte, além de dar maiores condições para longevidade do canavial. Resultante de toda base de implementação do canavial proporcionado pelo Biozyme, o aumento na produtividade foi frequente nas áreas. Um exemplo são as áreas implantadas em Castilho (SP) e Campo Florido (MG). Como podemos ver no gráfico abaixo, em Castilho o incremento da produtividade foi de 9,8%, e em Campo Florido de 13%, além de um visí- 72 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Figura 3 – 20 dias após a colheita vel melhor arranque da soqueira como podem ver na figura 3. Atenta ao potencial deste segmento, a Arysta LifeScience lançou em 2009 o conceito Pronutiva®, um conjunto de soluções que protege e favorece o desenvolvimento das lavouras, integrando os produtos de proteção de plantas com as melhores especialidades em nutrição vegetal. Entre os produtos que compõem a linha, destaque para o Biozyme, fertilizante foliar que acrescenta produtividade às culturas, utilizado em tratamento de sementes e aplicação foliar; além de Raizal, que promove desenvolvimento rápido e vigoroso das mudas; e K-tionic, que melhora a assimilação dos nutrientes de solo; além de Foltron, Humiplex e Pilatus. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 73 foto: Lucas Cruciol Insumos Aplicação de Fosfato Natural Reativo Bayòvar, em usina no estado de São Paulo. Inovações em Fertilizantes Eng. Agr. Lucas Cruciol Maia Supervisor Técnico da Fertilizantes Heringer S egundo a ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos), o mercado brasileiro de fertilizantes cresce a uma taxa de aproximadamente 6,7% ao ano, finalizando o ano de 2012 com aproximadamente 29,5 milhões de toneladas entregues. Crescimento esse que vem há 20 anos e continuará devido a expansão de nossas fronteiras agrícolas e plantas mais responsivas a adubações. Com esses materiais genéticos mais produtivos o mercado de fertilizantes procurou aprimorar seus produtos, criando a Uréia Nitro Mais, uma uréia protegida com Boro e Cobre e o Fosfato Natural Reativo Bayòvar que libera o fósforo gradativamente. Com os avanços em pesquisas, o mercado começou a usar micronutrientes (por exemplo Boro, Zinco, Molibdênio e Manganês). No início eram misturados na forma de grânulos no fertilizante, logo após começou a se granular com o Super Simples. Visando melhorar a distribuição espacial, criamos o NPK com micronutrientes em 100% dos grãos, e com o objetivo de inovar o mercado, a Fertilizantes Heringer criou o FH Humics, um fertilizante fosfatado e com micronutrientes, com várias formulas disponíveis no mercado. O FH Humics agrega em seus grãos compostos orgânicos de diversas fontes, proporcionando uma melhor eficiência agronômica na aplicação, gerando uma menor fixação do fósforo, menor lixiviação do potássio em solos arenosos e menor adsorção de micronutrientes na matéria orgânica do solo, ou seja, mais adubo disponível para a planta consumir e um sistema radicular mais desenvolvido. Atualmente uma propriedade rural tem de crescer para cima, os altos preços de áreas agrícolas reduz a possibilidade de grandes aquisições de terra, restando ao produtor o investimento em tecnologia e novas soluções agrícolas. O merca- 74 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br Eng. Agr. Lucas Cruciol Maia do de fertilizantes está sempre em busca de novas soluções para uma adubação mais eficiente, cabe a nós estarmos atentos as novidades e sabermos selecionar a tecnologia mais adequada para cada área. Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 75 76 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br