Fevereiro - 2013 - Revista Canavieiros

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Fevereiro - 2013 - Revista Canavieiros
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 1
2 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Novidades em ciência e
tecnologia
É
hora de inovação tecnológica, de usarmos
tudo o que há de novidades em ciência e
tecnologia, desenvolvidas para
o setor, visando alavancar a
produtividade quer seja na área
agrícola ou na área industrial.
O setor perdeu muito em competitividade nos últimos anos
e sofremos consequências já
anunciadas por várias pessoas.
O fato é que, a face às incertezas
existentes quer sejam na área
produtiva ou governamental,
precisamos reagir rapidamente.
Nosso custo de produção
agrícola e industrial cresceu de
forma acentuada. Nossa decantada alta competitividade face
aos baixos custos há muito ficou para trás.
Embora com muita área para
expandir, nosso setor enfrenta
cada vez mais dificuldades para
fazê-lo. Há cada vez mais restrições e obstáculos.
Temos a alternativa de no
curto prazo, centrarmos nosso
foco no ganho de produtividade, e produzirmos mais na
mesma área.
Devemos retomar as atenções
no que a ciência e a tecnologia
têm de mais atual e fazermos
uso disso.
Expediente:
Conselho Editorial:
Antonio Eduardo Tonielo
Augusto César Strini Paixão
Clóvis Aparecido Vanzella
Manoel Carlos de Azevedo Ortolan
Manoel Sérgio Sicchieri
Oscar Bisson
Editora:
Carla Rossini - MTb 39.788
Projeto gráfico e Diagramação:
Rafael H. Mermejo
Mais cana-de-açúcar, mais
etanol, mais açúcar e mais
energia elétrica por unidade de
área. Novos produtos, desenvolvendo a alcoolquímica.
Buscar com o aumento da
produtividade a necessária redução de custos que viabilize
nossos negócios.
Agricultura de precisão pode
viabilizar melhores plantios,
cultivos e colheitas, melhorar
o rendimento, reduzir perdas,
enfim, trazer mais eficiência
por meio de máquinas e implementos modernos com GPS e
computadores. Um bom plantio é fundamental.
O sistema MPB (Mudas Pré
Brotadas) para instalação de
viveiros e áreas comerciais já é
uma realidade.
Novos softwares para gestão
chegam ao mercado.
As novas técnicas de comunicação e ensino favorecem a
capacitação e treinamentos de
colaboradores.
A transgenia sendo utilizada nas novas variedades para
adequá-las à condição de seca,
controle de pragas e doenças,
resistência a herbicidas, alto
teor de fibra propiciando maior
produção de etanol, energia elétrica ou pellets quer seja com o
uso do bagaço ou da palha de Manoel Ortolan,
presidente da
cana, cujo recolhimento já vem
Canaoeste,
ganhando ênfase, dentre outros.
diretor da
Isso tudo é muito bom. A
Copercana e
inovação tecnológica tem dis- vice-presidente
da Sicoob
ponibilizado nas mais variaCocred
das áreas, técnicas para que
possamos dar esse salto de
produtividade.
Nesta edição especial da Canavieiros, trazemos um pouco
do muito que está acontecendo
e que temos disponível.
Boa leitura a todos e mãos à
obra.
Equipe de redação e fotos:
Carla Rodrigues (MTb 55.115), Fernanda
Clariano, Murilo Sicchieri e Rafael H. Mermejo
Comercial e Publicidade:
Marília F. Palaveri
(16) 3946-3311 - Ramal: 2008
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Impressão: São Francisco Gráfica
Tiragem DESTA EDIçÃO:
21.700 exemplares
A Revista Canavieiros é distribuída gratuitamente
aos cooperados, associados e fornecedores do
Sistema Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred.
As matérias assinadas e informes publicitários
são de responsabilidade de seus autores. A
reprodução parcial desta revista é autorizada,
desde que citada a fonte.
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Artigo
Perspectivas para o setor
sucroenergético paulista
Mônika Bergamaschi, Secretária de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
do Estado de São Paulo
Mônika
Bergamaschi,
Secretária de
Agricultura,
Pecuária e
Abastecimento
do Estado de
São Paulo
S
ão Paulo detém aproximadamente 60% de toda área
plantada com cana-de-açúcar em território brasileiro.
Em termos de uso e ocupação do
solo, é a segunda maior no estado,
precedida apenas pela área coberta
com pastagens, que soma 7,6 milhões de ha, mas é a primeira na
composição do valor bruto da produção agropecuária paulista, respondendo por mais de 40%. Além
de aspectos econômicos e ambientais, o setor sucroenergético é um
importante gerador de empregos.
A queda na rentabilidade já reduziu mais de 14 mil empregos diretos, e cerca de 30 mil indiretos
somente nos últimos dois anos.
O etanol não apenas é a principal fonte de energia renovável da
matriz energética paulista, composta por 57% de energia limpa,
como também é imprescindível
para que, junto com a energia de
cogeração, São Paulo cumpra a
meta definida na Política Estadual
de Mudanças Climáticas de chegar
a 69% de energia limpa em sua matriz até o ano de 2020. Um desafio e tanto! O uso do etanol como
combustível nos motores flex-fuel
contribui de maneira inequívoca
para a melhoria da qualidade do
ar, via redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa.
Em 2012, com a safra menor,
deixaram de ser produzidos 6 bilhões de litros de etanol, que foram substituídos por 4,2 bilhões
de litros da gasolina C importada,
fato que impactou negativamente
não apenas o meio ambiente como
também o saldo da balança comercial brasileira. A queda de produtividade veio em consequência
de um inacreditável conjunto de
fatores que não estimulou investimentos na atividade. O ponto de
partida foi a crise financeira mundial de 2008, depois a ferrugem
alaranjada, identificada no Brasil
em dezembro de 2009, sucedida
pela seca de 2010, a reincidência
de pragas e doenças antes controladas com a queima da palha da
cana, o florescimento da cana provocado por grandes variações de
temperatura, a idade avançada dos
canaviais, que deixaram de ser re-
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novados por questões econômicas,
a ausência de oferta de mudas de
qualidade, entre outros.
A ausência de investimentos,
tanto nas agroindústrias, quanto
nos canaviais tem como resultado a queda de produção verificada
nos últimos anos. Mas o problema
que mais afeta o setor é, sem sombra de dúvidas, a inexistência de
um planejamento estratégico que
norteie a produção de bioenergia
no Brasil, agravada pela falta de
transparência na formação dos
preços dos combustíveis.
O caminho para a superação da
crise do setor passa pelo desenvolvimento tecnológico. Mas são
necessárias políticas públicas de
curto prazo, que evidenciem e diferenciem as externalidades positivas das energias limpas, de fonte
renováveis. Além, claro, de planejamento de médio e longo prazo,
alicerçado em cristalina orientação política sobre a participação
do etanol e da energia elétrica de
biomassa na matriz energética
brasileira.
O governo paulista tem manifestado ao longo do tempo seu apoio e
confiança no setor. Um importante
passo foi a desoneração da carga
tributária do etanol hidratado nas
vendas ao consumidor, reduzindo o ICMS para 12% (nos demais
estados da Federação o índice médio varia de 25 a 28%). Mais recentemente incentivos fiscais para
aquisição de equipamentos para
cogeração de energia. Ciente da
importância do desenvolvimento
tecnológico, somas significativas
vêm sendo investidas na reorganização da pesquisa sucroenergética
com a criação do Centro Apta Cana
IAC, da Secretaria da Agricultura e
Abastecimento, em Ribeirão Preto.
O Centro é considerado um dos
principais polos de excelência tecnológica da fitotecnia sucroenergética. Por meio da Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo), tem fomentado a pesquisa deste setor, estimulando a geração de conhecimento nas áreas de
bioenergia, fabricação de biocombustíveis, biorrefinarias, aplicações
para motores automotivos, impactos socioeconômicos, ambientais
e uso da terra. Estes projetos têm
sido incentivados pelo programa
Bioen (Bioenergy Program), que
até o momento multiplicou por dez
o número de projetos relacionados
ao uso da biomassa, destinando
mais de R$ 80 milhões aos grupos
de pesquisa de instituições públicas como USP, Unicamp, Unesp,
e Institutos vinculados à SAA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento). Os resultados atingidos
pelo Bioen desencadearam outra
ação, que foi o Centro Paulista de
Pesquisa em Bioenergia, formado
pelas três universidades estaduais
de São Paulo e que a partir de 2013
abrigará os projetos da iniciativa.
Estão previstos investimentos de
cerca de R$ 100 milhões nos próximos anos. Vale mencionar ainda os
investimentos que vêm sendo feitos
pela iniciativa privada, no desenvolvimento de novas tecnologias de
produção de biomassa, e que deverão também estar disponíveis para
os produtores em futuro próximo.
Todo este esforço tecnológico
deverá levar a ganhos significativos na produtividade da cultura,
inclusive em áreas antes restritivas por aspectos edafoclimáticos.
Os avanços e o melhoramento dos
processos de fabricação do etanol
também acenam para saltos quantitativos no rendimento industrial.
Tudo isto leva a crer que em uma
década teremos soluções tecnológicas disponíveis para alcançar
produtividades superiores a 12.000
litros de etanol/ha, praticamente o
dobro dos bons índices atuais que
giram em torno de 7.000 litros/ha.
O governo paulista está ciente da
necessidade de recompor essa his-
tória vitoriosa, e conta com a parceria e com a ação coordenada de
todos os elos da cadeia produtiva.
É passada a hora de desmistificar
o setor, mostrar, explicar, fazer entender a sua real dimensão e importância. É preciso que a sociedade
compreenda e valorize esse imenso
tesouro que o Brasil e os brasileiros
têm nas mãos, e que clamem pela
oportunidade singular de crescer
em bases sustentáveis.
Não há desenvolvimento possível sem energia. Guerras sangrentas são travadas ao redor do globo
por causa dela, traduzida na forma
de petróleo. O Brasil reúne todas
as condições não apenas para gerar toda a energia de que precisará
para crescer, mas ainda de fazê-lo
de forma limpa e renovável, sem
avançar sobre biomas intocados,
de forma pacífica, gerando renda,
empregos e sem preterir a produção de alimentos e fibras.
Somente o trabalho orquestrado e uma boa estratégia de comunicação trarão os efeitos capazes
de devolver o setor sucroenergético à sua ascendente trajetória,
construída com competência e
merecimento.
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Índice
Entrevista
Artigo
Artigo
A busca pelo etanol de segunda
geração
Ganha Ganha ou Perde Perde
Sustentabilidade e o futuro da cana
Pesquisadores da Embrapa Dra. Cynthia
Maria Borges Damasceno e Dr. Rubens
Augusto de Miranda
pag. 08
Alexandre Figliolino diretor do Banco Itaú BBA
André Nassar - diretor geral do ICONE
(Instituto de Estudos do Comércio e
Negociações Internacionais)
pag. 12
Artigo Técnico
Irrigação de Cana-de-açúcar
Por: Ronaldo Souza Resende
Pesquisador em Irrigação e Drenagem Embrapa Tabuleiros Costeiros
pag. 22
Pesquisa
Artigo Técnico
Sensores ópticos de dossel: alternativa para
o manejo do nitrogênio em taxa variável
Centros de Melhoramento em
Cana-de-açúcar
A base do agronegócio cana-de-açúcar é o
melhoramento genético
pag. 40
Máquinas
pag. 14
Insumos
Por: Lucas Rios do Amaral, Gustavo Portz,
Hugo José Andrade Rosa e José Paulo Molin
pag. 46
Insumos
Primeiro simulador de colheitadeira
de cana é entregue à usina
Cana-de-açúcar – Nutrindo com
consciência
Pessoas + Inovação + Sustentabilidade =
Química do Sucesso
Pensando em antecipar as necessidades
do mercado e oferecer soluções viáveis
pag. 63
Hamilton Seron Pereira e
Gaspar Henrique Korndorfer
Interpretando as necessidades da agricultura
com base em pesquisas e ações
pag. 70
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pag. 68
Artigo
Capa
Tendências do Setor Sucroenergético
O desafio da inovação diante da crise
João Sampaio - vice-presidente de relações
institucionais do Grupo Marfrig
pag. 18
Máquinas
Rede experimental do IAC (Instituto Agronômico)
Com atuação em diversas áreas da cultura da cana-de-açúcar, o Instituto
é referência em desenvolvimento de tecnologias e produtividade
O Programa de desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar do IAC (Instituto Agronômico, de Campinas) é o projeto de melhoramento de cana-de-açúcar
em atividade mais antigo do país, desde 1933, e pode ser considerado um dos mais
antigos do mundo.
pag. 26
Mais:
TMA em busca da excelência no sistema
de mecanização
Preocupada em superar as exigências do setor
canavieiro investe-se em tecnologia e qualidade
pag. 60
Insumos
- Políticas Públicas – como garantir o abastecimento e o mercado
- Biocombustíveis na Aviação
- Certificação Valore Bayer CropScience
- Biomassa de cana-de-açúcar
- Maior trator em operação na América Latina
- Massey Ferguson: MF7415 (Linha Dyna-6) perfeita integração
entre modernidade, tecnologia e rentabilidade
- Valtra anuncia com a Série S uma nova tendência no mercado
- Uniport 3000 garante alto rendimento e economia
- Case IH lança família de tratores Puma com produção nacional
- Adubação Fluida é destaque no consumo brasileiro
- Adubação foliar em cana de açúcar
- É preciso inovar para alcançar a melhor condição de
desenvolvimento no canavial
16
20
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64
66
72
Patrocinadores desta edição
“Inovações em Fertilizantes”
Eng. Agr. Lucas Cruciol Maia
Supervisor Técnico da Fertilizantes Heringer
pag. 74
Empresas
Dupont
Lojas Copercana
Heringer
Jacto
Agronegócios Copercana
Sicoob Cocred
Syngenta
LL Cultivar
Agrishow
Canaoeste
TMA
Fertiplus
Omex
Basf
Bayer
Páginas:
02
13
15
17
19
27, 31 e 73
38
49
55
57
59
61
69
75
76
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Pesquisadores
da Embrapa
Dra. Cynthia
Maria Borges
Damasceno
e Dr. Rubens
Augusto de
Miranda
A busca pelo etanol de
segunda geração
Carla Rodrigues
N
a corrida pelo aumento da produção de etanol, o Brasil vai
a fundo nas pesquisas e tecnologias disponíveis em biomassa
para alcançar seu objetivo: produzir cada vez mais etanol sem
precisar aumentar o tamanho da área cultivada.
Sendo assim, a Revista Canavieiros entrevistou os pesquisadores da
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Milho e Sorgo,
Dra. Cynthia Maria Borges Damasceno (Biologia Molecular) e o Dr. Rubens Augusto de Miranda (Economia Agrícola), que com base nos recentes
estudos e trabalhos desenvolvidos dentro da empresa, falaram detalhadamente sobre a condição atual do Brasil em produzir etanol de segunda
geração, seus benefícios e mercado. Acompanhe!
Revista Canavieiros: O que é o
etanol de segunda geração?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: O etanol de segunda geração ou celulósico é um biocombustível renovável, obtido a partir da hidrólise
ou quebra da biomassa vegetal em
açúcares simples, os quais podem ser utilizados para produção
de etanol a partir da fermentação, como é feito com o caldo da
cana-de-açúcar ou sorgo sacarino (etanol de primeira geração).
A biomassa vegetal é composta
principalmente pelos constituintes da parede celular: celulose,
hemicelulose e lignina. A celulose
é a principal fonte de açúcares da
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biomassa e é o polímero orgânico mais abundante na natureza.
Resumidamente, o processo industrial de produção de etanol de
segunda geração envolve as etapas
de pré-tratamento da matéria-prima (biomassa), sacarificação, fermentação e destilação. A etapa de
pré-tratamento é feita para “afrouxar” os componentes da biomassa,
permitindo sua extração e maior
exposição aos agentes biofísicos,
químicos e biológicos do processo de conversão. Essa etapa pode
envolver fatores físicos (temperatura e pressão), químicos (principalmente ácidos ou bases) e enzimáticos. A etapa de sacarificação
ou hidrólise permite a quebra da
celulose e hemicelulose em açúcares simples, utilizando-se enzimas
hidrolíticas. Nessa etapa, o uso de
enzimas hidrolíticas em grandes
quantidades constitui um dos fatores que dificultam a viabilidade
econômica do processo. Uma vez
que os açúcares simples são liberados, eles são utilizados por leveduras e a produção de etanol acontece pelo processo de fermentação.
Entrevista
O processo de destilação é similar
ao utilizado para a obtenção de
etanol de primeira geração.
Os principais gargalos técnicos
da produção de etanol a partir da
biomassa hoje são: a) altos teores
e/ou composição do composto
lignina, componente da biomassa, o qual dificulta a etapa de
pré-tratamento; b) ausência de
leveduras que possam fermentar
açúcares de cinco (5C) e seis carbonos (6C) em escala industrial;
c) alto custo e relativa baixa eficiência das enzimas hidrolíticas
necessárias para a etapa de hidrólise da celulose e hemicelulose em
açúcares simples fermentescíveis.
O custo relacionado ao uso dessas enzimas contribui fortemente
para o alto custo de todo o processo, apesar de o preço já ter sido
reduzido bastante nos últimos
anos. Há vários grupos de pesquisa no país trabalhando nessas diversas áreas, tentando solucionar
esses gargalos.
Revista Canavieiros: Quais os
benefícios que esta fonte pode
trazer para a produção de etanol
do país?
Dr.(a) Cynthia/Rubens: No caso
específico do Brasil, o principal benefício do uso da biomassa a partir
da cana-de-açúcar é o aumento da
produção de etanol com a maximização do aproveitamento de
resíduos orgânicos (matéria orgânica vegetal), bem como da cultura e uso do solo, sem concomitante aumento da área cultivada,
uma vez que a planta inteira é utilizada no processo. Isso é possível
porque em termos químicos existe muito mais energia estocada na
parede celular do que no caldo da
cana. Além disso, uma vez que
essa tecnologia esteja disponível
no país, em escala comercial, será
possível derivar outras indústrias
para beneficiamento de resíduos
químicos gerados durante a pro-
dução do etanol celulósico, agregando valor ao processo, como
acontece com o refinamento de
petróleo e a indústria petroquímica. É importante lembrar que
todo o processo deve ser sustentável e apresentar um balanço
energético positivo para que os
benefícios citados sejam válidos.
Revista Canavieiros: Qual a capacidade de produção de etanol
de segunda geração do Brasil?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: O
Brasil produz, anualmente, mais
de 1 bilhão de toneladas de matéria orgânica vegetal. E, considerando-se a concentração de
algumas espécies desta matéria-prima, como é o caso do bagaço
de cana, palhadas de restos culturais, capins e resíduos florestais,
pode-se depreender que o Brasil
"...o principal
benefício do uso da
biomassa a partir da
cana-de-açúcar é o
aumento da produção
de etanol com a
maximização do
aproveitamento de
resíduos orgânicos..."
tem grande potencial de produção de etanol de material lignocelulósico. Ademais, o Brasil tem
condições favoráveis para ampliar
seu parque industrial de produtos
biocombustíveis, alcoolquímica
e de cogeração de energia. Rotas
tecnológicas e processos especialistas para a produção de etanol de segunda geração estão em
franco desenvolvimento. Entretanto, é difícil avaliar com precisão a capacidade de produção de
etanol de segunda geração pelo
Brasil, atual e futura. A questão
central é que a tecnologia ainda
não foi aplicada em escala industrial no país e somente quando
isso acontecer algumas interrogações relativas ao processo produtivo do etanol de segunda geração
poderão ser respondidas. Há uma
expectativa de que o etanol de
segunda geração aumente a produção de álcool entre 30% a 40%
por hectare. Ou seja, isso daria
algo entre 6 a 8 bilhões de litros
do combustível, em relação à área
plantada no Brasil atualmente.
Por outro lado, no futuro precisaremos avaliar os custos de oportunidade de disponibilização da
matéria-prima lignocelulósica, de
fontes específicas, como é o caso
do bagaço de cana, para alternativas concorrentes, como é o caso
da cogeração de energia (calor e
bioeletricidade).
Hoje no país
há vários
grupos fortes
trabalhando
nos diversos
aspectos ligados
à produção
de etanol
de segunda
geração.
Revista Canavieiros: Os produtores brasileiros estão preparados para produzir etanol de
segunda geração?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: Usinas e fornecedores buscam ajus-
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Entrevista
Institutos de
pesquisa estão
desenvolvendo
variedades
com maior
quantidade
de biomassa.
tar seus negócios em bases tecnológicas e comerciais. No Brasil, a
tecnologia de produção de etanol
de segunda geração deverá ser
complementar, e não substitutiva da tecnologia de primeira geração. A tecnologia do etanol de
primeira geração já está no setor
sucro-energético do Brasil. A partir do momento que a tecnologia
de segunda geração se mostrar
economicamente viável, com alguns projetos piloto ampliando
suas escalas comerciais, o setor
deverá ampliar muito positivamente sua agenda para esta produção complementar de bioetanol
e coprodutos. Entretanto, o dilema que persistirá é o aproveitamento do bagaço para a produção
de bioetanol ou para a cogeração
de energia elétrica.
Revista Canavieiros: Como está
o avanço desta tecnologia no país?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: Hoje
no país há vários grupos fortes
trabalhando nos diversos aspectos
ligados à produção de etanol de
segunda geração. Esses grupos são
privados e públicos (universidades, instituições de pesquisa, como
a Embrapa, por exemplo). Dentre
os temas mais importantes estão
o desenvolvimento de tecnologias
de pré-tratamento mais eficientes
e econômicas; desenvolvimento
de leveduras com maior eficiência
de fermentação de açúcares de C5
e C6; identificação e produção em
escala industrial de enzimas hidrolíticas para desconstrução da
biomassa; dentre outros. Estudos
de diferentes fontes de biomassa
são bastante promissores, mas o
melhoramento da cana com ênfase
para produção de etanol celulósico já está também em andamento.
Inclusive, há alguns grupos trabalhando com a possibilidade de
modificação da biomassa da cana
por transgenia, a fim de aumentar
a eficiência do processo de produção de etanol de segunda geração.
Também já existem algumas plantas piloto para testar a produção
de etanol de segunda geração, e
recentemente foi reportado que
uma empresa multinacional brasileira já está planejando iniciar
a produção de etanol de segunda geração em escala comercial a
partir desse ano.
Um outro ponto importante
é que o mercado de detenção de
patentes é muito importante para
a produção de etanol de segunda
geração, visto que hoje não existe
uma única maneira para obtenção
desse biocombustível. Assim, é
estrategicamente importante que
o Brasil desenvolva tecnologia
própria para não depender tecnologicamente de outros países, o
que poderia onerar a implantação
comercial da produção do etanol
de segunda geração no país.
Revista Canavieiros: É possível
dizer quando estará disponível
no mercado?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: Atualmente, grande parte do etanol
de segunda geração no Brasil é
produzido apenas em laboratórios e existem poucas plantas-piloto, como a da Petrobras. É
esperada para o final de 2013 e
no decorrer de 2014 a produção
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em escala industrial por algumas empresas. Dentre as quais,
merece destaque a GraalBio Investimentos S.A., que construirá
uma usina de etanol de segunda
geração em Alagoas. A usina, que
será a sexta do mundo a produzir
etanol celulósico, terá condições
de gerar 82 milhões de litros do
combustível de segunda geração.
Somente quando isso acontecer é
que questões importantes sobre
o processo produtivo serão respondidas. Em grande parte das
tecnologias atuais, os custos do
etanol de segunda geração seriam
até 50% superiores aos da primeira geração, o que de certa forma
inviabiliza a produção adicional.
Entretanto, o AEC (Conselho
Avançado de Etanol) dos Estados Unidos ressalta no seu relatório sobre produção de etanol
celulósico da safra 2012/13 que os
custos das enzimas diminuíram
80% na última década e que já
seria possível produzir etanol de
segunda geração a U$ 2 o galão.
Tomando-se por R$ 2 cada dólar,
chegar-se-ia a R$ 1,20 o litro, valor não muito acima do que é considerado competitivo atualmente,
que é R$ 1,10 o litro. Somente a
produção em escala industrial
no Brasil permitirá identificar de
uma forma mais clara os gargalos
no processo produtivo, e a partir
dessa informação será possível
desenvolver plantas de escala comercial que diminuam esses custos. Resolvidos os problemas do
processo produtivo, é factível esperar a produção inicial em escala comercial do etanol de segunda
geração para daqui a quatro ou
cinco anos, mas a tecnologia só
deve se generalizar no mercado
daqui a uma década.
Assim, a disponibilização do
etanol de segunda geração comercialmente dependerá de avanços
na pesquisa e solução de gargalos
do processo, investimentos do se-
tor privado, interesse dos produtores e políticas públicas para seu
incentivo.
Revista Canavieiros: Como
está o trabalho desenvolvido pela
Embrapa?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: A
Embrapa tem focado em pesquisa, desenvolvimento e inovação
em várias vertentes do processo
de produção de etanol de segunda
geração, desde o melhoramento
genético de culturas agroenergéticas de alta biomassa à otimização das várias etapas do processo
de conversão industrial para a
produção de etanol de segunda
geração. A Embrapa trabalha o
conceito de biorrefinaria, focando
no desenvolvimento e domínio
tecnológico de vários processos
críticos necessários para a produção de etanol de segunda geração.
A Embrapa Agroenergia coordena
este processo na rede PD&I Embrapa em matérias-primas de qualidade com alto conteúdo energético, eficiência de processos de
conversão industrial (escala de
bancada e piloto) e aproveitamento de resíduos e coprodutos, e tem
como missão viabilizar soluções
tecnológicas inovadoras para o
desenvolvimento sustentável e
equitativo do negócio da agroenergia no Brasil, por meio da geração, adaptação e transferência
de conhecimentos e tecnologias,
em benefício da sociedade brasileira. Unidades de PD&I, como a
Embrapa Milho e Sorgo, estão focando principalmente na produção e disponibilidade de matéria-prima de qualidade, ampliando
os esforços no melhoramento de
culturas alternativas, como o sorgo-energia (sacarino e de alta biomassa), que apresenta grande potencial para complementação da
cultura canavieira. Avanços também têm sido feitos em colaboração com instituições nacionais e
estrangeiras, principalmente dos
EUA e da Europa.
Revista Canavieiros: Fale um
pouco sobre o etanol disponível
hoje no mercado. Teremos o suficiente para abastecer os mercados interno e externo? Com a
produção de etanol de segunda
geração, o cenário poderia ser
diferente?
Dr. (a) Cynthia/Rubens: Nas
questões anteriores foi dito que
o etanol de segunda geração será
tecnicamente viável nos próximos
anos, mas um questionamento
que devemos ter em mente é se ele
será desejável em termos mercadológicos. Atualmente, o mercado interno de etanol não é rentável e o setor vem passando por
dificuldades nos últimos anos. A
sustentação dos preços de combustível a níveis artificialmente
baixos tem atuado como desincentivo aos investimentos no
setor. Segundo dados do Fórum
Nacional Sucroenergético, os investimentos em projetos greenfield
de usinas na região Centro-Sul do
Brasil têm caído acentuadamente.
Em 2008/09, foram construídas
30 novas unidades na referida região, enquanto que em 2011/12 e
2012/13 esse número caiu para,
respectivamente, duas e três novas unidades. Além disso, esse
desincentivo também afetou a
renovação dos canaviais, cujo
envelhecimento acarretou queda
na produtividade. Outro problema enfrentado pelo setor são as
oscilações anuais que inviabilizam o negócio em determinados
anos. Por exemplo, o preço médio
do etanol anidro em São Paulo no
mês de abril de 2010 ficou em R$
0,9084, mas no mesmo período
em 2011 os preços ficaram em R$
2,3750, o que representa um aumento de 161% em um ano. Em
abril de 2012, o preço médio foi
de R$ 1,2597, uma queda de 47%
em relação a 2011. Esse comportamento oscilatório é inerente à
atividade agrícola, mas ao contrário das culturas temporárias
tradicionais, nas quais se o preço
estiver baixo o produtor pode simplesmente plantar outra cultura e
ajudar a reequilibrar os preços, no
setor sucroenergético o produtor
fica “preso” pelos grandes investimentos de construção de usinas
e no dispêndio de cultivar um
canavial. Entretanto, segundo informações recentes, há um cenário
positivo para o etanol na safra de
cana de 2013/14. O mercado externo demandará muito etanol e há a
expectativa de aumento do volume de exportações, especialmente
para os Estados Unidos. Adicionalmente, segundo informações
da Safras & Mercado, a renovação
recente dos canaviais levará a um
aumento de quase 19% da produção, passando de 19,80 bilhões
de litros na safra 2012/13 para
23,5 bilhões de litros em 2013/14.
Cabe ressaltar que somente as
exportações permitirão o acomodamento desse acréscimo da
produção. Em um cenário futuro, com a tecnologia do etanol
de segunda geração disponível,
somente as condições de preços
vigentes na ocasião determinarão o que será do mercado, assim
como no mercado atual. A ideia
é a seguinte: no momento, o produtor de cana opta por produzir
etanol ou açúcar de acordo com
os preços do mercado. O mercado também será o parâmetro
para o etanol de segunda geração: o produtor somente optará
por produzí-lo se o etanol estiver
mais remunerador do que a queima do bagaço para a produção
de energia elétrica. Especialistas
creem que o Brasil demanda, atualmente, mais energia elétrica do
que combustível e isso pode ser
um fator restritivo para o etanol
de segunda geração.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 11
Artigo
Ganha Ganha ou
Perde Perde
Alexandre Figliolino
diretor do Banco Itaú BBA
I
nfelizmente assistimos nos
últimos tempos uma situação que não tem sido positiva
para as empresas do setor sucroenergético. À medida que uma
parcela relevante delas não tem
conseguido gerar caixa suficiente
para fazer frente aos pagamentos
necessários (entre eles, manutenção da atividade com custos razoáveis e vencimentos do serviço da
dívida contraída no último ciclo
de investimento), esses grupos têm
seu endividamento aumentado,
mesmo sem investir no crescimento da capacidade de produção.
Parte da fraca geração de caixa
das usinas é explicada pelo baixo
preço do etanol, parametrizado
pela gasolina (seu competidor direto que tem seu preço congelado
nas bombas) e que aliado a problemas climáticos e operacionais
atravessados nas últimas safras
aumentaram substancialmente os
custos unitários e tornaram a atividade deficitária.
Outros grupos, que estão mais
bem estruturados (tanto na área
financeira como operacional) e
com geração de caixa positiva graças aos preços remuneradores que
o açúcar teve nos últimos tempos,
não se sentem seguros a retomar
investimentos de forma mais vigorosa. Falta de segurança causada
pelo cenário do etanol e pelas incertezas e indefinições das regras
de longo prazo que afetam o setor,
que, como diz a expressão caipira,
faz todos “ficarem atrás do toco”.
Sendo assim, os investimentos
concentram-se basicamente na área
12 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
agrícola, desgargalamentos industriais e melhoria no mix, visando
maior produção de açúcar e etanol
anidro. Pouco destes investimentos
são direcionados a expansão industrial ou geração de bioeletricidade, não obstante a farta disponibilidade de linhas de crédito em
condições de preço e prazo extremamente favoráveis.
Paralelamente a isso, assistimos
um cenário preocupante no setor
elétrico. À medida que a escassez
e irregularidade das chuvas têm
baixado de forma preocupante o
nível dos reservatórios de importantes bacias, como por exemplo,
as bacias do Rio Grande e do Rio
Parnaíba, todo o parque de termoelétricas a óleo, gás e carvão
tem sido despachado com custo
de energia elevado, entre R$ 200 e
R$ 1.000,00 por MWH. Enquanto
essa situação perdurar, esse cenário fatalmente irá onerar as próximas faturas de energia elétrica dos
consumidores. Além disso, vimos
também o preço de energia no
mercado spot disparar, atingindo
na segunda semana do ano valores
superiores a R$ 540/MWH.
Há muito tempo que o setor sucroenergético vem reivindicando
ao governo a realização de leilões
regionais e por fonte de combustível. O racional da reivindicação
é que, apesar de não maximizar
a modicidade tarifária, estaria
criando valor para a sociedade em
função de estimular investimentos
em fontes alternativas de energia
limpa, diversificando a matriz de
geração distribuída produzida no
centro de carga do sistema, com
menor custo de transmissão, e ser
extremamente complementar a
hidroeletricidade (cada vez mais
operando a fio d’água).
A pergunta que não quer calar é:
será que não é hora de reconhecer as
externalidades positivas da cogeração de biomassa e criar os estímulos
necessários para que ela prospere,
principalmente porque sua viabilização pode ajudar também a viabilizar a produção de etanol notadamente nas regiões de fronteira, onde
a produção de açúcar não encontra
condições logísticas favoráveis? Ganha ganha ou perde perde?
Na questão dos combustíveis líquidos, assistimos ao aumento do
déficit entre o volume de petróleo
refinado localmente e o consumo
interno de combustíveis, que cresce a taxas elevadas, sendo previsto
na média em 2013 chegar a 285 mil
barris/dia, provocando um aumen-
to acelerado nas importações e impactado negativamente e crescente
o saldo de balança comercial. Esta
importação tem provocado também
prejuízo a Petrobrás, na medida em
que o custo do combustível importado é superior aos preços praticados internamente. Outra pergunta
que não cala: não seria mais positivo
para o país reconhecer as externalidades positivas do etanol em relação
ao combustível fóssil e criar estímulos à retomada dos investimentos na
produção de etanol, energia limpa e “...O racional da
renovável, levando desenvolvimen- reivindicação é
que, apesar de
to e empregos de ótima qualidade a
não
maximizar
regiões longínquas onde as oportua modicidade
nidades são escassas, colaborando
tarifária,
para a interiorização do desenvolvi- estaria criando
mento e ao mesmo tempo redução
valor para a
do nosso déficit na conta de imporsociedade...”
tação de derivados de petróleo, ajudando a balança comercial e melhorando a qualidade dos números de
balanço da Petrobrás? Ganha ganha
ou perde perde?
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 13
Artigo
Sustentabilidade e o futuro da cana
André Nassar - diretor geral do Icone (Instituto de Estudos
do Comércio e Negociações Internacionais)
O
setor sucroenergético
brasileiro, mais do que
qualquer outra cadeia,
incorporou em definitivo as exigências de sustentabilidade na produção de cana-de-açúcar e na sua cadeia de valor. Muitas
empresas já estão certificadas ou
estão em processo de certificação,
e já percebem valor em certificar
seus produtos. Existe também um
esforço que diferencia a cadeia das
demais de produção agropecuária
no Brasil na busca pela regularização ambiental, que é um passo
fundamental para garantir a certificação da cadeia de valor.
Incorporar a sustentabilidade e
garantir a certificação, no entanto,
não significa que o setor não tenha
desafios de sustentabilidade para
enfrentar. Pelo contrário, existem
alguns que precisam ser analisados no processo de expansão da
produção de cana-de-açúcar para
fins energéticos.
Uma cadeia jamais será sustentável se o pilar econômico não estiver bem equilibrado. A expansão
da produção de etanol, açúcar e
bioeletricidade passam pela construção de novas usinas e expansão das existentes (greenfields e
brownfields). Desde 2010 as condições de mercado não viabilizam novos investimentos, além do necessário para a renovação do canavial.
A retomada das condições econômicas para viabilizar greenfields e
brownfields passar por remunerar
melhor a cana na forma de etanol e
eletricidade mais rentáveis, além de
14 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
uma importante e necessária retomada dos níveis de produtividade.
Se a produtividade depende muito
mais das ações do setor, a melhor
remuneração do etanol e da eletricidade dependem muito de marcos
regulatórios e ações dos governos
federal e estadual. Esse é o grande
calcanhar de Aquiles do pilar econômico ainda não resolvido.
Uma segunda variável que poderia reequilibrar o pilar econômico seria o desenvolvimento do
mercado internacional de etanol.
Os EUA voltaram a importar etanol do Brasil em 2012, mas assim
como ocorre por aqui, o mercado
para o chamado etanol avançado
(mercado para o etanol de cana
do Brasil) tem sofrido ataques dos
demais setores que estão de olho
nele, sobretudo no etanol de milho e, mais recentemente, no biodiesel de soja. Nos EUA existe uma
grande resistência em se dividir o
mercado do RFS (Renewable Fuel
Standard - lei de combustíveis renováveis) com biocombustíveis
importados, como ocorreu no ano
passado com o etanol de cana.
Do lado europeu, embora seja
um mercado potencial menor do
que o norte-americano, os biocombustíveis de base agrícola
passam por um momento difícil.
A Comissão Europeia optou pelo
chamado princípio da precaução,
o que a levou a definir um teto
máximo de consumo de etanol
de primeira geração e biodiesel,
que equivale a 50% do mandato
de mistura de biocombustíveis
nos combustíveis líquidos. A consequência desta decisão é que o
mercado europeu para etanol de
primeira geração e biodiesel praticamente deixa de crescer, embora o mandato de mistura continue
crescendo. As motivações são as
questões de sempre: competição
com alimentos e uso da terra. Assim, mesmo sabendo que o etanol
de cana tem mínimos impactos
nos preços dos alimentos e na
mudança do uso da terra, para
não ter que diferenciá-lo das lavouras que efetivamente geraram
esses impactos, a Comissão Europeia resolveu agrupar todos.
A cana-de-açúcar tem dois
grandes desafios quando falamos
em sustentabilidade de forma geral. No campo interno, trazer de
volta o equilíbrio econômico do
setor para promover os investimentos necessários na oferta de
etanol e eletricidade. No campo
externo, será fundamental separar a cana das matérias-primas
que são fontes diretas de alimentos. Para isso, os argumentos de
sustentabilidade serão fundamentais porque, sem a menor dúvida, a cana se diferencia de todas
as lavouras produtoras de etanol
de primeira geração e biodiesel.
Um terceiro desafio, mas que
se concretizará num futuro mais
distante, é a inserção da cana-de-açúcar no mercado de etanol de
segunda geração e de tecnologias
avançadas de produção de energia a partir de resíduos e biomassa. Nesse mercado, a grande maioria das matérias-primas
existentes não terá problemas
de sustentabilidade ambiental
e social como hoje possuem as
matérias-primas de base agrícola. No entanto, a cana sairá na
frente por ser mais competitiva
e possuir cadeias de produção
já otimizadas para produção de
etanol de primeira geração e bioeletricidade.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 15
Artigo
Políticas Públicas – como garantir o
abastecimento e o mercado
Adriano Pires - diretor do CBIE (Centro Brasileiro de
Infraestrutura)
O
setor de etanol tem sido
criticado por autoridades do governo por não
ser capaz de suprir a demanda nacional do produto, por
conta do baixo crescimento da produtividade. O governo não parece
se dar conta de que as mazelas do
setor derivam da política de stop-and-go que atrapalha a previsibilidade, inibindo os investimentos
e o crescimento da produtividade.
O que falta é um marco regulatório estável que defina uma política
de longo prazo.
No entanto, a confusão regulatória e de planejamento não é específica do setor de biocombustíveis.
Todo o setor energético do país vem
sofrendo com o elevado nível de intervenção estatal e a instabilidade
regulatória. Bons exemplos são as
alterações recentes no setor elétrico, que diminuíram drasticamente
a receita das empresas, limitando
a sua lucratividade e a capacidade
de investimento. A realização de
leilões nos quais as diversas fontes
de energia competem entre si vem
deixando de fora fontes como a biomassa. Isso acaba prejudicando o
setor sucroalcooleiro pela complementaridade da produção de etanol
com o uso do bagaço de cana na geração de eletricidade, pois não conseguem competir com fontes que
possuem maiores benefícios, como
é o caso da energia eólica.
No caso da indústria do petróleo,
criou-se um vácuo regulatório derivado da dificuldade política em
resolver a questão dos royalties e os
anos de intervenção na Petrobras
levaram à ausência de leilões, redução na área de concessão em exploração, queda da produção e da eficiência operacional dos campos da
Petrobras. A política de preços dos
combustíveis que mantêm o preço
doméstico da gasolina e do diesel
abaixo do mercado internacional
tem prejudicado não só o setor de
petróleo, mas também o de etanol,
na medida em que o combustível
renovável perde competitividade
frente ao preço do combustível fóssil subsidiado. É inacreditável que os
combustíveis fósseis ficaram isentos
do pagamento da CIDE (Contribuição Sobre Intervenção no Domínio
Econômico). Sem competitividade,
reduziram-se os investimentos no
setor, o que contribuiu para resultar
na perda da liderança do Brasil na
produção mundial de etanol.
Segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e da
EIA (Estudo de Impacto Ambiental), no Brasil, nos últimos cinco
anos, a produção de etanol de cana
cresceu 29%, enquanto nos Estados Unidos, o salto foi de 185%
no etanol de milho. Em 2000, as
usinas americanas fabricavam
apenas 57% do volume das usinas
brasileiras, enquanto em 2011, a
produção de etanol norte americana representou mais que o dobro
da brasileira, 230%. Com o baixo
crescimento da produção, o Brasil foi ultrapassado pelos EUA na
liderança do setor. Qual a receita
do sucesso americano? Previsibilidade. Até 2022, o Governo Norte-Americano se comprometeu por
lei a comprar 136 bilhões de litros
de etanol, a um preço mínimo de
US$ 1,07, reajustados anualmente.
A falta de previsibilidade no setor
de biocombustíveis ainda tem consequências mais graves, uma vez
que é composto majoritariamente
por empresas privadas, diferentemente do setor elétrico e de petró-
16 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
leo que contam com empresas de
elevada participação governamental, capazes de garantir a sua sobrevivência mesmo com lucratividade
limitada. No caso do etanol, as empresas já lidam com questões aleatórias, inerentes à atividade, como
por exemplo, as variações climáticas, além das condições financeiras
e de financiamento de mercado.
O resultado do planejamento ener-gético confuso no Brasil é que hoje
falta tudo. Falta gasolina o que faz
com que as importações tenham
atingido nível recorde e gerado vultosos prejuízos para a Petrobras.
Há a ameaça de racionamento de
energia elétrica, o que, com a entrada em operação de usinas a fio
d’agua deve se tornar cada vez mais
comum em períodos de pluviosidade adversa. Falta etanol para que
a mistura na gasolina volte para
os 25%, diminuindo a emissão de
CO2 na atmosfera. Isso porque o
país cresceu apenas 1% em 2012.
Imagine se as previsões do Governo de um crescimento entre 3 e 4%
se confirmassem? Enquanto o planejamento do setor de energia estiver baseado na conjuntura política
e econômica, ao invés de em ações
claras e transparentes de longo
prazo, o setor de biocombustíveis
continuará convivendo com o movimento de stop-and-go.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 17
Artigo
Tendências do Setor Sucroenergético
O desafio da inovação diante da crise
João Sampaio - vice-presidente de
relações institucionais do Grupo Marfrig
F
alar da crise do setor sucroalcooleiro é repetir análises
e diagnósticos já exaustivamentes descritos.
Em inacreditáveis quatro anos
(tudo começou em 2009), fomos
do paraíso ao purgatório, que é
onde nos encontramos hoje.
Da curva ascendente de exportações de etanol, passamos a importadores em 2011.
Com o setor alavancado, em
meio a uma crise mundial que insiste em não nos deixar, o governo
demorou para mexer no preço da
gasolina e a rentabilidade e os investimentos sumiram.
Os investimentos em tecnologia minguaram e o etanol que não
chegou a se consolidar como uma
commodity, adoece do mesmo
mal das demais: falta de investi-
mento em inovação.
Nem mesmo investimentos
no desenvolvimento de eficiência dos motores flex tivemos,
acomodou-se no nível de relação
média de 70% de consumo de
etanol, quando comparado com
o uso da gasolina.
Mas o caminho será sempre a
inovação, mesmo nos momentos
mais profundos da crise.
Não da para dependermos da
presença do açúcar brasileiro no
mercado internacional ou do nosso mercado interno de etanol, regulado e engessado.
Só isto não será suficiente para
garantir rentabilidade e crescimento para toda a cadeia produtiva.
Não é fácil falar disto em meio
ao endividamento e estagnação,
mas é preciso e absolutamente ne-
18 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
cessário a ousadia.
Os desafios de agregação de tecnologia, conhecimento e valor terão que ser superados, este tem sido
o motor do progresso do setor.
Da indústria açucareira, do etanol, da co-geração de energia a partir do bagaço, agora temos a nossa
frente a revolução da alcoolquímica, os bioplásticos e a indústria cosmética; o etanol celulósico.
Além disto, para voltarmos aos
combustíveis , temos o diesel de
etanol e a querosene de aviação
que precisam avançar.
Este é o país do agronegócio,
com sede de combustíveis alternativos, visando redução nos seus
custos de produção.
Iniciativas e experiências bem-sucedidas de produção e uso de
novas tecnologias no setor sucroalcooleiro é o único caminho
iluminado que nos resta para ultrapassarmos a crise e nos apresentarmos a um novo mercado.
A oferta de produtos agregados,
principalmente estes vindos da
produção agrícola, sofre menos
resistência e barreiras comerciais
dos países importadores.
Nas commodities, ficamos todos
no mesmo nível e a briga se limita
a escala e preço.
O que acontece hoje com a indústria sucroalcooleira é tendência também em outras cadeias produtivas.
Quando analisamos a trajetória
e as potencialidades do agronegócio, vemos que o setor responde
bem ao chamamento tecnológico.
O nosso setor sucroalcooleiro talvez seja a maior representação de
que é nos momentos de crise que nos
unimos e buscamos, com trabalho,
dedicação e inovação um modelo
sustentável de produção, geração de
renda e qualidade de vida.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 19
Artigo Técnico
“A indústria do
biocombustível
para aviação
nasce diferente
do etanol e do
biodiesel, pois
será parte de um
esforço global”
Fernanda Clariano
Biocombustíveis na Aviação
O Brasil é visto mundialmente como “o país dos biocombustíveis” e o
biocombustível na aviação surge como uma nova e grande oportunidade
O
impacto dos combustíveis de aviação sobre o
meio ambiente ainda é
relativamente pequeno
quando comparado ao de muitos
outros setores, que responde por
cerca de 2% do total de emissões de
GEE (Gases de Efeito Estufa). Mas
estudos apontam que essa participação tende a crescer nos próximos
anos, proporcionalmente à intensificação da atividade aeronáutica,
razão pela qual a indústria assumiu
o compromisso de reduzir em 50%
suas emissões globais produzidas
até 2050 (tendo como referência o
que era produzido no ano de 2005).
Isso passa pela otimização do
consumo de combustível aeronáutico, que demanda investimentos na
melhoria do rendimento das aeronaves, do gerenciamento do tráfego
aéreo e de infraestrutura aeroportuária mundial, mas a meta só poderá
ser atingida com o uso de biocombustíveis que apresentem um ciclo
de carbono favorável, ou seja, que
no seu ciclo de vida emitam menos
GEE que o combustível tradicional produzido a partir do petróleo.
A indústria tem se mobilizado em
todo o mundo para desenvolver e
tornar economicamente viáveis estes combustíveis.
Nesse cenário, naturalmente os
olhos se voltam para o Brasil: a reputação de “país dos biocombustíveis”, conseguida de forma muito
merecida, é resultado de muito esforço em pesquisa e mobilização.
Para o país, esta indústria que agora
surge representa uma nova e grande oportunidade, com enormes
desafios: o volume de querosene de
aviação utilizado no mundo hoje é
de cerca de 250 bilhões de litros por
ano, dez vezes o volume de etanol
produzido no país, apenas para oferecer uma base de comparação.
“A indústria do biocombustível
para aviação nasce diferente do etanol e do biodiesel, pois será parte
de um esforço global, e o Brasil tem
condições de atender boa parte da
demanda por estes biocombustíveis.
A oportunidade já está colocada, o
Brasil tem as credenciais para assumir a liderança, mas para que isso
aconteça ainda falta uma definição
de prioridades e a inclusão do biocombustível para a aviação nas políticas públicas de biocombustíveis do
país”, afirmou o vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da
Embraer, Mauro Kerm.
A Embraer, que tem a sustentabilidade entre seus valores, tem participado do esforço e mobilização da
indústria global para buscar combustíveis que possam atender às exi-
20 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
gências ambientais e mercadológicas.
A empresa participa de pesquisas e parcerias com universidades,
órgãos de fomento e outras empresas brasileiras e estrangeiras
no campo dos biocombustíveis.
Apoia o desenvolvimento de biocombustíveis alternativos ao querosene de aviação, realizando testes em laboratórios, bancadas e em
voo, avaliando comparativamente
os combustíveis para jatos em relação a uma série de padrões.
Dentre as vantagens do biocombustível na aviação está a de garantir a segurança energética da aviação com combustíveis produzidos
a partir de fontes alternativas ao
petróleo, possivelmente contribuir
para a redução ou estabilização dos
preços do querosene de aviação,
que tem grande impacto no custo
operacional das empresas aéreas, e
reduzir as emissões de GEE. Além
da busca por fontes de energia alternativas ao petróleo que sejam viáveis econômica e ambientalmente,
que é condição fundamental para
um transporte aéreo sustentável.
Inovações e desafios - a Embraer
incentiva ações que buscam soluções de combustível “drop in”, isto
é, que tenham desempenho comparativamente igual ou superior ao do
querosene de aviação nas aeronaves
atuais, e que atendem às especificações internacionais vigentes de querosene de aviação (Jet A/A-1).
Sob o ponto de vista técnico, o
combustível ser “drop in” e apresentar um potencial de redução da emissão dos gases que causam o efeito
estufa, são condições fundamentais
para garantir a viabilidade técnica do
biocombustível na aviação.
“A Embraer entende que, atendendo a essas premissas, há uma
grande gama de matérias primas e
processos de conversão que potencialmente podem ser utilizados para
a produção de bioquerosene. Num
país com dimensões continentais
e grande diversidade de biomassas
é muito provável que as soluções
sejam regionalizadas, ou seja, não
haverá uma única biomassa a ser
utilizada no Brasil. A condição é que
essa matéria-prima possa ser produzida de modo sustentável e que este
bioquerosene seja economicamente
competitivo com o querosene de
aviação tradicional. Também é fundamental que esta matéria-prima
atenda indicadores socioambientais, tais como não competir com
alimentos e nem ameaçar a biodiversidade, entre outros”, diz Kerm.
Hoje, há uma série de pesquisas
e testes com biocombustíveis alternativos ao querosene tradicional
de aviação em andamento em todo
o mundo. Na Europa, nos EUA e
no México, por exemplo, já estão
sendo realizados voos comerciais,
ainda em pequena escala.
Os primeiros testes em voo com
bioquerosene na Embraer foram
realizados em agosto de 2011, em
uma cooperação entre Embraer e
GE (General Eletrics). Foi realizada uma série de voos com um jato
Embraer 170, com o objetivo de avaliar as características operacionais
da aeronave e do motor utilizando
um bioquerosene produzido por
meio do processo HEFA (Ésteres de
Ácidos Graxos Hidro-processados),
derivado da camelina. Durante os
testes um motor do avião foi alimentado com uma mistura de que-
rosene de aviação convencional,
produzido a partir do petróleo (Jet-A1) e HEFA, na proporção de 1:1
em volume. Este combustível foi o
primeiro querosene renovável aprovado para uso na aviação comercial.
Sua aprovação, por organizações e
autoridades competentes dos EUA
e Europa, ocorreu em julho de 2011.
Em 2012 foi realizado um voo
de demonstração, ida e volta entre
Campinas e Rio de Janeiro, durante
a Rio + 20, fruto de uma parceria da
Embraer com a Amyris, fornecedora do combustível, a Azul Linha Aérea e a GE, fabricante dos motores
do avião. O combustível produzido
pela Amyris a partir da fermentação
da cana-de-açúcar brasileira foi obtido com microorganismos modificados que convertem o açúcar em
hidrocarbonetos, que são convertidos em um bioquerosene. Este bioquerosene abasteceu o jato Embraer
195 da Azul, equipado com motores
CF34-10E da GE, numa mistura
com querosene de aviação (Jet A-1),
numa proporção de 1:1 em volume.
Iniciativas semelhantes estão
sendo conduzidas em outros países, com outros tipos de biomassa
e outras rotas de conversão.
A Embraer também participou
do consórcio europeu Swafea, que
avaliou os impactos técnicos, econômicos, ambientais e sociais de
potenciais alternativas para produção de biocombustíveis aeronáuticos. Está também participando do
consórcio europeu ITAKA que irá
avaliar uma série de aspectos relacionados ao uso de bioquerosene
em voos comerciais, com o envolvimento de dois operadores de aviões
da Embraer na Europa. Participa
ainda do projeto SABB (Sustainable
Aviation Biofuels for Brazil), junto
com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Boeing e vários outros parceiros,
que tem como objetivo identificar
os principais desafios para se implementar uma indústria de bioquerosene sustentável no Brasil.
Quanto às perspectivas de adoção
dos biocombustíveis em larga escala, há uma série de fatores envolvidos para se chegar a essa resposta:
o custo do petróleo, o montante do
investimento em pesquisas de novas
tecnologias, o investimento necessário no aumento da escala de produção dos biocombustíveis e políticas
públicas que venham a ser adotadas
para estimular os novos biocombustíveis, tudo isto dentro de um contexto de crise econômica mundial.
“Dependendo da evolução destes
aspectos, os biocombustíveis poderão se tornar economicamente viáveis no médio prazo. A avaliação da
IATA (Associação Internacional de
Transportes Aéreos) é que aproximadamente 6% do total de querosene de aviação utilizado em 2020 seja
de bioquerosene”, afirma Kerm.
Certificação de sustentabilidade
de biocombustíveis na aviação - A
certificação de sustentabilidade é
o processo por meio do qual é demonstrado que o biocombustível
atende a critérios definidos de sustentabilidade econômica, ambiental
e social. Devem ser avaliados, entre
outros, aspectos como mudança do
uso da terra, a conservação da biodiversidade, o cumprimento com a
legislação ambiental e trabalhista, e
ciclo de carbono do combustível.
Não há uma harmonização sobre
os princípios, critérios e processos
para se obter a certificação de sustentabilidade de biocombustíveis
na aviação, e este é um aspecto importante e de difícil solução, principalmente quando consideramos
que a aviação é uma indústria global. A ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil), órgão
da ONU (Organização das Nações
Unidas), também tem trabalhado
no sentido de superar este desafio.
Atualmente existem algumas
instituições trabalhando com certificação de sustentabilidade de biocombustível de aviação, sendo que a
que tem tido maior reconhecimento
por parte das linhas aéreas é a organização suíça RSB (Roundtable of
Sustainable Biofuel).
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 21
Artigo Técnico
Ronaldo Resende
Sistema carretel
enrolador
irrigando cana.
Irrigação de Cana-de-açúcar
Por: Ronaldo Souza Resende
Pesquisador em Irrigação e Drenagem
- Embrapa Tabuleiros Costeiros
I
NTRODUÇÃO
A irrigação de cana-de-açúcar é efetivada principalmente sob duas modalidades: 1.
Irrigação plena, em que se busca
atender de forma contínua toda
ou parte da demanda hídrica da
cultura não atendida pela precipitação e 2. Irrigação suplementar,
onde a aplicação é efetuada em
épocas específicas, visando mitigar o efeito do déficit na fase inicial
de desenvolvimento da cultura.
O censo agropecuário de 2006
(IBGE, 2007) registra que de 192,8
mil estabelecimentos pesquisados
que colheram cana apenas 10,8
mil utilizaram irrigação (5,6%).
O Censo relacionou esse número de estabelecimentos a uma área
de 1,7 milhão de hectares, o que
correspondeu a 30,6% da área total
colhida de 5,6 milhões de hectares;
é de supor que os dados de área
apontados não correspondem à irrigação plena da cana. A principal
dificuldade de se obter estatísticas
mais precisas advém do fato que a
maior parte da irrigação da cana
se constitui em irrigação suplementar. Embora não se disponha
de estatística com essa segmentação, uma estimativa aponta para
algo em torno de 5 a 8% da área
plantada com irrigação plena.
Embora a área de cana atendida
com irrigação plena tenha apresentado um crescimento considerável nos últimos dez anos, ainda
predomina na cultura a irrigação
suplementar, a qual consiste na
aplicação de dois a três lâminas
(geralmente em torno de 50-60
mm), em épocas de pós-germinação e 30 dias após o plantio – DAP
(e 60 DAP se aplicada a terceira
lâmina). Mesmo sendo prática
corrente, o fato é que para muitas
condições essa manejo resulta em
uma elevada porção de água não
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aproveitada pela cultura, uma vez
que tal lâmina excede significativamente a capacidade de armazenamento do solo na profundidade
considerada para a fase de cultivo
em que é feita a aplicação.
A demanda hídrica anual para
a cana-de-açúcar é estimada pela
FAO (Organização da Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura) como sendo de 1500 a
2500 mm; idealmente essa lâmina
deveria ser uniformemente distribuída ao longo do seu ciclo de
cultivo (DOORENBOS e KASSAN, 1979). As áreas tradicionais
de produção de cana-de-açúcar
apresentam um regime hídrico
anual que atende essa faixa de demanda, porém, de modo geral, tal
regime é concentrado nos meses
de novembro a março na região
sudeste e de março a agosto, na
região nordeste do país, sendo então necessário aporte hídrico via
irrigação com propósito de se obter incrementos de produtividade.
MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO
Nas usinas de cana-de açúcar os
métodos de irrigação mais utilizados são o de irrigação por aspersão
e irrigação localizada. Com relação
aos primeiros, os sistemas autopropelidos (carretel-enrolador, pivô-central e lateral móvel) se destacam e são utilizados tanto para
irrigação plena como suplementar,
sendo essa última predominante
para esses sistemas. Além da aplicação de água, eles são também utilizados na distribuição de vinhaça
em campo. O método de irrigação
por superfície é menos utilizado,
ficando restrito principalmente
nas áreas de várzea (controle de
lençol freático).
Na irrigação localizada predomina o uso da irrigação por gotejamento subsuperficial, sendo
esse, pela característica de elevada
frequência de aplicação inerente
ao método, mais utilizados para
irrigação plena. Para esse sistema
a intrusão radicular constitui um
dos principais aspectos de manejo
a ser considerado visando assegurar a vida útil prevista em projeto
(Camp et al., 2000). Na cultura da
cana-de-açúcar o problema é ampliado por causa do sistema radicular do tipo fasciculado, aliado às
características de plantio em linha
contínua. As principais medidas
adotadas pela indústria de equipamentos para contenção da intrusão
radicular baseiam-se em princípios
químicos, através da incorporação
de herbicidas no material plástico
do gotejador ou da aplicação de um
herbicida ministrado diretamente
na água de irrigação, e de princípios físicos, ligados à arquitetura
interna ou configuração do orifício de saída do gotejador. A barreira química à intrusão de raízes
em gotejamento subsuperficial se
constitui em importante ferramenta no sentido de minimizar o problema. O principal mecanismo de
imposição de barreira química é a
utilização de herbicida tendo a trifluralina como princípio ativo. Entretanto, além dos aspectos ligados
às questões ambientais (resíduo,
persistência no solo, contaminação
de lençol freático, inexistência de
produtos registrados), é mínima a
quantidade de estudos envolvendo
o manejo da aplicação desses produtos. Questões como dosagens em
diferentes tipos de solo, variabilidade do volume de solo tratado dentro da parcela de irrigação e suas
implicações no desenvolvimento
do sistema radicular da cultura,
custos do tratamento, etc, carecem
de estudos científicos.
Tem sido comum referir-se aos
sistemas de irrigação localizada
como mais eficientes na aplicação
de água. Cada um dos sistemas
apresentam vantagens e desvantagens para utilização na irrigação
da cana-de-açúcar. De modo geral,
seria prudente afirmar que não há
um sistema mais adequado; o fator
chave para alcançar a maior eficiência de aplicação e de uso de água
pela cultura é o correto manejo da
irrigação. De modo geral, embora
o setor produtivo venha realizando
elevados investimentos na aquisição de equipamentos de irrigação,
não tem sido observado o mesmo
nível de esforço na utilização de
técnicas mais racionais de manejo.
Vale lembrar que cada milímetro
de lâmina de irrigação economizado com um manejo de irrigação
mais racional corresponde a 10 mil
litros de água por hectare. Além
do desperdício do recurso água e
energia elétrica, as consequências
de um manejo deficiente significam perda de fertilizante, com
consequente elevação do potencial
de contaminação de lençol freático
e, em última instância, redução de
produção. Um exemplo pode ser visualizado na Figura 1 que representa um perfil de umedecimento do
solo em irrigação localizada subsuperficial de cana (RESENDE et
al., 2012). Como para essa situação
o sistema radicular da cana estava
localizado a uma profundidade
máxima de 0,25 m (Figura 2a), fica
evidente que o bulbo úmido formado pela irrigação e boa parte do
fertilizante, que era todo aplicado
via irrigação, se encontrava abaixo
do sistema radicular, resultando
em provável baixa eficiência de
uso de água. Pode-se também observar nessa Figura que ocorreu a
formação de uma zona de acumulação de umidade na profundidade
abaixo de 0,60 m. Assim, no caso
de situações onde ocorrem restrições ao desenvolvimento radicular
em profundidade, faz-se necessário
rever estratégias de manejo e/ou
sistemas no sentido de se adequar a
uma situação ambiental específica.
Estação de
bombeamento
e cabeçal de
controle de
sistema de
irrigação por
gotejamento
subsuperficial,
na Usina
Coruripe-AL.
Figura1: Perfil de
umedecimento do
solo (umidade em
% v/v) em irrigação
por gotejamento
subsuperficial.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 23
Artigo Técnico
Uma questão que impacta fortemente o manejo da irrigação é
a existência de camadas de impedimento no solo. Tais camadas,
tendo como origem fatores quími-
Figura 2. Perfil
de distribuição
de raízes (a) e
de resistência à
penetração - RP,
em MPa (b).
cos ou físicos, restringe o desenvolvimento em profundidade das
raízes. Camadas de impedimento
de caráter físico podem ser desenvolvidas a partir da ação antrópica
(cultivo mecânico do solo, p. ex.)
ou serem de origem pedogenética.
Uma característica marcante dos
solos dos tabuleiros costeiros do
Nordeste brasileiro, principal área
de produção de cana-de-açúcar
da região Nordeste, é a existência
de “camadas coesas”, formada na
gênese do solo e localizada a uma
profundidade que varia 0,25 a 0,40
m. A Figura 2 (a) mostra o perfil
de desenvolvimento radicular da
variedade RB-927515, plantada na
região de Coruripe – AL e a Figura
2 (b) apresenta um perfil característico de resistência à penetração
– RP em solos com presença de
“camada coesa”. Embora a umidade reduza bastante a expressão
dessa camada de impedimento,
pode não ser suficiente para permitir o completo desenvolvimen-
to radicular da cana. Observa-se
que a profundidade do desenvolvimento da raiz coincide com a
zona do perfil com RP (Figura 2b)
abaixo de 2 MPa, sendo que esse
valor de RP é apontado na literatura como o limite para o desenvolvimento radicular da maioria
das culturas.
RESPOSTA DA CULTURA À
IRRIGAÇÃO
Em função da sua característica de metabolismo (C4), a cana-de-açúcar é uma gramínea de
elevada eficiência fotossintética e
de uso de água. De modo geral, a
cultura apresenta uma elevada resposta às condições de umidade do
solo, desde que também satisfeitas
a sua demanda por outras variáveis ambientais, notadamente a luminosidade. Levando-se em conta
a não uniformidade do regime
anual de precipitação a resposta
da cana-de-açúcar à irrigação se
torna dependente da magnitude e
época de ocorrência do déficit hídrico e das condições climáticas
prevalecentes nesse período. Nas
regiões tradicionais de produção
do Sul e Sudeste do país a época de
ocorrência de déficit hídrico está
associada ao momento de menor
demanda evapotranspirométrica e
mais baixa temperatura; de modo
contrário, na região Nordeste há
uma coincidência entre o momento de ocorrência do déficit hídrico
com o de maior demanda evaporativa da atmosfera, potencializando
o efeito do déficit hídrico, mas
ao mesmo tempo, aumentando
o potencial de resposta da planta
à irrigação. Com base nas normais climatológicas do período
1961-1990, fornecidas pelo Inmet,
pode-se visualizar na Figura 3 o
período de ocorrência bem com a
magnitude do déficit hídrico para
diferentes regiões de produção de
cana, tanto tradicionais como de
expansão. Como exemplo, para a
safra 2007/2008 o déficit hídrico
de verão (aqui considerando apenas como a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração de
cultivo – ETo) foi de 572 mm para
a região de Coruripe e de 747 mm,
para a região de Teresina.
Figura 3. Balanço hídrico climatológico para diferentes áreas de
produção de cana-de-açúcar (Fonte: www.inmet.gov.br)
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Sistema lateral móvel irrigando cana recém-plantada
Um componente importante
de manejo da irrigação da cana
é o conhecimento dos coeficientes utilizados para estabelecer
a Evapotranspiração do cultivo
- ETc em diferentes estágios do
seu desenvolvimento, a partir da
estimativa da Evapotranspiração
de referência – ETo. Esse coeficiente, denominado Coeficiente
de cultivo – Kc, é comumente
obtido a partir do Boletim 56, publicado pela FAO (ALLEN et al.,
1998), embora diversos trabalhos
os venham determinando para as
condições específicas das áreas de
produção do Brasil. Os valores recomendados no Boletim da FAO
são: 0,40 para a fase de desenvolvimento inicial (Fase 1), 1,25 para
a fase de formação da produção
(Fase 3) e 0,75 para a fase de maturação (Fase 4). Para a fase de
crescimento da cultura (Fase 2), o
Kc assume valores intermediários
entre as fases 1 e 3.
Além de questões de natureza
genética, pode-se dizer que enquanto na região Sudeste o nível
de resposta da cana à irrigação
está fortemente relacionado ao
efeito da temperatura e energia
radiante de inverno, na região
Nordeste a resposta está mais relacionado à magnitude do déficit
hídrico de verão.
Na Figura 4, é apresentada a
curva de produção de cana da
variedade RB-927515, conduzida
nas safras 2006/2007 à 2008/2009,
em função de diferentes níveis
de irrigação localizada subsuperficial, tendo sido esses níveis
calculados como percentuais de
reposição de 0% (sem irrigação),
45%, 90%, 135% e 180% da evapotranspiração de referência – ETo.
Foi observado que o manejo da irrigação com base em 135% da ETo
foi o que proporcionou os maiores
níveis de produtividade ao longo
de três ciclos de cultivo. O incremento médio de produtividade
em relação ao plantio conduzido
sem irrigação foi de aproximadamente 14%. Um incremento de 16
e 11% em relação à cana não irrigada foi obtido com irrigação de
cana por Carretero (1982) para
os ciclos de cana planta e primeira soca, respectivamente. Já na
região de Botucatu, Dalri (2002)
obteve incremento de produção
de colmos de 45%, em relação à
cana não irrigada.
O incremento de produtividade
física da cana (toneladas de cana
por hectare – TCH) em função da
irrigação tem sido amplamente observada. Já o efeito nas características qualitativas do caldo não tem
sido observado com a mesma frequência. De modo geral, o uso da
irrigação não tem redundado em
alterações estatisticamente significativas de variáveis qualitativas do
caldo, como POL do caldo, °Brix,
ATR, entre outros. Os ganhos de
produtividade de açúcar ou álcool
têm sido mais diretamente relacionados aos ganhos em TCH que a
essas variáveis.
Figura 4. Curva de produção de cana variedade RB-867515, para
três ciclos de plantio, sob diferentes níveis de irrigação.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 25
Artigo Técnico
Na Figura 5, é apresentada a
resposta da cana à fertirrigação
com doses variadas de nitrogênio e potássio visando estabelecer,
para diferentes níveis de irrigação,
a combinação desses fatores que
maximizam a produção de cana no
estado de Alagoas. Trabalhos com
propósito idêntico estão sendo conduzidos no Piauí (ANDRADE JUNIOR et al., 2012) e Pernambuco.
Figura 5.
Resposta da
fertirrigação
combinada
com nitrogênio
e potássio na
variedade
RB-927515,
no estado de
Alagoas.
custo da irrigação (R$/mm) e custo de produção da cana (R$/ha). A
partir do estabelecimento da função
de produção para o fator água foi
estabelecido para as condições da
região de Coruripe - AL a lâmina
de irrigação que maximiza a renda
líquida para diferentes níveis de preço da cana e do custo operacional da
irrigação (aqui não incluído o custo
da água, pois não há pagamento de
outorga); para esse caso, a renda que
maximizou a produção de colmos
foi 358 mm (Tabela 1). Observa-se
que quanto menor o valor dos itens
de custo e maior o valor dos itens
de receita, mais próximos ficam os
valores da lâmina que maximiza a
produção e da lâmina que maximiza a renda líquida.
Tabela 1. Lâmina que maximiza a renda líquida em função
do preço da água (Pw - R$/mm) e da cana (Py - R$/Ton.)
Uma questão relacionada à irrigação de cana-de-açúcar se refere
à viabilidade econômica dessa técnica, principalmente em regiões de
produção do país de maiores latitudes, em função das características
de clima acima mencionadas. Para
as condições da região Norte do Estado de São Paulo, Mattiole (1998)
demonstrou a viabilidade econômica do uso da irrigação, para a cana
colhida nos meses de maio a julho,
quando considerando os benéficos
diretos e indiretos proporcionados
do seu uso. Na região Nordeste,
Santos (2005) concluiu que existe
viabilidade econômica, também
considerando os benefícios diretos
e indiretos, para a irrigação suplementar de cana plantada nos mês
de janeiro e inviabilidade para a
cana plantada em março.
Além do nível de resposta da
planta em função das condições ambientais prevalecentes, a viabilidade
econômica da irrigação, em termos
de benefícios diretos, é determinada
principalmente pelos fatores preço
de venda da cana (ou açúcar ou álcool, em R$/unidade do produto),
CONCLUSÃO
Os benefícios diretos e indiretos do uso da irrigação em cana-de-açúcar, em base racional, certamente resultaram na viabilidade dessa
técnica tanto para as áreas de expansão como para grande parte das
áreas tradicionais. Embora a prática da irrigação da cana de açúcar venha recebendo críticas em função de se estar utilizando recurso hídrico
para produção de biocombustível (dicotomia food x fuel), vale lembrar
que a cultura é, historicamente, 50-55% destinada à produção de açúcar e, portanto, significativamente alimentar. O esforço de P&D deve
focar métodos e principalmente estratégias de manejo da irrigação, além
dos estudos de demanda hídrica para diferentes ambientes de produção,
visando minimizar a quantidade do recurso (água) por quantidade do
produto (cana, açúcar, álcool). Adicionalmente, tem havido um esforço
de investimento do setor canavieiro em estrutura de reservação hídrica própria, reduzindo o impacto sobre os corpos hídricos. Tais esforços
possibilitarão estabelecer, de forma mais abrangente, a viabilidade técnica e econômica da irrigação na cana-de-açúcar.
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26 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 27
Rede experimental do IAC
(Instituto Agronômico)
Capa
Com atuação em diversas áreas da cultura da cana-de-açúcar, Instituto é
referência em desenvolvimento de tecnologias e produtividade
Marcos Landell,
diretor do
Centro de Cana
e pesquisador do
IAC (Instituto
Agronômico),
de Campinas,
da Secretaria
de Agricultura e
Abastecimento
do Estado de
São Paulo.
Carla Rodrigues
O
Programa de desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar do IAC (Instituto
Agronômico), de Campinas, é o
projeto de melhoramento de cana-de-açúcar em atividade mais
antigo do país, desde 1933, e pode
ser considerado um dos mais antigos do mundo.
As primeiras variedades foram
lançadas a partir de 1959 e foram
importantes para viabilizar a implantação do Proalcool, pois foi
neste momento que a cana-de-açúcar saiu de solos antes ocupados pela cultura do café e migrou
para áreas consideradas naquele
momento como marginais, ou
seja, áreas com solos de baixa fertilidade e com carências de informações. Por sorte, as variedades
do IAC estavam, na ocasião, dentre as que mais se adaptaram nestes solos.
Foi a partir de 1994 que o Programa Cana IAC, se organizou
com um pouco mais de recursos e
parceiros, ampliando sua rede experimental. Foi criado o projeto
Procana IAC, que procurava or-
ganizar esforço comum em forma
de rede, multiplicando sobremaneira a capacidade de observação
experimental em diferentes solos
e regiões, gerando informações
sobre o desempenho de inúmeros
clones e variedades nesta multiplicidade ambiental.
Em 1995 já somavam 16 empresas na rede Procana, que foi se
aprimorando e originando uma
rede de experimentação de quase 500 ensaios no Centro Sul do
Brasil, tornando uma das maiores
redes de experimentação para desenvolvimento varietal e estudos
de estabilidade no Brasil.
De acordo com o diretor do
Centro de Cana e pesquisador do
IAC, de Campinas, da Secretaria
de Agricultura e Abastecimento
do Estado de São Paulo, Marcos
Landell, esta rede gerou diversas
informações e modelos, inclusive na parte de manejo varietal,
como a Matriz de Ambientes,
que é uma das tecnologias geradas nos últimos anos. “A partir
desta rede conseguimos identificar e organizar as informações
dentro de uma matriz composta por dois fatores, ambiente de
produção e época de colheita,
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com três níveis cada um. Assim
organizamos o fator “ambiente”
em ambientes superiores, médios
e inferiores, e o fator “época de
colheita”, em colheita de início,
meio e final de safra, que eu chamo de outono, inverno e primavera”, disse Landell.
Esta interação entre três níveis
de solos ou de ambientes de produção e três épocas de colheita,
gerou uma matriz de nove “caselas”, causando um impacto na
produtividade da cana, na variedade, e com isso o IAC passou a
interpretar toda a produção de
informações desta grande rede
para cada um dos materiais em
desenvolvimento.
“Nós passamos a gerar uma resenha dentro dessa matriz, como se
fosse uma bula para utilização de
um medicamento. Isso foi considerado uma inovação, uma das principais inovações tecnológicas na
área de variedades porque não é só
a variedade que está sendo lançada
e sim a variedade com a maneira
como ela deve ser utilizada. Isso
tem produzido resultados muito
importantes em empresas que aplicam este método de uma maneira
disciplinada”, explicou o diretor.
fotos: Rafael Mermejo
Durante entrevista exclusiva à
Canavieiros, Landell falou também sobre os mais novos projetos do Centro Cana IAC, como o
Bioen, que a Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo) criou para apoiar a área
de bionenergia, promovendo a
pesquisa em várias universidades,
instituições, grupos e também na
área industrial.
O projeto Bioen foi responsável pela aquisição de importantes
equipamentos dos laboratórios do
Centro, pelo núcleo de produção
de mudas, a área de infraestrtura,
veículos, caminhão-balança, etc.
Segundo Landell, este projeto chegou num momento muito importante para que o IAC se destacasse
no setor. Em contrapartida, o Instituto se propôs a tentar desenvolver uma cana com perfil mais
bioenergético, fazendo com que
promovesse uma série de esforços
importantes nos últimos anos.
“Primeiro estudamos a nossa
população para ver se havia variabilidade entre os genótipos do
nosso banco de germoplasma no
que se refere a teor de fibra e perfil
bioenergético, ou seja, produtividade de biomassa - e chegamos à
conclusão que a nossa coleção era
muito restrita. Então começamos a
fazer várias ações para tentar montar uma coleção mais completa,
importando genótipos de coleções
americanas e australianas, introduzindo no quarentenário IAC. Desta
forma, demos início ao projeto de
biomassa”, completou.
As canas que fazem parte deste projeto não são teoricamente
uma cana-de-açúcar porque contém pouco açúcar, mas possuem
muita fibra e biomassa, com produtividades que chegam a 500 toneladas por hectare. Este material
não será moído pelas indústrias
que se têm hoje e sim, pela indústria do futuro. “Quando tivermos
outra indústria anexa que consi-
ga processar esta biomassa e, que
a partir do processamento gere
novos caminhos como o da própria bioenergia/cogeração ou da
produção de bactérias que atuem
sobre a produção de etanol de segunda geração, aí sim teremos a
indústria do futuro, mas se o melhoramento não começar agora,
quando esta indústria chegar, não
teremos esta matéria-prima, fazendo com que ela aproveite o que
temos hoje, que é pouco eficiente
em nossa concepção”, explicou
Landell.
Sala de cultura
em vitro
de Cana já era sentida há muitos anos. Porém, efetivamente, o
Laboratório de Biotecnologia do
Centro de Cana do IAC, surgiu em
2005 após a contratação de novos
pesquisadores na área de melhoramento genético da cana-de-açúcar, dos quais duas, Silvana Creste
e Luciana Rossini, apresentavam
formação em melhoramento genético com ênfase em Biotecnologia.
As pesquisas na área de biotecnologia são desenvolvidas de
forma integrada ao Programa de
Melhoramento de Cana-de-açúcar
do IAC, visando contribuir para o
desenvolvimento de cultivares de
cana-de-açúcar que atendam as
demandas do setor.
O trabalho consiste em desenvolver Projetos de Pesquisa Científica com fomento de agências de
Luciana
Rossini,
pesquisadora
do IAC, de
Campinas, da
Secretaria de
Agricultura e
Abastecimento
do Estado de
São Paulo .
Biotecnologia
Para saber um pouco mais sobre
as novidades em inovação que o
Instituto apresenta, a Canavieiros
conversou com os pesquisadores
responsáveis por cada área de atuação dentro do instituto.
A pesquisadora do IAC, de
Campinas, da Secretaria de agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo que atua na área
de biotecnologia, Luciana Rossini,
falou sobre os trabalhos que vêm
sendo realizados por ela e pelos
pesquisadores desta área, Silvana Creste e Luciana Souza, para
contribuir com o estudo de novas
tecnologias disponíveis para favorecer o setor sucroenergético
Para entender, a biotecnologia
é a utilização de organismos vivos para a produção de produtos
ou de determinadas substâncias
de interesse para o homem. Por
exemplo, na antiguidade o homem
já aplicava a biotecnologia através
da utilização de microrganismos
para produção do pão e também
do vinho. Hoje, a biotecnologia
moderna utiliza-se de ferramentas
moleculares para o benefício do
homem na produção de hormônios e vacinas, e também em termos de agricultura no desenvolvimento de plantas mais resistentes
aos estresses bióticos e abióticos
através da transgenia.
A necessidade de ter um laboratório de biotecnologia no Centro
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 29
“O Laboratório
de Biotecnologia,
surgiu em
2005 após a
contratação
de novos
pesquisadores
na área de
melhoramento
genético da
cana-deaçúcar...”
O laboratório
presta serviço
que trazem
benefícios tanto
para o produtor
quanto para a
própria canade-açúcar.
pesquisa Fapesp e CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) focados
em temas importantes e de impacto para a cultura da cana-de-açúcar, muitos dos quais em parcerias com as Universidades. Em
paralelo com o desenvolvimento
da pesquisa científica, o trabalho
desenvolvido pelo IAC dentro
da área da biotecnologia abrange
também a prestação de serviço ao
setor. Atualmente, o laboratório
presta serviço de diagnóstico molecular do raquitismo da soqueira,
e identificação de cultivares pela
análise comparativa do perfil molecular (fingerprinting varietal).
Há também a produção de mudas
de cana-de-açúcar por cultura de
tecidos coordenados pela pesquisadora do IAC, Silvana Creste.
De acordo com a pesquisadora
Luciana Rossini, os benefícios desta ferramenta de tecnologia podem
ser voltados tanto para o produtor
quanto para a própria cana-de-açúcar. “Estes benefícios podem
ser associados ao aumento dos
lucros, ganhos em produtividade,
já que cultivares mais resistentes a
pragas e doenças, por exemplo, diminuem os custos com defensivos,
fungicidas etc. Além disso, o diagnóstico molecular para detecção
de patógenos tem colaborado para
o plantio de mudas sadias e dimi-
nuição da disseminação de doenças importantes nos canaviais, da
mesma forma, que a produção in
vitro de cana-de-açúcar (micropropagação)”, explicou Rossini.
A biotecnologia também pode
ser parceira da sustentabilidade,
um exemplo disso são os biocombustíveis, principalmente, o etanol
combustível produzido a partir da
cana-de-açúcar, a qual representa
uma fonte de energia renovável e de
alta sustentabilidade. Outro exemplo é o desenvolvimento de plantas tolerantes a seca, plantas que
demandam pouca água para o seu
desenvolvimento (uso eficiente de
água), plantas que apresentam resistência a pragas e doenças e que,
portanto, reduzem ou eliminam a
aplicação de defensivos agrícolas,
diminuindo o impacto ambiental.
A pesquisadora também explica
que o Brasil tem se destacado em
termos de biotecnologia em diversas áreas de pesquisa, tais como
a área médica (desenvolvimento
de pesquisas com células tronco),
produção de fármacos, na área de
biocombustíveis entre outros. Já
é considerada a ciência do futuro
e vem ganhando cada vez mais
importância dentro do país. Em
termos do desenvolvimento de
pesquisas na área de bioenergia, as
Instituições de Pesquisa e Ensino
do Estado de São Paulo têm contado com apoio financeiro da Fapesp, através do Programa Bioen
(Bioenergy Program) como também do INCT (Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia).
O investimento na formação e
capacitação de recursos humanos (estudantes de graduação,
pós-graduação e pesquisadores)
também tem aumentado em Centros de Pesquisa de excelência no
exterior através de Programas de
Capacitação financiados pela Fapesp, CNPq e recentemente pelo
Programa Ciência sem fronteiras. Mas, para Luciana, apesar
30 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
dos incentivos acima citados, o
desenvolvimento de pesquisas na
área de biotecnologia ainda tem
um custo elevado para os pesquisadores brasileiros. “A maioria dos reagentes e os chamados
‘kits de biologia molecular’, em
geral, são importados e repassados a valores bem elevados, o que
encarece a pesquisa e contribui
para um dos gargalos no desenvolvimento da Biotecnologia no
Brasil. A contratação de técnicos
para dar suporte ao andamento
das pesquisas nas instituições
públicas também é um ponto importante a ser considerado”, disse a pesquisadora.
Projeto Ambicana
O Centro de Cana do IAC tem
vários projetos dentro do Programa Procana, que é coordenado
pelo Dr. Marcos Landell. Um destes projetos é o Ambicana, coordenado pelo pesquisador do IAC,
Hélio do Prado, que tem como
meta qualificar os ambientes de
produção de cana-de-açúcar das
empresas parceiras.
Os objetivos do Ambicana são:
socializar os conhecimentos em
classificação dos solos e enquadramento destes solos nos ambientes
de produção para técnicos das empresas parceiras, permitindo a identificação do potencial produtivo dos
mesmos para estabelecimento de
manejos mais específicos. Este projeto é fundamental, por exemplo,
para otimizar o manejo varietal.
Para isso, a equipe do projeto
Ambicana, solicita a empresa in-
formações de onde variam as produtividades, onde variam as cores
de solos e onde variam o teor de
argila. Com esta informação, os
pesquisadores fazem o treinamento intensivo em classificação dos
solos, coletando amostras de solo
na camada arável e principalmente abaixo dela porque mostra as
condições químicas naturais dos
solos. Tal treinamento ocorre nos
locais indicados pela empresa, com
acompanhamento mensal até que
todos técnicos se sintam seguros
em fazer este trabalho.
O ambiente de produção original
mede o potencial de produtividade
na média de cinco cortes considerando o manejo básico correto em
relação ao preparo do solo, controle de ervas daninhas, calagem,
adubação, épocas de plantio e de
colheita, além das condições cli-
máticas tradicionais da região. Se
for feito o manejo avançado com
a aplicação de vinhaça, torta de
filtro, adubação verde e irrigação,
certamente o ambiente de produção original deslocará para muito
mais favorável.
De acordo com Prado, cada vez
mais os empresários dependem do
conhecimento do clima e dos solos para ter sucesso em suas atividades econômicas. A importância
deste conhecimento é de grande
relevância, desde a compra e arrendamento de terras, do preparo
e conservação do solo, da época do
Hélio do Prado,
pesquisador
do IAC e
coordenador
do projeto
Ambicana.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 31
Capa
plantio e colheita até a alocação de
variedades em função dos ambientes de produção.
“O que torna estes conhecimentos tão importantes é justamente
saber antecipadamente quais são
as decisões da empresa. Caso esse
estudo não seja feito antes, corre-se o risco de comprar ou arrendar terras que não têm o valor de
mercado, de manejar o solo incorretamente, prejudicando a produtividade prevista na tabela IAC de
ambientes de produção e de alocar
erradamente a variedade de cana-de-açúcar”, explicou o coordenador do projeto, Hélio do Prado.
Na região de Ribeirão Preto os
solos predominantes classificam-se como Latossolos Vermelhos
com enorme diferença da condição química natural na profundidade de 80-100 cm. O manejo
centenário de adubação e calagem
em quase nada influiu nessas condições químicas profundas de 80100 cm que é aquela que regula a
longevidade e a queda de produtividade a partir do terceiro corte.
“Se nessa profundidade, a fertilidade natural é alta, as raízes exploram maior volume de solo, aumentando o vigor da planta, caso
contrário, as raízes ficam mais superficiais com menor disponibilidade hídrica, ou seja, o ambiente
fica muito mais restritivo. Com
relação a mecanização, a pequena
declividade da paisagem da nossa
região favorece a mecanização”,
disse Prado.
Atualmente a principal pesquisa continua sendo a disponibilidade de água no solo com ênfase
aos aspectos práticos e não teóricos. Em relação a isso, sem nada
modificar na linha de pesquisa,
há uma década o projeto Ambicana do IAC foi reconhecido como
o primeiro do Brasil a considerar
que a disponibilidade hídrica do
solo é muito mais importante do
que a fertilidade do solo.
Câmara de Fotoperíodo
Os cruzamentos de cana
geralmente são realizados
no Nordeste, onde a condição de temperatura e umidade é adequada, mas não
são em todos os países que
essa condição existe, como
por exemplo, na Austrália.
Sendo assim, a Câmara de
Fotoperíodo começou a ser
implantada nestes países
com o objetivo de simular
a temperatura ideal para
que ocorra uma indução
Maximiliano Salles Scarpari, pesquisador do
artificial da cana. Apesar
IAC e responsável pela Câmara de Fotoperíodo
de o Brasil ser um país com
solo e clima favoráveis para
O trabalho realizado com uma
a indução natural da planta, na re- variedade até ela ser liberada cogião de Ribeirão Preto isto é depen- mercialmente é muito longo, podente das condições de temperatu- dendo durar até 12 anos. “Este
ra e umidade no período indutivo.
tipo de trabalho tem que ser muito
Para tanto foi construída uma bem feito hoje para que você tenha
câmara no Centro de Cana IAC a chance de selecionar um mate- pioneira no país e instalada em rial que vá atender as necessidades
2010 - para fazer sincronismo de dos produtores em 2025”, destacou
floração e também para fazer a in- o pesquisador do IAC, de Campitrogressão, ou seja, cruzar cultiva- nas, da Secretaria de Agricultura e
res que estão no mercado com ma- Abastecimento do Estado de São
teriais nobres a fim de aumentar Paulo e responsável pela Câmara
a variabilidade genética. Isso só é de Fotoperíodo, Maximiliano Salpossível através da Câmara de Fo- les Scarpari.
toperíodo que permite controlar a
Em todo caso, hoje o IAC já está
temperatura e o comprimento dia. olhando esta ferramenta de duas
32 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
foto: assessoria IAC
maneiras – o trabalho de melhoramento clássico, que é o trabalho
visando o açúcar e também com a
Câmara, é possível apontar para
trabalho que desenvolvam a cana
energia, que é uma cana com mais
fibra e maior potencial produtivo.
Para o pesquisador, o problema
do melhoramento brasileiro está
em ser fundamentado na seleção
de materiais ricos em açúcar. “Se
você tem uma característica que
ficou para trás em termos de fibra,
tolerância a doença e a seca, esse
gene não está mais disponível para
a seleção. Então você faz um cruzamento com um material nobre,
você tenta buscar esse gene novamente para colocá-lo na bandeja
da seleção, aumentando a base genética e sua variabilidade”.
Funcionamento
Na Câmara, o tratamento fotoperiódico mantém as condições ideais
de temperatura e luz para o florescimento da planta. A partir da flor,
serão feitos cruzamentos genéticos
que resultarão, ao final, em novas
variedades de cana-de-açúcar. Sistema computadorizado controla três
suportes que comportam 70 vasos
de plantas cada um. Automaticamente, esses apoios se movimentam
para a área externa do prédio onde
está instalada a Câmara para expor
as plantas ao sol. No instante em que
a temperatura passa do programado, os suportes são automaticamente recolhidos para a área interna,
onde a temperatura é ideal.
O ganho de tempo e eficiência
nas pesquisas requer investimentos constantes em infraestrutura e
recursos humanos. No Centro de
Cana do IAC, o próximo passo esperado pela equipe é a instalação
de uma sala de cruzamentos com
temperatura e umidade controladas para a obtenção de sementes
de qualidade. Novos projetos serão apresentados junto a agências
de fomento com essa finalidade.
Sistema MPB
(Mudas
Pré-Brotadas)
A necessidade do desenvolvimento de métodos de multiplicação
rápida, os quais viabilizem a adoção de novas tecnologias varietais
associados ao resgate da aplicação
dos protocolos de produção de
muda sadia, roguing, termoterapia
e diagnósticos de doenças motivaram a equipe do Programa Cana
IAC a desenvolverem o sistema
MPB (Mudas Pré-Brotadas). Neste
sentido, o método possibilita que
novas variedades possam ganhar
áreas expressivas num curto espaço de tempo. A taxa de multiplicação pode chegar a 1:7000 no período de 18 meses. A mudança básica
implícita no método é conceitual,
ou seja, não mais se utiliza o colmo semente diretamente no sulco
de plantio. De acordo com o pesquisador do IAC, de Campinas, da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo,
que atua na área de MPB, Mauro
Alexandre Xavier, neste sistema a
planta é produzida em ambiente
controlado num núcleo de produção. Posteriormente é realizado
o plantio a campo, o que implica
em uma série de desdobramentos
e facilitadores do manejo ao longo
do ciclo de produção da cana-de-açúcar. “Como exemplo, citamos
o melhor aproveitamento espacial
(13332 plantas/hectare) e manejo
de herbicidas em pré-plantio. O
método é simples podendo ser praticado tanto pelo grande, quanto
pequeno produtor, o que de certa
forma socializa o conhecimento indistintamente. O mesmo apresenta
potencial de redução direto de custos de implantação via maximização da utilização de mudas, o que
pode ser agregado em forma de receita ao produtor”, explicou Xavier
Para ilustrar este método, o pesquisador o subdividiu em diferentes estágios:
Estágio 1 – Retirada dos colmos, corte e preparo dos minirebolos
Essas etapas deverão ser realizadas a partir de viveiros básicos
com idade fisiológica de seis a dez
meses, o que permite maior aproveitamento das gemas ao longo do
colmo. Nesta etapa são utilizados
instrumentos de corte tipo “podão”, os quais deverão ser previamente desinfetados com produtos
a base de amônia quaternária. Re-
Pesquisador
do IAC, Mauro
Alexandre
Xavier atua na
área de MPB
Os instrumentos
de corte devem
ser previamente
desinfestados
com produtos a
base de amônia
quaternária
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 33
Capa
Estágio 2 – Tratamento das gemas
A duração
desse período
é variável,
sete a dez dias
O sistema de proteção dos minirebolos é realizado com produtos a base de Azoxistrobina ou
Pyraclostrobin a 0,1% na solução.
O método utilizado para o controle é a imersão em solução por
três minutos. Outros tratamentos
complementares como, por exemplo, promotores de enraizamento,
poderão ser utilizados com o objetivo de ampliar a sanidade e vigor
inicial das mudas.
Estágio 3 – Brotação
Esta etapa do processo ocorre em substrato e para tanto são
utilizadas caixas plásticas dimensionadas para conter 80 minirebolos. Os minirebolos deverão ser
distribuídos nas caixas cobertos
com substrato e mantidos à 32 ºC
em câmara ou casa de vegetação
climatizada. Nesta fase, o molhamento deve ser suficiente para garantir a manutenção do processo
de pré-brotação. A duração desse
período é variável, sete a dez dias,
sendo função da variedade e idade
fisiológica da gema a ser utilizada.
Estágio 4 – Individualização
ou “repicagem”
A indiviualização ou “repicagem” ocorre imediatamente após
o período de pré-brotação. Nesta
fase são utilizados tubetes, suportes e substrato. Ao substrato são
adicionados fertilizantes com diferentes dinâmicas de liberação.
Este manejo contribui para o adequado desenvolvimento da nova
planta. Destaca-se que nesta etapa
há um segundo processo de seleção, onde as gemas que não brotaram são descartadas.
Estágio 5 – Aclimatação fase 1
Após a individualização, os tubetes com gemas brotadas permanecerão em aclimatação em casa
34 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
fotos: Rafael Mermejo
comenda-se efetuar a despalha em
local isolado do núcleo de produção de mudas, evitando o eventual
transporte de pragas, atividade,
que preferencialmente deverá ser
realizada manualmente, o que reduz danos às gemas. Para o corte e
preparação dos minirebolos (gema
individualizada), sugere-se a utilização de um sistema de guilhotina
com lâmina dupla devidamente
desinfestado. O espaçamento entre as lâminas determina o tamanho do minirebolo, o que para
esse modelo de multiplicação é
sugerido 3 cm, viabilizando a utilização da gema individualizada
no tubete.
Nesta etapa permite-se a realização de uma seleção das melhores gemas. Essa seleção elimina do
processo os minirebolos com sintomas de Diatraea saccharalis e eventuais danos mecânicos das gemas,
maximizando etapas posteriores.
de vegetação por um período de 21
dias. Nos primeiros sete dias utiliza-se uma proteção na parte superior da casa de vegetação com tela
de sombrite a 50%, a qual no decorrer da etapa vai sendo retirada. Este
procedimento associado à manutenção de elevada umidade relativa
do ar no ambiente, tem como objetivo minimizar os efeitos negativos
de altas temperaturas. As lâminas
e turnos de irrigação são definidos
de acordo com o desenvolvimento
das plantas. Ao final dessa etapa há
uma primeira poda foliar realizada
com tesouras devidamente desinfetadas, ou mesmo manualmente.
Esse manejo estimula o desenvolvimento radicular e minimiza as
perdas de água.
Estágio 6 – Aclimatação fase 2
A etapa final do processo ocorre em bancadas a pleno sol. Nesta
etapa o objetivo principal é adaptar
a muda às condições de plantio no
campo. Basicamente há um controle de irrigação com quatro turnos
de rega totalizando 4 mm/dia. O
manejo de podas foliares é intensificado, com três podas ao longo
de 21 dias. Ao final dessa etapa, a
muda apresenta-se em condições
de ser retirada do tubete, embalada
e transportada para o plantio
Pragas
A pesquisadora do IAC, de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo e diretora do Núcleo de
Pesquisa e Desenvolvimento, Leila
Luci Dinardo-Miranda, contou à
Canavieiros sobre o trabalho que
realiza na área de pragas na cultura canavieira.
De acordo com ela, seu trabalho
é fundamentado na tentativa de
montar um programa de manejo integrado das principais pragas que atacam a cana-de-açúcar,
entre elas a broca da cana, a cigarrinha das raízes, os besouros Sphenophorus levis e Migdolus
fryanuss. Além de trabalhar com
estas pragas, o IAC também atua
na área de nematóides, principalmente em relação às espécies
mais importantes para o Brasil e
o mundo, que são Meloidogyne
javanica, Meloidogyne incognita,
Pratylenchus zeae e Pratylenchus
brachyurus.
Para isso, o IAC desenvolve métodos de estudos sobre a distribuição espacial e temporal destas pragas e nematóides a fim de definir
planos de amostragem. Quando
o agricultor tem algum problema
com pragas ou nematóides, é necessário fazer um manejo e, con-
sequentemente uma amostragem
desta área para saber onde tem
a praga e qual é sua população.
“Para cada praga e situação o método de amostragem é diferente”,
explicou Dinardo-Miranda.
Outra informação importante é
sobre os danos que a praga causa
em cada variedade/situação para
tentar definir quando justificaria
fazer o seu controle. O produtor
tem que saber se a população encontrada vai causar um dano que
justifique economicamente adotar
uma medida de controle. “Em entomologia, esses parâmetros são
conhecidos como nível de dano
econômico e nível de controle, e
são específicos para cada praga,
tipo de solo, variedade, etc.”, explicou Dinardo-Miranda.
A outra parte dos trabalhos envolve a definição de eficiência das
medidas de controle, tais como
inseticidas químicos e biológicos,
rotação de culturas, destruição de
soqueiras infestadas, etc. “É importante a realização deste trabalho, pois só com essas informações
poderemos informar aos produtores quais serão os possíveis métodos de controle que ele poderá
usar em suas áreas”, justificou a
pesquisadora.
Ainda na área de pragas, a pesquisadora do IAC, Luciana Souza,
explica que existem vários métoBesouros
Sphenophorus levis
cotesia flavipes
depositando seus ovos
na lagarta da broca
Leila Luci
DinardoMiranda,
pesquisadora do
IAC e diretora
do Núcleo de
Pesquisa e
Desenvolvimento
Luciana Souza,
pesquisadora
do IAC.
dos de intervenção para combater
os danos, entre eles o controle biológico e controle químico.
De uma forma geral, a maioria
das pessoas opta pelo controle biológico inicialmente porque provoca menos impacto ambiental e
é mais barato, e só quando a situação está grave é que eles partem
para o controle químico. No caso
da broca da cana (Diatraea saccharalis), que é uma mariposa que
deposita os ovos na folha da cana,
existem alguns inimigos naturais,
como as vespinhas tricogama agaloi e a cotesia flavipes, introduzida
no Brasil na década de 70.
Segundo Souza, esta vespinha
é multiplicada nos laboratórios
onde é feito o cálculo da quantidade necessária de vespinhas para
realizar o controle do canavial, de
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 35
portações de matrizes nativas. “É
como se fosse o melhoramento genético das vespinhas. Assim como
com a cana-de-açúcar, teremos
que refazer todo o histórico dela
para entendermos a sua diversidade e aplicar a estratégia ideal para
melhorar a sua atuação”.
“...o trabalho
com pragas
no IAC é
fundamentado
na tentativa
de montar um
programa de
manejo integrado
das principais
pragas que
atacam a canade-açúcar...”
acordo com o grau de infestação
da broca. “Eles pegam os copinhos
com as vespinhas e vão espalhando no canavial de acordo com a
necessidade. Esta vespa é chamada
de parasitóide, então ela encontra
a lagarta da broca, deposita nela
os seus ovos, eles se desenvolvem
dentro dela e acabam matando-a”.
A pesquisadora comenta que
uma das coisas que está chamando
a atenção dos produtores é que eles
estão tendo a impressão de que diminuiu sua eficiência, de que antes a cotésia (vespinha), conseguia
predar mais e voar mais longe.
“Nós levantamos a hipótese de
que talvez por ela (cotésia) não ser
nativa, a sua diversidade genética
esteja baixa, e é aí que meu trabalho
entra em ação. Estamos coletando
uma série da cotésia da broca em
todos os laboratórios para fazermos uma série de análises moleculares, avaliando a diversidade genética. Dependendo destes valores é
que vamos começar a descobrir o
que está acontecendo com esta vespinha”, explicou Souza.
Uma das hipóteses levantada
pela pesquisadora é a diferença da
diversidade genética nos laboratórios, por exemplo, em um laboratório a diversidade é muito baixa e
em outro é mais alta. Desta maneira, é possível para os laboratórios
trocarem as matrizes entre si para
aumentar esta diversidade.
Outro ponto é que elas foram
introduzidas uma vez no Brasil na
década de 70, sendo assim, é importante que esta informação seja
passada documentalmente para o
governo, a fim de liberar novas im-
Matologia
O estudo das plantas daninhas
na cultura canavieira é realizado
através da matologia. Na cana,
assim como em qualquer outra
cultura, há a presença de infestação de mato, que podem se tornar agressivas, absorvendo mais
luz, nutrientes e água do solo,
deixando a cultura em desvantagem. Por exemplo, na região
de Ribeirão Preto é comum encontrar corda de viola, capim-colonião, capim-braquiarias e
capim-carrapichos.
A cana-de-açúcar sofre com esta
interferência, e com isso ela vai
crescer menos, vai fazer menos
fotossíntese e acumulará menos
sacarose. Para que isso não ocorra
é preciso que o produtor aja com
meios e ferramentas que possibilitem o controle deste mato, ou seja,
destas plantas daninhas que estão
no meio do canavial.
Existem várias ferramentas que
podem ser utilizadas, mas que não
são viáveis nos dias de hoje, como
arrancar o mato através do trabalho braçal. Porém, há equipamentos que podem ser adaptados aos
tratores, mas com alguns efeitos
colaterais, como desestabilização
do solo, erosão e prejuízo à conservação do solo.
Segundo o pesquisador do IAC,
de Campinas, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo, que atua na
área de matologia do Instituto,
Carlos Alberto Mathias Azania,
o trator vai controlar muito bem
a entrelinha do canavial, mas as
plantas que se desenvolveram no
36 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Dr. Carlos Alberto Mathias
Azania, professor e pesquisador
do IAC, responsável pela área
de matologia do Instituto
pé da cana-de-açúcar, o implemento não tem como tirar, então é
necessário algo mais sofisticado e
é por isso que as pessoas utilizamse do herbicida.
Os herbicidas são substâncias
químicas que servem para controlar o mato, sendo considerado o
meio mais eficiente para esta atividade. Hoje a área de cana é muito vasta no Estado de São Paulo e
as unidades não têm tempo hábil
para cuidarem deste mato somente na época primavera-verão, e sim
o ano todo, então por isso que há a
necessidade de se usar o herbicida
inclusive em períodos de estiagem
(outono-inverno).
“A aplicação do herbicida é muito
importante, mas às vezes há também a necessidade de ser usado
junto do herbicida, o tratamento
mecânico, que seria o trator e seus
implementos. Isso é o que chamamos de manejo integrado de planta
daninha, que é quando é usado mais
de um método de controle. O herbicida é o que ocupa 80% dos casos,
mas ele tem que ser também trabalhado com outras técnicas para ser
mais eficaz”, explicou Azania.
fotos: Murilo Sicchieri
Atualmente existem muitos herbicidas disponíveis e cada vez mais,
novos produtos são lançados no
mercado. Para indicar um herbicida
é necessário ter alguns conhecimentos, como o tipo de solo, condição
climática, as características física e
química do herbicida e as principais
espécies de mato que infestam aquele canavial. Somente sabendo estes
quatro itens é possível saber qual
herbicida usar.
Para conseguir uma molécula nova de herbicida não é uma
tarefa fácil. São poucas as novas
Área de testes do IAC
moléculas no mundo que serão
lançadas nos próximos anos. A
molécula mais nova que será lançada futuramente é a indaziflan,
que agirá na planta inibindo a
síntese de celulose. Para o pesquisador, mesmo as moléculas que
estão registradas hoje são consideradas eficazes. “Em termo de
inovação acredito que estamos
bem supridos na área da matologia, principalmente para a cultura
da cana. O que falta é os produtores se conscientizarem mais e
utilizar-se do conhecimento das
plantas daninhas do canavial, das
características físicas e químicas
dos produtos, da condição climática e do solo no momento da aplicação para ele alocar o herbicida
correto no local correto”, disse.
Outra questão na matologia que
vai trazer uma inovação nos próximos anos bastante grande é a
tecnologia dos transgênicos – organismos geneticamente modificados em cana-de-açúcar.
Por exemplo, a cana é uma cultura resistente a glifosato e isto
não é tão interessante porque o
glifosato é uma molécula utilizada
exatamente para erradicar a cana
quando a produção do canavial
diminui e é necessário renová-lo.
Então, se a cana for transgênica vai
matá-la com o que?
O pesquisador explica que para
isto pode-se perder a molécula de
glifosato e não ter necessariamente outra para suprí-la. Hoje existem equipamentos e tratores que
podem erradicar a cana-de-açúcar
mecanicamente, mas os efeitos colaterais provocados são grandes
devido ao revolvimento do solo.
“Solo revolvido quando chega a
chuva gera problemas de erosão e
de assoreamento de rios e nascentes. Com a aplicação do glifosato,
este impacto ambiental é menor.
Não sou defensor de glifosato, mas
eu vejo que cana geneticamente
modificada para resistência a glifosato pode não ser uma opção
muito interessante no momento
da erradicação”.
Azania diz que a cana geneticamente modificada seria muito
interessante, por exemplo, se resistente ao produto 2,4D, que pode ser
usado durante todo período. Ele é
um herbicida hormonal, podendo
ser utilizado na cana antes dela formar o colmo, depois deste período
não pode mais utilizá-lo porque
provoca efeitos colaterais muito
sérios para o crescimento da cana.
Produtos residuais e usados apenas
em pré-emergência da cultura também podem ser interessantes para
a tecnologia transgênica. O mesmo também se aplica a herbicidas
como MSMA e paraquat que não
são seletivos a cultura.
“Eu vejo com bons olhos a tecnologia geneticamente modificada
para cana, para alguns produtos,
para outros não. E desta maneira,
através de pesquisas e relacionamentos com toda a cadeia do setor,
nós sabemos que algo está sendo
desenvolvido neste sentido nos
próximos anos”, comentou o professor e pesquisador.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 37
38 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 39
Pesquisa
Centros de Melhoramento em Cana-de-açúcar
A base do agronegócio cana-de-açúcar é o melhoramento genético
Fernanda Clariano
O
s programas de melhoramentos da cana-de-açúcar são realizados para desenvolver variedades mais
produtivas e com maior tolerância ao estresse hídrico, maior resistência às pragas e doenças e melhor adaptação ao plantio e a colheita mecanizada. Os órgãos de pesquisas que desenvolvem estes
programas, utilizam conhecimentos das áreas de biotecnologia, ciências do solo, nutrição de plantas,
climatologia, fisiologia, fitopatologia, entomologia, economia e outras.
Atualmente, existem quatro programas ativos de melhoramento genético em cana-de-açúcar no Brasil: o IAC
(Instituto Agronômico de Campinas), a Ridesa (Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro), o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), e a Canavialis.
Jardim
Varietal
no IAC Ribeirão
Preto
IAC (Instituto Agronômico)
O Programa Cana IAC vem
adotando desde o início da década de noventa, um aspecto básico
que é a regionalização da seleção
para o desenvolvimento de novos
cultivares de cana-de-açúcar. No
Brasil, tínhamos aproximadamente 5 milhões de hectares cultivados
com cana-de-açúcar, o Estado de
São Paulo tinha aproximadamente 3 milhões de hectares com esta
cultura. A grande expansão que
se deu entre 2003 a 2008 praticamente dobrou esta área, ocupando
solos de baixa fertilidade e regiões
de acentuado déficit hídrico, como
é o caso do Oeste paulista ou do
Centro-Oeste brasileiro.
Portanto, tornou-se ainda mais
relevante o desenvolvimento de cul-
tivares que contemplem esta ampla
diversidade ambiental, e isto se dá
estabelecendo estratégias, não apenas de seleção local, mas também
de eleição de parentais com aptidão
regional que através de inúmeras
combinações venham a constituir
famílias mais adaptadas.
“Hoje as variedades consagradas
na região mais tradicional de São
Paulo, não necessariamente, tem
bom desempenho em Goiás, por
exemplo. Nestas outras regiões,
um novo grupo varietal tem surgido com performance agroindustrial mais destacada.
Outro aspecto de destaque em
nosso programa é o biótipo varietal que buscamos, com características mais adaptadas ao con-
40 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Coordenador do Programa de Cana IAC e
pesquisador científico, Dr. Marcos Landell.
texto de mecanização que hoje
prevalece no setor. Para tanto, há
mais de uma década, os genótipos selecionados pelo IAC, via de
regra, tem hábito de crescimento
mais ereto, uniformidade biométrica dos colmos, boa capacidade
de sobreamento ou fechamento
das entrelinhas, boa brotação sob
palha das socas, boa capacidade
de brotação das gemas plantadas
mecanicamente, reduzindo riscos
de falhas na operação do plantio
mecânico, etc”, afirmou o coordenador do Programa de Cana IAC
e pesquisador científico, Dr. Marcos Landell.
Diante os desafios os quais o setor vem enfrentando como plantio
mecanizado, colheita mecanizada,
safras cada vez mais longas, plantio o ano todo, pragas e doenças, o
Programa Cana IAC desenvolveu o
conceito da Matriz de Ambientes
baseada na ampla rede experimental que possui. Este conceito é básico para alocação varietal, mas também, para estabelecer estratégia de
épocas de corte considerando o potencial dos ambientes disponíveis
para um determinado produtor. A
Matriz cria uma escala hierárquica
entre os ambientes possíveis, dados
pelo potencial do solo somado ao
manejo a ele conferido, e pelos três
períodos de colheita (outono, inverno e primavera). Desta forma, são
formadas nove caselas de ambiente,
o que permite o estabelecimento de
estratégias de produção a partir do
conhecimento do solo e do manejo
a ele conferido. Esse método é determinante na Região Centro-Sul,
pois considera o déficit hídrico da
região. Alguns produtores que adotaram estes conceitos já obtiveram
ganhos gerais de mais de 20% sobre
a produtividade agroindustrial.
“As variedades IAC são desenvolvidas sob este contexto e desta
forma, quando lançadas, temos
condições de detalhar a responsibilidade de cada uma delas, e gerar
uma “bula varietal” para otimização da variedade em questão. Esta
tecnologia procura mitigar efeitos
negativos dos ambientes cada vez
mais restritivos para onde a canavicultura do Centro-Sul tem se
expandido”, disse Landell
Outro conceito lançado pelo
IAC é o sistema M.P.B. (Muda
Pré-Brotada), um novo sistema de
multiplicação de viveiros e áreas
comerciais que traz como grande vantagem a redução radical da
quantidade de muda gasta para
plantar um hectare, agiliza o processo de multiplicação de novas variedades, fomentando a inclusão e
adoção de novas tecnologias nesta
área e promove uma retomada dos
cuidados básicos de viveiro, gerando maior segurança fitossanitária.
Como consequência, espera-se que
o M.P.B. permita a sobra de aproximadamente 15 toneladas de cana/
ha em relação ao plantio mecânico,
reduzindo para números ínfimos
as falhas dos canaviais. Também,
permitirá a redução expressiva do
custo de transporte de mudas, o
que estimulará a distribuição estratégica de viveiros satélites considerando os mais atuais preceitos de
manejo varietal.
Além das inovações como: a
Matriz de Ambientes e o M.P.B.,
o Programa Cana IAC desenvolve
projetos para a seleção de variedades com alta resposta nas áreas
irrigadas. Este projeto iniciou-se
em 2005 no Oeste da Bahia e hoje
tem se expandido para outras regiões do Brasil.
“Os resultados até o momento,
nos permitem uma grande expectativa, e imaginamos que a tecnologia de irrigação somente será plenamente viabilizada com o uso de
variedades mais aptas para grandes
respostas. Também, mantemos desde 2008, um projeto de seleção de
cana energia que venha a atender
em um futuro próximo a indústria
que surgirá incorporando o uso pleno da matéria prima de hoje. Temos
que nos atentar para as inovações
que podem aumentar as produtividades agroindustriais, como àquelas
relativas ao aproveitamento do excedente de bagaço e palha para a produção de energia, biocombustíveis e
bioquímicos”, explicou Landell.
Estas futuras variedades de cana
energia deverá ter um biotipo mais
adequado para atender esta nova
indústria que foca a produção de
biomassa. No futuro, pode ser que
a importância das fibras ganhe
tanta relevância que suplante a sacarose, que hoje é o foco principal
da indústria sucroalcooleira.
“destaque em
nosso programa
é biótipo
varietal que
buscamos, com
características
mais adaptadas
ao contexto de
mecanização que
hoje prevalece
no setor...”
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 41
Pesquisa
Ridesa (Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do
Setor Sucroalcooleiro)
A Ridesa, tem como base para
o desenvolvimento da pesquisa 13
estações experimentais estrategicamente localizadas nos Estados
onde a cultura da cana-de-açúcar
apresenta maior expressão. Além
dessas estações experimentais, a
Rede também desenvolve pesquisa
nos campus das sete universidades
federais, envolvendo, principalmente, pesquisas conduzidas nos
diferentes cursos de pós-graduação,
em nível de mestrado e doutorado.
Nesta nova fase a Rede liberou 46
cultivares, dando incalculável retorno aos investimentos aplicados
à pesquisa. Mais importante que
o número de cultivares liberadas é
o nível de adoção das mesmas pelo
setor produtivo. Atualmente, as
cultivares de sigla RB estão sendo
cultivadas em mais de 50% da área
plantada com cana-de-açúcar no
país, chegando em algumas regiões
a representar até 70%.
De acordo com os conceitos básicos de desenvolvimento de novos
cultivares da Ridesa, o melhoramento genético da cana-de-açúcar
tem por objetivo desenvolver cultivares com elevado rendimento em
açúcar, que depende em primeira
ordem de dois componentes: produzir colmos com elevada massa e produzir colmos com elevado conteúdo
em açúcares. Nesse sentido, tem-se
buscado o modelo ou o tipo de cana
ideal, conhecido como “ideótipo”.
O “ideótipo” deve ter as seguintes características: máxima capacidade de interceptação da radiação solar, máximo aproveitamento
de nutrientes disponíveis no solo,
máxima eficiência no uso da água
disponível no solo e no ar, máxima
capacidade de tolerar as mudanças
nas temperaturas do ar e ser eficiente na formação dos compostos
orgânicos, que serão transforma-
dos em água, açúcar e fibra.
No entanto, são inúmeros os fatores que restringem ou limitam a
produção, reduzindo o rendimento potencial da cultivar e da formação da biomassa, tais como:
Fatores abióticos: solos de baixa fertilidade natural, com impedimentos físicos e em topografia
inadequada ao cultivo; períodos
de cultivo com escassez de água
(seca); períodos de cultivo com
baixas temperaturas (geada); entre
outros fatores ambientais.
Fatores bióticos: doenças, pragas e plantas invasoras, que causam redução dos rendimentos e
prejuízo ao produtor.
Para aumentar o potencial de
rendimento da cultivar e aproximar do rendimento potencial da
cultura, o melhoramento genético
tem aprimorado na busca do “ideótipo”, através do desenvolvimento de cultivares com melhor arquitetura da touceira, do colmo e da
folha, cultivar com maior sistema
radicular. Tem buscado cultivares
com as seguintes características:
touceiras contendo de 12 a 13 colmos industrializáveis e sem brotos
chupões; colmos uniformes, longos, de diâmetro grosso, eretos,
firmes, com alto teor de açúcares, médio teor de fibra e melhor
densidade de carga no transporte;
cana com menor impureza vegetal
(menor palmito);resistente ao pisoteio por ocasião do corte e que
tenha alta brotação das socarias.
Segundo o coordenador de melhoramento genético da Universidade Federal de Alagoas e professor,
Dr. Geraldo Veríssimo, “é de fundamental importância obter cultivares
para atender os diversos segmentos
42 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Coordenador de melhoramento genético
da Universidade Federal de Alagoas
e professor, Dr. Geraldo Veríssimo
de maturação (início, meio e final
de safra) e assim obter as canas de
maturação precoce, média e tardia,
respectivamente, ou mesmo aqueles
que tenham maturação apropriada
a um longo período de industrialização. Além dessas características,
procura-se obter cultivares refratárias ao florescimento, tolerantes às
principais doenças e pragas de cada
região de cultivo, tolerantes à seca, à
geada, à salinidade e à toxidade de
solos”, disse.
Ainda de acordo com Veríssimo,
“não é possível reunir num único
cultivar, ou em alguns cultivares, todas essas características, dada a complexidade genética e da fisiologia da
cana-de-açúcar. Muitas dessas características têm correlações negativas
entre elas, ou seja, ao melhorar uma
característica, piora a outra. Para
tanto, é necessário que o produtor ou
técnicos do sistema produtivo entendam o melhor manejo das cultivares,
alocando-as nos ambientes adequadas para cada tipo e nas devidas épocas de plantio e de colheita, e assim
obter os melhores resultados”.
Com a extensão dos canaviais
para áreas marginais, mecanização total do plantio e da colheita,
plantio e colheita o ano inteiro,
dificilmente os rendimentos em
açúcar serão os mesmos, quando
comparados com os melhores ambientes de cultivo. Muitas regiões
do mundo têm enfrentado esses
desafios e apresentado soluções
através do melhoramento - áreas
com períodos longos de baixas
temperaturas ou períodos longos
de estiagem - e o que se conseguiu
é desenvolver cultivares mais rús-
ticas, com maior tolerância aos
estresses, maior rendimento em
colmos, mas com menor conteúdo de açúcar, exemplos: Índia,
África do Sul, países da América
do Norte e América Central. As
tentativas de desenvolvimento
de cultivares geneticamente modificada são grandes, mas sem
sucesso, dada a complexidade do
genoma cana.
Os programas de melhoramento têm disponibilizado inúmeros cultivares que atendem
vários ambientes de cultivo da
cana. Muitos dos conhecimentos desenvolvidos e já dominados não estão sendo postos em
prática. Assim, para elevar os
rendimentos potenciais, os produtores devem observar as recomendações de manejo de cada
cultivar, alocando em ambientes
adequados, adotar as medidas de
correção e adubação do solo, uso
de “mudas” de qualidade, usar
a irrigação em ambientes secos,
controlar as pragas e as plantas
invasoras, otimizando os seus
rendimentos.
CTC (Centro de Tecnologia Canavieira)
Gerente de Desenvolvimento de Produto
do CTC, Marcos Virgílio Casagrande
O CTC atua há mais de 40 anos
no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o setor
canavieiro. As pesquisas abrangem os elos da cadeia produtiva
de cana-de-açúcar, álcool, açúcar
e bioenergia, permitindo agregar
valor às diversas etapas do processo e contribuindo com a evolução
equilibrada do setor. Além de
pioneiro na colheita mecanizada dos ensaios do seu programa
de melhoramento, inova ao ser o
primeiro programa a plantar mecanicamente seus experimentos,
garantindo que as futuras variedades CTC tenham ainda maior
adaptação à mecanização.
“Atualmente o CTC conta com
dezenas de variedades, adaptadas
as mais diversas condições edafoclimáticas e de manejo das unidades produtoras. Essas variedades já
representam 5% do market-share
nacional e as suas áreas de cultivo estão crescendo ano após ano”,
afirmou o gerente de Desenvolvimento de Produto do CTC, Marcos Virgílio Casagrande.
Ainda de acordo com Casagrande, as próximas gerações de variedades do CTC trarão consigo ainda
mais aderência à crescente demanda
por variedades regionais, resolvendo geneticamente alguns problemas
que ameaçam a produtividade, levando o setor sucroenergético a um
novo patamar de tecnologia.
Quando se fala em conceitos básicos de desenvolvimento de novos cultivares de cana-de-açúcar a
palavra chave é produtividade, ou
seja, gerar mais ATR por hectare
com um menor custo. O aumento da produção de sacarose pode
ocorrer por meio de variedades que
produzam um maior número de
colmos com mais peso e menos sacarose ou com aquelas com maior
concentração de açúcar. “Temos
neste caso, o exemplo da CTC9,
uma variedade com altíssima concentração de sacarose, resultando
em excelentes produções de ATR/
ha no início de safra. Variedades
como a CTC9, quando bem manejadas, proporcionam reduções
no custo de produção de açúcar e
etanol, gerando maiores lucros aos
produtores. Para serem mais produtivos, os novos cultivares devem
apresentar uma série de características com maior ou menor relevância em função da região de produção, estando adaptados as demais
tecnologias do setor. Por exemplo,
é inegável a necessidade dos novos
cultivares serem adaptados ao plantio mecanizado e para isso devem
apresentar algumas características,
tais como: aptidão à colheita mecanizada, bom perfilhamento, colmos
uniformes e não muito grossos, despalha natural, entrenós mais curtos, porte ereto, boa velocidade de
brotação das gemas e tolerância aos
patógenos de solo, especialmente ao
fungo causador da podridão abacaxi”, disse Casagrande.
Segundo Casagrande, para o
CTC, o fornecedor é antes de tudo,
um produtor que deseja aumentar
seus lucros e os programas de melhoramentos lutam para aumentar
a produtividade das variedades.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 43
Pesquisa
“A produtividade é decorrente de uma série de características,
incluindo peso dos colmos, teor
de sacarose, adaptação à mecanização, tolerância a pragas e doenças, tolerância à seca, relutância
ao florescimento entre outras. Os
produtores e fornecedores estão interessados na mesma coisa: produzir mais com menor custo. Contudo, algumas características sempre
são citadas pelos fornecedores: PUI
(Período Útil de Industrialização)
longo, permitindo a flexibilização
da colheita, longevidade de soqueira, que pode ser traduzida em estabilidade de produção ao longo dos
cortes e, obviamente, produtividade”, ressaltou Casagrande.
O uso de variedades mais ricas
também auxilia o fornecedor visto que grande parte de seus custos
estão relacionados à colheita e ao
transporte, fatos que impactam
enormemente em seu resultado
financeiro. Um ótimo exemplo de
riqueza e longevidade com estabilidade de produção é a CTC4,
uma variedade com excelente colheitabilidade que tem transmitido muita confiança aos fornecedores. Outro ponto fundamental
é que os fornecedores tenham
acesso às mudas de variedades
mais modernas e produtivas, iniciando seus canaviais com mudas
vigorosas e 100% sadias.
Mesmo frente as dificuldades,
o setor tem um domínio de conhecimento para atingir as atuais
produtividades e os programas de
melhoramentos têm pesquisado e
trabalhado pensando na verticalização da produção que depende
de uma série de fatos, incluindo as
variedades que obrigatoriamente
necessitarão ser mais produtivas e
estáveis ao longo dos cortes.
Uma das estratégias do CTC
para obter variedades mais produtivas é a regionalização do seu
programa de melhoramento. “A
regionalização de variedades de
cana-de-açúcar é, antes de tudo,
uma ação de sustentabilidade para
o setor sucroalcooleiro. A atividade sustentável na agricultura
envolve não apenas questões ambientais, mas também aspectos
sociais e econômico-financeiros.
Assim, a exploração racional do
potencial agrícola de cada região
é ferramenta importante e a rentabilidade no setor sucroalcooleiro
está intimamente relacionada ao
potencial climático de cada região,
o que influencia nos principais
componentes do rendimento econômico”, disse Casagrande.
Recentemente, a ocupação de
novas fronteiras agrícolas tem contribuído para reduções de produtividade. Além de ocupar os piores
solos, a expansão está expondo os
produtores aos ambientes com condições climáticas mais restritas,
cujo manejo adequado ainda não é
dominado. Grande parte dessa expansão foi realizada com cultivares
desenvolvidos para as condições
de São Paulo e Sul de Minas, com
condições edafoclimáticas muito
diferentes das encontradas nas novas fronteiras agrícolas do setor. Ao
regionalizar a seleção dos cultivares, o CTC consegue potencializar
a mais complexa variável agrícola:
a interação genótipo X ambiente,
produzindo variedades mais produtivas e adaptadas às particularidade de cada região.
Além da regionalização, o CTC
conta com um programa de biotecnologia para a produção de
variedades transgênicas e tem
realizado forte investimento em
pesquisa para o desenvolvimento
de novas variedades e novas tecnologias, visando incrementar a
eficiência na produção de açúcar,
álcool e energia, tendo como desafio dobrar, de maneira economicamente sustentável, a taxa de
inovação do setor. Possui também
um dos maiores programas de desenvolvimento de variedades de
44 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
cana-de-açúcar do mundo, por
meio do melhoramento genético
tradicional, do uso de marcadores
moleculares e da biotecnologia,
conta também com a produção
em escala de mudas com qualidade, sanidade e vigor, visando atender a crescente demanda
por fontes de energia renovável.
Além disso, possui um programa
de assistência técnica aos produtores de cana do Brasil, por meio
de carta de solos e ambientes de
produção, mapeamento de canaviais por imagens de satélite e
manejo varietal.
O CTC é o principal centro
mundial de desenvolvimento e
integração de tecnologias disruptivas da indústria sucroenergética
e reconhecidamente responsável
pela evolução genética da cana-de-açúcar no Brasil.
Em tradicional evento do setor,
que aconteceu em dezembro de
2012 em São Paulo, a novidade ficou
por conta do lançamento da Série de
Variedades CTC9000, que contêm
as variedades CTC9001, CTC9002
e CTC9003. Estas novas variedades
foram especialmente criadas para
trazer produtividade no atual cenário canavieiro. “Diferentemente
do que era feito há dez anos, hoje o
plantio e a colheita mecanizados é
uma realidade cada vez mais crescente nas plantações. Além disso, a
queima da palha da cana será proibida por lei no Brasil a partir de
2017, portanto a variedade de cana
plantada hoje deveria ser compatível
com este contexto modernizado”,
afirmou Casagrande.
O CTC apresentou também um
novo programa de melhoramento
genético, um projeto inovador que
consiste na redução do tempo de
desenvolvimento das variedades
do Centro de Tecnologia Canavieiro. Com essa inovação, o processo
durará oito anos, quase a metade
do que era feito antigamente, que
era de aproximadamente 14 anos.
CanaVialis / Monsanto
Gerente de Desenvolvimento Tecnológico
da CanaVialis, Maurício Oliveira
A CanaVialis é a marca comercial
da Monsanto para os negócios de
Cana-de-Açúcar e Sorgo Sacarino
no Brasil e investe no desenvolvimento de novas cultivares para essas
culturas, através das mais avançadas técnicas de melhoramento genético e desenvolvimento de produtos. Além disso, possui uma ampla
estrutura de pesquisa em biotecnologia focada no desenvolvimento de
variedades de cana-de-açúcar geneticamente superiores.
Hoje, o programa de melhoramento genético da CanaVialis bus-
ca sempre atender as necessidades
do mercado. Um ponto importante
nesse sentido é que as novas variedades pesquisadas tenham sempre
um ganho genético superior aos
padrões de mercado. Dessa maneira, sempre buscam lançar variedades que atendam e superem as necessidades do mercado.
Diante os desafios, os quais o setor vem enfrentando como: plantio e colheita mecanizada, safras
cada vez mais longas, plantio o
ano todo, pragas e doenças, a CanaVialis entende que o fornecedor
de cana-de-açúcar é parte integrante do mercado sucroenergético, e todos os benefícios das variedades de cana-de-açúcar também
vão atender às necessidades desses
fornecedores.
Com a tendência do aumento do
plantio e colheita mecanizada, a
CanaVialis vem estudando desde
as fases iniciais da seleção de novas
variedades, materiais que se adaptem à mecanização, que é crescente
e irreversível. “Nesta safra, o plantio
mecanizado pode ultrapassar 40%.
Características como brotação de
soqueira, porte ereto, colheitabilidade e brotação em plantio mecanizado estão presentes nas atuais
variedades de CanaVialis, que são
CV7231, CV6654 e CV7870. Além
disso, apresentam boa riqueza e
produtividade. Buscamos variedades que atendam todos os períodos
de maturação, desde variedades
precoces até tardias, cobrindo todo
o período de safra”, disse o gerente
de Desenvolvimento Tecnológico
da CanaVialis, Maurício Oliveira.
A CanaVialis busca expressar
todo o potencial genético de suas
variedades, mostrando no campo
o ganho genético que elas possuem em relação às variedades
padrão de mercado. Altas produtividades no mesmo hectare,
uma maneira sustentável de uso
do solo, para produzir mais com
a mesma área é um dos compromissos que a empresa tem com o
mercado sucroenergético. Novos
processos de seleção de variedades estão sendo utilizados, como
marcadores moleculares para
identificar características desejáveis para uma boa variedade,
além de utilizar mecanização colheita mecanizada - nas fases
de seleção das novas variedades.
“Temos o sorgo sacarino, que é
utilizado na entressafra da cana-de-açúcar e contribui para o aumento da produção de etanol e
para a diminuição do período em
que a indústria/usina tem pouca
disponibilidade de cana-de-açúcar para moagem. Além de implicar nesse aumento de produção de
etanol, implica também na redução dos custos fixos, ganhos extras
com a venda de energia gerada pela
queima do bagaço do sorgo sacarino, dentre outros. Tivemos o lançamento de dois novos híbridos, o
CV568 e CV198, que apresentam
boa produtividade e pensando em
novidades para o futuro, podemos
citar a biotecnologia, área em que
a Monsanto é líder no mercado. Já
estamos trabalhando em uma plataforma de biotecnologia para cana-de-açúcar”, explicou Oliveira.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 45
Artigo Técnico
José Paulo Molin
Sistema carretel
enrolador
irrigando cana.
Sensores ópticos de dossel: alternativa para
o manejo do nitrogênio em taxa variável
Lucas Rios do Amaral¹, Gustavo Portz¹, Hugo José Andrade Rosa¹, José Paulo Molin²
¹Pós-graduando – USP, ESALQ, Laboratório de Agricultura de Precisão
²Professor Associado – USP, ESALQ, Depto. Engenharia Biossistemas
O
manejo da adubação da
cana-de-açúcar, dentro
dos preceitos da Agricultura de Precisão,
vem sendo basicamente realizada
a partir de amostragem georreferenciada de solo em grade, com
aplicação de fertilizantes (P e K)
e corretivos (calcário e gesso) em
taxa variável, mediante prévia confecção de mapas de aplicação.
Entretanto, além dessa técnica
ter sua efetividade questionada em
razão da baixa densidade amostral
realizada, devido principalmente a
limitações econômicas, a amostragem de solo não traz um indicativo confiável da disponibilidade de
nitrogênio (N) para as culturas.
Dessa forma, a aplicação de um
dos nutrientes mais demandados
pela cana-de-açúcar, o N (atrás
apenas do potássio), ainda é realizada em taxa fixa, tendo como
base, prioritariamente, a idade do
canavial, o ambiente de produção
e a produção do ciclo anterior.
Com esse manejo frequentemente ocorre má utilização de
fertilizante nitrogenado, uma
vez que, em razão da dinâmica
complexa do N no solo, há sub ou
superestimação da dose a ser aplicada, variável em função da disponibilização ou imobilização do
N pelo solo. Sendo assim, é essencial lançar-se mão de ferramentas
que possibilitem um melhor uso
desse fertilizante, não só por motivos econômicos, mas também
ambientais, já que o N é potencial
contaminante de corpos d´água.
46 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Nesse contexto, estão entrando
no mercado brasileiro sensores
voltados para aplicação de N. Esses sensores, chamados de sensores de refletância do dossel ou
sensores ópticos de dossel, têm
como princípio básico a emissão
de luz e a captação da refletância
da vegetação em diferentes comprimentos de onda do espectro
eletromagnético, calculando índices de vegetação com base nessas
refletâncias (ex: NDVI e NDRE),
os quais, indiretamente, indicam
o vigor vegetativo das plantas, relacionando-se a biomassa presente
e ao teor de clorofila e, consequente, a necessidade de N da cultura
de forma especializada na lavoura
(Figura 1). Em outras palavras, a
planta expressa em vigor a sua nu-
Figura 1. Mapa do índice de vegetação NDRE obtido com o
sensor CropCircle ACS-430 (a); e mapa de recomendação de
nitrogênio de acordo com as leituras do sensor, aplicando mais
fertilizante nas regiões com vigor vegetativo intermediário.
trição nitrogenada, indicando se o
N extraído do solo está adequado
para seu desenvolvimento, e os
sensores de dossel tem o objetivo
de mensurar essa informação.
A utilização desse equipamento pode ser feita mediante prévia
coleta de dados (leitura/avaliação)
na área com o sensor, confecção
dos mapas em escritório para posterior aplicação do fertilizante em
taxa variável (aplicação via mapa),
ou então, mediante aplicação em
tempo real. A primeira opção possibilita a análise dos dados e recomendação consciente do que será
aplicado, enquanto a segunda opção, embora mais fácil e prática, demanda maior ajuste dos algorítmos
de fertilização, não possibilitando
grandes ajustes por parte do técnico responsável. A melhor opção
para cada caso deverá ser analisada individualmente em razão da
mão de obra e material disponíveis,
além dos objetivos pretendidos.
Ótimos resultados vêm sendo
obtidos com esse tipo de equipamento no exterior, principalmente
em culturas de grãos, sendo que
no Brasil essa técnica é ainda incipiente. O LAP - USP/ESALQ
(Laboratório de Agricultura de
Precisão da Universidade de São
Paulo) está desde 2007 pesquisando a utilização desses sensores na
cultura da cana, e vem obtendo
bons resultados, tanto para aplicação de N (uso mais nobre), quando
para a estimativa de produtividade
e do vigor vegetativo da cultura, o
que pode direcionar amostragens
a título de identificação dos causadores da variabilidade dentro das
lavouras (Figura 1).
Uma das primeiras conclusões
quando do uso desse equipamento
é que, para se ter avaliações confiáveis, é necessário que haja massa
vegetal suficiente. Dessa forma,
o LAP recomenda que as avalia-
ções voltadas para aplicação de
N devem ser realizadas quando a
cultura apresenta 30 a 60 cm de
altura de colmos (Figura 2). Logo,
duas estratégias de manejo do N
estão sendo cogitadas. Uma delas
é o parcelamento do N, aplicando uma pequena dose logo após
o corte e o restante guiado pelo
sensor no momento adequado. A
segunda e aparentemente mais viável economicamente é uma única
aplicação no momento adequado.
Questões vêm sendo levantadas
sobre a efetividade dessa aplicação
tardia, mas na maioria dos casos
não se observa queda de rendimento da cana.
Há algumas formas de se utilizar a informação obtida pelos sensores de dossel no manejo do N,
variável em função do sensor utilizado e da metodologia requerida. Uma das formas mais simples
visa uma melhor distribuição do
fertilizante a partir de algoritmos
de fertilização. Essa metodologia
busca distribuir da melhor forma
possível uma dose de N pré-estabelecida, aplicando mais onde há
maior chance de ser obter resposta
à aplicação. Com essa visão, uma
das estratégias seguidas pelo LAP
é apostar que em regiões com vigor
há maiores chances de resposta ao
N aplicado, uma vez que em regiões muito fracas há interferência
de outros fatores, como compactação do solo, doenças, pH e demais
nutrientes, etc., e em regiões mais
Figura 2. Desenvolvimento da cana-de-açúcar (20 cm de altura de
colmos) onde ainda há pouca biomassa e muita interferência do
solo (a); desenvolvimento da cana no momento ideal para avaliação
com o sensor (plantas com 40 cm de altura de colmos) (b).
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 47
Artigo Técnico
fortes (maiores valores do sensor)
o solo é capaz de fornecer o N requerido e condições para o pleno
desenvolvimento da cultura. Dessa forma, se aplica maior quantidade de N nas regiões intermediárias em detrimento das regiões
mais fracas e mais fortes (Figura
3a). Numa outra linha, se adota
aumento conforme o aumento do
vigor (Figura 3b – ajuste B), quando se considera que outros fatores
podem estar sendo limitantes ao
desenvolvimento da cultura, ou
então se adota aumento da dose
em regiões com menor vigor (Figura 3b – ajuste A), assumindo-se
que o N é o fator mais limitante a
produção na situação em questão.
Outra forma de recomendação
de N que a literatura internacional
vem apontando como promissora
é o uso de áreas de referência dentro da lavoura somada a estimativas de produtividade para cada
porção da mesma. Nessa metodologia, preconiza-se a aplicação prévia da dose cheia de N logo após o
corte da cana em uma pequena porção ou faixa da lavoura que represente o máximo possível o restante
da área. Quando a cana-de-açúcar
estiver no momento ideal para avaliação com o sensor de dossel (entre
40 e 60 cm) procede-se a avaliação
primeiramente nessa área de re-
Figura 4. Modelo para estimativa de produtividade
a partir de avaliações com um sensor de dossel
(CropCircle ACS-210), ambos baseados em
valores relativos configuráveis pelo usuário.
Figura 3. Estratégia de manejo do nitrogênio aplicando mais fertilizante
nas regiões intermediárias da lavoura (a); estratégia de aplicação com
maiores doses de nitrogênio em locais com maior (A) e menor vigor (B) (b).
ferência (também chamada faixa
rica em N), buscando-se avaliar a
magnitude de resposta da cultura
ao N em determinada condição
de cultivo. Somando-se essa resposta ao N à produtividade estimada pelas leituras com o sensor
de dossel (Figura 4), é possível
estimar quanto de cana será produzido a mais com a aplicação de
N. A aplicação de N busca então
suprir a demanda para a produção
dessa quantidade de N, que pode
variar de 0,9 a 2 kg por tonelada de
cana esperada.
Essa segunda metodologia parece
ser mais completa e confiável ao levar diversos fatores em consideração
dentro de uma safra e uma situação
de cultivo específica, podendo-se recomendar mais ou menos fertilizante em uma lavoura, diferentemente
da primeira metodologia que apenas distribui melhor a dose padrão.
Entretanto, sua adoção é mais com-
plicada, pois necessita que a área de
referência seja instalada cada ano
em um lugar, demanda maior número de operações e exige que haja
um modelo que correlacione valor
obtido com o sensor e a produtividade da cana-de-açúcar.
A melhor forma de utilização
desse equipamento ainda não foi
definida tanto nacional quanto
internacionalmente, uma vez que
depende do sensor de dossel em
questão (CropCircle, GreenSeeker,
N-Sensor, apenas para citar alguns
– Figura 5), dos anseios, objetivos e
experiência do usuário, assim como
das características do sistema de
cultivo. Experimentos vêm sendo
conduzidos pelo LAP - USP/ESALQ
e espera-se que em pouco tempo se
tenha dados comprovando a eficácia
desse equipamento no direcionamento da adubação nitrogenada em
cana-de-açúcar, independentemente da metodologia adotada.
Figura 5. N-Sensor ALS (Yara International ASA, Duelmen, Alemanha),
Crop Circle ACS-210 (Holland Scientific, Lincoln, NE, EUA) e o GreenSeeker
(Trimble Navigation, Ltd., Sunnyvale, CA, EUA), acoplados em um
Uniport 3000 NPK (Máquinas Agrícolas Jacto AS, Pompéia, SP, Brasil).
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Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 49
Certificação
Produtores da
Guarani, que
participam do
projeto piloto
do programa
acabam de
receber a
certificação
Certificação Valore Bayer CropScience
O Brasil é visto mundialmente como “o país dos biocombustíveis” e o
biocombustível na aviação surge como uma nova e grande oportunidade
C
Fernanda Clariano
riado em 2009 pela
Bayer CropScience, o
programa de certificação Valore tem como
principal objetivo viabilizar uma
produção segura, agregar valor
à cadeia produtiva e assegurar a
competitividade do produtor brasileiro, por meio de um acompanhamento rigoroso do processo
de produção agrícola, respeitando
o meio ambiente, e a segurança
dos trabalhadores.
O processo de certificação agrícola ganha cada vez mais espaço, pela
grande exigência de mercado e dos
próprios consumidores, que querem
saber a procedência do alimento
adquirido. Por isso, o programa beneficia todos os elos da cadeia produtiva e a sociedade de uma forma
geral, por viabilizar a produção de
alta qualidade, em quantidade suficiente e com a segurança alimentar
esperada para alimentar a crescente
população mundial.
As propriedades e seu processo de produção são avaliadas e os
produtores que decidem aderir
ao programa assinam um termo
de compromisso e recebem um
documento com todas as exigên-
cias e etapas necessárias para que
possam conquistar o certificado e
o selo Valore. Entre as exigências
estão: utilização correta e adequada dos produtos registrados para
a cultura, estratégicas de manejo
integrado, atendimento às normas trabalhistas e de preservação
ambiental, além do compromisso
de seguir rigorosamente as orientações de uma equipe técnica especializada para o cumprimento
dos protocolos desenvolvidos pela
Bayer CropScience. A partir da
adesão, os produtores rurais passam por treinamentos e contam
com apoio e orientação para se
adequarem às normas exigidas.
Com o Valore, o produtor poderá
conquistar certificações internacionais como Globalgap (certificação de segurança alimentar), e
Fairtrade (comércio justo), entre
outras. Na prática, o programa
adota protocolos (geral e específico – por cultura agrícola), contendo os parâmetros necessários para
atingir os três níveis de certificação:
Valore Bronze: concedida aos
produtores que cumprem os princípios básicos do programa, com
sistema de gestão integrada, ado-
50 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
ção de boas práticas agrícolas, preocupação com o meio ambiente e
com a saúde humana.
Valore Prata: concedida aos
produtores que alcançarem a excelência na produção rastreada, sustentável e segura, além da alta qualidade da safra produzida. Permite
ao produtor acesso diferenciado ao
mercado internacional, pois viabilizará a busca pelas certificações
internacionais exigidas.
Valore Gold: chancela máxima
do programa Valore, certifica o
produtor que não apenas tem uma
produção sustentável e de alta
qualidade, mas se preocupa com
as relações e práticas comerciais
agrícolas e com as exigências do
consumidor do mercado internacional. Ele representa o nível mais
alto de certificação da produção
agrícola, com rastreabilidade total, alta qualidade e segurança alimentar dos produtos agrícolas.
A diretora de Desenvolvimento
Sustentável da Bayer Cropscience,
Adriana Ricci, falou sobre a importância do programa para o desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira e sobre os benefícios
que traz aos agricultores.
“O certificado Valore é fornecido
pela Bayer CropScience após validação da TÜV Rheinland, uma das
principais empresas de certificação
do mundo. Ao participar do programa, os produtores são orientados e acompanhados durante toda
a safra por uma equipe especializada que avalia e indica as melhorias
necessárias para atingir os padrões
de certificação, fornecendo treinamento e apoio técnico. Com o Valore, produtores de cana, poderão
realizar novos e melhores negócios
nos exigentes mercados interno e
externo, que cada vez mais buscam
produtos agrícolas certificados”,
explicou Adriana.
As ações do Valore englobam
suporte técnico na área produtiva,
ambiental, trabalhista, jurídica e
na área administrativa. No processo para conquistar a certificação, o produtor conquista inúmeras vantagens como:
• Sustentabilidade dos negócios
no longo prazo;
• Vantagens na comercialização
- garantia de compra do produto;
• Acesso a novos mercados com
certificações internacionalmente
reconhecidas;
• Assistência (técnica) custos da
consultoria e auditoria patrocinados pela Bayer;
• Boas práticas agrícolas, incluindo o uso racional de insumos agrícolas e recursos naturais;
• Qualificação profissional;
• Melhor qualidade do produto
agrícola;
• Ferramenta que auxilia para o
aumento de produtividade;
• Melhora da gestão dos negócios: alocação/utilização dos recursos de forma mais eficiente;
• Diminuição dos custos da produção.
Para a cultura da cana-de-açúcar, dois importantes clientes aderiram ao programa Valore. Após
um trabalho de consultoria especializada os fornecedores de cana
dos grupos Guarani e Raízen,
foram orientados e acompanhados durante toda a safra por uma
equipe especializada da Bayer
CropScience.
“A certificação Valore mostra a
parceria que a Guarani possui junto aos produtores, que fidelizaram
com a empresa nesta caminhada,
aceitando as mudanças necessárias para implantação do programa e contribuindo para a sustentabilidade”, disse o diretor Agrícola
da Guarani, Jaime Stupiello.
“Após quase um ano e meio de
trabalho em parceria com a Bayer
no programa Valore, conseguimos
certificar mais de 8 mil hectares
de área plantada de oito de nossos fornecedores. Foi uma grande
conquista para todos, pois trata-se de um primeiro e grande passo
rumo a um processo mais abrangente de certificação de nossos
parceiros produtores. Os benefícios gerados a todos os envolvidos
neste projeto confirmaram que a
adoção de boas práticas administrativas e operacionais são fundamentais para que sejamos cada
vez mais eficientes e sustentáveis”,
afirmou o diretor de Fornecedores
de Cana e Parcerias Agrícolas da
Raízen, Carlos Martins.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 51
Máquinas
Biomassa de cana-de-açúcar
“Estamos
caminhando
para um cenário
de colheita 100%
mecanizada,
sem queima,
então é
Fonte: Assessoria de Imprensa da New Holland
fundamental o
aproveitamento
nindo o conceito de Samir Fagundes, o projeto tem um
da biomassa
biomassa ao agrone- viés de grande importância econôna geração
gócio, a New Holland mica dentro das usinas, já que se
de energia”
Palha da cana vira energia limpa em projeto da New Holland em parceria
com o Centro de Tecnologia Canavieira
U
está aplicando no Brasil um projeto que permite gerar
energia sustentável através da palha da cana-de-açúcar. Desenvolvido em parceria com o Centro
de Tecnologia Canavieira (CTC),
o projeto busca utilizar a palha da
cana-de-açúcar (gerada na colheita mecanizada) para produção de
energia. A pesquisa, baseada na
aplicação da enfardadora BB9000 da
New Holland, está
sendo desenvolvida
desde maio de 2010
e já apresenta resultados favoráveis.
O CTC, sediado
em Piracicaba (SP),
realiza diversos estudos nesta área há
mais de 40 anos e
representa mais de
60% das indústrias
do setor sucroalcooleiro.
De acordo com
o responsável pelos
projetos de biomassa
desenvolvidos
Responsável pelos projetos de biomassa
pela
New
Holland,
da New Holland, Samir Fagundes
trata de uma matriz com menor
custo por geração de MW/h. “O
usineiro completa o ciclo produtivo
da cadeia, pois tem aproveitamento de resíduos, podendo inclusive
tornar-se autossuficiente em energia elétrica e até mesmo lucrar com
o excedente”, explica Fagundes que
destaca os incentivos políticos do
Proinfa (Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia Elétrica) e da Lei 10.762.
A utilização de biomassa na geração de energia por sistemas de cogeração vem crescendo ano após ano.
Um dos principais fins deste tipo de
energia é o suprimento de eletricidade para demandas isoladas da rede
elétrica. “Se fizermos uma análise
podemos constatar que ¼ de toda
a força energética nacional é gerada
através da cana-de-açúcar. Isso quer
dizer que, mais do que nunca, o
agronegócio já está ligado à sustentabilidade”, afirma Fagundes.
Fagundes ressalta que a bioeletricidade tem uma série de vantagens: é
um recurso renovável, que polui menos, tem risco e prazo de execução
menor, maior facilidade em estimar
a energia a ser gerada, além de diver-
52 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
sificar, mais ainda, a matriz energética nacional. O processo possibilita
ainda as perdas de transmissão, pois
muitas vezes a geração é feita próxima aos centros consumidores.
“Estamos caminhando para um
cenário de colheita 100% mecanizada, sem queima, então é fundamental o aproveitamento da biomassa
na geração de energia”, afirma Fagundes. Segundo dados da Unica
(União da Indústria da Cana-de-açúcar), a estimativa é que em
aproximadamente dez anos a bioeletricidade gere energia equivalente
a três usinas Belo Monte. Os investimentos para produção de bioeletricidade também são mais baixos: de
acordo com a ANEEL, o processo de
geração de bioeletridade é R$16,65/
MWh mais barato do que a produção energia hidrelétrica.
O processo se divide em uma série de etapas, começando pelo acúmulo da palha gerada após a colheita mecanizada da cana-de-açúcar.
Após a colheita, a palha permanece
exposta ao tempo por um período de até dez dias para que seque.
Quando o material estiver com
cerca de 10% de umidade é feito o
aleiramento, que reúne a palha em
linhas (leiras). Em média, há cerca
de 150 quilos de palha seca para
cada tonelada colhida, o que totaliza, aproximadamente, 15 toneladas
de palha por hectare por ano, dos
quais são retirados do campo de
50-60%, de acordo com as condições edafoclimáticas do local..
Após o acúmulo da palha em leiras, uma enfardadora BB9000 acoplada ao trator passa recolhendo o
material e fazendo os fardos. Chamados de “gigantes”, cada um tem cerca
de 2 metros de comprimento e 450
quilos. Por último, a carreta recolhedora de fardos encaminha o material
para o ponto de carregamento, de
onde seguem para a usina. De acordo
com Fagundes, este processo possibilita um custo menor em relação a
outros métodos, trazendo maiores
vantagens ao produtor.
Fagundes ressalta que a
Agrishow 2012 foi a primeira
oportunidade que o cliente teve
para conhecer de perto todas as
máquinas que compõe a solução
agrícola do recolhimento de palha:
o Aleirador H5980, a enfardadora
BB9080 e a carreta acumuladora
de fardos PT2010.
“É interessante destacar que, por
termos como parceiro para este
projeto o CTC, todos os aspectos
relacionados ao recolhimento foram observados, seja do ponto de
vista agronômico, agrícola ou industrial. Hoje temos condições de
ofertar a solução como um todo e
o que é mais importante, orientar
nosso cliente a melhor maneira de
processar esta fardo para queima
em caldeiras e consequente cogereção”, destaca Fagundes.
Maior trator em operação na América Latina
Série T9 de tratores, exposta na Expointer, chega ao Brasil para atender
um novo nicho de mercado
D
urante a Expointer a
New Holland apresentou sua série T9 de
tratores com o modelo
T9.560, que alcança até 560cv. O
alto nível de potência da máquina
é aliado ao sistema de transmissão avançado, ao robusto chassi e
ao design e conforto da cabine. É
ideal para aqueles que precisam de
mais potência, sendo o maior trator em operação na América Latina. Com isso também atendem a
demanda crescente do mercado de
mega plantadeiras e implementos,
que estão sendo utilizados principalmente por usineiros e grandes
produtores de grãos.
“A oferta deste equipamento
para o mercado brasileiro mostra a
preocupação que temos em trazer
o que há de mais moderno para os
produtores. Estamos preocupados
em oferecer soluções para todos
os tamanhos de propriedade e,
esta máquina é uma ótima opção
para aqueles que precisam de mais
potência, sendo o maior trator em
operação na América Latina. Com
isso também atendemos a demanda crescente do mercado de mega
plantadeiras e implementos.”, afirma Marco Cazarim, especialista
de tratores da New Holland.
Segundo o especialista, com sistema EPM, ou “Gerenciamento da
Potência do Motor”, o T9 alcança
até 50cv adicionais de potência,
garantindo o desempenho durante
aplicações exigentes, mas sem perder força. “Com o EPM, o T9.560,
que tem potência nominal de 507cv,
pode desenvolver potência de até
557cv, de acordo com a necessidade
da operação”, comenta. Com isso,
estima-se que em áreas de cultivo
de larga escala o T9 tenha capacidade de substituição de até quatro
tratores de média potência.
Os tratores da série T9 foram projetados para trabalhar com a tecnologia de Agricultura de Precisão da
New Holland, o que proporciona
o aumento da produtividade e do
conforto do operador. “A máquina
sai de fábrica com sistema de piloto
automático IntelliSteer™ totalmente
integrado. O sistema utiliza a tecnologia DGPS e também conta com
os opcionais OmniStar e RTK para
garantir uma precisão ainda maior
durante as operações”, explica o es-
pecialista. De acordo
com Cazarim, através
de um único monitor
– o IntelliView™ III,
o produtor pode configurar todos os sistemas de orientação
de piloto automático,
além de controlar as
informações de operação do trator.
Espaçosa e de grande visibilidade, a cabine dos tratores T9
vem equipada com
o apoio de braço SideWinderTM,
que
permite um controle
cômodo e preciso nas
operações. “Todos os
Marco Cazarim, especialista
de tratores da New Holland
controles principais
são acessados a partir dele – acelerador, controle da transmissão e
sistema hidráulico. Os controles e
recursos avançados proporcionam
acesso rápido, fácil e intuitivo, com
indicações e ilustrações de fácil entendimento. A alta tecnologia embarcada no T9 veio para simplificar
as operações e proporcionar o mais
alto desempenho”, explica Cazarim.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 53
Máquinas
Coordenador
de Marketing
de Produto
de Tratores
da Massey
Ferguson,
Eder Dornelles
Pinheiro
Massey Ferguson: MF7415 (Linha Dyna-6)
perfeita integração entre modernidade,
tecnologia e rentabilidade
M
Fonte: Assessoria de Imprensa da M.F.
arca líder em tratores no Brasil, a Massey Ferguson disponibiliza ao mercado
sucroalcooleiro um de seus modelos ícone em modernidade aliado a
alto desempenho, o MF7415 da linha Dyna-6, lançada no Brasil em
2010. Além dos 215 cv de potência,
entre os diferenciais da linha destaca-se a transmissão inteligente
Dyna-6, que permite selecionar
automaticamente a marcha com a
melhor relação entre economia e
desempenho. A transmissão utiliza quatro grupos sincronizados
de troca automatizada, cada uma
com seis velocidades Dynashift,
resultando em 24 velocidades para
frente e 24 velocidades para trás,
sem a necessidade do uso do pe-
dal de embreagem. A troca de
marchas pode ser completamente
automática, realizada de forma
eletro-hidráulica e controlada
pelo sistema eletrônico do trator,
ou de forma manual por meio de
toques na alavanca de comando;
frente e trás.
De acordo com o modo de operação selecionado, manual, Speed
ou Autodrive, o sistema possibilita uma seleção de velocidades,
manual, parcial, ou totalmente
automática respectivamente.
A transmissão inteligente
24X24 Dyna-6 se caracteriza
pela versatilidade e facilidade de
uso. Ela possibilita ao usuário as
melhores opções para as mais
diversas condições de trabalho e
as mais diferentes aplicações nas
54 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
rotinas dos trabalhos em cana,
do preparo do solo ao transporte.
Segundo o Coordenador de
Marketing de Produto de Tratores da Massey Ferguson, Eder
Dornelles Pinheiro, tanto o 7415
quanto os demais tratores da
linha 7000 Dyna-6 podem ser
usados em qualquer tipo de solo
ou uso agrícola. “O produtor
que busca este trator está buscando um alto rendimento operacional e um baixo consumo de
combustível, ou seja, o que todos querem, então ele foi desenvolvido para ser utilizado desde os solos alagados do cultivo
do arroz irrigado até o plantio
convencional da cana, passando
pelo algodão e soja do Centro-Oeste”, disse Dornelles.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 55
Máquinas
Valtra anuncia
com a Série S uma
nova tendência no
mercado brasileiro
Empresa traça novas estratégias
diante do aumento da demanda por
grandes tratores
Coordenador
de Marketing
do Produto
de Tratores
da Valtra,
Rogério
Zanotto
A
Fonte: Assessoria de Imprensa da Valtra
Valtra, marca do Grupo AGCO, com mais de
meio século de tradição
em tratores pesados,
anuncia o lançamento da S293 e
S353, máquinas de alta potência
que colaboram com a ampliação
da capacidade produtiva e sustentável das áreas agrícolas.
A série S é importada da Europa. As máquinas herdaram a expertise e designer global da Valtra
aliadas a tecnologia AGCO. Tem
capacidade de levante de 12 toneladas e bomba de fluxo variável
de 200 litros por minuto controlada automaticamente. O trator
AGCO POWER 84 WI – 4V, TR
2, ou seja com baixa emissão de
gases poluentes que, associado ao
sistema de gerenciamento inteligente, busca o equilíbrio entre
a potência e torque e, de acordo
com a força exercida na transmissão, pode economizar até 10% no
uso de combustível.
De acordo com o Coordenador de Marketing do Produto de
Tratores da Valtra, Rogério Zanotto, outro importante destaque
do novo modelo é o câmbio AVT
(AGCO Variable Transmition),
que difere das tecnologias de mudanças de marcha automáticas conhecidas no mercado. Este câmbio
regula a rotação do motor de acordo com a velocidade desejada. “O
câmbio trabalha por meio de quatro modos de programação divididos em dois grupos de velocidade,
estes separados de acordo com o
tipo de tarefa. O primeiro (Grupo
A – Modo Trabalho) de 0,03 km/h
a 28km/h e o segundo (Grupo B
– Modo Transporte) varia de 0,03
km/h a 40km/h”, explica Zanotto.
Os módulos para atuação da
máquina dividem-se em:
• Módulo Automático
É a configuração padrão quando
se liga o motor. Utiliza a razão de
transmissão mais elevada possível
para otimizar a economia de combustível. Por exemplo, ao puxar
uma carga em um terreno mais
difícil a transmissão ajusta a relação (a velocidade do motor) para
manter uma velocidade constante.
• Módulo Automático com
TDP (tomada de potência)
Ao usar o TDP a velocidade do
motor é definida. A transmissão
56 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
diminui a velocidade de condução
quando a carga excede a energia
disponível.
• Módulo semi-automático
No modo semi-automático o operador define a rotação do motor e
a velocidade operacional, independentes uma da outra, de acordo com
a operação desejada.
• Módulo manual
No modo manual a rotação do
motor e a velocidade de deslocamento devem ser ajustadas, pois
a inteligência do câmbio AVT não
faz os ajustes automáticos.
As inovações que chegam por
meio da Valtra também aparecem
em itens na cabine como os sistemas AutoComfort (suspensão
pneumática da cabine) e os comandos no Armrest, que permitem um
máximo conforto nas operações,
além do sistema “Easy-to-use de
programação do sistema hidráulico. A suspensão pneumática para
o assento giratório ajusta a posição do operador de acordo com a
declividade do campo. O assento
possui no suporte de braço o controle das programações que podem
ser memorizadas.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 57
Máquinas
Uniport 3000 garante alto rendimento e
economia
Carla Rodrigues
P
rojetado especialmente para trabalhar sob as mais severas condições da lavoura de cana, a nova adubadora desenvolvida pela Jacto denominada Uniport 3000 NPK, oferece grande rendimento operacional,
aplicação de alta precisão e qualidade e principalmente redução nos custos de aplicação. Confira todas as
informações apresentadas pelo gerente de Produtos da Jacto,Wanderson Tosta sobre este novo implemento.
Uniport 3000 NPK e suas características
O Uniport 3000 NPK é uma
adubadora automotriz desenvolvida e projetada exclusivamente com
tecnologia Jacto, proporcionando
qualidade e robustez necessárias
para o trabalho intensivo na cultura canavieira. Realiza aplicação
de fertilizantes granulados para
cultura canavieira e suas características principais são a elevada
capacidade operacional aliada à
alta qualidade de aplicação de fertilizantes e precisão no controle da
dosagem aplicada.
Necessidades de mercado
O mercado canavieiro tem uma
importância muito grande dentro
da Jacto e ao longo de muitos anos
estão sendo desenvolvidos vários
produtos específicos para o setor
canavieiro. Dentro deste contexto,
a crescente demanda do mercado
canavieiro por soluções para adubação que agregassem valor ao negócio e reduzissem os custos operacionais, levou a Jacto a pensar e
projetar o Uniport 3000 NPK.
Calibração inteligente
Áreas para utilização
As áreas mais adequadas ao
uso do equipamento são as áreas
mecanizáveis, mas é importante reforçar também que é fundamental que se tenha um bom
apoio logístico de abastecimento de fertilizante, planejamento
adequado das áreas a serem trabalhadas e a utilização de um
fertilizante de boa qualidade.
Todas estas questões são muito importantes para se retirar o
máximo rendimento do equipamento, que chega a tratar mais
de 30.000 ha/ano.
Público Alvo para a adubadora
O público para esta adubadora
são usinas, prestadores de serviço
e fornecedores de cana de médio
a grande porte, que estejam buscando reduzir seus custos de aplicação de fertilizantes por hectare,
melhorar a qualidade da aplicação
e também reduzir os desperdícios
dado a precisão que o equipamento oferece na aplicação.
Facilidade operacional
Alto rendimento operacional
Aplicação direcionada
Dosagem precisa
Características e diferenciais
da adubadora
Várias características fazem do
Uniport 3000 NPK uma inteligente solução para mecanização da
operação de adubação em cana-de-açúcar:
Distribuição uniforme
Alto desempenho
58 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Wanderson Tosta
gerente de Produtos da Jacto
Aplicação em taxa variável
Maior vão livre e menor compactação de solo
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 59
Máquinas
TMA em busca da excelência
no sistema de mecanização
Preocupada em superar as exigências do setor
canavieiro, nova marca da Tracan Indústria
investe em tecnologia e qualidade
P
Carla Rodrigues
Diretor
Comercial da
TMA, Dário
Wilian Sodré
ara aumentar sua participação no mercado canavieiro o Grupo TRACAN
que começou sua história
como concessionário CASE IH
em 1997, passou a desenvolver, em
2004, alguns protótipos de plantadoras de cana-de-açúcar e transbordos, com o intuito de completar
o sistema mecanizado para a lavoura de cana-de-açúcar. Nasceu assim
a indústria do Grupo, a TMA, que
atua do plantio à colheita. Hoje
80% de todo negócio da empresa
vem do setor canavieiro.
A equipe técnica da TMA trabalha em conjunto com clientes e profissionais especializados de importantes institutos de pesquisas, para
colocar no mercado produtos de
ponta, que tragam, além de inovação, robustez e agilidade. Segundo
seu diretor Comercial, Dário Wilian
Sodré, os clientes hoje exigem qualidade associada ao resultado operacional e financeiro. “As plantadoras
significam aproximadamente 20%
da nossa produção. A demanda do
transbordo, que é equivalente a 80%
da nossa produção, é maior justamente porque a mecanização da colheita tem um índice muito superior
ao do plantio”.
Um dos destaques da empresa é
o transbordo VTX 21000, lançado
há quatro anos e hoje amplamente
utilizado na colheita da cana. De
acordo com Sodré, este transbordo
é um equipamento inovador e com
vários ganhos operacionais durante a fase da colheita. É um transbordo que vale por dois alardeia a
60 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
empresa: “Este projeto somente a
TMA produz, então sempre estamos buscando melhorá-lo, a carga
líquida distribuída nos quatro eixos faz toda diferença para o solo,
mais agilidade e menor compactação. O cliente que o adquire fica
satisfeito com os resultados técnicos, logísticos e econômicos que
ele proporciona, além de poder
substituir dois outros transbordos
de modelos convencionais”, argumenta Dário Sodre.
Na área de plantio, a TMA possui uma plantadora totalmente
mecanizada com ou sem cabine,
que planta em duas linhas com
espaçamento de 1,40, 1,50 metros
ou combinados, tem capacidade
de plantio de 0,7 a 1 hectare por
hora. A diferença entre estes dois
equipamentos é que o equipamento sem cabine não precisa de operador na plantadora, pois utiliza o
sistema de agricultura de precisão,
através do piloto automático. Neste caso, somente com um operador
é possível realizar toda a operação
do trator e da plantadora.
Há cerca de um ano, a TMA
também lançou a distribuidora de
mudas, um equipamento que vem
sendo bastante usado por aqueles
que querem migrar do plantio manual para o mecanizado, mas com
um investimento menor, aproveitando toda estrutura de equipamentos que já tem.
“Nos últimos 15 anos temos visto uma evolução na colheita mecanizada; saímos de 20% e saltamos
para 78% da área mecanizada no
país, sendo que já temos regiões quase
100% mecanizadas, mas o setor canavieiro ainda está em fase de pesquisa,
desenvolvimento e investimentos embrionários em relação à Agricultura de
Precisão, muito embora, vários produtores já tenham essa tecnologia incorporada há vários anos”, diz Sodré.
Ainda existem vários fatores que precisam ser dominados pelo setor na área
da mecanização, um deles é o de plantio,
que é a última fase da mecanização da
cultura canavieira. O aperfeiçoamento
do trabalho não está simplesmente no
equipamento, e sim na parte operacional, que engloba desde a variedade da
cana que será plantada mecanicamente
até a sistematização, preparo de solo e
vários outros fatores que são provenientes deste processo.
“A maior parte do sistema que possuímos hoje existe em função do plantio
manual, mas a transição para o plantio
mecanizado trará algumas vantagens,
como conseguir minimizar o índice de
perda de área, através do sistema de georreferenciamento a médio e longo prazo. Já está comprovado em vários casos
que com a utilização do piloto automático do sistema de agricultura de precisão,
é possível ter ganhos de área plantada de
ate 6,5% ”, explicou Sodré.
Na Usina São Martinho, por exemplo,
o plantio mecanizado de cana-de açúcar
já alcança o índice de 100%, com plantadora e trator com piloto automático e
GPS, o que garante um paralelismo per-
feito entre as ruas e trás vantagens visíveis do não pisoteio e mais rendimento
de cana por hectare.
A usina conseguiu um aumento de
6% no número de ruas de cana na mesma área plantada, um número que não
é diretamente proporcional à produtividade, mas a balança já comprova que
se colhe mais na mesma área. Segundo
Luiz Gustavo Teixeira, coordenador de
plantio na Usina, outros fatores devem
ser levados em conta, a logística da operação, o preparo de solo, a qualidade da
muda, entre outros.
A preocupação atual é o alto consumo de cana por hectare com o plantio
mecanizado, segundo a TMA suas plantadoras, utilizadas em vários clientes
importantes do setor, já apresentam um
consumo de mudas por hectare similar
ao plantio manual, visto que a tecnologia
dos equipamentos foram desenvolvidas
em função das demandas dos clientes .
“Hoje o que importa não é só a questão da tonelada por hectare, mas muito
mais a quantidade de gemas viáveis ao
longo dos sulcos. Eu diria que com os
avanços agronômicos que o nosso setor
tem alcançado, em muito pouco tempo
vamos ter as melhores variedades, com
os melhores tamanhos de toletes, com
a melhor dosagem por metro e essa
preocupação será absorvida em muito
pouco tempo, pois iremos conseguir
índices que estão sendo atingidos em
países onde a mecanização no plantio
já é fato”, completa Sodré.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 61
Máquinas
Case IH lança família de tratores Puma com
produção nacional
Série reúne versatilidade e eficiência em qualquer aplicação
Assessoria de Imprensa da Case IH
A
Case lançou durante a
Expointer 2012 a versão nacional da família
de tratores Puma, que
passa a ser fabricado na planta de
Curitiba da marca. As duas máquinas da família, Puma 205 e
225, foram apresentadas ao mercado brasileiro no início do ano em
versão importada e agora passam
a ser produzidas no Brasil, mantendo todas as características do
equipamento anterior.
Com potência nominal de 197
cv e 213 cv, respectivamente, os
novos tratores Puma são equipados com motores Case IH de certificação Tier III, com capacidade
para 6,75l. O sistema de injeção
eletrônico Commom Rail da série
permite que as máquinas trabalhem em aplicações pesadas como
plantio e preparo do solo com gradeamento e subsolagem sem perder rendimento, garantindo um
baixo consumo de combustível.
Os tratores são equipados ainda
com o Power Boost, responsável
62 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
por um aumento de potência de
até 35hp nas operações TDF, no
transporte, em condições de alta
exigência de fluxo hidráulico ou
em terrenos íngremes.
De acordo com Lauro Rezende,
especialista de marketing de produto da Case IH, o lançamento da
versão nacional é parte da estratégia
da marca para oferecer um sistema
completo de mecanização agrícola.
“A ideia é oferecer uma ampla gama
de tratores, em diversas faixas de
potência, atendendo a todas as necessidades e perfis de produção do
agricultor brasileiro”, explica.
“Os tratores Puma têm uma excelente relação peso-potência, o
que possibilita o uso em aplicações
pesadas sem perder rendimento
ou aumentar o consumo de combustível. Além disso, as máquinas contam com o gerenciamento
eletrônico do conjunto de motor
e transmissão responsável pelo
ajuste automático da máquina de
acordo com a aplicação no campo”, afirma Rezende.
Primeiro simulador de
colheitadeira de cana é
entregue à usina
F
Carla Rodrigues – com informações da Assessoria de Imprensa
oi pensando em antecipar
as necessidades do mercado e oferecer soluções
viáveis, que a empresa
investiu em uma tecnologia inédita no mundo para desenvolver
o primeiro simulador virtual de
colhedora de cana.
Apresentado na Agrishow 2011,
o simulador da série A8000 foi
montado no Centro de Treinamento de Piracicaba.
Sendo assim, no dia 25 de outubro a Case IH entregou comercialmente o primeiro simulador
de colheita de cana-de-açúcar, tecnologia exclusiva da marca, para a
Usina Santa Adélia. Localizada na
região norte do Estado Paulista,
60 quilômetros a Oeste de Ribeirão Preto (SP), a usina investiu no
equipamento para capacitação de
operadores de colhedora de cana.
O especialista de marketing de
produtos para cana-de-açúcar da
Case IH, Fábio Balaban explica
que o equipamento se resume em
uma cabine da colhedora transformada para abrigar o simulador,
utilizando os vidros como tela
(tendo as imagens projetadas no
mesmo) e principalmente mantendo todos os comandos originais da colhedora, garantindo a
imersão total na experiência que
conta ainda com a presença de tratores para o transbordo e capacita
o profissional para a situação real.
Da mesma maneira que ocorre,
por exemplo, com simuladores de
treinamento de pilotos de avião.
“A principal característica de
um simulador é permitir o erro e a
partir dele o aprendizado, isso faz
com que o operador chegue até a
situação real sem dúvidas dos procedimentos que deve adotar em
cada situação, seja ela rotineira ou
excepcional”, diz Balaban.
Luis Spadotto, diretor Agrícola
na Usina Santa Adélia, ressalta que
entre as três usinas do grupo 85%
das lavouras já estão mecanizadas,
chegando a 100% em 2014. “Lembro que vimos o simulador da
Case IH na Agrishow de 2010, na
época era um sonho e hoje contamos com essa importante tecnologia dentro da nossa casa”, afirma.
Ele destaca também que o si-
mulador não serve apenas para
diminuir o risco de danificar o
maquinário, mas também melhora o treinamento do operador
impedindo que haja alto índice
de impureza mineral comumente
levado para dentro da usina pela
operação inadequada das colhedoras. “O treinamento virtual tira
a necessidade de um maquinário e
espaço específico na lavoura para
o aprendizado”, finaliza Spadotto.
De acordo com Balaban, em 2013
o simulador vai estar disponível para
venda por toda a rede de concessionários, “nós temos dez unidades que
serão entregues até o final do ano,
além de outros cinco para entidades
de ensino como Senai e o Senar.
Primeiro
simulador de
colheita de
cana-de-açúcar
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 63
Entrevista
Adubação Fluida é destaque no consumo brasileiro
Carla Rodrigues
N
o Brasil, o uso de adubos fluidos é relativamente recente. Com a instalação de uma fábrica, na cidade de Jaú, pela Ultrafértil (atual Bunge Fertilizantes S.A.), no ano de 1981, sua participação aumentou bastante em relação aos demais tipos de fertilizantes e com um enorme potencial de crescimento.
Segundo o engenheiro agrônomo do Departamento de Fertilizantes Fluidos – Bunge Fertilizantes
S.A, Ricardo Curione Zion Almeida, estima-se que em 2011 o consumo no Brasil de fluidos foi de 600 mil toneladas. No mesmo ano, a Argentina consumiu um volume de 700 mil toneladas. E esta tecnologia não para por aí,
ela vem crescendo em vários países, como Europa, Uruguai, Chile, África do Sul, Austrália, Índia, China, entre
outros. Veja abaixo a entrevista completa com o engenheiro agrônomo, Ricardo Almeida.
Revista Canavieiros: Quais são
as vantagens deste método?
Ricardo: A utilização dos fertilizantes na forma fluida apresentam
vantagens operacionais e agronômicas, em relação aos tradicionais
fertilizantes sólidos.
Citaremos abaixo as vantagens e
benefícios dos fluidos:
Vantagens e benefícios dos Fertilizantes Fluidos
a) Dosagem de aplicação precisa
- Evita falta ou excesso de nutrientes na adubação;
- Adubação homogênea;
- Cultura com desenvolvimento
uniforme.
b) Maior autonomia dos equipamentos aplicadores
- Menos paradas para reabastecimento;
- Adubações com maior rendimento operacional;
- Menor custo/ha na adubação.
c) Pouca exigência em mão de obra
- Menores custos operacionais;
- Mão de obra pode ser deslocada para outras atividades.
d) Versatilidade nas Formulações
- Permite uma adubação agronomicamente correta, conforme a
necessidade apontada por análises
de solo e folha.
e) Fácil Armazenamento
- Dispensa construção de armazéns;
- Produto é enviado em caminhões tanque, direto da fábrica para
a adubação, eliminando perdas;
- Inexistência de grandes estoques na propriedade.
f) Compatibilidade com Defensivos
- Muitos defensivos (herbicidas,
inseticidas e fungicidas) são compatíveis com os fertilizantes fluidos,
permitindo uma aplicação conjunta,
com redução do custo operacional.
g) Aplicação Homogênea de
Micronutrientes
- Os micros encontram-se homogeneamente solubilizados, total ou parcialmente, nas soluções
claras, ou suspensões, permitindo
uma aplicação uniforme.
h) Fontes Nitrogenadas com
Inibidor de Urease.
i) Aplicação conjunta do Fertilizante Fluido Mineral com o Orgânico, resultando no Organo-mineral (em uma mesma aplicação).
j) Sinergia com a Agricultura
de precisão.
Obs: Devido a estas vantagens
operacionais e agronômicas (eficiências) citadas acima, os Fertilizantes Fluidos estão cada vez mais sendo
utilizados nas diversas culturas.
Revista Canavieiros: O produtor / usina pode utilizar as mesmas
fórmulas da adubação sólida?
Ricardo: Sim, Podem ser utilizadas as mesmas fórmulas da adubação sólida, Ex: 12-06-12; 15-0515; 20-05-10; 10-10-10; etc.
Ou mesmas relações N-P-K, Ex:
20-05-20 Sólida, trabalhamos com
16-04-16 Líquida; 20-00-20 Sólida,
trabalhamos com a 16-00-16 Líquida, 05-25-25, trabalhamos com
64 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Engenheiro agrônomo, Ricardo Almeida.
03-15-15 Líquida, pois no caso dos
Fertilizantes Líquidos, não conseguimos concentrar algumas formulações aos mesmos moldes dos
Fertilizantes Sólidos, assim devemos aumentar a dosagem para
equivalência de nutrientes.
Revista Canavieiros: Quais são as
fontes de NPK utilizadas e micros?
Ricardo: Fontes de Nitrogênio:
As matérias-primas nitrogenadas
utilizadas na produção do Fertilizante Líquido são praticamente
as mesmas do Fertilizante Tradicional Sólido (Nitrato, Uréia e Sulfato), e uma grande vantagem do
Fluido é a fonte nitrogenada Uran
(blend de Nitrato + Uréia) que
apresenta nitrogênio nas formas
nítrica, amídica e amoniacal, uma
combinação que permite ótimo
aproveitamento do nutriente com
menor perda por volatilização e
maior absorção pela planta.
- Fonte de Fósforo: A matéria-prima fosfatada utilizada é o
MAP ou Acido Fosfórico.
- Fonte de K2O: É o Cloreto de Potássio (KCl pó branco importado).
Os micronutrientes utilizados
são todos sais solúveis, prontamente disponíveis para a cultura
quando aplicados ao solo: ácido
bórico, sulfato de zinco, sulfato de
cobre, molibdato de sódio, etc.
Revista Canavieiros: O produtor/usina precisa de algum equipamento especial para aplicá-lo?
Ricardo: A Bunge poderá oferecer em comodato, sem qualquer
custo adicional, equipamentos aplicadores e oferecer toda assistência
técnica, para que o produtor rural
possa perceber na prática as vantagens da adubação líquida.
O transporte dos produtos da fábrica até o local de aplicação, é feito
por caminhões e/ou carretas-tanque. E a transferência dos produtos
aos equipamentos aplicadores é feita por bombeamento, ganhando-se
tempo e economizando-se mão de
obra na operação.
Revista Canavieiros: O produtor / usina precisa de algum lugar
específico para armazená-lo?
Ricardo: Não, a entrega do Fertilizante Líquido é feita de acordo
com a programação do cliente, em
que a Fábrica de Jaú é o Armazém
do cliente (“Fiel Depositário”), com
exceção das áreas que trabalham
com fertirrigação onde encontramos nas propriedades os tanques
de armazenagem para soluções.
Revista Canavieiros: O produtor /
usina pode aplicá-lo com o solo seco?
Ricardo: Podemos salientar que
o momento ideal para se aplicar
qualquer fertilizante seja sólido
ou líquido, é no período úmido
(na época das águas), mas o Fertilizante Fluido tem uma vantagem
quando comparado com o Fertilizante Sólido, a matéria prima já
se encontra solubilizada, e assim,
os nutrientes estarão prontamente
disponíveis para a cultura quando
aplicado no solo, diferente do Fertilizante sólido que necessitará ser
primeiramente solubilizado para
depois entrar na solução do solo;
Revista Canavieiros: Qual é a
forma de aplicação dos Fertilizantes Fluidos?
Ricardo: Podem ser aplicados das
mais diversas formas: superficialmente (em área total, filete, faixas,
etc), incorporado, aérea, irrigação
(fertirrigação via gotejo, aspersão,
pivô, etc).
Revista Canavieiros: Qual dosagem ideal para líquido e sólido?
Ricardo: Não podemos dizer
que existe uma dosagem ideal geral para adubação líquida ou sólida (como receita de bolo), e sim
que as dosagens devem ser recomendadas pelos engenheiros agrônomos e de acordo com a análise
do solo, ambiente de produção,
variedades, etc.
Revista Canavieiros: Qual custo de aplicação por ha (comparação sólido e líquido) e o rendimento operacional?
Ricardo: Trabalhos já publicados e que foram realizados nas
culturas do café, citros e cana-de-açúcar mostraram que na média
a adubação líquida tem um custo
por ha reduzido em torno de 20%,
podendo chegar a 35% ou até mais
em alguns casos quando comparado com a adubação sólida.
O rendimento operacional da
adubação líquida é em média de 15 a
25% superior que a adubação sólida.
Revista Canavieiros: Em quais
regiões/usinas/fornecedores a técnica já está sendo utilizada? Quais
segmentos?
Ricardo: Atualmente, os Fertilizantes Fluidos estão sendo utilizados em larga escala pelas usinas/
destilarias/fornecedores de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo
nas mais diversas regiões. Ex: Usinas na Região de Catanduva; Usinas
na Região de Jaú; Usinas na Região
de Ribeirão Preto; Usinas/destilarias
na Região de Pirassununga; Usinas
na Região de Jaboticabal; Usinas na
Região de Araçatuba; Usinas na região de São Jose do Rio Preto;
E observamos que está muito
crescente a utilização desta técnica pelos fornecedores de cana-de-açúcar nas diversas regiões do
Estado de São Paulo.
Revista Canavieiros: Onde se localiza a fábrica da empresa no País?
Ricardo: A Fábrica da Bunge
Fertilizantes S/A está localizada na
cidade de Jaú, marco central do Estado de São Paulo. São comercializadas cerca de 120 mil toneladas
ao longo do ano agrícola nas mais
diversas culturas (cana-de-açúcar/
citros/café/reflorestamento/grãos e
cereais/pastagem/hortaliças/fruticultura em geral), mas sem dúvida
que o maior mercado é o da cana-de-açúcar que representa mais de
75% do volume comercializado.
Revista Canavieiros: Esta técnica deve se expandir no país?
Ricardo: Com certeza, aos mesmos moldes dos EUA (onde hoje o
consumo dos Fertilizantes Fluidos
é em torno de 50%) e da Argentina
que já chega a 30%, e de outros países que também comentamos da
utilização desta tecnologia e principalmente devido às facilidades operacionais e vantagens agronômicas
já citadas. É uma tecnologia disponível, de fácil acesso e podemos dizer que é um caminho sem volta.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 65
Insumos
Adubação foliar em cana de açúcar
Hamilton Seron Pereira
professor da Universidade Federal de Goiás e coordenador do Laboratório de Fertilidade do Solos e Nutrição de Plantas
Gaspar Henrique Korndorfer
A
professor titular da Universidade Federal de Uberlândia
umentar a produtividade do canavial tem
sido uma meta constante na agroindústria
sulcroalcooleira, através da introdução de novos processos tecnológicos e aperfeiçoamento do tradicional sistema de produção.
A adubação foliar até alguns
anos atrás era desacreditada em
cana-de-açúcar, mas hoje sua aplicação em complemento a adubação de solo mostra-se como uma
alternativa para ganhos em produtividade no campo e no rendimento
industrial da cana. A proposta da
técnica não é de substituir as práticas comuns de adubação por via
solo, e sim contribuir para a correção e/ou prevenção de deficiências,
principalmente, de micronutrientes.
A disponibilidade desses elementos,
principalmente, cobre, zinco, manganês e ferro, sofrem grande influência do pH elevado considerando
os níveis de correção do solo praticados na cultura da cana-de-açúcar.
Como a parte aérea das plantas
também possuem a capacidade de
absorver água e nutrientes, diversos estudos têm contribuído para
que a prática da adubação foliar
possa ser mais intensivamente
pesquisada. Para a adubação foliar, podem ser usados os adubos
líquidos, que são sais minerais ou
quelatos solúveis, e os adubos sólidos em solução/suspensão.
Em geral, os nutrientes aplicados às folhas são absorvidos e
translocados para todas as partes
do vegetal. Mas apesar desses conhecimentos, aqueles relativos as
vias de entrada de substâncias nas
folhas e o seu respectivo mecanismo de absorção e translocação são
conceitos ainda muito discutidos.
Hamilton Seron Pereira
Gaspar Henrique Korndorfer
Quando nos referimos a absorção foliar, é importante que se
faça uma menção sobre a absorção ativa e a penetração. A absorção ativa refere-se a uma cadeia
de concorrências que inicia com
a entrada da substância à superfície da folha e dá seguimento ao
seu movimento dentro dela, ou é
translocada para fora da folha. No
percurso desse trajeto, pode haver
uma alteração física ou química
da substância. Por outro lado, a
penetração é o processo de absorção que vai do local de aplicação,
isto é, da superfície da folha, até
os locais de entrada no simplasto
(translocação entre células, sem
que haja movimento extra-celular), sendo pois considerada a fase
positiva da absorção.
Os íons são classificados em:
móveis (N, P, K, Mg e Cl), parcialmente móveis (S, Zn, Cu, Mn, Fe
e Mo) e imóveis (Ca e B). Os íons
móveis são aqueles que são rapidamente absorvidos além de se
translocarem para outras áreas da
folha e daí para outras partes do
vegetal, envolvendo-se assim com
os compostos do metabolismo.
Outros fatores inerentes aos nutrientes refere-se ao diâmetro iônico e a hidratabilidade dos íons;
a velocidade de difusão dos íons
aumenta, quando diminui o seu
raio iônico, e vice-versa. Os íons
hidratatos são mais lentos em se
difundirem que os não hidratados
de mesmo diâmetro. Isto ocorre
porque a água que é adsorvida a
superfície dos íons, forma uma
capa relativamente espessa de
água imobilizada ao redor desses
íons, de acordo com o seu potencial de hidratação, fazendo aumentar dessa forma o diâmetro
do conjunto. Mas quando se trata
de velocidade de difusão dos sais
dissociados, verifica-se que depende da velocidade dos íons de maior
diâmetro que se incorporam na
composição desses sais. Isto ocorre devido a atração eletroquímica
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entre os íons que compõem o sal
dissociado. O íon de menor diâmetro carrega o íon de maior diâmetro, fazendo com que aumenta
a sua velocidade, e o íon de maior
diâmetro retém o de menor, diminuindo a sua velocidade.
As soluções a serem aplicadas nas
folhas das plantas devem ser feitas
com muito cuidado, porque podem
prejudicar a planta. Por isso, a concentração destas soluções mais adição de produtos molhantes e protetores na mesma solução e o pH das
soluções deverão estar compatibilizados, para que quimicamente o
produto final beneficie à planta e
não cause injúrias.
É comum o uso de agentes protetores como é o caso dos adjuvantes (formulações), dos açúcares
e dos sais de magnésio, com o objetivo de reduzir os prejuízos que
os íons acompanhantes podem
causar às folhas. Para se colocar
os agentes protetores, é preciso
que o seu efeito seja comprovado
antes de serem utilizados, evitando os efeitos tóxicos que impeçam
a absorção dos nutrientes.
Os agentes umectantes são substâncias que impedem a evaporação rápida da solução que se aplica
a superfície foliar. É reponsável
também em manter os nutrientes
em contato com a folha por mais
tempo (estado iônico). Isto quer
dizer que quanto mais tempo a solução do nutriente permanecer em
contato com a superfície da folha,
maior será a absroção.
Já os agentes molhantes, conhecidos também como espalhantes
ou ainda surfactantes, são detergentes que são colocados à solução de nutrientes, para diminuir
a tensão superficial das gotículas
aplicadas as folhas, e com isso,
promover o seu espalhamento.
Tornam-se benéficos quando diminuem a tensão superficial da
solução nas gotículas, diminuem o
ângulo de contato com a superfí-
cie da folha, proporcionando o seu
umedecimento.
Vários são os efeitos do pH na
solução sobre a absorção foliar de
nutrientes. Por exemplo, a uréia
absorve melhor em pH 5 e 8 e absorve menos em pH 6 e 9. No caso
de micronutrientes como cobre,
zinco, manganês e ferro, podem
precipitar em pH elevado podendo
ter sua absorção prejudicada.
O período mais adequado para a
aplicação foliar em cana coincide
com a época de maior crescimento
da cultura, isso ocorre na região
Sudeste e Centro-Oeste entre dezembro e fevereiro, época também
em que ocorre o fechamento do
canavial de cana-soca, quando a
massa foliar proporciona total interceptação do produto.
Os problemas nutricionais mais
comuns observado nos canaviais
é a deficiência de boro (B), este
problema é mais comum em solos
arenosos, com baixo teor de M.O.
(Matéria Orgânica) e boa drenagem. A principal fonte de B no
solo é a M.O., assim, em períodos
quente e chuvosos, dependendo
das condições do solo, a M.O. não
consegue repor o B em quantidade suficiente para a cultura que
apresenta-se em pleno crescimento. Em períodos com muita chuva
o B é lixiviado no solo mais rápido
do que a cultura possa absorvê-lo,
por isso solos com alta capacidade
de drenagem também costumam
apresentar deficiência de B.
A recomendação atualmente é
a aplicação de 200 a 300 g/ha de
B podendo ser feita com uniporte
com aplicação de 100 a 150 L/ha
de calda ou quando a cana já apresenta um maior porte o comum é a
aplicação com avião na dose de 50
L/ha de calda.
Canas com maior potencial
produtivo como cana-planta, cana-soca ou cana para muda, também tem sido aplicado formulações com nitrogênio, molibdênio,
zinco e manganês nas quantidades de 12500, 150, 600, 200 g/ha
respectivamente. Os resultados
observados são de acréscimo de
produtividade e ATR principalmente na associação do N, B e Mo,
refletindo diretamente em um
canavial mais sadio e vigoroso.
Também se observa o acréscimo
de bagaço obtido pelo aumento de
produtividade, o que, em tempos
de co-geração de energia, tem um
valor bastante significativo. O uso
do zinco e manganês é menos comum, mas deve ser recomendado
em solos com frequente histórico
de deficiência destes elementos.
Atualmente o uso de boro tem
sido preconizado na maturação da
cana junto ou substituindo o maturador, assim como junto com o
inibidor de florescimento com resultados promissores.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 67
Insumos
Cana-de-açúcar – Nutrindo com consciência
Jorge A. M. Silveira
Gerente de Desenvolvimento Omex
A
pesar do cultivo de cana-de-açúcar ser bastante antigo no Brasil,
estudos com foco em
micronutrientes datam da década de 60, e sem comprovação de
ganhos significativos estatisticamente.
A cultura muito evoluiu de lá
pra cá, com expressivos ganhos
de produtividade e rendimento industrial (açúcar e álcool),
muito devido a melhoramento
genético, manejo agronômico,
melhoria em processos e equipamentos industriais, etc.
Vivemos uma nova realidade
na qual a cana-de-açúcar tem que
dar mais uma vez um salto tecnológico, devido a pressões de mercados mais exigentes, escassez de
recursos e competitividade setorial e outros. Desta forma o foco
da pesquisa vem mudando e de
novo estamos estudando a aplicação de micronutrientes em cana-de-açúcar. De acordo com novas
estratégias os pesquisadores têm
encontrado respostas significativas em relação ao uso de micronutrientes, ganhos estes de produtividade, qualidade e rendimento.
Muito disto se dá por conta de que
os novos materiais, são mais exigentes, mais produtivos e por esta
razão tem uma extração nutricional mais alta, além do que com a
expansão canavieira para outras
áreas tem colocado a cultura em
solos de menor fertilidade.
Ainda hoje muitos têm dúvidas
em relação ao uso de micronutrientes na cultura, muito disto
se dá devido ao uso de sub-doses.
Esta sub-dose apresenta-se devido
a alguns fatores:
- Dose comercial – Para atender
a demanda da cultura são necessários muito mais litros por hectare,
o que inviabiliza economicamente
o uso de alguns produtos;
- Fitoxidez – Para atender a
demanda da cultura em apenas
uma única aplicação, os produtos
comuns de mercados promovem
fitoxidez muitas vezes irreversíveis
e que causam danos e perdas de
produtividade;
- Operacional – Por conta da
fitotoxidez que certos produtos
podem causar o produtor se vê
obrigado a fazer inúmeras aplicações para atender a demanda da
cultura, o que tornam esta pratica
anti-econômica.
E neste cenário que a Omex oferece produtos formulados de alta
tecnologia (eba® technology) e com
alta concentração de nutrientes que
atendem a demanda nutricional da
cultura em uma única aplicação,
sem causar fitotoxidez as plantas e
desta forma promovendo um me-
68 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
lhor desenvolvimento da cana-de-açúcar aumentando a produtividade e rendimento industrial.
A Omex empresa inglesa líder
na produção de fertilizantes líquidos na forma de suspensões, dispõem de produtos concentrados e
formulados (eba® technology) com
a mais alta tecnologia disponível
para aplicação de nutrientes para
as plantas. Sempre procurando
manejos mais adequados que visam suprir as necessidades da extração, mantendo as plantas com
maior vigor, sanidade e desenvolvimento adequado, proporcionando melhor rendimento e qualidade
ao final do ciclo.
Você que está em busca de
maior lucratividade, entre em
contato com a equipe da Omex
e Distribuidor da região e venha
ouvir nossas soluções criativas de
manejo da cana-de-açúcar para
busca de maior produtividade e
rendimento.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 69
Insumos
Pessoas + Inovação +
Sustentabilidade = Química
do Sucesso
Interpretando as necessidades da agricultura com
base em pesquisas e ações, FMC aposta nesta
fórmula para manter-se na liderança do setor
O
Fonte: Assessoria de Imprensa da FMC
“...existem
diversos
recursos
para serem
aplicados
como
soluções
para uma
agricultura
sustentável e
produtiva...”
mundo evolui constantemente e promover
uma agricultura responsável é imprescindível
para a humanidade. O crescimento
da sociedade tem sido exponencial,
chegando a um bilhão de pessoas em pouco mais de uma década.
Dessa forma, a FMC aposta em uma
fórmula para o sucesso, que consiste
em Pessoas, Inovação e Sustentabilidade para resultar na química perfeita, gerando ao produtor os melhores resultados em produtividade
e rentabilidade e focada em incluir
em seu portfólio produtos em harmonia com o meio ambiente.
Hoje existem diversos recursos,
moléculas e ingredientes ativos
com potencial para serem aplicados como soluções para uma agricultura sustentável e produtiva. De
acordo com o gerente de Tecnologia e Inovação da FMC, Yemel
Ortega, com as atuais novas tecnologias, ainda é possível ao homem
incrementar as possibilidades de
encontrar alternativas inovadoras
que cumpram com as exigências da
sociedade moderna. “Mas se não
houver conhecimento e criatividade para extrair o máximo do po-
tencial de cada elemento, de maneira integrada e estável, e desenvolver
combinações sinérgicas voltadas
à necessidade da agricultura, toda
essa gama de elementos disponíveis
será desperdiçada”, ressalta.
Dessa forma, a FMC, líder no
fornecimento de proteção de cultivos para cana-de-açúcar, transforma materiais químicos, orgânicos
e biológicos em soluções para maximizar o rendimento das culturas com uma melhor qualidade e,
consequentemente, um maior valor para o agricultor.
Ortega ressalta ainda que a criação de produtos de alta qualidade
requer formulações eficazes que
permitam uma ação sinérgica ou
aditiva entre os diferentes componentes para ter o melhor desempenho, controlando, de forma
preventiva ou curativa, os principais problemas de pragas, doenças e plantas daninhas. “Dessa
maneira, nosso objetivo é atingir,
da forma mais prática e econômica possível, as necessidades atuais
e futuras”, comenta. “Sabemos
que os sistemas agrícolas não são
estáticos e as mudanças ocorrem
diariamente”, completa.
Investimentos e novas tecnologias
Gerente de
Tecnologia e
Inovação da
FMC, Yemel
Ortega
Atendendo as demandas dos produtores e do mercado, o presidente
FMC América Latina, Antonio Carlos Zem, ressalta que a empresa con-
70 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
tinuará apostando na parte química
tradicional, mas que, muito mais do
que pesquisar e investir na descoberta de moléculas, a empresa almeja a
Presidente FMC América
Latina, Antonio Carlos Zem
aquisição de outras novas. “Adquirimos três moléculas nos últimos dois
anos e estamos em fase de aquisição
de mais duas ou três, que esperamos
poder anunciar em breve”, destaca.
Essa conduta é justificada pelas
extensas e concentradas áreas de
soja, milho e algodão, que serão
uma realidade na agricultura do
amanhã, tornando-se natural um
aumento das pressões de pragas e
doenças. “Temos o sentimento de
que somente a resposta química não
sustentará o todo. Precisamos de
uma combinação de métodos. Trazer produtos biológicos, naturais,
trabalhar mais a nutrição de plantas, a transgenia. Com todos esses
aspectos combinados e articulados,
teremos uma agricultura mais sustentável e poderemos, de fato, conseguir alavancar mais ainda a produção que buscamos”, explica Zem.
Primeiro maturador da FMC
Diante do desafio de produzir
cada vez mais, aumentar a rentabilidade nas lavouras e facilitar o
dia a dia do produtor rural, a FMC
trouxe para o mercado sua mais
nova fórmula e primeiro maturador da Companhia para cana,
o Strada. A empresa expande seu
portfólio, reconhecido como o
mais completo do mercado de
cana e reforça sua posição, apresentando sua solução tecnológica.
Os benefícios do Strada aumentam o potencial de produtividade
nos canaviais, que podem chegar
a 40%, segundo resultados já comprovados pelas pesquisas encomendadas pela FMC. “Ele antecipa
e acelera a maturação natural da
cana, incrementa o teor da sacarose, sem perder a produtividade,
além de auxiliar na flexibilidade
da colheita”, destaca o gerente de
produtos herbicidas da FMC, Jonas Cuzzi.
Outro destaque do maturador é a
boa seletividade à cana-de-açúcar.
“O Strada mantém a produtividade,
pois não mata a gema apical, responsável pelo crescimento da planta, não
afeta a brotação da soqueira e possibilita o menor encurtamento dos entrenós da cana”, explica Cuzzi.
A FMC disponibilizou o Strada
em setembro de 2012 para os produtores rurais. Seu cadastro ainda
está em andamento nos estados
do Paraná e no Espírito Santo. O
ingrediente ativo contém Orthossulfamuron e seu grupo químico
Sulfamoiluréias.
“Por ser um maturador sistêmico com solução hidrossolúvel WG,
o produtor passa a ter um melhor
manejo fitossanitário de seu canavial. É compromisso da FMC
investir em tecnologia, ajudando
o produtor com as suas soluções
para produzir mais e alimentar o
mundo”, ressalta Cuzzi.
No Brasil, a FMC Agricultural
Products, uma das principais empresas do segmento de defensivos
agrícolas, está sediada em Campi-
nas (SP). Com uma extensa linha
de produtos para controle de pragas, plantas daninhas e doenças
em várias culturas, a FMC vem
reforçando sua posição no mercado
de produtos voltados ao cultivo de
grãos, HF, Café e Citrus.
Com faturamento anual de US$
600 milhões em 2011, a FMC Agricultural Products é focada em nichos de mercado nos quais a liderança é conquistada por meio de
investimentos em pesquisa, orientação ao cliente, novas tecnologias,
segurança e, principalmente, em
pessoas motivadas e predispostas em se inovar e se superar. Até
2014, a empresa lançará mais de 40
novos produtos, cujos registros já
estão em andamento. A expansão
do portfolio faz parte dos investimentos da empresa em tecnologia
em prol de melhor rentabilidade na
produção agrícola. Dentro de quatro anos, a empresa visa dobrar seu
faturamento anual.
“Temos o
sentimento de
que somente
a resposta
química não
sustentará
o todo.
Precisamos
de uma
combinação
de métodos...”
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 71
Insumos
É preciso inovar para alcançar a melhor
condição de desenvolvimento no canavial
P
Fonte: Assessoria de Imprensa da Arysta
ara gerar condições mais
favoráveis ao estabelecimento, desenvolvimento
e longevidade dos canaviais, a Arysta LifeScience desenvolveu uma solução que reúne
proteção e nutrição da planta, por
meio do conceito ProNutiva Cana.
A solução tem como destaque o
produto Biozyme, capaz de melhorar o arranque inicial do canavial,
Na figura 1. Área na região de São José
do Rio Preto (SP), no plantio de inverno,
podemos ver o melhor arranque inicial
e uniforme que Biozyme proporcionou,
oferecendo, desde o início, melhores
condições de desenvolvimento ao
canavial, e já minimizando os riscos
de assoreamento do sulco de plantio.
Na figura 2, de um canavial em Guaíra
(SP) já com emergência finalizada e
stand estabelecido foram avaliados
perfilhamento e falhas no stand, que
ocorrem naturalmente dentro do
sistema de plantio da cana-de-açúcar.
perfilhamentos, maior enraizamento e menores falhas no plantio, características fundamentais
para alcançar melhor rendimento
e produtividade na cultura da cana-de-açúcar.
Para demonstrar os benefícios de
Biozyme na prática, foram realizados testes em dezenas de áreas nos
canaviais da região dos estados de
São Paulo e Minas Gerais.
Nesse cenário, a equipe
da Arysta e os produtores
acompanharam desde o
plantio e estabelecimento
da cultura até a colheita.
Em parte da área foi utilizada somente a tecnologia tradicional de plantio,
enquanto a outra parte
adicionou Biozyme. Na
avaliação das falhas nas
linhas de cana-de-açúcar
utilizando a metodologia desenvolvida no IAA
(Instituto Açúcar e Álcool), houve uma significativa redução de
falhas de plantio em 14% na área
que utilizou Biozyme. De acordo
com os parâmetros da metodologia e estimativa de produtividade, o resultado representa uma
produtividade 5% maior na área
com Biozyme já no primeiro corte, além de dar maiores condições
para longevidade do canavial.
Resultante de toda base de implementação do canavial proporcionado pelo Biozyme, o aumento
na produtividade foi frequente nas
áreas. Um exemplo são as áreas
implantadas em Castilho (SP) e
Campo Florido (MG). Como podemos ver no gráfico abaixo, em
Castilho o incremento da produtividade foi de 9,8%, e em Campo
Florido de 13%, além de um visí-
72 | Revista Canavieiros Especial | www.revistacanavieiros.com.br
Figura 3 – 20 dias após a colheita
vel melhor arranque da soqueira
como podem ver na figura 3.
Atenta ao potencial deste segmento, a Arysta LifeScience lançou em 2009 o conceito Pronutiva®, um conjunto de soluções que
protege e favorece o desenvolvimento das lavouras, integrando os
produtos de proteção de plantas
com as melhores especialidades
em nutrição vegetal.
Entre os produtos que compõem
a linha, destaque para o Biozyme,
fertilizante foliar que acrescenta
produtividade às culturas, utilizado em tratamento de sementes e
aplicação foliar; além de Raizal, que
promove desenvolvimento rápido e
vigoroso das mudas; e K-tionic, que
melhora a assimilação dos nutrientes de solo; além de Foltron, Humiplex e Pilatus.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 73
foto: Lucas Cruciol
Insumos
Aplicação
de Fosfato
Natural
Reativo
Bayòvar,
em usina no
estado de
São Paulo.
Inovações em Fertilizantes
Eng. Agr. Lucas Cruciol Maia
Supervisor Técnico da Fertilizantes Heringer
S
egundo a ANDA (Associação Nacional para Difusão
de Adubos), o mercado
brasileiro de fertilizantes
cresce a uma taxa de aproximadamente 6,7% ao ano, finalizando
o ano de 2012 com aproximadamente 29,5 milhões de toneladas
entregues. Crescimento esse que
vem há 20 anos e continuará devido a expansão de nossas fronteiras
agrícolas e plantas mais responsivas a adubações. Com esses materiais genéticos mais produtivos o
mercado de fertilizantes procurou
aprimorar seus produtos, criando
a Uréia Nitro Mais, uma uréia protegida com Boro e Cobre e o Fosfato Natural Reativo Bayòvar que
libera o fósforo gradativamente.
Com os avanços em pesquisas, o
mercado começou a usar micronutrientes (por exemplo Boro, Zinco,
Molibdênio e Manganês). No início eram misturados na forma de
grânulos no fertilizante, logo após
começou a se granular com o Super
Simples. Visando melhorar a distribuição espacial, criamos o NPK
com micronutrientes em 100% dos
grãos, e com o objetivo de inovar o
mercado, a Fertilizantes Heringer
criou o FH Humics, um fertilizante
fosfatado e com micronutrientes,
com várias formulas disponíveis
no mercado. O FH Humics agrega
em seus grãos compostos orgânicos
de diversas fontes, proporcionando
uma melhor eficiência agronômica
na aplicação, gerando uma menor
fixação do fósforo, menor lixiviação do potássio em solos arenosos
e menor adsorção de micronutrientes na matéria orgânica do solo, ou
seja, mais adubo disponível para a
planta consumir e um sistema radicular mais desenvolvido.
Atualmente uma propriedade
rural tem de crescer para cima, os
altos preços de áreas agrícolas reduz
a possibilidade de grandes aquisições de terra, restando ao produtor o investimento em tecnologia e
novas soluções agrícolas. O merca-
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Eng. Agr. Lucas Cruciol Maia
do de fertilizantes está sempre em
busca de novas soluções para uma
adubação mais eficiente, cabe a nós
estarmos atentos as novidades e sabermos selecionar a tecnologia mais
adequada para cada área.
Fevereiro - 2013 | Edição Especial nº1 | 75
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