Curitiba - DAELT
Transcrição
Curitiba - DAELT
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA - ÊNFASE ELETROTÉCNICA LUIZ PHELIPE DENARDIN CECATO RAPHAEL FERREIRA MINATO COMPARAÇÃO DE TRANSFORMADORES COM FATOR K E CONVENCIONAIS ALIMENTANDO CARGAS NÃO LINEARES CURITIBA 2007 1 LUIZ PHELIPE DENARDIN CECATO RAPHAEL FERREIRA MINATO COMPARAÇÃO DE TRANSFORMADORES COM FATOR K E CONVENCIONAIS ALIMENTANDO CARGAS NÃO LINEARES Trabalho apresentado na disciplina de Projeto Final de Curso II como requisito parcial para a conclusão do Curso de Engenharia Industrial Elétrica - Ênfase em Eletrotécnica - do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientador: Prof. Joaquim Eloir Rocha, Dr. CURITIBA 2007 2 AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, a todos os nossos familiares, ao nosso orientador Joaquim Eloir Rocha, e a todos que contribuíram de algum modo para execução desse trabalho: a COMTRAFO – Indústria e Comércio de Transformadores Elétricos LTDA e ao Instituto LACTEC. Gostaríamos de agradecer também a todos nossos amigos que de certa forma vivenciaram este trabalho conosco. 3 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo a comparação da elevação de temperatura de transformadores com fator K e convencionais quando alimentando cargas não lineares. Foram desenvolvidos dois protótipos de 25kVA, sendo um deles um transformador convencional e um segundo com fator K. Foi desenvolvida, também, uma carga não linear de mesma potência e foram realizados ensaios de elevação de temperatura nos laboratórios da empresa que fabricou os transformadores e no Instituto LACTEC. São mostrados os resultados dos ensaios com carga não linear e carga senoidal de cada um dos transformadores e comprovado a eficácia dos transformadores com fator K perante os convencionais para os dois tipos de carga. 4 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ 8 LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................ 11 LISTA DE TABEL AS ............................................................................................................ 12 CAPÍTULO 1 – PROPOSTA DO PROJETO .......................................................................... 13 1.1 Introdução ................................................................................................................. 13 1.2 Problema ................................................................................................................... 14 1.3 Justificativa ............................................................................................................... 14 1.4 Objetivos................................................................................................................... 15 1.4.1 Objetivo geral ................................................................................................... 15 1.4.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 15 1.5 Método de pesquisa .................................................................................................. 15 1.6 Estrutura do trabalho ................................................................................................ 16 CAPÍTULO 2 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 17 2.1 Introdução ................................................................................................................. 17 2.2 Práticas recomendadas pela IEEE para transformadores alimentando cargas não lineares .................................................................................................................................. 17 2.2.1 Introdução ......................................................................................................... 17 2.3 Perdas no transformador e o efeito das correntes harmônicas nestas perdas ........... 20 2.4 Capacidade equivalente de um transformador.......................................................... 23 2.4.1 .................................................................................................................................. 25 2.4.2 Fator de perdas harmônicas para perdas parasitas no enrolamento .................. 25 2.4.3 Fator de perdas harmônicas para outras perdas por dispersão.......................... 26 2.5 Considerações para o projeto especificando um novo transformador ...................... 27 2.5.1 Filtro de corrente harmônico ............................................................................ 28 2.5.2 Impacto no neutro ............................................................................................. 28 2.5.3 Equipamento de correção de fator de potência ................................................. 28 2.5.4 Escudos eletrostáticos ....................................................................................... 28 2.5.5 Considerações para o projeto de partes externas .............................................. 29 2.5.6 Análise do espectro harmônico......................................................................... 29 2.5.7 Considerações para o projeto dos enrolamentos .............................................. 30 5 2.6 Comparação do fator K definido pela Underwriter Laboratories com a definição de fator de perdas harmônicas dada pela IEEE Std C57.110-1998 ........................................... 31 2.6.1 Definição de fator K pela Underwriter Laboratories ........................................ 31 2.6.1.1 2.7 Relações entre fator K e fator de perdas harmônicas ................................... 32 Ensaios de elevação de temperatura em transformadores ........................................ 33 2.7.1 Ensaios de elevação de temperatura em transformadores com carga linear..... 33 2.7.1.1 Medição da temperatura ambiente ................................................................ 34 2.7.1.2 Medição da temperatura em ensaio com carga ............................................. 35 2.7.1.3 Método Termoelétrico .................................................................................. 35 2.7.1.4 Método de Variação de Resistência.............................................................. 36 2.7.1.4.1 Determinação da resistência no instante do desligamento ..................... 36 2.7.1.4.2 Correção na elevação de temperatura para corrente reduzida ................ 36 2.7.2 Ensaios de elevação de temperatura com carga não linear ............................... 37 2.7.3 Recomendação IEEE para medição de elevação de temperatura sobre condições de carga não senoidal ....................................................................................... 38 2.7.3.1 Medição da temperatura de componentes de transformadores ..................... 39 2.7.3.2 Medição da temperatura no enrolamento ..................................................... 39 2.7.3.3 Medição da temperatura no núcleo ............................................................... 39 2.7.3.4 Medição da temperatura do invólucro e da estrutura ................................... 40 2.7.3.5 Medição da temperatura do líquido .............................................................. 40 2.7.3.6 Condições da carga elétrica .......................................................................... 40 2.7.3.7 Características de carga no enrolamento secundário .................................... 40 2.7.3.8 Requerimentos em relação aos instrumentos elétricos ................................. 41 CAPÍTULO 3 – CARGA NÃO LINEAR ................................................................................ 42 3.1 Introdução ................................................................................................................. 42 3.2 Finalidade ................................................................................................................. 42 3.3 Projeto da carga ........................................................................................................ 42 3.3.1 TRIAC .............................................................................................................. 45 3.3.2 Circuito de controle .......................................................................................... 46 3.3.3 Reostato líquido ................................................................................................ 47 3.4 Implementação.......................................................................................................... 49 3.5 Dificuldades enfrentadas .......................................................................................... 52 3.6 Desempenho do circuito ........................................................................................... 53 CAPITULO 4 - PROTÓTIPOS ................................................................................................ 55 6 4.1 Desenvolvimento dos Protótipos .............................................................................. 55 4.2 Montagem dos Protótipos ......................................................................................... 61 4.3 Alteração dos protótipos ........................................................................................... 68 4.4 Análise dos custos .................................................................................................... 69 4.5 Ensaios de verificação .............................................................................................. 70 4.5.1 Medição da relação de transformação .............................................................. 72 4.5.2 Ensaio de saturação .......................................................................................... 73 4.5.3 Ensaio a vazio ................................................................................................... 74 4.5.4 Ensaio de curto-circuito .................................................................................... 76 CAPITULO 5 – ENSAIOS DE ELEVAÇÃO DE TEMPERATURA ..................................... 79 5.1 Preparação para os testes .......................................................................................... 79 5.2 Ensaio de elevação de temperatura convencional .................................................... 82 Elevação de temperatura K-1 – carga senoidal ................................................ 83 5.2.1 5.2.1.1 Elevação de temperatura a vazio .................................................................. 83 5.2.1.2 Elevação de temperatura em carga ............................................................... 85 5.2.1.3 Análise das medições.................................................................................... 86 Elevação de temperatura K-20 – carga senoidal .............................................. 87 5.2.2 5.2.2.1 Elevação de temperatura a vazio .................................................................. 87 5.2.2.2 Elevação de temperatura em carga ............................................................... 87 5.2.2.3 Análise das medições.................................................................................... 87 5.2.3 5.3 Comparação entre ensaios K-1 e K-20 com carga senoidal ............................. 88 Preparações para as medições com carga não linear - COMTRAFO....................... 89 5.3.1 A necessidade do ensaio de elevação de temperatura ...................................... 89 5.3.2 Adaptação do ensaio de elevação de temperatura ............................................ 90 5.3.3 Medição de elevação de temperatura com carga não senoidal ......................... 91 5.3.4 Medição com carga não senoidal – 65A RMS ................................................. 95 5.3.5 Comparação dos resultados obtidos para o transformador com fator K-20 ..... 97 5.3.6 Medição da elevação de temperatura carga não linear – transformador K-1 ... 98 5.3.7 Comparação dos resultados obtidos para o fator K-1 ..................................... 100 5.3.8 Elevação de temperatura no transformador K-20 com 74A RMS.................. 102 5.3.9 Comparação do resultado obtido com corrente a 74A RMS .......................... 104 Medições com carga não linear – Laboratório do LACTEC .................................. 105 5.4 5.4.1 O laboratório de ensaios de elevação de temperatura..................................... 106 5.4.2 Preparação para as medições no LACTEC..................................................... 108 7 5.4.3 Início das medições – elevação de temperatura no protótipo K-20 ................ 112 5.4.4 Elevação de temperatura com carga não linear – protótipo K-20 .................. 114 5.4.5 Comparação dos resultados obtidos no protótipo K-20.................................. 117 5.4.6 Início das medições – elevação de temperatura no protótipo K-1 .................. 120 5.4.7 Elevação de temperatura com carga não linear – protótipo K-1 .................... 122 5.4.8 Comparação dos resultados obtidos no protótipo K-1.................................... 124 5.4.9 Comparação dos resultados obtidos nos transformadores K-1 e K-20 ........... 125 5.4.10 Utilização do termovisor para monitoramento da temperatura ...................... 125 CAPITULO 6 - CONCLUSÃO.............................................................................................. 129 CAPITULO 7 - REFERÊNCIAS ........................................................................................... 130 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Campo eletromagnético criado por uma corrente de carga em um transformador. . 22 Figura 2 - TRIAC - BTA41 ...................................................................................................... 44 Figura 3 - Esquema de ligação dos TRIACs por fase............................................................... 44 Figura 4 - Característica estática dos TRIACs ......................................................................... 45 Figura 5 - Circuito chaveador ................................................................................................... 46 Figura 6 - Reostato líquido ....................................................................................................... 47 Figura 7 - Eletrodo do reostato líquido..................................................................................... 48 Figura 8 - Proteção contra gases corrosivos provenientes da solução eletrolítica.................... 49 Figura 9 - Circuito de controle da carga não linear .................................................................. 50 Figura 10 - Circuito de potência do chaveador ........................................................................ 50 Figura 11 - Circuito chaveador completo com ventilação ........................................................ 51 Figura 12 - Carga não linear em funcionamento ...................................................................... 52 Figura 13 - Tela de ensaio de carga não linear realizado na COMTRAFO ............................. 54 Figura 14 - Oscilógrafo no ensaio com carga não linear realizado na LACTEC ..................... 54 Figura 16 - Estudo mecânico transformador K-1 ..................................................................... 57 Figura 17 - Estudo mecânico transformador K-20 ................................................................... 60 Figura 18 - Núcleo cortado aguardando montagem ................................................................. 61 Figura 19 - Bobinamento da BT ............................................................................................... 62 Figura 20 - Execução da camada entre AT e BT ...................................................................... 63 Figura 21 - Bobinamento da AT sobre BT ............................................................................... 63 Figura 22 - Bobina após fabricação .......................................................................................... 64 Figura 23 - Comparação entre bobina do K-1 e K-20 .............................................................. 64 Figura 24 - Montagem do núcleo K-20 .................................................................................... 65 Figura 25 - Montagem núcleo K-1 ........................................................................................... 65 Figura 26 - Bobinas montadas no núcleo ................................................................................. 66 Figura 27 - Fechamento do núcleo ........................................................................................... 66 Figura 28 - Transformador aguardando painel ......................................................................... 67 Figura 29 - Protótipos finalizados aguardando ensaios de rotina ............................................. 67 Figura 30 - Corte na viga para melhor refrigeração ................................................................. 68 Figura 31 - Hastes de fibra para separar a viga do núcleo ........................................................ 69 Figura 32 - Laboratório de ensaio da COMTRAFO................................................................. 71 9 Figura 33 - Equipamentos de ensaio – laboratório COMTRAFO ............................................ 71 Figura 34 - Área de ensaio - laboratório COMTRAFO ........................................................... 71 Figura 35 – Medição da relação de transformação - K-1 ......................................................... 72 Figura 36 - Medição da relação de transformação - K-20 ........................................................ 73 Figura 37 - Ensaio de saturação - K-1 ...................................................................................... 73 Figura 38 - Ensaio de saturação – K-20 ................................................................................... 74 Figura 39- Ensaio a vazio - K-1 ............................................................................................... 74 Figura 40 - Tela durante o ensaio a vazio - K-1 ....................................................................... 75 Figura 41 - Tela durante o ensaio a vazio - K-20 ..................................................................... 75 Figura 42 - Ensaio a vazio - K-20 ............................................................................................ 76 Figura 43 - Ensaio de curto-circuito – K-1 ............................................................................... 76 Figura 44 - Ensaio de curto-circuito - K-20 ............................................................................. 77 Figura 45 - Tela durante o ensaio em carga - K-1 .................................................................... 77 Figura 46 - Tela durante o ensaio em carga - K-20 .................................................................. 78 Figura 47 - Relé térmico de proteção ....................................................................................... 80 Figura 48 - Tela de monitoramento dos ensaios ....................................................................... 80 Figura 49 - TCs utilizados - classe de isolação 15kV............................................................... 81 Figura 50 - TPs e demais instrumentos para a medição ........................................................... 81 Figura 51 - Disposição dos sensores de temperatura segundo a norma ................................... 82 Figura 52 - Ensaio convencional de elevação de temperatura.................................................. 82 Figura 53 - Elevação de temperatura a vazio ........................................................................... 83 Figura 54 - Ensaio elevação de temperatura em carga - K-20.................................................. 87 Figura 55 – Elevação de temperatura BT – K-20 ..................................................................... 88 Figura 56 - Elevação de temperatura AT - K-20 ...................................................................... 88 Figura 57 – Distorção gerada por corrente nominal cortada em 90º ........................................ 91 Figura 58 - Ensaio K-20 com carga não linear ......................................................................... 92 Figura 59 - Ensaio com a corrente de 65A RMS ...................................................................... 95 Figura 60 - Elevação de temperatura 74A RMS - K-20 ......................................................... 102 Figura 61 - Equipamentos de medição – LACTEC ................................................................ 107 Figura 62 - Bancada com os equipamentos de medição da LACTEC ................................... 107 Figura 63 - Software utilizado para elevação de temperatura de transformadores a óleo ...... 108 Figura 64 - Área climatizada onde foram realizados os ensaios ............................................ 108 Figura 65 - Circuito chaveador ............................................................................................... 109 Figura 66 - Transformador K-20 pronto para o ensaio ........................................................... 109 10 Figura 67 - K-20 sendo ensaiado ............................................................................................ 110 Figura 68 - TCs e TPs para os ensaios ................................................................................... 111 Figura 69 - Oscilógrafo utilizado nos ensaios ........................................................................ 111 Figura 70 - Registrador para controle do espectro harmônico ............................................... 112 Figura 71 - Transformador durante ensaio em carga .............................................................. 112 Figura 72 - Circuito de carga .................................................................................................. 114 Figura 73 - Reostatos em funcionamento ............................................................................... 115 Figura 74 - Estabilização carga não linear - LACTEC........................................................... 123 Figura 75 - Distribuição da temperatura - K20 – 11h 51min ................................................. 126 Figura 76 - Distribuição da temperatura - K20 – 14h 32min ................................................. 126 Figura 77 - Fonte da Califórnia Instruments .......................................................................... 127 Figura 78 - Ensaio a vazio convencional ................................................................................ 128 Figura 79 - Ensaio a vazio com distorção harmônica de tensão ............................................. 128 11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Estabilização elevação de temperatura - K-1 a vazio ............................................. 84 Gráfico 2 - Estabilização K-20 - 92A cortado em 90º .............................................................. 93 Gráfico 3 - Estabilização ensaio 65A RMS - K-20 .................................................................. 96 Gráfico 4 - Estabilização 65A RMS - K-1 ............................................................................... 99 Gráfico 5 - Estabilização 74A RMS - K-20 ........................................................................... 103 Gráfico 6 - Estabilização ensaio convencional em carga - K-20 LACTEC ........................... 113 Gráfico 7 - Estabilização ensaio carga não linear - K-20 LACTEC ...................................... 116 Gráfico 8 - Estabilização temperatura carga não linear - K1 ................................................. 123 12 LISTA DE TABEL AS Tabela 1 - Cálculo transformador K-1 ...................................................................................... 56 Tabela 2 - Cálculo transformador K-20 .................................................................................... 59 Tabela 3 - Análise de custos dos protótipos ............................................................................. 70 Tabela 4 - Preço COMTRAFO ................................................................................................. 70 Tabela 5- Relação de transformação - K-1 ............................................................................... 72 Tabela 6 - Relação de transformação - K-20 ............................................................................ 73 Tabela 7 - Estabilização de ensaio de temperatura K-1 - a vazio ............................................. 84 Tabela 8 - Elevação de temperatura BT - K-1 .......................................................................... 86 Tabela 9 - Elevação de temperatura AT - K-1.......................................................................... 86 Tabela 10 - Estabilização K-20 - 92A cortado em 90° ............................................................. 93 Tabela 11- Elevação de temperatura 65A RMS - K-20 ........................................................... 95 Tabela 12 - Elevação de temperatura 65A RMS BT - K-20 .................................................... 96 Tabela 13 - Elevação de tempereatura 65A RMS AT - K-20 .................................................. 96 Tabela 14 - Elevação de temperatura 65A RMS - K-1 ............................................................ 99 Tabela 15 - Elevação temperatura 65A RMS BT - K-1 ......................................................... 100 Tabela 16 - Elevação de temperatura 65A RMS AT - K-1 .................................................... 100 Tabela 17 - Elevação de temperatura 74A RMS - K-20 ........................................................ 103 Tabela 18 - Elevação de temperatura 74A RMS BT - K-20 .................................................. 104 Tabela 19 - Elevação de temperatura 74A RMS AT - K-20 .................................................. 104 Tabela 20 - Estabilização ensaio convencional em carga - K-20 LACTEC .......................... 113 Tabela 21 - Estabilização ensaio carga não linear - K-20 LACTEC ...................................... 116 Tabela 22 - Comparação entre pontos quentes - ensaios K-20 .............................................. 118 Tabela 23 - Elevação de temperatura K-20 convencional estimada – BT.............................. 119 Tabela 24 - Elevação de temperatura K-20 convencional estimada – AT ............................. 119 Tabela 25 - Elevação de temperatura K-20 carga não linear estimada – BT ......................... 119 Tabela 26 - Elevação de temperatura K-20 carga não linear estimada – AT ......................... 120 13 CAPÍTULO 1 – PROPOSTA DO PROJETO 1.1 Introdução No ambiente de trabalho atual, o aumento do número de equipamentos eletrônicos como reatores, conversores eletrônicos, equipamentos de comunicação e outras cargas que utilizam chaves semicondutoras têm criado um grande problema para engenheiros e proprietários de instalações devido à característica não senoidal de suas cargas. A natureza não linear da alimentação de energia necessária a estes equipamentos gera harmônicos de corrente que causam sobreaquecimento e perda de potência em transformadores, torques oscilatórios em motores de indução, desgaste de isolamentos, e várias outras anomalias nocivas ao sistema elétrico, conforme exposto por PHIPPS (1994). Com todos estes problemas gerados pelas distorções harmônicas, diversos estudos foram realizados com o intuito de quantificá-los. A entidade denominada Underwriters Laboratory - UL criou uma forma de mensurar estes harmônicos conforme sua intensidade em um sistema, obtendo um parâmetro denominado fator K. Através deste valor é possível preparar os equipamentos sensíveis à presença de distorções em uma rede elétrica, sobredimensionando-os, instalando-se filtros, ou mesmo isolando-os do resto do sistema, caso não suporte a quantidade de harmônicos presentes na rede. O fator K, ou fator de perdas harmônicas, conforme a generalização feita pela recomendação C57.110-1998 do Institute of Electrical and Electronics Engineers – IEEE, também se tornou útil como forma de caracterizar um equipamento especialmente voltado para suportar as tensões e correntes não senoidais presentes em um circuito elétrico. Os transformadores convencionais, pela mesma recomendação da IEEE, têm sua potência reduzida para que possam operar sem problemas sob um determinado fator K, ou como é mencionado na recomendação, são desclassificados em sua potência, visto que estes não dependem apenas do seu design, mas também da operação efetiva da carga, de acordo com TACI e DOMIJAN (2004). A diminuição de sua potência nominal, para tal aplicação onde está presente a distorção de tensão e corrente, permite que o transformador suporte o aquecimento causado devido às perdas induzidas pelos harmônicos. Mas essa solução não é financeiramente benéfica, pois se perde uma parte da capacidade do transformador. 14 A indústria moderna, preocupada com o aumento da utilização de equipamentos geradores de harmônicos, criou o conceito de transformador de fator K como mostra FRANK (1997). Ele é um equipamento que possui características construtivas que permite utilizar toda a potência nominal, sem necessidade de desclassificação, sob um determinado volume de harmônicos na rede. O transformador com fator K e seu novo conceito de projeto é algo muito recente no mercado internacional, gerando muitas discussões sobre seus resultados e aplicabilidade. No Brasil, vêm sendo realizadas várias pesquisas sobre tal tecnologia, com a finalidade de fabricar um produto que atenda as necessidades das instalações elétricas nacionais de uma forma mais barata e segura. 1.2 Problema O estudo de transformadores com fator K e convencionais alimentando cargas não lineares é muito recente e escasso no Brasil. Não há nenhuma padronização com relação ao desempenho sob tais condições e nenhum método de ensaio que comprove a eficácia de um transformador com fator K em relação a um transformador convencional. 1.3 Justificativa Com a elaboração de métodos de medição para transformadores alimentando cargas não senoidais, obtendo valores de temperatura e rendimento, torna-se possível a elaboração de um relatório capaz de demonstrar os efeitos da tal situação nestes equipamentos e comprovar a eficácia do transformador com fator K sobre a carga não linear correspondente. Com os dados coletados neste ensaio, no protótipo da empresa cedente, pode-se responder as dúvidas presentes no mercado sobre os efeitos de cargas não senoidais, e ainda mostrar as vantagens de um transformador com fator K, respondendo a questionamentos de clientes sobre os resultados e garantias que podem ter ao instalar o equipamento. Também pode-se sugerir posteriormente que os métodos de medição utilizados sejam adotados pelas empresas fabricantes e clientes para avaliar os transformadores que serão submetidos a tais cargas não senoidais. 15 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo geral Comparar um transformador convencional com um transformador com fator K sobre carga não linear através de medições de elevação de temperatura. 1.4.2 Objetivos específicos Estudar os métodos de ensaio de transformadores convencionais; Estudar de forma detalhada as recomendações propostas pela IEEE C57.110 – 1998; Desenvolver uma carga geradora de harmônicos; Adaptar ensaios de elevação de transformadores a seco para situações de carga não linear; Ensaiar um protótipo de um transformador a seco com fator K de potência nominal de 25kVA e um transformador a seco convencional de mesma potência, ambos fornecidos pela empresa COMTRAFO – Indústria e Comércio de Transformadores LTDA, nos laboratórios da empresa cedente e nos laboratórios do LACTEC; Comparar os dados obtidos comprovando a eficácia do transformador com fator K em relação ao convencional. 1.5 Método de pesquisa Serão estudados os métodos de ensaios de transformadores convencionais por meio de livros, normas e laboratórios. Também, será realizada uma pesquisa sobre cargas harmônicas e seus efeitos em transformadores com intuito de obter o conhecimento necessário para o desenvolvimento de uma carga geradora de harmônicos. Após estes estudos, terá início o desenvolvimento da carga e implementação do método de ensaio. Concluída esta etapa, será agendada uma data para a realização dos ensaios no instituto LACTEC e no laboratório da empresa COMTRAFO – Indústria e Comércio de 16 Transformadores LTDA., a qual cederá o protótipo do transformador a seco com fator K e o transformador a seco convencional, ambos de potência nominal de 25kVA, para tais propósitos. Finalmente, analisar-se-á os resultados obtidos, através dos quais se poderá comprovar a eficácia do protótipo, sugerindo possíveis modificações no projeto do mesmo. 1.6 Estrutura do trabalho A estrutura desse trabalho está organizada em sete capítulos, conforme descrito: O primeiro capítulo será destinado à introdução do tema proposto, o problema a ser resolvido e as justificativas que levam à necessidade da resolução do problema, o objetivo principal e específico deste trabalho, e o método de pesquisa a ser utilizado. O segundo capítulo se voltará para o aspecto teórico da tecnologia englobada neste trabalho, esclarecendo o conhecimento atual sobre o assunto, utilizando-se de revisões bibliográficas estudadas. O terceiro capítulo será destinado ao projeto da carga não linear e implementação da mesma. O quarto capítulo será destinado ao desenvolvimento dos protótipos - projeto, construção e ensaios de verificação dos mesmos. O quinto capítulo tratará da realização dos ensaios de elevação de temperatura propriamente dito, a metodologia utilizada, dificuldades enfrentadas, resultados, etc. O sexto capítulo será destinado às conclusões que foram obtidas pela equipe após o término do projeto. O sétimo e último trará as referências bibliográficas que foram utilizadas pela equipe. 17 2 Capítulo CAPÍTULO 2 –2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Introdução Neste capítulo se estará ampliando e aprofundando os conceitos necessários para a realização deste trabalho, por meio de uma revisão bibliográfica que engloba um estudo mais aprofundado da recomendação IEEE Std C57.110-1998 e seus tópicos, uma revisão do ensaio de rendimento em transformadores convencionais e uma revisão do ensaio de elevação de temperatura em transformadores, constantes nas normas NBR 5380 e NBR 10295 respectivamente. Os conceitos necessários para o desenvolvimento da carga não linear serão abordados em um capítulo à parte. O estudo da IEEE Std C57.110-1998 trará toda uma conceituação e teoria sobre cargas não lineares em transformadores e seus efeitos, com recomendações práticas para transformadores convencionais e especialmente projetados (com fator K) para alimentar cargas não senoidais. A revisão do ensaio de rendimento em transformadores demonstrará a teoria relacionada, a metodologia para ensaios com carga linear e mostrará algumas adaptações de fabricantes para o ensaio com cargas não lineares. E por último a revisão do ensaio de elevação de temperatura em transformadores convencionais explicará os conceitos e fatores envolvidos neste ensaio, bem como sua execução. Como foi feito para os ensaios de elevação de temperatura, será abordado também metodologias utilizadas por fabricante para ensaios de transformadores alimentando cargas não senoidais. 2.2 Práticas recomendadas pela IEEE para transformadores alimentando cargas não lineares 2.2.1 Introdução O amplo uso de equipamentos retificadores em cargas industriais e o aumento de cargas eletrônicas como computadores e conversores para ajuste de velocidade de motores em 18 pequenas fábricas, centros comerciais e mesmo em grandes centros residenciais ligados à pequenos e médios transformadores de força têm causado um aumento substancial no conteúdo harmônico na rede destes equipamentos. É muito comum o fator de corrente harmônica exceder 0,05 por unidade (pu), o qual é o limite especificado para as “condições usuais de serviço”, segundo as recomendações das normas do IEEE C57.12.00-1993 e C57.12.01-1998. Também é conhecido que um maior conteúdo harmônico na corrente causa maiores perdas parasitas nos condutores dos enrolamentos dos equipamentos e aumentos de temperatura nas partes estruturais devido ao fluxo de dispersão. Este aumento de cargas não lineares tem criado a necessidade de se aplicar certas práticas especiais quando há cargas harmônicas no circuito de transformadores de distribuição de pequena e média potência. A IEEE Std C57.110-1998 define como se deve proceder em tais situações. Esta própria IEEE reconhece que estes métodos tendem a ser extremamente conservativos. Logo as recomendações para utilização destes transformadores de baixa potência para uma carga menor que a nominal serão menos aplicáveis. Esta recomendação também estabelece que transformadores a óleo têm diferentes limitações que transformadores à seco, devendo a abordagem para cada tipo ser diferenciada quando necessário. Os transformadores que irão suprir cargas não lineares devem ser especificados com base no espectro da corrente harmônica. Caso esta não seja conhecida, suposições conservadoras são utilizadas, sob o risco de sobredimensionar o transformador para a aplicação desejada. Para uma análise mais profunda dos efeitos dos harmônicos sobre os transformadores, é necessário estabelecer certas considerações iniciais. As IEEE Std C57.12.90-1993 e IEEE Std C57.12.91-1995 categorizam as perdas em transformadores em perdas sem carga (perdas de excitação), perdas em carga (perdas pela impedância), e perdas totais (a soma de ambas as perdas anteriores). Perdas em carga são subdividadas em perdas ôhmicas e perdas por dispersão. As perdas por dispersão são determinadas subtraindo-se as perdas ôhmicas (calculadas a partir da resistência medida) das perdas em carga. Segundo a IEEE Std C57.110-1998, as perdas por dispersão podem ser definidas como as perdas devido ao fluxo de dispersão eletromagnético nos enrolamentos, núcleo, braçadeiras do núcleo, escudos magnéticos, caixa do transformador, etc. O fluxo de dispersão pode ser subdividido em fluxo de dispersão no enrolamento e fluxo de dispersão nos outros componentes (POSL). As perdas por dispersão no enrolamento incluem as perdas parasitas na superfície dos condutores do enrolamento e perdas devido à circulação de correntes entre 19 superfícies e enrolamentos paralelos. Todas essas perdas são consideradas como constituintes da perda parasita no enrolamento, PEC. Logo as perdas totais, dadas em watts, são estabelecidas conforme a equação abaixo: PLL P PEC POSL (1) Onde: PLL = perdas totais P = perdas ôhmicas PEC = perdas por dispersão nos enrolamentos POSL = perdas por dispersão em outros componentes Se o valor RMS da corrente a plena carga aumenta devido aos harmônicos, as perdas ôhmicas aumentarão da mesma forma. BISHOP (1993), CREPAZ (1970) e BLUME (1951) demonstram que as perdas por correntes parasitas no enrolamento (PEC) no espectro de freqüência tendem a serem proporcionais ao quadrado da corrente de carga e ao quadrado da freqüência. Esta é a característica que pode causar perdas excessivas nos enrolamentos e consequentemente um aumento anormal de temperatura nos enrolamentos em transformadores suprindo correntes não lineares. É reconhecido que outras perdas por dispersão (POSL) no núcleo, braçadeiras e outras partes estruturais também irão aumentar em uma taxa proporcional à corrente ao quadrado. Entretanto, essas perdas não irão aumentar a uma taxa proporcional ao quadrado da freqüência, como nas perdas dos enrolamentos. Estudos de fabricantes e outros pesquisadores têm mostrado que as perdas parasitas em barramentos, conexões, e outras partes estruturais aumentam por um fator de expoente harmônico menor ou igual a 0,8. Como transformadores a seco não apresentam uma caixa envolvente e líquido isolante, aumentos de temperatura nas partes estruturais são menos críticas que nos enrolamentos. Já para transformadores a óleo, um aumento de temperatura nas partes estruturais irá corresponder a um aumento na temperatura do óleo isolante, devendo este efeito ser necessariamente levado em conta durante estudos. Correntes de carga harmônicas são freqüentemente acompanhadas de uma componente de corrente contínua (CC). Esta componente CC aumenta as perdas no núcleo do transformador levemente, mas aumenta substancialmente a corrente de magnetização e o ruído sonoro. Para componentes de corrente contínua relativamente pequenas (até o valor 20 RMS da corrente de excitação do transformador sob tensão nominal) não há praticamente efeito na capacidade de carga do transformador, segundo a IEEE Std C57.110-1998. Mas para componentes CC da corrente de carga maiores deve se considerar seu efeito sobre o transformador. 2.3 Perdas no transformador e o efeito das correntes harmônicas nestas perdas Para conhecimento melhor das perdas e seus efeitos em transformadores, a fim de se obter uma compreensão mais completa do tema em estudo, uma abordagem mais profunda e explicativa sobre as perdas existentes no transformador é dada a seguir. A IEEE Std C57.110-1998 expõe que transformadores de força de até 50 MVA são quase sempre do tipo núcleo envolvido. Os enrolamentos de alta e baixa tensão são cilindros concêntricos envolvendo uma perna vertical do núcleo de seção transversal retangular ou circular. As pernas verticais do núcleo e os jugos horizontais que constituem o circuito magnético são feitos de lâminas finas de aço-silício. Na parte superior e inferior dos jugos têm-se as partes estruturais que podem ser metálicas ou de materiais isolantes. Transformadores a óleo são fechados dentro de um tanque de aço, enquanto transformadores a seco podem ser livres ou envolvidos por uma estrutura metálica, conforme o grau de proteção. Se uma corrente contínua passa através dos enrolamentos de um transformador, uma simples perda ôhmica é produzida. Entretanto, se uma corrente alternada de mesma magnitude passa através dos enrolamentos, perdas adicionais são produzidas. Isto pode ser explicado da seguinte forma. Quando os enrolamentos do transformador transportam corrente alternada, cada condutor é envolvido por um campo eletromagnético alternado no qual a força eletromagnética é diretamente proporcional a magnitude da corrente. Uma figura do campo produzido por uma corrente nominal fluindo por todos os condutores dos enrolamentos é mostrada na figura 1, a qual é uma visão da seção transversal através do núcleo, enrolamentos, estrutura e tanque. Cada condutor metálico ligado pelo fluxo eletromagnético experimenta uma tensão induzida interna que faz com que correntes parasitas fluam no condutor. As correntes parasitas produzem perdas que são dissipadas na forma de calor, produzindo uma elevação de temperatura adicional no condutor sobre seus arredores. Este tipo de perdas extras além das perdas ôhmicas são freqüentemente referidas como perdas 21 por dispersão. Mesmo que todas as perdas extras sejam perdas por correntes parasitas, a porção nos enrolamentos é a geralmente chamada perdas por correntes parasitas, P EC, e a porção fora dos enrolamentos é chamada de outras perdas por dispersão, POSL. Perdas por correntes parasitas nos condutores dos enrolamentos são proporcionais ao quadrado da força do campo eletromagnético (ou ao quadrado da corrente de carga que produz o campo) e ao quadrado da freqüência da corrente alternada. As outras perdas por dispersão são geralmente proporcionais à corrente elevada a uma potência pouco menor que 1, por que a profundidade de penetração do fluxo eletromagnético em outras partes metálicas (geralmente aço) varia com a força do campo. (Para correntes harmônicas de freqüências muito altas o fluxo eletromagnético pode não penetrar totalmente nos condutores dos enrolamentos, mas é conservativo supor que as perdas por correntes parasitas, PEC, é proporcional ao quadrado da freqüência da corrente harmônica). Quando o transformador está sujeito a uma corrente de carga que tenha conteúdo harmônico considerável, as perdas parasitas extras nos condutores dos enrolamentos e em outras partes metálicas irão elevar a temperatura dessas partes acima da temperatura normal de operação sob condições nominais. Experiências têm mostrado que os condutores dos enrolamentos são as partes mais críticas na determinação de uma temperatura aceitável de operação, logo, o objetivo deve ser prevenir que as perdas nos condutores quando o equipamento alimentar carga não linear não excedam as perdas permitidas quando o mesmo estiver operando com freqüência nominal. O enrolamento mais interno de um transformador de núcleo envolvido tipicamente tem perdas de correntes parasitas maiores que o enrolamento externo a este, pois o fluxo eletromagnético tem uma tendência maior para franjear para dentro para o caminho de menor relutância da perna do núcleo. Além disso, o local de maiores perdas por correntes parasitas geralmente é a região onde se encontram os últimos condutores do enrolamento interno. Isto é o resultado do fato que esta é a área de maior densidade de fluxo eletromagnético radial (espaçamento mais perto das linhas de fluxo direcionadas radialmente na figura 1) e que o fluxo radial passa através da largura do condutor retangular do enrolamento, já que a largura de um condutor é de 3 a 5 vezes a dimensão da espessura e a perda por corrente parasita é proporcional ao quadrado da dimensão. Correntes harmônicas fluindo através da impedância do transformador e através da impedância do sistema podem também produzir alguma pequena distorção harmônica na forma de onda da tensão nos terminais do transformador. Tais harmônicos de tensão também causam perdas harmônicas extras no núcleo do transformador. Entretanto, as experiências têm 22 indicado que o aumento da temperatura do núcleo nunca será o parâmetro limitador para determinação de magnitudes seguras de correntes não senoidais. Figura 1 - Campo eletromagnético criado por uma corrente de carga em um transformador. FONTE: TRANSFORMERS COMMITTEE OF THE IEEE POWER ENGINEERING SOCIETY. IEEE recommended practice for establishing transformer capability when supplying nonsinundal load currents. (1998) 23 2.4 Capacidade equivalente de um transformador A capacidade equivalente de um transformador é a capacidade do mesmo em suportar cargas não lineares, mantendo as perdas máximas permitidas, por meio da redução da corrente nominal de regime permanente e baseia-se nas seguintes premissas: 1) O transformador, exceto pela distribuição de corrente de carga harmônica, deve operar de acordo com a IEEE Std C57.12.00-1993 ou a IEEE Std C57.12.01-1998. 2) O transformador deve ser capaz de suprir uma corrente de carga de qualquer conteúdo harmônico desde que as perdas totais, as perdas em cada enrolamento, e a densidade de perdas da região de maiores perdas parasitas não excedam os níveis para plena carga, freqüência nominal, e condições de onda senoidal. É também pressuposto que a condição limitante é a densidade de perdas na região de maiores perdas parasitas no enrolamento. Para a IEEE Std C57.110-1998, a maior preocupação em um transformador operando sob condições de cargas harmônicas é o sobreaquecimento dos enrolamentos, logo, é conveniente considerar a densidade das perdas nos enrolamentos na base p.u. (corrente base é a corrente nominal e as perdas base são as perdas ôhmicas sob corrente nominal). Dessa forma a Equação (1) aplicada para condições nominais de carga pode ser escrita da seguinte forma: PLL R ( pu) 1 PEC R ( pu) POSLR ( pu) (2) Onde: PLL-R = perdas totais em pu PEC-R = perdas por dispersão nos enrolamentos em pu POSL-R = perdas por dispersão em outros componentes em pu Dadas as perdas por correntes parasitas sob condições nominais para um enrolamento do transformador ou parte dele (PEC-R), as perdas por correntes parasitas devido a qualquer corrente de carga não senoidal definida pode ser expressa por: 24 PEC PEC R h hMAX ( h 1 Ih 2 2 ) h IR (3) Onde: PEC = perdas por dispersão no enrolamento devido a qualquer ordem harmônica PEC-R = perdas por dispersão no enrolamento devido a corrente nominal Ih = corrente eficaz do harmônico considerado IR = corrente nominal na freqüência nominal h = ordem do harmônico considerado As perdas ôhmicas sob carga nominal é 1 por unidade. Para correntes não senoidais, a equação para a corrente RMS em p.u. (corrente base é a corrente nominal), será: I ( pu) h hMAX h 1 I h ( pu) 2 (4) Onde: I (pu) = corrente eficaz em pu Ih (pu) = corrente eficaz do harmônico considerado em pu A Equação (3) também pode ser escrita em p.u. (corrente de base é a corrente nominal e perdas base são as perdas ôhmicas sob corrente nominal): PEC ( pu) PEC R ( pu) h hMAX I h 1 h ( pu ) 2 h 2 (5) As equações de (2) a (5) assumem que as correntes de aplicação medidas são tomadas sobre as correntes nominais do transformador. Já que isto é raramente encontrado em campo, um novo termo é necessário para descrever as perdas parasitas no enrolamento sobre a corrente medida e freqüência da rede, PEC-O. Três suposições em adição às premissas básicas anteriormente feitas são necessárias para clarear o uso deste termo: 1) As perdas parasitas são aproximadamente proporcionais ao quadrado da freqüência. Essa suposição irá fazer com que qualquer equação subseqüente seja precisa para condutores pequenos e baixas freqüências harmônicas, com erros para uma combinação de grandes condutores e altas freqüências harmônicas. 25 2) As perdas parasitas são função da corrente nos condutores, qualquer equação para perdas pode ser expressa em termos da corrente de carga RMS, I. 3) Superposição de correntes parasitas é aplicável, o que irá permitir a adição direta de perdas parasitas devido aos vários harmônicos. As equações (3) e (5) podem ser escritas agora de uma forma mais generalizada: PEC PEC O h hMAX ( h 1 Ih 2 2 ) h I (6) Removendo o termo de corrente RMS I, do somatório, a equação se torna: h hMAX PEC PEC O 2 Ih h2 h 1 I (7) 2 O valor RMS da corrente não senoidal é dado por: I h hMAX h 1 Ih 2 (8) O termo da corrente RMS I pode ser expresso em termos das freqüências componentes: h hMAX PEC PEC O 2 Ih h2 h 1 h hMAX h 1 (9) Ih 2 2.4.1 2.4.2 Fator de perdas harmônicas para perdas parasitas no enrolamento É conveniente definir um único número que pode ser usado para determinar a capacidades de um transformador em suprir energia para uma carga. FHL é um fator de proporcionalidade aplicado às perdas parasitas no enrolamento, que representa o aquecimento 26 RMS efetivo como resultado da corrente de carga harmônica. FHL é uma relação das perdas por correntes parasitas totais devido aos harmônicos, PEC, pelas perdas por correntes parasitas na freqüência da rede (PEC-O). Esta definição é dada na forma da Equação (10) abaixo: h hMAX FHL PEC PEC O 2 Ih h2 h 1 h hMAX h 1 (10) Ih 2 Onde: FHL = fator de perdas harmônicas PEC = perdas por correntes parasitas totais devido aos harmônicos PEC-O = perdas por correntes parasitas na freqüência da rede A equação anterior permite que FHL seja calculado em termos dos valores RMS reais das correntes harmônicas. Vários equipamentos de medição permitem que sejam feitos cálculos em termos de harmônicos normalizados pela corrente RMS total ou a corrente da freqüência fundamental. A equação (10) pode ser adaptada para estas situações dividindo o numerador e o denominador por I1, a corrente fundamental harmônica, ou por I, a corrente RMS total. 2.4.3 Fator de perdas harmônicas para outras perdas por dispersão Apesar do aquecimento devido às outras perdas por dispersão geralmente não ser considerado em transformadores a seco, este pode ter um efeito substancial em transformadores a óleo. Uma relação similar ao fator de perdas harmônicas para perdas parasitas no enrolamento existe para estas outras perdas por dispersão no transformador, e pode ser desenvolvida de uma maneira similar. Entretanto, as perdas devido às conexões no barramento, partes estruturais, tanque, etc. são proporcionais ao quadrado da corrente e a freqüência harmônica por um fator exponencial de 0,8, como mostra a Equação (11) a seguir: 27 POSL POSL R h hMAX h 1 ( I h 2 0 ,8 ) h IR (11) Onde: POSL = perdas por dispersão em outros componentes devido a qualquer ordem harmônica POSL-R = perdas por dispersão em outros componentes h = ordem do harmônico considerado Ih = corrente eficaz do harmônico considerado IR = corrente nominal na freqüência fundamental As equações correspondentes ao fator de perdas harmônicas, normalizada para a corrente fundamental ou normalizada para a corrente RMS pode ser escrita como: h hMAX FHL STR 2.5 Ih h 1 I h hMAX Ih h 1 I 2 h 0 ,8 2 (12) Considerações para o projeto especificando um novo transformador A IEEE Std C57.110-1998 cita as considerações a seguir na especificação de um novo transformador que pode alimentar cargas não lineares. Este transformador é conhecido pelo mercado como transformador com fator K, onde suas características construtivas o tornam aplicável a certos níveis de cargas não lineares, previamente especificados, sem que haja o sobreaquecimento e necessidade de trabalhar com cargas menores que a nominal. O conceito de fator K, como já explicado na introdução, será retomado no devido momento, com uma comparação direta com o fator de perdas harmônicas. 28 2.5.1 Filtro de corrente harmônico Onde for praticável, o usuário deve instalar filtros na linha secundária para reduzir algumas das correntes harmônicas requeridas ao transformador. Se uma das freqüências harmônicas está perto da freqüência de ressonância resultante do circuito filtrador, pode ocorrer uma amplificação de corrente nesta freqüência. 2.5.2 Impacto no neutro Quando as freqüências de corrente harmônica incluem harmônicos de ordem múltiplo de três, correntes de seqüência zero fluem no neutro, estas por estarem em fase podem ocasionar correntes até 3 vezes maiores do que a nominal no neutro. Dessa forma, uma prática comum é dobrar o tamanho do condutor afim de se evitar problemas por sobreaquecimento. 2.5.3 Equipamento de correção de fator de potência Equipamentos de correção de fator de potência são freqüentemente instalados para diminuir custos. Cuidados devem ser tomados quando isto é feito, visto que a amplificação da corrente em certas freqüências devido à ressonância no circuito pode ser bem alta. Somandose, a indutância que é reduzida no circuito geralmente permite que maiores correntes harmônicas existam no sistema. Efeitos de aquecimento devido aos harmônicos nessas condições podem causar danos no transformador ou outros equipamentos. As perdas adicionais produzidas podem também aumentar os custos devido à maior energia necessária, mesmo que o fator de potência seja melhorado. 2.5.4 Escudos eletrostáticos Escudos eletrostáticos aterrados são freqüentemente especificados entre os enrolamentos primário e secundário. A presença de escudos eletrostáticos tende a diminuir o acoplamento capacitivo entre os enrolamentos. Isto reduz o acoplamento de transitórios entre 29 os enrolamentos. Distúrbios nas linhas produzidos por um equipamento conversor conectado ao secundário do transformador serão reduzidos, mas não serão eliminados no primário do transformador. Estes escudos não têm a intenção de reduzir as correntes harmônicas, mas em virtude de seu acoplamento magnético a enrolamentos transportando tais correntes, perdas de calor adicionais são reduzidas. Os escudos eletrostáticos são um suplemento, mas não necessariamente uma alternativa para filtros de corrente harmônicas. Logo, um filtro ainda pode ser necessário para atingir a qualidade de energia desejada. Os escudos eletrostáticos também servem como proteção para o lado secundário do transformador de transitórios que podem ser induzidos do enrolamento de alta tensão. Isto é especialmente importante para transformadores com secundários não aterrados. Transitórios no lado de alta tensão do transformador podem aumentar dramaticamente a onda de tensão vista num enrolamento secundário não aterrado ao invés do que poderia ser esperado para um enrolamento aterrado. Isto pode danificar os enrolamentos, partes do transformador e equipamentos conectados no secundário do transformador. A presença de um escudo eletrostático entre os enrolamentos primário e secundário reduz a magnitude dos transitórios acoplados aos enrolamentos secundários. 2.5.5 Considerações para o projeto de partes externas Correntes harmônicas podem substancialmente aumentar as perdas por dispersão em partes estruturais fora dos enrolamentos. Afastamentos adicionais, uso de materiais não magnéticos, a interrupção de potenciais caminhos de circulação de corrente, e o uso de materiais protetores devem ser considerados como modos de reduzir os efeitos de aquecimento da corrente harmônica na estrutura do equipamento. Estas outras perdas por dispersão (POSL) devem ser incluídas nas perdas usadas para determinar a temperatura máxima de elevação do óleo, em transformadores a óleo sob condições de carga não linear. 2.5.6 Análise do espectro harmônico É preferível que o espectro harmônico ao qual o transformador será submetido seja especificado ao fabricante. Uma análise precisa para o dimensionamento correto do 30 transformador pode apenas ser feito analisando-se o espectro harmônico. Se o espectro não pode ser fornecido, então um cálculo do usuário ou uma estimativa do fator de perdas harmônicas deve ser especificado. Entretanto, a unidade será dimensionada de uma forma conservadora, compensando a falta de informação sobre a carga. O engenheiro responsável pela especificação deve fornecer esta informação, já que o fabricante não pode assumir valores sem um real conhecimento do sistema em que o transformador trabalhará. 2.5.7 Considerações para o projeto dos enrolamentos Já que as correntes harmônicas podem substancialmente aumentar as perdas parasitas no enrolamento, estas devem ser consideradas no cálculo de elevação de temperatura quando um novo transformador é projetado. Para cada enrolamento, as perdas por correntes parasitas em p.u. na região de maior densidade de perdas podem ser definidas para a freqüência e corrente nominal de operação pelo fabricante sobre os termos da Equação (2), com POSL-R em p.u. igual a zero, já que por definição não há nenhuma outra perda por dispersão no enrolamento. A densidade de perdas em p.u. nesta região de maiores correntes parasitas pode então ser recalculada para a corrente de carga não senoidal definida, combinando-se as Equações (2), (5), (8), e (11). PLL( pu) I ( pu) .(1 FHL .PEC R ( pu) ) 2 (13) Onde: PLL = perdas totais em carga I = corrente eficaz em pu FHL = fator de perdas harmônicas PEC-R = perdas por dispersão nos enrolamentos Para ajustar a densidade das perdas em p.u. nos enrolamentos individuais, o efeito da FHL deve ser conhecido nos mesmos. Assim o enrolamento de baixa tensão, com seu condutor de seção transversal maior pode iniciar com uma densidade de perdas menores e uma menor elevação de temperatura em relação ao primário, mas pode aumentar mais que este e exibir o ponto de maior temperatura no transformador para cargas harmônicas. Isso quer dizer que há um determinado valor de FHL para a carga, mas este pode gerar diferentes efeitos em diferentes transformadores e diferentes enrolamentos. 31 Para transformadores a óleo, o aquecimento da temperatura do líquido isolante se dá por perdas por dispersão nas partes estruturais e pelas perdas parasitas nos enrolamentos. Nessas regiões mencionadas, considerando a densidade das perdas em p.u. obtida pela Equação (13), com uma corrente não senoidal de magnitude RMS de 1 p.u., limites de temperatura e aumento de temperatura dadas pelas IEEE Std C57.12.00-1993 e IEEE Std C57.12.01-1998 devem ser respeitadas. 2.6 Comparação do fator K definido pela Underwriter Laboratories com a definição de fator de perdas harmônicas dada pela IEEE Std C57.110-1998 2.6.1 Definição de fator K pela Underwriter Laboratories A definição para a classificação fator K para transformadores a seco é dada na UL 1561-1994 e UL 1562-1994. No parágrafo 7B.1 adicionado à UL 1562 em 12 de maio de 1992, o fator K é definido como uma classificação opcionalmente aplicada ao transformador indicando sua capacidade para uso em cargas que se alimentam de correntes não senoidais. A equação do fator K é dada como: Fator K = I h ( pu) h 2 2 (14) h 1 onde: Ih(pu) = corrente RMS no harmônico “h” em p.u. h = ordem do harmônico A Underwriters Laboratories (UL) ressalta que transformadores classificados como fator K não foram avaliados para uso em cargas harmônicas onde a corrente RMS de qualquer harmônico, maior que o décimo, superar a corrente RMS fundamental em 1/h. 32 2.6.1.1 Relações entre fator K e fator de perdas harmônicas A definição do fator K da UL é baseada no uso da corrente nominal do transformador para o cálculo da corrente em p.u.. Substituindo a corrente nominal na equação do fator K resulta em: I Fator K = h h 1 I R 2 2 1 h 2 IR I h 1 2 h h2 (15) onde: IR = corrente de carga RMS nominal do transformador O fator de perdas harmônicas definido pela IEEE Std C57.110-1998, é dada pela Equação (16): h hMAX FH L 2 I h h2 h 1 h hMAX h 1 (16) Ih 2 Rearranjando a equação tem-se: h hMAX h 1 I h h FHL 2 2 h hMAX h 1 Ih 2 (17) Substituindo na Equação (15): h hMAX 2 Ih Fator K = h 1 2 FHL I R (18) A Equação (18) fornece a relação entre o fator de perdas harmônicas e o fator K. Este primeiro é uma função da distribuição das correntes harmônicas e é independente da 33 magnitude relativa. Já o fator K é dependente da magnitude e da distribuição da corrente harmônica. Para medições das correntes harmônicas em instalações existentes o valor numérico do fator K é diferente do valor do fator de perdas harmônicas. Para um grupo de medidas de correntes harmônicas o cálculo do fator K é dependente da corrente nominal secundária do transformador. Para um novo transformador com correntes harmônicas especificadas em p.u., com base na corrente secundária nominal, o fator K e o fator de perdas harmônicas tem os mesmos valores numéricos. O valor do fator K iguala-se ao valor do fator de perdas harmônicas somente quando a raiz quadrada do somatório das correntes harmônicas ao quadrado iguala-se a corrente secundária do transformador. 2.7 Ensaios de elevação de temperatura em transformadores Um grande problema causado pelas correntes harmônicas nos transformadores é o sobreaquecimento. Este fenômeno causa falhas prematuras no equipamento além de diminuir a vida útil do mesmo. Isto ocorre, principalmente, devido ao aumento da temperatura alterar as características químicas e mecânicas da isolação dos enrolamentos, causando curto-circuito entre espiras e às vezes queima do transformador. Sendo assim é extremamente importante que sejam feitos ensaios de monitoramento da temperatura durante a operação dos equipamentos para garantir que estes problemas não ocorram no campo. 2.7.1 Ensaios de elevação de temperatura em transformadores com carga linear Conforme a NBR 10295 de 1988 o ensaio de elevação de temperatura com carga linear é um ensaio de tipoi, que visa verificar se o transformador se comporta termicamente, em condições normais de trabalho, conforme foi especificado. Este experimento é realizado em duas etapas, onde primeiramente o transformador opera a vazio (sem carga), e posteriormente o mesmo é submetido à carga nominal. i Ensaio de Tipo: é o mais simples dos modelos de certificação. Fornece uma comprovação de conformidade de um item de um produto, em um dado momento. É uma operação de ensaio, única no seu gênero, efetuada de uma só vez, limitando aí os seus efeitos. 34 Tanto para o ensaio realizado com aplicação de perdas em vazio como para o ensaio com perdas em carga nominal, é necessário que o equipamento atinja o seu equilíbrio térmico. No primeiro ensaio a elevação de temperatura T2 é medida quando se obtém variações de temperatura inferiores a 1ºC por hora nos enrolamentos. Já quando o transformador alimenta carga nominal é necessário que a temperatura não varie em mais de 2% da elevação de temperatura permissível por hora ou 2ºC por hora, aquela que for menor, para que essa condição seja satisfeita. A elevação total da temperatura no transformador, com corrente nominal no enrolamento e excitação nominal do núcleo, pode ser calculada pela equação a seguir: T T T1 1 2 T1 1, 25 0 ,8 (19) onde: T = elevação total de temperatura T1 = elevação de temperatura resultante do ensaio com carga nominal T2 = elevação de temperatura resultante do ensaio a vazio 2.7.1.1 Medição da temperatura ambiente Para a medição da temperatura ambiente se faz necessário a utilização de diversos termômetros, estando estes protegidos de correntes de ar, irradiações térmicas e principalmente da própria irradiação de calor do equipamento. Com o objetivo de se evitar erros devido a demora entre as variações da temperatura do transformador e a temperatura ambiente, os termômetros devem ser colocados em recipientes preenchidos com óleo. A temperatura média que deve ser adotada nos ensaios é a média das leituras feita nestes termômetros. Em transformadores com resfriamento natural, deve-se utilizar pelo menos 3 termômetros ao redor do transformador, a uma distância de um a dois metros e a meia altura do mesmo. Já em transformadores com resfriamento forçado os termômetros devem ser colocados na direção do fluxo de ar circundante às entradas dos trocadores de calor, distante suficientemente do tanque e das superfícies refrigeradas, com intuito de se evitar a influência por calor radiante. 35 2.7.1.2 Medição da temperatura em ensaio com carga Este ensaio começa imediatamente após o ensaio de elevação de temperatura com perdas a vazio, sendo realizado até que sejam obtidas as condições necessárias de temperatura conforme exposto anteriormente. Nesta etapa um dos enrolamentos é percorrido por corrente nominal enquanto que o outro é mantido curto-circuitado. Para equipamentos enclausurados e não enclausurados, os termômetros ou termopares devem ser colocados no centro da culatra superior e o mais próximo possível dos condutores mais internos do enrolamento de baixa tensão e devem ser posicionados também na extremidade superior destes. No caso de unidades trifásicas a medição deve ser feita na coluna central. Em transformadores selados ou completamente enclausurados, os sensores de temperatura são colocados no centro da tampa e no centro de um dos lados da superfície do invólucro. A elevação da temperatura nos enrolamentos do transformador aplicando-se carga nominal pode ser medida por dois métodos distintos, sendo eles: Método termoelétrico Método de variação de resistências A escolha do procedimento utilizado é um acordo entre o comprador e o fabricante. 2.7.1.3 Método Termoelétrico Quando se utilizar o método termoelétrico deve-se colocar, no mínimo, um termômetro em cada um dos grupos de alta e de baixa tensão. Caso o grupo de bobinas consista de diversas bobinas, é necessário utilizar um termômetro para cada grupo. A elevação de temperatura média do enrolamento é expressa a seguir: T1 Ta (20) onde: T1 = elevação de temperatura média, em graus Celsius Θ = temperatura média do enrolamento medido pelo termômetro, em graus Celsius Ta = temperatura ambiente, em graus Celsius 36 2.7.1.4 Método de Variação de Resistência A elevação média da temperatura neste método é dada pela mesma Equação (20) exposta anteriormente, todavia a temperatura média do enrolamento é dada pela Equação (21) a seguir: R k k R (21) onde: Ro = resistência a frio, em ohms RΘ = resistência a quente, em ohms Θ = temperatura correspondente a RΘ, em graus Celsius Θo = temperatura correspondente a Ro, em graus Celsius k = 234,5 para enrolamento de cobre e 225 para enrolamento de alumínio 2.7.1.4.1 Determinação da resistência no instante do desligamento Imediatamente após o desligamento da fonte de energia e finalização do efeito indutivo, deve-se medir a resistência entre dois terminais do enrolamento em função do tempo extrapolando a curva a fim de se obter também o valor da resistência no momento em que a energia foi desligada. Nos primeiros 4 minutos desta etapa do ensaio é necessário que se meça a resistência dos enrolamentos pelo menos por 3 vezes para se obter uma extrapolação correta da curva. 2.7.1.4.2 Correção na elevação de temperatura para corrente reduzida Aplicando-se o método de variação de resistência é possível realizar as medições com uma corrente de ensaio (It)ii inferior a corrente nominal (In), contudo após as análises é necessário efetuar uma correção destes valores através da equação abaixo: ii A corrente de ensaio (It) precisa ser ter valor mínimo de 90% da corrente nominal (I n) 37 I n t n It q (22) onde: ∆Θn = elevação de temperatura do enrolamento, com corrente nominal, em graus Celsius ∆Θt = elevação de temperatura do enrolamento, com corrente de ensaio It, em graus Celsius q = expoente dependente do tipo de resfriamento – 1,6 para transformadores com resfriamento natural e 1,8 para transformadores com resfriamento forçado 2.7.2 Ensaios de elevação de temperatura com carga não linear DUGAN (1996) mostra que o sobreaquecimento em transformadores que alimentam cargas não lineares se deve principalmente a três efeitos: o aumento do valor RMS da corrente devido as harmônicas gerando maiores perdas no cobre; elevada perda por dispersão de fluxo magnético gerando correntes parasitas nos enrolamentos, núcleo, partes metálicas, etc, já que essas dependem do quadrado da freqüência; aumento das perdas nas lâminas do núcleo devido as altas freqüências. Algumas bibliografias ainda comentam que os efeitos destas perdas são comparados a um aumento de 10 a 15% de carga, sendo equivalente a um aumento de 10o C em transformadores a óleo e 30o C a 35 o C para transformadores a seco alimentando carga linear. Atualmente não há nenhum ensaio normalizado de elevação de temperatura em transformadores que alimentem cargas não senoidais. Estes quando ocorrem, são geralmente determinados pelo próprio fabricante seguindo os princípios de ensaios com carga linear, porém com algumas adaptações, como por exemplo: utilização de um maior número de termopares, realização do ensaio com uma carga que possua uma taxa de distorção harmônica (THD) definida, etc. Em GALLI e COX, (1996) e THAMMARAT (2004), por exemplo, são mostrados experimentos feitos por fabricantes como a Southwestern Electric Power Company (SWEPCO) dos Estados Unidos e a T.D.TRANSFORMER CO., LTD. da Tailândia onde são ensaiados transformadores a óleo alimentando cargas não lineares. Nestes ensaios as cargas 38 possuem o THD variando dentro de um intervalo, chegando, em alguns casos, a valores de até 48%. Além disso, são aplicados diversos termopares em várias regiões do transformador como dutos de refrigeração, nos enrolamentos de alta e baixa tensão, entre o núcleo e os enrolamentos, no próprio núcleo, etc, além dos que a norma exige. Apenas para relembrarmos, THD é o valor RMS efetivo das componentes harmônicas de uma forma de onda distorcida, quer dizer, o valor potencial de aquecimento dos harmônicos em relação a fundamental e é calculada pela seguinte equação: h max THD M h2 2 h (23) M1 Onde: Mh = grandeza (corrente ou tensão) no harmônico “h” M1 = grandeza (corrente ou tensão) fundamental 2.7.3 Recomendação IEEE para medição de elevação de temperatura sobre condições de carga não senoidal A IEEE Std C57.110-1998 propõe um método para realizar uma rigorosa medição de elevação de temperatura sob condições de carga não senoidal. Segundo este método, a medição deve ser realizada sob condições normais de serviço do equipamento, com a unidade totalmente montada, com meios originais de resfriamento. Caso o transformador for equipado com indicadores térmicos, transformadores de corrente tipo bucha, ou algum outro periférico, tudo deve estar instalado ao realizar o teste. As condições sobre as quais os limites de temperatura se aplicam são estabelecidas na IEEE Std C57.12.01-1998 ou IEEE Std C57.12.00-1993 como aplicáveis a transformadores a seco ou a óleo. Nota-se que limites especiais de elevação de temperatura podem ser aplicados para certas condições de teste com cargas harmônicas. Estes limites devem ser aceitos pelo fabricante e comprador somente para aplicações especiais. Ao menos que de outra forma especificado, todos os transformadores devem ser testados na combinação de conexões e tapes que dão a maior temperatura de elevação do enrolamento sobre cada condição de teste. 39 Como referência à definições e testes padrões, tem-se recomendada a IEEE Std C57.12.91-1995 e IEEE Std C57.12.90-1993. 2.7.3.1 Medição da temperatura de componentes de transformadores Devido a rápida variação espacial da temperatura interna, e na superfície de vários componentes do transformador, termopares em contato íntimo é o método preferido de medição de temperatura. A necessidade de vários termopares dentro das bobinas e núcleo do transformador irá fazer com que estes sejam colocados durante a fabricação do equipamento a ser testado. Devido às considerações feitas das circunstâncias do dielétrico no projeto e roteamento dos termopares, desenhos detalhados do local e método de anexação dos termopares devem ser incluídos no relatório de medição. As temperaturas devem ser gravadas em intervalos regulares, não excedendo trinta minutos. 2.7.3.2 Medição da temperatura no enrolamento Termopares devem ser anexados diretamente nas espiras do enrolamento, em locais determinados através de estudos térmicos e eletromagnéticos, que determinem o local onde possa haver a maior elevação de temperatura. Os termopares devem ser colocados em transformadores trifásicos no enrolamento central e em um enrolamento lateral no mínimo, e ambos nas bobinas primária e secundária em todos os transformadores. A elevação de temperatura média dos enrolamentos deve ser determinada pelo método da resistência. 2.7.3.3 Medição da temperatura no núcleo Termopares devem ser anexados diretamente nas superfícies do núcleo em locais determinados por estudos térmicos e eletromagnéticos onde se tenha a maior elevação de temperatura esperada. Espera-se que esses sejam dentro das curvas da janela do enrolamento em proximidade com as bobinas nas quais as forças do campo harmônico estão concentradas. Os termopares devem manter contato firme com a superfície e serem termicamente isolados do meio ao redor. 40 2.7.3.4 Medição da temperatura do invólucro e da estrutura Termopares ou termômetros devem ser colocados para gravar as máximas temperaturas exteriores do invólucro e temperaturas das partes estruturais susceptíveis a grandes elevações de temperatura. Particularmente, ferro ou ligas próximos aos terminais que carregam grandes correntes ou ao núcleo magnético devem ser monitorados em sua elevação de temperatura. 2.7.3.5 Medição da temperatura do líquido Em transformadores a óleo, a temperatura máxima do líquido deve ser medida por um termopar ou termômetro adequado imerso a aproximadamente 50mm abaixo da superfície do líquido. A temperatura média do líquido deve ser tomada como igual a temperatura máxima menos a metade da diferença na temperatura do líquido em movimento entre a parte superior e inferior dos dutos de resfriamento. 2.7.3.6 Condições da carga elétrica A intenção do teste de elevação de temperatura sob condições de cargas harmônicas é simular as condições de serviço reais. Para isto, um espectro da freqüência de corrente deve ser especificado para cada condição de carga a ser testada, e estes devem ser padronizados ou aceitos por um usuário específico. O enrolamento primário deve ser energizado diretamente de uma fonte senoidal, enquanto o enrolamento secundário deve estar conectado a um sistema que tenha a capacidade de gerar as correntes harmônicas necessárias. 2.7.3.7 Características de carga no enrolamento secundário O enrolamento secundário, ou enrolamentos, devem ser conectados a um sistema de carga capaz de produzir correntes da magnitude e conteúdo harmônico desejado. O sistema de carga pode consistir de uma combinação de dispositivos naturais de comutação, ou chaves ativas, controlando a conexão de dispositivos lineares ou não lineares. O uso predominante de 41 reatores e capacitores como carga é favorável, e isto reduz significativamente a demanda de energia na fonte do enrolamento primário. Para testes de baixo conteúdo de harmônicos o uso de dispositivos naturais de comutação, em conjunto com reatores e componentes resistivos tem se mostrado adequado. A reatância de dispersão do transformador e reatância de dispersão do resistor de carga devem ser levadas em conta no projeto do circuito. Reatâncias externas de alto valor irão reduzir significativamente o conteúdo harmônico das correntes no secundário do transformador. Para testes de alto conteúdo harmônico, é necessário usar dispositivos de chaveamento ativo para permitir que pulsos de corrente mais agressivos sejam requisitados do enrolamento secundário. Vários circuitos de carga em paralelo podem ser utilizados para dividir a carga e gerar componentes harmônicos específicos. Nota-se que diferentes condições de elevação de temperatura podem ser geradas por diferentes cargas harmônicas possuindo o mesmo fator de perdas harmônicas, FHL. Logo o espectro de freqüência da corrente obtido no teste deve ser registrado. 2.7.3.8 Requerimentos em relação aos instrumentos elétricos A grande gama de freqüências de tensão e corrente que estão presentes nesse tipo de teste impõe condições extras em relação à calibração e precisão do sistema de instrumentação em freqüências mais elevadas. O sistema completo deve ter uma largura de banda declarada não inferior a 3 kHz, incluindo os transformadores de corrente e tensão e o sistema de gravação. A análise de Fourier deve ser capaz de interpretar um sinal de 3 kHz utilizando uma janela de dados suficientemente grande para manter a precisão. 42 3 CAPÍTULO 3 – CARGA LINEAR CAPÍTULO 3 – CARGA NÃONÃO LINEAR 3.1 Introdução Como citado anteriormente, o capítulo 3 é destinado à carga não linear que foi desenvolvida para a realização dos ensaios propostos neste trabalho. Neste capítulo será explicado o seu funcionamento e o motivo pelo qual esta foi necessária. Será apresentado, também, as dificuldades enfrentadas durante o seu desenvolvimento, bem como o seu desempenho depois de implementada. 3.2 Finalidade As recomendações para os ensaios de elevação de temperatura de transformadores que alimentam cargas não lineares propostas pela IEEE C57.110-1998, recomendam que estes devem ser realizados sob condições normais de operação. Desta forma para que não fosse necessário o investimento de capital em grandes equipamentos capazes de gerar um conteúdo harmônico relevante e principalmente para poder submeter os protótipos a diferentes situações de carga, fez-se necessário o desenvolvimento deste dispositivo. A implementação desta foi importante também para que os transformadores estivessem sujeitos às mesmas condições em todos os ensaios, já que isto é fundamental para uma análise correta dos resultados. 3.3 Projeto da carga As distorções harmônicas geradas pela carga foram obtidas através da utilização de dispositivos semicondutores que devido às suas características intrínsecas são capazes de oferecer irrestrita condução à passagem de corrente elétrica ou um total bloqueio da mesma, possibilitando assim a criação de uma forma de onda resultante com harmônicos de diversas ordens além da fundamental. Como a equipe estava trabalhando com dois transformadores idênticos de 25 kVA, tensões de 380/220V e como a carga deveria possibilitar que fossem feitos diversos tipos de 43 ensaios diferentes, o componente semicondutor a ser escolhido deveria apresentar valores mínimos de tensão e corrente para que proporcionasse flexibilidade ao circuito. Para o caso do ensaio acontecer com a carga conectada ao primário do transformador que era ligado em delta com tensão de 380V fase fase, os requisitos mínimos exigidos para o componente seriam: S 3F 3 I 3F VL 25000 3 I 3 F 380 I 3 F 37,98 A I 1F I 1F I 3F 3 21,93 A V pico 2 V L V pico 2 380 V pico 537,4V Já quando a carga for conectada ao secundário do transformador que é ligado em estrela e cuja tensão é de 220V fase fase, a mesma estaria sujeita aos seguintes valores de tensão e corrente: S 3 F 3 I 3 F VL 25000 3 I 3 F 220 I 3 F 65,61A I 1F I 3 F 65,61A V pico 2 V L V pico 2 220 V pico 311,13V Após uma análise dos preços dos componentes semicondutores disponíveis no mercado que poderiam atender as necessidades da equipe, esta optou pela utilização de TRIACs de 40A e 600V. 44 Figura 2 - TRIAC - BTA41 Para que a carga conseguisse trabalhar em ambas as situações propostas anteriormente, ligada tanto ao primário como ao secundário do transformador, foram colocados 3 TRIACs por fase de 40A e 600V em paralelo conforme mostrado na figura abaixo. Desta forma a capacidade em suportar corrente que cada uma das fases da carga tinha foi triplicada, possibilitando assim que a equipe trabalhasse com folga na maioria dos ensaios além de ter a possibilidade de ensaiar os protótipos em situações atípicas de funcionamento (maiores níveis de distorções harmônicas, maiores picos de corrente, etc.). Figura 3 - Esquema de ligação dos TRIACs por fase 45 3.3.1 TRIAC TRIAC é um termo utilizado para identificar o triodo semicondutor de corrente alternada. Este é um componente que como os SCRs são acionados através de um sinal no gatilho, entretanto os mesmos diferem dos SCRs por terem a capacidade de conduzir corrente em ambos os sentidos em resposta a um sinal de gate positivo ou negativo sendo então muito utilizados no controle de circuitos que trabalham com corrente alternada. O seu acionamento pode se dar através da aplicação de um sinal de gate ou através da aplicação de tensão entre os terminais. Para o primeiro caso este componente se mostra muito vantajoso visto que circuitos de grande potência podem ser controlados através de uma corrente muito pequena. Este controle é chamado de controle de fase. A figura a seguir demonstra as características estáticas dos TRIACs e o seu símbolo. Figura 4 - Característica estática dos TRIACs No quadrante (I), a polaridade no terminal principal "2" é positiva em relação ao terminal principal "1". No quadrante (III), a tensão no terminal principal "2" é negativa em relação ao terminal principal "1". Aumentando a tensão positiva aplicada ao terminal "2", como mostra a curva no quadrante (I), atinge-se a tensão de break-over VBO na qual o dispositivo comuta de um estado de bloqueio para um estado de condução. O TRIAC permanece no estado ligado até que a corrente "Ia" caia abaixo da corrente de manutenção (IH) quando então ele se desliga. Se a tensão V21 é invertida (V21<0), a mesma ação comutação ocorre como mostra a curva no quadrante (III). Assim, o TRIAC é capaz de chavear do estado ligado para o estado desligado e vice-versa, para qualquer polaridade de V21. 46 3.3.2 Circuito de controle O circuito de controle que foi implementado para a carga é mostrado abaixo: Figura 5 - Circuito chaveador Esta estrutura é conhecida como controle de fase, já que permite que seja controlado o instante em que o pulso no gate é aplicado, controlando assim o início da condução do TRIAC e consequentemente a porcentagem do ciclo da onda que estará alimentando a carga. O funcionamento do circuito se dá basicamente através do braço do circuito formado pelo potenciômetro e pelo capacitor. Quando o valor de tensão no capacitor atinge o valor de break-over do DIAC este começa a conduzir permitindo que uma corrente chegue ao gatilho do TRIAC, comutando-o do estado de bloqueio para condução. À medida que é alterado o valor da resistência do potenciômetro altera-se a constante de tempo do circuito RC, ou seja, a velocidade com que o capacitor atinge o valor de tensão de break-over do DIAC, variando o instante em que o TRIAC comuta do estado de bloqueio para condução permitindo então a passagem de corrente no circuito da carga. Para se evitar o efeito de histerese que tornaria o tempo de disparo desigual de ciclo para ciclo, já que o capacitor não estaria descarregado totalmente como estava no primeiro ciclo, utiliza-se dos dois circuitos formados pelos diodos e resistores que tem por finalidade resetar o tempo do capacitor para o mesmo valor em todos os ciclos. 47 3.3.3 Reostato líquido Para se conseguir realizar os ensaios de forma correta, a equipe precisava construir um dispositivo capaz de dissipar os 25.000W que seriam utilizados durante os mesmos. A equipe pensou em criar uma carga composta por reostatos convencionais, entretanto além destes apresentarem um custo elevado seria necessário a associação de vários elementos em série e paralelo para que se atingisse o valor de resistência necessário para a realização dos ensaios sem que estes fossem comprometidos devido a alta potência. Tudo isso demandaria um espaço físico relativamente grande que infelizmente o laboratório da empresa não possuía, já que o calor dissipado por estes elementos não poderia influenciar na temperatura ambiente do laboratório. Após alguns estudos a melhor solução encontrada pela equipe foi a utilização de reostatos líquidos, já que estes não ocupam muito espaço físico, podem assumir diferentes valores de resistência e principalmente podem ser desenvolvidos pela própria equipe com o custo relativamente baixo. Figura 6 - Reostato líquido Neste tipo de carga utiliza-se basicamente de uma cuba, na qual se fazem mergulhar placas metálicas ligadas aos terminais do equipamento elétrico. A solução eletrolítica pode se tornar mais ou menos condutora mediante ao aumento ou diminuição da concentração, já que a condutividade desta depende da quantidade de íons dissolvidos. 48 Teoricamente, o reostato líquido pode dissipar qualquer potência. Basta apenas que haja solução eletrolítica em quantidade suficiente para que a convecção do líquido mantenha um ciclo de troca de calor constante, e a solução não entre em ebulição, pois caso isto aconteça, o líquido fervendo pode transbordar rapidamente, e acarretar graves conseqüências para a instalação ou pessoas próximas. Os eletrodos que foram utilizados inicialmente tinham o formato da figura abaixo. Este teoricamente propiciaria uma melhor distribuição da corrente em cada uma das fases e um melhor fluxo térmico da água aquecida, entretanto viu-se que o mesmo dificultava a colocação de um neutro o que impediria o fechamento da estrela do sistema e portanto a equipe teve que modificar o formato dos eletrodos como será mostrado posteriormente. Estes eletrólitos podem ser uma fase e o neutro da rede, ou as três fases, dependendo do tipo de carga desejado (delta ou estrela). Figura 7 - Eletrodo do reostato líquido No caso deste trabalho a equipe utilizou água misturada com sal marinho como solução eletrolítica. Desta forma quando era necessário aumentar a resistência mais água era adicionada à solução, já para diminuir a mesma era acrescentado sal marinho. Uma precaução que a equipe precisou tomar foi em relação aos gases provenientes da evaporação da mistura, água e cloreto de sódio, como estes são corrosivos foi necessário cobrir o recipiente para evitar a dissipação dos mesmos. 49 Figura 8 - Proteção contra gases corrosivos provenientes da solução eletrolítica O inconveniente de se trabalhar com reostatos líquidos é que estes demandam um maior cuidado na sua utilização. Devido ao fato da resistência depender diretamente da concentração da solução eletrolítica e a dissipação de potência da fonte nos eletrólitos fazerem com que esta solução evapore, a resistência acaba tendo o valor variado ao longo do tempo, já que com a evaporação do solvente (água), haverá uma maior quantidade de soluto (sal marinho), o que provocará o aumento da condutividade e consequentemente a diminuição da resistência. A medição da resistência era feita através de um multímetro especial, Minipa MX101, que utiliza corrente alternada para a obtenção dos valores. Isto foi necessário para que esta não apresentasse erros, já que caso fosse utilizado um multímetro convencional o valor medido poderia ser influenciado pelo efeito da polarização das moléculas de água que ocorre pelo fato destes utilizarem corrente contínua na medição. 3.4 Implementação Todos os componentes utilizados pela equipe foram adquiridos em lojas convencionais de eletrônica. Primeiramente foi elaborado o circuito de controle do chaveador. Este como foi explicado anteriormente tem como finalidade controlar o momento do disparo do TRIAC. 50 Cada fase possui um circuito de controle que é composto de 2 resistores, 1 potenciômetro, 1 capacitor, 4 diodos e 1 DIAC. Figura 9 - Circuito de controle da carga não linear Após finalizado o circuito de controle, a equipe partiu para o desenvolvimento do circuito de potência da carga. Esta era a parte mais complicada, visto que, como este estaria também sujeito as correntes que circulariam nos reostatos, os semicondutores responsáveis pelo chaveamento deveriam suportam as altas correntes sem que isso o danificasse. Para que isso fosse possível além da utilização de mais TRIACs por fase, foi necessário a utilização de dissipadores e ventiladores afim de que todo o calor gerado fosse dissipado. Figura 10 - Circuito de potência do chaveador 51 Figura 11 - Circuito chaveador completo com ventilação Terminado tanto o circuito de controle como de potência da carga, partiu-se para o desenvolvimento do reostato líquido. Foram utilizados tambores de 200 litros de óleo para a composição da cuba. Cada um destes foi cortado ao meio, limpo e protegido com pedaços de fibra para que não houvesse a possibilidade da passagem de corrente dos eletrodos para o recipiente, o que acabaria gerando corrente de fuga para a terra. Os eletrodos foram cortados em uma máquina chamada guilhotina e depois levados para uma outra que tinha como finalidade moldar as chapas ao formato cilíndrico desejado. Cada um dos 3 eletrodos foram separados entre si por isoladores e então, conectados a cabos que posteriormente seriam ligados à carga ou ao secundário do transformador, dependendo da ligação escolhida. 52 Figura 12 - Carga não linear em funcionamento 3.5 Dificuldades enfrentadas Durante os ensaios a equipe enfrentou várias dificuldades que acabaram atrasando o cronograma inicial. Um dos equipamentos em que a equipe enfrentou maior dificuldade foram os reostatos líquidos. Além da grande dificuldade de se controlar a resistência dos mesmos, visto que esta variava ao longo do ensaio, vários detalhes acabaram atrasando ainda mais o início das medições. Inicialmente, foi colocado os eletrodos das 3 fases em um único recipiente, entretanto devido ao alto valor da corrente durante os ensaios, a solução eletrolítica acabava evaporando muito rápido. Um outro problema de se ter os 3 eletrodos próximos é que estes não permitiam a circulação de corrente para o neutro, visto que devido a proximidade dos mesmos era mais fácil da corrente circular entre as fases do que para o neutro. A solução encontrada pela equipe foi de separar cada uma das fases em uma cuba isolada. A equipe ainda enfrentou o problema de fuga de corrente dos eletrodos para a terra, já que devido ao fato das cubas serem metálicas e a solução condutora, a corrente poderia circular facilmente pela mesma. Foi necessária a utilização de algo que isolasse os tambores do chão, na COMTRAFO foi utilizado um tapete isolante capaz de suportar até 50 kV de tensão, enquanto que no LACTEC foram utilizadas madeiras para a mesma finalidade. 53 Ao se separar cada um dos eletrodos em recipientes isolados a equipe não tomou o devido cuidado de isolar o neutro do contato com os tambores. Isto alterava a condutividade de cada uma das fases o que impedia o correto funcionamento do circuito chaveador. Utilizou-se então de pedaços de madeira para que este contato fosse evitado e o circuito pudesse funcionar corretamente. Todavia, os reostatos não foram os únicos equipamentos que preocuparam a equipe. Esta enfrentou ainda o problema de sobreaquecimento dos componentes semicondutores o que obrigou a mesma a utilizar ventiladores para a dissipação do calor. A equipe ainda precisou utilizar ventiladores também para a refrigeração dos disjuntores. Com o decorrer das medições o ambiente onde se encontrava a carga acabava esquentando bastante, mesmo com a utilização de disjuntores capazes de suportar 70A de corrente, estes acabavam desarmando com o passar do tempo. 3.6 Desempenho do circuito Após solucionados todos os imprevistos que foram citados anteriormente o circuito apresentou um comportamento satisfatório. A carga se comportou como projetada, ou seja, nas 3 fases foi possível alterar o ângulo em que a corrente começaria a circular na carga, o que possibilitou à equipe escolher a distorção harmônica que desejaria trabalhar, simulando, assim, os esforços reais que os transformadores estão sujeitos quando alimentam cargas não lineares. Para os ensaios, entretanto, foi padronizado um nível de distorção harmônica para que as análises comparativas pudessem ser feitas. As formas de onda e os valores de distorção podem ser vistos nas figuras que seguem. 54 Figura 13 - Tela de ensaio de carga não linear realizado na COMTRAFO Figura 14 - Oscilógrafo no ensaio com carga não linear realizado na LACTEC 55 4 CAPITULO 4 - Protótipos CAPÍTULO 4 – PROTÓTIPOS 4.1 Desenvolvimento dos Protótipos Adicionando conhecimento ao projeto, foi dada a oportunidade pela empresa COMTRAFO para que a equipe não só pudesse realizar os testes em seus transformadores, mas também desenvolver o projeto destes protótipos em fábrica, aplicando o “know-how” da empresa, com as conclusões das pesquisas em livros e artigos sobre as influências das cargas não senoidais em transformadores. Mais especificamente, a equipe realizou os cálculos elétricos dos transformadores em questão, dimensionando condutores, núcleo, perdas, elevação de temperatura e outros fatores que serão abordados adiante, utilizando das fórmulas próprias da empresa, adicionando o cálculo de perdas parasitas devido aos harmônicos no protótipo com fator K e realizando alterações construtivas visando aumentar a suportabilidade em relação às perdas harmônicas do transformador especial em questão. Iniciando o desenvolvimento dos protótipos, o primeiro transformador a ser calculado foi o fator K-1, ou seja, um transformador convencional, que suporta apenas as perdas parasitas de uma carga senoidal, ou seja, suporta “1x” as perdas parasitas. Para iniciar o projeto deste transformador, foi fornecido um projeto base da empresa de um transformador de 20 kVA de potência, tipo seco resinado. Este tipo de transformador se caracteriza pela ausência de óleo e tanque, sendo composto apenas pela parte ativa e vigas de sustentação, isolando-se as camadas e bobinas com papel resinado. O transformador a seco resinado é muito empregado onde há necessidade de transformação de baixas tensões (menor ou igual a 1,2kV), baixa manutenção e segurança, pois não propaga chamas, e a ausência de óleo lhe confere o título de transformador ecologicamente correto. A partir do projeto base escolhido, aumentou-se a potência para 25 kVA, conforme proposto neste trabalho, e foram recalculados os novos valores das variáveis dos transformadores como: perdas, impedância, indução, elevação de temperatura, perdas parasitas e perdas adicionais, levando sempre em conta o custo dos protótipos. No cálculo do transformador fator K-1, após elevar a potência para 25 kVA do projeto base, foi necessário a substituição dos condutores por condutores maiores, aumento no número de espiras e aumento do tamanho do núcleo, para evitar a saturação e manter as perdas dentro do definido. Para a escolha dos condutores, usou-se do estoque da empresa de 56 matéria prima, procurando a melhor opção, que atenderia as perdas e elevação de temperatura máxima estabelecidas. Após a escolha dos condutores, foi ajustado o entre centro do núcleo, de forma a manter impedância dentro dos limites estabelecidos, e a altura da janela do núcleo, dimensionando conforme o tamanho das bobinas, e o espaço mínimo necessário que deve ter até as vigas. Para uma melhor visualização do transformador e dos parâmetros envolvidos, a planilha a seguir mostra o valores definidos e calculados para o transformador de 25 kVA convencional (fator K-1). Tabela 1 - Cálculo transformador K-1 Na planilha, a pessoa que está calculando insere os valores nas células que estão em amarelo e analisa o cálculo efetuado pelo programa. É importante citar aqui, que uma célula influencia em diversas outras que por sua vez influenciam em outras. Desta forma é preciso verificar todas as variáveis do cálculo a cada dado inserido, seja na escolha do tipo de condutor, no número de camadas por enrolamento, número de espiras, etc. preocupando-se sempre se os valores de perdas estão dentro do permitido pela norma, se não está sendo desperdiçando muito cobre, se a altura dos enrolamento não é superior a altura da janela do núcleo, etc. Após, completado esta etapa de cálculo elétrico, inicia-se a próxima etapa do projeto do transformador, onde são realizados os cálculos mecânicos, montagem de vigas e desenhos do transformador para a montagem em fábrica. Esta etapa foi realizada pelos projetistas mecânicos da empresa, e tem-se a seguir o estudo dimensional do transformador fator K-1. 57 Figura 16 - Estudo mecânico transformador K-1 Finalizando o projeto do transformador convencional de 25 kVA seco resinado, a equipe partiu para o projeto do transformador com fator K-20. Neste projeto foi utilizado o transformador convencional de 25 kVA recentemente calculado, e foi realizada uma adequação para atender as características de uma carga não senoidal. As características consideradas de uma carga não linear, que refletem importantes modificações nos transformadores, foram: Aumento de perdas parasitas; 58 Prováveis componentes de corrente contínua da carga; Harmônicos múltiplos de 3; Estas características citadas resultam basicamente em: Maior elevação de temperatura do transformador, degradando a isolação e diminuindo sua vida útil; Maiores perdas e aquecimento do núcleo; Maior corrente de neutro, aquecendo além do projetado o condutor e suas proximidades; Para minimizar os efeitos no transformador devido a estas características de carga não senoidal, a equipe tomou, com orientação da empresa, as seguintes decisões: Modificar a geometria do transformador, de forma que os condutores sofram menos influência do campo magnético no sentido axial (vertical), para que as perdas parasitas sejam diminuídas, e que haja uma maior circulação e área de contato com o ar, diminuindo o aquecimento. Trabalhar com materiais de uma maior classe de isolação (classe H) que suportem maiores temperaturas Trabalhar com induções mais baixas, evitando a possibilidade de saturação do núcleo. Aumentar a bitola do condutor do neutro do transformador, para suportar as elevadas corrente causadas pelos harmônicos múltiplos de 3. Uma outra recomendação que foi vista nas referências bibliográficas foi a utilização de blindagem eletrostática. Entretanto em transformadores de pequena potência como os protótipos deste projeto isto não é utilizado devido ao alto custo da mesma. Os fabricantes, então, dobram a isolação de cada uma das camadas do enrolamento, a fim de proteger o transformador dos picos de tensão gerados pelos harmônicos com um baixo custo. Estas recomendações resultam basicamente no chamado transformador com fator K, ou seja, estas mudanças tornam o transformador apto a suportar certo conteúdo harmônico, determinado pela intensidade destas mudanças. Mas cabe ressaltar que estas mudanças implicam em outros fatores que devem ser trabalhados, que tornam o transformador mais 59 competitivo e eficiente. Estes fatores são o diferencial da empresa, e, portanto serão abordados neste trabalho apenas de forma generalizada. Para melhor compreender as mudanças no transformador com fator K, segue-se a planilha com seus valores calculados. Tabela 2 - Cálculo transformador K-20 Analisando ambas as planilhas de cálculo é possível comparar as diferenças construtivas que foram utilizadas para melhorar as perdas parasitas e consequentemente ter um melhor desempenho quando alimentando cargas não senoidais. Nota-se que o transformador K-1 foi construído com um fio de 4,0 x 6,0 na BT enquanto que no transformador com fator K-20 o fio escolhido foi o 2,8 x 8,4. Esta alteração diminui as perdas parasitas devido ao fluxo axial distorcido gerado pelos harmônicos, já que com um menor comprimento radial a incidência do fluxo será menor. Nota-se também a diferença da classe de isolação do material, que para transformadores com fator K deve ser maior. Pode-se comparar também a diferença do valor da indução nos dois protótipos e também a espessura da isolação em cada um dos transformadores. Tem-se a seguir o estudo dimensional do transformador em questão. 60 Figura 17 - Estudo mecânico transformador K-20 Nota-se, comparando com o K-1, que a grande diferença é com relação a altura dos dois protótipos. Isto ocorre, pois no K-20 utilizaram-se condutores com um comprimento axial maior do que o que foi utilizado no K-1, afim de se diminuir as perdas parasitas devido ao fluxo magnético axial. O fato do transformador K-20 ter uma altura maior do que o K-1 ainda colabora para que o aquecimento no mesmo seja menor, já que haverá uma melhor convecção de ar. Concluído os projetos destes transformadores, na primeira semana de janeiro, o setor de programação e controle de produção da empresa inseriu sua fabricação conforme a agenda de fábrica disponível. Como a fábrica já estava com um mês de trabalhos à frente, a produção 61 destes transformadores correu conforme surgia pequenos espaços em cada parte do processo de produção, ficando ambos prontos no final do mês de janeiro. Durante o a produção, a equipe pode acompanhar cada etapa do processo, registrando com fotos e descrições a montagem dos protótipos. O próximo tópico mostra este trabalho de acompanhamento realizado ao longo do mês de janeiro. 4.2 Montagem dos Protótipos Com o projeto em mãos, o setor de controle de produção distribui os projetos de cada componente do transformador pela fábrica. A produção de um transformador a seco resinado de baixa potência inicia-se por 3 componentes de produção independente: bobinas, viga, e corte do núcleo. Na caldeiraria, é realizada a montagem das vigas, cortando-se as chapas de aço e dobrando-as conforme o projeto mecânico do transformador. O corte do núcleo geralmente é terceirizado pelas fábricas de transformadores, pois é necessário um grande maquinário de tecnologia para cortar as chapas de aço-silício e mão-deobra. A fábrica recebe então o núcleo já cortado, pronto para ser realizada a montagem do mesmo. Figura 18 - Núcleo cortado aguardando montagem 62 Os enrolamentos são fabricados em máquinas para bobinar a alta ou baixa tensão, ou seja, cada máquina tem uma capacidade de dimensionamento e suportabilidade do peso do enrolamento. Máquinas para bobinar enrolamentos de alta tensão podem trabalhar com bobinas de diâmetros maiores, e máquinas de bobinar enrolamentos de baixa tensão geralmente agüentam um elevado peso. Estas características são mais levadas em conta para projetos de transformadores de tensões maiores que os protótipos criados. No caso deste projeto, os enrolamentos da maior e menor tensão foram bobinados na mesma máquina, ou como se referem os projetistas de transformador, bobinagem de alta tensão sobre a baixa tensão, devido às características do transformador e sua dimensão. Tem-se a seguir fotos do processo de bobinagem de ambos os transformadores. Figura 19 - Bobinamento da BT O enrolamento da baixa tensão é bobinado sobre um molde feito de um papel parecido com papelão. Cada uma das espiras é isolada da espira que está ao seu lado por um material chamado asberit. Este mesmo material é utilizado para fazer as cabeceiras das bobinas, já que ao se bobinar o enrolamento ficam espaços nas cabeceiras que devem ser preenchidos para que o formato do enrolamento seja um cilindro perfeito. Para se isolar uma camada de enrolamento da outra é utilizado um papel isolante chamado delterm e então aplicado uma camada de resina, que ao secar além de ser isolante proporcionará resistência mecânica ao enrolamento. 63 Figura 20 - Execução da camada entre AT e BT Figura 21 - Bobinamento da AT sobre BT A bobinagem do enrolamento de alta tensão é feita da mesma forma que o enrolamento de baixa tensão. O enrolamento finalizado recebe mais uma camada de papel isolante e resina. 64 Figura 22 - Bobina após fabricação Na figura 23, pode-se comparar as bobinas dos dois protótipos. Nota-se facilmente a diferença da altura das bobinas de cada um dos protótipos, conforme foi mostrado anteriormente. Figura 23 - Comparação entre bobina do K-1 e K-20 65 Após concluída a fabricação das vigas e o fornecimento do silício, pode-se iniciar a montagem do núcleo. O núcleo é montado em uma mesa preparada, deitado, onde são empilhadas cada chapa de silício conforme o projeto especifica. Figura 24 - Montagem do núcleo K-20 Concluído o empilhamento, o núcleo é amarrado para que as chapas fiquem no lugar, e as vigas são presas nas bases do núcleo, dando a sustentabilidade necessária para levantar o mesmo. Figura 25 - Montagem núcleo K-1 66 Antes de o núcleo receber as bobinas, estas devem passar pela estufa, por um período mínimo de 24 horas, em referência à sua dimensão e classe de tensão, com a finalidade de eliminar praticamente toda a umidade presente nestas bobinas. Retiradas as bobinas da estufa, a parte superior do núcleo é então aberta, e são inseridos os enrolamentos, fechando o núcleo logo em seguida. Figura 26 - Bobinas montadas no núcleo Figura 27 - Fechamento do núcleo 67 Completada mais esta etapa do processo de produção, resta apenas realizar as soldas para cada enrolamento com os terminais de saída no painel. Figura 28 - Transformador aguardando painel Assim, o processo de produção dos transformadores a seco resinados se dá por terminado, e as peças prontas para os testes propostos. Figura 29 - Protótipos finalizados aguardando ensaios de rotina 68 4.3 Alteração dos protótipos Após realizados os ensaios de rotina e iniciados os primeiros ensaios de elevação de temperatura, percebeu-se que ambos os protótipos não estavam tendo uma circulação eficiente de ar, já que, devido a baixa potência dos mesmos as distâncias entre os enrolamentos e a viga do núcleo era pequena. Desta forma, a equipe optou por fazer uma remodelagem da estrutura mecânica de ambos os protótipos, afim de melhorar a refrigeração destes. Foram feitos cortes nas vigas (tanto superior como inferior) do núcleo na região onde estava o canal entre os enrolamentos de alta e baixa tensão e foram colocadas vigas de fibra para distanciar as vigas superiores do núcleo, já que por estarem próximas dificultavam a circulação de ar. Figura 30 - Corte na viga para melhor refrigeração 69 Figura 31 - Hastes de fibra para separar a viga do núcleo 4.4 Análise dos custos O grande objetivo da equipe era conseguir desenvolver um transformador que suportasse distorções harmônicas com o custo próximo ao do transformador convecional, já que caso o custo fosse muito alto seria mais fácil sobredimensionar o equipamento, pois desta forma o transformador conseguiria suportar as distorções harmônicas sem necessidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento. A equipe trabalhou principalmente com modificações que diminuíssem as perdas parasitas criadas pelos fluxos magnéticos distorcidos gerados pelas harmônicas que são induzidas nos condutores. Como se pode ver comparando as tabelas de cálculo dos transformadores, estas modificações não alteraram significativamente a quantidade de cobre e material ferro-magnético que foi utilizado no protótipo do K-20. Esses são os componentes que apresentam maior impacto no custo de fabricação de um transformador, já que além dos demais componentes serem comuns em ambos os protótipos, estes são utilizados em menor quantidade e possuem um custo menor. Para se ter idéia o preço do kg da chapa de aço é de R$ 2,70, enquanto que o do papel isolante o preço é R$ 10,00 o kilo, porém utiliza-se apenas algumas gramas desse último. Abaixo está um estudo comparativo do custo comparativo dos dois protótipos. 70 Tabela 3 - Análise de custos dos protótipos Caso a equipe fosse optar por sobredimensionar o equipamento afim do mesmo suportar as distorções harmônicas, seria necessário um sobredimensionamento de 40% (este é um valor geralmente utilizado no mercado nacional para um K-20), o que impactaria em uma nova potência de 35kVA. Potência (kVA) Preço (R$) 25 R$ 8.263,00 35 R$ 10.814,00 Tabela 4 - Preço COMTRAFO Ao se comparar o preço de venda de um transformador desta potência com um de 25kVA, a diferença chega a 23,6%. Dessa forma ao se analisar todos os custos envolvidos nos dois transformadores e o preço de um transformador sobredimensionado, percebe-se que a equipe atingiu o objetivo desejado já que a diferença foi de apenas 8,3%. É importante citar que o preço de venda, em alguns casos, para um fator K-20 pode ser até 40% maior do que um fator K-1. 4.5 Ensaios de verificação Com os transformadores prontos em fábrica, o laboratório de ensaios da empresa realiza os ensaios de rotina nos transformadores, para verificar se os produtos estão conforme o projetado. Ou seja, se os valores de perdas, impedância, relação de transformação, etc, estão dentro do esperado. Os ensaios realizados são: ensaio de saturação, medição da relação de transformação e determinação do grupo de ligação, medição da resistência dos enrolamentos, medição das perdas e da corrente em vazio, medição das perdas em curto-circuito e determinação da tensão de curto-circuito e ensaio do dielétrico por tensão induzida. Além destes, o cliente ainda pode solicitar outros tipos de ensaio (ensaios de tipo), como nível de ruídos, aquecimento, análise físico-química e cromatográfica do óleo isolante, etc. Alguns o laboratório da fábrica possui aparelhos e certificação para realizá-los, e outros mais especiais apenas alguns laboratórios do Brasil podem executar (medição das descargas parciais, impedância de seqüência zero, etc.). 71 Figura 32 - Laboratório de ensaio da COMTRAFO Figura 33 - Equipamentos de ensaio – laboratório COMTRAFO Figura 34 - Área de ensaio - laboratório COMTRAFO 72 Os protótipos deste trabalho também passaram por estes ensaios, atendendo os valores garantidos pelo projeto. 4.5.1 Medição da relação de transformação Figura 35 – Medição da relação de transformação - K-1 Neste ensaio é verificado se a relação de transformação do transformador está conforme projetada. Primeiramente conecta-se um equipamento chamado TTR ao primário e ao secundário do transformador (a conexão obedece ao esquema de ligação do transformador), então, aciona-se uma manivela que está ligada a um alternador que tem como finalidade gerar uma tensão induzida no transformador, esta é transformada pelos enrolamentos e medida no TTR. Este procedimento é feito em todos os enrolamentos do transformador. Os valores obtidos no transformador com fator K-1 foram os seguintes: Transformador Convencional - K-1 X0 - X1 / H3 - H1 X0 - X2 / H1 - H2 X0 - X3 / H2 - H3 3,004 3,003 3,003 Tabela 5- Relação de transformação - K-1 Como ambos os protótipos 380/220V ligados em triângulo no primário e estrela no secundário, a relação de transformação deveria ser de 3, já que no ensaio foi conectado o 73 equipamento de medição de forma que se obtivesse tensão de linha (380V) no primário e de fase no secundário (127V). Figura 36 - Medição da relação de transformação - K-20 Da mesma forma que no transformador convencional (fator K-1), este ensaio foi bem sucedido apresentando os seguintes valores: Transformador Especial - K-20 X0 - X1 / H3 - H1 X0 - X2 / H1 - H2 X0 - X3 / H2 - H3 3,002 3,004 3,004 Tabela 6 - Relação de transformação - K-20 4.5.2 Ensaio de saturação Figura 37 - Ensaio de saturação - K-1 74 Este é um ensaio de extrema importância já que nele são avaliadas as características magnéticas do núcleo do transformador. É aplicada tensão e corrente em diversos níveis de forma que se consiga determinar o valor de indução do núcleo, as curvas de perdas W/kg e VA/kg. Estas informações são de extrema importância para o fabricante, já que com estas pode-se fazer um estudo e analisar se não está sendo desperdiçado material, se o valor da indução está adequado, etc. Figura 38 - Ensaio de saturação – K-20 4.5.3 Ensaio a vazio Figura 39- Ensaio a vazio - K-1 75 O ensaio a vazio é também conhecido como ensaio de perdas no núcleo ou ensaio de perdas no ferro. A partir de uma fonte AC, energiza-se um dos lados do transformador, mantendo-se o outro aberto (sem carga). Figura 40 - Tela durante o ensaio a vazio - K-1 Figura 41 - Tela durante o ensaio a vazio - K-20 Como o secundário está aberto e não há circulação de corrente pelo mesmo, este pode ser desprezado. A corrente que circula no primário do transformador tem valor desprezível (muitas vezes inferior a nominal) o que faz com que as perdas no mesmo sejam desprezíveis 76 também. Desta forma, as únicas perdas que são consideradas são as desenvolvidas no núcleo do transformador. Figura 42 - Ensaio a vazio - K-20 4.5.4 Ensaio de curto-circuito Figura 43 - Ensaio de curto-circuito – K-1 Este ensaio também é conhecido como ensaio de perdas no enrolamento ou ensaio de perdas no cobre. A partir de uma fonte de corrente alternada, energiza-se um dos lados do transformador, curto-circuitando o outro lado. Para simular as perdas em carga, aplica-se 77 corrente nominal no enrolamento curto-circuitado. Como as perdas do núcleo dependem da tensão aplicada e esta é baixa neste ensaio, as perdas no núcleo podem ser desprezadas. Figura 44 - Ensaio de curto-circuito - K-20 Neste ensaio, pode-se obter a impedância percentual do transformador. Esta é de extrema importância, pois devido a ela haverá uma queda proporcional de tensão quando circular corrente nominal pelo transformador. Figura 45 - Tela durante o ensaio em carga - K-1 78 Figura 46 - Tela durante o ensaio em carga - K-20 79 5 CAPITULO 5 – Ensaios deELEVAÇÃO elevação de temperatura CAPÍTULO 5 – ENSAIOS DE DE TEMPERATURA 5.1 Preparação para os testes Possuindo os protótipos então verificados em laboratório, atendendo as especificações do projeto proposto, parte-se então para a preparação do laboratório e dos instrumentos para o ensaio de elevação de temperatura convencional, seguido da medição de elevação de temperatura sob carga não senoidal, que nada mais é do que a aplicação da mesma metodologia do ensaio de elevação de temperatura, modificando o curto circuito no enrolamento secundário por uma carga não linear. Logo, tem-se a pergunta: pode-se chamar a modificação do ensaio de elevação de temperatura convencional de “ensaio”? Houve discussões entre as entidades consultadas, principalmente na defesa da primeira parte deste projeto. Portanto, ao analisar esta questão, a equipe decidiu chamar esta modificação do ensaio de elevação de temperatura de apenas medição de elevação de temperatura sob carga não senoidal, pelo argumento de que uma medição só pode ser chamada de ensaio a partir do momento que sua metodologia está devidamente explicada, aceita e oficializada no meio científico. Uma preocupação da equipe durante os ensaios foi com relação ao monitoramento da temperatura em vários pontos do transformador, já que isto era uma recomendação da IEEE C57.110-1998. A empresa fabricante dos transformadores, então, disponibilizou 3 relés de proteção térmica, chamados PCPT3, que servem para proteção dos transformadores contra sobreaquecimento. Cada PCPT3 possui 3 canais de medição, desta forma foi possível o monitoramento de até 9 pontos distintos em cada um dos protótipos. 80 Figura 47 - Relé térmico de proteção Na preparação para o ensaio de elevação de temperatura e a medição de elevação de temperatura com carga não linear, viu-se a necessidade de uma bancada extra para monitorar não só o lado do enrolamento do primário do transformador, mas também o secundário do transformador. Pois para ensaios convencionais, o monitoramente é apenas de um lado, geralmente o da alimentação, sendo suficiente para obtenção dos resultados necessários. Mas, neste caso, deve-se ter um monitoramento completo da alimentação e do fornecimento de energia para a carga. Melhor explicando, este monitoramento trata-se da visualização das formas de onda de corrente e tensão de cada fase, seu valor RMS, valor médio, distorção harmônica total e valores de cada componente harmônico da grandeza. Figura 48 - Tela de monitoramento dos ensaios 81 Para a leitura dos valores nesta bancada extra, foi necessária a instalação de 3 TC´s e 3 TP´s adicionais. E, para evitar a compra destes instrumentos, apenas para realizar estas medições, foram emprestados do estoque da unidade da empresa que realiza serviços de recuperação do grupo à qual a COMTRAFO pertence. Os únicos transformadores de corrente em estoque que esta empresa possuía eram de classe de isolação de 15 kV, sendo que para as medições uma isolação de 0,6 kV já seria suficiente. Já os TP´s que foram emprestados do estoque possuíam classe de isolação adequada para o ensaios, 0,6 kV. As relações de transformação dos instrumentos eram de 100/5A nos TCs e 8/1 nos TPs. Figura 49 - TCs utilizados - classe de isolação 15kV Figura 50 - TPs e demais instrumentos para a medição Conectado os TP´s e TC´s ao módulo de medição e monitoramento dentro do laboratório, os ensaios estavam prontos para começarem. 82 5.2 Ensaio de elevação de temperatura convencional Com os transformadores no laboratório, foi decidido iniciar as medições com o transformador fator K-1. Posicionando-o conforme foto a seguir, foram inseridas as sondas para medição de temperatura (termopares) nas regiões indicadas pela norma NBR 10295, que são três: Parte superior do núcleo, logo acima da bobina central; Canal entre enrolamento de alta e baixa tensão, próximo ao topo da bobina, e canal entre alta e baixa tensão, no meio da bobina. Figura 51 - Disposição dos sensores de temperatura segundo a norma Isolada a área próxima ao transformador, para evitar correntes de ar que pudessem alterar os valores medidos, e posicionados os termômetros a óleo para medição da temperatura ambiente conforme norma, o ensaio de elevação de temperatura pode ser iniciado. Figura 52 - Ensaio convencional de elevação de temperatura 83 5.2.1 Elevação de temperatura K-1 – carga senoidal 5.2.1.1 Elevação de temperatura a vazio A primeira etapa do ensaio de elevação de temperatura é a medição da temperatura com o transformador em vazio. Logo, abre-se o secundário, e alimenta-se o primário, monitorando o aquecimento dos três pontos definidos a cada 30 minutos, até a estabilização das temperaturas nestes pontos. Esta estabilização, conforme definido pela norma responsável, se dá quando a diferença de temperatura no intervalo de uma hora é menor que dois grau, ou seja, a temperatura do transformador em cada ponto definido deve-se elevar em menos de dois grau durante uma hora, para atingir a condição de estável. Figura 53 - Elevação de temperatura a vazio A seguir é mostrado a tabela com os valores de temperatura monitorados em cada ponto, até atingir a estabilização. A leitura de cada um dos pontos é feita a cada 30 minutos, onde são coletados os valores de temperatura nas sondas e nos termômetros e lançados na tabela. Assim que é atingido o valor de estabilização a linha em qual isto ocorreu tem a sua cor alterada. 84 Tabela 7 - Estabilização de ensaio de temperatura K-1 - a vazio Estabilização - Vazio 57,0 54,0 51,0 48,0 45,0 42,0 Temperatura (ºC) 39,0 36,0 33,0 30,0 27,0 24,0 21,0 18,0 15,0 12,0 9,0 6,0 3,0 0,0 08:30:00 09:00:00 09:30:00 10:00:00 10:30:00 11:00:00 11:30:00 12:00:00 12:30:00 13:00:00 13:30:00 14:00:00 14:30:00 Horário TABELA Temp. canal inferior Temp. canal superior Temp. canal culatra Temp. ambiente média MENU Gráfico 1- Estabilização elevação de temperatura - K-1 a vazio A estabilização do ensaio de temperatura a vazio como os demais ensaios demorou em torno de 6 horas para acontecer. Isto ocorreu, pois na empresa não havia uma sala climatizada para a realização de tais ensaios, visto que os mesmos não são ensaios de rotina, mas de tipo. Esta demora por muitas vezes acarretou problemas para a equipe, já que como o laboratório priorizava os ensaios dos transformadores que eram vendidos, vários dos ensaios dos protótipos tiveram que ser cancelados na metade por tomarem muito tempo. 85 Após a medição da temperatura de um dos enrolamentos pelo método da variação da resistência, geralmente o primeiro era a BT, religava-se o transformador por mais uma hora para que o mesmo atingisse novamente o equilíbrio térmico e transcorrido este tempo mediase o outro enrolamento. 5.2.1.2 Elevação de temperatura em carga Finalizando a primeira etapa do ensaio, já se pode imediatamente iniciar a próxima etapa, a elevação de temperatura com carga, curto-circuitando o secundário do transformador, e aproveitando a temperatura de aquecimento que o transformador já atingiu, visando diminuir o tempo de duração da estabilização. A norma dá preferência para que se realizem os dois ensaios seqüencialmente, mas isto depende do tempo que levou a estabilização, e o tempo que o laboratório pode trabalhar, pois freqüentemente este ensaio excede o período de trabalho diário dos laboratórios. Para resolver este empecilho, os laboratórios alimentam o transformador no final do expediente e o deixam aquecendo a vazio, durante a noite inteira. No outro dia cedo, o laboratório obtém os valores de temperatura que estão nos medidores, tomam como estáveis, e realizam a medição da temperatura dos enrolamentos, iniciando logo em seguida a elevação de temperatura em carga. Pode haver alguma diferença na elevação a vazio entre monitorar a cada 30 minutos a temperatura, ou obtê-la apenas no dia seguinte, mas nada que comprometa a qualidade dos valores obtidos, segundo os próprios laboratórios. Mesmo que as duas etapas de aquecimento não possam ser feitas seqüencialmente, os resultados obtidos na elevação de temperatura dos enrolamentos serão muitos próximos, podendo mudar apenas a temperatura de estabilização do núcleo (culatra). Ao questionar esta estabilização da temperatura, a empresa informou que a temperatura do núcleo só começa a influenciar na temperatura dos enrolamentos a partir do momento em que este atinge 100 °C, desta forma o fato de se obter as medições apenas no dia seguinte não compromete o ensaio. Para o ensaio com carga do K-1, não houve tempo hábil para realizar as medições após o ensaio a vazio. Desta forma o transformador foi deixado ligado de um dia para o outro curto-circuitado e as medições foram feitas apenas no dia posterior. Não sendo possível, então, a obtenção da curva de estabilização do mesmo. 86 5.2.1.3 Análise das medições Concluída ambas etapas, realiza-se o cálculo da elevação de temperatura: Tabela 8 - Elevação de temperatura BT - K-1 Tabela 9 - Elevação de temperatura AT - K-1 Pela tabela anterior nota-se que para o ensaio de elevação com carga senoidal a elevação de temperatura na BT foi de 120,87°C, enquanto que para a AT a elevação foi de 105,65° C. 87 5.2.2 Elevação de temperatura K-20 – carga senoidal 5.2.2.1 Elevação de temperatura a vazio Aplicando os mesmos procedimentos usados para ensaio de elevação de temperatura convencional no transformador com fator K-1, foram realizadas as medições no protótipo com fator K-20. Entretanto em ambos os ensaios não foi possíveis recolher as informações para traçar as curvas de estabilização. 5.2.2.2 Elevação de temperatura em carga Após as medições a vazio, o secundário foi curto-circuitado, o transformador aquecido até a estabilização, que ocorreu apenas no outro dia. Figura 54 - Ensaio elevação de temperatura em carga - K-20 5.2.2.3 Análise das medições Após ambos os ensaios, os seguintes valores de elevação foram obtidos para cada um dos enrolamentos: 88 Figura 55 – Elevação de temperatura BT – K-20 Figura 56 - Elevação de temperatura AT - K-20 5.2.3 Comparação entre ensaios K-1 e K-20 com carga senoidal No ensaio de elevação de temperatura com carga senoidal o transformador com fator K-20 apresentou uma elevação de temperatura menor do que o com fator K-1. Isto já era esperado, afinal de contas o cálculo do K-20 foi desenvolvido afim de que este tivesse uma menor elevação de temperatura comparada com o K-1, independente se estiver trabalhando com carga linear ou não linear. 89 5.3 Preparações para as medições com carga não linear - COMTRAFO As preparações para as medições que permitiram comprovar a eficiência do transformador com fator K em relação ao convencional colocaram a prova toda a capacidade da equipe de criar soluções e resolver problemas. Visto que o projeto envolve protótipos e novos métodos para realizar medições de transformadores em condições especiais, era esperado que esta fosse uma etapa complicada, com muitos contratempos, e de grande importância para o sucesso do trabalho. 5.3.1 A necessidade do ensaio de elevação de temperatura Para comprovar o melhor desempenho de um transformador com fator K em relação a um transformador convencional, de uma forma generalizada, o transformador com fator K deve aquecer menos que o convencional, quando na mesma situação de carga não senoidal. Este é o principal fator de avaliação. Mesmo que ainda existam problemas de saturação do núcleo, acoplamento capacitivo e corrente de neutro, conforme citado anteriormente, o que tem causado a grande parte da queima e inutilização de transformadores, com pouquíssimo tempo de uso, é o superaquecimento devido às correntes não senoidais, causando deterioração do isolamento, e logo curto-circuitos entre espiras e bobinas, como expõem vários pesquisadores e fabricantes. Outro fator é a dificuldade de se criar todas as condições presentes em uma rede poluída de harmônicos, para que então se possa medir o rendimento, regulação, saturação e perdas no núcleo, que dependem também da tensão aplicada. Nenhum laboratório no Brasil apresenta tal condição, pois para obter a tensão real, é necessária uma carga de alta potência, totalmente controlável, com variação do fator de potência, que possibilite atingir plena carga no transformador. Isto seria possível com reostatos, indutores e capacitores muito potentes, mas de altíssimo custo para laboratórios e empresas. Com estas cargas de alta potência, seria possível realizar uma medição simulando o transformador em condições de trabalho reais, com tensão e corrente nominal, mas segundo os fabricantes e laboratórios certificados a alteração na temperatura medida seria mínima, em relação ao resultado de um ensaio de aquecimento, pois a influência do calor gerado pelo núcleo nas bobinas é desprezível. Segundo informações do fabricante deste protótipo, a 90 temperatura do núcleo só começa a influenciar na temperatura do transformador quando esta passa dos 100 ºC. Atualmente, os fabricantes trabalham com temperatura do núcleo próxima dos 70°C, com média de 25 W/m2 de perdas na culatra do núcleo e 2,5 W/m2 nas pernas do núcleo, portanto, tem-se um alto aquecimento no jugo do núcleo, e um baixo aquecimento na parte envolta pelas bobinas. Ao estudar a norma referente ao ensaio de elevação de temperatura (NBR 10295), observa-se que ela considera o aquecimento no núcleo, quando na realização do ensaio de elevação a vazio, onde é aplicada tensão nominal, e depois agrega ao resultado do ensaio de elevação de temperatura curto-circuitado, onde é aplicado corrente nominal. Este valor resultante é o valor considerado de elevação de temperatura do transformador. Mas este valor é muito próximo ao valor obtido na parcela do ensaio de elevação curto-circuitado, e será sempre menor que o ponto mais quente do transformador, sendo este o principal valor levado em conta por laboratórios e fabricantes. Somando-se as razões acima a equipe teve a decisão de comparar o aquecimento do transformador convencional com um fator K. E, logo, viu-se a necessidade de utilizar o conceito e metodologia de um ensaio de elevação de temperatura na medição do aquecimento de um transformador com carga não senoidal, já que a recomendação da IEEE C57.110-1998 mostra que o ensaio de elevação de temperatura deve ser feito em condições reais de operação. 5.3.2 Adaptação do ensaio de elevação de temperatura Analisando o conceito e metodologia do ensaio de elevação de temperatura, vê-se que este pode ser facilmente adaptado para ensaio com uma carga não linear. Para o ensaio a vazio, pode-se manter o mesmo procedimento, visto que a temperatura do núcleo não tem influência significativa nos enrolamentos do transformador. Ou pode-se usar uma adaptação para tentar atingir as condições reais do núcleo com cargas não lineares. Esta adaptação seria na verdade a alimentação de um circuito chaveador pela rede, e a alimentação do transformador com o secundário aberto por este circuito, tendo assim distorção da tensão no transformador. A modificação proposta pelo grupo para o ensaio de elevação com carga pode e deve ser feita de forma que os enrolamentos do transformador tenham a corrente não senoidal que simule uma situação real, sem necessidade de uma tensão plena aplicada. Nesta adaptação, o 91 curto-circuito do secundário é trocado por uma carga não linear que produza as distorções na forma de onda da corrente, e que possa manter esta no valor mais próximo do real, sem necessidade de manter uma tensão em um valor estável. E é nesta adaptação que estas medições tornam-se viáveis economicamente para qualquer potência desejada, pois um reostato convencional, de alta potência e caro, que estaria no lugar do curto circuito no secundário do transformador, pode ser substituído pelo denominado reostato líquido que já foi citado no capítulo anterior. 5.3.3 Medição de elevação de temperatura com carga não senoidal Com o laboratório pronto e equipamentos preparados, reostatos líquidos calibrados para fornecer a corrente necessária, e circuito chaveador em ótimo funcionamento, o primeiro aquecimento com carga não linear pode ser finalmente iniciado. Para este primeiro aquecimento, sendo realizado sobre o transformador com fator K-20, que já estava com as sondas de temperatura inseridas desde a elevação em curto circuito, a composição da carga não linear foi apenas composta do corte da onda senoidal em corrente nominal pelo circuito chaveador, resultando em uma forma de onda e espectro harmônico conforme a tela do módulo analisador a seguir: Figura 57 – Distorção gerada por corrente nominal cortada em 90º Como se pode ver através do chaveamento das ondas de corrente e tensão, foi possível atingir altos valores de DHT (Distorção Harmônica Total). A equipe se preocupou em 92 adicionar um alto valor de harmônico de 3ª ordem, pois este é o que causa grandes problemas em transformadores devido ao fato de serem de seqüência zero (estão em fase, o que faz o valor da corrente de neutro chegar, em alguns casos, em até 3 vezes do valor nominal). Observa-se que a onda senoidal de corrente, com pico de 92A, está cortada, resultando em um valor pouco maior que a metade da corrente RMS antes aplicada. Melhor dizendo, anteriormente tinha-se uma corrente de 65A RMS, composta apenas de uma componente em 60Hz, e agora tem-se uma corrente de apenas 39A RMS, o que obviamente produziria um aquecimento menor nos condutores. Figura 58 - Ensaio K-20 com carga não linear 93 Tabela 10 - Estabilização K-20 - 92A cortado em 90° Estabilização - Carga 90,0 80,0 70,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 Horário Temp. canal inferior Temp. canal superior 14:15:00 14:00:00 13:45:00 13:30:00 13:15:00 13:00:00 12:45:00 12:30:00 12:15:00 12:00:00 11:45:00 11:30:00 11:15:00 11:00:00 10:45:00 10:30:00 10:15:00 10:00:00 09:45:00 09:30:00 09:15:00 09:00:00 08:45:00 08:30:00 08:15:00 0,0 08:00:00 Temperatura (ºC) 60,0 TABELA Temp. canal culatra Temp. ambiente média Gráfico 2 - Estabilização K-20 - 92A cortado em 90º MENU 94 Infelizmente, neste momento, a equipe enfrentou mais um imprevisto nos ensaios que acabou comprometendo a análise dos resultados. Foi necessário uma recalibração dos ohmímetros do laboratório da empresa. O que fez com que as medições das resistências a quente não pudessem ser realizadas. Dessa forma a equipe não conseguiu saber efetivamente qual a elevação de temperatura que o transformador foi exposto. Entretanto, ao se fazer uma comparação entre o ponto mais quente do transformador neste ensaio com o ponto mais quente do transformador no ensaio com carga não linear e corrente de 65A RMS que será mostrado a seguir, nota-se que a elevação é bem menor no ensaio realizado em que o valor RMS da corrente é metade (83°C contra 126ºC do ensaio com 65A RMS). Contudo até este ponto a equipe não sabia o quanto uma parcela RMS composta de harmônicos das mais variadas ordens produziria de calor ao transformador. Para então determinar a influência da corrente composta por harmônicos no transformador, o ideal a fazer seria comparar o aquecimento da aplicação de uma corrente puramente senoidal com o aquecimento devido a uma corrente de mesmo valor RMS, mas composta por uma parcela a freqüência de 60 Hz e demais parcelas compostas por harmônicos. E foi isto o realizado, utilizando-se do valor de corrente do aquecimento convencional, feito com 65A RMS. Com este valor de corrente RMS, estar-se-ia observando não só a influência dos harmônicos no aquecimento dos enrolamentos, mas também realizando as medições de elevação de temperatura sobre as mesmas condições impostas pelo ensaio de elevação de temperatura convencional, podendo comparar desde já a eficiência deste transformador dimensionado para suportar o aquecimento devido aos harmônicos. Com a aplicação da onda senoidal cortada que gerava inicialmente 65 RMS, para se atingir maiores níveis de corrente RMS, é necessário cortar a onda em um período de tempo menor, mas isto diminui a quantidade de harmônicos aplicada ao transformador. Logo a solução é alterar a amplitude dessa onda, tentando manter o mesmo conteúdo harmônico obtido anteriormente, para se seguir uma padronização de distorção na corrente, de forma a comparar corretamente o desempenho dos transformadores. Aumentando-se a amplitude da corrente, barra-se na capacidade de pico máximo de corrente suportada pelos TRIACs, pois com dois TRIACs de 40 A em paralelo, tem-se um pico suportável de aproximadamente 113,14 A, levando-se em conta uma senóide de 80 A como capacidade máxima por fase do chaveador. Logo, foi necessária a adição de mais um triac em paralelo em cada fase do chaveador já montado como foi mostrado anteriormente. 95 Com a capacidade da carga aumentada, para se chegar à corrente RMS desejada, basta apenas aumentar a concentração da solução eletrolítica, colocando sal e diminuindo sua resistência. Logo a forma de onda continua a mesma, apenas sua amplitude é alterada. Figura 59 - Ensaio com a corrente de 65A RMS 5.3.4 Medição com carga não senoidal – 65A RMS Com as correntes em cada reostato próximas o suficiente para realizar a elevação, iniciou-se o processo de aquecimento. Após atingida a temperatura de estabilização, tem-se os resultados abaixo, em tabelas criadas pela equipe para controle e análise dos dados obtidos. Tabela 11- Elevação de temperatura 65A RMS - K-20 96 Estabilização - Carga 140,0 130,0 120,0 110,0 Temperatura (ºC) 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 12:00:00 12:15:00 12:30:00 12:45:00 13:00:00 13:15:00 13:30:00 13:45:00 14:00:00 14:15:00 14:30:00 14:45:00 Horário TABELA Temp. canal inferior Temp. canal superior Temp. canal culatra Temp. ambiente média Gráfico 3 - Estabilização ensaio 65A RMS - K-20 Tabela 12 - Elevação de temperatura 65A RMS BT - K-20 Tabela 13 - Elevação de tempereatura 65A RMS AT - K-20 MENU 97 Com o ensaio de elevação de temperatura convencional e as medições de elevação de temperatura com carga não senoidal, a equipe pôde realizar uma comparação entre as duas situações as quais o transformador com fator K-20 foi exposto e analisar sua capacidade de suportar harmônicos em relação à mesma corrente RMS. 5.3.5 Comparação dos resultados obtidos para o transformador com fator K-20 Os resultados obtidos nos ensaios realizados na empresa COMTRAFO, a primeiro olhar, demonstram uma ótima temperatura obtida sob condições de carga não senoidal, plenamente dentro da temperatura de trabalho recomendada do transformador, que possui isolamento classe H, permitindo uma temperatura de trabalho de até 180°C. Mas este resultado, se comparado com o aquecimento do transformador em condições normais, mostra uma elevação de temperatura um pouco inferior, e isto causou um questionamento muito grande na equipe e em técnicos consultados, pois, segundo as teorias normalmente utilizadas para explicar o comportamento dos condutores, como por exemplo o “efeito skin”, correntes de maiores freqüências causariam maiores perdas e por conseqüências maior aquecimento nos condutores, e logo o transformador sob uma corrente distorcida deveria ter aquecido mais que o ensaio realizado com corrente senoidal de mesmo valor RMS. Em contrapartida, a IEEE cita que a principal causa de aquecimento devido aos harmônicos são as correntes parasitas nos condutores, induzidas pelos condutores adjacentes. Ou seja, ao passar corrente pelos condutores, um campo magnético é formado em volta destes, e este campo gera correntes parasitas circulantes nos condutores próximos a estes, e como a variação deste campo magnético depende da variação de corrente, freqüências maiores induzem maiores variações de campo, logo maiores correntes parasitas nos condutores. Logo, se a possibilidade de circulação destas correntes parasitas for diminuída, como foi feito no protótipo com fator K-20, o aquecimento causado pelos harmônicos deve diminuir. E se, segundo a norma, as perdas parasitas forem a principal influência para o aquecimento causado pelos harmônicos, com um valor menor da componente de freqüência fundamental nas medições com carga não linear e a diminuição das perdas parasitas no protótipo, um aquecimento menor que o convencional seria viável, como o resultado obtido. Não se pode descartar a possibilidade de algum imprevisto no ensaio, como correntes de ar, ou a informação errada sobre a corrente RMS mostrada no módulo de medição. Mas como a IEEE sustenta a possibilidade de redução de aquecimento através da redução das 98 perdas parasitas, especialmente realizada neste transformador, um aquecimento menor seria explicável neste protótipo. Como o tempo para realização dos ensaios na COMTRAFO estava se esgotando, e era necessário pelo menos um mês de antecedência para marcar os ensaios no LACTEC, a equipe decidiu executar a elevação de temperatura com carga não senoidal sobre o transformador convencional, para então poder comparar melhor os resultados obtidos e analisar se houve algum erro na medição ou nos aparelhos utilizados. 5.3.6 Medição da elevação de temperatura carga não linear – transformador K-1 Para realizar a elevação de temperatura no K-1, foi necessário inserir as mesmas sondas utilizadas no transformador com fator K-20, trocando algumas que apresentaram defeito na retirada do transformador, pois um esforço mecânico elevado as rompe com facilidade, e inserí-las nas mesmas posições no transformador convencional. A equipe também teve que trocar a água dos tambores, pois a oxidação durante o funcionamento dos reostatos é elevada, e esta oxidação na água cada vez mais dificulta a calibração e manutenção das correntes nos reostatos, visto que a solução torna-se saturada, e a inserção de sal na solução começa a ter um efeito apenas momentâneo na corrente. A equipe percebeu isto no final da segunda elevação no transformador com fator K-20, tendo que monitorar a corrente com muito cuidado e jogar sal na solução quase todo instante para manter a corrente desejada. Após calibrar as novas soluções nos reostatos líquidos, iniciou-se a elevação de temperatura no protótipo com fator K-1. 99 Tabela 14 - Elevação de temperatura 65A RMS - K-1 Estabilização - Carga 150,0 140,0 130,0 120,0 110,0 Temperatura (ºC) 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 01:00:00 01:15:00 01:30:00 01:45:00 02:00:00 02:15:00 02:30:00 02:45:00 03:00:00 03:15:00 03:30:00 03:45:00 04:00:00 04:15:00 Horário TABELA Temp. canal inferior Temp. canal superior Temp. canal culatra Temp. ambiente média Gráfico 4 - Estabilização 65A RMS - K-1 MENU 100 Tabela 15 - Elevação temperatura 65A RMS BT - K-1 Tabela 16 - Elevação de temperatura 65A RMS AT - K-1 Com os dados acima em mãos, procedeu-se a analise das medições do transformador convencional, com as medições do transformador com fator K-20. 5.3.7 Comparação dos resultados obtidos para o fator K-1 Novamente, o resultado do ensaio causou dúvidas e questionamentos. Comparando-se o K-1 no ensaio de elevação de temperatura convencional com a elevação de temperatura com carga não linear, ele praticamente teve o mesmo aquecimento. Isto levou a equipe a duas possíveis conclusões: As medições da corrente não linear estão com valores inferiores ao mostrados, ou a idéia de perdas e aquecimento com carga não linear não é vista da forma que 101 se imagina, sobre a mesma amplitude de corrente senoidal, mas sim uma amplitude maior em RMS de corrente. A primeira conclusão pode ser a mais aceitável primariamente, pois os resultados não condizem com a teoria de aquecimento dos condutores, e também questionam a idéia de perdas parasitas dita pela IEEE, a qual se tornaria mais aceitável caso o transformador K-1 aquecesse mais que no ensaio de elevação de temperatura convencional. E, se compararmos o resultado do transformador K-1 com o K-20, pode-se ver que a diferença de temperatura entre os dois transformadores aumentou na medição com carga não linear, o que comprovaria a eficiência do protótipo K-20 para lidar com harmônicos. E estando com um erro de medição para baixo, os resultados de temperatura subiriam, estando o transformador com fator K-20 quase na mesma temperatura nas duas situações, e o transformador convencional aquecendo mais com carga não linear. Assim, considerando este erro para baixo de valores de corrente distorcida, a teoria de que as perdas parasitas têm a maior influência no aquecimento dos transformadores sob carga não senoidal seria atendida. Logo, o ensaio no LACTEC, em um ambiente controlado, utilizando-se de vários aparelhos qualificados para estes tipos de medições, afirmaria esta conclusão. Por outro lado, se as medições estiverem corretas, e houver mesmo uma queda de temperatura, significa que o conteúdo harmônico encontrado nas instalações e redes, que causam um sobreaquecimento nos transformadores, é de uma ordem RMS maior que a afirmada na instalação. Ou seja, quando é afirmada que uma rede com distorção possui, por exemplo, 65A RMS de corrente, a 220V, resultando na potência de 25kVA, esta potência afirmada estaria relacionada apenas à parcela da freqüência fundamental, sendo as outras distorções uma parcela a mais de corrente RMS, que não é adicionado nestas informações, fazendo com que a corrente verdadeira no sistema seja maior que o afirmado, aí sim causando aquecimento nos transformadores. E também, poderia afirmar que a parcela de corrente fundamental causa mais aquecimento nos condutores paralelos que as parcelas de freqüências maiores, o que vai contra a análise da teoria de perdas parasitas aqui baseadas. Na verdade, estas teorias baseadas não deixam de ser teorias, e estes estudos são muito recentes, tornando estas influências de correntes distorcidas sobre enrolamentos em transformadores cheias de incertezas. E, para atingir mais resultados e informações possíveis, contribuindo para o conhecimento na área, a equipe decidiu realizar uma elevação de temperatura no transformador protótipo K-20 com uma corrente RMS composta de 65A à freqüência fundamental mais uma parcela RMS de freqüências maiores. Ou seja, aplicar a corrente 102 nominal do transformador mais uma parcela de harmônicos, resultando em uma corrente RMS maior que a nominal, para causar um aquecimento extra e testar novamente a suportabilidade do transformador com fator K, inserindo também a idéia descrita anteriormente que as instalações com distorções harmônicas possuem um conteúdo RMS maior que o geralmente informado. Para isto, a amplitude da corrente aumentou ainda mais, mantendo a mesma relação de distorção, sendo 65 A RMS na freqüência fundamental e mais 9 A RMS em freqüências maiores. 5.3.8 Elevação de temperatura no transformador K-20 com 74A RMS Verificando todos os instrumentos, trocando a solução dos reostatos, e os calibrando novamente, preparou-se o transformador com fator K-20 para o ensaio, tomando-se o cuidado de posicionar as sondas PT-100Ω nos mesmos lugares que anteriormente, para comparar também os valores de temperatura atingidos nestes pontos. Figura 60 - Elevação de temperatura 74A RMS - K-20 Nota-se que o valor da componente da corrente na freqüência fundamental foi mantido no valor nominal, 65,1A, enquanto que foi adicionado cerca de 10A de corrente harmônica em cada uma das três fases. É importante também notar que neste ensaio a DHT de corrente foi de aproximadamente 70%. 103 Tabela 17 - Elevação de temperatura 74A RMS - K-20 Estabilização - Carga 180,0 170,0 160,0 150,0 140,0 130,0 110,0 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 Horário Temp. canal inferior Temp. canal superior 18:15:00 18:00:00 17:45:00 17:30:00 17:15:00 17:00:00 16:45:00 16:30:00 16:15:00 16:00:00 15:45:00 15:30:00 15:15:00 15:00:00 14:45:00 14:30:00 14:15:00 14:00:00 13:45:00 13:30:00 13:15:00 13:00:00 12:45:00 12:30:00 0,0 12:15:00 Temperatura (ºC) 120,0 TABELA Temp. canal culatra Gráfico 5 - Estabilização 74A RMS - K-20 Temp. ambiente média MENU 104 Tabela 18 - Elevação de temperatura 74A RMS BT - K-20 Tabela 19 - Elevação de temperatura 74A RMS AT - K-20 5.3.9 Comparação do resultado obtido com corrente a 74A RMS Nesta medição, o transformador teve um grande ganho de temperatura, com o ponto mais quente chegando a alcançar os 162 graus Celsius, mostrando uma diferença de 14 graus na elevação de temperatura. Logo, aplicando-se uma potência final de 28,12 kVA de alimentação no transformador, sendo que 3,12 kVA são compostos apenas por harmônicos, como informado nos módulos de medição, o ponto mais quente do transformador atingiu níveis de temperatura acima do que a isolação de um transformador convencional, que é classe F (155ºC), permite. Portanto, um transformador K-1 nestas condições não duraria nem um décimo de sua vida útil, segundo o fabricante, ou pior: a resina isolante, acima da temperatura permitida, começa a entrar em processo de cura, enfraquecendo a isolação entre camadas, permitindo que descargas entre camadas e enrolamentos aconteçam em curtíssimos prazos de tempo. Todavia, como os transformadores com fator K maior que 1 são projetados 105 com isolação classe H (180ºC), a temperatura atingida na medição estaria dentro das condições de uso deste. Logo, se harmônicos no sistema significam uma corrente RMS maior que a corrente informada, pode-se esperar um aquecimento maior nos transformadores e uma redução da vida útil dos mesmos. Agora, considerando que estas medições também contiveram o mesmo erro de leitura, reduzindo o valor real de harmônicos aplicados ao sistema, tem-se então um valor ainda maior na relação entre elevação de temperatura por potência composta de harmônicos aplicada, mostrando uma situação mais séria quando se trata de harmônicos em transformadores. Devido a estes valores de temperatura atingidos, uma elevação de temperatura no transformador convencional com 74 RMS de corrente foi descartada pela equipe, pois poderia danificar o protótipo, e era necessária total integridade do mesmo para os ensaios que seriam ainda realizados no LACTEC. Portanto, as medições no laboratório da empresa foram encerradas, e esta se comprometeu a averiguar a capacidade de medição de harmônicos de seus módulos, aguardando os valores que viriam a ser obtidos no LACTEC. E assim que os resultados deste laboratório certificado estivessem prontos, a equipe e a empresa poderiam analisar o ocorrido, e repetir as medições em seu laboratório caso fosse necessário. 5.4 Medições com carga não linear – Laboratório do LACTEC O LACTEC - Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento é um centro de pesquisa tecnológica, sem fins lucrativos, auto-sustentável, que tem por finalidade o desenvolvimento de pesquisas e soluções para as necessidades da sociedade. Atualmente, o LACTEC, como entidade auto-sustentável, obtém os recursos necessários através da venda de projetos de pesquisa e desenvolvimento e outros serviços tecnológicos. Foto da sede do LACTEC 106 Foto das instalações onde a equipe realizou as medições – LACTEC Conhecendo este centro de pesquisa de referência nacional, a equipe, através da empresa COMTRAFO, contatou o LACTEC quando ainda iniciava o projeto para comparação de transformadores com fator K e convencionais alimentando cargas não lineares, e apresentou a proposta para este centro de pesquisa. A proposta foi muito bem vinda, e o LACTEC cedeu a realização destas medições propostas no projeto em seu laboratório, sem custo algum para a equipe ou a empresa, desde que os resultados desta pesquisa fossem compartilhados com o LACTEC, e posteriormente fossem elaborados artigos sobre as medições realizadas, em parceira da equipe com o centro de pesquisa. Foto do laboratório de alta tensão do LACTEC 5.4.1 O laboratório de ensaios de elevação de temperatura O laboratório do LACTEC, no qual as medições foram realizadas foi projetado especialmente para medições que necessitem de um ambiente climatizado e sem correntes de ar. Possui três entradas de alimentação que, aliadas a um controle digital de valores de tensão, corrente, potência, etc., é capaz de realizar os mais variados tipos de ensaios. 107 Para ensaios de elevação em transformadores, este laboratório possui um software de controle do ensaio que foi desenvolvido especificamente para medições em transformadores a óleo. Como os ensaios de elevação de temperatura em transformadores a óleo são diferentes dos transformadores a seco a equipe não pode utilizar este software para as medições. Figura 61 - Equipamentos de medição – LACTEC Figura 62 - Bancada com os equipamentos de medição da LACTEC 108 Figura 63 - Software utilizado para elevação de temperatura de transformadores a óleo Figura 64 - Área climatizada onde foram realizados os ensaios 5.4.2 Preparação para as medições no LACTEC Finalizado os ensaios na COMTRAFO, os transformadores e os reostatos foram enviados ao instituto LACTEC. 109 Foi programado no LACTEC uma semana inteira de medições, que ocorreu durante o período de 14 a 18 de maio de 2007. Como no LACTEC a equipe não tinha a liberdade de utilizar horários fora do expediente, cada dia teve de ser programado com cuidado, pois esta era a única semana disponível para os ensaios e o prazo final para a entrega do projeto estava marcada para segunda-feira da semana seguinte. No primeiro dia de ensaios, a equipe e o responsável técnico do LACTEC para executar as medições se reuniu e determinou o cronograma de ensaios e medições, para que fossem executadas todas as medições naquela semana. Após alguns ajustes no circuito chaveador e efetuado o posicionamento das sondas conforme a NBR 10295 no transformador com fator K-20. Figura 65 - Circuito chaveador Figura 66 - Transformador K-20 pronto para o ensaio 110 Com a finalidade de manter os mesmos padrões de medição que foram utilizados na COMTRAFO, a equipe levou dois dos relés PCPT3 utilizados anteriormente e, devido ao fato do LACTEC estar acostumada a realizar ensaios de aquecimento apenas em transformadores a óleo, e esta possuir apenas um termopar para a medição de temperatura (topo do óleo), a equipe também levou sensores PT100Ω para medir os pontos que a norma recomenda. Outras três sondas foram colocadas em pontos em que a equipe considerava que haveria um maior aquecimento, uma na cabeceira da bobina lateral, entre AT e BT (fase 3), outra no meio desta mesma bobina, também entre AT e BT, e outra na parte inferior da bobina do meio, novamente entre a alta e baixa tensão, visto que é neste canal aonde se tem as maiores temperaturas. Os termômetros imersos em óleo foram posicionados em torno do transformador, para captar a temperatura ambiente a qual estava submetido o ensaio conforme a norma recomenda. Figura 67 - K-20 sendo ensaiado 111 Figura 68 - TCs e TPs para os ensaios Foi utilizado um oscilógrafo existente no LACTEC, afim de monitorar as formas de onda das tensões nas três fases simultaneamente, permitindo o acompanhamento e regulação das formas de onda de tensão na carga. Figura 69 - Oscilógrafo utilizado nos ensaios A equipe disponibilizou, também, um equipamento proveniente da UTFPR, capaz de monitorar o espectro harmônico que estava sendo aplicada na carga. em tempo real, o que facilitou a execução dos ensaios. 112 Figura 70 - Registrador para controle do espectro harmônico 5.4.3 Início das medições – elevação de temperatura no protótipo K-20 Após todos os preparativos e checagens nos instrumentos, deu-se início ao ensaio de elevação de temperatura no transformador com fator K-20, com medição da elevação a vazio. Como neste dia a equipe precisou fazer toda a montagem dos equipamentos e este ensaio iniciou-se no final da tarde, o acompanhamento da estabilização não pode ser realizado, já que os horários de expediente deveriam ser cumpridos. A equipe juntamente com os responsáveis do LACTEC decidiu deixar o transformador ligado a vazio durante a noite toda, para que logo na manhã do dia seguinte fossem realizadas as medições, pois o transformador já teria atingido a estabilização. No dia seguinte, após as medições dos valores de elevação a vazio, curto-circuitou-se o secundário do transformador e a estabilização em carga teve início. Figura 71 - Transformador durante ensaio em carga 113 Com o transformador estabilizado, iniciaram-se as medições de resistência. Tabela 20 - Estabilização ensaio convencional em carga - K-20 LACTEC Estabilização - Carga 130,0 120,0 110,0 100,0 Temperatura (ºC) 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 10:00:00 10:30:00 11:00:00 11:30:00 12:00:00 12:30:00 13:00:00 13:30:00 14:00:00 Horário Temp. canal inferior Temp. canal superior Temp. canal culatra Temp. ambiente média Gráfico 6 - Estabilização ensaio convencional em carga - K-20 LACTEC Neste momento, infelizmente, começaram alguns problemas que a equipe não esperava enfrentar. Na manhã seguinte, ao se tentar obter o arquivo com os valores de 114 resistência medidos no dia anterior, este apresentava defeitos e impossibilitava a abertura da planilha. Sem estes valores, a equipe não pode comparar os resultados dos ensaios que haviam acabado de ocorrer com os que foram obtidos na COMTRAFO. Todavia como o tempo no laboratório deveria ser muito bem aproveitado, a equipe e o LACTEC decidiram continuar os ensaios, enquanto se tentava abrir o arquivo de outra maneira. Após o ensaio de curto circuito, iniciaram-se então os preparativos para as medições com a carga não linear, para que no dia seguinte a elevação de temperatura pudesse ser iniciada rapidamente. 5.4.4 Elevação de temperatura com carga não linear – protótipo K-20 Como todos os instrumentos, reostatos e circuito chaveador já estavam posicionados, a equipe encarregou-se primeiramente de realizar as ligações da carga, do secundário do transformador ao disjuntor do circuito chaveador, do circuito aos reostatos líquidos, do neutro do transformador aos reostatos líquidos e deste ao terra. Figura 72 - Circuito de carga Colocando água nos reostatos líquidos, alimentou-se o transformador, e foi iniciado o processo de calibração dos reostatos. 115 Com todo o circuito funcionando conforme esperado, desligaram-se os disjuntores, e o transformador ficou funcionando a vazio a noite inteira, aguardando a elevação de temperatura com carga não linear que ocorreria no dia seguinte. Na quarta-feira, iniciou-se a elevação de temperatura do protótipo K-20 com a carga não linear. Com a corrente nominal circulando no transformador, os reostatos líquidos foram aquecendo no decorrer do ensaio, e com isso a equipe foi obrigada a reduzir lentamente a tensão que era aplicada no primário do transformador afim de manter a corrente no valor nominal. Cabe dizer que isto também foi necessário no ensaio do transformador com fator K1, desta forma a equipe não foi prejudicada na comparação dos resultados dos dois protótipos. Para evitar que no ambiente fechado do laboratório houvesse um grande aumento na umidade e possível condensação de água nos aparelhos e circuitos eletrônicos, os reostatos líquidos foram colocados rente a uma janela, semi-aberta, a qual possibilitava a passagem dos vapores para o ambiente exterior. Figura 73 - Reostatos em funcionamento 116 Seguem-se os resultados obtidos: Tabela 21 - Estabilização ensaio carga não linear - K-20 LACTEC Estabilização - Carga 130,0 120,0 110,0 100,0 Temperatura (ºC) 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 10:00:00 10:30:00 11:00:00 11:30:00 12:00:00 12:30:00 13:00:00 13:30:00 14:00:00 14:30:00 15:00:00 15:30:00 16:00:00 Horário TABELA Temp. canal inferior Temp. canal superior Temp. canal culatra Temp. ambiente média Gráfico 7 - Estabilização ensaio carga não linear - K-20 LACTEC MENU 117 Para a medição de resistência, foi necessário tirar a carga não linear do transformador, abrindo os disjuntores desta, pois caso contrário ao colocar as garras de medição estar-se-ia medindo a resistência do sistema, o que seria incorreto. Contudo, novamente surgiram problemas inesperados com o ohmímetro, sendo que este apresentou problemas no começo da medição e simplesmente parou de funcionar, foi utilizado, então, um sistema analógico para a medição. A troca de sistemas fez com que se obtivessem apenas os dados dos últimos 2 minutos de ensaio. Isto acarretou em um grande erro na hora de extrapolar a curva de resistência (através deste método se consegue saber qual era o valor da resistência no instante do desligamento do transformador). Logo os valores obtidos não puderam ser usados para comparações, restando para a equipe apenas os valores obtidos pelas sondas nos pontos específicos do transformador. Como o tempo era programado, a equipe e o LACTEC decidiram continuar com as medições, agora para o transformador com fator K-1, trocando a instrumentação de medição de resistência. Para os valores obtidos com o transformador com fator K-20, ainda assim foi possível realizar uma comparação entre sua temperatura em curto circuito e sua temperatura atingida com carga não linear. Através desta comparação, a equipe certificou-se de que os valores medidos anteriormente no laboratório da empresa estavam com um erro para baixo nas medições dos harmônicos, mas estavam bem próximos em relação aos ensaios de elevação de temperatura convencionais realizados no LACTEC. 5.4.5 Comparação dos resultados obtidos no protótipo K-20 Para comparar os resultados obtidos no LACTEC, sem os valores de resistência, a equipe utilizou do maior valor encontrado entre 3 sondas que a norma exige, sendo este sempre o valor da sonda na cabeceira da bobina do meio, e subtraiu da temperatura média ambiente durante aquele ensaio, resultando em um valor de elevação de temperatura. Este seria muito próximo do valor obtido pela leitura das resistências, segundo as medições previamente feitas e técnicos consultados nos laboratórios. Melhor explicando, nos ensaios anteriores o valor de elevação de temperatura em curto-circuito do enrolamento de baixa tensão obtido lendo-se a resistência foi sempre um pouco menor que o valor de elevação do enrolamento de baixa tensão obtido através da diferença de temperatura entre o ponto mais quente e o ambiente. Isto já era de se esperar, pois o ponto mais quente não representa a temperatura média do enrolamento. Mas ao somar- 118 se com a temperatura obtida no ensaio a vazio, o valor final de elevação da temperatura aumenta. Logo, se considerarmos a diferença de temperatura entre o ponto mais quente do enrolamento e o ambiente, como sendo o valor de temperatura obtido na elevação de temperatura em curto-circuito, o valor final de elevação para o enrolamento de baixa tensão será um pouco maior do que se tivessem obtidos os valores de resistência. Outro ponto que justifica a proximidade da temperatura verdadeira do enrolamento de baixa tensão com o valor obtido pela sonda na cabeceira entre alta e baixa tensão, é a própria localização do enrolamento, sem contato direto com o ambiente externo, o que permite a manutenção do calor. Para o enrolamento de alta tensão, esta comparação não apresenta valores tão precisos, pois a parte externa do enrolamento esta em contato com o meio ambiente, permitindo maior dissipação de calor, tornando a temperatura média do enrolamento mais divergente em relação à temperatura da sonda em questão. Portanto, a equipe decidiu manter a mesma diferença de temperatura entre o enrolamento de alta e baixa tensão, encontrada nas medições no laboratório da empresa, quando estabelecidos os valores de elevação de temperatura no LACTEC. Esta forma de medição de elevação de temperatura nada mais é do que o método termoelétrico que foi explicado anteriormente. E não se pode esquecer que os pontos de maior temperatura são os com maior probabilidade de apresentar problemas durante a vida útil do transformador. Como a sonda superior entre os enrolamentos é localizada visando à leitura destes pontos quentes, uma comparação entre eles é bem justificada. Segue-se, portanto, os valores obtidos nos pontos selecionados em ambas as medições no protótipo K-20, e a tabela com o valor de resistência e a elevação de temperatura estimada pela equipe, através do valor mais alto de temperatura medido em cada medição. Tabela 22 - Comparação entre pontos quentes - ensaios K-20 A temperatura nos pontos quentes em ambos os ensaios foram muito próximas, e se for descontada a temperatura ambiente para a obtenção de uma elevação de temperatura aproximada, os valores se tornam ainda mais parecidos. Para a elaboração das tabelas de elevação de temperatura, os valores de resistência da elevação a vazio foram recuperados do 119 arquivo e inseridos, pois já tinham sido obtidos antes dos problemas no medidor, apresentando-se condizentes com o esperado e o obtido na COMTRAFO. Tabela 23 - Elevação de temperatura K-20 convencional estimada – BT Tabela 24 - Elevação de temperatura K-20 convencional estimada – AT Tabela 25 - Elevação de temperatura K-20 carga não linear estimada – BT 120 Tabela 26 - Elevação de temperatura K-20 carga não linear estimada – AT Ao se analisar a elevação de temperatura, nota-se que o transformador com o fator K20 apresentou um comportamento bem similar em ambas as situações. Comparando estes resultados com os resultados obtidos no laboratório da COMTRAFO, pode-se desconfiar que houve um erro nas medições neste último que resultou em um menor aquecimento do transformador no ensaio com carga não linear. A equipe já pressupunha que uma variação nos valores entre os laboratórios poderia ocorrer, visto que o espaço onde foram realizados os ensaios de elevação de temperatura na empresa era aberto e sujeito a correntes de ar. Com os valores acima, pode-se afirmar que o aquecimento no protótipo K-20 foi praticamente o mesmo, tanto em corrente nominal à freqüência fundamental, como alimentando uma carga não linear. Logo, as modificações realmente apresentam um ganho de temperatura, diminuindo o efeito das perdas parasitas induzidas nos condutores do enrolamento. 5.4.6 Início das medições – elevação de temperatura no protótipo K-1 Logo após os ensaios com carga não linear no protótipo com fator K-20, este foi desconectado e trocado pelo transformador de fator K-1, que foi deixado ligado durante a noite para que na manhã seguinte fosse medido a resistência a vazio e imediatamente depois conectado em curto-circuito. 121 Na quinta-feira, após a medição da resistência dos enrolamentos, conectou-se o K-1 em curto-circuito a fim de completar os ensaios necessários para se determinar a elevação de temperatura convencional. Enquanto isso, a água dos reostatos líquidos foi renovada, já que com o ensaio de carga não linear do K-20, esta ficou bem suja, pois corroeu o tambor, e isto dificultaria a calibração dos mesmos para o ensaio que ocorreria no dia seguinte, como já havia sido experimentando no laboratório da empresa. No final do expediente o ensaio foi concluído. A elevação de temperatura foi feita da mesma forma que a do protótipo K-20, para maior confiabilidade dos resultados. Tabela 27 – Pontos quentes – ensaio K-1 convencional Tabela 28 - Elevação de temperatura convencional K-1 estimada – BT 122 Tabela 29 - Elevação de temperatura convencional K-1 estimada – AT Após estas medições, conectou-se o K1 novamente a vazio para que no dia seguinte fosse realizado o ensaio com carga não linear. 5.4.7 Elevação de temperatura com carga não linear – protótipo K-1 No último dia de ensaios, restava apenas o ensaio com carga não linear no protótipo K-1, entretanto a necessidade de calibração novamente dos reostatos líquidos levou tempo, mas necessária para se conseguir a corrente nominal na elevação (assim como foram realizados as demais elevações). Após a medição das resistências a vazio, conectou-se o K-1 com a carga não linear, a fim de efetuar a calibração dos reostatos. Após quase 1 hora de ajustes conseguiu-se o valor de corrente desejado de 65A RMS em cada uma das 3 fases. Sendo assim, começou-se as medições de temperatura para determinar o instante da estabilização. Todavia, no meio do ensaio, após algumas horas, um dos disjuntores abriu e o circuito foi desligado por um breve tempo para averiguar o ocorrido. Desta forma a curva de estabilização foi plotada com os pontos que foram obtidos após este evento. 123 Figura 74 - Estabilização carga não linear - LACTEC Gráfico 8 - Estabilização temperatura carga não linear - K1 Tabela 30 – Pontos quentes – ensaio K-1 carga não linear 124 Seguem-se valores de elevação estimados, através da análise proposta: Tabela 31- Elevação de temperatura K-1 carga não linear estimada – BT Tabela 32 - Elevação de temperatura K-1 carga não linear estimada – AT 5.4.8 Comparação dos resultados obtidos no protótipo K-1 Os resultados obtidos com o K-1 foram satisfatórios para a equipe. Era esperado um maior aquecimento do transformador convencional sob condições não lineares de carga, e este aqueceu aproximadamente 10ºC a mais que no ensaio de elevação de temperatura 125 convencional, utilizando-se do método proposto de avaliação do ponto mais quente capturado pelas sondas. Após as análises dos resultados, foi possível também confirmar a hipótese que a equipe tinha com relação a erros nas medições realizadas no laboratório da COMTRAFO, visto que em um ambiente controlado o transformador que não estava preparado para suportar os harmônicos teve um aquecimento maior sob carga não senoidal. 5.4.9 Comparação dos resultados obtidos nos transformadores K-1 e K-20 Comparando os resultados obtidos neste segundo laboratório, fica evidente que o protótipo do transformador com fator K-20 atendeu as expectativas da equipe, já que a diferença de temperatura máxima atingida nas sondas, descontando-se a ambiente, no transformador com fator K-1 em relação ao transformador com fator K-20, foi de aproximadamente 14,6°C, sob condições de carga não senoidal, e a elevação de temperatura, através do método proposto, foi de 14,2ºC. Além disso, o transformador K-20 se comportou de maneira muito parecida para as duas situações que foi exposto (com carga senoidal e não senoidal), tendo uma variação desprezível nas medições de temperatura, enquanto que o transformador K-1 teve uma diferença de aproximadamente 10,7°C. Isto significa que, se ambos os protótipos estiverem numa situação real, ligados ininterruptamente, o K-1 enfrentaria os problemas que o sobreaquecimento causa em transformadores, como deterioração do isolamento e redução da vida útil, pois sua elevação de temperatura estimada ultrapassou a elevação de temperatura nominal do material isolante de classe F, estabelecida em 115ºC. Já o K-20 funcionaria normalmente, mantendo a mesma vida útil esperada em uma situação de carga senoidal. 5.4.10 Utilização do termovisor para monitoramento da temperatura A equipe ainda conseguiu disponibilizar um termovisor para verificar a distribuição da temperatura no transformador. Como era de se esperar, os pontos mais quentes tendem a ser entre as bobinas de alta e baixa tensão, na parte superior do mesmo. Isso ocorre devido ao bolsão de ar quente que tende a subir devido a convecção. 126 Estes tendem a ser os pontos a apresentarem problemas primeiro, como foi dito anteriormente, com uma temperatura elevada a isolação dos condutores tende a ser danificada, o que, em alguns casos, podem levar a grandes estragos no equipamento. Figura 75 - Distribuição da temperatura - K20 – 11h 51min Figura 76 - Distribuição da temperatura - K20 – 14h 32min 127 Nota-se que com o decorrer do tempo a temperatura tende a aumentar nesses pontos. Na primeira figura, às 11h51min a temperatura no ponto “d”(entre duas bobinas e na cabeceira da bobina) era de 93ºC, enquanto que às 14h32min a temperatura já era de 96,8ºC na superfície externa da bobina. A equipe, ainda, pode comparar o comportamento da temperatura, num ensaio a vazio normal e com distorção harmônica. Isto foi possível graças a um fonte especial da Califórnia Instruments que foi disponibilizado pelo LACTEC. Nesta fonte era possível pré-estabelecer a distorção harmônica desejada em cada uma das componentes harmônicas. O espectro harmônico escolhido pela equipe foi o mesmo aplicado no laboratório da COMTRAFO. Figura 77 - Fonte da Califórnia Instruments Pode-se observar, nas figuras a seguir, que o aquecimento é maior quando o transformador é submetido a distorção harmônica de tensão do que quando submetido a uma tensão senoidal. Isto se deve ao fato característica não senoidal da onda causar maiores perdas por histerese e Foucault no núcleo do transformador, ocasionando um maior aquecimento. A diferença de temperatura foi de 13,8ºC nos dois ensaios. Nota-se que a temperatura é mais alta apenas no núcleo do transformador, já que como exposto anteriormente as perdas nos enrolamentos podem ser desprezadas neste ensaio. Todavia, este aquecimento pode ser desconsiderado ao se calcular a elevação total da temperatura do transformador, já que segundo os fabricantes a influência desta parcela só começa a ser significativa quando esta ultrapassa os 100ºC. 128 Figura 78 - Ensaio a vazio convencional Figura 79 - Ensaio a vazio com distorção harmônica de tensão 129 6 CONCLUSÃO CAPÍTULO 6 - CONCLUSÃO Ao desenvolver os dois transformadores protótipos de 25kVA a seco, sendo um transformador convencional, e outro voltado para suportar o aquecimento causado pelas distorções harmônicas, a equipe tinha como objetivo estabelecer uma comparação entre ambos, em uma situação mais próxima possível da alimentação de uma carga não linear. Para simular esta situação, através de pesquisa intensa, descobriu-se que o principal problema causado pelos harmônicos em um transformador é o superaquecimento, e este é causado pela distorção harmônica na corrente, a qual aumenta consideravelmente as perdas parasitas nos enrolamentos dos transformadores. Sendo assim, o protótipo voltado para a alimentação de cargas não senoidais, com um fator de suportabilidade K-20, foi projetado especialmente de forma a apresentar um baixo custo e combater o principal problema gerado pelos harmônicos, sem deixar de lado os outros aspectos verificados em cargas não lineares. Deste modo, ao compará-lo com um transformador de fabricação convencional, que possui fator de suportabilidade K-1, sob as mesmas condições de carga com distorção harmônica, este deveria aquecer menos, mantendose dentro dos limites máximos de temperatura, provando-se uma alternativa mais viável tecnicamente e economicamente que a ação mais praticada hoje em dia para este tipo de situação: a utilização de um transformador de maior potência que o exigido pela carga. E através da comparação e adaptação do ensaio de elevação de temperatura para a alimentação com uma carga não linear, a equipe obteve sucesso na comparação entre os dois protótipos, demonstrando a capacidade de suportar e até suprimir grande parte do aquecimento gerado pelos harmônicos de corrente do transformador com fator K-20, em relação ao transformador K-1. Para tanto, a equipe teve que realizar as medições em dois laboratórios diferentes, com condições diferentes, identificar erros nas medições e divergências nas calibrações dos instrumentos utilizados, criar uma carga resistiva de alta potência, economicamente viável, juntamente com um circuito gerador de harmônicos de alta potência, fácil controle e baixo custo, além de projetar os próprios transformadores. 130 7CAPÍTULO REFERÊNCIAS 7 - REFERÊNCIAS PHIPPS, James K.; NELSON, John P.; SEN, Pankaj K. Power Quality and Harmonic Distortion on Distribution Systems. IEEE Transactions on Industry Applications, Vol. 30, Nº. 2, 1994. FRANK, Jerome. M. Origin, Development, and design of K-factor transformers. IEEE Industry Applications Magazine, September / October 1997. TACI, M. Salih; DOMIJAN, Jr. Alexander. The effects of linear and non-linear operation modes in transformers. In: 11th INTERNATIONAL CONFERENCE ON HARMONICS AND QUALITY OF POWER, 2004. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS. IEEE C57.110: recommended practice for establishing transformer capability when supplying nonsinundal load currents. Nova York, 1998. BISHOP, M. T., and GILKER, C. Harmonic caused transformer heating evaluated by a portable PC-controlled meter. In: 37th ANNUAL RURAL ELETRIC POWER CONFERENCE, 1993. BLUME, L. F., et al. Transformer engineering, 2nd Ed., pp. 56-65, New York: John Wiley & Sons, Inc., 1951. Cox, M. D., and Galli, A. W. Temperature rise of small oil-filled distribution transformers supplying nonsinusoidal load currents. IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 11, no. 1, Jan. 1996. Crepaz, S. Eddy current losses in rectifer transformers. IEEE Transactions on Power Apparatus and Systems, vol. PAS-89, no. 7, Sept./Oct. 1970. 131 Kennedy, S. P., and Ivey, C. L. Application, design and rating of transformers containing harmonic currents. In: ANNUAL PULP AND PAPER INDUSTRY TECHINICAL CONFERENCE, 1990. UNDERWRITERS LABORATORY. UL 1561: dry-type general purpose and power transformers. 1994. UNDERWRITERS LABORATORY. UL 1562: transformers, distribution, dry-type - over 600 volts. 1994 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10295: transformadores de potência secos. Rio de Janeiro, 1988. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5380: transformadores de potência. Rio de Janeiro, 1993. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS. IEEE C57.12.00: standard general requirements for liquid-immersed distribution, power, and regulating. New York, 1993. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS. IEEE C57.12.01: standard general requirements for dry-type distribution and power transformers including those with solid cast and/or resin encapsulated windings. New York, 1998. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS. IEEE C57.12.90: standard test code for liquid-immersed distribution, power, and regulating transformers. New York, 1993. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS. IEEE C57.12.90: standard test code for dry-type distribution and power transformers. New York, 1995. LEFÈVRE, A. et al. 3-D computation of transformers overheating under nonlinear loads. IEEE Transactions on Magnetics, vol. 41, no. 5, May. 2005. 132 PERETTO, L.; SASDELLI, R.; SERRA, G. Measurement of harmonic losses in transformers supplying nonsinusoidal load currents. IEEE Transactions on Instrumentation and Measurement, vol. 49, no. 2, Apr. 2000. DUGAN, R. C.; MCGRANAGHAN, M.F.; BEATY, H. W. Electrical power systems quality. New York, McGraw-Hill, 1996. YILDIRIM, D.; FUCHS, E. F.; GRADY, W. M. Measurement of eddy-current loss coefficient PEC-R, derating of single-phase transformers, and comparison with K-factor approach. IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 15, no. 1, Jan. 2000. FUCHS, E. F.; YILDIRIM, D. Measured transformer derating and comparison with harmonic loss factor (FHL) approach. IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 15, no. 1, Jan. 2000. Thammarat, C. et al. An Analysis of Temperature of Oil-Immersed Transformer Under NonLinear Load. In: INTERNATIONAL TECHNOLOGY, 2004. CONFERENCE ON POWER SYSTEM