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Impresso fechado,
pode ser aberto pela ECT
Publicação do Sistema Federação das Indústrias do
Estado do Ceará Ano VII No 75 AGOSTO/2013
Curso de Eletricista
Industrial, na unidade do
SENAI na Barra do Ceará
PRONTOS
PARA O
MERCADO
Cursos do SENAI/CE, oferecidos gratuitamente
por meio do Pronatec, já prepararam cerca
de 20 000 profissionais para a indústria
cearense em menos de dois anos
/sistemafiec
@fieconline
Agosto de 2013
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Agosto de 2013
Publicação do Sistema Federação das
Indústrias do Estado do Ceará
AGOSTO 2013 | No 75
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CAPA
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LIVRO
Publicação aborda as ligações
entre o Brasil e o continente
africano e revela o potencial
da região Nordeste
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LAZER E SAÚDE
Com o intuito de contribuir
para melhorar a qualidade
de vida dos trabalhadores
da indústria, o SESI oferece
várias atividades físicas
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CEARENSE DE CORAÇÃO
Nos próximos dias, o empresário
Carlos Prado receberá o título
de cidadão cearense, coroando
uma relação que já dura 40 anos
Destino África
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Em apenas dois anos, aproximadamente 20 000 pessoas
já foram capacitadas para o mercado de trabalho pelo
SENAI do Ceará por meio do Pronatec
Atividades físicas
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Carlos Prado
Qualificação com qualidade
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APOIO À INOVAÇÃO
Instituto do SENAI desenvolverá
pesquisas em tecnologias
construtivas e oferecerá serviços
para apoiar empresas inovadoras
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Tecnologias construtivas
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POTENCIALIDADES
Irrigação e pasto rotacionado
revelam que é possível desenvolver
a produção leiteira no Ceará com
reflexos na indústria
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40 ANOS DE CRESCIMENTO
Sindicato comemora quatro
décadas de fundação em
meio ao crescimento do setor
no estado que se apresenta
cada vez mais consolidado
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Produção de leite
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Sindcerâmica
Seções
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Publicação do Sistema Federação das Indústrias do
o
Estado do Ceará Ano VII N 75 AGOSTO/2013
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PRONTOS
PARA O
MERCADO
Cursos do SENAI/CE, oferecidos gratuitamente
por meio do Pronatec, já prepararam cerca
de 20 000 profissionais para a indústria
cearense em menos de dois anos
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Notas & Fatos...................................6
Inovações & Descobertas.............46
Mensagem da Presidência.................
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DÉFICIT AUMENTARÁ
Para cada pessoa com mais de
60 anos no Brasil, há 5,3 em idade
economicamente ativa. Em 2050,
esse índice será de 1,8 por pessoa
Curso de Eletricista
Industrial, na unidade do
SENAI na Barra do Ceará
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Previdência Social
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Impresso fechado,
pode ser aberto pela ECT
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Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC
DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1º Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-Presidente Carlos Prado, Jorge Alberto Vieira
Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo Adjunto José Ricardo
Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha Pereira Filho
Diretores Antônio Lúcio Carneiro, Fernando Antônio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa Fernandes, Geraldo
Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José Agostinho Carneiro de Alcântara,
José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque,
Marcus Venícius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro,
Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando Antônio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica
Maria Rocha Perdigão Delegados da CNI Titulares Fernando Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo
e Carlos Roberto Carvalho Fujita Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho.
Serviço Social da Indústria – SESI
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Marcos Silva Montenegro,
Alexandre Pereira Silva, Carlos Roberto Carvalho Fujita, Cláudio Sidrim Targino Suplentes Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo, Marcus
Venicius Coutinho Rodrigues, Ricardo Nóbrega Teixeira, Vicente de Paulo Vale Mota Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego
Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes do Governo do Estado do Ceará
Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado
do Ceará Efetivo Elisa Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes dos Trabalhadores da Indústria no Estado
do Ceará Efetivo Pedro Valmir Couto Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI
CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Aluísio da Silva Ramalho,
Ricard Pereira Silveira, Edgar Gadelha Pereira Filho, Ricardo Pereira Sales Suplentes Luiz Eugênio Lopes Pontes, Francisco Túlio Filgueiras
Colares, Paula Andréa Cavalcante da Frota, Luiz Francisco Juaçaba Esteves Representantes do Ministério da Educação Suplente Samuel
Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca do Estado do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto
Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina
Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes dos Trabalhadores da Indústria do Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio
Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Fernando Ribeiro de Melo Nunes
Instituto Euvaldo Lodi – IEL
Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales
Instituto de Desenvolvimento Industrial – INDI
Presidente Roberto Proença de Macêdo Diretor Corporativo Carlos Matos
Instituto FIEC de Responsabilidade Social – FIRESO
Presidente Roberto Proença de Macêdo Vice-presidente Wânia Cysne de Medeiros Dummar
Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Camila Gadelha ([email protected]), Gevan Oliveira
([email protected]), Luiz Henrique Campos ([email protected] e Ana Paola Vasconcelos Campelo ([email protected])
Fotografia José Sobrinho e Giovanni Santos Diagramação Glaymerson Moises/GMS Studio Coordenação gráfica Marcograf Endereço e
Redação Av. Barão de Studart, 1980 - Térreo - Fortaleza-CE - CEP 60.120-024 Telefones (85) 3421 5435 e 3421 5436 Fax (85) 3421 5437
Revista da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) do Sistema FIEC
Gerente da AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf Publicidade (85) 3421 5434 / 9187 5063
[email protected] e [email protected] Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec
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Mensagem da Presidência
Roberto Proença de Macêdo
O Nordeste e um Brasil
desenvolvidos
É grande a minha satisfação de ver que será realizado nos dias também crucial para que a mobilização iniciada tenha um caráter
27 a 29 de agosto, no Centro de Eventos, em Fortaleza, o Seminário permanente, evitando-se que todo o esforço se esgote na realização
Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, ponto culmi- dos eventos e na elaboração de documentos.
nante de mobilizações ocorridas nos últimos meses em vários estados
O verdadeiro produto desse movimento é a ação conjunta resulbrasileiros. Ao observar esses primeiros frutos de tantos esforços tante de uma articulação sistemática e continuada dos agentes da
despendidos, recordo-me dos nossos sentimentos de preocupação, iniciativa privada, do Estado e da sociedade, para a promoção do
quando o CIC trouxe a ideia dessa iniciativa para a FIEC, pelo tama- desenvolvimento regional como parte indispensável do desenvolvinho e responsabilidade desse desafio.
mento nacional. À medida que avanceNo entanto, o desejo de fazer algo efemos nesse processo, descortinando horitivo para contribuir com a correção dos
zontes, aumentaremos a força que nos fará
Estou convencido de que
desequilíbrios regionais no desenvolvicada vez mais reconhecidos e respeitados.
o
Nordeste,
não
como
um
mento do nosso país superou em muito
É natural que em uma região, estados
todos os obstáculos que realisticamente bloco, mas como parte integrante concorram pela atração de novos investivisualizávamos. Neste aspecto, foram decimentos e pela conquista de recursos, mas
do
continente
Brasil,
utilizando
sivas a disposição e a competência da equié um desperdício de oportunidade quanpe montada pelo CIC, braço político da instrumentos de cooperação
do não percebem os ganhos que podenossa Federação, na conquista de apoio e supraestaduais e suprapartidários, riam resultar das convergências de intena mobilização dos mais diversos agentes
resses. Se a cooperação é possível entre
será uma região desenvolvida de
econômicos, políticos e sociais, nas esferas
nações soberanas, como no exemplo da
um
país
desenvolvido.
regional e nacional.
União Europeia (EU), com seus 27 países,
O entusiasmo manifestado pelos parti25 línguas oficiais e 500 milhões de pescipantes dos eventos ocorridos em todos os estados nordestinos soas, por que não seria no caso do Nordeste, com nossos nove
expressou o quanto é forte a vontade de união de forças ativas do estados, uma só língua e 58 milhões de habitantes?
Nordeste, para integrar a região no contexto nacional, numa persLanço mão da referência à UE, tendo em conta o seu desempepectiva de federação cooperativa, em prol do desenvolvimento equi- nho no enfrentamento da sua atual crise socioeconômica, que pôs à
librado do país. Viu-se em todas as partes empresários, parlamenta- prova os seus propósitos básicos de mais eficiência, mais democrares, membros dos poderes executivos e acadêmicos propondo solu- cia, mais transparência, mais união e mais segurança. Diferenças à
ções para problemas, estratégias para aproveitamento de oportuni- parte, estou convencido de que o Nordeste, não como um bloco,
dades e alternativas para o desenvolvimento integrado.
mas como parte integrante do continente Brasil, utilizando instruA ação do setor produtivo como motor econômico do país e da mentos de cooperação supraestaduais e suprapartidários, será uma
região é indispensável para a superação de tendências isolacionistas região desenvolvida de um país desenvolvido.
e dispersivas, tradicionalmente retardadoras do progresso. Ela é
O sucesso do Integra Brasil depende de cada um e de todos nós!
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RELAÇÕES INTERNACIONAIS
INOVAÇÃO
INSCRIÇÕES ATÉ
30 DE SETEMBRO
FIEC estreita
relações com Israel
PROGRAMA DO IEL
RECEBE ADESÃO
DE EMPRESAS
O PRESIDENTE da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, recebeu em 8 de agosto a visita do cônsul de Israel para Assuntos
Econômicos, Roy Nir, que estava acompanhado da consultora para o Nordeste do Consulado de Israel, Sheila Sztutman.
Na oportunidade, Roberto Macêdo falou ao cônsul sobre o
Projeto Universidade-Empresa (Uniempre), realizado pela
FIEC, por meio do INDI, com o objetivo de fazer uma aproximação entre o setor produtivo e a academia. Israel é o primeiro no ranking mundial no relacionamento entre indústria
e academia. Também no âmbito do Uniempre, no dia 13,
estudantes de mestrado de pós-graduação do Mestrado
em Administração da Universidade de Ben-Gurion, de Israel,
estiveram na FIEC (foto) para apresentar suas atividades em
pesquisa, desenvolvimento e inovação. Eles passaram uma
semana na capital cearense em intercâmbio na Universidade
de Fortaleza (Unifor).
O PROGRAMA de Formação de
Recursos Humanos em Áreas
Estratégicas (RHAE) Trainee
para Inovação, uma parceria
entre o Instituto Euvaldo Lodi
(IEL) nacional e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico
(CNPq), recebe adesão de empresas interessadas em promover pesquisa e desenvolvimento
e inovação. O RHAE desenvolverá ações nesse sentido no
setor privado. Mil bolsas de
estudo serão ofertadas para
graduandos, graduados ou
mestrandos em todo o Brasil.
As empresas selecionadas entram como parceiras do programa pelo período de 14 meses.
A ideia é dar suporte àquelas
que realizam projetos de inovação e pesquisa e desenvolvimento, a partir da inserção de profissionais qualificados na modalidade trainee – estudantes do último ano da graduação e profissionais egressos da academia,
com até três anos de conclusão.
O SENAI E O SESI recebem
até 30 de setembro inscrições
de projetos de inovação de empresas de todo o Brasil para o
Edital SENAI SESI de Inovação
2013. Serão destinados, no total,
30,5 milhões de reais aos projetos selecionados. Trata-se de
iniciativa que visa atender a empresas que valorizam o poder
transformador de boas ideias,
oferecendo apoio à promoção
de pesquisa, desenvolvimento
de processos e produtos e
tecnologias sociais. Para projetos desenvolvidos em parceria
com o SENAI, o valor é de 20
milhões de reais; para parcerias
com o SESI, o valor é de 7,5 milhões de reais e outros 3 milhões de reais em bolsas do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Pode concorrer
toda e qualquer empresa do
setor industrial – inclusive
microempresa, empresa de
pequeno porte (EPP) e empresas incubadas (startups).
Informações: (85) 3421 5945 /
www.editaldeinovacao.com.br.
GIOVANNI SANTOS
EDITAL
MEIO AMBIENTE
SINDIVERDE DISCUTE POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
AS NORMAS para a realização da logística reversa de
óleos lubrificantes foi o tema do "Encontro Técnico sobre
Logística Reversa de Óleos Lubrificantes”, no dia 1o de agosto, na sede da FIEC. O evento, promovido pelo Sindicato
Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais
(Sindirrefino), com o apoio do Sindicato das Indústrias
Recicladoras do Ceará (Sindiverde) e outras entidades,
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promoveu discussão sobre as exigências da Lei nº 12 305/2010,
da Política Nacional de Resíduos Sólidos, e a Resolução do
Conama 362/2005. Na abertura do evento, o presidente do
Sindiverde, Marcos Albuquerque, destacou que, além da
logística reversa, a implantação da coleta seletiva até agosto
de 2014 e de aterros sanitários controlados é a demanda
mais urgente relacionada a essa lei nacional.
PALESTRA
QUALIDADE
DE VIDA
O SESI e a organização internacional Brahma Kumaris promoveram no dia 21 de agosto,
na FIEC, a palestra “Qualidade
de vida e visão positiva sobre o
mundo”. O evento foi ministrado pela filósofa inglesa Denise
Lawrence, bacharel em Filosofia
e Línguas Modernas pela Universidade de Kent. Lawrence
trabalhou para a BBC e Canadian Broadcasting Corporation
em Londres nos anos 1970 e,
desde então, associou-se à
Brahma Kumaris. Coproduziu
e dirigiu cem programas de TV
sobre vícios e documentários
sobre valores e espiritualidade.
Com experiência em meditação
Raja Yoga, ensinou a técnica
para viciados em narcóticos do
sistema prisional em Los Angeles entre 1984 e 1996. Hoje é
conselheira de assuntos acadêmicos para a Brahma Kumaris
Educacional Socity, na Índia.
Brahma Kumaris é uma organização sem fins lucrativos que
trabalha mudanças positivas em
todos os setores da sociedade.
COMÉRCIO EXTERIOR
CURTAS
Reunião na FIEC
discute gargalos às
exportações cearenses
A COMISSÃO de Comércio Exterior do Ceará (CCE), fórum que
congrega entidades da área de mercado internacional do estado,
vai elaborar um plano de ação a ser encaminhado ao governo e
instituições ligadas ao setor. Representantes da CCE, da FIEC e do
governo do estado estiveram reunidos no dia 1o de agosto na FIEC
para discutir as dificuldades e as possíveis medidas para saná-las.
Na ocasião, a CCE apresentou um documento em que lista gargalos em três aspectos: logística, estratégica e em relação aos órgãos
intervenientes. Dentre os problemas, está a ausência de promoção
comercial estruturada dos produtos cearenses, no que é sugerida a
implantação de uma política para o comércio exterior, com gestor e
órgão responsável pela promoção comercial do Ceará. No âmbito
das empresas, um ponto seria a criação e divulgação de um programa de estímulo à exportação, envolvendo órgãos governamentais.
AGENDA
DOS DIAS 2 a 4 de outubro, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, será realizado o
85º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), uma iniciativa da CBIC com realização do
Sinduscon/CE. Esta é a quarta vez que a capital alencarina recebe o evento, já tendo realizado o
maior acontecimento da construção civil da América Latina em 1983, 1992 e 2001. A edição traz
como lema “O futuro que vamos construir juntos” e reunirá os principais “players” do setor: autoridades, empresários, técnicos, agentes financeiros e políticos, somando mais de 1 500 participantes.
Com o objetivo de buscar soluções inovadoras por meio de debates, discussões e trocas de experiências, serão abordados temas ligados às comissões de relações trabalhistas, imobiliária, obras públicas, privatizações e concessões, materiais, tecnologia, qualidade e produtividade, meio ambiente,
ação social e cidadania, dentre outros. Uma das novidades para esta edição é a participação de
estudantes universitários na programação. Inscrições: www.enic.org.br.
A UNIDADE do SESI na
Barra do Ceará inaugurou
no dia 12 de agosto o Espaço de SST – Saúde e Segurança do Trabalho no Núcleo
de Atendimento às Empresas. O local atende de forma
personalizada as empresas
cadastradas na base
nacional do SESI. O setor
oferece serviços nas áreas
ocupacionais, consultas de
enfermagem, orientações
individualizadas, exames e
laboratório, dentre outros.
Segundo o superintendente
do SESI, Francisco das Chagas Magalhães, o espaço é
um grande ganho para a
entidade, pois a instituição
poderá atender a indústria
nacional com serviços em
saúde mais complexos.
Os serviços contemplam
também ginástica laboral
e atividades de lazer.
A FIEC, por meio do
CIN/CE e do SENAI/CE,
realizará entre os dias 16 e
24 de setembro o “Circuito
Moda Londres 2013 –
Missão de capacitação
e pesquisa em moda”.
Os participantes visitarão
lojas de referência em moda,
shoppings, ruas e bairros
com tradição no setor na
cidade de Londres, além de
participar de curso na Central Saint Martins. A visita
será guiada por consultora
de moda do SENAI e um especialista em negócios internacionais do CIN. Serão realizadas ainda capacitações
antes da viagem e após.
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SENAI/CE
Inovação e tecnologia
Instituto do SENAI/CE será voltado para o desenvolvimento de pesquisas
aplicadas em tecnologias construtivas. Além dessa estrutura, entidade
dispõe de serviços para apoiar empresas interessadas em inovar
CAMILA GADELHA
esquisa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) revelou que, das 40 maiores empresas industriais, 58% delas consideram a inovação como
um fator decisivo para a competitividade e 42% consideram como relevante. Diante de tal constatação, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) se lança no desafio
de investir em pesquisa no país, desenvolvimento e inovação
(PD&I) por meio de institutos de pesquisa nos moldes de insti-
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tuições mundialmente renomadas. No âmbito do programa da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) de apoio à
competitividade da indústria brasileira, o SENAI está criando 23
institutos de inovação em áreas distintas do conhecimento, localizados em vários estados brasileiros.
Para essa finalidade, foram contratadas as melhores instituições mundiais de PD&I – o Instituto Fraunhofer (Alemanha) e o
MIT (EUA) –, que darão apoio na implementação e monitoramento do desempenho dos Institutos SENAI de Inovação (ISIs).
No SENAI/CE, entidade do Sistema FIEC, será instalado o ISI em
JOSÉ SOBRINHO
Tecnologias Construtivas (ISI-TC), que atenderá a
todo o país em quaisquer áreas da construção civil,
desde o que se convencionou chamar de construção pesada, como barragens, túneis e estradas, até
as construções e reformas prediais.
Para gerir o processo de instalação do ISI-TC e
o instituto quando em operação, foi escolhido um
especialista no assunto: o professor e consultor
Antônio Miranda, engenheiro civil formado pela
Universidade Federal do Ceará (UFC), com
mestrado em Geotecnia na PUC do Rio de Janeiro
e doutorado em Engenharia Civil na Universidade
do Colorado, Estados Unidos. Miranda atingiu o
nível acadêmico mais alto como professor da UFC,
chegando a titular, e exerceu todas as funções da
administração acadêmica, desde coordenação de
cursos de graduação e de pós-graduação a diretorias de centro de tecnologia e de campus.
Aliando a prática acadêmica à empresarial, o
engenheiro criou duas empresas: Geonorte e Construtora Santo Amaro. Foi ainda subsecretário de
Recursos Hídricos do governo do estado, no primeiro mandato do ex-governador Tasso Jereissati,
e diretor de Tecnologia e Desenvolvimento da
Cagece. Atua na elaboração do Plano de Negócios do ISI-TC para apresentação, até outubro, ao
Estamos
pensando
em focar o ISI-CE em
duas áreas: gestão da
construção, dentro da
filosofia Lean Construction, e prédios
ambientalmente
sustentáveis.
Antônio Miranda,
gestor do futuro ISI-TC
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), que concedeu empréstimo de
40 milhões de reais para sua implantação. Também está em fase de elaboração do planejamento
geral do instituto, com definições de linhas de ação
e atuação de pesquisadores, dentre outros pontos.
Foco na construção civil
egundo Antônio Miranda, é provável que seja
construído no Ceará um Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento, que poderá ser em Maracanaú
ou no Campus do Pici da UFC. Existe também a possibilidade de utilização das duas instalações. O terreno de
Maracanaú está garantido e o prédio no bairro Planalto
do Pici está sendo negociado com a universidade e com
o governo do estado. Conforme os encaminhamentos
iniciais, esse centro de pesquisa atuará em duas linhas,
explica Miranda, que acredita ser impossível abranger
todo o setor com as pesquisas do centro. “Seria impossível isso, porque vai de túneis, barragens, portos, aeroportos, até casas. Dentro de uma casa há vários itens. Não
dá para o ISI montar um centro de pesquisa para estudar
tudo. Estamos pensando em focar em duas áreas. Uma
é a área de gestão da construção, dentro da filosofia
Lean Construction (Construção Enxuta), e a outra é a de
prédios ambientalmente sustentáveis”, diz o professor.
Ele observa que o Lean Construction, desenvolvido na
Europa e Estados Unidos, é uma área forte no Ceará, com
reconhecido pioneirismo e desenvolvimento no Brasil.
S
A outra área que está sendo pensada como objetivo do
ISI-TC é a de prédios sustentáveis, ou prédios inteligentes,
que não observam apenas a questão ambiental, mas uma
melhoria de processos e materiais e maior eficiência. “Essas
estruturas, de modo geral, desde os processos construtivos,
evitam o gasto excessivo de materiais, diminuem a produção
de resíduos e reciclam o máximo de resíduos produzidos.
E são muitas outras as características positivas”, afirma
Miranda. O diferencial do instituto seria o desenvolvimento
de processos construtivos e habitações com essas características ambientalmente sustentáveis e inteligentes nas
questões da qualidade, dos processos usados, da tecnologia
aplicada, do controle da temperatura e de energia, etc.
Focado para atuar nas empresas que queiram inovar,
o ISI-TC funcionará também como uma ponte entre a indústria e a universidade, quanto às demandas em todos os demais setores da construção não contemplados pelo centro
de pesquisa. Serão feitas parcerias com outras instituições
(universidades e institutos) brasileiras e estrangeiras. Na
avaliação do professor, a indústria e a universidade estão
muito próximas, mas não há uma boa relação devido ao
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tempo de trabalho de cada ambiente e ao desconhecimento das necessidades. “A unidade de tempo da universidade
é um semestre e esse tempo não atende à necessidade da
empresa. Por outro lado, a empresa não sabe bem o que
quer, precisa de auxílio para entender a necessidade e levar para a pesquisa. Vamos fazer essa ponte.”
A partir da identificação de uma necessidade de avanço
tecnológico de produto em determinado setor, o ISI-TC
identificará uma universidade brasileira ou instituto brasileiro ou estrangeiro, ou até mesmo um professor que atue
naquela área, para elaboração de projeto de pesquisa que
atenda à necessidade da indústria. Ao mesmo tempo, irá
supervisionar o projeto dentro da universidade, para evitar
perca de prazos e manter o foco na necessidade.
Diferente da pesquisa acadêmica clássica, em que o
ritmo é naturalmente mais lento porque o professor busca
o conhecimento pelo conhecimento, a indústria necessita
do conhecimento para aplicar. O instituto, então, terá de
compreender essas duas culturas diferentes e proporcionar conexão entre elas. A ideia é que o ISI em Tecnologias
Construtivas gere receita de três formas: projetos negociados com indústrias, venda de uso de direito da patente de
pesquisas e por meio de aprovação de projetos em editais
de fomento à inovação.
Para isso, além do apoio na elaboração do plano de
negócios, o Instituto Fraunhofer está servindo como exemplo quanto ao formato, estrutura e serviços. Nos últimos
60 anos, a Fraunhofer-Gesellschaft, sociedade criadora
dos institutos, cresceu e tornou-se uma das mais importantes organizações de pesquisa aplicada da Alemanha, e a
maior da Europa. Suas atividades também ultrapassam as
fronteiras europeias. Trabalham em parceria com diversos
institutos de pesquisa em todo o mundo para criar soluções
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inovadoras a companhias industriais e a empresas de serviços e do setor público. Com 80 unidades em todo o mundo,
a Fraunhofer é uma das maiores instituições de pesquisa –
na Alemanha são 60 institutos. Além de suas atividades na
Europa, a Fraunhofer-Gesellschaft opera nos Estados Unidos,
na Ásia, no Oriente Médio e na América Latina.
Antônio Miranda participou de treinamento de uma
semana no instituto e visitou duas unidades em Munique
e Kassel, especializadas em energia e construção civil.
“Fomos para ver como funcionavam, quais laboratórios
usam, quais avanços tecnológicos têm para que possamos
aplicar o mesmo modelo adequando à nossa realidade e
vendo quais avanços tecnológicos poderemos usar aqui.”
O setor que coube ao Ceará – construção civil – tem uma
característica interessante, explica Miranda. Diferente da
indústria clássica, em que uma empresa desenvolve um
produto, se fecha dentro do seu negócio, desenvolve inovações e coloca o produto no mercado, na construção civil os
avanços acontecem de forma geral. “O nosso cliente não
aceita modificações pontuais. Quando todas as empresas
mudam, ele aceita”. Miranda cita o exemplo do número de
andares dos prédios residenciais, que era de três, depois
passou para oito, indo para 12, 15 andares e 22, a mais
recente tendência. “Diante dessa realidade, muito provavelmente trabalharemos com associações de empresas.”
O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará
(Sinduscon/CE), entidade ligada à FIEC, e a Cooperativa da
Construção Civil do Ceará (Coopercon/CE) são as organizações de classe que reúnem as empresas do setor no Ceará. A
expectativa é que o ISI-TC trabalhe junto dessas entidades
no Ceará e também no resto do Brasil. “Essa é a estratégia
para atingir as empresas do segmento, grandes, médias e
pequenas, mas que não impede que se façam trabalhos individuais para empresas de grande porte”, afirma Miranda.
Iniciando a captação de demandas de empresas do setor, de todos os portes, foi realizado no início de abril, em
Fortaleza, o “Painel de Especialistas”, com a presença de
professores universitários, pesquisadores e empresários.
No mesmo formato, o SENAI/CE realizou em 15 de julho, na
sede de São Paulo da CNI, o workshop “Identificação de Demandas por Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I)
em Construção Civil”. Com o apoio da Câmara Brasileira da
Indústria da Construção (CBIC), o evento contou com a participação das maiores e mais importantes empresas de
diversos segmentos da construção civil para contribuir com
o direcionamento estratégico do ISI-TC, que pretende ser
um marco na exploração da pesquisa aplicada como forma
de incrementar a competitividade da indústria brasileira.
Empresas como Petrobras, Queiroz Galvão, Construtoras
OAS, Sarquis Engenharia e San Remo, dentre outras, participaram do evento. Na oportunidade, foram discutidas as
tendências e demandas de pesquisa e desenvolvimento de
inovações para cada segmento das tecnologias construtivas, que contribuirão para a definição de áreas específicas
de PD&I a ser executadas pelo ISI-TC.
GIOVANNI SANTOS
Raio X da inovação
ambém parte desse esforço de discutir e levantar
as demandas dos setores quanto à necessidade
de inovação, o SENAI/CE, por meio da Unidade
de Inovação e Tecnologia (Unitec), realizou pesquisa para
dimensionar a demanda existente em serviços técnicos
e tecnológicos entre as empresas da indústria cearense.
A execução ficou a cargo do Instituto Euvaldo Lodi (IEL),
entidade que também compõe o Sistema FIEC.
O objetivo foi identificar a caracterização das empresas
no que se refere ao porte das mesmas, seus produtos e
destinos; a situação das empresas no que diz respeito a
P&DI; as fontes de aquisição de conhecimento e avanço em
inovação; as barreiras à inovação; a inovação de produtos e
processos; os projetos em inovação; a utilização de instrumentos de financiamento, capitalização e subvenção econômica e de instituições oficiais de pesquisa e desenvolvimento
do país; a demanda por serviços de consultorias em áreas
transversais como processo produtivo, qualidade, meio ambiente, energia, automação, segurança do trabalho, logística
e tecnologia da informação e design para os setores têxtil,
vestuário, calçados e mobiliário; a demanda por serviços em
áreas específicas de alimentos, metal-mecânico, papel e papelão, couro e calçados, têxtil e vestuário e construção civil.
A pesquisa foi feita com 335 indústrias em 15 municípios cearenses mediante a aplicação de um questionário.
T
Laboratório de Tintas, localizado
no SENAI Antônio Urbano de
Almeida, no bairro Jacarecanga
A partir das respostas, o SENAI está subsidiando na tomada
de decisão, melhoria e/ou implantação de novos serviços
técnicos e tecnológicos e com informações para melhor
performance do ISI-TC e do Instituto SENAI de Tecnologia
(IST), com atuação na área metal-mecânica, atualmente
em construção no município de Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza. Trata-se de um dos 38 ISTs que o
SENAI vai implantar em todo o Brasil até 2014. A unidade
será um provedor de soluções para o desenvolvimento e a
melhoria de produtos e processos de fabricação e produção
à indústria metal-mercânica, facilitando o aumento da
produtividade e da competitividade.
O estudo do SENAI/Unitec verificou que muitas empresas não estão sintonizadas no que se refere às instituições
de financiamento e de pesquisa, visto que a utilização de
instrumentos de financiamento é menos percebida. A utilização de instituições oficiais de pesquisa também é pouco
citada pelas empresas. Dentre outras percepções identificadas, vale destacar que 39,1% não possuem espaço físico
voltado para tal vertente. A introdução de novos produtos
e processos foi citada por pelo menos 60% das empresas,
sendo a maioria uma novidade local, mas existente nacionalmente. O envio de projetos para agências de fomento
durante os últimos dois anos foi confirmado por 30,7%
das empresas e, destes, 84,5% foram aprovados.
Agosto de 2013
13
Estrutura atende mercado
s avanços tecnológicos e as novas formas de organização do trabalho geram mudanças em diversas
áreas e exigem do SENAI uma atuação cada vez
mais voltada para as necessidades do mercado. De olho nessas necessidades, a entidade no Ceará está intensificando
a oferta de serviços técnicos e tecnológicos nas várias áreas
de atuação industrial, com o objetivo de contribuir para o
aumento crescente da competitividade da indústria.
Firmando-se no estado como a maior rede privada de educação profissional e de serviços tecnológicos, o SENAI/CE
inaugurou no primeiro trimestre um novo escritório de projetos com serviços de negociação e seleção de propostas de
O desafio
é grande,
mas nosso objetivo
é trazer o máximo
de recursos para
fomentar a inovação no Ceará.
Alysson Amorim,
gerente da Unitec
14
Agosto de 2013
JOSÉ SOBRINHO
O
projetos, elaboração de projetos e planos de negócios,
acompanhamento de projetos aprovados, preparação da
prestação de contas e relatório final e assessoria em propriedade intelectual e contratos de transferência de tecnologias.
De acordo com o gerente de Inovação e Tecnologia do
SENAI/CE, Alysson Amorim, o escritório acompanha as
três fases de um edital de fomento à inovação, tecnologia
e desenvolvimento: planejamento, execução e pós-projeto.
“O desafio é grande, mas nosso objetivo é trazer o máximo
de recursos para fomentar a inovação no Ceará.”
Também na área de serviços técnicos e tecnológicos,
além desse escritório, o SENAI cearense oferece consultorias em diversos setores e serviços metrológicos e operacionais. Estão disponíveis também laboratórios credenciados e acreditados de controle de qualidade, laboratório
móvel, laboratório de desenvolvimento de produtos, núcleo
de desenvolvimento de máquinas, dispositivos e ensaios.
Com a assessoria do Escritório de Projetos do SENAI/CE,
a empresa GF Consultoria e Representação Ltda. teve
projeto, que foi submetido ao Edital nº 06/2013 – Pappe
Integração, aprovado pela Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A empresa é uma
das 12 que receberam recomendação para a contratação dos
projetos. O agora submetido consiste no desenvolvimento de
novos insumos minerais para indústrias cerâmicas e vidreiras
com aproveitamento integral e sustentável de pegmatitos.
O valor do projeto é de 399 813 de reais.
A GF Consultoria e Representação Ltda. é sediada em Fortaleza e realiza estudos geológicos e de prospecção; estudos
geofísicos, sismográficos e outros; pesquisa, desenvolvimento
e inovação tecnológica em geologia, mineração e transformação mineral. Desde o fim de 2011, faz pesquisa mineral para
o desenvolvimento de novos processos e produtos minerais
que propiciem qualidade, produtividade e competitividade.
Agosto de 2013
15
Carlos Prado
40 anos de relação
com o Ceará
Por proposição do deputado
estadual Tin Gomes (PHS),
o empresário receberá nos
próximos dias o título de
cidadão cearense
16
Agosto de 2013
ano de 2013 é particularmente importante para o
empresário e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Carlos Prado,
hoje um dos maiores empresários do ramo do
agronegócio brasileiro. Nascido em Marília, a 450 quilômetros
de São Paulo, em fevereiro de 1941, o terceiro dos sete filhos do
agricultor João Horta do Prado e de Lupérsia Bernandes Prado
comemora os 40 anos de sua presença no Ceará quando aqui
fundou, em 13 de agosto de 1973, a Cemag – Ceará Máquinas
O
GIOVANNI SANTOS
Agrícolas Ltda., primeiro passo de uma trajetória que
o tornou cearense de coração. Na esteira dessa relação, surge em 1983 a Itaueira Agropecuária S/A, segunda maior produtora de melão do Brasil.
No ano em que celebra as datas fechadas de fundação das duas empresas instaladas no Ceará, um fato
marcará definitivamente a ligação de Carlos Prado
com o nosso estado. Por proposição do deputado estadual Tin Gomes (PHS), ele receberá nos próximos
dias o título de cidadão cearense. "Recebo com honra
muito grande. Quando você nasce em uma região,
isso independe de sua vontade. Mas quando escolhe
onde vai viver é diferente. E se você pegar 72 anos da
minha vida e tirar 40, sobram 32. Então, 40 anos de
vida adulta eu passei aqui. E só 11 anos após completar
21 anos (maioridade) é que eu passei fora do Ceará.
Toda uma vida passada aqui. E um título como este
não se pede, alguém viu alguma coisa."
Com seis filhos e 13 netos, Carlos Prado brinca e diz
que está "quase desempregado pelos filhos" na condução das empresas. Isso não quer dizer, no entanto, que
pense em se aposentar. Para quem colocou como meta
chegar aos 130 anos, nada é impossível, principalmente a partir do seu histórico pessoal marcado pelo interesse constante pelo empreendedorismo. Para que o
leitor entenda um pouco mais essa inquietação, é preciso voltar no tempo e conhecer as raízes de Carlos
Prado a partir de sua infância. "Minha família vivenciou
momentos de altos e baixos períodos, com meu pai
tendo incursões na agricultura e no comércio." A inquietação, percebe-se logo, foi herdada do pai João
Horta do Prado, que por necessidade, aliada ao perfil
meio nômade, não gostava de ficar parado, e estava
sempre em busca de melhores condições de trabalho.
Foi assim que aos sete anos Carlos Prado, já em
Rolândia (PR), teve a primeira experiência de trabalho.
Não porque o pai quisesse. "Eu pedia dinheiro e ele
não me dava. Então, fui trabalhar." Começa aí uma
história interessante. É que, em frente da casa onde a
família morava, havia uma loja de móveis. Carlos Prado se ofereceu para trabalhar, mas o dono não quis lhe
dar emprego porque ele era muito criança. "Ficava
então rodando a loja diariamente e, de vez em quando, o dono mandava eu fazer uma coisinha ou outra.
Ao final de três meses, perguntou o que eu estava
precisando, e comprou para mim um par de sapatos.
Dada a minha insistência, acabou me aceitando na
loja, mesmo sem eu saber fazer nada. Com o tempo,
fui aprendendo", conta.
De Rolândia, a família se transferiu para Presidente Prudente e depois para Assis, municípios do
interior de São Paulo. Em todos, Carlos Prado nunca
se aquietava. Na primeira cidade, por exemplo, arranjou emprego de bói no colégio de freiras onde as irmãs
mais velhas estudavam. A vontade de trabalhar, no
entanto, nunca impediu o estudo. Em Assis, onde o
pai se estabeleceu em um comércio de roupas, chegou
a trabalhar varrendo um escritório de contabilidade.
Com o tempo, aprendeu a lidar com o assunto e exerceu a atividade por um determinado período.
Ficou em Assis até os 24 anos. Já tinha concluído o
aprendizado em contabilidade e abriu um escritório
de reorganização de empresas. Só que, no escritório,
seu tempo era parcial, porque na época passou em
concurso para o Banco do Brasil (BB). Antes do banco,
tinha trabalhado na Secretaria de Agricultura de São
Paulo. "Eram três atividades: BB, escritório e estudo."
A passagem bancária ocorreu na mesma época em
que se casa e tem o primeiro filho. "Meu sogro achou
que a filha estava com o futuro garantido por ter se
casado com um bancário, e logo do Banco do Brasil.
Mas dois anos depois eu sai. Acho que foi uma decepção para ele." Carlos Prado reconhece que poderia ter
parado por ali. Mas o que o levou a arriscar tanto?:
"As oportunidades vão surgindo, e se você começa a
empreender alguma coisa em sua vida o caminho se
torna mais fácil".
A iniciativa privada
O desligamento do Banco do Brasil, porém, não foi
em vão. Enquanto estava por lá, passou em concurso
para agente fiscal do Ministério da Fazenda. Por ironia
do destino, as opções de transferência eram para Fortaleza, Belém ou Manaus. "Quando olhei no mapa,
tive receio e acabei desistindo de uma carreira muito
boa naquele tempo." Foi quando se formou em Economia e passou a desenvolver atividades autônomas.
"Prestando serviços como economista, deixei definitivamente o serviço público e passei à iniciativa privada."
Um dos grupos econômicos para os quais prestava
serviço atuava em várias atividades, e um dos trabalhos que realizou foi na produção de sementes de girassol. "O meu primeiro contato com a agricultura foi
na atividade da Secretaria de São Paulo, e com meu
pai, naturalmente. Mas nessa fazenda que produzia
girassol houve envolvimento mais direto, já que existiam plantações de café, algodão, amendoim, girassol,
etc. Tive de aprender, porque eram deficitárias e era
necessário torná-las lucrativas."
A ligação com a agricultura e o espírito empreendedor voltaram a falar mais alto quando, na década de
Agosto de 2013
17
1970, funda uma empresa de importação de máquinas
agrícolas argentinas, começando a relação com o Ceará.
"Com essas máquinas, introduzi a colheita mecanizada
de amendoim no Brasil. Na Argentina, o terreno é plano, mas no interior de São Paulo é ondulado. Então, as
máquinas argentinas tiveram de ser adaptadas ao nosso terreno. Acompanhei todo esse processo."
Oportunidade no Governo César Cals
O Ceará entra nessa história, como gosta de dizer
Carlos Prado, por meio do surgimento das oportunidades: "Nós tínhamos as máquinas para a colheita de
amendoim. Importadas, mas já adaptadas às condições brasileiras. O governador do estado, César Cals,
iniciou um projeto de grandes plantios de cajueiro. Os
técnicos descobriram que, enquanto a árvore crescia,
era possível plantar outras culturas no meio, ajudando
na renda do produtor. Foram feitos alguns testes e o
amendoim foi a cultura que se adaptou melhor”. Segundo o empresário, foram plantados, em 1973, 6 000
hectares de amendoim consorciado com cajueiros.
“Quando chegou na hora de colher, as máquinas compradas não funcionaram, pois não eram apropriadas.
Ao procurar uma solução, as empresas proprietárias
dos cajueiros entraram em contato com a Secretaria
de Agricultura de São Paulo, que nos indicou".
18
Agosto de 2013
Carlos Prado diz que seu primeiro contato telefônico no Ceará foi com o então secretário de agricultura, José Valdir Pessoa. "Comecei a ficar por dentro do
problema e consciente de ter a solução. Quando terminamos a conversa, combinei uma viagem para o
estado. Nunca tinha vindo ao Nordeste. Cheguei na
madrugada do dia 1o de julho de 1973 e, no mesmo dia,
já fui ao campo.” Ele relata: “O quadro era difícil. Só que
as pessoas não queriam adquirir máquinas, porque já
tinham comprado e não dera certo. Então, o governo
me perguntou o que poderia ser feito para resolver. Eu
disse: mando uma máquina para cá, vocês pagam o
frete; depois mando os técnicos para colocar a máquina
para funcionar. Se ela resolver o problema, me proponho a alugar. Só que se eu alugo, não vendo mais."
Com o sucesso da empreitada, recebeu uma proposta do governador César Cals: "Ele queria aumentar o plantio de caju, e sabia que estávamos com o
projeto de montar uma fábrica dessas máquinas em
Presidente Prudente. Fez a proposta de trazermos a
empresa para o Ceará. Fui pego de surpresa, porque
estava tudo quase fechado em São Paulo. Pedi ao César
Cals condições melhores. Quando terminou a conversa, o governador pegou o telefone e foi logo tomando as primeiras providências. Saí do encontro e
liguei para a minha mulher, a fim de saber se ela gostaria de viver aqui. Veio e gostou".
Produzindo melão
A história da Itaueira começa com a cajucultura.
De início, era um projeto pecuário de 10 000 hectares.
"Nós chamamos para trabalhar conosco um agrônomo italiano que estava no Brasil há dez anos. Ele chegou no Ceará pelas mãos do saudoso Edson Queiroz.
Veio e fez uma visita às suas fazendas. Quando já
estava morando quase em definitivo, e em vias de
trazer a mulher, aconteceu um acidente de avião, no
AGÊNCIA BRASIL
No dia 13 de agosto, a Cemag estava constituída.
Em janeiro de 1974, a primeira máquina recolhedora
de amendoim, fabricada no Ceará, já realizava colheita em São Paulo. No ano seguinte, com agrônomos
cearenses, Carlos Prado criou a Planagro – Planejamento Agropecuário Ltda., que plantou 2 000 hectares de amendoim, nos cajueirais da Maisa, em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Em 1975, dá início às atividades da Nagroar – Nordeste Aviação Agrícola, baseada em Fortaleza, que, com
aviões agrícolas Ipanema, da Embraer, fazia pulverizações experimentais nos cajueirais em convênio com o
Ministério da Agricultura, e ainda nos canaviais de
Pernambuco e Alagoas e, em seguida, nos plantios de
grãos do Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Goiás.
Em 1976, começa a mecanização da colheita do
feijão mulatinho, no Brasil, utilizando a mesma
recolhedora de amendoim, então em fabricação e devidamente adaptada. Trabalho iniciado em parceria
com o Centro Nacional do Arroz e Feijão, da Embrapa,
em Goiás.
Em 1977, inicia os trabalhos de desenvolvimento
dos equipamentos para colheita de mandioca, destinada ao Programa Nacional do Álcool de Mandioca. Projeto frustrado, pois o governo federal o abandonou antes de sua conclusão. No mesmo ano, de forma pioneira, realiza as primeiras exportações de máquinas agrícolas fabricadas no Nordeste, enviadas para a África.
Em 1981, adquire a linha de fabricação de rotavatores, roçadeiras, perfuradores de solo, capinadeiras mecânicas, da Howard Machinery, UK, que é transferida
para a Cemag, em Fortaleza.
Atuação institucional
á o momento de dar e o momento de receber.
Você, de alguma forma, tem de devolver à sociedade aquilo que recebeu. Este é um ponto. O
segundo é que o homem é um ser gregário. Necessita se
relacionar no meio em que atua. Agora, em relação ao
institucional, todos precisamos contribuir de alguma forma. É quase uma obrigação de quem está em uma atividade de empreendimento." A afirmação de Carlos Prado justifica a sua intensa atuação institucional, com a participação em vários fóruns (veja quadro na página 20). "Gosto da
atividade, mas agora está demais", diz. Atualmente, além
de vice-presidente da FIEC, preside a Câmara Setorial da
Cadeia Produtiva da Fruticultura do Ministério da Agricultura e Pecuária e a Comissão Nacional de Fruticultura da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); e é
“H
secretário executivo da Frente Parlamentar Mista da Fruticultura, no Congresso Nacional, presidida pelo deputado
Antônio Balhmann. "Mas temos de dar oportunidade aos
mais novos. A renovação é muito importante e precisa ser
estimulada."
É nesse contexto que Carlos Prado também teve atuação
importante no trabalho de reforma dos estatutos da FIEC.
"A Federação, liderada pelo presidente Roberto Macêdo,
fez um esforço para uma maior participação do industrial
na escolha dos seus dirigentes. Com isso, deu um exemplo
à comunidade e à própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) de como administrar de uma forma democrática,
abrindo oportunidades. Este é o resultado da mudança
estatutária de iniciativa de Roberto Macêdo", arremata
Carlos Prado.
Agosto de 2013
19
Plantação de melão na
Itaueira Agropecuária
qual Edson Queiroz foi vitimado. O projeto acabou indo por
água abaixo”, conta Carlos Prado.
Ele diz que o agrônomo ficou sem emprego e sem perspectiva. Em contato com um amigo comum, Renato Massari, "conversamos 15 minutos e fizemos negócio". Conforme o empresário, a maturação do projeto foi lenta: “Inicialmente era um projeto da Sudene para a pecuária. Como o órgão mudou as regras
Principais atividades
institucionais
Participante/fundador do Pacto de Cooperação do Ceará.
Participante/fundador do Agropacto – Pacto de Cooperação
da Agropecuária do Ceará.
Membro do Conselho da Empresa Administradora da Zona de
Processamento de Exportações do Pecém (EMAZP), agora ZPE-CE.
Membro do Conselho da Moscamed – Juazeiro/BA.
Em 1995, durante gestão de Fernando Cirino Gurgel na
presidência da FIEC, liderou a criação do Trade Point do Ceará,
como braço do Ministério de Relações Exteriores.
Em 1998, o Trade Point foi transformado em Centro Internacional
de Negócios (CIN), para desenvolver a cultura exportadora no Ceará.
Em 2002, liderou a Plataforma Regional do Agronegócio do
Caju, que abrangeu todo o Nordeste, e foi coordenada pela FIEC,
quando presidente Jorge Parente, e Faec, com o então presidente
José Ramos Torres de Melo Filho, com apoio do MCT e Embrapa. Em
2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12 834/2013,
que autoriza a criação do Fundo de Apoio à Cultura do Caju (Funcaju),
iniciativa da Plataforma acima.
Em 2012/2013, colabora com a coordenação do Movimento
Integra Brasil – O Nordeste no Brasil e no Mundo. Iniciativa do CIC,
com apoio inicial da FIEC, já se consolida como um movimento dos
setores produtivos do Nordeste.
20
Agosto de 2013
dias antes da aprovação final, foi necessário buscar alternativas.
Durante nove anos, pesquisamos soluções. Fizemos contrato de
cooperação técnica com o Centro Nacional de Pesquisa do Caju,
da Embrapa, então dirigido por João Pratagil Pereira de Araújo,
com prazo de duração de dez anos, visando adaptar o caju anão
precoce à região semiárida do centro-sul do Piauí. Ao iniciar a
produção, com base nas pesquisas do agrônomo Josivan Barbosa, ex-reitor da Ufersa-Mossoró, a Itaueira Agropecuária passou
a embalar o caju anão precoce selecionado, e enviar aos mercados do Sudeste, em caminhões frigoríficos, de forma pioneira.
Foi um sucesso! Foram alguns anos bons nessa atividade. Esta é
a fase do caju, que durou de 1991 e 2002. Ao final do período,
com a grande oferta de caju resfriado, os preços baixaram muito
e a Itaueira suspendeu a atividade".
Em 1999, Carlos Matos, à época secretário de Agricultura Irrigada
do Ceará, organizou uma missão a Israel para se conhecer a agricultura irrigada naquele país. A FIEC foi convidada a participar e o
então presidente Fernando Cirino Gurgel enviou Carlos Prado como
representante da entidade. Ao voltar, um cliente de São Paulo da
Itaueira sugeriu ao empresário que tentasse plantar o melão amarelo. “Um melão com gosto de pepino, sem sabor algum, mas que,
pela tecnologia que aplicávamos na cultura do caju, talvez fosse
possível produzir uma fruta saborosa, o que seria um sucesso". Ele,
então, perguntou ao cliente, Sérgio Benassi, se pagaria mais pelo
produto. "Pago!, respondeu. Em 1999, começou o plantio do melão em Jaguaruana, sendo a área inicial de oito hectares, em parceria com Sílvio Ramalho Dantas e o agrônomo João José Brasil da
Silva". A existência da internet possibilitou a acesso às fontes de
tecnologia no exterior, para conhecer todas as novidades para o
plantio irrigado, com o modelo que havia de mais moderno.
Mas para isso, relata o empresário, foram quatro anos trabalhando no prejuízo: "Continuamos porque sentimos que estávamos no caminho certo, e o caju fazia receita para sustentar a
atividade". Hoje, de oito hectares, a Itaueira passou a mais de 2 000,
com 1 200 empregados.
Agosto de 2013
21
JOSÉ SOBRINHO
Ceará
Produção
de leite
pode
crescer
A irrigação e a utilização do
pasto rotacionado mostram
que é possível incrementar a
produção de leite no estado,
com reflexos diretos na indústria
LUIZ HENRIQUE CAMPOS
cenário que se descortina até a fazenda Flor da Serra,
na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, a 205
quilômetros de Fortaleza, contrasta com o período de
seca que assola o Ceará, considerado um dos piores
dos últimos 50 anos. As terras que margeiam o entorno do perímetro irrigado Tabuleiro de Russas representam quase um oásis,
com plantações as mais variadas que sugerem a possibilidade da
plena convivência com o fenômeno climático que tanto castiga o
homem do campo no Nordeste. Na propriedade Flor da Serra,
do empresário Luís Girão, entende-se por que essa convivência é
possível, desde que sejam adotadas tecnologias que proporcionem a profissionalização do negócio.
O
22
Agosto de 2013
No caso de Luís Girão, a produção de leite. Ali, como ele
mesmo gosta de dizer, "estamos dando um exemplo de que é
possível conviver com a seca". A receita é o modelo de irrigação
com pastagem rotacionada. Com 4 200 vacas, sendo 500 em
lactação, o modelo do pasto rotacionado na Flor da Serra trabalha com a divisão do terreno em até 22 partes iguais, chamadas
pizzas. Cada pizza tem a extensão de 50 hectares (módulos), nos
quais é distribuído um plantel com 500 animais. Como são 22
partes, ao final de 22 dias o gado é transportado para o módulo
seguinte, e assim sucessivamente. A lógica do modelo é que, ao
final do ciclo de 22 dias, a primeira pizza volte a ser utilizada.
Nesse período, já estará com todo seu potencial de pasto recuperado e apto a ser consumido pelo gado, reiniciando novo ciclo.
A experiência indicou que o capim chega a crescer em média um
metro no período de renovação do ciclo de rotação. "Hoje temos
vaca produzindo de 16 a 20 litros. Mas o que me interessa não é a
produção por animal. É a por hectare. E aqui já chegamos a tirar
160 litros por hectare, um índice de ponta no mundo", afirma Luís
Girão. O segredo está na irrigação. É por ela que se pode rotacionar
o pasto com qualidade, garantindo a alimentação aos animais.
Luís Girão afirma que, para atingir o estágio no qual
a sua propriedade se encontra, não é preciso um grande terreno: "Esse estágio é perfeitamente viável para o
pequeno produtor, que só precisa de um kit de irrigação". Por outro lado, segundo o empresário, é preciso
um período de maturação. "Estou fazendo esse trabalho há dez anos e fui aprendendo com o tempo." Um
ponto importante em relação a isso, explica o zootecnista
da Flor da Serra, Alexssandro Borba, é que o manejo
adequado desmistificou o tabu de que o gado estraga o
solo: "Com o manejo correto, conseguimos, na verdade,
foi obter melhoria do solo".
Luís Girão faz questão de esclarecer que o manejo
rotacionado pela irrigação não se trata apenas de uma
necessidade de melhoria da produção leiteira do rebanho. Trata-se, sim, de uma questão de sobrevivência
do pequeno produtor. "Não sei como será seu futuro,
caso fique parado no tempo e não passe a utilizar as
técnicas que profissionalizam o setor." Com a experiência de quem conhece bem outros modelos pelo mundo, o
empresário pontua que há algum tempo era possível
encontrar quem produzisse cem litros de leite/dia. Isso
não existe mais hoje. “Vai acontecer a mesma coisa que
ocorreu com os produtores de frango e de porco, que
perderam espaço para o grande, que se profissionalizou.
Em menos de 50 anos, o pequeno produtor perdeu seu
espaço no Nordeste. Foi assim também com o algodão.
Muita gente coloca a culpa no bicudo pelo declínio, mas,
na realidade, foi a falta de competitividade que acabou
com a cultura algodoeira na região. Perdeu espaço para
a exploração em larga escala", diz Luís Girão.
Ele reforça esse entendimento ao alertar que o produtor precisa se profissionalizar, senão ficará sem rumo
no processo: "Nem pagar o salário mínimo ao trabalhador o pequeno produtor poderá mais, caso continue a baixa produtividade em sua propriedade. Primeiro, por causa do conhecimento tecnológico, que
terá de ser apropriado. Antes, o regime era extrativista,
quase de escravidão para o trabalhador. Os tempos
hoje são outros, e não se admite mais esse modelo".
Agosto de 2013
23
ais importante processadora de laticínios do
Ceará, e uma das maiores do Nordeste, a CBL
Alimentos S/A, instalada em Morada Nova, no
Vale do Jaguaribe, a 168 quilômetros de Fortaleza, enfrentou no final de 2012 e começo deste ano sérias dificuldades relacionadas à matéria-prima para suprir sua produção, em razão do período de estiagem. "A situação só não
foi pior este ano porque estamos vivendo a chamada seca
verde, que gera uma drástica diminuição de grãos, mas a
pouca chuva propicia a pastagem. E, havendo pasto, tem
comida para o gado e a consequente produção", afirma
Itajar Lamedo, diretor industrial da CBL.
As dificuldades se explicam a partir da própria estrutura da
empresa, que tem alta capacidade de produção e maquinário caro. Por isso, hoje precisa de matéria-prima. Senão para.
"Não podemos conviver com essa sazonalidade por conta da
seca", conta Lamedo. A CBL trabalha com 3 000 produtores
em 48 municípios. Desses, 75% são provenientes da agricultura familiar. Agora a empresa já se recuperou, mas a
queda de fevereiro a outubro do ano passado chegou a 45%.
Para enfrentar esse quadro, foi necessário priorizar algumas
JOSÉ SOBRINHO
Profissionalização
do produtor,
necessidade
da indústria
A saída
para a oferta de leite regular
no Nordeste é a
irrigação da área
de pasto. E isso
tem como ser
feito no estado.
Bruno Girão,
diretor da CBL Alimentos S/A
24
Agosto de 2013
JOSÉ SOBRINHO
M
linhas de ação. "Demos preferência ao leite longa vida
e importamos o leite em pó para a produção de iogurte.
Nossa produção é de 400 000 litros/dia, mas chegamos a
baixar para até 125 000/dia", conta o diretor industrial.
Na CBL, são fabricados mais de 60 produtos, até para
outras empresas. "O prejuízo quando não se produz é grande. Vai da questão financeira à perda de mercado da marca,
porque se você não está lá o concorrente entra e ocupa seu
espaço. E mesmo quando se usam alternativas, elas acabam encarecendo o produto. A consequência é que o consumidor não aceita", afirma Lamedo. Diante disso, um dos
proprietários da empresa, Bruno Girão, projeta para os próximos três anos estar com 50% dos seus produtores atuando de forma profissionalizada: "A solução é utilizar a irrigação do pasto para solucionar esse problema de sazonalidade. O resultado é a sobrevivência do pequeno agricultor e
a sustentabilidade da indústria".
Bruno Girão ressalta que, no Ceará, temos vantagens
que nos permitem potencializar a produção, porque possuímos água em abundância, apesar de mal distribuída, e terra barata, faltando melhorar a qualidade da mão de obra e
a gestão das fazendas. "A saída para a oferta de leite regular no Nordeste é a irrigação da área de pasto. E isso tem
como ser feito no estado."
sustentabilidade do parque lácteo do Ceará
está em xeque. Se houver mais duas secas,
não iremos aguentar. E, nesse aspecto, o que
conta mais é o produtor do campo. A avaliação é do consultor na área e responsável pela publicação do Anuário
do Leite do Ceará, Raimundo Reis. A experiência do
zootecnista baiano com o mercado cearense começou
há 17 anos, quando se transferiu para cá e conheceu
uma realidade que muitos consideravam negativa. Com
o tempo, Reis aprendeu que essa realidade era bem
mais propícia para o segmento do que se imaginava.
"Temos um clima que favorece e demanda alta por leite.
Ao mesmo tempo, o produtor tinha de conviver com o
constante endividamento e o desestímulo à produção".
Ele lembra que, em 2000, foi criada a Secretaria de
Agricultura Irrigada, que tinha à frente Carlos Matos,
atual diretor corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (INDI), organismo do Sistema FIEC. A secretaria foi um passo inicial visando desenvolver um conceito de exploração de forma sustentável.
A
JOSÉ SOBRINHO
Novo cenário em perspectiva
O parque
lácteo do
Ceará está em
xeque. Se houver
mais duas secas, não
iremos aguentar.
Raimundo Reis,
responsável pela publicação
do Anuário do Leite do Ceará
Agosto de 2013
25
JOSÉ SOBRINHO
A partir daí, por meio do projeto Pasto Verde, começou a
ser produzido leite dentro da técnica do pasto rotacionado.
Foi montado naquele ano o primeiro piloto no município de
Iguatu, envolvendo pequenos produtores. "Vimos que era
possível a produção a pasto por todo o ano, o que representou um grande avanço, já que em outras regiões do Nordeste
não se conseguia. Isso foi até 2006", afirma Raimundo Reis.
A experiência permitiu a definição de um modelo com
atuação profissional e criou-se nova perspectiva para o setor. Mas havia a necessidade de maturação – "não acontece de uma hora para a outra", diz Reis. E mais: a adoção no
Ceará desse modelo tem condicionantes. Como exemplo,
há 75% de fatores que são geradores de problemas, tais
como seca verde, enchentes e a seca em si. Fatores que
precisam ser acompanhados. Segundo Reis, não se pode
deixar o produtor jogado à própria sorte, fazendo tudo sozinho. Ele explica que o conceito básico do pasto verde é que
o fator limitante para a produção é água e capim. E isso a
tecnologia já domina. "Hoje temos tecnologia para áreas
irrigadas e de sequeiro, mas o nível de uso da tecnologia,
na média, é ruim. Em lugares nos quais se adota a tecnologia de forma correta, os resultados são muito bons. A questão é como levar essa tecnologia ao campo. E aí está o nó
górdio. É preciso assistência técnica."
A seca dos últimos anos, em vista disso, trouxe também
um aprendizado, principalmente para a indústria. O mais
duro, para Reis, é que a indústria precisa de segurança.
"Não fosse o leite produzido em pasto irrigado, a indústria
teria quebrado. No momento, temos 10 000 hectares irrigados no Ceará, sem os quais a indústria pararia. Mesmo assim, a queda foi de 50% na produção. Não pode depender da
sazonalidade. Já a grande lição para o produtor é que se não
houver volumoso (capim), a produção quebra." Reis acrescenta, a partir desse cenário, que o Banco do Nordeste (BNB)
vai passar a financiar o produtor de forragem (silagem de milho e soja, palma forrageira, feno e cana-de-açúcar e capim
elefante). “Antes o banco só financiava quem fosse criador.
A forragem representa 60% da comida do gado. O maior desafio da fazenda agora não é nem criar gado. É produzir comida.” Ao decidir financiar o produtor de forragem, se está, na
visão do consultor, resolvendo um outro problema. É que
nem sempre todo agricultor é pecuarista, e vice-versa.
De acordo com Reis, há, nesse sentido, um novo cenário
em perspectiva, “mas as coisas precisam de certos estímulos
para que ocorram”. Só na área do Tabuleiro de Russas, em
breve, a produção deve chegar a 60 000 litros de leite. "O
Ceará é o estado com maior produção de forragem irrigada do
Nordeste semiárido. E o que tem também a maior experiência nesse campo. Mas, para que ganhe impulso, é preciso que
sejam definidos papéis. O governo tem de propiciar fomento
e assistência técnica, o banco financiamento e a indústria
terá de chegar mais perto do produtor para lhe ajudar nessa
profissionalização, oferecendo condições para o melhoramento genético, insumos, etc.", finaliza Raimundo Reis.
O segredo para a boa
produção leiteira
está na irrigação
O setor em números
O Sertão Central é a região que mais produz leite no Ceará:
12,7%
do total.
Das regiões mais representativas em produção,
o Baixo e o Médio Jaguaribe apresentaram o maior
crescimento. Entre 2006 e 2010, mais do que dobrou
a produção, passando de 24,6 milhões para
50,2 milhões de litros/ano.
26
Agosto de 2013
Gado, comida
e gestão
x-diretor da Agência de Desenvolvimento do
Ceará (Adece), e com a experiência de quem
atuou em ações voltadas ao processo de áreas
irrigadas no estado, Zuza de Oliveira é crítico quanto
ao futuro da cadeia produtiva do leite. Para isso, se
sustenta nos números da CBL, segundo os quais, dos
3 000 produtores de leite da empresa, apenas 209
tiram mais de 200 litros. “Não dá para viabilizar uma
fazenda desse jeito.”
Para Zuza, um projeto sustentável se viabiliza pelo
tripé genética (gado de qualidade), comida (irrigação
e pasto) e gestão (manejo). “É raça, ração e manejo.”
Isso implica que no futuro a gestão do negócio terá de
se voltar para o uso da tecnologia. Essa falta de profissionalismo está fazendo os jovens filhos dos agricultores
JOSÉ SOBRINHO
E
Um projeto
sustentável
se viabiliza pelo
tripé genética (gado
de qualidade),
comida (irrigação
e pasto) e gestão
(manejo).
Zuza de Oliveira,
ex-diretor da Adece
Em 2011, apesar do parque laticinista
cearense manter o mesmo número de
indústrias de 2010, um total de 49, a
capacidade instalada e o volume processado
registraram expressivos aumentos.
A capacidade de processamento
de leite nas indústrias passou de
1,31 milhão de litros/dia em 2010, para
1,52 milhão litros/dia.
buscarem nas escolas técnicas do interior melhor formação, deixando a fazenda de lado. “Aliada à necessidade
de mão de obra das indústrias, a sucessão familiar no
meio rural gira em torno de 20%, por vontade dos pais
e dos filhos, na busca de uma vida melhor”.
Ele lembra que, no sertão cearense, com suas variações de solo e clima, o normal é ter chuvas irregulares
em quantidade e distribuição espacial, com as consequências sociais, econômicas e financeiras negativas
para a população rural. Os municípios que têm a maior
parte da economia baseada na agropecuária de
sequeiro (não irrigada) são diretamente afetados por
essa irregularidade, dificultando, e até inviabilizando,
o planejamento dos agronegócios, quer sejam de base
familiar ou empresarial. Situação que causa incertezas. “Com cinco anos de invernos normais, alguns
produtores retiram seu sustento e acumulam bens
(animais, carroça, motos, etc.). No primeiro e/ou
segundo ano de seca, são obrigados a vender para
manter a família, levando o Produto Interno Bruto
(PIB) agropecuário a uma gangorra, e cada vez menor”.
A reversão desse quadro, todavia, é possível por
meio da irrigação. Ele cita que no Ceará, em 2009, ano
de chuva normal, em 2,5 milhões de hectares cultivados em sequeiro foi gerada uma renda bruta de 4 bilhões
de reais, enquanto que, em apenas 87 000 hectares
irrigados, a renda bruta foi de 1 bilhão de reais. “Irrigamos atualmente em torno de 89 000 hectares, valendo
registrar que, entre 1999 e 2009, com o aumento de
32 000 hectares irrigados, a renda bruta gerada nesses
municípios saltou de 135 milhões de reais para
1 bilhão de reais, assegurando emprego, produção
de alimentos e circulação de dinheiro, mesmo com três
anos de seca na década”, arremata Zuza de Oliveira.
Os produtos mais fabricados são
o leite pasteurizado e o queijo coalho,
presentes, respectivamente, em
Os dados do segmento indicam que a produção de
leite avançou nas áreas com maior infraestrutura
hídrica e com potencial para irrigação, incluindo
dos estabelecimentos. A bebida láctea
aparece em terceiro lugar, sendo
processada e comercializada por
o Baixo e o Médio Jaguaribe, Ibiapaba e Litoral
Leste. Por outro lado, a produção apresentou
pouca dinâmica em regiões mais áridas, como
Sertão Central, Inhamuns, Norte e Sul.
56,7% e 53,3%
30% das empresas.
4 regiões:
Fonte: Anuário do Leite Ceará 2012
Agosto de 2013
27
Previdência Social
Envelhecendo com mais
saúde e qualidade, a expectativa da
população hoje é superior a 73 anos
Déficit crescerá
mais de 20 vezes
Hoje, para cada pessoa com mais de 60 anos, há 5,3 pessoas
com idade economicamente ativa. Em 2050, a previsão é de
apenas 1,8 pessoa, aumentando o rombo da Previdência
m montante de 909 bilhões de reais, equivalente a 5,68%
do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2050 (16
trilhões de reais). Este deve ser o rombo nas contas da
Previdência Social em menos de 40 anos, segundo o
estudo “Projeções atuariais para o Regime Geral da Previdência
Social”. Os principais motivos: a população brasileira está envelhecendo e os casais de hoje não estão tendo filhos como antes. Dessa
forma, pelo sistema previdenciário brasileiro, em menos de quatro décadas faltarão trabalhadores para sustentar os aposentados.
U
28
Agosto de 2013
A projeção tem como base os dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento
mostra que a taxa de fecundidade no país (número de filhos por
mulher), de 1,9 filho, está abaixo da taxa de reposição da população – de 2,1 filhos por brasileira. O número de filhos por mulher
chegou a 6,28 em 1960, antes de cair para 2,38, em 2000. Atualmente, com 193 milhões de pessoas, o Brasil é um país jovem,
cuja população cresceu 1,7% na última década. A longevidade do
brasileiro também entra na conta. Envelhecendo com mais saúde
e qualidade, a expectativa de vida da população
hoje é superior a 73 anos. No início do século, não
chegava a 34 anos.
Segundo o IBGE, em 2010, as pessoas com mais
de 65 anos representavam 7,4% da população; as
com 80 anos ou mais, 1,5%. A projeção é que, em
2020, essas parcelas serão de 9,2% e 1,9%, respectivamente. Em 2050, a proporção esperada de pessoas com 65 anos ou mais é de 22,7%, e a de quem
tem 80 anos ou mais, 6,4%. O Brasil vai atingir o
pico populacional de 219 milhões de habitantes em
2039. A partir daí, a tendência é de queda. O pico de
mão de obra ativa ocorrerá ainda antes, em 2027.
Em 1980, a base da pirâmide populacional brasileira era larga e formada por jovens futuros trabalhadores. No topo, poucos com mais de 60 anos.
No meio, uma grande população economicamente
ativa. Atualmente essa pirâmide apresenta mudanças significativas, com redução na base, alargamento no topo e uma grande variação no meio, especialmente na faixa após os 45 anos, e que em breve
estarão se aposentando. Para 2050, a previsão é que
a pirâmide vire um funil, com muitos idosos no
topo e poucos jovens para sustentar a Previdência.
O estudo que acompanha o Projeto de Lei Orçamentária de 2014, enviado ao Congresso Nacional pelo Executivo federal em abril, mostra que
para cada pessoa com mais de 60 anos há 5,3 pessoas com idade economicamente ativa (de 16 a 59
anos), potenciais contribuintes da Previdência. Em
2050, a previsão é de apenas 1,8 pessoa em idade
ativa para cada uma em idade para a aposentadoria. Já no próximo ano, os idosos representarão
11,2% da população, e deverá chegar a 32,2% dos
brasileiros em 2050. Por sua vez, a participação
daqueles em idade ativa na economia cairá de 63,6%
para 56,1%. Para fechar as contas este ano, o Tesouro terá de destinar 41,8 bilhões de reais ao pagamento de pensões e aposentadorias do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS). O valor equivale
a 0,86% do PIB de 2013 (4,875 trilhões de reais).
Essa relação déficit/PIB irá cair até 2016, quando
será de 0,23% (15,2 bilhões de reais), para inverter
a curva e começar a subir no ano seguinte.
"Esse processo terá fortes impactos na estrutura de financiamento da Previdência Social e também na dinâmica da economia brasileira, que não
contará mais com uma oferta de mão de obra
Agosto de 2013
29
abundante. Se constatarmos que em 11 anos, entre 2000 e 2011,
a população em idade ativa cresceu em 20 milhões de pessoas, e
imaginarmos que nos próximos 16 anos, entre 2011 e 2027, ela
crescerá 14 milhões, é possível perceber que estamos caminhando rapidamente para um cenário de oferta de mão de obra que
se pensava distante", destaca o estudo.
Problema mundial
O envelhecimento da população, e a consequente pressão sobre os sistemas de seguridade, não é um problema exclusivo do
Brasil. De acordo com o levantamento da Organização das Nações
Unidas (ONU), entre 2010 e 2012, 52 países, de 138 analisados,
promoveram reformas em seus sistemas de aposentadorias e pensões. Dentre as medidas mais amargas para a população está o
aumento da idade para concessão de aposentadoria e a redução
dos benefícios; em alguns casos, toda a estrutura foi redesenhada.
No Brasil, após promulgação da Constituição de 1988, foram
feitas muitas reformas no sistema previdenciário, gerando um
complexo regime de aposentadorias para servidores públicos e
trabalhadores da iniciativa privada. Quem ingressar hoje em cargos públicos vai se submeter às mesmas regras vigentes para o
chamado regime geral. Ou seja, receberá uma remuneração variável entre o salário mínimo e o teto da Previdência, hoje em 4 157
reais. Quem está a mais tempo tem regras diversas, em função
do ano de admissão, mas, via de regra, sua aposentadoria terá
valores mais próximo aos salários pagos na ativa.
O problema do envelhecimento da força de trabalho também
tem preocupado o setor produtivo. O estudo “Envelhecimento da
Força de Trabalho no Brasil”, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), Fundação Getulio Vargas (FGV) e
PwC Brasil, com apoio da Federação das Indústrias do Estado de
Projeções sobre a
população brasileira
A pirâmide etária de 2010 mostra que uma grande parte da população
ainda é jovem (entre 5 e 29 anos), mas também indica uma tendência
de crescimento rápido do contingente de pessoas com mais idade.
São Paulo (Fiesp), Serviço Social da Indústria (SESI) e Câmara
Americana de Comércio (Amcham), concluiu que, em 2040, 57%
da força de trabalho terá mais de 45 anos. O quadro aponta para
uma realidade semelhante à dos países da Europa, onde o processo de envelhecimento da mão de obra levou mais de cem anos
para ocorrer, ou seja, em tese houve tempo para adequações.
A pesquisa foi elaborada de novembro de 2012 a janeiro de
2013 em 108 companhias – 70% de origem nacional – de diversos
setores de atuação, sendo 21% do setor industrial, 20% de prestação de serviços e 16% de energia, mineração e serviços de utilidade
pública. Das companhias entrevistadas, 36% eram de grande porte, com faturamento superior a 300 milhões de reais por ano.
Segundo alguns especialistas, o envelhecimento da força de
trabalho no Brasil pode ser uma das soluções para a escassez de
mão de obra qualificada no mercado. Além disso, a retenção
desses profissionais será necessária para o equilíbrio das contas
da Previdência Social e sustentação do crescimento econômico
do país. “A mudança demográfica proporcionará alterações no
perfil das empresas e não há como ignorar seus efeitos no mercado de trabalho. Já na próxima década, será possível perceber
esse novo cenário”, salienta João Lins, sócio da PwC Brasil.
Contudo, a pesquisa mostra que os profissionais mais velhos
ainda não são vistos pelas empresas como uma alternativa para
a escassez de talentos, e que há pouco incentivo para a transferência de conhecimento e experiência entre diferentes idades.
Mesmo em um contexto no qual metade dos CEOs do Brasil
(42%) afirma que já deixou de aproveitar uma oportunidade de
mercado ou precisou atrasar ou cancelar uma iniciativa estratégica por falta de talentos, 63% das empresas não enxergam a força
de trabalho mais velha como alternativa para a escassez de talento. O reflexo dessa visão está na prática para atrair e reter profissionais mais velhos nas equipes de trabalho: 56% declararam não
ter campanhas específicas para contratação de trabalhadores nessa
faixa de idade e em 58% das corporações a idade mais baixa
ainda é um fator relevante para a definição dos candidatos.
Em 2030, as faixas entre 25 e 59 anos ocuparão
a maior parte da pirâmide etária. Além disso,
a população de 60 anos ou mais terá quase dobrado.
Fonte: ALVES, José Eustáquio Diniz, VANCONCELOS, Daniel de Santana, CARVALHO, Angelita Alves. Estrutura etária, bônus demográfico e população
economicamente ativa no Brasil, cenários de longo prazo e suas implicações para o mercado de trabalho. CEPAL. Escritório no Brasil/IPEA, Brasília, 2010.
30
Agosto de 2013
Pontos positivos
Apesar do quadro atual pouco animador aos trabalhadores
mais experientes, os dados mostram que 94% das empresas
reconhecem haver pontos bastante relevantes na contratação
desses profissionais. Dentre eles, a transmissão de conhecimentos úteis para os mais jovens. Os entrevistados afirmam que esse
benefício tem o potencial de frear a evasão de cérebros no universo profissional, auxiliando, também, no combate à escassez
de mão de obra especializada. Porém, diz o relatório, para que
isso se concretize, algumas práticas devem ser adotadas, como
atividades de treinamento e desenvolvimento envolvendo diferentes faixas etárias (inexistentes em 45% das empresas) e programas de mentoring (não adotados em 50% das organizações).
O estudo recomenda que o esforço para integrar os profissionais mais velhos à força de trabalho das empresas deve passar
Em 2050, a população que era adulta em 2030 estará mais
velha, e a pirâmide etária terá invertido em relação a 2010,
com um grande número de pessoas com mais de 50 anos.
por uma mudança cultural. “Gerentes e empregados precisam
ser educados sobre esses profissionais, a fim de não alimentar
estereótipos e preconceitos. Percepções inapropriadas, como a
de que os mais velhos são menos produtivos, inflexíveis e inábeis
para aprender novas tecnologias, têm tradicionalmente criado
barreiras para a inclusão deles no mercado”, destaca a pesquisa.
O levantamento revela, ainda, que os maiores de 60 anos
são reconhecidos como mais equilibrados emocionalmente
por 96% dos entrevistados, além de ser considerados, por 86%,
os melhores em solucionar problemas. O documento recomenda que as empresas devem tomar providências para a
contratação em tal faixa de idade, e adaptar-se para extrair o
melhor desses profissionais, oferecendo planos de carreira diferenciados e investimentos na qualidade de vida. Observouse que 62% dos empreendedores pesquisados ainda não oferecem um plano de saúde especial para os mais de 60 anos.
A pesquisa conclui mostrando que a falta de oportunidades
de carreira é ocasionada, em parte, pela proximidade da aposentadoria. A maioria das empresas (63%) crê que os mais velhos já
estão acomodados em decorrência desse fator. Essa impressão
pode estar equivocada. Segundo a pesquisa “Age discrimination:
What employers need to know”, da Associação Americana das
Pessoas Aposentadas, 80% dos profissionais da geração “baby
boomers” (nascidos na explosão populacional entre 1943 e 1964)
esperam e desejam manter-se ativos durante a aposentadoria.
Sugere também algumas práticas de recrutamento e seleção para lidar com a questão, como preparar a equipe de RH
para avaliar e aproveitar melhor o potencial do profissional
mais experiente, criar um comitê de apoio a profissionais mais
velhos para avaliar os processos de recrutamento e oferecer
benefícios competitivos de pacotes de aposentadoria e saúde.
Agosto de 2013
31
JOSÉ SOBRINHO
SENAI/Pronatec
Qualificação
com qualidade
Em apenas dois anos, cerca de 20 000 pessoas
foram capacitadas para o mercado de trabalho
pelo SENAI/CE por meio do Pronatec
GEVAN OLIVEIRA
esconfiei quando me disseram que um
treinamento no SENAI, no mercado custando mais de 700 de reais, era grátis, e
ainda ofereciam refeição e transporte.
Mas fui conferir e fiz a inscrição. O curso era tudo que
prometiam e muito mais. Tanto que em apenas três
meses já estou com a carteira assinada.” O depoimen-
O curso
era tudo
que prometiam e
muito mais.
Tanto que em
apenas três meses já
estou com a carteira
assinada.
Mardônio Souza,
aluno do SENAI/CE
destacado por Dilma Rousseff
32
Agosto de 2013
JOSÉ SOBRINHO
“D
to, com final feliz, é de Mardônio da Silva Souza, o mais
novo contratado da empresa de moda íntima Del Rio.
O jovem de 23 anos, caçula de uma família de cinco
irmãos, foi um dos destaques do discurso da presidente Dilma Rousseff, durante a formatura, no Centro de Eventos do Ceará, de 2 500 alunos do programa
Pronatec Brasil Sem Miséria, em julho passado: “Quero ressaltar a história do Mardônio. Ele conferiu de
perto as vantagens do programa e, em pouco tempo,
conseguiu a almejada carteira assinada. Assim como
ele, outros milhares de jovens precisam acreditar que
é possível mudar de vida por meio da capacitação”.
A partir da oportunidade que o Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) lhe
deu, Mardônio, cujo pai também passou pelas salas de
aula do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI/CE), entidade do Sistema FIEC, já faz planos.
Pretende continuar estudando na instituição, especializar-se e futuramente pagar uma faculdade de Engenharia Mecânica. O próximo passo é o curso de Manutenção de Máquina Eletrônica. Ele quer se integrar nas
empresas que estão trocando de equipamentos e exigem profissionais atualizados nas novas tecnologias.
“Com a carteira assinada, a gente pode começar a planejar, inclusive, a vida pessoal. Além de crescer na carreira, tenho planos de casar e ter minha família. Para
que isso se torne realidade, vou continuar estudando.”
busca de uma carreira. “Foi tudo muito rápido, mas os
profissionais e a estrutura do SENAI são tão bons que
a gente aprende com eficiência, e em pouco tempo.
Agora vou seguir fazendo o curso de Eletricista Industrial. Em seguida, com os recursos que o trabalho
proporcionará, pretendo fazer vestibular para Engenharia Elétrica”, planeja Gleison.
JOSÉ SOBRINHO
A melhoria da qualidade de vida da família também
está nos planos de Iva Teresa Araújo, de 34 anos, operária da construção civil. Servente de pedreiro há 15 anos,
mãe de três filhos, divorciada, pretende bancar os estudos do filho caçula, de oito anos (os outros têm 16 e 17),
com a melhoria do salário que agora será possível por
causa do curso de Pedreiro de Alvenaria realizado no
SENAI do bairro Jacarecanga, também por meio do
Pronatec. Iva, que trabalha na construtora Paulo Freire
Engenharia, aprendeu na prática diversas atividades que
até há pouco tempo apenas observava seus colegas pedreiros executarem. “Depois de receber o diploma, minha função já mudou. Agora vou ter um salário melhor
e ainda posso sonhar em crescer.” Por isso, pretende
continuar os estudos no SENAI. A próxima fase são os
cursos nas áreas de azulejo e bombeiro hidráulico. “Agora
tomei gosto e quero chegar a mestre de obras.”
Gleison Alves Araújo, de 28 anos, também foi destacado na solenidade de formação do Pronatec. Subiu ao
palco para assinar a carteira de trabalho numa das maiores empresas de construção civil do Ceará, a Fujita Engenharia. Com apenas três meses de aula, foi destaque do
curso de Auxiliar de Eletricista, ministrado no canteiro de
obras da construtora, numa unidade móvel do SENAI.
Gleison conta que já trabalhou em várias outras atividades, desde alimentação, como pizzaiolo, até vendas,
mas seu sonho era se estabilizar e assinar a carteira em
Gleison Alves recebe
a carteira assinada das
mãos da diretora da Fujita
Engenharia, Liana Fujita
(de azul). Dilma Rousseff,
Roberto Sérgio, vicepresidente da FIEC (à esq.
de Liana), e o governador
Cid Gomes testemunham
a assinatura
Depois de
receber o
diploma, minha
função já mudou.
Agora vou ter um
salário melhor e
ainda posso sonhar
em crescer.
Iva Teresa Araújo,
aluna do curso de Pedreiro
de Alvenaria do SENAI/CE
Agosto de 2013
33
Mais cursos
profissionalizantes
riado em 26 de outubro de 2011 com a sanção da Lei nº 12 513/2011 pela presidente
Dilma Rousseff, o Pronatec objetiva ampliar
a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica para a população brasileira. O programa envolve
um conjunto de iniciativas e projetos e, dentre eles, a
oferta de vagas gratuitas nos cursos profissionalizantes do SENAI para suprir as demandas do setor industrial. No Ceará, 11 municípios contam com turmas
em execução em unidades fixas e móveis: Aquiraz,
Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Horizonte, Maranguape,
Maracanaú, Pacajus e São Gonçalo do Amarante, todos na região metropolitana, e Sobral, na zona norte.
A maioria dos formandos de julho pelo Pronatec foi
capacitada no curso de Auxiliar Administrativo e nas
áreas de recursos humanos, de costura industrial de
vestuário, manicure e pedicure e pedreiro, dentre
outras. Ao todo, foram treinadas mais de 30 000
pessoas em 2012 e 2013 por diversas entidades,
oriundas de 68 cidades do estado. Destas, o SENAI/CE
capacitou acima de 19 500 em mais de 50 cursos.
Para 2013, são 42 786 vagas no Ceará, das quais a
meta do SENAI é atender 17 500. Até agora, mais de
O Pronatec
está sintonizado com as
necessidades
econômicas que o
Brasil necessita.
Mônica Machado,
gerente da Unigeplan
34
Agosto de 2013
GIOVANNI SANTOS
C
8 500 pessoas concluíram os cursos nas escolas da
entidade este ano.
Em todo o Brasil, o sucesso do Pronatec pode
ser mensurado pelo número de matrículas. Desde
o lançamento, em 2011, até meados de julho deste
ano, são 4 milhões, sendo que quase 50% foram realizadas nos primeiros seis meses de 2013. Entre os
alunos inscritos, 55% têm de 15 a 29 anos e 66%
são mulheres. Os cursos são oferecidos nos estabelecimentos de ensino do Sistema S, nas escolas técnicas federais, vinculadas aos Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs), nos colégios
técnicos das redes estaduais e nas universidades.
Segundo a gerente da Unidade de Gestão e Planejamento do SENAI/CE, Mônica Machado, “o Pronatec
está sintonizado com as necessidades econômicas
que o Brasil necessita”. Dentre os destaque estão as
áreas de petróleo e gás, construção naval, automação industrial, eletrônica, mecânica de precisão,
petroquímica, mineração, informática, telecomunicações, portos, transportes de carga, agropecuária,
meio ambiente, etc. “O Pronatec é uma excelente
oportunidade para alunos que concluíram ou estão
concluindo o ensino médio e agora pretendem se
especializar numa dessas áreas técnicas que o Brasil
necessita para continuar crescendo. Trabalhamos
para que, ao sair do curso, eles estejam aptos a
ocupar as vagas que estão sendo criadas em todos
os setores da economia”, afirma Mônica Machado.
Sobre o papel do SENAI nesse processo de capacitação da mão de obra para incrementar a indústria
brasileira, a presidente Dilma disse, recentemente,
em seu programa semanal “Café com a Presidenta”,
que o Brasil precisa de uma indústria forte e competitiva que garanta o crescimento e a criação de oportunidades de trabalho. Nesse sentido, anunciou que o governo planeja expandir as ações do SENAI, destinando
1,5 bilhão de reais à construção de escolas e modernização e ampliação das 251 unidades existentes. “Mas,
para ter uma indústria forte, o país precisa de mão de
obra qualificada e de técnicos bem formados”, disse
ao destacar áreas como automação industrial, petróleo e gás, mineração, mecatrônica, manutenção de
aeronaves, eletrônica, indústria naval e computação,
nas quais o SENAI é referência mundial.
GIOVANNI SANTOS
No SENAI/CE
D
rem cumprindo medidas socioeducativas, pessoas cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico)
ou que recebam algum benefício do programas de renda
federais, pessoas que possuam algum tipo de deficiência,
trabalhadores, desempregados, comunidades quilombolas,
povos indígenas e praças do Exército e da Aeronáutica ou
Atiradores de Tiro de Guerra.
Os interessados em participar devem procurar os Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS) ou as secretarias
de Assistência Social de cada município para efetuar a matrícula. Em todo o Ceará, existem 373 CRAS, 23 localizados
em Fortaleza. A oferta dos cursos é gratuita e os beneficiários recebem alimentação, transporte e material escolar.
Alguns cursos oferecidos
pelo SENAI/CE (em sentido
horário, a partir da foto acima): de Redes, Eletrônica,
Salgueiro e Pedreiro
GIOVANNI SANTOS
entre os cursos oferecidos pelo SENAI/CE por
meio do Pronatec estão as formações em confecção de calçados, eletricista predial, eletricista
industrial, montador e reparador de computadores, eletricista instalador de baixa tensão, pedreiro de alvenaria,
eletricista de automóveis, torneiro mecânico, instalador
de redes de computadores, pizzaiolo, salgadeiro, modelista
e operador de corte. Além do SENAI, as capacitações no
Sistema S são realizadas no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Nacional de Aprendizagem
do Transporte (Senat). Podem se inscrever pessoas a partir
dos 16 anos de idade. A carga horária dos cursos varia de
160 a 400 horas/aula.
O Pronatec foi desenvolvido para atender a vários grupos
de pessoas, como estudantes do ensino médio nas escolas
públicas (dentre eles os que participem da Educação para
Jovens e Adultos – EJA), adolescentes e jovens que estive-
Agosto de 2013
35
JOSÉ SOBRINHO
Atividades físicas
Lazer
com
saúde
Orientado a contribuir com o
aumento da qualidade de vida
dos trabalhadores da indústria,
o SESI/CE oferece diversas
modalidades esportivas
ente e corpo sãos. A combinação é apontada por
especialistas como a chave para a qualidade de vida.
Um dos meios para se conseguir esse conjunto harmonioso é pela prática constante de atividades físicas. Os benefícios são muitos e vão desde o emagrecimento e o
combate à obesidade, à melhoria da circulação, aumento do metabolismo, fortalecimento do sistema imune, diminuição do risco de doenças cardíacas, aumento da resistência dos ossos,
melhoria do equilíbrio, aumento da disposição e do bom humor,
diminuição do estresse e depressão e melhoria da autoestima.
Em 65 anos de atuação no estado, o Serviço Social da Indústria
(SESI/CE), entidade do Sistema FIEC, propicia ao trabalhador e a
seus dependentes, como também à comunidade em geral, uma
gama de ações, traduzida em produtos, serviços e equipamentos
M
36
Agosto de 2013
diversos. É compromisso da instituição sair na frente no atendimento das necessidades do trabalhador e das empresas que veem
como estratégico promover a melhoria da qualidade de vida e
das condições de trabalho. O reflexo é bem-estar, resultando em
mais produtividade e competitividade das companhias.
Para tanto, o SESI/CE está sempre em processo de transformação e inovação, a fim de levar aos trabalhadores e à indústria
programas e projetos voltados para uma vida mais saudável. São
serviços nas áreas de saúde, educação, cultura, esporte e lazer e
responsabilidade sócio empresarial. As empresas interessadas
podem requisitar pacotes de serviços e serão atendidas por meio
de modernas ferramentas de negócios e relacionamento.
Para incentivar a atividade física e melhorar a qualidade de vida
dos trabalhadores da indústria e comunidade, na área de Lazer,
JOSÉ SOBRINHO
JOSÉ SOBRINHO
o SESI/CE promove ações específicas nas unidades
da Parangaba, Barra do Ceará, Maracanaú, Juazeiro
do Norte e Sobral (veja quadros na página 38).
Com professores capacitados e focados em
orientar a prática esportiva de acordo com a necessidade e a capacidade de cada aluno, as modalidades são desenvolvidas em modernas instalações e baseadas em avaliações periódicas. Quando
alguém começa uma atividade no SESI, o primeiro
passo é realizar uma avaliação física para conhecer
as condições gerais do aluno. Rose Nascimento,
professora de musculação, ginástica e jump na
Parangaba, ressalta o acompanhamento de cada
aluno nas academias do SESI/CE: “Temos um atendimento quase personalizado, que não vemos em
nenhuma outra academia do estado”.
Há também a possibilidade de ser promovido
um processo mais profundo, contratado pelo aluno, como explica o professor de musculação do
SESI Parangaba, Jeovah Júnior. Nele, são feitos testes do nível de sedentarismo, percentual de gordura e massa muscular, testes físicos de flexibilidade e resistência abdominal e resistência cardiovascular, dentre outros. “Diante dos resultados do teste, é montado um programa individual, baseado
nos objetivos e necessidades do aluno. A cada três
meses, uma nova avaliação é feita para acompanhar seu progresso”.
Professores
de musculação
Jeovah Júnior e
Rose Nascimento
garantem atendimento
diferenciado no
SESI Parangaba
Saltos para a saúde
uely Julião Vieira é só disposição. Costureira na indústria Guararapes, de
segunda até quinta-feira à noite está na unidade do SESI da Barra do Ceará, onde pratica ginástica e jump. “O SESI beneficia todos nós que trabalhamos na indústria e queremos uma vida mais saudável. Aqui é melhor que academia.
São várias opções de exercício, com profissionais capacitados e empenhados.” Quando Suely está no trabalho, seu filho vai ao SESI praticar natação, caratê e futsal.
Outra adepta do jump e da musculação é a professora Karla Bessa. Depois de
três filhos, conta que engordou 24 quilos e sua autoestima ficou em baixa. Para reverter tal quadro, decidiu matricular-se e dedicar-se aos exercícios. A escolha pelo
SESI se deu por causa da época em que aprendeu a nadar, ainda adolescente, no
SESI. “Aprendi a nadar aqui e guardo boas recordações da qualificação dos professores, do cuidado com os alunos. Ainda hoje, essa é a realidade e por isso continuo.”
O jump (foto abaixo), modalidade escolhida por Suely e Karla, trata-se de um investimento do SESI/CE na área de ginástica. É uma atividade aeróbica de saltos sobre
uma cama elástica individual, que trabalha o condicionamento respiratório e cardiovascular, com forte atuação dos membros inferiores com alto gasto calórico. Não é
indicado para gestantes, pessoas com problemas nas articulações ou labirintite.
S
Agosto de 2013
37
Confira as modalidades esportivas
oferecidas pelo SESI/CE
Parangaba
Disciplina e equilíbrio
Modalidade
Dias
Futsal
seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
Ginástica localizada seg. a sex.ou seg., qua. e sex.
Ginástica com jump ter. e qui.
Hidroginástica
seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
Jiu-Jitsu
seg., qua. e sex.
Judô
seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
Natação
seg,, qua e sex. ou ter. e qui.
Musculação
seg. a sex.
Voleibol
ter. e qui.
Boxe chinês
ter. e qui.
Kung Fu
seg., qua. e sex.
Informações: (85) 3421 6113
ennan Ribeiro fala do kung fu com muita propriedade. O conhecimento vem de sete anos
de prática. Desde 2006, ele se exercita na arte
milenar originária da China e nos anos de 2008 e 2009
foi ao SESI para acompanhar o professor. Em 2009,
interrompeu os treinos por conta do curso de Nutrição
e só agora voltou. No SESI, treina o estilo “shaolin do
norte”, que utiliza armas como facas, lanças e punhais.
O kung fu, criado originalmente a partir dos movimentos
dos animais, é conhecido por ser uma luta de defesa,
que ensina diversos tipos de treinamento, como a aplicação de coreografias para se livrar do toque de várias
pessoas ao mesmo tempo (“tuin ta”), desarmamento
de facas, fortalecimento do corpo contra impactos e
aumento de impacto de golpes (“chi kung”).
O treinamento é intenso, segundo Rennan, também
na parte psicológica. O trabalho é realizado pelo mestre,
como costumam chamar o professor. Além disso, é feita
avaliação periódica de lesões, da coluna e cardíaca,
além da capacidade dos movimentos. Há ainda o cuidado com a idade. “O SESI tem essa preocupação
de manter cada aluno em ótimas condições.”
R
Horários
17h
7h, 17h, 18h, 19h
6h, 17h, 18h, 19h
6h às 20h
19h, 20h30
17h, 18h, 19h às 21h
6h às 21h
6h às 11h e 14 às 21h
18h30
15h, 16h30
15h, 20h
Barra do Ceará
Dias
seg. a sex.
seg., qua. e sex.
ter. e qui.
seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
ou seg. e qua.
Voleibol
seg. e qua.
Caratê
seg., qua. e sex.
Futsal
ter. e qui.
Balé Infantil
ter. e qui.
Informações: (85) 3455 6205
JOSÉ SOBRINHO
Modalidade
Musculação
Ginástica
Jump
Natação
Horários
6h às 20h
7h às 20h
7h, 8h, 18h, 19h
7h às 19h
16h, 17h, 18h
17h30, 18h30
16h, 17h, 18h, 19h
17h
Maracanaú
Modalidade
Natação
Dias
seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
ou seg. e qua.
Hidroginástica
seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
Ginástica localizada seg., qua. e sex. ou ter. e qui.
Informações: (85) 3312 9804
Horários
De 6h às 19h30
De 6h30 às 20h30
De 6h20 às 19h30
Juazeiro do Norte
Modalidade
Musculação
Natação
Dias
seg. a sex.
seg. e qua., ter. e qui., seg.,
qua e sex.
Jump
seg., qua. e sex., ter. e qui.
Ginástica localizada ter. e qua.
Hidroginástica
seg., qua. e sex., ter e qui.
Informações: (88) 2101 8416
Horários
5h às 10h e 11h às 22h
8h, 14h 16h, 17h, 18h
17h, 19h
17h
7h, 8h, 16h, 18h
Sobral
Modalidade
Dias
Musculação
seg. a sex.
Ginástica
seg. a sex.
Futsal
dias a definir
Informações: (88) 3112 8314
38
Agosto de 2013
Horários
6h às 20h
7h, 17h, 18h, 19h
horários a definir
JOSÉ SOBRINHO
Sindcerâmica
40 anos com
setor consolidado
Crescimento se deve à
expansão da construção civil
no Ceará e no país e à melhoria
de renda da população, com
impacto direto no consumo
olume de negócios em 2012 que superou os 170 milhões de reais e 413 indústrias entre pequenas, médias
e grandes, empregando 12 000 pessoas diretamente
e 40 000 indiretamente. Números que asseguram a
consolidação de um setor que se apresenta como um dos mais
promissores do estado, mas que não se acomoda diante dos
desafios que estão postos. É nesse cenário que o Sindicato das
Indústrias de Cal e Gesso, Olaria, Ladrilhos Hidráulicos e Produtos de Cimento e Cerâmica para Construção, da Cerâmica,
de Louças de Pó de Pedra, da Porcelana, da Louça de Barro, de
V
Agosto de 2013
39
GIOVANNI SANTOS
Vidros e Cristais Ocos do Estado do Ceará
(Sindcerâmica) completa 40 anos, certo de que o
momento é propício para alçar novos voos.
Atualmente com 143 associados, o que indica
índice de 33% de representatividade, o presidente
do sindicato, Fernando Antonio Ibiapina Cunha,
diz que a meta é chegar a 200 até julho do próximo
ano, quando termina sua gestão. "Temos plenas condições de atingir esse número porque o empresário
do segmento está mais consciente da necessidade
da atuação de forma compartilhada." Segundo ele,
o que contribuiu para esse perfil foi a percepção do
setor de que teria de assumir seu papel como importante segmento econômico do estado. "O Ceará
é um dos estados do Nordeste que contam com
mais cerâmicas", completa. Conforme Fernando
Ibiapina, o empresário foi adquirindo essa percepção a partir da melhora do quadro econômico, que
favoreceu o setor.
Crescimento, conta, que se deve a fatores como
a expansão da construção civil no Ceará e no país,
que implicou diminuição do déficit habitacional.
Houve também a melhoria de renda da população,
com impacto direto no consumo de seus produtos.
"Dentro dessa concepção, deixamos de ser simplesmente o que antes se chamavam de olarias, e
nos tornamos indústria de fato." Como consequência, acrescenta Fernando Ibiapina, o Ceará possui
cerâmicas com gestão equilibrada, que adotam a
inovação e mostram preocupação com o meio ambiente. "O nosso grande desafio é a sustentabili-
Nosso grande desafio é
a sustentabilidade,
e nisso já avançamos muito. Não é
só retórica, essa
preocupação é uma
realidade.
Fernando Ibiapina,
presidente do Sindcerâmica
dade, e nisso já avançamos muito. Não é só retórica, essa preocupação é uma realidade entre os
ceramistas, porque eles a entendem como estratégica à sua própria subsistência. Já temos empresas aqui em nível de primeiro mundo nessa área."
Sobre isso, diz com orgulho que o segmento utiliza combustível oriundo de mais de 200 planos de
manejo sustentável na Superintendência Estadual
do Meio Ambiente (Semace). "Se antes éramos considerados vilões do meio ambiente, somos agora
"amigos da Caatinga". Tal fato foi alcançado com a
Predominância da cerâmica vermelha
ara a maioria dos empresários do setor cerâmico do estado do Ceará, de acordo com
o Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará
elaborado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), 90,6% têm a indústria
de cerâmica vermelha como sua principal atividade, e apenas 9,4%
desenvolvem outras atividades. Nas cerâmicas que responderam
à pesquisa, existe em torno de 11 282 colaboradores, o que
garante média de 34 postos de trabalho por empresa. Quanto
ao porte das cerâmicas do estado, a maioria (74,6%) é de
pequeno porte, 23,3% são microempresas e apenas
2,1% são de média. Com relação ao tempo de atuação
das empresas no mercado, identificou-se que existem
poucas novas: 24,7% concentram-se na faixa de até
cinco anos; 21,5% estão situados entre o período
de 5,1 a dez anos; 16,5% das empresas têm de
dez a 15 anos, seguidas do intervalo de 15 a 20
anos, com 14,2% dos estabelecimentos.
P
40
Agosto de 2013
mudança de cultura, aponta Fernando Ibiapina. "Aos
poucos, mas continuamente, fomos alcançando esse
patamar, uma vez que a lenha é o principal combustível para a fabricação de cerâmica."Em relação ao
controle de qualidade, explica que a argila é um
bem mineral que depende das misturas que acontecem na natureza. “O setor tem o desafio de fazer
a padronização da produção com qualidade.”
Presença em 93 municípios
Realizado pelo IEL, com apoio do Sindcerâmica
e do Banco do Nordeste (BNB), para marcar os 40
anos do sindicato, o Diagnóstico Socioeconômico
da Indústria da Cerâmica Vermelha revela que as
412 empresas do segmento estão distribuídas por
93 municípios. Nessa distribuição, duas áreas se destacam na produção de produtos cerâmicos: região
metropolitana de Fortaleza e Baixo Jaguaribe.
A pesquisa constatou ainda que 9,5% se concentram em áreas urbanas e 90,5% na zona rural.
Por mesorregiões, a proporção de empresas de
cerâmica em atividade é maior no Vale do
Jaguaribe, representando 35,7% do setor. Em seguida, destaca-se o Norte, com participação de
20,6%. Na sequência, vêm as mesorregiões Noroeste, metropolitana, Sul, Sertões e, em última representação, os municípios do Centro-Sul.
Esse aglomerado atualmente tem reconhecimento nacional por meio do Arranjo Produtivo
Local (APL) de Cerâmica Vermelha do Baixo
Jaguaribe, onde se concentram cerca de 147 indústrias. O APL tem basicamente três explicações sobre sua origem. A primeira se refere à sua localização sobre uma bacia de barro, área de abundância
de recursos minerais argilosos.
A disponibilidade do insumo incentivou uma tradição cerâmica que tem passado de pai para filho e,
por consequência, gerou a terceira explicação, relacionada ao espírito de cooperação que essa atividade criou nos ceramistas, provocando a união dos
empresários que, juntos, iniciaram a busca de novas
tecnologias e a formação de alianças institucionais.
A atividade cerâmica no Ceará
Em 94,8% das empresas seus colaboradores são do próprio município.
A idade média desses funcionários varia de 19 a 25 anos (67,2%).
Uma segunda faixa que varia de 38 a 43 anos está presente em 25,8%
das empresas.
A pesquisa constatou que o nível de escolaridade dos colaboradores
é baixo. A maioria das empresas afirmou que, em média, 80% dos
funcionários são alfabetizados.
O perfil do empresário do setor cerâmico é caracterizado pela
predominância dos homens, que representam 91,2%. As mulheres, 8,8%.
Em relação à idade dos empresários, 62,7% estão na faixa etária acima
de 40 anos; 9,6% têm até 29 anos e 27,3%, entre 30 e 39 anos.
Unidades costumam trabalhar em um nível médio de utilização
da capacidade instalada de 75%, o que garante produção mensal
de 207,3 milhões de peças.
Quanto às vendas do setor, verificou-se um resultado mensal de
190 milhões de peças distribuída em três grandes grupos de produtos:
tijolo em primeiro, em segundo as telhas, e as lajes valterranas em terceiro.
A força comercial do setor está no produto tijolo, atualmente
responsável por 77,3% de tudo que é vendido no estado.
Com relação aos principais compradores, 74,4% dos empresários
informaram que são tanto pessoa física como pessoa jurídica; 20,8%
apontaram com principais compradores as pessoas jurídicas e apenas
4,8% citaram a pessoa física.
No que diz respeito ao destino das vendas, 62,5% dos empresários
comercializam na própria região. Em seguida, tem-se como destino outros
municípios, item citado por 58,8% das empresas, enquanto que outros
estados do país foi apontado por 44,3% dos empresários e Fortaleza
foi citado por 33,8%.
Fonte: Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará
Número de empresas por
mesorregiões do Ceará
e sua representatividade
Agosto de 2013
41
Comércio exterior
Destino África
Livro sobre as relações comerciais entre o Brasil e o continente
africano aponta o potencial existente, os entraves ao seu
desenvolvimento e o papel do Nordeste brasileiro
posição externa do Brasil, no início do século 21, coincidiu com a evolução econômica e política de parte
importante dos 54 países da África. A maioria deles,
principalmente os localizados abaixo da linha do deserto do Saara, passou por mudanças macroeconômicas que
deram maior estabilidade política e econômica e permitiram crescimento médio anual na primeira década do século em torno de
6%, superior ao de países avançados e à própria América Latina.
Acredita-se na continuidade desse crescimento mesmo com a
crise global, que ainda perdura.
A modernidade trouxe à África o controle inflacionário, a
adoção de políticas fiscais responsáveis e de política monetária
adaptada ao mundo. Mudanças ocorridas apenas na quinta década da formação dos novos Estados africanos independentes.
“A África tardou a se adaptar, mas vem mostrando musculação
original quando comparada com as quatro décadas anteriores
de fracasso no encaminhamento do projeto de crescimento econômico sustentado e sustentável”. O trecho é do livro “As Relações Comerciais Brasil-África – O novo papel do Nordeste brasileiro”, de autoria de Altair Maia, Flávio Saraiva, Gustavo Pontes
e Nelson Bessa, lançado no final de junho na Federação das
Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).
A publicação trata das dimensões estratégicas das relações
A
42
Agosto de 2013
entre o Brasil e o continente e do lugar do Nordeste brasileiro
nesse contexto. Também discute a dimensão logística e a superação dos gargalos do comércio entre as duas regiões. É prefaciado
pelo presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, que, no
texto, indica que o livro aponta inéditas oportunidades que se
vislumbram para promover novas formas de internacionalização
de empresas da região Nordeste do Brasil. “Essa linha de argumentação coincide com movimentos empresariais e os planos
estratégicos que o Sistema FIEC está a viabilizar.”
Roberto Macêdo pede a atenção para a discreta presença do
Nordeste no que chama de brecha da internacionalização crescente e necessária da economia brasileira: “Nós, nordestinos, porém,
estamos dispostos a reverter esse diagnóstico e desejamos participar mais ativamente do projeto em curso de adensamento do
comércio internacional do Brasil na sua franja do Atlântico Sul”.
De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC),
o continente africano efetuou uma corrente de comércio acima
de um trilhão de dólares (1.498,5 trilhão) ao final de 2012. A
participação brasileira nesse número é baixa, não ultrapassando
os 3% do total. São pouco mais de 12 bilhões de dólares nas
exportações (sendo mais da metade açúcar e cereais) e pouco
mais de 15 bilhões de dólares nas importações, registrando 13
bilhões por conta do petróleo, ou 90% do total das importações.
segue firme em sua média de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) anual e forte expansão de importações. Entre 2004 e 2008, as economias dos 48 países subsaarianos cresceram em média 6,5%. Reagiram bem à crise de 2009, desacelerando o crescimento do PIB para 2,8% e voltaram a crescer 5,2%
em 2010 e 2011, com expectativa de aumentar o
crescimento nos próximos anos. “Constitui uma
GIOVANNI SANTOS
A maioria, portanto, de commodities. De 70% a
90% de todo o produto manufaturado consumido
na costa oeste africana são importados.
O Brasil, que prepara novos voos de atração de
negócios, comércio e investimento com o continente africano, afirma Roberto Macêdo no prefácio,
precisa observar a geografia, a política e a economia que aproximam a África ocidental, região que
vem apresentando forte crescimento, do Nordeste
brasileiro. A parte fundamental do estudo, na sua
avaliação, consiste na sugestão da superação de gargalos e dificuldades logísticas, de financiamento e
promoção para a ação do Nordeste na África.
Os autores oferecem o Nordeste como solução, não como problema, acredita o presidente da
FIEC. Portanto, a obra “conversa” com o “Integra
Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo”,
na linha de estudos e propostas para um novo
patamar da economia e dos negócios do Nordeste
no Brasil e no mundo.
A África Subsaariana tem crescido continuamente, segundo os relatórios mais recentes do Banco
Mundial e do FMI, desde o começo da década e
Em julho, Roberto Macêdo recebeu na FIEC o embaixador da África do Sul, Mphakama Mbete
Agosto de 2013
43
oportunidade ímpar que não podemos desperdiçar”, afirma o líder da FIEC, para acrescentar: “Os fortes vínculos humanos, étnicos e culturais brasileiros à história africana também reforçam a
motivação por projetos como esse”.
Outro ponto do livro destacado por Roberto Macêdo foi o
lugar do Brasil na conformação da paz e do desenvolvimento na
África, bem como a boa receptividade e simpatia dos africanos
pelas experiências brasileiras bem-sucedidas de crescimento com
inclusão social e a cooperação com o Brasil.
Não só a economia africana evoluiu. Houve também declínio
dos grandes ciclos belicosos em várias regiões do continente, que
contribuiu para esse novo patamar civilizatório. Do outro lado do
oceano, o Brasil demonstra a possibilidade de crescimento da economia de forma sustentável, nova forma de atuação no cenário
mundial e redução das desigualdades sociais. Esses fatores, analisam os autores, “abriram brecha inédita para o aproveitamento
das potencialidades das relações econômicas, políticas, sociais e
de cooperação com os países do outro lado do Atlântico Sul”.
As relações brasileiras com o continente africano, tratadas no
passado como uma opção de baixa preferência, vêm ganhando
apoio dos setores envolvidos, desde empresários e agentes governamentais a executivos financeiros nacionais e internacionais. “O
desafio para o Brasil vem sendo o de construir uma estratégia orgânica com prioridades visíveis para agir no continente africano”.
Quem vem aproveitando a nova dinâmica econômica e política da África é a China, cujos objetivos, segundo os escritores,
são claros: extração de matérias-primas para o parque industrial
chinês, cooperação clássica e investimento de empresas chinesas
nos projetos de desenvolvimento em países diversos, deslocamento de populações chinesas para o continente e criação de
ambiente político favorável à inserção chinesa no mundo. A Índia também marca presença, mas com projeto pragmático, em
torno de investimentos em países que muito crescem como
Uganda, Quênia, Tanzânia e Ruanda.
O ingresso da África do Sul no BRIC (passou a ser chamado
BRICS), ocorrido oficialmente em março de 2011, representa,
conforme os autores, outra razão para tornar mais fortes as
relações do Brasil não só com este país, mas com a África Subsaa-
44
Agosto de 2013
riana como um todo. Outro fator de aproximação, segundo o
livro, é a influência política e prestígio do Brasil em países de
língua oficial portuguesa.
A vez do Nordeste?
Nesse contexto, emerge o Nordeste nas relações Brasil-África, com destaque para os três estados mais robustos em suas
economias (Pernambuco, Ceará e Bahia), que se prepararam
tardiamente, afirma a publicação, para se incluir na inserção do
Brasil na África, mas podem avançar com proveito para as economias e empresas. Há ainda a oportunidade de transformação
do Nordeste brasileiro como articulador de negócios, comércio e
interação empresarial entre os dois lados do Atlântico.
A vantagem nordestina se dá em diversos aspectos, dentre eles
a cultura empresarial consolidada por meio de associações de empresários com experiência de internacionalização; crescimento
econômico acima da média brasileira nos últimos anos em três
estados; distância geográfica privilegiada; presença africana em universidades (como a Universidade da Integração Internacional da
Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab) e em foros internacionais.
Apesar desses fatores, a participação nordestina nas exportações brasileiras para a África não ultrapassa os 5%, de acordo
com os autores do livro. Essa parcela quase inexpressiva se dá
por fatores logísticos, mas também por diferenças nas estratégias de promoção comercial entre os estados. A Bahia vem declinando nas exportações para o continente (de 43,3% do total do
Nordeste, em 2000, para 9,49%, em 2010), enquanto Pernambuco
aumenta o volume (de 26,37%, em 2000, para 33,77%, em 2011) e
o Ceará alcançou apenas 10% ao final de 2010, após grande crescimento entre 2002 e 2006.
O comportamento de Pernambuco e Ceará é atribuído, na
publicação, além das políticas de promoção comercial, às mudanças políticas no Poder Executivo dos estados, modificando as
estratégias de internacionalização e desmobilizando os aparatos
institucionais voltados à promoção comercial.
A logística é um dos grandes gargalos apontados pelo livro
para a ainda tímida relação comercial entre Brasil e África. O
JOSÉ SOBRINHO
transporte de mercadorias é feito em navios contratados por viagem ou período, não havendo regularidade nas rotas ou escalas nem aceitação de outro tipo de
mercadoria que não seja aquela para a qual foi contratado. “Comercial e financeiramente, estamos muito
mais distantes da África do que China, Índia, União
Europeia ou Estados Unidos”, apontam os autores.
Ao longo dos oito anos de governo, o ex-presidente Lula visitou várias vezes o continente africano, entretanto, de acordo com os autores, não houve o sucesso esperado por erro de foco ou falta de percepção
da realidade, com melhoria apenas da relação diplomática. As exportações de commodities têm aumentado e as de produtos manufaturados diminuído. União
Europeia e China estão ganhando esse mercado. Os
principais motivos para tal substituição, mostra o livro,
são as linhas de crédito e as linhas marítimas.
Com exceção de linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
às grandes empresas de engenharia e obras públicas
no exterior, as linhas de financiamento para exportação
e importação são praticamente inexistentes entre o Brasil
e a África. Enquanto isso, Europa, Estados Unidos, China
e Japão têm linhas de crédito em abundância para a
região. Em relação às linhas marítimas, a situação é ainda
pior, de acordo com o livro: para a ponta Sul do continente, existe a rota Brasil x Ásia, passando pela ponta do
continente africano, mas para os demais países só há
uma opção: transbordo em portos europeus ou da África do Sul. A região mais prejudicada é a Costa Oeste,
onde a única alternativa é o transbordo na Europa.
Esse arrodeio gera três problemas. Primeiro, em média, o tempo máximo de transporte, caso houvesse uma
rota direta, seria de cinco a sete dias. Atualmente, leva
entre 30 e 90 dias. O segundo é quanto ao preço do frete,
calculado de acordo com a distância a ser percorrida
entre o porto de origem e o de destino. O terceiro problema se dá no custo financeiro da operação, quando o
dinheiro do importador fica retido por todo o tempo
do negócio, incluindo preparo, transporte e liberação
da mercadoria. Algumas tentativas de ligação marítima
Brasil-Costa Oeste da África foram feitas, mas nenhuma conseguiu se firmar ou funcionar de forma regular.
Os preços dos produtos brasileiros, em termos de
preço de fábrica, são competitivos com Europa, Estados Unidos e até com a China, mas quando essas três
variáveis são adicionadas não há como vencer a concorrência, avaliam os autores.
As perspectivas favoráveis de crescimento no longo prazo na África Subsaariana vêm atraindo investidores internacionais e criando condições para o desenvolvimento de mercado de capitais em países como
Nigéria, Quênia, Gana e Angola. Os principais parceiros do Brasil são África do Sul, Angola, Nigéria e Gana.
Uma proposta apontada no livro para incrementar
essas relações comerciais é unir uma mudança de rumos da política comercial do país com a reativação da
política de desenvolvimento regional, com articulação
efetiva de órgãos estaduais e federais e gestão da iniciativa privada nacional e estrangeira visando remover os
obstáculos das relações entre Brasil e África, com destaque para o potencial do Nordeste. “É de fundamental
importância e urgência a mobilização dos atores relevantes da região Nordeste, desde governos a entidades
de classe e empresas em geral”, alertam os autores.
Para eles, todos os esforços em aumentar as relações comerciais tenderão ao fracasso, se executadas
sem estratégia e acompanhamento sistêmico: “É fundamental que os atores relevantes no âmbito da região Nordeste saibam construir uma ponte segura
sobre o oceano contíguo que nos leve aos promissores
e desafiantes mercados da costa ocidental africana”.
Autores autografam
o livro na FIEC
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45
Inovações &
Descobertas
Tinta com autorreparo inibe corrosão
Cimento condutor de eletricidade
Pesquisadores brasileiros da Escola Politécnica da USP desenvolveram um
composto na forma de nanocápsulas que, quando adicionado a tintas, inibe a
corrosão nos metais pintados. O resultado é obtido por meio de um mecanismo
de autorreparo, em que as nanocápsulas se rompem quando começam a aparecer trincas na cobertura de tinta, liberando um material que repara o dano.
Segundo a professora Idalina Vieira Aoki, o material ativo é um composto de
cério e silanol, envolvido em cápsulas de poliestiren, que são adicionadas às tintas
a ser aplicadas sobre estruturas
metálicas. Uma das principais aplicações do inibidor de corrosão será
na proteção de dutos e tanques
de armazenamento de petróleo.
“Contudo, qualquer setor industrial
em que a pintura seja o método
utilizado para evitar a corrosão e
prolongar a vida útil dos equipamentos pode utilizar o inibidor encapsulado", garante a pesquisadora.
Engenheiros da Universidade de Alicante, na
Espanha, desenvolveram um cimento condutor
de eletricidade. A inovação foi obtida adicionando
nanotubos de carbono na composição do cimento
tradicional. Segundo o professor Pedro Garcés, a
tecnologia permite aquecer edifícios ou evitar a formação de gelo em infraestruturas como ruas, estradas,
pistas de pouso e outros elementos. Os testes mostraram que a adição das nanopartículas de carbono não
altera as propriedades estruturais do concreto, nem
compromete a durabilidade das estruturas construídas com ele. Além disso, a possibilidade de construir
partes dessa estrutura com capacidade de conduzir
eletricidade dá mais versatilidade ao produto.
Tecnologia pode dispensar fertilizantes
O professor/doutor Edward
Cocking, da Universidade de
Nottingham, no Reino Unido, afirma ter feito uma descoberta com
poder de mudar a forma como a
humanidade cultiva seus alimentos. Ele desenvolveu plantas que
sintetizam o nitrogênio diretamente do ar atmosférico, dispensando
o uso de fertilizantes na agricultura.
A grande maioria das plantas pre-
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cisa obter o nitrogênio a partir do
solo, o que significa que as culturas
comerciais dependem dos fertilizantes nitrogenados sintéticos.
A tecnologia, batizada de N-Fix,
permite inserir bactérias fixadoras
de nitrogênio nas células das raízes
das plantas. Conforme o pesquisador, a técnica não é nem modificação genética, nem bioengenharia,
já que usa tão somente uma
bactéria natural, que tem
a capacidade de fixar o
nitrogênio a partir do ar.
A universidade já licenciou a tecnologia para a
empresa Azotic Technologies, que vai tentar obter autorização para o uso
do N-Fix em vários países,
incluindo o Brasil.
Agosto de 2013
Roupa evita ataques de tubarões
Cientistas da University of Western Australia
e designers da Shark Attack Mitigation Systems
(SAMS) anunciaram uma novidade que pode acabar com ataques de tubarão. Utilizando-se da descoberta de que tubarões veem em preto e branco, a
tecnologia procura evitar os ataques a partir de sinais visuais ameaçadores ou que confundam os peixes. Numa das soluções, a roupa, feita de neopreno,
torna-se uma camuflagem ótica que torna impossível ao animal a distinção entre o surfista e a água.
Em outro traje, a vestimenta apresenta uma intercalação de raias brancas e azul escuro, o que dá ao
animal a sensação de perigo. Os testes foram feitos
na costa nordeste da Austrália, onde, em 2012, cinco
surfistas morreram após ataques de tubarõestigres. O resultado foi positivo para ambos os trajes.
Agosto de 2013
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MAIS QUALIDADE DE
VIDA PARA O TRABALHADOR
DA INDÚSTRIA
O SESI acredita que promover qualidade de
vida é fundamental para vivermos mais e melhor.
Por isso, as unidades do SESI disponibilizam amplo
parque esportivo para a realização de exercícios,
promovem ações de saúde e segurança no trabalho para
prevenir acidentes nas indústrias e oferecem serviços
socialmente responsáveis, sempre pensando no bem estar do
trabalhador e na competitividade das empresas.
Há 65 anos o SESI Ceará oferece qualidade de vida ao trabalhador
cearense.
www.sesi-ce.org.br
www.facebook.com/sesiceara
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www.twitter.com/sesi_ceara
Agosto de 2013
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