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Impresso fechado, pode ser aberto pela ECT Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará Ano VII No 75 AGOSTO/2013 Curso de Eletricista Industrial, na unidade do SENAI na Barra do Ceará PRONTOS PARA O MERCADO Cursos do SENAI/CE, oferecidos gratuitamente por meio do Pronatec, já prepararam cerca de 20 000 profissionais para a indústria cearense em menos de dois anos /sistemafiec @fieconline Agosto de 2013 1 2 Agosto de 2013 Publicação do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará AGOSTO 2013 | No 75 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 32 CAPA ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ LIVRO Publicação aborda as ligações entre o Brasil e o continente africano e revela o potencial da região Nordeste ○ ○ 42 ○ LAZER E SAÚDE Com o intuito de contribuir para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores da indústria, o SESI oferece várias atividades físicas ○ ○ ○ 36 ○ ○ ○ ○ ○ CEARENSE DE CORAÇÃO Nos próximos dias, o empresário Carlos Prado receberá o título de cidadão cearense, coroando uma relação que já dura 40 anos Destino África ○ 16 Em apenas dois anos, aproximadamente 20 000 pessoas já foram capacitadas para o mercado de trabalho pelo SENAI do Ceará por meio do Pronatec Atividades físicas ○ Carlos Prado Qualificação com qualidade ○ APOIO À INOVAÇÃO Instituto do SENAI desenvolverá pesquisas em tecnologias construtivas e oferecerá serviços para apoiar empresas inovadoras ○ 10 ○ Tecnologias construtivas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ POTENCIALIDADES Irrigação e pasto rotacionado revelam que é possível desenvolver a produção leiteira no Ceará com reflexos na indústria ○ ○ 40 ANOS DE CRESCIMENTO Sindicato comemora quatro décadas de fundação em meio ao crescimento do setor no estado que se apresenta cada vez mais consolidado ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 22 ○ ○ 39 ○ Produção de leite ○ ○ ○ Sindcerâmica Seções ○ Publicação do Sistema Federação das Indústrias do o Estado do Ceará Ano VII N 75 AGOSTO/2013 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PRONTOS PARA O MERCADO Cursos do SENAI/CE, oferecidos gratuitamente por meio do Pronatec, já prepararam cerca de 20 000 profissionais para a indústria cearense em menos de dois anos ○ ○ ○ 5 Notas & Fatos...................................6 Inovações & Descobertas.............46 Mensagem da Presidência................. /sistemafiec ○ DÉFICIT AUMENTARÁ Para cada pessoa com mais de 60 anos no Brasil, há 5,3 em idade economicamente ativa. Em 2050, esse índice será de 1,8 por pessoa Curso de Eletricista Industrial, na unidade do SENAI na Barra do Ceará @fieconline ○ 28 ○ ○ Previdência Social ○ Impresso fechado, pode ser aberto pela ECT Agosto de 2013 3 Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC DIRETORIA Presidente Roberto Proença de Macêdo 1º Vice-Presidente Ivan Rodrigues Bezerra Vice-Presidente Carlos Prado, Jorge Alberto Vieira Studart Gomes e Roberto Sérgio Oliveira Ferreira Diretor Administrativo Carlos Roberto Carvalho Fujita Diretor Administrativo Adjunto José Ricardo Montenegro Cavalcante Diretor Financeiro José Carlos Braide Nogueira da Gama Diretor Financeiro Adjunto Edgar Gadelha Pereira Filho Diretores Antônio Lúcio Carneiro, Fernando Antônio Ibiapina Cunha, Francisco José Lima Matos, Frederico Ricardo Costa Fernandes, Geraldo Bastos Osterno Júnior, Hélio Perdigão Vasconcelos, Hercílio Helton e Silva, Ivan José Bezerra de Menezes, José Agostinho Carneiro de Alcântara, José Alberto Costa Bessa Júnior, José Dias de Vasconcelos Filho, Lauro Martins de Oliveira Filho, Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque, Marcus Venícius Rocha Silva, Ricard Pereira Silveira e Roseane Oliveira de Medeiros CONSELHO FISCAL Titulares Francisco Hosanan Pinto de Castro, Marcos Silva Montenegro e Vanildo Lima Marcelo Suplentes Fernando Antônio de Assis Esteves, José Fernando Castelo Branco Ponte e Verônica Maria Rocha Perdigão Delegados da CNI Titulares Fernando Cirino Gurgel e Jorge Parente Frota Júnior Suplentes Roberto Proença de Macêdo e Carlos Roberto Carvalho Fujita Superintendente geral do Sistema FIEC Paulo Studart Filho. Serviço Social da Indústria – SESI CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Marcos Silva Montenegro, Alexandre Pereira Silva, Carlos Roberto Carvalho Fujita, Cláudio Sidrim Targino Suplentes Pedro Jacson Gonçalves de Figueiredo, Marcus Venicius Coutinho Rodrigues, Ricardo Nóbrega Teixeira, Vicente de Paulo Vale Mota Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes do Governo do Estado do Ceará Efetivo Denilson Albano Portácio Suplente Paulo Venício Braga de Paula Representantes da Categoria Econômica da Pesca no Estado do Ceará Efetivo Elisa Maria Gradvohl Bezerra Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes dos Trabalhadores da Indústria no Estado do Ceará Efetivo Pedro Valmir Couto Suplente Raimundo Lopes Júnior Superintendente Regional Francisco das Chagas Magalhães Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI CONSELHO REGIONAL Presidente Roberto Proença de Macêdo Delegados das Atividades Industriais Efetivos Aluísio da Silva Ramalho, Ricard Pereira Silveira, Edgar Gadelha Pereira Filho, Ricardo Pereira Sales Suplentes Luiz Eugênio Lopes Pontes, Francisco Túlio Filgueiras Colares, Paula Andréa Cavalcante da Frota, Luiz Francisco Juaçaba Esteves Representantes do Ministério da Educação Suplente Samuel Brasileiro Filho Representantes da Categoria Econômica da Pesca do Estado do Ceará Efetivo Paulo de Tarso Teófilo Gonçalves Neto Suplente Eduardo Camarço Filho Representantes do Ministério do Trabalho e Emprego Efetivo Francisco José Pontes Ibiapina Suplente Raimundo Nonato Teixeira Xavier Representantes dos Trabalhadores da Indústria do Estado do Ceará Efetivo Francisco Antônio Ferreira da Silva Suplente Antônio Fernando Chaves de Lima Diretor do Departamento Regional Fernando Ribeiro de Melo Nunes Instituto Euvaldo Lodi – IEL Diretor-presidente Roberto Proença de Macêdo Superintendente Vera Ilka Meireles Sales Instituto de Desenvolvimento Industrial – INDI Presidente Roberto Proença de Macêdo Diretor Corporativo Carlos Matos Instituto FIEC de Responsabilidade Social – FIRESO Presidente Roberto Proença de Macêdo Vice-presidente Wânia Cysne de Medeiros Dummar Coordenação e edição Luiz Carlos Cabral de Morais ([email protected]) Redação Camila Gadelha ([email protected]), Gevan Oliveira ([email protected]), Luiz Henrique Campos ([email protected] e Ana Paola Vasconcelos Campelo ([email protected]) Fotografia José Sobrinho e Giovanni Santos Diagramação Glaymerson Moises/GMS Studio Coordenação gráfica Marcograf Endereço e Redação Av. Barão de Studart, 1980 - Térreo - Fortaleza-CE - CEP 60.120-024 Telefones (85) 3421 5435 e 3421 5436 Fax (85) 3421 5437 Revista da FIEC é uma publicação mensal editada pela Assessoria de Imprensa e Relações com a Mídia (AIRM) do Sistema FIEC Gerente da AIRM Luiz Carlos Cabral de Morais Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marcograf Publicidade (85) 3421 5434 / 9187 5063 [email protected] e [email protected] Endereço eletrônico www.sfiec.org.br/publicacao/revistadafiec 4 Agosto de 2013 Mensagem da Presidência Roberto Proença de Macêdo O Nordeste e um Brasil desenvolvidos É grande a minha satisfação de ver que será realizado nos dias também crucial para que a mobilização iniciada tenha um caráter 27 a 29 de agosto, no Centro de Eventos, em Fortaleza, o Seminário permanente, evitando-se que todo o esforço se esgote na realização Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, ponto culmi- dos eventos e na elaboração de documentos. nante de mobilizações ocorridas nos últimos meses em vários estados O verdadeiro produto desse movimento é a ação conjunta resulbrasileiros. Ao observar esses primeiros frutos de tantos esforços tante de uma articulação sistemática e continuada dos agentes da despendidos, recordo-me dos nossos sentimentos de preocupação, iniciativa privada, do Estado e da sociedade, para a promoção do quando o CIC trouxe a ideia dessa iniciativa para a FIEC, pelo tama- desenvolvimento regional como parte indispensável do desenvolvinho e responsabilidade desse desafio. mento nacional. À medida que avanceNo entanto, o desejo de fazer algo efemos nesse processo, descortinando horitivo para contribuir com a correção dos zontes, aumentaremos a força que nos fará Estou convencido de que desequilíbrios regionais no desenvolvicada vez mais reconhecidos e respeitados. o Nordeste, não como um mento do nosso país superou em muito É natural que em uma região, estados todos os obstáculos que realisticamente bloco, mas como parte integrante concorram pela atração de novos investivisualizávamos. Neste aspecto, foram decimentos e pela conquista de recursos, mas do continente Brasil, utilizando sivas a disposição e a competência da equié um desperdício de oportunidade quanpe montada pelo CIC, braço político da instrumentos de cooperação do não percebem os ganhos que podenossa Federação, na conquista de apoio e supraestaduais e suprapartidários, riam resultar das convergências de intena mobilização dos mais diversos agentes resses. Se a cooperação é possível entre será uma região desenvolvida de econômicos, políticos e sociais, nas esferas nações soberanas, como no exemplo da um país desenvolvido. regional e nacional. União Europeia (EU), com seus 27 países, O entusiasmo manifestado pelos parti25 línguas oficiais e 500 milhões de pescipantes dos eventos ocorridos em todos os estados nordestinos soas, por que não seria no caso do Nordeste, com nossos nove expressou o quanto é forte a vontade de união de forças ativas do estados, uma só língua e 58 milhões de habitantes? Nordeste, para integrar a região no contexto nacional, numa persLanço mão da referência à UE, tendo em conta o seu desempepectiva de federação cooperativa, em prol do desenvolvimento equi- nho no enfrentamento da sua atual crise socioeconômica, que pôs à librado do país. Viu-se em todas as partes empresários, parlamenta- prova os seus propósitos básicos de mais eficiência, mais democrares, membros dos poderes executivos e acadêmicos propondo solu- cia, mais transparência, mais união e mais segurança. Diferenças à ções para problemas, estratégias para aproveitamento de oportuni- parte, estou convencido de que o Nordeste, não como um bloco, dades e alternativas para o desenvolvimento integrado. mas como parte integrante do continente Brasil, utilizando instruA ação do setor produtivo como motor econômico do país e da mentos de cooperação supraestaduais e suprapartidários, será uma região é indispensável para a superação de tendências isolacionistas região desenvolvida de um país desenvolvido. e dispersivas, tradicionalmente retardadoras do progresso. Ela é O sucesso do Integra Brasil depende de cada um e de todos nós! Agosto de 2013 5 RELAÇÕES INTERNACIONAIS INOVAÇÃO INSCRIÇÕES ATÉ 30 DE SETEMBRO FIEC estreita relações com Israel PROGRAMA DO IEL RECEBE ADESÃO DE EMPRESAS O PRESIDENTE da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, recebeu em 8 de agosto a visita do cônsul de Israel para Assuntos Econômicos, Roy Nir, que estava acompanhado da consultora para o Nordeste do Consulado de Israel, Sheila Sztutman. Na oportunidade, Roberto Macêdo falou ao cônsul sobre o Projeto Universidade-Empresa (Uniempre), realizado pela FIEC, por meio do INDI, com o objetivo de fazer uma aproximação entre o setor produtivo e a academia. Israel é o primeiro no ranking mundial no relacionamento entre indústria e academia. Também no âmbito do Uniempre, no dia 13, estudantes de mestrado de pós-graduação do Mestrado em Administração da Universidade de Ben-Gurion, de Israel, estiveram na FIEC (foto) para apresentar suas atividades em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Eles passaram uma semana na capital cearense em intercâmbio na Universidade de Fortaleza (Unifor). O PROGRAMA de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE) Trainee para Inovação, uma parceria entre o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) nacional e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), recebe adesão de empresas interessadas em promover pesquisa e desenvolvimento e inovação. O RHAE desenvolverá ações nesse sentido no setor privado. Mil bolsas de estudo serão ofertadas para graduandos, graduados ou mestrandos em todo o Brasil. As empresas selecionadas entram como parceiras do programa pelo período de 14 meses. A ideia é dar suporte àquelas que realizam projetos de inovação e pesquisa e desenvolvimento, a partir da inserção de profissionais qualificados na modalidade trainee – estudantes do último ano da graduação e profissionais egressos da academia, com até três anos de conclusão. O SENAI E O SESI recebem até 30 de setembro inscrições de projetos de inovação de empresas de todo o Brasil para o Edital SENAI SESI de Inovação 2013. Serão destinados, no total, 30,5 milhões de reais aos projetos selecionados. Trata-se de iniciativa que visa atender a empresas que valorizam o poder transformador de boas ideias, oferecendo apoio à promoção de pesquisa, desenvolvimento de processos e produtos e tecnologias sociais. Para projetos desenvolvidos em parceria com o SENAI, o valor é de 20 milhões de reais; para parcerias com o SESI, o valor é de 7,5 milhões de reais e outros 3 milhões de reais em bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Pode concorrer toda e qualquer empresa do setor industrial – inclusive microempresa, empresa de pequeno porte (EPP) e empresas incubadas (startups). Informações: (85) 3421 5945 / www.editaldeinovacao.com.br. GIOVANNI SANTOS EDITAL MEIO AMBIENTE SINDIVERDE DISCUTE POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS AS NORMAS para a realização da logística reversa de óleos lubrificantes foi o tema do "Encontro Técnico sobre Logística Reversa de Óleos Lubrificantes”, no dia 1o de agosto, na sede da FIEC. O evento, promovido pelo Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais (Sindirrefino), com o apoio do Sindicato das Indústrias Recicladoras do Ceará (Sindiverde) e outras entidades, 6 Agosto de 2013 promoveu discussão sobre as exigências da Lei nº 12 305/2010, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, e a Resolução do Conama 362/2005. Na abertura do evento, o presidente do Sindiverde, Marcos Albuquerque, destacou que, além da logística reversa, a implantação da coleta seletiva até agosto de 2014 e de aterros sanitários controlados é a demanda mais urgente relacionada a essa lei nacional. PALESTRA QUALIDADE DE VIDA O SESI e a organização internacional Brahma Kumaris promoveram no dia 21 de agosto, na FIEC, a palestra “Qualidade de vida e visão positiva sobre o mundo”. O evento foi ministrado pela filósofa inglesa Denise Lawrence, bacharel em Filosofia e Línguas Modernas pela Universidade de Kent. Lawrence trabalhou para a BBC e Canadian Broadcasting Corporation em Londres nos anos 1970 e, desde então, associou-se à Brahma Kumaris. Coproduziu e dirigiu cem programas de TV sobre vícios e documentários sobre valores e espiritualidade. Com experiência em meditação Raja Yoga, ensinou a técnica para viciados em narcóticos do sistema prisional em Los Angeles entre 1984 e 1996. Hoje é conselheira de assuntos acadêmicos para a Brahma Kumaris Educacional Socity, na Índia. Brahma Kumaris é uma organização sem fins lucrativos que trabalha mudanças positivas em todos os setores da sociedade. COMÉRCIO EXTERIOR CURTAS Reunião na FIEC discute gargalos às exportações cearenses A COMISSÃO de Comércio Exterior do Ceará (CCE), fórum que congrega entidades da área de mercado internacional do estado, vai elaborar um plano de ação a ser encaminhado ao governo e instituições ligadas ao setor. Representantes da CCE, da FIEC e do governo do estado estiveram reunidos no dia 1o de agosto na FIEC para discutir as dificuldades e as possíveis medidas para saná-las. Na ocasião, a CCE apresentou um documento em que lista gargalos em três aspectos: logística, estratégica e em relação aos órgãos intervenientes. Dentre os problemas, está a ausência de promoção comercial estruturada dos produtos cearenses, no que é sugerida a implantação de uma política para o comércio exterior, com gestor e órgão responsável pela promoção comercial do Ceará. No âmbito das empresas, um ponto seria a criação e divulgação de um programa de estímulo à exportação, envolvendo órgãos governamentais. AGENDA DOS DIAS 2 a 4 de outubro, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza, será realizado o 85º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), uma iniciativa da CBIC com realização do Sinduscon/CE. Esta é a quarta vez que a capital alencarina recebe o evento, já tendo realizado o maior acontecimento da construção civil da América Latina em 1983, 1992 e 2001. A edição traz como lema “O futuro que vamos construir juntos” e reunirá os principais “players” do setor: autoridades, empresários, técnicos, agentes financeiros e políticos, somando mais de 1 500 participantes. Com o objetivo de buscar soluções inovadoras por meio de debates, discussões e trocas de experiências, serão abordados temas ligados às comissões de relações trabalhistas, imobiliária, obras públicas, privatizações e concessões, materiais, tecnologia, qualidade e produtividade, meio ambiente, ação social e cidadania, dentre outros. Uma das novidades para esta edição é a participação de estudantes universitários na programação. Inscrições: www.enic.org.br. A UNIDADE do SESI na Barra do Ceará inaugurou no dia 12 de agosto o Espaço de SST – Saúde e Segurança do Trabalho no Núcleo de Atendimento às Empresas. O local atende de forma personalizada as empresas cadastradas na base nacional do SESI. O setor oferece serviços nas áreas ocupacionais, consultas de enfermagem, orientações individualizadas, exames e laboratório, dentre outros. Segundo o superintendente do SESI, Francisco das Chagas Magalhães, o espaço é um grande ganho para a entidade, pois a instituição poderá atender a indústria nacional com serviços em saúde mais complexos. Os serviços contemplam também ginástica laboral e atividades de lazer. A FIEC, por meio do CIN/CE e do SENAI/CE, realizará entre os dias 16 e 24 de setembro o “Circuito Moda Londres 2013 – Missão de capacitação e pesquisa em moda”. Os participantes visitarão lojas de referência em moda, shoppings, ruas e bairros com tradição no setor na cidade de Londres, além de participar de curso na Central Saint Martins. A visita será guiada por consultora de moda do SENAI e um especialista em negócios internacionais do CIN. Serão realizadas ainda capacitações antes da viagem e após. Agosto de 2013 7 8 Agosto de 2013 Agosto de 2013 9 SENAI/CE Inovação e tecnologia Instituto do SENAI/CE será voltado para o desenvolvimento de pesquisas aplicadas em tecnologias construtivas. Além dessa estrutura, entidade dispõe de serviços para apoiar empresas interessadas em inovar CAMILA GADELHA esquisa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) revelou que, das 40 maiores empresas industriais, 58% delas consideram a inovação como um fator decisivo para a competitividade e 42% consideram como relevante. Diante de tal constatação, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) se lança no desafio de investir em pesquisa no país, desenvolvimento e inovação (PD&I) por meio de institutos de pesquisa nos moldes de insti- P 10 Agosto de 2013 tuições mundialmente renomadas. No âmbito do programa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de apoio à competitividade da indústria brasileira, o SENAI está criando 23 institutos de inovação em áreas distintas do conhecimento, localizados em vários estados brasileiros. Para essa finalidade, foram contratadas as melhores instituições mundiais de PD&I – o Instituto Fraunhofer (Alemanha) e o MIT (EUA) –, que darão apoio na implementação e monitoramento do desempenho dos Institutos SENAI de Inovação (ISIs). No SENAI/CE, entidade do Sistema FIEC, será instalado o ISI em JOSÉ SOBRINHO Tecnologias Construtivas (ISI-TC), que atenderá a todo o país em quaisquer áreas da construção civil, desde o que se convencionou chamar de construção pesada, como barragens, túneis e estradas, até as construções e reformas prediais. Para gerir o processo de instalação do ISI-TC e o instituto quando em operação, foi escolhido um especialista no assunto: o professor e consultor Antônio Miranda, engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Geotecnia na PUC do Rio de Janeiro e doutorado em Engenharia Civil na Universidade do Colorado, Estados Unidos. Miranda atingiu o nível acadêmico mais alto como professor da UFC, chegando a titular, e exerceu todas as funções da administração acadêmica, desde coordenação de cursos de graduação e de pós-graduação a diretorias de centro de tecnologia e de campus. Aliando a prática acadêmica à empresarial, o engenheiro criou duas empresas: Geonorte e Construtora Santo Amaro. Foi ainda subsecretário de Recursos Hídricos do governo do estado, no primeiro mandato do ex-governador Tasso Jereissati, e diretor de Tecnologia e Desenvolvimento da Cagece. Atua na elaboração do Plano de Negócios do ISI-TC para apresentação, até outubro, ao Estamos pensando em focar o ISI-CE em duas áreas: gestão da construção, dentro da filosofia Lean Construction, e prédios ambientalmente sustentáveis. Antônio Miranda, gestor do futuro ISI-TC Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que concedeu empréstimo de 40 milhões de reais para sua implantação. Também está em fase de elaboração do planejamento geral do instituto, com definições de linhas de ação e atuação de pesquisadores, dentre outros pontos. Foco na construção civil egundo Antônio Miranda, é provável que seja construído no Ceará um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, que poderá ser em Maracanaú ou no Campus do Pici da UFC. Existe também a possibilidade de utilização das duas instalações. O terreno de Maracanaú está garantido e o prédio no bairro Planalto do Pici está sendo negociado com a universidade e com o governo do estado. Conforme os encaminhamentos iniciais, esse centro de pesquisa atuará em duas linhas, explica Miranda, que acredita ser impossível abranger todo o setor com as pesquisas do centro. “Seria impossível isso, porque vai de túneis, barragens, portos, aeroportos, até casas. Dentro de uma casa há vários itens. Não dá para o ISI montar um centro de pesquisa para estudar tudo. Estamos pensando em focar em duas áreas. Uma é a área de gestão da construção, dentro da filosofia Lean Construction (Construção Enxuta), e a outra é a de prédios ambientalmente sustentáveis”, diz o professor. Ele observa que o Lean Construction, desenvolvido na Europa e Estados Unidos, é uma área forte no Ceará, com reconhecido pioneirismo e desenvolvimento no Brasil. S A outra área que está sendo pensada como objetivo do ISI-TC é a de prédios sustentáveis, ou prédios inteligentes, que não observam apenas a questão ambiental, mas uma melhoria de processos e materiais e maior eficiência. “Essas estruturas, de modo geral, desde os processos construtivos, evitam o gasto excessivo de materiais, diminuem a produção de resíduos e reciclam o máximo de resíduos produzidos. E são muitas outras as características positivas”, afirma Miranda. O diferencial do instituto seria o desenvolvimento de processos construtivos e habitações com essas características ambientalmente sustentáveis e inteligentes nas questões da qualidade, dos processos usados, da tecnologia aplicada, do controle da temperatura e de energia, etc. Focado para atuar nas empresas que queiram inovar, o ISI-TC funcionará também como uma ponte entre a indústria e a universidade, quanto às demandas em todos os demais setores da construção não contemplados pelo centro de pesquisa. Serão feitas parcerias com outras instituições (universidades e institutos) brasileiras e estrangeiras. Na avaliação do professor, a indústria e a universidade estão muito próximas, mas não há uma boa relação devido ao Agosto de 2013 11 tempo de trabalho de cada ambiente e ao desconhecimento das necessidades. “A unidade de tempo da universidade é um semestre e esse tempo não atende à necessidade da empresa. Por outro lado, a empresa não sabe bem o que quer, precisa de auxílio para entender a necessidade e levar para a pesquisa. Vamos fazer essa ponte.” A partir da identificação de uma necessidade de avanço tecnológico de produto em determinado setor, o ISI-TC identificará uma universidade brasileira ou instituto brasileiro ou estrangeiro, ou até mesmo um professor que atue naquela área, para elaboração de projeto de pesquisa que atenda à necessidade da indústria. Ao mesmo tempo, irá supervisionar o projeto dentro da universidade, para evitar perca de prazos e manter o foco na necessidade. Diferente da pesquisa acadêmica clássica, em que o ritmo é naturalmente mais lento porque o professor busca o conhecimento pelo conhecimento, a indústria necessita do conhecimento para aplicar. O instituto, então, terá de compreender essas duas culturas diferentes e proporcionar conexão entre elas. A ideia é que o ISI em Tecnologias Construtivas gere receita de três formas: projetos negociados com indústrias, venda de uso de direito da patente de pesquisas e por meio de aprovação de projetos em editais de fomento à inovação. Para isso, além do apoio na elaboração do plano de negócios, o Instituto Fraunhofer está servindo como exemplo quanto ao formato, estrutura e serviços. Nos últimos 60 anos, a Fraunhofer-Gesellschaft, sociedade criadora dos institutos, cresceu e tornou-se uma das mais importantes organizações de pesquisa aplicada da Alemanha, e a maior da Europa. Suas atividades também ultrapassam as fronteiras europeias. Trabalham em parceria com diversos institutos de pesquisa em todo o mundo para criar soluções 12 Agosto de 2013 inovadoras a companhias industriais e a empresas de serviços e do setor público. Com 80 unidades em todo o mundo, a Fraunhofer é uma das maiores instituições de pesquisa – na Alemanha são 60 institutos. Além de suas atividades na Europa, a Fraunhofer-Gesellschaft opera nos Estados Unidos, na Ásia, no Oriente Médio e na América Latina. Antônio Miranda participou de treinamento de uma semana no instituto e visitou duas unidades em Munique e Kassel, especializadas em energia e construção civil. “Fomos para ver como funcionavam, quais laboratórios usam, quais avanços tecnológicos têm para que possamos aplicar o mesmo modelo adequando à nossa realidade e vendo quais avanços tecnológicos poderemos usar aqui.” O setor que coube ao Ceará – construção civil – tem uma característica interessante, explica Miranda. Diferente da indústria clássica, em que uma empresa desenvolve um produto, se fecha dentro do seu negócio, desenvolve inovações e coloca o produto no mercado, na construção civil os avanços acontecem de forma geral. “O nosso cliente não aceita modificações pontuais. Quando todas as empresas mudam, ele aceita”. Miranda cita o exemplo do número de andares dos prédios residenciais, que era de três, depois passou para oito, indo para 12, 15 andares e 22, a mais recente tendência. “Diante dessa realidade, muito provavelmente trabalharemos com associações de empresas.” O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon/CE), entidade ligada à FIEC, e a Cooperativa da Construção Civil do Ceará (Coopercon/CE) são as organizações de classe que reúnem as empresas do setor no Ceará. A expectativa é que o ISI-TC trabalhe junto dessas entidades no Ceará e também no resto do Brasil. “Essa é a estratégia para atingir as empresas do segmento, grandes, médias e pequenas, mas que não impede que se façam trabalhos individuais para empresas de grande porte”, afirma Miranda. Iniciando a captação de demandas de empresas do setor, de todos os portes, foi realizado no início de abril, em Fortaleza, o “Painel de Especialistas”, com a presença de professores universitários, pesquisadores e empresários. No mesmo formato, o SENAI/CE realizou em 15 de julho, na sede de São Paulo da CNI, o workshop “Identificação de Demandas por Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em Construção Civil”. Com o apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o evento contou com a participação das maiores e mais importantes empresas de diversos segmentos da construção civil para contribuir com o direcionamento estratégico do ISI-TC, que pretende ser um marco na exploração da pesquisa aplicada como forma de incrementar a competitividade da indústria brasileira. Empresas como Petrobras, Queiroz Galvão, Construtoras OAS, Sarquis Engenharia e San Remo, dentre outras, participaram do evento. Na oportunidade, foram discutidas as tendências e demandas de pesquisa e desenvolvimento de inovações para cada segmento das tecnologias construtivas, que contribuirão para a definição de áreas específicas de PD&I a ser executadas pelo ISI-TC. GIOVANNI SANTOS Raio X da inovação ambém parte desse esforço de discutir e levantar as demandas dos setores quanto à necessidade de inovação, o SENAI/CE, por meio da Unidade de Inovação e Tecnologia (Unitec), realizou pesquisa para dimensionar a demanda existente em serviços técnicos e tecnológicos entre as empresas da indústria cearense. A execução ficou a cargo do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), entidade que também compõe o Sistema FIEC. O objetivo foi identificar a caracterização das empresas no que se refere ao porte das mesmas, seus produtos e destinos; a situação das empresas no que diz respeito a P&DI; as fontes de aquisição de conhecimento e avanço em inovação; as barreiras à inovação; a inovação de produtos e processos; os projetos em inovação; a utilização de instrumentos de financiamento, capitalização e subvenção econômica e de instituições oficiais de pesquisa e desenvolvimento do país; a demanda por serviços de consultorias em áreas transversais como processo produtivo, qualidade, meio ambiente, energia, automação, segurança do trabalho, logística e tecnologia da informação e design para os setores têxtil, vestuário, calçados e mobiliário; a demanda por serviços em áreas específicas de alimentos, metal-mecânico, papel e papelão, couro e calçados, têxtil e vestuário e construção civil. A pesquisa foi feita com 335 indústrias em 15 municípios cearenses mediante a aplicação de um questionário. T Laboratório de Tintas, localizado no SENAI Antônio Urbano de Almeida, no bairro Jacarecanga A partir das respostas, o SENAI está subsidiando na tomada de decisão, melhoria e/ou implantação de novos serviços técnicos e tecnológicos e com informações para melhor performance do ISI-TC e do Instituto SENAI de Tecnologia (IST), com atuação na área metal-mecânica, atualmente em construção no município de Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza. Trata-se de um dos 38 ISTs que o SENAI vai implantar em todo o Brasil até 2014. A unidade será um provedor de soluções para o desenvolvimento e a melhoria de produtos e processos de fabricação e produção à indústria metal-mercânica, facilitando o aumento da produtividade e da competitividade. O estudo do SENAI/Unitec verificou que muitas empresas não estão sintonizadas no que se refere às instituições de financiamento e de pesquisa, visto que a utilização de instrumentos de financiamento é menos percebida. A utilização de instituições oficiais de pesquisa também é pouco citada pelas empresas. Dentre outras percepções identificadas, vale destacar que 39,1% não possuem espaço físico voltado para tal vertente. A introdução de novos produtos e processos foi citada por pelo menos 60% das empresas, sendo a maioria uma novidade local, mas existente nacionalmente. O envio de projetos para agências de fomento durante os últimos dois anos foi confirmado por 30,7% das empresas e, destes, 84,5% foram aprovados. Agosto de 2013 13 Estrutura atende mercado s avanços tecnológicos e as novas formas de organização do trabalho geram mudanças em diversas áreas e exigem do SENAI uma atuação cada vez mais voltada para as necessidades do mercado. De olho nessas necessidades, a entidade no Ceará está intensificando a oferta de serviços técnicos e tecnológicos nas várias áreas de atuação industrial, com o objetivo de contribuir para o aumento crescente da competitividade da indústria. Firmando-se no estado como a maior rede privada de educação profissional e de serviços tecnológicos, o SENAI/CE inaugurou no primeiro trimestre um novo escritório de projetos com serviços de negociação e seleção de propostas de O desafio é grande, mas nosso objetivo é trazer o máximo de recursos para fomentar a inovação no Ceará. Alysson Amorim, gerente da Unitec 14 Agosto de 2013 JOSÉ SOBRINHO O projetos, elaboração de projetos e planos de negócios, acompanhamento de projetos aprovados, preparação da prestação de contas e relatório final e assessoria em propriedade intelectual e contratos de transferência de tecnologias. De acordo com o gerente de Inovação e Tecnologia do SENAI/CE, Alysson Amorim, o escritório acompanha as três fases de um edital de fomento à inovação, tecnologia e desenvolvimento: planejamento, execução e pós-projeto. “O desafio é grande, mas nosso objetivo é trazer o máximo de recursos para fomentar a inovação no Ceará.” Também na área de serviços técnicos e tecnológicos, além desse escritório, o SENAI cearense oferece consultorias em diversos setores e serviços metrológicos e operacionais. Estão disponíveis também laboratórios credenciados e acreditados de controle de qualidade, laboratório móvel, laboratório de desenvolvimento de produtos, núcleo de desenvolvimento de máquinas, dispositivos e ensaios. Com a assessoria do Escritório de Projetos do SENAI/CE, a empresa GF Consultoria e Representação Ltda. teve projeto, que foi submetido ao Edital nº 06/2013 – Pappe Integração, aprovado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A empresa é uma das 12 que receberam recomendação para a contratação dos projetos. O agora submetido consiste no desenvolvimento de novos insumos minerais para indústrias cerâmicas e vidreiras com aproveitamento integral e sustentável de pegmatitos. O valor do projeto é de 399 813 de reais. A GF Consultoria e Representação Ltda. é sediada em Fortaleza e realiza estudos geológicos e de prospecção; estudos geofísicos, sismográficos e outros; pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica em geologia, mineração e transformação mineral. Desde o fim de 2011, faz pesquisa mineral para o desenvolvimento de novos processos e produtos minerais que propiciem qualidade, produtividade e competitividade. Agosto de 2013 15 Carlos Prado 40 anos de relação com o Ceará Por proposição do deputado estadual Tin Gomes (PHS), o empresário receberá nos próximos dias o título de cidadão cearense 16 Agosto de 2013 ano de 2013 é particularmente importante para o empresário e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Carlos Prado, hoje um dos maiores empresários do ramo do agronegócio brasileiro. Nascido em Marília, a 450 quilômetros de São Paulo, em fevereiro de 1941, o terceiro dos sete filhos do agricultor João Horta do Prado e de Lupérsia Bernandes Prado comemora os 40 anos de sua presença no Ceará quando aqui fundou, em 13 de agosto de 1973, a Cemag – Ceará Máquinas O GIOVANNI SANTOS Agrícolas Ltda., primeiro passo de uma trajetória que o tornou cearense de coração. Na esteira dessa relação, surge em 1983 a Itaueira Agropecuária S/A, segunda maior produtora de melão do Brasil. No ano em que celebra as datas fechadas de fundação das duas empresas instaladas no Ceará, um fato marcará definitivamente a ligação de Carlos Prado com o nosso estado. Por proposição do deputado estadual Tin Gomes (PHS), ele receberá nos próximos dias o título de cidadão cearense. "Recebo com honra muito grande. Quando você nasce em uma região, isso independe de sua vontade. Mas quando escolhe onde vai viver é diferente. E se você pegar 72 anos da minha vida e tirar 40, sobram 32. Então, 40 anos de vida adulta eu passei aqui. E só 11 anos após completar 21 anos (maioridade) é que eu passei fora do Ceará. Toda uma vida passada aqui. E um título como este não se pede, alguém viu alguma coisa." Com seis filhos e 13 netos, Carlos Prado brinca e diz que está "quase desempregado pelos filhos" na condução das empresas. Isso não quer dizer, no entanto, que pense em se aposentar. Para quem colocou como meta chegar aos 130 anos, nada é impossível, principalmente a partir do seu histórico pessoal marcado pelo interesse constante pelo empreendedorismo. Para que o leitor entenda um pouco mais essa inquietação, é preciso voltar no tempo e conhecer as raízes de Carlos Prado a partir de sua infância. "Minha família vivenciou momentos de altos e baixos períodos, com meu pai tendo incursões na agricultura e no comércio." A inquietação, percebe-se logo, foi herdada do pai João Horta do Prado, que por necessidade, aliada ao perfil meio nômade, não gostava de ficar parado, e estava sempre em busca de melhores condições de trabalho. Foi assim que aos sete anos Carlos Prado, já em Rolândia (PR), teve a primeira experiência de trabalho. Não porque o pai quisesse. "Eu pedia dinheiro e ele não me dava. Então, fui trabalhar." Começa aí uma história interessante. É que, em frente da casa onde a família morava, havia uma loja de móveis. Carlos Prado se ofereceu para trabalhar, mas o dono não quis lhe dar emprego porque ele era muito criança. "Ficava então rodando a loja diariamente e, de vez em quando, o dono mandava eu fazer uma coisinha ou outra. Ao final de três meses, perguntou o que eu estava precisando, e comprou para mim um par de sapatos. Dada a minha insistência, acabou me aceitando na loja, mesmo sem eu saber fazer nada. Com o tempo, fui aprendendo", conta. De Rolândia, a família se transferiu para Presidente Prudente e depois para Assis, municípios do interior de São Paulo. Em todos, Carlos Prado nunca se aquietava. Na primeira cidade, por exemplo, arranjou emprego de bói no colégio de freiras onde as irmãs mais velhas estudavam. A vontade de trabalhar, no entanto, nunca impediu o estudo. Em Assis, onde o pai se estabeleceu em um comércio de roupas, chegou a trabalhar varrendo um escritório de contabilidade. Com o tempo, aprendeu a lidar com o assunto e exerceu a atividade por um determinado período. Ficou em Assis até os 24 anos. Já tinha concluído o aprendizado em contabilidade e abriu um escritório de reorganização de empresas. Só que, no escritório, seu tempo era parcial, porque na época passou em concurso para o Banco do Brasil (BB). Antes do banco, tinha trabalhado na Secretaria de Agricultura de São Paulo. "Eram três atividades: BB, escritório e estudo." A passagem bancária ocorreu na mesma época em que se casa e tem o primeiro filho. "Meu sogro achou que a filha estava com o futuro garantido por ter se casado com um bancário, e logo do Banco do Brasil. Mas dois anos depois eu sai. Acho que foi uma decepção para ele." Carlos Prado reconhece que poderia ter parado por ali. Mas o que o levou a arriscar tanto?: "As oportunidades vão surgindo, e se você começa a empreender alguma coisa em sua vida o caminho se torna mais fácil". A iniciativa privada O desligamento do Banco do Brasil, porém, não foi em vão. Enquanto estava por lá, passou em concurso para agente fiscal do Ministério da Fazenda. Por ironia do destino, as opções de transferência eram para Fortaleza, Belém ou Manaus. "Quando olhei no mapa, tive receio e acabei desistindo de uma carreira muito boa naquele tempo." Foi quando se formou em Economia e passou a desenvolver atividades autônomas. "Prestando serviços como economista, deixei definitivamente o serviço público e passei à iniciativa privada." Um dos grupos econômicos para os quais prestava serviço atuava em várias atividades, e um dos trabalhos que realizou foi na produção de sementes de girassol. "O meu primeiro contato com a agricultura foi na atividade da Secretaria de São Paulo, e com meu pai, naturalmente. Mas nessa fazenda que produzia girassol houve envolvimento mais direto, já que existiam plantações de café, algodão, amendoim, girassol, etc. Tive de aprender, porque eram deficitárias e era necessário torná-las lucrativas." A ligação com a agricultura e o espírito empreendedor voltaram a falar mais alto quando, na década de Agosto de 2013 17 1970, funda uma empresa de importação de máquinas agrícolas argentinas, começando a relação com o Ceará. "Com essas máquinas, introduzi a colheita mecanizada de amendoim no Brasil. Na Argentina, o terreno é plano, mas no interior de São Paulo é ondulado. Então, as máquinas argentinas tiveram de ser adaptadas ao nosso terreno. Acompanhei todo esse processo." Oportunidade no Governo César Cals O Ceará entra nessa história, como gosta de dizer Carlos Prado, por meio do surgimento das oportunidades: "Nós tínhamos as máquinas para a colheita de amendoim. Importadas, mas já adaptadas às condições brasileiras. O governador do estado, César Cals, iniciou um projeto de grandes plantios de cajueiro. Os técnicos descobriram que, enquanto a árvore crescia, era possível plantar outras culturas no meio, ajudando na renda do produtor. Foram feitos alguns testes e o amendoim foi a cultura que se adaptou melhor”. Segundo o empresário, foram plantados, em 1973, 6 000 hectares de amendoim consorciado com cajueiros. “Quando chegou na hora de colher, as máquinas compradas não funcionaram, pois não eram apropriadas. Ao procurar uma solução, as empresas proprietárias dos cajueiros entraram em contato com a Secretaria de Agricultura de São Paulo, que nos indicou". 18 Agosto de 2013 Carlos Prado diz que seu primeiro contato telefônico no Ceará foi com o então secretário de agricultura, José Valdir Pessoa. "Comecei a ficar por dentro do problema e consciente de ter a solução. Quando terminamos a conversa, combinei uma viagem para o estado. Nunca tinha vindo ao Nordeste. Cheguei na madrugada do dia 1o de julho de 1973 e, no mesmo dia, já fui ao campo.” Ele relata: “O quadro era difícil. Só que as pessoas não queriam adquirir máquinas, porque já tinham comprado e não dera certo. Então, o governo me perguntou o que poderia ser feito para resolver. Eu disse: mando uma máquina para cá, vocês pagam o frete; depois mando os técnicos para colocar a máquina para funcionar. Se ela resolver o problema, me proponho a alugar. Só que se eu alugo, não vendo mais." Com o sucesso da empreitada, recebeu uma proposta do governador César Cals: "Ele queria aumentar o plantio de caju, e sabia que estávamos com o projeto de montar uma fábrica dessas máquinas em Presidente Prudente. Fez a proposta de trazermos a empresa para o Ceará. Fui pego de surpresa, porque estava tudo quase fechado em São Paulo. Pedi ao César Cals condições melhores. Quando terminou a conversa, o governador pegou o telefone e foi logo tomando as primeiras providências. Saí do encontro e liguei para a minha mulher, a fim de saber se ela gostaria de viver aqui. Veio e gostou". Produzindo melão A história da Itaueira começa com a cajucultura. De início, era um projeto pecuário de 10 000 hectares. "Nós chamamos para trabalhar conosco um agrônomo italiano que estava no Brasil há dez anos. Ele chegou no Ceará pelas mãos do saudoso Edson Queiroz. Veio e fez uma visita às suas fazendas. Quando já estava morando quase em definitivo, e em vias de trazer a mulher, aconteceu um acidente de avião, no AGÊNCIA BRASIL No dia 13 de agosto, a Cemag estava constituída. Em janeiro de 1974, a primeira máquina recolhedora de amendoim, fabricada no Ceará, já realizava colheita em São Paulo. No ano seguinte, com agrônomos cearenses, Carlos Prado criou a Planagro – Planejamento Agropecuário Ltda., que plantou 2 000 hectares de amendoim, nos cajueirais da Maisa, em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em 1975, dá início às atividades da Nagroar – Nordeste Aviação Agrícola, baseada em Fortaleza, que, com aviões agrícolas Ipanema, da Embraer, fazia pulverizações experimentais nos cajueirais em convênio com o Ministério da Agricultura, e ainda nos canaviais de Pernambuco e Alagoas e, em seguida, nos plantios de grãos do Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Em 1976, começa a mecanização da colheita do feijão mulatinho, no Brasil, utilizando a mesma recolhedora de amendoim, então em fabricação e devidamente adaptada. Trabalho iniciado em parceria com o Centro Nacional do Arroz e Feijão, da Embrapa, em Goiás. Em 1977, inicia os trabalhos de desenvolvimento dos equipamentos para colheita de mandioca, destinada ao Programa Nacional do Álcool de Mandioca. Projeto frustrado, pois o governo federal o abandonou antes de sua conclusão. No mesmo ano, de forma pioneira, realiza as primeiras exportações de máquinas agrícolas fabricadas no Nordeste, enviadas para a África. Em 1981, adquire a linha de fabricação de rotavatores, roçadeiras, perfuradores de solo, capinadeiras mecânicas, da Howard Machinery, UK, que é transferida para a Cemag, em Fortaleza. Atuação institucional á o momento de dar e o momento de receber. Você, de alguma forma, tem de devolver à sociedade aquilo que recebeu. Este é um ponto. O segundo é que o homem é um ser gregário. Necessita se relacionar no meio em que atua. Agora, em relação ao institucional, todos precisamos contribuir de alguma forma. É quase uma obrigação de quem está em uma atividade de empreendimento." A afirmação de Carlos Prado justifica a sua intensa atuação institucional, com a participação em vários fóruns (veja quadro na página 20). "Gosto da atividade, mas agora está demais", diz. Atualmente, além de vice-presidente da FIEC, preside a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Fruticultura do Ministério da Agricultura e Pecuária e a Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); e é “H secretário executivo da Frente Parlamentar Mista da Fruticultura, no Congresso Nacional, presidida pelo deputado Antônio Balhmann. "Mas temos de dar oportunidade aos mais novos. A renovação é muito importante e precisa ser estimulada." É nesse contexto que Carlos Prado também teve atuação importante no trabalho de reforma dos estatutos da FIEC. "A Federação, liderada pelo presidente Roberto Macêdo, fez um esforço para uma maior participação do industrial na escolha dos seus dirigentes. Com isso, deu um exemplo à comunidade e à própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) de como administrar de uma forma democrática, abrindo oportunidades. Este é o resultado da mudança estatutária de iniciativa de Roberto Macêdo", arremata Carlos Prado. Agosto de 2013 19 Plantação de melão na Itaueira Agropecuária qual Edson Queiroz foi vitimado. O projeto acabou indo por água abaixo”, conta Carlos Prado. Ele diz que o agrônomo ficou sem emprego e sem perspectiva. Em contato com um amigo comum, Renato Massari, "conversamos 15 minutos e fizemos negócio". Conforme o empresário, a maturação do projeto foi lenta: “Inicialmente era um projeto da Sudene para a pecuária. Como o órgão mudou as regras Principais atividades institucionais Participante/fundador do Pacto de Cooperação do Ceará. Participante/fundador do Agropacto – Pacto de Cooperação da Agropecuária do Ceará. Membro do Conselho da Empresa Administradora da Zona de Processamento de Exportações do Pecém (EMAZP), agora ZPE-CE. Membro do Conselho da Moscamed – Juazeiro/BA. Em 1995, durante gestão de Fernando Cirino Gurgel na presidência da FIEC, liderou a criação do Trade Point do Ceará, como braço do Ministério de Relações Exteriores. Em 1998, o Trade Point foi transformado em Centro Internacional de Negócios (CIN), para desenvolver a cultura exportadora no Ceará. Em 2002, liderou a Plataforma Regional do Agronegócio do Caju, que abrangeu todo o Nordeste, e foi coordenada pela FIEC, quando presidente Jorge Parente, e Faec, com o então presidente José Ramos Torres de Melo Filho, com apoio do MCT e Embrapa. Em 2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12 834/2013, que autoriza a criação do Fundo de Apoio à Cultura do Caju (Funcaju), iniciativa da Plataforma acima. Em 2012/2013, colabora com a coordenação do Movimento Integra Brasil – O Nordeste no Brasil e no Mundo. Iniciativa do CIC, com apoio inicial da FIEC, já se consolida como um movimento dos setores produtivos do Nordeste. 20 Agosto de 2013 dias antes da aprovação final, foi necessário buscar alternativas. Durante nove anos, pesquisamos soluções. Fizemos contrato de cooperação técnica com o Centro Nacional de Pesquisa do Caju, da Embrapa, então dirigido por João Pratagil Pereira de Araújo, com prazo de duração de dez anos, visando adaptar o caju anão precoce à região semiárida do centro-sul do Piauí. Ao iniciar a produção, com base nas pesquisas do agrônomo Josivan Barbosa, ex-reitor da Ufersa-Mossoró, a Itaueira Agropecuária passou a embalar o caju anão precoce selecionado, e enviar aos mercados do Sudeste, em caminhões frigoríficos, de forma pioneira. Foi um sucesso! Foram alguns anos bons nessa atividade. Esta é a fase do caju, que durou de 1991 e 2002. Ao final do período, com a grande oferta de caju resfriado, os preços baixaram muito e a Itaueira suspendeu a atividade". Em 1999, Carlos Matos, à época secretário de Agricultura Irrigada do Ceará, organizou uma missão a Israel para se conhecer a agricultura irrigada naquele país. A FIEC foi convidada a participar e o então presidente Fernando Cirino Gurgel enviou Carlos Prado como representante da entidade. Ao voltar, um cliente de São Paulo da Itaueira sugeriu ao empresário que tentasse plantar o melão amarelo. “Um melão com gosto de pepino, sem sabor algum, mas que, pela tecnologia que aplicávamos na cultura do caju, talvez fosse possível produzir uma fruta saborosa, o que seria um sucesso". Ele, então, perguntou ao cliente, Sérgio Benassi, se pagaria mais pelo produto. "Pago!, respondeu. Em 1999, começou o plantio do melão em Jaguaruana, sendo a área inicial de oito hectares, em parceria com Sílvio Ramalho Dantas e o agrônomo João José Brasil da Silva". A existência da internet possibilitou a acesso às fontes de tecnologia no exterior, para conhecer todas as novidades para o plantio irrigado, com o modelo que havia de mais moderno. Mas para isso, relata o empresário, foram quatro anos trabalhando no prejuízo: "Continuamos porque sentimos que estávamos no caminho certo, e o caju fazia receita para sustentar a atividade". Hoje, de oito hectares, a Itaueira passou a mais de 2 000, com 1 200 empregados. Agosto de 2013 21 JOSÉ SOBRINHO Ceará Produção de leite pode crescer A irrigação e a utilização do pasto rotacionado mostram que é possível incrementar a produção de leite no estado, com reflexos diretos na indústria LUIZ HENRIQUE CAMPOS cenário que se descortina até a fazenda Flor da Serra, na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, a 205 quilômetros de Fortaleza, contrasta com o período de seca que assola o Ceará, considerado um dos piores dos últimos 50 anos. As terras que margeiam o entorno do perímetro irrigado Tabuleiro de Russas representam quase um oásis, com plantações as mais variadas que sugerem a possibilidade da plena convivência com o fenômeno climático que tanto castiga o homem do campo no Nordeste. Na propriedade Flor da Serra, do empresário Luís Girão, entende-se por que essa convivência é possível, desde que sejam adotadas tecnologias que proporcionem a profissionalização do negócio. O 22 Agosto de 2013 No caso de Luís Girão, a produção de leite. Ali, como ele mesmo gosta de dizer, "estamos dando um exemplo de que é possível conviver com a seca". A receita é o modelo de irrigação com pastagem rotacionada. Com 4 200 vacas, sendo 500 em lactação, o modelo do pasto rotacionado na Flor da Serra trabalha com a divisão do terreno em até 22 partes iguais, chamadas pizzas. Cada pizza tem a extensão de 50 hectares (módulos), nos quais é distribuído um plantel com 500 animais. Como são 22 partes, ao final de 22 dias o gado é transportado para o módulo seguinte, e assim sucessivamente. A lógica do modelo é que, ao final do ciclo de 22 dias, a primeira pizza volte a ser utilizada. Nesse período, já estará com todo seu potencial de pasto recuperado e apto a ser consumido pelo gado, reiniciando novo ciclo. A experiência indicou que o capim chega a crescer em média um metro no período de renovação do ciclo de rotação. "Hoje temos vaca produzindo de 16 a 20 litros. Mas o que me interessa não é a produção por animal. É a por hectare. E aqui já chegamos a tirar 160 litros por hectare, um índice de ponta no mundo", afirma Luís Girão. O segredo está na irrigação. É por ela que se pode rotacionar o pasto com qualidade, garantindo a alimentação aos animais. Luís Girão afirma que, para atingir o estágio no qual a sua propriedade se encontra, não é preciso um grande terreno: "Esse estágio é perfeitamente viável para o pequeno produtor, que só precisa de um kit de irrigação". Por outro lado, segundo o empresário, é preciso um período de maturação. "Estou fazendo esse trabalho há dez anos e fui aprendendo com o tempo." Um ponto importante em relação a isso, explica o zootecnista da Flor da Serra, Alexssandro Borba, é que o manejo adequado desmistificou o tabu de que o gado estraga o solo: "Com o manejo correto, conseguimos, na verdade, foi obter melhoria do solo". Luís Girão faz questão de esclarecer que o manejo rotacionado pela irrigação não se trata apenas de uma necessidade de melhoria da produção leiteira do rebanho. Trata-se, sim, de uma questão de sobrevivência do pequeno produtor. "Não sei como será seu futuro, caso fique parado no tempo e não passe a utilizar as técnicas que profissionalizam o setor." Com a experiência de quem conhece bem outros modelos pelo mundo, o empresário pontua que há algum tempo era possível encontrar quem produzisse cem litros de leite/dia. Isso não existe mais hoje. “Vai acontecer a mesma coisa que ocorreu com os produtores de frango e de porco, que perderam espaço para o grande, que se profissionalizou. Em menos de 50 anos, o pequeno produtor perdeu seu espaço no Nordeste. Foi assim também com o algodão. Muita gente coloca a culpa no bicudo pelo declínio, mas, na realidade, foi a falta de competitividade que acabou com a cultura algodoeira na região. Perdeu espaço para a exploração em larga escala", diz Luís Girão. Ele reforça esse entendimento ao alertar que o produtor precisa se profissionalizar, senão ficará sem rumo no processo: "Nem pagar o salário mínimo ao trabalhador o pequeno produtor poderá mais, caso continue a baixa produtividade em sua propriedade. Primeiro, por causa do conhecimento tecnológico, que terá de ser apropriado. Antes, o regime era extrativista, quase de escravidão para o trabalhador. Os tempos hoje são outros, e não se admite mais esse modelo". Agosto de 2013 23 ais importante processadora de laticínios do Ceará, e uma das maiores do Nordeste, a CBL Alimentos S/A, instalada em Morada Nova, no Vale do Jaguaribe, a 168 quilômetros de Fortaleza, enfrentou no final de 2012 e começo deste ano sérias dificuldades relacionadas à matéria-prima para suprir sua produção, em razão do período de estiagem. "A situação só não foi pior este ano porque estamos vivendo a chamada seca verde, que gera uma drástica diminuição de grãos, mas a pouca chuva propicia a pastagem. E, havendo pasto, tem comida para o gado e a consequente produção", afirma Itajar Lamedo, diretor industrial da CBL. As dificuldades se explicam a partir da própria estrutura da empresa, que tem alta capacidade de produção e maquinário caro. Por isso, hoje precisa de matéria-prima. Senão para. "Não podemos conviver com essa sazonalidade por conta da seca", conta Lamedo. A CBL trabalha com 3 000 produtores em 48 municípios. Desses, 75% são provenientes da agricultura familiar. Agora a empresa já se recuperou, mas a queda de fevereiro a outubro do ano passado chegou a 45%. Para enfrentar esse quadro, foi necessário priorizar algumas JOSÉ SOBRINHO Profissionalização do produtor, necessidade da indústria A saída para a oferta de leite regular no Nordeste é a irrigação da área de pasto. E isso tem como ser feito no estado. Bruno Girão, diretor da CBL Alimentos S/A 24 Agosto de 2013 JOSÉ SOBRINHO M linhas de ação. "Demos preferência ao leite longa vida e importamos o leite em pó para a produção de iogurte. Nossa produção é de 400 000 litros/dia, mas chegamos a baixar para até 125 000/dia", conta o diretor industrial. Na CBL, são fabricados mais de 60 produtos, até para outras empresas. "O prejuízo quando não se produz é grande. Vai da questão financeira à perda de mercado da marca, porque se você não está lá o concorrente entra e ocupa seu espaço. E mesmo quando se usam alternativas, elas acabam encarecendo o produto. A consequência é que o consumidor não aceita", afirma Lamedo. Diante disso, um dos proprietários da empresa, Bruno Girão, projeta para os próximos três anos estar com 50% dos seus produtores atuando de forma profissionalizada: "A solução é utilizar a irrigação do pasto para solucionar esse problema de sazonalidade. O resultado é a sobrevivência do pequeno agricultor e a sustentabilidade da indústria". Bruno Girão ressalta que, no Ceará, temos vantagens que nos permitem potencializar a produção, porque possuímos água em abundância, apesar de mal distribuída, e terra barata, faltando melhorar a qualidade da mão de obra e a gestão das fazendas. "A saída para a oferta de leite regular no Nordeste é a irrigação da área de pasto. E isso tem como ser feito no estado." sustentabilidade do parque lácteo do Ceará está em xeque. Se houver mais duas secas, não iremos aguentar. E, nesse aspecto, o que conta mais é o produtor do campo. A avaliação é do consultor na área e responsável pela publicação do Anuário do Leite do Ceará, Raimundo Reis. A experiência do zootecnista baiano com o mercado cearense começou há 17 anos, quando se transferiu para cá e conheceu uma realidade que muitos consideravam negativa. Com o tempo, Reis aprendeu que essa realidade era bem mais propícia para o segmento do que se imaginava. "Temos um clima que favorece e demanda alta por leite. Ao mesmo tempo, o produtor tinha de conviver com o constante endividamento e o desestímulo à produção". Ele lembra que, em 2000, foi criada a Secretaria de Agricultura Irrigada, que tinha à frente Carlos Matos, atual diretor corporativo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (INDI), organismo do Sistema FIEC. A secretaria foi um passo inicial visando desenvolver um conceito de exploração de forma sustentável. A JOSÉ SOBRINHO Novo cenário em perspectiva O parque lácteo do Ceará está em xeque. Se houver mais duas secas, não iremos aguentar. Raimundo Reis, responsável pela publicação do Anuário do Leite do Ceará Agosto de 2013 25 JOSÉ SOBRINHO A partir daí, por meio do projeto Pasto Verde, começou a ser produzido leite dentro da técnica do pasto rotacionado. Foi montado naquele ano o primeiro piloto no município de Iguatu, envolvendo pequenos produtores. "Vimos que era possível a produção a pasto por todo o ano, o que representou um grande avanço, já que em outras regiões do Nordeste não se conseguia. Isso foi até 2006", afirma Raimundo Reis. A experiência permitiu a definição de um modelo com atuação profissional e criou-se nova perspectiva para o setor. Mas havia a necessidade de maturação – "não acontece de uma hora para a outra", diz Reis. E mais: a adoção no Ceará desse modelo tem condicionantes. Como exemplo, há 75% de fatores que são geradores de problemas, tais como seca verde, enchentes e a seca em si. Fatores que precisam ser acompanhados. Segundo Reis, não se pode deixar o produtor jogado à própria sorte, fazendo tudo sozinho. Ele explica que o conceito básico do pasto verde é que o fator limitante para a produção é água e capim. E isso a tecnologia já domina. "Hoje temos tecnologia para áreas irrigadas e de sequeiro, mas o nível de uso da tecnologia, na média, é ruim. Em lugares nos quais se adota a tecnologia de forma correta, os resultados são muito bons. A questão é como levar essa tecnologia ao campo. E aí está o nó górdio. É preciso assistência técnica." A seca dos últimos anos, em vista disso, trouxe também um aprendizado, principalmente para a indústria. O mais duro, para Reis, é que a indústria precisa de segurança. "Não fosse o leite produzido em pasto irrigado, a indústria teria quebrado. No momento, temos 10 000 hectares irrigados no Ceará, sem os quais a indústria pararia. Mesmo assim, a queda foi de 50% na produção. Não pode depender da sazonalidade. Já a grande lição para o produtor é que se não houver volumoso (capim), a produção quebra." Reis acrescenta, a partir desse cenário, que o Banco do Nordeste (BNB) vai passar a financiar o produtor de forragem (silagem de milho e soja, palma forrageira, feno e cana-de-açúcar e capim elefante). “Antes o banco só financiava quem fosse criador. A forragem representa 60% da comida do gado. O maior desafio da fazenda agora não é nem criar gado. É produzir comida.” Ao decidir financiar o produtor de forragem, se está, na visão do consultor, resolvendo um outro problema. É que nem sempre todo agricultor é pecuarista, e vice-versa. De acordo com Reis, há, nesse sentido, um novo cenário em perspectiva, “mas as coisas precisam de certos estímulos para que ocorram”. Só na área do Tabuleiro de Russas, em breve, a produção deve chegar a 60 000 litros de leite. "O Ceará é o estado com maior produção de forragem irrigada do Nordeste semiárido. E o que tem também a maior experiência nesse campo. Mas, para que ganhe impulso, é preciso que sejam definidos papéis. O governo tem de propiciar fomento e assistência técnica, o banco financiamento e a indústria terá de chegar mais perto do produtor para lhe ajudar nessa profissionalização, oferecendo condições para o melhoramento genético, insumos, etc.", finaliza Raimundo Reis. O segredo para a boa produção leiteira está na irrigação O setor em números O Sertão Central é a região que mais produz leite no Ceará: 12,7% do total. Das regiões mais representativas em produção, o Baixo e o Médio Jaguaribe apresentaram o maior crescimento. Entre 2006 e 2010, mais do que dobrou a produção, passando de 24,6 milhões para 50,2 milhões de litros/ano. 26 Agosto de 2013 Gado, comida e gestão x-diretor da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), e com a experiência de quem atuou em ações voltadas ao processo de áreas irrigadas no estado, Zuza de Oliveira é crítico quanto ao futuro da cadeia produtiva do leite. Para isso, se sustenta nos números da CBL, segundo os quais, dos 3 000 produtores de leite da empresa, apenas 209 tiram mais de 200 litros. “Não dá para viabilizar uma fazenda desse jeito.” Para Zuza, um projeto sustentável se viabiliza pelo tripé genética (gado de qualidade), comida (irrigação e pasto) e gestão (manejo). “É raça, ração e manejo.” Isso implica que no futuro a gestão do negócio terá de se voltar para o uso da tecnologia. Essa falta de profissionalismo está fazendo os jovens filhos dos agricultores JOSÉ SOBRINHO E Um projeto sustentável se viabiliza pelo tripé genética (gado de qualidade), comida (irrigação e pasto) e gestão (manejo). Zuza de Oliveira, ex-diretor da Adece Em 2011, apesar do parque laticinista cearense manter o mesmo número de indústrias de 2010, um total de 49, a capacidade instalada e o volume processado registraram expressivos aumentos. A capacidade de processamento de leite nas indústrias passou de 1,31 milhão de litros/dia em 2010, para 1,52 milhão litros/dia. buscarem nas escolas técnicas do interior melhor formação, deixando a fazenda de lado. “Aliada à necessidade de mão de obra das indústrias, a sucessão familiar no meio rural gira em torno de 20%, por vontade dos pais e dos filhos, na busca de uma vida melhor”. Ele lembra que, no sertão cearense, com suas variações de solo e clima, o normal é ter chuvas irregulares em quantidade e distribuição espacial, com as consequências sociais, econômicas e financeiras negativas para a população rural. Os municípios que têm a maior parte da economia baseada na agropecuária de sequeiro (não irrigada) são diretamente afetados por essa irregularidade, dificultando, e até inviabilizando, o planejamento dos agronegócios, quer sejam de base familiar ou empresarial. Situação que causa incertezas. “Com cinco anos de invernos normais, alguns produtores retiram seu sustento e acumulam bens (animais, carroça, motos, etc.). No primeiro e/ou segundo ano de seca, são obrigados a vender para manter a família, levando o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário a uma gangorra, e cada vez menor”. A reversão desse quadro, todavia, é possível por meio da irrigação. Ele cita que no Ceará, em 2009, ano de chuva normal, em 2,5 milhões de hectares cultivados em sequeiro foi gerada uma renda bruta de 4 bilhões de reais, enquanto que, em apenas 87 000 hectares irrigados, a renda bruta foi de 1 bilhão de reais. “Irrigamos atualmente em torno de 89 000 hectares, valendo registrar que, entre 1999 e 2009, com o aumento de 32 000 hectares irrigados, a renda bruta gerada nesses municípios saltou de 135 milhões de reais para 1 bilhão de reais, assegurando emprego, produção de alimentos e circulação de dinheiro, mesmo com três anos de seca na década”, arremata Zuza de Oliveira. Os produtos mais fabricados são o leite pasteurizado e o queijo coalho, presentes, respectivamente, em Os dados do segmento indicam que a produção de leite avançou nas áreas com maior infraestrutura hídrica e com potencial para irrigação, incluindo dos estabelecimentos. A bebida láctea aparece em terceiro lugar, sendo processada e comercializada por o Baixo e o Médio Jaguaribe, Ibiapaba e Litoral Leste. Por outro lado, a produção apresentou pouca dinâmica em regiões mais áridas, como Sertão Central, Inhamuns, Norte e Sul. 56,7% e 53,3% 30% das empresas. 4 regiões: Fonte: Anuário do Leite Ceará 2012 Agosto de 2013 27 Previdência Social Envelhecendo com mais saúde e qualidade, a expectativa da população hoje é superior a 73 anos Déficit crescerá mais de 20 vezes Hoje, para cada pessoa com mais de 60 anos, há 5,3 pessoas com idade economicamente ativa. Em 2050, a previsão é de apenas 1,8 pessoa, aumentando o rombo da Previdência m montante de 909 bilhões de reais, equivalente a 5,68% do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para 2050 (16 trilhões de reais). Este deve ser o rombo nas contas da Previdência Social em menos de 40 anos, segundo o estudo “Projeções atuariais para o Regime Geral da Previdência Social”. Os principais motivos: a população brasileira está envelhecendo e os casais de hoje não estão tendo filhos como antes. Dessa forma, pelo sistema previdenciário brasileiro, em menos de quatro décadas faltarão trabalhadores para sustentar os aposentados. U 28 Agosto de 2013 A projeção tem como base os dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostra que a taxa de fecundidade no país (número de filhos por mulher), de 1,9 filho, está abaixo da taxa de reposição da população – de 2,1 filhos por brasileira. O número de filhos por mulher chegou a 6,28 em 1960, antes de cair para 2,38, em 2000. Atualmente, com 193 milhões de pessoas, o Brasil é um país jovem, cuja população cresceu 1,7% na última década. A longevidade do brasileiro também entra na conta. Envelhecendo com mais saúde e qualidade, a expectativa de vida da população hoje é superior a 73 anos. No início do século, não chegava a 34 anos. Segundo o IBGE, em 2010, as pessoas com mais de 65 anos representavam 7,4% da população; as com 80 anos ou mais, 1,5%. A projeção é que, em 2020, essas parcelas serão de 9,2% e 1,9%, respectivamente. Em 2050, a proporção esperada de pessoas com 65 anos ou mais é de 22,7%, e a de quem tem 80 anos ou mais, 6,4%. O Brasil vai atingir o pico populacional de 219 milhões de habitantes em 2039. A partir daí, a tendência é de queda. O pico de mão de obra ativa ocorrerá ainda antes, em 2027. Em 1980, a base da pirâmide populacional brasileira era larga e formada por jovens futuros trabalhadores. No topo, poucos com mais de 60 anos. No meio, uma grande população economicamente ativa. Atualmente essa pirâmide apresenta mudanças significativas, com redução na base, alargamento no topo e uma grande variação no meio, especialmente na faixa após os 45 anos, e que em breve estarão se aposentando. Para 2050, a previsão é que a pirâmide vire um funil, com muitos idosos no topo e poucos jovens para sustentar a Previdência. O estudo que acompanha o Projeto de Lei Orçamentária de 2014, enviado ao Congresso Nacional pelo Executivo federal em abril, mostra que para cada pessoa com mais de 60 anos há 5,3 pessoas com idade economicamente ativa (de 16 a 59 anos), potenciais contribuintes da Previdência. Em 2050, a previsão é de apenas 1,8 pessoa em idade ativa para cada uma em idade para a aposentadoria. Já no próximo ano, os idosos representarão 11,2% da população, e deverá chegar a 32,2% dos brasileiros em 2050. Por sua vez, a participação daqueles em idade ativa na economia cairá de 63,6% para 56,1%. Para fechar as contas este ano, o Tesouro terá de destinar 41,8 bilhões de reais ao pagamento de pensões e aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O valor equivale a 0,86% do PIB de 2013 (4,875 trilhões de reais). Essa relação déficit/PIB irá cair até 2016, quando será de 0,23% (15,2 bilhões de reais), para inverter a curva e começar a subir no ano seguinte. "Esse processo terá fortes impactos na estrutura de financiamento da Previdência Social e também na dinâmica da economia brasileira, que não contará mais com uma oferta de mão de obra Agosto de 2013 29 abundante. Se constatarmos que em 11 anos, entre 2000 e 2011, a população em idade ativa cresceu em 20 milhões de pessoas, e imaginarmos que nos próximos 16 anos, entre 2011 e 2027, ela crescerá 14 milhões, é possível perceber que estamos caminhando rapidamente para um cenário de oferta de mão de obra que se pensava distante", destaca o estudo. Problema mundial O envelhecimento da população, e a consequente pressão sobre os sistemas de seguridade, não é um problema exclusivo do Brasil. De acordo com o levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2010 e 2012, 52 países, de 138 analisados, promoveram reformas em seus sistemas de aposentadorias e pensões. Dentre as medidas mais amargas para a população está o aumento da idade para concessão de aposentadoria e a redução dos benefícios; em alguns casos, toda a estrutura foi redesenhada. No Brasil, após promulgação da Constituição de 1988, foram feitas muitas reformas no sistema previdenciário, gerando um complexo regime de aposentadorias para servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada. Quem ingressar hoje em cargos públicos vai se submeter às mesmas regras vigentes para o chamado regime geral. Ou seja, receberá uma remuneração variável entre o salário mínimo e o teto da Previdência, hoje em 4 157 reais. Quem está a mais tempo tem regras diversas, em função do ano de admissão, mas, via de regra, sua aposentadoria terá valores mais próximo aos salários pagos na ativa. O problema do envelhecimento da força de trabalho também tem preocupado o setor produtivo. O estudo “Envelhecimento da Força de Trabalho no Brasil”, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), Fundação Getulio Vargas (FGV) e PwC Brasil, com apoio da Federação das Indústrias do Estado de Projeções sobre a população brasileira A pirâmide etária de 2010 mostra que uma grande parte da população ainda é jovem (entre 5 e 29 anos), mas também indica uma tendência de crescimento rápido do contingente de pessoas com mais idade. São Paulo (Fiesp), Serviço Social da Indústria (SESI) e Câmara Americana de Comércio (Amcham), concluiu que, em 2040, 57% da força de trabalho terá mais de 45 anos. O quadro aponta para uma realidade semelhante à dos países da Europa, onde o processo de envelhecimento da mão de obra levou mais de cem anos para ocorrer, ou seja, em tese houve tempo para adequações. A pesquisa foi elaborada de novembro de 2012 a janeiro de 2013 em 108 companhias – 70% de origem nacional – de diversos setores de atuação, sendo 21% do setor industrial, 20% de prestação de serviços e 16% de energia, mineração e serviços de utilidade pública. Das companhias entrevistadas, 36% eram de grande porte, com faturamento superior a 300 milhões de reais por ano. Segundo alguns especialistas, o envelhecimento da força de trabalho no Brasil pode ser uma das soluções para a escassez de mão de obra qualificada no mercado. Além disso, a retenção desses profissionais será necessária para o equilíbrio das contas da Previdência Social e sustentação do crescimento econômico do país. “A mudança demográfica proporcionará alterações no perfil das empresas e não há como ignorar seus efeitos no mercado de trabalho. Já na próxima década, será possível perceber esse novo cenário”, salienta João Lins, sócio da PwC Brasil. Contudo, a pesquisa mostra que os profissionais mais velhos ainda não são vistos pelas empresas como uma alternativa para a escassez de talentos, e que há pouco incentivo para a transferência de conhecimento e experiência entre diferentes idades. Mesmo em um contexto no qual metade dos CEOs do Brasil (42%) afirma que já deixou de aproveitar uma oportunidade de mercado ou precisou atrasar ou cancelar uma iniciativa estratégica por falta de talentos, 63% das empresas não enxergam a força de trabalho mais velha como alternativa para a escassez de talento. O reflexo dessa visão está na prática para atrair e reter profissionais mais velhos nas equipes de trabalho: 56% declararam não ter campanhas específicas para contratação de trabalhadores nessa faixa de idade e em 58% das corporações a idade mais baixa ainda é um fator relevante para a definição dos candidatos. Em 2030, as faixas entre 25 e 59 anos ocuparão a maior parte da pirâmide etária. Além disso, a população de 60 anos ou mais terá quase dobrado. Fonte: ALVES, José Eustáquio Diniz, VANCONCELOS, Daniel de Santana, CARVALHO, Angelita Alves. Estrutura etária, bônus demográfico e população economicamente ativa no Brasil, cenários de longo prazo e suas implicações para o mercado de trabalho. CEPAL. Escritório no Brasil/IPEA, Brasília, 2010. 30 Agosto de 2013 Pontos positivos Apesar do quadro atual pouco animador aos trabalhadores mais experientes, os dados mostram que 94% das empresas reconhecem haver pontos bastante relevantes na contratação desses profissionais. Dentre eles, a transmissão de conhecimentos úteis para os mais jovens. Os entrevistados afirmam que esse benefício tem o potencial de frear a evasão de cérebros no universo profissional, auxiliando, também, no combate à escassez de mão de obra especializada. Porém, diz o relatório, para que isso se concretize, algumas práticas devem ser adotadas, como atividades de treinamento e desenvolvimento envolvendo diferentes faixas etárias (inexistentes em 45% das empresas) e programas de mentoring (não adotados em 50% das organizações). O estudo recomenda que o esforço para integrar os profissionais mais velhos à força de trabalho das empresas deve passar Em 2050, a população que era adulta em 2030 estará mais velha, e a pirâmide etária terá invertido em relação a 2010, com um grande número de pessoas com mais de 50 anos. por uma mudança cultural. “Gerentes e empregados precisam ser educados sobre esses profissionais, a fim de não alimentar estereótipos e preconceitos. Percepções inapropriadas, como a de que os mais velhos são menos produtivos, inflexíveis e inábeis para aprender novas tecnologias, têm tradicionalmente criado barreiras para a inclusão deles no mercado”, destaca a pesquisa. O levantamento revela, ainda, que os maiores de 60 anos são reconhecidos como mais equilibrados emocionalmente por 96% dos entrevistados, além de ser considerados, por 86%, os melhores em solucionar problemas. O documento recomenda que as empresas devem tomar providências para a contratação em tal faixa de idade, e adaptar-se para extrair o melhor desses profissionais, oferecendo planos de carreira diferenciados e investimentos na qualidade de vida. Observouse que 62% dos empreendedores pesquisados ainda não oferecem um plano de saúde especial para os mais de 60 anos. A pesquisa conclui mostrando que a falta de oportunidades de carreira é ocasionada, em parte, pela proximidade da aposentadoria. A maioria das empresas (63%) crê que os mais velhos já estão acomodados em decorrência desse fator. Essa impressão pode estar equivocada. Segundo a pesquisa “Age discrimination: What employers need to know”, da Associação Americana das Pessoas Aposentadas, 80% dos profissionais da geração “baby boomers” (nascidos na explosão populacional entre 1943 e 1964) esperam e desejam manter-se ativos durante a aposentadoria. Sugere também algumas práticas de recrutamento e seleção para lidar com a questão, como preparar a equipe de RH para avaliar e aproveitar melhor o potencial do profissional mais experiente, criar um comitê de apoio a profissionais mais velhos para avaliar os processos de recrutamento e oferecer benefícios competitivos de pacotes de aposentadoria e saúde. Agosto de 2013 31 JOSÉ SOBRINHO SENAI/Pronatec Qualificação com qualidade Em apenas dois anos, cerca de 20 000 pessoas foram capacitadas para o mercado de trabalho pelo SENAI/CE por meio do Pronatec GEVAN OLIVEIRA esconfiei quando me disseram que um treinamento no SENAI, no mercado custando mais de 700 de reais, era grátis, e ainda ofereciam refeição e transporte. Mas fui conferir e fiz a inscrição. O curso era tudo que prometiam e muito mais. Tanto que em apenas três meses já estou com a carteira assinada.” O depoimen- O curso era tudo que prometiam e muito mais. Tanto que em apenas três meses já estou com a carteira assinada. Mardônio Souza, aluno do SENAI/CE destacado por Dilma Rousseff 32 Agosto de 2013 JOSÉ SOBRINHO “D to, com final feliz, é de Mardônio da Silva Souza, o mais novo contratado da empresa de moda íntima Del Rio. O jovem de 23 anos, caçula de uma família de cinco irmãos, foi um dos destaques do discurso da presidente Dilma Rousseff, durante a formatura, no Centro de Eventos do Ceará, de 2 500 alunos do programa Pronatec Brasil Sem Miséria, em julho passado: “Quero ressaltar a história do Mardônio. Ele conferiu de perto as vantagens do programa e, em pouco tempo, conseguiu a almejada carteira assinada. Assim como ele, outros milhares de jovens precisam acreditar que é possível mudar de vida por meio da capacitação”. A partir da oportunidade que o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) lhe deu, Mardônio, cujo pai também passou pelas salas de aula do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE), entidade do Sistema FIEC, já faz planos. Pretende continuar estudando na instituição, especializar-se e futuramente pagar uma faculdade de Engenharia Mecânica. O próximo passo é o curso de Manutenção de Máquina Eletrônica. Ele quer se integrar nas empresas que estão trocando de equipamentos e exigem profissionais atualizados nas novas tecnologias. “Com a carteira assinada, a gente pode começar a planejar, inclusive, a vida pessoal. Além de crescer na carreira, tenho planos de casar e ter minha família. Para que isso se torne realidade, vou continuar estudando.” busca de uma carreira. “Foi tudo muito rápido, mas os profissionais e a estrutura do SENAI são tão bons que a gente aprende com eficiência, e em pouco tempo. Agora vou seguir fazendo o curso de Eletricista Industrial. Em seguida, com os recursos que o trabalho proporcionará, pretendo fazer vestibular para Engenharia Elétrica”, planeja Gleison. JOSÉ SOBRINHO A melhoria da qualidade de vida da família também está nos planos de Iva Teresa Araújo, de 34 anos, operária da construção civil. Servente de pedreiro há 15 anos, mãe de três filhos, divorciada, pretende bancar os estudos do filho caçula, de oito anos (os outros têm 16 e 17), com a melhoria do salário que agora será possível por causa do curso de Pedreiro de Alvenaria realizado no SENAI do bairro Jacarecanga, também por meio do Pronatec. Iva, que trabalha na construtora Paulo Freire Engenharia, aprendeu na prática diversas atividades que até há pouco tempo apenas observava seus colegas pedreiros executarem. “Depois de receber o diploma, minha função já mudou. Agora vou ter um salário melhor e ainda posso sonhar em crescer.” Por isso, pretende continuar os estudos no SENAI. A próxima fase são os cursos nas áreas de azulejo e bombeiro hidráulico. “Agora tomei gosto e quero chegar a mestre de obras.” Gleison Alves Araújo, de 28 anos, também foi destacado na solenidade de formação do Pronatec. Subiu ao palco para assinar a carteira de trabalho numa das maiores empresas de construção civil do Ceará, a Fujita Engenharia. Com apenas três meses de aula, foi destaque do curso de Auxiliar de Eletricista, ministrado no canteiro de obras da construtora, numa unidade móvel do SENAI. Gleison conta que já trabalhou em várias outras atividades, desde alimentação, como pizzaiolo, até vendas, mas seu sonho era se estabilizar e assinar a carteira em Gleison Alves recebe a carteira assinada das mãos da diretora da Fujita Engenharia, Liana Fujita (de azul). Dilma Rousseff, Roberto Sérgio, vicepresidente da FIEC (à esq. de Liana), e o governador Cid Gomes testemunham a assinatura Depois de receber o diploma, minha função já mudou. Agora vou ter um salário melhor e ainda posso sonhar em crescer. Iva Teresa Araújo, aluna do curso de Pedreiro de Alvenaria do SENAI/CE Agosto de 2013 33 Mais cursos profissionalizantes riado em 26 de outubro de 2011 com a sanção da Lei nº 12 513/2011 pela presidente Dilma Rousseff, o Pronatec objetiva ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica para a população brasileira. O programa envolve um conjunto de iniciativas e projetos e, dentre eles, a oferta de vagas gratuitas nos cursos profissionalizantes do SENAI para suprir as demandas do setor industrial. No Ceará, 11 municípios contam com turmas em execução em unidades fixas e móveis: Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Horizonte, Maranguape, Maracanaú, Pacajus e São Gonçalo do Amarante, todos na região metropolitana, e Sobral, na zona norte. A maioria dos formandos de julho pelo Pronatec foi capacitada no curso de Auxiliar Administrativo e nas áreas de recursos humanos, de costura industrial de vestuário, manicure e pedicure e pedreiro, dentre outras. Ao todo, foram treinadas mais de 30 000 pessoas em 2012 e 2013 por diversas entidades, oriundas de 68 cidades do estado. Destas, o SENAI/CE capacitou acima de 19 500 em mais de 50 cursos. Para 2013, são 42 786 vagas no Ceará, das quais a meta do SENAI é atender 17 500. Até agora, mais de O Pronatec está sintonizado com as necessidades econômicas que o Brasil necessita. Mônica Machado, gerente da Unigeplan 34 Agosto de 2013 GIOVANNI SANTOS C 8 500 pessoas concluíram os cursos nas escolas da entidade este ano. Em todo o Brasil, o sucesso do Pronatec pode ser mensurado pelo número de matrículas. Desde o lançamento, em 2011, até meados de julho deste ano, são 4 milhões, sendo que quase 50% foram realizadas nos primeiros seis meses de 2013. Entre os alunos inscritos, 55% têm de 15 a 29 anos e 66% são mulheres. Os cursos são oferecidos nos estabelecimentos de ensino do Sistema S, nas escolas técnicas federais, vinculadas aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs), nos colégios técnicos das redes estaduais e nas universidades. Segundo a gerente da Unidade de Gestão e Planejamento do SENAI/CE, Mônica Machado, “o Pronatec está sintonizado com as necessidades econômicas que o Brasil necessita”. Dentre os destaque estão as áreas de petróleo e gás, construção naval, automação industrial, eletrônica, mecânica de precisão, petroquímica, mineração, informática, telecomunicações, portos, transportes de carga, agropecuária, meio ambiente, etc. “O Pronatec é uma excelente oportunidade para alunos que concluíram ou estão concluindo o ensino médio e agora pretendem se especializar numa dessas áreas técnicas que o Brasil necessita para continuar crescendo. Trabalhamos para que, ao sair do curso, eles estejam aptos a ocupar as vagas que estão sendo criadas em todos os setores da economia”, afirma Mônica Machado. Sobre o papel do SENAI nesse processo de capacitação da mão de obra para incrementar a indústria brasileira, a presidente Dilma disse, recentemente, em seu programa semanal “Café com a Presidenta”, que o Brasil precisa de uma indústria forte e competitiva que garanta o crescimento e a criação de oportunidades de trabalho. Nesse sentido, anunciou que o governo planeja expandir as ações do SENAI, destinando 1,5 bilhão de reais à construção de escolas e modernização e ampliação das 251 unidades existentes. “Mas, para ter uma indústria forte, o país precisa de mão de obra qualificada e de técnicos bem formados”, disse ao destacar áreas como automação industrial, petróleo e gás, mineração, mecatrônica, manutenção de aeronaves, eletrônica, indústria naval e computação, nas quais o SENAI é referência mundial. GIOVANNI SANTOS No SENAI/CE D rem cumprindo medidas socioeducativas, pessoas cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) ou que recebam algum benefício do programas de renda federais, pessoas que possuam algum tipo de deficiência, trabalhadores, desempregados, comunidades quilombolas, povos indígenas e praças do Exército e da Aeronáutica ou Atiradores de Tiro de Guerra. Os interessados em participar devem procurar os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) ou as secretarias de Assistência Social de cada município para efetuar a matrícula. Em todo o Ceará, existem 373 CRAS, 23 localizados em Fortaleza. A oferta dos cursos é gratuita e os beneficiários recebem alimentação, transporte e material escolar. Alguns cursos oferecidos pelo SENAI/CE (em sentido horário, a partir da foto acima): de Redes, Eletrônica, Salgueiro e Pedreiro GIOVANNI SANTOS entre os cursos oferecidos pelo SENAI/CE por meio do Pronatec estão as formações em confecção de calçados, eletricista predial, eletricista industrial, montador e reparador de computadores, eletricista instalador de baixa tensão, pedreiro de alvenaria, eletricista de automóveis, torneiro mecânico, instalador de redes de computadores, pizzaiolo, salgadeiro, modelista e operador de corte. Além do SENAI, as capacitações no Sistema S são realizadas no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). Podem se inscrever pessoas a partir dos 16 anos de idade. A carga horária dos cursos varia de 160 a 400 horas/aula. O Pronatec foi desenvolvido para atender a vários grupos de pessoas, como estudantes do ensino médio nas escolas públicas (dentre eles os que participem da Educação para Jovens e Adultos – EJA), adolescentes e jovens que estive- Agosto de 2013 35 JOSÉ SOBRINHO Atividades físicas Lazer com saúde Orientado a contribuir com o aumento da qualidade de vida dos trabalhadores da indústria, o SESI/CE oferece diversas modalidades esportivas ente e corpo sãos. A combinação é apontada por especialistas como a chave para a qualidade de vida. Um dos meios para se conseguir esse conjunto harmonioso é pela prática constante de atividades físicas. Os benefícios são muitos e vão desde o emagrecimento e o combate à obesidade, à melhoria da circulação, aumento do metabolismo, fortalecimento do sistema imune, diminuição do risco de doenças cardíacas, aumento da resistência dos ossos, melhoria do equilíbrio, aumento da disposição e do bom humor, diminuição do estresse e depressão e melhoria da autoestima. Em 65 anos de atuação no estado, o Serviço Social da Indústria (SESI/CE), entidade do Sistema FIEC, propicia ao trabalhador e a seus dependentes, como também à comunidade em geral, uma gama de ações, traduzida em produtos, serviços e equipamentos M 36 Agosto de 2013 diversos. É compromisso da instituição sair na frente no atendimento das necessidades do trabalhador e das empresas que veem como estratégico promover a melhoria da qualidade de vida e das condições de trabalho. O reflexo é bem-estar, resultando em mais produtividade e competitividade das companhias. Para tanto, o SESI/CE está sempre em processo de transformação e inovação, a fim de levar aos trabalhadores e à indústria programas e projetos voltados para uma vida mais saudável. São serviços nas áreas de saúde, educação, cultura, esporte e lazer e responsabilidade sócio empresarial. As empresas interessadas podem requisitar pacotes de serviços e serão atendidas por meio de modernas ferramentas de negócios e relacionamento. Para incentivar a atividade física e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores da indústria e comunidade, na área de Lazer, JOSÉ SOBRINHO JOSÉ SOBRINHO o SESI/CE promove ações específicas nas unidades da Parangaba, Barra do Ceará, Maracanaú, Juazeiro do Norte e Sobral (veja quadros na página 38). Com professores capacitados e focados em orientar a prática esportiva de acordo com a necessidade e a capacidade de cada aluno, as modalidades são desenvolvidas em modernas instalações e baseadas em avaliações periódicas. Quando alguém começa uma atividade no SESI, o primeiro passo é realizar uma avaliação física para conhecer as condições gerais do aluno. Rose Nascimento, professora de musculação, ginástica e jump na Parangaba, ressalta o acompanhamento de cada aluno nas academias do SESI/CE: “Temos um atendimento quase personalizado, que não vemos em nenhuma outra academia do estado”. Há também a possibilidade de ser promovido um processo mais profundo, contratado pelo aluno, como explica o professor de musculação do SESI Parangaba, Jeovah Júnior. Nele, são feitos testes do nível de sedentarismo, percentual de gordura e massa muscular, testes físicos de flexibilidade e resistência abdominal e resistência cardiovascular, dentre outros. “Diante dos resultados do teste, é montado um programa individual, baseado nos objetivos e necessidades do aluno. A cada três meses, uma nova avaliação é feita para acompanhar seu progresso”. Professores de musculação Jeovah Júnior e Rose Nascimento garantem atendimento diferenciado no SESI Parangaba Saltos para a saúde uely Julião Vieira é só disposição. Costureira na indústria Guararapes, de segunda até quinta-feira à noite está na unidade do SESI da Barra do Ceará, onde pratica ginástica e jump. “O SESI beneficia todos nós que trabalhamos na indústria e queremos uma vida mais saudável. Aqui é melhor que academia. São várias opções de exercício, com profissionais capacitados e empenhados.” Quando Suely está no trabalho, seu filho vai ao SESI praticar natação, caratê e futsal. Outra adepta do jump e da musculação é a professora Karla Bessa. Depois de três filhos, conta que engordou 24 quilos e sua autoestima ficou em baixa. Para reverter tal quadro, decidiu matricular-se e dedicar-se aos exercícios. A escolha pelo SESI se deu por causa da época em que aprendeu a nadar, ainda adolescente, no SESI. “Aprendi a nadar aqui e guardo boas recordações da qualificação dos professores, do cuidado com os alunos. Ainda hoje, essa é a realidade e por isso continuo.” O jump (foto abaixo), modalidade escolhida por Suely e Karla, trata-se de um investimento do SESI/CE na área de ginástica. É uma atividade aeróbica de saltos sobre uma cama elástica individual, que trabalha o condicionamento respiratório e cardiovascular, com forte atuação dos membros inferiores com alto gasto calórico. Não é indicado para gestantes, pessoas com problemas nas articulações ou labirintite. S Agosto de 2013 37 Confira as modalidades esportivas oferecidas pelo SESI/CE Parangaba Disciplina e equilíbrio Modalidade Dias Futsal seg., qua. e sex. ou ter. e qui. Ginástica localizada seg. a sex.ou seg., qua. e sex. Ginástica com jump ter. e qui. Hidroginástica seg., qua. e sex. ou ter. e qui. Jiu-Jitsu seg., qua. e sex. Judô seg., qua. e sex. ou ter. e qui. Natação seg,, qua e sex. ou ter. e qui. Musculação seg. a sex. Voleibol ter. e qui. Boxe chinês ter. e qui. Kung Fu seg., qua. e sex. Informações: (85) 3421 6113 ennan Ribeiro fala do kung fu com muita propriedade. O conhecimento vem de sete anos de prática. Desde 2006, ele se exercita na arte milenar originária da China e nos anos de 2008 e 2009 foi ao SESI para acompanhar o professor. Em 2009, interrompeu os treinos por conta do curso de Nutrição e só agora voltou. No SESI, treina o estilo “shaolin do norte”, que utiliza armas como facas, lanças e punhais. O kung fu, criado originalmente a partir dos movimentos dos animais, é conhecido por ser uma luta de defesa, que ensina diversos tipos de treinamento, como a aplicação de coreografias para se livrar do toque de várias pessoas ao mesmo tempo (“tuin ta”), desarmamento de facas, fortalecimento do corpo contra impactos e aumento de impacto de golpes (“chi kung”). O treinamento é intenso, segundo Rennan, também na parte psicológica. O trabalho é realizado pelo mestre, como costumam chamar o professor. Além disso, é feita avaliação periódica de lesões, da coluna e cardíaca, além da capacidade dos movimentos. Há ainda o cuidado com a idade. “O SESI tem essa preocupação de manter cada aluno em ótimas condições.” R Horários 17h 7h, 17h, 18h, 19h 6h, 17h, 18h, 19h 6h às 20h 19h, 20h30 17h, 18h, 19h às 21h 6h às 21h 6h às 11h e 14 às 21h 18h30 15h, 16h30 15h, 20h Barra do Ceará Dias seg. a sex. seg., qua. e sex. ter. e qui. seg., qua. e sex. ou ter. e qui. ou seg. e qua. Voleibol seg. e qua. Caratê seg., qua. e sex. Futsal ter. e qui. Balé Infantil ter. e qui. Informações: (85) 3455 6205 JOSÉ SOBRINHO Modalidade Musculação Ginástica Jump Natação Horários 6h às 20h 7h às 20h 7h, 8h, 18h, 19h 7h às 19h 16h, 17h, 18h 17h30, 18h30 16h, 17h, 18h, 19h 17h Maracanaú Modalidade Natação Dias seg., qua. e sex. ou ter. e qui. ou seg. e qua. Hidroginástica seg., qua. e sex. ou ter. e qui. Ginástica localizada seg., qua. e sex. ou ter. e qui. Informações: (85) 3312 9804 Horários De 6h às 19h30 De 6h30 às 20h30 De 6h20 às 19h30 Juazeiro do Norte Modalidade Musculação Natação Dias seg. a sex. seg. e qua., ter. e qui., seg., qua e sex. Jump seg., qua. e sex., ter. e qui. Ginástica localizada ter. e qua. Hidroginástica seg., qua. e sex., ter e qui. Informações: (88) 2101 8416 Horários 5h às 10h e 11h às 22h 8h, 14h 16h, 17h, 18h 17h, 19h 17h 7h, 8h, 16h, 18h Sobral Modalidade Dias Musculação seg. a sex. Ginástica seg. a sex. Futsal dias a definir Informações: (88) 3112 8314 38 Agosto de 2013 Horários 6h às 20h 7h, 17h, 18h, 19h horários a definir JOSÉ SOBRINHO Sindcerâmica 40 anos com setor consolidado Crescimento se deve à expansão da construção civil no Ceará e no país e à melhoria de renda da população, com impacto direto no consumo olume de negócios em 2012 que superou os 170 milhões de reais e 413 indústrias entre pequenas, médias e grandes, empregando 12 000 pessoas diretamente e 40 000 indiretamente. Números que asseguram a consolidação de um setor que se apresenta como um dos mais promissores do estado, mas que não se acomoda diante dos desafios que estão postos. É nesse cenário que o Sindicato das Indústrias de Cal e Gesso, Olaria, Ladrilhos Hidráulicos e Produtos de Cimento e Cerâmica para Construção, da Cerâmica, de Louças de Pó de Pedra, da Porcelana, da Louça de Barro, de V Agosto de 2013 39 GIOVANNI SANTOS Vidros e Cristais Ocos do Estado do Ceará (Sindcerâmica) completa 40 anos, certo de que o momento é propício para alçar novos voos. Atualmente com 143 associados, o que indica índice de 33% de representatividade, o presidente do sindicato, Fernando Antonio Ibiapina Cunha, diz que a meta é chegar a 200 até julho do próximo ano, quando termina sua gestão. "Temos plenas condições de atingir esse número porque o empresário do segmento está mais consciente da necessidade da atuação de forma compartilhada." Segundo ele, o que contribuiu para esse perfil foi a percepção do setor de que teria de assumir seu papel como importante segmento econômico do estado. "O Ceará é um dos estados do Nordeste que contam com mais cerâmicas", completa. Conforme Fernando Ibiapina, o empresário foi adquirindo essa percepção a partir da melhora do quadro econômico, que favoreceu o setor. Crescimento, conta, que se deve a fatores como a expansão da construção civil no Ceará e no país, que implicou diminuição do déficit habitacional. Houve também a melhoria de renda da população, com impacto direto no consumo de seus produtos. "Dentro dessa concepção, deixamos de ser simplesmente o que antes se chamavam de olarias, e nos tornamos indústria de fato." Como consequência, acrescenta Fernando Ibiapina, o Ceará possui cerâmicas com gestão equilibrada, que adotam a inovação e mostram preocupação com o meio ambiente. "O nosso grande desafio é a sustentabili- Nosso grande desafio é a sustentabilidade, e nisso já avançamos muito. Não é só retórica, essa preocupação é uma realidade. Fernando Ibiapina, presidente do Sindcerâmica dade, e nisso já avançamos muito. Não é só retórica, essa preocupação é uma realidade entre os ceramistas, porque eles a entendem como estratégica à sua própria subsistência. Já temos empresas aqui em nível de primeiro mundo nessa área." Sobre isso, diz com orgulho que o segmento utiliza combustível oriundo de mais de 200 planos de manejo sustentável na Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). "Se antes éramos considerados vilões do meio ambiente, somos agora "amigos da Caatinga". Tal fato foi alcançado com a Predominância da cerâmica vermelha ara a maioria dos empresários do setor cerâmico do estado do Ceará, de acordo com o Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará elaborado pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), 90,6% têm a indústria de cerâmica vermelha como sua principal atividade, e apenas 9,4% desenvolvem outras atividades. Nas cerâmicas que responderam à pesquisa, existe em torno de 11 282 colaboradores, o que garante média de 34 postos de trabalho por empresa. Quanto ao porte das cerâmicas do estado, a maioria (74,6%) é de pequeno porte, 23,3% são microempresas e apenas 2,1% são de média. Com relação ao tempo de atuação das empresas no mercado, identificou-se que existem poucas novas: 24,7% concentram-se na faixa de até cinco anos; 21,5% estão situados entre o período de 5,1 a dez anos; 16,5% das empresas têm de dez a 15 anos, seguidas do intervalo de 15 a 20 anos, com 14,2% dos estabelecimentos. P 40 Agosto de 2013 mudança de cultura, aponta Fernando Ibiapina. "Aos poucos, mas continuamente, fomos alcançando esse patamar, uma vez que a lenha é o principal combustível para a fabricação de cerâmica."Em relação ao controle de qualidade, explica que a argila é um bem mineral que depende das misturas que acontecem na natureza. “O setor tem o desafio de fazer a padronização da produção com qualidade.” Presença em 93 municípios Realizado pelo IEL, com apoio do Sindcerâmica e do Banco do Nordeste (BNB), para marcar os 40 anos do sindicato, o Diagnóstico Socioeconômico da Indústria da Cerâmica Vermelha revela que as 412 empresas do segmento estão distribuídas por 93 municípios. Nessa distribuição, duas áreas se destacam na produção de produtos cerâmicos: região metropolitana de Fortaleza e Baixo Jaguaribe. A pesquisa constatou ainda que 9,5% se concentram em áreas urbanas e 90,5% na zona rural. Por mesorregiões, a proporção de empresas de cerâmica em atividade é maior no Vale do Jaguaribe, representando 35,7% do setor. Em seguida, destaca-se o Norte, com participação de 20,6%. Na sequência, vêm as mesorregiões Noroeste, metropolitana, Sul, Sertões e, em última representação, os municípios do Centro-Sul. Esse aglomerado atualmente tem reconhecimento nacional por meio do Arranjo Produtivo Local (APL) de Cerâmica Vermelha do Baixo Jaguaribe, onde se concentram cerca de 147 indústrias. O APL tem basicamente três explicações sobre sua origem. A primeira se refere à sua localização sobre uma bacia de barro, área de abundância de recursos minerais argilosos. A disponibilidade do insumo incentivou uma tradição cerâmica que tem passado de pai para filho e, por consequência, gerou a terceira explicação, relacionada ao espírito de cooperação que essa atividade criou nos ceramistas, provocando a união dos empresários que, juntos, iniciaram a busca de novas tecnologias e a formação de alianças institucionais. A atividade cerâmica no Ceará Em 94,8% das empresas seus colaboradores são do próprio município. A idade média desses funcionários varia de 19 a 25 anos (67,2%). Uma segunda faixa que varia de 38 a 43 anos está presente em 25,8% das empresas. A pesquisa constatou que o nível de escolaridade dos colaboradores é baixo. A maioria das empresas afirmou que, em média, 80% dos funcionários são alfabetizados. O perfil do empresário do setor cerâmico é caracterizado pela predominância dos homens, que representam 91,2%. As mulheres, 8,8%. Em relação à idade dos empresários, 62,7% estão na faixa etária acima de 40 anos; 9,6% têm até 29 anos e 27,3%, entre 30 e 39 anos. Unidades costumam trabalhar em um nível médio de utilização da capacidade instalada de 75%, o que garante produção mensal de 207,3 milhões de peças. Quanto às vendas do setor, verificou-se um resultado mensal de 190 milhões de peças distribuída em três grandes grupos de produtos: tijolo em primeiro, em segundo as telhas, e as lajes valterranas em terceiro. A força comercial do setor está no produto tijolo, atualmente responsável por 77,3% de tudo que é vendido no estado. Com relação aos principais compradores, 74,4% dos empresários informaram que são tanto pessoa física como pessoa jurídica; 20,8% apontaram com principais compradores as pessoas jurídicas e apenas 4,8% citaram a pessoa física. No que diz respeito ao destino das vendas, 62,5% dos empresários comercializam na própria região. Em seguida, tem-se como destino outros municípios, item citado por 58,8% das empresas, enquanto que outros estados do país foi apontado por 44,3% dos empresários e Fortaleza foi citado por 33,8%. Fonte: Diagnóstico Socioeconômico da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado do Ceará Número de empresas por mesorregiões do Ceará e sua representatividade Agosto de 2013 41 Comércio exterior Destino África Livro sobre as relações comerciais entre o Brasil e o continente africano aponta o potencial existente, os entraves ao seu desenvolvimento e o papel do Nordeste brasileiro posição externa do Brasil, no início do século 21, coincidiu com a evolução econômica e política de parte importante dos 54 países da África. A maioria deles, principalmente os localizados abaixo da linha do deserto do Saara, passou por mudanças macroeconômicas que deram maior estabilidade política e econômica e permitiram crescimento médio anual na primeira década do século em torno de 6%, superior ao de países avançados e à própria América Latina. Acredita-se na continuidade desse crescimento mesmo com a crise global, que ainda perdura. A modernidade trouxe à África o controle inflacionário, a adoção de políticas fiscais responsáveis e de política monetária adaptada ao mundo. Mudanças ocorridas apenas na quinta década da formação dos novos Estados africanos independentes. “A África tardou a se adaptar, mas vem mostrando musculação original quando comparada com as quatro décadas anteriores de fracasso no encaminhamento do projeto de crescimento econômico sustentado e sustentável”. O trecho é do livro “As Relações Comerciais Brasil-África – O novo papel do Nordeste brasileiro”, de autoria de Altair Maia, Flávio Saraiva, Gustavo Pontes e Nelson Bessa, lançado no final de junho na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC). A publicação trata das dimensões estratégicas das relações A 42 Agosto de 2013 entre o Brasil e o continente e do lugar do Nordeste brasileiro nesse contexto. Também discute a dimensão logística e a superação dos gargalos do comércio entre as duas regiões. É prefaciado pelo presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, que, no texto, indica que o livro aponta inéditas oportunidades que se vislumbram para promover novas formas de internacionalização de empresas da região Nordeste do Brasil. “Essa linha de argumentação coincide com movimentos empresariais e os planos estratégicos que o Sistema FIEC está a viabilizar.” Roberto Macêdo pede a atenção para a discreta presença do Nordeste no que chama de brecha da internacionalização crescente e necessária da economia brasileira: “Nós, nordestinos, porém, estamos dispostos a reverter esse diagnóstico e desejamos participar mais ativamente do projeto em curso de adensamento do comércio internacional do Brasil na sua franja do Atlântico Sul”. De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), o continente africano efetuou uma corrente de comércio acima de um trilhão de dólares (1.498,5 trilhão) ao final de 2012. A participação brasileira nesse número é baixa, não ultrapassando os 3% do total. São pouco mais de 12 bilhões de dólares nas exportações (sendo mais da metade açúcar e cereais) e pouco mais de 15 bilhões de dólares nas importações, registrando 13 bilhões por conta do petróleo, ou 90% do total das importações. segue firme em sua média de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) anual e forte expansão de importações. Entre 2004 e 2008, as economias dos 48 países subsaarianos cresceram em média 6,5%. Reagiram bem à crise de 2009, desacelerando o crescimento do PIB para 2,8% e voltaram a crescer 5,2% em 2010 e 2011, com expectativa de aumentar o crescimento nos próximos anos. “Constitui uma GIOVANNI SANTOS A maioria, portanto, de commodities. De 70% a 90% de todo o produto manufaturado consumido na costa oeste africana são importados. O Brasil, que prepara novos voos de atração de negócios, comércio e investimento com o continente africano, afirma Roberto Macêdo no prefácio, precisa observar a geografia, a política e a economia que aproximam a África ocidental, região que vem apresentando forte crescimento, do Nordeste brasileiro. A parte fundamental do estudo, na sua avaliação, consiste na sugestão da superação de gargalos e dificuldades logísticas, de financiamento e promoção para a ação do Nordeste na África. Os autores oferecem o Nordeste como solução, não como problema, acredita o presidente da FIEC. Portanto, a obra “conversa” com o “Integra Brasil – Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo”, na linha de estudos e propostas para um novo patamar da economia e dos negócios do Nordeste no Brasil e no mundo. A África Subsaariana tem crescido continuamente, segundo os relatórios mais recentes do Banco Mundial e do FMI, desde o começo da década e Em julho, Roberto Macêdo recebeu na FIEC o embaixador da África do Sul, Mphakama Mbete Agosto de 2013 43 oportunidade ímpar que não podemos desperdiçar”, afirma o líder da FIEC, para acrescentar: “Os fortes vínculos humanos, étnicos e culturais brasileiros à história africana também reforçam a motivação por projetos como esse”. Outro ponto do livro destacado por Roberto Macêdo foi o lugar do Brasil na conformação da paz e do desenvolvimento na África, bem como a boa receptividade e simpatia dos africanos pelas experiências brasileiras bem-sucedidas de crescimento com inclusão social e a cooperação com o Brasil. Não só a economia africana evoluiu. Houve também declínio dos grandes ciclos belicosos em várias regiões do continente, que contribuiu para esse novo patamar civilizatório. Do outro lado do oceano, o Brasil demonstra a possibilidade de crescimento da economia de forma sustentável, nova forma de atuação no cenário mundial e redução das desigualdades sociais. Esses fatores, analisam os autores, “abriram brecha inédita para o aproveitamento das potencialidades das relações econômicas, políticas, sociais e de cooperação com os países do outro lado do Atlântico Sul”. As relações brasileiras com o continente africano, tratadas no passado como uma opção de baixa preferência, vêm ganhando apoio dos setores envolvidos, desde empresários e agentes governamentais a executivos financeiros nacionais e internacionais. “O desafio para o Brasil vem sendo o de construir uma estratégia orgânica com prioridades visíveis para agir no continente africano”. Quem vem aproveitando a nova dinâmica econômica e política da África é a China, cujos objetivos, segundo os escritores, são claros: extração de matérias-primas para o parque industrial chinês, cooperação clássica e investimento de empresas chinesas nos projetos de desenvolvimento em países diversos, deslocamento de populações chinesas para o continente e criação de ambiente político favorável à inserção chinesa no mundo. A Índia também marca presença, mas com projeto pragmático, em torno de investimentos em países que muito crescem como Uganda, Quênia, Tanzânia e Ruanda. O ingresso da África do Sul no BRIC (passou a ser chamado BRICS), ocorrido oficialmente em março de 2011, representa, conforme os autores, outra razão para tornar mais fortes as relações do Brasil não só com este país, mas com a África Subsaa- 44 Agosto de 2013 riana como um todo. Outro fator de aproximação, segundo o livro, é a influência política e prestígio do Brasil em países de língua oficial portuguesa. A vez do Nordeste? Nesse contexto, emerge o Nordeste nas relações Brasil-África, com destaque para os três estados mais robustos em suas economias (Pernambuco, Ceará e Bahia), que se prepararam tardiamente, afirma a publicação, para se incluir na inserção do Brasil na África, mas podem avançar com proveito para as economias e empresas. Há ainda a oportunidade de transformação do Nordeste brasileiro como articulador de negócios, comércio e interação empresarial entre os dois lados do Atlântico. A vantagem nordestina se dá em diversos aspectos, dentre eles a cultura empresarial consolidada por meio de associações de empresários com experiência de internacionalização; crescimento econômico acima da média brasileira nos últimos anos em três estados; distância geográfica privilegiada; presença africana em universidades (como a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab) e em foros internacionais. Apesar desses fatores, a participação nordestina nas exportações brasileiras para a África não ultrapassa os 5%, de acordo com os autores do livro. Essa parcela quase inexpressiva se dá por fatores logísticos, mas também por diferenças nas estratégias de promoção comercial entre os estados. A Bahia vem declinando nas exportações para o continente (de 43,3% do total do Nordeste, em 2000, para 9,49%, em 2010), enquanto Pernambuco aumenta o volume (de 26,37%, em 2000, para 33,77%, em 2011) e o Ceará alcançou apenas 10% ao final de 2010, após grande crescimento entre 2002 e 2006. O comportamento de Pernambuco e Ceará é atribuído, na publicação, além das políticas de promoção comercial, às mudanças políticas no Poder Executivo dos estados, modificando as estratégias de internacionalização e desmobilizando os aparatos institucionais voltados à promoção comercial. A logística é um dos grandes gargalos apontados pelo livro para a ainda tímida relação comercial entre Brasil e África. O JOSÉ SOBRINHO transporte de mercadorias é feito em navios contratados por viagem ou período, não havendo regularidade nas rotas ou escalas nem aceitação de outro tipo de mercadoria que não seja aquela para a qual foi contratado. “Comercial e financeiramente, estamos muito mais distantes da África do que China, Índia, União Europeia ou Estados Unidos”, apontam os autores. Ao longo dos oito anos de governo, o ex-presidente Lula visitou várias vezes o continente africano, entretanto, de acordo com os autores, não houve o sucesso esperado por erro de foco ou falta de percepção da realidade, com melhoria apenas da relação diplomática. As exportações de commodities têm aumentado e as de produtos manufaturados diminuído. União Europeia e China estão ganhando esse mercado. Os principais motivos para tal substituição, mostra o livro, são as linhas de crédito e as linhas marítimas. Com exceção de linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às grandes empresas de engenharia e obras públicas no exterior, as linhas de financiamento para exportação e importação são praticamente inexistentes entre o Brasil e a África. Enquanto isso, Europa, Estados Unidos, China e Japão têm linhas de crédito em abundância para a região. Em relação às linhas marítimas, a situação é ainda pior, de acordo com o livro: para a ponta Sul do continente, existe a rota Brasil x Ásia, passando pela ponta do continente africano, mas para os demais países só há uma opção: transbordo em portos europeus ou da África do Sul. A região mais prejudicada é a Costa Oeste, onde a única alternativa é o transbordo na Europa. Esse arrodeio gera três problemas. Primeiro, em média, o tempo máximo de transporte, caso houvesse uma rota direta, seria de cinco a sete dias. Atualmente, leva entre 30 e 90 dias. O segundo é quanto ao preço do frete, calculado de acordo com a distância a ser percorrida entre o porto de origem e o de destino. O terceiro problema se dá no custo financeiro da operação, quando o dinheiro do importador fica retido por todo o tempo do negócio, incluindo preparo, transporte e liberação da mercadoria. Algumas tentativas de ligação marítima Brasil-Costa Oeste da África foram feitas, mas nenhuma conseguiu se firmar ou funcionar de forma regular. Os preços dos produtos brasileiros, em termos de preço de fábrica, são competitivos com Europa, Estados Unidos e até com a China, mas quando essas três variáveis são adicionadas não há como vencer a concorrência, avaliam os autores. As perspectivas favoráveis de crescimento no longo prazo na África Subsaariana vêm atraindo investidores internacionais e criando condições para o desenvolvimento de mercado de capitais em países como Nigéria, Quênia, Gana e Angola. Os principais parceiros do Brasil são África do Sul, Angola, Nigéria e Gana. Uma proposta apontada no livro para incrementar essas relações comerciais é unir uma mudança de rumos da política comercial do país com a reativação da política de desenvolvimento regional, com articulação efetiva de órgãos estaduais e federais e gestão da iniciativa privada nacional e estrangeira visando remover os obstáculos das relações entre Brasil e África, com destaque para o potencial do Nordeste. “É de fundamental importância e urgência a mobilização dos atores relevantes da região Nordeste, desde governos a entidades de classe e empresas em geral”, alertam os autores. Para eles, todos os esforços em aumentar as relações comerciais tenderão ao fracasso, se executadas sem estratégia e acompanhamento sistêmico: “É fundamental que os atores relevantes no âmbito da região Nordeste saibam construir uma ponte segura sobre o oceano contíguo que nos leve aos promissores e desafiantes mercados da costa ocidental africana”. Autores autografam o livro na FIEC Agosto de 2013 45 Inovações & Descobertas Tinta com autorreparo inibe corrosão Cimento condutor de eletricidade Pesquisadores brasileiros da Escola Politécnica da USP desenvolveram um composto na forma de nanocápsulas que, quando adicionado a tintas, inibe a corrosão nos metais pintados. O resultado é obtido por meio de um mecanismo de autorreparo, em que as nanocápsulas se rompem quando começam a aparecer trincas na cobertura de tinta, liberando um material que repara o dano. Segundo a professora Idalina Vieira Aoki, o material ativo é um composto de cério e silanol, envolvido em cápsulas de poliestiren, que são adicionadas às tintas a ser aplicadas sobre estruturas metálicas. Uma das principais aplicações do inibidor de corrosão será na proteção de dutos e tanques de armazenamento de petróleo. “Contudo, qualquer setor industrial em que a pintura seja o método utilizado para evitar a corrosão e prolongar a vida útil dos equipamentos pode utilizar o inibidor encapsulado", garante a pesquisadora. Engenheiros da Universidade de Alicante, na Espanha, desenvolveram um cimento condutor de eletricidade. A inovação foi obtida adicionando nanotubos de carbono na composição do cimento tradicional. Segundo o professor Pedro Garcés, a tecnologia permite aquecer edifícios ou evitar a formação de gelo em infraestruturas como ruas, estradas, pistas de pouso e outros elementos. Os testes mostraram que a adição das nanopartículas de carbono não altera as propriedades estruturais do concreto, nem compromete a durabilidade das estruturas construídas com ele. Além disso, a possibilidade de construir partes dessa estrutura com capacidade de conduzir eletricidade dá mais versatilidade ao produto. Tecnologia pode dispensar fertilizantes O professor/doutor Edward Cocking, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, afirma ter feito uma descoberta com poder de mudar a forma como a humanidade cultiva seus alimentos. Ele desenvolveu plantas que sintetizam o nitrogênio diretamente do ar atmosférico, dispensando o uso de fertilizantes na agricultura. A grande maioria das plantas pre- 46 cisa obter o nitrogênio a partir do solo, o que significa que as culturas comerciais dependem dos fertilizantes nitrogenados sintéticos. A tecnologia, batizada de N-Fix, permite inserir bactérias fixadoras de nitrogênio nas células das raízes das plantas. Conforme o pesquisador, a técnica não é nem modificação genética, nem bioengenharia, já que usa tão somente uma bactéria natural, que tem a capacidade de fixar o nitrogênio a partir do ar. A universidade já licenciou a tecnologia para a empresa Azotic Technologies, que vai tentar obter autorização para o uso do N-Fix em vários países, incluindo o Brasil. Agosto de 2013 Roupa evita ataques de tubarões Cientistas da University of Western Australia e designers da Shark Attack Mitigation Systems (SAMS) anunciaram uma novidade que pode acabar com ataques de tubarão. Utilizando-se da descoberta de que tubarões veem em preto e branco, a tecnologia procura evitar os ataques a partir de sinais visuais ameaçadores ou que confundam os peixes. Numa das soluções, a roupa, feita de neopreno, torna-se uma camuflagem ótica que torna impossível ao animal a distinção entre o surfista e a água. Em outro traje, a vestimenta apresenta uma intercalação de raias brancas e azul escuro, o que dá ao animal a sensação de perigo. Os testes foram feitos na costa nordeste da Austrália, onde, em 2012, cinco surfistas morreram após ataques de tubarõestigres. O resultado foi positivo para ambos os trajes. Agosto de 2013 47 MAIS QUALIDADE DE VIDA PARA O TRABALHADOR DA INDÚSTRIA O SESI acredita que promover qualidade de vida é fundamental para vivermos mais e melhor. Por isso, as unidades do SESI disponibilizam amplo parque esportivo para a realização de exercícios, promovem ações de saúde e segurança no trabalho para prevenir acidentes nas indústrias e oferecem serviços socialmente responsáveis, sempre pensando no bem estar do trabalhador e na competitividade das empresas. Há 65 anos o SESI Ceará oferece qualidade de vida ao trabalhador cearense. www.sesi-ce.org.br www.facebook.com/sesiceara 48 www.twitter.com/sesi_ceara Agosto de 2013 Central de Relacionamento: 4009.6300
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