Caderno 33 - CEPED UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

Transcrição

Caderno 33 - CEPED UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
CADERNO ESPECIAL
CADERNO
ESPECIAL
Percebendo Riscos, Reduzindo Perdas
Este caderno é uma das
ações do Projeto PCRD (Promoção da Cultura de Riscos
de Desastres), promovido
pela SEDEC (Secretaria Nacional de Defesa Civil), em
cooperação técnica com o
CEPED (Centro Universitário de Estudos e Pesquisas
sobre Desastres) da UFSC
(Universidade Federal de
Santa Catarina), e em par-
e ideias entre os diversos
atores sociais sobre os temas
relacionados à defesa civil,
com foco na promoção da
cultura de risco de desastres.
Sem a pretensão de esgotar o debate e as respostas à
problemática dos riscos, o Caderno Percebendo Riscos, Reduzindo Perdas é um espaço à
divulgação de conhecimento,
fruto dos esforços da comuni-
ceria com a revista Com
Ciência Ambiental.
Iniciado em maio de 2010
e com previsão de circulação até agosto de 2011, o
dade científica, dos gestores
públicos, dos técnicos, especialistas, das lideranças políticas e comunitárias, do meio
empresarial, enfim, de todos
caderno tem como objetivo
principal promover e ampliar a troca de conheci-
os setores sociais, capaz de
fomentar uma gestão de riscos efetivamente integrada,
mento, impressões, opiniões
humanitária e democrática.
Promoção da Cultura de Riscos de Desastres - PCRD
Amb ental
COM
Com Ciência Ambiental
CIÊNCIA
56
Ministério da
Integração Nacional
Com Ciência Ambiental
57
Marcos de Oliveira
Antonio Edesio Jungles
Carlos Alberto de Araujo Gomes Junior
DE SANTA CATARINA
O Marco de Ação de Hyogo1, respaldado
pelas Nações Unidas, estabeleceu um enfoque
integral para a redução de riscos de desastres.
Esse Marco, adotado por 168 países a partir
de janeiro de 2005, objetiva uma considerável
redução das perdas ocasionadas por desastres,
sejam elas humanas, de bens sociais, econômicas ou ambientais.
O Marco de Ação de Hyogo estabeleceu
cinco áreas prioritárias de ação, a saber:
•Alcançar que a redução de risco de
desastres seja uma prioridade
Garantir que a redução de risco
de desastres seja uma prioridade
nacional e local com uma sólida base
institucional para sua implementação.
•Conhecer o risco e tomar medidas
Identificar, avaliar e observar de perto
os riscos de desastres e melhorar os
sistemas de monitoramento, alerta e
alarme antecipados.
•Desenvolver uma maior compreensão e
conscientização
Utilizar o conhecimento, a inovação e
Com Ciência Ambiental
58
a educação para criar uma cultura de
segurança e resiliência em todos os níveis.
•Reduzir o risco
Reduzir os fatores fundamentais de
risco.
•Estar preparado e pronto para atuar
Fortalecer a preparação em desastres
para uma resposta eficaz em todos os
níveis.
De forma complementar, a Estratégia
Internacional para a Redução de Desastres,
das Organizações das Nações Unidas (EIRD/
ONU), oferece um meio de cooperação e assistência entre governos, organizações e atores da sociedade civil para a implementação
do Marco. Trata-se de uma maneira de fazer
com que as nações e comunidades possam se
tornar mais resistentes às ameaças que põem
em risco os benefícios do desenvolvimento.
Para melhor compreensão do problema,
de acordo com dados da EIRD/ONU (2005),
“todos os anos, mais de duzentos milhões de
pessoas são afetadas por inundações, secas,
tormentas, terremotos, deslizamentos de
terra, incêndios florestais e outros eventos
adversos que geram grandes padecimentos
humanos e debilitantes perdas econômicas”. E, além da pobreza, a crescente
densidade populacional, a degradação
ambiental e o aquecimento global estão
fazendo com que o impacto das ameaças
naturais piore ainda mais.
Teoricamente, todos são afetados por
essas ameaças naturais, entretanto, na
prática, elas afetam proporcionalmente
mais as populações pobres, em função de
que elas, em sua maioria, vivem em zonas
de maior densidade populacional, em residências mal construídas e em terrenos
mais expostos ao risco.
Infelizmente, apesar de muitos conhecerem a miséria humana e as paralisantes
perdas econômicas resultantes dos desastres,
o que poucos se dão conta é que essa devastação pode ser prevenida mediante iniciativas
para a redução de riscos de desastres.
Alinhando conceitos
De acordo com a nova terminologia da
Estratégia Internacional para a Redução
de Desastres (UN/ISDR, 2009, p.13-14), o
termo desastre é definido como “uma séria
interr upção no funcionamento de uma
comunidade ou sociedade que ocasiona
uma grande quantidade de mortes e igual
perda e impactos materiais, econômicos e
ambientais que excedem a capacidade de
uma comunidade ou a sociedade afetada
para fazer frente à situação mediante o uso
de seus próprios recursos”.
Essa mesma terminologia (UN/ISDR,
2009, p.27) afirma que a redução de desastres concentra-se no conceito e na prática
de: “reduzir o risco de desastres mediante
esforços sistemáticos dirigidos à análise e à
gestão dos fatores causadores dos desastres,
o que inclui a redução do grau de exposição às ameaças (perigos), a diminuição da
vulnerabilidade das populações e suas propriedades, uma gestão prudente dos solos
e do meio ambiente e o melhoramento da
preparação diante dos eventos adversos”.
Entretanto, durante muito tempo, o
trabalho de enfrentamento dos desastres
concentrou-se unicamente nas ações de
resposta desenvolvidas após o impacto do
evento adverso, envolvendo o socorro, a
assistência às pessoas atingidas e a reabilitação inicial do cenário do desastre 2. Nesse
modelo tradicional, a caracterização dos
desastres privilegia a tomada de medidas
pós-desastre. Estas são orientadas para o
restabelecimento do panorama anterior ao
evento destrutivo, diminuindo a responsabilidade dos responsáveis pela redução dos
riscos de desastres.
Atualmente, torna-se imperioso que tal
paradigma seja substituído pela ideia da concepção social do desastre, na qual os desastres
são os produtos de uma combinação particular
entre ameaças e vulnerabilidades da sociedade. Isso significa que, na maioria dos casos,
são as condições sociais de existência de uma
população que determinam fortemente o nível
de destruição ou de interrupção de serviços
essenciais numa sociedade.
Nesta nova perspectiva, os desastres são
o produto de processos de transformação e
crescimento da sociedade que não garantem uma adequada relação com o ambiente
natural e o construído que lhe dá sustento.
Tal postura fortalece a ideia de uma gestão integral de risco3, que se desenvolve num
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
A consolidação do SCO como
ferramenta de gestão para
resposta aos desastres no Brasil
CADERNO
CADERNO ESPECIAL
O desafio de responder aos
desastres
Percebe-se que o grande desafio das pessoas e das instituições que lidam com o gerenciamento dos desastres concentra-se na redução
dos seus riscos. Como identificar e minimizar
fatores de risco a fim de reduzir a frequência
e a magnitude de eventos adversos e também
a vulnerabilidade das comunidades expostas?
Entretanto, em que pese a importância
dos esforços para a redução de desastres, vale
constatar que a ocorrência destes é uma possibilidade sempre real. Por isso, a capacidade
de prevenir, monitorar e intervir de forma
rápida e eficiente em desastres tem sido um
objetivo perseguido de forma sistemática e
continuada, recebendo investimentos consideráveis no desenvolvimento de estudos
e planos, na alocação de recursos humanos
e materiais, bem como no desenvolvimento
de atividades de capacitação e treinamento.
No Brasil, a temática da resposta aos desastres encontra-se ainda intimamente ligada
aos serviços de emergência, representados
pelo conjunto de organizações especializadas
com responsabilidade e objetivos específicos
de proteger a população e seus bens em situações emergenciais. De forma geral, serviços
Com Ciência Ambiental
60
de emergência incluem autoridades de defesa
civil, corpos de bombeiro, organizações policiais, serviços médicos de emergência, forças
armadas e unidades especializadas em emergência nas áreas de eletricidade, abastecimento
de água, transporte, comunicações etc.
A experiência, no entanto, tem demonstrado que entre os vários problemas encontrados na implantação das ações de resposta
aos desastres, independente de quem os
responde, questões relacionadas ao comando
e controle das operações constituem-se ainda
num ponto altamente relevante, que quase
sempre se configura como o elo fraco de
muitas intervenções.
Isto decorre da complexidade que acompanha a resposta aos desastres, devido ao
envolvimento de múltiplas organizações,
com diferentes jurisdições e competências,
a imprevisibilidade sobre quem implantará
as primeiras ações e o envolvimento obrigatório do poder político no atendimento.
Tudo isso agrega ao conjunto da operação
uma complexidade natural que geralmente
é decorrente da falta de uma linguagem
única e de objetivos, procedimentos e canais de comando e comunicação comuns às
organizações em operação.
Os resultados disso podem ser terríveis:
estrutura de coordenação e níveis de autoridade indefinidos; comunicação inadequada
com os elementos internos e externos às
operações; fluxo de informações inadequado;
falta de controle sobre os recursos, utilização inadequada de recursos especializados;
relacionamento precário com a imprensa; e,
o mais importante, dificuldade para reduzir
efetivamente danos e prejuízos para pessoas,
bens e o meio ambiente (GOMES Jr., 2009).
Um aspecto relevante para a redução
desses problemas é a adoção de um sistema de comando e controle padronizado
para o gerenciamento do desastre. Um
sistema previamente definido, conhecido
e treinado pelas pessoas e organizações
envolvidas, que seja aplicável a vários
tipos de emergências e que seja capaz de
ordenar o fluxo de comando e controle de
informações, as decisões e uso dos recursos
de forma integrada, eficiente e eficaz.
Iniciado nos Estados Unidos na década
de 1970 para coordenar operações de controle
e extinção de incêndios florestais, o Incident
Command System foi sendo progressivamente
utilizado para outras situações emergenciais.
Aos poucos, consolidou-se como modelo
único para resposta à emergências maiores,
sendo padronizado em 2004 pela Federal
Emergency Management Agency e pela Homeland Security como obrigatório para o uso
em desastres, terrorismo, emergências com
produtos perigosos e eventos planejados de
maior complexidade.
Duas iniciativas relativas à capacitação
de pessoal nessa temática merecem registro.
A primeira, por conta da Secretaria Nacional
de Segurança Pública (SENASP), que desde
2008, sob a tutela do Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), realizou a sensibilização e capacitação de
profissionais de segurança pública em vários
Estados da Federação. Capacitação que ocorreu por meio de cursos presenciais e na modalidade à distância sobre Sistema de Comando
em Incidentes – SCI (baseado no padrão do
Incident Command System - ICS utilizado pela
Unidet States Coast Guard4 - USCG).
A segunda representa o fruto de uma
parceria celebrada pelo Ministério da Integração Nacional (MI), por meio da Secretaria
Nacional de Defesa Civil (SEDEC), com
a Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), por meio do Centro de Estudos e
Pesquisas sobre Desastres (CEPED/UFSC).
A parceria resultou na publicação, em 2010,
do Manual de Gerenciamento de Desastres,
com base no Sistema de Comando em Operações - SCO (adaptação do inglês, Incident
Command System/ICS-100), desenvolvido
pelo Instituto de Gerenciamento de Emergência (Emergency Management Institute),
da Agência Federal de Gerenciamento de
Emergências dos Estados Unidos (Federal
Emergency Management Agency/FEMA).
No Brasil, várias outras experiências
foram desenvolvidas a partir do Incident
Command System ou ICS norte-americano.
Algumas delas se encontram bem desenvolvidas em alguns Estados da Federação,
normalmente sob a coordenação das Organizações de Segurança Pública locais, de
onde se destacam:
a) O Sistema de Coordenação de Operações de Emergência - SICOE (baseado
no padrão do Sistema de Comando em
Incêndios, em uso no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de
São Paulo);
b) O Sistema Integrado de Comando e
Operações em Emergência – SICOE,
da Coordenadoria Estadual de Defesa
Civil do Estado do Paraná;
c) O Sistema de Comando em Incidentes
– SCI (baseado no Padrão OFDA-USAID, em franca utilização no Estado do Rio de Janeiro e Distrito Federal);
d) O Sistema de Comando em Incidentes
(baseado no padrão NIIWS, disseminado pelo Ministério da Meio Ambiente);
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
continuum, intimamente ligada a uma visão
de desenvolvimento sustentável da sociedade.
Essa ideia não foca na atuação em fases distintas, senão em uma sequência complexa de
fases integradas horizontalmente (prevenção,
mitigação, preparação, resposta e reconstrução). Legitima-se, portanto, que o que é
executado em uma etapa do processo pode
representar severas repercussões, positivas ou
negativas, numa etapa seguinte.
CADERNO
CADERNO ESPECIAL
No entanto, obser vando-se a grade
curricular e o conteúdo dos treinamentos
oferecidos e em curso no Brasil é perceptível que todos utilizam o ICS como base
conceitual. Variam entre si minimamente
em aspectos específicos, decorrentes possivelmente da diferença de fontes e de aspectos de tradução ou ainda de adaptações
à realidade local de cada Estado.
Finalmente, merece destaque a iniciativa
da Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC), que recentemente instituiu o Grupo
de Apoio a Desastres (GADE)5, sob coordenação do Centro Nacional de Gerenciamento
de Riscos e Desastres (CENAD). O GADE
tem a missão de atuar como elo da estrutura
Federal de Defesa Civil e promover apoio e
assessoria nas ações estaduais e municipais
de resposta à desastres. Pretende-se, assim,
reduzir a ocorrência de danos e prejuízos,
com vistas à segurança, à saúde e à assistência social da população afetada, assim como
o restabelecimento das atividades essenciais
no cenário do desastre.
No período de 6 a 10 de dezembro de
2010, cerca de 30 especialistas e técnicos em
Com Ciência Ambiental
62
Defesa Civil estiveram reunidos em Brasília
para participar do programa de formação
continuada do GADE e discutir seu funcionamento e implantação com base no Sistema
de Comando em Operações.
O Sistema de Comando em
Operações (SCO)
O SCO não é algo novo e experimental,
pois sua estruturação é garantida por uma
ampla fundamentação teórica, de longa
data e aliada à experiência de inúmeros
eventos em vários diferentes países, especialmente nos Estados Unidos.
Utilizando-se das melhores práticas de
administração, o SCO ajuda a garantir:
•O estabelecimento de uma estrutura
formal de comando;
•O alcance de prioridades e objetivos
com base na consolidação de planos de
ação comuns e sucessivos adaptados às
contingências do desastre;
•O uso eficiente e eficaz dos recursos
(humanos, materiais, financeiros, tecnológicos e de informação) disponíveis
de forma integrada; e
•Maior segurança às equipes de resposta e aos demais envolvidos no
desastre.
Sua correta utilização permite que pessoas de diferentes organizações se integrem
rapidamente em uma estrutura de gerenciamento comum, facilitando a integração das
comunicações e os fluxos de informações e
melhorando os trabalhos de inteligência e
de planejamento. O SCO representa uma
ferramenta gerencial (modelo), de con-
cepção sistêmica e contingencial, que padroniza as ações de resposta em situações
críticas de qualquer natureza ou tamanho.
De acordo com Gomes Jr. e Alves (2004,
p.41), o Sistema de Comando em Operações
pode ser definido como: “uma ferramenta gerencial para comandar, controlar e coordenar
as operações de resposta em situações críticas,
fornecendo um meio de articular os esforços
de agências individuais quando elas atuam
com o objetivo comum de estabilizar uma
situação crítica e proteger vidas, propriedades
e o meio ambiente”.
Assim, o SCO permite que seus usuários
adotem uma estrutura organizacional integrada
e democrática para enfrentar as demandas e
complexidades de um desastre, sem prejuízo
de suas competências e limites jurisdicionais.
O SCO baseia seu emprego em três princípios fundamentais:
a) Concepção sistêmica (estabelece procedimentos para organizar a maneira
como os recursos necessários - humanos, materiais, de informação e tecnológicos - são mobilizados, cadastrados
e empregados na operação e a forma
como as operações são planejadas,
organizadas, lideradas e controladas
mediante a formulação de planos de
ação em ciclos sucessivos);
b)Concepção contingencial (emprega
uma estrutura organizacional modular e flexível de comando, controle
e comunicação que se adapta às demandas e limitações contingenciais
do ambiente onde o desastre ocorre);
c) Concepção para todos os riscos e situações (modelo universal, utilizável
em desastres de qualquer natureza,
independentemente de sua causa, tamanho, configuração, localização ou
complexidade).
Esses princípios se desdobram em
quinze características básicas, a saber:
Emprego de terminologia comum; uso de
formulários padronizados; estabelecimento
e transferência formal de comando; cadeia
e unidade de comando; comando único ou
unificado; organização modular e flexível;
administração por objetivos; uso de planos
de ação; adequada amplitude de controle;
instalações e áreas padronizadas; gerenciamento integrado de recursos; gerenciamento
integrado das comunicações; gerenciamento
integrado de informações e inteligência;
controle de pessoal, controle da mobilização
e da desmobilização.
Embora o SCO possa ser empregado nas
mais diversas situações, independentemente
de sua causa, tamanho, configuração, localização ou complexidade, faz-se necessário
que o sistema seja implementado a partir
de um roteiro básico. Dessa forma, assim
que a emergência ou o desastre é percebido,
um conjunto de medidas previamente estabelecidas deve ser iniciado. A começar com
o acionamento dos organismos de resposta,
por meio de seus recursos operacionais, de
forma que possam deslocar-se até o local da
emergência e iniciar os primeiros trabalhos
de avaliação e controle da situação (OLIVEIRA, 2010).
Mesmo não havendo uma sequência linear
obrigatória aplicável a todos os casos, a doutrina
do SCO sugere a divisão dos trabalhos a partir
de três etapas distintas: a etapa de resposta
imediata, a etapa de elaboração do plano de
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
e) O Sistema de Comando em Operações (baseado nas Diretrizes da
Federal Emergency Management
Agency (FEMA) e do Standardized
Emergency Management System
(SEMS), da Califórnia, Estados
Unidos, disseminado pela Defesa
Civil do Estado de Santa Catarina
e apoiado pelo CEPED/UF S C,
também em uso pelo Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do
Espírito Santo, Minas Gerais, Pará
e Santa Catarina).
CADERNO
CIÊNCIA
NA
AMAZÔNIA
CADERNO
ESPECIAL
Resumidamente, pode-se afirmar que:
•O que é o SCO? Um modelo consistente e padronizado de gerenciamento que estrutura formalmente
um comando com abrangência em
toda a operação.
•Para que serve o SCO? Para permitir que esferas de governo federal,
estadual e municipal atuem de forma integrada com o setor privado e
organizações não-governamentais.
•Como funciona o SCO? Como
ferramenta gerencial para planejar,
organizar, dirigir e controlar de
forma integrada todos os recursos
operacionais e logísticos empregados
na resposta ao desastre, independentemente de sua causa, tamanho,
configuração, localização ou complexidade.
•Por que o SCO é importante? Porque seu correto emprego aumenta
a eficiência e eficácia dos trabalhos
de comando, amplia a segurança
dos envolvidos e reduz a perda de
vidas e bens e também possíveis
danos ambientais.
Considerações finais
Mais do que estar preparado para
mudar a forma como se responde às situações críticas nos desastres (ainda numa
visão muito prescritiva baseada no uso
de planos de contingência), deve-se estar
preparado para conceber um modelo dou-
Com Ciência Ambiental
64
trinário único, alicerçado nos princípios
da concepção sistêmica, contingencial e
para todos os tipos de riscos e operações.
É preciso torná-lo padronizado, conhecido, aceito e utilizado por todos aqueles
que atuam em resposta aos desastres.
Com base nas recomendações da
Estratégia Internacional para a Redução
dos Desastres e também em função da
própria experiência adquirida pelas organizações de segurança pública e de defesa
civil brasileira ao longo dos últimos anos,
percebe-se que se faz necessária e urgente
a formulação de diretrizes doutrinárias.
Tais diretrizes devem ser capazes de realizar a administração de desastres por meio
do emprego de uma ferramenta gerencial
sistêmica que padronize, nacionalmente,
as ações de resposta às emergências.
Além disso, cabe ainda o desenvolvimento de estratégias de promoção do
Sistema de Comando em Operações
como padrão para o gerenciamento de
desastres. Atualmente, essa ação está só
garantida pelo Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), sob a coordenação
da Secretaria Nacional de Defesa Civil
(SEDEC), do Ministério da Integração
Nacional, de acordo com o Decreto nº
7.257, de 4 de agosto de 2010, e Lei nº
12.340, de 1 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2010).
Finalmente, é preciso que em paralelo
ao trabalho de padronização, mediante
sensibilização e amplas ações de capacitação, seja institucionalizado um processo
nacional para acompanhamento e avaliação do modelo SCO que permita a sua
melhoria constante por meio da divulgação de boas práticas e lições aprendidas.
NOTAS
1. A Conferência Mundial sobre Redução de Desastres (WCDR), realizada em 2005, em Kobe, Hyogo, Japão, representou um
ponto de inflexão dentro da agenda mundial em torno da redução de riscos de desastres (RRD), com a adoção do Marco
de Ação de Hyogo 2005-2015: Aumento da resiliência das Nações e das Comunidades ante aos desastres, um plano de 10
anos para alcançar um mundo mais seguro contra os riscos de desastres.
2. Esse enfoque representa o modelo de Hewitt (1997), no qual os desastres são eventos extremos da natureza, imprevisíveis
e inevitáveis, nos quais a sociedade tem papel de dependência.
3. A Gestão Integral de Risco é aquela que considera, de maneira sistêmica, todos os fatores e atores que, de uma maneira
ou de outra, incidem na geração dos riscos (também chamada de gestão integrada de risco).
4. A Guarda Costeira dos Estados Unidos (do inglês, Unidet States Coast Guard ou, simplesmente, USCG) oferece um serviço
militar, marítimo, de múltiplas missões, que se reporta ao Departamento de Defesa e representa uma das cinco forças
armadas norte-americanas.
5. O GADE foi instituído por meio do Decreto n° 7.257, de 4 de agosto de 2010, § 5°, do art. 5°.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Caderno de Atividades do Curso de Gestão
Integrada em Defesa Civil. Brasília: 2010.
Curso IS-200.b - ICS for Single Resources and Initial Action Incidents.
Lição 2 – Gestão e Liderança, 2010. Disponível em: < http://training.fema.gov>. Acesso em: 10 nov. 2010.
ESTEVES JR., Hamilton Santos et al. Curso de Sistema de Comando de Incidentes. Programa Nacional de Segurança Pública
com Cidadania. Brasília: SENASP, 2008. 144p.
Estrategia Internacional para Reducción de Desastres de las Naciones Unidas (UN/ISDR). La gestión del riesgo de desastres
hoy: contextos globales, herramientas locales. Ginebra, Suiza, 2008. 206p.
Estrategia Internacional para Reducción de Desastres de las Naciones Unidas (UN/ISDR). Terminología sobre reducción del
riesgo de desastres. Ginebra, Suiza, 2009. Disponível em: <http://www.unisdr.org/publications/>. Acesso em: 10 nov.
2010.
GOMES Jr., Carlos Alberto de Araújo; ALVES, Márcio Luiz. Curso de Capacitação em Defesa Civil: Sistema de Comando em
Operações. Guia do estudante. Capacitação à distância. Florianópolis: Lagoa Editora/CEPED/UFSC, 2004.
GOMES Jr., Carlos Alberto de Araújo. Sistemas de Comando: considerações doutrinárias para a construção de um modelo
nacional aplicável às ações de defesa civil. Florianópolis: Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres/
Universidade Federal de Santa Catarina (CEPED/UFSC), 2009.
HEWITT, Kenneth. Regions of risk: a geographical introduction to disasters. Harlow: Longman, 1997. 389p. LAVELL, Allan. Desastres y Desarrollo: hacia un Entendimiento de las Formas de Construcción Social de un Desastre: El Caso
del Huracán Mitch en Centroamérica. BID e CIDHS: San José, Costa Rica, 2000.
OLIVEIRA, Marcos de. Manual Gerenciamento de Desastres - Sistema de Comando de Operações. Florianópolis: Ministério da
Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Universitário de
Estudos e Pesquisas sobre Desastres, 2010. 80p.
Secretaria Interinstitucional de la Estrategia Internacional para Reducción de Desastres de las Naciones Unidas (EIRD/ONU).
Introducción al Marco de Acción de Hyogo 2005-2015: Aumento de la resiliencia de las naciones y las comunidades ante
los desastres. Ginebra, Suiza, 2005. Disponível em: <http://www.unisdr.org/hfa>. Acesso em: 05 ago. 2010.
U.S. Department of Homeland Security. National Incident Management System. Washington: DHS/FEMA, 2004. Disponível
em: <http://www.fema.gov/emergency/nims/>. Acesso em: 13 nov. 2010.
Sobre os autores
MARCOS DE OLIVEIRA - Coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, Especialista em Gestão e Administração
em Defesa Civil e Mestre em Engenharia Civil, consultor do CEPED/UFSC, instrutor e facilitador do GADE.
ANTONIO EDESIO JUNGLES – Diretor Geral do CEPED UFSC, possui doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal de Santa Catarina (1994) e pós-doutorado pela University of Alberta (2000). É Professor Adjunto da Universidade
Federal de Santa Catarina.
CARLOS ALBERTO DE ARAUJO GOMES JÚNIOR – Major da Polícia Militar de Santa Catarina, consultor do CEPED/UFSC,
instrutor e facilitador do GADE.
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
ação e a etapa final de desmobilização e
retorno à situação de normalidade.
CADERNO
CIÊNCIA NA
CADERNO
ESPECIAL
AMAZÔNIA
Rejane Lucena
Damares Lopes de Albuquerque
DE PERNAMBUCO
Os problemas enfrentados pelas comunidades localizadas em áreas suscetíveis a
deslizamentos e inundações são frequentes
no cenário brasileiro. Esse quadro se agrava
em decorrência das ações antrópicas que
contribuem para a degradação ambiental.
Essa degradação ambiental, por sua
vez, é resultante do processo de ocupação
desordenada, que influi na ocorrência de
desastres no contexto local, e da escassez
de políticas públicas intersetorializadas
que fortaleçam ações conjuntas para a
minimização dos efeitos danosos ao meio
ambiente e contribuam para a organização
social nos assentamentos humanos.
Esse cenário tem gerado grande preocupação à gestão de defesa civil, considerando a urgência de estabelecer novos
paradigmas concernentes às mudanças de
hábitos no contexto local.
Assim, atuar no incentivo de práticas
socioeducativas, principalmente com os
jovens, representa a possibilidade de criar
espaços democráticos capazes de estimular
a participação de todos que fazem parte
da comunidade. Neste sentido, caminharemos no intuito de fortalecer a formação
Com Ciência Ambiental
66
de cidadãos comprometidos com a preservação ambiental e a redução de desastres
nos assentamentos humanos precários.
Para construir atitudes eficazes em
relação aos riscos e aos desastres que têm
influenciado nas condições de habitabilidade da comunidade, é fundamental
fomentar ações socioeducativas e estimar
o desenvolvimento de cidadãos críticos e
predispostos a tornarem-se protagonistas
de suas histórias, promovendo mudanças
graduais e exitosas no contexto socioambiental em que estão inseridos.
As mudanças comportamentais refletem
nas atitudes corretas em relação ao meio
ambiente, à escolha do representante, ao
simples gesto pessoal de convidar um vizinho a participar de uma reunião do Nudec
(Núcleo Comunitário de Defesa Civil) e a
não tomar atitudes que possam gerar riscos
aos que lhe rodeiam e a si próprio.
Na tentativa de sensibilizar jovens
para o compromisso coletivo com a
comunidade nos municípios da Região
Metropolitana do Recife, tem sido desenvolvido o Projeto Nudec Jovem1 nas
escolas situadas em áreas de risco socio-
ambiental, por meio de parcerias com
órgãos governamentais, como a Agência
Estadual de Planejamento e Pesquisas
de Pernambuco (Condepe/Fidem), o
governo do Estado de Pernambuco e os
municípios da Região Metropolitana do
Recife, e não-governamentais, como o
Save The Children.
O propósito é estimular o protagonismo juvenil e a reflexão do jovem para
o despertar da consciência de si e do seu
papel contributivo para melhoria do contexto socioambiental no qual está inserido,
partindo do princípio da construção de
significados na realidade, enquanto sujeito
individual e sujeito social.
Os jovens são mobilizados e se articulam para atuar em colaboração com
a defesa civil e a escola, a quem cabe
apoiá-los no desenvolvimento de ações
socioeducativas e preventivas de riscos
de desastres.
A partir de atividades didáticas, o
jovem passa a observar, analisar e interagir no seu espaço comunitário, contribuindo para a mitigação ou solução
dos problemas identificados no mapa
de risco socioambiental da comunidade.
A partir da comunicação de risco,
as ações educativas realizadas propiciam o despertar para a comunidade,
na perspectiva da apropriação do conhecimento de si e do espaço físico e
social que ocupa. Com isso, o interesse
e a necessidade de coadunar intenção e
gesto para a multidisciplinaridade são
fomentados, promovendo a cooperação
e a solidariedade e reunindo esforços
para um trabalho integrado, atuante e
efetivo na mobilização de atores sociais
críticos, propositivos e corresponsáveis
pelo espaço em que vivem.
O jovem representa um elo com a
escola e a comunidade. Ele é possuidor de um importante potencial que
deve ser valorizado e sinalizado para a
perspectiva de melhoria da condição de
vida na comunidade, a partir de práticas
do cotidiano voltadas à preservação do
meio ambiente e à prevenção e redução
de riscos socioambientais.
A mudança de atitudes para uma relação menos agressiva com o meio ambiente
é importante e merece ser aprofundada
a partir de iniciativas educativas, envolvendo e sensibilizando a juventude para
uma reflexão dos seus comportamentos e
reconstrução de atitudes que possibilitem
a sustentabilidade planetária.
Estabelecer redes de relações entre os
jovens e a comunidade abre uma perspectiva bastante proveitosa em relação a outros
cidadãos que necessitam ser mobilizados,
sensibilizados e envolvidos nessa relação
processual de reconstrução da realidade.
O projeto Nudec Jovem traz o diferencial social, pois está dentro da escola,
contribuindo para atuar de uma forma
transversal, considerando os conhecimentos, informações, conteúdos e saberes desenvolvidos na escola regular e propiciando
a interface com a vivência comunitária,
adquirida pelo jovem na escola da vida.
Desta forma, entende-se que a partir
dos temas transversais trabalhados na
escola seja possível atuar de maneira
contextualizada com a possibilidade de
redução de riscos e de desastres nas áreas
suscetíveis a deslizamentos e inundações. Por meio das relações com a escola,
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
Protagonismo Juvenil:
contribuindo para a prevenção
de riscos de desastres
CADERNO
CIÊNCIA NA
CADERNO
ESPECIAL
AMAZÔNIA
A Experiência de Formação de Nudec Jovem na Região
Metropolitana do Recife
O projeto de formação de cinco Núcleos Comunitários de Defesa Civil Jovem foi
desenvolvido a partir da mobilização e sensibilização de jovens de escolas municipais
localizadas em áreas de vulnerabilidade socioambiental.
A partir de dinâmicas de integração, trabalhos em grupo e atividades de campo,
foram trabalhados conteúdos pertinentes às temáticas de preservação socioambiental
e riscos de desastres na realidade local e global.
Nas oficinas, foram trabalhados o conceito e os seguintes objetivos do Nudec
Jovem: Direitos da criança e do adolescente em situação de normalidade e em
situação de emergência; Prevenção de riscos e de desastres; A problemática da
degradação ambiental; Fatores de risco; Percepção e comunicação de risco; Identificação, análise e mapeamento de risco; Medidas de prevenção e controle de risco
de escorregamentos ou de enchentes.
Ao considerar o olhar sob o meio ambiente local, o jovem sentiu-se estimulado
a perceber e compreender o processo de degradação ambiental a partir dos hábitos e
atitudes desenvolvidas no cotidiano local. Nesse contexto, buscou-se estabelecer interfaces, analisando como os seres humanos podem contribuir para os riscos e desastres
ocorridos no meio em vivem.
Com Ciência Ambiental
68
Com base nessas dimensões, foi realizada a sensibilização do jovem para alcançar o seu despertar sobre a realidade local e a consciência ambiental, favorecendo o
pensar, o agir e a imaginação. Ao considerar essa contextualização, o jovem passou
a levantar as causas, a prever as consequências, a visualizar possíveis mudanças de
comportamento e a relacionar as questões da degradação ambiental e dos desastres
com a perspectiva individual e coletiva.
Desse modo, o eixo do processo pedagógico partiu do cotidiano, trazendo para
o desenvolvimento das atividades educativas a percepção que favorece a emotividade, as experiências, os sentimentos e pensamentos criativos como forma de
contextualizar a significação da realidade.
Desenvolvimento dos Trabalhos
As atividades previstas na Programação das Aulas2 foram desenvolvidas por meio
de aulas teóricas expositivas e apoiadas em material didático. Assim, estimulou-se a
discussão e os exercícios práticos sobre as temáticas exploradas com os participantes
organizados em grupo, que percorreram as áreas munidos de cartografia do local,
de mapa geológico, roteiro, ficha de campo e de quadros auxiliares para aplicação
dos conceitos e descrição das situações de risco. Como resultado, foi apresentado um
Plano de Ação Preventivo a ser aplicado na comunidade pelos jovens das escolas.
Construindo o exercício da prevenção
Possibilidades para o desenvolvimento do protagonismo juvenil
Integração
No primeiro momento, o objetivo foi favorecer o processo de conhecimento e
integração do grupo, dando aos participantes a oportunidade de verbalizar as suas
características pessoais, anseios e expectativas em relação ao curso.
Os participantes foram convidados a formar um círculo. Com o material em mãos, os
jovens, individualmente, puderam expor, por meio de símbolos ou desenhos, um autorretrato. Em seguida, pediu-se aos jovens que explicitassem, por meio de frases, quais as
expectativas em relação a sua inclusão no projeto e o que estavam esperando da capacitação.
No momento seguinte, cada jovem pôde expressar suas produções, expondo
ao grupo o que colocaram no papel. E para fechar, foi trabalhado o conhecimento
prévio que possuíam acerca do que seria necessário para um grupo ter um bom
relacionamento durante o período estabelecido para o término das atividades. Os
participantes, voluntariamente, expuseram os seus conceitos e opiniões para a
constituição do acordo de convivência.
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
que está no eixo da comunidade, será potencializada a participação efetiva dos atores
sociais na formação de novas posturas frente aos riscos existentes na paisagem do lugar.
Estimular a participação juvenil significa promover atividades organizadas favoráveis à
expressão das suas potencialidades e vivências. Nesta perspectiva, o trabalho envolvendo a
escola aumenta as possibilidades de manutenção e continuidade das ações preventivas.
A participação do segmento social em questão nos trabalhos realizados na escola,
nas atividades de campo e no diagnóstico realizado na comunidade suscita o fortalecimento do protagonismo juvenil, no momento em que o jovem está no centro da
formulação de propostas para a construção de ações educativas voltadas à prevenção
de riscos no cenário local.
Nos trabalhos realizados em grupo, os jovens refletem e analisam o meio ambiente
local, interagindo para a construção de propostas contemplativas à realidade em que
vivem. Ao considerarem o olhar sobre essa realidade, despertam a compreensão de que
o processo de degradação ambiental é acirrado em decorrência de hábitos e atitudes
humanas negativas.
A partir dessas ações, os jovens percebem as mudanças significativas na relação com a
comunidade, sobretudo, quanto às mudanças de comportamento, principalmente aquelas
que provocam riscos e desastres que afetam direta e cotidianamente as suas vidas.
CADERNO
CIÊNCIA NA
CADERNO
ESPECIAL
AMAZÔNIA
ções). Por meio da troca de informações com os participantes, levantou-se os
fatores que contribuem para os escorregamentos de encostas, como o descarte
de lixo, o plantio de ár vores de grande porte e os cortes irregulares da barreira.
Após essa compreensão, as causas de deslizamentos, erosões e inundações foram introduzidas à turma com mais facilidade. A aula expositiva, por meio de
textos e ilustrações (fotografias e desenhos), possibilitou a interação durante
as discussões.
Nessa etapa, percebeu-se que os participantes já possuíam noções sobre
os fatores que contribuem para o deslizamento ou para a erosão de encostas.
Muitos falaram da questão do lixo e da plantação de bananeiras. Com essa atividade, houve a possibilidade de esclarecer os motivos de se evitar certas práticas
inadequadas nas áreas de morros e alagados. Por meio da atividade prática de
campo, percebeu-se que essa oficina foi bem absor vida pelos participantes.
Oficinas Temáticas sobre Participação, Solidariedade, Cooperação,
Responsabilidade e Transformação Social – O sentido do voluntariado
Conceitos básicos de risco, processos de identificação, análise e
mapeamento de risco
As oficinas foram desenvolvidas com o objetivo de estimular o grupo a refletir
sobre a importância da participação social na construção de uma consciência cidadã.
Procurou-se contextualizar os conteúdos sobre cooperação, solidariedade, responsabilidade e transformação social a partir de exemplos da realidade local.
O tema foi trabalhado por meio de atividades práticas, nas quais solicitou-se aos
jovens a construção de painéis ilustrativos, representando o sentimento do grupo em
relação à temática em debate. Foram utilizados os textos do manual do aluno e cenas
do filme Procurando Nemo, como exemplo de solidariedade.
Após a construção dos painéis nos subgrupos, foram realizadas exposições nas
quais cada equipe apresentou os trabalhos produzidos, apontando horizontes possíveis
de serem realizados, considerando o fortalecimento da ação solidária e da amizade.
Estimulou-se a interação entre os subgrupos, proporcionando o debate acerca do que
havia sido percebido de positivo por todos em relação à cooperação, à solidariedade, à
participação e à necessidade do jovem de agir para o processo de transformação social.
Transmitiu-se aos jovens a problemática dos riscos de deslizamento e
erosão, para que soubessem identificar uma situação de perigo.
Essa atividade foi desenvolvida por meio de aula expositiva, na qual
apresentou-se situações para identificação e análise do risco, e de aula prática
de campo, para realização de um mapeamento de área piloto. Na atividade
em sala de aula, foram exibidas fotografias de situações reais e figuras com
casos hipotéticos, de modo que os participantes pudessem perceber o risco a
partir de práticas obser vadas na comunidade.
Na atividade de campo, os participantes foram divididos em gr upos e
acompanhados por agentes da Defesa Civil. Cada gr upo preencheu uma
ficha de avaliação de risco de uma área piloto, na qual puderam assinalar os
fatores que contribuem para a situação de risco. Ao considerarem o mapa da
área, os jovens puderam traçar setores com situações de riscos diferenciados
(baixo e alto, por exemplo). Essa etapa foi importante para que eles pudessem perceber como priorizar áreas que necessitam de inter venção do poder
público para redução de riscos.
No trabalho em sala de aula e no campo, percebeu-se que os jovens
conseguiram identificar situações de risco por meio de fotografias dos casos
hipotéticos apresentados e da atividade prática de campo.
No trabalho de campo, percebeu-se que as situações de risco, como barreiras cortadas na vertical e com altura superior a da casa, concentração de
bananeiras, ár vores inclinadas e vazamentos de tubulações de água, fatores
que agravam a probabilidade de um desastre, chamaram a atenção dos jovens.
Oficina sobre os Processos de Degradação Ambiental Escorregamentos, erosões e inundações
A oficina foi trabalhada com o propósito de proporcionar aos jovens a compreensão dos processos que degradam o meio ambiente e de discutir sobre as más
ações que contribuem para essa degradação e as suas consequências à comunidade.
Inicialmente, foram apresentados os três principais processos de degradação
ambiental nas encostas urbanas (deslizamento e erosão) e na planície (inunda-
Com Ciência Ambiental
70
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
O grupo foi disposto em círculo, com o objetivo de suscitar nos presentes a integração e o sentimento de acolhimento muito importante num contato inicial entre
pessoas que estão começando a formar um grupo. A perspectiva era facilitar o envolvimento e a participação voluntária nas atividades a serem propostas, pois um elo de
confiabilidade começou a se formar entre os jovens.
Geralmente, o autorretrato é uma vivência que permite ao indivíduo refletir um
pouco sobre suas qualidades e, com isso, falar um pouco de si ao grupo. Essa vivência
fez com que cada jovem pudesse perceber não só em si, mas também nos colegas, qualidades que foram valorizadas, com o intuito de fazê-los refletir sobre a importância
de cada um na formação do grupo.
Nesse momento, evidenciou-se que cada um dos jovens presentes tem qualidades
fundamentais para a construção do Nudec Jovem. Nessa perspectiva, fortaleceu-se a
possibilidade de manter as ações do projeto Nudec Jovem na escola e na comunidade.
CADERNO
CIÊNCIA NA
CADERNO
ESPECIAL
AMAZÔNIA
Nesse momento, buscou-se possibilitar o conhecimento de algumas medidas preventivas para situações de risco: medidas estruturais (engenharia) e não estruturais
(ação da Defesa Civil, Nudec Jovem).
Foram utilizadas apresentações em slides sobre os tipos de obras de engenharia e
sobre como a defesa civil, juntamente com o Nudec Jovem e a comunidade, pode fazer
para que a obra tenha uma boa durabilidade e a comunidade possa se apropriar do seu
espaço de maneira a cuidar e conservar as benfeitorias realizadas no seu ambiente local.
Essa oficina representa o fechamento das etapas anteriores, destacando-se que
prevenir e controlar os riscos depende das ações da comunidade e dos costumes praticados no ambiente individual e coletivo. Percebeu-se que houve a compreensão dos
participantes acerca da importância de se mudar os hábitos para evitar os riscos e os
desastres.
Para a redução dos riscos, observou-se que os jovens juntos com a defesa civil
podem fazer um trabalho de orientação da população, contribuindo com a melhoria
do ambiente local.
Oficina Temática sobre Núcleo Comunitário de Defesa Civil - objetivos
e atribuições
Nesse momento, trabalhou-se o entendimento da formação do Núcleo Comunitário
de Defesa Civil Jovem, fazendo um elo com o trabalho desenvolvido pela Defesa Civil.
Deu-se destaque às quatro frentes de ação da Defesa Civil, prevenção, preparação,
resposta e reconstrução, ressaltando que a sua atuação não se dá apenas nas situações
de emergência.
Nesse momento, reforçou-se que o jovem pode estar inserido nas ações que envolvem prevenção contra os riscos, desenvolvendo, principalmente, o sentimento de
ajuda mútua e humanitária na comunidade.
Após explicações, com apresentação de imagens sobre o funcionamento da Defesa
Civil e como o jovem pode estar envolvido para contribuir com a melhoria das condições de vida da comunidade, foi solicitado ao grupo a sua subdivisão, momento em
que cada equipe ficou com a tarefa de representar, por meio de uma encenação, as
quatro fases da administração de desastres.
Cada subgrupo apresentou uma encenação com base nas vivências e observações
presentes no cotidiano da comunidade.
Após as encenações, alguns jovens relataram já terem vivido situações de desastres:
desabamento de casa, deslizamento de barreiras ou inundações, destacando o quanto
essas situações causam trauma na vida de cada pessoa.
Com Ciência Ambiental
72
Formando um Nudec Jovem
Essa etapa representou o momento de fortalecimento do grupo, construindo a partir do que foi vivenciado durante o curso o perfil que o Nudec
Jovem deve ter e como ele deve atuar.
Durante os trabalhos em equipe, os jovens debateram e tomaram decisões quanto à importância de se formar um grupo sintonizado com a ideia
de transformar a comunidade em um ambiente mais seguro e melhor para
se viver.
Além disso, os jovens perceberam com as explicações e o debate a
importância de estabelecer acordos de convivência significativos para a
continuidade do projeto e a permanência do grupo.
Os resultados foram expostos em painéis, ressaltando sempre a importância da ação solidária e da responsabilidade de cada cidadão em contribuir
para a melhoria das condições de habitabilidade na comunidade.
Direitos humanos em situação de emergência
Essa etapa do trabalho foi desenvolvida com o propósito de proporcionar aos jovens a compreensão do processo histórico vivenciado pela
humanidade, que culminou com o registro documental que garantiu a
consolidação dos direitos humanos e dos benefícios que possibilitaram o
seu desenvolvimento.
Inicialmente, por meio de conversas motivacionais com a turma, foi
estimulada e apurada a sua compreensão acerca da noção de direitos humanos. Com base no que se levantou, houve interação a partir da realidade e
da história. Desse modo, trabalhou-se a aplicação, classificação e vivência
prática dos direitos humanos na realidade global, nacional e local.
Essa temática foi trabalhada em consonância com as noções de deveres
para o exercício pleno da cidadania.
Na atividade em grupo, consolidou-se os conhecimentos prévios sobre
Direitos Humanos. As atividades para o desenvolvimento da temática
foram realizadas por meio de textos, colagens, desenhos e elaboração de
frases de efeito. Os trabalhos foram confeccionados em um cartaz que,
transformado em uma dobradura, previamente orientada aos jovens, deu
origem à bandeira do Brasil.
Concluída essa primeira etapa dos trabalhos em grupo, que suscitou
nos jovens um desempenho reflexivo e lúdico, cada grupo apresentou sua
produção com noções de direitos e deveres, objetivando o papel do cidadão
no processo da construção de uma sociedade mais justa e menos excludente.
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
Medidas de Prevenção e Controle de Risco de Escorregamentos e de
Enchentes
CADERNO
CIÊNCIA NA
CADERNO
ESPECIAL
AMAZÔNIA
Na etapa de planejamento das ações do Nudec Jovem, trabalhou-se a orientação dos jovens para construir o planejamento
do NUDEC a partir da observação da realidade, dos problemas
diagnosticados no exercício de mapeamento de risco, inter-relacionando-os com os conteúdos trabalhados nas aulas expositivas
e trabalhos de grupo.
A partir da exposição de um vídeo, foi debatida com os jovens
a importância do planejamento para a construção de um projeto
social. Com enfoque no planejamento do Nudec Jovem, o facilitador das atividades parte do princípio de qual caminho o grupo
quer tomar para obter o desejado, ou seja, conseguir chegar aos
objetivos traçados.
Assim, foi explicado que sendo o diagnóstico o momento em
que se conhece a realidade, em que são levantados os problemas,
é preciso estar com as informações referentes à realidade para
planejarmos juntos as atividades e ações do Nudec Jovem.
Utilizou-se um painel contendo um quadro com os passos para
a elaboração do planejamento, no qual o grupo foi levantando os
pontos imprescindíveis que deveriam constar no planejamento
do Nudec Jovem.
A partir disso, cada grupo construiu seu planejamento com base
nas especificidades diagnosticadas em cada comunidade.
O registro fotográfico, feito com máquina digital, durante a
visita in loco, foi também um recurso utilizado para os jovens
defenderem as intervenções com ações estruturadoras e não estruturadoras nas áreas visitadas.
O exercício prático vivenciado pelos participantes culminou em
elementos para maior propriedade na elaboração do planejamento
das ações do Nudec.
Com base nos problemas levantados e hierarquizados pelos
jovens, conforme gravidade e prejuízo coletivo à qualidade de
vida na comunidade, foram planejadas atividades que poderiam
mitigá-los ou dirimi-los.
A partir das etapas vivenciadas, sendo o eixo do projeto o
envolvimento e a sensibilização do jovem para a problemática
dos riscos socioambientais, considerou-se também a redução da
violência na realidade local. É importante ressaltar que o resultado
das avaliações realizadas pelos jovens das seis escolas envolvidas
Com Ciência Ambiental
74
transmitiu um sentimento muito verdadeiro acerca da aceitabilidade e da
percepção do grau de relevância dos conteúdos abordados em relação ao
cotidiano e a vida.
No desenvolvimento do projeto, percebeu-se a curiosidade dos jovens
em conhecer a proposta e poder relacionar as questões abordadas com as
suas vivências e histórias de vida.
O diferencial, nesse sentido, é que o jovem com a continuidade do projeto torna-se o protagonista no processo de transformação da sua própria
realidade, sentindo-se responsável pela sua história e pela história da sua
comunidade a partir das reflexões provocadas pelos trabalhos realizados
durante o curso.
Por meio da continuidade do projeto, outros resultados serão observados, cabendo aos atores envolvidos, Defesa Civil, Secretaria de Educação,
Secretaria de Meio Ambiente, seguir as diretrizes criadas com esse trabalho,
como também criar outros instrumentos que fortaleçam o desenvolvimento
de atividades relevantes à integração e à motivação do grupo.
Os grupos de cada escola têm capacidades que necessitam ser estimuladas por meio do processo de descoberta, de criatividade, de conhecimentos
e de experiências que favoreçam o crescimento individual e coletivo, estimulando a construção do saber e favorecendo a troca de experiências que
permitirá a sintonia do grupo em favor da melhoria das condições de vida
da comunidade.
NOTAS
1. O Núcleo Comunitário de Defesa Civil tem como princípio o envolvimento da comunidade para atuar na ação
conjunta, visando à redução dos desastres no âmbito local.
2. Programação de Aulas
Abertura do Curso - apresentação do conteúdo programático e dos objetivos
A degradação ambiental, fatores relacionados ao risco socioambiental, identificação e análise de risco; relações
entre aspectos e condições sociais e físico-naturais e as ações antrópicas (formas de uso e ocupação do solo e
práticas que contribuem para a degradação ambiental) em encostas urbanas.
Processos e metodologia para mapeamento de risco em encostas urbanas
Medidas de prevenção e controle do risco
Participação, solidariedade, cooperação, responsabilidade e transformação social – o sentido de desenvolvimento
comunitário e do voluntariado
Direitos humanos da criança e dos jovens em situação de emergência
Conceituação, objetivos e atribuições do Núcleo Comunitário de Defesa Civil/ NUDEC JOVEM
Construindo o perfil e formando NUDECs JOVENS*
NUDECs JOVENS – Oficina de Planejamento de Ações
Exercício prático de campo (simulados) - visita à área
Avaliação, discussões finais e fechamento do curso
Sobre as autoras
Rejane Lucena é mestre em Gestão de Políticas Públicas
Damares Lopes de Albuquerque é Assistente Social e especialista em Políticas Públicas
PERCEBENDO RISCOS, REDUZINDO PERDAS
Planejamento de ações do Nudec Jovem
CADERNO
CIÊNCIA NA
CADERNO
ESPECIAL
AMAZÔNIA

Documentos relacionados

Manual - Novo Lay-Out - Ministério da Integração Nacional

Manual - Novo Lay-Out - Ministério da Integração Nacional proposta seja realizada. Com base neste contexto, se faz necessário partir da realidade local em que se pretende atuar, investindo-se na efetivação de um processo que favoreça a integração da famíl...

Leia mais