Jornal da Casa / Casa do Brasil
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# 24 – julho 2013 Boca no trombone JMJ leva 2 milhões de pessoas ao Rio Denver – Estados Unidos (1993), Manila – Filipinas (1995), Paris – França (1997), Roma – Itália (2000), Toronto – Canadá (2002), Colônia – Alemanha (2005), Sidney – Austrália (2008) e Madri – Espanha (2011). A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada de 23 a 28 de julho na cidade do Rio de Janeiro, é tida como o "maior evento católico do mundo" e vai levar cerca de 2 milhões de fiéis à cidade, interessados tanto em ver o papa Francisco ao vivo, em sua primeira viagem internacional, quanto em participar da peregrinação, que acontece desde os anos 1980. As JMJ tem sua origem em grandes encontros com os jovens celebrados pelo Papa João Paulo II em Roma. O Encontro Internacional da Juventude, por ocasião do Ano Santo da Redenção aconteceu em 1984, na Praça São Pedro, no Vaticano. Foi lá que o Papa entregou aos jovens a Cruz que se tornaria um dos principais símbolos da JMJ, conhecida como a Cruz da Jornada. O ano seguinte, 1985, foi declarado Ano Internacional da Juventude pelas Nações Unidas. Em março houve outro encontro internacional de jovens no Vaticano e no mesmo ano o Papa anunciou a instituição da Jornada Mundial da Juventude. A primeira JMJ foi diocesana, em Roma, no ano de 1986. Seguiram-se os encontros mundiais: em Buenos Aires – Argentina (1987), Santiago de Compostela – Espanha (1989), Czestochowa – Polônia (1991), A cruz da JMJ ficou conhecida por diversos nomes: Cruz do Ano Santo, Cruz do Jubileu, Cruz da JMJ, Cruz Peregrina, e muitos a chamam de Cruz dos Jovens porque ela foi entregue pelo Papa João Paulo II aos jovens para que a levassem por todo o mundo, a todos os lugares e a todo tempo. A cruz de madeira de 3,8 metros foi construída e colocada como símbolo da fé católica, perto do altar principal na Basílica de São Pedro durante o Ano Santo da Redenção (Semana Santa de 1983 à Semana Santa de 1984). No final daquele ano, depois de fechar a Porta Santa, o Papa João Paulo II deu essa cruz como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade. Quem a recebeu, em nome de toda a juventude, foram os jovens do Centro Juvenil Internacional São Lourenço, em Roma. Estas foram as palavras do Papa naquela ocasião: “Meus queridos jovens, na conclusão do Ano Santo, eu confio a vocês o sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Carreguem-na pelo mundo como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade, e anunciem a todos que somente na morte e ressurreição de Cristo podemos encontrar a salvação e a redenção”. Os jovens acolheram o desejo do Santo Padre. Desde 1984, a cruz da JMJ peregrinou pelo mundo, através da Europa, além da Cortina de Ferro, e para locais das Américas, Ásia, África e Austrália, estando presente em cada celebração internacional da JMJ. Em 1994, a cruz começou um compromisso que, desde então, se tornou uma tradição: sua jornada anual pelas dioceses do país sede de cada JMJ internacional, como um meio de preparação espiritual para o grande evento. JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil | Editor: Leonardo Moreira Web: www.casadobrasil.com.uy | Twitter: @casadobrasiluy | Mail: [email protected] # 24 – julho 2013 Para o padre Geraldo Dondici Vieira, diretor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, o lema desta JMJ -“Ide e fazei discípulos entre todas as nações”- é para ser guardado no coração, refletido e meditado. “Esse tema, de fazer discípulos, de chamar outros discípulos para a comunhão e o convívio com o Senhor, é o tema mais querido do Evangelho de Mateus. E, na verdade, só faz discípulo quem já é discípulo, quem convive com o Senhor”, afirmou o sacerdote. Nos Atos Centrais, compostos por cinco eventos principais, estarão reunidos todos os participantes da JMJ num só lugar, proporcionando uma incrível experiência de unidade e diversidade. A Missa de Abertura, que acontecerá no dia 23 de julho, na Praia de Copacabana, será celebrada pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, e será o único Ato Central sem a presença do Santo Padre. No dia 24 começam as catequeses, que acontecem em 20 idiomas diferentes. Ao todo serão 133 locais celebrando missas em português, 50 em espanhol, 25 em inglês, 15 em italiano, 15 em francês, 8 em alemão e 5 em polonês. Também serão realizadas missas em croata, dinamarquês, esloveno, euregio (idioma falado em parte da Alemanha e da Holanda), grego, húngaro, lituano, romeno, russo, tcheco, ucraniano e árabe. No dia 25, enfim, os peregrinos dão as boas vindas ao papa, também na praia de Copacabana. A cerimônia contará com uma missa e a apresentação de diversos artistas, entre eles a cantora Fafá de Belém que interpretará a canção-tema do Círio de Nazaré. No dia 26 terá início a programação de atividades para os romeiros em Copacabana com a oração conjunta do terço da misericórdia. Mais tarde, começará a apresentação da Via Crucis, que terá 14 estações. Além de Cássia Kiss, que interpretará a virgem Maria, está confirmada a participação da apresentadora Ana Maria Braga e dos atores Murilo Rosa, Eriberto Leão e Lívia Aragão. Já no dia 27 acontecem dois dos momentos mais esperados pelos romeiros: a peregrinação e a vigília, que segue madrugada adentro até missa de encerramento, realizada pelo papa Francisco pela manhã do dia 28 no Campus Fidei, em Guaratiba, na zona oeste da cidade, palco principal do evento. A programação da vigília começa no dia 27 pela manhã com apresentações de bandas e DJs. Serão 13 shows com cerca de 50 atrações reunidas. Entre os destaques estão o padre Marcelo Rossi e Luan Santana e a participação do ator Tony Ramos. A única forma de acessar o Campus Fidei é a pé. Os peregrinos terão que caminhar 13 quilômetros por meio de rotas iniciadas nos bairros de Campo Grande, Santa Cruz e Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste. A caminhada é uma tradição da jornada. No dia 28, a organização planeja, ainda, realizar um flash mob gigante com os peregrinos presentes em Guaratiba como forma de homenagear o pontífice. Depois da missa de encerramento, o papa irá anunciar onde será a próxima Jornada. Há ainda outras 400 apresentações, entre shows, vigílias, exposições, recitais, filmes, peças de teatro e danças realizadas durante toda a semana em diferentes áreas do Rio de Janeiro. # 24 – julho 2013 Cantos com encanto Um clássico Festival O 44º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão (SP), conhecido como o maior evento de música erudita do Brasil, que acontece durante todo o mês de julho, oferece este ano mais de 60 concertos, incluindo atrações sinfônicas, de câmera, corais e recitais, que reúnem muitos dos mais representativos artistas, grupos e orquestras do Brasil e do mundo. Na abertura houve três grandes apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado de Estado de São Paulo (Osesp), duas sob o comando de Marin Alsop, incluindo a estreia sul-americana da obra Gejia -Imagens Chinesas [2013], do compositor finlandês Kalevi Aho-, e uma de Celso Antunes, regente associado da Osesp. Numa programação para todos os gostos, vale destacar as participações do trompetista norueguês Ole Edvard Antonsen, como solista convidado da Orquestra Sinfônica Brasileira, da violinista Jennifer Koh, da pianista canadense Angela Hewitt e do pianista brasileiro Gilberto Tinetti (que comemora 80 anos), com membros do Quarteto Osesp. Na Praça de Capivari, o destaque é para o concerto ao ar livre da Osesp, sob regência de Frank Shipway, além de dois concertos especiais para as crianças -o da Palavra Cantada com a Osesp e o da Orquestra de São José dos Campos. Na Capela do Palácio do Governo, apresentam-se o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e o Quinteto Villa-Lobos, e na Igreja de Santa Terezinha, o Coro da Osesp lança o Selo Digital da Orquestra, com a gravação de obras de Aylton Escobar, que completa 70 anos e será o compositor homenageado neste Festival. A Coordenação Artístico-Pedagógica desta edição está a cargo de Fabio Zanon, violonista de prestígio, regente, escritor e professor visitante na Royal Academy of Music. Zanon já participou do Festival como músico e professor e, neste ano, lidera um dos módulos do Festival que mantém seu maior foco nas atividades de ensino. Consolidado como o maior e mais importante festival de música clássica da América Latina, ele é passagem obrigatória de conceituados artistas de todo o mundo. Ao longo de sua história, nomes do porte de Eleazar de Carvalho, Magda Tagliaferro, Yehudi Menuhin, Hugh Ross, Mstislav Rostropovich, Michel Philippot, Kurt Masur, Dame Kiri Te Kanawa, Trio Beaux Arts, Ysaÿe Quartet e Le Poème Harmonique, entre muitos outros, brilharam nos palcos e classes do Festival. Além da apresentação em concertos, esses grandes artistas também fazem parte da programação pedagógica do Festival, dando aulas e masterclasses a jovens músicos. Anualmente, estudantes de música de diferentes partes do mundo -sobretudo do Brasil, América Latina e América do Norteescolhem o Festival de Campos do Jordão para se aperfeiçoarem. Renomados artistas brasileiros foram bolsistas do Festival de Campos do Jordão em edições anteriores, e reconhecem a sua importância no caminho para a profissionalização de jovens músicos. Hoje, o Festival tem público direto de dezenas de milhares de pessoas. Por seus palcos passam mais de 3 mil artistas, e suas aulas são ministradas por mais de uma centena de músicos do primeiro escalão mundial. # 24 – julho 2013 Ao pé da letra João Valentão baixa a guarda ao “Deitar na areia da praia/ Que acaba onde a vista não pode alcançar” e entra em comunhão com sua terra. Q uem é João Valentão? O homem que dá título à música de Dorival Caymmi (foto) é Carapeba, um pescador que ele conheceu em uma de suas temporadas de veraneio em Itapuã, na Bahia. Carapeba (cujo nome verdadeiro o compositor jamais descobriu) insistiu para que fossem pescar juntos e se irritou quando Caymmi não compareceu ao encontro marcado. A imagem do pescador de temperamento forte, intimamente ligado à praia idílica e ao ofício, teve como resultado a música mais bemacabada de um gênero que o próprio Caymmi criou: as canções praieiras. “João Valentão” é precisa e sem complexidade à primeira vista. A música começa acelerada, com rimas e melodia bastante simples, emoldurada por variações na harmonia. Aqui, João é brigão, impulsivo, intimidador. Mas, “quando o sol vai quebrando”, o ambiente que está a seu redor, sua terra, se contrapõe à sua intempestividade. Nesse momento, o lance do gênio se revela. O ritmo se acalma, a melodia flerta com o samba-canção, gênero no qual Caymmi começava a fazer suas incursões. Letra e música, casadas, fazem o herói revelar suas nuances, João Valentão O pescador de “João Valentão”, como outros personagens que Caymmi retratou, não está preso ao tempo, um pouco como o próprio autor que, nascido em Salvador, em 1914, foi ainda jovem tentar a vida no Rio de Janeiro, em 1937. A Bahia, no entanto, continuou presente em suas lembranças e se refletiu em jóias de seu cancioneiro. Seus personagens, costumes, ritmos e praias entraram para o imaginário popular. Como diz o pesquisador Antônio Risério no livro “Caymmi – Uma utopia de lugar”, mais do que uma ambientação exótica, a Bahia de suas músicas é nostálgica. Certa vez, ao ser indagado sobre a constância do mar em suas composições, Caymmi se definiu como um “curioso das melodias dolentes dos jangadeiros e pescadores”. Com eles, aprendeu a simplicidade melódica das toadas. Avesso ao rebuscamento, evocou em suas letras esse universo praiano que o fascinou. Críticos e admiradores concordam que a obra de Dorival Caymmi é atemporal e independente. Pelo conjunto dela, o Dorival compositor não pode ser vinculado a um movimento da música nacional; como cantor, tem um estilo próprio, com uma voz poderosa que o levou para as rádios menos de um ano depois de chegar ao Rio. Ele foi um dos primeiros a levar para o rádio e para os shows repertórios baseados em suas próprias músicas. Dispensou, em alguns álbuns, o acompanhamento de orquestra, cantando apenas com a companhia de seu violão. Boa-praça, reuniu um círculo de amigos que eram, muitas vezes, rivais entre si. Seus admiradores receberam lições importantes para a renovação da música brasileira ocorrida nos anos 60. A batida de seu violão, inovadora, quase foi “corrigida” pelo pai # 24 – julho 2013 quando ele era adolescente. Felizmente esse atentado à originalidade fracassou, e os dedos de Dorival interpretaram, de modo único, algumas das mais belas tramas harmônicas da música brasileira. Tom Jobim destacou sua inventividade harmônica, como o uso de sextas maiores em acordes menores e modulações sutis raramente empregadas antes da bossa nova. De acordo com o levantamento feito por Stella Caymmi, neta do compositor, na biografia “Dorival Caymmi: O mar e o tempo”, o músico compôs apenas 120 músicas. Destas, 20 são inéditas ou não foram registradas. O processo criativo de Caymmi, capaz de gerar pouco mais de uma música por ano de vida, entrou para o anedotário da música brasileira: o “ritmo Dorival Caymmi” passava a designar a boa preguiça baiana. “João Valentão” é o exemplo mais célebre disso. Iniciada em 1936, em uma temporada na praia de Itapuã, só seria terminada nove anos depois. Antes de chegar ao Rio, Caymmi já tinha em mente a cena inicial, em que o pescador arredio é caracterizado. Depois, continuou a composição até o ponto em que João se deita na praia. E, então, parou. E nem pensa na vida A todos João intimida Faz coisas que até Deus duvida Mas tem seu momento na vida... É quando o sol vai quebrando Lá pro fim do mundo Pra noite chegar É quando se ouve mais forte O ronco das ondas na beira do mar É quando o cansaço da lida da vida Obriga João se sentar É quando a morena se encolhe Se chega pro lado querendo agradar. Se a noite é de lua A vontade é contar mentira É se espreguiçar Deitar na areia da praia Que acaba onde a vista não pode alcançar E assim adormece esse homem Que nunca precisa dormir pra sonhar Porque não há sonho mais lindo do que sua terra Não há. Sem se preocupar com a passagem do tempo, compôs outras canções, dedicou-se à pintura e deixou a história do pescador Carapeba na gaveta. Até que um dia, em um bonde no Rio de Janeiro, “achou”, como gostava de dizer, os versos finais. Dorival Caymmi somente uma vez assinou contrato com uma gravadora, a Odeon, em 1939. Pelo contrato, teria de lançar, em dois anos, seis discos de sucesso, cada um com uma faixa em cada lado. O diretor da gravadora dizia que Caymmi tinha talento para tanto. O baiano sabia que ser talentoso não significava ser prolífico e tentou recusar a proposta. Não foi ouvido, assinou o contrato e não o cumpriu. João Valentão É brigão Pra dar bofetão Não presta atenção Discos onde ouvir Ary Barroso / Dorival Caymmi – Ary Caymmi Dorival Barroso: Um interpreta o outro (1958) Elis Regina – Samba eu canto assim (1965) Dorival Caymmi – Som, imagem, magia (1985) Família Caymmi – Ao vivo (1987) Ná Ozzetti – Show (2001) Maria Bethânia – Brasileirinho ao vivo (2004) # 24 – julho 2013 Antenados Vale a pena ver de novo para um manicômio, onde terá que suportar as agruras de um sistema que lentamente devora suas presas. Bye bye Brasil. Carlos Diegues, 1979 Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha são três artistas ambulantes que cruzam o Nordeste do Brasil com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para camponeses, cortadores de cana, índios etc., sempre fugindo da concorrência da televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço (Fabio Junior) e sua mulher Dasdô (Zaira Zambelli), com os quais a Caravana Rolidei atravessa a Amazônia até chegar a Brasília, vivendo diversas aventuras pelas estradas do país. A idade da terra. Glauber Rocha, 1980 O filme mostra um Cristo-Pecador (Jece Valadão), um Cristo-Negro (Antonio Pitanga), o Cristo que é o conquistador português, Dom Sebastião, (Tarcísio Meira) e o CristoGuerreiro de Lampião (Geraldo Del Rey). Quer dizer, os Quatro Cavalheiros do Apocalipse que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo, recontando o mito através dos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja identidade é revelada no filme quase como se fosse um Terceiro Testamento. E o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso. Bicho de sete cabeças. Laís Bodanzky, 2001 Seu Wilson (Othon Bastos) e seu filho Neto (Rodrigo Santoro) possuem um relacionamento difícil, com um vazio entre eles aumentando cada vez mais. Seu Wilson despreza o mundo de Neto e este não suporta a presença do pai. A situação entre os dois atinge seu limite e Neto é enviado Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Carla Camurati, 1994 Portugal, 1808. A corte portuguesa está sob o cerco das tropas de Napoleão e é pressionada pelo espírito expansionista da coroa inglesa. Parte, então, para o Brasil e começa a impor os códigos da monarquia aos novos súditos. Com ares de fábula, de maneira caricata e divertida, o filme conta a história de Carlota Joaquina (Marieta Severo), seu temperamento difícil, seus casos extraconjugais, sua irritação com o Brasil, a vida e os feitos do casal real na então colônia portuguesa. Casa de areia. Andrucha Waddington, 2005 1910. O português Vasco (Ruy Guerra) leva sua esposa grávida Áurea (Fernanda Torres) e a mãe dela, Dona Maria (Fernanda Montenegro), em busca de um sonho: viver em terras prósperas, recentemente compradas por ele. O sonho se transforma em pesadelo quando, após uma longa e cansativa viagem junto a uma caravana, o trio descobre que as terras estão em um lugar totalmente inóspito, rodeado de areia por todos os lados e sem nenhum indício de civilização por perto. Áurea quer retornar ao lugar de onde vieram, mas Vasco insiste em ficar e constrói uma casa de madeira para # 23 – julho 2013 que lá possam viver. Após serem abandonados pelos demais integrantes da caravana, um acidente mata Vasco e deixa Áurea e Dona Maria completamente sozinhas. Elas partem em busca de ajuda e terminam por encontrar Massu (Seu Jorge), um homem que nunca deixou o local. Massu passa a ajudá-las, levando comida e sal para que Áurea e Dona Maria possam sobreviver na casa recém-construída. Cinema, aspirinas e urubus. Marcelo Gomes, 2005 Em 1942, no meio do sertão nordestino, dois homens vindos de mundos diferentes se encontram. Um deles é Johann (Peter Ketnath), alemão fugido da 2ª Guerra Mundial, que dirige um caminhão e vende aspirinas pelo interior do país. O outro é Ranulpho (João Miguel), um homem simples que sempre viveu no sertão e que, após ganhar uma carona de Johann, passa a trabalhar para ele como ajudante. Viajando de povoado em povoado, a dupla exibe filmes promocionais sobre o remédio "milagroso" para pessoas que jamais tiveram a oportunidade de ir ao cinema. Aos poucos surge entre eles uma forte amizade. Cedendo aos apelos da mãe e de Pedro, André resolve voltar para a casa dos seus pais, mas irá quebrar definitivamente os alicerces da família ao se apaixonar por sua bela irmã Ana (Simone Spoladore). Linha de passe. Walter Salles e Daniela Thomas, 2008 O filme conta a história de quatro irmãos que vivem na periferia de São Paulo. Com a ausência do pai, precisam lutar por seus sonhos. Reginaldo (Kaique de Jesus Santos), o mais novo, procura obstinadamente seu pai que nunca conheceu. Dario (Vinícius de Oliveira), prestes a completar 18 anos, sonha com uma carreira como jogador de futebol profissional. Dinho (José Geraldo Rodrigues), frentista em um posto de gasolina, busca na religião o refúgio para um passado obscuro. Dênis (João Baldasserini), o irmão mais velho, já é pai de um filho e ganha a vida como motoboy. No centro desta família está Cleuza (Sandra Corveloni), que, aos 42 anos, está grávida do quinto filho. Eles não usam black-tie. Leon Hirszman, 1981 Em São Paulo, em 1980, o jovem operário Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada Maria (Bete Mendes) decidem casar-se ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar. Madame Satã. Karim Aïnduz, 2002 Rio de Janeiro, 1932. No bairro da Lapa vive encarcerado na prisão João Francisco (Lázaro Ramos), artista transformista que sonha em se tornar um grande astro dos palcos. Após deixar o cárcere, João passa a viver com Laurita (Marcélia Cartaxo), prostituta e sua "esposa"; Firmina, a filha de Laurita; Tabu (Flávio Bauraqui), seu cúmplice; Renatinho (Fellipe Marques), sem amante e também traidor; e ainda Amador (Emiliano Queiroz), dono do bar Danúbio Azul. É neste ambiente que João Francisco irá se transformar no mito Madame Satã, nome retirado do filme Madam Satan (1932), dirigido por Cecil B. deMille, que João Francisco viu e adorou. Lavoura arcaica. Luiz Fernando Carvalho, 2001 André (Selton Mello) é um filho desgarrado, que saiu de casa devido à severa lei paterna e o sufocamento da ternura materna. Pedro (Leonardo Medeiros), seu irmão mais velho, recebe de sua mãe (Juliana Carneiro da Cunha) a missão de trazê-lo de volta ao lar. O bandido da luz vermelha. Rogério Sganzerla, 1968 Jorge (Paulo Villaça), um assaltante de casas de luxo em São Paulo, apelidado pela imprensa sensacionalista de "Bandido da Luz Vermelha", desconcerta a polícia com seu comportamento fora do comum. Além de usar uma lanterna vermelha, ele possui as vítimas, # 23 – julho 2013 conversa com elas e faz fugas ousadas para depois gastar o dinheiro roubado de maneira extravagante. O mundo de Jorge é povoado de tipos como o detetive Cabeção (Luiz Linhares), a prostituta Janete Jane (Helena Ignez) e o político corrupto J. B. Silva (Pagano Sobrinho). Com sua linguagem visual revolucionária, o filme pode ser visto como o ponto de transição entre a estética do Cinema Novo e a ruptura do Cinema Marginal. Um clássico incontornável. O homem nu. Hugo Carvana, 1997 Sílvio Proença (Cláudio Marzo) é um pesquisador de 45 anos, que precisa embarcar a contragosto para São Paulo, a fim de divulgar seu novo livro sobre folclore brasileiro. No aeroporto, encontra um grupo de velhos companheiros, com quem participa de uma reunião regada de música e cerveja. Com o embarque cancelado devido uma forte tempestade, o grupo segue para o apartamento de Marialva (Isabel Fillardis), filha de um dos amigos de Proença. Seduzido pelos encantos de Marialva, Proença passa a noite ali mesmo, onde desperta no dia seguinte, completamente nu, com Marialva ao seu lado. Ainda zonzo da ressaca, Proença vai apanhar o pão deixado na porta do apartamento, quando uma lufada de vento fecha a porta e deixa o pesquisador completamente nu do lado de fora. Tem início então uma louca fuga pela cidade, onde Proença será perseguido por jornalistas e curiosos para conseguir chegar em sua casa são e salvo. O pagador de promessas. Anselmo Duarte, 1962 Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes) vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão (Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba. Tempos de paz. Daniel Filho, 2009 Final da 2ª Guerra Mundial. No Brasil, o governo de Getúlio Vargas liberta presos políticos ao mesmo tempo em que recebe milhares de imigrantes europeus. Neste contexto surge o embate entre o chefe da imigração na Alfândega do Rio de Janeiro e um ex-ator polonês, suposto seguidor de Hitler. Enquanto Segismundo (Tony Ramos) tem a obrigação de evitar a entrada de qualquer ameaça comunista no país, Clausewitz (Dan Stulbach) terá que usar todas as técnicas de convencimento do teatro para ficar em território brasileiro. Começa aí uma batalha entre a realidade e o desejo, entre a tortura e a memória de alguém que se culpa por ter fechado os olhos para os horrores da guerra.