o lince 01 - Jornal O Lince
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NOVA FASE - ANO 2 - Nº 1166 - 20 de abril de 200 20088 - APARECIDA-SP Fundado em 20 de outubro de 1969 DIRETOR FUNDADOR: Benedicto Lourenço Barbosa Tem o que le lerr ................................................................................................................................. ................................................................................................................................................................................................... Escola Pires do Rio: entre as melhores da região QUANDO o assunto é avaliação de resultados através de instrumentos externos à escola - como é o caso do SARESP -, a Escola Pires do Rio, de Aparecida, sempre está acima da média. A condição de estar entre as de melhor desempenho de sua Diretoria já se tornou tradição. Assim tem sido em todas as edições do SARESP, o que denota uma escola que consegue, apesar dos reveses de cada ano, manter uma regularidade de desempenho que a coloca em níveis de proficiência sempre superiores às médias do Estado, das Coordenadorias, da Diretoria e do Município. Em 2007 não foi diferente. Lá está a tradicional escola de Aparecida figurando como uma das CINCO MELHORES escolas da Diretoria de Ensino de Guaratinguetá, dentre os 73 estabelecimentos de ensino que a compõem. Outras instituições educativas que se destacaram no SARESP 2007 foram as escolas Rogério Lacaz, Ana Fausta de Moraes e Conselheiro Rodrigues Alves, de Guaratinguetá, e a escola Padre Juca, de Cachoeira Paulista. "O Lince" parabeniza a direção, o corpo docente, os funcionários, os alunos e os pais de alunos destes estabelecimentos de ensino pelos resultados obtidos. SARESP 2007: Guaratinguetá abaixo da média do Interior RECENTEMENTE, foram divulgados os resultados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) referentes ao desempenho escolar de quase dois milhões de alunos (mais precisamente, 1 842 528) no ano de 2007. De acordo com o desempenho obtido, os alunos de 4ª série à 3ª série do Ensino Médio foram distribuídos em quatro níveis de proficiência assim denominados: abaixo do básico, básico, adequado e avançado. Este critério de agrupamento poderia ser reduzido a dois grupos básicos: aqueles que têm domínio dos conteúdos, competências e habilidades desejáveis ou acima do requerido para a série em que se encontram e aqueles que conseguem domínio insuficiente ou, no máximo, desenvolvimento parcial dos conteúdos, competências e habilidades requeridos pela série. Em suma, os que aprendem e os que não aprendem. Diante dos dados, é inegável a falência do ensino no Estado mais rico da federação. À exceção da primeira série do Ensino Fundamental, cujas médias estão acima das demais, incluindo, em alguns casos, as médias municipais, dado que leva a considerar que o ensino gerido na esfera estadual não necessariamente está condenado a produzir os piores resultados (é a queda do mito de que a municipalização se faz acompanhar de melhoria na qualidade de ensino), as demais séries, em sua maioria, não conseguiram superar as médias do interior do Estado apesar de estarem acima do desempenho geral da COGSP (Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo) e do Estado. Os números denunciam a inoperância de um sistema de altos custos que produz resultados pífios, pois a grande maioria dos alunos, quando o assunto é aprendizagem, concentra-se nos níveis de proficiência básico ou abaixo do básico. Nestes degraus da escalada do aprender, estão 59,8% dos alunos de 4ª série, 63% do alunos de 6ª série, 69,2% dos alunos de 8ª série e 78,8% dos alunos da 3ª série do EM quando os conteúdos, competências e habilidades exigidos remetem para a Língua Portuguesa. Quando o assunto é Matemática, os indicadores são ainda mais preocupantes: 80,9% dos alunos de 4ª série, 78,1% dos alunos de 6ª série, 94,6% dos alunos de 8ª série e 95,7% dos alunos de Ensino Médio não dão conta de aprendizagens mínimas para a série em que se encontram. A situação não difere muito quando a escala de análise nos direciona para os resultados da área circunscrita à Diretoria de Ensino de Guaratinguetá. Nesta região, que envolve 73 escolas de 17 municípios, foram avaliados 13.106 alunos da 1ª série do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, número que representa 1,54% do total de avaliados na Coordenadoria de Ensino do Interior (848.074) e 0,71% do total de alunos avaliados no Estado de São Paulo. Apesar dos percentuais numéricos serem pouco significativos, se comparados ao somatório da população escolar avaliada em toda a rede, os dados médios de desempenho das escolas da Diretoria de Guaratinguetá as colocam em situação pouco privilegiada quando o assunto é fazer o aluno aprender. Os valores percentuais de alunos que se encontram nos níveis abaixo do básico e básico são elucidativos, embora desconfortáveis. Na disciplina Língua Portuguesa, por exemplo, 58,3% dos alunos de 4ª série situam-se no hemisfério do despreparo es- Educação na encruzilhada: para onde ir? colar, todavia, os índices ampliam-se para 65% quando dizem de alunos de 6ª série, 73% para os de 8ª série, e 81,1% para os estudantes de 3ª série do Ensino Médio que passaram, ao menos, 12 anos de suas vidas na escola. Em Matemática, o quadro se agrava: 75,5% é o índice de baixo desempenho na 4ª série, 79,9% de aprendizagem deficiente são encontrados na 6ª série, 93,9% na 8ª série, e 94,9% para os concluintes de Ensino Médio. Vê-se um aumento exponencial dos baixos resultados à medida que o aluno atinge níveis de escolaridade mais elevados. Estes índices médios são agravados pelo fato de algumas unidades escolares encontrarem-se entre as de mais baixo desempenho no Estado. Situação que só não é pior em virtude do relativo bom desempenho de algumas tantas outras. Isso denota que a progressão escolar (no caso do Estado de São Paulo, "progressão continuada") não traz como con- seqüência a progressão da aprendizagem, pelo contrário, transforma a vida na escola, tão-somente, em um "ritual de passagem na busca pelo diploma", sem que o mesmo tenha significativa correspondência com a ampliação das capacidades do aluno de desenvolver interpretações arrazoadas para a compreensão do mundo e encontrar soluções para os problemas diante dos quais estará em sua vida pessoal, social e profissional. Enfim, estamos diante de uma escola que não responde aos atuais anseios do indivíduo, da sociedade e da economia. Definitivamente, a escola pública paulista não está cumprindo a sua função social de "fazer aprender" as novas gerações. De pouco valeram as alternativas adotadas até agora. É preciso mudar a trajetória, encontrar novos caminhos, e isto não depende da atitude exclusiva de professores e escolas, mas da alteração do paradigma educacional que hoje orienta o desenvolvimento das políticas educacionais em nosso Estado e em nossa região. ................................................................................................................................................................................................... Aparecida, 20 de abril de 2008 1 E DITORIAL F ATOS Educação pública: passaporte para a desigualdade? Alexandre Marcos Lourenço Barbosa CERTAS PESQUISAS e levantamentos "científicos" parecem servir apenas para confirmar aquilo que já está presente no senso comum como verdade indiscutível, ainda que no interior de certos segmentos da sociedade. A tais evidências, certos resultados quase nada acrescentam além de quantificações a um certo dado qualitativo essencial. Um desses inquestionáveis "lugares-comuns", sem negar o caráter parcialmente clarificador das tentativas de mensuração, é a incapacidade de os sistemas de educação reverterem o atual quadro de ineficiência de resultados das redes escolares brasileiras. Esse fato, aliás, há muito conhecido dos profissionais da educação e insistentemente denunciado como fruto de modelo de gestão que oculta, sob a capa de um discurso travestido de democrático e voltado para um ensino de qualidade aos desfavorecidos, um astuto esquema de solapamento das principais estruturas educacionais que poderiam assegurar uma ordem social menos perversa: infra-estrutura adequada nas escolas, profissionais da educação bem preparados e bem remunerados e condições asseguradas para o desenvolvimento de propostas educacionais geradas no interior da escola aproveitando a competência dos educadores como criadores de um saber pedagógico de alto valor pragmático. Mas o que se vê nos resultados das avaliações do sistema escolar paulista são clamorosos exemplos de levantamentos que servem apenas para mostrar aquilo que muitos já sabem, apesar de apenas alguns expressarem: a escola pública de São Paulo está despreparada para enfrentar os desafios pungentes de uma sociedade que exige, cada vez mais, pessoas preparadas por uma educação com qualidade. Todavia, quanto tempo ainda levarão os gestores de sistemas para assumirem que estamos no caminho errado? Quantas gerações ainda serão comprometidas? Quantas crianças e jovens ainda serão encaminhados para o desterro da alienação material, intelectual e moral de nossa sociedade? Por quanto tempo ainda teremos os recursos da educação básica tomando rumos alternativos e se dirigindo a manutenção de grupos historicamente privilegiados? Quando a universidade assumirá uma posição intelectualmente independente que desnude, atra- vés de pesquisas teórico-experimentais sérias, as lacunas e os crassos erros que uma postura pedagógica de natureza político-metafísica gerou? De quantas evidências mais ainda precisam os órgãos centrais de educação para reconhecer que o malfadado sistema falhou? E pouco adianta dizer que a responsabilidade maior é a do professor, pois a qualidade do trabalho docente está diretamente atrelada às condições de sua ocupação. Se boas ou más, compete ao Estado assegurá-las e à sociedade em geral requisitá-las. Os resultados das provas do SARESP 2008 (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) na Diretoria de Ensino de Guaratinguetá reproduzem, no micro-universo regional, dados muito preocupantes acerca do rendimento escolar dos alunos da rede pública paulista. Mostram uma escola que não prepara para vida e para nada mais. Ou melhor, uma escola que prepara para uma vida conforme os valores dos atores sociais hegemônicos. "Ativista", prepara para o consumo desenfreado e para um certo viver "non sense" baseado na monetarização da vida pessoal e social. Uma escola que não pensa, guiada por ações desconexas e sem horizontes. Uma escola ocupada em organizar a vitrine e exibir, como se educação fosse, as mentes e corpos docilizados de seus alunos e mestres. Uma escola obediente, sem rebeldias. Uma escola fruto de discursos abstratos e de ações levianas. Uma escola historicamente aviltada em seu insubstituível papel de ampliar as consciências encerradas em um voluntarismo ingênuo. Enfim, uma escola que não oferece a dignidade permitida pelo espírito cultivado. Se as coisas mudarão em breve? Pouco provável. Há estruturas bem sólidas a sustentar os privilégios daqueles não vêem na desigualdade algo a superar. E a educação pública paulista, pelos baixos resultados educacionais que apresenta, bem tem se prestado ao trabalho de assegurar o poder às elites. Enquanto isso, colecionaremos resultados indesejáveis e estudantes despreparados. Não é o maior mas é o melhor Aberto de Segunda a Sábado das 6 às 21h Domingos e Feriados das 6 às 20h ACEITAMOS ENCOMENDAS DE BOLOS EM 3 TAMANHOS Rua Benedito Macedo, 301 - Ponte Alta - Aparecida-SP Tel.: 3105-2058 PROPRIETÁRIO: Alexandre Marcos Lourenço Barbosa ENDEREÇO: Rua Alfredo Penido, 101 Tel.: (12) 9138-5576 — [email protected] PROJETO GRÁFICO: Marco Antônio Santos Reis REVISÃO: Heloísa Helena Arneiro Lourenço Barbosa JORNALISTA RESPONSÁVEL: Rita de Cássia Corrêa (MTB 26.190/SP) IMPRESSÃO: Gráfica e Editora Santuário TIRAGEM: 3000 exemplares - Distribuição Gratuita Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Registro no Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica - Comarca de Guaratinguetá - SP, sob nº 26, fls. 17 do livro B-1. 2 O prefeito e a dengue Getúlio Martins NA CIDADE DO RIO de Janeiro, a quantidade de pacientes com dengue, só neste ano, já é quase o dobro da população de Aparecida. Já morreram mais de 60 pessoas e quando você estiver lendo este texto, infelizmente, a quantidade de óbitos será ainda maior. Lá, no ano passado, já tinha ocorrido pouco mais de 25 mil casos de dengue, verdadeiro absurdo para um tipo de doença conhecida e que pode ser controlada. É uma tragédia que, no entanto, não ocorre por acaso. Vários fatores contribuem para essa situação, o principal é a sujeira. Há uns dez anos, estive lá no Rio, para correr uma maratona. Nos 42 km do percurso, vi muito lixo pelas ruas. Fiquei hospedado no centro, perto da Praça Tiradentes. Era sábado e me impressionou a sujeira da região. "Se no centro da cidade estava daquele jeito, imagine a periferia!", comentava com a Sueli. Se a larva do mosquito da dengue, na água parada, precisa só de uma semana para sair voando, então aquilo lá era o paraíso para ele. Desde 1808, quando os portos brasileiros foram abertos para o comércio internacional, houve períodos em que os navios não atracavam no porto do Rio, por causa das doenças da cidade: febre amarela, peste bubônica e varíola. Cem anos depois, a situação era a mesma. Rodrigues Alves, pouco antes de assumir a presidência, disse que "iria se dedicar quase que exclusivamente ao saneamento e melhoramentos do porto do Rio de Janeiro". Convenhamos, muito pouco para um Presidente da República, mas, enfim, iria resolver um problema econômico grave, uma vez que muitos comandantes de navios ainda se negavam a parar lá que era o porto mais importante do país. Naquela época, começo do século XX, a cidade passou por uma reforma urbana que incluiu aterro de mangues para abertura de avenidas, derrubada de casarões e cortiços, e remoção de indigentes para os morros. O saneamento ficou por conta de Oswaldo Cruz, que atacou em três frentes: recolhimento do lixo para acabar com ratos e pulgas que propagavam a peste; eliminação de focos de mosquitos transmissores da febre amarela e vacinação em massa contra a varíola. Lidar com ratos, pulgas e mosquitos não foi fácil, porém mais difícil ainda foi vacinar as pessoas. O povo, descontente com a reforma urbana, inflação alta, desemprego e medo da vacina, se revoltou. O quebra-quebra durou três dias, entrou para a história como a "Revolta da Vacina" e fez o Presidente revogar a lei da vacinação obrigatória. Quatro anos depois, em 1908, a varíola voltou e matou muita gente que não tinha sido vacinada. Agora, depois de dois séculos, acontece outra epidemia. Desta vez, bombeiros, exército e voluntários visitam as casas para identificar focos do mosquito transmissor da dengue. Até avião é utilizado para localizar piscinas abandonadas, depósitos de pneus e caixas d'água descobertas. Tendas para atendimento de pacientes são armadas em diversas regiões da cidade. É uma verdadeira operação de guerra que poderia ter sido deflagrada antes, uma vez que o inimigo já era conhecido. O centenário da "Revolta da Vacina" bem que merece uma comemoração das boas, tipo uma revolta mesmo dos cariocas, como naquele tempo, para ver se o Prefeito deles aprende, porque a história, infelizmente, só serviu para ilustrar esta crônica. Sinceramente, acho que o Prefeito é que é o responsável pelo combate aos focos de mosquitos, porque é uma atividade que tem que ser constante, não pode parar nunca. Aliás, dá uma olhada para ver se o seu Prefeito está fazendo isso, enquanto não tem epidemia, porque depois que ela vier, meu caro, aí o leite já derramou. Getúlio Martins é doutor em Saúde Pública pela USP "Entre nuvens e borboletas": Sítio do Juca lança 3ª antologia poética Alexandre Marcos Lourenço Barbosa QUANDO O ASSUNTO é cultura como instrumento de formação de crianças e jovens, a principal, quase única, referência em Guaratinguetá está no casal Sila e Diógenes Antunes que, a cada dia, demonstra não apenas abnegação, mas uma acurada consciência social e forte senso de responsabilidade pública. Apoiadas por um grupo de voluntários, restrito, mas competente, as ações coordenadas pelo casal transformaram-se no pulso da vida cultural guaratinguetaense. Sem elas, o fado seria o quase completo obscurantismo. Recentemente, foi lançada "Entre nuvens e borboletas", a terceira antologia a reunir poesias, crônicas e desenhos premiados no concurso anualmente promovido pelo Centro Social e Ambiental Sítio do Juca. Nesta edição, constam os 67 classificados e vencedores dos anos de 2006 e 2007. Diógenes e Sila, ao contrário de muitas autoridades públicas de Guaratinguetá, são exemplos de simplicidade e dedicação à cultura posta a serviço da educação de crianças e jovens. Todavia, quando iniciativas como estas, geradas e conduzidas no seio da sociedade civil, passam a se constituir nas principais ações culturais de uma localidade é porque "algo cheira mal no Reino da Dinamarca". Hoje, a terra das garças brancas, berço de Brito Broca e de Francisco de Assis Barbosa, ressente a dinâmica de um governo municipal "populista", que se isenta do dever de aumentar a lucidez de cada cidadão através do apoio inconteste e incontinenti à produção e democratização da cultura, mesmo que popular. Isso também leva a pôr em dúvida a seriedade de propósitos quanto à educação. Afinal, se a educação é o conjunto de procedimentos adotados por uma sociedade com o intento deliberado de disseminação e renovação de seus saberes, é possível acreditar que um governo que deixa de investir em cultura - não apenas financeiramente -, é digno de receber nossa credulidade quando o assunto é educação? Ou, astuciosamente, os reincidentes e demagógicos discursos "pró-educação" são adequações às determinações constitucionais que exigem a aplicação de recursos percentuais mínimos ( 25% do orçamento municipal ) que fazem do setor educacional um grande filão de exploração eleitoral? E o legislativo municipal, como poder independente e autônomo da ordem republicana em nosso país, como se porta diante de tal quadro? De qualquer maneira, não se trata de questionar intenções, mas medidas concretas; não se trata de questionar pessoas, mas políticas públicas de cultura, e estas são inócuas quando partem da administração local. Certo é que o esclarecimento das massas exige o abandono de fórmulas populistas gastas, ainda que eficazes, e a adoção de medidas educativas que tenham como recheio a boa produção cultural que Guaratinguetá foi e é capaz de produzir. É preciso substituir a bola pelo bom livro; o "templo do consumo", representado pelo shopping, pelos espaços de criatividade e de exercício de uma outra humanidade (museus, exposições, teatro, cinema, festivais musicais, cursos e "workshops", palestras e debates etc.); a oração pelo pensamento. Senão substituir, ao menos equilibrar. Afinal, a máxima "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido" pode se tornar prática de conservadorismo quando o poder repousa em mãos e espíritos que se comprazem num humanitarismo que agrilhoa corpos e mentes, não necessariamente nesta ordem. Ao humanitarismo assistencialista, doador, burguês e, por isso mesmo retrógrado, que se suceda uma humanização libertadora e capaz de devolver a dignidade subtraída àqueles que se afundam, cada vez mais, no "mar de lama" da ignorância e da irreflexão. Há, em Guaratinguetá, muita "gente boa" ligada às artes, às ciências e à literatura, esquecida e insatisfeita com a indiferença da atual administração com as questões de cultura da cidade. Reclamam de um pedantismo que reveste de ouropel uma flagrante incompetência da divisão de cultura e da administração em geral. Definitivamente, a arrogância e a presunção não combinam com a democratização da cultura. É preciso descer do trono e buscar a identidade perdida, se é que, algum dia, possuída. Há exemplos a seguir. Se, para a administração municipal, humildade é o que falta, falta tudo o mais. Méritos ampliados para o Sítio do Juca. Aparecida, 20 de abril de 2008 A RTE Gilberto Gomes Gastão Formenti A Composição e a Poesia de sua Obra FALAR DA ARTE de Gastão Formenti exige, antes de tudo, possuir a sensibilidade para compreender a obra de um dos mais talentosos artistas de sua época. Aquele tempo que não volta mais, mas que ainda deixa, em nossa memória, um sentimento nobre que só é peculiar aos homens de um grande coração - o coração do poeta, que consegue atingir o ápice das coisas belas. Assim o foi Gastão, numa época em cujas ruas da "Cidade Maravilhosa", chamada Rio de Janeiro, circulavam pelas calçadas as figuras de Pixinguinha, João do Rio, Raul Perdeneiras, Olavo Bilac, Manoel Santiago, Antonio Parreiras e tantos outros mestres. Uns poetas, outros pintores. Uns pintavam com a Alma, outros, com tintas e pincéis. Pena que o tempo não volta mais e, mais pena ainda, que tudo já não é como o fora antes - fica tudo arquivado nas gavetas da memória! Vale também lembrar que a Escola Nacional de Belas Artes era o núcleo de efervescência cultural e artística do Rio de Janeiro. Por lá passaram artistas como Eliseu Visconti, Gustavo Dall'ara, Antonio Parreiras, Manoel Santiago, Paulo do Vale Júnior, Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, dentre outros que, soberbamente enriqueceram, e muito, a nossa história da arte. Gastão Formenti é mais um dos grandes artistas do nosso imenso Vale do Paraíba que freqüentou esse núcleo e conquistou essa história. Paisagista e possuidor de extrema sensibilidade no trato com as cores, as luzes e a harmonia da natureza. Ao longo de sua carreira, retratou belas paisagens do Rio de Janeiro, São Paulo, mas sem esquecer jamais de suas raízes. Nasceu no dia 24 de junho de 1894, na cidade de Guaratinguetá, Estado de São Paulo. Sua carreira artística teve início no ano de 1910, com o mestre Pedro Strina, em São Paulo. Por volta de 1918, ainda jovem, segue para o Rio de Janeiro, onde passa a residir com seu pai, Alexandre César Formenti. Nessa época, passa a dedicar-se na execução de vitrais. Área que Gastão soube extravasar seu sentimento poético e religioso, resultando em obras de elevado valor artístico. A família Formenti era rica culturalmente. Gastão tinha também uma irmã, Sara Formenti, escultora privilegiada de grande talento. Segundo Theodoro Braga, (que era pintor, ilustrador e historiador), que publicou o livro "Artistas Pintores no Brasil", de 1942, Gastão recebeu as medalhas de Bronze e de Prata nos salões de arte da ENBA (Escola Nacional de Belas Artes). Sua participação, nesses salões, deu-se até o ano de 1961. Em São Paulo, no Salão Paulista de Belas Artes de 1940, conquistou a Medalha de Prata. O artista participou também do Primeiro Salão da Primavera, 1923, além de realizar exposições individuais no Rio de Janeiro, na década de 1940. A respeito do artista, temos ainda referência de exposição coletiva no SNBA (Salão Nacional de Belas Artes), de 1916, Menção Honrosa também no SNBA, em 1921 e Medalha de Prata no salão da ENBA, de 1933. Gastão Formenti também foi cantor popular, tendo gravado várias músicas que fize- Aparecida, 20 de abril de 2008 ram grande sucesso; no entanto, a carreira de pintor falava mais alto no coração do artista. Existem também referências a respeito do pintor Gastão Formenti, no livro de Francisco Acquarone, (que também era um grande pintor) "Primores da Pintura no Brasil", 1941, inclusive com reprodução de sua famosa tela, "Igreja de Santa Luzia". Gastão também foi citado por José Maria dos Reis Júnior no livro "A Pintura no Brasil", publicado também no Rio, no ano de 1944. No acervo do MNBA (Museu Nacional de Belas Artes), encontra-se sua tela "Luz e Sombra". Gastão Formenti é mais um exemplo de que arte e artista não pertencem a nenhuma localização geográfica - pertencem ao mundo. Cabe, porém, no mínimo, que as autoridades de sua terra natal dêem o devido valor, "em vida", àqueles que engrandecem, com dignidade e talento, a terra em que nasceram. Sem essa de dizer que a história de um "personagem ilustre" pertence a fulano ou cicrano, nada disso! A história pertence a todos que possuam sensibilidade para compreendê-la. Aliás, esse pensamento mesquinho é coisa de cidade de interior que ainda não alcan- çou um nível elevado de entendimento para compreender que a evolução cultural deve ser encarada em primeiro plano! Afinal... a Arte, a Cultura e a História são uma trilogia que deve ser acatada com o máximo de sensibilidade e respeito! Viva Gastão Formenti que, assim como outros grandes artistas que nasceram nos "interiores do nosso Brasil", teve "luz própria" para conduzir sua bela obra ao mais alto galardão da Arte! Gilberto Gomes Artista Plástico, Professor e Crítico de Arte www.bahiahoje.com.br/gilbertogomes [email protected] 3 H ISTÓRIA Associação Comercial e Industrial de Aparecida Alexandre Marcos Lourenço Barbosa AOS 21 DIAS do mês de fevereiro de 1965, reuniu-se em Aparecida, segundo a ata redigida pelo senhor Munir Antonio Jehá, 51 pessoas ligadas a todos os segmentos da cidade com o intuito de fundar a ACIA. O senhor Guilherme Bittencourt Ferraz foi o responsável pela convocação. Os senhores.Guilherme Bitencourt Ferraz, Pedro Paulo (Fábrica de Papel Nossa Senhora Aparecida), Munir Antonio Jehá e Roberto Reis de Castro compuseram a mesa para os trabalhos de fundação da Associação Comercial e Industrial de Aparecida. Ao final daquela reunião, ficou definida a primeira diretoria da ACIA, assim composta: Presidente: Guilherme Bittencourt Ferraz, VicePresidente: Munir Antonio Jehá, 1º Secretário: Wadih Ferreira, 2º Secretário: Azib Chad, 1º Tesoureiro: Vidal Rennó Coelho e 2º Tesoureiro: Roberto Reis de Castro. Começa naquela data a história da ACIA. Em 1968, após eleição tumultuada, ficou assim constituída a nova diretoria: Presidente: Munir Antonio Jehá e vice: Milton Alves da Fonseca. Após nove anos de paralisação das atividades, em 1978, foram eleitos como Presidente: Paulo José de Siqueira e, vice, Pedro Gustavo Córdoba. Novamente as atividades da ACIA ficaram paralisadas voltando a se fazer Assembléia Geral Extraordinária no dia 17/02/1984, quando foram eleitos o senhor Eduardo Elache como Presidente e, vice, o senhor.José Ary Marcondes da Silva. Este foi um dos períodos mais profícuos da Entidade, pois foi no dia 19 de setembro de 1984 que, oficialmente, o SPC (Serviço de Proteção ao Credito) foi instalado e começou a funcionar, consolidando assim a ACIA como órgão de serviços ao comércio. Este ato teve como responsáveis diretos os senhores Eduardo Elache, José Ary Marcondes da Silva e Renato Phillipini, grande defensor desta causa. Nesse período, o Lyons Club de Aparecida cedeu gratuitamente suas instalações para serem usadas como sede da ACIA, o que foi feito até a inauguração da sede própria da ACIA, em 1997. Em 1986, houve eleição, e a chapa única foi reeleita: como Presidente, Eduardo Elache, e, vice, José Ary Marcondes da Silva. Em 1989, foi eleita e tomou posse a nova diretoria. Como presidente, José Ary Marcondes da Silva, e, vice, Américo José Camilo. Nesta gestão, foi criada a campanha de natal "Natal Milionário", que funcionou por vários anos e trouxe condições financeiras para a construção da sede própria da ACIA. No ano de 1991, foi eleita a seguinte chapa para o biênio 19911992: Presidente: Ângelo Reginaldo Leite, vice: Danilo Antunes Proença, 1º Secretário: José Mauricio Carvalho de Oliveira e 1º Tesoureiro: Antonio Celso Gonçalves. Nesse período foi criado o "Jantar do Comerciante", que homenageava os comerciantes e empresas que se destacavam no ano do jantar. Esse evento também teve uma vida longa e a entidade homenageou muitas pessoas e empresas de nossa cidade por vários anos. No ano de 1992, a entidade conseguiu, junto à Prefeitura Municipal, a doação de um terreno na Avenida Monumental João Paulo II (este terreno foi permutado por outro na Rua Laurindo de Castro), para a construção da futura sede. A partir dessa diretoria, as eleições seguintes aconteceram de maneira legal, com editais publicados e comparecimento de filiados aptos a votar. A partir do biênio 1991-1992, a diretoria da ACIA se manteve praticamente a mesma com poucas mudanças e Ângelo Reginaldo Leite se mantém como presidente por oito mandatos, conforme permite o estatuto da entidade (Capítulo VI, artigo 13º, parágrafo 1º, p. 3). Nos anos que se sucederam, as diretorias ficaram assim constituídas: 1993/1998 - Presidente: Ângelo Reginaldo Leite Vice: Wanderlei Soares de Souza 1999/2005 - Presidente: Ângelo Reginaldo Leite Vice: José Mauricio Carvalho de Oliveira 2007/2009 - Presidente: Ângelo Reginaldo Leite Vice: Rodrigo Benedictus Lourenço Barbosa 43 43 anos anos trabalhando trabalhando pelo pelo comércio comércio e e desenvolvimento desenvolvimento da da cidade cidade de de Aparecida Aparecida (1965-2008) (1965-2008) De 1991 até os dias de hoje, a entidade, já com sede própria na Rua Laurindo de Castro, nº 17, procura representar a categoria de comerciantes e indústrias da cidade, participando ativamente do seu desenvolvimento econômico e social. A ACIA hoje é um patrimônio da cidade de Aparecida graças a pessoas abnegadas que, ao longo dos anos, desde 1965, lutaram e lutam para manter a entidade em atividade. Ângelo Reginaldo Leite é Presidente da ACIA 4 Aparecida, 20 de abril de 2008 R ETRATO D ROPS VERD ADES CLANDESTIN AS VERDADES CLANDESTINAS Negócio "A guerra contra o terrorismo será longa", anunciou o presidente do planeta. Má notícia para os civis que estão morrendo e morrerão, excelente notícia para os fabricantes de armas. Não importa que as guerras sejam eficazes. O que importa é que sejam lucrativas. Desde o 11 de setembro, as ação da General Dynamics, Lockheed, Northrop Grumman, Raytheon e outras empresas da indústria bélica subiram verticalmente em Wall Street. A Bolsa as ama. Como já ocorreu nos bombardeios do Iraque e da Iugoslávia, a televisão raramente mostra as vítimas no Afeganistão: está ocupada na exibição da passarela de novos modelos de armas. Na era do mercado, a guerra não é uma tragédia, mas uma feira internacional. Os fabricantes de armas precisam de guerras como os fabricantes de blusas precisam de invernos. Eduardo Galeano O Teatro do Bem e do Mal Sentimentos e sua origem nos juízos "Confia em teu sentimento!" - Mas sentimentos não são nada de último, nada de original; por trás dos sentimentos, há juízos e estimativas de valor que nos foram legados sob a forma de sentimentos (predileções, aversões). A inspiração que provém do sentimento é neta de um juízo - e muitas vezes de um juízo falso! - e, em todo caso, não de teu próprio juízo! Confiar em seu sentimento - isto significa obedecer mais ao seu avô e à sua avó e aos avós deles do que aos deuses que estão em nós: nossa razão e nossa experiência. Nietzsche Aurora (§ 35.) Essa miserável questão da paternidade... que significa ela, afinal? Que importa, quando se reflete bem nisso, que uma criança seja do seu sangue ou não seja? Todos os pequeninos entes do nosso tempo são coletivamente os nossos filhos -- de nós, adultos da mesma época -- e são confiados ao nosso cuidado comum. Essa excessiva afeição dos pais pelos seus filhos e a indiferença em relação aos filhos dos outros não é, no fundo, tal como o sentimento de classes, o patriotismo, a preocupação de salvar a própria alma e outras virtudes, senão uma pequenez de alma exclusiva e egoísta. Thomas Hardy Judas, O Obscuro Como pode o homem extremar-se do grande sonho do cosmo? Como se conhece ele? Através da sua vontade. Quero - é agir. A vontade é o instinto. É a própria força da vida. É a vontade quem governa. O espírito é apenas o seu servo. Não queremos uma coisa porque raciocinamos: encontramos razões para uma coisa porque a queremos. O espírito está sempre a inventar uma lógica para os caprichos da vontade. O espírito e os corpos são, portanto, os instrumentos da vontade. É a vontade quem forma os entalhes do embrião humano e constrói os vasos para a circulação do sangue. É a vontade quem modela o cérebro. É a vontade de crescer quem atrai a planta para o sol. A luta do homem pela comida, pela companheira, pelos filhos, pode ser obra da razão? Absolutamente. É obra da vontade. A vida é a vontade instintiva de viver. Schopenhaeur O Mundo como Vontade e Representação Aparecida, 20 de abril de 2008 Cônego Henriques Da redação ANTONIO MARQUES Henriques nasceu em Portugal, em 1850. Em 1877, foi ordenado sacerdote. Aos 34 anos tornou-se cônego em Luanda, capital de Angola, onde permaneceu por breves oito meses antes de retornar a Portugal. Quatro anos mais tarde, em 1888, embarcou para o Brasil, residiu por pouco tempo no Rio de Janeiro e, no mesmo ano, radicou-se definitivamente em Aparecida, onde viria a se tornar uma figura de acentuada importância para a história local. Pouco tempo após a sua chegada em Aparecida, o Cônego Henriques criou o jornal "Estrela d'Apparecida", posteriormente denominado "Luz d'Apparecida", periódico que se tornaria o "semanario catholico de maior circulação no Brazil". Com oficinas gráficas próprias, a tiragem do jornal chegou a ultrapassar 6.000 exemplares no início do século 20. Quando chegaram os redentoristas, inicialmente manteve amistoso trato com os novos padres, mas logo rompeu relações ao perceber que a congregação redentorista chegava, a mando de Roma, com o firme propósito de assumir plenamente a condução do Santuário, o que desagradou o Cônego. A resistência do Cônego Henriques ao processo de romanização que ora se instaurava criou fortes indisposições com a Igreja Católica. Dom Joaquim Arcoverde, em 1893, enquanto Bispo Auxiliar de São Paulo, referiu-se ao cônego como um símbolo do mal, como "uma onça que poderia fazer mal às ovelhas". O Cônego, porém, não se curvou. Sua recusa em ser subserviente levou-o, em 1900, à suspensão de ordens, afastando-o do púlpito, altar e confessionário em toda a diocese. Tentou a reconciliação, em 1907, mas fracassou. Mas a vida do polêmico religioso não se resumiu às suas contendas com a Igreja. Henriques era um visionário de espírito empreendedor que fazia constantes reivindicações por melhorias para o povoado da Capela de Aparecida, explorada pela oligarquia guaratinguetaense, segundo ele. Em 1897, por exemplo, resolveu empreender, ele próprio, a instalação de luz elétrica no largo da Capela d'Apparecida. Promoveu uma campanha de arrecadação através de seu jornal, reuniu os recursos e, como prometido, cuidou da instalação da luz elétrica. Como procedeu sem autorização do bispado de São Paulo, o cônego Manoel Vicente da Silva, governador do bispado, logo providenciou, sob o argumento de precariedade, a remoção das instalações. Mais um dissabor com a Igreja. Do cônego é a iniciativa de, após ler e traduzir um artigo do jornal inglês The Liverpool, levar para a Ilha de Trindade um grupo de pessoas de Aparecida e Guaratinguetá interessadas na busca de um possível tesouro lá deixado em virtude do naufrágio de um navio. Sabe-se que o cônego levou na expedição um pequeno rebanho de cabras que deixou na ilha.O rebanho lá se adaptou e se reproduziu. No Luz d'Apparecida, de 9 de junho de 1906, lê-se que o Cônego Henriques também tratou de, através do jornal, receber esmolas para a construção de um Calvário (hoje, Morro do Cruzeiro) que deveria se tornar, no futuro, uma obra suntuosa e importantíssima. Em princípio, cruzes de madeira de lei para resistirem ao tempo. Depois, a substituição das cruzes por capelas das estações da Via Sacra. Na luta pela emancipação política de Aparecida, o cônego Antonio Marques Henriques teve destacada atuação. Ardoroso defensor da emancipação, a liderança do cônego teve papel decisivo na definição estratégica dos rumos da campanha, nas articulações políticas com lideranças nãolocais e na cessão das oficinas gráficas de seu jornal para a impressão do jornal A Liberdade. Coincidência ou não, o decreto de 1928 outorgando a emancipação político-administrativa para Aparecida foi assinado, pelo Governador do Estado, no dia 17 de dezembro, data de nascimento do Cônego Henriques. Pouco depois, em 1929, o aguerrido lusitano faleceu, antes de completar 79 anos de idade. Da Redação M EMÓRIA Escravos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida Hélio Damante ANTES QUE POSSA ser considera- da um fato econômico, a escravidão é essencialmente um fato cultural. Não fosse isso e os sábios gregos não teriam tido escravos, nem Platão, por exemplo, lhes consagraria um lugar na República. Deve ser vista, isto sim, como instituição aceite, ou pelo menos tolerada nas sociedades ocidentais e orientais do passado. Não só os primitivos os possuíam como presas de guerra, mas também as civilizações antigas, notadamente os romanos. A ponto de Max Weber considerálos o proletariado - espécie hoje em extinção - do Império romano. Como instituição aceite é que devemos entender a escravidão em nosso contexto cultural, não constituindo necessariamente um crime, naquele tempo, possuir escravos. Foi o cristianismo que iniciou o lento processo de sua liquidação, como se comprova da famosa carta de Paulo a Filemon, devolvendo-lhe um escravo fugido: "Recebe este escravo (Onésino) não mais como escravo, mas como irmão". Enfim, o próprio Cristo se intitulou "o servo de Javé", obediente até a morte. HIPOCRISIA Nada disso inibe o caráter brutal, a tragédia, o opróbio e o labéu da escravidão. Notadamente quando praticada em escala macroeconômica, como aconteceu no Brasil com os africanos, cuja doce vingança foi colorir a nossa pele e transmitir-nos os seus valores, numa aculturação pelo avesso, como o mostram o sincretismo religioso afro-brasileiro e os nossos santos negros. Nessas condições é hipócrita a atitude (também de eclesiásticos), que se pretende exacerbar em torno dos festejos do Centená- rio da Abolição, no próximo ano, dos que tentam reduzir o problema da escravidão negra do Brasil à dialética da luta de classes, esquecidos que a misericórdia divina nada e a ninguém exclui. Eles nos deram, como leigos, padres e bispos, alguns dos melhores católicos deste país. Mais hipócrita é semelhante análise - no fundo racista e, portanto, cominada pela lei brasileira - quando pretende execrar ordens e instituições religiosas que tiveram escravos. Fato comum nos conventos, masculinos e femininos, como o mosteiro da Luz, de São Paulo, que sobreviveram ao regalismo pombalino ainda no século passado. É um escândalo falso este; uma atitude de fingida compunção, uma completa ignorância do meio em que se verificou o fenômeno escravista, ao qual não se podem aplicar valores atuais, mesmo deixando de lado os campos de concentração ou "reeducação" ainda existentes sob certos regimes, e os esforços e sacrifícios dos abolicionistas de todos os países. Lincoln, por exemplo. Até Nossa Senhora Aparecida, lato sensu, teve escravos. Os historiadores da Basílica Nacional não omitem esse fato. O primeiro documento que fala dos escravos da Capela de Aparecida - conta o padre Júlio Brustoloni, C.Ss.R. - é de 1805. Um inventário desse ano menciona os escravos Boaventura e Isabel, com seus três filhos menores; um outro chamado Luiz, carpinteiro de profissão e um terceiro, chamado João Mulato, deixado em testamento a Nossa Senhora por Dona Ana Ribeiro Escobar, da vila de São Sebastião, litoral paulista. Muitos deles trabalharam na igreja da Padroeira. O citado Boaventura foi organista. Depois deles, continua o autor, o célebre Betim revelou-se músico exímio, distinguindo-se pelo seu gênio musical. Sua irmã Rita era passadeira e engomadeira das alfaias. Seus filhos foram alfabetizados, e os velhos e doentes, alforriados em 1870, mas não deixados ao abandono: recebiam uma pequena pensão da Capela. Ora, entre os milagres de Nossa Senhora Aparecida, pintados no teto da velha basílica, está o daquele escravo que, fugindo a seus perseguidores, refugiou-se na igreja e, como Pedro na prisão de Sinédrio, teve suas algemas partidas. O milagre é relatado por Zaluar, viajante português do século passado e registrado, mediante testemunhas juramentadas, no Livro de Tombo de Aparecida, fl. 36. Como se explica então que tenha havido escravos na antiga Capela? O historiador redentorista nos dá uma resposta lapidar: "Muitas famílias ofereceram ainda ao Santuário seus próprios escravos. Estranhamos hoje esse fato, mas, na concepção daquele tempo, o doar escravos à Rainha foi também um gesto de devoção e amor". Publicado em "O Estado de São Paulo". São Paulo, 10 de outubro de 1987, p. 15. 5 G RAFIAS O melhor lugar do mundo Sofia Helena Arneiro Lourenço Barbosa Marçal S. Macedo Em uma manhã cinzenta de sexta-feira (daquelas que não temos vontade nenhuma de tirar o pijama), o garoto Lucas, (que tinha acabado de brigar com seu irmão mais novo, Gabriel) pensava, em seu quarto, qual lugar seria melhor do que sua casa. Qual seria o melhor lugar do mundo para se estar naquele momento? Será que a grande Muralha da China o acolheria? Ou melhor seria estar em um barquinho no meio do Oceano? Em um castelo de gigante? Ou na torre em que Rapunzel ficou presa? Seria em seu esconderijo secreto? Ou num lugar onde todos poderiam vê-lo? O Alaska seria o lugar ideal? Ou seria o Egito? Será que é melhor se instalar na Casa Branca? Ou seria melhor ir para o famoso Rio de Janeiro? Em alguns lugares, Lucas, com certeza, não gostaria de estar: Numa praia deserta, No depósito de lixo, No engarrafamento de trânsito, No meio de uma guerra, Ou até mesmo numa fila enorme de banco. Se não eram todos esses lugares... Qual seria o melhor lugar do mundo? Seria... Ummmmm... Seria... O melhor lugar do mundo seria... Um cantinho no coração de cada um de sua família... Inclusive no coração de Gabriel! Naquele momento, Lucas tirou o pijama e resolveu terminar aquela partida de futebol de botão que ele tinha interrompido. Sofia Helena tem 9 anos e gosta de escrever histórias [email protected] O Anjo o menino mais novo no caixote de madeira à beira do poço enquanto o outro corria ao redor pisando as cascas secas de eucalipto, no pé de caqui, os sanhaços cantavam saboreando a doçura da fruta. Ela jogou no poço a velha lata presa a uma corda que deslizava pela carretilha, apoiou-se na borda de tijolos, o peso da barriga tirava-lhe o equilíbrio, quase oito meses, o sétimo rebento estava a caminho. Agora puxava a corda com força fazendo a lata subir dançando e derrubando a água barrenta. O poço estava quase seco, mas logo viria a chuva, ela sempre vinha. Tirou mais algumas latas d'água do poço e lavou a roupa. O pequeno chorava, era fome e logo todos chegariam para o almoço. Pela chaminé, a fumaça anunciava que o feijão devia estar quase cozido. A mãe secou as mãos na velha blusa desbotada, pegou os meninos e entrou. As meninas, já grandinhas: sete, oito e nove anos, limpavam a casa, varrendo o chão de tijolos e tirando o pó dos velhos móveis. A mãe, com sua habitual agilidade, preparou o almoço e botou os meninos para comer, enquanto o pai chegava carregando a enxada e um ramo de mastruz (bom pra dor nas costas - dizia). Ela olhou para o marido, o filho mais novo no colo "Esse minino num tá bem. Preciso levá pra cidade" Lavou o menino. Lavou-se também, vestiu a saia azul, a blusa estampada, chinelo nos pés e saiu para ver se arrumava carona. O pai ficou em casa com os outros meninos. À tardinha, já quase escuro, chega a mãe com o filho no colo "O Osvardinho disse que é infecção de garganta, deu injeção e vai melhorá" Os meninos olhando para a mãe com admiração "Ela resolve tudo, não tem medo de nada" De fato sua força era quando se deparou com um triste rapaz sentado à beira da estrada. Aproximou-se e perguntou : Meu amigo, por que estás tão triste? Respondeu o rapaz: Tenho muitos sonhos que não se realizam... E o senhor o que tem a ver com isso? - completou. O velho homem sentou-se ao lado dele e disse-lhe: É que eu sou mascate, engraçado... eu tinha aqui no meu embornal umas sobras de sonhos realizados, mas acho que vendi todos ... você não quer comprar um pouco de otimismo? Ainda tenho alguns, ou então um pouco de perseverança? Força de vontade eu só tenho um restinho, vai querer? Força de vontade é o que eu mais vendo, não vai querer comprar nada? - insistiu o velho homem. Não, eu só queria muito era realizar meus sonhos, senhor! - respondeu o rapaz com ar de desânimo e desinteresse. Olhe aqui, meu filho - insistiu com dureza o mercador de talentos - eu já estou nesta estrada há muito tempo e não gosto de perder nenhum freguês, portanto vou fazer-lhe uma última proposta. Você compra um pouco de otimismo, um pouco de perseverança, e tudo o que eu tiver no embornal de força de vontade, e eu te dou de brinde este pote cheio de fé. O que você acha? E o rapaz, ainda meio confuso, perguntou: E o que eu farei com tudo isso, senhor? É muito fácil! - explicou contente o mercador. Pegue em sua casa uma vasilha bem grande de paciência, coloque um pouco de otimismo e perseverança, coloque também toda a força de vontade que você tiver, misture tudo muito bem e, por fim, coloque todo o pote de fé que eu te dei, para que tudo dê muito certo. E o rapaz, ainda desconfiado, perguntou: Senhor, e os meus sonhos se realizarão? E o velho mercador de talentos, sorridente e já indo embora, respondeu-lhe: Filho, com otimismo, perseverança, força de vontade e muita fé em Deus, todos os sonhos se realizarão. E o rapaz, feliz, ainda teve tempo de perguntar-lhe: Meu bom senhor, como te pagarei por tudo isso? Passe a receita à frente, filho!!! Passe à frente ... Marçal Macedo é cronista Tonho França impressionante: faltou comida em casa, caminhava quilômetros e pedia ajuda; se os meninos ficavam doentes, lá ia onde fosse preciso, da maneira que fosse possível; comprar roupa nova e chinelo de dedos pros meninos; levar ao posto de saúde para vacinação; e na Semana Santa ela é quem ia puxando a família para as celebrações em Aparecida, o que para ela tinha um sabor todo especial, um misto de dor e prazer das recordações da infância. Às vezes queixava-se de algumas coisas - a vida fora dura com ela: sentia falta da mãe que mal conhecera, vivera poucas e boas com sua madrasta, arrependia-se de ter se casado aos vinte e um, "Queria ter aproveitado melhor a vida", dizia. Mas, os seus filhos! Ah, cultivava por eles um amor tão grande que transcendia todas as misérias humanas. Os anos passaram, já não vinham mais os filhos; parara no nono. Agora eram os netos que abençoavam seus dias com doces preocupações. E enquanto seus braços perdiam a força com que outrora puxava a lata para tirar água do poço e seus pés já não caminhavam tão ágeis naquelas estradas de pedras ladeadas de flores, sua força e sabedoria cresciam enchendo o mundo de encanto. Não era nem preciso falar, ela pressentia, adivinhava e suas breves e doces palavras tinham o mágico poder de mais uma vez ser o braço forte que freia e impulsiona, soluciona e acalenta. E assim foi por muitos e muitos anos: os braços cada vez mais fracos, os pés cada vez mais lentos, e a voz cada vez mais suave, mas a força de sua alma e a luz que dela brotava cresciam tão rápida e intensamente que todos vinham de longe só para sentila por um breve instante que fosse. E era tão intensa que pairava não somente sobre a pequena Vila, agora alcançava as cidades vizinhas, o Vale, o Continente, quiçá, o Planeta por completo. Até que um dia atingiu a plenitude. E tendo cumprido a missão, o anjo voltou para o céu daquele pedacinho de chão. Matilde Helena Espíndola é mestranda em lingüistica aplicada 6 IA UM SENHOR por um caminho Mãos que nos levam... Matilde Helena Espíndola A MÃE COLOCOU Receita de sonhos Junto as últimas réstias da tarde, Das pequenas flores, lívidas nuances Esvaiam-se aromas indecifráveis Como se emanadas de paraísos E nuas, floresceram entre o silêncio, remidas Bordando seus olores no lençol branco-eterno Com que se veste a morte nas noites entristecidas Em que passeia colhendo-nos enquanto sonhamos Nos campos vastos da vida. Tonho França é autor dos livros Sinos de Outono e Blues à tarde [email protected] Confecção Dora Vilela Com palavras teci a colcha Que à noite me aconchega Minha face deita o veludo de carinho Com as mãos afago retalhos de sossego Os pés acariciam acessos de paixão Letra por letra inda bordei versos Que, por vezes, me arranham a pele E há meu dileto fragmento Onde, em decúbito ventral, Me aperto os braços e o coração. Dora Vilela é autora do livro Descaminhos .......................................................................................................................................... ....................................................................................................................................... Aparecida, Aparecida, 20 de 20 novembro de abril de 2007 2008 G RAFIAS O Show Marco Antônio Santos Reis Acho que foi ouvindo o coO ruído das armas, tão neração, com seu compasso bicessárias para a sobrevivênnário, que lembrei-me de cia, tão desnecessárias para música. a guerra. Sons. Os de alegria da vitóNão uma música suave, cheia ria sobre os de dor dos derde tons e valseios. Uma músirotados. Uivos e gemidos. ca árida, vida, não-vida. A música que nasce da dor. No princípio era a música e Ouvindo o coração, viajei os homens não a conheciam. para o amanhã. Os sons se espalhavam, caótiCom outros nomes e concos, por todos os poros, por todos os ares e lugares, numa POUR LE DEMAIN ceitos, a milenar e desordenada confusão perdura. A encantada confusão. música da dor persiste, Não havia, sequer, a noção de que era preciso pôr ordem naqueles ombreada pela música da miséria e tons, umas vezes altos, outras, baixos, da exploração. quase murmúrios, langores banzeiros, Nalgum livro antigo, o desalento do kismet, o alento da esperança, contrasaudosos. Ouvindo o coração mergulhei no ontem. pontos de uma contradança nobre e Não no ontem do dia anterior. No ontem lenta, emotiva e quaternária. Seres, como notas, presos em pautas milenar, cavernal. Lá já estavam os corações e o compasso e linhas, sem domínio do próprio binário, não-morte, morte. Vida, não- rumo, esperando os próximos sons. Dancemos, pois, uma pavana para o vida. Depois, uma pedra sobre outra pedra. amanhã. Antes, talvez, uma madeira sobre outra. [email protected] PaVaNa Contos imediatos Wilson Gorj O pensador ENCONTRARAM-NO morto em frente a uma pequena fábrica de ladrilhos, cuja fachada é conhecida pela estátua de cimento que marca presença ao lado do portão de ferro. A escultura em questão é uma réplica aproximada d'O Pensador, famosa obraprima do escultor Auguste Rodin. Tão conhecida quanto a estátua da referida fábrica, a vítima, encontrada na calçada, era um desses bêbados metidos a valentões cujos porres costumam terminar em bravatas estúpidas e brigas gratuitas. Este, por exemplo, tinha a louca mania de implicar com o dito Pensador. Embriagado, às vezes, detinha-se peran- Sábado de Aleluia DIANTE DA PORTA de aço, a criançada não parava de gritar: — Queremos ba-la! Queremos ba-la! Às costas de um dos garotos, o boneco de Judas aguardava a hora de ser devidamente linchado, enforcado e queimado. "Queremos bala", berravam a plenos pulmões. De repente, a porta de aço sobe com for- Fora de jogo CHEGAVA EM CASA de manhãzinha. Às vezes exibindo um maço de dinheiro; outras, escondendo o pulso onde deveria estar o relógio, reincidente presente. Tinha sempre a mesma desculpa. Que ela tivesse um pouquinho de paciência com ele, pois largaria de vez a jogatina e arranjaria logo um emprego decente. Mas a mulher se cansou dessas falsas promessas e lhe fez um ultimato. Que Aparecida, 20 de abril de 2008 te a estátua e, aos berros, endereçava-lhe os mais escabrosos insultos, os quais, por vezes, de tão inflamados, resultavam em sonoras e desvairadas bofetadas. Sonoras, desvairadas e, óbvio, inofensivas, pois sequer provocavam um mínimo arranhão na face rígida, sempre meditativa. Uma morte feia, a do bêbado. Ninguém sabe como se deu a desgraça. O que se sabe é que o lado esquerdo do rosto do bebum estava todo fraturado. Quem quer que o tenha agredido, deve tê-lo feito com extraordinária força e munido de algo muito duro e pesado. Além da violência deste caso, o que mais intriga é aquela mão direita ensangüentada. Não falo a do bêbado. Mas a da estátua. ça e rapidez. Surge, então, a figura do proprietário do bar. O rosto vermelho de raiva. Sua ira, porém, era anterior à algazarra dos moleques. Havia descoberto, há pouco, a traição da esposa e vingou-se dela dando-lhe um tiro certeiro e fatal. O sangue ainda fervia-lhe nas veias. — Cambada de arruaceiros! Não é bala que vocês querem?! Então, tomem!! Tomem bala!!! escolhesse entre ela e o baralho. Ele não deu importância. Achou que ela estava blefando, e por isso não pôs fim à sua jogatina noturna. Estava errado, não era um blefe. De fato, ela o largou e foi viver com outro homem. Pela primeira vez na vida, ele soube o que era sentir-se uma carta descartada do baralho. Wilson Gorj é autor do livro "Sem contos longos" [email protected] Nuno Marques HONÓRIO não queria ir com a mulher. Não era fã do cantor, e a conjuntivite apertara. Os olhos mal se abriam. Parecia que tinham jogado um caminhão de areia neles. — De mais a mais, eu nem comprei ingresso... — Tudo bem, tudo certo — assentiu a esposa que, desde o começo, percebera sua má vontade —, mas você vai ter de nos acompanhar até a entrada. Disso não abro mão. Colocou sua melhor roupa. Afinal, não era todo o dia que Fábio Júnior vinha até sua cidade. Caprichou no pisante. Calça preta, camisa preta e chapéu preto. Parecia querer relembrar seus bons tempos. Chegou perto e perguntou como estava. — Tá parecendo um urubu, pai! — E pra que esses óculos escuros, homemde-deus? Como é que você vai dirigir? — Eu tiro na hora que tiver dirigindo. A luz arde os olhos. — Vá bem, vai. Já estamos atrasados. Vamos! Vamos! Realmente, parecia que a cidade toda tinha ido para o espetáculo. Quase não tinha lugar pra estacionar na frente do clube. Se não fosse a gentileza do porteiro em deixá-lo entrar no estacionamento, teria deixado todos à entrada da portaria. — Ali, pai! Uma vaga. Estacionou, desceu do carro como prometido e já tascou os óculos escuros na lata. — Cê tá parecendo o Valdick Soriano... —Vai rindo, mulher. Vai rindo, que quem ri por último... — Perde o tempo da piada, seu bobo!!! Ainda acenou uma última vez antes de vêla sumir. Ela parecia exultante. Pulava ao lado da filha, enquanto entrava no ginásio. Virou-se já para sair, mas foi abordado por um homem. — Aqui, ó, comigo! - e dando um tapinha nas suas costas - Tão precisando de alguém no camarim do Fábio... — Mas... Eu... — Não tem mais nem menos, cara. Cê tá ganhando muito bem pra fazer isso. Vamos, corre! - e já foi empurrando Honório, que, atônito, não esboçou nenhum gesto. Foi na direção do corredor oposto de sua mulher, hesitava ainda. - Rápido, cara! Que moleza! Apertou o passo e entrou resmungando. E essa agora. Teria de achar a saída pra voltar pro carro. Abriu uma porta e deu de cara com uma mulher seminua. Ela nem se abalou. — Você pode me ajudar com o zíper? — Cla... claro... — Você veio me acompanhar até o palco? Que gentileza... Honório ajeitou a roupa dela, ofereceu-lhe o braço. Seguiram para o salão nobre do Clube. O concurso de Miss Comerciária da cidade era uma festa engalanada que acontecia concomitantemente ao show. Todos os anos, jovens funcionárias, indicadas pelos comerciantes concorriam ao título de mulher mais bonita do comércio. Quando entraram pela coxia e atingiram o palco, o público aplaudiuos. Com andar firme, Honório conduziu-a até o centro do palco, deixando-a em seguida para ser ovacionada pelos presentes. Com certeza, ali estava a vencedora do concurso. Saiu de cena e, já que estava bem à vontade, resolveu andar pelo clube em que nunca entrara antes. Passeou pelas piscinas. A lua refletia nas águas e envolvia com seus braços a imaginação daquele homem. Sentia o sangue correr quente em suas veias. O coração acelerou e suas pupilas dilataram-se. Voltou correndo em direção ao show. Como estava dentro do clube, teve que pegar um caminho diferente do da esposa. Entrou por corredores, deu de cara com homens de preto e óculos escuros, que o cumprimentaram com um aceno de cabeça, e, quando se localizou, estava na área vip do espetáculo. Ninguém o barrou. Muitos até, saíram de sua frente, como se ele fosse uma autoridade. Passou por um portãozinho e acessou o salão que dava de frente para o palco todo arrumado. Sobrava espaço naquele lugar. Olhou a sua volta e viu as arquibancadas tomadas por pessoas que pareciam espremidas umas às outras. Várias mesas e cadeiras revestidas por um tecido fino estavam geometricamente espalhadas pelo local. Antes que fizesse algum movimento, um garçom puxou-lhe uma cadeira. — Sente-se aqui, doutor! Dá pra ter uma boa visão do palco daqui. O que o senhor vai beber? Honório parecia não acreditar em sua sorte. — Quanto custa uma cerveja? — O senhor está brincando, né? O preço está incluso no ingresso... — Claro! Claro! - ajeitou-se à mesa, esticou as pernas e encostou-se relaxadamente na cadeira. - Pode ser uma geladinha? - O senhor manda, doutor. - Ah! Traz uma porção de fritas também. Lembrou-se da mulher. Levantou-se e olhou para a arquibancada do ginásio lotado. Acenou sem ver ninguém. Parecia em êxtase. Esquecera completamente da conjuntivite que tanto o atazanara aqueles últimos dias. - Mãe, olha, não é o pai balançando a mão lá na quadra? - Aquele que tá sendo servido por um garçom? - É, mãe! Ele tá até brindando com o copo... - Bem capaz, menina! A essa hora seu pai já tá de pijama na cama. E olha a elegância do homem! Parece que é um fazendeiro, um deus negro... Honório virou-se para o palco e, na hora em que o Fábio Júnior entrou cantando, não se conteve. Pulou da cadeira, ergueu os braços e gritou o mais que pôde: - Brigaduuuuuuuuuuu!!! [email protected] ção Promo al especi para escolas Aquário de Aparecida Santuario Centro de Apoio aos Romeiros Asa Oeste - Aparecida-SP [email protected] (12) 3104-1263 e 3104-1264 7 R EPUBLICANDO O sítio de conurbação Guaratinguetá Aparecida (2) CONFORME FOI EXPOSTO, essas pontes destinam-se a facilitar as comunicações entre Guaratinguetá, as áreas urbanas localizadas à margem esquerda do Motas, e Aparecida. O estrangulamento que as pontes provocam durante as cheias do Motas é resultado da construção mal planejada das mesmas. Com efeito, a altura do vão de cada uma delas foi calculada somente em função da cota local do fundo, sem levar em conta as irregularidades do leito, o curso estreito e tortuoso do ribeirão, ou as vazões máximas previsíveis ao longo do trecho urbano e suburbano, que abrange, aproximadamente, 2,11 km do curso inferior (Hidroservice, 1961). Durante as enchentes de 23 de fevereiro de 1961, as pontes das ruas Paissandu e São Francisco ficaram submersas, enquanto que a maioria das restantes represaram as águas. Não foram transbordadas, mas provocaram, mesmo assim, a inundação das áreas marginais localizadas à montante delas. O total de terras inundadas no perímetro urbano alcançou a 23.920 m2. O ribeirão São Gonçalo não tem representado para Guaratinguetá uma ameaça tão séria quanto o Motas. Seu curso apresenta-se menos complexo e, embora forme dois cotovelos semelhantes aos do Motas, a maior largura do leito assegura um escoamento menos torrencial, mesmo durante as águas altas. O trecho percorrido pelo São Gonçalo entre a área suburbana e a foz alcança, aproximadamente, a 1,83 km, existindo apenas três pontes entre ambas as margens (fig. 1). Durante as enchentes, a área crítica é a localizada sobre a margem esquerda, no trecho côncavo entre a ponte da rua Santa Clara e a da Marechal Deodoro. Sobre essa margem está construída a rua Gama Rodrigues, que teve de ser protegida contra a erosão lateral mediante a construção de um muro. No setor localizado entre a ponte da rua Marechal Deodoro e a da E.F.C.B. o leito apresenta-se mais largo, sendo as margens relativamente mais baixas e, portanto, inundáveis. O escoamento vê-se entravado pela segunda das pontes citadas, assim como por algumas construções que, mais afastadas do eixo do leito, interferem na passagem das águas, tendo sido afetadas durante a enchente de 27 de fevereiro de 1961. À parte esta enchente, o remanso das águas do São Gonçalo por aumentou do nível do Paraíba provocou enchentes nos dias 4 e 20 de janeiro, e 1 de março. Estas enchentes de fevereiro e março, ocorridas após um período de chuvas excepcionais nas altas bacias dos ribeirões estudados, tiveram efeitos desastrosos na área de influência do São Gonçalo, que, de maneira semelhante ao Motas, encontrou-se represado pela presença de obras inadequadas. Ao ser modificada a geometria do leito, foi prejudicado o escoamento do ribeirão; estrangulado pela ponte da E.F.C.B, construída em uma cota muito baixa, o São Gonçalo inundou 10.200m2 de área urbana no dia 27 de fevereiro. O muro de proteção da rua Gama Rodrigues foi seriamente danificado como resultado do aumento da correnteza sobre a margem esquerda, enquanto à margem oposta, a rua paralela era completamente destruída. 8 Estes eventos catastróficos, repetidos com bastante freqüência ao longo da história recente da cidade (1931, 1952, 1961) levaram o antigo S.V.P. a solicitar à Hidroservice a elaboração de estudos globais das bacias de ambos os afluentes. Dos relatórios finais apresentados por essa companhia foram extraídos os dados hidrológicos fundamentais usados nesta parte do trabalho. Juntamente com os resultados dos estudos geológicos, climatológicos e hidrológicos, a Hidroservice apresentou ao S.V.P. um anteprojeto de soluções para o controle das enchentes em Guaratinguetá. Dentre as obras sugeridas, a solução escolhida para a Bacia do Motas, tanto de sua relativa simplicidade de sua execução como pela baixo custo e os efeitos mais duradouros foi a construção da barragem Aduaslinhas, a montante da Fazenda Santa Justa, a aproximadamente 10 km a SW da cidade, em um ponto onde é possível controlar 75% da área da bacia (fig. 2). Além desta barragem, com capacidade para controlar as enchentes provocadas na alta bacia do Motas por chuvas excepcionais, o anteprojeto aconselhava a respeito de uma série de outras medidas a serem tomadas dentro da própria área urbana, tais como limpeza periódica de ambos os leitos, retificação parcial do curso do Motas e eliminação do estrangulamento provocado pela ponte do E.F.C.B. no São Gonçalo, entre as mais urgentes. A construção de uma barragem no São Gonçalo foi também sugerida. Entretanto, deve de ser lembrado que, enquanto a organização da rede de tributários do Motas permitiu a construção da represa em área afastada da cidade, em local onde as condições topográficas facilitavam a execução da obra, o São Gonçalo reúne seus dois formadores principais a apenas 1 km a montante da cidade, no bairro da Pedreira (fig. 2). Uma barragem nessa confluência significaria despesas muito grandes, já que far-se-ia necessário, por exemplo, mudar a localização da estrada Guaratinguetá-Cunha que, nas condições atuais, resultaria parcialmente inundada. Outra solução viável seria a construção de duas barragens, uma sobre cada um dos tributários, obras que no momento só existem nos planos da Divisão do Vale do Paraíba (antigo S.V.P.). Entretanto, deve de ser levado em conta que nas condições atuais de povoamento das margens do São Gonçalo, obras do tipo mencionado não aparecem como sendo imprescindíveis. Isto, contando com que venham a ser executadas no curso inferior as obras recomendadas no anteprojeto da Hidroservice, especialmente as modificações nas pontes da E.F.C.B. Estes trabalhos são necessários na medida em que venham a contribuir à diminuição dos riscos de enchentes, criando ao mesmo tempo condições propícias para a utilização dos afluentes e suas zonas ribeirinhas. Estas poderiam ser transformadas, mediante tratamento paisagístico adequado, em áreas de lazer, prévio aterro dos setores mais baixos das várzeas nas proximidades da foz do Motas e do São Gonçalo no Paraíba. Profª Dra. Lylian Coltrinari AS POSSIBILIDADES DE EXPANSÃO FUTURA Conforme a análise que acaba de ser apresentada, o crescimento urbano de Guaratinguetá parece estar orientado em direção oposta à Via Dutra. Esta orientação, já apontada pelos urbanistas (CODIVAP, 1972) resulta, por uma parte, da carência de áreas adequadas à urbanização em torno do sítio original, para cujo desenvolvimento parece não existir outra saída que a intensificação do projeto crescimento vertical. Portanto será praticamente inevitável o paulatino desaparecimento das antigas construções que ainda hoje testemunham o esplendor alcançado pela cidade na época do café. Por outro lado, as terras localizadas à margem esquerda apresentam condições topográficas favoráveis à urbanização. Contudo, deve de ser lembrado que a maior extensão plana - o terraço antrópico de Nova Guará - encontra-se já totalmente ocupado por um bairro residencial, e que as baixas colinas de Vila Paraíba acham-se densamente povoadas, inclusive nos seus topos. Em direção a Pedregulho, o crescimento detevese - ao menos assim o parece - no sopé das colinas terciárias e nas vizinhanças do campo de pouso da Escola de Especialistas em Aeronáutica. Pela sua fraca declividade, os terraços localizados à margem direita do curso inferior do ribeirão Guaratinguetá aparecem como áreas adequadas à ocupação urbana, e, em especial, à localização de indústrias. Entretanto, deve ser lembrado que a área pertence à Escola de Aeronáutica, ficando fora de cogitação qualquer hipótese a respeito de crescimento da cidade, ao menos, em futuro próximo, naquela zona. Com relação ao desenvolvimento em direção a Aparecida, pode-se dizer que, prati- camente as duas cidade já estão reunidas. É de se prever, portanto, o reforço dessa tendência na medida em que as limitações impostas pelo relevo assim o permitam. Perante essa realidade, far-se-á necessária a compatibilização dos planos de obras municipais, com a finalidade de atenuar os problemas já existentes (caso do aumento da densidade da circulação, tanto dentro de cada uma das cidades, quanto entre ambas) e outros que possam surgir no futuro. Um desses problemas poderia estar relacionado com desenvolvimento da indústria de papel e celulose instalada em Aparecida , que pode aumentar o índice de poluição ambiental, tanto na cidade quanto em Guaratinguetá, conforme a direção dos ventos (CPEU-FAU/ USP, 1969; CODIVAP, 1972). Finalmente, deve ser lembrado que o incremento da circulação regional e extra-regional ao longo da Via Dutra está já exigindo um aumento no número de pistas em ambas as direções do tráfego. Obras desse tipo aparecem como impraticáveis à altura da conurbação Guaratinguetá-Aparecida, por causa da configuração dos relevos à margem direita do Paraíba. Seria chegada a hora, talvez, de se pensar no deslocamento ao menos de uma das mãos do fluxo São Paulo-Rio de Janeiro, para a margem esquerda do rio, aproveitando as características locais dos relevos. Eventualmente, poderiam vir a ser utilizados com essa finalidade, trechos de estradas já existentes (caso da GuaratinguetáAparecida, por exemplo), que servem ao tráfego intermunicipal. Em Guaratinguetá, a ligação com a margem oposta poderia ser feita através da ponte nova, cuja capacidade não está sendo totalmente aproveitada na atualidade. Sua utilização como via de passagem para o trânsito regional e extra-regional exigiria, possivelmente, seu alargamento, assim como o remanejamento das áreas urbanas localizadas em torno do extremo SW da ponte, com a finalidade de facilitar a comunicação com a Via Dutra a jusante de Guaratinguetá. Aparecida, 20 de abril de 2008 Foto aérea de Aparecida, em 2007 À maneira de conclusão, poderia ser dito, inicialmente, que tanto Guaratinguetá quanto Aparecida podem ser citadas como exemplos de cidades implantadas em sítios favoráveis sob o ponto de vista estratégico e defensivo. Esta vantagem inicial decorreria da localização sobre colinas cristalinas terraceadas como a que, no caso de Guaratinguetá, dominava, no século XVIII, a travessia do Paraíba no local onde seu leito se estrangula, tendo assim condições de controlar a circulação entre o vale, o território mineiro e o litoral. O crescimento posterior da cidade obrigou à ocupação de locais adequados para a instalação de novos bairros. Numa primeira fase, foram ocupados setores situados em torno do núcleo original; o desdobramento da cidade operou-se com a instalação, à margem esquerda, do bairro de Pedregulho (fins do século XIX). Aparecida, por sua vez, ocupou sucessivamente as colinas cristalinas localizadas em torno do sítio original, originando uma aglo- meração urbana em acrópole. Posteriormente, seu desenvolvimento orientou-se em direção às margens do Paraíba, que não oferecem condições favoráveis ao povoamento por serem setores de fácil inundação; no futuro, talvez devam ser adotadas soluções drásticas, tais como o aterro de algumas das colinas situadas a SW da cidade, tal como foi feito para a instalação da nova Basílica. Em segundo lugar, deve ser dito que, à parte a ausência de áreas relativamente planas, o crescimento de Guaratinguetá vê-se entravado pelas ameaças de enchente, tanto do Paraíba quanto dos ribeirões dos Motas e do São Gonçalo. Estes riscos subsistem, principalmente, nas proximidades das desembocaduras de ambos os ribeirões. Finalmente, é de se destacar a singularidade do sítio da conurbação GuaratinguetáAparecida, quando comparado com o das outras aglomerações urbanas localizadas nas proximidades do rio Paraíba ao longo do seu médio vale superior. Em geral, estas cidades ocupam terraços (quaternários, como em Jacareí, ou terciários, nos casos de Lorena, Roseira, Pindamonhangaba e Taubaté) ou, ainda, colinas terciárias (São José dos Cam- pos), onde a ocorrência de setores planos relativamente amplos facilitaram a expansão dos diversos núcleos. CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS CODIVAP. Caracterização e avaliação dos conhecimentos existentes sobre a região do vale do Paraíba e diagnósticos resultantes. Companhia Editora Ypiranga. São Paulo, 1972. CPEU/FAU - USP. Plano Diretor de Aparecida. Secretaria dos Serviços e Obras Públicas. Departamento de Obras Públicas. São Paulo, 1969. HIDROSERVICE. Estudos e ante-projeto de regularização dos ribeirões dos Motas e São Gonçalo: hidrologia e ante-projeto de soluções. Relatório HS6 - R4 - 61. In: Estudos de regularização do ribeirão dos Motas, vol. 1 (inédito). São Paulo, 1961 MILLIET, Sérgio. Roteiro do café e outros ensaios. BIPA Editora. São Paulo, 1946. MÜLLER, Nice Lecocq. Correlações entre a História e a Geografia: o exemplo do vale do Paraíba no estado de São Paulo. Geografia Urbana. IGEOG-USP 3. São Paulo, 1969. MÜLLER, Nice Lecocq. Industrialização no vale do Paraíba. Geografia das Indústrias. IGEOG-USP 1. São Paulo, 1969a. MÜLLER, Nice Lecocq. O fato urbano na bacia do rio Paraíba (Estado de São Paulo). Biblioteca Geográfica Brasileira, série A, n. 23, IBGE-CNG, Rio de Janeiro, 1969b. SPIX e MARTIUS. Reise in Brasilien. Vol. 1. 1823. Tradução do alemão, revista e anotada. Editora Melhoramentos, São Paulo. Lylian Coltrinari é Livre Docente e professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade de São Paulo-USP. Nicésio Atacado e Varejo ESCRITÓRIO CONTÁBIL DICO Avenida Monumental, 446 Tel. 3105-2716 Aparecida, 20 de abril de 2008 Sempre trabalhando para o progresso de Aparecida (12) 3105-2722 LOJA 1 Rua Monte Car melo Carmelo melo,, 227 centro LOJA 2 Rua Anchieta, 07 centro Aparecida-SP Atacado e Varejo Telefone 8173- 2525 9 E DUCAÇÃO Ensino m unicipal de Apar ecida: municipal parecida: destaque na Pr ova Br asil Pro Brasil ANO PASSADO, a Diretoria Execu- dias das escolas estaduais do Brasil foram de 173,0 para a 4ª série e 226,6 para a 8ª série, na rede municipal de Aparecida, as mesmas médias foram de 200,45 e 243,95, ou seja, 15,87% e 7,66% acima da média. Em Matemática, as diferenças permanecem. Para os índices de 181,8 (4ª série) e 232,9 (8ª série) das escolas estaduais do Brasil, Aparecida apresenta significativos 200,02 (4ª série) e 266,23 (8ª série). Nada menos que 10,02% e 14,31% de proficiência média superior ao desempenho das escolas estaduais brasileiras. Se comparados aos resultados das escolas estaduais de São Paulo, as médias municipais continuam superiores. 12,62% (4ª série) e 6,81% (8ª série) para Língua Portuguesa e 9,36% (4ª série) e 15,65% (8ª série) quando o assunto é matemática. Buscando conhecer e compreender as razões que levaram a tal resultado, o preposto do Banco Mundial averiguou, in loco, o que a educação municipal de Aparecida realizava para que seus alunos apresentassem níveis de proficiência elevados, especialmente em Matemática. Visitou escolas, entrevistou a Diretora Municipal de Educação, conversou com professores e diretores, aplicou questionário, viu alunos em atividade e coletou as mais variadas informações que permitissem estabelecer o diferencial que fazia das escolas da cidade um exemplo a ser seguido.. Seu diagnóstico foi contundente: o segredo da educação municipal de Aparecida está na "consistência de ações bem articuladas orientadas por propostas coerentes". tiva de Educação de Aparecida recebeu a visita do pesquisador sênior Maurício Fronzaglia, representante oficial do BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), órgão oficial do Banco Mundial, sediado em Brasília. O que motivou a presença do técnico na cidade foi o alto desempenho apresentado pela rede de ensino municipal de Aparecida na última prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB 2005), conhecido como Prova Brasil. Os resultados, bem acima da média, chamaram a atenção do órgão internacional responsável pela averiguação da qualidade do ensino nas escolas brasileiras. Para se ter uma idéia do quadro geral da educação na rede municipal de ensino, alguns dados contribuem. A rede de escolas municipais de Aparecida se faz presente no centro da cidade e em mais quinze bairros. É composta por onze escolas de ensino fundamental, sete creches, quatro escolas de educação infantil e uma de ensino profissionalizante. Atende a 3.952 alunos do Ensino Fundamental (distribuídos em oito séries), 1209 alunos de Educação Infantil (creche e pré-escola), 131 estudantes nos cursos para jovens e adultos e 247 cursistas de ensino profissionalizante. Respondendo a esta demanda está um grupo total de 275 professores, sendo 49 monitores de Educação Infantil, 206 docentes de Ensino Fundamental e 20 professores para os cursos profissionalizantes. O transporte escolar atende a 1.013 crianças e jovens (181 da rede municipal e 832 da rede estadual). A merenda escolar teve substancial melhoria de qualidade nos últimos anos e 1.277 famílias são beneficiadas pelo programa Bolsa Família, alcançando 2.272 estudantes de escolas municipais e estaduais Em 2005, foram avaliadas as crianças de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental em todo o país. Em Aparecida, participaram da Prova Brasil daquele ano: 65,2% dos alunos de quarta série (266 de um total de 408) e 83,2% dos alunos de oitava série (203 estudantes de um total de 244). Os escores obtidos, se comparados aos dos demais estabelecimentos de ensino do país, colocaram as escolas municipais de Aparecida em uma situação privilegiada. Vejamos os resumos estatísticos. Em Língua Portuguesa, enquanto as mé- O relatório com as observações finais dos técnicos do Banco Mundial ainda não chegou, mas nem é preciso, pois a Prova Brasil fez notória e pública a qualidade da educação no município. Aparecida é um exemplo de que uma administração municipal dedicada e responsável pode conduzir políticas públicas (em educação e em qualquer área) que produzam resultados sociais efetivamente favoráveis, assegurando direitos a todos os cidadãos. Evidentemente, isso não avaliza a idéia de que a municipalização é essencialmente boa. Assim fosse, outros municípios, incluindo aqueles que têm orçamento e renda per capita bem maiores, estariam no rol das cidades de bom desempenho educacional. Não é o caso. A diferença se assenta em outros pilares. A qualidade da gestão é um deles. ZEZÃO CONCRETAGEM O pioneiro há mais de 25 anos Situado à Praça N. Sra. Aparecida, junto ao convento dos Padres Redentoristas Lajes e pisos industriais nivelados a laser ÓTIMO TRATAMENTO * Apartamentos e quartos amplos e arejados * Suítes com TV em cores * Ar Condicionado quente e frio * Frigobar, Elevador Atlas www.zezaoconcretagem.com.br [email protected] Garagem Própria Praça N. Sra. Aparecida, 247 Aparecida-SP Tel.: (12) 3105-2700 / 3105-1548 FAX: 3105-3652 www. hotelcentralaparecida.com.br 10 Tel/Fax: 3105-1377 Av. Padroeira do Brasil, 689 Aparecida-SP Tel.: (12) 3105-2812 São José dos Campos Tel.: (12) 3936-2005 Aparecida, 20 de abril de 2008 E NTREVISTA Terezinha Amaral Da Redação O Lince - Professora Terezinha, a senhora está à frente da Diretoria Executiva de Educação de Aparecida desde 2001, mas a sua ligação com o ensino escolar é bem anterior a essa experiência. Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional. Terezinha Amaral - Minha trajetória profissional começa, em 1950, quando, ainda normalista, durante dois anos, lecionei no Chagas Pereira no Curso de Adultos como voluntária. De 1952 em diante, fui substituta efetiva na mesma escola. Em 1955, tornei-me professora efetiva do ensino primário. Lecionei no ensino primário. No secundário, ensinei matemática e desenho geométrico. Na faculdade, didática, legislação, metodologia, sociologia e orientação vocacional. Fui orientadora educacional, orientadora de Educação Moral e Cívica e Coordenadora pedagógica. Fui também Diretora de Escola e Supervisora de Ensino concursada. E, desde 2001, estou na Diretoria Executiva de Educação e Cultura de Aparecida. Trabalhei todos esses anos sem parar um dia sequer. O Lince - Quando a senhora assumiu a Diretoria Municipal de Educação, quais eram os seus maiores propósitos? Conseguiu alcançá-los? Terezinha Amaral - Quando assumi a Diretoria Executiva de Educação e Cultura, meu propósito era dar o melhor de mim para que as nossas crianças tivessem um ensino de qualidade e no futuro pudessem concorrer, em igualdade de condições, com pessoas que estudassem nos melhores colégios O Lince - A senhora acha que a adoção de um sistema didático apoiado em apostilas contribuiu para a melhoria dos resultados educacionais do município? Por quê? Terezinha Amaral - Adotamos a apostila como mais um recurso para direcionar o ensino e tornar todas as escolas do município mais ou menos padronizadas. Quanto à melhoria dos resultados Educar pela música Anna Beatriz Klinkerfuss seus objetivos e que resultados já puderam ser apurados? Terezinha Amaral - As escolas com horário integral são duas no município, uma com dois anos e outra com um ano de funcionamento. O objetivo principal é dar tranqüilidade aos pais que precisam trabalhar e, ao mesmo tempo, dar às crianças um ambiente saudável para seu desenvolvimento. Acho que deveríamos ter uma escola de horário integral em cada bairro. O Lince - Hoje, com uma rede ampliada, o município enfrenta novos desafios. Quais seriam eles e o que fazer para superá-los? educacionais do município, atribuo ao compromisso de toda a equipe da educação e ao acompanhamento que temos feito. O Lince - Pode-se notar a amplitude de sua proposta para a educação na preocupação em garantir outros espaços de formação, especialmente através das artes, aí incluídos o teatro e a música. Que razões a levaram a fazer essa opção pela arte como ferramenta pedagógica para a formação dos alunos da rede municipal? Terezinha Amaral - As nossas razões para fazermos opções por projetos relacionados com as artes, prendem-se as nossas vivências, pois temos certeza de que artes plásticas, cênicas e musicais, tanto como o esporte, disciplinam, tornam as crianças obedientes e responsáveis e, em sendo administradas fora do horário regular de aulas, tiram a criança da vulnerabilidade a que na rua estariam sujeitas. O Lince - Os resultados educacionais na Prova Brasil colocam a educação municipal de Aparecida em posição de relevo no cenário nacional. A que e a quem a senhora atribui isto? Terezinha Amaral - O resultado da Prova Brasil vem provar que estamos percorrendo o caminho certo e isto devemos a todos que acreditam no trabalho da educação. O Lince - E as escolas integrais? Quantas são? Há quanto tempo funcionam? Quais Terezinha Amaral - Não encaro como desafio a ampliação da rede, encaro, sim, como uma missão, isto é, estender ao maior número de crianças do município o nosso estilo de ensinar e educar. O Lince - E o espaço educacional, poliesportivo e cultural de Vila Mariana, recentemente inaugurado? A senhora poderia dizer como ele atende aos propósitos educacionais da rede municipal de ensino? Terezinha Amaral - O EPEC atende aos propósitos educacionais no que tange à educação física e a formação de atletas para o futuro. O Lince - Uma curiosidade. Onde a senhora encontra, nesta altura da vida, tanta energia e disposição para o trabalho? Qual é o segredo? Terezinha Amaral - O meu segredo é amar o que faço. O Lince - Há algo mais que queira acrescentar? Por favor, faça as suas considerações de encerramento desta entrevista. A música, além da sua beleza que fala por si só, é uma grande aliada no desenvolvimento escolar das crianças, pois, além de despertar a sensibilidade, auxilia muito o processo de alfabetização, pois aguça o raciocínio lógico-matemático, a concentração, a coordenação motora, o ritmo, a sociabilização, entre outras coisas. A educação musical deveria fazer parte da "agenda" de todas as crianças, pois é tão importante quanto o esporte, o idioma, a informática, e cabe aos pais despertar, em seus filhos, o gosto e o interesse, ouvindo junto com eles ritmos e estilos musicais variados, assistindo a concertos e shows, ao vivo ou mesmo pela TV, conversando sobre compositores antigos e atuais. Se a criança se mostrar curiosa ou interessada em aprender a tocar um instrumento musical, caberá também aos pais procurar cursos e profissionais especializados, dando a seu filho a oportunidade de ser um futuro músico, ou, simplesmente, um ser humano sensível e melhor. Anna Beatriz Klinkerfuss é diretora da escola Musicando Atividades Artísticas. www.musicandoart.com Te r e z i n h a Amaral - Quero dizer, para finalizar, que tudo o que fazemos só é possível porque temos como prefeito o Excelentíssimo Senhor José Luiz Rodrigues, que nos acolhe. Faz enda Har as azenda Haras CASARÃO Joamar Forró toda quinta Araci / Paula Hotel de Alto Padrão Apartamentos com TV, Ar condicionado, Frigobar, Interfone, Elevador, Estacionamento Venda de Cor deir os Cordeir deiros Rua Domingos Garcia, 30 Centro - Aparecida-SP Estrada Vale do Sol, Pedro Leme, Roseira-SP Aparecida, 20 de abril de 2008 Estrada do Goiabal, 3000 Rua Afonso Pereira Rangel, 57 Jardim Paraíba - 12570-000 Tel.: 3105-2029 Fone .: (12)9735-8801 one.: Pindamonhangaba-SP 11 L .U. X & I. LUX & IONSO. N. S PR OVA AVALIA PRO PR OPOST A PROPOST OPOSTA CURRICULAR E DE ENSINO DA SECRET ARIA SECRETARIA DA EDUCAÇÃO PAULIST A ULISTA NOS ÚLTIMOS dias 15 e 16 de abril, os alunos da Rede Estadual de Ensino passaram por mais uma avaliação de desempenho organizada pela Secretaria da Educação. Desta vez, trata-se de averiguar se a proposta de condução de um currículo voltado para a aquisição de competências básicas de leitura e escrita, desenvolvido nos primeiros quarenta e dois dias de aulas, alcançou os resultados pretendidos e em que medida. As provas de testes e a redação ainda serão corrigidas, e os dados apurados servirão para verificar se medidas de curto prazo, como as adotadas, trazem resultados positivos sobre os problemas crônicos gerados ao longo de uma escolaridade deficitária, ou se os efeitos são irrelevantes e desconsideráveis por não trazerem mudanças substanciais. De qualquer maneira, há uma coerência a ressaltar: após muitos anos, pela primeira vez, se avalia, com seriedade, os resultados de uma proposta de concretização curricular. Assim fosse com todos os "projetos" que acontecem na educação paulista. Menos recursos públicos seriam despendidos desnecessariamente se cada projeto sobrevivesse em função dos resultados que produzisse. 12 ENCONTR O DON A ET A 2008 ENCONTRO DONA ETA (5 A 30 DE MAIO) R ecentemente, lançou o CD 'Prá não dizer adeus', uma homenagem a sua avó falecida, também cantora. O lançamento foi em dezembro de 2007, e teve a participação do cantor e compositor Silvio Brito, do jornalista Márcio Campos, da TV Bandeirantes, de Adriano Giffoni, músico de Gal Costa, e da Orquestra Eternos Românticos, do Maestro Odair Kobel. Letícia Giffoni nasceu em uma família tradicional da música. Com seis anos de idade, fez sua estréia nos palcos e nunca mais quis abandonar a carreira de cantora. A banda de shows é formada pela família de Letícia (pai e irmãos) e também por outros músicos e dançarinos. No dia 20 de abril, Letícia Giffoni estará em Varginha-MG, participando das gravações do DVD de Sílvio Brito em homenagem aos 35 anos de carreira do cantor. Estarão também nesta noite os cantores: Silvinha e Eduardo Araújo, Jair Rodrigues e a apresentadora da Rede TV, Fá Morena. Esperamos ver Letícia Giffoni por todo o Vale do Paraíba e, para quem desejar contratá-la ou adquirir o CD, é só entrar em contato pelos telefones: (12)-31053436 ou (35) 3344-384. LETÍCIA GIFFONI A programação da 14ª edição do mais importante evento anual de cultura de Guaratinguetá está recheada de imperdíveis atrações. Confira a agenda e não perca a oportunidade! 05 de maio (segunda-feira), no Museu Rodrigues Alves, às 20 horas, exposição de fotos "Guaratinguetá... vários olhares", organizada pelo Guará Foto Clube. 12 de maio (segunda-feira), no Cemitério dos Passos, às 16 horas, serenata com seresteiros e a participação do Coral da UNATI-UNESP, regido pela Maestrina Sandra Sampaio. 14 de maio (quarta-feira), na Catedral de Santo Antônio, às 20h30min, "Orquestra Cameramusica da Funac - Unitau. 16 de maio (sexta-feira), no Museu Frei Galvão, às 20 horas, concerto da Banda Musical do 5º Batalhão de Infantaria de Lorena, sob a regência do Mestre de Música Subtenente Gedeão Mathias de Souza e participação do Madrigal Unicanto, acompanhado pela Camerata do Projeto PEMSA, regidos pela Maestrina e Soprano Cecília Simas. 24 de maio (sábado), na Praça Conselheiro Rodrigues Alves, às 11 horas, apresentação dos Grupos Abadá-Capoeira, orientado pelo Graduado "Ferrugem" e de Taekwondo dirigido pelo Prof. Anderson Lopes, ambos do Sítio do Juca, no programa "Tenda do Samba", da Rádio Piratininga, apresentado por Beto Couto. 30 de maio (sexta-feira), no Espaço VIVARTE, às 20h30min, Noite de Dança, com os alunos da Academia Corpo&Cia (Giselda Carvalho), Estação de Dança (Rosana Rangel) e Espaço Expressão (Layla Mulinari), de Lorena. Dias 2, 9, 16, 23, 30 de maio (sextas-feiras), das 22 às 23 horas, na Rádio Clube - "Dona Eta , Música e Poesia", com a participação de seresteiros e poetas de Guaratinguetá e de outras cidades no Programa Memória do Som, de Valdemir Barbosa. MAIS UM PRÊMIO P ARA JOR GE AZEREDO PARA JORGE O artista plástico Jorge Azeredo, que não cansa de colecionar prêmios, obteve mais uma importante deferência em sua carreira: a medalha de prata no renomado Salão Oficial Fluminense de Belas Artes, em sua vigésima quinta edição acontecida em Niterói-RJ. Dono de uma precoce originalidade artística, Jorge rapidamente buscou explorar a geometrização e as cores básicas para compor uma obra neocubista com os tons cromáticos e temáticos do Brasil. Os recentes quadros de Jorge Azeredo exploram um Brasil ricamente ilustrado por uma cultura musical mestiça. O caráter abertamente político de seus primeiros quadros ganha agora a eminente leveza de um artista ocupado em mostrar as outras facetas de sua obra. OS LONGOS" NO RO TAR Y "SEM CONTOS ROT ARY SEM CONT Dia 07 de abril, no Rotary Clube de Aparecida, ocorreu mais uma reunião semanal dos rotarianos sob a presidência de José Gilmar Diniz. Entre os assuntos que formaram a pauta da noite, estava a apresentação do escritor Wilson Gorj e de seu livro "Sem Contos Longos". Também presente na ocasião, o Prof. Alexandre Marcos Lourenço Barbosa fez uso da tribuna para discorrer sobre o autor aparecidense e sua obra, na qual destacam-se as micronarrativas. Após breves agradecimentos, o escritor concedeu autógrafos e dedicatórias aos novos leitores. A sessão foi encerrada com jantar. Aparecida, 20 de abril de 2008