As eleições municipais de 1996

Transcrição

As eleições municipais de 1996
•
•
v.lll,
‘‘‘3,
nova série, setembro-dezembro 1996
..
•
Roberto Amaral
•.:0.
I
•
5
As eleições municipais de 1996
(primeira avaliação)
1. O quadro nacional visto da ponte 1
A
s eleições municipais de 1996 foram as de resultados os mais previsfveis
das últimas décadas, pois, como sempre, desmentiram quase todas as
previsões de cientistas e astrólogos polfticos.
•
Assim, foi baixa a abstenção, mínimo o voto nulo (menos na cidade
do Rio de Janeiro onde foi objeto de campanha favorável). E, surpreendendo
mais uma vez os sociólogos de plantão, o povo contrariou os que ainda temem
pela sua inteligência: o eleitorado não se assustou com a maquininha e a experiência com o voto eletrônico foi um sucesso. E a fraude foi praticamente banida.
A eleição também não foi plebiscitária, isto é, não se converteu em ritual
de julgamento do governo FHC, frustrando tanto a oposição como os paladinos
da reeleição-já.
Assim, mas como era previsível, o processo eleitoral também contrariou
a vontade dos que, deslembrados das eleições de 1994, apostaram numa agenda de debates nacionais, pois, se o plano de estabítizac•o vai bem, a sociedade
vai muito mal. Contrastando com as eleições municipais de 1992-nacionalizadas
pelo debate em tomo do impeachment do Presidente Cotltor- o pleito de 1996
teve as questões locais no centro da retórica eleitoral. Isso não impediu, todavia,
que os candidatos de esquerda vitoriosos em cidades importantes como Belo
Horizonte e Porto Alegre não poupassem críticas à política do governo federal,
‘ ‘‘‘ ,
o que também ocorreu, em São Paulo, mas aí pela direita2 •
Por isso ou por aquilo, foi uma eleição moma, curtida em banho-maria,
sem debates, sem emoção, sem movimentação de rua, mas riquíssima e caríssi·.... ·
ma. Quase uma eleição norte-am,.ehcana.
Advirto que trabalhei, fundam,talmente, com Informações colhidas da imprensa. confrontadas,
sempre que possfvel, com os poucos dados fornecidos pelo TSE.
2
' lnteressantemente, na cidade de São Paulo, e no segundo tumo, foi o Prefeito Paulo Maluf ‘‘‘‘
se encarregou o olhar crftico, mas de tudo que dele se diga, justa ou Injustamente, ninguém ainda
conseguiu localizá-lo à esquerda do espectro poHtlcc". Cf. Guimarães, César 'O cenário polrtico
no Brasil a partir das eleiçOes mumcipais". M1meo. IUPERJ. 1996.
ComunicJJçSo&polltica. n.a., v.3, n.S, pp. 4·14
6
Comunlcoçào&po/ítlco
Mas, e ar felizmente, também foram desiludidos os que, sempre com vistas voltadas para o modelo metropolitano, defendiam e defendem a drástica redução de legendas pela via das crescentes limitações legais impostas pela maioria parlamentar: ontrariamente ao esperado, as eleições fortaleceram a boa tradição brasileira que se liga ao pluripartidarismo. Como assinala CésarGuimarães3,
houve espaço para a vitória de nove agremiações partidárias nos mais de 5 mil
municípios; daí resulta (i) a reiteração de um "multipartidarismo que se vai enraizando localmente, ainda que de forma desigual, por todo o território do pafs" e
(i i) o afastamento do cenário político de uma situação "bipolarassimétrica em que
uma grande coalizão governamental enfrentava com vantagem uma oposição à
esquerda enfraquecida nas suas bases sociais e na sua representação congressual (pouco mais de 100 deputados em 513 na Câmara), para situação de maior
latitude de entendimentos, mas também de maior incerteza•.
A emergência de uma direita fora do governo (PPB/Maluf) fortalece a direita dentro do governo (PFL), mas pode indicar a necessidade de o Planalto procurar abrir o leque de seus entendimentos polfticos, aumentando o diálogo com
os partidos e a sociedade. Terá, por exemplo, de conversar com a esquerda para
enfrentar seus correligionários da bancada ruralista adversários do novo Imposto
territorial Rural.
Consequência de tudo isso coloca-se para o governo a reforma polrtica
como uma necessidade quase de sobrevivência, sobrelevando dois temas sobre
todos os demais: a reforma político-partidária eleitoral, tendendo a assegurar a
política de força dos grandes partidos e, acima de tudo, a reeleição. Esta não é
mais, tão-só necessária; é urgente. O quadro político eleitoral resultante do 3 de
outubro-15 de novembro indica uma só perspectiva para a conservação do poder
pelas atuais forças: a reeleição que, no entanto, é cada vez mais um item controverso na complicada pauta da convocação extraodinária do Congresso.
Se houver tempo, cuidará a Maoria de completar a reforma político-eleitoral, perseguindo o modelo norte-americano de despolitização da política: o voto
distrital, o voto facultativo, a revisão do sistema de dois turnos, a proibição de colígações proporcionais etc.
2. Primeiras conclusões (ou evidências)
Várias são as conclusões que podem ser retiradas do pleito municipal, e
quase todas tangenciam a obviedade. O texto que se segue analisa algumas
dessas leituras, mais ou menos consensuais. Vamos chamá-las de ‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘
Primeira evidência: a municipalização dos temas eleitorais
A primeira evidência soa como uma trulsmo: a mu?licipalização dos temas eleitorais consagrando o voto•-que chamaremos de contlnuista.
É o que examinaremos ‘‘seguir.
Se as eleições municí!'ais de 1992 se processaram sob o calor das manifestações nacionais pró-impeachment, essas de 1996 foram as primeiras real i•
3
idem
EditOrial
7
zadas após a reforma tributaria. Coincidindo com a crise geral dos Estados, e em
contraste com as administrações municipais anteriores, os atuais gestores contavam com recursos mais amplos decorrentes de dispositivos tributários descentralizadores da Constituição de 1988 e, nos casos das grandes e médias cidades,
por receitas próprias, tributárias ou não. •As prefeituras ocuparam, por definição
constitucional-legal ou por decisão política de seus dirigentes, espaços de políticas públicas deixados vagos pelas unidades da federação. Passaram, em muitos casos, a ter uma função social nova e mais ampla, contemporânea dos tempos da carência social e de real ou prevista redução das atividades da União"4 •
Em sfntese o eleitor municipal se viu diante de um sucesso administrativo
para o qual não tinha parâmetros comparativos. Aliás tinha sempre, a história de
sucessivos fracassos administrativos anteriores.
Seja qual for a controvérsia o certo é que é a maioria das administrações
municipais, notadamente nas capitais e grandes cidades, configura fenômeno
de sucesso polftlco, de Porto Alegre a Manaus.
O fato é que, repetindo a tendência anunciada no pleito de 1994, o eleitor
municipal -de forma exemplar nas capitais- optou pela "reeleição" de suas
administrações. Espancando o novo, o desconhecido e o inusitado, escolheu a
continuidade, se não a continuidade política, sem sombra de dúvidas a continuidade administrativa. Rejeitando a retórica puramente moralista ou puramente oposicionista (em um caso ou noutro à direita e à esquerda), optou pelo discurso da
chamada 'competência administrativa'. O melhor candidato revelou-se aquele
que, servido pelo marketíng político, demonstrava melhores condições de continuar as obras de seu antecessor. Por mérito da direita ou incompreensão da
esquerda, o eleitorado- confirmando todas as antecipações, diga-se de passagem - , revelou-se mais Interessado em escolher um síndico para administrar
sua cidade. Principalmente nas capitais - com as únicas exceções das discussões polfticas promovidas em Porto Alegre (primeiro turno) e em Belo Horizonte- a população eleitoral revelou (ou foi induzida a pensar assim ...) que sua
preocupação fundamental era ver os problemas de sua cidade (a iluminação, a
limpeza pública, o trânsito, o saneamento, determinadas obras viárias ou urbanfsticas, ou, se quiserem, o 'maquiamento') resolvidos, e preferentemente resolvidos da maneira como vinham sendo resolvidos pelas atua1s administrações.
Assim, por exemplo, em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Maceió, Fortaleza e Manaus. Evidentemente esse fenômeno não poderia
produzir-se naqueles municfpios nos quais os atuais Prefeitos ostentavam nfveis
extraordinários de rejeição e desaprovação, casos exemplares de Natal.e.Salvador. Ainda assim, mesmo nesses municfpios, podemos identificar os mêt'mos
traços do voto 'conservador'. Em Natal a população reconduziu a ex-Prefeita. Em
Salvador perdeu o candidato da ‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘mas o ungido to.Lo candidato do situacionismo regional. Em João Pessc.-a o eleito, ex-Ministro de FHC, era o candidato
do governador. Em São Luís o.preferido é também um ex-Prefeito. Em Aracaju
o eleito era candidato de Uf11 ex-Prefeito e de um ex-Governador.
Em alguns casos poder-se-á dizer que, no pleito, tornara-se irrelevante
a figura do candidato. Em Manaus, no Rio de Janeiro e em São Paulo, pvr
4
tdem.
8
Comunlcoçào&político
exemplo, os verdadeiros candidatos foram os prefeitos patronos. O mesmo se
deu em Curitiba, onde Taniguchl é um clone de Greca que é um clone de Lerner.
Em Fortaleza, Juraci Magalhães se elege como candidato de Cambraia que ele
próprio fizera eleger-se, como seu sucessor... Em Maceió as duas candidatas
que disputaram o segundo turno safam da administração Ronaldo Lessa. Em
Recife ganhara o candidato do atual Prefeito, concorrendo com o candidato do
PSDB, seu ex-Secretário.
Em São Paulo e Rio de Janeiro o discurso eleitoral foi construído e determinado pela direita, por Mal ui e seus publicitários, por César Maia e suas pesquisas. Se em São Paulo foi muito frágil o desempenho da esquerda (seja do ponto
de vista político, seja do ponto de vista eleitoral), no Aio de Janeiro a esquerda
-que já não tivera discurso no primeiro turno- foi exclufda eleitoralmente do
segundo turno.
Nas 1Omaiores cidades do pafs, 60%dos Prefeitos elegeram seus sucessores (contra 20% nas eleições de 1992); esse percentual é de 40% nas 50 maiores cidades (contra 34% em 1992) e 38% nas 100 maiores cidades (contra 29%
em 1992).
Talvez daí se possa tirar a primeira lição: o desempenho administrativo
se transforma na melhor tese polftica (e político-eleitoral), à esquerda e à direita.
Essa tendência do eleitorado já se anunciara nas eleições de 1994 e nada
leva a crer que se alterará até 1998.
Segunda evidência: o PSDB perdeu.
Embora tenha aumentado o número de Prefeituras sob o seu controle,
perde o Partido do Presidente da República ao ser derrotado no pleito dos grandes centros administrativos do País. Perdeu nas trés principais capitais: São
Paulo (onde sequer conheceu o segundo turno), Rio de Janeiro e Belo Horizonte
e em Fortaleza, onde seu desempenho foi, na melhor das hipóteses, bisonho.
Perdeu ainda o PSDB em Porto Alegre e em Recife. Ganhou em Teresina, Goiânia e Cuiabá (com o candidato ungido pelo governador, formalmente do PDT),
o que não chega a ser uma compensação...
Com o Presidente - que justiça lhe seja feita, conservou do pleito prudente distância-, perderam os principais líderes tucanos: José Serra e Mário
Covas em São Paulo, Marcello Alencar no Aio de Janeiro, Tasso Jereissati no
Ceará, Eduardo Azeredo em Minas Gerais e Almir Gabriel no Pará, onde também
perderiam os caciques Jáder Barbalho (PMDB) e Hélio Gueiros {PTB), ‘‘‘
ex-governadores. Fenômeno similar ao paraense ocorreria no Maranhão, no
Piauí, em Alagoas. e, de certa forma, no Rio Grande do Norte.
Não apenas perdem as grandes lideranças do PSOB; também não se
contam nessa legenda as llderança!femergentes que, brotando em todos os demais partidos, podem amanhã oçúpar lugar de destaque na política nacional:
Tarso Genro (PT), Rafael Grec(\ (PDT), César Maia (PFL), Maluf (PPB), Célio de
•
Castro (PSB), Jarbas Vasconêelos (PMDB).
O Presidente perdeu, mas a coalizão governista ganhou, com as vitórias
do PPB e do PFL, aumentando o poder de barganha de políticos como ACM e
Maluf e de organizações parlamentares do viés da chamada 'Bancada ruralista'.
9
Editorial
Isto significa que o governo terá de negociar cada vez mais e certamente
a custos crescentemente mais altos, principalmente em face de projetos como
a emenda da reeleição e a privatização da Cia. Vale do Rio Doce.
Reinará em plenitude a regra franciscana recuperada pelo deputado Roberto Cardoso Alves: "é dando que se recebe".
Terceira evidência: ganhou a direita
A direita ganhou com as vitórias do PPB e do PFL, fortalecendo o núcleo
mais conservador do tripé de sustentação do governo FHC.
Sem dúvida, o grande vencedor é o Prefeito de São Paulo, que já se insinua como a principal liderança de oposição a FHC, pela direita, evidentemente.
Maluf ganhou a Prefeitura de São Paulo, fazendo seu sucessor (derrotando seguidamente o PSDB e o PT), e elegeu, em seu Estado, os prefeitos de Campinas
(derrotando o PSDB de FHC e Covas) e Santos (derrotando o PT). O PPB fez ainda os prefeitos de Florianópolis e Manaus e importantes prefeituras como Feira
ue Santana (BA), Jaboatão (PE) e Uberlândia (MG). Apesar dos êxitos no Amazonas, em Pernambuco e na Bahia, o PPB, à semelhança do PSDB, confirma sua
vocação como partido do eixo Sul-Sudeste.
Mas "muito mais importante que o resultado numérico da eleição da capital paulista, antecipado com precisão pelas pesquisas eleitorais, e a realidade
política que, a posteriori, o vitorioso tenta construir com os resultados: o de ser
uma liderança que aglutine descontentamentos sociais presentes, e eventualmente, futuros, com o governo Fernando Henrique pondo-os à disposição de uma
oposição à direita"5 , com demonstrada capacidade de apelo social.
Seu lfder já é candidato anunciado à Presidência da República.
O PFL ganhou a ‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘do Rio de Janeiro (lançando nacionalmente
a liderança de César Maia, que, em menos de um ano salta da rejeição popular
para o pódio eleitoral, catapultado por um rush de obras que cobriu de 'factóides'
toda a superfície da cidade). No primeiro turno já havia elegido os prefeitos de
Salvador e Recife, duas das mais Importantes capitais do Nordeste. No interior
de São Paulo merece destaque sua vitória em Sorocaba. Assim, mantendo sua
tradição nordestina, revelou-se capaz de fazer polltica para além dos grotões e
começa a instalar-se no Sudeste.
Em termos de votos gerais em todo o pa's, os partidos de direita que dão
sustentação ao governo FHC (PPB/PFUPTB e PL) somaram 17.107.259 votos
" 1
contra os 12.917.438 votos obtidos pela dupla PMDB/PSDB.
A liás PPB e PFL desbancam o PMDB, que passa para o terceiro lugar.
Trata-se de um PMDB irremediavelmente 9ividido, ‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘as posições de
seu Presidente (em conflito crescel)_le com o governo FHC), o lfder na Câmara
(quadro de confiança do Planalto) e o governador do Rio Grande do Sul que está
mais próximo do governo federardo que muitos quadros Influentes do PSDB...
Quércia, mesmo em São ‘‘‘‘‘‘parece estrela cadente.
A última pá-de-cal pode ter sido dada pela renúncia do Presidente Paes •
de Andrade à disputa da Presidência da Câmara, abrindo caminho para a candi5
Idem.
10
Comunicação&polít/co
datura única de Michel Temer e, aparentemente, fortalecendo a provável eleição
de Antonio Carlos Magalhães para a Presidência do Senado.
Do que também resulta o enfraquecimento dos que no Congresso lutarão
contra a reeleição e a privatização da Vale do Rio Doce.
Quarta evidência: perde o centro
Nas capitais, o resultado dos dois turnos aponta para o esvaziamento dos
partidos de centro (nesse sentido classificamos PSDB e PMDB} no controle das
grandes cidades: São Paulo (vitória do PPB), Rio de Janeiro (PFL), Belo Horizonte (PSB), Porto Alegre (PT), Salvador (PFL) e Recife (PFL). Talvez possamos dizer que Fortaleza é a exceção que confirma a regra: lá, o PMDB conservou-se
na Prefeitura.
Vejamos o
Quadro geral das Capitais
1. PMDB: cinco prefeituras: Aracaju (SE). João Pessoa (PB), Fortaleza
(CE), Rio Branco (AC) e Campo Grande (MS)
2. PSDB: quatro prefelturas: Vitória (ES), Teresina (PI), Cuiabá (MT} e
Goiânia (GO)
2. PFL: quatro prefeituras: Rio de Janeiro (RJ), Recite (PE), Macapá (AP)
e Salvador (BA)
2. PPB: quatro prefeituras: São Paulo (SP), Manaus (AM), Palmas (TO)
e Florianópolis (SC)
3. PSB: trés prefeituras: Belo Horizonte (MG), Maceió (AL) e Natal (RN)
3. PDT: trés prefeituras: São Luís (MA), Porto Velho (AO) e Curitiba (PR)
4. PT: duas prefeituras: Porto Alegre (AS) e Belém (PA); e
5. PTB: uma prefeitura: Boa Vista (AR).
Registra-se, relativamente às capitais, o baixo desempenho do PSDB e
do PMDB (nenhum dos dois partidos governa uma só das grandes capitais do
país, com a mencionada exceção de Fortaleza). A favor do PSDB anote-se seu
bom desempenho no interior de São Paulo e do Rio de Janeiro e, relativamente
ao PMDB, suas vitórias em Juiz de Fora (com o apoio de Itamar Franco) e Joinvile
(SC).
Senão vejamos: PPB, PFL e PSB lideram nas grandes ‘‘‘‘‘‘‘Foram
esses partidos os que mais cresceram no conjunto das 56 cidades maispopulosas do País (as 26 capitais e os 30 maiores municípios) que reamem 33% da população brasileira. Nesse universo, os-grandes perdedores são o PMDB, o PSDB
e o PTB. O PPS desapareceu dÓ ranking, ao perder Florianópolis, a única cidade
que detinha. O PPB aumentQu sua participação em 29%, o PFL subiu para 20,5%
(crescendo 15%), e o PSQB caiu para 13,15, com uma variação negativa de 8%.
Do ponto de vista populacional a grande derrota foi mesmo na esquerda
e estava reservada ao PT que, se, no atual quadriênio, administrava 13,4o/o da
população das 56 maiores cidades do país, a partir de janeiro de 1997 administrará
apenas 7,1 % . É uma queda de 47% que o leva da quarta (em 1992) para a sétima
11
Editorial
colocação (1996). Acompanha-o, agora pela direita, o PTB cuja representação
cai de3,7%para 1,5% (de390 para381) e o PL, que cai de 350 para221 prefeituras. Pela esquerda, cresceram o PSB (+65%), e, ainda que modestamente, o
PDT. Vai de 10,2 para 11 ,1 %, com um acúmulo, no mesmo universo, de 9%.
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Outros
100
Distribuição percentual da população das capitais e dos 30 maiores municípios (correspondente a 33% da população brasileira) sob a administração de cada partido.
No número total de Prefeituras, o PMDB cai de 1.497 para 1.287, com
uma perda de 14%. O PFL cresce 1,8% (de 912 para 928) e o PPB 8,5% (de 575
para 624).
De um total5.042, a direita (PFUPPB/PL e PTB) conquistou 2.154 Prefeituras, o centro (PMDB/PSDB),1.288 e a esquerda (PSB/PT). 257 prefeituras. O
PDT elegeu 435 prefeitos (contra 420 em 1992). No plano geral das prefeituras
o PSB cresce 267,69%.
O PSB também cresceu no número de votos obtidos, graças ao seu bom
desempenho nas quatro capitais em que disputou o segundo turno (Manaus, Natal, Maceió e Belo Horizonte), com destaque para Belo Horizonte, terceiro colégio
municipal. Assim pôde ultrapassar o PT e o PTB, deixando bem distante o PL.
Partido
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12
Comunlcoçõo&po/ítlco
Quinta evidência: a esquerda marca passo
A esquerda (assim considerando o PSB, PT, PDT e o PPS6) mantém o
mesmo desempenho nas capitais. Conserva as prefeituras de São Lufs (sal do
PSB para a coligação PDT-PT), Maceió (permanece com o PSB), Belo Horizonte
(sai do PT para o PSB) e Porto Alegre (permanece com o PT). Ganha as Prefeituras de Belém (sai do PTB para o PT) e Natal (sai do PSDB para o PSB). Perde
as Prefeituras de Goiânia (do PT para o PSDB) e Florianópolis (do PPS para o
PPB). Nada se altera em Curitiba (de Lerner para Lerner).
Mas, fato inusitado, em duas cap1tais nordestinas (Maceió e Natal) o segundo turno foi disputado entre duas candidaturas de esquerda, duas mulheres,
representando o PSB e o PT. Ganhou o PSB.
Sexta evidência: na esquerda, perdem o PPS e o PCdoB
As eleições retiraram qualquer possibilidade de sobrevivência polftica e
eleitoral do PPS e do PV e tornaram ainda mais ditrcil a sobrevivência eleitoral
do PCdoB. O PPS perdeu a única prefeitura que possuía (Florianópolis) e teve
desempenho lastimável nas únicas disputas de que participou (Recife e Rio de
Janeiro).
Não há, para esses partidos, consideradas as diferenças de tamanho, estrutura e história a alternativa de sobrevivência autônoma.
O quadro se agrava com a possibilidade de a coalizão majoritária impôr,
já para as eleições de 1998, a proibição das coligações proporcionais. Nesta hipótese restará ao PCdoB: 1) refazer sua polftica eleitoral, construindo nominatas
próprias, com o objetivo tático de, perdendo em 1998, preparar-se para recuperar
o terreno em 2002; e 2) fracassada a primeira hipótese intentar a construção (que
terá de ser negociada com a direita no Congresso) da alternativa jurldica (de que
não cogita a atual legislação) de uma Frente eleitoral formada por partidos. Concomitantemente a 1 e 2, tentar negociar no Congresso um abrandamento legal.
Embora o relatório Sérgio Machado (PSDB/CE) seja um balão de ensaio,
não deve ser descartada a introdução do voto distrital, senão puro, pelo menos
misto, já para 1998 bem como alterações no segundo turno das eleições municipais majoritárias.
Sétima evidência: na esquerda, perdem o PT e o PDT
O PT é o grande derrotado das eleições; além de haver cedido‘‘‘‘‘
polí·
tico, vê reduzidas as condições (políticas) para o exerdcio de hegemonia na esquerda. Disputando, no segundo turno, as prefeituras de sete capitais, perdeu
em seis e teve seus espaços ‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘‘consumidos peiÓPSDB e pelo PPB. Perde
em Campinas (para o PPB), perde em Santos (para o PPB), perde em Ribeirão
Preto (para o PSDB). E em Sâo José dos Campos (onde ganhou o PSDB) sequer
foi para o segundo turnot·o mesmo ocorrendo em Campinas, Guarulhos, São
6
•
Relenmo-nos tão-somente aos part•dos que detinham Prefeituras ou as conquistaram em 1996,
dal a omissão ao PCdoB. Este partido, todavia, dtsputou a Prefeitura de Fortaleza (onde foi apol·
ado pelo PSB e pelo PT). e a vice em Natal (chapa do PT). Elegeu 201 vereadores em todo o
Pais.
13
Editorial
Bernardo e Sorocaba.
Como perdeu em São José dos Campos, onde detinha a prefeitura, também já havia perdido, no primeiro turno, a Prefeitura de Diadema (para o PSB).
Conformar-se-á com Santo André e Ma tão. Aliás, em São Paulo, o PT perdeu as
nove prefeituras que conquistara nas eleições de 1992.
Registre-se ainda suas derrotas em Belo Horizonte (MG). Goiânia (GO)
e Londrina (PR), onde, como em Diadema (desde 1986) e Santos (desde 1989),
detinha a administração municipal.
Observe-se, porém, que, no primeiro turno, o PT alcançou a marca de cinco milhões de votos; seu número de Prefeituras saltou de 49 para 112 e disputou
sete prefeituras de capitais. É verdade que só logrou conquistar uma, mas essa
disputa configurou uma ampliação partidária no âmbito nacional, também indicadora de uma certa especializção para grandes centros urbanos.
No Rio de Janeiro teve um bom desempenho na Capital (terceiro lugar)
e tez duas prefeituras no interior, ao conservar Angra dos Reis (derrotando o
PSB) e ganhar Barra Mansa. Considere-se, porém, seu avanço em Maceió, Natal
e Florianópolis (cidades onde sempre tivera fraco desempenho), e em Belém.
No Rio Grande do Sul, onde manteve (terceira eleição consecutiva) a Prefeitura de Porto Alegre e em 5% das cidades gaúchas, inclusive Caxias do Sul,
obteve sua mais significativa vitória, com evidentes implicações na sua política
interna nacional.
Mas a derrota sistemática no segundo turno põe em evidência tanto um
alto nível de rejeição (fatal em eleição de dois turnos), quanto o questionamento
de uma retórica puramente moralista e manlquefsta, separando o mundo entre
Deus e o diabo. Parece que o eleitorado está preferindo os homens.
Apesar de haver feito 435 prefeituras (contra 420 em 1992), perde o PDT,
principalmente com seu esmagamento nos Estados do Rio de Janeiro e Rio
Grande Sul (onde seu espaço está sendo ocupado pelo PT) seus mais importantes
e tradicionais redutos, fracassos rotundos que agravam o processo de desgaste
eleitoral de sua principal liderança nacional. Fez as prefeituras de duas Capitais
(São Luís e Curitiba), mas, sabidamente, no Paraná, o PDT simplesmente alberga a grande liderança de Jaime Lemer.
Na esquerda, saem tosquedas duas das suas trés mais Importantes lideranças, Brizola e Lula cujo partido já busca alternativas políticas e eleitorais por
Intermédio do atual Prefeito Tasso Genro.
·' 1,
Ao contrário, o desempenho nacional do PSB e a sua vitória pessoal em
Pernambuco (elegendo os Prefeitos em cerca de 50% dos municfplos do Estado), fortalecem a liderança de Miguei·Arraes.
·""
I
Oitava evidência: cresce o P$8
O PSB pode consideraro·se vencedor.
Sua vitória é dupla, pois se manifesta tanto do ponto de vista estritamente •
eleitoral, quanto do ponto de vista polltico.
Se não soube manter São Lufs, o PSB foi vitorioso em trés das quatro Prefeituras de Capital que disputou; em Natal retoma a Prefeitura, em Maceió man-
14
ComunfcoçOo&polílic o
tém-na consigo e em Belo Horizonte obtém sua vitória de maior significado polftico. Trata-se da terceira cidade do Pais, capital do segundo eleitorado nacional.
Assinale-se, porém, que, já no primeiro turno o PSB, em Belo Horizonte
contara com o apoio do PMDB revelando que pelo menos um setor da esquerda
brasileira começa a compreender a necessidade das alianças táticas.
A coalizão de centro-esquerda liderada pelo PSB em Belo Horizonte talvez esteja sinalizando um norte para toda a esquerda, na poHtica e nas eleições.
Mas a essas vitórias é preciso acrescentar o notável desempenho eleitoral e político de sua candidatura em Manaus (onde perdeu a Prefeitura por 0,4%
dos votos).
Ao lado desse desempenho nas capitais, o PSB ganhou, entre outras,
Prefeituras importantes como Volta Redonda e Resende, no Rio de Janeiro, Diadema, São Vicente e São Sebastião em São Paulo e Caruaru em Pernambuco.
Em Pernambuco o PSB fez 79 das 174 prefeituras disputadas. A Frente
Popular chegou a algo próximo de 100 edilidades.
Ao todo, 157 prefeituras em todo o país, representando um crescimento
de 267,69%.
‘‘‘‘
-210
+16
+364
+49
+15
-9
-129
+92
+81
+S8
FL
PSDB
PPB
PDT
PTB
PL
PSB
PSD
PT
Parece uma evidência: o eleitorado, finalmente, encontrou-se com o
PSB. Daqui em diante a história dependerá de sua competência em entender o
processo e saber dar resposta a este chamamento.
.....
I
Comunicação&política,
v.lll, n. 3 , 09-12/96
Editorial
A questão cultural: cenários- Brasil2020
- Angela Maria Dias
Modelos de desenvolvimento, espaço e tempo
- Henri Acselrad
A desilusão demográfica: um estudo longitudinal de cultura política
- Marcello Baquero
Um mago do marketlng polrtlco
- Vera Chaia
..
O suposto saber do mercado
- Valton de Miranda Leitão
Televisão, audl!}ncias e hegemonia:
notas para um modelo alternativo na pesquisa de recepção
- Mauro Pereira Porto
O telejornal 24 Horas e as eleições presidenciais de 1994
no México
- Gustavo Beraldo Fabrfclo
Florestan Fernandes: razão política e patrlmonlalismo
- José Paulo Bandeira da Silveira
Desacelerar a comunicação
- Sobre o livro Cart du moteur de Paul Vlrlflo
- Jean-Louis We/ssberg
Resenhas
Contlngency, lrony, and solldarity
- de Rlchard Rorty
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