universidade do sul de santa catarina rafael olivio martins
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA RAFAEL OLIVIO MARTINS COMPARAÇÃO DA EFICÁCIA DA AMITRIPTILINA EM RELAÇÃO À NIMESULIDA ASSOCIADO AO BLOQUEIO NERVOSO, NO TRATAMENTO AGUDO DA CAPSULITE ADESIVA IDIOPÁTICA: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO Tubarão 2011 RAFAEL OLIVIO MARTINS COMPARAÇÃO DA EFICÁCIA DA AMITRIPTILINA EM RELAÇÃO À NIMESULIDA ASSOCIADA AO BLOQUEIO NERVOSO, NO TRATAMENTO AGUDO DA CAPSULITE ADESIVA IDIOPÁTICA: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde Orientador(a): Profa. Anna Paula Piovezan, Dra. Tubarão 2011 RAFAEL OLIVIO MARTINS COMPARAÇÃO DA EFICÁCIA DA AMITRIPTILINA EM RELAÇÃO À NIMESULIDA ASSOCIADA AO BLOQUEIO NERVOSO, NO TRATAMENTO AGUDO DA CAPSULITE ADESIVA IDIOPÁTICA: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO Esta dissertação foi julgada adequada à obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde e aprovada em sua forma final pelo Curso de Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade do Sul de Santa Catarina Tubarão, 3 de setembro de 2011. ______________________________________________ Professora e orientadora: Anna Paula Piovezan, Dra. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________ Prof. Jefferson Luiz Traebert, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________ Profa. Alcíbia Helena de Azevedo Maia, Dra. Universidade Federal de Santa Catarina A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade. A minha esposa e meus filhos, que sempre estiveram ao meu lado me apoiando em todos os momentos. Aos professores, Dr. Jefferson e Dra. Alcíbia Helena que aceitaram o convite para compor a Banca Examinadora. A minha orientadora, profa. Dra. Anna Paula, pela orientação e amizade, o meu imensurável e sincero obrigado! Aos pacientes que aceitaram participar desta pesquisa. Ao Thiago Sakae, pela valiosa ajuda. A professora Dra. Rosemeri Maurici da Silva, coordenadora do Mestrado em Ciências da Saúde, pela dedicação e competência frente a coordenação do Programa. Enfim, a todos aqueles que de forma direta e indireta contribuíram para esta pesquisa. RESUMO O propósito deste estudo foi comparar a eficácia da amitriptilina em relação à nimesulida utilizadas por via oral e associadas ao bloqueio nervoso, em pacientes com diagnóstico de capsulite adesiva idiopática. Realizou-se um ensaio clínico randomizado com 40 pacientes da Clínica Ortoimagem (Tubarão/SC) que atenderam os seguintes critérios de inclusão: pacientes maiores de 18 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico clínico de capsulite adesiva idiopática fase II, com dor no ombro por um período mínimo de três meses, limitação da elevação anterior do ombro até 130 graus, imagem do manguito rotador intacto a ressonância magnética, perda mínima de 50 graus da rotação externa do ombro quando comparada com o lado contralateral e aceitação dos pacientes em participar do estudo. As variáveis de desfecho foram dor e incapacidade de mobilidade do ombro acometido, que foram levantadas pelo questionário Shoulder Pain and Disability Index –SPADI-, antes e após 14 dias de tratamento dos sujeitos em um dos dois grupos estudados. Os dados foram obtidos em escala contínua (escore) ou categórica (melhora ou não-melhora), utilizando-se teste t de Student ou teste t pareado e teste Qui-quadrado ou Prova Exata de Fisher, respectivamente (p< 0,05). Entre os 40 pacientes incluídos no estudo, seis pacientes não completaram o protocolo, sendo quatro do grupo controle e dois do grupo experimental. As características dos sujeitos não diferiram entre os dois grupos. Após o tratamento, tanto a nimesulida (p= 0,019) quanto a amitriptilina (p= 0,029) reduziram os escores de dor em relação àquele apresentado antes do tratamento; enquanto apenas a amitriptilina foi capaz de produzir este efeito sobre o desfecho de incapacidade (p <0,001). Após o tratamento, não houve diferença estatística entre os resultados obtidos nos dois grupos de tratamento tanto quanto à dor como à incapacidade (p= 0,592, p=588). Os resultados obtidos sugerem que a amitriptilina apresenta a mesma eficácia da nimesulida no tratamento agudo da capsulite adesiva idiopática fase II, sem promover efeitos indesejáveis significativos. Palavras-chave: Capsulite Adesiva; Amitriptilina; Nimesulida; Ensaio Clínico; Doenças Inflamatórias. ABSTRACT The aim of this study was to compare the efficacy of amitriptyline in relation to nimesulide, administered orally and associated to nerve block in patients with a clinical diagnosis of primary adhesive capsulitis. It was performed a randomized clinical trial with 40 patients of Clínica Ortoimagem (Tubarão/SC) that met the following inclusion criteria: patients older than 18 years, both genders, with clinical diagnostic of primary adhesive capsulitis phase II, with shoulder pain during at least a period of three months, limitation of anterior elevation of shoulder for up to 130 degrees, intact rotator cuff to magnetic resonance, minimum loss of 50% of external rotation when compared to the contralateral side and patients' acceptance of take part in the study. The outcome endpoints were pain and inability to move the wounded shoulder, which were raised by the Shoulder Pain and Disability Index –SPADI-, before and after fourteen days of treatment of subjects in one of the two studied groups. The data were collected using continuous scale (score) or categorical (improvement our no improvement), using student t-test or matched-pair t-test and Chi-square test or Fisher´s Exact test, respectively (p< 0.05). Of the 40 patients included in the study, six patients did not complete the protocol, being four from de control group and two from the experimental group. The subject´s characteristics did not differ between the two groups. After the treatment, to the same extent nimesulide (p= 0.019) and amitriptyline (p= 0.029) reduced the pain score in relation to that presented before the treatment; while only amitriptyline was able to produce this effect over the disability outcome (p <0.001). After the treatment, there was no statistical differences between the two treatment groups for the pain and inability results (p= 0.592 e p=588, respectively). The obtained results suggest that amitriptyline presents the same efficacy of nimesulide in the acute treatment of primary adhesive capsulitis fhase II, without promoting significant adverse effects. Keywords: Adhesive Capsulitis; Amitriptyline; Nimesulide; Clinical Trial; Inflammatory Diseases LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fluxograma do Estudo ............................................................................................ 24 Figura 2 – Fluxograma de alocação dos sujeitos...................................................................... 27 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Perfil demográfico e características clínicas dos pacientes incluídos no estudo, distribuídos nos diferentes grupos de tratamento (n=34) ......................................................... 27 Tabela 2 – Resultado da comparação entre as médias dos escores obtidos para os desfechos de dor e incapacidade nos diferentes grupos, antes e após o tratamento (n=34)........................... 28 Tabela 3 – Resultado da comparação entre as médias dos escores obtidos para os desfechos de dor e incapacidade entre os dois grupos (n=34) ....................................................................... 29 Tabela 4 – Resultado da comparação entre as diferenças médias obtidasdas para os desfechos de dor e incapacidade entre os grupos, após os diferentes tratamentos (n=34)........................ 29 Tabela 5 – Resultado geral da comparação entre proporções, obtido para os desfechos de dor e incapacidade após o tratamento nos diferentes grupos (n=34)................................................. 30 Tabela 6 – Medidas de efeitos gerais obtidas para o desfecho de dor e incapacidade no grupo tratado com amitriptilina em comparação ao grupo tratado com nimesulida (n=34)............... 30 Tabela 7 – Resultado da comparação entre proporções obtidas para o desfecho de dor e incapacidade nos diferentes grupos antes e após o tratamento, por Intenção de Tratar (n=34)31 Tabela 8 – Medidas de efeito obtidas para o defecho de dor e de incapacidade no grupo tratado com amitriltilina em comparação ao grupo tratado com nimesulida por Intenção de Tratar (n=34) ............................................................................................................................ 31 LISTA DE SIGLAS AMUREL – Associação dos Municípios da Região de Laguna AINES – Anti-inflamatórios não-esteroidais ITT – Intention To Treat NNT – Número Necessário para Tratar RAR – Redução Absoluta de Risco RR – Risco Relativo SPADI – Shoulder Pain and Disability Index SUS – Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 17 2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................................... 17 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 17 3 METODOLOGIA................................................................................................................ 18 3.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 18 3.2 POPULAÇÃO .................................................................................................................... 18 3.3 GRUPOS DE TRATAMENTO ......................................................................................... 19 3.4 PESQUISADORES ENVOLVIDOS NA ABORDAGEM AO PACIENTE .................... 20 3.5 MEDIDAS DE INTERESSE ............................................................................................. 20 3.5.1 Variáveis Dependentes .................................................................................................. 20 3.5.2 Variáveis Independentes ............................................................................................... 21 3.6 TAMANHO DA AMOSTRA ............................................................................................ 21 3.7 ALOCAÇÃO DOS PACIENTES ...................................................................................... 22 3.8 CEGAMENTO ................................................................................................................... 22 3.9 FLUXOGRAMA DO ESTUDO ........................................................................................ 22 3.10 ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................................... 23 3.11 ASPECTOS ÉTICOS ....................................................................................................... 25 4 RESULTADOS .................................................................................................................... 26 5 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 32 6 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 37 APÊNDICE ............................................................................................................................. 42 APÊNDICE A - Cadastro do paciente.................................................................................. 43 ANEXO.................................................................................................................................... 44 ANEXO A - Instrumento de avaliação ................................................................................. 45 ANEXO B – Comprovante Aprovação Projeto CEP-UNISUL.......................................... 46 11 1 INTRODUÇÃO A capsulite adesiva ou ombro congelado foi a denominação inicialmente utilizada por Codman (1984), para definir uma condição clínica caracterizada por dor no ombro de instalação insidiosa com perda progressiva da mobilidade ativa e passiva da articulação glenoumeral. É uma síndrome dolorosa freqüente, sem definição quanto à sua etiopatogenia, história natural ou características clínicas (BRUE et al., 2007; FILHO, 2005). É considerada uma doença autolimitada, na qual o tratamento conservador tem como objetivo diminuir o tempo de evolução da doença, porém existe a possibilidade de 10% dos pacientes não responderem adequadamente ao tratamento, permanecendo com dor residual (HEBERT e XAVIER, 2009). A cintura escapular é composta por quatro articulações: a glenoumeral, a acromioclavicular, a esternoclavicular e a escapulotorácica. Este conjunto de articulações permite um amplo movimento da cintura escapular, maior de todas as articulações, possibilitando movimentar o braço para permitir maior alcance da mão (BROX, 2003). A articulação glenoumeral é formada pela cavidade glenóide da escápula e pela cabeça do úmero e exige uma complexa formação estrutural para a estabilidade da articulação. Os movimentos de elevação anterior, rotações e abduções ocorrem nos vários planos da escápula e as estruturas ligamentares, capsulares e musculares são responsáveis pela harmonia desta mobilidade (BROX, 2003). É importante a função destas estruturas tanto na estabilidade estática quanto dinâmica. A cápsula articular e estruturas ligamentares atuam nesta estabilidade, e têm a característica de permanecerem frouxas até mesmo no limite da amplitude articular. Uma contratura de qualquer grau é capaz de limitar a amplitude de movimento tanto passiva quanto ativa (HEBERT e XAVIER, 2009; BROX, 2003). Percebe-se que ao longo do tempo, diferentes correntes de pensamentos tentaram estabelecer a etiopatogenia da doença, assim como as estruturas envolvidas na capsulite adesiva. Neviaser (1945) descreveram as alterações histológicas inflamatórias que causam retração da cápsula articular, propondo pela primeira vez o termo de capsulite adesiva, enquanto De Palma (1951) relacionou a doença à tenosinovite biciptal. 12 Por sua vez, Steinbrocker (1947) relacionou à síndrome ombro-mão e à distrofia simpático reflexa, sendo que mais recentemente Bunker e Anthony (1995) afirmaram que a doença é similar em aparência histopatológica à doença de Dupuytren, com ausência de inflamação ou envolvimento sinovial. Entretanto, Muller et al. (1998) referenciaram em seu artigo vários estudos que sustentam a hipótese da doença estar relacionada a um processo algoneurodistrófico, ou seja, resultante de uma perturbação neurovegetativa regional. Apesar do conhecimento acumulado ao longo do tempo sobre a capsulite adesiva, e de existirem teorias mais recentes sobre a patologia específica da doença, quanto à presença de células inflamatórias e a proliferação de fibroblastos na região afetada, sua etipatogenia ainda permanece pouco esclarecida (HAND et al., 2007; MULLET et al, 2007). A progressiva rigidez articular glenoumeral que ocorre na capsulite adesiva está associada a uma retração capsular, o que determina a dor e a perda da mobilidade, principalmente passiva, caracterizando esta condição. Esta pode ainda, estar associada ao desuso ou a patologias que envolvem o ombro, bem como possuir também características de evolução espontânea para a cura (TAURO e PAULSON, 2008). Discute-se que determinados pacientes, por razões desconhecidas, apresentam uma “predisposição constitucional” sugerindo um perfil de personalidade associado com resposta inadequada ao estresse, servindo como fator predisponente ou precipitante para o desenvolvimento da capsulite adesiva. Por outro lado, uma combinação de fatores do hospedeiro (predisposição) e fatores extrínsecos (trauma, alterações hormonais, colagenovasculares e diabetes mellitus) poderia contribuir para a síndrome do ombro congelado (MILGRON et al, 2008; FILHO, 2005). Zucherman (1993) propôs uma classificação da capsulite adesiva da seguinte forma: capsulite adesiva primária, ou idiopática, quando não existe causa aparente ou comorbidades associadas; capsulite adesiva secundária, quando uma causa ou outras doenças associadas podem ser identificadas, podendo esta última ainda ser intrínseca (causada por lesões do ombro), extrínseca (decorrente de comprometimento de membro superior ou outros órgãos como sistema nervoso ou cardio-pulmonar), ou finalmente, sistêmica, quando associada à doenças como o diabetes ou relacionadas à alterações da tireóide. Quanto à sua possível evolução clínica, Reeves (1975) classifica a capsulite adesiva em três fases: I) Fase Hiperálgica: na qual ocorre mobilidade dolorosa e perda rápida da amplitude da articulação, com duração de dois a nove meses; II) Fase de Congelamento: em que ocorre dor com menor intensidade, embora persistente, com ombro rígido e duração 13 aproximada de 12 meses; III) Fase de Descongelamento: na qual não existe dor e ocorre liberação progressiva dos movimentos, apresentando duração de nove a 24 meses. De acordo com alguns autores (HEBERT e XAVIER, 2009; TAURO e PAULSON, 2008), a síndrome do ombro congelado tende a ocorrer no período da quinta à sétima década de vida, afetando as mulheres com mais frequência do que homens sem predominância entre etnias. Ainda segundo estes autores, o envolvimento bilateral pode ocorrer em 10 a 40% dos casos, sendo baixa a prevalência de recorrência da doença, a menos que existam fatores predisponentes como a síndrome do impacto ou diabetes. Finalmente, a incidência da doença é maior em indivíduos com doença neurológica, em uso de anticonvulsivante, com acidente vascular cerebral, dislipidemia e doenças torácicas. O diagnóstico é clínico baseado nos sintomas de dor no ombro mal localizada, início espontâneo, geralmente sem relação com trauma. Geralmente a intensidade de dor é maior à noite, mesmo ao repouso, é do tipo contínuo e piora com esforços. A restrição ativa e passiva da elevação, rotação interna e externa do ombro também é progressiva (HEBERT e XAVIER, 2009; TAURO e PAULSON, 2008; FILHO, 2005). A imagem radiográfica pode ser normal ou revelar desmineralização óssea, enquanto a artrografia (FILHO, 2005), embora seja um exame complementar em desuso, demonstra redução acentuada do volume articular. A ressonância magnética é útil para a avaliação de lesões anatômicas que podem estar associadas, porém uma vez que na capsulite adesiva a anatomia do ombro não está alterada, estes exames são geralmente normais. Os exames complementares são importantes para o diagnóstico diferencial de lesões, que causam bloqueio anatômico da mobilidade do ombro como as luxações não reduzidas, ou as síndromes dolorosas do ombro como as lesões do manguito rotador, tendinite calcária ou tumores (HEBERT e XAVIER, 2009). Diversos são os tratamentos propostos para a capsulite adesiva, desde a observação do curso natural da doença ao uso de medicações. Estas incluem administração oral de corticóides e anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES), infiltração intra-articular de anestésicos locais, bloqueios anestésicos do nervo supraescapular, ou ainda técnicas como manipulação sob narcose, distensões hidráulicas e cirurgias artroscópicas para liberação de estruturas cápsulo-ligamentares e tendinosas, associados ou não à fisioterapia (ELHASSAN et al., 2010; ROOKMONEEA et al., 2010; HEBERT e XAVIER, 2009; TAURO e PAULSON, 2008; BERGHS, 2006; MACEDO et al., 2000; REEVES, 1975). Muitos artigos discutiram a eficácia de diferentes procedimentos no quadro de capsulite adesiva, tanto farmacológico quanto não-farmacológico (HSU et al., 2011; DIAS et 14 al., 2005). As revisões sistemáticas a partir de ensaios clínicos sugeriram o benefício de diferentes procedimentos. Shah e Lewis (2007) levantaram trabalhos que investigaram a utilização de injeções de corticóide no ombro de adultos com capsulite adesiva, associados ou não a anestésicos. Os autores discutiram evidências sugerindo que múltiplas injeções de corticóides, entre três a seis, podem melhorar a dor e a mobilidade dos pacientes, não existindo evidências de benefício com a utilização de um número maior das mesmas. Estes estudos sobre o uso de injeções de corticóides (LOBACH et al., 2010), bem como outros sobre demais procedimentos para o tratamento da capsulite adesiva foram avaliados mais recentemente por Rookmoneea et al. (2010) que sugerem evidências de que: a) as múltiplas injeções de corticóides sejam, em curto prazo, mais efetivas do que os procedimentos fisioterápicos; b) o uso oral de corticóides por curto prazo pode ter benefícios, contudo, deve-se pensar nos potenciais efeitos colaterais que devem ser analisados quanto ao riscobenefício; c) a distensão artrográfica pode ser efetiva, no entanto deve-se levar em consideração que este achado é baseado em poucos (e de baixa qualidade) ensaios clínicos randomizados; d) faltam evidências para concluir sobre os benefícios da manipulação sob anestesia, já que a mesma foi avaliada em apenas duas revisões sistemáticas; e) existe alguma evidência sobre o benefício de técnicas fisioterápicas (laser) em relação ao placebo. Quanto à primeira afirmação, outra revisão sistemática realizada no mesmo ano por Blanchard et al. (2010) reforça tais evidências. Do ponto de vista do presente trabalho, o procedimento de bloqueio anestésico seriado do nervo supraescapular é considerado como a melhor opção de tratamento da capsulite adesiva por diferentes autores (HEBERT e XAVIER, 2009; CHECCHIA et al., 2006; FRANCISCO-HERNÁNDEZ, 2006; TORO et al., 2005; MACEDO et al., 2000). Desde a década de 90, Checcia et al. (1994) descrevem que a técnica dos bloqueios apresenta vantagens por ser um procedimento ambulatorial, com baixo índice de complicações e baixo custo, podendo atuar numa causa provável da etiopatogenia da doença. Esta técnica consiste na injeção de anestésico na fossa supraespinal do ombro acometido sob condições técnicas adequadas. 15 A relação entre capsulite adesiva e sistema nervoso autônomo é descrita por vários autores que destacam a presença de grande quantidade de fibras simpáticas e sensitivas que o nervo supraescapular fornece à articulação do ombro, sendo acessível a infiltrações percutâneas com agentes anestésicos puros ou associados a esteróides (FILHO, 2005; CHECCHIA et al., 1994). Quanto aos fármacos avaliados no presente estudo, discute-se que a medicação utilizada na fase de congelamento da capsulite adesiva pode ser analgésica, anti-inflamatória (como a nimesulida) ou sedativa (como a amitriptilina), e ser mantida de acordo com a necessidade de cada caso (FILHO, 2005). Portanto, o objetivo inicial do tratamento é a melhora da dor do paciente, permitindo posteriormente o ganho da mobilidade articular do ombro, porém é discutível o melhor modo terapêutico (LOVEDAY et al., 2009; ANDREWS, 2005; FILHO, 2005). Com relação ao mecanismo de ação destes fármacos, a nimesulida pertence à classe dos AINES, uma classe de medicações com estrutura química variada, exercendo efeito analgésico tanto na dor aguda como crônica. Entre estes fármacos, o principal mecanismo de ação é a inibição da biossíntese de prostaglandinas, sendo que esta também é a principal causa de toxicidade, refletindo principalmente em alterações da função renal, hipertensão arterial e úlcera péptica (SAKATA e ISSY, 2004). Os fármacos AINES são indicados na capsulite adesiva, principalmente nas fases hiperálgicas e de congelamento, e sua ação analgésica está baseada principalmente no fato de estes causarem efeito analgésico e anti-inflamatório, que segundo alguns autores constitui a etiopatogenia da doença. No entanto, os antidepressivos têm sido uma opção no tratamento em quadros de dor crônica onde existe um componente de origem nervosa. Este pode ser o caso da capsulite adesiva se, considerarmos a ideia de Steinbrocker (1947) de que o componente algoneurodistrófico contribui para a mesma. Dentre os fármacos da classe, a amitriptilina é uma das primeiras opções (FILHO, 2005; SAKATA e ISSY, 2004; TEIXEIRA, 2003). De acordo com Sakata e Issy (2004), o mecanismo de ação antidepressiva ocorre por inibição da recaptação da noradrenalina e/ou serotonina para a terminação nervosa présináptica, outros mecanismos também podem contribuir para a sua ação, como o bloqueio de canais de sódio e a atuação como bloqueadores do receptor H1 da histamina e bloqueio simpático (SAKATA e ISSY, 2004). É coerente pensar que o efeito analgésico também se estabeleça por meio destas ações, já que elas incluem neurotransmissores envolvidos com a percepção dolorosa. 16 Quanto aos principais efeitos colaterais da amitriptilina, estes ocorrem por bloqueio dos receptores histaminérgicos: sonolência, tontura, fadiga, náusea e aumento de peso. Outros efeitos anticolinérgicos incluem boca seca, constipação, sonolência, visão turva, retenção uninária, tontura, sedação e alteração da memória; bem como decorrentes do bloqueio dos receptores alfa-1 adrenérgicos como tontura, taquicardia, tremor, hipotensão ortostática, sonolência, obstrução nasal e disfunção sexual (SAKATA e ISSY, 2004). Também é sugerido que a utilidade da amitriptilina no tratamento da dor crônica baseia-se no fato da mesma promover sensação de bem-estar e redução da dor, além de regularizar o sono. Em geral, são bem tolerados e não provocam dependência química, podendo ser eficazes mesmo em doses subterapêuticas (TEIXEIRA, 2003). Diante do exposto, o presente trabalho se justifica pelo fato de que até o momento não foram encontrados na literatura ensaios clínicos avaliando a eficácia da amitriptilina na capsulite adesiva, nem comparando sua ação em relação aos AINES nesta condição (MANSKE e PROHASKA, 2008; DIAS et al., 2005). Além disso, os ensaios clínicos realizados sobre capsulite adesiva têm avaliado os resultados de diferentes tratamentos em longo prazo. Estes foram realizados principalmente com tratamento por bloqueios anestésicos, e geralmente não consideraram os aspectos de melhora a curto prazo, desconsiderando ainda tratamentos adjuvantes como por exemplo, da associação do bloqueio nervoso com medicação por via oral. Assim, a avaliação destas formas de tratamento seria importante na medida em que forneceria aos clínicos, novos dados sobre eficácia do tratamento agudo para esta condição, bem como ajudaria a elucidar os aspectos da etiopatogenia da doença. Sobre este último aspecto, até a última década Filho (2005) ainda destacava o absoluto desconhecimento da etiopatogenia da capsulite adesiva, apesar de sua importância, pela frequência na população e pela dor incapacitante e limitação prolongada da função que causa. Este autor ainda destacava a dificuldade de se obter resultados satisfatórios e constantes com tratamentos até então conhecidos, dando ênfase ao impacto social da doença. Portanto, a comparação da eficácia de duas classes de fármacos que atuam em alvos distintos da doença, como fazem os AINES, agindo sobre a inflamação, e os antidepressivos tricíclicos, agindo sobre a função neuronal, pode tornar mais clara a importância destes dois componentes nos diferentes estágios da doença, bem como na sua evolução e/ou prognóstico. 17 2 2.1 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Comparar a eficácia da amitriptilina em relação à nimesulida, administrados por via oral, associadas ao bloqueio nervoso com anestésico no tratamento agudo de pacientes com capsulite adesiva idiopática do ombro. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Comparar a eficácia entre dois fármacos de classes diferentes quanto à melhora da dor; Comparar a eficácia entre dois fármacos de classes diferentes quanto à melhora da função; Identificar possíveis efeitos adversos relacionados ao tratamento medicamentoso. 18 3 METODOLOGIA Este capítulo aborda os aspectos metodológicos utilizados nesta pesquisa. 3.1 TIPO DO ESTUDO Esta pesquisa se baseia em um ensaio clínico randomizado cego. Conforme Fletcher (2006) este tipo de estudo é o mais adequado para testes de comparação de eficácia entre diferentes tratamentos já que a randomização, isto é, alocação de um paciente em um determinado grupo de estudo de maneira aleatória, evita determinados erros sistemáticos na observação de um efeito. 3.2 POPULAÇÃO Foram alvo desta pesquisa os pacientes da Clínica Ortopédica Ortoimagem, do município de Tubarão, SC, que procuraram atendimento particular ou com encaminhamento do Sistema Único de Saúde (SUS), durante o período de agosto de 2010 a julho de 2011. O critério de representatividade da amostra foi considerado, já que na região da Associação dos Municípios da Região de Laguna (AMUREL) a capsulite adesiva é uma doença cujo volume de atendimento para tratamento por bloqueio nervoso é realizado apenas em consultório privado, quase que exclusivamente na clínica envolvida no estudo. Foram incluídos no estudo os pacientes atendidos nesta clínica privada, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico clínico de capsulite adesiva idiopática fase II. Estes apresentavam dor no ombro por um período mínimo de três meses, limitação da elevação anterior do ombro até 130 graus, imagem do manguito rotador intacto a ressonância magnética, perda mínima de 50 graus da rotação externa do ombro quando comparada com o lado contralateral e aceitação dos pacientes em participar do estudo. Considerou-se como critérios de exclusão do estudo a incapacidade de responder ao instrumento de avaliação, a contra-indicação ao uso dos anestésicos locais ou dos 19 medicamentos que seriam associados por via oral (AINES ou antidepressivos), estar grávida ou amamentando, não seguir as orientações durante o período do estudo (ex.: não usar medicação prescrita ou usar outros medicamentos ou procedimentos para melhora da dor), lesão do manguito rotador, infecções ou outras artropatias, cirurgia prévia do ombro e piora clínica durante o tratamento proposto. 3.3 GRUPOS DE TRATAMENTO Tendo como hipótese a ideia de que o componente nervoso é tão importante no desenvolvimento da capsulite adesiva quanto o componente inflamatório, dois grupos de tratamento foram selecionados para comparar a eficácia da amitriptilina em relação à nimesulida (ambos por via oral), associadas ao procedimento de bloqueio anestésicos do nervo supraescapular: • Grupo 1 (controle): indivíduos receberam bloqueio do nervo supraescapular com agente anestésico local (novabupivacaína 0,25%, 10 ml, 1 vez por semana) + nimesulida por via oral (anti-inflamatório não-esteroidal, 100 mg, 2 vezes por dia); • Grupo 2 (experimental): indivíduos receberam bloqueio do nervo supraescapular com agente anestésico local (novabupivacaína 0,25%, 10 ml, 1 vez por semana) + amitriptilina por via oral (antidepressivo tricíclico, 25 mg, 2 vezes ao dia). O bloqueio anestésico do ombro é realizado com o paciente na posição sentada, com os ombros relaxados. Os parâmetros anatômicos são uma linha imaginária da borda posterior da clavícula com uma linha imaginária a borda anterior da espinha da escápula, sendo o ponto de introdução da agulha o vértice formado por estas duas linhas. A agulha é introduzida até a espinha da escapula e então é injetado 10 ml de cloridrato de novabupivacaína 0,25% (CHECCHIA, 1994). É importante ressaltar, que as duas abordagens terapêuticas planejadas neste estudo atualmente são aceitas como medidas eficazes de tratamento da capsulite adesiva, e que atualmente não existem consensos e/ou protocolos que direcionem a decisão clínica sobre o melhor tratamento nas diferentes fases da mesma. Portanto, nenhum dos grupos de estudo estaria em desvantagem em relação ao outro quanto ao tratamento proposto. 20 A decisão de não realizar um grupo controle recebendo apenas bloqueio do nervo supraescapular com agente anestésico local (novabupivacaína 0,25%, 10 ml, 1 vez por semana), deve-se ao fato de que, na experiência clínica do pesquisador 1 a complementação do bloqueio com medicação oral é mais eficiente. Visto que, também tem relevância quanto ao atendimento das questões éticas, de não deixar o paciente sem a melhor opção de tratamento; isto é, não deixar o paciente sem o medicamento de uso oral, quando se acredita que este pode trazer um benefício maior ao paciente do que quando ele não o receba. 3.4 PESQUISADORES ENVOLVIDOS NA ABORDAGEM AO PACIENTE Os seguintes pesquisadores foram envolvidos diretamente na abordagem dos pacientes: a) Pesquisador 1 (médico ortopedista): responsável pelo diagnóstico, avaliação das variáveis independentes, alocação, tratamento e acompanhamento de possíveis efeitos colaterais dos pacientes. b) Pesquisador 2 (examinador): responsável pela mensuração das variáveis dependentes (dor e incapacidade) dos pacientes, pelo preenchimento do questionário SPADI. Como forma de validar a aferição realizada pelo pesquisador 2 em relação àquela realizada pelo pesquisador 1, foi testado o coeficiente de correlação intra-classe entre as medidas do SPADI para os mesmos num grupo pequeno de pacientes, obtendo-se um valor de 0,93 para a dor e 0,98 para incapacidade. 3.5 MEDIDAS DE INTERESSE 3.5.1 Variáveis Dependentes 21 Obtiveram-se como variáveis dependentes os desfechos de dor e de incapacidade levantados pelo questionário Shoulder Pain and Disability Index - SPADI. Este questionário é específico para o ombro e foi validado para a língua portuguesa por Martins et al. (2010). A partir deste instrumento de avaliação (Anexo A), os dados são apresentados de duas maneiras, sendo a primeira delas na forma de escore médio para os dois desfechos, estes foram obtidos em dois momentos, sendo o primeiro no dia da consulta inicial com o pesquisador 1 (ANTES do tratamento), ou depois de 14 dias de tratamento (APÓS o tratamento) em um dos dois braços do estudo. Assim, para facilitar a descrição e a leitura ao longo do texto adiante, neste trabalho os termos ANTES e APÓS serão empregados para designar estes dois momentos da obtenção destas variáveis. Os dados foram também agrupados em escala categórica, como “melhora” ou “não-melhora”, adotando-se o seguinte critério de classificação: os pacientes que APÓS o tratamento apresentaram valores de escore para dor e incapacidade menor do que os observados ANTES foram classificados como “melhora”. Do contrário, foram classificados como “não-melhora”. 3.5.2 Variáveis Independentes Foram registrados no Cadastro do Paciente (Apêndice A) os dados referentes ao sexo, idade, membro afetado (dominante ou não-dominante), tempo de evolução dos sintomas (em meses) e possíveis efeitos colaterais decorrentes dos tratamentos a que foram submetidos. 3.6 TAMANHO DA AMOSTRA O estudo previu a comparação de médias antes e após um tratamento, sendo necessário o cálculo da amostra para um teste pareado. Nesta situação, considerando-se o poder do teste de 80%, o nível de confiança de 95% e a diferença mínima a ser detectada pelo teste correspondendo a um desvio-padrão, obteve-se como valor o número de 17 indivíduos em cada grupo. 22 Por outro lado, para verificar se ocorreu diferença de eficácia entre os dois tratamentos, ou seja, comparação dos dois grupos após o tratamento calculou-se também a amostra para um teste de hipóteses, obtendo-se um valor de 12 indivíduos por grupo. Desta forma, adotou-se o maior valor de amostra, ou seja, 34 indivíduos divididos entre os dois grupos. 3.7 ALOCAÇÃO DOS PACIENTES Os pacientes foram alocados em cada um dos grupos de maneira randomizada. A randomização foi gerada por programa de computador Epiinfo 6.04 através da ferramenta Random Number Table. 3.8 CEGAMENTO Neste estudo o procedimento de cegamento foi realizado para o pesquisador 2, responsável pela mensuração das variáveis dependentes, que desconhecia o tratamento ao qual cada um dos pacientes estava sendo submetido. 3.9 FLUXOGRAMA DO ESTUDO Na primeira consulta dos pacientes, após a avaliação clínica que os tornou elegíveis, para a entrada no estudo, foi solicitado aos mesmos sua colaboração em participar da pesquisa. Conforme o aceite, os pacientes preencheram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), segundo normas de exigência do CEP-UNISUL. O pesquisador 1 realizou o preenchimento dos dados no Cadastro do Paciente (variáveis independentes) e os encaminhou para a primeira mensuração da dor e da incapacidade pelo pesquisador 2, utilizando o Questionário SPADI (variáveis dependentes). 23 O pesquisador 1 realizou então o primeiro bloqueio do nervo supraescapular (conforme descrição acima) e prescreveu o tratamento oral medicamentoso (conforme alocação nos grupos), orientando seu uso e encaminhando para acompanhamento após sete e 14 dias de tratamento. No sétimo dia o paciente recebeu novo bloqueio do nervo supraescapular e foi monitorado quanto a possíveis efeitos colaterais, mas não houve avaliação das medidas primárias. No décimo quarto dia, realizou-se a segunda mensuração da dor e da incapacidade (variáveis dependentes) pelo pesquisador 2, utilizando o Questionário SPADI. Depois destes 14 dias, a continuidade do tratamento foi individualizada segundo as necessidades terapêuticas de cada paciente (Figura 1). 3.10 ANÁLISE ESTATÍSTICA As variáveis independentes foram analisadas de maneira descritiva, por percentagens e proporções. As variáveis dependentes (dor e incapacidade) coletadas a partir do questionário SPADI em escala contínua (escore) foram analisadas por teste t de Student (diferença entre dois grupos) ou teste t pareado (diferença entre antes e após o tratamento). Quando agrupados de maneira categórica “melhora” ou “não-melhora”, utilizouse também as medidas de efeito Risco Relativo (RR), Redução Absoluta de Risco (RAR) e Número Necessário para Tratar (NNT) para análise dos indivíduos que completaram o estudo e Intention To Treat (ITT) para todos os indivíduos alocados nos dois grupos de tratamento. Estas últimas variáveis foram analisadas pelos testes Qui-quadrado ou Prova Exata de Fisher. O nível de significância estabelecido no trabalho foi de p< 0,05. 24 A figura 1 oferece uma ilustração esquemática do fluxograma de procedimentos obedecido no estudo. Figura 1- Fluxograma do estudo. Fonte: Elaboração do autor, 2010. 25 3.11 ASPECTOS ÉTICOS O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa-UNISUL sob protocolo número 10.023.4.01.III (Anexo B). O estudo foi registrado no banco de dados de ensaios clínicos Clinical Trials sob registro: identifier NCT01306708. Os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os resultados do estudo foram apresentados à diretoria e corpo clínico da Clínica Ortoimagem,Tubarão/SC. 26 4 RESULTADOS No período do presente estudo, 40 pacientes que se dirigiram às consultas com o pesquisador 1 na clínica envolvida foram diagnosticados com capsulite adesiva idiopática. Neste sentido, todos os pacientes aceitaram participar da pesquisa e foram alocados, segundo procedimento de randomização descrito anteriormente, em um dos grupos de tratamento (n= 20 em cada grupo). Durante os 14 dias de desenvolvimento da pesquisa, contudo, seis pacientes não completaram o protocolo estabelecido, sendo quatro do grupo controle (os quatros do sexo masculino) e dois do grupo experimental (um do sexo masculino e um do sexo feminino), resultando em seis perdas de seguimento. Os motivos das perdas foram: dois pacientes não retornaram para a segunda consulta/procedimento; dois pacientes interromperam tratamento por apresentarem efeitos colaterais da medicação; um paciente não utilizou a medicação de acordo com as orientações do pesquisador 1; um paciente utilizou outro medicamento analgésico associado ao medicamento estabelecido dentro do protocolo de estudo (Figura 2). Os efeitos adversos encontrados foram aumento da pressão arterial e náuseas em um paciente que utilizou a nimesulida, enquanto três pacientes relataram sonolência com o uso da amitriptilina. Com relação às características dos pacientes estudados, a Tabela 1 demonstra os resultados encontrados. De acordo com análise das variáveis, pode ser observado que não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os indivíduos distribuídos nos dois grupos de tratamento, evidenciando-se a homogeneidade entre estes. Para a variável sexo, contudo, observou-se uma tendência à diferença entre os grupos (p= 0,060), com predominância do sexo masculino (75,0%) no grupo tratado por via oral com amitriptilina, em relação ao grupo tratado com nimesulida (25,0%). Este fato pode ser explicado pelas perdas de quatro sujeitos do sexo masculino no grupo controle. Além disso, quando analisadas as médias dos escores de dor (80,6 ± 21,9) e de incapacidade (64,4 ± 24,6) antes do tratamento com nimesulida nestes pacientes que não completaram o estudo, observou-se que os valores não diferiram estatisticamente daqueles observados nos pacientes que permaneceram no estudo (Tabela 2; p=0,441 ou p=0,614, respectivamente). 27 Figura 2- Fluxograma de alocação dos sujeitos Fonte: Elaboração do autor, 2011. Tabela 1: Perfil demográfico e características clínicas dos pacientes incluídos no estudo, distribuídos nos diferentes grupos de tratamento (n=34). p†# Nimesulida (n= 16) Amitriptilina (n= 18) 52,2 ± 8,1 53,3 ± 6,9 0,675† Masculino (%) 25,0 75,0 0,060# Feminino (%) 59,1 40,9 55,0 35,7 0,224# 4,5 ± 1,4 6,1 ± 3,3 0,095† Variável Idade média ± S.E.M. Sexo Ombro dominante Sim (%) Tempo médio de dor (meses) ± SEM Fonte : Elaboração do autor, 2011. † # Teste t de Student Qui-quadrado 28 A Tabela 2 apresenta os resultados da comparação entre as médias dos escores de dor e de incapacidade obtidos dos pacientes submetidos ao tratamento por 14 dias, por via oral, com nimesulida ou amitriptilina, associados ao bloqueio nervoso. Quando comparadas as respostas, num mesmo grupo, no período antes e após o tratamento, pode ser observado, que tanto a nimesulida quanto a amitriptilina reduziram significativamente o escore para o desfecho de dor. Por outro lado, apenas a amitriptilina foi capaz de produzir este efeito sobre o desfecho de incapacidade. Tabela 2 – Resultado da comparação entre as médias dos escores obtidos para os desfechos de dor e incapacidade nos diferentes grupos, antes e após o tratamento (n= 34). Desfecho Tratamento Dor Incapacidade Média ± SEM p† antes após nimesulida 81,5 ± 3,4 74,2 ± 4,6 0,019* amitriptilina 79,7 ± 4,7 70,4 ± 5,4 0,029* nimesulida 71,0 ± 3,7 65,2 ± 4,6 0,113 amitriptilina 74,1 ± 4,4 61,5 ± 4,7 <0,001* Fonte: Elaboração do autor, 2011. † Teste t pareado Com relação à principal pergunta de pesquisa do estudo, a Tabela 3 apresenta os resultados da comparação entre as médias dos escores de dor e de incapacidade obtidos APÓS o tratamento oral dos pacientes com nimesulida ou amitriptilina. Pode ser visto que, dentro das condições avaliadas neste estudo, os tratamentos não promoveram efeitos distintos em relação à dor ou à incapacidade, uma vez que as médias dos escores não diferiram estatisticamente entre os dois grupos. Uma outra forma de analisar este efeito foi realizada por meio da análise das diferenças médias obtidas para os desfechos de dor e incapacidade entre os grupos (Tabela 4). Ou seja, subtraiu-se o escore obtido APÓS o tratamento em relação ao obtido ANTES para cada indivíduo, obtendo-se posteriormente a média destas diferenças em cada grupo. Como pode ser observado, nos dois grupos foi analisada a redução dos escores no APÓS em relação ao ANTES sem, contudo, ter sido encontrada diferença entre os dois tipos de tratamento, reforçando os resultados apresentados no parágrafo anterior. 29 Tabela 3 – Resultado da comparação entre as médias dos escores obtidos para os desfechos de dor e incapacidade entre os grupos, após o tratamento (n= 34). Desfecho Dor Incapacidade nimesulida Média ± SEM (após tratamento) 74,2 ± 4,6 amitriptilina 70,4 ± 5,4 nimesulida 65,2 ± 4,6 amitriptilina 61,5 ± 4,7 Tratamento p† 0,592 0,588 Fonte: Elaboração do autor, 2011. † Teste t de Student Tabela 4 – Resultado da comparação entre as diferenças médias obtidas para os desfechos de dor e incapacidade entre os grupos, após os diferentes tratamentos (n= 34). Desfecho nimesulida Diferença média ± SEM (após tratamento) -7,2 ± 10,9 amitriptilina -9,3 ± 16,6 nimesulida -5,9 ± 14,0 amitriptilina -12,5 ± 14,0 Tratamento Dor Incapacidade p† 0,672 0,178 Fonte:Elaboração do autor, 2011. † Teste t de Student Nas tabelas 5 a 8 são apresentados os resultados das análises realizadas a partir dos dados agrupados de forma categórica. A Tabela 5 mostra o resultado da análise bivariada para os desfechos de dor e incapacidade em função dos diferentes tratamentos. Conforme pode ser visto na mesma, a partir deste tipo de análise também não foram encontradas diferenças entre os dois grupos, quanto à proporção de indivíduos que apresentou melhora APÓS os tratamentos avaliados no estudo. Por sua vez, a Tabela 6 apresenta as medidas de efeito gerais obtidas no grupo tratado com amitriptilina em comparação ao grupo tratado com nimesulida. A partir desta, pode ser observado que assim como sugerido pela análise anterior, os valores de Risco 30 Relativo (RR) obtidos para os desfechos de dor e incapacidade [(1,33 IC95% 0,87-2,05); (1,11 IC95% 0,78-1,58)], respectivamente, sugerem que os dois tratamentos não diferiram quanto à incapacidade e dor. Além disso, os valores de Redução Absoluta de Risco (RAR) e Número Necessário para Tratar (NNT) sugerem que, apesar de não significativa, a redução absoluta de risco da amitriptilina em relação à nimesulida foi consideravelmente maior. Tabela 5 - Resultado geral da comparação entre proporções, obtido para os desfechos de dor e incapacidade após o tratamento nos diferentes grupos (n= 34). Variáveis Melhora Sim (%) Total (n) p† Não (%) Dor 0,249 Nimesulida 10 (62,5) 6 (37,5) 16 Amitriptilina 15 (83,3) 3 (17,7) 18 Incapacidade 0,681 Nimesulida 12 (75,0) 4 (25,0) 16 Amitriptilina 15 (83,3) 3 (17,7) 18 Fonte: Elaboração do autor, 2011. † Teste do Qui-quadrado ou Prova exata de Fisher. Tabela 6 – Medidas de efeito gerais obtidas para o desfecho de dor e incapacidade no grupo tratado com amitriptilina em comparação ao grupo tratado com nimesulida (n= 34). Medida Dor Valor Risco Relativo (RR): RR (IC*) Redução Absoluta do Risco (RAR) Número Necessário para Tratar 1,33 Incapacidade p† Valor p† 0,249 1,11 0,681 (0,87 – 2,05) (0,78 – 1,58) 20,8% 8,3% 4,8 12,0 (NNT) Fonte: Elaboração do autor, 2011. * Intervalo de confiança; † Teste do Qui-quadrado ou Prova exata de Fisher. 31 As Tabelas 7 e 8 mostram o resultado da análise por Intention to Treat (ITT). Estas demonstram que, por meio deste tipo de análise houve uma tendência em aumentar a melhora da dor no grupo amitriptilina, apesar de ainda não ser revelada diferença estatística (p=0,106). Tabela 7 – Resultado da comparação entre proporções, obtido para os desfechos de dor e incapacidade nos diferentes grupos antes e após o tratamento, por Intenção de Tratar (n= 40). Variáveis Melhora Sim (%) Total (n) p† Não (%) Dor 0,106 Nimesulida 10 (50,0) 10 (50,0) 20 Amitriptilina 15 (75,0) 5 (25,0) 20 Incapacidade 0,317 Nimesulida 12 (60,0) 8 (40,0) 20 Amitriptilina 15 (75,0) 5 (25,0) 20 Fonte: Elaboração do autor, 2011. † Teste do Qui-quadrado ou Prova exata de Fisher. Tabela 8 - Medidas de efeito obtidas para os desfechos de dor e de incapacidade no grupo tratado com amitriptilina em comparação ao grupo tratado com nimesulida, por Intenção de Tratar (n= 40). Dor Medida Risco Relativo (RR): RR (IC*) Redução Absoluta do Risco (RAR) Número Necessário para Tratar (NNT) Fonte: Elaboração do autor, 2011. † Teste do Qui-quadrado ou Prova exata de Fisher. Valor 1,5 (0,90 – 2,49) 25,0% 4,0 Incapacidade p† Valor p† 0,317 0,106 1,25 (0,80 – 1,92) 15,0% 6,7 32 5 DISCUSSÃO O presente estudo avaliou a eficácia do uso oral de amitriptilina, associada ao bloqueio anestésico supraescapular, em comparação com a nimesulida (também por via oral) no tratamento agudo da capsulite adesiva idiopática fase II. Nas condições avaliadas, não foram encontradas diferenças entre os dois tratamentos, ou seja, ambos foram igualmente eficazes na redução dos escores de dor e de incapacidade após 14 dias de tratamento. As características dos indivíduos incluídos neste estudo são semelhantes às encontradas em alguns estudos, como o ensaio clínico realizado por Watson et al. (2000). A idade média dos mesmos foi de 52,8 ± 7,4 anos, com tempo médio de evolução de 4 a 6 meses, sem predominância quanto ao ombro dominante, e acometendo equitativamente homens e mulheres. Os primeiros achados são semelhantes aos encontrados por Checcia et al. (2006), que registraram em seu estudo sobre a avaliação do tratamento com bloqueio anestésico na capsulite adesiva, abordando 136 indivíduos, uma média de idade de 47 anos e a ausência de predominância de sexo ou de membro dominante. Contudo, com relação à diferenciação por sexo, alguns estudos sugerem que a capsulite adesiva acomete principalmente mulheres, inclusive com maior intensidade dos sintomas (KINDLER et al., 2010; ORTIZ-LUCAS, 2010). Neste trabalho, a escolha por pacientes em fase II da doença deveu-se ao fato de que este é um estágio em que o diagnóstico clínico é facilitado pela exacerbação das características clínicas da doença (HSU et al, 2010; BUNKER e ANTHONY, 1995). Ou seja, enquanto na fase I os pacientes podem ter uma melhora considerável após um curto período de tratamento, ou até mesmo evoluírem para a cura sem o uso de medicação, na fase III os pacientes podem apresentar respostas insignificantes ao tratamento medicamentoso (FILHO, 2005). Além disso, o tempo mínimo de evolução da doença de três meses adotado como critério de inclusão dos pacientes neste estudo também visou reduzir erros de diagnóstico, já que não existe um consenso sobre a faixa de perda de mobilidade exigida para classificação do paciente quanto à capsulite adesiva (BRUE et al., 2007). Com relação à escolha do tempo de 14 dias para comparação dos dois tratamentos, também foi considerado o fato de não existir um consenso quanto à melhor forma e o tempo ideal para tratar a doença, sendo que normalmente este é diferenciado de acordo com a sintomatologia de cada paciente. Em uma revisão sistemática, Van der Windt et al. (1995) levantaram trabalhos que avaliaram a eficácia de diferentes medicamentos da classe 33 dos AINES em diferentes desordens dolorosas do ombro, mostrando a partir de trabalhos considerados de alta qualidade que em curto prazo, estes foram superiores ao placebo; no entanto, entre eles não foi avaliada a condição da capsulite adesiva. Assim, o uso de uma terapêutica que se mostrasse eficaz num curto período de tempo nesta condição poderia facilitar aspectos de adesão do paciente ao tratamento. Sobre os fármacos avaliados, embora se conheça a melhora dos sintomas da doença que é promovida com os bloqueios anestésicos (CHECCIA et al., 2006; TORO et al., 2005; MACEDO et al, 2000), também é sabido que o uso de medicação oral suplementar pode acelerar a melhora clínica promovida pelos mesmos e, por esta razão, também aumentar a taxa de permanência dos indivíduos no esquema de tratamento. A nimesulida é uma droga amplamente utilizada na prática clínica diária para o tratamento de doenças ortopédicas, inclusive da capsulite adesiva (MACEDO et al., 2000). Já a amitriptilina foi selecionada para a comparação com a nimesulida pela sua conhecida capacidade de reduzir os quadros de dor associada a um componente neural, apesar de o mecanismo de ação analgésica permanecer não esclarecido (SADEGHI et al, 2011; RYBICKA e PLAZNIK, 1997). Considerando os níveis de evidência científica, além do trabalho de Van der Windt et al. (1995) citado acima, não existem revisões sistemáticas avaliando o benefício dos AINES na capsulite adesiva. Um ensaio clínico realizado por Pallazo e Revel (2010) comparou o tratamento simplificado, incluindo uso de analgésicos (AINES), fisioterapia ou infiltrações, com o tratamento complexo, incluindo artrodistensão, mobilização sob anestesia geral ou capsulotomia artrosocópica. Os autores concluem sugerindo que inicialmente devam ser utilizados os primeiros, e destacam as vantagens de um protocolo especial de tratamento e reabilitação intensiva quando aplicado tratamentos mais complexos. Ainda, estudo retrospectivo a partir de prontuários médicos de 234 pacientes com capsulite adesiva tratados entre 1997 a 2005 em instituições de saúde norte-americanas demonstrou o sucesso do tratamento não-cirúrgico da doença, consistindo de terapia física, uso de AINES por via oral ou injeção intra-articular de corticóides (LEVINE et al., 2007). Outro estudo prospectivo de longo prazo acompanhou 54 indivíduos com capsulite adesiva por um tempo médio de cerca de nove anos, sugerindo que o tratamento conservador, baseado em terapia física e uso de AINES, pode ser melhor do que a artroscopia ou outros procedimentos cirúrgicos de maior risco (DUDKIEWICS et al., 2004). Finalmente, em revisões de literatura destacou-se a importância do uso de AINES (HSU et al., 2011; FILHO, 2005) e da amitriptilina (FILHO, 2005) na fase hiperálgica da 34 doença, enquanto Andrews (2005) registrou que o efeito do tratamento combinado com terapia física e AINES foi tão efetivo quanto o tratamento combinado de metilprednisolona e anestésicos locais quanto à redução da dor e melhora da mobilidade da articulação. Nenhuma revisão sistemática ou ensaio clínico avaliando o uso de antidepressivos tricíclicos na capsulite adesiva foi encontrado. Assim, apesar de não ter sido encontrada diferença para os desfechos de dor e incapacidade entre os dois grupos de tratamentos avaliados neste estudo, não deixa de ser interessante a demonstração de que os efeitos promovidos pela amitriptilina foram estatisticamente semelhantes aos observados para a nimesulida quando associadas ao bloqueio nervoso. O tratamento da capsulite adesiva com a primeira parece promover efeito por reduzir o progresso da reação inflamatória, levando à melhora relativamente rápida dos sintomas (PILOWSKY et al, 1982). O mecanismo de ação analgésica da amitriptilina em geral, e particularmente para a capsulite adesiva, não está totalmente compreendido, sabe-se que a noradrenalina e a serotonina possuem papel na transmissão nociceptiva tanto em nível medular quanto supraespinhal. Assim, a inibição da recaptação pré-sináptica dos mesmos, promovidas por este antidepressivo pode ser um mecanismo associado com sua atividade sobre estes dois desfechos (SAKATA e ISSY, 2004; VAN et al, 2004; TURA e TURA, 1990). Também é interessante o fato de observar-se tal efeito para a mesma num período de 14 dias, já que o efeito antidepressivo geralmente é mais tardio (TEIXEIRA, 2003). Este resultado está em acordo com os achados obtidos por Jaeschke et al., (1991) e Eija et al., (1995), que em humanos demonstraram efeito analgésico para a amitriptilina dentro de duas semanas de tratamento em diferentes condições. Efeitos condizentes com a instalação de atividade analgésica em curto prazo também são observadas em estudos experimentais com animais (BERROCOSO et al., 2011). Coletivamente, estes dados a partir de estudos laboratoriais e de observações clínicas podem indicar que estes neurotransmissores possam ser moduladores dos processos de dor e incapacidade articular durante a capsulite adesiva, fortalecendo também a ideia sobre o envolvimento de um componente nervoso na etiologia desta condição (MULLER et al., 1998; WASSEF, 1992). Estes dados se somam ainda a resultados anteriores que, demonstraram resultados benéficos para terapêuticas manuais como a fisioterapia, além dos bloqueios com anestésicos no tratamento desta condição (GOLDMAN et al, 2010; JACOBS et al, 2009; KIVIMAKI et al., 2007), os quais interferem no componente nervoso. A comprovação da eficácia semelhante para o tratamento com amitriptilina em relação ao da nimesulida, quando associada ao bloqueio do nervo supraescapular, sugerem a 35 importância da primeira substância como alternativa de tratamento para a capsulite adesiva em pacientes com contra-indicação à última. Isto principalmente se considerarmos a taxa relativamente baixa de manifestação de efeitos adversos observados nos sujeitos tratados com a mesma. Os resultados das medidas de efeito gerais comparando o grupo tratado com amitriptilina em relação à nimesulida também fortalecem esta ideia já que os valores de risco relativo obtidos para os desfechos de dor e incapacidade entre os dois grupos não diferiram estatisticamente. Por outro lado, os valores de redução absoluta de risco sugerem que, apesar de não significativa, a redução dos escores de dor e incapacidade no grupo amitriptilina em relação aos observados no grupo nimesulida foi consideravelmente maior. Estes dados também são corroborados por meio da análise ITT, na qual houve uma tendência em aumentar a melhora da dor no grupo amitriptilina, apesar de ainda não ser revelada diferença estatística (p=0,106). Esta tendência talvez pudesse se mostrar estatisticamente significativa com um aumento da amostra. A sonolência, principal efeito colateral da amitriptilina encontrado neste estudo, foi o mesmo encontrado por Goldman et al. (2010), num trabalho que avaliou dor persistente por uso repetitivo em braço, mesmo tratando pacientes utilizando baixa dosagem de amitriptilina. Além disso, deve ser considerado que a amitriptilina, associada ao bloqueio nervoso, promoveu redução da dor após os 14 dias de tratamento, quando comparado ao início do tratamento. Enquanto isso, o estudo citado acima observou apenas melhora da função, sem melhora da dor em pacientes que apresentavam lesões de aspecto inflamatório por esforço repetitivo. Quanto às medidas tomadas para reduzir a possibilidade de viés, no presente estudo realizou-se alocação randomizada dos sujeitos, além do cegamento do pesquisador responsável pela mensuração das variáveis e a utilização de um protocolo para a aplicação do instrumento de avaliação, que foi específico para ombro e validado para a língua portuguesa. Por outro lado, o curto período de avaliação adotado pode representar uma limitação, podendo ter sido o motivo pelo qual não foi observada melhora da incapacidade com a nimesulida. Este tempo poderia ser insuficiente para a implantação dos efeitos da substância responsáveis pela melhora da mobilidade, diferentemente do que ocorre com a dor. Outra possível limitação foi o não cegamento do pesquisador 1 quanto à medicação utilizada para cada paciente, bem como do paciente sobre a medicação a ser utilizada. Neste último caso, isto poderia introduzir um viés, já que as medidas de interesse primário do estudo são levantadas a partir das respostas do paciente a um questionário. 36 6 CONCLUSÃO Este estudo demonstrou que a amitriptilina foi igualmente eficaz à nimesulida, quando associadas ao bloqueio do nervo supraescapular, no tratamento agudo da capsulite adesiva idiopática fase II. Os dois tratamentos promoveram semelhante redução nos parâmetros de dor e de incapacidade, medidos por meio do questionário SPADI. Investigações futuras que avaliem o uso crônico da substância ou ainda comparem a mesma a outras substâncias podem ser úteis para fornecer maiores evidências da sua utilidade no tratamento de indivíduos que apresentem esta condição. 37 REFERÊNCIA ANDREWS, J. R. Diagnosis and treatmment of chronic painful shoulder: review of nonsurgical interventions. Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic and Related Sugery, Alabama, v. 21, n. 3, p. 337-347, mar. 2005. BERGHS, B M.; SOLE-MOLINS, X; BUNKER, T D. Arthroscopic release of adhesive capsulitis. Journal of Shoulder Elbow Surgery, St. Louis, v. 13, n. 2, p. 180-5, mar./apr. 2004. BERROCOSO, E. et al. Evaluation of milnacipran, in comparison with amitriptyline, on cold and mechanical allodynia in a rat model of neuropathic pain. European Journal of Pharmacology, Amsterdam, v. 655 n 1-3. p.46–51, mar. 2011. 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