um cabaré e um homem, unidos por uma história no romance
Transcrição
um cabaré e um homem, unidos por uma história no romance
UM CABARÉ E UM HOMEM, UNIDOS POR UMA HISTÓRIA NO ROMANCE MOULIN ROUGE DE PIERRE LA MURE Patricia Penkal de Castro1 Resumo O presente artigo analisa o romance Moulin Rouge de Pierre La Mure e a relação histórica e cultural que este estabelece com sociedade francesa em um período de grandes transformações e liberdade – marcados por duas guerras. Denominado de Bélle Époque este período durou pouco mais que trinta anos, deixando um legado cultural, tanto para a Europa quanto para outros países, que idealizavam uma sociedade mais justa e próspera. Pierre La Mure, ao escrever sobre a vida do pintor Toulouse-Lautrec, que escandalizou e encantou a sociedade com suas pinturas, contando como foi sua vida, cercada de poucas alegrias e muitas tristezas, nos dá uma visão deste período e como a sociedade reagia a esta nova realidade. 1 [email protected]. Palavras-Chave IDENTIDADE CULTURAL. PIERRE LA MURE. MOULIN ROUGE. TOUSLOUSE-LAUTREC. BÉLLE ÉPOQUE. CABARÉ. Revista - Ciencia é Minha Praia - v1 - n1 77 1 INTRODUÇÃO Conhecer a identidade cultural é fundamental para compreender o movimento social vivido por uma sociedade. Partindo desse pressuposto este ensaio buscará estabelecer a relação entre o cabaré Moulin Rouge e a vida de Henri De Toulouse-Lautrec.. Inicialmente abordaremos sobre Pierre La Mure e sua obra Moulin Rouge realizando uma breve descrição do livro Moulin Rouge e da vida de Henry Toulouse-Lautrec, que apesar de trabalhar menos de vinte anos, deixou um legado artístico importantíssimo, revolucionando o design gráfico e ajudando a definir o estilo da Art Nouveau. Toulouse-Lautrec viveu entre o final do século XVIII e início do século XIX, um período entre duas guerras mas que teve significativa importância, não só para aquele país como para o resto do mundo. É neste período, marcado por transformações expressivas na sociedade, encontramos uma imagem utópica de uma sociedade próspera. Afinal, Quem viveu os horrores da Primeira Guerra Mundial, facilmente sucumbia ao charme e à doucer de vivre que o princípio do século tinha proporcionado. A Belle Époque é esse tempo de projecções nostálgicas, construído restropectivamente à medida dos desejos de uma geração que tinha assistido à extinção do futuro. (GUERREIRO, 1 995, p. 1 0) Após o final da guerra franco-prussiana, os países europeus passaram a vivenciar significativas transformações culturais, que representam um novo modo de pensar de uma sociedade que estava se libertando de um período de opressão. Como nos conta Menezes (201 3, p. 1 ): A belle époque com sua pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias, advindas do realismo-naturalismo não sobreviveu às duas grandes guerras. Era a época das boemias literárias, como as de Montmarte e Munique. Dessa literatura de cafés e boulevards, de transição pré-vanguardista, é que vão se originar os inúmeros _ismos que marcarão o desenvolvimento de todas as artes no século XX. (MENEZES, 201 3, p.1 ) As transformações culturais foram intensas e o povo francês passou a vivenciar uma liberdade nunca antes vivenciada, favorecendo o aparecimento de novas tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias. O liberalismo econômico favoreceu a interdependência comercial possibilitando o investimento em novas tecnologias que mudariam por completo a vida dos cidadãos diminuindo suas horas de trabalho possibilitando que eles pudessem desfrutar de algumas horas de lazer, impulsionando a indústria do divertimento. Esse processo de liberdade permitiu que Paris fosse envolta por uma liberdade de criação artística e essa atmosfera possibilitou que intelectuais e artistas mostrassem sua arte. Os bairros boêmios frequentados apenas pelas classes menos favorecidas ganharam um novo cenário, com casas de show que ofereciam um ambiente luxuoso e divertido, atraindo assim a classe média. Os cabarés, casas noturnas que ofereciam divertimento as pessoas. Eram associados ao submundo das cidades uma vez que eram frequentados principalmente por artistas, trabalhadores e prostitutas. Nestes locais tudo era permitido por este motivo chamavam tanto a atenção das pessoas. Dentre os cabarés de Paris, daremos especial atenção ao Moulin Rouge, cenário principal da vida de Toulouse-Lautrec e palco de uma história marcada pela boemia, pela arte e pelos prazeres da vida. 78 Revista - Ciencia é Minha Praia - v1 - n1 2 UM LIVRO... RETRATO DE UMA HISTÓRIA Moulin Rouge é um romance escrito em 1 950, pelo escritor francês Pierre La Mure, conta em detalhes a vida do pintor Henri Toulouse-Lautrec desde a sua infância até a sua morte. Henri era um menino saudável, porém, sua saúde começa a demonstrar sinais de fragilidade até que descobrem uma doença que prejudica o crescimento de suas pernas tornando-o um anão aleijado. Por ter uma aparência fora do comum sofreu várias rejeições por parte de amigos e possíveis amores. Foi buscar consolo em um bairro pobre de Paris, o Montmartre, um bairro boêmio onde pairava uma atmosfera de liberdade, aceitando todos os tipos de pessoas independente de sua condição. Além disso, era um bairro frequentado por muitos artistas possibilitando que Toulouse-Lautrec pudesse externalizar todo seu talento para o desenho. Para descrever a doença de Henri, La Mure dedicou o terceiro capitulo. Ele narrou a triste passagem da vida de Toulouse-Lautrec desde o início da doença até a descoberta de que sua condição de aleijado seria permanente. Em 1 884, Lautrec vai morar em Mountmartre, o grande fascínio pela noites boêmias e a tentativa de suprir as necessidades de auto aceitação, advindas das rejeições sofridas, principalmente pelas mulheres, por ser um homem feio e aleijado, o levaram a ser um assíduo frequentador dos cabarés parisienses. Lá as mulheres os aceitavam e o dava prazer, mesmo que este prazer tivesse um preço. O bairro de Montparnasse tornou-se um emblema deste ambiente cosmopolita, aberto às ideias novas e à superação contínua do anterior, conforma aos pensamentos das vanguardas. Em 1 900, Montparnasse, situado no Sul de Paris, não era ainda propriamente um bairro. Mas em poucos anos começa a crescer, a acolher no seu interior gente vinda de todos os lados atraída pelo mito de Paris: Picasso, Gertrude Stein, Picabia, Apollinaire, Diaghilev e tantos outros. GUERREIRO, 1 995, p. 1 2) Toulouse-Lautrec desde a inauguração do cabaré Moulin Rouge foi um frequentador assíduo do local. Ali ele se sentia em casa e não ficava incomodado com o cheiro do tabaco e do pó-de-arroz que pairava sobre o ar. Os cabarés eram sua fonte de inspiração, um ambiente em que ele admirava as pessoas e as retratava em seus desenhos. Segundo Menezes (201 3, p.1 ): Os cabarés eram espaços pequenos e ligados ao submundo das grandes cidades europeias dedicados a shows, fossem eles de dança, teatro, música, contadores de piadas, strippers, enfim, um grande show de calouros onde a fumaça de cigarro nublava os holofotes e enchia as narinas. (MENEZES, 201 3, p.1 ) Lautrec durante muitos anos retratou mais de trinta pinturas do cabaré e de seus frequentadores, o primeiro deles chegou a fazer parte da decoração do local. Seu amor pelo Moulin Rouge, bela vida boêmia, pelos espetáculos e a amizade firmada com os proprietários do local é que surgiu o convite para que ele desenhasse o primeiro cartaz do cabaré. Neste cartaz, Toulouse retrata a bailarina La Goulue, a qual sentia grande amizade. O estilo de desenho pessoal de Lautrec apresentava linhas livres e onduladas, com cores intensas e por intermédio das combinações rítmicas sugerem movimento ao desenho. Outra característica da obra do artista era que as figuras eram retratadas de forma que não fosse possível visualizar as pernas das pessoas retratadas dando subjetividade ao movimento. A noite boêmia e os ambientes frequentados, revelaram um Revista - Ciencia é Minha Praia - v1 - n1 79 talento extraordinário em Toulese-Lautrec em contra partida, também o apresentaram o caminho que o levaria a morte precoce. Apesar do extraordinário talento para o desenho, a vida boêmia fez com que Loutrec tivesse uma vida de bebida, sexo e trabalho frequente o que o expôs a uma dependência ao álcool e com que contraísse sífilis. Morreu em 9 de setembro de 1 901 . CONCLUSÃO Pierre La Mure, ao escrever o livro Moulin Rouge, nos coloca frente a frente com a história não só de um homem, mas de uma cidade e um cabaré ligados por um periodo que marcou significativamente a cultura de um país. Ao fazer a leitura do livro, um leque de oportunidades se abrem pois, com todos os fatos vivenciados pelo personagem e os relatos históricos sobre esta época é possível fazer um estudo mais aprofundado compreendendo melhor como eles aconteceram. Pensar em Paris, sem associá-la a aos famosos cabarés, em especial ao Moulin Roulin, e a figura de Toulouse_lautrec é desconsiderar uma parte importante da história. É renegar a importante contribuição que cada elemento estabelece para a identidade cultural de uma sociedade. REFERÊNCIAS MENEZES, M. A. Cabarés: história e memória. Disponível em: http://www.snh201 3.anpuh.org/resources/anais/27/1 36201 7982_ARQUIVO_CABARES.pdf . Acesso em: 22 jun. 201 4. BENJAMIN, Walter. A vida dos estudantes. (1 91 5) Disponível em: <http://goo.gl/4TgZng>. Acesso em 27 de jul. 201 4. MÈRCHER, L. Belle Époque Francesa: a percepção do novo feminino na joalheria Art Nouveau. Disponível em: http://gthistoriacultural.com.br/VIsimposio/anais/Leonardo%20Mercher.pdf. Acesso em: 1 5 de jun. de 201 4. LA MURE, P. Moulin Rouge. Belo Horizonte: Editôra Itatiaia Limitada, 1 969. GODOY, G. A Belle Époque. Disponível em: http://www.gilbertogodoy.com.br/ler-post/abelle-epoque. Acesso em: 1 jul 201 4. SENELIK, L. Cabaré: origem e trajetória do gênero. Disponível em: http://lionelfischer.blogspot.com.br/2009/04/cabare-origem-e-trajetoria-do-genero.html. Acesso em: 1 5 jun. 201 4. PELLEGRINE, L. Moulin Rouge, o cabaré dos cabarés. Disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/3691 0/Moulin-Rouge-o-cabar%C3%A9dos-cabar%C3%A9s.htm. Acesso: 28 jun. 201 4. BENEVENTTO, S. R. O artista “Lautrec” entre o álcool e cabaré. Disponível em: http://www.depquimicaesociedade.com.br/index.php/o-artista-lautrec-entre-o-alcool-ecabaret/. Acesso em: 28 jun. 201 4 80 Revista - Ciencia é Minha Praia - v1 - n1
Documentos relacionados
1 introdução
Em seus primeiros quadros pintados com tinta óleo, surgiam as herdades da família, seus pais e tios pintavam em horas vagas, mas para ele pintar era muito mais. Toulouse possuía grande amor pelos a...
Leia mais