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XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE
e PRÉ-ALAS BRASIL
04 a 07 de setembro de 2012
Universidade Federal Piauí, Teresina/PI
Grupo de Trabalho: Corpos, gêneros e sexualidades: Práticas queer e
processos políticos de subjetivações (GT n°. 13)
Incursões sobre corpo/sexualidade a partir das narrativas de travestis no
processo de envelhecimento
Cicera Glaudiane Holanda Costa (UFPE)
[email protected]
Incursões sobre corpo/sexualidade a partir das narrativas de travestis no
processo de envelhecimento
Cicera Glaudiane Holanda Costa (UFPE)
A presente pesquisa tem como perspectiva contribuir para
discussões dos processos de construção das travestilidades assim como
refletir sobre questões que problematizam a representação do corpo, gênero e
sexualidade no cotidiano, utilizando para isto narrativas de travestis no
processo de envelhecimento. Refletindo sobre a construção do projeto corporal
elaborado pelas travestis percebe-se a combinação de marcas que perpassam
tanto um tipo de feminino quanto uma exigência em se manter jovem. Contudo,
podemos indagar sobre o que ocorre quando as travestis envelhecem e não
conseguem manter este projeto imune as transformações e marcas da idade?
Sobre esta questão é possível observar uma dupla marcação corporal
envolvendo a categoria de gênero e velhice. Neste sentido pode-se investigar
sobre como estes dois marcadores corporais se entrecruzam e agem na
experiência da travestilidade
Palavras-chaves: travestilidade, corpo e narrativa de envelhecimento.
Introdução
Os significados atribuídos ao corpo e à sexualidade são socialmente
organizados, sendo sustentados por uma variedade de linguagens. Essas
linguagens classificam e imprimem sentidos que, muitas vezes, necessitam de
uma leitura atenciosa.
As reflexões acerca da experiência travesti processam-se de forma
conectada com os múltiplos discursos forjados para explicar a sexualidade e a
construção do corpo. Geralmente cada narrativa produzida teve, em seus
determinados contextos, elementos tecidos para esboçar quadros teóricos
atestados pela ciência e defendidos principalmente pela igreja católica.
O universo trans (travestis e transexuais) tem sido foco de algumas
etnografias. Segundo Benedetti (2005), este universo é definido por diversas
questões associadas as (auto) identificações. Porém, são as travestis que
constituem o foco desta pesquisa, apesar de perceber as distintas definições
para se referir a homens que se constroem corporal, cultural e subjetivamente
ao que é compreendido como pertencente à constituição do feminino.
Importante ressaltar que estou atenta para como se configuram dentro do
campo estas classificações, mas para introduzir esse assunto tomo
emprestado a definição dada por uma integrante1 da associação de travestis2,
que considera a travesti como um homem que visa deixar seus corpos mais
próximos do feminino, porém sem recorrer à intervenção cirúrgica para
modificação do sexo, imprimindo assim diversos artifícios na constituição
corpórea e os vivenciando cotidianamente.
Este estudo tem como perspectiva contribuir para reflexão dos
processos de construção das travestilidades, partindo de um olhar cuidadoso a
elementos inscritos nos corpos das travestis. Esse ponto de partida deve se à
compreensão de que é através do corpo que se constitui um conjunto de
símbolos e práticas que operacionalizam diferenças inseridas no universo trans
e que configuram a própria travesti.
O
corpo
que
é
estudado
é
um
corpo
em
processo
de
envelhecimento, por compreender que é sobretudo nele que se apresentam
narrativas inscritas como tatuagens constituídas a partir da experiência vivida.
Outro motivo refere-se ao fato de perceber o envelhecimento como parte de
uma construção cultural, que opera nos indivíduos certas adequações sociais
historicamente contextualizadas.
Atualmente existem diversos estudos que apresentam a velhice
como objeto de investigação, focando desde as novas definições de velhice,
como meia-idade e terceira-idade (DEBERT, 2000), até as formas de
significação e práticas acionadas pelos indivíduos neste período da vida.
Contudo, quando se pensa nesta experiência vivenciada pelas travestis outros
elementos se combinam e algumas questões são suscitadas envolvendo
discussões de gênero e corpo de uma forma peculiar.
1
Fala coletada em uma conversa informal na casa dessa integrante (não fui autorizada a
revelar o seu nome).
2
AMOTRANS- Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco.
Algumas
pesquisas
(SIQUEIRA,
2004;
BENEDETTI,
2005;
PELÚCIO, 2006; SILVA, 2007) tem ressaltado a preocupação das travestis em
instituírem uma série de intervenções no corpo e apreenderem várias técnicas
corporais para se aproximarem ao que é associado à imagem feminina. Assim,
entre outros artifícios, tomam hormônios, colocam silicone, aprendem a se
maquiar, andar, gesticular como uma “mulher”. Larissa Pelúcio destaca que
existe um corpo a ser conquistado em um processo constante pelas travestis.
Para a autora,
Ser travesti” é um processo, nunca se encerra. Construir um corpo e
cuidar deste é uma das maiores preocupações das travestis. Estão
sempre buscando o que elas chamam de “perfeição, o que significa
passar por mulher. Não por qualquer uma mulher, mas por uma
bonita e desejável. (PELÚCIO, 2005, p.98).
Ao projeto de mulher bonita e desejável, citado por Pelúcio, pode ser
complementado a exigência de se manter jovem. Isto é, não basta ter em seus
corpos marcas de um tipo de feminino, mas também construir uma imagem
vinculada com a juventude. Contudo, o que ocorre quando as travestis
envelhecem e não conseguem manter o projeto corporal construído imune as
transformações e marcas da idade?
Investigar a temática de envelhecimento no universo travesti
apresenta algumas dificuldades, uma delas se refere a encontrar trabalhos que
abordem essa temática de maneira significativa. Ainda se mostra um campo
pouco explorado, sobretudo, nos estudos antropológicos. Como ressalta
Mônica Siqueira,
Em relação à temática travesti, os estudos giram em torno de suas
práticas, transformações corporais, questões pertinentes ao processo
de construção de uma identidade travesti além das redes de relações
sociais, tendo como pano de fundo o universo da prostituição. A
questão do envelhecimento está, praticamente, ausente desses
trabalhos, aparecendo, às vezes, nas falas das travestis ou
desencadeada por algum acontecimento. De qualquer forma, o tema
não é privilegiado. (SIQUEIRA, 2004, p.13)
Alguns estudos, mesmo não tendo a velhice como foco, assinalam
esta fase da vida. Benedetti (2005), por exemplo, relata que as travestis ao
envelhecerem deixam a prostituição e passam a atuarem como bombadeiras,
ou seja, ajudam as travestis mais jovens na construção do corpo feminino
através da aplicação de silicone. Já no estudo focado em como o processo de
envelhecimento interfere na elaboração de projetos de vida, realizado com
travestis sergipanas, as pesquisadoras3 chamam atenção para o fato de que o
“envelhecimento contribui para a perda de atratividade e poder sedutivo das
travestis, na medida em que deixam de corresponder à imagem de glamour,
beleza e sedução propalada pela cultura do consumo” (PEREIRA et al, 2009,
p.5).
Ainda sobre essa discussão, Mônica Siqueira (2004) em sua
dissertação Sou Senhora: um estudo antropológico sobre travestis na velhice
destaca que as travestis vivenciam um duplo movimento. De um lado procuram
construir uma imagem positiva da velhice, quando acentuam que esta é uma
fase mais tranquila e de melhor qualidade de vida. Do outro, precisam conviver
com as dificuldades em atingir uma idade avançada e manter o glamour.
A partir desses estudos pode-se dizer que o processo de
envelhecimento não se limita a uma condição biológica, perpassa por uma
construção social que recebe diversas configurações ligadas à visão de mundo
de grupos que compartilham práticas, crenças e valores e estão relacionadas
às relações de poder, a sexualidade e a posição de gênero.
Refletindo sobre os estudos desenvolvidos percebe-se que existe
uma dupla marcação corporal envolvendo a categoria de gênero e o processo
de envelhecimento. Neste sentido pode-se questionar sobre como estes dois
marcadores corporais se entrecruzam e agem no processo identitário da
travesti.
Atrelada a esta questão outros questionamentos são acionados, tais
como: De que forma se instala os processos de envelhecimento nas
experiências das travestis? Que mudanças corporais são atribuídas aos seus
processos de envelhecimento? Que significados são conferidos pelas travestis
ao envelhecimento e ao corpo envelhecido? Estes são alguns dos
questionamentos que este trabalho se propõe a investigar.
3
Jesana Batista Pereira da Universidade Tiradentes/Se, Márcia Tavares da Universidade
Católica do Salvador/Ba e Maura Lúcia de Olim da Secretaria de Estado da Saúde/Se
realizaram uma pesquisa que resultou em um ensaio intitulado Itinerários de vida ao
envelhecer: experiências de travestis em Sergipe.
Contudo, os significados dado pelas travestis ao envelhecimento
pode ser problematizado a partir de elementos trazidos nas narrativas das
experiências vividas por elas, permitindo assim, acessar as discussões que
envolvem corpo, gênero e sexualidade dentro do cotidiano.
Nesse sentido, a presente pesquisa procura enfocar questões que
problematizam a representação do corpo no cotidiano, procurando perceber
como as travestis o vivenciam ao envelhecer e que significados são
construídos a partir dessa experiência. Em resumo, o estudo se formula em
torno das temáticas do corpo, gênero e sexualidade, percebidas a partir da
experiência do envelhecimento inscrita nas narrativas das travestis.
Questões relativas aos corpos têm estado por muito tempo no centro
das preocupações ocidentais. Cada sociedade articula um emaranhado de
regras para produzir e reproduzir padrões estéticos de beleza que perpassam
as posturas sociais de seus indivíduos. Paralela a essa reflexão, a velhice
também surge como uma preocupação pontual percebida através de um
discurso que estabelece um modelo de envelhecimento associado à ideia de
vitalidade e juventude (DEBERT, 2000). Assim, a imagem inserida no cotidiano
transforma-se em um espelho onde as pessoas querem se refletir, onde a
“exigência” é possuir um corpo plasticamente modelado e constantemente
jovem.
Na travestilidade, esta exigência aparece de forma mais acentuada.
Tanto os artifícios utilizados para se aproximar do feminino, quanto o corpo são
instrumentalizados para produzir uma reconfiguração da subjetividade e da
objetividade corpórea. As travestis conseguem reunir elementos simbólicos
ligados ao ideal de feminilidade. Os mecanismos de artifícios que auxiliam na
construção da aparência são diversos: consumo de hormônios, injeções de
silicone, vestimentas, sapatos de salto alto, maquiagem, bolsa, entre outros. A
travesti vivencia um processo constante de transformação corporal para se
assemelhar ao “feminino”, o que traz a tona vários elementos para discutir
sobre a (des) naturalização das posições de gênero (PELÚCIO, 2004;
BUTLER, 2001). À medida que esse corpo envelhece o projeto corporal pode
ser prejudicado. Desta forma, é exigido das travestis uma dupla construção
corporal visando à imagem que remeta a feminilidade e à juventude “eterna”.
Sobre essa questão Júlio Assis Simões destaca,
Nesse cenário, aparentemente marcado pelo hedonismo complacente
e pela obsessão com atributos físicos capazes de suscitar atração e
desejo, em que tudo parece girar em torno de um mercado sexual
hierarquizado por critérios de juventude e beleza, não haveria lugar
para pessoas de mais idade, que carregariam os estereótipos
derivados da depreciação de sua atratividade como parceiros sexuais
desejáveis e da decorrente marginalização pelos mais jovens
(SIMÕES, 2004, p.3).
Neste sentido, torna-se importante estimular reflexões sobre as
diferentes formas de percepção do próprio corpo e perceber como a dimensão
biológica do tempo vivido pelo corpo é significada pela experiência,
principalmente pelo fato desse assunto ser pouco explorado em pesquisas
acadêmicas. Existem poucas investigações4 abordando a questão do
envelhecimento de travestis. Consequentemente, por um lado, a pesquisa
bibliográfica fica comprometida, por outro, essa ausência desperta e estimula o
interesse em contribuir para ampliar as reflexões e discussões sobre o tema
dentro das Ciências Humanas.
Os discursos que perpassam corpos e marcam a sexualidade
Questões relativas ao corpo, gênero e sexualidade, têm sido
pontuadas ao longo dos tempos como persistentes preocupações ocidentais.
Neste sentido, cada sociedade, dentro de um determinado contexto, forja seus
discursos articulando normas e regras que afetam a vida social de seus
indivíduos. Para pensar estas questões, a partir das experiências de vida de
travestis no processo de envelhecimento, faz-se necessário pontuar alguns
olhares e discursos sublinhando contextos, para ajudar na compreensão e
importância dessas temáticas dentro da sociedade.
As manifestações da sexualidade afloram e se estendem por todo
meio social e são marcadas pela história, a cultura e a ciência. No século XIX,
o corpo começou a assumir uma maior complexidade, tornou-se tema de
especialistas que criaram uma série de discursos para esquadrinhá-lo e
classificá-lo.
4
Destaco a dissertação de Mônica Soares Siqueira intitulada, Sou Senhora: um estudo
antropológico sobre travestis na velhice, e o ensaio Itinerários de vida ao envelhecer:
experiências de travestis em Sergipe, elaborado por Jesana Batista Pereira, Márcia Tavares e
Maura Lúcia de Olim.
Na medida em que a sociedade se tornou mais e mais preocupada
com as vidas de seus membros – pelo bem da uniformidade moral,
da prosperidade econômica; da segurança nacional ou da higiene e
da saúde – ela se tornou cada vez mais preocupada com o
disciplinamento dos corpos... (WEEKS In LOURO, 2001, p. 52)
Ao longo do século XX e chegando ao século XXI, a idealização do
corpo adquiriu um forte poder, estabelecendo normas estéticas específicas.
Nas sociedades industrializadas ocidentais, as mulheres, em particular,
praticavam e praticam diversos tipos de intervenções em seus corpos para se
adequarem aos padrões de “beleza” definidos culturalmente. Dessa forma, o
corpo passou e passa por um ritmo acelerado de mudanças e adaptações.
Foucault (2002) pontua como, através do disciplinamento, os corpos
tornaram-se dóceis. Reflete sobre o corpo ser constantemente manipulado
pelas instâncias de controle sociais com seus mecanismos de vigilâncias com o
objetivo de discipliná-los. Para o autor a disciplina se define por métodos que
permitem um controle minucioso das ações do corpo.
Dependendo do momento histórico e social e dos valores e
significados atribuídos à sexualidade e a representação corpórea, percebe-se
uma mudança dos níveis de tolerância que varia de lugar para lugar, de cultura
para cultura. Para Jeffrey Weeks,
...só podemos compreender as atitudes em relação ao corpo e à
sexualidade em seu contexto histórico especifico, explorando as
condições historicamente variáveis que dão origem à importância
atribuída à sexualidade num momento particular e apreendendo as
várias relações de poder que modelam o que vem a ser visto como
comportamento normal ou anormal, aceitável ou inaceitável (WEEKS,
2001, p.43).
Os significados atribuídos ao corpo e à sexualidade são socialmente
organizados, sendo sustentados por uma variedade de linguagens. Para
Foucault (1985), a sexualidade é um dispositivo histórico5 constituído por
5
Ao escrever a “História da Sexualidade”, Foucault nos mostra como através dos discursos a
sexualidade é inventada e reinventada. Através dos discursos a sexualidade é construída como
um corpo de conhecimento que modela as formas como pensamos e conhecemos o corpo.
Para ele “a sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade
subterrânea que se apreende com dificuldade, mas à grande rede da superfície em que a
estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos
conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros,
segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder” (FOUCAULT, 1985, p.100).
discursos. Durante muito tempo os discursos e olhares foram produzidos pela
medicina, psiquiatria, sexologia, entre outras, muitas vezes justificando práticas
discriminatórias. A preocupação com o controle e vigilância da sexualidade foi
constante. Porém, nada tinha de silenciosa, como afirma Foucault (1985), era
preciso falar muito sobre esse assunto a fim de conhecer seus detalhes,
mergulhar em suas nuances, para que fosse possível selecionar locutores
“qualificados” que produzissem discursos que ecoassem no meio social.
A sexualidade tornou-se um elemento importante para a sociedade
moderna que necessitava principalmente de uma mudança de práticas de seus
indivíduos na perspectiva de enquadrá-los a um novo estilo de vida.
Em nome da ciência, principalmente no século XIX, produziram uma
diversidade de teorias e estratégias, práticas sociais e técnicas de poder, que
implicaram na sexualidade das mulheres, das crianças e na demarcação de
perversões sexuais. Dos “males” que afligiam a “normalidade” social e sexual,
como a masturbação, a libertinagem, a prostituição, dentre outros, nenhum
preocupava tanto quanto o “homossexualismo”. Era a homossexualidade que
desconstruía a imagem incontestável da família e rompia com a lógica da
reprodução, apregoada principalmente pela igreja católica e considerada
responsabilidade primeira de todo e qualquer ser humano.
Dentre as várias expressões da sexualidade humana, é importante
destacar que aquelas que são consideradas como “forma ilegítima” da
experiência sexual, foram e continuam sendo debatidas e geralmente atacadas
pelos diversos discursos produzidos no percurso histórico. A ciência e a
religião, cada uma em suas tribunas, evocam explicações e correções para
esse tipo de “desvio” sexual e social. Parker destaca que,
É feita uma distinção entre formas de expressão sexual legítimas e
ilegítimas que são organizadas em torno de pelo menos três noções
interligadas: casamento, monogamia e procriação. A conduta sexual
que combina com sucesso esses três elementos é compreendida
como legítima e aceita dentro da visão católica do mundo. O
comportamento que não consegue unir esses três elementos fica fora
dos limites da legitimidade e virtude. (PARKER, 1991, p.116)
Dentro das “posturas sexuais” celebradas e autorizadas pela
sociedade disciplinar6, encontraremos o homem dominador, a mulher submissa
e a relação heterossexual. Esses comportamentos autorizados sustentavam-se
por uma gama de conhecimentos produzidos e repetidos para serem
incorporados socialmente. O que fugisse desse enquadramento social era
considerado como sexualidade periférica.
A sexualidade das crianças, a dos loucos e dos criminosos é o prazer
dos que amam o outro sexo; os devaneios, as obsessões, as
pequenas manias ou as grandes raivas. Todas estas figuras, outrora
apenas entrevistas, têm agora de avançar para tomar a palavra e
fazer a difícil confissão daquilo que são. Sem dúvida não são menos
condenadas. Mas são escutadas; e se novamente for interrogada, a
sexualidade regular o será a partir dessas sexualidades periféricas,
através de um movimento de refluxo (FOUCAULT, 1985, p.39).
Nessa direção pode-se perceber a travestilidade como experiência
pertencente à sexualidade periférica, que se desvela subvertendo padrões
estabelecidos. Ao mesmo tempo em que ocorre esse desvelamento surgem
reações contrárias alimentadas em ideias e posturas conservadoras, a fim de
refrear e submeter essa sexualidade a uma cortina que encubra e a torne
invisível ou despercebida.
A perseguição empreendida para com as sexualidades periféricas
cria perversões e classifica, especifica e rotula indivíduos inventando novos
personagens batizados e esquadrinhados. O discurso recorrente surge em
defesa
de
uma
sexualidade
normalizante,
representada
pela
heterossexualidade. Qualquer outra expressão sexual é descrita como
desviante.
Somente nos últimos quarenta anos, a problemática envolvendo
nossa formação sexual passou a ser pensada e debatida de uma forma mais
ampla, sobretudo devido aos movimentos sociais (feminista, gay, lésbico e
travesti e transexual).
6
A sociedade disciplinar forma-se a partir da expansão do disciplinamento. “Enquanto por um
lado os estabelecimentos de disciplina se multiplicam, seus mecanismos têm uma certa
tendência a se desinstitucionalizar, a sair das fortalezas fechadas onde funcionavam e a
circular em estado „livre‟; as disciplinas maciças e compactas se decompõem em processos
flexíveis de controle, que se pode transferir e adaptar”.(FOUCAULT,1987, p. 174).
O desafio das feministas ao patriarcado, à rigidez dos papéis de
gênero e aos costumes sexuais tradicionais desencadeou uma
discussão na sociedade brasileira que convergiu com questões
levantadas pelo movimento gay a partir de 1978. Ativistas gays, e
muitas feministas viram uns aos outros como aliados naturais contra
o sexismo e uma cultura dominada pelo machismo. (GREEN, 2000,
p.394)
Esses movimentos sociais introduziram questionamentos junto às
nossas “tradições/normas sexuais”, oferecendo novas compreensões sobre as
intrincadas formas de poder e dominação que modelam os chamados “papéis
sociais”. Contribuíram para um outro olhar frente aos nossos comportamentos,
fundamentais para romper com atitudes machistas e heteronormativas, além de
uma maior visibilidade social de outras expressões da sexualidade.
É importante ressaltar a diferença entre posições de gênero
construídas e as vividos. Perceber como outras formas de inscrições se forjam
no corpo e desafiam tais posições, rompendo com a lógica biológica que
determina uma maneira específica de viver a sexualidade.
As noções de sexo, gênero, sexualidade passam a ser consideradas
não mais como uma sequência lógica e específica, onde a “natureza”
determinaria o comportamento dos indivíduos e a experiência da sexualidade.
Ao invés disso, essas três categorias são pensadas como uma construção
simbólica e discursiva pontuada histórica e culturalmente. Essa ideia instaura
um rompimento com as justificativas de naturalização das desigualdades entre
homens e mulheres, além de desarticular a visão de mundo “essencialista” e
abrir novas possibilidades para conceber o corpo e toda sua potência.
Nessa desconstrução de arquétipos, o sexo é apreendido por novos
olhares e descrições. Para Judith Butler (2010) o sexo é pensado como uma
categoria normativa e prática regulatória que possui o poder de produzir os
corpos que controla. O sexo, portanto, não seria uma simples condição física
do corpo, e sim, uma norma pela qual uma pessoa torna-se viável.
Dessa forma, há corpos que tem o consentimento social, isto é,
corpos que importam/pesam (BUTLER, 2001), que ganham materialidade e
conseguem obter uma legitimidade social tornando-se gêneros inteligíveis.
Essa inteligibilidade dos gêneros estaria relacionada com uma sucessão
coerente e coesa entre sexo, gênero, práticas sexuais e desejo, ou seja, a
presença de um pênis ou vagina determinaria papéis sexuais e a vivência
específica da sexualidade.
Para Butler (Ibid) as normas regulatórias do sexo atuam por meio da
performatividade com o intuito de construir a materialidade dos corpos e validar
as diferenças sexuais. Assim, a materialização do corpo é imposta e é por meio
dela que indivíduos tornam-se homens ou mulheres, porém essa construção
não é fixa nem totalmente completa, sendo necessária a reiteração das normas
sobre o corpo através de táticas discursivas que visam à conformação do ideal
heteronormativo. Portanto, a partir da exclusão imposta pela matriz
heterossexual são produzidos corpos que não se enquadram ao binarismo
homem/ mulher e foram denominados pela autora como abjetos.
A mesma ciência que produziu e produz teorias e técnicas de
controle ao que escapa da norma, atualmente contribui, com seus avanços
químicos e tecnológicos, para a produção de uma estrutura corporal que rompe
com a atmosfera “naturalizadora” presente no binarismo sexual homem/mulher.
Segundo Hélio Silva, “passar por mulher quando não se é mulher é a suprema
realização da incoerência biossocial” (2007, p.193). É no corpo da travesti que
as categorias binárias se mesclam.
No processo de constituição do projeto corporal da travesti há um
tipo de ritual mimético, onde o corpo vai sendo (des)montado e adquire novos
símbolos. Esse rito opera uma passagem em que atributos femininos e
masculinos se combinam. A inversão de roupas, sapatos de salto alto,
maquiagem, bolsa, entonação de voz, trejeitos, consumo de hormônios e
injeções de silicone constituem elementos pertencentes ao aparato necessário
para montagem da aparência feminina, indo de encontro a sua constituição
biológica.
Nessa
perspectiva,
a
travestilidade
funda
um
processo
metamorfósico, uma transformação que contém em si sua própria eficácia
simbólica.
As muitas formas de fazer-se mulher ou homem, as várias
possibilidades de viver prazeres e desejos corporais são sempre
sugeridos, anunciados promovidos socialmente... Elas são também
renovadamente, reguladas, condenadas ou negadas. (GUACIRA, p.9,
2002)
A persistência desses personagens, que a partir de um corpo
biologicamente masculino institui uma montagem do feminino instrumentalizado
por diversos símbolos, torna-os o que Goffman (1980) define como “desviantes
sociais”7, pois transgridem costumes e desobedecem as normas de condutas.
Para o autor Machado Pais (2001), as “normas” são passíveis de
escapatórias a partir de determinadas “condutas”. Lembra que a articulação
desta com as “normas” não precisa se constituir de forma subordinada8. Assim,
pensar sobre a experiência das travestis é perceber o rompimento com a
norma. Ao travestir-se há um jogo com as posições de gênero, uma rejeição a
suposta autenticidade biológica.
Esse corpo informa e à medida que envelhece amplia o número de
informações. Estas são acionadas por diferentes formas de explicações. “As
transformações do corpo ao longo da vida ganham significados distintos nos
diferentes contextos sociais” (BARROS, 2006, p.121). A velhice na década
de1990, devido principalmente ao aumento demográfico, tornou-se um tema
privilegiado, percebido como um problema social que exigia atenção pública
era um dos desafios que deveriam ser enfrentados pela a sociedade (DEBERT,
2000). A autora Guita Debert (2000) chama atenção para um duplo movimento
que acompanha sua transformação como preocupação social. Um destes
movimentos está relacionado com a socialização da gestão da velhice que
antes era considerada pertencente à esfera privada e familiar e é transformada
em questão pública. É nesse momento que através de diversos discursos é
instituída a categoria de idoso.
Nesse movimento que marca as sociedades modernas, a partir da
segunda metade do século XIX, a velhice é tratada como uma etapa
da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis
sociais. O avanço da idade como um processo contínuo de perdas e
7
Segundo Goffman, “São essas pessoas consideradas engajadas numa espécie de negação
coletiva da ordem social. Elas são percebidas como incapazes de usar as oportunidades
disponíveis para o progresso nos vários caminhos aprovados pela sociedade; mostram um
desrespeito evidente por seus superiores; falta-lhes moralidade; elas representam defeitos nos
esquemas motivacionais da sociedade” (GOFFMAN, 1980, p.154-55).
8
Para Machado Pais (2001) as normas podem ser compreendidas como “as diversas maneiras
de agir consolidadas pelo uso, pelos costumes. Tomada como o tipo, uma norma não se
reconhece pelo uso habitual, mas pelo seu uso quase „obrigatório‟”. A respeito das condutas, o
autor continua: “Por condutas podemos entender os comportamentos dos indivíduos em
articulação com as normas (de conduta) atrás descritas. Nas condutas encontramos, deste
modo, formas mais ou menos submissas de adesão às normas de conduta”.
dependência- que daria uma identidade de condições aos idosos- é
responsável por um conjunto de imagens negativas associadas à
velhice, mas foi também um elemento fundamental para a legitimação
de direitos sociais, como a universalização da aposentadoria
(DEBERT, 2000, p.147).
O outro movimento de socialização estaria presente em processos
que
Debert
denominou
de
“reprivatização”,
onde
a
velhice
seria
operacionalizada como responsabilidade individual desaparecendo do campo
das preocupações sociais.
Ao longo do tempo foram criados termos para definir o processo de
envelhecimento, como meia idade e terceira idade, com a intenção de gerir a
velhice. As novas formas de gestão da velhice podem ser pensadas através
das discussões referentes à concepção do próprio corpo. Atualmente os
indivíduos são convencidos a exercer uma vigilância de seus corpos, adequálos a um ideal de juventude, que agora é percebido como um valor a ser
conquistado em qualquer idade dependendo da adoção de estilo de vida e
formas de
consumo
adequadas
(DEBERT,
2000).
Neste
sentido,
o
envelhecimento amplia seus significados e deixa de representar só uma fase
biológica para ser compreendido como um evento constituído socialmente.
Ao pesquisar as experiências das travestis no processo de
envelhecimento é necessário entrecruzar as concepções referentes a um corpo
na velhice, caracterizado tanto por uma decadência física associadas a
imagens estereotipadas quanto a um corpo que subverte a realidade
biologizante e é visto “positivamente” como suporte de uma imagem associada
à juventude conjugada com beleza e vitalidade (DEBERT, 2000).
Percorrendo o circuito de sociabilidade travesti que abrange bares,
boates, associação, eventos, encontros, entre outros, e/ou acessando
narrativas em conversas longas em suas casas, foram reveladas informações
acerca do que elas concebem como experiência de envelhecimento. Existe um
discurso recorrente em perceber-se velha a partir dos 30 anos e precisar de
outros artifícios para vivenciar sua corporalidade, muitas chegando a cogitar a
possibilidade de uma cirurgia para “readequação” do sexo ou mesmo travestirse de homem.
Estas narrativas têm se mostrado importante para compreender
como esses indivíduos ordenam suas experiências pessoais e atuam na
construção da realidade. Como afirma Bruner (1991), as narrativas se diferem
de outros tipos de discursos, pois têm relação com o significado dado ao
mundo pelo narrador e envolve a negociação de significados entre os
indivíduos. Assim, a narrativa lida com o material da ação e da intencionalidade
humana (CORREIA, 2003, p.510)
A travesti instaura uma realidade corporal que extrapola os padrões
conhecidos e traz à tona questões relativas às formas que o corpo pode ser
articulado para se adequar e/ou romper com o modelo heteronormativo e de
juventude. Contudo, esse mesmo corpo envelhece e neste processo aciona
outras questões a serem pontuadas e que podem ser acessadas no
desvelamento de seu cotidiano, de suas lógicas e práticas, enfim nas
experiências vividas e compartilhadas pelas travestis.
Dessa forma, o que está sendo percebido neste momento da
pesquisa é que os significados dado a passagem de tempo, tanto o que está
relacionado com organização do dia-a-dia (manhã, tarde e noite) ganha outra
configuração, quanto as etapas de vida, da infância a velhice, recebem outra
significação. Muitas travestis falam de sua inserção e transformação no
universo trans como um marco em suas vidas, uma espécie de novo
nascimento. Elas “nascem” geralmente no que se convencionou ser o período
da adolescência ou juventude. Época essa que conhecem outras travestis mais
experientes e estas se tornam um tipo de “mãe” que ajudará na construção do
corpo da filha e dará seu sobrenome. Muitas não chegam as 60 anos, pois
morrem vítimas de doenças ou de agressões físicas.
É nesse contexto que esta pesquisa está se configurando. As
informações coletadas em campo nas informações esparsas, na periferia das
conversas, nos gestos, no desvelamento de palavras, nas entrevistas com
enfoque biográfico têm revelado mais do que o óbvio apresentado. Porém, a
pesquisa ainda está em andamento e muitos dados podem aparecer e
precisam ser analisados com cuidado e atenção.
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