LITERATURA AULA 6: BARROCO
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LITERATURA AULA 6: BARROCO
LITERATURA AULA 6: BARROCO EIXOS: M4,M5; H12,H13,H14,H15,H16,H17; C2,C3,C4,C5 OBJETIVOS • A Contrarreforma é uma constante neste período. De que forma sua influência se evidencia nas tendências conceptistas e cultistas? • O Barroco não é de fato uma oposição e sim uma evolução do Renascimento. A mudança de estilo está intrinsecamente ligada a fatos históricos. Qual é a função da arte barroca nesse contexto? • No Brasil colônia, o Barroco seguiu certas características e projetou outras, inclusive tardias. De que forma a concepção social influencia na produção literária da Bahia e Minas? TÓPICOS – PESQUISA • Concílio de Trento • Reforma Protestante • Contrarreforma • Luteranismo • Calvinismo • Anglicanismo • Absolutismo • Geocentrismo x Heliocentrismo • Fusionismo • Cultismo – Gongorismo: Linguagem rebuscada; calidoscópio de imagens – estilo descritivo – sensação. • Conceptismo – Quevedismo: Conceito e definição; labirinto das ideias – estilo dissertativo – lógica. • Claro e escuro • Dualidade: carne x espírito • Companhia de Jesus – Inácio de Loyola • Carnavalização do espírito • Espiritualização da carne • Literatura inferior: Pérola distorcida ou silogismo de 2ª figura – bArOcO • Disseminação e recolha • Espelhismo • Hegel: dialética – convencer e ensinar • Aristóteles: lógica • • • Pe. Antônio Vieira (1608 – 1697) Gregório de Matos e Guerra (1636 – 1695) Antítese; Paradoxo; Hipérbato; Elisão; Zeuga TEXTOS – EXEMPLOS Retrato anatômico dos achaques de que padecia àquele tempo a cidade da Bahia (fragmentos) Que falta nesta cidade? ... Verdade. Que mais por sua desonra? ... Honra. Falta mais que se lhe ponha? ... Vergonha. O Demo a viver se exponha Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, Honra, Vergonha. E que justiça a resguarda? ... Bastarda. É grátis distribuída? ..., Vendida. Que tem, que todos assusta? ... Injusta. Valha-nos Deus, o que custa O que El-Rei nos dá de graça, Que anda a justiça na praça Bastarda, vendida, injusta. O açúcar já se acabou?... Baixou. E o dinheiro se extinguiu? ... Subiu. Logo já convalesceu? ... Morreu. Na Bahia aconteceu O que a um doente acontece Cai na cama, e mal cresce, Baixou, subiu e morreu. E nos Frades há mangueiras? ... Freiras. E o que ocupam os serões? ... Sermões. Não se ocupam em disputas? ... Putas. Com palavras dissolutas Me concluo, na verdade, Que as lidas todas de um frade São freiras, sermões e putas. A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta piedade me despido; Antes, quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida já cobrada, Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória Rosa, que da manhã lisonjeada, Púrpuras mil, com ambição dourada, Airosa rompe, arrasta presumida. É planta, que de abril favorecida, Por mares de soberba desatada, Florida galeota empavesada, Sulca ufana, navega destemida. É nau enfim, que em breve ligeireza, Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos presa: Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa De que importa, se aguarda sem defesa Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? A mesma Dona Ângela Anjo no nome, Angélica na cara Isso é que é ser flor e anjo juntamente Ser angélica flor e anjo florente Em quem, se não em vós, se uniformara : Quem vira uma tal flor que não a cortara De verde pé, da rama florente E que vira um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara? Se, pois como anjo sóis dos meus altares Fôreis meu custódio e minha guarda Livrara eu,de diabólicos azares Mas vejo que por bela e por galharda, Posto que os anjos nunca dão pesares Sois Anjo que me tenta, e não me guarda. Desenganos da vida humana, metaforicamente É a vaidade, Fábio, nesta vida, SERMÃO DO BOM LADRÃO (fragmento) Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco ponem latronem, et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Quando li isto em Sêneca não me admirei tanto de que um estóico se atrevesse uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero. O que mais me admirou e quase envergonhou, foi que os nosso oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos e timoratos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. DEFINIÇÕES E ANÁLISES “O Barroco estaria intimamente relacionado com o movimento da Contrarreforma. Esta, em verdade, não originou o Barroco, mas tê-lo-ia encampado, dando-lhe rumos precisos e matizes não-estéticos. A campanha antirreformista encontrou na arte barroca um instrumental riquíssimo, que se amoldava perfeitamente à estratégica ideologia praticada pelo Vaticano contra a dissidência luterana. A feição mística pragmática assumida pelo movimento barroco decorre desse ajuste entre a forma barroca e a matéria da Contrarreforma.” Fonte: História da Literatura Brasileira – Massaud Moisés “O Barroco representa não um declínio, mas o desenvolvimento natural do Classicismo renascentista para um estilo posterior; esse estilo, diferentemente do clássico, já não é táctil porém visual, isto é, não admite perspectivas não visuais, e não revela sua arte, mas a dissimula; A mudança executa-se consoante uma lei interna e os estágios de seu desenvolvimento em qualquer obra podem ser demonstrados graças a cinco categorias: 1 – linear x pictória 2 – plano x profundidade 3 – coordenadas x subordinadas 4 – fechado x aberto 5 – claridade absoluta x claridade relativa” Fonte: A Literatura no Brasil – Afrânio Coutinho “A paisagem e os objetos afetam o artista barroco pela multiplicidade dos seus aspectos mais aparentes, logo cambiantes, com os quais a imaginação estética vai compondo a obra em função de analogias sensoriais. O orvalho e a pele clara podem valer pelo cristal; o sangue pelo cravo ou pelo rubi; o espelho pela água pura e pelo metal polido. No mundo dos afetos, a “semelhança” envolve os contrastes, de modo a camuflar toda percepção nítida das diferentes objetivas […] O labirinto dos significantes remete quase sempre a conceitos comuns que interessam ao poeta não pelo seu peso conteudístico, mas pelo fato de estarem oculto. É o princípio mesmo do conceptismo usar “de palavra peregrina que velozmente indique um objeto por meio de outro”. O que importa, pois, é não nomear plebeiamente o objeto, mas envolvê-lo em agudezas e torneios de engenho, critérios de valor na arte seiscentista.” Fonte: História concisa da Literatura Brasileira – Alfredo Bosi TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Fei) "Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste ¢por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar, com ser um monstro £indômito, chegando às areias, pára; as árvores, onde ¤as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar ¥pára, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele". 2. Podemos reconhecer neste trecho do Padre Antônio Vieira: a) O caráter argumentativo típico do estilo barroco (século XVII). b) A pureza de linguagem e o estilo rebuscado do escritor árcade (século XVIII). c) Uma visão de mundo centrada no homem, própria da época romântica (princípio do século XIX). d) O racionalismo comum dos escritores da escola realista (final do século XIX). e) A consciência da destruição da natureza pelo homem, típica de um escritor moderno (século XX). TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Fatec) Quando jovem, Antônio Vieira acreditava nas palavras, especialmente nas que eram ditas com fé. No entanto, todas as palavras que ele dissera, nos púlpitos, na salas de aula, nas reuniões, nas catequeses, nos corredores, nos ouvidos dos reis, clérigos, inquisidores, duques, marqueses, ouvidores, governadores, ministros, presidentes, rainhas, príncipes, indígenas, desses milhões de palavras ditas com esforço de pensamento, poucas - ou nenhuma delas - havia surtido efeito. O mundo continuava exatamente o de sempre. O homem, igual a si mesmo. Ana Miranda, BOCA DO INFERNO 3. ...milhões de palavras ditas com esforço de pensamento. EXERCÍCIOS 1. (Fuvest) A poesia lírica de Gregório de Matos subdivide-se em amorosa e religiosa. a) Quais são os dois modos contrastantes de ver a mulher, em sua lírica amorosa? b) Como aparece em sua lírica religiosa a idéia de Deus e do pecado? Essa passagem do texto faz referência a um traço da linguagem barroca presente na obra de Vieira; trata-se do: a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de idéias. b) cultismo, caracterizado pela exploração da sonoridade das palavras. c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre fé e razão. d) conceptismo, caracterizado pelo vocabuláriopreciosista e pela exploração de aliterações. e) conceptismo, caracterizado pela exploração das relações lógicas, da argumentação. b) somente II está correta. c) somente III está correta. d) somente I e III estão corretas. e) todas estão corretas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Fatec) "Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Lua se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Pucsp) AOS AFETOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? SONETO Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de águas disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal em chamas derretido. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância." Se és fogo como passas bradamente, Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! (Gregório de Matos) 4. Sobre as características barrocas desse soneto, considere as afirmações a seguir: Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu parecesse a chama fria. 5. Considere atentamente as seguintes afirmações sobre o poema de Gregório de Matos: I. Há nele um jogo simétrico de contrastes, expresso por pares antagônicos como Sol/Lua, dia/noite, luz/sombra, tristeza/alegria, etc., que compõe a figura da antítese. II. Este é um soneto oitocentista, que cumpre os padrões da forma fixa, quais sejam, rimas ricas, interpoladas nas quadras ("A-B-A-B") e alternadas nos tercetos ("A-B-B-A"). III. O tema do eterno combate entre elementos mundanos e forças sagradas é indicado ali, por "ignorância do mundo" e "qualquer dos bens", por um lado, e por "constância", "alegria" e "firmeza", de outro. I - O par fogo e água, que figura amor e contentação, passa por variações contrastantes até evoluir para o oxímoro. II - O poema evidencia a "fórmula da ordem barroca" ditada por Gérard Genette: diferença transforma-se em oposição, oposição em simetria e simetria em identidade. III - O poema inscreve, no âmbito da linguagem, o conflito vivido pelo homem do século XVII. A respeito de tais afirmações, deve-se dizer que: a) somente I está correta. De acordo com o poema, pode-se concluir que: a) são corretas todas as afirmações. b) são corretas apenas as afirmações I e II. c) são corretas apenas as afirmações I e III. d) é correta apenas a afirmação II. e) é correta apenas a afirmação III. 6. (Fatec) No colégio dos padres, Gregório de Matos escreveu: "Quando desembarcaste da fragata, meu dom Braço de Prata, cuidei, que a esta cidade tonta, e fátua*, mandava a Inquisição alguma estátua, vendo tão espremida salvajola* visão de palha sobre um mariola*". Sorriu, e entregou o escrito a Gonçalo Ravasco. Gonçalo leu-o, gracejou, entregou-o ao vereador. O papel passou de mão em mão. "A difamação é o teu deus", disseram, sorrindo. (Ana Miranda, Boca do Inferno) (*fátua: tola;*salvajola: variante de "selvagem"; *mariola: velhaco) O trecho ilustra a) a poesia erótica de Gregório de Matos, inspirada na vida nos prostíbulos da cidade da Bahia e que deu origem à alcunha do poeta, "Boca do Inferno". b) a poesia lírica de Gregório de Matos, voltada para a temática filosófica, em linguagem marcada pelos recursos da estética barroca. c) a poesia satírica de Gregório de Matos, dedicada à descrição fiel da sociedade da época, utilizando recursos expressivos característicos do barroco português. d) a poesia erótica de Gregório de Matos, caracterizada pela crítica aos comportamentos e às autoridades baianas da época colonial. e) a poesia satírica de Gregório de Matos, que representa, no conjunto de sua obra, uma fuga aos moldes barrocos e ataca, no linguajar baiano da época, costumes e personalidades. 7. (Mackenzie) Assinale a alternativa INCORRETA. a) Em seus sermões, de estilo conceptista, o Padre Antônio Vieira segue os moldes da parenética medieval. b) Caracteriza o Barroco a tentativa de unir os valores medievais aos renascentistas. c) O poema épico Prosopopéia foi escrito em versos decassílabos e oitava-rima e é considerado o marco inicial do Barroco no Brasil. d) Apesar de conhecido como poeta satírico, Gregório de Matos também escreveu poesia lírica e religiosa. e) O cultismo caracteriza-se como uma seqüência de raciocínios lógicos, usando uma retórica aprimorada, que despreza a linguagem rebuscada. 8. (Uel) Identifique a afirmação que se refere a GREGÓRIO DE MATOS. a) No seu esforço de criação da comédia brasileira, realiza um trabalho de crítica que encontra seguidores no Romantismo e mesmo no restante do século XIX. b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado e o presente: ainda tem os torneios verbais do quinhentismo português, mas combina-os com a paixão das imagens pré-românticas. c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais liberal, o que mais claramente manifestou as idéias da ilustração francesa. d) Teve grande capacidade em fixar num lampejo os vícios, os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que caracterizava o estilo da época. e) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa na Minas do chamado ciclo do ouro é prova de que seu talento não se restringia ao lirismo amoroso.
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