visão zootécnica da hiperflexão cervical ou rollkur na equitação

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visão zootécnica da hiperflexão cervical ou rollkur na equitação
VI SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS DA UNESP – DRACENA
VII ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA
DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010
VISÃO ZOOTÉCNICA DA HIPERFLEXÃO CERVICAL OU ROLLKUR NA
EQUITAÇÃO ESPORTIVA
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Kátia de Oliveira , Maria Luiza Poiatti , Reges Heinrichs e Janaina Carolina de Sá
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Professor Dr., UNESP/Campus Experimental de Dracena, e-mail: [email protected]
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Graduanda do curso de Zootecnia, UNESP/Campus Experimental de Dracena
INTRODUÇÃO
A hiperflexão cervical é uma técnica nova da equitação, na qual se
trabalha a cabeça e pescoço do cavalo em atitude baixa e redonda,
respectivamente, que no início se chamou de Rollkur. Este procedimento tem
suscitado uma grande polêmica, em âmbito mundial, na modalidade hípica
Dressage. De acordo com a Federação Equestre Internacional (FEI), define a
hiperflexão cervical como técnica de trabalho para obter um grau de flexão
longitudinal, sendo que a mesma só poderá ser mantida pelo cavalo durante
curtos períodos (FEI, 2006).
No entanto, a sua utilização por pessoas inexperientes poderá ser uma
ameaça ao bem-estar e a condição física do equino. Já que se tem verificado o
uso do Rollkur não somente no dressage, como também nos treinamentos aos
cavalos de tambor, rédeas, salto, entre outros. Assim, este trabalho de revisão
tem por objetivo esclarecer, do ponto de vista zootécnico, os efeitos
biomecânicos da hiperflexão cervical sobre a integridade física e mental de
cavalos atletas.
DESENVOLVIMENTO
A equitação a nível esportivo, por meio de técnicas e treinamentos, visa
o engajamento dos membros posteriores do cavalo, desenvolvimento da
musculatura abdominal e alongamento do dorso com a elevação do mesmo,
para assim facilitar a oscilação da coluna vertebral (swing), tornando o animal
com movimentos elásticos/flexíveis, com boa propulsão, ou seja, impulsionados
(SCHRODER, 2010). Há o entendimento comum que concentração verdadeira
é obtida quando ocorre maior entrada dos posteriores para debaixo da massa
do animal. Assim, nota-se que a qualidade de trabalho dos posteriores
influencia a qualidade da concentração do cavalo, sendo esta a principal
preocupação dos cavaleiros das diversas modalidades equestres (VON
BORSTEL te al., 2009).
Os adeptos à hiperflexão cervical acreditam que ao dobrarem o pescoço
do cavalo até ao peito, estão arredondando o dorso e provocando o
engajamento dos posteriores. Contudo, a tensão gerada nos ligamentos nucal
e supra-espinhoso impedem esta ação do pós-mão, impossibilitando a
verdadeira concentração do cavalo. Nesta situação, há somente o
arqueamento do dorso, sem ocorrer o abaixamento das ancas e garupas, por
não estarem concentrados ou reunidos (NUNES, 2010).
A principal consequência do Rollkur nos cavalos incide sobre a
biomecânica do andamento, pois afeta seu equilíbrio com o deslocamento do
centro de gravidade para os membros anteriores e, na tentativa de compensar
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VII ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA
DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010
este desequilíbrio, o dorso do animal fica bloqueado (SANDIN, 2005). A sobre
carga ao membro anterior, nos cavalos hiperflexionados, diminui a propulsão
do posterior, perdendo em eficiência o andamento. Enquanto que cavalos com
dorso bloqueado, apresentam dissociação do passo, trote e galope, devido à
descoordenação entre os membros posteriores e anteriores. Todos estes
distúrbios biomecânicos tornam-se muito cansativos aos membros anteriores
do cavalo, pois o ante-mão tem que suportar todo o peso do cavalo e
propulsionar-se, sem amortecimento adequado, predispondo o animal a lesões
(McGREEVY, 2007).
Outros distúrbios podem estar presentes nos cavalos trabalhados em
hiperflexão como relaxamento entre a terceira e quarta vértebras cervicais, com
desenvolvimento excessivo do músculo parótidoauricular, devido a compressão
das glândulas parótidas pela flexão que é exercida pelo cavaleiro. Apesar
destes animais possuírem pescoço muito flexível, o trabalho contínuo nesta
atitude provoca a extensão dos músculos e ligamentos até ao seu limite
anatômico, perdendo tônus muscular, elasticidade dos ligamentos e o formato
natural do pescoço. Ainda, durante o momento da hiperflexão, o cavalo não
consegue engolir a saliva, por ficar com a língua rígida, produzindo espuma
com este excesso (SANDIN, 2005). De acordo com Von Borstel et al. (2009),
quando o cavalo é obrigado a manter a cabeça atrás da vertical em hiperflexão,
consegue apenas visualizar o chão junto ás suas mãos, pois o animal não pode
enxergar acima dos olhos e nem atrás do nariz.
Um cavalo de esporte bem treinado, com riqueza na biomecânica dos
andamentos, não se faz com um procedimento apenas e nem pelo uso da
força, necessita de trabalho específico para cada animal, bem como o uso da
inteligência e sensibilidade dos profissionais de equitação no selecionamento
de métodos adequados. Neste sentido, o mestre de equitação Nuno de Oliveira
ressalta que, “ter um cavalo ensinado não é só colecionar movimentos ou
andamentos amplos é, sobretudo ter um cavalo em equilíbrio, feliz e sem
resistência. Só com métodos racionais é que se consegue a sujeição e o
equilíbrio...Tenho a certeza que ainda tenho muito para aprender, não só
montando muito, mas também estudando, refletindo e observando” (OLIVEIRA,
1996).
CONCLUSÃO
Os conhecimentos zootécnicos, concernentes à anatomia e biomecânica
do andamento dos equinos, confrontados ao trabalho de hiperflexão cervical
em cavalos, permite inferir que esta postura praticada em excesso trará graves
consequências sobre as articulações temporo-maxilares e cervicais, o campo
de visão, deglutição da saliva e respiração. Ainda, a hiperflexão não permite o
desenvolvimento da verdadeira concentração do animal, sendo esta a principal
justificativa à aplicação do Rollkur. Torna-se claro que o desenvolvimento do
cavalo pela frente, pescoço, cabeça e boca, para atingir os posteriores, é
equivocada. A obtenção de cavalos equilibrados e impulsionados como requer
a equitação esportiva, deve ser feita de trás para frente, de forma que os
animais aprendam a avançar os posteriores, como ensina o adestramento
clássico.
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DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEI - Federação Equestre Internacional. The use of over bending (Rollkur) in
FEI Competition. In: Workshop Veterinary and Dressage Committees. 36p.
2006.
McGREEVY, P.D. The advent of equitation science. The Veterinary Journal, v.
174, p. 492-500, 2007.
NUNES, T. B. Hiperflexão ou Rollkur: um posicionamento. (on-line).
Disponível em: <www.equitacaoespecial.com> Acesso em: 2010.
OLIVEIRA, N. Reflexions sur l’art equestre. Lês Editions Edito. 207p. 1996.
SANDIN,
T.
Rollkur
–
Why
not?
(on-line).
Disponível
em:
<www.sustainabledressage.com> Acesso em: 22 abr. 2005.
SCHRODER, D. Estética demais e equitação de menos. Revista Horse, p.4244, mar. 2010.
VON BORSTEL, U.U.; DUNCAN, I.J.H.; SHOVELLER, A.K. et al. Impact of
riding in a coercively obtained Rollkur posture on welfare and fear of
performance horses. Applied Animal Behaviour Science, v.116, p. 228236, 2009.

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