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e-Terra http://e-terra.geopor.pt ISSN 1645-0388 Volume 18 – nº 25 2010 Revista Electrónica de Ciências da Terra Geosciences On-line Journal GEOTIC – Sociedade Geológica de Portugal VIII Congresso Nacional de Geologia _________________________________________________________ A geodiversidade e os percursos pedestres na promoção da saúde: o exemplo das Arribas do Douro Internacional The geodiversity and walking trails in health promotion: the case of Arribas do Douro Internacional M. GOMES - [email protected] (UTAD, Departamento de Geologia e Centro de Geociências da UC) A. ALENCOÃO - [email protected] (UTAD, Departamento de Geologia e Centro de Geofísica da UC) L. SOUSA - [email protected] (UTAD, Departamento de Geologia e Centro de Geociências da UC) R. GABRIEL - [email protected] (UTAD, Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde e CITAB) H. MOREIRA - [email protected] (UTAD, Dep. de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde e CITAB) A. FERNANDES - [email protected] (UTAD, Dep. de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde e CIDESD) L. QUARESMA - [email protected] (UTAD, Dep. de Ciências do Desporto, Exercício e Saúde e CIDESD) J. SANTOS - [email protected] (UTAD, Departamento de Física e CITAB) RESUMO: Com base no conhecimento das potencialidades geológico-paisagísticas da região do Douro Internacional foram seleccionados percursos pedestres, lineares e circulares, de extensão variável. Os percursos foram identificados no terreno e procedeu-se a uma avaliação no que respeita ao perfil topográfico, piso e facilidade de acesso, de modo a hierarquizá-los quanto às suas mais-valias para a prática do pedestrianismo. No contexto da promoção para a saúde caracterizou-se o comportamento da carga biomecânica no joelho e no pé e a predição do dispêndio energético inerente a cada percurso. PALAVRAS-CHAVE: geodiversidade, percursos pedestres, Arribas do Douro Internacional. ABSTRACT: Based on the knowledge of Douro’s International geological and landscape potentialities were selected walking trails, linear and circular, of variable length. After the walking trails were chosen, it started an evaluation towards topographic profile, pave and accessibility conditions, in order to rank them in terms of potentialities for the walking practice. Regards health promotion, was characterized the behavior of the knee and foot biomechanical load and also the prediction of energy spending in each trail. KEYWORDS. geodiversity, walking trails, Arribas do Douro Internacional. 1. INTRODUÇÃO Na sociedade actual, a geodiversidade deverá ser uma mais valia para a definição de percursos pedestres e o estabelecimento de uma cultura do Homem, transversal e exigente, perante o meio que o rodeia. O espaço natural, rico em geodiversidade, possui paisagens emblemáticas que 1(4) e-Terra Volume 18 – nº 25 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia podem constituir um espaço de liberdade e promoção do bem estar físico e da saúde, permitindo a fruição da paisagem como verdadeiro Museu de História Natural ao ar livre, ou Exomuseu da Natureza (Galopim de Carvalho, 2010). O geoturismo é um segmento emergente do Turismo da Natureza, com desenvolvimento recente, em que o objecto principal é a geodiversidade (Carvalho & Rodrigues, 2009). Os percursos pedestres, pela proximidade com a Natureza, facilitam a observação de locais que permitem contar uma parte importante da história da Terra e compreender de que forma os acontecimentos do passado modelaram as paisagens de hoje. A geodiversidade deve potenciar os percursos pedestres e estimular o geoturismo e a geoconservação. Por outro lado, na preparação de um percurso pedestre de montanha, um dos principais objectivos é a minimização dos riscos implícitos à tarefa, decorrentes da evolução dos declives ao longo do referido percurso. Assim, o desenvolvimento de estratégias que promovam o conhecimento e o uso dos referidos percursos revela-se essencial na promoção de um estilo de vida mais activo. A elaboração de mensagens que motivem os cidadãos para uma prática regular de actividade física constitui uma intervenção importante, devendo focalizar informação específica sobre o modo como poderão ser utilizados, de uma forma saudável, os percursos pedestres. 2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO Os Parques Naturais do Douro Internacional e Arribes del Duero situam-se numa das áreas geologicamente mais complexas da Zona Centro-Ibérica. Dominada por granitos e metassedimentos, a geologia é diversificada, distinguindo-se sequências autóctones que cobrem uma escala de tempo geológico desde o Câmbrico Inferior ao Cenozóico. As rochas mais antigas correspondem a sedimentos marinhos, com idade de 540-500 Ma, que sofreram os efeitos de metamorfismo (fácies de xistos verdes) associado à instalação de magmas graníticos (320-300 Ma). Destacam-se nos metassedimentos: as bancadas de mármore, com mais de 500 Ma; os gnaisses de Miranda do Douro, datados recentemente com idade ordovícica; as marcas fósseis em quartzitos ordovícicos e os migmatitos, indicadores de condições de ultrametamorfismo associado à genése dos granitóides hercínicos. Nas rochas magmáticas distinguem-se pequenos corpos de tonalitos e granodioritos, batólitos graníticos, intrusões graníticas sub-horizontais e rochas filoneanas, nomeadamente aplitos, pegmatitos e filões de quartzo, alguns dos quais constituíram explorações mineiras de metais como o ouro, o volfrâmio, o estanho e o chumbo. O substrato geológico, cuja estruturação ocorre durante a orogenia Varisca, sofre posteriormente uma evolução geomorfológica em consequência da tectónica Alpina e de um clima que, ao variar de tropical a árido, foi responsável, primeiro pela formação de um espesso manto de alteração e depois pela erosão intensa desse mesmo manto. No Cretácico, ocorre um primeiro aplanamento (Superfície Inicial) reconhecido hoje pelas numerosas cristas quartzíticas entre Mogadouro e Vimioso. Durante o Cenozóico (65 Ma), a orogenia Alpina origina uma nova superfície de aplanamento, a Superfície Fundamental da Meseta, traduzida no desenvolvimento do "Planalto Mirandês" e da "Peneplanície Salmantina-Zamorana", formas dominantes da geomorfologia da região, onde se encontram extensos depósitos de sedimentos com cascalhos e seixos que terão pouco mais de 2 milhões de anos. A bacia do Douro, até então com uma drenagem fluvial endorreica, terá passado, no final do Pliocénico, a exorreica. Os movimentos tectónicos verticais provocaram um aumento da actividade erosiva dos rios, com o consequente modelado do perfil tipo canhão, um dos ex-libris das Arribas do Douro, com belas cachoeiras nos tributários, nomeadamente nos rios Tormes, Uces e na Ribeira de Lamoso. 2(4) e-Terra Volume 18 – nº 25 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia 3. A GEODIVERSIDADE NAS ARRIBAS DO DOURO INTERNACIONAL A geodiversidade do Douro Internacional, resultado da enorme variedade de aspectos geológicos (mineralógicos, petrológicos, paleontológicos, hidrogeológicos, geomorfológicos, tectónicos, paisagísticos, etc.) que se podem observar no campo, está bem patente nos quatro contextos distintos que se individualizam: o planalto ou meseta, as arribas, as barragens e o canhão do vale do Douro. Esta geodiversidade reflecte-se, naturalmente, na biodiversidade tanto a nível de fauna (mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados) como da flora (espécies arbóreas, arbustivas, estratos herbáceos, cogumelos e ainda vários endemismos nas proximidades da planície de inundação do rio Douro). Os miradouros sobranceiros ao Douro e os percursos de barco, nas cinco albufeiras do Douro Internacional, permitem desfrutar aspectos geomorfológicos e paisagísticos emblemáticos, de entre os quais se destaca o canhão fluvial do rio Douro, observável dos miradouros de S. João das Arribas, castro da Cigadonha ou Fraga del Puio, todos no concelho de Miranda do Douro. a) b) c) Figura 1 - Aspectos da geodiversidade nas Arribas do Douro: a) Vale do Douro visto do Castro da Cigadonha; b) Formas graníticas; c) Pozo de los Humos no rio Uces. Na região é também notória a forma sábia com o Homem soube, ao longo do tempo, usufruir da geodiversidade. São disso exemplo a povoação de Fermoselle (Espanha) localizada numa lâmina granítica sobre um substrato migmatítico, que permitiu a instalação de adegas, também existentes em Urrós (Portugal) ainda que mais modestas. As encostas abruptas ofereceram condições de defesa natural, permitindo uma ocupação humana milenar, evidenciada por vários castros em ambos os lados da fronteira, destacando-se os de S. João das Arribas, Aldeia Nova, Cigaduenha de Picote, Santiago e Vilarinho dos Galegos. 3. PERCURSOS PEDESTRES Com base no conhecimento das potencialidades da região do Douro Internacional, no respeita às suas valias geológico-paisagísticas, foram seleccionados percursos pedestres, lineares e circulares, de extensão variável. Procurou-se, tanto quanto possível, que os percursos se enquadrassem na Grande Rota (GR 14), para assim juntar sinergias a trabalho já realizado, nomeadamente as marcações e informação existente, em especial no lado espanhol. Após a identificação dos percursos em cartas topográfica (1:25000) e o respectivo reconhecimento no terreno, com a utilização duma unidade portátil de recepção G.P.S. (GARMIN GPSMAP76), foi efectuado o correspondente tratamento gráfico de modo a obter para cada percurso o traçado e a variação da altitude, de acordo com a distância percorrida. Procedeu-se assim a uma avaliação/estudo no que respeita ao perfil topográfico, piso e facilidade de acesso, de modo a hierarquizar os percursos quanto às suas mais-valias para a prática do pedestrianismo. Aliada a esta avaliação, houve o cuidado de que na definição do percurso se abarcassem diferentes enquadramentos geológicos, tendo sido assinalados e caracterizados todos os aspectos dignos de referência. 3(4) e-Terra Volume 18 – nº 25 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia No contexto da promoção para a saúde, a abordagem dos percursos pedestres terá como principal objectivo a caracterização do comportamento da carga biomecânica no joelho e no pé. Especificamente, procura caracterizar-se o nível de dificuldade associado a cada troço dos referidos percursos, em função dos valores de FcorTF, força de corte entre a tíbia e o fémur, de FcomRF, força de compressão da rótula sobre o fémur, (Gabriel, 2005) e de MaxP, valores máximos de pressão, (Gabriel, 2008), estabelecendo uma classificação do nível de dificuldade, associado aos diferentes troços, com base nos critérios contemplados no International Trail Marking System (IMBA, 2004). Foi ainda estabelecido como objectivo complementar, a predição do dispêndio energético inerente a cada um dos percursos considerados. Para determinar este custo metabólico foram utilizadas as equações do American College of Sports Medicine (ACSM, 1991). Estas fórmulas preditivas revelam maior precisão na estimativa do consumo máximo de oxigénio (VO2max, ml.kg-1.min-1) para velocidades de caminhada compreendidas entre os 50 e os 100 metros por minuto (3 e 6 km.hora-1). Importa referir que, no âmbito dos percursos pedestres, existem já iniciativas locais sendo de destacar a caminhada ecocultural Arribes del Duero, promovida pelo município de Trabanca – Espanha, o Passeio Pedestre do Planalto Mirândes, organizado pelo município de Miranda do Douro e as caminhadas pela Calçada de Alpajares, organizadas pelo município de Freixo de Espada à Cinta. Em todos os casos, o objectivo principal é dar a conhecer e fomentar valores ambientais, paisagísticos e culturais dos dois Parques Naturais (Douro Internacional e Arribes del Duero). Agradecimentos Este trabalho beneficiou do apoio financeiro do Projecto Fluvial: “nuevas ciudades fluviales del s. XXI” da iniciativa INTERREG IVA, POCTEP. Referências ACSM (1991) – Guidelines for Exercise Testing and Prescription. Lea & Febiger, Pennsylvania, 314 p. Alves M. I. C., Monteiro A, Ferreira N., Dias G., Brilha J. & Pereira D. 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M. (2010) http://sopasdepedra.blogspot.com/2009_09_01_archive.html consultado em 20/02/2010. IMBA (2004) – Trail Solutions: IMBA's Guide to Building Sweet Singletrack. International Mountain Bicycling Association, Boulder, 272 p. López Plaza M., Pereira Gómez D., Peinado Moreno M. & López Moro F.J. (2003) (eds) – Eurogranites in Western Castilla y Leon, Spain. Part I. Introduction, 41 p. Martín Serrano A. (1991) – La definición y el encajamiento de la red fluvial actual sobre el Macizo Hespérico en el marco de su geodinámica alpina. Rev. Soc. Geol. España, 4, 3-4., pp. 338-351. Pereira D. M. I. (2004) – Dos aspectos gerais a algumas particularidades da geomorfologia do Nordeste Transmontano e do Alto Douro. In: Geomorfologia do Noroeste da Península Ibérica., Porto, pp. 71-91. 4(4)