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Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG
Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais
ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO SOBRE O CONSUMO DE
FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS NA ATUALIDADE
Keila Lopes Mendes
Divinópolis – 2009
Keila Lopes Mendes
ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO SOBRE O CONSUMO DE
FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS NA ATUALIDADE
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da
Fundação
Educacional
de
Divinópolis
/
Universidade do Estado de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Educação, Cultura e Organizações Sociais.
Área de Concentração: Estudos Contemporâneos
Linha de Pesquisa: Saúde Coletiva
Orientador: Prof. Dr. Leandro Pena Catão
DIVINÓPOLIS
2009
M538a
Mendes, Keila Lopes
Alimentação na adolescência: um estudo sobre o consumo de frutas,
legumes e verduras e verduras na atualidade [manuscrito] / Keila Lopes
Mendes. – 2009.
117 f., enc.
Orientador: Leandro Pena Catão
Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado de Minas Gerais,
Fundação Educacional de Divinópolis.
Bibliografia : f. 98-110
1. Transição nutricional. 2. Consumo Alimentar. 3. Adolescência.
I. Catão, Leandro Pena. III. Universidade do Estado de Minas Gerais.
Fundação Educacional de Divinópolis. IV. Título.
CDD: 612.3
AUTORIZAÇÃO PARA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA
DISSERTAÇÃO
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação por processos de fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente, autorizo sua
exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da FUNEDI/UEMG.
Keila Lopes Mendes
Divinópolis, 13 de novembro de 2009.
Dedico este trabalho aos meus pais, portos
seguros, que sonharam com esta realização
bem antes de mim e me incentivaram em todos
os momentos. Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Primavera! Época em que a natureza em todo o seu fulgor se torna mais viva e
colorida, época em que as flores desabrocham e nos revelam grandes obras de arte do Criador.
Época em que culmina o sonho tão esperado de obter o título de Mestre. É com esse
espetáculo da natureza que comparo o percurso desta dissertação. A princípio esse sonho era
como uma árvore com galhos secos, que para todos está quase morta, mas que na verdade está
se preparando para seu espetáculo maior: o fruto. Assim como a árvore, meu sonho
intimamente estava sendo moldado e preparado, para que no tempo certo pudesse ser
realizado. E no curso deste sonho, não posso deixar de lembrar de muitas pessoas, próximas e
distantes, que me ajudaram tremendamente.
Primeiramente, agradeço a Deus, o grande responsável por essa realização, que
me deu condições físicas, mentais, emocionais, financeiras, dentre outras para chegar até aqui.
Sei que a minha vida está sendo guiada por Ele, para que seja feita a Sua vontade em mim.
Obrigada Senhor!
Agradeço também a meu pai Clério e a minha mãe Ester, pessoas lindas que Deus
me deu de presente. Mesmo com todos estes anos de distância, vocês sempre estiveram a meu
lado, me dando todo o apoio que necessitei nos momentos difíceis e nos alegres. Obrigada
pelo amor, compreensão, apoio e ajuda financeira, sem isso não teria chegado até aqui.
A meus irmãos Éber e Euler, que tanto amo e sinto falta, obrigada pelo amor, pela
ajuda, pela companhia, pelo carinho... Assim como nossos pais, vocês são pessoas
fundamentais na minha vida.
Ao meu orientador Prof. Dr. Leandro Pena Catão, obrigada pelos conselhos
sábios, pela compreensão, pela convivência e pelas orientações preciosas.
A todos os professores e colegas do mestrado, agradeço os ensinamentos, a
convivência, o conhecimento compartilhado e os momentos que passamos juntos.
Aos amigos que encontrei durante esta caminhada, Rita e Bosco, bem mais que
meros colegas de curso: mais do que ninguém sabemos o quanto esse mestrado nos custou,
mas com vocês tudo ficou mais fácil, mais motivador, mais alegre. Foi muito bom conhecer
vocês!
Aos meus amigos em Formiga, dentre eles: Luciana, Camila, Patrícia, Júnia,
Sandrinha e Dan Faraell, obrigada pela força e pelos momentos de lazer e alegria que
pudemos passar juntos!
Aos amigos que fiz durante essa vida “nômade”, em Belo Horizonte, Contagem,
Diamantina, Bocaiúva, Itamarandiba e Formiga, uns ainda próximos, outros já distantes, mas
que contribuíram de alguma forma para que eu chegasse até aqui. Obrigada!
Aos irmãos e amigos da Primeira Igreja Batista de Arcos e da Igreja Batista
Filadélfia em Bocaiúva, obrigada pelo carinho e orações, foi muito bom conviver com vocês,
mesmo que por curtos períodos. Vocês foram usados por Deus para abençoar a minha vida.
À Prefeitura Municipal de Formiga, agradeço o apoio, a liberação para os estudos
e a realização da pesquisa nas escolas. Aos colegas de trabalho nos PSF’s Água Vermelha e
Bela Vista, obrigada pela convivência e apoio.
Aos colegas de trabalho, alunos e ex-alunos do Centro Universitário de Formiga –
UNIFOR-MG agradeço a compreensão e o apoio. À aluna Gabriela, agradeço pela valiosa
contribuição na coleta e tabulação dos dados.
Aos adolescentes e pais entrevistados nesta pesquisa, obrigada por contribuírem
para a construção de conhecimento e efetivação desta pesquisa.
Enfim, a árvore dos meus sonhos floresceu nesta primavera e eis o que tenho em
mãos agora: o fruto, muito esperado, lindo, colorido, palpável. Este gerará as sementes para
novas árvores, novos sonhos, novos caminhos...
“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores;
Se não houver flores, valeu a sombra das folhas;
Se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.
(Maurício Francisco Ceolin)
RESUMO
Atualmente a população mundial tem passado pela transição nutricional, onde
aumenta consideravelmente o consumo de alimentos ricos em gorduras e açúcares, tendo
como conseqüência a ampliação epidêmica da prevalência da obesidade, especialmente na
população adolescente. Dentre as causas mais comuns, encontra-se uma alimentação pobre
em frutas, legumes e verduras (FLV). O conhecimento do consumo destes alimentos, bem
como dos fatores que o influenciam, pode auxiliar no diagnóstico local e na implantação de
programas efetivos de educação nutricional para o consumo de FLV. Diante disso, este
trabalho teve por objetivo descrever e analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por
adolescentes do município de Formiga – MG, à luz da influência dos fatores sociais,
econômicos e culturais sobre este consumo. Trata-se de um estudo observacional e
transversal, realizado com 139 adolescentes entre 10 e 19 anos, de ambos os gêneros,
regularmente matriculados em duas Escolas Municipais de Formiga – MG. A coleta de dados
ocorreu através de um questionário com questões sócio-econômicas e de consumo alimentar
respondido pelos pais e de uma entrevista com questões sobre o consumo de FLV e avaliação
antropométrica dos adolescentes. A amostra foi composta por 51,79% adolescentes do sexo
feminino e 48,20% do sexo masculino, estando 75,53% em eutrofia, 7,91% abaixo do peso,
11,51% com sobrepeso e 5,03% com obesidade. A maioria dos adolescentes tinha um baixo
consumo de FLV (79,09% para frutas e 75,58% para legumes e verduras). O consumo
adequado de frutas foi verificado apenas em 14,17% dos entrevistados e o de legumes e
verduras em 13,38%. As influências estatisticamente significantes deste consumo foram:
sexo, local de moradia e renda per capita. Estes resultados nos fazem concluir que o consumo
de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e infrequente e
não apenas a questão nutricional está envolvida, mas também os fatores econômicos, sociais e
culturais. Desta forma, o conhecimento deste consumo alimentar irá contribuir para a
execução de trabalhos de educação nutricional, abordando todos estes fatores
multidisciplinarmente, a fim de obter êxito e resultados positivos no consumo destes
alimentos.
Palavras-chave: Transição nutricional. Consumo Alimentar. Adolescência.
ABSTRACT
Currently the world population has been passing by a nutritional change in which
the consumption of food enriched with fats and sugars grows, having consequences as the
epidemic growth of the prevalence of obesity, especially in the adolescent population.
Amongst the most common causes, it is found an alimentation poor in fruits, vegetables, and
greens (FVG). The awareness of the consumption of these food as well as the factors which
influence it can aid in the local diagnosis and in the introduction of effective programs
concerning with the nutritional education to the consumption of FVG. Thus, this paper aims
to describe and analyze the consumption of fruits, vegetables and greens by adolescents in the
city of Formiga – MG, based on the influence of cultural, economical and social factors on
this consumption. This paper is a transversal and observational survey carried out with 139
adolescents between 10 and 19 years old, of both genders, regularly enrolled in two Municipal
Schools in Formiga – MG. The data collection took place by a questionnaire with social
economical questions and about the feeding consumption answered by their parents and by
one interview with questions about the consumption of FVG and an anthropometric
assessment of these adolescents. The sample was composed of 51.79% female adolescents
and 48.20% male adolescents, being 75.53% in eutrophy, 7.91% underweight, 11.51%
overweight and 5.03% obese. The majority of the adolescents had a low consumption of FVG
(79.09% for fruits and 75.58% for vegetables and greens). The proper consumption of fruits
was checked only in 14.17% of the interviewed ones and that of vegetables and greens in
13.38%. The significant statistically influence of this consumption was: sex, housing, and
income per capita. It is concluded by these results that the consumption of fruits, vegetables
and greens by the adolescents of Formiga – MG is low, infrequent and not only the nutritional
issue is involved but also the cultural, economical and social factors. Hence, the awareness of
this feeding consumption will contribute to the execution of works concerning with the
nutritional education, approaching all of these factors multidisciplinarilly in order to be
successful and of positive results in the consumption of these foods.
Keywords: Nutritional transition. Feed Consumption. Adolescence
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1
Localização do município de Formiga no estado de Minas Gerais............
65
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Prevalência (%) de sobrepeso e obesidade em adolescentes......................
46
TABELA 2
Classificação do estado nutricional de acordo com os percentis de IMC...
69
TABELA 3
Acesso a serviços de água/esgoto, energia elétrica e eletrodomésticos.
Formiga, 2009.............................................................................................
TABELA 4
Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes
entrevistados. Formiga, 2009......................................................................
TABELA 5
83
Associação das variáveis biológicas ao consumo de frutas, legumes e
verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009..............................................
TABELA 6
75
87
Associação das variáveis sócioeconômicas e culturais ao consumo de
FLV. Formiga, 2009...................................................................................
91
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1
Idade dos participantes da pesquisa. Formiga, 2009..............................
GRÁFICO 2
Profissão dos pais e/ou responsáveis pesquisados. Formiga,
2009........................................................................................................
GRÁFICO 3
73
Renda familiar (em salários-mínimos) dos participantes. Formiga,
2009........................................................................................................
GRÁFICO 5
73
Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos pais e/ou
responsáveis. Formiga, 2009..................................................................
GRÁFICO 4
72
74
Renda familiar per capita dos participantes (em salários-mínimos).
Formiga, 2009........................................................................................
74
GRÁFICO 6
Estado nutricional dos adolescentes. Formiga, 2009.............................
76
GRÁFICO 7
Local de compra de frutas, legumes e verduras pelos pais dos
adolescentes. Formiga, 2009..................................................................
GRÁFICO 8
Frequência das compras de frutas, legumes e verduras pelos
entrevistados. Formiga, 2009.................................................................
GRÁFICO 9
89
Associação entre renda per capita e consumo de frutas, legumes e
verduras. Formiga, 2009........................................................................
GRÁFICO 15
85
Associação do estado nutricional sobre o consumo de frutas, legumes
e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009.......................................
GRÁFICO 14
84
Adequação do consumo de frutas, legumes e verduras pelos
adolescentes. Formiga, 2009..................................................................
GRÁFICO 13
81
Frequência de consumo de frutas, legumes e verduras por sexo.
Formiga, 2009........................................................................................
GRÁFICO 12
80
Limitações ao consumo de FLV pelos adolescentes. Formiga,
2009........................................................................................................
GRÁFICO 11
79
Gasto mensal (em % da renda familiar) com frutas, legumes e
verduras. Formiga, 2009........................................................................
GRÁFICO 10
78
92
Consumo de frutas, legumes e verduras de acordo com o percentual
do orçamento gasto com estes alimentos. Formiga, 2009......................
94
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DCNT Doenças Crônicas Não-Transmissíveis
ENDEF Estudo Nacional de Despesa Familiar
FLV Frutas, Legumes e Verduras
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMC Índice de Massa Corporal
OMS Organização Mundial da Saúde
PNAD Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios
PNSN Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição
POF Pesquisa de Orçamentos Familiares
PPV Pesquisa sobre Padrões de Vida
SM Salário-mínimo
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................
16
1.1 Objetivos.........................................................................................................................
20
1.1.1 Objetivo Geral..............................................................................................................
20
1.1.2 Objetivos Específicos..................................................................................................
20
2 A ALIMENTAÇÃO NA ATUALIDADE......................................................................
21
2.1 A alimentação brasileira e suas origens: resgatando a história da alimentação..............
24
2.2
Transição
alimentar
e
nutricional:
a
base
da
alimentação
atual.......................................................................................................................................
32
3 O ADOLESCENTE E SEU CONSUMO ALIMENTAR.............................................
42
3.1 A transição nutricional e seu impacto sobre o estado nutricional dos adolescentes.......
44
3.2 Consumo alimentar do adolescente na atualidade..........................................................
49
3.3 Frutas, legumes e verduras: importância nutricional e consumo entre os adolescentes.
56
4 METODOLOGIA............................................................................................................
64
4.1 População e local do estudo............................................................................................
64
4.2 Amostragem....................................................................................................................
66
4.3 Coleta de Dados..............................................................................................................
67
4.3.1 Treinamento dos Pesquisadores de Campo.................................................................
69
4.4 Variáveis do estudo.........................................................................................................
70
4.4.1 Variável Dependente....................................................................................................
70
4.4.2 Variáveis Independentes..............................................................................................
70
4.5 Digitação e processamento dos dados.............................................................................
71
4.6 Análise Estatística...........................................................................................................
71
4.7 Considerações éticas.......................................................................................................
71
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................
72
5.1 Estado Nutricional dos adolescentes...............................................................................
75
5.2 Aspectos relacionados à aquisição de FLV.....................................................................
77
5.3 Consumo de FLV pelos adolescentes.............................................................................
80
6 CONCLUSÃO..................................................................................................................
96
REFERÊNCIAS..................................................................................................................
98
APÊNDICES........................................................................................................................ 111
ANEXOS..............................................................................................................................
117
16
1 INTRODUÇÃO
A alimentação é uma necessidade básica para a vida, exercendo grande influência
sobre todos os indivíduos, tanto no que diz respeito à sua saúde como também no desempenho
de suas atividades diárias (PEDRAZA, 2004; SÁ, 1990). Além disso, o ser humano tem uma
relação estabelecida com a alimentação não só pelos aspectos essenciais do seu metabolismo,
mas também pelo prazer que esta lhe oferece, ocupando funções simbólicas e sociais.
Os hábitos alimentares fazem parte de um conjunto cultural, repleto de símbolos,
significados e classificações, de modo que nenhum alimento está livre das associações
culturais que a sociedade lhes atribui (BRAGA, 2004). Diante desse aspecto, muitos fatores
envolvem os hábitos alimentares, não apenas os nutricionais e biológicos, mas também os
culturais, econômicos e sociais.
Esses sistemas classificatórios da cultura alimentar foram socialmente construídos
com o decorrer do tempo, através da história da humanidade. Analisando a história da
alimentação brasileira, pode-se observar que ao longo do tempo ela foi sofrendo influência
dos processos colonizadores e imigratórios, além de transformações causadas por guerras e
pela globalização. Tais fatos foram fundamentais para o estabelecimento da cultura alimentar
brasileira, bem peculiar, dotando nosso ato alimentar de grande riqueza cultural e social.
Cabe lembrar que os hábitos alimentares dos brasileiros frequentemente são
associados à influência dos negros, índios e portugueses, mas houve também outras
influências, como a participação de diferentes grupos étnicos, tais como alemães, portugueses,
japoneses, espanhóis, poloneses e italianos, o que tornou a alimentação do povo brasileiro
peculiar a cada região (RAMALHO; SAUNDERS, 2000).
Atualmente a população brasileira, assim como a mundial, tem passado por
transformações em seus hábitos alimentares, em que diminuiu o consumo de cereais e
vegetais (frutas, legumes e verduras) ao passo em que aumentou consideravelmente o de
alimentos ricos em gorduras e açúcares, com alta densidade energética.
Este fenômeno, denominado transição nutricional, causado por mudanças
demográficas, sócio-econômicas e epidemiológicas, teve como consequência o aumento
mundial da prevalência da obesidade, que vem sendo considerada uma verdadeira epidemia
(OLIVEIRA; FISBERG, 2003). Esta prevalência está aumentando nas últimas décadas, nos
países desenvolvidos e em desenvolvimento, especialmente na população infantil e
adolescente.
17
No Brasil, o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem conduzindo
estudos populacionais nacionais com o objetivo de quantificar a ocorrência da obesidade,
verificando um aumento alarmante das taxas de excesso de peso entre os adolescentes. De
acordo com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002/2003, o excesso
de peso na população adolescente brasileira é de cerca de 18,0% no sexo masculino e 15,0%
no sexo feminino (DALABONA, 2008). Outros estudos apontam que a prevalência do
excesso de peso (sobrepeso e obesidade) nos adolescentes brasileiros chega a cerca de 30%.
No campo da saúde pública, a alta prevalência da obesidade na adolescência tem
provocado um grande impacto negativo, uma vez que leva a consequências como o
aparecimento cada vez mais precoce de doenças crônicas não-transmissíveis. Isto é bastante
vivenciado pela autora em sua atuação cotidiana como Nutricionista de uma Equipe de Saúde
da Família, atuando na Atenção Básica em Saúde, pois é grande o número de adolescentes
diagnosticados com sobrepeso e obesidade na população atendida e que procuram
atendimento nutricional devido ao excesso de peso.
Dentre as causas mais comuns da obesidade nesta faixa etária, tanto as citadas na
literatura como as diagnosticadas pela prática profissional da autora, encontra-se uma
alimentação rica em alimentos industrializados e fast-food (gorduras e açúcares) e pobre em
frutas, legumes e verduras (FLV). Este fato gerou grande inquietação, motivando a
necessidade de estudar o consumo de frutas, legumes e verduras numa população de
adolescentes escolares do município de Formiga - MG.
Estudos nacionais apontam que o consumo de FLV é baixo na população
brasileira. Segundo a POF 2002-2003 (IBGE, 2004), a participação desses grupos de
alimentos no valor energético da alimentação das famílias brasileiras variou entre 3% e 4% do
valor energético da dieta, entre 1974 e 2003. Já o estudo de Jaime e Monteiro (2005),
realizado com a população adulta brasileira, constatou que somente 41% dos adultos
relataram consumo diário de frutas, enquanto 30% relataram consumo diário de verduras.
Na população adolescente, Toral et al. (2006) verificaram que apenas 12,4% e
10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela
Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo inferior a uma porção diária foi de 50% para frutas
e 38,9% para verduras. Em outro estudo, Toral (2006) observou que o consumo médio de
frutas e hortaliças foi de 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente. Cerca de 45% dos
adolescentes não consumiam o mínimo de duas porções de frutas e de hortaliças ao dia.
Sabe-se que o consumo insuficiente de FLV aumenta o risco de doenças crônicas
não transmissíveis, como as cardiovasculares e alguns tipos de câncer, e está entre os 10
18
fatores de risco que mais causam mortes e doenças em todo o mundo. Tal consumo equivale a
menos de 400 g por dia ou 7% a 8% do valor calórico de uma dieta de 2.200 kcal/dia ou
menos de 5 porções diárias desses alimentos (JAIME et al., 2007).
Conceitualmente as frutas são definidas como a parte polposa que rodeia a
semente de plantas. Já os legumes e as verduras, denominados genericamente como
hortaliças, são plantas ou partes de plantas que servem para o consumo humano. As verduras
se referem às folhas, flores, botões ou hastes. Já os legumes são os frutos, sementes ou as
partes que se desenvolvem na terra (PHILIPPI, 2006).
Estes alimentos têm uma elevada importância nutricional, pois são ricos em
fibras, vitaminas (A, B e C), minerais (potássio, ferro, cálcio, dentre outros) e compostos
bioativos, nutrientes essenciais ao crescimento e desenvolvimento do adolescente. Além
disso, possuem baixo valor calórico, o que contribui para a manutenção do peso corpóreo
nesta faixa etária, e, por sua ação antioxidante, auxiliam na prevenção de diversos tipos de
câncer e doenças cardiovasculares.
Diante dessa riqueza nutricional que esses alimentos possuem, bem como do
conhecimento prévio do consumo alimentar dos adolescentes, na maioria das vezes rico em
gorduras e açúcares, procurou-se estudar somente o consumo de FLV e seus determinantes,
não pesquisando o consumo de outros alimentos pelos adolescentes.
Uma vez que, como dito anteriormente, o consumo alimentar pode ser
influenciado por diversos fatores, como os sócio-econômicos, culturais e nutricionais, este
estudo teve um caráter interdisciplinar, integrando elementos da ciência da nutrição, saúde
coletiva, ciências humanas e sociais (história, sociologia e antropologia), com o fim de
compreender a contribuição destes fatores no consumo de FLV pelos adolescentes.
Os fatores nutricionais foram vistos a partir da análise do estado nutricional e do
consumo de FLV pelos adolescentes. Já os sócio-econômicos e culturais, pela avaliação da
renda familiar e per capita, densidade domiciliar, escolaridade e profissão dos pais, local de
moradia (rural ou urbano), gasto com FLV, raça e sexo dos adolescentes, influenciando o
consumo de FLV pelos indivíduos desta faixa etária.
Esta dissertação foi dividida em seis partes, sendo descritas a seguir cada uma
destas divisões. No item dois, “A alimentação na atualidade”, primeiramente foram
conceituados os temas: alimentos, gosto, hábito alimentar e o ato alimentar propriamente dito,
à luz da sociologia e antropologia da alimentação. Em seguida, foi analisada a contribuição da
história da alimentação brasileira na formação dos padrões alimentares atuais. Por fim, foram
19
descritos os processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional e a relação
destes com a alimentação na atualidade.
Já no item três “O adolescente e seu consumo alimentar”, iniciou-se explanando
sobre a adolescência e suas características biológicas, psicológicas e sociais. A seguir foi
realizada a análise do processo de transição nutricional com consequente aumento da
prevalência da obesidade na adolescência, analisando os dados de diferentes estudos na
literatura. Após essa análise, foi discutido, também à luz de diversas pesquisas, o consumo
alimentar atual do adolescente, rico em gorduras e açúcares, e a influência da mídia sobre este
consumo. O último assunto abordado diz respeito à importância do consumo de FLV e do
consumo destes alimentos pelos adolescentes, revisando na literatura os resultados de diversas
pesquisas de campo.
O item quatro traz em seu conteúdo os procedimentos metodológicos adotados
para a execução deste estudo, desde a escolha da população até a análise dos dados. No item
seguinte são descritos os resultados encontrados nesta pesquisa e a discussão destes, com base
nos referenciais teóricos levantados. No sexto e último item é apresentada a conclusão do
estudo, revendo os principais resultados encontrados e o impacto destes sobre a população
estudada.
Cabe ressaltar que a relevância deste trabalho propicia o entendimento do
processo de consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes do município de
Formiga – MG, bem como dos fatores que o auxiliam ou impedem, podendo auxiliar no
diagnóstico local e na implantação de programas efetivos de educação nutricional para o uso
frequente destes alimentos pela população, promovendo a saúde e prevenindo doenças, como
a própria obesidade.
20
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo Geral
Descrever e analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do
município de Formiga – MG à luz da influência dos fatores sociais, econômicos e culturais
sobre este consumo.
1.1.2 Objetivos Específicos
• Conhecer o perfil sócio-econômico dos adolescentes e suas famílias;
• Avaliar o estado nutricional dos adolescentes;
• Conhecer os aspectos relacionados ao consumo de frutas, legumes e verduras,
como preço, acesso, aquisição, consumo familiar, dentre outros;
• Identificar e descrever o consumo de FLV pelos adolescentes;
• Identificar e avaliar a relação entre o consumo de frutas, legumes e verduras e
as
variáveis
sócio-econômicas,
comportamentais.
culturais,
demográficas,
biológicas
e
21
2 A ALIMENTAÇÃO NA ATUALIDADE
A alimentação humana é muito mais que um ato biológico: é um ato social e
cultural, que implica representações e imaginários e envolve escolhas, classificações e
símbolos, organizando as diversas visões de mundo no tempo e no espaço (MACIEL, 2004;
RAMALHO; SAUNDERS, 2000).
Conceitualmente, a cultura pode ser entendida como um conjunto de mecanismos
de controle, planos, receitas, regras e instruções que dirigem o comportamento humano. Esse
conjunto de símbolos e significados é compartilhado pelos membros do sistema cultural,
assumindo um caráter público (BRAGA, 2004).
De acordo com Oliveira e Thébaud-Mony (1997), a alimentação deve ser
analisada sob várias perspectivas: a econômica (oferta e demanda, abastecimento, preço dos
alimentos e renda das famílias); a nutricional (nutrientes e relação dieta e doença); a social
(associações entre alimentação e organização social do trabalho, diferenciação social do
consumo) e a cultural (aspectos simbólicos da alimentação).
Por isso, ao se alimentar, o indivíduo não apenas satisfaz suas necessidades
biológicas, mas também preenche e satisfaz outros vazios e desejos. Isso foi exposto por
Carneiro (2003) quando afirmou que “a fome biológica distingue-se dos apetites, expressões
dos variáveis desejos humanos e cuja satisfação se materializa em hábitos, costumes, rituais,
etiqueta”. Alimentar-se, portanto, transcende o ato de “matar” a fome, pois há a necessidade
da satisfação dos apetites, de voltar a experimentar a sensação de bem-estar consecutivo ao
consumo alimentar (PILLA, 2005).
Vemos então que os fatores sociais e culturais estão intimamente ligados ao ato
alimentar, pois comer é mais que ingerir um alimento, significa também as relações pessoais,
sociais e culturais que estão envolvidas naquele ato. Portanto, o que se come, quando, com
quem, por que e por quem é determinado culturalmente, transformando o alimento (substância
nutritiva) em comida (BRAGA, 2004; LEONARDO, 2004).
De acordo com Poulain e Proença (2003), o conjunto de rituais que rodeiam o ato
alimentar varia de uma cultura para outra e no interior de uma mesma cultura, de acordo com
os grupos sociais, pois cada sociedade tem suas tradições e identidades alimentares peculiares,
que foram consolidadas ao longo do tempo e que têm importância no auto-reconhecimento e
auto-estima
(CONFERÊNCIA
NUTRICIONAL, 2004).
NACIONAL
DE
SEGURANÇA
ALIMENTAR
E
22
Em toda sociedade humana, o alimento é uma forma de criar e manifestar os
relacionamentos entre indivíduos, entre membros de grupos sociais, religiosos ou étnicos, ou
entre qualquer um desses elementos e o mundo sobrenatural (HELMAN, 1994).
Diante disso, o ato de comer marca, também, as fronteiras de identidade
interculturais, entre os grupos humanos de uma cultura e de outra, e intraculturais, entre os
membros que as constituem. No interior de uma mesma sociedade, a alimentação desenha os
contornos dos grupos sociais, fazendo com que um certo alimento possa ser atribuído a um
grupo social e rejeitado por outro (POULAIN; PROENÇA, 2003; ROMANELLI, 2006).
Os povos e os distintos grupos sociais expressam suas identidades também por meio
da alimentação. A escolha dos alimentos, sua preparação e consumo estão
relacionados com a identidade cultural – são fatores desenvolvidos ao longo do
tempo, que distinguem um grupo social de outro e que estão intimamente
relacionados com a história, o ambiente e as exigências específicas impostas ao
grupo social pela vida do dia-a-dia (CONFERÊNCIA NACIONAL DE
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, 2004, p.1).
Assim, o espaço social alimentar assinala a conexão bioantropológica de um
grupo humano com seu meio (POULAIN; PROENÇA, 2003). Isso faz com que os integrantes
de determinado grupo social adotem costumes e hábitos alimentares inerentes a esse grupo
como forma de aceitação e permanência nele (CASTRO; PELIANO, 1985).
Esse caráter social da alimentação está presente desde o nascimento, através do
leite materno e também nas refeições familiares, criando e mantendo formas de sociabilidade
bastante ricas e prazerosas (ROMANELLI, 2006). De acordo com Poulain (2004), a refeição
familiar, com seu sistema normativo muito preciso, aparece como uma instituição central da
sociedade. É através dela que as crianças interiorizam as regras e os valores da propriedade,
do respeito aos outros e da partilha (dimensão socializadora).
Um aspecto importante a ser levantado sobre o ato alimentar diz respeito à
formação dos gostos e hábitos alimentares. Segundo Frederico e Módolo (2007) e Bleil
(1998), o gosto é moldado culturalmente, psicologicamente e socialmente. “O que eu gosto e
o que eu acho bom seria, na realidade, aquilo que estou habituado a comer, aquilo que minha
classe social de origem consome” (POULAIN, 2004).
As experiências culturais afetam a maneira como os indivíduos concebem e
classificam as qualidades do gosto e como se formam as preferências pelos sabores: doce,
amargo, salgado, picante, dentre outros (BRAGA, 2004). Não por acaso, o Brasil é um dos
países com maior consumo per capita de açúcar do mundo. Desde o período colonial, o Brasil
é um grande produtor de açúcar. Os engenhos para a produção desse alimento eram
23
encontrados na maior parte da América portuguesa. Por conta da abundância do açúcar, este
gênero estava presente em vários pratos e era servido até mesmo aos escravos (melaço). Além
disso, herdamos o gosto português pelo doce (CATÃO, 2009).
De acordo com Pilla (2005), ter gosto é estar de posse das condições de apreender
sensorialmente os alimentos, como também de verbalizar e compartilhar as sensações que daí
provêm. Isso pode ser sentido, por exemplo, por uma pessoa ao lembrar da comida da mãe,
onde não apenas o gosto é resgatado, mas também os sentimentos, as emoções e a
familiaridade que estes alimentos trazem consigo.
Já em relação aos hábitos alimentares, estes se referem aos tipos de escolha e
consumo de alimentos por um indivíduo ou grupo, em resposta a influências externas e
internas, podendo ser fisiológicas, nutricionais, demográficas, econômicas, ambientais,
psicológicas, culturais e sociais (DUTRA, 2004; GARCIA, 2003; RIGON et al., 2006;
TORAL; SLATER, 2007). Estes hábitos fazem parte de um conjunto cultural, repleto de
símbolos, significados e classificações, de modo que nenhum alimento está livre das
associações culturais que a sociedade lhe atribui (BRAGA, 2004).
O comportamento alimentar leva em conta as práticas que vão desde os
procedimentos relacionados com a seleção dos alimentos até à sua preparação e consumo,
incluindo valores simbólicos associados à alimentação. Por isso, um alimento pode ser
considerado comestível em determinadas sociedades - ou em um grupo social – e não em
outras (FILHO; SPANHOL; OLIVEIRA, 2007; GARCIA, 2005). Isso pode ser visto, por
exemplo, em relação ao consumo da carne de vaca, que no Brasil é um alimento altamente
apreciado, enquanto que este consumo na Índia seria um verdadeiro insulto às ideologias
religiosas e sociais.
Sobre esta classificação, Poulain (2004) afirma que internamente cada cultura
seleciona, dentre um conjunto de alimentos disponíveis e que tenham valor nutricional, os que
irão, para esta cultura, ser considerados alimentos comestíveis ou “comida”.
Há alguns fatores que influenciam em nossas escolhas alimentares, classificando
os alimentos em “comestíveis” e “não comestíveis”, que podem ser: disponibilidade, custo,
sabor (doce, amargo, etc.), aparência, tipo de preparação, variedade, valor nutricional,
necessidade e hábito (BRAGA, 2004; FISCHLER, 19951 citado por PILLA, 2005; JOMORI;
PROENÇA; CALVO, 2008).
Por meio dessas classificações, os alimentos são divididos em: fortes ou fracos,
1
FISCHLER, C. El (h)omnívoro: el gusto, la cocina y el cuerpo. Barcelona: Anagrama, 1995.
24
pesados ou leves, com vitamina ou sem vitamina e quentes ou frios. A noção de alimento
“forte” é atribuída aos alimentos que têm sabor marcante e que “sustentam”. Já a noção de
alimentos “fracos” é atribuída aos alimentos que não sustentam nem têm gosto (RAMALHO;
SAUNDERS, 2000; ROMANELLI, 2006). Canesqui (1988) afirma que a comida valorizada é
aquela "capaz de sustentar o corpo, dar força e energia para trabalhar, que enche a barriga,
deixando a sensação de estar alimentado".
A noção de alimentos “pesados” foi relacionada aos que provocam reação no
aparelho digestivo, sendo indicados para serem ingeridos durante o dia, como por exemplo a
feijoada. Os alimentos “leves” foram definidos como aqueles que não fazem bem nem mal,
adequados para pessoas doentes, representados pelas sopas e saladas (RAMALHO;
SAUNDERS, 2000).
Há também a classificação em “quentes”, sendo aqueles impróprios para o
aparelho digestivo, e em “frios”, que são aqueles impróprios para o aparelho respiratório
(RAMALHO; SAUNDERS, 2000).
Enfim, cada povo, cada sociedade relaciona-se à sua maneira com os alimentos.
Esses traços podem ser observados através da relação entre os comensais, no modo de
preparo, na generalização do uso de determinados alimentos e pratos, dentre outros possíveis
exemplos. Estes sistemas classificatórios foram socialmente construídos com o decorrer do
tempo, através da história da humanidade. Tempo e espaço, naturalmente, influenciam a
relação do homem com sua comida.
No Brasil, desde o Descobrimento até os tempos atuais, as práticas alimentares,
bem peculiares, vêm sofrendo alterações significativas, dotando nosso ato alimentar de grande
riqueza cultural e social. Diante disso, faz-se necessário compreender a influência da história
da alimentação brasileira na formação social e cultural dos hábitos alimentares atuais.
2.1 A alimentação brasileira e suas origens: resgatando a história da alimentação
A alimentação é um dos traços mais marcantes de uma cultura, embora seja, em
geral, um tema negligenciado por etnólogos, antropólogos e historiadores em detrimento de
outros aspectos relativos ao universo cultural. No campo historiográfico, só muito
recentemente os pesquisadores têm se dedicado ao estudo dos hábitos alimentares,
especialmente quando o objeto de análise diz respeito às estruturas do cotidiano (CATÃO,
25
2009). A História da Alimentação, ocupando o seu lugar na História, busca estudar as
preferências alimentares, a significação simbólica dos alimentos, as proibições dietéticas e
religiosas, os hábitos culinários, a etiqueta e o comportamento à mesa e, de maneira geral, as
relações que a alimentação mantém em cada sociedade com os mitos, a cultura e as estruturas
sociais, ao sabor dos processos históricos (SANTOS, 2005).
A história da cultura alimentar brasileira, desde seus primórdios, no contexto das
Grandes Navegações, até os dias atuais, é marcada por valiosas contribuições e influências de
diversas culturas, em especial: a indígena, habitantes destas terras muito antes da chegada dos
primeiros europeus; a africana, introduzida aqui como mão-de-obra escrava, e a européia,
responsável por imprimir o ritmo da colonização (ALESSI, 2006; LEONARDO, 2004;
SOUZA; HARDT, 2002).
Tudo começou na Era Moderna, quando os europeus, especificamente os
portugueses, empenharam-se em viagens marítimas visando descobrir centros produtores de
especiarias e apoderar-se deles, a fim de ter domínio econômico, já que as especiarias eram
artigos de luxo, de grande valor econômico naquela época (ABREU et al., 2001;
FLANDRIN; MONTANARI, 1998). Foi nesse contexto, buscando ampliar o comércio de
especiarias, que os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, levando-os, a partir daí, a se
interessarem pela exploração das riquezas brasileiras. Naquela conjuntura nascia a cultura
alimentar brasileira.
Os indígenas, habitantes das terras brasileiras antes do descobrimento, foram
vitais nos primeiros tempos da colonização. Quanto às populações nativas, é importante
destacar que os povos que habitavam o território que atualmente corresponde ao Brasil
possuíam culturas altamente diversificadas. (CUNHA, 1992). Quanto à sua cultura alimentar,
viviam da caça, pesca, da coleta de frutos e raízes e da agricultura (não praticada por todos os
grupos). Consumiam mandioca, inhame, milho verde, batata doce, banana da terra e brotos,
preparados assados no fogo aceso ao chão (LEONARDO, 2004).
Naqueles tempos, boa parte do território era recoberto pela Mata Atlântica, uma
esplendorosa floresta que guardava em seu interior uma igualmente fabulosa diversidade de
seres vivos de todos os gêneros.2 Era um expediente do homem colonial e das populações
indígenas antes da chegada dos europeus a estas terras, o hábito de procurar na natureza
parcela importante do seu sustento diário. A natureza era uma fonte praticamente inesgotável
2
DEAN, W. A Ferro e Fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996, p. 19-37.
26
de alimentos e outros recursos indispensáveis à vida.3 Saber como extrair do meio ambiente
os meios básicos para a subsistência foi uma vantagem vital para aqueles que sabiam tirar
proveito de tal situação. O alimento era coletado na natureza das mais diversas formas: raízes,
animais de pequeno e médio porte, frutos e legumes de todo o tipo, ovos, mel, e até mesmo
insetos eram utilizados como fonte de alimento por aqueles homens (CATÃO, 2009).
Segundo Pero Vaz de Caminha, na carta de 24 de abril de 1500, os indígenas não
plantavam, não criavam e não existiam no país: boi, vaca, cabra, ovelha e galinha. Os
habitantes locais se alimentavam generalizadamente de mandioca, sementes, frutos, caça e
pesca (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996).
Sem dúvida alguma, a grande herança alimentar indígena foi a mandioca, que
propiciou o cultivo de norte a sul do país e de onde derivou a farinha de mandioca, alimento
de grande importância cultural e de consumo generalizado em todo o Brasil (FREYRE, 1963;
SOUZA; HARDT, 2002).
Já a influência portuguesa se fez notar, mais claramente, através da melhoria do
paladar da alimentação, pela introdução de um alto teor de gordura (oliva), do sal, do açúcar,
entre muitos outros. Os europeus promoveram uma verdadeira “diáspora alimentar” no
contexto das Grandes Navegações, espalhando por todos os continentes alimentos que antes
eram de circulação restrita, como, por exemplo, o cacau e a banana. A base cultural da comida
portuguesa é a oliva. Porém, no Brasil, o óleo de oliva foi substituído inicialmente pela
gordura animal e depois por outros óleos, embora o português tivesse se esforçado para
introduzir aqui a sua cultura e modelo alimentar (CATÃO, 2009; LEONARDO, 2004;
OLIVEIRA, CUNHA, MARCHINI, 1996).
Câmara Cascudo (2004) destaca que os portugueses trouxeram o sal para ser
utilizado para conservar as carnes, mas acabaram difundindo o valor cultural de que “cozinhar
é ter boa mão de sal”, valor este que persiste até os dias atuais.
Os colonizadores portugueses trouxeram para cá: bananais, coqueiros, arroz,
diversos tipos de carne (bovina, suína, aves) e especiarias como cravo-da-índia, canela,
alecrim, erva doce, além de tâmaras, avelãs, nozes e amêndoas. Com eles também veio o
hábito de fazer doces em compotas, sendo a calda açucarada usada como forma de conservar
o doce (ALESSI, 2006; LEONARDO, 2004). Houve também uma difusão de receitas de aves,
vaca, vitela, porco, carneiro, cabrito e coelho, que eram preparados com os temperos lusitanos
alho, cebola e cominho (ALESSI, 2006).
3
Para maiores informações a este respeito ver: HOLANDA, S. B. Caminhos e Fronteiras. 3. ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.
27
Uma outra influência alimentar brasileira foi a negra. Os africanos, trazidos ao
Brasil na condição de escravos, foram transportados em péssimas condições e sem os
elementos materiais de sua cultura. As mulheres foram colocadas na condição de responsáveis
pelas cozinhas dos engenhos, passando a usar apenas seus conhecimentos culinários,
influenciando o modo de temperar e preparar os alimentos e utilizando ingredientes trazidos
pelos portugueses e os usados pelos indígenas (ALESSI, 2006).
A grande marca da cultura alimentar africana foram as comidas misturadas na
mesma panela, os cozidos (LEONARDO, 2004). Os africanos se alimentavam
abundantemente de milho, toucinho e feijão, havendo grande uso de fubá, farinha, rapadura,
goma, polvilho, arroz e leite de coco. Além disso, comiam menos frutas e hortaliças do que o
indígena brasileiro e eram grandes adeptos da pimenta malagueta (LEONARDO, 2004;
OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996; SOUZA; HARDT, 2002). A base da alimentação
nas senzalas era farinha de mandioca, angu de milho e melaço de cana, e com menor
frequência o toucinho, carne seca, feijão, arroz, banana e outras frutas de época (OLIVEIRA;
CUNHA; MARCHINI, 1996). Vale lembrar que os escravos não se alimentavam daquilo que
desejavam, mas sim comiam aquilo que os seus senhores determinavam.
No Brasil Colonial predominou a importância do tripé farinha de mandioca, feijão
e carne-seca, que constituiu a alimentação essencial da maioria da população (SANTOS,
2007). Como exemplos de condutas alimentares deste período que resistem até hoje, temos o
vatapá, o xinxim de galinha e o caruru preparado à base de mandioca e de ervas indígenas
(ALESSI, 2006). Vale destacar que a feijoada, prato tipicamente nacional, é um modelo
aculturado do cozido português com feijão e carne seca (OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI,
1996).
A alimentação brasileira nessa época foi bastante descrita por Gilberto Freyre
(1963) em seu livro Casa-grande & Senzala, um dos clássicos da nossa história da
alimentação. Segundo o autor, o Brasil dos três primeiros séculos foi uma terra de
alimentação incerta e de má qualidade, pois a monocultura esterilizava tudo, além do fato de
que os grandes senhores rurais estavam sempre endividados. Acrescenta-se a isso a ocorrência
de saúvas, enchentes e secas; o regime de trabalho escravo; a pobreza química dos alimentos
tradicionais consumidos por quase todos os brasileiros; a irregularidade no suprimento; a falta
de higiene na conservação dos alimentos e a má distribuição de grande parte desses gêneros
alimentícios (SOUZA; HARDT, 2002). Esses fatos dificultaram o suprimento adequado dos
alimentos à população, o que os levava a ter uma alimentação desequilibrada e pobre em
nutrientes.
28
De acordo com Freyre (1963), nos séculos XVI, XVII e XVIII, a alimentação era
ruim nos engenhos e péssima e escassa nas cidades, sendo de má qualidade pela pobreza
evidente de proteínas de origem animal e pela falta de vitaminas, cálcio e outros sais minerais.
É ilusão supor a sociedade colonial, na sua maioria, uma sociedade de gente bem-alimentada,
uma vez que os próprios senhores de engenho nutriam-se deficientemente, comendo só uma
vez ou outra a carne de boi, ainda assim de má qualidade, frutos poucos e “bichados”, quase
nunca in natura e os legumes raramente apareciam em seus pratos.
Pelos séculos XVII, XVIII e XIX, a alimentação brasileira foi sendo centralizada
em carne seca, feijão, farinha de mandioca e milho, arroz, angu e às vezes, peixe
(OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996).
O início do século XIX é marcado pela vinda da família real para o Brasil, seguida
da independência política do Brasil, em 1822. O Brasil imperial, por sua vez, é marcado pela
libertação dos escravos e a chegada de expressivos grupos de imigrantes europeus. Com isso,
ocorreram profundas transformações nas condutas alimentares como a difusão do consumo da
carne seca e de charque, a introdução do pão de farinha de trigo, a combinação do arroz com o
feijão, o predomínio do consumo de carne bovina, algumas saladas e, após a refeição, o café
nas mesas das famílias das classes altas e médias. No cotidiano familiar a conduta alimentar
predominante era o arroz com feijão, cozido de carne com legumes, cuscuz, macarrão e
paçoca (ALESSI, 2006).
A partir do século XIX, com a intensificação da imigração, difundiu-se maior uso
de carne de porco, embutidos, massas, sopas, polenta e mais queijo na alimentação.
Gradativamente, foram se incorporando nas nossas condutas alimentares pratos típicos de
outras culturas, como: esfiha, quibe, charuto, goulash, frango xadrez, paella, puchero, crepe,
croissant, pizza, batata, sanduíche, sashimi, bacalhau, churrasco, strogonoff, dentre outros
(ALESSI, 2006; OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996).
A Época Contemporânea (séculos XIX, XX e XXI) é um marco de profundas
alterações na cultura alimentar, que naturalmente influenciaram o nascente Estado brasileiro.
Este período é caracterizado pela Revolução Industrial, pelo êxodo rural, pela incrível
expansão das cidades, pelo triunfo total da economia de mercado sobre a economia de
subsistência e pelo desenvolvimento dos transportes e do comércio mundial (FLANDRIN;
MONTANARI, 1998).
Uma das consequências da Revolução Industrial foi a diminuição do trabalho
feminino doméstico, uma vez que aumentou a saída da mulher para o mercado de trabalho.
Principalmente no século XX, as mulheres dispunham de menos tempo para as tarefas
29
domésticas, o que aumentou o comércio de aparelhos para ajudar na manutenção da casa e
preparo das refeições, como geladeiras, fogões a gás, fornos de micro-ondas e outros
utensílios, que se tornaram acessíveis à maioria da população dos países industrializados. Isso
gerou um grande desenvolvimento da indústria, além de contribuir para o surgimento de um
imenso ramo de alimentação fora de casa: o dos restaurantes (CARNEIRO, 2003;
FLANDRIN; MONTANARI, 1998).
Os restaurantes surgiram com a função de alimentar cotidianamente uma clientela
cada vez mais numerosa de homens e mulheres que deixaram de fazer as refeições em casa;
seja porque já não existe alguém para prepará-las ou porque trabalham muito longe de casa,
tornando-se uma opção preferencial (FLANDRIN; MONTANARI, 1998).
O crescimento demográfico, a industrialização e a urbanização, consequências da
Revolução Industrial, estimularam o sistema de desenvolvimento da distribuição e da
produção de gêneros alimentícios, mudando o consumo e o estilo de vida e saúde da
população. Com isso, houve o favorecimento do sedentarismo, a restrição da necessidade de
gasto de energia para as atividades diárias e para o trabalho, além da facilitação do consumo
de alimentos prontos e de alta densidade energética, o que aumenta a ocorrência de problemas
de saúde como obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer (COMITÉ NACIONAL DE
LOS ESTADOS UNIDOS, 19924 citado por ABREU et al., 2001; MONDINI; MONTEIRO,
1994).
As guerras (1ª e 2ª Guerras Mundiais, Guerra do Vietnã, dentre outras), que
marcaram esta época, também foram fatores importantes de mudanças dietéticas, não só por
provocar carências e fomes, mas também por promover mudanças de hábitos e adoção de
novos tipos de alimentos, muitos deles ligados diretamente à ração dos soldados, como açúcar
de beterraba, chocolate, chiclete e coca-cola (CARNEIRO, 2003). Em tempos de Guerra Fria,
a coca-cola e o hambúrguer representavam, ao mesmo tempo, as delícias e os horrores
ideológicos, pois ambos encarnavam a presença da americanização, que para alguns era vista
como uma ameaça (SANTOS, 2006).
Outro fator que merece destaque é o crescente processo de globalização pelo qual
a sociedade tem passado, que se reflete também na alimentação contemporânea. A
globalização é um processo econômico, social e cultural que teve suas origens no século XVI,
com as Grandes Navegações, e que se intensificou na contemporaneidade. Mas foi nas duas
4
COMITÉ NACIONAL DE LOS ESTADOS UNIDOS. La nutrición: los lazos entre alimentación, salud y
dasarrolo. Washington D.C. 1992. [Documento preparado para la Teleconferência del Dia Mundial de la
Alimentación, 16 de octubre de 1992].
30
ou três últimas décadas do século XX que esse fenômeno ganhou seus contornos mais
contundentes, cujas principais características são: a facilidade de trânsito de pessoas e bens
entre os diversos países do mundo e a expansão das possibilidades de comunicação pelo
surgimento da chamada sociedade da informação e pela grande facilidade de contato entre
pessoas, devido ao aparecimento de diversos instrumentos e ferramentas (BUSS, 2007).
A globalização refere-se ao fato de que vivemos cada vez mais em um “mundo
único” que influencia a vida das pessoas em todos os países: ricos ou pobres, alterando não
apenas os sistemas globais, mas a vida cotidiana. Diversos fatores contribuíram para a
intensificação do fenômeno denominado globalização. Primeiro, o fim da Guerra Fria, onde o
colapso do comunismo de estilo soviético e o crescimento de formas internacionais e
regionais de governança aproximaram os países. Segundo: a difusão da tecnologia da
informação, que facilitou o fluxo da informação ao redor do globo e encorajou as pessoas a
adotarem uma perspectiva global. Terceiro: as corporações transnacionais que cresceram em
tamanho e influência, construindo redes de produção e consumo que atravessam o globo e
ligam os mercados econômicos (GIDDENS, 2005).
Isso pode ser sentido na alimentação, quando observamos a mundialização dos
padrões alimentares norteamericanos. O modelo alimentar dos Estados Unidos, fundamentado
na substituição de carboidratos complexos como os amidos, por carboidratos simples como
açúcares e gorduras e na expansão da dieta carnívora, é simbolizado pela expansão das redes
de fast-food, como o McDonald’s e a Coca-cola, que representam a cultura capitalista
contemporânea (CARNEIRO, 2003).
A conjuntura americana das décadas de 50 e 60 trouxe à tona fatores importantes de
ordem econômica, social, financeira e cultural. Novos modos de vida trazidos pela
urbanização, pela industrialização, pela profissionalização das mulheres, pela
elevação do nível de vida e de educação, pela generalização do uso do carro, pelo
acesso mais amplo da população ao lazer, férias e viagens, fizeram com que a
alimentação deixasse o ambiente doméstico, a casa, o lar e passasse a ser uma
atividade cotidiana como outra qualquer. Desta forma, as fórmulas rápidas de comer
representadas pelo hambúrguer, pela batata frita e pela coca-cola, passaram a
constituir um conjunto alimentar de consumo em massa, impondo um novo sabor e
causando uma verdadeira ruptura no comer tradicional, trazendo no seu bojo
mudanças nos hábitos e práticas alimentares dos americanos (SANTOS, 2006, p.6).
31
O fast-food5 é o principal fenômeno de consumo do mundo globalizado e seus
produtos ganham a preferência, principalmente entre os jovens, quando o mais importante é a
praticidade e a rapidez (SANTOS, 2006).
A importância do fenômeno do fast-food tem sido corretamente apontada como
uma das chaves para a compreensão da natureza dos problemas sociais de nossa época. Vários
analistas têm identificado uma corrosão dos hábitos alimentares familiares, como as refeições
partilhadas, levando à substituição da alimentação em casa pelos sistemas de restaurantes ou
lanchonetes (CARNEIRO, 2005; SANTOS, 2006).
A “ameaça” trazida por hambúrguer, coca-cola, batata-frita e ketchup constituía
dois graves perigos: primeiro, às gastronomias tradicionais seculares, pois poderiam
representar o declínio das mesmas; segundo, pela adoção de práticas que poderiam ser
consideradas dieteticamente perigosas para a saúde (SANTOS, 2006).
Desta forma, a pós-modernização embalada pela globalização tem “imposto”
novas formas de consumo alimentar e afetado o nosso paladar e os aportes nutritivos,
trazendo novos padrões, costumes, hábitos e práticas alimentares. “Vivemos hoje a
McDonaldização do mundo, onde prevalece um gosto pasteurizado e homogêneo, sem molho
e sem graça” (SANTOS, 2006).
No Brasil, os estudos e pesquisas têm demonstrado que, em função do fast-food,
um novo padrão alimentar está se delineando, com prejuízos dos produtos da dieta tradicional
do povo. Arroz, feijão e farinha de mandioca que foram, desde o século XVIII, a base do
cardápio da maioria da população, perdem cada vez mais espaço para os produtos
industrializados e com maior valor agregado (SANTOS, 2006).
As tendências atuais do consumo alimentar se baseiam no aumento da ração
calórica por meio dos cereais, batatas e outros produtos ricos em fécula, seguido de
diminuição da proporção destes produtos em benefício das proteínas animais e lipídios,
fornecedores de calorias mais caras, e diminuição da proporção de laticínios, ricos em cálcio,
e frutas e legumes frescos que contribuem com vitaminas e fibras (FLANDRIN;
MONTANARI, 1998).
Diante do que foi visto, percebe-se que a alimentação brasileira, desde sua
formação, foi fruto da influência de diversos povos e contextos históricos como a
colonização, imigração, as guerras e a globalização. Estes fatos moldaram a cultura alimentar
5
Também denominada comida rápida, é o tipo de alimentação preparada de modo padronizado, para rápido
atendimento e de ligeiro consumo, servida normalmente em redes de lanchonetes. È uma alimentação rica em
gorduras (sanduíche, batata-frita, etc.) e em açúcares (refrigerante, sorvete, etc.).
32
brasileira com o passar do tempo, até chegar ao padrão alimentar atual, rico em gorduras e
açúcares e pobre em FLV.
Este fenômeno é típico da chamada transição nutricional, em que o consumo de
alimentos vegetais é substituído pelo de açúcares e gorduras. Esta transição atualmente tem
ocorrido no mundo todo e tem como drásticas consequências o aumento da obesidade e das
doenças crônicas, como diabetes, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares, conforme
descrito a seguir.
2.2 A transição alimentar e nutricional e sua relação com a alimentação atual
Nas últimas décadas, o Brasil vem passando por várias transformações
demográficas, econômicas, sociais e epidemiológicas, que acabam contribuindo para
mudanças nutricionais e alimentares. Todas estas transformações tornam o Brasil um país em
transição, fenômeno este que vem ocorrendo tanto em países desenvolvidos como nos em
desenvolvimento.
Para entender a conjuntura da transição alimentar e nutricional é necessário
compreender os fatores ligados à sua etiologia, o “pano de fundo” desta transição. Este é
composto pelas mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas, conhecidas
como “transição demográfica” e “transição epidemiológica”, que levam a transformações no
estilo de vida e no perfil de saúde da população mundial, culminando em modificações nas
práticas alimentares.
A transição demográfica descreve uma transformação estrutural das populações
no curso do crescimento demográfico, onde se passa de um contexto de altas taxas de
mortalidade, baixa esperança de vida e elevada natalidade, para um estágio no qual a
esperança de vida aumenta fortemente ao mesmo tempo em que as taxas de mortalidade se
reduzem (POULAIN, 2004). Esse processo foi descrito pela primeira vez por volta de 1940
(OLIVEIRA, 2004).
Essa transição, segundo as teorias atuais, é uma sucessão de quatro estágios na
dinâmica populacional de um país ou região (OLIVEIRA, 2004; RIGOTTI, 2001). O primeiro
estágio é caracterizado por um equilíbrio populacional decorrente de altas taxas de natalidade
e mortalidade, principalmente infantil. No segundo estágio, este equilíbrio é desfeito,
ocorrendo uma explosão demográfica derivada da redução da taxa de mortalidade infantil e
33
conservação da alta taxa de fecundidade (OLIVEIRA, 2004).
Já no estágio seguinte, ocorre a redução acelerada das taxas de fecundidade e
baixas taxas de mortalidade, o que leva ao fenômeno do envelhecimento da população. O
quarto e último estágio da transição demográfica caracteriza-se por baixas taxas de
fecundidade e mortalidade, que proporcionam novamente um equilíbrio populacional
(OLIVEIRA, 2004).
A transição demográfica vem ocorrendo no mundo todo, tanto nos países
desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Em relação ao Brasil, essa transição tem sido
muito mais acelerada do que nos países desenvolvidos, nos quais o curso desta vem levando
décadas. Entretanto, o quadro brasileiro não se diferencia do que vêm passando outros países
latino-americanos e asiáticos (BRITO, 2007).
Uma vez que este processo está em curso no Brasil, descreveremos algumas
mudanças que demonstram esta transição. Em relação ao espaço físico, inverteu-se sua
ocupação demográfica, que passou de uma população fundamentalmente rural (66% nos anos
1950) à condição de um país urbano, com a maioria (80%) das pessoas atualmente radicadas
nas cidades. Esse processo de urbanização acelerada foi causado pelo intenso êxodo rural
iniciado na segunda metade do século passado e trouxe consigo grandes problemas, como o
aumento da violência, acidentes, desemprego, favelização e ocupação desordenada
(BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; RIGOTTI, 2001).
O desempenho reprodutivo também mudou radicalmente, saindo de um quadro
em que as mulheres tinham um alto padrão para um estágio de baixo padrão reprodutivo,
acontecendo uma diminuição maciça da taxa de natalidade e fecundidade (BATISTA FILHO;
RISSIN, 2003). Segundo Patarra (2000), entre 1940 e 1960 os níveis de fecundidade da
mulher brasileira mantiveram-se constantes ou em ligeira ascensão, registrando uma taxa de
fecundidade total em torno de 6,3 filhos por mulher. Foi a partir de meados dos anos 1960 que
a fecundidade começou uma rápida tendência de queda, registrando uma taxa de 5,8. Na
década seguinte, o declínio se acelerou, atingindo uma média de 4,4 filhos por mulher. No
início dos anos 1980, esse declínio acentua-se ainda mais, chegando a média nacional a 3,5.
Atualmente estima-se que esta média deve estar em torno de 2,1 filhos por mulher (BRASIL,
2005; RIGOTTI, 2001).
Além disso, as taxas de mortalidade começaram a apresentar declínio consistente
após os anos 40 do século passado (RIGOTTI, 2001), declinando de patamares acima de 300
óbitos por mil nascidos vivos em várias regiões na década de 1940, para níveis nacionais
médios de 30 por mil nascimentos (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).
34
A mortalidade infantil caiu substancialmente, apresentando uma redução
expressiva de 44,1% entre 1990 e 2003 (BRASIL, 2005), devido a alguns fatores como: a
maior cobertura dos serviços de saneamento básico, a ampliação da oferta de serviços de
assistência primária de saúde e médico-hospitalares, os programas de prevenção (vacinação,
aleitamento materno), a queda da fecundidade e a melhoria e abrangência do sistema
educacional (BERQUÓ, 2001).
Em função da nova equação demográfica, que combina baixa fecundidade e
reduzida mortalidade infantil, a vida média elevou-se, resultando numa maior expectativa de
vida. Em 1950, a esperança média de vida do brasileiro ao nascimento era de 45,7 anos e, em
2003, chegou aos 71,3 anos (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; BRASIL, 2005; NORONHA;
PEREIRA; VIACAVA, 2005).
Este aumento da expectativa de vida, por sua vez, ocasionou o aumento da
população adulta e idosa e diminuição da infantil e jovem (OLIVEIRA; CUNHA;
MARCHINI, 1996; RIGOTTI, 2001). Um novo perfil demográfico se desenhou, com redução
da população jovem, passando de 38,2% em 1980 para 29,6% em 2000, e incremento da
parcela de maior idade, uma vez que a população de 65 anos e mais aumentou em 47% no
período (NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005). Em 2000, os brasileiros com 60 anos
ou mais já representavam 8,6% da população total: mais de 14,5 milhões de pessoas
(BRASIL, 2005).
Diante disso, passou-se de uma pirâmide populacional de base larga e forma
triangular – característica de regimes demográficos de altas taxas de fecundidade e
mortalidade (países em desenvolvimento) – para uma forma mais uniforme de base reduzida –
típica de regimes de grande redução na fecundidade (países desenvolvidos) (BATISTA
FILHO; RISSIN, 2003).
Paralelamente à rápida transição demográfica, ocorreram outras mudanças
significativas como na estrutura de ocupações e empregos, passando de um mercado de
trabalho fundado no setor primário (agropecuária e extrativismo) para uma demanda de mãode-obra concentrada no setor secundário (indústria) e, sobretudo, no setor terciário da
economia (comércio e serviços). Chama a atenção o crescimento de quase 23% do setor
terciário ocorrido entre 1986 e 1989 (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; IUNES, 2000).
Esta mudança nas ocupações resulta em transformações no padrão de atividade
física, passando de atividades pesadas (trabalho braçal) a atividades leves (sedentarismo). Há
tempos atrás, a maior parte do trabalho exigia muito esforço físico e consequente alto gasto
energético. Além disso, a maioria das pessoas andava a pé ou de bicicleta para se locomover.
35
Atualmente, as pessoas trabalham mais sentadas ou em atividades de baixo gasto energético,
sendo que as máquinas e equipamentos substituem parte do trabalho físico anteriormente feito
por elas. A isso se adicionam as maiores opções de transporte, como carros e ônibus e
mudanças das atividades de lazer para computador e televisor, o que também contribui para a
redução das atividades físicas (BRASIL, 2005; SCHLINDWEIN; KASSOUF, 2007).
Além das mudanças nos padrões de emprego, ocorreram transformações cruciais
no que se refere à geração de renda e estilos de vida. Apesar de não terem ocorrido aumentos
históricos da renda, o valor relativo da renda per capita aumentou significativamente, por
força da diminuição em mais de 50% do tamanho da família economicamente dependente e
da participação crescente da mulher no mercado de trabalho (BATISTA FILHO; RISSIN,
2003).
Segundo Schlindwein e Kassouf (2007), a vida urbana implica maior participação
da mulher no mercado de trabalho, o que a obriga a dividir seu tempo entre a necessidade de
geração de renda e o cuidado com os filhos e com a casa. Ainda segundo o autor, em 2003 a
taxa de participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro era de 41,5%, de acordo
com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Já de acordo com os dados da
POF de 2002-2003 do IBGE, atualmente 54% das mulheres brasileiras trabalham.
A população economicamente ativa passou de 38% em 1980 para 46% em 2000.
Desafortunadamente, a distribuição social da renda não melhorou, mantendo-se ou até
aumentando o diferencial entre ricos e pobres, de forma que o Brasil é um dos três países mais
injustos do mundo no que se refere à partilha social das riquezas produzidas, o que demonstra
a tamanha desigualdade econômica e social (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; NORONHA;
PEREIRA; VIACAVA, 2005). Em 2002, considerando o indicador nacional de pobreza e
extrema pobreza, com base no valor do salário-mínimo (SM) (1/2 SM e 1/4 SM per capita,
respectivamente), havia 53 milhões de pobres e 20 milhões de pessoas em situação de
indigência no País (BRASIL, 2005).
No campo da educação, houve melhoras sensíveis, passando a taxa de
alfabetização de 74,6% em 1980, para 86,4% em 2000, sendo a melhora mais acentuada entre
as mulheres (NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005).
Melhoraram também as condições de saneamento (água potável e esgotos
sanitários). O percentual de população coberta pela rede geral de abastecimento de água
sofreu um incremento de 46%, variando de 52% em 1980 para 76% em 2000. Já em relação à
instalação sanitária, em 1980 somente 25% da população brasileira tinha acesso, passando
para 44% em 2000. Quanto à coleta de resíduos sólidos, em 2000 a cobertura nacional era de
36
76%, um incremento da ordem de 27% em relação a 1980 (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003;
NORONHA; PEREIRA; VIACAVA, 2005).
Todas essas intensas transformações demográficas, econômicas e sanitárias
levaram a mudanças nos padrões de morbidade e mortalidade ao longo dos tempos, gerando o
fenômeno da transição epidemiológica. A transição epidemiológica compreende a
substituição progressiva da alta morbidade e mortalidade por doenças infecciosas por perfis
de saúde dominados pela presença de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) (BRASIL,
2005).
O processo desta transição engloba três mudanças básicas: substituição das
doenças transmissíveis (infecciosas) por doenças não-transmissíveis e causas externas;
deslocamento da carga de morbi-mortalidade dos grupos mais jovens para os grupos mais
idosos e transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a
morbidade é dominante (SCHRAMM et al., 2004).
O perfil de mortalidade por causas sofreu alterações sensíveis nos últimos anos.
Em 1930, as doenças infecciosas e parasitárias foram responsáveis por 46% dos óbitos,
caindo para apenas 7% em 1985. Por outro lado, as doenças do aparelho circulatório
representavam 12% em 1930 e aumentaram para 33% em 1985. Também ocorreram aumentos
pronunciados para as neoplasias e mortes consequentes às causas externas, havendo um
aumento proporcional de 3% para 12% (PRATA, 1992).
Entre as cinco primeiras causas definidas de óbito em 1980, constavam doenças
do aparelho circulatório, causas externas, doenças infecciosas e parasitárias, neoplasias e
doenças do aparelho respiratório. Já em 2000, as doenças infecciosas e parasitárias perderam
sua relevância anterior, sofrendo um acentuado decréscimo em todas as regiões (NORONHA;
PEREIRA; VIACAVA, 2005). Atualmente, as DCNT são responsáveis por 33% dos óbitos,
vindo em segundo lugar as causas externas (15%) e em terceiro, as neoplasias malignas (12%)
(OLIVEIRA; CUNHA; MARCHINI, 1996).
Dentre os fatores responsáveis por esse intenso crescimento das DCNT
encontram-se: a mudança na pirâmide demográfica, com número maior da população idosa,
faixa etária onde essas doenças se manifestam com maior frequência; e o aumento da
longevidade, com períodos mais longos de exposição aos fatores de risco e maior
probabilidade de manifestação clínica dessas doenças (BARRETO et al., 2005).
Todas estas e outras mudanças socioeconômicas, demográficas e epidemiológicas
alteraram o perfil de saúde e nutrição da população, gerando um quadro em que há o
favorecimento do sedentarismo (devido à melhoria dos transportes e mudanças nos perfis de
37
empregos), a desestruturação das refeições familiares com consequente aumento das refeições
fora de casa e do consumo de alimentos industrializados (devido à crescente urbanização e
saída da mulher para o mercado de trabalho) e o aumento da prevalência das DCNT, dentre
elas a obesidade. Estas alterações resultam num processo denominado transição nutricional.
Esta transição consiste em mudanças seculares nos padrões de nutrição e
modificações da ingestão alimentar, como consequência de transformações econômicas,
sociais, demográficas e sanitárias (OLIVEIRA, 2004).
Este quadro é marcado pelo declínio considerável da desnutrição, ao mesmo
tempo em que o binômio sobrepeso/obesidade emerge como uma verdadeira epidemia
mundial, tanto na população adulta como na infantil. Estes dois extremos nutricionais,
atualmente, ocorrem paralelamente em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos como
nos em desenvolvimento, sendo o reflexo de todas as transformações ocorridas nas últimas
décadas (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; CLARO; MACHADO; BANDONI, 2007).
Segundo Batista Filho e Rissin (2003), a transição nutricional é um processo
caracterizado por quatro etapas. Na primeira etapa ocorreria o desaparecimento da desnutrição
protéica aguda e grave, que consiste na deficiência da ingestão de proteínas, resultando em
retenção hídrica (edema), retardo do crescimento, diminuição na imunidade, alterações de
pele e cabelo, dentre outras.
Na segunda etapa, aconteceria o desaparecimento da desnutrição protéicocalórica, caracterizada como a ingestão insuficiente de calorias e nutrientes, que causa perda
elevada e extrema da massa adiposa e muscular, retardo da estatura e do desenvolvimento
neuropsicomotor e queda da resistência imunológica (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).
A terceira fase é caracterizada pelo aparecimento do binômio sobrepeso/obesidade
em escala populacional, causados pela excessiva ingestão alimentar associada ao crescente
sedentarismo. E a última etapa da transição se configura na correção do déficit estatural, uma
vez que não há mais uma ingestão deficiente dos nutrientes (BATISTA FILHO; RISSIN,
2003).
No Brasil, assim como em outros países, este processo está amplamente em curso.
Até a década de 1980, o quadro nutricional esteve fortemente marcado por surtos epidêmicos
de fome, com elevados índices de prevalência da desnutrição energético-protéica. Nos anos
1990, a situação nutricional tem uma considerável redução da prevalência das formas graves
da desnutrição, agregando também a obesidade (ESCODA, 2002).
O avanço do excesso de peso foi constatado pela Pesquisa Nacional sobre Saúde e
Nutrição (PNSN) de 1989, que diagnosticou o agravo em 27 milhões de indivíduos,
38
correspondendo a 32,0% da população brasileira total. Destes, 6,8 milhões foram
considerados obesos (FERREIRA; MAGALHÃES, 2005).
A prevalência da obesidade é predominante nas classes sociais menos favorecidas
(baixa renda) e na população adulta feminina. Além disso, tende a ser mais frequente em áreas
de melhor desenvolvimento tais como o sul e o sudeste do país, sendo mais presente na zona
urbana do que na rural (FERREIRA; MAGALHÃES, 2005; SARTORELLI; FRANCO,
2003).
Este aumento abrupto e epidêmico da prevalência da obesidade tem sido
atribuído, entre outros, a alterações do consumo alimentar (SARTORELLI; FRANCO, 2003).
A transição nutricional implica mudanças no padrão alimentar “tradicional”, baseado no
consumo de grãos e cereais, que converge para um padrão alimentar com grandes quantidades
de alimentos de origem animal, gorduras, açúcares, alimentos industrializados e relativamente
de pouca quantidade de carboidratos complexos e fibras, a chamada “dieta ocidental”
(BRASIL, 2005; MONTEIRO et al., 2000; SOUZA; HARDT, 2002).
Segundo Mondini e Monteiro (1994), as mudanças no padrão alimentar brasileiro,
como consequência do processo de transição alimentar e nutricional, caracterizaram-se por:
redução do consumo de cereais e derivados, feijão, raízes e tubérculos, observada
principalmente da década de 70 para a década de 80; aumento contínuo no consumo de ovos,
leite e derivados; substituição da banha, bacon e manteiga por óleos vegetais e margarina e
aumento no consumo de carnes, principalmente a partir da segunda metade da década de 70.
Além disso, Bleil (1998) afirma que o Brasil também apresenta a tendência de substituir
carboidratos por lipídios e de trocar proteínas vegetais por proteínas animais.
Segundo Barreto et al. (2005), as maiores mudanças entre 1965 e 1997 foram:
redução na disponibilidade de cereais (de 36% para 31%) e leguminosas (de 12% para 6%),
aumento na disponibilidade de açúcar (16% para 19%), carnes (de 5% para 11%), óleos
vegetais (de 4% para 11%) e leite e ovos (de 6% para 8%).
O Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005) traz em seu
conteúdo a análise destas transformações das práticas alimentares, comparando os dados
obtidos em estudos populacionais de 1974 a 2003.
Sobre o consumo de cereais e derivados, tradicionalmente a base da alimentação
brasileira, houve uma redução de 5% neste consumo em geral. Mais especificamente o
consumo de arroz decresceu 23% e o de pão francês 13%. Paralelamente houve um aumento
expressivo e preocupante no consumo de biscoitos (400%), o que pode sugerir uma
indesejável substituição de alimentos mais saudáveis, como o arroz e o pão, por biscoitos, já
39
que o consumo de macarrão e farinha de trigo praticamente permaneceu o mesmo no período
estudado (BRASIL, 2005).
Fato semelhante tem ocorrido quanto ao consumo de feijões, tubérculos e raízes,
uma vez que a queda no consumo de feijão chegou a 31% e de tubérculos, raízes e derivados
32% (BRASIL, 2005). O feijão, ao lado do arroz, é também um alimento tradicional da dieta
brasileira, que vem perdendo sua importância de consumo nos lares brasileiros,
principalmente pelo trabalho e demora no preparo.
Segundo Schlindwein e Kassouf (2007), percebe-se uma considerável redução no
consumo domiciliar de alimentos que demandam maior tempo para o preparo das refeições,
como o arroz, o feijão e a batata-inglesa.
Quanto ao grupo das carnes, o consumo aumentou em cerca de 50%, sendo maior
a participação da carne de frango. Por outro lado, houve uma acentuada redução na
participação dos peixes na alimentação (BRASIL, 2005; MONDINI; MONTEIRO, 1994).
Um fato preocupante, pelo alto teor de gordura e sal, é o acréscimo de embutidos na
alimentação, que aumentou em quase 300% a sua participação energética (BRASIL, 2005).
Em relação aos ovos, houve também uma redução acentuada, sobretudo no
Centro-Sul do País, em cerca de 84% em sua participação na dieta, provavelmente em função
da maior aquisição de alimentos prontos para o consumo e consequente diminuição da
utilização de ovos em preparações caseiras (bolos e pães, por exemplo) (BRASIL, 2005;
MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000).
O grupo dos leites e derivados teve um aumento de 36% na alimentação brasileira,
sendo expressivo o aumento do consumo dos queijos (BRASIL, 2005; MONTEIRO;
MONDINI; COSTA, 2000).
Em contrapartida, a participação de frutas, legumes e verduras na dieta mantevese relativamente estável ou até reduziu durante este período, correspondendo entre 3 a 4% da
energia total da alimentação, ainda abaixo das recomendações (BLEIL, 1998; BRASIL,
2005). Estes dados demonstram o quão pobre em FLV é a alimentação da população
brasileira, pois o recomendável é que este consumo seja entre 7 a 8% do valor energético da
alimentação.
As grandes mudanças da alimentação estão relacionadas ao consumo de gorduras.
Em relação às gorduras de origem animal, no período decorrido entre 1974 a 2003, a redução
na participação desse grupo de alimentos foi importante (65%). Porém, estas gorduras foram
substituídas pelas de origem vegetal, havendo um crescimento de 16% na participação das
gorduras vegetais, principalmente sob a forma de óleo de soja e margarina (BRASIL, 2005;
40
MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). A banha de porco e o toucinho deram lugar ao
óleo de soja e a manteiga foi substituída pela margarina (BLEIL, 1998). Conforme Mondini e
Monteiro (1994), entre 1962 e 1988 o consumo de margarina no Brasil subiu de 0,4 para 2,5%
do total de calorias.
Em relação aos açúcares, o consumo de açúcar reduziu em 23%, porém o de
refrigerantes aumentou consideravelmente em 400%. Embora o grupo dos açúcares apresente
queda no período em questão, o considerável aumento no consumo de doces, refrigerantes e
biscoitos acarreta em aumento do consumo do açúcar adicionado aos alimentos e,
possivelmente, não representa uma melhora real de qualidade no padrão de consumo
alimentar (BRASIL, 2005; CLARO; MACHADO; BANDONI, 2007). Segundo Bleil (1998),
o refrigerante é um dos dez produtos alimentares mais consumidos, fazendo parte da cesta
básica do brasileiro. Só no Rio de Janeiro, o aumento no consumo de refrigerante foi de 268%
nos últimos vinte anos.
Todas essas mudanças são de extrema importância para o estabelecimento do
padrão alimentar atual da população. Em geral, houve a elevação do consumo de carnes e
alimentos industrializados (refrigerantes, biscoitos e refeições prontas) e a redução do
consumo de leguminosas, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras. Tais resultados
representam uma tendência desfavorável ao padrão de consumo alimentar em questão, com
avanço da participação dos alimentos predominantemente industrializados, fontes de gorduras
e açúcares, que propiciam o aumento da obesidade e das doenças crônicas não-transmissíveis
(BRASIL, 2005; CLARO; MACHADO; BANDONI, 2007; LEVY-COSTA et al., 2005).
Além disso, a sociedade ocidental urbana enfatiza o consumo, a pressa, a rapidez
e a eficiência, características incompatíveis com o saborear detalhado, que levam o homem
moderno a fazer suas refeições com pressa e muitas vezes as omitir ou, por outro lado,
consumir com exagero alimentos prontos, os fast-foods (CAVALCANTI; MELO, 2008).
A comensalidade contemporânea se caracteriza pela escassez de tempo para o
preparo e consumo de alimentos; pela presença de produtos gerados com novas
técnicas de conservação e de preparo, que agregam tempo e trabalho; pelo vasto
leque de itens alimentares; pelos deslocamentos das refeições de casa para
estabelecimentos que comercializam alimentos – restaurantes, lanchonetes,
vendedores ambulantes, padarias, entre outros; pela crescente oferta de preparações
e utensílios transportáveis; pela oferta de produtos provenientes de várias partes do
mundo; pelo arsenal publicitário associado aos alimentos; pela flexibilização de
horários para comer agregada à diversidade de alimentos; pela crescente
individualização dos rituais alimentares (GARCIA, 2003, p. 484).
Todos estes dados levantados nos mostram que o padrão da alimentação brasileira
é um reflexo das mudanças históricas, sociais, demográficas e epidemiológicas pelas quais a
41
sociedade tem passado, levando a transformações nas práticas alimentares. Estas alterações
têm levado ao declínio do consumo de cereais e leguminosas (como arroz e feijão,
considerados como uma marca da cultura alimentar brasileira) e alimentos vegetais (frutas,
legumes e verduras), ao passo em que o consumo de açúcares (biscoitos e refrigerantes) e
gorduras (óleo e margarina) aumenta consideravelmente.
Destaca-se a grande influência da cultura nas práticas alimentares, uma vez que
no atual mundo capitalista, o consumismo se torna uma palavra de ordem. A influência dessa
cultura do consumo de massas, expressada também pela mídia, leva as pessoas a se
alimentarem em quantidades cada vez maiores e de produtos com valor nutricional duvidoso.
Este padrão alimentar é seguido por todas as classes sociais e também por todas as
faixas etárias, especialmente pelos adolescentes. Diante disso, é importante conhecer os
hábitos de consumo alimentar dos adolescentes, especialmente sobre a ingestão de FLV, o
que será exposto a seguir.
42
3 O ADOLESCENTE E SEU CONSUMO ALIMENTAR
Adolescência, palavra originária do latim ad (a, para) e olescer (crescer),
adolescere, que significa processo de crescer, é um período de várias mudanças e de transição
entre a infância e a vida adulta, que acontece entre os 10 e 19 anos de idade (ARAÚJO, 2008;
GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999).
A adolescência é dividida em duas fases: fase I, que vai dos 10 aos 14 anos e fase
II, que vai dos 15 aos 19 anos. Na fase inicial da adolescência (10 a 14 anos), chamada de
puberdade, ocorrem o estirão de crescimento, aumento rápido das secreções de diversos
hormônios e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários (maturação sexual). Já a fase
final (15 a 19 anos), caracteriza-se pela desaceleração destes processos (crescimento e
desenvolvimento) (ALBANO; SOUZA, 2001; GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO,
2003).
Segundo Andrade (2007), uma em cada cinco pessoas no mundo é adolescente,
portanto, aproximadamente, 20% da população mundial. No Brasil, de acordo com dados do
IBGE dos anos de 1991 e 2000, os adolescentes representam cerca de 21% da população,
totalizando mais de 35 milhões de habitantes (EISENSTEIN et al., 2000).
De acordo com Mahan e Stump (2003), “a adolescência é um dos períodos mais
desafiadores no desenvolvimento humano”, sendo caracterizado por diversas mudanças
biopsicossociais e também pela transformação dos impulsos do desenvolvimento mental,
emocional e social, que culminam com o completo crescimento físico e maturação sexual, a
consolidação da personalidade, a independência econômica e a integração do indivíduo em
seu grupo social (ANDRADE, 2007; EISENSTEIN et al., 2000).
Além disso, neste período o adolescente começa a definir sua identidade e
estabelecer um sistema de valores pessoais, adquirir responsabilidades e aumentar sua
capacidade cognitiva (GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; SIGULEM;
DEVINCENZI; LESSA, 2000).
Acrescentam-se a estas, as mudanças psicológicas, descobertas, o desabrochar da
sexualidade, aumento do número de amigos, envolvimento e influência grupal, busca de
autonomia, demandas escolares e de trabalho, pressões, modificação das preferências
alimentares e rebeldia contra os padrões familiares (ARAÚJO, 2008; FISBERG et al., 2000;
ILHA, 2004).
43
Sobre a busca de autonomia, Boog et al. (2003) afirmam que os adolescentes a
fazem contestando a autoridade dos pais, rejeitando e questionando os valores e hábitos
aprendidos e cultivados pela família. Com isso, ele se liberta da família e, portanto, da
socialização primária6 que ocorre no grupo familiar, para atingir sua independência pessoal.
Esta é conquistada a partir de relações com outros da mesma idade, formando um grupo de
referência marcado pela afetividade e pela similaridade de condição, partilhando jargões,
modos de vestir e hábitos diversos, buscando juntos definições de novos referenciais de
comportamento e identidade (ILHA, 2004).
A partir do momento em que o adolescente estabelece sua “turma”, ele passa a ser
influenciado por ela e a agir como os outros membros do grupo, a fim de ser aceito
socialmente, modificando inclusive seus hábitos alimentares, tornando-os semelhantes aos do
grupo e cada vez mais distantes dos aprendidos em sua família.
Todas essas mudanças são amplas, rápidas e variadas, sendo influenciadas por
fatores hereditários, ambientais (social, cultural e econômico), nutricionais e psicológicos
(ARAÚJO, 2008; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; ILHA, 2004), podendo
ser internos ou externos. Os internos incluem auto-imagem, necessidades fisiológicas e saúde
individual, valores, preferências e desenvolvimento psicossocial. Os externos são hábitos
familiares, amigos, valores e regras sociais e culturais, mídia, modismos, experiências e
conhecimentos (GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999).
Segundo Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), todas as transformações
ocorridas durante a adolescência têm efeito sobre o comportamento alimentar, uma vez que os
processos de crescer e se alimentar implicam no estabelecimento de relações, na realização de
escolhas, na identificação com valores sociais e padrões estabelecidos e na adoção de diversos
hábitos, horários e estilos de vida (TORAL; SLATER; SILVA, 2007).
A adolescência, por se tratar de uma fase de maior velocidade no crescimento
estatural, apresenta uma demanda energética elevada, devendo a alimentação ser quantitativa
e qualitativamente adequada, para atender às necessidades nutricionais específicas desse
período da vida (BRAGA; MOLINA; CADE, 2007; GODOY et al., 2006). Por isso, os
hábitos alimentares exercem grande influência sobre o crescimento, desenvolvimento e saúde
em geral desses indivíduos (NEUTZLING et al., 2007), pois uma alimentação insuficiente,
6
Conceito estabelecido e bastante utilizado pelas Ciências Sociais, defendido por alguns pensadores, como
Berger e Luckmann. A socialização primária é definida como a que é imposta às crianças, onde outras pessoas
(família) filtram o mundo social para elas, encarregando-se de sua socialização.
Fonte: GRIGOROWITSCHS, T. O conceito “socialização” caiu em desuso? Uma análise dos processos de
socialização na infância com base em Georg Simmel e George H. Mead. Educação & Sociedade, Campinas, v.
29, n. 102, jan./abr. 2008.
44
deficiente ou excessiva pode acarretar prejuízos ao crescimento e à saúde do adolescente,
gerando problemas como excesso de peso e doenças crônicas não-transmissíveis, típicos da
transição nutricional.
3.1 A transição nutricional e seu impacto sobre o estado nutricional dos adolescentes
A transição nutricional, como descrita anteriormente, atribui-se a mudanças no
perfil nutricional da população, caracterizada pelo aumento da prevalência da obesidade e
redução da prevalência de desnutrição (OLIVEIRA, 2004).
Este fenômeno, como já foi visto, é causado por mudanças no consumo alimentar
da população brasileira nas últimas décadas, em que os alimentos mais tradicionais, como
raízes, tubérculos e cereais, foram sendo gradualmente substituídos por alimentos mais ricos
em gorduras e açúcares, a chamada “dieta ocidental”. Essa alteração no consumo alimentar,
combinada à diminuição progressiva de exercício físico, vem contribuindo para um aumento
no número de casos de sobrepeso e obesidade (MARINHO; HAMANN; LIMA, 2007).
Essas modificações nos padrões de consumo têm colocado a população brasileira
em maior risco de doenças crônicas não-transmissíveis e excesso de peso. A alta prevalência
de sobrepeso/obesidade é considerada, atualmente, como um dos mais importantes problemas
de saúde pública. No Brasil, nas últimas décadas observou-se grande aumento desta
prevalência inclusive entre adolescentes (CHIARA; SICHIERI; MARTINS, 2003).
Este fato é alarmante, pois estudos epidemiológicos demonstram que o consumo
excessivo desses alimentos (ricos em gorduras e açúcares) na adolescência pode provocar
aumento na quantidade de tecido adiposo e, em decorrência, o sobrepeso pode persistir na
vida adulta, aumentando os riscos de incidência de câncer de cólon e reto (GARCIA;
GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003).
Segundo Sichieri e Souza (2008), o aumento da obesidade em crianças e
adolescentes é particularmente preocupante, uma vez que esta, principalmente na
adolescência, é fator de risco para a obesidade na vida adulta.
A obesidade na infância e adolescência já é considerada uma epidemia mundial.
Sua prevalência aumentou cerca de 50% na última década e atualmente cerca de um quarto
das crianças são obesas ou apresentam sobrepeso. Este fato é alarmante, pois de 40% a 80%
das crianças e adolescentes obesos serão adultos obesos. Dados de diversos estudos de coortes
45
possibilitam estimar que cerca de 50% das crianças obesas aos 7 anos serão adultos obesos,
enquanto 80% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos (DALABONA, 2008;
LAMOUNIER; ABRANTES, 2003).
Leão et al. (2003) lembram que a obesidade se caracteriza pelo acúmulo
excessivo de gordura corporal a nível tal que a saúde possa ser prejudicada. Além de ser
considerada como uma doença, é também fator de risco importante para diabetes mellitus tipo
II, hipertensão arterial, dislipidemias, doenças cardiovasculares, osteoporose, entre outras,
patologias que antes eram comuns somente em adultos ou idosos e que agora estão se
manifestando em adolescentes (FISBERG et al., 2000).
O excesso de peso na adolescência também está associado a distúrbios
psicológicos, respiratórios, cânceres, resistência à insulina, distúrbios hepáticos e
gastrintestinais, apnéia do sono e complicações ortopédicas (DALABONA, 2008). Além
disso, devem-se destacar os prejuízos no convívio social que o adolescente pode vir a passar,
uma vez que nesta faixa etária é comum a prática do bulling, onde o obeso se torna alvo de
perseguições, piadas, humilhações e violência física e psicológica. Isto pode afetar seu
comportamento e relacionamento social.
No Brasil, vários estudos epidemiológicos vêm sendo conduzidos no sentido de
estimar a prevalência da obesidade em crianças e adolescentes.
Comparando-se os dados de três grandes estudos populacionais nacionais
realizados pelo IBGE, verifica-se um aumento alarmante das taxas de excesso de peso em
adolescentes brasileiros. No Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), realizado em
1974-1975, a prevalência de excesso de peso para meninos e meninas foi de 2,6% e 5,8%,
respectivamente. Na Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) realizada em 1989,
verificou-se que 54,7% dos adolescentes apresentaram peso adequado para a estatura, 26,3%
tinham déficit ponderal e 19% demonstraram peso acima do esperado para a estatura
(EISENSTEIN et al., 2000; TORAL; SLATER; SILVA, 2007).
Já os resultados da Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), de 1996-1997, revelam
que o excesso de peso entre os meninos aumentou para 11,8% e entre as meninas para 15,3%
(TORAL, SLATER, SILVA, 2007).
De acordo ainda com dados da POF 2002/03, o excesso de peso na população
adolescente brasileira é de cerca de 18,0% no sexo masculino e 15,0% no sexo feminino
(DALABONA, 2008).
Alguns resultados de estudos sobre a prevalência de sobrepeso e obesidade
encontram-se listados na TAB. 1.
46
TABELA 1
Prevalência (%) de sobrepeso e obesidade em adolescentes.
Referência
Localidade
N
Obesidade
Sobrepeso
Ribeiro et al., 1998
Belo Horizonte, MG
1500
2,1
6,4
Silva; Ferratore; Terezani, 1999
Piracicaba, SP
8731
Fisberg et al., 2000
São Paulo, SP
145
3,5
7,6
Frutuoso et al., 2000
São Paulo, SP
153
7,8
11,8
Pimenta e Gambardella, 2000
São Paulo, SP
307
7,8
7,2
Dunker e Philippi, 2000
São Paulo, SP
220
7,7
Nuzzo et al., 2000
São Paulo, SP
200
20,8-42,9
Fonseca et al., 1998
Rio de Janeiro, RJ
391
7,2-23,9
Costa et al., 2000
Rio de Janeiro, RJ
173
11,6
Oliveira et al., 2000
Rio de Janeiro, RJ
502
7,6-14,0
8,0
Natalizi et al., 2000
Petrópolis, RJ
87
10,4
7,9
Fisberg et al., 2000
Pauiní, AM
750
9,0
4,2-20,0
Lyra e Mendonça, 2000
Natal, RN
323
10,2-17,9
12,0
Felipe et al., 2000
Bombinhas, SC
331
Monteiro et al., 2000
Pelotas, RS
493
9,0
Chaul et al., 2000
Goiânia, GO
243
3,0-4,2
Nunes e Pereira, 2000
Montes Claros, MG
281
22,1
Silva et al., 2000
Ouro Preto, MG
450
Jansen et al., 2000
Uberlândia, MG
117
Passos, Deiró, Medeiros, 1999
Salvador, BA
56
37,5
Costa et al., 1999
Rio de Janeiro, RJ
71
17,6
Costa et al., 2000
Rio de Janeiro, RJ
173
11,6
Veiga et al., 2000
Rio de Janeiro, RJ
2098
Fisberg et al., 2000
São Paulo, SP
51
8,0
Teixeira e Rodrigues, 2000
São Paulo, SP
39
82,0
Goldberg et al., 2000
Botucatú, SP
211
12,6-26,9
Goldberg et al., 2000
Botucatú, SP
258
40,2-48,3
Arrais et al., 2000
Natal, RN
55
24,2
Beller, 2000
Camboriú, SC
105
4,0-9,0
Barros et al., 2000
Ouro Preto, MG
418
16,6-25,8
Lamounier et al., 2000
Belo Horizonte, MG
114
18,5
23,8
5,2-24,5
7,3-8,0
10,6
8,7
13,8
12,0
12,0
Fonte: Adaptado de LAMOUNIER; ABRANTES, 2003, p. 281.
Em Campina Grande/PB, Nunes, Figueiroa e Alves (2007) realizaram estudo
transversal com adolescentes entre 10 e 19 anos matriculados em duas escolas, uma pública e
outra privada, no ano letivo de 2004. Os alunos foram categorizados, segundo critérios
socioeconômicos, em classes econômicas. Os autores relataram maior incidência de excesso
47
de peso (sobrepeso/obesidade) entre indivíduos das classes mais favorecidas A1, A2 e B1
(31,4%), do que nas classes menos favorecidas C, D e E (18,1%).
No estudo transversal realizado por Santos et al. (2005) com adolescentes de 17 a
19 anos, matriculados em 23 escolas públicas municipais de Teixeira de Freitas – BA, no
período de outubro a dezembro de 2001, foi evidenciada maior prevalência de sobrepeso e
obesidade (5,1%) no sexo feminino e de magreza no masculino (6,4%), sendo a prevalência
geral de magreza e de sobrepeso/obesidade de 4,2% e 4,0%, respectivamente.
Albano e Souza (2001) realizaram um estudo transversal em escola pública de
ensino fundamental e médio no Município de São Paulo, com 92 alunos de 5ª a 8ª séries do
ensino fundamental, entre 11 e 17 anos, matriculados em 1998. As prevalências de “risco de
sobrepeso” e “sobrepeso” foram para o sexo masculino de 27,9% e 4,6%, respectivamente, e
para o sexo feminino foram de 10,2% e 16,3%, respectivamente.
Em Teresina – PI, Carvalho et al. (2001) pesquisaram 334 adolescentes de 10 a 19
anos, matriculados na rede privada de ensino. Apesar da maioria (77,2%) dos adolescentes
apresentarem eutrofia quanto ao índice de massa corporal, o risco para o sobrepeso atingiu
cerca de 20% nos estudantes investigados. Em contrapartida, o baixo peso (2,3%) não
alcançou o limite esperado que é de 5%. Os maiores percentuais de sobrepeso (IMC ≥P85)
foram encontrados na população masculina (24,8%), situação encontrada em apenas 15,5%
das meninas.
Dalabona (2008) estudou 759 adolescentes entre 10 e 19 anos matriculados nas
redes pública e privada do Distrito de Pinheiros do Município de São Paulo, entre junho e
outubro de 2007. A prevalência de excesso de peso foi de 25,2% (meninos 27,3%; meninas
23,8%). O excesso de peso se mostrou positivamente associado à prática de dieta e
inversamente associado ao consumo de alimentos não-saudáveis na rede escolar e ao consumo
de alimentos saudáveis em escolas privadas. A autora não encontrou associação entre excesso
de peso e omitir/substituir refeições ou praticar atividade física dentro ou fora do colégio.
Ainda na cidade de São Paulo, Garcia, Gambardella e Frutuoso (2003) avaliaram
o estado nutricional e o consumo alimentar de 153 adolescentes dos sexos masculino e
feminino, com média de idade de 11,90 ± 1,26 anos, de baixo nível socioeconômico,
matriculados em um Centro de Juventude. Com relação ao estado nutricional, 78,4% dos
adolescentes encontravam-se na faixa de normalidade, 11,8% apresentavam risco de
sobrepeso, 7,8% estavam com sobrepeso e 2,0% tinham baixo peso.
Em Fernandópolis – SP, Vidotti (2008) avaliou o estado nutricional de
adolescentes entre 10 e 15 anos, de ambos os sexos, matriculados no ensino fundamental de
48
escolas da rede privada e pública. Verificou-se que 52% estavam eutróficos, 6% com baixo
peso, 12% com risco para baixo peso, 18% com sobrepeso e 12% estavam obesos.
Campos, Leite e Almeida (2006) realizaram pesquisa transversal com
adolescentes escolares de 10 a 19 anos do ensino público e privado do Município de Fortaleza
- CE, no período de março a maio de 2003. Foram avaliados o índice de massa corporal e o
nível socioeconômico das famílias pelos Critérios de Classificação Econômica do Brasil. Foi
encontrada maior prevalência de sobrepeso/obesidade nas classes de maior nível
socioeconômico (24,8%) em relação às de menor nível (17,4%). Nas classes de maior nível
socioeconômico, a frequência de sobrepeso/obesidade nos adolescentes masculinos foi de
33,7%, enquanto que nas de menor nível foi de 14,4%. Nas adolescentes de maior nível
socioeconômico observou-se uma prevalência de 15,7%, enquanto que nas de menor nível a
prevalência foi de 19,8%, diferença estatisticamente não significante.
Já em Recife - PE, Silva e Balaban (2000) realizaram estudo do tipo transversal
com 430 estudantes de 10 a 19 anos de uma escola de classe média/alta da rede privada, no
ano de 1999. As autoras encontraram uma prevalência de sobrepeso de 20%, com variação de
16% a 24%; para obesidade, foi de 4,2% com variação de 2 a 6%. O sobrepeso e a obesidade
foram maiores nos adolescentes do sexo masculino (35,7% e 9,7%) do que nos do sexo
feminino (11,2% e 4,2%, respectivamente).
É importante destacar que todos os estudos levantados neste referencial
demonstram em seus resultados uma grande prevalência de sobrepeso e obesidade,
acometendo cerca de 30% dos adolescentes. Esta prevalência acontece em vários níveis sócioeconômicos (alta e baixa renda) e em todas as regiões brasileiras. Esses dados comprovam
que a transição nutricional é um fenômeno que vem ocorrendo com grande força em nosso
país, especialmente entre os adolescentes.
Este fato chama a atenção para a necessidade de desenvolvimento de medidas que
identifiquem, combatam e/ou controlem precocemente os desvios ponderais e nos propõe a
pensar em ações de baixo custo e alta efetividade que devem ser tomadas para prevenir e
contribuir para a melhoria deste quadro. Dentre elas, pode-se citar a diminuição do
sedentarismo através do estímulo à prática de atividades físicas e, principalmente, a melhoria
da qualidade alimentar dos adolescentes através do estímulo ao aumento do consumo de
frutas, legumes e verduras e diminuição de alimentos ricos em gorduras e açúcares.
Neste sentido, e com o fim de embasar tais medidas, faz-se necessário conhecer o
consumo alimentar do adolescente nos tempos atuais.
49
3.2 Consumo alimentar do adolescente na atualidade
Como visto, a transição nutricional é um fenômeno em curso atualmente e de
grande impacto sobre a população brasileira, especialmente sobre os adolescentes. Estes se
constituem alvo vulnerável para adoção de hábitos alimentares errôneos, uma vez que estão à
mercê dos veículos de comunicação de massa e das consequências da globalização. Além do
mais, a maioria ainda não estabeleceu seu hábito alimentar, tendo tendência a aderir tudo o
que é novo e diferente como forma de contrariar os valores vigentes até então (família,
sociedade, etc.).
O comportamento alimentar do adolescente está fortemente influenciado pelos
seus hábitos alimentares e vinculado ao grupo etário a que pertence. Portanto, as práticas
alimentares na adolescência são reflexos dos valores apreendidos não apenas na família, mas
também na escola e com os amigos, além da mídia. Todos influenciam na escolha dos
alimentos e estabelecem o que é socialmente aceito (CAVALCANTE; PRIORE;
FRANCESCHINI, 2004; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; SANTOS et al.,
2005).
Sobre a influência da família, sabe-se que ela é responsável pela formação dos
hábitos alimentares do adolescente desde a infância. Porém Ximenes et al. (2006) afirmam
que, às vezes, a família tende a criar práticas errôneas no filho adolescente como uma forma
de superproteção.
Segundo Feijó et al. (1997), é na adolescência que os padrões alimentares são
estabelecidos, constituindo a base destes na idade adulta. Vários fatores interferem no
consumo alimentar na adolescência, tais como: valores sócioculturais, fatores psicológicos,
fisiológicos, convivências sociais, situação financeira familiar, alimentos consumidos fora de
casa, aumento do consumo de alimentos semipreparados, hábitos alimentares, disponibilidade
de alimentos, facilidade de preparo, imagem corporal e influência exercida pela mídia
(FISBERG et al., 2000; GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003; TORAL et al.,
2006).
Os adolescentes, usualmente, precisam consumir grandes quantidades de
alimentos com frequência devido ao pico de desenvolvimento. Porém, deve-se ter muito
cuidado com os hábitos adotados durante esta fase para que isso não contribua para uma série
de doenças debilitantes quando o crescimento tiver cessado, como a obesidade (GARCIA;
GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003; ILHA, 2004; MAHAN; STUMP, 2003).
50
Segundo Toral, Slater e Silva (2007), as práticas alimentares inadequadas e o
aumento do sedentarismo entre adolescentes estão relacionados ao aumento da prevalência de
obesidade, que acompanha o processo de transição nutricional constatado na sociedade
brasileira.
Por outro lado, nessa fase, o indivíduo está mudando o corpo e buscando a
imagem corporal idealizada, muitas vezes tendo uma alimentação inadequada que pode levar
a desequilíbrios nutricionais e interferir no crescimento e no estado de saúde (SANTOS et al.,
2005). Sobre este fato, Sampei et al. (20017 citados por XIMENES et al., 2006) afirmam que
a inadequação de dietas é mais comum entre adolescentes do que em qualquer outro segmento
da população, podendo ser causada, entre outros, por instabilidade emocional, desejo
obsessivo de emagrecer, instabilidade geral no estilo de vida e circunstâncias sociais. Estes
desequilíbrios alimentares favorecem a ocorrência de desvios nutricionais, levando muitas
vezes a uma ingestão insuficiente de macro e micronutrientes (TORAL; SLATER; SILVA,
2007).
Esta inadequação ocorre mais comumente entre as adolescentes do sexo feminino.
Sobre este assunto, Braggion, Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que as adolescentes têm
medo de engordar e em consequência desejam um controle do seu peso, tendo grande
preferência por alimentos mais saudáveis quando comparadas aos meninos. Este fato tem
grande relação com o peso, aparência corporal, maior frequência de dietas e desordens
alimentares.
De acordo com Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), os adolescentes tendem a
viver o momento atual, não dando importância às consequências de seus hábitos alimentares,
que podem ser prejudiciais. Porém, sabe-se que o consumo alimentar adotado nessa fase da
vida tem sérias implicações, em longo prazo, no crescimento, na promoção de saúde e no
desenvolvimento do comportamento alimentar durante a vida adulta (TORAL et al., 2006).
Um ponto importante a se destacar é a grande influência que a mídia tem sobre o
comportamento alimentar desta faixa etária, agindo sobre seus ideais de imagem corporal e
principalmente sobre o consumo alimentar, incentivando o consumo de alimentos calóricos e
pouco nutritivos.
Para o marketing da indústria de alimentos, o adolescente constitui “presa” fácil
do sistema produtivo, pois os alimentos apresentados como mercadorias-símbolo, encontram
nele um terreno fértil para suas vendas. Isso é possível graças à busca pela beleza, saúde,
7
SAMPEI, G.M.A. et al. Adolescência: estado nutricional, práticas e distúrbios alimentares e atividade física.
São Paulo: Editora de Projetos Médicos, 2001.
51
aceitação social ou sucesso sexual que os adolescentes têm. A mídia elege o adolescente como
consumidor privilegiado e sensível às mensagens, convencendo-o de que essas realizações
serão certamente alcançadas por quem adquirir determinado alimento ou bebida, mercadoriafetiche, que preenche desejos criados por ela (mídia) e, muitas vezes, substitui carências de
outras naturezas (BOOG et al., 2003).
Essa influência é possível graças ao grande tempo de exposição gasto pelos
adolescentes frente aos veículos de comunicação de massa, especialmente a televisão. Nos
últimos tempos, nota-se significativo aumento do tempo gasto com o hábito de assistir à TV.
No Brasil, crianças e adolescentes passam de três a cinco horas por dia diante da TV, sendo
maior a exposição em famílias de renda mais baixa (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI,
2002; ANSALONI, 2007).
De acordo com estudos, uma exposição de apenas 30 segundos a comerciais de
alimentos é capaz de influenciar a escolha a determinado produto. Quanto mais jovem, menos
o adolescente se cansa com a repetição desses comerciais e mais acredita no que está vendo,
tendendo a cumprir o que o anúncio lhe sugere. Isso mostra o papel da TV no estabelecimento
de hábitos alimentares, uma vez que o adolescente pode aprender concepções incorretas sobre
o que é um alimento saudável (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; ANSALONI,
2007).
A publicidade é direcionada, sobretudo, para produtos supérfluos, fontes de
calorias-vazias, gorduras, óleos, açúcares e sódio, o que vem reforçar, para as gerações
seguintes, a tendência observada no padrão de consumo e na prevalência de doenças crônicas,
podendo contribuir para a obesidade e/ou hipertensão se consumidos na proporção em que são
anunciados na televisão (ALMEIDA; NASCIMENTO; QUAIOTI, 2002; BOOG et al., 2003;
MIOTTO; OLIVEIRA, 2006).
Um estudo de Almeida, Nascimento e Quaioti (2002), realizado em São Paulo,
revelou que 27,5% dos comerciais no horário classificado como infantil abordavam gêneros
comestíveis industrializados, na seguinte ordem de distribuição do conteúdo: gorduras, óleos,
açúcares e doces: 57,8%; pães, cereais, arroz e massas: 21,2%; leite, queijos e iogurtes:
11,7%; carnes, ovos e leguminosas: 9,3%.
Em outra pesquisa brasileira, realizada em 2004, a programação de três emissoras
da televisão aberta durante a exibição de desenhos animados, programas de auditório e
novelas foi gravada por trinta dias. Os comerciais de alimentos constituíram a maioria dos
anúncios (22%), à frente até das propagandas de brinquedos (15%). Dentre os alimentos
anunciados, as guloseimas — bolachas, doces e balas — figuravam em primeiro lugar (37%
52
dos comerciais), seguidas por produtos lácteos (17%) e cereais (14%) (HALPERN, 20048
citado por ANSALONI, 2007).
Os prejuízos relacionados a esta alta exposição de crianças e adolescentes à
televisão vão desde o estabelecimento de maus hábitos alimentares até à crescente prevalência
da obesidade. Há demonstrações de que, entre outros diversos fatores, o tempo que um
adolescente passa assistindo à TV pode estar associado à obesidade, pois cada hora diante da
TV pode resultar em aumento de até 2% em sua prevalência (ALMEIDA; NASCIMENTO;
QUAIOTI, 2002).
(...) a televisão exerce influência significativa no consumo alimentar — aumento de
calorias vazias — e tal consumo é influenciado pela propaganda de alimentos
veiculada. (...) o tempo que as crianças passam assistindo à TV representa um
período de baixa atividade física, além de fator de competição com outras atividades
de lazer em que se consumiria mais energia (ANSALONI, 2007, p. 13).
Como visto, a mídia influencia negativamente o comportamento alimentar dos
adolescentes. Porém, este é influenciado também pela globalização e por mudanças ocorridas
na estrutura das sociedades, como a participação da mulher no mercado de trabalho, que
imprimem transformações também nos padrões alimentares. Disso resulta o consumo
alimentar atual dos adolescentes, que se caracteriza pela abundância em produtos
industrializados e desritualização das refeições, conforme exposto por Santos et al. (2005):
Em relação ao consumo alimentar, é consenso que, no século XX, mudanças
ocorridas na estrutura familiar, como a inserção da mulher no mercado de trabalho,
influenciaram o padrão alimentar, sendo incomuns refeições com horários definidos
e cardápios elaborados para o consumo em família, especialmente nas grandes
cidades, onde as atividades são exercidas em diferentes horários e contextos. Na
atualidade, entre os determinantes do consumo alimentar, também se destaca, em
diferentes culturas, a influência da globalização, mais perceptível nas zonas urbanas,
onde se observa o consumo exagerado de alimentos industrializados a partir da
influência norte-americana nos costumes de diferentes países (SANTOS et al., 2005,
p.625).
Triches e Giugliani (2005) afirmam que tanto o volume da ingestão alimentar,
como também a composição e qualidade da dieta, têm sido relacionados à obesidade.
Segundo o autor, o aumento contínuo da adiposidade, o pouco consumo de frutas, hortaliças e
leite, o aumento no consumo de guloseimas e refrigerantes, o consumo de refeições de modo
irregular, bem como a omissão do café da manhã são consequências das mudanças nos
8
HALPERN, G. Comerciais veiculados em programação infanto-juvenil de canais abertos de TV e sua relação
com escolha de alimentos em amostras de escolares [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo
- Programa de Pós-graduação em Ciências Aplicadas à Pediatria, 2004.
53
padrões alimentares (ANDRADE, 2007; GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999;
LIMA; ARRAIS; PEDROSA, 2004; TORAL; SLATER; SILVA, 2007).
O adolescente, normalmente, tem suas preferências individuais, segue modismos,
não gosta de muitos esforços e tem indisponibilidade de tempo para dedicar a uma refeição, o
que o faz optar por uma alimentação facilitada e que pode ser feita com os amigos
(GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; FISBERG et al., 2000).
Sua alimentação, típica da vida moderna, caracteriza-se pelo alto consumo de
lanches e fast-foods entre as refeições: comidas prontas, sanduíches, salgadinhos e bolachas.
Conforme Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), certas preparações podem ser admissíveis
quando fazem parte de uma dieta adequada e balanceada, mas, geralmente apresentam grande
quantidade de energia e baixa quantidade de ferro, cálcio, vitamina A e fibras.
Outros estudos realizados no Brasil sobre o consumo alimentar dos adolescentes
revelam baixa ingestão de produtos lácteos, frutas, hortaliças e alimentos que são fonte de
proteína e ferro, concomitante ao excesso de açúcar e gordura (CARVALHO et al., 2001;
GAMBARDELLA; FRUTUOSO; FRANCH, 1999; ILHA, 2004).
Esta alimentação de baixa qualidade, muitas vezes, leva o adolescente a
apresentar deficiência de certas vitaminas e minerais como o cálcio. Segundo Fisberg et al.
(2000), a deficiência de cálcio é bem preocupante, pois a maioria dos adolescentes não atinge
sequer dois terços das recomendações diárias para o cálcio. Vários estudos mostram
resultados semelhantes de inadequação de consumo de cálcio entre adolescentes,
independentemente do nível socioeconômico (GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO,
2003).
Outro mineral de importância é o ferro, cuja deficiência é um dos problemas
nutricionais frequentes entre os adolescentes e que pode trazer repercussões não só à saúde
como também às aptidões e rendimento escolar dos indivíduos. Pode também causar
depressão do sistema imunológico, diminuição da síntese de neurotransmissores e mielina e
anemia ferropriva. O ferro é importante para as meninas, devido às perdas menstruais e para
os meninos, devido ao aumento da massa magra e do volume sanguíneo (FISBERG et al.,
2000; GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003).
Sargent, Kemper e Schulken (19949 citados por GAMBARDELLA; FRUTUOSO;
FRANCH, 1999), observaram baixo consumo de fibras, ferro e cálcio e alto consumo de
9
SARGENT, R.G.; KEMPER, K.A.; SCHULKEN, E. Dietary behaviors of South Carolina adolescents. Journal
of the South Carolina Medical Association, Columbia, v.90, n.6, p.263-269, 1994.
54
proteínas e colesterol em estudantes da Carolina do Sul, Estados Unidos, bem como baixa
ingestão de frutas e hortaliças cruas e cozidas.
No Brasil, diversos estudos têm sido conduzidos no sentido de conhecer os
hábitos de consumo alimentar dos adolescentes. Alguns deles serão descritos a seguir.
O estudo de Carvalho et al. (2001), em Teresina - PI, objetivou estudar o consumo
alimentar de adolescentes de 10 a 19 anos matriculados na rede privada de ensino. Os
resultados encontrados pelos autores indicam prevalência elevada de risco para o sobrepeso
(19,8%). Os meninos consumiram com maior frequência alimentos energéticos (milho,
manteiga, pizza, lasanha, sucos industrializados, refrigerantes) e construtores (frango, ovos,
leguminosas) em relação às meninas. Os adolescentes de 10 a 13 anos consumiram com maior
frequência milho, mel, açúcar e rapadura, enquanto aqueles com idade entre 17 e 19 anos
consumiram mais arroz, bolos, biscoitos, rosca, balas, goma de mascar, refrigerantes e frutas
verde-amareladas.
Já no trabalho de Vidotti (2008), com adolescentes de 10 a 15 anos da rede
pública e privada de ensino do município de Fernandópolis- SP, foi visto que a omissão de
refeições é uma prática frequente dos adolescentes, principalmente do desjejum, não sendo
realizado por 26% dos entrevistados. No intervalo escolar, os adolescentes relataram
preferência por salgados assados, mas frequentemente acompanhados de refrigerantes ou
refrescos artificiais e raramente a fruta foi citada.
Na cidade de São Leopoldo - RS, Vitolo, Campagnolo e Gama (2007) conduziram
um estudo transversal com os adolescentes de 10 a 19 anos para estimar o consumo de fibras.
A pesquisa se deu por conglomerados, onde foram pesquisados todos os adolescentes de 40
setores censitários do município. A prevalência de consumo insuficiente de fibras foi de 69%
nas meninas e 49,7% nos meninos. Entre os meninos, os fatores que determinaram essa
condição foram: consumo não habitual de feijão e excessivo de lipídeo. Para as meninas,
maior faixa etária, consumo não habitual de feijão, consumo excessivo de lipídeo, fazer dieta
para perder peso e presença de excesso de peso.
O estudo transversal conduzido por Neutzling et al. (2007) entre julho de 2004 e
março de 2005, com todos os adolescentes entre 10 a 12 anos nascidos em 1993 no município
de Pelotas – RS, constatou que a maioria dos jovens (83,9%) consumia dieta pobre em fibras e
mais de um terço deles (36,6%) consumia dieta rica em gordura. O nível socioeconômico e a
escolaridade materna mostraram-se diretamente associados com a prevalência de consumo de
dietas ricas em gordura. Jovens dos níveis socioeconômicos A, B e C (alta renda)
apresentaram menor frequência de consumo de dietas pobres em fibras.
55
Já no trabalho transversal de Santos et al. (2005), conduzido em Teixeira de
Freitas – BA com adolescentes entre 17 a 19 anos de 23 escolas públicas, entre outubro e
dezembro de 2001, evidenciou-se consumo habitual de arroz, feijão, farinha de mandioca, pão
francês, manteiga, margarina, açúcar e café, sendo baixo o consumo de produtos lácteos
frutas, legumes e hortaliças. Cerca de 96,6% dos adolescentes realizavam mais de três
refeições diárias e mais de 80,0% alimentavam-se no domicílio.
Outra pesquisa conduzida no sentido de conhecer o consumo alimentar dos
adolescentes foi a de Ximenes et al. (2006), no qual foram avaliados 1217 adolescentes de 14
anos de escolas públicas e privadas do município de Recife – PE em 2004. Verificou-se que o
grupo de alimentos mais consumido foi o dos açúcares e doces (94,3%); o preferido, o dos
óleos e gorduras (82,9%); e o mais rejeitado, o das hortaliças e leguminosas (55,5%). O
almoço foi a refeição mais realizada (86,4% fazendo-a todos os dias). Dentre as pessoas do
convívio dos jovens, a mãe era quem mais influenciava na escolha da alimentação (67,3%) e a
família foi a mais frequente fonte de informação sobre alimentação (37,7%). Grande parte dos
pesquisados (64,7%), realizava suas refeições em casa, na companhia da família.
Andrade, Pereira e Sichieri (2003), avaliaram o consumo alimentar de
adolescentes com e sem sobrepeso entre 12 a 17,9 anos no município do Rio de Janeiro. A
pesquisa foi realizada entre novembro de 1995 e setembro de 1996 em 1668 domicílios,
selecionados por conglomerados. As autoras verificaram que os meninos com sobrepeso
apresentam maior consumo energético quando comparados aos meninos com peso normal,
não havendo diferença significativa no consumo de gorduras. Já entre as meninas, as com
sobrepeso apresentaram maior consumo de gordura, porém não houve diferença no consumo
energético total. Nesse estudo, o consumo alimentar não pôde ser associado ao sobrepeso dos
adolescentes.
Garcia, Gambardella e Frutuoso (2003) em análise do consumo alimentar de 153
adolescentes entre 10 a 14 anos de um centro de juventude do município de São Paulo, entre
setembro e novembro de 1999, obtiveram resultados semelhantes. As autoras constataram que
a maioria dos adolescentes não realizava desjejum ou realizava de forma imprópria e que o
jantar também foi inadequado na maior parte dos entrevistados. Também observaram a
presença diária das bebidas gaseificadas, balas, chicletes, salgadinhos empacotados, biscoitos
recheados e doces em barra (doce de leite, pé de moleque, doce de amendoim) em 70% da
população estudada.
Os resultados encontrados em todos estes estudos nos mostram que a alimentação
do adolescente na atualidade, em todo o país e em diferentes classes sociais, é rica em
56
alimentos gordurosos e açucarados, como refrigerantes, salgados, biscoitos, doces, sanduíches
e frituras, sendo altamente industrializada. Além disso, a maioria dos estudos observou que
nesta faixa etária a omissão de refeições é um hábito frequente, principalmente no desjejum
(café da manhã).
Este consumo inadequado é fruto de vários fatores, como a influência da família e
dos amigos (ou grupo social a que pertence). Dentre estes fatores, destaca-se a pressão
exercida pelas redes de fast-food (como Coca-Cola e McDonalds), através da mídia. Esta, que
é o veículo da cultura de massas, instituiu os adolescentes como alvo, influenciando-os a um
consumo exagerado dos fast-foods e fazendo-os acreditar que este tipo de alimentação é o
mais correto e moderno.
Ao mesmo tempo, alguns estudos descritos anteriormente constataram nesta
população um baixo consumo de fibras alimentares, presentes principalmente em FLV. Sabese que os adolescentes apresentam habitualmente um consumo muito baixo de frutas, legumes
e verduras, alimentos de extrema importância nutricional, como será visto a seguir.
3.3 Frutas, legumes e verduras: importância nutricional e consumo entre os adolescentes
Como já explicitado anteriormente, o padrão de consumo atual da sociedade é
caracterizado por alto consumo de açúcares e gorduras e baixo consumo de frutas e hortaliças.
Sabe-se que é de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado de
alimentos vegetais, pois além de fontes de vitaminas e minerais, são também fontes de fibras
e podem contribuir para a prevenção do excesso de peso e doenças crônicas nãotransmissíveis.
Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005), a trilogia
“frutas, legumes e verduras” deveria ser uma parte importante das refeições e não somente ser
consumida em lanches ocasionais, pois são excelentes alimentos e abundantes em todas as
regiões brasileiras. O Brasil conta com variedades incalculáveis desses alimentos, alguns de
consumo regional, outros de consumo generalizado.
As frutas, legumes e verduras são ricos em fibra alimentar, micronutrientes e
vários fatores nutricionalmente essenciais (compostos bioativos). São fontes de diferentes
57
tipos de vitaminas como os carotenóides10, ácido fólico (vitamina B9) e o ácido ascórbico
(vitamina C). Além disso, são ricos em potássio, contêm quantidades adequadas de magnésio,
cálcio, ferro e elementos-traço, que dependem da qualidade do solo no qual são produzidos
(BRASIL, 2005; GOMES, 2007; JAIME; MONTEIRO, 2005; PADILLA; ARAYA, 2003).
As fibras, presentes em grande quantidade em FLV, são responsáveis pelo bom
funcionamento intestinal, garantindo aumento do volume fecal e menor tempo de trânsito
intestinal. De acordo com Vitolo, Campagnolo e Gama (2007), a fibra alimentar pode atuar na
prevenção de doenças intestinais, como constipação, hemorróidas, hérnia hiatal, doença
diverticular e câncer de cólon.
Também favorecem uma menor absorção de açúcares e gorduras, podendo
contribuir para o controle de doenças crônicas não-transmissíveis (NEUTZLING et al., 2007;
VITOLO; CAMPAGNOLO; GAMA, 2007). Segundo Gomes (2007), a alimentação diária
composta por frutas, legumes e verduras pode contribuir para prevenção das principais
doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), como as doenças cardiovasculares, diabetes e
os diversos tipos de câncer.
Outro efeito benéfico é que as fibras são úteis em dietas para perda de peso, pois
auxiliam no aumento da saciedade, além de ter conteúdo energético reduzido e ajudar a
substituir alimentos com altas concentrações de gorduras saturadas, açúcar e sal (GOMES,
2007). Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005), as frutas,
legumes e verduras possuem baixo teor energético, portanto o consumo adequado desses
alimentos auxilia na prevenção e no controle da obesidade e, indiretamente, contra outras
doenças crônicas não-transmissíveis (diabetes, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer),
cujo risco é aumentado pela obesidade.
Já em relação aos micronutrientes (vitaminas e minerais), diversos benefícios são
descritos na literatura. Os alimentos ricos em carotenóides protegem contra xeroftalmia,
cataratas e outras doenças oculares, além de auxiliar na imunidade do organismo contra
infecções. Já o ácido ascórbico (vitamina C) aumenta a absorção orgânica do ferro de origem
vegetal, ajudando a prevenir a anemia ferropriva (BRASIL, 2005).
Essas duas vitaminas são conhecidas por sua propriedade antioxidante, uma vez
que protegem o DNA e a membrana celular do dano oxidativo e de agentes carcinogênicos,
ajudam a eliminar o efeito danoso dos radicais livres, diminuir o risco de doenças
cardiovasculares e degenerativas e constituir um efeito protetor contra alguns tipos de câncer
10
Precursores vegetais da vitamina A, que existem em grande quantidade nos vegetais verde-escuros e frutas de
coloração amarela ou avermelhada.
58
(boca, esôfago, pulmão, estômago, cólon, reto e, provavelmente, pâncreas, mama e bexiga)
(ALBERT et al., 2002; BRASIL, 2005; JAIME; MONTEIRO, 2005; PADILLA; ARAYA,
2003). As evidências científicas mostram ainda que estas vitaminas protegem contra as
doenças pulmonares crônicas e obstrutivas, incluindo asma e bronquite, através da melhoria
do fluxo de ar, devido à ação antioxidante desses nutrientes (BRASIL, 2005).
De acordo com Gomes (2007), uma revisão internacional coordenada pela
Agência Internacional para Pesquisa em Câncer - International Agency for Research on
Cancer (IARC)11 concluiu que as frutas, legumes e verduras podem reduzir o risco de
neoplasias malignas, especialmente as gastrintestinais. O IARC estima que a fração
prevenível da doença atribuída à baixa ingestão de frutas, legumes e verduras está entre 5%12%, podendo chegar a 20-30% para cânceres das porções superiores do trato gastrintestinal,
em todo o mundo.
Por outro lado, é importante ressaltar que os vegetais não contêm vitamina B12,
que, juntamente com o ácido fólico, participa da formação das hemácias e do metabolismo de
ácidos graxos e aminoácidos. Uma alimentação exclusivamente vegetal pode resultar em
deficiência de vitamina B12 e anemia carencial, uma vez que as fontes principais desta
vitamina são os alimentos de origem animal (BRASIL, 2005).
Já em relação aos minerais, como dito anteriormente, os alimentos vegetais são
fontes destes nutrientes na alimentação. O potássio é extremamente essencial, pois participa
do equilíbrio eletrolítico do corpo, além de auxiliar na redução da pressão arterial sanguínea,
prevenindo a hipertensão arterial e o acidente vascular cerebral (BRASIL, 2005). Já o cálcio,
presente principalmente em hortaliças de cor verde-escura, é importante para formação e
manutenção óssea, além de participar do processo de contração muscular.
O ferro de origem vegetal, presente também em hortaliças verde-escuras, é
componente importante das células vermelhas (hemácias), sendo seu consumo essencial para
a prevenção de anemia ferropriva. Já o iodo faz parte da constituição dos hormônios
tireoidianos, que regulam o metabolismo energético, e pode estar presente em alguns
alimentos vegetais, dependendo da composição do solo para cultivo (BRASIL, 2005).
11
VAINIO, H.; BIANCHINI, F. IARC Handbooks of cancer prevention: fruit and vegetables. Lyon: IARC Press,
2003.
59
Segundo Scrimshaw (200012 citado por BRASIL, 2005), o consumo regular de
uma variedade de frutas, legumes e verduras oferece garantia contra a deficiência da maior
parte de vitaminas e minerais, aumentando a resistência às infecções.
Outra vantagem nutricional das frutas, legumes e verduras e também dos grãos e
das leguminosas é que eles possuem compostos bioativos, que exercem funções biológicas
benéficas distintas (ALBERT et al., 2002; BRASIL, 2005). Segundo Anjo (2004), esses
compostos conferem aos alimentos a propriedade de trazer benefícios para a saúde através da
prevenção e tratamento de doenças, sendo denominados alimentos funcionais. Segundo o
autor, entre estes compostos se incluem: fitoquímicos, terpenóides (carotenóides e
fitoesteróis), compostos nitrogenados (glucosinolatos), metabólicos fenólicos (flavonóides e
antocianinas), ácidos graxos (ômega-3), oligo e polissacarídeos (fibras) e prebióticos.
Historicamente, não era costume dos brasileiros consumir com frequência uma
grande variedade de frutas e verduras (OLIVEIRA, 2006). Segundo Silva (2006), apesar da
enorme quantidade de árvores na região, naturais ou cultivadas, o consumo de frutas frescas
não era comum entre a população.
O consumo destes alimentos foi incentivado com a instalação da cozinha
portuguesa no Brasil, quando ocorreu o plantio regular das plantas hortenses indispensáveis
na alimentação do colonizador europeu e por ele trazidas de Portugal. A participação africana
e ameríndia foi notoriamente inferior e, em se tratando dos negros, as verduras não
representavam valores reais em seu cardápio (CASCUDO, 2004).
Segundo Oliveira (2006), o consumo de FLV também foi estimulado pela chegada
dos imigrantes italianos, que cultivavam as hortaliças nas hortas domésticas e as
comercializavam, aumentando a oferta desses produtos aos brasileiros.
Mesmo com essas contribuições, o consumo desses alimentos permaneceu baixo,
uma vez que, de acordo com Cascudo (2004), as hortaliças que foram legítimos alimentos
passaram vagarosamente à classe dos complementos desde que a alimentação sofreu
modificações pela facilidade aquisitiva das carnes, resistindo apenas os fundamentos
tradicionais inabaláveis.
Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório
Mundial da Saúde apresentado em 200313, a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras, está
entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para mortalidade no mundo,
12
SCRIMSHAW, N. Infection and nutrition: synergistic interactions. In: KIPLE K,; ORNELAS, K. (Eds). The
cambridge world history of food. New York: Cambridge University Press, 2000.
13
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2003. Shaping the future. Geneva: WHO,
2003.
60
aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis como as cardiovasculares e alguns
tipos de câncer. Se o consumo de frutas, legumes e verduras fosse adequado, estima-se que
até 2,7 milhões de vidas poderiam ser salvas anualmente em todo o mundo (CASTAÑOLA;
MAGARIÑOZ; ORTIZ, 2004; GOMES, 2007; JAIME et al., 2007).
Diante de todos esses benefícios encontrados no consumo de frutas, legumes e
verduras, várias recomendações foram elaboradas a fim de orientar e estimular o consumo
destes alimentos. Perante a necessidade mundial de diminuir a incidência de doenças crônicas
não-transmissíveis, em 2002 a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs uma Estratégia
Global de prevenção para promover práticas alimentares saudáveis (JAIME; MONTEIRO,
2005).
Entre as recomendações da Estratégia Global, tem sido priorizado, em âmbito
internacional, o incentivo ao aumento do consumo de frutas, legumes e verduras. A
Organização Mundial da Saúde14 recomenda o consumo de, pelo menos, 400 g de frutas,
legumes e verduras por dia ou cinco porções destes alimentos ao dia ou cerca de 7% a 8% do
valor calórico de uma dieta de 2.200 kcal/dia, para redução do risco de desenvolvimento de
câncer e prevenção de DCNT, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e obesidade.
O relatório especifica que os tubérculos, como batatas e mandioca, não devem ser incluídos
entre as frutas, legumes e verduras (ANDRADE, 2007; BRASIL, 2005; JAIME et al., 2007).
De acordo com Figueiredo, Jaime e Monteiro (2008), o Ministério da Saúde do
Brasil recomenda o consumo diário de três porções de frutas e três porções de legumes e
verduras em seu Guia Alimentar (BRASIL, 2005), salientando a importância de diversificar o
consumo desses alimentos nas refeições no decorrer da semana.
Apesar dessas evidências, o consumo de dietas ricas em gordura e pobres em
frutas, vegetais e cereais integrais ainda é elevado, tanto em países desenvolvidos quanto nos
em desenvolvimento, especialmente no Brasil (NEUTZLING et al., 2007).
Estudos realizados entre os anos de 1974 e 2003 verificaram que frutas e
hortaliças correspondiam a apenas 2,3% das calorias totais da dieta, o que equivale a
aproximadamente um terço do recomendado pela OMS (LEVY-COSTA et al., 2005). Para
alcançar o consumo recomendado como saudável para esses grupos de alimentos, é preciso
aumentar em quase três vezes o consumo médio atual da população brasileira (BRASIL,
2005).
14
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diet, nutrition and the prevention of chronic disease. Geneva: 2003.
61
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 (IBGE, 2004), a
participação desses grupos de alimentos no valor energético da alimentação das famílias
brasileiras variou entre 3% e 4% do VET, entre 1974 e 2003. Esta mesma pesquisa constatou
que nem mesmo as famílias de maior renda consumiam o valor mínimo recomendado, mas
entre famílias de mais alta renda o consumo chegou a ser seis vezes maior do que entre as
famílias mais pobres.
O estudo de Jaime e Monteiro (2005), realizado entre janeiro e setembro de 2003
na população adulta brasileira (maior de 18 anos), estimou indicadores do consumo de frutas
e verduras em adultos brasileiros, constatando que somente 41% dos adultos relataram
consumo diário de frutas, enquanto 30% relataram consumo diário de verduras. Os autores
constataram que o consumo de frutas e hortaliças é maior nas áreas urbanas do que nas áreas
rurais e aumenta com a idade e escolaridade dos indivíduos e com o número de bens no
domicílio, em ambos os sexos.
Já na pesquisa de Figueiredo (2006), realizada com 1267 mulheres e 855 homens
com idade superior a 18 anos no município de São Paulo – SP, foi observado consumo diário
de 46,7% em relação às frutas, 49,6% verduras cruas e 21,3% de verduras cozidas, sendo este
consumo maior entre mulheres que homens. Para ambos os sexos, verificou-se que as
variáveis idade, anos de estudo, prática de atividade física, prática de dieta no ano anterior e
consumo de peixe estavam diretamente associadas ao consumo de FLV. A densidade
domiciliar foi inversamente associada ao consumo destes alimentos.
Em estudo realizado em outro país em desenvolvimento15, os limitantes do baixo
consumo de frutas e hortaliças foram: preços elevados (diante dos demais alimentos e em
comparação com a renda das famílias); sistemas ineficientes de produção, distribuição e
comercialização dos vegetais e desconhecimento da população sobre a importância desses
alimentos para a saúde, sobretudo com relação às hortaliças (JAIME et al, 2007).
Sobre o consumo de frutas, verduras e legumes pelos adolescentes, vários estudos
têm sido conduzidos a fim de quantificá-lo e conhecer seus determinantes, tanto no Brasil
como em outros países.
O estudo realizado por Albert et al. (2002) em um colégio privado de Caracas –
Venezuela estimou o consumo de frutas e hortaliças em 146 adolescentes de classe média e
alta. Entre 70% a 85% dos alunos apresentaram um consumo adequado (5 a 9 porções de
15
MONTEIRO, C.A. Setting up a fruit and vegetable promotion initiative in a developing country. In: WHO.
Fruit and vegetable promotion initiative – report of the meeting. Geneva; 2003.
62
frutas e hortaliças por dia) ou acima do recomendado e de 15% a 30% não consumiram as
porções recomendadas, devido à falta de sabor, de disponibilidade na cantina e de hábito.
Em Buenos Aires – Argentina, Castañola, Magariñoz e Ortiz (2004) procuraram
conhecer a ingestão de FLV por uma população de adolescentes saudáveis de 10 a 18 anos da
região metropolitana, que procuraram serviços públicos e privados de saúde entre outubro de
2000 a agosto de 2001. Utilizando o recordatório alimentar de 24 horas do dia anterior,
observou-se que quase 70% dos adolescentes não ingeriram porção alguma de vegetais e
frutas, cerca de 28% somente uma ou duas porções ao dia e apenas 1% ingeriram cinco ou
mais porções por dia.
Segundo Gambardella, Frutuoso e Franch (1999), estudos sobre a alimentação de
grupos de adolescentes brasileiros apontam a ocorrência de inadequada ingestão alimentar
com carência de produtos lácteos, frutas, hortaliças e alimentos fontes de vitamina C, ao
mesmo tempo em que havia consumo em excesso de açúcar e gordura.
Toral et al. (2006) avaliaram o comportamento alimentar de adolescentes de 10 a
19 anos de 2 escolas do SENAI de São Paulo, entre novembro e dezembro de 2003. Os
autores verificaram que apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente,
conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo inferior a uma
porção diária representava 50% da amostra total, em relação ao consumo de frutas, e 38,9%
para verduras. Observou-se uma discrepância entre o consumo referido e a percepção
alimentar, tendo em vista que 79,7% e 83,7% dos adolescentes acreditavam, erroneamente,
que seu consumo de frutas e verduras, respectivamente, era saudável.
Vieira et al. (2002), em estudo realizado entre setembro de 1998 a julho de 1999,
com uma população de 185 adolescentes entre 18 e 19 anos de ambos os sexos, matriculados
no primeiro ano em cursos de graduação de uma universidade pública brasileira, verificaram
que os alimentos pertencentes ao grupo das hortaliças e frutas são frequentemente rejeitados
pelos adolescentes, constatando que 79,5% dos estudantes citaram não consumir pelo menos
um alimento do grupo de hortaliças e 25,4% disseram rejeitar uma ou mais frutas.
No estudo de Toral (2006) realizado em novembro de 2004 com 390 adolescentes
entre 10 a 19 anos de ambos os sexos de 11 escolas públicas de Piracicaba - SP, observou-se
que o consumo médio de frutas e hortaliças foi de 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente.
Cerca de 45% dos adolescentes não atingiram a recomendação mínima de consumo de duas
porções de frutas e de duas porções de hortaliças ao dia.
Andrade (2007), em estudo realizado entre 2001-2002 com 1584 adolescentes de
12 a 19 anos do estado de São Paulo, concluiu que os valores médios dos componentes do
63
IQD (Índice de Qualidade da Dieta) apresentaram-se mais baixos para frutas, verduras e
legumes, ou seja, a população estudada apresentava baixo consumo destes alimentos.
Observou também que 59,4% dos adolescentes não consumiram nenhuma porção de fruta no
dia anterior à entrevista.
Nunes, Figueiroa e Alves (2007), em pesquisa realizada em 2004 com 588
adolescentes de 10 a 19 anos, matriculados em uma escola pública e outra privada, em
Campina Grande - Paraíba, observaram baixo consumo de frutas, pois 4,5% dos alunos não as
consumiam diariamente, sendo este consumo maior nas classes econômicas mais baixas.
Já a pesquisa de Silva et al. (2009) realizada entre fevereiro e março de 2006 com
720 adolescentes de 14 a 19 anos de 12 escolas públicas de Fortaleza-CE, concluiu que os
alimentos reguladores como frutas e hortaliças/folhosos não têm consumo habitual entre os
adolescentes, já que apenas 34,3% e 47,6%, respectivamente, os consomem.
Esses escassos estudos realizados com a população adolescente nos mostram que
o consumo de frutas, legumes e verduras por essa faixa etária é baixo em todo o país.
Diante da importância nutricional destes alimentos, que são ricos em fibras,
vitaminas, minerais e compostos bioativos, e da baixa ingestão de FLV registrada na
literatura, é necessário conhecer este consumo na população adolescente de Formiga – MG,
bem como os fatores que o influenciam. Isso poderá auxiliar no diagnóstico e implantação de
programas de educação nutricional para esta população.
64
4 METODOLOGIA
Com o fim de verificar o consumo de FLV e a relação deste com os diferentes
fatores intervenientes, realizou-se um estudo transversal, observacional e de natureza
quantitativa. Foi do tipo observacional, pois pretendeu avaliar a existência de associação entre
um determinado fator e um desfecho, sem intervir diretamente na relação analisada (TURA,
2002).
Além disso, foi de corte transversal, que, de acordo com Tura (2002), é o mais
simples dos estudos observacionais, pois o pesquisador vê a associação entre a exposição e o
desfecho em apenas um instante na linha do tempo, sendo possível avaliar a prevalência e a
força da associação entre eles. Ainda segundo o autor, o estudo transversal é de fácil
execução, baixo custo, simples de analisar e rápido, porém não estabelece uma sequência de
eventos e pode sofrer efeito de algum viés.
Foi adotada neste estudo a metodologia da pesquisa quantitativa, que propicia a
investigação de dependência e significância entre as variáveis estudadas. Esta foi
complementada por informações qualitativas escritas pelos pais e pela observação dos
entrevistadores no momento da coleta de dados.
4.1 População e local do estudo
Para a realização da pesquisa, primeiramente foi escolhida a faixa etária
adolescente, devido ao crescente aumento da prevalência da obesidade nesta faixa etária,
causada, entre outros, pela baixa ingestão de FLV. Em seguida foram escolhidas as escolas
como campo de estudo, uma vez que nelas se encontram agrupamentos de adolescentes, o que
proporcionaria encontrar de forma mais rápida e prática a amostra dos adolescentes para a
pesquisa. O município de Formiga foi escolhido para a realização do estudo por ser o local
onde a autora desenvolve suas atividades profissionais e que deu origem à problemática da
pesquisa.
A pesquisa foi realizada em adolescentes escolares com faixa etária entre 10 e 19
anos, de ambos os gêneros, regularmente matriculados nas séries finais (6ª a 9ª) do Ensino
Fundamental das Escolas Municipais de Formiga – MG.
65
O Município de Formiga possui uma área de 1.501,02 Km2, está localizado na
região Centro Oeste de Minas, situado a 194 Km da Capital Belo Horizonte (FIG. 1). Faz
limite com os municípios de Santo Antônio do Monte, Pedra do Indaiá, Itapecerica, Camacho,
Candeias, Cristais, Guapé, Pimenta, Córrego Fundo, Pains e Arcos (FORMIGA, 2008).
FIGURA 1 – Localização do município de Formiga no estado de
Minas Gerais.
Fonte: WIKIPÉDIA, 2008.
Segundo o último censo populacional realizado pelo IBGE em 2007, a população
do município é de 64.585 habitantes. O município possui uma densidade populacional de
42,98 hab./km², PIB anual de R$ 342.917.000,00 e PIB per capita anual de R$ 7.749,00
(IBGE, 2008; FORMIGA, 2008).
Quanto à educação, a Prefeitura Municipal de Formiga - MG conta com dez
escolas municipais de Ensino Fundamental localizadas na zona urbana, onde somente três
trabalham com as séries finais do Ensino Fundamental (6° ao 9° ano) (PREFEITURA
MUNICIPAL DE FORMIGA, 2009).
Dessas três escolas, realizou-se a pesquisa em apenas duas, uma vez que uma das
escolas impossibilitou a participação de seus alunos no estudo. As outras duas escolas
manifestaram-se favoráveis quanto à sua participação no estudo.
A realização da pesquisa nas duas escolas propiciou que o tamanho da amostra
fosse atingido entre seus alunos, além de permitir a comparação de dois perfis sócioeconômicos distintos. A escola A estava localizada na região central, em um bairro de maior
nível sócio-econômico, cujos alunos residiam, em sua maioria, na zona urbana. Já a escola B
se encontrava em um bairro periférico, de baixo nível sócio-econômico, em que a maioria de
seus alunos residiam na zona rural.
66
4.2 Amostragem
O número total de alunos regularmente matriculados entre a 6ª e a 9ª série do
Ensino Fundamental no município de Formiga – MG, obtido junto a Secretaria Municipal de
Educação em novembro de 2008, foi de 1150 alunos.
Com o fim de calcular o tamanho da amostra, utilizou-se a fórmula para
populações finitas (RICHARDSON, 1985):
σ2. p . q . N
n=
e2 (N-1) + σ2 p.q
Para a fórmula acima, tem-se que: n= tamanho da amostra, σ2= nível de confiança
escolhido, p= percentagem com a qual o fenômeno se verifica, q= percentagem complementar
(100-p), N= tamanho da população e e2= erro máximo permitido.
Estipulou-se que p seria a ocorrência do consumo adequado de frutas, legumes e
verduras pelos adolescestes, fixando este valor em 15%, de acordo com resultados obtidos em
estudos semelhantes (TORAL et al., 2006). Com base neste cálculo, chegou-se a um tamanho
amostral de 133 alunos, com intervalo de confiança de 95% e erro máximo de 5%.
Como critérios de inclusão na amostra, o participante deveria ter entre 10 a 19
anos, estar matriculado entre a 6ª e a 9ª série do Ensino Fundamental, desejar participar
voluntariamente da pesquisa e ter o consentimento dos pais e/ou responsáveis para
participação na pesquisa.
Os critérios de exclusão foram: participante fora da faixa etária, não estar
matriculado nas séries estipuladas, não concordância dos pais e/ou responsáveis, não
assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, falta de preenchimento dos
questionários e desistência da participação na pesquisa.
Primeiramente as duas escolas foram contactadas para explicação dos objetivos da
pesquisa, agendamento das datas e cronograma da coleta de dados. No que se refere à
participação dos alunos, foi feito um convite para todos os alunos das duas escolas,
matriculados da 6ª a 9ª série do Ensino Fundamental, sendo entrevistados aqueles que se
enquadraram nos critérios de inclusão.
67
4.3 Coleta de Dados
A coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro e abril de 2009. O primeiro
contato com os alunos foi feito em sala de aula, sendo explicados os objetivos da pesquisa e
entregue uma carta aos pais (APÊNDICE A), o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE B) e um questionário com questões sócio-econômicas e de consumo
alimentar (APÊNDICE C). Estes deveriam ser preenchidos pelos pais e/ou responsáveis e
devolvidos à pesquisadora em até uma semana.
Num segundo momento, foi verificada a lista dos adolescentes cujos pais
autorizaram a participação na pesquisa, assinando o TCLE, e que responderam o questionário
sócio-econômico e de consumo alimentar. Estes adolescentes foram entrevistados e avaliados
nutricionalmente em espaço reservado em cada escola, durante o período de aula. Esta
entrevista se deu por meio de um questionário estruturado (APÊNDICE D), sendo realizada
individualmente, tendo como duração média 15 minutos.
Nesta, foram coletadas informações sobre o consumo alimentar de frutas, legumes
e verduras e os fatores que o influenciam, conforme a metodologia adotada por Toral et al.
(2006).
O consumo de frutas, legumes e verduras foi avaliado, respectivamente, por meio
das seguintes perguntas: “Com que frequência você consome frutas ou suco de frutas
natural”? e “Com que frequência você consome verduras e legumes”? O adolescente foi
orientado a optar por uma das cinco alternativas: consumo diário, semanal, mensal, raramente
e nunca. Caso o consumo fosse diário, semanal ou mensal, o participante era questionado
sobre o número de vezes por dia, semana ou mês em que consumia o citado alimento e, em
seguida, quantas porções do mesmo eram habitualmente consumidas em cada vez (TORAL et
al., 2006). Para facilitar o entendimento dessa questão e a obtenção de sua resposta, o
adolescente era informado sobre o conceito de “porção”, sendo dados alguns exemplos de
porção de frutas, legumes e verduras, com base no Guia alimentar para a população brasileira
(BRASIL, 2005).
Em seguida, foi calculado o consumo médio de porções diárias de frutas, bem
como o de legumes e verduras. No caso de consumo diário, foi feita a multiplicação do
número de porções pelo número de vezes ao dia em que as mesmas eram consumidas. Para o
semanal, foi feita a multiplicação entre o número de vezes por semana e o número de porções
consumidas por vez, dividindo-se, então, o valor obtido por 7. Caso fosse referido consumo
68
mensal desses alimentos, o resultado da multiplicação entre o número de vezes por mês e o
número de porções consumidas em cada ocasião era dividido por 30 (TORAL et al., 2006).
O consumo médio de porções diárias, assim obtido, foi comparado às
recomendações de consumo de frutas, legumes e verduras sugeridas pela Pirâmide Alimentar
proposta por Philippi et al. (1999). Sugere-se como adequado o consumo de 4 a 5 porções
diárias de legumes e verduras e de 3 a 5 porções diárias de frutas. Por questões metodológicas
foi considerada uma casa decimal para o número de porções consumidas: estabeleceu-se que a
faixa adequada em relação a frutas seria de 2,5 a 5,4 porções e para os legumes e verduras, de
3,5 a 5,4 porções (TORAL et al., 2006).
Na entrevista, além da frequência do consumo de frutas, legumes e verduras, cada
adolescente foi questionado a respeito de seu comportamento alimentar em relação ao
consumo de frutas, legumes e verduras, com base em informações como: fatores que
impedem o consumo desses alimentos, gosto ou desgosto por FLV, benefícios no consumo e
hábito familiar e pregresso desse consumo.
Ao final da entrevista, os adolescentes foram submetidos à aferição de medidas
antropométricas para a classificação de seu estado nutricional. Foram coletadas as seguintes
informações de cada participante: sexo, idade e dados antropométricos (peso e altura).
Segundo Albano e Souza (2001), na adolescência a antropometria é especialmente importante
para a avaliação do estado nutricional porque permite monitorar a evolução das modificações
do crescimento, visto que durante a fase de crescimento o indivíduo pode estar sujeito tanto
aos déficits nutricionais quanto aos excessos.
Para a avaliação do peso corporal, foi utilizada uma balança eletrônica portátil,
marca Plenna®, com capacidade máxima de 150,0 kg e sensibilidade de 100g. A balança foi
calibrada e estrategicamente colocada em nível plano e desencostada da parede. Durante a
pesagem, os adolescentes deveriam estar descalços e usando roupas leves.
O avaliado
permaneceu de pé sobre a plataforma da balança, no centro da mesma, com o peso do corpo
distribuído igualmente em ambos os pés e com os braços ao lado do corpo. A massa foi
registrada em quilos (kg) e gramas (g) (WHO, 1995).
A estatura foi verificada com o uso do estadiômetro vertical portátil da marca
Seca®, com capacidade de 200 cm e escala de variação de 0,1 cm, que foi colocado em parede
lisa e sem rodapé, conforme preconizado pela OMS (1995). Durante a aferição da estatura, os
alunos deveriam manter os pés juntos, plantas dos pés apoiadas totalmente no chão,
calcanhares encostados na parede, postura ereta, braços estendidos ao longo do corpo, com
olhar fixo no horizonte (para frente) e sem flexionar ou estender o pescoço. Em seguida,
69
posicionou-se a barra horizontal do estadiômetro até mantê-la apoiada sobre a cabeça, sendo
então efetuada a leitura da estatura em centímetros.
Tanto o peso quanto a estatura foram aferidos em duplicata, sendo adotado o valor
médio das duas medidas para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), definido como a
relação entre o peso em quilogramas e a altura em metros elevada ao quadrado (kg/m2).
Após o cálculo, os adolescentes foram classificados conforme a tabela do IMC de
acordo com o sexo e a idade em percentis, segundo a classificação utilizada pelo Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), a
partir dos pontos de corte recomendados pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1995)
(TAB. 2).
Segundo Andrade, Pereira e Sichieri (2003) o “Índice de Massa Corporal (IMC) é
um método de avaliação nutricional de baixo custo e fácil realização” e apresenta baixa
margem de erro, desde que as técnicas sejam efetuadas adequadamente (ALBANO; SOUZA,
2001).
TABELA 2
Classificação do estado nutricional de acordo com os percentis de IMC.
Percentil
<5
≥ 5 e < 85
≥ 85 e < 95
≥ 95
Fonte: WHO, 1995.
Diagnóstico
Baixo Peso
Adequado (Eutrofia)
Sobrepeso
Obesidade
4.3.1 Treinamento dos Pesquisadores de Campo
Foi realizado um treinamento com dois pesquisadores de campo para a coleta de
dados, incluindo a aferição de medidas antropométricas (peso e estatura) e execução das
entrevistas. O treinamento teve como objetivo orientar os pesquisadores de campo quanto à
forma de preencher os documentos referentes à pesquisa e abordar os adolescentes para
coletar os dados solicitados no questionário.
70
4.4 Variáveis do estudo
4.4.1 Variável Dependente
A variável de desfecho deste estudo é a relacionada à frequência do consumo de
frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, quantificada em número de porções diárias e
categorizada em consumo adequado, superior ou inferior às recomendações.
4.4.2 Variáveis Independentes
a) Variáveis biológicas:
•
Sexo: masculino ou feminino;
•
Faixa etária: 10 a 13 anos e de 14 a 16 anos;
•
Raça: branca, negra, parda ou amarela;
•
Estado nutricional do adolescente: baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade.
b) Variáveis sócio-econômicas e culturais:
•
Renda per capita: razão entre a renda familiar (em salários mínimos) e o
número de moradores do domicílio: <1⁄4 SM, 1⁄4 a 1⁄2 SM, 1⁄2 a 1 SM e >1
salários mínimos per capita;
•
Densidade domiciliar: razão entre o número de moradores e o número de
cômodos no domicílio: <1,0, 1,0-2,0 e >2,0 habitantes por domicílio;
•
Local de moradia: zona urbana ou zona rural;
•
Percentual da renda familiar gasto mensalmente com frutas, legumes e
verduras: <3%, 4-6%, 7-10%, 11-15% e >16%;
•
Escolaridade dos pais: alfabetizado, ensino fundamental, ensino médio e
ensino superior;
•
Consumo de frutas, legumes e verduras pelos pais: diariamente, semanalmente,
mensalmente, raramente e nunca.
71
4.5 Digitação e processamento dos dados
Após a coleta, os dados do presente estudo foram codificados e digitados com o
auxílio do software Microsoft Office Excel 2003, sendo os resultados expressos em gráficos e
tabelas.
4.6 Análise estatística
Para a análise estatística foram utilizadas medidas de tendência central e de
dispersão, além de avaliar a associação entre as variáveis com o Teste do Qui-Quadrado e o
Teste G, usado as correções de Yates e Williams. Para todas as análises de interesse,
estabeleceu-se um nível de significância de 5%.
A análise estatística do estudo foi realizada com o auxílio do programa de
computador BioEstat versão 5.0.
4.7 Considerações éticas
Esta pesquisa levou em conta os princípios éticos de respeito pela autonomia das
pessoas, bem como a obrigação ética de aumentar ao máximo os benefícios e reduzir ao
mínimo os danos, não oferecendo qualquer risco aos adolescentes, uma vez que os métodos
utilizados na coleta de dados foram de simples obtenção e não invasivos.
Em todo o processo da pesquisa, especialmente durante a coleta de dados, foram
obedecidos aos princípios éticos dispostos na Resolução Nº. 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde, especificamente, no seu artigo IV, que aborda o respeito à autonomia do participante
da pesquisa, garantindo-lhe, entre outros direitos, o seu consentimento livre e esclarecido, o
sigilo das informações e a privacidade (BRASIL, 1996).
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação
Educacional de Divinópolis (FUNEDI / UEMG) em 18/12/2008, através do Parecer nº.
36/2008 (ANEXO A).
72
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram pesquisados 139 alunos matriculados nas séries finais do ensino
fundamental de duas escolas municipais de Formiga - MG, representando 12,08% dos alunos
matriculados nestas séries no município. A amostra foi composta por 72 adolescentes do sexo
feminino (51,79%) e 67 do sexo masculino (48,20%).
A idade média foi de 12,44 anos, sendo que a mínima foi de 10 anos e a máxima
de 16 anos. A mediana da idade foi de 13 anos, com desvio-padrão de 1,37. No GRAF. 1
encontra-se a distribuição percentual da idade dos participantes.
4% 1%
4%
10 anos
18%
30%
11 anos
12 anos
13 anos
14 anos
15 anos
29%
14%
16 anos
GRÁFICO 1 – Idade dos participantes da pesquisa. Formiga, 2009.
Quanto à etnia auto-referida pelos participantes, 48,14% pertenciam à etnia
branca, 18,51% à negra e 33,33% se declararam pardos.
Para a realização da pesquisa, foi pedido que os pais ou responsáveis
respondessem a um questionário socioeconômico e de consumo alimentar. A maioria dos
respondentes (76,97%) pertencia ao sexo feminino e 23,02% ao sexo masculino. Sobre o
estado civil, 62,13% eram casados, seguido por 28,15% solteiros, 6,79% divorciados e 2,91%
viúvos.
Ao serem questionados sobre sua escolaridade, a maioria (43,65%) afirmou ser
apenas alfabetizado, 25,39% cursaram o ensino fundamental incompleto, 15,87% o ensino
fundamental completo, 3,17% o ensino médio incompleto, 6,34% concluíram o ensino médio,
4,76% cursaram o superior incompleto e apenas 0,79% concluíram o curso superior.
Sobre a profissão dos respondentes, estas foram agrupadas em: ligadas ao
comércio, trabalho rural, indústria, serviços gerais, serviços, funcionalismo público e outras
73
(GRAF. 2). A maioria (35,48%) exercia outras profissões (autônomos, vendedores, etc.),
seguida por serviços gerais (22,58%), indústria (16,12%), trabalhadores rurais (13,70%), setor
de serviços (7,25%), comércio (2,41%) e funcionalismo público (2,41%).
2%
comércio
14%
trab. rural
36%
indústria
16%
serv. gerais
serviços
2%
func. público
7%
23%
outros
GRÁFICO 2 – Profissão dos pais e/ou responsáveis pesquisados.
Formiga, 2009.
Além de entrevistar os adolescentes, fizemos aos pais e/ou responsáveis alguns
questionamentos sobre seu consumo de FLV. A totalidade afirmou consumir as frutas
(96,35%) e os legumes e verduras (97,81%). Sobre a frequência desse consumo, podemos
observar no GRAF. 3, onde a maioria dos pais apresentou um consumo diário de frutas
70,37
(48,48%) e de legumes e verduras (70,37%).
80,00
60,00
48,48
70,00
50,00
frutas
27,27
verduras
2,22
10,00
1,52
1,48
20,00
8,15
11,36
30,00
11,36
17,78
% 40,00
0,00
diário
semanal
mensal
raro
nunca
GRÁFICO 3 – Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos pais e/ou
responsáveis. Formiga, 2009.
74
Sobre a renda familiar dos participantes, observou-se que 44,44% das famílias
tinham uma renda total mensal de 1 salário-mínimo (SM) vigente (R$ 465,00), representando
a maioria dos pesquisados (GRAF. 4).
8%
2%
3% 1%
1 SM
2%
1,5 SM
45%
2 SM
2,5 SM
3 SM
20%
3,5 SM
4 SM
5 SM
19%
GRÁFICO 4 – Renda familiar (em salários-mínimos) dos participantes.
Formiga, 2009.
Ao analisar a renda per capita destas famílias (GRAF. 5), observou-se que a
maioria (41,08%) vive com ¼ a ½ salário-mínimo por mês (R$ 116,25 a 232,50) estando em
pobreza; seguidos por 38,75% que vivem com menos de ¼ do salário mínimo por mês (R$
116,25), estando em extrema pobreza. Estes dados nos demonstram que a maioria da
população estudada pode ser classificada como de baixa renda.
19%
2%
39%
<¼ SM
≥¼ <½ SM
≥½ <1 SM
≥1 SM
40%
GRÁFICO 5 – Renda familiar per capita dos participantes (em saláriosmínimos). Formiga, 2009.
Foi visto também que na maioria das famílias (51,12%), apenas uma pessoa
trabalhava, sendo responsável pelo sustento financeiro da casa, seguido por 38,34% das
75
famílias sustentadas por duas pessoas, 6,01% por três pessoas e 4,51% por quatro ou mais
pessoas.
A densidade domiciliar (número de habitantes por cômodo no domicílio) média
foi de 0,86 hab./cômodo, variando de 0,25 a 5 habitantes por cômodo. A grande maioria das
famílias (49,27%) tinha uma densidade entre 0,5 a 0,9 habitantes/cômodo, seguida por
24,63% que tinham entre 1 a 1,4, 20,28% menos de 0,5, 3,62% entre 1,5 a 1,9 e 2,17% tinham
uma densidade domiciliar maior que 2 habitantes por cômodo.
Quanto ao acesso a serviços de água/esgoto, energia elétrica, eletrodomésticos e
eletrônicos, foi visto que a totalidade tinha rede de energia elétrica e a grande maioria possuía
rede de água/esgoto, geladeira e televisores, conforme nos mostra a TAB. 3. Já em relação ao
computador, foi visto que grande parte dos entrevistados ainda não o possuía em seus
domicílios.
TABELA 3
Acesso a serviços de água/esgoto, energia elétrica e eletrodomésticos. Formiga, 2009.
Serviço/Bem
Água /esgoto
Energia elétrica
Geladeira
Computador
TV
Sim (%)
88,64
100
99,27
24,61
96,33
Não (%)
11,36
0
0,73
75,39
3,67
Ao serem questionados sobre o local de moradia, 62,77% afirmaram morar na
zona urbana e 37,22% na zona rural do município.
5.1 Estado Nutricional dos adolescentes
Observou-se que a maioria dos participantes (75,53%) encontrava-se em eutrofia,
ou seja, apresentavam peso dentro do normal para a idade e altura. Porém, 7,91%
encontravam-se abaixo do peso, 11,51% com sobrepeso e 5,03% com obesidade, conforme
apresentado no GRAF. 6.
Ao analisar o estado nutricional por sexo, observou-se que o sexo feminino
apresentou maiores percentuais de baixo peso (11,11%), sobrepeso (13,88%) e obesidade
(5,55%) que o sexo masculino (4,47%, 8,95% e 4,47%, respectivamente). Pelo contrário, o
76
sexo masculino apresentou um maior percentual de eutrofia (82,08%) que o sexo feminino
69,44
90
75,53
82,08
(69,44%). Estas diferenças não foram estatisticamente significativas (p= 0,333).
80
70
60
50
Masculino
%
Feminino
40
Total
10
5,03
5,55
4,47
13,88
11,51
8,95
7,91
11,11
20
4,47
30
0
Baixo Peso
Eutrofia
Soprepeso
Obesidade
GRÁFICO 6 – Estado nutricional dos adolescentes. Formiga, 2009.
Resultados semelhantes foram encontrados por Garcia, Gambardella e Frutuoso
(2003) em adolescentes da cidade de São Paulo, onde 78,4% encontravam-se na faixa de
normalidade, 11,8% sobrepeso, 7,8% obesidade e 2,0% baixo peso. Em contrapartida, no
estudo de Silva e Balaban (2000), em uma escola privada de Recife, o sobrepeso e a
obesidade foram maiores nos adolescentes do sexo masculino (35,7% e 9,7%) do que nos do
sexo feminino (11,2% e 4,2%, respectivamente), o que é oposto ao encontrado em nosso
estudo, onde o sexo masculino apresentou maior prevalência de eutrofia e o feminino de
baixo peso e excesso de peso.
Esse maior percentual de inadequação de peso no sexo feminino pode levar as
adolescentes a desenvolver distúrbios na autoimagem corporal. Além disso, estas se tornam
alvo da mídia voltada para o público feminino, que preconiza um padrão de beleza centrado
na magreza, criando referenciais de moda e estética e fazendo com que as adolescentes
recorram à prática indiscriminada de dietas da moda e de uma alimentação inadequada
nutricionalmente, afetando seu consumo alimentar.
77
5.2 Aspectos relacionados à aquisição de FLV
Neste estudo, procuramos conhecer o consumo de frutas, legumes e verduras
pelos adolescentes. Para isso, além de entrevistá-los, questionamos os pais sobre alguns
aspectos relativos a este consumo, como o preço, acesso e às compras destes produtos.
Sobre o preço destes alimentos no comércio, 43,08% dos pais afirmaram que o
preço impede o consumo e 56,91% que não impede. A maioria dos pais afirmou que os preços
são “caros” (52,45%). Também o preço destes alimentos foi citado como “bom/razoável”
(41,79%), “barato” (4,91%) e “não compro, planto” (0,81%).
O preço elevado desses produtos, principalmente no período de entressafra,
realmente se constitui uma barreira ao consumo de FLV. Claro et al. (2007), utilizando dados
da POF 1998/99, no município de São Paulo, observaram que a diminuição do preço de FLV,
seguida pelo aumento do preço dos demais alimentos e o aumento da renda familiar
ocasionariam maior aumento no consumo de FLV. Os autores ainda constataram que a
redução do preço das frutas produziria maior participação de FLV no total de alimentos do
que a redução isolada dos preços de legumes ou verduras, pois as frutas constituem o
componente principal do grupo de FLV.
Vale ressaltar a ausência da participação da mídia no incentivo à venda e consumo
desses alimentos, o que faz com que a procura e a valorização do consumidor por estes
alimentos seja menor e portanto, o preço seja um limitante ao consumo. Porém, deve-se
lembrar que estes alimentos têm um preço muito menor que o dos fast-foods e alimentos
industrializados, o que nos faz refletir sobre a grande influência da mídia na decisão de
compra do consumidor.
Quanto ao acesso, 64,10% acham o acesso a esses alimentos “fácil”, 33,33%
“difícil” e 2,56% “nem fácil, nem difícil”. O local (GRAF. 7) onde a maioria dos
entrevistados citou fazer as compras de frutas, legumes e verduras foi no mercado
(supermercados e armazéns), representando 57%, seguido pelo sacolão (35%), horta (5%) e
feira (3%).
Estes resultados são distintos dos encontrados por Martins, Margarido e Bueno
(2007) que compararam as aquisições de FLV pela POF de 1981/82 e de 1998/99 na cidade
de São Paulo. Os autores observaram que em 1981/82, 92,0% das frutas, 88% dos legumes e
82% das verduras eram adquiridas pelos consumidores em feiras livres, enquanto somente
5,0% das frutas, 7% dos legumes e 6% das verduras eram adquiridas em supermercados.
78
Contrastando com essa situação, em 1998/99, verifica-se que os supermercados ganharam
considerável espaço relativamente às feiras livres, pois, na média, a aquisição em feiras livres
caiu para 54,0% das frutas, 56% dos legumes e 62% das verduras, enquanto a aquisição em
supermercados subiu para 33,0% para frutas e legumes e 28% para verduras. Também é
importante ressaltar que os sacolões e varejões, criados no início da década de 1990,
ocuparam o espaço das quitandas e, segundo dados da POF, em 1998/99 estes detinham 8%
das vendas de frutas e legumes e 7% das vendas de verduras.
Esta questão também foi estudada por Souza et al. (2008), que constataram que
nos principais centros urbanos da região central do Rio Grande do Sul, a maioria dos
consumidores adultos (59,77%) tem optado por adquirir os produtos em supermercados ou
hipermercados, seguidos das fruteiras (sacolões), feiras livres e pequenos mercados de bairro.
5%
3%
mercado
sacolão
35%
horta
57%
feira
GRÁFICO 7 – Local de compra de frutas, legumes e verduras pelos pais dos
adolescentes. Formiga, 2009.
Questionamos também sobre a frequência com que são feitas estas compras
(GRAF. 8). A maioria dos entrevistados afirmou fazer compras toda semana (56%), seguido
por mensalmente (19%), quinzenalmente (16%), diariamente (6%) e raramente (3%).
Resultados semelhantes foram descritos por Souza et al. (2008), em estudo com a
população adulta do Rio Grande do Sul, onde 39,85% dos entrevistados optavam por realizar
suas compras de FLV uma vez por semana, 34,57% duas vezes por semana, 14,29% três
vezes por semana e 9,77% diariamente. Estes dados são interessantes, pois quanto mais
frequente é a aquisição, maior é a garantia da qualidade destes produtos, que são de rápida
perecibilidade. Portanto, ao comprar esses alimentos semanalmente, os entrevistados podem
adquirir vegetais de melhor qualidade e preço, evitando o desperdício.
79
19%
3%
6%
diário
semanal
quinzenal
mensal
16%
56%
raro
GRÁFICO 8 – Frequência das compras de frutas, legumes e verduras pelos
entrevistados. Formiga, 2009.
Sobre o gasto mensal com frutas, legumes e verduras, expresso em percentual da
renda familiar (GRAF. 9), a média de gasto foi de 7,52%, variando de 0,71 a 21,5% do
orçamento. O maior percentual (34%) se deu no grupo que gastava entre 7 a 10% do
orçamento mensal com estes alimentos, sendo seguido por 28% do grupo que gastou entre 4 a
6%, 22% do grupo com gasto menor de 4%, 10% que gastava entre 11 a 15% e apenas 6%
gastava mais de 16% do orçamento na compra de FLV.
Estes resultados foram distintos aos encontrados por Claro et al. (2007), que
analisaram dados da POF no município de São Paulo, observando em seu estudo que as
despesas com alimentação corresponderam, em média, a 27,4% da renda mensal da família e
tenderam a diminuir com o aumento da renda. O gasto com FLV correspondeu, em média, a
2,4% da renda mensal dos domicílios e a 10,2% do total de gastos com alimentação: 5,1% em
frutas, 3,8% em legumes e 1,3% em verduras. Comparando estes dados com os de nosso
estudo, observa-se que as famílias participantes de nossa pesquisa tinham um maior gasto
com FLV (entre 7 a 10% da renda mensal) que na pesquisa descrita anteriormente.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada em 2002-2003 (IBGE,
2004), as despesas com alimentação praticadas pelas famílias brasileiras representam 17,10%
da despesa total, sendo o gasto com frutas de 4,18% e com legumes e verduras de 2,96%,
valores semelhantes aos encontrados neste estudo.
80
10%
6%
22%
< 4%
≥4 <7%
≥7 <11%
≥11 <16%
34%
≥16%
28%
GRÁFICO 9 – Gasto mensal (em % da renda familiar) com frutas, legumes e
verduras. Formiga, 2009.
5.3 Consumo de FLV pelos adolescentes
Ao questionarmos os adolescentes sobre os benefícios do consumo de FLV, quase
todos (96,40%) afirmaram conhecer os benefícios, contra 3,59% que não reconheciam
benefícios em consumi-los. Dos benefícios mais citados, encontram-se: “trazer saúde e ser um
alimento saudável” (47,36%), “proporcionar força e crescimento” (26,83%), “ser fonte de
nutrientes e energia” (13,15%), “prevenir doenças” (6,84%) e “engordar” (2,63%).
O fato dos alimentos vegetais serem considerados saudáveis e propiciarem saúde
é algo amplamente aprendido nas escolas, divulgado na mídia e apregoado pelos profissionais
de saúde, o que pode justificar o alto percentual de adolescentes que citaram este benefício.
Isso mostra que os adolescentes, apesar de terem um baixo consumo de FLV, conhecem e
acreditam nos benefícios do consumo destes alimentos, mostrando que muitas vezes o baixo
consumo não está ligado à falta de informação, mas sim à falta de hábito.
No estudo de Casotti et al. (1998), com 114 adolescentes de uma escola pública
da cidade de Nova Iguaçu, município do Rio de Janeiro, os autores procuraram entender como
os adolescentes avaliavam a qualidade nutricional dos alimentos, observando que as frutas
foram apontadas como alimentos “bons para a saúde” e as verduras como “razoáveis para a
81
saúde”, o que corrobora com a tese de que os adolescentes conhecem os benefícios do
consumo destes alimentos.
Ao serem questionados sobre como se sentem ao consumir estes alimentos, a
maioria afirmou se sentir “bem/mais saudável” (74,47%), seguido por “satisfeito/alegre”
(10,32%), “normal” (6,89%), “forte” (6,87%) e “mal/não consome” (1,36%).
Sobre as limitações a esse consumo (GRAF. 10), 74,10% afirmaram não haver
impedimento e 25,89% afirmaram que realmente há alguns obstáculos que impedem o
consumo desses alimentos. As maiores limitações citadas foram: “pais não comprarem”
(24%), “não gostar” (22%), “faltar dinheiro” (17%) e “não ter em casa” (15%).
caro
8%
22%
dificil acesso
5%
falta dinheiro
17%
3%
pais não compram
preguiça
3%
não tem em casa
15%
prefere guloseimas
3%
24%
não tem hábito
não gosta
GRÁFICO 10 – Limitações ao consumo de FLV pelos adolescentes. Formiga, 2009.
O fato de os pais não comprarem esses alimentos e de não haver disponibilidade
deles em casa, está ligado, na maioria das vezes, à falta de recursos financeiros, pois ao
analisar o perfil desta população se observa que a maioria é de baixa renda, o que limita
bastante o orçamento para a compra destes alimentos. Há também o dilema da falta de acesso
ao comércio destes alimentos, pois como muitos adolescentes entrevistados moram na zona
rural do município, o acesso a FLV fica bem prejudicado e o consumo restrito aos alimentos
plantados em casa, quando estão na safra.
Ao questionarmos os pais sobre as barreiras deste consumo, 22,72% afirmaram
haver impedimentos, sendo os mais frequentes: “falta de dinheiro” (50%), “preço” (26,47%),
“acesso” (17,64%) e “não gostar” (5,88%). Todos estes motivos listados se tornam
empecilhos ao consumo destes alimentos, tanto pelos pais como pelos filhos.
82
No estudo Salles-Costa (2007) com a população de Duque de Caxias - RJ, viu-se
que as principais justificativas para o não consumo de frutas e verduras foram o custo, o fato
de não gostar e a falta de hábito. Também se observou que entre as famílias que tinham
problemas com falta de comida não havia consumo de frutas e verduras, em comparação com
as famílias que não tinham esse problema, sendo essa diferença significativa.
Sobre a preferência (gostar ou não) destes alimentos pelos adolescentes, a maioria
afirmou gostar de consumi-los (89,20%), contra 10,79% que afirmaram não gostar. Os
motivos mais citados para esse não gostar foram: “gostar mais de frutas” (60%), “preferência
por outros alimentos” (5%), “falta de hábito” (15%) e “não gostar do sabor” (20%).
Essa rejeição por FLV foi vista por Vieira et al. (2002), em estudo com
adolescentes de uma universidade pública brasileira, onde constataram que 79,5% dos
estudantes citaram não consumir pelo menos um alimento do grupo de hortaliças e 25,4%
disseram rejeitar uma ou mais frutas.
Também no estudo de Ximenes et al. (2006), com adolescentes de Recife – PE,
foi visto que o grupo das hortaliças era o menos consumido (34,5%), o de menor preferência
(20,4%) e o que tinha a maior aversão alimentar (55,5%) pelos adolescentes.
Quanto ao consumo de vegetais na família, a maioria (89,85%) afirmou que na
família esse consumo é frequente, diário e feito por todos. Porém, 2,89% afirmaram não haver
hábito familiar, 0,72% disseram não ter esses alimentos em casa, 2,89% consumo infrequente
na família e 3,62% afirmaram que na família todos consomem, menos ele (o adolescente
pesquisado).
Sobre a frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes
(TAB. 4), observou-se que a maioria relatou um consumo diário (46,76% para frutas e
51,79% para legumes e verduras) e semanal (46,76% para frutas e 37,41% para legumes e
verduras) destes alimentos.
Resultados semelhantes foram encontrados por Salles-Costa (2007), em Duque de
Caxias – RJ, que observou o consumo regular (consumo diário de pelo menos 5 vezes por
semana) de frutas em 53% e o de verduras em 65% da população. Isto também foi visto por
Vieira et al. (2002), em estudo com adolescentes de uma universidade pública brasileira, onde
foi verificado que aproximadamente 72% dos pesquisados mencionaram consumir hortaliças
cinco ou mais vezes na semana.
Em oposição, Castañola, Magariñoz e Ortiz (2004), pesquisando adolescentes da
área metropolitana de Buenos Aires – Argentina, observaram que quase 70% dos adolescentes
não ingeriam porção alguma de vegetais e frutas, cerca de 28% somente uma ou duas porções
83
ao dia e apenas 1% ingeriam cinco ou mais porções por dia. O consumo infrequente foi visto
também por Nunes, Figueiroa e Alves (2007), em Campina Grande – PB, onde 4,5% dos
adolescentes não consumiam frutas diariamente, e por Silva et al. (2009), em Fortaleza – CE,
onde apenas 34,3% e 47,6% dos adolescentes consumiam frutas e hortaliças/folhosos,
respectivamente.
TABELA 4
Frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes entrevistados. Formiga, 2009.
Frutas
Frequência de
consumo
Masculino
n
%
Feminino
n
%
Legumes e verduras
p
Total
n
%
Masculino
n
%
Feminino
n
%
p
Total
n
%
Diário
30
44,77 35
48,61 0,11 65 46,76
26
38,80 46
63,88 0,004* 72 51,79
Semanal
34
50,74 31
43,05
65 46,76
29
43,28 23
31,94
52 37,41
Mensal
0
0
5
6,94
5
3,59
2
2,98
1
1,38
3
2,15
Raro
2
2,98
1
1,38
3
2,15
7
10,44
0
0
7
5,03
Nunca
1
1,49
0
0
1
0,71
3
4,47
2
2,77
5
3,59
100
67
100
72
100
139
100
Total
67 100 72 100
139
* diferença estatisticamente significativa (p<0,05).
Analisando a frequência por sexo (GRAF. 11), observou-se que para o consumo
de frutas, a maioria das adolescentes relatou consumo diário (48,61%), enquanto nos
adolescentes do sexo masculino, o maior consumo se deu na frequência semanal (50,74%),
porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. Já para o consumo de verduras, o
sexo feminino novamente relatou, em sua maioria, um consumo diário (63,88%), enquanto no
masculino esse consumo era na maioria das vezes semanal (43,28%), sendo estatisticamente
significante (p= 0,004). Estes dados nos sugerem que o consumo de legumes e verduras é
diferente entre os sexos, sendo mais frequente no feminino que no masculino.
Resultado semelhante ao encontrado por nosso estudo foi visto por Carvalho et al.
(2001), em estudo com adolescentes de um colégio particular de Teresina – PI, onde a
frequência de consumo de hortaliças folhosas foi maior entre as meninas (56,55%) do que
entre os meninos (52,04%).
Em estudo com a população adulta da cidade de São Paulo, Figueiredo, Jaime e
Monteiro (2008) observaram que o consumo diário de frutas foi maior entre as mulheres
(51,7%) e que o consumo diário de legumes foi duas vezes maior entre as mulheres do que
entre os homens, sendo significante estatisticamente, o que se assemelha ao encontrado em
nosso estudo.
84
Sobre o consumo de porções diárias de frutas, legumes e verduras, observou-se
que o consumo médio de frutas foi de 1,74 porções diárias, com desvio-padrão de 2,13,
variando de 0,06 a 12 porções diárias. Já o consumo de legumes e verduras variou de 0,06 a 8
porções por dia, tendo como média 2,06 porções ao dia e desvio-padrão de 1,95. Estes
resultados se assemelham aos encontrados por Toral (2006), em uma amostra de adolescentes
escolares de Piracicaba – SP, onde foi visto que o consumo médio de frutas e hortaliças foi de
63,88
2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente.
51,79
50
37,41
38,8
43,28
46,76
46,76
43,05
44,77
50,74
60
48,61
70
Diário
31,94
40
%
Semanal
30
Mensal
Raro
Masc.
Fem.
Frutas
2,15
5,03
3,59
Nunca
0
2,77
1,38
1,38
0
0
0
2,98
1,49
10
3,59
2,15
0,71
6,94
2,98
10,44
4,47
20
Total
Masc.
Fem.
Total
Verduras
GRÁFICO 11 – Frequência de consumo de frutas, legumes e verduras por sexo.
Formiga, 2009.
Comparando este consumo às recomendações baseadas na Pirâmide Alimentar,
observou-se que a maioria dos adolescentes tinha um baixo consumo destes alimentos
(79,09% para frutas e 75,58% para legumes e verduras). O consumo adequado de frutas foi
verificado apenas em 14,17% dos entrevistados e o de legumes e verduras em 13,38%. Já o
consumo elevado (superior às recomendações), foi verificado em 6,71% para frutas e 11,02%
para legumes e verduras (GRAF. 12). Isto nos mostra que a maioria da população estudada
apresenta um consumo de FLV inferior às recomendações.
Estes resultados se assemelham aos encontrados por Toral et al. (2006) em
adolescentes de São Paulo, onde apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras,
respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo
85
inferior a uma porção diária representava 50% em relação ao consumo de frutas e 38,9% para
verduras.
Em outro estudo, realizado em Piracicaba – SP, Toral (2006) observou que cerca
de 45% dos adolescentes não atingiram a recomendação mínima de consumo de duas porções
de frutas e de duas porções de hortaliças ao dia, percentual bem inferior ao encontrado em
75,58
80,7
71,42
81,25
90
77,14
79,09
nosso estudo.
80
70
60
50
Masculino
%
11,02
15,78
7,14
3,5
4,68
8,57
6,71
14,17
20
13,38
Total
21,42
30
14,28
Feminino
14,06
40
10
0
Baixo
Adequado
Frutas
Elevado
Baixo
Adequado
Elevado
Verduras
GRÁFICO 12 – Adequação do consumo de frutas, legumes e verduras pelos
adolescentes. Formiga, 2009.
Sabe-se que a baixa ingestão de FLV está entre os 10 principais fatores de risco
que contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não
transmissíveis e alguns tipos de câncer16. Além disso, a escassez desses alimentos pode
provocar deficiências de vitaminas e minerais, constipação intestinal e, indiretamente, excesso
de peso. Diante disso, é de extrema importância que o adolescente tenha um consumo
adequado desses alimentos.
Na tentativa de explicar os determinantes do consumo de frutas, legumes e
verduras pelos adolescentes, foram associadas a este as variáveis biológicas (sexo, faixa
etária, raça e estado nutricional), socioeconômicas e relacionadas à cultura alimentar (renda
per capita, moradia, densidade domiciliar, escolaridade dos pais, gasto mensal com frutas,
legumes e verduras pela família e consumo dos pais), apresentadas na TAB. 5 e TAB. 6.
16
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2003. Shaping the future. Geneva: WHO,
2003.
86
Ao analisar este consumo por sexo (GRAF. 12 e TAB. 5), observou-se que para as
frutas o maior percentual de baixo consumo foi no masculino (81,25%), enquanto o consumo
adequado foi semelhante entre os sexos (14,06% e 14,28%, masculino e feminino,
respectivamente) e o elevado maior no sexo feminino (8,57%), porém não houve diferenças
significantes. Já para o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi maior no sexo
masculino (80,70%) e o consumo adequado no feminino (21,42%), sendo estas diferenças
significantes (p= 0,012). Vale destacar que o sexo masculino apresentou ainda o maior
percentual de consumo elevado (15,78%), sendo também significante estatisticamente (p=
0,006). Isto nos confirma que o consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos,
sendo que no sexo feminino o consumo ocorre dentro das recomendações e no masculino o
consumo fica aquém ou além destas.
Em oposição a estes resultados, Toral et al. (2006), em estudo com adolescentes
de São Paulo, observaram diferença significativa entre o consumo de frutas de acordo com o
sexo, onde o sexo masculino consumia mais porções diárias de frutas que o feminino. O
mesmo não foi observado em relação ao consumo de verduras, apesar das meninas terem
apresentado consumo maior desses alimentos.
O maior consumo de FLV pelo sexo feminino pode ser correlacionado à maior
preocupação com a imagem corporal e com a prática de dietas. Sobre este assunto, Braggion,
Matsudo e Matsudo (2000) afirmam que as adolescentes têm medo de engordar e em
consequência, desejam um controle do seu peso, chegando a omitir refeições importantes,
como o café da manhã ou o jantar e tendo grande preferência por alimentos mais saudáveis
quando comparadas aos meninos, tendo isto grande relação com o peso e aparência corporal,
maior frequência de dietas e desordens alimentares.
Em relação à faixa etária (TAB. 5), observou-se no consumo de frutas que o baixo
consumo foi maior (90,31%) pelos adolescentes mais velhos (14 a 16 anos), ao passo que o
consumo adequado e o elevado foram maiores (15,53% e 8,73%, respectivamente) pelos
adolescentes mais novos (10 a 13 anos). Isso nos sugere que, quanto maior é a idade, menor é
o consumo de frutas pelos adolescentes, porém não houve diferenças significantes.
TABELA 5
Associação das variáveis biológicas ao consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes. Formiga,
2009.
87
Frutas
Variáveis
Baixo
Consumo
n17
p
%
Consumo
Adequado
n
Legumes e verduras
p
%
Consumo
Elevado
Baixo
Consumo
n
%
n
p
%
Consumo
Adequado
n
p
%
Consumo
Elevado
n
%
Sexo
Masculino
52
81,25 0,909
9
14,06 0,769
3
4,68
46
80,70 0,012
*
2
3,50 0,006
*
9
15,78
Feminino
54
77,14
10
14,28
6
8,57
50
71,42
15
21,42
5
7,14
≥10 <14
78
75,72 0,472
16
15,53 0,522
9
8,73
75
75,75 0,716
12
12,12 0,565
12
12,12
≥14 <16
28
90,31
3
9,67
0
0
21
74,99
5
17,85
2
7,14
Branca
30
81,07 0,584
6
16,21 0,184
1
2,70
24
66,66 0,799
6
16,66 0,671
6
16,66
Negra
12
85,71
1
7,14
1
7,14
8
66,66
1
8,33
3
25
Parda
21
77,77
2
7,40
4
14,81
17
68
3
12
5
20
Baixo peso
6
54,54 0,306
4
36,36 0,490
1
9,09
8
80
1
10
1
10
Eutrofia
81
80,19
12
11,88
8
7,92
70
73,67
14
14,73
11
11,57
Sobrepeso
13
86,66
2
13,33
0
0
13
86,66
0
0
2
13,33
Obesidade
6
85,71
1
14,28
0
0
5
71,42
2
28,57
0
0
Faixa
etária
(anos)
Raça
Estado
Nutricion
al
0,190
0,214
* diferença estatisticamente significativa (p<0,05).
O mesmo não ocorre em relação aos legumes e verduras, que têm um percentual
de baixo consumo semelhante entre as faixas etárias. Já o consumo adequado foi maior na
faixa etária dos 14 aos 16 anos (17,85%) e o consumo elevado maior na faixa dos 10 aos 13
anos (12,12%), não havendo também diferenças significativas.
Em oposição ao encontrado em nosso estudo, Figueiredo, Jaime e Monteiro
(2008), num estudo realizado com a população adulta da cidade de São Paulo, verificaram que
tanto para o sexo masculino quanto para o feminino a idade se mostrou positivamente e
significativamente correlacionada à frequência do consumo de FLV. Isso também foi visto
por Jaime e Monteiro (2005), na população adulta, onde se constatou que o consumo de FLV
17
Devido ao número de questões não respondidas (deixadas em branco) pelos participantes, o somatório do valor
absoluto (n) de todas as variáveis nas tabelas 5 e 6 podem não chegar ao total da amostra (n= 139).
88
aumenta com a idade e escolaridade dos indivíduos, e com o número de bens no domicílio,
em ambos os sexos.
Sobre a associação entre a etnia auto-referida pelos adolescentes e o consumo de
frutas (TAB. 5), observou-se que o baixo consumo foi maior na etnia negra (85,71%), o
consumo adequado maior na branca (16,21%) e o consumo elevado na parda (14,81%). Já
sobre o consumo de legumes e verduras, o maior percentual de baixo consumo foi na etnia
parda (68%), o consumo adequado foi maior na raça branca (16,66%) e o consumo elevado na
negra (25%).
Não houve significância estatística para estas diferenças, porém estes dados nos
sugerem que a etnia branca tem um melhor consumo de frutas, legumes e verduras que as
etnias negra e parda. Isto pode ser parcialmente explicado pelo quadro atual de desigualdade
social, sendo de pleno conhecimento que a população negra tem menores oportunidades nas
áreas educacional e profissional, o que leva a um menor nível sócio-econômico e
consequentemente, menor aquisição e consumo de FLV.
Ao analisar o consumo de frutas, legumes e verduras de acordo com o estado
nutricional dos adolescentes (TAB. 5 e GRAF. 13), foi visto que em relação às frutas, o maior
percentual de baixo consumo se deu pelos adolescentes em sobrepeso (86,66%) e obesos
(85,71%). Já o consumo adequado foi maior pelos adolescentes em baixo peso (36,66%) e o
consumo elevado pelos adolescentes em baixo peso (9,09%) e eutróficos (7,92%). Em relação
ao consumo de legumes e verduras, repete-se o fato de o baixo consumo ser maior pelos
adolescentes em sobrepeso (86,66%). Já o consumo adequado é maior nos adolescentes
obesos (28,57%) e o consumo elevado é quase semelhante entre os grupos, sendo maior pelos
adolescentes em sobrepeso (13,33%).
Estes fatos nos sugerem que pode haver uma associação de causa e consequência
entre baixo consumo de frutas, legumes e verduras e excesso de peso, porém não houve
diferença significativa. Cabe ressaltar que o consumo adequado desses alimentos contribui
para uma alimentação saudável e de baixas calorias que pode resultar em um peso dentro do
normal. Pelo contrário, uma dieta que tenha baixa quantidade de FLV pode resultar em uma
alimentação desequilibrada, ocasionando ganho excessivo de peso. Daí vem a importância do
consumo adequado desses alimentos.
Resultados semelhantes aos desse estudo foram vistos por Andrade, Pereira e
Sichieri (2003), onde as meninas com sobrepeso apresentaram um consumo médio menor de
porções de hortaliças que as sem sobrepeso. Em contrapartida, neste mesmo estudo os autores
observaram que os meninos com e sem sobrepeso apresentaram consumo similar de hortaliças
89
e que as meninas sem sobrepeso apresentaram prevalência mais elevada de consumo abaixo
do mínimo de porções recomendadas para o grupo das frutas do que as com sobrepeso.
Do mesmo modo, Fagundes et al. (2008), em pesquisa com adolescentes escolares
do município de São Paulo, constataram que os portadores de sobrepeso (16,4%) e os obesos
(9,1%) consumiam menos verduras e legumes diariamente em comparação aos eutróficos
(42,3%). Os portadores de sobrepeso e obesidade também foram os que menos relataram o
consumo de frutas: daqueles que as consumiam três a quatro vezes por semana, 10,8% tinham
70
54,54
80
71,42
90
80
73,67
86,66
80,19
86,66
85,71
sobrepeso e 10,8% eram obesos, comparados a 43,2% dos eutróficos.
60
36,36
50
%
Baixo peso
Eutrofia
28,57
40
Obesidade
10
11,57
13,33
10
9,09
7,92
20
Sobrepeso
14,73
11,88
13,33
14,28
30
Baixo
Adequado
Frutas
Elevado
Baixo
Adequado
0
0
0
0
0
10
Elevado
Verduras
GRÁFICO 13 – Associação do estado nutricional sobre o consumo de frutas, legumes
e verduras pelos adolescentes. Formiga, 2009.
Sobre a relação local de moradia X consumo de frutas, legumes e verduras (TAB.
6), verificou-se que o baixo consumo e o consumo adequado de frutas foram maiores pelos
adolescentes que moravam na zona urbana (81,47% e 16,04%, respectivamente), já o
consumo elevado de frutas foi maior pelos que moravam na zona rural (13,72%), sendo
estatisticamente significante (p= 0,05). Sobre o consumo de legumes e verduras, o baixo
consumo foi semelhante entre os dois grupos, o consumo adequado foi maior na zona urbana
(15,58%) e o consumo elevado maior na zona rural (14,58%), não havendo diferenças
significativas.
90
Estes dados nos mostram que os moradores da zona urbana, em comparação com
os da zona rural, apresentam maior percentual de consumo adequado de FLV.
Semelhantemente ao encontrado em nosso estudo, Jaime e Monteiro (2005), em pesquisa
realizada com a população adulta brasileira, verificaram que o consumo de FLV foi maior nas
áreas urbanas do que nas áreas rurais.
Porém, os resultados sugerem que os moradores da zona rural têm um maior
consumo de FLV que os da zona urbana, sendo este consumo superior às recomendações. Isto
pode ser devido ao fato de que grande parte dos moradores da zona rural fazem o cultivo
destes alimentos em suas propriedades, o que os faz ter um maior acesso a estes e, com isso,
um maior consumo destes alimentos.
A associação entre escolaridade dos pais e/ou responsáveis e consumo de frutas,
legumes e verduras pelos adolescentes pode ser vista na TAB. 6. De acordo com os dados
sobre o consumo de frutas, o maior percentual de baixo consumo se deu nos pais que tinham
curso superior (85,70%), o consumo adequado nos pais alfabetizados (18,51%) seguidos pelos
com ensino médio (18,18%) e o consumo elevado maior nos adolescentes cujos pais tinham
curso superior (14,28%). Já sobre o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi
maior nos pais que tinham ensino médio (87,5%) e superior (85,71%), o consumo adequado
maior nos alfabetizados (19,23%) e o consumo elevado foi semelhante nos pais com ensino
fundamental e médio (12,5%), seguidos pelos alfabetizados (11,53%). Não houve diferenças
significativas.
Esses dados nos chamam a atenção, pois o esperado seria que quanto maior fosse
o grau de escolaridade dos pais, maior seria o nível socioeconômico e cultural e o consumo de
FLV. Isso não ocorreu em nosso estudo, pois como visto, o maior percentual de consumo
adequado se deu no grupo que tinha pais somente alfabetizados.
Uma explicação para isto pode residir no fato de que pais com maior escolaridade
também possuem uma melhor remuneração, o que eleva a condição sócio-econômica da
família. Com isso, o acesso a produtos industrializados, refeições fora de casa e fast-foods se
torna maior, o que pode fazer com que o consumo de FLV na família seja menor.
Em oposição a esses resultados, Godoy et al. (2006) verificaram em seu estudo
que a escolaridade do chefe da família apresentou-se associada ao maior consumo de
hortaliças, havendo diferença estatisticamente significante.
91
TABELA 6
Associação das variáveis sócio-econômicas e culturais ao consumo de FLV. Formiga, 2009.
Legumes e verduras
Frutas
Variáveis
Baixo
Consumo
n
p
%
Consumo
Adequado
n
P
%
Consumo
Elevado
Baixo
Consumo
N
n
%
p
%
Consumo
Adequado
n
p
%
Consumo
Elevado
n
%
7
9,09
7
14,58
6
11,53
Moradia
Zona urbana
Zona rural
66 81,47 0,877 13
16,04 0,050* 2
2,46
58 75,31 0,670 12
15,58
38 74,50
6
11,76
7
13,72
36
5
10,41
42 77,76 0,516 10
18,51
2
3,70
36 69,23 0,304 10
19,23
75
0,423
Escolaridade
dos pais
Alfabetizado
E. Fundamental 37 75,50
0,351
0,453
7
14,28
5
10,20
37 77,08
5
10,41
6
12,5
Ensino Médio
8
72,72
2
18,18
1
9,09
7
87,5
0
0
1
12,5
Superior
6
85,70
0
0
1
14,28
6
85,71
1
14,28
0
0
39 81,25 0,860
7
14,58
2
4,16
38 80,85 0,244
2
4,25
0,017* 7
14,89
≥¼ <½ SM
36
8
16
6
12
34 69,38
9
18,36
6
12,24
≥½ <1 SM
18 81,81
4
18,18
0
0
15 78,94
4
21,05
0
0
2
0
0
0
0
1
100
0
0
0
0
7
7,44
66
75
0,616 13
14,77
9
10,22
26 74,28
4
11,42
5
14,28
0
0
0
0
4
23,52
Renda per
capita
<¼ SM
≥1 SM
72
100
0,157
Densidade
Domiciliar
73 77,65 0,880 14
14,89
30 83,33
5
13,88
1
2,77
1
0
0
1
50
3
15 78,94 0,175
4
21,05
0
0
12 70,58 0,261
1
5,88
≥4 <7%
25 92,59
1
3,70
1
3,70
22 81,48
1
3,70
4
14,81
≥7 <11%
21 67,74
6
19,35
4
12,90
21 72,41
6
20,68
2
6,89
≥11 <16%
5
55,55
3
33,33
1
11,11
7
77,77
2
22,22
0
0
≥16%
5
83,33
1
16,66
0
0
5
83,33
0
0
1
16,66
43 70,49 0,672 11
18,03
7
11,47
70 77,77 0,946 12
13,33
8
8,88
Semanal
29 80,55
6
16,66
1
2,77
15 68,18
4
18,18
3
13,63
Mensal
13 86,66
1
6,66
1
6,66
1
50
0
0
1
50
Raro
13 92,85
1
7,14
0
0
7
77,77
1
11,11
1
11,11
<1,0
≥1,0 <2,0
≥2,0
50
0,326
100
0,729
% do
orçamento
gasto com
FLV
< 4%
0,509
0,089
Consumo de
FLV pelos pais
Diário
0,583
0,704
92
Nunca
1
100
0
0
0
0
1
100
0
0
0
0
* diferença estatisticamente significativa (p<0,05).
Quanto à influência da renda familiar per capita sobre o consumo (TAB. 6 e
GRAF. 14), verificou-se que para as frutas o maior percentual de baixo consumo se deu no
grupo de maior renda per capita (100%), o consumo adequado foi maior no grupo com renda
entre ½ a 1 salário-mínimo (18,18%) e o consumo elevado no grupo que ganhava entre ¼ a ½
salário-mínimo per capita (12%), não havendo diferenças significativas. Já para o consumo de
legumes e verduras, o baixo consumo foi mais prevalente no grupo com maior renda per
capita (100%), o consumo adequado maior no grupo com renda entre ½ a 1 SM (21,05%) e o
elevado maior no grupo que tinha renda inferior a ¼ do salário-mínimo (14,89%), havendo
diferença significativa (p= 0,017).
100
80,85
69,38
78,94
81,25
72
81,81
90
100
100
80
70
60
<¼ SM
% 50
≥¼ <½ SM
30
≥1 SM
18,36
21,05
4,25
4,16
12
20
14,89
12,24
≥½ <1 SM
14,58
16
18,18
40
Baixo
Adequado Elevado
Frutas
Baixo
0
0
0
0
0
0
0
10
Adequado Elevado
Verduras
GRÁFICO 14 – Associação entre renda per capita e consumo de frutas, legumes e
verduras. Formiga, 2009.
Estes resultados também foram paradoxais, pois o esperado é que com o aumento
de renda haja um aumento no consumo de frutas, legumes e verduras, o que, em parte, não foi
visto em nosso estudo, pois o grupo que tinha o mais baixo consumo era o que tinha maior
renda. Todavia, o resultado encontrado para o consumo de legumes e verduras nos mostra que
este foi proporcional à renda, ou seja, quanto maior a renda, maior o consumo.
Assim como foi discutido em relação à escolaridade dos pais, a explicação para
estes resultados pode estar ligada à cultura alimentar da sociedade atual, onde as famílias com
93
maior renda per capita têm maior disponibilidade e acesso a alimentos ricos em açúcares e
gorduras (industrializados), o que torna o consumo de FLV menor. De acordo com Martins,
Cavalcanti e Mazzilli (1977), embora a renda familiar seja fator prioritário na aquisição de
alimentos, onde qualquer aumento de ingresso leva à ingestão de maior quantidade de
comida, a alta renda não resulta necessariamente em dieta equilibrada, como o visto neste
estudo.
Resultados semelhantes aos nossos foram vistos pela Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) 2002-2003 (IBGE, 2004), onde nem mesmo as famílias de maior renda
consumiam a quantidade mínima recomendada de FLV. Porém, em oposição ao nosso estudo,
a pesquisa constatou que entre as famílias de mais alta renda o consumo chegou a ser seis
vezes maior do que entre as famílias mais pobres.
Segundo Barreto e Cyrillo (2001), para elevar o consumo destes produtos, o
aumento da renda seria um incentivo econômico mais adequado que a redução dos preços
relativos, pois a participação deste grupo nos gastos domiciliares é maior para as classes de
renda mais elevadas, mesmo quando seus preços relativos estão em declínio.
A relação entre o consumo de frutas, legumes e verduras e a densidade domiciliar
pode ser vista na TAB. 6. De acordo com os resultados encontrados, constatou-se que, em
relação às frutas, o baixo consumo foi maior (83,33%) no grupo com média densidade (1 a 2
pessoas por cômodo) e o consumo adequado e elevado foram maiores no grupo com menor
densidade domiciliar (14,89% e 7,44%, respectivamente). Já em relação aos legumes e
verduras, o baixo consumo foi maior (100%) no grupo com maior densidade, o consumo
adequado foi mais prevalente no grupo com menor densidade (14,77%) e o consumo elevado
maior no grupo com densidade média (14,28%), não havendo diferenças significantes.
Estes dados nos mostram que, quanto maior o número de pessoas morando no
mesmo domicílio, menor é o consumo de frutas, legumes e verduras, estando este consumo
abaixo das recomendações. Pelo contrário, nos domicílios que têm uma baixa densidade de
moradores, os adolescentes têm um consumo adequado destes alimentos, uma vez que há
maior disponibilidade destes alimentos na família.
Estes resultados estão em consonância com os encontrados por Figueiredo (2006),
em que, para homens e mulheres adultos do município de São Paulo, a variável densidade do
domicílio apresentou correlação negativa com o consumo de FLV.
Quanto à influência do gasto mensal com frutas, legumes e verduras sobre o
consumo destes alimentos (TAB. 6 e GRAF. 15), observou-se que para o consumo de frutas,
o baixo consumo foi maior no grupo com gasto entre 4 a 7% (92,54%), o adequado no grupo
94
entre 11 a 16% (33,33%) e o consumo elevado no grupo de 7 a 11% (12,90%). O consumo de
legumes e verduras foi mais baixo (83,33%) no grupo com maior gasto (>16%), adequado no
grupo entre 11 a 16% do orçamento (22,22%) e mais elevado (23,52%) no grupo com menor
70,58
81,48
72,41
77,77
83,33
80
67,74
90
78,94
100
83,33
92,59
gasto (menos de 4% do orçamento), não havendo significância estatística.
70
60
33,33
55,55
≥4 <7 %
Baixo
Adequado Elevado
Frutas
> 16 %
6,89
16,66
≥11 <16 %
Baixo
0
0
0
0
5,88
3,7
12,9
0
3,7
10
≥7 <11 %
3,7
20
11,11
30
16,66
21,05
19,35
40
23,52
14,81
20,68
22,22
% 50
<4%
Adequado Elevado
Verduras
GRÁFICO 15 – Consumo de frutas, legumes e verduras de acordo com o percentual
do orçamento gasto com estes alimentos. Formiga, 2009.
Estes resultados nos sugerem que, quanto maior é o gasto mensal com frutas,
legumes e verduras, maior é o consumo destes alimentos. Porém, paradoxalmente, em nosso
estudo o grupo com maior gasto mensal também foi o que teve o consumo mais baixo destes
alimentos. Isso pode ser devido ao fato que as famílias que têm um gasto maior tenham
também um maior número de pessoas para alimentar, o que proporciona um baixo consumo
destes vegetais, devido à baixa disponibilidade destes no domicílio. Outra explicação seria a
de que a compra destes alimentos não esteja associada ao consumo, ou seja, pode haver a
disponibilidade destes alimentos no domicílio e não haver necessariamente o consumo destes.
Este fato é bastante relatado pela população atendida pela autora em sua prática profissional,
onde afirmam que esses alimentos chegam a se deteriorar em seus domicílios, uma vez que
não ocorre o consumo deles.
Com relação à influência do consumo dos pais sobre o dos adolescentes (TAB. 6),
pôde-se constatar que, tanto para as frutas quanto para os legumes e verduras, os maiores
percentuais de baixo consumo foram dos adolescentes cujos pais nunca consumiam estes
95
alimentos (100% para ambos os vegetais). Já o consumo adequado de frutas foi maior nos
pais com consumo diário (18,03%) e o de legumes e verduras, nos pais com consumo semanal
(18,18%). O consumo elevado de frutas foi maior nos adolescentes cujos pais tinham
consumo diário (11,47%) e de legumes e verduras nos pais com consumo mensal (50%).
Mesmo não havendo diferenças significativas, estes resultados nos levam a
concluir que quanto maior e mais frequente é o consumo de vegetais pelos pais, maior é o
consumo pelos adolescentes, tanto pela maior disponibilidade destes alimentos em casa,
quanto pelo exemplo a ser seguido. Sobre este assunto Rossi, Moreira e Rauen (2008)
afirmaram que os pais desempenham um papel crucial nas preferências alimentares dos filhos,
já que estes são influenciados pelas escolhas e hábitos alimentares dos pais.
96
6 CONCLUSÃO
A realização deste estudo possibilitou a descrição e análise do consumo de frutas,
legumes e verduras pela população adolescente do município de Formiga – MG. O perfil
dessa população foi, em sua maioria, de moradores da zona urbana do município, com faixa
etária entre 10 a 16 anos de idade, da raça branca e de baixa renda (pobreza e extrema
pobreza).
Ao analisar o estado nutricional dessa população verificou-se que a maioria dos
adolescentes (75,53%) encontrava-se em eutrofia, porém aproximadamente 24% dos
adolescentes apresentavam inadequação de peso (baixo peso, sobrepeso ou obesidade),
quadro semelhante ao descrito pela literatura.
Sobre os aspectos relacionados à aquisição de FLV, constatou-se que a maioria
das famílias adquiriam esses produtos semanalmente nos supermercados, gastando entre 7 a
10% da renda familiar. As maiores barreiras ao consumo desses alimentos pelos pais e filhos
foram: acesso, preço, não ter em casa, não ter dinheiro e não gostar.
Em relação ao consumo desses alimentos, foi visto que a maioria (cerca de 90%)
dos adolescentes consumia esses alimentos diariamente ou semanalmente, porém em porções
bastante inferiores às recomendadas, pois cerca de 75% dos adolescentes consumiam FLV em
quantidade inferior ao recomendado. O consumo adequado foi visto apenas em
aproximadamente 14% dos adolescentes.
Analisando os fatores que poderiam influenciar este consumo, verificou-se que
apenas o sexo, local de moradia e renda per capita apresentaram significância estatística. Foi
visto que os adolescentes do sexo feminino tinham um consumo mais frequente e adequado
de legumes e verduras que os do sexo masculino, que por sua vez apresentou um consumo
inferior e superior às recomendações. Isso nos mostrou que o consumo de legumes e verduras
é diferente entre os sexos, sendo mais adequado no feminino.
Já sobre o local de moradia, verificou-se que na zona urbana o consumo de frutas
pelos adolescentes era adequado e na zona rural este consumo era elevado, o que nos mostra
que morar na zona urbana favorecia o consumo adequado de frutas.
Quanto à renda per capita, foi visto que esta influencia o consumo de legumes e
verduras, pois o maior percentual de consumo adequado ocorreu no segundo maior estrato de
renda, demonstrando que quanto maior é a renda, maior é o consumo destes alimentos.
97
Estes resultados nos fazem concluir que o consumo de frutas, legumes e verduras
pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e infrequente, sendo influenciado pelo sexo,
local de moradia e renda per capita. Isto sinaliza que não apenas a questão nutricional está
envolvida, mas também os fatores econômicos, sociais e culturais.
Vivemos atualmente em plena transição demográfica e epidemiológica, onde
ocorrem mudanças demográficas, sociais, econômicas e culturais que culminam com a
transição nutricional. Os dados deste estudo estão em consonância com as características
desta transição, pois foram diagnosticados uma alta prevalência de excesso de peso e de baixo
consumo de FLV pelos adolescentes, indicando uma situação alarmante.
Diante disso, o conhecimento do consumo alimentar dos adolescentes de Formiga
- MG irá contribuir para a execução de trabalhos de educação nutricional com esses
indivíduos, abordando todos os fatores envolvidos multidisciplinarmente, a fim de obter êxito
e resultados positivos no consumo alimentar de FLV.
98
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111
APÊNDICE A
CARTA AOS PAIS E/OU RESPONSÁVEIS
Formiga, 10 de março de 2009.
Caros pais ou responsáveis,
Eu, Keila Lopes Mendes, Nutricionista e Mestranda em Educação, Saúde e
Organizações Sociais pela FUNEDI/UEMG, estou realizando um estudo com a finalidade de
avaliar o consumo alimentar de frutas, legumes e verduras e o estado nutricional dos
adolescentes matriculados da 5ª a 8ª série do ensino fundamental, que tem como título “A
alimentação contemporânea: um estudo de caso sobre o consumo de frutas, legumes e
verduras por adolescentes do município de Formiga – MG”.
Gostaria de esclarecer que esta pesquisa não acarretará riscos para os escolares,
visto que a intervenção prevista será a obtenção de peso e altura dos participantes, como
também coleta de informações, através de um questionário, sobre o consumo alimentar dos
adolescentes. Os dados coletados serão analisados com a garantia de confidencialidade das
informações recebidas.
O estudo apenas envolverá o adolescente cujos pais ou responsáveis autorizarem a
participação. Por isso, juntamente com esta carta, você está recebendo um termo para
autorizar a participação de seu filho na pesquisa, bem como um questionário com dados
sócio-econômicos e de consumo alimentar. Peço, por gentileza, que preencha o questionário,
assine o termo autorizando a participação na pesquisa e os devolva (através de seu filho) até o
dia 17/03/2009 (3ª feira).
Atenciosamente,
Keila Lopes Mendes (Pesquisadora/Nutricionista) – Telefone: (37) 88164454
Prof. Dr. Leandro Pena Catão (Orientador)
112
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ______________________________________________________________
(nome do responsável), declaro para fins de participação em pesquisa, que fui devidamente
esclarecido (a) sobre os objetivos do projeto desenvolvido pela mestranda Keila Lopes
Mendes, sob orientação do Prof. Dr. Leandro Pena Catão, que tem como título “A
alimentação contemporânea: um estudo de caso sobre o consumo de frutas, legumes e
verduras por adolescentes do município de Formiga – MG”.
Estou ciente que: todas as informações obtidas serão confidenciais, portanto o
meu nome e de meu filho não serão revelados; não haverá nenhuma despesa pessoal,
tampouco alguma compensação financeira; em qualquer etapa da pesquisa poderei ter acesso
aos dados, bem como aos responsáveis pelo projeto para eventuais esclarecimentos ou
dúvidas; os dados dessa pesquisa poderão ser utilizados pelos pesquisadores em publicações
de natureza científica.
Declaro ainda que todas as informações fornecidas para essa pesquisa são
verdadeiras.
_____________________________________________________
Assinatura (pai e/ou responsável)
Data: ______/______/_______
_______________________________________________________
Pesquisadora/Mestranda: Keila Lopes Mendes
Telefone: (37) 88164454
Orientador: Prof. Dr. Leandro Pena Catão
113
APÊNDICE C
QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO E DE CONSUMO ALIMENTAR - PAIS
E/OU RESPONSÁVEIS
Nome:______________________________________________________________________
Nome do seu filho: _______________________________________________ Turma: _____
Endereço:___________________________________________________________________
Telefone:_________________________ Sexo: ( ) M ( ) F Estado Civil: ________________
1- Qual é a sua escolaridade?
( ) alfabetizado
( ) 1º grau incompleto
( ) 1º grau completo
( ) 2º grau incompleto
( ) 2º grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) pós-graduação
2 - Qual é a sua profissão? _____________________________________________________
3 - Qual é a renda familiar (em salários mínimos)? __________________________________
4 - Quantas pessoas moram na casa? __________ Quantas trabalham? ___________
5 - Quantos cômodos tem a casa? _____________
Quantos banheiros? ___________
6 – Sua casa possui: rede de água e esgoto? ( ) sim ( ) não
geladeira? ( ) sim ( ) não
luz elétrica? ( ) sim ( ) não
Computador? ( ) sim ( ) não Televisão? ( ) sim ( ) não
7 - Qual é a sua religião? ______________ E a da sua família? _______________________
8 - Qual a origem da família (portuguesa, italiana, etc...)? _____________________________
9 - Você vive ou viveu a maior parte da vida em:
( ) Zona urbana (cidade)
( ) Zona rural (roça)
10 - Há quanto tempo reside em Formiga? _________________________________________
11 - Sobre as compras de alimentos em sua casa, quem decide o que comprar?
___________________________________________________________________________
Quem faz as compras? ________________________________________________________
12 - Você e sua família têm o hábito de comer fora de casa? ( ) sim ( ) não
Se sim, com qual a frequência? __________________________________________________
Quais são os alimentos consumidos fora de casa? ___________________________________
Quais são as refeições feitas fora de casa? _________________________________________
13 - Você consome frutas? ( ) sim ( ) não
Se sim, com que frequência? ( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente
114
( ) raramente ( ) nunca
14 - Você consome legumes e verduras? ( ) sim ( ) não
Se sim, com que frequência? ( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente
( ) raramente ( ) nunca
15 - Você acha que há algum benefício no consumo de frutas, legumes e verduras? ( ) sim (
) não
Quais? _____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
16 - Como você se sente ao consumi-los? _________________________________________
___________________________________________________________________________
17 - Há algum fator que impede o consumo? ( ) sim ( ) não
Se sim, quais? _______________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
18 - Você gosta de frutas, legumes e verduras? ( ) sim ( ) não
Se não, por quê? _____________________________________________________________
___________________________________________________________________________
19 - O que você acha do preço destes alimentos? ____________________________________
O preço impede seu consumo? __________________________________________________
20 - O que você acha do acesso a estes alimentos (facilidade ou dificuldade em comprá-los)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
21 - Onde você tem costume de comprar frutas, legumes e verduras? ____________________
Com que frequência você faz essas compras? ______________________________________
22 - Quanto do seu orçamento você gasta com frutas, legumes e verduras? _______________
Agradecemos a sua participação!
115
APÊNDICE D
QUESTIONÁRIO DE CONSUMO ALIMENTAR - ADOLESCENTES
Nome:__________________________________________________________ Turma: _____
Endereço:___________________________________________________________________
Telefone:_____________________ Sexo: ( ) M ( ) F
Estado Civil: ________________
Raça auto-declarada: ________________ Data de Nascimento: _____________ Idade: _____
Peso: _____________ Altura: ______________ IMC: _________ Classificação: _________
1 - Com que frequência você consome frutas ou suco de frutas natural?
( ) diário –
Quantas vezes por dia: ______
Quantas porções: ______
( ) semanal - Quantas vezes por semana: _____
Quantas porções: ______
( ) mensal -
Quantas porções: ______
Quantas vezes por mês: ______
( ) raramente
( ) nunca.
2 - Com que frequência você consome verduras e/ou legumes?
( ) diário –
Quantas vezes por dia: ______
Quantas porções: ______
( ) semanal - Quantas vezes por semana: _____
Quantas porções: ______
( ) mensal -
Quantas porções: ______
Quantas vezes por mês: ______
( ) raramente
( ) nunca.
3 - Você acha que há algum benefício no consumo destes alimentos? ( ) sim ( ) não
Quais? _____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4 - Como você se sente ao consumir estes alimentos? ________________________________
___________________________________________________________________________
5 - Há algum fator que impeça esse consumo? ( ) sim ( ) não
Se sim, quais? _______________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6 - Você gosta de frutas, legumes e verduras? ( ) sim ( ) não
Se não, por quê? _____________________________________________________________
116
7
-
Como
é
esse
consumo
na
sua
família?
É
um
hábito
familiar?
________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8 - Você consumia frutas, legumes e verduras na infância? ____________________________
___________________________________________________________________________
9 – Outras observações (consumo de outros alimentos, como refrigerantes, fast-foods, doces,
etc):________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Agradecemos a sua participação!
117
ANEXO A
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA FUNEDI

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