Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana

Transcrição

Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana
Museu Histórico do
Exército
e Forte de
Copacabana
Paulo
Roberto Rodrigues Teixeira
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Ano xi / Nº 21
O local escolhido
para a sua construção
consistia numa região
cujos rochedos
avançavam contra o mar
em direção à entrada
da Baía de Guanabara
Ano xi / Nº 21
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Antecedentes
A
s nações europeias, a partir do século XVI, tomaram conhecimento das
riquezas nas terras conquistadas pelos portugueses. A imensidão do território
e sua faixa litorânea sem defesa e repleta de portos naturais, aliadas às riquezas
existentes, contribuíram para que desenvolvessem agressiva estratégia de invasão
aos domínios de Portugal.
A segurança da Baía de Guanabara, desde o Brasil Colônia, sempre foi
uma preocupação dos governantes, pela sua crescente importância econômica
e estratégica. Durante o Período Republicano, prosseguiram as ameaças dos
invasores contra o nosso território.
Vários fortes e fortalezas, desde o início da colonização, foram construídos ao longo da imensa costa marítima. Alguns se destacaram pela grandiosidade das suas instalações e pelo alto poder de fogo.
O Forte de Copacabana foi um deles.
Ao fim da sua operacionalidade, como meio de defesa eficaz, veio a tornar-se
um polo de atração cultural e turística, recebendo milhares de visitantes, anualmente, passando a designar-se Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.
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O Forte
Igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana ou Sacopenabam, como chamavam os indígenas, existente
no promontório onde foi construido o Forte.
Está localizado no fim da Praia de Copacabana, na Cidade do Rio de Janeiro.
Foi construído no promontório da
igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana
ou Sacopenabam, como chamavam os indígenas. Era uma região cujos rochedos avançavam contra o mar na direção da entrada da
Baía de Guanabara, oferecendo excelente área
para posicionar peças de artilharia.
A sua construção em forma de
casamata e as paredes externas, de 12 metros
de espessura, voltadas para o mar, acolheram
os canhões alemães Krupp, assentados em
cúpulas encouraçadas giratórias.
Possuía, na época, dois canhões de
305mm, com alcance de 23km, dois canhões
de 190mm e duas torres de canhões de 75mm.
A 6ª Bateria de Artilharia Independente de Posição, oriunda de Laguna, Santa
Catarina, guarneceu as instalações do forte,
após sua inauguração.
A fortificação dispunha de uma usina a diesel, com dois grupos de geradores
fabricados na Alemanha, em Berlim que, na
época, fornecia energia elétrica para o bairro
de Copacabana e que servia para iluminação,
ventilação e operação das peças de artilharia.
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Visão geral da Fortaleza em construção.
Comissão de Obras visita a construção.
Foi o único projeto, na América do
Sul, que integrava câmaras de tiro, cozinha, depósito de víveres, paiol de munição,
alojamento para oficiais e praças, oratório,
oficina, telégrafo, observatórios, almoxarifado, cisterna de água, banheiros e enfermaria.
Essa poderosa casamata permitia sustentar o
combate durante longo tempo sem precisar
de auxílio externo.
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Pórtico de entrada do Forte, inaugurado em 1920.
A construção do pórtico de entrada foi
concluída, em 1920.
Originalmente, possuía alojamento
para a guarda, banheiros e pequena reserva
para munição e armamento.
No alto da fachada, observam-se dois
canhões cruzados, o antigo símbolo da Arma
de Artilharia de Costa, o Brasão das Armas
da República e a inscrição que designava o
nome da Unidade Militar, na data de sua
construção, Forte de Copacabana.
Há uma inscrição em latim na retaguarda
do Pórtico “Si Vis Pacem para Bellum” que significa “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”,
escrita pelo autor Publius Flavius, em 390 d.C.
Em maio de 1987, foi criado o Museu
Histórico do Exército nas instalações do Forte
de Copacabana. Era Ministro do Exército o
General Leônidas Pires Gonçalves.
Existem dois salões no museu: Salão
Colônia Império e Salão República, ambos
mobiliados com acervos preciosos que retratam a nossa história.
Possui ainda outros espaços que são
usados para exposições temporárias e também
para eventos sociais.
A guarnição da entrada do forte usando uniforme
e armamento da época da inauguração.
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História
Nicolau Durand de Villegaignon.
Em 1555, os franceses, chefiados por
Nicolau Durand de Villegaignon, chegaram
ao Rio de Janeiro, com a ideia de fundar
uma colônia no Brasil: a França Antártica.
Atracaram na Baía de Guanabara e fixaram-se nas Ilhas Lages e Sergipe – onde viviam
os tamoios – e ergueram o Forte Coligny.
Atualmente, a ilha chama-se Villegaignon, e
nela se encontra a Escola Naval.
No local, Estácio de Sá fundou, em 1º de
março de 1565, a Cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro, entre os morros de São João
e Pão de Açúcar. Era o início da resistência
contra o invasor.
Nos séculos XVII e XVIII, outras incursões ocorreram na cidade. Os portugueses
empenhavam-se em construir novas fortificações para ampliar a defesa contra as investidas
estrangeiras.
Com a transferência da capital da Colônia Portuguesa, de Salvador para o Rio de
Janeiro, no ano de 1763, houve necessidade,
especialmente na sede do Vice-Reinado, de
aumentar a segurança. Entretanto, as obras
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programadas para a continuação de um forte
não atingiram o seu final.
D. João VI também determinou que se
projetasse um forte na mesma área.
Somente mais tarde, na República, foi
construído o forte atual, localizado na mesma
posição escolhida pelos portugueses, debruçado sobre o mar, nas proximidades da entrada
da barra. O projeto inicial foi apresentado
pelo Major Tasso Fragoso. Após vários estudos, foi feito uma adaptação no armamento
a ser utilizado, passando a ser canhões de tiro
tenso e de longo alcance.
Tasso Fragoso.
Em 16 de novembro de 1907, o Major
Luís Eugênio Francisco Filho foi designado
para dirigir a construção da moderna fortificação.
Em 5 de janeiro de 1908, ocorreu
o lançamento da pedra fundamental, com a
presença do Presidente da República, Afonso
Pena, e do Ministro da Guerra, Marechal
Hermes da Fonseca.
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Cúpula dos canhões de 305mm
Entrada da fortificação.
Foi inaugurado em 28 de setembro de
1914, constituindo a mais moderna praça de
guerra da América do Sul e um marco para a
engenharia militar do seu tempo.
O forte, desde a sua criação, foi guarnecido sucessivamente pelas seguintes unidades:
6ª Bateria de Artilharia Independente de
Posição (1912-17)
5ª Bateria do 2ª Batalhão de Artilharia de
Posição (1917)
12ª Bateria do 4º Grupo de Artilharia de Costa
(1917-19)
1ª Bateria Isolada de Artilharia de Costa
(1919-31)
1ª Bateria do 6º Grupo de Artilharia de Costa
(1931-34)
3º Grupo de Artilharia de Costa (1934-58)
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Os últimos disparos realizados pelos
seus canhões ocorreram em 11 de novembro
de 1955, no episódio que ficou conhecido
como a Novembrada, por ordem dos militares legalistas comandados pelo Marechal
Teixeira Lott, contra o cruzador Tamandaré,
que forçara a saída da barra.
A partir de 1987, com a extinção das
Baterias de Artilharia de Costa, as instalações
do forte foram transformadas em Espaço Cultural, passando a ser designado como Museu
Histórico do Exército e Forte de Copacabana.
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Os 18 do Forte
Tela de Ivan Wash Rodrigues.
Um fato histórico marcante, ao longo
do Período Republicano, foi a revolta do
Forte de Copacabana, que ficou conhecida
como “Revolta dos 18 do Forte”, ocorrida
entre os dias 5 e 6 de julho de 1922.
Liderado por jovens oficiais do Exército, foi considerado o primeiro Movimento
Tenentista, cujo objetivo era a queda da
República Velha.
No dia 5 de julho, a Fortaleza de Santa
Cruz bombardeou o Forte de Copacabana,
porém, os 301 revolucionários (oficiais, praças e civis) mantiveram-se nas suas posições
de defesa. O Capitão Euclides Hermes e o
Tenente Siqueira Campos sugeriram que
desistissem da luta aqueles que quisessem:
apenas 29 decidiram continuar.
O Capitão Euclides Hermes tentou
negociar e, quando saiu do forte, foi preso.
A tropa legalista tinha o efetivo de quatro
mil homens.
O Tenente Siqueira Campos assumiu o
comando e marcharam pela Avenida Atlântica
em direção ao Leme.
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Alegoria feita sobre as homenagens a Siqueira
Campos na entrada do Forte.
No percurso, alguns integrantes abandonaram o grupo durante o confronto. Os
que se mantiveram em marcha foram derrotados em frente à Rua Barroso, atual Siqueira
Campos.
Apenas o Tenente Siqueira Campos e o
Tenente Eduardo Gomes sobreviveram.
Em homenagem ao 1o Tenente Siqueira
Campos, foi erguido um monumento na
Avenida Atlântica, em frente à Rua Siqueira
Campos onde ocorreu o confronto e também
na entrada do forte.
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Entrada do Forte
Entrada da
fortificação
Gabinete de Comando
da época
Alameda
lateral de
acesso
Antigo Gabinete
do
Comandante
O Forte de Copacabana é um
marco na história do sistema de defesa
da Baía de Guanabara.
Quando entramos para visitá-lo, ao longo do corredor da entrada
lateral, em exposição permanente,
observamos os canhões coloniais, de
tipos diferentes, caracterizando a sua
evolução bélica ao longo da história.
Ao fundo, no interior da casamata de concreto, está parte do aquartelamento do forte. Uma estrutura
perfeita para as operações de tiro e para
sustentar o combate.
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Galeria de circulação
e de exposição
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Câmara de Tiro
da 2a Bateria
Municiamento
dos canhões
O cenário encanta os visitantes.
O contraste das cúpulas giratórias metálicas com as casamatas
de concreto oferece um belíssimo espetáculo visual.
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Guararapes
Rondon
Os salões de exposição
complementam a museologia do
forte, apresentando os fatos históricos ocorridos, em épocas diversas.
O Museu Histórico do Exército e
Forte de Copacabana tornou-se um
espaço cultural conhecido em todo
o mundo, pelos grandes eventos
que ali são realizados, na área social
e cultural, e pela riqueza do seu
acervo que está à disposição
de todos
Ensino Militar
Força Expedicionária Brasileira
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Lanches
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Encerramento
Encerramos a nossa reportagem, deixando um convite especial
ao prezado leitor, para que conheça este patrimônio histórico e se orgulhe
do trabalho realizado no decorrer dos anos, cujo objetivo principal,
inicialmente, era manter a segurança da Baía de Guanabara.
Hoje, transformado em museu, tornou-se um atrativo turístico
dos mais visitados na Cidade do Rio de Janeiro.
Bibliografia
BARRETO, Anibal. Fortificações do Brasil, Biblioteca do Exército Editora, RJ.1958.
CORREIA, João Rosado. Fortificações Portuguesas no Brasil, Monsoraz: Centro de
Estudos Patrimoniais Lusófanos da Fundação Convento e Orada, 1998.
FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos anos História do Brasil. Biblioteca do Exército Editora - RJ 2000.
CASTRO, Adler Homero Fonseca de. Muralhas de Pedra, Canhões de Bronze, Homens de Ferro. FUNCEB, Editora - RJ: 2009.
MHEFC - Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana.
RIBEIRO, Sérgio Nunes - Fotógrafo da Seção de Produção Gráfica do Museu.
Paulo Roberto Rodrigues Teixeira – Coronel de Infantaria e Estado-Maior,
é natural do Rio de Janeiro. Tem o curso de Estado-Maior e da Escola Superior de
Guerra. Atualmente, é assessor da FunCEB e redator-chefe da revista DaCultura.
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Parabéns à nossa FUNCEB que mais uma vez brilha com a Revista DaCultura, Ed Nr 20, de
Set 2012, com rara riqueza de conteúdo histórico e cultural, diversidade, qualidade, credibilidade e
inestimável valor material e imaterial, que retrata e divulga com fidelidade o papel de protagonista do
Exército Brasileiro na História do Brasil e coloca o Sistema Cultural o nosso Exército na vanguarda da
Cultura Nacional.
Joel F. Corrêa - Coronel de Infantaria
Nada fortalece tanto o patriotismo de um povo, quanto o culto à memória de seus acontecimentos
heróicos, inseridos nos fatos da sua história.
A Revista DaCultura está plenamente inserida nesse contexto, trazendo à baila artigos de
ingente interesse para o país em geral e para a Força Terrestre em particular, abordando temas em que se
evidencia a participação da “brava gente brasileira” em defesa da paz mundial, das nossas fronteiras, da
segurança interna e do desenvolvimento social e político. Um destaque muito especial para as publicações
sobre os sítios históricos edificados em nossos territórios – os Fortes Militares – muitos, erguidos ainda
nos primórdios do Brasil - colônia.
Aliás, como temos apregoado – “o povo que não souber preservar a sua memória histórica,
não saberá alicerçar no porvir, as bases do patriotismo para as gerações vindouras”.
Parabéns,Revista DaCultura patriótica! João Paulo S. Vieira – Coronel Farmacêutico
A excelência da Revista passa a imagem de uma grande equipe de edição. Grande, no sentido
de quantidade e, também, de qualidade das pessoas envolvidas na sua elaboração. No entanto, sei que
apenas a qualidade justifica as palavras acima, pois a equipe é pequena, muito pequena, em razão do
valor e relevância dos seus artigos, em conteúdo e forma.
Com uma apresentação agradável, bem ilustrada, dinâmica e atraente, sua leitura é,
principalmente, uma rica viagem ao passado, sem nostalgia, apontando para o que podemos fazer
no futuro, espelhados nos seus exemplos, conhecimentos e sentimento do valor da cultura. A Revista
devolve-nos o prazer da leitura, da boa leitura, esquecida pelos apelos do mundo moderno, pela correria
do dia a dia, pela grande velocidade com que o tempo parece passar na era da tecnologia, na era do
conhecimento. Esse conhecimento, arrastado pela tecnologia, parece que deixa o prazer da leitura e da
cultura para trás, cenário esse que se constitui num verdadeiro paradoxo.
Em particular, na DaCultura número 20, o artigo Forte das Cinco Pontas, traz-nos um conteúdo
rico de sentimento e de grande valor cultural, com o conhecimento transmitido com leveza, pelas palavras,
paisagens e pinturas, numa mostra feliz do que é a Revista.
Finalmente, é difícil para a Matemática quantificar em números uma nota para a Revista. Ela
não tem nota. Ela só tem valor, valor imensurável.
Valmir Sodré de Macedo – Coronel Engenheiro de Comunicações pelo IME
Canhões que atiram
cultura e civismo

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