Baixo Amazonas - SIT - Sistema de Informações Territoriais
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Baixo Amazonas - SIT - Sistema de Informações Territoriais
Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários - PITCPES Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho e Desenvolvimento na Amazônia – GPTDA Projeto Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos Territórios Rurais no Estado do Pará Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará Belém Agosto de 2012 Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários - PITCPES Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho e Desenvolvimento na Amazônia – GPTDA Projeto Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos Territórios Rurais no Estado do Pará Equipe do Projeto Coordenadora Maria José de Souza Barbosa Professores Colaboradores Maria do Carmo da Silva Dias Técnicos Maria José Almeida Teixeira (Técnica da Célula) Pamela Geraldo Trepaki (Técnico de Apoio) Belém Agosto de 2012 1 LISTA DE SIGLAS ACOMQPAL – Associação Comunitária do Quilombo de Palmares ACORQE – Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Erepecuru ACREQARA – Associação Comunitária Remanescente de Quilombo de Arapemã ADEMA /SINDIPESCA – Administração Estadual do Meio-Ambiente ADEPARÁ – Agência de Defesa Agropecuária do Pará ALCOA – Aluminium Company of America AMUPAA – Associação de Mulheres Pescadoras, Agricultoras e Artesãs do Município de Santarém AOMT-BAM – Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas APAA - Associação dos Piscicultores e Agroextrativistas da Comunidade de Aná APRUSAN - Associação de Produtores Rurais de Santarém AQMUS – Associação Quilombola de Murumurutuba ASACERS – Associação Agroextrativista do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Renascer ASBAMA – “Associação dos Servidores do IBAMA” ASFEBEL – Associação Feminina de Belterra BAM-Pa – Baixo Amazonas Paraense CEAPAC - Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária CEFT-BAM – Centro de Estudo e Formação dos Trabalhadores do Baixo Amazonas CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CFR-BAM – Casa Familiar Rural do Baixo Amazonas CIAT – Comissão Intersetorial de Ações Territorial CIAT -BAM - Comissão de Instalação das Ações Territoriais CITA – Conselho Indígena Tapajós/Arapiuns CMDRS – Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável 2 CODESUS – Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul CODETER - Colegiado de Desenvolvimento Territorial Rural CONHAB – Conselho Nacional de Habitação CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura EEAGLE - Federação Agroextrativista da Gleba Lago Grande EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural FEAGLE – Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativistas da Gleba Lago Grande FETAGRI-BAM - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Baixo Amazonas (Delegacia) FGV – Fundação Getúlio Vargas FNO – Fundo Constitucional de Financiamento do Norte FOCS – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém FOQS – Federação das Organizações de Quilombolas de Santarém FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade FUNDAC – Fundo de Desenvolvimento e Ação Comunitária GCI – Grupos de Consciência Indígena GDA – Grupo de Defesa da Amazônia GTA – Grupo de Trabalho na Amazônia IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICV – Índice de Condições de Vida IDESP – Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará IDH – índice de Desenvolvimento Humano IFPA – Instituto Federal do Pará IGMC – Índice de Gestão em Cultura INCRA – Imposto Nacional INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia 3 MAIS - Movimento per I'Autosviluppo, l'lnterscambio e la Solidarietá MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário MOPE-BAM – Movimento das Mulheres Pescadoras PPA – Plano Plurianual PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar ONGs – Organizações Não Governamentais PDTRS – Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável PIN – Plano de Integração Nacional PITCPES – Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários PLANFOR – Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador PLANTQ – Plano Territorial de Qualificação PT – Partido dos Trabalhadores PTB – PartidoTrabalhista Brasileiro PMDB – Partido da Mobilização Democrática Brasileira PV – Partido Verde PSD – Partido Social Democrata PSA – Projeto Saúde e Alegria PTP – Planejamento Territorial Participativo SAGRI – Secretaria de Agricultura SEARA - Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e de Apoio à Reforma Agrária SEDEC – Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico SEIR – Secretaria de Estado de Integração Regional SEMA – Secretaria do Meio Ambiente SEMAB – Secretaria do Meio Ambiente SEMAGRI – Secretaria do Ministério da Agricultura SEMDES – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social 4 SEMMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente SEMPAF - Secretaria Municipal de Produção Familiar SEPAQ – Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura SEMPLAN – Secretaria Municipal de Planejamento SEPOF – Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças SDS – Secretaria de Desenvolvimento Econômico SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial SGE/MDA – Sistema de Gestão Estratégica SIMPRUMA – Sindicato dos Produtores Rurais de Monte Alegre SINTTRAF – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar STTR – Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia ULBRA – Universidade Luterana do Brasil UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará UFPA – Universidade Federal do Pará 5 SUMÁRIO Introdução ..................................................................................................................................... 8 Aspectos Metodológicos da Pesquisa.................................................................................. 12 1.1 - História, economia e sociedade:.................................................................................. 16 a ) Características Naturais .......................................................................................................... 21 b) Áreas de Conservação ............................................................................................................. 21 C ) Patrimônio Cultural ............................................................................................................... 22 d) Terras Indígenas ...................................................................................................................... 27 1.2 - MUNICÍPIOS AMOSTRA DA PESQUISA .............................................................. 28 ALMEIRIM ......................................................................................................................... 28 CURUÁ ............................................................................................................................... 29 MONTE ALEGRE .............................................................................................................. 31 ÓBIDOS .............................................................................................................................. 32 ORIXIMINÁ ....................................................................................................................... 34 SANTARÉM ....................................................................................................................... 35 TERRA SANTA ................................................................................................................. 36 2- Identidade Territorial .............................................................................................................. 38 3. Capacidades Institucionais ..................................................................................................... 44 CONSELHOS E/OU CONSÓRCIOS PÚBLICO ............................................................... 46 Capacidade Organizacional e Controle Social .................................................................... 47 SEGMENTO SOCIAL QUE REALIZAM AÇÕES DE APOIO AS ÁREAS RURAIS DO MUNICIPIO ........................................................................................................................ 49 4 - Gestão do Colegiado .............................................................................................................. 52 5. Avaliação de Projetos .............................................................................................................. 65 6. Análise do ICV ........................................................................................................................ 67 6.1 - Fatores do Desenvolvimento ....................................................................................... 68 O trabalho na agricultura: número de família trabalhando e mão de obra .......................... 68 Escolaridade ........................................................................................................................ 70 Condições de moradia ......................................................................................................... 71 Acesso ao Mercado, programa de governo, crédito e assistência técnica ........................... 72 Presença das instituições. .................................................................................................... 72 6 Programa de governo e acesso ao crédito ........................................................................... 73 Acesso à assistência técnica ................................................................................................ 73 6.2 - Características do Desenvolvimento ........................................................................... 74 6.3 - Efeitos do Desenvolvimento ....................................................................................... 75 6.4 – Considerações acerca do ICV..................................................................................... 77 7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto ...................................................................... 79 7.1 - Propostas e ações para o território .............................................................................. 82 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 84 7 Introdução As profundas mudanças ocorridas no mundo do trabalho a partir de meados do século XX exigiram do Estado a criação de um corpus de políticas públicas e sociais capazes de amenizar as consequências da pobreza, promover a inclusão social, garantirem direitos fundamentais, fixar o homem no campo e enfrentar a degradação ambiental. Essas políticas mais uma vez, acenavam para os trabalhadores com a promessa do desenvolvimento como indispensável à melhoria das condições de vida, sendo que os trabalhadores deveriam ser munidos de habilidades e competências para tornarem-se empreendedores e autogestores, ou seja, desenvolverem condições de empregabilidade. Esse entendimento perpassa as políticas públicas voltadas para a geração de trabalho e renda, sejam estas para o campo ou para a cidade. A proposta engloba qualificação, capacitação, assistência técnica, organização em cooperativas ou associações e crédito para que os trabalhadores possam viabilizar os seus projetos e, ainda, a integração (complementaridade) entre as políticas públicas no sentido de interrelação entre elas. No que diz respeito especificamente às políticas públicas voltadas à agricultura familiar, o foco principal refere-se ao fortalecimento desta modalidade de agricultura, à reforma e ordenamento agrário e à promoção do desenvolvimento sustentável. O ponto de partida, ou a inspiração para a política pública de fortalecimento da agricultura familiar, diz respeito, pelo menos, a duas razões bem claras. A primeira é a crítica à concepção de políticas de desenvolvimento homogêneo pensadas em termos macros e que, consequentemente, não davam conta das especificidades regionais e locais, das diversidades dos Estados nacionais. Ocorre que, planejadores e estudiosos do desenvolvimento viam as sociedades rurais a partir das cidades, ou seja, com racionalidade urbana, sendo que muitas soluções para os problemas dos agricultores eram encontradas no êxodo rural (Wanderley, 1999, p. 3). Dessa forma, a atenção com o meio ambiente e com a coesão social, colocaram o campo no centro das preocupações e das estratégias da sociedade contemporânea, no que se refere à atenção do Estado com as políticas de desenvolvimento para a agricultura familiar. 8 A segunda razão refere-se à evidente necessidade de políticas públicas que enfoque o seguimento rural dos agricultores familiares, que atenda às especificidades regionais e locais e que possibilite acesso ao crédito, à assistência técnica e à infraestrutura básica e fixe o homem no campo. Assim, as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento territorial rural tiveram diversos apelos ao longo da historia do desenvolvimento do país, sendo os mais recentes: as reivindicações das organizações dos agricultores familiares por crédito e reforma agrária; a presença de estudos que apontam a importância e a diversidade da produção familiar e o Plano Plurianual (2004 – 2007) do governo federal, declaradamente comprometido em promover transformações estruturais na sociedade brasileira. Ressalta-se, entretanto, o papel desempenhado pelas organizações sociais (Organizações Não Governamentais - ONGs, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTR e igrejas), que, especificamente no Baixo Amazonas paraense, mobilizados pela necessidade de reforma agrária, pela explosão de conflitos fundiários, pelo crescimento da pobreza e pela degradação ambiental, passaram a reivindicar uma política que atendesse a força de trabalho familiar não contemplada pela política agrícola dos governos militares. Para Avelino Ganzer 1, a luta era pela construção de uma proposta nacional de desenvolvimento rural e de valorização das identidades dos agricultores familiares em detrimento daquela que foi construída pela elite dominante do país (DIAS, 2009). A ideia de políticas públicas para o campo diferenciadas daquelas que atendiam aos grandes produtores, inscreveu-se nas políticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), sobre o compromisso de erradicar a pobreza e o analfabetismo, promover acesso à saúde, à cultura, à moradia e transporte, reter o homem no campo e promover a geração de renda, ou seja, a cidadania e a democracia (Plano Plurianual 2004-2007). O compromisso com a agricultura também estava presente no Plano Plurianual 2004-2007, do Estado do Pará, gestão do governador Almir José de Oliveira Gabriel e os governos subsequentes, para quem o crescimento econômico se daria por meio da valorização das potencialidades locais, pela geração de trabalho e renda, por 1 Vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores nos anos 1980, quando foi criado o Departamento da Rural da CUT, onde se concentrou a luta por políticas públicas para os agricultores familiares. Liderança do movimento social da Amazônia paraense. 9 implementos tecnológicos, pela eficiência das redes sociais e pela elevação da qualidade de vida com base no princípio de desenvolver sem devastar (PPA- PA, 2004-2007). De acordo com aquele plano, para a agricultura paraense caberia a formação de cadeias produtivas de origem vegetal, crescimento da produção para atender o mercado nacional e internacional e autossuficiência em matéria prima (PPA – 2004-2007 – Estado do Pará), entretanto, o que ficou muito evidente foi a produção de grãos, particularmente a soja. Essa atividade econômica contribuiu de maneira significativa, juntamente com a exploração mineral (ouro e bauxita) para promover a desapropriação de agricultores familiares, o desmatamento, a exploração de madeira e a contaminação por mercúrio do leito dos rios. No bojo desses problemas sobressai questão ambiental. Por um lado, esta pode ser uma alternativa viável aos problemas acima expostos quando a estratégia for a sustentabilidade possibilitada por atividades econômico-sociais e culturais associada ao manancial da biodiversidade e do patrimônio natural do território. Assim, a sociobiodiversidade na relação com a pesquisa & desenvolvimento voltada a criar um nicho de conhecimento e uso sustentável, na defesa do meio ambiente como condição de vida no planeta, pois as ameaças do aquecimento global e do desmatamento da floresta exigem o desenvolvimento de atividades socioeconômicas com base em recursos de uso renovável. Por outro lado, a questão ambiental torna-se um problema se a estratégia for a continuidade dos processos de exploração da natureza a partir de políticas neodesenvolvimentistas e neoindustriais, constituídas de modo exógeno às dinâmicas das populações locais. Assim, para desenvolver as atividades dos sujeitos sociais que mobilizem os recursos sociais, econômicos, culturais, tecnológicos, ambientais e institucionais se precisa ter como essencial a referência o potencial dos recursos naturais, as características físico-geográficas e morfológicas, que originaram espaços extremamente importantes e significativos à mobilização agroecológica, quando associados à centralidade das populações locais. O desenvolvimento do território do Baixo Amazonas, passa pelo enfrentamento de problemas históricos combinados a diferentes políticas públicas, a fim de favorecer o protagonismo dos agricultores familiares, pois se trata de outro paradigma de produção e de valorização dos modos de vida locais até então consideradas obstáculos. As 10 atividades de base ecológica exigem a relação homem-natureza como estratégia de desenvolvimento territorial, econômico, social e ambiental. O diagnóstico sobre a potencialidade das comunidades locais em consonância com as demandas territoriais precisam estar ancoradas no meio natural, levando-se em consideração as práticas sócio-produtivas dos sujeitos locais para a adoção de estratégias de desenvolvimento sustentável. Um contributo à geração de trabalho e renda em meio amazônico, a fim de melhorar os padrões de vida nesses territórios. As experiências concretas tornam-se chave para a formação de base econômica com inclusão social. Os diferentes sujeitos e seus territórios específicos têm papel importante na articulação das redes institucionais, potencializadas pela relação direta com os movimentos sociais em processos de cooperação com governos (municipais, estadual e nacional) e outros sujeitos que possam contribuir para a valorização da agricultura família, capaz de fortalecer os vínculos sociais endógenos, tendo em vista que a cooperação mais do que a competição é a base do desenvolvimento territorial. A gestão dos recursos naturais é outra característica que pode contribuir para a melhoria das condições de vida no Baixo Amazonas, espaços onde o isolamento é a condição primeira da vida dos trabalhadores e a cooperação e o associativismo, uma prática constante e necessária no território, presente nos mutirões, da produção, da festa, da comemoração e nos momentos intensos de trabalho e de lazer, baseados na cultura dos vilarejos e comunidades ribeirinhas em meio à floresta e os fluxos das águas. Resumidamente a análise da percepção dos entrevistados no Território do Baixo Amazonas, no Estado do Pará, deve levar em consideração dois grandes eixos de desenvolvimento: o primeiro é dado pelas condições naturais que possibilitam a relação homem-natureza em condições extremamente originais, onde constituição de iniciativas comunitárias tem como perspectiva garantir meios para a permanência dessas populações tradicionais, com qualidade de vida na floresta e que as áreas ribeirinhas ou as unidades de conservação são ricas em potencial para a utilização de modo sustentável de recursos renováveis; o segundo decorre das novas investidas do capital na região, particularmente com a penetração das grandes plantações de sojas, impulsionadas pelas novas fronteiras agrícolas, além da implantação de novos terminais portuários, da exploração mineral e da ampliação da Zona Franca na região Norte. Neste ambiente de interação e conflitos socioambientais, as atividades da agricultura familiar visam a atender as necessidades de melhoria das condições e de 11 valorização da vida, assim como de conservação dos recursos naturais associada às manifestações culturais autóctones. Frente a esse cenário de criticas, proposições e expectativas, foi lançada a concepção de políticas agrárias de âmbito territorial. Essa política fundamenta-se na valorização das práticas e experiências locais por meio do incentivo à participação das organizações sociais e demais instâncias do poder público e privado e da sociedade civil organizada. A proposta consiste em descentralização do poder do Estado por meio da agregação dos diversos atores sociais para a proposição e execução de projetos, de acordo com os princípios de governança, gestão social e empoderamento, visando a promover a cidadania e a democracia. Assim, foi lançado em 2008 o Território Cidadania, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT). Dessa forma, as análises objeto deste trabalho referem-se ao Baixo Amazonas paraense, formado pelos municípios de Almerim, Alenquer, Belterra, Curuá, Faro, Juruti, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Placas, Porto de Mós, Prainha, Santarém, Terra Santa, cujo potencial do patrimônio natural e cultural tem se colocado como desafio para o desenvolvimento da agricultura familiar, visto as profundas alterações do território com a introdução do agronegócio e da extração mineral. Aspectos Metodológicos da Pesquisa A pesquisa foi realizada por amostragem em sete (07) municípios do território do Baixo Amazonas Paraense: Santarém, Almeirim, Monte Foto 1- VII Congresso de CEFT-BAM, realizado em Santarém-Pará, em dezembro de 2010, com a participação de representantes das organizações sociais do Baixo Amazonas paraense. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011. Alegre, Óbidos, Oriximiná, Terra Santa e Curuá. Foto 2. Reunião realizada em novembro de 2010, na cidade de Santarém –Pará, para a formação da equipe de pesquisadores. Registra-se a presença da coordenadora Maria José Barbosa. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011. 12 Primeiro, procedeu-se a formação da equipe, por meio da discussão dos questionários e das orientações fornecidas pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), segundo, buscou-se a formação de parcerias, para isso aproveitou-se a realização da Feira da Produção Familiar do BAM, no município de Santarém, para os primeiros contatos com as organizações sócias, particularmente o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), o Centro de Estudo e Formação dos Trabalhadores do Baixo Amazonas (CEFT-BAM) e com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), parceiros imprescindíveis neste trabalho. Terceiro, realizou-se a apresentação do projeto de pesquisa no VII Congresso do CEFT-BAM, o qual contava com a representação das organizações sociais do Baixo Amazonas e quarto, procedeu-se o levantamento junto ao IBGE, dos mapas e das estratégias de acesso às comunidades objeto das amostras. Ressalta-se que a orientação dos pesquisadores também fez parte da metodologia de pesquisa, onde foi abordo dentre outras questões a pesquisa participante e elaboração de diário de campo. Foto 3. Feira da Produção Familiar, Novembro de 2010, Território do Baixo Amazonas Paraense. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011. A pesquisa, nos municípios de Monte Alegre, Oriximiná, Curuá, e Óbidos, coincidiram com a realização das plenárias do CODETER para a elaboração do Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável (PDTRS). Destaca-se que a presença da equipe de pesquisadores naquelas plenárias foi muito importante, tendo em vista o encontro com as lideranças, a contribuição nos debates, e veio enriquecer as observações-participantes. A pesquisa realizou-se por municípios. A chegada da equipe no município era previamente planejada com o STTR e com a EMATER, por meio dos quais se procurava viabilizar o acesso às comunidades, entrevistas com lideranças e transporte para as comunidades, a fim de ser aplicado o ICV. Assim tornou-se possível superar os obstáculos e colher dados que permitem uma análise, ainda que parcial, da realidade da agricultura familiar no BAM. Entanto, 13 uma pesquisa de caráter mais denso exige tempo, pois há poucos registros para a avaliação do potencial deste território. Os dados secundários nos possibilitaram a construção de um panorama geral, de sua história, economia e sociedade. Os registros estatísticos de órgãos oficiais precisam ser confrontados com pesquisas mais aprofundadas de base teórica e com as políticas públicas, particularmente aquelas articuladas às demandas territoriais, para que se possa realizar um diagnóstico mais acurado para a compreensão das ações dos sujeitos sociais e das ações de políticas públicas de base territorial, o que exige apuração dos dados primários com registros mais elaborados sobre a realidade do Baixo Amazonas. A pesquisa realizada a partir da aplicação do conjunto de questionários orientados pela SDTMDA nos forneceu uma base de dados primários sob a perspectiva dos entrevistados, na medida em que se prendeu a percepção desses sujeitos, o que também exige o balizamento de dados obtidos em instituições oficiais, confrontados com as teorias sociais, mas que não serão realizadas neste relatório. Assim, partiu-se para uma análise do contexto mais macro a fim de apontar elementos da formação econômico-social e político-cultural da região do Baixo Amazonas, para em seguida analisar os índices da pesquisa em articulação com elementos da história, a política, a sociedade, a cultura tendo como suporte os recursos naturais e a acessibilidade a este território. Buscou-se a recuperação histórica da região, sem ser exaustiva, abordando um conjunto de elementos capazes de ser mobilizados pelos sujeitos da agricultura familiar, a fim de potencializar os incentivos econômicos de cunho afirmativo e, ao mesmo tempo, a promoção de infraestrutura adequada aos interesses endógenos, visando a valorização da relação entre homem e natureza como base de uma nova démarche estratégica, em níveis de desenvolvimento econômico, com elevação da qualidade de vida nos espaços mais recônditos da Amazônia. Por essa razão remeteu-se ao processo de colonização, momento crucial que deixou marcas na cultura local, particularmente, por destruir quase todos os vestígios das culturas passadas, embora no Território do Baixo Amazonas seja possível identificar elementos desse passado mais remoto. Hoje há, pelo menos em aparência, certo consenso na sustentabilidade, particularmente na Amazônia, devido à abundância de recursos naturais (REIS, 2008). O que pode favorecer as populações locais, suas ações individuais e coletivas, se colocadas como sujeitos centrais e estratégicos nos processos de conservação dos recursos naturais renováveis. A sustentabilidade 14 ecológica, econômica, social e cultural no desenvolvimento do Território do Baixo Amazonas, que pode ser observada sob duas matizes diferenciadas: a primeira como solução e a segunda como problema. O levantamento de dados e as informações de campo foram extremamente dificultados, na medida em que a liberação dos recursos coincidiu com o período das chuvas impossibilitando o acesso aos municípios; algumas amostras (setor censitário) tiveram que ser substituídas ainda por não existirem ou estarem em outro município; o retorno das informações foi prejudicado devido aos serviços de transporte e telefonia não ocorrerem em tempo hábil, implicando no atraso da sistematização para a elaboração do diagnóstico. O presente relatório está dividido em sete subseções: a primeira trata dos dados históricos, socioeconômicos e culturais; a segunda aborda o patrimônio natural; a terceira indica a acessibilidade e infraestrutura e a quarta consta da análise dos dados obtidos no Território do Baixo Amazonas. Ainda, cabe informar que, contrariando as orientações da SDT este relatório não foi discutido junto ao Colegiado e nem aprovado pela Célula de Acompanhamento e Informação, tendo em vista que esta nem chegou a ser criada uma vez que o CODETER tem reiteradamente se negado a criá-la sobre alegação de que MDA não oferece recursos para a concretização das agendas do Colegiado. Pelas mesmas razões foram inviabilizadas as discussões do presente relatório. 15 1- CONTEXTUALIZAÇÃO – BAIXO AMAZONAS PARAENSE 1.1 - História, economia e sociedade: Mapa 1: Municípios do Baixo Amazonas Fonte: SDTMDA. Para Witkoski, do ponto de vista físico a Amazônia é um “complexo de terra, floresta e água”, do ponto de vista das configurações socioeconômica e ambiental, ela foi produzida pela dinâmica do capitalismo na região, pelas formas como o Estado tem promovido o seu desenvolvimento (WITKOSKI, 2007, p. 21). É na perspectiva desse entendimento que se pretende contextualizar o Baixo Amazonas paraense (BAM-PA), por meio da apresentação de traços da formação histórica, de alguns aspectos do desenvolvimento capitalista e da caracterização física e política do referido território. A história do BAM se confunde com a história da Amazônia como um todo. As cidades emergiram às margens do Rio Tapajós, particularmente a partir da expulsão dos jesuítas, quando suas fazendas foram reestruturadas pelo regimento do Diretório de Índios, que criou as regras para o comando civil, introduzindo as atividades agrícolas, sob a organização de ramos de produção, visando a suprir as demandas da colonização. A mão de obra empregada era a indígena utilizada para a construção de fortificações, a qual, de forma oficial, foi substituída pelo trabalho do negro africano com a fundação da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão2, cujo objetivo era intensificar a extração das drogas do sertão. 2 A Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, instituída em junho de 1755, teve como motivo assegurar o domínio territorial da Amazônia a Portugal. “A Coroa, preocupada com a segurança e com o domínio político da Amazônia, encontrou na Companhia o meio mais eficaz de salvaguardar sua 16 A economia da Amazônia3 desde a colonização foi associada ao extrativismo (chamadas drogas do sertão e a pesca nos lagos). A primeira onda de modernização desta sub-região foi protagonizada pela riqueza obtida com a economia da borracha, na virada do século XIX para o século XX. O fracasso desse projeto deixou marcas na história e cultura na região devido à implantação de uma infraestrutura urbana às margens do Rio Tapajós, cujos resquícios ainda podem ser observados nos municípios de Aveiro e Belterra. Com a intervenção dos governos militares a região passou por um processo intenso de alteração do uso do solo e do modo de vida e trabalho das populações locais, devido à implantação de grandes projetos agrominerais e agropastoris, bem como, da implantação das rodovias Cuiabá-Santarém e a Transamazônica, ambas até hoje inacabadas. Esses investimentos eram justificados pela ideologia da Política de Segurança Nacional e pelo modelo desenvolvimentista de comando ditatorial. Período em que a colonização incentivada pelo Estado introduziu um processo de migração de populações do sul do país, enquanto que as populações locais eram desapropriadas em nome do desenvolvimento nacional, e viam desaparecer suas condições de autosustentabilidade. O êxodo rural de uns e o eldorado de outros foram estimulados pelas promessas de progresso. Esse processo de desenvolvimento iniciado nos anos 60 foi acelerado na década seguinte por meio de políticas desenvolvimentistas que implicaram na alteração dos padrões culturais e ambientais da região. Os incentivos e isenções fiscais para a introdução de infraestrutura, transportes e logísticas voltadas à implantação dos polos agroindustriais e agropecuários, transformaram profundamente a realidade local, cujos resultados geraram fortes e profundos problemas econômico-fundiários e socioambientais, além da violência nos campos e nas cidades. Nos anos 90, com a abertura dos mercados nacionais e a investida da economia mineral, do agronegócio e, em menor proporção, as atividades de turismo levaram, entre outros fatores, a um crescimento populacional e à criação de novos municípios, os quais soberania num rico patrimônio, permanentemente ameaçado pela luta das grandes potências, que há muito haviam inaugurado a partilha política e econômica do Atlântico brasileiro (DIAS, 1970, pp.32-3)”. 3 “A rede comercial que canalizou a borracha amazônica dos remotos campos da hévea (seringueira) para o mercado exterior não representou um afastamento significativo das práticas desenvolvidas pelos portugueses na era colonial. Ao invés de destruir as relações de produção existentes, o negócio da borracha amazônica levantou-se sobre elas, consolidando os modos tradicionais de extração e de troca. Os modelos de comercialização que se desenvolveram com o aumento da exportação de borracha apresentaram, contudo, um grau incomum de complexidade e de sofisticação” (WEINSTEIN, 1993, p.30). 17 somam uma área de 332.945.685 km2. Nela vive uma população de 708,245 habitantes (IBGE 2010), com densidade demográfica de 4,7 habitantes por km2. É válido ressaltar, que não se trata de espaços vazios, mas de uma ocupação pautada pelas populações tradicionais e indígenas, em que os recursos naturais são mobilizados como condição da própria reprodução, portanto, não modelados pelos padrões demográficos das instituições do Estado, impostos pela cultura urbana. Uma parte dos agricultores familiares que perdem as suas terras é absolvida pelo agrobussiness, comércio ou serviços necessários aos processos industriais parte dos grandes investimentos, os despossuídos das suas terras, passam a ocupar as periferias das cidades, viver de pequenos trabalhos. No que diz respeito aos salários, observa-se que o setor de serviços, apesar de ser o maior empregador, a força de trabalho empregada, cerca de 52%, recebe até 1 (um) salário mínimo, ocorrendo o mesmo na construção civil, com aproximadamente 10% da força de trabalho. Os setores de transporte e de comunicação também se encontram nesta mesma situação, com a inserção de 12,14% dos trabalhadores sob a mesma condição. Os trabalhadores agrícolas e de outras atividades industriais e serviços auxiliares da atividade econômica e social também se enquadram no patamar de remuneração de até 1 (um) salário mínimo (SEPOF, 2011). Neste Território, portanto, as atividades produtivas mais significativas do ponto de vista estritamente capitalista, dizem respeito à mineração, a pecuária e a soja extensiva, as quais colocam o Pará em posição de destaque entre o segundo e terceiro maior produtor do Brasil, respectivamente. Tabela 01 - PIB por Municípios do Território do Baixo Amazonas Valor Adicionado Agropecuária Indústria Valor Serviços Adicionado Impostos Total Municípios PIB (R$) Mil Alenquer Almerim Belterra Curuá Juruti Monte Alegre Óbidos Oriximiná Placas Porto de Mós Prainha Santarém Terra Santa Pará 152.752 420.811 56.689 35.983 125.866 222.997 171.730 644.228 48.647 71.248 88.523 1.578.336 42.221 41.759 33.378 24.214 13.604 17.789 59.195 55.273 33.128 17.147 12.499 34.635 115.177 8.701 11.443 199.964 3.598 3.295 18.764 28.198 13.205 321.350 4.835 7.558 8.988 215.628 3.596 95.568 148.138 27.701 18.413 71.091 128.605 97.735 231.329 25.415 48.944 43.067 1.090.485 28.924 148.770 381.479 55.513 35.312 107.644 215.998 166.213 585.807 47.396 69.001 86.689 1.421.290 41.221 3.982 39.332 1.176 671 18.222 6.999 5.517 58.421 1.251 2.248 1.834 157.045 1.001 49.507.144 3.804.180 13.779.837 26.876.464 44.460.481 5.046.663 18 Fonte: Elaborado pela equipe a partir dos dados do MPPA-2007. As privatizações e, em particular, do segmento econômico do minério, com reservas ainda não exploradas, como ferro, bauxita, ouro, manganês e caulim são encontrados em todo o solo paraense, têm-se cada vez menos oportunidades para os pequenos empreendimentos, devido à forte pressão em torno dessas atividades responsáveis por (75,98%) das exportações do Estado, em grande parte sem agregação de valor, e sem perspectiva de que esse quadro seja revestido. Hoje o Pará está no primeiro ranking de exportação de minério (SEPOF, 2011). No que diz respeito especificamente ao Território do Baixo Amazonas Paraense a produção dos minérios atende a dez projetos industriais e cinco áreas de garimpo, com destaque para a extração de manganês no rio Trombetas, e outros minerais na microrregião do município de Juruti, além da extração no Tapajós, com impactos ambientais e a destruição da biodiversidade nas áreas de ocorrência e exploração como em Santarém, espaço aberto aos movimentos ambientalistas. No Território do Baixo Amazonas, portanto, as atividades econômicas existentes podem ser identificadas pela mineração, agronegócio, a agricultura familiar e em menor proporção, pelo turismo. Este último com base nos atrativos naturais que se destacam pelo chamado “Caribe Amazônico” e pelas paisagens da região naturais, gerando expectativas para o turismo de base ecológica, o qual enfrenta pressão de uma atividade econômica extremamente danosa ao ecossistema da região e conseqüentemente ao ecoturismo. Neste sentido, para impulsionar a economia local onde se constitui um pólo econômico potente, mas de caráter predatório, exige uma capacidade de mobilização de agentes políticos comprometidos com os preceitos do desenvolvimento territorial sustentável. As atividades capazes de se vincular aos atrativos naturais e culturais subsistem a pressão das demais atividades na região, na medida em que as transformações socioeconômicas das últimas décadas vêm alterando e impactando significativamente essa região, sem que isso seja acompanhado de implantação de novas infraestruturas e equipamentos coletivos capazes de fazer frente às demandas dadas pela metamorfose da sociedade local. A tabela 01 mostra os municípios que compõem o Território do Baixo Amazonas, com suas extensões geográficas, população e densidade demográfica. 19 TABELA 02– Nº DE HABITANTES, POPULAÇÃO URBANA E RURAL MUNICÍPIO Nº DE HAB. % População RURAL % 52.626 12.254 55.462 População URBANA 27.722 hab. 5.791 hab. 24.565 hab. ALENQUER CURUÁ MONTE ALEGRE ÓBIDOS ORIXIMINÁ SANTARÉM TERRA SANTA 57,7 47,2 44,3 24.904 hab. 6.473 hab. 30.897 hab. 43,3 52,8 55,4 49.333 62.794 294.580 16.949 25.466 hab. 40.147 hab. 215.790 hab. 10.335 hab. 51,6 63,9 73,3 61,10 23.867 hab. 22.647 hab. 78.790 hab. 6.614 hab. 48,4 36,1 26,8 39,0 Fonte: IBGE – CENSO 2010 Em síntese, coexiste no território do BAM dois padrões econômicos um centrado na produção para o autoconsumo, com uma produção de excedente com baixo valor agregado, apesar do potencial pesqueiro e da biodiversidade, e outro articulado ao grande capital, tal como a exploração mineral, a produção de grão e a pecuária de corte. Dessa forma, as políticas de desenvolvimento promoveram ou aprofundaram as contradições do território com consequências nefastas às populações locais e ao ecossistema, ainda que se declarassem moldadas nos princípios do desenvolvimento sustentável. A impressão que se tem é de que as políticas públicas de caráter social, também não foram suficientes para amenizar a pobreza. O crédito instituído pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) e o Plano Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) bem como, as políticas de qualificação (Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador – PLANFOR e Plano Territorial de Qualificação – PLANTQ) não promoveram os resultados desejados. Na verdade a proposta de desenvolvimento rural oferece as políticas públicas inovações que corroboram para a garantia dos direitos fundamentais, sendo que se percebe a necessidade de pesquisas que demonstrem o alcance dessas políticas e bem como as estratégias das populações locais para o alcance das mesmas. Observou-se empiricamente a existência de agricultores endividados e histórias de experiências mal sucedidas, bem como o descompasso entre credito, qualificação, existência técnica e comercialização. Felizmente, registra-se também experiências bem sucedidas como os sistema agro-florestais, o associativismo, realizados muitas vezes em parceria com as organizações sociais dos agricultores familiares. 20 a ) Características Naturais Os solos do Estado do Pará e em particular da região do Baixo Amazonas, conforme as posições que ocupam na paisagem geomorfológica, podem ser distintos por áreas de várzea e de terra firme, com diferentes tipos de cobertura vegetal, que em conjunto tornam peculiar a paisagem da região da Calha Norte do rio Amazonas, devido à influência primordial na formação da paisagem natural. Os solos de várzea se localizam ao longo dos cursos d’água, nas partes mais baixas e em áreas sujeitas às inundações, as quais podem ser alagadas diariamente ou em certos períodos do ano. Sobre este solo específico são lançados sedimentos que fertilizam periodicamente criando unidades de maior importância devido à área em que abrangem, como: os solos aluviais e glei, pouco úmido. Esses tipos de solos são encontrados, principalmente, ao longo dos rios Amazonas e seus afluentes de águas claras, como os rios Tapajós, Tocantins, Araguaia, Mojú, Capim, Guamá, além de outros. Os solos de terra firme constituem aproximadamente 90% de território paraense e ocupam a maior parte do Estado. Nele são encontrados diferentes tipos de solo, como: cambissolo; solos petroplínticos; solos litólicos; terra roxa estruturada; podzol hidromórfico, areias quartsozas; e plintossolos, os quais possibilitam o enriquecimento das paisagens naturais. b) Áreas de Conservação As Unidades de Conservação visam garantir a preservação do ecossistema tendo como uma das perspectivas a realização de pesquisas científicas, preservação do patrimônio natural, mas com possibilidades variadas de uso e contemplação em busca da integração do homem com o meio ambiente. A manutenção dos ecossistemas é fundamental frente ao processo de aquecimento global, porque tem importante interesse ecológico, ameaçado pela degradação. Quadro 01: Áreas de Conservação no Território do Baixo Amazonas Áreas de Localização Potencialidades Conservação Com a redução da população da tartaruga amazônica (Podocnemis expansa) na região dos tabuleiros de reprodução às margens do rio Trombetas, foi criado o programa de Reserva proteção dos quelônios. No ano de 1975, o programa POLAMAZÔNIA, criou o projeto Biológica do Rio Oriximiná Criação e Implantação da Reserva Biológica do Rio Trombetas, que foi executado em Trombetas convênio com o IBDF. 21 Floresta Nacional do Saracá-Taquera Floresta Nacional Tapajós, Belterra Aveiro Reserva Extrativista TapajósArapiuns, Santarém do e e Monte Alegre de Área de Proteção Ambiental Inter-Municipal de Alter do Chão e Aramanaí A Floresta Nacional de Saracá-Taquera foi criada em 1989 pelo decreto 98.704. Esta unidade possui cerca de 429.600ha de Floresta Amazônica e está localizada à margem direita do rio Trombetas, englobando áreas dos municípios de Oriximiná e Terra Santa, no Estado do Pará. A FLONA Tapajós tem como objetivos a exploração de recursos madeireiros, proteção ambiental como unidades de conservação e pesquisa de manejo florestal. A FLONA tem mais de 600.000ha distribuídos entre os municípios de Santarém, Aveiro e Rurópolis. Santarém, Aveiro, Rurópolis Santarém Aveiro Parque Estadual de Monte Alegre Área Proteção Ambiental Paytuna Oriximiná e Terra Santa A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns é a única reserva extrativista em ecossistema florestal em todo o Pará. Criada em 1998, por decreto s/n de 06 de novembro, em sistema de cogestão das comunidades, que hoje somam cerca de 16.000 pessoas. A reserva está localizada nos Municípios de Santarém e Aveiro, no Estado do Pará e possui cerca de 647.610.74ha. O Parque apresenta um complexo de serras, vales, cavernas com painéis de pinturas rupestres, além da existência de sítios arqueológicos que serviram de base para estudos científicos para a discussão sobre a ocupação da Amazônia, questionando a origem do homem nas Américas, o que o torna extremamente atraente do ponto de vista do turismo científico. Monte Alegre A APA Paytuna foi criada através Lei nº 6.426, de 17 de dezembro de 2001. A sua finalidade é criar uma área tampão de proteção do Parque Estadual de Monte Alegre e permitir a manutenção das condições ambientais e o equilíbrio de ocupação das comunidades existentes do seu entorno. Santarém Belterra O Município de Santarém, a partir da Lei nº 17.771 de 02/07/2003 criou a Área de Proteção Ambiental Praia de Alter-do-Chão com 16.180 ha.e o município de Belterra, por meio da Lei nº 097, de 30/05/2003, criou a Área de Proteção Ambiental Praia de Aramanaí, com uma área contígua totalizando 10.985ha. e Fonte: Elaborado pela Equipe, 2010. C ) Patrimônio Cultural O Território do Baixo Amazonas tem um acervo da pré-história com registros pré-colombianos, constituídos por inscrições rupestres das populações indígenas da região, que habitavam o território antes da ocupação dos portugueses. Por exemplo, as populações Wai-Wai cobrem um amplo território geográfico, que se estende até o Caribe. O patrimônio cultural mais recente e urbanizado está intimamente ligado à formação histórica da colonização e aos processos de miscigenação que determinaram as tradições e atividades sócio-econômicas e culturais, incluindo as comunidades quilombolas, que em muitos casos ainda se mantém isoladas das demais comunidades da região, além das populações indígenas. Quadro 02: Monumentos histórico-culturais do Território do Baixo Amazonas Monumentos Localização Características 22 Solar do Barão de Santarém Solar do Nicolau Barão de São Localiza-se no centro da cidade, à Av. Senador Lameira Bittencourt, antiga Rua dos Mercadores. Pertenceu ao Sr. Antônio Pinto Guimarães, Barão de Santarém. Situada à Av. Senador Lameira Bittencourt, ao lado do Solar do Barão de Santarém. Teatro Vitória Centro histórico Santarém Teatro Municipal de Oriximiná Praça Mirante do Tapajós Oriximiná Igreja de Nossa Senhora da Conceição Está situada na Praça Monsenhor José Gregório, no centro da cidade. Praça Barão do Rio Branco Óbidos Fortaleza Gurjão Óbidos Forte Pauxis Óbidos Quartel General Gurjão Casa da Cultura Biblioteca Pública Municipal Coronel Sangrado Museu Contextual Óbidos Museu Integrado de Óbidos Óbidos Crucifixo de Von Martius Localizada no Centro Histórico da cidade de Santarém Localizada no Centro Histórico da cidade de Santarém Praça Barão De Santarém Praça Rodrigues dos Santos de Localizada no Centro Histórico da Cidade de Santarém Óbidos Óbidos Localizada no Centro histórico de Santarém. Prédio em estilo colonial com três pavimentos. As instalações térreas destinadas ao comércio e/ou aposentos de empregados, escravos e viajantes. Com portas simples e largas. O segundo e terceiro pavimentos eram destinados ao proprietário e sua família. Pertenceu a um comerciante que se autodenomina Barão. Possui dois pavimentos: o térreo destinava-se ao comércio até os dias atuais. No frontão do segundo andar pode-se observar entre os dois arcos das janelas, um raro relógio de sol, único existente na cidade. Com construção iniciada a 5 de maio de 1895 e inaugurado a 28 de junho de 1896. A planta foi do francês Maurice Blaise. Entretanto, em 1965 foi passou a ser utilizado como Câmara Municipal e hoje é a Secretaria Municipal de Educação e Desporto. A cidade teve como pioneira a Laura Diniz, que durante anos dirigiu peças, formada por artistas locais. Construída por Francisco da Costa Falcão, em 1693 com inauguração em 1697, com várias restaurações. A última em 1867, quando o imperador enviou seis peças de artilharia, calibre 6. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1661, em taipa, no antigo Largo do Pelourinho, hoje denominado de Praça Rodrigues dos Santos. No centenário da fundação de Santarém, em 1761, foi iniciada a construção de uma nova matriz, que teve processos de alteração, restaurações e modificações em sua arquitetura original. A praça fica em frente ao largo da Igreja Matriz de Sant’ana. Sua história está ligada a colonização, quando em 1758, o então governador da província do Grão-Pará, fez construir um “Pelourinho”, para reprimir escravos e criminosos. Construída na Serra da Escama para aprisionar os rebelados nos nas lutas ocorridas entre 1924 e 1932. O Forte foi o lugar que deu origem à cidade no século XVII. O prédio serve para o 3º Pelotão da Polícia Militar de Óbidos. Inaugurado em 1909, foi restaurado em 2000 e reinaugurado em 2002. Concentra um acervo cultural de grande valor histórico, dentre elas as obras de Inglês de Souza. Uma espécie de “museu de rua”. Contextualiza a cultura obidense a partir de uma história iconográfica da trajetória das famílias consideradas ilustres. Inaugurado em 1985, reúne objetos da cultura local. É dos pontos turísticos da cidade Doado por Karl Friedrich Philip Von Martius, da Baviera, um cientista que realizou pesquisas sobre a flora brasileira. Mais conhecida como Praça de São Sebastião, embora o primeiro nome fosse Largo da Municipalidade, em virtude da construção do prédio da Câmara Municipal em 1853. Construída no lugar onde desembarcou o Pe. João Felipe Bettendorf, fundador da cidade, que construiu ainda a capela de Nossa Senhora da Conceição no centro da aldeia dos índios, que a chamavam “Ocara Açu”. Hoje homenageia o santareno «Doutor Manoel Waldomiro Rodrigues dos Santos». Foi construída sobre um cemitério de valor arqueológico. 23 Denominado inicialmente de “Largo do São Raimundo”. Tem no centro um índio tralhado por João Fona, com uma estrofe do poema de “Castro Alves”. Foi inaugurada em 24 de Outubro de 1948 para comemorar o primeiro centenário da elevação de Santarém à categoria de cidade. Escultura Da Praça Barão Localizada no Centro da Cópias ampliadas da Cerâmica Tapajônica ou De Santarém cidade de Santarém Cerâmica de Santarém. Suas formas são em “Vasos Cariátides”, “Vaso de Gargalo”, “Ídolo” e “Muiraquitã”, dispostos na área da praça como símbolo da expressão da cerâmica original da região. Escultura Da Praça Do Localizada no Centro No centro da praça há a escultura de um índio, que foi Centenário Histórico de Santarém. trabalhada por João Fona, para identificar a forte influência do povo indígena. Centro Cultural João Fona Localiza-se na Praça Construído a partir de 1853, concluído em 1867 e Barão de Santarém, no inaugurado em 1868. No prédio funcionou o Fórum de centro da cidade. Justiça de Santarém, o Presídio, a Intendência Municipal, a Prefeitura Municipal e hoje é o Centro Cultural João Fona, também chamado Museu de Santarém. Museu Dica Frazão Localiza-se no centro da Inaugurado em 22 de junho de 1999, com objetivo de cidade. expor as peças artesanais da artesã Dica Frazão, considerada a pioneira na utilização da raiz do patchouli no artesanato, que introduziu outros materiais da região, como palhas de tucum, de buriti e do açaizeiro, além da malva, juta, bambu, casca do taperebazeiro, cipó escada de jabuti, entrecascas de madeiras e sementes de melancia, melão, jerimum e pepino. O acervo tem mais de 150 peças do artesanato santareno, com réplicas de trabalhos pertencentes hoje a rainha da Bélgica e ao Papa João Paulo II, além de outras peças que ganharam destaques nacionais. Capela do Bom Jesus (ou do Óbidos Construída pela população obidense no topo de uma “Desagravo”) colina que avançava para o interior do Rio Amazonas. Casarios da Rua Marcos Construídas no século XIX, com padrões Rodrigues de Souza arquitetônicos europeus, uma das primeiras ruas existentes em Óbidos, onde é possível ver um patrimônio histórico e cultural da cidade. “Matutódromo” Alenquer Espaço construído para os grupos folclóricos, danças indígenas, portuguesas, africanas e em especial o Matuto. Círio de Sant’Anna Óbidos A padroeira da cidade e o Círio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira de Apoal. Fonte: Elaborado pela equipe com base nos estudos realizados em 2009. Praça do Centenário Localizada entre as avenidas 24 de Outubro e Benjamin Constant, no bairro da Aldeia. Ao tratar da Amazônia em seu livro “Tristes Trópicos”, Lévi-Strauss (2004, p. 341) faz uma descrição das paisagens e da cultura local: Os vilarejos de seringueiros que dão razão de ser do povoamento esporádico de suas margens. Parecem menos absurdos que os do planalto, e o gênero de vida que aí se leva começa a escapar do pesadelo. Pelo menos se diversifica e ganha matizes, em função dos recursos locais (idem). Lévi-Strauss destaca ainda a linguagem em superlativos, as interjeições solenes, invenção de fonemas de considerações caboclas, “que se referem a pensamentos confusos e obscuros de todos os tipos, como a floresta” (Idem, p.342). Euclides da Cunha (1993) também se refere à Amazônia como um espaço em que a natureza física, em constante mutação reflete a cultura local. No quadro abaixo se 24 mostra algumas manifestações características das populações autóctones, alteradas em face dos processos de trocas e assimilação ocorridas com a miscigenação, como as festas religiosas que têm grandes expressões e são oriundas das missões e permanência da Igreja, como instituição organizadora e difusora da cultura católica e religiosa, além de outras manifestações em que se misturam a elementos pagãos e laicos. Quadro 03: Patrimônio Imaterial: expressões folclóricas e religiosas Manifestações Características Festa de São Sebastião Realiza-se em diversas paróquias deste padroeiro, tanto na cidade como na zona rural, com especial destaque à festa realizada no mês de Janeiro na Praça São Sebastião, onde está situada a igreja de mesmo nome. Festa de São Pedro Realiza-se no dia 29 de junho quando o santo pescador é homenageado com a tradicional procissão fluvial, reunindo grande número de embarcações de variados portes, enfeitadas para a ocasião. Festa de Nossa Senhora A festividade de Nossa Senhora da Conceição começa no Sábado, véspera do Círio, da Conceição quando acontece a trasladação da imagem da Virgem da Igreja Matriz para a Igreja de São Sebastião de onde a romaria sai na manhã de Domingo. Cristoval Quadra Junina Festival Folclórico Colegial Festa do Çairé Festa do Balão Vermelho Círio de Sant’Anna Lendas Carnapauxis Marambiré Festa de Santo Antônio Festival do Acari Exposição Feira Agropecuária Festival católico realizado na mesma época do carnaval reúne milhares de pessoas, no Estádio Municipal Jáder Barbalho, para um período de reflexão, celebração e orações. Interessante manifestação popular mista de sacro e profano, tradicional e moderno. Neste período consagram-se os costumes e o folclore do povo local. Na semana que antecede o dia do folclore, isto é, 22 de agosto do, acontecem dois festivais tradicionais: o Festival Folclórico do Colégio Dom Amando e o Festival Folclórico do Colégio Pedro Álvares Cabral. A Festa do Çairé mistura de elementos religiosos e profanos. Começa com o levantamento de mastros enfeitados e prossegue com outras atrações. A programação inclui ainda procissão, ladainhas, torneios esportivos e exibição de diversas manifestações folclóricas. No quinto e último dia acontece a “varrição da festa”, seguida da derrubada dos mastros e da “cecuiara” almoço de confraternização, servido a base de pratos típicos da cozinha santarena. A programação termina à noite, com a festa dos barraqueiros. O Çairé foi criado pelos índios como forma de homenagear os portugueses que colonizaram o Médio e o Baixo Amazonas. No mês de agosto, durante 3 dias, é realizada a tradicional Festa do Balão Vermelho, com a apresentação de danças folclóricas de Fordlândia e das comunidades vizinhas. O encerramento da festa conta com o Baile Tradicional, a coroação da garota Balão Vermelho, a Cerimônia Simbólica da Festa, e a entrega dos prêmios aos vencedores das danças folclóricas. O da padroeira da cidade e o Círio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira de Apoal. Também existem outras festas como a de Santo Antônio e a de São João, em Flexal, que movimentam o município o ano todo. São incontáveis as lendas nos municípios, destacando-se: do Boto, da Cobra Honorato, do Curupira, do Jurupari, da Matinta Pereira, da Noiva do Cai-Cai e da Capela de Ouro. Em Óbidos o carnaval de rua também chamado “Mascarado Fobó”. Originou-se no início do século XX, quando as famílias tradicionais realizavam os “entrudos”, a partir de 1918. Hoje é realizado por blocos com suas “marchinhas”. Tem origem africana Marambiré, uma manifestação folclórica cuja coreografia é baseada no Lundu, outro ritmo de origem africana parecido ainda com o Carimbó e o Marabaixo. Em Alenquer. A Festa do Padroeiro da cidade de Alenquer é realizada em 13 de junho. Inicia com a trasladação da imagem levada para uma localidade do interior do município, no dia 30 de maio, recebida por uma procissão fluvial no cais dia 31. Acari é o nome de um peixe muito apreciado na região, o festival realiza-se no último final de semana de outubro, com diferentes atrações, cujo ponto central são os pratos preparados com o peixe. O Festival ocorre na vila de Curralinho (região de várzea, margem direita do Paraná de Gurupatuba). No Parque de Exposição localizado em Fazendinha ocorre nos meses de setembro e outubro, a exposição de animais do rebanho pastoril e cultivares agrícolas, além de atrações variadas. Durante o evento todas as noites são apresentadas danças típicas dentre outras atrações. 25 Festa do Produtor Rural Na última semana do mês de junho há a Feira do Produtor, com a escolha da rainha que representa os produtos de sua comunidade. Fonte: elaborado pela equipe com base no levantamento, 2009. Esse patrimônio mostra a importância da relação homem-natureza devido à proximidade e relação direta com os grandes rios da Amazônia e seu entorno, formado por escarpas, lagos, serras, cavernas, que dão origem a um imaginário expresso em hábitos, costumes e expressões singulares, na medida em que as expressões populares repercutem um artesanal de relações, impressões, representações e significados desenhados em paneiros, tapetes, peneiras, tipitis, remos e vasos de ouriços de castanhas e outros os artesanatos misturados à cultura religiosa e às lutas populares. A gastronomia local também é outro elemento que faz parte da influência da atividade de pesca de água doce, em que os peixes têm conotação especial nos cardápios e dietas das culturas locais, os mais utilizados são: tucunaré, tambaquí, pirarucu, muito apreciados pelo sabor de suas carnes. Também se desataca o Acari, peixe cascudo que pode ser preparado de diversas maneiras, tais como guisado, cozido, assado e desfiado, este último constituindo o piracuí, uma farinha de peixe de sabor agradável e alto conteúdo protéico, utilizada no preparo de bolinhos, tortas, omeletes, sopas, etc. A Região que constitui o Território do Baixo Amazonas paraense é considerada uma das mais ricas em termos de um patrimônio histórico-cultural, constituído por esculturas em praças públicas espalhadas pelos diferentes municípios. O patrimônio imaterial também é de suma importância, com danças que tratam de expressões individuais e coletivas. Abordam temáticas ilustrativas da economia e sociedade locais, como festivais e festas de diferentes modalidades: juninas, da castanha, onde se pode apreciar a dança-do-coco, dança-de-fitas, boi-bumbá, xote, quadrilhas, carimbó, siriá, lundu, danças de pássaros, boiadeiro etc. A música dessa região é outro elemento importante, com festivais que são caracterizadas pela importância do cancioneiro popular, marcada pela cultura de um povo constituído por processos de miscigenação. A cultura indígena é revelada nas diferentes expressões culturais, cuja riqueza é observada nas lendas, mitos e tradições populares, artesanatos, com influências africanas e européias. O artesanato de Alenquer, por exemplo, é confeccionado em grandes proporções por couro do jacaré, como bolsas, cintos e outros objetos. Também em argila, particularmente na Vila União, onde se produz peças utilitárias: ânforas, bilhas, potes, panelas, pratos, tigelas, fornos, bacias, assadeiras, torradores etc. 26 Em Monte Alegre também se produz um rico e diversificado artesanato com atividades de tecelagem de palha, reciclagem de esteira, trabalhos em balata, argila, taboca e crochê, além das famosas cuias pintadas, uma tradição que remonta ao século XIX. Também é possível perceber a influência negra na formação étnica e cultural, com base nos quilombos da região, oriundos de escravos fugidos das fazendas de Santarém, que se fixaram basicamente às margens do rio Curuá, como é o caso do mocambo Pacoval. Esses espaços mostram resistência a partir da manutenção de costumes e crenças religiosas. d) Terras Indígenas Como parte integrante desse rico patrimônio cultura, o Baixo Amazonas ainda possui muitas terras indígenas sendo que nem todas se encontram demarcadas, como se pode perceber no quadro abaixo. Município Almeirim Alenquer Aveiro Belterra Faro Itaituba Monte Alegre Óbidos Oriximiná Santarém Quadro 04- Terras indígenas no Baixo Amazonas – PARÁ Terra Indígena Grupo Indígena Rio Paru D’Este Apalaí, Wayana Zo’e Zo’e, Apalaí, Wayana Andirá Marau Satere-Mawe Baixo Tapajós II Munduruku, Cara Preta, Tupinambá Bragança Munduruku Marituba Takuara Nhamundá/Mapuera Hixkaryana Wáiwái Praia do Mangue Munduruku Km 43 Munduruku Andirá Marau Satere – Mawe Pimentel Munduruku São Luís do Tapajós Munduruku Rio Paru D’Este Apalaí, Wayana Zo’e Zo’e Nhamundá/Mapuera Hixkaryana Wáiwái Aningalzinho, Tupaiu Baixo Tapajós Munduruku, Tupinambá, Cara Preta Borari de Alter-do-Chão Borari Cobra Grande Arapiun Marituba Munduruku Mirixipi Arapiun Maratuba do Pará Tupinambá, Cara Preta Nova Vista Arapiuns Rio Maró Arapiuns São João Arapiun Fonte: OLIVEIRA, 2005 p. 223 27 1.2 - MUNICÍPIOS AMOSTRA DA PESQUISA O interesse de outros povos pelas riquezas da região amazônica durante a colonização colocou-a sobre constante ameaça de invasão, o que contribui para que os portugueses apressassem o processo de colonização. Dentre as expedições organizadas com a finalidade de expulsar os estrangeiros e destruir os seus estabelecimentos tem-se a de Pedro Teixeira, em 1626, no Rio Tapajós. Assim, a origens históricas dos municípios do Baixo Amazonas estão ancoradas nos esforços dos portugueses em manter a posse da região ocupando-a, contando para isso com o apoio da igreja católica por meio do catequização. ALMEIRIM A fundação do atual município de Almeirim situa-o na zona fisiográfica do Baixo Amazonas, deve-se aos frades capuchos de Santo Antonio, que fundaram, juntamente com os índios a aldeia do Paru. Em 1758, adquiriu categoria de vila, passando a chamar-se Almeirim, sendo extinta na época da Independência. Reestruturado com o passar do tampo, Almeirim atualmente é formado pelos distritos de Almeirim, Arumanduba e Monte Dourado. O prefeito seu atual de Almeirim é José Botelho dos Santos, do Partido dos Trabalhadores (PT). Foto 4. Vista aérea da cidade de Almeirim-Pa. Fonte: http://www.almeirim.pa.gov.br/?q=node/42 Atualmente Almeirim possui as seguintes características: área de 72.954,532 Km², com uma população de 33.614 habitantes, apresentando densidade demográfica de 0,46 habitantes por Km² (IBGE 2010). 28 Foto 5. Foto da cidade de ALMEIRIM – Pará. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. Principal produção agrícola, por tonelada: Agricultura local – principais produtos a) Lavoura temporária: arroz com 84 t.; mandioca com 1.920 t.; melancia com 300 t. (IBGE 2010); b) Lavoura permanente: banana com 270 t.; laranja com 64 t.; mamão com 210 t.; maracujá com 210 t.; pimenta-do-reino com 80 t. (IBGE 2010). Educação Tabela 3 - Estabelecimento de ensino em Almeirim-Pa (ano de 2009) Ensino Pré-escolar Fundamental Médio Estado 0 2 Estabelecimento Município Particular 34 1 88 1 1 Total 35 91 3 Fonte: IBGE-2009 Saúde: Tabela 4-Serviços de saúde- número de estabelecimentos por tipo de administração ano de 2009: SERVIÇO Municipal Estadual Privado Total Nº DE ESTABELECIMENTOS 23 0 1 24 Fonte: IBGE – 2009 CURUÁ 29 O município de Curuá foi criado através da Lei nº 5.924 de 28 de dezembro de 1995, assinada pelo governador Jáder Barbalho, desmembrado do município de Alenquer, com sede na localidade de Curuá, que passou à categoria de cidade, com a mesma denominação. Atualmente é administrada pelo prefeito Raimundo Reis Barbosa, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Foto 6. Foto da cidade de Curuá – Pará. Porto. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. Área do município, 1.432,150, possui 12.254 habitantes, densidade demográfica de 8,56 habitantes por km² (IBGE, 2010). Vale observar que a elevada densidade demográfica do município deve-se ao fato da pequena extensão territorial do município. Foto 7. Residência de agricultores familiares em época De cheia dos rio Amazonas- Curuá – Pará. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011. Foto 8. Pesquisadora caminha sobre ponte – CuruáPará. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011. Agricultura local – principais produtos: a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 30.000 t.; milho, 50 t; melão, 35 t. e tomate 12 t.; b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 510 t.; laranja, 216 t.; 30 Educação Tabela 5-etabelecimentos de ensino em Curuá-Pa (ano de 2010) Ensino Pré-escolar Fundamental Médio Nº de estabelecimentos Estadual Municipal 37 38 1 - Particular 1 1 - Total 38 39 1 Fonte:MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF Saúde: Tabela 6 - SERVIÇOS DE SAÚDE número de estabelecimento por tipo de administração (ano de 2009) SERVIÇO MUNICIPAL ESTADUAL PRIVADO TOTAL Nº DE ESTABELECIMENTOS 6 6 FONTE: ( IBGE, 2009) MONTE ALEGRE A origem do município de Monte Alegre data do século XVII, com a catequese dos indígenas da aldeia de Gurupatuba, pelos religiosos capuchos da Piedade. Após a expulsão de todos os jesuítas de Portugal e de suas colônias e em 1755 elevam Monte Alegre à categoria de cidade. Monte Alegre possui área de 18.152,508 km²; 55.462 habitantes e densidade demográfica de 3,06 Km². (IBGE, 2010). O atual prefeito do município é Jardel Vasconcelos Carmo, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Foto 9. Plenári a CODET ER elabor ação do PDTRS. Fonte: Equipe MDA/S DT/UF PA. 201 1 Foto 10. Igreja Matriz – São Francis co De Assis – Monte AlegrePa. Fonte: WWW. citybra sil.com Agricultura local – principais produtos: 31 a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 96.900 t.; milho, 40.106 t.; feijão, 2.850 t.; b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 4.943 t. ;limão, 8.640 t. e laranja, 1.920 t.; Educação Tabela 7 – Estabelecimentos de ensino em Monte Alegre-Pa (ano de 2009) Ensino Pré-escolar Fundamental Médio Estadual 4 Nº de Estabelecimentos municipal Privado 145 1 142 1 _ _ Total 146 143 4 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011. Saúde Tabela 8- Serviços de saúde - número de estabelecimento por tipo de administração (ano de 2009) Serviço Municipal Estadual Privado Total Quantidade de estabelecimentos 37 2 39 Fonte: IBGE 2009 ÓBIDOS A localização do atual município de Óbidos era estratégica aos colonizadores portugueses, por ser a parte mais estreita do Rio Amazonas e de grande profundidade. Originalmente os capuchos da Piedade estabeleceram um aldeamento de índios no rio Trombetas, chamado Pauxís, nome que foi dado também à fortaleza. Foto 11. Câmara Municipal de Óbidos – PA. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 32 A divisão jurídico administrativa atual estabelecida pelo decreto-lei nº. 4.505, de 30 de dezembro de 1943. O atual prefeito de Óbidos é Jaime Barbosa da Silva, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O município de possui 28.021.339 km², 49.333 habitantes e 1,76 habitantes por km². Foto 13. A força da agricultura familiar. Pescador vende peixe em bicicleta nas ruas de Óbidos. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011 Foto 12. Igreja Matriz – Óbidos – PA. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011 Agricultura local – principais produtos: a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 120.000 t.; melancia, 2.500 t.; feijão, 2.850 t., milho, 1.360 t. (fonte: IBGE) b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 720 t.; e laranja, 532 t.; (Fonte: IBGE). Educação Tabela 9 – estabelecimentos de ensino em Óbidos-Pa (ano de 2009) Ensino Pré escolar Fundamental Médio Número de estabelecimentos Estadual municipal 68 117 1 - Privado 1 - Total 68 118 1 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011. Saúde: Tabela 10- Serviços de Saúde – número de estabelecimentos por tipo de admistração em Óbidos-Pa (ano de 2009) Serviço Municipal Estadual Nº de estabelecimentos 16 33 Privado Total 3 19 Fonte: IBGE - 2009 ORIXIMINÁ Historicamente, a colonização iniciou-se em 1877, com a fundação do povoado denominando-a Uruaã - Tapera ou Mura – Tapera que deu origem ao município de Oriximiná. No governo de Lauro Sodré, em 1894, foi elevado à categoria de vila, já com o nome de Oriximiná, e instalado o Município, no mesmo ano. O nome Oriximiná é de origem indígena, de procedência tupi, que significa “o macho da abelha”, o zangão ou da derivação de Eruzu-M‟Na. que significa “muitas Praias”. O prefeito atual do Município é Luiz Gonzaga Viana Filho, do Partido Verde (PV) . O município possui área de 107.603,24 km² e população de 62.794 habitantes, com a densidade demográfica de 0,58 hab/km². Foto 14. Moradores locais fazendo farinha de mandioca, OriximináPa. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011 Foto 15. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011 Agricultura local- principais produtos: a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 135.000; melancia, 1.200t; milho, 1.070 t.; (Fonte: IBGE). b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 2.600 t.; Educação Tabela 11 - Estabelecimentos de ensino em Oriximiná-Pa (ano de 2009) Ensino Estabelecimento Estadual Municipal Privado Total 34 Pré-escolar Fundamental Médio 2 45 87 - 4 3 1 49 90 3 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011 Saúde Tabela 12 - Serviços de saúde- número de estabelecimentos por tipo de administração em Oriximiná (ano de 2009) Serviço Municipal Estadual Privado Federal Total Nº de estabelecimentos 20 5 1 26 Fonte: IBGE-2009 Produção de Bauxita: em média de 18 milhões de toneladas ao ano. SANTARÉM A origem do município de Santarém data de 1639 com a catequese dos índios Tapaiuçus na foz do Tapajós. A vila de Santarém obteve a condição de cidade pela Resolução nº 145, de 24 de outubro de 1848, assinada pelo presidente da Província, Jerônimo Francisco Coelho. A configuração territorial do município mais recente devese à criação dos municípios de Placas e Aveiros nos anos 60. Atualmente o município de Santarém é constituído dos seguintes distritos: Santarém, Alter do Chão, Boim e Curuai. A atual prefeita de Santarém é Maria do Carmo, do PT. O município de Santarém possui as seguintes características: área, 22.886,791km2; população 204.580 habitantes e 12,87 de densidade demográfica. Foto 16. Posto de saúde da reserva dos Arapiuns, Santarém- PA. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. Foto 17. Desmatamento decorrente da soja, SantarémPA. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. Agricultura local – principais produtos: 35 a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 273.000 t.; arroz, 25.740 t.; milho, 15.420 t.; soja, 46.170 t.; (Fonte: IBGE) b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 3.600 t. e 5.136 t.; (Fonte: IBGE) Educação Tabela 13 - Estabelecimentos de ensino em Santarém-Pa (ano de 2009) ENSINO Pré-escolar Fundamental Médio Estabelecimento Estadual 30 27 Município 181 442 - Particular 36 33 5 Total 217 505 32 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011. Tabela 14- Serviço de saúde – número de estabelecimento por tipo de administração em Santarém (ano de 2009) Serviço Municipal Estadual Privado Federal Total Nº de estabelecimentos 82 3 24 1 110 Fonte: IBGE-2009 TERRA SANTA Conta a lenda que o nome Terra Santa originou-se de “Pedra Santa”. De acordo com a lenda as índias da Amazonas encontravam-se muito doentes foram orientadas pelo pajé, que tomassem banho junto às pedras do lago. As índias obedeceram e ficaram curadas. Para o IDESP (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará) a exploração do território começou por volta de 1883, para aquisição de riquezas naturais tais como, borracha, essências como o pau-rosa, peles de animais, pesca, madeiras-de-lei. Terra Santa passou à categoria de Município através da Lei nº 5.699, de 13 de dezembro de 1991, sancionada pelo Governador Jáder Barbalho, desmembrado dos municípios de Faro e Oriximiná, com sede na localidade de vila de Terra Santa. Sendo que a instalação da cidade deu-se em 1º de janeiro de 1993, com a posse do prefeito, vice-prefeito e vereadores eleitos no pleito municipal de 03 de outubro de 1992. O atual prefeito de Terra Santa é Marcílio Picanço, do Partido Social Democrático (PSD). O município de Terra Santa possui as seguintes características: área, 1.896,501 km²; população 16.949 habitantes e 8,94 de densidade demográfica. 36 Foto 18. Moradia em Terra Santa- PA. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. Foto 19. Igreja em Terra Santa- PA. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. Agricultura local – principais produtos: a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca 5.000 t.; melancia 40 t. (Fonte: IBGE, 2010) b) Lavoura permanente por tonelada: banana 40 t.; laranja 60 t.; maracujá 36 t. (Fonte: IBGE 2010). Educação Tabela 15 - Estabelecimento de ensino em Terra Santa (ano de 2009): ENSINO Pré-escolar Fundamental Médio Estabelecimento Estadual 1 Município 14 22 - Particular - total 14 22 1 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011. Saúde Tabela 16 - Serviço de saúde – número de estabelecimento por tipo de administração em Terra Santa-Pa (ano de 2009) Serviço Municipal Estadual Privado Federal Total Nº de estabelecimentos 13 0 1 14 Fonte: IBGE 2009. 37 2- Identidade Territorial A identidade é concomitantemente, individual, pessoal, social e coletiva (OLIVEIRA, 2002). Assim, para entender a identidade territorial é necessário que se leve em consideração as diferentes dimensões de sua constituição, tendo em vista que território é por relações socioeconômicas e político-culturais, a partir de uma conjugação de muitos fatores de ordem histórica, simbólica etc. No BAM a agricultura familiar aparece como o elemento preponderante na definição da identidade do território seguido do meio ambiente. Em uma escala que vai de 0 a 01, a agricultura aparece com o indicador de 0,826 e o meio ambiente com 0,802. Em um território assim identificado, quais elementos de coesão e conflitos estão presentes na definição/afirmação dessa identidade territorial? Muito frequentemente fala-se em crise de identidade e em identidades plurais, e observam-se nas perplexidades da vida moderna, que as identidades passam por processo de transformação, reconfigurações seja pela mudança no padrão de consumo, seja por meio da homogeneidade cultural promovida pelo mercado global, que pode levar ao distanciamento da identidade relativa à comunidade e à cultura local (idem, p. 21). Em síntese, os indivíduos nos tempos atuais vivem em contato com múltiplos valores, posições, pontos de vistas sendo possível afirmar que as identidades estão em constante processo de transformação e afirmação, portanto em constante movimento de constituição sob reafirmação de determinadas marcas ou mesmo em confronto e conflito. Conforme Scherer-Werrem (2003), as identidades sociais podem ser difusas e fragmentadas. Isto porque, corroborando com Deleuze (2006), a representação é o lugar da ilusão transcendental, as quais são constituídas a partir de quatro elementos, são eles: o pensamento, o sensível, a ideia e o ser. Neste sentido, o pensamento se reveste de uma imagem que desnatura a própria gênese da identidade, a qual está condicionada pelo sujeito e a subjetividade, a memória e a recognição da consciência de si. Como afirma Castells (2006, p.79), "as identidades locais entram em intersecção com outras fontes de significado e reconhecimento social, seguindo um padrão altamente diversificado que dá margem a interpretações alternativas". Ele observa ainda, segundo Etzione que o ressurgimento da comunidade é estabelecida no âmbito local (idem). No entanto, o autor chama atenção para a mobilização social com 38 base em interesses comuns, sob processos de compartilhamento que podem contribuir para a construção de novos significados. A identidade, portanto, é constituída enquanto estatuto que também é inscrita por elementos que dizem respeito à territorialidade, entendido como elemento indissociável da condição humana visto que o conceito de sociedade refere-se à especialização-territorialização nas suas dimensões política, cultural e econômicas (HAESBAERT, 2006). Assim, é importante perceber que os dados não falam por si, carecem de interpretação, da visão de contexto e de processos de subjetivações ou mesmos de assimilação de elementos constitutivos da identidade, embora sempre do ponto de vista do sujeitos individual ou coletivo, na medida em que os indivíduos ou grupos assumem determinadas posições frente às esferas de poder, podendo ser firmada a partir de consensos ou mesmo de rupturas ou ainda de acordos e pactos, na construção de valores que passam a servir de critérios e para o estabelecimentos de normas, a fim de regulamentar os mecanismos de organização da vida social em níveis micro e em nível macro. As capacidades de mobilização destes elementos podem favorecer a realização de determinadas ações e atividades validadas pelo grupo social que deu origem ao seu fundamento, podendo não necessariamente se estender ao conjunto da vida social. A “identidade é relacional”, “marcada pela diferença”, “simbólica”, “social” e “historicamente específica”, “as diferenças decorrem de marcações simbólicas” e das “condições materiais” (HALL e WOODWARD, 2001). Nestes termos, o reconhecimento da identidade do Território do Baixo Amazonas pela agricultura familiar parece indicar uma tomada de posição dos entrevistados, na medida em que (0,826) se coloca nesta condição, como uma visada do legado histórico e cultural da região, sem desconsiderar que esta vem passando por um processo constante de alteração, ao ser confrontada por os movimentos de constituição, como os novos sujeitos sociais vinculados à expansão do agronegócio, com possibilidade de perda inumerável de sua sociobiodiversidade e, consequentemente, um palco de conflitos aberta neste Território, como uma das últimas fronteiras. Quadro Nº 05 – Identidade do Baixo Amazonas paraense 39 Fonte: MDASDT/UFPA/2011. O meio ambiente é o segundo indicador da identidade do BAM, para o qual muitas atenções se voltam dado a eminente ameaça de degradação ambiental devido ao problema de alteração de uso do solo para a plantação da soja, criação de gado, principalmente nos municípios de Santarém e Belterra e pela extração de minérios nos municípios de Juruti e Oriximiná. Estas atividades têm gerado o desflorestamento com incentivos e financiamentos do Estado, para grandes firmas nacionais e internacionais, sob um brutal movimento de transformação e expropriação das populações tradicionais. Sob este quadro adverso, a agricultura familiar torna-se um sujeito político importante na organização produtiva dos trabalhadores da economia extrativista e de subsistência, no território. Neste âmbito, a economia de escala também tem se colocado como um dos sujeitos políticos importantes no Território, na medida em que tem capacidade de articulação em plano trans-escalar possibilitando, inclusive, articulação com as classes dominantes locais que reivindicavam dentre outras coisas, a divisão do Estado Pará4. A conjunção dessas duas variáveis (agricultura familiar e meio ambiente), como já demonstrado no 01 deste trabalho, diz respeito ao fato da agricultura familiar (entendida como a produção nas roças, coleta de frutos da floresta e a pesca) estar diretamente associadas à sobrevivência material e cultural das populações do Baixo Amazonas paraense, seja porque fazem parte da base nutricional daqueles povos ou pelo fato de que uma parte da produção destina-se ao mercado. Mas, na Amazônia os ciclos da vida humana se confundem com o ciclo da natureza como um todo. A coleta de frutos e essências, a exemplo da Castanha do Pará, das essências florestais e das plantas medicinais estão diretamente relacionada à vida material e simbólica dos povos 4 Tratava-se de um movimento visando à criação do Estado do Tapajós com a capital em Santarém e do Estado do Carajás, cuja capital seria Marabá. Realizado o plebiscito em dezembro de 2011, a ideia foi rejeitada. 40 da Amazônia, bem como a dinâmica dos rios, as peculiaridades da vida nas várzeas, as festas de Santos, as Pajelanças, são elos que atam o homem Amazônico à terra. Mas, toda identidade é simbólica, histórica e se encontra em constante processo de transformação em face das repetições, superação e conflitos. É na dimensão dos múltiplos valores confrontos entre interesses contraditórios e conflitantes, mesmo por aqueles que habitam os recantos mais distantes da Amazônia brasileira. Os entrevistados ao mesmo tempo em que afirmam o meio ambiente e a agricultura familiar como elementos de identidade do Território, oferecem a si mesmos, formas peculiares de se relacionar com e agricultura e com o meio ambiente, por meio de oportunidades que se encontram nas comunidades distantes e não podem acessar bens e serviços públicos de uso comum, tais como escolas de melhor qualidade, transporte, lazer, etc. Talvez essa seja uma das dimensões do conflito entre o local e global. Pois encontra-se enquanto preso ao no local mundo manifesto, existe um mundo latente, global, de múltiplas relações, de informações e possibilidades que estes não têm como acessar. Em síntese, as variáveis, agricultura familiar e meio ambiente Foto 20. A foto reflete a identidade da dona de casa com o meio ambiente, a cultura de lavar roupa na margem do rio e é possível perceber o processo de degradação ambiental. Território do Baixo Amazonas – Óbidos – Pará. como expressão maior da identidade do Território do Baixo Amazonas, por si só dizem pouco. É necessário levar em consideração as dimensões históricas, políticas e sociais desses indicadores. Não se podem observar nestes indicadores os conflitos ali existentes, explicitados ou não, presente no uso de tecnologias rudimentares, na falta de acesso às políticas públicas de crédito e qualificação, na falta de assistência técnica, nas escolas técnicas e nos níveis de escolaridade da bacia de trabalho de qualidades questionáveis e insuficientes às necessidades das populações locais, na falta de titulação das terras e de transporte rápido e seguro. Os dados do SGE indicam que existe certo equilíbrio entre os vários aspectos constituintes da identidade territorial, com predominância da Agricultura Familiar e Meio Ambiente, classificado como alto; a Economia, Etnia, Colonização e Políticos, classificados como médio alto; e a pobreza, classificada como, médio. Estes aspectos 41 são importantes por indicar as variáveis presentes na definição dos limites da gestão do Território, desvelando a própria história deste território e apontar (ainda que genericamente) as variáveis que estão presentes nos conflitos que ali existem. Foto 21. Trabalho de agricultores familiares – Santarém - Pará Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011 Neste Território há uma complexa rede de interação que tem gerado conflitos extremamente sérios relacionados principalmente à questão da terra e do meio ambiente, particularmente, na última década, com a forte penetração da soja na região. As unidades de conservação existentes possibilitam o desenvolvimento de atividades extrativistas associadas a outras atividades de manejo e também a uma forma de turismo interativo, em que há a troca de conhecimento entre os habitantes locais e os visitantes. Assim, analisar a identidade como fator de coesão social no território pode contribuir para mobilizar os diferentes setores e segmentos sociais sob o arco de alianças operadas pelos agricultores familiares, que constituem o BAM para além da subsunção absoluta às formas de relação de exploração dos recursos naturais. Desde a colonização à atualidade a região vem passando por intensificada exploração e depredação de seus recursos. No contexto atual, parece que as relações de poder e a correlação de forças no Baixo Amazonas, possuem dois grandes extremos: o primeiro vinculado à agricultura familiar e às lutas ambientais, representadas pelas ONG’s, STTR’s e alguns partidos políticos e, o segundo, fortemente mobilizado pelo agronegócio e a exploração mineral, articulada com o capitalismo de ponta sob a economia do capitalismo de redes, portanto, transnacional. Esta é a fratura exposta. 42 E, em meio a diversidades regionais e as características territoriais resultam uma dinâmica de interação das populações nativas com os imigrantes mais recentes. Historicamente também foi assim. No Baixo Amazonas a agricultura familiar é induzida na região no início dos anos 70 no território, por meio do Plano de Integração Nacional (PIN). A ocupação oriunda do processo de abertura das rodovias BR-163 – CuiabáSantarém e a BR-230 – Transamazônica, foi possibilitada por incentivos ao deslocamento de agricultores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Ressalta-se que alguns desses migrantes tornaram-se lideranças políticas em nível estadual e nacional. Estes favoreceram a construção de uma identidade referenciada na agricultura familiar. A produção de grãos, pecuária extensiva e de corte, a exploração de minério de um lado e, a organização da produção familiar, com a culminância da Feira da Produção Familiar Rural, de outro lado, tem ensejado lutas sociais em defesa da biodiversidade. Portanto, a cultura como elemento aglutinador de valores e costumes, ao mesmo tempo em que une também cria área de conflito fundada na diversidade, que transforma e muda o modo de vida das populações nativas, bem como, dos recém-chegados. Assim, a região está diante da inserção do grande capital, seja por incentivos federais ou externos, a exemplo da ALCOA em Juruti. O nível de pobreza é considerado médio (0,565), na medida em que os recursos naturais proporcionam a relação homem-natureza e que hoje são desarticuladas pelas ações de expropriação e o crescimento das cidades médias onde os hábitos culturais exigem outras habilidades. Também a etnia merece destaque com um indicador médio alto (0,704), o que decorre dos diferentes processos de colonização (longínqua e recente), como a dos portugueses, africanos, no período colonial; dos sulistas, nos anos 70 e, atualmente, dos matrogrossenses, entre outros sujeitos vinculados à soja, ao gado, à madeira e à mineração. O indicar político também é importante, na medida em que há uma intensa mobilização social para acesso à terra e às fontes de recursos naturais, as quais têm repercutido no movimento de divisão territorial para a criação de novos Estados. O enfrentamento de problemas históricos, apesar dos avanços obtidos a partir dos anos 2000, persiste nos espaços rurais, especificamente a necessidade de superação da degradação ambiental e das desigualdades regionais e sub-regionais que repercutem 43 nos baixos indicadores sociais no campo, onde vivem as populações tradicionais e a agricultura familiar, já exitosa na produção de alimentos para o mercado brasileiro. No que diz respeito ainda, à construção das identidades, Gohn (1997), chama a atenção para a importância das redes, isto é para o uso de novas tecnologias de comunicação, importante para a exposição de conflitos, para a busca de políticas sociais compensatórias, enquanto interveniente das relações sociais, impondo consequências para a formação de identidades individuais e coletivas. O tempo se altera em função dos novos meios de comunicação. A mídia, principalmente a TV e os jornais da grande imprensa, passam ser grandes agentes de pressão social, uma espécie de quarto poder, que funciona como termômetro do poder de pressão dos grupos que têm acesso àqueles meios. As Organizações Não Governamentais, por sua vez, ganham proeminência sobre as instituições oficiais quanto à confiabilidade na gerência dos recursos públicos. (GOHN, 1997, P. 29). Nesse contexto de identidades sociais difusas e fragmentadas (SCHERREWERREM, 2006) ou de transformação e afirmação de identidades (CARDOSO, 2002), as alternativas de geração de trabalho e renda estão sendo criadas e recriadas, seja pela pluriatividade na agricultura Schneider (2003), seja pela ressignificação do trabalho (DIAS, 2009). Ficou evidente durante a pesquisa de campo, que outras práticas sociais precisam ser criadas e que práticas já existente precisam ser potencializadas, para a geração de trabalho renda, com a introdução de bens e serviços de uso coletivo, como acesso à escola, saúde, transporte, tecnologias, a melhor rendimento nas atividades produtiva de mulheres e homens do Baixo Amazonas, a fim de almejar a transfiguração das políticas públicas sob o enfoque territorial. 3. Capacidades Institucionais Como foi anunciado no item anterior, a identidade do território é uma construção história, social e coletiva, realizada pelos indivíduos e pelas institucionalidades. Assim, para compreender as capacidades institucionais do Baixo Amazonas paraense é importante conhecer ainda que de forma genérica, as instituições sociais que atuam no território, como atuam e como se relacionam entre si, para isso se lançou mão dos dados disponíveis no Q1, do diário de campo e das observações participante. As entrevistas foram realizadas com os representantes do poder público municipal, como demonstrado abaixo: 44 Quadro 06 - Capacidades Institucionais MUNICÍPIO NOME Alenquer Raimundo R de Oliveira Curuá Círio Bezerra Monte Alegre Francisco Carlos C Lima Óbido Hildeane Rabelo de Castro Oriximiná Elias da Rocha Estumano Santarém Ivete Santos Terra Santa Nelson Carlos Fernandes INSTITUIÇÃO Secretaria de Agricultura Secretário de Agricultura Secretário de Obra Sec. M. Planeijamento Sec. M. Produção Familiar Sec. Agricultura Fonte: MDA/SGE/2011 As entrevistas votadas à percepção da contribuição das institucionalidades para o desenvolvimento do território, tiveram as seguintes avaliações: Infraestrututa Institucional, Médio Alto; Gestão do Colegiado e Instrumentos de Gestão Municipal, Médio; Capacidades Organizacionais, Serviços Industriais Disponíveis, Mecanismo de Solução de Conflitos e Iniciativas Comunitárias, Médio Baixo. Para se tecer (ainda que de forma preliminar) os fios que compõem as capacidades institucionais do BAM paraense é necessário atentar para questões como: Gestão do Colegiado, as Capacidades Organizacionais, os Serviços Institucionais Disponíveis, os Instrumentos de Gestão Municipal, os Mecanismos de Solução de Conflitos, a Infraestrutua Institucional, as Iniciativas Comunitárias e a Participação, itens que foram objeto da pesquisa. Este relatório destina um item para a Gestão do Colegiado assim, cabe aqui anunciar que o Colegiado de Desenvolvimento Territorial Rural (CODETER) no Baixo Amazonas paraense enfrenta algumas dificuldades: 1) recursos para deslocamento e realização de eventos; 2) os representantes do poder público, da maioria dos municípios parece não oferecer apoio aos eventos e reuniões do colegiado, passando a impressão de que a política de desenvolvimento fosse algo apenas do movimento social; 3) as discussões entre as organizações sociais estão mais nas cidades, o entrevistados das comunidades (ICV) declaravam que nunca tinham ouvido falar nesse assunto. Neste sentido, o Território mostra-se fragilizado na percepção dos entrevistados, como pode se observado em relação ao colegiado com um indicador de (0,480), considerado médio. As capacidades organizacionais receberam avaliação Média Alta. Chama atenção que existe nos municípios em termos quantitativos, um significativo número de conselhos, contudo, alguns relatos dão conta de alguns desses apresentam atuação 45 inexpressiva, o que pode significar que exercem pouco controle social, como se pode observar no quadro abaixo. Quadro 7 – Indicadores Políticos-Institucionais Fonte: MDSSD, 2011. Apenas à título de conhecimento apresenta-se abaixo a listagem de conselhos do município. CONSELHOS E/OU CONSÓRCIOS PÚBLICO Quadro 08-Conselhos E/Ou Consócios Públicos ALENQUER CURUÁ MONTE ALEGRE ÓBIDOS ORIXIMINÁ SANTARÉM TERRA SANTA Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) Conselho de Meio Ambiente Conselho de Saúde Conselho de Educação Conselho de Saúde Conselho de Educação Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) Conselho de Meio Ambiente Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) Conselho de Meio Ambiente Conselho de Saúde Conselho da criança e adolescentes Conselho de Educação Conselho de Assistência Social Conselho do Idoso Conselho da Mulher Conselho da Cultura Conselho de Meio Ambiente Conselho de Saúde Conselho da criança e adolescentes Conselho de Educação Conselho de Assistência Social Conselho da Cultura Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) Conselho Municipal de Cultural Conselho de Alimentação Escolar Conselho de Assistência Social Conselho de Saúde Conselho da Criança e do Adolescente Conselho de Saúde Conselho de Educação Conselho de Assistência Social Fonte: MDA/SGE/2011 46 Em síntese, observa-se que o Conselho de Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDRS) está presente em todos os municípios do Baixo Amazonas, bem como o Conselho de Saúde e Educação, o que os dados e as observações demonstraram é que esses não interferem na tomada de decisões e no controle social de forma satisfatória, suficiente, de forma que venha contribuir plenamente com o desenvolvimento do territorial e com o processo de democratização da sociedade. Quanto à orientação para produção por meio de cadeias produtivas, para a maioria dos entrevistados não existe nos municípios essa orientação com exceção dos municípios de Santarém e Óbidos que responderam sim a essa questão. Entretanto foi possível observar que os STTRs e algumas ONG’s realizam orientações para a cadeia produtiva da mandioca e que, a para isso contam com apoio das organizações de assistência técnica, dentre aquelas, a EMATER. Resta então indagar: como são essas cadeias produtivas? Como o poder público municipal interage com as organizações dos trabalhadores? Observou-se como parte da cadeia produtiva da mandioca, a preocupação com a qualidade da produção, inclusive com a higienização, o aproveitamento dos derivados da mandioca, tais como: o tucupi usado para uso na culinária, a produção de farinha de tapioca, a produção de outras farinhas e a produção de ração para animais. Quanto a comercialização da produção do território as opiniões se dividem, dos sete (07) entrevistados, quatro afirmam que não celebram acordos para a comercialização da produção, enquanto os três responderam positivamente, orientam. Quanto ao cadastro de imóvel rural, as opiniões dos entrevistados indicam que a maioria possui cadastro e que também, possuem mapa da área degradada. Percebeu-se, no municio de Santarém, projetos da CONAB, mas não foi possível saber a real extensão do mesmo, nem como isso nos ocorre outros municípios. Capacidade Organizacional e Controle Social Quadro 09-capacidade organizacional e controle social I p11 – orientação p12 – orientação MUNICÍPIO cadeia produtiva comerc.produto Não Não Alenquer Não Não Curuá Não Não Monte Alegre Sim Sim Óbido Não Sim Oriximiná Sim Sim Santarém Não Não Terra Santa Fonte: Pesquisa de campo, com base em informações do BAM, 2011 p16 cadastro imóvel rural Sim Não Não Sim Não Sim Sim p18 – mapa área degradada Não Não Sim Sim Sim Sim Sim 47 Também, merece atenção as respostas atribuídas as questões 20, 22, 23 e 27, por demonstrarem o inexpressivo número de protestos e manifestações sociais, bem como as existência na maioria dos municípios pesquisados, de Secretaria do Desenvolvimento Rural, Secretaria de Planejamento e existência de Técnicos permanentes embora, a assistência técnica seja um grande problema a ser enfrentado. Ainda, chama atenção os municípios de Curuá e Terra Santa, tendo em vista a expressiva carência que os mesmos aparentam. Quadro 10-capacidade organizacional e controle social II p20 – protestos/ p22 – Sec. Desv. MUNICÍPIO manifestação social Rural Nenhum Alenquer Nenhum Curuá Nenhum Monte Alegre De 1 a 3 Óbido Nenhum Oriximiná De 1 a 3 Santarém De 1 a 3 Terra Santa Fonte: Pesquisa de campo, 2011. Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim p23 – Tec perm. Sec. Dev. Rural p 27–Ext. Planejamento Sim Não Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Não Sim Sim Sim Não Sec. As capacidades organizacionais e os serviços institucionais aparecem com indicadores (0,264) e (0,262), respectivamente, consideradas pelo indicador como médio baixo, o que confere com os determinantes centrais da baixa capilaridade dos sujeitos sociais, uma vez que o Território tem uma grande trajetória de luas, mas que não se reflete na percepção dos entrevistados, suas demandas e reivindicações no Território. Essa baixa capilaridade enfraquece os processos de consolidação da política territorial na promoção do desenvolvimento territorial sustentável. Nestes termos, os indicadores relacionados aos instrumentos de gestão municipal (0,406), considerado médio e os mecanismos de solução de conflitos (0,278), com indicador de médio baixo, além das iniciativas comunitárias (0,334), com médio baixo apresentam certa contradição com a percepção dos entrevistados sobre a infraestrutura institucional (0,655), considerado médio alto, embora seja um dos pontos que aparece na pauta das reivindicações dos diversos sujeitos locais, como pode ser observado nos diferentes momentos de consultas públicas de mecanismos institucionais. Outro elemento importante nessa análise é o apoio ou iniciativa das organizações sociais, particularmente o STTRs, as associações de mulheres e as organizações religiosas que, inclusive não configuram nessa listagem. 48 SEGMENTO SOCIAL QUE REALIZAM AÇÕES DE APOIO AS ÁREAS RURAIS DO MUNICIPIO Quadro 11 ALENQUER CURUÁ MONTE ALEGRE ÓBIDOS ORIXIMINÁ SANTARÉM TERRA SANTA Cooperativa de produtores Comunidades quilombolas Associação de assentados da reforma agrária Grupos religiosos Sindicatos Movimentos Sociais pela reforma agrária Sindicatos Associações de agricultores familiares Sindicatos Associação de agricultores familiares Cooperativa de produtores Grupos de mulheres Comunidades quilombolas Associação de assentados da reforma agrária Movimentos Sociais pela reforma agrária Sindicatos Comunidades indígenas Grupos de jovens Comunidades quilombolas Sindicatos Associação dos Agricultores Familiares Cooperativa de Produtores Comunidades Indígenas Grupo de Mulheres Comunidades Quilombolas Movimentos Sociais pela reforma agrária Grupos religiosos Sindicatos Associação de agricultores familiares Sindicatos FONTE: Pesquisa de campo, 2012. A literatura demonstra a importância dos movimentos sociais rurais desde meados do século XX, como as Ligas Camponesas e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Particularmente no Baixo Amazonas esses movimentos são de grande relevância devido a concentração fundiária. A Reforma Agrária é uma das demandas históricas que tem se traduzido em lutas sociais. Assim, a baixa titulação das terras, é um dos problemas considerado sério, no Território, embora não apareça na percepção dos entrevistados. Neste Território, teve momentos intensos de mobilização na conjuntura dos anos 90, quando surgem novas demandas e novos atores sociais no cenário das ações coletivas, particularmente vinculados à questão da biodiversidade e o biopoder (GOHN, 49 2008 e FRANK e FUENTES, 1989), como novos sujeitos dos conflitos ali instalados, portanto, como agentes importantes na constituição de uma nova visão. O Território do BAM paraense, possui uma intensa rede dessas organizações sociais, como é mostrado no quadro abaixo e realizam ações de apoio nas áreas rurais dos municípios. Eles hoje configuram novas formas de organização, assumindo uma ação articulada a geração de trabalho e renda, além da defesa do meio ambiente, sita-se alguns dessas organizações e suas novos institucionalidades. Organizações do Movimento Social do Baixo Amazonas paraense: Quadro 12 ACOMQPAL – Associação Comunitária do Quilombo de Palmares ; ACORQE - Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Erepecuru; ACREQARA - Associação Comunitária Remanescente de Quilombo de Arapemã; AMUPAA - Associação de Mulheres Pescadoras, Agricultoras e Artesãs do Município de Santarém; AOMT-BAM - Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas; APAA - Associação dos Piscicultores e Agroextrativistas da Comunidade de Aná; AQMUS - Associação Quilombola de Murumurutuba; ASACERS - Associação Agroextrativista do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Renascer; ASFEBEL - Associação Feminina de Belterra; CEAPAC - Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária; CIAT -BAM - Comissão de Instalação das Ações Territoriais; CODETER - Colegiado de Desenvolvimento Territorial Rural; FEAGLE - Federação Agroextrativista da Gleba Lago Grande; FETAGRI-BAM - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Baixo Amazonas (Delegacia); FOCS - Federação das Organizações Quilombolas de Santarém; FUNDAC - Fundo de Desenvolvimento e Ação comunitária GDA - Grupo de Defesa da Amazônia GTA - Grupo de Trabalho na Amazônia; MOP-BAM – Movimento das Mulheres Pescadoras; PSA - Projeto Saúde e Alegria; PTP - Planejamento Territorial Participativo SINTTRAF - Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar STTR - Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais FONTE: Pesquisa de campo, 2012. Os movimentos sociais atuam na agenda das políticas públicas e sociais, como parceiros, articuladores e executores daquelas políticas, também se organizam em torno do desenvolvimento sustentável. Essas organizações não atuam isoladas e no anonimato, em suas práxis interagem com as institucionalidades públicas e privadas do território, seja de forma direta ou indireta e contribuem para impulsionar a dinâmica e os direcionamentos das mesmas. Apenas a título de exemplo com o propósito de ilustrar o que se afirmou acima, a Moratória da Soja no Baixo Amazonas, as denuncias em torno das irregularidade no licenciamento do Porto Graneleiro – Cargill e nos assentamentos do INCRA em Santarém, estes últimos firam conhecidos, no Território, como Assentamentos de Papel. A repercussão desses acontecimentos na mídia nacional e internacional, motivam as ações do poder público (DIAS, 2009). 50 Também, as discussões em torno das questões do BAM promovidas pelas organizações sociais, possuem dimensões político-pedagógicas, inclusive para a formação das comunidades locais. Por exemplo, as discussões em torno de um plano de desenvolvimento para o BAM voltado para os interesses da região, denominado Projeto Tucumã, data do ano 2002, foi uma estratégia de incorporar as propostas do plano nas políticas públicas. Fizeram parte diretamente da elaboração do Plano o CEFT-BAM (com a representação de 75 entidades), CEAPAC (17 associações), AOMTBAM, (38 entidades), Casa Familiar Rural do Baixo Amazonas (CFR-BAM) e MOPEBAM. O Plano apresentou os seguintes eixos: organização, formação, crédito, assistência técnica, educação, comunicação, esporte e lazer e infraestrutura. A concepção do Projeto Tucumã subsidiou o debate em torno do PDTRS, pois as entidades envolvidas na elaboração do Projeto participaram da Comissão Intersetorial de Ações Territorial (CIAT), também estão representada no CODETER (DIAS, 2009). Quadro Nº 13 – Indicadores Sociais Fonte: MDSSDT, 2011. Os indicadores sociais refletem uma realidade muito preocupante. Considerando a escala de 0 a 1, todos os itens levantado foram problemáticos: positivamente tem-se o IDH da educação, mesmo assim cabe questionar as condições das escolas, o acesso a essas, a qualidade do ensino, o trabalho docente etc., e chama atenção de forma negativa o baixo índice de hospitais e o número de homicídios. Quadro 14 – Indicadores Culturais Fonte: MDSSDT, 2011. Com relação aos indicadores culturais cabe questionar se de fato refletem a realidade já apresentada? A cultura local dá-se, muitas vezes, por redes informais, não 51 compondo o quadro de uma elite intelectual ilustrada. Os quatro itens deste quadro, Índice de Gestão em Cultura (IGMC), Índice do Fortalecimento Institucional, Índice de Infraestrutura e Recursos Humanos (IGMG-IH) e Índice de Ação Cultural (IGMC-AC), tiveram avaliação elevada, na escala de 0 a 1, se aproximaram de 1, o que parece não corresponder a realidade, sendo que os dados apresentados precisam ser aprofundados. 4 - Gestão do Colegiado O BAM é constituído por um conjunto de atores sociais em interação, que se relacionam a partir de interesses diferenciados, tendo em vista que se trata de representantes de segmentos sociais diversos, da esfera pública e da esfera privada. Neste espaço, compreender como se dá a correlação de forças entre os atores, é um elemento essencial, na medida em que as relações podem ser dimensionadas sob uma dinâmica desigual, em que as forças em movimento envolvem domínios de ordem política, econômica e social. O Colegiado constitui-se numa esfera de discussões em que as relações de poder estão presentes em busca de hegemonia e construção de consenso ou mesmo de ruptura, isto faz sentido porque a descentralização do poder do Estado é um dos traços marcante das políticas pública atuais, sendo relevante nessa orientação, o papel desempenhado pelos conselhos e pelos colegiados, pela representatividade dos vários segmentos sociais nos espaço deliberativos da gestão pública. O Colegiado se organiza para a gestão social do território em busca da superação de ações fragmentadas, ele se coloca para além da dinâmica restrita do Estado e do mercado. Neste espaço, a gestão das demandas e necessidades pode atender as diferentes esferas, sob um processo de cooperação que tem como perspectiva garantir formas e mecanismos de auto-organização, principalmente, em busca da construção de um espaço para mediatizar ações de interesses comuns, ou seja, em consonância com as necessidades da sociedade. Assim, a gestão social do território Baixo Amazonas não pode desconsiderar a necessidade de organização, planejamento e controle social; ignorar os interesses diferenciados existentes entre os diversos seguimentos sociais que compõem o Colegiado e aqueles que passam fora de sua esfera; não pode e ignorar as estratégias 52 que algumas dessa forças utilizam para inviabilizar a proposta de um plano de desenvolvimento territorial rural. De um lado, estão as forças políticas vinculadas ao Estado, representadas pelos grupos políticos e econômicos que comandam o destino do território. E, de outro lado, estão os seguimentos sociais no âmbito da organização do território, como espaço de decisão, no qual muitas vezes, as organizações populares não têm o mesmo peso para disputar propostas em nível de igualdade com os grupos políticos e econômicos que comandam os destinos do território. Então o que está posto neste cenário é a disputa pela ocupação do espaço, particularmente, quando se refere à apropriação dos recursos naturais, como: a exploração desordenada da madeira em tora, do minério, da pecuária, da produção de grãos, somados à expansão da malha hidroviária, a pavimentação da BR 163; mesmo o debate acerca da criação do Estado do Tapajós, é uma discussão que vêm sendo articulada de acordo com os interesses do poder político dominante. Trata-se de uma situação delicada para o território. Frente a este contexto não se percebe, por exemplo, uma postura mais contundente da sociedade, em relação às ações de desenvolvimento implantadas na região. Qual a posição do Colegiado como instância de representação das diferentes esferas de poder no território, em face às esferas municipal, estadual e federal e da sociedade civil organizada? O que se observa na atual conjuntura do funcionamento do Colegiado, é que os ânimos dos seguimentos que o compõem estão fragilizados, na medida em que não conseguem dinamizar sua própria participação, não demonstrando uma reação mais incisiva, participativa, e até mesmo polêmica frente ao quadro instalado na região, que pode ser explicada pela falta de um planejamento em relação a temáticas estrategicamente definidas para o território. Isto reflete a participação destes seguimentos no âmbito mais geral, tendo em vista que a região vive uma efervescência em termos da intensificação da implantação de grandes projetos, no entanto se vê pouca movimentação em torno disso da política de desenvolvimento territorial. Pode-se dizer que o setor mais envolvido e organizado em favor do atual modelo de desenvolvimento tem sido os partidos, o atual governo, os empresários, os industriais, os grandes fazendeiros e madeireiros. É válido ressaltar que esse debate está se dando além do Colegiado. Assim, a mais prejudicada é a população de menor poder aquisitivo, ou seja, as mulheres, os indígenas, os remanescentes de quilombo, os pescadores, enfim, a 53 população em geral. As consequências de ações isoladas, desarticuladas de decisões coletivas, acabam fragilizando o Colegiado, na gestão estratégica de um território em que são traçadas ações de ordem macro (para a soja e minério) que alcançam dimensões globais, embora os efeitos negativos sejam territorializados localmente. As decisões dos cidadãos se constituem em atos políticos, quer dizer, o resultado da ação dos atores sociais envolvidos ou não nesses processos decisórios que dizem respeito ao território, afeta todos, com maior prejuízo para as populações locais, na medida em que os grandes empresários vivem fora, enquanto seus atos concretos ultrapassam fronteiras e interferem exclusivamente no território. O Colegiado, grosso modo, é uma instância criada para “provocar” estratégias de desenvolvimento do território, no entanto, as decisões relativas aos grandes projetos passam longe desse espaço, em face de sua forma de estruturação, na medida em que não se constitui com uma representatividade territorial de fato e de direito. No entanto, é válido ressaltar que a pesquisa no Baixo Amazonas paraense contou com o apoio irrestrito dos movimentos sociais, da EMATER e do representante do CODETER, entretanto, não se conseguiu instituir o Comitê de Acompanhamento e Avaliação, visto que os representados do CODETER discordam da institucionalização do Comitê. Nas palavras de seu representante, “uma forma de demonstrar o descontentamento, com o descaso do MDA com a região”. Ele enumerou as seguintes dificuldades: a) a ausência de representante do MDA no Baixo Amazonas, com poder de decisão; b) falta de recursos para deslocamento dos componentes do CODETER; c) o problema da Caixa Econômica dificultar a liberação de créditos e que ao liberar não leva em consideração o planejado; e, d) a rotatividade entre os representantes das entidades no CODETER. Também chamam atenção à inexpressiva presença do poder executivo municipal, observado, sobretudo, a participação nas plenárias do CODETER, a exemplo do que ocorreu na elaboração do diagnóstico municipal. Uma possível explicação para a ausência/indiferença do poder executivo municipal pode ser a confluência de interesses políticos partidários, uma vez que nos municípios de Belterra, Jurutí e Santarém onde os Prefeitos são do Partido dos Trabalhadores (PT), foi possível contar com a participação dos seus representantes legais nas discussões. A ausência do poder executivo e de entidades mais alinhadas aos governos municipais pode representar um desconhecimento de instâncias como o Colegiado Territorial, ou boicote à atuação do mesmo, movido por razões partidárias. Contudo, a 54 proposta de um Plano de Desenvolvimento Territorial Rural, não é apenas para uma parte da sociedade rural do Baixo Amazonas, mas sim, para o desenvolvimento do território rural, na sua totalidade. A fragmentação na liberação dos recursos, pela CAIXA, dos projetos territoriais tem se constituído como fator de desestímulo e descrédito para as lideranças locais, bem como de desmobilização dos agricultores e do próprio Colegiado. Também, parece que falta visibilidade para o Colegiado. A gestão dos Colegiados é percebida por 42,86% dos entrevistados, enquanto 38,86% não conseguem perceber a atuação do Colegiado e 19,05% não sabe da atuação da atuação daquele. Assim a maioria dos entrevistados não reconhecem a representatividade do mesmo, o que pode ser identificado nas figuras abaixo. Gráfico 1 - Fonte: MDSSDT, 2011. A diferença de percentuais entre os que reconhecem a existência de assessor técnico no território (42.86%), os que não reconhecem (38,10%), com a diferença entre um e outro de 4,76%, pode demonstrar que existe falta de clareza na identificação do articulador territorial enquanto técnico no exercício de suas atribuições no colegiado. Essa compreensão é reforçada pelo percentual de 19,05%, que declararam que essa questão não se aplica. Todavia, no Território encontra-se sem assessor/articulador visto que o contrato do mesmo expirou em dia 30 de junho de 2011 e não foi renovado. No que diz respeito ao apoio recebido pelo colegiado na ausência do assessor técnico de um assessor técnico, se existe outro técnico que apoie o colegiado, as respostas que mais se destacaram foi não, ou não se aplica, o que pode indicar que a 55 desarticulação do colegiado e a pouca relevância dispensada a política de desenvolvimento territorial rural, como se observa no gráfico a seguir. Gráfico 2 Fonte: MDSSDT, 2011. As variáveis de mensuração para a capacidade de decisão dos membros do Colegiado, apontam, de acordo com a escala de 1 a 5, que as respostas dos conselheiros está em média entre (2,00 a 4,00) pontos percentuais. Nesse patamar, as temáticas que mais se sobressaíram foram as relacionadas aos representantes do governo estadual (3,25), agricultores familiares (3,75), movimentos sociais (4,00), associações e sindicatos e as organizações não governamentais (3,25). No entanto, os índices para a representação do governo federal é de (2,50), governo municipal (2,00), comunidades tradicionais (3,00), universidades (2,50) e entidades colegiadas (2,75), permanecem entre médio e baixo. No que diz respeito à comunicação no colegiado, os entrevistados informaram que a comunicação é realizada por meio da internet. Em algumas cidades, como Santarém há o programa NAVEGAPARÁ, do governo estadual, de internet gratuita, o qual é implantado nas orlas das cidades e em alguns distritos como Alter do Chão, mas que sempre apresenta problemas de acessos. Para 52,38% dos pesquisados a seleção e eleição dos membros do colegiado dar-se por meio de convite direto às organizações participantes, utilizando-se de correio eletrônico ou telefone. Sendo que (23,81) do total afirma ser convite pessoal. Apenas (9,52) afirmou que o processo ocorre através de convocatória aberta para a eleição de seus representantes, enquanto (4,76) disse que a questão não se aplicava à realidade, 56 além de (9,52) afirmar que existe outro recurso para esse processo, como se pode perceber no gráfico abaixo: Gráfico 3 - Fonte: MDSSDT, 2011. As informações presentes nos dados da pesquisa que tratam do número de reuniões realizadas pelo Colegiado desde a sua criação, demonstram que os conselheiros não sabem informar com precisão sobre o ano de sua constituição, nem o número de plenárias realizadas. Assim, com base nas informações do articulador, o CODETER já realizou mais de 20 reuniões, com a frequência de dois em dois meses. Fazendo o cruzamento dos dados da pesquisa com o número de frequências nas plenárias do CODETER, constatase que o percentual de (14,29%) esta relativamente de acordo com a lista de frequência de reuniões. Contudo, (23,81%) afirmaram que foram realizadas entre 11 e 20 plenárias, o que leva a conclusão de que os entrevistados não têm certeza em relação as suas respostas. É provável que os integrantes do Colegiado confundam o processo de transição da Comissão de Instalações das Ações Territoriais (CIAT) com a nomenclatura o CODETER, que ocorreu no início de 2008. De acordo com a lista de presença nas reuniões do CODETER, entre os anos de 2008 e 2010 o número de reuniões sofreu significativa redução, além da falta de regularidade e assiduidade dos conselheiros nas reuniões. Observou-se que embora cada instituição tenha seus representantes legais, não são sempre os mesmos ou os seus suplentes que participam das reuniões. Esse fato tem dificultado a seqüência dos trabalhos e as tomadas de decisões. Porém, convém considerar as distâncias entre os 57 municípios e os custos do deslocamento, onde a “troca” de representação pode se explicar como estratégia para enfrentamento dessas dificuldades. Gráfico 4 - Fonte: MDSSDT, 2011. Pela figura abaixo se pode perceber que entrevistados não saberem quantas reuniões foram realizadas pelo colegiado. Gráfico 5 Fonte: MDSSDT, 2011. É preocupante a participação das entidades no CODETER. Observa-se no ano de 2008 uma expressiva participação de entidades, chegando a 120 organizações, as quais deveriam compor o Colegiado, entretanto, esses números caíram para aproximadamente (23%) do total de entidades participantes. E, ainda, deve ser observado que nem sempre é a mesma pessoa (titular ou suplente) que as representa. 58 A participação nas plenárias no ano de 2008, tomando como exemplo o município de Almeirim, contou com número considerável de entidades, contudo deve ser observando a plenária realizou-se na sede daquele município, na Câmera de Vereadores, ou seja, com o apoio do poder público municipal, situação que não se repetiu nos anos posteriores. Observa-se situação semelhante que reforça a diferença significativa do apoio municipal, no município de Santarém, que sedia a maioria das reuniões do Colegiado, Belterra e Jurutí, onde o apoio do poder municipal é mais expressivo. Gráfico 6- Fonte: MDSSDT, 2011. Um dos assuntos mais comentados no Território é o desenvolvimento agropecuário, seguido da saúde e do meio ambiente. Estes temas podem estar relacionados aos problemas enfrentados pelos movimentos visto que dizem respeito ao agronegócio, ao desmatamento da região, a expulsão dos homens do campo e ao inchaço das cidades nos municípios onde esses empreendimentos estão instalados. Gráfico 7 - Fonte: MDSSDT, 2011. 59 É importante destacar que no mesmo período da pesquisa para o diagnóstico, o IPAM, estava realizando o levantamento dados para a elaboração do PDTRS. Assim, em alguns momentos foi possível realizar atividades conjuntas nos municípios de Monte Alegre, Curuá, Òbidos e Oriximiná. O gráfico Q3_P21 (76,19%) confirma que houve participação nas oficinas de discussão para a elaboração do Plano. No entanto, (61,90%) disseram participar na concepção e na elaboração, enquanto (28,57%) disseram ter participado somente da revisão. Ressalta-se que em uma das últimas plenárias houve a decisão de constituir uma comissão formada por representantes de todas as esferas (STTRs, FETAGRI, EMBRAPA, EMATER, SAGRI, CEFT-BAM). Nesse processo, os STTRs e as instâncias do poder público nos municípios, tiveram expressiva participação, a exemplo das Secretarias de Agricultura e Meio Ambiente. E pelo fato das oficinas acontecerem nos municípios outras organizações locais puderam participar. Gráfico 8- Fonte: MDSSDT, 2011. A visão de futuro foi construída ou, pelo menos discutidas ou indicada, quando do diagnóstico dos municípios para o PDTRS. Gráfico 9- 60 Fonte: MDSSDT, 2011. A elaboração da visão de futuro foi construída nas reuniões realizadas nos municípios, com destaque para as plenárias municipais com objetivo de discutir o PDTRS, quando foram apresentados os dados da realidade social, econômica e cultural dos municípios, com base no IBGE, sendo os mesmos discutidos pelos presentes e, projetado a visão de futuro. Portanto, como mostra no gráfico (61,90%) dos conselheiros participaram dessa discussão. Gráfico 10- Fonte: MDSSDT, 2011. De acordo com (33,33%) dos conselheiros que participaram da concepção e elaboração do plano, estes estiveram presentes nas oficinas realizadas nos municípios, com um percentual de (28,57%) dos conselheiros que participaram efetivamente da atividade. 61 Gráfico 11 - Fonte: MDSSDT, 2011. Segundo a percepção dos entrevistados, (66,67%) das decisões acontecem por meio de votação da maioria absoluta, em quanto para (38,10%), as decisões são tomadas por acordos e consensos. Neste sentido, pode-se dizer que as duas formas são adotadas, embora haja predominância da votação. Gráfico 12 - Fonte: MDSSDT, 2011. Gráfico 13 - 62 Fonte: MDSSDT, 2011. O Colegiado tem como objetivo encaminhar ações, projetos e proposições para o desenvolvimento territorial sustentável, portanto, a participação das entidadesmembros é essencial, no entanto, a rotatividade dos representantes das instituições interfere, de forma significativa, prejudicando o desempenho, na medida em que os representantes nem sempre estão esclarecidos das questões que estão na pauta e, muitas vezes, não tem condições de contribuir suficientemente os debates e desta forma intervir em acordo com a pauta em discussão. Portanto, quanto menor for sua participação destes nas reuniões, menor será seu entendimento acerca das temáticas discutidas nas plenárias. No gráfico sobre a questão do Colegiado, isto é, de sua representação referente aos interesses do território, pode-se dizer que a inviabilidade dos projetos (com recursos da SDT/MDA), no território, prejudica a ação deste, tendo em vista que o atraso no repasse de recurso e a morosidade burocrática para resolver os problemas decorrentes geram desgastes. O que leva ao patamar de descrédito em relação as ações do governo em face da inoperância dos órgãos públicos. Ou seja, a falta de resolução dos problemas não está diretamente relacionada à capacidade de operacionalização do Colegiado, mas nas ineficiências das instâncias do governo (SAGRI, CAIXA ECONOMIA, MDA), os quais têm poder de decisão, na medida em que são responsáveis pela operacionalização das questões burocráticas, e com isso acabam inviabilizando a execução dos projetos. Essa situação torna-se preocupante, pois ocorre desde 2004. O Relatório de Execução dos Territórios de Cidadania, de janeiro de 2010, e o de janeiro de 2011, 63 mostram que o orçamento previsto para o território, com um montante na ordem de R$ 639.621.183,50 milhões de reais, os quais deveriam ser investidos em projetos para a melhoria de qualidade de vida da população local não foi totalmente investido. Do total, foi investido R$ 420.244.311,26 milhões de reais, para 131 ações no território, de 143 previstas. As duas parcelas previstas para cada ano equivalem a R$ 219.376.872,24 milhões de reais que não foram utilizados. Os representantes do Colegiado mostram, com esses dados, a não eficiências dos órgãos responsáveis na execução das ações planejadas, a exemplo, do que também ocorrera nos anos anteriores. Com relação às ações desenvolvidas pelo Colegiado para gestão dos projetos de desenvolvimento territorial, os mesmos afirmam que: Priorizam e selecionam com base em critérios; Análise de viabilidade técnica, com a constituição de uma comissão para analisar os projetos; Avaliação interna de mérito, após análise das propostas. As ações do Colegiado para a gestão de desenvolvimento territorial são realizadas por meio de articulação com o poder público, nas três esferas do governo e com a sociedade civil, também são realizados levantamento de demandas para serem desenvolvidas no território, tendo em vista atender as áreas consideradas prioritárias, bem como garantir o controle social, na gestão territorial. Gráfico 14 - Fonte: MDSSDT, 2011. De acordo com as informações obtidas junto ao articulador, a única temática que culminou na capacitação dos membros do Colegiado foi na elaboração de projetos, no ano de 2009, o que corrobora com os dados mais significativos, quando somado os percentuais de 52,10%; 38,10%; 33,33%, observa-se que estes estão relacionados com a 64 questão do planejamento e elaboração de planos de desenvolvimento, além da capacitação para a elaboração de projetos. 5. Avaliação de Projetos A ação do governo via SDT teve grande importância na perspectiva de canalizar recursos para o desenvolvimento dos territórios, contudo a ineficiência quanto à operacionalização e a execução dos projetos, atribuídas a uma falta de funcionalidade por do acompanhamento da execução dos processo de implantação dos projetos tem levado ao descrédito do governo e de suas instâncias operacionais. Diante desse contexto, é difícil visualizar os resultados das ações que possam promover o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida do público beneficiário. O levantamento realizado pela Célula do Baixo Amazonas junto ao articulador territorial, a lideranças do movimento social, a representantes de instituições de ensino e órgãos estaduais, mostra que os projetos voltados ao território, de acordo com o contrato de nº 170.463-75 SAGRI/MDA/CAIXA/2004, sob a execução da SAGRI, estavam direcionados aos municípios de Belterra, Juruti, Óbidos, Oriximiná e Santarém. Desse modo, no ano de 2004, foram solicitados para o território, um total de 8 projetos que previam: 1) Unidade de beneficiamento de fibra de Curuá, em Juruti, sob a responsabilidade do STTR, orçado no valor de R$70.400,00 – projeto que no momento encontrase com processo licitatório paralisado na Caixa Econômica Federal; 2) Construção de 01 galpão de 1.250m² para comercialização de produtos da agricultura familiar, em Santarém, orçado no valor de R$143.000,00, atendendo solicitação da APRUSAN (Associação de Produtores Rurais de Santarém) – projeto que teve seu pedido cancelado pela SDT; 3) Aquisição de 03 kits eletrônicos para análise de água, em Santarém, atendendo solicitação da ULBRA (Universidade Luterana do Brasil), no valor de R$39.600,00. Esta meta teve solicitação atendida e entregue à SAGRI, à EMATER e à CEPLAC, em dezembro de 2006. Porém, segundo informação do articulador territorial, não está funcionando. 4) Aquisição de 01 espectofotômetro para o laboratório de análise de solo da ULBRA, no valor de R$71.500,00, para Santarém. Esta meta teve solicitação 65 atendida e foi entregue a ULBRA, em agosto de 2008. Esse projeto tem uma ação complementar que é o conjunto de vidrarias para análise de água. Ação a seguir: 5) Aquisição de 1 conjunto de vidraria para análise de água, para a ULBRA, como complemento do espectofotômetro de análise água, também para Santarém, no valor de R$ 12.143,45. Esta solicitação foi atendida 2009, porém, por falta de outros materiais não está funcionando. 6) Construção de mini-usina e grupos geradores para processamento de óleos de andiroba e copaíba, para o município de Belterra, no valor de R$ 49.767,30, atendendo uma solicitação do STTR. Tal solicitação foi atendida e entregue, em 2006. Faltando a prefeitura definir o local de funcionamento, que segundo informação da Secretária de Agricultura, a situação desse projeto é muito complexa, existe falta de entendimento entre as comunidades beneficiárias, ou seja, Pedreira, São Domingos e Maguari. Essa foi a situação alegada pela Secretária, por isso os equipamentos não foram entregues. Ainda segundo técnico da Secretaria há outro projeto para a aquisição de um barco, para escoamento da produção, mas que também não está sendo utilizado, por que falta legalizar a documentação que discorre sobre sua utilização. 7) Construção de 2 Casas Familiares Rurais, para os municípios de Juruti e Oriximiná, no valor de R$187.000,00. Esta meta teve sua solicitação atendida em parte, por que o recurso não foi repassado integralmente. Não sendo, portanto, suficiente para concluir a construção das Casas, pois a SAGRI não fez repasse do restante da verba. E as construções encontram-se paralisadas; 8) Ampliação e revitalização da Estação de Piscicultura de Santa Rosa, em Santarém, para aquisição de equipamentos e criação de alevinos no valor de R$ 150.700,00. A solicitação foi atendida em parte, em 2010, pois a SAGRI não fez o repasse do restante da verba. Neste caso, ocorreu um fato peculiar, ou seja, após ter chegado ao local do projeto o funcionário que conduziu as pesquisadoras determinou ao caseiro que trabalha há 9 anos na Base, que as acompanhasse enquanto ficava dando uma olhada no questionário (em branco), aplicado dias antes a outra pessoa que havia sido funcionário no governo anterior, que informou que os tanques redes não foram instalados. Ao retornar dos tanques redes, uma das pesquisadoras dirigiu-se ao funcionário e perguntou-lhe acerca do projeto, se a solicitação havia sido atendida 66 integralmente. O mesmo respondera que não, porque a SAGRI não havia repassado o restante do recurso. Em seguida, questionou-se sobre o valor da parcela restante, sua resposta saiu no seguinte tom: “Não posso e nem devo dar essas informações...Isso, é lá com os de cima...’’ Naquele momento criou-se um clima de constrangimento no local, não sendo possível obter maiores informações sobre o funcionamento do projeto. O se soube pelo caseiro é que foram construídos 12 tanques redes. Então, foram tiradas algumas fotos apenas. E a viagem de volta ocorreu num clima de silêncio entre as partes. 9) Outros: Foram também beneficiados com tanques redes os municípios de Juruti, Óbidos e Oriximiná, porém não foi possível obter informações mais precisas acerca dos projetos, pois o tempo não permitiu conferir a situação dos mesmos, bem como, dos demais projetos, como é o caso do projeto para aquisição de equipamentos para ração de peixes, no município de Óbidos, sob a responsabilidade das mulheres pescadoras daquele município. A conclusão é que nenhum dos projetos acima mencionados está funcionando efetivamente. 6. Análise do ICV Os dados do Sistema de Gestão Estratégica foram obtidos a partir de 290 entrevistados, com objetivo de identificar a percepção de pescadores, ribeirinhos, quilombolas e agricultores familiares sobre suas condições de vida, nos municípios de Almerim, Curuá, Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre, Santarém e Terra Santa. Se junta às análises dos dados do ICV, dados do relatório de campo e das observações participantes. O Índice de Condições de Vida (ICV) é de 0,537 “médio”. Os Fatores de Desenvolvimento (0,502) e as Características do Desenvolvimento (0,497) são considerados Médio. Enquanto que o indicador Efeitos do Desenvolvimento (0,627) é considerado Médio Alto. Pela percepção das populações pesquisadas estes indicadores estão em equilíbrio. Quadro 15 67 Fonte: MDSSDT, 2011. Dos 290 entrevistados, 245 possuem domicílio produtivo (84,48%) e 45 pertencem à categoria de domicílio sem produção (15,52%). Entre os domicílios produtivos, 215 são agricultores familiares (87,76%), o que ressalta a importância da agricultura familiar no BAM. Historicamente a agricultura esteve vinculada à produção à economia de subsistência, praticada essencialmente pelas populações da Amazônia. O trabalho se constituía de várias atividades de extrativistas além da pequena roça, da pesca e da coleta de pequenos animais, além de diferentes espécie de vegetais nativos e planta medicinais, o que pode ser percebido. 6.1 - Fatores do Desenvolvimento O item fatores do desenvolvimento foi classificado como Médio (0,40 – 0,60) conforme os seguintes subitens: número de famílias trabalhando (0,539); mão de obra familiar (0,511); escolaridade (0,577), acesso ao mercado (0,490) e presença de instituições (0,497); enquanto que os subitens área utilizada para produção (0,608) e condições de moradia (0,620) receberam classificação Média Alta (0,60 – 0,80). O trabalho na agricultura: número de família trabalhando e mão de obra Como já comentado acima, a agricultura familiar no Baixo Amazonas consiste em muitas atividades, tais como roças, pesca e coleta e criação de pequenos animais (porcos, galinhas, patos) sendo que algumas famílias também criam gado a solta, principalmente as que habitam nas várzeas. Uma parte do que é produzido e coletado é utilizada para o sustento da família a outra parte é comercializada com os 68 atravessadores ou marreteiros. Observou-se que os quintais não possuem muitas plantações, geralmente mangueiras e cajueiros, também o cultivo de hortas foi mais visível nas várzeas. Essas produções estão diretamente inseridas na dieta alimentar daqueles povos. Na agricultura, a base da produção é a farinha de mandioca, é comum encontrarmos formos de fazer farinha nas casas dos comunitários. Quadro 16 Fonte: SDT, 2012. O número de famílias trabalhando está satisfatório com uma escala que se estende de ótimo a regular, chama atenção que 31,4% consideram bom e 41,6% consideram regular, sendo que apenas 4,9% atribuíram ótimo à sua avaliação. Neste sentido, a avaliação negativa, isto é, classificada entre ruim e péssimo, recebeu 22,1%; A mão de obra familiar também foi considerada em nível satisfatório que se concentra entre bom (25,7%) e regular (49,0%), sendo inexpressivo, o percentual dos que consideram ótimo (2,4%). Em termos da avaliação negativa (22,9%), distribuídos entre regular e péssimo; É sabido que a agricultura familiar possui formas peculiares de organização das atividades produtivas, muitas vezes lançam mão do mutirão, que denominam de puxirum, para o qual são convidados os amigos. A família que promove o puxirum prepara as refeições e as bebidas para serem servidas antes de iniciar os trabalhos, tendo em vista que a equipe só pode parar de trabalhar quando a tarefa estiver concluída. Durante a realização das tarefas as mulheres servem uma espécie de bebida fermentada, preparada especificamente para a ocasião. Ressalta-se que geralmente os puxiruns são usados nos trabalhos de derrubada para roças, abertura de estradas, etc. Mas chama atenção que as práticas associativas e solidárias fazem parte diretamente das estratégias de sobrevivência das populações que vivem no campo, no Baixo Amazonas paraense. O trabalho envolve todos os membros da família desde muito sedo, o que significa dizer que as crianças também fazem parte do processo produtivo, ou seja, 69 realizam pequenos trabalhos, talvez isso explique a satisfação declarada pelos entrevistados quanto ao número de famílias e a mão de obra que fazem parte das atividades produtivas. Escolaridade Sobre a escolaridade observa-se que as populações do Baixo Amazonas consideram positiva, na medida em que 208 entrevistados (83,3%) declararam-se satisfeitos com a escolaridade dos membros da família, em uma escala de ótimo, bom e regular, enquanto que (16,7%) dos entrevistados avaliaram como regular ou péssima. De fato, os indicadores de educação têm crescido no Estado do Pará, embora ainda estejam baixo, particularmente, quando observada a interiorização do ensino médio e do ensino superior. Para além do número de escolas e alunos matriculados, tem-se o agravante das condições de infraestrutura da maioria das escolas do campo, do acesso de alunos e professores dada as condições do transporte na região associada às questões climáticas, chuvas, enchentes dos rios e seca, tornado possível inferir que o elevado nível de satisfação com a escolaridade pode indicar a credibilidade que depositam na escola, compreendida como meio de ascensão social. Assim, os entrevistados ao percebem que já existe escola para os filhos, o que antes não existia, não questionam as condições das mesmas. Nesse sentido, na avaliação realizada nas plenárias do CODETER a educação mereceu muitas críticas. O cenário apresentado era de escolas com infraestrutura precária, sem bibliotecas, com falta de merenda, e péssimas condições de trabalho para professores e alunos. Mesmo nas escolas recém construídas essa realidade se repete. Eles destacaram as dificuldades o acesso às escolas, em estradas de barro onde as distâncias são percorridas, na maioria das vezes, por moto, bicicletas, a pés e/ou rabetas5. Enfatizaram que essas condições se agravam nos dias de chuva e na enchente ou seca do rio. Também se reportaram ao sistema modular de ensino6, informaram que faltam professores e que as aulas são ministradas de forma concentrada o que empobrece o aprendizado. Informaram ainda, que muitos jovens largam a escola antes mesmo de concluir o Ensino Fundamental. 5 Pequenas canoas com motor, que são utilizados pelas famílias para o transporte familiar e de mercadorias. 6 È um projeto de levar o ensino médio através de módulos para interior do Pará. 70 Condições de moradia Este subitem foi o que recebeu maior pontuação, sendo possível inferir que os entrevistados estão satisfeitos com as condições de moradia que possuem. A classificação ótimo, bom e regular, obteve respectivamente 4,5%, 52,4% e 35,5%, totalizando 91,8% dos entrevistados. Apenas, 21 entrevistados, se declararam insatisfeitos, o que corresponde a 8,6%. Chama atenção o percentual de satisfação com as condições de moradia, pois as casas na maioria, não possuem nenhum dos itens apresentados no questionário de pesquisa: energia elétrica, água potável e dentro de casa, banheiro dentro de casa, geladeira, fogão a gás, telefone e computador, coisas que se analisam como essenciais, de forma que essa resposta instiga a buscar conhecer que critérios de necessidades desses sujeitos que sustentam tão alto nível de satisfação. De modo geral as casas são de madeira e cobertas com telhas de amianto, com as paredes de tábuas, também é comum se encontrar casas com coberturas e paredes de palhas de palmeiras. As residências um marcadores das diferenças de posse, assim encontra-se casas maiores, bem arrumadas e outras bem simples, muitas fezes com um ou dois cômodos. Registra-se também, a distinções arquitetônicas entre as casas construídas em terra firme e em várzeas. Na várzea as casas são bem altas, uma forma de resistir às enchentes do rio. Foto 22. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense. Foto 23. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense. 71 Foto 24. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense. Foto 25. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense. Acesso ao Mercado, programa de governo, crédito e assistência técnica Os entrevistados declararam que o acesso ao mercado é satisfatório, o que é traduzido na seguinte classificação: Ótimo (1,6%), Bom (33,5%) e Regular (29,8%), o que corresponde a 159 entrevistados (64,9%). Por outro lado, o percentual de insatisfação não pode ser ignorado: ruim para 29,4% dos entrevistados e péssimo para 5,7%, num total de 86 entrevistados. Muitos entrevistados ao externarem suas opiniões sobre o mercado, para venderem os seus produtos, relataram seu descontentamento com os atravessadores ou marreteiros, mas concluíam que era melhor vender a eles pelo preço que quisessem pagar do que levar para vender na cidade em função do transporte, distância, custos, falta de armazenagem, entre outros fatores. Então, ao que parece, não existe satisfação com o mercado e sim, conformismo com uma situação que não depende exclusivamente dele para ser resolvida. Trata-se, antes de tudo, da ausência do Estado, visto que as políticas agrícolas e sociais não foram capazes de resolver problemas como transporte, armazenamento. No entanto, os entrevistados (representantes do poder municipal) declaram que não existe política de comercialização. Presença das instituições. 69% dos entrevistados declaram-se satisfeitos com a atuação das organizações sociais: para 8 entrevistados (3,3%) está ótimo; para 87 (35,5%) está Bom e para 74 (30,2%) está Regular. Para 75 entrevistados (31%), a atuação não é satisfatória: para 46 (18,8%) está Ruim, e para 30 entrevistados (12,2%) está péssimo. Ressalta-se que neste território é muito forte a presença das organizações sociais, sindicatos de trabalhadores rurais, associações, igrejas e cooperativas, ficando a 72 impressão de que essas organizações fazem parte das estratégias de enfrentamento das dificuldades existentes na região. Receberam avaliação negativa os seguintes subitens: Programas de Governo (0,339), Acesso ao Crédito (0,364) e Acesso a Assistência Técnica (0,364). Classificados como Médio Baixo (0,20 – 0,40); Programa de governo e acesso ao crédito. No que diz respeito ao item, registra-se que os entrevistados enfrentam algumas dificuldades: primeiro, titulo terra. Eles possuem a terra há muitas gerações contudo, não possuem título de posse, essa é uma questão que o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), vem tentando resolver por meio dos assentamentos; segundo, a falta de documentos pessoais (carteira de identidade, CPF); Segundo, questionam e criticam as dificuldades de acesso ao crédito. Informam que existe muita promessa principalmente quando se aproxima as eleições municipais. Ocorre que o PRONAF, mesmo quando toda a documentação está correta incluindo o projeto não é aprovado pelo banco. Essa realidade também, é frequentemente criticada pelas lideranças dos sindicatos dos trabalhadores rurais e dos outros movimentos sociais, os quais declaram que, mesmo seguindo as orientações dos manuais dos bancos, o crédito em muitas ocasiões não é aprovado ou é aprovado parcialmente e, nem sempre sua liberação coincide com o tempo hábil para plantar e colher. Contudo, nesse indicador (programa de governo) chama atenção a diferença entre a avaliação negativa (59,1%) em relação à avaliação positiva (40,8%). Os entrevistados mostram insatisfação com o acesso aos programas de governo, sendo que para 74 entrevistados (32,9%) as condições para conseguir participar dos programas de governo são ruins e para 54 (26,2%) as condições são péssimas; Quanto ao acesso ao crédito, para 125 entrevistados (56,7%) o acesso ao crédito para a produção é ruim ou péssimo enquanto que, para 106 entrevistados (43,3%) é difícil acessar o crédito, contudo para (29%) declararam ser regular o acesso; Acesso à assistência técnica. Este item apresenta pequena diferença entre satisfação com a assistência técnica expressa por (48,9%) dos entrevistados e a insatisfação (51%); Essas variáveis são centrais à política de desenvolvimento territorial rural, pois se o agricultor familiar não consegue acessar crédito e assistência técnica torna-se impossível viabilizar a produção rural. A assistência técnica é insuficiente, tanto em número de técnicos como também em termos equipamentos considerados precários e 73 insuficientes, para atender um território de tamanha dimensão e com tantas dificuldades de acessos. No território do Baixo Amazonas paraense a assistência técnica é oferecida pelas prefeituras (técnicos das secretarias municipais de agricultura) e pela EMATER. 6.2 - Características do Desenvolvimento O indicador Características do Desenvolvimento (0,497) é composto pelas seguintes variáveis e índices: renda familiar (0,508); produtividade no trabalho (0,511); produtividade da terra (0,566); conservação das fontes de água (0,596); conservação da área de produção: solo (0,589); preservação da vegetação nativa (0,570), os quais foram avaliadas como Médio e diversificação da produção agrícola (0,348) e diversificação nas fontes de renda familiar (0,285), foram avaliadas como Médio Baixo. Quadro 17 Fonte: MDSSDT, 2011. a) Renda familiar: 199 entrevistados classificaram a renda familiar como satisfatória (81,2%), e 46 entrevistados (18,8%) declaram-se insatisfeitos, sendo ruim (13,1%) e péssimo (5,7%); Produtividade do trabalho: consideram-se satisfeitos (79,8%) dos entrevistados; Produtividade da terra. Declararam-se satisfeitos com a produtividade da terra (88,5%); Frente a esses dados, é importante considerar que a agricultura é a identidade do território, contudo os entrevistados informaram que produzem mais para a subsistência pois as bolsas e a aposentadoria rural fornece uma boa ajuda, o que também é percebido e comentado pelos sindicatos. b) Diversidade das fontes de água. Este subitem recebeu avaliação positiva por parte de (75,5%) dos entrevistados; Conservação da área de produção: Solo. Os entrevistados na sua grande maioria (85%) considera o uso do solo positivo, ou seja entende que estão preservando as cabeceiras dos rios, que mantém a cobertura verde; Preservação da vegetação nativa, também avaliado positivamente por (83,6%) que considera a vegetação nativa preservada. Percebeu-se que existe 74 preocupação/cuidado com a preservação ambiental, particularmente com o controle das queimadas e de roçagem das cabeceiras dos rios e respeito ao defeso. c) Diversificação da produção agrícola. Este foi avaliado como positivo por (37,6%) enquanto que a avaliação negativa prevaleceu com o percentual de (62,4%); Diversificação das fontes de renda familiar. Apenas (24,5%) declararam-se satisfeitos com a diversificação da renda familiar, enquanto que (54,7%) acha ruim e (20,8%) péssimo, perfazendo um total de 75,5% dos entrevistados. Os dados apresentados indicam que a produção não é muito diversificada, sendo prioritariamente farinha de mandioca, por exemplo, os sete municípios pesquisados produziram 625.820 de mandioca, (Manihot esculenta crantz), milho 149.956; melancia 11.549t; questiona-se: não seria importante diversificar a produção pelo menos para atender a sustentabilidade alimentar das famílias? 6.3 - Efeitos do Desenvolvimento Quadro 18 Fonte: MDSSDT, 2011. O indicador Efeitos do Desenvolvimento (0,627) é analisado com base na totalidade dos 290 entrevistados, por meio das seguintes variáveis: situação ambiental (0,530); participação em organizações comunitárias (0,600); participação política (0,553); participação em atividades culturais (0,589), condições de alimentação e nutrição (0,650); condições de saúde (0,616); situação econômica (0,632) e permanência dos familiares no domicilio (0,839). a) Condições de alimentação e nutrição. Esse item recebeu a seguinte avaliação: ótimo para 18 entrevistados (6,2%); bom para 159 (54,8%), regular para 99 (34,1%), num total de aprovação de 95,1%; as avaliações negativas foram: ruim para 13 entrevistado (4,5%) e péssimo para 1 (0,3%); A dieta alimentar das populações do 75 Baixo Amazonas é constituída por farinha de mandioca, peixe, carne (muitas vezes de caças), frutas e algumas verduras. b) Condições de Saúde. Ótimo para 19 entrevistados (6,6%); bom para 139 entrevistados (47,9%) e regular para 97 entrevistados (33,4%), perfazendo, 87,9% de respondentes que se declaram satisfeitos com as condições de saúde. As respostas que indicam insatisfação foram: ruim para 27 entrevistados (9,3%) e péssimo para 8 entrevistados (2,8%), totalizando (12,1%); c) Permanência dos familiares no domicilio. A avaliação ficou assim distribuída: 189 entrevistados (65,2%) avaliaram como ótimo, 53 entrevistados (18,3%), avaliaram como bom, e 24 (8,3%) como regular, num total de (91,8%) dos respondentes, declaram-se plenamente satisfeitos com a permanência dos familiares no domicílio, em contraposição de 10 entrevistados (3,4%) que avaliam como ruim e 14 (4,8) que avaliam como péssimo, totalizando (8,2%) dos entrevistados; d) Situação econômica. A avaliação dos respondentes ficou assim distribuída: ótimo 8 entrevistados (2,8%), bom 164 (60,0%), regular 73 (25,2%), totalizando (88%) dos entrevistados que encontram-se satisfeitos com a situação econômica da família, em contraposição a 33 entrevistados (11,4%) que avaliaram como ruim e 2 entrevistados que avaliaram como péssimo, totalizando (12,1%) de insatisfeitos; e) Situação ambiental: Para 8 entrevistados (2,8%) foi atribuído o conceito ótimo; 69 (23,8%) bom e 167 (57,6%) regular, perfazendo (84,2%) dos entrevistados, enquanto que a avaliação negativa foi: ruim para 42 entrevistados (14,5%) e péssimo para 4 entrevistados (1,4%), o que totalizou (15,9%); f) Participação em organização comunitária: avaliação ótima para 22 entrevistados (7,6%); bom para 141 entrevistados (48,6%) e regular para 75 (25,9%) totalizando (82,1%) com avaliação positiva. A avaliação negativa foi ruim para 35 entrevistados (12,1%) e péssimo para 17 entrevistados (5,9%); g) Participação política. Neste subitem as avaliações ficaram assim distribuídas: ótimo para 17 entrevistados (5,9%), bom para 131 entrevistados (45,2%) e regular para 71 entrevistados (24,5%), com avaliação positiva de 75,6%. A avaliação negativa foi de (24,4%), sendo que 39 entrevistados (14,4%) avaliaram como ruim e 32 (11%), como péssimo; h) Participação em atividades culturais. Avaliação positiva (76,6%), distribuído da seguinte forma: ótimo (12,4%) bom (49%) e regular (15,2%). Avaliação negativa: 76 ruim (8,6%) e péssimo (14,8%), perfazendo (23,4%) de análise negativa quanto a participação em atividades culturais. 6.4 – Considerações acerca do ICV O propósito do IVC era conhecer a opinião do entrevistado, contudo algumas vezes parece que a resposta ao quesito da entrevista não estava em consonância com as opiniões que expressavam nas conversas. No diálogo com os entrevistados, lideranças sindicais, representantes de organizações sociais, representantes do poder público municipal e entrevistados das comunidades (questionário ICV), algumas questões chamaram particular atenção. Primeiro, as afirmações: “não quero que o meu filho seja agricultor”; “meu filho não vai ficar aqui, professora”; “vou mandar os meus filhos para estudar e trabalhar em Manaus” (às vezes, Santarém, nunca Belém). Nestas afirmações fica clara a preocupação em oferecer um futuro melhor para os filhos, pois declaram que trabalham muito e nunca têm dinheiro com o que fazem. Mas, ao mesmo tempo afirmam estar satisfeito com a moradia, a produção, etc. Essa declaração apareceu espontaneamente no decorrer da aplicação dos questionários e instigou a equipe em querer saber se todos os entrevistados comungavam da mesma opinião. Assim, quando essa questão não aparecia espontaneamente durante as entrevistas passou-se a achar uma forma de lançá-la, e a resposta era sempre no sentido de saída dos filhos, sendo que na explicação deste desejo/orientação, referiam-se às dificuldades enfrentadas: trabalho “pesado” e com pouco “resultado”. Que questões, essas afirmações sugerem? O que é falado e o que é silenciado pelos entrevistados? Por um lado, a agricultura familiar e o meio ambiente são apontados como a identidade do território, os entrevistados se declaram satisfeitos com as condições de moradia, com a renda familiar, com área de produção, com a mão-de-obra familiar. Por outro lado, não querem que os filhos permaneçam naquele trabalho, acham a atividade penosa e de poucos resultados. Isso não é contraditório. Essas afirmações fazem sentido e corroboram para a compreensão daquela realidade, pois no momento que se ultrapassar a visão romântica da floresta exuberante, de pulmão do planeta, do maior rio do mundo e se encarar o diaa-dia do trabalho na roça ou na pesca, a falta de mercado, energia elétrica, transporte e assistência médica, será possível perceber que no território do Baixo Amazonas, como 77 em toda Amazônia, o viver guarda suas particularidade e instabilidades – nada ali é perene. O ritmo do trabalho e a própria rotina do dia-a-dia obedecem aos ciclos da natureza, o curso das águas. As atividades rurais tornam-se mais dificultosas por serem desenvolvidas por meio de tecnologias simples tendo como lócus os rios, a floresta, as várzeas, sem contar que a presença do Estado por meio dos serviços público é insuficiente. Como foi demonstrado que a identidade é relacional e simbólica. Que lugar a agricultura familiar ocupa e ocupou na história do Brasil e da Amazônia? Que contradições e conflitos estão presentes naquela realidade? Trata-se de um território com muitas riquezas naturais (madeiras, peixes, frutos, minérios), mas “a gente nunca tem dinheiro”, “a gente vive pela metade”. As populações das comunidades distantes dos centros urbanos expressam esse sentimento por meio das falas intercaladas por silêncios, por expressões como “é assim mesmo, isso não muda”, “tem muita promessa”. O fazer do cotidiano está atado à agricultura e ao meio ambiente. Pescam, desenvolvem atividades coletoras, fazem roças, regulam suas vidas pelos ciclos da chuva e pela enchente ou seca dos rios. Mas, não é só isso. Ficou claro que esses sujeitos também sonham com outras condições de vida e acesso aos bens que a sociedade moderna produz e que, talvez, a cidade, no imaginário, se apresente para eles como o local privilegiado para realização daqueles desejos. Desejo esse que lhes chegas como miragem, pelas telas da TV ou pelas grifes falsificadas que tem acesso nos mercados de Santarém, Parintins ou Manaus. É muito comum se ouvir na região “fulano tá na roça...”, “se tu não estudares, tu vais para roça”, “isso é roça”, para expressar as dificuldades. Então, a roça é associada a lugar de penúria, de castigo, algo que não é desejável, que não é bom. Segundo, tomou-se conhecimento de que muitos agricultores familiares estão endividados pelo FNO; que têm dificuldades em acessar o crédito do PRONAF e que tem diminuído o tamanho das roças, que desacreditam nas políticas públicas. Que lugar histórico tiveram até então os Planos e Projetos de Desenvolvimento para a Amazônia? A política de desenvolvimento territorial rural procura criar outro marco, quem sabe mudar o curso daquela história, que associava desenvolvimentoemprego-bem-estar-urbanização. A proposta de desenvolvimento rural que prevê a participação das institucionalidades locais, interlocução entre as políticas públicas e sociais, mobilização política das organizações sociais, escolaridade, por meio de canais 78 de comunicação e/ou reivindicações capazes de influenciar as tomadas de decisões no território, precisa ser posta realmente em prática e, para isso deve acessar os poderes públicos municipais, por limites na expansão/exploração do capitalismo e formular um projeto de monitoramento. As aparentes contradições nas respostas precisam ser investigadas, mas elas podem indicar pontos de fragilização da política de desenvolvimento territorial. 7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto A relação entre os indicadores identidade, capacidades institucionais, gestão do Colegiado e resultados dos projetos associado ao índice de Desenvolvimento Sustentável no Território do Baixo Amazonas Paraense ( preocupante. de 0,346), apresenta-se Pode-se dizer que corresponde à própria constituição material deste Território, quando as contradições sociais parecem estar acirradas e os indicadores, de um modo geral, refletem em termos da repercussão nas condições de vida da população locais, com maior efeito para as populações rurais, como é possível perceber nos quadros abaixo (19 e 20). QUADRO 19 FONTE: SDT, 2011. Quadro 20 79 Fonte: MDSSDT, 2011. Hoje a cidadania (acesso as políticas sociais, educação, trabalho, saúde, habitação, saneamento etc.) é condição essencial para a inserção sócio-produtiva, no entanto, as populações tradicionais (ribeirinhos, quilombolas) e as populações indígenas, além dos agricultores familiares estão perdendo seus meios básicos de produção da existência no campo, em decorrência de processos de desapropriação das terras e da inexistência de políticas públicas e ainda, devido aos impactos da nova onda de implantação de grandes projetos no Território. No que diz respeito às condições de vida, o quadro Indicadores Econômicos (21), oferece um retrato daquela realidade, chamando atenção de maneira preocupante os subitens IDH Renda, a Participação da agricultura no PIB, Rendimento Agrícola, Agricultura Familiar e Exportação. Quadro 21 A economia decorrente da implantação desses projetos não promove a melhoria de condições de vida das populações locais, ao contrário, passa a gerar pobreza lá onde ela não existia, ou seja, quando desarticula os modos de vida articulados à floresta e aos rios, gerando entre outros, o êxodo rural. Assim, as populações expulsas do campo têm se constituído nos novos habitantes das periferias de cidades como Santarém, Belterra, Juruti, onde os grandes projetos estão implantados e passam a impor novos padrões econômicos e de sociabilidade (vê quadro 22). Quadro 22 80 Fonte: MDSSDT, 2011. A quebra dos vínculos identitários imanente à relação direta do homem com a natureza exige, portanto, a descentralização e a territorialização das políticas públicas voltadas a essa nova realidade. De um lado, a promoção de ações que possam favorecer a permanência das populações rurais no campo frente às pressões do agronegócio, a fim de garantir condições de vida vinculadas a suas pequenas produções; de outro lado, garantir condições para a estruturação da vida em espaço urbano daqueles destituídos de seus vínculos com a terra. O que passa pela estruturação de ações inter-setoriais e coordenadas entre diferentes Ministérios juntamente com o governo estadual e os governos municipais, a fim de mitigar os impactos nesta sub-região, onde os investimentos públicos e privados não têm sido suficientes para atender às necessidades básicas da população espoliada. Trata-se de ampliar as oportunidades de geração de renda, ao mesmo tempo em que pressupõe a desconcentração das ações e projetos voltados à sustentabilidade em articulação as redes sociais dos sujeitos atingidos. Há uma tendência de concentração de bens e serviços coletivos na cidade de Santarém, com a velha ideia de que esta possa irradiar as ações de desenvolvimento par o Território. No entanto, o que foi experimentado no passado pode ser vista nos dados de concentração de riqueza e de renda. Hoje as populações locais são novamente pressionadas pelos agentes do agronegócio, considerados estratégicos à balança do comércio internacional, particularmente, quando o estado do Pará desponta em primeiro lugar no ranking das exportações, devido à produção de minério, mas também tem participação do setor madeireiro, da produção soja e da produção gado, com efeitos danosos ao meio ambiente. A opção pelos grandes investimentos (minerais, agroextativistas, portos, ferrovias etc.) busca atender setores que historicamente geraram acumulação de riqueza e concentração de renda, fazendo proliferar às margens dos grandes empreendimentos o 81 trabalho informal, a mendicância, a prostituição de jovens, dentre outros fenômenos que se restringiam até recentemente aos grandes centros urbanos. O espaço-tempo dessa constituição material, os eventos e os acontecimentos forjados nas lutas sociais desde o século XIX, e com maior intensidade, a partir dos anos 80 do século passado, tem potencializado as transformações implicadas por relações de trabalho, educação, produção, comercialização, financiamento, e processo de aprendizagem, sob uma intensa batalha em termos da permanência das populações tradicionais nos espaços impactados por grandes projeto, como é o caso da mineradora Rio do Norte, que disponibiliza de uma infraestrutura urbana que vai desde aeroporto e transporte aéreo, cinema, dentre outros, um espaço fechado à beira do rio Tapajós. No entanto, as populações que permanecem no entorno não têm sequer água com qualidade. Hoje é preciso requalificar esse espaço na medida em que o esgotamento do minério, uma previsão já dada, este pode se constituir em mais uma "lixo" da história, como a "cidade" de Fordlândia, no município de Aveiro e de Belterra, resquício de memória dos investimento da Ford na Amazônia e do boom da borracha, externalidades que poderiam ser internalizadas, em suas infraestruturas, mas que vem se deteriorando, salvo alguns casos, a exemplo do Museu, e da Fundação Butantã, que iniciou um processo de recuperação da estrutura hospitalar, para instalar um de seus laboratórios de pesquisa na Amazônia. Nestes termos as noções de externalidade e de oportunismo ex post dos sujeitos podem contribuir para a fluência de um debate ainda pouco realizado no âmbito do Território, na perspectiva de um devir ancorado na constituição material e das múltiplas dimensões e interações das contraditórias relações entre capital e trabalho, a partir de uma totalidade aberta (LEFEBVRE, 1972). 7.1 - Propostas e ações para o território Realizar pesquisa de forma minuciosa sobre os municípios do território como Faro: um município que fica na divisa com o Estado do Amazonas; Alenquer (pelo potencial agrícola), Prainha (por se inserir na Resex Renascer), Juruti (considerando os impactos sócios, econômicos-ambientais e culturais com ao Projeto Juruti - grande projeto de extração mineral), e Belterra (pela 82 intensificação do cultivo de grãos, soja, milho, arroz) e, pela intensa extração ilegal de madeira no território. Realizar pesquisa sobre a construção de estratégias para sensibilização do poder público municipal em relação a tomada de decisão sobre políticas públicas no âmbito do Colegiado. Inovação dos processos de educação, com a ampliação das metas destinada à escola profissionalizante e tecnológica, sob a base da economia local. 83 BIBLIOGRAFIA BARBOSA, Maria José de Souza. A Cabanagem entre a liberdade do mercado e o mercado da liberdade. Rio de Janeiro: UFRJ: PPGESS, 2003. (Tese de doutorado). CASTELLS, Manuel. O Poder das Identidades. 4. ed. São Paulo. Paz e Terra, vol.2, 2006. (A era da Informação: economia, sociedade e cultura; v.1). Disponível em< http://www.almeirim.pa.gov.br/?q=node/42 >acesso em 04/05/2011. DIAS, Maria do Carmo Da Silva. Qualificação e Capacitação no Plano Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): ressignificação do trabalho na agricultura familiar do Baixo Amazonas Paraense. 2009. 248 f. Tese de Doutorado. 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