MARÍLIA DE DIRCEU TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA Contexto da

Transcrição

MARÍLIA DE DIRCEU TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA Contexto da
MARÍLIA DE DIRCEU
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Contexto da obra:
Arcadismo ou neoclassicismo brasileiro
Marco inicial: publicação de Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa em 1768.
Características:
- Influências do Iluminismo: razão, natureza e verdade.
- Resgate de temas clássicos e do estilo dos poetas clássicos. Daí o nome neoclassicismo.
Inutilia truncat: cortar as inutilidades, ou seja, evitar o rebuscamento da linguagem
barroca em nome de uma linguagem mais simples, natural e racional.
Fugere urbem: fugir da cidade, da urbanização valorizando dessa forma a vida no
campo.
Locus amoenus: valorização de um lugar ameno, tranqüilo, agradável relacionado com a
natureza.
Áurea mediocritas: valorização das coisas simples focalizadas pelo bom senso e pela
razão.
Carpe diem: aproveitar o momento diante da consciência que o tempo passa trazendo a
velhice, a fragilidade e a morte.
- Bucolismo: a natureza é vista de modo idealizado, primaveril, alegre e acolhedor. O cenário
campestre é sinônimo de vida tranqüila, saudável, equilibrada e feliz.
- Pastoralismo: é uma das convenções mais importantes do Arcadismo, pois os poetas que
se reuniam nas Academias chamadas Arcádias (daí o nome Arcadismo) pregavam que o
homem devia ser valorizado pelo saber criando assim uma sociedade mais igualitária e justa.
Assim todo poeta criava um pseudônimo e era identificado como um pastor estabelecendo
entre eles uma espécie de nobre simplicidade e neutralizando as diferenças sociais ou tudo
aquilo que poderia ser associado à artificialidade e à hipocrisia da vida na corte.
Outro fator importante dessa convenção era que as musas eram tratadas como pastoras
também.
No Brasil a poesia desse período tendeu a ser:
- Árcade:
Cláudio Manuel da Costa: Obras poéticas
Silva Alvarenga: Glaura
Tomás Antônio Gonzaga: Liras de Marília de Dirceu
- Satírica:
Tomás Antônio Gonzaga: Cartas Chilenas
- Épica:
Frei José de Santa Rita Durão: Caramuru
Basílio da Gama: O Uraguai
Cláudio Manuel da Costa: Vila Rica
Características da obra:
Duda Machado na introdução que faz à série Bom Livro da Editora Ática para Liras de
Marília de Dirceu onde nota-se a influência dos estudos de Rodrigues da Lapa sobre Tomás
Antônio Gonzaga aponta características fundamentais para a compreensão da obra em
questão. Vejamos algumas:
- Influências do Iluminismo
- Presença da estética rococó
- Retomada de modelos e temas clássicos
- Várias alusões mitológicas
- Culto da poesia bucólica de cenário campestre.
- Celebração da vida simples
- Construção racional do poema
- Controle sobre a emoção e a imaginação
- Linguagem harmoniosamente clara
- Elegância natural das imagens
- Universalidade na representação do objeto
- Ênfase em aspectos da própria individualidade
- Inclusão de detalhes precisos e realistas
- Estoicismo
Acrescentemos a essas características a visão de Antônio Cândido:
Três pontos são fundamentais para se compreender as Liras:
I – A sua aventura sentimental (Tomás Antônio Gonzaga e Maria Dorotéia)
II – A sua formação poética
III – As características de sua poesia
I – A sua aventura sentimental
“Gonzaga é dos raros poetas brasileiros, e certamente o único entre os árcades, cuja
vida amorosa tem algum interesse para a compreensão da obra”, pois “Marília de Dirceu é
um poema de lirismo amoroso tecido à volta duma experiência concreta – a paixão, o
noivado e a separação de Dirceu (Gonzaga) e Marília (Maria Dorotéia Joaquina de Seixas)”.
Assim, a realidade e a ficção se misturam, se confundem e se completam.
Marília, por exemplo, ora aparece com detalhes físicos e que pode ser sentida
concretamente, inclusive com localização geográfica, e ora aparece como mero pretexto
poético sendo apenas uma pastorinha incaracterística despreendida da vida cotidiana, ou
seja, aparece como convenção árcade – uma musa – objeto ideal da poesia. Assim como
qualquer outro nome usado por qualquer poeta. Vejamos esses exemplos:
“Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda; a terceira
Tem um palácio defronte.
Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela:
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.”
Observe o detalhe do roteiro, da localização geográfica para se chegar à casa de Marília
e que o leitor mais ousado, ao andar por Ouro Preto, poderá constatar que se configura no
trajeto para se chegar à casa de Maria Dorotéia.
“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
“Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília, um composto
Da mais formosa união.”
Observe que Marília aqui ora tem o cabelo loiro e ora negro, ou seja, incaracterística
porque se trata de um mero pretexto poético.
O próprio Dirceu ora aparece como pretexto poético, ou seja, o pastor da Arcádia, o
modelo de homem a ser imitado vivendo em contato e equilíbrio com a natureza e a cultura
(conhecimento racional). Ora aparece com detalhes mais realistas que se adéquam ao
homem real Tomás Antônio Gonzaga. Vejamos esses exemplos:
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
“Já, já me vai, Marília, branquejando
Louro cabelo, que circula a testa;
Este mesmo, que alveja, vai caindo
E pouco já me resta.
As faces vão perdendo as vivas cores,
E vão-se sobre os ossos enrugando,
Vai fugindo a viveza dos meus olhos;
Tudo se vai mudando.”
Observe que no primeiro exemplo Dirceu é o homem convencional, enquanto no
segundo, sinais bem realistas fogem do mero pretexto convencional.
Voltando ao caso sentimental, ocorreu com Gonzaga “o clássico florescimento da
primavera no outono”. Ele se encontrava quarentão e ela tinha dezessete. E esse feliz
encontro na cidade de Vila Rica acaba por trazer marcas essenciais às Liras. Como por
exemplo:
- A noção de fuga do tempo ,do envelhecimento, de fragilidade e previsão da morte
“Ornemos nossas testas com as flores.
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo -nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
É dote, que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.”
- Aspiração ao convívio doméstico, vida conjugal, ideal burguês de família.
“Mas sempre passarei uma velhice
Muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada:
Descansarei o já vergado corpo
Na tua mão piedosa,
Na tua mão nevada.”
“Que gosto não terá a esposa amante,
Quando der ao filhinho o peito brando,
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: “É esta
“De teu querido pai a mesma barba,
“A mesma boca, e testa.”
Que gosto não terá a mãe, que toca,
Quando o tem nos seus braços, c’o dedinho
Nas faces graciosas, e na boca
Do inocente filhinho!
Quando, Marília bela,
O tenro infante já com risos mudos
Começa a conhecê-la!
Que prazer não terão os pais ao verem
Com as mães um dos filhos abraçados;
Jogar outros luta, outros correrem
Nos cordeiros montados!
Que estado de ventura!
Que até naquilo, que de peso serve,
Inspira Amor, doçura”.
E tais marcas trazem às Liras um realismo e uma qualidade que as torna um dos livros
mais ímpares da nossa literatura. E há de se acrescentar que tal realismo será ainda mais
interessante quando da parte das Liras em que Dirceu estará preso devido ao “envolvimento”
de Gonzaga na Inconfidência Mineira:
“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.”
“Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca, e mata.”
II – A sua formação poética
Gonzaga foi fortemente influenciado por Cláudio Manuel da Costa e este será exaltado
várias vezes nas Liras sob o pseudônimo pastoril de Glauceste ou Alceste ou Alceu.
Vejamos exemplos:
“Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:”
“Pega na lira sonora,
Pega, meu caro Glauceste;
E ferindo as cordas de ouro,
Mostra aos rústicos Pastores
A formosura celeste
De Marília, meus amores.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.”
“Acaso são estes
Os sítios formosos.
Aonde passava
Os anos gostosos?
São estes os prados,
Aonde brincava,
Enquanto passava
O gordo rebanho,
Que Alceu me deixou?”
São estes os sítios?
III – As características de sua poesia
- Talento para fazer versos leves e casquilhos, à moda do rococó:
“As suas faces
São cor de neve;
E a boca breve
Só risos tem.
Mas, ah! respira
Negros venenos,
Que nem ao menos,
Os olhos vêem.”
“Era uma frondosa
Roseira se abria
Um lindo botão.
Marília formosa
O pé lhe torcia
Com a branca mão.
Nas folhas viçosas
A abelha enraivada
O corpo escondeu.
Tocou-lhe Marília,
Na mão descuidada
A fera mordeu.”
- A conjunção dos moldes árcades e suas convenções adaptados e superados pelo seu
lirismo pessoal é a maior qualidade de sua obra. Na opinião de Rodrigues Lapa “Não é a
persistência dos elementos tradicionais da poesia, mais ou menos pessoalmente elaborados,
que nos dão definitivamente o seu estilo. Este consiste sobretudo nas novidades
sentimentais e concepcionais que trouxe para uma literatura, derrancada no esforço de
remoer sem cessar a antiguidade”.
- Seu lirismo pessoal poderia beirar o Romantismo, mas ele se mantém equilibrado ao
construir a linha média de sua vida moral. Nesse lirismo fala de seu modo de ser, sua
inteligência, posição social, prestígio, habilidades, aparência física, erosão da idade, busca
do conforto, planos para o futuro pontilhando a afirmação da própria dignidade e valia. Seu
lirismo chega a fazer com que Dirceu tenha predominância sobre Marília.
Propostos essas marcas apanhadas por Duda Machado, Rodrigues da Lapa e Antonio
Candido vamos selecionar alguns trechos das Liras que irão moldando melhor as
possibilidades de entendimento da obra.
Liras de Marília de Dirceu estão divididas em três partes:
I – 33 Liras
II – 38 Liras
III – 8 Liras, A uma despedida, 16 sonetos e 2 Odes
A primeira parte é formada por poemas em que celebra como musa a pastora Marília e
condensa textos escritos antes da prisão.
Trechos:
Lira I
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Observe a presença de:
- marcas árcades como bucolismo, o pastoralismo, a musa pastoril.
- marcas neoclássicas como a utilização de versos decassílabos.
- sentimento de propriedade e status que se referem ao ideal burguês.
- refinamento e educação que exaltam o homem ilustrado do Iluminismo.
- uma leve noção de metalinguagem de onde o poeta expressa a consciência de ser escritor.
O interessante é observar que durante as Liras vários trechos aparecem mostrando essa
consciência, além de mostrar a consciência que a arte tem o poder de imortalizar alguém e,
portanto, de ser um bem maior que o homem pode possuir.
Lira VII
“Vou retratar a Marília,
A Marília, meus amores;
Porém como? Se eu não vejo
Quem me empreste as finas cores:
Dar-mas a terra não pode;
Não, que a sua cor mimosa
Vence o lírio, vence a rosa,
O jasmim, e as outras flores.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os Astros, voa,
Traze-me as tintas do Céu.”
Observe a presença de:
- elementos que criam o estilo rococó
- a sugestão de exaltação da beleza de Marília que percorrerá por quase toda a obra.
- a variação métrica em relação ao primeiro trecho citado, pois aqui já se encontram versos
de sete sílabas poéticas. Importante observar que durante as Liras os versos decassílabos e
os hexassílabos (seis) serão os mais freqüentemente usados, mas outros metros serão bem
utilizados. Outro fato importante durante as Liras é a variação de Gonzaga onde entre versos
rimados e versos brancos (sem rimas).
Lira XIV
“Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder impio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
A devorante mão da negra Morte
Acaba de roubar o bem, que temos;
Até na triste campa não podemos
Zombar do braço da inconstante sorte.
Qual fica no sepulcro,
Que seus avós ergueram, descansado;
Qual no campo, e lhe arranca os brancos ossos
Ferro do torto arado.
Ah! enquanto os Destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração, que frouxo
A grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba,
E a si próprio fere.
Ornemos nossas testas com as flores.
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo -nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
É dote, que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.”
Observe a presença de:
- a noção de que o tempo passa tornando tudo transitório e frágil, dando-nos a consciência
da morte. Portanto, deriva daí a necessidade aproveitar o momento: carpe diem. Tal marca
será muito utilizada no decorrer das Liras.
- outra variação formal, além da métrica dos versos e da utilização de versos rimados ou
brancos, é o tamanho das estrofes. Aqui, todos têm oito versos. No primeiro trecho citado
(Lira I) todos tinham dez versos e no segundo exemplo (Lira VII) todos tinhas doze.
- elementos do mitologia.
Lira XIX
“Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza”
Observe a presença de:
- valorização da natureza como elemento de equilíbrio e harmonia que foi tão caro aos
árcades e aos pressupostos do Iluminismo como busca de uma ordem mais racional para a
sociedade nestes e para a construção de uma linguagem em oposição ao barroco naqueles.
Lira XXII
“Tu não habitarás palácios grande,
Nem andarás no coches voadores;
Porém terás um Vate, que te preze,
Que cante os teus louvores.
O tempo não respeita a formosura;
E da pálida morte a mão tirana
Arrasa os edifícios dos Augustos,
E arrasa a vil choupana.
Que belezas, Marília, floresceram,
De quem nem sequer temos a memória!
Só podem conservar um nome eterno
Os versos, ou a história.
Se não houvesse Tasso, nem Petrarca,
Por mais que qualquer delas fosse linda,
Já não sabia o mundo, se existiram
Nem Laura, nem Clorinda.
É melhor, minha Bela, ser lembrada
Por quantos hão de vir sábios humanos,
Que ter urcos, ter coches, e tesouros,
Que morrem com os anos.”
Observe a presença de:
- (insistimos) a variação da métrica, das rimas e do tamanho das estrofes.
- a valorização da condição da arte como algo capaz de vencer o tempo.
- Traços de metalinguagem.
- a desvalorização dos bens materiais já que estes seriam perecíveis no tempo. No entanto,
há possibilidades interessantes aqui, pois isto para alguns estaria relacionado ao fato de que
o homem Gonzaga teria uma certa rejeição por parte da família de Dorotéia devido ao fato
dele não estar no mesmo nível social dela. Outra possibilidade seria uma leve contradição
por parte do Dirceu burguês que valoriza posses e status em outros momentos e nesse o
Dirceu poeta pastor meio que despreza essas condições. Interessante contradição.
- a valorização do saber, do conhecimento que pode ser visto na citação de outros grandes
poetas da história. E pra ser mais exato ainda, da época do renascimento. O que nos leva a
umas das condições do neoclassicismo que é o de seguir os modelos do renascimento.
Lira XXVII
“O ser herói, Marília, não consiste
Em queimar os Impérios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,
E despovoa a terra
Também o mau tirano.
Consiste o ser herói em viver justo:
E tanto pode ser herói pobre,
Como o maior Augusto.
Eu é que sou herói, Marília bela,
Segundo da virtude a honrosa estrada:
Ganhei, ganhei um trono,
Ah! não manchei a espada,
Não roubei ao dono.
Ergui-o no teu peito, e nos teus braços:
E valem muito mais que o mundo inteiro
Uns tão ditosos laços
Observe a presença de:
- uma crítica à violência, ao belicismo, ao tiranismo. Fatos que o homem ilustrado do século
XVIII procurava negar em nome de uma sociedade mais igualitária e mais justa. Quem sabe
uma crítica ao absolutismo.
- a valorização da áurea mediocritas que exalta a condição do homem justo, simples
,honesto e que sabe viver em equilíbrio.
A segunda parte das Liras também tem como musa Marília e condensa os poemas
escritos durante a prisão.
Trechos:
Lira I
“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.”
Lira XIX
“Nesta triste masmorra,
De um semivivo corpo sepultura,
Inda, Marília, adoro
A tua formosura.
Amor na minha idéia te retrata;
Busca extremoso, que eu assim resista
À dor imensa, que me cerca, e mata.
(...)
“Se queres ser piedoso,
“Procura o sítio em que Marília mora,
“Pinta-lhe o meu estrago,
“E vê, Amor, se chora.
“Se lágrimas verter, se a dor a arrasta,
“Uma delas me traze sobre as penas,
“E para alívio meu só isto basta.”
Lira XXI
“Que diversas que são, Marília, as horas,
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes, já passadas
Na tua pátria aldeia!
Então eu me ajuntava com Glauceste;
E à sombra de alto Cedro na campina
Eu versos te compunha, e ele os compunha
À sua cara Eulina.”
Lira II
“Esprema a vil calúnia muito embora
Enter as mãos denegridas, e insolentes,
Os venenos das plantas,
E das bravas serpentes.
Chovam raios e raios, no meu rosto
Não hás de ver, Marília, o medo escrito:
O medo perturbador,
Que infunde o vil delito.
Podem muito, conheço, podem muito,
As fúrias infernais, que Pluto move;
Mas pode mais que todas
Um dedo só de Jove.
Este Deus converteu em flor mimosa,
A quem seu nome dera, a Narciso;
Fez de muitos os Astros,
Qu’inda no Céu diviso.
Ele pode livrar-me das injúrias
Do néscio, do atrevido ingrato povo;
Em nova flor mudar-me,
Mudar-me em Astro novo.
Porém se os justos Céus, por fins ocultos,
Em tão tirano mal me não socorrem;
Verás então, que os sábios,
Bem como vivem, morrem.
Eu tenho um coração maior que o mundo!
Tu, formosa Marília, bem o sabes:
Um coração..., e basta,
Onde tu mesma cabes.”
Lira III
“Há de, Marília, mudar-se
Do destino a inclemência;
Tenho por mim a inocência,
Tenho por mim a razão.
Muda-se a sorte de tudo;
Só a minha sorte não?
O tempo, ó Bela, que gasta
Os troncos, pedras, e o cobre,
O véu rompe, com que encobre
À verdade a vil traição.
Muda-se a sorte de tudo;
Só a minha sorte não?
Qual eu sou, verá o mundo;
Mais me dará do que eu tinha,
Tornarei a ver-te minha;
Que feliz consolação!
Não há de tudo mudar-se;
Só a minha sorte não.”
Observe a presença de:
- a condição de homem preso que passa a ser um elemento essencial para a composição
das Liras da segunda parte. Tal prisão estaria relacionada ao fato de Gonzaga ter sido
acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Fato que parece ser infundado e que
através de Dirceu o poeta tentará mostras sua inocência. Observe que Dirceu sempre estará
seguro quanto à sua inocência em relação à acusação.
- elementos que tornam o ambiente triste, portanto bem diferente do lócus amoenus que a
natureza criava na primeira parte das Liras. Para alguns, há aqui a configuração do lócus
horrendus e isso seria uma aproximação com o romantismo. No entanto, há de se observar
que em nenhum momento Dirceu deixará a exaltação emocional tomar contar dos versos,
mantendo assim sua postura equilibrada e racional. Esta postura estará ligada ao estoicismo
que domina essa segunda parte.
- Marília que será parte desse estoicismo, pois para resistir com dignidade ao sofrimento
ocorrido, Dirceu terá no amor e na esperança de reencontrar Marília um suporte essencial
para esses tempos difíceis.
- noção de tempo passado que determina essa segunda parte das Liras, pois o tempo inteiro
Dirceu irá comparar sua condição anterior (primeira parte das Liras) com sua condição atual.
Lira XXXVII
“Meu sonoro Passarinho,
Se sabes do meu tormento,
E buscas dar-me, cantando,
Um doce contentamento,
Ah! não cantes, mais não cantes,
Se me queres ser propício;
Eu te dou em que me faças
Muito maior benefício.
Ergue o corpo, os ares rompe,
Procura o Porto da Estrela,
Sobe à serra, e se cansares,
Descansa num tronco dela,
Toma de Minas a estrada,
Na Igreja nova, que fica
Ao direito lado, e segue
Sempre firme a Vila Rica.
Entra nesta grande terra,
Passa uma formosa ponte,
Passa a segunda, a terceira
Tem um palácio defronte.
Ele tem ao pé da porta
Uma rasgada janela,
É da sala, aonde assiste
A minha Marília bela.
Para bem a conheceres,
Eu te dou os sinais todos
Do seu gesto, do seu talhe,
Das suas feições, e modos.
O seu semblante é redondo,
Sobrancelhas arqueadas,
Negros e finos cabelos,
Carnes de neve formadas.
A boca risonha, e breve,
Suas faces cor-de-rosa,
Numa palavra, a que vires
Entre todas mais formosa.
Chega então ao seu ouvido,
Dize, que sou quem te mando,
Que vivo neta masmorra,
Mas sem alívio penando.”
Observe a presença de:
- a localização geográfica da casa de Marília tornando o poema mais realista inclusive pela
citação do Estado de minas Gerais e da cidade de Vila Rica quebrando assim a convenção
árcade de natureza convencional da Arcádia.
Lira XXXVIII
“Há em Minas um homem,
Ou por seu nascimento, ou seu tesouro,
Que aos outros mover possa
À força de respeito, à força d’ouro?
Os bens de quantos julgas rebelados
Podem manter na guerra,
Por um ano sequer, a cem soldados?
Ama a gente assisada
A honra, a vida, o cabedal tão pouco,
Que ponha uma ação destas
Nas mãos dum pobre, sem respeito e louco?
E quando a comissão lhe confiasse,
Não tinha pobre soma,
Que por paga, ou esmola, lhe mandasse!”
Observe a presença de:
- elementos que dão muita pessoalidade às Liras, tanto no plano do homem Gonzaga como
na história real que ele está inserido, pois fica evidente neste trecho a citação a vários fatos
que nos remetem a Inconfidência Mineira
A terceira parte não é composta só por poemas a Marília, pois há a presença de outras
musas. Tal fato desfigura um pouco as Liras já que estas são de Marília de Dirceu. Mas o
fato é explicável porque há aqui poemas que Gonzaga escreveu bem antes de conhecer
Dorotéia, quando ele apenas começava a ser um árcade treinando as convenções de tal
poesia. Por outro lado, há Liras também que se inserem no ciclo de Marília,
importantíssimas, tais como:
Lira III
“Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho, e a rica, terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos,
Ou da minada serra.
Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos;
Queimar as capoeiras ainda novas;
Servir de adubo à terra a fértil cinza;
Lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes
Das secas folhas do cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas rodas
Da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grande livros,
E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos.
Tu me farás gostosa companhia,
Lendo os fatos da sábia mestra história,
E os cantos da poesia.
Lerás em alta voz a imagem bela,
Eu vendo que lhe dás o justo apreço,
Gostoso tornarei a ler de novo
O cansado processo.
Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
Que tens quem leve à mais remota idade
A tua formosura.”
Observe que trecho importante pelas características que traz:
- Citação a fatos econômicos do Brasil como a economia da cana, do tabaco e do ouro.
- Citação das queimadas e da escravidão.
Acompanhe como conclusão da análise dessa obra uma biografia sobre o autor onde
mais fatos ajudaram no entendimento crítico do livro.
Biografia
O poeta Tomás Antônio Gonzaga, patrono da cadeira nº 37 da Academia Brasileira de
Letras, nasceu na cidade do Porto, em Portugal, a 11 de agosto de 1744 e faleceu na Ilha de
Moçambique, onde cumprira pena de degredo, em fevereiro de 1810.
Era filho do brasileiro Dr. João Bernardo Gonzaga e de D. Tomásia Isabel Clark. Passou
alguns anos da infância no Recife e na Bahia onde o pai servia na magistratura e,
adolescente, retornou a Portugal a fim de completar os estudos, matriculando-se na
Universidade de Coimbra na qual concluiu o curso de Direito aos 24 anos.
Depois de formado exerceu Gonzaga alguns cargos de natureza jurídica, já tendo advogado
em várias causas na cidade do Porto. Candidatou-se a uma Cadeira na Universidade de
Coimbra, apresentando uma tese intitulada "Tratado de Direito Natural". Em 1778 foi
nomeado juiz-de-fora na cidade de Beja, com exercício até 1781. No ano seguinte é indicado
para ocupar o cargo de Ouvidor Geral na comarca de Vila Rica (Ouro Preto), na Capitania de
Minas Gerais.
A permanência em Vila Rica estendeu-se até o ano de 1789, quando foi envolvido na famosa
Inconfidência Mineira. Em maio do referido ano, acusado de participação na conspiração é
detido e, sem maiores formalidades, remetido preso para o Rio de Janeiro.
Nessa ocasião estava o poeta noivo de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, jovem
pertencente a uma das principais famílias da capital mineira, e a quem dedicava poesias do
mais requintado sabor clássico, que iriam fazer parte do livro intitulado "Marília de Dirceu"
cuja primeira parte foi publicada em Lisboa, pela Impressão Régia, no ano de 1792.
A obra poética de Tomás Antônio Gonzaga é relativamente pequena mas suas liras tiveram
dezenas de edições.
Segundo as mais abalisadas pesquisas de natureza estilística e histórica, deve-se ao
infortunado Ouvidor de Vila Rica a autoria da famosa sátira "Cartas Chilenas", só editadas,
em forma impressa, no Segundo Reinado. Continham elas uma coleção notável de versos
cáusticos, em que era posto em ridículo Luís da Cunha Meneses, Governador e CapitãoGeneral de Minas Gerais, na década de 1780.
Na Ilha de Moçambique, para onde foi levado Gonzaga, em virtude de sua condição no
processo da Conjuração mineira, casou-se o desventurado vate com Juliana de Sousa
Mascarenhas, de quem houve um casal de filhos, cujos descendentes remotos ainda vivem
na antiga colônia portuguesa.
Quanto ao "Tratado de Direito Natural", já teve edição a cargo do Instituto Nacional do Livro.
Castro Alves deu a uma de suas produções em prosa o título de "Gonzaga, ou a Revolução
de Minas", drama representado no Brasil, ainda em vida do autor, interpretado no principal
papel feminino pela artista portuguesa Eugênia Câmara, uma das musas do poeta.
Exercícios:
A seguir serão apresentados fragmentos de liras extraídas do livro Liras de Marília de Dirceu
do autor Tomás Antônio Gonzaga pertencente ao arcadismo brasileiro.
Leia-os com atenção e responda as questões propostas:
Fragmento I
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
Além de um puro amor, de um são desejo.
Fragmento II
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
01 – Analisando e contrastando formalmente os fragmentos apresentados pode-se afirmar
que:
a) Ambos apresentam iguais: esquema de rimas numera de estrofes, tamanho das estrofes e
métrica de todos os versos.
b) Ambos apresentam iguais: esquema de rimas e numero de estrofes. E diferentes:
tamanho das estrofes e métrica de todos os versos.
c) Ambos apresentam iguais: numero de estrofes. E diferentes: tamanho das estrofes,
esquema de rimas e métrica de alguns versos.
d) Ambos apresentam iguais: numero de estrofes e métrica de todos os versos. E diferentes:
esquema de rimas e tamanho das estrofes.
E) Ambos apresentam iguais: métrica de todos os versos, esquema de rimas e tamanho das
estrofes. E diferentes: numero de estrofes.
02 – Analisando o fragmento II todas as afirmações a seguir estão corretas, exceto:
a) Há a presença de varias características árcades, tais como o bucolismo, o uso de
pseudônimos pastoris e o pastoralismo.
b) Há a presença de varias características neoclássicas, tais como o uso do carpe diem e do
inutilia truncat.
c) Apesar da concepção pastoril de vida simples há a valorização do conforto material e do
status pelo eu-lírico.
d) Há um pequeno destaque ao fazer poético.
e) Há a presença de características clássicas como a utilização de versos decassílabos.
03 – Analisando o fragmento I todas as afirmações são corretas, exceto:
a) Há a dualidade entre o que o eu-lírico possuía no passado e a privação que ele sofre no
presente.
b) Há no eu-lírico a postura estóica diante das privações sofridas.
c) Rusticidade e refinamento do eu-lírico formam outra dualidade no fragmento.
d) Pode-se estabelecer traços biográficos entre as privações sofridas pelo eu-lírico e as
sofridas pelo autor Tomas Antonio Gonzaga quando de sua prisão pelo suposto
envolvimento na Inconfidência mineira.
e) As várias dualidades que podem ser encontradas no fragmento estabelecem uma forte
relação com a ideologia do Barroco.
04 – Todos os fragmentos a seguir pertencem à parte das Liras de Marília de Dirceu que
Tomás Antônio Gonzaga escreveu após ser preso pelo suposto envolvimento na
Inconfidência Mineira.
a) “Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.”
b) “Chovam raios e raios, no meu rosto
Não hás de ver, Marília, o medo escrito:
O medo perturbador,
Que infunde o vil delito.
c) Já, já me vai, Marília, branquejando
Louro cabelo, que circula a testa;
Este mesmo, que alveja, vai caindo
E pouco já me resta.”
d) “Ama a gente assisada
A honra, a vida, o cabedal tão pouco,
Que ponha uma ação destas
Nas mãos dum pobre, sem respeito e louco?
E quando a comissão lhe confiasse,
Não tinha pobre soma,
Que por paga, ou esmola, lhe mandasse!”
e) “Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza.”
05 – Todos os trechos a seguir pertencem à parte das Liras de Marília de Dirceu que Tomás
Antônio Gonzaga escreveu antes de ser preso pelo suposto envolvimento na Inconfidência
Mineira.
a) “Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.”
b) “Vou retratar a Marília,
A Marília, meus amores;
Porém como? Se eu não vejo
Quem me empreste as finas cores:
Dar-mas a terra não pode;
Não, que a sua cor mimosa
Vence o lírio, vence a rosa,
O jasmim, e as outras flores.
Ah! Socorre, Amor, socorre
Ao mais grato empenho meu!
Voa sobre os Astros, voa,
Traze-me as tintas do Céu.”
c) “Não hás de ter horror, minha Marília,
De tocar pulso, que sofreu os ferros!
Infames impostores mos lançaram,
E não puníveis erros.
Esta mão, esta mão, que ré parece,
Ah! não foi uma vez, não foi só uma,
Que em defesa dos bens, que são do Estado,
Moveu a sábia pluma,”
d) “Pega na lira sonora,
Pega, meu caro Glauceste;
E ferindo as cordas de ouro,
Mostra aos rústicos Pastores
A formosura celeste
De Marília, meus amores.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.”
e) “De amar, minha Marília, a formosura
Não se podem livrar humanos peitos.
Adoram os heróis; e os mesmos brutosAos grilhões de Cupido estão sujeitos.
Quem, Marília, despreza uma beleza,
A luz da razão precisa;
E se tem discurso, pisa
A lei, que lhe ditou a Natureza.”
Gabarito
01 – C
02 – B
03 – E
04 – E
05-C

Documentos relacionados