Texto Completo - Instituto de Ciências Humanas

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REDE ALELUIA: INSTRUMENTO DE PERSUASÃO E PODER EM PROL DA
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (IURD)
José Wagner Ribeiro 1
Ricardo José Oliveira Ferro 2
RESUMO
Analisa o procedimento de comunicação da Igreja Universal do Reino de Deus,
com enfoque na programação evangélica da Rede Aleluia de Rádio e os
possíveis reflexos dessa prática na propagação dos seguidores da igreja. A
hipótese inicial desse estudo baseia-se na apuração de três pilares de
funcionamento da Universal – libertação, cura e conversão; identifica os
elementos icônicos, assim como o traslado de situações bíblicas que
contribuem para a conquista de fiéis. Mensagens veiculadas na Rede Aleluia
de Rádio foram uma das ferramentas para analisar o crescimento da igreja
através da sua rede de rádio. Conclui que a comunicação praticada na Rede
Aleluia de Rádio pela Igreja Universal influencia o radio ouvinte da
programação, ao induzi-lo a participar das campanhas da igreja culminando
com a sua conversão à organização Universal.
Palavras–chave: IURD. Comunicação. Religião.
1
Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de
Alagoas. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e Doutor em
Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenador da Pós –
Graduação Lato Sensu da UFAL.
2
Especialista em Processos Midiáticos e Novas Formas de Sociabilidade pela Universidade
Federal de Alagoas (UFAL), professor da Faculdade Integrada Tiradentes (Fits), repórter na
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas,
locutor apresentador animador na Rádio 100,3 FM - afiliada da Rede Aleluia. Correspondente
da
Usina
Pazza
-
revista
(http://www.usina.pazza.com.br ).
eletrônica
sobre
Comunicação
e
Cultura
INTRODUÇÃO
O rádio é um dos meios eletrônicos de massa empregados pelos
evangélicos para difundir a mensagem religiosa na sociedade contemporânea.
O líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), bispo Edir Macedo, usa a
programação da Rede Aleluia com a finalidade de gerar o crescimento de sua
denominação religiosa.
É por meio do rádio que a mensagem “iurdiana” aglomera uma legião de
simpatizantes disciplinados por uma tríade: a conversão, o exorcismo e a cura.
Esses três elementos estão inseridos nas cerimônias ou cultos, nos
depoimentos dos membros e no discurso dos bispos, pastores, obreiros,
grupos jovens, evangelistas e nos auxiliares de pastores, além, é claro, da
propaganda iurdiana.
O rádio é um elemento decisório de apoio tecnológico utilizado pela
IURD para um avanço estratégico no campo religioso. É principalmente por
intermédio dele que a mensagem da Igreja Universal do Reino de Deus chega
aos solitários, aos drogados, aos endividados e desesperançados; enfim, é um
veículo de comunicação de massa utilizado para levar, segundo os iurdianos,
esperança e conforto aos necessitados.
O mundo globalizado, muitas vezes, isola as pessoas e, é nesta solidão,
que a mídia radiofônica se apresenta como “amiga”, veicula testemunhos de
vidas “transformadas”, relatos do passado e do presente daqueles que viviam
no mundo e, hoje, servem a um “Deus Vivo”. Diante desse quadro, as pessoas
começam a se ver no exemplo dos outros; é como se fosse uma espécie de
espelho, que faz com que elas se reconheçam nas outras e percebam que ali
está a sua “turma”.
O rádio está presente em quase 100% dos lares brasileiros. Hoje, é
utilizado de forma maciça para embutir idéias, ideologias, crenças, atitudes,
comportamentos e necessidades. Por ser um veículo de grande penetração e
chegar com maior facilidade às residências em horários variados, atinge as
mais diversas classes; muitas dessas pessoas, geralmente, enfrentam alguns
problemas de ordem financeira, emocional ou espiritual.
O rádio ajuda a mudar conceitos, inspirar comportamentos, redefinir
padrões,
cria
novos
modelos.
Ele
é
capaz
de
ajudar
a
“fabricar”
personalidades, e desde que seja bem utilizado pode construir um novo perfil
para aqueles que não possuem uma boa aceitação popular. Esta “caixa com
som” encanta e fantasia; desperta interesse e ajuda a consolidar as intenções
daqueles que detêm as concessões. No rádio os mais diversos assuntos são
abordados e podem beneficiar os proprietários das emissoras.
Pela Rede Aleluia, a Igreja Universal do Reino de Deus mostra os
discursos dos seus pregadores e deixa bem evidente, que apenas o
“descarrego” ou o exorcismo não é suficiente; é preciso entregar–se a Jesus, e
aí entra o segundo elemento pregado pela IURD que é a conversão; mas,
geralmente, todos os que se libertam e se convertem possuem problemas de
saúde e anseiam pela cura, o que completa a tríade de elementos, e evidencia
a prática de uma ordem doutrinal. É esta prática de doutrinas que atua sobre o
pensamento e as ações das pessoas quando chegam a Igreja Universal do
Reino de Deus. Sempre chegam abatidas após terem batido em muitas portas
à procura de uma solução para seus problemas. Essas pessoas já procuraram
ajuda no espiritismo, no candomblé, na umbanda, entre outros. Como estão
fragilizadas, são facilmente induzidas à submissão e a subserviência para
“garantirem” uma vida física e espiritual “saudável”.
É neste momento que as pessoas perdem o controle de suas vidas
entregando–se ao que se poderia chamar de estado cristão. Para IANNI (1984:
192) no chamado “(...) Estado cristão domina, certamente, a alienação e não o
homem”.
Verifica–se que a Rede Aleluia não apenas informa, mas, também,
aliena muitos ouvintes que acompanham a sua programação. A Rede Aleluia
procura convencer os membros da IURD de que para conseguirem o que
desejam, basta ter fé e acreditar. Essa doutrina é conhecida como a Teologia
da Prosperidade. Segundo GWERCMAN (2004:52), Kenneth Hagin popularizou
uma mensagem clara por meio de mais de 100 livros, que afirma: “Deus é
capaz de dar o que o fiel desejar. Basta ter fé e acreditar que as próprias
palavras têm poder. Sendo assim, para os verdadeiros devotos, nunca faltará
dinheiro ou saúde”.
Durante este estudo será destacado o fato dos membros da IURD
passarem por uma espécie de tríade doutrinária compreendida pela libertação,
a cura e a conversão. Outro aspecto é a utilização de ícones pela IURD, que
condena aqueles que adoram imagens, no caso os católicos. Alguns dos
símbolos são: o copo com água, o vidro com azeite, a rosa, o incenso, o suco
de uva, dentre outros que servem como condutores do poder de Deus para
ajudar as pessoas a resolver os problemas que estão enfrentando.
A Rede Aleluia e a IURD: mídia e fé
A Rede Aleluia deu início às suas transmissões em 1995. O sinal via
satélite começou a ser irradiado através de 19 afiliadas. Na época, a primeira
geradora de sinal foi a 105 FM, localizada no Rio de Janeiro. A partir do
segundo semestre de 2002, a geração passou a ser feita pela Rádio 99,3 FM,
em São Paulo.
Hoje, ela atinge todas as regiões do País e alcança uma área
correspondente a 75% do território nacional. São 64 emissoras localizadas nas
capitais e no interior de 22 estados brasileiros. A programação da Rede Aleluia
é composta por canções cristãs nacionais e internacionais, flash-back's e
músicas
instrumentais.
(Dados
do
endereço
eletrônico:
http://www.redealeluia.com.br).
Segundo a Revista Isto é, de 15 de julho de 1998, a Igreja Universal é
proprietária de emissoras, o que é proibido pela Constituição brasileira:
Igrejas não podem deter o controle de empresas de
radiodifusão no Brasil. Para burlar a lei, a Universal usa os nomes de
laranjas e testas-de-ferro. Esse dinheiro não tributado – e sem custo –
tem sido transferido na forma de empréstimos, no entanto, para a
conta de líderes da igreja. (...) A partir daí, essas pessoas adquirem
em seus nomes as emissoras de rádio e tevê ou empresas de ramos
diversificados. A estratégia transformou a Universal num grupo
econômico poderosíssimo. Não é à toa que a igreja é hoje a maior
multinacional brasileira – e sua rede de tevê tornou-se a terceira do
País. (...) O grupo Universal – hoje dono de inúmeras emissoras de
rádio e tevê, banco, corretora, construtora, fábrica de móveis,
gravadora, gráficas e jornais, entre outros negócios – vem sendo
sustentado irregularmente com o dinheiro recolhido nos templos da
Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo Bispo Edir Macedo.
Como instituição religiosa, a Universal é isenta do pagamento de
impostos.
Nas programações na Rede Aleluia, os líderes da Igreja Universal
provocaram mudança de comportamento na doutrina evangélica tradicional
brasileira (pentecostalismo), ao romperem com o ascetismo – a recusa de
usufruir os prazeres da carne, e com o sectarismo – isolamento do restante da
sociedade. Conforme GWERCMAN (2004:55), o sociólogo Ricardo Mariano,
autor de Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil,
afirma que “A preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que
interessa é o aqui e o agora”.
O aperfeiçoamento da linguagem radiofônica pela igreja do Bispo Edir
Macedo ocorreu com a inovação do discurso. Seus pregadores passaram a se
expressar de forma nítida, adequaram a sua oratória e comungaram dos novos
anseios e significados dos indivíduos contemporâneos, visando à integração
entre crença e os possíveis adeptos da Universal (MACHADO, 1994:34).
CAMPOS (1997:355-356), no livro A Igreja Universal do Reino de Deus
– um empreendimento religioso atual e seus modos de expansão, afirma:
Diante disso, uma retórica triunfalista invadiu todos os seus
meios de comunicação social (emissoras de rádio, televisão, jornais e
revistas). Um bom exemplo desse ato retórico foi o documentário
especial televisivo preparado para comemorar o 20° aniversário da
IURD, no qual se afirmava orgulhosamente: “Este documentário foi
preparado sob a responsabilidade do Espírito Santo”, seguido da
afirmação: “enquanto este documentário estava sendo preparado a
IURD não parou de crescer em todo o mundo”. O bispo Macedo
assim explica o crescimento de sua Igreja: “Atribuo à ação do Espírito
Santo o crescimento da Igreja. Não se trata de marketing bem feito,
boa administração, nem qualquer razão humana. É ação do Espírito
Santo mesmo!.”
Com isso, constata-se que os processos de comunicação adotados pela
Universal no uso da rádio se mostram eficazes; mesmo quando tratam de
assuntos atuais, geralmente de forma superficial, apontam para soluções de
cunho eminentemente religioso.
No caso do rádio, o uso intensificado desse meio de comunicação de
massa pelas denominações religiosas, dentre essas a IURD, tornou–se uma
condição preponderante para a existência e a permanência das práticas
religiosas da sociedade contemporânea (MARTINO, 2003:7).
Mas, para garantir a existência e a preservação da igreja, os “iurdianos”
utilizam uma mensagem padrão produzida na alta cúpula da Universal, cujo
teor é retransmitido fielmente aos ouvintes, demonstrando, assim, a
competência comunicativa das lideranças da IURD. Este artifício serve para
manter os receptores da mensagem identificados com os discursos emitidos
pela igreja que, geralmente, dão ênfase aos estados d’alma, despertando nas
pessoas a função emotiva da comunicação verbal.
De acordo com SCHWARTZ (1985:21), os efeitos colaterais da mídia
demonstram o mistério de seu funcionamento “(...) são indefiníveis, porque as
pessoas que assistem e ouvem tais mensagens não o fazem da mesma
maneira que aqueles que as planejaram; o público responde de acordo com o
contexto de sua própria problemática de vida”.
Ao receber uma mensagem radiofônica as pessoas tendem a interpretá–
la e agem de acordo com os conhecimentos que lhes são inerentes, baseados
nas informações que construíram ou receberam; esses fatores demonstrados
anteriormente determinam à ação estereotipada do ser humano.
O rádio, parte do sistema de comunicação social de uma nação, tem
como uma de suas características ser um instrumento de controle da
sociedade, reproduzir crenças e valores de um povo.
Dênis de Moraes, na Revista Contracampo n.1, disponível no site
“www.uff.br” afirma o seguinte:
A notável contribuição de Gramsci sobre o embate pela
hegemonia no seio da sociedade civil — a partir de sua teoria
marxista ampliada do Estado — permite-nos meditar sobre o
desempenho dos meios de comunicação. Devemos analisá-los não
apenas como suportes ideológicos dos sistemas hegemônicos de
pensamento, mas também como lugares de produção de estratégias
que objetivam reformular o processo social. Sem deixar de
reconhecer a sistemática reverberação dos discursos dominantes nas
mídias, temos que considerar que debates, polêmicas e contra
discursos se manifestam nos conteúdos informativos, ainda que numa
intensidade menor do que a desejada, mas em proporção bem maior
do que a de décadas atrás.
Quem possui uma concessão de emissora de rádio tem uma fonte de
poder; este poder, usado de maneira indevida, pode resultar na exploração
psicológica tendo com uma das conseqüências a persuasão dos indivíduos,
como no caso praticado pela Igreja Universal na Rede Aleluia.
Segundo Ribeiro (2006: 49), o marketing utilizado pela IURD:
Introduziu uma série de ingredientes e estratégias responsáveis
por um novo surto de expansão do campo religioso, mais
particularmente do pentecostalismo, entre estas: o cálculo no
planejamento das novas comunidades; uma segmentação do
mercado por meio de uma classificação de acordo com suas
diferentes necessidades e desejos padronizados, adaptáveis aos
vários segmentos; o desenvolvimento de uma retórica de modo a
diferenciar os produtos vendidos; a consideração das necessidades
do consumidor, realizando o produto de acordo com as mesmas; e a
utilização dos meios de comunicação de massa, como o rádio e a TV,
entre outros.
A Rede Aleluia, durante todo o dia, tornou–se uma espécie de filial da
Igreja Universal. É um espaço onde o fiel e futuros membros da igreja recebem
atendimento dos líderes “iurdianos”. Estes últimos, por sua vez, usam a
programação da rede para fortalecer a prática da radio religiosidade. Em cada
programa veiculado pela rede são exibidos testemunhos de pessoas que
tiveram suas vidas modificadas sempre para melhor, após converterem-se. Os
relatos de curas rápidas e milagrosas são pontos abordados freqüentemente
na programação da emissora.
Recentemente, o bispo Edir Macedo começou a veicular através da
Rede Aleluia mensagens dedicadas aos seus auxiliares. Assim como Meditsch
(2001: 149), no livro “O rádio na era da informação: teoria e técnica do novo
Radiojornalismo” acredita–se que:
A
linguagem
auditiva
do
rádio
pode
ser
delimitada,
teoricamente, como um sistema semiótico complexo, composto por
subsistemas tais como a palavra, a música e os efeitos sonoros ou
ruídos. O funcionamento do sistema como um todo, assim como a
definição e o papel de cada um dos subsistemas dentro dele,
obedece a uma série de convenções que o tornam manejável,
socialmente compartilhável, e desta forma eficaz e inteligível [...].
Cada mensagem é iniciada com uma música padrão, o que as
caracteriza como um programete, ou seja, como um quadro dentro da
programação da Rede Aleluia, que tem “vida própria”, com começo, meio e fim
bem determinados. Para Fernandes (2006: 100), na obra “A Mídia e seus
truques – o que o jornal, revista, TV, rádio e Internet fazem para captar e
manter a atenção do público”: “uma característica do programete é poder ser
reprisado em diversos momentos da programação da rádio”.
O que se percebe é que a inserção destas mensagens durante a
programação da rede tem como possível intenção impor a descontinuidade do
que vinha sendo veiculado e impedir qualquer possibilidade de monotonia
discursiva. Como o bispo Macedo não fala bom dia, boa tarde ou boa noite,
este fragmento pode ser exibido a qualquer hora do dia. Caso ele falasse “bom
dia”, por exemplo, demonstraria o instante da produção do discurso e uma
possível segunda audição ficaria velha.
Fernandes (op. cit., p. 100) define que: “o jogo de mostra–esconde
desses marcos temporais é uma característica importante não só da linguagem
radiofônica como de qualquer jornal”. Já Heródoto Barbeiro, também teórico do
assunto, no prefácio do livro de Meditsch (2001), esclarece algumas
possibilidades, efeitos e conseqüências dessas estratégias:
Na CBN, optou–se por simular o ao vivo, quando a
reportagem está gravada e banir o bom, ou boa tarde, nas
reportagens gravadas para dar a impressão ao ouvinte de que a
matéria é ao vivo, mesmo sabendo–se que essa expressão confere
aos veículos de comunicação credibilidade, ao ponto de ser repetida
sistematicamente no rádio e ganhar caracteres na TV.
Em cada uma das nove mensagens analisadas, o líder da IURD, bispo
Edir Macedo incentiva as pessoas a serem suas auxiliares na tarefa de pregar
o evangelho e ajudá–lo a divulgar a palavra de Deus através da Rede Aleluia.
Ele é enfático e afirma que seus auxiliares são “participantes e co–participantes
da glória de Deus”. Macedo vai mais além e assegura que aqueles que o
auxiliam verão suas vidas mudarem. Pois, segundo ele, Deus é obrigado a
abençoar a vida daqueles que estão contribuindo com o seu reino. Como o
ouvinte radiofônico, geralmente, está envolvido com várias atividades diárias,
uma das estratégias da IURD para ganhar a sua atenção é veicular essas
mensagens, no mínimo, doze vezes por dia. Por determinação do próprio Edir
Macedo elas são inseridas às 0h 45, 1h 45, 2h 45, 4h 45, 7h 45, 10h 45, 11h
45, 17h 45, 21h 45, 22h 45 e 23h 45.
Meditsch (opus citatum, p.161) lembra que há uma oscilação
permanente de recepção entre o ouvir (nível pré–consciente) e o escutar
(intencionado) do público. O rádio ressalte–se, não é uma mídia absorvente e
excludente no sentido de mobilizar uma atenção absoluta do enunciatário
(ouvinte) como os impressos. Desta forma ele destaca:
A recepção desse discurso é, caracterizadamente, uma
atividade secundária do ouvinte, realizada simultaneamente a outras
atividades com que divide a atenção. Assim, além do zoom auditivo
entre o ouvir e o escutar, a recepção do rádio é caracterizada por um
zapping perceptivo entre essa atividade e a principal.
Logo, o que fica evidente é que cada mensagem do bispo Macedo vem
recheada de apelos que servem como estratégias para tentar ganhar a atenção
dos ouvintes. Ele destaca que a Bíblia relata que “formosos são os pés dos que
evangelizam. Quão formosos são os pés daqueles que anunciam boas novas”.
Edir é categórico ao afirmar que está tocando a trombeta para conclamar
auxiliares, ou seja, pessoas que vão o ajudar economicamente, sustentar o
trabalho evangelístico através da Rede Aleluia. Ele afirma que quer comprar,
adquirir ou alugar mais emissoras de rádio para poder levar o evangelho às
pessoas aflitas e desesperadas. Edir atribui à sociedade a destruição de
algumas pessoas. O bispo tenta arrebatar, sustentar e fidelizar os seus
possíveis futuros auxiliares por meio de vários apelos dentro das mensagens;
fica evidente que ele gerencia bem o ritmo de sua fala em cada uma delas.
Com isto, impõe o querer/saber do público ouvinte e desperta sua curiosidade.
É a estratégia do arrebatamento.
Fernandes (opus citatum, p.102), certifica que:
No rádio, a atenção é arrebatada, “fisgada”, principalmente a
partir da quebra de continuidade entre unidades (como a passagem
de uma voz do âncora para a do repórter em segmentos muito curtos)
e, no nível da unidade, por alterações bruscas (como um entrevistado
que, em determinado momento, mostra irritação e abandona o tom
mais ameno. Do ponto de vista sonoro, uma descontinuidade é tanto
uma baixa estimulação sonora após muito barulho como o inverso. O
que é mais perceptível para o ouvido é a passagem entre dois tipos
de sons distintos.
Além de dominar bem o ritmo do que expressa nas mensagens, Edir
Macedo faz pequenas pausas na sua locução, pequenos silêncios,
possivelmente, propositais. É o que se pode chamar de estratégias de
sustentação e fidelização.
O Manual da Jovem Pan (1986: 79), de Maria Elisa Porchat, detalha
esse efeito – ao relacionar a curiosidade do ouvinte, a tensão e a atenção – por
meio de depoimento da professora de dicção e oratória Maria José de
Carvalho, ex – docente da ECA/USP:
Para enfatizar as palavras importantes, não devemos
aumentar o volume da voz. É o que chamamos de pausa de tensão
que prepara uma palavra importante. O locutor deve sempre imaginar
um ouvinte ativo, interlocutor. Este ouvinte a todo o momento o
interrompe para fazer perguntas. Ao imaginar interrupções com
perguntas do gênero “o quê?”, “onde?”, “por quê?”, etc. o locutor faz
uma pausa de tensão, importante para a expressão.
Como o bispo Edir Macedo é uma das vozes mais veiculadas na
programação da Rede Aleluia, ele consegue criar o sentido de familiaridade
com os radio ouvintes. Fernandes (2006: 111) garante que “a oralidade dos
profissionais do rádio é uma “espontaneidade treinada” com o objetivo de
persuadir o público da existência de um determinado nível de improvisação”.
O principal mentor da IURD insiste, veementemente, nas mensagens
para que as pessoas ajudem o ministério radiofônico. Segundo ele, essa “oferta
missionária” vai servir como uma espécie de parceria entre o ouvinte, ele e o
próprio Deus. “Se você não participa, como é que você pode ser abençoado?”
Questiona Macedo. E, por fim, Edir garante, mais uma vez, que Deus tem
obrigação de abençoar a vida daqueles que são fiéis. “Deus não pode ser infiel
na sua promessa”, diz ele.
O líder da denominação iurdiana explicita nas mensagens que são
gastos mensalmente cerca de R$ 7 milhões para sustentar os programas de
rádio. E faz um apelo para que os auxiliares o ajudem mensalmente com R$
20; 30; 50, R$ 100 ou mais. Estas quantias, diz Macedo, são para “salvar
almas” e “construir o templo de Deus” no coração de cada ouvinte. O que fica
evidente é que a IURD procura, a cada dia, captar e manter a atenção do
público ouvinte e aumentar o seu conglomerado comunicacional.
Frente a essas afirmações, verifica–se que a Rede Aleluia é usada pela
Igreja Universal do Reino de Deus como instrumento eficiente para massificar
sua mensagem evangélica. Como aliada da Universal, a Rede Aleluia é uma
espécie de “igreja eletrônica”: quando a IURD fecha as portas de seus templos,
as portas da Rede Aleluia estão 24 horas abertas através da programação
evangélica.
Os programas são produzidos com técnica e sofisticação e recebem
recursos obtidos através de um apelo que muito pouco lhes custa – os dízimos
e as ofertas dos fiéis.
Pela Rede Aleluia, a igreja intervém psicologicamente na auto–estima
dos ouvintes da programação iurdiana, levando-os a modificar determinados
comportamentos por meio do uso eficaz da técnica expressa no discurso oral
dos “pregadores”, ao trabalhar o lado sentimental das pessoas.
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) fundamenta suas bases no
modo de vida capitalista. Como está inserida em uma sociedade globalizada e
produtora de seres humanos frustrados, ela procura suprir as necessidades
destes apresentando soluções específicas através de reuniões que acontecem
durante toda semana em seus espaçosos templos. Cada pregador iurdiano
estabelece com aqueles que os procuram uma espécie de acolhimento, ou
seja, um atendimento personalizado.
Para
efetivar
este
atendimento,
cada
pastor
da
Universal
–
principalmente os mais influentes e que apresentam programas nas emissoras
que integram a Rede Aleluia – atendem aos fiéis ou futuros membros por
telefone, durante os programas de rádio; convidam–os a participar das
reuniões nos templos da IURD e se comprometem em dedicar parte do seu
tempo para eles, antes ou depois das reuniões. Eles também disponibilizam
seus endereços de e–mails; solicitam que as pessoas mandem cartas e
chegam a ir às residências daqueles que não têm como ou não podem se
deslocar até os “Templos da Fé”. Toda esta disponibilidade dos pastores os
coloca no patamar de pregadores dedicados full time aos fiéis ou futuros
adeptos. Ou seja, com tais atitudes cria–se um ambiente “favorável” para que
as pessoas possam encontrar a saída para suas dificuldades. É o que se pode
chamar do livre acesso da população à solução dos problemas. É o
estabelecimento de uma “Pseudo–Democracia”. Na verdade, isto não passa de
mais uma estratégia usada pela IURD para angariar fundos e dar continuidade
ao seu processo de expansão no campo religioso.
Conclui–se que a Universal, por meio da Rede Aleluia e sua extensa
rede midiática, tenta chamar a atenção do povo, expandir o seu público
seguidor e propagar suas formas de lidar com as angústias das pessoas.
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