Fernanda Petinati Coutinho - grupo

Transcrição

Fernanda Petinati Coutinho - grupo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP
Escola de Comunicações e Artes – Eca
Curso de Gestão Integrada da Comunicação Digital em Ambientes Corporativos
Crowdsourcing: A influência da internet na comunicação como base dos
processos gregários
Fernanda Petinati Coutinho
São Paulo
2012
FERNANDA PETINATI COUTINHO
Crowdsourcing: A influência da internet na comunicação como base dos
processos gregários
Monografia apresentada à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo como requisito básico para
obtenção de título de especialista em
Comunicação Digital.
Orientador: André de Abreu
SÃO PAULO
2012
Autorizo a divulgação e reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte.
COUTINHO, Fernanda P. Crowdsourcing:
A influência da internet na
comunicação como base dos processos gregários. Especialização em
Comunicação Digital. Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo.
2012.
Palavras-chave: Crowdsourcing, Instintos Gregários, História da Comunicação,
Grupos, Internet.
FERNANDA PETINATI COUTINHO
Crowdsourcing: A influência da internet na comunicação como base dos processos
gregários
Trabalho de conclusão do curso de especialização em Gestão Integrada da
Comunicação Digital em Ambientes Corporativos, pela Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo
Aprovado em ______ de ______________ de 2012
Aprovado por:
André de Abreu
"Nada é permanente, salvo a mudança."
Heráclito
AGRADECIMENTOS
Agradeço e dedico este trabalho aos melhores amigos que já tive: Ana Cristina e
Gabriel. Nenhum produto intelectual seria possível não fosse o esforço, influência,
dedicação, educação e apoio dedicados a mim por eles desde meu primeiro dia de
vida.
Também agradeço ao irmão que escolhi, Vinícius, cuja crença em meu sucesso
sempre me deu forças para seguir em frente.
Aos colegas da DPZ pela paciência e suporte durante todo o período de
desenvolvimento, sabendo o quanto meu comprometimento teve de ser duplicado
para que todas as atividades concomitantes saíssem da melhor forma possível.
Aos queridos amigos do Digicorp por toda a experiência compartilhada, ajuda e
apoio, além da inigualável amizade por meio da qual meu conhecimento foi
ampliado.
Por fim, e não menos importante, ao meu querido orientador André de Abreu, sem o
qual este projeto não teria sequer sido estruturado com adequação e relevância, e
que me fez compreender muito mais do que o simples leque da comunicação digital,
participando ativamente do meu crescimento profissional e pessoal.
RESUMO
A comunicação é a base de todos os grupos como fator essencial de interação, e
estes existem por diversos motivos – sobrevivência e psicológicos, de inclusão e
pertencimento – desde o princípio da existência do homem. A internet, seja como
um meio de comunicação ou um ambiente de interação, modificou a forma como as
pessoas se juntam e influenciou o desenvolvimento de todas as comunidades atuais,
principalmente por ser livre de barreiras geográficas e temporais, aumentando o
alcance de qualquer mensagem, criando informação, conhecimento e poder. Desta
forma, observamos, como produtos da cibercultura, alguns fenômenos que se
fundamentam nos grupos sociais. Um exemplo é o “crowdsourcing”, no qual pessoas
de diferentes localidades e interesses se unem em grandes contingentes em prol de
um objetivo em comum – algo que dificilmente seria possível no ambiente “offline”.
O estudo proposto pretende entender como essas interações são possíveis e seus
fatores motivacionais.
ABSTRACT
Communication is the basis of all groups as an essential factor of interaction, and
exists for various reasons – psychological, survival, inclusion and belonging - from
the beginning of man's existence. Internet, either as a means of communication or
interaction environment, changed the way people gather and influenced the
development of all communities today, mainly because it is free of temporal and
geographical barriers, increasing the reach of any message, creating information,
knowledge and power. Thus, we observe, as products of cyberculture, some
phenomena that are grounded in social groups. An example is "crowdsourcing" in
which people from different locations and interests come together in large numbers
towards a common goal - something that would be hardly possible in the "offline"
enviroment. The proposed study aims to understand how these interactions are
possible and their motivational factors.
SUMÁRIO
!
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
1.1. Sobre o Estudo ................................................................................................... 10
1.2. Objetivos ............................................................................................................. 13
1.2.1. Objetivo Geral .................................................................................................. 13
1.2.2. Objetivos Específicos ....................................................................................... 13
1.3. Justificativas ........................................................................................................ 13
1.4. Metodologia......................................................................................................... 14
2. COMO E PORQUE O SER HUMANO É GREGÁRIO........................................... 17
2.1. Compreendendo o Princípio: Instinto de Sobrevivência ..................................... 17
2.3. A Teoria da Identidade Social ............................................................................ 22
2.4. Tipos de Ações Sociais ...................................................................................... 23
3. COMUNICAÇÃO: A BASE DOS GRUPOS .......................................................... 25
3.1. Definição de Comunicação ................................................................................. 25
3.2. Relação entre Comunicação, Instintos Gregários e Motivações Humanas ........ 28
4. DIGITAL, INTERNET E CROWDSOURCING ....................................................... 32
4.1. O que é Internet – Breve História e Conceitos.................................................... 32
4.2. A Internet Transformando a Comunicação em Digital ........................................ 34
4.3 O que é e Como se dá o Crowdsourcing ............................................................. 40
4.4. Aplicabilidade - Cases Práticos de Crowdsourcing............................................. 43
4.4.1. Wikipédia.......................................................................................................... 43
4.4.2. Linux................................................................................................................. 44
4.4.3. Fiat Mio ............................................................................................................ 45
4.4.4. iSockPhoto ....................................................................................................... 45
4.4.5. My Starbucks Idea ........................................................................................... 46
5. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 48
6. ANEXO .................................................................................................................. 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 54
WEBGRAFIA ............................................................................................................. 57
10
!
1. INTRODUÇÃO
1.1. Sobre o Estudo
O fator gregário é um valor intrínseco ao ser humano. Desde suas origens
mais remotas, o homem vê a necessidade de estar próximo ao seu semelhante. Isso
ocorre porque o mesmo possui instintos inatos, como o de sobrevivência e
necessidade psicológica de inclusão, como já citado por Ki-Zerbo (2010) e
Chiavenato (2001), além de muitos outros autores citados posteriormente. Tão
natural quanto este desejo de estar próximo é a percepção de que junto com outros,
o homem consegue desempenhar tarefas ou solucionar questões de uma forma
mais eficaz, rápida e fácil.
Analisando todos os processos sociais envolvidos no fator gregário, é
natural concluir que a comunicação possui um papel essencial, ao mesmo tempo,
que sabemos como nos últimos 40 anos - quando o computador deixou de ser algo
inalcançável e se tornou um equipamento pessoal cotidiano - a forma de criar e
disseminar informações foi radicalmente transformada com a digitalização dos
processos comunicacionais. À luz destas mudanças e dos impactos que elas trariam
a estes processos básicos de “estar junto” e “executar tarefas em conjunto”, a
presente dissertação tem como objetivo analisar a influência da revolução
tecnológica digital no processo de utilização da comunicação como instrumento de
agregação.
A análise e a pesquisa realizadas sobre o tema pretendem levar ao
entendimento
mais
profundo
de
um
termo
muito
usado
atualmente,
o
“crowdsourcing”, que significa, em uma primeira abordagem, a união de pessoas na
internet em prol de um objetivo em comum, sendo este uma solução para um
problema qualquer, para uma nova tecnologia ou para a criação de conteúdos. A
ideia é utilizar o conhecimento coletivo, técnico ou empírico, profissional ou amador
de forma completamente livre de barreiras geográficas.
De acordo com Aliza Sherman (2011, p. 14), o conceito de
“crowdsourcing” é "explorar os conhecimentos de uma multidão de pessoas usando
a internet e ferramentas ‘online’ para realizar trabalhos, obter ideias e estimular
11
!
ações". As pessoas que fazem parte de um projeto de “crowdsourcing” podem estar
em qualquer lugar do mundo e não necessariamente se conhecem, tampouco são
profissionais ou experts, pelo menos na maioria dos casos, naquilo que estão
trabalhando em conjunto, mas se unem em grupo para desenvolverem juntos algo
que uma única pessoa não conseguiria - ou, na melhor das hipóteses, precisaria de
muito mais tempo e investimentos. Essa pesquisa remete a um pensamento de
Howe (2009, p. 9) criador do tema:
“Embora o crowdsourcing esteja mesclado com
a internet, sua essência não é a tecnologia. [...] Muito mais
importante e interessante são os comportamentos humanos
que a tecnologia engendra, especialmente o poder que a
internet tem de interligar a massa da humanidade em um
organismo próspero e infinitamente poderoso. É a ascensão
da rede que nos permite explorar um fator do trabalho
humano muito mais antigo que a internet: a capacidade de
dividir uma tarefa hercúlea, como escrever uma exaustiva
enciclopédia, em pedaços pequenos o bastante para serem
concluídos não só de forma viável, mas também divertida".
Desde o princípio dos tempos, o homem teve a necessidade de se juntar,
de estar em grupo, e isso se dá por uma série de motivos, ligados à sobrevivência
da espécie - considerando seu caráter instintivo, já que é sempre muito mais fácil
cuidar, por exemplo, de um rebanho, com auxílio de outros, ao invés de sozinho,
pensamento este que permeia a vida do homem contemporâneo, tão distante dos
pré-hominídeos (KI-ZERBO, 2010, p. 839) - e às suas necessidades pessoais e
psicológicas, entre elas, a de inclusão, de segurança, de fazer parte de algo, a
necessidade de uma aprovação social que ajuda o ser humano a fazer parte de algo
(CHIAVENATO, 2001, p. 98).
É possível compreender que em uma sociedade em grupo, há a
possibilidade de divisão de tarefas que não se verifica quando o ser vive solitário,
considerando que um único indivíduo tem limitações em relação a habilidades e
tempo de realização de tarefas, fato que criaria graves barreiras para que a espécie
se perpetuasse. Outro motivo é o ser humano vivendo em grupo: há um auxilio em
sua defesa, que em um primeiro momento é física, e em segunda instância, abriga
questões psicológicas, sentimentais e intangíveis, só permitidas pela construção de
relações gregárias entre indivíduos.
12
!
O ser humano se conecta e expressa suas necessidades por meio da
comunicação, dotada de signos e elementos: “Cada individuo se expressa usando
suas aptidões e as técnicas disponíveis em seu tempo" (GONTIJO, 2004, p. 14). A
comunicação foi sendo construída ao longo dos tempos para permitir a interação
entre os indivíduos de forma mais contundente e específica, e foi se adaptando de
acordo com a evolução de tecnologias que facilitam essas interações. No momento
contemporâneo, vivemos a explosão da internet - ou seja, dos computadores
conectados entre si - com infinitas funcionalidades, agilidade, alcance e
potencialização. Em 2011, o mundo chegou a 2,1 bilhões de usuários de internet eram 361 milhões em 2000, segundo a empresa de consultoria e monitoramento
Pigdom (INTERNET 2011 IN NUMBERS, 2012). É natural que a comunicação
também tenha passado por um processo de adaptação a essa plataforma, fato que
intrinsecamente acaba gerando uma mudança nos próprios grupos: se os grupos
são baseados na comunicação e esta se modifica, os grupos acabam se moldando
também nestes novos alicerces.
A proposta da presente pesquisa é apontar, primeiramente, as fontes que
originaram as necessidades humanas gregárias, traçando um perfil histórico. Essas
necessidades serão desdobradas nas motivações inatas ou desenvolvidas que
levam o ser humano a se agregar. Em seguida, será examinado o que é a
comunicação, como ela se dá dentro do conceito de grupos e qual é a relação entre
a comunicação e as motivações gregárias.
A análise do histórico desse comportamento é a nossa chave para
desmistificar
um
conjunto
de
atitudes
considerado
novo
e
desenvolvido
exclusivamente no ambiente “online”, embasando ações que utilizem estruturas
grupais como subsídio de funcionamento para prever futuros resultados, formas de
reação dos usuários e consequentemente, mais concretas e menos especulativas.
À medida que a pesquisa se desenvolver, nossa proposta principal será
melhor visualizada: traçar os primeiros paralelos e questionamentos que,
futuramente, possibilitarão estudos mais aprofundados sobre o tema.
13
!
1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral
Analisar a influência do ambiente digital no processo de utilização da
comunicação como instrumento de agregação.
1.2.2. Objetivos Específicos
•
Identificar as movimentações do ser humano em grupos fora do ambiente
digital e por quais motivos básicos ele se une;
•
Compreender como a comunicação é um instrumento de agregação;
•
Verificar por quais motivos a internet gera um novo comportamento
gregário.
1.3. Justificativas
O “crowdsourcing” é um tema de grande repercussão nos dias atuais,
conforme pode ser notado em uma simples pesquisa “online” sobre colaborativismo
na internet. Somos fortemente impactados por notícias sobre como esse método
vem sendo aplicado por empresas, grupos interessados em determinados objetivos
e como tem sido bem sucedido. A prova disso é a existência de uma série de sites e
empresas que se prestam ao modelo, como o Crowdsourcing.org, em caráter mais
teórico, e outros que o aplicam como procedimento operativo comum, como a
Wikipedia, o My Starbucks Idea, o Fiat Mio etc.
O colaborativismo “online” tem sido considerado uma novidade de grande
interesse, como prova uma matéria publicada na Marketing Magazine, na versão
web da revista australiana, inserida no dia 24 de Agosto de 2012 (MARKETING
MAGAZINE, 2012), que diz: “Without a doubt, collaboration is the new black” - em
tradução simples, “Sem dúvidas, colaborativismo é o novo preto”, mas que, em seu
sentido pleno, faz referência à cor preta para vestuário que tem como atributo
positivo ser clássica e jamais sair da moda. O artigo explica, em si, como é esta
14
!
“novidade mercadológica” e como se aproveitar dela no campo comercial. A questão
relevante é que, por trás desse colaborativismo “online”, há um fator de
comportamento do ser humano baseado em necessidades e expresso em
comunicação, e que, à evidência, sofreu alterações com o advento da internet.
A proposta deste trabalho é entender como a internet influenciou o
processo gregário do ser humano nos dias atuais, o que acabou por produzir
produtos como o “crowdsourcing”.
A necessidade prática essencial do estudo que propomos reside no fato
de não existir pesquisas que evidenciem a equação acima descrita, deixando uma
lacuna na investigação e entendimento do processo e na linha de raciocínio aplicada
pelo mercado para sua utilização. Ao compreender a raiz de onde vem o
“crowdsourcing” e o colaborativismo “online” - suas raízes e motivações – e bem
como o mecanismo por trás das atitudes humanas nesse campo, o estímulo
mercadológico é melhorado, gerando resultados mais eficazes.
1.4. Metodologia
De acordo com Koshe (2002, p. 74) “a metodologia deve esclarecer a
forma que foi utilizada na análise do problema proposto” em um material de estudo
científico, tal como o presente trabalho se define. Desta forma, é necessário
compreender qual o método aplicado na realização desta pesquisa.
Dois tipos de métodos de pesquisa foram escolhidos e aplicados para
melhor rendimento do trabalho:
Exploratória – visa realizar uma profunda investigação para descobrir
características básicas das variáveis em questão e suas naturezas (KOSHE, 2002,
p. 83)
Correlacional – estudar a relação entre duas ou mais variáveis dentro do
contexto (SAMPIERI, 2006, p. 34).
15
!
A pesquisa é exploratória pelo fato do estudo ser relacionado a um tema
novo e “emergente sobre o qual os pesquisadores precisam tomar conhecimento,
porém ainda muito novo para propor boas práticas” (POYNTER, 2008, p. 12). O
esforço do estudo se dará no sentido de detectar e analisar, ainda que em
abordagem menos profunda, a existência do fenômeno, sem se ater a outras
mudanças que o mesmo possa ter gerado em outros campos de atividade ou
interesse diferentes do analisado. Ao mesmo tempo, a pesquisa é correlacional, pois
terá como objetivo relacionar diferentes temas para chegar a um raciocínio científico
uniforme.
Considerando seu aspecto de pesquisa correlacional, será também
necessário delimitar o problema de investigação previamente: “Um problema de
investigação delimitada expressa a possível relação que possa haver entre, no
mínimo, duas variáveis conhecidas” (KOCHE, 2002, p. 106). O autor ainda cita que:
“A delimitação do problema de pesquisa
é resultado de um trabalho mental, de construção
teórica, com o objetivo de estruturar as peças soltas
do quebra-cabeças, procurando entender a malha de
relações de interdependência que há entre os fatos.
A busca dessa inter-relação é desencadeada pelo
problema de investigação” (KOCHE, 2002, p. 108).
Assim, o problema de pesquisa ou de investigação aqui posto é: como a
internet modificou a forma como os grupos se relacionam? A construção teórica
deverá juntar questões sobre como o ser humano começou a se unir em grupos e
por quais motivos, quais as motivações básicas do homem para isso, como e porque
a comunicação faz parte desse processo, o que é Internet e como o digital afetou
essa cadeia. Considerando todas estas variáveis, a pesquisa se encarregará de
fazer as conexões para responder ao seu problema de pesquisa.
A pesquisa, na prática, será feita por meio das técnicas de revisão
bibliográfica. Partiremos do "levantamento de referências teóricas já analisadas e
publicadas por meios escritos e eletrônicos, como licros, artigos científicos, página
de web sites" (SARAIVA apud MATOS & LERCHE, 2001, p. 40). Esse método
permeará todo o presente estudo, seguindo as etapas descritas por Stumpf (apud
DUARTE & BARROS, 2005, p. 55):
16
!
•
Identificação de temas e assuntos;
•
Seleção de fontes;
•
Localização e obtenção de material;
•
Leitura e transcrição dos dados.
Ao final, será verificada a possibilidade de, com o material acumulado,
responder ao problema de pesquisa e o que se concluirá a partir de todas as teses
estudadas.
17
!
2. COMO E PORQUE O SER HUMANO É GREGÁRIO
O homem é reconhecidamente um ser que vive em grupos, conduta que
também é conhecida para a maioria dos animais. Em grande parte, conforme
veremos a seguir, a motivação para viver em comunidade vem de uma necessidade
de sobrevivência que é primeiramente física; porém, o homem tem a peculiaridade
de se guiar também por aspectos psicológicos que tornam sua convivência grupal
muito mais complexa e, por isso, passível de diferentes análises. Para compreender
a interação “online” do homem, é necessário primeiro compreender por quais
motivos ele interage independente do meio.
2.1. Compreendendo o Princípio: Instinto de Sobrevivência
A união em grupos é intrínseca ao homem e proveniente de uma
necessidade inata. Isso é comprovado pela história do ser humano em sociedade
que remete à pré-história. Segundo KI-ZERBO (2010, p. 840): “Os pré-hominídeos e
os homens pré-históricos africanos viveram em rebanhos, depois em bandos, em
grupos e em equipes organizadas graças às tarefas técnicas concretas que eles,
para sobreviverem e viverem melhor, só podiam realizar em grupo”,
Segundo o autor supracitado, na Era Paleolítica, havia poucas opções
para os homens: a coleta, a caça ou a pesca. A partir do Neolítico, novas tarefas
começaram a despontar, tais como cavar fontes d’agua, transportar animais etc. essas tarefas começaram a se tornar bastante especializadas, necessitando que
houvesse uma divisão de tarefas. (KI-ZERBO, 2010, p. 840). Foi nesse momento
que o homem começou a demonstrar que a coletividade era conduta mais adequada
que a possível opção de viver sozinho na natureza.
Em outras palavras, o homem em grupo poderia dispor de uma divisão de
tarefas que facilitaria a sua vida – sem a qual jamais seria suficiente para realizar
todas elas se estivesse sozinho.
“O habitat já é um aspecto comunitário
que aparece desde os primeiros albores da
inteligência humana. Há sempre um lugar para
reunião, mesmo que transitório, um lugar adaptado
18
!
ao repouso, à defesa, ao abastecimento. [...] Além
disso, Nossos ancestrais pré-históricos não podiam
abater animais dotados de maior força do que eles, a
não ser por meio de uma organização superior” (KIZERBO, 2012, p. 839).
Podemos, a título meramente ilustrativo, traçar um paralelo com uma
empresa: dentro de uma estrutura comercial, há pessoas designadas para diferentes
funções. Uma só pessoa não poderia abranger e nem se responsabilizar por todas
as tarefas. Portanto, a existência de empresas, como organizações de reunião de
esforços para um objetivo, acaba facilitando a vida do homem. Foi com este viés que
o homem ancestral começou a se agregar: facilitar sua vida e a realização de tarefas
cada vez mais complexas e especializadas.
Nota-se que a sociedade sempre evoluiu pensando, estrategicamente,
nos benefícios que poderia conquistar em grupo em detrimento dos perigos e
desvantagens que sofreria vivendo em solidão. “A coesão grupal é um é uma
condição de elevação da produtividade”. (CHIAVENATO, 2001, p. 136). Quando
mais coeso é um grupo, mais produtivo ele se torna.
Quando referimos os fundamentos da sociedade como um todo
organizado, Chinoy (1999, p. 80) dá uma definição para "grupos" que diz: "Muitos
grupos são associações, constituídas de indivíduos que se reúnem para atingir uma
ou várias metas semelhantes ou comuns, ou para defender um interesse comum ou
semelhante". O ser humano, basicamente, depende dessas associações para
defender os interesses que não conseguiria sozinho.
2.2 As Necessidades Psicológicas do Homem em Grupo
Além das necessidades “físicas”, ou seja, as de sobrevivência biológica já
referidas, o ser humano tem uma série de necessidades psicológicas que permeiam
todo o seu curso de vida. O conceito necessidade psicológica ou necessidade de
participação, cunhado por Chiavenato (2001, p. 98), diz:
“Necessidade de participação: é a necessidade
de fazer parte, de ter contato humano, de participar
conjuntamente de alguma coisa ou empreendimento. A
aprovação social, o reconhecimento do grupo, a
necessidade do calor humano, de fazer parte de um grupo,
19
!
de dar e receber amizades são necessidades que levam o
ser humano a viver em grupo e se socializar”.
Desta forma, entende-se que não são só apenas as necessidades de
defesa, sobrevivência e divisão de tarefas que permeiam a união dos seres
humanos, mas também suas necessidades psicológicas de inclusão fazem parte
dessa equação. A importância de estar entre semelhantes vai além do tangível e
inclui o plano social que valora as ações, a identificação, o reconhecimento e a autorealização entre os demais. Tudo isso acaba gerando diversos tipos de ações
sociais, com diferentes motivações.
O plano social, termo também conhecido como “capital social”, embutido
nas ações do homem - citado por diversos autores, como Putnam (1993), Bordieux
(1998) e Santos (1993) (os autores vão com todas em maiúsculas?) – é de suma
importância, pois ele permeia todo tipo de relação gregária, podendo ser
considerada uma espécie de “elemento de troca” entre os seres humanos. A troca,
independente do tipo, se dá por esse “capital social” que, segundo Putnam, é o
conjunto de “características da organização social, como confiança, normas e redes,
que podem melhorar a eficiência da sociedade ao facilitar ações coordenadas”
(PUTNAM, 1993, p. 167). Sem essas características, dificilmente haveria uma “regra
social” possibilitando a organização grupal que permite realizações coletivas. Uma
organização precisa se compreender como uma e ter um valor por trás de tudo o
que é feito, de forma que seja motivacional aos seus participantes. Há dois tipos de
capital social, segundo Santos (1993), o estrutural e o cognitivo:
"O capital social estrutural diz respeito às
instituições,
normas
(regras
formais:
legislação,
regulamentos das organizações etc.) e meios pelos quais
o capital social se manifesta. O número de associações
(verticais ou horizontais) existentes em uma comunidade,
a tecnologia disponível, as leis e o conjunto de políticas
públicas que promovem ou facilitam a interação entre as
pessoas e a ação coletiva, são exemplos da forma
estrutural de capital social. A forma cognitiva de capital
social diz respeito a conceitos mais abstratos e subjetivos,
como confiança, reciprocidade, solidariedade, atitudes,
valores e crenças."
(SANTOS, 1993, p. 16)
20
!
Ou seja, todo tipo de associação exige uma valoração por trás das
atitudes tomadas, e isso se expressa de forma tangível e intangível, porém,
sempre baseando as relações existentes em um grupo para que o mesmo funcione
e se organize.
De acordo com Franklin (2003, p. 15) "a visão de Putnam foca sua
preocupação no nível 'micro' da sociedade, isto é, nas associações horizontais que
surgem em uma determinada comunidade visando a resolver seus dilemas
coletivos".
Já Bourdieu (1998, p. 67) define ‘capital social’ como:
"conjunto de recursos reais ou potenciais
ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou
menos institucionalizadas, de interconhecimento e de interreconhecimento mútuos, ou, em outros termos, à vinculação
a um grupo, como o conjunto de agentes que não somente
são dotados de propriedades comuns, mas também que são
unidos por ligações permanentes e úteis".
Ambas as conceituações nos levam a um mesmo corolário: que o vínculo
em grupo carece de propriedades que se tornam o capital social de um grupo. Em
outras palavras, capital social é o conjunto de valores e associações que uma
comunidade tem dentro de si, cultural e historicamente.
Diferentes formas de capital social são mobilizadas dentro dos grupos, de
acordo com a definição de Bertolini e Bravo (2001), desenvolvendo-se em cinco
conceituações chamadas, pelos autores, de "dimensões do Capital Social”. São
elas:
• RELACIONAL
O capital social relacional refere-se às relações estabelecidas entre os
indivíduos, em nível individual ou coletivo, de acordo com seu grau de
intensidade e necessidade.
• NORMATIVO
21
!
Já o capital social normativo é, em linhas gerais, o conjunto de normas
e regras que devem ser seguidas pelos indivíduos de determinado grupo social.
• COGNITIVO
O capital social cognitivo possui relação com a aquisição e
transmissão de conhecimentos que auxiliem os envolvidos na relação social em
si.
• CONFIANÇA NO AMBIENTE
A confiança depositada pelos indivíduos do grupo no ambiente no qual
o coletivo se desenvolve é a chave para compreender o valor do “capital social”
como um todo, pois ela ditará, por exemplo, o nível de exposição do mesmo.
• INSTITUCIONAL
Diz respeito à forma de organização com que a instituição onde o
grupo social está inserido se apresenta, e, consequentemente, às relações,
normas etc. efetuadas por ela.
Observa-se que, em uma comunidade, é necessário que haja um
elemento de troca que permita a exposição, disposição de informações,
oferecimento de dados e valores como confiança, solidariedade, valores e crenças
que são estritamente necessários para oferecer um ambiente fértil para a
coletividade se desenvolver. O capital social nada mais é do que aquilo que permite
que o grupo exista por conta daquilo que cada indivíduo pode oferecer e como ele
deve oferecer ao grupo. Mais do que isso, “uma determinada forma de capital social
que é valiosa para facilitar certas ações pode ser inútil ou até mesmo prejudicial para
outras” (COLEMAN, 1988, p. 5). Cada grupo possui o seu capital social e é ele que
ditará como os usuários interagirão entre si.
22
!
2.3. A Teoria da Identidade Social
Uma das questões relevantes ao nosso estudo das motivações do ser
humano em comunidade remete à noção de pertencimento a um determinado grupo
social. Esse tema, por meio da psicologia, foi bastante abordado por Tajfel (1972, p.
48), que entende a identidade social como a percepção de pertencer a esse grupo
em si. O autor afirma que a “identidade social está associada ao conhecimento da
pertença aos grupos sociais e ao significado emocional e avaliativo dessa pertença”.
Tajfel (1972) ressalta que essa percepção consiste em categorizar os
grupos sociais formados pela sociedade, cujas características coletivas combinam
com as individuais, criando um ambiente de confiança e sem conflitos. Ainda de
acordo com o autor, esse agrupamento pode até ser uma escolha do indivíduo, mas
por muitas vezes, é uma imposição externa em relação àquilo que os grupos têm
como objetivos; em outras palavras, uma pessoa pode até fazer parte de um grupo
por que ela quer, mas normalmente, ela se envolve com os grupos que estão de
acordo com suas características pessoais, mesmo que de forma casual, assumindo
uma imposição muito mais social que pessoal.
A cognição, individual e coletiva, que leva ao agrupamento tem sempre
um forte caráter afetivo conectado a ela, ou seja, o sentimento de "fazer parte de
algo". Tajfel (1972) denomina essa reflexão de "A teoria da Identidade Social": ao
partilhar um objetivo e fazer parte da construção de algo ou de uma divisão de
tarefas, automaticamente, o indivíduo está dentro de um processo em comum, com
limites criados pelos próprios usuários. O grupo onde o usuário está inserido,
segundo o autor, é o “ingroup”, e os grupos externos dos quais ele não faz parte,
“outgroup”. Uma característica interessante notada nos participantes dos grupos é
que eles sempre enxergam o “ingroup” como algo heterogêneo, enquanto que, do
ponto de vista do “outgroup”, é visto como homogêneo.
Considerando que há a possibilidade de interação entre grupos sociais na
construção de um projeto com objetivo em comum, nos deparamos com o que ele
denomina de teoria da relação intergrupal, o que é perfeitamente aceitável na visão
do autor: "Sempre que indivíduos pertencentes a um grupo interagem, coletivamente
ou individualmente, com outro grupo ou seus membros em termos de sua
23
!
identificação com o grupo, temos um exemplo de comportamento intergrupal"
(SHERIF, 1966 apud TAJFEL, 1982, p. 12).
Por meio desta análise, conclui-se que, para que o usuário faça parte de
um grupo, sua única necessidade é a de aceitação e pertencimento, se identificando
com os objetivos dos demais do grupo, podendo se relacionar com outros grupos de
acordo com suas prioridades e interesses em comum.
2.4. Tipos de Ações Sociais
Entende-se que dentro do comportamento gregário há uma doação - seja
ela de conhecimentos ou recursos diversos - realizada pelo indivíduo a favor do
grupo. Essa doação ultrapassa os limites da convivência em comunidade e vai além,
pois o objetivo não é restrito à convivência pessoas com os mesmos interesses, mas
também realizar algo de útil com o conhecimento acumulado por cada indivíduo.
Max Weber (apud ARON, 2008) criou uma lista do que ele chamou de
“tipos de ações sociais”. Seriam elas ações premeditadas, não eventos corriqueiros
e espontâneos. Por meio delas, é possível entender a motivação básica que permeia
as atitudes de qualquer ser humano - para daí, como consequência, compreender o
comportamento do usuário que participa de ações coletivas. São elas:
• Ação Racional com Relações Afins
É a ação pessoal pensada previamente visando atingir um objetivo pessoal. É
determinada por expectativas que geram condições e/ou meios para chegar a
algum ponto específico.
•
Ação Racional com Relação a Valores
É a ação que passa pelo crivo dos valores religiosos, éticos, morais ou de
qualquer natureza, se baseando na cultura intrínseca do indivíduo, que, ainda
que fundamente seu comportamento em determinados princípios, geralmente
não se preocupa com as consequências.
24
!
• Ação Afetiva
É a ação individual gerada por afetos ou estados sentimentais. É o ato
precedido por algo que gera emoção, que toca os sentimentos mais íntimos
do indivíduo, a ponto de lhe parecer natural qualquer ação, independente de
qual seja.
• Ação Tradicional
É a ação cujo cerne está na tradição cultural do indivíduo. É o ato que existe
por que ele aprendeu a agir assim, foi ensinado, está em suas regras e
conhecimentos.
O ponto mais relevante desta análise está em compreender que nenhuma
dessas ações, de acordo com o próprio autor, acontece de forma pura na vida real.
Um exemplo pode ser apresentado pelo lado afetivo das ações, em um sentido mais
singelo: a necessidade de se posicionar e se autovalorizar perante o grupo. Por
muitas vezes, o conhecimento é uma forma de obtenção de status social, que
permite que o ser humano não só permaneça como se destaque no grupo. “São as
respostas de aceitação ou de recusa dos outros que influenciam a determinação ou
a manutenção do status social” (HINDE, 1979; COIE & KUPERSMIDT, 1983 apud
SPINILLO, 2006, p. 98).
25
!
3. COMUNICAÇÃO: A BASE DOS GRUPOS
3.1. Definição de Comunicação
Ao falar sobre como os grupos se juntam e como seus participantes
interagem entre si, inevitavelmente chegaremos ao tema da comunicação, pois é
nela que se fundamenta o vínculo social necessário para a troca de informações,
aprendizagem e realização de tarefas (PICHON-RIVIÈRE, 1988, p. 37). O ser
humano precisa da comunicação para se compreender e para interagir - tanto que,
na literatura de psicologia e sociologia, interação e comunicação são consideradas a
mesma coisa (OUTHWAITE, 1993, p. 391). A própria Internet - um dos focos da
presente pesquisa - é considerada um meio de comunicação - e não um fim em si
mesmo. Para fazer a conexão entre o ser humano gregário e a forma como ele age
na Internet é necessário que se compreenda, primeiramente, o que é comunicação e
como ela se relaciona com temas como cooperação e motivações humanas
gregárias.
Etimologicamente, comunicação deriva da palavra latina “communis”, que
quer dizer "pertencente a todos ou a muitos" (LOPES, 2003, p. 42). Porém, mais do
que entender a sua raiz linguística, é necessário compreender a epistemologia e a
história da comunicação humana - sobre a qual esta dissertação se baseia.
A comunicação humana é um processo de troca de informações
utilizando símbolos e signos como suporte. "Para haver comunicação, são
necessários o emissor, a informação/mensagem e o meio pelo qual essa mensagem
é expressa, e por fim, o receptor" (GONTIJO, 2004, p. 14).
Segundo a mesma autora, a linguagem oral foi o primeiro meio de
comunicação do homem na pré-história e na Antiguidade. Mesmo na Idade Média,
quando o manuscrito começou a se difundir, ler e escrever ainda eram privilégios
destinados a poucos.
"Ao longo do tempo, a humanidade evoluiu
tecnologicamente e ampliou sua capacidade de sobreviver e
de produzir conhecimento. [...] Nossos ancestrais
26
!
desenvolveram sua motricidade e sua capacidade oral.
Criaram símbolos e metáforas da realidade, e, acima de
tudo, a linguagem verbal. Cada individuo se expressa
usando suas aptidões e as técnicas disponíveis em seu
tempo". (Gontijo, 2004, p. 14).
Com um olhar mais aprofundado, Marcondes (2010, p. 15) analisa que há
sinalização em todos os lugares: na natureza, nos animais, acontecimentos,
sensações. Segundo ele, tudo sinaliza. Desta forma, todos nós somos emissores,
independente do desenvolvimento de um conjunto de signos para a expressão. "Em
todos os formatos, estamos sempre emitindo sinais, difundindo, irradiando,
mandando ruídos e imagens".
Por essa linha de raciocínio, Marcondes (2010, p.19) diz que uma
sinalização pode se transformar em informação, desde que haja interesse para isso,
e essa informação pode se transformar em comunicação quando é compreendida,
quando há processo cognitivo envolvido quando é emitida, e, independente de seu
formato, ela é recebida de forma inteligível.
"Se tomarmos a comunicação como um
fenômeno de percepção e troca, não podemos reduzi-la à
transmissão de informação [...]. A veiculação da informação
por si não indica um fenômeno comunicacional de termos
por comunicação os encontros perceptivos entre agentes e
os produtos cognitivos que emergem". (GONTIJO, 2004,
p.52)
Ou seja, qualquer ação pode se transformar em comunicação, desde que
haja alguém para compreendê-la e absorvê-la. Porém, no processo evolutivo do
homem, isso não era suficiente. Se qualquer ação pode gerar uma comunicação
desde que haja emissão e entendimento, a construção de signos para essa
expressão veio para facilitar o processo, principalmente pela questão da evolução
dos conceitos de comunicação contemporânea: "O gesto, o desenho, a
comunicação visual foram ferramentas fundamentais para a comunicação, mas a
linguagem oral foi a aquisição mais valiosa de toda a humanidade" (GONTIJO, 2004,
p 15). A autora ainda completa:
27
!
"Alguns especialistas acreditam que a evolução
dos
seres
humanos
aperfeiçoamento
e
à
se
deve,
adaptação
basicamente,
da
tradição
ao
social
transmitida pelo preceito e pelo exemplo. E a transmissão
tanto de uma coisa quanto de outra não é possível sem a
linguagem".
E, de acordo com a própria autora, a linguagem - que baseia a
comunicação - foi evoluindo em torno da escrita, da imprensa, da mensagem sonora
(telégrafo, telefone e rádio) e da mensagem audiovisual até chegar na atual era
digital.
Segundo Ávila (1970, p. 178), os meios de comunicação conduziram a
evolução da humanidade através de três estágios:
•
Primeiro Estágio: o da tribalização, onde há o som, a acústica, as imagens e a
visão. É menos representacional e mais sentimental, emotivo. Sua expressão
está na linguagem oral e nas ações que geram uma comunicação.
•
Segundo Estágio: o da destribalização, o autor adapta teorias de McLuham1
(1969) para colocar que cada novo meio de comunicação termina como uma
extensão de um sentido, por ampliar o espaço onde o mesmo é exercido. Os
fenômenos letrados, como o livro e a mídia impressa, são as expressões
deste estágio.
•
Terceiro Estágio: é o mundo retribalizado. O autor usa a “aldeia global” de
McLuham (1969) para ilustrar essa questão, que abordaremos suscintamente
neste momento: McLuhan (1969) diz que a tecnologia envolveu e envolve a
todos nós de forma que, segundo ele, vivemos em uma aldeia global. Isso
significa que a informação transmitida de forma virtual tem enorme
contribuição para o desaparecimento das barreiras geográficas em escala
mundial. A consequência é que todas as pessoas estejam intimamente
conectadas, e desta forma, levando a necessidade de novos modelos e
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
! The Gutenberg's Galaxy, complementada pela obra subsequente, “The Understanding Media”, na
qual ensaia a mesma análise a respeito dos meios de comunicação mais modernos: o telégrafo, o
telefone, o cinema, o rádio e a televisão - Nota do autor, p. 182 !
"
28
!
estratégias não só organizacionais como sociais. Todos os meios eletrônicos
expressam esse momento, pois vão "estreitando e comprimindo a
humanidade numa rede instantânea de informações, vão propiciando uma
como que contração do espaço cultural e da consciência da espécie, que
McLuhan denomina de fenômeno da implosão" (Ávila, 1970, p. 186).
A comunicação é um fenômeno natural e está intimamente ligado ao
nosso processo evolutivo, como ferramenta facilitadora de sociabilização e de
expressão em cada período já enfrentado pelo homem, por meio da qual ele se faz
entender e se integrar.
3.2. Relação entre Comunicação, Instintos Gregários e Motivações Humanas
Segundo Grinberg (apud FLEURY, 2002, p. 238), um grupo é "uma
pluralidade de pessoas que, num determinado momento, estabelecem uma
interação precisa e sistemática entre si". A interação pode ser descrita como:
"O comportamento inter-relacionado de
indivíduos que influenciam uns aos outros pela
comunicação é chamado de interação social. Na
literatura {sociológica e psicológica} interação e
comunicação são usadas em geral como sinônimos"
(Outhwaite, 1993, p. 391).
Desta forma, entende-se que um grupo só existe se houver comunicação,
pois ela é o suporte instrumental que o possibilita enquanto sua formação. Sem a
comunicação não há troca de experiências, informações, conteúdo e significados
necessários para a sobrevivência da comunidade, pois é por meio dela que há a
expressão individual que caracteriza o ser como pertencente ao grupo.
De acordo com França (2002, p. 240) "Grupo é o conjunto de pessoas
que compartilham valores, crenças, visões semelhantes de mundo, possuem uma
identidade e podem ser consideradas um todo. A visão de grupo é de natureza
essencialmente relacional, e interação e alianças afetivas, que dão unidade e
identidade ao conjunto de pessoas". Justamente por ser relacional, a comunicação
29
!
tem um papel tão importante. As relações entre os seres humanos têm, nos
processos de comunicação como conhecemos, uma base que o diferencia dos
demais animais e que, portanto, tem um caráter tão especial.
De acordo com Flora Davis (1979, p. 178), "a linguagem, acima de tudo, é
o que diferencia o homem dos outros animais. Sem ela, a cultura, a história e a
maioria das coisas que faz dele o que é seria impossível". A autora também cita a
linguagem não-verbal como uma parte da mensagem, mas que, de qualquer forma,
ainda é uma mensagem. A linguagem em si e o modo de expressão personalíssimo
do ser humano é um modelo de comunicação pertencente só a esta espécie, e é o
que o diferencia na constituição do grupo. Conforme visto anteriormente, o homem
tem necessidades psicológicas que, em tese, outros animais não apresentam com a
mesma complexidade humana.
O psicólogo Pichon-Rivière (1988) adota um modelo de caracterização de
grupo bem próximo dos supracitados, mas inclui dois pontos de interesse: primeiro,
que a constituição de um grupo revela uma finalidade, refletida na resolução de uma
tarefa. Um segundo, que a estrutura de um grupo exige a criação de vínculos.
O que o autor denomina como vínculo social é "uma estrutura complexa
que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua inter-relação com processos de
comunicação e aprendizagem." (PICHON-RIVIÈRE, 1988, p. 37). Em ambos os
momentos, o autor descreve situações nas quais a comunicação é completamente
necessária: na realização de uma tarefa conjunta e na criação de vínculos sociais
com processos comunicacionais.
Em suma, o mais importante é compreender que não há grupo social sem
comunicação, pois é por meio dela que os grupos se fundamentam e, remetendo ao
capítulo anterior, trocam informações, potencializam seus ideais e defendem seus
interesses em comum. Sem a comunicação, não haveria o fluxo necessário de
informações relevantes para a existência dos grupos sociais, que pelas mais
diversas motivações mantém seus vínculos e sua viabilidade como comunidade.
Comunicar-se e interagir não apenas com o meio, mas também com as pessoas que
fazem parte do seu grupo social, é a garantia que o indivíduo possui de permear os
objetivos traçados pela união social da qual o interlocutor é pertencente.
30
!
Conforme já visto, para criação e manutenção destes grupos, o ser
humano possui motivações específicas. E esses grupos geram produtos.
"Existe colaboração quando vários indivíduos
participam de uma mesma ação, cujo resultado interessa a
todos e não poderia ser obtido pelos esforços isolados de
cada um" (Ávila, 1970, p. 192)
Ávila (1970, p. 192) ainda cita que a colaboração pode ser instintiva ou
intencional, sendo que, no primeiro caso, "o resultado é obtido sem plena
consciência dos agentes quanto à eficácia dos atos que exercem" (ÁVILA, 1970, p.
192). Essa condição é muito mais aplicável quando o grupo não se rotula, e quando
o auxílio prestado é psicológico - e consequentemente, resultado de uma
necessidade motivacional. Em outras palavras, a colaboração instintiva é a própria
junção.
No segundo caso, relativo às colaborações intencionais, os agentes, de
acordo com Ávila (1970, p. 192), "visam um fim e organizam esforços no sentido da
realização desse fim". Exemplos são as organizações comerciais, os grupos de
trabalho acadêmico, as associações e ONGs. O autor ainda diz que "a colaboração
intencional é a base em que funciona todo o mecanismo social pela divisão de
trabalho e hierarquia de funções" - as quais precisam de interação para existir: "A
colaboração é prefigurada já no mundo animal pelo fenômeno gregário, que é um
fenômeno de interação instintiva necessária a subsistência dos grupos" (ÁVILA,
1970, p. 193).
O que o autor quer dizer é que, sem a interação ou o que consideramos
aqui vulgarmente comunicação, não há a integração que permite que a sociedade
colabore mutuamente. E sem essa colaboração, não teríamos a própria sociedade
moderna.
Todo trabalho em grupo exige uma ação por parte dos indivíduos
envolvidos. Esse processo exige duas ferramentas básicas: uma interna, que é a
motivação, e uma externa, que é a comunicação.
31
!
A motivação serve para possibilitar a ação individual que, somada às
outras de outros indivíduos, gerará o trabalho realizado em grupo: "Motivação é
definida como um impulso básico à ação. É também traduzida como necessidade ou
tendência. Por tratar-se de um impulso ou necessidade, é óbvio que é originada
basicamente no interior dos indivíduos" (FLEURY, 2003, p. 248).
Já a comunicação é a base para a realização de um trabalho entre
pessoas, pois o mesmo exige interação, concordância e conscientização do que é
proposto - até mesmo para garantir que todos estejam cumprindo funções
complementares, e isso só é alcançado quando ha expressão desses pontos, a qual
só é conseguida por meio da comunicação. "Comunicamo-nos para expressar
nossas necessidades, compartilhar experiências, cooperar, nos organizar e melhorar
nossa performance" (PASSADORI, 2009, p. 2). Em outras palavras, a comunicação
é a base de todas as interações humanas - conforme já visto - e entre estas
interações, está aquela por meio da qual o ser humano, em grupo, constrói algo. Se
não houvesse a comunicação, dificilmente os envolvidos compreenderiam suas
funções.
32
!
4. DIGITAL, INTERNET E CROWDSOURCING
4.1. O que é Internet – Breve História e Conceitos
Para completar os fundamentos teóricos que darão espaço para a análise
de como a Internet modificou a forma como o homem se agrega, é necessário
compreender desde sua raiz - explicando, primeiramente, o que é Internet. A
necessidade dessa explicação é tentar compreender, em um primeiro momento,
como o impacto tecnológico contemporâneo mudou o dia-a-dia das pessoas, para aí
então se aprofundar nos conceitos que nos levarão a alguma conclusão. Sem
entender as raízes da Internet, como ela se difundiu, e como evoluiu, dificilmente
entenderemos como ela se infiltrou na vida no homem contemporâneo a ponto de
modificar a forma como se apresenta seu comportamento gregário.
De acordo com Lévy (1999, p. 31), os primeiros computadores surgiram
na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945, e consistiam em grandes calculadoras
programáveis,
só
se
tornando
acessíveis
à
população
no
formato
de
microcomputadores na década de 1970. E foi por meio desses microcomputadores
que a Internet se difundiu: "internet é sinônimo de inter-rede. Com nomes próprios e
letra maiúscula, Internet, é a maior inter-rede do mundo" (GALLO et HANCOCK,
1998, p. 226).
Em linhas gerais, os autores afirmam que a "internet é qualquer coleção
de redes interconectadas" (GALLO et HANCOCK, 1998, p. 199). Essas redes são
conectadas "a outros sites localizados na mesma rede ou, por conexões de ponta-aponta, a outras redes" (GALLO et HANCOCK, 1998, p. 577). As redes citadas são
dos computadores que permitem o acesso à internet.
Em suma: Internet é a rede de microcomputadores conectados ao redor
do mundo. "A internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a
comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global"
(CASTELLS, 2003, p. 8), isso por que todas as pessoas que utilizam um computador
conectado à internet podem interagir, direta ou indiretamente, com pessoas de
qualquer lugar do mundo, a qualquer hora.
33
!
Ainda de acordo com o autor, a Internet resulta numa "combinação sem
precedentes de flexibilidade e desempenho de tarefa, de tomada de decisão
coordenada
e
execução
descentralizada,
de
expressão
individualizada
e
comunicação global, horizontal", que é a expressão dessa interação em maior
escala.
A Internet implicou em profundas mudanças na vida das pessoas,
algumas das quais são enumeradas (PROST et VINCENT et BOTTMANN, 2009, p.
573):
•
Consulta de informações em forma de textos, fotos, vídeos e sons: as
pessoas não precisam mais ir a uma biblioteca para lerem de acordo com
suas obrigações ou curiosidades;
•
O correio eletrônico - mais conhecido como e-mail - que permite mensagens e
respostas em tempo real, enquanto uma carta leva vários dias entre ser
remetida, distribuída e recepcionada;
•
A participação em listas de discussão, o que favorece o cruzamento de
círculos sociais, maiores do que os grupos sociais existentes até então;
•
Transações comerciais profissionais e domésticas sem sair de seu local de
trabalho ou casa.
Sorj (2003, p. 43) afirma que "A internet facilita enormemente a
localização de informação que, pelos métodos tradicionais, demandaria um grande
custo de tempo, energia e recursos". Segundo ele, a Internet concentra o acervo
cultural da humanidade e, mais do que isso, se transformou em um meio para
disponibilizar uma quantidade crescente de material que jamais viria a publico se
dependesse exclusivamente de sua impressão e divulgação.
Estas são apenas algumas das mudanças práticas no dia a dia das
pessoas. Porém, há algumas mudanças muito mais graves e intrínsecas a esta nova
tecnologia, estão relacionadas à forma como as pessoas se comunicam.
34
!
4.2. A Internet Transformando a Comunicação em Digital
A comunicação sofreu drásticas mudanças nos últimos tempos,
provenientes principalmente do surgimento da área digital: “Como nossa prática é
baseada na comunicação, e a Internet transforma o modo como nos comunicamos,
nossas vidas são profundamente afetadas por essa nova tecnologia da informação”
(CASTELLS, 2003, p.10).
Conforme visto, a comunicação nunca é individual; para existir, ela exige
a coexistência de um interlocutor com quem possa ser feita uma mínima troca
(GONTIJO, 2004, p. 14). Porém, agora essa comunicação ganha maior amplitude:
"A internet alterou consideravelmente a programação midiática de massa, propondo
um novo modelo de relação com o receptor/emissor numa interface de todos para
todos" (NICOLA, 2003, p.130).
Não há apenas uma pessoa mandando uma mensagem e outra
recebendo: a internet fez com que todos pudessem ser receptores e emissores ao
mesmo tempo, considerando que todos que estão conectados têm acesso a
basicamente a mesma informação. Sem a possibilidade e recursos que permitissem
a interação plena entre usuários, dificilmente teríamos as atuais comunidades
digitais.
Segundo Castells (1999, p. 566), a internet permitiu o desenvolvimento de
um novo modelo de comunicação: a “Mass Self Communication”. Ela continua sendo
uma comunicação em massa, mas com o advento da internet, torna-se uma
experiência individual muito mais profunda. Isso, segundo ele, pode ser o catalizador
de um movimento em grupo muito mais potente, pois a experiência pessoal faz com
que os usuários tenham uma visão crítica mais apurada, ganhando uma voz que, em
conjunto, tem mais força que os grupos anteriores à era digital.
"A Mass Self Communication constitui
certamente uma nova forma de comunicação em massa,
porém,
produzida,
recebida
e
experienciada
individualmente. Ela foi recuperada pelos movimentos
sociais de todo o mundo, mas eles não são os únicos a
utilizar essa nova ferramenta de mobilização e organização.
A mídia tradicional tenta acompanhar esse movimento e,
fazendo uso de seu poder comercial e midiático, passou a
se envolver com o maior número possível de blogs. Falta
35
!
pouco para que, através da Mass Self Communication, os
movimentos sociais e os indivíduos em rebelião crítica
comecem a agir sobre a grande mídia, a controlar as
informações, a desmentí-las e até mesmo a produzí-las."
(CASTELLS, Manuel. 1999).
Por conta disso, desde o surgimento da internet como meio de
comunicação, todos os conceitos de grupo foram reformulados. “Comunidade atual
seria a expressão muito mais adequada para descrever os fenômenos de
comunicação coletiva no ciberespaço do que comunidade virtual” (LÉVY, 1999, p.
130). Conforme observa o autor, hoje já não há mais uma diferenciação entre
comunidades dentro e fora da rede, pois se criou um processo de dependência entre
meio e interlocutor. Entende-se ainda, segundo o autor, que há três momentos
típicos dessas comunidades: aquelas situadas fora das redes, ou seja, que nunca
precisaram da web para existir, as comunidades virtuais e as atuais, que funcionam
como um ponto de convergência entre o primeiro e o segundo.
Ainda de acordo com Lévy (1999, p. 132), "não há comunidade virtual
sem interconexão, não há inteligência coletiva em grande escala sem virtualização
das comunidades no ciberespaço. A interconexão condiciona a comunidade virtual,
que é uma inteligência coletiva em potencial". Em outras palavras, Lévy deduz que a
comunidade que se mobiliza em alta escala depende da Internet para existir - e que
toda comunidade virtual tem potencial para gerar um produto de inteligência coletiva.
Isso porque a internet acaba com os limites geográficos e permite que diferentes
pessoas estejam em contato, unindo conhecimentos.
“A análise da Internet como fator modificador
das relações sociais é principalmente enquadrada, em
nosso ponto de vista, pelo estudo das comunidades virtuais,
como forma mais pura de consequência da interação entre
o humano e o ciberespaço. A mudança de paradigmas que
o surgimento da Rede trouxe para o mundo acabou por trair
os conceitos de comunidades tradicionais. Não há interação
física. Não há proximidade geográfica: Estas comunidades
estruturam-se fundamentalmente sobre um único aspecto: o
interesse em comum de seus membros. A partir deste
interesse, as pessoas conseguiriam criar entre si relações
sociais independentes do fator físico, e com o tempo essas
relações tornar-se-iam de tal forma poderosas que poderiam
ser classificadas como laços comunitários” (RECUERO,
2000).
36
!
Uma das formas de entender como essa mudança na comunicação
influenciou (e foi influenciada) pela internet é compreender os conceitos de Web 1.0
e 2.0. O termo Web 2.0 foi cunhado por Tim O'Reilly em 2004. Basicamente, referese à era da internet em que o usuário passou a gerar a informação, desvinculandose da mera posição de receptor, como acontecia na chamada Web 1.0. "O binômio
publicação e participação é o grande sustentáculo de toda a filosofia Web 2.0"
(TOMAEL, 2008, p. 65).
A partir do momento em que a web tornou a edição acessível ao usuário,
este deixou de ser passivo, conferindo atividade às suas ações “online”. Na prática,
significa que o mesmo usuário que antes consumia a informação, agora é o autor
dela. Foi justamente esse conceito de Web 2.0 que permitiu a voz individual e forte
do usuário. Blattmann e Silva (2007, p. 198) têm uma boa conceituação para tanto:
“A Web 2.0 pode ser considerada uma nova
concepção, pois passa agora a ser descentralizada e na
qual o sujeito passa a ser um ser ativo e participante sobre
a criação, seleção e troca de conteúdo postado em um
determinado site por meio de plataformas abertas.”
Algo importante a ser citado é que, segundo Lévy (1999, p.128), as
comunidades virtuais têm algumas motivações sobre as quais se estruturam, e que
são bastante semelhantes às motivações gerais estudadas anteriormente:
"Uma comunidade virtual é construída sobre as
afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos
mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo
isso independentemente das proximidades geográficas e
das filiações institucionais."
A maior diferença que internet possui no aspecto referido por Lévy é a
força e a possibilidade de atingir a diferentes pessoas em diferentes locais, o que é
muito mais difícil quando falamos de comunidades “offline”.
No trecho em que fala sobre “Mass Self Communication”, Castells (2003)
discorre sobre esta força. O usuário que antes, no ambiente “offline”, era provido de
poucos recursos para o desenvolvimento de suas ações, agora é dono de um infinito
leque de possibilidades provenientes desse novo instrumento de comunicação. Há
um entorno de poder de mobilização e de organização; individualmente, esse
usuário tem o poder de gerar uma movimentação que propicia a organização e que
37
!
dá o subsídio para a existência do “crowdsourcing”. O colaborativismo na rede é um
reflexo disso. E o mais relevante: sem ser 2.0, a web não conseguiria colher os
mesmos frutos gerados por esse novo modelo de atividade social.
Tendo como característica ser uma rede de duplo sentido, que permite a
coexistência e reciprocidade do usuário com a informação produzida por ele e a
produzidas por terceiros colaboradores, a Web 2.0 propiciou como uma
consequência natural que a vontade de múltiplos usuários fosse traduzida em poder
de ação. “A existência de uma internet colaborativa possibilita a disseminação da
inteligência coletiva.” (BLATTMANN et SILVA, 2007, p.191). O ser humano em si
tem acumulado experiência e conhecimento ao longo de sua história e a internet, em
seu prisma colaborativo, permite que esse acúmulo seja pulverizado e utilizado em
prol de um bem maior, um bem coletivo, que atinja a todos de forma comum.
Além disso, apesar da existência do colaborativismo preceder a existência
da internet, o “crowdsourcing” adquire, em sua essência, uma inovadora
característica que o torna muito mais eficaz e potente no ciberespaço. “Entende-se
que no ciberespaço, a mudança é impulsionada por sistemas colaborativos, que
possibilitam, entre outros processos, a ampliação da resolução semântica das
informações publicadas na Web e o desenvolvimento do Crowdsourcing” (FIDALGO,
2004 apud STASIAC et SANTI, 2011, p. 64).
O ser humano visa um aproveitamento de suas relações pessoais desde
o início dos tempos, por uma necessidade pessoal de participação já discorrida por
Chiavenato (2001, p. 98) em relação à aprovação social, ao reconhecimento do
grupo e de a fazer parte de um grupo social. Se no ambiente “offline”, com grupos
menores e físicos esse aproveitamento já era uma realidade, naturalmente o
ambiente virtual também trouxe essa possibilidade, porém, viabilizando que esse
conceito de grupo fosse potencializado.
Essa potencialização não foi descoberta de uma hora para outra, mas na
verdade, foi sendo compreendida e construída por seus usuários à medida que
utilizavam a rede. Ainda segundo Castells (2003, p. 120), “assim que a web difundiuse globalmente, as redes comunitárias de computadores se diferenciaram segundo
as linhas de seus componentes originais”. Significa dizer que, no caso, é que
38
!
ativistas, pessoas que tinham a internet como um meio de uso pessoal etc. puderam
começar a utilizar a rede, aos poucos, como uma forma de propagar seus interesses
e multiplicar-se em grupos muito maiores do que os tradicionais offline, mas
instrumentalizados pela facilidade de acesso e operação oferecida pela rede - até
então, praticamente inexistente.
“Uma das contribuições mais extraordinárias da
internet é permitir que qualquer usuário, em caráter
individual ou institucional, possa vir a ser produtor,
intermediário e usuário de conteúdos. E o alcance dos
conteúdos é universal, resguardadas as barreiras
linguísticas e tecnológicas do processo de difusão. É por
meio da operação de redes de conteúdos de forma
generalizada que a sociedade atual vai mover-se para a
Sociedade da Informação.” (MIRANDA, 2000, p.66).
Observa-se, em uma análise do último segmento da citação, a questão do
alcance universal dos conteúdos; soma-se a proposta da “Mass Self Comunnication”
com uma possibilidade de atingir a sociedade como um todo, ao invés dos grupos
menores existentes no “offline”, que a Sociedade da Informação – onde o
compartilhamento de informações é parte do processo de produção de
conhecimento – e portanto, de poder – ao mesmo tempo, seu produto
(“conhecimento”) (MIRANDA, 2000, p. 67) – possibilita que os grupos atinjam um
nível diferente em seu escopo “online”, dando novas ferramentas de ação aos
usuários em geral, ou seja, multiplicando os centros de produção de conhecimento e
de poder de influencia no coletivo.
Todo esse raciocínio foi visto, anteriormente, por McLuham (1969) e
transmitido por meio do conceito da Aldeia Global - que se refere a um novo modelo
de globalização, de produção de bens socialmente relevantes, principalmente, a de
produção de conhecimento. O que a teoria defende está intrinsecamente ligado às
possibilidades que a internet traz, conforme citado anteriormente: comunidades
interligadas e conectadas entre si através da tecnologia da comunicação com vistas
à produção de conhecimento e, por consequência, de poder.
O autor considera, em seus estudos, que a informação trocada
virtualmente permite superar qualquer distância geográfica, permitindo, por exemplo,
39
!
o trabalho remoto entre pessoas. É uma nova maneira de produzir e distribuir
conteúdos e informações, que tem em seus primórdios a rádio dos anos 20 nos
Estados Unidos e que, desde então, tem avançado com a mesma rapidez
proporcional da tecnologia. A novidade propiciada pela rede mundial de
computadores é a interação real entre indivíduos e comunidades, influenciando-se
reciprocamente e agindo com poder de organização e mobilização que o fator
gregário tanto admite como fomenta.
Quanto mais os aparatos tecnológicos se desenvolvem e se tornam
acessíveis economicamente, maior alcance e difusão as informações alcançam,
trazendo cada vez mais a sensação de "tribo" às sociedades contemporâneas. O
sentido do uso da palavra "tribo" é devido ao desaparecimento dos limites de tempo
e espaço no ambiente virtual, colocando o usuário como receptor, repetidor e
produtor instantâneo de acontecimentos recentes; bem diferente do período histórico
anterior em que a difusão da informação era essencialmente escrita, e o aparente
retorno a uma relação fortemente oral e visual, típica das comunicações
interpessoais tribais.
“O nosso é o mundo novo do tudo-agora. O
‘tempo’ cessou, o ‘espaço’ desapareceu. Vivemos hoje
numa aldeia global, num acontecer simultâneo (...).
Começamos novamente a estruturar o sentimento
primordial, as emoções tribais de que alguns séculos de
literacidade nos divorciaram” (McLuham, 1969)
Com a convergência das novas formas de mídia a ideia é que o mundo se
tornaria como que uma pequena aldeia, onde todos teriam contato com todos e
qualquer informação, por menos relevante que fosse, poderia ganhar dimensão
global.
A Internet é, ao mesmo tempo, instrumento e motor dessa Aldeia Global,
considerando pessoas envolvidas em projetos sem limites geográficos, unidas como
se estivessem na mesma sala, porém, trabalhando unidas em torno de uma ideia,
com recepção e envio de informações em tempo real. É a tecnologia auxiliando na
construção de novos formatos e estruturas de produção e difusão da informação e
conhecimento.
40
!
4.3 O que é e Como se dá o Crowdsourcing
O conceito de “crowdsourcing” foi cunhado pela primeira vez por Jeff
Howe em 2006, na revista Wired (“The Rise of Crowdsourcing” - 14/06/2006). Na
ocasião, o autor citou o termo para referenciar a união de pessoas via web em prol
de um objetivo em comum. Segundo ele, "crowdsourcing" é o ato de tomar uma
tarefa tradicionalmente feita por um agente designado e abrir para um número maior
de pessoas, fazendo um convite aberto para um grupo indefinido em tamanho, mas
notadamente numeroso de pessoas. O “crowdsourcing” permite que as inteligências
e as energias de trabalho de uma infinidade de pessoas sejam usadas para realizar
tarefas que antes eram destinadas uma única ou a poucas pessoas.
É um modelo de produção que usa, primariamente, as informações e o
conhecimento coletivo de pessoas conectadas pela internet, sem um interesse
necessariamente econômico ou de lucro financeiro, mas que, unindo esforços de
cada usuário, possibilitam encontrar soluções para diversos tipos de problemas, ou
para a criação de conteúdo e desenvolvimento de novas tecnologias.
O “crowdsourcing” tem crescido cada vez mais como conceito ligado a
grandes projetos de produção de informação, de conhecimento e mesmo de bens e
recursos coletivos viabilizados essencialmente por meio desse modelo, e têm visível
êxito no momento atual da internet. Alguns exemplos são o Linux e a Wikipédia.
O primeiro refere-se ao código aberto que permeia o sistema operacional
criado pelo Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Helsinski
na Finlândia, utilizando um modelo de software livre que pode ser modificado
livremente pelos próprios usuários. Isso acaba possibilitando a manutenção de um
sistema com cada vez menos erros e maior acesso, democratizando o instrumento.
É nele que o “crowdsourcing” tem raiz, o que, segundo o próprio Jeff Howe (2009),
significa “a prova de que uma comunidade de pessoas é capaz de criar um produto
melhor do que uma corporação monstruosa como a Microsoft” (HOWE, 2009, p. 7).
A proposta, segundo ele, é que o trabalho pode ser organizado de modo mais
eficiente em um contexto comunitário, de livre colaboração e comprometimento
idealista, que em um ambiente corporativo, no qual as colaborações nem sempre
portam as mesmas motivações.
41
!
O segundo exemplo, a Wikipédia, é o de uma enciclopédia virtual cujo
conteúdo é alimentado pelos próprios usuários. O reconhecimento da colaboração
daqueles que enviam mais verbetes é dado pelos novos status que recebem, até se
tornarem administradores, ou seja, pessoas que detém maiores parcelas de poder
naquela instituição. Estes, por sua vez, detêm a capacidade – o poder – de filtrar,
aceitar ou negar novos verbetes de acordo com as regras instituídas previamente
pela própria instituição. Com essa organização, a Wikipédia consegue juntar,
mundialmente, 19 milhões de artigos, sendo quase 1 milhão em português; a título
de comparação, a histórica Enciclopédia Britânica, com 244 anos de existência,
conhecida no Brasil como “BARSA” possui 119 mil verbetes (G1, 2012).
Curioso notar que a Wikipédia foi fundada em 2001 (Wikipédia, 2012),
quando o termo “crowdsourcing” ainda sequer havia sido cunhado, e que o projeto
tornou-se referência no que diz respeito à conceituação de colaborativismo.
De acordo com Howe (2009, p. 19), “os esforços do crowdsourcing
atraem pessoas com ou sem experiência profissional”. O autor faz referência à
questão da especialização, fator relevante para o mercado de trabalho. Atualmente,
é necessário que as pessoas sejam profissionais portadores de reconhecida
excelência, ou seja, tenham um nível de qualificação considerado elevado para
“darem duro em um mercado de trabalho cada vez mais exigente”. Ou seja: os
índices de exigência e insatisfação dos usuários e clientes crescem e há a
necessidade de apresentar ou oferecer qualidade, assim entendido como o que é
realmente relevante, significante, apaixonante, e fora dos limites cotidianos ou
rotineiros dos demais ofertas. O autor analisa que, com o passar do tempo, as
pessoas começaram a se focar em novos objetos de estudo que fogem de suas
áreas de formação e que, gerando ou não uma renda, constituem uma forma de
amadorismo que condensa tudo aquilo que não se materializou em suas vidas.
À luz da evolução constatada no momento atual da nossa sociedade,
verificamos o surgimento cada vez maior de colaboradores amadores, não
profissionais, não remunerados ou que fazem essa colaboração sem retribuições ou
interesses financeiros. Esses amadores são o que Howe (2009) chama de “o
combustível que alimenta o motor do crowdsourcing”. As pessoas que se unem em
prol de algo não estão necessariamente esperando ganhar dinheiro com aquilo, e
42
!
sim, ter uma solução prática a algo que faz parte de sua vida ou ainda uma forma de
realização pessoal que importa em grande satisfação íntima. Assim, é muito natural
que as pessoas envolvidas não tenham um nível técnico elevado ou profissional no
tema do projeto pelo qual estão trabalhando, mas sim, a tal paixão já citada que
promove o desenvolvimento. Sem dúvida, não confundimos amadorismo com
profundidade de conhecimento, posto que há diversos exemplos em contrário nas
mais variadas atividades humanas.
“Aqueles que fizeram crescer o ciberespaço
são, em sua maioria, anônimos. Amadores dedicados a
melhorar constantemente as ferramentas de software de
comunicação, e não os grandes nomes, chefes de governo,
dirigentes de grandes companhias cuja mídia nos satura (...)
A internet é um dos mais fantásticos exemplos de
construção cooperativa internacional, a expressão técnica
de um movimento que começou por baixo”.(LÉVY, 1999, p.
128).
Howe (2009), em sua entrevista para Roller e Goosen (2009, p. 79),
afirma que as pessoas interagem no “crowdsourcing” e participam de projetos por
que querem impressionar amigos ou por que possuem conhecimentos técnicos
especializados, podendo colaborar umas com as outras - o próprio incentivo
financeiro é visto por ele como menor ou periférico, pois as pessoas estão
"preocupadas em aprender algo, se divertir ou parecerem modernas". Ao
compararmos com as motivações básicas do ser humano - a troca de Capital Social,
a necessidade de inclusão e os tipos de ações sociais, veremos que as motivações
do “crowdsourcing” não se distanciam das motivações gregárias comuns do ser
humano, que partem de um princípio simples: serem aceitos em sociedade e
adquirirem um certo status na sua constituição. Tanto que, de acordo com Howe
(2009, p. 1), o primeiro projeto de “crowdsourcing” via web que se tem notícia é do
site Threadless.com - com uma história que corrobora com a teoria dos amadores.
Nos anos 2000, dois amigos, Jake Nickell e Jacob DeHart, desistiram da faculdade e
foram morar em Chicago, onde se conheceram por meio de um concurso de design.
Foi então que decidiram criar o próprio concurso, mas, desta vez, ao invés de dispor
de um juri, os próprios designers votariam nos melhores.
Desta forma que foi construído o site Threadless, com o conceito de envio
de estampas de camisetas: os usuários deveriam enviar seus desenhos, e os mais
43
!
votados iriam para as camisetas que seriam revendidas pelo site. As pessoas em si,
e não necessariamente desenhistas profissionais, participavam pelo simples prazer
de ter uma alta votação. A questão é que, com o tempo, o site ganhou fama e as
pessoas começaram a enviar suas estampas pelo simples prazer de se posicionar
nos primeiros lugares, aferindo algum status ao ato. Hoje em dia, o Threadless
recebe mais de 1000 desenhos por dia e conta com 600 mil usuários trocando
imagens o tempo todo.
Logo em seguida, a Wikipédia foi lançada (2001) e, desde então, diversos
projetos envolvendo o colaborativismo borbulharam pela rede. Porém, só em 2006
que o conceito ganhou um nome, conforme supracitado, na revista Wired. Jeff Howe
escrevia um artigo chamado “The Rise of Crowdsourcing” (em tradução livre: “O
surgimento do crowdsourcing”) onde listava, inclusive, um programa de televisão
chamado WebJunk 2.0 da rede de TV americana VH1 - com os vídeos mais
populares da internet enviados pelos próprios usuários. Começava aí o que vem
sendo considerado há 6 anos uma revolução.
4.4. Aplicabilidade - Cases Práticos de Crowdsourcing
O “crowdsourcing”, como um modelo de colaborativismo, pode ser
aplicado em qualquer ambiente onde haja um grupo de pessoas dispostas a
desenvolver um projeto em conjunto via computador: “O crowdsourcing tem o poder
de formar uma meritocracia perfeita. O que permanece é a qualidade do trabalho em
si” (HOWE, 2009, p. 11). Desta forma, muitos projetos já surgiram, e com eles,
vertentes que seguem a mesma proposta, mas com corolários distintos.
4.4.1. Wikipédia
A Wikipédia é uma enciclopédia “online” que se aproveita do conceito de
“crowdsourcing” para existir. De acordo com o que consta no próprio site, "foram
escritos de forma colaborativa por voluntários ao redor do mundo e quase todos os
seus verbetes podem ser editados por qualquer pessoa com acesso ao site". É
44
!
apoiada pela organização Wikimedia Fundation - sem fins lucrativos. Possui
atualmente 19 milhões de artigos, sendo quase 1 milhão em português. Foi lançada
em 2001 por Jimmy Wales e Larry Sanger, e hoje é o 6º site mais popular do mundo
(dados site Alexa, acessada em 30 de Agosto de 2011). O nome é a fusão de "wiki" palavra que remete a uma "tecnologia para criar sites colaborativos", a partir da
palavra havaiana wiki, que significa "rápido" e o sufixo de "enciclopédia".
"Quando a revista Time reconheceu "Você"
como a Pessoa do Ano de 2006, devido ao sucesso
acelerado da colaboração online e a interação de milhões
de usuários ao redor do mundo, citou a Wikipédia como um
dos vários exemplos de serviços Web 2.0, juntamente com
o YouTube, MySpace e Facebook." (WIKIPÉDIA, 2012)
4.4.2. Linux
A ideia do sistema Linux começou por causa de uma inquietação do
polonês Linus Torvalds, um cientista da computação que, ao ingressar na faculdade,
observou dificuldades em lidar com um sistema operacional específico (o Minix, feito
com base no Unix) e decidiu começar o desenvolvimento de um sistema novo. Na
época, em 1991, havia poucas escolhas de sistemas operacionais. Mesmo com
pouca intenção de lançá-lo, neste mesmo ano ele acabou por liberar a primeira
versão de seu sistema: o Linux 0.01. Na ocasião, publicou uma mensagem na
Usenet (um tipo de antecessor da internet, baseada em troca de mensagens)
pedindo colaborações e sugestões para seu novo projeto. As mensagens não
paravam de chegar.
O resultado é que hoje o Linux possui um código aberto (ou seja,
qualquer pessoa pode usá-lo para estudar, modificar e distribuir livremente desde
que de acordo com os temos de licença). Com isso, diversas versões hoje são
distribuídas, entre elas, a mais comum: o Ubuntu, e outras como o Mandriva, o
Debian, o Fedora etc. Sendo um sistema de código aberto, está sempre sendo
melhorado por usuários e curiosos ao redor de todo o mundo. (fontes: Infowester e
Tecmundo).
45
!
Importante ressaltar que o sistema Linux, por ser aberto, tem recebido
atenção de diversas empresas privadas e governos, entre os quais o Governo
brasileiro, por ser considerada uma alternativa viável a outros sistemas privados,
que poderiam fragilizar estrategicamente os sistemas internos. Dessa forma, a
opção Linux situa-se tanto no plano econômico como, especialmente, no plano
político estratégico de governos e empresas.
4.4.3. Fiat Mio
O próprio “crowdsourcing” tem como exemplos projetos realizados por
grandes marcas, como por exemplo, a FIAT. Próxima do lançamento do automóvel
Fiat Mio, criado como um carro-conceito desenvolvido pela montadora, um site foi
desenvolvido para que as pessoas dessem suas opiniões sobre como melhorar o
veículo. Segundo o próprio site da FIAT, o Fiat Mio é o primeiro carro colaborativo do
mundo. O assombroso resultado foi de 6.800 ideias e 9.600 participantes, virando
inclusive um “case” internacional (HEADLIGHTS, 2009). Foi lançado no Salão do
Automóvel de São Paulo em 2010, e até hoje, seu site informa que “você ainda pode
enviar ideias”, mantendo o conceito vivo e funcionando.
4.4.4. iSockPhoto
O iStockPhoto, (site Saia do Lugar) é outro exemplo interessante de
projeto colaborativo, pois funciona com o armazenamento de fotos de milhares de
fotógrafos. O conceito do serviço é que não é mais necessário contratar um
fotógrafo, pois o colaborativismo presente em sua formação permite que a
diversidade de fotos condense todo tipo de tema. Os fotógrafos que desejarem,
disponibilizam suas fotos no site. A partir daí, se um interessado comprar os direitos
de utilização dessa foto, o fotógrafo recebe uma parte da receita. É uma forma
interessante de manter um gigantesco banco de imagens sem a necessidade de
estabelecer uma grande e custosa rede de captação de trabalhos, pois as mesmas
46
!
são postadas por aqueles que têm interesse em fazer com que essas fotos sejam
vistas e gerem alguma renda.
4.4.5. My Starbucks Idea
O “My Starbucks Idea” foi um projeto desenvolvido pelo Starbucks em
2008. Consiste em um projeto interativo na internet que pedia ajuda das pessoas
para darem ideias de como melhorar a empresa, com possibilidade de voto e grupos
de discussão. As ideias enviadas eram organizadas por categorias, ranqueadas em
um critério de qualidade definido por um júri especialmente constituído, e ganhavam
pontos. Na época, o Starbucks destacou uma equipe - os "Idea Partners" para
analisarem as ideias, que iam sendo implementadas com os devidos créditos.
"Isso amplia o relacionamento e a ligação
emocional que a Starbucks criou com seus consumidores
ao longo dos anos, e mostra porque hoje é considerada
uma das marcas mais influentes e inovadoras do planeta."
(BRAINSTORM 9, 2008).
Até
esta
data,
o
site
do
“My
Starbucks
Idea”
existe
(http://www.MyStarbucksIdea.com) mantendo esse relacionamento, possibilitando o
envio de novas ideias, de ver as ideias já enviadas e as que estão em ação, sendo
implementadas (fonte: Brainstorm9).
Não é apenas no colaborativismo gratuito que mora o “crowdsourcing”.
Outros “crowd” foram surgindo, como o “crowdfunding”. O conceito é o mesmo, mas
assim como diz o nome, se refere a um fundo para gerar ou desenvolver algo.
Exemplos bem sucedidos desta vertente são o Catarse, o Movere e o Queremos.
Todos são sites onde um projeto é lançado à contribuição financeira do público. Se
atingir o valor mínimo, o projeto proposto é produzido. Desta forma, milhares de
exposições, peças, mostras e shows já foram custeados. A iniciativa Queremos foi a
primeira no Brasil, trazendo a banda “LCD Soundsystem” (fonte: Crowdfunding BR).
A arrecadação de dinheiro pode ser um formato importante para financiar projetos
que grandes companhias não têm interesse, mas que têm um público mínimo com
disposição para investir, ou então projetos de cunho social, cultural ou humanitário
que nem sempre são objetivos de governos e entidades particulares.
47
!
Porém, vale ressaltar que todas as vertentes são desenvolvidas nos
alicerces
do
próprio
“crowdsourcing”:
grupo
de
pessoas
que
se
unem
colaborativamente em torno de um objetivo em comum, sem necessidade de
profissionalismo, e podendo ou não ter recompensas ou retribuições financeiras.
Cada tipo de colaborativismo só determina como essas pessoas em grupo atingirão
esse objetivo.
48
!
5. CONCLUSÃO
O presente trabalho tem, por objetivo inicial, compreender como a internet
e o digital influenciaram o instinto gregário do ser humano nos dias de hoje, gerando
um novo comportamento. Para isso, trabalhamos diversos caminhos.
Primeiramente, a história, a sociologia, a psicologia e a filosofia
trouxeram, de forma mais geral - porém igualmente assertiva - explicações para as
motivações gregárias, demonstrando uma necessidade de sobrevivência (KIZERBO, 2010, p. 839/840) e como gerados a partir de necessidades psicológicas de
inclusão (CHIAVENATO, 2001, p. 98). Dado o fato de que o homem sempre
necessitou de grupos sociais, obsevamos que a comunicação, como sua base, tem
como uma de suas responsabilidades gerar o vínculo necessário à expressão de
necessidades e sentidos (PICHON-RIVIÈRE, 1988, p. 37). Essas necessidades e
sentidos são justamente as motivações que levam o ser humano a viver em grupos.
A questão relevante proposta ao exame é que a comunicação mudou nos
últimos tempos: "a formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas [que]
as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de
informação energizadas pela Internet" (CASTELLS, 2003, p.7). Se antes, tínhamos
uma comunicação centralizada na estrutura de emissor, receptor e mensagem
(GONTIJO, 2004, p.14), hoje, na era da internet, temos uma estrutura
completamente
diferente.
Tem
a
ver
com
múltiplos
receptores,
todos
interconectados pelo meio “online”. A tecnologia não nos mudou, e sim, nos
condicionou: "A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma
evolução geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e a
sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas" (LÉVY, 1999, p. 25).
Diante deste cenário, pudemos comprovar algumas noções sobre a
influência do “online” nos grupos sociais.
Em primeiro lugar - e principalmente pelo ensinamento de Lévy (1999) -,
observou-se que a grande rede é uma técnica da era atual que acabou por
condicionar a própria sociedade que a criou. "Dizer que a técnica condiciona
significa dizer que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou
49
!
sociais não poderiam ser pensadas a sério sem sua presença" (LÉVY, 1999, p. 26).
Em outras palavras, nós não fomos reinventados, e sim, ganhamos mais
possibilidades. A tecnologia não é uma criadora em si, mas ela participa de
transformações sociais profundas e notáveis:
"É claro que a tecnologia não determina
a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da
transformação tecnológica, uma vez que muitos
fatores, inclusive a criatividade e a iniciativa
empreendedora,
intervêm
no
processo
de
descoberta científica, inovação tecnológica e
aplicações sociais, de forma que o resultado final
depende de um complexo padrão interativo"
(CASTELLS, 2003, p. 43).
O padrão interativo citado por Castells (2003) é o ponto mais crucial para
entendermos essa transformação. Na internet, as pessoas interagem e criam seus
grupos como sempre fizeram na história da humanidade, mas que agora, com esse
aparato tecnológico, e considerando que essa mudança providencia um potencial
muito maior de alcance, tem no ambiente virtual um aspecto participativo facilitado,
socializando, não compartimentalizado e emancipador. (LÉVY, 1999, p. 30).
É neste ponto que percebemos outra questão relevante: a internet
permitiu a ultrapassagem das barreiras de espaço e de tempo: "O ciberespaço
encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geográficos e
da coincidência dos tempos" (LÉVY, 1999, p. 51).
"É
virtual
toda
entidade
desterritorializada, capaz de gerar diversas
manifestações concretas em diferentes momentos e
locais determinados, sem contudo estar ela mesma
presa a um lugar ou tempo em particular" (LÉVY,
1999, p. 49).
É por causa desse ambiente de encorajamento que os grupos dentro da
internet - ou existentes por causa dela - têm novas possibilidades e acabam
atingindo diferentes objetivos, que talvez não fossem possíveis sem a existência da
cibercultura: "o ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunitário,
apresenta-se justamente como um dos instrumentos privilegiados da inteligência
coletiva" (LÉVY, 1999, p. 29).
50
!
Ainda de acordo com o autor, a inteligência coletiva é fruto desse
ciberespaço, sendo coletiva por não haver barreiras de lugar, além de se aproveitar
da atemporalidade que o ambiente “online” aplica à informação. "A universalização
da cibercultura propaga a copresença e a interação de quaisquer pontos do espaço
físico, social ou informacional" (LÉVY, 1999, p. 49).
É a mesma idéia da Aldeia Global de McLuhan (1969): de tão próximas
que se tornam as informações e as comunidades, o mundo acaba se convertendo
em uma tribo onde todos têm contato com todos, dando à sociedade a possibilidade
de ser receptora momentânea de acontecimentos em tempo real. A informação
ganha novas dimensões graças a essa rede completamente interligada.
Em suma: o ser humano sempre viveu em grupos pelos motivos
apresentados ao longo deste estudo. Agora, com o advento da internet e da cultura
criada por ela e na qual a sociedade se condicionou, as estruturas de grupos
mudaram para atender a uma nova experiência de alcance na produção de
informação, conhecimento e poder, e esse alcance de qualquer pessoa no globo,
conectada a qualquer momento, é o combustível para a existência dos grupos
virtuais, das comunidades colaborativas por meio da internet. (Anexo 1.1)
A Internet também trouxe consigo a era da participação relevante dos
amadores, que, de acordo com Lévy (1999, p. 128), são aqueles que fizeram o
ciberespaço crescer, pensamento complementado por Howe (2009, p. 28) que diz
que, nesta era, as pessoas que se unem em prol de algo não esperam
necessariamente ganhar dinheiro com aquilo, e sim, ter uma solução para algo em
sua vida ou a defesa de algum ideal.
É justamente por isso - e pela internet ser tão útil para a sociedade
contemporânea - que as pessoas se engajam em melhorar cada vez mais a rede. "A
internet é um dos mais fantásticos exemplos de construção cooperativa
internacional, a expressão técnica de um movimento que começou por baixo”.
(LÉVY, 1999, p. 128). Desta forma, salva sua história de invenção e focando em sua
evolução, podemos dizer que a internet em si representa um exemplo de
colaborativismo.
51
!
O modelo de conhecimento coletivo proposto por Howe (2009) - o
chamado “crowdsourcing” - é uma expressão de toda a mudança vista na
cibercultura. Neste modelo, como se pode notar em seus infindáveis exemplos alguns deles já citados anteriormente - os projetos são coisas que poderiam ser
feitas por um único agente ou por alguns poucos, mas que, com a união de diversas
pessoas não necessariamente profissionais, se tornam tarefas mais simples e de
constante evolução.
É possível fazer uma enciclopédia em poucas pessoas, mas dificilmente
ela será atualizada com a mesma rapidez e precisão que a Wikipédia; é possível
fazer uma cafeteria de sucesso, mas contar com as opiniões e sugestões de
pessoas do mundo inteiro chegando em tempo real certamente ajudarão a fazer um
empreendimento muito melhor estruturado para atender melhor seus clientes. O
mesmo acontece com um carro conceito e inclusive, com quaisquer outras iniciativas
que se aproveitem do coletivo “online” para existirem, como o “crowdfunding” e o
financiamento de shows, eventos e projetos que tampouco seriam pagos por uma
única pessoa.
O “crowdsourcing” é a expressão da entrada da cibercultura na estrutura
da sociedade moderna justamente por precisar de todas as características que a
internet oferece para poder obter resultados. "Encontramos vários exemplos de
“crowdsourcing” ao longo dos séculos, mas foi apenas recentemente, com a
tecnologia atual, que este se tornou um meio eficaz de solucionar problemas"
(HOWE apud HOLLER et GOOSEN, 2009, p. 78).
Só é possível juntar o número de pessoas que o “crowdsourcing” junta por
que há um meio que possibilita que interlocutores ao redor de todo o mundo possam
se comunicar de forma instantânea, compartilhando os conhecimentos necessários
para tal; segundo Howe (2009) em sua entrevista para Roller e Goosen (2009, p. 78)
para que um projeto de “crowdsourcing” funcione, deve ser ofertado a uma multidão
de pessoas desconhecidas e que façam parte de uma rede inteligente - senão,
jamais funcionará com eficácia, como por exemplo, se fosse na televisão, que é um
meio "um para muitos", e por isso, a maioria das pessoas não entenderá a proposta,
não fazendo sentido para um trabalho como este. A internet proporciona essas
redes inteligentes.
52
!
Assim, conclui-se que a internet proporcionou um ambiente propício para
a criação de grandes redes colaborativas, considerando a inexistência de barreiras
geográficas e temporais, e a internet trouxe amadores com vontade e disposição,
além de motivações para se unirem - tal como os primeiros hominídeos fizeram - em
prol de um objetivo em comum, porém, com maior potencial de alcance e, portanto,
melhores resultados. O "crowdsourcing", neste contexto, se torna um termo que,
apesar de não ter um arcabouço científico, atualmente representa e resume esse
movimento - porém, é importante compreender que ele não é uma revolução, e sim
uma evolução de um instinto gregário intrínseco somado a uma comunicação
constantemente influenciada pela tecnologia graças às condições que ela
proporciona.
53
!
6. ANEXO
1.1
!
!
54
!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Martins fontes: São
Paulo, 2008
ÁVILA, Fernando Bastos de. Introdução à sociologia. Editora Singular Digital: 1970
BARROS, Antônio; DUARTE, Jorge. Métodos e Técnicas de Pesquisa em
Comunicação. São Paulo: Atlas, 2006.
BERTOLINI, S.; BRAVO, G. Social Capital, a Multidimensional Concept. University
Of Exeter, 2001
BLATTMANN, Ursula; SILVA, Fabiano Couto Corrêa da. Colaboração e interação na
Web 2.0 e Biblioteca 2.0. Florianópolis: Revista ACB, 2007.
BOURDIEU, P. O capital social – notas provisórias. In: CATANI, A. & NOGUEIRA,
M. A. (Orgs.) Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998.
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
_________. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999
CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração Vol. I 6ª edição - São
Paulo: Ed. Campus, 2001
CHINOY, Ely.Sociedade: uma introdução à sociologia. 16.ed. São Paulo: Cultrix,
1999.
COLEMAN, J. S. Social Capital and the Creation of Human Capital. American
Journal of Sociology, 1988
DAVIS, Flora. A comunicação não-verbal. São Paulo: Summus, 1979.
FILHO, Jayme Teixeira. Comunidades Virtuais. Rio de Janeiro: Senac, 2002
FLEURY, Maria Tereza Leme. As pessoas na organização. São Paulo: Editora
Gente Liv e Edit Ltd, 2002
55
!
FRANÇA, Ana Cristina Limongi et al. As pessoas na organização. São Paulo: Gente,
2002.
GALLO, Michael A., HANCOCK, William M. Comunicação entre Computadores e
Tecnologias de Rede. São Paulo: Pioneira Thomson Learning Ltda. 1998
GONTIJO, Silvana. O livro de Ouro da Comunicação. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004
GOOSEN, Richard J. HOLLER, Alexandra. E-Empreendedor - Vencendo no
mercado virtual corporativo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009
HOWE, Jeff. Crowdsourcing: Why the power of the crowd is driving the future of
business. Crown Publishing Group, 2008.
KI-ZERBO, Joseph. História Geral da África I: Metodologia e Pré-história da África, 2.
ed. Brasília: UNESCO, 2010
KOCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e
iniciação à pesquisa. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São
Paulo: Loyola, 2000.
_________. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Epistemologia da comunicação. São Paulo:
Loyola, 2003
MARCONDES FILHO, Ciro. O princípio da razão durante: o conceito de
comunicação e a epistmologia metapórica: Nova teoria da comunicação III. São
Paulo: Paulus, 2010
MEIRA, Luciano L.; SPINILLO, Alina Galvão. Psicologia Cognitiva: Cultura,
Desenvolvimento e Aprendizagem. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2006
MIRANDA, Antonio Lisboa de Carvalho. Sociedade da informação: globalização,
identidade cultural e conteúdos. Brasília: Ciência da Informação, 2000.
56
!
NICOLA, Ricardo. Cibersociedade: quem somos nós no mundo on-line?. São Paulo:
Ed. Senac, 2003
OUTHWAIT, William. Dicionário do pensamento social do século XX. Oxford: Basil
Blackwell, 1993
PALLOFF, R. M.; PRATT, K. O aluno virtual: um guia para se trabalhar com
estudantes on-line. Porto Alegre: Artmed, 2004.
PASSADORI, Reinaldo. As 7 dimensões da comunicação verbal. São Paulo: Editora
Gente, 2009
PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Processo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
PROST, Antoine. VINCENT, Gerard. BOTTMANN, Denise. História da Vida Privada.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009
SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, Pilar
Baptista. Metodologia de Pesquisa. São Paulo: Editora McGraw Hill, 2006.
SANTOS, Fabio Franklin Storino dos. Capital Social : Vários conceitos, um só
problema. São Paulo: FGV, 2003.
SORJ, Bernardo. Brasil @povo.com: a luta contra a desigualdade na sociedade da
informação. Brasília: Unesco, 2003.
STASIAK, Daiana; SANTI, Vilso Júnior. Estratégias e Identidades Midiáticas. Porto
Alegre: Edipucrs, 2011.
TAJFEL, Henry. A categorização social. Paris: Larousse, 1972
________. Social psychology of intergroup relations. Annual Review of Psychology,
1982
TOMAÉL, Maria Inês. Fontes de Informação na Internet. Londrina: EDUEL, 200
57
!
WEBGRAFIA
A
História
do
Linux
-
TecMundo
-
http://www.tecmundo.com.br/sistema-
operacional/4228-a-historia-do-linux.htm - Acessado em 30/08/2012
A Internet e a Nova Revolução na Comunicação Mundial - Raquel da Cunha
Recuero (Ensaio apresentado como requisito parcial à aprovação na disciplina de
história das Tecnologias de Comunicação, ministrada pelo professor Dr. Jacques
Wainberg, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em
dezembro de 2000). http://pontomidia.com.br/raquel/revolucao.htm - Acesso em
05/07/2012
Alexa
-
Índices
da
Wikipedia
-
http://www.alexa.com/siteinfo/wikipedia.org?range=5y&size=large&y=t - Acessado
em 30/08/2012
Blog
Idéias
na
Mesa
-Crowdsourcing
-
http://blog.ideiasnamesa.com.br/crowdsourcing/ - acesso em 21/06/2012
Brainstorm 9 - My Starbucks Idea - http://www.brainstorm9.com.br/2099/diversos/mystarbucks-idea/ - Acessado em 30/08/2012
Crowdfunding.br
-
Multidão
Criativa
e
Colaborativa
-
http://crowdfundingbr.com.br/post/11030087071/multidao-criativa-e-colaborativa-umestudo-do-site - acesso em 22/06/2012
Fiat Mio - Site Oficial - http://www.fiatmio.cc/pt/discussoes/ - Acessado em
30/08/2012
G1 - Inimiga do Ctrl C + Ctrl V, Barsa segue fiel ao Papel e lança nova edição http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/04/inimiga-do-ctrl-c-ctrl-v-barsa-segue-fielao-papel-e-lanca-nova-edicao.html - acesso em 22/06/2012
Headlight
Blog
-
About
FIAT
bringing
crowdsourcing
to
the
market
http://www.headlightblog.com/2009/10/fiat-mio-bringing-crowdsourcing-to-theautomotive-industry/ - Acessado em 20/06/2012
-
58
!
História do Linux - Infowester - http://www.infowester.com/historia_linux.php Acessado em 30/08/2012
Mídia
Boom
-
Você
sabe
o
que
é
Crowdlearning?
-
http://midiaboom.com.br/2012/01/29/voce-sabe-o-que-e-crowdlearning/ - acesso em
22/06/2012
Revista
Wired
-
http://www.wired.com/wired/archive/14.06/crowds.html?pg=1&topic=crowds&topic_s
et= Acesso em 30/08/2012
Saia
do
Lugar
-
O
que
é
Crowdsourcing
-
http://www.saiadolugar.com.br/tecnologias/o-que-e-crowdsourcing-explicacao-eexemplos/ - acesso em 21/06/2012
The Rising of Crowdsourcing - Jeff Howe - Revista WIRED - Publicado em
14/06/2006.
Wikipedia sobre a Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia - acesso
em 22/06/2012