Cultura e comunicação nas canchas de bocha
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Cultura e comunicação nas canchas de bocha
REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS CULTURA E COMUNICAÇÃO NAS CANCHAS DE BOCHA Alessandra Martins Franco Tutunic (UNIP/FAFE)* Resumo Este artigo trata do jogo como ambiente produtor de Cultura, a partir das teses de Ivan Bystrina sobre Semiótica da Cultura. Analisa-se especificamente o jogo de Bocha, que é conhecido popularmente como jogo de idosos, visando identificar as contribuições do lúdico para a comunicação humana destas pessoas, considerando a Teoria da Mídia de Harry Pross que afirma que o corpo é a mídia mais rica. As Canchas de Bocha são reconhecidas como um texto urbano, portanto, cenário de integração popular em muitas cidades, independentemente do porte. Palavras-chave: Jogo. Cultura. Idoso. Urbano. Bocha. Abstract It will study the practice in this article bocce for the elderly, who can share knowledge at that time, exercise the body and communicate, and have fun. From the understanding of culture, according to the theories of Ivan Bystrina, the article aims to show the game environment as a trainer of imaginative texts, so cultural. This article will examine the text urban - Bocce Court, as an exponent of Brazilian culture and a communicative environment in which the Primary Medium is used in its entirety in a game popularly known as the Seniors game. Keywords: Game. Culture. Elderly. Urban. Boules. Introdução O jogo de Bocha é mundialmente conhecido e foi trazido para o Brasil por imigrantes italianos e franceses. É um jogo de competição, que pode ser jogado individualmente, em duplas ou em trios que são rivais. Há relatos de que no Egito e * É Mestre em Comunicação pela Universidade Paulista - UNIP (2013); Graduada em Comunicação Social, Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário FIEO (2003), especialista em MBA Gestão de Negócios e Tecnologia pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo IPT (2005). Atualmente é Professora da Faculdade Fernão Dias FAFE e Professora do Centro Universitário FIEO. 1 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Roma Antiga a Bocha já era jogada e até hoje está presente na cultura do brasileiro. Há Canchas de Bocha espalhadas por muitas cidades e estados do Brasil, em menor quantidade do que os campos de futebol, mas elas estão por toda parte. As canchas de bocha fazem parte do cenário urbano, caracterizado por inúmeros arranha-céus, uma longa malha viária e uma imensa aglomeração de pessoas, que podem, nesse ambiente, exercitar o homo ludens (homem lúdico). No Brasil, existe um consenso de que Bocha seja um jogo de idosos e para fortalecer essa ideia, esta modalidade faz parte de eventos voltados para a Terceira Idade, embora não haja distinção entre quem possa ou não participar da brincadeira. O jogo está presente em diversos ambientes e faz parte da vida dos seres humanos; é praticado em diferentes doses, por todas as pessoas. Dotados de regras próprias, os jogos constituem ambiente simbólico que é partilhado pelos jogadores, no momento e local específicos do jogo. Independente da modalidade, ele é considerado um componente da cultura de muitas nações. Mas antes disso, é um território produtor de cultura, de acordo com a teoria de Ivan Bystrina sobre Semiótica da Cultura, que alega uma relação muito tênue entre Comunicação e Cultura. Sendo assim, o objetivo deste artigo é apresentar a importância do jogo para os indivíduos da Terceira Idade, por meio das Teorias da Semiótica da Cultura e Teoria da Mídia. Jogo de bocha Há indícios de que no Egito e na Grécia Antiga já existia a prática do jogo de Bocha; mas de acordo com o Atlas do Esporte no Brasil (DA COSTA, 2006) o jogo teria surgido na Itália e o primeiro Campeonato de Bocha foi realizado em 1851 em Gênova. Foi por meio dos imigrantes europeus que a prática da Bocha chegou à América. A Confederação Brasileira de Bocha e Bolão regulamenta o jogo no Brasil e, segundo ela “existem 10 Federações filiadas. Somando-se todas as Federações têm-se aproximadamente 78 ligas e um número estimado de 620 clubes cadastrados nas 2 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Federações” (DA COSTA, 2006, p. 7 apud BACKES, 2008). Além disso, existem os jogadores que não são cadastrados na Confederação e que não são constituídos legalmente como um Clube de Bocha, praticam o jogo informalmente, como um modo de lazer e divertimento, nas Canchas espalhadas pelas cidades. No Brasil, a Bocha é praticada “nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul tanto na versão comunitária de lazer como na esportiva” (DA COSTA, 2006, p. 7). Embora haja as duas modalidades (o jogo profissional e o jogo pela diversão), caberá a este artigo considerar o jogo pela diversão, que segundo Huizinga (2000) é o que mais preserva o teor lúdico. O jogo profissional tem um grau de exigência diferente do jogo pela diversão; embora em ambos exista a brincadeira, o primeiro é caracterizado por um conjunto de regras e interesses que podem desconfigurar o objetivo primeiro do jogo que é a diversão. Regras do bocha O Regulamento da Bocha da Confederação Brasileira de Bocha e Bolão, em vigor desde fevereiro de 2008 constitui as regras do jogo, tanto no que se refere à configuração da Cancha, quanto às regras de pontuação, jogadores, sinalização e disposições específicas (SANTOS, 2008). Em resumo, a Bocha pode ser jogada individualmente, em duplas ou em trios concorrentes. O jogo consiste em arremessar uma bocha (bola) o mais próximo possível do bolim (pequena bola colocada em um ponto específico da cancha); o jogador pode tanto tentar aproximar sua bocha do bolim, como afastar a bocha do adversário (DA COSTA, 2006). Deve ser jogado em uma cancha, que de acordo com o Atlas do Esporte Brasileiro pode “ser de terra, de saibro ou material sintético, cercada por bordas de madeira” (DA COSTA, 2006, p. 6), com “dimensões de 26,50 m de comprimento e 4 m 3 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS de largura” segundo o regulamento (SANTOS, 2008, p. 2). Soma mais ponto a equipe que tiver jogadas de maior perfeição (DA COSTA, 2006, p. 6). Em verdade não há uma discriminação de perfil do jogador de bocha, mas é um jogo bastante praticado pelos idosos, o que pode ser motivado pelo fato de não ser uma atividade de ações bruscas e que exija um excelente condicionamento físico. Sabe-se, pelo senso comum, que a bocha é um esporte de idosos porque atrai bastantes pessoas da Terceira Idade e também está presente nos eventos esportivos públicos, realizados para essas pessoas, como uma modalidade de lazer e diversão. Cancha de bocha – um texto urbano O território urbano é, em última análise, caracterizado por ruas, avenidas, cruzamentos, arranha-céus, grandes construções arquitetônicas e, especialmente nas grandes cidades ou metrópoles, pelo grande número que pessoas que por ele transitam; diferentes meios de transporte se locomovem simultaneamente: carros, ônibus, trens, metrôs, taxis, etc. Pode-se perceber que as grandes cidades estão se transformando em locais de passagem, de circulação e não de permanência. O aumento da população e o consequente crescimento dos ambientes urbanos faz com que a própria arquitetura da cidade se adapte às necessidades de circulação, seja com a construção de novas avenidas, ruas ou pontes ou mesmo pela destruição de casas individuais, para construção de grandes prédios e condomínios que irão comportar um maior número de pessoas vivendo e transitando pela cidade. Nesse sentido, percebe-se uma dinamização do espaço urbano em prol de um ambiente de passagem que aproveite ao máximo o espaço, ou seja, uma maximização do aproveitamento do espaço, tanto para a locomoção quanto para a acomodação das grandes aglomerações de pessoas que habitam as cidades. Na contramão deste movimento, há o aproveitamento do espaço urbano para construção de áreas de lazer. De maneira não prioritária, como no caso das pontes e avenidas, o poder público investe na construção de parques, praças, quadras de esporte como, por exemplo, as Canchas de Bocha. Espalhadas pela cidade, as Canchas são espaços para 4 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS prática de esporte e integração das pessoas que vivem no seu entorno, proporcionando à população das grandes cidades momentos de lazer e descontração. Jogo como território produtor de Cultura O entendimento da Cultura humana fica mais claro quando se parte do princípio da existência da Segunda Realidade (Teoria da Semiótica da Cultura de Ivan Bystrina), que por sua vez precede o fato de que a Primeira Realidade do homem é saber que sua única certeza é a morte (BYSTRINA, 1990; 1995). Na Primeira Realidade, além da ideia de finitude, o homem se vê diante de uma situação da qual não tem nenhum controle, não sabe em que momento irá morrer, nem mesmo o que de fato a morte significa, uma vez que só a conhece representada na morte do outro e nunca a sua própria. Segundo Bystrina (1995), é na fuga dessa dura realidade que o homem constrói a Segunda Realidade, dotada de sentidos simbólicos que constituem a relação do homem com o mundo, com os objetos e com a sociedade em que vive. Esse ambiente simbólico é construído pelo homem por meio de “textos imaginativos e criativos” (1995, p. 14) e visam garantir sua sobrevivência psíquica, de modo que os indivíduos passam a não viver em função da Primeira Realidade. Bystrina afirma que “o jogo promove uma transição voluntária para a segunda realidade” (1995, p. 15). Dentro de uma lógica cultural, os indivíduos vivem o presente pensando no passado e planejando o futuro que, de fato, nunca irá existir, porque é possível planejar o que se pretende fazer no futuro, mas em hipótese alguma esse indivíduo será capaz de prever o que irá pensar no dia seguinte 1. Os sentidos culturais constroem o entendimento, o significante de cada coisa dentro de uma sociedade, ou seja, Cultura é comunicação (usar em comum, partilhar); assim, o homem comunga de um composto de símbolos dotados de sentido, da compreensão de um modo de viver e se vincular com o mundo. A partir da Cultura cada 1 Extraído da apresentação do Profº Dr. Milton Pelegrini no V Encontro de Pesquisadores de Comunicação e Cultura da UNISO, em 2011. 5 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS sociedade constitui padrões de conduta, leis de convivência, que não são pautadas pela razão, mas por criações do imaginário. De acordo com Bystrina (1995) existem quatro Raízes pelas quais a Cultura se organiza: há quatro territórios produtores de um universo simbólico. Esses territórios não possuem relação com a razão. São eles: o sonho, o jogo, os estados alterados de consciência e a loucura. O autor faz uma análise mais abrangente a respeito do jogo, que já fora pesquisado por outros autores. O mais destacado autor que escreveu sobre atividade lúdica, junto com Callois, é Huizinga. Ele vê a cultura intrinsecamente ligada ao jogo. Depois que a Cultura se constituiu, o jogo se tornou um de seus mais influentes fatores. Huizinga acha que as grandes atividades originais da espécie humana são todas entremeadas com o lúdico. (BYSTRINA, 1995, p. 16) O jogo, pelo seu caráter lúdico, é um ambiente produtor de Cultura: é em si um texto imaginativo e criativo, possui regras específicas criadas pelo homem e significados partilhados apenas no momento do jogo, mas que na Primeira Realidade não fazem sentido. De fato todo jogo possui suas regras que impõem uma vertente séria a ele, que é mais evidente pela presença de um árbitro, que irá controlar a obediência a elas, mas também pela apreensão e pela concentração do jogador no momento de realizar o lance. Ao mesmo tempo, as regras não impedem o divertimento do jogador, as risadas nas jogadas erradas ou vibração naquelas que são acertadas, a brincadeira com o adversário que perde o lance, o prazer da vitória de uma jogada fenomenal e ainda os louros por essa glória. Mesmo com as regras, ainda resta espaço para criar novas jogadas e agir de forma criativa, inventando novas maneiras de se divertir. Por isso o jogo é um ambiente de aprendizado, na medida em que o jogador tem que aprender as regras, saber como realizar as jogadas, conhecer os macetes dos mais experientes. Além disso, é o aprendizado para a vida, na medida em que propicia aceitar as perdas, as derrotas e saber lidar com as vitórias. O momento do jogo ajuda a desenvolver o jogador como ser humano, na sua vivência com o outro, aprender sobre alteridade, respeito, comportamento social e, em cada jogo, um aprendizado específico, 6 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS como no caso da Bocha, a lógica da física que está intrínseca ao movimento da bola dado pelo impulso e atrito com o solo. O aprimoramento das jogadas, muitas vezes, leva o jogador a empreender, lançar a bocha de outra maneira, usar novas técnicas para exibir jogadas mais elaboradas e se destacar dos adversários, afinal a competição faz parte do jogo. O jogador se orgulha e ganha prestígio e reconhecimento, estabelece vantagens perante seus pares e adversários. Dentro da Cancha de Bocha o jogador assume um papel e um status que não têm relação alguma com aqueles que ele representa na vida real. No jogo, um idoso pode ser o grande herói, o vencedor, seja pela vitória de fato ou pela precisão de uma jogada. Mas, como já citado, toda jogada e a boa performance, só fazem sentido no espaço e tempo do jogo; quando o jogo acaba, quando o jogador sai da Cancha de Bocha ele volta a ser um idoso, numa situação em que todo ambiente simbólico da quadra não se reproduz e não faz sentido. Numa situação de jogo, o jogador diferencia os vários planos da realidade, porque ele sabe até aonde vai a realidade lúdica e onde começa a realidade cotidiana. Se não pudesse delimitar tais fronteiras, não poderia sequer jogar. Porém, o comportamento lúdico é restrito a um tempo e um espaço limitados, um palco, um ringue, um campo de futebol, etc... E somente dentro desses espaços é que o jogo goza de seu pleno significado. (BYSTRINA, 1995, p. 15) A construção de sentidos, atribuída ao jogo, é válida somente quando ele acontece; ainda assim, de acordo com Huizinga (2000), o profissionalismo do jogo e sua transformação em esporte reverberam numa perda do seu caráter lúdico, uma vez que a diversão já não é o motivador do jogo, mas sim a disputa de um campeonato. O jogador deixa de ser alguém que simplesmente quer brincar e passa a ser um profissional. Sendo assim, este artigo aborda o jogo não como esporte, mas como uma simples brincadeira. Popularmente conhecida como coisa de criança, em verdade não há uma discriminação de perfil do jogador. O jogo de Bocha, especificamente, é tido como “jogo de velhos”, porque atrai bastantes pessoas da Terceira Idade e também está presente nos eventos esportivos realizados para Idosos, como uma modalidade de lazer 7 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS e diversão. Esse jogo é ainda mais prestigiado pelos homens, que frequentam com mais frequência as Canchas. O ambiente2 das Canchas de Bocha, via de regra, é formado por muita descontração, confraternização de amigos e integração, tanto dos que estão jogando, quanto da plateia, que assiste ao jogo com empolgação, participando de cada jogada. No jogo de Bocha, o que prevalece é a diversão. A Cancha comporta os jogadores e também alguns espectadores que, sem nenhum problema, andam por entre as bolas que estão sendo lançadas, participam da avaliação do juiz sobre determinada jogada, compartilham petiscos e papeiam sobre o jogo, ou seja, mesmo os que não jogam estão brincando e se divertindo. Segundo a Teoria da Mídia de Harry Pross (apud SANTOS, 2009), no jogo, há ainda outro fator importante que é a plena utilização da Mídia Primária – o corpo. Na jogada da bola é possível perceber diferentes objetivos: quando o propósito é lança-la o mais próximo do bolim, as jogadas são leves e o jogador se aproxima ao máximo do solo, para que não haja muito impacto e ela possa se mover facilmente até o alvo. Mas quando o intuito é afastar a bola do adversário do bolim, as jogadas são mais bruscas e fortes, como num enfrentamento, em que o mais forte vence. Sem contar o badalar do braço que irá fazer o lance, em busca de maior precisão na jogada. Além dos lances, alguns jogadores fazem movimentos no ar, com as mãos, como se estivessem direcionando a bola, para que ela corra mais depressa ou mais lentamente ou então seguem a bola até que ela pare, num desejo de fazer com que a jogada siga realmente o caminho que foi planejado e os olhos seguem firmemente as bolas, como se o jogador tivesse o poder de mover objetos com a mente. Mesmo com toda a torcida, quando a jogada não é boa, a decepção fica clara pela postura cabisbaixa do jogador. Por outro lado, a comemoração inclui gritos de alegria, pulos e até provocações ao adversário, para reforçar o valor daquele lance, tudo sempre em tom de brincadeira. Dores no corpo, problemas de coluna e dificuldades motoras, comuns em indivíduos da Terceira idade, não existem para os Idosos que 2 Para esta análise foram assistidos vídeos de partidas de Bocha disponíveis na internet, www.youtube.com. 8 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS brincam de Bocha, pelo menos não naquele momento lúdico, no espaço e tempo do jogo. Considerações finais Mesmo que as cidades estejam se organizando, arquitetonicamente, para constituírem ambientes de passagem, que suportem um grande número de pessoas, ainda há espaços de lazer, cuja finalidade é proporcionar à população um momento de descontração e divertimento, de partilha. Isso é percebido pelo fato de encontrarmos, tanto em grandes cidades como nas pequenas, Canchas de Bocha – um espaço público destinado ao jogo de Bocha. Embora tenha surgido no Século XIX, nos dias de hoje esse jogo faz parte da Cultura brasileira, sendo praticado especialmente por idosos. As canchas de Bocha constituem um território produtor de Cultura: a regra do jogo é, em si, um texto imaginativo e criativo, que constitui o caráter sério do jogo, mas não destitui sua faceta lúdica, pois o jogo é uma segunda realidade, criada pelo homem, que numa lógica de retroalimentação, recria o homem. Numa era em que a tecnologia media muitas relações entre os homens, a prática do jogo de Bocha, como brincadeira, é uma maneira de exercitar a Mídia Primária – o corpo, explorando toda sua riqueza comunicacional. Por meio dos sentidos, o tato, o olfato, a visão e a audição, os jogadores interagem com a bola, com a Cancha, com os parceiros e com os adversários, exprimindo reações, provocações e sensações e, em última instância, exercitam também o paladar, uma vez que o gosto da derrota é amargo. Especialmente para os idosos que, em geral, têm essa Mídia Primária debilitada pelo tempo, a prática do jogo é uma alternativa para manterem-se dispostos e ativos, além de propiciar momentos de prazer, de partilha, ou seja, de comunicação com os outros, numa sociedade que muitas vezes os exclui. 9 Revista Acadêmica da Faculdade Fernão Dias, ISSN 2358-9140, ano 1, número 2, novembro de 2014. http://www.faculdadefernaodias.edu.br/rafe/ REVISTA ACADÊMICA DA FACULDADE FERNÃO DIAS Referências Bibliográficas BACKES, André. Regra de Bocha ponto – rafa – tiro. 2008. Disponível em http://www.aabbsp.com.br/editor/assets/regulamento.pdf, acessado em 21/11/2011. BYSTRINA, Ivan. Tópicos de semiótica e cultura - Aulas do Profº Ivan Bystrina. São Paulo: PUC/SP, 1995. (Pré-Print) __________. Cultura e Devoração. As raízes da cultura e a questão do realismo e do não-realismo dos textos culturais. Palestra proferida para o CISC na PósGraduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP em 1990. 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