ediçom em PDF - Primeira Linha
Transcrição
ediçom em PDF - Primeira Linha
Vozeiro de Primeira Linha www.primeiralinha.org Ano VIII • Nº 27 • Segunda jeira • Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 Demissom e prisom para os responsáveis O desprestígio do capitalismo espanhol ILEGALIZAÇOM DO PP Editorial Três meses depois do início do afundimento do petroleiro Prestige, Galiza continua padecendo a mais importante crise ecológica e sociolaboral da nossa história contemporánea, sem que os principais responsáveis pola catástrofe, -as autoridades espanholas-, tenham adoptado as medidas mínimas necessárias para resolver a existência dum buque afundido a 234 quilómetros da Costa da Morte, que expulsa diariamente das suas entranhas toneladas de veneno em forma de fuelóleo. As marés negras, -já nom sabemos qual é a numeraçom-, som a apocalíptica realidade quotidiana para centenas de quilómetros do litoral dum país que vem sofrendo ciclicamente este tipo de agressons contra o seu ecossistema, contra o meio de vida de dezenas de milhares de trabalhadoras e trabalhadores do mar, e que assiste desamparado ao abandono por parte de Espanha e da UE, apesar das medidas propagandísticas em promessas de investimenos milionários que prevê o Plano especial para Galiza aprovado recentemente polo governo de Aznar na Corunha, com Francisco Vásquez de anfitriom. Os critérios de máximo ganho em detrimento das necessidades da classe trabalhadora, os povos, as mulheres e a natureza, que caracterizam o modo de produçom capitalista, unido à lógica colonial com que o Estado espanhol trata a nossa naçom, junto dos grandes interesses económicos das companhias envolvidas no caso (armadores, rebocadores, empresas de salvamento), a irracional política energética do capitalismo, em conjugaçom com a incompetência das autoridades responsáveis e os erros cometidos na gestom do que inicialmente nom era mais que um acidente marítimo, provocárom que desde o 13 de Novembro o futuro da Galiza esteja directamente ligado ao que acontece num cemitério marinho a quatro quilómetros de profundidade. Nos cálculos do capitalismo espanhol, -que desde as primeiras horas mantivo umha passividade criminosa, cedendo às pressons das potências europeias de afastar o barco para o sul-, nunca se baralhou a hipótese de que um povo como o galego, historica e intencionadamente ligado com a submissom e a resignaçom-, tivesse a imensa capacidade de rebeliom, mobilizaçom e resposta, de autoorganizaçom e confiança nas suas próprias forças, -tal como demonstrárom @s marinheir@s e mariscadoras/es da Arousa, Vigo ou Ferrol-, figesse abalar algumhas das estruturas do poder levantadas em mais de um quarto de século pola democracia burguesa espanhola imposta polo franquismo. A manifestaçom do 1 de Dezembro de 2002, a mais importante das acontecidas na nossa história, foi o primeiro sinal de que nesta ocasiom a docilidade galega nom ia aturar as mentiras, a censura, a manipulaçom, o desinteresse, a descoordenaçom, a desatençom, dumhas patéticas autoridades que negavam a existência da maré negra quando os alcantis e as praias de Mugia, Fisterra, Camarinhas ou Malpica estavam sendo engolidas por umha substáncia viscosa que vomitavam as frias águas do Atlántico; quando perto de metade da frota pesqueira estava amarrada a porto pola impossibilidade de faenar; quando milhares de mariscadoras, de percebeir@s, de marinheir@s assistiam desesperad@s à destruiçom do seu meio de vida; quando desde os próprios grupos empresariais se calculava que o dano na economia ia provocar umha queda do PIB próxima de 5%. Um quarto de milhom de vozes gritárom demissom nas ruas dumha Compostela intransitável enquanto o governinho autonómico, aterrado pola mobilizaçom social, via rebentar os equilíbrios internos tecidos habilmente desde 1989 entre as diversas fracçons da burguesia autóctone, entre os que consideravam necessário intervir e os que opinavam que era Madrid quem tinha que gerir a situaçom. Em ambas as posiçons, a preocupaçom gravitava exclusivamente nas eleiçons municipais de Maio. Estes dous cenários marcárom o início dumha nova fase na estrutura sociopolítica galega de cujos resultados incertos tam só poderemos traçar diversas hipóteses, e modestamente intervir para inclinar as nossas forças em prol dos interesses nacionais, de classe e de género que defendemos como revolucionári@s comunistas. As contradiçons do movimento de massas Nestes três meses vimos assistindo ao desenvolvimento dum amplo movimento de massas que atinge cifras históricas de mobilizaçom social, que realiza dezenas de actividades que envolvem centenas de milhares de galeg@s, mas que polas deficiências estruturais dumha sociedade com uns raquíticos índices de autoorganizaçom, sem dinámica e tradiçom de luita, e por situar-se sob a direcçom hegemónica do reformismo autonomista, nom dá os passos necessários que requer umha situaçom de emergência destas características. As centenas de organizaçons, entidades, colectivos e associaçons de todo o tipo, articuladas na plataforma Nunca Mais, carecem dumha estratégia política definida que supere o pedido e exigência dumha série de medidas básicas que a curto prazo abrandem os efeitos mais negativos da catástrofe. Se bem na tabela reivindicativa aparece recolhida a demissom das autoridades, o peso qualitativo do autonomismo no seu seio provoca que em muitas ocasions o discurso da plataforma esteja por trás das demandas populares. Nos planos do BNG, e das burocratizadas entidades satélites que instrumentaliza, evita-se questionar minimamente o sistema económico, -o capitalismo-, e a dependência nacional que dele deriva, como as verdadeiras e fundamentais causas que provocárom umha catástrofe que com toda a probabilidade voltaremos a padecer. À incompetência da Administraçom, à negligência dos responsáveis políticos, circunscreve os detonantes dumha crise que inquestionavelmente está ligada ao caos do capitalismo e ao seu desprezo pola vida. O autonomismo restringe o discurso, e portanto a linha política de Nunca Mais, a reivindicar um pacote de medidas que em qualquer outro Estado do contorno seriam parcial e imediatamente aceitado polas autoridades. O reformismo, profundo conhecedor e também corresponsável da lamentável situaçom do nível de consciência, manipula a ingenuidade e a indignaçom popular desorientando e freando o movimento. Se bem mantém umha intermitente mobilizaçom para nom defraudar as demandas, mediante as habituais manobras antidemocráticas, a ausência de transparência, o verticalismo e a burocratizaçom da plataforma, limita e veta a presença no interior de Nunca Mais das entidades do MLNG voltando a reproduzir as já ensaiadas políticas de aparheid entre o que o regime pode aceitar e o que nom permite. Um deputadinho autonomista impede a entrada d@s representantes de NÓS-UP, AGIR e AMI na reuniom de Nunca Mais e posteriormente numha votaçom irregular, em que várias entidades satélites votam duas vezes, permitesse a incorporaçom de doze novos organismos, entre elas os sindicatos espanhóis, mas nega-se a entrada do independentismo revolucionário. Nas mobilizaçons, alguns dos quadros institucionais ou do aparelho burocrático do autonomismo actuam como colaboracionistas da polícia, delatando a presença d@s “violent@s” ou cumprindo directamente tarefas repressoras. Após injectar o oxigénio político que solicitava Espanha, ratificando assim os acor- Sumário 3 Dependência e marés negras. Até Quando? Maurício Castro 4 Recuperemos os meios públicos Begonha Caamanho 4 Prestige. O assalto definitivo ao nosso património natural Pedro Alonso 5 Petróleo, o combustível do motor capitalista André Seoane Antelo 6 Literatura operária e operari@s na literatura Xosé María Dobarro 7 O carácter de classe do governo Lula e o que representa Alberto Vergueiro 8 Evitemos a agressom imperialista contra o Iraque 2 Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 EDITORIAL dos de estado assinados, mediante a teatrealizaçom da moçom de censura que salvou a Fraga, e vetando a greve geral que a finais de Novembro ou inícios de Dezembro teria tombado a Junta, pretende capitalizar eleitoralmente a acumulaçom de forças sociais, ainda que paradoxalmente nom deseja umha derrota do PP detonante dumhas eleiçons autonómicas antecipadas que possibilite o velho sonho de cogovernar a Junta com o PSOE de Tourinho e Francisco Vásquez. Mas o BNG ainda teme mais as massas que espontaneamente solicitam umha radical mudança de rumo e questionam o conjunto da classe política. Apenas utiliza o movimento, a força da rua, para ocultar a sua profunda crise interna e cumprir a tarefa que se lhe atribui, de conduzi-la polos vieiros da ordem institucional a que se subordinam. Assim se entende como num dos momentos mais álgidos da crise o alcaide de Vigo inaugure um museu acompanhado por Fraga e o príncipe espanhol; assim devemos interpretar como a cara pública do autonomismo na capital da Galiza se proteja das inclemências do tempo sob o guarda-chuvas de Fraga presenciando um desfile do exército de ocupaçom; a morna oposiçom, o discurso “prudente” que exerce nas instituiçons; as palavras de Beiras solicitando paciência nas primeiras jornadas. O seu minimalismo nom só evita furar na superficialidade dumhas “causas” que a dia de hoje estám incorporadas no discurso oficial, igual que a legenda Nunca Mais; também esquivou desde o primeiro momento a reclamaçom de responsabilidades políticas, e impossibilitou solicitar as penais para uns responsáveis que tenhem cara, nome e apelidos. Assim como a esquerda independentista vem solicitando a demissom e prisom de Aznar, Fraga, Rajói, Cascos, e inclusive a do chefe do Estado, o rei espanhol Juan Carlos I, o BNG e os seus satélites impedírom sempre esta reivindicaçom. Mas quando em plena deslegitimaçom social o PP recrudesce a ofensiva do fascismo espanhol para demagogicamente ensombrar as demandas populares, impulsionando um pacote de medidas legais tendentes a estrangular a liberdade de expressom, criminalizar os projectos de libertaçom nacional e social de género, ilegalizar organizaçons, aplicar a cadeia perpétua, mediante um endurecimento do código penal que nos retrotrai para o de 1848, anunciando a construçom de novas prisons e mao dura, o BNG e os seus satélites praticam o autismo e a cobardia política que caracterizam a sua trajectória. Se Espanha é a responsável pola catástrofe que padecemos, o PP é-o do ecogenocídio do nosso litoral e da ruína, o desemprego e a emigraçom de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. Exigir a ilegalizaçom do PP é umha coerente reivindicaçom que se ajusta à gravidade do delito, que situa no epicentro do debate político, que novamente empapa amplos sectores sociais, os eixos dumha políti- ca com critérios de esquerda conseqüente. Galiza, por carecer de poder político, da soberania nacional, por ser umha naçom sem Estado, nom pode denunciar nos tribunais e instituiçons internacionais a Espanha polos graves delitos cometidos contra o povo galego, mas sim podem as massas trabalhadoras e populares, mobilizadas e dirigidas com um programa avançado, pedir a ilegalizaçom do PP como primeiro passo para erosionar a sua estrutura de poder. A greve geral como recurso de participaçom e pressom colectiva deve fazer parte dos objectivos imediatos de Nunca Mais para elevar o nível de consciência popular, aprofundar na deslegitimaçom das instituiçons espanholas, transformar o primário sentimento de afirmaçom nacional em consciência nacional, a autoestima colectiva em independentismo sociológico. O BNG nom só nom introduz o discurso nacional no movimento, senom que o situa no quadro estatal promovendo umha mobilizaçom em Madrid que dilui a dialéctica Galiza-Espanha que implicitamente conforma um dos eixos dos protestos. Combater o eleitoralismo Centrar o debate do actual movimento de massas em chaves eleitorais é natural na lógica no autonomismo, mas desde o campo da esquerda independentista só exprime umha preocupante desorientaçom, umha miopia política, o vigor do reformismo inerente ao ADN do qual se procede e do que ainda nom logrou despreender após mais de vinte e cinco anos. A proposta que a FPG realizou desde as páginas dum jornal vigués de articular um Pólo Nunca Mais, um revival da Posición Luís Soto, para derrotar o PP nas eleiçons, é um autêntico disparate carente da mais mínima possibilidade, e contrária aos interesses da naçom galega e da sua classe trabalhadora, por quanto propom umha frente popular interclassista sob a direcçom da burguesia autonomista e do espanholismo felipista. A derrota eleitoral do PP, se bem é umha boa notícia, nom resolve nengum dos graves problemas sociais, nacionais e de género que hoje padecemos como trabalhadores/as, como naçom e como mulheres. Depositar a libertaçom nacional, a transformaçom social e a emancipaçom de género nos resultados dumhas urnas é característico da lógica colaboracionista do reformismo e tem-se demonstrado totalmente inútil se nom for acompanhado basicamente por um processo de autoorganizaçom e mobilizaçom popular. Gerar falsas ilusons é desconhecer a verdadeira natureza do regime e das forças políticas que o sustentam, ou renunciar implicitamente aos princípios buscando a via da integraçom perante as dificuldades dumha situaçom subjectivamente adversa para os projectos revolucionários. Para evitar novos Prestiges é necesssário construir espaços de poder popular encaminhados a do- tar a Galiza dum Estado próprio, com umha sociedade socialista. Isto só é factível mediante um processo revolucionário que recupere a independência nacional. Derrotando o PP nom se dana realmente um regime que conta com vários susbtitutos, PSOE e BNG, para manter inalterável a dominaçom, opressom e exploraçom que o caracterizam. Apostar por esta via tam só introduz mais confusionismo no movimento popular e reforça as teses do autonomismo reformista. Às vezes as àrvores impedem ver o bosque. Algo se move As tendências e fenómenos em curso que a crise tem gerado em significativos sectores populares revelam que algo se está movendo: massivas manifestaçons, autoorganizaçom dos sectores atingidos, certa permissividade na hora de aceitar métodos de luita nom estritamente legais, deslegitimaçom das instituiçons e da classe política, incremento da consciência nacional e da autoestima colectiva, politizaçom. Mas perante a ausência dum referente político-social com projecçom de massas é difícil que estes sectores cristalizem na configuraçom dum novo espaço político antissistémico, nem que a esquerda independentista seja capaz de incorporá-los ao MLNG. Nom devemos desconsiderar as dificuldades que o movimento tem manifestado para gerar desde o seu interior vozes e núcleos radicalizados que de maneira organizada, de parámetros anticapitalistas e independentistas, incrementem o nível de aspiraçons socialmente compartilhadas, insiram um discurso superador do minimalismo refomista. De momento tam só o independentismo, embora às vezes de forma contraditória, tem defendido umha praxe combativa e um discurso táctico enquadrado em chaves estratégicas. A crise do PPdG Mas o Prestige também tem provocado na Galiza um novo cenário no seio da até agora “monolítica” direita espanhola. O cessamento ou demissom de Cuinha em meados de Janeiro nom pode ser interpretado desde o simplismo exclusivista do con- fronto entre as teses galeguistas e mais centralistas existentes no PPdG. Som diversos os factores que possibilitam a explicaçom dum complexo panorama carregado de incógnitas. A crise nacional desencadeada polo afundimento do petroleiro, e o conseqüente desprestígio social do PP, unido ao crepúsculo biológico e político de Fraga, tem acelerado a corrida sucessória e os movimentos internos para recolocar nas melhores condiçons possíveis os diferentes interesses localistas e particulares das diversas fracçons da burguesia galega que sob a “harmonia” autoritária de Dom Manuel configuravam a virtual pinha da estrutura de dominaçom. O aparelho madrileno do PP, receoso das tendências autonomistas, -embora sempre no quadro da inquebrantável lealdade constitucional-, que até o momento vinha aplicando a direcçom galega, perante um Fraga enfraquecido interna e externamente, considerou que a conjuntura era favorável para recuperar desde Génova o controlo directo do partido, afastando o representante mais qualificado das teses regionalistas. As ajudas e os planos de investimentos que Fraga implorou em Madrid para paliar os efeitos da catástrofe e evitar o único que realmente lhe preocupa na actualidade: passar à história com umha retirada digna, fôrom respondidas afirmativamente por Aznar mediante a imposiçom do controlo orgánico que vinha reclamando. O velho fascista qual Saturno devora o seu filho para assegurar a “glória eterna” do enterro de César no monte Gaiás. Os movimentos ligados à sucessom de Aznar também jogam um papel significativo porquanto um dos aspirantes, Mariano Rajói, pretende recuperar o controlo orgánico do PPdG que lhe fora arrebatado por Cuinha, para reforçar a sua posiçom de candidato à presidência do Governo espanhol. As intrigas de palácio, a própria luita de classes no seu interior entre a tradicional rede caciquil e clientelar encistada no rural e mais próxima do populismo galeguista, e a velha burguesia e oligarquia urbana ligada mais directamente à Villa y Corte, em constante pugna pola hegemonia, as pressons da Opus Dei, som outros dos parámetros que podem contribuir para compreender a actual situaçom. Se bem é positivo que o fraguismo comece, contra os prognósticos, a abalar antes do final de Fraga, devemos matizar o entusiasmo natural das massas ao ligar mecanicamente a provável derrota do ex-ministro de Franco com umha soluçom aos graves problemas do país e da suas classe trabalhadora. A ofensiva fascista da oligarquia espanhola A crise do Prestige, unida à cada vez pior saúde económica do capitalismo espanhol, em plena recessom, incapaz de cumprir os objectivos marcados, e preocupado polos efeitos negativos que para manter a sua taxa de ganho terá o alargamento ao Leste da UE, tem endurecido a ofensiva fascista com que pretendem distrair as classes trabalhadoras espanholas culpando as reivindicaçons nacionais da Galiza, Catalunha e Euskal Herria como responsáveis pola sobre-exploraçom que padecem. Recuperando o discurso mais intransigente do imperialismo espanhol, reformando a legislaçom e os consensos pactuados entre o franqusimo e o reformismo em 1975-81, também pretende amedrontar as reivindicaçons nacionais, as luitas sociais e de género para evitar o incremento da conflituosidade que dificulte a aplicaçom da reforma laboral permanente, o recorte das liberdades, e a derrota político-militar da ETA. Assim se entendem as tentativas de criminalizaçom do movimento popular ligado a Nunca Mais. Nesta estratégia devemos enquadrar as declaraçons xenófobas e racistas do presidente do Tribunal Constitucional Manuel Jiménez de Parga contra os povos das naçons oprimidas por Espanha, a demagogia populista de “maior segurança e luita contra a deliqüência”, com que o PP pretende ocultar os seus estrepitosos fracasos e incompetências. A adesom incondicional às teses belicistas dos falcons do Pentágono e da Casa Branca na intervençom miltar contra o Iraque demonstram o fracasso do capitalismo espanhol na UE e pretendem ser utilizadas como umha nova cortina de fume para esconder os problemas internos. PUBLICIDADE Línea express de Local Social para realizar o pedido 981 585 656 / 981 587 272 Casas Reais, 27 / Compostela Fernando Macías,3 15004 - A Coruña www.lumelibros.com Telf.: 981 263 408 Fax: 981 264 803 TENDA NATURISTA Produtos naturais e biològicos, o melhor para corpo e mente, o mais sam em alimentaçom e higiene Rua Pitelos 26 tf+fax: 981 577 484 Costa Rica nº 2 • teléfono 981 918 927 Corunha Libros Galegos e sobre Galicia Libro Portugués Tel.: 981 566 980 Tel./Fax: 981 571 373 Rúa Nova, 36 • Santiago Zona dos Viños. A ESTRADA Santiago - A Coruña Rua Noreas, 5 LUGO LUGO O acontecido nestes meses perante os olhos atordoados de galegos e galegas nom é nengumha novidade. Desde 1970, seis desastres ecológicos e económicos semelhantes, mais outros dous por vertidos de produtos químicos, venhem golpeando periodicamente o nosso país ante a passividade da Administraçom espanhola. E o que pode ser mais grave: nada indica que, de manterem-se as actuais coordenadas institucionais e a actual lógica de dependência galega, no futuro deixem de suceder-se agressons semelhantes, nom sendo que se verifique a intercessom divina anunciada polo velho fascista Manuel Fraga. Das cinqüenta maiores marés negras produzidas por derramamento de hidrocarburos aos mares do mundo nos últimos 30 anos, seis produzírom-se na nossa naçom; quer dizer, mais de 10% para um país cujas dimensons suponhem bem menor percentagem das costas do Planeta. O que sim pode vir a ser umha novidade no caso do Prestige é a maior sensibilizaçom social atingida quanto às directas responsabilidades políticas das instituiçons espanholas, o seu desprestígio e a necessidade de ganharmos em soberania nacional como melhor soluçom aos reptos de fundo calado que enfrenta a naçom galega. A sua viabilidade ambiental e económica som só dous desses reptos, dramaticamente incorporados à ordem do dia pola crise do Prestige. Fagamos um breve repasso. Desde que, em 5 de Maio 1970, o Polycommander inaugurou a terrível listagem com as suas 50.000 toneladas de crude derramadas frente às Ilhas Cies, seis grandes marés negras e dous derramamentos de produtos químicos altamente poluentes assolárom o litoral da Galiza: Em 12 de Maio de 1976, o petroleiro Urquiola partiu em dous e ardeu perante a Corunha, com quase 120.000 toneladas de petróleo bruto (mais 15.000 da carga permitida). A maré negra atingiu 100 km de costa galega; em Dezembro de 1978 foi o petroleiro grego Andros Patria o que deitou 50.000 toneladas de crude perto de Fisterra; em 11 de Outubro de 1980, o Scaptrade derrama 32.000 toneladas de crude frente a Ribadeu; já em 1992, o Mar Egeu, com bandeira grega, arde ante o porto da Corunha, e provoca um derramamento com as suas 79.000 toneladas de crude, alastrando a maré negra até 200 km de costa; e dez anos depois, assistimos a um novo grande desastre ambiental que acelera a destruiçom do já depauperado litoral galego, um dos principais esteios económicos da nossa naçom. Desta vez, o buque Prestige afundiu a 250 quilómetros da costa galega, provocando sucessivas marés negras de fuelóleo que se espalham por todo o litoral galego perante a passividade e a negligência das autoridades espanholas que ainda administram a sorte da nossa terra. Estamos a falar de mais de 80.000 toneladas de fuelóleo, substáncia mais suja e difícil de limpar, além de altamente cancerígena, 65.000 toneladas das quais continuam no fundo do mar a ameaçar o nosso futuro imediato. A isto todo cumpre acrescentarmos a alta toxicidade dos 2.000 bidons de pesticidas largados polo Erkowit, em Outubro de 1970, e do tristemente célebre do Casón, em Dezembro de 1987, que deitou ao mar mais de 3.000 bidons de produtos radiactivos ainda indeterminados mas altamente perigosos, provocando a morte de 23 tripulantes e doenças respiratórias à cidadania de Fisterra, Corcubiom e Cee. A nossa crise nacional no contexto mundial Frente a quem pretenda acusar-nos de vitimistas, reconheçamos que a Galiza nom é o único país a padecer as conseqüências de um tránsito marítimo incontrolado ao serviço do lucro das grandes empresas do centro capitalista. Calcula-se que por volta dos cinco milhons de toneladas de petróleo se deitam ao mar cada ano, 10% das quais procedentes de grandes petroleiros. A Bretanha, naçom sem Estado dominada por França, é um exemplo de litoral empobrecido por efeito das marés negras, sofrendo três grandes derramamentos, um já em 1967 (123.000 toneladas de petróleo), um outro em 1.978 (223.000 toneladas de crude) e o último em 1999 (10.000 toneladas). A República Sul-africana, com outros três grandes desastres (em 1972, 1983 e 1994) é outro dos países mais castigados. Mas só o Brasil iguala em termos absolutos o recorde galego em número de sinistros desta natureza. O grande país sul-americano sofreu nom menos de seis marés negras de grandes dimensons nas suas águas, incluindo rios como o Amazonas, Sagrado e Barigüi. Contodo, comparem-se os 8.000 quilómetros de linha costeira brasileira com os pouco mais de 1.200 km. do nosso litoral marinho, em que já vivemos outras cinco grandes agressons como a actual, além das duas citadas de carácter químico. A Galiza torna assim o país com maior quantidade de sinistros em termos relativos e o de maior percentagem do próprio litoral castigado por derramamentos incontrolados de hidrocarburos e outros agentes químicos de todo o globo. Ante isto, lembremos agora o presidente espanhol José María Aznar a fingir indignaçom ante as cámaras, aos poucos dias do acontecido com o Prestige, apesar de ser o representante Maurício Castro Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 ACTUALIDADE 3 Dependência e marés negras. Até Quando? institucional de um Estado, o espanhol, cujos buques também derramam petróleo sem controlo nas águas do maltratado Planeta. O Urquiola, o primeiro superpetroleiro que encalhou nas nossas águas, é um bom exemplo, mas também há outros como o Castillo de Bellver, que deitou ao mar, em 1983, 250.000 toneladas de crude frente ao cabo de Boa Esperança, na costa sul-africana, causando um dos maiores desastres ecológicos da história. Nom é verdade, portanto, que sejam só os despectivamente chamados “países terceiro-mundistas” que estám por trás das marés negras. Firmas e instituiçons francesas, russas, gregas, norte-americanas, japonesas e, naturalmente, espanholas, fam parte da listagem de responsáveis polas mais graves marés negras da história. De resto, é a presença de buques mono-casco nas frotas de estados como o Espanhol e outros europeus que explica os continuos atrasos da UE na aplicaçom de umha legislaçom que puna a circulaçom dessas bombas flutuantes. Frente a tais interesses, que peso poderá chegar a ter a “Comunidade Autónoma de Galicia” como simples apêndice regional de Espanha? Além do mais, as grandes companhias petroleiras vem-se implicadas todos os anos em flagrantes delitos ecológicos como os que comentamos, sem que sejam tomadas medidas para evitar novos desastres. Ninguém ousa tocar os interesses dos oligarcas mundiais do sector, que costumam estar por trás destes atentados. No caso concreto do Prestige, ao parecer, o influente sector petroleiro russo é responsável. Nom esqueçamos que no genocídio do povo Tchetcheno protagonizado polos russos subjaz a rapina enérgetica dos hidrocarburos. Nem que o sector energético russo é aliado estratégico do homólogo sector ianque e apoiante da sua agressiva estratégia militar contra o Afeganistám e o Iraque, à qual assistimos na última década e que provavelmente volte a concretizar-se numha iminente guerra imperialista contra este último país. De novo, a espoliaçom energética determina a génese e desenvolvimento destas agressons. Num cenário de capitalismo e caos mundializado, a crise agora padecida pola nossa naçom nom deve portanto ser analiticamente isolada do seu contexto, definido por um modelo energético como o que o petróleo representa; definido também polo princípio económico do máximo lucro com o menor gasto; pola crescente concentraçom e deslocalizaçom de capitais e empresas; pola guerra de rapina; pola cada vez mais evidente posta das administraçons públicas ao serviço das necessidades dos amos do mundo. Porquê na Galiza? Se a desconsideraçom do contexto mundial em que nos situamos e da sua natureza capitalista seria um erro na avaliaçom de umhas catástrofes que nos querem vender como “naturais”, nom menos grave seria esquecermos em que países acontecem, de maneira reiterada, semelhantes desastres. No nosso caso, trata-se de um país, a Galiza, que vê circular –sem controlo– 50.000 buques diariamente frente às suas costas; com precedentes como os já citados, apesar do qual os sucessivos governos (PSOE e PP) evitam o controlo desse tráfego marítimo e descartam a aquisiçom de meios para a luita contra a poluiçom que periodicamente ocasiona. Nem um só buque anticontaminaçom. Nem um só rebocador eficaz ante eventualidades como a actual. Contrastemos estes incontestáveis dados, por exemplo, com os correspondentes ao multimilionário investimento anual em material bélico por parte do próprio Estado espanhol. Sem dúvida, muitos galegos e galegas terám chegado nestes meses de maneira empírica a assumir a necessária consciência de que a dependência actual do nosso país nos sai muito cara, ambiental e economicamente. Quem poderá duvidar ainda que um Estado galego soberano em nengum caso renunciaria de maneira tam gritante à defesa dos interesses da maioria social galega e do seu meio natural? Com certeza, só aqueles galegos e galegas que, hasteando a sua inquebrantável fidelidade a Espanha, gerem desde instáncias autonómicas a política espanhola na Galiza. A sua responsabilidade na destruiçom da natureza galega caminha de maos dadas com o seu compromisso no submetimento económico, no genocídio cultural, na espanholizaçom definitiva da nossa terra. É o caso de destacados elementos galego-espanhóis como os Arsenio Fernández de Mesa y Díaz del Rio, actual delegado do Governo de Espanha na Galiza, ou os Fernando Fernández Tapias, por citar só dous nomes –um dirigente do PP e um ar- Imagem eloqüente das nossas costas Arquivo Abrente O protesto social é vissível Arquivo Abrente As principais marés negras do século XX na Galiza Mc Andrew Petroleiro británico afundido perto de Cedeira por um submarino alemám a 31 de Janeiro de 1917. Boris Sheboldaeff Petroleiro russo encalhado na Costa da Morte a 20 de Agosto de 1934. Brenno Tanque alemám que fornecia os submarinos do III Reich bombardeado a inícios de 1942 por avions ingleses à altura de Ortegal. Nord Atlantic Buque alemám que, fugindo da aviaçom aliada, varou na ria de Camarinhas em 18 de Agosto de 1943. Bonifaz Petroleiro espanhol que embateu no petroleiro Fabiola a 9 milhas do cabo Fisterra 2 de Julho de 1968. Spyros Lemos Barco grego afundido perto de Fisterra em 10 de Novembro de 1968. Polycommander Petroleiro noruaguês embarrancado entre as ilhas Cies e o Cabo Home a 5 de Maio de 1970. Erkowit Barco com bandeira do Sudám afundido na baia da Corunha após colidir com o Dortmund a 60 milhas da costa galega. Urquiola Petroleiro acidentado no porto da Corunha a 12 de Maio de 1976. Andros Patria Superpetroleiro grego incendiado e afundido frente as ilhas Sisargas em 31 de Dezembro de 1978. Scaptrade Frente a Ribadeu, em 11 de Novembro de 1980. Cason Cargueiro do Panamá fundido frente a Fisterra a 5 de Dezembro de 1987 com produtos tóxicos. Delaware Petroleiro que perdeu parte da carga no porto da Corunha por manobra incorrecta a 10 de Agosto de 1989. Anja Mercante chipriota afundido perto do cabo Tourinhám em 28 de Janeiro de 1991. Mar Egeu Barco grego encalhado à beira da Torre de Hércules em 4 de Dezembro de 1992. mador— que, segundo se tem apontado de diversos ámbitos do próprio sistema, estám pessoalmente implicados nos interesses políticos e económicos que condicionárom a errática resposta governamental ante a crise do Prestige. Mas também demonstra a sua negativa a assumir a condiçom nacional até as últimas conseqüências quem com base na sua posiçom social acomodada dá forma ideológica aos seus complexos e cobardias, levemente maquilhados em posiçons políticas de “oposiçom responsável” e dita “nacionalista galega”. Esses critérios gerírom e freárom a revolta espontánea da populaçom galega neste conflito, limitando as suas ambiçons aos seus próprios objectivos eleitorais e reformistas, e combatendo a radicalizaçom das respostas populares. Isso explica a oposiçom frontal do BNG e das restantes siglas do seu ámbito à participaçom da esquerda independentista no movimento de massas, confirmada na sua exclusom da Plataforma Nunca Mais com os votos de qualificados representantes do nacionalismo galego maioritário. Algumhas conclusons A agressom do Prestige, permitida e só possível pola cumplicidade do Estado espanhol, tem como estamos a ver umhas características especiais que a singularizam frente a outros desastres anteriores. Recapitulemos algumhas delas: No plano ambiental, e para além da desfeita já consumada durante estes meses de contínuas e sucessivas marés negras a tingir o litoral galego, o afundimento do Prestige expujonos a umha ameaça de poluiçom quase incessante, e a umha bomba-relógio carregada com 65.000 toneladas de fuelóleo que podem emergir enquanto a corrosom e as condiçons marinhas fagam o seu trabalho. Ante esta ameaça, o Estado espanhol continua sem dar mais resposta que umhas soldaduras que nem conseguírom selar as numerosas saídas de hidrocarburo que a dia de hoje continua a cuspir o buque em direcçom à Galiza. Resta também avaliar os efeitos da prolongada exposiçom directa ao fuelóleo por parte de centenas de pessoas que trabalhárom em condiçons de precariedade absoluta recolhendo a viscosa substáncia preta nas nossas costas. No plano político, a generalizada e massiva mobilizaçom popular nucleada pola Plataforma Nunca Mais nom tem precedentes na nossa história, como tampouco a titánica tarefa dos contingentes de trabalhadores e trabalhadoras do mar a combater directamente, ante a nula resposta institucional, as marés negras com as suas próprias ferramentas de trabalho. O próprio papel manipulador e desmobilizador dos mass-media do sistema tem desacreditado a sua funçom até níveis nunca vistos, dando aliás maior valor à capacidade de resposta de importantes sectores da sociedade galega. Todo isto marcará as consciências de novos sectores populares no referente à ineludibilidade de que a Galiza se autoorganize, se construa como naçom, única garantia de que nom sucumba de vez sob a genocida tutela espanhola. Contodo, cumpre sermos realistas ao reconhecer que, mais umha vez, a inexistência de um movimento político independentista e revolucionário forte, organizado e à altura das circunstáncias, deixará que a importante revolta vivida no nosso país nos últimos meses passe sem ter cumprido nem os objectivos mais imediatos do movimento popular: a queda do Governo autonómico e a depuraçom das responsabilidades políticas e penais correspondentes. Nom esqueçamos que o reformismo representado polo BNG e a sua constelaçom de entidades satélites continua a hegemonizar os movimentos populares e portanto a geri-los consoante os seus interesses de conciliaçom com o inimigo nacional, Espanha e o seu Estado; e de classe, a grande burguesia espanhola e galego-espanhola. Convém, portanto, tomarmos boa nota do que estivo a acontecer nestes últimos meses ante os nossos olhos, e tirarmos as liçons que a crise nacional nos deixa. Ao pé da massiva e contundente resposta das massas populares, umha direcçom oportunista e eleitoralista conseguiu em boa medida reconduzir a raiva para os seus objectivos partidistas, que nom som os da mudança qualitativa que conduza a maioria social galega à sua emancipaçom nacional e social, senom os de possibilitar a “alternáncia” acedendo à gestom da Junta da Galiza. Isso explica que a direita espanhola governante, o Partido Popular, tivesse tempo nom só para encaixar os golpes, como mesmo para respostar com novas leis, campanhas de descrédito, mais polícia e criminalizaçom do movimento popular, juntamente com umha permanente manipulaçom mediática ao serviço dos interesses governamentais. Quanto a nós, a fraqueza das forças independentistas e revolucionárias ficou patente na limitada capacidade de influência na orientaçom dos acontecimentos, se bem a presença nas mobilizaçons, a socializaçom de um discurso rupturista em certos sectores e as atitudes de uns e outros frente à nossa presença nas ruas deve ajudar o nosso movimento a madurecer, fortalecer-se e aprender de uns acontecimentos que marcarám o futuro imediato da nossa naçom. Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 ACTUALIDADE Pedro Alonso A tosca manipulaçom informativa nos meios públicos galegos (TVG e RG mas também RTVE e RNE na Galiza) no seguimento do afundamento do petroleiro Prestige e da gestom governamental da catástrofe provocada pola maré negra nom fijo se nom evidenciar algo óbvio para quem trabalhamos nestes meios e também para muitos dos sectores mais conscientes da cidadania: o uso perverso que fai o poder político duns meios pensados e criados para garantir o direito da sociedade a umha informaçom veraz e plural. A manipulaçom, a censura, o ocultamento, o sesgo interessado nas informaçons emitidas desde a Radio Galega e a Televisión de Galicia foi sempre umha constante por parte do Governo da Junta. Avonda lembrar o acontecido na crise das vacas loucas, nos incêndios que cada verao som reduzidos a meros “focos de lume” de acordo com as instruçons recebidas desde a Conselharia de Agricultura; é suficiente fazer reconto da infinidade de inauguraçons de infraestruturas ainda inexistentes ou, pola contra, fazer memória de todos aqueles conflitos laborais, sociais ou politicos que nom tivérom nunca cabimento nos telejornais da TVG para evidenciar o controlo exercido desde o Governo. No seu nascimento, a rádio e a televisom públicas da Galiza pugérom-se em andamento da mao da Lei de Criaçom da Companhia. Essa tutela, ainda vigente, reflecte no seu texto o respeito à liberdade de expressom, à objectividade e imparcialidade das informaçons, assim como ao pluralismo político, social ou religioso, polo quais se devem reger os princípios da programaçom. Cumpridos os dezassete anos de andança destes meios, o panorama nom pode ser mais desolador. Se bem a teima polo controlo da informaçom foi sempre umha constante interessada por parte dos distintos poderes, resulta impossível lembrar um momento em que o desprezo e a burla à cidadania fossem tam evidentes. Desde o começo, tentou-se minimizar umha catástrofe sem precedentes na história do mar. Quando jà os vertidos de fuelóleo tingiam Begonha Caamanho 4 Recuperemos os meios públicos de preto dúzias de vilas marinheiras do nosso litoral, a TVG e a Rádio Galega, em evidente cumplicidade com os porta-vozes do Governo de aqui e de acolá, tam só emitiam umha mensagem tranquilizadora, desmentida a cada minuto pola evidência da realidade. Nunca se questionou a falta de coordenaçom. Os informes emitidos por peritos imparciais fôrom pontuados de suspeitos e, com certeza, as vozes críticas com a desfeita institucional fôrom silenciadas. E o pior está ainda por vir. Por muito difícil que nos resulte agora imaginar umha maior quota de manipulaçom nos meios públicos galegos, está claro que, de aqui às eleiçons municipiais do mês de Maio, o controlo da informaçom vai ir em aumento. Nom só seguirám minimizando ou ocultando os efeitos da maré negra, mas tentarám recuperar a imagem do PP com novas mentiras, novas ocultaçons e umha maior censura. Cumpre pois preparar-se e defender-se da ofensiva mediática que já está em marcha. E para isso é preciso que saibamos claramente as causas que propiciam e facilitam a manipulaçom informativa. Os meios públicos galegos, ao igual que os do resto do Estado, som herdeiros dumha concepçom franquista da informaçom. As mesmas leis que garantem nos seus principios prográmaticos a pluralidade, a veracidade, a objectividade e a ausência de partidismo, estabelecem mecanismos que possibilitam a manipulaçom e o controlo governamental. O director geral da Companhia de RadioTelevisión de Galicia é nomeado directamente pola Junta, por um período de mandato coincidente com a legisaltura do Parlamento da Galiza. Isto deixa em maos do Governo de turno a capacidade para nomear “a dedo” a pessoa que vai ter a responsabilidade máxima da programaçom e conteúdos informativos da rádio e a televisom. A prática demons- Arquivo Abrente trou-nos que, longe de utilizar critérios de profissionalidae ou capacidade de gestom, os méritos dos diferentes directores gerais fôrom sempre os de serem afins aos posicionamentos idelógicos do PP, dobrar-se às ordens recebidas e actuar como mercenários do governo de turno convertendo os meios de comunicaçom em meras correias de transmissom da propaganda partidista do governo. Para corrigir esta situaçom, primeiro grande factor propiciador da manipulaçom, o pessoal da CRTVG promoveu umha iniciativa legislativa popular com que se pretendia que a nomeaçom do director geral se figesse desde o Parlamento com a maioria de três quartas partes d@s suas/seus integrantes, o que garantiria, quando menos, um maior con- senso entre as diferentes forças políticas do leque parlamentar. A mesma lei estabelece também suspostos elementos de controlo da actuaçom deste director geral, instrumentos que som perversos na sua própria concepçom, já que tanto o Conselho de Administraçom da CRTVG quanto a Comissom de Controlo do Parlamento tenhem na sua composiçom a mesma proporcionalidade que a Cámara Autonómica, estando pois completamente supeditadas à vontade do grupo ou coligaçom política que possua maioria absoluta. A manipulaçom vê-se, aliás, facilitada por uma situaçom interna em que o nível de precariedade laboral é cada vez mais alto. Bolseir@s, pessoal em práticas ou com contratos de formaçom, pes- soal das ETT’s ou com contratos de “obra” som o grosso do exército empregado pola direcçom da CRTVG na sua máquina de construir mentiras. A precariedade é utilizada como arma e ameaça. A maior parte do pessoal fixo é afastado das informaçons importantes, aquelas qualificadas de “material sensível” que som elaboradas sistematicamente por aquelas pessoas das quais tenhem garantida a submissom e a docilidade a menos, claro, que queiram perder o seu emprego (isto sem contar, evidentemente, com um grupo de pessoal fixo sempre disposto a acatar sem reparos qualquer ordem recebida em troca de algum substancioso complemento económico). Leis herdeiras do franquismo e precariedade la- Prestige. O assalto definitivo ao nosso patrimón Man, o alemám de Camelhe que morreu de tristura, chegou há 41 anos à Costa da Morte. Desconheço os avatares pessoais e existenciais que o levárom a ficar na costa de Camelhe. Suspeito que a sua peculiar filosofía vital encontraria na paisagem deste naco da nossa terra a força espiritual de que precisava, quem sabe se a força telúrica em que, segundo Castelao, reside a nossa soberania natural. Sem dúvida, umha boa matéria prima para edificar esses sonhos pétreos que simbolizavam os vaivéns da existência humana num mundo onde o passar do tempo parecia nom existir. Umha congostra que transitava por paraísos terrenos, perdendo-se em espirais intemporárias, onde se reconheciam fosilizadas as pegadas da nossa mitologia. Quem tem hoje o privilégio de poder recriar o que era Treze, Arou, Camelhe, Santa Marinha, Pena Forcada, O Cunho, Moreira, Tourinhám ou mesmo Mugia e Camarinhas há 40 anos? Nom resulta ser um período tam longo. Porém, sobre as velhas pedras deste canto selvagem produzírom-se mudanças brutais que tenhem mudado profundamente a paisagem e as formas de vida do mundo idílico que conhecera o alemám. E isso tem-se produzido também noutros lugares perdidos do nosso país. O signo da nossa história recente é um debalo da memória cada vez mais decidido a esbater a face do paraíso natural que foi a nossa terra. Perdemos o pulso da nossa natureza de forma cada vez mais humilhante e, ao tempo, de forma mais resignada. E por trás dos abandeirados do progresso está sempre a mao de sempre: a que destruiu as dunas de 15 metros das ilhas Sias; a que assulagou o berço dos milhares e milhares de salmons que subiam polo Minho ou polo Ulha tupindo as levadas dos moinhos; a que estragou a lenda pátria de Antela; a que arrasou os campos de mámoas perpétuas das Pontes; a que afogou o chiar da Aiga nos caborcos do Sil; a que condenou à silicose um bom feixe de galegos que a ferro e fogo furárom as entranhas da terra para roubar a água à mais linda fervença da nossa terra..... A mesma mao que quer agora enterrar com quartos a nossa memória, denegrida com a peste que nos botou nas ribeiras. A mao que chantou um punhal no coraçom ao alemám. Essa mao quer agora curtocircuitar a energia incoercível da nossa Terra, a força telúrica que nos fai sobreviver. O que é o fuelóleo nº 2 O combustível transportado polo Prestige era o denominado, segundo a terminologia francesa, o Fuelóleo pesado nº 2, que nas classificaçons británica e russa é identificado como Fuelóleo nº 6 e Fuelóleo M-100, respectivamente. Este fuelóleo caracteriza-se por ser um combustível muito pesado, empregue para combustom em centrais térmicas, fornos e plantas cimenteiras, principalmente em países africanos e do sueste asiático. Apresenta um conteúdo relativamente elevado de metais pesados, que estám unidos a moléculas de hidrocarburos aromáticos. Entre os metais presentes estám o zinco o cobre. Tem um contédo elevado de enxofre, segundo as análises de 2,58%, e é capaz de fluir a temperaturas baixas, como os 2,5 º C existentes a 3.600 m. de profundidade oceánica, com o qual nunca se congelará. Composiçom do fuelóleo e poluiçom do meio Semanas atrás, no jornal “La Voz de Galicia” umha nota do CSIC alertava de que na zona do afundimento do Prestige se estavam a registar níveis muito mais elevados do normal de certos metais pesados, como zinco, cobre ou chumbo. No caso do zinco, o aumento chegaba a ser de duas ou tres ordens em escala numérica, quer dizer , passara de por exemplo um nivel de 1 a um de 100 ou 1.000. As análises de mostras de fuelóleo feitas polo CEDRE francês determinárom a presença de quantidades apreciáveis de metais pesados como chumbo, ferro, alumínio, cromo ou cobalto. Além destes elementos, o fuelóleo apresenta na sua composiçom outras “delícias”. Umha percentagem elevada dos hidrocarburos do fuelóleo som aromáticos e de cadeias compridas, os denominados hidrocarburos aromáticos policíclicos, de grande persistência no meio e, alguns deles, de provada capacidade genotóxica e provavelmente carcinogénica. Os resultados das análises que diferentes organismos públicos de investigaçom realizárom sobre amostras tomadas em alta mar polo CEDRE francês, bem como umha comparativa com os vertidos procedentes de outros acidentes, reflectem-se no quadro seguinte. A elevada persistência dos hidrocarburos aromáticos policíclicos (PAH) radica na baixa vulnerabilidade que manifestam à biodegradaçom pola acçom de bactérias (alguns investigadores assinalam que o fuelóleo do Prestige, em conjunto, apresenta um potencial de biodegradaçom de tam só 15%, polo que as técnicas de bio-remediaçom se revelam como claramente ineficientes). Isto sem dúvida favorecerá a longa permanência destes compostos nos habitats marinhos e, portanto, permitirá que, em determinadas circunstáncias, podam ser incorporados à cadeia trófica. Alguns PAH som considerados como compostos de potencial cancerígeno, pois se dispom de evidências suficientes da sua actividade carcinogénica a partir de estudos realizados com animais de experimentaçom, se bem as provas da actividade carcinogénica em humanos parecem ser insuficientes (é muito difícil encontrar voluntários para este tipo de estudos). Entre os compostos PAH mais conhecidos figuram os 16 incluídos numha listagem específica de poluentes prioritários da EPA (Enviromental Protectiom Agency) dos EE.UU. Estes compostos som: Naftaleno, Acenaftileno, Acenafteno, Fluoreno, Fenantreno, Antraceno, Fluoranteno, Pireno, Benz(a)antraceno, Criseno, Benzo(b)fluoranteno, Benzo(k)fluoranteno, Benzo(a)pireno, Dibenzo(ah)antraceno, Benzo(ghi)perileno e indeno(1,2,3-cd)pireno De todos eles, 11 tenhem sido identificados nas amostras analisadas do fuelóleo do Prestige, e som os sublinhados na listagem anterior. O conteúdo destes PAH no fuelóleo é muito baixo, sendo de aproxi- Un cormorám luita por sobreviver Arquivo Abrente Hidrocarburos saturados (%) 26,6 Hidrocarburos aromáticos (%) 52,8 Resinas (%) Asfaltenos (%) 8,4 12,2 23 21 21,6 22,9 22,2 40,9 54 54 50,7 52,7 55,6 37,9 12,5 Muséem National d’Histoire Naturelhe IFP (fuelóleo original) IFP (fuelóleo emulsionado) CSIC Barcelona Prestige (média) Erika Baltic Carrier madamente 350 microgramas/grama a proporçom de naftaleno e fenantreno, os PAH de maior presença nas amostras. Isto quer dizer que, numha amostra de 10 kg. de fuelóleo como o da amostra de referência, o conteúdo em naftaleno ou fenantreno seria de 3,5 g.; de 35 g. numha de 100 kg. e de 350 g. numha tonelada. Portanto, grama acima ou grama abaixo, por cada tonelada de fuelóleo do Prestige que aboia no mar ou chega à costa teríamos 350 g. dum composto considerado como cancerígeno polas autoridades dos EE.UU. Tendo em conta que a degradaçom do fuelóleo começa por aquelas fracçons de hidrocarburos mais ligeiros, ficando sempre mais tempo no meio os PAH, temos que pasados uns meses ou anos, num fundo marinho onde nom se recolhessem 10 toneladas, poderia dar-se a possibilidade de que estivessem bio-disponíveis mais de 3 quilos de veneno de acçom lenta, disgregado em múltiplas partículas, às vezes apegado a outras fracçons e restos orgánicos e, portanto, facilmente ingeríveis por espécies detritívoras ou suspensívoras que habitam nos fundos marinhos. Agora que tamém se podem dar efeitos de toxicidade aguda, letais em muitas espécies sensíveis po- 10,3 27,7 34,7 12,0 15,6 11,5 12,4 6,6 9,7 los seus hábitos. Um estudo de 1985 da National Academy of Sciences dos EE.UU. determinou efeitos letais por concentraçons elevadas de hidrocarburos aromáticos em espécies como o Camarom das ervas (concentraçons superiores a 26 ppm de benzeno), caranguejos (mais de 27 ppm de tolueno, 13 de etilbenzeno, 6 de gileno...) ou algumhas espécies de peixes planos (11 ppm de gileno, 7 de tolueno ou 6 de benzeno). Após o desastre do Amocco Cadiz, foi documentada umha elevada mortalidade de anfípodos submareais, com reduçom da populaçom em 40%. Entre os efeitos subletais dos hidrocarburos nos organismos de certas espécies, figuram alteraçons do comportamento (entre eles o quimiotactismo, polo qual algumhas espécies som capazes de detectar as suas presas), diminuçom da capacidade reprodutora (especialmente em espécies de peixes que vam estar em íntimo contacto co fuelóleo dos sedimentos, como os peixes planos, do tipo das solhas, linguados ou rodabalhos), alteraçons do metabolismo, como umha reduçom da taxa respiratória, que em espécies de moluscos bentónicos pode ocasionar reduçom no crecimento ao viverem em sedimentos petroleados de forma crónica. A afecçom sobre os recursos marinhos Os cientistas do Instituto de Investigaçons Marinhas de Vigo tenhem realizado umha primeira valorizaçom dos efeitos dos vertidos sobre as populaçons de peixes e cefalópodes explorados tradicionalmente nas costas galegas. No referido aos peixes, parece ser que a incidência do fuelóleo pode ser importante em fases como a ovogénese, a freza ou o estado larvário. A influência sobre a abundáncia das espécies estará em funçom da exposiçom ao contaminante durante estas etapas do ciclo vital. A maior exposiçom, maior mortalidade e, portanto, menor recrutamento, quer dizer, menor incorporaçom de especimes jovens à populaçom adulta e reprodutora. Se temos em conta que umha boa parte das espécies comerciais do litoral galego passam por um estatus delicado ou pouco vigoroso, compreenderemos que um desastre como este poda incidir seriamente sobre o futuro dessas populaçons. Isto vem a dizer o relatório que está na Internet, numha páxina do IIM de Vigo, assinado polo Grupo de trabalho de Pesquerias. No referido aos cefalópodes, o relatório do grupo de especialistas do IIM-Ecobiomar afirma que o impacto terá umha gradaçom decrescente seguindo esta ordem: Polbo comum-Choco-Lula-Polbo cabeçom-Pota. Afirma-se que a mortalidade se produzirá fundamentalmente na fase de ovo, registando-se também umha descida da sobrevivência na fase larvária. Por consequência, podería produzir-se, ao igual que com os peixes, umha queda do recrutamento que atingiria directamente a biomasa dos stocks, quer dizer, teríamos umha descida na produçom. Estas descidas registariam-se num lapso de tempo nom superior a um ano, considerando o ciclo biológico destas espécies. A afecçom sobre vertebrados marinhos ou que desenvolvem boa parte do seu ciclo vital em ambientes marinhos, caso das aves, os cetáceos e as tartarugas, temos um efeito directo gravíssimo no caso das primeiras, entre as que se estima umha mortalidade de umhas 100.000 aves no que vai desde o afundimento do barco. Para o caso dos cetáceos, é sabido que a presença do fuelóleo pode provocar efeitos letais em arroases e golfinhos, ao se ocluir o orificio respiratório. Segundo investigadores de CENMA, como mínimo 2 dos 27 cetáceos varados nas nossas costas desde o afundimento morrêrom por efeito do vertido, sendo os outros casos de casuística variada ou desconhecida. Das 16 tartarugas varadas no litoral galego no mês seguinte ao afundimento, cinco estavam com vida e apresentavam sintomas claros de afecçom polo fuelóleo. Das 13 tartarugas Caretta caretta aparecidas varadas, sete apresentavam impregnaçom de fuelóleo, estimando-se este factor como causante de morte por asfixia nalgumha delas. A afecçom paisagística Dos 1.195 km. de litoral da nossa terra, 550 tenhem sido afectados de forma significativa e outros 250 de forma grave ou mui grave, registando-se acumulaçons reiteradas de fuelóleo sobre areais, rochas e maris- Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 Begonha Caamanho é a Presidenta do Comité Interempresas da CRTVG nio natural mas. A primeira vaga de fuelóleo que chegou à costa fijo-o numhas circunstáncias de forte temporal e marés vivas que provocárom a afecçom por fuelóleo dumha faixa bem visível do litoral rochoso e a penetraçom do hidrocarburo em marismas e junqueiras. Em zonas abrigadas do litoral, onde a chegada do fuelóleo foi reiterada, a acumulaçom do combustível atingiu gravemente os sedimentos, as pedras e os cons todos, cobrindo de negro extensons enormes em zonas de Tourinhán, O Cunho, O Pindo ou Camelhe. Haverá que aguardar muitos anos para ver limpas estas pedras e, nalguns casos, nem a passagem de decénios logrará apagar a pegada do fuel. A persistência do desastre Hoje mesmo, a maior preocupaçom é o que fazer com o barco afundido. Segundo o Governo de Aznar, a maior prioridade e a alternativa preferida é tirar o fuelóleo do barco para dar fim ao problema. Mas resulta que isto é umha operaçom de grande complexidade, com um custo económico desorbitado, provavelmente superior a 1.000 milhons de euros (a operaçom de tresvase do fuelóleo do Erika custou 80 milhons de euros, estando o barco a tam só 120 m. de profundidade, trinta vezes menos do que o Prestige) e de requerimentos tecnológicos na actualidade inexistentes. Portanto, nom duvidamos que a intençom do governo de Espanha será tirar o fuelóleo do Prestige para fora, mas possivelmente através de “voaduras” controladas e silenciadas, que vaiam botando fora quantidades discretas mas importantes de fuelóleo, para que o problema acabe quanto antes, seguindo um ritmo marcado polos aconteceres e os distintos cenários mediáticos favoráveis: guerra contra o Iraque, ofensiva anti-terrorista, eleiçons municipais, etc. Paralelamente, e com a colaboraçom do governo submisso de Fraga, irám ocultando e soterrando a conflituosidade social e, quem sabe, quiçá passadas as eleiçons municipais, já só os “profissionais da protesta” nos lembraremos de que este desastre tem responsáveis com nomes e apelidos. O “Plan Galicia” Para que esqueçamos este novo vexame, Aznar e os mais inventárom um plano de investimentos virtuais, sem que ninguém acredite nele como ferramenta de activaçom social e económica. Sim representará umha nova fase de espólio e destruiçom dos nossos recursos naturais, pois nesa falcatruada ocuparám um lugar privilegiado os delinqüentes corruptos que urbanizam a costa, poluem os rios e construem auto-estradas desnecessárias que lhes valem para acumular fortunas e reforçar o seu aparelho de controlo caciquista. Estaremos à espera de como se vai concretando essa engendraçom, ao tempo que aguardaremos umha necrológica em primeira plana de jornal, com o ánimo de que remate esta etapa infame da nossa história recente. Pedro Alonso é membro de ERVA-Ecologistas em Acçom No passado 19 de Novembro de 2002, o buque monocasco Prestige afundia a 250 quilómetros da costa galega provocando a maior catástrofe ecológica que recorda o nosso país. No seu interior achavam-se 80.000 toneladas de fuelóleo, um derivado do petróleo destinado a ser empregue como combustível em plantas energéticas ou para a navegaçom, que em grande parte acabárom asfaltando umha considerável extensom do litoral galego. Incompetência governamental, descoordenaçom, péssimas condiçons climátericas... muitas fôrom as causas que agravárom a catástrofe, mas no fundo só há umha que permite entender porque um barco, em lamentáveis condiçons técnicas, passeava polo Atlántico Norte com umha carga perigosa sem um rumo definido. Tam só a lógica do lucro capitalista poderia explicar porquê um barco com bandeira das Baamas, propriedade dumha companhia liberiana, ao mando dum capitám grego, com tripulaçom filipina, que transportava combustível propriedade dumha empresa registada na Suíça, mas que pertence a umha multinacional de capital russo, que navegava sem destino fixado, à espera da ordem definitiva que lhe indicasse o porto em que deveria descarregar; pudesse naufragar e deitar ao mar milhares de toneladas dum produto altamente poluente, sem que até o dia de hoje os responsáveis directos fossem punidos de forma nengumha. E, lamentavelmente, o que se passou foi o normal, o que tinha que se passar, já que o ordenamento actual da indústria do petróleo a nível mundial provoca que quem comercia com umha das mercadorias mais importantes, a mais importante, para o bom funcionamento da economia mundo goza dumha impunidade praticamente absoluta na hora de estabelecer em que condiçons transporta e vende a carga de que é dono. A fim de contas, umhas quantas centenas de quilómetros de costa arrasada, uns poucos milhares de seres humanos com a sua fonte de sustento destruída, ou um pequeno país ao qual se lhe destruem ou danam seriamente os alicerces da sua economia produtiva, é um preço baixo que há que pagar para manter também baixos os preços do petróleo e os seus derivados. A pergunta que se fam os amos do petróleo é simples: o quê resulta mais caro, estabelecer toda umha série de medidas de segurança que obrigariam a mudar radicalmente o sistema de transporte do petróleo, encarecendo-o dum jeito obrigado; ou assumir a possibilidade da existência de acidentes que provoquem graves crises ecológicas e económicas, mas que só se cingem a áreas restritas? Evidentemente, aplicando a lógica do lucro imediato, própria do capitalismo, a opçom menos má é a segunda. O petróleo na produçom industrial capitalista Para compreendermos perfeitamente o contexto em que nos achamos, devemos começar por ser conscientes do papel central que joga o petróleo no nosso mundo, derivado da sua importáncia como fonte de energia e matéria prima. Bastaria só um dado: 65% da energia que se comercializa no mundo provém do petróleo ou do gás que se encontra nos mesmos jazigos, para situar o petróleo como a mais importante matéria prima das empregues na actualidade, mas nom se trata apenas de energia. Com apenas dar umha vista de olhos à nossa volta descobrimos que vivemos rodead@s de petróleo: lubrificantes, asfalto, plásticos, parafinas, fibras sintéticas; para além da gasolina, querosene, gasóleo que consumem os meios de transporte que empregamos, ou o gás e o fuel que consumem as instalaçons de aquecimento dos nossos lares. Desde a carcassa e a maioria das componhentes internas do computador que estou a empregar para escrever este artigo, passando por boa parte das fibras têxteis empregues na elaboraçom da roupa que levo, ou o pavimento das ruas por que caminho a diário, etc... todos estes elementos estám elaborados fundamentalmente com derivados do petróleo. Nom resulta difícil deduzir que esta matéria prima, o chamado ouro preto, ocupa um papel central, nesta altura praticamente insubstituível, na produçom industrial mundial. E dizemos bem quando afirmamos que nesta altura o papel do petróleo é praticamente insubstituível, já que nom há nengumha outra matéria prima conhecida tam versátil. Há, com certeza, substitutos parciais, quer dizer, toda umha série de alternativas para cada um dos papéis cumpridos polo petróleo na produçom industrial capitalista, mas nengum que abranja todos os usos actuais. A ninguém escapa que os custos que haveria que assumir para achar substitutos viáveis a todas e cada umha das funçons que cumpre hoje em dia o petróleo som muito elevados. Mas tampouco podemos esquecer que as grandes companhias petroleiras nom estám dispostas a permitir o surgimento de alternativas ao produto que monopolizam, umha vez que isso suporia umha ameaça muito grave para a manutençom da sua taxa de benefícios, ainda sendo plenamente conscientes de que o petróleo é umha matéria prima que mais cedo que tarde acabará por esgotar-se e que os custos ecológicos do seu emprego som muito elevados. O petróleo foi ganhando essa centralidade na produçom industrial num processo que começa na metade do século XIX, quando nos EUA começam a ser explorados os primeiros poços. Desde entom, a indústria petroleira foi-se desenvolvendo, abarcando, com um constante crescimento geométrico, cada vez umha maior extensom geográfica e um mais amplo abano de aplicaçons práticas. Se num primeiro momento o uso do petróleo se destinava fundamentalmente à elaboraçom de combustível para André Seoane Antelo boral seriam pois os elementos chave que permitem que o Governo de turno tenha um controlo absoluto dos conteúdos informativos dos meios públicos, uns meios utilizados para criar um falso consenso entre a sociedade com base em duas velhas máximas . “umha mentira longamente repetida torna umha verdade” e “o que nom sai nos meios nom existe”. Ante esta situaçom, evidenciada nas últimas semanas pola absoluta falta de conexom entre a “realidade” contada pola Radio e a Televisión de Galicia e a REALIDADE de que toda a cidadania era consciente, medram as vozes de protesto e de repulsa polo papel que estám a jogar os meios públicos na Galiza, meios que som maioritariamente financiados polo conjunto do povo galego. Mesmo há vozes que falam já da sua inutilidade e da conveniência de os fechar. Polo contrário, considero que neste momento os meios púbicos som mais imprescindíveis do que nunca. Em tempos em que a comunicaçom está maioritarimente em maos de grandes grupos empresariais (que já nom som só grupos mediáticos senom que tenhem diversificados os seus interesses noutros ramos da actividade empresarial e bolsista) os meios públicos deveriam servir de contrapeso a umha informaçom manipulada em funçom dos interesses comerciais e/ou ideológicos das empresas privadas. O que é necessário é um debate, umha reflexom social sobre o modelo de televisom pública que queremos. A democracia participativa deve chegar também ao mundo da informaçom. A sociedade tem que tomar o controlo dos meios públicos se nom quer estar permanentemente manipulada, se nom quer que sejam interesses alheios a si própria quem determinem onde e como está o interesse informativo. Nom basta com pedir as demissons da actual equipa directiva responsável pola catástrofe informativa do Prestige, há que mudar as leis e implicar-se activamente na construçom dum modelo público de meios de comunicaçom que nos faga mais sábi@s, mais livres. ACTUALIDADE 5 Petróleo, o combustível do motor capitalista Arquivo Abrente PAÍSES PRODUTORES DE PETRÓLEO INDEPENDENTES EUA 7.664 Rússia 7.540 México 3.330 China 3.180 Noruega 3.150 Reino Unido 2.591 Canadá 2.210 Brasil 1.420 Angola 770 Reino Unido 8% Brasil Canadá 4% 7% Angola 2% EUA 25% Noruega 10% China 10% Rússia 24% México 10% Argélia 3% PAÍSES PRODUTORES MEMBROS DA OPEP Arábia Saudita 7.655 Qatar 2% Indonésia 5% Irám 3.270 Líbia Iraque 2.800 5% Venezuela 2.730 Arábia Saudita EAU 2.020 Kuwait 7% 30% Nigéria 1.890 Kuwait 1.885 Nigéria 7% Líbia 1.340 EAU 8% Irám Indonésia 1.280 12% Venezuela Iraque Argélia 740 10% Qatar 630 11% PAÍSES COM MAIOR CONSUMO DE PETRÓLEO Reino Unido 4% México 4% EUA 17.735 França 4% Japom 5.785 China 4.010 Itália 4% Alemanha 2.915 Canadá 4% Rússia 2.570 EUA Coreia do Coreia do Sul 2.250 40% Sul 5% Canadá 1.795 Rússia 6% Itália 1.970 França 1.955 Japom China Alemanha 7% Reino Unido 1.750 13% 9% México 1.690 As cifras exprimem a produçom diária em milhares de barris de petróleo. Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática de México. a iluminaçom, cinqüenta anos mais tarde já passou a ser utilizado como recurso energético fundamental, deslocando o carvom, para converter-se no século XX no amo e senhor nom só da produçom energética, como também da maior parte da indústria química. Este crescimento de aplicaçons práticas respondeu ao desenvolvimento combinado das capacidades científicas e do poder económico das grandes companhias petroleiras. Poder que nom fijo outra cousa que crecer nos últimos 150 anos até se converter num dos principais sectores do capital mundial, possivelmente no que mais e melhor simboliza a aparente omnipotência do capitalismo. Lembremos, ainda que poda parecer anedótico, que a primeira vez que um Estado capitalista se viu obrigado a legislar para regulamentar o processo de acumulaçom de capitais foi quando o governo dos EUA ditou as leis anti-trust dirigidas a controlar o excessivo poder da Standard Oil, leis que datam da segunda década da centúria passada. Mas a tentativa de dissolver, ou quando menos esbater, o crescente poder da indústria do petróleo desenvolvido a começos do século XX nom tivo maior sucesso; possivelmente porque o objectivo nom era outro que o de estabelecer umhas normas de jogo que permitissem um maior crescimento afastando o perigo dum grande craque, mais factível no caso de existir umha única companhia monopolística. De facto, na actualidade a produçom, elaboraçom e distribuiçom do petróleo e os seus derivados, continua a estar nas maos de um punhado de multinacionais, das quais cinco repartem-se o grosso da torta, estas som Exxon-Mobil e ChevronTexaco, de capital norte-americano; Total-Fina-Elf, de capital francês; BP-Amoco, de capital británico; e Royal Ducht-Shell, de capital anglo-holandês. Atrás destas cinco grandes, herdeiras das históri- cas sete irmás que já se repartiam os 90% da produçom mundial na década de vinte, aparecem outras companhias como a Repsol-YPF, de capital espanhol, ou a italiana ENI. A política dos amos do petróleo Que as grandes petroleiras que controlam a distribuiçom, produçom e comercializaçom do petróleo e os seus derivados, sejam companhias de capital radicado nos países do centro da economia mundo nom é nem muito menos um acaso, senom um facto que nom fai mais que reflectir nitidamente a lógica da rapina própria do imperialismo. Nom é nengum segredo que o interesse por controlar as principais fontes de petróleo estivo na origem de boa parte dos conflitos bélicos desenvolvidos nos últimos cem anos e, se o petróleo nom foi o detonante principal, quando menos tivo sempre umha importáncia estratégica. Já em datas tam temperás como a década de dez do século passado, as potências vencedoras na Grande Guerra repatírom-se a seu bel-prazer as concesons de exploraçom petrolífera em Oriente Médio, que já naquela altura despontava como a maior área produtora do Planeta. Hoje as cousas tenhem mudado bem pouco e os intereses dos amos do petróleo aparecem por trás das guerras do Afeganistam ou o Iraque, e na manutençom dos regimes ditatoriais imperantes na maioria dos países produtores. Detendo-nos nalgum destes casos particulares, poderemos tirar umha ampla série de ensinanças que nos podem ilustrar dum jeito bem nítido como as democracias ocidentais actuam quando está em jogo a manutençom dum alicerce fundamental da sua preeminência económica. Começando pola recente intervençom militar no Afeganistam, deveríamos reparar que só uns meses após o remate oficial do conflito o governo títere, imposto polos EUA, assinou um compromisso polo qual permite a construçom no seu território dum oleoduto que, ligando com o Turquemequistám, transportaria o petróleo dos jazigos do Mar Cáspio até os portos paquistaneses. O que, traduzido a umha linguagem comum, significa que o petróleo do Cáspio, umha das mais importantes reservas mundiais, passaria de estar sob controlo quase exclusivamente russo, a ser directamente extraído e comercializado por companhias ianques. No caso do Iraque, a situaçom é ainda mais clara, já que nesse país se acham reservas de petróleo estimadas pola firma Platts (especializada em prospecçons) nuns 112.000 milhons de barris, número que o próprio ministério de energia do Iraque eleva até os 300.000. De desenvolver-se umha ocupaçom militar do Iraque por parte ocidental, os peritos indicam que, com a tecnologia ianque, a produçom anual de petróleo multiplicaria por três num prazo de dous anos, igualando quando menos o volume produtivo da Árabia Saudita. Tampouco pode surpreender o apoio prestado polos EUA e os seus aliados ocidentais à manutençom dos regimes ditatoriais imperantes na maior parte dos países do Oriente Médio; do Golfo da Guiné, onde destaca o caso da Nigéria, país que é um auténtico feudo das companhias Shell, Mobil e Chevron; ou da Indonésia. Para explicar esta ánsia de predaçom petrolífera deveríamos lembrar que a dependência da produçom de petróleo por parte das grandes economias mundiais é realmente crítica. De facto, dos três grandes pólos de acumulaçom capitalista, só os EUA som um grande produtor, o maior do mundo, mas a sua própria capacidade produtiva nom basta nem tam sequer para cobrir 50% do consumo de petróleo da sua indústria; doutra parte, a velha Europa precisa de importar perto de 90% do petróleo que consume, e o Japom tem de importar 100%. Nestas condiçons, é lógico o pavor existente diante da perspectiva de voltar à situaçom da década de 70, quando os países integrantes da OPEP decretárom unilateralmente um aumento dos preços do crude, o que detonou umha crise económica ainda nom superada. Ante esta tessitura, a atitude que tomárom as grandes potências, nomeadamente os EUA, foi, numha chave interna adoptar umha política de acumulaçom de reservas que permitisse paliar um período de restriçom, e numha chave externa umha política abertamente intervencionista rumada a minar a emergência e a consolidaçom de regimes políticos de corte anti-imperialista e/ou nacionalista nos países produtores. Nom admira pois a política de apoio ao fundamentalismo islámico, com destaque para o waabismo da Arábia Saudita, como contra-peso dos projectos laicos nacionalistas inspirados no nasserismo. Política que tivo sucesso, especialmente na península Arábiga, apesar do relativo fracasso no Irám e das incertezas que provoca actualmente. Ou tampouco pode estranhar o medo à criaçom dum pólo anti-imperialista na América do Sul, que agrupe o Brasil, a Venezuela, o Equador e a Colômbia; o que explica a implicaçom dos EUA na revolta oligárquica anti-chavista e o cada vez maior interesse por intervir directamente no conflicto colombiano. Um futuro preto Só pensemos por um momento o que se passaria no nosso país, Galiza, e no conjunto da Uniom Europeia se de repente o fluxo de petróleo que as grandes multinacionais importam desde as áreas produtoras da periferia e vendem aqui, no centro da economia mundo, ficasse reduzido ou o seu preço aumentasse de jeito considerável. Imaginemos os preços dos combustíveis para viaçom e calefacçom multiplicados por quatro ou por cinco, ou umha escasseza de matéria prima que paralise a indústria química de elaboraçom de plásticos, pavimentos e fibras sintéticas. Evidentemente, umha tal situaçom provocaria um colapso económico absoluto que implicaria umha crise geral da nossa sociedade. Pois um cenário de tal calibre nom é algo tam afastado da realidade como pudesse parecer. A lógica do capitalismo, com a sua característica visom curtoprazista, pretende paliar a possibilidade dumha crise petrolífera de grande calibre alargando a exploraçom de novos jazigos, como os do Golfo da Guiné, ou acrescentando a produtividade e embaratecendo os custos dos já existentes. Porém, isto nom deixa de ser um parche diante da perspectiva, já próxima, do esgotamento dos recursos petrolíferos. Com certeza, de nom produzir-se umha mudança radical e rápida, a crise da produçom de petróleo está ás portas, no breve prazo dumhas décadas. Crise que, de outra parte, muito facilmente poderia carecer de importáncia se som acertados os pronósticos que situam o limiar da crise ecológica que faria inabitável o nosso mundo nos próximos cinqüenta anos –crise de resto provocada em boa medida pola própria indústria do petróleo. Lamentavelmente o capitalismo situou-se num beco sem saída que só poderemos solventar ultrapassando o próprio capitalismo. Num interessante artigo, “Duelo entre dos literaturas”, aparecido nas páginas da revista de Lima Universidad, en Outubro de 1931, o grande poeta César Vallejo reflexionava sobre o que entendia -apostando por ele- que ia ser o futuro da literatura no mundo. Na sua opiniom o processo literário capitalista nom conseguia fugir dos germes de decadência que lhe subiam desde o baixo corpo social em que se apoiava. O signo mais claro da decadência da literatura capitalista –que nom fazia mais que reflectir a lenta agonia da sociedade de que procedia- era o esgotamento do conteúdo social das palavras, fruto da confusom linguística derivada do individualismo exacerbado em que estava a base da economia e a política burguesas. O vocábulo afoga-se de individualismo. A palavra -forma de relaçom social a mais humana entre todas- perdeu assim toda a sua essência e atributos colectivos. Tacitamente, na quotidiana convivência, tod@s sentimos e nos decatamos deste drama social de confusom. Ninguém compreende a ninguém. O interesse de um fala umha linguagem que o interesse do outro ignora e nom entende. Como vam entender-se @ comprador/a e @ vendedor/a, @ governad@ e @ governante, @ pobre e @ ric@? @ escritor/a burguês/a construia as suas obras com os interesses e os egoísmos da classe social a que pertencia e para a que escrevia. Nos temas e tendências desta literatura nom havia mais que egoísmo e, por isso, nom podia gostar dela mais que um/ha leitor/a burguês/a. As outras classes de pessoas –operári@s, camponeses/as e até @s burgueses/as liberad@s do classismo- nom podiam entendê-la, porque falava um idioma diverso e estranho aos interesses comuns e gerais da humanidade. Esse/a potencial leitor/a proletári@, ou simpatizante do proletariado, fugia dessa literatura. Perante esta situaçom, e frente a ela, manifestava Vallejo que da mesma maneira que @ proletári@ vai cobrando rapidamente o primeiro posto na organizaçom e direcçom do processo económico mundial, assim também, vai ele/a criando-se umha consciência de classe universal e, com esta, umha própria sensibilidade, capaz de criar e consumir umha literatura sua, quer dizer, proletária. O signo mais importante dela estava em que devolvia às palavras o seu conteúdo social universal, enchendo-as de um substractum colectivo novo e dotando-as de umha expressom e umha eloquência mais diáfanas e humanas. @ operári@, de jeito diferente do patrom, aspirava ao entendimento social de tod@s e por isso a sua literatura falava umha linguagem que queria ser comum a todos os seres humanos. À confusom de línguas do mundo capitalista, quer @ trabalhador/a substituir o esperanto da coordenaçom e justiça sociais, a língua das línguas. Com a denominaçom de produçom literária operária, Vallejo referia-se a toda aquela em que dominavam o espírito e os interesses d@s trabalhadores/as, já polo tema, já pola sensibilidade d@ escritor/a. Refere-se a umha literatura de autores/as de diferente procedência classista que fazem obras seladas por umha interpretaçom sincera e definida do mundo d@s trabalhadores/as. Porém, o poeta peruano errou no seu prognóstico de que pronto adviria, com ofensiva arroladora, a literatura proletária para derrotar e produzir a desbandada da literatura capitalista. Nestas breves linhas -que nom podem abranger mais que um ligeiríssimo percurso pola literatura galega contemporánea- entendemos a literatura operária nesta linha, mais ou menos coincidente com a definiçom que deu de publicaçons operárias Joaquim Molas, isto é: todo o que se escreve do ponto de vista primordial de expor os males que afectam à classe operária e manifestam as ideias que a juízo do autor podem regenerá-la. Nem que dizer tem que este nom é o tipo de literatura mais habitual entre nós, pois, antecipemo-lo já, o que prevalece é a criaçom literária gerada fundamentalmente por escritores que pertencem às classes médias da sociedade galega, com as contadíssimas excepçons de algum que outro autor do que se pode considerar proletariado, e alguns outros, mais que os primeiros, que criam as suas obras ao serviço da sua causa proletária. E isto obedece a diferentes causas. No último quartel do século XIX, quando a nossa literatura já tinha dado os primeiros passos –alguns deles bem seguros, de certo, Frei Marcos da Portela, aquele “doutor en Tioloxía campestre” que agachava o nome de Valentim Lamas Carvajal (com a mais que provável colaboraçom de Arturo Vázquez Núñez), nos meses finais de 1878 nos referia, nos primeiros parágrafos do seu Catecismo da doutrina labrega –un best seller da nossa literatura daquela, e de todos os tempos-, as penúrias que passavam os trabalhadores do campo no seu malviver: “P.- Que quere dicir labrego? R.- Home acabadiño de traballos, caste de Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 TRIBUNA ABERTA Xosé María Dobarro 6 Literatura operária e operári@s na literatura besta de carga na que tanguen a rabear os que gobernan, ser a quen fan pagar cédula como ás persoas pra tratala como ós cas, [...]”. ou tentou influir, no desenvolvimento do mesmo, incluída a literatura. Mas tanto ele como o seu grupo mais próximo nunca tivérom em conta nas suas obras e nos seus projectos a classe operária. Outro nacionalista da época, Álvaro das Casas, referindo-se a este grupo punha em boca do protagonista das Xornadas de Bastián Albor (1931) estas palavras: É ocioso indicar que a estrutura do modelo da sociedade rural galega, devido ao foro, conservava as características do Antigo Regime e, em consequência, era diferente da doutros territórios do Estado espanhol. A agricultura era, ademais, o suporte básico da economia na Galiza. Fruto da sua profunda religiosidade –algo que se cria que era consubstancial do povo galego-, Lamas nom podia deixar de usar como base o texto do catecismo da doutrina cristá do Padre Astete (1576), o que se vinha utilizando maioritariamente na Galiza –noutras terras predominava o do Padre Ripalda (1591)-, ainda que é possível que conhecesse algum dos muitos que circulárom de todas as cores, já que esta fórmula catequética, como cousa jesuítica que era, resultava muito eficaz. Anteriores ao do labrego houvo-os dos industriais, dos socialistas, positivistas, revolucionários. Mesmo Engels, en 1847, escreveu um a jeito de preparaçom do Manifesto Comunista: “Non hai un que sinta a política, e queren dirixir un movemento exencialmente políteco. Fracasarán; é terribre, pero fracasarán. [...] O autonomismo –hastra os lindeiros que sexan precisos- virá cunha revoluzón e pra eso é preciso xuntar os esforzos cos obreiros, cos partidos da esquerda, cos caudillos do agrarismo e do proletariado industrial. Estes homes nunca o farán”. “-¿Que é comunismo? -O comunismo é a doutrina das condiçons de libertaçom do proletariado. -¿Que é o proletariado? O proletariado é a classe da sociedade que saca a sua subsistencia da venda do seu trabalho exclusivamente e nom do interesse de um capital qualquer...”. O uso da fórmula catequística resultava, por outra parte, eficaz porque ao haver um analfabetismo feroz a aprendizagem dos textos realizava-se ouvindo-o e os destinatários tinham esta fórmula interiorizada por via eclesial. Os lavradores supunham nessa altura o grupo social maioritário da Galiza, pois era no campo onde residia a imensa maioria da populaçom. Era, pois, o campo o primeiro que havia que redimir, máxime quando os seus trabalhadores nom eram os proprietários das terras e tinham que satisfazer as correspondentes rendas forais. Tratava-se de auténticos escravos da terra incapazes de sair da mais absoluta das misérias. Só tinham como válvula de escape, frequentemente enganosa por outra parte, a emigraçom, maiormente aos países americanos. Já que logo, se a literatura queria reflectir a realidade do mundo circundante nom achava outros protagonistas que os camponeses, rodeados de todas as maldiçons, nem outros temas que o da miséria e o da emigraçom, como lacra social derivada dela. Labreg@s e marinheiros eram, ademais, os que conservaram o idioma, esse idioma que se queria reivindicar como língua literária. Os residentes nas vilas ou pequenas cidades utilizavam o espanhol ou aspiravam a fazê-lo. Nom podiam, pois, aparecer nas obras - se se queriam críveis- falando galego. Teriam que falar em espanhol, como acontece, por exemplo, na bilingüe Majina ou a filla espúrea de Marcial Valladares. Em definitivo, que o mundo rural era o que conservava as essências da galeguidade. Mas essa primeira literatura que bota a sua olhada ao mundo do campo limita-se a apresentar aos leitores a vida difícil dos seus habitantes acompanhada de diferentes usos e costumes tradicionais, descriçom de paisagens. etc. Em nengum momento, mesmo na obra do citado Lamas, quem mais páginas escreveu prestando-lhe atençom, se presentam soluçons, simplesmente se constata umha triste realidade. Assinalam-se os culpáveis da pobreza e do atraso: os caciques, as cúrias civis e eclesiásticas..., mas nom se achegam possíveis vias de saída cara ao cámbio. Para acharmos obras que apresentem situaçons de enfrentamento –por vezes violento- com o conflito teremos que aguardar aos começos do século XX, quando surge o movimento agrário organizado. A literatura do mundo do agro, pois, –à par que a que mirava a glorioso passado- conformou-se como a autêntica literatura galega. Tanto é assim que no final do XIX, en 1896, Francisco Álvarez de Nóvoa se via forçado a iniciar o seu livro de contos Pé das Burgas com “Dous parrafeos” justificativos do que ele fazia em consonáncia com o que entendia que devia fazer a narrativa galega, manifstando, que do que se tratava era de escrever em galego do que fosse, procurando, ao A classe trabalhadora é a grande ausente da literatura galego tempo, nom fazê-lo do mesmo jeito que fala o povo ainda que se escreva para ele, porque, pergunta-se, “¿Cando un home agasalla ou rifa un can, ladra coma el?”. Mas o mundo do trabalho proletário seguia ausente desta proposta temática. Só conhecemos um texto que supom a excepçom que confirma a regra, sobre o que chamou a atençom Xesus Alonso Montero no seu Pedro Petouto. Traballos e cavilacións dun mestre subversivo. Trata-se da traduçom de Eugénio Carré Aldao recolhida nas suas Brétemas (1896) como “Os tecelás de Silesia” do poema escrito por Heinrich Heine –o poeta admirado por Carlos Marx, com quem colaborava no jornal Vorwärts, publicando poemas políticos- a raiz dos sucessos que tiveram lugar na sua terra natal. OS TECELÁS DE SILESIA (UN CONTO) AO HISTORIADOR GALLEGO meu ilustre amigo DON MANUEL MURGUÍA Calados, sin a fe, ja non as bagoas Mollan o vulto d’estes pobres servos. Chaveas, marmulando cando abascas, Cantos de morte que recolle o vento: «Vella Alemaña, teu sudario branco »Tecendo están n-o escuro nosos dedos, »E n-a tea misturan nosos labres »Da maldición e da carrage os feros. »¡Tecemos! ¡Tecemos! »Maldito seia o Deus que fai ditosos »Ao que nos chegan, non, os nosos prégos, »Nin ve a fame que mirra nosos corpos, »Nin a friage que tolle n-os invernos. »Non nos sirven a fe que n-Él puximos »Él nos vendeu cal fato de cordeiros... »¡Tecemos! ¡Tecemos! »Maldito seia o rei, o rei dos ricos, »Ao que pedindo de margura cheos »Caridá para nos e para os nosos Foto Joám Rodrígues »Por esmola, nos rouba o derradeiro... »E danos por resposta aos nosos prantos »Facernos metralar como juvencos. »¡Tecemos! ¡Tecemos! »Maldita seia a patrea, si, maldita, »Cando se ve aldraxada pol-o alleo, »E non tendo carrage perde o folgo »Sufrindo a canga sin morrer primeiro. »Maldita a patrea que, de gionllos posta, »Non sabe erguerse e defender seus eidos. »¡Tecemos! ¡Tecemos! »O canivete vóa, o tear renxe; »Día e noite sin parar tecemos. »Vella Alemaña, teu sudario branco »Tecendo están nosos dedos, »E n-a tea misturan nosos labres »Da maldición e da carrage os feros. »¡Tecemos! ¡Tecemos!». Estes sucessos dos tecedores de Silésia, explorados polos industriais, tivérom lugar no mês de Junho de 1844, a raiz da detençom dum dos trabalhadores por cantar o seu hino contra os fabricantes. Produziu-se umha rebeliom que seria esmagada polo exército prussiano. A raiz da sanguenta repressom, Heine compujo o seu poema, que acadou êxito entre o proletariado. Tanto é assim que os internacionalistas Spies, Fischer, Engel e Parsons o recitárom a coro quando se dirigiam ao cadalso para ser enforcados. Foram injustamente condenados à morte polos sucessos que tiveram lugar durante a greve geral do 1º de Maio em Chicago, acordada polo Congresso Operário do Canadá e os Estados Unidos de 1885 em demanda das oito horas de trabalho. Mas estamos perante um caso excepcional da nossa literatura. Mesmo operários da construçom naval em Ferrol, como Charlón e Hermida, quando se pugérom a escrever teatro na década dos anos dez do século XX, buscárom as personagens das suas peças breves no mundo rural, um mundo que de facto nom era o seu. É mais que sabido que Vicente Risco, umha vez que se vinculou ao nacionalismo, influiu, Partindo desta premissa, sem dúvida muito próxima da verdade, é difícil que se orientasse umha literatura ao serviço das classes populares –agás o caso de Castelao cara aos labregos e marinheiros. Mesmo, deste grupo que conhecemos como Nós, o único que escreveu textos relacionados com o mundo do trabalho –mália nom ser e declarar-se nom marxista- foi o gerente da revista desse nome, Arturo Noguerol, quem acabaria os seus dias numha valeta da estrada entre Corunha e Ferrol no verao de 1936. A própria literatura que tem como protagonistas os emigrantes procedentes do campo, apresenta-os na sua luita polo sustento diário e co objectivo de poupar algo para volver em quanto puderem. Apesar de ter o mar polo meio semelha que nunca saíram da terra natal. Só após a guerra aparecem na obra dalguns autores –Seoane ou Neira Vilas- emigrantes que trabalham ou trabalharam em diferentes ofícios e que tenhem consciência de classe operária e, em consequência, participam da luita polos direitos da mesma. No Fardel de eisilado (1952) de Luís Seoane achamos alguns exemplos da luita no mundo laboral de galegos emigrados. Um exemplo de clara exploraçom num trabalho infra-humano presenta-no-lo no poema “A Ponte de Brooklyn. Derradeiro terzo do século XIX”. As duas caras da emigraçom. A dos viles e a dos outros. A estes canta-os p.e, na 2ª parte do Em “Outro cantos áos emigrantes.II. O honor de Galicia” (A maior abondamento, 1972) canta a cara da emigraçom dos que nom eram viles e luitaram cóvado com cóvado com os residentes de velho por umha sociedade mais justa. “Mais tamén están en América os outros, traballadores a maioría. Asemade estiveron os que loitaron polas libertades americáns, teimadamente pola libertade, [...] Aquí, en Buenos Aires, medrou o ferrolán Antonio Soto, 1,84 de outura, ollos azúes moi craros que dirixiu o erguemento obreiro da Patagonia con Outerelo, outro galego, e Graña, tamén galego, e dúceas de galegos, en 1921. Cando uns dous mil peóns de estancias [...] loitaron pola diñidade do home, pola libertade, pola terra que traballaban, deica morrer, como así foi. Asesináronos. Tratábase di exército dos “verdes”, así chamaban ós galegos. [...]”. Nalguns textos narrativos Neira Vilas, como é sabido, emigrante em Buenos Aires oferecenos diferentes perspectivas do mundo do trabalho mais ou menos proletário. Neira situa os 20 relatos de Xente no rodicio (1965) no mundo rural, mas nom som ruralizantes no sentido de apresentarem usos e costumes. Ainda que se trata de ambientes camponeses, dum mundo fechado, de quando em quando aparece por eles o mundo do assalariado. As 16 narraçons de Historias de emigrantes (Montevideo 1968) recolhem as vidas e trabalhos destes na Argentina, preferentemente no mundo da grande urbe, no Buenos Aires dos anos cinquenta. Quase todas contam a mesma história, a do moço de aldeia que sem outro ofício que o de labrego decide emigrar para trabalhar no negócio doutro galego emigrado. Mas só se produz o traslado físico já que mentalmente segue na aldeia. Umha perspectiva curiosa apresenta-no-la em Tempo novo (1987). As histórias, de gentes reais, desenvolvem-se na Cuba revolucionária e os protagonistas som emigrantes velhos que som ou fôrom pescadores, camponeses, ferroviários, carvoeiros, obreiros do açúcar, artesaos...que chegaram de novos à ilha. Aqui nom está presente a Galiza nem interessa o feito da emigraçom, já que estes galegos nunca quereriam volver à terra. Em Traballador exemplar, a Ramón Calvos, que chegara em 1924, dam-lhe um diploma por ser home de “patria o muerte”. Fora seu curmám Adolfo (que trabalhava fazendo carbom na Ciénaga de Zapata) quem lhe abrira os olhos, quem lle dixera que os homes estám divididos en classes e que cadaquem pensa e fai segundo a classe à que pertença. Também nos versos de Celso Emílio Ferreiro podemos achar exemplos do mundo do proletariado. “O monólogo do vello traballador” apresenta muito bem em chave poética o que significa a mais-valia. “Os honoráveles” é um exemplo de crítica aberta ao sistema explorador do ser humano. Frente à claridom ideológica que mostram os seus versos, “Deitado frente ao mar” semelha-nos umha contradiçom, pois se no começo o galego é para ele a Língoa proletaria do meu pobo nos versos finais converte-se no idioma dos sectores sociais que o conservárom, os “mariñeiros, labregos do lingoaxe”. Como assinalava Mêndez Ferrim –mália que na sua obra, tanto poética como narrativa achemos operários- referindo-se, em 1966, à chamada Nova Narrativa, nas obra de Blanco Amor, Neira Vilas ou Eliseo Alonso “aparece umha sorte de ignoráncia das técnicas vanguardistas do romance que nos obrigam a ver na sua maneira literária a antítese justa e cabal da actitude dos escritores da nova narrativa. A realidade, a tradiçom, a vinculaçom aos estamentos populares da naçom galega oponhem-se dialecticamente à evasom, à inovaçom técnica, ao cosmopolitismo na temática presente na nova narrativa”. Nom obstante, em obras consideradas de renovaçom, ou mesmo catalogadas na Nova Narrativa, detecta-se a presença do mundo operário. Eis os casos de Cambio en tres, de Carlos Casares, ou de Adiós María, de Xohana Torres. Mas nom toda a nossa literatura é renovadora. Muita dela, sobretodo durante o franquismo e a chamada transiçom, é política, de combate, de denúncia e, contodo, a presença do mundo proletário é a meu entender escasso. Ainda que se topam versos abertamente sindicalistas, como o “Poema/democrático/ sindical”, nos Poemas pra construír unha patria (1977) de Manuel Maria. Haveria que aguardar quase ao dia de hoje para poder achar a palavra obreiro no título de umha obra Tortillas para os obreiros (1996), de Fram Alonso. Xosé María Dobarro é catedrático de literatura galega na faculdade de Filologia da Universidade da Corunha. Alberto Vergueiro Nº 27. Janeiro, Fevereiro e Março de 2003 INTERNACIONAL 7 O carácter de classe do governo Lula e o que representa A eleiçom de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Brasil e a sua posse, em 1° de Janeiro, vem sendo propalada mundialmente como umha grande vitória da esquerda. Curiosamente, a propagaçom dessa falácia tem contado com a participaçom fundamental da grande mídia burguesa, da maioria dos jornais e das emissoras de televisom e de rádio mais tradicionais e de maior audiência de todo o mundo, que fam coro ao exaltar a ascensom do ex-operário Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo central. A realidade escondida por trás do espectáculo das telas e das primeiras páginas, que explica o entusiasmo da burguesia mundial, é a realidade de um governo de submissom ao capital monopolista e ao imperialismo, um governo anti-trabalhadores e anticomunista, um governo da contra-revoluçom. A composiçom do governo Lula denuncia o seu carácter direitista: o Vice-presidente da República é José de Alencar, um industrial bilionário ligado ao Partido Liberal; na presidência do Banco Central foi colocado Henrique Meirelles, expresidente mundial do Bank of Boston, eleito deputado federal polo PSDB, o Partido da Social Democracia Brasileira, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Aliás, toda a antiga directoria do BC foi mantida nos seus postos, incluindo a trapaceira Ester Grossi, cúmplice do banqueiro falido Salvatore Cacciola no assalto de 1,6 bilhons de dólares aos cofres do país numha transacçom cambial fraudulenta consumada há quatro anos. A mesma orientaçom direitista tendência que transparece das primeiras medidas anunciadas polo novo governo, como a reforma da previdência social, que vem sendo proposta em bases semelhantes às preconizadas polo governo anterior (com ataques aos direitos dos servidores públicos e vinculada ao incremento dos fundos de pensom privados), que todavia nom conseguiu implementá-las. Nom é de se estranhar que no seu discurso de posse, como de resto em toda a campanha eleitoral, Lula nom tenha feito críticas às reformas feitas ou defendidas polo governo contra o qual se candidatava, mas apenas à sua “incompetência” para fazer as “mudanças”. Lula elegeu-se com o compromisso programático de “honrar os contratos” assinados polos governos anteriores com o capital internacional, ou seja, os acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os bancos internacionais e os grupos económicos que arrematárom a preço de banana as empresas públicas privatizadas na última década. Em oito anos como presidente da República, FHC levou ao extremo o endividamento externo e interno do Brasil, colocando-o em dependência total e directa da especulaçom dos mercados financeiros. A manutençom dessa política significará necessariamente o aprofundamento da miséria do povo, a continuidade do arrocho salarial, da sangria dos recursos naturais e das riquezas produzidas polo país em nome do pagamento da dívida, a continuidade do desmantelamento dos serviços públicos e das privatizaçons e daí por diante. Significará confronto com os trabalhadores e as massas populares. De qualquer modo, o compromisso do candidato do PT em relaçom aos contratos foi assumido também polos outros três candidatos mais citados nas pesquisas eleitorais: José Serra, do PSDB, Anthony Garotinho, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), e Ciro Gomes, do Partido Popular Socialista (PPS, sucedáneo liberal do Partido Comunista Brasileiro). Juntos, os quatro referendárom, em Agosto, o acordo de emergência de 30 bilhons de dólares assinado polo governo de Fernando Henrique com o FMI para contornar umha crise financeira que fijo a cotaçom do dólar frente à moeda brasileira subir de menos de 2,40 para até 4,00 reais em poucas semanas. Enfim, todos eles disputárom a eleiçom como representantes do capital. Os candidatos trotskistas do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e do Partido da Causa Operária (PCO), que criticavam a política de FHC e defendiam o nom pagamento da dívida externa, permanecêrom excluídos dos debates promovidos polas emissoras de TV e do noticiário diário da imprensa, com o referendo do Tribunal Superior Eleitoral. A qualquer observador isento, está claro que Lula presidente está longe de significar que os trabalhadores brasileiros chegárom ao poder, como o senso comum e a propaganda pseudoesquerdista propagam. Som o capital financeiro internacional e a burguesia monopolista que mais umha vez conseguem dar nova aparência à sua dominaçom de classe, exercida sobre e contra os trabalhadores da cidade e do campo e as massas populares em geral. A ascensom de Lula e do PT é similar, em muitos aspectos, à grande manobra realizada pola classe dominante para a substituiçom da desgastada ditadura militar nascida do golpe militar de 1964 pola ditadura da democracia burguesa, e que culminou com o advento da chamada “Nova República” e a convocaçom de eleiçons para um Congresso Constituinte em meados da década de 80. Ao fim de quase dez anos de abertura política “lenta, gradual e segura”, como planejado polo ditador General Ernesto Geisel, aquela transiçom conservadora completou-se como um pastiche, tendo como presidente da República um filhote político da ditadura, José Sarney. Hoje candidato do governo petista a presidente do Senado Federal, Sarney tornara-se vice do conservador Tancredo Neves sob argumentos “pragmáticos” muito semelhantes aos que figérom do empresário José de Alencar o vice de Lula, e terminou por assumir o governo com a morte do presidente eleito. Com a eleiçom de Lula consolida-se umha “renovaçom” no quadro da social-democracia brasileira, com a transformaçom do PT em protago- Arquivo Abrente nista da renovaçom do poder do imperialismo e da burguesia monopolista, substituindo o PSDB. Trata-se agora de umha social-democracia mais “moderna”, mais “participativa”, de maior apelo popular. Mas essa condiçom nom é adquirida na última hora, e sim construída ao longo das últimas duas décadas, período em que o Partido dos Trabalhadores —criado em 1980 por elementos de esquerda refractários aos velhos partidos comunistas (o PC do Brasil e o PC Brasileiro), militantes do movimento sindical e popular que faziam oposiçom às velhas lideranças “pelegas” (comprometidas com os patrons). Essa atitude refratária de militantes de esquerda, era conseqüência do desgaste da política denominada comunista que, desde 1922 quando é formado o PCB, ao longo de décadas nom consolida um núcleo de científicos adeptos ideológicos da teoria revolucionária do proletariado, o marxismo-leninismo. A decomposiçom dos partidos citados que engendra sucessivas cisons contribuiu para que o PT, imediatamente ao seu surgimento, nom revelasse o seu carácter nom proletário, anticomunista e representante dos interesses do capitalismo, como se apresenta hoje. Do exposto até aqui, pode-se pontuar o que se espera do governo Lula, como segue: – Nengumha mudança sem ruptura com a ordem vigente e sem luitas de classes polo poder, como promete o governo Lula. Tampouco, melhoria nas condiçons de vida e sobrevivência dos mais pobres, através da filantropia, relaçons harmoniosas entre patrons e empregados, reforma agrária sem ocupaçons e com respeito à propriedade, “inserçom soberana” na globalizaçom e cousas polo estilo. – Face ao antagonismo das contradiçons so- ciais e económicas da sociedade brasileira, notadamente a contradiçom entre burguesia e proletariado, agudizadas polo acirramento da disputa inter-imperialista com a ofensiva política, económica e militar do imperialismo estado-unidense, nom podem ocorrer mudanças significativas para o povo nem ser assegurada tranqüilidade social à classe dominante, pois é umha necessidade objectiva do capital para se reproduzir com super-lucros intensificar a exploraçom sobre os trabalhadores, quanto estes tenhem necessidade de reagir de todas as formas a essa situaçom. Daí que a política do governo do PT, voltada para os interesses do capital, para ser efectivada terá de usar a força com o objectivo de quebrar a resistência e luitas dos trabalhadores, através da violência do Estado. Isto impelirá o proletariado e os trabalhadores a enfrentar o governo Lula como a qualquer governo da burguesia. Diante da situaçom que se apresenta com o governo Lula, é necessário adoptar a posiçom de criar condiçons políticas e de força organizada para combatê-lo. Para isto, há que tomar umha atitude política militante de carácter classista proletário, tendo como objectivo: – Denunciar e desmascarar o carácter de classe e os interesses capitalistas que representa; – Unir as autênticas forças de esquerda para organizar e preparar as luitas e o enfrentamento contra os interesses do capital e o seu governo, no caso, o de Lula; – Intensificar a propaganda comunista, principalmente no seio do proletariado industrial, visando esclarecer os trabalhadores sobre o seu interesse estratégico na revoluçom, para desenvolver nom apenas o trabalho político na conjuntura, como construir um sistema de organizaçom em todos os níveis e formas necessárias a eclosom e avanço de suas luitas contra o capitalismo; – Com base no trabalho político e de organizaçom no seio do proletariado, criar as condiçons para assentar os alicerces da construçom de um autêntico partido proletário comunista, marxista-leninista; – Para desenvolver a posiçom política contra o capitalismo e o governo que representa os seus interesses, é necessário dar duro combate ao oportunismo e à pseudo-esquerda, como também aos partidos do “comunismo” legal. Sem esta luita, nom serám removidos os obstáculos, nem derrotadas as suas tentativas nos terrenos político, ideológico e organizativo de minar a construçom do partido revolucionário do proletariado, marxista-leninista. Com os pontos abordados espera-se que fique esclarecido o carácter de classe e o que representa o governo Lula. Alberto Vergueiro é militante comunista brasileiro LIVROS Selecçom, comentários e traduçom de Ana Barradas Direitos da mulher e da cidadá Olympe de Gouges, Mary Robinson, Elizabeth Cady Stanton, Matilda J. Cage, Olive Schreiner 110 páginas. Com este novo volume da editora feminista portuguesa Ela por Ela, achegamo-nos a umha parte significativa dos textos fundacionais do feminismo contemporáneo. Olympe de Gouges, Mary Robinson, Elizabeth Cady Stanton, Matilda J. Cage e Olive Schreiner som só umha mostra daquelas mulheres que decidírom trasgredir o rol que a sociedade patriarcal lhes atribuia para erguer as suas vozes contra a dominaçom, exploraçom e opressom masculina. Todos os textos vam precedidos dumha pequena sinopse histórica que ajuda enormemente à sua compreensom e enquadramento. O primeiro texto, “Os direitos da Mulher e da Cidadá”, publicado em 1791, constitui um alegato à igualdade na França revolucionária. Olympe de Gouge adverte da necessidade de que a revoluçom assuma a causa da igualdade de sexos perante a consciente exclusom das mulheres por parte do novo sistema que se instaurava. A sua luita feminista conduziu-na à forca em 1793, nom sem antes deixar-nos alguns textos pioneiros como o que este volume nos oferece. Estas primeiras vozes de mulheres, -a maioria pertencentes a aristocracia e às classes médias-, estendêrom-se rapidamente polos estados que estavam a viver a revoluçom industrial e a padecer as suas conseqüências: França, Inglaterra, Estados Unidos, etc. Num primeiro momento, florescerám os salons literários em que muitas mulheres conscientizadas debaterám sobre diversas questons: direito à educaçom, à nom discriminaçom laboral, divórcio, etc. Anos depóis nascerám os jornais de mulheres e as primeiras organizaçons feministas da época, como o Movimento Nacional polo Sufrágio das Mulheres, fundado em 1869 por Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Antony, inaugurando a luita sufragista nos Estados Unidos. Embora muitas das reivindicaçons que faziam estas mulheres hoje estejam formalmente assumidas, nom lhes restam interesse do ponto de vista histórico e feminista. Neste livro, além de oferecer-nos alguns textos e fragmentos da obra destas pioneiras, topamos também exemplos das primeiras mulheres que, dumha óptica de esquerdas, começam a reflectir sobre o papel da mulher no trabalho. Ajudadas polas redes internacionais que se estavam tecendo, -A Internacional das Mulheres dirigida por Clara Zetkin-, reflectirám sobre a importáncia da independência econó- Terry Eagleton Marx e a liberdade. Edições Dinossauro, Lisboa 2002, 73 páginas @s camaradas de Edições Dinossauro venhem de editar no passado ano este pequeno volume do conhecido marxista británico Terry Eagleton. Nele topamos quatro ensaios em que se aborda o pensamento de Karl Marx da óptica da filosofia, a antropologia, a história e a política. Apesar de ser um livro em que abundam as citas, dista muito de ser o consabido manual escolástico próprio doutras épocas aparentemente mais propensas ao desenvolvimento e o estudo do marxismo, mui polo contrário estamos diante dumha obra de agradável e cómoda leitura, facto a que ajudam a inclusom das citas no corpo do texto, e nom como notas a rodapé, e a sua brevidade, já que nom chega às setenta páginas. Apesar desta brevidade, nom achamos umha vulgarizaçom barata do marxismo, mui polo contrário estamos perante umha obra consistente em que o autor sabe sintetizar alguns dos aspectos mais importantes e interessantes do pensamento marxista, em muitos casos esquecidos e manipulados mesmo por alguns se dizem marxistas, trazendo-os de novo à cena para podermos reflectir sobre eles. O Marx anti-filósofo, o materialista que pom a dialéctica de Hegel sobre os seus pés, vem seguido do Marx que descreve o fenómeno da alienaçom, para passar depois ao Marx que define o conceito Modo de Produçom, rematando com o Marx revolucionário que chama à tomada do poder por parte do proletariado. Nos quatro capítulos, um aspecto subjaz em todos eles, o que dá o título ao livro, a liberdade; conceito fundamental, às vezes esquecido e em tantas ocasions tergiversado, na obra e a vida de Karl Marx. A liberdade nom como utopia, senom como necessidade humana que é preciso conquistar gerando as condiçons necessárias para a sua existência. Em definitivo, um muito bom livro que satisfará tanto quem já seja conhecedor da obra de Karl Marx como quem esteja a iniciar-se no conhecimento do método de interpretaçom da realidade mais correcto dos que actualmente conhecemos. (André Seoane Antelo). WEB Carla Mosca e Rossana Rossanda Mario Moretti Brigadas Rojas Akal, Madrid 2002, 333 páginas. As jornalistas italianas Carla Mosca e Rossana Rossanda entrevistam neste livro um dos fundadores e principais dirigentes das Brigate Rosse. Em mais de trescentas páginas, Mario Moretti realiza um percurso histórico desde a fundaçom da organizaçom armada a inícios da década de setenta até a sua posterior derrota e autodissoluçom a inícios dos oitenta. A luita de classes numha metrópole capitalista, a gestaçom da autodefesa operária nas fábricas, o combate com o reformismo e o revisionismo, estám continuamente presentes numha obra que nom pretende auto-justificar, mas tampouco renunciar a esta experiência refrencial. Embora umha das partes mais interessantes deste livro-entrevista, realizado desde a cadeia em que continua preso desde 1981, som os cinqüenta e cinco dias do seqüestro de Aldo Moro, -presidente da Democracia Cristá-, executado polas BV após ter decidido o Estado abandoná-lo à sua sorte, recusando-se a realizar o mínimo gesto político que solicitava a organizaçom armada para libertá-lo. Foi precisamente este ataque ao “coraçom do Estado italiano”, utilizando a terminologia brigadista, -realizado em 1978-, umha das causas, ligada basicamente ao processo de profunda mutaçom da morfologia do proletariado italiano, com as que Moretti explica o fracasso da estratégia política da guerrilha comunista num dos países do capitalismo avançado. Nom é umha entrevista convencional sobre umha organizaçom armada, é umha entrevista que tenta analisar umha parte da história italiana após a Segunda Guerra Mundial, a integraçom do PCI no sistema burguês, o “compromisso histórico” entre Andreotti e Berlinguer, o papel de Itália na guerra fria, as razons de Estado, as redes ocultas do capitalismo para evitar umha vitória eleitoral d@s comunistas, o impressionante desenvolvimento da esquerda radical. Mas também transmite com naturalidade e sinceridade umha experiência concreta, o processo de gestaçom e desenvolvimento dumha organizaçom armada configurada por operári@s das grandes concentraçons fabris do norte de Itália, as relaçons intensas com as massas proletárias, o papel da vanguarda nas luitas, a violência política. Um livro que cumpre ler. (Carlos Morais) http://politicaoperaria.pla netaclix.pt/ Recomendamos a versom digital da revista bimestral d@s camaradas da Política Operária, que desde há um par de meses está na rede. Embora ainda nom conte com um elaborado desenho gráfico, a apresentaçom é clara e agradável à vista. A qualidade dos artigos, que nos aproximam da actualidade portuguesa e mundial dumha óptica marxista, torna imprescindível a sua visita para os galegos e as galegas que aderimos a tais princípios. A página Web conta com várias secçons, destacando as ediçons anteriores da revista, ou a dedicada às diversas publicaçons, onde há um catálogo de livros de diferentes editoras, entre elas Edições Dinossauro e a Abrente Editora, e onde se poderám fazer as encomendas. Nom podemos deixar sem nomear o apartado dedicado às assinaturas, já que a revista Política Operária se mantém na rua há dezasseis anos e atingiu já o número 88, graças ao contributo económico dos seus e as suas assinantes. Esperamos ver crescer este novo projecto digital d@s noss@s camaradas portugueses. Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua do Home Santo 29, 4º A. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589. www.primeiralinha.org Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha Fotografia: Antom Garcia, Andrés Panaro. Correcçom lingüística: Galizaemgalego. Maqueta: Carmen Aurora Seijas. Imprime: Litonor S.A.L. Feche de ediçom: 15 de Fevereiro de 2003 Correspondência: Apartado dos Correios 760. Compostela. Galiza. Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] Tirage: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta. Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados. Impreso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997 Polo direito de autodeterminaçom dos povos Evitemos a agressom imperialista contra o Iraque USA: a organizaçom terrorista que ameaça a humanidade com armas de destruiçom massiva Desde a derrota na guerra do Golfo em 1991, o imperialismo anglo-norte-americano vem aplicando umha beligerante política de estrangulamento económico e agressom militar contra o Iraque, cujas conseqüências mais dramáticas som a morte de dezenas de milhares de crianças por falta de assistência médica e malnutriçom, e de centenas de civis nos bombardeamentos sistemáticos que padece o país. Embora as sançons económicas impostas com o beneplácito da ONU só afectem directamente o povo iraquiano, procuram a queda do regime como parte da estratégia global do capitalismo norte-americano de domínio do vasto território do “Oriente Médio” e o Cáucaso-Cáspio que garanta o controlo directo das fontes energéticas e de matérias primas estratégicas que lhes permita perpetuar a hegemonia planetária de maneira indefinida. Após dobregar a política nom ocidental da Jugoslávia em 1999, impor um protectorado no Afeganistám em 2001, apoiar a actual desestabilizaçom fascista da Venezuela, os USA necessitam com urgência derrotar Sadam Hussein para apoderar-se dos imensos jazigos de petróleo e gás que possui o Iraque e impor um governo fantoche que converta o Estado árabe numha colónia. A prática dependência do petróleo como fonte energética primordial do modo de produçom capitalista provoca que o imperialismo na sua fase de ofensiva fascista contra a humanidade, acelerada após o 11 de Setembro, aposte polo controlo directo das reservas do ouro negro, por geri-las sem intermediários. Os USA, em pouco mais dumha década, necessitarám importar a maioria do petróleo que consomem, polo que necessitam garantir a subministraçom a preços de saldo. Os grandes interesses económicos da indústria petroleira nom só provocam acidentes como o do Prestige, impedem apostar polas energias renováveis e limpas, e fomentam o militarismo característico do bloco de classes dominantes ianque em aliança com o complexo militar-industrial do que Bush tam só é o actual gestor. Os senhores da guerra norte-americanos também necessitam atacar o Iraque para incentivar a sua economia, dependente da indústria armamentística. É-lhes necessário dar saída aos excedentes acumulados, fazer recair sobre @s pobres a crise do capitalismo. Provar sobre o terreno a letal eficácia da última geraçom de armas de destruiçom massiva. Dissuadir o incremento da luita dos povos, @s trabalhadores/as e as mulheres pola liberdade e a emancipaçom, assim como “resolver” o conflito palestiniano, som outras causas que jogam um papel destacado. Israel pretende aproveitar a eliminaçom dum Iraque soberano para aplicar a soluçom final do sionismo: expulsar o povo palestiniano dos seus legítimos territórios e construir a paranóia racista do grande-Israel sobre o que se alça o seu Estado. A “justificaçom” para o ataque está baseada na nunca demonstrada posse de armas de destruiçom massiva polo regime de Bagdad. O ataque é umha questom de tempo, com ou sem a coarctada da existência de armas biológicas, químicas, nucleares, que armazenaria o Iraque nuns depósitos secretos que os inspectores da ONU ainda nom encontrárom, os Estados Unidos vam atacar o Iraque. Ainda que nom necessitam da legitimaçom do Conselho de Segurança, preferem contar com o seu respaldo para ganhar mais aliados na sua cruzada. De momento, contra a opiniom maioritária dos seus povos, Bush conta com o apoio incondicional dos seus principais lacaios na UE, a triada configurada por Blair, Aznar e Berlusconi. A ofensiva terrorista em que o capitalismo está inserido é a melhor mostra da sua fraqueza, é o sintoma mais eloqüente da crise, do declínio do império norte-americano. Defender o direito de autodeterminaçom do povo iraquiano, denunciar a ofensiva imperialista, é um dever de qualquer ponto de vista internacionalista, mas também é umha necessidade para contribuir para reforçar o processo de libertaçom nacional e social de género que impulsiona o MLNG. Defender Bagdad é defender os direitos nacionais da Galiza. Solidarizar-se com o povo trabalhador iraquiano é apoiar a emancipaçom da classe trabalhadora galega. Impidamos que o servilismo do Governo espanhol colabore com a agressom. Paremos a guerra. Recebe as publicaçons da Abrente Editora na tua morada preenchendo o formulário e enviando-o co justificante de pagamento da publicaçom ou publicaçons escolhidas ao Apartado dos Correios 760 de Compostela. Número de conta para o ingresso 2091 0387 423000009169 de Caixa Galiza-Compostela. Ao preço da publicaçom há que acrescentar 3 € por gastos de envio. FICHA DE SOLICITUDE nome e apelidos endereço localidade código postal correio electrónico telefone PONTOS DE VENDA: publicaçom solicitada Compostela: Livraria Couceiro, Livraria A Palavra Perduda, Livraria Ártico, Tarasca, A Sereia. Corunha: Livraria Couceiro, Sisargas. Ferrol: Livraria Sargadelos, Fundaçom Artábria. Lugo: Livraria Sargadelos. Ourense: Livraria Torga. Ponte-Areias: Livraria Nova, Citánia. Ponte-Vedra: Livraria Michelena. Vigo: Livraria A Caixa de Pandora, Livraria Andel do livro galego e português.