Metodologia da Pesquisa Científica Aula 1: Método Científico

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Metodologia da Pesquisa Científica Aula 1: Método Científico
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Metodologia da Pesquisa Científica
Aula 1: Método Científico
1 Metodologia científica
O que é método?
A palavra método vem do grego méthodos, que significa caminho para chegar
a um fim.
Já que a palavra método significa caminho ou processo racional para atingir um
determinado fim, agir com método supõe uma prévia análise dos objetivos que
se pretendem atingir, as situações a enfrentar, assim como dos recursos e o
tempo disponíveis, e por último das várias alternativas possíveis. Trata-se,
portanto, de uma ação planejada, baseada em procedimentos sistematizados e
conhecidos previamente.
E metodologia, o que vem a ser?
Metodologia significa estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos
necessários para a construção de uma pesquisa científica; é uma disciplina a
serviço da Ciência. O conhecimento dos métodos que auxiliam na elaboração
do trabalho científico.
“Metodologia adquire o nível de típica discussão teórica, inquirindo criticamente
sobre as maneiras de se fazer ciência. Sendo algo instrumental, dos meios,
não tem propriamente utilidade direta, mas é fundamental para a „utilidade‟ da
produção científica. A falta de preocupação metodológica leva à mediocridade
fatal” (Demo, 1995, p. 12).
A atividade da pesquisa necessita de método, mesmo que este seja
instrumental, a fim de orientar o pesquisador à construção de quadros teóricos
do conhecimento. Demo afirma que “esse instrumento [o método] é
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indispensável sob vários motivos: de um lado, para transmitir à atividade
marcas de racionalidade, ordenação, otimizando o esforço; de outro, para
garantir contra credulidades, generalizações apressadas, exigindo para tudo
que se digam os respectivos argumentos; ainda, para permitir criatividade,
ajudando a devassar novos horizontes” (1995, p. 12).
Então, estamos fazendo ciência?
A resposta é SIM, pois CIÊNCIA é uma atividade que produz conhecimento. A
ciência pode estudar qualquer coisa pertencente à realidade. Enquanto
processo, a ciência é um conjunto de práticas e operações que visam a buscar
e construir um conhecimento.
A ciência estuda os fenômenos e não fatos.
Fato: é qualquer evento que ocorre na realidade, independente de ser
conhecido ou não, independente de ter sido alguma vez observado ou não.
Fenômeno: é um fato que é percebido por um observador. O mesmo fato pode
ser observado de diferentes maneiras, por diferentes observadores, gerando
diferentes fenômenos, segundo cada ponto de vista.
O ponto de vista particular sob o qual um fenômeno é visto ou analisado é o
que chamamos de paradigma.
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Exemplo:
Que há estrelas no céu é FATO.
Mas se começamos a olhar o céu, com a curiosidade de saber as origens das estrelas,
por que elas brilham, quais as distâncias entre elas e a Terra teremos, então,
FENÔMENOS prontos para serem estudados pela ciência e desvendados para a
Humanidade. Só podemos realizar esses estudos utilizando MÉTODOS
CIENTÍFICOS.
Por que se deve estudar metodologia?
Porque todo curso superior tem seu fim com a elaboração de uma monografia
ou um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
O TCC é, portanto, uma exigência legal para obtenção do diploma de
conclusão de curso.
O uso da METODOLOGIA servirá para organizar o trabalho do aluno e garantir
confiabilidade para o estudo realizado.
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2 Conhecimento
“O fenômeno do conhecimento humano é, sem dúvida, o maior milagre de
nosso universo” (Popper, 1975, p. 7).
Popper distingue dois tipos de conhecimento: o conhecimento constituído de
um estado de consciência que apenas leva a reagir, e o conhecimento, no
sentido objetivo, constituído de teorias, problemas e argumentos.
De acordo com Khazraí o conhecimento surge “quando todas as vozes do
pensamento científico se interagem nas tendências tumultuosas da afetividade,
na sala de aula, no momento do estudo, no laboratório e abre frente aos
nossos olhos novas perspectivas infinitas de reflexão, e faz voarem nossos
espíritos no firmamento interminável da cognição e da emoção. É nesse ponto
que a ciência e o afeto se interagem para dar origem ao que nós chamamos de
conhecimento” (1983, p. 2).
Conhecimento é a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou
deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.
Níveis de conhecimento
Podemos classificar o conhecimento em cinco tipos. Cada um possuindo sua
importância e características particulares:
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Senso-Comum
O conhecimento popular ou senso comum é o conhecimento adquirido dos
antepassados; é o resultado das experiências vividas na sociedade a que cada
qual pertence. Tais experiências, em geral, não tem como objetivo a
construção do conhecimento, mas sim a satisfação de uma necessidade. Daí
podermos afirmar que o senso comum é, de certo modo, fruto do acaso, sendo
adquirido por meio de ações aleatórias. Sua origem vem do processo de
acostumar-se a uma explicação ou compreensão da realidade, sem que ela
seja questionada.
O conhecimento das rezadeiras no sertão nordestino, as várias superstições,
os provérbios, os remédios ou os chás caseiros, as técnicas de artesanato e as
artes culinárias, etc.
Características:
1.
Valorativo, pois está relacionado com os valores do sujeito.
2.
Sua origem vem da tradição oral, da observação e reflexão.
3.
Subjetivo, pois depende dos nossos juízos e tendências pessoais.
4.
Assistemático, porque não precisa de um sistema para ser constituído.
5.
Não necessariamente verificável.
6.
Falível, pois pode falhar.
7.
Inexato.
6
No senso comum encontramos o bom senso, que se forma no espírito de todo
homem no contato das coisas com que lida. O bom senso é fruto de uma certa
sistematização
de
conhecimentos,
um
conhecimento
compreensivo,
rudimentar, espontâneo. Assim, por ser um conhecimento compreensivo, liga
as conclusões aos princípios, visto que as pessoas que o têm desenvolvido,
quando colocadas em condições diferentes das habituais, resolvem as
dificuldades rápida e acertadamente por meio de raciocínios simples, apoiados
no corpo do conhecimento que já têm. E seus princípios são gerais, pois que
se aplicam as circunstâncias variadas. Por outro lado, o bom senso não reflete
sobre si mesmo; trata das coisas, mas não pensa em si.
Conhecimento Popular e o Conhecimento Científico
O senso comum, não é diferente do conhecimento científico nem pela sua
verdade, nem pela natureza do que se está estudando. A principal diferença é
a maneira pela qual se atinge o conhecimento.
Uma determinada doença pode ser tratada por um chá feito com uma planta
específica, resultando a melhora da pessoa. Esse fato pode ser encarado com
sendo um conhecimento, porque é provável, mas não é necessariamente
científico. Para ser considerado conhecimento científico é preciso que se
estude o princípio ativo das substâncias da planta.
Portanto, a ciência não é obrigatoriamente a única maneira de se chegar ao
conhecimento. Os fenômenos podem ser observados pelo cientista e pelo
homem comum.
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Conhecimento Filosófico
Podemos caracterizar a filosofa como sendo uma reflexão que busca
compreender o sentido da realidade, do homem, sua relação com a natureza e
seus produtos, que são a cultura e a história.
Através de uma reflexão em profundidade, coerente e abrangente vê-se a
importância e a necessidade da filosofia, pois é através dela que temos a
oportunidade de reunir o pensamento fragmentado da ciência, reconstituindo
sua unidade.
A filosofia apresenta similaridades com a ciência e com a literatura, mas é
diferente de ambas. A proximidade com a ciência está no rigor intelectual e no
objetivo final que, grosso modo, pode-se dizer é a busca da verdade.
Admirar-se, era para Platão a condição de onde deriva a capacidade de
problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como
sua busca. (ARANHA; MARTINS, 1999, p. 72).
Podemos entender que filosofar é aceitar o desafio de mudança. Também é a
possibilidade da transcendência humana, a capacidade exclusiva do homem
por meio da qual ele pode superar situações dadas e não escolhidas.
Platão, pintado por Rafael (Escola de Atenas)
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A filosofia impede a estagnação e recupera o processo perdido no imobilismo
das coisas feitas, muitas vezes já ultrapassadas. É um movimento, pois o
mundo é movimento que se manifesta pela tese (certeza) e pela antítese
(negação), dois movimentos superados pela síntese, a qual, por sua vez,
produz uma nova tese e assim sucessivamente.
Características:
1.
Valorativo, pois está relacionado com os valores do sujeito.
2.
Racional e reflexivo.
3.
Sistemático, porque precisa de um sistema para ser constituído.
4.
Não é verificável.
5.
Infalível.
6.
Exato.
Podemos dizer que o conhecimento filosófico é fruto do raciocínio e da reflexão
humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos
subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando
os limites formais da ciência.
Conhecimento Religioso
É aquele conhecimento apoiado em doutrinas sagradas. É um conhecimento
sistemático em que a verdade é tratada de forma indiscutível. A aceitação
desse conhecimento é um ato de fé, considera-se que o mundo foi criado por
um ser divino, princípio inquestionável ainda que não existam evidências para
sua comprovação.
A teoria da evolução das espécies de Charles Darwin representa um exemplo
de conflito existente entre o conhecimento religioso e o conhecimento cientifico.
A hipótese de evolução do ser humano defendida por essa teoria não é aceita
pelos teólogos, que acreditam nas explicações da bíblia.
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Pietá (Verugino)
Características:
1.
Valorativo, pois está relacionado com os valores do sujeito.
2.
Sua origem vem da fé e da inspiração.
3.
Sistemático, porque precisa de um sistema para ser constituído.
4.
Não verificável.
5.
Infalível.
6.
Exato.
Conhecimento Artístico
É o conhecimento que se baseia na intuição e emoção. A informação que se
manifesta através de uma obra de arte é de natureza emocional, causando
irritação, alegria, tristeza etc.
A forma de conhecimento não é lógica e pode despertar emoções diferentes,
dependendo da relação que se estabelece entre observador e o fenômeno
observado.
É um conhecimento inesgotável, pois a obra é encarada de diversas formas por
pessoas diferentes e de diferentes modos por uma mesma pessoa.
Uma das particularidades do conhecimento Artístico é que ele não pode ser
interpretado por outras
intrínseco.
formas de
linguagem sem perder o conteúdo
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Zapata, 1921 ( José Clemente Orozco)
Características:
1.
Valorativo, pois está relacionado com os valores do sujeito.
2.
Sua origem vem da inspiração.
3.
Assistemático, porque não precisa de um sistema para ser constituído.
4.
Não verificável.
5.
Infalível.
Conhecimento Científico
O desenvolvimento do pensamento humano acompanhou a sua evolução,
desde os primeiros hominídeos até o ser humano moderno. Podemos definir
três momentos que apontam para essa evolução: desconhecimento, a crença e
a ciência.
Em um
primeiro
momento,
entre
os primitivos
caçadores
nômades
predominava um desconhecimento em relação às causas dos fenômenos
naturais. Em seguida veio a crença, por intermédio das quais se buscava
explicações para os fenômenos naturais, gerando superstições. As religiões
antigas relacionavam os fenômenos naturais à vontade dos deuses.
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Finalmente, o homem começou a buscar respostas que explicassem esses
fenômenos, não se contentando simplesmente com as respostas oriundas da
crença na vontade divina. Mais do que isso, o homem passou a buscar a
comprovação das explicações dos fenômenos e, nesse momento, surgiu o
chamado método científico (veremos com detalhes mais tarde).
Como o ser humano é um animal dotado com as capacidades de pensamento
e de reflexão, isso possibilitou a busca de novas descobertas e o mais
importante,
o
desenvolvimento
da
capacidade
de
transmissão
esse
conhecimento para as futuras gerações.
A ciência moderna surgiu há, aproximadamente, 400 anos, mas podemos dizer
que mais recentemente tivemos os maiores avanços desse conhecimento.
O conhecimento científico pode ser definido como sendo racional e sistemático,
descobrindo as relações universais entre os fenômenos, permitindo prever
acontecimentos e dessa forma agir sobre a natureza.
Isso não quer dizer que a ciência consiga produzir um tipo de conhecimento
definitivo, sobretudo porque ela está em constante evolução.
Características do Conhecimento Científico:
1.
Factual, trata-se de um conhecimento concreto, vem dos fatos.
2.
Tem origem na observação e experimentação.
3.
Sistemático, porque precisa de um sistema para ser constituído.
4.
É verificável.
5.
Falível.
6.
Aproximadamente Exato.
12
Além disso, o conhecimento científico:

É racional e objetivo.

Atém-se e transcende aos fatos.

É analítico e requer exatidão e clareza.

É comunicável.

Depende de investigação metódica.

Busca e aplica leis.

É explicativo.

Pode prever acontecimentos.

É aberto e é útil à humanidade.
3 Ciência e método científico
Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em
contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos
são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos
científicos não é de alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o
emprego de métodos científicos (LAKATOS; MARCONI, 1991, p.30).
O método científico é a teoria da investigação. Ainda segundo Lakatos e
Marconi (1991, p.46) esta alcança seus objetivos, de forma científica, quando
cumpre ou se propõe a cumprir as seguintes etapas:
a) descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de conhecimentos. Se
o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se
o estiver, passa-se à subseqüente;
b) colocação precisa do problema, ou ainda a recolocação de um velho
problema, à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos
ou metodológicos);
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c) procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema (por
exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos de mediação, técnicas de cálculo
ou de mediação). Ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o
problema;
d) tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Se a
tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrário, à
subseqüente;
e) invenção de novas idéias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção de
novos dados empíricos que prometam resolver o problema;
f) obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do problema com auxílio do
instrumental conceitual ou empírico disponível;
g) investigação das conseqüências da solução obtida. Em se tratando de uma
teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se
tratando de novos dados, é o exame das conseqüências que possam ter para
as teorias relevantes;
h) prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a totalidade das
teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a
pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a
etapa seguinte;
i) correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na
obtenção da solução incorreta.
Para Cervo e Bervian (1996, p. 46-47), os passos, geralmente, observados na
realização das pesquisas são os seguintes:
1.
Formular questões ou propor problemas e levantar hipóteses;
2.
Efetuar observações e medidas;
14
3.
Registrar, tão cuidadosamente quanto possível, os dados observados
com o intuito de responder às perguntas formuladas ou comprovar a hipótese
levantada;
4.
Elaborar explicações ou rever conclusões, idéias ou opiniões que
estejam em desacordo com as observações ou com as respostas resultantes;
5.
Generalizar, isto é, estender as conclusões obtidas a todos os casos
que envolvam condições similares; a generalização é tarefa do processo
chamado indução;
6.
Prever ou predizer, isto é, antecipar que, dadas certas condições, é de
se esperar que surjam certas relações.
Referências
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia.
São Paulo: Moderna, 1999.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Makron
Books, 1996.
DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3.ed. São Paulo:
Atlas, 1995.
KHAZRAÍ, Houshang. Relatórios de atividades. EDUFMA, 1983. [Trabalho
não-publicado].
LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina A. Metodologia Científica. São Paulo:
Atlas, 1991.
PESCUNA, Derna; CASTILHO, Antonio Paulo F. de. Projeto de pesquisa – o
que é? Como fazer?: um guia para sua elaboração. 1ªed. São Paulo: Olho
D'água, 2005.
POPPER, Raimond. Conhecimento objetivo. São Paulo: EDUSP, 1975.

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