Comunicação de Sharon Capeling-Alakija Congresso Nacional do

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Comunicação de Sharon Capeling-Alakija Congresso Nacional do
Comunicação de Sharon Capeling-Alakija
Co-Coordenadora Executiva
Voluntários das Nações Unidas
Distintos convidados e colegas voluntários,
Obrigada pelo convite para estar hoje aqui convosco. É com orgulho que aqui
estou em representação dos cerca de 5000 voluntários das Nações Unidas de
mais de 160 países os quais, neste preciso momento em que falamos, enfrentam
pesados desafios no Mundo inteiro.
Entre eles contam-se os seguintes:
• Isabel Roque Ramos, uma economista de 40 anos actualmente a
trabalhar na administração pública em Moçambique;
• António Pita de Oliveira, de 48 anos, jornalista da RTP que foi
observador na eleições de 1994, em Moçambique e de novo este
ano nas históricas eleições em Timor Leste;
• Ana Paula Pires Silvestre, de 32 anos, psicóloga, actualmente a
trabalhar na Colômbia, em campanhas de prevenção da
toxicodependência.
Em nome de todos os voluntários das Nações Unidas, gostaria de prestar a minha
homenagem a Maria José Ritta, Presidente da Comissão Nacional pelo seu papel
activo no arranque e no apoio ao Ano Internacional dos Voluntários 2001 em
Portugal.
Estamos a aproximar-nos do final do Ano Internacional dos Voluntários 2001.
Foi um ano fantástico, cheio de esperança e de realizações bem como de
interrogações sobre o futuro. Porém, agora, o estado de espírito alterou-se e há
uma questão que se põe com insistência.
A questão foi colocada em Nova Iorque, na manhã de 11 de Setembro, no
momento em que uma criança era evacuada de um infantário situado nas
imediações do World Trade Center. Foi a professora que a levou a ela e aos seus
colegas para a rua cheia de fumo, cinza e entulho. Ao chegarem cá fora, ela
gritou: “Que é que aconteceu ao Mundo?”
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Co-Coordenadora Executiva
Voluntários das Nações Unidas
Aquela criança deu voz à pergunta a que todos nós tentamos responder desde
então – em reuniões públicas como esta em que nos encontramos, em nossas
casas, na solidão dos nossos corações. “Que é que aconteceu ao nosso Mundo?”
É com essa pergunta que eu gostava de começar hoje – com tristeza e humildade.
Não tenho a pretensão de apresentar respostas. Quando falo do 11 de Setembro,
tenho presente que muitas companhias europeias tinham os seus escritórios no
World Trade Center. Embora muitos funcionários tenham escapado, recordamos
com tristeza os muitos que não o conseguiram.
Ao reunirmo-nos aqui hoje, recordemos a seta de luz que atravessou o fumo e as
cinzas nesse dia 11 de Setembro: o intenso e dedicado esforço voluntário de
nova-iorquinos, de gente de Washington e de pessoas de todo o Mundo. Eles
fizeram de tudo, desde salvar pessoas, tratar dos feridos, combater os incêndios,
dar sangue, encontrar abrigo para os sobreviventes,
resgatar corpos dos
escombros e fornecer aconselhamento às famílias traumatizadas.
Na catástrofe do 11 de Setembro, vimos a diversidade de pessoas arrastadas para
o esforço voluntário – gente de toda a parte do Mundo, de todos os ramos de
actividade. Vimos soldadores, médicos, psicólogos, operários da construção civil,
artistas, comediantes, figuras do desporto, corretores – todos eles dispostos a
enfrentar a crise. O esforço dos voluntários mereceu destaque na comunicação
social levando muitos outros a um maior empenhamento cívico. Tantos e tantos
exemplos! Talvez por Nova Iorque ser um ponto fulcral do ponto de vista
mediático, o Mundo nunca mais voltará a olhar os voluntários da mesma forma.
Os terroristas dizem dispor de milhares de pessoas prontas a morrer pela sua
causa... No rescaldo do 11 de Setembro, ao olhar à volta desta sala, sei que temos
milhares e milhares de pessoas prontas a viverem – a dedicarem as suas vidas às
causas em que acreditam... o que sendo muito mais difícil de conseguir é, em
última análise, muito mais poderoso.
Gostaria de expressar a minha gratidão a um homem que é um exemplo
inspirador da força do trabalho voluntário. Esse homem é Paulo de Carvalho
que, como todos sabem, tem tido uma carreira de sucesso como compositor,
músico e intérprete. Foi ele que escreveu e gravou a primeira canção portuguesa
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Voluntários das Nações Unidas
sobre o HIV/SIDA doando todos os direitos à Comissão Nacional da Luta contra
a Sida. Agora, ele aí está de novo.
A sua bela canção “Vai e Faz”, dá o título ao CD do Ano Internacional dos
Voluntários que inclui 27 composições de todas as regiões do Mundo escritas
especialmente para o evento. Esta explosão global de música é um exemplo da
criatividade que foi posta ao serviço do Ano Internacional um pouco por todo o
Mundo.
Mas para além da eficaz campanha de promoção levada a cabo aqui em Portugal,
os portugueses fizeram muito pelo despertar das consciências através sobretudo
da realização de estudos que foram postos à consideração dos encontros regionais
do Ano Internacional realizados no país inteiro, incluindo a Madeira e o meu
querido Açores, onde tenho uma casa.
Adoraria descrever todas as actividades no âmbito do Ano Internacional dos
Voluntários levadas a cabo aqui em Portugal – todas as celebrações, simpósios,
campanhas de informação pública e espectáculos. Se o fizesse, porém, ficaríamos
aqui horas a fio!
Em vez disso, deixem que lhes recorde as seis ideias-chave que presidiram a
todos esses esforços:
1. O voluntariado pode assumir várias formas entre as quais a prestação de
um serviço formal, a auto-ajuda e ajuda mútua, o activismo e o
empenhamento cívico;
2. O voluntariado responde por muito nomes, por exemplo, no Rwanda
diz-se dufatanye, no Quénia, diz-se harambee, no Bangladesh, kela - a
ajuda mútua está também presente noutras culturas - nos Andes, referemse-lhe como minga, na Finlândia, trabalhar para o bem comum nas
comunidades é designado por talkoo, o povo maiori da Nova Zelândia
chama-lhe whanaugatanga e, segundo me ensinaram, na Alemanha onde
está situada a sede do Ano Internacional dos Voluntários, a designação é
nachbarschafts Hilfe;
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3. Chamem-lhe o que lhe chamarem, o voluntariado providencia apoio a
todos os que dele necessitam num espírito de confiança e de reciprocidade
-estas relações de reciprocidade estão vivas e de saúde no Mundo inteiro;
4. O voluntariado tem de ser empreendido livremente;
5. O voluntariado está ao serviço do bem–estar público;
6. A principal motivação do voluntariado não é a recompensa monetária.
Apesar, porém, de ter despesas reduzidas, o voluntariado não está isento de
custos. Essa a razão por que um dos nossos objectivos durante o Ano
Internacional foi o de encorajar os responsáveis pelos sectores público e privado
a removerem obstáculos e a criarem incentivos ao esforço voluntário.
É com prazer que constato que, aqui em Portugal, já existe legislação que permite
grandes avanços nas condições criadas aos voluntários nos anos que se
avizinham. Esse foi um legado significativo do Ano Internacional dos
Voluntários.
Comissões Nacionais de 123 outros países responderam igualmente de modo
vigoroso. Com todas estas ajudas, o Ano Internacional foi ao encontro de muitos
dos nossos objectivos – não só aqui em Portugal mas também no Mundo inteiro.
Podem por isso imaginar a alegria que sentimos nós voluntários das Nações
Unidas quando o Comité Nobel da Noruega decidiu, no seu centenário, atribuir o
Prémio Nobel da Paz 2001 ao pessoal das Nações Unidas e ao nosso secretáriogeral Kofi Annan, pela contribuição da ONU para a criação de um Mundo mais
organizado e mais pacífico. Não posso garantir que o prémio tenha sido atribuído
de forma a coincidir com o Ano Internacional dos Voluntários, mas a verdade é
que a ocasião não pode ter vindo mais a propósito! Espero que não me
considerem pomposa pelo facto de acreditar que, ao atribuir o Prémio Nobel da
Paz às Nações Unidas, durante o Ano Internacional dos Voluntários 2001, o
Comité Nobel quis estender o seu reconhecimento não só aos responsáveis e
funcionários das Nações Unidas mas também a todos os seus muitos voluntários
e a todos os voluntários do Mundo.
Congresso Nacional do Ano Internacional dos Voluntários
Comunicação de Sharon Capeling-Alakija
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Voluntários das Nações Unidas
Em nome dos voluntários das Nações Unidas, posso dizer que estamos satisfeitos
com estes resultados. Mas não tencionamos descansar sobre os louros.
No dia 5 de Dezembro, quando o Ano Internacional dos Voluntários encerrar
oficialmente, o seu fogo não se extinguirá. Recordemos que há um quarto de
século, o Ano Internacional das Mulheres levou à criação de duas novas
organizações das Nações Unidas, quatro conferências globais, legislação
significativa em muitos países e o crescimento de um movimento global de
mulheres. Acreditamos que, ao longo do próximo quarto de século, o Ano
Internacional dos Voluntários 2001, deixe um legado igualmente profundo.
Há ainda tanto para fazer – especialmente agora.
Hoje, continuamos a debatermo-nos com a questão: “Que é que aconteceu ao
Mundo?” Com o tempo, essa pergunta dará, no entanto, lugar a uma questão
mais vasta: como é que podemos garantir que, nesta era, como noutras épocas de
terror, a tragédia possa unir as pessoas e reforçar os laços de confiança e de
reciprocidade?
O voluntariado não é a resposta. Mas é certamente parte dessa resposta. E a luz
dessa verdade brilhará então nos dias mais sombrios.
Muito obrigada.
Congresso Nacional do Ano Internacional dos Voluntários

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