Não há “balas de prata” para a sustentabilidade

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Não há “balas de prata” para a sustentabilidade
18 QUINTA-FEIRA 9 JUN 2016
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NEGÓCIOS INICIATIVAS Saúde Sustentável
VENCEDORES
A quinta edição dos prémios Saúde
Sustentável distinguiu o hospital da
Figueira da Foz, na categoria de cuidados hospitalares, ou aUSF CelaSaúde, em Coimbra, nos cuidados primários. Conheça a lista completa.
CUIDADOS HOSPITALARES
Hospital da Figueira da Foz
O hospital distrital da Figueira da Foz conquistou o prémio Saúde Sustentável por
ter introduzido um modelo de contratualização interna em que existe um verdadeiro envolvimento da gestão dos serviços. Desenvolveu também um modelo de
trabalho que promove um maior alinhamento organizacional, além de ter iniciado a acreditação de três serviços. 2015
foi ainda o primeiro em que este hospital
alcançou um resultado líquido positivo,
sem recurso a subsídios.
CUIDADOS PRIMÁRIOS
USF Cela Saúde
A Unidade de Saúde Familiar Cela Saúde,
em Coimbra, foi a vencedora na categoria de cuidados continuados. Conquistou
esta distinção graças à aposta na melhoria contínua dos cuidados de saúde, tendo realizado e obtido importantes resultados nas áreas da saúde infantil e juvenil, saúde da mulher, vacinação, cuidados
domiciliários e doenças crónicas. 97%
dos utentes está contente com os cuidados médicos.
CUIDADOS CONTINUADOS
Unidade Domiciliária
de Cuidados Paliativos
daTerra Fria
Esta unidade, localizada em Bragança,
presta cuidados paliativos especializados
de qualidade na comunidade (domicílios
e residências de terceira idade) a doentes com patologias crónicas, progressivas e avançadas, nas vertentes física, psicológica, social e espiritual, dispondo de
apoio domiciliário e telefónico 7 dias por
semana, 24 horas por dia.
OUTRAS CATEGORIAS
Associação Cura+
Localizada no Porto, a associação venceu o
prémio pelo impacto que tem ao nível da
qualidade clínica, resultados em saúde e experiência do utente. O projecto da associação, em que participam três farmácias, assegura gratuitamente medicamentos sujeitos a receita médica a pessoas que sejam
portadoras de doenças crónicas e que tenham sido previamente referenciadas como
tendo carências financeiras graves.
REPORTAGEM
Não há “balas de prata”
para a sustentabilidade
Os prémios Saúde Sustentável foram entregues esta terçafeira e premiaram as melhores práticas das 38 candidaturas
recebidas. Para os membros do painel, não há uma solução
única para atingir a sustentabilidade no sector.
BRUNO SIMÕES
[email protected]
MARILINE ALVES
Fotografia
O
s prémios Saúde
Sustentável, uma
parceria entre o
Negócios e a Sanofi Portugal, foram entregues na passada terçafeiraemLisboaeseguiramparaa
Figueira da Foz, Coimbra e Bragança. Antes da entrega dos prémios, uma mesa redonda com-
postapormembrosdojúrieantigosvencedoresdoprémiotentou
encontrarocaminhoparaatingir
asustentabilidadenosector.Não
há uma solução única – mas é
consensualqueénecessáriocontarcom os privados.
“Não há balas de prata para
atingir a sustentabilidade na saúde”, resumiu Francisco Ramos,
presidente do IPO de Lisboa. Isto
porque há um “problema” que é
“darmos todos os cuidados de saúde sem excepção a custo zero no
ponto de consumo”. E esse é “um
problema [para o qual] nunca ninguém encontrou solução. E conti-
nuará a ser um problema”. Apesar
disso,sublinha,Portugaltemresolvido “razoavelmente bem” este
problema.
“Osistemaportuguêscompara
bem a nível internacional: gastamos menos que amédiados países
comquemnosgostamosdecompararemmatériadesaúdeetemosem
regramelhoresresultados.Osistemaé um sucesso e um dos méritos
dessesistemaéagestãodescentralizada”, elogia. Como atingir a sustentabilidade, então? “Aumentando a eficiência, reduzindo desperdício. Na esmagadora maioria dos
casos, a resposta está no aumento
da competitividade”, assinala o líderdo IPO lisboeta.
Marta Temido, presidente da
AdministraçãoCentraldoSistema
de Saúde (ACSS), defende que “o
maisimportanteparaasustentabilidadeéagestão”,nassuasdiversas
componentes: “aqualidade dagestão,aautonomiadagestãoeaigualdade de armas da gestão”. Agestoradefendequesejammaximizadas
as competências dos profissionais
de saúde – o que significa que possamfazermaiscoisasdoquefazem
actualmente.
E dizser“incontornávelque os
prestadores públicos e privados
QUINTA-FEIRA
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9 JUN 2016
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ECONOMIA
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V Edição do Prémio Saúde Sustentável
Uma iniciativa do Negócios em parceria com a Sanofi.
O pioneiro
dos transplantes
que prima
pela discrição
João Rodrigues Pena foi distinguido com o Prémio
Personalidade, que laureia uma carreira dedicada aos
transplantes em Portugal. O prémio foi entregue por
Eduardo Barroso e pelo ministro da Saúde.
À esquerda, o painel que discutiu
os caminhos para a
sustentabilidade da saúde, em que
participaram António Ramos,
Marta Temido, Vasco Luís Melo e
Isabel Beltrão. Em cima, a foto de
grupo com todos os agraciados
com o prémio Saúde Sustentável
nesta quinta edição. Do lado
direito, João Rodrigues Pena (ao
centro) com o ministro da Saúde e
o médico Eduardo Barroso.
convivam, e daactuação de ambos
resulte o melhor sistemade saúde
possível”.Emboradenunciequeas
regras nem sempre são iguais, nomeadamenteaníveldepreçosede
licenciamentos. “Sabemos que há
algunsproteccionismosdeunsede
outros, consoante o que nos interessaestimular.Quandoháumplano de igualdade de tratamento é
que é possível fazer umaavaliação
clara”entrepúblicoeprivado,nota.
Braga poupa 30 milhões
ao Estado
O presidente do hospital de
Braga, uma das quatro parcerias
público-privadashospitalares,defendeuqueosprivadospoupamdinheiro ao Estado. “A ARS do Norte fez um estudo há menos de um
anoondefezocálculodo‘valuefor
money’ do hospital de Braga” e
concluiu que “o Estado poupava
emmédia30 milhões de euros por
ano” comestaPPP, anunciouVasco Luís de Melo.
Mais à frente, Marta Temido
afirmouquequandoseavaliaasustentabilidade, por vezes a “leitura
dos resultados pode não seramais
correcta”.VascoLuísdeMeloacusou o toque e respondeu que, no
caso de Braga, o estudo tinha sido
feito pelaAdministração Regional
de Saúde (ARS) do Norte. Marta
Temido contrapôs: o estudo “foi
feitoporumparceiro,foiencomendado, não foi feito pelacapacidade
interna” daARS.
Com o envelhecimento da população, “não háduvidanenhuma
que os cuidados continuados vão
ter que ter um papel fundamental
noscuidadosdesaúde”,antevêIsabelBeltrão,directoradaAMETIC,
unidadedecuidadoscontinuadospremiada no ano passado. E lança
um desafio: “Não podemos fazer
turismodesaúdeemcuidadoscontinuados?”. I
JoãoRodriguesPenafoiagraciado com o prémio Personalidade
na quinta edição dos prémios
SaúdeSustentável.Omédicocirurgião, de 84 anos, foi um dos
pioneiros dos transplantes em
Portugal, tendo criado a unidadedetransplantaçãonohospital
Curry Cabral, em Lisboa, que
hoje é dirigida pelo médico
EduardoBarroso.Estaterça-feira,recebeuoprémiodasmãosdo
ministro da Saúde, Adalberto
Campos Fernandes, que lhe dedicou palavras elogiosas.
“O senhoré umdos construtores do Serviço Nacional de
Saúde e não teremos nunca palavras para reconhecer aquilo
que fez com inteligência, sabedoria, reserva. E por ter sabido
darcontinuidade aumprojecto
que afirma a grande qualidade
do SNS”, testemunhouo ministro.
Já antes do discurso do ministro,omédicoEduardoBarroso, que dirige a unidade criada
por João Rodrigues Pena, lembrouotrabalhodopremiado.“O
doutor João, como eraconhecido,conseguiudeixar[aopaís]um
dos maiores centros de cirurgia
do fígado, pâncreas e vias biliares malignas. Começámos com
muitas dificuldades”, lembra.
Adadaaltura, Barroso “quis
parar, muitos quiseram, e o senhordisse:‘amanhã,seaparecer
um dador, vamos continuar’”.
Continuaram e hoje, a unidade
do Curry Cabral aproxima-se
“dos 2.500 transplantes”.
João Rodrigues Penaé “modesto, talvez demasiado”, segundoEduardoBarroso,e“éaantítesedoprotagonismo,dapessoaque
se impõe”. Uma pessoa discreta
que fez o que tinhade fazer para
que Lisboase tornasse umareferêncianatransplantação anível
mundial.
Quando recebeu o prémio, o
“doutorJoão”nãoperdeuamodéstiaqueocaracteriza.“Soucirurgião. Se algum mérito me
cabe é ter conseguido reunir as
condiçõeseaspessoasparacriar
programassustentadosdetransplante de órgãos em Portugal,
cujos resultados não desmerecem dos países mais avançados
do mundo”. I BRUNO SIMÕES
“
Se algum mérito me
cabe é ter conseguido
reunir as condições
e as pessoas para criar
programas (...) de
transplante de órgãos
em Portugal, cujos
resultados não
desmerecem dos
países mais avançados
do mundo.
JOÃO RODRIGUES PENA
Prémio Personalidade e
pioneiro dos transplantes