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Amigo Ouvinte
Ano XI • Nº 35 • NOVEMBRO DE 2003
I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C
Rádio MEC tem novo diretor
Professor e geógrafo, com mestrado em Relações
Internacionais, e formado em Economia e Administração, Orlando José Ferreira Guilhon é, desde 27
de outubro, o novo diretor da Rádio MEC – fato
duplamente auspicioso porque, em primeiro lugar,
significa a volta do tradicional cargo de direção ao
organograma da Emissora e, também, porque tal
currículo acena com a esperança de que nossa octogenária emissora volte a ter, na direção, alguém
potencialmente a altura do desafio que é reerguê-la.
Membro fundador do PT, Orlando Guilhon exerceu
atividade sindical por muitos anos, tendo sido
presidente do Sinrad-RJ por dois mandatos, de 1989 a
1995. Velho conhecido da Emissora, ele atuou como
dirigente sindical, ao lado dos trabalhadores da Rádio
e da TVE, na luta por melhores salários e condições
de trabalho. Participou, também, do histórico I
Encontro de Funcionários da Rádio MEC, e conhece,
assim, os principais problemas da Casa – que
continuam praticamente os mesmos.
Além do magistério, que exerceu em colégios
como o São Vicente de Paulo e o Andrews, Guilhon
trabalhou no Mobral, na Funarte, na Tribuna da Imprensa e na TV Globo. Foi também Coordenador do
Comitê pela Democratização da Comunicação e um dos coordenadores do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, tendo ajudado a elaborar e a negociar, junto ao Congresso Nacional, vários
projetos de Lei, como os que regulamentam o Conselho de Comunicação Social, a TV a Cabo, e a
Radiodifusão Comunitária. Os Amigos Ouvintes desejam-lhe uma gestão feliz e produtiva.
Foto Thiago Regotto
ÁGUA da educação não se mistura com o óleo do
proselitismo. O professor Edgard Roquette-Pinto
– primeiro entre nós a perceber o potencial educativo
do rádio – sabia disso muito bem. Sabia que a catequese, a evangelização, a publicidade,a propaganda
político-partidária e todos os outros proselitismos são
filhos bastardos da retórica – esse ramo caído da
árvore da filosofia. E ele também sabia que a voz
educativa não se mistura com a voz doutrinária. Por
isso, quando doou a Rádio Sociedade ao Governo, em
1936, fêz questão de sacramentar a doação ao
Ministério da Educação, e não ao antigo Departamento de Imprensa e Propaganda – que também
queria ficar com o canal.
Tal compromisso, assumido através de ato jurídico
perfeito, foi honrado até 1995, quando, no governo de
Fernando Henrique Cardoso, decidiu-se retirar a
Rádio MEC daquele Ministério e colocá-la sob a
tutela da Secretaria de Comunicação da Presidência da
República, consumando, assim, o que o professor
Roquette-Pinto tanto quis evitar.
É provável que, por conta desta operação
administrativa, a SECON – atual responsável pela
Radiobrás e por toda a publicidade governamental –
tenha se tornado a única agência de comunicação
oficial, em todo o planeta, a possuir em seu âmbito
duas emissoras educativas.
Talvez por não ser do ramo, isto é, por não possuir
experiência alguma nesse tipo de radiodifusão, a
Secretaria de Comunicação resolveu terceirizar a
administração da Rádio MEC (e também da TVE,
pois, desde os governos militares, as duas emissoras
subsistem numa espécie de xifopagia administrativa,
na qual, diga-se, a rádio sempre levou a pior). Para
efetivar essa terceirização, a SECON precisou
extinguir a Fundação Roquette-Pinto, que até então
administrava as duas emissoras, entregando-as, em
1998, à ACERP–Associação de Comunicação
Educativa Roquette-Pinto – uma associação que, por
sua vez, também não possuía experiência no ramo
educativo (nem em qualquer outro, pois foi criada
precipuamente para esse fim).
Tudo isso, feitas as contas, só agravou o estado em
que se encontravam as duas emissoras. A Rádio MEC,
no entanto, ficou duplamente prejudicada, porque,
além de tudo, continuou sendo vítima de um
injustificável preconceito tecnológico que dura até
hoje, e se reflete na atenção prioritária que sempre foi
dada à TVE pela antiga FUNTEVÊ, depois pela FRP
e, nos últimos anos, pela ACERP.
Tal preconceito, que nasceu com o advento da
televisão, embora injustificável – basta pensar nos
ouvintes potenciais que são os 8 milhões de brasileiros
com deficiência visual –, transformou o rádio no
despossuído da mídia eletrônica. Ora, nenhum veículo
de comunicação reflete melhor a preocupação social de
um governo do que o radiofônico, e é bem provável
que o descaso para com o rádio seja exatamente
proporcional ao descaso para com a imensa camada de
brasileiros despossuídos.
Com a chegada do partido dos excluídos ao poder, o
que os Amigos Ouvintes esperam é que esta situação
de exclusão em que vive a radiofonia tupiniquim,
especialmente a educativa-cultural, seja finalmente
corrigida.
Seria auspicioso e extremamente simbólico que, no
ano em que se comemora o 80º aniversário da
radiodifusão brasileira, a Rádio MEC recebesse
a devida atenção dos seus reponsáveis diretos,
para que ela possa voltar a fazer, efetivamente,
parte da expressão cultural da cidade e do país.
A
IMPRESSO
Editorial
Também neste número
Alto-falante
Cartas
Ouvinte Permanente
A OS merece SOS?
BBC x Gov. Inglês
2
2
3
4
5
Ganhamos e não levamos? 5
A Rádio do meu tempo,
entrevista com Paulo Santos
80 Anos
O parceiro de Roquette
6
8
10
Prata da Casa,
11
15
Coluna do Conselheiro 15
Programações
16
entrevista com Lauro Gomes
Ruídos da Sintonia Pública
Desenhado por Pedro Franco, o plástico comemorativo, acima, está sendo distribuído aos sócios junto
com o jornal. Os demais interessados devem dirigir-se à SOARMEC.
Alto-Falante
O BOA-PRAÇA e
super-competente
Paulo Neto, que
estava na Rádio
desde 1988 e era o
“coringa” da MEC
FM, transferiu-se
para a Receita
Federal. Pois é...
A ACERP realizou em junho, no CCBB,um
seminário sobre a TV Pública, com a participação de especialistas da Inglaterra, dos
EUA e da Alemanha.. Fica faltando fazer
um outro sobre radiofonia pública, não é?
PESQUISA realizada na Rádio MEC e na
TVE, indica que os funcionarios estão desmotivados e que a maioria deles deseja
modificar o modelo de Organização Social.
ADRIANA RIBEIRO, formada em comunicação pela UFRJ, e THIAGO PEREIRA
REGOTTO, concluindo o curso de comunicação da FACHA, são os novos produtores
executivos da SOARMEC.
A ALER – Associação Latino Americana de
Educação Radiofônica e a AMARC – Associação Mundial de Rádios Comunitárias
mapearam as principais estações dedicadas
à cidadania e à cultura regional. São citadas, no Brasil, as rádios Pioneira, de Terezina, e Favela, de Belo Horizonte. Também
a Rádio Bomba, México; as Escolas Radiofônicas, Equador; e a La Tribu, Argentina.
A TV GLOBO fêz acordo com 300 comunitárias para levar ao ar o áudio de “Zorra
Total”, “Xuxa” e outros programas. Ora, o
objetivo das comunitárias não é, justamente,
focalizar assuntos e manifestações artísticas
locais?
NESTE NÚMERO não estamos anunciando
os discos da SOARMEC e da Rádio MEC.
O selo da Rádio coroou uma série de 8 CDs
com o belo disco do pianista João Carlos
Assis Brasil tocando Villa0Lobos.
17 ENTIDADES ligadas à música organizaram o Fórum da Música do Rio de Janeiro, que se reúne toda quinta-feira, para estudar, debater e propor soluções para os problemas da área. Informações: 2532-1219.
[email protected]
APÓS A TV Justiça – no ar desde agosto –
o Supremo Tribunal anuncia o lançamento
da Rádio Justiça, em dezembro, com transmissão de sessões e debates sobre os julgamentos mais importantes, e notícias dos Tribunais dos estados.
A UNESCO e a OCDE confirmaram que a
escola brasileira não sabe ensinar a ler.
Ficamos em 37º lugar num grupo de 41
países, à frente apenas da Macedônia,
Albânia, Indonésia e Peru.
INAUGURADA finalmente, no dia 9 de setembro, a sede própria da Academia Brasileira de Música, na Rua da Lapa, 120, 12º
andar.
O PROJETO de lei de Jandira
Feghali que obriga TVs a
veicular programas regionais,
exige também que as rádios
transmitam uma quota de
músicas
e
noticiários
nacionais. Aprovado na Câmara Federal o texto segue para o
Senado. A ABERT é contra a
quota obrigatória.
A REGIONALIZAÇÃO da
programação das Radios Educativas apoia-se em pesquisa
realizada pelo Instituto Televox,
cujo resultado revelou que 80% dos ouvintes
do Mato Grosso do Sul aceitariam uma rádio
com programação regional.
ESTUDO PUBLICADO no Journal of Personalilty and Social Psychology, mostra que
letras violentas, independentemente do estilo
musical, estimulam pensamentos e atitudes
hostis. Tal pesquisa comprova o que se sabe
há séculos, pois para que servem os hinos e
cânticos guerreiros ?
Cartas
Ao Senhor Luiz Carlos Saroldi, Diretor-Presidente
da Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC
Prezado Senhor,
Incumbiu-me o Presidente Luiz Inácio da Silva de
confirmar o recebimento de sua carta de 06/11/2002 e de
informar do encaminhamento aos setores competentes
para análise e providências cabíveis. O presidente pedelhe ainda para continuar participando cada vez mais da
construção do país com que todos sonhamos.
Atenciosamente,
Claudio Soares Rocha
Diretor da Diretoria de Documentação Histórica
"(...) a Rádio MEC-AM tem-nos sido de difícil
sintonia. A interferência de outras emissoras é
constante, o que atrapalha, desagrada e aborrece ouvintes como nós. A MEC-FM vez por outra incorre no
fenômeno."
Gary Bom-Ali, Flamengo
2
NA MISSA de ano de nosso colaborador
Fábio Pimentel, a quem a SoarMEC tanto
deve, a família distribuiu esta curiosa imagem de Cristo, que pedimos licença para
publicar, bem como a Oração que há no
verso e diz: “Bendito
sejais, Mestre comunicador, fonte de toda a
ciência, porque iluminastes
a inteligIencia dos homens
para descobrirem novas
técnicas de comunicação para
a veiculação mais veloz da cultura, da ciência e do progresso em
geral. Jesus, abri o nosso coração e
dai-nos inteligência para sabermos
usar esse meios para o bem e o
progresso da humanidade.” Amém.
A AERT – Associação de Emissoras
de Rádio e Televisão está inaugurando, em
breve, na Rua da Constituição, 72, Centro, o
primeiro museu do rádio da cidade.
COM O OBJETIVO de discutir a programação e fazer com que o ouvinte seja valorizado, está sendo criada, em Fortaleza, a Associação dos Ouvintes de Rádio do Brasil.
Contatos com Francisco Djacyr (85)2936748.
Ami go Ouvinte
é uma publicação da SOARMEC
Sociedade dos Amigos Ouvintes
da Rádio MEC.
www.soarmec.com.br/amigoouvinte
[email protected]
De Utilidade Pública Municipal
(Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048)
CGC 40405847/0001-70
Praça da República l4l-A Sala 201
CEP 20211-350
Tel: 2221-7447 R: 2207 e 2210
[email protected]
EDITOR-RESPONSÁVEL: Renato Rocha
JORNALISTA-RESPONSÁVEL:
Francisco Teixeira
PRESIDENTE DE HONRA:
Beatriz Roquette-Pinto
DIRETORIA:
PRESIDENTE: Luis Carlos Saroldi
VICE-PRESIDENTE: Regina Salles
TESOUREIRA: Leonete Marback
ATIVID. CULTURAIS: Francisco Teixeira
COMUNICAÇÃO: José Renato Monteiro
PATRIMÔNIO: Reinaldo Ramalho
SECRETÁRIO: Renato Rocha
CONSELHO FISCAL: Sérgio Cabral,
Norma Tapajós e Otto A. de Castro
COLABORADORES:
SECRETÁRIA: Renata Mello
PRODUÇÃO: Adriana Ribeiro
Thiago Regotto
COORDENADOR DE VENDAS: Paulo Garcia
CONSULTOR JURÍDICO: Letácio Jansen
CONTADOR: Manoel Mescouto
DIAGRAMAÇÃO: Adriana Ribeiro
COORDENAÇÃO GRÁFICA: J. C. Mello
ENTRE PARA
A SOARMEC
Receba este Jornal, esteja em nossos eventos,
conheça melhor a sua Rádio, freqüente nossa
Biblioteca, mantenha-se informado a respeito
do Rádio Educativo-cultural
Tel. 2221.7447 R-2207 e 2210
"(...)No rádio, a maior amplitude de onda é AM vai até a Ionosfera e...volta (com perdas, é claro). Na
MEC-AM parece que só as perdas retornam... Estamos
no bairro do Flamengo que, ao que parece, não é "zona
de sombra" – amigos da Barra e de Jacarépaguá se
desgrenham para conseguir uma bela sintonia das duas
rádios, e... nem sempre... Atualmente, a MEC-AM só
ganha em qualidade da sofrível e valente Rádio
Nacional. Já que "soltamos o verbo", que tal o
governo soltar a verba para o esforço que precisa ser
feito para que o som da MECs seja compatível com
suas programações: sempre no sentido de agradar o
ouvinte, dando-lhe o maior prazer audível possível.
Será isso impossível?"
Leda Machado, Flamengo
Resposta: A Radiobrás recebeu verba para reformar a
antena da Rádio Nacional, em Itaóca – na qual a MECAM pega "carona" - e os transmissores das duas
estações, o que significa que a transmissão de ambas deve
melhorar bastante. Vamos aguardar. Quanto à MEC-FM,
tanto a antena quanto o transmissor estão em bom estado.
O que costuma interferir na transmissão são as rádios
piratas situadas perto do ouvinte.
Gostaria de saber por que não tenho mais
recebido o jornal da SOARMEC. O último que recebi
foi em março e o ONDAS CURTAS, que iria
informar aos sócios detalhes sobre os novos
lançamentos de cds e outros, também não foi
enviado.O repertório da rádio MEC está parado?
Estou sentindo a falta de informações.
Aguardo notícias.
Sylvia Ribeiro Coutinho- por e-mail.
Resposta: A Amiga Ouvinte tem toda razão em cobrar
notícias e realizações. Gostaríamos de manter nossos
sócios bem mais informados do que estamos
conseguindo. As despesas com gráficas e correios não
param de subir, e nossa mensalidade, de 6 reais,
continua a mesma, entra ano e sai ano. Mesmo assim,
quase metade de nossos associados estão inadimplentes.
Estamos investindo em nosso site, mas muitos de nossos
associados não usam esse veículo. Assim, resta-nos um
jornal que sai como pode, como agora. Quanto ao
Ondas Curtas, decidimos suspendê-lo, por falta de
recursos, não de notícias. Pode não parecer, mas
estamos fazendo o possível. Continue conosco.
Novidades no site
da SoarMEC
O Ouvinte Permanente
Oasis? Não, obrigado
por Carlos Acselrad
Desculpem nossa falha
3K=IA invariavelmente, o pessoal que
tem acesso à palavra em programas da
emissora (geralmente músicos, artistas em
geral, jornalistas e profissionais liberais)
referem-se a ela como "a nossa rádio
MEC", que é "um oásis". Único lugar em
que se pode ouvir "coisa boa". Estão certos: a rádio é nossa, não apenas para significar atitude afetuosa para com um velho amigo – é nossa pois é pública, sustentada pelos impostos que pagamos (embora
os descaminhos burocráticos). Estão certos: é um oásis, embora meio inglório –
é fácil ser oásis quando o deserto é essa
alegre alternância de evangélicos, pseudosertanejos e música de elevador. Ainda
assim, a responsabilidade de ser oásis é
grande. Como explicar, portanto, certas
peculiaridades que ocorrem exclusivamente aqui ? Em nenhuma das pequenas
estações que se acotovelam em nosso dial
veremos interrompida alguma obra-prima
do “Só Pra Contrariar” ou de “Hermano
&Hermógenes” por defeito técnico no CD
ou no equipamento. Já aqui, acontecem as
mais inesperadas alquimias: o barroco se
transmuta em dodecafônico, ou então é o
mais romântico Schubert que é subitamente acometido por uma tosse seca que
desemboca numa espécie de mal de
Alzheimer – compassos se repetem desordenadamente, a convulsão é iminente ...
Paciência, amigo ouvinte; após alguns
segundos (ou pouco mais), a emissão será
interrompida de vez, seguida daquele
"acabamos de ouvir" e vamos em frente.
Há similares: anunciou-se uma rara gravação do Quarteto Oficial da Escola de
Música tocando um dos quartetos de
Mozart, um monumento do classicismo,
dividido em 4 movimentos. Os adoradores põem-se de pé degustando o que virá
enquanto pensam em conjunto com todos
por Thiago Regotto - webmaster
os outros da mesma legião – “Eis a nossa
rádio! Vale a pena esperar!” O entusiasmo, porém, dura pouco: terminados apenas o primeiro e segundo movimentos,
entra o tal "acabamos de ouvir" e vamos
em frente. Ora, direis, não chateia!
Melhor metade de um quarteto do que
nada. Esta é a filosofia do oásis: desculpemo-nos com Schubert e Mozart, rabo
entre as pernas e agradeçamos a Allah.
Ah, como era bão
Mesmo se vivo fosse, Alfredo Souto de
Almeida não faria mais seu "Bastidores" –
cujo título se bastava : um programa sobre
teatro. Salvo se desse espaço a pedras
angulares da nova dramaturgia nacional
como, digamos, "Por falta de roupa nova
passei o ferro na velha". Era a crítica que
tinha amplo espaço na rádio. E não só a
teatral: havia Shatovski ("Falando de
cinema"); Ayres de Andrade, sobre música; e Pascoal Longo ("Clube da Critica"),
onde se promovia o debate da atualidade
cultural do país. O calibre da literatura
falada era mantido por coisas como Paulo
Autran lendo Drummond, Cecília, Bandeira... Qualquer programa de Maurício
Quadrio – o "Bazar", por exemplo – era
densamemte temático, com grande carga
de informação no texto e uma incrível
riqueza de ilustração fonográfica. A
ausência da crítica na rádio MEC, hoje,
lembra o episódio do apagão e suas
consequentes ruas escuras e lâmpadas
econômicas: foi-se a pouca energia mas
as iluminações nunca voltaram a ser as
mesmas. Foi-se a censura dos anos de
chumbo mas o que restou foi a acomodação com a penúria artística, a conformação com a indigência cultural. Impossível
não comparar aqueles títulos citados com
o que nos é dado consumir hoje – "Escalas", "Harmonia", "Impressões sonoras",
culminando com o malandríssimo "Seis
séculos de música" e o admirável "Manhã
MEC-FM", mais genérico que remédio de
Apoio Cultural
página da SOARMEC na internet
(www.soarmec.com.br) está, finalmente, sendo revitalizada. Após mudanças
em sua forma – agora mais leve e mais
prática – e atualização de seu conteúdo,
estaremos incluindo fotos e vídeos das
dependências da Rádio MEC, consultas
online do acervo da Biblioteca, alguns
trechos de faixas dos CDs da SOARMEC
Discos, uma central de notícias atualizada
periodicamente e muitas outras novidades
que serão implementadas gradualmente.
Além de informações sobre o passado e
o presente da Rádio MEC, o novo site
será um ponto de referência para todos
aqueles que têm interesse pelo Rádio,
principalmente o Educativo-Cultural.
Faça uma visita e confira.
A
farmácia de manipulação. Leia-se "vale
tudo", ou melhor, "som na caixa e olhe
lá": afinal, estamos num oásis musical...
quer mais?
Muitos anos de vida
Assim como o Natal, os aniversários dão
ensejo a perdões, reconciliações e complacências. Outro fora o caráter deste
espaço, também aqui seria hora de indulto: estão se completando os oitenta anos
desde a fundação da Rádio Sociedade do
Rio de Janeiro, precursora da Rádio MEC.
A prevalecer a filosofia do oásis – o já
acima comentado "regozijemo-nos: podia
ser pior" – caberia aqui o elogio, a tolerância e o estímulo. Seria hora de mencionar o bom nível dos textos do "Rádioescuta" e do "Sarau", a competência da
locução na sua maioria (especialmente a
feminina) e o sincero entusiasmo que
transpira do "Roda de choro" , do "Sala de
música" e do "Momento de jazz" (embora
reparos agora inoportunos). Pois bem:
sopradas as velas, então como é que é, é
big, é big, é hora... É hora de esclarecer
aos complacentes e conformados, aos
satisfeitos com o oásis, que estamos galopando de volta rumo a oitenta anos atrás.
É hora de exigir competência na produção, investimento na técnica e cuidado
com nossos ouvidos. Parabéns merecemos nós que ainda não desistimos.
Reprodução da primeira página do novo site da SOARMEC.
ROSINHA
H
á 10 anos Rosinha de
Valença, uma das
melhores violonistas populares que já tivemos, sofreu
duas paradas cardíacas. Ela
sobreviveu, mas não pode
falar, andar, ou fazer qualquer movimento coordenado. Nesses últimos anos ela
vem sendo tratada por sua irmã , Maria das Graças
(Gracinha). Este ano um fato agravou ainda mais as
condições de tratamento de Rosinha: a UNIMED teria
cancelado seu plano de saúde. Por isso, mais do que
nunca Rosinha e sua irmã precisam de ajuda. Quem
quiser ajudar pode entrar em contato pelo telefone
(0xx24) 24526309. Qualquer ajuda é bem vinda!
Reflexão, e informação sobre a música
A Revista da Academia Brasileira de Música
Faça sua assinatura anual (R$20,00)
Telefax (21) 2205 3879 • www.abmusica.org.br • [email protected]
3
A OS merece SOS?
“Só a democracia participativa pode Quem tem um dicionário, aí?
salvar a democracia representativa”
A expressão ‘sociedade civil’ é muito
Boaventura S.Santos
CONSCIÊNCIA cada vez maior
da noção de cidadania responsável
é um acontecimento recente, no
mundo. Entre nós, ainda o é mais, pois
coincide com o processo de redemocratização do país, e começa, oficialmente,
com a entrada em vigor da Constituição de
1988 – que completou 15 anos no dia 5 de
outubro. Ao instituir o regime de
democracia participativa, e reconhecer a
importância da sociedade civil como setor
decisivo para o funcionamento da nação, a
Carta de 1988 deu início a um processo
inédito no país.
No entanto, apesar de regulamentada pela
Constituição, ainda não foram tomadas
providências oficiais de peso para facilitar
a participação da sociedade civil nos
diversos setores públicos. Mesmo assim,
cada vez mais brasileiros estão fundando e
participando de ONGs, de associações de
moradores, ou de amigos, ou de pais e
mestres, e tantos outros movimentos da
chamada “sociedade civil” – a última
pesquisa aponta 2500 entidades cadastradas, em todo o país.
Não existe pesquisa correspondente no
Brasil, mas, na Europa, os movimentos
sociais organizados (ONGs, associações,
etc) são considerados duas vezes mais
confiáveis do que os governos dos países a
que pertencem. Isso explica porque muitas
ONGs e associações passaram a receber
recursos de instituições estrangeiras, que,
antes, eram destinados aos órgãos governamentais. A perda desses recursos foi a
gota d’água para os governantes – que já
não viam com bons olhos a capacidade das
ONGs de sensibilizar a opinião pública. A
reação inicial foi a de cooptá-las ou, quando
não o conseguiam, combatê-las, através da
mídia paga. Mas, de uns tempos para cá,
surgiu um novo método de resistência, que
consiste na incorporação das bandeiras, do
vocabulário, e até do modus operandi que
pareciam pertencer, unicamente, aos movimentos sociais organizados. E esse parece
ser o caso das chamadas OSs, ou “Organizações Sociais”. Para tentar entender melhor a coisa, precisamos entender melhor o
que significa a expressão “sociedade civil”.
A
imprecisa – não está no Huaiss, nem no
Aurélio. Em princípio, quer significar o
conjunto dos representantes da cidadania
que se reunem para defender interêsses
humanitários, muitas vezes apoiando os
governos, mas nunca fazendo parte dele.
Nos últimos anos, no entanto, a
expressão “sociedade civil” passou por
uma verdadeira terraplanagem semântica, para permitir o advento da chamada
Organização Social – um híbrido criado
pelo neoliberalismo e que parece ter
vindo para confundir e enfraquecer tanto
o Estado quanto a Sociedade Civil. A
primeira OS, como sabemos, foi criada
para gerir a TVE e a Rádio MEC. Mas,
antes de falarmos dela, pedimos licença,
para transcrever as palavras.do filósofo
Paulo Arantes.
O auxílio luxuoso do filósofo
“A fórmula mágica ‘organização social’
designa um curioso espécime de zoologia fantástica gerencial, algo como
uma ONG clonada nas incubadeiras do
Estado (…) Segundo a nomenclatura oficial, “organizações sociais” resultam da
transformação dos serviços públicos em
entidades públicas de direito privado que
celebram com o Estado um contrato de
gestão, cujas atividades são controladas
de forma mista pelo Estado (financiamento parcial pelo orçamento público,
poder de veto e cooptação nos Conselhos
de Administração) e pelo Mercado (cobrança de serviços prestados pela mão invisível da concorréncia entre as entidades). A essa metamorfose, e correspondente simbiose entre poder e dinheiro,
deu-se o nome de ‘publicização’(…)
O ativista social de uma ONG realmente
afinada com suas origens históricas sabe,
por experiência própria, que, no outro
campo, a coalizão dos dominantes globais, quando não busca descaradamente a
cooptação pura e simples, se encarniça
na destruição sistemática de todo e qualquer coletivo que se organize na defesa
de direitos ou na promoção da ‘cidadania
ativa’, na desqualificação e desautorização de “espaços públicos” efetivos de
representação e negociação.(…) Portanto, ‘sociedade civil’ desmantelada em
seu próprio nome…”
O exemplo mais próximo
O exemplo mais próximo é o da
ACERP–Associação de Comunicação
Educativa Roquette-Pinto, a “organização social” que administra a Rádio
MEC (e também a TVE), desde 1998.
Entronizada como novidade administrativa que substituiria a Fundação
Roquette-Pinto, ela, até agora, não conseguiu estar a altura da modernidade
que pretende representar. Imposta
autoritariamente pelo governo anterior,
cronicamente chapa-branca e protagonista de um dos mais graves episódios
censóreos dos últimos anos, a ACERP
é uma prova de que o poder oficial
ainda acredita pouco nas intenções do
associativismo, e ainda tem pouco
respeito pelo trabalho voluntário.
A herança
O novo governo está herdando, assim,
uma Associação que, há mai s de 4 anos,
não cumpre as metas para que foi criada;
uma Associação que não tem um único
sócio cadastrado; que se diz de comunicação mas nunca foi transparente; que
se diz educativa mas acabou por acabar
com o setor educativo da Rádio MEC;
que ostenta o nome de Roquette-Pinto,
mas não se pautou pelo ideário do mestre; e cujo Conselho Administrativo,
além de estar longe de representar a
Sociedade Civil (não há representantes
de pais ou de universidades, por exemplo), não é independente (e a independência de poderes é condição sine qua
nom para a democracia, estamos lembrados?). Já que a nova direção “vem trabalhando intensamente para assegurar a
maior credibilidade da ACERP” –
conforme diz Yacira Peixoto (ver Coluna
do Conselheiro), não seria hora – no
momento em que se esgota o 2º contrato
de gestão da citada Associação –, de
fazermos um balanço transparente do
resultado desses 5 anos da primeira OS
do país? Os funcionários, confome
pesquisa do SINRAD, já deram sua
opinião (ver Alto-falante).
Renato Rocha
Nota: Os trechos transcritos pertencem ao ensaio
de Paulo Eduardo Arantes, Esquerda e direita no
espelho das ONGS. Os interessados no texto
integral podem solicitar cópia à SOARMEC.
Nota de
desaparecimento
SOCIEDADE
dos Amigos
Ouvintes da
Rádio MEC cumpre
o doloroso dever
de comunicar a
seus sócios, colaboradores e demais interessados
na conservação do precioso acervo
gravado da emissora, o desaparecimento,
em 27 de maio, passado, de um aparelho
CEDAR NS-1000, nº de fábrica DNF-102233, importado, por U$ 7.125 (sete
mil, cento e vinte e cinco dólares),
diretamente dos EUA. O infortunado
aparelho era a espinha dorsal do
equipamento SONIC SOLUTIONS, de
úlltima
geração,
adquirido
pela
SOARMEC com recursos oriundos do
Senado Federal e repassados pelo MinC.
Sem ele, o estúdio não pode funcionar. O
larápio que subtraiu o aparelho, perpetrou, além do crime de furto, um verdadeiro atentado cultural, pois, como se
sabe, o estúdio está destinado, prioritariamente, ao benefício e remasterização
das preciosas fitas do Acervo da Emissora. O furto foi comunicado, imediatamente, à Polícia Federal e à ACERP. A
primeira, nada fez atè agora, e a segunda,
criou uma comissão de investigação, mas,
embora ainda não exista um comunicado
oficial a respeito, sabe-se que nada se
conseguiu de concreto. A lenta burocracia da implantação e inauguração
desse estúdio – que se arrasta há quase 2
anos – é um exemplo perfeito de como
opera a tal ‘máquina de não-fazer’ a que
se refere o teórico Dromi. Outro tivesse
sido o ritmo, e já teríamos treinado vários
técnicos nos segredos do Sonic Solutions,
beneficiando dezenas de fitas do acervo
da Emissora.
A SOARMEC saberá superar mais este
revés – que nem sequer foi a maior perda
material nem o maior crime de lesa-cultura que sofremos. Se conseguirmos os
recursos, poderemos adquirir um novo
CEDAR NS-1000, mas onde há, para
vender, a gravação original do último
concerto público de Carolina Cardoso de
Menezes, em companhia de 9 outros de
nossos melhores pianistas, realizado na
Sala Cecília Meireles, em junho de 2000,
e que desapareceu inexplicavelmente?
A
“Nós sabemos, por experiência própria, o que a educação pode significar. Durante nossas
vidas, vimos uma geração de crianças que foram armadas com educação erguerem uma
nação. E a educação foi a fundação que nos permitiu participar de eventos históricos em
nossos países: a libertação do povo do colonialismo e do apartheid.”
Nelson Mandela e Graça Machel
4
Ganhamos, mas não levamos ?
OMO NOTICIADO, a SOARMEC foi
distinguida, em 2002, com o Prêmio
Estácio de Sá,, mas até agora o Governo
do Estado ainda não deu sinal de que
pretende efetivar a entrega das premiações
aos contemplados com o Estácio de Sá e
Golfinho de Ouro – os dois mais
tradicionais prémios culturais do Estado.
E tudo indica que, este ano, não haverá
novas premiações, pois o mandato dos
conselheiros expirou e ainda não foram
indicados os novos membros. Por parte do
governo, o silêncio em torno do assunto é
absoluto, mas a grande imprensa já
começa a levantar a voz, como mostram os
artigos abaixo.
C
Panorama Político
Teresa Cruvinel
Há mais de 20 anos, o Conselho
Estadual de Cultura do rio indica à
Secretaria de Cultura os vencedores do
Prêmio Golfinho de Ouro em diversas
áreas (literatura, música, cinema, etc.). O
prêmio geralmente é outorgado em
dezembro e pago em março. O do ano
passado concedido no governo Benedita,
ainda não foi pago pelo governo Rosinha.
A secretária Helena Severo alega falta de
empenho.
(O Globo 19/08)
CRUZ
O triste fim da
cultura estadual
Artur Xexéu
O rompimento de um cabo de aço que
fez com que cedesse parte do palco do
Teatro Municipal, na manhã de quartafeira, derrubando o coro que ensaiava e
ferindo três cantoras, não foi só um
acidente. Foi um símbolo (...) porque
revela que todo o equipamento cultural
X
ACUSAÇÃO, feita pela BBC, de que Tony
Blair teria “tornado mais sexy” um dossiê
sobre armas de destruição em massa para justificar
a guerra contra o Iraque, somada à trágica morte do
cientista David Kelly, assessor governamental, além
de abalarem seriamente a credibilidade do premiê,
afetaram a própria imagem da rede de rádio e TV
estatal. Segundo pesquisa, 35% dos ingleses
disseram que sua opinião em relação à BBC piorou,
e 55% disseram que não mudou. A história tem
mostrado que, invariavelmente, sempre que
qualquer governo do Reino Unido começa a querer
intimidar a rede pública de rádio e TV, acaba
perdendo popularidade. No entanto, dessa vez, a
coisa parece ser mais grave. Executivos da BBC
estão empenhados em impedir que este episódio
resulte em uma campanha para reformar a emissora,
o que poderia abalar ainda mais a sua reputação e
limitar sua lendária independência.
A
do estado está fatigado. É até bobagem
falar disso quando se sabe que a
governadora Rosângela Matheus
comanda uma política de educação que
precisa contratar dez mil professores,
mas só contrata mil, comanda uma
política de meio ambiente que trabalha
pelo corte de verbas, comanda uma
política de saúde que promove filas
fajutas para transplantes e não
consegue manter hospitais que atendam
com decência à população. Num
quadro destes, reclamar da política
cultural é até perverso. Mas eu
BB BLAIR
A estrutura da BBC
Canais e funcionários
São 26 mil profissionais, distribuídos em 8 canais
de rádio e 8 de TV. Todos os canais são gratuitos e
sem propaganda. As veiculações em rádio e
internet abrangem 43 línguas.
Orçamento anual
A receita global da rede é de 2,66 bilhões de libras
- valor equivalente a R$12,5 bilhões (é isso tudo
mesmo, não há erro de digitação)
Fontes de renda
A taxa paga por quem tem televisão a cores – 116
libras por ano – representa 2,5 bilhões de libras. Os
restantes 100 milhões de libras vêm das atividades
comerciais, incluindo TV por assinatura (como a
BBC World), TVs especializadas (tem até TV
food) e serviços online.
reclamo. (...) Em julho, a Secretaria
anunciou, com pompa e circunstância, o
início do projeto Encontros com o
Cinema, que levaria, uma vez por mês,
filmes brasileiros a cidades do interior e
promoveria encontros entre cineastas e
a platéia. A tal abertura se deu no dia 19
de julho com "Deus é brasileiro" em
Volta Redonda. A segunda sessão seria
"Desmundo", em Barra Mansa, no dia
23 de agosto. Não aconteceu por falta
de verba.
Se o estado não tem verba para passar
filmes ao ar livre em cidades do interior,
é difícil acreditar que ele pagará os
premiados com o Golfinho de Ouro e o
Estácio de Sá, divulgados no fim do ano
passado. Cada artista premiado com o
Golfinho e cada instituição agraciada
com o Estácio ganhariam R$ 50 mil,
quantia estipulada na gestão do exgovernador Garotinho. Da lista dos que
estão levando calote do governo fazem
parte o artista plástico Rubem Grilo, a
cineasta Tetê Moraes e a cravista
Rosana Lanzelotte.
Como se vê, o rompimento do cabo
de aço do palco do Teatro Municipal
significa muito mais do que a simples
fadiga do equipamento. Ele é o retrato
do desinteresse da governadora
Rosângela Matheus pelas coisas da
cultura do Estado.
(O Globo 23/08)
VOZ FEMININA É MELHOR
SPECIALISTAS que participaram do Congresso Internacional de Ciências Fonéticas,
que reuniu representantes de
cinqüenta e um países, em
Barcelona, concluíram que a voz
feminina tem mais capacidade de
transmissão de sons que a
masculina.
Ao falar, mulher usa freqüências
mais altas que o homem, e isso faz com que sua voz se misture
menos com os ruídos de fundo. Não é por acaso, portanto, que
as vozes das mensagens ouvidas em grandes espaços, como
shoppings, aeroportos e serviços de tele-atendimento, sejam
quase sempre femininas. Durante as sessões de trabalho do
encontro, que começou em 3 de agosto e terminou dia 9,
também foram estudadas as características acústicas dos
distintos grupos sociais e, também, como, através da voz, é
possível identificar a idade de uma pessoa, o sexo e a região em
que vive. Os problemas de fala nos idosos e nas crianças são
outras questões que foram tratadas no Congresso.
E
5
A rádio do meu tempo
Como você entrou para a Rádio MEC?
PS – Bom, a vontade já era muito
grande, desde garoto, porque a Rádio
MEC permitia um tipo de programação
que as outras não tinham: músicas mais
selecionadas, repertório erudito, coisas
assim. Eu tentei e acabei conseguindo,
através do Sr. René Cavé e do Sr.
Fernando Tude de Souza, que eram os
dois diretores da Rádio – um artístico e
outro geral.
Em que ano, isso?
PS – Faz tempo, acho que em 45.
Você foi recebido por eles?
PS – Fui recebido primeiro pelo René,
que era o responsável pela programação
da Rádio; depois ele passou a noticia ao
Tude da minha vontade de trabalhar lá, de
fazer alguma coisa lá: locução, narração,
redação especializada, coisas assim. E eu
comecei assim.
Entrevista realizada na Casa São Luiz, por Renato Rocha e Adriana Ribeiro, em 29/08/03,
para ser lida ao som de um disco de jazz. Sugerimos Duke Ellington, um dos preferidos do
pioneiro da divulgação do jazz no Brasil. Mas, antes, leia a apresentação que Eleazar de
Carvalho escreveu, nos anos 60, para o lendário locutor da Rádio MEC
Paulo Santos por Eleazar de Car valho .
participações ao vivo, de músicos
brasileiros, que eu convidei, e nós
conseguimos chegar aonde queríamos.
“O timbre e a cor de sua voz; sua impecável dicção; seu instinto musical; o
perfeito conhecimento que demonstra possuir das obras que interpreta; tudo isso,
aliado a um apurado bom-gosto e a uma elegante simplicidade, justifica o titulo
que Paulo Santos possui, de ser o NARRADOR BRASILEIRO.
Todas essas qualidades tenho constado durante a execução das obras que
Paulo Santos tem narrado sob a minha regência. Estão em uníssono comigo,
Leonard Bernstein, Igor Markevitch, Hans Swarowsky, Aaron Copland, Arthur
Fiedler e muitos outros com quem Paulo Santos tem colaborado.
Na sua bagagem de interprete figuram gravações de “Pedro e o Lobo”, de
Prokofieff; “Young Person’s Guide To The Orchestra”, de Benjamin Britten; e
“O Carnaval dos Animais”, de Saint-Saens.
Paulo Santos é detentor, duas vezes, do Disco de Ouro, do troféu Obelisco,
do “Prêmio Chagas Freitas”; do “Prêmio Roquette Pinto”; da medalha do
cinqüentenário do Teatro Municipal; do Golden Award, da American Society of
Disc-Jockey.
Com todas essas qualidades e distinções, Paulo Santos não necessita de
apresentação. Este registro representa, apenas, a minha homenagem ao
homem de cultura eclética e a quem muito já deve a comunidade cultural
brasileira”.
Que músicos brasileiros você levou
para o programa?
PS - Quase todos os brasileiros tinham
esse dote, digamos assim, de improvisação. Porque, antes de irem para o jazz,
eles já improvisavam na musica
popular, no samba e coisas assim. Tinha
muita gente, na época, inclusive alguns
que ficaram com o nome marcado como
o Dick Farney, No programa, ele teve a
liberdade de fazer o que ele gostava de
fazer, sem restrição nenhuma – coisa
que ele não tinha conseguido nunca em
outra emissora.
Os discos eram seus ?
PS – Eram sempre meus. Não tinha
música de jazz, naquela época – nenhuma
rádio tinha. O que eles tinham era musica
popular norte-americana, música de
dança, ou qualquer coisa assim, mas não
jazz. O jazz sempre foi uma especialidade
que eu usufrui, desde o inicio até o final
da minha carreira na Rádio.
Foi pedido algum teste, antes?
PS – Não, eu fui direto. Apenas me
apresentei diante ao microfone, pra que
eles ouvissem meu tipo de voz, maneira de
ser. Mas não foi um teste, propriamente.
Você foi sonoplasta da Rádio?
PS – Fui, sim. Naquela época, a Rádio já
fazia programa de rádio-teatro. Então, eu
entrei com efeito de colocação de músicas
ao texto que iria ser representado. Só
música e ruídos especialíssimos.
“Em Tempo de Jazz” começou quando?
PS – Não tenho certeza, acho que em 46.
6
Acervo P. Santos
Você começou fazendo o quê?
PS – Comecei fazendo programas
normais, que já vinham prontos, pra
gente botar no ar. Alguns tinham textos,
eu lia o texto; outros não tinham nada,
tinha só o nome da música e o intérprete,
mais nada.
Qual o 1º programa que você produziu?
PS - Olha é um pouco difícil dizer, mas o
que ficou mais marcado foi o programa de
jazz – Em Tempo de Jazz – que queriam
que eu chamasse de Jazzmania, mas eu
não quis. E foi crescendo, crescendo, até
que eu recebi convites de outras rádios
para fazer aquele programa, tirar dali e
passar pra lá. Mas eu não concordei,
porque eu comecei na Rádio MEC, então
tinha que ficar ali.
Foto Adriana Ribeiro
Acervo Rádio MEC
Paulo Santos
1º Aniversário do Em Tempo de Jazz. Esquerda para a direita, sentados: Altamir Ferreira, José
Vasconcelos e Waldir (Os Cariocas). Em pé: (?), o ator Milton Carneiro, Mario Brasini(ator, dramaturgo
e inventor do ponto eletrônico), Alfredo Souto de Almeida, Badeco, Severino Filho, o jovem Paulo
Santos, Afonso Soares(radialista), (?), Ismael Neto, (?)
Como era o formato do programa
naquela época? Era só com discos?
PS – Era só com discos, porque não tinha
meio nenhum de fazer transmissão
externa, coisas assim nesse sentido, então
era só disco. E o grande problema, na
época, aqui no Rio, e no Brasil inteiro, é
que jazz era uma coisa muito rara, muito
difícil. Então, havia música norteamericana. Mas música dançante, comercial, coisa assim, e isso não cabia no que
eu queria. Então, foi um pouquinho difícil
começar assim. Mas, a medida que a coisa
pegou, e foi rapidamente, apareceram as
Então, voltando ao jazz: o programa
começou em 45 e foi até quando?
PS – Olha, enquanto eu estive na Rádio
MEC, eu estive no ar.
É verdade que quem te substituía, nas
férias, era o Edino Krieger?
PS - Era, sim.
Mas o Edino entendia de jazz?
PS - Entendia, sim. E gostava de jazz.
No início da coisa, o programa não era
pré-gravado, depois é que começou a
gravar. E aí, não precisou mais que o
Edino participasse, porque eu gravava e
deixava pronto pra ir ao ar.
Acervo Rádio MEC
Fale dos recitais no cinema Rex. Que época foi?
PS – Final dos anos 40: 49, 50, por aí. Começava às
10 horas da manhã e ia até meio-dia, aos domingos.
Podia ser musica clássica ou semi-erudita; mas a
gente comentava e combinava antes, com quem ia
ser apresentado, uma entrevista, num possível
intervalo, para que a transmissão fosse feita dali.
Como é que era a pauta, o temário desses cursos?
PS – A idéia principal foi a de lançar esse negócio,
auxiliando aqueles que estavam trabalhando no setor radiofônico. E muita gente, já profissional de Rádio, passou a ir a Rádio MEC, querendo participar dessa coisa,
e falava sempre comigo , porque era a principal voz.
Você era a voz padrão da Rádio: as pessoas ouviam
a sua voz pra falar mais ou menos parecido com
você?
PS – É verdade, mas eu achava que não era necessário.
Cada um tinha o seu jeito de ser, mas acontecia muito
isso. Iam lá, me visitar, pra ver como eu fazia a coisa.
Você tinha ou chegou a preparar um dicionário
fonético, com nomes de músicos e músicas?
PS – Eu tinha, porque eu fiz, não porque existisse.
Então, coisas assim, especiais, eu escrevia o nome, tal
qual era escrito, e, depois, a pronúncia correta do nome,
como era conhecido mundialmente.
E o Nelson Tolipan?
PS - Ele começou comigo. Queria que revisasse tudo
que ele escrevia. E continuamos assim, amigos.
Você fez algum trabalho no INCE, narração de
filmes, essas coisas?
PS – Eu fiz algumas coisas, sim, mas principalmente
atuando; não escrevendo. Mas produzindo e narrando.
Quais os grandes diretores da Rádio, a seu ver ?
PS – Tem muitos, mas o Fernando Tude de Souza foi
quem deu a partida para que o resto prosseguisse.
E as transmissões na TV Globo, como eram
realizadas?
PS – Nada de especial. Antes da transmissão, nós
contactávamos com os solistas, com as pessoas que
iam se apresentar, para que, no intervalo, nós pudéssemos conversar a respeito, embora muito rapidamente, para aquilo não ser só apenas musica erudita
jogada no ar.
É verdade que o nome “Rádio MEC” foi você
quem propôs?
PS - Fui eu que propus, sim. Porque Ministério
da Educação e Cultura complicava muito na
época, porque antes era só Ministério da
Educação. Então: eme-é-cê: MEC, Ministério da
Educação e Cultura – quando se passou a chamar
assim. Aí eu passei a adotar essas 3 letras como se
fosse um prefixo, digamos assim, daquilo que a
gente ia apresentar.
Segundo o locutor Décio Luiz, foi você quem
acariocou a empostação da Rádio MEC, que era
apaulistado: Rrrrrádio Minissstério. Você dava
cursos dentro da Rádio. Lauro Gomes e o Guilherme
de Souza contam que estudaram com você.
PS – Não só eles: muitos outros fizeram cursos lá, com
a gente. Eles queriam aprender a maneira de dizer a
coisa pra que todos entendessem e que não fosse
sofisticado.
Você tem essas apostilas ainda guardadas ?
PS – Muita coisa se perdeu, não sei nem como.
A lenda é que você entrava no Teatro Municipal e
entrevistava todos os artistas e personalidades.
Quantas línguas você fala, Paulo?
PS – Eu falo várias: inglês, principalmente, mas
espanhol e italiano, também.
Paulo, o teu nome está intimamente ligado à OSN.
Onde a OSN ia, você acompanhava?
PS - Acompanhava. Toda vez que fosse necessário.
Não só como solista narrador, mas também como
coadjuvante da direção daquele setor.
Quais foram?
PS – Bem, eu fiz muita coisa, de vários autores, nesse
sistema botar a voz falada, declamada, como você
quiser chamar isso – mas não cantada – com a música.
Foto J.C. Mello
Tinha mesmo um microfone da rádio pendurado
no palco do Teatro Municipal?
PS – Tinha aquele negócio pendurado, sim, para a
transmissão do que estava acontecendo no palco. O
meu era um microfone portátil, e eu, dali, comentava
a coisa toda, antes de ir ao ar, enchendo o tempo.
Muita gente dizia “enchendo lingüiça”, mas não é
verdade. Apenas para que o publico tomasse conhecimento daquilo que ia ser apresentado, daquele
momento em diante – fosse ópera, fosse orquestra
sinfônica, fosse o que quer que seja.
Acervo Noemi Flores
Que outros programas você fêz?
PS - Ah, muita coisa. Eu produzi um programa
chamado Cine Música, que era feito a partir de
musicas usadas em cinema. Eu ia comentando, um a
um, aquele filme que estava sendo exibido. Além
disso, um programa de ópera. E eu, inclusive, criei
oficialmente essa coisa lá na Rádio Ministério da
Educação, que era a transmissão de uma ópera
completa – que não existia no rádio, naquela época.
Ocasionou uma série de problemas no inicio, mas,
depois, pegou de tal modo que não saiu mais do ar;
Com o LP Pedro e o Lobo, você foi o pioneiro no Brasil
da narração com música. Você tem um especial carinho
por essa obra do Prokofieff, não é mesmo?
PS – Tenho, porque acho a obra muito boa, musicalmente e
como idéia de narração conjugada com a música, e, segundo porque nós precisávamos ter um caminho novo dentro
dessa estrutura musical. E foi assim que nós começamos,
com Pedro e o Lobo. E depois vieram as outras.
Acervo P. Santos
Era ao vivo e passou a ser gravado, por que?
PS – Passou a ser, para não haver falhas do operador,
em relação aquilo que a gente estava apresentando.
De maneira que passou a ser gravado. O programa
fazia sucesso: então, a gente, com os pedidos recebidos, repetia aquele programa tal qual foi ao ar.
Você trabalhou em outra rádio ?
PS – Trabalhei na Rádio Jornal do Brasil, ao mesmo
tempo que na Rádio MEC. E, de passagem, na Rádio
Clube do Brasil. Na Rádio JB, eu não era só locutor,
porque o locutor apenas apresentava a música, e eu não:
comentava o que estava acontecendo. E fiquei lá
bastante tempo. Aliás, o nome JB quem botou fui eu.
Você também pôs o nome na JB!
PS – E pegou, né?
No alto, com Noemi Flores, entrevistando Fernando Sabino;
no centro, apertando a mâo do maestro e compositor Aaron
Copland . Acima, na TV Globo, com o maestro Nelson Nilo
Hack e a Orquestra Juvenil do Teatro Municipal
O perfil do profissional de rádio era ume depois da
TV virou outro?
PS – Infelizmente, virou. Mas não tem nada uma coisa
a ver com a outra. Porque a televisão você vê, então,
não adianta você comentar uma coisa à sua maneira e
você ver outra. Já o rádio, não: você fazia aquilo pro
ouvinte ver mentalmente.
7
8
80 anos
depoimentos
Os colaboradores que não apareceram nessa página que nos desculp
“80 anos de prazer, informação e serviços prestados aos ouvintes, através desse instrumento
insuperável de comunicação que é o rádio. 80 +
80, para alegria do Brasil futuro”
Alfredo Brito
“Nestes 80 anos a nossa Rádio tem resistido bravamente para continuar fiel aos princípios de
Roquette-Pinto e dotar o ouvinte brasileiro de
uma programação diferenciada e rica. Por muitos anos tive o privilégio de conviver com excelentes colegas e contribuir modestamente para
difundir o nosso folclore e a música brasileira.
São muitas as saudades, ainda maiores os
desejos que a Rádio continue seu destino.”
HaroldoCosta
“É uma alegria ver a rádio cumprir esta data.
Desde 1962 sou funcionário da casa e nesses 41
anos lutei junto a outros funcionários para manter
as orquestras e coros da época de ouro da MEC.
Hoje estamos trabalhando com a difusão de música clássica. Uma execução em rádio às vezes
equivale a 10 concertos, em matéria de audiência.
Eu poderia ter me aposentado, mas não quero,
pois amo este trabalho.”
Fernando
Neiva
Regina Firmino e Sueli Ribeiro
Arnaldo Estrella
Gláucia Almeida
Nelson Tolipan
Maurílio Floriano
Osvaldo Diniz
Ilma e Moisés Antunes
Dinah Silveira
de Queiroz
Paulo Márcio
Oscar Santiago
Roberto Monteiro
Geir Campos
Paulo
Fernando
Périlo Galvão
André Luís
César Guerra-Peixe
Andréa Brum
Jairo Ribeiro, Lenir Siqueira, Braz Limonge, B
(Quinteto de Sôp
Há quase
Sidney Pereira
Marina Lorenzo Fernadez
“Sendo a primeira das nossas estações, continua
sendo a preferida de toda a gente que busca o que
não é comum em nosso país: uma programação
cultural de qualidade. Parabéns à Rádio MEC e a
todos os seus funcionarios, ouvintes e amigos, po
esses 80 anos extraordinários”
Prof. José Oiticica
Aloysio Alencar Pinto
Marlos Nobre
“A Rádio MEC para mim representa cultura e
desenvolvimento. Sem ela eu não saberia viver,
pois a primeira coisa que faço ao acordar é ligar
na MEC.”
Fernanda Motta
Alceu Bocchino
Carlos Borges
Fernando Segismundo
Elizabeth
Glielmo
Roberto Saturnino Braga
“A Rádio MEC vem se mantendo por oito décadas como referencial importante para o ouvinte
de música clássica no Rio de Janeiro. Seu papel
na difusão da música de concerto é
inestimável.”
Carlito
André Arraes
Paulo César
Foto1(1924): Os sócios da Rádio Sociedade - de pé: Dulcídio, Francisc
Souza, Angelo da Costa Lima, funcionário dos telégrafos. Sentados: C
Secretaria da Rádio Sociedade, com o Estúdio ao fundo, em seu segun
Tchecoslováquia (Foto 3)
Ronaldo Miranda
“Nesses 80 anos com a Rádio MEC, temos orgulho de nosso rádio e sabemos que com ela o
Brasil ficou melhor.”
Nilton de Queiróz
Daniela Lapidus
Sérgio Cabral
“Esta seria a oportunidade de uma grande comemoração. que gerasse debates, seminários,
estudos e publicações que pensassem melhor o
rádio. Onde ele falhou? Onde deu certo? Até
onde podemos ir tendo os recursos atuais? Mas
isso não quer dizer que o rádio só deva ser falado quando faz aniversário em data redonda, de
10 em 10 anos, que é quando os jornais, as
televisões e o próprio rádio abrem espaço para
o rádio. Esse espaço deveria ser permanente, e
acho que a SOARMEC está aí, esperando
contribuições, esperando oportunidades de
trocas maiores, e de trocar influências e colaboração. Por que não?”
Luiz Carlos Saroldi
8
Violeta Kunder
e Nani Devos
Reinaldo Ramalho
Alberto Ponce
D. João
Evangelista
Manuel da
Conceição
Da esquerda p/direita: O pavilhão da Tchecoslováquia, construido pa
com as válvulas osciladoras e moduladoras tipo Marconi, e o recepto
no Museu Histórico Nacional.
Laerte Afonso
Paulo Autran
Fábio Pimentel
88 colaboradores
Paulo Roberto
80 + 20
p e m . S e t i v é s s e m o s e s p a ç o , s e r i a m 8 0 0 , c o m o o s k i l o c i c l o s d a R á d i o.
Penha Barcellos
Sérvio Tulio
Marco Aurélio
Felicíssimo
Fernanda Montenegro
Décio Luiz, Zito Baptista Filho e
Hamilton Reis
Bruno Gianessi e José Botelho
pro da Rádio MEC)
Edino Krieger
Nelson Antônio
Lélia Regina
Leonete Marback
Macieira
Célio Reis
Eugen Ranewski
Vera Oliveira
Alma Cunha
de Miranda
Francisco Mignone
Patrícia Borges
Mirtes Oliveira
Carlos Drummond de
Andrade e Cecília Meireles
Edneide Santana
e 80 anos
Maria Muniz
Ana Maria Souza
Abigail Moura
Cici Espineli
Weber Duarte
Há 80-10 anos...
Luiz Albuquerque
Zézuca
PAULO ROBERTO – cujo
centenário de nascimento registramos aqui
– tem muitos paralelos
com Roquette-Pinto.
Ambos eram médicos,
radialistas e educadores,
e sempre se guiaram
pelo sentido social dessas profissões. Por
absoluta falta de espaço, não falaremos da
grande contribuição que deu como
médico, e só citaremos algumas de suas
mais famosas criações radiofônicas.
Inventor de gêneros, apresentador de
programas extremamente bem redigidos,
com voz inconfundível e excelente dicção,
ele foi o introdutor do “timming” no rádio
brasileiro, com o programa “Nada além de
dois minutos”; valorizou a responsabilidade social nos memoráveis “Honra ao
mérito” e “Obrigado, doutor” - programa
em que harmonizou, com maestria, suas
atividades de médico e radialista.
Incansável divulgador de nossa cultura,
realizou o maior trabalho de incentivo das
Bandas de Música de todo o país, através
da sempre lembrada “Lira de Xopotó”.
Apesar de tudo, foi demitido da Rádio
Nacional, pelo AI-1, em 1964. Está nessa
página dos 80 anos, porque ingressou na
Rádio MEC em 67, onde produziu e
apresentou programas para
Projeto
Minerva, até seu falecimento, em 1973.
Foi o inventor da expressão “Amigos
Ouvintes”, que, em homenagem, a
SOARMEC usa em sua razão social.
Gustavo Coutinho
Alan Lima e Ieda
Oliveira
co Lafayete, Roquette-Pinto, Demócrito Lartigan Seabra, Mario de
arlos Guinle, Henrique Morize, Luiz Betim Paes Leme. Foto 2(1924):
ndo endereço ( o lº foi a Academia de Ciência), no Pavilhão da
Ribamar Mendes
William Ferraz
Jaqueline Benites
Há dez anos, a
SOARMEC,
em
parceria com a
SARCA – Sociedade
dos Amigos da Rua
da Carioca, comemorou em grande
estilo os 70 anos do
Rádio
Brasileiro,
com uma festa
matinal e direito a banda de música e
comes & bebes na Rua da Carioca,45, em
frente ao sobrado onde funcionou a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro. Na ocasião, foi
ali colocada a placa que, 10 anos depois,
nosso diretor de patrimônio se encarregou
de limpar (fotos).
Thelmo de Avelar
Jota Carlos
Adelzon Alves
ra exposição do centenário da independência; a sala de transmissão
or e transmissor Pekan, que pertenceram à Emissora e estão atualmente
Fotos Adriana Ribeiro, Thiago Regotto e acervo
Iris Bianchi e Oriano de Almeida
Alcimar Ferreira
9
Henrique Morize, o parceiro de Roquette
HOMEM que ciceroneou Einstein e foi um dos primeiros
a comprovar, no Brasil, a veracidade de sua teoria da
relatividade, foi um dos maiores cientistas de seu tempo,
representou o Brasil em inúmeros congressos científicos, destacou-se em diversoa campos do conhecimento, notadamente na Astronomia, Física e Meteorologia.
Nascido na França, em 1860, veio para o Brasil em 1875 e
naturalizou-se brasileiro, em 1884, já formado em engenheiro
industrial. Ingressou no Observatório Imperial como “aluno
astônomo” e foi nomeado 3º astrônomo, em 1885. Em 1896, foi
tornou-se professor da Escola Politécnica e, dois anos depois,
doutorou-se em Engenharia Civil e em Ciência Físicas e
Matemáticas. Foi o pioneiro da aplicação medicinal dos raios-X,
no Brasil. Também realizou pesquisas no campo da sismologia e
inaugurou o estudo das variações elétricas da atmosfera do Rio de
Janeiro. Como meteorologista, foi responsável pelo projeto e
organização da primeira rede de estações meteorológicas no Brasil (1910), que deu
origem ao Departamento Nacional de Meteorologia. Foi também o grande
introdutor da física experimental no Brasil, além de experimentos com a
O
transmissão e recepção de telegrafia sem fio. Sucessor de Luis
Cruls na direção do Observatório Nacional, em 1909, presidiu-o
até 1929. Foi Morize quem promoveu a instalação do Observatório
em São Cristóvão.
Foi também um dos fundadores da Sociedade Brasileira de
Ciência, que presidiu até o ano de 1926, quando recebeu o título de
presidente honorário.
Em 1923, Roquette-Pinto, um de seus mais notáveis discípulos,
procurou-o, em seu gabinete no Observatório, para que assumisse
a liderança de um grande movimento civilizador, que seria a
“radiotelefonia educativa”. Morize concordou e, juntos, os dois
pioneiros conseguiram revogar as velhas leis que proibiam a
prática da radiotelegrafia no Brasil. Estava aberto o caminho para
a fundação, em 20 de abril de 1923, da primeira estação
radiofônica brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, da
qual Henrique Morize foi diretor até 1929.
Faleceu em 19 de março de 1930. Em seu pronunciamento fúnebre, RoquettePinto afirmou que “o povo humilde de minha terra não esquecerá jamais o que ele
foi pela sua educação”.
Duas perdas
Foto Clara Zuñiga
Jornalista, crítico, musicólogo e um dos
mais importantes pesquisadores e
historiadores da música, Ary começou a
escrever no jornal “O Globo”, em 1943,
na seção Um pouco de jazz, em colaboração com Sílvio Túlio Cardoso. Nas
rádios Tupi e Tamoio, ele redigiu o
programa Swing Cocktail. Foi cronista de
jazz da revista A Cigarra e, nos três anos
seguintes, escreveu críticas de rádio na
revista O Cruzeiro. De 1957 a 1963, foi
crítico de música popular no O Jornal,
função que também exerceu no Jornal do
Commércio (1961-67), O Globo(196770), Querida (1969-71), O Cruzeiro
(1972) e Grande Hotel (1975).
Em meados da década de 1960, devido
à sua atuação como crítico musical em
diversas publicações de prestígio, passou
a realizar conferências sobre música
popular brasileira e foi um dos principais
organizadores do Clube de Jazz e Bossa
Nova. Foi integrante do júri de muitos
dos festivais da canção que aconteceram
na década de 60, tendo participado da
organização do Festival Internacional da
Canção - FIC. Na rádio MEC produziu
programas sobre a história da MPB. Foi
10
Ary Vasconcelos
Maurício Quadrio
também produtor de discos para a
gravadora Odeon e para o Museu da
Imagem e do Som – MIS. Para este órgão,
do qual chegou a ser funcionário entre
1965 e 70, produziu elepês de Carmem
Miranda, Noel Rosa e Ataulfo Alves.
Ainda no MIS, foi quem sugeriu ao
primeiro diretor da instituição Ricardo
Cravo Albin, a fundação do Conselho
Superior de MPB, com 40 cadeiras, cujos
nomes foram escolhidos por ele, Almirante e o próprio R. C. Albin. O Conselho –
base dos outros que logo depois foram
criados para outras áreas – teve a seu
cargo apontar e votar os melhores do ano,
aos quais eram conferidos os prêmios
Golfinho de Ouro e Estácio de Sá.
É autor de importantes livros como:
Panorama da música popular brasileira;
Raízes da música popular brasileira;
Panorama da música brasileira na Belleépoque; Carinhoso etc.- História e
inventário do choro; A nova música da
República Velha. Em 1982, o Conselho de
Educação e Cultura do Estado do Rio de
Janeiro escolheu seu nome para o prêmio
Estácio de Sá. Em 1994, recebeu da
União Brasileira de Escritores o título de
personalidade do ano. A partir de 1998,
foi um dos diretores culturais da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Era
também colecionador de livros e leitor
inveterado.
Para a Rádio MEC, produziu programas sobre história da música, na década
de 60, além da inestimável e gratuita
contribuição que sempre deu, como
consultor, aos inúmeros produtores da
Casa. A SOARMEC também muito lhe
deve. Além de sócio fundador, Ary
Vasconcelos foi, também, diretorpresidente e, por duas vezes, vicepresidente de nossa Sociedade. Uma vida
dedicada à cultura.
Musicólogo, pesquisador, colecionador e
radialista, ele foi um de nossos maiores
produtores culturais. Como produtor de
discos, passou por quase todas as
gravadoras, sendo responsável por preciosidades como “Meio Século de Carnaval Carioca”, “Cem anos de Carnaval”,
e a edição das obras completas de
Beethoven e Mozart, em caixas de 50 e 60
discos, respectivamente. Foi, ainda, um
dos principais idealizadores do Museu
da Imagem e do Som, tendo contribuído
bastante para sua existência. No rádio,
foi, por muitos anos, produtor da Rádio
MEC e diretor de programação da Rádio
JB e da GLOBO. Por causa de seu
carregado sotaque italiano, não botava a
boca no microfone, mas se ocupava de
todos os outros detalhes da produção,
inclusive a redação, que era muito
esperta, como o prova o texto ao lado,
escrito para o 2º número do Amigo
Ouvinte , em 1993.
O AR... Assim começava o script do
meu primeiro programa e algumas
centenas que vieram depois, em 40 anos
de colaboração com a Rádio MEC. Era a
época de ouro da emissora, quando a
gente brigava por uns pontinhos no
IBOPE. Não conseguíamos o ibopão da
Rádio Nacional ou da Tupy – o Maracanã
dos auditórios – mas era o suficiente para
não cairmos no caldeirão das “outras”.
Nesses anos, houve todo tipo de
mudanças: a gangorra dos diretores,
alguns ótimos, outros menos, mas quem
segurava o barco era René Cave, então
“chefe de broadcasting”. Ele dava vida e
movimentação à emissora, deixando, ao
mesmo tempo, liberdade total de ação aos
produtores.
Nessa época, os anos 50 e 60, a Rádio
MEC tinha um serviço de externas tão
N
eficiente quanto as demais emissoras. As
temporadas líricas do Teatro Municipal
eram o ponto alto das externas. Uma temporada podia incluir até quarenta óperas –
uma parte delas só com artistas internacionais e os melhores da nossa safra. Até
as duas grandes adversárias, Maria Callas
e Renata Tebaldi, apresentavam-se na
mesma temporada. Nos intervalos, os
artistas eram entrevistados por gente
competente – em geral era Paulo Santos
quem se encarregava disso.
Fora das temporadas, a Rádio levava ao
ar, aos domingos, uma ópera completa,
em discos, programa pilotado por Galvão
Peixoto, um médico de cultura incomum.
Lembrar, nesta nota, tantos companheiros e amigos, daria para preencher uma
lista telefônica; mas alguns deles representam todos os demais: Tude, René, Alfredo Souto de Almeida – que agüentou
minha indisciplina de estreante – Zito Baptista Filho, Edna Savaget, Heitor Salles,
Ayres de Andrade, Wilma Luchesi, e
“tutti quanti”.
Em Janeiro de 1991, saí do ar.
Prata da Casa
Lauro Gomes
Como e quando você começou a Rádio?
Lauro Gomes – Em janeiro de 1974. Fui
convidado pelo Reginaldo Magalhães,
que era o diretor-artístico, no tempo do
Brigadeiro Tróia. Ele não era ligado a música, mas sabia que eu estudei canto, que
ia a todos os concertos e tal. E era para
substituir o supervisor de gravação e programação. Estava tudo atrasado em termos de gravação e a primeira coisa que eu
vi era que precisava organizar aquilo.
Nós tínhamos uma equipe de produtores
que era uma coisa: Alceo Bocchino, Aída
Bocchino, Sérgio Nepomuceno, Alberto
Shatovisch, Hebe de Matos, Noemi Flores, Marina Moura Peixoto, Belmira
Frazão, etc, etc... Na música popular
tínhamos o Paulo Tapajós, a Helena
Teodoro, o Haroldo Costa, o Ricardo
Cravo Albin – que está até hoje conosco.
Walmir Ayala também trabalhava na AM.
Então, era uma equipe gigantesca de
produtores e, fora isso, tínhamos uma
Orquestra Sinfônica funcionando, além
de uma Orquestra de Câmara, um Coral,
um Quarteto Vocal, o 1º Conjunto de
Música Antiga do Brasil, Quarteto de
Cordas, o Trio da Rádio, além de vários
duos. Então, era uma rádio padrão – do
mesmo nível da RAI italiana, da Rádio e
Televisão Francesa, da BBC ou da
Deutsche Welle.
Fale dos produtores da época.
LG – Tinha a Priscila Rocha Pereira,
que fazia Música e Músicos do Brasil.
Outros produtores
eram o Sérgio
Nepomuceno, que fazia Maestros e
Regentes; o Maestro Bocchino, que
fazia programa sobre Sinfonia; Aída
Bocchino, que fazia Arte do Canto e
também Canto Lírico. Sem esquecer o
Zito Baptista, que é uma instituição e
está até hoje com a gente, e a Belmira
Frazão, que fazia A História do Ballet e
o Classe ‘A’ –
só com grandes
concertos. E também tinha a Marina
Moura Peixoto, que fazia Quarteto –
sobre quartetos de cordas –, e Jackeline
Lawrence, com Música e Teatro.
Não podemos esquecer da Edna
Savaget e da Helena Teodoro, grande
defensora do movimento negro e da
música negra; como Haroldo Costa, que
fazia música popular brasileira e
também música sul-americana e do
Caribe. Essa Rádio fervilhava. E tínhamos os nossos solistas: a Leda Coelho
de Freitas, que ganhou o prêmio
Canção Francesa; a Creusa de Pennaforte, que cantou na Ópera de Paris
durante anos. E ainda os pianistas
Oriano de Almeida, Miguel Proença e
Larry Foutain, este também preparador
das solistas.
Eram funcionários?
LG – Funcionários contratados: eram
solistas da Rádio MEC. Tínhamos a Silvia Baugartner que era especialista em
música alemã; a Eliane Sampaio, que
está aí até hoje, e a Maria de Lurdes Cruz
Lopes. Esses eram os recitalistas da
Rádio. E isso sem falar nos que vinham
aqui para gravar aquela série maravilhosa
que é o Música e Músicos do Brasil, e
toda a música brasileira que foi gravada
pelos nossos corpos estáveis. Eu me
lembro de muitos que atuaram e que
atuam até hoje: o celista Iberê Gomes
Grosso; o fagotista Noel Devos; o José
Botelho, clarinetista, que formaram toda
uma nova geração. Se existe, hoje, uma
escola de oboé, de fagote, de clarineta,
deve-se a esses grandes nomes que
vieram para o Brasil, contratados, ficaram
na orquestra e se dedicaram ao ensino,
formando uma escola. A Rádio foi uma
grande escola.
Fale dos locutores da época.
LG – Não vou lembrar de todos, mas,
para mim, uma das maiores e mais competentes vozes do rádio foi Maravilha
Rodrigues. Era emocionante a agilidade
de gravação dela. Porque, na época, tudo
era gravado e montado, e ela gravava
quilos de programas, e era tudo de
primeira, e tudo de enfiada. Ela não
parava, não errava. Ela, Guilherme de
Souza, que está conosco até hoje; e o José
Assis, que se aposentou; e também o
Willian Mendonça, que já faleceu. O
Sérgio Chapellin... a primeira experiência
dele foi aqui, depois é que ele ficou
famoso. E aí voltou pro Minerva. Mas ele
começou aqui, como Fernanda Montenegro. Quero falar também da Anita
Taranto – ela dava classe ao programa,
para apresentar coisas de alta categoria,
porque ela tinha uma imponência vocal
muito bonita. E tinha também a Maria
Helena Raposo, que lia as críticas, as
crônicas, e apresentou muitas óperas. Ela
também era uma grande cantora. Linda
Alves era outra locutora que tinha a voz
muito bonita, também.
E o Paulo Santos?
LG – Paulo Santos era hors concours,
porque ele era a voz padrão da Rádio
MEC. Sei que estou fazendo injustiça a
muitos
outros,
com
o
meu
esquecimento, mas o que eu quero
afirmar é que eu fico assombrado.
Naquele tempo, em que a gente tinha
funcionando dentro desse prédio a
Embrafilme, como é que se ajeitava
todo aquele contingente aqui dentro? E
eu fico bobo, porque a gente, hoje, para
gravar, é uma dificuldade.
E o Karabtchevsky?
LG – O Karabtchevsky
também fazia muito
programa, aqui. Eram
sobre
aspectos
orquestrais
–
ele
comentava a obra sinfônica que ia ser tocada.
Na época, muita gente
trabalhava no Projeto
Minerva,
mas
não
participava muito dentro
da Rádio. Era o caso do Karabtchevsky e
dos locutores que só gravavam pro
Minerva, como o Chapelain e o Cid
Moreira.
E os seus professores aqui dentro?
LG – Como disse, entrei pra escrever um
programa, e acabei supervisor de gravação e de programação. Eu tinha noção de
pronúncia, porque estudei canto durante
10 anos. Então, eu sabia regras e ajudava
a corrigir os locutores nas gravações, e,
qualquer dúvida, nós tínhamos o Paulo
Santos, que dava cursos. Eram cursos
maravilhosos, e ele fazia apostilhas com
regras de pronúncia em russo, em francês
em inglês, espanhol e alemão.
Você ainda tem essas apostilhas?
LG –Tenho.Todo ano ele fazia esse curso.
E muitos produtores participavam. Mas
eu comecei fazendo programas pra encher os buracos na grade. Se num horário
faltava um programa, eu fazia. Atendendo
aos Ouvintes, por exemplo, não tinha
quem fizesse, então eu fazia. Além de
preencher as horas vagas com planilhas
musicais – escolhendo as obras, pra não
haver repetição e nem choque. Depois,
criei uma série, Os Mestres, para um amigo que trabalhou aqui. A série abordava
os mestres da música francesa, inglesa,
alemã, italiana e espanhola. Cada dia da
semana era dedicado a um país. Mas ele
foi embora pra Paris, e a série acabou
caindo na minha mão.
E o MEC Especial ?
LG – Foi o Paulo Santos quem fez os primeiros – que eram sobre raridades musicais. Ele fez 3 ou 4 programas e, aí,
mudou a direção da Rádio. E já tinha essa
série MEC Especial, que era uma coisa
que a direção da Rádio queria que continuasse. Então, propuseram que cada produtor fizesse um, por semana. Eu fiz o
primeiro, sobre Carlos Gomes, interpretado pelos maiores cantores do mundo:
Caruso, Bidu Saião e por aí vai. E esse
programa fez um sucesso incrível. Em
seguida, outros dois produtores apresentaram programas. Prefiro não citar
nomes, mas foi um fracasso. Aí, me
Foto Clara Zuñiga
Entrevista realizada em maio de 2002 - transcrição Renata Mello
pediram que fizesse o 4º programa, e eu
fiz um, correndo, focalizando a Cláudia
Muzio – eu tenho amigos colecionadores,
e corri atrás, e foi um sucesso. Aí, eu
fiquei com a responsabilidade do programa e comecei a fazer com raridades incríveis, e começou a sair crítica elogiando. O
diretor já era Heitor Salles, que me
chamou ao gabinete, dizendo que “em
Brasília tinha recebido críticas favoráveis
ao programa e tal...”, e ele arranjou outras
pessoas pra cuidar da programação. Eu
parei de fazer tudo o que fazia e passei a
ser só produtor. Nessa época, eu trabalhava também na TVE, no projeto Escadaria do Teatro Municipal, e também na
Funarte. Aí, quando houve a coligação da
Rádio com a TV, eu optei por ficar na TV
– a nossa era a única equipe erudita brasileira na televisão: eu, Aylton Escobar e a
Cecília Coelho –, mas o Heitor disse que
não abria mão da minha presença, porque
ia ser fundada a FM e quem ia tomar conta
era eu. Foi em 82. E eu tive que fazer a
programação toda da FM, e escrever os
programas. E éramos só 3 na equipe: eu,
Virginia Portas e Marlene Barton.
Antes da FM, fale da OSN, ok?
LG – Bom, eu já não peguei o Mignone,
que foi o início. Peguei o fim da primeira
fase do Bocchino, depois toda a fase do
Marlos Nobre e a volta do Bocchino – que
foi quando acabou. Mas o mais atuante
foi o Bocchino – o regente principal da
OSN. Mas também havia muitas gravações de compositores que vinham aqui,
gravavam, como Radamés Gnattali. O
Guerra-Peixe – um monstro sagrado da
música – sentava lá nas fileiras de trás,
bem apagadinho, tocando violino; Iberê
Gomes Grosso, aquele virtuose do violoncelo; o Botelho, na clarineta; o Devos,
no fagote, o Eugene Ranevisk; a esposa
dele, a Violeta Kundert, que era do
conjunto Música Antiga – o mais antigo
do Brasil. Quando eu saí da chefia da FM
e voltei a ser produtor, fui nomeado chefe
musical e, então, eu programava os
concertos, para a sala Cecília Meirelles,
da Orquestra de Câmara com o Coro e do
Conjunto Música Antiga.
(continua na página seguinte)
11
Foto Adriana Ribeiro
(continuação da página anterior)
Já não havia mais Orquestra?
LG – Não. Tinha a Orquestra de Câmara,
com o maestro Nelson Nilo Hack, que
ficou na Rádio, com alguns remanescentes. O Conjunto de Música Antiga foi
desfeito porque todo mundo estava aposentado, e acabou-se um conjunto que
atuou durante 40 anos dentro dessa Rádio
– e até hoje eu não entendo o mecanismo
que levou a essa derrocada toda, sabe?
Eu sei que havia problemas. Tinha músico
que tocava tuba e já estava idoso e não
podia mais tocar – não tinha mais fôlego
–, e não se podia botar outro no lugar,
porque era funcionário público e não
havia dinheiro pra se contratar músicos de
fora. Era um milagre como a Orquestra
funcionava, porque tinha que vir gente de
fora pra cobrir os buracos, e não tinha
mais concursos para que se colocassem
outros nos lugares. Então, o que eu sei é
que jogaram a orquestra lá para a UFF.
Com isso, os nossos recitalistas deixaram
de gravar e passaram a produzir. Leda
Coelho de Freitas, por exemplo, passou a
fazer O Cravo e o Piano e Música de
Câmara; Silvia Baugartener fazia o Lied .
Elas apresentavam o programa?
LG – Locutores liam. O Roberto Strutt,
que era da orquestra, também passou a ser
produtor, fazia o Pequeno Concerto .
E os outros produtores?
LG – Eram muitos. A Helena Teodoro
fazia Origens; o Haroldo Costa fazia
Estampas Brasileiras; o Alfredo Canté
fazia a Volta ao Mundo; o Walmir Ayala,
fazia o Painel de Arte; o Edgard Duarte,
fazia A Revista do Livro; e …
Quem era Edgard Duarte?
LG – Era um escritor, como Mauricio
Salles, também. E ainda tinha Ricardo
12
Cravo Albin, com “Os Discos de Hoje”,
Alberto Shatovski, com “Cinema”, sem
esquecer o Geraldo Guedes, que trabalhou muitos anos e já faleceu. E
também do Arthur da Távola e do
Marlos Nobre que também trabalham
até hoje. E quero lembrar do Fernando
Neiva, que passou a ser produtor,
depois que eu estava na FM, e da Lilian
Zaremba, que entrou junto comigo, na
mesma época que a Rosette Waisman.
E tinha também o Oswaldo Jardim, o
Dom João Evangelista, o Antônio
Nobre, o Antônio Hernandes e a esposa,
a Nancy Hernandes. E tinha também a
Diana Cristina Damasceno, a Gulnara
Bocchino, que trabalhou muito, aqui.
Era tanta gente que é difícil não
esquecer. Tem que falar do Nelson
Tolipan, que trabalha há muitos anos;
do Maurício Quadrio, que era importantíssimo. Uma vez aconteceu um fato
muito gozado. Eu era supervisor de
gravação, e chega a Maravilha
Rodrigues, muito aflita por causa da
apresentação da opereta La Perichole,
que se passa no Peru, e o Mauricio
Quadrio tinha escrito: “O Peru de
Offenbach é muito parisiense”, e ela,
aflita: “Como é que eu faço?” Eu disse
para ela dizer que “a música do Offenbach é muito mais parisiense do que
peruana”. Foi a saída, porque são
coisas que acontecem, né? – ainda mais
o Mauricio Quadrio, italiano de origem.
Tinha muita coisa gozada... Uma vez
dona Belmira Frazão também chegou
muito chateada porque, na época da
ditadura, foi acusada de difundir música
comunista no programa Música de
Ballet, só porque ela botava as músicas
dos russos na Rádio. Não podia nem
Prokofieff, nem Tchaikovski – uma
coisa absurda. E ela era irmã de um
grande embaixador do Brasil, não tinha
nada de esquerda. A pobre da Helena
Teodoro também era atormentada
porque defendia o negro, então era tida
também como de esquerda. Noemi
Flores, também.
Aconteceu alguma coisa?
LG – Não me lembro especificamente,
mas houve muita coisa com a Helena.
Você trabalhou com o Viotti?
LG – Não, quando eu entrei ele já tinha
saído. Existiam mais de 200 óperas montadas com a voz do Sérgio Viotti. Então,
cada semana eu escolhia uma ópera diferente, já montada, e botava no ar. Inclusive, quando eu fazia as programações de
ópera, o Zito não estava trabalhando na
Rádio MEC – ele estava no Instituto do
Açúcar e do Álcool, e não podia acumular. Aí, eu insisti muito para o Heitor
Salles trazer o Zito de volta, e conseguimos que ele voltasse, ganhando um pro
labore para o trabalho de modernizar e
apresentar gravações recentes – porque
há muito tempo a Rádio não fazia isso.
Também consegui fazer muitas externas
naquela época. Hoje, não fazemos mais –
não temos meios materiais pra fazer – mas
gravei muitas óperas no Municipal. O
momento sublime foi a Yerma, do VillaLobos – a única vez que foi levada no
Brasil, e nós conseguimos gravar.
coros, os trios e quartetos e quintetos
e, além disso, há toda a série de
solistas. Jacques Klein, por exemplo:
temos 3 ou 4 concertos dele, no
Municipal.
Vocês tem essa fita?
LG – Essa gravação sumiu, mas existe
em CD, tirado da transmissão da Rádio
MEC. Eu gravei, por exemplo, Eliane
Coelho, quando veio aqui a primeira vez.
A primeira vez que se montou a Flauta
Mágica, com artistas brasileiros. Nós
gravamos também a Viúva Alegre, com
Paulo Fortes, Ruth Staerke e com a Eliane
Coelho. Muitas coisas nós conseguíamos
fazer, como gravar a ultima vez que
Madalena Tagliaferro se apresentou em
público. Eu consegui também a última
entrevista da Mindinha, e a última
entrevista com o nosso inesquecível Francisco Mignone, 19 dias antes da morte
dele. Ele deu um depoimento lindo, e
fizemos uma série.
Mas é propriedade da Rádio?
LG – Sim, concerto nosso, com nossa
Orquestra, produzido por nós. Nós temos
muita coisa aí, internacional, com artistas
brasileiros, de suma importância.
Essas entrevistas existem ainda?
LG – Tudo que foi feito na minha época
´tá guardadinho no acervo. E os que
vieram depois de mim sempre me
chamavam, antes de apagar qualquer fita.
Porque eu proibia. Tudo que era brasileiro – podia ser artista brasileiro tocando
Beethoven, não me importava, mas nada
podia ser apagado. Então, esses depoimentos estão todos lá. A última entrevista
do Guerra-Peixe; a Bidu Saião – eu fiz
cinco horas de programas com a Bidu
Saião.
Quem foi que mandou transcrever as
fitas rolos para cassete?
LG – Não me lembro. Inclusive essa
série que eu falei – MEC Especial –
eram gravações raríssimas. Muitas se
perderam e muitas eram em fitas-rolo,
de uma hora. Agora, só existe a cópia
em cassete. Como isso aconteceu eu
não sei. Naquela época, a gente nem
tinha fita pra gravar os novos
programas. Então, me chamavam para
saber se se podia apagar tal ou qual
programa. Quando era uma coisa
comum, com gravações que existem
aos milhares – obras de Beethoven, de
Mozart, etc. – com essas orquestras
mais famosas, então, essas, eu dizia:
“Podem apagar.” Mas se era coisa ao
vivo e com brasileiros, de jeito
nenhum. Eu consegui salvar muita
coisa e muita gente tomou essa
consciência, depois de mim. Por isso é
que é importantíssimo o trabalho que a
SOARMEC começou a fazer, de lançar
em CDs a nossa memória musical.
São gravações de 40 anos atrás que
estão aí, em fita, o que é um milagre,
porque não há uma preservação dessas
fitas, não há uma recopiagem. Já
salvei muita coisa em DAT, mas
precisava se recuperar urgentemente
todo esse acervo. Porque nós temos,
além dessas coisas maravilhosas
gravadas pelas nossas orquestras, os
E a FM, como começou?
LG – Ela começou no inicio de 1985, e
essa primeira grade quem elaborou fomos
eu e a Virginia Portas, que era uma espécie de secretária, como Marlene Barton.
A Rádio funcionava de 8 da manhã até
meia-noite. Começava com a presença
clássica, a Sinfonia, que era produzida
pela Rosete; depois vinha Sala de
Concerto; Panorama Coral, que era
produção da Gulnara Bocchino; depois
Classe A; depois vinha Som Maior, com
Oswaldo Jardim; No Mundo dos Discos,
com Sérgio Nepomuceno; depois Arthur
da Távola, com Robert Schuman; depois
Nova Dimensão, um programa meu; Arte
do Canto, da Aída Bocchino; Cravo e o
Piano, da Leda Coelho de Freitas; Audição Especial, que era da Rádio Cultura de
SP; Paz de Espírito, com Dom Evangelista Enou; e as Cantatas de Bach, do Zito
Baptista Filho.
Que critério você usou para a grade?
LG – O critério era fazer horários estanques dentro do mesmo dia. Cada produtor tinha seu horário semanal. Por exemplo, o jazz, a música norte-americana e a
música de cinema, eram programas da
AM, que eram reprisados na FM. A
Ópera Completa, que era da AM, aos
domingos, na FM era aos sábados.
Quando foi chegando o fim do ano, o
Heitor Salles me disse que queria que a
Rádio começasse a funcionar às 6 da
manhã e que fosse até às 2 da madrugada. Então, inventei um programa que
era Bom dia com Música, feito por 4
produtores, meia hora cada um. Gravei
800 programas com o Willian Mendonça
e Maravilha Rodrigues.
Fazíamos
módulos de meia-hora, e a gente ia
variando todo dia. Essa série,
mandaram para Brasília, e era importante que ficasse na Rádio, como memória da época. Eu deixei a FM funcionando das 6 às 2 da manhã. Depois veio
a Gulnara Bocchino; depois fui chamado
de novo, fiquei um ano e, depois, virei
diretor musical.
E hoje?
LG – Hoje em dia, sou produtor de
vários programas: Concerto MEC, ao
meio-dia; Música e Músicos do Brasil,
que é o segundo programa mais antigo
da rádio, depois do Ópera Completa; e
produzo o Sala de Concerto e também
os Sons do Brasil, que é um programa
novo, só de ritmos brasileiros.
(continua na pág 14)
Nova (?) ferramenta de educação
por Regina Salles
ara marcar os 80 anos de radiodifusão no Brasil, a Escola de Comunicação da
USP e o SENAC de São Paulo estão promovendo um extenso e consistente
evento, que começou em junho e deve durar até o final do ano. Além de uma série de
oficinas e palestras-debates – cuja proposta é pensar o rádio sob o ponto de vista da
realidade brasileira e de suas conseqüências para a nossa sociedade –, está previsto
o lançamento de um livro, a montagem de uma peça teatral e, ainda, uma grande
exposição sobre o tema. Leia, a seguir, o relato de Adriana Ribeiro, que esteve em
São Paulo e assistiu a uma palestra do evento.
P
Radiodramaturgia para o século XXI
entro da programação do evento
“Rádio: sintonia do futuro”, o
dramaturgo e radialista Chico de Assis
realizou uma palestra, seguida de oficina, nos
dias 11 e 12 de agosto, tematizando o futuro
da dramaturgia no rádio. Chico, que atuou
como diretor artístico e de programação com destaque para seus trabalhos na Rádio
Tupi-SP e na Jovem Pan - chamou a atenção
dos presentes para a existência de um público
carente por este gênero radiofônico, e
afirmou que quem sair na frente, e voltar a
produzir radiodramaturgia, ganha esta
audiência - que não é pequena.
Mesmo com toda esta visão otimista,
um pouco de saudosismo é inevitável
quando se fala do rádio no Brasil. Chico
não fugiu à regra quando lembrou que, ao
entrar na Tupi Difusora, a rádio tinha 4
orquestras — a grande orquestra Tupi era
simplesmente a orquestra Estadual —,
além de 6 conjuntos de regional e um
elenco de aproximadamente 100 a 120
D
vozes dramáticas, sem contar os
profissionais de jornalismo e de esporte, o
que dava à rádio, nas palavras dele, “uma
estrutura transatlântica”. Essa estrutura
mudou bruscamente, e as rádios sofreram
drástica redução de seus quadros. Chico
de Assis ressaltou ainda que essa redução
não corresponde à realidade do rádio: “o
rádio é, em qualquer lugar do mundo,
mídia vital, seja comercial, seja cultural,
seja educacional. Por dois motivos
principais: custo e alcance”.
Na oficina que ministrou, o dramaturgo
mostrou técnicas de uso de microfone e
impostação para conseguir o efeito de
“voz de pensamento”, entre outros, e
desenvolveu com os alunos textos para
rádio-dramas. Interessados em saber mais
sobre os outros eventos do projeto podem
entrar em contato com o Centro de
Comunicação e Artes do SENAC-SP, pelo
telefone (0xx11) 38662500 ou pelo e-mail
[email protected].
Trechos da palestra de Chico de Assis
“É claro que a dramaturgia tem lugar.
Qualquer pessoa que entenda de rádio sabe
disso. Só não sabe quem está acomodado
numa situação de mídia, de programação, mas
quem sair na frente ganha o jogo. Como e
porque: se você consultar os institutos de
pesquisa, você vai ver que há uma tendência de
que o público assista um programa desse tipo,
no rádio. (...) Tem gente que não entendeu uma
coisa básica no rádio. Quando passa uma
novela no rádio, a heroína não tem a cara
“padrão globo”, ela tem a cara que cada
ouvinte imagina que ela tem. Assim, todos os
outros personagens. O rádio é interativo por
definição. As pessoas constróem, de acordo
com seus arquétipos, a imagem da voz que
ouvem. Então o poder dramático desse
personagem que está dentro de você é outro.
(...)O rádio elegeu centenas e centenas de
políticos: a televisão não elegeu nenhum. Nem
o Sílvio Santos. (...) A emoção no rádio é
diferente e, se explorada com meios modernos,
ela terá uma resposta. Que coisa fazer? Se
você tem a oportunidade de produzir, do ponto
de vista educativo, um programa do tipo
“conheça a literatura brasileira” via
rádiodramaturgia, ele é barato, bonito,
agradável e muito bom. Se o teu apelo não é
educativo, você pode fazer o que quiser. Qual
é a melhor forma hoje em dia? Pedaços
pequenos pela programação. Como a faixa de
quadrinhos que se tem no jornal. Em cinco ou
seis minutos você passa quatro faixas de
seqüências de histórias, no estilo quadrinhos,
sonoras. É fácil de comercializar, porque entra
em rotativa em vários horários, etc. Em
seguida a isso, você tem a peça de rádio, que
tem que ter um pulso maior - ou semanal, ou
quinzenal, ou mensal. Se o projeto é muito
grande - vamos supor que vamos fazer as
grandes peças de Shakespeare -, então a gente
vai fazer uma por mês.
(...) Não tem por onde não recomeçar a agir
no sentido de reabrir o rádio para a
dramaturgia, para que se pudesse inclusive
despertar no público de rádio a vontade de
assistir teatro, de assistir cinema, de ler. Tudo
isso deveria começar nas rádios que tem por
obrigação a mídia cultural e a educativa: as
rádios públicas e as comunitárias”.
artigo abaixo, publicado no JB de
16 de abril de 2003, cita o rádio
como uma “nova ferramenta de
alfabetização” e informa que a ONG
Escola do Rádio, utilizando este veículo,
atingiu 212 municípios da Paraíba. A
notícia é alvissareira, mas é preciso
lembrar que a “nova ferramenta de
educação”, está fazendo 80 anos - pois o
início do rádio no Brasil se confunde com
a criação da radiodifusão educativa. De
fato, quando o professor Roquette-Pinto
criou, com um grupo de cientistas, a Rádio
Sociedade, já existia o objetivo de se usar
o veículo para educar e transmitir cultura.
Em sua trajetória, o rádio tem sido
utilizado, com mais ou menos intensidade, na educação formal e informal. A
primeira radioescola, propriamente dita,
entrou no ar em 1933, no então Distrito
Federal, combinando radioaulas com
material impresso – que era distribuído
pelos Correios –, e chegou a contar com
20.400 alunos inscritos, um número
significativo para a época.
Em 1936, quando Roquette-Pinto doou
a Rádio Sociedade ao Ministério da
Educação e Saúde, foi criado o Sistema
de Radiodifusão Educativa (SRE) com o
objetivo de promover a irradiação de programas de caráter educativo. Na década
de 50, o SRE possibilitou a criação do
Colégio no Ar, que transmitia cursos de
Literatura e Língua Inglesa e Francesa,
além de aulas de Português,Geografia,
História Natural, Física e Química,
produzidas e transmitidas ao vivo por
renomados professores dessas disciplinas.
O precursor da radiodifusão educativa na
região sul, foi o Colégio no Ar transmitido
pela Fundação Padre Landell de Moura, do
Rio Grande do Sul. No Nordeste, o
Movimento de Educação de Base (MEB)
O
desenvolvido pela Igreja Católica, merece
ser citado como uma das experiências na
área de educação não formal via rádio. O
MEB chegou a alfabetizar quase meio
milhão de camponeses, através de 5 mil
grupos locais.
No regime militar, com o Decreto 236,
de 1967, que instituía um horário obrigatório para a transmissão de programação
educativa em todas as emissoras, foi criado o Projeto Minerva, que viabilizou a
produção e veiculação em todo o Brasil
dos cursos Supletivos de 1º e 2º Graus,
nas décadas de 70 e 80. Apesar das
dificuldades de uma produção centralizada, que não levava em consideração as
diferenças regionais, o Projeto Minerva
foi, durante muito tempo, a única opção
de curso supletivo no interior do país.
O rádio já demonstrou o seu potencial
como meio auxiliar na difusão da educação e cultura, e é lastimável que esses
projetos não tenham tido continuidade.
As características do rádio, tais como o
baixo custo de produção e veiculação, a
facilidade de manuseio, permitindo que
as pessoas aprendam sem sair de casa ou
do local de trabalho, o tornam o veículo
por excelência para promover educação a
distância das comunidades menos favorecidas, em especial, no interior do país,
onde uma ampla parcela da população
não tem acesso à escola, nem a
informações básicas para que se tornem
cidadãos ativos e participantes.
A radiodifusão brasileira conta com
uma rede 3 mil emissoras, transmitindo
em AM, FM e ondas curtas, atingindo
todo o país. Desse total apenas 3%, ou
seja, cerca de 90, são emissoras educativas que, no entanto, em sua maioria, não
cumprem o seu papel na difusão de
educação e cultura. Por que não utilizar
essas emissoras para formação de uma
rede de programas de educação a
distância via rádio?
Rádio ajuda a alfabetizar
O rádio como ferramenta de alfabetização é a
novidade que será apresentada até o início do
mês de junho para o Ministério da Educação.
O projeto elaborado pela Fundação Getulio
Vargas, pelo Instituto Paulo Freire e pela
ONG Escola do rádio foi adotado em 2002
nos 212 municípios da Paraíba, atingiu 80 mil
pessoas e registrou um índice de evasão de
7,9%. Bem menor que a média nacional que
gira em torno de 50%.
O método foi desenvolvido durante cinco
anos e passou por três experiências-piloto em
pequenas comunidades da Amazônia antes de
ser adotado na Paraíba. Além de 42 programas de rádio durante cinco meses, o
projeto utiliza material didático específico
para que os alunos acompanhem as aulas, um
programa semanal de TV e professores que
uma vez por semana auxiliam no progresso
dos alfabetizandos.
A vantagem de se utilizar esse método é
justamente evitar altos índices de evasão dos
alunos – diz o diretor da Escola do Rádio,
Eduardo Giraldez.
Ele explica que muitos analfabetos que
trabalham nas zonas rurais desistem dos cursos
de alfabetização por que não conseguem
conciliar o trabalho com os estudos. O mesmo
ocorre com donas de casa não conseguem se
afastar todos os dias dos afazeres domésticos
para participarem de aulas comuns.
O rádio resolve esse problema. O aluno pode
acompanhar as lições em casa – ressalta
Giraldez.
Por André Noblat (JB, 16/04903)
Não sou rica, mas não tenho inveja de ninguém. Só de quem sabe ler.
Maria das Graças da Silva, que sabe escrever apenas o primeiro nome, na Folha de São Paulo
13
Prata da Casa
(continuação da pag 12)
Fale dos diretores que você conheceu, e
também de um cargo importantíssimo
que foi sumindo: o de Diretor Artístico. Você entrou no tempo do Tróia. E
o diretor artístico, quem era?
LG – Reginaldo Magalhães. O Comandante Tróia, a gente nunca tinha muito
acesso, porque a direção da Rádio sempre
foi muito fechada aos produtores, em
geral. Então, eu tratava diretamente com
o Reginaldo, com quem eu trocava idéias.
Uma característica nossa, logo quando eu
entrei, foi reduzir os textos, que eram
muito literários – às vezes um programa
de meia hora tinha 6 a 8 páginas, sabe?
E depois do Tróia?
LG - Foi o José Candido de Carvalho, que
a gente só via entrar e sair. Não tive o
mínimo contacto com ele: se eu disse uma
ou duas vezes "boa tarde", foi muito. E
não lembro o nome do diretor-artístico.
E o diretor-artístico do Heitor ?
LG – Fui eu.
Quais as realizações do Heitor?
LG – Conseguiu material, fitas – que era
uma dificuldade. Condições de estúdio
para gravar. Realmente, foi uma época em
que a gente pode respirar um pouco mais.
Porque ele arranjava – com influência do
pai, talvez, com Brasília. Tanto que ele
ficou muitos anos e era muito querido
pelos funcionários. Fez uma tabela para
locutores, para produtores, e regularizou
essa situação, que era muito indefinida,
com cargos e comissões.
Ele interferiu na programação?
LG - Eu posso contar uma conversa que
ele teve comigo e disse: "Lauro eu não
entendo nada de música erudita. Gosto,
sim, em raros momentos, então eu não
vou me meter naquilo que eu não entendo, deixo por tua conta." Então ele era
um sujeito que deixava a gente trabalhar:
não se metia. Ele queria que o negócio
funcionasse e funcionasse bem, e no que
ele podia melhorar as condições – por
exemplo, as externas que eu pedia – ele
melhorava. Ele arranjava carro pra levar,
pagava lanche para os funcionários ficar
até 2 horas da manhã gravando no Municipal. E ele não fechava a porta do gabinete. Apesar de ser uma coisa distante –
não era como a da nossa última diretora, a
Regina Salles, que era uma companheira
nossa e então a gente entrava à vontade.
Ele comprou algum equipamento?
LG - Não posso precisar, porque era
muita coisa miúda, mas comprou, sim.
Me lembro que vieram microfones E também fitas, porque antes a gente não tinha
condição de trabalho, sabe? E essa
condição de não poder apagar as fitas –,
ele sabia da importância da nossa cultura,
disso ele tinha consciência. Dos diretores que eu conheci, ele foi o que mais se
bateu pela Rádio. As outras direções, eu
vou te dizer. Luiz Brunini ficou meses
aqui. Também aquele negócio de 'bom
dia' e 'boa tarde'. Acho que não chegou a
influenciar na programação. Depois tivemos o Luiz Paulo Porto, que ficou ano e
meio. Esse já foi mais ativo, mas não tive
muito contato, porque eu não tinha nada a
ver com a programação, na época.
senhora. Deve ter sido muito inoperante,
porque não me lembro. E, depois, veio a
Márcia de Souza Queiroz, que era nossa
companheira, e que ficou pouco tempo,
também. E foi um tempo bom, porque,
como colega e como amiga, a gente tinha
muita liberdade de trabalho e foi uma
época muito boa de se trabalhar – porque
não havia conflito. Aí, depois, voltou de
novo o Heitor Salles, ficou mais 1 ano e
foi substituído pelo Paulo Henrique Cardoso, que quis popularizar a Rádio, que
não gostava muito da música erudita, mas
que não teve muito o que fazer na FM –
ele mexeu mais na AM. Na época, ele
queria popularizar, botar funk, botar coisas de rádio comercial. Houve um certo
mal-estar, mas ele não era inacessível.
E o diretor- artístico dele?
LG -Acho que já era a Gulnara Bocchino.
Realmente, não me lembro. Porque o
Paulo Santos também foi diretor artístico
um tempo imenso e, aliás, muito bom
diretor artístico, porque o Paulo entendia
muito de música erudita. Coninuando,
Depois tivemos a Thais de Almeida Dias,
que também ficou um ano e meses, mas
mexeu muito na programação. Ela era
uma educadora e dava uma ênfase maior
ao ensino. O ensino era uma coisa à parte,
na Rádio, mas a gente não pode esquecer
dos educadores que aqui trabalharam e
que lutaram muito, também.
Depois do Heitor veio o Saens.
LG – Ele veio com um rádio mais liberal,
com uma política mais do PT, que pela
primeira vez entrou aqui na Rádio, mas
que também não influenciou muito na
FM, que era o meu setor. Ele deu mais
força para o jornalismo, que, aliás, essa
força tinha vindo até de antes, mas ele
enfatizou mais o jornalismo. E depois,
então, veio a Regina Salles, que foi uma
batalhadora e fez um trabalho magnífico.
Por ela ter vindo da produção da Rádio,
como educadora, ela revolucionou, porque ela discutia a Rádio com a gente, fazia reuniões, as portas estavam abertas,
todas as sugestões eram estudadas, todos
os projetos eram discutidos. Essa tentativa de recuperação da memória da Rádio,
que há anos eu me batia por isso. Porque
todo esse projeto nasceu da minha
descoberta dos irmãos Gnattali tocando
Nazareth. Mas não havia verba, e, depois,
com esse negócio de TV junto é que a
Rádio foi preterida mesmo. Então, a
Regina Salles foi a primeira, sabe, que
movimentou. E não vamos esquecer que
ela foi eleita pelos funcionários. Foi uma
época muito boa para a emissora, e
conseguimos, junto com a SOARMEC,
criar toda esse arquivo sonoro com a série
Repertório Rádio MEC que, infelizmente,
está parada. Desde que acabou a estrutura
E depois da Thais?
LG - Heitor Sales. Ele voltou e nós implantamos a FM. João Henrique ficou
com a AM, e eu fiquei responsável pela
FM. Então fizemos duas programações
estanques e começou a vida independente
de cada uma emissora. Claro que, até
hoje, passam programas da AM na FM,
mas é o mínimo. Então, depois dessa
gestão do Heitor Salles, que foi seguir a
vida dele como político, tivemos, o Eduardo Fajardo, que é um companheiro nosso, mas que foi negócio de dois meses.
Depois a dona Maria Angélica Borges,
que ficou aqui também alguns meses, e
juro que não lembro nem do rosto dessa
Esse rodízio de diretores já demonstra
o descaso para com a Rádio.
LG - Porque, politicamente, a direção
deixou de ser um cargo desejável. Então,
as pessoas que vinham aqui, vinham tapar
buracos: não para trabalhar pela Rádio.
da Rádio MEC oficial e passamos a ser
ACERP, não conseguimos um apoio
substancial do Governo, para realizações.
Houve tempo em que o produtor do
programa tinha um assistente de
produção; e tinha, se precisasse, um
repórter, um sonoplasta e até um cast
de rádio-teatro, inteiro. Fale disso.
LG – Pois é, a gente tinha uma infraestrutura para realizar isso tudo. Mas, a
partir da derrocada total da nossa Orquestra, dos nossos corpos estáveis – e aí foi
junto a nossa Orquestra de Câmara, o
Trio, o Quarteto de Cordas, e o rádioteatro, também. Agora, a ACERP funciona com muita deficiência, porque não tem
dinheiro. Então, por exemplo, todos os
meus programas, eu realizo sozinho –
com os técnicos da Rádio, claro, não é?
Mas não tenho assistente de direção, não
tenho uma equipe que trabalhe junto
comigo. Tem o nosso gerente de produção, o Paulinho Neto, tem o nosso chefe,
que é produtor também, o Sérvio Túlio,
que comanda essa parte, mas a infraestrutura a gente não tem – cada um produz o seu, porque, infelizmente, a gente
está muito sem material humano e
também sem material técnico. As nossas
maquinas enguiçam, não tem mão-deobra pra retorno, pra reforma dessas
maquinas, ou computadores suficientes.
A maioria dos produtores, como eu, tem
computador em casa e já traz tudo pronto.
Porque se a gente fosse contar com o que
tem aqui, não daria.
Há alguma coisa que eu não perguntei
e você gostaria de falar para concluir?
LG – Eu tenho uma grande esperança –
falo em futuro, porque meu tempo aqui
está terminando. Eu já estou aposentado,
voltei, fui contratado pela ACERP, para
continuar essa batalha, estamos batalhando até hoje, e o meu grande sonho é que a
ACERP consiga transformar essa rádio
numa coisa viável para voltar a ser a
emissora oficial do País. Eu gostaria que
voltasse a Orquestra, que nós tivéssemos
um novo Trio da Rádio Mec, um novo
Quarteto, um novo Coral, uma nova
Orquestra de Câmara, um novo Quinteto,
um novo conjunto de música antiga, um
regional da Rádio MEC, pra tocar o
regional brasileiro autêntico, e todos os
solistas virem aqui tocar, gravar aqui –
que era o que era feito antigamente –, que
se voltasse àquele tempo antigo.
“Meu diário de Lya”, livro de Élvia Bezerra, é uma biografia memorialista de Lya Cavalcante. Fundadora da Sociedade Protetora
dos Animais, jornalista e tradutora, Lya trabalhou como locutora na BBC, durante a 2ª Guerra Mundial (foto) e também na Rádio
MEC, como cronista. Sua biógrafa conta em seu livro a história dessa brasileira, que privou da amizade de notáveis como
Guimarães Rosa, Villa-Lobos e Carlos Drummond de Andrade, e nos relata episódios desses e de outros importantes personagens
brasileiros do século XX. “Meu diário de Lya” foi lançado pela editora Topbooks , e tem 268 páginas. Visite a Biblioteca Tude de
Souza, que funciona de 2ª a 6ª , de 12 às 15 horas. Acesse nosso site e confira a relação de títulos de nosso acervo. Lá você
encontrará também “Tempo, Vida e Poesia”, registro das conversas de CDA com Lya Cavalcanti, que foram transformadas em
programas transmitidos pela Rádio MEC.
14
Ruídos da sintonia pública
por Adriana Ribeiro
O 11° ANDAR do edifício da Av.
Erasmo Braga, 118, jaz
um busto de RoquettePinto. Quem não for bom
fisionomista ou não tiver
atentado para a pequena
indicação que há no térreo,
dificilmente vai adivinhar a
identidade do homenageado. Apesar de a Rádio que
leva o nome do patrono da
radiodifusão ficar naquele
andar, há tempos que, por lá,
Roquette-Pinto é só um busto
sem identificação.
Emissora do Estado do Rio de
Janeiro, a Rádio Roquette-Pinto dispõe de
duas concessões: uma de AM e outra de FM.
Esta, ultimamente conhecida por 94 FM,
está em pleno funcionamento, e, segundo
seu presidente, ocupa o 7° lugar na audiência, com uma programação 90% musical, de
pagode, funk (seis horas diárias, hip-hop e
samba `veja grade abaixo.
Enquanto isso, a AM, com sinal fraco e cheio de ruídos, promove um espetáculo de entra e sai do ar ` segundo o baile
das trocas governamentais ` e, certamente, não tem público que a conheça, nem
por seu nome, nem por sua freqüência no
dial. Atualmente, sua programação vem
repetindo a programação da FM, ou
N
transmitindo samba e MPB, sem locução.
Pode-se dizer que a atual programação
da FM tem alguns acertos: estar em sintonia com o gosto popular é um deles. Não
há nada de errado em ser popular,
desde que se tenha em mente, por
exemplo, um bordão como o
do atual Ministro da Cultura,
Gilberto Gil – “O povo sabe
o que quer, mas o povo
também quer o que não
sabe”.
No entanto, a
diretoria da Rádio nada promove de novo: nem informação, nem campanhas educativas, e sequer usa as de outras
organizações `
que são
distribuídas gratuitamente.
Cabem aqui algumas perguntas.
Por que não se fazem parcerias com a
UERJ, que tem laboratórios de rádio,
cursos de línguas e de pedagogia? Por
que não há parcerias com as próprias
Secretarias do Governo, que poderiam
promover campanhas de saúde, de
educação, de ecologia e de divulgação
científica, entre outras? Para que existir
uma rádio pública se sua programação é
igual a tantas rádios comerciais? A atual
Governadora e seu esposo, radialista de
profissão e de coração, segundo nos
parece, poderiam dar mais atenção a
esse veículo de comunicação tão popular
e eficaz. Os ouvintes de rádio
agradeceriam.
HORÁRIO
00:00h às 02:00h
PROGRAMA
Madrugada 94
02:00h às 05:00h
05:00h às 07:00h
07:00h às 10:00h
Forró em dose Dupla
Nossa raíz
Show do Mário Belisário
Braga Jr
Cássio Rocha
10:00h às 14:00h
14:00h às 17:00h
Clube do Samba
94 Samba Show
Gláucia Araújo
André Ricardo
17:00h às 18:00h
Furacão 2000
Rômulo Costa
18:00h às19:00h
Castelo das Pedras
Geiso Turques
20:00h às 21:00h
21:00h às 22:00h
Glamourosa
Pipo’s
Verônica Costa
22:00h às 23:00h
23:00h às 00:00h
Sucesso dos Bailes
Nossa raíz
Hamilton Batata
Zeno Bandeira
Adágio Músicas
e Instrumentos Ltda.
APRESENTADOR
Zeno Bandeira
Mário Belisário
Washington Dj
NÚMEROS DA CAO
Tabulação feita por Renata Mello, com base nos relatórios semanais da Central de Atendimento ao Ouvinte,
de 18/03/2003 a 31/09/2003.
Total de ligações: 2980 em 196 dias, numa média de 15,2 ligações por dia
MEC AM
Total de ligações
• Para o Caderno Manhã
• Para o Cia. do Samba
• Reclamações sobre a transmissão
• Informações e Sugestões
• Elogios
• Críticas
• Reserva Ao Vivo ent. Amigos
• Participaram de promoções
• Demanda de Grade Programação
• Participação em Escutar e Pensar
• Reserva para A Fina Flor
Total de ligações
• Participaram das promoções
• Informações e sugestões
• Reservas Sala de Concerto
• Atendendo aos Ouvintes
• Reclamações sobre a transmissão
• Pedidos de grade
• Elogios
• Críticas
1905
237
450
787
259
11
38
66
57
Coluna do Conselheiro
Esperamos que na reunião do CONSAD,
no dia 5 de setembro, marcada para ser
realizada no auditório da Rádio MEC,
seja noticiado, também, a data prevista
para o repasse dos recursos orçamentários
do governo Lula, para a ACERP.
Yacira Peixoto
Uma gestão em andamento
Nota da Redação:
ATUAL direção da ACERP-OS
vem trabalhado intensamente para assegurar a maior credibilidade
e a valorização da nossa Organização
Social, já tendo implantado diversas
iniciativas nesse sentido.
No dia 8 de agosto, em continuidade a
esse projeto, divulgou diretrizes de
trabalho e as ações planejadas, que
envolvem toda a equipe da empresa. Os
trabalhadores da casa compareceram,
maciçamente, ao estúdio 3, diante da
convocação da presidente Beth Carmona ,
que deu, na ocasião, conhecimento
detalhado sobre o projeto de TV Pública,
tão focalizado e anunciado pelo Ministro
Gushiken, no dia de sua posse, neste
mesmo auditório.
Fomos informados pela Conselheira que,
na citada reunião de 7 de setembro, foi
decidido que:
1) o organograma da Rádio volta a ter o
cargo de Diretoria, em lugar de Gerência,
assim como na TV;
2) deverá haver mudança no Estatudo da
Acerp, para que ele se adapte ao novo
Código Civil;
3 )entre 30 a 60 dias deverá acontecer
outra reunião e, também, que tais reuniões deverão ocorrer 4 vezes a cada ano.
Além disso, o Conselho tomou
conhecimento das providências tomadas
pela ACERP com relação ao furto do
aparelho comprado pela SOARMEC(veja
matéria na página 4).
A
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Crie sua música! Cante!
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1075
71
17
08
259
80
20
583
06
08
13
10
Central de Atendimento ao Ouvinte - CAO
Tel: 2252-8413
Teoria. Ritmo e som.
Harmonia. Arranjo.
Percepção musical.
Partituras, Métodos e Álbuns em geral
Conserta-se instrumentos musicais
Vendas em Consignação
MEC FM
Informações e inscrições: Tel/fax (021) 240 6131 /
2405481
e-mail: [email protected]
15
Ópera Completa
por Zito Baptista Filho
MEC FM Domingos, 17 hs
02 - PURCELL: DIDO E ENEIAS
MOZART: O RAPTO DO SERRALHO
09 - TCHAIKOVSKY : IOLANTA
16 - MASSENET: WERTHER
23 - CHARPENTIER: LOUISE
30 - MONTEVERDI: ORFEU
DEZEMBRO
PROGRAMAÇÃO
NOVEMBRO
07- GLUCK: ALCESTE
14 - PUCCINI: MADAMA BUTTERFLY
21 - MOZART: A FLAUTA MÁGICA
28 - VERDI: AÍDA

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