Nº 4 – Edição: Out/Nov/Dez 2014 - Sociedade Brasileira de Geriatria
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Nº 4 – Edição: Out/Nov/Dez 2014 - Sociedade Brasileira de Geriatria
Revista Geriatria & Gerontologia Revista Geriatria & Gerontologia EDITORIAL Atividade física, função pulmonar e composição corporal Órgão Oficial de Publicação Científica Sociedade Brasileira de Geriatria & Gerontologia ARTIGOS ORIGINAIS Caracterização de idosos internados por queda acidental na cidade de São Paulo, 2013 Estudo comparativo dos parâmetros antropométricos e pulmonares entre idosas ativas e sedentárias Análise comparativa de pico de fluxo expiratório entre idosos sedentários e praticantes de atividade física Qualidade de vida de mulheres climatéricas em relação aos valores da circunferência abdominal Poder discriminatório dos índices nutricionais na detecção da glicemia aumentada Volume 8 – Número 4 – Outubro/Novembro/Dezembro 2014 Uso de medicamento potencialmente inapropriado em idosos hospitalizados segundo critérios de Beers ARTIGO DE REVISÃO Déficit de controle postural em portadores de doença de Parkinson: revisão sistemática Etanol e cognição em idosos ISSN 1981-8289 Volume 8 Número 4 Out/Nov/Dez 2014 EDITORIAL Atividade física, função pulmonar e composição corporal | Maysa Seabra Cendoroglo.............. 199 ARTIGOS ORIGINAIS Caracterização de idosos internados por queda acidental na cidade de São Paulo, 2013 | Jane de Eston Armond, Cintia Leci Rodrigues, Carlos Gorios, Fadua Couras da Silva, Nassara Couras da Silva, Luciana Melo Ferreira, Patrícia Colombo Souza .............................................. 200 Estudo comparativo dos parâmetros antropométricos e pulmonares entre idosas ativas e sedentárias | Luana Jesus de Almeida da Costa, Eliane Araújo de Oliveira, Sandra Emília Benício Barros, Janainna Palitó Rodrigues de Sousa............................................................................. 204 Análise comparativa de pico de fluxo expiratório entre idosos sedentários e praticantes de atividade física | Fabiana do Socorro da Silva Dias de Andrade, Joanilson Andrade Freire Júnior, Manuella Silva Simões, Pollyanna Dórea Gonzaga de Menezes, Fabianne de Jesus Dias de Sousa, Renato da Costa Teixeira, Rafael Vinícius Santos Cruz, Ricardo Costa de Andrade������� 211 Qualidade de vida de mulheres climatéricas em relação aos valores da circunferência abdominal | Ronilson Ferreira Freitas, Débora Ribeiro Vieira, Natália Gonçalves Santana Rocha, Gustavo Souza Santos, Brunna Librelon Costa, Vivianne Margareth Chaves Pereira Reis, Betânia Maria Araújo Passos, Josiane Santos Brant Rocha������������������������������������������������������������������������������������������ 216 Poder discriminatório dos índices nutricionais na detecção da glicemia aumentada | Ana Luiza Gomes Domingos, Virgínia Capistrano Fajardo, Silvia Nascimento de Freitas���������������������������������� 221 Uso de medicamento potencialmente inapropriado em idosos hospitalizados segundo critérios de Beers | Fernanda Coelho Vilela, Maurício de Carvalho, Vânia Mari Salvi Andrzejevski, Gibran Avelino Frandoloso.................................................................................................................... 227 ARTIGO DE REVISÃO Déficit de controle postural em portadores de doença de Parkinson: revisão sistemática | Karin de Moura Portela, Laís Rodrigues Gerzson, Jaqueline de Fátima Biazus, Nadiesca Taisa Filippin���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 232 Etanol e cognição em idosos | Ana Paula Ferreira Silva Sakai, Fabíola Veloso da Fonseca Medeiros, Mariany Melo Oliveira................................................................................................ 238 INSTRUÇÕES AOS AUTORES�������������������������������������������������������������������������������� 246 ISSN 1981-8289 Volume 8 Número 4 Out/Nov/Dez 2014 Revista Geriatria & Gerontologia Editora-chefe Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp) Editores Associados Editores Executivos João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC) Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP) Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP) João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte, Brasil Maria do Carmo Lencastre Lins – Recife, Brasil Monica Rodrigues Perracine – São Paulo, Brasil CONSELHO EDITORIAL NACIONAL Ligia Py – Rio de Janeiro Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo Luiz Roberto Ramos – São Paulo Maira Tonidandel Barbosa – Belo Horizonte Marcella Guimarães A. Tirado – Belo Horizonte Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina Maria Fernanda Lima-Costa – Belo Horizonte Maurício Gomes Pereira – Brasília Maurício Wajngarten – São Paulo Myrian Spínola Najas – São Paulo Naira Dutra Leme - São Paulo Newton Luiz Terra – Porto Alegre Paulo Hekman – Porto Alegre Renato Maia Guimarães – Brasília Renato Moraes Fabbri – São Paulo Ricardo Komatsu – Marília Roberto Dischinger Miranda – São Paulo Rômulo Luiz de Castro Meira – Salvador Sérgio Márcio Pacheco Paschoal – São Paulo Silvia Maria Azevedo dos Santos – Florianópolis Sônia Lima Medeiros – São Paulo Tereza Loffredo Bilton – São Paulo Toshio Chiba – São Paulo Tulia Fernanda Meira Garcia – Fortaleza Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha – Belo Horizonte Vânia Beatriz M. Herédia – Porto Alegre Adriano César B. S. Gordilho – Salvador Ana Amélia Camarano – Rio de Janeiro Ângelo Boss – Porto Alegre Annette Leibing – Rio de Janeiro Anita Libetalesso Néri – Campinas Cláudia Burlá – Rio de Janeiro Clineu de Mello Almada Filho – São Paulo Edgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão Preto Eliane Jost Blessmann – Porto Alegre Elisa Franco de Assis Costa – Goiânia Elizabete Viana de Freitas – Rio de Janeiro Emilio H. Moriguchi – Porto Alegre Emilio Jeckel Neto – Porto Alegre Flávio Chaimowicz – Belo Horizonte Guita Grib Debert – Campinas Ivete Berkenbrock – Curitiba João Carlos Barbosa Machado – Belo Horizonte João Marcos Domingues Dias – Belo Horizonte João Toniolo Neto – São Paulo Johannes Doll – Porto Alegre José Elias S. Pinheiro – Rio de Janeiro Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte Kátia Magdala L. 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Esta publicação contém publicidade de medicamentos sujeitos à prescrição, sendo destinada exclusivamente a profissionais habilitados a prescrever, nos termos da Resolução RDC Anvisa nº 96/08. Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Diretoria Nacional da SBGG Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA) 1o Vice-Presidente Paulo Renato Canineu (SP) Pres. Depto. Gerontologia Mariana Asmar Alencar (MG) Secretária Geral Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ) Secretária Adjunta Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Tesoureiro Daniel Kitner (PE) Diretora Científica Maria Alice Vilhena de Toledo (DF) Diretora de Defesa Profissional Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Conselho Consultivo Maria Angélica dos Santos Sanches (RJ) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS) Conselho Consultivo Pleno Adriano Cesar Gordilho (BA) Antonio Jordão Neto (SP) Eliane Jost Blessmann (RS) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth (RS) Laura Melo Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP) Marianela Flores de Hekman (RS) Myrian Spínola Najas (SP) Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Sonia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) Nezilour Lobato Rodrigues (PA) Mariana Asmar Alencar (MG) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão de Normas Presidente: Marianela Flores de Hekman (RS) Adriano Cesar Gordilho (BA) Eliane Jost Blessmann (RS) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Jussara Rauth (RS) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Comissão de Ética e Defesa Profissional Presidente: Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Adriano Cesar Gordilho (BA) Carlos Roberto Takayassu (MT) Cristiane Ribeiro Maués (PA) Emylucy de Paiva Paradela (RJ) Gelson Rubem A. Almeida (MG) Janaína Alvarenga Rocha (ES) João Senger (RS) Jussimar Mendes de Aquino (MS) Katíuscia Karine Martins da Silva (AL) Marcelo Azevedo Cabral (PE) Marcelo de Faveri (DF) Mariste Mendes Rocha (PB) Rangel Osellame (SC) Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR) Rosina Ribeiro Gabriele (CE) Tassio José D. Carvalho Silva (SP) Yara Maria Cavalcante de Portela (MA) Comissão de Comunicação Presidente: Salo Buksman (RJ) Fabio Falcão de Carvalho (BA) Ivete Berkenbrock (PR) Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Leani de Souza M. Pereira (MG) Marcela Guimarães Assis (MG) Renato Moraes A. Fabbri (SP) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Daniel Lima Azevedo (RJ) Isadora Crosara Alves Teixeira (GO) Claudia Burlá (RJ) Johannes Doll (RS) José Francisco Pinto de Almeida Oliveira (RJ) Josecy Maria S. Peixoto (BA) Laiane Moraes Dias (PA) Ligia Py (RJ) Lucia H.Takase Gonçalves (SC) Maristela Jeci dos Santos (SC) Toshio Chiba (SP) Comissão de Título de Geriatria Presidente: Elisa Franco de Assis Costa (GO) Adriano Cesar Gordilho (BA) Karlo Edson Carneiro Santana Moreira (PA) Livia Terezinha DEVENS (ES) Maira Tonidandel Barbosa (MG) Maria do Carmo Lencastre de M.E C. D.Lins (PE) Paulo José Fortes Villas Boas (SP) Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR) Veronica Hagemeyer Santos (RJ) Comissão de Título de Gerontologia Presidente: Cláudia Fló (SP) Jordelina Schier (SC) Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP) Tulia Fernanda Meira Garcia (CE) Viviane Lemos Silva Fernandes (GO) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ) Gerontologia Maria Celi Lyrio Crispim (RJ) Comissão de Informática Coordenador: Rodrigo Martins Ribeiro (RJ) Representante Institucional COMLAT-Diretora da Área de Educação Marianela Flores de Hekman (RS) CNA Elizabete Viana de Freitas (RJ) CNDI Jussara Rauth (RS) Comissão Científica de Geriatria Presidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF) Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso (SP) Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ) Daniel Apolinário (SP) Edgar Nunes de Moraes (MG) Einstein Francisco de Camargos (DF) Jacira do Nascimento Serra (MA) Juliana Junqueira M. 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Berzins (SP) Comissão de Publicações Editora-Chefe: Maysa Seabra Cendoroglo (SP) Diretorias das seções estaduais da SBGG ALAGOAS Presidente: Helen Arruda Guimarães 2o Vice-Presidente: Ana Elizabeth Lins Diretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal BAHIA Presidente: Rômulo Meira 2o Vice-Presidente: Fábio Falcão Diretor Científico: Lucas Kuhn Prado CEARÁ MARANHÃO PARANÁ Presidente: Jacira do Nascimento Serra 2o Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto Grangeiro Diretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior e Margareth de Pereira de Paula Presidente: Debora Christina de lacantara Lopes 2a Vice-Presidente: Rosemary Rauchbach Diretor Científico: Breno Barcelos Ferreira MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier Presidente: Alexsandra Siqueira Campos 2a Vice-Presidente: Luisiana Lins Lamour Diretor Científico: Sergio Murilo Fernandes PERNAMBUCO Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Lucila Bonfim Lopes Pinto Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho Presidente: Roberto Gomes de Azevedo 2a Vice-Presidente: Roseane Muniz Diretora Científica: Janine Nazareth Arruda MATO GROSSO RIO DE JANEIRO DISTRITO FEDERAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL PARÁ SANTA CATARINA PARAÍBA SÃO PAULO Presidente: Marco Polo Dias Freitas 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Diretor Científico: Leonardo Pitta ESPÍRITO SANTO Presidente: Roni Chaim Mukamal 2o Vice-Presidente: Neidil Espinola da Costa Diretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes Diretor Científico: Ricardo Borges da Silva Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos 2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães Assis Diretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira 2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. Santos Diretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas 2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade Diretor Científico: João Borges Virgolino Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim 2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant’Anna Mosci Presidente: Ângelo José Bos 2a Vice-Presidente: Vania Heredia Diretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges 2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do Santos Diretora Científica: Nagele Belettini Hahn Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri 2a Vice-Presidente: Valmari Cristina Aranha Diretora Científica: Maisa Carla Kairalla EDITORIAL ATIVIDADE FÍSICA, FUNÇÃO PULMONAR E COMPOSIÇÃO CORPORAL Nesta edição, dois artigos (Costa e colaboradores; Andrade e colaboradores) encontraram diferenças no pico de fluxo expiratório (PFE) quando compararam idosos brasileiros praticantes de atividade física e sedentários. O PFE reflete o calibre das grandes vias aéreas e é dependente da força muscular respiratória. Esses trabalhos trazem um tema ainda pouco estudado em nosso meio e talvez por isso negligenciado nas avaliações realizadas na prática clínica. O declínio da força e a diminuição da eficiência muscular que ocorrem no envelhecimento também afetam a performance muscular respiratória, e tais reduções serão evidenciadas quanto maior for a demanda (Mech Ageing Dev, 2008; 129). No estudo The Rush Memory and Aging Project, Buchman e colaboradores (Clinical Interventions in Aging, 2013; 8) acompanharam 960 idosos sem demência e examinaram a associação entre força muscular de membros superiores e inferiores, força muscular respiratória e função pulmonar com mortalidade. Eles encontraram resultados sugestivos de que a associação da força muscular com mortalidade é mediada pela função pulmonar. No estudo The Health, Aging, and Body Composition (J Gerontol A Biol Sci Med Sci, 2011; 66A), o declínio da função respiratória relacionada à idade foi acelerado pelo ganho de peso e maior depósito de gordura, após cinco anos de seguimento. A atividade física, assim como a composição corporal, tem impacto relevante sobre a função pulmonar, e seus efeitos parecem modular as alterações determinadas pelo envelhecimento. Maysa Seabra Cendoroglo Editora-chefe Base Editorial Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana 22020-001 – Rio de Janeiro. e-mails: [email protected] / [email protected] Artigo Original CARACTERIZAÇÃO DE IDOSOS INTERNADOS POR QUEDA ACIDENTAL NA CIDADE DE SÃO PAULO, 2013 Jane de Eston Armonda, Cintia Leci Rodriguesb, Carlos Goriosc, Fadua Couras da Silvad, Nassara Couras da Silvad, Luciana Melo Ferreirad, Patrícia Colombo Souzae RE S UM O Palavras-chave Idoso hospitalização Saúde do idoso Objetivo: Descrever as características das internações hospitalares por queda entre os idosos na cidade de São Paulo. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo. Foram estudados dados secundários do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre idosos com 60 anos ou mais de idade que tiveram internação hospitalar por queda acidental durante o ano de 2013 na cidade de São Paulo. Resultados: Foram registradas 8.234 internações hospitalares por queda acidental de idosos em 2013. As fraturas mais recorrentes devido à queda acidental foram: fratura de fêmur (32,9%) e traumatismo intracraniano (15,8%). Conclusão: No presente estudo foi encontrada uma frequência maior de internações por queda acidental no sexo feminino, e as internações por queda acidental foram maiores no grupo de idosos com 80 anos ou mais. O principal diagnóstico de internação foi a fratura do fêmur; como consequência, foram empregados o tratamento cirúrgico de fratura transtrocanteriana e as artroplastias. CHARACTERIZATION OF ELDERLY PATIENTS HOSPITALIZED FOR AN ACCIDENTAL FALL IN SÃO PAULO CITY, 2013 ABS T RACT Keywords Aged hospitalization health of the elderly Objective: Description of the characteristics of hospitalizations due to falls in elderly people in São Paulo city. Methods: This was a cross-sectional, retrospective study. Secondary data from the National Health System (SUS) of seniors aged 60 or older who were hospitalized for an accidental fall during the year 2013 in the city of São Paulo were studied. Results: 8,234 admissions were recorded by an accidental fall, elderly, in 2013. Femoral fracture (32.9%); intracranial injury (15.8%). Conclusion: In the present study, a higher frequency of hospitalizations for accidental fall in females and hospitalizations for accidental fall was greater was found in the group of those aged 80 years and over. The primary diagnosis for hospitalization was fractures of the femur as a result of surgical treatment femur fracture and arthroplasty. a Doutora em Saúde Pública, Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora Adjunta do Curso de Medicina, Universidade de Santo Amaro (Unisa) – São Paulo (SP), Brasil. b Mestre em Saúde Pública, USP. Departamento de Saúde Pública do Curso de Medicina, Unisa – São Paulo (SP), Brasil. c Mestre em Ortopedia e Traumatologia, USP. Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Unisa – São Paulo (SP), Brasil. d Acadêmica do Curso de Medicina, Unisa. e Doutora em Nutrição, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Coordenadora do Stricto Sensu em Ciências da Saúde, Unisa – São Paulo (SP), Brasil. Dados para correspondência Cintia Leci Rodrigues – Professor Candido Nogueira da Mota, 409 – Interlagos – CEP: 04786-070 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: (11) 98519-5224 – E-mail: [email protected] Idosos internados por queda acidental | 201 INTR ODUÇÃO No ano de 2013, na cidade São Paulo, a população idosa projetada foi de 1.470.719, correspondendo a 12,8% da população residente na cidade.1 A literatura aponta que os idosos tendem a utilizar mais os serviços de saúde, apresentando elevadas taxas de internação hospitalar, assim como uma permanência em hospitais mais prolongada.2 As quedas têm como consequência implicações na qualidade de vida e no bem-estar da população idosa.3,4 As causas das quedas em pessoas idosas podem ser extrínsecas (decorrentes de obstáculos ambientais que não podem ser transpostos pelos idosos) ou intrínsecas (decorrentes de alterações fisiológicas relacionadas com o envelhecimento).3 O Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS), fonte de informação sobre a morbidade hospitalar no Brasil, trata-se de uma base de dados administrativa que armazena informações das internações hospitalares ocorridas no sistema público de saúde.5 No ano de 2013, na cidade de São Paulo, foram gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) R$ 11.595.276,91 com o tratamento de acidentes por queda entre idosos que tiveram internação hospitalar. Devido ao processo de envelhecimento populacional esta discussão surgiu pelo interesse em levantar o perfil das internações hospitalares por queda de idosos residentes na cidade de São Paulo, pois as internações refletem a assistência oferecida a esses idosos na saúde pública e facilitam a visualização das necessidades, com o intuito de melhorar a assistência, de ações implementadas de forma mais particular e singular visando a população idosa.6 Este trabalho objetivou descrever as características das internações hospitalares por queda entre os idosos na cidade de São Paulo. MÉ TO D O S Trata-se de um estudo transversal, descritivo, retrospectivo. A população de estudo foi composta de idosos com 60 anos ou mais de idade que tiveram internação hospitalar por queda acidental, de janeiro a dezembro de 2013, na cidade de São Paulo. Foi realizado um levantamento utilizando-se dados secundários do SIH/SUS da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade de São Paulo, onde são registradas as informações das internações por meio da ficha de Autorização de Internação Hospitalar (AIH).7 As variáveis utilizadas para o estudo foram: idade (em anos), sexo (feminino e masculino), raça/cor, permanência no hospital (em dias), especialidade do leito, caráter do atendimento (eletivo, urgência), procedimento realizado, diagnóstico de internação, município de residência e município de internação. Após a coleta de dados foram realizados o processamento e a tabulação de todos os dados. A análise destes baseou-se na estatística descritiva, a partir da qual foram calculadas as frequências absolutas e relativas. O projeto de pesquisa dispensa aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santo Amaro (Unisa), pois se trata de uso de dados secundários de banco de dados de domínio público, conforme preconiza a Resolução nº 196/9621 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). R E S U LTA D O S Durante o período estudado, de janeiro a dezembro no ano de 2013, foram registradas 8.234 internações hospitalares por queda acidental, entre idosos, na cidade de São Paulo. Nesse mesmo período as internações por causas externas foram 14.408, sendo que as quedas acidentais corresponderam a 57,14% (Figura 1). 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 Masculino 4.000 Feminino 3.000 Total 2.000 1.000 0 60–64 65–69 70–74 75–79 ≥80 Idade (anos) Figura 1 Internações hospitalares no Sistema Único de Saúde, segundo faixa etária e sexo, São Paulo, 2013 Total 202 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA As internações mais frequentes foram de idosos com 80 anos ou mais de idade (31,0%); 61,9% do sexo feminino; 57,9% brancos, 14,9% pardos e 2,7% negros; 92,7% residiam na cidade de São Paulo e foram internados no mesmo local; 7,3% eram residentes de outros municípios (Guarulhos, Dracena, Santo André); 74,1% dos atendimentos em caráter de urgência (Tabela 1). Os principais diagnósticos registrados foram: S72 — Fratura do fêmur (32,9%); S06 — Traumatismo intracraniano (15,8%); S52 — Fratura do antebraço (10,6%); S82 — Fratura da perna incluindo tornozelo (8,1%); S42 — Fratura do ombro e do braço (5,6%). Os procedimentos registrados mais realizados foram: tratamento de traumatismo de localização especificada (13,6%); tratamento cirúrgico de fratura transtrocanteriana (12,4%); tratamento conservador de traumatismo crânio-encefálico grau leve (6,3%); e artroplastias (8,2%). Entre as artroplastias, 42,3% foram artroplastia de quadril parcial, 36,7%, total primária do quadril cimentada, 14,6%, total primária do quadril não cimentada/híbrida. D I S C USSÃO Apesar de o envelhecimento populacional ser amplamente reconhecido como uma das principais conquistas sociais, em função de menor mortalidade por causas externas entre a população jovem e do sexo feminino, constata-se uma feminização do envelhecimento do segmento idoso.8,9 Observa-se uma frequência maior de internações por queda acidental no sexo feminino (61,9%). Isso pode ter sido reflexo da feminização do envelhecimento.8-10 As internações por queda acidental foram maiores no grupo de idosos octogenários. A população de idosos acima de 80 anos, seja pela fragilidade física ou pelo maior grau de dependência, perda de equilíbrio e alterações nas massas muscular e óssea, é mais susceptível às quedas.11,12 Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2004) verificou que a população idosa por cor/raça no ano de 2000 não se diferenciou da distribuição da população como um todo, em que há predominância da população de cor Tabela 1 Internações hospitalares no Sistema Único de Saúde, segundo os dias de permanência, São Paulo, 2013 Permanência (em dias) n f (%) 0a7 6.232 75,7 8 a 14 1.224 14,7 778 9,4 8.234 100,0 15 ou mais Total f: frequência. Fonte: SIH/SUS (2014). branca, seguida pela parda.13 Está de acordo com este estudo, no qual foi verificado que os idosos internados por queda acidental eram principalmente brancos, seguidos por pardos. Vale ressaltar a existência de um problema de enumeração das informações desagregadas por raça/cor por serem resultados de autodeclaração do indivíduo.14 No presente estudo, 75,7% dos idosos tiveram tempo de internação entre 0 e 7 dias. Segundo estudo realizado por Alvarenga e Mendes, a média de permanência hospitalar ficou em 5,71 dias, enquanto a média para o grupo etário de ≥60, no Brasil, foi de 7,1 dias em admissões financiadas pelo SUS. As médias baixas obtidas pela população idosa podem ser explicadas pelo sistema de pagamento adotado pelo governo em relação aos hospitais, que adotam como critério apenas uma enfermidade como motivo da admissão hospitalar, independentemente das enfermidades associadas que o sujeito possa apresentar.15,16 A fratura de fêmur está entre as lesões traumáticas mais comuns na população idosa, podendo ocorrer nas regiões proximal e distal ou ainda na diáfise femoral.17 Neste estudo evidenciou-se que o diagnóstico mais frequente por queda acidental foi a fratura de fêmur. O tratamento da maioria das fraturas de fêmur é cirúrgico, visando a redução da morbidade e da mortalidade.18-20 Estudo realizado por Astur et al. registrou que as intervenções para idosos que sofreram queda acidental foram tratamento cirúrgico para fêmur e transtrocanteriana, o que corrobora os resultados deste estudo.21 O tratamento da maioria das fraturas de fêmur é cirúrgico, sendo o conservador reservado somente a algumas fraturas incompletas ou sem desvio. A cirurgia visa à redução e à fixação estável da fratura, utilizando os mais variados métodos de osteossíntese ou, no caso específico da fratura do colo femoral com desvio, a substituição protética. 19 O envelhecimento populacional suscita uma série de questões com respeito à composição dos gastos sociais, entre as quais está a preocupação com o aumento dos gastos da saúde. Assim, o SIH/SUS informa o quanto foi gasto com a internação e com os procedimentos realizados no idoso. No entanto, foram apontados somente os gastos com internações. Para se ter um bom planejamento, é necessário analisar também os outros tipos de gastos que aqui não foram estudados, como, por exemplo, o atendimento ambulatorial.21 Considerando as características das transições demográfica, epidemiológica e de saúde no Brasil, as quedas entre idosos configuram-se em problema de saúde pública devido à alta frequência com que ocorrem, à morbidade e à mortalidade advindas desse evento, ao elevado custo social e econômico decorrente das lesões provocadas e por serem eventos passíveis de prevenção. 22-24 Idosos internados por queda acidental | 203 C ON C LUSÃO No presente estudo foi encontrada uma frequência maior de internações por queda acidental no sexo feminino; verificou-se também que as internações por queda acidental foram maiores no grupo de idosos com 80 anos ou mais. O principal diagnóstico de internação foi a fratura do fêmur; como consequência, o tratamento cirúrgico de fratura transtrocanteriana e as artroplastias foram os mais empregados, sendo o tempo de permanência hospitalar entre 0 a 7 dias. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. R EFER ÊN CIAS 1. CEINFO. Centro de Epidemiologia e Informação. População do município de São Paulo. Disponível em: <http://www.prefeitura. sp.gov.br>. [Acessado em: 05 maio 2014]. 2. Del Duca GF, Nader GA, Santos IS, Hallal PC. Hospitalização e fatores associados entre residentes de instituições de longa permanência para idosos. Cad Saúde Pública. 2010;26(7):1403-10. 3. Almeida ST, Soldera CLC, de Carli GA, Gomes I, Resende TL. Análise de fatores extrínsecos e intrínsecos que predispõem a queda em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2012;58(4):427-33. 4. Fohn JRS, Rosset I, Freitas CP, Silva AO, Santos JLF, Rodrigues RAP. Prevalência de queda de idosos em situação de fragilidade. Rev Saúde Pública. 2013;47(2):266-73. 5. Dias MAV, Martins M, Navarro N. Rastreamento de resultados adversos nas internações do Sistema Único de Saúde. Rev Saúde Pública. 2012;46(4):719-29. 6. Pilger C, Lentsk MH, de Vargas G, Baratieri T. Causas de internação hospitalar de idosos residentes em município do Paraná, uma análise dos últimos 5 anos. R Enferm UFSM. 2011;1(3):394-402. 7. Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH/ SUS). Autorização de Internação Hospitalar – Centro de Epidemiologia e Informação da Secretaria Municipal da Saúde da Cidade de São Paulo. Disponível em: <www.prefeitura.sp.gov.br>. [Acessado em: 05 maio 2014]. 8. Moreira MM. O envelhecimento da população brasileira: intensidade, feminização e dependência. Rev Bras Estudos Pop. 1998;15(1):79-93. 9. Negreiros TCGM. Sexualidade e gênero no envelhecimento. Alceu. 2004;5(9):77-86. 10. Lopes WMPS, Figueiredo MLF. 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Fraturas da extremidade proximal do fêmur tratadas no hospital São Paulo/UNIFESP: estudo epidemiológico. Rev Bras Med. 2011;68(4):11-5. 21. Berenstein CK, Wajnman S. Efeitos da estrutura etária nos gastos com internação no Sistema Único de Saúde: uma análise de decomposição para duas áreas metropolitanas brasileiras. Cad Saúde Pública. 2008;24(10):2301-13. 22. Cruz DT, Ribeiro LC, Vieira MT, Teixeira MTB, Bastos RR, Leite ICG. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev Saúde Pública. 2012;46(1):138-46. 23. Antes DL, Schneider IJC, Benedetti TRB, d’OrsiI E. Medo de queda recorrente e fatores associados em idosos em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Cad Saúde Pública. 2013;29(4):758-68. 24. Biazin DT, Rodrigues RAP. Perfil de idosos que sofreram trauma em Londrina-Paraná. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(3):810-7. Artigo Original ESTUDO COMPARATIVO DOS PARÂMETROS ANTROPOMÉTRICOS E PULMONARES ENTRE IDOSAS ATIVAS E SEDENTÁRIAS Luana Jesus de Almeida da Costaa, Eliane Araújo de Oliveirab, Sandra Emília Benício Barrosc, Janainna Palitó Rodrigues de Sousad Resumo Palavras-chave Envelhecimento Antropometria Testes de função respiratória Hidroterapia Estilo de vida sedentário Objetivo: Comparar os parâmetros antropométricos e a função pulmonar entre idosas que participam de um programa de hidroterapia e idosas sedentárias. Métodos: Foi realizado um estudo observacional, de campo, do tipo transversal, com idosas (n=23) entre 60 e 75 anos de idade, divididas em dois grupos G1 (idosas praticantes de hidroterapia) e G2 (idosas sedentárias), utilizando-se variáveis sociodemográficas (idade, estado civil e atividade laboral exercida), dados relativos à função pulmonar (mobilidade torácica, pressões respiratórias, pico de fluxo expiratório — PFE — e tabagismo), avaliações antropométricas (índice de massa corporal — IMC, dobra cutânea tricipital — DCT, circunferência muscular do braço — CMB — e relação cintura/quadril — RC/Q) e o questionário Baecke modificado para idosos (QBMI). Resultados: Encontrou-se diferença significativa entre os grupos (p≤0,05) nas variáveis PFE e no escore total do QBMI. Conclusão: A atividade aquática realizada uma vez por semana não foi capaz de gerar diferenças significativas em todos os parâmetros antropométricos e pulmonares nas idosas avaliadas. A COMPARATIVE STUDY OF PULMONARY AND ANTHROPOMETRIC PARAMETERS BETWEEN PHYSICALLY ACTIVE ELDERLY WOMEN AND SEDENTARY WOMEN Abstract Keywords Aging Anthropometry Respiratory function tests Hydrotherapy Sedentary lifestyle Objective: Comparison of the anthropometric and pulmonary function between elderly women who attend a hydrotherapy program and sedentary elderly women. Methods: An observational, field and cross-sectional study has been done with elderly women (n=23) between 60 and 75 years old, they were divided in two groups: G1 (hydrotherapy elderly women practitioners) and G2 (sedentary elderly), the following variables were used: socio-demographic characteristics (age, marital status and labor activity exercised), pulmonary function data (thoracic mobility, respiratory pressures, peak expiratory flow, and smoking), anthropometric measurements (body mass index, skinfold triceps, arm muscle circumference and waist/hip ratio) and the modified Baecke physical activity questionnaire for elderly people. It has been performed a descriptive analysis of the data through SPSS obtaining the mean and standard deviation of all variables. The variables normality was checked by the Shapiro-Wilk test and the homogeneity by Levene’s test. In order to evaluate the differences, we used the nonparametric Mann-Whitney test with significance level of p≤0.05. Results: Significant difference between both groups (p≤0.05) in peak expiratory flow variables and in the total score of the Baecke questionnaire. Conclusion: The water activity held once a week was not able to create significant differences in all anthropometrics and pulmonary parameters in elderly women. Graduada em Fisioterapia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – João Pessoa (PB), Brasil. Fisioterapeuta e Educadora Física, Doutora em Atividade Física e Saúde, Universidade de Granada – Espanha. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia, UFPB – João Pessoa (PB), Brasil. c Fisioterapeuta, Doutora em Ciências da Motricidade, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) – Rio Claro (SP), Brasil. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia, UFPB – João Pessoa (PB), Brasil. d Graduada em Fisioterapia, Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba (FCM) – João Pessoa (PB), Brasil. a b Dados para correspondência Luana Jesus de Almeida da Costa – Rua Antônio Targino Pessoa da Silveira, 217, apto. 203 – Jardim Cidade Universitária – CEP: 58052-250 – João Pessoa (PB), Brasil – Tel.: (83) 8859-9961/9935-9714 – E-mail: [email protected]/[email protected] Antropometria e função pulmonar em idosas | 205 INTR ODUÇÃO A Paraíba se destaca como o terceiro Estado do Brasil com maior número na proporção de idosos, apresentando em torno de 338 mil habitantes.1 Diante dessa realidade com o aumento da taxa de sobrevivência até uma idade avançada, observa-se o aumento da dependência em relação a terceiros e, consequentemente, uma diminuição da funcionalidade.2,3 Sabe-se que o envelhecimento desencadeia alterações celulares, moleculares e funcionais, conduzindo à diminuição da capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático e, por conseguinte, maior predisposição às doenças, assim como acarreta alterações nas esferas sociais, intelectuais e funcionais, podendo desencadear importantes alterações na qualidade de vida e na independência do idoso.4,5 O envelhecimento está associado a mudanças na composição corporal, tais como perda de estatura, aumento na proporção de gordura corporal e perda progressiva de massa magra, o que influencia nos parâmetros antropométricos dos indivíduos.6 Após o impacto das alterações do sistema neuromuscular na mobilidade e na capacidade funcional do idoso, as alterações dos sistemas cardiovascular e respiratório exercem um efeito negativo nas variáveis relacionadas à saúde. A deterioração da função pulmonar está associada a taxas elevadas de mortalidade.6,7 O envelhecimento provoca alterações anatômicas na caixa torácica, nos brônquios e nas veias pulmonares, limitando a capacidade respiratória. A redução na elasticidade pulmonar e na pressão de recolhimento elástico contribui para a redução da força muscular respiratória.8,9 Os gastos atuais com atendimento à saúde da pessoa idosa demonstram a preocupação dos países com a necessidade de investimentos para atender a tal demanda. A disseminação de uma medicina preventiva, visando principalmente o controle das doenças crônicas e incapacitantes por meio da prática de atividades físicas regulares, garantirá que o idoso seja mais saudável e que o sistema de saúde seja menos oneroso.4 Nessa perspectiva, a atividade física na água é praticada pela população idosa com frequência em programas de exercício físico.10 As propriedades físicas desse meio, associadas aos exercícios, ajudam a atingir a maioria dos objetivos físicos propostos num programa de reabilitação. O meio aquático é considerado seguro e eficaz na reabilitação do idoso, por atuar simultaneamente nas desordens musculoesqueléticas e na melhora do equilíbrio.11,12 Em decorrência do aumento populacional de idosos no mundo e mais especificamente no Brasil, cresce a necessidade dos profissionais da saúde pesquisarem diferentes parâmetros desse grupo de indivíduos que precisam de cuidados específicos.13 Com a avaliação detalhada dos parâmetros antropométricos e da função pulmonar podem ser definidas estratégias de promoção da saúde dos idosos, no intuito de retardar o aparecimento de doenças crônico-degenerativas ou prevenir as incapacidades.14 O presente trabalho objetivou comparar os parâmetros antropométricos, a função pulmonar e os escores obtidos no questionário de Baecke Modificado para Idosos (QBMI) entre idosas participantes de um programa de hidroterapia e idosas sedentárias. MÉ TO D O S Trata-se de um estudo observacional, de campo, do tipo transversal, com abordagem quantitativa que foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa (PB). O universo do estudo foi representado por mulheres, acima de 60 anos, atendidas no Serviço de Fisioterapia do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e na Clínica Escola de Fisioterapia-UFPB, cuja população foi de n = 50 mulheres. A amostra foi aleatória simples, com as mulheres recrutadas a partir do contato direto e por meio do Laboratório de Estudos em Motricidade e Envelhecimento HumanoUFPB, João Pessoa (PB). A amostra foi composta por 23 idosas, as quais se enquadravam nos critérios de inclusão do presente estudo. Foi realizado um cálculo amostral tendo como base a população recrutada das 50 mulheres. Participaram do estudo 23 idosas entre 60–75 anos, divididas em dois grupos: G1 (grupo de idosas praticantes de hidroterapia, n=09) e G2 (grupo de idosas sedentárias, n=14). Foram incluídas na amostra do G1 as idosas praticantes de atividade aquática que ocorria uma vez por semana na Clínica Escola de Fisioterapia da UFPB, com duração de uma hora e trinta minutos e envolvia exercícios de aquecimento, alongamento, fortalecimento, exercícios aeróbicos e relaxamento. No G2 foram incluídas as idosas da lista de espera, escolhidas aleatoriamente, no período entre abril e agosto de 2013. Foram excluídas da amostra as idosas com patologias pulmonares e cardíacas e que possuíam nível cognitivo insatisfatório para compreender os testes de avaliação. As variáveis presentes no estudo foram: dados sociodemográficos, dados referentes à função pulmonar, dados antropométricos e nível de atividade física (NAF) para idosos. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados: ficha de avaliação contendo os aspectos sociodemográficos, como idade, estado civil e atividade laboral exercida; parâmetros da função pulmonar: mobilidade torácica, pressões inspiratória (PImáx) e expiratória (PEmáx) máximas, pico de fluxo expiratório (PFE), tabagismo; avaliação dos dados antropométricos; QBMI. A mobilidade torácica foi analisada por meio de trena, nas regiões axilar, xifoide e basal, durante a inspiração e a expiração máximas, medidas duas vezes em cada região; dos valores registrados foi aceita a média. As participantes foram estimuladas verbalmente para alcançar seus 206 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA limites máximos. Os pontos de corte para normalidade da expansibilidade torácica sugeridos em adultos saudáveis (3,75 a 7,5 cm) foram adotados devido à ausência de valores de referência para idosas. A diferença entre o resultado da inspiração máxima e da expiração máxima forneceu o coeficiente de amplitude torácica, representando a mobilidade torácica.15 As pressões respiratórias máximas foram mensuradas por manovacuômetro analógico (marca SUPORTE®, com faixa de operação de ±150 cmH2O), com a participante sentada recebendo orientações para realizar as manobras, comprimindo um bocal contra os lábios e com oclusão nasal. A pressão inspiratória máxima foi mensurada a partir da capacidade residual funcional, e a pressão expiratória máxima iniciou em nível da capacidade pulmonar total; ambas foram mantidas por, pelo menos, dois segundos e medidas em três etapas, intercaladas com dois minutos de repouso. Um intervalo de cinco minutos foi observado entre as mensurações da PImáx e da PEmáx. Para cada etapa foram registrados três valores, considerando-se o maior valor. Para a classificação dessas medidas foram tomados como valores do padrão de normalidade (percentil 60–69 anos = Pimáx 85,3±5,5/PEmáx 75,6±10,7); (percentil 70–80 anos = Pimáx 72,7±3,9/PEmáx 69,6±6,7).16 A medida do PFE foi realizada por meio do medidor de fluxo expiratório para adultos (peak flow meter), marca Asses®(60–880 L/min). Foram realizadas três medidas, com dois minutos de repouso entre uma e outra, considerando-se a maior. A mensuração foi realizada com a idosa em posição ortostática, após a participante ser instruída a atingir a capacidade pulmonar total, com oclusão nasal, seguida de expiração rápida. A classificação desta medida é feita de acordo com o sexo, a idade e a altura e foi definida conforme os valores normativos para mulheres descritos na literatura.17 Com relação ao tabagismo, a idosa foi avaliada quanto à frequência do hábito de fumar (ex-fumante, não fumante, fumante habitual ou ocasional). Para avaliação antropométrica, utilizaram-se os seguintes indicadores: peso, altura, índice de massa corporal (IMC), dobra cutânea tricipital (DCT), circunferência muscular do braço (CMB) e relação cintura/quadril (RC/Q). Para medir o peso e a altura foi utilizada uma balança antropométrica (marca MICHELETTI, com faixa de operação de ±200 kg). As idosas foram posicionadas no centro da balança, em posição ortostática, sem sapatos e usando vestes leves. O IMC foi classificado por meio do critério de Lipschitz (1994) (baixo peso <22 kg/m2, eutrofia 22 a 27 kg/m2 e excesso de peso >27 kg/m2), visto que leva em consideração as mudanças na composição corporal que ocorrem com o envelhecimento.18 A DCT foi avaliada por meio de um adipômetro plicômetro clínico (marca CESCORF), com precisão e sensibilidade de 1 mm, com variação de 0 a 60 mm. A medida foi realizada no nível do ponto médio do braço não dominante por intermédio de três aferições, considerando-se a média obtida. Para classificação da DCT foram utilizados os valores de referência baseados em percentis do Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III), considerando-se insuficiente (percentil ≤25), eutrofia (percentil entre 25–75) e excessivo (percentil ≥75).19 A CMB e a medida da cintura e do quadril foram aferidas por meio de uma fita antropométrica. A CMB foi mensurada no ponto médio do braço, sendo realizadas três medidas. Sua classificação foi realizada de acordo com os percentis, considerando-se desnutrição (percentil ≤25) e eutrofia (percentil ≥25).19 Para medir a circunferência da cintura, a mensuração foi realizada no nível da menor curvatura abdominal ao final da expiração. Os valores da circunferência da cintura foram divididos pelos valores da circunferência do quadril para caracterizar a distribuição da gordura abdominal e para definir o risco de doenças cardiovasculares. Quando esta relação foi ≥0,85 havia presença de risco cardiovascular. Para avaliar o NAF realizado, foi aplicado o QBMI. Este instrumento é composto por 12 questões, todas com respostas variando entre muito ativo e inativo e com pontuações específicas. Foi avaliado o NAF em três domínios: tarefas domésticas, atividades esportivas e atividades de lazer. Para avaliar o NAF, somam-se os valores, entendendo que a validade é diretamente proporcional à sua respectiva classificação, isto é, à medida que o valor de pontuação (escore), cresce o NAF aumenta. As idosas foram classificadas da seguinte forma: menos ativas (QBMI ≤1,25), moderadamente ativas (escores do QBMI entre 1,25–3,25) e mais ativas (QBMI ≥3,25).20,21 Foi realizada a análise descritiva dos dados por meio do programa SPSS, versão 20.0 para Windows. Inicialmente, o teste de Shapiro-Wilk evidenciou que todas as variáveis dependentes estavam distribuídas na curva normal. Na sequência, o teste de Levene determinou que as variáveis dependentes, o IMC, a DCT, a CMB, mobilidade torácica, pressões respiratórias, o PFE e o NAF apresentaram variâncias homogêneas. Para avaliar as diferenças entre os grupos, foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney, com nível de significância de p≤0,05, visto que o número da amostra foi menor do que 30 e o número de participantes por grupos foi diferente. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (Protocolo nº 065/13). De acordo com os aspectos éticos, os sujeitos concordaram em participar do estudo por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, conforme Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), que regulamenta a pesquisa em seres humanos. Foram cumpridos os princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000) e na legislação específica do país. Antropometria e função pulmonar em idosas | 207 G2 (57,14%) foi classificada como não fumante. No que se refere à mobilidade torácica, o G2 apresentou melhor mobilidade quando comparado ao G1, visto que obteve maiores médias nos coeficientes de amplitude torácica xifoide (3,00±2,98) e (basal 2,71±2,68); entretanto, não foi verificada diferença significativa. Em relação à força dos músculos respiratórios mensurada por meio da manovacuometria, o G1 obteve melhor desempenho dos músculos expiratórios (PEmáx) (66,66±21,36), assim como do PFE (255±68,35). Foi observada diferença significativa para o PFE (Z=3,066; p=0,0002) (Tabela 2). R ESULTAD OS Participaram deste estudo 23 mulheres, sendo distribuídas em dois grupos: grupo de idosas praticantes de hidroterapia (G1) cuja idade variou entre 60 e 75 anos (66,44±6,1); grupo de idosas sedentárias (G2) cuja idade variou entre 61 e 73 anos (66,5±3,7). A maioria das participantes do G1 era casada (55,6%) e não exercia atividades laborais, cuidando apenas do lar (33,3%). As participantes do G2 eram, em sua maioria, casadas (42,9%) e aposentadas (64,3%) (Tabela 1). Quanto às variáveis correspondentes à função pulmonar das idosas avaliadas, a maioria do G1 (66,67%) e do Tabela 1 Dados sociodemográficos G1 G2 Variáveis Média DP Média DP 66,44 6,106 66,50 3,777 f % f % Solteira 2 22,2 3 21,4 Casada 5 55,6 6 42,9 Divorciada 1 11,1 0 – Viúva 1 11,1 5 35,7 Aposentada 1 11,1 9 64,3 Recepcionista 1 11,1 0 – Assistente Social 2 22,2 0 – Do lar 3 33,3 1 7,1 Enfermeira 1 11,1 1 7,1 Contadora 1 11,1 0 – Costureira 0 – 2 14,3 Professora 0 – 1 7,1 Idade Variáveis Estado civil Atividade laboral G1: hidroterapia; G2: sedentárias; f: frequência; DP: desvio-padrão. Tabela 2 Dados relativos à função pulmonar Variáveis G1 G2 Média DP Média DP CMTAx (cm) 4,00 ±1,76 4,07 ±1,60 CMTXi (cm) 1,69 ±2,87 3,00 ±2,98 CMTBa (cm) 1,38 ±4,62 2,71 ±2,68 PImáx (cmH2O) 58,33 ±19,20 -56,21 ±17,11 PEmáx (cmH2O) 66,66 ±21,36 60,42 ±22,55 PFE 255,00 ±68,35 157,77 ±50,93 G1: hidroterapia; G2: sedentárias; DP: desvio-padrão; CMTAx: coeficiente de mobilidade torácica axilar; CMTXi: coeficiente de mobilidade torácica xifoide; CMTBa: coeficiente de mobilidade torácica basal; PImáx: pressão inspiratória máxima; PEmáx: pressão expiratória máxima; PFE: pico de fluxo expiratório. 208 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA No que diz respeito às variáveis antropométricas, observou-se quanto ao IMC que a amostra foi classificada em excesso de peso (60,9%) e eutrófica (39,1%). Entre os grupos, esse indicador antropométrico mostrou que no G2 42,9% das participantes eram eutróficas e 57,1% estavam com excesso de peso; no G1, 66,7% estavam com excesso de peso e 33,3% eram eutróficas. Quanto à CMB e a DCT, no G1, 100% das idosas foram classificadas como eutróficas; no G2, 7,1% foram classificadas como abaixo do normal e 92,9% foram consideradas eutróficas. A maioria da amostra avaliada (91%) apresentou uma alta RC/Q, indicando presença de risco cardiovascular; não houve diferenças significativas entre os grupos, apenas uma participante de cada grupo apresentou ausência de risco (Tabela 3). Quanto ao NAF, identificado por meio do QBMI pelos escores dos domínios de atividades diárias, esportivas e de lazer, observou-se que o G1 apresentou uma média superior no escore total (4,20±0,569), quando comparada ao G2 (2,45±0,343). Foram observadas diferenças significativas entre os grupos (Z=3,971; p=0,000). D I S C USSÃO A literatura mostra que o exercício físico corresponde a um fator de prevenção dos efeitos deletérios do envelhecimento. O presente estudo revelou os resultados da atividade aquática e da inatividade nos indicadores antropométricos e pulmonares de idosas. Algumas alterações respiratórias presentes nos indivíduos idosos podem afetar o condicionamento físico, tais como: diminuição da capacidade vital, diminuição do volume expiratório forçado, aumento no volume residual, aumento do espaço morto anatômico, aumento da ventilação durante o exercício, menor mobilidade da parede torácica, diminuição da capacidade de difusão pulmonar, perda de elasticidade do tecido pulmonar e decréscimo da ventilação expiratória máxima.6 No presente estudo, a cirtometria revelou que a média da expansibilidade torácica das idosas encontra-se abaixo da normalidade descrita (≥5 cm).22 Contudo, Belini23 afirma que a expansibilidade torácica esperada em mulheres é igual ou superior a 2,5 cm e aumenta dos 11 aos 34 anos. No estudo de Guimarães et al.,24 todas as idosas avaliadas, independentemente se praticavam atividade física ou não, apresentaram grau de mobilidade torácica abaixo dos padrões de normalidade, o que corrobora os dados encontrados no presente estudo, em que ambos os grupos apresentaram redução da mobilidade torácica. O exercício físico influencia positivamente a função pulmonar de idosas. Souza et al.,25 ao comparar as pressões respiratórias máximas entre idosas sedentárias (n=13) e fisicamente ativas (n=13), avaliadas quanto às pressões inspiratória e expiratória máximas, concluíram que as idosas fisicamente ativas apresentaram melhor função pulmonar. Os dados obtidos no presente estudo confirmam essas colocações, tendo em vista que as idosas praticantes de hidroterapia obtiveram médias superiores, quando comparadas às idosas sedentárias. Outro estudo realizado comparando dois grupos demonstrou que o grupo de fisioterapia aquática apresentou aumentos significantes da força inspiratória máxima, em relação ao grupo de exercícios em solo.26 De todo o sistema respiratório, a expiração é a parte do processo em que se observa a maior alteração durante o envelhecimento; além disso, há redução da elasticidade pulmonar e atrofia dos músculos respiratórios.27 O PFE tem uma diminuição média anual de 9,2 L/min em idosos do sexo masculino e de 6 L/min do gênero feminino.28 No presente estudo, as idosas praticantes de hidroterapia obtiveram um valor de PFE superior ao grupo controle, mesmo considerando-se a diferença existente no número de participantes dos grupos, as especificidades no que diz respeito ao tipo de exercício aplicado e a frequência da atividade física realizada. Tabela 3 Dados antropométricos da amostra Variáveis G1 G2 Média DP Média DP Peso (kg) 67,7 ±12,06 70,69 ±13,08 Estatura (m) 1,52 ±0,04 1,53 ±0,03 IMC (km/m2) 29,3 ±5,26 30,16 ±5,06 CMB (cm) 31,4 ±3,28 33,67 ±4,04 DCT (mm) 34,6 ±6,22 38,25 ±9,54 RC/Q (cm) 0,90 ±0,063 0,95 ±0,092 QBMI Z=3,971; p=0,000 G1: hidroterapia; G2: sedentárias; IMC: índice de massa corporal; CMB: circunferência muscular do braço; DCT: dobra cutânea tricipital; RC/Q: relação cintura/quadril; QBMI: questionário de Baecke modificado para idosos. Antropometria e função pulmonar em idosas | 209 Com relação às variáveis antropométricas observou-se que o grupo de hidroterapia obteve médias inferiores, quando comparado ao grupo de sedentárias. Contudo, ao serem analisadas pela estatística inferencial, estas variáveis não apresentaram diferenças significativas. No estudo de Barros, 29 no qual foram comparados quatro grupos de idosas (sedentárias, hidroginástica, musculação e dança), também não foi observada diferença significativa nas variáveis antropométricas avaliadas. Krause et al.30 observaram que o IMC, a estatura e as pregas cutâneas declinaram da faixa etária mais jovem para a mais idosa. Entre os idosos o maior problema nutricional é o sobrepeso e a obesidade. Valores elevados de IMC estão associados a várias doenças. No estudo de Costa,31 a distribuição percentual dos indicadores antropométricos mostrou a prevalência de 85,5% de excesso de peso segundo o IMC. Estudos apontam que o menor NAF e o elevado consumo diário de alimentos de risco para doenças crônicas não transmissíveis podem explicar o aumento da circunferência da cintura. Indicam também que o menor NAF, ainda que o consumo de alimentos protetores seja elevado, isoladamente não assegura a redução dos valores do IMC.32 Tais informações corroboram o presente estudo, em que ocorreu a prevalência do excesso de peso nos grupos estudados (G1=57,1%; G2=66,7%). Vale ressaltar que o parâmetro da circunferência da cintura é considerado atualmente um dos mais importantes preditores da incidência de doenças cardiovasculares.33 Mesmo não havendo diferença significativa entre os grupos, 91% da amostra estudada apresentava uma RC/Q acima de 0,85 cm, representando uma alta incidência de risco cardiovascular; o mesmo ocorreu em um estudo sobre parâmetros antropométricos de mulheres, no qual foi observado 64% de excesso de peso na amostra avaliada.31 No estudo em questão houve diferenças significativas entre os grupos com relação aos escores obtidos no QBMI. Barros 29 utilizou este mesmo instrumento e não observou diferenças estatísticas significativas entre as médias dos grupos estudados quanto às atividades diárias e de lazer; entretanto, foi encontrada diferença significativa para a atividade esportiva entre o grupo das sedentárias e o das praticantes de exercício físico, tal qual evidenciado neste estudo. No trabalho de Zanella 34 foi enfatizada a importância da prática de exercícios físicos, especialmente a hidroterapia, não apenas na manutenção e melhoria das capacidades funcionais mas também como um importante método de potencializar a qualidade de vida, as condições emocionais e a socialização dos idosos. De acordo com os dados obtidos no presente estudo e com os aspectos levantados pela literatura, fica claro que um programa de exercícios aquáticos direcionados à população idosa e realizado regularmente pode proporcionar aos praticantes benefícios com relação aos aspectos antropométricos e à função pulmonar. C O N C L U S ÃO A atividade aquática realizada uma vez por semana não foi capaz de promover diferenças significativas em todos os parâmetros antropométricos e pulmonares das idosas avaliadas. Foram evidenciadas, entretanto, diferenças significativas entre os grupos quanto ao PFE e o NAF. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. R EFER ÊN CIAS 1. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos idosos 2. 3. 4. 5. 6. responsáveis pelos domicílios no Brasil, 2000. Estudo & Pesquisa. 2002;9:20-4. Wang L, van Belle G, Kukull WB, Larson EB. Predictors of functional change: a longitudinal study of nondemented people aged 65 and older. J Am Geriatr Soc. 2002;50(9):1525-34. Kattainen A, Koskinen S, Reunanen A, Martelin T, Knekt P, Aromaa A. Impact of cardiovascular diseases on activity limitations and need for help among older persons. J Clin Epidemiol. 2004;57(1):82-8. Papaléo Netto M. 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Influências da prática de atividades físicas na terceira idade: estudo comparativo dos níveis de autonomia para o desempenho nas AVDs e AIVDs entre idosos ativos fisicamente e idosos sedentários. Motriz. 2009;15(3):562-73. 34. Zanella MMB. Hidroterapia e qualidade de vida em idosos [monografia]. Porto Alegre (RS): Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2012. Artigo Original ANÁLISE COMPARATIVA DE PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO ENTRE IDOSOS SEDENTÁRIOS E PRATICANTES DE ATIVIDADE FÍSICA Fabiana do Socorro da Silva Dias de Andradea, Joanilson Andrade Freire Júniorb, Manuella Silva Simõesb, Pollyanna Dórea Gonzaga de Menezesc, Fabianne de Jesus Dias de Sousad, Renato da Costa Teixeirae, Rafael Vinícius Santos Cruzf, Ricardo Costa de Andradeg RE S UM O Palavras-chave Atividade motora DPOC Espirometria Tabagismo Objetivo: Comparar as medidas de pico de fluxo expiratório (PFE) entre idosos sedentários e aqueles praticantes de atividade física regular relacionando os achados com variáveis tais como sexo, idade, hábito de fumar e nível de atividade física. Materiais e métodos: Participaram do estudo 86 idosos com idade igual ou acima de 60 anos devidamente cadastrados no Programa Saúde da Família (PSF) do município de Camacan, Bahia. Durante o exame os voluntários foram instruídos a realizar seus esforços expiratórios máximos partindo-se de uma inspiração baseada no volume de reserva inspiratório (VRI). Foram realizadas três medidas de PFE, com intervalos de um minuto entre si, considerando-se, para efeito de registro, a medida de maior alcance desde que esta medida não fosse a última, superior a 5% ou ultrapassasse 20 L/min das anteriores. Resultados: Houve correlação estatisticamente significativa entre as variáveis sexo e PFE (p=0,0012), e prática de atividade física versus PFE (p=0,0004). Conclusão: As medidas de PFE entre os idosos avaliados sofreram influência do sexo e da prática de atividade física, mas não da idade ou do nível de dependência do fumo. COMPARATIVE ANALYSIS OF PEAK EXPIRATORY FLOW AMONG SEDENTARY ELDERLY AND PHYSICALLY ACTIVE ABSTRACT Keywords Pulmonary disease Chronic obstructive Motor activity Smoking Spirometry Objective: The aim of this study was to compare the peak expiratory flow (PEF) measurements between sedentary elderly people and those who practice regular physical activity relating them to variables such as gender, age, smoking habits, physical activity and socioeconomic factors. Material and methods: The study gathered 86 elderly people aged over 60 years old duly registered in the Family Health Program in Camacan city council, Bahia state. During the examination, the volunteers were instructed to perform their peak expiratory efforts starting with an inspiration at the level of inspiratory reserve volume. Three PEF measurements were performed with 1 minute intervals between them, considering for registration the most far-reaching measure, considering that measure was not the last, superior than 5% or surpassing 20 L/min the previous one. Results: There was statistically significant relationship between gender and PEF (p=0,0012), and physical activity versus PEF (p=0,004). Conclusion: PEF values from evaluated people were related to gender and physically activity and not to the age or level tobacco addiction. Doutoranda em Ciências Aplicadas à Pediatria, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – São Paulo (SP), Brasil. Graduandos, União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME) – Itabuna (BA), Brasil. c Doutoranda em Genética e Biologia Molecular, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) – Ilhéus (BA), Brasil. d Doutoranda em Enfermagem, UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil e Doutor em Educação, Universidade do Estado do Pará (UEPA) – Belém (PA), Brasil. f Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) – Ilhéus (BA), Brasil. g Médico anestesiologista – Cidade (UF), Brasil. a b Dados para correspondência Fabiana Andrade – Rua Eduardo Fontes 81, apto. 501 – Duque de Caxias – CEP: 45600-140 – Itabuna (BA), Brasil – E-mail: [email protected] 212 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA I N TR O DUÇ ÃO O processo de envelhecimento promove diversas modificações no organismo, entre as quais estão as ocorridas no sistema respiratório, observando-se declínio nos valores da capacidade vital forçada (CVF), do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e do fluxo expiratório forçado (FEF), bem como aumento da capacidade residual funcional (CRF) e do volume de reserva expiratório (VRE). Estes dois últimos eventos, por sua vez, relacionam-se com a redução do recolhimento elástico pulmonar e com a diminuição da complacência da caixa torácica. Tais alterações, associadas à redução da força muscular, podem levar à redução do pico de fluxo expiratório (PFE).1 A medida de PFE é utilizada como método simples de diagnóstico, quantificação e prognóstico de afecções pulmonares.2 Nesse sentido, Caldeira et al.3 recomendaram que os fisioterapeutas deveriam avaliar o declínio da função pulmonar segundo essa medida, a fim de detectar qualquer grau de obstrução brônquica. Para os autores, essa prática permitirá evidenciar ou não os benefícios resultantes da prática regular de atividade física ao indivíduo idoso, por exemplo. Sabe-se, ainda, que indivíduos com idade acima de 60 anos apresentam redução na massa muscular tanto do diafragma quanto de musculatura acessória da respiração, bem como menor resposta desses músculos a um mesmo nível de estimulação neural, fato que justifica a influência da idade nos padrões de função pulmonar; sendo assim, espera-se para essa população menores valores de PFE, medidas de pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx).2 A inatividade física é, nesse contexto, fator que pode antecipar e/ou agravar o declínio decorrente do envelhecimento, transformando-se em critério determinante para uma velhice mais complexa e prejudicando, assim, a qualidade de vida da população idosa. A carência de atividades físicas é capaz de promover drástica redução na capacidade funcional, contribuindo para a ocorrência de graves prejuízos na realização das atividades da vida diária (AVD).4 Do exposto acima, os objetivos da presente pesquisa foram avaliar e comparar as medidas de PFE entre idosos sedentários e aqueles praticantes de atividade física regular relacionando-as com variáveis tais como sexo, idade, hábito de fumar, nível de atividade física e fatores socioeconômicos. MÉTO DO s Trata-se de estudo clínico randomizado realizado com idosos sedentários e aqueles praticantes de atividade física residentes no município de Camacan, Bahia. Participaram da pesquisa 86 voluntários com idade entre 60 e 80 anos, com ou sem doenças pulmonares e assistidos pelo Programa Saúde da Família (PSF) em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) presentes no município, devidamente autorizado pelo comitê de ética da Universidade do Estado do Pará (UEPA), sob o protocolo nº 31488314.5.0000.5174. Todos os indivíduos selecionados foram informados sobre os procedimentos e objetivos do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). A análise foi feita individualmente em encontros previamente agendados. O exame foi realizado por profissional fisioterapeuta devidamente treinado para assepsia do aparelho, orientação do paciente, realização do exame e leitura dos resultados. Foram excluídos desta pesquisa os voluntários que não assinaram o TCLE, os acometidos de episódio gripal ou broncoespasmo nos 15 dias anteriores à coleta, febre alta nas 24 horas anteriores, uso de broncodilatador 6 horas antes do procedimento e, ainda, aqueles com presença de hemoptise, angina recente, descolamento de retina no último mês, presença de crise hipertensiva, edema pulmonar e aneurisma de aorta, bem como pacientes portadores de doenças neurológicas e/ou cognitivas que impedissem o entendimento do procedimento, conforme Pereira et al.5 Outrossim, foram incluídos na presente amostra todos aqueles que não se enquadraram em nenhum dos quesitos acima mencionados, os que estavam devidamente inscritos nos postos de saúde convidados, apresentaram idade compreendida entre 60 e 80 anos, portadores ou não de doença pulmonar, e assinaram o TCLE. No dia marcado para o exame, os idosos foram instruídos a não realizar jejum, não ingerir medicação broncodilatadora de curta duração 4 horas antes ou de longa duração nas 12 horas antes, bem como não fazer uso de substâncias estimulantes, tais como café, energéticos e chá, segundo Britto et al.6 Previamente ao exame, o voluntário permaneceu em repouso durante 5 a 10 minutos, período em que foram preenchidos os questionários de avaliação pulmonar, socioepidemiológico e de qualidade de vida, com perguntas pertinentes à pesquisa. Os participantes que se declararam fumantes responderam ao questionário específico para classificação do grau de dependência do vício, conforme proposto por Meirelles.7 Posteriormente, todos os voluntários foram pesados em balança analógica Welmy (modelo R-110, série 11953), com precisão de 100 g e variação de 2 a 150 kg, e medidos com uso de estadiômetro (Nutri Vida, São Paulo, Brasil). Após a coleta das medidas antropométricas, os voluntários foram posicionados em sedestação e submetidos à medida do pico de fluxo expiratório máximo por meio do medidor de pico de fluxo, denominado peak flow meter (Respironics). Os indivíduos foram instruídos e incentivados a realizar seus esforços expiratórios máximos partindo-se de uma inspiração máxima, considerando-se o volume de reserva inspiratório (VRI), com comando de voz do pesquisador e respeitando-se intervalo de um minuto Análise comparativa de pico de fluxo expiratório entre idosos sedentários e praticantes de atividade física | 213 entre as medidas. O valor foi expresso em L/min e a escala apresentou amplitude de 30 a 880 L/min. Foram realizadas três medidas de pico de fluxo expiratório máximo e considerada a medida de maior alcance, desde que esta medida não fosse a última, superior a 5% ou ultrapassasse 20 L/min das anteriores, a fim de que o teste se tornasse aceitável. O uso de clipes nasais não foi obrigatório durante a manobra, conforme protocolo sugerido por Pereira et al.5 Foram realizadas, no máximo, seis tentativas para o alcance de medidas que fossem reprodutíveis. Após as coletas, os resultados obtidos foram confrontados com valores da normalidade descritos na literatura. A análise dos dados foi feita pelo programa Bioestat 5.0 (domínio público). As variáveis contínuas foram medidas por média, desvio-padrão e correlação de Pearson, enquanto as variáveis qualitativas foram descritas por proporção. R ESULTAD OS Participaram da pesquisa 86 idosos com idades entre 60 e 80 anos, destes, 63,95% eram do sexo feminino, e 36,05%, do sexo masculino. Cerca 9,3% relataram ser fumantes e apenas 32,5% são praticantes de atividade física (Tabela 1). Os idosos na faixa etária de 71–80 anos alcançaram melhores resultados de PFE, quando comparados às demais faixas etárias (Gráfico 1). O sexo masculino obteve os maiores valores absolutos (Gráfico 2). Não houve relação estatisticamente significativa entre as variáveis idade e PFE (p=0,2153), bem como entre nível de dependência do fumo e PFE (p=0,1536). Por outro lado, houve relação estatisticamente significativa entre as variáveis sexo e PFE (p=0,0012), e prática de atividade física versus PFE (p=0,0004). Entre as variáveis sexo e nível de dependência do fumo (p=0,0102) houve correlação estatisticamente significativa, observando-se que o sexo masculino apresentou maior nível de dependência do fumo. 20 60 A 18 61 a 70 A 16 71 a 80 A 14 12 10 8 6 4 Tabela 1 Perfil da amostra Variáveis Sexo Homens n (%) Mulheres n (%) 31 (36,05)* 55 (63,95) 2 0 90 a 150 L/min 160 a 300 L/min 310 a 450 L/min > 450 L/min A: anos. Idade (anos) 60 4 (12,9) 5 (9,1) 61–70 12 (38,7) 25 (45,45) 71–80 15 (48,4) 25 (45,45) 90–150 6 (19,35) 20 (36,36) 160–300 11 (35,48) 29 (52,73) 310–450 10 (32,26) 6 (10,91) >450 4 (12,91) 0 Gráfico 1 Faixa etária e índices de pico de fluxo expiratório PFE (L/min) 35 30 25 20 Atividade física Sim 11 (35,48)* 17 (30,9)* 15 Não 20 (64,52) 38 (69,1) 10 0 0 Médio 2 (6,45) 0 Baixo 4 (12,9) 2 (3,63) 25 (80,65) 53 (96,37) Homens Mulheres Dependência do fumo Alto Não fumante PFE: pico de fluxo expiratório; *apresentaram p<0,05. 5 0 90 a 150 L/min 160 a 300 L/min 310 a 450 L/min > 450 L/min Gráfico 2 Comparação do pico de fluxo expiratório entre sexo masculino e feminino 214 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA D I S C USSÃO A medida de PFE é utilizada como método simples de diagnóstico, quantificação e prognóstico de afecções pulmonares.2 Segundo Andrade et al.,2 indivíduos com idade acima de 60 anos apresentam redução na massa muscular tanto do diafragma quanto de musculatura acessória da respiração. Nesse sentido, o presente estudo não observou relação estatisticamente significativa entre a idade e as medidas de PFE, cujos valores mais elevados estiveram ligados às maiores idades (Gráfico 1). Em estudo realizado por Ruivo et al.8 percebeu-se que o declínio da expansibilidade torácica com a idade foi maior entre indivíduos do gênero feminino; essa diminuição encontrada explica, em parte, a redução da CVF também confirmada no mesmo estudo, já que esta é “índice” da capacidade de distensão do sistema toracopulmonar (e também resultado da força muscular respiratória, não avaliada no estudo citado, mas que se prevê diminuir com a idade cronológica). Sabe-se que a realização de atividade física melhora a performance pulmonar, especialmente em indivíduos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), a qual gera disfunção musculoesquelética, descondicionamento e/ou desuso da musculatura esquelética, inflamação sistêmica, estado nutricional pobre e baixa conservação de energia, condições que elevam a mortalidade e a morbidade, bem como reduz a qualidade de vida, especialmente em idosos.9 A prática de atividade física vem assumindo papel fundamental nos diferentes níveis de intervenção. Infelizmente, porém, apesar do grande acúmulo de evidências que justificam os seus benefícios, todos os avanços tecnológicos têm propiciado uma progressiva redução das atividades motoras, seja no âmbito da moradia, do trabalho ou do lazer. Nesse propósito, destaca-se a importância da preservação ou do desenvolvimento da capacidade motora do indivíduo que envelhece, reconhecendo seus principais determinantes. Entende-se que a flexibilidade e a força diminuídas são as maiores limitações para as AVD.10 No que se refere ao assunto, os resultados desta pesquisa demonstraram diferença estatisticamente significativa entre as variáveis PFE e atividade física, sugerindo que inserir o treinamento específico dessa musculatura nos programas de exercício físico para a terceira idade pode ser uma estratégia de prevenção de complicações respiratórias nessa faixa etária, tal como afirmaram Santos et al.11 Resultados semelhantes aos do presente estudo também foram encontrados por Oliveira et al.,12 que ao compararem o PFE entre adultos jovens sedentários e praticantes de atividade física observaram que os valores obtidos pelo grupo de praticantes de atividade física foram estatisticamente maiores em relação ao grupo de indivíduos sedentários. Matteoni et al., 13 ao avaliarem mulheres obesas, observaram que o programa de treinamento físico causou aumento significativo no PFE. De acordo com os autores, esse benefício está relacionado com melhora na função pulmonar e é extremamente relevante em pessoas obesas, que, devido à deposição de tecido adiposo no tórax e no abdômen, apresentam menor complacência pulmonar e da parede torácica, o que compromete o sistema respiratório e o transporte de gases. Outro resultado relevante deste estudo é a diferença estatisticamente significativa (p=0,0012) entre as variáveis sexo e PFE, em que os homens alcançaram as maiores medidas. Boson e Gardenghi14 compararam obesos dos sexos masculino e feminino e perceberam que os do sexo masculino apresentaram medidas de PFE superiores aos do sexo feminino, embora as medidas obtidas pelos homens estivessem abaixo dos valores preditos. Fato este explicado pelo acúmulo de gordura localizar-se em regiões diferentes, com predomínio abdominal no sexo masculino e periférico no sexo feminino, gerando ao sexo masculino um comprometimento maior da capacidade ventilatória. Avaliando as mesmas variáveis, Andrade et al.2 não encontraram diferença estatisticamente significativa; no entanto, valores absolutos mais elevados foram encontrados também em homens. Embora este estudo não tenha demonstrado relação estatisticamente significativa entre as variáveis nível de dependência do fumo e PFE, o hábito tabágico deve ser evitado principalmente na terceira idade.15 O tabagismo atua negativamente sobre as funções pulmonares e é responsável por aumentar o risco de quase todas as doenças pulmonares no adulto, sobretudo no idoso, que já sofre com as alterações fisiológicas decorrentes da idade.16 O fumo leva a uma irritação das vias aéreas que aos poucos avança para uma alteração completa e irreversível da arquitetura pulmonar, podendo evoluir para uma insuficiência respiratória.17,18 Em relação às pneumopatias que ocorrem na terceira idade, destacam-se a pneumonia, o enfisema pulmonar e a bronquite crônica; a gripe também merece destaque, já que é um importante fator que leva à pneumonia.19,20 C O N C L U S ÃO As medidas de PFE entre os idosos avaliados sofreram influência do sexo e da prática de atividade física; no entanto, a mesma influência não foi observada acerca da idade e/ou em relação ao nível de dependência do fumo. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. Análise comparativa de pico de fluxo expiratório entre idosos sedentários e praticantes de atividade física | 215 R EFER ÊN CIAS 1. Freitas FS, Ibiapina CC, Alvim CG, Britto RR, Pereira VF. Relação entre força de tosse e nível funcional em um grupo de idoso. Rev Bras Fisioter. 2010;14(6):470-6. 2. de Andrade FSSD, Côrtes SRS, Sousa FDJD, Mascarenhas LRS, Comper MLC, de Andrade RC et al. Avaliação do pico de fluxo expiratório em estudantes de uma universidade particular em Itabuna, Bahia. Rev Inspirar: movimento & saúde. 2013;5(1):1-5. 3. Caldeira VS, Starling CCD, Britto RR, Martins JA, Sampaio RF, Parreira VF. Precisão e acurácia da cirtometria em adultos saudáveis. J Bras Pneumol. 2007;33(5):519-26. 4. Matsudo SMM, Matsudo VKR, Barros Neto TL. Atividade física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Rev Bras Med Esp. 2001;7(1):2-13. 5. Pereira CAC. Espirometria. 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Conscientiae Saúde. 2003;2(2):19-23. 17. Cruz AA. Pico de fluxo expiratório. É melhor medir! J Bras Pneumol. 2006;32(1):iv-vi. 18. Gonçalves MP, Tomaz CAB, Cassiminho ALF, Dutra MF. Avaliação da força muscular inspiratória e expiratória em idosas praticantes de atividade física e sedentárias. Rev Bras Ci e Mov. 2006;14(1):37-44. 19. Mayor A, Mayor RU. Adaptação funcional dos aparelhos respiratórios aos efeitos do envelhecimento: aplicabilidade dos exercícios globais de força e resistência. Rev Fisioter Brasil. 2004;5:56-60. 20. Paes CD, Pessoa BV, Jamami M, Di Lorenzo VAP, Marrara KT. Comparação de valores de PFE em uma amostra da população da cidade de São Carlos, São Paulo, com valores de referência. J Pneumol. 2009;35(2):151-6. Artigo Original QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES CLIMATÉRICAS EM RELAÇÃO AOS VALORES DA CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL Ronilson Ferreira Freitasa, Débora Ribeiro Vieirab, Natália Gonçalves Santana Rochab, Gustavo Souza Santosc, Brunna Librelon Costad, Vivianne Margareth Chaves Pereira Reise, Betânia Maria Araújo Passosf, Josiane Santos Brant Rochag RE S UM O Palavras-chave Qualidade de vida climatério circunferência abdominal Objetivo: Comparação de qualidade de vida de mulheres climatéricas considerando os valores de circunferência abdominal (CA). Métodos: Foram recrutadas 626 mulheres com faixa etária entre 40 e 65 anos que não faziam uso de terapia de reposição hormonal e se encontravam aguardando atendimento médico nas unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF) da cidade de Montes Claros, norte do Estado de Minas Gerais, Brasil. As variáveis avaliadas foram: idade, grau de instrução, renda familiar, história de tabagismo nos últimos 12 meses, estado marital, número de partos, nível de atividade física, índice de massa corporal (IMC), CA, estado menopausal, tipo de menopausa, sintomatologia da menopausa, uso de medicamentos e doenças prévias. Por intermédio da Escala de Avaliação da Menopausa (Menopause Rating Scale — MRS) foi avaliada a qualidade de vida e sua relação com a sintomatologia climatérica. A comparação da qualidade de vida de mulheres climatéricas segundo a CA apontou uma diferença significativa (p<0,05) nos sintomas somato-vegetativos. Resultados: No escore MRS geral não houve diferença significativa 12,85 para CA sem risco, contra 14,97 para CA de risco muito aumentado. Apenas os sintomas somato-vegetativos tiveram diferença significativa, apresentando piores escores de qualidade de vida (6,30), quando comparados com o grupo de mulheres sem risco (4,79). Conclusão: Isso indica que a qualidade de vida da mulher climatérica é comprometida pelo aumento da CA. Com isso, para diminuir danos maiores na mulher nessa fase, a prática de exercícios físicos e uma dieta adequada são muito importantes para a melhora da qualidade de vida no climatério. WOMEN’S QUALITY OF LIFE IN RELATION TO CLIMATE EXCHANGE OF ABDOMINAL CIRCUMFERENCE ABS T RACT Keywords Quality of life climacteric abdominal circumference Objective: Comparison of quality of life of menopausal women considering the values o f waist circumference (CA). Methods: 626 women aged between 40 and 65 years old who did not use hormone replacement therapy and were awaiting medical care in the Family Health Strategy of Montes Claros, north of Minas Gerais, Brazil, were recruited. The variables assessed were age, education level, family income, smoking history in the last 12 months, marital Mestrando em Saúde, Sociedade e Ambiente, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – Diamantina (MG), Brasil. Graduação em andamento em Medicina, Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (FIPMoc) – Montes Claros (MG), Brasil. c Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (FIPMoc) – Montes Claros (MG), Brasil. d Bacharel em Educação Física, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) – Montes Claros (MG), Brasil. e Doutorado em andamento em Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Docente, Faculdades Integradas do Norte de Minas (FUNORTE) – Montes Claros (MG), Brasil. f Doutora em Ciências do Desporto, UTAD, Portugal. Docente do Departamento de Educação Física, Unimontes – Montes Claros (MG), Brasil. g Doutora em Ciências do Desporto, UTAD, Portugal. Docente do Mestrado em Cuidado Primário em Saúde e do Departamento de Educação Física, Unimontes. Docente, FIPMoc – Montes Claros (MG), Brasil. a b Dados para correspondência Ronilson Ferreira Freitas – Avenida Francisco Sá, 434 – Centro – CEP: 39100-000 – Diamantina (MG), Brasil – Tel.: (38) 9138-5599 – E-mail: [email protected] Qualidade de vida e circunferência abdominal | 217 status, number of births, physical activity level, body mass index, abdominal girth, menopausal status, type of menopause, symptoms of menopause, medications and previous diseases. Through the Menopause Rating Scale (MRS) evaluated the quality of life and its relationship with climacteric symptoms. A comparison of the quality of life of menopausal women according to waist circumference, indicating a significant difference (p<0.05) in somatic-vegetative symptoms. Results: Overall MRS score there was no significant difference (12.85) for CA without risk against (14.97) for CA of high risk. Only vegetative somatic symptoms were significantly different, with worse quality of life scores (6.30) compared with the group of women without risk (4.79). Conclusion: This indicates that the quality of life of climacteric woman is compromised by increased abdominal girth. Thus, to reduce further damage in women at this stage, the practice of physical exercises and proper diet are very important in improving the quality of life during menopause. INTR ODUÇÃO O envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo, responsável por induzir importantes modificações no organismo.1 Durante essa fase ocorre a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo, caracterizando o climatério,2 que se inicia por volta dos 40 anos e termina na senescência, ou seja, em torno dos 65 anos.3 Nessa fase ocorrem alterações endócrinas devido ao declínio da atividade ovariana, mudanças biológicas em função da diminuição da fertilidade e mudanças clínicas em decorrência das alterações do ciclo menstrual e de uma variedade de sintomas.2 Essa fase é caracterizada por diversas mudanças denominadas síndrome da menopausa ou do climatério.4 Tais mudanças influenciam de forma negativa a qualidade de vida das mulheres5 e compreendem alterações na composição corporal,6 incluindo osteoporose,7 perda de massa magra e também aumento e redistribuição da adiposidade,8 causando a obesidade central ou abdominal, que vem sendo mais fortemente associada à maior prevalência de diabetes, doenças cardiovasculares e hipertensão arterial, afetando em grande escala o sexo feminino.9 Para Liu et al., 10 os sintomas da pós-menopausa mais comumente relatados são afrontamentos, suor, dor nas articulações e músculos, distúrbios do sono, secura vaginal, depressão, sendo agravados quando há um aumento nos valores de circunferência abdominal (CA). Nesse contexto, sabe-se que o aumento dos ganhos da adiposidade abdominal em decorrência das mudanças no estilo de vida da mulher,11 associado à carência de políticas públicas de saúde para essas mulheres, poderá comprometer a qualidade de vida da mulher no climatério.12 Desse modo, considera-se importante a realização de estudos que contribuam para direcionar um atendimento diferencial para essa população na atenção primária à saúde. Comparar a qualidade de vida de mulheres climatéricas em relação à CA. MÉ TO D O S Foram recrutadas 626 mulheres com faixa etária entre 40 e 65 anos, que não faziam uso de terapia de reposição hormonal e se encontravam aguardando atendimento médico nas unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF) da cidade de Montes Claros, norte do Estado de Minas Gerais, Brasil. Todas foram informadas sobre os procedimentos e suas implicações e confirmaram a sua participação assinando o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), tendo sido aprovado sob o parecer de número 311.628/2013. As variáveis avaliadas foram: idade, raça (classificada pela própria entrevistada como branca ou não branca), grau de instrução (em anos completos de estudo), renda familiar (em salários mínimos per capita), história de tabagismo nos últimos 12 meses, estado marital (com ou sem companheiro fixo), número de partos, nível de atividade física (praticantes e não praticantes), índice de massa corporal (IMC) — considerou-se com sobrepeso mulheres com IMC entre 25,00 e 29,99 kg/m2 e obesas as com IMC maior que 30,00 kg/m2 —, CA (considerou-se com risco aumentado para doenças cardiovasculares mulheres com CA maior do que 80 cm e risco muito aumentado as com CA maior do que 88 cm), estado menopausal (última menstruação seguida de 12 meses e amenorreia espontânea), tipo de menopausa (induzida ou natural), sintomatologia da menopausa, uso de medicamentos e doenças prévias (hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças osteorticulares e incontinência urinária). O nível de qualidade de vida e sua relação com a sintomatologia climatérica foram avaliados por meio da Escala de Avaliação da Menopausa (Menopause Rating Scale — MRS). Esta foi desenvolvida na Alemanha, tendo sido validada para a língua portuguesa no Brasil. Possui 11 questões avaliadas numa escala de zero (ausência de sintomas) até quatro (maior severidade) e distribuídas em 3 domínios de sintomas: somatovegetativos, urogenitais e psicológicos. O escore total do MRS é obtido por meio do somatório da pontuação 218 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA de cada domínio, de forma que, quanto maior for esta, mais severa a sintomatologia e pior a qualidade de vida. A intensidade geral da sintomatologia climatérica referida foi categorizada segundo a severidade dos sintomas que compõem cada domínio do MRS em: sintomatologia ausente ou ocasional (0–4 pontos), leve (5–8 pontos), moderada (9–15 pontos) ou severa (>16 pontos). Tabela 1 Análise descritiva dos fatores sociodemográficos R E S U LTA D O S Fatores sociodemográficos Variáveis n (%) Raça Branca Outra cor 485 (77,5) 141 (22,5) <5 anos Entre 5 e 9 anos Dez anos ou mais 218 (34,9) 233 (37,2) 175 (28,0) Menos de 1 salário mínimo Entre 1 e 2 salários mínimos 3 ou mais salários mínimos 265 (42,3) 275 (43,9) 86 (13,7) Fumante Não fumante 102 (16,3) 524 (83,7) Companheiro fixo Sem companheiro fixo 402 (64,2) 224 (35,8) Nenhum (nulípara) Um ou dois Três ou mais 217 (34,7) 185 (29,6) 224 (35,8) Grau de instrução Renda familiar Tabagismo Estado marital Paridade Tabela 2 Análise descritiva das variáveis comportamentais Fatores comportamentais Variáveis n (%) Pratica atividade física Não pratica atividade física 139 (22,2) 487 (77,8) IMC Normal (IMC 18,5–24,99) Sobrepeso (IMC 25,00–29,99) Obesidade (IMC ≥30,00) 198 (31,6) 238 (38,0) 190 (30,4) CA Sem risco (<80 cm) Risco aumentado (>80 cm) Risco muito aumentado (>88 cm) 69 (11,0) 140 (22,4) 418 (66,6) Atividade física IMC: índice de massa corporal; CA: circunferência abdominal. Tabela 3 Análise descritiva dos fatores clínicos Fatores clínicos Variáveis n (%) Estado menopausal Pré-menopausa Pós-menopausa 259 (41,4) 367 (58,6) Tipo de menopausa Não está na menopausa natural Induzida (histerectomia) 175 (28,0) 383 (61,2) 68 (10,9) Sintomatologia Não apresenta sintomas Apresenta sintomas 185 (29,6) 441 (70,4) Uso de medicamentos Usa medicamentos Não usa medicamentos 443 (70,8) 183 (29,2) Não apresenta Apresenta 501 (80,0) 125 (20,0) Doenças prévias* Os dados foram analisados com o programa SPSS versão 20.0 (Armonk, New York, USA). Inicialmente, os dados foram descritos utilizando-se estatística descritiva das variáveis sociodemográficas, comportamentais e clínicas. Para comparar a qualidade de vida com os diferentes valores da circunferência abdominal, foi utilizado o teste t de Student. Em todas as análises realizadas aceitou-se um nível de significância de 5%. *hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças osteorticulares e incontinência urinária. A distribuição das características sociodemográficas é apresentada na Tabela 1. Houve predominância de mulheres da raça branca (77,5%), com grau de escolaridade entre 5 e 9 anos (37,2%), renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos (43,9%), não fumantes (83,7%). Dentre as entrevistadas, 64,2% possuem companheiro fixo; quanto à paridade, 35,8% responderam ter tido 3 ou mais partos. Quanto às variáveis comportamentais, os dados estão disponíveis na Tabela 2. No que se refere à prática de atividade física, 77,8% das mulheres responderam não praticar atividade física. Houve prevalência de mulheres com sobrepeso (IMC 25,00–29,99) (38,0%) e com risco muito aumentado de doenças cardiovasculares e fatais (CA >88 cm) (66,6%). Em relação aos fatores clínicos (Tabela 3), houve predominância de mulheres na pós-menopausa (68,6%), com menopausa natural (61,2%), que apresentam sintomatologia (70,5%), que usam medicamentos (70,8%) e que não apresentam doenças prévias (80,0%). Na Tabela 4 é possível observar que o grupo de mulheres com risco muito aumentado para a CA apresentou piores escores relacionados aos sintomas somato-vegetativos, quando comparado com o grupo de mulheres sem risco (6,30 e 4,79, respectivamente, p<0,05). D I S C U S S ÃO Sintomas físicos e psicológicos têm sido atribuídos às alterações hormonais da menopausa. Para algumas mulheres, os sinais e efeitos que as acompanham nesse período do climatério podem alterar de forma significativa as atividades diárias e a sensação de bem-estar, comprometendo a sua qualidade de vida.5 Nesse contexto, a saúde geral Tabela 4 Comparação da qualidade de vida de mulheres climatéricas segundo entre os diferentes valores da circunferência abdominal Circunferência abdominal Sem risco (CA <80 cm) (n=69) Risco aumentado (CA >80 cm) (n=140) Risco muito aumentado (CA >88 cm) (n=418) Sintomas somato-vegetativos 4,79* 5,66 Sintomas psicológicos 5,99 6,25 Sintomas urogenitais MRS geral 2,07 12,85 2,05 13,96 Sintomas CA: circunferência abdominal; f: frequência; *p>0,05; MRS: Menopause Rating Scale. f Valor p 6,30* 4,84 0,008 6,44 0,322 0,725 2,25 14,97 0,362 1,99 0,696 0,137 Qualidade de vida e circunferência abdominal | 219 e o bem-estar das mulheres de meia-idade se tornaram importante problema da saúde pública em todo o mundo.11 Na presente comparação da qualidade de vida de acordo com os valores de risco para CA houve significância apenas para os sintomas somato-vegetativos. As mulheres que apresentaram risco muito aumentado para a CA apresentaram piores escores de qualidade de vida (6,30), quando comparadas com o grupo de mulheres sem risco (4,79). Foi possível observar mulheres com sobrepeso (IMC 25,00–29,99) (38,0%) e com fator de risco muito aumentado para doenças cardiovasculares (CA >88 cm) (66,6%). O acúmulo de gordura na região abdominal devido à mudança no padrão de distribuição de gordura em consequência do hipoestrogenismo favorece tanto o aparecimento quanto a intensificação de diversas doenças como diabetes, hipertensão, dislipidemia.12 No estudo de Gravena e Brischiliari,13 os autores discutem que o hipoestrogenismo leva a uma diminuição do metabolismo das gorduras favorecendo o aumento do IMC, depósito abdominal e vascular de gorduras e talvez por isto a elevada frequência de obesidade em mulheres climatéricas e ao aumento dos riscos cardiovasculares.14,15 Este fator impulsiona o aumento dos sintomas somato-vegetativos como adição de outros sintomas causados pela síndrome metabólica, comprometendo, assim, a qualidade de vida dessas mulheres. Em contrapartida, mesmo que ocorra um aumento da CA, no período climatérico há certa redução no possível ganho ponderal em comparação com outros períodos da vida.13 Gallon e Wender16 sugerem que as mulheres climatéricas alimentam-se de forma inadequada tanto qualitativamente quanto quantitativamente, o que seria um dos fatores que contribuem para o aumento da gordura na região abdominal. Além desses fatores, a inatividade física verificada neste estudo pode ter contribuído para aumento de gordura abdominal, aumento dos sintomas somato-vegetativos e diminuição da qualidade de vida. Ao avaliar os fatores sociodemográficos foi encontrada predominância de mulheres da raça branca, com grau de escolaridade entre 5 e 9 anos de estudo, renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos e não fumantes. Estudos realizados por De Lorenzi et al.17 observaram que quanto menores a escolaridade e a renda familiar das mulheres que atingem o climatério, maior a sintomatologia climatérica; consequentemente, a qualidade de vida tende a diminuir, o que vai ao encontro dos resultados obtidos neste estudo. Lima et al.9 observaram em seus estudos que mulheres com maior renda familiar e que não consomem tabaco tendem a possuir melhor qualidade de vida. De acordo com De Lorenzi et al.,18 mulheres climatéricas fumantes e que não praticam atividade física tendem a desenvolver sintomas vasomotores mais intensos, comprometendo, assim, a qualidade de vida. Limitações do estudo Ainda que os resultados do presente estudo não possam ser extrapolados para a população em geral, seus achados merecem atenção, reforçando a necessidade de se rever a assistência ao climatério. C O N C L U S ÃO Foi observada associação de sintomas somato-vegetativos em mulheres climatéricas com CA >88 cm. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. R EFER ÊN CIAS 1. Dias R, Oliveira AT, Vespasiano BS, Nascimento DC, Prestes J. O treinamento de força melhora os sintomas climatéricos em mulheres sedentárias na pós-menopausa. ConScientiae Saúde. 2013;12(2):249-58. 2. Martinazzo J, Zemolin GP, Spinelli RB, Zanardo VPS, Ceni GC. Avaliação nutricional de mulheres no climatério atendidas em ambulatório de nutrição no norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2013;18(11):3349-56. 3. Araújo IA, Queiroz ABA, Moura MAV, Penna LHG. Representações sociais da vida sexual de mulheres no climatério atendidas em serviços públicos de saúde. Texto Contexto Enferm. 2013;22(1):114-22. 4. Gonçalves AKS, Canário ACG, Cabral PUL, Silva RAH, Spyrides MHC, Giraldo PC et al. Impacto da atividade física na qualidade de vida de mulheres de meia idade: estudo de base populacional. Rev Bras Ginecol Obstet. 2011;33(12):408-13. 5. 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Artigo Original PODER DISCRIMINATÓRIO DOS ÍNDICES NUTRICIONAIS NA DETECÇÃO DA GLICEMIA AUMENTADA Ana Luiza Gomes Domingosa, Virgínia Capistrano Fajardoa, Silvia Nascimento de Freitasb Resumo Palavras-chave Composição corporal antropometria idoso glicemia curva ROC Objetivo: Comparar o poder discriminatório de índices antropométricos e de composição corporal na detecção do aumento da glicemia em idosas. Métodos: Estudo transversal realizado com 144 idosas de um grupo de terceira idade de um município de Minas Gerais, Brasil. As medidas avaliadas pelos métodos de antropométricos e de bioimpedância bipolar e tetrapolar foram índice de massa corporal (IMC), perímetro da cintura (PC) e percentual de gordura corporal (%GC) e a glicemia de jejum. A curva da característica de operação do receptor (ROC) foi construída para analisar o poder dos índices discriminatórios e a área abaixo da curva (ASC) foi utilizada para definir quais pontos de corte que melhor discriminaram a glicemia aumentada. Resultados: As áreas abaixo da curva ROC foram de 0,655 (p=0,015) para o IMC, 0,669 (p=0,008) para o PC e 0,646 (p=0,022) pelo método de bioimpedância tetrapolar, não sendo observada diferença estatística entre as áreas. Conclusão: Os índices antropométricos e de composição corporal apresentaram poder de discriminação da glicemia aumentada, com exceção da bioimpedância pelo método bipolar. DISCRIMINATORY POWER OF NUTRITIONAL INDICATORS ON DETECTION OF INCREASED GLUCOSE ABS T RACT Keywords Body composition anthropometry aged blood glucose ROC Curve Objective: To compare the discriminatory power of anthropometric indices and body composition in the detection of increased fasting glucose in elderly women. Methods: This cross-sectional study was conducted with 144 elderly women of a group of seniors from a city in Minas Gerais, Brazil. Measures evaluated were body mass index (BMI), waist circumference (WC), percentage body fat (%BF) by bipolar and tetrapolar bioimpedance, and fasting blood glucose. The receiver operating curve (ROC) was constructed to analyze the discriminatory indexes power, and the area under the curve was used to define which cutoff points that best discriminated the increased glucose. Results: The areas under the ROC was 0.655 to BMI (p=0.015), 0.669 (p=0.008) to WC and 0.646 (p=0.022) for tetrapolar bioimpedance, with no statistical difference between the observed areas. Conclusion: The anthropometric and body composition indexes showed discrimination power of increased glucose levels, with the exception of the bipolar bioimpedance analysis. Programa de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição, Escola de Nutrição, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) – Ouro Preto (MG), Brasil. Departamento de Nutrição Clínica e Social, Escola de Nutrição, UFOP – Ouro Preto (MG), Brasil. a b Dados para correspondência Silvia Nascimento de Freitas – Universidade Federal de Ouro Preto, Escola de Nutrição, Departamento de Nutrição Clínica e Social, Campus Universitário – Morro do Cruzeiro – CEP: 35400-000 – Ouro Preto (MG), Brasil – Tel.: (31) 3559-1838 – E-mail [email protected] 222 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA I N TR O DUÇ ÃO O Brasil tem passado, nas últimas décadas, por um processo de mudança no perfil nutricional da população, a transição nutricional, que é caracterizada pelo aumento do sobrepeso e da obesidade e pelo declínio da desnutrição em todas as faixas etárias, independentemente do sexo.1 Durante o processo de envelhecimento observam-se modificações no perfil metabólico que podem resultar em alterações na composição corporal e redistribuição do tecido adiposo caracterizadas pela redução de gordura nos membros seguida de aumento na região central.2 Ressalta-se que essa obesidade central pode estar relacionada com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus do tipo 2 por ter maior interferência na homeostase glicose-insulina.3,4 Os métodos utilizados para diagnóstico de obesidade nessa faixa etária ainda não são específicos, considerando as modificações na composição corporal que ocorrem no envelhecimento. Assim, diferentes índices antropométricos e medidas são propostos com o objetivo de identificar idosos com risco aumentado de apresentar complicações associadas ao estado nutricional. Alguns destes índices, tais como o índice de massa corporal (IMC) e o perímetro da cintura (PC), têm como características a praticidade e o baixo custo, porém, o primeiro índice classifica a proporção corporal, e o segundo, a gordura localizada na região central. Além disso, outros métodos são recomendados para a triagem do excesso de adiposidade corporal, como, por exemplo, a bioimpedância elétrica. Dessa forma, este estudo teve por objetivo comparar o poder discriminatório dos índices antropométricos e de composição corporal na detecção da alteração de glicemia em idosas participantes de um grupo para a terceira idade. MÉTO DO S Estudo de delineamento transversal realizado no município de Mariana, Minas Gerais, Brasil, avaliou todas as participantes de um programa para a terceira idade, perfazendo um total de 144 idosas. Adotou-se a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), para países em desenvolvimento, que define como idoso o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos.5 Somente foram incluídos no estudo os idosos do gênero feminino em razão do baixo número de homens participantes (n=15) nas atividades do programa. As idosas que faziam uso de marca-passo cardíaco, próteses ou que possuíam algum tipo de alteração anatômica (como amputação) não foram incluídas no estudo. Os participantes foram orientados a não realizar exercícios intensos antes da avaliação antropométrica e da composição corporal, a comparecer ao local do exame com roupas leves e a não ingerir elevado volume de água nas 24 horas que antecederam o exame. O peso foi aferido com o participante em posição anatômica, descalço, tendo sido retirados casacos e adereços.6 Utilizou-se a balança digital Tanita® BC554, com capacidade máxima de 150 kg e sensibilidade de 0,1 kg. Para verificação da estatura, utilizou-se o estadiômetro portátil Alturexata®, com escala de precisão de 0,1 cm. Para a aferição, o avaliado permaneceu em posição ortostática e com a cabeça orientada no plano de Frankfurt.7 O IMC foi calculado pelo quociente entre o peso e o quadrado da estatura (kg/m²).8 O PC foi aferido em triplicata com fita métrica inextensível, precisão de 0,1 cm, no ponto médio da distância entre a crista ilíaca anterossuperior e a última costela.9 O percentual de gordura corporal (%GC) foi mensurado pelos métodos tetrapolar e bipolar por meio de equações específicas programadas pelos fabricantes dos respectivos aparelhos, segundo sexo e idade. O aparelho de bioimpedância tetrapolar Bioscan Maltron® (modelo 916) foi utilizado para a estimativa da composição corporal. Durante a aferição os participantes permaneceram em decúbito dorsal em uma maca de madeira, mantendo mãos e pés relaxados e afastados das outras partes do corpo. Sapatos e meias foram removidos e as áreas de contato foram higienizadas antes da colocação dos eletrodos nos quatro pontos anatômicos.10 Obteve-se também o %GC pelo método de bioimpedância elétrica bipolar pé a pé utilizando a balança digital Tanita® BC554. As idosas foram pesadas em pé, descalças, posicionadas nos eletrodos, sem adornos metálicos e com o mínimo de vestuário possível. Após jejum de 12 horas o sangue foi coletado em tubos descartáveis, sendo retirados 10 mL por meio da punção da veia cubital e, em seguida, fracionados em frascos contendo fluoreto de sódio. A glicemia foi determinada pelo método enzimático colorimétrico, sendo considerados alterados os valores ≥100 mg/dL.11 A análise dos dados incluiu o cálculo de média, desvio-padrão, mediana e intervalo interquartil. Para avaliar o poder discriminatório dos índices, foi realizada análise da curva da característica de operação do receptor (ROC), com intervalo de confiança de 95% (IC95%) e cálculo posterior da sensibilidade (S), especificidade (E), valores preditivos positivos (VPPs) e negativos (VPNs) para os diferentes pontos de corte. Calculou-se a área abaixo da curva (ASC) para avaliar o melhor método de avaliação antropométrica e de composição corporal na detecção da alteração da glicemia de jejum. Essas áreas foram estatisticamente comparadas por meio do teste de Hanley & McNeil,12 sendo considerados significantes os valores de p<0,05. As análises estatísticas foram realizadas nos programas MedCalc, versão 12.3, e PASW, versão 17.0. O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer n° 0006.0.238.238-10), em conformidade com os princípios da Declaração de Helsinki. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado Índices nutricionais e glicemia | 223 R ESULTAD OS Foram ao todo avaliadas 144 idosas, sendo a média de idade de 69,36±5,99 anos (Tabela 1). Na avaliação do estado nutricional pelo IMC, observou-se um valor médio de 27,38±4,70 kg/m². Quanto à medida do PC, a média encontrada foi de 90,43±12,56 cm. Em relação à glicemia, esta foi de 90,41±32,59 mg/dL, sendo observada uma prevalência de glicemia alterada em 17,36% (n=25) das idosas. A ASC ROC está associada ao poder discriminante de um teste diagnóstico. Em relação a esse procedimento, o índice que obteve maior ASC foi o PC 0,669 (0,586–0,745; p=0,008) (Figura 1). As Figuras 2 e 3 apresentam as ASCs para o IMC e o %GC, respectivamente. Tabela 1 Características demográficas, bioquímicas e de composição corporal de idosas participantes de um programa para a terceira idade, Minas Gerais, Brasil Variáveis Média±DP Idade (anos) 69,36±5,99 68,90 (64,02–73,42) 63,62±11,79 63,25 (54,90–71,30) 1,52±0,06 1,52 (1,49–1,55) IMC (kg/m²) 27,38±4,70 26,85 (23,89–30,43) Perímetro da cintura (cm) 90,43±12,56 89,00 (83,10–97,00) GC bipolar (%)* 36,71±6,34 37,60 (32,32–41,07) GC tetrapolar (%)** 39,38±6,44 39,38 (35,83–43,92) Glicemia de jejum (mg/dL) 90,41±32,59 83,00 (72–92,75) DP: desvio-padrão; IQ: intervalo interquartil; IMC: índice de massa corporal; GC: gordura corporal; *método bipolar pé a pé; **método tetrapolar. 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,8 0,8 0,6 0,6 0,0 0,6 0,4 1 – Especificidade 0,8 1,0 Figura 2 Curva da característica de operação do receptor do índice de massa corporal e discriminação da alteração da glicemia em idosas participantes de um programa para a terceira idade, Minas Gerais, Brasil, 2009 1,0 0,2 0,2 ASC: área abaixo da curva ROC; *α=0,05. 1,0 0,4 0,0 ASC=0,655 (0,571–0,732) p=0,015* Sensibilidade Sensibilidade 1,0 Mediana (IQ) Peso (kg) Estatura (m) O ponto de corte do PC >89,5 cm obteve sensibilidade (76,0%) e especificidade (59,7%) para detectar a alteração da glicose sérica (Tabela 2). Tal medida também apresentou o maior VPN (92,19%) e o menor VPP (28,43%). Os índices antropométricos e de composição corporal apresentaram poder de discriminação da alteração da glicemia, com exceção da bioimpedância pelo método bipolar. Segundo o teste de Hanley & McNeil, não foram encontradas diferenças estatísticas entre as ASCs ROC dos diferentes métodos de avaliação que apresentaram poder discriminante. Sensibilidade em duplicata e apenas foram avaliados os indivíduos que autorizaram por escrito a sua participação. 0,4 0,2 0,0 0,2 0,6 0,4 1–Especificidade 0,8 1,0 ASC=0,669 (0,586 – 0,745) p=0,008* 0,0 0,0 0,2 0,6 0,4 1–Especificidade 0,8 1,0 ASC=0,646 (0,562–0,724) p=0,022* ASC: área abaixo da curva ROC; *α=0,05. ASC: área abaixo da curva ROC; *α=0,05. Figura 1 Curva da característica de operação do receptor do perímetro da cintura e discriminação da alteração da glicemia em idosas participantes de um programa para a terceira idade, Minas Gerais, Brasil, 2009 Figura 3 Curva da característica de operação do receptor do percentual de gordura corporal avaliado por método tetrapolar e discriminação da alteração da glicemia em idosas participantes de um programa para a terceira idade, Minas Gerais, Brasil, 2009 224 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Tabela 2 Pontos de corte, sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo dos métodos de avaliação antropométrica e de composição corporal aplicados em idosas participantes de um programa para a terceira idade, Minas Gerais, Brasil Índices antropométricos Pontos de corte Sensibilidade (IC95%) Especificidade (IC95%) VPP VPN Perímetro da cintura (cm) >89,5 76,0 (54,9–90,6) 59,74 (50,3–68,6) 28,43 92,19 IMC (kg/m²) >29,5 60,0 (38,7–78,8) 74,80 (66,0–82,3) 33,40 89,87 GC tetrapolar (%)* >38,5 80,0 (59,3–93,1) 49,6 (40,3–58,9) 25,06 92,17 VPP: valor preditivo positivo; VPN: valor preditivo negativo; IMC: índice de massa corporal; GC: gordura corporal; *método tetrapolar. D I S C USSÃO Os índices antropométricos e de composição corporal foram capazes de discriminar a alteração glicêmica nas idosas avaliadas neste estudo, com exceção da bioimpedância bipolar. Também foi observado que o PC, método de baixo custo e de simples mensuração, obteve desempenho satisfatório em predizer a alteração. Modificações anatômicas e fisiológicas ocorrem durante o processo de envelhecimento, com destaque para diminuição da estatura e do peso, aumento da gordura corporal, diminuição da quantidade de água corporal total e redução do tecido ósseo e muscular.13,14 Além dessas modificações, a relevante combinação entre o aumento da gordura intra-abdominal e a redução da massa magra, denominada “obesidade sarcopênica”, está associada ao aumento no risco de doenças como hipertensão arterial, dislipidemia, resistência insulínica, diminuição da força muscular e fragilidade.15 Importante ressaltar que o tecido adiposo concentrado na região abdominal possui intensa atividade lipolítica, que promove o aumento da neoglicogênese, o aumento da secreção de VLDL e insulino-resistência.16 Com isso, estudos são realizados para avaliar a relação entre a composição corporal, principalmente a presença de excesso de adiposidade central, com a resistência à insulina, diabetes mellitus do tipo 2 e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Diversos métodos são utilizados na avaliação antropométrica e de composição corporal de idosos. Em estudos epidemiológicos, a antropometria tem sido amplamente utilizada devido ao seu baixo custo, sua fácil aplicação e execução rápida, entretanto, apresenta limitações. Por esse motivo, recomenda-se, quando possível, a associação entre diferentes indicadores antropométricos e nutricionais. O método mais empregado em estudos epidemiológicos e na prática clínica é o IMC, que apresenta relação com morbidade, incapacidade e mortalidade na faixa etária geriátrica. No entanto, embora prático e de baixo custo, o IMC não permite determinar a composição corporal. Além disso, o emprego do IMC apresenta dificuldades em função do decréscimo de estatura durante o processo de envelhecimento, do acúmulo de tecido adiposo, da redução da massa corporal magra e da diminuição da quantidade de água no organismo. Devido a isso, recomenda-se o uso de pontos de corte específicos para a faixa etária e a associação de medidas antropométricas e de composição corporal para uma melhor avaliação.17 Além do IMC, a medida do PC é também utilizada por profissionais por ser um indicador de adiposidade central e possuir correlação com mortalidade e morbidade em idosos.18 A obesidade androide também está relacionada, em idosos, com os componentes da síndrome metabólica. Kang et al.3 encontraram correlação positiva entre o acúmulo de tecido adiposo e as concentrações de triacilgliceróis, insulina, glicemia, resistência à insulina e estenose da artéria coronária, e correlação negativa com as concentrações do colesterol HDL e adiponectina. A associação entre medidas antropométricas é bastante abordada na literatura. Orsatti et al.19 realizaram um estudo com mulheres na pós-menopausa da Região Sudeste do Brasil. A associação de duas medidas antropométricas (PC e IMC) foi eficiente para adequado diagnóstico de obesidade relacionada a alterações metabólicas em mulheres na pós-menopausa. Contudo, a simples avaliação do PC pode ser indicativa do risco cardiovascular e metabólico das doenças crônicas não transmissíveis. Um estudo realizado com mulheres de 18 a 74 anos avaliou o IMC e o PC como ferramentas para triagem na identificação de risco cardiovascular. Os autores concluíram que o PC apresentou maior capacidade discriminatória do que o IMC.20 Não existe um consenso na literatura em relação ao melhor ponto de corte do PC a ser adotado para se avaliar a população idosa. As diferenças étnicas e as modificações antropométricas que ocorrem nas diferentes faixas etárias podem justificar essa dificuldade de padronização. No presente estudo, o ponto de corte encontrado (89,5 cm) apresentou melhor equilíbrio entre a sensibilidade e a especificidade (76,0 e 59,7%, respectivamente). Já a OMS considera inadequado o PC ≥94 cm para homens e ≥80 cm para mulheres.9 Almeida et al.21, ao avaliarem mulheres na faixa etária de 30 a 69 anos, concluíram que o PC no valor de 86 cm, menor do que o encontrado neste estudo, com sensibilidade de 69,5% e especificidade de 63,5% apresentou desempenho satisfatório ao discriminar o risco coronariano elevado. Para a população japonesa, os pontos de corte estipulados para o PC são 85 cm para homens e 90 cm para mulheres; porém, ao avaliar seu o poder discriminatório na detecção de risco cardiovascular e síndrome Índices nutricionais e glicemia | 225 metabólica em 844 homens e mulheres participantes de uma coorte no Japão, o melhor ponto de corte foi de 88 cm (sensibilidade 60%, especificidade 70%) para homens e 82 cm para mulheres (sensibilidade 78%, especificidade 62%).22 Idosos obesos com síndrome metabólica apresentaram maior acúmulo de gordura abdominal visceral e menor quantidade de gordura subcutânea na região da coxa, quando comparados aos idosos também obesos sem síndrome metabólica. Essa diferença também ocorreu em relação ao perfil inflamatório, sendo maiores as concentrações de IL-6, TNF-α e PAI na presença da síndrome.23 Outro modo de avaliar a composição corporal é a bioimpedância elétrica. Seu resultado é baseado nas diferentes características condutoras da massa de gordura corporal e da massa livre de gordura devido ao seu diferente grau de hidratação. Além do custo mais elevado, a maioria das fórmulas utilizadas para descrever a composição corporal foi desenvolvida para populações europeias e norte-americanas. É importante alertar para o fato de que a estimativa do %GC é realizada por fórmulas não específicas para a população de idosos brasileiros. O método de bioimpedância elétrica segmentar (bipolar) pé a pé é de fácil e rápida utilização, entretanto, analisa a composição corporal dos membros inferiores, não sendo possível avaliar o acúmulo de tecido adiposo na região central.24 Na população do presente estudo, a bioimpedância pé a pé não foi capaz de discriminar alterações glicêmicas, fato este que pode ser decorrente da não capacidade de o método estimar o acúmulo de gordura central. Os índices antropométricos e de composição corporal apresentaram poder de discriminação da alteração da glicemia, com exceção da bioimpedância bipolar. conclusão Apesar de não serem diferentes entre eles, ressalta-se que o PC apresentou maior área abaixo da curva ROC, assim como um importante valor preditivo negativo para excluir o diagnóstico de alteração glicêmica em idosas. Portanto, ressalta-se a sua importância na atenção primária à saúde como indicador de triagem de populações em risco cardiometabólico. Importante ressaltar que o grupo estudado é representativo da população de idosas participantes de um programa para a terceira idade de um município. Recomenda-se, portanto, que sejam realizados novos estudos com representatividade da população idosa brasileira. AG R A D E C I M E N TO S As autoras agradecem ao Departamento de Nutrição Clínica e Social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), pela disponibilização dos instrumentos de coleta. Este trabalho foi desenvolvido como atividade proposta pelo Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. R EFER ÊN CIAS 1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Disponível em: </home/ estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008>. [Acessado em: 05 set. 2012]. 2. Steen B. Body composition and aging. Nutr Rev. 1988;46(2):45-51. 3. Kang SM, Yoon JW, Ahn HY, Kim SY, Lee KH, Hayley S et al. Android fat depot is more closely associated with metabolic syndrome than abdominal visceral fat in elderly people. PLoS One. 2011;6(11):e27694. 4. Guallar-Castillón P, Balboa-Castillo T, López-García E, León-Muñoz LM, Gutiérrez-Fisac JL, Banegas JR et al. BMI, waist circumference, and mortality according to health status in the older adult population of Spain. Obesity (Silver Spring). 2009;17(12):2232-8. 5. World Health Organization. World Health Organization Technical Report Series, 706. The uses of epidemiology in the study of the elderly. Geneva: WHO; 1984. p.1-84. 6. Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric standardization reference manual. 2 ed. Champaign: Human Kinetics Books; 1998. 7. Fontanive R, Paula TP, Peres WAF. Avaliação da composição corporal de adultos. In: Duarte ACG. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Editora Atheneu; 2007. p. 40-63. 8. World Health Organization. Report of a WHO Expert Committee. World Health Organization Technical Report Series, 854. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Geneva: WHO; 1995. p. 1-452. 9. World Health Organization. Report of a WHO Consultation. World Health Organization Technical Report Series, 894. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Geneva: WHO; 2000. p. 1-253. 10. Lukaski HC. Methods for the assessment of human body composition: traditional and new. Am J Clin Nutr. 1987;46(4):537-56. 11. American Diabetes Association. Diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care. 2009;27(Suppl):1-6. 12. Hanley JA, McNeil BJ. A method of comparing the areas under receiver operating characteristic curves derived from the same cases. Radiology. 1983;148(3):839-43. 13. Wannamethee SG, Shaper AG, Lennon L, Whincup PH. Decreased muscle mass and increased central adiposity are independently related to mortality in older men. Am J Clin Nutr. 2007;86(5):1339-46. 14. Nowson C. Nutritional challenges for the elderly. Nutr Diet. 2007;64(Suppl. 4):S150-5. 15. Gómez-Cabello A, Vicente Rodríguez G, Vila-Maldonado S, Casajús JA, Ara I. Envejecimiento y composición corporal: la obesidad sarcopénica en España. Nutr Hosp. 2012;27(1):22-30. 16. Tuvdendorj D, Chandalia M, Batbayar T, Saraf M, Beysen C, Murphy EJ et al. Altered subcutaneous abdominal adipose tissue lipid synthesis in obese, insulin-resistant humans. Am J Physiol Endocrinol Metab. 2013;305(8):E999-1006. 17.Cervi A, Franceschini SCC, Priore SE. Análise critica do uso do índice de massa corporal para idosos. Rev Nutr. 2005; 18(6):765-75. 226 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA 18. Donini LM, Savina C, Gennaro E, De Felice MR, Rosano A, Pandolfo MM et al. A systematic review of the literature concerning the relationship between obesity and mortality in the elderly. J Nutr Health Aging. 2012;16(1):89-98. 19. Orsatti FL, Nahas EAP, Nahas-Neto J, Maestá N, Padoani NP, Orsatti CL. Indicadores antropométricos e as doenças crônicas não transmissíveis em mulheres na pós-menopausa da região Sudeste do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet. 2008;30(4):182-9. 20. Foucan L, Hanley J, Deloumeaux J, Suissa S. Body mass index (BMI) and waist circumference (WC) as screening tools for cardiovascular risk factors in Guadeloupe an women. J Clin Epidemiol. 2002;55(10):990-6. 21. Almeida RT, Almeida MMG, Araujo TM. Obesidade abdominal e risco cardiovascular: desempenho de indicadores antropométricos em mulheres. Arq Bras Cardiol. 2009;92(5):375-80. 22. Nakamura K, Nanri H, Hara M, Higaki Y, Imaizumi T, Taguchi N et al. Optimal cutoff values of waist circumference and the discriminatory performance of other anthropometric indices to detect the clustering of cardiovascular risk factors for metabolic syndrome in Japanese men and women. Environ Health Prev Med. 2011;16(1):52-60. 23. Koster A, Stenholm S, Alley DE, Kim LJ, Simonsick EM, Kanaya AM, et al.; Health ABC Study. Body fat distribution and inflammation among obese older adults with and without metabolic syndrome. Obesity (Silver Spring). 2010;18(12):2354-61. 24. Eickemberg M, Oliveira CC, Roriz AKC, Sampaio LR. Bioimpedância elétrica e sua aplicação em avaliação nutricional. Rev Nutr. 2011;24(6):883-93. Artigo Original USO DE MEDICAMENTO POTENCIALMENTE INAPROPRIADO EM IDOSOS HOSPITALIZADOS SEGUNDO CRITÉRIOS DE BEERS Fernanda Coelho Vilelaa, Maurício de Carvalhoa, Vânia Mari Salvi Andrzejevskia, Gibran Avelino Frandolosoa RE S UM O Palavras-chave Idoso prescrição inapropriada farmacoepidemiologia Objetivo: Avaliar a prevalência do uso de medicamentos potencialmente inapropriados (MPIs) em pacientes idosos admitidos nas enfermarias de Clínica Médica, Infectologia, Neurologia e Cardiologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). Métodos: Estudo observacional, transversal, analítico e retrospectivo para identificação de medicamentos inapropriados utilizados entre idosos hospitalizados entre janeiro e dezembro de 2012. A amostra foi composta pelo total de internações de idosos nas enfermarias avaliadas. Os critérios de Beers (versão 2012) foram utilizados para identificação de MPI. Resultados: Foram avaliadas 605 internações de 512 pacientes. A média de idade dos pacientes da Clínica Médica foi de 71±7,4 anos, da Infectologia, 67±5,4 anos, da Neurologia, 70±6,5 anos, e da Cardiologia, 71±7,9 anos. Dos 8.715 medicamentos utilizados, 1.933 (~22%) eram inapropriados para idosos. Considerando a classificação ATC, os grupos com mais prescrições foram: A – aparelho digestivo e metabolismo (48,5%), B – sangue e órgão hematopoiéticos (17,4%), N – sistema nervoso (17%) e C – aparelho cardiovascular (12,5). Entre os MPIs, os princípios ativos mais prescritos foram metoclopramida (28,45%), glibenclamida (17,17%), diazepam (6,67%) e óleo mineral (6,31%). Conclusão: O presente estudo mostrou que a prescrição de MPI entre os idosos hospitalizados é prática comum e sua prevalência é semelhante à encontrada em outros estudos, mesmo quando são utilizados critérios anteriores ao de 2012. O grupo de medicamentos que atuam no aparelho digestivo e metabolismo foi o mais utilizado. Este estudo servirá como instrumento de educação terapêutica para o uso seguro e racional do medicamento e sensibilização dos prescritores, podendo ainda auxiliar na escolha de alternativas mais seguras para o paciente idoso e como ferramenta para possíveis intervenções multiprofissionais no manejo de MPI. POTENTIALLY INAPPROPRIATE MEDICATION USE IN HOSPITALIZED ELDERLY PATIENTS ACCORDING TO BEERS CRITERIA ABS T RACT Keywords Aged inappropriate prescribing pharmacoepidemiology Objective: Evaluation of the prevalence of potentially inappropriate medication (PIM) use in elderly patients admitted to the wards of Internal Medicine, Infectious Diseases, Neurology and Cardiology at Hospital de Clínicas (HC-UFPR). Methods: An observational, cross-sectional, analytical, retrospective study to identify inappropriate medication use among hospitalized elderly patients, between January and December 2012. The sample was composed by all the evaluated elderly patients that were hospitalized at the wards. The Beers Method version 2012 was used to identify MPI. Results: A total of 605 admissions of 512 patients Hospital de Clínicas (HU), Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Curitiba (PR), Brasil. a Dados para correspondência Fernanda Coelho Vilela – Laboratório de Atenção Farmacêutica – Avenida Lothário Meissner, 632 – Jardim Botânico – CEP: 80210-170 – Curitiba (PR), Brasil – Tel.: (41) 3360-4076 – E-mail: [email protected] 228 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA were evaluated. The mean age of patients was 71±7.4 years old in Medicine Clinical. For Infectious Diseases 67±5.4 years old, Neurology 70±6.5 years old, and 71±7.9 years old for Cardiology. Out of the 8.715 medications used by this population, 1.933 (~22%) were inappropriate for seniors. Considering the ATC, the groups with more prescriptions were A – digestive tract and metabolism (48.5%), B – blood and hematopoietic organs (17.4%), N – nervous system (17%), and C – cardiovascular apparatus (12.5%). MPI between the active ingredients were most prescribed metoclopramide (28.45%), glibenclamide (17.17%), diazepam (6.67%) and mineral oil (6.31%). Conclusion: This study showed that prescribing PIM among hospitalized elderly is common practice and its prevalence is similar to that found in other studies, even when used prior to 2012. The criteria group of drugs that act on the digestive system and metabolism was the most used. This study will serve as an instrument of therapeutic education for the safe and rational use of medication and awareness of prescribers, and may assist in choosing safer alternatives for the elderly and as a possible tool for multidisciplinary interventions in the management of MPI patient. I N TR O DUÇ ÃO O envelhecimento populacional e o processo de transição epidemiológica são desafios para o sistema de saúde brasileiro, com implicações socioeconômicas importantes, uma vez que os idosos utilizam mais os serviços de saúde.1 Os idosos apresentam alta prevalência de doenças crônicas, condições clínicas de maior complexidade, regimes terapêuticos com múltiplos fármacos, além das alterações fisiológicas que modificam a farmacocinética e farmacodinâmica dos medicamentos, tornando a assistência ao paciente idoso um processo complexo.2 O medicamento pode ser considerado inapropriado para o uso em idosos quando os riscos superam os benefícios, quando existe uma opção terapêutica mais segura ou, ainda, quando seu uso não está bem estabelecido na literatura e não é baseado em evidências. O uso de medicamento potencialmente inapropriado (MPI) está associado à presença de reações adversas, quedas, diminuição de funções cognitivas e risco de hospitalizações.3-5 Várias ferramentas foram descritas para identificação de MPI, sendo os critérios de Beers os mais difundidos e utilizados. Elaborados em 1991, inicialmente para uso em lares de idosos, e revisados posteriormente, em 1997 e 2003, os critérios foram ampliados para que pudessem ser utilizados em todos os níveis de cuidado geriátrico; sua última atualização ocorreu em 2012. 6-8 Estima-se que 97% dos idosos institucionalizados e 61% dos idosos em ambulatório consumam pelo menos um fármaco inapropriado.9 Estudos mostram que a prevalência da utilização de medicamentos inapropriados em idosos vivendo na comunidade varia de 12 a 32%10,11 e chega a 40% em instituições de longa permanência.12 Embora o uso de MPI tenha impacto na hospitalização, na morbidade e nos custos de saúde, poucos estudos são realizados no Brasil envolvendo idosos hospitalizados. Assim, o presente trabalho objetivou avaliar o perfil de uso de MPI entre idosos hospitalizados e os fatores associados a sua prescrição. MÉ TO D O S Desenho do estudo e população Trata-se de um estudo observacional, transversal, analítico e retrospectivo, com utilização de dados secundários obtidos do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). O SIH é um banco de dados administrativo próprio do HC-UFPR. A população foi composta por internações de pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, dos serviços de Clínica Médica, Infectologia, Neurologia e Cardiologia, entre janeiro e dezembro de 2012. Para a seleção da amostra foi utilizada a amostragem por conveniência, um tipo de amostragem não probabilística. A seleção das unidades de internação para avaliação de medicamento inapropriado ocorreu pelo número de idosos hospitalizados e pela presença de um residente farmacêutico participando das visitas clínicas nas respectivas unidades. O total da amostra foi de 605 internações, que correspondem a 495 pacientes. O projeto foi aprovado em 02 de junho de 2013 pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas do Paraná (CAAE 15574213.4.0000.0096). Coleta de dados A coleta de dados para o estudo foi realizada a partir de um relatório gerado pelo SIH-HC e de revisão dos resumos de alta hospitalar. Para cada internamento foram registrados os dados sociodemográficos (sexo, idade, raça, escolaridade e estado civil) e clínicos (diagnósticos de internação e comorbidades), a unidade de internação, os dias de internação e os medicamentos prescritos. Foram utilizados os critérios de Beers, versão 2012,8 para a identificação dos MPIs. Os critérios de Beers são compostos por três listas que consideram 1. MPI em idosos; 2. MPIs considerando o diagnóstico ou síndrome; e 3. medicamentos que devem ser utilizados com cautela.13 O presente estudo utilizou as listas (1) e (3). Todos os medicamentos identificados foram tabulados segundo a classificação ATC. uso de medicamento potencialmente inapropriado em idosos hospitalizados segundo critérios de Beers | 229 Análise estatística O uso de MPI segundo critérios de Beers foi considerado como variável dependente. As variáveis independentes selecionadas foram as sociodemográficas, as clínicas, as relacionadas ao uso de medicamento e a hospitalização. Para análise estatística foram selecionadas as variáveis idade, dias de internação, serviço e número total de medicamentos prescritos durante o internamento. Todos os dados foram compilados utilizando o Microsoft Excel® 2010 e, posteriormente, analisados por meio do programa R®, versão 3.0.2. Utilizou-se análise descritiva para as variáveis qualitativas e quantitativas. Na estatística inferencial foi empregado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. O nível de significância (p) adotado para os testes estatísticos foi de 5%. R ESULTAD OS Característica da população estudada Foram analisadas 605 internações, sendo a maioria composta por pacientes do gênero masculino (56%) em todos os serviços clínicos analisados. Desses pacientes, 64% eram casados, 53% possuíam primeiro grau incompleto e 92% eram de etnia branca. A média de idade foi de 71±7,6 anos para os pacientes da Clínica Médica e da Cardiologia, 67±5,6 anos para os pacientes da Infectologia e 70±6,5 anos para os pacientes da Neurologia. O serviço de Clínica Médica apresentou a maior média de dias de internação: 13 (DP: 22). As características sociodemográficas estão descritas na Tabela 1. No geral, os diagnósticos principais mais comuns foram acidente vascular cerebral, angina pectoris, insuficiência cardíaca congestiva e infarto agudo do miocárdio. As comorbidades mais comuns foram hipertensão arterial (25,1%), diabetes (11,6%) e dislipidemia (9,1%). Medicamentos prescritos Nas 605 internações avaliadas, o número médio de medicamentos por serviço clínico foi de 17,5 (DP: 9) na Infectologia, 15,3 (DP: 7) na Clínica Médica, 13,8 (DP: 5) na Cardiologia e 9,7 (DP: 4,7) na Neurologia. A média global de medicamentos utilizados por paciente foi de 14,4; foi prescrito um total de 240 medicamentos diferentes. Os medicamentos mais prescritos foram metoclopramida (6,27%), dipirona (6,12%), ácido acetilsalicílico (5,34%), omeprazol (4,33%), enalapril (4,1%) e glibenclamida (3,8%). As classes terapêuticas mais prescritas foram as relacionadas aos aparelhos digestório (27,2%), cardiovascular (23,5%) e nervoso (16,2%). Medicamento potencialmente inapropriado Foram avaliados 8.715 medicamentos. A prevalência média de MPI encontrada entre as 605 internações foi de 22,2% (1.933 medicamentos). Mais da metade dos pacientes (60%) receberam 3 ou mais MPIs. Entre os serviços clínicos analisados, o serviço de Cardiologia foi o que apresentou maior média de medicamentos inapropriados prescritos: 3,4 (DP: 1,5). Os MPIs mais prescritos entre todos os serviços clínicos analisados foram metoclopramida (28,45%), glibenclamida (17,17%), diazepam (6,67%) e óleo mineral (6,31%). Considerando a classificação ATC, os grupos com mais prescrições foram: A – aparelho digestivo e metabolismo (48,5%), B – sangue e órgão hematopoiéticos (17,4%), N – sistema nervoso (17%) e C – aparelho cardiovascular (12,5%), segundo a Tabela 2. O total de medicamentos e o tempo de internação estiveram associados à prescrição de MPIs, porém o mesmo não foi observado para idade. Tabela 1 Características sociodemográficas das internações nas enfermarias de Clínica Médica, Infectologia, Cardiologia e Neurologia do Hospital de Clínicas do Paraná, 2012 Características sociodemográficas Clínica médica Infectologia Neurologia Cardiologia Total Gênero Feminino 117 12 52 87 268 Masculino 125 17 56 139 337 60–75 169 23 79 166 437 76–85 63 6 27 49 145 >85 10 – 2 11 23 Branco 225 24 98 210 557 Pardo 17 05 10 16 48 Solteiro 22 – 09 16 47 Casado 159 10 78 145 392 Divorciado 13 03 02 10 28 Viúvo 44 09 18 50 121 União estável 04 07 01 05 17 Ignorado 42 04 18 31 95 Nenhuma 23 01 07 19 50 1º Grau completo 18 06 11 29 64 1º Grau incompleto 130 15 47 129 321 2º Grau completo 17 01 17 10 45 2º Grau incompleto 02 02 05 05 14 Superior completo 07 – 03 03 13 Superior incompleto 03 – – – 03 Idade Raça Estado civil Escolaridade 230 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Tabela 2 Frequências de prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados conforme a classificação anatômico-terapêutica-química, segundo grupo terapêutico em pacientes idosos internados nas enfermarias de Clínica Médica, Infectologia, Cardiologia e Neurologia do Hospital de Clínicas do Paraná, 2012 Grupos principais (ATC) f % Aparelho digestivo e metabolismo 939 48,5 Sangue e órgãos hematopoiéticos 336 17,4 Sistema nervoso 327 17 Aparelho cardiovascular 241 12,5 Outros 90 4,6 ATC: classificação anatômico-terapêutica-química; f: frequência. D I S C USSÃO Em nosso estudo, a prevalência de MPI observada foi de 22,2%, compatível com a prevalência encontrada em estudos anteriores que utilizaram a última versão dos critérios de Beers (16,5–25,5%).14-16 As prevalências de MPI diferem bastante entre os estudos: Ryan et al., utilizando critérios de Beers para avaliar o uso de medicamento em idosos no cuidado primário, identificaram 69 pacientes (13%) em uso de MPI.17 Na Itália, um estudo de coorte retrospectivo utilizando banco de dados informatizados de prescrições ambulatoriais de idosos constatou que 25,8% dos pacientes haviam recebido, pelo menos, um MPI no período do estudo.18 Em um estudo prospectivo realizado na Índia com 540 pacientes internados nas enfermarias de um hospital terciário, a prevalência encontrada foi de 13,3%.19 As diferenças entre as prevalências encontradas nos estudos que avaliaram MPI variam de acordo com a população avaliada, o critério adotado para identificação de MPI e também com a disponibilidade dos medicamentos que constam nas listas no país do estudo. Embora tenham sido utilizados os critérios de Beers versão 2012 neste estudo, os dados obtidos foram semelhantes aos estudos que utilizaram versões anteriores. Nesta casuística, 60% dos pacientes tiveram 3 ou mais MPIs identificados, o que está de acordo com estudos realizados na Nigéria e Argentina.14,16 O predomínio de pacientes do gênero masculino (56%) é semelhante ao encontrado por estudos realizados na Índia e no Brasil,19,20 em que foi encontrada uma predominância de 52 e 65% de pacientes idosos do gênero masculino, respectivamente. No entanto, a situação é diferente em outros países.21,15,5 A média de dias de internação difere entre a Clínica Médica e a Cardiologia e entre a Clínica Médica e a Neurologia, fato que pode estar associado às características dos idosos internados nas enfermarias de Clínica Médica e aos internamentos sociais recorrentes, o que prolonga o tempo de internação. Para a média de medicamento inapropriado houve diferença entre todas as clínicas. A principal causa de morbidade encontrada neste estudo foi hipertensão arterial, fato também encontrado por estudo realizado por Fadare et al.,14 em que 54,5% das internações foram causadas por hipertensão arterial. Esse fato demonstra que os resultados desta pesquisa estão de acordo com a tendência do aumento de doenças não transmissíveis nos países em desenvolvimento. A idade não esteve associada à prescrição de MPI na nossa amostra e não houve diferença significativa entre as enfermarias com relação à idade dos pacientes. A associação de idade com prescrição de MPI tem resultados conflitantes em estudos anteriores: Maio et al. encontraram uma correlação entre o aumento da idade e o risco para MPI;22 outro estudo relatou que pacientes com menos de 75 anos estão mais propensos a receber um MPI.23 Mais estudos avaliando a relação entre idade e prescrições de medicamento inapropriado devem ser realizados para esclarecer tal questão. Os MPIs mais prescritos foram metoclopramida, glibenclamida, diazepam e óleo mineral. Fadare et al. encontraram como MPIs mais prescritos: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), anti-histamínicos, amitriptilina e metildopa.14 Garcia-Ramos et al. observaram que os MPIs mais comumente encontrados entre os idosos admitidos em enfermarias de Cardiologia e Pneumologia foram amiodarona, digoxina e diazepam.24 Marzi et al. descobriram que entre os idosos atendidos em um centro de atenção geriátrica os MPIs mais comuns foram clonazepam, diclofenaco, lorazepam e tioridazina.16 As diferenças entre os perfis de prescrições de MPI encontradas no presente estudo e os resultados encontrados em estudos anteriores podem estar relacionadas a fatores como: alguns medicamentos que constam nos critérios de Beers não estavam disponíveis na instituição, outros não apresentavam registro e, portanto, não eram comercializados no Brasil. Este estudo apresenta algumas limitações. Até o presente momento, não foi identificado um instrumento original ou adaptado à realidade brasileira para a avaliação de MPI. O uso dos critérios de Beers se deu por ser uma ferramenta de fácil compreensão e pela ampla utilização entre os estudos. A utilização de informações provenientes de um banco de dados administrativos tem algumas limitações, como a qualidade da informação registrada e a ausência de dados sobre algumas variáveis, o que impossibilita a avaliação da clínica do paciente. CONCLUSÔES Os resultados deste estudo constituem importante instrumento de educação terapêutica para o uso seguro e racional do medicamento e a sensibilização dos prescritores. Os dados apresentados poderão subsidiar a comissão de farmácia e terapêutica na escolha de alternativas mais seguras para a população idosa e como ferramenta para possíveis intervenções multiprofissionais no manejo de MPI. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. uso de medicamento potencialmente inapropriado em idosos hospitalizados segundo critérios de Beers | 231 R EFER ÊN CIAS 1. Lima-Costa MF. Saúde pública e envelhecimento. Cad Saúde Pública. 2003;19(3):700-1. 2. Wolff JL, Starfield B, Anderson G. Prevalence, expenditures, and complications of multiple chronic conditions in the elderly. Arch Intern Med. 2002;162(20):2269-76. 3. Passarelli MCG, Jacob-Filho W, Figueras A. Adverse drug reactions in an elderly hospitalised population: inappropriate prescription is a leading cause. Drugs Aging. 2005;22(9):767-77. 4. Lau DT, Mercaldo ND, Shega JW, Rademaker A, Weintraub S. Functional decline associated with polypharmacy and potentially inappropriate medications in community-dwelling older adults with dementia. Am J Alzheimers Dis Other Demen. 2011;26(8):606-15. 5. Dedhiya SD, Hancock E, Craig BA, Doebbeling CC, Thomas J 3rd. Incident use and outcomes associated with potentially inappropriate medication use in older adults. Am J Geriatr Pharmacother [periódico eletrônico] 2010 [citado em 2014 Jan 8];8(6):562-70. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21356505. 6. Beers MH. Explicit criteria for determining potentially inappropriate medication use by the elderly. Arch Intern Med. 1997;157(14):1531-6. 7. Fick DM, Cooper JW, Wade WE, Waller JL, Maclean JR, Beers MH. Updating the Beers criteria for potentially inappropriate medication use in older adults. Arch Intern Med. 2003;163(22):2716-24. 8. Campanelli CM. American Geriatrics Society updated Beers criteria for potentially inappropriate medication use in adults. J Am Geriatr Soc. 2012;60(4):616-31. 9. Fidalgo García ML, Molina García T, Pacheco Millán F, Orozco Díaz P, Benavente Moreda I, Casado López M et al. Prescripción farmacéutica en residencias de ancianos. Comparación con ancianos ambulatorios (2.a parte). MEDIFAM. 2001;11(2):73-82. 10. Aparasu RR, Mort JR. Inappropriate prescribing for the elderly: beers criteria-based review. Ann Phamacother. 2000;34(3):338-46. 11. Zhan C, Sangl J, Bierman AS, Miller MR, Friedman B, Wickizer SW et al. Potentially Inappropriate medication use in the communitydwelling elderly. J Am Med Assoc. 2001;286(22):2823-9. 12. Gallagher P, Barry P, O’Mahony D. Inappropriate prescribing in the elderly. J Clin Pharm Ther [periódico eletrônico]. 2007 [citado em 2013 Dec 31];32(4):113-21. Disponível em: http://www.ncbi.nlm. nih.gov/pubmed/24195243. 13. Resnick B, Pacala JT. 2012 Beers Criteria. J Am Geriatr Soc [periódico eletrônico]. 2012 [citado em 2013 Dec 31];60(4):612-3. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22375952. 14. Fadare JO, Agboola SM, Opeke OA, Alabi RA. Prescription pattern and prevalence of potentially inappropriate medications among elderly patients in a Nigerian rural tertiary hospital. Ther Clin Risk Manag [periódico eletrônico]. 2013 [citado em 2014 Jan 8];9:115-20. Disponível em: http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender. fcgi?artid=3601648&tool=pmcentrez&rendertype=abstract. 15. Regueiro M, Mendy N, Cañas M, Farina HO, Nagel P. Uso de medicamentos en adultos mayores no institucionalizados. Rev Peru Med Exp Salud Publica. 2011;28(4):643-7. 16. Marzi MM, Diruscio VA, Núñes MH, Pires MS, Quaglia NB. Análisis de la prescripción de medicamentos en una comunidad geriátrica Argentina. Rev Méd Chile. 2013;141(2):194-201. 17. Ryan C, O’Mahony D, Kennedy J, Weedle P, Barry P, Gallagher P et al. Appropriate prescribing in the elderly: an investigation of two screening tools, Beers criteria considering diagnosis and independent of diagnosis and improved prescribing in the elderly tool to identify inappropriate use of medicines in the elderly in primary care in Ireland. J Clin Pharm Ther [periódico eletrônico]. 2009 [citado em 2013 Dez 21];34(4):369-76. Disponível em: http://www.ncbi.nlm. nih.gov/pubmed/19583669. 18. Maio V, Del Canale S, Abouzaid S. Using explicit criteria to evaluate the quality of prescribing in elderly Italian outpatients: a cohort study. J Clin Pharm Ther [periódico eletrônico]. 2010 [citado em 2014 Jan 7];35(2):219-29. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/20456742. 19. Vishwas HN, Harugeri A, Parthasarathi G, Ramesh M. Potentially inappropriate medication use in Indian elderly: comparison of Beers’ criteria and Screening Tool of Older Persons’ potentially inappropriate Prescriptions. Geriatr Gerontol Int [periódico eletrônico]. 2012 [citado em 2014 Jan 7];12(3):506-14. Disponível em: http://www. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22239067. 20. Locatelli J, Lira AR, Torraga LK, Paes AT. Inappropriate medications using the Beers criteria in brazilian hospitalized elderly patients. Consult Pharm. 2010;25(1):36-40. 21. Pozzi C, Lapi F, Mazzaglia G, Inzitari M, Boncinelli M, Geppetti P et al. Is suboptimal prescribing a risk factor for poor health outcomes in community-dwelling elders ? The ICARe Dicomano study. Pharmacoepidemiol Drug Saf. 2010;19(9):954-60. 22. Maio V, Jutkowitz E, Herrera K, Abouzaid S, Negri G, Del Canale S. Appropriate medication prescribing in elderly patients: how knowledgeable are primary care physicians? A survey study in Parma, Italy. J Clin Pharm Ther [periódico eletrônico] 2011. [citado em 2014 Jan 7];36:468-80. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/21729112. 23. Faustino CG, Passarelli MCG, Jacob-Filho W. Potentially inappropriate medications among elderly Brazilian outpatients. São Paulo Med J. 2013;131(1):19-26. 24.Garcia-Ramos SE, Garcia-Poza P, Ramos-Diaz F. Evaluación de las prescripciones inapropiadas según los criterios de Beers en los servicios de Cardiología y neumología hospitalarios. Rev Calid Asist [periódico eletrônico]. 2012 [citado em 2014 Jan 8];27(3):169-74. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/22178634. Artigo de Revisão DÉFICIT DE CONTROLE POSTURAL EM PORTADORES DE DOENÇA DE PARKINSON: REVISÃO SISTEMÁTICA Karin de Moura Portelaa, Laís Rodrigues Gerzsonb, Jaqueline de Fátima Biazusc, Nadiesca Taisa Filippinc RE S UM O Palavras-chave Doença de Parkinson Equilíbrio Controle postural Fisioterapia Objetivo: Realizar uma revisão sistemática dos estudos publicados nos últimos cinco anos sobre déficit de controle postural e equilíbrio em portadores de doença de Parkinson (DP). Métodos: A revisão sistemática de literatura foi realizada por meio da busca em bases dedados indexadas, com os descritores doença de Parkinson, equilíbrio, controle postural e fisioterapia, e a qualificação dos artigos, por intermédio da Escala de Qualidade de Jadad. Nessa escala o estudo é considerado de má qualidade se obtiver pontuação 2 ou inferior após avaliação. Resultados: Seis estudos obtiveram valor 3, e 2 obtiveram valor 4, totalizando 8 que puderam ser considerados bons e reprodutíveis. Conclusão: A Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson (UPDRS) e a escala Hoehn Yahr (HY) foram as mais utilizadas como método de avaliação nos estudos selecionados. Quanto às intervenções, os exercícios e treinos funcionais tiveram bons resultados. As intervenções realizadas propiciaram uma boa qualificação dos estudos devido aos seus desenhos metodológicos, bem como a descrição minuciosa de tais desenhos. POSTURAL DEFICIT CONTROL IN PATIENTS WITH PARKINSON’S DISEASE: A SYSTEMATIC REVIEW ABS T RACT Keywords Parkinson’s disease Balance Postural control Physiotherapy Objective: To perform a systematic review of studies published in the last five years, about postural control and balance deficits in patients with Parkinson’s disease (PD). Methods: The systematic literature review was performed by searching in indexed databases, with Parkinson’s disease, balance, postural control, physiotherapy descriptors, and qualification Articles by Jadad Quality Scale. That scale study is considered poor if you get a score of 2 or less after evaluation. Results: Six studies obtained value three, two obtained value four, eight total that could be considered good and reproducible. Conclusion: The use of the UPDRS and HY scales were frequently used as evaluation method in selected studies. Regarding interventions, exercises and functional training had good results. Interventions provided a good qualification studies because their methodological designs, as well as description of them. Discente do Curso de Fisioterapia, Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) – Santa Maria (RS), Brasil. Fisioterapeuta Pós-graduada em Motricidade Infantil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Porto Alegre (RS), Brasil. Pós-graduada em Fisioterapia Neurofuncional, Faculdade Inspirar – Porto Alegre (RS), Brasil. c Docentes do Curso de Fisioterapia, UNIFRA – Santa Maria (RS), Brasil. a b Dados para correspondência Jaqueline de Fátima Biazus – Rua Conde de Porto Alegre, 13, apto. 801 – Nossa Senhora de Fátima – CEP: 97010-100 – Santa Maria (RS), Brasil – Tel: (55) 9619-9919 – E-mail: [email protected] Controle postural na doença de Parkinson | 233 INTR ODUÇÃO Segundo Andlin et al., a doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente em todo o mundo, sendo apenas superada pela doença de Alzheimer. A incidência média de 15 a 20 casos por 100 mil habitantes por ano é a mais consensual.2 Segundo O’Sullivan,3 a DP é crônica e progressiva, seu início é insidioso e de lenta progressão, afeta o sistema nervoso e tem como características sinais de rigidez, bradicinesia, tremor e instabilidade postural. A doença pode causar outros sintomas, como perturbações do movimento e da marcha, alterações sensoriais, distúrbios de fala, voz e deglutição. Para Brusse et al.,4 a DP é uma dessas enfermidades que podem estar entre as múltiplas causas que ocasionam alterações no equilíbrio corporal devido à falta de dopamina (e seus consequentes sintomas), como modificações no controle motor, tremor de repouso, rigidez, alterações dos reflexos posturais, instabilidade e distúrbios de equilíbrio e marcha. Não obstante, a DP compromete também a habilidade do sistema nervoso central no que diz respeito ao processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal, gerando uma diminuição da capacidade de modificação dos reflexos adaptativos.5 Portanto, o equilíbrio corporal, na maioria dos pacientes com DP, fica prejudicado devido à interação imprópria dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo. Por consequência, esses indivíduos adquirem a tendência de deslocamento do seu centro de gravidade (CG) para frente, o que os torna incapazes de realizar movimentos compensatórios para a aquisição de equilíbrio e, por isso, faz com que caiam com facilidade.6 Partindo-se da premissa de que o controle postural em indivíduos com DP apresenta déficits, esta pesquisa propôs realizar uma revisão sistemática dos estudos realizados nos últimos cinco anos sobre o tema déficit de controle postural e equilíbrio em portadores de DP. 1 Métodos Estratégia de pesquisa A revisão sistemática de literatura foi realizada por intermédio da busca em bases de dados indexadas, PubMed, PEDro, Cochrane BVS e SciELO, de agosto até outubro de 2013, sendo a busca primária pelos seguintes descritores no Mesh-NCBI (português-inglês) para doença de Parkinson/ Parkinson’s disease, equilíbrio/balance, controle postural/postural control, fisioterapia/physiotherapy e suas combinações. Seleção de estudos Os critérios de seleção dos artigos foram: publicações a partir do ano de 2009, artigos originais de estudos clínicos randomizados ou ensaios clínicos não randomizados, estando disponíveis para acesso livre nas bases de dados já citadas, que tratavam apenas dos temas: DP, equilíbrio ou controle postural e fisioterapia. Os estudos excluídos foram revisões de literatura, projetos de pesquisa, estudos de caso e avaliações sem intervenção clínica. Síntese dos dados qualitativos A Escala de Qualidade de Jadad é um instrumento desenvolvido para avaliar a qualidade de estudos clínicos que visa a diminuição das tendenciosidades, ou seja, sua validade interna.6 Nos itens da escala existem duas opções de resposta: sim ou não A escala de Jadad questiona: 1. se o estudo é randomizado, se o método de randomização é adequado; 2. se é duplo-cego, se o método de blindagem é adequado; 3. se há descrição das exclusões e perdas do estudo. Para cada item dá-se um ponto para resposta sim e zero ponto para resposta não, de modo que cada item tenha apenas uma resposta. Se nos itens 1 e 2 os métodos de randomização e blindagem forem citados, mas descritos de maneira inadequada, faz-se a dedução de um ponto; da mesma forma, se nos mesmos itens os métodos de randomização e blindagem forem citados e descritos corretamente, adiciona-se um ponto. Como resultado da escala de Jadad, o estudo pode receber, no máximo, cinco pontos, um ponto para cada sim. O estudo é considerado de má qualidade se obtiver pontuação dois ou inferior após avaliação. R E S U LTA D O S A busca por artigos nas bases de dados por meio dos descritores Parkinson’s disease, physical therapy, postural balance, balance e os mesmos descritores nas suas respectivas traduções teve como resultado de pesquisa o total de 27 artigos. Desses 27 artigos da busca primária, 11 foram excluídos, pois não se enquadravam nos critérios de inclusão, restando 16 artigos que passaram para a segunda etapa. Na segunda etapa, seguindo a Escala de Qualidade de Jadad, as análises foram organizadas de maneira decrescente no valor da pontuação de qualidade, disponível na Tabela 1. Para melhor visualização e organização da discussão, optou-se por dividir em dois tópicos, sendo o primeiro referente às avaliações utilizadas nos estudos, e o segundo, às intervenções. Após a qualificação pela escala de Jadad, observou-se que seis artigos obtiveram valor três, e dois textos, valor quatro, totalizando oito estudos que podem ser considerados bons e reprodutíveis. Os demais artigos não alcançaram a pontuação três, a qual é mínima exigida para ser considerado de boa qualidade. Portanto, foram considerados para discussão artigos com pontuação três ou superior. 234 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Tabela 1 Qualificação dos artigos selecionados de acordo com Jadad (1996)6 O estudo é definido como aleatório O método de randomização foi adequado? O estudo é duplo-cego? O método de mascaramento foi adequado? Houve descrição das perdas e exclusões? Pontos Christofoletti et al., 20107 Sim Yen et al., 20118 Sim Sim Sim Não Sim 4 Sim Não Não Sim Schenkman et al., 2012 9 3 Sim Sim Sim Sim Não 4 Shen et al., 201210 Sim Sim Não Não Sim 3 Li et al., 201211 Sim Sim Não Não Sim 3 Goodwin et al., 201112 Sim Sim Não Não Sim 3 Rogers et al., 201113 Sim Sim Não Não Sim 3 Corcos et al., 201314 Sim Sim Sim Não Não 3 Reuter et al., 201115 Sim Sim Não Não Não 2 De Lima-Pardini et al., 201216 Não Sim Não Não Sim 2 Bhatt et al., 201317 Não Sim Não Não Sim 2 Hackney et al., 200918 Sim Sim Não Não Não 2 Nocera et al., 200919 Não Não Não Não Sim 1 Sánchez-Arias et al., 201220 Não Não Não Não Não 0 Bertoldi et al., 201321 Não Não Não Não Não 0 D I S C USSÃO A avaliação do estágio e dos sintomas da DP é comumente realizada utilizando-se duas escalas: Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson (UPDRS) e Hoehn Yahr (HY). No presente estudo observou-se que nem todos os autores utilizaram da mesma forma e para mesma finalidade as referidas escalas. Os autores Christofoletti et al.,7 Yen et al.,8 Schenkman et al.,9 Shen et al.,10 Li et al.,11 Goodwin et al.,12 Rogers et al.13 e Corcos et al.14 usaram como critérios de exclusão/inclusão ou como avaliação as referidas escalas. Christofoletti et al.7 utilizaram as escalas HY e UPDRS para mensurar estágio e sintomas da DP e, assim, incluir os sujeitos na amostra do estudo. Já as avaliações do equilíbrio, das tarefas específicas e do tempo que o indivíduo leva para levantar de uma cadeira e andar, na pesquisa desse autor, foram compostas pela Escala de Equilíbrio Funcional de Berg (EEFB) e pelo teste Timed Up and Go (TUG). Já no estudo de Yen et al.8 foram utilizadas a escala HY como critério de inclusão e a UPDRS como critério de exclusão. Na avaliação, os autores fizeram uso de uma plataforma de equilíbrio dinâmico. Em seu estudo, de Schenkman et al.9 utilizaram como análise em curto e longo prazo os efeitos de dois programas de exercícios supervisionados. Os resultados primários mensuraram o gasto energético, a função motora — por intermédio da Continuous Scale Physical Functional Performance (CS-PFP) — e o equilíbrio — utilizando a Functional Reach Test (FRT). No resultado secundário foi utilizada a escala UPDRS com a escala Parkinson’s Disease Quality of Life Scale (PDQ-39), que analisa a qualidade de vida de portadores de DP. Como critério de inclusão, em níveis 1 e 3 da DP foi usada escala HY. As medidas adotadas no estudo de Shen et al.10 para análise do limite de estabilidade foram Lost Test, Smart Equi-Test Balance Master e a escala UPDRS, subclasse para verificação de característica espaço-temporal. Enquanto a escala HY foi utilizada apenas como parte dos dados demográficos, os quais incluem idade, gênero e índice de massa corporal (IMC). No estudo de Li et al.,11 as escalas HY e UPDRS foram usadas para inclusão dos sujeitos da pesquisa. Na avaliação secundária foram utilizados dois indicadores de estabilidade postural: a posturografia dinâmica computadorizada e a marcha (comprimento da passada e velocidade da caminhada) por meio do software GAITRite, CIR Systems. Além desses, foram utilizados outros métodos de avaliação, como dinamometria para análise da força, TUG e UPDRS para avaliação de sintomas motores. A escala HY foi usada por Rogers et al.13 como critério de inclusão dos sujeitos no estudo. Além disso, esse estudo foi diferenciado em relação aos demais devido ao uso de um estímulo sonoro dado aos sujeitos da pesquisa, para que esses pudessem dar início à tarefa. Os dados mensurados foram as forças de reação de solo e centro de pressão, ambos analisados em uma plataforma de força. Foram analisadas também as atividades musculares do membro inferior que realizaria o passo (da perna que pisa) por meio de uma eletromiografia de superfície, sendo os dados coletados após o comando “ir”. A pesquisa de Goodwin et al.12 foi de encontro aos trabalhos já mencionados anteriormente quanto ao quesito avaliação, pois os autores realizaram um estudo piloto em que foram coletados dados sobre as quedas dos sujeitos no período de 10 semanas antes da intervenção. Os resultados primários (análises) foram o número de quedas durante o período de intervenção e nas 10 semanas de follow-up. As avaliações foram realizadas em três etapas, sendo elas: inicial, pós-intervenção e follow-up. As quedas foram avaliadas por: Efficacy Scale-International, Euro Qol SD, Phone Fitt, EEFB e TUG. A escala UPDRS foi usada, novamente, no estudo de Corcos et al.14 para avaliação, por intermédio de um Controle postural na doença de Parkinson | 235 transdutor binário (transdutor de torque), dos sinais motores associados à medição da força muscular dos flexores de cotovelo e da velocidade do movimento. Além desses, foi avaliada a capacidade funcional com o Modified Physical Performance Test (MPPT), e a qualidade de vida foi verificada com o PDQ-39. Quanto às intervenções utilizadas nos estudos qualificados nesta pesquisa, pode-se observar variadas abordagens adotadas para o tratamento do sintoma “déficit de equilíbrio” em portadores de DP, bem como para melhora na qualidade de vida. Em vários estudos fica claro que os autores não tiveram como objetivo analisar efeitos de alguma intervenção apenas no déficit de equilíbrio, mas também em outras variáveis, como qualidade de vida, marcha, força coordenação motora, flexibilidade e cognição. Quanto às intervenções, observou-se a utilização de exercícios e treinamentos funcionais na maioria dos estudos analisados. A proposta do estudo de Christofoletti et al.7 foi um protocolo de exercícios como forma de estímulo ao equilíbrio estático e dinâmico de portadores de DP. A descrição dos exercícios é rica em informações e minuciosamente escrita, de forma que as três fases do atendimento foram abrangidas. No entanto, as fases são contempladas de maneira aleatória: primeiramente, é descrita a fase de alongamento, realizada em todas as intervenções de forma passiva, ativa e ativo-assistida de membros superiores (MMSS), membros inferiores (MMII) e tronco, durante 30 segundos contados pelos participantes, para estímulo cognitivo; posteriormente, é descrita a fase final do atendimento, que consistiu em atividades recreativas, com estímulos lúdicos ao equilíbrio, à dissociação de cinturas escapular e pélvica, à propriocepção e à cognição, utilizando jogo de bola em diferentes posições; finalmente, é descrita a fase principal do protocolo, de forma que esta foi subdividida em três etapas: na primeira sessão semanal, a ênfase era dada aos exercícios de facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP); na segunda, a ênfase era dada à rotação de tronco e transferências por meio do método Bobath; na última sessão, foi trabalhado o estímulo à marcha e ao equilíbrio. O grupo controle (GC) não apresentou alterações nas atividades motoras basais dos sujeitos. Quanto aos resultados do grupo experimental (GE), houve diferenças significativas quanto à EEBF e ao TUG em relação ao GC7. Como o estudo anterior, o estudo de Goodwin et al.12 contemplou um programa de exercícios, em grupo, uma vez por semana, e exercícios em casa duas vezes por semana, o qual incluiu um grupo de exercícios com 10 minutos de aquecimento, 40 minutos de força e de equilíbrio e um desaquecimento de 10 minutos. A pesquisa foi elaborada a partir de um programa eficaz de prevenção de quedas e os exercícios foram adaptados conforme a necessidade de cada indivíduo em sistema progressivo de carga, sendo os exercícios domiciliares adaptados individualmente. Além da descrição das intervenções, os autores explicaram com clareza o treino realizado pelos fisioterapeutas para aplicação dos exercícios, a fim de que fossem padronizados. As atividades englobaram exercícios de marcha, de MMII, equilíbrio, por intermédio do uso de degraus e oscilações, reforço pela caminhada, fortalecimento de MMII e costas, descritos pelos autores de maneira clara e objetiva. Schenkman et al.9 basearam-se nos exercícios recomendados pela Fundação Nacional de Parkinson e também utilizaram um programa de exercício. Tal programa contemplou três abordagens de exercícios em grupo: flexibilidade, equilíbrio e função (FBF); resistência aeróbica (AE); e um programa de exercícios em casa com o GC. Os sujeitos foram submetidos à avaliação após 4, 10 e 16 meses. A descrição da randomização e da aplicação das atividades foi realizada com clareza, de modo que os grupos FBF e AE executaram os exercícios três vezes por semana, durante quatro meses, com redução progressiva da frequência de exercícios até chegarem a uma vez por mês. Os pacientes do GC receberam uma sessão individual no início do estudo, e, depois, uma vez por mês, por 16 meses. O programa FBF constitui-se de exercícios de flexibilidade, equilíbrio e funcionalidade individuais e em grupo. Além disso, os autores descrevem que o grupo AE utilizava como aquecimento de 65 a 80% da frequência cardíaca máxima (FCmáx) e de 5 a 10 minutos de desaquecimento, enquanto o GC utilizava exercícios domésticos e uma única sessão mensal supervisionada pelo fisioterapeuta. Em geral, o estudo não obteve resultados estatisticamente significativos na reavaliação da UPDRS, da PDQ-39 e do CS-PFP; apenas o grupo FBF apresentou melhor desempenho do que o GC aos 4 e 16 meses. A Fundação Nacional de Parkinson foi utilizada como referência para protocolo de exercícios também por Corcos et al.,14 quando o Modified Fitness Counts Exercise (MFC) foi usado para alocação do GC do estudo, em comparação com o programa exercício de resistência progressiva (PRE) como GE, utilizado para averiguar se este aumentou e/ou reduziu os sinais da DP. Houve o cuidado de que o programa fosse igual para todos os indivíduos da pesquisa, com exceção dos exercícios específicos. As intervenções foram organizadas em duas vezes semanais por um período de 24 meses, de modo que os exercícios semanais foram acompanhados por um personal trainer durante 6 meses, sendo reduzidas a uma vez por semana após 6 meses. Os treinos do MFC deram ênfase aos exercícios de equilíbrio, respiração e fortalecimento não progressivos, enquanto o PRE abrangeu 11 exercícios de fortalecimento tanto de MMSS quanto de MMII. No retorno dos pacientes em 6, 12, 18 e 24 meses, todo o processo de avaliação inicial foi repetido, com o mesmo avaliador, e os resultados obtidos demonstraram que os dois grupos obtiveram melhoras semelhantes em 6 meses. Todavia, a melhora do grupo PRE foi maior do que a do MFC aos 12, 18 e 24 meses, pois aos 24 meses a 236 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA diferença obtida entre os grupos foi clinicamente significante, de 27,3 pontos na escala UPDRS-III. O estudo de Li et al.11 possuiu três grupos de protocolos diferentes. Um usou protocolo de seis movimentos de Tai Chi, visando utilizar o controle postural para manter o equilíbrio. Sendo este criado especificamente para o equilíbrio e a marcha, pois o participante deveria realizar movimentos simétricos e diagonais, deslocamento de peso, consequentemente deslocamento controlado do centro de massa sobre a base de apoio, balanço de tornozelo e passos anteroposteriores e laterolaterais. Além dos movimentos realizados no Tai Chi, os autores explicam que o uso da respiração natural foi estimulado. O segundo protocolo utilizado foi desenvolvido com base na literatura e enfatizou o fortalecimento dos músculos posturais, da marcha e dos músculos importantes no equilíbrio. A resistência utilizada foi por meio de coletes e caneleiras, introduzidos na décima semana, de modo que essa resistência fosse fixada em 1% do peso corporal do indivíduo, sendo aumentada de 1 a 2%, de acordo com a tolerância do paciente, a cada 5 semanas até atingir 5% do peso corporal. O protocolo teve de 8 a 10 exercícios, que incluíam passos para frente e laterais, agachamentos, arremessos para frente e lado, e exercícios de calcanhar e dedo do pé, de modo que os sujeitos com limitações físicas tiveram a progressão modificada. A respiração natural, mais uma vez, foi estimulada. Finalmente, o grupo alongamento foi utilizado como controle, sendo um programa de exercícios de baixa intensidade e com interação social. Houve variedade de trechos que envolveram MMSS e MMII, por meio do uso de extensão associada a leve flexão e rotação de tronco. A respiração abdominal, com inspiração e expiração máximas, foi usada neste grupo. A pesquisa teve como efeito a melhora da estabilidade postural e outros resultados funcionais em indivíduos portadores de DP de leve a moderada após a realização do Tai Chi, em relação ao programa de resistência e ao programa de alongamento, além da redução significativa no índice de quedas, quando em comparação ao grupo alongamento. Os resultados mantiveram-se após três meses de intervenção. Diferentemente dos autores supracitados, Shen et al.10 realizaram treinamento repetitivo de marcha no GE e treinamento de força no GC, com a frequência de três vezes por semana durante quatro semanas. O treino dos indivíduos do GE teve como objetivo melhorar a velocidade, a amplitude de intensificação voluntária e o aumento de respostas a perturbações, de modo que o treino de velocidade voluntária da marcha foi realizado por intermédio de um sistema informatizado de dança, ou seja, um software específico associado a um tapete barosensitivo. O estímulo dado era para que os indivíduos realizassem passo em quatro direções: anteroposterior e laterolateral, com velocidades predeterminadas. Os autores descrevem com clareza o tempo de treino, bem como outros estímulos dados aos sujeitos da pesquisa. O treinamento de força utilizado no GC abrangeu fortalecimento dos músculos do quadril e joelho no aparelho de leg press e dinamômetro, de modo que a resistência fixada inicialmente foi de 60% de uma repetição máxima e duas séries de 15 repetições em cada sessão. As musculaturas do quadril, do joelho e do tornozelo foram trabalhadas por movimentos funcionais, com a duração de três minutos. Quanto aos resultados, o estudo demonstrou, no GE, aumentos significativos em limite de estabilidade (LOS), velocidade de movimento e excursão endpoint, bem como uma diminuição significativa em LOS-tempo de reação. No entanto, não houve diferença significativa nos resultados do teste de LOS no GC após quatro semanas de tratamento. Já as comparações pré e pós entre os grupos mostraram melhora significativa do GE em relação ao GC nos quesitos LOS-tempo de reação e LOS-velocidade de movimento. A pontuação Unified Parkinson’s Disease Rating Scale Posture and Gait sub-score (UPDRS-PG) mostrou diminuição significativa apenas no GE, o que significa melhora quanto à estabilidade postural e às habilidades da marcha. O estudo de Yen et al.8 também realizou um treinamento diferenciado visando melhorar o equilíbrio por meio de realidade virtual (VR) e treino de balanço convencional (CB), em que um hardware, uma placa de equilíbrio dinâmico, uma tela LCD e um computador foram utilizados para dar o estímulo aos sujeitos da pesquisa. As medidas do hardware, bem como alguns benefícios dessa tecnologia, são explicadas com detalhes pelos pesquisadores. O protocolo consistiu de treinamento por 30 minutos, duas vezes por semana, por um período de 6 semanas, sendo que os programas eram individualizados de acordo com cada paciente. Além disso, a randomização era feita em três grupos: VR, CB e controle. No grupo VR, os indivíduos realizaram 10 minutos de alongamento como um aquecimento para aumentar a flexibilidade do tronco, das coxas e das canelas; posteriormente, receberam as instruções de posicionamento diante da tela. A tarefa consistia em tentar deslocar seu peso de acordo com o quadro simulado no ambiente virtual, utilizar estratégia de tornozelo durante o treino e foi associada a jogo de bola em 3D, em atividades virtuais interior-exterior. Durante o treinamento, a dificuldade era ajustada pelo terapeuta pelo comando para mudança de pressão e direção do movimento na prancha. Enquanto isso, o grupo CB proporcionou 10 minutos de alongamento e 20 minutos de intervenção. Esta consistia em três dimensões: estática, dinâmica do deslocamento e perturbações externas. Na dinâmica estática, os indivíduos foram estimulados a ficar em pé em pedaços de espuma, Controle postural na doença de Parkinson | 237 com os olhos abertos ou fechados durante 60 segundos, sendo a dificuldade progressiva com a adição de mais peças de espuma e a redução da base de apoio; nesta o terapeuta realizou jogo de bola em direções diferentes, para que os indivíduos pegassem realizando passos frontais, laterais e de cócoras; por fim, utilizaram como perturbação externa uma placa de inclinação para facilitar reflexos posturais. Os resultados obtidos por Yen et al.8 demonstraram que a VR proporcionou melhora significativa na capacidade de integração sensorial para o controle postural em relação ao GC; quanto ao grupo CB, houve melhora significativa na capacidade de integração sensorial para o controle postural em relação ao GC. Nem o treino VR nem o CB afetaram significativamente a demanda de atenção para o controle postural durante o teste de interação sensorial (SOT). No protocolo proposto por Rogers et al.,13 os sujeitos eram posicionados em plataforma de força a uma distância natural. A transição da posição estática para o movimento de passo rápido para frente foi analisada por meio de uma interpretação do retardo visual. Além disso, as instruções da tarefa eram dadas por intermédio de estímulos dados aos sujeitos com o uso de diodos de luz na direção de seus olhos. Os estímulos dados aos indivíduos eram dados por meio de uma “dica”, um comando de luz, de modo que era uma luz pré-sugestão, uma luz que significou o comando “pode ir”. Quando o comando “ir” era dado, o indivíduo deveria dar três passos para frente o mais rápido possível. Todavia, a escrita do estudo impossibilitou a sua interpretação adequada quanto aos resultados obtidos na pesquisa. C O N C L U S ÃO Após a análise detalhada dos artigos encontrados na pesquisa, os autores do presente estudo concluíram que as escalas UPDRS e HY foram utilizadas, praticamente em unanimidade, nos estudos encontrados. Também foi observado que a maioria dos estudos propôs intervenções com exercícios e treinos funcionais, com bons resultados, e que as intervenções realizadas propiciaram uma boa qualificação dos estudos devido aos seus desenhos metodológicos, bem como a descrição minuciosa desses. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. R EFER ÊN CIAS 1. Andlin-Sobocki P, Jönsson B, Wittchen HU, Olesen J. Cost of disorders of the brain in Europe. Eur J Neurol. 2005;12(Suppl. 1):1-27. 2. Twelves D, Perkins KS, Counsell C. Systematic review of incidence studies of Parkinson’s disease. Mov Disord. 2003;18(1):19-31. 3. O’Sullivan SB. Doença de Parkinson. In: O’Sullivan SB; Schmitz TJ. 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ARTIGO DE REVISÃO ETANOL E COGNIÇÃO EM IDOSOS Ana Paula Ferreira Silva Sakaia, Fabíola Veloso da Fonseca Medeirosb, Mariany Melo Oliveirac RE S UM O Palavras-chave Idoso Etanol Alcoolismo Demência Transtornos cognitivos Introdução: O envelhecimento populacional é um fenômeno universal que acarreta um aumento na prevalência de problemas de saúde característicos do idoso, em sua maioria doenças crônico-degenerativas. Os transtornos mentais e comportamentais, dentre os quais se encontram o alcoolismo e a alteração cognitiva, são apontados em alguns trabalhos como transtornos psiquiátricos frequentemente encontrados em pacientes acima de 60 anos. O alcoolismo é um problema de saúde pública e interfere na vida do sujeito nos aspectos biopsicossociais e idosos etilistas são mais vulneráveis às consequências danosas do álcool, de alterações cognitivas leves até quadros demenciais avançados. Objetivo: Realizar revisão de literatura sobre a relação do álcool e função cognitiva em idosos. Resultados: Foram identificadas pesquisas limitadas sobre substâncias psicoativas entre os idosos; de 2 a 10% dos idosos fazem uso abusivo de álcool; o alcoolismo crônico em idosos é um fator etiológico de transtornos cognitivos e há dificuldades para identificação desses casos. Discussão: O alcoolismo e o uso abusivo do álcool podem acelerar o envelhecimento cerebral e apresentar clinicamente, de forma aguda, alterações cognitivas transitórias. Nos casos de uso crônico de álcool, ocorre neurodegeneração, neurotoxicidade e comprometimento do metabolismo cerebral, causando disfunções cognitivas leves até lesões irreversíveis com quadro demencial instalado. Conclusão: A relação entre álcool e função cognitiva em idosos é complexa e desperta interesse em estudos nessa área. O termo demência alcoólica ainda é questionado. Entretanto, é um termo genérico para descrever as alterações cognitivas e comportamentais ocasionadas pelo uso crônico de álcool, com sintomas predominantemente das áreas frontais, com prejuízos na funcionalidade e na qualidade de vida. Portanto, é necessário compreender os transtornos mentais em idosos e detectá-los precocemente, para intervenção imediata e promoção de um envelhecimento saudável. ETHANOL AND COGNITION IN ELDERLY PEOPLE ABS T RACT Keywords Elderly/aged Ethanol Alcoholism Dementia Cognition disorders Introduction: Population aging is a universal phenomenon that causes an increase in the prevalence of typical health problems of the elderly, most chronic degenerative diseases, mental and behavioral disorders, among whom alcoholism and cognitive impairment, are pointed in some work as psychiatric disorders often found in over 60 patients. Alcoholism is a public health problem, and interferes with the subjects life in bio-psycho-social aspects alcoholics and elderly are more vulnerable to the harmful consequences of alcohol, mild cognitive impairment to advanced dementia. Objective: To review the literature on the relationship between alcohol and cognitive function in the elderly. Médica, Centro de Atenção Integral à Saúde do Idoso (CAISI) – São Luis (MA), Brasil. Psicóloga, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Diretora-geral, CAISI – São Luis (MA), Brasil. c Geriatra, Hospital Universitário Presidente Dutra (HUPD) – São Luis (MA), Brasil. a b Dados para correspondência Ana Paula Ferreira Silva Sakai – Rua do Aririzal, Condomínio Eco Park, casa 5 – Cohama – CEP: 65073420 – São Luís (MA), Brasil – Tel.: (98) 8124-5885/8896-5524 – E-mail: [email protected] Etanol e cognição em idosos | 239 Results: We identified limited research on psychoactive substances among the elderly; 2–10% of older people do abuse alcohol; chronic alcoholism in the elderly is an etiological factor in cognitive disorders; difficulties in identifying these case. Discussion: Alcoholism and alcohol abuse can accelerate brain aging and clinically presenting acutely with transient cognitive impairment and neurodegeneration in chronic use, neurotoxicity and impairment of cerebral metabolism occurs, causing mild cognitive impairment to irreversible lesions with dementia installed. Conclusion: The ratio of alcohol and cognitive function in the elderly is complex and arouse interest in research in this area. The term alcoholic dementia is still questioned. However, it is a generic term to describe the cognitive and behavioral changes caused by chronic alcohol use with symptoms predominantly in frontal areas with damage in the functionality and quality of life. Therefore, it is necessary to understand mental disorders in the elderly and detect them early, for immediate intervention and promotion of healthy aging. INTR ODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. No Brasil, esse aumento vem ocorrendo de forma rápida e acentuada, assim como em outros países em desenvolvimento. Atualmente, o número de idosos brasileiros é da ordem de 26,1 milhões de habitantes (13%), mas as projeções indicam que este segmento poderá perfazer 41,7 milhões em 2030 e 58,4 milhões (26,7%) em 2060.1,2 Com o envelhecimento populacional há impacto e aumento da demanda em diversos setores da sociedade, para o indivíduo, a família, a comunidade, especialmente para a seguridade social e a saúde. Dentre as consequências, destaca-se o aumento na prevalência de problemas de saúde característicos do idoso, em sua maioria doenças crônico-degenerativas, tais como: doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes, doenças reumatológicas, alguns transtornos mentais, maior ocorrência de quedas, iatrogenias e demências.3,4 Os transtornos neuropsiquiátricos são relativamente frequentes na população idosa, como foi demonstrado no estudo realizado no município de São Paulo, onde foi detectado que 27% das pessoas acima de 60 anos eram portadoras de distúrbios mentais, como ansiedade, depressão, alcoolismo, demência, e de distúrbios de ajustamento.5 As internações por transtornos mentais corresponderam a cerca de 10% do total de hospitalizações ocorridas no Estado do Rio de Janeiro, representando o segundo maior gasto com internações e perdendo apenas para as doenças do aparelho circulatório.6 Os estudos apontam os seguintes diagnósticos psiquiátricos mais frequentes encontrados nos pacientes acima de 60 anos: esquizofrenia, transtornos afetivos, quadros demenciais, transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de álcool.7 Dados semelhantes foram encontrados no terceiro Censo Psiquiátrico realizado com idosos das instituições públicas e privadas de Portugal.8 Nesse mesmo país, no ano de 2003, foi realizado um inquérito a fim de avaliar os cuidados de saúde mental prestados à população idosa (>65 anos) pelos serviços de psiquiatria das instituições hospitalares públicas (hospitais psiquiátricos e departamentos e serviços em hospitais gerais), no qual foi revelado que apenas 28% das instituições públicas de saúde mental desenvolviam ações práticas da psicogeriatria.9 O alcoolismo acomete de 10 a 12% da população mundial. No Brasil, dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) referentes aos dois levantamentos domiciliares de uso de drogas psicotrópicas realizados no país mostram que a dependência de álcool aumentou de 11,2%, em 2001, para 12,3%, em 2005.10 A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou mais recentemente o “Relatório Global sobre Álcool e Saúde”, que traz informações sobre o consumo de álcool no mundo em 2010. No Brasil, o consumo total estimado é equivalente a 8,7 L por pessoa, quantidade superior à média mundial (6,2 L). Embora o país apresente um consumo elevado de álcool, verifica-se diminuição no consumo per capita de álcool puro entre 2005 (9,8 L) e 2010 (8,7 L).11 Os dados fornecidos pelo Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) demonstraram o perfil de internação na Emergência Psiquiátrica no Hospital Municipal de Maringá no período de Janeiro de 2009 a junho de 2010: do total de 1.548 pacientes internados, 46,18% apresentaram diagnóstico de transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool; destes, 39,7% pertenciam à faixa etária entre 41–51 anos; 30,42%, entre 30–40 anos; e 17,11%, de 52–62 anos.12 O consumo de bebida alcoólica de forma nociva se constitui um dos mais sérios problemas de saúde pública por ser um dos fatores de risco de maior impacto para morbidade, mortalidade e incapacidades em todo o mundo, e parece estar relacionado a 3,3 milhões de mortes a cada ano. Dessa forma, quase 6% de todas as mortes em todo o mundo são atribuídas total ou parcialmente ao álcool.11,13 O alcoolismo pode comprometer a saúde do idoso, chegando a 4% a prevalência de idosos com quadro de abuso ou dependência de álcool como problema principal. Tal prevalência pode sofrer uma variação, pois depende do método utilizado para detectar o uso e as consequências, a distribuição geográfica e a amostra (geralmente são utilizadas subamostras), o que dificulta uma comparação. A literatura evidenciou que, entre os idosos, os fatores sociodemográficos mais comuns associados ao consumo de álcool envolvem o sexo masculino, o isolamento social e o estado civil (solteiro, separado ou divorciado).14 Problemas relacionados ao álcool podem ser confundidos como sendo consequência normal do envelhecimento. No entanto, o álcool é uma substância comumente abusada entre os adultos mais velhos; assim, mudanças relacionadas 240 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA à idade predispõem esses pacientes a uma maior sensibilidade aos seus efeitos.15 Os efeitos do álcool sobre a cognição são tema recorrente no âmbito dos estudos neuropsicológicos, uma vez que praticamente todas as drogas que podem gerar abuso exercem, direta ou indiretamente, algum tipo de efeito cerebral modificando-o de forma crítica e causando alterações na sua função, que abrange desde alterações cognitivas mínimas até quadros demenciais avançados.16 As síndromes demenciais têm origem multifatorial e sua prevalência aumenta com o envelhecimento. Caracterizam-se por déficits cognitivos em seus vários domínios e alterações de comportamento, levando o indivíduo acometido à perda de funcionalidade e ao prejuízo na realização das atividades de vida diária (AVDs), além de grande repercussão biopsicossocial.16 Para que seja realizada uma detecção precoce desses transtornos mentais é de fundamental importância que a equipe de saúde que atende a população idosa seja qualificada e atenta para as particularidades do processo do envelhecimento, principalmente pelo fato de as apresentações clínicas serem atípicas e se sobreporem, dificultando o esclarecimento diagnóstico. Dessa forma, o comprometimento cognitivo induzido pelo álcool e sua compreensão clínica complexa em indivíduos idosos são questões amplamente discutidas e ainda pouco elucidadas, o que justifica a necessidade de pesquisas e revisões literárias sobre o tema. O objetivo do estudo foi realizar revisão de literatura sobre a relação entre o álcool e a função cognitiva em idosos, além de despertar o interesse em realizar estudos mais elaborados sobre o tema. MÉTO DO S A busca de artigos foi realizada nas bases de dados PubMed e SciELO, nos idiomas inglês e português, com os descritores: idoso (aged/elderly), etanol (Ethanol), alcoolismo (Alcoholism) demência (dementia) e transtornos cognitivos (cognition disorders), extraídos da base de dados Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Também foram analisadas outras bases de dados: Ministério da saúde (MS), Organização Mundial da Saúde (OMS), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de outras fontes científicas adicionais (livros, revistas, sites) que abordassem o assunto. RESULTADOS Este estudo de revisão da literatura teve como objetivo abordar os aspectos cognitivos e comportamentais do alcoolismo em idosos. Por meio do levantamento bibliográfico realizado observaram-se poucas pesquisas utilizando a população idosa como amostra principal e uma limitação na literatura científica brasileira.14 A literatura evidencia que a carência de estudos sobre o uso de substâncias psicoativas entre idosos pode estar relacionada às dificuldades de identificação do uso das substâncias (padrão de consumo, tipo de substância usada, níveis de dependência), às limitações físicas, psicológicas e sociais, e aos problemas tanto por parte do próprio idoso (por não relatar) quanto dos profissionais de saúde (por não realizarem o rastreio e a identificação desses casos).14 Com relação ao alcoolismo foi constatado que 90% da população mundial adulta consome algum tipo de bebida alcoólica sendo que desses, 10% apresentarão uso nocivo de álcool e outros 10% se tornarão dependentes, ou seja, em cada 5 bebedores, 1 terá algum problema de saúde relacionado à ingestão etílica.17 No Brasil, estudos demonstraram que metade dos bebedores consome álcool com alto risco para sua saúde, sendo que 24% bebem frequentemente e pesado, e 29% bebem, porém com menor frequência e intensidade.18 Em estudos epidemiológicos desenvolvidos com diferentes metodologias e locais foi demonstrado que de 2 a 20% de idosos faziam uso abusivo de álcool e que de 1 a 12% apresentaram critérios de diagnóstico da síndrome da dependência. Em outros ambientes de tratamento esses índices foram ainda maiores: 14% nas urgências hospitalares, de 18 a 41% nas internações em enfermarias e de 23 a 44% em enfermarias psiquiátricas.14 Dentre as consequências deletérias ocasionadas pelo uso abusivo do álcool encontra-se a atrofia cerebral, cujo aspecto neuroanatômico retrata a sequela do alcoolismo crônico em idosos. Déficits neuropsicológicos em memória, funções visoespaciais e funções executivas são comumente encontrados nessa população.7,19 Estima-se que 70% dos alcoólatras que bebem ativamente terão prejuízos cognitivos, medidos nos testes neuropsicológicos.20 Devido à ação neurotóxica, o álcool é fator contribuinte para a etiologia de algumas síndromes demenciais, como a demência alcoólica, cuja prevalência encontrada foi de 1,4%.21 A denominação de transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas ainda é controversa, utilizando-se termos como demência alcoólica ou demência associada ao uso crônico de álcool.7,22 Constatou-se relação direta, porém complexa, entre o alcoolismo e transtorno cognitivo,5 cujo diagnóstico deve-se basear em avaliação clínica minuciosa, auxílio de exames complementares e testes de rastreio adequados para uma população idosa que se apresenta clinicamente de forma atípica e heterogênea. D I S C U S S ÃO O alcoolismo pode ser definido como uma síndrome de dependência consequente do uso excessivo e prolongado de álcool. Trata-se de uma patologia crônica e multifatorial, Etanol e cognição em idosos | 241 com muitas recidivas, inúmeros prejuízos clínicos, sociais, laborais, familiares e econômicos, frequentemente associados a situações diversas de violência, acidentes de trânsito e traumas em muitos países.23,24 Considerando que existem algumas definições e tipologias de alcoolismo, a distinção entre abuso de álcool e síndrome da dependência alcoólica é importante para que, na prática clínica, sejam investigados os problemas relacionados aos distintos modos de uso do álcool, visto que se apresentam em diversos níveis de risco e de gravidade.25 O uso abusivo do álcool pode ser classificado em uso leve, moderado e pesado gerando graus diferenciados de prejuízos, sem caracterizar a dependência. Já a síndrome de dependência alcoólica é um transtorno psiquiátrico relacionado à dependência em que há necessidade intensa, constante e progressiva de utilizar a bebida alcoólica com severas repercussões individuais e sociais.25 Em geral, no Brasil, os problemas decorrentes do uso do álcool ainda são citados como os relacionados à dependência alcoólica. Todavia, estudos mostram que há problemas tão ou mais graves relacionados a outros padrões de consumo de álcool, de modo que bebedores pesados apresentam mais transtornos psiquiátricos comórbidos do que os bebedores moderados, e que transtornos psiquiátricos estão mais relacionados à quantidade e à frequência do beber, enquanto os sintomas decorrentes de um transtorno mental podem ser desencadeados pelo uso do álcool.25 A definição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) de abuso e dependência tem valor limitado para a maioria dos idosos que consomem álcool ou drogas de modo problemático. Nesse sentido, a CID-10 é capaz de identificar de forma mais adequada indivíduos em risco ou com sinais iniciais de comprometimento.26 Na CID-10, por exemplo, encontra-se a classificação F10 para transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso do álcool e suas subdivisões, facilitando, portanto, a interpretação de cada um desses transtornos.27 Embora ainda existam muitas controvérsias quanto à existência ou não de um quadro clínico característico do alcoolismo na população idosa, é sabido que tanto este como o envelhecimento produzem déficits no funcionamento intelectual e comportamental.28 O alcoolismo e o uso abusivo de álcool podem acelerar o processo normal de envelhecimento do cérebro, por exemplo, acentuando a perda de tecido cerebral e aumentando a diminuição de massa dos lobos frontais.29 Dessa forma, o alcoolismo não apresenta um padrão homogêneo em seu quadro clínico, evolução e fatores etiológicos. Essa heterogeneidade clínica é provavelmente a responsável pelo surgimento de inúmeras tipologias de alcoolismo, tornando necessária a identificação de grupos de pacientes que compartilham características clínicas, biológicas, psicológicas ou sociais semelhantes. Isso porque, ao traçar o perfil dos idosos que consomem álcool ou que são vulneráveis, é possível realizar intervenções preventivas e específicas mais eficazes.30 Apesar da existência de trabalhos relacionando alcoolismo e idosos, ainda são encontradas dificuldades para identificar o consumo de álcool e outras drogas nessa população porque muitos dos instrumentos empregados na avaliação dos problemas de uso ou abuso de álcool, como o CAGE (acrônimo referente às suas quatro perguntas — Cut down, Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener) ou o Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT), são limitadores, necessitando de questionários de avaliação mais acurados para as especificidades dessa faixa etária. Segundo alguns autores, o Michigan Alcoholism Screening Test (MAST) e principalmente sua versão geriátrica Michigan Alcoholism Screening Test-Geriatric (MAST-G) são os instrumentos mais apropriados para a triagem de idosos com problemas relacionados ao álcool.31 Alguns estudos realizados utilizaram testes de rastreio para investigar o alcoolismo na população. O exemplo disso foi um estudo realizado no serviço ambulatorial da Universidade de São Paulo (USP): a pesquisa contemplou 304 pessoas acima de 60 anos que foram submetidas ao questionário específico MAST e constatou que 15,1% desses idosos tiveram contato com o alcoolismo em algum período da vida; na ocasião do estudo, 4,3% ainda faziam uso do álcool.32 Um estudo realizado em Juiz de Fora, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), descreveu o perfil de saúde de 392 idosos, com idade média de 70,9 anos, residentes em uma comunidade (excluindo os idosos institucionalizados e os que apresentaram alguma incapacidade), e identificou que 74,8% dos entrevistados relataram nunca ter ingerido bebida alcoólica, enquanto 6,4% da amostra tiveram o hábito de ingerir álcool duas ou mais vezes por semana e 8,4% já haviam recebido sugestão médica para que parassem de beber.33 A incidência de alcoolismo é maior entre os homens e entre os mais jovens, especialmente na faixa etária dos 18 aos 29 anos, declinando com a idade.34 Contrariando alguns estudos epidemiológicos, um levantamento da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) demonstrou um aumento significativo do uso de álcool pela população idosa.29 As pesquisas mostram que de 6 a 11% dos pacientes idosos admitidos em hospitais gerais apresentam sintomas de dependência alcoólica, sendo que em casas de repouso tal população chega a 49% em alguns estudos. Outro estudo realizado com 538 pessoas para traçar o perfil do consumo de álcool da população residente no município de Campinas (SP) demonstrou, com relação à idade, que a frequência do consumo foi distinta entre as faixas analisadas. Embora a maior proporção de quem 242 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA nunca bebeu álcool fosse encontrada entre os mais idosos, o percentual de quem bebe quatro ou mais vezes por semana atinge índices superiores a 6% justamente nos mais idosos. Esse estudo também demonstrou, sem diferenças significativas, que 9,6% dos mais jovens e 2,7% das pessoas com 60 anos ou mais de idade referem tomar 5 ou mais doses em um dia típico.35 Algumas pessoas começam a fazer uso do álcool mais tardiamente, o que aumenta a prevalência de dependência do álcool de início tardio.18 Para os alcoólatras idosos, nos quais o distúrbio se iniciou depois dos 50 anos, as perdas e o isolamento que acompanham o envelhecer são fatores muitas vezes associados com o início do problema. O abuso e a dependência do álcool nessa faixa etária acarretam consequências em longo prazo e também consequências imediatas, como quedas e acidentes, situações que predispõem a traumatismo craniano e complicações, como hematomas subdurais.15 A abstinência de álcool nessa faixa etária deve ser considerada, por ser uma possível causa de delirium.15,36 Por isso, ressalta-se a importância do rastreamento desses casos na admissão em uma unidade de cuidados intensivos, para se traçar um plano de cuidados que deve incluir observação e intervenção imediata. Os aspectos clínicos decorrentes do uso de álcool são resultantes do quadro nutricional, dos efeitos tóxicos do álcool sobre os tecidos corporais e das respostas adaptativas do corpo à exposição excessiva de álcool (tolerância e dependência física).37 Especificamente, no cérebro observa-se atrofia cortical, degenerações e alterações no processo cognitivo, relacionadas a várias síndromes neuropsiquiátricas, dentre as quais estão as síndromes demenciais.28,37 O álcool também interfere e destrói as sinapses, prejudicando, dessa forma, o pensamento, a memória e o comportamento. Percebe-se, portanto, que o uso abusivo do álcool para pessoas predispostas a quadros demenciais acentuará ainda mais as alterações que ocorrem em nível encefálico.20 A perda neuronal pode acelerar-se na idade adulta, como consequência de acidentes vasculares cerebrais, tumores, lesões, ou uma variedade de processos degenerativos. Quando a perda abrange as funções superiores, os quadros clínicos são chamados demências.16,38 As funções cognitivas, por exemplo, não apresentam um mesmo perfil de declínio entre os idosos, podendo se apresentar como um processo normal do envelhecimento, ou como um processo progressivo, que, dependendo de vários fatores, pode desencadear uma leve diminuição do desempenho cognitivo até um quadro demencial progressivo com prejuízo nas AVDs.16 As demências apresentam uma prevalência diferenciada dentro das faixas etárias de um grupo de idosos: afetam aproximadamente 5% dos idosos com 65 anos de idade e 20% daqueles com 80 anos ou mais.39 O quadro de demência é caracterizado por alterações marcantes na condição cerebral, tais como: redução na população neuronal, particularmente no hipocampo, aparecimento de redes neurofibrilares e placas amiloides, alterações neuroquímicas com redução significativa da enzima colina-acetiltransferase, da própria aceltilcolina e de outros neurotransmissores e neuromoduladores.27 As demências, portanto, constituem síndromes clínicas caracterizadas pelo desenvolvimento de múltiplos déficits cognitivos e alterações de comportamento, acarretando um prejuízo das atividades funcionais da vida diária de seus portadores e vêm se tornando um problema de saúde pública na medida em que aumenta a longevidade das populações. Daí a importância do conhecimento sobre as características desse distúrbio para um diagnóstico mais preciso e uma orientação mais segura, uma vez que assume proporções cada vez maiores e leva a uma sobrecarga social e familiar.16,22 Há demências degenerativas primárias, progressivas e irreversíveis, e demências que resultam de um progressivo, mas potencialmente reversível, processo de origem secundária. Um estudo descreveu as características clínicas e sociodemográficas dos pacientes com demência atendidos por um período de três anos em um ambulatório terciário. Foi identificado que a doença de Alzheimer (demência degenerativa primária) era a etiologia mais frequente, seguida de doença cerebrovascular (associada a arterites, aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e cardiopatias embolizantes), alcoolismo e hidrocefalia de pressão normal.40 Em outro estudo retrospectivo realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP sobre a “Prevalência de Demências Potencialmente Reversíveis em Ambulatório Especializado”, a metodologia utilizada foi revisão de 454 prontuários de pacientes atendidos no ambulatório no período de 1991 a 2001. O critério utilizado para diagnóstico de demência foi baseado no DSM-IV. Dos pacientes avaliados, com idade média de 67,7 anos, 275 eram portadores de demência: 59,4% tinham doença de Alzheimer, 13,4%, demência vascular, 4,7%, demência fronto-temporal, 3,2%, neurossífilis, 2,1%, demência com corpos de Lewy, 1,8%, hidrocefalia, 1,4%, doença de Parkinson com demência, 1,4%, demência alcoólica, 0,7%, síndrome de Wernicke-Korsakoff.21 Os dois tipos mais frequentes de demência (Alzheimer e vascular) podem estar associados em 10% dos casos, especialmente nos mais idosos, constituindo a demência mista. Além dessas duas etiologias mais comuns, degenerativa e vascular respectivamente, existem outras causas menos frequentes (potencialmente reversíveis) tais como: inflamatória, infecciosa, metabólica, traumática, tóxica, abuso e dependência alcoólica e neoplásica.21 Dessa forma, verifica-se que as demências têm várias etiologias e que o uso do álcool é um fator contribuinte, Etanol e cognição em idosos | 243 por ser danoso para o sistema nervoso. Portanto, pode se apresentar clinicamente de diversas maneiras. No uso agudo, o álcool tende a comprometer a atenção, a memória e as funções executivas e visoespaciais, enquanto no uso crônico altera a memória, a aprendizagem, a análise e a síntese visoespacial a velocidade psicomotora, as funções executivas e a tomada de decisões, podendo chegar a transtornos persistentes de memória e quadro demencial.19 Dentre vários distúrbios neuropsiquiátricos ocasionados ou desencadeados pelo alcoolismo, vale ressaltar a síndrome de Wernicke-Korsakoff, que é uma doença neurodegenerativa, muitas vezes subdiagnosticada, caracterizada por vários déficits cognitivos, principalmente em processos de aprendizagem e memória, e ocorre em 2 a 3% dos alcoólatras crônicos, devido à neurotoxicidade alcoólica, deficiência de vitamina B1 e susceptibilidade individual, o que compromete o metabolismo cerebral, causando disfunções que variam desde alterações funcionais até lesões cerebrais irreversíveis.41 Percebe-se que a relação entre alcoolismo e transtorno cognitivo é muito complexa. Sabe-se que o uso crônico do álcool desencadeia uma série de alterações relacionadas à cognição e aos distúrbios comportamentais, porém o termo “demência alcoólica” ainda é questionado por alguns autores.5 Alguns diagnósticos de demência potencialmente reversível estão incluídos no DSM-IV e CID-10, tais como os transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas, nos quais se inclui a demência alcoólica, cujo termo genérico é classificado pela CID-10 como F10. Essa classificação geralmente é utilizada para descrever casos de transtorno crônico e progressivo decorrente do uso prejudicial de álcool, caracterizado pela perda de funções corticais múltiplas, incluindo memória, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem e julgamento.27 O DSM-IV considera o diagnóstico de demência alcoólica quando há comprometimento persistente da memória e de outra função cognitiva, associado à presença de prejuízo no funcionamento social ou ocupacional e de evidências de que a etiologia do quadro esteja relacionada ao uso de álcool.22 Ressalta-se que a demência associada ao uso crônico de álcool instala-se após ingestão prolongada de grandes quantidades de álcool e não apresenta características específicas, além de seu diagnóstico requerer a exclusão de outras causas de demência, não devendo ser firmado antes de três semanas de abstinência. É a terceira causa mais comum de distúrbio mental no homem idoso (frequentemente não diagnosticado) e apresenta uma tendência a maior prejuízo de funções não verbais; quando um prejuízo intelectual mais generalizado se desenvolve após anos de uso intenso, o diagnóstico de demência associada ao alcoolismo é apropriado.42 Assim, de uma maneira geral, o termo “demência alcoólica” é usado para descrever as alterações cognitivas e comportamentais ocasionadas pelo alcoolismo crônico, sem característica neuropatológica específica e patogênese não relacionada com as deficiências nutricionais. Os sintomas frontais são predominantes, tais como retardo psicomotor, perda de concentração, apatia, desorientação, mudanças afetivas, irritabilidade e alterações do julgamento, como confabulação e alucinação. As possibilidades de reversão dessa síndrome demencial são poucas mesmo em abstinência completa, devido aos efeitos tóxicos do álcool de longa data.43 A Neuropsicologia aplicada a abuso e dependência do álcool busca a compreensão da relação entre danos cerebrais e seus efeitos na cognição e no comportamento do indivíduo. Estuda, ainda, os comprometimentos neurocognitivos dos pacientes, relacionando-os a achados estruturais e funcionais de neuroimagem.19 De fato, há uma necessidade de se ampliar estudos acerca dessa correlação para uma maior compreensão e intervenções adequadas. Políticas públicas e medidas para diminuir o risco de alcoolismo são as alternativas mais importantes para prevenir novos casos de distúrbios cognitivos relacionados ao álcool. Para tanto, é necessário que os profissionais estejam atentos e preparados para rastrear esses casos, para que haja uma intervenção imediata. Paralelamente, os profissionais de saúde que trabalham com pacientes com demência devem sempre investigar se existe quadro de alcoolismo associado. Essa atitude pode evitar erros diagnósticos graves, pois, além de o enfoque terapêutico ser diferente, a demência alcoólica é considerada potencialmente reversível e requer tratamento específico do alcoolismo.16 Tais cuidados são necessários, pois os distúrbios neuropsiquiátricos dos idosos interferem de forma negativa na vida daqueles envolvidos com seus cuidados e já representam uma parcela importante dos atendimentos realizados em alguns serviços de saúde.44 Portanto, é necessário que os profissionais de saúde estejam cientes das particularidades dos quadros clínicos nessa faixa etária, de forma a detectar tais alterações precocemente e trabalhar de forma interdisciplinar, conduzindo esses casos de forma adequada para que o envelhecimento aconteça de forma mais saudável, com mais qualidade de vida e com a funcionalidade preservada. C O N C L U S ÃO O alcoolismo é uma doença de alta morbimortalidade que acarreta problemas biopsicossociais e pode acometer a saúde da pessoa idosa em vários aspectos. Alguns estudos demonstraram que os efeitos do álcool sobre o funcionamento cerebral abrangem desde alterações cognitivas mínimas até quadros demenciais avançados. 244 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA A compreensão clínica dessa relação é complexa e observaram-se poucas evidências sobre o tema; tornou-se, então, marcante a necessidade de pesquisas mais elaboradas, que incluam estudos epidemiológicos sobre a prevalência de alcoolismo entre idosos e que ressaltem a avaliação cognitiva e o diagnóstico de déficits cognitivos em idosos alcoólatras. Para tanto, há necessidade de rastreamento adequado por meio de uma metodologia e de testes mais acurados e específicos para essa população, para detecção desses transtornos mentais que acometem essa faixa etária. Tais necessidades especiais se devem às dificuldades na compreensão de transtornos mentais em idosos, uma vez que é comum a associação e sobreposição dessas alterações, além das apresentações atípicas que dificultam os esclarecimentos diagnósticos. Portanto, é necessária uma equipe de saúde qualificada que seja atenta às particularidades do processo do envelhecimento, e capaz de realizar a detecção precoce desses casos e intervenções imediatas, a fim de evitar a perda da funcionalidade, promovendo, dessa forma, um envelhecimento saudável e com mais qualidade de vida. C O N flito de interesse Os autores declaram não ter conflito de interesse em relação ao presente estudo. REFER ÊN C IAS 1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeções da população. Projeção da população do Brasil: 2000-2060. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br. [Acessado em: 22 set. 2014]. 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população – 2013. 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Rev Bras Psiquiatr. 1999;21(1):12-18. 246 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA INSTRUÇÕES AOS AUTORES Informações gerais A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é uma publicação científica trimestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, cujo objetivo é veicular artigos que contribuam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. Instruções para o envio dos manuscritos Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica (arquivo word) para o endereço: [email protected]. Antes de enviar o manuscrito, verifique se todos os itens definidos em “Orientações para a preparação dos manuscritos” foram apontados em seu texto. O autor receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G, a concordância com a sessão de direitos autorais, a declaração de conflito de interesses e o documento de aprovação do comitê de ética em pesquisa. Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review) Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nessa fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma. Pesquisas envolvendo seres humanos Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento à legislação específica do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Tipos de artigos publicados A revista G&G aceita a submissão de: Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista. Artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de duas a quatro mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30). Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de cinco mil palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50. Comunicações breves: são artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; de resultados de estudos que envolvem metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Deve ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências), uma tabela ou figura e no máximo 10 referências bibliográficas. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas normas exigidas para artigos originais, fazendo-se exceção aos resumos, que não são estruturados e devem ter até 150 palavras. Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. O título deve apresentar a doença ou a peculiaridade clínica – relato de caso. Devem observar a estrutura de resumo (150 palavras) com introdução (justificativa ao leitor o motivo do relato de caso, não se estender na descrição da «doença ou particularidade clínica»), relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico. ATENÇÃO: Não utilizar siglas ou notas de rodapé), discussão (comparar com dados de semelhança na literatura) e conclusão do caso. Devem conter a bibliografia consultada e não podem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências. Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências bibliográficas. Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de 1.000 palavras e até cinco referências. Orientações para a preparação dos manuscritos Os manuscritos devem ser digitados em Word para Windows (inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução. Devem ser apresentados na sequência: a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em Ciências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Instruções aos autores | 247 Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão, os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado de arte) que serão abordados no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados: devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos com base em outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Conflito de interesses Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar a interpretação dos resultados. Referências bibliográficas As referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas na primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje.org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor. Livros Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004. Capítulos de livros Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Artigos de periódicos Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135(2):482-91. Dissertações e teses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05. Artigos em periódicos eletrônicos Araújo MAS, Nakatani AYK, Silva LB, Bachion MM. Perfil do idoso atendido por um programa de saúde da família em Aparecida de Goiânia – GO. Revista da UFG [periódico eletrônico] 2003 [citado em 2012 Set 15];5(2). Disponível em: http://www.proec.ufg.br/ revista_ufg/idoso/perfil.html Textos em formato eletrônico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 5/2/2004). More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. www.cdc. gov/ncidod/EID/eid.htm. (Acessado em: 5/6/1996). Instructions for Authors Background Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br Instructions for sending the manuscript Papers should be sent by e-mail to: [email protected]. Before sending your manuscript, please check if all the items established under “Instruction for Manuscript Sending” have been fulfilled. The corresponding author will receive a message acknowledging receipt of the manuscript. Should this do not occur up to seven working days, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stating that the manuscript is being submitted only to G&G and that he/she agrees with the cession of copyright. Manuscript evaluation by peer review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the scientific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for authors’ approval in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months. The copyright of the published manuscripts are held by the journal. Therefore, full or partial reproduction in other journals or translation into another language is not authorized. Research involving human subjects Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures were followed in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in the Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of “Methods” section, as well as fulfillment of specific requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a “Free and Informed Consent Term”. Categories of manuscripts G&G accepts the following submissions: Original articles: Contributions aiming at the release of unpublished research results considering the theme’s relevance, its range and the knowledge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures (not exceeding 5) and references (not exceeding 30). 248 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references. Brief communications: These are summarized articles designed for dissemination of preliminary results, results of studies involving methodology of low complexity, and new hypotheses of relevance in the field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 800-1600 words (excluding tables, figures and references), one table or figure and a maximum of ten references. Your presentation should follow the same standards of original articles, with exception of the abstracts, which are not structured and should contain a maximum of 150 words. Case Reports: These are manuscripts reporting original and interesting clinical cases. The title should have the disease or clinical peculiarity — a case report. They must observe the structure of abstract (150 words) with introduction (an explanation to the reader for the case report does not extend the description of “illness or clinical particularity”), case report (with description of the patient, results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with similar data in the literature), and case outcome. They should contain a bibliography and have no more than 1500 words and 15 references. Discussion: The discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It Is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper. Conflict of interests Conflict of interest includes a) financial conflict such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology involved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation. References Letters to the editor: Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references. Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (“Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http://www. icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in Med-Line. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text. Instructions for manuscript preparation Examples of reference style Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below: a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters, b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail. Abstract: All manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six keywords should accompany the Abstracts being extracted from the vocabulary in Descritores em Ciências da Saúde (DeCS - www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme, words or expressions of known usage might be indicated. Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text. Introduction: The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods: This section should have clear and brief description of proceedings adopted, sampling, data source and selection criteria, measurement instruments, statistical analysis, among other features. Results: This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Books Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004. Book chapters Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Journal articles Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly West J Med 1981; 135(2):482-91. Essays and theses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Papers introduced in congresso, symposiums, meetings, seminars etc. Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thai L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05. Articles from electronic journals Araújo MAS, Nakatani AYK, Silva LB, Bachion MM. Perfil do idoso atendido por um programa de saúde da família em Aparecida de Goiânia – GO. Revista da UFG [periódico eletrônico] 2003 [citado em 2012 Set 15];5(2). Disponível em: http://www.proec.ufg.br/ revista_ufg/idoso/perfil.html Texts in electronic format Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 5/2/2004) More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. www.cdc. gov/ncidod/EID/eid.htm (Acessado em: 5/6/1996). PRODUÇÃO EDITORIAL Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César – São Paulo/SP - CEP 01415-000 Zeppelini – Tel: 55 11 2978-6686 – www.zeppelini.com.br Instituto Filantropia – Tel: 55 11 2626-4019 – www.institutofilantropia.org.br Revista Geriatria & Gerontologia Revista Geriatria & Gerontologia EDITORIAL A importância do exercício fisico e cognitivo Órgão Oficial de Publicação Científica ARTIGOS ORIGINAIS Efeitos do treinamento da memória de trabalho na cognição e no equilíbrio em idosos Um estudo de denúncias infundadas e violência com pessoas idosas Sociedade Brasileira de Geriatria & Gerontologia Associação entre doença de Parkinson, força muscular respiratória e intensidade da tosse Prevalência da hipotensão ortostática em idosos ambulatoriais e institucionalizados Barreiras percebidas para a prática regular de atividade física de idosos Nível de atividade física, potência aeróbica e percepção subjetiva de perda de memória de mulheres pós-menopausicas Envelhecimento e inclusão digital: significado, sentimentos e conflitos ARTIGO DE REVISÃO Relação entre tratamento da insuficiência cardíaca e peptídeo natriurético do tipo-B Volume 8 – Número 2 – Abr/Maio/Jun 2014 RELATO DE CASO Método mirror visual feedback como recurso terapêutico ocupacional na reabilitação do idoso hemiplégico: relato de caso ARTIGO ESPECIAL Diretrizes da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia sobre conteúdo de disciplinas/módulos relacionados ao envelhecimento (Geriatria e Gerontologia) nos cursos de medicina ISSN 1081-8289 Volume 8 Número 2 Abr/Maio/Jun 2014