Dor nas Articulações em Cães e Gatos Domésticos

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Dor nas Articulações em Cães e Gatos Domésticos
• FACT SHEET No. 9
Dor nas Articulações em Cães e Gatos Domésticos
Dr. Duncan Lascelles, BVSc, PhD
A dor nas articulações, particularmente associada à osteoartrose (OA), é comum em animais de
companhia, como cães, gatos e cavalos. Ela resulta em dificuldades na mobilidade e no desempenho de
atividades, e está associada à dor espontânea e induzida. Nos cães, a osteoartrose é uma doença
comum que possivelmente afeta um quarto da população. A OA em cães é considerada muito similar à
OA humana [1] e, portanto, um potencial modelo de doença espontânea. [15] [7] Adicionalmente, esse
“modelo espontâneo” tem como benefício adicional o fato de que estes cães de companhia
compartilham o mesmo ambiente que os humanos, fazendo com que o modelo seja potencialmente
mais relevante do que alguns modelos com roedores. [15]
Nos gatos, evidências radiográficas de OA/doença da articulação degenerativa (DJD) são aparentes em
até 90 por cento de todos os gatos, [14] estimando-­‐se que 50 por cento deles apresentam sinais
clínicos de dificuldades devidas a dor nas articulações. Sabe-­‐se menos sobre a etiologia da OA nos
gatos do que nos cães, mas o processo degenerativo da doença parece muito similar aquele de outras
espécies. [1,9] Outras doenças dolorosas degenerativas das articulações, como as artropatias auto-­‐
imunes, ocorrem nos cães e gatos e podem ser subdiagnosticadas.
Etiologia e Fisiopatologia
Diferentemente dos humanos, o desenvolvimento da OA em cães se deve principalmente a doenças
ortopédica – displasia do quadril, displasia do cotovelo, osteocondrose dissecante, degeneração do
ligamento cruzado cranial não traumático – e é assim considerada uma doença que se instala
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IASP reúne cientistas, médicos, profissionais de saúde e formuladores de políticas para estimular e apoiar o
estudo da dor e traduzir esse conhecimento em melhor alívio da dor em todo o mundo.
precocemente e uma doença para toda a vida. As articulações mais comumente afetadas são os quadris,
joelhos e cotovelos.
Nos gatos, a etiologia da OA ou da DJD é menos compreendida, mas o processo degenerativo parece ser
muito similar ao de outras espécies. As articulações mais usualmente afetadas são os quadris, joelho,
tarso e cotovelo.
Tanto nos cães quanto nos gatos, todos os tecidos da articulação estão envolvidos no processo
degenerativo, e a dor está comumente associada à doença. Embora a dor não possa ser prevista pela
aparência radiográfica, este procedimento pode predizer alterações no alcance do movimento. A
neuroplasticidade central e periférica associada à dor na articulação foi demonstrada tanto em gatos
[10] quanto em cães [18], e considera-­‐se que contribua para o estado geral da dor.
A dor associada à doença nas articulações resulta na mobilidade debilitada, na capacidade prejudicada
de realizar atividades, e em um comportamento alterado. Nos cães, já foi demonstrado que perturba o
sono [11] e considera-­‐se que prejudique a função cognitiva. Em ambas as espécies, os efeitos
multidimensionais da dor parecem similares aos efeitos nos humanos.
Sinais Clínicos e Diagnóstico
Na prática clínica veterinária, o diagnóstico é centrado em quatro elementos:
1.
Dificuldade nas atividades informadas pelo dono. Ela é detectada mais prontamente
nos cães, e vários instrumentos clínicos de metrologia já foram desenvolvidos para
medi-­‐la (CBPI [4]; LOAD [17]) Um instrumento clínico de metrologia preenchido pelo
dono foi desenvolvido para detectar a dor associada à DJD e atividades prejudicadas em
gatos (FMPI [2]).
2.
Dor na manipulação das articulações afetadas durante uma avaliação ortopédica, sendo
a dor medida como uma resposta comportamental.
3.
Evidências radiográficas da osteoartrose (efusão; osteófitos; esclerose subcondral;
mineralização associada à articulação).
4.
Análise do fluido sinovial.
De maneira geral, as medidas dos resultados são relativamente bem desenvolvidas nos cães, mas menos
desenvolvidas nos gatos, o que influencia o desenvolvimento das terapias. Nos centros de referência ou
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em locais de pesquisa comparativa, os efeitos da dor podem ser medidos em ambas as espécies
medindo-­‐se o uso dos membros (variáveis cinéticas medidas usando-­‐se placas de força ou passarelas
sensíveis à pressão) [12], atividade espontânea através da acelerometria [5], e plasticidade central
através de teste quantitativo do limite sensorial. [6,18]
Tratamento
Por causa de uma relativa escassez de informações baseadas em evidências a respeito de cães e gatos,
muito da abordagem clínica atual ao tratamento se baseia em informações emprestadas da medicina
humana.
Cães
•
Uma abordagem multimodal com e sem drogas é recomendada para o gerenciamento da dor
associada à OA. [8]
•
A única classe de drogas aprovada pela Food and Drug Administration Center for Veterinary
Medicine dos EUA é a classe NSAID (vários aprovados), embora outras classes (fator de
crescimento antineural específico para cães e antagonistas do receptor de prostaglandina E4
(piprants), entre outras) estejam em desenvolvimento.
•
Terapias locais (intra-­‐articulares) são ocasionalmente usadas, e diversas drogas (como
análogos de capsicina) estão em desenvolvimento.
•
A maioria das evidências que existem são sobre a eficácia dos NSAIDs, modulação da dieta
através de suplementação com ácido graxo e ômega 3, [16] gerenciamento do peso, e
exercícios.
•
A terapia adjunta com drogas (amantadina, tramadol, gabapentina) é comumente empregada
(evidências da eficácia da amantadina; [13] evidências limitadas de tramadol oral, que é
metabolizado de maneira muito diferente nos cães; nenhuma evidência da
gabapentina). De maneira geral, há uma falta de estudos avaliando estas terapias.
•
Reabilitação física (exercícios e outras modalidades físicas) é empregada usualmente.
•
Substituição cirúrgica da articulação está disponível e é usada em cães (quadris, joelho e
cotovelo).
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•
Terapias combinadas de imunossupressores e esteróides são usadas no gerenciamento da
dor imuno-­‐mediada da articulação.
Gatos:
•
Uma abordagem multimodal com ou sem drogas é recomendada para o gerenciamento da dor
associada à dor da OA e DJD.
•
Não existem tratamentos com drogas aprovados pela FDA, e somente uma droga aprovada na
União Europeia (NSAID), embora outras classes (fator de crescimento antineural específico para
gatos e antagonistas de receptor de prostaglandina E4 (piprant), entre outras, estejam em
desenvolvimento).
•
A maioria das evidências que existem são sobre a eficácia dos NSAIDs, modulação da dieta
através de suplementação com ácido graxo e ômega 3. [16]
•
Terapia adjunta com drogas (principalmente gabapentina) é empregada, mas estudos
avaliando estas terapias são incomuns.
•
Substituição cirúrgica da articulação está disponível para os quadris.
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Plano para se juntar aos seus colegas no 16º Congresso Mundial de
Dor, 26-30 setembro de 2016 , em Yokohama, Japão.
Como parte do Ano Mundial Contra a Dor nas articulações , IASP oferece uma série de Fichas de 20 de
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