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QUANDO PERDEMOS O CENTRO DE GRAVIDADE DA PREGAÇÃO 0 2 A FORMAÇÃO DE UMA FILOSOFIA DA PREGAÇÃO Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Koessler, John Manual de pregação / John Koessler ; Tradução Susana Klassen. – São Paulo: Vida Nova, 2010. Título original: The Moody Handbook of Preaching. ISBN 978-85-275-0446-1 1. Igreja – Crescimento 2. Pregação 3. Teologia pastoral I. Título. 10-05982 CDD-251 Índices para catálogo sistemático: 1. Homilética : Cristianismo 251 QUANDO PERDEMOS O CENTRO DE GRAVIDADE DA PREGAÇÃO 2 4 MANUAL DE PREGAÇÃO Copyright ©2008 The Moody Bible Institute of Chicago Título original: The Moody Handbook of Preaching Traduzido da edição publicada pelo Moody Publishers, 820 N. LaSalle Boulevard, Chicago, IL 60610, EUA 1.ª Edição: 2010 Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA N OVA , Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, 04602-970 www.vidanova.com.br Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves com indicação de fonte. ISBN 978-85-275-0446-1 Impresso no Brasil /Printed in Brazil COORDENAÇÃO EDITORIAL Marisa K. A. de Siqueira Lopes REVISÃO Lena Aranha REVISÃO DE PROVAS Djair Dias Filho COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Sérgio Siqueira Moura DIAGRAMAÇÃO Kelly Christine Maynarte CAPA Osiris Carezzato Rangel Rodrigues FOTO DA CAPA iStockphoto © Sean_Warren Todas as citações bíblicas, salvo indicação contrária, foram extraídas da versão Almeida Século 21, publicada no Brasil com todos os direitos reservados pela Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. SUMÁRIO 5 Agradecimentos Uma obra como esta é, sem dúvida, um projeto colaborativo. Além dos excelentes autores que contribuíram com os capítulos deste livro, há outras pessoas com as quais tenho uma dívida de gratidão. Uma delas é o dr. Michael Easley, que me incentivou a aceitar o projeto. As outras são Greg Thornton, Dave DeWit e Tracey Shannon, da Moody Publishers. Obrigado por seu entusiasmo e apoio. Como escritor, aprendi há muito tempo que os heróis não mencionados nos livros são os editores, que trabalham nos bastidores e lidam com a linguagem e o ego dos escritores a quem servem. Não estou falando aqui do editor geral, mas dos verdadeiros editores, dos homens e mulheres que habitam o universo obscuro da gramática, sintaxe e notas de rodapé. Billie Sue Thompson e Jamie Janosz realizaram esse trabalho na presente obra. A elegância e estilo do texto devem ser atribuídos não apenas aos excelentes autores que o redigiram, mas também a essas duas profissionais. Seus nomes merecem aparecer na capa. Acima de tudo, devo expressar minha profunda gratidão ao Senhor Jesus Cristo, cujo chamado me conduziu ao púlpito. Comecei a pregar mais de três décadas atrás e, mesmo depois de tantos anos, o entusiasmo e o mistério dessa tarefa continuam a cativar meu coração. Peço a Deus que este livro acenda uma chama semelhante no coração de seus leitores. 6 MANUAL DE PREGAÇÃO SUMÁRIO 7 Sumário Introdução ................................................................................................ 011 PRIMEIRA PARTE: FORMAR UMA FILOSOFIA DA PREGAÇÃO 01. Quando perdemos o centro de gravidade do sermão...................... 015 John Koessler 02. Por que pregar de forma expositiva? ............................................. 025 Michael J. Easley 03. O sermão no culto ........................................................................ 037 H. E. Singley III 04. A aplicação das Escrituras à vida contemporânea .......................... 051 Winfred Omar Neely 05. Por que amo pregar ...................................................................... 063 Joseph M. Stowell 06. Evangelismo e pregação ................................................................ 075 George Sweeting 07. Como as mulheres ouvem o sermão .............................................. 089 Pam MacRae 08. O preparo espiritual para a mensagem .......................................... 105 Dan Green 8 MANUAL DE PREGAÇÃO SEGUNDA PARTE: GARIMPAR O TEXTO 09. A pregação de textos de narrativa histórica.................................... 125 Michael Rydelnik 10. A pregação de textos da literatura didática.................................... 141 David Finkbeiner 11. A pregação de textos dos livros poéticos........................................ 157 Andrew J. Schmutzer 12. A pregação de textos dos livros proféticos ..................................... 181 Walter McCord 13. O uso do hebraico bíblico na preparação de sermões ..................... 193 Andrew J. Schmutzer 14. O uso e abuso do grego na pregação.............................................. 213 Gerald W. Peterman TERCEIRA PARTE: ILUSTRAR A VERDADE 15. O poder da comparação ................................................................ 229 John Koessler 16. Abater o diabo ............................................................................. 241 Rosalie de Rosset 17. História: a mina de ouro escondida............................................... 257 Thomas Cornman 18. Aprender a contar a história.......................................................... 273 William Torgesen III 19. Filmes como forma de culto e ilustração ....................................... 285 Michael Orr 20. Dramatizações e o sermão ............................................................. 299 Kelli Worral 21. O uso da tecnologia no sermão ..................................................... 315 Paul Butler SUMÁRIO 9 QUARTA PARTE: DESENVOLVER A METODOLOGIA 22. Sermões dinâmicos ....................................................................... 329 Winfred Omar Neely 23. A lógica do sermão ....................................................................... 341 Bryan O’Neal 24. A exegese de sua congregação ....................................................... 357 Michael Milco 25. Agora, transmita a mensagem! ...................................................... 367 David W. Fetzer 26. Use, mas não abuse ....................................................................... 379 Terry Strandt e Jori Jennings 27. O uso de softwares bíblicos para a exegese do texto ...................... 395 James Coakley e David Woodall 10 MANUAL DE PREGAÇÃO SUMÁRIO 11 Introdução Certa vez, ouvi Haddon Robinson, mestre da homilética, dizer que havia dedicado sua vida a responder a uma pergunta: por que a pregação de uma hora de alguns pastores parece durar cinco minutos, enquanto a pregação de cinco minutos de outros pastores parece durar uma hora? Este livro procura responder a essa mesma pergunta. Seu objetivo é não apenas ajudar o leitor a entender os elementos básicos de um bom sermão, mas também a preencher certas lacunas deixadas por outros livros sobre homilética. Para isso, acrescentamos outras questões à pergunta fundamental proposta pelo dr. Robinson. A pregação expositiva ainda é necessária? Qual o papel do sermão nos cultos de hoje? Como usar histórias sem deixar que tomem conta do sermão? O uso da tecnologia é benéfico ou prejudicial para os sermões? Por que muitos sermões de hoje parecem tão tediosos? Homens e mulheres ouvem o sermão de forma diferente? Os colaboradores desta obra também tratam de alguns elementos fundamentais da elaboração de sermões. De que maneira um sermão baseado em uma narrativa bíblica deve se distinguir de um sermão baseado em uma passagem didática? Quando e como o pastor deve fazer referência à língua original? De que maneira o uso de softwares da Bíblia mudou o preparo de sermões? Um aspecto distintivo importante deste livro é sua abordagem multidisciplinar à pregação. Os colaboradores são pessoas vindas das mais variadas discipli- 12 MANUAL DE PREGAÇÃO nas e contextos ministeriais. Lecionam nos cursos de graduação e pós-graduação do Instituto Bíblico Moody nas áreas de teologia, ministério pastoral, comunicação, educação e até mesmo música sacra. A obra inclui, ainda, reflexões de três presidentes do Instituto Bíblico Moody. Michael Easley, atual presidente, explica por que prefere o método expositivo de pregação, enquanto seu antecessor, Joseph Stowell, revela por que gosta tanto de pregar. George Sweeting, antecessor do dr. Stowell, fala de sua experiência como evangelista e aplica seu conhecimento sobre a história do evangelismo à relação entre pregação e evangelismo. Ler um livro sobre pregação é um pouco semelhante a ler um manual sobre como andar de bicicleta. O assunto é interessante, e as técnicas, proveitosas, mas nada se compara à experiência propriamente dita. Desejamos que esta obra desperte em você o interesse pela pregação e transforme o sermão em uma experiência ainda mais significativa para você e seus ouvintes. SUMÁRIO 13 Primeira Parte FORMAR UMA FILOSOFIA DA PREGAÇÃO 14 FORMAR UMA FILOSOFIA DA PREGAÇÃO QUANDO PERDEMOS O CENTRO DE GRAVIDADE DO SERMÃO 15 Capítulo 1 Quando perdemos o centro de gravidade do sermão John Koessler Todo sermão tem um centro de gravidade. Qualquer que seja o objetivo do sermão — explicar, provar ou aplicar algo — o pregador precisa de uma base para sua argumentação. A base da pregação expositiva é a Palavra de Deus. É essa ênfase que torna um sermão verdadeiramente bíblico. Thomas Long, professor de homilética na Candler School of Theology, comenta: “O compromisso fiel com as Escrituras é a régua com a qual devemos medir toda pregação. A prática semanal de pregar deve consistir de sermões extraídos de textos bíblicos específicos”. De acordo com Long, esse tipo de pregação deve ser normativo nas igrejas. “A pregação bíblica, nesse sentido estrito, deve ser a regra, e não a exceção”.1 A presente era pós-moderna, contudo, passa por uma transformação sísmica cujas repercussões estão sacudindo os púlpitos do Ocidente. Na pregação pósmoderna, o centro de gravidade se deslocou do texto bíblico para a experiência do pregador e dos ouvintes. Esse tipo de pregação inverte a relação tradicional entre 1 The Witness of Preaching. Louisville: Westminster John Knox, 2005, p. 45. 16 FORMAR UMA FILOSOFIA DA PREGAÇÃO texto e relato ou história pessoal. Em vez de servir para ilustrar a verdade central do texto, a história pessoal se torna a verdade central da mensagem e é corroborada pelas Escrituras. O ônus da prova do sermão não se baseia em proposições, mas em experiências identificáveis. A TRANSFORMAÇÃO SÍSMICA: DA METANARRATIVA À MICRONARRATIVA Costumamos chamar a abordagem anteriormente descrita de micronarrativa. Suas origens remontam a Jean-François Lyotard, filósofo do século XX segundo o qual a legitimação do conhecimento na sociedade pós-moderna não ocorre da mesma forma que se dava na era moderna. Lyotard afirmou que “a grande narrativa” perdeu sua credibilidade para o homem da era pós-moderna.2 Para ele, o ponto fraco dessas “metanarrativas” está no fato de ninguém ser capaz de se identificar com elas. D. A. Carson, pesquisador e professor de Novo Testamento da Trinity Evangelical Divinity School, menciona essa ideia ao comentar que a transformação fundamental do pós-modernismo ocorreu na área da epistemologia, ou seja, na esfera do conhecimento.3 Na era pré-moderna, a verdade começava com Deus.4 Era uma questão de revelação e tradição. Esse tipo de conhecimento era incontestável, pois provinha de uma fonte onisciente confiável. A era moderna não acabou com essa tradição, mas a subordinou à experiência e ao empirismo. Anthony Giddens caracteriza a perspectiva modernista da seguinte forma: “Não adianta sancionar uma prática pelo fato de ela ser tradicional; a tradição pode ser justificada, mas apenas à luz de um conhecimento que não seja ele próprio autenticado 2 The Postmodern Condition: A Report on Knowledge. Trad. Geoff Bennington e Brian Massumi, in Theory and History of Literature. vol. 10, Minneapolis: Univ. of Minnesota Press, 1984, p. 37. [Publicado em português sob o título O pós-moderno. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.] 3 Becoming Conversant With the Emerging Church. Grand Rapids: Zondervan, 2005, p. 27. [Publicado em português sob o título Igreja Emergente: o movimento e seus implicações. São Paulo: Vida Nova, 2010.] 4 Idem, p. 88. QUANDO PERDEMOS O CENTRO DE GRAVIDADE DO SERMÃO 17 pela tradição”.5 Portanto, na era moderna a verdade era considerada confiável quando podia ser validada pelo conhecimento baseado na experiência, isto é, nos dados observáveis, mensuráveis e reproduzíveis da ciência. O pós-modernismo afasta o conhecimento das fontes externas da tradição e do método científico (pré-modernismo) e da experiência empírica mensurável (modernismo) para o âmbito interno da experiência subjetiva. Na pregação, essa mudança de perspectiva se reflete em uma passagem da metanarrativa para a micronarrativa. Se a metanarrativa é a história mais ampla que explica todas as coisas, seu alter ego é a micronarrativa, a história mais restrita que descreve o mundo para os outros a partir do ponto de vista pessoal do indivíduo. A micronarrativa se distingue principalmente por seu caráter “local”, e não universal. No entanto, a perspectiva local, que torna a micronarrativa tão atraente, também é sua maior fraqueza. Quando a micronarrativa ocupa o centro do sermão, a experiência pessoal se torna o árbitro absoluto da verdade, posição que caberia ao texto bíblico. A Bíblia não desaparece de todo e pode até desempenhar um papel proeminente na mensagem. Contudo, o sermão baseado na micronarrativa tende a tratar a Bíblia como elemento decorativo. Ao longo de todo sermão, textos bíblicos aparecem como luzes cintilantes em uma árvore de Natal, dando a impressão de que as Escrituras ocupam uma posição proeminente na mensagem. Na verdade, porém, no caso do sermão baseado na micronarrativa, o texto bíblico serve ao relato pessoal, e não o contrário. O PAP EL DAS HISTÓRIAS NA PREGAÇÃO As narrativas sempre tiveram seu lugar na pregação evangélica. O fato de Deus tê-las escolhido como método para comunicar verdades a respeito de si mesmo valida seu uso nos sermões. Parte considerável da Palavra de Deus se encontra em forma narrativa. J. Kent Edwards, diretor do programa de doutorado em ministério da Talbot School of Theology em La Mirada, Califórnia, alerta que o gênero influencia o significado e acarreta sérias implicações teológicas: 5 The Consequences of Modernity. Palo Alto, Califórnia: Stanford Univ. Press, 1990, p. 38 [Publicado em português sob o título As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.] 18 FORMAR UMA FILOSOFIA DA PREGAÇÃO “O gênero correto pode destacar e corroborar uma mensagem; o gênero incorreto pode distorcer e até mesmo destruir uma mensagem”.6 O autor Walter Wangerin descreve o poder da narrativa ao contar como usava histórias para instruir as crianças em sua igreja. De acordo com ele, “contar histórias é a melhor maneira que temos para comunicar as realidades e os relacionamentos da nossa fé, pois, por meio da história, a criança não apenas pensa, analisa, encontra soluções e recorda, mas também experimenta Deus, através de Jesus e seu ministério”.7 A narrativa é o modo mais adequado de comunicar certas verdades. Uma história, contudo, pode ser uma espada de dois gumes. Thomas Long observa: “As pessoas podem narrar de muitas formas a história de sua vida. Podem contar a ‘história cristã’, mas também podem relatar a história familiar, nacional, racial, vocacional, sua história de crescimento psicológico, e assim por diante”.8 Conforme Long ressalta, espera-se que a história cristã sirva de “centro narrativo” de todas as outras histórias. Nem sempre, contudo, é isso que acontece. Às vezes, inverte-se a ordem, de modo que “a história secundária corrói e substitui a narrativa do evangelho”.9 Eis o perigo de um sermão baseado na micronarrativa. Não obstante esse risco, a micronarrativa possui um lugar legítimo na mensagem. Houve ocasiões em que Jesus lançou mão da experiência pessoal, a fim de validar seu argumento. Em Mateus 7.9-11, pergunta: “Qual dentre vós, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está no céu, dará boas coisas aos que lhe pedirem!”. Nesses versículos, Jesus se vale da experiência humana em uma linha de raciocínio que vai do menor para o maior. Usa a experiência “pessoal” de seus ouvintes de modo a voltar a atenção deles para a metanarrativa mais ampla da bondade de Deus. Quando os líderes da sinagoga questionaram o homem que havia sido curado, ele apresentou sua experiência pessoal como prova ( Jo 9.25). Os líderes religiosos afirmaram que Jesus era pecador, mas o homem retrucou: “Se é pecador, não sei. Uma coisa sei: eu era cego e agora estou enxergando!”. 6 Effective First-Person Biblical Preaching. Grand Rapids: Zondervan, 2005, p. 19-20. “Making Disciples by Sacred Story”, Christianity Today, fevereiro de 2004, p. 66-69. 8 The Witness of Preaching. Louisville: Westminster John Knox, 2005, p. 45. 9 Idem. 7
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