O Redator d`A Arca Perdida
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O Redator d`A Arca Perdida
Marcus Vinicius Garrett Chiado O Redator d’A Arca Perdida São Paulo 2010 Edição do Autor Capa: Phil Heeks Diagramação: Marco A. Matsunaga ([email protected]) Revisão: Ana Bracht Impressão: Edição por Demanda O uso de imagens neste livro é puramente ilustrativo e não tem, em absoluto, o intuito de infringir os respectivos direitos autorais. Além disto, ele não é comercializado, mas distribuído gratuitamente. C532r Chiado, Marcus Vinicius Garrett. O redator d’a arca perdida / Marcus Vinicius Garrett Chiado – São Paulo, 2010. 338 p. : il. ; 14,8 x 21 cm. ISBN 978-85-910970-0-5 1. Jornalismo, editoração, imprensa documentária e educativa I. Título. CDD-070 À minha mãe, quem me ensinou que amar e ser amado nunca é em demasia. Ao meu pai, quem me ensinou o valor da honestidade. Ao meu padrinho, quem me revelou o dom da generosidade. À minha esposa, quem me mostrou que a alma pode ser gêmea. À minha filha, quem me lembrou que amar e ser amado nunca é em demasia. “O verdadeiro sinal de inteligência não é o conhecimento, mas, antes, a imaginação.” Albert Einstein Prefácio De 2002 a 2004, época em que estive desempregado e estudando para um concurso público, deram-me a oportunidade de fazer uma das coisas de que mais gosto, porém, em nível profissional: escrever. Naquele período de dois anos, fiz parte da equipe de redatores de um site especializado em Entretenimento, “A ARCA”; gentilmente convidado pelos amigos Thiago Cardim, o “El Cid”, e Paulo Martini, o “Fanboy”, a integrar o grupo de “Arqueiros”. Uma vez lá, tive a chance de escrever sobre filmes, séries de tevê, desenhos animados, quadrinhos, livros e games, e pude entrevistar algumas personalidades. Certas pautas eram requisitadas por eles, outras, eram sugeridas por mim. No fim, a diversão prevalecia e eu conseguia relaxar em meio à maratona de estudos. Acabei passando no concurso. A Arca, infelizmente, acabou fechando em 2009. O convite trouxe frutos, pois consegui escrever para outros sites (Aumanack, Burburinho, RetrôTV), bem como, em uma oportunidade cedida pelo amigo Gustavo Klein, tive um artigo pulicado no jornal A Tribuna de Santos. Neste livro procurei, a fim de que não fossem perdidos, reunir a maioria de meus textos publicados; não todos, uma vez que o site inexiste e vários se perderam. Precisei recorrer aos meus arquivos de segurança e penso ter recuperado setenta porcento. Reproduzi, também, artigos veiculados em outros lugares, bem como incluí dois textos inéditos: uma crônica humorística e o relato de minha viagem à Califórnia em que – quase – visitei E.T. O Extraterrestre. Saliento que o material se apresenta sem retoques, atualizações ou correções, ou seja, encontra-se do exato jeito em que foi ao ar originalmente no início dos anos 2000. Olhando para alguns dos textos, com a cabeça de hoje, não posso deixar de achá-los pitorescos, exagerados e até infantis, mas os mesmos também são um retrato daquele tempo; um retrato de meu “eu” de quase dez anos atrás. Espero que gostem da viagem no tempo! Sumário 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Star Trek Vs. Star Wars..............................................................................................................11 Além da Imaginação................................................................................................................17 Admirável Mundo Novo.........................................................................................................23 Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue............................................................27 Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur. .....................................................39 E.T. – O Extraterrestre: Parte II A continuação não filmada........................................45 Os Heróis não têm Idade........................................................................................................55 1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil. ..............61 Roger Corman: o Rei dos Filmes B......................................................................................67 Tradução para Legendagem e Dublagem.......................................................................73 KRULL: o clássico cult de1983 completa 20 anos!. .......................................................79 Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo!....................................................85 Galáctica. .....................................................................................................................................91 John Matuszak: cruisin’ with the tooz................................................................................97 Hellboy. ........................................................................................................................................99 Tron..............................................................................................................................................101 Entrevista com Guilherme Briggs Transformers, O Filme.........................................107 Os heróis dos anos oitenta estão de volta! ...................................................................115 Séries de TERROR: 44 anos de história. ...........................................................................119 Memórias do Atari O Natal de 1983!................................................................................129 Peter Pan....................................................................................................................................133 Alien Abduction: Incident in Lake County.....................................................................137 Entrevista: diretor Dean Alioto...........................................................................................141 Dark Star: o primeiro clássico de John Carpenter.......................................................145 Os Filmes que o Mundo Esqueceu. ..................................................................................149 Inimigo Meu: parábola da década de oitentas obre amizade e tolerância........157 Ren & Stimpy Happy, Happy, Joy, Joy!.............................................................................165 Transformers: The War Within.............................................................................................169 “Do Over”: De volta aos Anos Oitenta!............................................................................173 Os Anos Setenta Voltaram! São os Funky Cops!...........................................................175 10 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 O Redator d’A Arca Perdida TCR. ..............................................................................................................................................179 Night Walker: O Andarilho da Noite.................................................................................187 Por onde andam estes sujeitos? Parte I. .........................................................................191 Por onde andam estes sujeitos? Parte II.........................................................................197 Animes Famosos.....................................................................................................................203 Kung Fu: Uma Lenda da TV. ................................................................................................209 Os Mestres da Trilha Sonora Parte I..................................................................................229 Os Mestres da Trilha Sonora Parte II.................................................................................235 Os microcomputadores da Atari.......................................................................................239 Ulrich Jon Roth, o Deus da Guitarra ................................................................................245 Zona Morta: o remake de um clássico. ...........................................................................249 Star Wars – Episódio 2: Ataque dos Clones....................................................................255 Cowboy Bebop: animê de ficção científica com pinta de coisa antiga...............259 Navio Fantasma: é tão previsível que chega mesmo a assustar!...........................263 Monty Python. .........................................................................................................................267 Stefan Karl Steffanson, o Robbie Rotten de LazyTown. ............................................275 Zathura: Sessão da Tarde do século XXI!. .......................................................................279 Gigantes do Ringue: A Nova Geração..............................................................................283 Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem!.......................................................................285 Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus..................................................................291 Algumas referências literárias vistas em The Matrix. .................................................297 Monty Python e o Cálice Sagrado. ...................................................................................303 RetrôTV: o maior site brasileiro de séries e desenhos antigos................................307 S.W.A.T.: clássica série policial dos anos setenta fez história...................................311 Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura!..................315 Uma tarde no Proctologista. Pequena crônica de grande incômodo.................325 O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre (30 anos atrasado!)...........329 Star Trek Vs. Star Wars É verdade e todos estão cansados de saber: existe uma rivalidade, às vezes clara, às vezes dissimulada, que se apodera tanto dos fãs de Star Wars quanto dos fãs de Star Trek. Certas pessoas tendem a gostar de Luke Skywalker; outras, a admirar o Capitão Kirk. Mas, será mesmo que os universos de ambas as produções são tão distintos assim? Haverá muitas diferenças entre o Império de Darth Vader e a Federação Unida de Planetas? Viaje conosco através deste artigo e descubra quais são as diferenças essenciais entre as duas franquias mais queridas do universo cinematográfico. Guerra Nas Estrelas: O Mito do Herói e Fantasia A produção de George Lucas, Guerra nas Estrelas, foi concebida para ser contada na forma de épico, de lenda, como um flash do passado que se perde conforme a passagem das eras. A clássica narração de abertura - “há muito tempo, numa galáxia muito distante” - dá o tom das aventuras de Luke Sywalker e de sua trupe de heróis intergalácticos, os quais, 12 O Redator d’A Arca Perdida mitos que são, despertam uma fagulha no inconsciente humano; arquétipo do qual, segundo Jung, toda pessoa – seja de qualquer cultura e época – dispõe e compartilha com os demais. Star Wars trata do passado. É algo que já aconteceu, portanto, não tem um caráter revelador, não preconiza o futuro, e justamente por isso carrega o caráter de mito. Os mitos, segundo o escritor Joseph Campbell, são vitais para que as civilizações aprendam com as sombras do passado e, por conseguinte, preparem um futuro melhor ao desenvolver seu Ethos. Campbell, aliás, foi estudado por Lucas, que leu exaustivamente a obra O Herói De Mil Faces antes de criar seu universo fantástico. Em Guerra nas Estrelas existe um Império Galáctico; poderoso, militarizado, mecanizado e tecnológico. Há, também, mundos diversos que fervilham de seres magníficos e díspares. Existe, sim, a Força; o conhecimento ancestral sobre as forças da natureza: a única voz que nos une e que é responsável pelo mover das águas dos oceanos, pelo calor do Sol, pela criação da vida; por tudo. O contraponto criado entre a tecnologia e esse “conhecimento interior” – a Força - é, talvez, o maior responsável pelo caráter mítico de Star Wars. A figura do Jedi, ser que, em meio ao belicismo e a toda a tecnologia daquele tempo, vale-se ainda dessa Força - e do conhecimento ancestral - para colocar ordem no Universo é o retrato da busca interior inerente à maioria das culturas orientais da Terra. E o Cavaleiro Jedi é o espelho do Mito do Herói de Jung: o suposto homem comum que se descobre especial e que, auxiliado por um sábio, soma algo a si – isto é, adquire algo – reúne comandados, enfrenta dificuldades e regressa vitorioso, cheio de glórias. O trajeto de Luke Skywalker ilustra esse mito, pois se percebe naquele herói as fases descritas por Campbell em seu livro: Partida, Iniciação, Retorno e Fim da Jornada (as duas últimas etapas somente acontecem na terceira parte da trilogia). Ele é filho de Anakin Skywaler, um dos Jedis mais poderosos de que se tem notícia, e da Princesa Amidala. Aqui cabe uma alegoria para com as divindades da Antiguidade Clássica: como um herói Grego, Luke nasceu do relacionamento de um Deus ou Semi-Deus (Anakin / Darth Vader) com uma mortal (Amidala) e, como tal ser escolhido, adquiriu poder, enfrentou mons- Star Trek Vs. Star Wars: 13 tros e regressou à sua terra. Como se vê, Guerra nas Estrelas dispõe de uma iconografia totalmente voltada ao mito, à lenda, na qual o enredo foi embasado. Antigos ciclos se completam e novos principiam: do caos surge a ordem, do Mal surge o Bem (Anakin “nasceu” do Bem, ao passo que Luke, do Mal, mas virou-se ao Bem, e assim por diante). O maniqueísmo, é verdade, é notoriamente partícipe da saga de Lucas. Em Guerra nas Estrelas há outro fator interessante: apesar de todo o militarismo e de toda a tecnologia, inexiste a preocupação em explicar esse paradigma; o espectador nem se dá conta de como a Estrela da Morte funciona, de qual combustível o caça Asa-X utiliza, de como um sabre-deluz “acende” ou de como as naves dão o salto ao hiperespaço. Esse rigor científico não é a temática da saga, mas mero detalhe sobre o qual o mito de Lucas é desenhado e construído. De fato, essa peculiaridade leva muitos a apontarem Star Wars como uma série de Fantasia, não de Ficção Científica. Jornada nas Estrelas: o brilhantismo da mente humana e a tecnologia O universo de Jornada nas Estrelas, apesar de igualmente dispor de um caráter mítico – ainda que diminuto, é essencialmente voltado ao brilhantismo da mente humana, a vencer os próprios obstáculos. A série trata de como o Homem sobrepujou a dita adolescência tecnológica – por meio da qual esteve à beira do holocausto 14 O Redator d’A Arca Perdida nuclear – através de seu intelecto; de seu poder de raciocínio que transcende a si próprio desde o aparecimento do Homo sapiens. À exceção das tradições vulcanas de Spock, não há praticamente nada parecido com a Força de Lucas, e isso é fato. O Homem venceu a fome, o preconceito e as guerras, e lançouse numa nova etapa de sua evolução: a conquista do espaço. Star Trek, diferentemente de Star Wars, é uma Utopia que tenta preconizar o futuro; mostrar, positivamente, como serão as coisas a partir do Século XXIII. Roddenberry não se preocupou em transformar o paradigma da série num formato de lenda ou de mito, mas procurou mostrar um possível futuro no qual a tecnologia e o belicismo servem à paz, e no qual diversas raças interplanetárias procuram conviver em harmonia, apesar das diferenças sócio-culturais e raciais. Do caos vem a ordem, assim como no mundo de Luke, mas como vislumbre do que está por vir – e não como sombra do passado. Contrariamente a Star Wars, a ciência “manda” em Jornada nas Estrelas. Todas as facetas da tecnologia procuram ser explicadas, pois há o rigor científico que quase inexiste, por exemplo, no Império Galáctico. A Enterprise necessita dos Cristais de Dilítio para funcionar e somente poderá acelerar até Dobra 8, os teletransportes têm um raio de ação fixo e movem as partículas – orgânicas ou não - do ponto A ao ponto B num dado intervalo de tempo. A tecnologia em Jornada nas Estrelas procura ser moldada por uma possível realidade da física e da matemática. Essa é outra das diferenças essenciais entre os dois universos. Apesar dos pesares, há elementos míticos em Jornada. O Capitão Kirk, por exemplo, é o típico herói grego, o Argonauta, embora essa característica não seja tão clara quanto é com Skywalker. Star Trek Vs. Star Wars: 15 O capitão da Enterprise, assim como Ulisses, Rei Arthur e Luke, é o escolhido; por causa de sua ousadia inata, de sua curiosidade humana e de sua inteligência expecional, ele é levado, numa posição ímpar, a representar a Humanidade num universo cheio de mistérios a desvendar. O Mito do Herói, em Kirk, também existe, embora não tão obviamente. GUERRA OU JORNADA? KIRK OU LUKE? Ambos. Ambas as produções, ao contrário do que se pensa, chegam ao mesmo ponto; têm a mesma mensagem, apesar de todas as diferenças aqui ressaltadas. Elas crêem no indivíduo e na força de expansão de nossos próprios limites. Se chegamos a essa etapa da evolução, é devido à nossa fome por descobrir o desconhecido, por vencer nossos obstáculos, por transcender nossa visão do dia a dia, por mostrar como somos dignos de nossa existência nesse universo e pela ânsia de ser herói. Porque é isso que somos, heróis de nossa própria história, cada qual em sua busca pessoal. Assista, caro leitor d´A ARCA, a essas duas grandes franquias e retire o melhor que existe em cada uma. Mas, lembre-se, que a maior jornada de todas está dentro de cada um, no universo que habita em nós. Além da Imaginação ”Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo Homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição. E se encontra entre o abismo dos temores do Homem e o cume de seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma região... Além da Imaginação”. Poucas séries de tevê foram tão longe quanto Além da Imaginação. Produzida numa época ímpar da história ocidental, os tumultuados anos cinqüenta e sessenta, o seriado atingiu em cheio o âmago das pessoas e fez aflorar nelas o medo mais ancestral do Homem: o do desconhecido. Guerra atômica iminente, avistamentos de OVNIS e o medo de uma invasão alienígena, a perseguição aos comunistas, a corrida espacial; isso tudo mexia com o imaginário do espectador, que era diariamente bombardeado por diversos questionamentos existenciais e que, por conseguinte, não sabia de qual lado viria a destruição final tão alardeada. Rod Serling, o mítico criador da série, soube explorar esses pavores diversos, transformando-os em pioneiras histórias que compuseram os episódios dessa que se transformou numa das produções mais vistas e copiadas de todos os tempos: A Zona do Crepúsculo – ou, conforme conhecida no Brasil, Além da Imaginação. 18 O Redator d’A Arca Perdida SERLING, O CRIADOR DE ALÉM DA IMAGINAÇÃO O imaginativo Rodman Edward Serling, filho de um comerciante do ramo de carnes, nasceu em 1924 na cidade de Syracuse (Nova Iorque), mas foi criado em Binghamton. Apesar do desinteresse inicial por livros, Serling e o irmão mais velho, Robert, apaixonaram-se por filmes e por revistas de ficção científica, tais como a Astounding Stories. Serling depois de completar o colegial, alistou-se no exército e acabou por engajar-se na Segunda Guerra Mundial. Ferido por um estilhaço de granada, o futuro criador da série foi dispensado em 1946, quando entrou na universidade Antioch College, em Ohio, para estudar Educação Física. Logo se desinteressou pelo curso e mudou para o de Letras, no qual cursou Idiomas e Literatura. O amor pela escrita começou a aflorar e, subitamente, Serling viu-se trabalhando em uma estação de rádio local, para a qual escrevia, dirigia e atuava num programa semanal. Ainda na faculdade, escreveu tanto que também chegou a produzir scripts para tevê, dentre os quais, de forma inédita, finalmente conseguiu vender “Grady Everett for the People” para a NBC; material que foi usado na série Stars Over Hollywood – entre 1950 e 1951. Em 1948 casou-se com Carolyn Kramer e, após ter se formado na faculdade, mudaram-se para Cincinnati. Lá passou a escrever para uma rádio, a WLW, época em que viu diversos de seus roteiros televisivos serem rejeitados. O reconhecimento veio somente em 1955, quando Serling vendeu Patterns, um roteiro usado no programa Kraft Television Theatre. O episódio foi um sucesso de crítica, ao passo que o primeiro Emmy da carreira de Rod foi ganho. Passou, então, a escrever roteiros para a MGM e para o famoso programa da CBS: Playhouse 90. Produziu, por exemplo, o episódio-piloto dessa série, Forbidden Area, e o premiado Requiem for a Heavyweight – ganhador do Emmy. Além da Imaginação 19 Em 1957 deixou Playhouse 90 para se dedicar a uma nova série, Além da Imaginação, que seria concebida, escrita e apresentada por ele. HORROR ANCESTRAL As temáticas dos episódios de Além da Imaginação têm a ver com os medos ancestrais do Homem, principalmente com o medo do desconhecido. Pessoas comuns, do dia a dia, são surpreendidas por situações inusitadas e, ao sofrerem algum tipo de alteração em seu paradigma humano, mudam; quer seja para melhor ou para pior. Quase que constantemente a humanidade existente em nós é colocada em cheque; nossas certezas e nossa aparente segurança são rapidamente contestadas e, por conseguinte, vão por água abaixo. A máxima Shakespeareana, por meio da qual supostamente existem mais coisas entre o Céu e a Terra do que a vã Filosofia, sempre permeia as tramas do seriado. Quase nada está, como entendia Serling, realmente sob nosso controle. Uma das fórmulas de Além da Imaginação reside no fato de se colocar o ser humano, qualquer pessoa comum, à frente de si próprio como se esse se olhasse no espelho e visse o pior que existe em nós, embora o melhor estivesse bem ali na esquina. Como resultado, Serling nos conduz ao seguinte questionamento: será que, apesar de alienígenas, de monstros e de toda a sorte de esquisitices sobre-humanas, o temor verdadeiro não se encontra em nós mesmos, quando ficamos frente a frente com nossos próprios limites, imperfeições, maldades e moralismos? O criador da série, gênio que foi, colocava o Homo sapiens numa posição incômoda e mostrava que há mais no mundo do que se pode ver com olhos humanos. A marca registrada da série, além da abertura antológica e da apresentação feita pelo próprio criador, são os finais surpreendentes. Se você, caro leitor, achou o final de O Sexto Sentido diferente, saiba que cada episódio de Além da Imaginação procura dar uma guinada 20 O Redator d’A Arca Perdida de 180 graus na mente do espectador. O fã já sabe, de antemão, que não deve tentar adivinhar nada previamente, tampouco seguir uma linha de raciocínio lógica (não se trata de Jornada nas Estrelas!). OS EPISÓDIOS A série foi inaugurada em 1959 com o episódio Where is Everybody (Onde Estão Todos) no qual a solidão, um de nossos temores, é discutida. Um homem se descobre só numa cidade e não se lembra de como foi parar lá. Desesperado, faz de tudo para achar alguém. O final, surpreendente, é de estremecer e mostra que não estamos tão preparados assim para enfrentar o desconhecido. O enredo foi escrito por Serling. Os episódios são apresentados em branco e preto, mas com bela fotografia e iluminação, e têm duração aproximada de 25 minutos. A partir da quarta temporada, porém, passaram a dispor de cinqüenta minutos. A trilha sonora, composta por magos como Jerry Goldsmith, Bernard Herrmann e Marius Constant, cai como uma luva. Gosto particularmente dos dois temas intitulados como Jazz Theme, os quais podem ser ouvidos em diversos momentos. Há pequenas obras de arte no seriado que, indiscutivelmente, influenciaram os futuros (atuais) escritores do gênero. São episódios cujas realizações brindam o espectador com belas atuações, fotografia e direção. A Beleza Está Nos Olhos De Quem Vê (The Eye Of The Beholder), por exemplo, é um espetáculo visual de sombras e de sugestão no qual se mostra uma distopia similar à que pode ser lida em Admirável Mundo Novo, obra do britânico Aldous Huxley. O Monstro Da Rua Maple (The Monsters Are Due on Maple Street) revela que nosso maior inimigo somos nós mesmos, e que, para se dominar um planeta, não são necessárias naves imensas com a de The Independence Day. A coisa é bem mais sutil e está sob nossos narizes. A ficção científica reina absoluta nos enredos, cheios de robôs, de discos voadores e de viagens no tempo, mas também podemos constatar temáticas como o velho oeste americano, as guerras Além da Imaginação 21 mundiais e até mesmo a imortalidade. As histórias, cinqüenta por cento pelo menos, foram escritas pelo próprio Serling, cuja mente brilhante fervilhava de idéias. Noutros casos, adaptavam-se obras de escritores conhecidos como Richard Matheson e Charles Beaumont. Alguns atores, hoje famosos, começaram a despontar em Além da Imaginação. Nomes como: William Shatner, Robert Redford, Burt Reynolds, Dennis Hopper, Roddy McDowall, dentre outros. CANCELAMENTO E CONTINUAÇÕES Após 156 episódios, que foram ao ar de 1959 a 1964 e perfizeram 5 temporadas, a série foi cancelada. Haja idéias para tamanha quantidade de material! A produção recebeu diversos prêmios, tais como os tão falados Emmy e Hugo. Influenciou inúmeros diretores da atualidade, Steven Spielberg que o diga, e incentivou muita gente a escrever para a tevê. Além disso, criou uma estética que é seguida até hoje, basta ver, por exemplo, programas como Amazing Stories, Creepshow, Tales from the Crypt, Nightmares, Quarto Escuro e Night Visions. Em 1970, Serling apareceu com outro programa mais ou menos similar ao original: Night Gallery (Galeria do Terror), para o qual escreveu e apresentou. Infelizmente, as rédeas do programa foram tomadas das mãos de Rod que, descontente, passou a não mais atuar no show. 22 O Redator d’A Arca Perdida Em 1983 a Warner, Steven Spielberg e John Landis produziram No Limite Da Realidade (Twilight Zone: The Movie), um longametragem dividido em quatro partes, cada qual como se fosse um episódio da série. Tributo ao trabalho de Serling, cada parte foi dirigida por um diretor diferente: Landis, Spielberg, Joe Dante e George Miller. Infelizmente, a película não foi muito bem aceita pelos críticos, que se aproveitaram de um acidente, ocorrido durante as filmagens e que vitimou o ator Vic Morrow, para o desmerecimento do trabalho. Em 1985 a CBS resolveu produzir uma nova série Além da Imaginação (chegou a passar no Brasil), colorida e mais dinâmica, que esteve sob a tutela de um criativo autor de ficção científica, Harlan Ellison, e teve as participações de nomes como Wes Craven, William Friedkin e Joe Dante. Alguns episódios clássicos foram refeitos e outros, novos, produzidos. Trata-se de uma sombra da original. Em 2002 uma nova série foi novamente produzida. Apresentada por Forest Whitaker e com gente como Jonathan Frakes (William Riker de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração) na direção, a nova produção foi cancelada ainda na primeira temporada. Com enredos fracos e até mesmo bobos, de Além da Imaginação a série recebeu somente o nome. Infelizmente, amigos leitores d´A ARCA, nos dias atuais aquele medo que povoava o imaginário das pessoas nos anos sessenta não mais existe. Hoje não há mais a Guerra Fria, a corrida espacial estagnou-se e o holocausto nuclear não é uma realidade. Será que o material de trabalho, farto àquela época, não existe mais? Ou será que a falta do criador é a culpada? Serling faleceu no dia 28 de junho de 1975, aos 50 anos de idade. Fumante inveterado e workaholic assumido, ele chegava a virar madrugadas escrevendo, pois temia que sua criatividade se esvaísse. Rod deixou a todos com aquele gostinho de quero mais e tornou-se uma lenda da televisão mundial. Ele ensinou para nós que muita criatividade e um pouco de efeitos visuais foram suficientes para gerar uma lenda. A tevê nunca mais foi a mesma após Além da Imaginação. Admirável Mundo Novo Tolha a vontade do Homem, de modo a fazê-lo conformista. Impeça o impulso animal que em nós habita. Condicione-o, o Homo sapiens, a sobrepujar a raiva, o medo e a curiosidade. Trace um novo lema mundial: Comunidade, Identidade, Estabilidade. De fato, a sociedade perfeita... Será? Admirável Mundo Novo, obra do inglês Aldous Huxley cujo título menciona uma estrofe de Shakespeare, foi admiravelmente escrita em 1932. Uma distopia por meio da qual nos é apresentada a imagem da sociedade “perfeita”. Fome, guerras, doenças; os grandes males da humanidade desfeitos, destruídos, destroçados e vencidos. O mundo num futuro aparentemente distante, ditado por uma gigantesca corporação. Conceitos como a família, a religião e o casamento são meros fantasmas do passado, motivo de escárnio. O mundo admirável é povoado por seres subdivididos em castas de homens e de mulheres previamente fabricados. Hordas de pessoas concebidas artificialmente e geneticamente alteradas mediante funções pré-estabelecidas, as quais serão praticadas na vida adulta. Batalhões de gêmeos, de gentes semelhantemente dotadas de idéias iguais, gostos iguais, físico igual, vontade igual; tudo igual. Os ensinamentos hipnopédicos – realizados no sono – durante anos moldam a vontade e o ímpeto da nova Humanidade. A educação e o ensino ficam a cargo exclusivo do Estado, num mundo no qual o Eu inexiste, inibido e massacrado em detrimento da sociedade. Mulheres pneumáticas se relacionam com machos - igualmente - poligâmicos numa nova Terra em que o ato sexual serve única e exclusivamente ao prazer. A idéia de gravidez é algo asqueroso, nojento, hediondo; relegado aos animais. O prazer, aliás, tem diversas faces, como o Cinema Sensível (onde se sente tudo o que aparece 24 O Redator d’A Arca Perdida na tela) e a Música Sintética. O velho espírito humano, contudo, leva as pessoas ao consumo do soma, um tipo de droga ministrado nas ocasiões de infelicidade. Infelicidade? Como essa existiria num mundo no qual tudo é moldado aos indivíduos de modo que nada lhes falte, que nada lhes seja subtraído e que nenhuma decepção possa abalá-los? Onde estaria o Mal-Estar na Civilização, proferido tão curiosamente por Freud? Bernard, um dos personagens principais, é um indivíduo tão comum quanto o esperado, apesar do fato de não ser adepto do soma. Ainda que pertença a uma determinada casta privilegiada da sociedade, a incomum baixa estatura de Bernard é motivo de chacota e de desconfiança. Insatisfeito com a própria condição, ele viaja para uma região proscrita do globo a fim de visitar uma área habitada por selvagens. Os selvagens são a última fagulha do que resta da Humanidade antiga, pois não são geridos pelos moldes do Mundo Novo. A partir desse ponto, Admirável Mundo Novo vira de pontacabeça... Curioso? Pois o leia! Os grandes feitos da Humanidade foram propelidos, principalmente, pelas dificuldades e pelas amarguras da existência. A beleza de um Rembrandt, a suavidade de um Chopin e a ida à Lua, por exemplo, só foram possíveis por causa da fome do ser humano pela conquista, pelo merecimento. A genialidade humana nunca esteve ligada ao comum, mas ao excepcional e ao extraordinário. A obra em questão nos mostra uma Humanidade pasteurizada, inócua, feliz e conformada com a própria estagnação. Creio nisto: a genialidade, outrossim, independe de fatores únicos e exclusivamente genéticos, mas é fruto não somente de um ser intelectualmente e fisicamente privilegiado, como também do momento histórico propício, de experiências vivenciadas ao longo da existência e dos impulsos corajosos (e irracionais!). Essa – a perfeição genética - é uma das bobagens do mundo atual, por meio da qual parece unânime a opinião de que o futuro do planeta estará nas mãos desses super-homens genéticos. Afinal de contas, não há genes para o espírito humano... Admirável Mundo Novo 25 Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue Eles precisam de doses regulares de sangue, preferencialmente humano, para sobreviver. Sem ele, podem voltar à condição de mortos. Os mais velhos enfrentam os mais novos num ritual de competição para a sobrevivência. Quanto mais idade, aliás, mais poder lhes é conferido. Alho, crucifixo, água benta, a luz do Sol e estacas são os pesadelos dessas criaturas da noite. Trata-se dos Vampiros, uma lenda que data dos tempos bíblicos de Caim e que se popularizou na época Vitoriana pelas mãos do escritor irlandês Bram Stoker, autor de Drácula. Devido ao sucesso dos livros de Anne Rice, o vampirismo ganhou nova força no Século XX, fator também auxiliado pela profusão dos jogos de RPG vampirísticos – Vampire: The Masquerade – acontecida há algumas décadas. O cinema, é claro, foi uma das mídias mais afetadas pelo fenômeno e produziu mais de uma centena de filmes. Acompanhe este especial sobre o vampirismo cinematográfico e, portanto, prepare-se para se arrepiar com as produções mais importantes do gênero. 28 O Redator d’A Arca Perdida NOSFERATU: CLÁSSICO DO CINEMA MUDO Nosferatu, o Vampiro (Nosferatu, Eine Symphonie Des Grauens) foi um dos primeiros filmes a tratar do tema. Lançado em 1922, época do cinema mudo, foi dirigido por F. W. Murnau, um dos três maiores diretores alemães dos anos vinte - ao lado de Fritz Lang e de Ernst Lubitsch. O enredo é uma adaptação não autorizada do livro de Stoker, dotado de certas modificações para que os direitos autorais não fossem pagos. Ao invés de Drácula (que quer dizer demônio em Romeno), há o Conde Orlock; vampiro que se muda de sua terra natal para Bremen a fim de conquistar novas vítimas. No lugar de Jonathan Harker há Thomas Hutter, ao passo que no papel original de Mina está Ellen. Inovadora para a época, a produção trouxe o caráter expressionista no abuso das sombras, no uso da iluminação, nos ângulos e nos movimentos rápidos de câmera. A retratação do vampiro é um pouco diferente da literária, especialmente no que diz respeito aos enormes dentes frontais de “rato”, ao tamanho descomunal dos dedos e à aparência frágil do vilão. Uma das cenas mais impressionantes mostra o Conde, a bordo de um barco, a levantar-se subitamente de forma a erguer-se completamente ereto, como se flutuasse. Curiosidade: Florence Stoker, viúva do escritor, fez um tremendo esforço à ocasião para coibir as exibições de Nosferatu, por julgá-lo como uma mera imitação da obra original. Uma ação contra os produtores do filme foi movida, e a película, apreendida. Passado um tempo, Nosferatu foi, então, relançado como uma versão oficial do livro e, por conseguinte, teve os nomes dos personagens corrigidos. Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue 29 Em 1979 produziu-se uma refilmagem dirigida por Werner Herzog e estrelada por Klaus Kinski no papel do Conde. Diferentemente da primeira, a de Herzog explorou um Drácula que expôs sua fragilidade e solidão, humanizando-o. DRÁCULA: BELA LUGOSI NA VERSÃO DE 1931 Drácula, filme estrelado pelo húngaro Bela Lugosi em 1931, foi outro dos marcos do gênero terror. Baseada no livro homônimo de Stoker e salpicada com algumas diferenças relacionadas aos personagens, a produção da Universal – autorizada pela viúva do escritor - criou um arquétipo visual para o vampiro, o qual foi bastante imitado nas produções subseqüentes. Interessante: o ator previamente escolhido para o papel foi Lon Chaney, que faleceu antes de poder interpretá-lo. A capa de ópera, os trejeitos, os olhares, o sotaque, a atuação teatral repleta de gestos, as caras e as bocas de Lugosi compuseram um Drácula muito peculiar que, mesmo diferindo do livro, afetou o imaginário dos espectadores. A direção do lendário Tod Browning foi essencial para a retratação do castelo do Conde, bem como da criação da atmosfera sombria com a qual estamos acostumados. 30 O Redator d’A Arca Perdida Apesar do ritmo lento, dos diálogos em demasia (muitos desgostam do filme por causa disso) e dos efeitos especiais simplórios, a película se tornou um clássico do vampirismo cinematográfico e passou a ser tomada como modelo. HORROR OF DRACULA: CHRISTOPHER LEE EM PRODUÇÃO DA HAMMER Em 1958 a lendária produtora Hammer, responsável por diversos filmes de terror dos anos cinqüenta, sessenta e setenta, lançou uma versão em Technicolor de Drácula, a qual foi estrelada por Christopher Lee: Drácula, o Vampiro da Noite (Horror of Dracula). Lee, sob a direção de Terence Fisher, especialista no gênero, criou um vampiro assustador e sanguinolento, deveras diferente do antecessor “teatral” vivido por Lugosi. Tendo o fantástico Peter Cushing (intérprete de Van Helsing) como contraponto, o personagem de Lee é tomado por muitos como a mais perfeita encarnação do vampiro no cinema. Terence Fisher impingiu muitos detalhes ao visual da película; tudo muito colorido e chamativo para fazer valer o uso das cores; algo novo. A trilha sonora também ajudou a compor os momentos dramáticos do filme. Impossível deixar de citar a ênfase dada ao erotismo na forma de ataques aos pescoços de mulheres trajadas de camisolas pequenas e provocantes. O papel do conde vampiro, de fato, veio a influenciar a vida de Lee, tendo esse interpretado o personagem em diversas produções que sucederam ao filme original. Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue 31 A DANÇA DOS VAMPIROS: CLÁSSICO DO HUMOR DE TERROR Em 1967 foi produzido nos Estados Unidos um dos filmes mais cultuados de todos os tempos, o famoso A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampire Killers). Dirigido por Roman Polanski, ganhador do Oscar de melhor diretor pelo recente O Pianista, ele foi um dos pioneiros a misturar os gêneros horror e humor de maneira formidável. A trama é sobre o professor Abronsius (Jack MacGowran) e seu assistente atrapalhado, Alfred (Polanski em pessoa), pesquisadores de morcegos que viajam à Romênia para procurar por vampiros. O assistente se apaixona pela filha do dono da pensão em que se hospedam, Sarah (a bela Sharon Tate), mas essa é, por sua vez, perseguida por um conde misterioso, Von Krolock (Ferdy Mayne), morador de um castelo sombrio. Polanski criou um misto de sabores, ora de humor, ora de suspense, ora de terror. Diz a lenda que a atriz Sharon Tate, intérprete de Sarah, foi descoberta durante as filmagens da série A Família Buscapé (The Beverly Hillbillies) e que, de tanta insistência, ganhou o papel da rival, Jill St. John, e o coração do diretor. SCARS OF DRACULA: VAMPIRISMO NOS ANOS 70 Em Conde Drácula (Scars of Dracula), de 1971, última produção da Hammer a respeito do tema, Christopher Lee novamente retorna ao papel que o consagrou. O enredo, que nada tem a ver com a obra de Stoker, mostra Paul Carson (Christopher Matthews): um fugitivo desavisado que passa a noite no castelo do Conde e é, obviamente, morto. O irmão de Paul, Simon (Dennis Waterman), juntamente de sua namorada inicia a busca ao desaparecido e acaba às portas da residência do vampiro. Repleta de sangue e extremamente violenta, a película dirigida por Roy Ward Baker ficou aquém dos demais trabalhos do estúdio. 32 O Redator d’A Arca Perdida Ao assistir ao filme, o espectador se pergunta se era mesmo necessária outra produção a respeito do tema; um tanto quanto desgastado por tantas repetições. DRACULA: DIRETO DA BROADWAY Em 1979, o cultuado diretor John Badham, de “Embalos de Sábado à Noite”, realizou uma versão diferente, baseada em uma peça teatral da Broadway estrelada por Frank Langella havia dois anos. Ausente de dentes pontiagudos, mas com muita classe e distinção (graças à excelente performance de Langella, que recebeu indicação ao prêmio Tony Awards), este Dracula desfaz a dura carranca de Christopher Lee, transformando o personagem em uma criatura refinada, complexa e envolvente. A bela fotografia, que não chega a ser totalmente em branco-e-preto, é um dos fortes da película, que também teve a atuação do veterano Donald Pleasance. É minha versão favorita do Conde. THE HUNGER: A FOME DE VIVER DOS ANOS 80 O diretor de Top Gun e irmão de Ridley, Tony Scott, dirigiu esse que também se tornou um cult, mas dos anos oitenta: Fome de Viver (The Hunger) - de 1983. Cenas de lesbianismo entre Catherine Deneuve e Susan Sarandon, muito sangue, bem como a presença de David Bowie, o rock star, não salvam um roteiro cheio de furos e de questionamentos não saciados. Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue 33 Miriam (Catherine Deneuve), uma vampira egípcia milenar, e seu “marido”, John (David Bowie), vivem em harmonia na cidade de Nova Iorque. Ela, como toda criatura da noite, sobrevive do sangue de suas vítimas, que são transformadas em companheiros ou em companheiras até que se enjoe deles. A transformação, aliás, dá-lhes uma vida eterna por meio da qual não envelhecem. Quando Miriam abandona John à própria sorte, o vampiro começa a perecer muito rapidamente e, desesperado, procura a ajuda de uma pesquisadora especializada na doença do envelhecimento precoce, a Dra. Sarah Roberts (Susan Sarandon). A ironia do destino leva Sarah aos braços de Miriam. A direção de arte é muito interessante na medida em que cria um ambiente por meio do qual o espectador não sabe se o que vê é sonho ou realidade. O uso de tecidos, cortinas, lençóis e que tais dá um caráter surreal ao filme; como algo que foi esquecido pelo tempo. Outro ponto forte é a música, fator sempre presente do início ao fim. Bauhaus, Ravel, Schubert e Delibes, por exemplo, ajudam a compor a atmosfera sinistra de Fome de Viver. A HORA DO ESPANTO: WELCOME TO FRIGHT NIGHT... Em 1985 foi produzido outro dos filmes que mesclaram horror e humor, o ótimo A Hora do Espanto (Fright Night), escrito e dirigido por Tom Holland (de Os Heróis Não Têm Idade, Brinquedo Assassino e Amazing Stories). Charlie Brewster (William Ragsdale), típico adolescente americano viciado em filmes de terror, descobre que o vizinho recém-chegado, Mr. Dandrige (Chris 34 O Redator d’A Arca Perdida Sarandon), é um vampiro e, portanto, tenta detê-lo com a ajuda dos amigos. O jovem recorre, então, a um apresentador de um programa de tevê cujo papel principal é o de caçador de vampiros a la Van Helsing: Peter Vincent (o falecido Roddy McDowall). Assim como em A Dança dos Vampiros, A Hora do Espanto é uma produção na qual o espectador experimenta diversas sensações, tais como medo, arrepios, sustos e risadas; e tudo isso em apenas 106 minutos. A grande atuação dos atores, Sarandon como o sedutor vampiro e McDowall como o suposto caçador, é o forte. Ambos estiveram muito bem nos respectivos papéis, apesar de Sarandon pender um pouco para o lado canastrão da coisa - devido ao caráter humorístico da película. Há cenas antológicas como a invasão do vampiro na casa do personagem principal, e a transformação de “Evil” Ed (Stephen Geoffreys), amigo de Charlie, em lobo. O negócio esquenta ainda mais quando a namorada do jovem é possuída por Mr. Dandrige. Além desses detalhes, o filme traz os principais elementos do vampirismo: alhos, crucifixos, o medo da luz do sol, sangue e sedução. Direção competente, iluminação sombria, trilha sonora fantástica (produzida pelo Tangerine Dream) e boas atuações fazem de Fright Night um dos clássicos filmes dos anos oitenta. Em 1989 teve uma continuação que não chegam aos pés do original. OS GAROTOS PERDIDOS: VAMPIRISMO JOVEM A década de oitenta ficou mesmo marcada no mercado cinematográfico pela enorme quantidade de filmes infantis e adolescentes que gerou. Os Garotos Perdidos (The Lost Boys), de 1987, é um dos exemplos desse tipo de produção que trouxe a imagem de vampiros jovens, descolados e aventureiros, os quais perambulavam por aí em motocicletas envenenadas à procura de sangue. O enredo mostra Lucy Emmerson (Diane Wiest) e seus filhos, Sam (Corey Haim) e Michael (Jason Patric), família que se muda para Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue 35 uma cidadezinha do litoral Californiano. O mais velho acaba envolvido com uma gangue de jovens motoqueiros que provam ser mais do que aparentam, ao passo que o mais novo faz amizade com dois supostos caçadores-mirins de vampiros. Com trilha sonora de rock – o destaque especial vai para a clássica People are Strange - o filme ousou ao mostrar vampiros modernizados e jovens, e ao fazê-los gostar de coisas igualmente atuais. Muita ação, aventura e até humor compõem uma das películas mais vistas pelos adolescentes daquele período. DRÁCULA DE BRAM STOKER: A MELHOR ADAPTAÇÃO Talvez a mais espetacular adaptação do livro de Stoker, embora dotada de certas diferenças, Drácula (Dracula) foi excepcionalmente realizado em 1992. Com nomes de peso como Gary Oldman (no papel do vampiro), Anthony Hopkins (como Van Helsing), Keanu Reeves (como Jonathan Harker), Winona Ryder (como Mina), e sob a batuta de Francis Ford Coppola, a produção teve direção de arte e fotografia espetaculares, tanto que ganhou três Oscar. Diferentemente das versões anteriores do vampiro, o filme de Coppola é iniciado com uma retrospectiva, narrada em romeno, da vida do Drácula real, ou melhor, de Vlad Dracul: comandante tirânico que empalava seus inimigos enquanto almoçava à beira das estacas. A interpretação feita por Gary Oldman foi realmente única e díspar das anteriores, a qual revelou ao público um vampiro completamente movido pelo amor à amada que perdeu enquanto mortal. 36 O Redator d’A Arca Perdida A película tem boas quantidades de sexo e de violência, basta que lembremo-nos da cena em que Harker é seduzido pelas “noivas” de Drácula (Monica Belucci, de Matrix Reloaded, é uma delas). ENTREVISTA COM O VAMPIRO: ANNE RICE NA TELA Adaptação do mais famoso livro da escritora Anne Rice, Entrevista Com O Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles) é uma produção de 1994 que foi dirigida por Neil Jordan (de Traídos pelo Desejo). A história traz a entrevista do vampiro Louis de Pointe du Lac (Brad Pitt), dada ao jornalista Daniel Malloy (Christian Slater no papel que seria do falecido River Phoenix). Contada em flashback, trata-se da vida de Louis e do relacionamento desse com seu vampiro criador, Lestat (Tom Cruise). O espectador toma conhecimento, também, da existência da vampira-criança Claudia (Kirsten Dunst). É uma versão quase fiel da obra, a qual adicionou novas características ao mundo vampiresco, tais como a transformação de uma mera criança em criatura da noite. Há, também, o clima homossexual entre os personagens principais, fato que apimenta ainda mais a trama. Diz a lenda que Anne Rice não gostou, inicialmente, da escolha do ator Tom Cruise para o papel de Lestat. Depois de assistir ao filme, contudo, aprovou-o. Em 2002 foi produzida a adaptação de outra obra da escritora, A Rainha dos Condenados (Queen of the Damned), a qual retoma a história de Lestat (Stuart Townsend) nos dias atuais. Apesar do fraco desempenho, teve certa repercussão na mídia. Foi o ultimo trabalho da atriz e cantora Aaliyah, morta num acidente de helicóptero. Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue 37 BLADE: A TECNOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS Esta produção de 1998, inspirada numa série de quadrinhos da Marvel, transformou os vampiros em seres tecnológicos da era da Internet, dotados de armas mirabolantes e de corpos atléticos. Os vampiros modernos, verdade, deixaram de ser criaturas obscuras em cuja sugestão e sutileza repousavam suas armas. Blade (Wesley Snipes) é um meio-vampiro, batizado de The Day Walker (“o que anda de dia”), cuja missão é exterminar a raça das trevas da face da Terra. Sua mãe foi mordida durante a gravidez, mas não desenvolveu o vampirismo de forma total. A criança nasceu com características mútuas, cresceu e se decidiu por vingar-se. Blade é auxiliado por Abraham Whistler (Kris Kristofferson), um especialista em armas que o criou desde pequeno. O filme, dirigido pelo britânico Stephen Norrington (o mesmo de A Liga Extraordinária), contém muita ação e violência - tudo no melhor estilo Hollywoodiano - e inaugurou um novo paradigma vampiresco: o dos vampiros tecnológicos. VAMPIROS DE JOHN CARPENTER: CAÇADORES PROFISSIONAIS Eis uma produção interessante e inovadora: em Vampiros (John Carpenter’s Vampires), as criaturas da noite são perseguidas por caçadores de vampiros liderados por Jack Crow (James Woods): grupo de pessoas armadas até os dentes e que se assemelha bastante com os caça-fantasmas – por causa das traquitanas tecnológicas e do modus operandi. Juntos devem capturar e matar um ser 38 O Redator d’A Arca Perdida poderosíssimo, Valek, o qual pretende se apoderar de um artefato bíblico capaz de fazer com que os vampiros andem à luz do dia: a Cruz Negra. Com ação, aventura e explosões, Vampiros inovou à época devido ao estilo profissional de se caçar e de matar aquelas criaturas. John Carpenter é, de fato, um mestre em filmes de terror e de ficção cientifica, e, portanto, a película não decepciona. DRÁCULA 2000: DEZENAS DE CITAÇÕES E NADA ORIGINAL Esta produção de 2000, dirigida por Patrick Lussier (de Pânico II e de Pânico III) e estrelada por Gerard Butler (no papel de Drácula), não dispõe de muitas inovações, mas somente de inúmeras citações aos filmes antecessores e ao livro de Stoker. A única novidade é a origem de Drácula: ele seria, de forma inédita, ninguém menos que Judas Escariotes, o personagem bíblico. Apesar de bons efeitos visuais e da trilha sonora interessante, as fracas atuações do elenco fazem o filme fracassar. A bola da vez é Underworld (2003), película recém-dirigida pelo estreante Len Wiseman em cujo enredo os vampiros e os lobisomens, ambos criaturas milenares, encontram-se numa batalha de vida e morte. É, parece que o tema, propagado pelo meio cinematográfico desde o início do Século XX, está longe de acabar. Quando o espectador pensa já ter visto de tudo em termos vampirísticos, surge um novo filme com diversas novidades. Só podemos especular sobre o que virá daqui para frente! Até Drácula está curioso para saber! Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur “Consolai-vos. Ficai seguros de que voltarei quando a terra da Bretanha precisar de mim”. Essas foram as últimas palavras proferidas por um governante sábio e deveras justo; um dos homens mais honrados que viveram, supostamente, sobre a face da Terra: o mítico Rei Arthur. Digo supostamente porque a existência dele - e de seus cavaleiros da Távola Redonda - não pôde ser comprovada pelos historiadores, tampouco pelos cientistas. Através dos séculos, os feitos daquele rei e de sua poderosa espada, Excalibur, sofreram diversas intervenções realizadas por autores distintos, nas quais adicionou-se e alterou-se muito. Nem todas as pessoas sabem, mas a lenda de Arthur não é genuinamente inglesa, apesar de ter surgido, como se acredita, pelas mãos de um monge galês no Século IX. A história do rei passou de mão em mão, de narrativa em narrativa, até que atingiu a forma com a qual tornouse conhecida, ocasião em 40 O Redator d’A Arca Perdida que, traduzida para o francês, recebeu o famoso caráter cavalheiresco de Chrétien de Troyes, um poeta do Século XII. Depois dele, a transformação definitiva da história de Arthur, em obra literária, aconteceu pelas mãos do britânico Sir Thomas Mallory, no Século XV, cujo compêndio das diversas narrativas e lendas previamente contadas foram organizadas sistematicamente e, então, imortalizadas por meio da obra La Mort d’Arthur. Uma das últimas mudanças de que se tem notícia aconteceu em 1982 e foi realizada pelo roteirista Mike W. Barr e pelo lendário desenhista Brian Bolland: a mini-série em quadrinhos Camelot 3000 - lançada pela DC Comics. O FUTURO NAS MÃOS DO PASSADO No ano 3000 de Nosso Senhor a Terra é invadida por alienígenas de Chiron, o décimo planeta do sistema solar. Naquele futuro distante, a superpopulação e a falta de recursos naturais levaram o Homem a abandonar os projetos espaciais, bem como a diminuir a criação de armas, pois os esforços precisaram ser direcionados ao abastecimento do povo, que morria de fome e de doenças. Sem naves e sem armas, seríamos facilmente dominados. Na Inglaterra, país totalmente tomado, o jovem Thomas Prentice Jr. foge, com os pais, de um ataque Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur 41 alienígena até que, após a explosão de seu carro, vai parar às portas de um abrigo militar localizado no Monte Glastonbury, o provável local onde Camelot existiu. Tateando no escuro, após entrar no complexo, Tom é perseguido por alguns extraterrestres caverna adentro. Durante a fuga, o garoto bate violentamente com o rosto numa superfície e cai, ao que lê sobre ela ao se levantar: “aqui jaz o célebre Rei Arthur, rei do passado e do futuro”. Thomas ignora aquela bobagem, mas não por muito tempo. A SALVAÇÃO DA TERRA - HISTÓRIA SE REPETE Arthur, então, de forma inesperada levanta-se de seu caixão e, atordoado pelo sono de séculos, dá início a uma das maiores aventuras já criadas em quadrinhos. Ele viria a descobrir, dentro em breve, a existência dos invasores e que se tornaria a última esperança da Terra – as forças de defesa do planeta haviam sido sobrepujadas. Nada seria fácil, por conseguinte, para o antigo rei. Precisaria acordar Merlin, que jazia preso em Stonehenge, recuperar Excalibur das mãos da Dama do Lago e novamente reunir seus comandados, os cavaleiros da Távola Redonda. Haveria mais, além disso, uma vez que outros personagens – especialmente os inimigos - também estariam de volta. Durante a leitura, que não dá lugar para obviedades, muitas surpresas são paulatinamente mostradas para os leitores. Os cavaleiros de Arthur, por exemplo, realmente regressam, mas reencarnados em corpos de pessoas do Século XXX . O fato de Sir Tristão reviver numa mulher é soberbo se levarmos em conta sua paixão imortal pela bela Isolda. Preparem-se: a mini-série está repleta de sutilezas que podem ser melhor apreciadas por conhecedores da obra. Arthur e sua trupe, auxiliado ainda pelo jovem Tom (cujo sobrenome assemelha-se demais com a palavra aprendiz - em inglês), precisariam combater os alienígenas, tecnologicamente superiores, e, além disso, teriam que enfrentar políticos ardilosos de uma Terra em que a magia não encontra mais espaço e na qual o cavalheirismo saiu de moda há séculos. O maior pesadelo, contudo, viria na forma 42 O Redator d’A Arca Perdida de antigos medos e de fantasmas do passado, como o triângulo amoroso de Arthur, Guinevere e Lancelot, que voltariam para atormentar a cabeça do velho rei. O ciclo da primeira existência dos heróis, quer seja de glórias, de esplendor ou de desgraça, se completaria mais uma vez em Camelot e na Távola Redonda, novamente erigidos. O leitor não sentirá a falta de nada: há muita ação, violência, intrigas, revelações, incertezas, complôs, traições, humor, surpresas e sensualidade. Morgana, por exemplo, sempre aparece vestida em trajes mínimos, quase que de calcinha e de sutiã; muito provocadora em todos os sentidos. A arte de Bolland é espetacular e a sensação de movimento conseguida pelo desenhista impressiona. A visão futurista da Terra, outro detalhe interessante, é um tanto quanto retrô, fato que dá um sabor diferente à publicação. De fato, Camelot 3000 se parece muito com um daqueles filmes de ficção científica da década de setenta. Mike Barr, o roteirista, tomou o cuidado de não requerer conhecimento prévio a respeito das lendas Arthurianas para a plena compreensão da história, mas se esse existir, o indivíduo se deliciará ainda mais com os quadrinhos. Infelizmente, leitores, não posso lhes contar muito mais, porque Camelot 3000 está repleta de surpresas e de mistérios que precisam ser desvendados. E isso somente poderá ser feito por vocês. VANGUARDA EM 1982 Lançada originalmente nos E.U.A. em 1982, a série é um produto dotado de certa vanguarda, uma vez que conseguiu mesclar universos tão distintos de modo a muito entreter o leitor. É realmente estranho - e surreal - ver Arthur a brandir Excalibur em meio a raios laser e a naves espaciais. Porém, a força do argumento e o fabuloso tratamento do roteiro – que está cheio de vais-e-vens e a todo momento evoca acontecimentos do passado – fazem da história um espetáculo obrigatório aos amantes do gênero. O diferencial está em fatos ímpares que quase não permeavam o mundo dos quadrinhos convencionais do início dos anos Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur 43 oitenta: a ousadia ao se tocar em temas como o homossexualismo, a nudez e a violência explícita. Esse particular costumava pertencer aos quadrinhos de terror antigos e a, posteriormente, passou a aparecer em Batman e em Watchmen na mesma década. Curiosidade: Camelot 3000 foi uma das primeiras revistas a ignorar o selo do Comics Code Authority, um órgão que regulava a censura das histórias em quadrinhos da época. OS AUTORES O britânico Brian Bolland iniciou a carreira em sua terra natal, na revista 2000 A.D. Lá o artista ilustrou a série Judge Dredd, também inglesa. Nos Estados Unidos desenhou capas de diversas revistas da DC e trabalhou em publicações como Batman: Piada Mortal, um clássico. Mike W. Barr, por sua vez, não teve diversos trabalhos publicados após Camelot 3000. Escreveu especiais de Batman e alguns trabalhos da série Jornada nas Estrelas em quadrinhos. NO BRASIL Em nosso país a série foi publicada, inicialmente, na forma de adendos de revistas de super-heróis publicadas pela Editora Abril nos anos de 1984 e 1985, tais como Batman e Superamigos. Em 1988 foi lançada no formato de mini-série e teve quatro edições de aproximadamente 80 páginas em cada. Um fato interessante: na primeira publicação, algumas cenas de nudez e de homossexualismo foram removidas dos quadrinhos, 44 O Redator d’A Arca Perdida que foram editados por causa da censura. Na edição da mini-série, a de 1988, tais cenas foram mantidas e não houve a restrição. Infelizmente, leitores, Camelot 3000 somente pode ser encontrada em sebos atualmente, já que desde 1988 não foi mais publicada. Nos Estados Unidos, porém, recentemente foi relançada no formato TP (Trade Paperback) e pode ser comprada com certa facilidade via Internet ou encomendada em lojas do ramo. E.T. – O Extraterrestre: Parte II A continuação não filmada... E.T. – A magia de 1982 Fato: E.T. é um dos poucos filmes a ter permanecido recordista de bilheteria durante longo tempo. A história do extraterrestre perdido no planeta Terra e de suas aventuras ao lado dos amigos humanos encantou o mundo nos idos de 1982. Assim como o alienígena apaixonou-se pela Terra, os humanos apaixonaram-se pela bizarra criação do artista italiano Carlo Rambaldi. Steven Spielberg, diretor da obra-prima, cansou-se – certamente – de tanto ter escutado as mesmas perguntas proferidas incansáveis vezes: “- sr. Spielberg, quando produzirá a continuação de E.T.?” ou “- Elliott visitará o planeta dele?”. Esses questionamentos, de fato, têm povoado as mentes dos inúmeros fãs daquele simpático humanóide até os dias de hoje. 46 O Redator d’A Arca Perdida E.T. – Parte II? O próprio Spielberg pensou sobre essa seqüência, tanto que um roteiro foi escrito. Apesar das eventuais pressões Hollywoodianas e da tentação de um novo recorde de bilheteria, essa segunda parte nunca chegou a ser filmada. Os motivos parecem óbvios: Alata Zerka, o planeta-natal do simpático alienígena, exigiria enormes quantias monetárias a fim de ser reproduzido nas telas, além de muita criatividade dos magos dos efeitos especiais ser requisitada. Se nos dias de hoje a criação do referido planeta é algo trabalhoso, que dizer dessa tarefa em meados dos anos oitenta? O outro motivo tem a ver com a inalteração do sentimento gerado pelo filme original, por meio do qual E.T. - na mente de Spielberg - deve manter-se intocado, imaculado. E.T.: The Book of the Green Planet A continuação da história aconteceu – eventualmente – em 1985, porém, para o “desagrado” dos fãs, deu-se apenas no mundo literário. William Kotzwinkle, notável ganhador dos prêmios National Magazine for Fiction e World Fantasy, escreveu a tão esperada continuação a partir das idéias de Spielberg. O resultado é o livro “E.T.: The Book of the Green Planet”, publicado no Brasil pela Record, editora Carioca. E.T. no Planeta Verde, conforme o título brasileiro, narra a continuação da aventura iniciada na Terra, através da qual E.T. partiu de nosso planeta em direção ao Cosmo e retornou à origem. Alata Zerka, o planeta de duas luas e repleto de vida vegetal, não nega o próprio nome; assim como a Terra foi batizada de Planeta Azul - devido à profusão oceânica - o lar do alienígena é chamado como tal por causa do verde abundante. Lá a vida vegetal é inteligente e sensível, mesmo porque o planeta é um centro botânico universal. Ao contrário da natureza Terrestre, a vida vegetal Alatiana atingiu níveis inimagináveis de complexidade, de interação e de beleza. E.T. – O Extraterrestre: Parte II 47 O Cosmólogo Ouve-se constantemente a afirmação através da qual as pessoas tomam E.T. por uma criança alienígena. Nas primeiras páginas do livro constatamos o contrário: a criatura é um perito em Cosmologia (estudo do Cosmo) e um Dr. Botânico de Primeira Classe, motivo pelo qual integra naves espaciais de pesquisa intergaláctica. Ele é um ser deveras respeitado, tamanhas descobertas e inovações proporcionou. A raça de E.T. é uma das mais antigas do universo e a contagem da vida daqueles seres se realiza em Eras, não em anos ou em séculos. Diferentemente dos humanos, seres como o E.T. (*) guardam a sabedoria não somente nos cérebros, mas nos corações; o coração não serve apenas ao intuito de manter a vida, mas também de armazenar sabedoria acumulada através do tempo. Os alienígenas do Planeta Verde têm uma curiosa capacidade de relação com o meio-ambiente: sentem e interagem não somente em âmbito físico, mas em modos mais sutis como o pensamento e como a vibração corpórea (“aura”). Essa capacidade sobre-humana aumenta proporcionalmente à razão do tempo de vida. E.T., aliás, não é a única criatura inteligente do planeta! Alata Zerka: o jardim botânico do Universo O planeta em questão repousa nos confins do universo, segundo os padrões humanos. Existe uma cena antológica do filme em que as crianças - Elliott, Michael e Gertie – questionaram com E.T. sobre a localização do planeta dele. É fácil perceber o porque da resposta a essa questão não ter sido dada: Alata Zerka se localiza noutra galáxia, muito distante, atingida comumente através da passagem de um Continuum ao outro da existência. Viagens ao planeta de E.T. são realizadas através de Portões Dimensionais espalhados 48 O Redator d’A Arca Perdida pelo espaço, pois são a única maneira das grandes distâncias serem galgadas. Como isso poderia ter sido explicado às crianças? O simpático alienígena só sabia dizer El-li-ott... No Planeta Verde são reunidas todas as espécies existentes no Cosmo. As plantas são estudadas e cultivadas com muito carinho, respeito e apreciação. Porém, isso não é tudo! Os cientistas botânicos dirigem complicados estudos genético-energéticos, bem como alteram o mundo vegetal e criam novas formas de vida. Há toda sorte de vida verde no planeta: árvores saltitantes, plantas voadoras, raízes musicais, flores calmantes, plantas gigantes protetoras (como os nossos cães de guarda); há de tudo! Nas sábias palavras de E.T.: “- Uma flor é a geometria do universo”. Habitam o planeta tipos curiosos. Além da raça de E.T., há os Microtécnicos. São pequeninas criaturas – de no máximo trinta centímetros - dotadas de centenas de dedos capazes da execução das mais difíceis operações (eis o motivo do nome lhes dado). As peles deles são esbranquiçadas – quase transparentes – e possuem cabeças grandes quando comparadas aos corpos. Por causa da habilidade inata, os Microtécnicos trabalham nos reparos de equipamentos e especialmente nas manutenções das grandes naves espaciais. Eles são orgulhosos, exigentes e têm uma curiosa obsessão por limpeza e por organização. Interessante, pois já vi tipos assim na Terra! Os Igigi Gyrum Hadahadeba são outra forma de vida inteligente. Conforme a descrição do próprio livro: “... que significa seiscentas vértebras na espinha. Mas todo mundo no planeta as chamava simplesmente de Gomamoles, pois um de seus modos de caminhar era arrastar-se como uma substância grudenta e mole, com a base em formato de tripé. Pareciam mais uma pilha de meias moles cinzentas. Eram muito velozes, muito ágeis, muito estúpidas e adoráveis”. No decorrer da leitura, contudo, o leitor perceberá um certo mistério peculiar a essas criaturas, pois são mais do que aparentam ser. Os Donos da Mente, assim como são chamados, são as formas de vida “supremas”. Apesar da semelhança para com E.T., a forma fluida dos corpos dessas criaturas é algo notório. São, conforme o livro nos mostra: “... mente pura numa membrana fina, que altera a forma de acordo com a necessidade. Conheciam a fundo as ciências supremas, eram criaturas de enorme paciência e poder”. E.T. – O Extraterrestre: Parte II 49 A evolução natural da raça de E.T. leva os seres a transformarem-se após certo estágio da vida, chamado de “O Segundo Estágio do Crescimento”. No tal estágio, a “estatura mental” provoca a transformação do corpo físico, por meio da qual o ser cresce, torna-se esbelto e elegante. O pai (**) de E.T. é um dos exemplos desse ser pleno. A arquitetura do planeta parece bem diversificada. De fato, há dois tipos básicos de construções. Num dos tipos as moradias são construídas a partir da própria forma orgânico-vegetal disponível. Nesses casos as residências são como cabaças gigantes mobiliadas de igual forma e iluminadas por criaturas batizadas de Lumens (tipo de lesma brilhante presa ao teto ou transportada aos aposentos); a casa do pai de E.T. exemplifica essa espécie de morada. Na outra forma elas são similares às da Terra – “artificiais” – com grandes prédios e construções brilhantes. Crystellum, a grande capital do planeta, é o exemplo. O fator mais interessante é a inexistência de conflito entre os dois tipos, porque tudo parece se encaixar numa perfeita simbiose, de alguma forma. El-li-ott e os Terráqueos Há milhões de quilômetros do Planeta Verde os amigos Terráqueos de E.T. estão um pouco mudados... Mas nem todos! Elliott crescera e encontra-se cursando o Ginásio. Os interesses do garoto foram ligeiramente modificados: só pensa em jogar fliperama, em computadores e, em especial, na bela garota Julie, por quem está secretamente apaixonado. Michael, o irmão mais velho, está prestes a integrar um time universitário de futebol – americano – e se prepara para “fazer bonito” no teste. Gertie... Bem, Gertie não mudou nada! Mary, a mãe ainda solitária, procura desesperadamente por um “pai” para as crianças, por um marido para ela. Fantasia com qualquer homem que veja à frente, dotado de um mínimo de simpatia: imagina-se com os pretendentes no sofá do lar a assistir televisão na companhia dela. 50 O Redator d’A Arca Perdida E.T. volta para casa A história começa, realmente, a partir do ponto de encerramento do filme. Logo de início, o leitor acompanha a perseguição da nave alienígena por caças da força aérea norte-americana. Tudo em vão, é claro! E.T., cabisbaixo, foi até a ala de botânica da nave e ficou a contemplar o Gerânio (***) lhe dado por Gertie. Em meio aos pensamentos do alienígena, nem desconfia do futuro que lhe é reservado: o rebaixamento. O doutor em botânica foi sumariamente rebaixado de seu posto, pois, afinal, perdeu-se na Terra e atrasou a missão daquela equipe de vôo da qual faz parte. Foi confinado aos próprios aposentos. Por meio do processo de auto-hipnose, E.T. dormiu por um longo período até findas todas as missões programadas da nave espacial. Ao retornar a Alata Zerka, o alienígena nutriu esperanças de ser reconhecido pela aventura vivida no Planeta Azul – daria palestras e cursos sobre a cultura, sobre o idioma e sobre os costumes da Terra – contudo, acabou “entregue” ao antigo lar: uma área agrícola, espécie de fazenda, utilizada pelos aprendizes de botânica e dirigida por Botanicus, antigo mestre e professor de E.T. Ele... De volta à estaca zero! Botanicus é uma criatura extremamente evoluída e desenvolvida mentalmente, e exerce profunda influência sobre o mundo vegetal. Encontra-se no segundo estágio de crescimento (explicado anteriormente) e também possui a famigerada “luz” nos dedos. As tais luzes, a exemplo de E.T. (detentor de apenas uma), têm a ver com o grau de sabedoria e de conhecimento de determinado ser, e também com o fato desse ter concluído algum grande feito no decorrer da própria existência. Botanicus, o grande mestre, tem 10 luzes: uma para cada dedo das mãos. Reencontro com amigos Na fazenda, E.T. se reencontrou com o antigo amigo, um Gomamole. O veloz amigo atrapalhado esteve muito saudoso do botânico e E.T. – O Extraterrestre: Parte II 51 festejou ao reencontrá-lo. E.T. se reencontrou, também, com o próprio pai, de quem é deveras admirador e a quem ama muito. Há muito humor no livro, verdade! As revelações de E.T. aos conterrâneos são estarrecedoras, pois o leitor não sabe se são verdadeiras ou se são gozação. Ele, por exemplo, diz que as crianças são os governantes da Terra, pois são extremamente sábias e sensíveis. Diz, também, que o Halloween é uma das grandes festas do Planeta Azul e que as balas são o principal alimento da Humanidade. Ele, de forma curiosa, afirmou ter ficado num compartimento especial chamado de armário. Quanta honra! Outra coisa engraçada é o emprego de palavras Terrestres no dia-a-dia do Planeta Verde. E.T. vive dizendo: “ai”, “seja bom”, “dar o fora” e coisas do tipo. Apesar de ninguém compreendê-lo, essas expressões são usadas em demasia. Quantas saudades de Elliott e dos amigos! Fazendo contato A saudade foi o combustível de E.T., pois a partir do regresso ao Planeta Verde tentou o contato telepático com Elliott. O alienígena passou a produzir réplicas telepáticas de si próprio, enviadas à Terra por meio do poder mental dele. Infelizmente, tais réplicas têm curto período de vida e, portanto, precisam atingir o “alvo” muito rapidamente a fim de que sejam percebidas. Elas – e isso é outro agravante – são muito pequenas e medem poucos centímetros de altura. Num curto espaço de tempo, E.T. constatou algo terrível: Elliott não recebia as mensagens telepáticas. O que estaria havendo? Ora a réplica era jogada longe, chutada por um estranho despercebido, ora caía em lugar inapropriado e era esquecida. Pudera! Elliott, enamorado que estava, só tinha olhos para Julie. E.T. compreendeu a situação, ela era simples e drástica: Elliott virava adulto. O alienígena conhecia os adultos da Terra e sabia que lhes falta sabedoria. Na visão dele, as crianças perdem a sensibilidade ao tornarem-se grandes. Elliott precisa de ajuda! 52 O Redator d’A Arca Perdida O ladrão de naves Após uma conversa com o amigo Gomamole, E.T. começou a arquitetar um plano para “tomar emprestada” uma espaçonave de Lucidullum (cidade próxima à fazenda) para ir à Terra. Por sorte, E.T. se reencontrou com um Microtécnico do qual é amigo e lhe revelou a intenção. Mícron, o pequeno Microtécnico, também estivera saudoso de um planeta visitado por ele há tempos e do qual guarda um instrumento musical, e muita saudade. Os três estavam certos do que devia ser feito... Cada qual visitaria um planeta diferente com o auxílio do outro e Gomamole os acompanharia. E.T. arriscou-se e pediu ajuda para algumas criaturas proscritas; esquecidos seres viventes no subterrâneo do planeta. São antigos comandantes de naves espaciais e possuidores de enorme conhecimento de navegação, mas também têm um sentimento esquecido há eras: a ganância pelo poder. Occulta, Electrum e Sinistro, seres dotados de corpos metálicos (os senhores do escuro), integrariam a tripulação! Infelizmente, após muita confusão o seqüestro da nave falhou e foram todos pegos. E.T. fora novamente rebaixado e seus novos amigos devolvidos ao mundo da escuridão. Ele ficou profundamente envergonhado por causa da tentativa de roubo e por ter envolvido os amigos no processo. Roubo, no Planeta Verde, era um mal não praticado há eras... O segredo de Botanicus De volta à fazenda, E.T. sentia-se envergonhado e desanimado, mesmo porque nem as réplicas enviadas à Terra surtiam efeito. Num bate-papo com o antigo mestre, lhe foi falado acerca da impossibilidade de roubo de uma nave espacial daquelas, mas também lhe foi revelado o fato de o Jardim de Botanicus possuir diversos segredos escondidos. O pequeno alienígena teria as respostas das quais necessitava bem ali... Elliott, afinal, seria revisto pelo amigo? E.T. – O Extraterrestre: Parte II 53 O Desfecho Seria péssimo de minha parte lhes revelar mais desse livro. Ele deve ser lido, pois, num mínimo, é garantia de excelente diversão. Ademais, é uma forma dos fãs matarem as curiosidades sobre a continuação dos eventos principiados no filme. O Planeta Verde é exuberante, mágico e curioso, assim como as criaturas que lá habitam o são. O livro é, além de um fascinante tratado de Exobiologia (****), um conto repleto de humor, de emoção, de alegria e de sensibilidade. O amor puro e verdadeiro, a beleza da infância, a capacidade da fé e a noção de que, embora sejamos milhões de seres, cada um de nós é único e especial, são detalhes muito presentes à obra. A conclusão de “E.T. no Planeta Verde” é surpreendente e, ainda assim, deixa uma enorme janela para as imaginações dos leitores. Num final lindo, a maior mensagem presente no livro: o bem universal mais importante de todos é o AMOR. (*) Em nenhum momento do livro foi especificado o “nome” da raça. (**) E.T. parece ser hermafrodita, pois não há referência à existência da mãe. (***) Planta dada ao E.T. por Gertie ao término do filme. (****) Ciência que estuda possíveis formas de vida extraterrestres. Os Heróis não têm Idade Aproveitei o lançamento do DVD de Os Heróis não têm Idade, um de meus filmes de infância favoritos, e escrevi este artigo nostálgico a respeito do mesmo. Espero que se divirtam tanto quanto foi bacana escrevê-lo. A TRAMA Em San Antonio, Texas, David Osborne (Henry Thomas), um imaginativo garoto de onze anos de idade, acabou de perder a mãe. Como única companhia, já que o triste e atarefado pai (Dabney Coleman) não lhe dá a devida atenção, há um espião e amigo imaginário, Jack Flack (interpretado também por Dabney Coleman), que acaba por dar conselhos ao menino. Davey adora jogar videogame e brincar de espionagem, e tem como parceira a menina Kim Gardener (Christina Nigra). Em um dia fatídico, ambos vão ao edifício da empresa 56 O Redator d’A Arca Perdida de eletrônica Textronics, a pedido do amigo nerd, Morris (William Forsythe), e o menino finge cumprir uma missão secreta. Durante a brincadeira, contudo, David vê-se cara-a-cara com assassinos reais quando um estranho homem, baleado, entrega-lhe um cartucho - de Atari - do jogo “Cloak & Dagger”, nome que dá título ao filme, e lhe pede que o leve e o mantenha em segurança. Tal cartucho especial, na verdade, contém o blueprint (a planta) de um novo avião espião americano, ultra-secreto. O objeto poderia ser levado para fora dos E.U.A. se caísse em mãos erradas, e o segredo, revelado. A partir daquele momento, o jovem inicia, “auxiliado” por Jack Flack, uma corrida para escapar dos bandidos, que raptam a pequena Kim e o perseguem implacavelmente por diversos pontos da cidade de San Antonio. O “passeio” de barco no rio, aliás, é uma das melhores partes. Davey até tenta convencer o pai acerca da situação em que está, porém, é desacreditado por ele, justamente por viver no mundo da Lua. As duas crianças passam, então, por muitos perigos. Davey precisará fazer uma escolha super importante para o próprio futuro. Uma escolha nada fácil... E não comentarei mais nada para não estragar as surpresas! O IMAGINÁRIO DOS ANOS 80 Filmes em que crianças imaginativas e especiais definem a trama eram comuns nos anos oitenta. E.T., O Extraterrestre (E.T., The Extraterrestrial, 1982), D.A.R.Y.L. (1985), Viagem ao Mundo dos Sonhos Os Heróis não têm Idade 57 (Explorers, 1985), O Vôo do Navegador (Flight of the Navigator, 1986), Conta Comigo (Stand by Me, 1986); os exemplos são diversos. Em “Os Heróis não têm Idade”, rodado em 1983 e lançado em 1984, a tônica do enredo tem a ver com o rito de passagem da infância para a vida mais adulta, isto é, com o processo de abandono dos heróis, imaginários ou de brinquedo, das histórias mirabolantes de piratas e conquistadores do espaço, dos videogames e seus beep-beeps (na época do filme, os videogames eram vistos como um produto genuinamente infantil. Bem diferente do que acontece hoje. Eis o porquê desta observação), e com a perda da inocência, da ingenuidade; tudo em prol da aquisição de novas responsabilidades, do amadurecimento. Davey, conforme orientações do pai, precisa abandonar tais criancices, pois essas, assim como o falecimento da mãe, seriam os reais motivos das supostas “alucinações” do jovem. O menino, aliás, foi muito bem interpretado por Henry Thomas, que atuou, em 1982, no clássico de Steven Spielberg: “E.T.”. Henry pode não ter sido um Haley Joel Osment (de O Sexto Sentido e A.I. - Inteligência Artificial), mas a todos encantava com seu jeitinho meigo de atuar. A cena, por exemplo, em que David se vê na necessidade de abandonar Jack Flack, de esquecê-lo, chega a comover bastante, graças à atuação emotiva de Thomas. Em termos de desempenho, aliás, o show ficou a cargo de Dabney Coleman (Jogos de Guerra, Os Muppets conquistam Nova York, Como Eliminar seu Chefe), a quem foi entregue o duplo papel de pai e de amigo imaginário. Ator nem sempre devidamente aproveitado, Coleman brilhou ao dar vida às doidices de Jack Flack, quer seja ao fornecer conselhos amalucados ao garoto ou ao salvar a sua pele, quer seja ao sofrer com ele. Como pai, entretanto, foi firme, preocupado e amigo quando preciso. Realmente, os dois personagens ficaram bem distintos, apesar da aparência praticamente idêntica de 58 O Redator d’A Arca Perdida ambos. Nota dez a esse ator que atualmente tem 73 anos de idade. Não podem ficar de fora dos comentários as excelentes atuações de John McIntire e Jeanette Nolan, intérpretes do casal de idosos que “ajudam” Davey, ambos já falecidos. O filme teve roteiro de Tom Holland (A Hora do Espanto), direção do australiano Richard Franklin (Psicose 2, FX/2), que soube dosar bem a ação, o suspense e a emoção, e trilha sonora do também australiano Brian May (Mad Max, Mad Max 2), falecido em 1997. A maior surpresa da película, é claro, está reservada para a cena final, que acontece nos últimos segundos do filme. É quando, sejamos crianças ou adultos, torna-se difícil segurar as lágrimas que escorrem pelo rosto. CAMPEÃO DA SESSÃO DA TARDE “Os Heróis não têm Idade” foi um dos campeões da Sessão da Tarde, porém, faz tempo que não é exibido em tevê aberta. Vale a pena, portanto, adquirir o recém-lançado DVD americano (Região 1), dotado de imagem restaurada e no formato Widescreen. Infelizmente, o disco não dispõe de legendas nem mesmo em Inglês, além de não apresentar extras. Talvez por isso ele custe tão pouco: aproximadamente R$ 45,00 nas melhores importadoras do ramo. Ainda assim, eu o recomendo! Mas atenção: seu aparelho de DVD precisa estar desbloqueado para que o disco funcione. Os Heróis não têm Idade 59 CURIOSIDADES • “Cloak & Dagger”, o título original, não tem uma tradução exata em Português. O termo dá nome aos filmes de espionagem. É como o nosso “Capa e Espada”, usado para nomear os filmes de espadachins e castelos medievais. “Cloak and Dagger”, portanto, significaria, ao pé da letra, “Manto (ou Capa) e Punhal”. • O filme foi co-patrocinado pela Atari, tanto que o logotipo e o nome daquela empresa podem ser vistos quase sempre. O videogame utilizado por Davey é um Atari 5200, console lançado em 1982, mas que nunca chegou ao Brasil. Caixas de outro videogame, hoje clássico, o ColecoVision, também aparecem. • O game “Cloak & Dagger” existe, sim, mas para arcade (fliperama), não para os videogames domésticos. A fim de que as cenas fossem filmadas, o criador do jogo, Russell B. Dawe, jogou-o em um arcade ligado, por meio de uma engenhoca, à televisão do quarto do garoto. • Diversos pontos turísticos da cidade de San Antonio foram aproveitados pelo diretor, tais como o Museu do Alamo e o River Walk, onde foi realizada a cena do passeio de barco em que Davey foge dos bandidos. Essa atração, aliás, funciona até hoje na cidade. • William Forsythe, que fez o amigo nerd do garoto, interpretou Al Capone na nova versão da série “Os Intocáveis”, a de 1993. • “Cloak and Dagger” também é uma linha de quadrinhos da Marvel Comics, mas que não tem nada a ver com o filme. Por aqui, os heróis são conhecidos como Manto e Adaga. • Henry Thomas, hoje com 33 anos de idade, está casado pela segunda vez, com a atriz alemã Marie Zielcke, e tem uma filha. Voltou à ativa e tem participado de diversas produções. Hoje atua em uma minissérie baseada no livro Desespero, de Stephen King. 60 O Redator d’A Arca Perdida • Pode-se dizer que o filme foi o pioneiro ao retratar espiões mirins, fato que ficou comum dos anos noventa para cá. As aventuras de Davey aconteceram bem antes e foram bem mais reais que as retratadas nos filmes da série Pequenos Espiões. • Há uma produção de 1964 cujo nome também é “Cloak and Dagger”, que ficou conhecida no Brasil como O Grande Segredo. Foi estrelada por Gary Cooper”. 1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil A criançada de hoje em dia, acostumada às partidas de Playstation 2 e de Game Cube, nem se dá conta de que neste ano o mercado de videogame no Brasil está aniversariando. Porém, quem estiver na casa dos trinta – como eu – se lembrará do agitado ano de 1983, época em que os jogos chegaram ao país, há vinte anos. A grande novidade apareceu por aqui com quase sete anos de atraso em relação ao mercado que a inventou, o norteamericano, e também por causa disso a evolução do videogame no Brasil aconteceu de maneira bem pitoresca. Apesar das extintas lojas Mappin e Mesbla terem importado um grande lote de aparelhos em 1981, o videogame genuinamente produzido no país somente surgiu dois anos após. E no ano de 1983... Odyssey: O Pioneiro A responsável pelo debute foi a Philips, que lançou o Odyssey em maio daquele ano. Através de forte campanha publicitária – até mesmo um programa de videoclipes foi patrocinado pela empresa – com propagandas na tevê e em revistas especializadas, a empresa atingiu um bom número de vendas do console. O Odyssey, criado na 62 O Redator d’A Arca Perdida Europa, não foi bem aceito pelo consumidor norte-americano, mas aqui deslanchou devido ao marketing e também por ter sido o pioneiro. Jogos ótimos como “Didi na Mina Encantada”, “Come-Come” e “Senhor das Trevas” garantiram a boa aceitação do aparelho, que teve 60 títulos lançados. Infelizmente, dois motivos levaram o Odyssey ao ostracismo. O primeiro teve a ver com uma besteira cometida pelo fabricante: a Philips, passado um tempo do lançamento, declarou que o videogame só funcionaria em televisores da própria marca; obviamente, num plano para a venda conjugada de ambos os aparelhos. O outro fator teve a ver com o lançamento do Atari 2600, principal concorrente. A Reserva de Mercado É preciso explicar a Reserva de Mercado antes de prosseguir, pois ela foi o outro determinante responsável pela ímpar história do videogame no Brasil. No início dos anos oitenta criou-se uma lei por meio da qual proibiram-se as importações de aparelhos eletrônicos computadorizados (microcomputadores e videogames). Ao mesmo tempo em que houve a proibição, incentivou-se a fabricação nacional de tais aparelhos, que supostamente estariam “protegidos” pela lei. 1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil 63 No fundo, criou-se uma saudável “pirataria legalizada” através da qual algumas empresas nacionais lançaram “clones” de videogames norte-americanos. Esse processo de clonagem industrial é conhecido como engenharia reversa, pois se aprende a fabricar determinado aparelho a partir da desmontagem e do estudo do produto original. Uma curiosidade: alguns clones, inclusive, trouxeram melhorias em relação aos “verdadeiros”. O fator que não pode passar despercebido ao leitor: as empresas nacionais responsáveis pelos clones nunca pagaram um tostão sequer de royalties e de direitos autorais aos respectivos fabricantes; e isso graças à Reserva de Mercado. Atari: O rei dos videogames, o mais popular No final de maio, logo após a novidade da Philips, a primeira empresa a ter lançado outro videogame foi a Sayfi Computadores, que depois teve o nome alterado para Milmar (a conhecida fabricante de calculadoras). A Sayfi fabricou o primeiro clone do sistema Atari 2600: o Dactari. Curiosidade: o nome do produto foi posteriormente mudado para Dactar e foram produzidos quatro modelos diferentes, incluindo-se o famoso Dactar Maleta 007. O Dactar, a propósito, é parecidíssimo com o Atari e não trouxe nenhuma modificação significativa. A Dynacom, que já fabricava cartuchos clones, seguiu a Sayfi e lançou um similar do Atari 2600: o Dynavision. O aparelho, criado com design totalmente único, saiu da fábrica dotado de uma série de melhorias, como plugs frontais para conexões de joysticks e com o silenciador de ruído de tevê. O Atari 2600 somente apareceu oficialmente no Brasil entre agosto e setembro de 1983 e tornou-se a “febre” de 64 O Redator d’A Arca Perdida consumo do Natal. O aparelho foi produzido pela Polyvox, extinta empresa do grupo Gradiente. O Atari oficial vinha acompanhado do cartucho “Missile Command” e podia ser adquirido por módicos 200 mil cruzeiros em qualquer loja de departamentos ou videoclube. Infelizmente, a Polyvox lançou poucos títulos – somente os oficiais Atari – e, portanto, não teve a vendagem de cartuchos esperada, ao passo que os concorrentes, como a Dynacom, venderam bem mais jogos. Enquanto a empresa possuía apenas os direitos sobre os jogos da Atari, as fabricantes de cartuchos clones duplicavam os cartuchos da Activision, da Parker Bros., da Imagic, da Coleco e de outras softhouses. Curiosidade: a Polyvox lançou três modelos diferentes de Atari e encerrou as atividades no final dos anos oitenta. Ao contrário das concorrentes, a empresa pagava royalties à Atari americana, fato que encareceu os produtos da marca no Brasil. Demais empresas também lançaram os respectivos clones de Atari, como a CCE e a Dismac, contudo, o console favorito dos fãs, ainda hoje, é o Dynavision. O Atari 2600 foi o sistema responsável pela popularização do videogame no mundo. Se hoje há o X-Box, o Playstation 2 e o Game Cube, dê graças ao Atari por isso! Jogos como River Raid, Enduro, Decathlon, H.E.R.O. e tantos outros permanecerão nas nossas memórias para sempre. 1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil 65 Intellivision: Jogos Esportivos Outra empresa nacional não quis ficar para trás no mundo dos videojogos. Trata-se da extinta Digiplay, empresa coligada à Sharp, que adquiriu os direitos de um forte concorrente da Atari nos E.U.A.: o Intellivision. A Digiplay lançou o videogame no segundo semestre de 1983 e embora o aparelho fosse superior ao comercializado pela Polyvox, não fez o sucesso desejado. Lançado com a máxima “a inteligência na televisão”, o console trouxe controles esquisitos (discos direcionais) e muitos jogos esportivos; o forte do sistema, inclusive. Infelizmente, talvez devido ao alto preço, o Intellivision ficou relegado a uma pequena elite endinheirada. Jogos como “Desafio Estelar”, “Burgertime” e “Shark Shark” eram mania naquela época! Em 1984 a Digiplay lançou o Intellivision II: igual ao primeiro, mas com design bem menor e na cor branca. Nada de mais! Também não foi sucesso de vendas. SpliceVision: O Coleco nacional O ColecoVision, coqueluche nos E.U.A. em 1982, também teve uma versão brasileira: o SpliceVision. Lançado em 1983 por uma empresa do ramo de telefonia, a Splice, o clone nacional do Coleco mostrou-se mal feito em termos de acabamento: feio, desengonçado e ordinário. Apesar disso, a parte eletrônica do aparelho foi bem feita e só não fez sucesso devido ao elevado preço de venda; chegou a custar cinco vezes o valor de qualquer clone de Atari. O Coleco foi superior aos concorrentes, pois tinha capacidades gráficas e sonoras muito melhores. 66 O Redator d’A Arca Perdida A especialidade do ColecoVision foram as conversões dos jogos de Fliperama. A Splice, por conseguinte, procurou atingir o nicho de mercado em que os adultos, já trabalhadores, demandavam jogos melhores. Infelizmente, o videogame foi menos vendido do que o Intellivision. Outro agravante: a Splice lançou poucos títulos de jogos e o proprietário do console precisou se virar com os cartuchos originais da Coleco, extremamente caros à época. O que veio depois? Após o marco inicial de 83, uma imensa gama de videogames chegou ao Brasil. Tivemos o Master System, o NES (Nintendinho), o Megadrive, o Super NES, o Neo-Geo e tantos outros. Todavia, devemos comemorar o aniversário dos videogames e nos lembrar dos primeiros aparelhos que fizeram as alegrias das crianças no início dos anos oitenta. Há 20 anos... Parece ontem... Mas há 20 anos, no Natal de 1983, ganhei meu Atari 2600 da Polyvox. Sinto-me sortudo por ter acompanhado o nascimento do videogame no Brasil, por ter participado, de certo modo, de tudo aquilo. Lembro-me das coisas como se fosse hoje e sinto muitas saudades daquela época mágica na qual só pensava em voltar do colégio para jogar River Raid e Enduro. Parabéns ao videogame nacional! Parabéns às pessoas que fizeram essa história! Parabéns aos idealizadores dos clones nacionais, engenhosamente feitos! E parabéns aos criativos programadores dos jogos de outrora, que fizeram muitas crianças felizes ao movimentar naves “quadradas” e de uma cor só pela tela, mas que, em contrapartida, sempre imaginaram tremendos combates espaciais em galáxias distantes. E isso, há 20 anos... Eduardo Luccas, 31 anos, especialista na história dos videogames, colaborou com esse artigo. Roger Corman: o Rei dos Filmes B É impossível não associar nomes como Roger Corman e Ed Wood do estilo B de filmes, aqueles feitos com baixíssimos orçamentos e cujas temáticas geralmente têm a ver com ficção científica ou terror, mas que, apesar dos efeitos especiais rústicos, esbanjam criatividade e irreverência. A partir de agora, caro leitor d´A ARCA, você saberá mais a respeito do mítico Roger Corman: roteirista, produtor, diretor e ator que moldou a cara dos Filmes B, e que lançou atores e diretores – hoje famosos – ao estrelato, deixando sua marca para a eternidade na história do cinema. O ENGENHEIRO QUE VIROU FILME Roger William Corman nasceu em 05/04/1926 em Detroit, Estados Unidos, e estudou Engenharia, apesar de sua notória paixão por filmes. Porém, não tardou a se infiltrar num estúdio cinematográfico, pois passou a trabalhar como boy nos escritórios da 20th Century Fox. Esforçou-se, dedicou-se e logo se viu no papel de analista de roteiros – escrevia, também, os seus em segredo, é claro. 68 O Redator d’A Arca Perdida Entre 1953 e 1954, finalmente, Corman conseguiu vender um de seus trabalhos feitos sob tanto suor: o roteiro do filme policial Highway Dragnet, o qual também foi co-produzido por ele. Começava, então, uma carreira promissora no mundo do cinema. OS PRIMEIROS TRABALHOS & A FICÇÃO CIENTÍFICA Ainda em 1954, Corman produziu seu primeiro trabalho que pode ser considerado como um filme B: Monster From The Ocean Floor. O enredo é sobre uma turista americana em visita ao México, que se depara com um monstro - de um olho só - saído do mar. Ela conta a respeito da criatura às autoridades, mas é desacreditada. Apesar do baixíssimo orçamento, de 11 mil dólares, e dos efeitos visuais simplórios, a película, que faturou 10 vezes o custo de produção, agradou ao público devido às boas atuações e ao roteiro bem-feito. Após um ano, em 1955, a primeira atuação como diretor surgiu através do filme Five Guns West, western produzido pela American Releasing Corporation – companhia futuramente rebatizada de AIP. Corman também foi o produtor da película. Em 1956 dirigiu seu primeiro filme de ficção científica, o lendário The Day The World Ended, o qual é cultuado pelos fãs até os dias de hoje. Dotado de um enredo um tanto quanto assustador, no qual sobreviventes do pós-guerra nuclear são ameaçados por uma Roger Corman: o Rei dos Filmes B 69 criatura mutante, essa produção de baixo custo agradou ao espectador pelas atuações – especialmente a da atriz Lori Nelson – ainda que o enredo fosse algo exageradamente irreal. É fato que os temas de Ficção Científica – com pitadas de horror – inspiraram grande parte dos trabalhos de Corman na década de cinqüenta, ocasião em que ele produziu diversos filmes baratos, tais como The Beast With A Million Eyes (1956), It Conquered The World (1956), Not Of This Earth (1957), Attack Of The Crab Monsters (1957), War Of The Satellites (1958) e demais. O TERROR PURO & EDGAR ALLAN POE A década de sessenta, por sua vez, foi a época em que Roger Corman “descobriu” os trabalhos do lendário escritor americano Edgar Allan Poe, autor de pérolas como O Gato Preto, O Corvo, O Poço e o Pêndulo e A Queda da Casa de Usher. The Fall Of The House of Usher (1960), por exemplo, é uma bela adaptação da obra do escritor, talvez a melhor de todas. Com Vincent Price no elenco e com roteiro adaptado pelo escritor Richard Matheson (que nessa época também contribuiu com material para a série Além da Imaginação), esse filme tornou-se uma das obras-primas do diretor, uma vez que se aproxima demais do clima mórbido do livro. The Little Shop Of Horrors, também de 1960, é outro dos clássicos. Com um quê humorístico e estrelado pelo ótimo Jonathan Haze, esse filme de baixo orçamento – custou apenas 27 mil dólares – encantou o público com a história de uma planta carnívora criada como um animal de estimação numa floricultura, mas que se alimenta de carne humana. Jack Nicholson, em início de carreira, é uma das atrações. Curiosidade: em 1986 a película foi refilmada por Frank Oz e teve Rick Moranis no papel principal. Filmes baseados no trabalho de Poe permearam aquela década. Corman filmou também: Pit And The Pendulum (1961 – com 70 O Redator d’A Arca Perdida Vincent Price e John Kerr), Tales Of Terror (1962 – com Vincent Price e Peter Lorre), The Raven (1963 – com Boris Karloff, Peter Lorre, Vincent Price e Jack Nicholson) e The Tomb Of Ligeia (1965 – com Vincent Price e Elizabeth Shepherd). Diversas produções do gênero terror, verdade, foram feitas por ele nos anos sessenta: Dementia 13 (1963 – dirigida pelo iniciante Francis Ford Coppola), X: The Man With the X-Ray Eyes (1963 – com Ray Milland), The Masque Of The Red Death (1964 – com Vincent Price e Hazel Court, e com roteiro de Charles Beaumont), dentre outras. PARADA EM 1971 Em 1971 Corman decidiu parar de dirigir e, por conseguinte, concentrar-se apenas em produzir e em distribuir filmes através da New World, companhia criada pelo próprio. A idéia de Corman era simples: por meio de filmes de baixo orçamento arrecadaria dinheiro suficiente para gerar e distribuir filmes de arte. A coisa funcionou e, de fato, títulos como Lágrimas e Suspiros (1972), de Ingmar Bergman, e Amarcord (1974), de Fellini, foram distribuídos nos Estados Unidos por sua produtora. Curiosidade: após a New World, ele lançou mão de outra empreitada, a Concorde Films, que geraria diversas produções no estilo daquelas que marcaram o início da carreira de Corman. Somente voltou a dirigir em 1990, quando fez Frankenstein, O Monstro Das Trevas. Infelizmente, foi seu derradeiro trabalho nessa função. UM MARCO DO CINEMA Roger Corman merece verdadeiramente o destaque que tem. Visionário, soube explorar as oportunidades que lhe foram ofertadas. Soube, também, criar filmes extremamente baratos e, ainda assim, Roger Corman: o Rei dos Filmes B 71 interessantes. Teve a humildade de, por exemplo, aproveitar cenários de outras produções para baratear os custos das suas – essa prática, como se sabe, já aconteceu com diversos filmes e séries, tais como Jornada nas Estrelas e Além da Imaginação – e não foi arrogante, ou seja, não desejou o sucesso somente para si. Deu oportunidades para diversos astros e diretores iniciantes, agora consagrados pela crítica: William Shatner, Peter Bogdanovich, Jack Nicholson, Francis Ford Coppola, Jonathan Demme, Jonathan Kaplan, Joe Dante, Allan Arkush, James Cameron, Ron Howard, Martin Scorsese; os nomes são diversos. Curiosidade: essas pessoas, agradecidas pelas oportunidades, acabaram por presentear o mentor com pequenos papéis e pontas em seus filmes. Corman participou como convidado das produções O Poderoso Chefão (Parte II), O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia e de muitas outras ao longo dos anos. Atualmente continua a produção de filmes, de telefilmes e de séries de tevê. Até o presente momento, o currículo de Corman dispõe de quase 350 filmes como produtor e de algumas dezenas como diretor. Poucas pessoas do meio gozam desses números. Nos anos oitenta, por exemplo, ele produziu um dos filmes mais vistos na Sessão da Tarde: Mercenários das Galáxias (Battle Beyond The Stars), que também teve a atuação de James Cameron, estreante, na direção de arte, e composições do mago James Horner. Vejam como o homem está escondido em tudo quanto é filme! É, se Roger Corman não existisse, o cinema certamente não seria o mesmo! Tradução para Legendagem e Dublagem Você já xingou ao ler determinada legenda na qual traduziram silício como silicone? Já? Já pensou na mãe do tradutor na vez em que certa legenda apareceu pequenininha, ao passo que o personagem falou um caminhão de coisas? É mesmo? E nas ocasiões em que, na dublagem, o fulano mexe os lábios e o sincronismo da fala está totalmente diferente? Hein? Pois bem, antes de xingar o próximo tradutor, caro leitor d´A ARCA, leia este especial e descubra essa difícil arte de traduzir filmes para legendagem e dublagem. A coisa não é fácil e requer muita, mas muita dedicação e conhecimento. Pare de reclamar, por conseguinte, e veja o porquê desse trabalho requerer tanto dos profissionais do ramo. TRABALHO ESPECIALIZADO O trabalho de tradutor sempre foi algo difícil. Difícil, trabalhoso e em cuja dedicação está o ponto principal. A tradução de filmes, uma das especializações da profissão, requer, além do pleno conhecimento de ambos os idiomas (origem e destino), bagagens cultural, cinematográfica e televisiva prévias. Não raro acontece do profissional precisar adaptar uma piada, uma situação ímpar e até mesmo uma expressão para que haja sentido em determinada cena. Trata-se de uma atividade freelance e solitária, na qual homem e 74 O Redator d’A Arca Perdida máquina – videocassete, microcomputador, fones de ouvido – devem se integrar corretamente, madrugada adentro, a fim de que no fim das contas não haja a L.E.R. (famosa Lesões de Esforço Repetitivo). A TRADUÇÃO PARA LEGENDAGEM A chave da tradução para legendagem é a síntese. Exato. O tradutor precisa saber sintetizar, acima de tudo, para poder proporcionar legendas de qualidade ao espectador, ao mesmo tempo em que esse precisa “levantar os olhos” da legenda para também ver as imagens. Se houver informação demais, a pessoa não tem tempo de ver o quanto gostaria, apenas de ler. Se houver informação de menos, o espectador pode não compreender corretamente um diálogo importante do filme. E isso porque existe um limite de caracteres imposto pelos softwares profissionais de legendagem, quase como um padrão. De fato, espectadores xingando tradutores é algo muito comum. As pessoas geralmente acham que, se elas traduzissem aquele filme, colocariam “bem mais coisa” no diálogo entre o mocinho e a mocinha, não é? Então, leitor, saiba que os tais softwares, como o Systimes, permitem a inserção de apenas trinta caracteres (contando-se espaços e pontos) dispostos em míseras duas linhas de texto. Será mesmo que aquele diálogo do mocinho e da mocinha aceitaria bem mais palavras do que você leu? O primeiro passo do tradutor é assistir à produção (quer seja filme, seriado, desenho ou documentário), de cabo a rabo, e marcar – no script fornecido pelo estúdio – as possíveis divisões das legendas, baseando-se nas pausas das falas dos personagens e tendo em mente a limitação dos caracteres. Em alguns casos - a grande minoria - inexiste o script, fato que mostra uma dificuldade extra para o profissional, porque precisa se valer do próprio ouvido a fim de compreender os diálogos. Uma vez divididas as prováveis legendas, o tradutor, então, vai para o computador e começa a tradução propriamente dita. A coisa, óbvio, não é tão simples, uma vez que se deve levar em conta a ambientação da produção que será traduzida: é um filme de época? Tradução para Legendagem e Dublagem 75 É um filme regional? É um filme no qual se usa gírias de mais? A tradução precisa ser baseada na linguagem original da obra, a qual, em muitos dos casos, pode não ser nada simples – desde complexos diálogos Shakespeareanos até gírias australianas “intraduzíveis” ao Português. Já viram o tamanho da bomba? Calma, porque tem mais! O tradutor precisa se concentrar nos diálogos, respeitar o tempo no qual as falas são originalmente proferidas e sempre ter em mente a necessidade de sintetizar o quê de mais importante houver ali: o relevante. É impossível, para um tradutor de legendas, colocar o conteúdo total de uma fala grande numa legenda, pois, conforme explicamos no início, o público precisa ter tempo – ainda – de assistir ao filme. Quanto à síntese, isso cabe ao feeling de cada pessoa; não pode ser ensinado. É necessário conhecer gírias, estar atualizado com as inúmeras expressões idiomáticas, evitar falsos cognatos (silicon não é silício, actually não é atualmente, coroner não é coronel, e por aí vai) e conhecer o universo da chamada cultura pop: seriados, filmes, quadrinhos, música, etc. etc. Feita a tradução, o profissional – quando iniciante – importa as legendas para o software que citamos, começando a marcar o tempo de entrada e o tempo de saída de cada legenda. Imaginem, caros leitores, um filme de uma hora e meia de duração, a quantidade de legendas que proporciona! Nessa etapa, o tradutor pode ter a “agradável” surpresa de constatar que aquele diálogo, lindo e perfeito, não “encaixa” numa determinada fala. Esse probleminha de última hora pode acontecer porque os programas calculam automaticamente a quantidade de caracteres e sabem, de antemão, quando uma fala não cabe em um determinado espaço de tempo da legenda. Um sinal vermelho, irritante, aparece na tela do monitor e indica que aquela “preciosidade” criada pelo tradutor precisa ser refeita, diminuída até que “encaixe”. Ainda acha que traduzir é fácil, caro leitor? Com o passar do tempo e com muita experiência, o profissional descarta o uso do software, como apoio, e passa a saber, já no momento da tradução, se determinada fala “cabe” numa legenda. Esse mecanismo, verdade, se torna algo automático na cabeça do tradutor! 76 das: O Redator d’A Arca Perdida Constatem os possíveis problemas da tradução para legen- • Se um linguajar diferente for utilizado, a obra fica descaracterizada. Imaginem Romeu ao dizer: “- Ô, Julieta, chega mais porque quero dar um cheiro no teu cangote, pitchuka”. Sem comentários. • Se a divisão das legendas for desrespeitada, os diálogos “atropelam” uns aos outros e a coisa toda fica sem sentido. • Se o tradutor colocar informação de mais na legenda, o espectador passa o filme todo a ler e não vê nada. • Se o tradutor omitir detalhes de um diálogo, a película – conforme o andamento – fica sem sentido. • Se palavras forem mal traduzidas, toda graça de uma cena vai por água abaixo. Um último detalhe interessante sobre a legendagem: ao contrário do que devem estar pensando, leitores, não é o tradutor quem insere e cronometra cada legenda de um filme, mas outro profissional: o marcador. Em São Paulo, principalmente, é essa pessoa a responsável por importar o texto - entregue pelo tradutor - para o software de legendagem e, por conseguinte, fazer a marcação (eis o porquê do nome) de cada uma das milhares de legendas de uma película. Outra coisa interessante, isso muita gente desconhece, é que os tradutores, na maioria dos casos, não batizam os filmes no Brasil. É verdade, não sabia? Os tradutores, sim, dão duas ou três sugestões de títulos para uma determinada produção, mas quase sempre é o pessoal de marketing dos estúdios quem “inventa” os nomes. Parem, portanto, de xingar os tradutores por causa de títulos esdrúxulos! Curiosidade: filmes eróticos e pornográficos também são traduzidos e legendados! Sabia? Acredite se quiser... A fim de fechar este tema, saibam, leitores, que, mesmo com todos esses detalhes e mandamentos na cabeça do tradutor, os estúdios geralmente dão um prazo de 3 a 5 dias corridos para que um filme seja todo traduzido, digitado e entregue. É totalmente comum e normal o fato de tradutores passarem madrugadas a fazer o serviço. Tradução para Legendagem e Dublagem 77 A TRADUÇÃO PARA DUBLAGEM Tudo o que foi dito a respeito do linguajar, da preocupação para com o tempo (timing) e das adaptações também vale para a tradução da dublagem. A diferença básica entre as duas modalidades de trabalho reside em dois fatores: na dublagem, o profissional precisa traduzir todo o conteúdo de uma fala, ou seja, a síntese não é mais o objetivo da tradução – afinal, o espectador enxerga o filme durante praticamente 100% do tempo. Além de se traduzir todos os diálogos de uma produção, a tradução visa à concatenação labial entre a fala traduzida e o ator ou a atriz em questão. Isso é óbvio, porque de outra forma poderia haver silêncio quando alguém fala ou voz quando o lábio está cerrado. Todos sabemos a raiva que dá quando a gente constata dublagens mal feitas. Essa preocupação é constante, contudo, não é obrigatória em todo o filme, mas especialmente nas seqüências em que os atores e atrizes ficam ON, ou seja, com os respectivos rostos – e lábios – voltados explicitamente para a câmera. O tradutor de dublagem, também de posse do script, não marca as falas (como no processo de legendagem), mas anota possíveis expressões – reações – dos personagens, como riso, suspiro, grito, grunhido, etc. A marcação serve para que o diretor de dublagem, e eis uma grande diferença entre os dois tipos de tradução, possa orientar e coordenar os dubladores em estúdio. A diferença essencial está no número de pessoas envolvidas nos dois processos. Na legendagem, apenas o tradutor e o marcador se envolvem com o trabalho, ao passo que na dublagem, uma equipe de pessoas se faz necessária: há o tradutor, o diretor, os dubladores e os técnicos. É por isso, pessoal, que o processo de dublagem é mais caro! Outro ponto necessário ao tradutor é o preparo de um documento por meio do qual fornece breves explicações acerca da pronúncia correta dos nomes dos personagens, assim como proporciona resumos de possíveis peculiaridades de cada um. Exemplos: Joe fala com sotaque Texano, Charles tem um problema de dicção e, portanto, “come” o erre, Susan é gaga, etc. É claro que o diretor de dublagem, por si só, é perfeitamente capaz de discernir esses detalhes sozinho, mas o espelho, como é chamado o documento feito pelo tradutor, quebra um galho danado e lhe adianta o serviço. 78 O Redator d’A Arca Perdida QUERO SER TRADUTOR, COMO FAÇO? Calma! Após ler tudo isso, ainda quer mesmo entrar nessa? Claro que sim, não é? É uma profissão bela, muito rica e de extrema criatividade. Existem cursos especializados nesse tipo de tradução, mas se faz necessário ao “candidato” o conhecimento prévio do inglês (preferencialmente em nível avançado). É preciso conhecer, também, filmes, seriados, livros, etc., tudo que citei no início. Conforme as palavras da professora Ercília Hough, uma profissional que trabalha com isso há mais de vinte anos: “É imprescindível, para ser um bom tradutor para legendas e textos para dublagem, ter, pelo menos, formação universitária, de preferência nas áreas de Letras ou de Tradução, boa cultura geral, gostar de ler e não ter preguiça de fazer pesquisas, ter domínio do idioma estrangeiro da tradução, assim como da Língua Portuguesa, ter boa redação e saber digitar bem, com rapidez. Como normalmente é um trabalho diretamente ligado à televisão por assinatura e a cabo, o tradutor tem de cumprir rigorosamente os prazos, ser organizado e pontual na entrega dos trabalhos agendados”. É, a professora Ercília ministra um excelente curso realizado na XXI Century Traduções, em São Paulo. Você poderá obter mais detalhes acerca dele neste endereço: Mas prepare-se para muitas horas de prática, algumas noites em claro e bastante trabalho. No final, o trabalho, se bem feito, tornase uma obra de arte que excede ao simples termo tradução; é mesmo uma versão brasileira. E cuidado com a L.E.R., hein? KRULL: o clássico cult de 1983 completa 20 anos! Ele foi tachado de mera mistura dos universos de Guerra nas Estrelas, de O Senhor dos Anéis e da lenda do Rei Arthur. Para alguns, é uma colcha de retalhos repleta de citações e de situações destas obras, porém, Krull é um filme bacana, bem feito e tem vida própria; é mais do que alguns insistem em dizer. Os clichês, verdade seja dita, dão ao filme a cara de Frankenstein, contudo, é por causa do mito do herói que as coisas são assim. O mito do suposto homem comum que se descobre especial e que, auxiliado por um sábio, soma algo a si – isto é, adquire algo – reúne comandados, enfrenta dificuldades e regressa vitorioso, cheio de glórias. E tudo isso em um mundo que não é a Terra... “Um mundo a anos-luz da sua imaginação...” Estamos num tempo e espaço indeterminados, no mundo de Krull. Um belíssimo planeta habitado por humanóides que jazem numa escala evolutiva similar à Idade Média da Terra. Castelos, reis e cavaleiros preenchem as paisagens de lá. 80 O Redator d’A Arca Perdida O cotidiano de Krull é abalado quando a Fortaleza Negra, enorme nave espacial semelhante a uma montanha, chega ao planeta e pousa. A tal fortaleza é, na verdade, o domínio da Besta, um conquistador poderosíssimo, e do respectivo exército: os Slayers (“Assassinos” em Português). A Besta – as semelhanças para com o Sauron de Tolkien são inevitáveis – domina planetas e escraviza as formas de vida nativas. O exército dos invasores, diferentemente do povo local, é tecnologicamente superior – tem armas de raio laser, escala superfícies facilmente e locomove-se bem na água. Os dois reis mais importantes do planeta resolvem, então, juntar forças a fim de enfrentar o inimigo. Para tanto, decidem unir em matrimônio os filhos: o príncipe Colwyn (interpretado pelo – um tanto quanto – canastrão Ken Marshal) e a princesa Lyssa (interpretada pela bonitinha Lysette Anthony). Porém, na noite da cerimônia, a qual mais se parece com um rito druida, o exército de Slayers chega ao castelo, mata ambos os reis e todos os soldados, fere Colwyn e rapta a bela Lyssa. De fato, a Besta deseja, além de conquistar o mundo, desposar a noiva de nosso herói e torná-la a rainha de Krull. Na manhã seguinte ao ataque, Colwyn desperta ao lado de Ynyr, o “velho” (interpretado por Freddie Jones num papel que poderia ter sido melhor explorado), a cuidar-lhe de um ferimento. Ele chora por causa da morte do pai e pelo rapto da prometida, e está disposto a largar tudo, a entregar o reino; tamanho o desespero. Ynyr insiste KRULL: o clássico cult de 1983 completa 20 anos! 81 com o jovem que se tornou rei – muito a contragosto – e afirma que o mundo de Krull precisa ser salvo da Besta. Colwyn toma ciência da única arma capaz de deter o inimigo, o mítico Gládio (espécie de hirashuriken gigante e dotado de 5 lâminas), a qual somente pode ser empunhada pelo “escolhido”. O artefato, infelizmente, está num local de difícil acesso: numa caverna em um alto pico e submersa na lava. Segundo a predição de Ynyr: se Colwyn for mesmo o escolhido, irá até lá e voltará com o Gládio. Se não o for, sequer retornará. A partir desse ponto o mito do herói começa a tomar forma. A ciranda de personagens, aos poucos, é apresentada ao espectador: Ergo, o mago atrapalhado com coração puro e alma de criança (magistralmente interpretado pelo inglês David Battley), Rell (Bernard Bresslaw com o rosto todo maquiado), o misterioso e honrado ciclope capaz de prever a data da própria morte, Torquil (Alun Armstrong) com seu bando de ladrões e de saqueadores os quais, na verdade, têm boa índole e são corajosos (Liam Neeson, em início de carreira, está no meio deles!), dentre outras criaturas ímpares que apóiam o herói na perigosa jornada. Uma série de aventuras e alguns sobes-e-desces direcionam Colwyn à Fortaleza Negra, bem como ao conflito final contra a Besta. O Gládio, em todo esplendor, é finalmente mostrado! O charme de Krull A fotografia de Krull é deslumbrante e realmente digna das comparações com a obra de Tolkien. Longas tomadas de Colwyn a escalar montanhas e a cavalgar por verdes planícies são levadas ao extremo, excelentemente exploradas (a Globo, que ódio, cortou muitas dessas 82 O Redator d’A Arca Perdida cenas ao exibir o filme na Sessão da Tarde, durante os anos oitenta). Tem-se a impressão de que, realmente, as locações – na Grã-Bretanha e na Itália – foram escolhidas a dedo. Cada paisagem foi meticulosamente estudada, catalogada e utilizada no momento oportuno das filmagens. Aqui cabe um comentário: embora os cenários criados em estúdio tenham sido esmerados e muito bem produzidos (perfeitos até demais!), percebe-se com facilidade as transições entre as tomadas externas e as internas, especialmente se o filme for visto em DVD. É uma pena, portanto, que as cenas rodadas em estúdio tenham ficado um tanto quanto artificiais. A trilha sonora, composta por James Horner (de Jornada nas Estrelas II e III, Willow e Titanic), é outro espetáculo. Se Krull goza de certo charme e da posição de cult, também é devido ao trabalho do compositor. Horner explorou temas medievais e, para tanto, valeu-se do uso exacerbado de cordas e de metais bem acentuados. Há, por outro lado, trechos a la Guerra nas Estrelas, pois, afinal, trata-se de uma produção de Ficção Científica e Fantasia. É uma pena, mas o CD (duplo) dessa trilha foi lançado apenas nos E.U.A., em versão limitada e exclusiva, algo totalmente aquém dos bolsos tupiniquins. Os efeitos especiais, embora há 20 anos defasados, foram bem feitinhos e não fazem feio. O destaque vai para uma das seqüências finais em que a trupe cavalga as éguas de fogo, capazes de “perfazer mil léguas num dia”. É emocionante vê-los cavalgar sobre o ar, e constatar as chamas “brotarem” das patas das éguas. Os efeitos produzidos para o Gládio, é óbvio, também são muito bacanas. Krull é o exemplo de filme em que os efeitos servem ao enredo e não o contrário, como em muitas produções atuais. Capa e espada espacial? Algumas pessoas acham Krull um filme estranho, pois nele mistura-se aventura espacial à aventura tradicional. É mesmo esquisito, até surreal, ver cavaleiros a brandir espadas em meio a raios laser disparados para todos os lados. Porém, uma vez que a pessoa se KRULL: o clássico cult de 1983 completa 20 anos! 83 acostuma com o clima diferente, ela passa mesmo a gostar da idéia que, guardadas as proporções, foi inovadora à época. O diretor Peter Yates, também britânico, imprimiu ao filme boas doses de aventura, de entretenimento, de humor, de magia e de sentimento. Assistir ao Krull é uma experiência emocionante, especialmente se visto em DVD. Deixe-se levar pelo ritmo do enredo e pelos “capítulos” da história, que são apresentados paulatinamente. Acompanhe alguns dos personagens carismáticos, principalmente “Ergo, o Magnífico” e “Rell, o Ciclope”, por bandas que bem poderiam representar a Terra-média. Lute contra os Slayers, cavalgue com os heróis e sinta o vento a bater em seu rosto. Sinta o poder do Gládio em suas mãos. Participe dessa aventura sublime e ingênua, e sinta novamente aquele gostinho de Sessão da Tarde de quando éramos crianças nos anos oitenta. Difícil? Basta tentar! Difícil mesmo será voltar à Terra após tanta aventura... Curiosidades • Foram produzidos jogos eletrônicos baseados no filme. Há um jogo para Arcade (fliperama) e outro para o Atari 2600, ambos lançados em 1983. • Ken Marshal, o ator principal, nunca chegou a ver sua carreira decolar, tendo apenas participado de telefilmes e de poucos longas após o sucesso de Krull. • Existe uma arma fictícia cuja idéia foi retirada do Gládio e que foi usada na série “Xena, A Princesa Guerreira”. Como se vê, Krull “fez escola”. • Robbie Coltrane, intérprete de um dos “ladrões” que auxiliam Colwyn, recentemente atuou como o gigante Hagrid nos filmes da série Harry Potter. • Lysette Anthony, a princesa Lyssa, foi atriz principal de diversos clipes do cantor Bryan Adams, tais como “Run to You” e “Heaven”. Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo! Quem viveu nos anos de 1982 e de 1983 se lembrará, muito provavelmente, das peripécias de um agente secreto incomum e de seu atrapalhado ajudante. Trata-se das aventuras de Danger Mouse, produção inglesa que foi exibida pela Tevê Record naquela época, por volta das seis ou sete da tarde, e que mostrou o valente herói a enfrentar o asqueroso – literalmente – arquiinimigo. Relembre – ou conheça – o “maior agente secreto do mundo” através deste especial d´A ARCA e, portanto, prepare-se para enfrentar o rato detetive que deixou o famoso James Bond no chinelo, ou melhor, na ratoeira. UM AGENTE SECRETO BEM DIFERENTE O rato detetive Danger Mouse (não se sabe o nome real do sujeito) mora confortavelmente num red pillar box – aquelas caixas de correio inglesas cujo formato se parece com um poste vermelho (aparecem sempre em episódios de Mr. Bean), localizada estrategicamente numa esquina em Mayfair, Londres. O espaço da residência é dividido com o fiel companheiro – e escudeiro – Penaforte (Wilbraham Keith Benedict), um hamster atrapalhado, adorável e que sempre se mete em enrascadas. 86 O Redator d’A Arca Perdida Nem tudo são flores, pois Danger Mouse trabalha para uma organização secreta e tem como chefe o Coronel K, um leão-marinho mandão e exigente, cuja imagem projetada no videofone da casa denuncia a próxima missão que está por vir. O arquiinimigo do herói britânico é o Barão Silas Costa Verde, um sapo poderoso, astuto, inteligente e cheio de idéias más para dominar o mundo, e cujo capanga é um corvo italiano mal-humorado: Estilete. Costa Verde, além de dispor de idéias mirabolantes, produz diversos aparatos e máquinas malucas, especialmente criadas para o deleite de sua mascote, o bichinho Nero. Bem, não somente o Barão tem máquinas formidáveis: Danger Mouse em pessoa possui um carro super equipado – Speed Racer que se cuide! O veículo Mark III voa, submerge, suga como um aspirador, escala paredes e montanhas, salta e tem até um videofone embutido. O carro, necessário dizer, é uma das coisas mais legais do desenho. Juntos, herói e auxiliar procuram, a todo custo, deter o maléfico sapo inescrupuloso. A SÉRIE Danger Mouse foi criado por Brian Cosgrove e por Mark Hall, diretores e produtores cuja parceria gerou uma porção de produções inglesas nos anos setenta, oitenta e noventa, e dispôs dos comediantes e roteiristas Mike Harding e Brian Trueman, que escreviam os episódios. O programa, uma clara alusão à série britânica Dangerman (estrelada por Patrick McGoohan nos anos sessenta) e ao agente secreto mais famoso do Cinema, James Bond, teve 89 episódios e foi produzida de 1981 a 1992; marco histórico para uma série de animação. Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo! 87 Os produtores inovaram o tema ao misturar cenas reais ao acetato “comum” do desenho. Fotografias de diversas locações e de construções de Londres – e do mundo – foram usadas para ilustrar os cenários pelos quais passavam o agente secreto e seu ajudante, dando a cara de colagem ao que aparece na tela da tevê. Imagino a diversão disso para pessoas que conhecessem os locais em questão, uma vez que imaginariam ter visto determinado prédio, ponte ou casa conhecidos. É claro que, para os padrões atuais, a animação é deveras simples; mas esse fator, de forma alguma, denigre a qualidade dos enredos e das piadas. Curiosamente, Danger Mouse demorou a ser exibido nos Estados Unidos; estreou na tevê yankee somente em junho de 1984, três anos após o lançamento feito na pátria original. Infelizmente, o sucesso no mercado norte-americano não foi o mesmo; lá o desenho teve apenas uma aceitação mediana. Acreditem, caros leitores d´A ARCA: esse desenho é uma das produções britânicas mais exportadas da história da tevê. TUDO BEM, MAS É PARA CRIANÇA OU NÃO? Essa é realmente uma produção especial, repleta de situações inusitadas e com muito divertimento, além de inúmeras referências ao cinema, à tevê e à literatura, que somente acabam compreendidas por espectadores mais velhos. As citações são diversas: Alien - O Oitavo Passageiro, Dr. Who, Caçadores da Arca Perdida, 007 e demais. Outra peculiaridade marcante é o surrealismo que permeia os episódios, muitos dos quais totalmente nonsense. Há um capítulo, por exemplo, no qual Costa Verde passa a controlar todas as máquinas de lavar de Londres, usando-as para seus fins nefastos. Hilário e esquisito! As esquisitices dos enredos, aliás, fazem com que o programa se pareça com viagens ao inconsciente de um louco. Há alguns títulos pitorescos dados a alguns episódios: Close Encounters of The Absurd Kind (Contatos Imediatos do Absurdo Grau - sátira ao filme de Spielberg), The Good, The Bad and The Motionless 88 O Redator d’A Arca Perdida (O Bom, O Mau e O Imóvel - sátira ao título do filme de Sergio Leone); as gozações são infindáveis, verdade. Gosto de pensar acerca de Danger Mouse como se esse fosse uma mistura de Monty Python, Além da Imaginação, James Bond e os cartoons da Warner. A comparação menos direta, entretanto, tem a ver com produções como Os Simpsons e Futurama; desenhos criados, em tese, para crianças, mas que têm um pé na cabeça dos adultos. E isso fazia parte de Danger Mouse bem antes de Homer e de Bart aparecerem na telinha. AS VOZES BRASILEIRAS A dublagem ficou a cargo da Herbert Richers, no Rio de Janeiro, e foi dirigida por Mário Monjardim, um dos ícones da profissão. Além de dirigir, Mário dublou o Coronel K, assim como personagens ocasionais. Danger Mouse foi dublado por uma lenda, o falecido Nelson Batista, que também emprestou a voz para Jerry Lewis – na redublagem dos filmes do comediante feita nos anos oitenta – e recentemente para o ator Ed O´Neal, o Al Bundy da série Um Amor De Família. Penaforte teve a voz do também lendário Orlando Drummond (o Seu Peru da Escolinha do Professor Raimundo, além das vozes do Alf e do Scooby Doo). O capanga de Costa Verde, Estilete, teve a voz de Ionei Silva (o Mestre Dos Magos de A Caverna Do Dragão). Infelizmente, até o fechamento deste artigo não fomos capazes de descobrir o dublador do Barão Costa Verde, mas prosseguimos com a busca. Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo! 89 O que dizer da dublagem? Espetacular. A interpretação do herói, por exemplo, ficou melhor que a original, com timing e humor impressionantes. A dublagem brasileira, especialmente a realizada nos anos setenta e oitenta, quase sempre foi um trabalho artístico de primeira. Nota dez! QUER ASSISTIR? Danger Mouse foi bastante exibido na década de oitenta. Inicialmente transmitido pela Record no início da década, foi reprisado posteriormente pela Manchete, lá pelos idos de 1985 e 1986. Nos anos noventa, três fitas de vídeo seladas do desenho – com dublagem original – foram lançadas sob o selo Video Network, do Rio de Janeiro, as quais somente podem ser encontradas, hoje em dia, em sebos. Infelizmente, desde aquela época não se vêm mais as aventuras do agente secreto na televisão. Esse desenho deixou saudade; saudade de uma época em que a tevê gozava de programas originais e criativos, e em que bundas na telinha eram a exceção, não a regra. Galáctica Sabe-se que uma das maiores sagas espaciais de todos os tempos, Guerra nas Estrelas, tem influenciado muita gente por décadas. As produções a esse respeito – e há altos e baixos – são diversas, tanto no meio televisivo quanto no cinematográfico. Galáctica: Astronave de Combate é exatamente isso, um caso bem sucedido de produção baseada no visual de Star Wars, e na qual, ao invés da Força e do Império Galáctico, existe o drama de um povo em busca à sua terra prometida. Descubra qual o destino de Starbuck, de Apollo e do Comandante Adama neste especial d´A ARCA, concebido para vocês, caros leitores. OS CILÔNIOS E AS BATTLESTARS Numa época que se parece com o futuro, uma colônia de humanos, composta por 12 tribos (planetas), é atacada – após uma traição oriunda de um suposto acordo de paz – e dizimada por uma raça de seres metálicos conhecidos como Cilônios 92 O Redator d’A Arca Perdida (Cylons em inglês), contra os quais guerreiam há milênios. Essas criaturas, comandadas pelo Líder Imperioso, criaram um exército poderoso de robôs (os Centuriões), de naves e de bases espaciais, e atacaram os seguintes mundos humanos: Aeriana, Aquaria, Canceria, Caprica, Gemoni, Leo, Libra, Piscon, Sagitara, Scorpio, Taura e Virgon – coincidência ou não, trata-se dos nomes dos signos do zodíaco. Há um fato importante: muitos tomam os Cilônios como uma genuína raça de robôs (de seres mecanizados), mas esses, originalmente, eram seres orgânicos como nós, porém descendentes dos répteis. Realmente, tão escravos da tecnologia ficaram que precisaram mudar para sobreviver. Julgam-se os zeladores do Universo e pulverizam completamente qualquer raça se a integridade da vida, segundo parâmetros próprios, for ameaçada. Os humanos não se rendem facilmente, mas são quase que totalmente pulverizados pelos inimigos – superiores numericamente. Seis gigantescas naves de batalha, conhecidas como Battlestars, enfrentam os Cilônios num ataque espetacular, contudo, cinco dessas fortalezas são destruídas no evento: Atlantia, Acropolis, Columbia, Pacifica e Triton. Uma delas, por sorte – ou por causa do destino maior a ser cumprido – sobrevive. A série em questão é justamente sobre as aventuras da tripulação da Galáctica, ora a enfrentar os Cilônios, ora a procurar sobreviver em meio a tantas dificuldades, mas sempre em busca do objetivo comum. A TERRA PROMETIDA E ALEGORIA JUDAICA Os poucos humanos sobreviventes e destituídos de seus lares, a bordo da Galáctica e de algumas velhas naves de carga adaptadas para o transporte, seguem, então, numa frota espacial em busca à terra prometida, a qual permeia mitos e lendas daquele povo. Durante a viagem, enfrentarão a falta de recursos como comida, remédios e higiene. Galáctica 93 A tal colônia perdida, o espectador vem a saber, é a Terra; sim, o nosso planeta. A Terra seria o décimo terceiro planeta colonizado pela Humanidade original – cujo planeta natal é Kobol – que previamente habitou outros mundos antes de espalhar a vida pelo planeta azul. Assim como crêem alguns ufólogos e estudiosos reais, os terráqueos, em Galáctica, também têm sua origem extraterrestre. Assim sendo, representantes das 12 colônias destruídas seguem, protegidos pela Battlestar, ao encontro de seu destino distante no espaço sideral, quase como numa alegoria à viagem das 12 tribos judaicas à terra prometida de Israel após a saída do Egito – outra coincidência? A nave é comandada pelo sábio Comandante Adama (o falecido Lorne Greene numa interpretação fantástica) e dispõe de figuras ímpares na tripulação, como o fanfarrão Tenente Starbuck (Dirk Benedict), o Capitão Apollo (Richard Hatch) e a bela Athena (Maren Jensen). Do lado dos malvados temos um humano que traiu a própria espécie em favor dos Cilônios, Conde Baltar, interpretado pelo ótimo John Colicos. Apollo, importante ressaltar, é um dos filhos de Adama. 94 O Redator d’A Arca Perdida Os episódios, apesar de focados essencialmente nas dificuldades enfrentadas pelo grupo, têm um pouco de tudo: drama, ação, humor, fantasia, amor e ficção científica, claro. Alguns dos capítulos, apesar da temática principal, mostram tripulantes da Galáctica em missões de salvamento noutros planetas ou lugares, como no episódio The Young Lords - no qual Starbuck auxilia um grupo de crianças em busca ao pai. GLEN A. LARSON & A CRIAÇÃO DA SÉRIE Galáctica foi desenvolvida pelo mago criador Glen A. Larson, autor de muitas das séries de sucesso dos anos oitenta, tais como Magnun (1980), Duro na Queda (1981), A Super Máquina (1982), Automan (1983), Manimal (1983) e tantas outras saudosas produções televisivas daquela época. Ela foi lançada em 1978 com o piloto - de três horas de duração - Saga of a Star World - e exibida pela ABC até 1979. Depois, esse primeiro episódio foi editado, compactado e lançado como um longa-metragem cinematográfico no mesmo ano. Larson, além de roteirista, atuou como produtor executivo. Detalhe interessante: John Dykstra, produtor dos efeitos especiais de Star Wars, desempenhou também o mesmo papel em Galáctica. Outro dos nomes de peso foi o produtor Don Bellisario, famoso por trabalhar em programas como Magnum, Águia de Fogo e Contratempos. Quanta gente importante, não? É claro que a febre de Guerra nas Estrelas, iniciada em 1977, foi motivação clara para a criação de Galáctica, cuja estética visual, de fato, seguiu a mesma linha da saga de Luccas: combates espaciais, lasers, saltos ao hiper-espaço, naves as mais diversas, alienígenas, dentre outras facetas manjadas pelos fãs do gênero. Os efeitos visuais, aliás, foram bem desenvolvidos, levando-se em conta aquele período. Galáctica 95 As seqüências de decolagem e de pouso dos caças Viper são antológicas, além, é claro, dos combates espaciais contra os caças Cilônios. Infelizmente, devido ao orçamento apertado (um milhão de dólares por episódio), muitas dessas cenas foram reaproveitadas à exaustão, dando aquele gostinho de “eu já vi isso na semana passada”. Em 1979, a produção ganhou um Emmy pelo design dos uniformes, realmente muito bacanas. A trilha sonora, a cargo de Stu Phillips, apesar de não ser tão original assim – John Williams que o diga – fica facilmente gravada na cabeça do espectador. Em 1978, produziu-se outro longa-metragem, o segundo, intitulado como Mission Galactica: The Cylon Attack, no qual outra Battlestar supostamente destruída, a Pegasus, aparece para auxiliar a Galáctica num momento crítico. Infelizmente, a série gozou de apenas uma temporada com 24 episódios, sendo cancelada em 1979. No Brasil, o seriado foi exibido no final dos anos setenta e no início dos anos oitenta pela Globo, nas tardes de domingo, e foi dublada nos estúdios da Herbert Richers. Posteriormente, mas ainda no início daquela década, foi transmitida pela Record aos sábados à noite. Por fim, nos anos noventa foi reprisada pela extinta Manchete, também com a dublagem original, nas tardes dos dias de semana. Uma das opções aos que queiram ver o seriado: foi recentemente lançada nos E.U.A. uma caixa especial em DVD que contém todos os episódios - restaurados digitalmente. GALÁCTICA 1980 & REVIVALS Em 1980, a aventura espacial foi trazida de volta por meio de uma nova produção na qual Larson atuou apenas como produtor executivo, não como roteirista, Galáctica 1980. O enredo mostra, afinal, o encontro da Galáctica com a terra prometida, ou seja, retrata a tão sonhada chegada ao nosso planeta. Contrariamente à crença dos personagens, a Terra da década de oitenta é tecnologicamente atrasada e, justamente por isso, seria impossível esperar da humanidade terrestre a ajuda necessária para deter os Cilônios. E pior: esses seguiram a nave e desejam invadir o planeta. 96 O Redator d’A Arca Perdida Com episódios fracos, enredos confusos, e destituído de alguns personagens originais – Adama foi um dos poucos a ficar – o seriado teve apenas 10 capítulos e foi logo cancelado. Durante os anos noventa, o intérprete de Apollo, Richard Hatch, encabeçou um projeto para trazer de volta à tevê a série original e chegou a escrever cinco livros a respeito. Em 1999, produziu um trailer através do qual pretendeu mostrar ao pessoal da Universal como seria a nova Galáctica, The Second Coming, com efeitos especiais atualizados e enredo mais denso. O projeto não emplacou, apesar dos esforços do ator e de muitos colaboradores. Neste ano, 2003, após diversos ensaios e especulações, a produção foi novamente revivida, mas pelas mãos de Ronald Moore, roteirista de 27 episódios de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração e produtor executivo de Deep Space Nine. Moore escreveu o argumento e Michael Rymer (de A Rainha dos Condenados) dirigiu essa minissérie que prometeu novamente trazer as aventuras de Adama (Edward James Olmos) e Apollo (Jamie Bamber), mas para o público adulto que assistiu aos episódios originais quando criança. Essa produção, supostamente “séria”, é inédita no Brasil e estreará no dia oito de dezembro nos E.U.A. A verdade? Os fãs estão temerosos, pois, pelo que consta, inúmeras alterações à série original foram feitas - como a transformação do personagem Starbuck em mulher. O que mais dizer sobre Galáctica? Era uma série deliciosa de se ver, especialmente quando éramos crianças ou pré-adolescentes. Apesar do caráter mítico, representado pela busca à terra prometida (nada mais é que a nossa própria busca interior), é óbvio, os enredos são simplórios, os personagens se mostram pouco desenvolvidos, e as tramas, comuns; mas, como em toda produção de Glen A. Larson, os mocinhos, carismáticos em demasia, carregam todo o mérito. É uma série muito bacana e que deixa saudades; saudades daquela época em que as produções televisivas eram ingênuas, e de quando torcíamos para que nossos heróis galácticos abatessem os Cilônios “daquele dia” - a fim de que, depois, tomássemos banho, jantássemos e fôssemos dormir. E quem sabe sonhar que fosse o Apollo. Que saudade! John Matuszak: cruisin’ with the tooz John Matuszak. John Matuszak. John Matuszak? Quem é John Matuszak? O americano comum, de meia idade, é capaz de se lembrar deste nome. O brasileiro comum, todavia, nem imagina quem tenha sido este, um dos maiores nomes do futebol americano. No que diz respeito a nós, fãs de cinema, ele foi o intérprete de Sloth em Os Goonies, talvez um dos personagens mais queridos da década de oitenta. Cruisin’ with the Tooz (Passeando com o Tooz), obra autobiográfica (editora Franklin Watts, 1987) escrita em parceria com o jornalista Steve Delsohn, traz ao leitor, especialmente ao fã de futebol americano, histórias pessoais do autor (Tooz é o apelido que ganhou por causa da sonoridade do sobrenome polonês), memórias e curiosidades, além de um lado sombrio daquele esporte tão famoso nos EUA. Lembranças de Matuszak em pessoa, jogador de defesa por quase vinte anos, agraciado com duas vitórias no famoso Super Bowl, e uma lenda da equipe Oakland Raiders. O uso constante de analgésicos durante as partidas, a fim de conter a dor freqüente, a camaradagem especial entre os jogadores, curiosidades acerca do 98 O Redator d’A Arca Perdida esporte e das regras do mesmo, casos engraçados vividos dentro e fora do campo, festanças com mulheres e drogas, depoimentos sobre técnicos (como o famoso John Madden) e amigos de profissão (Ken Stabler, Fred Biletnikoff, Phil Villapiano, Ted Hendricks, Joe Namath), e outras particularidades são reveladas. Aos cinéfilos, especialmente, reservou-se o capítulo final: Tooz Goes to Hollywood. As páginas do epílogo contam, rapidamente, a trajetória de Matuszak no cinema, carreira pela qual nutriu igual simpatia ao interpretar personagens em filmes como North Dallas Forty, Caveman (ao lado de Ringo Starr), Ice Pirates e o já citado Os Goonies. De Sloth, por exemplo, ele conta curiosidades interessantes, tais como o tempo que levava para ser maquiado como o deformado irmão dos Fratelli (cinco horas ininterruptas), e faz comentários elogiosos sobre Richard Donner (diretor da película) e Steven Spielberg (produtor e criador da história). Infelizmente, permaneceu o sentimento de tristeza, de querer saber o “fim” da história, já que Matuszak faleceu aos 38 anos de idade, dois após o lançamento do livro, vítima de parada cardíaca. Segundo as más línguas, Tooz judiou em demasia do próprio corpo ao consumir, com frequência ou esporadicamente, analgésicos (novocaína), bebidas alcoólicas, drogas (cocaína), pílulas para dormir e, fã de levantamento de peso e de musculação, alguns esteróides. Um acidente bobo em que lesionou a coluna, responsável pela contrariada aposentadoria do atleta em 1982, parece não ter sido o suficiente para que “sossegasse”. O livro foi escrito em linguagem informal e divertida, uma leitura leve, quase como uma conversa entre Matuszak e o leitor em que confidências são reveladas. Os brasileiros que conhecerem bem o futebol americano certamente aproveitarão mais a obra, claro. Há, também várias páginas cheias de fotos da vida e da carreira do homem, que media 2,03 metros e pesava 140 quilos. Matuszak parece ter sido daquele tipo de pessoa bacana, amiga e direta; da espécie que se leva para casa para um bate-papo divertido entre amigos. Era o oposto de sua imagem ameaçadora: um gigante gentil. “Sloth quer chocolate!”. Hellboy Demônios como personagens principais não são novidade. No século XVII, o inglês John Milton concebeu sua obra-prima, Paraíso Perdido, na qual deu voz ao Lúcifer decaído e humilhado por um Deus vingativo, malvado. Johann Goethe igualmente flertou com o tridente. Mas não apenas na literatura vivem os belzebus e suas inversões de valores morais. Uma curiosa criação underground do cartunista Mike Mignola, lançada em 1993 pela Dark Horse Comics, é o exemplo recente e notório desse tipo de anti-herói cultuado por muitos. Hellboy, que literalmente significa Garoto-do-Inferno, surgiu na etapa final da Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas recorreram ao ocultismo a fim de tentar reverter o quadro de derrota iminente. Além de deterem os melhores cientistas da época, os alemães também dispuseram dos mais fantásticos bruxos e satanistas. Durante o ritual mais bizarro, batizado como Ragna Rok, uma criança de pele vermelha e de longa cauda materializou-se remotamente à frente de uma equipe especial de paranormais britânicos em uma velha igreja da Bretanha. Ironia do destino? A experiência alemã teria fracassado? O menino, por não ter aonde ir, cresceu sob a tutela do professor Trevor Bruttenholm (um dos que presenciaram o aparecimento do diabinho), o idealizador do Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal; uma entidade secreta responsável pela vigilância dos seres do além e por observar coisas 100 O Redator d’A Arca Perdida estranhas que repousem entre o Céu e a Terra, tais como vampiros, bruxas, maldições, aparições, espectros, criaturas lendárias e gigantes mitológicos. Hellboy, de fato, tornou-se o mais importante e experiente agente da organização, depois de renegar a si mesmo. Arrancou, com as mãos cruas, os próprios chifres pontiagudos, e, com o coração, a natureza maculada. Ao lado do Homem resolveu ficar, tamanho afeto e grande dedicação recebidos de seu mentor. O ex-chifrudo, verdade seja dita, somente consegue bom desempenho em suas missões por que tem força sobre-humana, além de uma poderosa pistola (a “Samaritana”), do enorme braço - direito e misterioso - feito de pedra, de amuletos e de relicários diversos, e do péssimo hábito de blasfemar. Além do arsenal, o vermelhão vive acompanhado dos colegas Abe Sapien, o alienígena encontrado misteriosamente dentro de uma cápsula, e Liz Sherman, a médium que põe o fogo ao seu serviço. Os leitores mais velhos costumam adorar o personagem, uma vez que os enredos são “adultos” e bem interessantes, como a historieta em que Hellboy enfrenta o Vârcolac, uma espécie de vampiro gigante da Romênia que, de tão grande, é capaz de sugar a Lua, o que seria o real motivo dos eclipses. História, mitologia, teologia, mistérios, humor e muita ironia são os outros temas observados nas páginas da revista, que no Brasil vem sendo editada pela Mythos Editora; a mesma da revista Mad. Mas atenção, o real propósito de nosso anti-herói e daquela mãozorra de pedra, bem como a identidade do bruxo que o trouxe do Inferno, são o que de mais interessante há para se descobrir. É claro que o Burburinho não fará a grande revelação a vocês, caros leitores. Descobrir é muito mais divertido. E aí? Terão a coragem de ficar cara-a-cara com o capeta? Tron Quem estiver com 30 ou 35 anos, possuirá lembranças de como foi a infância da eletrônica digital no início dos anos oitenta: os primeiros computadores, vídeo games e máquinas de fliperama. Tudo, absolutamente tudo tinha aquele frescor característico, o gostinho da originalidade somente experimentado por quem teve a sorte de viver – criança ou adolescente – naquele período da história. Tron, o primeiro filme a usar computação gráfica de forma intensa, foi lançado pela Disney justamente naquela época, em 1982, quando a criançada lotava os fliperamas para jogar Zaxxon, Centipede, Defender e Donkey Kong. O enredo traz Kevin Flynn (Jeff Bridges em início de carreira), astuto programador de computadores e criador de diversos jogos eletrônicos, tais como o Space Paranoid. Infelizmente, o tapete de Flynn foi puxado por um programador mais velho e influente, Ed Dillinger (David Warner); executivo que sabotou o trabalho do primeiro, apossou-se dos jogos, apagou possíveis pistas de acusação e mexeu os pauzinhos para que o jovem fosse demitido da megacorporação ENCOM. MCP: O BIG BROTHER COMPUTACIONAL? Dillinger, então, tornou-se famoso na empresa e muito poderoso também. A ENCOM, aliás, detinha um supersistema de computação controlado pelo software MCP, o Master Control Program, uma 102 O Redator d’A Arca Perdida espécie de “ditador digital” repleto de dados sobre as mais variadas informações, bem como um gerenciador de cada software inserido no sistema. Em certa noite, porém, o programador descobre que está sendo manipulado pelo MCP – desejoso de mais poder – e que esse também pretende conquistar o mundo real, mas por meio da influência eletrônica e das redes de computadores. Flynn, que após a demissão abriu um Arcade (fliperama), não admitiu o infortúnio que lhe aconteceu. O desejo por vingança era incontrolável e somente pensava sobre possíveis maneiras de invadir o sistema da ENCOM, pois pretendia desmascarar aquele mau-caráter e provar a própria inocência. Ao receber a visita dos amigos - ex-companheiros de empresa - Alan Bradley (Bruce Boxleitner) e Lora (Cindy Morgan), contou-lhes a respeito de seu novo plano de ação e foi encorajado por eles a prosseguir, uma vez que ambos estavam descontentes com a nova política de vigilância extrema de Dillinger e do MCP. UM MUNDO DIGITAL EM 1982 Auxiliado por eles, Flynn entra no complexo da ENCOM e tem acesso a um dos terminais do computador. Após alguns minutos de trabalho, o programador acaba distraído pela misteriosa voz do MCP e, quando menos espera, é digitalizado (por meio de um projeto experimental) e sugado para dentro do supercomputador da empresa. A cena em questão é formidável! A partir desse ponto, tudo muda no filme. Flynn “cai” num novo mundo, que é esplêndido e fala por si, tanto que não há quaisquer explicações sobre o porque das coisas se apresentarem daquela forma. Luzes, cores, raios, movimento e ação por toda parte. Flynn descobre-se num lugar que, embora velho conhecido do programador, mostra-se algo novo e ímpar. Humanos “virtuais” caminham por microchips, interagem com impulsos elétricos, vestem-se de luzes e dirigem veículos tridimensionais. Preso e detido, ele conhece dois sujeitos, ou melhor, programas: RAM (interpretado por Dan Shor) e Tron (interpretado por Bruce Tron 103 Boxleitner). O último foi programado pelo amigo de Flynn, Alan, que teve seu programa detido por Dillinger. Sark (representado por David Warner), o assecla maior do tirano, também passa a conhecer o intruso e a tentar liquidá-lo. Apesar da beleza exótica do local, nem tudo são flores: o MCP controla o ambiente com bits, ops, com mãos de ferro. Os desafetos do ditador são postos em violentos vídeo games no Game Grid. E não poderia ser diferente com Flynn. O humano é preso e colocado para digladiar contra outros detentos. A antológica cena da corrida de motos, as Light Cycles, de tão formidável entrou para os anais do cinema. Juntos, os três acabam por escapar e principiam a derrocada do MCP, depois de muitos eventos e ação fantástica. O PIONEIRO DA COMPUTAÇÃO GRÁFICA Tron apresentou o primeiro mundo digital já retratado. Antes, tal mundo só poderia ser imaginado como uma das obras de Júlio Verne. O filme, portanto, criou um paradigma para esse tipo de produção, copiado exaustivamente até os dias atuais (basta assistir a produções como Automan, Passageiro do Futuro e que tais). Atualmente, apesar de aparentar um óbvio visual levemente antiquado e recheado com sonoplastia a la Pac-Man, o plano virtual lá retratado impressiona o espectador mais chato e exigente. Na época, tal feito da Disney foi realizado por computadores do tipo Cray 1/S da empresa Triple I: máquinas que ocupariam a sala de uma residência, imaginem. E isso não é tudo! Em muitas das cenas, atores reais contracenaram 104 O Redator d’A Arca Perdida no mundo digital com objetos igualmente digitais, num processo em que se misturou as duas fontes de imagem de forma convincente. É espetacular! Syd Mead, conhecido designer de produções como Blade Runner e Yamato 2520, foi o responsável por criar boa parte do visual do filme, assim como alguns dos veículos: os tanques, as Light Cycles, o CPU e o cruzador de Sark, por exemplo. Talvez fosse mesmo mais fácil atingir o imaginário do espectador em 1982, pelo menos no que tange à informática. No início dos anos oitenta, os computadores – e tudo o que os envolvia – eram misteriosos às pessoas, uma vez que a máquina, diferentemente do que houve de uns tempos para cá, não fazia parte do dia a dia de todos nós. Atualmente, talvez, a molecada não se impressione tanto com o enredo da película como nós nos impressionamos à primeira vista. Os jovens sabem bem o que um computador é ou não capaz de fazer. Para a molecada de hoje, viciada em jogos 3D e em Internet, as ações de Flynn e de Tron podem parecer ingênuas demais, e o mundo digital, mal renderizado. A trilha sonora, composta por Wendy Carlos (de O Iluminado e de Laranja Mecânica), foi fator determinante para tornar ainda mais real a concepção do lugar governado por MCP. Temas interpretados com sintetizadores e orquestra deram vida aos temidos veículos que perseguem Flynn – os Tanques e os Reconhecedores - e sua trupe pelos quatro cantos do computador. Durante muito tempo a trilha esteve indisponível em CD, uma vez que as fitas master originais degradaram-se sobremaneira devido à passagem do tempo. Por ocasião do vigésimo aniversário do filme, elas foram recuperadas e o CD pôde ser lançado. O PRECURSOR DE MATRIX? Tron, por outro lado, não é algo “cerebral” como Matrix. Não há quase questionamentos existenciais, porque o forte da produção está na imagem e na ação. O pouco que há, mistério proposital ou mero detalhe casual, é o curioso fato dos atores representarem a si Tron 105 mesmos tanto na vida real quanto na digital (Alan Bradley e Tron têm o mesmo rosto. Dillinger e Sark, idem). Esse detalhe nos remete a uma ligação para com o clássico Mágico de Oz. Foi proposital? Outro detalhe: existe a crença por meio da qual os programas acreditam em “algo maior”, no Usuário, como se esse fosse uma divindade e pudesse libertar a todos. A destituição do MCP soa quase como uma profecia dentre os escravizados por ele. Uma pena que esses detalhes tenham sido muito mal explorados e, portanto, meramente citados. As demais deficiências da película, complementemos a informação, têm a ver com um roteiro deveras confuso, com personagens fracamente desenvolvidas e com diálogos vazios demais. Eu recomendo a vocês, leitores, o filme Tron. Recomendo-o pela audácia de seus criadores, pelo caráter de novidade que teve à época e para que sintam o que os computadores eram capazes de executar na dita infância do setor, há 20 anos. Tron, apesar de certos desagrados, é um clássico dos anos oitenta e também diversão garantida! CURIOSIDADES DE TRON • Bruce Boxleitner, intérprete de Allan Bradley e de Tron, atuou como Capitão John J. Sheridan na série de tevê Babylon 5, sucesso da década de noventa. 106 O Redator d’A Arca Perdida • Steven Lisberger, escritor e diretor de Tron, dirigiu menos de dez filmes em sua carreira. • Os tipos de efeitos criados para o filme, no computador Cray, foram batizados de SynthaVision. • Todas as filmagens “reais”, as que retrataram os humanos no suposto interior do computador, foram captadas em branco e preto, e posteriormente colorizadas por um processo conhecido como Rotoscopia. • Durante a realização de Tron, jogos de fliperama baseados em alguns sketches de pré-produção foram lançados. Isso deixou alguns deles ligeiramente diferentes da versão final do filme. • Na época foram lançados, também, jogos baseados no filme para alguns vídeo games, como o Atari e o Intellivision. Tron: Deadly Discs, Tron: Maze-A-Tron, Tron: Solar Sailer e Adventures of Tron foram alguns dos títulos disponíveis na ocasião. • O computador Cray era capaz de processar 1 frame a cada 11 minutos. São necessários 24 frames para compor 1 segundo de animação. Cada seqüência do filme chegava a tomar meses de processamento de uma máquina. • Peter O´Toole desistiu dos papéis de Dillinger e Sark ao descobrir que atuaria em frente a um fundo preto. • Tron custou 17 milhões de dólares e faturou apenas 33 milhões. E.T., por exemplo, faturou 701 milhões e custou apenas dez. Pode-se dizer, portanto, que o filme foi um fracasso de bilheteria. • Na baia de trabalho de Kevin Flynn há um adesivo no qual está escrito: Gort - Klaatu Barada Nikto. Esse texto é uma clara alusão ao filme O Dia Em Que A Terra Parou, clássico da ficção científica. • Steven Lisberger revelou que o nome da película foi retirada da palavra Electronic. • Apesar do fracasso inicial nas bilheterias, os jogos de fliperama e de vídeo games baseados no filme fizeram o tremendo sucesso, e faturaram mais do que o próprio. Entrevista com Guilherme Briggs Transformers, O Filme Confira a entrevista exclusiva concedida para o Aumanack. Ele tem sido um dos dubladores mais atuantes do cenário brasileiro há pelo menos dez anos. É talentoso, divertido, humilde e extremamente bom no que faz. Estamos falando de Guilherme Briggs, a voz de personagens tão distintos quanto Freakazoid e Optimus Prime. Sim, Guilherme dublou o líder dos Autobots em quatro oportunidades, inclusive no novo filme dos Transformers que estreará nesta sexta-feira, dia 20, em circuito nacional. O Aumanack bateu um papo bem legal com Guilherme, focado exatamente na película dos robôs que se transformam. Além de dublar, ele dirigiu a dublagem no estúdio Delarte, no Rio de Janeiro. Com vocês, o Líder Optimus, Guilherme Briggs. Aumanack: Guilherme, você é a pessoa que mais dublou o Líder Optimus, tendo interpretado o personagem em quatro oportunidades diferentes. Antes de dublá-lo, conte para a gente que tipo de ligação tinha com os personagens. Você era fã? Assistiu ao desenho à época? Qual, em sua opinião, era o “tchan” dos Transformers? Guilherme Briggs: Transformers faz parte daquele imaginário dos anos oitenta que tanto nos fascinou. Era a época do início dos vídeo-jogos e do auge dos jogos de tabuleiro como Detetive, Banco Imobiliário e War, dos bonecos do Falcon, da revista MAD, do Pica-Pau, dos Trapalhões na TV. No cinema tínhamos Indiana Jones, Guerra nas Estrelas, 108 O Redator d’A Arca Perdida Goonies, Karate Kid, De Volta para o Futuro, Caça Fantasmas. Nas lojas de brinquedos, além dos próprios bonecos de Transformers (que só ficaram com seus passados e origens conhecidas quando lançaram os quadrinhos no Brasil), vendiam o Genius, Merlin, Vitrolinha Phillips, Ferrorama, Playmobil... Enfim, uma época mágica e inesquecível. O líder Optimus fazia parte do grande panteão de heróis míticos de minha infância, juntamente com o Speed Racer, com os personagens de Patrulha Estelar, Kirk, Spock e McCoy (de Jornada nas Estrelas) e os heróis Marvel e DC. Por isso, quando falo do Optimus ou de Transformers, sempre vem uma onda de nostalgia, de finais de tarde de brincadeiras, de lanchinhos preparados pelas nossas mães e avós, de revistas em quadrinhos espalhadas pela cama. Faz parte de um inconsciente emotivo muito forte. Uma coisa que eu sempre percebi em Transformers foi uma espécie de influência Arthuriana nos personagens. Optimus é visivelmente o Rei Arthur, que carrega em si próprio uma espécie de Escalibur (Matriz da Liderança) e inspira a todos, que o servem por vontade própria, com profundo carinho e reverência, como a um grande pai protetor e sábio. Como sempre fui apreciador de arquétipos, de mitologia em geral, vi em Transformers várias influências muito interessantes e inteligentes, além do fato de ser o desejo de todo menino ter um carro que se transforma em seu melhor amigo de metal... AM: Conte-nos em quais séries dublou o Líder e, caso se lembre, as facilidades e dificuldades de cada série. Qual seu Prime favorito? GB: O meu favorito de dublar foi o Optimus do filme de cinema. Foi extremamente emocionante poder ver a materialização de um sonho de criança em película, na tela grande, sentir a interação dos Entrevista com Guilherme Briggs – Transformers, O Filme 109 Autobots com os humanos em um filme, com um realismo e estilo fantásticos, assombrosos. O Optimus Primal, de Beast Machines, vem depois, pois foi o que aprofundou mais a psique do personagem, mas mesmo assim, não tanto quanto deveria, acho que ficou devendo muito, infelizmente. Eu achei que os Optimus em Robots in Disguise e Armada poderiam ter sido mais complexos, mais explorados, ficaram fracos em minha opinião. O melhor Líder é sem dúvida o da G1, que eu não fiz, que foi maravilhosamente bem dublado pelo grande Celso Vasconcelos e depois pelo saudoso Darci Pedrosa, não há o que se discutir, clássico dos clássicos. AM: Sabemos que conheceu o dublador original do Optimus da G1, o Afonso Celso de Vasconcellos, atualmente aposentado. Como aconteceu isso? O que sentiu? GB: Eu conheci o Celso durante uma convenção de fãs de Transformers chamada TRANSCON, nós fomos chamados para palestrar. Foi muito bom poder entrar em contato com quem realmente curtia e conhecia a série, ouvir suas opiniões, responder suas questões e dúvidas, exibir um making of da dublagem de Robots in Disguise, divertindo todos com minhas palhaçadas e loucuras. O Celso é uma pessoa muito madura, na dele, tranqüilo, muito vivido e experiente. Gostei muito de absorver essa experiência dele e escutar seus “causos” da época em que ele dublava. Transformers acabou tendo uma conexão emocional ainda mais forte, pois foi justamente nesta convenção que eu conheci pessoalmente a minha querida esposa Fran. Antes, nós nos correspondíamos pela Internet, éramos amigos apenas e combinamos de nos encontrar durante a minha palestra. Foi amor à primeira vista... ^__^ AM: Como se envolveu na direção e na dublagem do filme dos Transformers? Como o trabalho “caiu na sua mão”? GB: O meu chefe, Sergio De la Riva, diretor da Delart, empresa de dublagem que eu trabalho como diretor de dublagem e dublador me chamou em sua sala e me entregou o material do filme, para meu total espanto e alegria. Falou algo do tipo: “Esse filme que vou te dar é a sua cara”, me deixando completamente sem voz... Meu Deus, Transformers, 110 O Redator d’A Arca Perdida o filme de cinema?? Só sei que quando cheguei em casa, comecei a imediatamente assistir, ler, relembrar e pesquisar absolutamente tudo que eu tinha da série. Li o script original no mesmo dia, assim como o filme, que estava cheio de travas de segurança e telas escuras, para evitar a pirataria. Foi uma emoção parecida quando vi, pela primeira vez, o Episódio I de Star Wars, pois iria traduzir para cinema. Um impacto fulminante, você até escuta o coração batendo forte pelo pescoço! AM: Os fãs têm sempre o desejo de ver as vozes originais do desenho animado clássico, a G1, nas produções mais recentes. Como foi o processo de escalação dos dubladores? É verdade que você conseguiu dois dubladores clássicos? Conte tudo para a gente! GB: Quando eu recebi os testes de voz para os Autobots e Decepticons nem pestanejei, já fui convocando o José Santacruz para o Megatron e o José Santana para o Starscream. Uma coisa que eu achei muito legal da parte dos produtores americanos e da equipe do Michael Bay, foi que eles enviaram vários formulários com questões sobre os dubladores convocados. Além de requisitarem biografias anexas, para que pudessem comprovar a experiência de trabalhos posteriores dos dubladores brasileiros, a produção do filme de Transformers fez questão de saber se eu estava escalando algum ator que já tivesse dublado algum personagem clássico dos desenhos animados. Eles fizeram questão até de saber o motivo de ter e/ou não ter chamado tal dublador. Por exemplo, no Ironhide, eu tive que explicar que não pude chamar o dublador clássico do personagem pois já era infelizmente falecido (no caso, o saudoso André Luiz). José Santana e José Santacruz ficaram muito felizes em encarnar após muitos anos seus personagens, ao mesmo tempo em que ficaram impressionados com a mudança estética e com os efeitos especiais modernos, que são realmente assustadores. AM: Há algum “causo” engraçado da dublagem do filme que você queira comentar? GB: Olha, tem vários, pois dublar o filme de Transformers foi uma verdadeira delícia. Foi cansativo, exaustivo, tivemos um tempo curto, tivemos que dobrar períodos, começando 8 da manhã e indo até quase 2 da manhã, no último dia, mas... Valeu a pena! Parece que todos os Entrevista com Guilherme Briggs – Transformers, O Filme 111 dubladores estavam inspiradíssimos, tivemos uma iluminação grupal, ficaram todos excelentes, estavam todos alegres, empenhados e com muita vontade de fazer um trabalho com qualidade, para a minha total alegria. Eu curti demais com meu querido amigo Sérgio Cantú fazendo o Sam Witwicky. Era muito divertido soltar uns cacos e ver como ficava gravado depois. Por exemplo, o Optimus soltando sonoros palavrões quando encontrava Megatron ou o Sam falando barbaridades eróticas pra Mikaela, essas besteiras que aliviam e relaxam a gente, depois de um dia puxado de gravação. Eu mesmo imitei o Sílvio Santos no Optimus, chamei o Jazz de Roque (“Ma-ma-ma Roque, vem pra cá, vem pra cá, meu colega Autobot...) e o meu maravilhoso e talentoso amigo Mauro Ramos gravou uma versão onde o pai do Sam falava, por exemplo, que o quintal estava em petição de miséria, que tinha até mosquito da Dengue. Eu morri de rir quando processamos digitalmente a minha voz e a voz do Sérgio Cantú e deixamos elas com timbres femininos através de filtros especiais. O engraçado foi que eu fiquei com a voz igualzinha a de uma senhora dubladora colega nossa, a Geisa Porto (que dubla a Izma de A Nova Escola do Imperador e a Nova Onda do Kronk, da Disney) e o Sérgio ficou com voz de... garota gostosa!!!! Dá pra acreditar nisso? O próprio Serginho falou “Humm, eu ficava comigo mesmo com essa voz, heim?” (risos). AM: Lá vai uma pergunta capciosa: quando a gente fala de desenhos dos anos 80, sempre títulos como “He-Man”, “Thundercats” e “A Caverna do Dragão” são automaticamente lembrados. Na sua opinião, por que “Transformers” acaba sendo deixado para quarto ou quinto lugar na escala de “lembranças”? GB: Eu realmente não sei, pois tenho na memória os Transformers na mesma intensidade que os outros desenhos. Tá, é claro: menos Ursinhos Carinhosos, ninguém merece essa tortura. Eles eu deixo para o 112 O Redator d’A Arca Perdida Ironhide exterminar para sempre, pois o meu amigo precisa praticar a mira com seus canhões cybertronianos, sabe? AM:Você acha que o filme vai agradar aos fãs hardcore da G1, ainda que os robôs tenham ganho design diferente do desenho animado? GB: Olha, pelo que eu soube, o Michael Bay tinha encomendado vários testes de animação, inclusive com o design antigo, aqueles corpos dos Transformers mais caixotão mesmo e o resultado não funcionou, acabou ficando parecido com os robôs de Power Rangers, não passa tanta veracidade como deveria. Eu acho que os detalhes clássicos foram mantidos, para termos a identificação imediata, com o acréscimo de características únicas (e polêmicas) como foi o caso da boca do Líder Optimus, que aparece no filme. O modo-batalha de Prime seria justamente com aquela proteção bucal fechando. Depois de ter trabalhado na dublagem e ter assistido inúmeras vezes, eu gostei muito e me acostumei com o design novo e acredito que os fãs irão sentir a mesma coisa. AM: Mudando um pouco o foco, que outros personagens você dublou/dubla e qual seu favorito de todos os tempos? GB: Além do querido Optimus, eu já fiz entre outros o Buzz Lightyear (Toy Story), Kronk (A Nova Onda do Imperador), Moisés (O Príncipe do Egito), Túlio (O Caminho para El Dorado), Grinch (Jim Carrey), Superman (Liga da Justiça), o Daggett (Castores Pirados), Samurai Jack, Freakazoid, Capitão Murphy de Sealab 2021 (Laboratório Submarino) e os atores Denzel Washington, Brendan Fraser e Julian McMahon, o Doutor Christian Troy de Estética (Nip/Tuck). O meu personagem favorito de todos os tempos sempre será o meu castorzinho espevitado DAGGETT, de Castores Pirados. Ele é o meu xodó absoluto. Entrevista com Guilherme Briggs – Transformers, O Filme 113 AM: Você teve a chance de colocar alguns termos clássicos da G1, como frases e nomes da dublagem brasileira, no filme? Conte como foi. GB: Sim, coloquei, por exemplo, alguns Autobots falando “Líder Optimus”. Todos os nomes como Cybertron, Autobots e Decepticons tiveram a exata pronúncia da primeira dublagem clássica: cibertrôn, autobôts e decepticôns. A frase “Autobots, transformar e rodar”, infelizmente, não foi acrescentada dessa maneira por questões de marketing, acredito. Fomos orientados a colocar “Autobots, transformar e avançar!” – talvez somente com um momento apenas falando “RODAR!” – mas isso não altera ou diminui o impacto, eu garanto a vocês. Marcus Garrett e David Nery foram muito importantes, me ajudaram muito em todo o processo. Fizeram pesquisa, deram sugestões, participaram ativamente da dublagem, o que sou profundamente grato. Afinal, ter dois amigos, pessoas que gosto, lado a lado, dando a maior força, fez toda a diferença, envolveu o filme com uma aura muito boa, mágica. Que venha logo o segundo filme!! ^__^ Os heróis dos anos oitenta estão de volta! He-Man, Líder Optimus e Lion-O. Esses nomes eram freqüentemente ditos e ouvidos pelas crianças há 16 ou 17 anos atrás, contudo – e para nossa surpresa -, tais personagens estão novamente aparecendo. É... os anos oitenta, outrora desfeitos nos meandros do tempo, agora voltam com força total! Os infantes dos anos oitenta nunca imaginariam algo como a Internet ou como os jogos dos videogames atuais. Playstation 2? Game Cube? X-Box? Que nada! Aquelas crianças contentavam-se com o bom e velho Atari, e o mais “próximo” que chegavam da Internet, naquela época, era brincando de acessar o - agora jurássico - “Videotexto”, a partir de seus computadores Apple II e MSX, ambos de 8 bits. Os meninos e meninas dos “80´s” não estavam “mal acostumados” como está a geração de hoje, que faz praticamente tudo a um toque de celular ou a um clique do mouse. Existia uma certa magia no ar, uma promessa de felicidade, e, em meio a essa meninice deliciosa e, por que não, “ingênua”, havia heróis maravilhosos! “Justiça, Verdade, Honra e Lealdade”. Essa era, tipicamente, a mensagem que os heróis dos anos oitenta levavam às crianças. 116 O Redator d’A Arca Perdida O lema dos Thundercats ilustra, de forma bem clara, o conteúdo positivo presente aos desenhos animados “oitentianos”, através dos quais valorizava-se sobremaneira a prática de se fazer o bem e a necessidade de se ajudar o próximo. Séries televisivas como “A Super Máquina” são exemplo notório do herói que, de maneira totalmente altruísta e despretensiosa, auxilia o semelhante. Quem não se lembra de Michael Knight e de seu poderoso carro computadorizado, o Kitt? Hoje, em 2002, constatamos: Stanley Kubrick errou feio em sua predição do futuro, por meio do filme “2001: Uma Odisséia no Espaço”; mas, de qualquer maneira, o futuro está aqui, com todas as coisas boas e ruins inerentes a ele. Pois é, em meio a tanta tecnologia e rapidez de informação, não é que os heróis do passado estão voltando? É sim! Os Transformers estão de volta nos quadrinhos, nos brinquedos e em novo desenho animado. Os Thundercats encontram-se novamente aparecendo nos quadrinhos e há promessa de nova série animada. He-Man, quem diria, também está de volta em nova linha de brinquedos e também terá novo desenho. Até os “Comandos em Ação” têm suas novas coleções de bonecos e de veículos! Tudo isso é só o exemplo do que está ainda por vir... dá-lhe anos oitenta! O que estaria acontecendo? Será que a criatividade dos criadores / mentores de outrora acabou, havendo a necessidade da repetição, da “reinvenção da roda”? Será que os heróis atuais não bastam Os heróis dos anos oitenta estão de volta! 117 às crianças, pois essas anseiam por mais? Ou será que, repetidamente, trata-se apenas da questão do “dinheiro fácil”? A resposta pode ser complicada, mesmo porque é possível tratar-se de um misto de cada um dos motivos citados. Os pais e mães de hoje são as crianças daquela época; esse fato, tão somente, seria o suficiente para as empresas trazerem novamente à tona os heróis “oitentistas”. Qual pai da atualidade não gostaria de ver seu filho assistindo aos episódios de “Transformers”? É a curtição conjunta de pai e de filho! Por outro lado, minha opinião pessoal diz: realmente, nossas crianças anseiam por algo mais, por algo que traga a elas a mensagem de um futuro melhor, de uma existência mais alegre; a tal promessa de felicidade citada no início deste texto. Em meio a tanta tecnologia pós-moderna, a “verdade ancestral” se faz necessária. Por mais acurada que se apresente a tecnologia atual, nos proporcionando heróis criados por computação gráfica e em três dimensões, estrelando enredos cheios de ação alucinante e de imagens fabulosas, inexiste a figura do herói nato, do herói verdadeiro e despretensioso. Há a impressão de que os heróis de hoje só praticam o bem “porque é legal” ou porque “é politicamente correto”; são atos voláteis de benfeitoria. É notório: existe total preocupação, por parte dos produtores dos desenhos animados e das séries de TV atuais, com o visual e com a forma, em detrimento do conteúdo. Esses heróis de hoje são, em grande parte, “ocos”, “vazios”; é triste. 118 O Redator d’A Arca Perdida Essas são minhas opiniões pessoais acerca do assunto em questão, minhas próprias impressões; não viso, por conseguinte, a ser o dono da verdade. Os heróis “oitentistas” eram plenos: fortes, poderosos, fabulosos; mas, ao mesmo tempo, bondosos, caridosos e até paternos. As mensagens positivas daqueles heróis de outrora ficavam ribombando nas cabecinhas das crianças, e, muitas delas – assim como eu - cresceram admirando aqueles mágicos personagens. No meu entender, esse anseio emergente em nossas crianças foi descoberto e eis aí o motivo de tal retorno. Seja qual for a razão principal, alegra-me muito essa volta dos meus heróis da infância. Espero que minha suspeita acerca do anseio infantil citado anteriormente se confirme, que nossas crianças percebam haver muito mais importância nos atos dos heróis do que em seus músculos e em suas belas naves, e que os “pequeninos” possam se espelhar nas atitudes daqueles antigos personagens os quais impingiram a nós a felicidade e criaram os sonhos infantis vividos naqueles formidáveis dias. Dias, para mim, tão distantes e tão especiais; distantes como a eternidade e próximos como nunca estiveram. Nossas crianças de hoje necessitam dos nossos heróis de ontem! Séries de TERROR: 44 anos de história Caros leitores d´A ARCA, as festividades do Halloween estão chegando e, embora algumas pessoas não a aceitem, essa moda importada já pegou no Brasil. Em comemoração à novidade, preparamos para vocês um especial sobre as séries de tevê de terror, desde as mais antigas às mais atuais. Prepare-se, portanto, para relembrar as produções mais importantes do gênero; da clássica Além da Imaginação à atual Buffy. Mas cuidado, porque, se não prestar atenção, não ganhará nenhum docinho! ALÉM DA IMAGINAÇÃO clássico de Rod Serling (1959) Além da Imaginação (The Twilight Zone) foi ao ar em 1959 pela CBS. A série, que gozou de 5 temporadas, trouxe histórias fantásticas de ficção científica, de fantasia e de horror - espalhadas em episódios de 25 minutos de duração. Embora o assunto favorito de seu criador, Rod Serling, fosse a ficção, alguns episódios do gênero terror chegaram a ser produzidos. Acreditem em mim, leitores, Além da Imaginação dava (e ainda dá) muito medo. 120 O Redator d’A Arca Perdida THRILLER – série apresentada por Boris Karloff (1960) Thriller foi uma série de tevê produzida entre 1960 e 1962, e teve Boris Karloff, o astro dos filmes de terror, como apresentador. Assim como aconteceu com Além da Imaginação, a série de Karloff não era – pelo menos, inicialmente – dedicada com exclusividade ao gênero terror. Com o passar dos episódios, contudo, a coisa mudou de figura e a produção passou a conter histórias arrepiantes, muitas das quais baseadas em obras de escritores como Robert Bloch (autor de Psicose) e Charlotte Armstrong (autora de O Insuspeito e de A Teia de Chocolate). Karloff chegou mesmo a atuar em alguns dos episódios, fato que deu um charme extra para o seriado que pode ser considerado como um dos pioneiros do gênero. OUTER LIMITS – QUINTA DIMENSÃO (1963) Outer Limits ficou conhecida no Brasil sob o título de Quinta Dimensão e foi uma série muito parecida com Além da Imaginação, tanto no formato quanto no conteúdo. Ainda hoje as comparações são inevitáveis e chegam a ser motivo de briga entre os fãs; uns acham que a primeira copiou a segunda, e outros, vice-versa. O fato de ambas serem contemporâneas ateia mais fogo à discussão. O seriado, criado por Leslie Stevens, foi produzido de 1963 a 1965 e, embora não especializado no gênero horror, trouxe histórias igualmente desconcertantes. Séries de TERROR: 44 anos de história 121 A FAMÍLIA ADDAMS & OS MONSTROS (1964) As séries em questão não são exatamente de terror, mas ambas usam do gênero como forma e conteúdo. A primeira, The Addams Family, mostra uma família de pessoas um tanto quanto diferentes e ricas, lideradas pelo patrono Gómez e pela esposa, Mortícia. Compõem a família: Tropeço (o mordomo), Feioso (o filho), Wandinha (a filha), Tio Chico (o tio das crianças), Vovó Addams, o Primo It (um bicho feito de cabelo) e Coisa (a esquisita mão decepada). Os episódios são muito engraçados e tratam do dia a dia da família em questão, sempre mostrando amor entre eles e compreensão, e procurando levar bons costumes aos lares dos espectadores. Já Os Monstros, produção contemporânea da primeira, trouxe um aspecto visual muito parecido com os Addams, mas com o conteúdo dos enredos tendendo à crítica e com um humor bem mais ácido e sarcástico. O líder Monstro é Herman; tipo muito parecido com o Frankenstein retratado por Boris Karloff e pai de família que trabalha na funerária Gateman Goodbury & Graves. Ao lado dele está a esposa, Lily Drácula, uma dona-de-casa inteligente e vampira. O filho do casal é Eddy (Edward Wolfgang Monstro), menino parecido com um lobisomem cuja maior dificuldade é fazer amigos no colégio. Para completar a trupe há o Vovô, um Conde Drácula atrapalhado que também é mágico e cientista, e Marylin, a sobrinha de Lily cuja aparência, de forma inédita, é normal. Ao contrário de A Família Addams, os membros da família Monstro precisam trabalhar para sobreviver, pois são de classe média. GALERIA DO TERROR Mais Rod Serling (1973) Em 1970 Rod Serling, criador de Além da Imaginação, lançou uma nova série totalmente voltada ao terror: Galeria do Terror (Night Gallery). Produzida durante aquele ano, a série dispôs de 45 episódios 122 O Redator d’A Arca Perdida de 50 minutos cada e trouxe histórias horripilantes, apresentadas por Serling em pessoa, cujo ponto de partida eram quadros de um museu: eis o porquê do título original em Inglês. Muitos episódios foram escritos por Serling, mas alguns foram escritos por autores famosos como Robert Bloch e Richard Matheson. A série, de fato, é muito boa, mas não consegue se igualar, em originalidade, à antecessora. Talvez seja esse o motivo do cancelamento prematuro, fato que aconteceu logo depois de seu criador ter sido convidado a deixar a produção por causa de desentendimentos. KOLCHAK: DEMÔNIOS DA NOITE O precursor de Arquivo-X? (1974) Essa série, criada em 1974 e produzida até 1975, tratava do sobrenatural de uma maneira diferente, pois mostrava as aventuras de um jornalista, Carl Kolchak (Darren McGavin), a investigar casos estranhos de paranormalidade para um jornal de Chicago. O homem enfrentava vampiros, lobisomens, zumbis e toda a sorte de esquisitices, mas, no fim das contas, o editor-chefe, Tony Vincenzo (Simon Oakland), acabava por não publicar nenhuma das Séries de TERROR: 44 anos de história 123 histórias por achá-las sobrenaturais demais; fruto da imaginação do repórter. Será mesmo que eram reais ou pura imaginação? Essa fórmula de um investigador do estranho em busca da verdade foi, anos depois, novamente usada na série Arquivo-X, como todos bem sabem. Infelizmente, o seriado teve apenas 20 episódios de 60 minutos cada. QUARTO ESCURO Apresentada por James Coburn (1980) Darkroom foi uma produção de terror da ABC que também seguiu o estilo preconizado por Além da Imaginação. Apresentada pelo ator James Coburn, cada episódio de 60 minutos da série traz duas ou três histórias diferentes. Ela também chegou a passar no Brasil - no início dos anos oitenta - e dispôs de autores como Robert Bloch e Jeffrey Bloom (criador de Nightmares), além de participações de atores como Helen Hunt (de Twister) e Brian Dennehy (de Cocoon). Infelizmente, produziram-se apenas 7 episódios. Alguns deles denigrem a imagem de Quarto Escuro, relegando-a a mera imitação de Galeria do Terror. O CARONA – THE HITCHHIKER (1983) Seriado produzido de 1983 a 1989 e que teve 85 episódios feitos. Os enredos tratavam do espírito humano e de onde as ambições das pessoas as levariam: à ruína. Apesar de não se tratar de uma produção exclusiva de terror, muitos episódios versaram sobre o tema. Participaram da série os atores Zach Galligan (de Gremlins), Bill Paxton (de Twister), Klaus Kinsi (de Nosferatu), C. Thomas Howell (de A Morte Pede Carona), dentre outros. 124 O Redator d’A Arca Perdida SEXTA-FEIRA 13, A SÉRIE (1987) Cadê o Jason? Para início de conversa, não tem nada a ver com Jason Voorhees. Sexta-Feira 13, A Série é uma produção da Paramount que foi apresentada de 1987 a 1990, teve 72 episódios e mostrou as aventuras de Ryan Dallion (John D. LeMay) e Micki Foster (Louise Robey), herdeiros de uma loja de antiguidades. Detalhe: não se tratava de uma loja comum, pois as peças que lá estavam pertenceram ao tio da garota (e primo do garoto), o falecido Lewis Vendredi (R.G. Armstrong), um antiquário que, secretamente, fez um pacto com o demônio. A missão dos garotos, auxiliados por Johnny Ventura (ex-sócio do tio - interpretado por Steve Monarque) era encontrar as peças amaldiçoadas que foram vendidas e recuperá-las. FREDDY´S NIGHTMARES (1988) A HORA DO PESADELO Nessa produção de 1988, apresentada por ninguém menos que Freddy Kruger em pessoa, cada episódio traz a história de um morador(a) da famosa Rua Elm e tem a ver com os sonhos dessas pessoas. Duas temporadas, totalizando o número de 44 episódios, foram produzidas e compuseram essa que se mostrou uma série fraquíssima em termos de originalidade. CONTOS DA CRIPTA (1989) – Delicioso! Série baseada nos quadrinhos homônimos editados pela EC Comics – Tales From The Crypt – na qual diversas histórias são apresentadas ao espectador pelo Crypt Keeper (Guardião da Cripta), uma espécie de caveira empoeirada e repleta de teias de aranha. Teve como Séries de TERROR: 44 anos de história 125 produtores executivos Richard Donner (de Os Goonies) e Robert Zemeckis (de De Volta Para o Futuro), e foi produzida de 1989 a 1996, totalizando 93 episódios. Dispôs de muita gente famosa por trás das câmeras, tais como Tom Holland (de A Hora Do Espanto), John Frankenheimer (de Ronin) e até mesmo Michael J. Fox. Como não se lembrar da clássica abertura? EERIE, INDIANA (1991) Esquisitices a la anos oitenta Eis uma série da NBC voltada para o público pré-adolescente e que é a cara das produções dos anos oitenta, tais como Os Goonies, Gremlins, Viagem Ao Mundo Dos Sonhos e que tais. Com toques de Joe Dante, de Tom Holland e de outros magos daquela época, o enredo mostra as aventuras de Marshall Teller (Omri Katz) e do amigo, Simon (Justin Shenkarow), que se mudam para a cidade de Eerie (sinônimo de esquisito; algo que dá medo) em Indiana. Lá, numa cidade cujo número de habitantes é de 16.661, eles descobrem que fenômenos sobrenaturais - e muito horror – acontecem diariamente. Marshall, de fato, afirma: Eerie é o centro de toda a esquisitice do Universo. O detalhe é que ninguém na cidade acredita nos meninos, ridicularizando-os sumariamente. Infelizmente, a série teve somente 19 episódios produzidos, mas ainda é adorada por muitos fãs do gênero. 126 O Redator d’A Arca Perdida GÓTICO AMERICANO (1995) Família macabra! American Gothic não é uma série de horror, mas um drama de suspense com pitadas sutis de terror e de sobrenatural. O enredo acontece na cidade de Trinity, localizada na Carolina do Sul. Lá as pessoas não são o que realmente aparentam, e são guiadas pelas mãos de ferro do xerife Lucas Buck (Gary Cole), o “demônio em pessoa”. A trama envolve o filho do xerife, Caleb (Lucas Black), fruto de um estupro de Cole a uma mulher que alguns tomavam como santa. Caleb, em segredo, foi criado por outra família, teve outro pai e somente ficou ciente do verdadeiro aos 10 anos de idade; época em que a série se desenrola. Ele é protegido e adorado por uma prima jornalista cujos pais podem ter sido assassinados por Cole, Gail Emory (Paige Turco). O garoto – aí entra o sobrenatural – também é guiado e protegido pelo espírito da falecida irmã, Merlyn (Sarah Paulson). O seriado teve 22 episódios de uma hora de duração cada. Curiosidade: American Gothic é o nome de um quadro famoso, que foi pintado por Grant Wood numa época importante da história norte-americana. GOOSEBUMPS (1995) – Terror infantil Série de tevê baseada em contos infantis de terror, escritos por R. L. Stine. Dispôs de 74 episódios, produzidos de 1995 a 1998, e ganhou diversos prêmios tanto pelas atuações quanto pela direção. Excelente diversão infantil que apareceu numa época anterior ao mago Harry Potter. Curiosidade: Goose Bumps significa aquela sensação que sentimos na pele quando nos arrepiamos de medo (ou de frio). Séries de TERROR: 44 anos de história 127 POLTERGEIST: O LEGADO (1996) Caça-fantasmas sérios? Trata-se de uma série sobre uma sociedade secreta, “O Legado”, cuja missão é acumular sabedoria, conhecimento e artefatos – através dos séculos – que auxiliem seus membros a combater o mal desse mundo. O enredo se passa em San Francisco, numa casa parecida com um castelo medieval na qual a equipe de combatentes é liderada pelo Dr. Derek Rayne (Derek de Lint). Completam o time: a psiquiatra Rachel Corrigan (Helen Shaver), o padre Philip C. (Patrick Fitzgerald), o ex-fuzileiro naval Nick Boyle (Martin Cummins) e o clarividente Alex Moreau (Robbi Chong). Produzido de 1996 a 1999, o seriado mostra cenas violentas de terror e de sexualidade em seus 22 episódios. BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS (1997) Vampirismo adolescente A caçadora de vampiros mais famosa apareceu em 1997, quando a série de tevê foi adaptada do filme homônimo. Ela é a “escolhida”, a responsável por livrar o planeta dos maléficos bebedores de sangue. Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar) e sua mãe se mudam para uma nova casa, no subúrbio da Califórnia, e lá ela se encontra com um bibliotecário (Rupert Giles) que reconhece o poder especial da garota. Ela e sua gangue, formada pelos amigos Xander Harris (Nicholas Brendon), Willow Rosenberg (Alyson Hannigan) e Cordelia Chase (Charisma 128 O Redator d’A Arca Perdida Carpenter), combatem as manifestações demoníacas e os vampiros do lugar. Voltado para adolescentes, o programa agradou tanto ao público que já virou cult. Foi cancelado em 2003 e dispõe de 144 episódios de aproximadamente 45 minutos cada. ANGEL (1999) – Um vampiro dotado de alma Angel é uma série spin-off de Buffy, e mostra as aventuras de Angelus (David Boreanaz) - que teve um relacionamento amoroso com a caçadora - um vampiro de alma humana que busca a redenção por atos cruéis cometidos em seu passado europeu. Auxiliado por amigos, ele enfrenta os demônios e outros vampiros, a fim de ganhar novamente a humanidade perdida. Também voltado para o público jovem, não fez tanto sucesso quanto a série original. Caros leitores d´A ARCA, espero que tenham gostado deste artigo. Há, é verdade, mais séries de terror do que as selecionadas, mas procurei relatar as mais importantes e relevantes para o público brasileiro. E lembrem-se, dia 31 está chegando... Trick or Treat? Memórias do Atari O Natal de 1983! Convidaram-me - muito honrosamente - a escrever acerca de um certo tempo, a nossa meninice, que há muito se foi; os distantes anos oitenta os quais nunca estiveram tão próximos, bem como tão vivos em nossos corações. Tenho a pretensão de discorrer sobre uma época em que as coisas eram mágicas: os beijos de nossas mães à hora de dormir, as gostosas tardes de “Sessão da Tarde”, as brincadeiras com os amigos do colégio; preciosas gotas de ouro nos oceanos de nossas existências. Definitivamente, uma época em que o céu era mais azul, os doces eram mais saborosos e a tênue ingenuidade enchia nossos corações. O Atari 2600 fez parte desse universo mágico, outrora desfeito nos meandros do tempo, contudo, esquecido jamais... O ano era o de 1983; mês de novembro, talvez. “Devorava” as revistas especializadas em videogames e microcomputadores, como as saudosas “Micro & Video”, “Video Magia” e “Micro Sistemas”, dentre outras jóias daquele tempo. Era uma época deliciosa! Ficava maravilhado com os jogos de um certo Atari 2600 quando lia sobre ele nas já citadas publicações. As imagens dos jogos se mostravam muito bonitas e, em comparação ao videogame que eu possuía, um Odyssey, achava-os – aparentemente - muito mais bacanas. Foi-me prometido um Atari 2600 no Natal de 1983. Tinha dez anos de idade à época, mas lembro-me de tudo e espero partilhar minha alegria daquele Natal mágico com todos os leitores desse texto escrito muito carinhosamente. Havia uma locadora de videogames próxima à minha casa, na Aclimação (em São Paulo), situada à Av. Lins de Vasconcelos, no bairro do Jardim da Glória, cujo nome era “Wargames” (em referência 130 O Redator d’A Arca Perdida àquele filme homônimo). Era uma locadora muito bacana e enorme - um menino de 10 anos de idade era, de fato, facilmente impressionado pelo tamanho. Lá eu vi, pela primeira vez, um Atari “ao vivo”. Permitam-me corrigir-me, pois, na verdade, era um Dynavision e não um Atari. Fiquei apaixonado pela beleza do aparelho, especialmente pelo design dos controles, contudo, nunca o vira ligado; sempre permanecia desligado, estando apenas à mostra. Passei a desejar muito meu Atari e as propagandas da TV só me deixavam mais ansioso. O slogan da Atari não saía de meus pensamentos: “Atari da Atari”. Um de meus irmãos mais velhos (irmãos por parte de pai, na verdade), o Maurício, conhecia o Atari, visto que um de seus tios trouxera um dos Estados Unidos. Permanentemente me pegava extasiado ao prestar atenção às explicações de meu irmão sobre os jogos do Atari, sobre como esses eram coloridos e bonitos. Já não agüentava mais esperar pelo Natal... Até que enfim chegara o dia de comprar meu tão desejado Atari. Não acreditava mais em Papai Noel, portanto, tive o prazer de acompanhar a compra do meu aparelho. Lá fomos eu, meu pai e meu falecido padrinho e tio, de quem me encontro deveras saudoso. Primeiramente compramos o aparelho, adquirido no já extinto Mappin Praça Ramos, o qual outrora fora uma imponente loja de departamentos. A loja estava cheia naquele Natal, lembro-me muito bem disso. Compramos o aparelho e, infelizmente, não encontrei muitos dos jogos pelos quais procurava, porque apenas cartuchos da Polyvox estavam sendo comercializados lá. Esqueci-me de dizer: meu irmão compilara uma listinha de jogos a serem comprados, porém, no Mappin só havia cartuchos originais da Polyvox, conforme citado anteriormente. Fiquei triste por não ter encontrado jogos como River Raid e Seaquest, mesmo nunca os tendo visto ou jogado. Lembrome de ter comprado, no Mappin, cerca de 3 cartuchos da Polyvox e Space Invaders estava no meio deles! Contente e ao mesmo tempo “desanimado”, parti pela rua Conselheiro Crispiniano em busca dos cartuchos pelos quais procurava, pois ainda tinha esperança de achá-los! Lembro-me de ter entrado em duas lojas e de não ter encontrado nada. Porém, ao ter entrado na também extinta Fotóptica (tenho quase certeza de que foi lá) encontrei quase Memórias do Atari – O Natal de 1983! 131 todos os cartuchos pelos quais procurava: River Raid, Seaquest, Enduro, Pitfall!; todos fabricados pela saudosa marca “Canal 3” (as caixas desses cartuchos eram muito bonitas, vistosas e coloridas - cada uma de uma cor diferente!). Fiquei muito contente, contente mesmo, pois teríamos muitos cartuchos com os quais nos divertir no Natal! Voltamos para casa, entretanto, só pude abrir os presentes na véspera do Natal, à meia-noite, conforme o costume da minha família. Passei este dia ansioso; andava pra lá e pra cá, o tempo não passava... As horas se estendiam... E eu não via a hora de chegar a meia-noite! Imaginava como seriam os jogos e tomava como base os jogos do Odyssey, o videogame que possuía desde maio daquele mesmo ano... Enfim chegou a meia-noite! Após os cumprimentos, eu e meu irmão corremos e abrimos o Atari! Foi a maior festa! Lembro-me do Maurício ter ligado o Atari no quarto do meu padrinho, numa TV de 20 polegadas! Ligamos o videogame e imediatamente começamos a brincar! Lembro-me de ter ficado maravilhado com a qualidade dos jogos! Os primeiros jogos vistos – e jogados! - foram Missile Command (vinha com o Atari) e River Raid! Jogamos um pouco e depois dormimos. O formidável mesmo começou a acontecer a partir do dia 25: ligamos o Atari no meu próprio quarto e passamos horas e horas jogando...! Lembro-me de meu irmão ter dormido em casa durante uma semana inteira (ele morava com a mãe) somente para ficarmos jogando. Ele anotava todos os recordes num bloquinho; era imbatível... Eu o invejava por jogar tão bem. Na época eu tinha 10 anos, ao passo que ele tinha 18. Maurício era muito mais habilidoso do que eu (apesar do fato de ele ter previamente jogado Atari na casa do tio). Foi um período mágico! As horas não passavam! Jogávamos Atari, eu e ele, durante todo o dia. O dia inteiro a apostar com ele a fim de ver quem faria os maiores recordes (obviamente, era ele quem os fazia!). Realmente, o Natal de 1983 foi mágico! Durante o finalzinho de 83 e por todo o ano de 1984, aluguei cartuchos de Atari na já citada “Wargames”. Lembro-me muito bem de que, para se escolher os jogos havia uma espécie de fichário preso à parede, no qual dezenas de “fichinhas” coloridas que continham os nomes dos jogos pairavam imóveis até serem “alegremente” escolhi- 132 O Redator d’A Arca Perdida das por alguma criança. Eram um barato aquelas fichinhas! Essa mesma locadora também locava fitas de vídeo (no auge das fitas piratas): lembro-me de, a cada visita lá feita, ter cobiçado um pôster imenso do primeiro filme “Mad Max”. Às sextas-feiras, após a volta do colégio, eu e meu pai caminhávamos até a Wargames e visávamos a alugar jogos de Atari! Era uma alegria só! Os cartuchos alugados vinham acondicionados em pequenas caixinhas plásticas pretas, muito bonitinhas e cheirosas (o cheiro do plástico era muito gostoso; nalgumas vezes pareço ainda conseguir sentir aquele cheiro!). Eu passava o final de semana na jogatina de Atari e me divertia muito...! Às vezes meus amigos do colégio visitavam-me em casa para jogarem comigo e fazíamos verdadeiros campeonatos (anotávamos os recordes nos tais bloquinhos!). Era um tempo deliciosamente gostoso e mágico... Busco palavras para descrevê-lo; ou melhor, a sensação não pode ser descrita com palavras, apenas sentida... Poucas coisas me fazem sentir novamente a mágica daqueles tempos, reviver aquele menino de 10 anos de idade; entre elas posso citar: o sorriso de minha esposa, os abraços de meus sobrinhos, os episódios de Transformers, a revista MAD e permanecer em meu “quarto de coleção”, acompanhado de todos os meus aparelhos e de meus brinquedos antigos. Hoje em dia, infelizmente, aquela mágica se foi ou pelo menos grande parte dela. Alguns entes queridos já não estão mais comigo e a saudade é muita. Saudade, também, de ser criança... Aquela criança de 10 anos de idade que via o mundo com outros olhos... Caro leitor, a saudade é uma benção divina, certamente, pois é algo que podemos carregar conosco para sempre, é algo que eternamente ficará em nossas memórias e em nossos corações. É devido a isso a inexistência de máquinas do tempo, pois não nos é permitido voltar a algo já vivido... Nos é permitido viver, sim, uma vez cada instante... Graças a Deus existe a saudade e existem as lembranças... Lembranças de um homem de 29 anos que, freqüentemente, gostaria de voltar a ser um menino de 10... E por quê não!? Peter Pan O enredo e os personagens são velhos conhecidos de nossos pais e avós, e até mesmo de nós. O menino que não quer crescer, o pirata desfalcado da mão direita, os Garotos Perdidos, Wendy. A ilha, povoada de criaturas ímpares, tais como sereias, fadas e selvagens; conhecida de todos como a Terra-do-Nunca. A obra Peter Pan, escrita por James Barrie no início do século XX, dispõe de diversas versões em desenho animado, em quadrinhos e em filme, portanto, comecei a lê-la com vaga idéia do que encontraria nas respectivas páginas. As peripécias de Pan, devo dizer, surpreenderam-me. Ao invés de história-da-carochinha, encontrei um texto alegórico sobre a difícil arte de crescer, de renovar-se e de viver a deliciosa aventura da vida. Wendy é a filha mais velha dos Darling, família mediana de Londres cujo pai procura vencer na vida. A menina tem por irmãos João e Miguel, e uma cadela, Naná, como babá. Certa noite, povoada de “sonhos” de um menino um tanto quanto diferente e especial, Wendy é convidada por ele a deixar o confortável lar e enveredar-se pelo Céu, a voar, em direção à Terra-do-Nunca, uma ilha especial, comumente visitada, em sonhos, por crianças. Ela e os irmãos mais novos, ensinados a voar por Peter (“basta que pensem em coisas boas”), chegam àquele 134 O Redator d’A Arca Perdida local distante e descobrem um universo de seres magníficos, formidáveis. Wendy passa, então, a ser a “mãe” dos Garotos Perdidos, um bando de sete meninos chefiados por Peter e que moram em uma casa subterrânea na floresta. O contraponto de Pan é um pirata, o temível James Gancho, distinto cavalheiro inglês de tez morena, de olhos azuis e obcecado por boa educação, que comanda uma trupe a bordo do temido e sombrio navio Jolly Roger. Gancho perdeu uma parte do braço direito em uma luta de espadas contra Peter. O braço, devorado por um crocodilo gigante, e um gancho afiado no lugar da mão; fato que metaforicamente ajudou a remover - “mecanicamente” - o pouco de humanidade do coração do lobo do mar. Gancho nutre, em uma visão imediatista, um ódio irracional em relação ao menino, contudo, a natureza de tal sentimento é, na verdade, de caráter intelectual: ele não consegue compreender, por mais que se esforce, o sorriso soturno e o olhar maroto de seu desafeto. Juntos, Wendy, Pan, Sininho e os Garotos Perdidos passam por muitas aventuras e desventuras até a conclusão do livro. O texto, embora simples, está impregnado de simbologia e de imagística. Ora é teatral (música e dança), ora é minuciosamente descritivo, ora é metalinguístico (o faz-de-conta sob e sobre o faz-de-conta), ora requer participação do leitor (“se você acredita, bata palmas”) e ora revela um caráter sexual edipiano centrado na personagem de Wendy. Alegorias à parte, o lado brilhante de Peter Pan tem a ver com a “interiorização” da Terra-do-Nunca - e dos respectivos habitantes no difícil dilema da vida adulta e do abandono das verdades incontestáveis, deliciosas, da infância. Prefiro não crer na opinião costumeira por meio da qual Pan é o “garoto bonzinho que existe em cada um de nós”, aquele que nos faz sorrir e, por conseguinte, ver o lado “bom” da vida. Isto simplificaria em demasia o trabalho de Barrie, sinceramente. Afinal, as crianças são “alegres, inocentes e desalmadas”. Freqüentemente somos, sim, Peter Pan, mas também somos o Capitão Gancho, a fada Sininho, as sereias misteriosas, os índios, João e Miguel, e todas as particularidades da ilha fantástica; encarnamos o arquétipo da Terra-do-Nunca. A luta constante lá existente é o embate do Homem, em maior ou em menor grau, o “combate” para Peter Pan 135 que sejamos indivíduos únicos e sentientes, e que se caracteriza pelo equilíbrio entre o real, o irreal e o surreal, caso exista realmente tal simplificada definição psicológica. É óbvio, também, que Barrie impregnou sua obra com a fé. Vê-se a fé em toda a parte. É ela, aliás, que provoca no leitor a vontade de acreditar na natureza, por exemplo, dos Garotos Perdidos; de modo que os meninos não sejam apenas “crianças que cairam dos carrinhos de bebê em Kensington Park”. Você tem fé? Mesmo? Então saberá que a Terra-do-Nunca existe. Ela surge quando nos encontramos naquele estágio de sono leve, logo antes do despertar, em que estamos sonados em condição de sonhar, mas alertas para que não se perca a hora do trabalho. No “lusco fusco” do fim da madrugada e do começo da manhã está ele à nossa espera: o jovem Peter Pan, que nunca envelhece e que jamais cresce. Mas é preciso acreditar. Você tem fé? Alien Abduction: Incident in Lake County Uma das primeiras idéias de Steven Spielberg sobre alienígenas, reza a lenda, acabou virando o filme Poltergeist. O conceito original, porém, era mostrar uma família suburbana ameaçada por alienígenas malvados que queriam adentrar sua residência e abduzilos. A idéia do filme de Terror foi alterada e o diretor produziu Poltergeist ao invés, e ganhamos E.T., o filme de alienígena, como uma fábula moderna. De fato, o tema abdução extraterrestre não é novo no Cinema, há diversos filmes do gênero; alguns bons, outros medianos. Um filme, porém, chamou-me a atenção enquanto navegava pelas águas turvas do Cinemageddon: Alien Abduction – Incident in Lake County. Acabei de assistir ao vídeo. Trata-se de uma produção televisiva de 1998 nos moldes de A Bruxa de Blair (e agora, também, similar à Cloverfield) e realizada com orçamento baixíssimo. O único diferencial em relação ao da bruxa é que, além de tê-lo precedido em um ano, realmente fiquei assustado ao ver Alien Abduction. O filme, que faz as vezes de um documentário em que uma câmera/ fita de vídeo é encontrada por um policial dias depois de uma família ter sido aterrorizada por aliens em sua casa isolada, surpreendeu-me positivamente. 138 O Redator d’A Arca Perdida No enredo, após um aparente blecaute na noite do Dia de Ação de Graças, os irmãos Matthew, Tommy, Brian e Kurt, por farra e até mesmo por curiosidade, vão investigar o motivo da escuridão: estranhas explosões em um pequeno transformador de energia elétrica à beira da floresta, o que em tese teria gerado o apagão. Como a família McPherson mora em um local afastado no estado de Montana, há matas, bosques e casas muito distantes umas das outras naquele condado, Lake County. Detalhe crucial: um dos irmãos, que deseja ser diretor de vídeo clipes, não larga a filmadora de vídeo por nada, filma tudo com sua handy cam. Em meio às explosões estranhas do transformador, localizado no alto de um poste, o video maker descobre algo na mata à esquerda, algo que parecia ser um OVNI atrás de umas árvores, aterrissado. Momentos depois, descobrem que há “ocupantes” perambulando perto do objeto, seres que parecem molestar algumas vacas da propriedade vizinha. A partir daí os irmãos acabam avistados pelas criaturas… Meus amigos, é ver para crer – e se divertir bastante. E até sentir uns calafrios! Qual seria o destino dos membros da família na casa próxima, que também incluía esposas e namoradas? É incrível o que um bom diretor, no caso o premiado Dean Alioto (que até faz uma ponta), pode fazer com pouca grana, com luz e, principalmente, com a ausência dela. E sempre, como ensinou nosso mestre Hitchcock há algumas décadas, utilizando mais Alien Abduction: Incident in Lake County 139 sugestão e menos exposição. A fita é apresentada como algo genuíno, que realmente teria acontecido, e essa “aura” de mistério, regada com depoimentos de “especialistas” que assistiram à mesma previamente, deixa o filme ainda mais saboroso. E saiu antes do filme da bruxa! Quando de seu lançamento, em 1998, causou até furor no meio Ufológico. Infelizmente, Alien Abduction não foi lançado em VHS ou DVD. Para uma experiência mais legal, apague as luzes e assista sozinho! Aliás, os diretores de A Bruxa de Blair e de Cloverfield deviam ter visto este filme antes de realizarem os seus… Iam chorar como crianças quando percebessem como Alien Abduction é muito melhor e custou bem menos dólares. Entrevista: diretor Dean Alioto Gostei tanto de Alien Abduction que fui atrás do diretor Dean Alioto. Procurei aqui, procurei ali e encontrei o contato do homem. Arrisquei… e consegui esta entrevista muito bacana que, generosamente, o diretor me concedeu via e-mail. Muito gente fina! Com vocês, as palavras de Dean Alioto, que também dirigiu mais recentemente os filmes Crashing Eden e L.A. Dicks. Garrettimus: Dean, posso chamá-lo de Dean? Como acabou envolvido no projeto de Alien Abduction: Incident in Lake County? Dean Alioto: Claro, todo mundo me chama de Dean! Bem, deixe-me ver se consigo resumir. Em 1987 li o livro “Comunhão” de Whitley Strieber (*), que me deixou profundamente assustado, mexeu comigo. À época eu já era fã dos filmes de alienígenas de Steven Spielberg (Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E.T.), porém, como cineasta, desejei saber como seria uma abdução real, para valer, se alguém conseguisse filmá-la com uma câmera doméstica, uma handy cam. Só dispunha de 6.500 dólares para fazer um filme, portanto, usar câmeras de vídeo caseiras era a opção ideal – e barata – para produzi-lo. Chamei-o de “UFO Abduction” e, antes mesmo que o filme pudesse ser lançado, a empresa de distribuição pegou fogo, foi abaixo. De maneira inédita, alguém conseguiu salvar uma cópia, antes do incêndio, e publicou o material para a comunidade Ufológica. Surpreendentemente, respeitados experts do fenômeno UFO aceitaram o vídeo como verdadeiro até que a FOX TV, por meio da série “Encounters”, fez uma matéria sobre mim e sobre meu filme de disco voador. Dois anos depois, o roteirista principal de uma série de TV policial na qual 142 O Redator d’A Arca Perdida trabalhava me prometeu que conseguiria um acordo para que meu filme fosse refeito, desta vez para a tevê especificamente, com o pessoal da Dick Clark Productions. Um ano à frente, em Vancouver, estávamos gravando com o pessoal de efeitos especiais de “Arquivo X”. Um sonho que se tornou real para mim! Foi o primeiro filme para TV Digital da história, bem como o primeiro filme televisivo filmado em apenas uma semana. Sinto-me lisonjeado por ter feito esse projeto e por ter, através dos anos, recebido e-mails de fãs, como o seu justamente, elogiando o trabalho. Garrettimus: A naturalidade dos atores, que parecem realmente assustados, impressiona. Como conseguiu aquelas performances? DA: Eu batia neles, durante os ensaios, com tacos de Beisebol, sabe, para manter o clima, deixá-los assustados, ha ha ha. Na verdade, como o filme foi feito sempre em tomadas de 20 minutos, e não com horas ou dias de intervalo, eles conseguiram se “manter” nos personagens mais facilmente, ou seja, puderam manter o nível de interpretação naturalmente. Entre as tomadas, eu lhes dizia que seus entes queridos nunca mais os veriam! No fundo, tínhamos um excelente elenco que fez um trabalho fantástico. Garrettimus: É verdade que a filmagem original tinha duas horas de duração? Por que teve que diminuir o filme afinal? DA: A Dick Clark Productions tomou o filme de mim e de meu parceiro, Paul Chitlik, depois que o novo chefão da emissora UPN (United Paramount Network) viu uma edição crua do filme e não compreendeu o feeling do projeto, não achou grande coisa, não gostou do resultado. A versão americana acabou tendo, a contragosto, apenas uma hora; o filme foi encurtado na marra pelos caras. Acabou que o presidente da Entrevista: diretor Dean Alioto 143 UPN ficou tão envergonhado ao saber que Alien Abduction foi um sucesso de audiência, após a exibição, que jurou nunca mais exibi-lo na grade da emissora – só de raiva. A versão estrangeira, por outro lado, tem duas horas de duração – incluindo comerciais. (N.E.: foi esta a que vi!). Garrettimus: Voltando aos atores, como você gerenciou a continuidade do filme? Os atores não sabiam aquelas falas de antemão, certo? Ao menos, não parece! DA: Bem, na verdade sabiam, sim, tudo estava decorado. Quando fizemos o primeiro ensaio, descobrimos que nosso roteiro de 90 páginas se transformou em meros 45 minutos na tela por que os diálogos acabavam saindo muito rápido devido ao “nervosismo” do enredo. Então, Paul e eu escrevemos mais 90 páginas de diálogos em menos de uma semana para que os atores memorizassem antes de filmarmos. Fiz também com que os atores improvisassem em algumas cenas do ensaio e aproveitei as melhores partes, usando o material no novo roteiro. Garrettimus: Particularmente, gostei muito das cenas que envolvem o disco voador aterrissado. É possível até ver “coisas” se mexendo no andar de cima, no caso, atrás de escotilhas. Como foi o efeito do disco voador? Era uma maquete em escala? DA: É, o set do disco voador tinha dois andares! Como observou, tínhamos pessoas vestidas de aliens no “segundo andar” da nave. O diretor de arte de Arquivo X, Clyde Klotz, criou a nave com base em meus designs iniciais. Garrettimus: Você não pensa em lançar o filme em DVD? DA: Acho que, quando tiver um pouco mais de “bala na agulha” em Hollywood, talvez eu possa convencê-los a lançar meu filme. Por enquanto ele é uma jóia perdida, um cult que as distribuidoras ainda não descobriram. 144 O Redator d’A Arca Perdida Garrettimus: Você teve algum problema com a comunidade Ufológica, os chamados Ufófenas (pessoas que acreditam em tudo que se fala sobre OVNIs), quando descobriram que o filme não era real, ou seja, que era uma farsa, um hoax? DA: Não foi algo direcionado a mim. Sei que se sentiram um pouco traídos pelo filme, afinal, foi apresentado como uma filmagem real de abdução alienígena. Não achei legal que, após a conclusão do projeto, adicionou-se na versão americana uma entrevista do Ufólogo Stanton Friedman por meio da qual pareceu que o especialista validava a veracidade do material. Isso não foi nada legal. Garrettimus: Já teve a oportunidade de ver algum filme brasileiro, especialmente algum de Terror? Quem sabe um do Zé do Caixão? DA: Gostaria de dizer que sim, mas me dê alguns nomes e vou tentar alugá-los! Garrettimus: Bem, é um prazer imenso ter sua entrevista no meu blog. Ganhou um novo fã! Obrigado mesmo! DA: Muito obrigado pela entrevista, pelas perguntas legais, continue olhando o céu (**)! Paz, Dean. (*) O livro “Comunhão”, de Whitley Strieber, virou um filme independente (“Estranhos Visitantes”) estrelado por Christopher Walken. Aliás, muito bom! (**) Aqui Dean fez referência ao clássico da FC e Terror, “The Thing from Outer Space”. Dark Star: o primeiro clássico de John Carpenter É incrível como o baixo orçamento pode ser, quase sempre, sinônimo de criatividade. Sam Raimi, célebre diretor de Homem-Aranha e de Homem-Aranha 2, é prova absolutamente viva desta máxima, afinal, inaugurou a batuta com seu ótimo A Morte do Demônio, tradução errônea do título original Evil Dead. Outro dos notórios diretores criativos, John Carpenter, fez seu primeiro longa-metragem ainda na época da faculdade, Dark Star. Dark Star (sem título oficial em português), foi co-escrito por Carpenter e por Dan´O Bannon, que futuramente daria ao mundo do cinema os roteiros de Alien: O Oitavo Passageiro, Força Sinistra, Vingador do Futuro e A Volta dos Mortos Vivos, e criaria séries de TV como Trovão Azul, um marco dos anos oitenta. No enredo, os tripulantes da nave espacial Dark Star (Estrela Escura), tenente Doolittle (Brian Narelle), Boiler (Cal Kuniholm), Talby (Dre Pahich), sargento Pinback (O´Bannon em pessoa) e o falecido Comandante Powell (Joe Saunders), perambulam pelo cosmo, há vinte anos, numa missão especial: destruir planetas instáveis; ameaças, de alguma forma, à colonização espacial da metade do século XXI. 146 O Redator d’A Arca Perdida Detalhe: misturam-se, todo o tempo, ficção-científica, suspense e, principalmente, humor. Mostra-se o dia-a-dia dos tripulantes e como estes começam a perder o juízo após tanto tempo no espaço: a saudade de casa, a solidão, os medos e as frustrações que afloram, e até mesmo o puro nonsense (apertam-se os botões dos painéis alucinadamente). Imagine, caro leitor, um longa-metragem em que uma bola de praia “maquiada” atua como alienígena, em que o comandante morto - e congelado em zero grau absoluto - ainda passa instruções aos subordinados, em que bombas termonucleares têm consciência própria, além de outras surpresinhas. Porém, o ápice da coisa acontece, bem ao término da película, com uma discussão existencial - de fenomenologia - entre homem e máquina. Hilário? Cerebral? Nonsense? Você decide. Calma! Não faça mau juízo desta pérola B de 1974, pois o filme foi dirigido e produzido com muita criatividade, apesar do ritmo um tanto arrastado em algumas partes. Os efeitos especiais são até bemfeitinhos se levada em conta a falta absoluta de dinheiro. E pode-se, ainda, apreciá-la como o primeiro grande trabalho de John Carpenter, que anos depois dirigiria produções deliciosas como Starman, Fuga de Nova York, Eles Vivem, O Enigma de Outro Mundo e Aventureiros do Bairro Proibido. Na verdade, o projeto ficaria perdido, no esquecimento, não fosse descoberto por um produtor de Hollywood, Jack Harris, que, impressionado, pediu à equipe que adicionasse quinze minutos ao filme para que fosse lançado oficialmente nos cinemas, fato que ocorreu um ano depois. Dark Star: o primeiro clássico de John Carpenter 147 Dark Star saiu, após longos anos em que esteve apenas disponível em VHS e em sessões esquecidas de TV, em DVD: uma edição caprichada em widescreen, restaurada (apesar de manchas e riscos oriundos da película original, judiada pelo tempo) e com som - pasmem! - Dolby Digital 5.1. Há, na verdade, duas versões no disco: a original e a especial, feita a pedido do tal produtor. Como extras há apenas o trailer de cinema e as biografias/filmografias de poucos membros da parte técnica. Infelizmente, inexistem legendas em português ou mesmo em inglês. O preço, bem acessível, convida o colecionador ou o amante de DVDs a adquiri-lo por módicos 9,99 dólares na loja Amazon. Uma pechincha para um filme que foi indicado aos prêmios Hugo e Nebula em 1976. Os Filmes que o Mundo Esqueceu Eles fizeram parte da infância de muita gente que, hoje, deve estar na casa de seus trinta e tantos anos. Eram exibidos com certa frequência na Record, em sessões como a lendária Poltrona R, e aguçavam a imaginação da molecada em fins dos anos setenta e início dos oitenta. Refiro-me aos filmes “esquecidos”, vencidos pelo tempo e pela tecnologia. Produções, guardadas as devidas proporções, recheadas de criatividade, apesar dos efeitos especiais simplórios. Acompanhe, caro leitor do Aumanack, a primeira parte deste especial sobre os filmes esquecidos, os Filmes que a Terra Esqueceu. A Terra que o Mundo Esqueceu Título original: The Land that Time Forgot. Ano de lançamento: (1975). Disponível em DVD: SIM (importado - R1). Produção britânico-americana baseada no livro de Edgar Rice Burroughs, o autor de Tarzan, The Land that Time Forgot é um dos primeiros “filmes de dinossauro” do Cinema. O comandante de um submarino alemão (John McEnery), durante a Primeira Guerra Mundial, afunda um navio de suprimentos inglês, mas acaba por receber os únicos sobreviventes do mesmo a bordo, como o expert em 150 O Redator d’A Arca Perdida submarinos Bowen Tyler (Doug McClure). Perdidos nos mares gelados do Sul, terminam às margens de uma ilha misteriosa, Caprona, conforme supostamente identificada pelo capitão germânico. Lá se envolvem com dinossauros vivos, das mais variadas épocas préHistóricas, além de ficarem cara-a-cara com homens das cavernas. Muita ação e um final interessante garantem boa diversão ao espectador, apesar dos efeitos visuais simplórios e dos dinossauros de borracha. Atenção: na seqüência em que o Pterodátilo captura Ahm, o nativo amigo da tripulação, pode-se notar os cabos de aço que sustentam a criatura. A Terra que o Mundo Esqueceu foi exibido à exaustão pela Record e é um dos poucos filmes nos quais o final não é nada feliz, mas possivelmente verdadeiro. No Mundo de 2020 Título original: Soylent Green. Ano de lançamento: (1973). Disponível em DVD: SIM (importado - R1). Charlton Heston, após participar de O Planeta dos Macacos, em 1968, fez uma série de filmes de Ficção Científica nos anos setenta. No Mundo de 2020 é um dos exemplos notórios a esse respeito. Heston interpreta o politicamente incorreto detetive Thorn, de Nova York, que investiga o estranho assassinato de um “figurão”. No futuro distópico retratado na película, no qual a Terra encontra-se em um Os Filmes que o Mundo Esqueceu 151 estado lastimável devido às mazelas do efeito estufa, da superpopulação, da poluição e da falta de comida, Thorn descobre que o morto era do alto escalão da Soylent Corporation, empresa que fabrica um tipo de alimento nutritivo para a população faminta, a bolacha Soylent Green, cuja matéria prima seria o plâncton dos mares. As investigações do detetive o levam a descobrir algo aterrador e desumano a respeito daquela comida. O final, nada feliz, mostra que não estamos, hoje, tão distantes do que se vê no filme. Atenção: a seqüência em que o personagem de Heston mostra um raríssimo pedaço de carne bovina ao companheiro de quarto, Sol Roth (Edward G. Robinson), e este chora como uma criança, é desconsertante. A Casa da Noite Eterna Título original: The Legend of Hell House. Ano de lançamento: 1973. Disponível em DVD: SIM (importado - R1). Um cientista (Clive Revill), sua esposa (Gayle Hunnicutt), uma jovem médium (Pamela Franklin) e um paranormal (Roddy McDowall), instigados por um milionário excêntrico, aceitam o desafio de adentrar a famosa e assombrada Mansão Belasco, na Inglaterra, para provar a existência de vida após a morte. Hell House (Casa do Inferno), conforme batizada, pertenceu a um indivíduo perturbado, Emeric Belasco, desaparecido misteriosamente nos anos vinte e conhecido por suas atrocidades e abusos contra familiares e serviçais. Sustos, gritos, arrepios e boas atuações culminam em um final que ainda divide a opinião dos apreciadores do gênero. 152 O Redator d’A Arca Perdida Baseado em um livro de Richard Matheson, o filme The Legend of Hell House mete mesmo medo, pois, ausente de cenas desnecessariamente sanguinolentas e explícitas ao extremo, propicia ao espectador a mais forte das sensações humanas: o uso da imaginação. Roddy McDowall, que anos depois interpretou o caçador de vampiros em A Hora do Espanto, está excelente no papel de Benjamin Fischer, paranormal e único sobrevivente da primeira expedição à referida casa, ocorrida em 1953. Cena marcante: o ataque à esposa do cientista, Ann Barrett, por parte de um gato preto possuído. Fuga do Século XXIII Título original: Logan’s Run. Ano de lançamento: 1976. Disponível em DVD: SIM (importado - R1). Em um futuro distópico e pós-apocalíptico, a Humanidade vive organizada em cidades fechadas, autosustendadas e em formato de domo. O governo sacia todas as necessidades básicas do Homem, tais como alimentação, prazer, higiene, educação; nada, portanto, lhe falta. O único senão: as pessoas, a fim de que se evite a superpopulação, somente podem viver até os 30 anos de idade, quando participam de um evento público conhecido como “Carrosel” e nele são mortas crendo que, de alguma forma, serão “renovadas”. Logan 5 (Michael York) é um Sandman, agente responsável por perseguir Runners, pessoas que atingiram a idade limite, não aceitaram o regime Os Filmes que o Mundo Esqueceu 153 imposto e procuraram fugir, de algum modo, para um local mítico conhecido como Santuário. Logan se vê face-a-face com o destino que a todos assola e decide-se, também, por fugir. Logan’s Run, que também gerou uma série de tevê, é mais um dos longa-metragens inspirados na obra de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, em que se criticam os caminhos caóticos trilhados pela Humanidade. O cenário, os efeitos visuais, a trilha; tudo é bem caprichado, mas tornaram-se simplórios em demasia para o exigente público atual. Cena marcante: Logan 5 e Jennifer 6 (Jenny Agutter), ao escaparem da cidade, chegam inadvertidamente ao que um dia foi o memorial de Abrahan Lincoln, ao que se perguntam quem seria aquele homem com aparência estranha, isto é, idoso. É Proibido Procriar Título original: Z. P. G. Ano de lançamento: 1972. Disponível em DVD: NÃO. A Terra está envolta em uma bruma, há falta de oxigênio, os efeitos da devastação ao planeta são notórios, a comida é sintética. Nada se compara, contudo, à medida extrema adotada pelo governo: um édito por meio do qual tornou-se proibido procriar, ter filhos; afinal, o mundo foi assolado pela superpopulação. Os casais, portanto, passaram a ir às lojas de bebês, onde adquiriam seus filhos em forma de robô. Russ McNeil (Oliver Reed) e a esposa, Carol (Geraldine Chaplin), são os curadores de um museu especial - da 154 O Redator d’A Arca Perdida fauna e da flora terrestres - e decidem-se por ter um filho real, dispostos a enfrentar a pena de morte aplicada aos contraventores. O casal passa, então, a esconder a criança dos vizinhos e a fugir das autoridades, quando descobertos. Zero Population Growth era exibido constantemente no final dos anos setenta e no início dos oitenta, e é uma atração interessante para os fãs de Oliver Reed e de Geraldine Chaplin. Sim, os efeitos são simplórios e o enredo acaba por não entreter de forma convincente o espectador. A produção ainda não foi lançada em DVD nem mesmo no exterior. Geração Proteus Título original: Demon Seed. Ano de lançamento: 1977. Disponível em DVD: NÃO. Filme baseado no fraco livro do escritor Dean Koontz, Demon Seed, sobre o Dr. Alex Harris (Fritz Weaver) e o supercomputador que criou. Proteus IV (voz de Robert Vaughn) não é uma máquina comum, afinal, tem sua consciência paulatinamente em expansão até que deseja reproduzirse, quando aprisiona a esposa de seu criador, a bela Susan (Julie Christie, ganhadora do Oscar em 1966), intencionando estuprá-la. Geração Proteus é de uma época em que não se sabia ao certo o que os computadores podiam ou não executar, e talvez fizesse mais sentido Os Filmes que o Mundo Esqueceu 155 naquele período histórico. A película até tem seus bons momentos e chega a assustar em alguns outros, mas o final acaba por chatear a maioria dos espectadores. Acabou a primeira parte deste artigo, caro leitor. Por favor, pedimos que espere pela segunda, recheada de filmes esquecidos dos anos setenta e oitenta! Inimigo Meu: parábola da década de oitenta sobre amizade e tolerância Certos filmes são capazes de marcar nossas vidas para sempre, por mais que sejam mal vistos pelos críticos ou tenham fracassado nas bilheterias. Inimigo Meu, produção de 1985, é o típico exemplo a esse respeito. O filme, dirigido pelo alemão Wolfgang Petersen, o mesmo do clássico A História Sem Fim (1984), do fantástico Das Boot (1981) e do moderno Mar Em Fúria (2000), traz a parábola, em formato cinematográfico, dos inimigos diferentes que são forçados à convivência mútua em virtude das circunstâncias. O tema não é algo novo, basta que nos lembremos dum clássico dos anos sessenta, Inferno no Pacífico, estrelado por Lee Marvin e Toshiro Mifune. O enredo, baseado no livro de Barry Longyear, se passa no Século XXIII, ocasião em que a Terra está em guerra contra o planeta Dracôn, pois ambas as raças desejam possuir e explorar sistemas estelares em comum. Negociações diplomáticas falharam e o combate espacial, a la Guerra nas Estrelas, tornou-se inevitável. Apesar de tudo, ambos os planetas dispunham de evoluções tecnológicas similares, fato que nivelou a batalha e, por conseguinte, não propiciou vantagem explícita a nenhum dos combatentes. 158 O Redator d’A Arca Perdida A Primeira Parte No início do filme, uma estação espacial da Terra é atacada pela esquadrilha de naves inimigas. Dezenas de pilotos são enviados ao combate, e um deles, Willis Davidge (interpretado por Dennis Quaid), depois de presenciar a destruição da nave de uma companheira, persegue o piloto opositor e responsável pelo disparo, o Drac Jeriba Shigan (interpretado pelo ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante, Louis Gossett Jr.) A ira cega de Davidge, movida pela vingança, leva sua nave a uma órbita muito próxima do desolado planeta Fyrine IV, um território inóspito e inexplorado, em perseguição ao piloto inimigo. Finalmente, ao atingir a nave Drac com um disparo laser, essa se choca contra a da Terra após a ejeção de um casulo-de-fuga alienígena. O terráqueo, então, perde o controle e ambos caem no planeta, devido à poderosa atração gravitacional emanada por aquele mundo. Após a queda da nave, Davidge presencia a morte do jovem amigo co-piloto e, mais enfurecido do que nunca, parte em busca ao casulo caído a alguns quilômetros de distância dali. O humano nunca viu um Drac cara a cara, mas está louco para assassinar o oponente. Ao cair da noite ele chega aos destroços e as emoções começam a aflorar. A Segunda Parte Davidge e Jeriba finalmente se encontram, e, inicialmente, cada qual procura matar o inimigo. Após alguma ação, o Drac faz o terráqueo prisioneiro e chega até mesmo a, contrariado, alimentá-lo Inimigo Meu 159 com um tipo nojento de lesma. Durante a noite, porém, uma chuva de meteoritos faz com que cada um corra para uma direção – Jeriba liberta Davidge a contragosto por insistência do humano – mas o fato também os faz pensar sobre a única forma de sobrevivência naquele planeta extinto: o auxílio mútuo. É óbvio que a esperança nunca morre e, devido a ela, ambos sempre esperam, apesar da coexistência, por um possível resgate. O alienígena hermafrodita, cuja evolução aconteceu a partir dos répteis, foi apelidado de Jerry pelo terráqueo. Ambos, então, passam a cooperar entre si e constroem um abrigo contra os tais meteoritos, notadamente uma das maiores ameaças do lugar. Aos poucos, como era de se esperar, os rivais passam a tomar conhecimento, cada qual, dos costumes e da vida um do outro. Jerry chega a salvar o humano numa oportunidade e, através do dia a dia, ambos se descobrem maiores do que a própria guerra. Davidge passa a aprender a língua Drac, que lhe é ensinada muito honrosamente por meio da leitura do Tallmman (um livro religioso de Dracôn). Desnecessário citar a grande amizade formada paulatinamente à base de confiança e companheirismo. Por outro lado, o irrequieto terráqueo, cansado de esperar pelo improvável resgate, decide-se por sair pelo planeta a fim de procurar por supostas naves que povoam seus sonhos à noite. Problemas, contudo, estavam para acontecer, uma vez que o inverno rigoroso daquele hemisfério estava prestes a chegar. A Terceira Parte Jerry é, conforme dissemos, hermafrodita, e para a surpresa do amigo, estava grávido há algum tempo. Infelizmente, devido a um tombo que levou numa fuga e também por causa do frio intenso, algo deu errado durante a gestação. Por estar à beira da morte, resolveu dizer ao humano – recém chegado de sua busca - que algo corria mal. O Drac implorou ao amigo para que levasse o futuro filho, Zammis, a um tipo de conselho de anciões, em Dracôn, onde a linhagem de Jeriba (os descendentes da criança, que remontam a inúmeras gerações) deveria ser recitada. Esse procedimento, além de fazer parte 160 O Redator d’A Arca Perdida da cultura dos alienígenas, era honroso e necessário. O terráqueo, de fato, precisou prometer ao amigo para que ele morresse em paz. Mas isso não era tudo, porque Davidge precisaria abrir o corpo de Jerry, depois de morto, para remover o bebê, que corria risco de perder a vida. Após a retirada da criança, o humano tornou-se o único pai, embora chamado de tio, que Zammis conheceu. Davidge contou histórias para o menino sobre o pai, sobre a cultura Drac e sobre outros humanos que vinham ao planeta de vez em quando, mineiros que escravizavam os alienígenas ao bel prazer e que foram descobertos pelo terráqueo durante a busca pelas tais naves vistas em sonhos. Apesar de todos os avisos e alertas, Zammis tornou-se curioso a fim de conhecer outros da espécie e, portanto, partiu em direção ao local proscrito. Ao chegar lá, foi pego pelo líder dos mineiros, Stubbs (interpretado por Brion James, de Blade Runner), e escravizado. Davidge logo percebe o sumiço do menino e rapidamente corre em direção à nave dos mineiros para salvá-lo. Ao chegar lá, o humano mata o irmão de Stubbs numa tentativa de resgate, mas é baleado e largado à própria sorte. Milagrosamente, o corpo quase morto do terráqueo foi encontrado, tempos depois, por uma expedição militar e levado de volta à estação espacial. A fim de cumprir o prometido, Davidge, já curado, ignorou ordens de superiores e partiu para o resgate do garoto. Nesse momento o espectador tem conhecimento de que o humano permaneceu naquele planeta por três anos. A conclusão, muito bonita, leva qualquer coração mole às lágrimas. O mais comovente, após o reencontro dos dois, foi a inclusão do nome Willis Davidge na linha de Jeriba; honra descomunal pra os Dracs. Inimigo Meu 161 Produção Turbulenta A produção de Inimigo Meu foi extremamente complicada. O diretor original do projeto, o britânico Richard Loncraine (de Ricardo III – a versão com Ian McKellen), abandonou a película no início das filmagens, mas com algumas cenas previamente rodadas. Então, Wolfgang Petersen foi chamado, pois era sempre lembrado – e ainda é - por causa de Das Boot, uma obra-prima do gênero de Guerra. Todas as cenas rodadas, incluindo-se nelas algumas seqüências do alienígena, foram dispensadas e precisaram ser refeitas por Petersen. O orçamento de Inimigo Meu, somente por causa desse “detalhe”, excedeu bastante o previsto. Beleza Visual Apesar dos pesares, o designer de produção do filme, Rolf Zehetbauer (o mesmo de A História Sem Fim), criou cenários esplêndidos para o planeta Fyrine IV; a maioria deles, de forma inédita, construídos sobre palcos de shows de rock na Alemanha, no West German Studios. A retratação do mundo em que os protagonistas vivem é, de fato, espetacular. Apenas um detalhe que não passa despercebido se o filme for visto em DVD: nas cenas em que a nave de Davidge cai no planeta, percebe-se facilmente o uso de maquetes plásticas ao invés de efeitos visuais movidos inteiramente a computação gráfica. Esse detalhe não acontece, porém, durante as cenas de batalha espacial contidas no início. O único dedo da Industrial Light & Magic em Inimigo Meu teve a ver com a constante chuva de meteoros e com a chamada Matte, técnica de pintura que deixa as paisagens e os cenários ainda mais realistas. As locações, situadas nas Ilhas Canárias, também não 162 O Redator d’A Arca Perdida deixaram a desejar; ficou tudo muito bonito e bem feito. A fotografia, formidável, esteve a cargo do cinematógrafo Tony Imi, especialista em capturar detalhes e em produzir visuais acurados. A concepção dos Dracs foi realizada pelo designer Chris Wallas, criador dos efeitos “melequentos” de A Mosca (de David Cronenberg) e também diretor da seqüência: A Mosca II. Apesar da aparência humanóide do alienígena, isto é, a semelhança para conosco, o visual dos Dracs não acabou artificial e nem desapontou. A maquiagem aplicada ao rosto de Louis Gossett Jr., fato impressionante, não o atrapalhou nas retratações das mais diversas emoções exigidas pelo personagem Jerry, embora apenas a boca e os olhos do ator estivessem “de fora”. Outro detalhe interessante é a respiração dos alienígenas, que pode ser percebida como um bombear numa pele localizada à altura das orelhas de um ser humano. A excelente atuação de Louis Gossett Jr., aliás, foi digna de outro Oscar. É impressionante como deu vida ao Drac e tornou-o convincente. Imaginem, caros leitores, um ator fazer tudo isso, mas somente dispondo da boca e dos olhos, porque o “resto” era coberto pela maquiagem. Dennis Quaid, por outro lado, não esteve em uma das melhores performances da carreira e, convenhamos, não acompanhou o trabalho de Gossett Jr. Quaid se deu muito bem, sim, nas cenas de ação e de luta, contudo, nas seqüências emotivas percebese que o ator se perdeu um bocado. Mensagem de amizade e de amor Inimigo Meu, apesar das críticas negativas sofridas no exterior, é um filme de uma mensagem muito bela e comovente. Quando Jerry e Davidge se “aceitam” como verdadeiramente são, eles superam as diferenças sócio-culturais entre as espécies e, conforme citei no início deste artigo, tornam-se maiores do que qualquer guerra possa ser. A cena em que o humano pretende começar a aprender a língua Drac, comove o espectador, pois ele ganha de Jerry, seu mestre, uma versão do Tallmann, o livro sagrado de Dracôn. Davidge, por sua vez, afirma a também existência do Tallmann Terrestre (nossa Inimigo Meu 163 bíblia, por exemplo), ao passo que o alienígena concorda com ele e cita a “verdade universal” por trás de todas as coisas. Os Dracs, importante ressaltar, têm a filosofia parecida com a Oriental, ou seja, estão mais ligados à mente do que ao corpo. Há muitas cenas bonitas e de bom gosto, que não estão imbuídas de pieguice. Uma delas acontece quando o alienígena pede ao humano que lhe conte sobre os pais, sobre quem eram e o que faziam. Depois, Jerry recita ao terráqueo, como uma retribuição pela honra, toda a linhagem de Jeriba; processo que acontece na forma de uma canção emotiva (na língua Drac, é claro). Essa cantoria novamente pode ser ouvida no final do filme, quando Davidge e Zammis, em Dracôn, passam por uma cerimônia religiosa na qual o nome do humano é adicionado à linhagem do alienígena. O DVD nacional A versão nacional em DVD está espetacular – em Widescreen Anamórfico – e possui a dublagem original da época, na qual o falecido Orlando Prado (voz da Lula Lelé e segunda voz do Salsicha) dublou o humano Davidge, e o lendário Rodney Gomes (voz de Cameron em Curtindo A Vida Adoidado) dublou Jerry. Nota dez para a dublagem, espetacular. Quanto aos extras, uma pena que não haja tantos: há o trailer de cinema e algumas cenas estendidas. Somente isso. Mas o DVD vale a pena, especialmente pela qualidade da transcrição do filme. A imagem está simplesmente fantástica. Infelizmente, Inimigo Meu está esgotado na maioria das lojas do ramo no Brasil. Caro leitor d´A Arca, recomendo a você este título. Embora incompreendido, assim como Krull, Zardoz e tantos outros, Inimigo Meu é um dos filmes de ficção científica marcantes da década de oitenta e deve ser visto, principalmente, pelos fãs que gostem de bastante diálogo e de reflexão após o término dos créditos finais. Ren & Stimpy Happy, Happy, Joy, Joy! Os Simpsons é a produção comumente associada ao binônimo “desenhos que agradam aos adultos e às crianças”. Porém, Homer, Bart e Lisa não foram os únicos personagens a terem iniciado esse processo. No início dos anos 90 estreou um desenho animado que mudou a cara dos cartoons para sempre e que, conforme a criação de Matt Groening, também foi o pioneiro dos temas mais adultos e controversos. “The Ren & Stimpy Show” foi ao ar pela primeira vez em 1991, encomendado pela Nickelodeon, e tem mostrado as aventuras dum raquítico cão Chihuahua, Ren, e do amigo, Stimpy, um gato gordo e desajeitado. Os argumentos narram o dia-adia dos dois, ora em busca de comida, ora tentando levar vantagem sobre alguém ou sobre alguma situação. Ren Höek (*), comumente chamado apenas de Ren, é o espertinho da dupla. Magricela, egoísta, pragmático e interesseiro, ele não dá folga ao amigo felino. Stimpy (Stimpson J. Cat), por sua vez, é bondoso, além de sonhador e de atrapalhado. Ambos são a antítese mútua. Os personagens, criados por John Kricfalusi (canadense radicado nos Estados Unidos), deram origem à escatologia televisiva tão popular nas produções atuais, como nos casos de “A Vaca e o Frango” 166 O Redator d’A Arca Perdida e de “South Park”. Vômitos, escarros, “gases”, melecas, verrugas, babas, feridas, veias pulando e toda a sorte de sacrilégios compõem o cotidiano de Ren e de Stimpy. E isso não é tudo! Toda essa beleza pode ser observada em close e nos mínimos detalhes. Leitor, não fique aterrorizado ante a esse fato, pois um dos méritos do desenho é justamente tornar esses exageros em coisas engraçadas, colocando-os em momentos certos (ou incertos!) e condizentes com as narrativas. É a arte do absurdo! É como se, por exemplo, Salvador Dalí estivesse por trás da tela da tevê. Um dos exemplos dessa escatologia repousa numa cena em que uma escoteira oferece bolachas caseiras para Ren. O cão (que mais se parece com um rato!), muito a contragosto, aceita a oferta e come as bolachas, mas “devolve” tudo no saquinho e o entrega de volta à menininha. A finesse dessa seqüência me fez rir por trinta minutos ininterruptos. Esse tipo de humor negro, ausente às produções similares da época, acabou virando marca registrada da maioria dos desenhos exibidos atualmente pelo Cartoon Network. Todavia, a escatologia não é a única marca registrada da criação de John K. (assim apelidado carinhosamente pelos fãs). As críticas embutidas nos episódios da série são outro ponto forte; elas funcionam quando o espectador presta um pouco mais de atenção ao enredo ou quando tem um pouco mais de percepção das coisas. Foi isso, aliás, o que caracterizou Ren & Stimpy como não apenas mais um desenho animado qualquer. Há, por exemplo, um episódio em que Stimpy quer comprar todos os produtos anunciados por aqueles famosos programas de tevê do tipo “ligue para 011 140*”. Noutro, Stimpy acaba dentro do próprio umbigo e lá encontra um mundo plástico-musical (clara alusão às drogas e aos anos 70). Numa das histórias mais cômicas de Ren & Stimpy 167 todas, Ren, ao brincar com um daqueles conjuntos de química infantis, acaba sofrendo uma mutação através da qual o próprio corpo dividiu-se em dois: no Ren “malvado” e no Ren “apático”. Outro detalhe importante que passa despercebido para a maioria dos telespectadores é o homossexualismo dissimulado existente entre os personagens principais. Está chocado? Assista aos episódios e tire suas próprias conclusões! Devido ao paradigma um tanto quanto fora do comum, Ren & Stimpy era, muitas vezes, proibido de ser visto, pois nenhum pai “são” permitiria a um filho assistir a tudo aquilo, ainda que o público alvo fossem, em tese, as crianças. De fato, os executivos da Nickelodeon viviam editando os episódios da primeira temporada - já prontos - porque muitas das piadas originalmente criadas, segundo eles, eram “fortes” de mais. Esse fato culminou com desentendimentos homéricos entre as partes e com a demissão de Bob Camp, o braço direito de Krickfalusi, que além de criador era dono do estúdio no qual o desenho foi inicialmente feito: Spumco. A Nickelodeon tanto fez que conseguiu demitir John K. em 1992, tendo criado o próprio estúdio para prover a continuidade dos desenhos e tendo colocado Bob Camp – foi “recontratado” – a cargo de tudo. Apesar desse fato, a série foi adorada e cultuada por muitos que perceberam a “genialidade” da coisa. Os fãs mais árduos, contudo, insistem: Ren & Stimpy, sem John K, nunca mais foi o mesmo. Outro fator marcante são as vozes. As interpretações são hilárias. John K. em pessoa dublou Ren durante a primeira e a segunda temporadas. A interpretação dada, conforme conta, foi inspirada por falas dos atores Peter Lorre, Burl Ives e Kirk Douglas, embora alguns fãs encontrem sotaque mexicano no personagem. Felizmente, após a demissão do criador, Billy West – o dublador de Stimpy – assumiu os dois papéis. Billy fez a voz de Stimpy durante toda a série (a voz dele também pode ser ouvida em “Futurama”, desenho no qual dublou o personagem Fry) e se deu muito bem. A voz de Ren, ainda bem, não foi entregue a qualquer um. A dublagem brasileira, a propósito, é um show à parte. Apesar da imensa dificuldade de se dublar os personagens principais (por causa das vozes extremamente caricatas e das onomatopéias), 168 O Redator d’A Arca Perdida os dubladores fizeram um trabalho excepcional. O desenho foi dublado na Audionews, no Rio de Janeiro. Ren foi dublado por Marco Ribeiro, que, dentre outros trabalhos, dublou o Dylan (da série “Barrados no Baile”) e o Rafael (do desenho “Tartarugas Ninjas”). Stimpy foi dublado por Marco Antonio, que já dublou o ator George Clooney e o personagem Patolino. Márcio Seixas, a bela voz do Batman (do desenho animado homônimo), fez as locuções. Parabéns à essa equipe! Parabéns também ao dublador Manolo Rey (a voz de Will Smith na série “O Maluco no Pedaço”), responsável pela tradução e pela versão brasileira. Aqui cabe uma curiosidade: os amantes do blues certamente encontrarão um atrativo a mais em Ren & Stimpy, pois a série está recheada de temas bluesísticos. Os próprios temas de abertura e de encerramento são exemplos formidáveis. A trilha sonora é muito boa! Há, também, muitos temas eruditos, tais como “Clair de Lune” (de Debussy). Infelizmente, após mais de 40 episódios a série foi cancelada em 1995. Mas é muito fácil reconhecer a influência do desenho nas produções atuais (conforme citei anteriormente). Se Ren & Stimpy não existisse, dificilmente teríamos os tão adorados Cartoon Cartoons; não da forma como se apresentam hoje. O desenho está sendo exibido diariamente pelo canal Nickelodeon, às 14:30, e também pelo canal Locomotion à meia-noite. Se seu pai “deixar”, assista aos episódios de Ren & Stimpy. Mas prepare o fôlego para boas e intermináveis risadas! (*) John K. escolheu esse nome por acaso, pois era o nome do zelador do prédio em que morava na época. Transformers: The War Within O despertar da guerra Uma das coisas que mais têm despertado a curiosidade dos Transfãs – os fãs de Transformers – por todos esses longos anos nos é revelada na mais nova publicação da editora norte-americana Dreamwave: o primeiro encontro histórico entre o líder Autobot, Optimus, e seu arquiinimigo Megatron. Esse encontro, de fato, já foi ensaiado num episódio do desenho animado, “War Dawn”, contudo, não passou de uma leve brisa. “The War Within” (“A Guerra Interior”), a novidade da Dreamwave, é uma mini-série escrita por Simon Furman e desenhada por Don Figueroa. Furman goza da posição de “lenda” dentre os transfãs, justamente por ter prolongado a vida dos antigos quadrinhos dos robôs no início dos anos noventa. O escritor inglês escreveu diversos argumentos fabulosos por meio dos quais tornou-se realidade uma obra-prima, dentre outras, como “The Matrix Quest”. Don Figueroa, por sua vez, tem atuado em revivals de outras séries, como no caso de Thundercats. O traço do artista é de fino trato, realmente impressionante. 170 O Redator d’A Arca Perdida Diferentemente do líder Autobot com o qual estamos acostumados, o Optimus dessa nova série é um personagem introspectivo, incrédulo e calado, mesmo porque, de início, nem sonha com a liderança vindoura: é apenas um arquivista; insere e processa dados em computadores duma seção de Iacon (a principal cidade Autobot) batizada de “cofres”. Na visão de Optimus, a guerra civil de Cybertron é totalmente insensata. Qual o motivo de tanta destruição? O domínio de um “simples” planeta? Por que não entregar logo Cybertron a Megatron, se ele o quer tanto? O Argumento A edição primeira de “The War Within” principia com a morte do vigente líder Autobot: Sentinel. Apenas o braço destroçado do Líder Sentinel nos é mostrado; tudo num único quadrinho. Na seqüência seguinte há um bate-papo “acalorado” entre Bluestreak e o futuro Líder Optimus. Bluestreak comete um desabafo, diz ao robô arquivista o quão rápido a guerra civil começou; num breve momento tudo esteve muito bem, para noutro momento surgirem os Decepticons e a guerra civil acontecer de forma tão avassaladora. O personagem menciona, ainda, o fato do militarismo não condizer com a natureza dos pacíficos Autobots. Ele acusa Optimus de somente se importar com o trabalho de arquivista e de somente olhar para o próprio interior. Dos cofres o leitor é levado a uma batalha violenta na qual Ironhide, Kup e Wheeljack são comandados por Grimlock. A resistência Autobot aos invasores Decepticons assume diversas faces diferentes. Grimlock é tão poderoso quanto a representação do mesmo - feita no desenho animado - mas não é estúpido quanto a versão animada nos faz crer. É um peso-pesado mesmo! Em meio à batalha, Grimlock afirma estar terminantemente cansado das palavras “retirada” e “render-se”. Na predição dele, a era dos líderes pensadores terminara; doravante teria início a era dos líderes guerreiros. Optimus é chamado à Câmara dos Antigos (ou dos Anciões) na qual lhe foi revelada a seguinte informação: ele é o escolhido. Optimus devia tornar-se o novo líder dos Autobots; o novo Prime. Transformers: The War Within 171 Assustado, revela ao Conselho o temor acerca da escolha feita. Ele não devia liderar. Gravitas, um dos anciões, então lhe revela: a escolha fora feita pela Fonte. Optimus questiona com o ancião, perguntando-lhe se aquilo – a tal Fonte - se tratava da Matriz e logo mostrou sua descrença num artefato lendário que supostamente existia. Noutro ponto de Cybertron, Grimlock reuniu alguns dos Autobots a fim de lhes falar. Na conversa revela a pretensão de combater a escolha do novo líder, caso esse se mostrasse ineficaz. Nas palavras do gigante guerreiro, se o Conselho errasse na escolha, tomariam o poder à força bruta. Como parte do desfecho dessa primeira edição, Optimus recebe a Matriz Autobot numa cerimônia na qual estiveram presentes alguns membros do Conselho. Durante a entrega da Matriz, o ancião profere sábias palavras: “Nesses momentos de escuridão, mais do que nunca precisamos de um líder forte para nos guiar em direção à iluminação. Somente um líder genuíno, poderá conter a força da Matriz. Isso é o sinal da verdade e da sabedoria”. O corpo do robô arquivista recebe a Matriz com perfeição e sofre as costumeiras alterações oriundas da força do artefato. Líder Optimus surge grande e forte! Em meio ao ritual de passagem da Matriz, alguns Decepticons invadem o recinto e fazem algum estrago. O ancião pede a todos proteção ao novo líder, ao que Grimlock retruca: “É, não se importem mesmo conosco, somos pobres mortais”. Na verdade, nenhuma ação se faz necessária, pois Optimus abate os Decepticons facilmente. Grimlock titubeia durante o combate; deseja ver se esse novo líder é mesmo durão. O Líder Optimus, com um dos inimigos em mãos, lhe pede explicações sobre o ataque sofrido. O robô, à beira da morte, lhe revela que as sementes da destruição foram plantadas sobre os pés dos Autobots e que todos estão perdidos. O gancho final do número um tem duas partes. Na primeira, Optimus revela aos recém-comandados o fato de não achar justo lutar por algo em que não se acredite, pois o preço a ser pago é muito alto. Afirma aos comandados que Cybertron é um planeta condenado e ordena a imediata retirada de todos, a total evacuação. Na segunda, como último quadrinho, vemos Megatron chamar, de modo imaginário, Optimus para a “briga”. 172 O Redator d’A Arca Perdida Curiosidades • Há certas curiosidades inseridas nessa primeira edição. Bem nas primeiras páginas há um cenário em Cybertron no qual se pode ver, em meio à paisagem, a palavra “Transformers” escrita em Katakana; um alfabeto Japonês. Nesse mesmo cenário há, meio escondido, o símbolo dos Maximals (uma das facções presentes à série “Beast Wars”). Fiquem atentos para essas pequenas charadas! Sonho antigo Um dos sonhos de todo transfã é ver os Transformers dotados dos respectivos corpos Cybertronianos. No desenho animado e nos quadrinhos, os corpos dos robôs foram alterados por Teletran 1, o computador da nave Autobot conhecida como “Arca”, a fim de que proporcionassem esconderijo às identidades dos robôs quando transformados em veículos. As formas Cybertronianas dos Autobots e dos Decepticons nunca nos foram reveladas... até AGORA! Em “The War Within” experimentamos as formas originais dos Transformers. Nesse primeiro número são possíveis as visualizações de personagens como: Trailbreaker, Bumblebee, Jazz, Bluestreak, Hound, Kup, dentre outros. É simplesmente emocionante ver um sonho realizado após mais de 15 anos de espera, mesmo porque os corpos originais dos Transformers são muito mais bonitos! Só há um porém: os Decepticons principais não são mostrados nas respectivas formas robôs. Numa seqüência, entretanto, podese ver os Seekers (como naves) e noutra aparece Shockwave. Só! Nada mais! Ficou o gostinho de “quero mais” para os fãs dos bad guys... Daqui pra frente – e para ver os Decepticons – precisaremos aguardar pela edição de número dois. Será dura essa espera! Do Over: De volta aos Anos Oitenta! Algumas pessoas entristeceram-se por causa do cancelamento prematuro da série “That ´80s Show” (aquela dos mesmos criadores da bacana That ´70s...). Contrariamente ao que sinto, os anos oitenta não trazem recordações tão boas assim para algumas pessoas, pelo que parece. Apesar desse fato, a Paramount pôs no ar a mais nova série sobre nostalgia oitentista: “Do Over”. Joel Larsen, interpretado pelo novato Penn Badgley, é um looser de primeira. O solteirão e vendedor frustrado de 34 anos, ao ter sofrido um acidente, foi transportado ao passado. Na manhã seguinte, vê-se novamente no ano de 1980 e na época do colegial, de maneira totalmente inexplicável. Aquele homem de 34 anos, agora no corpo de um moleque de 14! Nem tudo, afinal, era desastroso: Joel reencontrou alguns amigos da época do colégio, como Natasha e Josh. O último, por sinal, sabe a respeito do segredo do amigo e vive lhe pedindo para “predizer” o futuro. Esse processo de regressão ao passado é, de fato, bem ilustrado na abertura do seriado. A capa de um vinil do DEVO, a miniatura do robô R2-D2 (de Guerra nas Estrelas); tudo conspira a favor dos anos oitenta! 174 O Redator d’A Arca Perdida Assim como o título nos sugere (Do Over quer, literalmente, dizer: faça novamente), Joel tem todas as chances de “corrigir” as besteiras feitas originalmente no passado, afinal, não é sempre que essa segunda chance aparece às pessoas. Salvar o casamento dos pais (interpretados pela bela Gigi Rice – de “The John Larroquette Show” – e por Michael Milhoan – de diversos episódios de “3rd Rock From the Sun”) e tentar enriquecer facilmente por meio da aquisição de ações da obscura empresa Intel, são exemplos das presepadas aprontadas por Joel e por sua turma. Aliás, o estreante Penn Badgley está muito bem no papel, porque tem carisma e sabe atuar (será que vemos o novo Michael J. Fox?). Uma das sacadas engraçadas da série é justamente o fato do personagem principal, às vezes, se esquecer de estar no passado e abrir demais a boca. Ele se mete em cada enrascada! Gostosa mesmo é a inserção do telespectador no longínquo mundo dos anos oitenta! Há um episódio, por exemplo, no qual Joel está na fila – do cinema – para a estréia do filme “O Império ContraAtaca”. É demais! É nostalgia pura! Há, por outro lado, alguns erros históricos, é claro, (como uma menção ao ColecoVision, o videogame que só foi lançado em 82) porém não são motivo para desagrado, nem mesmo dos puristas. Apesar da série ainda estar decolando, há rumores acerca do cancelamento prematuro da mesma. Os boatos são, por enquanto, só boatos. Seria uma pena a perda dessa série logo na primeira temporada. Corram, portanto, enquanto ainda é tempo de vê-la, pois não é sempre que a chance de se voltar ao passado aparece! A série está sendo exibida pelo Canal Sony (tevê por assinatura) nas terças às 21:30 horas. E você, amigo... Que faria se no dia de amanhã abrisse os olhos e constatasse o mesmo que constatou o Joel? Que faria se estivesse de volta ao ano de 1980???? Os Anos Setenta Voltaram! São os Funky Cops! É, amigos, nem só de “That 70´s Show” sobrevive a onda de nostalgia dos tormentosos e coloridos anos setenta. “Funky Cops”, o novo desenho produzido pela francesa Antefilms, nos traz as aventuras de dois policiais durões (nos moldes deles!), Ace e Dick, a dirigirem o “bravo” Pontiac Firebird V-8 pelas ruas de São Francisco em perseguição aos mais diversos bandidos. Starsky & Hutch? Que nada! No lugar dos violentos policiais da série homônima (no Brasil batizada de “Justiça em Dobro”), temos Ace e Dick. O primeiro - o “brother” - é o negro Blackpower: “descolado”, cheio de ginga, o preferido das mulheres; mas, em contrapartida, o mais “pé no chão” dos dois. Ace foi membro do grupo “Starlight Seven” (clara alusão ao Jacksons Five), tamanha a paixão nutrida pela música. Infelizmente, teve de deixar a banda e acabou como tira. 176 O Redator d’A Arca Perdida Dick Kowalski, o “branquela” com costeletas de Elvis, é o despirocado da dupla. É também muito imaturo e só pensa nas perseguições automobilísticas nas quais dirige, como alucinado, o veloz Firebird. De fato, ao volante Dick se parece com a criança que acabou de ganhar uma bicicleta nova. Apesar do jeitão meio cowboy, meio rockabilly, o visual de Dick se inspirou em Dirty Harry; interpretado magistralmente por Clint Eastwood. Os Embalos de Sábado À Noite Em meio aos enredos simplórios vividos nos saudosos anos setenta, os dois tiras perseguem caras malvados pela cidade, “a mando” do chefe: Capitão Dobbs. Mafiosos, gângsteres, traficantes, contrabandistas, ninguém escapa dos terríveis Funky Cops! Muita ação e perseguições automobilísticas encontram-se lado-a-lado com a atividade favorita dos tiras: discoteca! Na noite de São Francisco, Ace e Dick se divertem nas Discos; dançam muito enquanto paqueram as garotas. É só curtição! Bee Gees & Iggy Pop Alguns “convidados” fazem parte dos episódios da série. Bee Gees, Starsky & Hutch, Clint Eastwood e até Hannibal Lecter são alguns dos célebres participantes, embora tidos os nomes devidamente trocados... É muito gozado ver as formas caricatas dadas àqueles atores e artistas! Uma sacada muito boa dos produtores de Funky Cops! Os Anos Setenta Voltaram! São os Funky Cops! 177 A Estética de Funky Cops O desenho animado foi feito de forma a combinar animação tradicional à animação 3D. De fato, essa combinação foi tão bem feita que dificilmente o telespectador se dá conta disso. Cenários e carros em 3D, se misturam aos personagens “impressos” em 2D. O Pontiac Firebird é um show à parte. O veículo foi totalmente criado e animado em 3D, e as seqüências de perseguição são de “dar água na boca”. O Firebird voa – literalmente – pelas ruas de São Francisco, nos “sobes e desces” tão bem conhecidos do público por meio de produções Hollywoodianas como “Bullit” (estrelado por Steve McQueen). Outro show à parte são as seqüências de dança realizadas nas discotecas. Os movimentos em 3D de Ace e de Dick são perfeitos. É de se espantar o realismo conseguido pelos animadores franceses! O pessoal está de parabéns! Tudo em Funky Cops é muito colorido e realmente “cheira” aos anos setenta. Eu, infelizmente, pouco me lembro dos Seventies, mesmo porque nasci em 1973. Porém, ao assistir Funky Cops posso imaginar o “appeal” daquela época tão distante. Além do colorido exacerbado, nossos heróis vivem ao som das músicas Funk, Soul e Disco. Se você, leitor, tiver 35 anos, certamente vai curtir de montão esse desenho! A curtição pela curtição! Pô, BIXO, não tá bom? Você, leitor, não espere nada de Funky Cops. Tanto melhor se fizer isso, pois, dessa forma, o desenho lhe agradará muito. A produção é cool por causa de sua estética, de sua forma. Dificilmente agradará alguém pelo conteúdo, pois essa não foi a intenção dos criadores. Como dito anteriormente, as histórias são bobinhas e os enredos totalmente infantis. 178 O Redator d’A Arca Perdida Sente-se confortavelmente na sua velha poltrona da sala, abra aquela lata de Coca-Cola “gelada até a alma” (ops, tá bem, de cerveja), ligue a TV e curta as aventuras de Ace e de Dick. Transportese para os longínquos anos setenta e deixe-se envolver pelo clima, pelas músicas, pelas cores e pela ação. Ria das piadinhas bobas e das situações inusitadas! Isso basta! Ah! A dublagem está bem bacana, embora não tenha sido realizada no Rio de Janeiro. Só lhes faço um comentário: ficaria ainda mais legal se os tradutores tivessem inserido mais expressões brasileiras da época. Funky Cops é agradável, justamente pela estética diferir dos demais desenhos animados atuais, nos quais tudo é “certinho”, perfeitinho e politicamente correto. Vamos curtir aqueles que foram bons momentos, certamente, sem nos dar conta do resto! Ops, cadê a chave do Firebird? Funky Cops é exibido pela Fox Kids no bloco Insônia. TCR Difícil conhecer alguém que nunca tenha brincado com um Autorama. O sucesso da Estrela popularizou-se no Brasil nas décadas de setenta e de oitenta, e dispôs até mesmo de garotos propaganda como o Ayrton Senna. Só há um senão: o brinquedo perdia um pouco da graça quando a gente se dava conta de que era impossível ultrapassar o carro adversário. Sim, ultrapassar no sentido pleno do verbo, pois é claro que passávamos à frente do outro, contudo, tratava-se de uma falsa sensação. O TCR, brinquedo lançado pela Troll no início dos anos oitenta, chegou para matar a cobra e mostrar o pau: os carrinhos, finalmente, podiam mesmo ultrapassar uns aos outros, e com direito a fechadas e tudo o mais! Entrevistamos, com exclusividade pr´A Arca, o maior especialista brasileiro em TCR, o engenheiro Eduardo Marcovecchio, que nos contou tudo a respeito do brinquedo que competiu com o sucesso da Estrela. 180 O Redator d’A Arca Perdida A Arca: Olá, Eduardo, tudo bem? Para começar, quando e como o TCR chegou ao Brasil? Eduardo Marcovecchio: Existem algumas teorias e dúvidas a respeito disso, ainda é um assunto nebuloso. Mas o que se sabe é que a Ideal Toy lançou o TCR (Total Control Racing) originalmente nos EUA em 1977. Em algum momento entre aquele ano e 1980, a Trol licenciou o brinquedo junto ao fabricante e passou a fabricá-lo aqui no Brasil. A Arca: Qual era o público do TCR à época? Era um brinquedo muito caro? EM: Ele foi direcionado ao público infantil, pré-adolescente. Não era encarado como um hobby, um brinquedo adulto. Era um brinquedo mesmo, para crianças. Pelo que me lembro, era um brinquedo caro. Hoje em dia ele deveria custar quase o que um autorama da Estrela custa. A Arca: Naquela época, o TCR realmente “ameaçou” o reinado do Autorama no país? EM: Acho que por um curto período de tempo, sim. Tanto aqui como nos EUA, o TCR foi um furacão, apareceu como algo revolucionário, que acabaria com o autorama. Mas o tempo passou e o rumo da história foi outro. Ele acabou nunca sendo visto como um hobby, como um motivo para organização de competições, de clubes e coisas assim. Ele acabou sendo visto apenas como um brinquedo para crianças. A Arca: Houve muitas propagandas do brinquedo? Como foi o marketing da Troll? EM: Eu me lembro apenas das propagandas de tevê. Acho que existiram propagandas em revistas em quadrinhos infantis também. Lembro-me bem da campanha da tevê, pois aconteceu comigo uma coisa engraçada: eu era pequeno na época, devia ter uns 7 ou 8 anos, e a propaganda do TCR Rallye mostrava um carro na pista, em close, batendo naqueles famosos barris que serviam como obstáculo. Na cena seguinte, um novo close no carro o mostrava todo quebrado em sua parte frontal. Quando eu vi aquilo, pensei o seguinte: “Esse brinquedo TCR 181 é muito legal, mas quebra fácil. Eu não quero isso”. Só depois de alguns anos é que entendi que aquilo era apenas uma propaganda, que os carros não se quebravam de verdade. Acabei pedindo meu TCR de presente só com 12 anos, em 1986, por causa disso. A Arca: Há quantas versões do TCR? Há muitas pistas? EM: O TCR era dividido em séries. Cada série tinha um tema diferente. Existiram as séries Grand Prix, Rallye, Auto-Estrada e Super Kart. A série Grand Prix, a primeira, foi relançada pouco tempo depois com novo layout de caixa e com carros diferentes. Em seguida foram lançadas as outras três séries: Rallye, Auto-Estrada e Super Kart, provavelmente nessa ordem. Cada série teve três tipos diferentes de circuitos, com exceção da Super Kart, que aparentemente teve apenas duas. Foram, ao todo, umas 14 versões diferentes (eu ainda não consegui chegar a uma conclusão sobre o número final). Perto da metade da década de 80, a Trol lançou o TCR Série II, mantendo as séries e pistas originais, mas utilizando um novo tipo de chassis para os carros, conhecido nos E.U.A. como MK III. A Arca: O TCR quebrava muito? Conte para os leitores d´A Arca sobre a manutenção das peças. Eu, por exemplo, tive uns dois TCR, e lembro-me que sempre um dos carrinhos corria mais do que o outro. Isso tirava um pouco da graça do brinquedo. EM: Com certeza, isso era um problema muito sério do TCR. Sempre um carro corria mais do que o outro e os carros só conseguiam atingir pleno rendimento se estivessem muito bem limpos, lubrificados. Ele sempre foi muito mais sensível a isso tudo do que autoramas convencionais, que são mecanicamente bem mais simples. Uma coisa que pouca gente sabe é que nos EUA foi criada uma solução para o proble- 182 O Redator d’A Arca Perdida ma de um carro correr mais do que o outro. Essa solução era uma pista terminal, especial, chamada de “Speed Equalizer”, que tinha um botão deslizante capaz de regular a velocidade dos carros. O próprio Jam Car foi outro jeito de tornar as corridas mais equilibradas, dando mais ênfase à habilidade do piloto do que ao rendimento do carro em si. A Arca: O que era, afinal, o tal Jam Car? EM: O Jam Car (também chamado de carro trapalhão) é um terceiro carro que anda sozinho na pista com o objetivo de atrapalhar os outros dois. Ele anda a uma velocidade mais baixa e pode ser colocado para andar na contra-mão, inclusive. Ele não mudava de pista, entretanto, a Ideal Toy lançou nos EUA o Super Jam Car, que tinha a habilidade adicional de ficar mudando periodicamente, tornando-o ainda mais perigoso e “chato” para os competidores! A Arca: Você, como engenheiro eletrônico que é, fez uma série de melhorias no TCR. Poderia, por favor, comentar um pouco sobre isso? Qual o motivo que o levou a fazê-las? As idéias partiram de você ou copiou-as de alguém? EM: Na verdade, tenho uma série de coisas em mente, mas consegui colocar poucas em prática até hoje. O objetivo sempre é tornar o TCR mais atraente, mais interessante e divertido. Eu tenho algumas peças de coleção, que ficam guardadas, mas a maior parte do que tenho é para brincar e usar mesmo. As idéias vão desde meios de melhorar a performance dos carros até meios de se fazer, em casa, cópias de carenagens em resina. A maioria das idéias é inspirada em conversas que tenho com americanos com os quais mantenho contato, uns colecionadores de autoramas HO de TCR 183 pino. Eu só adaptei algumas das sugestões para o TCR, apenas isso. Na lista de discussão TCR Brasil, que eu criei no ano passado, existem diversas pessoas que estão empenhadas em colocar em prática esses projetos. Muita coisa boa deve aparecer por aí em breve! A Arca: Quando se decidiu por criar o primeiro website nacional sobre o tema? O que há nele? Poderia contar detalhes para os nossos leitores? EM: O website foi criado no início do ano. Lá se pode encontrar, principalmente, um texto sobre a história e a evolução do TCR, mas também páginas de dicas e melhorias de performance, seção de downloads (onde se pode encontrar alguns manuais originais digitalizados), páginas dedicadas a cada série do TCR, seções de cadastro e de classificados. Eu decidi fazê-lo por diversos motivos. O primeiro foi pela falta de um site, principalmente no Brasil, sobre TCR. Eu cheguei à conclusão de que se eu não o fizesse, ninguém mais faria. Outro motivo foi o grupo de discussão. Eu notei que vivia escrevendo as mesmas coisas, respondendo às mesmas perguntas o tempo todo para cada novo membro da lista. Por que não escrever uma vez só e disponibilizar para todo mundo? O terceiro motivo, e talvez o mais importante, foi simplesmente o seguinte: existe muito que se falar sobre o TCR. O site ainda está pequeno, não estou tendo tempo para publicar o volume todo de informações e material que tenho para colocar lá. Estou fazendo isso aos poucos, espero que dentro de um ano o site esteja bem completo. A Arca: Existem muitos colecionadores no Brasil? Hoje existe um mercado ativo? EM: Acho que não pode se dizer que exista um mercado ativo. Existem alguns negociantes de brinquedos antigos que sempre têm itens de TCR à venda, mas é muito pouco. O próprio Mercado Livre sempre tem algo a oferecer. Mas o que me surpreendeu muito foi a evolução do grupo de discussão TCR Brasil nos últimos meses. Hoje são 45 membros de todo o Brasil, participando de uma lista dedicada única e exclusivamente ao TCR. Na minha opinião é um número bem 184 O Redator d’A Arca Perdida expressivo. Com certeza existe muita gente espalhada por aí que gosta do brinquedo ou que pode voltar a gostar. À medida que esse pessoal vai se encontrando e se reunindo, pode aparecer potencial para um mercado ativo, na minha opinião. A Arca: O que você diria a alguém que queira conservar o próprio TCR? Quais dicas você dá? EM: Existem peças que se desgastam rapidamente no TCR, e aí não existe muito jeito, elas precisam ser trocadas (as sapatas de contato, principalmente). Fora isso, é necessário muito cuidado na montagem da pista (os encaixes são muito delicados e se quebram com facilidade) e também cuidado com os carros, pois algumas carenagens podem se quebrar em caso de choque. Os trilhos de metal dificilmente enferrujam, mas para garantir, sempre seque bem as pistas que forem lavadas com água. Para conservar o plástico delas, é legal utilizar spray de silicone. No site existem mais dicas úteis sobre este assunto. A Arca: O que diria a alguém que acabou de ler esta entrevista e que ficou doido para tirar o TCR da caixa, aquele que ficou no fundo do armário por 15 anos, e quer ligá-lo novamente? EM: Eu diria para ir em frente e montar seu TCR novamente! Mas digo também o seguinte: não tenha grandes expectativas de que ele vá funcionar bem após tantos anos guardado. Provavelmente os pneus dos carros estarão ressecados, as pistas estarão sujas e por aí vai. Será preciso paciência e bastante trabalho para trazer o brinquedo de volta à vida, mas vai valer a pena. A Arca: Atualmente, onde encontrar TCR para compra? Quem quiser comprá-lo, como proceder? EM: O melhor lugar é o Mercado Livre. É o lugar mais ativo e movimentado para TCR hoje em dia. Alternativas são o eBay, onde é possível encontrar os TCR originais da Ideal Toy, e o próprio site TCR Brasil, que tem uma seção de classificados que deve começar a crescer. Outra alternativa ainda são as feiras de antiguidade, como a da Praça Benedito Calisto, em São Paulo. TCR 185 A Arca: Esse brinquedo ainda é produzido em algum lugar do mundo? EM: Os TCR da Ideal Toy e da Trol não existem mais. A Ideal foi comprada pela Tyco na década de 80, e a Tyco foi comprada pela Mattell há algum tempo. Portanto, presumo que os direitos estejam hoje com a Mattell. Entretanto, visitei recentemente o website de uma empresa coreana que parece estar fabricando um autorama com o conceito de mudança de pista, mas bem diferente do TCR, numa escala maior, inclusive. Fora isso, não tenho mais informações. A Arca: Você, como colecionador e entusiasta, pretende montar uma exposição ou algo do tipo? EM: Por enquanto não tenho nada em mente, mas acredito que, da maneira como a coisa está caminhando, com certeza isso vá acontecer no futuro. A Arca: Eduardo, nós o agradecemos muito e gostaríamos de receber suas considerações finais. EM: Eu gostaria de agradecer a oportunidade de falar um pouco sobre esse brinquedo maravilhoso, principalmente porque não estamos falando de algo que acabou, mas, sim, de uma chama que se acende novamente, uma tentativa de trazer de volta algo de que gostamos, mas de um jeito melhor, mais interessante e divertido. É uma oportunidade de mostrar às crianças de hoje, acostumadas com video games e computadores, um brinquedo diferente de todos os outros que conhecem. Quem quiser se juntar a nós será muito bem vindo. Vocês podem entrar em contato comigo através do site ou da lista de discussão. Obrigado, Marcus! (http://www.tcrbrasil.hpg.com.br) (http://br.groups.yahoo.com/group/TCRBrasil/) Night Walker: O Andarilho da Noite Quando era criança me diverti muito durante a exibição do extinto programa “Clube da Criança”, veiculado pela também extinta Rede Manchete (é, amigos, a Xuxa nem sempre esteve na Globo). Eu adorava assistir aos episódios do desenho Don Drácula (dublado pelo saudoso Paulo Pinheiro) e ver as trapalhadas daquele vampiro despirocado ao lado da filha, Sangria. É, o vampirismo vive por aí há muito tempo e eis algo que está longe da extinção. Bram Stoker, ao escrever o clássico Drácula, sequer imaginou a repercussão que a obra teria. Depois de Stoker, os vampiros deixaram a Romênia, tornaram-se jovens, nada sutis, tecnológicos e estilizados. Basta, para comprovar minha afirmação, assistir aos filmes “Os Garotos Perdidos”, “Vampiros”, “Blade” e tantos outros. No mundo do animê, o vampirismo também se faz presente. Don Drácula, quem diria, era apenas uma amostra do que viria... E há, de fato, outra ótima série além da famosa Hellsing. Night Walker: Mayonaka no Tantei, uma das últimas produções a esse respeito, é um animê adulto que traz temáticas realistas. Na verdade, Night Walker está mais para Além da Imaginação (a clássica 188 O Redator d’A Arca Perdida série de tevê dos anos sessenta) do que para qualquer outra coisa. O telespectador, por meio do enredo, é levado a confrontar-se com sua própria humanidade: os medos, os temores, os desejos proibidos, a ganância, o egoísmo; o lado obscuro que se esconde dentro da alma de cada um de nós. O Detetive da Meia-Noite Shido Tatsuhiko é um vampiro renegado. Era uma pessoa normal até ser mordido pelo vampiro Cain há 300 anos. Cain lhe deu a eternidade, contudo, apagou-lhe grande parte da memória. Shido, por outro lado, resistiu e decidiu-se por não seguir os caminhos do mestre. A parte humana do vampiro falou mais alto. Será? Atualmente, Shido é um detetive particular nada comum. Ele investiga casos estranhos de assassinatos, pois conhece, eventualmente, os responsáveis pelos crimes: uma raça aparentada dos vampiros, violentíssima e cuja sede de sangue assusta. Trata-se dos Breeds (palavra traduzida erroneamente para o Português - como Bleeds). Shido jurou vingança contra todas as criaturas da noite e, por conseguinte, persegue os Breeds assim como o Capitão Ahab caçou Moby Dick. Os Breeds, aliás, são entidades demoníacas que se apoderam dos corpos de pessoas mortas e que se alimentam da força vital dos seres humanos. São a “escória”, segundo Shido. Devido ao vampirismo, Shido necessita de sangue para sobreviver, embora se recuse a sair por aí a fim de morder as pessoas. O alimento, então, é fornecido pela parceira do vampiro, a sexy Yayoi Matsunaga; uma agente cujos contatos na polícia encobrem as investigações vampirescas – e nada usuais! – da dupla. Yayoi possui uma estranha imunidade: embora diariamente mordida, ela própria não se transforma em vampiro. O fato é um mistério para ela, que tem antigas memórias relativas aos Breeds. Talvez essa imunidade – e a curiosidade acerca do passado – a faça ajudar Shido. A dupla dispõe de mais duas companhias. Riho Yamazaki é uma colegial cujos pais foram mortos pelos Breeds. Além desse fato, ela é apaixonada por Shido. Tanto fez que conseguiu a amizade desse Night Walker: O Andarilho da Noite 189 e de Yayoi, e por causa disso freqüenta o “escritório” dos detetives, auxiliando-os nas tarefas diárias. Na verdade, ela vive a dar pitacos nas investigações do vampiro. No início da série, Riho nem desconfia da real identidade de Shido, contudo, essa realidade mudará completamente durante os episódios e o passado dela se revelará por completo. O complemento do time é uma espécie de fada-demônio (ou o que quer que seja!): Guni. De vez em quando o ser aparece sobre os ombros de Shido e palpita acerca de todos os assuntos. É, amigos, não tem jeito: todo animê precisa de um bichinho... O Matador de Breeds A temática de Night Walker, conforme citado, é adulta. Não se trata apenas de mais uma produção sobre vampiros, mas de uma série cujo conteúdo é, de certa forma, diferente. Assim como os enredos de Além da Imaginação, os desfechos das aventuras de Shido nem sempre acontecem da forma esperada pelo telespectador. Ao assistir Night Walker, você não deve tirar conclusões precipitadas, isso sim! O lado sombrio do ser humano, que chega até mesmo a surpreender Shido durante as investigações, é posto em cheque-mate. Como num episódio em que uma família falida planeja o assassinato do avô doente – recém operado do coração – para herdar a enorme fortuna do “velhote”. Ou como no episódio em que a mãe perde o filho, cujo corpo é posteriormente possuído por um Breed, mas que prefere mantê-lo em casa “assim mesmo” (alimentando-o com o próprio sangue) porque não suporta a dor da perda. Acreditem: as coisas nunca acabam bem em Night Walker. 190 O Redator d’A Arca Perdida Shido, “trajado” dos inseparáveis óculos escuros, fareja os Breeds facilmente. Ele descobre os casos esquisitos, investiga-os e mata os demônios pessoalmente. Utiliza sangue como arma: cria espadas, facas, chicotes; tudo com o próprio sangue o qual é moldado ao bel prazer. Basta uma mordidela no dedo para as armas aparecerem! Só descansará se eliminar a raça Breed da face da Terra. Um detalhe importante: Cain, de tempos em tempos tenta levar Shido de volta para o ermo, para os vampiros legítimos. Tudo em vão... Combates entre os dois, bem violentos, acontecem! Fiquem atentos! Night Walker é uma mini-série de 12 (originalmente 4) capítulos, produzida pelo estúdio AIC em 1999. Os capítulos, de 25 minutos de duração, são divididos em “noites”: a cada episódio avança-se uma. O visual e a animação são muito bons, e a trilha sonora instrumental, a cargo de Akifumi Tada, é compatível com o enredo, bem bacana mesmo. Destaque, também, para os temas de abertura e de encerramento, ambos cantados. A série está sendo exibida diariamente (de segundas às sextas) pelo canal Locomotion, às 22:30 horas. Embora legendada, ponto negativo para o canal: as legendas em Português são dispostas sobre as legendas em Espanhol, o que dificulta um pouco a leitura em algumas situações. Outro ponto negativo: a tradução foi feita a partir do Espanhol e percebem-se problemas dos mais variados tipos, como ausências de palavras e frases sem sentido. Assista aos episódios de Night Walker e descubra o lado sombrio do Homem. Ou melhor, constate que não somos tão diferentes assim de Nosferatu. Por onde andam estes sujeitos? Parte I atores mirins e adolescentes: eles brilharam durante os anos 80! Em 1985, era batata: bastaria ligar seu televisor em qualquer horário e você veria um dos atores abaixo desfilarem na telinha. Hoje, vinte anos depois, a pergunta que não quer calar é: cadê os caras????? Acompanhe-nos n´A Arca e descubra que fim levou cada um deles! Ralph Macchio, o “eterno” Karatê Kid O ítalo-americano nascido em Nova York – em 1961 – representou Daniel LaRusso nos três primeiros filmes da série cinematográfica Karatê Kid: em 1984, 1986 e 1989, respectivamente. Também atuou em sucessos como Vidas sem Rumo (1983) e A Encruzilhada (1986). O início da carreira, contudo, foi bem antes dos filmes: na época em que Ralph participou de comerciais de tevê e fez pequenas pontas em seriados. Infelizmente, por causa da aparência sempre juvenil, papéis importantes e de peso nunca mais lhe foram oferecidos após os anos oitenta. Nos anos noventa, participou de poucos filmes, dos quais citamos Nu em Nova York – de 1992 (no qual contracenou com Eric Stoltz). Atualmente está casado – desde 1987 – e tem dois filhos: Julia e Daniel. Além da atuação, recentemente arriscou-se na direção e no roteiro do filme Love Thy Brother (2002). Ralph, de fato, vem tentando 192 O Redator d’A Arca Perdida retomar o sucesso “perdido” há mais de dez anos. A última produção da qual participou, A Cold Day in August, data de 2003. Hoje está com 41 anos de idade. Curiosidade: apesar de ter interpretado o menino Daniel LaRusso em Katarê Kid (1984), Ralph Macchio já tinha 23 anos de idade naquela época. Curiosidade II: ele recebeu uma indicação ao prêmio Framboesa de Ouro, na categoria de Pior Ator, pelo papel em “Karatê Kid III” (1989). Barret Oliver: A História Sem Fim O talentoso Barret Oliver nasceu em 1973 na Califórnia. Atuou em filmes marcantes como A História Sem Fim (1984), D.A.R.Y.L. (1985), Cocoon (1985) e Cocoon II (1988). Além das atuações, participou de diversos comerciais de tevê – VISA, McDonald´s, etc. – e dublou. Curiosidade: alguns sites sensacionalistas afirmam que Barret consumia drogas e que assassinou os pais durante um ataque de histeria. É papo furado! Curiosidade II: o ator sempre gostou de trabalhar com as mãos e de produzir peças manufaturadas. Ele ajudou a montar peças de uma exposição sobre o naufrágio do Titanic. Curiosidade III: Barret apareceu no episódio-piloto da série “A Super Máquina” (1982). Por onde andam estes sujeitos? Parte I 193 Henry Thomas: El-li-oTt!!!!!!!!! Não tem jeito! Ele ficou marcado por causa do personagem que interpretou no filme E.T., O Extraterrestre (1982). Henry Thomas é Elliot e Elliot é Henry Thomas. Ponto final! Isso já aconteceu tantas vezes, não é? Leonard Nimoy é Spock, David Carradine é Kwai Chang Caine, e assim por diante. Elliot, de fato, influenciará Henry Thomas para o resto da vida. Ele nasceu no Texas em 1971 e desde cedo quis atuar. Encheu tanto os pais que esses o levaram à audição para um papel no filme Raggedy Man (1981). Desnecessário dizer que ganhou o papel. Mas foi em 1982 que Henry consagrou-se devido à interpretação do amigo humano de E.T.: Elliot. Spielberg, diz a lenda, ficou tão impressionado com o desempenho de Henry na audição que o contratou imediatamente. Após o sucesso de E.T., Henry atuou – ao lado do ótimo Dabney Coleman – no bonitinho Os Heróis Não Têm Idade (1984) e também no obscuro – e fracassado – filme australiano: “The Quest” (1986). Ainda em 1985, aos 13 anos, após as filmagens de “The Quest” decidiu-se: não queria mais atuar, mas viver uma vida “normal” como a de qualquer criança. Houve, então, um hiato na carreira do ator. Somente no final dos anos oitenta, Henry arrependeu-se da decisão tomada e quis voltar atrás. Infelizmente, já havia crescido e o “apelo” infantil não mais existia. Henry Thomas era assombrado por Elliot. No início dos anos noventa, alguns papéis lhe foram oferecidos, mas sempre em filmes obscuros de baixo orçamento ou em produções cuja presença física do ator era meramente “acidental”. Ele viveu o jovem Norman Bates em Psicose IV (1990) e foi um dos coadjuvantes de Fogo no Céu (1993). Em 1994 recebeu um papel bom: o de irmão mais novo do personagem principal em Lendas da Paixão (1994). A crítica gostou e paulatinamente o ator passou a aparecer 194 O Redator d’A Arca Perdida em telefilmes (Moby Dick, de 1998, é um dos exemplos). Recentemente teve um papel no aclamado Gangues de Nova York (2002) e neste momento está participando de dois filmes em produção: Honey Baby e 11:14. Assim como os colegas já citados, Henry Thomas novamente busca seu lugar ao Sol no estrelato. Hoje em dia ele mora num rancho próprio em San Antonio, Texas, próximo à casa dos pais e está casado. Henry parece ser um cara solitário e quieto. Está com 31 anos de idade e estuda Filosofia na Faculdade Texas’ Blinn Jr. Curiosidade: em 2002, durante a comemoração dos 20 anos de E.T., Henry Thomas deu diversas entrevistas e participou das festividades ao lado dos outros atores do filme. Ele foi aplaudido de pé durante a cerimônia (vide os extras do DVD de E.T.). Curiosidade II: o ator toca guitarra, canta e já teve uma banda de folk-rock. Assim como Corey Feldman, também é músico, mas apenas nas horas vagas. Curiosidade III: ele ganhou o prêmio Globo de Ouro, em 1983, na categoria estreante do ano em longa-metragem pela atuação no filme E.T. Curiosidade IV: ele ganhou o prêmio Globo de Ouro, em 1996, na categoria melhor ator coadjuvante em uma série, mini-série ou filme para TV pela atuação em Indictment: The McMartin Trial. Corey Feldman: o “Boca” Corey nasceu na Califórnia em 1971. Foi um dos astros mirins mais requisitados de seu tempo e iniciou-se no meio artístico aos 3 anos de idade, num comercial do McDonald´s. Atuou em diversos filmes marcantes, tais como: Gremlins (1984), Os Goonies (1985), Conta Comigo (1986), Os Garotos Perdidos (1987) e Sem Licença para Dirigir (1988). De fato, ele é sempre lembrado por causa do personagem “Boca”: o maluquinho que vivia se penteando em Os Goonies. Por onde andam estes sujeitos? Parte I 195 No inicio dos anos noventa, Corey Feldman foi preso por porte ilegal de drogas e internado. A infância difícil ao lado do pai violento e a diminuição da procura dele pela mídia (o interesse por Corey diminuía), dentre outras coisas, o levaram ao consumo de drogas. Felizmente, conseguiu se recuperar depois de uma dura fase de autofrustração. O ator vem tentando voltar ao mundo de Hollywood e tem novamente aparecido em alguns filmes desde meados dos anos noventa. Vodoo (1995) é um dos exemplos. Corey também andou fazendo dublagens e emprestou a própria voz ao personagem Donatello, das Tartarugas Ninjas, no primeiro e no segundo filme da série. Atualmente está casado pela segunda vez e tornou-se vegetariano. Há alguns projetos engatilhados à espera dele e logo voltará a atuar. Hoje está com 31 anos. Curiosidade: atuou ao lado de Corey Haim por 7 vezes, tendo dirigido o amigo no filme Busted (1996). Curiosidade II: o ator também é compositor e fascinado por música, tanto que tem uma banda e já lançou alguns discos. Curiosidade III: a atuação no filme Os Garotos Perdidos rendeu ao ator uma indicação ao prêmio Youth In Film de 1987. Corey Haim: Inocência? Corey Haim nasceu em Toronto, Canadá, em 1971 e apareceu pela primeira vez num programa de tevê - The Edison Twins - em 1981. Em 1984, estrelou o filme First Born e logo passou a atuar em diversas produções da época: Admiradora Secreta (1985), A Hora do Lobisomem (1985), A Inocência do Primeiro Amor (1986), Os Garotos 196 O Redator d’A Arca Perdida Perdidos (1987) e Sem Licença para Dirigir (1988). O olhar triste e o sorriso de cachorrinho solitário eram a marca registrada dele. Assim como a droga dominou o amigo Corey Feldman, Corey Haim viciou-se em cocaína, foi detido e internado. Foi preso por comportamento hostil e violento, também. Durante os anos noventa participou de produções meio obscuras e sempre em papéis de pouca importância em telefilmes. Foi, por outro lado, produtor executivo de dois filmes: Demolition High (1996) e Demolition University (1997). Atuou em algumas séries de tevê como convidado: Psi Factor (1996) é um dos exemplos. Ele vem tentando desvencilhar-se da imagem de menininholindo-da-mamãe, bem como do estigma de ex-drogado, para ganhar papéis adultos e de peso. Últimos trabalhos: The Back Lot Murders (2001) e o telefilme Without Malice (2000). Hoje está com 31 anos e dedica-se à pintura. Curiosidade: ele e Corey Feldman trabalharam juntos em 7 produções. Curiosidade II: na época do vício, era conhecido como encrenqueiro. Curiosidade III: largou a escola aos 13 anos de idade para dedicar-se apenas aos filmes. Curiosidade IV: ele sonha em concorrer ao Oscar. Por onde andam estes sujeitos? Parte II Oba!!! Demorou, mas apareceu!!! Caros leitores, há certo tempo escrevi um artigo sobre a atual condição de alguns dos astros dos anos oitenta, especialmente os mirins. O povo pediu e eis o novo artigo a respeito do tema, a continuação tão aguardada da primeira parte. Neste artigo teremos, também, informações sobre algumas garotas e, portanto, preparem-se para matar a curiosidade! Amanda Peterson: a namoradinha de alUguel Nascida no Colorado em julho de 1971, Amanda Peterson estreou cedo no meio cinematográfico ao atuar no filme Annie, de 1982, dirigido por John Houston. Em 1985 participou do super bacaninha Viagem Ao Mundo Dos Sonhos, no qual contracenou com o falecido River Phoenix e com Ethan Hawke. De fato, é difícil resistir ao sorrisinho lindo dela, bem de criança, visto naquele filme. Já adolescente, representou, ao lado de Patrick Dempsey, a jovem Cindy Mancini no famoso Namorada De Aluguel, de 1987. Eu garanto: todos que estiverem na casa dos 25 ou dos 30 anos 198 O Redator d’A Arca Perdida apaixonaram-se por ela quando assistiram ao filme em questão pela primeira vez. Esse, acreditem em mim, foi um dos filmes mais reprisados de todos os tempos durante a Sessão da Tarde. Assim como aconteceu com Ralph Macchio e com Corey Feldman, ela fez pouquíssimas aparições durante o final dos anos oitenta e o início dos anos noventa. Naquela época participou de alguns telefilmes e de poucos seriados de tevê: Tal Pai, Tal Filho (1989), Love and Betrayal (1989) e Encanto Fatal (1990). A última atuação de Amanda, de que se tem notícia, aconteceu no filme O Vencedor, uma produção de 1995. Atualmente, aos 32 anos, está casada e tem dois filhos, Jonathan e Katie. Dentre os hobbies da ex-atriz está a paixão por eqüinos. Jennifer Grey, a irmã do Ferris Bueller Jennifer Grey, a garota de sorriso provocante e irmã de Ferris Bueller em Curtindo A Vida Adoidado, nasceu em março de 1960, em Nova Iorque. Filha do ator e dançarino Joel Grey, Jennifer estudou teatro no lendário Neighborhood Playhouse sob os cuidados do também famoso professor Sanford Meisner. No início da carreira, princípio dos anos oitenta, ela atuou como coadjuvante nos filmes Jovens Sem Rumo (1984), Cotton Club (1984) e Amanhecer Violento (1984). A atriz começou a própria projeção ao interpretar Jeanie em Curtindo A Vida Adoidado (1986), no qual contracenou com Matthew Broderick e com Charlie Sheen. Curiosamente, Jennifer foi noiva de Broderick por um tempo. O sucesso somente veio com o famoso Dirty Dancing (1987), quando ela representou a bela Baby Houseman ao lado de Patrick Swayze. O lindo rosto de Por onde andam estes sujeitos? Parte II 199 menina, o corpo bonito e o dom de dançar de Jenny caíram no gosto do espectador. De fato, é um dos filmes oitentianos mais lembrados pelos adultos de hoje. Infelizmente, Jenny não soube aproveitar o boom iniciado a partir daquele filme e parece não ter levado a sério a carreira. Após o ano de 1987, passou a atuar em poucos telefilmes e de forma não continuada. Apareceu como convidada, também, em algumas séries de tevê, tais como Friends (1994). Em 1999 ganhou um seriado – que chegou a ser exibido no Brasil - no qual interpretou a si mesma: É Como... Você Sabe. De gosto duvidoso e repleto de piadas somente compreendias por americanos, o programa durou apenas uma temporada e logo foi cancelado. Apesar de ter noivado com Matthew Broderick e com Johnny Depp, a atriz somente veio a casar-se em 2001 com o ator Clark Gregg (que fez uma ponta em A.I. - Inteligência Artificial). Atualmente está com 43 anos e tem uma filha, Stella. Infelizmente, a carreira de atriz parece ter sido enterrada. Jonathan Ke Quan: o Data de Os Goonies Ke Huy-Quan nasceu no Vietnã em agosto de 1971, mas mudou-se para Los Angeles por causa da violenta guerra vivida no país natal. Desde pequeno interessou-se por artes marciais, mas também por atuar. O ator mirim ficou conhecido no ocidente, aos 13 anos de idade, ao interpretar o garoto de Indiana Jones e o Templo da Perdição. O sorriso dele era irresistível, realmente! 200 O Redator d’A Arca Perdida O próximo trabalho de Jonathan, assim batizado nos E.U.A., foi o responsável por eternizá-lo na memória das pessoas: a interpretação do menino Richard ‘Data’ Wang - a la James Bond - em Os Goonies (1985). O jeitinho atrapalhado e o leve sotaque do garoto encantaram a todos. No ano seguinte, 1986, ele participou de um seriado de tevê fracassado, Together We Stand, que durou apenas uma temporada. O garoto crescia e, como reza a maldição de todo ator mirim dos anos oitenta, foi paulatinamente esquecido e, portanto, não mais escalado para trabalhar com a freqüência de antes. Durante os anos noventa, por exemplo, atuou em apenas dois filmes: o tenebroso Kickboxer - Dragão De Fogo (1991) e o mediano O Homem da Califórnia (1992). Além deles, fez uma aparição como convidado em um episódio do seriado Plantão Médico (1994). Em 1999 dirigiu, produziu e editou o curta-metragem Voodoo, comédia que foi muito bem recebida pela crítica em festivais de cinema. Na mesma época, também, aproveitou o gosto pelas artes marciais e lançou-se noutra carreira, a de dublê. Ele foi, de fato, coordenador da equipe de dublês do filme X-Men (2000), bem como diretor-assistente de coreografia e tradutor (para os dublês chineses) de O Confronto (2001), ao lado de Jet Li. Jonathan, além da atuação como dublê, vem tentando retornar novamente às telas como ator. A última produção da qual participou, Second Time Around, foi rodada em 2002 na China. Ah! Ele formou-se recentemente na University of Southern California School of Cinema Television. Boa sorte, Johnny! C. Thomas Howell: vulgo CT! Christopher Thomas Howell, filho de um dublê, nasceu em dezembro de 1966, em Los Angeles, Califórnia. Seu debute no cinema começou em 1977, aos 11 anos de idade, no filme Aconteceu No Natal. Apesar de levar jeito para a coisa, o garoto preferia o mundo Por onde andam estes sujeitos? Parte II 201 dos rodeios, e chegou até a ganhar títulos em torneios mirins no início dos anos oitenta. Em 1981, C. Thomas foi contratado como dublê para participar da famosa cena das bicicletas em E. T., o Extraterrestre. Impressionado pelo jeitão do garoto, Spielberg o fez atuar como um dos amigos do irmão de Elliott. Em 1982, foi chamado para trabalhar em Vidas Sem Rumo, filme do diretor Francis Ford Coppola, produção que o lançou ao estrelato. Após ter interpretado o durão Ponyboy Curtis no já citado filme, diversos papéis lhe foram oferecidos. Trabalhou em Amanhecer Violento (1984), em Admiradora Secreta (1985), em A Morte Pede Carona (1986) e em Uma Escola Muito Louca (1986). Nesse último, o ator foi maquiado de forma a parecer-se com uma pessoa da raça negra. CT, conforme era carinhosamente chamado na década de oitenta, participou, ainda, de algumas séries de tevê como convidado; caso de A Gata e o Rato (1985). Nos anos noventa, Christopher atuou em aproximadamente 40 filmes, dentre os quais: Os Reis da Praia (1990), Aquela Noite (1993) e Renegados Pela Justiça (1997). Também participou de algumas séries de tevê, tais como V.I.P. (1998) e a nova versão de O Barco do Amor (1998). Outra faceta de C. Thomas Howell é o trabalho de diretor. Ele dirigiu filmes como O Próximo Alvo (1995) e Risco Absoluto (1996), além de ter fundado o próprio estúdio: o Buckwheat Films. Ao contrário dos colegas de profissão de antigamente, o ator não teve sua carreira cancelada nos anos oitenta. Desde que começou no meio cinematográfico, não parou de atuar por todos esses anos. Infelizmente, CT está fora do Mainstream, isto é, não atua em grandes produções há muito tempo, talvez devido ao rosto sempre jovem que o estigmatizou. Animes Famosos O longa-metragem Cowboy Bebop está estreando nos cinemas, bem como o DVD de A Viagem de Chihiro está prestes a ser lançado. Mas espere um pouco, você acha que os animes (desenhos animados japoneses) se resumem somente às produções Cavaleiros do Zodíaco, Pokémon e Dragon Ball? Mesmo? Então, caro leitor, está precisando descobrir as pérolas que fizeram a animação japonesa desfrutar de uma posição de destaque no mundo. Aproveite este especial e, portanto, descubra – ou relembre – algumas das produções mais importantes desse gênero tão difundido e amado mundialmente pelos Otakus. A Princesa e o Cavaleiro A grande obra-prima do gênio Osamu Tezuka, A Princesa e o Cavaleiro aportou no Brasil na década de setenta, época em que foi exibida pela extinta Tupi. Tratase das aventuras da Princesa Safiri, que, como filha do rei da Terra de Prata, precisa se disfarçar de homem para, conforme as tradições locais, ajudar a manter o trono do pai. Imaginem o dia a dia da moça, vestida de homem e engrossando a voz! E isso não é tudo, porque Safiri precisa 204 O Redator d’A Arca Perdida despistar o maléfico Duque Duralumínio, interessado em tornar o seu filho, Príncipe Plástico, em herdeiro do reino. O traço marcante de Tezuka, mestre que foi, deu o tom a essa ingênua aventura que no final de cada episódio tráz uma lição de vida, de moral e de bons costumes. Toda criança torcia pela princesa, que ganhou novos fãs no início dos anos oitenta, ocasião em que o anime foi exibido pela Record. Quantas saudades dessa poesia em forma de desenho! Patrulha Estelar Talvez a maior saga espacial em desenho animado, Patrulha Estelar (Uchuu Senkan Yamato) apareceu originalmente em 1974 no Japão e mostrou a estória de um grupo de jovens dispostos a salvar a Terra do Império Gamilon. A nave? Um velho encouraçado japonês, o Yamato, afundado na Segunda Guerra Mundial e remodelado como nave espacial de combate. Fantasia? Pode até ser, mas ninguém liga, porque esse anime - nascido da parceria entre Reiji Matsumoto e Yoshinobu Nishizaki - é pura poesia. No Brasil, estreou juntamente com a extinta Rede Manchete, no início dos anos oitenta; emissora que trouxe somente duas das três sagas originais do desenho. Saudades do capitão Derek Wildstar e dos tripulantes da Argo - em combates espaciais que misturavam o estilo da Segunda Guerra Mundial às batalhas a la Guerra nas Estrelas. Destaque para a monumental trilha sonora composta por Hiroshi Myiagawa. Animes Famosos 205 Sawamu: o Demolidor Um ano após a misteriosa morte de Bruce Lee, 1974, estreou no Japão um anime de luta que ficou super famoso no Brasil: Sawamu (lê-se Savamú). O enredo traz o personagem título, um convencido lutador de Karatê que conhece uma nova arte marcial, o Chute Boxe (Boxe Tailandês), e que com alguma relutância passa a praticá-la. Destemido e ambicioso, desenvolve o famoso golpe Salto no Vácuo com Joelhada e, então, busca o campeonato mundial, tendo como maior rival o oponente tailandês Ponshai Geriakan. A música tema, cantarolada à exaustão pelos moleques, era algo ímpar: “Quem se julgar da natureza o rei / o dono e senhor das tempestades...”. Esse anime foi uma das manias no início dos anos oitenta! Macross / Robotech Série espacial que marcou época, Macross (ou Robotech, conforme conhecida nos Estados Unidos) tem um enredo bem incomum: uma poderosa nave espacial alienígena cai misteriosamente na Terra e é estudada pelos cientistas, até que esses dominam a tecnologia extraterrestre e aprendem a controlá-la. A gigantesca nave, 206 O Redator d’A Arca Perdida batizada de SDF-1 Macross, também continha armas especiais, como caças que viram robôs: os Valkyries. O grande problema? A Macross pertence a uma raça de alienígenas humanóides gigantes, os Zentraadys, os quais, na busca pela carga perdida, acham nosso planeta e pretendem dominá-lo à força. Somente o comandante Henry Gloval e seus asseclas são capazes de detê-los. Animação e trilha sonora excelentes compõem o clima bacana desse anime. Zillion Esse clássico anime, que deixou saudade, foi exibido pela Rede Globo em 1987, na mesma época em que a emissora transmitiu os saudosos Transformers e Comandos em Ação. Maris, uma colônia humana, guerreava contra uma raça alienígena incomum, os Noza, que pretendiam dominar aquele mundo para utilizá-lo como uma enorme estufa, a fim de que a próxima geração de seres estivesse garantida - os ovos seriam postos no planeta. Tecnologicamente imbatíveis, os Noza somente podiam ser detidos por três pistolas misteriosas, batizadas de Zillion, que surgiram miraculosamente e foram parar nas mãos dos mais famosos atiradores de Maris: a equipe White Knight. De fato, personagens como J. J., Champ e Apple ficarão para sempre nos corações dos fãs de anime. As cenas de ação, especialmente as que envolviam as motos da turma e os tiroteios, eram espetaculares. Curiosidade: a Tec Toy chegou a lançar os brinquedos do desenho no Brasil. Animes Famosos 207 Akira Essa criação de Katsuhiro Otomo, lançada em 1988, foi um marco na animação, sem dúvida nenhuma. Violenta, ousada e impressionante, a trama, futurista, é sobre Kaneda, líder de uma gangue de motoqueiros, e seu amigo, Tetsuo, que se envolve num projeto governamental suspeito conhecido como Akira. Ambos os amigos, o primeiro em auxílio ao segundo, acabam se deparando com uma torpe de criminosos, de militares revoltados e de renegados políticos, dando aquela idéia de conspiração à coisa toda. Ganhador do prêmio Silver Scream Award de 1992, Akira é o tipo de produção que transcendeu o universo do anime. Fantástico. Ghost in the Shell Em 2029, num futuro caótico, tecnológico e cibernético, um perigoso software, o The Puppet Master, foge ao controle do criador e inicia crimes dentro da rede eletrônica de computadores, sistema utilizado pela grande maioria da população do mundo. Cabe a um grupo especial, o Section 9 sob o comando da major Motoko Kusanagi, a tarefa de deter os novos criminosos. Esse denso anime de 1995, criado por Masamune Shirow, inspirou diversas produções cyberpunk da atualidade, tendo em The Matrix um dos exemplos mais claros. A arte, a animação e os efeitos em CG são um show à parte. Imperdível. 208 O Redator d’A Arca Perdida Neon Gênesis Evangelion Eis uma idéia muito original, espetacular. A Terra é atacada por criaturas superpoderosas conhecidas como Anjos, virtualmente indestrutíveis. A única forma de detê-los são meca-organismos (espécie de robôs orgânicos gigantes), os EVAs, criados por cientistas e pilotados por crianças – especiais – de catorze anos de idade, que dispõe de códigos genéticos semelhantes aos das criaturas. Recheado de combates espetaculares e com uma trama para lá de Arquivo-X, Evangelion é um dos melhores exemplos de anime para adultos. Quem são os Anjos? Por que atacam a Terra? Assista à criação de Hideaki Anno e tire suas conclusões. Ranma ½ A criação de Rumiko Takahashi é um dos animes mais engraçados já vistos até hoje. Akane Tendo é uma colegial que foi prometida pelo pai a um jovem praticante de artes marciais, Ranma Saotome. Até aí, tudo bem. As esquisitices começam quando o jovem, ao ser molhado com água fria, transforma-se numa garota. Ah, quer mais esquisitices? O pai de Ranma, Genma, também se transforma quando molhado, mas num urso panda. Situações hilárias – quando em forma de garota, Ranma é paquerado insistentemente por um garoto – e imprevisíveis fazem desse anime algo ímpar no gênero. Vale a pena! Kung Fu: Uma Lenda da TV Introdução No início da década de setenta o Ocidente começara a alimentar-se de uma onda de curiosidade desperta a partir de meados da década antecessora. Através dessa tal onda, o homem - “civilizado” do Ocidente passou a desejar os conhecimentos e as maneiras oriundos da Ásia, especialmente os relacionados às crenças espirituais, aos costumes e às artes marciais. Esse fato se revelou, sobremaneira, na moda e na música daqueles tempos; ambos tão bem representados pelos Hippies. No turbilhão cultural do princípio dos “Seventies”, uma série de TV surgira a tempo de ser “digerida” pelos anseios emergentes. No início da abertura desse seriado, via-se um homem magro e alto caminhar – ao nascer de um novo dia - cabisbaixo sobre dunas, deixando seus passos impressos na areia ao mesmo tempo em que se ouvia uma triste e típica música chinesa. Um homem perseguido pelo passado e temeroso do futuro, preso numa terra inóspita na qual era desconsiderado como ser humano e na qual palavras como “honra” e “sabedoria” pouco significavam. Era a série “Kung Fu”, tomada pelos profissionais do meio como o primeiro “Eastern Western” (“Velho Oeste Oriental”) da história da TV. A origem da série – A Pureza Kung Fu é, numa análise superficial, o conto do órfão que virou mestre das artes marciais; e, numa visão minimalista, é a história do homem que virou mestre de si próprio, senhor de sua consciência. 210 O Redator d’A Arca Perdida Kwai Chang Caine é um mestiço nascido na China, filho de pai americano e de mãe chinesa. O menino, por não ter aonde ir ou onde se estabelecer, acabou por bater aos portões do Templo Shaolin. Embora mestiço, foi aceito pelo grande mentor daquele templo, Mestre Kan (interpretado pelo falecido Philip Ahn), o qual ignorou a premissa Shaolin – de que apenas chineses legítimos são admitidos - por ter sentido algo “especial” pelo pobre garoto solitário. Como parte da abertura da série, a nós é mostrada uma cena em flashback, representante de um dos primeiros momentos do jovem Caine no referido templo. Mestre Kan, suportando uma pequena pedra sobre a palma da mão aberta, diz ao garoto: “- Tão rápido quanto puder, arrebata a pedra de minha mão”. Obviamente, Caine efetuou tentativa frustrada, pois o velho Chinês cerrou a mão tão rapidamente quanto um piscar de olhos. O mestre, então, explicou ao garoto a forma através da qual deixaria o templo: se Caine conseguisse arrebatar a pedra, estaria apto a partir. Caine, de fato, lá permaneceu por anos, até ter se tornado um adulto. Durante o tempo decorrido no templo, aprendeu todos os segredos e técnicas do Kung Fu, como por exemplo, os estilos “animais” representantes das respectivas disciplinas: autocontrole, suavidade, velocidade, paciência, graça, dentre outras. Aprendeu a cuidadosamente caminhar sobre folhas feitas de arroz, dotado de tamanha suavidade capaz de não amassá-las e de não produzir ruídos. A lição essencial dentre todas, entretanto, foi a de controlar a “força interior”; algo batizado pelos chineses de Chi. Caine cresceu ao lado de outro grande professor, Mestre Pô (interpretado pelo falecido Keye Luke), a quem admirou muito e por quem nutriu amor e carinho. Esse mestre, aliás, foi o responsável pelo apelido dado ao menino: Gafanhoto. Mestre Pô era cego. O fato aguçou a curiosidade do infante, que, por ter sentido pena de seu tutor (na constatação da cegueira) disparou um dos diálogos mais bonitos da série: Kung Fu: Uma Lenda da TV 211 Mestre Pô: Feche seus olhos. O que ouve? Jovem Caine: Ouço o som da água. Ouço um pássaro. Mestre Pô: Ouve o tilintar de seu próprio coração? Jovem Caine: Não... Mestre Pô: Ouve o gafanhoto que está aos seus pés? Jovem Caine (de olhos abertos e remetidos ao chão): Velho, como consegue ouvir essas coisas? Mestre Pô: Meu Jovem, como não consegue ouvi-las? A partir desse momento, Caine passou a ser “Gafanhoto”. O momento chegou, finalmente, e Caine foi capaz de arrebatar a pedra da mão de Mestre Kan. Antes de partir, contudo, devia receber a “graça” por ter atingido o status de Mestre Shaolin. A isso visando, Caine precisaria - num ritual de passagem - caminhar por um longo corredor repleto de perigos ao final do qual jazia um caldeirão cheio de carvões em brasa. Às laterais do artefato havia as figuras de um tigre e de um dragão. Aos olhos de todos os mestres com os quais Caine estudou, precisaria erguer o referido caldeirão, segurando-o com os braços e punhos. Passados alguns segundos, precisaria colocá-lo de volta. A cerimônia foi favoravelmente realizada. Ao executar o procedimento acima descrito, Caine recebeu em seus braços, involuntariamente, as marcas do dragão e do tigre; “impressas” pelo calor do caldeirão à pele do Shaolin. Caine deixara de ser o aprendiz que fora durante anos. A partir daquele momento já era mestre. 212 O Redator d’A Arca Perdida A origem da série – O “Pecado” Alguns anos após a saída do templo, Caine encontrou-se, por acaso, com seu antigo mestre Pô num lugar próximo ao “Templo do Paraíso”, na Cidade Proibida. Na época em que Caine aprendia, Mestre Pô confessou a ele a ambição de comparecer num determinado festival a ser realizado naquela cidade. A confissão se deu em caráter privativo, mesmo porque um mestre não poderia ter ambições daquele tipo; era algo proibido aos Shaolins. Pô, nesse encontro casual, confirmou a ida ao tal festival. Tencionando rever novamente seu querido mestre, Caine foi ao local da festividade. De fato, se encontraram e muito conversaram durante um passeio. No mesmo encontro, porém, se depararam com a “comitiva” na qual se integrava o arrogante sobrinho do Imperador da China. Após provocações oriundas desse e uma séria altercação, o membro da família real sacou de uma pistola e disparou em Mestre Pô, o deixando à beira da morte. Caine, instintivamente, jogou uma lança no jovem imperador, matando-o instantaneamente. O Shaolin, desesperado com a morte iminente de seu grande mentor (e, por que não, pai?), o pegou no colo e a ele suplicou perdão pelo assassinato cometido. Caine fora contra todos os ensinamentos prestados a ele, a partir do momento em que matou o sobrinho do Imperador. Mestre Pô, prestes a falecer, deu perdão ao favorito aprendiz e amigo, mas a ele também deu um aviso: precisaria deixar a China, pois o matariam – certamente - devido ao assassinato recém-cometido. A cabeça do Shaolin estaria “a prêmio”. Mestre Pô faleceu, mas, antes entregou a Caine uma “mochila” que continha os únicos pertences dos quais dispôs em vida. Cheio de ódio no coração, envergonhado e aterrorizado, o jovem Shaolin decidiu seguir o último conselho do mestre. Partiu para o país de origem do falecido pai: os Kung Fu: Uma Lenda da TV 213 Estados Unidos. Lá chegou no comumente conhecido “Velho Oeste”. Ele se esconderia na imensidão daquele país, no qual dificilmente seria encontrado ou reconhecido. A origem da série – Os Plots As bases da série estavam prontas. Caine, o “estranho no ninho”, seria “mais um chinês” na América. Precisaria lidar com o fato de, eventualmente, ser caçado por causa da acusação de assassinato na China, uma vez que sua cabeça estava “a prêmio”: 10 mil dólares seriam pagos pela captura do Shaolin, se vivo. Tanto caçadores de recompensas chineses quanto americanos o perseguiriam; afinal, o prêmio era alto. Precisaria, também, se deparar com o racismo desmedido dos americanos (devido às diferenças sócio-culturais e à ignorância), pois nos EU os chineses eram explorados como mão-deobra “quase” escrava. Nos primeiros episódios da série, os criadores de Kung Fu adicionaram um fator novo à história: Caine - supostamente - teria um meio-irmão mais jovem, Danny, que também estaria nos Estados Unidos. Além do plot básico citado, o Shaolin desejava encontrar-se com esse irmão, mesmo não tendo quase informações acerca dele. Danny, por conseguinte, seria o único parente dele, vivo e “de sangue”; Caine não tinha mais ninguém na vida. Na visão minimalista, a busca de Kwai Chang Caine era de foro íntimo, era a busca a si mesmo. Percebera a “burrada” feita na China. Conforme os ensinamentos por ele recebidos, nada justificaria o assassinato de um ser vivo, ainda que esse fosse mundano; mesmo porque os Shaolins são ensinados a não julgar as pessoas. Caine, durante todos os dias póstumos ao assassinato, permaneceu questionando consigo mesmo sobre ter causado a morte do sobrinho do imperador; se essa foi a atitude correta a ser tomada. Um questionamento reforçado pelo fato do sobrinho ter sido muito jovem em vida, e, portanto, inexperiente e destituído de “maldade” ou “má intenção” verdadeiras. O Shaolin percebeu a faceta de ser ele falho também, assim como o 214 O Redator d’A Arca Perdida era seu Mestre Pô (por ter desejado participar do festival proibido); afinal, ambos eram seres humanos. Talvez, a inserção do plot referente à busca ao meio-irmão tenha sido criada devido à dificuldade de transposição à tela da TV da real busca interior de Caine. Em cada episódio, Caine, além de procurar se esquecer do assassinato ocorrido na China e de buscar a seu irmão perdido, sempre acabava se envolvendo com os problemas de terceiros. Ao se deparar com as injustiças do Velho Oeste (foram inúmeras, creiam-me!), tentava auxiliar as pessoas na resolução dos problemas e em seus infortúnios, e, para tanto, punha em prática seus conhecimentos de Mestre Shaolin; fosse através da sabedoria ou do combate físico. Um dos fatores mais belos da série é: Caine fazia “de tudo” para postergar qualquer tipo de violência. Só colocava “em prática” o Kung Fu em último caso, em última instância. Os flashbacks são outra parte importante da série. Eles serviam para ilustrar as situações enfrentadas por Caine no dia-a-dia de sua vida nos Estados Unidos. Nos flashbacks são mostradas ao público as cenas de Caine no Templo Shaolin, ainda aprendiz, junto aos seus mestres. A lembrança de um ensinamento é diretamente proporcional à situação enfrentada por ele “na vida real”, em determinado episódio. Na minha sincera opinião, os flashbacks são uma das coisas mais bonitas de Kung Fu, pois através deles os criadores da série pretenderam atingir os corações e as mentes dos telespectadores com a beleza da Sabedoria Oriental. São os momentos mágicos da real “ação” de Caine sobre as pessoas localizadas do “outro lado da tela”. Kung Fu: Uma Lenda da TV 215 As mensagens de Kung Fu A magia da série Kung Fu, na minha opinião, não repousa nas belas cenas de luta ou nos combates. Está nas lindas mensagens da Filosofia Oriental, as quais são paulatinamente mostradas no decorrer da série. Isso acontece por meio das atitudes de Caine frente aos inúmeros problemas enfrentados, e, especialmente, através dos flashbacks nos quais o jovem aspirante a Shaolin recebe as lições e os ensinamentos de seus mestres: Kan e Pô. Afirmo: o enredo de Kung Fu, embora soe como um contrasenso - devido ao próprio título da série - incita à não-violência. Ao invés disso, mostra aos telespectadores quão bela pode ser a vida se formos compreensivos, se dermos amor ao próximo ao invés de molestá-lo ou de invejá-lo, se pararmos de julgar as pessoas pelas aparências, se aceitarmos as diferenças e se aceitarmos as pessoas da forma como elas são e agem. As histórias dos episódios revelam o amor triunfando sobre o ódio, o “bem vencendo o mal”. É como foi dito por mim: embora o nome da série nos remeta à arte marcial, durante os episódios constatamos apenas alguns “segundos” de luta; a violência é evitada ao máximo, ao passo que a percepção de mundo – moldada pelos ensinamentos Shaolins - do personagem principal é exaltada. Caine, na realidade, não busca ao seu irmão e nem foge de seus caçadores, mas se encontra na busca a si próprio. Ele busca a si mesmo. Todos nós buscamos a nós mesmos desde o momento em que nascemos. A cena de abertura da série é perfeita se tomada como ilustração: Caine anda sobre as dunas de areia, sem rumo; apenas caminha... Aonde chegará? Ele não sabe! Nem nós sabemos, com certeza, aonde iremos... É a eterna busca do ser humano ao autoconhecimento, ao domínio das próprias faculdades e das próprias idéias. A busca à capacidade de “ser um com o mundo”. Na vida fazemos isso. Caminhamos ao lado de nossos problemas, de nossos medos, de nossas decepções, ou seja, andamos sobre nossas próprias dunas de areia. E, como Kwai Chang Caine, deixamos os rastros de nossas pegadas. Se esses rastros perdurarão ou não, só depende de nós. 216 O Redator d’A Arca Perdida A criação de “Kung Fu” Ed Spielman: esse foi um dos homens responsáveis por “Kung Fu”. Adorador dos filmes do diretor japonês Akira Kurosawa, bem como do cinema asiático, Spielman também amava as artes marciais. No tempo em que esteve no Brooklyn College e estudou produção de TV e de Rádio, Ed amigou-se com um instrutor dessas artes. Certa vez, tal amigo disse a ele que a esposa poderia nocauteá-lo, apenas valendo-se de um ou de dois dedos para tanto. Intrigado por aquela informação, Spielman questionou com ele; perguntou o nome da arte praticada pela companheira. Kung Fu foi a resposta. A partir daquele momento Spielman principiou os estudos do tal Kung Fu e do idioma Chinês, mesmo sabendo não possuir prática imediata àquilo. Além dos estudos já citados, procurou trabalhar como escritor humorístico juntamente ao seu caro amigo Howard Friedlander. Porém, logo descobriria sua real vocação, pois essa não repousava no mundo do humor. Em longas conversas, Spielman contou a Howard lendas acerca da China e das artes marciais. Tendo por base essas lendas, escreveu uma pequena história na qual certo viajante se encontrava com um Monje Shaolin na China. Howard tanto adorou a história que logo uma idéia “brotou” no cérebro do escritor: sugeriu ao amigo a criação de outro conto no qual esse Monje fosse “transportado” para o Velho Oeste Americano. Spielman, agitadíssimo com o novo desafio, preparou uma história de 75 páginas, completa. Os dois amigos, tendo essa nova história como base, escreveram conjuntamente um roteiro de 160 páginas e uma introdução de 25. A introdução continha inúmeras informações sobre artes marciais, sobre Kung Fu e sobre filosofia oriental. Animadíssimos por todo o processo, ambos tencionavam a realização do maior filme americano do gênero, algo nunca antes visto pelo público. Nesse ponto, início dos anos setenta, os amigos não cogitavam a possibilidade da criação de uma série de TV, pois queriam produzir um longa-metragem para o Cinema. Após a entrega do roteiro a uma agência especializada, no final de 1970 ele foi comprado pela Warner Bros. A Warner o com- Kung Fu: Uma Lenda da TV 217 prou, uma vez que - dentre outros motivos – ainda pretendia utilizar os sets de filmagem dos “Western”, pois esse gênero de filme não era mais produzido. Infelizmente, durante o ano de 1971 a Warner cancelou o projeto porque algum “figurão” da empresa achou o roteiro muito “violento e esotérico” para os telespectadores norte-americanos. Segundo a empresa, outro proibitivo à realização do filme era o provável alto custo de produção. O dinheiro “move o mundo”, e, por conseguinte, não haveria “garantias” do sucesso do filme, conforme opinião deles. Ao término do mesmo ano, Harvey Frand, uma espécie de “trocador de figurinhas” entre as equipes de TV e de Cinema da Warner, leu o roteiro de Kung Fu e se encantou com ele. Adorou a história e a idéia, e achou que aquilo teria “apelo” para a TV. Harvey, portanto, levou o material aos executivos da ABC-TV e os convenceu da qualidade do roteiro; afirmou: Kung Fu daria um “excelente filme do mês”. O negócio foi concretizado e, finalmente, o filme sairia do papel! Seria, contrariamente aos desejos dos criadores, um filme feito para a TV. Na ocasião, Jerry Thorpe, diretor e produtor, procurava algo diferente em que trabalhar. Felizmente, Jerry obteve o roteiro de Kung Fu. Leu-o e um “amor à primeira vista” o acometeu. Em conjunto ao escritor Herman Miller transformaram o roteiro original (elaborado para Cinema) num script de TV. Em dezembro de 1971 iniciaram-se as filmagens do longametragem “Kung Fu”, um “piloto”, o qual teve 90 minutos de duração. Após a primeira exibição, o filme foi sucesso absoluto, tanto que a ABC providenciou a produção de outros 4 “episódios” (de 1 hora de duração cada) e exibidos mensalmente. Terminada a exibição do primeiro desses 4 episódios, mais 15 foram encomendados - tamanho o sucesso - e, como conseqüência disso, o “piloto” original acabou por virar realmente uma série. Estava criada uma das lendas da história da TV: a série “Kung Fu”. 218 O Redator d’A Arca Perdida O seriado rendeu 3 temporadas (de 1972 a 1975), tendo contabilizado 62 episódios no total. A duração de cada programa era de 1 hora. A série findou no dia 28 de junho de 1975, data em que foi exibido o último episódio. Infelizmente, Carradine não mais quis interpretar Caine, pois seu contrato havia “vencido” e não desejou renova-lo; preferiu seguir a carreira cinematográfica. Há rumores sobre a possível participação de Bruce Lee no processo de elaboração da série. Supostamente, algumas idéias creditadas a Ed Spielman teriam sido oriundas de Lee. Também, como suposição, o papel de Kwai Chang Caine a Lee teria sido prometido. A escolha do Ator – David Carradine Previamente ao início das filmagens, se discutia sobre a possibilidade da escolha de um ator asiático para desempenhar o papel principal da série. Bruce Lee foi um dos nomes escolhidos rapidamente. Ele não gozava da fama pela qual é hoje reconhecido, mas o admiravam pelo excelente trabalho feito na série “O Besouro Verde” (“The Green Hornet”), na qual interpretou o “ajudante” do herói, “Kato”. De fato, o pessoal do estúdio e da ABC ansiava por um ator musculoso e forte. Por outro lado, Ed Spielman (co-criador) e Jerry Thorpe (produtor e diretor) conseguiram convencê-los da contratação do ator David Carradine, inicialmente escolhido por eles. Carradine pareceu ser a escolha correta, justamente por ter interpretado tipos similares – introspectivos – a Kwai Chang Caine em peças de teatro da Broadway (“Deputy” em 1964-1965 e “The Royal Hunt of the Kung Fu: Uma Lenda da TV 219 Sun” em 1965-1966) e em produções de TV (“Shane” em 1966-1967). Carradine se parecia muito com Caine em certos aspectos: possuía algum conhecimento da filosofia oriental e nutria especial paixão pelo mistério e pelos elementos místicos da vida. Caine e Carradine eram vegetarianos. Apesar do desapontamento inicial dos membros da AAPAA (uma associação de atores asiáticos situados nos Estados Unidos), pela escalação de um ator “branco” para o papel principal de uma série cujo conteúdo “supostamente” era oriental, a maioria aceitou bem a escolha do ator. Carradine se mostrou perfeito para o papel. Na minha opinião, Bruce Lee não desempenharia o papel de Caine. Não o vejo como o Shaolin da série Kung Fu. Obviamente, não havia termo de comparação entre Lee e Carradine no tocante às lutas, ao Kung Fu; o primeiro era um lutador “de verdade” e o segundo era um ator. Porém, o olhar de Bruce Lee era inversamente proporcional ao de Carradine. Lee dispunha de um olhar “flamejante”, como o de um tigre prestes ao ataque. Carradine tinha um olhar “triste” “ao longe” – e inquisitivo, mas bondoso. Ele era capaz de “chorar e de sorrir” com o brilho dos olhos. Se a tônica da série fosse outra, na qual as lutas e a violência fossem valorizadas, talvez Lee tivesse sido o escolhido. O Jovem Caine Radames Pera, ator mirim à época de Kung Fu, aos 11 anos de idade foi escolhido para interpretar o garoto Kwai Chang Caine. De fato, Radames – filho de pai Uruguaio e de mãe Russa – também possuía similaridades ao personagem principal do seriado. A mãe gostava de Teosofia, e, por influência dela, Radames passou a usufruir idéias transcendentais. De fato, membros do elenco dizem o quão assemelhado com Caine era Radames, ainda criança. Alguns o definem assim: “um menino muito bondoso e inocente, exatamente como Caine”. 220 O Redator d’A Arca Perdida Curiosidades sobre a Série • O filme “piloto”, Kung Fu, estreou nos Estados Unidos no dia 22 de fevereiro de 1972, na rede ABC. • David Carradine não aceitou o papel de Kwai Chang Caine quando a ele foi oferecido inicialmente. Segundo o ator, à época não quis se envolver em algo que, eventualmente, tomaria tanto tempo quanto um seriado. Somente aceitou o papel após ter lido o roteiro. • A grande maioria das cenas de luta foram filmadas em câmera lenta. Esse processo, segundo os criadores da série, visava a “tira-la” do ordinário (de fato, nos demais filmes de artes marciais – e mesmo nos Westerns - tudo acontecia muito rapidamente) e a deixar os telespectadores “mais atentos” aos detalhes. Alguns insistem em opinar que o uso da câmera lenta transparecia menos violência. Na versão de Carradine, entretanto, um dos grandes problemas enfrentados pelos produtores da série era justamente a existência de uma censura às cenas de luta, especialmente às que findassem em morte de personagens. Segundo o ator, lutas belíssimas e extensamente coreografadas eram sumariamente eliminadas dos episódios por causa de “cortes” ministrados pelo “FCC” (uma espécie de entidade responsável pela censura). De fato, o tal FCC permitia, na época, apenas 4 minutos de cenas de luta por episódio, ao passo que a ABC requeria, pelo menos, duas grandes seqüências. Essa problemática foi resolvida de uma maneira simples: em cada episódio inseriram 2 lutas, conforme requisitado; uma bem pequena no início e outra maior no final. • A ilusão de “cegueira” de Mestre Pô foi criada através de aplicações de lentes de contato opacas sobre os olhos do ator Keye Luke. Pequenos orifícios foram feitos nas lentes, contudo, o ator não enxergava praticamente nada quando as usava. O fato curioso: Keye Luke permanecia o dia todo com elas. Isso acontecia por serem trabalhosas a colocação e a remoção dessas lentes, e também porque o ator, daquela forma, se sentia mais incorporado ao personagem. Kung Fu: Uma Lenda da TV 221 • Em meados da primeira temporada, Caine passou a carregar consigo uma flauta feita de bambu. Ela foi criada por Michael Greene, um dos atores convidados (nomeado ao Emmy devido às atuações na série) e amigo pessoal de Carradine. A idéia de se incorporar uma flauta aos pertences de Caine veio do próprio astro. Entendia que um mestre Shaolin devia dominar uma das formas da arte; nesse caso, a música. Houve, além da primeira, 3 outras flautas diferentes no decorrer da série, todas manufaturadas por Carradine (aprendeu a construí-las). Caine tocou a tal flauta pela primeira vez no episódio de número 25 (“The Hoots”). • Em Kung Fu trabalharam atores “novatos” à época, tais como: Harrison Ford, Robert Duvall, Don Johnson, Gary Busey e até mesmo Jodie Foster (ainda criança). Oportunidades foram abertas a eles a partir de então. • John Carradine (o pai), Keith Carradine, Bruce Carradine e Robert Carradine (irmãos) atuaram ao lado de David em alguns episódios. • No início da série, Carradine teve seu cabelo totalmente raspado. No decorrer da mesma, o cabelo do ator cresceu paulatinamente. Ao término, ele o cortou mais uma vez. • Radames Pera, ator mirim que interpretou o jovem Caine, era freqüentemente provocado pelos colegas do colégio, pois esses viviam querendo brigar com o garoto. Até o apelidaram de “Eightball” (algo como o “pouca telha” do Português) por causa do cabelo raspado. • Muitas das cenas filmadas no interior do Templo Shaolin foram captadas à luz de velas, pois a iluminação do lugar era feita desse modo, originalmente. Além do fato dos atores terem passado mal nessas cenas – tamanho era o calor produzido – a ABC nunca comprara antes tamanha quantidade de velas para uma série de TV. • Há rumores sobre a possível participação de Bruce Lee do processo de elaboração da série. Supostamente, algumas idéias creditadas a Ed Spielman teriam sido oriundas de Lee. Também, como suposição, o papel de Kwai Chang Caine a Lee teria sido prometido. 222 O Redator d’A Arca Perdida • O primeiro consultor de artes marciais da série foi David Chow. Chow não era totalmente formado na arte do Kung Fu, pois não concluíra seus estudos. Apesar disso, afirma Carradine, o amor daquele homem pela cultura Chinesa e pelas artes marciais era imenso e empolgante. Sábio, incitou Carradine ao real aprendizado daquela arte. Após a saída de David Chow da série, um mestre Shaolin “real” assumiu o papel dele: Kam Yuen, um especialista no estilo “Praying Mantis” (Louva-Deus). A partir da entrada de Kam, as cenas de luta tornaram-se mais reais; havia Kung Fu “de verdade” nos combates. • No início da Terceira Temporada da série, David Carradine principiou “oficialmente” o estudo do Kung Fu. Kam Yuen o guiou. Kung Fu no Brasil Em nossa terra o seriado foi exibido a partir de meados de 1973 (não conheço a data exata) pela Rede Globo. A exibição aconteceu durante quase toda a década de setenta. A primeira lembrança pessoal da série é a abertura da mesma; num “flashback” lembro-me de ter visto, aos 5 ou 6 anos de idade, Caine caminhar pelas dunas de areia. Também guardo recordações dos mestres Pô e Kan. Esse fato ocorreu, provavelmente, entre 1977 e 1978 (hoje tenho 29 anos de idade). Kung Fu fez muito alarde dentre a molecada e dentre os adolescentes. Os adultos também gostavam da série. O sucesso foi tamanho que uma editora, a Livraria José Olympio Editora, publicou alguns livros da série, todos traduzidos ao Português. A dublagem da série A dublagem se realizou no estúdio “Cinecastro”. O diretor de dublagem foi também o primeiro dublador de Caine: o falecido Ari de Kung Fu: Uma Lenda da TV 223 Toledo. O lendário Ari foi um grande diretor de dublagem. Ao longo dos anos emprestou sua bela voz a diversos personagens, dentre eles: • Pernalonga • Chefe Sharkey (série “Viagem ao Fundo do Mar”) • Major D. West (série “Perdidos no Espaço”) • Furuashi (série “Ultra Seven”) Infelizmente, devido ao falecimento do artista - ocorrido em 1974 - a voz de Caine precisou de substituição. Até a conclusão desse artigo não consegui obter os nomes dos demais dubladores do personagem. Há rumores – sem confirmação – sobre uma das possíveis substituições: Afonso Celso de Vasconcellos (dublador do Detetive Columbo, do Dan Moroboshi (“Ultra Seven”), do ator Sidnei Poitier e do Líder Optimus (“Transformers”) teria dublado o personagem em alguns episódios. O jovem Caine foi dublado por Carlos Marques (ele alterou a própria voz para que essa soasse como a de um menino). Carlos é um dos dubladores mais reconhecidos dessa profissão. A voz do ator ficou eternizada através das seguintes dublagens: • Garfield (desenho homônimo) • Derek Wildstar (desenho “Patrulha Estelar”) • O sapo Pancho (desenho “Toro & Pancho”) • Dartagnan (desenho “Dartagnan e os Três Mosqueteiros”) Mestre Pô, aparentemente, foi dublado por dois artistas diferentes: Pietro Mario, que, dentre outros personagens, dublou: • Zé Buscapé (desenho homônimo) • Capitão Caverna (desenho homônimo) • Don Pixote (desenho homônimo) • Bosley (série “As Panteras”) • Billy (série “Baretta”) ou Paulo Pereira (falecido), que também dublou: • Dom Alejandro (série “Zorro”) 224 O Redator d’A Arca Perdida • Brutus (desenho “Popeye” – uma das vozes) • O ator Humphrey Boggart Infelizmente, as informações aqui descritas foram as únicas encontradas sobre a dublagem da série. Os atores principais da série David Carradine como Kwai Chang Caine Filho do ator John Carradine, David nasceu em 1936, em Hollywood, entretanto, foi criado “um pouco” na Califórnia, em Nova York, em Massachusetts e em Vermont. Após os períodos militar e escolar, David atuou em duas peças teatrais da Broadway: “The Deputy” e “The Royal Hunt of the Sun”. Depois foi a Hollywood e atuou num seriado de TV: “Shane”. Atuou também em alguns filmes. Através das experiências vividas nessas produções, David veio a atuar em “Kung Fu” a partir de 1972. Ele e a atriz Barbara Hershey apaixonaram-se nessa época e tiveram um filho: Free. Após o cancelamento da série, Carradine entregou-se à carreira cinematográfica, tendo atuado em diversos filmes. Nos anos noventa surgiu uma “continuação” à série Kung Fu, “Kung Fu: A Lenda Renasce”. Carradine viu-se no mundo dos Shaolins, mais uma vez. De fato, ele “entrou de cabeça” nas artes marciais, tendo “realmente” experimentado a disciplina do Kung Fu. Carradine publicou – em 1991 - um livro a respeito da filosofia dessa arte: “The Spirit of Shaolin”. No mesmo ano lançou, também, 2 vídeos sobre exercícios do Kung Fu. Outros interesses de David Carradine eram: música e composição, escultura e pintura. Kung Fu: Uma Lenda da TV 225 Radames Pera como o Jovem Caine Radames Pera nasceu em 1960, em Nova York. Filho de pai Uruguaio, um artista, e de mãe Russa, aspirante a atriz e modelo. O casamento dos pais, infelizmente, não durou muito. A mãe decidiu tentar a carreira de atriz em Hollywood. Mudou-se para a Costa Leste em 1964 (junto a Radames) e atuou em alguns seriados e filmes de TV. A grande chance apareceu em 1967, pois estava “pronta” a contracenar com Anthony Quinn num importante filme dirigido por Daniel Mann. Radames foi apresentado ao diretor, tendo conseguido um teste. Foi aprovado e ganhou o primeiro papel de sua vida: o “filho” no filme “A Dream of Kings”. Aos 11 anos de idade foi agraciado com o papel de Gafanhoto, na série “Kung Fu”. Na verdade, Pera teria dito para a mãe que atuaria somente por um curto período de tempo. Porém, aos 13 anos de idade, era o “arrimo de família”, e, como tal, foi encorajado pela mãe a prosseguir. Após o cancelamento de Kung Fu, Radames foi quase “automaticamente” contratado a atuar num programa de TV – “Little House on the Prairie” – no qual interpretou o personagem John Junior. Infelizmente, nunca teve uma sólida carreira de ator, uma vez que viveu sempre interpretando personagens em “pontas”; depois de Kung Fu, praticamente não ganhou mais nenhum papel principal de peso. Desanimado com esse fato, passou a experimentar - por conta própria - a direção. Foi quando principiou a utilizar novas tecnologias de vídeo e de áudio artisticamente. Curiosamente, no final dos anos oitenta montou uma empresa especializada em design e em montagem de Home Theaters. Pera tem clientes famosos, como: Nicholas Cage, Johnny Depp, Sharon Stone, dentre tantos outros. Keye Luke como Mestre Pô Keye Luke, nascido em 1904, estreou no mundo do show business no departamento artístico da Twentieth Century Fox. Encorajado 226 O Redator d’A Arca Perdida a atuar, o fez num filme no qual contracenou com Greta Garbo (“Painted Veil”). Luke ficou conhecido do público através de sua atuação na série “Charlie Chan”, na qual interpretou o “Primeiro Filho”. Teve papéis fixos em diversas séries de TV, como em “General Hospital”. Além das séries de TV, participou de diversos filmes e de comerciais. Destaque para as atuações dele nos filmes: “Gremlins”, “Project X” e “Alice”. Infelizmente, faleceu em 1991, aos 87 anos de idade. Philip Ahn como Mestre Kan Philip Ahn, nascido em 1905, em Los Angeles, estudou em colégios públicos e cursou a University of Southern California. A carreira do ator se iniciou em 1936, quando foi escolhido para uma “ponta” num filme de Bing Crosby (“Anything Goes”). Philip atuou em diversos filmes, tais como: “The General Died at Dawn”, “Disputed Passage”, “The Left Hand of God”, “Impact”, dentre outros. Também participou de algumas séries de TV: “M*A*S*H*”, “Mr. Garland” e “Love, American Style”. O pai de Philip Ahn, Chang Ho Ahn, foi um dos fundadores da República da Coréia. De fato, no início dos anos setenta, ele participou de festividades naquele país, visando a homenagear o pai, em Seoul. Infelizmente, faleceu em 1978, aos 73 anos de idade. Atores Convidados Houve diversos atores asiáticos convidados. Citarei os nomes de alguns: • James Hong: “Blade Runner”, “A Vingança dos Nerds”, “Chinatown”, “Aventureiros do Bairro Proibido”. Kung Fu: Uma Lenda da TV pital”. 227 • Beulah Quo: “Flower Drum Song”, “Chinatown”, “General Hos- • Soon-Teck Oh: “Desejo de Matar 4”, “Braddock II”, “007: The Man with the Golden Gun”. • MAKO: “Tucker”, “The Wash”. Epílogo Kung Fu retornou em 1986 por meio de outro longa-metragem cujo nome é Kung Fu: The Movie. Em 1993, também, uma nova série baseada na original foi produzida: “Kung Fu: The Legend Continues” (o título brasileiro é “Kung Fu: A Lenda Renasce”). Por favor, aguardem meu próximo artigo acerca dessas continuações! Os Mestres da Trilha Sonora Parte I No início do cinema não havia som. Gênios como Chaplin, Eisenstein e Fritz Lang precisaram valer-se das respectivas mentes brilhantes para entreter o público e se fazer compreender. Depois, as películas foram acompanhadas por pianistas durante as sessões de cinema, inovação que possibilitou a inserção musical às imagens da telona. Os primeiros filmes sonoros, então, vieram, como o histórico The Jazz Singer, de Al Jolson, e Branca de Neve e os Sete Anões, a famosa animação da Disney. Depois dessa etapa inicial, os primeiros compositores apareceram – e os nomes são vários: Alfred Newman, Bernard Herrmann, Franz Waxman, Erich Wolfgang Korngold, Elmer Bernstein, Miklos Rozsa e tantos outros. Este artigo exclusivo d´A ARCA traz a vocês, caros leitores, a primeira parte de um especial sobre os novos compositores de trilhas cinematográficas, artistas que começaram seus trabalhos na década de setenta e que auxiliaram a compor – literalmente – as atmosferas de muitos filmes clássicos, tornando-os o que são hoje. Nesta primeira parte teremos informações sobre os músicos James Horner, Danny Elfman e Alan Silvestri. Divirtamse e som na caixa! 230 O Redator d’A Arca Perdida James Horner James Horner nasceu em Los Angeles, o filho de um famoso designer de produção: Barry Horner. Desde criança mostrou tremenda aptidão para a música e aos cinco anos de idade iniciou o estudo formal de piano. Cursou a famosa universidade UCLA nos anos setenta, pela qual conseguiu um doutorado em teoria musical, e para a qual também lecionou. Horner começou a trabalhar com trilhas após sofrer algumas dificuldades para exibir ao público o seu Spectral Shimmers, um concerto de música erudita, fato que o desmotivou bastante. Nesse período, contudo, o pessoal da American Film Institute ofereceu ao professor da UCLA uma oportunidade para compor a trilha de um filme, projeto que agarrou com unhas e dentes. Depois dos primeiros trabalhos, de fato, o compositor pegou gosto pela coisa e foi contratado por Roger Corman, o famoso diretor e produtor de películas B, para musicar filmes da nova produtora desse – a New Line. A trilha do cult Mercenários das Galáxias (1980), por exemplo, foi criada por Horner em início de carreira. Em 1981 compôs seu trabalho inicial para um estúdio de primeira linha, a Orion Pictures, para o filme A Mão, do diretor iniciante Oliver Stone. Diversos trabalhos no mesmo ano surgiram e, então, em 1982 foi contratado para musicar Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, obra que imortalizou Horner e fez com que entrasse para o rol dos compositores principais de Hollywood. Muitos filmes vieram depois, como Krull (1983), Projeto Brainstorm (1983), Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock (1984), Cocoon (1985), Aliens: O Resgate (1986), Willow – Na Terra da Magia (1988) e tantas outras famosas produções. Nos anos noventa, Horner criou muita coisa boa; foram trabalhos diversos: Rocketeer (1991), Jogos Patrióticos (1992), O Dossiê Pelicano (1993), Lendas Da Paixão (1994), Perigo Real e Os Mestres da Trilha Sonora – Parte I 231 Imediato (1994), Coração Valente (1995), Apollo 13 (1995), A Máscara do Zorro (1998), e por aí vai. O ápice da carreira aconteceu em 1997, ocasião em que lançou a trilha de Titanic, o famoso filme de James Cameron. O trabalho valeu-lhe diversas premiações, incluindo-se dois Oscar. O compositor goza hoje de quase 150 trilhas em seu nome, dezenas de prêmios e muitas indicações. Uma curiosidade interessante: no princípio, ele foi “acusado” pelos críticos de plagiar muito a si mesmo. De fato, há similaridades inegáveis entre os scores de Krull, Star Trek II, Star Trek III e Aliens: O Resgate. Atualmente, Horner trabalha na trilha do filme Cinderella Man, de Ron Howard, seu amigo. Danny Elfman Esse músico Texano, filho de uma escritora infantil e de um militar da Força Aérea, é um dos mais bem sucedidos compositores do cenário atual. Criador e ex-integrante da finada banda Mystic Knights of Oingo-Boingo (depois rebatizada de Oingo Boingo), Elfman começou a escrever trilhas por acaso, em Los Angeles, quando um jovem fã da banda à época, o diretor Tim Burton, convidou-o a compor as músicas de seu despretensioso filme As Grandes Aventuras de Pee Wee, de 1985, com o comediante Paul Reubens (Pee Wee Herman). 232 O Redator d’A Arca Perdida A parceria entre os dois rendeu inúmeras trilhas formidáveis: Os Fantasmas Se Divertem (1988), Batman (1989), Edward Mãos-deTesoura (1990), Batman: O Retorno (1992), Marte Ataca (1996), A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), O Planeta dos Macacos (2001) e demais. Compôs, também, temas para algumas séries de tevê: Na Mira Do Tira (1986), The Flash (1990), Mulher Nota 1000 (1994) e para o cultuado desenho animado Os Simpsons (1989); trabalho pelo qual teve enorme reconhecimento e sucesso. Outras trilhas famosas de Elfman incluem Os Fantasmas Contra-Atacam (1988), Darkman (1990), Missão: Impossível (1996), Homens de Preto (1997) e Homem-Aranha (2002). Dentre os muitos prêmios ganhos estão um Golden Globe, pela trilha de O Estranho Mundo de Jack (em 1993), diversos Saturn Awards (do Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films) por Homem-Aranha, Homens de Preto e A Lenda Do Cavaleiro Sem Cabeça, e duas indicações ao Oscar pelos trabalhos em Homens de Preto e em Gênio Indomável, ambos em 1998. Atualmente, Elfman trabalha na trilha de Homem-Aranha II. Alan Silvestri O Nova Iorquino Alan Silvestri iniciou a carreira musical em meados dos anos setenta, época em que compôs trilhas para séries como Starsky & Hutch (1975) e CHiPs (1977), e também para os famigerados filmes dos Dobermans exibidos à exaustão pelo SBT nos anos oitenta. Mas foi justamente naquela década que Silvestri abraçou, definitivamente, o sucesso ao compor trilhas para produções como Tudo Por Uma Esmeralda (1984), De Volta para Os Mestres da Trilha Sonora – Parte I 233 o Futuro (1985), Predador (1987), O Segredo Do Abismo (1989) e para séries de tevê como Amazing Stories (1985) e Tales From the Crypt (1989). A música da trilogia De Volta Para o Futuro ficou mesmo marcada no inconsciente sonoro das pessoas, e isso é um dos feitos mais difíceis para um compositor de trilhas alcançar. A parceria entre ele e o diretor Robert Zemeckis rendeu, verdade, material musical muito bom. Silvestri compôs, ainda, trilhas para os seguintes filmes de Ficção Científica e de Fantasia: O Vôo do Navegador (1986), O Segredo Do Abismo (1989), Predador II (1990), O Juiz (1995), Contato (1997), Jornada nas Estrelas: Insurreição (1998), O Retorno da Múmia (2001) e outros. O compositor ganhou uma série de prêmios e de indicações, tais como diversos Saturn Awards (do Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films) por Predador e por De Volta Para o Futuro III, e do ASCAP (Film and Television Music Awards) por O Pequeno Stuart Little e Contato. Ganhou, também, uma indicação ao Oscar pelo filme Forrest Gump, em 1995. Atualmente trabalha no score de Van Helsing, filme de Stephen Sommers que será lançado em 2004. Aguardem, caros leitores, pela segunda parte deste artigo, que conterá mais compositores atuais responsáveis por trilhas formidáveis. Os Mestres da Trilha Sonora Parte II Gostaram da primeira parte? Pois aproveitem, caros leitores d´A ARCA, para conhecer mais dois grandes novos compositores que fizeram história. Howard Shore Howard Leslie Shore nasceu no Canadá em 1946. Talentoso, no início da década de setenta se formou em Composição e Regência, e debutou em 1975, época em que foi o primeiro diretor musical da banda do lendário programa Saturday Night Live. Nos anos oitenta, produziu trilhas para filmes de seu país natal, o Canadá, tais como The Brood (1980), e firmou uma parceria duradoura com o lendário diretor David Cronenberg, também canadense, através da qual compôs para as películas Scanners: Sua Mente Pode Matar (1981), Videodrome (1983) e A Mosca (1986), dentre outras. Na mesma década trabalhou para diretores famosos como Martin Scorcese, em Depois de Horas (1985), após a popularidade obtida nos Estados Unidos pelo compositor. 236 O Redator d’A Arca Perdida Nos anos noventa, Shore compôs as trilhas de diversas produções que marcaram época: Silêncio dos Inocentes (1991), M. Butterfly (1993), Uma Babá Quase Perfeita (1993), Filadélfia (1993), Ed Wood (1994), Crash (1996), Striptease (1996) e Copland (1997). Mais recentemente, em 2002, o compositor ganhou o merecido Oscar pela trilha de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel. De fato, ele se acostumou aos diversos prêmios e indicações recebidos, dentre os quais vários ASCAP Award (do ASCAP Film and Television Music Awards) e um Grammy, em 2003, também por O Senhor dos Anéis. Um dos últimos trabalhos foi a trilha do filme Quarto do Pânico, de 2002, além da esperadíssima terceira parte da obra de Tolkien, a qual deverá estrear no final deste ano. Atualmente compõe a trilha de King Kong, filme do aclamado diretor Peter Jackson que será lançado em 2005. Mark Snow O nova iorquino Mark Snow demonstrou cedo o talento para música. Estudou no New York’s Art and Music High School, local onde conheceu outro compositor hoje famoso, o recém falecido Michael Kamen. Ambos entraram na lendária Julliard Music School e foram colegas de quarto. Após a conclusão do curso, ele, Kamen e outros três músicos formaram uma banda pop, o New York Rock’n’Roll, gravaram alguns discos e excursionaram pelo país. Na década de setenta, atraído pelas trilhas de séries de tevê – São Francisco Urgente e Hawaii 5-0 – e maravilhado com o excelente score de O Planeta dos Macacos, de Jerry Goldsmith, Snow se decidiu por compor trilhas sonoras. Os primeiros trabalhos vieram por meio das séries Justiça em Dobro (Starsky & Hutch - 1975), Gemini Man (1976), Barco do Amor (1977) e Casal Vinte (1979). Nos anos oitenta, Snow compôs os temas de diversas séries famosas, mas muitas, infelizmente, desconhecidas do público brasileiro. Dinastia (1981) e Carro Comando (1982) são dois dos exemplos mais comuns. Porém, foi no início dos anos noventa que o compositor se Os Mestres da Trilha Sonora – Parte II 237 tornaria imortal ao compor o score da série Arquivo-X. É impossível, verdade seja dita, desassociar a música do compositor às tramas do seriado que se transformou num dos maiores cults da história da tevê americana. O tema de abertura é inesquecível, facilmente assimilável e, de fato, exaustivamente cantarolado ou assoviado pelos fãs do gênero. Ainda na década de noventa trabalhou novamente com Chris Carter, o criador de Arquivo-X, pois também compôs a trilha da série Millennium. Outra das séries famosas em cuja música se pode notar o talento do compositor é Nikita, aquela baseada no filme homônimo francês. Ainda nos anos noventa, já bastante famoso, compôs o score para um telefilme baseado no livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, tamanha a admiração pelo trabalho de Bernard Herrmann, compositor das antigas que musicou Viagem ao Centro da Terra e A Ilha Misteriosa, ambas também do escritor francês. Esse trabalho soa quase como uma homenagem àquele mestre. Os últimos trabalhos de Mark Snow são as trilhas da nova série – cancelada – Além da Imaginação e de Smallville, e a música do game Syphon Filter: The Omega Strain, que será lançado no ano que vem. Premiado por anos consecutivos com o ASCAP Award, Snow tornou-se um dos músicos mais famosos do showbusiness. Os microcomputadores da Atari Quando se fala de Atari, logo vem à nossa cabeça o console mais famoso de todos os tempos, o 2600. Porém, a empresa de Nolan Bushnell também lançou uma linha de microcomputadores de 8 bits de muito sucesso no final dos anos setenta. Falamos dos Atari 8 Bit, que não chegaram ao Brasil. Projetados para fazer frente aos já consolidados Apple II, Commodore PET e TRS-80, os micros da Atari foram os primeiros a receber chips customizados e dedicados, como o CTIA, que produziam melhores gráficos, mais cores e sons elaborados. Os primeiros modelos chegaram em 1979 às prateleiras: Atari 400 e Atari 800. O primeiro, cujo gabinete era menor, vinha com singelos 16 Kbytes de memória, 1 slot para cartuchos e teclado do tipo membrana. O segundo era maior, possuía dois slots e vinha com 48 Kbytes. Ambos pesavam muito devido a blindagem interna, de metal, contra emissões indesejadas de radiofreqüência – proteção mandatória segundo norma do FCC, uma agência americana reguladora do setor, para que televisores e rádios não sofressem interferência oriunda dos micros. No início dos anos 80, porém, a FCC “aliviou” a norma, fazendo com que não se precisasse mais empregar tamanha blindagem. Como a fabricação em si do 400 e do 800 também era cara, a empresa resolveu partir para um novo modelo; menor, bem mais leve e mais barato. E foi assim que começou a nascer a linha XL. 240 O Redator d’A Arca Perdida O próximo lançamento aconteceu em 1982 e foi o 1200 XL, que não era necessariamente menor que os antecessores, mas era bem mais leve e continha uma série de melhorias: 64 Kbytes de memória, teclado mais profissional e com teclas de funções e HELP, e até mesmo um sistema de autoteste. Na ânsia de lançar o micro, a Atari acabou por fazer modificações cruciais de hardware e alterações no sistema operacional que deixaram o computador incompatível com muitos softwares e jogos préexistentes. Isso se refletiu nas vendas, fracas, e a produção foi abandonada precocemente no início de 1983. Com a concorrência iminente da nova linha de micros da Commodore, o Commodore 64, a Atari precisava se mexer para não perder mercado. Os técnicos da empresa se debruçaram sobre a prancheta mais uma vez e tomaram como base o fracassado 1200 XL, fazendo correções de hardware e software, e aproveitando o design do micro, inovador. E assim foram lançados dois novos produtos no final de 1983: o Atari 600 XL, com 16 Kbytes de memória e menor, e o Atari 800 XL, com 48 Kbytes, sendo que ambos continham a linguagem Atari BASIC na memória, o que antes só estava disponível via software. Embora o 800 XL, em especial, tenha feito proporcionalmente muito sucesso, as vendas iniciais ficaram aquém do previsto devido a um problema na linha de produção. A empresa começou a entregar as primeiras unidades com seis meses de atraso e em pequeno número no Natal de 1983, sofrendo uma enorme concorrência do Commodore 64, que vendia como água e estava disponível em grande escala. No período em questão, acontecia nos Estados Unidos um fenômeno que ficou conhecido como o Crash de 1983, quando houve um desinteresse generalizado por consoles de videogame e os preços despencaram, gerando prejuízos milionários. Como a Atari já sofria por causa de suas massivas perdas no setor, era difícil suportar mais Os microcomputadores da Atari 241 uma quase certa derrota com o 800 XL. Sendo assim, os executivos da Warner, detentora da marca, resolveram vender o departamento “home” da Atari, que englobava videogames e computadores. O novo comprador, por incrível que pareça, era Jack Tramiel, ex-presidente da concorrente Commodore. Tramiel ordenou a imediata suspensão do setor de consoles e a concentração no setor de Informática. A fim de tornar o 800 XL mais competitivo, a produção foi levada para a China e o preço caiu; ainda assim, a Commodore levava a melhor por conta de seu parque instalado e da constante derrubada de preços. Sob nova direção, a Atari lançava em 1985, então, a linha XE com os micros 65 XE e 130 XE – com design diferente e com, respectivamente, 64 Kbytes e 128 Kbytes de RAM. Apesar de contar com algum software exclusivo para a memória adicional do modelo 130, a aceitação da linha XE foi mínima. Micros de 16 bits, mais poderosos, começavam a despontar no mercado e chamavam a atenção dos consumidores. A última cartada da empresa, por fim, aconteceu em 1987 e foi motivada pelo sucesso de vendas do console NES da Nintendo. A Atari, para aproveitar o novo boom, lançou o Atari XE Game System, mais conhecido como Atari XEGS, um misto de videogame e computador que vinha com pistola, teclado destacável e alguns cartuchos de jogos exclusivos, como Bug Hunt e Flight Simulator II. Poucos títulos e falta de suporte de software levaram ao total desinteresse por parte do consumidor e ao fracasso do XEGS. 242 O Redator d’A Arca Perdida No início de 1992, morria oficialmente a linha Atari 8 Bit, descontinuada por ordem de Sam Tramiel, filho de Jack, que se concentrava na nova linha de micros de 16 Bits: o Atari ST e suas variações. Periféricos Ao longo da vida dos Atari 8 Bit, uma série de periféricos foi lançada tanto pela Atari quanto por outras empresas, tais como Datacorders (gravadores cassete para carga de programas), disk drives, joysticks, impressoras, modems, expansões e outros produtos. O periférico mais revolucionário, contudo, foi criado bem depois da morte do sistema, a interface SIO2PC, que transformava seu PC doméstico, virtualmente qualquer PC, em um disk drive “emulado” para o Atari. Em outras palavras, era possível carregar software de verdade usando seu PC como se este fosse um disk drive, eliminando a necessidade de se usar diskettes. Jogos Os jogos foram um dos motivos pelos quais os micros da Atari fizeram sucesso. Além de dispor de versões melhoradas – em relação ao Atari 2600 – de famosos jogos da empresa e de third parties, como Defender, Berzerk, Pitfall!, Demon Attack, Pole Position e H.E.R.O., havia jogos mais complexos e “realistas”, como E.T. Phone Home!, um dos primeiros da história a apresentar um final definido, além de ter sido programado e criado por uma equipe grande de técnicos, algo revolucionário. Os games, aliás, estavam disponíveis nos formatos cartucho e diskette. Os jogos de diskette eram títulos que ocupavam uma face de um disco de 5.25 polegadas, duas faces ou até mesmo vários discos – dependendo da complexidade. Havia games exclusivos, como o Os microcomputadores da Atari 243 divertido Alley Cat, e versões melhoradas de jogos que existiam em outras plataformas do período, como Spy vs. Spy, Karateka, Conan, Raid Over Moscow e The Goonies, geralmente mais coloridos e com música elaborada no Atari. Um tipo de game, especialmente, fez muito sucesso, o Adventure, seja o de texto puro, como Adventureland, ou o gráfico, como Lucifer´s Realm, The Institute e os da série Ultima; jogos em que a missão era explorar um mundo, coletar itens e realizar tarefas, e os comandos eram digitados, não havia uso de joystick. De uns anos para cá, com a onda do colecionismo de games e micros antigos, abriu-se espaço para a produção de jogos domésticos, os famosos “homebrew”. Há uma gama de jogos feitos em casa por fãs, alguns muito bons como o Yoomp! Curiosidades • Embora os Atari 8 Bit não tenham chegado oficialmente ao Brasil, eles foram vendidos nas lojas do Chile à época. Uma empresa chilena de eletrodomésticos, a Coelsa, importou um lote de micros e periféricos, nacionalizou os produtos e os colocou à venda. No Chile, um Atari 800 XL é tão comum quanto um Atari 2600 por aqui. • Há vários modos gráficos disponíveis no Atari, sendo que o usual, para jogos, mostra 9 cores simultâneas – de uma paleta de 128 – e utiliza a resolução de 160 x 192 pixels. 244 O Redator d’A Arca Perdida • O som dos Atari 8 Bit é similar ao dos micros MSX, muito famosos no Brasil, e utiliza o chip customizado POKEY, que possibilita 4 canais de áudio com 4 oitavas cada. • A Atari chegou a produzir protótipos dos modelos 1400 XL, que teria modem e sintetizador de voz embutidos, e 1450 XL, que seria o 1400 XL com adição de um disk drive embutido. Infelizmente, ambos não foram lançados pela empresa. • O console de videogame Atari 5200, lançado em 1982 pela Atari para combater o sucesso do concorrente ColecoVision, foi baseado no hardware do Atari 800. Ulrich Jon Roth, o Deus da Guitarra Ulrich Jon Roth, ou Uli Roth, como é conhecido artisticamente, foi um dos pioneiros a desafiar o dogma pentatônico do Blues. O guitarrista alemão, nascido em Dusseldorf, começou a tocar aos 13 anos de idade, influenciado por Jimi Hendrix. Por outro lado, seu sangue europeu o fez caminhar às suas raízes, pois adorava os grandes mestres, como Bach e Mozart. Esse conflito entre dois mundos o fez desenvolver um estilo próprio, poderoso como o Rock, mas, ao mesmo tempo, suave e profundo como a música erudita. Uli começou a demonstrar esse estilo ao mundo, ainda no início dos anos setenta, tendo ousado fabricar uma profusão de sons diferentes em seus longos solos e composições. “The Sails of Charon”, do álbum “Taken by Force”, é um de seus hinos, oriundo da época em que o músico integrou o “Scorpions” – como guitarrista solo - em quatro álbuns de estúdio e em um ao vivo. Infelizmente, entediado com a qualidade musical produzida e com o conteúdo das letras, acabou deixando a banda em 1978, devido desentendimentos com os outros membros. O Scorpions, que fora um dia o “Deep Purple alemão”, nunca mais seria a mesma banda... No final dos anos setenta, Uli partiu para a carreira solo e criou a banda “Electric Sun”, cujo som diferenciou-se bastante de seus trabalhos anteriores. A influência 246 O Redator d’A Arca Perdida clássica o dominou de vez, bem como esteve à vontade para homenagear Hendrix em suas músicas e solos. O “Electric Sun” produziu três álbuns: “Earthquake”, “Firewind” e “Beyond the Astral Skies”. Uli, nessa época, começou a trilhar em suas músicas um caminho, digamos, “espiritual”. Não raro, encontrava-se, nas letras por ele escritas, conteúdo acerca da evolução do espírito humano, da evocação dos “grandes gurus” e quetais. Isso, aliás, era uma das marcas registradas do guitarrista, que produziu uma pequena obra-prima em 1996 – após ter permanecido durante anos sem lançar nada - totalmente voltada ao campo erudito. Um trabalho bem diferente do que fora visto até então, por meio do qual Uli compilou trechos de gravações ao vivo juntamente à Orquestra Sinfônica de Bruxelas, aliados a outras gravações de estúdio; até mesmo gravou peças de Puccini, como “E Lucevan Le Stelle”. Esse material todo gerou a primeira parte do projeto batizado de “Sky of Avalon”, o álbum “Prologue to Symphonic Legends”, através do qual Uli consagrou-se, perante a crítica, um estupendo músico, além de formidável guitarrista. Um dos fatos mais marcantes dessa ocasião foi o surgimento de um novo tipo de guitarra, a “Sky Guitar”. Roth em pessoa elaborou esse instrumento diferente, que contém uma corda adicional (mais aguda), além de “casas” extras, totalizando o número de trinta (uma guitarra comum possui vinte e uma). Segundo Uli, o som produzido por essa nova guitarra a fez aproximar-se ainda mais dos sons proferidos pelos violinos. De fato, é possível de se notar essa comparação sonora, ouvindo-se o já citado “Symphonic Legends”. Com efeito, essa guitarra “que soa como violino” pode ser muito bem apreciada através de seu mais novo trabalho: “Transcendental Sky Guitar”, um belíssimo e impressionante passeio pela música erudita, salpicado ao melhor estilo de Hendrix. Erudita, sim! Quem disse que a guitarra elétrica não poderia soar de maneira diferente? Ulrich Jon Roth, o Deus da Guitarra 247 Uma Viagem Transcendental “Transcendental Sky Guitar” é composto por dois CDs. O primeiro, batizado de “The Phoenix” (A Fênix), traz diversas peças interpretadas na guitarra. Paganini, Mozart, Beethoven, Mendelssohn, dentre outros grandes compositores, compõem esse primeiro CD. As peças são todas tocadas na guitarra, mas na especialmente criada “Sky Guitar”; realmente, a sétima corda adicional faz toda a diferença! A maioria das gravações do disco foram feitas ao vivo, fato que proporcionou maior dramaticidade às interpretações. Uli Roth toca certo e bonito; emociona e arrepia. Ele interpreta as peças eruditas “nota por nota”, como não pode deixar de ser, porém, impinge uma carga dramática e emocional a elas, motivo por trás da grandeza desse novo álbum. O segundo CD, batizado de “The Dragon” (O Dragão), traz regravações e improvisações sobre músicas de Jimi Hendrix, como “Voodoo Chile”, além de diversos ensaios, improvisações e estudos baseados tanto na obra do guitarrista, como em peças de Bach, de Monti e de Paganini. Numa época em que os guitarristas vivem obcecados pela técnica e pela velocidade, Roth nos mostra o tom certo, o “fio da navalha” entre dois mundos que andam de mãos dadas: a técnica e o “feeling”; o sentimento, a “alma” – dueto gerador de tanta controvérsia entre músicos, críticos e estudiosos. Não è à toa o fato de Uli ter influenciado tantos outros grandes guitarristas, como Yngwie Malmsteen e Marty Friedman. “Transcendental Sky Guitar” é peça essencial à coleção de qualquer amante da boa música, seja guitarrista ou não, por tratar-se de material diferente do que se encontra por aí na “mesmice” musical de nossos tempos. Agora, só nos resta aguardar pela seqüência da obra “Sky of Avalon”. Zona Morta: o remake de um clássico Há três semanas estreou no canal AXN a série “Zona Morta” (The Dead Zone), baseada no livro homônimo de Stephen King – publicado em 1979 - mas também inspirada no clássico longametragem dirigido por David Cronenberg. Essa “nova” Zona Morta é estrelada por Anthony Michael Hall e teve o respectivo enredo ligeiramente alterado, bem como transposto aos dias atuais. O princípio John Smith, simpático e bem sucedido educador, sofreu um acidente automobilístico após ter deixado a residência da amada noiva num dia chuvoso. Traumatizado com o infortúnio lhe ocorrido, Johnny permaneceu em estado de coma por quatro anos e meio. Ao acordar na clínica do Dr. Sam Weizak, médico de vanguarda e especialista em problemas cerebrais, Johnny o conheceu e se reencontrou com os pais. A dura realidade foi a ele contada pela mãe a contragosto do pai: enquanto estivera em coma a amada se casara com outro homem. Johnny esmoreceu. 250 O Redator d’A Arca Perdida O corpo de John Smith se encontrava fraco, especialmente no tocante às pernas e aos pés; anos em coma enfraqueceram os músculos do professor primário. De fato, tinha imensa dificuldade de locomoção, tanto que foi necessário a ele o início de sessões de fisioterapia. A partir de então o pesadelo de Johnny principiou, pois constataria um fato estarrecedor: além da perda da amada, além das dificuldades de locomoção que doravante o fariam caminhar auxiliado de uma bengala, além da perda da carreira profissional e de ter “acordado” num mundo ligeiramente diferente (afinal, foram quase cinco anos “no escuro”), logo surgiria algo novo; um “dom”. Dom ou Maldição? Numa das passagens mais interessantes da obra, Johnny tocou na mão de uma enfermeira quando essa lhe prestava cuidados na clínica. Ao fazê-lo teve uma visão: a casa da enfermeira em chamas, ao passo que a filha pequena chorava desesperada no quarto. Confuso com aquelas imagens, Johnny suplicou-lhe a ida imediata à casa, uma vez que a mesma era consumida pelas chamas. A enfermeira, desesperada e temerosa, partiu da clínica e realmente encontrou a casa ardendo em chamas, mas conseguiu ter sua filha salva pelos bombeiros, graças ao aviso de John Smith. De outra maneira a filha morreria. Johnny teve constantes “visões” após esse episódio do incêndio. Passou a ser alvo dos estudos do Dr. Weizak, porém teve alta da clínica para que obtivesse “de volta” a vida normal que lhe fora roubada. Seria obra do acaso ou de Deus? Ele voltou do coma dotado desses dons de clarividência e de premonição. Ao longo da obra é contestado o fato da tal premonição Zona Morta: o remake de um clássico 251 ser um dom; podia ser uma maldição, ao invés disso. Um dos detalhes intrigantes é a natureza das visões: elas somente acontecem se Johnny tocar no corpo – vivo ou morto – ou num objeto de alguém; ainda assim, poderia as ter ou não, uma vez que o processo foge ao controle dele. O dom adquirido após o coma proporcionava visões do passado, do presente ou do futuro das pessoas envolvidas, contudo, não podia ser controlado. Johnny viveu diversas situações inusitadas, como a grande ridicularização a ele impingida pela mídia, através da qual foi sumariamente desacreditado e tomado por louco e charlatão, e como o auxílio prestado à polícia na resolução de crimes insolúveis pelos métodos tradicionais de investigação. A cadeia de acontecimentos e de clarividências, ao término do livro, levou Johnny a “salvar o mundo” do que poderia ter se tornado uma hecatombe nuclear. Está curioso? Leia! A tal Zona Morta à qual o título se refere tem a ver também com a natureza da clarividência de Johnny. Nas visões recebidas por ele sempre há algum aspecto nebuloso, algo impossível de ser divisado por completo; é o “nosso” ponto-cego do Português. Numa conversa entre ele e o Dr. Weizak aprendemos: o tal ponto-cego, ou zona morta, possui essa natureza “obscura” porque pode ser ALTERADO por Johnny; o futuro revelado é mutável se ele assim o desejar, se INTERFERIR no desenrolar dos acontecimentos. Essa é a Zona Morta de John Smith. Ele pode, além de prever os acontecimentos, alterá-los. A Hora da Zona Morta “A Hora da Zona Morta” (*) é a primeira adaptação cinematográfica do livro de King, rodada em 1983. Belíssimo filme, foi dirigido pelo veterano David Cronenberg (de “A Mosca” e de “Videodrome”) e estrelado pelo brilhante Christopher Walken; ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante pela atuação no filme “O Franco Atirador”. A versão de Cronemberg nos encanta pelo perfeito “clima” conseguido pelo diretor. Nessa versão, Johnny foi realmente retratado como o ser humano “normal” que é, apesar dos poderes da clarivi- 252 O Redator d’A Arca Perdida dência; fica claro: Johnny não é um super-homem, mesmo porque o tal “poder” lhe custou a vida. Os planos abertos de câmera, a fabulosa e meio assustadora trilha sonora composta por Michael Kamen (também compositor de “Brazil, o Filme”, de “Highlander” e de “Máquina Mortífera”) e a condução da narrativa são os ingredientes responsáveis pela qualidade do filme. O professor primário foi magistralmente interpretado por “Chris” Walken, conforme citado, que deu vida a esse personagem tão perturbado e marcado pelo destino. Se “A Hora da Zona Morta” tivesse apelo comercial à época, certamente o ator ganharia outro Oscar. Walken, de fato, se tornou conhecido pelas interpretações de tipos perturbados. As cenas em que Johnny perambula pela noite - trajado de jaqueta preta cujas abas do colarinho se encontram viradas para cima - são de arrepiar! Martin Sheen, Tom Skerritt, Brooke Adams e Herbert Lom são algumas das estrelas do filme. A Nova Zona Morta Na série foram feitas alterações no enredo original da obra. Os quatro anos e meio de coma foram aumentados para seis. Sarah, a ex-noiva de Johnny, se casou com o policial Walter Bannerman (George, no original): o responsável pelas investigações e morte de um serial killer descoberto por meio da ajuda do clarividente. Na versão original, Sarah se casou com um advogado bem sucedido, ao passo que o policial é um coadjuvante. Imagino o provável motivo: isso foi alterado de modo que o policial seja um personagem fixo da série. O Dr. Weizak foi substituído por um médico chinês, Dr. Tran. Johnny é auxiliado no dia-a-dia por outro personagem que não o doutor: Bruce Lewis. Os episódios são situados nos dias atuais (2002), ao passo que na obra original a coisa toda acontece nos anos setenta. John Smith é interpretado por Anthony Michael Hall, “rosto conhecido” por meio dos filmes juvenis produzidos nos anos oitenta. Como não se lembrar dele em “Mulher Nota 1000” ou em “O Clube dos Cinco”? Infelizmente, ficará obscurecido pela interpretação de Walken. “Sorte” aos que não assistiram ao filme de 83. Zona Morta: o remake de um clássico 253 Até o momento foram exibidos alguns episódios. É pouca coisa disponível para que possamos analisar os aspectos dessa nova produção. Os dois primeiros episódios, o “piloto”, retrataram os acontecimentos narrados até metade do livro, aproximadamente. Uma das coisas bacanas são as cenas de clarividência: os efeitos empregados são muito bons. Numa dessas cenas o cenário “congelou-se” e Johnny caminhou por entre as pessoas e por entre pingos de chuva – chovia muito - como se estivesse num museu de cera ou como se tudo à sua volta estivesse paralisado. Muito interessante! Outro detalhe importante é o fato de Johnny procurar auxiliar as pessoas em seus problemas do dia-a-dia, valendo-se de sua paranormalidade. Dead Zone foi criada por Michael Piller, produtor executivo de “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”, co-criador de “Deep Space Nine”, e co-criador e produtor executivo de “Voyager”. A série é exibida pela AXN (canal 59 da TVA) às quartas-feiras. O horário de exibição é às 20:00 horas. Reprises acontecem aos domingos, às 19 horas, e durante os dias de semana. Confira os horários no seu guia de programação. Aguardemos os novos episódios, pois há muito que acontecer ainda. Encerramos o artigo com uma frase pinçada do filme de Cronemberg, dita por Johnny ao Dr. Weizak: “... se pudesse voltar no tempo na Alemanha, antes de Hitler ter tomado o poder... e sabendo do que sabe agora, o que faria? O mataria? Detalhe: o Dr. Weizak é judeu. (*) Terrível título nacional dado ao filme devido ao sucesso de “A Hora do Pesadelo”. Naquela época diversos filmes foram batizados desse modo, tais como “A Hora do Espanto”, “A Hora do Lobisomem” e assim por diante. Star Wars – Episódio 2: Ataque dos Clones Lembro-me de tudo como se fosse hoje: eu e minha mãe assistimos ao “Retorno de Jedi” no Cine Gazetinha, nos idos de 1983, quando, então, tinha meus 9 anos de idade. Naquela época fiquei fascinado com a magia produzida por George Lucas, pois amávamos os personagens presentes naquela saga, nos identificávamos com eles; sentíamos que eram “palpáveis”, e, portanto, não eram, sobremaneira, irreais. Os belos e esmerados efeitos especiais serviam como “pano de fundo” e complemento àquele universo maravilhoso; um não existia sem o outro. Em “Ataque dos Clones”, segunda parte da saga espacial mais famosa do Cinema, a magia daqueles personagens desapareceu quase que totalmente, dando lugar a uma miríade de efeitos visuais estupendos, mas nada além disso. Estupendos, sim, entretanto, de quando em quando nos é possível identificar falhas grotescas em meio a tantos retoques digitais às cenas. Sinto-me triste por afirmar ter visto a Senadora Amidala, interpretada pela bela - mas fraca - atriz Natalie Portman, “fazendo de conta” que disparava sua arma, pois mesmo tendo reproduzido aquele gesto de disparo - nota-se o “solavanco” da pistola - o pessoal dos efeitos especiais “esqueceu-se” de inserir os lasers, digitalmente, comprometendo todos aqueles segundos do filme. Que vergonha! 256 O Redator d’A Arca Perdida Costumo dizer: em “Ataque dos Clones”, ao invés de haver efeitos especiais nas cenas, há cenas nos efeitos especiais... A trama desse segundo episódio é um tanto quanto “nevoenta”, nitidamente escrita visando a proporcionar e valorizar os efeitos especiais e as cenas de ação. O roteiro, contudo, não é o pior do filme, mas sim as interpretações e caracterizações de alguns personagens. As fracas interpretações dos atores são o pior, e muito disso deve-se ao exagero em termos visuais. São tantos os efeitos especiais que, na maioria das cenas, os atores viram-se contracenando com o “nada”, mesmo porque esse “nada” seria substituído digitalmente nos momentos posteriores da edição e da montagem. Não sou ator, mas imagino quão frustrados devem ter estado aqueles atores durante a filmagem desse novo Star Wars. É fácil de se constatar essas interpretações “ocas”, para isso bastando atenção aos olhares dos atores; neles há nítida falta de expressão, de sentimentos - é uma pena! Hayden Christensen, o garoto por trás do adolescente Anakin Skywalker, é um ator fraco demais. A interpretação dada por ele ao “futuro” Darth Vader não nos convence, mesmo porque em “Ataque dos Clones” o personagem encontra-se no início da caminhada ao “Lado Negro da Força”, em que os primeiros questionamentos começam a “pipocar” na mente do jovem Jedi. Esse princípio de transição é muito mal transposto na tela, uma vez que o ator só consegue expressar, parcamente, ódio, revolta e raiva, nada mais; não se vê nem um resquício de bondade no olhar dele, não há a noção do duelo “interior” que começa a ocorrer em sua alma, não há a impressão de que a perturbação da escolha dentre se fazer o bem, como Jedi que é, e tomar as próprias decisões, se faz presente, justamente pela pobre representação de Hayden. Esse Anakin do Episódio II nos faz lembrar um daqueles moleques malvados e briguentos do tempo de escola. A irrealidade dos personagens deriva das atuações mal desempenhadas, provocando a não-identificação das pessoas para com esses. Essas atuações citadas se devem, em parte, à falta de tato de George Lucas como diretor. Teria feito melhor, como em “O Império ContraAtaca”, se deixasse a direção a alguém do ramo. Das atuações, por incrível que possa nos parecer, o responsável pelo show é o Mestre Yoda. Em “Ataque dos Clones”, contraria- “Star Wars – Episódio 2: Ataque dos Clones” 257 mente aos outros filmes da Trilogia original, o supremo mestre dos Jedis é uma criação desenvolvida em CG (Computação Gráfica). Yoda parece um ser real, de carne e osso, tão bem-feitas ficaram as expressões faciais criadas pelo pessoal da Industrial Light & Magic. Além disso, o simpático herói verde traz ao filme o momento mais importante e mais esperado pelos fãs: a luta com os sabres de luz. O Mestre Yoda, em combate, é algo indescritível em palavras! O cinema, literalmente, vai ao delírio no momento da batalha entre o Jedi e o Conde Dookan (representado por Christopher Lee), o vilão Sith. Há bons momentos no filme, mesmo levando-se em conta os problemas citados. Os efeitos especiais são realmente impressionantes; nada se viu até o momento como o que foi apresentado nesse novo Star Wars. O planeta “Coruscant”, por exemplo, é um show à parte. Existe, juntamente à luta de Yoda, outro momento marcante: a batalha na qual dezenas de Jedis aparecem lutando lado-a-lado, brandindo seus sabres de luz e derrotando inúmeros dróides! Outros tipos de dróides também fazem bons momentos, com situações cômicas nas quais os simpáticos mecânicos, R2D2 e C3PO, estão envolvidos. Há uma seqüência hilária em que a cabeça de C3PO é separada de seu corpo. Star Wars possui toda uma filosofia embasando suas histórias repletas de signos; há diversas interpretações “escondidas” nas entrelinhas. Há quem diga existir muito de Tolkien (criador de “O Senhor dos Anéis”) em Star Wars. Outros insistem em afirmar existir muito da lenda do Rei Arthur na obra de Lucas. Não acredita? Leia “O Poder do Mito”, de Joseph Campbell; ele faz uma dentre as várias análises maravilhosas da obra. 258 O Redator d’A Arca Perdida Infelizmente, Lucas parece estar direcionando “Guerra nas Estrelas” às luzes e aos efeitos especiais, esquecendo-se do realmente importante: as pessoas e os sentimentos, as verdades ancestrais da vida e do homem, bem representadas nos filmes da Trilogia original. A partir do Episódio I, basta contentarmo-nos com as batalhas ao sabor dos jogos de videogame, infelizmente. Parece que esse é o novo caminho da Força... Cowboy Bebop: animê de ficção científica com pinta de coisa antiga Séries animadas de ficção científica com ingredientes de outros universos sempre têm seu charme. Patrulha Estelar, a maior saga espacial de todos os tempos, ousou misturar a Segunda Guerra Mundial com naves espaciais. Galaxy Rangers, saudosa animação exibida pela Globo nos anos oitenta, ousou mesclar o futuro distante com o velho oeste. Cowboy Bebop, série animada produzida pela união Sunrise-Bandai, ousou trazer um ambiente ímpar no qual misturou-se a ficção científica, o jazz, os seriados policiais e um visual dos anos quarenta. Já na abertura, que é um show à parte, cenas a la seriados policiais dos anos setenta, regadas a um jazz bem agitado (cheio de metais), dão o tom do que está por vir. OS ANOS QUARENTA EM 2071? O enredo se passa em 2071, num futuro um tanto quanto caótico em que os caçadores de recompensa são comuns. A Terra, desolada por causa de um incidente com um portal warp, ficou quase inteiramente desolada. Isso fez com que a população migrasse para pequenos pontos ainda habitáveis do mundo, bem como se mudasse 260 O Redator d’A Arca Perdida para outros planetas e luas do sistema solar. As viagens espaciais, pelo menos isso, tornaram-se algo comuns. Novos governos independentes surgiram e leis “bairristas”foram instituídas. O crime, que fugia ao controle das autoridades, também se expandiu para as fronteiras além da Terra. O planeta dispõe de um cinturão de asteróides composto por um pedaço da Lua, que explodiu há cinqüenta anos no tal incidente. Já sentiram que o negócio não é moleza, não? Cowboy Bebop (que nome estranho, não?) é a nave em que os personagens principais viajam através dos diversos planetas e luas do sistema solar, muitos dos quais habitados e fervilhando de gente. Eles são uma trupe de caçadores de recompensa, um novo “negócio” lucrativo, já que o crime passou a imperar. Spike Spiegel, o líder da equipe de caçadores, é um tanto quanto esquisito e magrelo. As pessoas não podem se deixar enganar por ele, pois o cara é muito ágil e luta o Jeet Kune Do, a famosa arte marcial criada por Bruce Lee na década de sessenta. Spike, certa vez, pertenceu a uma gangue de criminosos de marte, a Red Dragon, e namorou, às escondidas, a namorada do melhor amigo: Julia. Tamanha foi a confusão por causa disso que precisou forjar a própria morte e deixar tudo para trás. Jet Black, o mais velho da tripulação, ex-policial e também cozinheiro da nave, é o braço direito de Spike – aliás, o braço esquerdo do grandalhão é biônico. Ele sempre salva a pele do amigo! Apesar de possuir sua própria nave, a Hammer Head, permanece na Cowboy. Faye Valentine, uma das garotas do grupo, é bonita e muito perigosa. Apesar da coragem não ser o forte da mulher, o caráter mercenário domina o temperamento de Faye, que passa facilmente a perna nos companheiros por causa de dinheiro. Adora pequenos Cowboy Bebop 261 gadgets e sabe atirar excelentemente. Ela, no fundo, tem quase 80 anos de idade, porque precisou ficar em sono criogênico devido a um acidente espacial que quase a matou. Acordada do sono há apenas dois anos e curada, agora precisa pagar sua dívida para com a clínica. É por isso que vive louca atrás de dinheiro. Ed Tivrusky, a outra garota, quer dizer, menina, compõe o grupo. Trata-se de uma hackerzinha de 13 anos de idade, mas que sabe tudo a respeito de redes de computadores e de protocolos de comunicação. Sabe tanto a respeito daquilo que é procurada pela polícia. Pode? Infelizmente, a garota não conheceu os pais (viu apenas a imagem holográfica do pai) e cresceu nas ruas. Ed foi convidada a fazer parte da tripulação após ter hackeado o computador da Bebop depois de uma missão para a qual foi convidada a participar. O mascote da turma é Ein (um em Alemão), um cão geneticamente alterado em laboratório cuja inteligência excede às dos outros caninos. O bichinho foi parar dentro da nave, pois Spike salvou-o do laboratório em questão devido à recompensa que seria paga por ele. O coitado sofre na mão da turma na nave, quer seja por causa de Faye ou de Ed. O vilão da série – não poderia deixar de haver um – é Vicious (não é o cara do Sex Pistols!), líder de uma gangue marciana conhecida como Red Dragon. O cara é todo estiloso e carrega diversas armas, sendo especialista mesmo na Katana. Na verdade, Spike e ele foram companheiros e o primeiro teve um caso com a namorada do vilão, mas sem que ele soubesse. Desconfiado, Vicious faz de tudo para desvendar a suposta morte do ex-amigo. 262 O Redator d’A Arca Perdida Julia, como dissemos, é a ex-namorada de Spike e a grande paixão do cara. Cuidou dele ao encontrá-lo ferido e à beira da morte, após um tiroteio. ANIMAÇÃO DE PRIMEIRA E ENREDO PECULIAR A série dispõe de uma animação e arte espetaculares, incrivelmente realizados. As cenas de ação, especialmente as das naves e as das lutas são de tirar o fôlego, de dar água na boca. O enredo está imbuído de ação, de aventura, de mistério, de humor (especialmente por causa da menina Ed), de sensualidade, de ficção científica e do velho clichê de seriados policiais antigos. Trata-se, de fato, de uma das séries mais queridas pelos Otakus, os fãs de anime. CowBe, conforme conhecida no Japão, teve 26 episódios e chegou ao Brasil em 1999 através de fitas VHS (cópias) e de DVDs importados, um ano após ter sido lançada na terra natal. O sucesso da série se deu, é claro, pela equipe de produção que contou com astros como Toshihiro Kawamoto (de Mobile Suit Gundam), Hajime Yatabe (de Escaflowne), Shinichiro Watanabe (Macross +). A espetacular trilha sonora, composta por Yoko Kanno, também é o diferencial da série. Navio Fantasma: é tão previsível que chega mesmo a assustar! O mar tem sido palco das mais diversas histórias fantasmagóricas. O mundo literário, por exemplo, é uma das maiores fontes do armageddon oceânico: temos “Os Lusíadas” e o poderoso Gigante Adamastor, a onipotência misteriosa de “Moby Dick”, o maldito capitão Van De Straten, vulgo “Holandês Errante”, e tantas outras lendas e misticismos subaquáticos. A literatura, entretanto, não detém essa exclusividade. O cinema, em especial, tem criado diversas produções acerca do tema. E os navios não são os únicos possuídos por entidades do além: há naves espaciais fantasmas, trens fantasmas, aviões fantasmas e até mesmo caminhões fantasmas. Infelizmente (ou felizmente!) o tema está deveras batido, mas ainda assim os estúdios insistem nesses filmes. Navio Fantasma (Ghost Ship), produzido em 2002, acabou de chegar aos cinemas brasileiros e é o mais novo exemplo da fantasmagoria naval. 264 O Redator d’A Arca Perdida Caça ao tesouro. No início da película o espectador é apresentado a um grupo de caçadores navais: pessoas que buscam embarcações e tesouros perdidos. A bordo do Arctic Warrior estão o capitão Sean Murphy (interpretado por Gabriel Byrne) e uma equipe de técnicos, cada qual especializado numa tarefa ou num assunto. Também faz parte da turma a comandante Maureen Epps (intepretada por Julianna Margulies de Plantão Médico), única mulher do grupo. Durante o festejo por causa de um barco salvo, chega ao conhecimento da equipe – através dum estranho – o seguinte: um imenso barco estava à deriva perto do Estreito de Bering e no tal navio poderia haver itens valiosos e tesouros. Todos acabaram atraídos ao resgate como uma abelha ao mel. Ao chegarem à misteriosa embarcação, o capitão constatou, atônito, um achado: tratava-se do transatlântico italiano desaparecido desde 1962: o Antonia Graza. De fato, foi como se houvessem descoberto petróleo! O melhor de tudo, porém, residia na possibilidade do navio lhes pertencer, uma vez que foi descoberto em águas internacionais. A partir desse ponto – da entrada dos “saqueadores” a bordo – os problemas dos personagens começam. As coisas pioram ainda mais quando barras de ouro são encontradas num compartimento do barco. Navio Previsível. Apesar do início diferente para um filme de (suposto) terror e das primeiras cenas interessantes, o espectador logo é levado a praticamente todos os clichês previamente vistos nos filmes do gênero: frases “feitas” e de “efeito”, sustos premeditados, cenas mal iluminadas, personagens pouco explorados e toda a sorte de coisas manjadas: é como se você já o houvesse visto. É de espantar, isso sim, o fato de Navio Fantasma ter sido produzido por dois pesos pesados do cinema: Robert Zemeckis (ganhador do Oscar por Forrest Gump) e Joel Silver (de Matrix). Algo que não espanta, em contrapartida, é a presença do diretor Steve Beck, o mesmo do fraco Os Treze Fantasmas. É triste, mas deixou-se de lado o terror psicológico, que tão bem caberia num filme como esse, e apelou-se exclusivamente ao farto ketchup. Navio Fantasma 265 Os efeitos visuais, pelo menos, são um atrativo; especialmente nas cenas em que o salão de festas do navio é recriado – como num passe de mágica – em frente a um dos personagens amedrontados. Outro bom momento dos efeitos são as cenas finais da película, realmente interessantes e bem executadas. As fracas atuações dos atores também ajudam Navio Fantasma a naufragar mais rapidamente. Nem mesmo Gabriel Byrne esteve bem. Ele, que impressionou a crítica ao interpretar D´Artagnan – em O Homem da Máscara de Ferro – não convence ninguém de que pode capitanear um barco. A cena na qual o personagem retoma o alcoolismo, por exemplo, é patética. Um ponto positivo vai para a garotinha intérprete da menina-fantasma Katie, a atriz Emily Browning. Final a lá Sexto Sentido? Não, não espere um final como o do filme do diretor indiano. Não há nada de revolucionário ao término de Navio Fantasma, cuja conclusão mais se parece com o desfecho de um dos episódios da clássica série “Além da Imaginação”. Como se pode constatar, tudo foi sumariamente copiado de outras produções e nada é original. Poder-se-ia ter feito algo diferente, nos moldes de Hitchcock, em que teríamos o horror sugerido, sutil e belo. Verdade, nalgumas vezes é preferível nos atermos à literatura, pois naufragar com o Navio Fantasma não assusta nem uma criança de dez anos. E pior: não serve nem como diversão de final de semana. Monty Python Em 1969 surgiu o grupo que mudou a forma de se fazer comédia na tevê e no cinema: o lendário Monty Python. O sexteto inovou o tema com um humor visual, mas ao mesmo tempo textual e crítico. Ridicularizações às diversas instituições inglesas (e ocidentais), como a Igreja, os executivos engravatados, a polícia, o exército e até mesmo a realeza Britânica, andaram lado a lado com o nonsense comandado por puro besteirol. Depois deles o humor nunca foi o mesmo, uma vez que influenciaram gerações de comediantes. Prepare-se para adentrar, através d´A ARCA, no abilolado mundo dos Pythons ou, então, falaremos “Ni” para você! COMO TUDO COMEÇOU John Cleese, Graham Chapman, Michael Palin, Terry Jones, Eric Idle e Terry Gilliam. Estes são os nomes dos indivíduos que se tornaram conhecidos por meio do Monty Python, grupo humorístico que começou a ser formado na época de faculdade de seus integrantes. Cleese e Chapman eram colegas na Universidade de Cambridge; o primeiro estudou direito e o segundo, medicina. Palin, estudande de História, e Jones encontraram-se 268 O Redator d’A Arca Perdida em Oxford. Além das atividades relativas aos respectivos cursos, eles detinham o gosto em comum por escrever e pela comédia. O tempo passou e não demorou muito para que os futuros membros do grupo se encontrassem e se conhecessem. De fato, iniciaram a produzir textos cômicos que de tão bons levaram-nos para além da universidade; aos primeiros programas de tevê pré-Python, tais como o lendário The Frost Report - entre 1966 e 1967 - para o qual escreveram sketches humorísticas. O comediante Eric Idle, aliás, conheceu alguns de seus futuros companheiros naquela fase. Juntos ainda produziram, após o cancelamento de The Frost Report, alguns programas memoráveis nos anos que se seguiram: At Last The 1948 Show, Late Night Line-Up, Complete and Utter History of Britain, How to Irritate People, The Magic Christian e outros. Em 1969 o grupo se decidiu por lançar um novo show criado exclusivamente por eles e para o qual os próprios escreveriam ao bel prazer, mas, o mais importante, também atuariam nos diversos papéis que surgissem. A idéia agradou ao produtor Barry Took, que os ajudou a concretizar o sonho. Na primavera de 1969 foi ao ar, pela primeira vez, o programa Baron Von Took´s Flying Circus, em agradecimento à ajuda que lhes foi dada, recheado de sketches humorísticas produzidas por eles. Foi um tremendo sucesso e logo ganhou um horário fixo na grade de programação da BBC, ocasião em que teve o nome alterado para Monty Python´s Flying Circus. Uma curiosidade que muita gente sequer imagina: o novo nome do grupo resultou da co-autoria de Eric Idle e de John Cleese. Cleese sugeriu o nome Python (espécie de cobra Australiana), talvez pela sonoridade, ao que Idle sugeriu Monty (um nome próprio), pois se lembrou de um sujeito gordo e desengonçado que, sempre ao chegar a um determinado pub, perguntava ao barman se “Monty havia estado ali”. Todos gostaram do nome e eis que o programa foi rebatizado. Monty Python 269 O CIRCO AÉREO? A trupe escrevia e atuava simultaneamente. Chapman e Cleese bolavam sketches em conjunto, ao passo que Palin e Jones também. Eric Idle, futuro compositor das músicas do grupo e escritor solitário, tinha dificuldades para fazer seu material ir ao ar, porque estava sempre em “minoria”. O programa era dirigido pelo ator-produtor-diretor Ian MacNaughton, falecido em 2002 devido a um acidente automobilístico. Nossa! Esquecime de Terry Gilliam! Imperdoável! Sim, Gilliam foi o único estrangeiro a fazer parte do grupo. Americano que era, conheceu John Cleese em Nova Iorque numa turnê humorística do inglês, oportunidade em que o trabalho artístico do yankee foi-lhe mostrado. No início do Monty Python, Cleese soube que Gilliam estava de mudança para a Inglaterra – por causa de outros trabalhos – e logo o contratou para criar os famigerados desenhos e vinhetas do programa, que eram colagens as mais diversas, com os quais estamos acostumados. Mas não pensem vocês, caros leitores, que a coisa parava por aí, porque quando o americano atuava, mostrava-se um dos mais desmiolados do grupo. Não duvidem! Vejam, por exemplo, a sketche da Inquisição Espanhola – “no one expects the Spanish Inquisition!” – e comprovem. Um dos charmes da trupe reside no fato de se travestirem e de se disfarçarem dos mais diversos personagens, especialmente de mulheres, para que atuassem em seus quadros humorísticos. O episódio em que vemos o supervilão Mr. Neutron, por exemplo, mostra engraçadíssimas velhinhas fofoqueiras e, adivinhem, vividas pelos próprios. É simplesmente hilário! 270 O Redator d’A Arca Perdida Apesar dos personagens travestidos, houve uma mulher “real” no grupo – e que mulher! Trata-se de Carol Cleveland, considerada como o sétimo integrante do Python, uma linda loura inglesa que punha os homens na linha e fazia o contraponto nos episódios. ESCULACHO TOTAL O material de trabalho do grupo lançava farpas aos quatro ventos. O pioneirismo do Python estava, em grande parte, no ataque aos convencionalismos e às tradições britânicas, muitas das quais forjadas na época Vitoriana. A Igreja, a polícia, o feminismo, os banqueiros, os executivos engravatados, a medicina, o sexo, a pompa inglesa, o imperialismo norte-americano e até mesmo a rainha Elizabeth eram sumariamente massacrados por eles. Outra parte do humor, porém, advinha de material nonsense mesmo, o famoso besteirol, como no episódio em que se mostra ao espectador o Ministério do Andar Tolo (Ministry of Silly Walk). Também como no episódio em que Michael Palin, apresentador de um programa sobre ciência cerebral, o It’s the Mind, discorre sobre o tema do Deja-Vu e, de forma inédita, acaba por sofrer do fenômeno ali mesmo durante a apresentação. Totalmente infame! Os quadros, hoje antológicos, do grupo foram muito bem aceitos durante a primeira e a segunda temporadas. No período que se situa entre a segunda e a terceira, importante comentar, lançou-se seu primeiro longa-metragem, Monty Python’s And Now For Something Completely Different, que era, na verdade, uma grande refilmagem Monty Python 271 de alguns sketeches já vistos no seriado. Por incrível que possa parecer, o filme aportou primeiro nos Estados Unidos, ao passo que a série apareceu depois. Os americanos, especialmente os jovens, aceitaram bem o humor do Python, apesar do sotaque e das diferenças sutis do inglês britânico para o inglês yankee. CANCELAMENTO DA SÉRIE Durante a terceira temporada, em 1973, uma bomba explode: John Cleese, um dos cabeças do grupo, decide-se por abandonar a trupe para partir para trabalhos solos, além de achar que o material humorístico se repetia. Embora a notícia os tenha abalado, o restante do Python decide-se por continuar, e a quarta temporada é, então, produzida. Infelizmente, a ausência de Cleese é visível – e não apenas como um trocadilho de minha parte, porque as piadas já não apresentam a mesma graça e parecem, nalguns casos, arrastar-se demasiadamente. Nessa ocasião eles lançam um especial para a tevê, o Monty Python’s Fliegender Zirkus, que consiste de duas aparições dos ingleses na tevê alemã, gravadas em 1971 e em 1972. Em alguns dos sketches, acreditem, eles até falam o idioma germânico. Após 45 episódios, um especial e um longa-metragem, o grupo se separou em dezembro de 1974. DEMAIS LONGA-METRAGENS & APRESENTAÇÕES Não demorou muito e a turma novamente se reuniu para a realização do segundo filme do bando: Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado), que foi lançado em 1975. Repleto de nonsense de cabo a rabo, o longa-metragem fez sucesso ao destruir a maior das lendas britânicas, a do Rei Arthur. Os Cavaleiros 272 O Redator d’A Arca Perdida da Távola Redonda, que cavalgam cavalos imaginários, o valente Cavaleiro Negro, que não se dá por vencido depois de ser esquartejado, o inóspito resgate encabeçado pelo bravo Lancelot, Sir Galahad e a tentação vivida no Castelo Anthrax, A Besta Negra de Aaaarrghh a la Gilliam, a Santa Granada de Mão, os franceses de sotaque terrível, e diversos outros personagens hilários compuseram um dos filmes mais engraçados da história do cinema. Curiosidade: a produção foi co-dirigida pela dupla Jones-Gilliam. Ainda que o besteirol reinasse, houve espaço para algumas críticas nas entrelinhas; marca registrada do Python. O final, surpreendente, propõe que, se acreditarmos muito em algo, realmente, por mais que seja sem sentido para outrem, para nós será verdadeiro. Passados alguns anos, em 1979, o grupo se reúne novamente para o lançamento do terceiro filme: Monty Python´s Life of Brian (A Vida de Brian). Uma sátira à história de Jesus Cristo, o longa-metragem está cheio de referências bíblicas que acontecem, de maneira inusitada, com Brian (Graham Chapman): um judeu que teve a sorte (ou o azar?) de nascer num local próximo ao de Jesus e na mesma data. Resultado: pelo resto da vida, Brian é confundido com o grande mestre. Há passagens espetaculares na película: um Pôncio Pilatus (Michael Palin) que fala errado, extraterrestres que salvam Brian de uma queda fatal, a esmola para um ex-leproso, o voto de silêncio do ancião, bem como todo o tipo de bagunça com a qual estamos acostumados. A Vida de Brian, um filme genuinamente ateu, recebeu severas críticas à época, especialmente oriundas de fanáticos religiosos que não entenderam a película. Em 1982 o grupo se reuniu de novo e se apresentou ao vivo no famoso Hollywood Bowl. Foi uma loucura! Lotação esgotada e mulheres atirando calcinhas para os integrantes, verdade. Nessa apresentação, o Monty Python realizou algumas sketches ao vivo e apresentou outras previamente gravadas. O quadro do jogo de futebol entre os filósofos alemães e gregos é formidável. A performance da canção do Lenhador é outro dos pontos altos do show. A apresentação foi gravada em vídeo e lançada sob o título de Monty Python: Live at the Hollywood Bowl. Monty Python 273 No ano seguinte, 1983, o Python reuniu-se mais uma vez para a realização do quarto longametragem. Trata-se do ótimo Monty Python’s The Meaning of Life (O Sentido da Vida), uma coleção de sketches nas quais o grupo questiona o motivo de nossa existência na Terra. De onde viemos? Aonde iremos? Qual o motivo da vida? As piadas iniciam-se no momento do nascimento, passam pelo ingresso na escola, pela maturidade, pela morte e vão ao post mortem. A cena do nascimento, inclusive, é hilária. Outro quadro fantástico tem a ver com um sujeito gordo que entra num restaurante, Mr. Creosote (Terry Jones), e, mesmo não “cabendo” mais nada em seu estômago, come e vomita incessantemente. A doação de rim com o sujeito ainda vivo é o must noutro dos sketches. Alguns números musicais também compõem esse longametragem que selaria a união do grupo para sempre. Ah! Quer saber qual o sentido da vida? Simples! Conforme dá para perceber ao assistir ao filme, a vida não tem sentido. É, coisa dos Pythons! Infelizmente, no dia 4 de outubro de 1989 aconteceu o que os membros do Monty Python chamaram de “uma piada de mau gosto”: a morte prematura de Graham Chapman aos 48 anos de idade. O comediante veio a falecer por causa de um câncer que lhe tomou a garganta e parte da coluna. O derradeiro trabalho do ator, o piloto da série de tevê Jake´s Journey, datou de 1988. Homossexual declarado e ex-alcóolatra, Chapman deixou órfão o segundo maior grupo humorístico da história, o qual somente esteve “atrás” dos Irmãos Marx. Ocorrida a separação da trupe, cada qual foi para o seu canto, como bem sabemos. A maioria continuou – e continua – até hoje no meio cinematográfico-televisivo, tendo como exemplos de maior sucesso o comediante John Cleese e o diretor Terry Gilliam. 274 O Redator d’A Arca Perdida O Monty Python, através de seu humor ferino e nonsense, deixou a própria marca nos anais do cinema e da tevê. Eles, os seis, são a maior prova de que se pode fazer humor de alto nível sem que haja a necessidade de recorrer-se às baixarias tão sedutoras. Provaram ser possível parodiar a História, de forma inteligente e maluca ao mesmo tempo. Só posso imaginar o que mais teriam produzido se Chapman não morresse. Nesse exato momento, o Céu – ou o Inferno – estão de cabeça para baixo! Stefan Karl Steffanson, o Robbie Rotten de LazyTown Ele tem 30 anos de idade, mede 1,95 metros de altura, é um exemplo de simpatia e adorado pelas crianças. Estamos falando de um ator islandês desconhecido do público em geral, porém, cujo rosto pode ser facilmente reconhecido pelos pequenos. Trata-se de Stefan Karl Steffanson, o intérprete do adorável vilão da série infantil LazyTown, um sucesso transmitido pela Discovery Kids, quem bateu um papo rápido comigo em uma divertida entrevista via e-mail. Comprovem a simpatia deste que, escrevam aí, ainda despontará como um ator famoso de Hollywood, tão talentoso que é. E viva o Robbie Rotten! 1) É um grande prazer, para mim, poder entrevistá-lo, Stefan. Você dança, canta, atua, toca bateria e piano, e dubla. É uma pessoa muito talentosa. Como se envolveu com a área artística? Como começou? Stefan Karl: Ingressei no teatro, em um grupo amador, quando ainda muito jovem. Fiquei, para melhor ou para pior, por mais tempo lá do que no colégio. Aprendi a tocar piano de ouvido. Na verdade, cheguei a ter algumas aulas, mas a 276 O Redator d’A Arca Perdida professora se cansou de mim; mandou-me para casa para praticar. A música faz parte de minha vida e está sempre presente. E toco bateria quando sinto vontade! 2) Como se envolveu com Lazy Town? Ajudou a criar o personagem que interpreta, Robbie Rotten? SK: Originalmente, criei o Robbie para uma peça de teatro na Islândia, “Robbie Rotten em LazyTown”, em 1999. Ela foi um enorme sucesso e ficou em cartaz por dois anos. Então apareci como Robbie, por diversas vezes, em outras oportunidades até que o programa de tevê, a pedido da Nickelodeon, começou a ser produzido. O resto vocês já sabem. 3) É difícil, para um ator, contracenar com bonecos? Poderia, por favor, contar aos nossos leitores a experiência de se atuar com “pessoas” irreais? SK: Não é difícil, é apenas diferente. É preciso se lembrar que, por trás de cada boneco, há artistas e atores. E eles são muito bons. Como se vê, basta que o ator se ajuste à idéia e que parta dali. 4) Uma curiosidade: Magnus Schéving, o criador de LazyTown, é tão forte quanto Sportacus, o herói que representa? Sabemos que ele ganhou diversos prêmios e medalhas na Islândia e na Escandinávia, certo? São amigos fora das telas? SK: Sim, somos amigos e, verdade seja dita, ele é mesmo muito forte e atlético. Não é papo-furado! 5) O que diz de Julianna Rose Maurielo, a Stephanie? As crianças a adoram, a amam de paixão. Ela é muito talentosa, não? SK: Julianna é uma atriz extremamente talentosa, apesar da pouca idade. Ela trabalha duro e ainda tem que enfrentar as responsabilidades de uma criança comum, ou seja, a escola e os deveres de casa. Eu realmente a admiro. Ela é fantástica. Stefan Karl Steffanson 277 6) Qual é seu episódio favorito da série? Por que? (O meu é o episódio em que você interpretou o pirata, muito engraçado!). SK: “Rottenbeard”, o episódio dos piratas, também é um de meus favoritos. Minha própria Arara, Olina, foi a estrela desse capítulo, sabiam? Além dele, gosto muito do episódio em que interpretei a Senhorita Roberta. 7) Na Islândia, país natal de LazyTown, os episódios são refeitos em Islandês? SK: Não, são apenas dublados para o Islandês. A série é feita originalmente em Inglês. 8) Você, Magnus e os demais atores esperavam pelo enorme sucesso que a série vem experimentando no mundo? Qual o fator, na sua opinião, que torna LazyTown tão adorado? SK: Claro que torcíamos pelo melhor. Estamos muito felizes com os resultados. A mensagem de LazyTown tem a ver com amizade, com ser saudável e ativo, e sempre compartilhar. Os princípios básicos para uma comunidade de bem, saudável. 9) Poderia, por favor, contar para a gente uma situação engraçada que tenha vivido no set de filmagem de LazyTown? SK: Na cena de luta do episódio dos piratas, já citado, enfrento Sportacus. O problema é que esqueci de colocar minha dentadura de Robbie Rotten. Alguns espectadores que prestarem atenção em mim nessas cenas sentirão a falta dos dentes, pois minha aparência mudou razoavelmente. Certa vez perdi a mesma dentadura em uma cena de ação e todo mundo no set me ajudou a procurá-la, coisa que demorou bastante: “Por favor, encontrem os dentes de Robbie!!!”. “Onde estão os dentes?”. 278 O Redator d’A Arca Perdida 10) Aliás, você gosta de usar aquela maquiagem? O tempo de aplicação da mesma é longo? SK: Demora aproximadamente duas horas para que se aplique a maquiagem em mim. Tento pegar no sono durante o processo. Quando terminam as gravações de um episódio, é preciso apenas meia hora para removê-la. É interessante. 11) Que outros projetos tem em mente agora, Stéfan? Quais são seus planos para o futuro? SK: Estou trabalhando em um longa-metragem que pretendo produzir nos Estados Unidos. Espero, também, poder criar minha própria companhia por aqui. Há anos dirijo uma instituição na Islândia, o “Rainbowchildren”, para crianças que são molestadas e agredidas nas escolas. Isto tem sido e sempre será meu projeto prioritário, já que pessoalmente passei por esse tipo de chateação quando criança; eis o motivo de meu entusiasmo a respeito do tema. Gostaria muito, aliás, de saber como o assunto é tratado no Brasil. Entrem em meu fansite e deixem mensagens: http://www.zyworld. com/stefankarl/stefan.htm. De vez em quando apareço por lá e sempre olho os comentários; tento responder a todos. Promessa! Poderão, também, saber mais sobre as coisas nas quais trabalho. 12) Poderia dizer algo aos seus fãs brasileiros? Às crianças que adoram o Robbie Rotten? SK: Tenho duas filhas. Quando nos mudamos pela primeira vez para Los Angeles, tivemos uma babysitter brasileira, a Graziele. Ela contou muita coisa para nós sobre o grande país de vocês e eu adoraria visitá-lo algum dia. Não sei se falam Inglês, mas eu gostaria de visitar escolas no Brasil e ver como são as coisas. Infelizmente, meu Português é fraco. E estou certo de que vocês não falam Islandês, certo? Espero poder visitá-los logo! Muito legal poder falar com vocês! Obrigado! Zathura: Sessão da Tarde do século XXI! Se uma criança viajasse no tempo, de 1985 para 2006, e entrasse em uma sessão de “Zathura – A Aventura Espacial” (Zathura, 2005), longa-metragem que estreará no próximo dia 13 em circuito nacional, dificilmente desconfiaria de que ali, bem à frente dela, estaria uma genuína produção do século XXI. Este fato, ou seja, a semelhança proposital para com filmes como “E.T.” (1982), “Viagem ao Mundo dos Sonhos” (1985) e “O Vôo do Navegador” (1986) mostra-se como o principal atrativo da nova película dirigida pelo ator, produtor e roteirista Jon Favreau (de “Um Duende em Nova York”), admirador confesso de Steven Spielberg e da “década perdida”. O enredo de Zathura é sobre a vida do pequeno Danny (o engraçadinho Jonah Bobo) e a de seu irmão pré-adolescente, Walter (Josh Hutcherson), ambos filhos do personagem workaholic interpretado por Tim Robbins (de “Um Sonho de Liberdade” e “Guerra dos Mundos”), estranhamente creditado apenas como “Pai”. A recente separação dos pais, infelizmente, também azedou a relação entre os garotos, agora fragilizados, os quais freqüentemente provocam um ao outro a fim de chamar a atenção dos adultos. Cada qual quer ser o filho favorito: o que se destaca nos esportes, o mais inteligente, o mais imaginativo e assim por diante. 280 O Redator d’A Arca Perdida Em meio a uma das brigas rotineiras, Danny acaba preso no porão, escuro e poeirento, da velha residência do pai e se depara, sem querer, com a surrada caixa de um antigo jogo espacial, à corda e feito de lata, que dá título ao filme. Mais que prontamente, o pequeno, a despeito da confusão, escapa e mostra a “novidade” para o irmão, quem, sob forte insistência, é convencido a jogá-la. A inusitada aventura, então, tem início: sozinhos e aos cuidados da desligada irmã adolescente, Lisa (Kristen Stewart, de “Quarto do Pânico”), os meninos descobrem que cada ação praticada na partida, tanto por um quanto por outro, afeta a realidade das coisas; atinge em cheio a casa em que estão, a qual acaba miraculosamente transportada ao Espaço. Uma chuva de meteoros, a perigosa proximidade gravitacional de uma estrela, o “acidente” de Lisa, o encontro com seres alienígenas (os Zorgons), o robô assustador que não funciona direito (dublado originalmente por Frank Oz, a voz de Mestre Yoda), a chegada do astronauta misterioso (Dax Shepard, da série da MTV “Punk’d”) e outras surpresinhas fazem parte dos acontecimentos baseados involuntariamente no desenrolar de cada rodada do velho jogo. Mas e agora? Continuar a jogar e chegar ao destino final, o planeta Zathura? Será que isto implicaria o fim do jogo? Será que, finalmente, voltariam à Terra? Ou seria melhor deixar o estranho jogo de lado e permanecer preso no Cosmo para sempre? Eis a questão! Somente a união verdadeira de Danny e Walter parece ser a resposta… O filme, baseado no livro homônimo do escritor americano Chris Van Allsburg, não por acaso o autor de “Jumanji” e de “O Expresso Polar”, é propositadamente uma tentativa de resgate dos famosos “filmes de crianças” dos anos oitenta, produções em que os infantes saíam em aventuras alucinantes e maravilhosas, e dominavam a ação na maior parte do tempo, isto é, davam as cartas como os verdadeiros heróis. Esse resgate, contudo, não repousa tão somente no roteiro, de co-autoria do famoso David Koepp (de Jurassic Park, Quarto do Pânico e Homem Aranha), mas na ambientação por ele proposta, realizada quase que exclusivamente em um único cenário, a casa, assim como calcada nos efeitos especiais “antiquados”, mas eficazes. Favreau preferiu, para que se conseguissem atuações mais convincentes e naturais das crianças, utilizar basicamente efeitos óticos e cenográficos (o cenário principal foi construído sobre Zathura 281 uma plataforma móvel e levadiça), deixando a computação gráfica como último recurso. Quando você vir, caro leitor, um enorme robô na tela, saiba que as crianças também o viram no set de filmagem e se assustaram de verdade! Infelizmente, o longa parece sofrer de um problema crônico: está sendo “vendido” pela mídia como a continuação direta de “Jumanji”. Literariamente falando, tal afirmação procede, contudo, nos cinemas o último foi adaptado e concebido como um filme único, ou seja, ele goza de vida própria. Caso o público pense realmente em assistir a um “Jumanji Parte II”, fatalmente sairá da sala frustrado, desapontado. Zathura é, antes, um filme de e para crianças, e igualmente para pessoas que ainda consigam enxergar o mundo por meio das pequenas coisas, de detalhes simples e sutis, mas especiais quando se encara a vida à baixa estatura. Não espere, portanto, por tramas complexas, reviravoltas a todo momento, explosões pleonásticas, personagens multifacetados e planos dimensionais de realidades infinitas. Embora razoavelmente previsível, por outro lado, o epílogo reserva uma grande surpresa. Zathura proporciona uma história sobre o companheirismo, sobre o amor e a amizade no núcleo familiar, sobre a redescoberta de laços afetivos e amizades, e sobre redenções sinceras; temas revestidos de um caráter metalingüístico acerca da importância do imaginar, do fantasiar e do sonhar. E você, caro leitor? Será que ainda consegue? 282 O Redator d’A Arca Perdida Curiosidades • A versão exibida nos cinemas brasileiros é dublada, afinal, a censura é livre e a molecada, de férias, estará presente às salas em peso. A dublagem foi realizada no Rio e teve o dublador Guilherme Briggs (voz de Freakazoid) como diretor. Ricardo Schnetzer, a eterna voz de Tom Cruise, dublou Tim Robbins, e Alexandre Moreno dublou o Astronauta. • No livro, Zathura é um jogo de tabuleiro como War ou Banco Imobiliário. No filme, porém, o diretor Jon Favreau o transformou em um brinquedo à corda, feito de lata e jogado com cartas, para que se parecesse com um jogo das décadas de 40 ou 50, fabricado antes da Corrida Espacial e durante a Era de Ouro da Ficção Científica. • O DVD do filme será lançado no dia 14 de Fevereiro nos E.U.A. e trará muitos Extras interessantes, tais como entrevistas e vídeos dos bastidores. • Existe um jogo de tabuleiro, recentemente produzido pela empresa americana Pressman Toy, que é praticamente uma réplica do Zathura visto no filme e que pode ser jogado em dois, três ou quatro jogadores. Vêm na caixa itens como naves plásticas, um sistema ejetor de cartas, tabuleiro super colorido e outros bichos! • Versões de Zathura para jogos de videogame foram lançadas. Os consoles XBox e Playstation 2 foram os sistemas escolhidos para recebê-las. • A trilha sonora, inspirada em produções como Buck Rogers e Flash Gordon, foi composta por John Debney, também responsável pelas trilhas dos filmes “Sin City”, “Todo Poderoso” e “A Paixão de Cristo”. Gigantes do Ringue: A Nova Geração Antiga fórmula do “Telecatch” está de volta em novo horário Michel Serdan? Aquiles? Belo? Caveira? “Figuras carimbadas” e muito bem conhecidas das crianças e dos jovens no início dos anos oitenta, época em que o programa mais famoso da Luta-Livre brasileira fazia sucesso entre a molecada. Originalmente exibido nas noites dos sábados pela Rede Record, “Gigantes do Ringue” possuía a mesma fórmula de seus antecessores norte-americanos - os famosos “telecatches” - por meio da qual enormes lutadores, que compunham “facções” opostas representando o “bem” e o “mal”, travavam batalhas formidáveis no ringue. Tudo muito bem coreografado e previamente ensaiado, para não haver surpresas desagradáveis na “hora H”. Hoje, vinte anos depois, nem todos os gigantes daquela época estão de volta, mas pelo menos um, o maior deles, está: Michel Serdan. Criador da “Organização Mundial de Lutas”, Serdan trouxe de volta à TV aquele famoso programa, mas dessa vez “revisitado” e cheio de efeitos especiais. “Gigantes do Ringue: A Nova Geração” voltou há pouco mais de um ano e vem conquistando a audiência dos telespectadores da TV Gazeta (emissora local de São Paulo). O novo show, repleto de lutadores realmente “monstruosos”, fortes e muito bem treinados, nos lembra vagamente o programa original, cheio de “velhotes” gordos e lentos; nesse novo “Gigantes” não há vez 284 O Redator d’A Arca Perdida para os gordinhos! Lutas entre mulheres também são o novo atrativo. Garanto: muito machão não ousaria enfrentar a famosa “Bia”... O ginásio do Clube Sete de Setembro, na Água Rasa (em SP), fica aboletado de crianças, de jovens e dos respectivos papais e mamães, todos ansiosos pelas aparições dos ídolos, como “Sérgio Blade”, “Bad Boy”, “Marinheiro Jr.”, “Mozart” e “Demônio Cubano”. Durante a entrada dos “Gigantes”, iluminados por luzes estroboscópicas e ao som de música Heavy Metal, as crianças deliram de emoção e, ao mesmo tempo, realizam seus sonhos infantis. Ficam em êxtase ao verem seus heróis voando de um lado para o outro do ringue ou aplicando o famoso golpe “tesoura voadora”. Algumas, como não poderia deixar de acontecer, preferem os “vilões” aos “heróis”, e adoram “sacanagens” como o malvado batendo no oponente com uma cadeira ou amarrando as mãos desse nas cordas para facilitarlhe o “serviço”. Você não está cansado da “velha fórmula”? Tem curiosidade acerca desse novo programa? Deseja ver mulheres lutando contra homens? Lutadores extremamente fortes e, ainda assim, carismáticos? Pois bem, ponha-se sentado (naquela velha poltrona) em frente à TV, pegue seu refrigerante favorito (ou cerveja), tudo no melhor estilo norte-americano, e volte a assistir ao “Gigantes”! Não quer...? Tudo bem... concordo com você... é uma besteira? É tudo ensaiado? Tudo de mentirinha? Está bem, mas quem lhe garante que chatices como “Big Brother Brasil” também não são tudo isso...? “Gigantes do Ringue: A Nova Geração” está sendo exibido nas noites das sextas-feiras, das 22:00 às 23:00 horas, na TV Gazeta (Canal 11), tendo reprises aos domingos (melhores momentos), das 21:00 às 21:30 horas. Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem! Eles são quase tão antigos quanto a Humanidade e popularizaram-se em nosso país na década de oitenta. Acha que os jogos de tabuleiro são coisa do passado? Pois leia esta entrevista e descubra esse universo fantástico. Ricardo Christe, 30 anos, gerente de negócios de Internet, é um dos organizadores do maior evento relacionado aos jogos e contou tudo sobre eles para nós! Por que os anos 80 (o início, pelo menos) são considerados a “época de ouro” dos jogos de tabuleiro no Brasil? Essa afirmação tem sentido ou é resultado de pura nostalgia? Nessa época a Estrela e, principalmente, a Grow, fomentavam um mercado muito dinâmico de jogos de tabuleiro, lançando no Brasil vários títulos interessantes do mercado internacional – e algumas boas obras de autores nacionais, também. Datam dessa época jogos como Alerta Vermelho, Contatos Cósmicos, Alaska, Diplomacia e diversos outros, hoje fora de catálogo. A oferta era grande, 286 O Redator d’A Arca Perdida e os temas, variados. Podia-se achar dezenas de jogos para adultos coexistindo nas prateleiras das lojas. As novidades lançadas regularmente mantinham o interesse dos compradores. Hoje, por outro lado, estamos na era dos vídeo games de 128 bits, do DVD, do Home Theater, do telefone celular e dos Palm Tops, dentre outros monstrengos tecnológicos. O que ainda faz uma pessoa, em meio a tudo isso, abrir uma caixa de War para jogar? Por que os jogos de tabuleiro ainda seduzem? Nenhum aparelho eletrônico consegue imitar a característica mais fascinante dos jogos de tabuleiro: a interação entre as pessoas, o olho-no-olho, a diversão gerada pela presença de vários amigos em torno da mesa. Jogos de tabuleiro acomodam várias pessoas de uma vez. Quase todas as formas de entretenimento eletrônico são individualizadas. Mesmo jogos de computador multiplayer forçam uma situação de cada-um-no-seu-canto, ou no seu micro. Há pouco ou nenhum contato real entre as pessoas. Videogame implica em olhar para a tela. Já o tabuleiro implica em olhar para os outros. O jogo é estendido sobre uma mesa, as pessoas sentam em redor, brincam e conversam, sem estresse. Sem temporizadores para a partida, e num ambiente bem mais amistoso e camarada (bem menos neuroticamente concentrado, por assim dizer) do que numa disputa de videogame. Videogame convida a competir; jogos de tabuleiro convidam a jogar conversa fora, dar risada, brincar. Qual o perfil do atual fã dos jogos de tabuleiro? Todo fã é um colecionador? O pessoal que joga com mais freqüência é o mesmo que curtia os jogos de tabuleiro nas décadas de 70 e 80. Em geral é uma turma que acompanhou a evolução dos jogos eletrônicos, parando de jogar tabuleiro depois de uma certa época. Hoje, com as novas possibilidades que os jogos importados trazem, o pessoal adora redescobrir a antiga curtição. Não é saudosismo: é tomar contato com a evolução dos jogos de tabuleiro. Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem! 287 Os brasileiros acham que jogo de tabuleiro está extinto, ou quando muito, estagnado nas mesmas velhas reprises, como o War e o Banco Imobiliário. Há muito mais que isso por aí! A variedade, pelo menos entre os importados, é enorme. Muitos desses velhos fãs convidam amigos que nunca tinham jogado, a conhecer a brincadeira. É uma seleção natural de novos adeptos, e assim a coisa vai deixando a sala das nossas casas e ganhando espaços públicos. Há casos de pais de família, na casa dos 30 anos, levando os filhos para jogar junto. Isso é sensacional; diversão em família, sem demagogia. Quanto a colecionar jogos, nem todo fã é colecionador, mas é preciso importar os jogos por conta própria. Não há alternativa, já que nenhuma loja em território brasileiro trabalha com jogos de tabuleiro fabricados lá fora, contemporâneos e incrivelmente interessantes. É preciso acessar lojas na Internet e encomendar pelo Correio. Quem compra um, gosta e acaba comprando outro, e assim começam as coleções. Jogos como “Contatos Cósmicos” (da Grow), lançado em 1983, são raridade nos dias de hoje. Como é o mercado nacional de jogos usados? Existe um comércio desse material? Não existe um mercado estruturado. Sites de leilões pela Internet, como o Mercado Livre, são praticamente a única forma de se adquirir jogos de tabuleiro do passado. Mas é tudo muito esparso, ocasional. Quais são os jogos do momento? Os jogos nacionalizados ainda são bons? Conte-nos sobre o fascínio exercido nas pessoas pelos jogos alemães da atualidade. O jogo mais comentado da atualidade chama-se Puerto Rico, uma criação do alemão Andreas Seyfarth, e já traduzido para o Inglês. É uma simulação (estilizada) de produção e comércio agrícola no Período Colonial. Extremamente dinâmico, nele nem mesmo as etapas da rodada têm ordem certa para acontecer. Permite muitas estratégias de vitória e possui uma tensão constante; não é possível fazer 288 O Redator d’A Arca Perdida tudo o que se quer, os recursos para o jogador são limitados. Decidir é difícil e divertido. Puerto Rico é um exemplo muito bem acabado do fascínio gerado pelos jogos alemães de hoje em dia. É um produto sofisticado, de alta qualidade gráfica, num padrão que os jogos brasileiros estão muito longe de atingir. É um jogo inteligente e variado, que cativa adolescentes e adultos. E suas possibilidades são tantas que não há como enjoar dele. A Alemanha é a maior produtora mundial de jogos de tabuleiro, com certeza. Isso porque o mercado interno deles consome continuamente há décadas, sempre querendo novidades, mais e melhores jogos. Com isso, gerações de crianças e adultos puderam acompanhar uma evolução gradual no acabamento, no refinamento e na pluralidade de temas que os “jogos alemães” exploram. Hoje em dia eles dominam a criação e fabricação, e arrecadam dinheiro suficiente para caprichar nos produtos. É muito difícil competir de igual para igual, por isso mesmo muitos países importam e traduzem esses jogos para lançá-los localmente. Alguns dos autores desses jogos são cultuados como personalidades. Acha que os jogos de tabuleiro poderiam fazer sucesso entre a criançada de hoje? Como faze-las adquirir interesse pelos jogos? Se as crianças forem educadas para gostar disso, se jogarem com os pais, divertindo-se com eles... Não há como errar. Os jogos desenvolvem o raciocínio e a sociabilização das crianças. Divertem e refinam a habilidade de comunicação. A Alemanha é novamente um bom Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem! 289 exemplo neste caso: lá, jogar em casa é um hábito. Pais e filhos se divertem juntos, conversando e estimulando o pensamento, ao invés de ficarem assistindo TV passivamente. Você é um dos organizadores do evento “Festa do Peão de Tabuleiro”. Conte-nos tudo sobre o evento! Qualquer um pode participar? A Festa do Peão de Tabuleiro (FPT) é uma reunião de curtidores de jogos de tabuleiro, tanto colecionadores fanáticos, como gente simplesmente nostálgica, e mesmo pessoas que antes não se interessavam, mas têm curiosidade de conhecer as novidades importadas. Nós reunimos quase 80 pessoas a cada nova festa, e mais ou menos a mesma quantidade de jogos de tabuleiro (emprestados pelos donos). Não temos apoio formal de nenhuma empresa; fazemos tudo na base do voluntariado. Originalmente, a FPT ocorria trimestralmente em São Paulo, mas estamos crescendo! Em Agosto ocorrerá a primeira edição carioca, e o pessoal de Fortaleza e Belo Horizonte está se mexendo também... Para participar, é preciso antes de mais nada conhecer o site oficial: http://www.festadopeao.tk/. Lá você se informa e pode entrar em contato conosco, para fazer sua inscrição. Além do evento, há outras formas de contato entre os fãs e entusiastas? E-mail é o principal meio de contato do pessoal. Temos uma lista de discussão por e-mail, chamada Tabuleiro, dedicada ao assunto. Qualquer entusiasta de jogos de tabuleiro, com ou sem experiência, pode se inscrever e participar dos nossos papos. Através da lista é que lançamos os convites para as Festas do Peão. O endereço para se inscrever é http://groups.yahoo.com/group/tabuleiro/ Adoramos conhecer gente interessada em jogos de tabuleiro! 290 O Redator d’A Arca Perdida Para finalizar, gostaríamos que convencesse aquele leitor que possui um jogo de tabuleiro a retirá-lo do armário e a jogá-lo novamente. Abrir um jogo de tabuleiro diante dos amigos é envolver a todos numa diversão incomum hoje em dia... só o gostinho da “novidade” já valerá a experiência, tenham certeza! É muito difícil achar quem não goste de jogar, mesmo que a pessoa a princípio não pareça. Esqueça os preconceitos! A farra na companhia dos amigos compensa de longe o (pequeno) esforço. E tudo pode acontecer na mesa de jantar da sua própria casa! Amigos, risadas, e pouco gasto de dinheiro... o que pode haver de ruim nessa receita? Se a experiência for boa, visite o nosso site e descubra um mundo bem mais amplo do que imagina... Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus O Natal está chegando. E Natal faz com que nos lembremos de infância, de brincadeiras, de jogos, de amigos e de filmes. Sim, filmes! Nós, do Aumanack, preparamos, em homenagem ao Natal, um artigo especial em que cada membro do site comentou sobre os cinco filmes favoritos da infância! Divirtam-se! A História Sem Fim (1984) The Neverending Story (de Wolfgang Petersen) Bastian Bux (Barret Oliver), um imaginativo garoto que acabou de perder a mãe, sente-se só e vive importunado por valentões do colégio. Ao fugir dos garotos, Bastian adentra uma loja de livros e toma emprestado, de uma maneira nada convencional, um volume muito especial: “A História Sem Fim”. Ao começar a lê-lo, escondido na escola, o jovem descobre o maravilhoso mundo de Fantasia, um lugar que, aliás, ajudará, ao lado de personagens inesquecíveis, a salvar da ameaça definitiva: o Nada. 292 O Redator d’A Arca Perdida Esta pequena jóia da década de oitenta, um clássico absoluto do período e referência - direta e indireta - usada em produções posteriores, foi baseada no livro homônimo do escritor germânico Michael Ende e procura mostrar, alegoricamente, a tênue linha divisória entre realidade e fantasia, entre imaginação e pragmatismo. Antes, porém, penso que o filme (e o livro) seja uma apologia à importância da imaginação na vida do Homem; como ela e a realidade, a todo tempo, se misturam e se afetam mutuante. Preste atenção à irresistível trilha sonora composta por Giorgio Moroder e Klaus Doldinger, ora eletrônica, ora orquestrada, além da bela música tema gravada pelo - hoje - desconhecido cantor Limahl. Impossível, também, não se apaixonar por Falkor, o dragão da sorte! Mas cuidado: não deixe que o Nada domine sua vida! Viagem ao Mundo dos Sonhos (1985) Explorers (de Joe Dante) Ben (Ethan Hawke), um menino imaginativo e fã de Ficção Científica, passa a ter estranhos sonhos sobre placas de circuito-impresso e componentes eletrônicos. Na companhia do amigo e geniozinho da ciência Wolfgang (River Phoenix) e do solitário Darren (Jason Presson), Ben acaba por descobrir o real significado de tais sonhos: o esquema para a criação de uma nave espacial feita de energia pura, a qual levará os meninos ao encontro de um destino inusitado - além de nosso mundo. “Viagem ao Mundo dos Sonhos” é uma doce aventura sobre a importância dos sonhos e da imaginação; sobre o poder de se compartilhá-los. É, também, um filme acerca das amizades especiais da época de nossa meninice, de quando Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus 293 éramos garotos e meninas, do tempo em que tínhamos um mundo à nossa frente por explorar. O desfecho de Explorers, o clímax, está impregnado de um discurso metalinguístico relacionado à Ficção Científica e ao estereótipo do alienígena “malvado”, quando, na verdade, o Homem seria o arquiinimigo de si mesmo, o único verdadeiramente capaz de se destruir. Os destaques da película, ao meu ver, são a trilha sonora, composta por Jerry Goldsmith, a direção eficaz de Joe Dante e a atuação brilhante de River Phoenix ainda garoto. E.T. O Extraterrestre (1982) E.T. The Extraterrestrial (de Steven Spielberg) Elliott (Henry Thomas) e os irmãos, Gertie (Drew Barrymore) e Michael (Robert MacNaughton), sofrem com o afastamento do pai, ausente; vivem ao lado da mãe em uma típica cidadezinha suburbana dos E.U.A. Em uma noite bonita, um pequeno alienígena acaba deixado para trás, na floresta, quando a nave em que estava parte apressadamente para o Espaço. O ser, perdido na Terra e batizado posteriormente de E.T., acaba justamente no quintal de Elliott, quando se encontra com o menino e, então, uma linda amizade floresce paulatinamente. O problema: pesquisadores do governo estão atrás do E.T., que fará de tudo para “voltar para casa”. Escrever sobre “E.T.” é, como se diz, “chover no molhado”. Trata-se de uma belíssima e delicada história de amor e de amizade, contada do ponto de vista das crianças por meio da utilização de câmeras à baixa estatura, ou seja, emulando o olhar e a altura dos infantes. A cena final, em que E.T. 294 O Redator d’A Arca Perdida finalmente parte, é uma das mais comoventes e sinceras do Cinema, pois os atores mirins demonstraram, de verdade, seus sentimentos, já que o filme foi rodado na sequência em que o vemos; fato que proporcionou laços afetivos entre as crianças e o ser fictício. A direção mais que competente de Steven Spielberg, que deu enfoque aos pequenos detalhes, e a trilha sonora de John Williams são os destaques. Curiosidade: “E.T.” ganharia logo uma seqüência cinematográfica, e um tratamento de roteiro, “Nocturnal Fears”, chegou a ser co-escrito por Spielberg e por Melissa Mathison, a roteirista original. Como se sabe, tal filme sequer foi rodado, mas a continuação apareceu em formato literário: a obra “E.T. no Planeta Verde”, escrita pelo premiado autor William Kotzwinkle. Os Heróis não têm Idade (1984) Cloak & Dagger (de Richard Franklin) Em San Antonio, Texas, David Osborne (Henry Thomas), um imaginativo garoto de onze anos de idade, acabou de perder a mãe. Como única companhia, já que o triste e atarefado pai (Dabney Coleman) não lhe dá a devida atenção, há um espião e amigo imaginário, Jack Flack (interpretado também por Dabney Coleman), que acaba por dar conselhos ao menino. Davey adora jogar videogame e brincar de espionagem, e tem como parceira a menina Kim Gardener (Christina Nigra). Em um dia fatídico, ambos vão ao edifício da empresa de eletrônica Textronics, a pedido do amigo nerd, Morris (William Forsythe), e o menino finge cumprir uma missão secreta. Durante a brincadeira, contudo, David vê-se cara-a-cara com assassinos reais quando um estranho homem, baleado, entrega-lhe um cartucho - de Atari - do jogo “Cloak & Dagger”, nome que dá título ao filme, e lhe pede Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus 295 que o leve e o mantenha em segurança. Tal cartucho especial, na verdade, contém o blueprint (a planta) de um novo avião espião americano, ultra-secreto. O objeto poderia ser levado para fora dos E.U.A. se caísse em mãos erradas, e o segredo, revelado. A partir daquele momento, o jovem inicia, “auxiliado” por Jack Flack, uma corrida para escapar dos bandidos, que raptam a pequena Kim e o perseguem implacavelmente por diversos pontos da cidade de San Antonio. Em “Os Heróis não têm Idade”, rodado em 1983 e lançado em 1984, a tônica do enredo tem a ver com o rito de passagem da infância para a vida mais adulta, isto é, com o processo de abandono dos heróis, imaginários ou de brinquedo, das histórias mirabolantes de piratas e conquistadores do espaço, dos videogames e seus beep-beeps (à época do filme, os videogames eram vistos como um produto genuinamente infantil.), e com a perda da inocência, da ingenuidade; tudo em prol da aquisição de novas responsabilidades, do amadurecimento. Os destaques são as atuações de Henry Thomas, como Davey, e de Dabney Coleman, que encarou a difícil tarefa de interpretar dois personagens distintos. A cena final é linda e muito comovente. Os Goonies (1985) The Goonies (de Richard Donner) Penso que não exista um filme que melhor represente a Geração Oitenta como “Os Goonies”, clássico produzido e escrito por Steven Spielberg, roteirizado por Chris Columbus e dirigido por Richard Donner. Em “Os Goonies”, um grupo de amigos, Mikey (Sean Astin), Bocão (Corey Feldman), Data (Jonathan Ke Quan), Gordo (Jeff Cohen), Brand (Josh Brolin), Andy (Kerri Green) e Stef (Martha Plimpton), vê a amizade de longa data ameaçada por um milionário que pretende demolir as casas do bairro em que moram, conhecido como Goon Docks (Docas Goon), a fim de lá construir um campo de golfe, já que os pais da garotada não têm dinheiro suficiente para cobrir a hipoteca do local. 296 O Redator d’A Arca Perdida Desesperados por causa da separação iminente, os meninos se decidem por partir juntos para uma nova e última aventura quando descobrem, no sotão da casa de Mikey, um suposto mapa de um tesouro do pirata Willy Caolho. Munidos de suas bicicletas, de alguns apetrechos e de muita coragem, os Goonies partem, então, em direção ao ponto inicial indicado no mapa: o restaurante da família de bandidos conhecidos como Fratelli. E em meio aos bandidos, quem diria, conheceriam o mais novo amigo e membro do grupo, Sr. Sloth (interpretado pelo falecido John Matuszak), um personagem que passou a morar nos corações dos fãs. “Os Goonies” é uma aventura mágica sobre os tempos de infância, sobre as amizades sinceras das quais dispusemos quando crianças e pré-adolescentes. Aos poucos, o espectador passa a ser envolvido nessa amizade contagiante e não mais consegue se desvencilhar dela. É difícil, concordo, apontar os destaques deste filme, pois tudo foi muito bem-feito e pensado: a direção, a trilha sonora (lembram-se da música tema cantada por Cyndi Lauper?), os atores mirins, os efeitos, o navio pirata etc. O clássico de uma era! Algumas referências literárias vistas em The Matrix Já dizia o sábio que nada nesse mundo se cria, mas se transforma. No mundo do cinema, é verdade, não há sequer a necessidade da sabedoria para comprovar o constante reaproveitamento das idéias. Em The Matrix, acredite se quiser, não houve exceção. Você, caro leitor, achava que os irmãos Wachowski criaram sozinhos todo aquele universo? Mesmo? Então, saia da Matrix e descubra algumas referências literárias que fazem parte das peripécias de Neo e de Morpheus. NEUROMANCER de William Gibson A premiada obra do escritor norte-americano William Gibson, Neuromancer, teve fórmulas fundamentais utilizadas para o formato através do qual o filme Matrix se apresenta aos espectadores. O autor, pioneiro, apresentou a idéia de uma rede global de informações, a Matrix; uma simulação de realidade virtual conectada diretamente ao cérebro humano. 298 O Redator d’A Arca Perdida Na obra em questão, pela primeira vez o termo Ciberespaço foi utilizado, dando dimensão a um novo mundo além da nossa realidade. Assim como no filme, se um indivíduo morresse na Matrix de Neuromancer, morreria na vida real. O uso de eletrodos ligados à mente humana (na testa) também apareceu nesse livro, idéia utilizada no filme dos Wachowski, mas ligeiramente alterada, pois a interface cerebral é inserida na base do crânio. Assim como em Matrix, os usuários de Neuromancer se sentam em cadeiras e se prendem a elas quando conectados ao mundo virtual. As referências, claramente, são mais do que óbvias. I Have No Mouth And I Must Scream de Harlan Ellison Harlan Ellison escreveu muita coisa boa para a televisão. Seus roteiros foram usados em episódios de Além da Imaginação, de Jornada nas Estrelas, e em diversas produções do gênero. Uma de suas obras de 1973, I Have No Mouth And I Must Scream, teve diversas referências usadas no filme. O enredo do livro, aliás, é similar demais ao da película: um supercomputador planetário combate humanos e, vencedor, assume o controle das coisas na Terra. Os prisioneiros, então, são detidos num mundo virtual criado pelo tirano digital. Uma das criaturas digitais, assim como o Agente Smith, é clara ao citar que odeia os humanos. Algumas referências literárias vistas em The Matrix 299 Outra: a célebre frase “welcome to the desert of the real” – dita por Morpheus – também se origina do livro em questão. Porém, a alusão mais clara à obra de Ellison repousa na cena antológica em que a boca de Neo some; o que nos remete diretamente ao título da obra: “não tenho boca, mas preciso gritar”. Simulacra and Simulations de Jean Baudrillard Esse denso livro de 1981 permeia bastante as aventuras de Neo dentro da Matrix. A ótica de Baudrillard dita que a cultura pós-moderna está repleta de signos que ofuscam nossa percepção quanto ao que é ou não realidade – premissa básica do filme. A indústria cultural, segundo o autor, bombardeia a cabeça das pessoas, deixando-as confusas: fatos, informações, entretenimento, política; tudo se mistura numa miríade de imagens (simulações) e de signos (simulacros). O presidente Lula, por exemplo, seria uma simulação de político, ao passo que Guga, o tenista, seria uma simulação do esportista; e assim por diante. O conjunto Simulacra-Simulation, em nossa sociedade, é o responsável por, exemplificando, fazer com que compremos compulsivamente, trabalhemos em empregos dos quais desgostamos, realizemos inúmeras atividades duvidosas – e tudo sem nem nos darmos conta. 300 O Redator d’A Arca Perdida Curiosidade: quando Neo abre o livro no qual esconde suas drogas digitais, que por acaso se mostra o próprio Simulacra and Simulations, a página está no capítulo sobre o Niilismo. O Niilismo, simplifiquemos, crê na inutilidade da vida - que essa não tem sentido algum - e na falência dos valores tradicionais-morais de nossa sociedade; infundados e irreais. Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll A ilustre obra do famoso e controverso – acusado de pedofilia – autor inglês também proporcionou grandes referências ao filme. Algumas são óbvias demais; outras, nem tanto. Alice, como sabemos, ao perseguir o coelho branco, acaba dentro de um buraco de coelhos (toca). Eles, os coelhos, também aparecem aos montes no filme. Exemplo: Neo, mandado, precisou seguir o coelho branco, coisa que fez ao encontrar a moça tatuada justamente com o desenho do animal. Ao conhecer Morpheus, esse pergunta ao escolhido se está se sentindo como Alice no buraco do coelho. Na cena em que a pílula deve ser escolhida, Morpheus diz que se tomada a vermelha, mostraria o quão fundo é, na realidade, aquele buraco. Noutro exemplo: há uma cena na qual Choi se encontra duas horas atrasado, tal como o coelho que vive desse modo no livro, e, assim como esse, culpa outra pessoa, Dujour, (Alice no original) pelo atraso. Há outras referências mais sutis, como o fato do Agente Smith ter dito a Neo que vive duas vidas distintas. Em determinada parte da obra, Alice questiona consigo mesma a possibilidade de estar viven- Algumas referências literárias vistas em The Matrix 301 do duas vidas. São ofertados a Neo, em diversas cenas, comestíveis ou bebidas, também como na obra de Carroll. Exemplos: o escolhido tomou a pílula vermelha no princípio, ao sair do Oráculo lhe foi dado um biscoito, Cypher lhe oferece uma bebida durante a conversa que têm; há muitos casos. Alice, por sua vez, vive a comer e a beber durante sua estada naquele mundo mágico – atividade que altera seu corpo físico conforme o passar da história. Quando Neo ingere a pílula, vê um espelho que se mostra fluido e que acaba por cobrir seu corpo. Isso faz com que acorde no mundo real, em seu casulo. Alice, por sua vez, passa por um espelho a fim de entrar no Mundo dos Óculos; espelho esse que também se transforma, magicamente, em um fluido sobre o qual ela sobe. Outro exemplo: o herói quase morre afogado ao acordar naquele casulo – repleto de líquido. Alice, igualmente, quase se afoga numa piscina preenchida pelas próprias lágrimas. Sobre o que é ou não real, mais referências: Neo tem dificuldades para aceitar as coisas como se apresentam a ele. Demora a compreender que a mente, ao contrário do que pensou no princípio, controla as coisas na Matrix. Alice também passa pela mesma situação quando ela, Tweedledum e Tweedledee, os guardiões do castelo da Rainha de Copas, conversam a respeito do Rei Vermelho enquanto esse dorme. Durante o papo, os guardiões questionam com Alice a realidade da existência da menina: seria ela uma parte dos sonhos do rei adormecido? Se ele acordasse, desapareceria ela? Ainda durante a conversa, Alice termina por chorar, mas subitamente sorri ao se deparar com lágrimas supostamente reais. Reais? “Quem disse que são reais?” - é o que retrucam os dois. Caro leitor, desconhecia essas referências literárias? Há muitas, muitas mais; tantas que seria possível escrever um livro a respeito (se é que não existe), e, portanto, desafiamos vocês a encontrar referências diferentes destas, e não apenas relacionadas à literatura. Há outras referências em Matrix, especialmente aos animes (séries de animação japonesas). à luta! Que tal começar pelo Mágico de Oz? Pois, saia da Matrix e vá Monty Python e o Cálice Sagrado: Um dos filmes mais engraçados da história ganhou versão especial em DVD Um pouco sobre os Pythons e sobre o Filme “Monty Python e o Cálice Sagrado” (“Monty Python and the Holy Grail”) é uma produção de 1974, estrelada pelo despirocado e mais famoso grupo humorístico da história: o Monty Python. Aquele grupo britânico, responsável por uma verdadeira revolução no meio humorístico – nos anos setenta – por meio do programa “Flying Circus”, era composto pelos comediantes: John Cleese, Michael Palin, Graham Chapman, Terry Gilliam (o único americano do grupo), Terry Jones e Eric Idle; quase todos ainda atuantes nos meios cinematográfico e televisivo. O filme é uma divertida paródia às aventuras do Rei Arthur e de seus Cavaleiros da Távola Redonda, oriundas da lenda devidamente registrada nos anais da Humanidade através da obra “Le Morte D´Arthur”, supostamente escrita por um tal Sir Thomas Malory (*). A espada Excalibur, os menestréis, os alucinados “cavalos invisíveis” e 304 O Redator d’A Arca Perdida até mesmo Deus são parte de uma grande “festa nonsense” regada ao melhor estilo daqueles brilhantes e malucos ingleses! Apesar de tratar-se de uma comédia, a produção foi de grande esmero no tocante às locações e à fotografia, pois tudo é muito caprichado. Destaque também para a direção, que foi “a duas mãos”: tanto Terry Gilliam quanto Terry Jones estiveram por trás da batuta. Piadas à parte (algumas, inclusive, intraduzíveis ao Português), o filme é repleto de críticas à monarquia, à aristocracia e à dominação religiosa; algumas óbvias e outras nem tanto, podendo ser percebidas nas entrelinhas... É notório: filmes de cunho histórico cujos conteúdos são humorísticos, mas críticos, são a grande marca registrada dos Pythons. Edição Especial em DVD duplo: O filme, remasterizado digitalmente, foi lançado recentemente numa versão especial em DVD duplo, para colecionadores, a qual nos traz inúmeros extras. Essa nova versão em formato Widescreen Letterbox de alta-definição é um verdadeiro deleite com excelentes som e imagem. É possível de se notar detalhes que previamente passaram despercebidos na única versão da obra disponível no mercado brasileiro: a fita de vídeo selada da VTI (lançada no início dos anos noventa). Além de todo o “banho digital” dado ao filme, o material inédito é realmente o grande atrativo do pacote. Monty Python e o Cálice Sagrado 305 O segundo DVD é o dos extras. Há tanta coisa disponível que o espectador poderá ficar perdido, literalmente. Dentre as pérolas há, por exemplo: • Trailers de Cinema • Comentários dos Diretores • “Versão especial para os surdos” • “Como usar seus cocos?” (filme educacional) • “Monty Python e o Cálice Sagrado” em Lego • “Em Locação com os Pythons” (uma produção original da BBC) • “Legendas para pessoas que não gostaram do filme” • “Em Busca das Locações do Cálice Sagrado” (documentário produzido por Michael Palin e Terry Jones) Amigos, isso é apenas um exemplo dos Extras desse filme. É muita coisa, mesmo! É importante, porém, avisa-los do seguinte fato: o DVD em questão é importado e pertence à chamada “Região 1”, ou seja, só poderá ser reproduzido em aparelhos nacionais de DVD que estiverem “desbloqueados”, e, portanto, que forem compatíveis. Cuidado! Quanto ao Monty Python, infelizmente o grupo se desfez no final dos anos oitenta, por causa do falecimento precoce de Graham Chapman (intérprete do Rei Arthur e homossexual declarado), vítima de câncer de garganta. Esses ingleses doidos influenciaram toda uma geração de comediantes, como por exemplo: os integrantes dos programas “Saturday Night Live (americano) e “Kids in the Hall” (canadense). Realmente, influenciaram e influenciam esses artistas do riso até hoje. Após terem produzido a obra que comentamos, ainda fizeram os filmes “A Vida de Brian” e “O Sentido da Vida”. Tomara que lancem as versões especiais desses filmes também! (*) Na época do surgimento da obra havia, pelo menos, 4 pessoas possuidoras do mesmo nome. Eis o motivo da incerteza quanto ao real autor. RetrôTV: o maior site brasileiro de séries e desenhos antigos Johnny Quest, Jornada nas Estrelas, Viagem ao Fundo do Mar, Formiga Atômica, James West e Além da Imaginação. Estes nomes lhe são familiares? Essas produções clássicas, veneradas por tantos fãs que assistiram a esses programas na juventude, têm um magnífico espaço na Net. Trata-se do RetrôTV, o maior site brasileiro dedicado às antigas produções. A ARCA entrevistou, com exclusividade, o criador do projeto, Maurício “Hitchcock”, que contou para nós tudo a respeito da sua criação. A ARCA: Olá, Maurício, tudo bem? Bem-vindo! Obrigado por sua participação. Quando teve a idéia de criar um site especializado em desenhos e em séries antigas? Como surgiu o projeto? MAURÍCIO “HITCHCOCK”: Foi no ano de 1999, época em que começaram a surgir hospedagens grátis de sites, e resolvi montar um para aprender como se fazia. A intenção foi de apenas colocar algumas imagens de desenhos e de séries antigas, mas também tive a idéia de colocar alguns textos. Foi aí que contatei alguns amigos, fãs de séries e desenhos antigos, e os convidei a escrever. No dia primeiro de janeiro de 2001, o Central RetrôTV estreou na web. 308 O Redator d’A Arca Perdida AA: Como você faz para atualizá-lo com tanta informação? É coisa que não acaba mais! Executa tudo sozinho? MH: Realmente, o site tem um grande volume de informação. Em todos os fins-de-noite, eu dou uma atualizada. E, quando posso, nos fins de semana também. Faço tudo sozinho. O que menos faço é escrever textos (só os reviso), pois não daria conta de tudo. Existe uma equipe de colaboradores que escrevem para mim. AA: Quais as produções mais procuradas pelos fãs? O pessoal procura mais coisas dos anos 60, 70 ou 80? MH: As produções dos anos 60 são as mais procuradas no site, tais como Perdidos no Espaço, Viagem ao Fundo do Mar, A Feiticeira, Jeannie é um Gênio, Brasinhas do Espaço, Jonny Quest, A Cobrinha Azul... AA: O RetrôTV é um dos únicos que abrem espaço para a dublagem. Por que? É um aficionado pela profissão? Aliás, o que pensa da dublagem brasileira? MH: A dublagem é mais importante que a imagem! Soa meio estranho, mas é a verdade. As imagens das séries e dos desenhos antigos estão preservadas pelas suas distribuidoras. Já a dublagem, não. O Brasil não tem muita preocupação de preservar sua memória e muitas fitas (películas), com as respectivas dublagens, foram perdidas. Temos que dar valor aos antigos dubladores, possuidores das vozes que mais ouvimos em toda nossa infância. Procuro colocar seus nomes no site, sempre que possível. Geralmente, tenho mais vontade de conhecer um dublador do que o próprio ator dublado por ele. A dublagem brasileira é uma das melhores do mundo. AA: Como é a visitação do site? Qual o público que o acessa? Já mediu esse tipo de dado? MH: O site recebe, em média, 15 mil visitas por mês. A maioria do público está entre os 30 e 40 anos, mas há também muitos jovens de 20 anos, e os mais velhos, com mais de 50 anos. Recebo muitas RetrôTV: o maior site brasileiro de séries e desenhos antigos 309 mensagens de pessoas emocionadas por saber ou ver algo relacionado com um programa ao qual assistiu bastante quando mais jovem. Um fato curioso é que recebo mensagens de pais que estão preocupados em mostrar aos filhos aquilo que eles assistiram quando crianças e, de fato, tentam fazer com que eles não vejam Dragon Ball e Pokémon, por exemplo, devido às doses excessivas de violência. AA: Vocês estão empolgados por causa do novo Retro Channel? Fale sobre o canal para os leitores d´ARCA. Parece haver muitas reclamações a respeito. MH: É. O Retro Channel, antes de tudo, tem me proporcionado um certo trabalho. Tem muita gente pensando que o canal é do site, por terem nomes parecidos. A premissa do canal é muito boa, mas estão havendo muitos problemas, como intermináveis erros de tradução, repetição exaustiva de episódios e indisponibilização das dublagens. Mas temos que dar um tempo. Aos poucos eles devem se acertar. AA: Os ditos colecionadores de coisas raras, esse pessoal é sério mesmo ou somente procura arrancar dinheiro fácil dos outros? HM: Tem muita gente séria e muita gente pilantra. Geralmente, os preços acabam altos demais para algumas raridades, pois também custa caro para se recuperar as películas que são adquiridas. O problema é que esse comércio é considerado pirataria e pode causar alguns problemas para os adeptos. 310 O Redator d’A Arca Perdida AA: Qual o futuro do RetrôTV? Aonde querem chegar com o site? HM: O RetrôTV hoje, além de entreter os visitantes com textos, imagens, sons e vídeos das produções clássicas, tem também a função de lutar pelos interesses do fãs. O site leva as reclamações dos assinantes/espectadores para os canais que exibem esse tipo de programação. Recentemente, o canal Boomerang recebeu um documento contestando as intermináveis reprises e a falta de variedade do canal. O documento foi muito bem recebido e agora está em análise no departamento de programação do canal. O futuro é um maior número de fãs unidos pelo site, para que possamos promover eventos, mostras, etc. Um grande número de fãs, mobilizados, facilitaria a aceitação de reclamações dos espectadores. S.W.A.T.: clássica série policial dos anos setenta fez história No final dos anos setenta, quando éramos crianças, bastava que ouvíssemos a música tema dessa série para que corrêssemos à frente da televisão. Era batata! Batata, também, que no dia seguinte brincássemos de S.W.A.T. durante o recreio, cada garoto querendo representar algum dos personagens principais da série, como o comandante Hondo Harrelson. O quê? Nunca ouviu falar? Não mesmo? Então, caro leitor, leia este artigo d´A ARCA e descubra uma das séries policiais mais famosas da tevê, agora que o novo longa-metragem baseado nessa produção está estreando nos cinemas brasileiros. A SÉRIE: Super-Homens da Lei? S.W.A.T., sigla que significa Special Weapons And Tactics (Armas e Táticas Especiais), é uma série de tevê que originalmente surgiu em 1975, exibida pela rede ABC em horário nobre. O enredo, repleto de marginais, de terroristas, de policiais e de cidades sitiadas, mostra as aventuras de um esquadrão de elite liderado pelo tenente Dan ‘Hondo’ Harrelson (Steve Forrest) sob o auxílio do sargento David “Deacon” Kay (Rod Perry), bem como apresenta as peripécias dos policiais Jim Street (Robert Urich, falecido em 2002), Dominic Luca (Mark Shera) e T. J. McCabe (James Coleman); todos, aliás, veteranos do Vietnã - cada qual com habilidades únicas - que enfrentam situações incomuns, aquelas impossíveis para a polícia normal. 312 O Redator d’A Arca Perdida Situada na atribulada Los Angeles, S.W.A.T. proporcionava momentos espetaculares de ação e de aventura para os fãs do gênero, apesar do caráter previsível dos episódios e do óbvio maniqueísmo. Como não se lembrar dos heróis a correr e a entrar naquele furgão especial, enquanto a trilha sonora (composta por Barry De Vorzon) dava o tom da próxima aventura perigosa? Pôxa, todo moleque pirava com aquilo! Armas especiais, bombas, rifles, lutas e muitas perseguições – esse era o dia a dia dessa série, mais uma dentre as diversas produções policiais da década de setenta. SUPOSTA VIOLÊNCIA E CANCELAMENTO PREMATURO O seriado, spinoff de outra produção da ABC, The Rookies, foi cancelado, infelizmente, após 39 episódios (somando-se o piloto) em 1976 e durou apenas duas temporadas. Supostamente violento demais para a época, retratou por muitas vezes os agentes daquele esquadrão como super-homens invencíveis e onipotentes. Alguns críticos, verdade, adoravam pegar no pé da série, fato que também pressionou o estúdio ao cancelamento. É claro que, para os padrões de hoje, a violência contida no programa é brincadeira. Praticamente qualquer atração de tevê da atualidade é mais violenta que S.W.A.T. S.W.A.T. 313 NO BRASIL No Brasil, a série, dublada pela Herbert Richers, estreou em 1977, quando foi exibida nas noites de quarta-feira, na Globo, após a novela das oito. Nos anos noventa, foi reprisada pelo Canal Sony, mas legendada. Aproveite, caro leitor d´A ARCA, já que esse novo longametragem estreou nos cinemas brasileiros, e procure conhecer um pouco de um dos programas mais famosos da tevê americana. Mas, cuidado: precisará se decidir de qual lado está – mocinhos ou bandidos – porque, do contrário, vai levar borracha, hein? Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura! Quem viveu na época, sabe: os video games - quer sejam os domésticos, os de computadores ou os fliperamas - foram os coadjuvantes principais da molecada durante aquela década. Sempre estiveram ao lado de outros brinquedos famosos como o Aquaplay, o Playmobil, os Transformers, os Comandos em Ação ou mesmo o futebol com os amigos da escola. O novo brinquedo foi a sensação do momento (e, embora não soubéssemos à ocasião, tornar-se-ia popular para sempre), que marcou definitivamente os eighties como o ponto de partida das parafernálias eletrônicas. Como não poderia deixar de ser, eles tomaram parte de alguns filmes clássicos nos anos oitenta. Em certos casos, foram meramente citados, noutros, quase desempenharam o papel principal. Não se lembra? Como não? Então siga conosco nesta viagem temporal e relembre - ou descubra! - os filmes oitentianos dos quais, de maneira original, aqueles jogos eletrônicos participaram! 316 O Redator d’A Arca Perdida E.T., O EXTRATERRESTRE Atari e Space Invaders (1982) A história do alienígena mais amado da Terra foi uma das pioneiras a promover citações sobre os video games. É! Não se lembra? Pudera, uma vez que as referências a eles são um tanto quanto sutis. Na sequência em que Michael (Robert MacNaughton), o irmão de Elliott (Henry Thomas), é “apresentado” ao alienígena, podese ver que o jovem traja uma camiseta em cuja estampa há os dizeres “Space Invaders”, assim como figuras dos alienígenas do jogo. Outra citação bem escondida: antes das cenas em que se nota a tal camiseta, Michael diz a seguinte frase ao entrar no quarto do irmão: “Tyler (o personagem de C. Thomas Howell) fez 69 mil pontos no Asteróides, mas puxaram o fio da tomada”. Se você, caro leitor, já brincou com o jogo em questão, clássico do Atari 2600, sabe que essa pontuação é deveras alta e requer horas de paciência em frente ao televisor. Noutra cena, em que Gertie (Drew Barrymore) assiste ao programa Vila Sésamo, E.T. começa a balbuciar as primeiras palavras em inglês. Os olhos mais atentos puderam - ou poderão - notar a presença de um Atari 2600 sobre a tevê da sala. Não acredita? Pois veja o filme em DVD e aumente o controle de brilho do aparelho. Spielberg presentiu que o Atari viraria cult e, portanto, fez questão de não deixá-lo de fora do filme. TRON E SPACE PARANOID Jogos Tridimensionais (1982) Tron foi o primeiro filme a conter computação gráfica de forma contundente, e isso em 1982. Kevin Flynn (Jeff Bridges), hábil Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura! 317 programador e criador de muitos vídeo jogos, após ser demitido da ENCOM, abriu o próprio arcade (fliperama). Nas cenas em que os amigos de empresa visitam o ex-funcionário, um salão recheado de máquinas de fliperama pode ser visto. Leitores espertos notarão jogos como Space Wars, Asteroids Deluxe, Berzerk e Omega Race. O personagem de Jeff Bridges, porém, joga o fictício Space Paranoid; uma de suas criações. Apesar do fliperama, baseado em sketches de pré-produção, ter sido lançado durante a execução do filme, Flynn brinca, como disse, com um jogo não real; uma imagem criada pelo computador Cray 1/S para somente ilustrar aquelas cenas da película. Esse jogo, amigos, nunca existiu, a despeito dos boatos que andam por aí. O BISPO DA BATALHA Fliperama Além da Imaginação (1983) Embora brinquei com o título, não se trata de um episódio da clássica série criada por Rod Serling no final dos anos cinquenta, mas de um longa-metragem que segue o mesmo estilo: Pesadelos Diabólicos (Nightmares). Lançado em 1983, esse filme foi escrito em uma parceira entre Jeffrey Bloom e Christopher Crowe. O primeiro escreveu, dentre inúmeros trabalhos, episódios da antiga série Quarto Escuro (1981), exibida no Brasil, e o longa-metragem O Jardim Dos Esquecidos, de 1987. O segundo também participou de Quarto Escuro e escreveu episódios da série Os Novos Intocáveis, aquela de 1993. 318 O Redator d’A Arca Perdida O enredo é composto por quatro histórias distintas, bem ao estilo Além da Imaginação, Galeria do Terror e Amazing Stories. A que nos interessa foi batizada de O Bispo da Batalha. J.J. Cooney (Emilio Estevez em início de carreira) é um típico adolescente viciado em jogos de fliperama e de video games. Passa horas a fio com eles, tão fanático que é. Porém, ao descobrir um jogo diferente, no qual o Bispo da Batalha - o Senhor de todos os desafios - faz pouco caso dos jogadores e os desafia, J.J. fica alucinado para derrotar o oponente, mesmo sabendo que precisará vencer as 13 fases da partida. O jogo, de fato, provoca tanto o jovem jogador que esse invade o fliperama de madrugada para poder jogá-lo sem interferências e, dessa forma, vencer o último nível. O desfecho é algo estarrecedor. O arcade Bispo da Batalha não existe, é claro, mas o observador astuto poderá notar outros jogos famosos, tais como Plêiades, Asteroids, Venture, Donkey Kong e Tempest. WARGAMES Quer jogar Guerra Global Termonuclear? (1983) Wargames é um dos clássicos dos anos oitenta, inegável! A história de David Lightman (Matthew Broderick em início de carreira), um garoto genial e fanático por computadores (o termo Hacker sequer existia) que consegue penetrar nos sistemas do governo norte-americano. Ele quase incita a Terceira Guerra Mundial ao jogar, inocentemente, o Guerra Global Termonuclear; jogo em que os Estados Unidos e a União Soviética se enfrentam. Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura! 319 Na verdade, descobre-se que aquilo deu início a uma simulação de guerra real e que, eventualmente, principiaria mesmo a hecatombe nuclear. Imaginem o desfecho disso, pois ainda vivíamos os resquícios da guerra-fria. Pôxa, o dono da locadora da qual aluguei cartuchos de Atari - em 1983 e em 1984 - batizou-a de Wargames, e justamente por causa desse filme. Não é preciso dizer mais nada! A produção marcou época e fez história. O cartucho que David jogou não existe de verdade, contudo, na cena em que o jovem entra no fliperama, antes de ir à escola, é possível ver diversas máquinas reais por lá. Nessa parte do filme ele joga o clássico Galaga. Mais uma vez, leitores atentos notarão, ao lado direito do gabinete daquele jogo, o gabinete do também clássico Zaxxon. OS HERÓIS NÃO TÊM IDADE Atari 5200 na cabeça! (1984) Henry Thomas não ficou sem trabalho após sua atuação em E.T., O Extraterreste, de 1982. Ele, mais do que rapidamente, interpretou outro papel no cinema: o do imaginativo garoto Davey Osborne, que perdeu a mãe recentemente e que tem, como melhor amigo, um personagem imaginário, Jack Flack (uma espécie de Comandos em Ação de carne e osso), interpretado pelo excelente Dabney Coleman. O menino envolveu-se numa trama por meio da qual o esquema de construção - o famoso blueprint - de um avião-espião foi secretamente inserido num cartucho de Atari 5200, vídeo game lançado nos E.U.A. em 1982 e não fabricado no Brasil, o qual foi parar em 320 O Redator d’A Arca Perdida suas mãos. Davey precisa, então, fugir de malfeitores que desejam apoderar-se do cartucho e, por conseguinte, capturá-lo. Em uma das cenas o garoto é visto em seu quarto jogando, no Atari 5200, o jogo Cloak and Dagger (algo como capa e punhal – termo usado para designar o arquétipo da espionagem); nome, aliás, que dá título ao filme em inglês. Em outra cena famosa, em que Davey entra numa loja de departamentos, o espectador tem a chance de ver diversas caixas de video games e de jogos do Atari, e também caixas do ColecoVision; tudo à venda nas prateleiras do estabelecimento. Quanta nostalgia! Esse fato me faz lembrar do Natal de 1983, época em que fui ao extinto Mappin Praça Ramos (em SP) para comprar o meu Atari. Havia caixas e caixas de video games por lá! Detalhe interessante: o jogo visto no filme existe mesmo e é a versão oficial do fliperama, embora tenha sido mostrada, propositadamente, como a do Atari 5200. A do video game, infelizmente, nunca saiu do papel. Os produtores da película conectaram a motherboard original da máquina a uma televisão convencional e fizeram com que a imagem parecesse ser a do próprio Atari. Isso que é marketing, hein? Os Heróis Não Têm Idade traz, ao final, uma mensagem muito bonita e pertence àquela categoria de filmes ingênuos, bem ao estilo manjado dos anos oitenta. O fato do ator Dabney Coleman ter interpretado, além de Jack Flack, o pai do garoto, foi genial! Curiosidade: Henry Thomas, durante as filmagens, não chegou a jogar realmente o Cloak and Dagger ao interpretar seu personagem. Em seu lugar, o criador do jogo, Russell B. Dawe, foi chamado pelo diretor e jogou-o às escondidas, isto é, longe das câmeras para que o desempenho do garoto fosse convincente. Claro que era sempre o menino quem aparecia com o joystick do Atari 5200 nas mãos! Russell, verdade, foi creditado no final do filme. Basta checar! Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura! 321 GREMLINS Monstros verdes habitam os video games? (1984) No famoso sucesso dirigido por Joe Dante e escrito por Chris Columbus, Gremlins, também está presente o video game. Na parte em que os monstrinhos fazem a tremenda bagunça num bar (que mais se parece com uma taverna), alguns deles jogam Star Wars, o fliperama da Atari. Noutra cena, na casa de Billy Peltzer (Zach Galligan) - o personagem principal - os Mogwais (nome dos seres quando não transformados nos Gremlins) brincam com o minigame Tabletop da Coleco: o Donkey Kong. E isso não é tudo, pois na seqüência final do filme, aquela em que Billy enfrenta Stripe na loja de departamentos, é mostrado muito rapidamente um cartucho de Atari novinho sobre uma prateleira. O ÚLTIMO GUERREIRO DAS ESTRELAS Campeão da Sessão da Tarde (1984) Está aí uma produção que todo moleque, hoje adulto, viu! As aventuras de Alex Rogan (Lance Guest), campeão do fliperama Starfighter, o qual foi recrutado pelo alienígena Centauri (o falecido Robert Preston) para enfrentar, no mundo real, um tirano intergaláctico. As imagens computadorizadas, incríveis para a época, foram, assim como em Tron, renderizadas pelo computador Cray - modelo X-MP. 322 O Redator d’A Arca Perdida As cenas em que o jovem enfrenta os inimigos são fabulosas! Impossível não se lembrar delas! Infelizmente, o jogo de fliperama, assim como em Tron, não existiu de verdade. Houve, sim, um cartucho baseado no filme, mas para sistemas domésticos, que foi rebatizado e lançado para o Atari 5200 / Atari 800: o Star Raiders II. Ele foi criado a partir de um protótipo com base na versão oficial do jogo, a mesma vista no filme. VIAGEM AO MUNDO DOS SONHOS Exploradores espaciaiS e um Apple IIc? (1985) Nessa simpática produção de 1985, três amigos constroem uma nave espacial energética (uma esfera de energia), a ThunderRoad e, auxiliados por extraterrestres, vão de encontro a eles nos confins do espaço. Wolfgang Müller (o falecido River Phoenix), o geniozinho a la Dexter da turma, desenvolve o sistema guia da nave num microcomputador Apple IIc dotado de 128 KBytes de memória - essa parte, de fato, é muito bem frisada pelo menino. Deus sabe que, hoje, 128 KBytes de memória não são NADA! Lembro-me, no dia seguinte à exibição da película, da molecada falar a respeito desse detalhe no recreio. Está bem, o filme em questão não tem nada a ver com video games, mas, ainda assim, é uma referência que mostra o quão distantes estamos dos anos oitenta em termos de tecnologia. Ademais, o filme é muito bacaninha. A direção de Joe Dante e a trilha sonora do mago Jerry Goldsmith foram colaborações fundamentais. Há, ainda, as participações de Ethan Hawke e da gracinha Amanda Peterson. Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura! 323 GOONIES O atrapalhado Chunk e o fliperama sem fichas (1985) Bem no início de Goonies, talvez o mais adorado e cultuado filme dos anos oitenta, há uma cena muito engraçada que está relacionada com os jogos eletrônicos. Chunk, o gordinho atrapalhado, aparece, em tese, jogando Cliff Hanger num fliperama. A coisa é muito rápida, pois logo ele larga tudo e espreme o copo de suco contra o vidro da janela (a cena é impagável!) para assistir à súbita perseguição automobilística dos Fratelli. O mais interessante é: percebe-se facilmente que o jogo estava no modo de espera, isto é, na apresentação em que se aguarda pela inserção de fichas para iniciar-se a partida. Pôxa, então como o gordinho estava jogando? Que furo! É por isso que escrevi que, em tese, ele jogou. D.A.R.Y.L. Mais Atari 5200 (1985) D.A.R.Y.L. (Barret Oliver) conta a história de um menino de 10 anos de idade na forma de um experimento militar: ser superdotado - e capacitado com um microchip cerebral - que o faz pensar e agir com o poder computacional de uma máquina. Ele escapa de seus criadores e vai parar numa pacata cidadezinha dos Estados Unidos, onde é adotado por uma família local. A confusão está armada, pois seus criadores o querem de volta e, por outro lado, ele procura fugir a todo custo. 324 O Redator d’A Arca Perdida Numa seqüência do princípio, vivida na casa dos pais adotivos, Daryl impressiona a todos ao jogar, perfeitamente, o jogo Pole Position do Atari 5200. Ele arrebenta! A película é super bacaninha, além de diversão garantida para a família. No final, quando Daryl pilota o Blackbird da força aérea, o espectador chega a questionar consigo mesmo sobre as vantagens ou desvantagens - da inteligência artificial. Bem, amigos leitores d´A ARCA, chegamos ao final! Espero que esse apanhado tenha reavivado as memórias de vocês e que possam, caso estiverem interessados mesmo, assistir a alguns desses filmes para novamente matar a saudade daquela época; ocasião em que nos divertíamos com video games que não dispunham mais do que 8 ou 10 cores na tela. Certamente existem muito mais filmes relacionados aos video games, mas os que citei são, sem sombra de dúvida, os mais conhecidos do público brasileiro. Será que eu consigo uma camiseta do Space Invaders igual à do Michael? Uma tarde no Proctologista. Pequena crônica de grande incômodo Devido a alguns distúrbios de ordem nada agradável - e dos quais não me orgulho - precisei me consultar com um Proctologista. É, esse palavrão designa o médico que toma conta de um local muito importante de nosso corpo; área que quase nunca, ao longo de nossas vidas, observamos em nós mesmos. Cheguei ao consultório, localizado em uma travessa da Avenida Paulista, e, para minha surpresa, esse estava vazio. A mesa da secretária, quem diria, encontrava-se ausente da respectiva dona. Bom sinal: ouvi vozes além de uma das portas, a qual estava providencialmente cerrada. Depois da parede, pessoas conversavam em Alemão, pelo que parecia, pois escutei por diversas vezes a palavra “viel”, que significa “muito” naquele idioma. Perdi-me em meus pensamentos ao imaginar em qual situação o advérbio poderia ser aplicado. Por fim, cansei-me de esperar pela presença de alguém e pedi à minha esposa, via celular, que telefonasse ao consultório. Claro, eu poderia ter simplesmente batido à porta, mas considero tal ato como falta de educação. Dito e feito! Ring, ring! Em questão de segundos ela se abriu e apareceram duas figuras ímpares: uma dona mais branca do que alvejante, que me cumprimentou em Alemão, e um médico baixinho, também alvo (mas nem tanto), vestido de branco, careca e gorducho. Desculpas pedidas e aceitas, devido à espera, e adentramos o consultório. “Qual seu nome? Profissão? Idade?”. Essas perguntas, respondidas, e começamos o bate-papo. Como falo mais que a boca, minha esposa que o diga, contei-lhe acerca de minha predileção pela escrita e de meu amor pela literatura. Ele, descendente de alemães, 326 O Redator d’A Arca Perdida extremamente simpático e deveras empolgado, passou a curiosamente descrever o passeio de Charles Darwin a bordo do navio Beagle, no séc. XIX, em navegação pelos mares da América do Sul. Um assunto, digamos, algo pitoresco. Comecei a achar aquilo estranho, pois o diálogo não ia, de jeito algum, para o motivo pelo qual eu estava ali. Muito esquisito. Cheguei a questionar comigo mesmo se aquele baixinho era médico ou se era o terapeuta da senhora alemã alva-como-alvejante. A verdade? Aquela situação se parecia com uma calmaria prévia à tempestade. Depois de quinze minutos de Beagle para lá, Darwin para cá, Patagônia, Argentina e que tais, o pequeno doutor, finalmente, perguntou: “qual o motivo de sua visita?”. Interessante é o uso da palavra visita. As pessoas dificilmente visitam um médico pelo simples prazer do ato; são forçadas àquilo. Visita? Uma ova! Assaltou-me a impressão de que Moby Dick apareceria no meio daquela história e subitamente afundaria, enfurecida, a embarcação de Darwin. Tudo esclarecido. Chegou a hora do exame e, portanto, o doutor falante pediu que eu entrasse em uma saleta adjacente na qual logo observei uma cama metálica; igual àquelas dos hospitais. Vi diversos aparelhos, vidros, compotas e coisinhas que acendiam, e então veio a frase que nenhum homem de bem deseja ouvir de outro homem: “por favor, abaixe suas calças até o joelho. A cueca também”. Depois pediu que, devidamente “desfalcado”, eu me sentasse na cama e me deitasse para que ficasse na posição fetal, ou seja, postado de lado. Feito. Chovia lá fora. Pude escutar os pingos a bater na janela, o que me distraiu por alguns segundos. Distração essa, infelizmente, quebrada pelo início da intervenção. “Dói?”. Não, não doeu, não naquele momento. Permaneci calado por algum tempo e ele prosseguiu. A partir dali o clímax da minha “visita” teve princípio. Ouvi uma frase que ficará marcada para o resto da minha existência na memória: “espere um pouco que vou colocar um aparelhinho”. Ela soou como o estribilho de um poema de quinta categoria. Não era “um” aparelhinho, longe disso; muito longe, aliás. Era algo “especial” o que se reservara para mim. O que dizer de Davi frente a Golias? Pois sim! Inserido o tal instrumento de tortura, galguei diferente patamar da existência humana; como se minh´alma saísse Uma tarde no Proctologista – Pequena crônica de grande incômodo 327 de meu corpo e a ele voltasse repetidas vezes. Talvez fosse por isso, quem sabe, que a palavra “viel” ia e voltava quando lá cheguei. Será? “Relaxa, relaxa”, foi a seqüência. Como, em nome de tudo o que é mais belo nesse mundo, poderia eu relaxar? Nunca vira aquele senhor antes, fora violado em tudo o quanto é sagrado para um homem; permanecia ali, sozinho, vulnerável, sem calças e desolado. Mas Deus é nosso mentor: brevemente a coisa chegou ao fim e me recompus. Grandes esperanças pareciam ao meu alcance. Recoloquei minha honra, quer dizer, minhas calças, e passamos à saleta ao lado; a mesma na qual o caso de Charles Darwin parecia inicialmente pitoresco. Enfim, ótimo! Nada de grave e somente cuidados adicionais se faziam necessários para que a alegria retornasse ao reino. Final feliz. Ao vencedor, as batatas! Quer dizer, as calças. Apressadamente, dei adeus ao médico falante, àquele verborrágico carrasco travestido de contador de histórias, e saí em direção à estação do metrô. Ainda chovia e, por conseguinte, caminhei devagar. Cheguei ao meu destino e embarquei. Surreal como as obras de Dalí: no metrô, era como se todos olhassem para mim, não sei bem o porquê, e dissessem: “é, meu amigo de camiseta vermelha, sabemos que foi ao Proctologista. O que aconteceu lá, hein? Doeu, é?”. Sensação terrível! A única coisa favorável, no caminho de volta, foi uma linda moça negra de suas vinte e cinco primaveras; cabelo alisado, sorriso belo, dentes claros - mas não tão alvos como a tez daquela dona - e naturalmente dotada de belo corpo, que jazia de pé à minha frente no interior do trem. Golias tombaria ante ao poder de Davi? Óbvio e sem pestanejos! No prédio de minha morada, já a bordo do elevador, notei olhares irônicos dos demais passageiros. Senti que, a qualquer momento, poderia alguém perguntar a mim: “é, meu amigo de camiseta vermelha, sabemos que foi ao Proctologista. O que aconteceu lá, hein? Doeu, é?”. Acho que eu precisaria responder assim: “viel! viel!”. O dia em que – quase – visitei E.T. O Extraterrestre (30 anos atrasado!) Dizer que “E.T. O Extraterrestre” seja meu filme favorito de todos os tempos é chover no molhado. Meus amigos e familiares sabem. A película sobre o pequeno alienígena perdido na Terra encanta a todos desde seu lançamento, em 1982, e mora em meu coração. De tanto gostar, resolvi colocar em prática um antigo sonho que acalentava há duas décadas: visitar as locações de filmagem, algo que os americanos chamam de “filming locations”. Após pesquisar no IMdB, no excelente site de Hervé Attia e também no maior fórum de fãs do diretor Steven Spielberg, o Playmountain, descobri que E.T. foi filmado, principalmente, em bairros/ comunidades de San Fernando Valley, subúrbio de Los Angeles, Califórnia. Aliás, o Vale de San Fernando, famoso por ter aparecido em muitos filmes, foi uma das últimas áreas da Grande Los Angeles a ser assentada e povoada. Descobri, também, que os locais de filmagem foram basicamente dois: as cenas do bairro, das ruas adjacentes e do morro/trilha de terra, chamo de primeiro local, e as cenas externas (as internas, em estúdio) da casa da família de Elliott, o personagem principal, chamo de segundo local. O número um, ou seja, o bairro, as ruas, o playground (cena do furgão) e o morro (Elliott aparece com sua bicicleta BMX em uma trilha de terra) estão em Porter Ranch, na porção norte 330 O Redator d’A Arca Perdida do Vale, um bairro novo à época da produção (1981). Lá, em vias como Granada Circle, Brasilia Drive, Vista Grande Way, Killimore Ave e Viking Ave, Spielberg rodou a cena do Halloween (E.T., disfarçado de fantasma, e os meninos saem de casa para ir à floresta), a cena da parada do ônibus escolar (amigos da escola de Elliott o provocam com a “história do duende”) e parte das cenas que tiveram a ver com a fuga das crianças em suas bicicletas. Em Porter Ranch também estão o morro/ barranco e a trilha de terra. Ambos fazem parte de um parque, o Palisades Park, a partir do qual há uma vista fantástica do Vale. Por último e não menos importante, há o playground que aparece bastante na sequência final do filme, na parte em que E.T. é retirado do furgão e embarcado em uma das bicicletas para a fuga. O segundo local, a casa da família de Elliott e, por que não, a casa de E.T., fica a leste de Porter Ranch, em Tujunga (diz-se tãrrãnga), uma área elevada e às margens da cadeia de montanhas San Gabriel. Tecnicamente, a residência está em outro vale, no Crescenta Valley. Há mais locais, claro, como os usados nas cenas da floresta propriamente dita, rodadas no norte da Califórnia, e a avenida (White Oak Ave) da famosa tomada em que os meninos “decolam” com suas bicicletas. Em ambos os casos, o fator que mais influencia na aparência atual geral é o excesso de vegetação e de árvores, coisa que praticamente não havia à época. Há muito mais verde atualmente, mas muito mais mesmo, do que em 1981. O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre 331 A Visitação Escolhi, como local mais ou menos central para o ponto de partida, o bairro de Reseda, no Vale mesmo, para hospedar-me. Aliás, em Reseda, a aproximadamente 20 minutos a pé do hotel em que fiquei, está o condomínio de apartamentos que vemos no filme Karatê Kid original, o “South Seas”. Conforme pesquisei, a partir de Reseda ficaria fácil e rápida a locomoção. Um amigo americano, Tom Moser, ofereceu-se como guia para levar-me, já que também é fã de Spielberg e de E.T. O primeiro local visitado, então, foi o playground. Ao lá chegar, após uns 10 minutos de viagem de carro, senti uma emoção muito grande ao ver a centopéia colorida, a mesma que aparece no filme. O playground, aliás, está num local muito bonito, muito bem cuidado e limpo, e, como eu viria a constatar também no caso das outras localidades, aparenta algo diferente da época da película. Novos brinquedos foram adicionados, alguns antigos foram retirados (como o trepa-trepa), várias caixas de areia foram colocadas e a vegetação cresceu bastante. No momento em que chegamos fazia sol e havia crianças brincando em um ambiente bem familiar. Conversamos com uma moça (mãe de uma das crianças) e, para nossa surpresa, ela sabia que aquele playground havia, de fato, sido mostrado no filme. Ao ver um conjunto de balanças (no mesmo local em que aparecem na tela), não resisti; sentei-me em uma delas e rezei para que a mesma não quebrasse por causa de meu peso! Saímos do playground e, por ser praticamente ao lado, fomos procurar a trilha de terra que aparece na cena em que Elliott, em sua 332 O Redator d’A Arca Perdida bicicleta, segue em direção à floresta. É uma cena muito rápida, mas muito bonita e interessante, pois dá dimensão à busca do menino pelo extraterrestre. Programamos o GPS, mas custamos a achar o local, pois o morro estava voltado para a direção contrária do que imaginamos. Além disso, havia grossas cercas de metal na borda do precipício, coisa que não havia à época (existia uma fina grade apenas). Descobri uma elevação de terra em uma rua transversal e sugeri ao meu amigo que subíssemos. Dito e feito! A trilha de terra em questão surgiu como um sonho à nossa frente! Afinal, acertamos o local em cheio! A visão foi surreal, foi como se eu assistisse ao filme bem ali. A cena era exatamente a mesma: o morro, a vegetação, a trilha de terra em zigue-zague, a cerca de madeira, a vista da rua (Brasilia Drive) abaixo. Aguarde, pois voltaremos à trilha mais à frente neste texto. O próximo local visitado era o mais esperado por mim, a casa de Elliott. Saindo do playground, pegamos a Freeway 118 (a Ronald Reagan), rodamos uns 30 quilômetros e fomos direto a Tujunga, um bairro bem bonito e localizado em uma região íngrime, à beira da majestosa montanha San Gabriel. Meu amigo estava ansioso também, pois havia visitado a casa somente uma vez. Quando ele disse que estávamos chegando, preparei-me psicologicamente. “Aqui estamos”, ele disse. Desci logo do carro e, ao ver a casa, senti uma emoção muito grande. Só não fui às lagrimas porque O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre 333 estava acompanhado. Pode parecer bobagem, mas fiquei mesmo emocionado ao saber que ali, bem onde eu permanecia, há 29 anos estavam Steven Spielberg, Henry Thomas, Dee Wallace, Robert MacNaughton, Peter Coyote, Drew Barrymore e a equipe de filmagem. A casa, aliás, é muito bonita e fica mais alta em relação à rua, que tem o formato semelhante a uma cul-de-sac (*). Os jardins estão muito mais repletos de verde, bem diferentes do que se vê no filme. Como citei anteriormente, tanto Porter Ranch quanto a área de Tujunga eram muito novas à época de E.T., então, praticamente não havia vegetação. Rapidamente postei-me à frente, ao lado da rampa de entrada para carros, e meu amigo tomou várias fotos. O local é muito bonito, muito bem cuidado e quieto, um silêncio incrível. Interessante como, no filme, criou-se a ilusão de que tanto a casa quanto o bairro são próximos, porém, os mesmos distam praticamente 40 quilomêtros um do outro. Com um pouco de imaginação, pude vislumbrar o pequenino alienígena parado na rampa a olhar para mim e sorrir. Foi mágico. Chegava ao fim o primeiro dia de visitações (no mesmo dia, entretanto, visitamos locações de outros filmes). À noite, dirigimos pela famosa estrada Mulholland Drive e pude, parado em um local de descanso, observar a linda vista noturna do Vale de San Fernando. A vista em questão, aliás, é praticamente a mesma que se vê no início do filme quando E.T. observa as luzes da cidade e, logo depois, foge ao descer o morro em direção a ela. É absolutamente lindo! A parada ideal fica em Laurel Canyon. No dia seguinte, resolvi - por minha conta - visitar outras partes de Porter Ranch, pois meu amigo estava no trabalho. Resolvi, primeiramente, visitar o local da cena do Halloween, uma parte muito bacana em que E.T., vestido de fantasma (para que ficasse escondido), 334 O Redator d’A Arca Perdida e os meninos, cada qual com sua fantasia, saem de casa - fingindo ir às festividades - e vão à floresta para que o alienígena monte seu comunicador. Ao chegar na área, não pude deixar de admirar o local com suas casas típicas de subúrbio Americano (cada uma com seu quintal gramado, garagem ao lado, bandeira dos E.U.A. na parede) e quietude. Tudo absolutamente limpo e bem cuidado. Achei o ponto correto (cruzamento da Granada Circle com a Killimore Ave), estacionei o carro e tirei fotos. Havia um senhor e uma moça com seu cachorrinho, que andavam e conversavam. Cumprimentei a moça e ela cumprimentoume também. Novamente, há bem mais árvores e vegetação agora do que na época, mas é fácil reconhecer o lugar, uma vez que as casas são as mesmas. Muito bacana. Na tela, os meninos caminham fantasiados pela Granada Circle em direção à Killimore Ave até que E.T. vê uma criança fantasiada de Mestre Yoda e começa a dizer: “Home! Home!”. Resolvi, para o próximo, uma vez que era perto, escolher a rua da parada do ônibus escolar, o local da cena em que os garotos da escola azucrinam Elliott por causa da história do “duende”. Dirigi pelas pacatas vias e cheguei ao ponto indicado no GPS. Foi um pouco difícil de reconhecer, pois a rua está muito mais arborizada. A confirmação veio através de dois ralos bem grandes e retangulares que ficam encostados na calçada, eles aparecem bem no filme. O próximo desafio seria mesmo um desafio. Resolvi, como não pudemos fazê-lo no primeiro dia, caminhar pela trilha de terra do O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre 335 Palisades Park até o ponto da cerca de madeira que aparece no filme, na já citada cena de Elliott e sua bicicleta. O primeiro problema foi encontrar um ponto de acesso ao parque, pois não achamos (nem procuramos) anteriormente. Analisei imagens do Googlemaps e achei duas entradas, sendo que uma delas dava acesso a um parque adjacente. Segundo a Lei de Murphy, claro que tomei a entrada errada. Após conversar com um ciclista e receber a indicação correta, andei por cerca de 10 minutos para achar a trilha verdadeira cuja entrada estava bem perto da avenida, mas do outro lado. De cara, encontrei um aviso sobre o perigo de cobras cascavéis. Estou fora de forma, portanto, sabia que, literalmente, suaria a camisa na trilha. Andei bastante, bastante mesmo, vi animais silvestres (coelhos, esquilos), árvores muito grandes e diferentes das que temos no Brasil, algumas casas no início da trilha, uma águia (muito grande mesmo!), e ouvi sons estranhos vindos da mata, imaginando se seriam ou não de cobras cascavéis. Após aproximadamente 25 minutos e com imagens de referência, cheguei ao ponto correto da cerca de madeira e certifiquei-me de estar no local apropriado. Reconheci as casas abaixo (na Brasilia Drive), o formato correto da cerca e, olhando para o topo do morro, constatei que se tratava do local em que, no dia anterior, eu e meu amigo estivemos, uma vez que reconheci a cerca metálica preta acima. Foi uma sensação incrível de conquista! A vista linda, as lembranças do filme, o fato de estar onde Henry Thomas passou em 1981, tudo colaborou para a sensação de sonho realizado. O duro foi caminhar tudo de volta! 336 O Redator d’A Arca Perdida A próxima parada não foi bem uma parada, mas uma “dirigida”, pois de tão diferente, alguns locais são praticamente impossíveis de se encontrar com clareza. É o caso das vias em que filmaram as cenas de fuga das bicicletas. Dirigi através da Killimore Ave, da Viking Ave e da White Oak Ave, mas realmente ficou difícil de acertar algum ponto exato de filmagem, os locais são familiares, mas não exatos. Na White Oak Ave, por exemplo, filmou-se a cena em que os meninos “decolam” com as bicicletas na sequência final. Dirigi por toda a extensão da avenida, mas ficou difícil descobrir o local da decolagem com precisão. Nesses locais, muitas casas ainda estavam em construção em 1981. Agora está tudo diferente! No terceiro dia, infelizmente o último, resolvi visitar a Brasilia Drive, rua que fica logo abaixo do Palisades Park, para ter a visão a partir do nível da rua e observar o morro por baixo. A Brasilia Drive, aliás, é a rua que aparece, vista por cima, na cena em que os meninos voam com suas bicicletas logo após a decolagem - e com o pôr do Sol ao fundo. Dirigi o carro por toda a extensão e tomei fotos em uma posição bem abaixo da trilha. É possível ver a cerca de madeira inclusive. O morro é muito alto, a visão, muito bonita. A rua é adorável, limpíssima e com casas muito bonitas. Consegui ter uma boa noção da região. O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre 337 Brasilia Drive culminou com o fim das visitas. Depois desses dias, visitei locais de filmagens de outras produções, como De Volta para o Futuro, Poltergeist e A Hora do Pesadelo, mas essa é outra história. Espero ter podido, em um nível não tão grandioso, compartilhar minha aventura com vocês. Poder estar nos locais em que meu filme favorito foi rodado há quase 30 anos foi algo muito especial para mim. Foi como ter visto E.T. de novo, mas pela primeira vez. E com 10 anos de idade.