Síntese do Novo Testamento 1

Transcrição

Síntese do Novo Testamento 1
Lição 1
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO
Por que Novo Testamento?
O termo Novo Testamento vem da ideia
da
nova
aliança
de
Deus
com
a
humanidade por meio de Jesus Cristo. As
alianças, testamentos, contratos ou acordos
podem ser feitos entre duas partes ou mais,
sendo os seguintes tipos:
 Parithy – entre partes iguais, como o
casamento
ou
entre
Davi e Jonatas.
 Suzerainty
–
entre
superior
(Deus)
institui
a
o
que
aliança
baseada na proteção do
inferior
(homem),
exigindo a fidelidade da
parte protegida.
 Promessa – Garantia de
Deus
e
responsabilidade
do
homem.
Qual é a relação entre o Antigo e o Novo
Testamento?
O
Novo
Testamento
deve
ser
compreendido como a concretização, a
consumação do Antigo Testamento, que
por sua vez, deve ser entendido como uma
antecipação, ou seja, um anúncio do que
Deus faria na história da humanidade.
No Antigo Testamento, vemos a
existência de vários sacrifícios (de animais)
em favor do pecado. Já no Novo, vemos um
único sacrifício, definitivo, do Filho de Deus,
em favor do pecado da humanidade. No AT,
encontramos o Dia da Expiação como odia
propício para acesso a Deus, e no NT,
vemos o véu rasgado e o acesso ilimitado a
Deus por meio da pessoa e obra de Cristo.
No AT, vemos a páscoa como símbolo da
aliança de Deus com o povo de Israel, e no
NT, vemos a Ceia do Senhor como símbolo
da aliança perpétua de Deus com o homem
salvo. No AT vemos a ação
pontual do Espírito de Deus,
já no NT, vemos a morada do
Espírito Santo no homem
salvo por Cristo. No AT vemos
a instituição da Lei, que
conduziu o povo à percepção
da necessidade da graça de
Deus, manifesta no NT, em
Jesus Cristo.
Precisamos entender que
o Antigo Testamento é o
alicerce,
a
base,
o
fundamento, em que o Novo Testamento foi
construído, erguido, enfim, edificado. Sendo
assim, o AT anda junto com o NT. Ambos
devem ser interpretados considerando a
unidade entre os relatos da revelação de
Deus.
Interessante observar que toda a lei do
AT foi resumida no amor, que é a base do
relacionamento entre Deus e o homem e
entre os homens.
O que há entre os AT e o NT?
O período de aproximadamente 400
anos entre os escritos do Antigo
Síntese do Novo Testamento – Introdução
Testamento e o Novo Testamento, é
conhecido como período intertestamentário
(ver ilustração 1) ou “anos silenciosos”,
afinal, nenhum homem foi levantado por
Deus desde a época de Neemias (Ne 13.430) e a última profecia (Malaquias), cerca
de 424 a.C., até João
Batista, que foi levantado
por Deus para anunciar a
chegada do Messias, cerca
de 6 a.C..
Apesar de nenhum
profeta ter sido levantado
por Deus nesse período, a
sua história cumpre as
profecias
de
Daniel
(2.24,45; 7.1-28; 11.1-35)
com precisão. Ainda que
Deus não estivesse falando,
Ele estava agindo em favor dos seus
propósitos.
A história do período intertestamentário
compreende a queda do Império MedoPersa (o mesmo que dominou a Babilônia e
deu possibilidade do povo de Israel voltar
para Jerusalém); o surgimento do Império
Grego (ver ilustração 2), com a presença de
Alexandre, o Grande, que inaugurou o que
conhecemos como Período Helenístico; e o
a ascensão do poderoso Império Romano
(ver ilustração 3), ainda atuante na época
de Cristo, dos apóstolos e da igreja
primitiva.
Sobre a queda do Império Persa, vale
ressaltar que depois de Neemias, esse
governo ainda manteve-se cerca de 200
anos. Nessa época, apesar do domínio
persa, os judeus podiam observar as suas
práticas religiosas, inclusive com a
liderança dos sumo-sacerdotes.
Nos anos 330 a.C., aproximadamente,
Alexandre, o Grande, conquista o Oriente,
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dominando os territórios sob a influência
dos medo-persas, inclusive a Judéia.
Inaugurava-se o Período Helenístico, em
que a cultura grega foi difundida entre o
império como uma maneira de dominar e
influenciar
os
povos
conquistados.
Justamente, nesse período (c.
250 a.C.), foi confeccionada a
Septuaginta (LXX), a pedido
do
governante
Ptolomeu
Filadelfo, por cerca de 70
judeus, dominantes do grego,
que traduziram o Antigo
Testamento para a língua
grega.
Ainda que debaixo do
domínio grego, semelhante ao
período dos medo-persas, os
judeus puderam manter suas
práticas religiosas e civis, grande parte do
tempo, até que um dos governantes da
época, Antíoco IV, por volta de 170 a.C.,
contrapôs ao judaísmo, suscitando a
Revolta dos Macabeus (166-142 a.C.),
que resultou na independência de Judá até
o rude domínio romano.
Heranças do Período Intertestamentário
Além da Septuaginta, surgiram nesse
período muitos dos livros apócrifos, isto é,
livros que para a maioria absoluta das
comunidades judaica e cristã primitiva, não
possuíam autoridade divina, mas que na
história da igreja, foram aceitos como
inspirados por Deus pela Igreja Católica
Romana.
Também, a esse período, podemos
atribuir a formação do judaísmo que
encontramos na época de Jesus. Para isso,
precisamos lembrar que a Diáspora,
promovida pelo domínio babilônico, fez com
que muitos judeus, mesmo após o retorno
Síntese do Novo Testamento – Introdução
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permitido pelo império persa, se espalhasse
pela Mesopotâmia, não retornando para a
Palestina.
Dessa situação, surgem as sinagogas,
que eram locais de encontro dos judeus que
não tinham acesso ao templo – até mesmo,
porque o templo fora destruído em 586 a.C.
– para manterem a sua tradição religiosa.
Vale destacar que a sinagoga, em virtude
do exílio, passou a ter um simbolismo tão
relevante para os judeus, que mesmo após
a reconstrução do templo, na época de
Zorobabel, em 516 a.C., manteve-se em
funcionamento,
sendo
referência
de
instrução e adoração.
Também em decorrência da diáspora,
muitos exilados, acreditando que o exílio
era uma consequência da falta de
conhecimento da Torá, aplicaram-se no
estudo profundo das Escrituras (do Antigo
Testamento). Nesse período, os escribas
tornaram-se mestres, reconhecidos como
autoridades na interpretação das Escrituras.
Daí, surgem importantes escolas de
hermenêutica bíblica, que é o estudo da
interpretação dos relatos bíblicos. Junto aos
escribas, também tinham os rabis, que
transmitiam o entendimento das Escrituras
dos escribas ao povo.
E outra herança desse período para o
judaísmo da época de Jesus refere-se ao
conflito entre o helenismo (influência da
cultura grega) e o judaísmo ortodoxo. Por
alguns judeus cederem às influências
gregas do período helenístico, outro grupo
de judeus mais ortodoxos, tradicionais,
passaram a se opor a esse modismo.
Surgiram, então, os principais grupos
religiosos que figuraram a época de Jesus,
a saber:
 Fariseus – originários dos judeus
piedosos
que
lutaram
contra
os
helenistas na época dos Macabeus,
tornou-se um grupo de religiosos mais
rígidos. Na tentativa de manterem-se
fiéis, tornaram-se orgulhosos, hipócritas
e legalistas. Tinham ação mais
direcionada nas sinagogas.
 Saduceus – originários dos judeus
helenizados e aristocratas, negavam a
legitimidade da tradição e qualquer
revelação além da Torá. Eram uma ala
mais liberal entre os judeus, ocupandose ao cuidado da lei e do templo.
 Essênios – Em oposição tanto ao
formalismo fariseu e ao liberalismo
saduceu, esse grupo caracterizou-se
pelo isolamento e por uma postura
ascética, ou seja, com o menor nível
possível de conforto e prazer.
Valorizavam
as
cerimônias
de
purificação e a vida de oração e leitura
das Escrituras.
 Herodianos – grupo de judeus que
apoiavam, por interesses políticos, o
domínio romano.
Esse contexto de conflitos e frustrações
foram usados por Deus para prepararem o
povo para a chegada do Messias (Gl 4.4).
Organização do Novo Testamento
O Novo Testamento compreende 27
livros (ver ilustração 4), escrito por 9
autores diferentes, ao longo de 50 anos,
aproximadamente. Os livros se dividem em
categorias:
I. Históricos:
a) Evangelhos – descrevem a vida e o
ministério de Jesus Cristo.
b) Atos – descreve a história do início da
igreja, em que o Espírito Santo opera
espetacularmente por meio dos apóstolos.
II. Epístolas:
Síntese do Novo Testamento – Introdução
c) Paulinas e Gerais – um tipo
comum de comunicação da época, usada
por Deus para ensinar os cristãos primitivos.
O apóstolo Paulo é o que mais se destaca
nesse gênero, além dele, também Pedro,
Tiago, João e Judas, além do autor aos
Hebreus.
III. Profecia:
d) Apocalipse – descreve o final da história
terrena, com a vitória de Cristo e seu povo,
e futuro da humanidade.
Cânon do Novo Testamento
Os livros produzidos não foram
reunidos de imediato. Levou cerca de 350
anos para que eles pudessem ser
devidamente
compilados,
tendo
sua
autoridade reconhecida pela igreja. Esse
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processo de debates e análises quanto à
autoridade divina dos livros, é o que
chamamos de definição do cânon.
Dentre os critérios definidos pelas
igrejas
para o
reconhecimento
da
canonicidade
dos
escritos
neotestamentários, pode-se destacar:
a) a autoridade divina reivindicada pelos
próprios escritores para os seus relatos
(1Co 14. 37; Rm 2. 16; 2Pe 3. 2, 16);
b) o testemunho de alguns apóstolos
para a autoridade divina de relatos
produzidos por não-apóstolos;
c) a coerência com o restante das
Escrituras;
d) a percepção da inspiração divina pela
grande maioria dos crentes da época.
Síntese do Novo Testamento – Introdução
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FONTES DE CONSULTA
Apostila de Síntese do Novo Testamento, SBPV, 2009.
Bíblia de estudo MacArthur. Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
Bíblia de estudo NVI. São Paulo: Editora Vida, 2003.
DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. 3. ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2006.
LAWRENCE, P. Atlas histórico e geográfico da Bíblia. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
2008.
RONIS, Osvaldo. Geografia Bíblica. 5 ed. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e
Publicações, 1982.
RYRIE, C. C. A Bíblia anotada: edição expandida. ed. rev. e expandida. São Paulo: Mundo Cristão;
Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.
SILVA, A. G. da. A Bíblia através dos séculos: uma introdução. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
das Assembléias de Deus, 1986.
Síntese do Novo Testamento – Introdução
Ilustração 1 – Cronologia do Período Intertestamentário
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Síntese do Novo Testamento – Introdução
Ilustração 2 – Mapa dos Impérios Babilônico, Persa e Grego
Ilustração 3 – Império Romano a.C.
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Ilustração 4 – Livros da Bíblia
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