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26 • Cidades • Brasília, segunda-feira, 23 de abril de 2012
Site criado há cinco anos por um grupo de brasilienses reúne 30 mil
poesias, fotografias, depoimentos e crônicas sobre a capital federal.
Há material até mesmo vindo de outros países, como Itália e França
Acervo virtual de amor a
Janine Moraes/CB/D.A Press - 10/4/12
BRASÍLIA
Arthur Tadeu
Curado (E), Bernardo
Horta, José Rangel
Neto e Heitor
Andrade:
entusiasmados
com a cidade
» THAÍS PARANHOS
José Rangel
de Farias Neto,
58 anos, criador
do projeto
P
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Precisamos nos
redescobrir.
A história
da cidade ainda
é um grande
enigma. Não
abrimos a
caixa-preta”
oetas e músicos buscaram inspiração no
céu, nas curvas e na paisagem de Brasília para compor suas obras artísticas. Desde a
construção da cidade, há escritos de quem
se rendeu ao encanto da capital do país, que, até
hoje, desperta paixões. Há cinco anos, um grupo de
moradores criou um site para declarar seu amor
pela cidade. A ideia inicial era contar, em forma de
poesia, a história do esforço de todos os brasileiros
para erguê-la no Planalto Central. Mas o projeto seguiu adiante, reuniu mais de 30 mil documentos e
foi aperfeiçoado. Quem quiser colaborar está convidado a contar agora como é viver aqui.
O mito em torno da criação da capital inspirou os integrantes do grupo a desenvolverem o
trabalho Brasília Poética. “Cassiano Nunes (poeta e escritor) dizia que o mais importante de Brasília são os significados. A cidade ainda é um
enigma, muitos brasileiros não a conhecem mesmo depois de 52 anos”, explicou o jornalista e
idealizador do projeto José Rangel de Farias Neto, 58 anos, morador da Asa Norte. As próprias
inquietudes o levaram a descobrir os mistérios
da capital. “Qual outra cidade tornou-se musa
inspiradora de mais de 30 mil poemas? Somente
a poesia pode decifrá-la”, completou.
A ideia de criar o Brasília Poética surgiu por acaso. “De repente, me vi escrevendo poemas para a cidade. Vejo poesia em tudo, no pôr do sol, na curva
do (Palácio) Alvorada, sem contar os ipês-amarelos.
Mas fazia isso despretensiosamente, não sou o único a escrever sobre a cidade”, contou José Rangel.
No início, ele pensou em reunir material sobre a
construção e a inauguração da capital. Os trabalhos começaram em fevereiro de 2007 e se encerrariam em abril de 2010, quando Brasília completou 50 anos, mas foram adiante. “Nosso objetivo
era fazer uma homenagem e, para isso, trabalharíamos o mesmo período que a cidade levou para
ficar pronta, apesar das controvérsias quanto ao
tempo exato da duração das obras”, explicou.
Cinco anos depois, o grupo já reuniu mais de 30 mil
poesias, crônicas, fotografias, depoimentos e outros
documentos que tratam da construção de Brasília.
“Concluímos essa primeira etapa, mas entendemos
que havia muitas razões para continuar o trabalho.
Nos tornamos o maior acervo virtual sobre a história
dessa epopeia”, avaliou o idealizador do projeto.
Além de recuperar a história da capital federal,
eles pretendem resgatar a memória de figuras importantes no cenário nacional e da cidade, além de Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Juscelino Kubitschek,
também homenageados nos poemas, como José Bonifácio (veja Para saber mais).“A história de Brasília é
oficial e o nosso acervo é o maior não oficial. Queremos trazer essa linguagem para o público e tirá-la
dos escaninhos empoeirados”, explicou Rangel.
Imagem
José Rangel não se cansa de enaltecer a história da
cidade e a importância para o resto do país. “Brasília
ficou impregnada no imaginário nacional e queremos jogar uma luz nessa história. Qual país viveu um
episódio como esse?”, questionou o idealizador do site. O grupo pretende também mostrar uma outra cara da capital: a cidade do misticismo, da arte e da cultura. “A imagem que sai todos os dias na televisão é a
do Congresso Nacional ou a da Praça dos Três Poderes. Brasília não é só isso”, defendeu. Na segunda fase,
o trabalho se voltará para a vida na capital — como é
» Para saber mais
Missão Cruls
O então presidente do Brasil assinou o Decreto
nº 4.494 em 18 de janeiro de 1912, que previa a colocação da pedra fundamental na área onde seria construída a futura capital do país. Após a medida, uma
comitiva liderada por Ernesto Balduíno saiu de Araguari (MG) e foi até Planaltina,onde o obelisco foi colocado. O monumento foi inaugurado em 7 de setembro
de 1922, data de comemoração do centenário da Independência. Mas a criação de Brasília já estava prevista
antes disso.O artigo 3º da Constituição Federal de 1891
determinava a demarcação do território onde seria
construída a cidade.A partir dele,também foi elaborada a Portaria nº 114-A, que criou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, a Missão Cruls. O
grupo chegou ao Planalto Central em 1892 para determinar o quadrilátero para a construção de Brasília.
morar aqui e quem são as pessoas que a habitam.
O poeta e jornalista Heitor Humberto de Andrade, 74 anos, morador da Asa Norte, é um defensor de
Brasília e se tornou um motivador e colaborador do
site, conforme a descrição dos companheiros. “Precisamos nos redescobrir. A história da cidade ainda é
um grande enigma. Não abrimos a caixa-preta”, avisou. Para Heitor, nenhum presidente brasileiro voltou-se para a capital, com objetivo de entender o
que a cidade representa para o país. “Precisamos
mergulhar na nossa própria história”, sugeriu.
Além de José Rangel e Heitor, trabalham no projeto o designer Bernardo Salgado Horta, 27 anos, morador da Asa Norte, e o ator e dramaturgo Arthur Tadeu Curado, 31, também morador do bairro. Bernardo é o responsável por dar um rosto ao programa.
Foi ele quem deu uma identidade para o trabalho,
traduziu em imagens o clima da época da construção de Brasília. “A página (www.brasiliapoetica.blog.br) tem a cara da cidade, inclusive os espaços
em branco foram colocados de propósito porque
lembram a capital. Me orgulho de trabalhar com
eles”, disse. Arthur também contribui para o andamento do projeto. “Incentivei meu pai a colocar o site no ar e ajudo na produção, realizamos um concurso nacional de poesia”, detalhou.
O Brasília Poética venceu a barreira geográfica e
ganhou o mundo. Poemas sobre a capital chegam de
vários países. Os últimos vieram da Itália e da França.
Segundo Bernardo, foram registradas mais de 300 mil
impressões do site em um ano. “Temos acessos em
todo o Brasil, além da Argentina, dos Estados Unidos,
de Portugal, da Itália e do Japão”, contou o designer.
Qualquer pessoa pode contribuir para o trabalho, só precisa amar a cidade. “Essa segunda etapa
será um espaço para declarações de amor. Brasília
já está muito judiada, há muitas pessoas para falarem mal”, argumentou Arthur.
Com o site, surgiram outras ideias, como uma roda de poesia no Centro Educacional Caseb, na Asa
Sul. “Foi emocionante ver poetas de 13 e 14 anos escrevendo sobre Brasília”, comentou Rangel. Recentemente, o grupo lançou o projeto Poesia Metálica.
O objetivo é contar a história do rock, marcante nos
anos 1980 na cidade. Cada semana, os organizadores colocam na página a letra de uma música que
tenha significado especial para a capital.