imersa em alegria inefável

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imersa em alegria inefável
 IMERSA EM ALEGRIA INEFÁVEL por Sister Karuna Nascida na Suécia em 1882, Sister Karuna se tornou uma discípula de Paramahansa Yogananda em 1931, após assistir suas aulas em Salt Lake City, Utah. Ellen entrou na Ordem Monástica da Self‐Realization Fellowship e, em 1953, recebeu os votos de sannyas, adotando o nome “Karuna”, que significa “compaixão divina.” S E L F ‐ R E A L I Z A T I O N F E L L O W S H I P Fundada em 1920 por Paramahansa Yogananda Sri Daya Mata, Presidente IMERSA EM ALEGRIA INEFÁVEL por Sister1 Karuna Nascida na Suécia em 1882, Sister Karuna se tornou uma discípula de Paramahansa Yogananda em 1931, após assistir suas aulas em Salt Lake City, Utah. Pouco tempo depois, Ellen Merck, como era conhecida, e seu marido, Bror, se mudaram para Los Angeles para ficarem próximos da Sede Central da organização do Guru. Após o falecimento de seu marido em 1941, Ellen entrou na Ordem Monástica da Self‐Realization Fellowship e, em 1953, recebeu os votos de sannyas, adotando o nome “Karuna”, que significa “compaixão divina.” Sister Karuna faleceu em 1975, quando tinha 93 anos. Desde a infância, tive tendências para a espiritualidade. Freqüentemente, depois de brincar com outras crianças, me recolhia em algum lugar retirado para pensar sobre assuntos obscuros para minha mente jovem. Eu pensava bastante sobre Deus e sobre as poucas coisas que ouvira sobre Ele. Em minha casa não havia nenhum encorajamento religioso. Meu pai era amargamente contra qualquer tipo de religião. Ele afirmava que a religião era completamente prejudicial ao progresso intelectual. Minha mãe tinha tendências religiosas, mas não exercia muita influência sobre o assunto em nossa casa, por causa de sua doença. Nesses anos de minha vida, via meu pai como o maior ser em todo o mundo: era com ele que compartilhava até minhas mínimas experiências diárias. Quanto tinha seis anos de idade, comecei a freqüentar a escola. As estórias bíblicas que eram narradas durante nossa aula de religião eram fascinantes para mim. Avidamente, queria dividir este meu novo interesse com papai, mas para meu desapontamento, não compartilhávamos o mesmo entusiasmo. “Essas coisas sem sentido nunca deveriam ser ensinadas para crianças,” ele retorquia, e me dispensava. Algum tempo depois, alguns amigos me levaram a uma Escola Dominical. Lá falaram sobre Jesus, sobre seu milagre de cura de um cego, etc. Novamente, entusiasmada, não consegui deixar de contar a papai as maravilhosas coisas que havia ouvido. Ele ficou bastante nervoso e me proibiu de ir a uma Escola Dominical novamente. Para desviar meu interesse religioso, ele me ensinou vários jogos, de vários tipos, e algumas vezes me levava ao teatro. Interessei‐me bastante em peças teatrais e papai gostava de discuti‐las comigo. O tempo passou assim, até que tinha doze anos. Era comum nas escolas os melhores alunos ganharem livros no fim de cada ano letivo. Como regra, os livros eram aqueles que seriam utilizados no ano Sister significa Irmã. 1
seguinte; mas aos treze anos, me deram um interessante livro que contava uma estória religiosa, que me tocou profundamente. Meu anseio espiritual foi despertado novamente, para nunca mais ser dominado. Quando papai não estava em casa, eu fugia para alguns serviços religiosos. Quando ficou sabendo de minhas aventuras, papai ficou com muita raiva. A partir de então, se ele chegava em casa antes de mim, eu freqüentemente tinha que ficar do lado de fora a maior parte da noite – mesmo durante o inverno, durante o frio severo. (Pobre papai! Vejo agora que ele estava magoado por sua decepção comigo. Eu era boa aluna e ele tinha suas próprias ambições sobre meu futuro.) Apesar disso, durante todas as tempestades verbais e desconfortos que eu tinha que passar, segurava‐me em Deus com fé. Orava constantemente em meu interior. Então, quando tinha dezessete anos, eu tive uma extraordinária experiência espiritual. Como ela veio, não sei. Apenas aconteceu – uma transcendente elevação do estado de consciência. Meu corpo se tornou tão leve, que às vezes sentia como se meu pé saísse do chão; Vivi num estado de alegria indescritível. Cumpria meus compromissos diários como sempre, mas internamente eu sentia esta Alegria incompreensível. Fiquei neste estado durante uma semana, então ele se foi tão misteriosamente como apareceu. Novamente me encontrava no antigo estado de consciência. Sentia como se tivesse entrado nos céus e depois fosse colocada para fora. Após este ocorrido, sempre ansiei intensamente por sentir aquilo que havia experienciado, por um período tão curto, e misteriosamente perdi. Pouco tempo depois, entrei para a Igreja Mórmon, e o desentendimento entre meu pai e eu tornou‐se sério. Algumas vezes, ele ameaça tirar sua própria vida. A desgraça que lhe trouxe, ao entrar em uma religião que ele desprezava, era mais do que ele podia agüentar, ele lamentava. Estranhas complexidades da vida! Uma parte de mim gostaria muito de obedecer meu pai e seguir o caminho que ele planejou para mim, mas “quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não é digno de Mim.”2 Essas palavras de Jesus eram constantes em minha mente; e para mim, neste momento, a ordem interior dizia para seguir o caminho para o qual Deus estava me levando. Apesar de viver sob medos e ameaças por anos, eu era abundantemente recompensada por tudo aquilo que sofria, por causa de minha constância espiritual. Na igreja, conheci meu marido espiritual, Bror Merck, e compartilhamos quarenta anos de uma muito abençoada vida de casados. Mateus 10:37. 2
Apesar de ter aprendido muito com os Mórmons, a maior bênção que veio para nós através dessa igreja foi a nossa vinda para a América, onde encontramos nosso guru, Paramahansa Yogananda. Antes de encontrarmos o Mestre, tivemos alguns preparativos preliminares. Alguns anos antes, um amigo me deu um livro dizendo, “Você vai achar interessante.” Abri o livro achando que conseguiria apenas dar uma folheada. Este foi o primeiro livro metafísico que eu vira ou lera. Sentei‐me encantada até que havia lido o livro todo. Compreendi que, em algum lugar, havia seres que tinham verdadeira sabedoria espiritual. A busca havia recomeçado. Pensei bastante sobre reencarnação e orei para maior entendimento sobre o assunto. Então, certa manhã, ao abrir a porta da frente, encontrei um livro. Falava sobre reencarnação. Depois disso, outros livros metafísicos vinham até nós por fontes incríveis. Eu os li e convenci meu marido a lê‐los. Aprendemos muito a partir deles, mas ansiávamos algo mais definido. Em outubro de 1931, Swami Yogananda3 veio a Salt Lake City, onde eu e meu marido vivíamos na época. Propagandas eram feitas sobre palestras que seriam dadas por este “metafísico e psicólogo da Índia.” Um amigo nos convenceu a ir. Desde o primeiro momento que ouvi Swami Yogananda, fiquei perplexa. Percebi que ele estava acima de todos os outros pastores e palestrantes que eu havia ouvido. Bror e eu voltamos para casa em silêncio. Ele também estava muito impressionado. Em casa, ele disse, “Este homem não é um psicólogo. Ele é um instrutor espiritual. Não irei ouvir suas palestras novamente.” “Você está com medo?” Perguntei. “Talvez,” ele respondeu. “Eu gostaria muito de ouvi‐lo novamente,” disse cuidadosamente. “Bem, você é livre para fazer como quiser. Você sabe disso,” respondeu meu bondoso marido. Ainda assim, na noite seguinte, Bror foi a palestra do Swami comigo. “Sempre fizemos tudo juntos,” disse. “Sei que isso é muito importante para você, então irei.” Nesta segunda palestra, compreendi mais ainda a grandiosidade do Swami. Ao ouvi‐lo, novamente encantada, de repente me senti imersa em uma alegria inefável, uma alegria como aquela que havia sentido em minha juventude. Percebi que a alegria emanava do Swami e que ele tinha o poder de transmiti‐la. Deste dia em diante havia decidido meu rumo. Não sabia nada sobre o que é um guru, mas sabia que tinha encontrado alguém que tinha Em 1931, Guruji ainda não havia recebido o título “paramahansa.” Ele o recebeu de seu mestre, Swami Sri Yukteswar, somente em sua viagem pela Índia em 1935‐36. 3
Aquilo que procurava por tanto tempo. Fui muito abençoada por meu marido estar convencido e disposto a trilhar o caminho da Self‐Realization comigo. Ao final das palestras e aulas do Mestre em Salt Lake City, Swamiji me disse: “A alegria que você tem sentido não é ainda sua. É emprestada. Agora você precisa se esforçar para fazê‐la sua.” Decidi que tentaria fazer como Swami disse. Seis meses depois de estar na presença do Mestre e ter sido iniciada em Kriya Yoga4, ainda sentia a divina alegria de sua vibração. Freqüentemente, ao descer a rua, sentia como se estivesse flutuando. Com o tempo, ela foi diminuindo gradativamente, mas nunca me deixou totalmente. Mantive sempre em minha mente as palavras do Mestre: “Você precisa se esforçar para fazê‐la sua.” Lembrava‐me também da promessa que fez: “Aquele que fielmente praticar os ensinamentos que eu trouxe alcançará a Auto‐realização da verdade neles. Não será talvez,” assegurou. Então fiz de minha regra nunca negligenciar minhas meditações, nem minha prática de Kriya. O Mestre disse sobre a Kriya, “Dei‐lhe a chave para o Céu. Use‐a!” “Swamiji Está Aqui” Em Salt Lake City, nos tornamos amigos de outra discípula de Paramahansaji: Sra. Jean Chamberlin, que também havia estado em suas aulas em 1931. Éramos três trilhando o caminho em companheirismo, meditando juntos e aproveitando bastante nossa amizade espiritual. O último marido de Sra. Chamberlin tinha sido um professor de psicologia da Brigham Young University, em Provo, Utah. Pouco tempo depois da vinda do Mestre a Salt Lake City, alguns acontecimentos levaram a Sra. Chamberlin e, logo depois, meu marido e eu a nos mudarmos para Los Angeles. Novamente, tínhamos o privilégio de estar na presença do Mestre e sob sua sagrada influência. Sra. Chamberlin, ou Seva Devi como Paramahansaji a chamava, foi uma discípula avançada, muito estimada por Guruji. Quando ele foi visitar a Índia em 1935, indicou Seva Devi como ministro nos Serviços da SRF de Quinta e Domingo, em Los Angeles. Ela faleceu no mês de novembro de 1938, em Los Angeles. Meu marido e eu cuidamos dela quando estava prestes a morrer. Ela sofria intensamente em Uma avançada técnica de meditação ensinada por Paramahansa Yogananda e disponível para estudantes qualificados das Lições da Self‐Realization Fellowship. (Nota do Editor) 4
sua última noite na terra, e não conseguia mais falar. Por volta de quatro da manhã, eu fui para minha casa, que ficava próxima. Quando parti, não havia ninguém com ela, a não ser Bror. Ele me contou, algumas horas depois, um lindo incidente que acontecera após minha saída. Seva Devi, ele contou, estava calma e livre de sofrimento às cinco horas. De repente ela disse: “Sim, Swamiji; Sim, Swamiji!” Ela repetiu essas palavras várias vezes, alegremente. Então Bror percebeu que ela voltara a falar e estava aparentemente respondendo a algo que havia sido dito a ela por seu guru, Paramahansaji, que não era visível a Bror. Meu marido perguntou, “Swamiji está aqui?” “Sim,” respondeu alegremente. “Swamiji está aqui.” Bror duvidou de sua lucidez. Ele perguntou: “Seva, você sabe quem sou?” “Sim, Bror,” ela respondeu rapidamente, como se soubesse porque ele havia perguntado aquilo. Seu filho mais novo entrou no quarto. Meu marido, querendo se assegurar da lucidez de Seva Devi, perguntou: “Você sabe quem está de pé ao lado de sua cama?” “Oh, sim! Lew, meu menino,” respondeu docemente. Pouco tempo depois, ela deixou seu corpo. O Mestre referiu‐se a este incidente várias vezes em suas palestras, dizendo que ele visitou Seva Devi em corpo astral, exatamente na hora em que ela falou a meu marido: “Swamiji está aqui.” “Eu quis guiá‐la na transição para sua nova casa,” o Mestre disse.5 “Não Peça Nada” Em 1941, durante a doença fatal de meu marido, o abençoado Mestre visitou‐o diversas vezes. A última vez que veio, Bror estava sentindo uma dor torturante. Ele repetidas vezes pediu a Deus para levá‐lo. Quando o Mestre “Muitas vezes, quando um discípulo que está longe, está doente ou morrendo, ele atrai meu corpo astral para lá pela sua devoção,” Paramahansaji disse. “Seva Devi foi uma estudante bastante esforçada. Ele ficou extremamente doente, mas nunca reclamara sobre seu estado. Ela sabia que sua hora de deixar esta terra havia chegado. Um dia, quando eu a visitava em Los Angeles, ela me pediu, ‘Por favor, não me prenda aqui.’ Mais tarde, eu fiquei no Eremitério da Self‐Realization Fellowship em Encinitas durante um tempo. Haviam me dado um rádio e eu acordava cedo para ouvir os programas da Índia. Certa manhã, eu senti intuitivamente a sutil vibração astral de Seva Devi; ela atraiu meu corpo astral para si pela devoção. Meu corpo físico estava como morto. Me contaram, mais tarde, que Seva Devi exclamou, um pouco antes de seu falecimento, ‘Swamiji está aqui!’ Ela percebeu que estava sendo levada por mim para o outro mundo.” 5
chegou, perguntei para meu marido se ele conseguiria vê‐lo. “Oh, sim,” acenando avidamente com a cabeça, “deixe‐o entrar.” Enquanto o Mestre estava de pé ao lado de sua cama, Bror implorou‐o, “Swamji, leve‐me daqui! Leve‐me daqui!” O Mestre não respondeu, mas sentou‐se em silêncio. Momentos depois, a dor terrível diminuiu, então o Mestre disse, “Lembre‐se de Cristo na cruz. Não peça nada.” Bror olhou para o Mestre e abaixou sua cabeça em entendimento e submissão. Antes do Mestre deixar nossa casa naquele dia, ele se dirigiu a meu marido em alta voz, “Milhões andam em corpos saudáveis, mas eles não são abençoados. Mas você é abençoado.” Repetindo três vezes: “Você é abençoado.” Então, adicionou, “Não irei mais vê‐lo em corpo, mas estarei com você até o fim. Quando o sofrimento chegar ao fim, você verá uma grande Luz; você entrará nela e numa alegria inefável.” Como posso expressar a alegria e conforto – mesmo nas horas de tristeza profunda – que essas palavras do Mestre me trazem? Bror estava lúcido até o fim, mais do que todos a sua volta. Ele fez a transição conscientemente. Desde o dia que fiquei sabendo – pela intuição – que meu amado marido seria levado de mim, temia um dia – o de seu funeral. Não podia pensar no momento em que eu teria que ver a sepultura aberta. O Mestre falou muito pouco no serviço.6 Ao sair da capela de Forest Lawn, procurei pelo cemitério, mas não pude encontrar o Mestre. Então veio o momento que há tanto temia. Estava de pé, perante a sepultura aberta. Novamente, me virei e deixei meu olhar deslizar pelo cemitério – procurando o Uno. Então, alguém tomou minha mão, e lá estava ele, sentado no banco, próximo à sepultura. Ao me tocar, uma alegria, como uma corrente elétrica, passou por mim. Era uma alegria transbordante. Alguns momentos depois, me virei para ele e disse, “Ninguém além de Deus, você e eu jamais saberá o que você fez por mim neste dia.” A divina alegria continuou comigo durante o resto do dia. Antes de deixarmos o cemitério, o Mestre me contou que havia se comunicado com meu marido. Ele disse, “O Sr. Merck me disse que estava cansado No serviço In Memoriam de Bror. 6
do corpo há algum tempo; ele continuou em vida apenas por sua causa. Mas agora,” o Mestre disse, “você não pode se lamentar, porque ele está muito, muito feliz.” Freqüentemente penso e sinto que se fosse apenas pelo que ele fez por mim naquele dia, eu continuaria devendo a meu grande Mestre todo o humilde serviço que for capaz. Pouco tempo antes de meu marido deixar seu corpo, ele disse a mim: “Ellen, não posso ajudar; Eu preciso ir. Mas pedi a Deus que falasse a Swamiji para deixar você ir para Mount Washington7 depois que eu me for. Você será feliz lá.” Depois do falecimento de meu marido, fiz uma visita a Salt Lake City, ficando quatro meses. A primeira vez que encontrei o Mestre depois de meu retorno a Los Angeles, ele me convidou a vir e viver em Mount Washington. “É o maior desejo de seu marido, você vir” “Sim, Swamiji, eu sei,” respondi. Então, ele disse, “Você pode saber, mas ele me disse de onde ele está agora.” E, ao final destas memórias, tenho vivido em Mount Washington há vinte e três anos. E, sim, “tenho sido feliz aqui.” (Artigo retirado e traduzido da revista “Self‐Realization”, Spring 1994) (Todos os direitos reservados a Self‐Realization Fellowship. Tradução não oficial. Não revisada pela SRF.) Localização e, por extensão, um freqüente nome usado para designar a Sede Central Internacional da Self‐Realization Fellowship em Los Angeles. (Nota do Editor) 7

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