inflação - Politize!

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inflação - Politize!
ASCENSÃO E QUEDA DE DILMA:
Politize!
COMO A PRESIDENTE MAIS POPULAR DESDE A
REDEMOCRATIZAÇÃO CHEGOU AO IMPEACHMENT
OUTUBRO DE 2010: A ELEIÇÃO DA PRIMEIRA PRESIDENTA
2012: OUSADIA NA GESTÃO MACROECONÔMIA
No dia 31 de outubro, Dilma foi eleita presidente (ou presidenta, ambas as formas são
corretas). Foi a primeira mulher alçada à função máxima do Estado brasileiro. Dilma
derrotou o adversário do PSDB, José Serra, com 56,05% dos votos válidos no segundo
turno. Até aquelas eleições, Rousseff não era muito conhecida pela população. Foi ministra da Casa Civil e de Minas e Energia ao longo do governo de seu antecessor, Lula, e
era conhecida por ter um perfil técnico.
POLÍTICAS DE
2011
43,05%
GAME OVER
Politize!
No último ano de seu primeiro mandato, Dilma encontrou um ambiente muito mais
desfavorável que em meados de 2011 e 2012. Além da deterioração dos índices econômicos – os juros continuaram a subir, da mesma forma que o dólar e a inflação – Dilma
ainda teve de lidar com a Copa do Mundo, que em 2013 havia sido um dos maiores alvos
dos protestos contra o governo. A competição em si foi um sucesso, com jogos emocionantes, turistas estrangeiros muito satisfeitos com suas estadas no país e cobertura
muito positiva por parte da imprensa internacional, que elogiou a organização.
As medidas de Dilma tiveram grande apelo popular, o que se refletiu em sua popularidade: finalizou 2012 com 78% de aprovação pessoal. Já o governo teve aprovação de
62%. Essa aprovação se manteve mesmo que 2012 não tenha sido um grande ano para
a economia: o PIB cresceu apenas 0,9%, e o dólar se manteve acima dos R$ 2,00 ao
longo de todo o segundo semestre. A inflação, por outro lado, fechou em 5,84%, menor
do que no ano anterior.
Como companheiro de chapa, Dilma tinha o peemedebista Michel Temer, ex-presidente
da Câmara dos Deputados.
56,05%
2014: LAVA JATO, COPA DO MUNDO E REELEIÇÃO
O bom ambiente tanto na economia, quanto na política fez com que o governo Dilma
desse alguns passos além na intervenção da economia. Duas medidas tomadas nesse
ano foram bastante emblemáticas: a primeira foi a drástica redução da taxa de juros
SELIC, que dentro de um ano passou de 12,5% para 7,25% a.a. A redução dos juros tinha
como objetivo facilitar o crédito e estimular a economia. A segunda medida polêmica
veio em setembro, quando a presidente foi à televisão anunciar um corte de 16,5% na
conta de luz. A redução para o setor industrial foi ainda maior: 32%.
Foi o apoio de Lula, aliás, que fez toda a diferença para que Dilma passasse da condição
de “poste” (como era chamada pela oposição) a um sucesso eleitoral. Antes de 2010, ela
nunca havia sido eleita a um cargo eletivo.
2010
2016: IMPEACHMENT APROVADO, INGOVERNABILIDADE E A NARRATIVA DO GOLPE
LULA
APROVAÇÃO AO GOVERNO: 62%
INFLAÇÃO: 5,84%
APROVAÇÃO A DILMA: 78%
PIB: + 0,9%
DÓLAR: R$ 2,04
APROVAÇÃO AO GOVERNO: 59%
INFLAÇÃO: 6,50%
APROVAÇÃO A DILMA: 77%
PIB: + 2,7%
2012
DÓLAR: R$ 1,86
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Por outro lado, as contas da Copa foram constantemente contestadas pela população e
pela imprensa, tanto antes quanto após a competição. Várias obras de infraestrutura
relacionadas ao torneio – como obras de mobilidade urbana, por exemplo – não foram
terminadas a tempo e até hoje muitas continuam inconclusas. Os estádios também
saíram mais caros do que o projetado e muitos deles já nasceram condenados como
“elefantes brancos” – pela falta de uso após os (poucos) jogos da Copa.
APROVAÇÃO AO GOVERNO: 43%
APROVAÇÃO A DILMA: 39%
INFLAÇÃO: 5,91%
DÓLAR: R$ 2,35
PIB: + 2,3%
Após a reeleição se confirmar nas urnas, Dilma teve um fim de primeiro mandato turbulento, um prenúncio do que estaria por vir. Novas denúncias surgiram contra a Petrobras (que vivia a pior crise de sua história), os primeiros protestos de rua especificamente contra seu governo e a palavra impeachment começando a ganhar eco entre a
população. Além disso, o governo subiu as tarifas de luz e gasolina, que estavam represadas há anos e teriam impacto direto sobre a eleição.
Os indicadores econômicos de 2014 deram os primeiros sinais de que o Brasil enfrentaria uma crise: crescimento praticamente nulo (0,1%), inflação praticamente no teto da
meta (6,41%) e o dólar custando 13% mais caro do que em 2013.
Em meio a esses fatos, grandes protestos populares foram convocados em um domingo
de março e dessa vez atingiram a maior cifra da história da democracia brasileira, superando inclusive as manifestações das Diretas Já. Mais uma vez, Dilma, Lula e a corrupção foram os grandes alvos, enquanto Sérgio Moro era reverenciado como herói.
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2014
APROVAÇÃO AO GOVERNO: 52%
INFLAÇÃO: 6,41%
APROVAÇÃO AO GOVERNO: 9%
DÓLAR: R$ 3,94
APROVAÇÃO A DILMA: 40%
PIB: + 0,1%
INFLAÇÃO: 10,6%
PIB: -3,8%
Na semana seguinte aos protestos, Dilma nomeia Lula como seu novo ministro-chefe da
Casa Civil. Imediatamente surgem acusações de que essa nomeação tinha como objetivo obstruir a justiça. Horas após o anúncio da nomeação, o juiz Sérgio Moro libera à imprensa uma conversa telefônica entre Lula e Dilma que confirmaria a suspeita de obstrução de justiça. Dilma e o governo negaram veementemente tais acusações e
começaram a se declarar como vítimas de um golpe de Estado. O governo fica paralisado, sem capacidade de governar, enquanto a grave crise se desenrola.
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2016
DÓLAR: R$ 2,65
Após receber a faixa presidencial no dia 1o de janeiro, Dilma começa seu governo com um cenário extremamente favorável. O PIB brasileiro cresceu 7,5% em 2010 e as políticas assistencialistas implementadas no governo Lula se revelavam um grande sucesso. Tudo isso acontecia apesar da grave crise econômica mundial deflagrada em 2008. Dilma foi
eleita prometendo dar continuidade às políticas de seu antecessor.
O governo Dilma começou 2013 muito otimista, com o início do efeito da redução da
tarifa de luz e o alcance do recorde de aprovação popular. No mês de março, 65% da
população aprovava o governo e 79% aprovavam Dilma.
A “faxina” foi bem recebida pela população, que aprovava amplamente o governo da presidenta. Os dados econômicos
também continuaram positivos: 2,7% de crescimento no PIB, inflação de 6,5%, dentro da meta, e o dólar fechou o ano
bem abaixo dos R$ 2,00. Com essa gestão, o governo Dilma fechou o primeiro ano com 59% de aprovação, maior índice
alcançado em um primeiro ano de mandato ao longo todo o período de redemocratização (iniciado em 1985).
Mesmo com um cenário econômico preocupante, aprovação popular bem mais baixa do
que em anos anteriores, e denúncias de corrupção atingindo seu governo, Dilma se candidatou à reeleição. Dessa vez, encontrou muito mais dificuldades para vencer seus
oponentes. Assim como em 2010, Dilma encontrou dois candidatos fortes: Aécio Neves,
do PSDB, ex-governador de Minas, e Eduardo Campos, do PSB, ex-governador de Pernambuco e que era bastante promissor. A campanha de Campos foi tragicamente interrompida após ele morrer em um acidente de avião. Sua substituta foi Marina Silva, que
assim como em 2010 conseguiu votação expressiva, mas não suficiente para alcançar
Aécio ou Dilma.
2015
2013: AUGE E PROTESTOS POPULARES
Depois de Palocci, foi a vez de outros seis ministros deixarem seus cargos, cinco deles por acusações de corrupção: Alfredo Nascimento, dos Transportes, Nelson Jobim, da Defesa; Wagner Rossi, da Agricultura; Orlando Silva, dos Esportes;
Carlos Lupi, do Trabalho; e Pedro Novais, do Turismo.
A disputa foi resolvida novamente entre PT e PSDB no segundo turno e Dilma foi eleita
com a menor vantagem já registrada em uma eleição presidencial: conseguiu 51,64%
dos votos válidos, um total de 54 milhões de votos. Derrotado pela quarta vez seguida, o
PSDB pediu auditoria das urnas logo após o resultado, fato inédito.
2013
2011: CONTINUIDADE, FAXINA ÉTICA E POPULARIDADE
Os primeiros meses de governo ficaram marcados por uma “faxina ética” no governo. Ao longo de uma série de semanas,
vários ministros de Dilma foram acusados pela imprensa de estar envolvidos em casos de corrupção. O primeiro ministro
a cair foi o petista Antonio Palocci, titular da Casa Civil. Figura importantíssima para o governo Lula, deixou o cargo após
a imprensa levantar suspeita de enriquecimento ilícito (seu patrimônio cresceu 20 vezes nos quatro anos anteriores).
Para piorar, neste mesmo ano foi deflagrada a maior operação da história da Polícia
Federal: a Lava Jato, que nos dois anos seguintes desmantelaria um grande esquema de
corrupção na Petrobras, com envolvimento de dirigentes de partidos da base aliada,
como o PMDB e o PP, além do próprio partido da presidente, o PT.
Se 2015 foi ruim para Dilma, os primeiros meses de 2016 foram seguramente o pior momento vivido por um presidente brasileiro desde Fernando Collor em 1992. As investigações da Lava Jato chegaram ao ex-presidente Lula, maior aliado de Dilma, que foi
conduzido pela Polícia Federal para prestar depoimento. Na semana seguinte, o
Ministério Público de São Paulo pediu sua prisão preventiva à Justiça, o que não chegou
a ser aceito.
Mas tudo começou a mudar a partir do mês de junho. O grupo Movimento Passe Livre
passou a realizar protestos contra o reajuste das tarifas do transporte público em cidades como São Paulo e Porto Alegre. Os protestos passaram a ganhar a atenção da
imprensa após a Polícia Militar de São Paulo atuar com forte repressão tanto em
relação aos manifestantes, quanto à própria imprensa. Jornalistas e manifestantes
foram detidos por carregar vinagre, que servia para amenizar o efeito das bombas de
gás lacrimogêneo. Outros foram feridos por balas de borracha. A comoção causada
pela violência da polícia fez com que os pequenos atos do Passe Livre passassem a
contar com o apoio da população em geral, principalmente a classe média.
Com a enorme ampliação do número de manifestantes, também foram multiplicadas
as demandas. O que começou como protestos contra aumento das passagens passou
a ser protestos contra a corrupção, contra a FIFA e a Copa do Mundo, que seria realizada em 2014, por qualidade nos serviços públicos, principalmente saúde e educação,
além de muitas outras denúncias menores.
51,64%
Ao final de junho, a aprovação do governo caiu de 57% para apenas 30%. A rejeição do
governo chegou a 25%, maior nível desde o início do governo Dilma. Naquele mês,
também foi realizada a Copa das Confederações, evento que antecede a Copa do Mundo.
Dilma compareceu ao primeiro jogo da competição e foi vaiada pelo público.
Outro fato relevante ocorrido no ano de 2013 foi o início da prática de atrasos de pagamentos a bancos públicos, prática que mais tarde foi batizada de “pedaladas fiscais”.
Os números da economia também não inspiraram muita confiança. A taxa de juros, que
havia sido drasticamente reduzida no ano anterior, passou os 10% no fim do ano. O Brasil
fechou 2013 com crescimento de 2,3% no PIB, mas chegou a encolher 0,5% entre o terceiro e o segundo trimestres e ficou próximo de entrar na chamada recessão técnica. A inflação fechou pouco abaixo dos 6%, portanto dentro da meta, ainda que longe de seu
centro. O dólar também continuou em uma trajetória de alta, chegando ao final de 2013
valendo em torno de R$ 2,30.
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48,36%
GAME OVER
2015: CRISE, AJUSTE FISCAL E UM INIMIGO: EDUARDO CUNHA
O primeiro ano do segundo mandato de Dilma foi completamente diferente do início do
mandato anterior. Se antes Dilma precisava dar continuidade a um governo bem sucedido, desta vez precisava mostrar muito jogo de cintura para contornar a crise econômica que se avizinhava, sem perder a popularidade, o apoio do Congresso e de sua militância. Foi anunciado desde o fim do ano anterior que Joaquim Levy assumiria o Ministério
da Fazenda para encomendar o maior ajuste de contas do governo nos últimos anos. Ao
mesmo tempo, o reajuste das tarifas e a disparada do dólar colocou a inflação nas
alturas.
Para piorar, o governo acumulou derrotas significativas no Congresso Nacional. O controverso deputado do Rio de Janeiro Eduardo Cunha, do PMDB, foi eleito presidente da
Câmara. Mesmo se declarando aliado do governo no início de seu mandato como presidente, Cunha logo impôs importantes reveses, como a aprovação da PEC que reduz a
maioridade penal de 18 para 16 anos, além da lei que amplia a terceirização do trabalho.
O apoio formal de Cunha foi rompido em julho, após um delator da Lava Jato apontar
que ele mantinha contas secretas na Suíça. Com o fim desse apoio, Cunha passou a
apoiar o impeachment de Dilma, algo a que se manifestava contrário até então.
Enquanto a crise econômica começava a tomar proporções maiores, as ruas não demoraram a mostrar insatisfação com Dilma. Além dos frequentes “panelaços” diante de
qualquer discurso da presidente em cadeia nacional, foram feitas várias megamanifestações anti-governo. A primeira delas aconteceu em 15 de março, reunindo milhões de
pessoas em dezenas de cidades. Essas manifestações se repetiram em abril, agosto e
dezembro. Além da forte rejeição a Dilma, manifestantes também expressaram apoio à
Operação Lava Jato e ao juiz federal que está à frente da operação, Sérgio Moro. De uma
forma geral, os manifestantes pediam o fim da corrupção e a deposição de todos os corruptos.
O ajuste fiscal do governo não vingou, em grande parte por causa da falta de apoio no
Congresso. A economia continuou a se deteriorar, com o aumento do desemprego, do
dólar e da inflação, além da queda do PIB. Nesse cenário, a oposição finalmente via pelo
menos duas formas de remover Dilma do poder: o processo de impeachment por conta
das famigeradas pedaladas fiscais, além do processo de cassação no Tribunal Superior
Eleitoral contra a chapa Dilma-Temer por uso de dinheiro ilícito e abuso do poder
econômico durante a campanha.
Em outubro, o governo sofreu mais um duro golpe: a rejeição das contas presidenciais
de 2014, decisão que tal tribunal não tomava desde 1937, quando Getúlio Vargas era
presidente.
Em dezembro, com a instalação de um processo de cassação contra Eduardo Cunha no
Conselho de Ética, o presidente da Câmara aceitou oficialmente um pedido de impeachment contra Dilma e determinou o prosseguimento do rito, que prevê a formação de
uma comissão especial. Mas o Supremo Tribunal Federal acolhe mandado de segurança
pedindo a anulação da formação de tal comissão. O Supremo se pronuncia quanto a
todos os pontos polêmicos do rito, determinando rigidamente seu caminho pela
Câmara e pelo Senado.
O ano termina com um gosto amargo para Dilma, que vê o PIB cair 3,8%, a inflação
avançar mais de 10% e o dólar alcançar níveis inéditos para o período do Plano Real.
Na semana seguinte, foi composta a comissão especial encarregada de analisar o pedido
de impeachment contra Dilma na Câmara. Após dez sessões, o relator Jovair Arantes
emitiu parecer favorável à abertura do processo. Nesse meio tempo, o PMDB, partido do
vice-presidente Michel Temer, retirou-se formalmente da base aliada, péssimo sinal
para o governo. Temer, que já em 2015 rompeu seu apoio ao governo com uma carta em
que afirmava se sentir um “vice decorativo”, passou a planejar a composição de seu possível governo.
As semanas que antecederam a votação no plenário foram marcadas por intensas negociações de ambas as partes, na busca de conquistar os votos necessários para barrar
ou validar o impeachment. O parecer da comissão foi votado no dia 17 de abril. Por 367
votos a 146, a Câmara tomou a histórica decisão de autorizar a abertura do processo de
impeachment contra a presidente.
Agora, o governo Dilma chega ao seu provável fim, com o processo admitido pelo
Senado e o afastamento temporário da presidenta encaminhado. E foi assim que um
governo que começou de vento em popa degringolou gradualmente, até terminar de
maneira melancólica.

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