Ensaio introdutório - Development in Practice
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Ensaio introdutório - Development in Practice
Debatendo Desenvolvimento: as ONGs e o Futuro Editado e apresentado por Deborah Eade e Ernst Ligteringen _________________________________________________________________________ Ensaio introdutório As ONGs e o futuro: fazer o inventário, dar forma aos debates, mudar as práticas Deborah Eade y Ernst Ligteringen Todos nós somos produto do nosso tempo. O mundo de hoje está marcado por mudanças rápidas e significativas que nos afetam a todos, como indivíduos e sociedades, como seres que trabalhamos, pensamos e vivemos, que devemos continuar compartilhando o nosso planeta e os seus recursos limitados. O crescimento econômico, que nos últimos anos do século XX impulsou níveis sem precedentes de bem estar e de prosperidade a muitos milhões de pessoas deixou —e continua deixando— a milhões dos nossos semelhantes na pobreza, a fome, o medo e a opressão. Lamentavelmente, a crença de que este crescimento chegaria, de uma forma ou outra, aos pobres e marginalizados para liberá-los da sua miséria tem demonstrado não ter fundamento. A esperança de que as pessoas comuns pudessem se despojar da herança de desigualdade e injustiça, invocando o seu direito a uma parte de todos os benefícios do desenvolvimento, tem sido uma fonte vital de inspiração para o movimento das organizações não governamentais (ONG) do mundo inteiro. Alcançaram-se vitórias, tem se superado regimes opressivos e a universalidade dos direitos humanos é um conceito que está ganhando espaço como nunca antes. No entanto, na medida em que a brecha entre ricos e pobres cresce cada ano, é muito mais difícil manter o otimismo dos primeiros tempos. O desenvolvimento não cumpriu a sua promessa, tal vez não poderia ter lo feito nunca, mais o mesmo ritmo e o grau das mudanças que temos a nossa frente fazem com que seja essencial reorientar a nossa missão com ONGs para o desenvolvimento internacional.1 A mudança de século é um momento tão bom quanto qualquer outro para fazer um inventário. A mudança de milênio é ainda melhor. Este material de leitura, o décimo título da série, esta baseado, por sua vez, no número do décimo aniversário (Vol. 10:3 e 4) da publicação Development in Practice (Desenvolvimento na prática). Em colaboração com Oxfam International, convidamos a vários profissionais e comentaristas com experiências diferentes a compartilhar as suas perspectivas individuais sobre questões centrais em referência á relevância e a efetividade das ONGs para o desenvolvimento internacional. Esta coleção é uma expressão humilde da nossa crença de que as ONGs podem, e certamente devem, se converter em organizações de aprendizagem, e que a melhor forma de começar é se distanciar do barulho quotidiano e refletir sobre algumas das grande questões que, dentro de um contexto internacional em contínua mudança, se relacionam com a nossa razão de ser. Ao reunir essas colaborações nós não procurávamos impor as nossas próprias opiniões, senão simplesmente refletir o ponto de vista das nossas instituições respectivas. Também não era a nossa intenção fomentar debates redundantes sobre o que constitui a uma ONG para o desenvolvimento, ou sugerir que os problemas que enfrentam as ONGs do Norte (as internacionais) são de um tipo essencialmente diferente daquelas que enfrentam as ONGs do Sul (e muito menos para apresentar as ONGs do Norte e as do Sul como um bloco homogêneo). O nosso princípio reitor foi realizar um encontro aberto sobre as seguintes questões: Como se manifestarão as injustiças sociais e econômicas no mundo de hoje? Como se manifestarão no futuro? Que relevância tem as atuais ONGs para o desenvolvimento na tarefa de atacar a raiz do problema da injustiça? Por falar de uma outra forma: se as ONGs não estão simplesmente para administrar a cidade mais também para modelar as formas em que a comunidade internacional compreende e responde á injustiça, como precisam (ou precisamos) mudar as suas (ou nossas) próprias formas de trabalhar? Sobre a relevância das ONGs Ao começo de este trabalho de leitura, Alison Van Rooy (do North-South Institute, Canadá) demonstra que, como produtos da segunda metade do século XX, a maioria das atuais ONGs para o desenvolvimento tem profundas raízes na indústria do abastecimento internacional, posto que o desenvolvimento tem evoluído, tornando-se o que se chama de “categoria ocupacional”. O movimento das ONGs tem, na sua bagagem, uma grande quantia de objetivos alcançados, entanto que a capacidade cada vez maior das ONGs do Sul também deve ser celebrada como um sucesso. Mais os tempos estão mudando, e particularmente as organizações não governamentais internacionais (ONGIs) deveriam se perguntar se ainda são relevantes na nossa nova realidade. Van Rooy conclui que muitas formas de trabalho institucionalizadas pelas ONGIs são de fato obsoletas. Também deduz que são necessárias, com urgência, novas habilidades e formas de organização (Norte e Sul). A transição que vai das relações internacionais do período da Guerra Fria até os atuais processos de crescente globalização e integração econômica exigem que as ONGs, principalmente as que se desenvolvem na arena internacional, tenham diferentes qualidades e assumam diferentes papeis. A habilidade para analisar e interpretar estas mudanças é essencial. Jaime Joseph (do Centro Alternativa, do Peru) e Cándido Grzybowski (do IBASE, no Brasil) proporcionam-nos duas perpetivas latinoamericanas. Os dois relacionam a importancia dessas habilidades com o fenómeno da globalização neoliberal. Também destacam os riscos e as oportinidades que enfrentam as organizações da sociedade civil e as ONGs em particular. Eles sugerem que, se se deixarem seduzir pelos adinheirados poderes internacionais e as instituições que estes controlam, as ONGs correm o grave risco de ficar relegadas a um papel paliativo. Por um outro lado afirmam que a principal oportunidade das ONGs é a de modelar o processo da globalização em um desenvolvimeto que contribua a uma ordem mundial mais equitativa. Andy Storey (do Development Studies Centre, da Irlanda) destaca uma forma específica de este risco na medida em que as instituições financeiras internacionais adotam a linguagem das ONGs –participação, empowerment, eqüidade-- para utilizá-lo como uma fantasia retórica das suas próprias agendas neoliberais. Apresentar um paradigma de desenvolvimento alternativo, que favoreça a grande maioria mundial, tem sido a missão específica das ONGs para o desenvolvimento. Rajesh Tandon (do PRIA, Índia) pergunta-se se as ONGs podem oferecer (ou tem as qualidades requeridas e estão na posição de debater por) uma alternativa viável frente ao surgimento internacional da doutrina neoliberal que amiúde é considerada como equivalente da globalização. Historicamente, as ONGs tem sido mais fortes para criticar e protestar do que para desenvolver propostas construtivas e viáveis que possam transcender genuinamente a esfera local. Para a sustentabilidade política e institucional, é crucial que as ONGs se estabeleçam com firmeza nas suas próprias sociedades, porque se não o fizerem seriam severamente questionadas sobre sua legitimidade como defensores daqueles aos quais se marginaliza das decisões que afetam as suas vidas. Sobre a missão das ONGs Se a globalização é o processo de intercâmbio mundial de bens, serviços, comunicações, tecnologia e, um pouco menos, gente, certamente apresenta ao mesmo tempo sérios riscos e oportunidades. Então, quando consideramos a relevância das ONGIs a pergunta central está relacionada com a forma como entendem o impacto que todos os aspectos da globalização tem sobre as pessoas que estão na pobreza. Esta relevância também está vinculada com a capacidade das ONGs para se opor as ameaças contra a segurança e o sustento das pessoas, assim como para apresentar oportunidades com o fim de construir sociedades que estejam baseadas na eqüidade e na justiça. Aceitar uma perspectiva monetarista estreita de globalização, que amiúde chama-se “globalização por cima” sera um impedimento para que as ONGs continuem com a sua missão particular e, finalmente, poderia distancia-las das suas raízes e seus propósitos. As oportunidades devem de cimentar-se sobre uma compreensão mais ampla das realidades mundiais, uma que se apóie fundamentalmente no que significam estas realidades para a maioria do planeta, e que esteja compromissada com o trabalho em favor de um sistema mundial, cujo pilote seja a igualdade de direitos para todos (o que alguns ativistas chama de “globalização por baixo”). Ao se focalizar na missão das ONGIs durante a era da globalização, José Antonio Alonso (da Universidade Complutense de Madrid, Espanha) se centra na necesidade de uma maior administração dos bens públicos internacionais e de uma autoridade global efetiva. Enquanto a atividade económica está se globalizando rápidamente, as estruturas políticas, e também as intelectuais que apontalam ao governo do bem comum internacional, estão ficando para atrás. As coporações transnacionais (CT) ha tempo desevolveram a experiência e o poder para aproveitar as vantagems da globalização e trabalhar para desmanchar os obstáculos legais, tanto os locais como os internacionais, contrarios á empresa privada. A nível nacional, a democracia prospera quando existe um equilíbrio entre os intereses da empresa, o governo e a sociedade civil. Na esfera mundial, aonde se dá o desenvolvimento económico, político e social, ainda deve se fomentar ese equilibrio. Jaime Joseph afirma que é hora de enfrentar a relação entre democracia e desenvolvimento, tão relevante nos níveis nacional e internacional, dentro de um processo global. Isto faz com que seja imperativo que o trabalho de desenvolvimento comunitário das ONGs seja concordante com o curso da ação da sua capacidade analítica e de fazer lobby. Com freqüência existe uma divisão entre o tipo de trabalho de prestação de serviços, que realizam ou apóiam as ONGs, e a perspectiva mais crítica e política que alguma vez as motivara. Sanear a brecha que existe entre as duas poderia revitalizar o setor das ONGs. Hugo Slim (da Universidade de Oxford Brookes, GB) faz notar o valor dos direitos humanos na esfera internacional para os objetivos das ONGs. Além disso sugere uma defesa integral do todos os direitos humanos (civis, políticos, econômicos, sociais e culturais), que sustente ao mesmo tempo o trabalho de desenvolvimento e a ajuda humanitária, seria mais útil para as ONG que continuar se envolvendo em debates ideológicos errados sobre a importância comparativa de um grupo de direitos sobre o outro. Haleh Afshar (da Universidade de York, GB), analisa a posição da mulher islamita e faz uma argumentação para que as ONGs trabalhem desde uma melhor compreensão das diferentes prioridades que afloram das diferentes culturas e realidades, e para que não atuem somente dentro da estreita interpretação do que significa globalização. O paradigma cambiante exige novas formas de solidariedade internacional, diz Brian Murphy (de InterPares, no Canadá) e além disso está fazendo com que apareçam novas formas de luta e de identidade a nível local. As ONGs tem caído muito rapidamente frente a noção de que a forma atual de globalização é inevitável e irreversível, então tem reduzido seu papel ao de aliviar seus efeitos mais destrutivos. Ao mesmo tempo as ONGs se arriscam a mudar seus valores centrais por formas de profissionalismo técnico que estão desconectadas da sua missão ética. Para formar parte de um grupo que procura a transformação do mundo, e para construir a justiça social, as ONGs precisam redescobrir os valores de participação da cidadania e desenvolver um respeito genuíno pela diversidade. Sobre a função e as relações das ONGs O tema central é a relevância dos métodos de interação das ONGIs com as pessoas (a maioria marginalizada) cujos interesses finalmente pretendem defender, assim como com as organizações da sociedade civil, o governo e as empresas. Vijay Padaki (consultor administrativo na Índia) e Abikök Riak (do World VisionSudan) destacam a importância das ONGs como entidades movidas por valores, que precisam atuar em harmonia com esses valores que as fundamentam como organizações e que devem encontrar formas institucionais e de trabalho que lhe sejam adequadas. John Hailey (da Universidade de Oxford Brookes, GB) sublinha que a existência de esses valores fundamentais é a principal caraterística que diferencia as ONGs, quando comparadas com outras instituições na área de relações de ajuda internacional. No entanto, ao aplicar esses valores as ações das ONGIs, Mary B. Anderson (do Collaborative for Development Action, Inc., EE.UU.), argumenta que esses organismos precisam reconhecer as desigualdades nas relações de ajuda e liga-las com as suas responsabilidades para determinar qual sera a função adequada em qualquer contexto determinado. Estas funções devem se apoiar no respeito mútuo entre as diferentes partes envolvidas. Até hoje, a palavra “associação” está depreciada por causa da sua utilização excessiva e falta de crítica, que amiúde oculta práticas paternalistas por parte das ONGs. Silvia Borren (da Novib, Países Baixos) propõe que para levar a cabo uma missão de empoderamento, as ONGIs devem ter maior clareza sobre suas diferentes funções, do seu impacto mais amplo e de seus próprios patamares de operação. Desde a República Dominicana, Josefina Stubbs (anteriormente em Oxfam, GB) analisa o impacto geral das ONGIs sobre as organizações das mulheres do Caribe e sobre o trabalho que realizam as ONGs locais em matéria de gênero. Também destaca os efeitos positivos e negativos da influência real que os fundos para o desenvolvimento tem sobre a sociedade civil local. Desde os debates de princípios da década de 1990 cobre o “scaling up” * ou sobre o papel que desempenha “a quarta geração”, assim denominada por Daivd Korten, o trabalho de lobby ** tem sido considerado a função distintiva das ONGs dentro de um mundo * Crescimento a grande escala das ONGs locais e internacionais, assim como de seus projetos e atividades participativas. ** Quando referido ao trabalho das ONGs, a palavra “lobby” não faz referência somente á promoção de mudanças legislativas, mais também á defesa e promoção de causas sociais. cambiante. No entanto, como o conceito sobre os papeis que desempenha a sociedade civil ainda está em desenvolvimento, Alan Whaites (World Vision International) e Dot Keet (Universidade de Western Cape, Sudáfrica) fazem questão da importância que devem de se perguntar sobre a legitimidade das ONGIs e a sua obrigação de prestar contas em relação com o seu papel como promotoras de mudanças nas políticas que alcançam aos pobres. As ONGIs deveriam aceitar o desafio, afirmam Ian Anderson (Oxfam International, Hong Kong) e Paul Nelson (Universidade de Pittsburgh, EE.UU.), de sair a demonstrar a efetividade do seu trabalho de lobby para fomentar a sua missão mais geral. Por sua vez, isto implica a necessidade de desenvolver métodos mais sensitivos para avaliar e supervisar os seus esforços. Ao referir-se ás três “bem sucedidas” campanhas públicas muito diferentes entre si, Gerd Leipold (anteriormente de Greenpeace International, na GB) reflete sobre o crescente potencial das ONGs para exerces influência através de tais meios e sobre suas limitações reais. No mundo globalizado, as empresas são um setor cada vez mais poderoso. Uma comparação do investimento estrangeiro direto com o fluxo da ajuda internacional destaca a sua importância no impulso da mudança mundial. As ONGs começam a notar esta realidade e a dirigir, cada vez mais, seu trabalho de lobby ás corporações tanto como aos setores governamentais. No entanto, o setor corporativo (assim como o setor governamental no mundo inteiro) não deve se considerar homogêneo, declara David Husselbee (adidasSalomon AG, Alemanha), dado que atualmente algumas corporações estão demonstrando uma cada vez maior consciência sobre temas sociais, ecológicos e de direitos humanos. Judy Henderson (Australian Ehical Investment Ltd., Australia) sugere que as ONGs precisam encontrar formas de interação efetiva com as empresas e assim aproveitar o seu potencial para contribuir com o desenvolvimento, tanto através das estratégias de lobby como a colaboração com o setor privado quando se considere adequado. Sobre a efetividade das ONGs Em definitiva, todo é resumido a uma avaliação da efetividade das ONGIs no contexto de uma globalização em alça e do que precisariam aprender (ou, certamente, dos hábitos que precisam “desaprender”) para otimizar o seu impacto. Allan Kaplan (de CDRA, na Sudáfrica) diz que é necessária uma mudança nas atividades de desenvolvimento de capacidades que deve partir de uma visão dos resultados tangíveis até uma apreciação do que amiúde é intangível. Do mesmo modo, deve-se mudar a avaliação estática pelo desenvolvimento de uma leitura dinâmica de qualquer mudança que aconteça como resultado de uma ação das ONGs. Chris Roche (da Oxfam GB) fala sobre as limitações de uma análise linear de causa e efeito, auspiciado por projetos com visões tradicionais, e associa estas limitações com a tendência das ONGs a considerar os vínculos com as organizações “associadas” do Sul somente em termos de estar ligadas a projetos. Além disso lança a idéia de que a avaliação do impacto deveria considerar-se como parte do mesmo processo de mudança e, por isso mesmo, esta deve levar em conta uma gama muito mais ampla de fatores diferentes aos considerados convencionalmente. Stan Thekaekara (da ACCORD, Índia) destaca que a rápida prestação de contas aos patrocinadores dos projetos acaba sendo inapropriada para compreender o impacto do trabalho, que somente podem se apreciar com o decorrer do tempo e desde toda uma gama de perspectivas. Amarrando cabos conjuntamente Se bem se focalizam em diferentes temas e se aproximam a esse desde uma amplitude de experiências, quantos colaboram neste livro se unem em diferentes aspectos. Todas e todos concordam em que os processos de mudança de longo alcance que já estão se dando não deixam espaço para a complacência entre as ONGs para o desenvolvimento. Em que os valores éticos são de importância fundamental para modelar e guiar a ação das ONGs e que, no melhor dos casos, hipotecá-los em troca de lucros de curto alcance as condenaria á irrelevância, enquanto que no pior dos casos converteriam-se em dinossauros autocomplacentes. No entanto, os valores por si mesmos não são suficientes para substituir uma análise de alta qualidade, nem a sensibilidade com que as ONGs devem interpretar o mundo que as rodeia desde a perspectiva de aqueles a quem querem assistir. Também estão de acordo em que é um grande desafio para as ONGIs tentar não confundir “estar do lado dos pobres” com uma visão parcial e míope, dado que com o decorrer do tempo isto não aportaria nenhuma ajuda real para provocar a mudança. Por um outro lado, as ONGs tem a tarefa particular de evitar projetar os seus próprios interesses setoriais ou institucionais como se estes necessariamente representaram os interesses das pessoas que estão na pobreza. Do mesmo modo devem ter cuidado e não se deixar seduzir para atuar como guardiães dos poderosos interesses internacionais, sejam financeiros, governamentais ou comerciais. É vital ficar bem atentos e perceptivos frente as novas idéias, mais sem seguir á massa como escravos, ou abandonar caros valores simplesmente para parecer modernos ou de avançada. A análise sem compromisso não presta, mais o compromisso sozinho não é suficiente para assegurar que as ONGs atuem com integridade e inteligência dentro de um ambiente cada vez mais complexo. Os nossos colaboradores também insistem na necessidade de equilibrar a fé na universalidade dos direitos, com a diversidade y com a diferença. Especialmente para as ONGIs, isto significa aprender a melhor forma de moldar os próprios valores e formas de trabalhar com as perspectivas de suas organizações “associadas”, que amiúde são bastante diferentes, para não mencionar a aqueles que finalmente tentam beneficiar, ou as ações que estes levem a cabo. O que é necessário é um diálogo honesto, que se apóie no respeito mútuo, e isso não pode se precipitar nem dar por sentado. Incluso quando as rodas da globalização parecem girar ainda mais rapidamente, as ONGs precisam voltar a aprender as virtudes da paciência e da gentil compreensão e não procurar acelerar ás pessoas nem os processos para que avancem a uma velocidade maior da que podem afrontar. Finalmente, esta coleção é um testemunho da crença –que com paixão tem expressado por igual os representantes das ONGs da América Latina e da Asia, os acadêmicos da Európa e da América do Norte, e os ativistas da África e Australia— de que a globalização “por cima” não é a única forma para organizar o mundo. Igualmente, é uma afirmação do conhecimento de que a mudança é possível, porém só se originará inspirando a criação de um movimento global que lute pelo bem comum da humanidade, quer dizer, de uma globalização para todos. O século XXI assitirá ás ONGs ainda morando complacentemente no passado, ou afrontando genuinamente os desafios que se avizinham? Nota 1. Como membros do pessoal que se desempenha nas ONGs, centramos a nossa discussão em suas funções e responsabilidades, assim como potencial para fomentar alianças através das fronteiras nacionais e culturais. Muitas das idéias que aparecem neste trabalho podem ser de utilidade para aquelas ONGs que procuram mudar as suas próprias sociedades em beneficio dos que sofrem penúrias materiais o estão excluídos, embora de formas menos tangíveis, de uma plena participação.