Resposta a Donna Nevel - Notícias da Rua Judaica

Transcrição

Resposta a Donna Nevel - Notícias da Rua Judaica
A insustentável leveza da opinião
Eliahu Feldman, Psiquiatra e Psicanalista
Em artigo publicado em O Globo, a psicóloga e educadora a Sonna Nevel escreve carta aberta
a Caetano Veloso a respeito de sua decisão de não mais voltar a Israel. A decisão de Caetano,
baseada em visita que fez sob a guia de israelenses que se opõem abertamente à política do atual
governo de Israel com relação aos territórios na margem ocidental do rio Jordão e o relacionamento
com a população que lá vive, é digna de respeito, pois como homem politico que é, tem suas bases
ideológicas e emocionais que o fazem ver o mundo e os fenômenos humanos e sociais de acordo com
um certo prisma.
Como psiquiatra e psicanalista, creio que não existe percepção pura e simples, objetiva, “limpa”
de qualquer “parti-pris”. Toda percepção ganha significado, transformando-se em uma apercepção de
acordo com o que lhe é atribuído pela observadora. Suponho que a autora, como psicóloga deve ter
aprendido isto tambem.
Assim, tudo o que percebemos, receberá um significado de acordo com nossos
conhecimentos, experiências de vida, preferências políticas e/ou necessidades emocionais.
Creio que assim ocorre tambem com Caetano e com a autora.
Como psicóloga, creio que a autora deve ter idéia tambem que qualquer fenômeno humano ( e
possivelmente sociológico) só pode ser entendido se considerado dentro de um contexto histórico.
A impressão que tenho é que nem Caetano nem a autora conhecem suficientemente o
contexto histórico do que ocorre entre Israel e os árabes que habitam a margem ocidental do Jordão e
Gaza, e nem portanto, levaram este contexto histórico em conta.
Assim, a falta de informação histórica – seja na vida de um paciente, seja na vida de uma
sociedade ou país – é prejudicial à avaliação dos eventos que ora surgem, e podem levar a distorções
gravíssimas do entendimento do que de fato está em jogo.
Exemplos disso existem ao longo da história, quando a ignorância levava as sociedades a
considerarem as doenças como “coisas do demônio”, as doenças mentais (como a histeria) como
“degeneração), até que alguém descobriu que o “texto histérico” deveria ser entendido dentro de um
“contexto histórico de vida”.
Quero então me ater a alguns contextos que talvez possam trazer um conhecimento aos
eventos que ocorrem entre Israel e os habitantes árabes da margem ocidental do rio Jordão e Gaza.
Alguém há de perguntar: porque você não os chama de “palestinos” simplesmente? Explico:
a. Pois parte considerável de minha familia que vive em Israel nasceu na então “Palestina”,
portanto a eles tambem caberia o titulo de palestinos, mas eles são chamados de “israelenses”. Não
quero confundir as coisas.
b. Pois este titulo de palestino foi desqualificado por um membro importante da direção da
Organização para a Libertação da Palestina (OLP – fundada em 1964 quando não havia qualquer
“ocupação” israelense na margem ocidental do rio Jordão) em 1977, em entrevista ao jornal holandês
Trouw. Assim se pronunciou Zahir Muhsein:
“O povo palestino não existe. A criação de um estado palestino é somente um meio para
continuar a nossa luta contra o estado de Israel para a nossa unidade árabe. Na realidade hoje não há
diferença entre jordanianos, palestinos, sírios e libaneses. Somente por razões táticas e políticas
falamos hoje sobre a existência de um povo palestino, pois o interesse nacional exige que nós
afirmemos a existência de um povo palestino afim de opor-se ao sionismo”.
O Contexto Histórico:
a. A relação entre muçulmanos e judeus ao longo dos séculos:
Alem do massacre cometido por Maomé pouco tempo depois de ter proposto uma “Hudna”
(trégua) a tribos judias que viviam na península Arábica, outros fatos são indiscutíveis:
Ao contrario do que se propaga, de que as relações entre muçulmanos e judeus (que viviam
em países sob domínio muçulmano) eram cordiais, a verdade histórica é bem outra:
Os judeus eram considerados cidadãos de segunda classe (Dhimmis) que eram obrigados a
pagar altos impostos, alem de restrições diversas, como por exemplo, a de que não tinham o direito de
pisar a mesma calçada no caso de um muçulmano estar andando nela.
A quantidade de massacres cometida por muçulmanos contra populações judaicas ao longo
dos séculos ( e antes de qualquer “ocupação judaica dos territórios a oeste do rio Jordão) e em
diversos locais é grande. Darei uma lista (certamente incompleta), que pode ser verificada através de
consultas à Wikipedia e outras fontes de informação histórica:
Lista de Massacres:
Em Marrocos, no século XII, período de Idris, dezenas de milhares .
Em meados do século XII os Almohas massacraram 200.000 judeus.
Em Granada, no chamado “período de ouro”, 5000 judeus foram massacrados por árabes baseados
em rumor de que um judeu tentou ter relações sexuais com uma mulher muçulmana.
Em Algiers – 1805, Bagdad - 1828, Damasco – 1840, 1848 e 1890, Beirute – 1862 e 1874, Dair-alKamar – 1847, Jerusalem – 1847, Cairo - 1844, 1890 e 1901–02, Mansura – 1877 , Alexandria - 1870,
1882, 1901 a 07, Port Said – 1903 e 1908, Damanhur - 1871, 1873, 1877 e 1891, Istanbul – 1870 e
1874, Buyukdere - 1864, Kuzguncuk – 1866, Eyub - 1868, Edirne – 1872, Izmir 1872 e 1874, Tabriz
1830, Mashhad – 1839: judeus massacrados e sobreviventes forçados à conversão,
Barfurush – 1867, Hebron – 1834 e 1929, Bagdad – Farhud em 1941 (de inspiração nazista).
Como se pode depreender deste quadro, aparentemente, a tentativa de realizar uma “limpeza
étnica” sempre esteve na agenda politico-religiosa de muçulmanos - árabes ou não - e não na agenda
politico-religiosa de judeus. Isto na verdade vai frontalmente de encontro à afirmação vazia da autora,
que aparentemente não tem qualquer noção da história das relações entre muçulmanos e judeus, mas
afirma algo que é oposto ao que tem sido – e ainda é hoje – parte da agenda declarada de entidades
árabes como o Hamas, EI, Hizbollah e e outras menos identificadas bem como outra entidades não
árabes, como o Irã.
Ora, será que se Israel de fato estivesse interessado em uma 'limpeza étnica”, não poderia têla feito há muito tempo? Nos idos de 1948 ou logo em seguida? E se quisesse – como alegam alguns
da corrente que aparentemente é a da autora – cometer “genocídio” na margem ocidental do Jordão
ou em Gaza não poderia tê-lo feito? Faltava-lhe por acaso o poderio militar para tal?
Alem destas ignorância flagrantes, a autora parece ignorar tambem que cerca de 15% da
população que vive em Israel é de origem árabe, de religião muçulmana, cristã ou druza, sendo que
uma parte considerável destes mesmos se considera palestina, mas tem representação no parlamento
israelense e ainda não sofreu qualquer tipo de tentativa de “limpeza étnica” como alega a autora numa expressão de insustentável opinião.
Lembro ainda que no superior tribunal de justiça de Israel há um juiz “palestino” (de origem
árabe e muçulmano), e que no exército de Israel há oficiais superiores de origem druza, alem dos
“palestinos” muçulmanos e cristãos que são defensores da existência e persistência do estado de
Israel, e se consideram “sionistas ardorosos”, como a Sra. Sarah Zoabi, e a jornalista Lucy Aharish.
A rigor, isto mostra que o dito popular “seus olhos só veem o que seus olhos querem ver”
tem nesta autora uma expressão magna.
Esta e otras “confusões conceituais” (embora saibamos que nada é por acaso, mas
inconscientemente determinado) como decretar que Israel é um pais “Apartheid”, “Genocida”, “Racista”
e outros epítetos decorre de outra motivações – certamente emocionais - que não a observação
objetiva dos fatos.
A Palestina antes do Sionismo:
Um relato fidedigno é o do Padre Hadriani Relandi, Palaestina, ex monumentis veteribus
illustrata, publicada em 1714. Além de Padre, Relandi é geógrafo e cartógrafo, fluente em hebraico,
árabe e grego antigo, bem como em línguas européias, que vem à Terra Santa em 1696 afim de fazer
um levantamento geográfico e demográfico do local. O livro, escrito em latim descreve suas andanças
por mais de 2500 localidades na região da Terra Santa, e sua metodologia foi de primeiramente
mapear a Terra de Israel, em seguida identificar cada localidade mencionada na Mishna ou no
Talmud, finalmente fazer um levantamento populacional e censo de cada local.
As principais conclusões que se pode tirar do longo e minucioso livro do Padre Relandi são:
1. Nenhum assentamento na Terra de Israel tem nome de origem árabe. A maioria dos nomes
dos assentamentos se originam no hebraico, grego ou latim. Isto se mantém até hoje, e os
nomes em árabe (`a exceção de Ramallah) são distorções desprovidas de qualquer sentido.
Não há qualquer sentido em árabe para nomes como Acco (Acre), Haifa, Jaffa, Nablus, Gaza
ou Jenin. As cidades chamadas Ramallah, el Halil e el-Kuds (Jerusalem) não tem qualquer raiz
histórica ou filológica em árabe. Em 1696, o ano em que o Padre Relandi percorreu o local,
Ramallah, por exemplo era chamada de Bet'allah (do hebraico Beit El – Casa de deus), e
Hebron era chamada já de Hebron (Hevron) e os árabes chamavam Mearat Ha Machpelah
(Caverna da Multiplicação) de El Halil, seu nome para o antepassado (patriarca) Abraão.
2. A maior parte do país estava vazia, desolada, com muito poucos habitantes principalmente
concentrados nas cidades de Jerusalem, Acre, Safed, Tiberíades e Gaza. A maioria dos
habitantes era constituída de judeus e o resto cristãos. Havia poucos muçulmanos,
essencialmente beduínos nômades. Nablus, conhecida como Schem, era excepcional, pois lá
viviam aproximadamente 120 pessoas muçulmanas, membros da familia Natsha e
aproximadamente 70 Shomronitas (judeus samaritanos). Em Nazaré, capital da Galiléia, viviam
aproximadamente 700 cristãos, e em Jerusalem viviam aproximadamente 5000 pessoas, a
maioria judeus, e alguns cristãos. o Padre Relandi menciona muçulmanos como sendo
nômades beduínos que chegaram à região como reforço de trabalho sazonal para agricultura e
construção. Em Gaza, por exemplo, vivam aproximadamente 550 pessoas, 50% judeus e o
resto principalmente cristãos. Os judeus trabalhavam em suas vinhas, oliveiras e trigais, e os
cristãos trabalhavam em comércio e transporte de bens e produtos. Tiberíades e Safed eram
essencialmente judaicas, e exceto a pesca no Mar da Galiléia, uma ocupação tradicional em
Tiberíades, não é mencionada outra ocupação. Um el-Phahem era uma cidade one viviam 10
familias – umas 50 pessoas (Familia Shehadah), todos cristãos - e uma pequena igreja
maronita.
Este livro portanto, contradiz frontalmente qualquer teoria post-moderna alegando uma
“herança palestina” ou uma nação palestina na “Terra Santa” – o que parece não ser do conhecimento
da autora. O livro efetivamente fortalece a conexão, relevância, pertencência e parentesco da Terra de
Israel com os judeus alem da absoluta falta de pertinência dos árabes, que se apropriaram do nome
latino (romano) Palestina como se isto lhes tivesse sido dado desde tempos imemoriais por sua
presença desde sempre no território da Terra Santa...
Alguns dados demográficos:
População de Jerusalem de 1844 a 1948
Jerusalem Otomana (Arquivos do Império Otomano)
1844 - 15.510 pessoas das quais 7.120 judeus, 5.000 muçulmanos e 3.390 cristãos.
1860 - 18.000 pessoas das quais 8.000 judeus, 6.000 muçulmanos e 4.000 cristãos.
1876 – 25030 pessoas das quais 12.000 judeus, 7.560 muçulmanos e 5.470 cristãos.1896 - 45.420 pessoas das quais 28.112 judeus, 8.560 muçulmanos e 8.748 cristãos.1910 - 73.700 pessoas das quais 47.400 judeus , 9.800 muçulmanos e 16.500 cristãos.
Jerusalem durante o Mandato Britânico (Arquivos Britânicos):
1922 - 52.081 pessoas das quais 33.971 judeus, 13.411 muçulmanos e 4.699 cristãos.
1931 - 90.451 pessoas das quais 51.222 judeus, 19.894 muçulmanos e 19.335 cristãos.
1948 - 165.000 pessoas das quais 100.000 judeus, 40.000 muçulmanos e 25.000 cristãos.
Estes dados demográficos oficiais mostram claramente a imensa prevalência de população judaica em
Jerusalem – o que hoje é contestado pelos árabes sob a alegação de que Jerusalem teria sido
“sempre” uma cidade árabe, que foi “usurpada” por judeus.
Estes fatos aparentemente tampouco são do conhecimento da autora que parece adotar sem qualquer
juízo critico afirmações feitas de modo leviano e sem conhecimento histórico de fatos e contextos
relevantes para o entendimento da situação atual.
A Nakba:
Apesar da “ampla documentação” a que se refere a autora sobre o evento chamado de Nakba
(Catástrofe), descrita como a expulsão de “mais de 700 mil palestinos”, a autora não parece tomar
conhecimento de qualquer documento que descreve o que em grande parte ocorreu em 1948, quando
da declaração da independência do estado de Israel. Explica o Professor Beni Morris, historiador e
critico frequente da política israelense, respondendo a uma pergunta de leitor:
"Os árabes palestinos não foram responsáveis “de algum modo bizarro” pelo que lhes
aconteceu em 1948. Sua responsabilidade foi muito simples e direta:
Em desafio à vontade da comunidade internacional representada pela Assembleia Geral da ONU em
sua resolução de 29 de novembro de 1947 (numero 181), eles iniciaram hostilidades contra a
comunidade judaica na Palestina na esperança de abortar a emergência do estado judeu a talvez de
destruir esta comunidade. Mas eles perderam, e um dos resultados foi o deslocamento de 700.000 de
seus lares.
É verdade, como apontou Erskine Caldwell há tempos, que não houve emissões de rádio
árabes, incentivando os árabes de fugir em massa; na verdade, houve emissões por diversas rádios
urgindo-os a ficarem em seus lugares. Porém, a nível local, em dúzias de localidades na Palestina,
lideres árabes aconselharam ou ordenaram a evacuação de mulheres e crianças ou de comunidades
inteiras, como ocorreu em Haifa no fim de abril de 1948, apesar de que o prefeito de Haifa, Shabtai
Levy pediu, em 22 de abril para que ficassem, sem qualquer resultado.
A maioria dos 700.000 "refugiados" fugiram de suas casas por causa do malho da guerra (e na
expectativa de em breve voltar para suas casas nas costas dos invasores árabes vitoriosos). Mas
também é verdade que houve várias dezenas de locais, incluindo Lod e Ramla, de onde as
comunidades árabes foram expulsos por tropas judaicas.
O deslocamento dos 700.000 árabes que tornaram-se "refugiados" - e eu coloquei o termo entre
aspas, pois dois terços deles foram deslocados de uma parte da Palestina para outra e não do seu
país (que é a definição usual de um refugiado ) - não foi um "crime racista" (David Landy, 24 de
janeiro), mas o resultado de um conflito nacional e uma guerra, com conotações religiosas, a partir da
perspectiva muçulmana, lançada pelos próprios árabes.”
Pode-se depreender disto, que houve sim uma catástrofe – que se prolonga até hoje – em
grande parte resultante da má liderança a que os árabes estavam e ainda estão submetidos até hoje
por seus lideres, que ao invés de defenderem suas legitimas necessidades e anseios, defendem seus
interesses pessoais políticos e financeiros – vide onde vivem hoje a viuva de Yasser Arafat, e o líder
do Hamas Khaled Mashal, apenas para citar dois exemplos gritantes. Esta sim, é uma verdadeira
Nakba, talvez mais significativa do que o deslocamento a que se submeteram por contingências de
uma guerra, pois deslocamentos de populações por conta de guerra são uma constante, e não uma
exceção ocorrida no “pais sionista”. Basta olhar o que ocorre hoje no nosso entorno – Darfur, Síria,
Iraque, Líbano - de onde os cristãos se evadiram nos princípios do século XX por conta de
perseguições religiosas por parte de muçulmanos, e em parte imigraram para o Brasil, onde formaram
um forte comunidade (Juiz de Fora).
Então, alem da autora aparentemente ignorar este depoimento de um historiador responsável,
ignora outro fato de extrema relevância ocorrido concomitantemente, com um resultado inteiramente
distinto do que teria sido a Nakba:
Neste período, aproximadamente 900 mil judeus que viviam (alguns deles) há séculos (se não
milênios) em países árabes (talvez desde a expulsão dos judeus de Israel pelos romanos no ano 70)
foram sumariamente perseguidos, despojados de todos seus bens, e instando-os a abandonar seus
países de origem milenar.
Mas o que ocorreu com estes judeus? Ficaram encerrados, encurralados como gado em
campos de refugiados, como os árabes que daqui saíram, servindo de “bucha de canhão” para os
interesses escusos de seus lideres? A verdade é que todos os que puderam e vieram para Israel foram
abrigados e lentamente absorvidos, diferentemente dos árabes, que foram mantidos como quistos em
Gaza e no sul do Líbano, sem quaisquer direitos civis por parte dos países que os tinham em seu
território.
A diferença gritante entre os “refugiados árabes” e os “refugiados judeus” (em igual ou maior
numero e com perda mais significativa de bens materiais) é que os refugiados árabes foram mantidos
como tal, contrariando todas as normas da ONU concernentes ao assunto. O prazo limite para um
“refugiado” seguir nesta situação com a proteção formal da ONU é de 15 anos, após os quais deve ser
absorvido pelo país no qual se instalou.
Não só os árabes não foram absorvidos, mas ainda foi criada um sub-seção da ONU – a
UNRWA, caso único na história de migrações populacionais, e em infringência absoluta das normas
das ONU, que considera como refugiado somente aquele que nasceu em certo país e teve que se
evadir, mas não a sua descendência. Os netos e bisnetos dos árabes que saíram de Israel ainda são
formalmente considerados “refugiados”, o que transformou 700 mil pessoas em aproximadamente 5
milhões: uma verdadeira inflação. Uma decisão deveras surpreendente e contrária não só ao bom
senso como às regras da própria ONU.
O Período de 1948 a 1967
Durante este período, Gaza e a margem ocidental estavam respectivamente sob a jurisdição
territorial do Egito e Jordânia. Foram 19 anos nos quais poderia se ter criado o estado Palestino, sem
qualquer interferência de Israel, pois não havia “ocupação” nem na margem ocidental e nem em Gaza.
Por alguma razão “obscura” isto não só não se deu, como se sucediam ataques de terroristas
(Fedayin) a Israel e em 1964 foi criada a OLP (organização para a Libertação da Palestina).
Pergunta-se que Palestina? A da margem ocidental do Jordão e Gaza? Certamente que não,
pois estes territórios estavam sob jurisdição de países “amigos”, que poderiam imediatamente
conceder a pátria Palestina almejada.
É evidente que a criação da OLP tinha por finalidade a “libertação do território ocupado pelo estado de
Israel”, ou seja, o abortamento, o aniquilamento deste estado, recentemente criado pela ONU.
Alguns Dados sobre a Margem Ocidental, Autoridade Palestina e Gaza post 1967 e Oslo:
Numero de Universidades antes de 1967 = Zero
Numero de Universidades após 1967 = Sete
Auxílio Financeiro Recebido pela AP (oficialmente):
De 1993 a 1997 – não há dados exatos
De 1997 a 2003 – A AP recebeu neste período U.S.$ 2.000.000.000 (2 Bilhões de dólares)
De 2003 a 2012 – a AP recebeu aproximadamente U.S.$ 18.100.000.000 (18.100 Bilhões de dólares)
É de se perguntar como foi utilizado este dinheiro – se para a construção de infraestrutura,
casas, hospitais, escolas, plantações, investimentos industriais, ou para a compra de armas,
construção de túneis, pagamento régio aos lideres e pagamento aos 'mártires'. Esta não é uma Nakba
menor do que a que a autora lamenta.
Estes dados naturalmente não incluem os auxílios recebidos “extra-oficialmente”de países
como Irã, Arabia Saudita, Emirados Árabes, Qatar por exemplo, cujo poderio econômico decorrente de
petrodólares é incalculável.
A autora diz que é-lhe difícil dormir (mesmo nos EUA?) sabendo que a liberdade de um povo
vem às custas de outro. É verdade que é duro chegar-se a uma situação destas, mas o que será que
ocorreu quando os portugueses chegaram à Terra de Santa Cruz e lá encontraram os verdadeiros
donos da terra – os índios? A criação do Brasil não foi às custas dos índios? E hoje em dia? Têm os
índios brasileiros os direitos civis que um cidadão brasileiro de origem europeia tem? A Wikipedia
afirma que: “Ainda falta muito para que eles consigam garantir suas terras e uma sobrevivência digna e
independente da tutela do governo, que historicamente os entendeu como incapazes e chamou a si a
responsabilidade de "administrá-los", mas tem sido também incapaz de assegurar-lhes os direitos que
já foram definidos constitucionalmente, e vem sendo acusado até de promover profundos retrocessos
de maneira deliberada que dão continuidade a um secular genocídio.”
E o que ocorreu nos Estados Unidos? E no Canadá, e em toda a América Latina? E na África?
E Ásia? A autora, como muitos dos críticos de Israel ora por ignorância ora por cinismo, ora por terem
todas as explicações pré-fabricadas em função de preferências ideológicas discriminatórias, fazem de
conta de que todo este “mal-feito” é produto exclusivo dos dentes e garras do sionismo.
Sabe a autora que na mesma época, em 1948 a India teve que ceder um naco de seu território
para criar o Paquistão e que houve uma imensa (milhões de cidadãos) troca de populações – Hindus
para cá e Muçulmanos para lá?
Sabe a autora que há no mundo mais de 200 litígios territoriais, mas que nenhum deles ganha
o “prestigio” que ganha o litígio territorial entre judeus e árabes?
Sabe a autora que significado tem a palavra e o conceito de Apartheid? É ter um Juiz do
supremo árabe? É ter uma miss Israel árabe? É ter um embaixador de Israel no Brasil de origem
Druza?
A situação de Gaza e o embargo marítimo
Desde 1967 e até os acordos de Oslo, a entrada de árabes provenientes da margem ocidental
e de Gaza para o território israelense fluía relativamente facilmente. Trabalhadores árabes iam e
vinham com mínimas medidas de exame de fronteiras. O fato é que em certa época era corrente em
Israel o roubo de automóveis – até por encomenda – de “ricaços” árabes da margem ocidental. Eu
estava aqui e sabia disto.
Após os acordos de Oslo, a situação não se modificou deste ponto de vista até que começaram
a explodir locais, ônibus e outros. A vigilância aumentou. Concomitantemente, Israel construiu um
aeroporto em Gaza, e permitia o livre transito de embarcações diretamente a Gaza, sem qualquer
interferência.
Em setembro de 2000, após a fracassada tentativa de Camp David, teve início a segunda
intifada sob as ordens diretas de Arafat - segundo seu ministro da propaganda anunciou em comício
em novembro de 2000 no estádio de Gaza, veiculado em um filme.
As embarcações seguiam chegando a Gaza livremente, até que foram pilhados algumas
proveniente do Irã repletas de armas em direção a Gaza. Foi instaurada uma fiscalização para a
chegada de embarcações a Gaza, o que recebeu o nome de embargo marítimo. Este embargo, no
entanto não era absoluto, mas apenas exigia um exame prévio do carregamento das embarcações,
afim de evitar a importação de toda sorte de armas.
Gaza tem fronteiras com Israel de um lado e como o Egito de outro. Em momento algum
cessaram as passagens de bens e mantimentos para Gaza através de Israel pela passagem de Erez.
Mas o Egito – pais “irmão” dos árabes de Gaza - este sim, fechou a fronteira de modo quase absoluto,
o que levou a população de Gaza a construir túneis de contrabando (de bens, armas e artigos de luxo),
que só recentemente, por conta de divergências do atual governo Egípcio com o Hamas, foram
obliterados através da inundação dos túneis.
Assim, autora, creio que é necessário ter uma visão mais ampla do que por aqui ocorre
(reconheço que é difícil saber de fato, como me era difícil entender o que ocorria em Kosovo...), e não
se ver presa fácil de ideias pré-concebidas e fruto de ideologias em que o maniqueísmo domina a
máquina de pensar, que fica impossibilitada de levar em conta os fatos e contextos.
Pense, autora, que a senhora não abriu a boca (e não usou a sua pena justiceira) para dizer
uma palavra sobre os massacres dos lideres árabes contra seus irmãos, que em termos numéricos de
vitimas, produziram em menos de 3 (três anos) talvez mais de 50 vezes o numero de vitimas do
conflito judeu-árabe que dura para lá de 100 anos.
Creio que a senhora, como educadora, deveria se preocupar com o tipo de educação que é
dada às crianças árabes na margem ocidental e Gaza – como por exemplo, ensinar um bebê de
aproximadamente 18 meses a segurar um lançador de foguetes RPG antitanque (tenho foto
disponível), e se informar de modo mais fundamental sobre esta conturbada região, antes de tomar
uma postura (pseudo)-“justiceira” emitindo opiniões de intolerável leviandade.

Documentos relacionados