Prova de língua portuguesa – 1h30 Epreuves d

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Prova de língua portuguesa – 1h30 Epreuves d
A anacrónica idiotice da Queima das Fitas de Jorge Fiel, Diário de Notícias, 06/05/2010
-----------------------------------------------------Como o golfe ainda não tinha atingido entre nós os actuais níveis de popularidade, bombardeei com
ovos e tomates podres o cortejo de gatos-pingados que, há coisa de 30 anos, desfilava junto à
Cordoaria, no Porto, na tentativa (que viria a ser bem sucedida) de ressuscitar a Queima das Fitas, que
os estudantes de Coimbra tinham feito o favor de enterrar com a crise académica de 69.
Não me arrependo, nem mudei de opinião. Continuo a achar uma rematada e anacrónica idiotice os
cortejos da Queima, bem como o essencial da parafernália que envolve esta liturgia, como os trajes
académicos, praxes e bênção de pastas. Excluo desta consideração tudo quanto diga respeito a
concertos, copos e etc., que só podem merecer o meu elogio, pois esta vida são dois dias e a
estudantada que anda para aí com as hormonas ao saltos tem todo o dever de se divertir e aliviar as
tensões, pois os exames vêm aí...
Mas como já não tenho nem idade nem pachorra para atirar bolas de golfe, isqueiros ou telemóveis ao
cortejo (para corresponder com alguma modernidade ao arcaísmo bafiento da coisa) arremesso uma
história a essa tropa que ainda não arranjou tempo, capacidade ou espelho para ver a figura grotesca
que anda a fazer.
Vicky Harrison, inglesa de 21 anos, já cá não estava quando soube dela e porque é que a sua travessia
da vida foi tão curta e dramaticamente abreviada. Na foto, publicada neste jornal, aparecia de cabelos
louros e a cara aberta num luminoso sorriso - ambos, sorriso e cor dos cabelos, com aspecto de
genuínos. Mal concluiu a formação em Som e Imagem, desatou a procurar emprego, acompanhando
de telefonemas os currículos que enviou para tudo quanto era produtora de televisão. Ninguém lhe
escreveu ou telefonou de volta, mas ela não desanimou. Baixou de exigência e candidatou-se a
empregos de repositora de supermercado e balconista de loja.
Ao cabo de dois anos e mais de 200 candidaturas sem o telemóvel e as caixas de correio (electrónica e
tradicional) lhe trazerem boas notícias, Vicky desistiu. Engoliu os comprimidos todos que encontrou
em casa e partiu.
Num país como o nosso, em que só não é universitário quem não quer, há 44 mil licenciados sem
trabalho, a taxa de desemprego jovem atingiu os 20%, e ter um canudo já não é mais sinónimo de
esperança de uma vida desafogada. Andar pelas ruas a pavonear-se em traje académico é tão trágicocómico como a orquestra ter continuado a tocar após o Titanic ter chocado com o icebergue.
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Epreuves d’admission niveau BAC +3 – Juin 2010
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I. Compreensão
Responda às perguntas seguintes apoiando-se no texto e redigindo frases.
Compreensão global – 3 pontos
i.
ii.
iii.
Que papel(éis) desempenha a praxe académica segundo o Jorge Fiel?
Que desculpa o cronista dá para não aderir, hoje em dia, à queima?
Que elementos do texto evidenciam a crítica que ele faz a esta tradição?
Compreensão pormenorizada – 3 pontos: explique as expressões seguintes do texto
iv: cortejo de gatos-pingados – v: ter um canudo – vi: pavonear-se
II. Ensaio - 8 pontos
Aplicando-a à da situação do texto, discuta (em pelo menos 300 palavras) a citação da Dra
Marques de Silva (da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do
Porto): "Apesar de não nos definirmos só pelo que fazemos, o trabalho desempenha um papel
fundamental na construção do eu"
III. Versão – 6 pontos
Traduzir para francês o segundo parágrafo do artigo.
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