pela águaurgente - Trupe Agência Criativa
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pela águaurgente - Trupe Agência Criativa
1/09/11 18:05:42 ISSN 1659-2697 annonce_finale_port_bresil.pdf ANO 8 | 2012 | Nº 16 C M J CM MJ CJ CMJ N ANO 8 | 2012 | N°16 COMPROMISSO INTERGERACIONAL PELA ÁGUA worldwaterforum6.org URGENTE É preciso despertarmos a consciência de um novo cotidiano, tanto individual quanto coletivo, que restaure annonce_finale_port_bresil.pdf 1/09/11 nossa relação milenar com o planeta. É preciso alinhar ANO 8 | 2012 | N. 16 18:05:42 ISSN 1659-2697 nossas intenções, mentes e consciências com hábitos, ANO 8 | 2012 | Nº 16 estilos de vida e modos de produção de consumo renovados, para desfrutarmos de uma nova intimidade com a água e avançarmos no caminho da prosperidade C M J CM MJ CJ CMJ e do futuro comum da humanidade. N ANO 8 | 2012 | N°16 COMPROMISSO INTERGERACIONAL PELA ÁGUA worldwaterforum6.org URGENTE CONSELHO EDITORIAL Benedito Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial da Água (WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP) Costa Rica e membro do Comitê Diretivo da GWP América Central. Claudio Osório | Consultor Internacional de Água e Saneamento. Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008. DIRETORA GERAL | Yazmín Trejos Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil DIRETORA DE REDAÇÃO | Luciana de Paula Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil PRODUÇÃO EDITORIAL: Satori Editorial | www.satorieditorial.com EDITOR CHEFE | Boris Ramírez EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo DESIGN GRÁFICO | Gerson Tung CORREÇÃO DE ESTILO | María del Mar Gómez CAPA | Animaux Corp. COLABORADORES Maude Barlow, Presidente do Conselho Canadense, Presidente da Food and Water Watch, Prêmio Nobel Alternativo 2005. Bill e Melinda Gates, Fundação Gates Yong Jiang. Enciclopédia da Terra. Eduardo Orecchia e Miguel tInstituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina. Eduardo Padilla Ascencio, Sistema de Água Potável e Rede de Esgoto de León, México. Ton Vlugman , Assessor em Saúde e Meio Ambiente da Organização Panamericana da Saúde / Organização Mundial da Saúde. ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Luis Alonso Ramírez e Juliana Gebrin TRADUÇÃO E EDIÇÃO EM PORTUGUÊS Pampa Tradução e Interpretação FALE CONOSCO | [email protected] Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem Hydros IV – Cotidiano CONTEÚDO 61 06 26 41 16 50 57 MATÉRIA DE CAPA URGENTE: COMPROMISSO INTERGERACIONAL PELA ÁGUA Autoridades latino-americanas fazem um balanço sobre o que tem sido feito e o que vem falhando neste compromisso fundamental. Jovens de vários países da América Latina ergueram suas vozes e nos contaram seus desejos e desafios sobre a água. LEGISLAÇÃO BALANÇO DA LEI Incertezas em matéria de legislação detêm avanços na América Latina. Compilado e revisão das legislações da água na região. TECNOLOGIA SANITÁRIO 2.0: O novo desafio tecnológico de Bill Gates: Revolucionar o mercado da computação há 36 anos com a criação do Microsoft Windows não foi suficiente para ele. Agora, Bill Gates pretende promover o que chama de “reinvenção do vaso sanitário”. SAÚDE A ÁGUA EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA Após os desastres, a água passou a ser o bem mais importante para a população afetada, de modo que a escassez ou contaminação deste recurso pode ter consequências bastante graves para a saúde pública. ALTO PERFIL ALTO PERFIL: ENTREVISTA EXCLUSIVA COM BENEDITO BRAGA Presidente do 6º. Fórum Mundial da Água “Devemos promover pragmatismo e eficiência. Só conseguiremos resolver efetivamente o problema da água na medida em que a equação econômica e política seja devidamente resolvida”. PERSPECTIVA 05 ECONOMIA 16 CASOS: URBANO E RURAL 22 AMBIENTE 36 BREVES DO MUNDO 40 INTERNACIONAL 45 OPINIÃO 49 CULTURA 61 SITES INTERESSANTES 66 36 4 Aqua Vitae Foto: Estefanía Abad PERSPECTIVA A sobrevivência da humanidade depende da formação e do desenvolvimento de seus futuros líderes. A Aqua Vitae levantou questões relevantes para líderes latinoamericanos sobre este importante assunto, para elucidar pontos fortes e fracos na tarefa do compromisso entre gerações com o setor de água e saneamento. Isto não se trata de um assunto de pouca importância. As novas gerações serão as sucessoras naturais para continuar a luta contra os desafios da água, especialmente o de eliminar a desigualdade de recursos hídricos. Porém não ficamos na visão adultocêntrica, mas sim solicitamos às crianças e aos jovens de nossos países, que, de forma natural e espontânea, compartilhassem conosco seus desejos e desafios. É também este tema que decidimos desenvolver em uma entrevista exclusiva com o brasileiro Beneditto Braga, responsável por reunir todas as gerações em Marselha, na França, durante o Sexto Fórum Mundial da Água, com o intuito de estabelecer as bases para as soluções atuais e futuras. Com essa mesma visão pedimos a Bill e Melinda Gates que nos informassem sobre sua decisão de encontrar soluções inovadoras para uma questão essencial: o acesso às novas tecnologias em instalações sanitárias, que sejam de baixo custo e de grande impacto. Em 2012 começa o oitavo ano em que nossa revista continua viajando pela América Latina e pelo mundo para compartilhar experiências, discussões, reflexões e informações, com o compromisso de gerar conhecimento e consciência. Agradecemos por estar conosco durante esses anos e por continuar fortalecendo esta aspiração. Que este ano de 2012 nos permita seguir reforçando nossos desafios de transformação, com a água como o elemento que nos permite fluir e crescer. Yazmín Trejos Diretora - Aqua Vitae Aqua Vitae 5 cada geraÇÃo tem uma obrigaÇÃo, e as novas a cumprem mantendo-se sensibilizadas sobre QuestÕes ambientais. sendo assim, estamos em dívida porQue nÃo foi possível transmitir um vínculo mais vital com as QuestÕes de água e saneamento. esta É uma responsabilidade inevitável. Foto: Animaux Corp. 6 AQUA VITAE por boris ramírez compromisso intergeracional pela água urgente AQUA VITAE 7 O f ato de que a água é um bem essencial para a vida em todas as suas formas, representa razão suficiente para construir compromissos que assegurem a conservação das funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas que sustentam a própria vida e permitem recuperar (ou pelo menos manter) sua qualidade, de forma a garantir o abastecimento para toda a população atual e futura do planeta. De acordo com essas premissas, todos nós, seres humanos do planeta, somos obrigados a ajustar nossas atividades aos limites e à capacidade autorreguladora da natureza. Cada geração tem uma obrigação e deve assumir um compromisso em relação à água que as próximas gerações vão beber, usar e aproveitar. Jovens de vários países latino-americanos ergueram suas vozes e nos contaram seus desejos e desafios sobre a água 8 Aqua Vitae Desta forma, em novembro de 2011, foram convocados líderes latino-americanos para discutir o compromisso intergeracional com o setor de água como um passo necessário para reorientar o tratamento e a administração, no sentido de uma gestão integral, compartilhada e inteligente dos recursos hídricos, a partir do esquema do Sétimo Diálogo Interamericano sobre Gestão da Água Questões fundamentais vêm surgindo há vários anos: No que falharam as últimas gerações? Como é possível comprometer mais jovens com a água em uma visão planetária? Qual deve ser o papel deles na sustentabilidade de um elemento vital para a existência do Planeta? A América Latina não quer ficar de braços cruzados perante esta questão fundamental. Por isso, o tema foi discutido no ano de 2011 com representantes de 34 países da região, de setores governamentais, acadêmicos, empresariais, ONGs, sociedade civil e setores produtivos (agricultura, alimentos, serviços, comunicações, construção, silvicultura, pecuária, energia, indústria, mineração, infraestrutura, transporte, habitação, turismo, saneamento e serviços públicos). Juntos, estes representantes identificaram três linhas de compromisso: As perguntas são fundamentais. As respostas devem ser esclarecedoras. Ensinamos os jovens latino-americanos a se comprometerem com a água? Eles sentem-se envolvidos e com algum nível de responsabilidade com os recursos hídricos? Se estiverem comprometidos com a água, como pensam que ela deve ser protegida? A Aqua Vitae entrevistou jovens latino-americanos. Estas são suas reflexões, que nos permitem acumular conhecimento sobre o que eles necessitam para este vínculo essencial entre os seres humanos e a água. • A água é um bem essencial para a vida em todas as suas formas, razão suficiente para desenvolver compromissos que garantam a conservação de suas funções hidrológicas, biológicas e químicas e que permitam recuperar (ou pelo menos manter) sua qualidade, de forma tal a garantir o abastecimento para toda a população atual e futura do planeta. • Todos os habitantes do planeta estão obrigados a ajustar as suas atividades aos limites e à capacidade autorreguladora da natureza. Cada geração tem uma obrigação e deve assumir um compromisso em relação à água que as próximas gerações irão beber, usar e aproveitar. Todas as pessoas, não só no meu país, devem assumir um compromisso verdadeiro com a água, que vai desde ensinar em casas e escolas sobre como se pode conservar e salvar este recurso, até praticar ações como fechar todas as chaves (torneiras) de nossas casas, não se prolongando mais tempo do que o necessário debaixo do chuveiro. Cada ação, por menor que seja, pode fazer a diferença. Sinto uma grande responsabilidade, pois na educação que me foi dada, muitas vezes explicaram-me que a existência da água está em minhas mãos, nas mãos da minha geração. Portanto, é muito importante que eu conheça as táticas para conservação dos recursos hídricos que a natureza nos oferece. ADRIANA LÓPEZ SALGADO, 18 anos. El Salvador. • O compromisso intergeracional deve reorientar para uma gestão da água integrada, integral, compartilhada e inteligente, que potencializa o bem-estar social e o desenvolvimento econômico de forma equitativa, sem comprometer a integridade dos ecossistemas, ou o direito das gerações futuras de usá-los como base de sua existência e qualidade de vida. Creio que o compromisso que deve existir em matéria de gestão e utilização dos recursos hídricos é fundamental e deve reger todas as nossas atividades, para que girem em torno disso. É de suma importância ter e criar consciência no cuidado e na boa gestão deste líquido vital. De minha parte, me sinto responsável, comprometida e capaz de fazer a diferença. Devemos nos comprometer na proteção e boa gestão deste recurso; as ações que serão realizadas vão desde algo tão simples como potencializar o uso em nossa casa, e, em toda atividade em que nos beneficiemos com o uso de água. Para o futuro, nosso objetivo deve ser preservar as bacias hidrográficas, bem como suas margens, evitando a poluição e o desmatamento para garantir a qualidade dos efluentes. EUGENIA HANDAL CHINCHILLA, 17 anos. Honduras. Aqua Vitae 9 Esta mensagem tem tido cada vez mais ressonância. “O primeiro compromisso que deve ser obtido é o das gerações atuais, para permitir que os jovens trabalhem plenamente em suas comunidades, para aprender, perguntar e proteger os recursos hídricos,” disse Marlitt Puscus, governadora indígena na região de Cauca na Colômbia, ao indicar que a juventude indígena está ligada de forma natural com a água e a natureza, ao passo que aqueles jovens criados em outras regiões não têm este vínculo. Estamosunidosàágua,eelanosuneporqueévida.Todos os seres humanos precisam deste recurso vital e estratégico para o desenvolvimento dos povos. Esta realidade exige que a sociedade como um todo estabeleça ações necessárias para garantir que a água - e a vida que dela depende - possam ser Somos nós, os jovens, que vão cuidar do uso da água no futuro; se a juventude não for ensinada, o futuro não prometerá muito, porque apesar da grande quantidade de água em todo o planeta, apenas uma pequena parte pode ser usada para consumo. Deve ser criada a cultura de uso da água e sua reutilização, quando isto for possível. Cada dia ela fica mais escassa, tornando-se mais difícil levá-la aos locais de consumo. Devemos salvar e tentar reutilizar a maior quantidade de recursos hídricos possível, porque se nada for feito agora, será tarde demais e só nos restará lamentar e dizer: por que não fiz isso antes? Precisamos ser conscientes de que somos milhões e milhões de pessoas com a mesma necessidade de tomar banho, beber água, lavar as mãos, escovar os dentes e puxar a descarga do banheiro. SANTIAGOBAÑUELOS,15anos.México. 10 AQUA VITAE conservadas para as gerações atuais e futuras. Não se pode deixar de compartilhar com os jovens uma das principais conclusões reveladas pela organização WWF no seu Relatório PlanetaVivo:aTerraexcedeusuacapacidadedereposiçãodos recursos naturais para as demandas humanas em 30% desde 2008. Atualmente consumimos recursos naturais equivalentes a 1,3 planetas por ano. “Talvezocenárioquedevamoscorrigiréoadultocentrismo, em que os adultos acreditam ter as respostas e as soluções. Esquecemos que são as novas gerações que têm uma maior consciência ambiental e esta é a ponte que devemos utilizar para aproximá-los do setor hídrico. Sem dúvida nenhuma, eles o fariam de forma constante”, assinala Marcelo Encalada, representante da ONU-Habitat da Bolívia e gerente de novas formas de associativismo pela água que contribuam para comprometer os jovens de forma natural e orgânica na tarefa de zelar pelos recursos hídricos. A professora na escola me ensinou o caminho que a água faz para chegar à represa, antes de vir até minha casa. Ensinou também sobre a importância da água para nosso uso. Eu faço algumas coisas todos os dias para não desperdiçar água: tomo banhos mais curtos, quando escovo os dentes não deixo a torneira aberta. Em vez de lavar o quintal com a mangueira, uso um balde com água. São coisas simples que gastam menos recursos hídricos e que farão com que o mundo tenha mais água no futuro. BEATRIZALVESSILVA,10anos.Brasil. MÃOS A OBRA “É preciso muita força de vontade, trabalho duro, e acima de tudo, conseguir um equilíbrio financeiro, que permitam ter os recursos econômicos necessários para ações de formação, treinamento e transferência de tecnologias para as novas gerações, para que ajudem na consolidação dos objetivos de acesso, consumo e demanda de água”, comentou Malva Rosa Baskovich, do Programa de Água e Saneamento do Banco Mundial. Betty Soto, representante regional da organização Water for people (Água para os povos), sugere-nos como fazê-lo: “É muito fácil. Devemos ter a clareza de que somos temporários e de que é nosso dever, como ocorre em todos os aspectos da vida, nos aproximar dos jovens. Não creio que falhamos em comprometê-los, visto que muitos jovens já estão trabalhando pela água. O que não devemos fazer nunca é transformá-los em alienados, mas sim envolvê-los cada vez mais”. “Estarão os jovens dispostos a se envolver neste esforço? São os jovens que vão cuidar do seu uso no futuro; se a juventude não for ensinada, o futuro não prometerá muito, porque apesar da grande quantidade de água em todo o planeta, apenas uma pequena parte pode ser usada para consumo”, argumentou Santiago Bañuelos, um jovem de 15 anos, que vive no México. Por estas razões que os entrevistados sustentam que, como em outros aspectos da vida, é preciso depositar nas mãos jovens o futuro de um dos tesouros mais preciosos da humanidade: a água. No presente deve-se cuidar da água, do mar e dos rios, para proteger as gerações futuras, porque a água é vida. Sinto-me responsável porque tenho que ajudar contribuindo com o cuidado da água. Recomendo à minha irmã e aos meus amigos para fecharem a torneira quando estão se lavando ou escovando os dentes, cuidando para que não haja nunca goteiras ou vazamentos. Aprendi que o ciclo da água consiste na evaporação da água do mar que sobe para as nuvens. Quando estas estão cheias, a chuva cai sobre o mar, rios, montanhas e se formam os picos nevados que logo derretem, levando a água para os rios e, em seguida, desembocando no mar. FÁTIMA CAVERO, 12 anos. Perú. A vida começou na água e sem ela não há nenhuma vida. Na escola me ensinaram que a água deve ser muito bem cuidada, já que até 2050, se continuarmos desperdiçando-a, haverá uma grande escassez. Em minha casa não colocamos remédios vencidos ou óleo na máquina de lavar louças, porque isso polui o mar. Quando tomo um banho longo, também dou banho no meu gato, porque aprendi que a água não deve ser desperdiçada. Tento sujar menos minhas roupas para usar menos detergente e apóio campanhas de proteção da água nas redes sociais. LAURA GARCÍA ECHEVERRI, 12 anos. Colômbia. AQUA VITAE 11 COMPROMISSOS INTERGERACIONAIS As autoridades regionais têm discutido e sistematizado seis níveis do compromisso entre as gerações para cuidar da água. Construir uma cultura da água, atribuindo responsabilidade à gestão com políticas públicas inclusivas e uma comunicação pública pertinente aos contextos. Gerenciar políticas para o manejo da água. Promover os Conselhos de Bacia Hidrográfica. Cultura da água GOVERNANÇA Proteção da água e dos serviços ecossistêmicos. Adaptabilidade, políticas e pagamentos de serviços hídricos. SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA Fonte: Sétimo Diálogo Interamericano sobre a gestão integral da água. Ministério do Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial da Colômbia. Rede Interamericana de Recursos Hídricos. 2011. Na minha escola me ensinaram que a água é vital para os seres vivos, plantas e animais; que é útil para beber, cozinhar, lavar, apagar incêndios e regar as plantas. Tem dois nomes: H2O e água. Podemos vê-la como neve, gelo, granizo e quando cai das nuvens, além de estar nos rios, mares e lagos. Minha professora, Isabel Pinto, ensinou-me na Semana da Ciência, que sem água não vivemos, é a primeira coisa para meu corpo. Ensinou-me que não devo desperdiçá-la, que devo fechar a torneira quando escovo os dentes, e que não devo jogar lixo nos rios. STEPHANIE NICOLE CALVO, 7 anos. Panamá. 12 Aqua Vitae Gestão da água em ambiente em alteração, enfrentando a mudança climática. O excesso e a falta de água como fatores de risco. No abastecimento, consumo humano, indústria, agricultura, geração de energia, conservação, entre outros. MUDANÇAS NATURAIS INDUZIDAS DESAFIOS E NECESSIDADES INFORMAÇÃO CONHECIMENTO TECNOLOGIA Gestão da informação do conhecimento e da tecnologia disponível, para incluir na gestão integral do recurso hídrico. Eu seria a voz para alertar que não utilizemos água em demasia nas casas e escolas para nossas necessidades, bem como para que não contaminemos rios, lagos e fontes de água com resíduos, lixo e óleo. Devemos proteger as árvores e as florestas, e procurar fazer campanhas de limpeza em rios, lagos e fontes de água. SAMIR SAAVEDRA LÓPEZ, 10 anos. Nicarágua. Ensinaram-me a importância da água na vida dos seres vivos, que é um recurso natural renovável e devemos cuidar dela. Aprendi isso na escola, em casa e em vários programas de televisão. A forma de cuidar da água é usando-a de modo racional, sem contaminar nossos rios e lagos, e cuidando de nossas florestas. JOSÉ MIGUEL DELGADO, 14 anos. Venezuela. Aqua Vitae 13 Autoridades latino-americanas fazem um balanço sobre o que cumprimos ou não neste compromisso fundamental. JUVENTUDE, DIVINO COMPROMISSO MICHELLE BACHELET Ex-presidente do Chile, diretora da ONU Mulheres. “Os jovens de comunidades rurais, em especial aqueles que vivem em zonas com baixa densidade populacional, têm problemas pelo déficit de grandes infraestruturas no transporte e na energia, e pela falta de serviços críticos para a sobrevivência, como o fornecimento de energia e água. Por isso, devem se comprometer muito mais em melhorar essas condições”. RIGOBERTA MENCHÚ Prêmio Nobel da Paz de 1992. “Agora a Mãe Natureza nos ensina de maneira generosa como cuidar dela e, especialmente, da sua alma que é a água. Estamos todos empenhados em transferir esses valores ancestrais de geração em geração. Só desta forma poderemos sobreviver e sermos gratos com nossa Mãe Natureza.” OSCAR ARIAS Ex-presidente da Costa Rica, Prêmio Nobel da Paz de 1987. “As grandes transformações humanas são um imperativo no qual o trabalho mais esperançoso é aquele que realizam as gerações de jovens. A força arrebatadora da juventude para gerar mudanças é o motor que deve alimentar a todos nós, a fim de navegar no mar aberto da esperança. Devemos assinar e nos comprometer com um acordo global no qual declaremos a paz à natureza como nossa principal aliada na busca do bem-estar e do desenvolvimento. Neste pacto, os jovens devem ser o testemunho vital da mudança, e a água, a tela, transparente e maravilhosa, de onde flui a força constante na construção de um mundo novo e melhor.” Pessoalmente sim, estou comprometido, já que todos os seres humanos são responsáveis por manter os recursos naturais do nosso planeta. Práticas de conservação como fechar a torneira para lavar a louça, as mãos e escovar os dentes, fomentam nos jovens um sentido de responsabilidade para a boa gestão da água. A humanidade está comprometida com a conservação dos recursos hídricos, que devem ser protegidos para o bem das gerações futuras; os seres humanos de todas as faixas etárias devem enfatizar os cuidados dos recursos naturais e, acima de tudo, da água, que dá vida. 14 Aqua Vitae MAURICIO VARGAS, 16 anos. Costa Rica. COMPROMISSO URGENTE Houve uma falha na transmissão de um maior compromisso com os valores transcendentais da água, o que nos deixa a responsabilidade de melhorar esta situação. A Aqua Vitae participou do II Encontro de Gestores Comunitários da Água e Saneamento, em setembro de 2011, no Peru. Este grupo se dedicou a analisar os desafios presentes e futuros da água e do saneamento. Ao colocar em perspectiva o que foi feito e o que falta fazer, a atenção recai naturalmente nas novas gerações, como agentes fundamentais para continuar o trabalho. Estas são algumas das chamadas feitas. Mirta Paez Presidente da Federação Paraguaia de Companhias de Saneamento (FEPAJUS). “Não se trata de analisar se falhamos ou não em envolver os jovens, o que devemos fazer é chamá-los a agir. Eles têm a força e o desejo de mudar o mundo, e que maneira melhor de fazer isso do que trabalhando pela água e pelo saneamento? Esta é uma questão fundamental que eles são capazes de compreender.” Jorge Tarzek Vice-presidente da Pepsico América Latina, Brasil. “A conscientização de comprometer as novas gerações com o setor de recursos hídricos deve começar a partir do setor empresarial. E como fazemos isso? Com o exemplo, com a responsabilidade de sermos gestores eficientes no uso da água, promovendo programas e ações concretas, para financiar programas que tenham como desafio a água, as pessoas e a sustentabilidade”. Carlos Enrique Juscamaita Aranguena Vice-ministro de Construção e Saneamento do Peru. “Os jovens não são o futuro do setor hídrico, são o presente. Eles estão comprometidos com o meio ambiente e devemos nos esforçar para que assumam a proteção da água como uma questão de trabalho e uma realidade de compromisso. Até hoje não conseguimos envolvê-los”. Reyna Galindo Presidente da Associação Comunitária do Progresso do Século (ACEPROS) de El Salvador. “Os jovens têm o entusiasmo, o impulso e a vontade de trabalhar. Mas muitas vezes são os adultos que não lhes dão confiança suficiente. Devemos mudar a nós mesmos, ajudando-os a se envolverem na proteção da água e a lutarem por suas comunidades Eu aprendi a fechar as torneiras quando não é necessário deixá-las abertas. Sinto-me responsável, porque prejudica as despesas econômicas da minha casa e também o meio ambiente. Devo cuidar da água, para que no futuro não haja nenhuma escassez e para que as florestas não se transformem em desertos. ANDRÉS DONIS, 15 anos. Guatemala. Aqua Vitae 15 ECONOmia 16 Aqua Vitae Vitae Aqua SANEAMENTO: UM ESFORÇO ECONÔMICO Obras + Investimento = Lucro É esta a operação financeira certa na região? O Por BORIS RAMÍREZ s números econômicos não deixam dúvidas. O estado de saneamento de um país pode modelar suas expectativas de desenvolvimento. De acordo com a Organização Mundial da US$35 Bilhões Saúde, os investimentos em saneamento nos países menos desenvolvidos gerariam benefícios com um valor estimado de 17.056 33.537 Honduras Nicarágua 43.715 Panamá 31.469 47.796 Bolívia Paraguai 47.986 Latina, segundo dados do Fundo Monetário Internacional Uruguai Bruto (PIB) gerado em 2010 nos seguintes países da América 51.130 lucro econômico, este valor é maior do que o Produto Interno Costa Rica US$ 35 bilhões anuais. Para se ter uma ideia do alcance deste (FMI): Honduras, com US$ 33,537 milhões; Paraguai, com US$ 31,469 milhões, e Nicarágua, com US$ 17,056 milhões; e um pouco menor do que o PIB de outros países da região, como o Panamá, com US$ 43,715 milhões; a Bolívia, com US$ 47,796 milhões; o Uruguai, com US$ 47,986 milhões, e a Costa Rica, com US$ 51,130 milhões, representando uma grande oportunidade econômica e financeira. PIB 2010 (US$ milhões) segundo o FMI. Aqua Vitae Vitae Aqua 17 Certamente o acesso à água de qualidade e aos serviços de saneamento tem efeito direto sobre o crescimento econômico dos países. Isto se deve ao desenvolvimento de condições ideais nos setores de produção, saúde e educação, que PARA LEVAR EM CONSIDERAÇÃO por sua vez afetam diretamente os indicadores da qualidade Para entender a situação do ponto de vista econômico, deve-se de vida das populações. O principal indicador é que, melho- levar em consideração três conclusões importantes do estudo rando a saúde dos habitantes de um país ou região, os gastos “Saneamiento como negocio: Enfoques para políticas basadas com cuidados de saúde básicos, hospitalização e funeral são en la demanda” (Saneamento como negócio: enfoques para evitados ou reduzidos. Crianças mais saudáveis podem parti- políticas com base na demanda), elaborado por um grupo cipar de modo mais eficaz de processos educativos, somando interdisciplinar constituído por Urs Heierli, Armon Hartmann, mais 200 milhões de dias de frequência escolar em nível mun- François Münger e Pierre Walther para a Agência Suíça para o dial, o que no futuro ajuda a diminuir os índices de pobreza. Desenvolvimento e a Cooperação (SDC), para o Programa de Uma menor necessidade de cuidados médicos para mulheres, Água e Saneamento para a América Latina (WSP-LAC), para crianças e idosos contribui ao mesmo tempo para redistribuir o Conselho de Colaboração para o Abastecimento de Água essas verbas para outros setores necessários para o desenvol- e Saneamento (WSSCC) e para o Centro Pan-americano de vimento, diz a Organização Mundial da Saúde. Engenharia Sanitária e Ciências Ambientais - Unidade de Saneamento Básico (CEPIS-BS). A melhoria da água e do saneamento aumenta a produtividade diretamente: a redução de doenças diarréicas, devido à Novas estratégias de posicionamento água insuficiente ou de baixa qualidade, significa a recupera- • O principal objetivo em matéria de saneamento é o au- ção de 3 bilhões de dias de trabalho estimados no mundo, pois mento acelerado de vasos sanitários. É importante reco- evita que os trabalhadores percam suas jornadas de trabalho nhecer que as instalações e os sistemas de esgotos são um por causa de doenças ou para cuidar de familiares doentes. nicho de mercado a ser atendido. Os recursos financeiros necessários para melhorar a quantidade e a qualidade da água disponível nos países em desen- • A sustentabilidade e o rápido crescimento devem dar ao setor a capacidade de oferecer e gerar emprego. volvimento devem vir de usuários, colaboradores e empresas operacionais públicas e privadas, afirma o Banco Mundial. O • As forças do mercado e o setor privado devem agir para Relatório Mundial do Desenvolvimento da Água diz que são incentivar os governos nacionais a projetar estratégias com necessários de US$ 92,4 bilhões a US$ 148 bilhões por ano visão de futuro. para construir e manter os sistemas de fornecimento, irrigação e saneamento básicos. • Devem ser preparados planos de saneamento com base na demanda, sob a liderança dos governos locais. Em novembro de 2011, ao comemorar o Dia Mundial do Banheiro, foi declarado que deve ser atendido o problema pre- • É possível superar o desafio de saneamento ao se buscar mente da falta de instalações sanitárias, já que “números da impulsionar forças econômicas juntamente com o compro- Unicef indicam que mais de 2,5 bilhões de pessoas não têm misso dos governos. acesso a condições básicas de higiene para fazer suas necessidades”. Ao ver a diferença que esses banheiros fariam na • Assim que o modelo de negócio é lançado, o governo deve economia em escala maior, compreende-se sem dúvida que o se distanciar de seu papel de prestador de serviços e se saneamento é uma decisão financeira rentável. tornar um facilitador e condutor do processo em geral. 18 Aqua Vitae EXEMPLO DE MOBILIZAÇÃO DO SETOR PRIVADO: INSTITUTO TRATA BRASIL O Instituto Trata Brasil surgiu da união de grandes empresas com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a sociedade civil sobre a importância da universalização do saneamento básico no Brasil. O Instituto é uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – que tem como objetivo coordenar uma ampla mobilização nacional para que o País possa atingir a universalização do acesso à coleta e ao tratamento de esgoto. As ações e estudos feitos pelo Trata Brasil repercutem em todo o país, principalmente alertando as pessoas e autoridades, através da imprensa, sobre a situação de carência local no abastecimento de água tratada, coleta e tratamento de esgotos. Nos últimos anos, o Trata Brasil vem sendo citado em mais de 3.000 matérias por ano, incluindo as principais TV´s, rádios, jornais, portais e mídia eletrônica. Este espaço na imprensa representou mais de R$ 90 milhões (US$ 52 milhões de dólares aproximadamente) em resultados de mídia espontânea no Brasil. A Aqua Vitae entrevistou o Presidente Executivo do Trata Brasil Edison Carlos. Como o Trata Brasil surgiu e qual o seu principal aporte para a sociedade? O Instituto Trata Brasil surgiu da união de grandes empresas com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a sociedade civil sobre a importância da universalização do saneamento básico, principalmente o fornecimento de água potável, coleta e tratamento dos esgotos que tantos problemas trazem à sociedade. Nosso principal aporte é contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população, especialmente protegendo nossos recursos hídricos e o meio ambiente com impacto na redução da mortalidade infantil. Quais os principais objetivos e metas do Trata Brasil? Além de informar e mobilizar a sociedade civil acerca da importância dos investimentos em saneamento básico, nossos objetivos são ampliar os investimentos e os recursos do Poder Público para o desenvolvimento do setor, de forma a atingir a universalização do saneamento básico em todo o país até 2025. O Trata Brasil atua com foco na ampliação dos serviços de atendimento em água tratada e esgotamento sanitário. O Trata Brasil é uma iniciativa que sai do setor privado e se transforma em um case de mobilização. Fale um pouco sobre este diferencial. As empresas que formam o Trata Brasil sempre consideraram que é fundamental explicar ao cidadão a importância dos serviços de água e esgotos para que ele priorize estes serviços na hora de escolher seus candidatos nas eleições. O Instituto Trata Brasil já surgiu, portanto, como um movimento de mobilização. Apesar da extrema importância dos serviços para o meio ambiente, para a qualidade de vida e saúde da população, o saneamento básico permaneceu por décadas esquecido pelo poder público. A ideia de que saneamento básico é obra enterrada e por isso não dá voto hoje se reduziu, mas infelizmente ainda continua valendo em várias cidades brasileiras. É fundamental, portanto, ter um movimento como o do Trata Brasil para que a sociedade cobre este direito que está previsto na Constituição do Brasil. Todas as ações desenvolvidas pelo Instituto Trata Brasil visam esclarecer as pessoas e mostrar às autoridades que a sociedade está mais atenta. Os estudos e ações são matéria-prima para que a imprensa divulgue, que os formadores de opinião se posicionem e que a própria população se mobilize cobrando de seus governantes a prioridade nos investimentos em saneamento. Saneamento básico é um direito do cidadão brasileiro e todos devem se mobilizar para termos esse direito atendido. Aqua AquaVitae Vitae 19 80% de todas as doenças no mundo decorrem da eliminação inadequada de dejetos humanos e de águas contaminadas com matéria fecal. POLÍtICA DE SUBSÍDIOS INtELIgENtES • Asforçasdemercadonãopodemgarantirointeresseea participação das empresas privadas. Subsídios (sejam dos governos, doadores, ONgs ou os subsídios para a água) desempenham um papel crucial no cumprimento do desafio do saneamento, mas devem ser aplicados com extremo cuidado e de forma sustentável. Dia Internacional do Banheiro 2011, UNICEF • Oapoiopúblicoparaacriaçãodemercadosouodesenvolvimento de cadeias de abastecimento é muito mais eficaz do que o subsídio para as operações básicas. NOVAS ALIANÇAS PARA O CRESCIMENtO • Ocustodebenseserviçosécrucial,eaacessibilidadedos • A prioridade é superar o desafio de saneamento e higiene, preços deve ser o foco central de qualquer estratégia. Essa que exige a participação ativa e o esforço integrado por todos acessibilidade deve ser tratada através de projetos mais os interessados: governo, sociedade civil e setor privado. baratos e não mediante subsídios, já que estes não são sustentáveis a longo prazo. • Aliderançadogovernoseráimportantenosentidodeatrair grandes empresas para a construção de sistemas de sanea- • Édemasiadocarosubsidiarinstalaçõessanitáriascomfos- mento para todos os setores da população. Os governos sas sépticas até um nível acessível para os segmentos mais locais serão responsáveis pela coordenação das pequenas pobres da sociedade, esta é uma ideia que não tem ne- e médias empresas, pela sociedade civil e pelas ONgs. nhuma chance de sucesso. • Umaatividadebásicaseráadefomentarparceriasnacio- • A única alternativa é um produto mais barato, projetado nais, sejam formais (missões especiais, grupos consultivos, para as classes mais baixas. Isto não significa que tenha comitês nacionais para o saneamento básico) ou informais. que ser um produto de baixa qualidade. Inovações em design e políticas flexíveis são essenciais para influenciar • Tambémdevemsercriadasaliançaslocaisindispensáveis para converter as grandes estratégias de saneamento na- a vida cotidiana dos pobres por meio de iniciativas de saneamento e higiene. cionais em ações concretas. • Os subsídios podem ser definidos de maneira que esta• É necessário envolver o setor privado nas alianças, para beleçam e fortaleçam as cadeias de abastecimento. Uma aproveitar sua ação e conhecimento sobre o mercado, os forma eficaz de usar os subsídios para desenvolver o setor preços e o estabelecimento de cadeias de abastecimento. de saneamento consiste em financiar o treinamento de pe- A participação da empresa privada é fator fundamental na dreiros, comerciantes e empresários. Os mercados rurais de superação dos desafios que enfrenta o subsetor de sanea- artigos sanitários são uma boa maneira de fazer com que mento e higiene. as cadeias de suprimentos sejam mais viáveis. 20 AquA VitAe VitAe AquA GOVERNO NACIONAL/LOCAL FAMÍLIAS E COMUNIDADES ATORES ECONÔMICOS DO SANEAMENTO FORNECEDORES E OPERADORES SETOR PRIVADO As Famílias e as comunidades mobilizam a demanda. São aqueles que exigem informações, produtos e serviços de saneamento, porque reconhecem o valor do saneamento na melhoria da qualidade de vida e nas oportunidades de desenvolvimento comunitário. Os Fornecedores e/ou operadores locais são aqueles que produzem, comercializam e prestam localmente serviços de operação e manutenção de saneamento na localidade. O Setor privado é o conjunto de organizações privadas, com ou sem fins de lucro, que oferecem produtos e serviços de âmbito nacional ou regional vinculados às tecnologias de saneamento e construção, formação, treinamento e capacitação, além de opções financeiras e de microcrédito. Os governos nacionais/locais são os promotores e os reguladores do mercado local para o saneamento. Sua missão é estimular o desenvolvimento de uma rede de fornecedores e operadores locais certificados, bem como assegurar a concepção e implementação de políticas integrais de educação sanitária e ambiental para o fortalecimento e liderança da população. ‘‘ Há mais pessoas com celulares e mais lares com televisões do que com instalações sanitárias. ‘‘ Aqua Vitae Vitae Aqua 21 casos: uRBaNo fotos: Sistema de Água Potável e de esgoto de león (SaPal) CIDADE COM ATITUDE León é uma cidade que cresce como motor da indústria de calçado e de serviços do México. Os problemas de abastecimento, preços mais elevados e mau tratamento das águas foram enfrentados diretamente, para continuar no caminho do crescimento. Por BORIS RAMÍREZ caracteríSticaS da comunidade A cidade de León está localizada no Estado de Guanajuato. É a sexta cidade mais populosa do México, com uma população de 1,7 milhão de pessoas na grande área metropolitana, de acordo com dados do Instituto Nacional de Geografia e Informática (INEGI). Esta próspera cidade tem como atividade principal a fabricação e a produção na indústria de pele de bovinos e suínos, sendo conhecida como a capital do calçado, com produção tanto para mercados nacionais quanto internacionais. Tem serviços de primeira classe na indústria hoteleira, o que a torna um dos centros mais importantes do México, com muitas opções de ensino universitário, entretenimento, gastronomia, lazer, arte e recreação. 22 AquA VitAe Situação inicial •A bacia do Lerma-Santiago é uma das nove mais contaminadas no México, os maiores problemas se devem a descargas no rio Turbio. •A cidade de León fornece 84,5% da água a esta sub-bacia do rio Turbio. Alia-se ao fato que León enfrenta uma crescente procura por recursos hídricos. •Esta é uma região com poucos rios. Há uma super exploração há uma sobre-exploração do aquífero e uma indústria de couro que gera grandes quantidades de águas residuais. León tem 571 curtumes em parques industriais e 225 em áreas urbanas. •O crescimento da cidade e as atividades industriais e agrícolas tornam cada vez mais necessário o uso sustentável da água. •O resultado desta situação é o aumento do custo do líquido na região de Bajío, derivado de fatores como a diminuição da disponibilidade ante o aumento constante da procura e o monopólio do recurso pelo setor agrícola. Como esta situação foi resolvida? Em 2007 foi formada a Comissão do Rio Turbio, com a participação das autoridades de sete municípios do Estado de Guanajuato e com a participação do Sistema de Água Potável e Saneamento Básico de León (SAPAL), que se juntou a este conselho na qualidade de organismo público urbano. A estratégia consistia em resolver o conflito entre as demandas da população urbana e as da indústria local, para reduzir os graves problemas de abastecimento de água sem afetar o desenvolvimento econômico da região. Foi necessário aumentar o volume de água disponível e reduzir o custo do serviço. A agenda de trabalho se concentrou nesses temas: poluição dos rios e riscos de inundação, paralisação da super-exploração dos aquíferos e gestão correta das descargas de águas residuais industriais. A aposta era conseguir mais recursos por meio do tratamento de água, resolvendo os impactos gerados. Resultados As ações permitiram: •A ampliação da Estação Municipal de Tratamento de Esgoto em 2008, com capacidade de mil litros por segundo. •A reabilitação de 8 estações (13 l/s) com benefício para 14.394 habitantes. Foi iniciada a construção de uma estação de tratamento (30 l/s) e trabalha-se para gerenciar recursos para seis estações de tratamento e para completar a meta antes do final do ano de 2012. •A entrada em operação do Módulo de Depuração, com capacidade de 150 litros por segundo, dedicado ao tratamento de água com elevado teor de poluentes em nove zonas industriais. • Produção de 16.000 m3 de biogás por dia como subproduto do processo de tratamento de água. •Investimento de US$ 2 milhões para projetos de geração elétrica e térmica, iniciados no ano de 2010. •Reutilização de água tratada: 50 litros por segundo em nove parques industriais e 140 litros por segundo para irrigação em áreas verdes, com sistema automático de enchimento de tubos em estações de tratamento. Ambos os projetos começaram em outubro de 2009. Aqua Vitae 23 casos: Rural Fotos: Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) COMUNIDADE PRODUTORA DETERMINADA A CRESCER Os vizinhos e produtores de Minas de San Carlos e Cruz de Eje, na província de Córdoba, na Argentina, recusaram-se a ficar de braços cruzados e se puseram a trabalhar para serem mais eficientes com os escassos recursos hídricos em áreas marginalizadas, com alta produção agrícola e pecuária. Por BORIS RAMÍREZ Características da comunidade Minas de San Carlos e Cruz del Eje, na província de Córdoba, na Argentina, localizam-se na região do Grande Chaco Sul-americano. Minas está situada a 230 km, e Cruz del Eje, a 150 quilômetros da cidade de Córdoba. São regiões com problemas de vias de comunicação. Os habitantes se dedicam à criação de bovinos, caprinos, ovinos e equinos. Na produção agrícola cultivam milho, verduras, frutas e tabaco. Há grandes extensões de florestas, depósitos de chumbo e prata, e poucos rios atravessam suas terras. 24 Aqua Vitae SITUAÇÃO inicial Resultados • No âmbito do Programa de Mitigação da Seca e de Adoção de Tecnologias de Irrigação Eficiente e de cursos especializados os resultados obtidos foram os seguintes: • • • Existem duas barragens construídas para irrigar 20.000 hectares de áreas cultivadas e a região de seca, dedicada ao gado. Nos últimos anos a diminuição do volume de chuvas aumentou. As comunidades, localizadas em 9 distritos (municípios), estão em uma região semiárida, com precipitações de 200 a 500 mm por ano, altas temperaturas no verão e solos de alta permeabilidade e elevada evapotranspiração. O acesso à água para irrigação e consumo diminuiu devido às alterações climáticas e a floresta nativa se deteriorou por causa de incêndios e desmatamentos. Houve um aumento no cultivo da soja, que chegou a 100% nos últimos 10 anos, e há uma grande área para a criação de gado, com animais que consomem entre 2,5 a 5 milhões de litros de água por dia. Em muitas localidades da área os aquíferos baixaram, diminuindo a qualidade da água pelo aumento da concentração de sais e bactérias, e em muitos casos os poços utilizados para água de consumo humano, da fazenda e para a irrigação de hortas familiares, secaram. • Trinta e cinco produtores tiveram sistemas de go- • • • • Como esta situação foi resolvida? No começo de 2006 iniciou-se um processo de organização socio-territorial para identificar e priorizar problemas regionais. Foi o ponto de encontro para cooperativas, Federação Agrária, grupos sociais, municípios, Ministério da Agricultura e Pecuária e Gestão de Recursos Hídricos de Córdoba. Foi solicitada assistência técnica ao Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) e formou-se um Conselho Consultivo para o Sistema de Irrigação. Foi criado o “Projeto de Melhoria do Uso da Água na Região”, que formulou um sistema que contempla dois aspectos : “Extrafinca” para potencializar o recurso com revestimento e melhoria dos canais, e “Intrafinca”, projeto de rede interna de irrigação pressurizada em determinado número de propriedades, que serviria de modelo para um aumento gradual na área irrigada pelo sistema. • • • tejamento em extensões de 3 a 6 hectares. Isto melhorou a eficiência na aplicação da água por meio de um sistema de irrigação pressurizada. Setenta produtores foram treinados no uso eficiente da irrigação e na comercialização de produtos. US$ 162 mil foram investidos pelo Plano Nacional de Segurança Alimentar do Ministério do Desenvolvimento Social da Nação. Este investimento foi complementado por US$ 117 mil em mão de obra das comunidades, como contrapartida. Dez comunidades foram beneficiadas com duas escolas agropecuárias que contam com internato misto, onde participam 240 alunos para o período de fortalecimento organizacional. Foram realizados trabalhos de aprofundamento de três poços em pedra e oito perfurações além da limpeza e a recuperação de três poços de antigas minas. Com estas obras se obtém água de excelente qualidade e taxas de fluxo de 2.000 a 20.000 litros por hora. Foram instalados 11 sistemas comunitários compostos de uma fonte de água comunitária, um depósito de 10.000 litros e armazenamento em tanques de 550 litros para cada família. Quarenta quilômetros de redes de distribuição de água, cavados em valas e montados, e a construção das bases dos tanques. Vinte módulos de captação de água com capacidade para cinco mil litros. Aqua Vitae 25 legislação 26 26 Aqua Vitae Aqua Vitae BALANÇ O DAS LE IS: ÁREAS DE INCERTEZAS NA QUESTÃO DA LEGISLAÇÃO DETÊM AVANÇOS NA AMÉRICA LATINA Compilado e revisão das legislações sobre a água Por BORIS RAMÍREZ Foto: David Ruiz Aqua Vitae Aqua Vitae 27 27 F luem pela América Latina as mudanças nas leis Um exemplo disto é o esforço realizado pela GWP (Global sobre a água nos últimos anos. As iniciativas são Water Partnership) América Central, com a colaboração da constantes e a maioria dos países da região con- União Europeia, do Programa de Desenvolvimento das Zonas duz mudanças nas suas constituições, leis e orga- Fronteiriças da América Central e do Banco Centro-ameri- nizações responsáveis pela gestão e utilização dos recursos cano de integração Econômica no estudo “Situación de los hídricos, o que está trazendo mudanças significativas na re- recursos hídricos en Centroamérica. Hacia una gestión inte- lação entre as sociedades e esses recursos. grada” (Situação dos recursos hídricos na América Central. Rumo a uma gestão integrada), que sistematiza aspectos re- Mas estas reformas não têm sido uniformes. Uruguai, Bolívia, levantes do setor, incluindo o quadro institucional e jurídico Equador, México e Venezuela já declararam a água como um do setor de recursos hídricos. direito humano nas suas constituições. Peru, Brasil, Chile, Nicarágua, Colômbia e México reformaram a estrutura insti- Vamos fazer um apanhado sobre como estamos atualmente tucional do setor. Os outros países – a maioria – encontram- na América Latina com relação a essas leis, com base na apli- se no caminho para incluir mudanças legais e institucionais. cação e busca de informações junto aos órgãos reguladores, Em muitos deles o que persiste é o debate setorial sobre Congressos e Assembléias Legislativas da região. alterações a serem feitas. As novas leis concentram-se em “objetivos sobre como possibilitar, proteger e promover a participação e o investimento privado; reduzir a pressão sobre os orçamentos estatais e reorientar o gasto público para outras demandas politicamente mais urgentes; e melhorar a eficiência econômica no aproveitamento dos recursos hídricos e na prestação de serviços públicos relacionados com a água”, argumenta Andrei Jouravlev, especialista da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe). Os debates setoriais discutem constantemente sobre as mudanças nas leis, já que contemplam tópicos como: a forma e as condições de fornecimento dos direitos da água, a formulação e a aplicação de marcos regulamentares, a organização da institucionalidade necessária para a gestão do uso múltiplo da água, a viabilidade da criação de mercados de água e a aplicação de instrumentos econômicos, entre outros. 28 AquA VitAe EQUADOR •Em sua Constituição declara a água como um direito humano fundamental. •Existe a Política Nacional de Água e Saneamento, publicada em 2002, essa política está formulada em termos relativamente gerais. •Foi preparado um anteprojeto da Lei Orgânica dos Serviços de Água Potável e Saneamento, mas ainda não foi apresentado ao Congresso, devido a um debate nacional sobre a questão. •O Ministério do Desenvolvimento Urbano e Habitação (MIDUVI) está legalmente encarregado e, portanto, com poder de estabelecer as políticas setoriais. No entanto, não existe uma definição clara dos papéis e das responsabilidades dos diferentes setores. PARAGUAi •Lei n.º 1614/00 de 2000 estabelece um marco regulador e taxas para o setor da água. Amparada por esta lei foi criada a Agência Reguladora dos Serviços de Saúde (ERSSAN). •Não existe um órgão de gestão para o setor, mas a formulação de políticas recai sobre o Ministério de Obras Públicas e Comunicações, que não tem desenvolvido políticas setoriais. •Os serviços de água e saneamento são fornecidos por três prestadores: Empresa de Serviços de Saúde do Paraguai (ESSAP), distribuidores de água (entregam água em casa) e Companhias de Saneamento. BOLÍVIA •A Lei de Serviços de Água Potável e Rede de Esgoto proposta em 1999 foi revista em 2000 e se converteu na Lei n.º 2066, chamada de “Água para a Vida”. •Em sua Constituição Política declarou a água como um direito humano. •O Ministério da Água foi criado em janeiro de 2006, que unificou atribuições no setor da água que eram da responsabilidade de três Ministérios: A água potável e o saneamento estavam sob responsabilidade do Vice-Ministério de Saneamento Básico (VSB) do Ministério de Habitação e Serviços Básicos; a irrigação esteve a cargo do Ministério dos Assuntos Rurais e a gestão do meio ambiente estava sob a responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente. •A regulamentação das empresas prestadoras de serviços de água potável está a cargo da Autoridade da Fiscalização e Controle Social de Água Potável e Saneamento Básico (AAPS), criada no ano de 2009, que outorga licenças e concessões para serviços, e estabelece os princípios para fixar preços, tarifas, taxas e cotas. A AAPS é uma instituição técnica e operacional pública, com pessoa jurídica e patrimônio, independência administrativa, financeira, jurídica e técnica, subordinada ao Ministério do Meio Ambiente e da Água. Aqua Vitae 29 BRASIL •A partir dos princípios e obrigações estabelecidos na Constituição de 1988, institui-se no Brasil, em 1997, a Política Nacional de Recursos Hídricos e é criado o Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (SINGREH). Seus fundamentos são: (i) água como bem de domínio público; (ii) água como recurso limitado, dotado de valor econômico; (iii) prioridade para consumo humano; (iv) uso múltiplo das águas; (v) bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão; e (vi) gestão descentralizada e participativa. •Para pôr em prática estes princípios e garantir a descentralização e a participação social, o SINGREH tem um conjunto de órgãos de decisão composto por colegiados regionais deliberativos que serão instalados nas unidades de planejamento e gestão, chamados de Conselho das Bacias Hidrográficas de Rios Nacionais e Conselho de Bacias Hidrográficas de Rios Estaduais; e por órgãos executivos das decisões dos colegiados regionais e pelas Agências de Água de âmbito nacional e estadual. •A distribuição de competências entre a União (nível federal) e os Estados em relação ao domínio das águas é a seguinte: a União é proprietária de lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam para o território estrangeiro ou provenham dele; a União é proprietária de energia hidráulica potencial, pelo que lhe compete explorar diretamente ou mediante autorização, concessão ou licença, os serviços e instalações de energia e o aproveitamento enérgico dos cursos de água, em coordenação com os Estados onde se situem as usinas hidrelétricas; e os Estados são titulares das águas superficiais ou subterrâneas, correntes, emergentes e em depósito, exceto neste caso, as derivadas de obras da União. •A Agência Nacional de Águas (ANA) é uma entidade autônoma, administrativa e financeira, ligada ao Ministério do Meio Ambiente, criada pela Lei N.° 9.984 do ano de 2000, para a implementação da Política de Recursos Hídricos. Suas principais competências são: (i) conceder direitos de uso da água; (ii) fiscalização dos usos e dos usuários de recursos hídricos; e (iii) a cobrança pelo uso da água podendo delegar tarefas de agências de operação da água de bacias hidrográficas que são organismos executivos responsáveis pela execução das decisões dos respectivos Comitês de Bacias Hidrográficas. •Mais recentemente, tendo em conta o sucesso da implementação da Agência, foi adicionada à sua competência a regulamentação do fornecimento de água para os perímetros de irrigação em regime de concessão pública e a organização do sistema nacional de segurança dos açudes. 30 Aqua Vitae URUGUAi •Ele foi o primeiro país da América Latina a realizar um referendo sobre a água. •As alterações do ano de 2004 à Constituição consagram o acesso à água potável e aos serviços de saneamento básico como um direito do povo e proíbem qualquer forma de participação do setor privado no setor da água. •O Ministério da Habitação, Gestão Territorial e Meio Ambiente é responsável pelas políticas setoriais de água e saneamento, por meio da Direção Nacional de Água e Saneamento (DINASA). •A Unidade Reguladora de Serviços de Energia e Água (URSEA) tem como responsabilidade regular as taxas e a qualidade dos serviços. •O Comitê Consultivo sobre Água e Saneamento (COASAS) reúne representantes de vários Ministérios, da sociedade civil, dos usuários e do setor privado para aconselhar o governo sobre questões de água potável e saneamento. COLÔMBIA •A lei 142 de 1994 (Lei dos Serviços Públicos Nacionais) e leis subsequentes regulam o setor. •O Vice-ministério de Água e Saneamento foi criado no ano de 2006 no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial, e é responsável por estabelecer a política setorial. •Este departamento criou 4 programas e seu conteúdo: Planos Departamentais da Água e Saneamento; Programa de Saneamento para Assentamentos (SPA) no âmbito de um Programa de Melhoramento Global de Bairros; Programa de Saneamento de Lixões Municipais para aumentar o volume de água municipal tratada e o Programa de Lavagem das mãos. •Mil e duzentas organizações sociais da Colômbia entregaram, em outubro de 2008, um total de 2.039.000 assinaturas para realizar um referendo e conseguir declarar a água como um direito humano na Constituição Política. Os promotores também queriam que a Constituição garantisse um “mínimo vital” de água gratuita, protegesse os ecossistemas e estabelecesse que a gestão da água potável seja pública. Este referendo foi postergado na Câmara dos Representantes. VENEZUELA •A Lei Orgânica para a Prestação dos Serviços de Água Potável e Saneamento de dezembro de 2001 tinha a finalidade de transferir a responsabilidade pela prestação dos serviços aos municípios; criar uma agência reguladora; estabelecer uma entidade setorial responsável pela formulação de políticas e pelos aspectos financeiros; e criar uma empresa nacional de água e o estabelecimento de um Fundo de Assistência Financeira para canalizar os recursos públicos. •O Ministério do Poder Popular para o Meio Ambiente é responsável pela definição de políticas de água e saneamento. O Ministério do Poder Popular de Indústrias de Energia Elétrica e Comércio define encargos máximos e admissíveis para o setor. Aqua Vitae 31 EL SALVADOR •Não existe uma lei geral de água nem de água potável e saneamento. •A Administração Nacional de Aquedutos e Esgotos (ANDA), é o órgão responsável do setor e o principal provedor de serviços urbanos. Não existe uma agência reguladora. •O Ministério da Saúde é responsável pelo controle da qualidade da água potável. O Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais é responsável pela gestão dos recursos hídricos. O Ministério da Economia aprova ajustes para as taxas de água. •Desde meados do ano de 2010, o governo de El Salvador formou uma Comissão Técnica Interinstitucional integrada por 13 instituições do governo relacionadas com a questão da água; sob a condução da Secretaria Técnica da Presidência e do Ministério do Meio Ambiente, tem se trabalhado no processo de Reforma Hídrica Nacional. Participam também neste ambicioso esforço do estado salvadorenho ONGs, usuários, agências de bacias hidrográficas, associações de produtores, universidades e outros intervenientes ligados à água; e foi estabelecido como meta para 2012 poder contar com: i) Política Integral de Recursos Hídricos, ii) Lei Geral de Água, iii) Estratégia Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos, iv) Plano Nacional de Gestão Integrada dos Recursos Hídricos. •Da mesma forma, um nível setorial está sendo trabalhado para contar com uma Política e uma Lei de Água Potável e Saneamento; bem como uma Política e uma Lei de Irrigação e Escoamento. 32 Aqua Vitae COSTA RICA •A Lei da Água data do ano de 1942. Mais tarde foi criado por lei o Instituto de Aquedutos e Esgotos da Costa Rica (AyA), a Lei de Água Potável e Saneamento Básico e a Lei Geral de Saúde. • O país não conta com apenas um corpo normativo, sistemático e coerente que regule de forma global a proteção, extração, utilização e gestão eficiente dos recursos hídricos. Estima-se que existam cerca de 120 leis e decretos que capacitam diversos aspectos da gestão da água. •A prestação de serviços são oferecidas pelas seguintes entidades: Instituto de Aquedutos e Esgotos da Costa Rica (AyA); Empresa de Serviços Públicos de Heredia e pelas Associações Administradoras de Sistemas de Aquedutos e Esgotos Sanitários (ASADAS). •Existem dois projetos de lei apresentados à Assembleia Legislativa, e há uma intenção por parte do Poder Executivo de transformá-los em apenas um. •O órgão responsável é o Ministério do Meio Ambiente, Energia e Telecomunicações. O AyA é o responsável na questão da água potável. ARGENTINA •Não existe nenhuma lei sobre a água em nível nacional. Como a Argentina é um país federal, são as províncias que têm a responsabilidade de formular suas políticas do setor e estabelecer as normas em sua área geográfica de competência. •A Subsecretaria de Recursos Hídricos, mediante a Secretaria de Obras Públicas, propõe as políticas setoriais perante o Ministério do Planejamento Federal, Investimento Público e Serviços, que é o órgão responsável em aprová-las. •Neste âmbito, o Organismo Nacional de Obras Hídricas de Saneamento Básico (ENOHSA) é uma entidade descentralizada dependente da Secretaria de Recursos Hídricos, encarregada de proporcionar o financiamento e a assistência técnica aos prestadores de serviço de água potável. PANAMÁ •A Lei da Água vigente é o decreto Lei N.° 35 de 1966, e a lei das bacias hidrográficas é a N.° 44 de 1999. •O Ministério da Saúde é o órgão responsável do setor e define as políticas. A Autoridade Nacional de Serviços Públicos tem a responsabilidade de regulamentar as tarifas dos serviços de água e saneamento nas zonas urbanas. •A responsabilidade da gestão das bacias hidrográficas está compartilhada com a Autoridade Nacional do Meio Ambiente (ANAM), e a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) é responsável pela Bacia do Canal do Panamá. NICARáGUA •A Lei Geral de Águas Nacionais foi promulgada em 2007. Esta lei prevê a gestão dos recursos hídricos e não diretamente da água potável. •A Lei Geral de Águas Nacionais cria um novo Sistema de Administração da Água, composto por um Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) como a instância de coordenação de nível superior para a gestão dos recursos hídricos, pela Autoridade Nacional da Água (ANA) e por 21 organismos de bacia hidrográfica. •Estabelece o Fundo Nacional de Água (FNA) como um mecanismo de gestão financeira que opera dentro da ANA, cuja função é financiar o Plano Nacional de Recursos Hídricos, os planos para bacias hidrográficas e demais ações previstas na Lei. O Fundo será alimentado, entre outros recursos, através do pagamento de taxas pelo uso da água e seus bens públicos inerentes, além de multas, doações ou contribuições do Estado. Estabelece igualmente o Registro Público Nacional de Direitos da Água, que visa dar segurança jurídica às concessões outorgadas. •Com relação ao setor de Água Potável e Saneamento, a lei o define como um usuário, mas estabelece que tem a mais alta prioridade, considerando que a ANA não poderá estabelecer nenhuma taxa pela exploração e deve fazer um planejamento e inventário dos recursos hídricos que podem ser usados no futuro com fins de abastecimento humano. A ANA outorga as concessões aos operadores, tanto urbanos quanto rurais, e também aprova as normas de qualidade da água para consumo humano. Aqua Vitae 33 CHILE •Tem um Código das Águas e três leis relativas ao regulamento, subsídios e fomento ao investimento privado em irrigação e drenagem, além de 15 decretos diferentes contidos em todo o setor. •O Ministério de Obras Públicas outorga as concessões e promove o abastecimento de água e o saneamento básico em zonas rurais através do seu Departamento de Programas de Saneamento. •A responsabilidade regulamentar em áreas urbanas é compartilhada pelo órgão regulador econômico, pela Superintendência de Serviços de Saneamento (SISS) e pelo Ministério da Saúde, que estabelece as normas de qualidade sobre água potável. •O Código das Águas define simultaneamente a água como um bem nacional de uso público e como bem econômico, o que possibilita sua gestão de acordo com diretrizes e códigos da propriedade privada, constitucionalmente protegida. Esta definição promove o regulamento do uso e o acesso aos recursos hídricos, principalmente através do “mercado da água”, no qual prioriza a dinâmica da oferta e da procura. •O titular que obtém o direito à água deve declarar onde e quando usará a água, seja para os fins solicitados ou para usos alternativos posteriores, podendo manter indefinidamente este direito sem usá-lo. Desde a reforma do Código das Águas existe um pagamento pelo não uso deste direito. HONDURAS •Antes do ano de 2009, o quadro jurídico estava constituído por uma lei de Aproveitamento das Águas Nacionais que havia sido aprovada em 1927, que tinha muitas fragilidades e carecia de uma política nacional para o setor. •Em agosto de 2009, o Congresso aprovou a Lei Geral das Águas. Atualmente trabalha-se em seu regulamento. •A nova lei contém 101 artigos e altera o decreto N.º 131 de 12 de janeiro de 1982 da Constituição da República de Honduras, ao declarar a água como um direito humano, submetendo seu uso preferencial ao consumo das pessoas para a preservação de sua vida e saúde. •O comando do setor estará a cargo da Secretaria de Estado nos Gabinetes de Recursos Naturais e Meio Ambiente (SERNA), e cria como organismo descentralizado, a Autoridade da Água, com um braço técnico que integra serviços meteorológicos e hidrológicos em uma única instituição. •No início de 2010, o Congresso Nacional aprovou um Plano de Nação para o ano de 2023, que inclui uma unidade de planejamento chamada “a conta hidrográfica”. Assim, ambos os decretos permitem desenvolver os esforços no sentido de uma gestão integrada dos recursos hídricos em Honduras. 34 Aqua Vitae PERU •A Lei de Recursos Hídricos N.º 29338 foi aprovada em março de 2009. •Esta lei declara que não há nenhum direito de propriedade particular sobre a água e mantêm elementos anteriores como: sistema de direitos transferíveis, possibilidade de revogar os direitos devido à falta de pagamento e prioridades de atribuição. •O Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos foi criado com o objetivo de articular as ações e os processos de gestão nas bacias, nos ecossistemas e nos bens associados. •Foi fortalecida a criação da Agência Nacional da Água, criada no ano de 2008, como responsável por monitorar e controlar o uso do recurso e financiar obras. MÉXICO •A Lei de Águas Nacionais de 1992 foi alterada em 2004. •As políticas federais que regem as concessões para o uso da água são estabelecidas pela Comissão Nacional de Águas (CONAGUA), uma dependência autônoma da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (SEMARNAT). • A CONAGUA estabelece um sistema nacional de informação e publica informações sobre o sistema de águas nacionais, além de preparar balanços sobre a quantidade e a qualidade da água em nível regional. •Em 1992, a Lei de Águas Nacionais contempla a transferência de certas funções, tanto em nível federal quanto estadual, para as instituições recém criadas com relcação às das bacias hidrográficas, incluindo decisões financeiras, através da criação de um Sistema Financeiro da Água. GUATEMALA •A legislação baseia-se na Constituição, que declara a água como um bem de domínio público inalienável e imprescritível. Também garante o direito à saúde, ao meio ambiente e à autonomia municipal. •O setor conta com um conjunto de normas dispersas em todo o sistema jurídico, que abordam problemas de foco limitado, relacionados com a prestação do serviço, proteção de fontes hídricas, qualidade e tratamento de água. O órgão responsável da Água e do Saneamento é o Ministério da Saúde Pública e da Assistência Social, enquanto o Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais rege questões relativas à água como recurso, a gestão de bacias hidrográficas e assuntos relacionados com a gestão da qualidade ambiental. •Os municípios são responsáveis por prestar os serviços de água potável e de saneamento básico. •Em 2007, a comissão de Recursos Hídricos do Congresso, juntamente com a do Meio Ambiente, Ecologia e Recursos Naturais, propôs uma nova lei para a utilização e a gestão sustentável da água. •No ano de 2008 foi estabelecido o Gabinete Específico da Água como órgão responsável por coordenar esforços em políticas, planos e orçamentos do setor. •A Política Nacional da Água e sua Estratégia foram emitidas em 2011. Aqua Vitae 35 Foto: Nasa Earthobservatory AMBIENTE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Por BORIS RAMÍREZ VALOR SOB A TERRA 36 AquA VitAe Os aquíferos são recursos pouco conhecidos, cada vez mais usados e com regulamentação escassa. Na América Latina, são fundamentais para o desenvolvimento sustentável e, a cada dia, é mais alto o brado para conhecê-los, entendê-los e protegê-los. C ientistas brasileiros descobriram, em agosto de 2011, indícios da existência de um rio subterrâneo que corre abaixo do rio Amazonas, a 4 mil metros de profundidade. A descoberta foi feita pelos especialistas de geofísica do Observatório Nacional brasileiro, chefiados pelo professor Valiya Hamza e pela geofísica Elizabeth Tavares Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas. Foram estudados 241 poços perfurados pela Petrobras nas décadas de 1970 e 1980 para extração de petróleo e, de acordo com esses estudos, abaixo do Amazonas correria um rio subterrâneo de semelhante extensão, mas com o dobro da largura e o triplo de descarga fluvial. A descoberta ganhou o nome de rio Hamza, em homenagem ao acadêmico que orientou a pesquisa. “Este recurso de água subterrânea está em uma região onde há água doce e abundante na superfície. Por isso, perfurar poços para captar esta água não é economicamente viável. Todavia, a região oeste do Brasil, no estado do Acre e nos Andes peruanos, há zonas mais secas, onde esta água poderia ser aproveitada. Além disso, como no Amazonas, o rio Hamza desemboca no Oceano Atlântico, na região da Ilha do Marajó, o que modifica a salinidade da água e faz surgir um ecossistema de vida aquática diferente. Um dado interessante é que embora seja bastante intenso, o fluxo de água não foi considerado na estimativa do balanço hídrico da região”, comenta o professor Hamza. Esta recente descoberta volta a dar destaque ao significado do valor estratégico e da necessidade de proteção dos recursos hídricos subterrâneos, coincidindo com uma das colocações que o Fórum de Água das Américas preparou como um dos temas regionais para ser tratado no Sexto Fórum Mundial da Água, na França. É importante ter clareza sobre o papel de todas as fontes de água, inclusive as subterrâneas, “para manter um equilíbrio, aceito pela sociedade, entre a conservação dos ecossistemas aquáticos, seus serviços aos demais ecossistemas e ao uso para as atividades econômicas”, conforme explica Fernando Veiga, gerente de Serviços Ambientais da organização The National Conservanci. ‘‘ Calcula-se que as águas subterrâneas representam 98% do volume total de água doce de todo o planeta. ‘‘ FUNDAMENTAIS E ESTRATÉGICOS Calcula-se que as águas subterrâneas representam 98% do volume total de água doce disponível em todo o planeta. Estão armazenadas em aquíferos localizados em diferentes níveis de profundidade: desde os que estão pouco profundos, sem confinamento, situados a apenas alguns metros de profundidade, até sistemas confinados, a vários quilômetros sob a superfície. “Na América Latina e no Caribe, a água subterrânea é um recurso vital que desempenha um papel estratégico cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável. Ela será ainda mais importante nos próximos anos, à medida que a escassez de água e o aumento das variações climáticas virarem grandes preocupações mundiais. Por exemplo, o Sistema Aquífero Guarani (SAG) – localizado nas fronteiras entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – é uma das maiores reservas mundiais de água doce, com uma superfície de 1,2 milhões de km² e uma capacidade de armazenamento estimada em 40.000 km³”, argumenta a especialista em águas subterrâneas Michela Miletto, em um estudo conjunto da Organização de Estados Americanos (OEA). Em nossa região, está sendo desenvolvido um importante programa chamado de Aquíferos Transfronteiriços das Américas, cujo principal objetivo é melhorar a compreensão, o intercâmbio e a comunicação sobre assuntos científicos, socioeconômicos, jurídicos, institucionais e ambientais, relativos ao gerenciamento dos aquíferos transfronteiriços. (Vide quadro) A rota traçada é de conscientização e difusão do conhecimento de que esses aquíferos são recursos pouco conhecidos, cada vez mais usados e com regulamentação escassa. AQUA VITAE 37 AQUÍFEROS SÃO... Aquíferos são depósitos subterrâneos de água acumulados em terrenos rochosos permeáveis, dispostos sob a superfície, por onde circulam grandes volumes de água subterrânea de ótima qualidade para o consumo humano, mas com um ecossistema de extrema fragilidade, em especial, em caso de contaminação. Tanto os aquíferos como as águas superficiais são fluidos, livres e não respeitam nenhum limite geográfico administrativo. A diferença entre a quantidade de precipitação e a quantidade de água que flui nos rios é filtrada no solo, formando os aquíferos. A filtragem depende das características físicas dos terrenos rochosos: se a camada impermeável forma uma depressão, pode surgir um lago subterrâneo. Por outro lado, se a camada impermeável estiver inclinada, é possível que se forme um rio subterrâneo. Diferentes materiais podem formar os aquíferos, tais como barro, areia, conchas e pedra calcária. Neles podemos encontrar água doce e salgada, que preenche diferentes tamanhos de fendas e poros. Em geral, a água doce fica na parte mais alta, e a salgada, na mais profunda. Quando confinada, a água do aquífero está sob pressão. Isto possibilita sua elevação em um poço na parte superior do aquífero (e, em alguns lugares até sobre a superfície de terra) sem ser preciso uma bomba, criando-se, assim, um rio artesiano livre. CRITÉRIOS DOS SETORES • Enquanto a extração e distribuição de água forem unilaterais em uma bacia compartilhada, sempre haverá afetação das capacidades de recarga das fontes de água, principalmente dos aquíferos, cuja natureza por si só é bastante vulnerável. Carmen Maganda, Doutora em Antropologia Social pelo Centro de Pesquisas e Estudos Superiores em Antropologia Social (CIESAS), México. • Nas zonas áridas e semiáridas, os recursos de água subterrânea têm uma relevante importância no abastecimento para consumo humano e irrigação. Para conhecer bem seu valor, é necessário relacionar e analisar a demanda de água disponível, para um uso racional do recurso. Rodolfo García, Doutor em Ciências Geológicas da Universidade Nacional de Salta, Argentina. • Em muitas regiões do mundo, o valor econômico da água subterrânea está aumentando devido ao crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico (e, por fim, ao aumento da demanda de água). Outros motivos são a contaminação de bacias de água superficial e, cada vez mais, a variação climática e a necessidade de contar com um recurso à prova de secas. Karin Kemper e Stephen Foster. Bank-Netherlands Water Partnership Program. Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais, México. rio bomba nível hidrostático bomba bomba areia afundamento geológico lago poço superficial sistema de aquífero superficial unidade semiconfinadora ro sistema de aquífero intermediário ág ua ág ua do sal ga AquA VitAe ma e ist ce da 38 q e uíf S a de RECOMENDAÇÕES MAIS PROFUNDAS O Programa Hidrológico Internacional da UNESCO e da OEA para a América Latina e Caribe concentra seu trabalho nos aquíferos transfronteiriços. Em 2008, foram feitas as recomendações abaixo com o propósito de chamar a atenção para esta realidade. LEGISLAÇÃO NACIONAL ENTENDIMENTO SOBRE AQUÍFEROS TRANSFRONTEIRIÇOS Avançar na definição e avaliação dos aquíferos de cada país da região. Formar um esforço de cooperação que implique no intercâmbio de dados e informações. Consolidar a legislação sobre águas subterrâneas, como resultado da política hídrica. Avançar paulatinamente rumo à elaboração de planos coordenados entre os países que compartilham um mesmo aquífero. Priorizar o conhecimento sobre os aquíferos. A criação de mecanismos de coordenação favoreceria o processo de intercâmbio e a adoção de medidas benéficas para uma melhor gestão do recurso hídrico. Realçar o âmbito legislativo da identidade do regime legal das águas subterrâneas. Acertar entendimentos binacionais ou regionais que considerem a unidade dos aquíferos transfronteiriços. Aumentar o conhecimento desses reservatórios como zonas de recarga e descarga, bem como sua importância no ciclo hidrológico. A coordenação, por sua vez, pode se enquadrar em um esquema institucional simples que a facilite e sustente. Conduzir uma gestão adequada e os registros de usos para a proteção do recurso hídrico, tanto em sua quantidade quanto em sua qualidade. - Na região, já foram identificados 59 aquíferos transfronteiriços: 35 na América do Sul, 13 na América Central, 8 na América do Norte e 3 no Caribe. Os mais extensos estão na América do Sul. Veja alguns deles. Nome do Aquífero Localização Extensão GUARANÍ Argentina/Brasil/Paraguai/Uruguai 1.3 milhões km 2 TOBA/IRENDA/CHACO TARIJEÑO Argentina/Bolivia/Paraguai 600 mil km 2 CAIUÁ/BAURU/ACARAI Brasil/Paraguai 300 mil km 2 PANTANAL Bolivia/Brasil/Paraguai 130 mil km 2 TITICACA Bolivia/Peru 120 mil km 2 PERMO/CARBONÍFERO Brasil/Uruguai 41 mil km 2 LITORANEO/CHUI Brasil/Uruguai 41 mil km 2 LITORAL/CRETÁCICO Argentina/Uruguai 40 mil km 2 SALTO/SALTO CHICO Argentina/ Uruguai 32 mil km 2 AGUA DULCE Bolivia/Paraguai 30 mil km 2 BOA VISTA/SERRA DO TUCANO/NORTH SAVANNA Guiana/Brasil 24 mil km 2 Fonte: Sistema Internacional de Aquíferos Compartilhados Aqua Vitae 39 Breves do mundo Destaques mundiais em reuso da água É cada vez maior o número de cidades e países que usam águas recicladas, como um mecanismo inovador para dar sustentabilidade aos recursos hídricos. Água reciclada é aquela que, após o uso em atividades domésticas, industriais ou de produção intensiva, recebe um tratamento que permite – de acordo com o cumprimento de alguns padrões – sua reintegração a sistemas hidráulicos, voltando a ser usada. Uma pesquisa da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos reconhece os exemplos abaixo: • Namíbia: Na capital, Windhoek, as águas residuais são altamente tratadas, sendo reutilizadas como água potável. É o único exemplo de reúso direto no mundo. • Austrália: A água reciclada destina-se a vários usos: produção de neve para estações de esqui, uso em privadas e irrigação de plantações. • Japão: As águas recicladas são usadas na irrigação de parques, campos de golfe e de esportes, assim como na lavagem de automóveis, no controle de incêndios e em diversas aplicações em edifícios comerciais e residenciais. • Reino Unido: As águas residuais tratadas são usadas em atividades como criação de peixes, lavagem de automóveis e irrigação de campos de golfe. • Paquistão: as águas residuais tratadas são usadas na irrigação de hortaliças, do trigo e de cultivos de pasto para o gado. Fonte: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos Maior hidroelétrica do mundo é movida com a força do mar Trabalho coletivo A zona de lagos de Sanjiangyuan, situada no planalto do Tibete, é um exemplo mundial de sucesso no aproveitamento integral dos recursos hídricos. Lá, nascem três dos mais importantes rios da Ásia: o Amarelo, o Yangtsé e o Mekong. E, mesmo assim, a região estava a ponto de secar. As nascentes destes três grandes rios, especialmente a do rio Amarelo, sofriam com a deterioração do ecossistema local causada pelo excesso de pastagem e por outras atividades humanas na região. Com um programa aperfeiçoado de modificação de atividades humanas, deu-se início em 2005 o desenvolvimento do “Programa de Melhoria do Meio Ambiente de Sanjiangyuan”. O projeto teve um investimento de US$1,12 bilhão e incluiu métodos para reduzir a erosão do solo, como chuva artificial e realocação das famílias pastoris da região, obrigando 50.000 tibetanos a deixar o lugar. “A área lacustre de Sanjiangyuan teve um aumento de 245 km² nos últimos seis anos”, detalhou Li Xiaonan, subdiretor do Escritório de Proteção Ecológica da reserva natural. Fonte: Agência de Notícias Xinhua. Everglades, na Fórida, recebe o maior investimento federal para proteção de terrenos úmidos A Coréia do Sul concluiu a construção da maior usina de energia hidrelétrica do mundo, impulsionada pelo movimento da água das marés e com capacidade para gerar eletricidade para meio milhão de pessoas. Seis dos dez geradores da usina entraram em funcionamento no início de setembro de 2011, de forma progressiva, depois de sete anos de construção na costa ocidental sul-coreana. O complexo hidrelétrico conta com uma capacidade de geração de 254.000 kW por dia. Dois meses depois, a usina sul-coreana de Shihwa começou a funcionar a 100% de sua capacidade, o que poderá reduzir o consumo de petróleo do país em 860 mil barris anuais, evitando também a emissão de 320 mil toneladas de CO2 na atmosfera. Esta enorme obra de engenharia aproveita os recursos hídricos da Coréia para usar menos combustíveis fósseis. As turbinas foram instaladas às margens de um lago artificial criado em frente ao mar, próximo à cidade de Seul. São movidas pela força da água quando impulsionadas pelas marés. O investimento na obra foi de US$335 milhões. O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, ressalta que este projeto é uma prova da intenção do governo da Coréia de desenvolver as energias renováveis. “Esta usina não é apenas um símbolo de crescimento verde, mas representa uma tendência que o mundo deverá seguir”, indicou o chefe do país. Preocupados com a qualidade da água e com sua proteção, um grupo de fazendeiros do estado da Flórida se uniu em uma iniciativa do governo dos Estados Unidos, que visa investir US$100 milhões para que estes consumidores de água se comprometam a não construir em áreas protegidas e a cuidar de seus terrenos no parque Everglades, uma ampla região subtropical pantanosa de grande importância para o meio ambiente e para a proteção de recursos hídricos. “A restauração do norte do parque Everglades é fundamental para os habitantes da Flórida e para os Estados Unidos”, declarou o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, ao anunciar o programa que protegerá um ecossistema único no mundo, para o qual é destinado o maior investimento federal dedicado a um único Estado para a proteção de terrenos úmidos. O investimento dará impulso à restauração do parque Everglades e contará também com a ajuda dos fazendeiros, que receberão recursos em troca do compromisso de não construir numa área de mais de 9700 hectares nas proximidades do lago Okeechobee, o maior de água doce da Flórida e o sétimo dos Estados Unidos. Os pecuaristas se comprometerão a proteger seus terrenos, com a ideia de recuperar e garantir a conservação destes ecossistemas, que combinam a proteção da fauna, da flora e da água. Assim, áreas de pastagem passarão a ser terrenos úmidos, que criarão novos habitats naturais e absorverão substâncias contaminantes que hoje prejudicam o lago Okeechobee e o parque Everglades. Fonte: Water.org Fonte: Parque Nacional do Everglades, Flórida. 40 Aqua Vitae tecnologIa O novo desafio tecnológico de Bill Gates sanitário 2.0 Revolucionar o mercado da computação há 36 anos com a criação do Microsoft Windows não foi suficiente para ele. Agora, Bill Gates pretende promover o que chama de “reinvenção do vaso sanitário”. Ele e a esposa investirão US$45 milhões em ciência e tecnologia sanitária Por FUNDAÇÃO BILL E MELINDA GATES Aqua Vitae 41 OS SANITÁ R SANITÁRIO TRANSPORTE DE HO JE O S S A NI T ÁR DE HO JE IO S IO S POPUL AÇ ÃO U T IL IZ OU DE F E C A NDO A A CUSTO POR PESSOA PARA INSTALAR E MANTER ESGOTO ND INACESSÍVEL T RIN A S O L A I V RE RL OA O VÃ PA R A O S R I O S JE T OS HU M ANOS QU E 1,1 BILHÃO DE PESSOAS NÃO TÊM ACESSO A UM SANITÁRIO DE OS SANITÁ DE HO JE R A fundação Gates lançou o Desafio “Reinvente o Vaso Sanitário” para unir os avanços científicos e tecnológicos e criar uma nova privada que transforme os dejetos em energia, água limpa e nutrientes. O Desafio “Reinvente o Vaso Sanitário” tem as seguintes metas: • Dar soluções aos defeitos do vaso sanitário do século XVIII, que não mais satisfaz as necessidades atuais de 2,6 bilhões de pessoas sem acesso a saneamento básico; • Dedicar recursos e a atenção pública para a necessidade de um novo modelo de vaso sanitário; 42 AquA VitAe DE HO JE O programa de água, saneamento e higiene da Fundação Bill e Melinda Gates desafiou recentemente 22 universidades a apresentarem propostas de projetos de um vaso sanitário higiênico, que não use água e que seja seguro, econômico para os habitantes de países em desenvolvimento e que não precise estar conectado a um sistema de esgoto. Oito universidades ganharam bolsas para “reinventar o vaso sanitário”. • • • • • IO S IO S TRATAMENTO O S S A NI T ÁR CAPTAÇÃO Gerar inovação entre uma maior comunidade de pesquisa e desenvolvimento; Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento no nível superior para a criação de um vaso sanitário que: • Seja higiênico e sustentável para as populações mais pobres do mundo; • Tenha um custto operacional de US$0,05 por usuário por dia; • Não seja poluente, mas que gere energia e recupere sais minerais, água e outros nutrientes; • Seja projetado para uso em residência unifamiliar. Criar um vaso sanitário que não precise de água para evacuar os dejetos nem de um sistema séptico para processá-los e armazená-los. Criar um vaso sanitário que sirva de base para uma indústria sanitária, que possa ser facilmente adotado por empresários de zonas urbanas de baixos recursos. Criar conscientização sobre esta pesquisa com a publicação de artigos em revistas científicas e em vários meios. BOLSAS DE ESTUDO PARA O DESAFIO “REINVENTE O VASO SANITÁRIO” Inovação Acadêmica Um vaso sanitário que produza carvão biológico, sais minerais e água limpa. O professor M. Sohail, da Universidade de Loughborough, e sua equipe, propõem o desenvolvimento de um vaso sanitário que transforme as fezes em um combustível de alto potencial energético através de um processo que combina a carbonização hidrotermal da massa fecal, seguida por sua combustão. O processo receberá energia do calor gerado durante a fase de combustão, recuperando a água e os sais presentes nas fezes e na urina. Transformar o vaso sanitário em um gerador de eletricidade para uso local. O professor Georgios Stefanidis e sua equipe da Universidade de Tecnologia de Delft propõem um sistema de sanitário que aplique a tecnologia de micro-ondas para transformar os dejetos humanos em eletricidade. Os dejetos são gaseificados usando plasma criado por micro-ondas em um equipamento especial. O processo gera o “syngas”, uma mistura de monóxido de carbono (CO) e hidrogênio (H2). O syngas é armazenado em uma célula de combustível de óxido sólido para a geração de eletricidade. Este sistema será capaz de atender a casas individuais ou a grupos familiares inteiros. Um vaso sanitário que elimina a urina e recupera a água limpa de forma imediata. A Dra. Tove Larsen, do Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia Aquática, e o Dr. Harald Gründl, da empresa de desenho industrial EOOS, pretendem projetar e construir um modelo funcional de vaso sanitário que remova a urina, recupere a água e que seja fácil de usar, atrativo, higiênico e proporcione água para o banheiro. Um sistema sanitário comunitário que mineraliza os dejetos humanos e recupera água limpa, nu- trientes e energia. O professor Christopher Buckley e sua equipe da Universidade de Kwazulu-Natal se propõem a criar um protótipo e avaliar um sistema de vasos sanitários que seja capaz de captar a urina em sistemas sanitários comunitários, eliminando os contaminantes de forma segura, ao mesmo tempo em que recupera materiais valiosos como água e dióxido de carbono. Uma usina de produção de carvão biológico (“biochar”) alimentada por dejetos humanos. Brian Von Herzen, da Fundação do Clima, e o professor Reginald Mitchell, da Universidade de Stanford em Palo Alto, Califórnia, pretendem projetar, construir e testar um sistema autossuficiente que faça a pirólise (decomponha material orgânico a altas temperaturas sem oxigênio) de dejetos humanos transformando-os em uma espécie de carvão biológico usado para a captura e armazenamento de carbono. O sistema deverá ser capaz de processar duas toneladas diárias de dejetos humanos em uma instalação localizada nas regiões mais pobres de Nairóbi, Quênia. Um vaso sanitário que usa desidratação mecânica e incineração de fezes para recuperar recursos e energia. A professora Yu-Ling Cheng e sua equipe do departamento de Engenharia Química e Química Aplicada da Universidade de Toronto propõem desenvolver uma tecnologia que trate o fluxo de dejetos sólidos por desidratação mecânica e incineração, tratando as fezes em 24 horas. Há também a proposta de desenvolver um método de tratamento para a urina por meio de filtragem por membranas e desinfecção ultravioleta. A terceira área da pesquisa se dedicará ao projeto com base no usuário, para determinação da interface, que se acredita ser a melhor para a demanda da tecnologia sanitária. Aqua Vitae 43 GRANDES EXPECTATIVAS Autoridades mundiais do setor de água e saneamento esperam ansiosamente os resultados desta Foto: Wikipedia Um vaso sanitário de energia solar que gere hidrogênio e eletricidade para uso local. O professor Michael Hoffman, do Instituto Tecnológico da Califórnia, propõe o projeto de um sistema doméstico autossuficiente de vasos sanitários e tratamento de águas servidas ativado por energia solar. O painel solar converte os raios solares em energia suficiente para ativar um reator eletroquímico projetado pelo professor Hoffman para decompor a água e os dejetos humanos em gás de hidrogênio. Depois, é possível armazenar o gás em células de combustível de hidrogênio para contar com uma fonte de energia de reserva para operação noturna ou em condições de pouca luminosidade solar. Um vaso sanitário de fluxo pneumático e extração de urina por desidratação. O professor How Yong Ng e sua equipe da Universidade Nacional de Cingapura propõem o desenvolvimento de um conjunto sanitário descentralizado, com fluxo pneumático modificado e extração de urina por desidratação, que sirva para cinco ou seis casas, com coleta e tratamento independente, de urina e fezes, para recuperação de água e nutrientes. O sistema sanitário recuperará a energia por combustão das fezes, e a água limpa por um processo de dessalinização e adsorção avançado. 44 Aqua Vitae iniciativa, considerada uma nova revolução sanitária. • “É necessário ter vários projetos de banheiros sustentáveis que ajudem a reduzir pela metade a quantidade de pessoas no mundo que não têm acesso a qualquer tipo de privada, estimada em 1,1 bilhão de pessoas”. Ban Ki Moon, Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). • “Acreditamos que podemos reciclar a energia, os minerais e a água. Queremos reinventar o vaso sanitário de modo que seja barato, não custando mais do que alguns centavos, e que os mais pobres queiram / possam?usar, gerando, assim, minerais, energia e água”. Frank Rijsberman, Diretor da Fundação para o Saneamento da Água e Higiene. • “Nós, das comunidades, somos os maiores beneficiários de projetos como o do senhor Gates. É importante que pessoas tão promissoras de todo o mundo voltem o olhar para o problema da falta de privadas, levando muitos outros a prestarem atenção e a se interessarem neste enorme problema”. Elizalda Márquez, dirigente comunitária, Associação Saneamento e Água Potável O Engenho, Nazca, Peru. INTERNACIONAL A segurança alimentar, o desenvolvimento e a qualidade de vida estão ameaçados CHINA SEDENTA Enquanto aproveita um rápido desenvolvimento econômico, o país mais povoado do mundo enfrenta uma escassez de água cada vez mais grave. Com baixa disponibilidade per capita nas regiões do norte chinês, o aumento do consumo levou à sobre-exploração de água superficial e subterrânea. Soma-se a isso a contaminação de fontes que degradam os escassos recursos disponíveis YONG JIANG Enciclopédia da Terra. www.eoearth.org A escassez de água na China se manifesta em diversos aspectos, tais como reduções na quantidade de água, consequências ambientais atribuíveis à insuficiência e sobre-exploração de recursos hídricos, e redução da qualidade da água devido à poluição. Desde a década de 1980, a China sofre com uma escassez de água cada vez maior e mais frequente na indústria urbana, no consumo doméstico e na irrigação agrícola. Em anos com circunstâncias hídricas normais, 300 de suas 662 cidades terão insuficiência no abastecimento de água, e 110 passarão por uma deficiência severa; 30 das 32 áreas metropolitanas com mais de um milhão de habitantes se veem em dificuldades para atender à demanda hídrica. Ao mesmo tempo, a alta demanda de água aumentou a exploração dos recursos hídricos, em especial, no norte chinês, causando degradação ambiental, esgotamento da água no subsolo, intrusão da água do mar e colapso dos solos. Houve também redução na qualidade da água em muitas áreas em que as fontes de água de boa qualidade são insuficientes para cobrir a demanda. Entre 2002 e 2003, cerca de 25 bilhões de metros cúbicos de água deixaram de ser usados devido à poluição. Aproximadamente 47 bilhões de metros cúbicos de água consumida eram provenientes de fontes degradadas, que não atendiam sequer os padrões de pré-tratamento. Esse número representa quase 10% do total do abastecimento de água na China – 563,3 bilhões de metros cúbicos em 2005. AquA VitAe 45 FATORES DE CONTRIBUIÇÃO Muitos fatores contribuem para a escassez de água na China. A distribuição natural dos recursos hídricos é desigual no território chinês, já que a maioria deles fica no sul do país. No entanto, as necessidades socioeconômicas locais precisam de água principalmente nas regiões norte e leste da China. O norte da China abriga 45,2% da população do país, mas conta apenas com 19,1% dos recursos hídricos do país. Essa discrepância na distribuição faz decair muito a disponibilidade de água em muitas áreas ao norte do Rio Amarelo. Em particular, nas bacias do Rio Amarelo (Huang)-Huai-Hai, onde estão as megacidades Beijing e Tianjin, o volume de recursos hídricos renováveis varia de 314 m3 per capita por ano na bacia do rio Hai a 672 m3 per capita por ano na bacia do rio Amarelo, ficando abaixo (ou muito próximos) do nível limite de 500 m3 per capita por ano, que é comumente considerado um indicador de escassez absoluta de água. Com a pouca disponibilidade de água, muitas áreas do norte chinês se veem sujeitas a um alto risco de escassez de água. Para mitigar este risco e seu possível impacto, é necessário haver não só um manejo efetivo do recurso hídrico, mas também considerações por parte do governo para que as decisões socioeconômicas sejam compatíveis com a capacidade dos recursos hídricos locais. A China teve um repentino desenvolvimento socioeconômico desde a década de 1980. Com um crescimento do PIB de 9,7% por ano desde 1990, a China é uma das economias de maior crescimento no mundo. Ao mesmo tempo, experimentou uma acelerada urbanização, já que sua população mais que dobrou em pelo menos 25 anos, representando, em 2005, 43% da população mundial (NBSC, 2006). ‘‘ Estas transformações socioeconômicas, somadas à grande e crescente população chinesa, intensificam ainda mais o conflito entre a oferta e a demanda de água, criando uma necessidade de água cada vez maior. Além disso, o crescimento econômico do país é impulsionado pela industrialização com uso extensivo – e não intensivo – dos recursos naturais. Em 2004, a China contribuiu com apenas 4% do PIB global, e seu consumo de recursos naturais foi de 15% de madeira, 28% de aço, 25% de alumínio e 50% do cimento do mundo. A poluição da água intensifica a escassez ao degradar a qualidade da água disponível. Apesar do rápido desenvolvimento socioeconômico, o desenvolvimento do saneamento básico tem sido insuficiente para acompanhar o nível crescente da necessidade de tratamento de águas servidas. Com regulamentações pouco rigorosas, a poluição da água na China aumenta e se espalha, variando cada vez mais as fontes de poluição. Como a poluição da água afeta mais corpos de água com volumes menores e menos suficientes para assimilar os contaminantes que são neles descarregados, o norte do país, com sua escassez de água, sofre um maior impacto pela poluição do que o sul, onde há abundância de água. A qualidade da água na China é medida em uma escala de 5 graus, agrupada e descrita como “bom” (graus de I a III) e “ruim” (graus IV e V). Estes últimos não são aceitáveis para beber ou nadar. De 2003 a 2006, a proporção de águas monitoradas que apresentou má qualidade variou de 50% a 82% nas bacias do norte, se comparadas à variação de 18 a 28% nas do sul. ‘‘ 40% da população mundial estão na China, que tem apenas 7% dos recursos de água global. 46 Aqua Vitae Instituto Público de Assuntos Ambientais. ‘‘ ‘‘ 65,9 milhões é a quantidade de hectares em terrenos úmidos na China, menos da metade tem proteção. AÇÃO O governo chinês reconheceu os problemas com fontes de água e está tomando medidas para promover o uso sustentável da água, o que inclui a revisão da legislação sobre água para melhor o manejo de recursos hídricos. O Conselho de Estado estabeleceu metas para as políticas de manejo dos recursos hídricos, com ações como o fortalecimento do manejo de bacias, a proteção das fontes de água potável, o combate à poluição transfronteiriça das águas, o fomento à economia de água na agricultura e o aumento da proporção de tratamento de águas servidas no meio urbano para o ano de 2010. Uma parte do Plano Quinquenal para o Desenvolvimento de Fontes de Água (em sua sigla em inglês, FYPWRD) inclui planos de ação e métodos de implementação, refletindo uma mudança estratégica em prol de um desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos, com o aumento da distribuição de água, desenvolvimento de sistemas de direitos à água, implementação de manejo de distribuição de acordo com a demanda e melhoria da eficiência do uso da água. Concomitante às ações governamentais, a população também terá um papel cada vez mais importante no manejo no recurso hídrico. Em áreas rurais, as associações de usuários de água (na sigla em inglês, WUAs) se transformaram em uma forma popular de Instituto Público de Assuntos Ambientais. participação pública no manejo de recursos hídricos. Foram estabelecidas mais de 20.000 organizações de usuários de água no setor agrícola, principalmente na forma de WUAs, para usar e gerenciar a água de forma efetiva. Desde 1994, o número de organizações não governamentais (conhecidas como ONGs) também aumentou rapidamente, em resposta à necessidade política de uma alternativa à intervenção estatal para proteger o meio ambiente. Uma pesquisa feita pela União Chinesa de Proteção Ambiental em 2005 constatou um total de 2.768 ONGs ligadas à questão do meio ambiente na China. Elas participam ativamente do manejo de recursos hídricos, promovendo a conservação e proteção da qualidade da água. Um bom exemplo é o Mapa de Poluição da Água na China, criado e gerenciado pelo Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, uma ONG ligada à questão ambiental, para divulgar as fontes da poluição hídrica e sua distribuição. A industrialização constante e o crescimento da população combinados à urbanização continuarão impondo desafios para o manejo da água na China. Até 2020, a previsão é de que população chinesa ultrapasse 1,4 bilhão de habitantes, o que reduzirá ainda mais a disponibilidade de água. Aqua Vitae 47 SOLUÇÕES Enfrentar a escassez de água na China exige uma abordagem holística, integrada e científica, com esforços coordenados para o longo prazo. Como um primeiro passo, a China deve melhorar ou estabelecer sistemas institucionais que registrem e regulem a extração e o uso da água de acordo com os direitos da água claramente definidos e legalmente aplicáveis. É impossível alcançar um manejo efetivo dos recursos hídricos sem que o uso da água esteja regulamentado e controlado por sistemas institucionais. Em segundo lugar, os enfoques do mercado merecem mais atenção na agenda política, em vez de apenas esperar que as medidas de engenharia, por si, só, resolvam a escassez de água. Hoje há muita preocupação na China sobre o impacto negativo sofrido pelas classes pobres por haver um preço na água. Direitos à água transferíveis, somados a um preço para ela, podem mitigar os efeitos de um eventual preço e, ao mesmo tempo, resolver a escassez de água. Por exemplo, em áreas com pouca água, é possível implantar programas de incentivo que imponham tarifas cada vez maiores ao uso excessivo, redistribuindo os recursos obtidos nesta cobrança no fomento à economia de água, com um orçamento equilibrado. Para facilitar e regular a implementação de enfoques de mercado, o governo deve desenvolver regulamentações, condições e programas de assistência. Em terceiro lugar, o governo deve orientar seus esforços para criar capacidade e desenvolver sistemas de suporte de decisões baseados em pesquisa e dados. A tomada de decisões baseada na pesquisa científica e em dados confiáveis é a base de um manejo efetivo dos recursos hídricos, podendo ainda contribuir para a devida elaboração de políticas. Hoje, não há sistemas suficientes de suporte de decisões para cada bacia que integra os processos biofísicos e hidrológicos de água, em contrapartida, é baixo o grau de desenvolvimento nos sistemas existentes. ‘‘ US$39 bilhões por ano é o custo da escassez em safras perdidas, menor produção industrial e produção. 48 AquA VitAe ‘‘ Instituto Público de Assuntos Ambientais. OPINIão MAUDE BARLOW Prêmio Nobel Alternativo de 2005 Presidenta do Conselho Canadense e da Organização Food and Water Watch EXCLUSÃO DA ÁGUA DE ACORDOS COMERCIAIS Para implementar de fato o espírito do direito à água e ao saneamento básico para todos, temos que enfrentar o sistema econômico atual e trabalhar para criar novas políticas econômicas, sociais e de recursos em função dos princípios de inclusão, equidade, diversidade, sustentabilidade e democracia. Quando a Organização das Nações Unidas reconheceu o direito humano à água e ao saneamento básico em 2010, a humanidade deu um passo coletivo rumo à evolução. Mas só isso não basta. O sistema econômico dominante de um capitalismo de mercado desenfreado e desregulado, sem limites para o crescimento, levou o planeta à beira de uma crise ecológica e gerou desigualdades de renda e injustiça econômica sem precedentes na História recente. Agora, nos vemos diante de uma situação de concentração extrema do poder econômico e de recursos, causadora tanto da degradação quanto da exclusão social, econômica e ambiental da maioria das pessoas do mundo. Enquanto não houver uma oposição a este sistema, o mero reconhecimento do direito à água e ao saneamento básico não será suficiente para abastecer com água e saneamento bilhões de pessoas que não os têm. Para implementar de fato o espírito do direito à água e ao saneamento básico para todos os homens e mulheres, é necessário enfrentar o sistema econômico atual e trabalhar para criar novas políticas econômicas, sociais e de recursos em função dos princípios de inclusão, equidade, diversidade, sustentabilidade e democracia. Devemos promover práticas sustentáveis de produção local de alimentos e bens de consumo, bem como a substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia seguras e alternativas. As estruturas econômicas devem ser elaboradas para transferir o poder econômico e político ao âmbito local, tirando-o da escala mundial, e o poder das corporações transnacionais e do capital especulativo devem se ajustar ao Estado de Direito e submeter-se a ele. A febre da privatização de cada área, antes considerada um patrimônio comum, tem de cessar. Por ser um recurso de fluxo necessário para a vida e para saúde do ecossistema - este, é um elemento insubstituível -, temos de considerá-lo como um patrimônio público e um bem de todos, preservando-o sempre como tal, no Direito e na prática. A água doce é essencial para nossa existência, por isso, as leis de Administração Pública devem protegê-la em prol do bem comum, e não em benefício individual. É claro que há uma dimensão econômica na água, mas por fazer parte da Administração Pública, os governos são obrigados a proteger as nascentes com o objetivo de preservá-las para o uso a longo prazo de toda a população, e não apenas de uns poucos privilegiados. Isto requer excluir a água de todos os acordos comerciais e de investimento e tirar das grandes empresas o poder de fazer exigências dos governos em virtude de tais acordos, já que o poder público pode tomar medidas para limitar a atividade corporativa a fim de proteger as bacias hidrográficas e as diversas fontes de água. Outra necessidade para garantir o direito à água e ao saneamento é desafiar o paradigma de desenvolvimento com base no mercado, concentrando todo o trabalho de desenvolvimento em enfoques voltados para os Direitos Humanos, resistentes à dominação da ideologia de livre mercado. Segundo Ellen Dorsey, da Fundação Wallace, esta abordagem asseguraria uma importante participação das pessoas afetadas pelos programas de desenvolvimento, trataria das causas fundamentais da pobreza, da discriminação e da exclusão, e priorizaria as comunidades marginalizadas em termos de direitos e práticas. Ela sugere que o nome dos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” mude para “Direitos de Desenvolvimento do Milênio”. À medida que avançamos para definir e ampliar a noção do direito à água e ao saneamento básico, precisamos também explorar maneiras de ampliar a definição de direitos para abarcar os de terceira geração, como o direito à livre determinação, os direitos coletivos e de grupos e o direito aos recursos naturais locais. Devemos adotar leis, como fez o Equador, que afirmem que os ecossistemas e comunidades naturais têm o direito inalienável de existir, crescer e se desenvolver, e, enquanto possível, devemos deixar a água onde está e compreender seu papel vital na nutrição dos ecossistemas e na proteção do funcionamento saudável do ciclo hidrológico. Para isso, é imprescindível apoiarmos a campanha para fazer com que a ONU adote a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra, a fim de que, com o tempo, esta sirva de suporte para a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Revista Aqua Vitae não emite nenhuma opinião sobre os critérios expressados nesta seção, entretanto, somos uma tribuna aberta a diferentes perspectivas em relação ao tratamento dos recursos hídricos. Aqua Vitae 49 SAÚdE A ÁGUA EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA Serviços de água como abastecimento e esgoto são vulneráveis a desastres, podem ocorrer danos nas instalações, rompimento das tubulações e interrupção das operações por cortes de energia elétrica. Fotos: NASA 50 AquaVitae Vitae Aqua TON VLUGMAN Consultor de Saúde e Meio Ambiente da Organização Pan-americana de Saúde / Organização Mundial da Saúde A p ós um desastre, a água passa a ser o bem mais importante para a população afetada, de modo que a escassez ou contaminação deste recurso pode ter consequências bastante graves para a saúde pública. A água é um dos principais meios de transmissão de doenças. Por isso, as autoridades devem garantir sua potabilidade ao abastecer as populações afetadas e com as quantidades adequadas. Para proteger a higiene pública, as autoridades também devem garantir a existência adequada de saneamento básico, descarte de resíduos, higiene dos alimentos, não deixando de prevenir a reprodução de vetores de transmissão de doenças. Além do abastecimento de água, há outros setores que podem ser afetados por grandes desastres, como os serviços de saúde, as telecomunicações, o fornecimento de energia e a infraestrutura e serviços de transporte. Da perspectiva da saúde, os planos nacionais, regionais e locais de preparação e prevenção a desastres devem incluir todos esses setores. As emergências interrompem a vida socioeconômica e prejudicam infraestruturas físicas e serviços, extrapolando o controle das autoridades afetadas. A água potável é o principal recurso que deve ser proporcionado às populações afetadas por desastres. Deve-se dar prioridade máxima às áreas onde houve aumento dos riscos de saúde, em especial, as de alta densidade demográfica e em que houve interrupções graves de serviços. Como prioridade secundária, estão as áreas com alta concentração populacional que sofreram interrupções moderadas nos serviços, ou as áreas como uma média demográfica moderada, mas com graves interrupções. Já o terceiro item na lista de prioridades corresponde às áreas com pouca população e com menos interrupções dos serviços. Aqua Vitae Aqua Vitae 5151 IMPACTOS ESPECÍFICOS E MEDIDAS PREVENTIVAS NOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA Os principais riscos para as instalações de abastecimento de água em um desastre são os danos físicos que podem ser causados pelo impacto do desastre. No entanto, o maquinário pesado das operações de socorro também pode afetar hidrantes, válvulas, tubulações e conexões domésticas. É frequente que a água das tubulações seja contaminada durante as inundações, uma vez que é possível a entrada de resíduos e contaminantes pelas novas fendas, em especial, quando a pressão da água é baixa e as usinas de tratamento estão inundadas. Os componentes dos sistemas de água podem apresentar falhas devido a mudanças na qualidade da água, por exemplo, por contaminação química ou cinzas vulcânicas. Além disso, é possível haver curtos-circuitos, interrupções do fornecimento de energia elétrica e falhas nos serviços de comunicação e transporte. Principais medidas preventivas. A localização da estação de tratamento de água deve ser adequada e projetada com estruturas resistentes a impacto. A fim de reduzir a dependência do abastecimento auxiliar de energia, é possível usar sistemas de gravidade ou duas conexões elétricas independentes. Os geradores de emergência devem ser instalados em componentes essenciais do sistema, por exemplo, nas estações de tratamento e nas bombas, devendo ser inspecionados e ligados regularmente, de preferência uma vez por semana. Nas áreas mais vulneráveis, recomenda-se descentralizar as fontes de água, operações, armazéns, equipamentos de emergência e postos de abastecimento. O sistema deve ter, pelo menos, a capacidade de prestar um serviço parcial em caso de emergência. Como os sistemas 52 Aqua Vitae maiores são mais vulneráveis, recomenda-se ter vários recursos e subunidades interligadas. Os sistemas de ralos são mais recomendáveis que os de ramificações, pois permitem o uso de vias alternativas e uma maior flexibilidade. É aconselhável assegurar a instalação de válvulas para a conexão ou desconexão de subsistemas e, se possível, duplicar as principais linhas de distribuição. A instalação de válvulas de comporta aumentará a flexibilidade do sistema na conexão ou no isolamento de subsistemas, conforme o caso. Por último, os reservatórios de armazenamento de água devem estar distribuídos de forma uniforme em todo o sistema. É necessário estabelecer práticas de operações e manutenção dos equipamentos e instalações, de modo a incluir o abastecimento de armazéns, a manutenção e atualização de registro, a consulta a manuais dos equipamentos e plantas dos sistemas, instalações e estações. É preciso proteger instalações e equipamentos e armazenar gás, cloro e outros reativos. Muitas vezes, os modelos computadorizados podem ajudar a localizar danos ocultos e otimizar o controle do sistema. É possível melhorar os sistemas de transporte e comunicação se houver rádios e telefones portáteis suficientes. É necessário contar com veículos de transporte adequados e mapas que indiquem rotas alternativas. TERREMOTOS E DESMORONAMENTOS Impactos. O solo pode ficar saturado de água (liquefação do solo), causando choque de falhas geológicas, movimentações do solo e desmoronamentos. Os tanques, reservatórios e estações de bombeamento podem ficar inoperantes, causando mudanças ou perdas de aquíferos. A pressão da água pode diminuir devido a vazamentos. Em contrapartida, a demanda pode aumentar por causa dos incêndios e do número crescente de pessoas que armazenam água. É frequente o rompimento ou a quebra de intersecção e conexões das tubulações (aproximadamente a cada 100 m). Muitas vezes, os revestimentos e suportes de poços (perfurados e de outros tipos) são fraturados por cisalhamento, e as estruturas de concreto podem se quebrar, prejudicando edifícios. ERUPÇÕES VULCÂNICAS Impactos. Em caso de erupção vulcânica, é possível ocorrer a perda de aquíferos e mudanças na qualidade da água devido aos contaminantes vulcânicos (enxofre, dióxido de enxofre, ácido sulfúrico e clorídrico, flúor, metano e mercúrio). As estruturas e os equipamentos (por exemplo, os hidrantes de incêndio) podem ser esmagados, destruídos ou enterrados. Além disso, os incêndios são frequentes, os filtros de ar obstruídos podem causar falhas nos motores, e outros componentes do sistema de água também podem ser danificados com a densa sedimentação (cinzas e lama). Prevenção. Em termos de prevenção, é importante identificar as áreas perigosas, montar mapas de riscos e elaborar um plano adequado para uso e evacuação dos terrenos. É recomendável ter estruturas com declives e telhados lisos. Telhados e janelas que ficarem de frente para o vulcão podem ser protegidos com lâminas de metal. Pode-se estabelecer na área um programa de monitoramento de vulcões e de monitoramento regular da qualidade da água (pH, temperatura, enxofre e flúor), que podem ajudar a prever uma erupção. É possível também identificar instalações que coletem e analisem as cinzas para determinar se há substâncias tóxicas. É necessário armazenar filtros de ar, bocas de filtros e roupas de proteção. Aqua Vitae 53 FURACÕES Impactos. Os escombros transportados pelo ar e pelo vento causam danos físicos nas estruturas, principalmente em telhados, portas e janelas. De modo geral, árvores e postes da rede telefônica são arrancados, rompendo as tubulações. As estações de captação de água e tubulações podem se entupir com os escombros e sedimentos. As chuvas intensas causam inundações e danos (especialmente no equipamento elétrico). Em particular, as áreas costeiras estão sujeitas a uma grave erosão. Além disso, as vias de acesso podem ficar bloqueadas. Prevenção. Na medida do possível, devem-se estabelecer instalações em vales estreitos, nas partes altas de morros ou em áreas costeiras. É necessário, também, aplicar às estruturas técnicas de construção à prova de furacões. Aconselha-se plantar árvores como quebra-vento, mas não se deve plantá-las muito próximas às instalações. As tubulações não devem acompanhar o curso de um rio nem estar paralelas à costa, devendo-se também reduzir a quantidade de tubulações que cruzem rios. É preciso verificar se os grandes tanques de armazenamento estão cheios antes de uma tempestade, a fim de evitar rupturas. Esses tanques devem ter uma sustentação adequada e estar ajustados internamente. A instalação de válvulas de fechamento manual ou de regulagem automática de fluxo ajudará a evitar perdas nos reservatórios. É necessário instalar e fechar obturadores para chuvas. Aconselha-se melhorar a estrutura dos pontos de captação de rios e instalar válvulas de limpeza nas tubulações. Antes da chegada do furacão, é importante limpar os filtros e fechar os pontos de captação de água. 54 Aqua AquaVitae Vitae INUNDAÇÕES Impactos. O dano das inundações é causado pelas ondas e correntes de água que transportam resíduos, podendo prejudicar as margens dos rios e derrubar construções. É possível haver uma grave contaminação dos recursos hídricos: bacteriológica (pelas águas residuais), química e física (pelos sedimentos). A danificação de vias e pontes e a grande quantidade de lama fazem com que muitas áreas fiquem inacessíveis. Prevenção. A consulta a mapas de riscos, que indicam os níveis de inundação e as zonas de risco, possibilitará a construção de instalações acima dos níveis de inundação. As estruturas deverão resistir à pressão da água (devem ser reforçadas em pontes, e as tubulações subaquáticas devem estar sob bordas de proteção). Caso as instalações estejam em uma zona de inundação, as bombas, o equipamento elétrico e os controles devem estar num lugar elevado ou devem ser de desmontagem rápida para que sejam armazenados em lugar seguro. É possível tomar algumas medidas para controlar a inundação, como a instalação de diques, represas ou canais de desvio. Sacos de areia podem evitar alguns riscos das inundações, mas é necessário haver participação da população e infraestrutura adequada. Telas também podem ajudar a evitar a erosão. Recomenda-se que todos os sistemas automáticos contem com mecanismos manuais de substituição, e que as estações de tratamento tenham um canal de desvio que permita a desinfecção da água não tratada. Antes da inundação, devem-se lavar os filtros, encher os reservatórios de armazenamento e aumentar as reservas de substâncias químicas. Depois de retirada a água da inundação, é necessário enxaguar o sistema de distribuição e desinfetar os pontos de abastecimento. É importante aconselhar as pessoas afetadas que deixem a torneira aberta por pelo menos dez minutos antes de usar a água. Aqua Vitae Aqua Vitae 5555 SECAS Impactos. Durante as secas, o sistema de distribuição pode ressecar, causando vazamentos e entupimento nas tubulações. Além disso, como a concentração de contaminantes é maior, a qualidade da água diminui. Prevenção. É necessário contar com vários tipos de fontes de água. Nos setores agropecuários, industriais e municipais, é preciso introduzir esquemas de conservação de água para aumentar os reservatórios de armazenamento e permitir a redistribuição. É necessário identificar e preparar as fontes alternativas de onde será transportada a água, em caminhões, para a população afetada. FASES DE UM DESASTRE resposta frente pré-desastre à emergência ReABILITAÇÃO Esta fase visa a tomada de medi- Aqui, devem ser tomadas medidas Esta fase implica na recupe- das para evitar ou reduzir o im- para abordar as áreas identificadas ração, a curto prazo, dos níveis pacto, capacitar pessoal além de como prioritárias de controle da dos serviços de saúde ambiental desenvolver, testar e atualizar os saúde ambiental. Esta fase dura sete antes do desastre e na aplicação planos de operação que entrarão dias, mas os períodos mais críticos de medidas de longo prazo para em ação na fase 2. são o de prevenção e os três pri- a reconstrução. meiros dias (a resposta imediata). 56 Aqua Vitae ALTO PERFIL DEVEMOS PROMOVER PRAGMATISMO E EFICIÊNCIA Fotos : Carmen Abdo Por YAZMÍN TREJOS O engenheiro Benedito Braga está certo de que a resolução dos desafios da água e do saneamento deve ser o resultado de “uma combinação na qual, sem dúvidas, os governos nacionais desempenham um papel muito importante, uma sociedade civil organizada, empresários, o setor acadêmico, e associações profissionais. Todos têm um papel neste processo, na criação de um momento que mostre que cada um tem lugar para jogar esse jogo”, e que sem dúvida alguma é vital, ético, necessário e humano. De que maneira efetiva os líderes do setor devem responder, – e não retórica – aos grandes desafios da água? Devemos ser pragmáticos, não é possível resolver problemas reais com declarações políticas corretas, bonitas e que só servem para promover pessoas. Só conseguiremos resolver efetivamente este problema na medida em que a equação econômica e política seja devidamente resolvida, e ela por si só é intrincada, porque os orçamentos dos governos são decididos de maneira política, e não poderia ser diferente, porque a política é a arte de resolver os conflitos de interesse. Nós não podemos imaginar que só exista água e saneamento, temos que pensar também na educação, no transporte, na energia, e em outros setores que demandam recursos da mesma maneira que a água, o saneamento, a navegação, a Benedito Braga, presidente do 6° Fórum Mundial da Água 2012, convoca todos os atores envolvidos, para que se chegue a um entendimento a respeito de que o setor da água é um conjunto, um sistema, e para que tenha legitimidade institucional, necessita de um espaço. AQUA VITAE 57 agricultura, então, para resolver este problema, em primeiro lugar devemos motivar a classe política. Acho que atualmente a classe política está motivada, porque, desde que se criou o Conselho Mundial da Água em 1997 até os dias de hoje, temos observado mediante os fóruns mundiais da água, que as Nações Unidas estabeleceram no ano passado um acordo para o problema da água em Johannesburgo, ao declarar que o acesso a água e ao saneamento é um direito humano, então agora existe uma motivação política, há um interesse político. Agora o que falta é encontrar financiamento. E como vamos financiar estes projetos? Como vamos tornar realidade algo que já está no imaginário do político? Precisamos encontrar uma maneira de mostrar à classe política que os investimentos no saneamento darão um resultado também político. É por isso que defendo o pragmatismo para a solução deste problema: todos nós sabemos que investir um dólar em saneamento significa investir sete em saúde pública, temos todas essas estatísticas, mas devemos enxergar um pouco além, devemos mostrar um pouco mais à classe política, pois isso redundará em benefícios de natureza política, e não só de natureza social, material, etc. Por outro lado, temos que ter métodos eficientes de atribuição de recursos, para que aquilo que está planejado realmente aconteça: precisamos de recursos de financiamento que sejam inteligentes, eficientes e eficazes, e enquanto não tenhamos estas duas coisas muito claras, não vamos resolver o problema da água e do saneamento. Portanto, o enfoque tem que estar no benefício político do saneamento e na metodologia eficaz e eficiente de financiar o sistema de saneamento. Acho que devemos ser pacientes. Estive com o rei Gustavo da Suécia, e ele me dizia que há 150 anos Estocolmo tinha um volume expressivo no que dizia respeito às águas residuais. Diferentemente da situação atual, quando as pessoas podem nadar nos lagos de Estocolmo, pois agora têm uma qualidade de água muito boa. Essa conquista levou 150 anos. Os ingleses levaram entre 30 e 50 anos para limpar o Tâmisa, a América Latina acaba de perceber esse problema. Não podemos nos mostrar ansiosos e dizer: “Dentro de 5 anos, a metade da população terá acesso à rede de saneamento, pois vamos incrementar o acesso em 50% em 10 anos”, isso seria um statement retórico. Quais são os planos e programas que devem ser desenvolvidos, para passar da discussão às soluções quanto ao acesso à água potável e ao saneamento integral? 58 AQUA VITAE Parece-me que é uma uma combinação na qual, sem dúvidas, os governos nacionais desempenham um papel muito importante. No entanto, acho que a sociedade civil organizada, os empresários, o setor acadêmico, as associações profissionais, todos têm seu papel na criação de um momento que vai mostrar justamente que cada um tem sua posição nesse jogo: o governo para organizar em âmbito nacional, os governos locais (não podemos esquecer dos governos locais!), porque são eles os que detêm o domínio, a administração dos serviços públicos de água e saneamento. Na maioria dos países, os serviços de saneamento são públicos, as concessões ficam com as empresas privadas, ou com os serviços autônomos, mas legalmente, a responsabilidade é do governo local, do gestor, não do governador, nem do presidente. Portanto, esse ator tem que estar bastante envolvido na questão. Eu não sei se esses gestores estão preparados para essa mudança de paradigma. De maneira que este é um dos temas predominantes no 6º. Fórum Mundial da Água de 2012. Qual é o problema em privatizar ou não os serviços de água e como resolver essa questão? Eu acho que a questão-chave é “como as pessoas de baixo recurso podem ter acesso à água e ao saneamento”, e não se o serviço deve ser oferecido pelo setor privado, público, misto, etc. O rico já tem acesso à água e ao saneamento. Eu tenho dados do Brasil, do Banco Mundial, em que se verifica uma classificação por rendimentos, 10% mais ricos têm acesso a água e ao saneamento, e os pobres são os que carecem de tal acesso, e 90% das empresas de saneamento do Brasil são públicas. A qualidade da água dos rios é diferente dependendo do acesso a água e do saneamento, são diferentes usos da água. Nesse ponto estou de acordo plenamente de que, na medida em que resolvamos o problema do saneamento público da água, vamos resolver o problema da qualidade do recurso em nossos rios, porque a indústria já está toda enquadrada. Portanto, dizer que privatizar o serviço de saneamento é um mau caminho, porque isso não faz com que as classes mais baixas tenham acesso a este serviço, não é verdade, é um falso problema. O problema real é como dar esse acesso a eles. E aí estamos na mesma linha do pragmatismo inicial, que comentei aqui. Uma empresa pública não pode ficar em vermelho, para dar água à população mais necessitada tem que trabalhar de maneira correta desde o ponto de vista empresarial, tem que trabalhar com recuperação de seus custos, se não pretende ter ganhos, tudo bem, não há nenhum problema. Veja como o Chile resolveu esta questão: criaram um programa de rendimentos mínimos, em que todos pagam a água, a energia, inclusive os de menores recursos e a empresa, pública ou privada, também cobra. De que maneira devem se estabelecer as relações entre os atores, para conseguir acordos que sejam mensuráveis e realistas? Só podemos trabalhar com o sistema do “ganha-ganha”, porque se não, sempre ficaremos na retórica, e aí se dará um conflito eterno entre os ambientalistas – que dirão que os capitalistas estão consumindo o planeta – e os capitalistas, que dirão que os ambientalistas são uns poetas, que não vão a nenhum lugar. Este sistema ainda não existe, e é isso o que estamos procurando. Por exemplo, propor as perguntas corretas sobre o saneamento, não se trata só de privatização. É uma questão de subsídio às classes trabalhadoras, para que possam ter acesso, e é o governo e a coletividade que têm de facilitar essa colaboração. Por exemplo, muitos criticaram o programa do governo Lula quando criou a bolsa família, mas a migração interna diminuiu muito após este programa. Claro que existem distorções, mas vamos trabalhar com as exceções para dar a notícia? Ainda não contamos com a equação correta, pois para isso precisamos fazer as perguntas corretas: Como faço o subsídio para aquele mais necessitado?, Como crio sistemas eficientes para o tratamento dos resíduos?, De que maneira resolveremos o problema da pobreza na África, onde não existe nenhuma condição favorável para tanto? Com a ajuda humanitária, com o EPS norte-americano, não se resolverá. Temos que criar um sistema em que todos ganhem, esse é o ponto do que falamos, desse pragmatismo, isso que tem que ficar claro entre os ambientalistas e os desenvolvimentistas, ou a iniciativa privada, cujo objetivo é obter lucro e que portanto reclama, ao ter que realizar uma compensação ambiental, já que isto poderia fazer com que se tornassem ineficientes, ou os agricultores que reclamam porque têm que pagar pela água. Quem deveria ser o responsável ou qual deve ser o sistema que permita dar continuidade aos compromissos assumidos – em nível regional, nacional e global – no setor, para que tais compromissos sejam efetivamente realizados e tenham cumprimento de prazos ? O setor da água é um conjunto, um sistema, e para que tenha legitimidade institucional no governo precisa de um espaço, assim como temos um Ministério de Energia, um de Ambiente, é preciso ter um da Água. Isto é importante, mas não imprescindível: o importante é ter, como no caso do Brasil, uma coordenação eficiente entre os setores, para que a água seja contemplada em todos eles. Essa coordenação é efetivamente muito interdisciplinar, como sabemos, teremos a Rio +20. Estive com o Embaixador André Correia do Lago, organizador da conferência, e ele entende que a água desempenha um papel muito importante para o desenvolvimento sustentável, para o crescimento verde, para a redução da pobreza. Não precisamos uma convenção internacional sobre a água, mas que os governos nacionais e locais entendam o papel da água para o desenvolvimento, o uso eficiente da mesma na agricultura, sua reutilização na indústria, o uso da mesma para gerar energia elétrica, que serve como via de transporte bem mais barato e eficiente, que tem menos impacto no meio ambiente. De maneira que o setor da água trabalhe junto com outros setores no sentido de planificar de maneira harmoniosa, e acho que neste sentido a Agência Nacional das Águas (ANA) no Brasil é um exemplo para o mundo, pois coordena um sistema nacional, que engloba planos estatais, de bacias, plano nacional, de recursos hídricos, que tem que interagir com os outros setores. Nós, do setor da água, queremos ser AQUA VITAE 59 Já se realizaram cinco fóruns mundiais da água, com acertos e críticas. Que devemos esperar como resultados tangíveis do 6º. Fórum Mundial da Água 2012 em Marselha na França? Este é o Fórum das Soluções, os outros foram fóruns em que abrimos a discussão com todos os interessados no tema da água, já que um fórum é um lugar em que todo mundo chega e diz o que pensa sobre um determinado assunto. Agora, o que tem de diferente este fórum? Neste fórum, estamos pe- ‘‘ dindo para que as pessoas venham, e em vez de falar de problemas, falem de soluções, e para isto criamos uma estrutura temática diferente, que por meio de um bottom-up approach (do inglês, uma abordagem ascendente) e, conversamos com 400 instituições no lançamento do fórum, para saber quais são suas prioridades. Estabelecemos, então, 12 prioridades, dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, divididas em três grandes eixos: o bem-estar da sociedade, o desenvolvimento econômico e a manutenção do planeta azul. São três grandes eixos, temos essas 12 prioridades e criamos três condições bem-sucedidas para chegar àquelas prioridades, que são: o governo, o financiamento e a capacitação. O Enabling Environment, (do inglês, o ambiente facilitador) como nós o chamamos, percorre todas as prioridades propostas, e faz que a diferença deste fórum seja, a que estamos procurando metas para cada uma destas prioridades e que, uma vez estabelecidas as metas, os mesmos participantes proponham soluções que possam fazer viável o processo. Essa é a ideia, essa é a diferença em relação aos outros fóruns. ‘‘ tão holísticos como se fôssemos o governo. A CONAGUA do México tem uma missão que vai um pouco além da missão da ANA, pois a CONAGUA trabalha junto aos comitês de bacias hidrográficas e outros, de uma maneira mais centralizada. No Brasil existe uma descentralização maior, em função de um domínio da água por parte dos Estados. Há rios estatais e rios federais. No México só existem rios federais, e isso é uma diferença muito grande neste processo de descentralização. precisamos de recursos de financiamento que sejam inteligentes, eficientes e eficazes, e enquanto não tenhamos estas duas coisas muito claras, não vamos resolver o problema da água e do saneamento. PROPULSOR MUNDIAL Durante um grande período da sua vida, Benedito Braga dedicou-se a impulsionar o tema da água e do saneamento na agenda das prioridades, tanto em seu país, Brasil, como em nível mundial. Isto o levou a desempenhar uma variedade de cargos internacionais, para se converter em propulsor do tema. • • • • • • • • • 60 Vice-presidente do Conselho Mundial da Água. Responsável pela organização dos Fóruns Mundiais da Água em Haia, Kioto e México. Presidente do 6º. Fórum Mundial da Água 2012 em Marselha, na França. Diretor da Agência Nacional das Águas do Brasil (ANA). Presidente do Programa Hidrológico Internacional (PHI) da UNESCO. Professor de Engenharia Civil e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Brasil. Autor de mais de 200 artigos técnico-científicos, 25 livros e capítulos de livros sobre a gestão dos recursos hídricos. Recebeu o Prêmio da Associação Internacional de Recursos Hídricos em Madri no ano de 2002, em reconhecimento às contribuições técnicas e científicas para o avanço da gestão de recursos hídricos de caráter global. Membro do Conselho Editorial da Revista Aqua Vitae. AQUA VITAE CULTURA www.projetohydros.com Há urgência em realizarmos ações concretas e cotidianas para preservar a água do planeta. SOBRE O PROJETO HYDROS A Fundação Kaluz, o Grupo Empresarial Kaluz e seus grupos empresariais: Mexichem, Elementia, Bx+ e Mexvi, durante os últimos quatro anos, publicaram a série de livros de fotografia Hydros - em quatro volumes-, concebida para ser um canal de conscientização que chegou a líderes nacionais, regionais e mundiais. Convencidos da transcendência do conteúdo já gerado nesta série editorial, foi criado o Projeto Hydros, a fim de massificar esta mensagem em todos os cantos da América Latina e do mundo. Para isso, criaram o hotsite www.projetohydros.com, onde estão disponíveis fotografias, campanhas publicitárias, sequências para exposições itinerantes, material pedagógico para jovens e um vídeo como principal produto de comunicação da iniciativa. Todo esse material está disponível para download no hotsite, em espanhol, inglês e/ou português, para uso livre e gratuito. Por isso, foram criados em diferentes formatos e tamanhos com o objetivo de facilitar a difusão. Para maiores informações entre em contato pelo e-mail: [email protected] ‘‘ Como criadora, é sempre estimulante participar de propostas em que há diferentes pontos de vista sobre um assunto, neste caso, a diversidade de perspectivas em relação ao tema ‘água’, tão cotidiano e tão enigmático. Foi muito ‘‘ gratificante ver meu trabalho no meio de todas essas maneiras de enfocar e entender a importância real do assunto, o que me transformou numa pessoa muito mais sensível e crítica em relação ao meu entorno. Sussy Vargas, Costa Rica. . O Projeto Hydros tenta mostrar o vínculo entre o planeta e o ser humano em relação à água, do qual ainda não estamos conscientes. Levantamos a questão: “Como me relaciono com a água?”. Não sabemos. Está na hora de percebermos tudo o que fazemos com ela na construção da realidade de uma pessoa, de uma cidade, de um negócio ou de um país, e como cada uma dessas ações afeta o presente, o hoje, o agora. 62 AQUA VITAE PRODUTOS DE COMUNICÃO www.projetohydros.com Com este objetivo, a iniciativa cria um espaço virtual, o hotsite www.projetohydros.com, que disponibiliza fotografias, campanhas publicitárias, sequências para exposições itinerantes, material pedagógico para crianças e um vídeo como seu principal produto de comunicação. Todos os que entram em contato com o Projeto Hydros se transformam em “Embaixadores da Água”, através dos produtos de comunicação disponíveis neste hotsite. ‘‘ Graças ao Hydros, eu consegui capturar a vida através de uma ótica nunca imaginada. Desde que comecei a estudar fotografia, quis sempre colocar a minha maneira de captar a realidade para melhorar condições de vida, realizar ‘‘ mudanças sociais significativas e preservar algo que o mundo está pedindo desesperadamente: uma memória coletiva. Acredito que neste projeto eu consegui tudo isso junto. Sergio Rodríguez, Colômbia. VíDEO: A ÁGUA EM NÓS O vídeo Hydros é a principal ferramenta de conscientização do projeto, sobre a verdadeira relação que temos com a água. As possibilidades são variadas: publique no seu mural do Facebook ou faça o download para compartilhá-lo posteriormente no seu ambiente de trabalho, com sua família e amigos. A resolução do vídeo também permite sua transmissão em televisão aberta. Crie infinitas possibilidades! Compartilhe este vídeo e use-o para fazer parte dessa mudança! AQUA VITAE 63 ‘‘ Acredito que a fotografia é capaz de proporcionar uma comunicação eficiente por meio de seu efeito do real. Mas é, sobretudo, capaz de provocar reflexões sobre novas formas de olhar o que sempre vemos. A fotografia pode elevar o banal ao singular, o conhecido ao desconhecido, o que é, neste momento da história, imprescindível para que haja cada vez mais pessoas engajadas com o tema da água. ‘‘ Compartilhar esse novo entendimento e fazer uma pequena contribuição para disseminar essa consciência, para o bem do planeta e a continuidade da vida, foi um prazer e um privilégio. Patrícia Gatto, Brasil. IMAGENS DA GALERIA EXPOSIÇÕES Uma fotografia pode dizer muitas coisas. No hotsite do projeto, você poderá escolher entre mais de 200 fotografias de artistas latino-americanos e europeus que dão apoio ao desafio de ser um embaixador da água. São imagens que mostram esse vínculo inconsciente do ser humano com o líquido da vida. Não há problemas com o tamanho do arquivo da foto, pois há a opção de compartilhá-la ou baixá-la em tamanho pequeno, médio ou, até mesmo, em alta resolução para que se possa imprimir em papel fotográfico. Escolha uma ou várias fotos e conscientize também através da arte. É tempo de agir e, por isso, é nosso dever massificar esta mensagem. Então, criamos diferentes versões de exposições de fotografias para que possam ficar expostas em qualquer tipo de espaço público, tais como escolas, estações do metrô, pontos de ônibus, centros comunitários, postos de saúde, parques, museus e lojas. Sabemos que as possibilidades são muito diferentes, por isso, você pode escolher entre exposições com apenas oito ou com até 26 imagens, disponíveis em arquivos PDF, com a qualidade de impressão necessária para que a exposição seja impressionante. Pense grande, exponha esta mensagem e faça parte desta corrente do bem. 64 AQUA VITAE ‘‘ A iniciativa Hydros me deu a oportunidade de sair da inércia, fazendo com que eu deixasse de ser espectadora. Hoje posso fazer parte da mudança, através da fotografia: uma foto não é o resultado de uma ‘‘ ocorrência, mas, sim, do conhecimento, que passa a ser o filtro interior do fotógrafo, que tem sua própria alma e sua própria energia, sem deixar de fazer parte de um universo. Carmen Abdo, Costa Rica/Brasil. TEXTOS EDUCATIVOS CARTAZES E ADESIVOS Crianças e adolescentes precisam receber esta mensagem. É importantíssimo! Eles são indispensáveis para que possamos realmente criar uma nova forma de relacionamento com a água. Pense nos grupos de crianças e jovens aos quais essa mensagem pode ser levada. Pense nas escolas em que podem ser aplicadas atividades lúdicas com o conteúdo de todo este projeto. Criamos duas opções: um manual com atividades para todo o ano letivo e outro com atividades que podem ser implementadas antes, durante e depois da exibição do vídeo, das exposições e de outros materiais. Seja um embaixador da água de verdade, para crianças e adolescentes, e escolha algumas escolas ou grupos que possam ser conscientizados graças à sua participação. Cada um de nós, embaixadores da água, podemos também intervir em nossos espaços cotidianos, como o escritório, o carro, as portas e os espelhos de qualquer um de nossos ambientes e, até mesmo, em nossa própria casa. Para isso, projetamos uma campanha publicitária composta por cartazes, adesivos, banners, móbiles, jogos americanos, entre outros, que você pode pegar individualmente ou em conjunto. Você tem a opção de usar uma única peça ou montar seu próprio kit. O importante é não se acanhar para levar a conscientização ao dia a dia de todos. AQUA VITAE 65 SITES DE INTERESSE www.webradioagua.org.br www.cenca.imta.mx RADIO ÁGUA - BRASIL CENTRO DE CONHECIMENTO Plataforma que usa técnicas de ensino in- DA ÁGUA DO MÉXICO terativo, valendo-se da metodologia de Centro especializado em informações mediação e aprendizagem colaborativa. relativas ao setor hídrico do México e Tem como meta contribuir para melhorar do mundo. Tem como objetivo atender os processos de comunicação e promo- às demandas de informações científicas ção do conhecimento sobre o assunto e tecnológicas dos profissionais dos se- água. Através de co-produções e publi- tores de água e meio ambiente. Além cações em áudio, o portal combina es- disso, se propõe a difundir o conheci- forços para gerenciar o conhecimento mento sobre o assunto ao público em educativo interativo e informações geral, através da prestação de serviços SEXTO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA técnico-científicas, a fim de estimular na bibliotecários, divulgação de conheci- Na página oficial do Sexto Fórum Mundial sociedade civil a construção de uma mentos tecnológicos e assessoria em da Água 2012, a ser realizado na cidade cidadania ativa, promotora da sustenta- projetos e desenvolvimento de unida- francesa de Marselha, é possível encon- bilidade dos recursos hídricos na bacia des e sistemas de informação. Conta trar tudo sobre a organização, os temas, do rio Paraná. Divulga também materiais com três linhas de serviços: os tradi- as comissões e todos os documentos ofi- para a proteção de bacias na América cionais, relacionados à consulta e em- ciais relativos ao slogan do evento: “O Latina e no Caribe. A Rádio Água é um préstimo de material documental dos Tempo das Soluções”, organizado em projeto do Centro Internacional de Hi- acervos de livros e periódicos; os de doze prioridades e três condições a fim droinformática (CIH). assessoria, para a criação e implantação www.worldwaterforum6.org de que se cumpram compromissos que de serviços de informação tecnológica governos, a sociedade, setores financei- através de comunicados periódicos; e, ros e especialistas debateram em torno por fim, os serviços especializados a das questões do setor hídrico, do acesso pedido dos interessados em ter acesso à água por todos, dos impactos das mu- aos materiais. danças climáticas e da segurança alimentar. O Sexto Fórum Mundial da Água é www.iwha.ewu.edu tido como a maior reunião de líderes do ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL setor água e saneamento básico, e é rea- DE HISTÓRIA DA ÁGUA lizado a cada três anos, desde 1997. Fundada em agosto de 2001, esta As- www.water.europa.eu sociação reúne um grande número de historiadores da água e de outros ramos WATER INFORMATION interessados no assunto, além de res- SYSTEM FOR EUROPE ponsáveis políticos com interesse na his- Associação criada pela Comissão Eu- tória do recurso hídrico. Estes intelectuais H2OUSE ropéia do Meio Ambiente, pelo Centro vêm de uma ampla gama de disciplinas Interessante site desenvolvido pelo Comunitário de Pesquisa e pelo Euros- acadêmicas e de instituições públicas Departamento de Recursos Hídricos tat, que se reúnem para trabalhar no e privadas. Agrupados, compartilham Urbanos do Conselho de Conservação desenvolvimento e na aplicação de ideias e experiências que poderiam elu- da Califórnia, graças a um acordo de uma política de água. Essa sociedade cidar os complexos processos de forma- cooperação com a Agência de Prote- tripartida será o marco de referência ção de usos dos recursos hídricos, junto ção Ambiental dos Estados Unidos. O de instituições da União Europeia, com suas contingências e precedentes Conselho reúne 315 empresas de abas- assim como de autoridades locais, re- históricos. Entre seus objetivos, é possí- tecimento de água urbana, organismos gionais e nacionais quando o assunto vel destacar o estímulo, a promoção e públicos de defesa do consumidor e for água. Ela disponibiliza informações, o fomento da compreensão histórica e outros interessados em melhorar o abas- dados e pesquisas a profissionais que a pesquisa da relação entre a água e o tecimento de água e a conservação dos trabalham no setor hídrico, embora ser humano; o estímulo de um vínculo recursos hídricos da Califórnia. O site ins- também transmita informações ao pú- mais forte entre engenheiros, cientistas, trui o usuário e apresenta conselhos para blico em geral. Neste portal, é possí- planejadores e outros profissionais; a medir o consumo de água em suas diver- vel encontrar informações agrupadas promoção da consciência pública sobre sas atividades. Foi criado para ser uma em seções sobre legislações de água, o papel da água na história mundial e a enciclopédia virtual, destinada a orientar dados e indicadores, assim como pro- da participação cidadã na solução dos a manipulação racional e sustentável dos jetos de pesquisa e relações de links problemas relacionados ao uso dos re- recursos hídricos em nossas casas. de projetos europeus sobre o assunto. cursos hídricos. www.h2ouse.org 64 Aqua Vitae É preciso despertarmos a consciência de um novo cotidiano, tanto individual quanto coletivo, que restaure annonce_final_spanish.pdf 2/09/11 nossa relação milenar com o planeta. É preciso alinhar ANO 8 | 2012 | N. 16 16:29:35 ISSN 1659-2697 nossas intenções, mentes e consciências com hábitos, ANO 8 | 2012 | Nº 16 estilos de vida e modos de produção de consumo renovados, para desfrutarmos de uma nova intimidade com a água e avançarmos no caminho da prosperidade C M J CM MJ CJ CMJ e do futuro comum da humanidade. N ES TIEMPO DE SOLUCIONES 12 > 17 Marzo 2012 ANO 8 | 2012 | N°16 MARSEILLE, FRANCE '12 COMPROMISSO INTERGENERACIONAL PELA ÁGUA worldwaterforum6.org URGENTE CONSELHO EDITORIAL Benedito Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial da Água (WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP) Costa Rica e membro do Comitê Diretivo da GWP América Central. Claudio Osório | Consultor Internacional de Água e Saneamento. Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008. DIRETORA GERAL | Yazmín Trejos Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil DIRETORA DE REDAÇÃO | Luciana de Paula Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil PRODUÇÃO EDITORIAL: Satori Editorial | www.satorieditorial.com EDITOR CHEFE | Boris Ramírez EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo DESIGN GRÁFICO | Gerson Tung CORREÇÃO DE ESTILO | María del Mar Gómez CAPA | Animaux Corp. COLABORADORES Maude Barlow, Presidente do Conselho Canadense, Presidente da Food and Water Watch, Prêmio Nobel Alternativo 2005. Bill e Melinda Gates, Fundação Gates Yong Jiang. Enciclopédia da Terra. Eduardo Orecchia e Miguel tInstituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina. Eduardo Padilla Ascencio, Sistema de Água Potável e Rede de Esgoto de León, México. Ton Vlugman , Assessor em Saúde e Meio Ambiente da Organização Panamericana da Saúde / Organização Mundial da Saúde. ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Luis Alonso Ramírez e Juliana Gebrin TRADUÇÃO E EDIÇÃO EM PORTUGUÊS Pampa Tradução e Interpretação FALE CONOSCO | [email protected] Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem Hydros IV – Cotidiano 1/09/11 18:05:42 ISSN 1659-2697 annonce_finale_port_bresil.pdf ANO 8 | 2012 | Nº 16 C M J CM MJ CJ CMJ N ANO 8 | 2012 | N°16 COMPROMISSO INTERGERACIONAL PELA ÁGUA worldwaterforum6.org URGENTE
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