Sentindo as águas: um estudo etnográfico sobre
Transcrição
Sentindo as águas: um estudo etnográfico sobre
Projeto: Sentindo as águas: um estudo etnográfico sobre as capacidades cognitivas de pescadores artesanais caiçaras em Cananéia - SP Aluno: Lucas Lima dos Santos Orientador: Prof. Dr. Stelio Marras Universidade de São Paulo (USP), São Paulo Instituto de Estudos Brasileiros - IEB RESUMO As capacidades cognitivas dos pescadores artesanais sempre foram algo intrigante para os cientistas naturais e sociais, principalmente por confrontar com a dicotomia imposta pela constituição moderna entre natureza e cultura. A atividade pesqueira proporciona uma profunda interação do homem (pescador-coletor) com o meio. Propondo uma discussão sobre as dualidades na constituição da ciência moderna, o objetivo deste estudo etnográfico é analisar a relação entre as capacidades cognitivas desses artesãos das águas e o meio no qual o mesmo está inserido, elucidando os diversos elementos na dinâmica do meio que influenciam, de acordo com Ingold (2010), no processo de redescobrimento orientado dessas capacidades cognitivas. Ademais, também será analisada a influência dessas capacidades cognitivas sobre a técnica e a territorialidade pesqueira estuarina. Este estudo etnográfico será conduzido através da observação participante das atividades cotidianas, das redes de sociabilidade e da lida com a terra e com a água, sendo que, todos os eventos e entrevistas serão registrados através de um diário de campo, gravador de áudio e máquina digital. Tendo em mente que as capacidades cognitivas dos pescadores artesanais são de suma importância para fomentar a gestão participativa em Unidades de Conservação de Uso Sustentável, proporcionando uma melhor gestão dos recursos pesqueiros, este estudo etnográfico será realizado com os pescadores artesanais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (Rds) Itapanhapima e das Reservas Extrativistas (Resex) Taquari e Ilha do Tumba, no município de Cananéia – SP, com o intuito de ser incorporado aos estudos para a elaboração de um Plano de Manejo Participativo dessas unidades. INTRODUÇÃO Caiçaras, açorianos e jangadeiros1 são diferentes denominações étnicas utilizadas para algumas culturas litorâneas regionais ligadas principalmente às atividades pesqueiras (Diegues, 1999 & Diegues et. al, 2000), sendo estas culturas fortemente ligadas à influência de três correntes étnicas: a portuguesa, a indígena e a negra (Júnior, 1963 & Silva et al., 1990). As populações tradicionais que são imanentemente conectadas às essas culturas litorâneas possuem peculiaridades como: o uso de técnicas ambientais de baixo impacto, formas equitativas de organização social, presença de instituições com legitimidade para fazer cumprir suas leis possuindo lideranças locais, e, traços culturais que são seletivamente reafirmados e reelaborados (Carneiro Cunha, 2009). A principal atividade de baixo impacto utilizada pelas populações tradicionais litorâneas é a pesca de pequena escala, que, de acordo com Reis (1993), é denominada como pesca artesanal por ser de proporções pequenas e economicamente rentáveis. A pesca artesanal dos caiçaras nos municípios de Iguape, Ilha Comprida e Cananéia, região sul litorânea do estado de São Paulo, não se restringe apenas a uma atividade de subsistência, mas ela também têm uma significativa importância na economia local (Brasil/IBAMA/APA-CIP, 2003). Como um grande diferencial daquela região costeira, no Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá, que abrange estes três municípios, as atividades pesqueiras utilizam-se da rede de emalhe e do “cerco-fixo” como principais técnicas de captura (Oliveira, 2011). Cerca de cinco mil pescadores esse complexo estarino lagunar utilizam diferentes artes de pesca e atuam, em sua maioria, de maneira autônoma com meios de produção próprios, sozinhos ou com o auxílio da família (Beccato, 2003). Para Holling et. al (2002), este tipo de sistema autônomo e único se mantem estável principalmente por conta da resiliência dos sistemas ecológicos frente aos distúrbios, que permite a manutenção da integridade de suas funções ecológicas, e também, pelo dinamismo da 1 Os jangadeiros localizam-se em todo o litoral nordestino, do Ceará até o sul da Bahia, os caiçaras, no litoral entre o Rio de Janeiro e São Paulo e os açorianos, no litoral de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Diegues,1999). Diegues explica que enquanto os caiçaras e açorianos estavam também ligados à atividade agrícola, os jangadeiros dependiam quase que inteiramente da pesca costeira. sociedade humana em aprender a se adaptar às transformações ao longo do tempo, em um processo histórico e evolutivo de superação de limites. Através da atividade pesqueira os artesãos das águas interagem profundamente com o meio ambiente, sendo que conhecimentos como, os tipos de ambientes propícios à vida de certas espécies de peixes, as condições da maré, melhores pontos de pesca, o manejo dos artefatos pesqueiros, a etologia dos peixes (Diegues, 1983, 1995; Silvano, 1997; Souza et. al, 2001 & Souza et. al, 2010), são muito importantes na habilidade do pescador. As capacidades cognitivas destes pescadores sempre foram algo intrigante para os cientistas naturais e sociais que lidam com estudos pesqueiros, sendo estas alvo de diversos estudos que colocam em prova a classificação dualista de cultura e natureza (Diegues, 2000; Frake, 1985; Gell, 1985; Gladwin, 1970; Hutchins, 1995; Maldonado, 1986 e 2000; Sautchuk, 2007). Aprofundando na cosmologia da interação do homem com o meio, me deparo com as obras de Bateson (1972), Hallowell (1955), Ingold (2000, 2011), Lévi-Strauss2 (1982 [1949], 1997 [1962]), Tarde (2007), Latour (1994) e Merleau-Ponty (1971), nos quais discutem e propõem uma desconstrução da visão dicotômica da constituição moderna, ou seja, a desmistificação de um meio natural como algo acessório e passivo para a sociedade, abordando a concepção sistêmica de natureza que propõe a inseparabilidade entre organismo e ambiente. Em Jamais fomos modernos – ensaio de antropologia simétrica, Latour compreende que a nossa vida intelectual é “decididamente mal construída” (1994:11). O autor além de propor a não separabilidade da produção comum das sociedades e da natureza, ele compreende que o pensamento sistematizado, interdisciplinar ou em redes, não interliga-se porque o nosso tecido não é inteiriço. A compreensão da natureza em fragmentos impossibilita a continuidade das análises, e a dupla configuração social/natural permeia as interpretações dos fenômenos diversos. Irving Hallowell em Culture and Experience escreveu que “qualquer dicotomia dentro-fora, tendo a pele humana como limite, é psicologicamente 2 Velden & Badie (2011:15) recordam que desde a declaração de Lévi-Strauss em O Pensamento Selvagem (1997 [1962]), compreendendo que os animais antes de serem bons para comer, são bons para pensar, fixou-se definitivamente a relação entre Natureza e cultura na antropologia. No entanto, anos antes desta obra, em As Estruturas Elementares de Parentesco (Lévi-Strauss, 1949), o mesmo autor já havia estabelecido que a própria origem do fenômeno social estaria na passagem da natureza para a cultura. irrelevante”, a partir dessa diretriz, o autor propõe que “o organismo e seu meio sejam considerados juntos, como uma única criatura, tornando a interação ambiental a unidade mínima que convém à psicologia” (1955:88). Através dessas premissas, Bateson, com a noção de que “o mundo mental não está limitado pela pele” (1972:429), propõe uma maneira ecológica3 entender questões como: os mistérios da evolução biológica e as crises na relação entre os seres humanos e o meio ambiente. Essa maneira ecológica de pensar sobre a relação organismo/natureza foi denominada “ecologia da mente”. Steil e Carvalho (2013:73), então, com este conceito em mente, compreenderam que este “não é uma metáfora, mas a realidade mesma que constitui o indivíduo por meio do fluxo contínuo que conecta ao mundo, inclusive aos outros sujeitos humanos”. Através das obras Fenomenologia da Percepção4 e O visível e o invisível5do filósofo Merleau-Ponty, que propõem a concepção de um ser humano senciente e o mundo sensível, apontando a ideia de corpo no sentido de uma transcedência do sujeito no mundo, do qual o corpo humano é uma expressão; o antropólogo Timothy Ingold dialoga este contexto com as obras de Hallowell (1955), Bateson (1972) e Csordas (2008) em Being alive: Essays on movement, knowledge and description (2011). Nesta obra, Ingold (2011:236) traz o conceito o “mundo dos materiais”, no qual, através deste, ele percebe a absorcividade e a transcendência entre a mente e o mundo, ou seja, humanos não se formariam dentro de uma caixa-preta6, sem contato com outras esferas da vida prática, como diria Latour (1994), mas sim, em um meio real de pessoas, objetos e relacionamentos. Sobre este conceito de Ingold, Steil e Carvalho concluem que: “Não é absorvendo representações mentais ou elaborando esquemas conceituais que nós aprendemos, mas sim, desenvolvendo uma sintonia fina e uma sensibilização de todo o sistema perceptivo. Neste processo cognitivo atuam concomitantemente o cérebro, com suas conexões neurais, os órgãos 3 A maneira ecológica de Bateson está fundamentada na noção de que “as diferenças fazem diferenças”. Nessa noção, pequenas diferenças podem fazer enormes diferenças no meio que estão inseridas através da quebra e criação de sistemas de padrões que irão influenciar e nortear a ação dos organismos no ambiente. 4 MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 5 MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2000. 6 Termo utilizado em refefência a Latour (1994) em Jamais fomos modernos – ensaio de antropologia simétrica. corporais periféricos, com suas contrações musculares e o ambiente com os aspectos específicos que situam o sujeito no mundo” (2013:73). Esse processo cognitivo humano está baseado, não em alguma combinação de capacidades inatas e competências adquiridas, mas sim em técnica manual, ou melhor dizendo, em habilidade (skill) (Rubin, 1988 & Clark,1997). Essa habilidade, fazendo uma ponte com a obra de Ingold The Perception of the Environment:Essays on livehood, dwelling and skill7, pode ser exemplificada imaginando os humanos caçadores e coletores (hunters – gatherers) do Pleistoceno, com apenas tecnologias simples á disposição. Para o sucesso do seu modo de vida eles dependiam da habilidade agudamente sensível da percepção e ação (Ingold, 2000), concluindo-se que a caça implica a prática de uma habilidade interagindo construtivamente com o meio (dwel) (Sautchuk, 2007:12). Essa interação construtiva o Ingold explica que: “Não é um atributo do corpo individual isoladamente, mas[sim] de todo um sistema de relações constituídas pela presença do artesão no seu ambiente (Ingold, 2000:291).” Esse tipo de relação com o meio pode ser observado no estudo arqueológico com cunho antropológico, sociológico e etnográfico de Cappoli (2010:48), no qual ele faz uma comparação entre sociedades do médio Ribeira e sambaquieiras, no litoral sul de São Paulo, descrevendo que os sambaquieiros (pescadores-coletores8), desenvolviam uma apurada percepção do meio que, através disto, estabeleciam técnicas específicas para sua exploração. Ou seja, a interação humanos e não humanos (animais, artefatos, aspectos do ambiente), tanto Ingold (2000) como Descola (1972) consideram que passa pela prática e está sujeita à diversas configurações, a depender do arranjo que houver entre eles. No entanto, Ingold e Descola divergem-se ao descrever a técnica. Considerando a psicologia ecológica de Gibson (1979), Ingold delinea a técnica como 7 INGOLD, T. The Perception of the Environment:Essays on livehood, dwelling and skill. Routledge, London. 2000. 8 Utilizei este termo em referência ao termo “caçador-coletor” utilizado por Ingold (2000) em The Perception of the Environment:Essays on livehood, dwelling and skill. uma relação palpável, sendo o sentido inseparável da prática, a partir da qual se constituem as pessoas (humanas e não humanas) com suas identidades e propósitos. No caso de Descola (2005), dialogando com a antropologia simétrica de Latour (1994), ele afirma que a técnica se apresenta como objetivação das ligações que emanam de um dado esquema entre os seres. Em relação à técnica e a prática descrita por Ingold, o antropólogo, em um ensaio quase uma década antes de lançar a obra The Perception of the Environment:Essays on livehood, dwelling and skill, já havia concluído que os movimentos de um artesão habilidoso (especialistas) correspondem sempre com fluidez e de forma contínua às perturbações do ambiente percebido (1993:462), desta forma, é através dessa fluidez e continuidade da prática que embasará as qualidades de cuidado, avaliação e destreza (Pye, 1968:22). Ingold (2010) chama atenção ainda para o fato de que é através dessa busca pela fluidez e continuidade da prática, que possibilitará com que artesãos iniciantes consigam construir seus próprios conhecimentos, seguindo os mesmos caminhos orientados pelos seus predecessores habilidosos, no entanto, o aumento do conhecimento na história de vida de uma pessoa não é um resultado de transmissão de informação, mas sim de uma redescoberta orientada, ou seja, “não se trata de conhecimento que me foi comunicado; trata-se de conhecimento que eu mesmo construí seguindo os mesmos caminhos dos meus predecessores e orientado por eles” (Ingold, 2010:19). Esse tipo de redescoberta pode ser observado no estudo de Clauzet et. al (2005), no qual a autora verificou que as comunidades pesqueiras da Barra do Una e da Enseada do Mar Virado, litoral norte de São Paulo, que praticam diariamente as atividades de pesca, não somente contribuem para o conhecimento das suas gerações sucessoras sobre utilização dos recursos naturais, mas também, as técnicas de pesca artesanal menos impactantes ao ecossistema marinho. Desta forma, foi constatado que as populações de pescadores estudadas conseguem retirar do mar, há mais de cinco gerações, o sustento de suas famílias sem haver ameaças de escassez dos recursos. Ingold (2010:19) esclarece que essa contribuição envolvendo especialistas e iniciantes é denomidado como uma educação da atenção, na qual, considerando-me do trabalho citado anteriormente de Clauzet et. al (2005), os pescadores iniciantes “copiam” as técnicas de artesãos capacitados, envolvendo um misto de imitação e improvisação, havendo assim um processo de afinação do sistema perceptivo (ZukowGoldring, 1997). Sobre este processo de imitação e improvisação da técnica, Ingold (2010:21) cita a descrição do antropólogo John Gatewood (1985) ao analisar a relação do iniciante com o especialista. Descrevendo o cenário, “o iniciante olha, sente ou ouve os movimentos do especialista e procura, através de tentativas repetidas, igualar seus próprios movimentos corporais à aqueles de sua atenção, a fim de alcançar o tipo de ajuste rítmico de percepção e ação que está na essência do desempenho fluente”. Smith (1977) afirma que sobre esta relação entre iniciantes e especialistas, há registros de comportamentos rituais, nos quais pescadores africanos mais velhos (especialistas) acompanham a primeira empreitada dos pescadores mais novos (iniciantes) para o mar, objetivando não apenas instruir ao novo artesão onde e como pescar, mas sim, simbolicamente, dar-lhe acesso ao universo produtivo e ao segredo de sua sociedade. Sendo assim, pode-se complementar que os trabalhos de maturação no interior do campo da prática dão a possibilidade de o iniciante captar aspectos essenciais do ambiente, que já são fluentes para o especialista habilidoso9. Ingold (2010:21), no mesmo artigo citado anteriormente, compreende que a contribuição da cognicidade das gerações passadas para as demais não se dá pela entrega de um conjunto de informações que adquiriram autonomia em relação ao mundo da vida e da experiência, mas pela criação, através de suas atividades de contextos ambientais, dentro dos quais as sucessoras desenvolvem suas próprias técnicas incorporadas de percepção e ação. Paz e Begossi (1996), que também compartilham dessa compreensão de Ingold em seu estudo, afirmam que as habilidades dos pescadores são provenientes do habitual, de experiências vividas e compartilhadas de geração a geração, sendo assim, é praticamente unânime entre os pesquisadores destacar a técnica ou “saber-fazer10” como um requisito altamente valorizado dentro das comunidades de pescadores (Sautchuk, 2007:6 & Duarte, 1999). Os estudos que reconhecem a existência da cultura marítima, ou seja, o reconhecimento da antropologia marítima ou da pesca, (Smith, 1977; Acheson, 1981; Poggie Jr., 1908; Diegues, 1983) definem que a pesca é uma atividade produtiva, mas 9 Esta passagem final, tomo por base as ideias de Gibson (1979) em The ecological approach to visual perception. 10 Apesar de este termo ser amplamente utilizado, para Marshall Sahlins (1985) não há separação entre “o saber e fazer”, sendo que “toda prática é teórica, e vice-versa”, ou seja, o conhecimento do mundo, portanto, apenas emerge da experiência deste/neste mesmo mundo. altamente imprevisível, se refletindo no modo de ser e nas capacidades cognitivas dos pescadores. Como já elucidado anteriormente, essas capacidades cognitivas estão diretamente relacionadas com espaço onde os pescadores interagem, tanto que, Françoise Zonabend (1994:170-171) observando os pescadores integrantes de seu estudo, constatou que eles se orientavam sem carta ou qualquer instrumento, sabendo apenas interpretar cada sinal emitido pelo mar vivenciado: a cor da água, os batimentos das ondas, a força da corrente, as marcas sensíveis da natureza dos fundos, o estado da maré ou a “cara do tempo11”. Bourdieu (1979) afirma que as habilidades específicas surgem da sinergia do homem com o espaço, conectadas às atividades, percepções e atitudes adquiridas na socialização e na relação com o meio, gerando hábito e capacidade de orientação e de exploração do território. Neste contexto, Maldonado, realizando alguns estudos sobre a relação das capacidades cognitivas dos pescadores e a territorialidade (1986, 1991, 1994), afirma que o conhecimento íntimo do espaço possibilita o zoneamento sazonal, tanto para fins de territorialidade, como para a organização dos turnos de trabalho, possibilitando as embarcações de realizarem uma pesca produtiva, sem desfavorecer a pesca alheia. A territorialidade surge da criação de mediações espaciais proporcionando efetivo poder sobre um determinado espaço geográfico, sendo este diretamente relacionado aos aspectos culturais e de identidade (Haesbaert, 2007:97). Diegues e Arruda (2001:24) complementam afirmando que a relação das populações litorâneas pesqueiras com o território, pode ser definida “como uma porção do espaço e da natureza sobre qual determinada sociedade reivindica e garante a todos, ou a uma parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, controle ou uso da totalidade, ou parte dos recursos naturais existentes”. Raffestin (1993:162) e Soja (1971:19) acrescentam ainda que existem três ingredientes básicos que compõem a territorialidade: identidade espacial (ou identidade com o meio), sentido de exclusividade e uma compartimentação da interação humana no espaço. A territorialidade pesqueira é foco de estudos em várias partes do mundo, analisando as formas pelas quais os pescadores utilizam o espaço costeiro e como as comunidades pesqueiras se organizam (Acheson, 1981, 1987, 1998; Begossi, 1996, 11 Expressão popular utilizada pelos pescadores para indicar a previsão ou o estado do tempo. 2001a, 2001b; Mussolini, 1980; Cunha, 1987; Duarte (1999); Francesco, 2012; Berkes, 1985; Ruddle, 1989, 1998a, 1998b & Silva, 1993). O indício dessa territorialidade, segundo Cardoso (2001:81), pode ser observado através de unidades territoriais pesqueiras, como por exemplo, as armadilhas fixas (cambôas e os currais12 de pesca, no norte e nordeste, e o cerco fixo13, no Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-CananéiaParanaguá) e as capturas móveis, como a rede de lanço14, largamente utilizada em sistemas estuarinos e lagunares de norte a sul do país. Utilizando-me dos conceitos de Ingold (2000) sobre a habilidade (skill), da educação da atenção (Ingold, 2010) e penetrando nas margens da territorialidade pesqueira, este processo de localização e demarcações das unidades territoriais pesqueiras descritas por Cardoso (2001), através da apurada percepção espacial dos pescadores artesanais, consistem em uma habilidade; sendo que esta, para a determinação dos locais de maior produtividade pesqueira, vem da contribuição de gerações predecessoras em conjunto com a improvisação dos pescadores. A territorialidade pesqueira e as capacidades cognitivas dos pescadores artesanais são muito importantes para a gestão participativa dos recursos naturais, sendo que através deste tipo de gestão, regras comunitárias são definidas com a finalidade, por exemplo, de regular como a pesca deve ser realizada, os locais, o tempo, a tecnologia e o estágio de vida das espécies alvo (Acheson & Wilson, 1996). De acordo com Manuela Carneiro (2009), a valorização dos conhecimentos tradicionais e a conservação ambiental trouxe uma mudança de paradigma, no qual, as “populações tradicionais”, antes consideradas entrave para o “desenvolvimento” em muitas regiões do Brasil, “foram promovidas para a linha de frente da modernidade”. Levando em consideração as capacidades cognitivas dos pescadores artesanais, os gestores de Unidades de Conservação de Uso Sustentável utilizam-se do elo com estes atores, reconhecendo a importância e a tradicionalidade da atividade pesqueira, as especificidades culturais e sociais das populações que as mantêm, as regras historicamente compactuadas pelas comunidades e a territorialidade da atividade, 12 Correspondem a apetrechos de pesca cujo ponto de instalação representa uma apropriação territorial de forma individual ou do grupo, de um trecho de água. 13 Cojunto de galhadas fixa no fundo formando um cercado no qual os peixes que entram não conseguem encontrar a saida. 14 É utilizada na pesca do camarão, possui tamanho de até 100 metros de comprimento com malhas de 24 mm que em geral capturam toda a fauna circundante. incorporando estes aspectos nos instrumentos de gestão desta categoria de unidade de conservação (Brasil, 2007:13). OBJETIVOS O objetivo deste projeto é abordar a pesca como um contribuinte para a conexão do mundo da exterioridade (da res extensa) com o da interioridade (da res cogitans) no ser humano, refletindo sobre a relação entre as capacidades cognitivas do artesão e o meio no qual o mesmo está inserido. Desta forma, será realizado um estudo etnográfico em três Unidades de Conservação de Uso Sustentável, do Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá, no município de Cananéia-SP, analisando os diversos elementos na dinâmica do meio que influenciam no aprendizado e contribuição dessas capacidades cognitivas através do processo de redescoberta monitorada. Anexando-se a isto, serão analisadas as influências dessas capacidades cognitivas na técnica e territorialidade pesqueira. Visa-se com este estudo fazer uma discussão sobre a dicotomia imposta pelo homem moderno entre a cultura e a natureza, trazendo vertentes antropológicas e biológicas de autores não-modernos que embasarão este projeto, nos quais se dedicam aos Science Studies e as etnociências. É importante ressaltar que com esse projeto não se pretende desvalorizar a importância de se utilizar apenas a escolha da esfera cultural ou ambiental para a elaboração de conceitos, mas sim, propor a discussão entre esses conceitos de modo que, pelo menos, partes destas duas esferas possam, em momentos específicos, serem abordados de uma forma mais integrada e não excludente. JUSTIFICATIVA Através da Lei Estadual nº 12.810, de 21 de fevereiro de 2008, foram instituídas as Reservas Extrativistas Ilha do Tumba e Taquari e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itapanhapima. A partir da instituição dessas três Unidades de Conservação, têm-se estabelecido uma gestão participativa dos produtores, pescadores artesanais, moradores, técnicos e pesquisadores, para a elaboração do seu Plano de Manejo Participativo. Sendo este estudo etnográfico de grande interesse da Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo – Fundação Florestal e do Conselho Deliberativo dessas Unidades de Conservação, analisar a cognicidade dos pescadores artesanais é um importante instrumento para a gestão participativa destas áreas protegidas. Através da cognição desses artesãos, regras de utilização são estabelecidas visando o controle e conservação dos recursos pesqueiros, sendo estas regras, fortemente baseadas nas percepções território-ambientais dos pescadores artesanais (Begossi & Brown, 2003; Pereira, 2004) e da relação de coesão entre os pescadores de uma mesma região (Cruz & Almeida, 2010). As atividades artesanais com o valor intrínseco dos saberes contribuídos de geração a geração imanente ao dinamismo dos costumes locais, executadas durante as interações com os sistemas ecológicos, são de grande importância para a elaboração de ações estratégicas conservacionistas com ênfase na efetividade (monitoramento contínuo) e gestão coletiva e solidária (COPPE/UFRJ, 2008). METODOLOGIA O estudo etnográfico será realizado nas comunidades tradicionais favorecidas de utilizar as Reservas Extrativistas (Resex) Taquari e Ilha do Tumba e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (Rds) Itapanhapima, localizadas no Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá, no município de Cananéia – SP. A Resex Ilha do Tumba abriga importantes áreas de manguezais preservados no litoral sul do estado de São Paulo. Abrangendo uma área de 1.128,26 ha, esta Unidade de Conservação é destinada às comunidades da Ilha do Cardoso e Região de Ariri (São Paulo, 2008). Seu objetivo é conservar a importante área do Lagamar e assegurar o extrativismo (caranguejos, pesca) pelas comunidades locais. Na área, além dos recursos encontrados nos mangues, a população retira matéria prima para construção de cercos fixos de pesca muito importantes para a economia local. A Unidade de Conservação ajuda ainda a preservar importantes sambaquis, sítios arqueológicos citados entre os mais antigos do litoral sul (São Paulo, s.d.). A Resex Taquari abrange ambientes marinhos e manguezais de grande importância para a manutenção da biodiversidade local. Com uma área de 1.662,20 ha, esta Unidade de Conservação protege manguezais do Rio Taquari e assegura a pesca para pescadores tradicionais de Cananéia (São Paulo, 2008). As reservas extrativistas representam uma modalidade que garante o uso dos recursos naturais de seu interior por parte dos pescadores, partindo de normas estabelecidas por eles próprios, ainda que a propriedade pertença ao Estado. Com uma área de 1.242,70 ha a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (Rds) de Itapanhapima é um importante berçário de peixes e mamíferos aquáticos. Destinada à população tradicional dos bairros Itapanhapima, Retiro e Bombicho (São Paulo, 2008), a Rds utilizada para a atividade pesqueira, abrange uma grande extensão de manguezal manejados pelas famílias tradicionais residentes e por algumas famílias de Cananéia, realizando também a extração da ostra nativa e do caranguejo-uçá. Esta Unidade de Conservação visa promover a gestão participativa do território e a melhoria da qualidade de vida das populações residentes através do manejo sustentável dos recursos naturais (São Paulo, s.d.). Figura 1. Localização das áreas de estudo no estado de São Paulo. Figura 2. Localização das áreas de estudo no município de Cananéia-SP, sendo as áreas de coloração vermelha, as reservas extrativistas, e as de coloração verde, a reserva de uso sustentável. No trabalho de campo serão empregadas estratégias habituais do métier etnográfico. A observação participante permitirá acompanhar as atividades cotidianas, as redes de sociabilidade, a lida com a terra e com a água, sendo que para estes registros, estarei acompanhado de um diário de campo para sistematizar estas experiências. Estas observações também possibilitarão fazer uma comparação entre os pescadores das três Unidades de Conservação, detectando a existência de contrastes nas técnicas utilizadas e nas unidades territoriais. Com a concepção de que nem tudo é passível através de palavras, e que a observação etnográfica implica no olhar e na escuta atenta e sensível, utilizarei uma câmera digital para fotografar e filmar15 os caminhos que percorrerei ao longo da pesquisa e todos os eventos importantes para a mesma. O intuito não é apenas trazer um realismo maior para as minhas experiências, mas também de produzir um vídeo etnográfico que complementará os resultados deste projeto. Carlos Sautchuk (2007:23) 15 A utilização de todo o material produzido pela pesquisa contará com o consentimento e aprovação dos envolvidos. afirma que a obtenção imagens é uma parte importante do discurso etnográfico, esclarecendo que o equipamento de registros de imagens presente em campo estabelece relações diferenciadas entre pesquisador e pessoas. Entrevistas semiestruturadas16 registradas com o auxílio do gravador de áudio, serão realizadas com membros das famílias que se utilizam das Unidades de Conservação, norteadas por perguntas referentes às trajetórias individuais, às histórias das famílias, à história do lugar, a territorialidade pesqueira, os ensinamentos dos pescadores mais experientes e a variação de técnicas de pesca. Estas entrevistas serão realizadas com pescadores de diferentes faixas etárias possibilitando detectar o quão é a contribuição do conhecimento local do especialista para o iniciante, e o quão é a autonomia e afinidade do iniciante. O gravador de áudio possibilitará o aprofundamento da pesquisa, mas também, os registros de algumas peculiaridades no modo de dizer (sutilezas da linguagem). Estas peculiaridades locais serão utilizadas ao longo da dissertação, assim como frases e testemunho locais. Para que seja realizado o registro da espacialidade das localidades estudadas, será utilizado um aparelho GPS marcando os principais caminhos percorridos dentro e fora das Unidades de Conservação, possibilitando o mapeamento dos territórios pesqueiros de cada artesão e se há variações destes territórios de acordo com dinâmica do meio. Analisando a percepção que os pescadores possuem desta espacialidade, solicitarei para que os pescadores elaborem mapas do próprio punho, tendo em vista analisar a forma como entendem e representam o espaço habitado e a territorialidade pesqueira (Postigo, 2010). Além das entrevistas, para o estudo sobre a contribuição das habilidades dos pescadores especialistas para os iniciantes, durante as atividades cotidianas em terra e na água, observarei como existe (ou se existe) a interação entre os experientes com os iniciantes. Havendo esta interação, analisarei quais ensinamentos são contribuídos em relação à técnica e as unidades territoriais. Assim como Malinowski (1978), Ingold (2000) e Descola (1994:107) chamam atenção para a importância da experiência prática na elaboração de uma etnografia, a todo o tempo tomarei também o lugar de um iniciante, participando das experiências cotidianas destes inesperientes pescadores. 16 Idem nota anterior. Após a pesquisa etnográfica de campo, com base nos dados primários aliada a perspectiva teórica, a análise antropológica daí decorrente deverá ser capaz de descrever as formas de interação do pescador artesanal caiçara com o meio, possibilitando fazer uma análise de todos os fatores que possibilitam os artesãos de adquirirem as suas capacidades cognitivas que irão influenciar diretamente na técnica e territorialidade. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 2014 Revisão Bibliográfica 2015 Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul X X X X X X X X X X X X X X X X Trabalho de Campo Disciplinas / créditos X X X X Sistematização e Análise dos dados coletados X X X X 2015 Revisão Bibliográfica X 2016 Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Trabalho de Campo Disciplinas / créditos X X Sistematização e Análise dos dados coletados X X Confecção da tese X X X X X X X X X BIBLIOGRAFIA ACHESON, J. M. Anthropology of fishing. Annual review of anthropology. v. 10, p. 275-316. 1981. ACHESON, J. M. The lobster fiefs revisited: economic and ecological effects of territoriality in the Marine lobster industry. In: McCAY, B. J.; ACHESON, J. M. (eds.). The question of the commons: the culture and ecology of communal resources. Tucson: The University of Arizona Press, p. 37-65. 1987. ACHESON, J.M. & WILSON J.A. Order out of Chaos. The Case for Parametric Fisheries Management. American Anthropologist. v. 98, n. 3, p. 579-594. 1996. ACHESON, J.M.; WILSON, J.A.E. & STENECK, R.S. Managing chaotic fisheries. In BERKES, F. & FOLKE, C. (eds.) Linking Social and Ecological Systems. Cambridge Universiity Press. p. 390-413. 1998. BATESON, G. Steps to an Ecology of Mind: Collected Essays in Anthropology, Psychiatry, Evolution and Epistemology. New York: Ballatine Books. 1972. BECCATO, M.A.B. A pesca de iscas vivas na região estuarino-lagunar de Cananéia/SP: análise dos aspectos sociais, econômicos e ambientais como subsídios ao manejo dos recursos e ordenamento da atividade. Tese de Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos-SP. 2009. BEGOSSI, A. The fishers and buyers from Búzios Island (Brazil): Kin ties and modes of production. Ciência e Cultura. v. 48, n.3, p.142-147. 1996. BEGOSSI, A. Fishing spots and sea tenure in Atlantic Forest coastal communities: incipient forms of local management. Human Ecology. v. 23, n.3, p. 387-406. 1995. BEGOSSI, A. Cooperative and Territorial Resources: Brazilian Artisanal Fisheries. In: BURGER, J., OSTROM, E., NORGAARD, R. B., POLICANSKY, D. & GOLDSTEIN, B. D. Protecting The Commons: A Framework for Resource Management in the Americas (eds.). Washington: The Island Press. 2001a. BEGOSSI, A. Mapping spots: Fishing areas of territories among islanders of the Atlantic Forest. Regional Environmental Change, v. 2, p. 1-12. 2001b. BEGOSSI, A. & BROWN, D. Experiences with fisheries co-management Latin America and Caribbean. In: NOAKES, L. G. The Fisheries Co-Management Experience – Accomplishments, Challenges and Prospects. Kluwer Academic Publishers. Boston Longon. 2003 BERKES, F. Fishermen and "The Tragedy of the Commons. Environmental Conservation. v. 12, n. 3, p. 199-206. 1985. BOURDIEU, P. La distinction – critique sociale du jugement, Paris, Editions de Minuit. 1979. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, Guia de Pesca Amadora – Peixes Marinhos. Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora, 2006. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Pesca para o Futuro? Dia Mundial das Zonas Úmidas. Brasília. 2007. Disponível em: < http://sistemas.unipacbomdespacho.com.br/bibliotecavirtual/32790%20-%200171%20%20Pesca%20para%20o%20Futuro.pdf> Acessado em 4 de fevereiro de 2014. CARDOSO, E.S. Pescadores Artesanais: Natureza, Território, Movimento Social. Tese de doutorado. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo-SP. 2001. CARNEIRO CUNHA, M. Cultura com aspas, outros ensaios. Cosac Naify, São Paulo: 2009. CARVALHO, I.C.D.M., & STEIL, C.A. Percepção e ambiente: aportes para uma epistemologia ecológica. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Universidade Federal do Rio Grande – FURG. 2013. CLARK, J. E. A dynamical systems perspective on the development of complete adaptive skill. In: DENT-READ, C.; ZUKOW-GOLDRING, P. (eds.). Evolving explanations of development: ecological approaches to organism-environment systems. Washington, DC: American Psychological Association. 1997. CLAUZET, M.; RAMIRES, M. & BARRELLA, W. Pesca artesanal e conhecimento local de duas populações caiçaras (Enseada do Mar Virado e Barra do Una) no litoral de São Paulo, Brasil. Multiciencia. 2005. COPPE, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. A leitura da gestão socioambiental da reserva extrativista marinha de arraial do cabo sob a ótica dos pescadores locais. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2008. CRUZ, M. N. & ALMEIDA, O. T. Estratégias para a co-gestão dos recursos pesqueiros no estuário amazônico: o caso dos acordos de pesca em Abaetetuba-PA. In: Simpósio Internacional de Geografia Território e Poder. Anais... Curitiba. 2010. CSORDAS, T.J. Corpo/significado/cura. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 2008. CUNHA, L.H. Entre o Mar e a Terra: Tempo e Espaço na Pesca em Barra da Lagoa, São Paulo. Dissertação de mestrado. PUC. 1987. DESCOLA, P. In the society of nature: a native ecology in Amazonia. Cambridge; Cambridge University Press. 1994 [1986]. DESCOLA, P. Par-delà nature et culture. Paris; Éditions Gallimard. 2005. DIEGUES, A.C. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo, Ática, 1983. DIEGUES, A.C. Povos e Mares: Leituras em Sócio- Antropologia Marítima. São Paulo, NUPAUB-USP. 1995. DIEGUES, A.C. A Sócio-Antropologia das comunidades de pescadores marítimos no Brasil In: Revista Etnográfica, v.III, n.2, p. 361-375. 1999. DIEGUES, A.C.; ARRUDA, R.S.V.; SILVA, V.C.F.; FIGOLS, F.A. & ANDRADE, D. Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. 2000. DIEGUES, A.C. & Arruda, R.S.V. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; São Paulo: USP. 2001. HOLLING, C.S.; GUDERSON, L.H. & LUDWIG,D. In quest a theory of adaptative change. In: Guderson, L.H.; Holling, C.S. (Eds). Panarchy: understanding transformations in human and natural systems. Washington. DC: Island Press, p. 3-22. 2002. DUARTE, L. As redes do suor: a reprodução social dostrabalhadores da pesca em Jurujuba. Rio de Janeiro, Editora da Universidade Federal Fluminense. 1999. FRAKE, C. Cognitive maps of time and tide among medieval seafarers. p. 254-270. 1985. FRANCESCO, A. A. Este é o nosso lugar: uma etnografia da territorialidade caiçara na Cajaíba (Paraty, RJ). Dissertação de Mestrado. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Campinas. 2012. GATEWOOD, J. B. Actions speak louder than words. In: DOUGHERTY, J. W. (Ed.). Directions in cognitive anthropology. Urbana, Ill.: University of Illinois Press, 1985. GELL, A. How to Read a Map: Remarks on the Practical Logic of Navigation. Man London. v. 20, n. 2, p. 271-286. 1985. GIBSON, J.J. The ecological approach to visual perception. Boston: Houghton Mifflin. 1979. GLADWIN, T. East is a big bird: Navigation and logic on Puluwat Atoll. Harvard University Press, 2009. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 3 ed., p. 400. 2007. HALLOWELL, A.I. Culture and Experience. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1974 [1955]. HUTCHINS, E. Cognition in the Wild. Cambridge, MA: MIT press, 1995. INGOLD, T. Technology, language, intelligence: a reconsideration of basic concepts. In: GIBSON, K. R.; INGOLD, T. (eds.). Tools, Language and cognition in human evolution. Cambridge: Cambridge University Press. 1993. INGOLD, T. The Perception of the Environment:Essays on livehood, dwelling and skill. Routledge, London. 2000. INGOLD, T. Da transmissão de representações à educação da atenção. Educação, Porto Alegre, v. 33, n. 1, p. 6-25. 2010. INGOLD, T. Being Alive: Essays on Movement, Knowledge and Description. London: Routledge, 2011. JÚNIOR, C.P. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. Rio de Janeiro: Brasiliense, 7. ed. 1963. LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica. São Paulo: Editora 34. 1994. LÉVI-STRAUSS, C. As Estruturas Elementares do Parentesco. Petrópolis: Vozes. 1982 [1949]. LÉVI-STRAUSS, C. Pensamento Selvagem. Papirus Editora, 1997 [1962] MALDONADO, S.C. Entre dois Meios. Tese de doutoramento Brasília, UnB. 1991. MALDONADO, S. C. Pescadores do mar. São Paulo, Ática. 1986. MALDONADO, S.C. Mestre e mares. Espaço e indivisões na pesca marítima. Ed. Annablume: São Paulo. 2 ed. 1994. MALDONADO, S.C. A caminho das pedras: percepção e utilização do espaço na pesca simples. In: DIEGUES, A.C. (Org.). A imagem das águas. São Paulo: HUCITEC. 2000. MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultural – Coleção Os Pensadores. 1978. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994. MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 2000. MUSSOLINI, G. Ensaios de antropologia indígena e caiçara. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1980. PAZ, V. A., & BEGOSSI, A. Ethnoichthyology of Galviboa fishermen of Sepetiba Bay, Brazil. Journal of Ethnobiology. v. 16, n.2, p.157-168. 1996. POGGIE JR., J. Maritime Anthropology: socio-cultural analysis of small scale fishermen’s cooperatives. Anthropological Quarterly. 1980. POSTIGO, A. A terra vista do alto. Usos e percepções acerca do espaço entre os moradores do Rio Bagé, Acre. Tese de doutorado em Antropologia Social, Campinas, IFCH/ UNICAMP. 2010. PYE, D. The nature and art of workmanship. Cambridge: Cambridge University Press. 1968. RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática. p. 270. 1993. REIS, E. G. Classificação das atividades pesqueiras na costa do Rio Grande do Sul e qualidade das estatísticas de desembarque. Atlântica, v. 15, p.107-114, 1993. RUBIN, D. Go for the skill. In: NEISSER, U.; WINOGRAD, E. (Eds.). Remembering reconsidered: ecological and traditional approaches to the study of memory. Cambridge: Cambridge University Press. 1988. RUDDLE, K. Solving the Common Property Dilemma: Village Fisheries Rights in Japanese Coastal Waters. In: BERKES, F. Common-Property Resources: Ecology and Community-Based Sustainable Development (eds). Inglaterra: Belhaven Press. 1989. RUDDLE, K. Traditional community-based coastal marine fisheries management in Vietnam. Ocean & Coastal Management. v. 40, p. 1-22. 1998a. RUDDLE, K. The context of policy design for existing community-based fisheries management systems in the Pacific Islands. Ocean & Coastal Management. v. 40, p. 105-126. 1998b. SAHLINS, M. Ilhas da História. Rio de Janeiro: Zahar. 1985. SÃO PAULO. Fundação Florestal. Reserva de desenvolvimento sustentável – Rds – Estaduais. Disponível em <http://fflorestal.sp.gov.br/unidades-de-conservacao/reservade-desenvolvimento-sustentavel/> Acessado em 4 de fevereiro de 2014. SÃO PAULO. Fundação Florestal. Reserva extrativista – Resex – Conceito. Disponível em <http://fflorestal.sp.gov.br/unidades-de-conservacao/reserva-extrativista/reservaextrativista-resex-estaduais/> Acessado em 4 de fevereiro de 2014. SÃO PAULO. Lei nº 12.810, de 21 de fevereiro de 2008. Altera os limites do Parque Estadual de Jacupiranga, criado pelo Decreto-lei nº 145, de 8 de agosto de 1969, e atribui novas denominações por subdivisão, reclassifica, exclui e inclui áreas que especifica, institui o Mosaico de Unidades de Conservação do Jacupiranga e dá outras providências SAUTCHUK, C.E. O arpão e o anzol: técnica e pessoa no estuário do amazonas (Vila Sucuriju, Amapá). Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Departamento de Antropologia. Brasília. 2007. SILVA, L.G.S. Caiçaras e Jangadeiros: Cultura Marítima e Modernização no Brasil. CEMAR: Centro de Culturas Marítimas, USP. São Paulo. 1993. SILVA, T. E.; TAKAHASHI, L. T. & VERAS, F. A. V. As várzeas ameaçadas: Um estudo preliminar das relações entre as comunidades humanas e os recursos naturais da várzea da Marituba do Rio São Francisco. Programa de Pesquisas e Conservação de Áreas Úmidas no Brasil. Universidade de São Paulo, 1990. SILVANO, R.A.M. Ecologia de três comunidades de pescadores do rio Piracicaba (SP). Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas Instituto de Biologia. Campinas, SP. 1997. SMITH, M. E. Those who live from the sea. West Publishing Co. 1977. SOJA, E.W. The political organization of spaces. Washington: Association of American Geographers, Commission on College Geography. p. 54. 1971 SOUZA, A.C.F.F.D.; VIEIRA, D.M. & TEIXEIRA, S.F. Trabalhadores da Maré: Conhecimento tradicional dos pescadores de moluscos na área urbana de Recife-PE. In: ALVES, R.R.D.N.; SOUTO, W.D.M. & MOURÃO, J.D.S. (eds.) A etnozoologia no Brasil: Importância, status atual e perspectivas. Recife: NUPEEA. 2010. SOUZA, M.R. & BARRELLA, W. Conhecimento Popular sobre Peixes numa Comunidade Caiçara da Estação Ecológica de Juréia Itatins (SP). Boletim do Instituto de Pesca. v. 27, p. 97-104. 2001. TARDE, G. Monadologia e Sociologia e Outros Ensaios. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. VELDEN, F.V & BADIE, M.C. A relação entre natureza e cultura em sua diversidade: percepções, classificações e práticas. Avá, Posadas, n. 19. 2011. ZONABEND, F. Une perspective infinie. La mer, Le rivage et la terre à La Hague (presqu’île du Cotentin). Paris: Éstude Rural, 1994. ZUKOW-GOLDRING, P. A social ecological realist approach to the emergence of the lexicon: educating to amodal invariants in gesture and speech. In: DENT-READ, C. & ZUKOW-GOLDRING, P. (eds.) Envolving explanations of development: ecological approaches to organism-environment systems. Washington, D.C.: American Psychological Association, 1997.