La Pasionaria ocultou durante 40 anos uma virgem e um crucifixo
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La Pasionaria ocultou durante 40 anos uma virgem e um crucifixo
Nos anos 80 devolveu-o La Pasionaria ocultou durante 40 anos uma virgem e um crucifixo, propriedade de unas monjas reparadoras Actualizado 22 de Abril de 2013 Zenit / ReL Depois da impactante revelação que publicou ReL no passado 11 de Abril sobre a dirigente comunista Dolores Ibárruri: La Pasionaria, temida líder comunista, confessou-se e comungou antes de morrer... católica apareceram mais dados que apresenta o jesuíta Pedro Miguel Lamet no seu livro "Azul e vermelho: biografia do jesuíta que militou nas duas Espanhas e escolheu o subúrbio" (La Esfera). Um padre tirou-lhe a fé... Benito García Roldán, chofer e moço de recados do padre Llanos levava-o de carro a casa de la Pasionaria. O irmão Agustín Drake, numa dessas visitas, ouviu dizer a Pasionaria: “Eu era católica, mas um padre tirou-me a fé e além disso casei-me com um ateu. O meu sonho era ser professora, mas não pude ser. Tínhamos fome e eu cuidava de uma menina tuberculosa”. Llanos e Pasionaria rezavam aquelas tardes o pai-nosso em latim e cantavam velhas canções religiosas, como “Cantemos ao amor dos amores”. Pasionaria escondeu 40 anos uma virgem e um crucifixo Outro acto memorável que revela Lamet é “o dia em que organizaram um encontro com duas religiosas reparadoras, data em que Dolores cumpria oitenta anos. Estas irmãs da rua de Fomento tinham sido protegidas pela Pasionaria, à qual tinham pedido que conservasse um quadro da Virgem, e ao que parece um crucifixo, para que não o profanassem os milicianos. Pasionaria devolveu naquele acto quarenta anos depois as imagens. Há documentação gráfica do evento, no qual esteve presente a jornalista da TVE Maria Antonia Iglesias, ainda que com um pacto de discrição” (revelou Agustín Drake ao autor). Confessou e comungou “...há dados bastantes fiáveis – escreve Lamet - que confirmaram que Dolores Ibárruri, de formação cristã e crente de coração, se confessou e comungou no final da sua vida. Assegurou-o a madre Teresa, a monja ex-carmelita descalça que, como referimos, dedicou a sua vida ao ‘Pozo’. E a sua filha Amaya Ruiz Ibárruri: ´Nunca encontrei nenhuma discrepância entre Dolores e José María. Quero dizer que a olhava como se fosse a Virgem Dolorosa. Dizia sem duvidá-lo: ´Dolores tem que ir para o céu. Estou seguro de que ali a encontrarei´”. “Mas o mais significativo é que, quando perguntado perante as câmaras da Televisão Espanhola, e depois de negar Llanos que pudessem participar juntos da mesma fé, acto seguido acrescenta: ´Pelo menos externamente não pode ser´. O qual corrobora que se partilharam de alguma maneira ´internamente´ dita fé, mas que resultava muito forte ter público que o símbolo por antonomásia do comunismo ateu da Guerra Civil tivesse morrido católica, pelo que esse episódio devia ficar no foro interno do sacerdote amigo. Ele guardaria sempre esse íntimo segredo. Como uma carta que temos descoberto nos seus arquivos, fechada no dia de Reis de 1989. Onde, depois de dizer-lhe que sabe que pede por ela ´ao partir o pão´, acrescenta: ´A ver se os ´velhitos´ que somos convertemos o que nos resta de vida num canto de louvor e acção de graças ao Deus-amor, como ensaio do nosso eterno que fazer´”. Obsessão pela justiça “A goles de café costuravam entre sorrisos velhas recordações, conversando de tudo, mas principalmente sobre a justiça, ´a obsessão de toda a sua vida´. Logo cantavam – ela o fazia em castelhano e basco -, juvenis canções do partido”, ou canções românticas como a do amor dos reis Afonso XII e Maria das Mercedes. La Pasionaria nasceu numa família carlista e conservadora Dolores Ibárruri, la Pasionaria, nascida em Gallarta em 1895, numa família mineira conservadora e carlista pobre. Ibárruri interessou-se pela luta obreira debaixo da influência do seu marido, um militante socialista com o qual se casou em 1915. Desde que passou à acção por causa da greve geral revolucionária de 1917, entre os fervores da recente revolução na Rússia, Dolores Ibárruri foi adquirindo prestígio como oradora e articulista política. Pasionaria é um termo que ela utilizou antes para assinar ao que parece numa folha dominical. Há quem diga que é em 1918 quando publica o seu primeiro artigo no El Minero Vizcaíno e o assina com o pseudónimo de Pasionaria. Seja como seja, o apelido escolhido por ela tem claras reminiscências religiosas. A excisão do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), fundado por Pablo Iglesias, deu lugar em 1920 ao nascimento em Espanha do Partido Comunista no qual militou Dolores Ibárruri e chegou a formar parte do seu Comité Central em 1930. Em 1931 mudou-se para Madrid para trabalhar na redacção do periódico do partido Mundo Obreiro. Durante a guerra ascendeu ao segundo lugar em influência no partido, depois do seu secretário-geral, José Díaz. Uma vida queimada Depois da derrota exilou-se na União Soviética (1939-1977). Ao morrer Díaz em 1942, Pasionaria substituiu-o como secretária-geral do PCE, cargo de que seria deslocada por Santiago Carrillo em 1960. Manteve o cargo de presidente honorífica. No seu regresso a Espanha foi escolhida deputada nas Cortes pelas Astúrias e em Madrid a conheceu o padre Llanos numa festa do partido. “Desde então não deixei de visitá-la cada quinze dias – escrevia confidencialmente o padre Llanos -. Uma mulher extraordinária com a qual hoje, aos seus oitenta e seis anos, me une uma amizade de anciãos – não deixa de trazer-me ofertas das suas viagens à Rússia -. Também veio ao ‘Pozo’ e no meu quarto preside a sua foto como um fixo determinante da minha história. O padre vermelho, como dizem, e bem pouco que servi na minha fidelidade ao partido, o padre vermelho e amigo de Dolores, a quem cada quinze dias visito saindo do ‘Pozo’, de onde ninguém apenas me tira. Por Dolores e por minha irmã, as minhas saídas, já neste estado final de uma vida queimada, reduzem-se a ir vê-las. E bons desgostos que dei há minha boazinha irmã com tanto rubor meu nesta ancianidade; mas terminei por encaixar o meu ´desvio´ e seguimos bem unidos” (Confidências, pp 137-138). “Ensinou-me – afirma o jesuíta -, a mim, o padre cristão e amigo, como é preciso aos noventa anos viver ´a fome e sede de justiça´, tal como se pedia nas Bem-aventuranças”. Lamentava-se de que no partido, por querelas internas, a tinham deixado só. “Depois do seu falecimento o padre Llanos concedeu uma entrevista ao autor deste livro sobre os doze anos de profunda amizade que os tinham unido, insistindo que Pasionaria estava no céu, porque tinha uma fé, a de lutar pela justiça e que nunca tinha caído na tentação de ´convertê-la´”. Faleceu em 12 de Novembro de 1989 e foi enterrada no recinto civil do cemitério de Almudena. O padre Llanos escreveu: “Por isso e pelo teu sorriso, aquele teu sorriso para sempre no meu coração, um beijo. E da parte de tantos”. in