Un vira-lata sin complejos. Brasil frente al siglo XXI
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Un vira-lata sin complejos. Brasil frente al siglo XXI
GRUPO DE PESQUISA OPINIÃO PÚBLICA, MARKETING POLÍTICO E COMPORTAMENTO ELEITORAL Em Debate Periódico de Opinião Pública e Conjuntura Política Missão Publicar artigos e ensaios que debatam a conjuntura política e temas das áreas de opinião pública, marketing político, comportamento eleitoral e partidos. Coordenação: Helcimara de Souza Telles – UFMG Conselho Editorial Antônio Lavareda – IPESPE Aquilles Magide – UFPE Bruno Dallari – UFPR Cloves Luiz Pereira Oliveira – UFBA Dalmir Francisco – UFMG Denise Paiva Ferreira – UFG Gustavo Venturi Júnior – USP Helcimara de Souza Telles – UFMG Heloisa Dias Bezerra – UFG Jornalista Responsável Érica Anita Baptista Equipe Técnica: Lucas Matos Valadares Stéfany Sidô Ventura Parceria Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas – IPESPE Julian Borba - UFSC Luciana Fernandes Veiga – UFPR Luiz Ademir de Oliveira – UFSJ Luiz Cláudio Lourenço – UFBA Malco Braga Camargos – PUC-MINAS Marcus Figueiredo – IESP/UERJ Mathieu Turgeon – UnB Rubens de Toledo Júnior – UFBA Pedro Santos Mundim – UFG Silvana Krause – UFRGS Yan de Souza Carreirão – UFPR Endereço Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Ciência Política – DCP Av. Antônio Carlos, 6.627 - Belo Horizonte Minas Gerais – Brasil – CEP: 31.270-901 + (55) 31 3409 3823 Email: [email protected] Twitter: @OpPublica As opiniões expressas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores. 3 EM DEBATE Periódico de Opinião Pública e Conjuntura Política Ano V, Número II, Abril de 2013. SUMÁRIO Editorial Dossiê: “O cenário internacional em 2013” 5-6 Un vira-lata sin complejos. Brasil frente al siglo XXI Vicente Palermo 7-15 Las elecciones argentinas en perspectiva comparada Isidoro Cheresky 16-43 Retos y desafíos de la Venezuela post-Chávez Héctor Gabriel Briceño Montesinos 44-63 O mundo árabe pós-2010: entre a primavera e o inverno Dawisson Elvécio Belém Lopes; João Paulo Ferraz Oliveira 64-75 Opinião O temor ao conflito no pensamento político brasileiro Felipe Riccio Schiefler Em Debate, Belo Horizonte, v.4, n.9, p.3-4, Jan. 2013. 76-82 4 Resenha Comunicação política e comportamento eleitoral na América Latina Aline Burni Em Debate, Belo Horizonte, v.4, n.9, p.3-4, Jan. 2013. 83-89 5 EDITORIAL EDITORIAL O cenário internacional em 2013 Tendo em vista os vários acontecimentos que marcaram o mundo nos últimos três anos, a edição de abril do periódico Em Debate tem como objetivo empreender uma análise da conjuntura internacional e de seus acontecimentos mais marcantes, tais como a situação da Venezuela pósChávez e os desdobramentos da Primavera Árabe. Neste cenário de transformações e crise, procura-se entrever os principais desafios que se apresentarão no âmbito das relações internacionais neste ano de 2013. No artigo “Un vira-lata sin complejos. Brasil frente al siglo XXI” Vicente Palermo discorre acerca de um Brasil que se mostra renovado e que se insere neste cenário internacional de maneira nova, não mais apegado ao conhecido “complexo de vira-lata”, mas seguro de si, embora não esconda uma série de problemas que o país ainda tenha que enfrentar. A desigualdade social, o descumprimento das leis, a impunidade e a pobreza são desafios que ainda se impõem ao Brasil e, inexoravelmente, terão de ser resolvidos para que o país alcance a grandeza almejada. Isidoro Cheresky, no artigo “Las elecciones argentinas en perspectiva comparada”, realiza uma análise, ao mesmo tempo, aprofundada e abrangente de todos os meandros das eleições nacional e provinciais levadas a cabo na Argentina em 2011. Para analisar este processo eleitoral, Cheresky elabora uma retrospectiva histórica do ciclo kirchnerista e analisa, um por um, a situação dos principais partidos no período das eleições. Em “Retos y desafios de la Venezuela post-Chávez”, Héctor Briceño, professor da Universidad Central de Venezuela, examina a atual situação da Venezuela, não mais liderada por Hugo Chávez, mas sim por seu sucessor, Nicolás Maduro. Continuará a Venezuela a seguir o caminho do chavismo ou será necessário todo um processo de reestruturação política e social? Dawisson Elvécio Belém Lopes e João Paulo Ferraz Oliveira em, “O mundo árabe pós-2010: entre a primavera e o inverno” apresentam uma análise dos desdobramentos da Primavera Árabe, acontecimento que marcou profundamente o Oriente Médio e os Estados do Magreb Africano nos últimos dois anos. O artigo procura identificar quais foram as reais Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.5-6, Abr. 2013 6 EDITORIAL transformações sociais e constitucionais que se seguiram ao processo de insurreição que teve início em 2010. Na seção “Opinião”, Felipe Riccio Schiefler discorre acerca da cultura política brasileira, apontando seu forte caráter conciliador. Em uma análise que remete aos séculos XVIII e XIX, Riccio demonstra o processo de formação do pensamento político brasileiro, sempre pendendo para o lado da conciliação e da moderação, ao mesmo tempo em que rechaça o embate e a discórdia. A partir desta constatação, Riccio faz uma breve análise do atual cenário político nacional. Por fim, na “Resenha” desta edição, Aline Burni apresenta o livro “Comunicação Política e Comportamento Eleitoral na América Latina”, organizado por Helcimara Telles e Antônio Lavareda. No livro, os autores exploram uma gama de teorias para explicar o comportamento eleitoral dos cidadãos na América Latina. A região, cujos regimes democráticos são relativamente recentes, ainda é uma incógnita para os cientistas políticos, dado as particularidades e singularidades culturais que, por sua vez, se refletem no modo como o eleitor escolhe seus governantes. No entanto, ainda que seja peculiar, o comportamento eleitoral dos latino-americanos não é tão particular que não possa ser entendido através das principais correntes teóricas em voga. Neste sentido, como bem argumenta Burni, a obra é importante referência nos estudos sobre comportamento eleitoral e comunicação política, principalmente por colocar em discussão e em análise temas muito recentes e que se tornam, a cada eleição, mais significativos no desenrolar das campanhas, nas relações entre as elites dirigentes e os cidadãos e na participação política, a exemplo do uso da internet e das redes sociais. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.5-6, Abr. 2013 7 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI A stray dog without complex. Brazil front of twenty-first century. Vicente Palermo Universidad de Buenos Aires (UBA) [email protected] Resúmen: Por mucho tiempo Brasil convivió con el así denominado complexo de vira-lata. Apelando a los perros callejeros que llevan mil razas en sus genes, atacaba el complejo brasileño, de inocultable cuño racista, que se avergonzaba de la inferioridad de su contingente humano. Pronto este significado preciso dio paso a uno más difuso: Brasil es el país del futuro, pero lo seguirá siendo por siempre, porque sus úlceras jamás le permitirán llegar a él. ¿Puede un país en que imperan la desigualdad y la pobreza llegar a su futuro? ¿Puede acaso hacerlo un país que no respeta sus leyes? Palabras-clave: Complexo de vira-lata; Brasil; século XXI. Abstract: For a long time Brazil has lived with the so-called “stray dog complex”. By invoking the stray dogs that carry in their genes thousands of types of races, it attacked the Brazilian complex, with an undeniable racist stamp, that made Brazilians get ashamed of themselves because of the belief of their own inferiority as human. Along with this meaning another one arose: Brazil is the country of the future, and will always be, because its problems will never allow him to get there. Can a country where the inequality and the poverty prevail get to his future? Can it be possible in a country where citizens do not respect the laws? st Keywords: Stray dog complex; Brazil; 21 century. El año pasado, en la ceremonia de cierre de las Olimpíadas en Londres, cupo a la delegación brasileña presentar a su país como anfitrión del próximo certamen, que tendrá lugar en 2016 en Rio de Janeiro. Ofreciendo en ocho minutos “uma Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 8 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI síntese da nossa cultura” (así dijeron los diarios), la presentación incluyó una breve puesta en escena en la que participaron el gari (recolector de basura, auténtico) Renato Sorriso y un actor, caracterizado como guardia de seguridad. Renato, en uniforme de trabajo, apareció sambando, pero en seguida fue reprendido por el guardia, que pretendía expulsarlo del escenario. Con juego de cintura, Renato no solo permaneció, sino que acabó por enseñar al custodio el abc del samba. Jerarquías y orden que deben ser respetados, subalternos que se salen de su lugar, autoridades que excluyen, jeitinhos que permiten salir del paso sin confrontar, Brasil se da el lujo de seducir al mundo exhibiendo la intimidad de sus llagas. No siempre fue así. Por mucho tiempo Brasil convivió con el así denominado (por el periodista Nelson Rodrigues, talento de los grandes, autor del apotegma “toda unanimidade é burra”) complexo de vira-lata. Apelando a los perros callejeros que llevan mil razas en sus genes, Rodrigues atacaba el complejo brasileño, de inocultable cuño racista, que se avergonzaba de la inferioridad de su contingente humano. Pronto este significado preciso dio paso a uno más difuso: Brasil es el país del futuro, pero lo seguirá siendo por siempre, porque sus úlceras jamás le permitirán llegar a él. ¿Puede un país en que imperan la desigualdad y la pobreza llegar a su futuro? ¿Puede acaso hacerlo un país que no respeta sus leyes? La vigencia de esta forma de interrogar el futuro se percibe, por ejemplo, en la frecuencia con que el complexo de vira-lata es mencionado, o denunciado como un modo enfermizo de lo brasileño, o bien para reivindicar la condición de vira-lata sin complejos (é, mas cachorro vira-lata é muito esperto, ne?), o bien empleado para afirmar ya lo contrario al complejo, que Brasil lo ha superado, que los brasileños de hoy son autoconfiantes, que la inferioridad ha quedado en el pasado y que, como Renato Sorriso y su guardia, Brasil puede dar lo mejor de sí y sambar suelto de cuerpo ante el mundo. ¿En base a qué? En una palabra, en base a la larga continuidad de las mejoras. Desde la recuperación democrática, hace ya casi 30 años, Brasil ha conocido pocos tropiezos (que tuvieron lugar principalmente en los primeros años) en un camino de progresos graduales, y más bien lentos, en los más diversos campos, desde las condiciones de vida de los sectores populares hasta la organización económica, desde la consolidación institucional hasta el funcionamiento de la justicia. La sociedad civil ha madurado, con nuevos y variados actores, y la Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 9 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI sociedad política está sujeta a un severo escrutinio, que por cierto se merece, pero por parte de un electorado cuya expansión ha sido formidable. Se trata más bien de un conjunto de cambios que debe ser apreciado como tal, más que de la relevancia de las mejoras en cada sector. Y, es verdad, estos cambios de tan lentos son a veces exasperantes, y es larguísimo el camino que falta recorrer. Sobre todo, ¿hay motivos para pensar que estos logros colocaron al país en una ruta sin retorno? De otro modo, ¿se puede confiar en que los éxitos puedan convertirse en una conquista estratégica decisiva? Brasil ha mejorado bastante, en estas tres décadas, en lo que se refiere a dos de sus más graves problemas: la desigualdad social y la pobreza. En los últimos doce años la caída de la desigualdad ha sido consistente. Según Marcelo Neri, un tercio de esa caída se explica por programas de transferencia de renta y previsión social y lo restante por ingresos al trabajo (datos de la ONU-Habitat, “Estado de las ciudades de América Latina y el Caribe, 2012”). Según el ministerio de Desenvolvimento Social, el presupuesto del programa Bolsa Familia es de 20 mil millones de reales en 2012 (equivalente a un no muy impresionante 0,45% del PBI); el programa atiende a 13,7 millones de familias, cerca de 55 millones de personas. En una década, 21,8 millones de brasileños dejaron la pobreza. En 10 años, el 10% más pobre tuvo ingresos 5,5 veces mayor que el 10% más rico. El ingreso per capita de los más ricos creció 16,6% y el de los más pobres 91,2% (Marcelo Neri: La década inclusiva, 2001-2011: desigualdades, pobreza y políticas públicas). Tuvieron lugar también un aumento en la creación de empleo y un salto en su formalización, en especial en la última década. El incremento del salario mínimo, por su vez, explica una parte importante de los mayores ingresos del trabajo. Y la protección social se expandió hasta cubrir el 72% de los empleados. Pero el término Belindia continua valiendo para Brasil, con segmentos entre los más ricos y los más pobres del planeta. En otras palabras, que Brasil avanza, pero está de todos modos entre los de mayor distancia entre ricos y pobres en la región (cuarto después de Guatemala, Honduras y Colombia) y en el mundo (doceavo), y su contingente de pobres continua siendo portentoso. Entre 2009 y 2011, la pobreza extrema cayó mucho más lentamente, solo un 5,5%, alcanzando todavía a 8 millones (datos de IBGE). Y en 2010 ganaba hasta dos salarios Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 10 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI mínimos (poco más de 1000 reales) nada menos que el 72% de los trabajadores. Las condiciones de vida de vastos sectores de bajos ingresos continúan siendo sumamente precarias, tanto en las ciudades, donde están establecidos en su mayoría, como en áreas rurales. En muchísimos centros urbanos carecen de agua corriente y saneamiento básico. La contrapartida es que sería muy injusto con Bélgica la comparación: los muy ricos brasileños son muchos más y sobre todo mucho más ricos. Pero si los avances son tangibles, hay motivos que juegan a favor y en contra de la sostenibilidad de los mismos. Uno de ellos, a favor, es el hecho de que en gran medida la salida de la pobreza se ha dado en términos de una potente movilidad social, configurándose un nuevo sector en la sociedad brasileña (la así llamada classe C; si integra o no la clase media es objeto de controversia), y dando lugar a una descomunal ampliación del mercado interno (esto nadie lo discute: en Brasil, la ampliación de la ciudadanía es principalmente ampliación del consumo). Este dinamismo es promisorio, pero en contra hay que considerar que las políticas de transferencia probablemente hayan alcanzado un techo, y que el crecimiento económico de los últimos años es improbable que continúe en los mismos registros si no tienen lugar alteraciones que incrementen la productividad de la economía. Aunque muy transformada en relación a la forma de organización que el país conoció hasta mediados de los 90, y disfrutando de ciertas ventajas competitivas y comparativas (agua, su agricultura, no correr el riesgo de una escasez de alimentos, sin problemas serios en el sector energético, etc.), la economía brasileña no parece colocada en un sendero de ágil crecimiento, y los años mediocres siguen siendo frecuentes (Brasil creció entre 1992 y 2006 un 3% anual promedio y los años posteriores siguieron marcando un patrón de altibajos, aunque el promedio fue mejor, un 5,2% anual). Un ejemplo de esto está dado por el problema crucial de la economía subtarránea, que entre 2003 y 2011 retrocedió todos los años (del 21% al 16,8% del PBI, todavía con 40% de los trabajadores fuera del mercado formal, trabajo infantil y trabajo en condiciones degradantes). La persistencia de los problemas que la estimulan – alta carga tributaria, complejidad del pago de impuestos, rigidez de la legislación para quien actúa en la legalidad principalmente en el mercado de trabajo – hace que muchos estudiosos teman que el proceso de avance se esté agotando (Instituto de Ética Concorrencial FGV). Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 11 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI La calificación de los trabajadores es un componente básico de la eficiencia sistémica y depende en gran medida de las instituciones educativas. En ese sentido, Brasil ha avanzado muy poco y este continúa siendo un obstáculo para el desenvolvimiento y para la distribución del ingreso. Aunque son más los brasileños que completan los niveles medio y superior, casi la mitad no concluyó el nivel primario (con grandes desigualdades regionales, y cierto progreso: de 60% en 2000 a 45% en 2012). Y en la enseñanza media, con apenas el 35% completo, se está dejando prácticamente afuera del mercado de trabajo al 65% de la población (que puede refugiarse malamente en el subempleo y el mercado marginal o informal). Como señala Wanda Engel (Instituto Unibanco): “Se habla de apagón de mano de obra, pero lo que falta no es personal calificado, es personal escolarizado. Las empresas quieren calificar, pero no hay gente con conocimiento escolar básico para eso.”. Las proyecciones sobre el nivel y la calidad de la formación de la población adulta son bastante sombrías. Reeditando el síndrome vira-lata, la periodista Miriam Leitão, de O Globo, luego de constatar que Brasil tiene 1,4 millones de niños de 7 a 14 años analfabetos (IBGE), se pregunta: ¿será así que queremos vencer? El mundo del trabajo en Brasil nunca ha sido enteramente legal y el derecho a la legalidad ha sido parte de la lucha de los actores populares, y el progreso concretado en ese sentido en los últimos lustros me lleva al examen de la relación más amplia entre la sociedad y la ley. Históricamente, esa relación se expresó, como lo observara Roberto DaMatta, en la tensa coexistencia entre dos órdenes: el orden jerárquico del poder social y el orden igualitarista de la ley. La expresión “aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei...” sintetiza muy bien esta tensión, en la que el poder social está por encima de la ley y la utiliza para perseguir, y los sectores subalternos se valen del jeitinho (que, como bien observa Francisco de Oliveira, los desposeídos aprendieron de los poderosos), la otra cara de la moneda de las relaciones personales particularizadas que cancelan la igualdad legal. Así el gobierno de la ley está asediado por muchos costados. No obstante algo se está avanzando en el difícil camino hacia un orden legal e igualitario. En primer lugar, eso se debe a la maduración de los lentos progresos educativos. Como sostiene Alberto Almeida, la educación es en Brasil una variable de corte a la hora de medir preferencias y valoraciones sociales; su poder Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 12 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI explicativo es mayor al de clase social, niveles de ingreso, etc. A pesar de la lentitud de los avances, Brasil cuenta ya con la masa crítica de una sociedad educada, y ésta cuestiona las jerarquías tradicionales y su perversa relación con la ley (lo que no significa que sea incapaz de echar mano del jeitinho cuando considera que no queda más remedio). De modo que, conjugado este proceso con el de una creciente autonomía de las personas al establecer relaciones más libres (y legales) en el mundo del trabajo, parece indiscutible que la era de las jerarquías está dando paso, de a poco, a la era de la igualdad. Y todavía es muy temprano para medir el impacto de las masivas novedades recientes. La educación puede ser poco más que una fachada si, como en el estado de Maranhao, 161 escuelas llevan el nombre de miembros del clan familiar, encabezado por el ex presidente José Sarney, 61% de los habitantes no tiene escolaridad básica y más del 50% carece de libreta de trabajo. Ese medio es propicio, no para el descontento activo, sino para que el clan se mantenga al frente del Ejecutivo estadual desde hace más de 40 años. Pero quizás dos campos en los que más se está poniendo en tela de juicio la relación histórica entre la sociedad, el poder y la ley sean el ejercicio del poder judicial y la conducta de la clase política. En abril de 1996 tuvo lugar la masacre de Eldorado dos Carajás, en la que 21 sem-terra protagonistas de un piquete fueron asesinados. La historia que siguió a la masacre es una de impunidad, debido principalmente a que la instrucción del sumario adoleció de todos los vicios. Recién en 2012, apenas los dos principales responsables de la Polícía Militar fueron condenados en firme (los hacendados civiles que habrían sobornado a los policías no fueron molestados, porque no había cómo hacerlo). Los 16 años transcurridos fueron una cadena de recursos judiciales que permitieron a los acusados mantenerse en libertad. Los recursos judiciales (cuya presentación exige expertise profesional y dinero) son, en verdad, la principal garantía que disponen los poderosos para mantenerse por encima de la ley una vez que han delinquido. El tema ha recibido creciente atención en la prensa, y existen proyectos de ley enderezados a conferir celeridad a los procesos neutralizando el empleo de recursos en caso de cuestiones juzgadas reiteradamente (súmula impeditiva de recursos), o a establecer el cumplimiento de la pena mientras se recurre. Pero la élite parlamentaria es muy Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 13 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI conservadora, y estos proyectos tramitan desde hace años en el Congreso. Como observa Cláudio Goncalves Couto, ni siquiera la actuación favorable de Cezar Peluso como presidente del Supremo Tribunal Federal removió los obstáculos. En lo que se refiere a la corrupción – que también debe ser entendida como formando parte del bagaje de privilegios desde los tiempos coloniales – el panorama es más favorable. Históricamente, puede decirse que la corrupción era aceptada como una regla de juego, por parte de la clase política y por parte de la sociedad. Pero ahora hay un quiebre: mientras que la ciudadanía ya no la tolera, la clase política sigue considerándola parte de las reglas y la practica. En este ámbito sí han habido movimientos surgidos del seno de la sociedad, que consiguieron vehiculizar propuestas concretas que acabaron plasmándose en nueva legislación. El caso más importante es la ley de Ficha Limpa (2010) que prohibe que políticos condenados en decisiones colegiadas de segunda instancia puedan ser candidatos. Fue el resultado de unos cuántos años de activación de la sociedad civil, que culminaron en la presentación de un proyecto de ley acompañado de 1,3 millón de firmas. Seguramente más conocido por los lectores es el caso del Mensalao, en el que un grupo numeroso de miembros del Partido dos Trabalhadores y altos funcionarios del Poder Ejecutivo fue juzgado, y condenado, por la orquestación de un vasto sistema de compra de votos en la Cámara de Diputados. El episodio, que tuvo su desenlace en 2012, le dio a la presidente Dilma margen de acción para intervenir en los cotos de caza de varios partidos de la coalición en diferentes ministerios. Más allá de lo anecdótico, parece claro que hay una nueva agenda de la sociedad civil y que la percepción general es que la clase política (y no solo en el tema de la corrupción; se cree que los políticos no acompañan los avances sociales, institucionales, etc.) va a remolque de la misma. La flamante creación de un nuevo partido político, en torno a la figura de Marina Silva, que se declara “ni de derecha ni de izquierda sino al frente”, tal vez pueda ser leida como algo más que populismo ramplón, y más bien como un intento de sintonizar con este espíritu de la opinión pública. Acaso Brasil esté dando pasos, en lo que toca al gobierno igualitario de la ley, en la clave de su sempiterna tradición de composición y transigencia. Más que Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 14 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI cabezas cortadas, cabe esperar que los miembros más hábiles – y no sólo los más honestos – de una clase política afectada endémicamente por la corrupción y por el usufructo arbitrario de privilegios, se adapten algo más que gatopardisticamente a los nuevos tiempos. Pero creo que la nueva relación entre la sociedad y la ley llegó para quedarse. Inclusive por razones crematísticas; cabe observar que entre 1988 y 2005 la carga tributaria aumentó 88% (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), y que la presión tributaria alcanza al 32,4% del PBI (2010), lo que crea una demanda de fiscalización difícilmente contrarrestable. Y quizás mucho de lo hecho por el gobierno Lula, al presidir la difícil irrupción del PT en la escena política federal, en materia de configuración coalicional, pueda leerse como la atención, más o menos maquiaveliana, del dilema entre ética y gobernabilidad. Pero la proximidad con la política patrimonial tradicional no tiene muchas chances de recibir una consagración ciudadana en estos términos. Y en verdad si Lula puede ser entendido como líder político, es debido a su desempeño eficaz como nexo entre la política convencional y la sociedad: “Gobernar es hacer lo que Marta (Suplicy) hizo, es mirar a los más pobres. Todo el mundo precisa de prefeito. Ahora, rico no precisa, ni de presidente, ni de gobernador.”. Brasil, junto a una baja valoración de la democracia, cuenta con índices de desconfianza interpersonal que están entre los más altos del mundo. En esa circunstancia, la capacidad de generación de confianza es un bien precioso, el capital político más valioso de que dispone el liderazgo. No sería difícil identificar las luces y sombras con que hemos abordado aquí los problemas de pobreza y desigualdad, y la relación entre sociedad y ley, en otras grandes cuestiones brasileñas, como la económica, la ambiental, la relación con el mundo, la cuestión étnica (que mal podríamos denominar “racial”), etc. Nuestro análisis convergiría en la pregunta inicial: ¿hay motivos para pensar que los logros colocaron al país en un camino irreversible, y que los éxitos habrán de convertirse en una conquista estratégica decisiva? Es posible, tal vez probable, pero no seguro. El país no está libre de eventuales crisis económicas y menos aún de años recesivos – su inserción en la economía internacional sería tal vez más sólida que nunca, de no ser porque la propia economía internacional no es suficientemente sólida. A su vez, en cada uno de los campos hay peligros de reversión, porque todavía los avances no se han sustentado en coaliciones Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 15 VICENTE PALERMO UN VIRA-LATA SIN COMPLEJOS. BRASIL FRENTE AL SIGLO XXI socioculturales que los hagan propios. Sea o no una nueva clase media, la clase C, por ejemplo, carece aún de un ethos que le de un papel reconocido en la sociedad y le permita articularse con la misma. El punto en que se bifurcan los caminos todavía está adelante. Pero cierto escepticismo no impide reconocer los logros de las recientes décadas y apostar por la realización de sus promesas. Como epílogo, recogemos una pregunta formulada por Miriam Saraiva: ¿porqué Brasil, en donde tantas cosas son un desastre, tiene una imagen tan excelente mundo afuera? Me parece que la clave es la imagen que Brasil tiene de sí mismo. Paulo Nogueira Batista Jr. sostiene que Brasil ya es un vira-lata sin complejos. Y es así, Brasil se asume con alegría y orgullo en toda su diversidad étnica, social, cultural y regional. El triunfo de los grandes mitos fundacionales del Brasil de las “tres razas” y la miscigenacao ha sido un escalón para llegar al pluralismo sociocultural contemporáneo – que no está libre de tensiones, como la controvertida política de cotas estudiantiles lo demuestra, pero por el cual Brasil se confiere a sí mismo una imagen en sintonía con su riqueza social y cultural y que ha podido proyectar al exterior en paralelo con una política diplomática de largo plazo, por cierto muy exitosa, fundada en los atributos de soft power. Estos fueron los grandes activos que encontraron al cabo el terreno internacional más propicio gracias a los cambios de la escena internacional de las últimas décadas: el multiculturalismo, el ambientalismo (que es un buen ejemplo de la curiosa conjugación entre el adentro y el afuera: Brasil ha maltratado bastante la Amazonia, pero “es” Amazonia para el mundo, que confía siempre en la siguiente ley ambiental), las identidades de género, etc., se ajustan fuertemente a la imagen de sí mismo que cultiva Brasil, y se combinan, tras el fin de la Guerra Fría, con la posibilidad de que naciones como la brasileña asuman un rol de global players, con activo papel en las organizaciones internacionales y la conformación del grupo Brics. He ahí la paradoja de un Brasil que ha logrado convencer al mundo de ser algo que todavía no es, pero que sueña con serlo. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.7-15, Abr. 2013 LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 16 LAS ELECCIONES ARGENTINAS EN PERSPECTIVA COMPARADA The argentine elections in comparative perspective Isidoro Cheresky Universidad de Buenos Aires (UBA) [email protected] Resumen: En 2011 se llevaron a cabo elecciones nacionales y provinciales en Argentina. Por la primera vez se puso en práctica la ley 26571, que prevé elecciones primarias de las que surgen los candidatos habilitados para competir en las elecciones nacionales. El presente artículo tiene como objetivo investigar los resultados de las elecciones argentinas en perspectiva comparada. Palabras-clave: Elecciones; Argentina; ley 26571. Abstract: In 2011 Argentina carried out national and provincial elections. For the first time was in practice the law 26571, wich provides primary elections from wich arise enabled candidates to compete in the national elections. This article aims to investigate the results of Argentine elections in comparative perspective. Key words: Elections; Argentina; law 26571. I – El proceso electoral 2011 En 2011 se llevaron a cabo elecciones nacionales y provinciales, estas últimas en muchos casos en una fecha diferente de las nacionales por lo que el año electoral se extendió de inicio de marzo a fines de Octubre. Por primera vez se puso en práctica la ley 26571 que prevé elecciones primarias de las que surgen los candidatos habilitados para competir en las elecciones nacionales. (Ver anexo I) El triunfo a nivel nacional de la fórmula presidencial Cristina Kirchner que se postulaba a la reelección, acompañada por Amado Boudou, fue contundente. Pero el resultado de las elecciones provinciales consagró en algunos distritos importantes el triunfo de listas opositoras al oficialismo nacional. De modo, que la fluctuación del voto ciudadano con lo que ello implica en la relación con los representantes, se mantuvo como característica de estas elecciones. 2011 fue un año de elecciones generales en las que se elegirán autoridades nacionales (Presidente y legisladores) siguiendo las normativas de la “Ley de Democratización de la Representación política, la transparencia y la equidad Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 17 electoral “(ley 26571) promulgada con veto presidencial parcial a inicios de 2010. También se elegieron autoridades provinciales (gobernadores, legisladores provinciales, intendentes y concejales) según las regulaciones legales de cada distrito; 22 de los 24 distritos (pues en Santiago del Estero y Corrientes ya se efectuaron esos comicios). El ciclo electoral se prolongó desde el 13 de marzo (elecciones en Catamarca) hasta el 23 de Octubre Algunos distritos, en particular el más poblado de ellos la provincia de Buenos Aires que abarca alrededor del 37 % del padrón electoral, hizo coincidir las elecciones provinciales/locales con las nacionales. Pero otros grandes distritos realizaron sus elecciones antes de las nacionales y de las primarias nacionales: Santa Fé (22 de mayo primarias, 24 de julio provinciales); Ciudad de Buenos Aires (10 de julio primera vuelta, 31 de julio balotaje); Córdoba (7 de agosto elecciones provinciales). Las elecciones provinciales que se van sucediendo modifican la escena pues influyen en los alineamientos de los candidatos y en las orientaciones ciudadanas. Las tres que se efectuaron inicialmente evidenciaron la nacionalización de la campaña. En dos de ellas la visita de la Presidenta, con la popularidad en alza, provocó una reversión significativa de las tendencias en el voto a favor de sus candidatos contrarrestando la influencia de los liderazgos locales. En el caso de Salta en cambio prevaleció el liderazgo del gobernador en detrimento de líderes nacionales, en partículas del Secretario general de la CGT que tenía un delfín como candidato a vicegobernador en una lista que quedó muy rezagada. La principal innovación que introdujo la nueva ley regulatoria de las elecciones es la obligatoriedad para partidos y ciudadanos de participar en elecciones abiertas; en ellas los partidos deben acreditar un umbral de predicamento en el voto ciudadano para poder competir en las elecciones generales. Las elecciones necesarias para legalizar la oferta se llevaron a cabo en un mismo día – el 14 de agosto 2011– y en lugares de votación comunes para todos. Pese a que se trataba de un año electoral y que, según los distritos, los electores están invitados a votar en varias oportunidades, eventualmente hasta cinco veces, el clima de movilización político es moderado. La campaña electoral oficial fue limitada a aproximadamente 30 días tanto para las elecciones del 14 de agosto como para la primera vuelta de las generales (23 de Octubre)- y a mediados de mayo todavía no están anunciadas las principales fórmulas presidenciales. Cristina Kirchner, favorita en las encuestas no ha lanzado aún su candidatura formalmente y en ocasiones desliza una duda sobre su disposición a postularse. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 18 De modo que las elecciones generales consistieron en una confrontación entre varios candidatos coalicionales que aglutinan en torno a su proyecto mas o menos personal según los casos, fragmentos de redes y partidos. La intención de fortalecimiento de los partidos políticos a la que aspiraba la ley 26571 parece lejos de haberse logrado. Incluso, las coaliciones que se constituyeron tuvieron un carácter electoral y probablemente efímero como las del pasado. En todos los casos – para las elecciones primarias cada una de las coaliciones postuló un candidato único de modo que los electores se encontraron con una oferta política consumada y expresarán en esos comicios mas bien la preferencia entre coalicones como pronunciamiento anticipado de las generales (la del 23 de Octubre), aunque por supuesto los candidatos procuraron ratificar o revertir ese primer pronunciamiento . La Presidenta y el oficialismo fueron favoritos para esta lid y luego de las primarias esta presunción se confirmó. Pese a las tensiones en el seno del oficialismo y a su heterogeneidad, el kirchnerismo superó el gran malestar ciudadano del los tres años precedentes, en tanto que las oposiciones no formularon un desafío nítido y carecieron de una alternativa consistente. II Retrospectiva sobre el ciclo Kirchnerista La evolución del gobierno de Cristina Kirchner en su segundo mandato puede ser entendida mejor situándola en la perspectiva de lo sucedido en el ciclo de gobierno de Néstor Kirchner ( 2003-2007) y Cristina Kirchner (2007-2011). La debacle de fines de 2001 fue económica y política. El descontento ciudadano con la gestión de gobierno y en particular con el congelamiento de los depósitos bancarios – que culminaría con el abandono de la paridad peso dólar y una devaluación de la moneda que perjudicaría tanto a ahorristas como a asalariados en general- desembocó en una mega protesta urbana. El Cacerolazo en lo inmediato provocó la renuncia del presidente y su sustitución por uno interino en un clima de rechazo generalizado a la representación política. E. Duhalde –el sucesor presidencial por interim – a los pocos meses convocó anticipadamente a elecciones presidenciales para abril de 2003 como modo de acortar su gobierno debilitado por la protesta social. En esas elecciones resultó ganador cuasi accidental Néstor Kirchner pues, aunque obtuvo solo el 22.4 % de los votos, saliendo segundo entre cinco competidores que tenían poca distancia entre ellos, finalmente fue proclamado Presidente. Carlos Menem quien había obtenido el primer lugar con un caudal apenas superior sabía que no podría reunir en el ballotage mas votos de los ya alcanzado por lo que abandono la competencia. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 19 Néstor Kirchner fue el protagonista de la salida de la crisis gobernando durante los primeros años de su mandato en base a voluntad y decisión personal. Invocaba para un modo poco institucional de ejercer el poder la situación de excepción en que se encontraba el país a la que calificaba de “infierno”. Pudo sobrellevar su precaria legitimidad inicial conquistando amplio apoyo ciudadano al adoptar decisiones audaces e imprevistas y sustentando su capacidad de decisión esa misma relación directa con la opinión pública. Desminatiendo lo que los analistas políticos de entonces predecían, dio la espalda a su padrino político – E- Duhalde- e ignoró al conjunto de la “clase política” histórica, distancia que él y su esposa y sucesora mantuvieron a la largo del tiempo. Conectaba de ese modo con la extendida desconfianza social hacia “la clase política” a la cual, sin embargo, el pertenecía aunque fuese en sus márgenes como gobernador durante años de la provincia de Santa Cruz. Pero su popularidad fue también tributaria de decisiones de gobierno que lo convirtieron en campeón de la lucha contra las corporaciones – las FFAA, la Iglesia, sectores del mundo de los negocios- e impulsor en el restablecimiento de cierta autoridad del Estado, la que permitió acompañaran y favorecer un excepcional crecimiento económico – en torno al 9% anual los primeros años- alentado por la excepcional demanda internacional. Se instaló así un modo de gobernar que parecía apropiado para la situación de excepción : poder concentrado al extremo, con frecuentes decretos presidenciales que desdeñaban el protagonismo del parlamento, con un núcleo decisional reducido del cual no participaba el gabinete y ausencia de diálogo institucional con los destinatarios y aún eventuales beneficiarios de las políticas públicas. La construcción de una organización política propia fue escasa o frágil al menos en los años iniciales y luego se dio lugar a una dinámica movimientista – es decir de baja institucionalidad y escasa participación de los socios e incluso los propios partidarios en las decisiones incorporando como aliados a sectores progresistas prevenientes de la frustrada experiencia del Frepaso y de otros sectores de izquierda democrática con el proyecto inicial de la transversalidad, y luego captando a cinco de los seis gobernadores radicales y su entorno militantes cuando se delineó – en 2006- la estrategia de la Concertación. A medida que el oficialismo se fortalecía de ese modo se acentuó una polarización con los adversarios que terminaría colocando como blanco principal a la “corporación mediática”, y en particular en el grupo de multimedias liderado por el grupo Clarín. Ya en los años mas recientes con la presidencia de Cristina Kirchner se expandió un conglomerado novedoso de medios oficialistas públicos y privados que se inscribieron en una comunicación política polarizada del lado del oficialismo. Estos medios de comunicación privados se vieron favorecidos por una distribución arbitraria de la “pauta publicitaria”, es decir de los fondos públicos para publicidad. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 20 Durante la presidencia de Néstor Kirchner a los logros de la recuperación económica (alto crecimiento, excepcional reestructuración de la deuda pública con una quita en el valor de los nuevos títulos del 75% respecto a los precedentes) y social (caída muy significativa de la pobreza y la indigencia y el desempleo), se sumó un paso institucional acotado pero muy significativo – la renovación de la Corte Suprema con una nueva composición integrada por magistrados autónomos –, que aunque solo contrarrestó parcialmente un ejercicio del poder concentrado fue referencia de pluralidad institucional en un ciclo en que el Congreso ha carecido de prestigio en la opinión y de eficacia en su funcionamiento. Cuando Cristina Kirchner compitió para la sucesión de su esposo –en Octubre de 2007- la popularidad de los Kirchner era aún alta, pero comenzaba a registrarse un malestar ciudadano urbano con el modo de gobernar decisionista en momentos en que el país parecía normalizado. Cristina ganó en el país cómodamente en la primera vuelta ante una oposición divida, pero perdió en las grandes ciudades. Este segundo mandato del proyecto iniciado en 2003, ejercido por Cristina Kirchner, estuvo caracterizado por una continuidad en el modo de ejercer el poder que aparejó inestabilidad, en los altibajos en la popularidad de los gobernantes y en desplazamientos en la composición del movimiento gobernante. A poco de iniciado el mandato de su esposa, Néstor Kirchner impulsó la reorganización del Partido Justicialista - que se hallaba en hibernación jurídica desde el 2002- y recentró el movimiento en el aparato organizacional partidario(intendentes del conurbano y gobernadores) a los que había marginado o desdeñado durante su mandato que aplicándoles el irónico mote de “el pejotismo”. Las expectativas de progresos en la institucionalidad que habían alentado promesas previas de Cristina Kirchner se vieron frustradas, el modo decisionista persistió y condujo a pocos meses de iniciada la nueva gestión a un agudo conflicto con los productores agropecuarios cuando se quiso imponer un incremento en las retenciones en las exportaciones en particular para la soja y el girasol. Aunque la opinión pública no era mayoritariamente hostil a las retenciones, si lo era a un procedimiento muy generalizado que gravaba productores de muy variada rentabilidad y que se instrumentaba de modo tal que se oscurecía nuevamente el uso y destino de los fondos públicos. El malestar de los ruralistas concitó así adhesiones ciudadanas al punto que el Congreso donde el oficialismo había sido mayoritario terminó rechazando el decreto que incrementaba los gravámenes. La presión popular había logrado que la decisión se definiera en ese ámbito y que las lealtades de los bloques parlamentarios se resquebrajara a favor de la protesta. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 21 Un modo de gobernar que hacía caso omiso del diálogo con las partes involucradas en las decisiones, de la intervención parlamentaria pero también de la maduración y argumentación de las decisiones ante la opinión pública parecía hacer agua. Las elecciones de renovación parcial del Congreso efectuadas en junio de 2009 (pese a que la renovación efectiva de los mandatos se haría efectiva solo en diciembre de ese año) fueron transformadas por el ex Presidente Néstor Kirchner en un plebiscito. El mismo encabezó la lista de diputados nacionales en el distrito bonaerense logrando que el propio gobernador en ejercicio y varios intendentes figuraran en esa lista. Pese a este recurso a quienes gestionaban el oficialismo sufrió una derrota nacional, su caudal electoral no alcanzó al 30% , y en ese bajo nivel de adhesión mantuvo también la popularidad de los Kirchner en los mese ulteriores. El rechazo al oficialismo era intenso y en buena medida una oposición variopinta había sido vehículo de expresión del mismo en las urnas. Pese al fuerte traspié, con el impulso de Néstor Kirchner, el oficialismo retomó la iniciativa en el Congreso haciendo votar leyes muy importantes destinadas a reconfigurar el espacio público político (ley de medios y ley de democratización de la representación política) y a reformar la protección social (el sistema jubilatorio volvió a ser público) . Aún después de diciembre 2009 con un Congreso con mayoría opositora en diputados y un Senado en paridad fluctuante, las oposiciones no pudieron concertar iniciativas parlamentarias exitosas y la expectativa ciudadana en ellas se erosionó a lo largo del 2010. El oficialismo se recuperó lentamente, pero la hostilidad al gobierno se mantuvo con cierta intensidad alimentado por la persistencia de ciertos problemas irresueltos, en particular la inflación subestimada en los índices oficiales erosionaba los ingresos fijos, sobretodo los de los mas pobres. Desde el 2007 los progresos en la reducción de la pobreza y las desigualdades se habían estancado. Sin embargo, el gobierno impulsó medidas que contrarrestaron al menos parcialmente esos efectos corrosivos: millones de personas de tercera edad que no habían cumplimentado los aportes jubilatorios accedieron a algún tipo de protección; por decreto la Presidenta se adelantó a una iniciativa parlamentaria y creó un subsidio, de universalidad parcial, para los hijos menores de edad; se generó un nuevo plan (aunque de manejo discrecional en manos de los intendentes) para favorecer la remuneración de aquellos trabajadores que crearan cooperativas de trabajo; y también se continuó con planes de obra pública que incluían extensión de redes de agua potable y cloacales en los barrios mas carenciados. Con todo, pasada la mitad de 2010 las encuestas pronosticaban la persistencia del rechazo al oficialismo y en consecuencia se pronosticaba su fracaso para las presidenciales venideras; hasta que sucedió lo inesperado : el fallecimiento de Néstor Kirchner. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 22 Este acontecimiento produjo una inflexión en el clima público y en la configuración de la escena política. En primer lugar, el desconsuelo de los próximos fue de un modo muy visible la de los jóvenes kirchneristas, de las nuevas generaciones militantes fogueadas en el conflicto con el sector agropecuario y en las movilizaciones ulteriores en torno a las continuas confrontaciones que alentaba Néstor Kirchner. Esos jóvenes eran ilustrativos de una minoría de intensidad política, de militancia en expansión exhibiendo un entusiasmo y una movilización que no tenía correlato en los opositores. Y también contrataba con el “aparatismo” del PJ, cuyas movilizaciones populares eran resultado de un encuadramiento organizacional sospechado – justa o injustamente- de acarrear, al menos en parte, sectores populares atrapados por las redes clientelares : los que venían y volvían en micros. Estos jóvenes urbanos que acudían espontáneamente a despedir al jefe político, mas solventes muchos de ellos, eran autónomos e influyentes en los sectores con los que había chocado el oficialismo en el pasado reciente. Pero, la imagen misma de Kirchner comenzó a reformularse durante las exequias. El líder conflictivo, promotor de una hostilidad incomprensible para los sectores medios y aún probablemente para parte de los mas populares se relativizó a la hora de la imagen póstuma, en provecho del voluntarista que había conducido una salida de la crisis contra las advertencias de los factores de poder y de muchos de los expertos consagrados. Al desaparece él disminuyó la conflictividad y la polarización, y esa distensión permitió al oficialismo encarnado ahora en la figura de Cristina Kirchner poner en valor ciertos logros y emprender la reconquista de la opinión. La otra faz de esta desarticulación que produjo la desaparición física del líder afectó a las oposiciones que se vieron desprovistas del factor unificador provisto por la figura de quien provocaba rechazo en importantes sectores de la opinión. En poco tiempo el viraje en la opinión y en clima público se consolidó instalándose la posibilidad que el ciclo kirchnerista se continuara con un segundo mandato de Cristina Kirchner. III – La oferta electoral 2011 (Precandidatos candidatos presidenciales y legisladores nacionales 2011) La oferta electoral nacional se definió el 25 de junio 2011 con rectificaciones ulteriores, de acuerdo con el calendario electoral, en vistas a la competencia en las elecciones primarias abiertas, simultáneas y obligatorias (PASO) del 14 de agosto. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 23 La gran mayoría de las candidaturas fueron propuestas por coaliciones y su considerable número (seis son las mas significativas) ilustra, así como la proliferación de listas de adhesión (listas que adoptan como propias una candidatura de nivel electoral superior – por ejemplo una lista de gobernador que adhiere a una candidatura presidencial de una etiqueta que tiene su propio candidato a gobernador), una importante fragmentación política principalmente entre las fuerzas opositoras. Coaliciones que se habían iniciado se deshicieron y dieron lugar a ofertas independientes. Los casos mas notorios de separación se protagonizaron entre la UCR y el socialismo, y en el espacio del peronismo federal o disidente. De modo que la definición de la oferta electoral produjo desplazamientos y reagrupamientos significativos. Las coaliciones que se constituyeron, en la mayoría de los casos discontinúan o reorientan las identidades políticas existentes previamente o esbozadas precedentemente. Así han aparecido las siglas UDESO (Unión por la democracia social) con Alfonsin- Gonzalez Fraga; Frente Popular con Duhalde- Das Neves y FAP ( Frente amplio progresista) con Binner- Morandi. Un rasgo común a los diferentes espacios coalicionales es el decisionismo en la confección de la oferta electoral ( la selección de los candidatos). Para las candidaturas presidenciales en la mayoría de los casos se trató de autoproclamaciones acompañadas de la designación personal del compañero de fórmula. Coaliciones políticas en las que la deliberación o negociación ha tenido poca incidencia, pues en cada caso ha predominado la decisión del líder de popularidad. Aunque para las primarias del 14 de agosto no hubo competencia entre fórmulas presidenciales en el interior de los espacios políticos, si lo hubo para otros cargos : gobernador de la provincia de Buenos Aires en el FPV, para legisladores nacionales en algunos distritos en el Frente amplio progresista (FAP), y para otros cargos provinciales y locales en casi todas las principales coaliciones. 1- Las principales coaliciones El Frente para la Victoria El movimiento oficialista aparecía como la fuerza dominante en la escena, con alta posibilidad de resultar triunfante en las elecciones generales. La formulación de la oferta electoral nacional y aún provincial especialmente para la provincia de Buenos Aires produjo un fuerte reacomodamiento en el oficialismo en provecho del entorno presidencial y de lo que se considera el núcleo leal a la Presidenta en detrimento del sindicalismo, del aparato justicialista especialmente el bonaerense e incluso de los aliados “de izquierda” mas autónomos (los movimientos sociales, Nuevo encuentro de Sabatella, y Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 24 los miembros residuales del radicalismo y el socialismo K). El método que permitió confeccionar listas para diputados y senadores nacionales y aún para diputados y Senadores provinciales con presencia expansiva de los militantes de “La Campora” y de leales a los funcionarios del entorno de la presidencia fue la concentración de las decisiones en la Casa Rosada que intervino con un rol protagónico de Zaninni en la confección y/ veto de las candidaturas que debían ser avaladas por él y la Presidenta. Cristina Kirchner al anunciar su propia candidatura, se autoproclamó invocando su voluntad personal como traducción o interpretación de la voluntad popular a la que “se somete” , pese a las circunstancias personales por las que atraviesa (el fallecimiento de Néstor Kirchner). Sin ninguna referencia a decisiones o pedidos partidarios (que los hubo), coalicionales o a intercambios con su entorno. El signo de la intervención de la Presidenta en la confección de las candidaturas fue el de la renovación política, en detrimento de potenciales adversarios, contrapoderes o incluso de leales que fueron desconsiderados (los casos mas notables Pampurro, Nicolas Fernández y Rossi ). Las nominaciones mas significativas a nivel ejecutivo fueron la de su compañero de fórmula, A. Boudou y la de Mariotto para secundar a Scioli en la fórmula bonaerense. Un intento similar por designar una preferida de Kirchner para acompañar a De la Sota como vicegobernadora fue resistida por el líder provincial y condujo a la ruptura con el peronismo cordobés. La designación de Boudou es significativa, no proviene del riñón del peronismo y es disciplinado a la voluntad de la presidenta - es la virtud que se resalta- pero tenía buena relación con Moyano. Se la consideraba una figura de proyección dado los avatares de la salud de Cristina Kirchner, y si los planes de reforma constitucional para habilitar una segunda reelección o un un cambio en el régimen de gobierno (hacia el parlamentarismo como algunos analistas especulan) se frustran, aparecía como un potencial aspirante a la Presidencia en 2015. En el caso de las listas para legisladores nacionales de Ciudad de Buenos Aires, de Provincia de Buenos Aires y también de otros distritos esa intervención marginó o redujo la proporción de los postulantes promovidos por los jefes locales del aparato peronista (generalmente los intendentes y los gobernadores) y por el núcleo dominante de la CGT (Moyano). Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 25 Debe considerarse que la conformación de la oferta conllevó un debilitamiento de D. Scioli –frecuentemente presumido como alternativa del peronismo tradicional a la Presidenta-pues M. Ishi intendente de de Malvinas Argentinas se postuló como desafiante del gobernador en el oficialismo con la lista 6 7 8, que evoca la vertiente radicalizada del oficialismo y apartemente con apoyo en sectores del gobierno. Este desafío se suma al de Nuevo Encuentro de M. Sabatella que C. Kirchner aceptó como candidato a gobernador de una lista de adhesión que competió con Scioli por fuera del FPV, el 23 de Octubre. Esta “renovación política” tuvo como canal principal a la agrupación La Campora – fundada por Máximo, el hijo de la Presidenta- y compuesta por militantes y un núcleo dirigencial que se desempeña mayoritariamente en cargos públicos – en la Anses, Aerolíneas Argentinas, etc. Varios candidatos accedieron al Congreso nacional, pero también a la legislatura porteña y a la bonaerense constituyendo un vector futuro de transmisión confiable de la voluntad presidencial. Los sectores tradicionales del oficialismo, herederos del peronismo histórico y del aparato partidario local y provincial así como el liderazgo sindical fueron conmovidos por la definición presidencial de las candidaturas, que los perjudicó. La popularidad de la Presidenta recurso necesario para la mantención del poder político de estos sectores atenuó las reacciones. En la provincia de Buenos Aires una expresión formal del descontento del aparato fue la ruptura del Cariglino , el intendente de Malvinas Argentina, con el partido oficialista y su pase de bando, postulándose ahora para la renovación de su mandato con la sigla Frente popular de E.Duhalde. En la provincia de La Pampa que también llevó a cabo sus elecciones el 23 de Octubre en coincidencia con las nacionales, C. Verna, sobre el cierre de las listas, decidió desistir de su candidatura a gobernador por el oficialismo en disconformidad con la imposición presidencial de una candidata a diputada. Esta finalmente fue postulada en la lista de los aliados de Nuevo Encuentro con apoyo de una fracción del justicialismo provincial. Verna había sido uno de los Senadores que había retornado al oficialismo permitiéndole recuperar la mayoría en la Cámara alta. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 26 El malestar de Moyano con la marginación de sindicalistas que solo llevan a dos candidatos en posiciones elegibles en la lista bonaerense – uno de los cuales es un metalúrgico que no reviste en la corriente del camionero- se expresó a través de las declaraciones airadas de dirigentes afines y se tradujo en el rechazo público de dos de ellos Piumato y Schmid) a ser candidatos a diputados (en Ciudad de Buenos Aires y en Santa Fé) en lugares decorativos que no les daban la posibilidad de resultar electos. De este modo el corporativismo sindical que se había expandido y se presentaba como un significativo recurso organizacional del poder se veía debilitado en su posición dentro del conglomerado oficialista. Las reacciones sindicales permitían ya entonces prever la evolucion hacia un alejamiento duradero. En todo caso el debilitamiento del poder político sindical continúa la tendencia de los últimos años. Legisladores de origen sindical en el Congreso nacional ( declinación) 1983/1993 - de 39 a 23 1993/2003 - de 23 a 17 2003/2011 - de 17 a 13 En la actual Cámara de diputados finalizan su mandato 4 legisladores de origen sindical y tienen posibilidades de ingresar 2. La renovación política en el oficialismo se centraba en los candidatos a legisladores nacionales y provinciales (al menos en la provincia de Buenos Aires) y no a nivel local como había sido en 2007. En ese entonces, al menos diez intendencias del conurbano bonaerense cambiaron de mano a favor de oficialistas renovadores gracias a la difusión en ese entonces de “listas colectoras”, es decir paralelas a las del intendente histórico. El signo ideológico de la renovación emprendida no siempre es evidente y se combina en algunos casos con un pragmatismo desprejuiciado. En La Rioja, C. Menem otrora diabolizado, encabezaba, como candidato a senador, una de las dos listas oficialistas incluyendo en ella a kirchneristas de mas antigüedad. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 27 Las coaliciones opositoras La acción que una parte importante de las oposiciones había concertado en el Congreso nacional luego de la derrota del oficialismo en junio de 2009 no tuvo el éxito esperado y al aproximarse el proceso electoral se acentuaron las divisiones entre ellas. Las principales fuerzas políticas que presentaron candidaturas nacionales son coaliciones entre partidos y redes y, como se ha señalado, inspiradas por líderes o en algún caso acuerdo entre líderes. Dado que la escena electoral se constituyó poco antes de los plazos legales para postular y con actores bastante imprevistos, el peso electoral de cada uno de ellos parecía incierto; se iría perfilando durante la campaña y se precisaría el 14 de agosto en oportunidad de las PASO. Se perfilan dos coaliciones significativas por contar con una implantación territorial especialmente en el principal distrito, la provincia de Buenos Aires, y líderes tradicionales : la Union por la democracia social (UDESO) con Alfonsin y Gonzales Fraga de candidatos presidenciales y De Narvaez como postulante a gobernador de la provincia de Buenos Aires y Frente popular con Duhalde y Das Neves como candidatos presidenciales, pero los resultados desmentirían esa presunción. Por su parte, el Frente Amplio progresista (FAP) también constituido en vistas a la competencia electoral , con las candidaturas de Binner y Morandini tiene menor implantación nacional consolidada – aunque presentó candidatos para legisladores nacionales en la mayoría de los distritos-, pero tiene una presencia importante en la ciudad de Buenos Aires y parecía tener posibilidades de triunfo en las elecciones provinciales en los distritos de Santa Fé (lo que se confirmó) y Córdoba (lo que no sucedió), donde en principio las coaliciones opositaras antes mencionadas son mas débiles. Por último fuerzas de menor peso electoral, pero no desdeñable fueron la Coalición Cívica (CC) que postula a Carrio y Perez, y Compromiso Federal (CF) cuyos precandidatos presidenciales son Rodriguez Saa y Vernet. + UDESO Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 28 Esta coalición entre la UCR y un sector peronista (el de De Narvaez) es el resultado de un viraje propiciado promovido por R. Alfonsin en vistas a dotar a su candidatura partidaria de una major competitividad, y que supuso el abandono de su inicial perfil social demócrata al romperse la alianza con los socialistas (H. Binner) y el GEN (M.Stolbitzer), debido a los desacuerdos provocados por la asociación con los mencionados peronistas. En esta fuerza persistía la tensión entre el perfil inicial de izquierda que adoptó Alfonsin asociado a una reivindicación identitaria “radical”, con el perfil mas ecléctico de las candidaturas de coalición y el propósito en poner de relieve la negatividad (aunque en un tono que procura contrastar con la conflictividad exhibida por el oficialismo) , es decir la convergencia anti kirchnerista. Las chances de esta coalición se jugaron (infructuosamente) en superar la desconfianza de tradiciones radicales y peronistas persuadiendo a unos y otros sobre el común interés en converger contra la actual gestión de gobierno. Las candidaturas acordadas ilustraban una voluntad de convergencia en la que coexisten líderes de vocación republicana, sindicalistas y funcionarios probos. Pero, en el varios distritos, especialmente en la ciudad de Buenos Aires los aliados presentaban listas separadas para legisladores nacionales y competían para legisladores provinciales e intendentes en varios (veinte) distritos importantes de la provincia de Buenos Aires. Esta situación de competencia entre listas que adhieren a la fórmula coalicional se repite en otros distritos del interior. + FRENTE POPULAR Luego del fracaso en cohesionar al Peronismo Federal, E. Duhalde abandonado por A. Rodriguez Saa que compite por separado, se lanzó al armado de una oferta nacional con peso de personalidades destacadas del peronismo tradicional algunas que fueron notorias en el pasado como el propio Duhalde quien fue presidente (2002-2003), y otros que son legisladores o dirigentes peronistas “residuales” pero con cierta notoriedad, en resumen ex Ministros nacionales, ex gobernadores , senadores y funcionarios, y algunos diputados en ejercicio. Aunque presentaba candidatos a legisladores en todo el país su presencia mas significativa se dió en la provincia de Buenos Aires Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 29 donde fue candidata su esposa, el ex Ministro Amadeo (para gobernador), encabezando la lista de diputados, G. Camaño. Amén de la red partidaria con la que cuentaba- a la que se sumó a último momento el intendente Cariglino – lo que podía ser el signo de otras simpatías ocultas en el aparato de los municipios bonaerenses que todavía no se habíann manifestado- tenía el respaldo de una red sindical menor pero significativa, la de Barrionuevo y Venegas. + FAP Luego que su candidato a gobernador (Bonfatti) ganara las internas en la provincia de Santa Fe donde es gobernador y que Raul Alfonsín – a quién preveía acompañar en la fórmula presidencial- estableciera un , para él inaceptable pacto electoral, Hermes Binner con el respaldo de su Partido socialista, lanzó su candidatura presidencial conformando una coalición con Frente del Sur (Solanas), Gen (Stolbizer) y el Partido Nuevo (Juez). Emergía así la expectativa de una izquierda democrática que había tenido antecedentes en los noventa, pero carecía en el pasado inmediato de una presencia nacional significativa. Binner podía invocar una gestión de gobierno en Santa Fé que muchos entre quienes la conocían la consideraban ejemplar, y podía contar con aliados con posibilidades de mantener una fuerte implantación en sus distritos o aún de triunfar en las elecciones provinciales y nacionales (en Córdoba, en Ciudad de Buenos Aires y en menor medida en provincia de Buenos Aires). Pero a la hora de presentar los candidatos de la coalición prevalecieron las divergencias,-14 de modo que Solanas con un sector menor se retiró y lanzó una fórmula presidencial por separado. Con todo, los acuerdos se mantuvieron para las elecciones locales en los distritos de ciudad de Buenos Aires, Córdoba y otros menores. IV – Resultados de las elecciones primarias y de las generales (14 de agosto y 23 de Octubre) El 23 de Octubre se efectuó la primera vuelta de las elecciones nacionales – que resultó ser la definitoria-, y en coincidencia elecciones en ocho provinciales que eligieron gobernador y otros representantes provinciales y locales, entre ellos la provincia de Buenos Aires el distrito mas importante. Con estos comicios finalizaba una año electoral que había comenzado en el mes de marzo con las elecciones en Catamarca y que tuvo un punto culminante el 14 de agosto con la realización de las elecciones primarias abiertas simultaneas y obligatorias (PASO) que según la nueva legislación Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 30 electoral consagra los candidatos que competirán por los cargos nacionales en las elecciones generales. Los resultados de las elecciones del 23 de Octubre En estos comicios se confirmó el excepcional triunfo electoral de Cristina Kirchner que resultó reelecta con un porcentaje superior al obtenido por todos los otros presidentes constitucionales desde la democratización emprendida en 1983. Los otros seis competidores obtuvieron resultados muy inferiores , siendo la distancia entre la ganadora y quien le sigue de 37.31% . Entre las PASO y las generales la Presidente incrementó sus votos y el ordenamiento de los competidores varió significativamente. El candidato Hermes Binner que en las primarias llegó cuarto alcanzó en las generales el segundo lugar. Las consecuencias de estos resultados excepcionales son muy significativas para la configuración de la escena política e institucional C.Kirchner H. Binner Primarias- 50.24 14 de agosto Primarias- 54.11 23 de Octubre E. Duhalde Altamira E. Carrio 10.18 R. A. Alfonsin Rodriguez Saa 12.2 8.17 12.12 2.35 3.07 16.80 11.14 5.85 2.30 1.85 7.96 La escena que se perfila desde ahora y en particular a partir del 10 de Diciembre cuando asuman las nuevas autoridades nacionales y en algunos distritos que acaban de realizar los comicios es considerablemente diferente a la de los últimos años transcurridos aunque por la evolución mas reciente no pueda considerarse inesperada. Un oficialismo dominado por la figura presidencial y con un inmenso poder. Un oficialismo poderoso y oposiciones débiles o incipientes constituyen una escena que se puede calificar de poder unipolar como fue el de Néstor Kirchner en su primeros años de gobierno, aunque en circunstancias muy diferentes. El de Cristina Kirchner es el tercer mandato de un proyecto político emprendido con su marido fallecido hace justo un año antes de su reelección. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 31 Pero este voto no solo es el mas significativo (N. Kichner 22.4% en 2003; C. Kichner 45.28% en 2007), sino es también el que le da mas libertad personal para gobernar y el que le brinda mas recursos institucionales. La Presidenta que se va a suceder en el poder gozaba, ya en los inicios del proceso electoral, de una alta popularidad que le permitió incidir personalmente en la configuración de la oferta del Frente para la Victoria impulsando la presencia de sus partidarios mas leales, algunos provenientes de la agrupación La Campora, en las listas de diputados nacionales de numerosos distritos, a los candidatos para las elecciones locales de la ciudad de Buenos Aires, al postulante para vicegobernador de la provincia de Buenos aires y evidentemente a su compañero de fórmula. Esta decisión verticalista, en detrimento de las pretensiones del secretario de la CGT (Hugo Moyano) y de los caudillos peronistas del con urbano bonaerense y de los gobernadores, tuvo una intensidad inédita. Su presencia en la campaña se limitó a su presencia pública como mandataria y unas pocas apariciones en actos. Sus spots publicitarios y otros anuncios políticos la tenían como referente exclusivo, por lo que siguiendo con la analogía con la presidencia Kirchner, procuró una relación directa con la ciudadanía y reclamó una respaldo al proyecto, a la acción de gobierno, encarnado en ella y no en una organización partidaria. De modo que su llamado político y la distancia respecto a los componentes tradicionales del heterogéneo movimiento que lidera dan la medida de cuan personalista ha sido el respaldo obtenido. En el discurso de celebración del triunfo no hubo referencias ni emblemas partidarios ni menciones a Peron y Evita , salvo el indirecto al referirse en el segundo discurso de la noche en la Pza de Mayo a su propio pasado (“ … darle las gracias a esta multitud de jóvenes argentinos que han vuelto a recuperar la Plaza de mayo. Y quiero decirles mis queridos, déjenme decirles mis queridos, que en cada uno de ustedes, me veo yo y lo veo a él hace muchos años en este mismo lugar. Pero también déjenme decirles que los veo en un momento superador de aquellos momentos. Esta plaza que ha sido plaza de alegrías, pero también de desencuentros y enfrentamientos. Yo quiero celebrar que esta juventud, después de 8 años de gobierno, viene a levantar las banderas con alegría y no con odio, con amor a la patria”) .Esta no puede ser entendida sino como una referencia al 1º de mayo de 1975 cuando Peron echó a la juventud de su partido de la Plaza en un clima de improperios y hostilidad. a- La amplitud del triunfo esta dada por el porcentaje de votos que le dio el triunfo en 23 de las 24 provincias, en una extensión territorial que incluyó las grandes ciudades (en las que había perdido en 2007). Salvo Rodriguez Saa, sus competidores fueron derrotados en sus propias provincias y a veces ciudades. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 32 Si se observa la totalidad del proceso electoral – incluyendo las elecciones provinciales- se puede registrar el fracaso de algunos de sus candidatos en distritos importantes: ciudad de Buenos Aires, Santa Fe y Córdoba. Pero en sentido al menos formal su sigla coalicional (Frente para la Victoria) y sus aliados triunfaron en todas las provincias salvo ciudad de Buenos Aires, Santa Fé, Corrientes y San Luis. Córdoba y Chubut donde ganaron gobernadores justicialistas disidentes, se alinearon posteriormente. Ello en cuanto a la extensión territorial del triunfo. b- Igualmente la extensión sociológica de su triunfo es notoria, incluyó a los sectores mas populares y medios urbanos y rurales y particularmente las ciudades de la pampa húmeda que fueron sede de la revuelta de los ruralistas en 2008. En la provincia de Buenos Aires el oficialismo ganó en las elecciones municipales en 100 de los 135 distritos (conquistó 15 nuevas intendencias), así como en Santa Fe ya se había impuesto como mayoría tanto en la Cámara de diputados como de Senadores pese a haber perdido la gobernación. c- Las diferentes corporaciones se han alineado – pese a la tensión con la CGT -, y los líderes políticos opositores están muchos de ellos retirándose de la escena y otros en una actitud expectante de los futuros pasos del gobierno. d- En cuanto al Congreso ahora el oficialismo es mayoría pero con una cohesión y probable disciplinamiento muy distinto al de la fase anterior a Diciembre de 2009 y aún de julio de 2008 (momento en que el oficialismo se fracturó en la votación sobre la resolución 125 referida a las retenciones a las exportaciones agrícolas). Cámara de diputados (257escaños - quórum 129) Hasta 10 Dic. 2009 Después 10 Dic. 2009 FPV1 ACyS2 U.PRO3 Al. K.4 C.Izq.5 Otros 115 52 (UCR 24) 80 30 22 (en otros) 38 47 16 8 9 97 Frente para la Victoria, oficialismo Acuerdo Cívico y Social ( Coalición Cívica, UCR, Socialismo) 3 Unión Pro( Macri, De Narvaez, Solá) 4 Aliados del oficialismo. 5 Centro Izquierda ( P. Solanas, M.Sabatella, SI) 1 2 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 33 Cámara de Senadores (72 escaños- Quorum 37) Hasta 10 Dic. 2009 Después 10 Dic. 2009 FPV/PJ Aliados FPV ACyS PJ opositor Otros opositores 34 6 14 10 8 30 6 15 12 9 A partir del 10 de Diciembre 2011 el oficialismo incluyendo aliados tendrá mayoría en ambas Cámaras : 131 en diputados y 38 en Senadores Las oposiciones, fragmentadas y en crisis o descomposición. Emergencia del Frente Amplio Progresista El Frente amplio Progresista (FAP) logró pasar de la cuarta a la segunda posición incrementando su voto en el 60% entre las PASO y la generales, a expensas de las otras oposiciones. Se constituyó poco antes del cierre de presentaciones para las PASO con el liderazgo del gobernador socialista de Santa Fé , Hermes Binner, asociado a grupos políticos de ciudad de Buenos Aires, provincia de Buenos Aires, y Córdoba. Obtuvo el segundo lugar, entonces a nivel nacional, pero con una implantación nacional muy desigual pues logró el segundo lugar en 7 distritos para la fórmula presidencial (aunque no en todos ellos para diputados o senadores), pero entre ellos los cuatro mas numerosos. Presumiblemente reunió el voto progresista o de izquierda reformista disconforme con el oficialismo pero también, luego de las PASO, captó un Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 34 voto anti oficialista no necesariamente progresista. Asi en los barrios de Recoleta, Palermo, Colegiales Belgrano y Nuñez de la Ciudad de Buenos Aires en los que había ganado Duhalde en las primaria, en las generales dieron preferencia a Binner. Igualmente significativo de la captación de un voto anti k es que la lista de diputados porteña del FAP salió tercer lugar detrás de la lista PRO que responde a M. Macri que no llevaba candidato presidencial; probablemente unas parte de este electorado cortó boleta a favor del candidato socialista. Esta fuerza política aunque solo cuenta con 22 diputados nacionales (la cuarta en orden de importancia) y 4 senadores, emerge como dotada de una voluntad de oposición firme pero constructiva, tanto mas cuanto que se sitúa en el terreno progresista del que el núcleo del oficialismo se reclama. Su desafío es cohesionarse pues reúne vertientes heterogéneas y dotarse de mejores recursos organizacionales e implantación territorial pues paradójicamente a los largo del año transcurrido ellos han menguado. UDESO/ UCR Esta coalición liderada por la UCR a nivel nacional pero aliada a F. De Narvaez en Pcia de Buenos Aires y ciudad de Buenos Aires llevando como candidato a Presidente al radical R. Alfonsín y como candidato a gobernador en el principal distrito al peronista De Narvaez, comenzó a deshacerse luego del pobre resultado electoral en las PASO. La campaña de la UCR fue zigzagueante pasando de una declaración de identidad social demócrata a la aspiración de una alianza anti oficialista en la presunción de un descontento ciudadano que fue intenso en el pasado pero como se vio ya no estaba vigente y finalmente se centró en el llamado a un voto identitario (el partido centenario, el recuerdo de la recuperación de la democracia en el 83) que no impidió que retrocediera electoralmente, pero quizás menos de lo que se preveía al retener un voto testimonial. Gracias a la implantación territorial del radicalismo, la UDESO estuvo presente en la gran mayoría de los distritos, ocupando el segundo lugar en 9 de ellas, en muchos casos las provincias mas chicas. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 35 Mantuvo recursos institucionales, es con 41 diputados la segunda fuerza en esa Cámara y ocupara igual posición en el Senado con 17 escaños. Ganó en las elecciones precedentes capitales de provincia importantes : Córdoba, Santa Fe, Mendoza, Chaco. Es una fuerza política en crisis y probablemente sus divisiones internas consuman las energías de recursos partidarios menguantes, en el futuro inmediato. Peronismo Federal Se trata de una fuerza en desagregación luego de varios fracasos. No logró una candidatura unificada. El expresidente Duhalde abandonado por sus aliados obtuvo en resultado muy por debajo de sus expectativas en las PASO y entre estas y las generales, redujo su electorado a menos de la mitad. A. Rodriguez Saa por su parte aunque logró resistir al embate kirchnerista en la provincia de la que fue gobernador, San Luis, también obtuvo un resultado pobre en las PASO y vio ligeramente reducido su electorado en las generales. Esta corriente, que aspiraba a recomponer el peronismo desalojando a los Kirchner y que parecía con buenas posibilidades tres años atrás luego del conflicto del gobierno con los ruralistas, se fue desgranando y algunos principales exponentes se alejaron como es el caso de C. Reutemann y F. Sola. En los papeles cuentan con una bancada en ambas Cámaras de una cierta significación, pero parece improbable se mantengan unificados. Algunos de ellos pueden volver al girar en la órbita del oficialismo. ANEXO I La ley que reforma la institucionalidad partidaria 2011 fue un año de elecciones generales en las que se elegirán autoridades nacionales siguiendo las normativas de la “Ley de Democratización de la Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 36 Representación política, la transparencia y la equidad electoral “( ley 26571) promulgada con veto presidencial parcial a inicios de 2010. También se elegieron autoridades provinciales (gobernadores, legisladores provinciales, intendentes y concejales) según las regulaciones legales de cada distrito; 22 de los 24 distritos pues en Santiago del Estero y Corrientes ya se efectuaron esos comicios). El ciclo electoral se prolongó desde el 13 de marzo (elecciones en Catamarca) hasta el 23 de Octubre . Algunos distritos, en particular la provincia de Buenos Aires que registra alrededor del 37 % del padrón electoral, hicieron coincidir las elecciones provinciales/locales con las nacionales. Pero la mayoría y en particular los grandes distritos (a excepción de de Buenos Aires; es decir Capital Federal, Córdoba y Santa Fé votaran antes del tercer domingo de Octubre) . La ley que regula las elecciones y la actividad partidaria La ley de democratización de la Representación política… introdujo considerable innovación en la normativa para la competencia política, la que no se abordarán en detalle en este sucinto informe. La introducción de las elecciones primarias, simultaneas y obligatorias (para los partidos y para los ciudadanos) como paso ineludible para poder seleccionar candidatos que compitan en las elecciones y los requisitos para constituir nuevos partidos así como para legalizar los existentes y habilitarlos para actuar como tales, constituyen capítulos esenciales de esa ley. El propósito explicito de esta ley que contó en su momento con apoyo de las grandes fuerzas políticas es el de fortalecer el sistema de partidos políticos sobre un eventual eje bipartidista superando la, hasta ahora, extendida fragmentación y proliferación de mini partidos, y acercar los partidos a los ciudadanos al requerirse una alta convalidación por parte de estos de la oferta electoral. Pese a que la ley contó con el apoyo de las principales fuerzas políticas, desde el comienzo se suscitaron críticas e interrogantes. LA LEY La denominada Ley de Democratización de la Representación Política, la Transparencia y la Equidad Electoral (Ley 26.571) fue un proyecto presentado por el Poder Ejecutivo el 28 de octubre de 2009. Luego de obtener la media sanción en la Cámara de Diputados el 18 de noviembre del mismo año, fue aprobado el 12 de diciembre por el Senado. El texto aprobado por el Senado Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 37 fue vetado parcialmente en sus artículos 107 y 108 y promulgado por el Poder Ejecutivo Nacional. Hasta la fecha el Poder Ejecutivo Nacional emitió cuatro decretos reglamentando ciertas cuestiones de la citada ley: el Decreto 935/2010 reglamentó la incorporación de nuevas tecnologías en el Registro Nacional de Electores y la implementación del procedimiento para dejar constancia de la situación de ciudadanos declarados ausentes por desaparición forzada, el Decreto 936/2010 reglamentó la Ley N 26.215 de Financiamiento de los Partidos Políticos en relación con la administración de los recursos que componen el Fondo Partidario Permanente, el Decreto 937/2010 reglamentó la Ley N° 937/2010 que estableció el reconocimiento de los partidos políticos, la constitución de alianzas electorales y requisitos para la afiliación y renuncia y, por último, el Decreto 938/2010 reglamentó el Consejo de Seguimiento de las Elecciones Primarias y Generales, funciones, informes, propuestas. Por su parte la Cámara Nacional Electoral, en aplicación de los requisitos establecidos en la nueva ley respecto de la continuidad de la personalidad juridico-política de los partidos políticos, estableció a lo largo del 2010 la caducidad de una centena de partidos, algunas con condición de apelables y otra de firmes. La Ley, que tuvo por objetivo modificar algunos artículos del Código Nacional Electoral, la Ley Orgánica de los Partidos Políticos y la Ley de Financiamiento de los Partidos, incorpora nuevos elementos en los procesos electorales. Esta situación novedosa provocó una serie de discusiones, en torno a la reglamentación y la aplicabilidad de la Ley en las próximas elecciones, en las cuales tuvieron participación tanto representantes políticos como jueces. Jueces Federales Entre los actores que manifestaron las primeras críticas a la nueva ley electoral tenemos a los jueces federales con competencia electoral, los cuales están encargados de la confección de los padrones electorales. La jueza federal de la Ciudad de Buenos Aires, María Servini de Cubria, y el juez federal de La Plata, Humberto Manuel Blanco elevaron ambos, por separado, un oficio a la Cámara Nacional Electoral indicando ciertas dudas respecto a la implementación de lo dispuesto en la Ley 26.571 en la organización de las próximas elecciones. Las dudas surgían en torno a dos puntos centrales. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 38 En primer lugar ambos jueces federales afirmaron que era imposible tener lista la actualización de los padrones electorales para las elecciones primarias de agosto. María Servini de Cubría preciso que no iba a ser posible incorporar en el padrón electoral nacional a aquellas personas que hubieran cambiado de domicilio en el 2010. En segundo lugar los jueces manifestaron la imposibilidad de cumplir con el cronograma electoral establecido en la nueva ley ya que entienden que entre las elecciones primarias y la elección general media un período de tiempo escaso para poder realizar el escrutinio, sobretodo en el distritos más grandes como lo es el de la provincia de Buenos Aires. Para el juez Blanco, si las primarias se realizaran el 14 de agosto, el 3 de septiembre vencería el plazo para que los partidos presenten sus candidatos para su oficialización para las elecciones generales, por efectuarse el 23 de octubre. La Justicia tendría entonces sólo 18 días para realizar el escrutinio. Lo cual entiende son pocos días para concluir con dicha labor. Varios partidos políticos se hicieron eco de los dichos de los referidos jueces federales y expresaron su preocupación respecto de la organización de los próximos comicios. Mauricio Macri expresó que “hay muchas dudas alrededor de estas internas, somos muchos los que tenemos dudas acerca de su viabilidad”. Por su parte Elisa Carrió, sostuvo que se trata de “una ley no debatida suficientemente” y “de imposible cumplimiento”. Margarita Stolbizer acusó al gobierno nacional de “manejar el proceso electoral y las reglas a su antojo…Tanto la Justicia como los diferentes partidos políticos, estamos denunciando que la ley electoral, que impone la interna abierta, es de cumplimiento imposible.” Desde el Peronismo Federal, el diputado Gustavo Ferrari sostuvo que “está claro que especulan (en el oficialismo) con sus tiempos de la política para resolver qué les conviene hacer con la Reforma Electoral que habían diseñado como traje a medida para su continuidad”. Francisco de Narvaez indicó “yo dudo que se hagan las primarias porque los tiempos son impracticables y ya lo han dicho el juez electoral de la provincia de Buenos Aires, Manuel Blanco, y la jueza electoral porteña Servini de Cubría”. Por último Fernando Pino Solanas, sostuvo que la nueva ley “desde sus inicios fue pensada como una legislación censora a las nuevas fuerzas emergentes” con la que el Gobierno intenta “eliminar adversarios.”. Oponiéndose a las críticas de los jueces federales, el presidente de la Cámara Nacional Electoral (la cual depende del Poder Judicial), Alberto Dalla Vía, y el presidente de la Dirección Nacional Electoral (la cual depende del Poder Ejecutivo), Alejandro de Tullio, afirmaron la aplicabilidad de la nueva ley en las próximas elecciones y el cumplimiento del cronograma electoral. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 39 Ante las críticas de los jueces federales Alberto Dalla Vía les respondió que “no es función de los magistrados dictar leyes, sino aplicarlas o, como en este caso, cumplir con las obligaciones que en ellas se establecen. Debe hacerse el mayor esfuerzo con todas las herramientas que se tengan disponibles para lograr el mejor resultado posible. La Cámara va realizar todos los esfuerzos en el marco de la ley para llevar adelante el proceso electoral”. Si bien manifestó su compromiso a organizar los comicios según lo dispuesto por la nueva ley, Alberto Dalla Vía sostuvo que aún faltan temas a reglamentar como los relativos a la publicidad oficial y la regulación de la campaña. Por su parte Alejandro Tullio sostuvo que “la ley de Reforma Política esta plenamente vigente” por lo cual el cronograma electoral establecido iba a poder desarrollarse sin problemas. A su vez insistió que “lo que falta por reglamentar no tiene nada que ver con el funcionamiento de los partidos políticos, que está todo en el texto de la ley. Faltan decisiones de orden operativo, que saldrán en febrero, pero que no tienen nada que ver con los derechos de cada uno, sino con temas prácticos.” El Ministro del Interior Florencio Randazzo expresó que el Gobierno Nacional estaba realizando todos los esfuerzos posibles para que el cronograma se cumpla a tiempo. Informó que se había suspendido la feria judicial y que se firmó un convenio con la Corte Suprema de Justicia por el que se financiera 41 mil horas extras y 161 contratos para actualizar los padrones. Afirmó que la ley “esta operable” y reglamentada. El único aspecto que falta concluir es el relativo a la distribución de los espacios audiovisuales. Distribución de los espacios audiovisuales La Ley 26.571 establece que a todos los partidos políticos se les será asignado una cantidad determinada de pauta publicitaria gratuita durante el período de campaña electoral no pudiendo pagar por espacios adicionales a los establecidos. La distribución de dichos espacios será realizada por la Dirección Nacional Electoral. Según la ley se asigna un 50% de pauta publicitaria en igual medida a todos los partidos y otro 50% de manera proporcional en base a los votos obtenidos en la última elección. Esta nueva normativa generó dos preocupaciones en los partidos políticos de la oposición. En primero lugar reclaman la necesidad de reglamentar la publicidad oficial ya que a través de esta los candidatos del partido gobernante pueden publicitarse y utilizar dicha pauta como una publicidad adicional a las horas determinadas por la ley. En segundo lugar preocupa a los partidos Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 40 políticos la manera en la cual se va a distribuir la pauta entre los diferentes partidos políticos, tema aún no reglamentado. Alejandro Tullio expresó que esta listo el decreto que reglamenta la distribución de los espacios publicitarios y que sólo resta que este sea estudiado por la Presidenta. En una entrevista al diario La Nación anticipo que el horario y el canal que le toque a cada partido se definirá por sorteo y que “todas las agrupaciones van a estar presentes todos los días en todas las franjas horarias en la proporción que les toque”. Elecciones internas El cronograma electoral establece que los partidos deben conformar sus alianzas antes de las elecciones primarias de agosto. Esto llevó a que algunos partidos hayan buscado realizar elecciones internas anteriores a las primarias, de manera a definir sus respectivas alianzas electorales. La UCR ha manifestado su intención de realizar elecciones internas abiertas para elegir candidato presidencial (pueden votar los afiliados al radicalismo como los independientes no afiliados a otro partido político) el 30 de abril. En ellas participarán Ernesto Sanz y Ricardo Alfonsín. La mesa directiva del Comité Nacional de la UCR sostuvo que estas elecciones serán vinculantes para el partido, aunque podrán presentarse otros candidatos en las elecciones primarias de agosto. Por su parte Julio Cobos declaró que no participará de las internas radicales y que, en caso de buscar ser candidato presidencial, lo hará a través de su participación en las elecciones primarias de agosto. El espacio del PJ disidente también manifestó su intención de realizar una interna previa a las elecciones primarias. Esta idea obtuvo el apoyo de Eduardo Duhalde, Ramón Puerta, Adolfo y Alberto Rodriguez Sáa y Juan Carlos Romero. Das Neves y Felipe Solá rechazaron la propuesta y manifestaron su intención de presentarse en las elecciones primarias fijadas en agosto. Los comicios se celebrarían en forma escalonada por regiones todos los domingos a partir del 3 de abril. En cada fecha se elegirían convencionales que integrarían en julio una asamblea general, que votaría quién va a ser el candidato definitivo que representará al Peronismo Federal. La coordinadora de dicho espacio estableció el 4 de febrero como fecha limite para presentar candidaturas para concurrir en las internas. En diálogo con Página/12 el 24 de enero Alejandro Tullio expresó que los comicios serán “actividades internas” y por ende “no van a tener el apoyo de la Justicia Electoral”. Por ende se esperaría que los partidos no cuenten con Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 41 los padrones necesarios para realizar las elecciones internas. Sin embargo en la edición del 25 de enero en La Nación se indica que la Justicia Federal otorgará el padrón electoral a todo partido que lo solicite. Por ende, está por verse si los partidos que buscan desarrollar sus internas abiertas lograrann obtener los padrones que son fundamentales para poder realizarlas. La posibilidad de realizar los elecciones internas se va más difícil dentro del PJ disidente debido a que sus miembros se encuentran divididos respecto a su desarrollo y debido a no contar con una estructura partidaria de la envergadura que posee la UCR lo que dificulta la organización de dichos comicios. Dado que el cronograma electoral establece que la campaña electoral se inicia recién el 15 de julio, algunos partidos consideraron que el tiempo dado para la campaña electoral era poco. Dada esta situación estos partidos vieron en el desarrollo de unas elecciones internas la posibilidad de publicitar y posicionar a sus candidatos con más tiempo. Acción de amparo Por su parte la UCR presentó el 30 de noviembre de 2010 una acción de amparo contra el Poder Ejecutivo Nacional “por omisión de su obligación de reglamentar en tiempo hábil la Ley N° 26.571 en cuanto introduce en nuestra práctica política la selección de candidatos a representaciones públicas nacionales mediante elecciones primarias abiertas, simultáneas y obligatorias”. Consecuentemente la UCR exigía que se le obligue al Poder Ejecutivo a “dictar la reglamentación que se encuentre pendiente”. A falta de dicha reglamentación la UCR aducía que la ciudadanía y los partidos políticos ignoraban “las reglas de juego que habrán ser aplicadas”, tornando en poco transparente el proceso electoral. Entre los puntos que la UCR considera necesario una reglamentación aún no hecha por el Ejecutivo Nacional tenemos los siguientes. Primero la “posibilidad de hacer una selección de candidatos con carácter previo a la realización de las elecciones primarias abiertas”, es decir si la ley no prohíbe el desarrollo de elecciones internas previas a las elecciones primarias como buscan realizar la UCR y el Peronismo Federal. Según la acción de amparo la ley avala esta posibilidad ya que esta establece que aunque haya una sola lista igualmente deben realizarse las elecciones primarias. Un segundo punto se refiere se refiere a la reglamentación sobre los “colores de las boletas de cada Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY 42 partido y a su forma de selección y prioridades…y el modo de resolver los conflictos” que puedan surgir respecto a este asunto. Un tercer punto a reglamentar se refiere a la composición y las facultades de las juntas electorales partidarias. En cuarto lugar hizo referencia a la viabilidad o no de las “listas colectoras”, que posibilita las alianzas de hecho, es decir no inscriptas, las cuales están impedidas en la nueva ley. En quinto lugar tenemos el pedido de reglamentar la distribución de los espacios publicitarios en los medios de comunicación. La acción de amparo considera que sobre este punto la falta de reglamentación “puede dar lugar a la mayor discrecionalidad” por parte del Poder Ejecutivo. Para finalizar su acción de amparo la UCR solicita que se declare la cuestión “como de puro derecho”. V – Cronograma electoral provincial - 13 de marzo 2011: Catamarca. 20 de marzo 2011: Chubut. 10 de abril 2011: Salta. 26 de junio 2011: Tierra del Fuego. 24 de julio 2011: Santa Fe. 28 de agosto 2011: Tucumán. JUNIO (¿) : Caba (Corrientes y Santiago del Estero no tienen elecciones) VI – Cronograma electoral nacional - - 15 de junio 2011: conformación de alianzas. 15 julio 2011: comienzo campaña electoral de las elecciones primarias. 12 de agosto 2011: finaliza campaña electoral. 14 de agosto 2011: elecciones primarias abiertas (no limitadas a los afiliados de cada partido), simultáneas (para todos los partidos) y obligatorias. 17 de agosto 2011: inicio del escrutinio definitivo 3 de septiembre 2011: cierra el registro de candidatos proclamados de las agrupaciones para la elección general. 18 de septiembre 2011: comienza campaña electoral para las elecciones generales. 21 de octubre 2011: finaliza campaña electoral. 23 de octubre 2011: elección general. 26 de octubre 2011: inicio del escrutinio definitivo. 4 de noviembre 2011: comunicación de los resultados al presidente del Senado de la Nación. 20 de noviembre 2011: segunda vuelta electoral. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. LAS ELECCIONES ARGENTINAS EM PERSPECTIVA COMPARADA ISIDORO CHERESKY - 23 de noviembre 2011: inicio del escrutinio definitivo. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.16-43, Abr. 2013. 43 44 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POSTCHÁVEZ Challenges of Venezuela post-Chávez Héctor Gabriel Briceño Montesinos Centro de Estudios del Desarrollo de la Universidad Central de Venezuela (CENDES-UCV) [email protected] Resumen: La Venezuela actual se caracteriza por la construcción de un modelo de sociedad inviable, por un lado dependiente absoluto de los ingresos petroleros, por otro, un sistema político que ha tenido como eje central de equilibrio el liderazgo del presidente Chávez. No cabe duda que su desaparición implicará un proceso de reconstrucción de un nuevo equilibrio en todos los sectores políticos y sociales, ya sea dentro del chavismo (Partido Socialista Unido de Venezuela-PSUV), en la alianza de partidos de oposición Mesa de la Unidad Democrática (MUD), como en el seno de la sociedad. El presente artículo pretende analizar brevemente los principales factores que configuran la realidad política y social a comienzos del año 2013, así como los principales desafíos que tendrá que afrontar la sociedad venezolana. Palabras claves: Modelo de desarrollo, postchavismo, sistema político venezolano. Abstract: The current Venezuela is characterized by the construction of a model of society unworkable, on the one hand dependent of oil revenues, on the other, a political system that has had the leadership of President Chávez as the central axis of balance. There is no doubt that its disappearance will involve a process of reconstruction of a new equilibrium in all political and social sectors, either within the chavismo (United Socialist Party of Venezuela PSUV), the Mesa de la Unidad Democrática (MUD), the opposition party alliance, as in the society. This article aims to analyse briefly the main factors shaping the political and social reality at the beginning of the year 2013, as well as the major challenges that will confront Venezuelan society. Key words: Development model; Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. postchavism; venezuelan political system. 45 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS Breve balance del legado chavista El principal legado del presidente Chávez para la sociedad venezolana es la implacable denuncia contra la pobreza y contra la cómplice y silenciosa aceptación social de ésta. Aunque la pobreza habría estado en el centro del discurso político venezolano desde inicios de la democracia en el año 1958, ningún liderazgo ha sido tan duro discursivamente contra la pobreza como el entonado por Chávez. Firmeza que no se limitó a mostrar en los límites geográficos de la República, sino que trasladó a los escenarios políticos internacionales, ya sea en foros de discusión de experiencias de izquierda o en Naciones Unidas, en cumbres latinoamericanas o de otras regiones. Es sin duda éste el principal elemento distintivo de su liderazgo, y el que mayor rendimiento político electoral le aportó, a pesar de que su gestión en materia de pobreza resultase una gestión promedio en el continente. Latinoamérica ha experimentado durante los primeros años del siglo XXI un período de crecimiento económico, solo interrumpido por la crisis financiera mundial (2008 y 2009), lo que no sucedía hacía tiempo atrás, y que deja las imágenes de las “décadas perdidas” como un amargo recuerdo. Junto al proceso de expansión económica, las sociedades latinoamericanas han experimentado también avances importantes en la reducción de la pobreza y expansión del desarrollo humano. La homogeneidad y simultaneidad de estos procesos en el subcontinente, sugiere que a pesar de los matices nacionales, los avances en los niveles de bienestar responden a variables extranacionales, en especial al crecimiento económico mundial y la globalización. Los siguientes gráficos muestran el desempeño de las economías latinoamericanas en términos del Producto Nacional Bruto per cápita (PNB p/c), el Índice de Desarrollo Humano (IDH) y la tasa de rendimiento del IDH ponderado por el PNB p/c. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 46 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 1. PRODUCTO NACIONAL BRUTO PER CÁPITA (PNB) – LATINOAMÉRICA 1980-2010 Nota: PNB per capita en US$ constantes de año 2005 Fuente: Indicadores Internacionales sobre el Desarrollo Humano, en: http://hdrstats.undp.org/ (consultado 26 de febrero de 2013) Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 47 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 2. INDICE DE DESARROLLO HUMANO (IDH) – LATINOAMÉRICA 1980-2010 Fuente: Indicadores Internacionales sobre el Desarrollo Humano, en: http://hdrstats.undp.org/ (consultado 26 de febrero de 2013). Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 48 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 3. DESEMPEÑO DEL IDH ENTRE EL PNB P/C LATINOAMÉRICA 1980-2010 Fuente: Indicadores Internacionales sobre el Desarrollo Humano, en: http://hdrstats.undp.org/ (consultado 26 de febrero de 2013). En ellos se puede observar lo siguiente: 1. Luego del estancamiento de la década de los 90, todas las economías han experimentado una tendencia al crecimiento durante los primeros 12 años del siglo XXI; 2. Luego de superados los años más intensos de la crisis económica internacional, la tendencia de las economías latinoamericanas han retomado la ruta del crecimiento. 3. De igual manera, la tendencia regional del Desarrollo Humano para los 12 primeros años del siglo, es creciente para casi la totalidad de los países de la región. 4. No obstante, a pesar del crecimiento económico experimentado, la relación entre el Desarrollo Humano y desarrollo económico se mantiene casi inalterada Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 49 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS en la totalidad de los países, es decir, no logran constituirse círculos virtuosos de desarrollo que permitan generar en tiempos de bonanza mayores capacidades humanas1. 5. En el caso venezolano, es irónico que el modelo de desarrollo promovido por el gobierno de Hugo Chávez, a lo sumo logró mantener el rendimiento de las gestiones de las turbulentas décadas de los 80 y 90 (Gráfico 3). Por otro lado, en el cuadro 1 podemos observar el desempeño de las sociedades latinoamericanas en la lucha contra la pobreza. El balance para todas las naciones del continente es igualmente positivo. El caso venezolano, se muestra entre los de mejor desempeño, especialmente durante el primer período de gobierno del presidente Hugo Chávez (2000-2006), aunque solo en materia de pobreza económica o coyuntural (línea clara en el gráfico 4). El gráfico 4 abajo muestra como la pobreza en términos estructurales (Necesidades Básicas Insatisfechaslínea oscura en el gráfico) permanece casi inalterada a pesar de la discursiva preocupación por las condiciones de vida de los sectores más vulnerables. En realidad, el período del gobierno de Hugo Chávez logró reducir la pobreza económica-coyuntural, manteniendo las condiciones de reproducción de la pobreza casi inalterada. 1 Ranis, Gustav (2007) Cadena causal entre el Desarrollo Humano y el Crecimiento Económico, Revista Latinoamericana de Desarrollo Humano. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 50 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 4. POBREZA ESTRUTURAL Y COYUNTURAL – VENEZUELA 1997-2010 Fuente: Instituto Nacional de Estadística (INE). Es por esto que afirmamos, que la característica distintiva de la era chavista, más que un desempeño social sobresaliente, fue su implacable denuncia de las condiciones de vida de los menos desfavorecidos. El segundo legado para la sociedad venezolana del chavismo, es la extraordinaria expansión del sector público, el cual crece de un 15,6% en el año 2000 a 19,9% en 2011 en materia de empleo directo. El Estado también se expande en la economía a través de la participación en diversos procesos productivos, de manera tal, que la estatización de diversos sectores ha sido moneda común de la era chavista. Por nombrar algunas: estatización de la industria del cemento, de la producción de la energía eléctrica, de las industrias metalúrgicas, además de la tradicional empresa petrolera. Igualmente debe contarse dentro de la expansión del Estado, los Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 51 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS progresivos controles que van desde el régimen cambiario (divisas) hasta controles en los precios de alquileres de las viviendas, pasando por un amplio control en la producción y precios de los alimentos. Todo es esto cimentado sobre un aumento de la dependencia petrolera cuya exportación representa el 95% de los ingresos totales del país. GRÁFICO 5. POBLACIÓN EMPLEADA SEGÚN SECTOR PÚBLICO Y PRIVADO (FORMAL Y INFORMAL) – VENEZUELA 2000-2011. Nota: El sector público tiene como escala de referencia el eje vertical derecho. Los sectores Informal y Privado el eje vertical izquierdo. Ambos mantienen la misma proporción. Fuente: Instituto Nacional de Estadística (INE). Según los datos de Latinobarómetro, el impacto de la expansión del estado ha marcado la percepción de los venezolanos sobre su rol dentro de la sociedad. Así, la proporción de personas que percibe al estado como el principal agente de resolución de “Todos los problemas de la sociedad” o “La mayoría de los problemas de la sociedad” pasó de 46,3% en 1998 a 62,5% en 2009 como vemos en el gráfico 6, legitimando la intervención del Estado, al tiempo que reduce la responsabilidad de la ciudadanía en el control de su propio destino, mostrando la Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 52 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS contradictoria ruta del Desarrollo Humano. GRÁFICO 6. CAPACIDAD DEL ESTADO EN LA SOLUCIÓN DE PROBLEMAS – VENEZUELA 1998-2009 Nota: La pregunta realizada por Latinobarómetro es: Se dice que el Estado puede resolver los problemas de nuestra sociedad porque tiene los medios para ello. ¿ Diria usted que el Estado puede resover? Fuente: Latinobarómetro. En este sentido, entendemos como Desarrollo Humano el proceso de ampliación de las capacidades de la gente para perseguir y alcanzar los objetivos de vida que consideran valorables, a través de la aumento de las oportunidades, el cual cuenta entre sus estrategias fundamentales la participación y el empoderamiento. En este sentido, se entiende empoderamiento como el aumento de poder de la gente para Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 53 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS generar los cambios que considera valiosos2. En términos políticos, a pesar de las sostenidas victorias electorales del chavismo, Venezuela se encuentra estancada desde el año 1998 en un proceso de polarización electoral, en la que el sector chavista y sus alianzas políticas han logrado mantenerse como la minoría más grande. De esta manera, en el año 1998 Hugo Chávez logra la presidencia con 56,2% del total de los votos, mientras la oposición obtiene el 40% de los votos, con una histórica abstención de 36,6%, que la convierte en el grupo más grande del electorado3. Catorce años después es ratificado nuevamente con el 55,1% de los votos mientras la oposición concentra 44,3%, esta vez con un 19,5% de abstención 4 . Sin embargo, a pesar de que los bloques parecen mantener su brecha casi inalterada y que discursiva y simbólicamente pareciera haber una enorme brecha entre los venezolanos, al menos en términos de cultura política (valores y normas) ambos sectores mantienen grandes semejanzas. El gráfico 7 muestra la autodefinición ideológica de los venezolanos en 1998 y 2009, en la cual se observa algunas variaciones. Aunque las posiciones de izquierda más extremas aumentan (Izquierda, 1 y 2) y las de derecha disminuye, el saldo de mayor crecimiento se concentra en el centro (5) y en quienes huyen a las categorías izquierda y derecha, ubicándose en las respuestas “No sabe”, “No contesta” o “Ninguna”. Así, la autoubicación ideológica promedia 5,5 y 4,8 sobre 10 para los años 1998 y 2009 respectivamente 5 , aunque muestra en ambos momentos una distribución similar no polarizada ideológicamente. Las desviaciones estándar 6 se ubican en 3,216 y 3,108 para los mismos años analizados, es decir, una distribución que se reorganizó manteniendo exactamente igual sus diferencias internas. PNUD (2010) Informe sobre Desarrollo Humano 2010, New York, pp.24-25. Las elecciones presidenciales de 1998, Hugo Chávez obtiene 3.674.021 de los 11.013.021 de electores en el Registro Electoral mientras la oposición lograría 2.833.305 repartidos en al menos 4 candidatos. A su vez, otros 4 candidatos obtendrían 4.485 votos. La abstención se ubicó en 36,54% para un valor absoluto de 4.023.616 (es decir, mayor a la votación obtenida por el candidato ganador), y los votos nulos se ubicaron en 451.041 votos. 4 En las elecciones presidenciales de 2012, Hugo Chávez es ratificado en la presidencia con 8.191.132 de los 18.854.935 habilitados para votar, mientras la oposición concentra 6.591.304 de los votos. Otros cuatro candidatos obtienen 90.303 votos. Los votos nulos se ubicaron en 287.550 y la abstención en 3.678.682, es decir, 19,5% de los electores habilitados. 5 Se toman en cuenta sólo los valores válidos, es decir, solo quienes se ubican en la escala, dejando por fuera quienes no responden. 6 Indicador de la dispersión de la distribución, y por tanto de la amplitud o cercanía de las diferencias internas. 2 3 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 54 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 7. AUTODEFINICIÓN IDEOLÓGICA – VENEZUELA 1998-2009 Nota: La pregutna realizada por Latinobarómetro es: En política se habla normalmente de “izquierda” y “derecha”. En una escala donde “0” es izquierda y “10” derecha, ¿dónde se ubicaría usted? Fuente: Latinobarómetro. Por otro lado, el período entre 1998 y 2013 deja un saldo positivo respecto a la legitimidad de la democracia como sistema político (gráficos 8a y 8b) entre los ciudadanos venezolanos, aunque es indudable que algunos de los valores democráticos han cambiado. En este sentido, es la acepción democrática más elemental vinculada con su dimensión estrictamente electoral, la que ha avanzado progresivamente, mientras que las dimensiones relacionadas con el estado de derecho y las libertades, muestran un claro estancamiento. Los índices de calidad de la democracia como Freedom House, IDD-Lat y índice de transformación de Bertelsmann, muestran el que desde el ascenso de Chávez al poder, el sistema político venezolano es considerado como parcialmente libre7. Freedom House muestra índice de sistemas parcialmente libres entre 1999 y 2013 (4 y 5 respectivamente), mientras el IDD-LAT de la Konrad Adenauer muestra también un estancamiento (2,243 y 2,418 sobre 10 7 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 55 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 8A. LEGITIMIDAD DEMOCRÁTICA – VENEZUELA 2009 Nota: La pregunta realizada por Latinobarómetro es: ¿ Con cuál de las siguientes frases está usted más de acuerdo? Fuente: Latinobarómetro. para los años 2002 y 2012 respectivamente). Por su parte, el Índice de Transformación de Bertelsmann (BTI) 5,15 y 4,47 sobre 10 para el 2008 y 2012. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 56 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 8B. SATISFACCIÓN CON LA DEMOCRACIA – VENEZUELA 2009 Nota: La pregunta realizada por Latinobarómetro es: En general, ¿diría usted que está muy satisfecho, más bien satisfecho, no muy satisfecho o nada satisfecho con el funcionamiento de la democracia en Venezuela? Fuente: Latinobarómetro. Finalmente, vemos que los valores económicos de los venezolanos permanecen prácticamente inalterados incluso después de la férrea lucha del presidente Chávez por la promoción de un modelo económico distinto. Los gráficos 9 y 10 muestran como el rol del mercado mantiene su alta valoración como mecanismo de distribución de bienes y servicios. De igual manera, el rol de la empresa privada aumenta levemente su legitimidad frente a los venezolanos8. Debemos señalar que las preguntas sobre el rol de la empresa privada no son estrictamente equivalentes, pues cambian en un verbo. Así, Latinobarómetro pregunta si los encuestados están de acuerdo o no con la 8 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 57 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 9. LA ECONOMÍA DE MERCADO ES LO MÁS CONVENIENTE PARA EL PAÍS - VENEZUELA 1998 – 2009 Nota: La pregunta realizada por Latinobarómetro es: Está usted muy de acuerdo (1), de acuerdo(2), en desacuerdo(3) o muy en desacuerdo (4) con cada una de las frases que le voy a leer: La economía de mercado es lo más conveniente para el país. Fuente: Latinobarómetro. siguiente frase: “La empresa privada es beneficiosa para el país”, mientras en 2009 pregunta si: “La empresa privada es indispensable para el desarrollo del país”, sin embargo, los colocamos aquí juntos porque nos permiten tener una idea sobre la valoración de la empresa privada y su aporte a la sociedad. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 58 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS GRÁFICO 10. ROL DE LA EMPRESA PRIVADA – VENEZUELA 1998-2009 Nota: Latinobarómetro cambió la pregunta realizada sobre el rol de la empresa privada, por esta razón los resultados no son estrictamente equivalentes, aunque se muestran una imagen de los valores de los venezolanos respecto al tema. Las preguntas realizadas por Latinobarómetro son: Está usted muy de acuerdo (1), de acuerdo (2), en desacuerdo (3) o muy en desacuerdo (4) con cada una de las frases que le voy a leer: La empresa privada es indispensable para el desarrollo del país (para el año 2009). Fuente: Latinobarómetro. Nuevamente estos resultados refuerzan la interpretación de que el legado del presidente Chávez, se centra fundamentalmente en su discurso social, y que sus propuestas políticas y económicas resumidas en el denominado “Socialismo Bolivariano del Siglo XXI”, han sido filtradas por los valores forjados en la experiencia democrática iniciada en 1958, es decir, la democracia liberal como marco de referencia. No quiere decir esto que no ha habido cambios en la cultura política, sino que estos han completado y consolidado las orientaciones valorativas de la sociedad Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 59 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS venezolana. En este sentido, los principales valores agregados han sido: el aumento de la participación política y la revalorización de la política. Las tasas de participación en elecciones presidenciales, luego de llegar a sus mínimos históricos para elecciones presidenciales de los años 1998 y 2000, al ubicarse en 63,4 % y 56,3% respectivamente, aumentó a 74,7% y 80,5% para las elecciones presidenciales de 2006 y 2012. Lo mismo sucedería en casi la totalidad de los procesos electorales realizados durante la era chavista (Elecciones regionales, locales, referéndums, etc.). Aunque irónicamente, la participación aumentaría estrictamente en los eventos electorales, pues las mayorías no han valorado el ideal de la democracia participativa promovida desde las instancias de gobierno, tal como lo revelan los datos de opinión pública. Así, según el Latinobarómetro del año 1998, al solicitar a los entrevistados la jerarquización de prioridades del país ubican en tercer lugar de importancia la participación de las personas en la toma de decisiones de gobierno, detrás de un tema que se considera propio de los pueblos que apoyan los regímenes autoritarios como lo es darle prioridad al mantenimiento del orden en el país y de otro tema que refleja las preocupaciones económicas de la gente, como lo es el combate de la inflación. Diez años después, en el Latinobarómetro de 2008, la participación desciende al 4to lugar, por debajo de la libertad de expresión, sin duda uno de los valores más cuestionados por el presidente Chávez. GRÁFICO 11. ORDEM DE PRIORIDADES – VENEZUELA 1998 – 2008 Nota: La pregunta realizada por Latinobarómetro es: Si usted pudiera escoger, ¿Cuál de las cosas de esta tarjeta diría que es la más importante? ¿Y la segunda? Aquí se muestran los totales del 1er y el 2do lugar. Fuente: Latinobarómetro. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 60 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS Por su parte, según Plata (2013) los resultados del Barómetro de las Américas muestran el fracaso del gobierno chavista en la promoción de un modelo político de democracia radical y del autogobierno, al ubicar a Venezuela en el puesto número 20 (solo por encima de Argentina, Guyana y Uruguay), con un apoyo de menos de un tercio de la población, a un sistema de gobierno directo por el pueblo en detrimento de un gobierno representativo9. El segundo de los cambios producidos en la cultura política del venezolano en el período del gobierno del presidente Hugo Chávez, la revalorización de la política, se presenta como consecuencia de al menos dos variables: en primer lugar de la popularidad del presidente transmitida a la política, y por otro de la renovación de gran parte de todo el liderazgo político nacional, desde las personalidades hasta los partidos políticos. Así, según Latinobarómetro el interés en la política aumentó de 32,8% en 1998 a 35,1%10 en 200911, y la participación en partidos políticos de 7,3% a 12,2% entre 1998 y 2008. Retos y desafíos de la sociedad venezolana postchavista Aunque la cultura política venezolana poco se haya transformado durante el gobierno de Hugo Chávez, la estructura institucional del país ha experimentado un cambio de rumbo importante: desde una nueva Carta Magna hasta una eliminación en la práctica de la división de poderes. En su mayoría, todos los cambios avanzaron hacia un orden institucional cuyo eje central era el presidente Hugo Chávez, resultando en una intensa desinstitucionalización del país, tal y como lo recogen los índices de calidad de la democracia IDD-LAT, Freedom House y Bertelsmann presentados. Por esto, el principal reto de la sociedad venezolana es la despersonalización del sistema político y la construcción de una infraestructura al servicio de la ciudadanía y del proyecto político democrático expresado en la Constitución de 1999, asentado sobre los valores de los venezolanos, esto independientemente del liderazgo que asuma la presidencia a partir del 14 abril de 2013. Avanzar en la reconstrucción de poderes autónomos que puedan controlarse Camilo Plata, Juan (2013) Power to the People? Support for Direct Democracy in the Americas, Americas Barometer Insights: 2013, Number 87, en web: http://www.vanderbilt.edu/lapop/insights/IO887en.pdf (consultado el 14-03-2013). 10 Se registra aquí quienes afirman estar Muy interesados y Algo interesados. La Pregunta realizada por Latinobarómetro es: ¿Cuán interesado está Ud. en la política? 11 El Barómetro de las Américas registra un aumento en 2012 de 38,5% 9 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 61 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS y vigilarse mutuamente, que permitan la reconstrucción del estado de derecho, aumentar la competitividad y transparencia de las elecciones, a través de la regulación de los recursos del Estado en procesos electorales, un Parlamento (Asamblea Nacional) que funcione y legitime ante el resto de la sociedad procesos de discusión y debates democráticos, entre otros, son los elementos de la agenda pendiente que permitirán construir un sistema político democrático, cuyo eje central sea la ciudadanía y no el gobierno o un líder. Otro gran reto fundamental de la sociedad venezolana es lograr construir un modelo de desarrollo sostenible, que logre un equilibro entre generación de riqueza y bienestar social, es decir, crecimiento y diversificación económica, que disminuya la dependencia petrolera y que satisfaga la centralidad de las demandas populares. La breve revisión de los cambios más importantes ocurridos durante la era de Chávez presenta la imagen de un país que pospuso avanzar en la construcción de un modelo de desarrollo viable, por una lucha de reconocimiento social. Cualquier modelo de desarrollo para tener alguna viabilidad en Venezuela deberá incluir el combate a la pobreza como eje central del modelo, aunque esto signifique sacrificar la velocidad del desarrollo. Este será, una vez el país logre deslastrarse de las concepciones anacrónicas de la sociedad y el desarrollo, su principal aporte. Mientras, el estancamiento económico y profundización de la dependencia petrolera colocan al país en un estado de absoluta vulnerabilidad, al depender del impredecible mercado petrolero. Quizás el fracaso más grande de Chávez ha sido la escasa o nula penetración de la democracia participativa. La extraordinaria expansión del Estado cuya lógica es la promoción de una responsabilidad delegada (democracia delegativa12) contradice la lógica del autogobierno que constituye la democracia participativa, en la que la ciudadanía tiene como objetivo asumir la responsabilidad y control de los procesos de toma de decisiones. El resultado de estas lógicas contradictorias, tal y como hemos señalado, resultó en el descrédito de la propuesta participativa. Probablemente otro de los errores cometidos haya sido presentar la democracia participativa como alternativa contrapuesta a la democracia liberal, en vez de una alternativa compatible y correctiva que permite profundizar la democracia. Al poner Término acuñado por Guillermo O’Donnell. Ver “Delegative Democracy”Journal of Democracy, Vol. 5, No 1, Enero 1994:55-69. National Endowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press 12 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 62 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS a competir ambos modelos la democracia liberal tiene la ventaja al gozar de profundas raíces en la identidad del venezolano. Así, el reto fundamental será profundizar la democracia en dos sentidos, en primer lugar mejorar la capacidad de representación y por tanto el modelo de democracia liberal, especialmente a través del fortalecimiento de los partidos políticos, de la Asamblea Nacional y los Gobiernos Locales y Regionales, y en segundo lugar, en la promoción de instancias de participación autónoma. Finalmente, Venezuela tiene como reto la construcción de un modelo de convivencia o sociabilidad democrática. La violencia desbordada en todos sus expresiones: violencia ciudadana, política, sindical, violencia en los hogares, cárceles, hospitales, calles y plazas, han transformado la sociabilidad del venezolano, ahondando su desconfianza entre conciudadanos, llevándolos a refugiarse en la intimidad del hogar y a abandonar por completo los espacios públicos ante un irónico llamado a la participación. En este sentido, la violencia tiene un punto de inflexión (a partir del cual nada ha cambiado) que es el Caracazo, el estallido social de febrero de 1989, el cual se presenta para la sociología venezolana como un acto legitimador de la violencia como modelo de convivencia. El país tiene en este momento construir una referencia contraria, un nuevo estallido13, pero esta vez de la paz, que legitime un modelo de convivencia alternativo, incluyente y pacífico. El historiador Manuel Caballero en su libro Las crisis de la Venezuela contemporánea (1903-1992), explica que la primera gran crisis del siglo XX venezolano fue el “estallido de la paz”, que pone fin al siglo de guerras que comienza en 1810, dando a la República algo que no conocía, la vida en paz. 13 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 63 RETOS Y DESAFÍOS DE LA VENEZUELA POST-CHÁVEZ HÉCTOR GABRIEL BRICEÑO MONTESINOS Referencias Bibliográficas Bertelsmann Transformation Index (BTI) en web: http://www.btiproject.org/countryreports/lac/ven/ (consultado el 14-03-2013). Caballero Manuel (2009) Las crisis de la Venezuela Contemporánea (1903-1992), Alfadil Ediciones, Caracas. Freedom House en web: http://www.freedomhouse.org/country/venezuela (consultado el 1403-2013). Ranis, Gustav (2007) Cadena causal entre el Desarrollo Humano y el Crecimiento Económico, Revista Latinoamericana de Desarrollo Humano. IDD-LAT, Índice de desarrollo Democrático de América Latina, en web: http://www.iddlat.org/downloads/idd-lat-2012.pdf (consultado el 14-03-2013) Latinobarómetro 1998 – 2009, en web: http://www.latinobarometro.org/latino/latinobarometro.jsp (consultado el 14-03-2013). LAPOP, Barómetro de las Américas, en web: http://lapop.ccp.ucr.ac.cr/Lapop_English.html (consultado el 14-03-2013). Plata, Juan Camilo (2013) Power to the People? Support for Direct Democracy in the Americas, Americas Barometer Insights: 2013, Number 87, en web: http://www.vanderbilt.edu/lapop/insights/IO887en.pdf (consultado el 14-03-2013). PNUD (2010) Informe sobre Desarrollo Humano 2010, New York. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.44-63, Abr. 2013. 64 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO Dawisson Elvécio Belém Lopes Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) [email protected] João Paulo Ferraz Oliveira Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) [email protected] Resumo: A Primavera Árabe modificou o cenário político dos Estados do Magreb Africano e Oriente Médio. Este artigo busca identificar quais são as características principais que permearam esse fenômeno, compreendendo o que há de geral e de idiossincrático nas mudanças sociais e constitucionais ocorridas no interior dos Estados da região. Palavras-chave: Primavera árabe; Magreb Africano; Oriente Médio. Abstract: The Arab Spring has changed the political landscape of the United African Maghreb and Middle East. This article seeks to identify what are the main features that permeated this phenomenon, comprising what is general and idiosyncratic in social and constitutional changes occurring within the states of the region. Key words: Arab Spring; Magreb Africano; Middle East. A autoimolação do jovem Mohammed Bouazizi em razão do confisco, pelo governo da Tunísia, de seu único meio de sobrevivência – uma singela barraca de legumes – foi o estopim para que algo impactante acontecesse no mundo árabe. A partir daquele final de ano de 2010, sucessivas revoltas, deflagradas por pequenos grupos, depois atingindo grandes massas e se espalhando como um efeito “dominó” por todo o Norte da África e Oriente Médio, determinaram inesperadas perspectivas sobre o futuro político, constitucional e social desses Estados (ROSINY, 2012). Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 65 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES O conjunto de revoltas, denominado de “Primavera Árabe”, apresenta-se com características diferenciadas em relação a qualquer outra revolta ocorrida no Magreb Africano e Oriente Médio no último século. Seus traços combinam o novo e o antigo, transformando-a em um caleidoscópio com múltiplas cores e formas. A riqueza dos contextos árabes em cada região e Estado, com diferentes etnias, organizações de Estado, relações políticas e sociais, traz dificuldades para o exercício da predição. Isso oferece a qualquer analista um desafio – primeiro, de entender o que há de geral na Primavera Árabe e, segundo, de identificar a consequência específica que esse fenômeno transnacional gerou em cada Estado que atingiu, constituindo-se em plataforma de análise e estudo interessante e promissora. Na concepção de Anderson (2011), mais do que compreender as questões globalizantes que modelaram esse momento, é necessário pensar a multiplicidade de movimentos e protestos e seus desdobramentos. Este artigo busca, inicialmente, apontar o que há de característica geral na Primavera Árabe, mesmo diante das diferenças entre os Estados por ela acometidos. Ainda, pretende arrolar as variáveis importantes que determinaram o sucesso do movimento (sucesso em termos de derrubada de regimes autocráticos e abertura de novas possibilidades) em alguns lugares e não em outros, assim como a interação que se deu entre os âmbitos doméstico e internacional. Em segundo lugar, este texto lista algumas consequências sociopolíticas e constitucionais decorrentes das revoltas e guerras civis nos Estados que foram palco da Primavera Árabe. As alterações nas correlações domésticas de poder deram ensejo à emergência de novos e antigos atores, podendo-se projetar um processo de democratização em alguns lugares, mas a conservação do status quo não democrático em outros. Tentaremos fazer uma breve exposição sobre os eventos na Líbia, Tunísia, Egito e Golfo Pérsico1, entendendo-os como demonstrativos de um contraponto possível entre os casos de sucesso e insucesso das revoltas realizadas em prol de uma nova perspectiva de governo. A novidade da Primavera Árabe A primeira grande surpresa mostrada pelas revoltas no mundo árabe está na fragilidade dos governos ditatoriais ou, nos termos de Goldstone (2011), “sultanísticos”. Tais governos transmitiam a imagem de indestrutibilidade e imutabilidade no plano externo, mas nas relações domésticas eram frágeis e titubeantes. Basicamente, o primeiro ponto a pensar é o caráter personalista do Quando se fala de Golfo Pérsico neste artigo, faz-se referência aos seguintes países: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Bahrein, Kuwait e Qatar. 1 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 66 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES líder de governo, cuja legitimidade perpassava a utilização de instituições formais e informais no apoio a redes de lealdade, patronagem e perseguição da oposição, seja militar, seja economicamente. A associação com os militares mostrou-se tática essencial, porque através dessa conexão tais líderes personalistas podiam coordenar-se com as forças de segurança e coerção do Estado. Quanto à população, os institutos de participação política eram desorganizados ou esvaziados de significado pela forte corrupção, que distorcia os resultados de eleições gerais, e pela distribuição seletiva e condicionada dos recursos, que alterava o comportamento dos partidos e mantinha a massa desconectada e passiva diante das circunstâncias (GOLDSTONE, 2011). O resultado de tal estrutura de poder gerava favorecimento de uma elite política e militar, produzindo cada vez maiores desequilíbrios econômicos – com aumento da dívida pública e desemprego. A personalização, assim, subtraía todo caráter ideológico da legitimação política. Essa é a grande crítica que Gregory Gause III (2011) vem aplicar ao caso da Primavera Árabe. Para o autor, as análises sobre o mundo árabe sempre foram pautadas pelo entendimento de haver estabilidade das interações domésticas, subestimando-se as forças escondidas dentro do regime, nas elites ligadas ao governo ou em relação à maioria da população – até então, incapaz de se mobilizar. Os eventos de 2010 contradisseram todos os analistas que prediziam anos e anos de continuidade autocrática. A Primavera Árabe proporcionou a entrada em cena de atores capazes de transformar as relações de poder e dar um novo rumo à trajetória política da região. Outra característica fundamental da Primavera Árabe é sua transnacionalidade. O episódio desencadeante de Túnis, na Tunísia, foi fonte de inspiração para outros movimentos no Egito, Marrocos, Líbia, Bahrein e Síria, e ainda colocou em alerta todos os países do Golfo Pérsico, Irã e Jordânia. Tal espraiamento das revoltas foi auxiliado pela instrumentalização dos novos meios de comunicação. O papel do Facebook e da rede de televisão Al-Jaazera, tanto na coordenação de eventos e reuniões, quanto na mobilização emocional (ao mostrar imagens, vídeos e discursos em favor da mudança), deve ser ressaltado (BECK E HÜSER, 2012). Entretanto, o mundo árabe tem suas redes sociais próprias, mais poderosas que qualquer aparato tecnológico, representadas pelo costume e pelas conexões religiosas entre vários países. Uma figura institucional importante, que ascendeu a partir desse momento, foi a Irmandade Muçulmana, movimento político e social formado no final da década de 1920, que ganhou ressonância em todo o mundo árabe, principalmente na difusão de ideais e incentivos contra os governos autoritários. Há que considerar também as conexões interpessoais entre Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 67 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES os árabes, que antes estavam a favor da manutenção do status quo, mas que, a partir de 2010, se tornaram divulgadores de ideias pró-revolta (YADLIN, 2012). Apesar das idiossincrasias de cada Estado no Norte da África e do Oriente Médio, observou-se certa homogeneidade das demandas por parte das populações contra os governos. Dado que a maioria dos governos possuía características ditatoriais, com corrupção endêmica e sustentadora dos regimes, desemprego, desigualdade de renda e regional, repressão à oposição e a qualquer ato contra o status quo, não reconhecimento de direitos de minorias e mulheres etc., isso não surpreende. A maioria dos movimentos políticos associados à Primavera Árabe apelava por melhorias básicas na qualidade de vida, com provisão de comida, energia e moradia, serviços públicos essenciais e oportunidades de emprego. Do ponto de vista dos direitos políticos, reclamavam (ainda que timidamente) a reforma em direção à democracia, a separação de poderes, instituições confiáveis e maior participação. Os termos unificadores das demandas estavam concatenados em quatro palavras: justiça (adalah), liberdade (hurriyah), dignididade (karamah) e respeito ( ihtiram) (ROSINY, 2012). Uma característica peculiar dos movimentos é a inexistência de uma ideologia própria ou de personalidade messiânica que encabece as revoltas, tais como Khomeini no Irã, Lenin na Rússia, Fidel e Guevara em Cuba. As revoltas, inicialmente, não eram liberais, socialistas ou islâmicas – apesar de a Irmandade Muçulmana e os Salafistas no Egito lhes terem atribuído um registro ideológico islâmico após a queda de Mubarak. Tratava-se, antes, de ações contra o status quo, sem líderes e sem heróis (ROSINY, 2012; YADLIN, 2012). Em geral, o sucesso das revoltas, culminando com a retirada dos líderes autocratas, passou, primeiro, por uma alta mobilização da população e pela retirada do apoio da elite política, militar e econômica ao regime – como foi o caso do exército na Tunísia, Egito e, em certa medida, na Líbia. Segundo, por uma atuação de organizações internacionais globais e regionais, que ofereceram apoio político e logístico (inclusive militar) às populações na deslegitimação dos autocratas no poder. A saída de cena dos autocratas foi concretizada por meio de guerras civis, desestruturação do aparato de Estado, de sua infraestrutura e, infelizmente, de baixas civis. Primavera ou Inverno? O que se esperar das revoltas no mundo árabe A discussão sobre o que se esperar em termos políticos e constitucionais é semelhante à areia do deserto: sujeita a miragens, com mudanças drásticas capazes de alterar preferências e perspectivas para os atores políticos. Para muitos autores, Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 68 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES ainda há esperanças e possibilidades de maior abertura participativa e democrática nas instituições árabes (BERMAN, 2013; ÜLGEN et al. 2012 ; ROY, 2012); para outros, a fragilidade de uma estrutura democrática no mundo árabe é eminente, o que deixa margem para um retorno ao autoritarismo (GOLDSTONE, 2012; GUZANSKY, 2012; JONES, 2013; OTTAWAY E MUASHER, 2011; SORENSON, 2011; YADLIN, 2012). Olhar o cenário nebuloso da Primavera Árabe pode evocar o pessimismo quanto às mudanças das relações sociais. A multiplicidade de atores políticos, bem como seus comportamentos em contextos políticos diferentes daqueles a que estamos habituados, levam alguns observadores a tecer normativamente comentários positivos e negativos. Na maioria das análises, os principais questionamentos perpassam a capacidade de reorganização do Estado na produção de ordem doméstica e a capacidade institucional de atores políticos (militares, islâmicos e secularistas) participarem das regras democráticas e se adaptarem à normatividade emergente nos campos social e moral. A ordem doméstica após a guerra civil ainda está debilitada. As características dos governos sultanísticos não favoreciam a existência de burocracias nos termos weberianos; antes ao contrário, imprimiam às relações políticas um caráter personalista e informal. Os frutos de uma guerra civil são sempre o cenário de terra arrasada, com muitas baixas humanas e instabilidade institucional e política. Depois da queda dos antigos autocratas, falta um projeto nacional capaz de conjugar todos os interesses de etnias, tribos e elites espalhadas pelo território (GOLDSTONE, 2011; JONES, 2013). À medida que se conquistava o território para a implantação da nova ordem política, ocorria também, como efeito colateral da guerra civil, a militarização das próprias tribos, o que veio dificultar a formação de uma constituição nacional (pois esses povoamentos locais desenvolveram certa independência em relação ao governo central) (BARANY, 2011). O posicionamento dos atores políticos em direção às regras democráticas também preocupa. O papel dos militares tem variado em função do seu grau de envolvimento prévio nas gestões autocráticas. No caso egípcio, como a posição da corporação militar era privilegiada, com salários bons e independência em relação ao regime, houve forte participação durante o período transicional, culminado com a formação do Conselho Supremo das Forças Armadas. Seu enraizamento na sociedade lhe deu força no parlamento e capacidade de estabelecer coalizões com partidos islâmicos e secularistas. No caso tunisiano, os militares já eram profissionalizados, sem participação no regime anterior e com ideais democráticos (em virtude de os treinamentos militares acontecerem, com frequência, em países democráticos). No caso líbio, a estrutura de gestão política baseada na configuração Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 69 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES tribal fez com que as relações das forças de segurança fossem pulverizadas e diversificadas no território, impossibilitando qualquer tentativa de encontrar um padrão comportamental (BARANY, 2011). Na Síria, as relações do governo com as forças de segurança permanecem fortes, tornando a transição mais complicada, mesmo com a deslegitimação do regime perante a população. O jogo se torna mais brutal pelo descompasso de forças entre o regime e a oposição e o veto de uma intervenção militar internacional, por parte de Rússia e China, favorecendo a manutenção do regime no poder (YADLIN, 2012). Quanto a partidos islâmicos, a discussão envolve como a sharia, lei islâmica maior, se aplicará ao Estado. A força de partidos salafistas e da própria Irmandade Mulçumana no Egito é o reflexo da ambivalência social reinante, bem como da dificuldade em se aplicar a moralidade do islamismo à constituição estatal. Certamente, para autores como Yadlin (2012) e Kurzman e Naqvi (2010), esses partidos saem da Primavera Árabe como atores poderosos no jogo político, podendo se estabelecer no parlamento. Para secularistas, a presença desses partidos já é por si só uma ameaça a minorias religiosas e de gênero. Outros acreditam que existem várias maneiras de pensar a própria sharia e de associá-la à política de Estado, o que torna menos determinista a associação entre partidos islâmicos e radicalismo político. Assim, como se tornou relativamente comum a partir da década de 1980, os partidos islâmicos podem posicionar-se como favoráveis à democracia e, em vez de islamitas radicais, serem conservadores morais e liberais políticos ao mesmo tempo. A correlação de forças em alguns Estados também força os partidos a fazer algumas concessões a militares e secularistas, o que suaviza as plataformas de ação política. Conectado ao tema, não se pode esquecer também da própria característica do eleitorado que dá suporte aos partidos islâmicos. Rivero e Kotzé (2007) ponderam que essa conexão entre o suporte do eleitorado aos partidos islâmicos e os pressupostos antidemocráticos deve ser desmistificada. Na realidade, o apoio a partidos islâmicos simboliza antes uma rejeição aos aparatos repressivos dos Estados ditatoriais, ou seja, em vez de os partidos voltados para religião rejeitarem a democracia, eles a enxergam como um caminho para a transformação profunda da política, seja em seus níveis de abertura à participação, seja na ampliação do eleitorado na região. Contrariamente ao que os mais otimistas poderiam prognosticar, não houve modificação relevante nas estruturas autoritárias de outros Estados da região, principalmente nos países do Golfo Pérsico. Estes consistem, em sua maioria, em monarquias baseadas no comércio internacional do petróleo, o que dificulta a eficiência do seu desempenho econômico e estrutural ao longo dos anos. As Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 70 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES finanças das famílias reais provaram-se suficientes para “comprar a paz doméstica” até o momento (GUZANSKY, 2012). Poucas ações foram necessárias para acalmar os ânimos: cooptação via empreguismo, maior distribuição de renda pelos cofres públicos, pequenas demonstrações de accountability e inclusão de parcelas da população em conselhos regionais. No paradigmático caso do Bahrein, em que houve focos de revolta por parte da maioria da população xiita contra a realeza sunita, deu-se explicitamente o apoio do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG)2 – organização intergovernamental de cooperação regional – na repressão do movimento de contestação política, com envio de tropas compostas por soldados sauditas e emiratenses. A comparação entre o status quo doméstico desses Estados com os processos de democratização no mundo árabe gera perplexidade. A Arábia Saudita é um dos exemplos dessa ambivalência: ela apoia a exclusão da Síria da Liga Árabe, em condenação por suas medidas de autoritarismo; e também apoia a transição no Iêmen para uma democracia. Outro exemplo importante é o Qatar, que investe recursos em ajuda aos rebeldes na Líbia e estabelece mediação nas transições de regime no Iêmen e Síria (OTTAWAY E MUASHER, 2011). Nesse contexto de revoltas e questionamentos dos regimes autoritários, os reinos do Golfo Pérsico têm se mostrado mais resistentes aos câmbios, tanto em função da legitimidade mais enraizada socialmente, quanto pela maior flexibilidade nas suas estruturas governamentais (GOLDSTONE, 2011). Em vez de desabrochar, a democracia parece hibernar nessa parte do planeta. Mas ainda há espaço para o otimismo moderado. A questão tunisiana, gota d’água para a Primavera Árabe, é o maior caso de sucesso, principalmente por ter dado vazão a melhores condições políticas, estruturais e sociais (BECK E HÜSER, 2012). Do ponto de vista social, os tunisianos passaram a desfrutar de um melhor sistema de educação, vem expandindo o tamanho da classe média e, hoje, aproximadamente 1/3 da população tem acesso à internet. Desde 1988 o número de organizações da sociedade civil aumenta continuamente – particularmente as de gênero, bem organizadas e ativas. Quanto aos demais movimentos sociais, chama a atenção o movimento trabalhista (União Geral Trabalhista da Tunísia – UGTT), com enorme capacidade de mobilização social e poder de barganha em relação ao governo, sendo uma importante voz de oposição dentro do jogo democrático que se forma no país (YOUSFI, 2012). Do ponto de vista estrutural, diferentemente de Criado em 1981, seus membros são: Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Foi concebido como uma resposta ao dilema geopolítico vivenciado pelos países do Golfo Pérsico após a Revolução Iraniana. Seus principais objetivos são: alcançar a cooperação regional e fortalecê-la; estabelecer sistemas compatíveis entre os Estados nas áreas de economia, educação, sociedade, turismo, legislação e gestão pública; estimular o progresso cientifico e tecnológico; manter a paz e acelerar a integração econômica e política (ALASFOOR, 2007). 2 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 71 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES outros Estados do Norte da África, as burocracias estão mais saudáveis, eficientes e tecnocráticas. (ANDERSON, 2011). Em termos partidários, a Tunísia apresenta boa diversidade de legendas. Nas eleições de 2011, o Ennahda – partido islâmico moderado – conquistou 89 dos 217 assentos, o que o levou a estabelecer coalizões, descaracterizando, pois, o projeto político de islamização da população. Ademais, sua principal bandeira não é religiosa; é o combate à elitização da vida política tunisiana, mesmo após a ditadura de Ben Ali. Baseando no quadro resumo de Beck e Hüser (2012), assim classificam os saldos da Primavera Árabe nos Estados da região: Tipo de Regra/ Nível de estabilidade Consolidado/estável Não consolidado/instável Regime autoritário Em transição Países do Golfo Pérsico Síria Tunísia Egito, Líbia, Marrocos Fonte: Beck e Hüser (2012) Conclusão A Primavera Árabe desencadeou mudanças importantes na política dos Estados no Magreb Africano e Oriente Médio. Contudo, alguns desafios colossais, como a ordenação social e política dos países, a debilidade institucional proveniente da necessidade de refazer a constituições nacionais e a presença de novos atores políticos, com diferentes capacidades de atuação, tornam tal fenômeno imprevisível e cheio de nuances. A população árabe não é a mesma de 30 anos atrás – é mais informada, composta de maior contingente de jovens universitários, com acesso a meios de comunicação e demandas democratizantes. Ainda, partidos islâmicos, mesmo que radicalizados, precisam formar coalizões com outros atores políticos e econômicos, que enxergam na democracia uma opção plausível e normativamente preferível. Como de resto tudo o que envolve essa discussão, as chances permanecem em aberto – do sucesso ao fracasso, da primavera ao inverno para a democracia no mundo árabe. REFERÊNCIAS: ALASFOOR, Reyadh. The Gulf Cooperation Council: Its Nature and Achievements. Department of Political Science. Lund University. 2007. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 72 O MUNDO ÁRABE PÓS-2010: ENTRE A PRIMAVERA E O INVERNO JOÃO PAULO FERRAZ OLIVEIRA E DAWISSON ELVÉCIO BELÉM LOPES ANDERSON, Lisa. Demystifying the Arab Spring. Foreign Affairs, Nova Iorque. Disponível em: <http:// http://www.foreignaffairs.com/articles/67693/lisa-anderson/demystifying-thearab-spring> Acessado em: 11/03/2013. 2011. BARANY,Zoltan. The Role of the Military. Journal of Democracy. Washington. Disponível em: http://www.journalofdemocracy.org/sites/default/files/Barany-22-4.pdf Acessado em: 11/03/2013. 2011. BERMAN,Sheri; The Promise of the Arab Spring. Foreign Affairs. Nova Iorque. Disponível em: http://www.foreignaffairs.com/articles/138479/sheri-berman/the-promise-of-the-arabspring> Acessado em: 11/03/2013.2013. GAUSE III, Gregory F. Why Middle East Studies Missed the Arab Spring: The Myth of Authoritarian Stability. Foreign Affairs. Nova Iorque. 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Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.64-75, Abr. 2013 76 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO The fear of the conflict in Brazilian political thought. Felipe Riccio Schiefler Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) [email protected] Resumo: Uma característica marcante da cultura política brasileira é a forte aversão ao conflito. A via conciliadora e moderada é sempre preferida aos embates e discórdias. O presente artigo tem como finalidade apontar as raízes históricas deste traço constitutivo do pensamento político brasileiro e mostrar sua importância enquanto ferramenta analítica para a compreensão da política nacional contemporânea. Palavras-chave: Pensamento político; conciliação; conflito. Abstract: A remarkable characteristic of Brazilian political culture is a strong aversion to conflict. The political action is always moderate and conciliatory instead of conflicting and disruptive. This article aims to point out the historical roots of this constitutive feature of Brazilian political thought and show its importance as an analytical tool for understanding the contemporary national politics. Key words: Political thought; conciliation; conflict. O objetivo desse pequeno artigo é apresentar um traço que consideramos constitutivo do pensamento político brasileiro: a lógica de evitar conflitos na esfera política e social. Para isso, retomaremos a uma linhagem do pensamento oitocentista, por crer que, nela, foram lançadas as bases de se pensar o jogo político como conciliação. Coube ao século XIX revitalizar esse traço do pensamento ibérico. Como sugerimos, essa marca deitou raízes na nossa cultura política, fazendo com que ela não se restringisse ao pensamento imperial, sendo uma ferramenta analítica para a compreensão da política nacional contemporânea. Para tal, apresentaremos, de maneira sucinta, discursos de autores oitocentistas brasileiros, colocando em destaque o horror ao conflito e a busca pela moderação e pela harmonia, únicas capazes de manter a integridade do corpo político que se tentava erigir. Antes disso, porém, apontaremos para a Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 77 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO ideia de conflito em Maquiavel, autor que dialogava com a tradição cristã medieval e buscava uma nova solução para a manutenção do corpo político, colocando o conflito como parte inerente ao jogo político. No interior da linhagem política que queremos aqui esboçar, essa concepção de política é vista maneira negativa. Em Maquiavel, podemos ressaltar uma concepção original acerca do corpo político. Colocando em xeque a ideia que perpassou a Idade Média e, em certa medida, os autores humanistas – isto é, de que a boa sociedade se traduz na redução de conflitos -, Maquiavel rejeita a ideia de retirar o conflito para se pensar a política. O autor florentino concebeu a luta em torno do poder como uma luta infinita. Para ele, as potências antagônicas no interior do corpo político e as suas divisões internas não apareciam como ameaças para a sua existência. A origem da lei não estava pautada no consentimento, mas na tensão resultante do confronto ininterrupto dos desejos. A lei, destarte, aparecia como a solução institucional para dar conta desses conflitos entre os desejos. Ainda assim, essa solução não seria suficiente para promover a estabilidade, o que confere dinamismo ao jogo político e torna imprescindíveis refundações do corpo político. Em suma, Maquiavel traz à cena a ideia de que a política deve tomar como premissa o conflito e que, ainda assim, não estará imune a ele. Não podemos, segundo ele, sonhar com uma sociedade onde reine a estabilidade, pois o corpo político é composto por elementos que não podem se entender e, daí, a importância de colocar o conflito como premissa para qualquer sociedade. Nesse sentido, a rápida passagem de Maquiavel servirá como um pano de fundo para observarmos que parte importante das ideias políticas brasileiras busca “colocar panos quentes” no conflito – concebendo-o de forma negativa – em prol da conciliação, da moderação. Não se trata de buscar um caráter essencialista da política brasileira, pois não atribuímos isso a todos os atores e a todas as ações políticas, e muito menos de querer apresentar os discursos como imunes ao tempo, sem contextualizá-los ao tempo histórico no qual foram gestados. Cada um desses discursos respondia a um debate discursivo próprio de sua época. Entretanto, queremos destacar que a fuga ao conflito, no plano das ideias, é uma forma recorrente do pensamento político brasileiro que, em diferentes contextos, buscou fugir da ideia de conflito como parte constitutiva da política. Se deitou raízes no pensamento político, a prática da conciliação na política brasileira, talvez, seja uma das marcas da nossa política. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 78 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO A ojeriza ao conflito pode ser explorada em autores que vivenciaram o processo de Independência, como no pensamento de José da Silva Lisboa, o Visconde do Cairu e José Bonifácio, por exemplo. À época, a ideia de fugir ao conflito estava diretamente ligada à ideia de formação de um corpo político homogêneo, livre de fraturas. O Visconde de Cairu, político ligado à burocracia luso-brasileira desde o período joanino, via com maus olhos, até mesmo, o conflito de ideias. No contexto da abertura da imprensa, em 1821, Cairu dizia que a liberdade dos escritos seria como o “vinho espirituoso”, que atuava sobre a cabeça e os estômagos débeis. Nesse sentido, para José da Silva Lisboa, não havia espaço para liberar o conflito de opiniões. Ele partia de uma lógica distinta que a de Maquiavel: para o autor florentino, a arte de caluniar nunca acabaria entre os homens, e a solução não era proibi-la, mas delimitar uma arena na qual o ofendido pudesse se defender. Cairu, por sua vez, preferia impedir a instauração do conflito de opiniões, pois temia que ele levasse à convulsão social e as impossibilidades de manter a unidade territorial do país, dois temores da maior parte da elite política imperial. Cairu foi também um importante adversário do federalismo, travando forte debate com os federalistas de Pernambuco, sobretudo com Cipriano Barata e Frei Caneca. Para ele, os federalistas pautavam-se em projetos mesquinhos que visavam unicamente “desunir e desconciliar os cidadãos do Império, criando antipatias e rivalidades provinciais”. Em José Bonifácio, a rejeição ao conflito também é nítida. Com o objetivo de salvaguardar a unidade territorial, Bonifácio se colocava contra a convocação de uma Assembleia Constituinte, temendo que a diversidade de interesses entre as Províncias não pudessem ser digeridas no interior do Legislativo e viesse a fragmentar o Brasil. Por isso, assim como Cairu, não se opunha a uma carta outorgada por D. Pedro I. A fuga ao conflito, assim, estava diretamente ligada à manutenção de um corpo político harmônico e de uma sociedade onde reine a moderação. Um outro ponto que merece, desde já, ser explicitado é o de como essa ideia de rejeição ao conflito, já no século XIX, convivia bem com lógica da outorga, combinação que marcou as ideias políticas brasileiras para além do contexto imperial. No contexto da Independência, a primazia do Executivo, na figura do Imperador, não causava espanto para aqueles que temiam o conflito. Desde que garantisse a ordem, não havia problema em retirar do Legislativo a discussão sobre a Constituição. Essa característica de rejeição ao conflito perpassa também o pensamento de José Paulino de Sousa, o Visconde do Uruguai. Não é de se Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 79 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO estranhar que todos os três passaram pelos bancos universitários de Coimbra e estiveram devidamente inseridos na burocracia central do Império, ainda que em momentos distintos. Ainda que exista diferença entre na concepção desses autores, o Visconde do Uruguai, para a seleção que fizemos, corrobora a sua filiação a essa linhagem do pensamento. A partir do debate do Visconde com Tavares Bastos acerca da distribuição do poder pelo Império, podemos nos aproximar melhor do nosso sujeito, tendo em vista que a divergência em torno do papel do conflito é central no debate. Comecemos por uma apresentação sucinta do pensamento do segundo. Pautado numa lógica liberal e escrevendo na década de 1870, Tavares Bastos apontava para os anos regenciais – anos em que se instauraram medidas descentralizadoras, como o Código do Processo e o Ato Adicional sobre prisma positivo: teriam nascido ali os germes da liberdade no Brasil. No pensamento do autor, a liberdade dependeria da descentralização. A centralização do Império, assim, tolhia a liberdade das Províncias, pois o estado central apareceria como um ente imaginário, que desconhecia as realidades locais e, desta maneira, não poderia dar conta dos seus problemas. A solução, destarte, estava calcada na descentralização por meio do federalismo. Nesse sentido, a competição entre as Províncias teria um saldo positivo, pois o interesse geral se estruturaria por meio do conflito entre os interesses provinciais. Visconde do Uruguai, político ligado ao partido Conservador, apontava para outro diagnóstico: a descentralização, entendida como o self-governement, era o ideal último, mas, pelas características brasileiras, não convinha de antemão. Para se chegar até ela, era preciso passar por um período de centralização política com descentralização administrativa, pois somente ao estado ao central caberia, naquele momento, garantir os direitos civis, ameaçados pelos potentados locais. O período regencial, para ele, devia servir de exemplo de como não se proceder, tendo em vista as agitações sociais e políticas que trouxera de Norte a Sul do país. Por isso não poderíamos, de imediato, promover o self-governement. Implantá-lo, para o Visconde, impediria uma ordem imparcial para as localidades, dominadas pelo interesse privado e, ademais, a competição entre os interesses provinciais resultaria em luta armada entre – e também no interior – (d)as Províncias, como demonstrara tanto a América espanhola como o período regencial. De um lado, o interesse geral emanaria do conflito entre os interesses provinciais, numa ideia que via no conflito entre as Províncias; do outro, a interesse geral escapava aos interesses meramente provinciais e, assim, não poderia advir do Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 80 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO conflito entre eles. O Estado aparece como o ator principal para disciplinar os irrequietos potentados locais. Em suma, para o Visconde do Uruguai o pacto federativo não poderia ser o espaço da competição, pois os interesses provinciais seriam como os interesses individuais e não poderiam promover benefícios para a sociedade sem a ação do Estado. Somente o Estado central poderia encabeçar a tarefa de lidar com a heterogeneidade do país. Caso contrário, os divergentes interesses provinciais levariam à luta armada e impediriam que uma lei imparcial se consolidasse nos “sertões”. Coube-nos, aqui, somente problematizar como a ideia de política como conciliação teve ampla repercussão no debate político oitocentista, sobretudo entre autores que passaram pelos bancos universitários de Coimbra e estiveram, de alguma forma, inseridos na burocracia imperial. A nossa ideia é que essa linhagem do pensamento brasileiro não ficou restrita ao século XIX e pode, ainda hoje, ajudar-nos a compreender certos aspectos da política nacional contemporânea. No campo das ideias, essa ojeriza ao conflito pode ser identificada em Oliveira Viana, que, como sabemos, guarda grande dívida com autores oitocentista, sobretudo com os autores coimbrãos, como o próprio Visconde do Uruguai. Caso tomemos as obras escritas após o autor assumir a consultoria jurídica do Ministério do Trabalho em 1932, “Problemas de Direito Corporativo” e “Direito do Trabalho e Democracia Social”, observamos que o temor ao conflito aparece num contexto de crescentes transformações advindas do rápido processo de urbanização e início da industrialização no país. A formação do cidadão brasileiro passava pela eliminação do conflito, e, para tal fim, o cooperativismo se apresentava como o meio ideal. Assim como no pensamento do Visconde do Uruguai, o Estado aparece novamente como o ator principal da ação, mas agora caberia a ele instaurar a sua ação ordenadora sobre os sindicatos e corporações, ao invés de atuar sobre os indomáveis potentados locais. Em certa medida, foi essa a ação do período Vargas, sobretudo dos anos finais do Estado Novo. A organização sindical, dessa maneira, surgia como forma de “disciplinar” a classe trabalhadora que, por meio de influências anarquistas e socialistas, agitou a ordem social nas décadas anteriores, sobretudo na capital federal e em São Paulo. Nesse sentido, podemos crer que a fuga ao conflito teve, em Oliveira Viana, uma reapropriação capaz de lidar com os problemas do Brasil do século XX. Traçamos, em curtíssimo espaço, uma faceta do pensamento brasileiro que via com maus olhos a ideia de conflito associada à política. Partindo de Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 81 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO autores que estiveram diretamente vinculados ao processo de Independência, mostramos como havia discursos que viam a possibilidade do conflito como sinônimo de convulsão social, de arbitrariedades e de fragmentação territorial. Não descartavam, assim, a possibilidade de uma carta outorgada por D. Pedro I. Na segunda metade do século XIX, Visconde do Uruguai, em seu debate com Tavares Bastos, alerta para os perigos que o conflito entre os interesses provinciais pode causar ao interesse geral da nação. A livre dinâmica entre os interesses provinciais levaria à luta armada e a possibilidade de fragmentação territorial ainda afligia o Visconde. Mostramos, rapidamente, como Oliveira Viana manteve-se fiel a essa linhagem. Buscamos, assim, sublinhar como a ideia de conflito foi vista em um sentido negativo por parcela importante da elite política imperial. Essa característica estava, como vimos, intimamente ligada a ideia de uma lógica da outorga e de uma precedência do Estado como o motor das mudanças. Para os que seguiam essa cartilha, os movimentos mais dinâmicos - que se apoiavam no conflito como forma inerente à política – eram vistos sob a suspeita de querer dissolver aquilo que mais prezavam: a ordem. Se essas bases oitocentistas deitaram raízes na tradição política brasileira, podemos supor que, ainda hoje, elas possam servir de base para a compreensão da nossa política. A centralidade que damos a figura do presidente para a condução da relação entre Estado e povo e a possibilidade de podermos governar a partir de coalizão política que engloba partidos que, teoricamente, estariam de lado opostos da disputa política, talvez, faça-nos pensar na atualidade de retornarmos ao pensamento político imperial e observar o seu legado. Se, do ponto de vista das ideias, a conciliação se impôs como vertente importante do pensamento político brasileiro coube também ao século XIX, no conhecido “Ministério da Conciliação”, liderado pelo mineiro Honório Hermeto, político ligado ao grupo político do Visconde do Uruguai, colocar em prática esse tipo de política que insere, no interior do mesmo governo, as posições então conflitantes em prol de uma coalizão harmônica. Referências Bibliográficas: BASTOS, Aureliano Candido Tavares[1870]. A província. 2ed. São Paulo: Nacional, 1975 Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 82 FELIPE RICCIO SCHIEFLER O TEMOR AO CONFLITO NO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO BIGNOTTO, Newton. Maquiavel. São Paulo: Ed Jorge Zahar, 2003 _________________ Org. Matrizes do Republicanismo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013. CARVALHO, José Murilo. A construção da ordem. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003. ______________________Pontos e Bordados: escritos de história e política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. FAORO, Raymundo [1958]. Os donos do poder. Porto Alegre: Ed. Globo, 1984. LUSTOSA,Isabel. Insultos impressos. São Paulo : Cia das Letras, 2000. SOUZA, Paulino José de (Visconde do Uruguai). Ensaio sobre o direito administrativo. São Paulo: Ed.34, 2002. VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras. Belo Horizonte: Atalaia, 1987 2v. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.76-82, Abr. 2013 83 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA Political communication and electoral behavior in Latin-America Aline Burni Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) [email protected] Estudos eleitorais e sobre a comunicação política revelam mais do que aspectos para compreender o momento de escolha dos líderes do governo. A recorrência de eleições democráticas tem evoluído na América Latina, uma região marcada por ditaduras violentas que deixaram heranças para o sistema político de alguns países da região. Neste sentido, a pesquisa neste campo de análise pode apontar importantes tendências, características e caminhos tomados pelas sociedades latino-americanas e por suas instituições políticas, de forma a revelar rupturas e continuidades - e mesmo desafios -, a partir de um panorama geral da região, de estudo de casos específicos e de análises comparativas. No livro “Campanhas Eleitorais e Comportamento Eleitoral na América Latina”, organizado por Telles e Lavareda (2013), os autores de diversos países exploram rica gama de temáticas relacionadas à América Latina, revisitando teorias explicativas do comportamento eleitoral, entre outras, sem, contudo, empregá-las para explicar os fenômenos da região sem qualquer alteração, tais como em países centrais do ocidente, onde grande parte das teorias foi desenvolvida. Os especialistas dos vários países da região também não atribuem particularismo excessivo aos casos latino-americanos, de forma a retirá-los de qualquer tipo de tradição de análise, como bem apontado por Gláucio Soares, no prefácio do livro. A obra é importante referência nos estudos sobre comportamento eleitoral e comunicação política, principalmente por colocar em discussão e em análise temas muito recentes e que se tornam, a cada eleição, mais significativos no desenrolar das campanhas, nas relações entre as elites Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 84 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA dirigentes e os cidadãos e na participação política, a exemplo do uso da internet e das redes sociais. Alguns capítulos trazem à tona a importância dessas novas ferramentas interativas para os resultados de um pleito eleitoral e para as novas configurações das sociedades de determinados países latinoamericanos, como o capítulo escrito por Sylvia Iasulaitis e aquele de Alejandro Moreno, juntamente com Karla Mendizábal. A grandeza do livro também se encontra na criatividade e coerência das metodologias e perspectivas aplicadas pelos autores, as quais se evidenciam, muitas vezes, inovadoras e originais, sobretudo em se tratando do tema referido: mídias interativas. Outras dimensões exploradas para explicar alguns casos da América Latina são as configurações econômicas, dentre as quais, as crises, o contexto histórico, o papel dos partidos e lideranças políticas e as próprias campanhas eleitorais, profundamente marcadas pela mídia na modernidade e pelo desempenho dos candidatos na mesma. A autora do capítulo “Oferta partidária e comportamento eleitoral na América Latina”, Letícia Ruiz Rodriguez, realiza um amplo estudo sobre as ofertas partidárias dos numerosos países latino-americanos, demonstrando o quão este campo de investigação é rico e como é difícil determinar generalizações sobre a decisão do voto para todos os países do continente. É possível, no entanto, apontar algumas tendências relacionadas ao comportamento eleitoral na região, que sugerem uma elevada volatilidade, baixa estruturação programática dos partidos e baixa identificação partidária dos eleitores. Essas características estão relacionadas às dinâmicas elitistas, clientelísticas e personalistas observadas entre partidos e eleitores. A autora espanhola defende que o tipo de oferta partidária está associado à demanda eleitoral e que não se pode conceber o comportamento eleitoral como apenas uma resposta ou reação às escolhas e dinâmicas das elites partidárias. Os três capítulos seguintes revisitam a Teoria do Voto Econômico problematizando-a para o contexto latino-americano. Malco Camargo testa a relação entre economia e voto em 18 países da região e identifica que o eleitor dá maior atenção para as variáveis econômicas em situações onde há recorrência de crise. Além disso, verifica que entre as variáveis macroeconômicas, aquela de maior relevância para o mandatário no momento eleitoral é a inflação e o desemprego, principais aspectos econômicos avaliados pelo eleitor na hora de decidir seu voto. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 85 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA Sébastian Dubé, por sua vez, avalia o impacto de fatores econômicos na modificação do sistema partidário argentino e no comportamento eleitoral no período de 1983 a 2001. Neste caso, apesar da dramaticidade dos indicadores políticos no período analisado, que se mostraram relevantes para o eleitor, os fatores políticos revelaram-se mais importantes na evolução dos partidos e dos resultados eleitorais argentinos. O capítulo “O comportamento eleitoral dos argentinos: alguns elementos-chave das eleições presidências de 2007” aborda a eleição de Cristina Kirchner em 2007 e os elementos que contribuíram para a decisão do voto naquele pleito. Os autores María Celeste Ratto e José Ramón Montero chegam à conclusão de que a aproximação da imagem de Cristina a seu marido, associada a variáveis explicativas do voto racional, como a avaliação positiva da economia, foram importantes preditores do voto em Kirchner. O quinto capítulo, de autoria de Helcimara Telles e Pedro Mundim, analisa as últimas eleições presidenciais brasileiras (2010), que contaram com a indicação de uma sucessora petista parte do popular ex-presidente Lula da Silva. Os autores chamam a atenção, no entanto, para um fenômeno curioso ocorrido em 2010, que foi a conquista de 20% do eleitorado por parte de Marina Silva, candidata pelo Partido Verde, um partido a princípio sem importância nas eleições majoritárias brasileiras, até então marcadas por uma lógica bipartidarista entre PT e PSDB nas presidenciais. As ferramentas comunicacionais interativas (internet) e a campanha implementada por Marina Silva surtiram importante efeito na decisão dos eleitores. Ela atraiu, sobretudo, cidadãos de maior escolaridade e pertencentes à religião evangélica pentecostal, muitas vezes simpatizantes do PT. Os resultados conquistados por Marina Silva apontam para possíveis modificações significativas no sistema político brasileiro. Também a respeito do caso brasileiro, Fernando Filgueiras explora a questão da corrupção e sua percepção entre os cidadãos do país. A partir da realização de uma pesquisa nacional, o autor identifica que a corrupção é percebida pela população como um fenômeno que possui gravidade e que, na percepção desta, avança, principalmente, no Estado, o que promove uma cultura política de desconfiança em relação às instituições políticas no Brasil. Esta temática da corrupção coloca-se como questão importante em vários países analisados no livro, sendo impactantes no momento eleitoral por se relacionar a uma condicionante de moralidade dos candidatos. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 86 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA Jaime Fonseca estuda as atitudes e comportamentos do eleitorado português e compara-os com países da América Latina. Seu estudo não se restringe precisamente ao momento eleitoral, mas aborda várias temáticas relacionadas às decisões e ações do governo e a visão da população em relação à esfera política. Fonseca identifica semelhanças entre a cultura política dos portugueses e dos latino-americanos, que apresentam características de certo desafeto político e baixos níveis de todos os tipos de participação política. O caso da Venezuela é tratado por Héctor Briceño no capítulo “Mudanças no comportamento eleitoral e o sistema partidário na Venezuela (1958-2010)”. Este país possuía um sistema partidário estável e consolidado desde o início da democracia, em 1958. No entanto, os partidos tradicionais foram perdendo a legitimidade e o grau de institucionalização, particularmente nas eleições de 1993, cedendo espaço para partidos de esquerda. O autor testa a relevância das classes sociais para explicar essa reviravolta, mas conclui que não é necessariamente esta variável, importante para a explicação do voto sociológico, que explica a reconfiguração do comportamento eleitoral dos venezuelanos. O colapso do sistema partidário deste país está mais relacionado a mudanças na forma como os cidadãos se envolvem com a política de uma maneira mais geral, principalmente à diminuição da militância partidária. O tema da internet é abordado por Silvia Iasulaitis em análise dos fóruns de discussão presentes nos websites de campanha de dois candidatos às presidenciais, um do Chile e outro da Argentina. A autora utiliza metodologia interessante para investigar se os candidatos foram bem sucedidos em debater seu programa de governo com os internautas. No entanto, demonstra que o simples fato desses canais de interação existirem não garante a articulação de discussões em rede. As novas mídias podem tanto favorecer como desfavorecer uma candidatura, dependendo de como dela o postulante faz uso. Seu próprio interesse em participar e em promover um contato com os eleitores que acessam os sites pode ser determinante para os efeitos da mídia interativa nas escolhas dos eleitores e, portanto, nos resultados do pleito. Outro fenômeno relativamente novo nos estudos sobre comunicação e comportamento eleitoral é o das redes sociais e sua capacidade de mobilização política. Alejandro Moreno e Karla Mendizábal estudam essas novas ferramentas da internet no caso do México, encontrando evidências de que é ainda uma prática bastante limitada no país. Os usuários do Twitter e Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 87 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA Facebook são majoritariamente jovens pertencentes à classe média urbana e não necessariamente possuem maior interesse pela política ou são mais participativos nas eleições. Contudo, as redes sociais demonstram exercer um impacto importante no compartilhamento de uma atitude mais proativa em relação à democracia, como referente à atribuição de importância ao voto e seu potencial de provocar mudanças e a diferenciação dos partidos políticos. O advento da mídia como elemento importante para as campanhas eleitorais na contemporaneidade instalou algumas dúvidas sobre a centralidade do papel dos partidos políticos na condução das campanhas. O capítulo de Giliard Tenório recupera, no entanto, a perspectiva da relevância dos partidos na realização das propagandas políticas. Ao analisar a Propaganda Partidária Gratuita no Brasil, Tenório demonstra que este é ainda um espaço para a consolidação partidária, ainda que sejam evocadas retóricas personalistas, pois os próprios partidos utilizam o ambiente midiático naquele programa majoritariamente com o intuito de destacar sua coletividade e aspectos programáticos. O autor Francisco Fonseca enfoca o papel da mídia na transição democrática do Brasil, especificamente nas eleições de 1989, à luz de conceitos gramscianos de hegemonia. Ele analisa os principais periódicos brasileiros à época e investiga o papel ativo e militante da grande imprensa na criação de um consenso neoliberal particularmente favorável ao candidato Collor de Mello. Nesse sentido, a atuação da mídia, identificada como ideologicamente orientada, é peça indispensável na compreensão das configurações político-eleitorais que guiaram a democratização brasileira no final dos anos 1980. Luiz Cláudio Lourenço analisa os debates, sua repercussão na mídia e a campanha na eleição presidencial brasileira de 2002, em que Lula da Silva foi eleito. Os debates foram percebidos pelos eleitores como peças importantes na obtensão de informação sobre os candidatos, não apenas pela veiculação de aspectos programáticos, mas pela transmissão de linguagem nãoverbalizada, de caráter gestual e performático dos postulantes. Além disso, a relevância dos debates ultrapassou os limites da audiência desses programas, surtindo efeitos indiretos na discussão entre aqueles que não os assistiram. Por fim, o desempenho do candidato nos debates eleitorais e a avaliação desse desempenho por parte do eleitor podem atuar como atalhos cognitivos para a decisão do voto. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 88 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA Finalmente, Isabel Ferin Cunha e Rita Figueiras exploraram a cobertura midiática da campanha eleitoral de 2009 em Portugal, colocando em foco o lugar dos partidos políticos no espaço da televisão e na imprensa, o personalismo e a questão de gênero, visto que uma candidata mostrou-se forte na competição. O atual contexto é de importância da mídia na política, portanto torna-se central a compreensão de como esta constroi a realidade eleitoral de um país. Ainda que o estudo tenha focado o caso português, as implicaçoes podem ser muito interessantes para a América Latina. A região do sul da Europa, particularmente Portugal, compartilha importantes similitudes históricas e políticas com a região latino-americana, notadamente no que se refere à jovialidade da democracia e à presença de uma cultura fortemente marcada pelo catolicismo. Portanto, este último capítulo identifica padrões comunicacionais observados naquelas eleições, os quais apontam para a tendência do personalismo e para a importância do desempenho do candidato na mídia para a preferência por parte do eleitor. No que se refere à questão de gênero, a presença de uma candidata não interfere na visibilidade dela na mídia no sentido de discriminação. Entretanto, o gênero configura estratégias de campanha específicas, tanto da candidata quanto dos opositores masculinos. Os estudos sobre comportamento eleitoral e comunicação política na América Latina sinalizam a dificuldade de estabelecer padroes de comportamento que sejam mais generalizáveis. Essa dificuldade se dá principalmente pelo fato de ser uma região em constantes mudanças: econômicas, institucionais, políticas, culturais, históricas, conjunturais... Notase, no entanto, que são fortemente presentes nos casos latino-americanos a volatilidade do eleitor e o personalismo do sistema politico, ainda que não sejam estes traços exclusivos da América Latina. Aspectos de curto prazo evidenciam-se particular impacto na decisão do eleitor, possivelmente mais do que os elementos de longo prazo, sobretudo por se tratar de democracias jovens, com partidos pouco consolidados. Essaas lógicas de decisão do voto podem ir se modificando ao longo do tempo, principalmente devido à crescente importância da internet e das redes sociais como formas alternativas de obtensão de informação e de participação politica. Enfim, as campanhas importam e os meios de comunicação tradicionais ainda são muito relevantes. As dinâmicas e resultados das eleições podem configurar ou evidenciar Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 89 ALINE BURNI RESENHA: COMUNICAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL NA AMÉRICA LATINA mudanças sociais mais amplas, que ultrapassam este momento de escolha dos governantes em particular e, mesmo, o âmbito da política. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.83-89, Abr. 2013. 90 COLABORADORES COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Aline Burni é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política pela mesma instituição, membro do Grupo de Pesquisa Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral e do Grupo de Estudos em Política Externa Comparada, vinculado à Rede de Pesquisas em Política Externa e Regime Político (RIPPERP). Dawisson Elvécio Belém Lopes é graduado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ). Atualmente é professor do departamento de Ciência Política da UFMG, membro da Réseau d'Etude sur la Globalisation et la Gouvernance Internationale et les Mutations des Etats-Nations (REGIMEN) e líder da Rede Interinstitucional de Pesquisa em Política Externa e Regime Político (RIPPERP). Felipe Riccio Schiefler é graduado em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente é doutorando em Ciência Política pela mesma instituição e membro do Grupo de Pesquisa Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral. Hector Briceño é professor e pesquisador do Centro de Estudios del Desarrollo de la Universidad Central de Venezuela (CENDES – UCV) (INCOMPLETO – e-mail enviado ao Hector pedindo mais informações). Isidoro Cheresky é doutor em Ciências Sociais pela Université Toulouse IILe Mirail, professor titular da Universidad de Buenos Aires (UBA) e consultor em governabilidade democrática do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Atualmente é líder do Instituto Gino Germani da UBA. João Paulo Ferraz Oliveira é graduado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Atualmente, é mestrando, bolsista CAPES/REUNI no programa de pós-graduação em Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.90-91, Abr. 2013 91 COLABORADORES Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Também é integrante do Grupo de Pesquisa Oriente Médio e Magreb do CNPQ. Vicente Palermo é graduado em Sociologia pela Universidad de Buenos Aires (UBA), mestre em Ciência Política pela Universidad del Salvador (USAL) e doutor em Ciência Política pela Universidad Complutense de Madrid (UCM). Atualmente é professor da Universidad de Buenos Aires e pesquisador do Instituto Gino Germani e do Centro de Investigaciones Políticas da UBA. Em Debate, Belo Horizonte, v.5, n.2, p.90-91, Abr. 2013