Redes móveis de celular como guia de consumo cultural

Transcrição

Redes móveis de celular como guia de consumo cultural
Redes móveis de celular como guia de consumo cultural
Carolina Braga
Universidad Autònoma de Barcelona
Resumo
O surgimento de novas formas de comunicação abala as estruturas já consolidadas dos
veículos tradicionais e traz à tona discussões sobre o futuro de cada suporte. A cada
renovação midiática todos os meios são obrigados a rever linguagens, reencontrar
públicos e espaços a partir de hibridações. O crescimento do uso das redes móveis de
celular para comunicação de dados torna urgente a discussão do tema. Verificar em que
medida o jornalismo cultural pode se adaptar e explorar o trânsito de dados das redes
móveis de celular é o objetivo central deste trabalho. Para isso, são analisadas as
potencialidades do jornalismo cultural assim como os desafios da comunicação móvel
de dados.
A partir das principais características da comunicação na Internet, este trabalho
identifica e apresenta características e desafios de linguagem das redes de comunicação
de dados por celular. São analisadas, ainda, as funções do jornalismo cultural da
atualidade e apresentadas as possibilidades de exploração do suporte móvel por este
gênero.
Criado como espaço para debate de idéias, o jornalismo cultural se converte, a cada dia,
em um guia de entretenimento. Já a comunicação móvel se caracteriza por ser direta,
curta, imediata, interativa, multimídia, e está à mão do usuário em qualquer momento e
lugar. Estas qualidades fazem do celular uma dinâmica plataforma para transportar o
guia on-line de consumo cultural. Desta maneira, o trabalho propõe a criação do
jornalismo cultural móvel, caracterizado pela prestação de serviços de informação
cultural para o usuário em trânsito.
Introdução
Na medida em que a indústria dos bens culturais é obrigada a se reinventar pelas
facilidades criadas pelas novas mídias, o jornalismo cultural diário perde força como
espaço de debate de idéias e se consolida como plataforma comercial. Além de conviver
com este dilema, a imprensa especializada em artes também cede espaço para a
competição inócua entre meios impressos e meios digitais. Ou seja, as mesmas
informações que circulam em um jornal, ou em um programa de TV, por exemplo, são
encontradas em sites na Internet.
Neste trabalho defende-se a idéia de que a potencialidade de cada meio deve ser
levada em consideração para o desenvolvimento de novas linguagens e formas mais
ágeis de se comunicar. Com a geração nascida em tempos de Internet emergem hábitos
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diferenciados de busca de informação. Se no passado os estudiosos da área debatiam a
passividade ou não da audiência, atualmente trabalha-se com a premissa de que os
receptores além de serem ativos, são interativos e vão atrás das informações de acordo
com os próprios interesses.
A evolução dos suportes para os meios de comunicação gera um movimento de
questionamento dos paradigmas do passado e impulsiona investigações sobre novas
linguagens. Um dos desafios contemporâneos é o estudo das hibridações, formas de
recepção e emissão de informação por meio dos dispositivos móveis.
O presente artigo tem como objetivo identificar as características da comunicação
móvel de dados e saber de que maneira podem ser úteis para a divulgação de serviços de
entretenimento, como programações de cinema, teatro, música, circo, etc. O trabalho
discorre sobre os dilemas deste tipo especializado de jornalismo, analisa as
possibilidades apresentadas pelos dispositivos móveis e, a seguir, propõe a criação do
jornalismo cultural móvel.
Jornalismo cultural
Todas as informações geradas ao redor do mundo das artes seja cinema,
literatura, música, artes plásticas, quadrinhos e demais variações são abordadas por
seções especializadas tanto em meios impressos, como em meios audiovisuais e
multimídia. A este tipo de jornalismo denomina-se jornalismo cultural, mas, como
salienta Frias, ―poderíamos afirmar que o jornalismo é sempre cultural na medida em
que exprime o gesto humano dentro de contextos ideológicos, políticos‖ (FRIAS, 2000:
16). Apesar disso, neste artigo consideramos jornalismo cultural (JC) como o espaço
dedicado pela mídia para as informações relacionadas às belas artes e ao
entretenimento.
De acordo com o que Leonardo Cunha, Nísio Ferreira e Luiz Henrique
Magalhães (2002) defendem, a imprensa especializada nesta área no Brasil se encontra
em um dilema que se intensifica ao longo da última década. Embora vários jornais da
chamada grande imprensa do País investem em suplementos semanais que privilegiam a
reflexão e as produções artísticas de menor apelo comercial, os cadernos culturais
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diários enfrentam impasses gerados pela crescente relação conflituosa com as rotinas
produtivas da Indústria Cultural.
O JC da atualidade atravessa o que chamaríamos ―crise da agenda‖: existe nas
páginas dedicadas à cultura, programas de rádio e TV uma dependência da divulgação
de eventos artísticos. O espaço reservado para a cultura já não comporta a crescente
produção da indústria do setor como, por exemplo, lançamentos de discos, livros,
espetáculos, filmes, etc. e aos poucos as páginas culturais se parecem mais a um balcão
de vendas do que local para debate de idéias.
A divulgação cultural traz consigo um interesse comercial maquiado. A
produção artística é cara e para recuperar o investimento o produtor, artista ou
responsável necessita do retorno financeiro trazido, em parte, porque existem
patrocínios, pela presença do público, em caso de teatro, cinema e shows. Estar um
renomado caderno de cultura seja como uma simples nota divulgativa ou mesmo uma
crítica, por exemplo, é o que os marqueteiros chamam de mídia espontânea. O JC tem
sido freqüentemente utilizado para convencer a audiência a investir a verba destinada ao
entretenimento a esta ou aquela atração.
Os primeiros registros do que hoje se conhece como jornalismo cultural
aparecem a partir de 1711, quando os ensaístas ingleses Richard Steele e Joseph
Addison fundaram a revista The Spectator. O objetivo era ―tirar a filosofia dos
gabinetes e bibliotecas, escolas e faculdades e levar para clubes e assembléias, casas de
chás e cafés‖ (PIZA, 2004: 11). Sendo assim, o JC nasce como espaço para avaliação de
idéias, valores e artes.
É produto de uma era que se inicia depois do Renascimento, quando as máquinas
começaram a transformar a economia, a imprensa já tinha sido inventada (por
Gutemberg em 1940) e o Humanismo se propagara na Itália para toda a Europa,
influenciando o teatro de Shakespeare na Inglaterra e a filosofia de Montaigne na
França (PIZA, 2004: 12).
Sendo espaço para troca de idéias, a crítica e o ensaio tinham destaque nas
publicações, mas com o passar dos anos, a consolidação da Indústria Cultural, dos bens
artísticos, dos novos modos de vida e de consumo cultural fizeram com que este estilo
de texto não apenas se modificasse, mas também se tornasse algo restrito na atualidade.
Outros gêneros, como reportagens, entrevistas e perfis igualmente evoluíram e se
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transformaram. ―É muito clara e precisa a diminuição do espaço para reflexão sobre a
cultura‖ (COELHO, 2007: 29).
No JC contemporâneo existe uma tendência ao fácil, é pobre em
questionamentos, em crítica e assim acaba abrindo mais espaço para que os produtos da
Indústria Cultural reproduzam padrões estéticos e temáticos. Como afirma Cunha,
existe uma aversão a qualquer tipo de complexidade o que acaba conduzindo os
cadernos de cultura a uma simplificação. Com isso torna-se, cada vez mais ―espaço
privilegiado de um jornalismo de mero entretenimento, que exige do leitor pouco
tempo, atenção e raciocínio‖ (CUNHA, 2002: 8).
Neste cenário, editores e jornalistas – principalmente de veículos impressos - se
sentem obrigados a noticiar tudo o que é produzido como forma de prestar um serviço
para seu receptor. Na tentativa de atuar como um guia de entretenimento, muito espaço
acaba sendo gasto na publicação de roteiros e programações. ―Cada vez mais, os jornais
brasileiros encantam-se com o serviço, informação em estado puro, resumido, sintética,
funcional, objetiva. O jornalismo entra na era do roteiro. Tudo para fazer a vontade do
consumidor‖ (SILVA, 2000: 32). A prática do jornalismo cultural de serviço não é regra
geral em outros países. Na Europa, por exemplo, a publicação de roteiros é tarefa de
revistas ou guias especializados como a Pariscope (em Paris), a Time Out (em Londres)
ou a Guía del ócio (em Barcelona).
Grosso modo, o jornalismo cultural abarca, como mínimo, duas vertentes. Uma
preenchida por reflexões em torno da produção atual, as descobertas da área, etc., outra
como um simples guia. Diante de tanta produção, páginas de jornal e da internet
também servem como guia de consumo, ou seja, a audiência busca na imprensa
direcionamentos do que ver no cinema, o que ler, o que ouvir e até mesmo o que comer,
já que a gastronomia é uma das áreas recém incorporadas aos cadernos culturais.
Como afirma Stycer, ―o jornalismo que se pratica hoje, e sempre foi assim, é um
reflexo de seu tempo‖ (STYCER, 2007: 72). Serão esforços tolos tentar seguir as regras
do passado para fazer o JC do presente, que convive com mídias on-line, mídias móveis,
interatividade, multimedialidade, hipertextualidade, falta de limite de espaço. Ao
contrário de olhar para trás o melhor é mirar o futuro e visualizar como os meios podem
se complementar. Páginas e mais páginas diariamente com roteiros culturais, sem
dúvida são serviços, mas a que preço, se existem disponíveis outros suportes que,
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teoricamente, não convivem com limite de espaço ou até mesmo foram feitos para este
tipo de comunicação direta?
Antes de se consolidar como suporte de comunicação a Internet foi tratada com
resistência por grandes grupos de mídia. Hoje o ―medo‖ não só foi minimizado como já
foram criadas formas específicas e híbridas para se comunicar por meio da rede de
computadores. No âmbito do jornalismo cultural, como destaca Alzamora (2008), a
Internet colaborou para ampliar as possibilidades do JC.
Com a internet dá-se a proliferação de websites não jornalísticos de conteúdo cultural,
que passam a cumprir função semelhante àquela desempenhada pelo jornalismo cultural
ao longo do século 20. É o que se observa, por exemplo, em websites que divulgam
gratuitamente a agenda cultural das cidades (www.agendabh.com.br); reúnem críticas
cinematográficas produzidas por profissionais oriundos da mídia impressa e por
cidadãos (www.criticos.com.br); constituem bancos de dados sobre assuntos culturais
do país, produzidos, editados e avaliados pela própria comunidade virtual que os
configuram (www.overmundo.com.br); ou se caracterizam como revistas eletrônicas
independentes (www.digestivocultural.com.br).
O desenvolvimento da internet 2.0 na primeira década dos anos 2000 impulsiounou a
disseminação de formatos colaborativos de informação, como blogs, flogs, vlogs e
podcasts, além de ambientes de compartilhamento de informação, como Youtube. A
informação cultural passou, então, a circular intensamente por esses formatos
emergentes, que não apenas tensionam como também expandem as perspectivas
editoriais e de linguagem do jornalismo cultural (ALZAMORA, 2008 : 2-3).
Mas apesar das mídias digitais já consolidadas, ainda é possível presenciar
justamente a falta de mentalidade por parte dos controladores dos meios de
comunicação em acreditar que um suporte é capaz de complementar o outro. Em muitos
casos, parece persistir a idéia de que o jornal impresso ―compete‖ com o jornal digital.
Por exemplo, a cidade de Belo Horizonte possui três jornais diários, Estado de Minas, O
Tempo e Hoje em dia, todos os três possuem seus respectivos portais na Internet, mas,
mesmo assim, todos os dias, parte dos cadernos de cultura e entretenimento é ocupada
por grades com a programação televisiva, roteiros de cinemas, shows, exposições e etc.
Sem dúvida é um serviço pelo qual o leitor busca, mas também não seria uma função do
veículo pouco a pouco mostrar para seu receptor que existem suportes mais adequados
para este tipo de informação? Assim, as páginas poderiam ser ocupadas por gêneros que
se dedicariam a refletir a produção artística do País.
Um dos principais problemas das tradicionais mídias impressas é o limite de
espaço. Sendo assim, por que os veículos continuam ―gastando‖ páginas com
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informações de serviços que poderiam estar na Internet? Sempre haverá espaço para o
JC reflexivo e também há espaço para o jornalismo cultural como serviço. A chave da
questão é saber viver com as diferenças e entender que para cada tipo de informação
existe um meio com características capazes de explorá-las de maneira mais adequada
que outro. Sendo assim, se um jornal, por suas características colabora com textos mais
longos, que demandam uma concentração maior do leitor; a internet já trabalha com
formas de comunicação mais dinâmicas, assim como o rádio e a televisão. Os meios
devem lidar com a complementaridade. Sendo assim, o objetivo deste artigo é entender
de que forma o jornalismo cultural pode explorar os dispositivos móveis de
comunicação.
Redes móveis de celular
Assim como se sucedeu com o surgimento da Internet, o rápido
desenvolvimento da comunicação de dados para celular desafia pesquisadores e demais
profissionais da área a encontrar linguagens adequadas para a comunicação eficaz por
meio de dispositivos móveis. Mas, como ressalta Juan Miguel Aguado e Inmaculada J.
Martinez (2006) a pesquisa sobre o impacto social das redes de telefonia móvel leva de
10 a 15 anos de atraso em relação à implantação do sistema. Os primeiros estudos foram
registrados em países como Estados Unidos, Austrália, Noruega e Finlândia a partir do
ano 2000.
A partir de esos estudios, comienza a constatarse que la amplia difusión, el carácter
personal, la translocalidad y la conectividad always on no sólo han favorecido la
implantación global de la telefonía móvil, sino que han hecho posible que su inserción
en la vida cotidiana haya provocado notables transformaciones en numerosos aspectos
de la vida social‖ (AGUADO E MARTÍNEZ, 2006: 329)1.
Números recentes dão conta da implantação vertiginosa das redes móveis, o que
torna urgente as investigações na área. No Brasil, o uso dos aparelhos celulares
registrou crescimento de 24,52% em 2008 atingindo a marca de 150.641.403 assinantes
do Serviço Móvel Pessoal. Destes, 122.731.549 (81,47%) são pré-pagos, e 27.909.854
1
Com o objetivo de manter a fidelidade ao original, neste trabalho as citações serão utilizadas no idioma
da leitura.
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(18,53%), pós-pagos2. Nos últimos dez anos, o número de novas habilitações é
crescente, observe no quadro abaixo.
Ano
Nº de habilitações (em milhões)
1997
1,8
1998
2,8
1999
7,7
2000
8,2
2001
5,5
2002
6,1
2003
11,5
2004
19,2
2005
20,6
2006
13,7
2007
21,1
2008
29,7
Fonte: www.anatel.gov.br
Em termos mundiais, não é diferente. Em setembro de 2008, o secretário geral
da União Internacional de Telecomunicações (UIT), da Organização das Nações Unidas
(ONU), Hamadoun Touré anunciou que naquele ano o número de usuários de celular,
no planeta, atingiria a marca de quatro bilhões3.
Mobile cellular subscribers
CAGR
per 100
(%)
inhabitants
2002
2007
2002 - 07
2007
1'157'219.1
3'352'766.6
23.7
50.10
Fonte: ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database 2007.
Os números servem para comprovar a importância de se pensar linguagens e
formas de comunicação diferenciadas por meio destes dispositivos. É preciso lembrar
que ao mesmo tempo em que se observa o aumento quantitativo em relação aos
usuários, na medida em que a digitalização avança o aparelho cada vez mais se retira do
2
Os dados foram divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel. Disponíveis no
www.anatel.gov.br. Consultado em 27/02/2009.
3
Os dados consolidados não foram apresentados pela organização. Informação disponível no endereço
http://www.itu.int/newsroom/press_releases/2008/29.html Consultado em 27/02/09.
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âmbito estrito da tecnologia de voz e para converter-se em tecnologia de acesso de
dados. É o que Aguado e Martínez chamam de proceso de mediatización.
Los terminales diversifican su funcionalidad instrumental, dejando de ser teléfonos en
sentido estricto para incorporar funciones de agenda-organizador, cámara fotográfica y
de vídeo, consola de videojuego, reproductor de música, tarjeta-monedero, TPVM
(Terminal de Punto de Venta Móvil), además de otras funciones menores que aportan
valor añadido (AGUADO E MARTÍNEZ, 2006: 322).
O processo de midiatização inclui um intenso e largo caminho marcado por
desenvolvimento e diversificação de formatos de transmissão de dados. Isso significa
que adentramos agora no ambiente da computação móvel, âmbito no qual o tamanho do
dispositivo é um fator importante já que a tendência é que estes objetos sejam cada vez
mais ―incorporados‖ ao nosso dia-a-dia. ―A computação móvel é caracterizada por um
dispositivo portátil com capacidade de processamento, mobilidade e uma infra-estrutura
de comunicação sem fio‖ (LOUREIRO, 2003: 3).
De acordo com Loureiro (2003) os dispositivos móveis podem ser divididos em
três categorias: laptops e palmtops, PDAs, e telefones celulares. O conjunto de
tecnologias e processos info-comunicacionais que fazem operar estes dispositivos é
definido por André Lemos por mídia locativa (locative media).
As mídias locativas são dispositivos informacionais digitais cujo conteúdo da
informação está diretamente ligado a uma localidade. Isso implica uma relação entre
lugares e dispositivos móveis digitais até então inédita. Esse conjunto de processos e
tecnologias caracteriza-se por emissão de informação digital a partir de lugares/objetos.
Esta informação é processada por artefatos sem fio como GPS, telefones celulares,
palms e laptops em redes Wi-Fi ou Wi-Max, Bluetooth, ou etiquetas de identificação
por rádio freqüência, RFID 4. As mídias locativas são utilizadas para agregar conteúdo
digital a uma localidade, servindo para funções de monitoramento, vigilância,
mapeamento, geo-processamento (GIS), localização... Dessa forma, os lugares passam a
dialogar com dispositivos informacionais, enviando, coletando e processando dados a
partir de uma relação entre informação digital, localização e artefatos digitais móveis
(LEMOS, 2007: 1).
Como destaca Lúcia Santaella, ―cada vez mais, os recursos tecnológicos se
hibridizam, transformando as mídias locativas em um campo múltiplo, disponível em
muitas versões, dependendo do modo como são operadas e dos usos que lhes são
4
―Bluetooth é padrão de conexão por redes sem fio com alcance de 10 metros
(http://www.bluetooth.org). RFID são etiquetas que emitem informações por ondas de rádio
(http://www.rfidjournal.com/). Wi-Fi é um protocolo para conexão a internet por meio de ondas de rádio,
802.11b (11Mbits/s) e 802.11g (54Mbits/s) (http://ww.wi-fi.org)‖ (LEMOS, 2007).
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agregados‖ (SANTAELLA, 2008: 96). A questão é que na área de comunicação móvel
a própria tecnologia ainda não é dominada e tem estado em freqüente evolução. O que
há de ser cobrado do setor de tecnologia da informação são aplicativos que tenham
usabilidade. Ou seja, que de fato façam diferença no dia-a-dia do cidadão, possam ser
usados e assim colaborar para melhorar ou facilitar a vida da pessoa.
Neste sentido, concentrando-se no aparelho celular, a implantação dos torpedos
(SMS) constitui um marco sociológico e comercial no vasto mundo da transmissão
móvel de dados.
La importancia del SMS en la evolución de la telefonía móvil reside en que implica una
ruptura en la concepción de la tecnología (paso de la transmisión de voz a la transmisión
de datos), abriendo la puerta al desarrollo del teléfono móvil como dispositivo de acceso
a contenidos y publicidad (paso de la conectividad interindividual a la conectividad
medio/usuario).
La implantación masiva del SMS, por tanto, constituye el punto de inflexión por el que
la telefonía móvil pasa a ser, con pleno derecho, un factor relevante de la Sociedad de la
Información. En este sentido, la propia evolución tecnológica y de uso del SMS se
plantea como un correlato de la evolución de la telefonía móvil en cuanto a aplicaciones
y servicios (AGUADO E MARTÍNEZ, 2006: 323).
A aceitação das mensagens instantâneas por celular atualmente é tão alta5 que
setores do marketing já trabalham no desenvolvimento do m-marketing, ou seja, móbile
marketing, cujas ações se pautam no uso das SMS. Os torpedos possuem características
que potencializam o poder de venda das ações (TORRES, 2006). São elas:
Economia: ―las campañas de marketing móvil permiten alcanzar al público
objetivo con un coste por impacto menor que el que supone la utilización de otros
soportes publicitários‖;
Segmentação: “el anunciante puede llegar fácilmente a su público objetivo con
la selección de determinados criterios como edad, sexo, estudios, aficiones”;
Personalização: “Se pueden enviar determinados mensajes exclusivamente a
grupos de consumidores de características socio demográficas similares o bien
5
De acordo com TIC, o SMS é a segunda funcionalidade mais utilizada pelos usuários de celular, com
51% de adesão, atrás apenas da transmissão de voz, com 77%. Disponível em
http://www.cetic.br/tic/2007/indicadores-cgibr-2007.pdf. Consultado no dia 27/02/2009
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agrupados en función de necesidades comunes, pasando así del marketing masivo al
marketing one-to-one”;
Dispositivo localizado, imediato e conveniente: “El móvil es un dispositivo
que los usuarios llevan consigo. De este modo se puede acceder a ellos en cualquier
momento y en cualquier lugar y, con los nuevos avances en localización, enviarles
propuestas acordes a su posición y perfil”;
Interatividade: “Por su naturaleza bidireccional, éste puede contactar con la
empresa emisora por el mismo canal y, con la información obtenida, crear perfiles de
usuario a partir de sus gustos, preferencias y necesidades de cara a comunicaciones
posteriores”;
Meio complementar: “El teléfono móvil se debe tener en cuenta como elemento
del mix de medios en el diseño de las campañas integrales de comunicación comercial.
Puede servir como soporte complementario potenciador de campañas off-line”
(TORRES, 2006).
De acordo com Aguado e Martínez (2006), a evolução da transmissão de dados
pelo celular continua com o EMS (Enhanced Messaging Service) que acrescenta ao
envio de texto a possibilidade de transmitir imagens, animações e sons no suporte SMS
para tecnologias como GSM e GPRS. A partir de 2002, surge o MMS (Multimedia
Messaging Service) que possibilita a transmissão de outros formatos, como imagens em
JPG, vídeos em MPEG, sons e aplicações utilizando redes como GPRS e 3G.
―Finalmente, a partir de los estándares 3G, 3.5 G e iMode, el IMS incorpora la
transmisión de datos en formato IP, planteando el horizonte de una creciente
compatibilidad con los estándares de Internet‖ (AGUADO E MARTÍNEZ, 2006: 323324).
Jornalismo cultural nos suportes móveis
Diante dos dilemas vivenciados pelo jornalismo cultural é possível afirmar que
as características que já marcam os primeiros passos da comunicação de dados por
dispositivos móveis fazem deste um suporte interessante para o desenvolvimento um
jornalismo cultural móvel focado, basicamente, na transmissão de informações de
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entretenimento. Logicamente sua evolução depende da consolidação não apenas das
tecnologias de conexão e de transmissão de dados, como também das aplicações e dos
serviços que podem ser criados especialmente para esta área.
Como já foi dito, um dos principais problemas enfrentados pelo JC da atualidade
é justamente o forte cerco dos produtos da indústria cultural. No caso brasileiro, várias
páginas de importantes diários do país ainda são ocupadas por roteiros culturais, com
informação rápida, resumida, funcional e objetiva. Estas características se relacionam
com as formas de comunicação via dispositivos móveis.
Por exemplo, se tomamos por base as qualidades destacadas por Torres (2006)
para o SMS, - economia, segmentação, personalização, conveniência, imediatez, e
interação - percebemos que as mesmas podem ser importantes aliados na transmissão de
informações culturais. As características foram destacadas com o objetivo de estudar o
funcionamento do marketing móvel e o serviço cultural não deixa de ser uma forma de
marketing. Formado por produtos da indústria cultural, o mundo do entretenimento leva
consigo uma relação de consumo disfarçada de diversão.
Existem pelos menos duas vertentes dentro do que convencionalmente chama-se
de jornalismo cultural: uma dedicada a fomentar idéias, pensamento e reflexão; outra
focada em guiar o consumo de entretenimento com as informações básicas do produto
cultural, ou seja, o que, quando, onde e quanto. Cada uma das vertentes deve ser
explorada por suportes que as potencializem.
A idéia do jornalismo cultural móvel (JCM) como guia de consumo ganha força
justamente por se tratar de um suporte que tem potenciais características de guia entre
elas o fato de ser é uma mídia locativa, está com o consumidor onde quer que ele esteja.
Além disso, ainda por limitações de interface, ou seja, tamanhos de tela ainda reduzidos,
as informações divulgadas pelos dispositivos móveis precisam ser ágeis, diretas e
precisas.
O JMC pode ser trabalhado pelo menos de duas formas. A primeira delas, e
também mais simples, é por meio de SMS, exclusiva aos aparelhos celulares.
Atualmente as mensagens instantâneas já são exploradas, por exemplo, por bandas e
operadoras de celular para fomentar a interatividade com fãs e clientes. Uma das bandas
mais populares do Brasil, o Skank utiliza, por exemplo, o serviço de SMS em um show
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para que o público escolha quais músicas serão reprisadas na última parte do espetáculo.
O mesmo serviço foi utilizado recentemente para que o público selecionasse a nova
música de trabalho do grupo6.
O exemplo ilustra um dos possíveis movimentos envolvendo os usuários de
celular, ou seja, o sujeito parte em busca não apenas de informação como também de
participação. No cenário esportivo o serviço de SMS funciona bem oferecendo
informações de resultados. Na área cultural o mesmo pode ser ofertado. O usuário
poderia se inscrever no serviço de guia cultural e de acordo com a periodicidade
selecionada, o usuário receberia, via mensagem, as opções cinematográficas, teatrais ou
musicais da cidade. Este serviço poderia trabalhar em sintonia com um rastreamento de
área e oferecer as informações culturais de acordo com as escolhas de localidade feitas
pelo cliente, ou até mesmo, baseada no exato local onde se encontra naquele
determinado momento.
Mas na era dos dispositivos móveis conectados a redes de Internet como GPRS,
Wi-fi, Wi-Max e outras é pouco limitar-se às possibilidades dos SMS. Mesmo porque,
como considera Loureiro (2003), laptops e PDA´s também são dispositivos móveis.
Apesar de muito utilizado, o serviço das mensagens instantâneas, possui alguns
inconvenientes. Embora trabalhe no sistema de assinaturas, ainda é um tipo de serviço
que conta com informação enviada e não buscada pelo usuário. Nesse sentido é preciso
haver cautela para que o excesso não acabe causando rejeição.
Outro caminho para o JCM, este sim possível de ser adotado em laptops, PDA´s
e celulares, é o desenvolvimento de aplicações, sites ou até mesmo portais
especialmente programados em tecnologias suportadas pelos dispositivos móveis nos
quais os usuários pudessem consultar e encontrar as informações culturais de acordo
com o gosto pessoal. Assim os usuários se conectariam utilizando redes de Internet
acessariam determinado endereço ou abririam uma aplicação específica, por onde
navegariam entre as opções de agenda daquela cidade. Este serviço também poderia,
6
A banda selecionou previamente três músicas e cada uma delas recebeu previamente um número. ―Para
votar em Sutilmente pelo seu celular, envie SUTILMENTE para 50050; se você prefere Noites de Um
Verão Qualquer, envie NOITES para 50050; mas, se a sua favorita é a Pára-Raio, envie PARARAIO para
50050. O serviço está disponível para todas as operadoras e o preço da mensagem é R$0,31 + impostos‖,
publicado no site www.skank.com.br. Consultado em 28/02/2009.
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idealmente, estar conectado a um sistema de mapeamento de área que indicaria as
opções culturais na região onde o usuário se encontra.
O jornalismo cultural móvel precisa ser útil para o usuário e assim oferecer
opções que melhor se adaptem à rotina de quem busca aquela informação. Sendo assim,
aplicações, sites e portais deveriam oferecer as informações explorando as
potencialidades do dispositivo que é multimídia. Ou seja, a agenda da cidade poderia
estar disponível em formato texto, áudio e vídeo. Cada um que escolha a opção que
melhor se enquadre à sua vontade.
Conclusão
Desde a última década do século XX o jornalismo cultural enfrenta uma série de
dilemas que tem a ver com o forte cerco comercial exercido pelos produtos da Indústria
Cultural. Uma das maneiras de minimizar o impacto desta pressão em meios
tradicionais impressos é explorar as potencialidades das novas mídias, como é o caso
dos dispositivos móveis.
São infinitas as possibilidades de aproveitamento das redes móveis e dos respectivos
dispositivos pelo mundo do info-entretenimento. Mas, no entanto, ainda é preciso, uma
integração das pesquisas informáticas e de comunicação para que novos bancos de
dados sejam criados e alimentados de maneira adequada com o objetivo de oferecer a
tempo e a hora a informação que o usuário em trânsito necessita.
O JCM caracteriza-se pela prestação de serviços de informação cultural para o
usuário em trânsito. As principais diferenças em relação ao jornalismo cultural
tradicional são:
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JC TRADICIONAL
JC MÓVEL
O JC tradicional possui duas vertentes. Uma
preenchida por reflexões em torno da produção
atual, as descobertas da área, etc.. A outra funciona
como um guia do consumo cultural. Independente
do suporte escolhido o jornalismo cultural
tradicional pode assumir uma, outra ou as duas
vertentes.
Por causa do tamanho da tela e a interface ainda
limitada com o usuário, caberá ao jornalismo
cultural móvel a função de guiar o consumo, ou
seja, ser um guia de entretenimento.
O JC tradicional pode ser encontrado em suportes
impressos, audiovisuais e digitais. Na Internet,
dotada de características multimídia, hipertextual e
interativa o usuário também tem a opção de
escolher de que forma quer receber a informação.
O JCM é multimídia, ou seja, pode ser oferecido de
acordo com a opção do usuário, para ler, ver ou
ouvir. Em forma de texto, seja SMS, ou sites
preparados para a navegação dos dispositivos
móveis, em forma de áudio, como podcast ou em
vídeo.
O JC tradicional pode acompanhar o usuário, mas
não poderá ser atualizado a tempo e a hora
enquanto estiver em trânsito. A única exceção são
laptops que utilizam conexão móvel, mas que,
apesar de cada vez menores, não são tão portáteis
como os celulares, por exemplo.
O JCM pode aproveitar da vantagem de estar com
o usuário em trânsito e sintonizar a oferta de
informações de acordo com a localidade onde se
encontra, com atualizações permanentes. Além de
ser um guia de entretenimento, pode funcionar
como um guia de locações culturais.
O JMC pode trabalhar por demanda, ou seja, o usuário pede para receber, em
periodicidade variável, as informações culturais de seu interesse. Estas estariam
conectadas a um sistema de rastreamento de área e seriam ofertadas de acordo com a
localização do indivíduo. Outra vertente seria o desenvolvimento de aplicações e sites
úteis, a serem acessados por meio de redes de Internet sem fio, no qual o próprio
usuário buscaria as informações culturais desejadas o que, idealmente, também estaria
conectado ao sistema de rastreamento de dados, informando, inclusive como chegar ao
local escolhido. Ou seja, a principal função do JCM é ser um guia de consumo cultural.
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