beato bartolomeu dos mártires

Transcrição

beato bartolomeu dos mártires
CELEBRAÇÕES
EM HONRA DO
BEATO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
NO QUINTO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
1514-2014
VIANA DO CASTELO - 2014
Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires
“O Arcebispo Santo”
Estamos a celebrar os 500 anos do nascimento do Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires, a
quem as gentes de Viana do Castelo, ainda em vida, já chamavam o “Arcebispo Santo”. Tanto era o
bem que ele, nos últimos oito anos da sua vida, ainda fazia em Viana e arredores! Tantas eram as
graças que Deus, por seu intermédio, concedia às pessoas que a ele recorriam ou se lhe
encomendavam!
É, também por isso, uma graça para nós, diocesanos de Viana do Castelo, termos os seus restos
mortais entre nós: na igreja de São Domingos, que faz parte do convento que o próprio Beato
Bartolomeu mandou construir e no qual, depois de ter resignado do exercício do seu ministério como
Arcebispo de Braga, decidiu passar os últimos anos da sua vida e ficar sepultado.
Dos seus restos mortais retirámos algumas relíquias que, durante um ano jubilar na nossa Diocese
(de 03.05.2014 a 18.07.2015), irão percorrer todas as suas paróquias e comunidades religiosas, para
que possam ser veneradas e, deste modo, nos conduzam até Deus, a quem o Beato Bartolomeu
consagrou toda a sua vida. Para isso temos à disposição todos os elementos e materiais,
apresentados nesta publicação.
Agradeço ao Reverendo Padre Jorge Alves Barbosa tê-los recolhido, organizado e explicado, com a
competência e a disponibilidade que há muito lhe reconhecemos.
Faço votos para que o seu uso contribua realmente para os fins desejados. Isto é, que a mensagem, a
bondade e a santidade do Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires, assim divulgadas e celebradas,
levem ao despertar ou à revitalização da fé e da prática de vida cristã e à consequente renovação e
revitalização da Igreja, tão necessárias, nomeadamente na nossa Diocese.
† Anacleto Oliveira (Bispo de Viana do Castelo)
ACOLHIMENTO DAS RELÍQUIAS
I – TEXTOS DE APRESENTAÇÃO
1. A veneração dos Santos
Os Santos são heróis que se recordam como modelos fixos de um passado, mas são
sobretudo pessoas que vivem, com a sua própria história, junto de Deus, tornando
presente a Deus a nossa história, da mesma forma que, ao tornarem presente para
nós, a imagem de Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida, são formas concretas e
inteligíveis de incarnação de Cristo e do seu Evangelho. Os santos mostram-nos, pelas
suas obras, o nosso compromisso de viver na terra e seguir, aqui e agora, o Evangelho,
incarnado na realidade histórica e não numa vivência alienada ou alienante; tal como
eles dirigiram e informaram a história no seu tempo, assim também cada cristão,
seguindo-lhes o exemplo, deve dirigir e informar a sua história concreta.
Venerar os Santos significa não colocar só nas capacidades humanas a nossa esperança
ou o nosso destino, mas sentir, através do seu exemplo, o estímulo para a realização
do Evangelho, para a concretização do mandamento do amor. Eles apontam a cada um
de nós não só um verdadeiro caminho de purificação e ajudam-nos a viver uma
“escatologia realizada”, colocando-nos em sintonia com a liturgia celeste: se é verdade
que, com o Salmo 138 (137), podemos manter viva a esperança de que “na presença
dos Anjos eu vos louvarei, Senhor”, também, em cada celebração da nossa liturgia
terrestre, sabemos que participamos já no mesmo louvor que eles tributam a Deus.
Por isso mesmo, tudo o que nos recorda a figura ou a vida de um Santo constitui uma
forma de reconhecimento dos diferentes caminhos que Deus coloca diante de nós
para nos encontrarmos com Ele, da mesma forma que com Ele vivem já os que
veneramos como Santos.
2. Dignidade do corpo humano: a nossa fé na ressurreição da carne
Um dos aspectos mais marcantes da teologia cristã prende-se com a dignidade do
corpo humano enquanto instrumento de relação com os outros, uma relação que se
estende à relação com Deus. Conhecemos e amamos com o nosso corpo que um dia
foi agraciado e purificado com as águas do Baptismo e foi enriquecido com a graça dos
outros sacramentes de que participa a pessoa humana: o corpo é o instrumento pelo
qual Deus nos comunica a sua graça; recebemos os sacramentos utilizando o nosso
corpo e os seus sentidos e é nessa dimensão que se encara a fé cristã na “ressurreição
da carne”. Esta dignidade do corpo humano na só justifica e fundamenta o respeito
pelo corpo dos defuntos, mas criou na tradição cristã a prática da veneração do corpo
dos santos já a partir da veneração das sepulturas dos mártires nas catacumbas
romanas. Foi o hábito de celebrar a Eucaristia nos túmulos dos mártires que deu
fundamento à colocação de relíquias de santos nos altares das Igrejas aquando da sua
consagração e originou um movimento impressionante de veneração das relíquias que,
apesar de alguns desvios, haveria de constituir-se como estímulo ao desenvolvimento
da fé, nomeadamente no povo simples e à volta das grandes catedrais e mosteiros.
A veneração das relíquias pode entroncar nas diferentes tradições relacionadas com o
tratamento reservado ao corpo dos defuntos, sinal da crença ancestral na imortalidade
ou da esperança da ressurreição: os antigos Lusitanos e Galegos incineravam os
corpos, ornamentavam-nos festivamente com vestes e jóias; com o advento da prática
da incineração surgiu e ficou o termo "cinzas" como significando os restos mortais;
mas foram sobretudo argumentos de ordem religiosa a fundamentar a prática da
inumação como sinal de respeito devido ao corpo humano conservado na sua
integralidade e visibilidade. Ao lidar mal com a ideia de morte, a sociedade
contemporânea lida também muito mal com a ideia da permanência do corpo e muito
mais com a ideia de relíquia. Surpreende-nos, por isso, a familiaridade com que antigos
monges tratavam as relíquias dos seus defuntos de modo a encontrarmos hoje
motivos religiosos e turísticos do alcance de uma “capela dos ossos”.
O respeito cristão pelo corpo assenta numa realidade teológica e antropológica que
aponta para a visão do corpo não na materialidade, como forma e instrumento de
relação com o outro; deste modo se salvaguarda a ligação do corpo material com o
corpo ressuscitado porque ambos são a "nossa" forma de relação. Assim, uma
perspectiva teológica permite-nos ver o corpo material como sinal e condição do corpo
ressuscitado, o qual, como afirmara Leonardo Boff, “tira a sua qualidade da total
integração na corrente do Espírito de comunhão que personaliza Cristo divinamente,
ou seja, que torna divina a sua humanidade”. A veneração das relíquias tem o seu
fundamento na convicção profundamente cristã de que cada pessoa é chamada, pela
ressurreição, a participar tal qual é, de uma vida diferente, não resultante de uma nova
criação, mas numa linha de continuidade entre a vida vivida segundo o exemplo de
Cristo e a vida eterna em que vivem os santos que veneramos.
3. A veneração das relíquias dos Santos
O objectivo último da veneração dos Santos é a glória de Deus e a santificação do
homem, através de uma vida plenamente conforme à vontade divina, e da imitação
das virtudes daqueles que foram eminentes exemplos dessa conformidade. De acordo
com a tradição, a Igreja presta culto aos seus santos venerando as suas imagens e
também as relíquias autênticas. Como recorda a doutrina do Concílio Vaticano II. A
expressão “relíquias dos santos” indica, antes de mais, o corpo na sua integridade, mas
também partes mais nobres do corpo, daqueles que, vivendo já na pátria celeste,
foram, nesta terra, pela santidade heroica da sua vida, membros insignes do corpo de
Cristo e templos vivos do Espírito Santo (cfr. 1 Cor 3,16; 6,19; 2 Cor 6,16). São também
consideradas “relíquias dos santos” aqueles objectos que pertenceram aos Santos:
utensílios, vestes, objectos, manuscritos, ou outros objectos que estiveram em
contacto com os seus corpos ou com as suas sepulturas, tais como estampas, tecidos
ou imagens por eles veneradas.
À expressão eminentemente litúrgica de colocar relíquias dos santos nos altares
acrescentam-se outras formas de veneração, de carácter mais popular. Sabemos que
as relíquias gozam da estima e da veneração particular dos fiéis. No entanto, há que
encontrar uma prática pastoral adequada à sua utilização frutuosa, evitando não só
desvios inconvenientes acerca do verdadeiro sentido da santidade e da veneração do
corpo humano, mas também usos inadequados ou faltas de respeito para com algo
cuja santidade e seriedade a Igreja reconhece a partir da santidade de um corpo que
foi Templo do Espírito Santo, instrumento da acção de alguém que permanece vivo na
memória dos fieis e particularmente na glória de Deus. Uma prática pastoral eficaz
procurará então:
1. Garantir a autenticidade das relíquias, retirando, com a devida prudência, da
veneração dos fiéis todas aquelas de cuja autenticidade se duvide;
2. Impedir o excessivo fracionamento das relíquias que coloquem em causa a
dignidade do corpo; a liturgia exige que sejam de tamanho tal que permita a
identificação da parte do corpo a que respeitam;
3. Chamar a atenção dos fiéis no sentido de evitar a colecção de relíquias, prática
que, no passado, teve consequências que agora lamentamos;
4. Vigiar no sentido de que se evite todo e qualquer tipo de fraude ou qualquer
forma de comércio, bem como uma degeneração supersticiosa da utilização
das relíquias.
As diferentes formas de veneração das relíquias e a devoção popular com elas
conotada – beijar a relíquia, ornamentar com velas e flores, dar a bênção com a
relíquia, levá-la em procissão ou mesmo o costume de a levar como conforto aos
doentes – devem realizar-se com grande dignidade e num verdadeiro e autêntico
impulso de fé. Deve evitar-se de todo expor as relíquias à veneração na mesa do altar.
Este está estritamente reservado para a adoração do Corpo e Sangue do Senhor.
Apoiando-se na Palavra de Deus, a Igreja acredita firmemente que, assim como Cristo
ressuscitou dos mortos e vive para sempre, também os justos, depois da morte,
viverão para sempre com Cristo ressuscitado. A morte constitui o termo da vida
terrena, mas não o fim do nosso ser, pois a alma é imortal. As nossas vidas estão
sujeitas à medida do tempo, no decurso do qual, mudamos, envelhecemos e, tal como
para todos os seres vivos, no fim, surge a morte como conclusão normal da vida. Do
ponto de vista da fé, a morte é também o fim da peregrinação terrena do homem e o
fim do tempo de graça e misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida
terrena, segundo o desígnio divino, e para decidir o seu destino último” (cfr. Directório
sobre a Piedade popular e a Liturgia, n. 212, 236-237 e 248-249).
Por isso mesmo deveremos venerar as relíquias como um sinal que nos “convoca”,
“evoca” e “provoca”. Convoca para um sentido de “comunhão dos santos” que a nossa
liturgia celebra, que nos constitui como comunidade da qual os santos participam em
lugar eminente; evoca a vida e o exemplo de alguém que, no seu corpo mortal, foi
capaz de testemunhar uma particular presença de Deus e de criar uma forma de
relação que conduziu até Ele os que conviveram com esse alguém cujas relíquias se
veneram; provoca a consciência de que o nosso corpo está destinado a perecer na sua
materialidade; a relíquia representa o lado fugaz, perecível e relativo do mundo e da
vida meramente material. A veneração das relíquias provoca e questiona conceitos
como qualidade de vida ou de sobrevivência, na medida em que mostra a cada um a
maior certeza que marca a sua vida, em cada dia que passa, até chegar condição
material que nas relíquias contemplamos.
II - CELEBRAÇÃO DO ACOLHIMENTO DAS RELÍQUIAS
CÂNTICO INICIAL
INTRODUÇÃO PELO PRESIDENTE
(como apoio, poderá utilizar alguns elementos dos textos precedentes)
Leitura do Livro de Ben-Sirah
Celebremos os louvores dos homens ilustres,
dos nossos antepassados através das gerações.
O Senhor realizou neles a sua glória,
a sua grandeza desde os tempos mais antigos.
Eram poderosos nos seus reinos,
homens de fama pelos seus feitos grandiosos
e bons conselheiros pela sua inteligência.
Eram guias do povo pelos seus conselhos,
pela sua inteligência na instrução do povo
e pelas sábias palavras no ensino.
Homens ricos e poderosos, viviam em paz em suas casas.
Todos eles alcançaram fama entre os seus contemporâneos e
glorificados já em seus dias.
Foram homens virtuosos e as suas obras não foram esquecidas.
A sua descendência permanece para sempre
e jamais se apagará a sua memória.
Os seus corpos repousam em paz
e o seu nome vive através das gerações.
Palavra do Senhor.
BREVE ALOCUÇÃO
Evocando os aspectos deste texto que o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires incarnou de modo
especial:
 homem de fama pelos seus feitos, nomeadamente no Concílio de Trento, sendo considerado
pelos historiadores a figura mais marcante do mesmo concílio.
 conselheiro pela sua inteligência desde o Provincial dos Dominicanos Frei Luís de Granada ao
grande Arcebispo de Milão Carlos Borromeu e mesmo ao Papa Pio IV.
 guia do povo pelos seus conselhos: nas visitas pastorais, na relação com o povo simples, os
pobres e mais carenciados;

alcançou fama junto dos seus contemporâneos e já em seus dias foi glorificado, mesmo que
tenham passado quatrocentos anos até ao reconhecimento oficial da sua fama de santidade
que nunca esmoreceu no coração do povo.
ORAÇÃO
Senhor, nosso Deus, que nos destes a graça de participar da memória, dos
ensinamentos e do exemplo do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, concedeinos a graça de, na veneração das suas relíquias, sermos iluminados pela sua sabedoria,
participarmos da eficácia da sua acção pastoral, e sentirmos em nós o estímulo à
santidade a que nos chamais e cujo caminho ele nos aponta. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
INCENSAÇÃO DAS RELÍQUIAS
VENERAÇÃO DAS RELÍQUIAS
(O Presidente e ministros acompanhantes dirigem-se ao local onde estão colocadas as relíquias,
passando diante delas com um gesto de veneração pessoal: uma vénia, um momento de silêncio, ou
outro gesto considerado oportuno em função da forma concreta de exposição das mesmas. De seguida
retira-se, não havendo lugar a qualquer bênção final ou despedida. As relíquias ficam então expostas à
veneração dos restantes presentes que poderão fazer o mesmo gesto após a retirada do Presidente.
III – CELEBRAÇÃO DA DESPEDIDA DAS RELÍQUIAS
CÂNTICO INICIAL
LEITURA (Is 52, 7-10)
Leitura do Livro do Profeta Isaías
Como são belos sobre os montes
os pés do mensageiro que anuncia a paz,
que traz a boa nova, que proclama a salvação
e diz a Sião: «O teu Deus é Rei».
Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz.
Todas juntas soltam brados de alegria,
porque vêem com os próprios olhos
o Senhor que volta para Sião.
Rompei todas em brados de alegria,
ruínas de Jerusalém,
porque o Senhor consola o seu povo,
resgata Jerusalém.
O Senhor descobre o seu santo braço
à vista de todas as nações
e todos os confins da terra
verão a salvação do nosso Deus.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL (Salmo 95, 1-2a.2b-3.7-8a.10)
Anunciai em todos os povos
as maravilhas do Senhor.
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.
Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.
Dai ao Senhor, ó famílias dos povos,
dai ao Senhor glória e poder,
dai ao Senhor a glória do seu nome.
Dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,
sustenta o mundo e ele não vacila,
governa os povos com equidade.
ALOCUÇÃO BREVE
INCENSAÇÃO DAS RELÍQUIAS
PRECES
Como o fumo do incenso, façamos agora subir até Deus as nossas preces, suplicando
ao Senhor que as acolha na Sua bondade e misericórdia como acolheu o BemAventurado Bartolomeu dos Mártires e o associou à glória dos seus santos, dizendo:
R: / Por intercessão do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, ouvi-nos, Senhor.
1. Consolidai na unidade a Igreja, sustentai com a vossa graça a sua acção
evangelizadora, para que seja exemplo e testemunha da graça com que quereis salvar
todos os homens;
2. Concedei os vossos dons ao Papa Francisco, para que seja para o mundo de hoje um
sinal de Cristo Bom-Pastor que procura a ovelha perdida e a acolhe em seus braços;
3. Inspirai a acção do nosso Bispo para que, a exemplo do Bem-Aventurado
Bartolomeu dos Mártires, seja sinal e presença de Cristo Sacerdote no seio do seu
povo e inspirador de confiança e coragem nos seus colaboradores;
4. Orientai os nossos governantes em ordem a um progressivo reconhecimento das
reais preocupações dos seus concidadãos, e à protecção efectiva dos mais fracos e
desprotegidos;
5. Sede consolação para os mais tristes, amparo para os que mais sofrem, coragem
para os mais desanimados, alegria para as crianças, e esperança para os jovens;
6. Assisti os trabalhadores no seu esforço de cada dia, dai esperança e ânimo aos
desempregados, acolhei a vontade de servir nos que dispõem de mais recursos;
7. Favorecei o crescimento das crianças, dai perseverança aos seus pais e educadores,
iluminai os jovens no seu discernimento vocacional;
8. Protegei as famílias, dai paz e confiança aos mais idosos e força de vontade aos
adultos, fortalecei aqueles que vacilam nos seus compromissos sociais e familiares;
9. Curai os enfermos, acompanhai os moribundos e acolhei os nossos irmãos defuntos
no convívio dos vossos santos;
Pai Nosso
ORAÇÃO
Deus de infinita bondade, que prometeis a recompensa de cem por um a todos
aqueles que tudo deixaram para servirem o Vosso Reino, fazei que sigamos o exemplo
de desprendimento e serviço que o Bem-Aventurado legou a esta nossa Igreja, e nos
disponhamos a levar com alegria o suave jugo do Evangelho de que ele foi um insigne
porta-voz na palavra e na acção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
BÊNÇÃO SOLENE
V. Deus Pai, rico de misericórdia, que vos chamou a glorificar o seu nome na
veneração e na celebração dos méritos do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
vos ilumine e aqueça os vossos corações, para experimentardes, como ele, a alegria de
servir a sua Igreja nos mais pobres e humildes.
R. Ámen.
V. O Senhor Jesus vos faça reconhecer e seguir os caminhos da santidade apontados
pela sábia doutrina do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, e dela vos faça fiéis
transmissores a todos os homens de boa vontade.
R. Ámen
V. O Espírito Santo vos conceda o ardor apostólico tão presente na vida e acção do
Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, a fim de que possais dar o vosso
contributo para a iluminação do mundo de hoje em ordem ao crescimento do Reino
de Deus, por meio da oração, da generosidade e do testemunho apostólico.
R. Ámen.
V. E a todos vós abençoe Deus Todo-poderoso, Pai, † Filho e Espírito Santo.
R. Ámen.
CANTICO FINAL
CELEBRAÇÃO DA PALAVRA
1. INVOCAÇÃO INICIAL
Presidente: Em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo.
Todos: Ámen
Presidente: A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai, a comunhão do
Espírito Santo e a intercessão do Bem- Aventurado Bartolomeu dos Mártires estejam
convosco.
Todos: Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo.
2. INTRODUÇÃO:
Um Leitor: Encontramo-nos reunidos em assembleia convocada pelo amor de Deus,
mas também pelo zelo Apostólico do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, cuja
voz ressoa na sua Igreja há quase quinhentos anos, cuja acção e empenhamento na
causa do Evangelho se perpetua na memoria do povo de Deus que ele amou com
especial carinho, visitou com solicitude evangélica e acompanha agora com a sua
intercessão junto de Deus. A sua sabedoria iluminou a Igreja tanto no Concílio de
Trento, como mas mais recônditas aldeias do Barroso, a sua generosidade foi sustento
dos pobres e afectados pela peste nas ruas de Braga, como foi resposta pronta às
carências mais elementares dos habitantes da ribeira vianense. Sendo o seu lema
pastoral “arder e iluminar”, toda a sua vida foi um permanente exercício de fidelidade
a esse propósito; na cruz que legou a todas as paróquias da sua Diocese encontramos
também um testemunho da sua presença e adesão à Paixão do Senhor com a qual se
identificou em toda a sua vida não só pelo nome que escolheu – Bartolomeu dos
Mártires – mas também na experiência de mortificação e oração vivida até ao final dos
seus dias, no Convento de Santa Cruz em Viana do Castelo.
3. ORAÇÃO
Senhor nosso Deus que vos dignastes iluminar e aquecer o coração do BemAventurado Bartolomeu dos Mártires pela escuta atenta e pela diligente observância
da vossa Palavra, concedei-nos que, pelo seu exemplo e intercessão, aprendamos
também a colocar os nossos ouvidos a uma escuta atenta e permanente de vossa
Palavra para sentirmos abrasar o nosso coração no amor dos nosso irmãos. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
4. LEITURA - I
Leitura do Livro da Sabedoria
Orei e foi-me dada a prudência;
implorei e veio a mim o espírito de sabedoria.
Preferi-a aos ceptros e aos tronos
e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada.
Não a equiparei à pedra mais preciosa,
pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia
e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo.
Amei-a mais do que a saúde e a beleza
e decidi tê-la como luz,
porque o seu brilho jamais se extingue.
Deus me conceda a graça de falar dela como Ele quer
e ter pensamentos dignos dos seus dons,
porque é Ele quem orienta a sabedoria,
é Ele quem corrige os sábios.
Em suas mãos estamos nós e as nossas palavras,
a nossa inteligência e a nossa habilidade.
Palavra do Senhor.
5. SALMO RESPONSORIAL
REFRÃO: A boca do justo proclama a sabedoria.
Confia no Senhor e pratica o bem,
possuirás a terra e viverás tranquilo.
Põe no Senhor as tuas delícias,
e Ele satisfará os anseios do teu coração
Confia ao Senhor o teu destino
e tem confiança, que Ele actuará.
Fará brilhar a tua luz como a justiça
e como o sol do meio-dia os teus direitos.
A boca do justo profere a sabedoria
e a sua língua proclama a justiça.
A lei de Deus está no seu coração
e não vacila nos seus passos.
6. LEITURA - II
Leitura da Exortação Apostólica “Evangelii gaudium” do Papa Francisco
A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram
com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do
vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero,
com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova
etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da
Igreja nos próximos anos. O grande risco do mundo actual, com sua múltipla e
avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração
comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da
consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de
haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já
não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem.
Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem
nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a
escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta
não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado. Convido todo o
cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu
encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar
encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar.
7. Alocução
8. ORAÇÃO UNIVERSAL:
Presidente: Demos graças a Deus Pai que, na Sua bondade, guia, ensina e alimenta o
Seu povo, e nos chama a esta “Missão Educativa na Comunidade”, como seus
colaboradores, dizendo com toda a confiança:
R:/ Iluminai-nos. Senhor com a luz do Vosso Espírito!
1. Pelo Santo Padre, o Papa Francisco, para que seja “verdadeiro filho dos Apóstolos e
dos Profetas, na fé e nos bons costumes com que venceram e trabalharam pela
justiça” para que tenha a “graça de falar sempre como Deus quer” e seja o rosto da
alegria do Evangelho como proposta para o mundo de hoje, oremos ao Senhor. R/.
2. Pelo nosso Bispo, Anacleto, para que seja capaz de superar a “tempestade de
espírito perpétua e sempre acesa pelas ondas dos cuidados e dos pensamentos” do
seu ofício pastoral, e seja nesta Diocese o “companheiro humilde dos que procedem
bem e zeloso da justiça contra os vícios dos pecadores”, oremos ao Senhor. R/
3. Por todos os sacerdotes da nossa Diocese e especialmente pelo nosso Pároco para
que sejam sensíveis “aos gemidos dos mais pobres diante de Deus a quem abrem os
corações” e sejam corajosos no assumir das suas responsabilidades perante um
rebanho que é de Jesus Cristo conhecendo como Ele cada uma das suas ovelhas pelo
próprio nome, oremos ao Senhor. R/.
4. Por todos os membros desta comunidade paroquial para que, atentos à voz dos seus
pastores, neles encontrem também o zelo e a dedicação do Bem-Aventurado
Bartolomeu dos Mártires de forma a se tornarem “vasos vivos” da graça de Deus,
verdadeira e autêntica riqueza da Igreja, oremos ao Senhor. R/.
Pai Nosso
Presidente: Senhor Nosso Deus que prometestes conceder-nos pastores segundo o
Vosso coração, ensinai-nos a reconhecer, no exemplo do Bem-Aventurado Bartolomeu
dos Mártires, a imagem de pastor que nos revela a grandeza, a misericórdia e a
ternura do Vosso coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Todos: Amém.
6. CONCLUSÃO
V./ O Senhor esteja convosco
R:/ Ele está no meio de nós
(Se o Presidente é um Presbítero)
V:/ Abençoe-vos (†) Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo.
R:/ Ámen.
(se o Presidente é o um leigo)
V:/ O Senhor nos abençoe, (†) nos livre de todo o mal e nos conduza à vida eterna.
R:/ Ámen.
V:/ Bendigamos ao Senhor
R:/ Graças a Deus
CÂNTICO FINAL
RECITAÇÃO DO ROSÁRIO
[ com textos do Catecismo do Beato Bartolomeu dos Mártires ]
1. INTRODUÇÃO:
Imperativos de ordem pastoral e o conhecimento das potencialidades ou limites de
muitas das nossas comunidades cristãs levam-nos a propor aqui um conjunto de
meditações para a recitação do Rosário, no contexto da veneração das relíquias do
Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires. Mas não estamos longe também de outras
grandes motivações: a condição de dominicano do nosso Arcebispo Santo, já que a São
Domingos se atribui a invenção desta secular forma de oração do povo, o facto de o
Santo Arcebispo ter no seu local de trabalho um quadro com a Senhora do Rosário, e
ainda o ímpeto e espírito renovador que a esta forma de oração foi dado pela Carta
Apostólica “O Rosário da Virgem Maria” de João Paulo II.
Como afirmava este santo pontífice, “na sua simplicidade e profundidade, o Rosário da
Virgem Maria permanece como oração de grande significado e destinada a produzir
frutos de santidade. Ela enquadra-se perfeitamente no caminho espiritual de um
cristianismo que, passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original, e sentese impelido pelo Espírito de Deus a fazer-se ao largo para reafirmar, melhor “gritar”
Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como “caminho, verdade e vida” (Jo 14, 6),
como “o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e
da civilização”. De facto, ainda que caracterizado pela sua fisionomia mariana, no seu
âmago, o Rosário é oração cristológica. Na sobriedade dos seus elementos, concentra
a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele
ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora
iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão frequenta a escola de Maria,
para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na
experiência da profundidade do seu amor.
Propomos então uma breve meditação de cada um dos Mistérios do Rosário da Virgem
Maria a partir de alguns textos do Catecismo do Bem-Aventurado Bartolomeu dos
Mártires. Desta forma, na Escola de Maria, não só conhecemos melhor o Evangelho de
Jesus Cristo, mas nos abrimo-nos um pouco mais ao pensamento bartolomeano.
2. RECITAÇÃO COMUNITÁRIA DO ROSÁRIO DA VIRGEM MARIA
INVOCAÇÃO INICIAL
Presidente: Deus, vinde em nosso auxílio.
Todos: Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.
Presidente: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
Todos: Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.
2.1 MISTÉRIOS DA ALEGRIA
“O primeiro ciclo, o dos “mistérios gozosos”, caracteriza-se de facto pela alegria que
irradia do acontecimento da Encarnação. Isto é evidente desde a Anunciação, quando
a saudação de Gabriel à Virgem de Nazaré se liga ao convite da alegria messiânica:
“Alegra-te, Maria”. Para este anúncio se encaminha a história da salvação, e até, de
certo modo, a história do mundo. De facto, se o desígnio do Pai é recapitular em Cristo
todas as coisas (cf. Ef 1, 10), então todo o universo de algum modo é alcançado pelo
favor divino, com o qual o Pai Se inclina sobre Maria para torná-La Mãe do seu Filho.
Por sua vez, toda a humanidade está como que incluída no fiat com que Ela
corresponde prontamente à vontade de Deus” (JOÃO PAULO II, Carta Apostólica “O
Rosário da Virgem Maria, n. 20).
“Ainda que toda a Santíssima Trindade tenha concorrido e efectuado esta digníssima
obra, porque, como disse o Anjo à Virgem Maria, ‘a virtude do Altíssimo Padre te
cobrirá e actuará em ti’ e o Filho ali operou pois se revestiu da nossa natureza, todavia
atribuímos e apropriamos esta obra especialmente ao Espírito Santo que é amor do Pai
e do Filho, porquanto este foi mistério de íntimo amor” (BARTOLOMEU DOS
MÁRTIRES, Catecismo, p. 28).
Primeiro Mistério: A Anunciação do Anjo a Maria
“Contemplamos neste mistério a incarnação do Filho de Deus no seio virginal de
Maria; é tal a claridade e resplendor deste mistério que todas as outras festas e
mistérios da nossa redenção que vamos celebrando durante o ano tomam dele o seu
valor e claridade. Nele celebramos aquele felicíssimo dia, aquela santíssima hora,
aquele sacratíssimo momento no qual “o Verbo se fez carne” juntando-se
pessoalmente à nossa carne, formando para si um corpo, no corpo da Virgem Maria,
nele criando alma racional e nele juntando à sua pessoa toda a natureza humana
perfeita” (289).
Segundo Mistério: A Visitação de Maria à sua prima Isabel
“A Virgem ia visitar Santa Isabel para falarem dos mistérios divinos, e o Filho de Deus,
escondido no ventre da Virgem Maria, ia visitar o seu precursor que estava escondido
no ventre da mesma Santa Isabel, para que, escondidamente e espiritualmente, o
abençoasse e santificasse. Estava o Menino João com a nódoa e mácula do pecado
original; entrou então a fonte de pureza e a luz eterna coberta no ventre virginal,
apagando e limpando a mácula do menino e enchendo a sua alma da luz celestial”
(302).
Terceiro Mistério: O Nascimento de Jesus no Presépio de Belém
“Não nos é dado penetrar este mistério do nascimento do Filho de Deus, mas apenas
agradecer a luz da fé com que o acreditamos e pasmar com a sua bondade e
benignidade que, por nosso amor, esta imagem e Verbo eterno, se vestiu de nossa
carne e nela nasceu tal como diz o Evangelho de João. “E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós”. No presépio se misturam duas realidades: de um lado, a gruta de
animais, a manjedoura, o choro de criança, pobres paninhos; do outro lado, anjos,
estrelas no céu tornando a noite clara como o dia, cânticos angélicos, uma nova estrela
que foi chamar os magos. Se desprezares o presépio, os anjos e a luz dão testemunho
de que é Deus verdadeiro aquele que tão vil berço escolheu” (196).
Quarto Mistério: A Apresentação de Jesus no Templo e a Purificação de Nossa
Senhora
“A verdadeira luz do mundo, o Deus Menino, por nós nascido, foi apresentado no
Templo, quarenta dias depois do seu nascimento, e nele, por mãos da Virgem Sagrada,
oferecido a seu eterno Pai, tomado nos braços do santo velho Simeão. Tendo
concebido por graça do Espírito Santo e dado à luz Aquele que é fonte de toda a
pureza e santidade, a Virgem Maria voluntariamente se submeteu à Lei geral para nos
dar exemplo de obediência e de humildade da mesma forma que seu Filho, sem a tal
ser obrigado, se submeteu à lei da circuncisão” (283-5).
Quinto Mistério: A perda e reencontro de Jesus no Templo
“Terias tu medo de te encontrares com Deus, tu que reconheces e te sentes
confundido com a tua vida animal? Não temas porque para isso o Menino nasceu num
curral de animais, para que tu, animal na vida, não tenhas receio de te aproximar dele.
Vai comungá-lo que o encontrarás no presépio. Se até agora te deleitavas com a
comida de cavalos e porcos, vai agora comungar este Menino por meio da fé e do
amor; e assim experimentarás o doce que é aquele presépio e quão dourada é a gruta
em que ele nasceu” (197-8).
2.2 MISTÉRIOS DA LUZ
“Todo o mistério de Cristo é luz. Ele é a luz do mundo (Jo 8, 12). Mas esta dimensão
emerge particularmente nos anos da vida pública, quando Ele anuncia o evangelho do
Reino. Queremos indicar à comunidade cristã cinco momentos significativos –
mistérios luminosos – desta fase da vida de Cristo: Nestes mistérios, à excepção de
Caná, a presença de Maria fica em segundo plano. Os Evangelhos mencionam apenas
alguma presença ocasional d'Ela no tempo da pregação de Jesus (cf. Mc 3, 31-35; Jo 2,
12) e nada dizem de uma eventual presença no Cenáculo durante a instituição da
Eucaristia. Mas a função que desempenha em Caná acompanha, de algum modo, todo
o caminho de Cristo. A revelação, que no Baptismo do Jordão é oferecida directamente
pelo Pai e confirmada pelo Baptista, está na sua boca em Caná, e torna-se a grande
advertência materna que Ela dirige à Igreja de todos os tempos: “Fazei o que Ele vos
disser” (JOÃO PAULO II, Carta Apostólica “O Rosário da Virgem Maria, n. 21).
“A Santa Igreja, nossa verdadeira mãe, desejando imprimir a fé em nossos corações e
vendo quão distraídos desnorteados andam, ordinariamente, seus filhos, em
pensamentos e negócios do mundo, buscou mil remédios, mil ardis e santas invenções,
para lhe pegar firmemente e imprimir na memória, entendimento e vontade, os
mistérios da nossa fé e redenção. Para isso ordenou e instituiu diversas festas e
solenidades para especial lembrança de tais mistérios; e ainda repartiu o ano em
diversos tempos” (BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, Catecismo, p. 15).
Primeiro Mistério: O Baptismo de Jesus no rio Jordão
“Quando nos metem naquela sagrada água, nela se afogam e morrem os nossos
pecados, porquanto somos feitos participantes da morte de Cristo. E quando dela
saímos, ressurgimos com o mesmo Cristo, em vida espiritual e homens novos, lavados,
justificados e feitos semelhantes a Deus, reformados e quase de novo criados à
imagem e vontade de Deus, livres de toda a culpa e pena; de tal modo que se então
partíssemos desta vida antes de cair em algum pecado, sem nenhum impedimento,
logo entraríamos na glória e bem-aventurança” (145).
Segundo Mistério: Auto-revelação de Jesus nas Bodas de Caná
“Os verdadeiros servos de Deus são, neste mundo, como estrelas que, entre os
pecadores como entre as nuvens, resplandecem. E não há cidade ou lugar em que
Deus não tenha uma dessas estrelas cujos merecimentos e orações alumiam e
conservam o mundo, ainda que muitas vezes não sejam conhecidas dos que vivem
segundo a carne e filhos deste mundo; porque não procuram mostrar a sua santidade,
mas escondem em seu peito a glória da sua luz. E contudo, em suas obras e palavras,
não pode deixar de resplandecer a luz da sua alma ainda que os mundanos cegos não
se dêem conta disso” (314-5).
Terceiro Mistério: O anúncio do Reino de Deus e convite à conversão
“O Senhor é tão diligente em chamar os homens à salvação que em todas as idades
dos chama e a nenhum rejeita, se quer trabalhar ainda que seja a horas do sol-posto,
quer dizer os que estejam já no termo da vida. E prevaleceu e resplandeceu tanto a
sua misericórdia, muitos chamados tarde e depois de muitos pecados feitos, vieram
trabalhar no final da sua vida tão fervorosa e plenamente que igualaram no prémio e
no galardão os outros que toda a vida foram santos. De tal modo que o Evangelho não
diz ‘chama os ociosos’, mas ‘chama os trabalhadores e paga-lhes a jorna’” (213).
Quarto Mistério: A Transfiguração de Jesus
“Convém que tragamos diante dos olhos a ressurreição da nossa carne como há-de vir
tempo em que há-de ser renovada e livre, de todas as misérias e faltas e há-de ficar
semelhante à carne do Redentor: imortal, incorruptível e resplandecente. E porque
esta consideração é muito eficaz para nos mortificar os apetites e desejos da carne, e
com penitência a fazemos merecedora das glórias da ressurreição, já São Paulo
recomendava a Timóteo que tivesse sempre memória da ressurreição, quando
escrevia: ‘Lembra-te que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos’” (37-38).
Quinto Mistério: A instituição da Eucaristia
“Este é o principal e mais excelente de todos os sacramentos porque nos outros está
somente a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto neste não temos só a graça,
mas Ele mesmo, substancialmente, Deus e Homem verdadeiro, fonte de todas as
graças e bens. E por isso, o que Ele de nós quer é que aproveitemos muitas vezes deste
tesouro, que gozemos deste convite, que nos preparemos muitas vezes para receber o
seu santíssimo e preciosíssimo corpo” (149-153).
2.3 MISTÉRIOS DA DOR
“Os Evangelhos dão grande relevo aos mistérios da dor de Cristo. A piedade cristã
desde sempre, especialmente na Quaresma, através do exercício da Via Sacra, detevese em cada um dos momentos da Paixão, intuindo que aqui está o ápice da revelação
do amor e a fonte da nossa salvação. O Rosário escolhe alguns momentos da Paixão,
induzindo o orante a fixar neles o olhar do coração e a revivê-los. O itinerário
meditativo abre-se com o Getsémani, onde Cristo vive um momento de particular
angústia perante a vontade do Pai, contra a qual a debilidade da carne seria tentada a
revoltar-se. Ali Cristo põe-Se no lugar de todas as tentações da humanidade, e diante
de todos os seus pecados, para dizer ao Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua”
(Lc 22, 42 e par). Este seu “sim” muda o “não” dos pais no Éden” (JOÃO PAULO II, Carta
Apostólica “O Rosário da Virgem Maria, n. 22).
“E porque o mistério da Paixão e Cruz do Senhor é raiz e fonte de todos os nossos bens
e salvação, daqui vem que os Santos, sobre todos os mistérios, recomendam a
consideração do mistério da Paixão porque ela é um treslado e particular espelho de
todas as virtudes, e nela encontramos remédio para todas as nossas chagas e pecados”
(BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, Catecismo, p. 33).
Primeiro Mistério: A agonia de Jesus no jardim das Oliveiras
“Naquele horto, começou o Senhor a angustiar-se e a entristecer-se, e foi posto em
tão extrema agonia que suou sangue. Procedia esta grande e mortal tristeza da
profunda e veemente imaginação de todas as penas e dores que haveria de passar em
todo o processo da sua Paixão. E voluntariamente quis tomar esta tristeza soltando e
deixando a carne em sua fraqueza e desamparando-a de toda a ajuda sobrenatural
para que assim mostrasse quão voluntariamente padecia, e bebesse todas as penas e
dores por nossos pecados, sem mistura de consolação alguma” (270).
Segundo Mistério: A flagelação de Jesus preso a uma coluna
“Um dia os judeus despem as suas vestes para as colocarem no caminho por onde
haveria de passar Jesus, outro dia lhe despirão as Suas vestes e o açoitarão nu; um dia
chamam-Lhe Rei dos Judeus; outro dia, dirão que não conhecem outro rei senão César.
Estas mudanças e inconstâncias do mundo deveriam bastar para o nosso desengano,
para não darmos muita importância aos momentos em que a honra nos afaga” (258).
Terceiro Mistério: A coroação de espinhos e o escárnio dos soldados
“Quanto às dores e tormentos, Jesus, manifestamente chegou ao extremo, padecendo
fortíssimas penas em todos os Seus membros e sentidos, açoitado cruelmente em todo
o corpo, coroado de espinhos na cabeça, esbofeteado e cuspido no rosto, e lançandolhe a cruz sobre os ombros ensanguentados, para que a levasse, os pés e as mãos
rasgados, com pregos pregado na cruz, e o lado trespassado com lança” (270).
Quarto Mistério: A caminhada de Jesus, com a cruz, para o Calvário
“E para que a língua não ficasse sem pena, lhe davam fel e vinagre; crucificado entre
ladrões, como capitão de malfeitores. Finalmente perde a fama e a vida para nos
alcançar vida e fama eternas. Chega ao extremo das dores, das desonras e das afrontas
para que nós chegássemos ao extremo dos prazeres, das honras e das glórias. Depois
que os homens lhe fizeram quantos males lhe podiam fazer e o tivessem pregado na
cruz, ali ele rogou por eles, ali fez especial oração ao Pai pelos seus crucificadores”
(271).
Quinto Mistério: A crucifixão e morte de Jesus
Estando alagado em dores e desonras, na Cruz, Jesus ainda brada que tem sede de
beber maiores penas pela nossa salvação. Mas porque o mundo tinha chegado ao fim
de lhas dar, deu outro brado e disse: ‘Tudo está consumado!’. Pai celestial, pois se
acabou e se cumpriu tudo e não há mais, da minha parte, que fazer nem que sofrer,
em vossas mãos entrego o meu espírito. E, isto dizendo, expirou…” (272).
2.4 MISTÉRIOS DA GLÓRIA
“O Rosário sempre expressou esta certeza da fé, convidando o crente a ultrapassar as
trevas da Paixão, para fixar o olhar na glória de Cristo com a Ressurreição e a
Ascensão. Contemplando o Ressuscitado, o cristão descobre novamente as razões da
própria fé (cf. 1 Cor 15, 14), e revive não só a alegria daqueles a quem Cristo Se
manifestou – os Apóstolos, a Madalena, os discípulos de Emaús –, mas também a
alegria de Maria, que deverá ter tido uma experiência não menos intensa da nova
existência do Filho glorificado. Desta forma, os mistérios gloriosos alimentam nos
crentes a esperança da meta escatológica, para onde caminham como membros do
Povo de Deus peregrino na história. Isto não pode deixar de os impelir a um corajoso
testemunho daquela grande alegria que dá sentido a toda a sua vida” (JOÃO PAULO II,
Carta Apostólica “O Rosário da Virgem Maria, n. 23).
“Naquele espantoso dia todos o veremos em forma humana, uns com grande alegria e
consolação, quer dizer, aqueles que neste mundo o amaram e suspiraram pela sua
segunda vinda e perfeita manifestação do seu reino; mas para os maus e para todos
aqueles que em pecado mortal desta vida partiram, será a vista do Senhor sumamente
terrível e insuportável” (BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, Catecismo, p. 43)
Primeiro Mistério: A Ressurreição de Jesus e a alegria de Maria
“A festa da ressurreição do Senhor nos deve alvoroçar e alegrar sobre todas as outras
festas do Senhor, porque nela, tanto da parte do Senhor como da nossa, concorrem
mais razões de alegria e consolação. Com os olhos da fé vemos o Senhor levantar-se do
sepulcro, ressurgindo em carne imortal e impassível, seguro de nunca mais morrer ou
padecer, trinfando da morte e do inferno” (273-8).
Segundo Mistério: A Ascensão de Jesus para o Reino de Seu Pai
“Subiu o Senhor para nos preparar um lugar e uns aposentos, e para que fosse aberto
um caminho diante de nós como nos diz o Profeta Miqueias. Por isso, da nossa parte,
não temos mais que andar pelo caminho que Ele nos mostrou e desejar chegar à
morada que ele preparou para nós. Esteja então o nosso coração onde está o nosso
tesouro: se o corpo na terra está, a alma, que é águia de Deus, voe para o céu” (39-42).
Terceiro Mistério: A descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos, e o
nascimento da Igreja
“O fogo do divino amor e o lume da divina sabedoria foram copiosamente derramados
na terra e os corações apostólicos iluminados e aquecidos, ficaram cheios de toda a
elevação e devota perfeição. Aquelas línguas de fogo que, de fora, apareciam
mostravam e testemunhavam a luz e fervor que em suas almas era derramada, porque
assim como o fogo é claro e quente, assim aos Apóstolos foi dada luz e claridade, para
conhecimento dos segredos e mistérios divinos, e aquecimento de amor para os amar
e viver segundo eles” (280).
Quarto Mistério: A Assunção de Maria ao céu
“Ainda que a Virgem Maria naturalmente morreu, como também seu filho, e foi sua
santíssima alma realmente apartada da carne, e no mesmo momento bemaventurada, todavia, logo depois foi por seu Filho ressuscitada em corpo e em alma, e
assim, no corpo como na alma, glorificada e elevada acima de todos os coros dos
anjos”. (307).
Quinto Mistério: A glorificação de Maria como Rainha dos Anjos e dos homens
“A Rainha do Céu passou deste desterro e foi tomar posse do mesmo reino celestial,
tirada deste malvado mundo, indigno de ter tão precioso tesouro e trasladada a reinar
sobre os Anjos e a receber seus prémios e coroas conformes aos seus merecimentos e
virtudes. Recebe de Deus, seu Filho tais glórias e honras como as que convinha a tal
mãe e tal filho receber; ao qual sobre todos convinha cumprir o mandamento de
honrar o pai e a mãe” (307).
3. CONCLUSÃO
Maria sabe reconhecer os vestígios do Espírito de Deus tanto nos grandes
acontecimentos como naqueles que parecem imperceptíveis. É contemplativa do
mistério de Deus no mundo, na história e na vida diária de cada um e de todos. É a
mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também Nossa Senhora da prontidão,
a que sai à pressa da sua povoação para ir ajudar os outros. Esta dinâmica de justiça e
ternura, de contemplação e de caminho para os outros faz dela um modelo eclesial
para a evangelização. Pedimos-Lhe que nos ajude, com a sua oração materna, para que
a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível
o nascimento dum mundo novo. É o Ressuscitado que nos diz, com uma força que nos
enche de imensa confiança e firmíssima esperança: ‘vou renovar todas as coisas’ (Ap
21, 5)” (PAPA FRANCISCO, Exortação Apostólico “Evangelii gaudium”, n. 288).
NOVENA EM HONRA
DO BEATO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
I – INTRODUÇÃO
“As aflições obrigam-nos a chamar por Deus. Por isso, diz o Livro do Deuteronómio:
‘Afligiu-te com a fome e deu-te o maná por alimento” (Deut. 8, 3) Os Apóstolos e os
Profetas ardiam em devoção no meio das perseguições do mundo. E repare-se que,
assim como os Judeus apenas recolhiam o maná necessário e bastante para o dia
inteiro, assim cada homem, ocupado durante o dia, deve, durante a noite, dar aos
exercícios de devoção o tempo suficiente para suportar suavemente, por amor de
Deus, as responsabilidades da sua condição”1. Esta exortação do Bem-Aventurado
Bartolomeu dos Mártires coloca-nos em sintonia com a importância da oração na
vida quotidiana, na expressão simples e sincera da piedade popular e numa
vivência pessoal da fé que se afirma como prolongamento da liturgia oficial da
Igreja. É por isso que, como recordava Joseph Ratzinger / Bento XVI, “A
religiosidade popular significa que a fé cria raízes no coração dos diferentes povos,
passando a fazer parte da vida quotidiana. A religiosidade popular é a primeira e
fundamental forma de inculturação da fé, que deve continuamente deixar-se
orientar e guiar pelas indicações da liturgia, mas que, por sua vez, a fecunda a
partir do coração”.2
1. O significado da Novena no contexto litúrgico e da piedade popular
“A excelência da liturgia em relação com qualquer outra forma possível e legítima de
oração cristã, deve encontrar acolhimento na consciência dos fiéis: se as acções
sacramentais são necessárias para viver em Cristo, as formas de piedade popular
pertencem, por seu lado ao Âmbito do facultativo (Directório sobre a piedade popular
e a Liturgia, n.11). Isto não impede, porém que “ a liberdade face aos exercícios de
piedade não deve significar uma escassa consideração nem desprezo pelos mesmos. O
caminho a seguir é o de valorar correcta e sabiamente as não escassas riquezas da
piedade popular, as potencialidades que encerra e a força de vida cristã que pode
suscitar (Ibidem). Para além do seu enquadramento no processo de desenvolvimento
da piedade popular, uma Novena reveste também características bíblicas pela
simbologia dos números, e litúrgicas pelo facto de algumas das novenas terem desde
sempre uma relação particular com o Calendário e o significado das mais importantes
celebrações do mesmo. A simbologia dos números leva-nos ao próprio significado
bíblico do número nove (=3x3) e não estará longe da especial simbologia da
maternidade de Maria nos nove meses de gestação do Verbo de Deus incarnado.
Podemos dizer que a novena mais directamente relacionada com a liturgia é a de
Natal, centrada outrora no especial significado das Antífonas do Ó, cujos textos, que
1
2
BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, Estímulo de Pastores, p. 212
JOSEPH RATZINGER, Comentário ao Terceiro Segredo de Fátima.
vão compondo o quadro do nascimento de Jesus, foram actualmente retomados como
Antífonas do Magníficat do Ofício de Vésperas e como Versículos do Aleluia nos dias
que vão de 17 a 23 de Dezembro. Os Septenários não terão tão grande significado
entre nós a não ser que consideremos como tal a Semana Santa ou o especial relevo
de algumas oitavas, mas estas já posteriores à festa respectiva. Um significado
particular no contexto da piedade popular e da liturgia é reservado ao Tríduo, não só
pela considerável relevância evangelizadora que reveste, nomeadamente no contexto
das “missões populares”, mas ainda como enquadramento de celebrações em honra
do Sagrado Coração de Jesus, do Santíssimo Sacramento, da Virgem Maria ou de
alguns padroeiros, e sobretudo porque o momento mais solene e importante de todo
o ano litúrgico é denominado precisamente Tríduo Pascal, com a celebração da Paixão,
Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Para além destes “momentos de celebração ao
nível da piedade popular”, poderemos apontar ainda os dias que apareceram
particularmente nos finais do século XIX, de que são exemplo as “Primeiras Sextasfeiras” dedicada ao Coração de Jesus ou os “Primeiros Sábados” dedicados ao Coração
Imaculado de Maria; os meses, como é o caso do Mês de Maria, Mês das Almas, Mês
de São José, tão importantes que por vezes suplantam, ainda hoje, a própria liturgia, e
ainda os oitavários como acontece actualmente com o Oitavário de Oração pela
Unidade dos Cristãos. Desta forma, “tríduos, septenários ou novenas podem constituir
uma ocasião propícia não só para a realização de exercícios de piedade em honra de
Deus, da Virgem Maria ou dos Santos, mas também podem servir para apresentar aos
fiéis uma visão adequada do lugar que cada um deles ocupa no mistério de Cristo e da
Igreja, e a função que desempenha” (Directório, n. 189).
Centrando-nos agora na Novena propriamente dita, para um enquadramento
adequado na doutrina da Igreja, temos consciência de que, “sendo o Evangelho o
critério e a medida para valorar todas as formas de expressão – antiga e nova – da
piedade cristã, à valoração dos exercícios de piedade cristã e das práticas de devoção
deve unir-se uma tarefa de purificação, por vezes necessária, para conservar a justa
referência ao mistério cristão” (Directório, n.12). Assim, em toda e qualquer novena,
“deve perceber-se: a inspiração bíblica, sendo inaceitável uma oração cristã sem uma
referência, directa ou indirecta, às páginas da Sagrada Escritura; a inspiração litúrgica,
a partir do momento que ela expõe e se faz eco dos mistérios celebrados nas acções
litúrgicas; uma inspiração ecuménica, quer dizer, a consideração de sensibilidades e
tradições cristãs diferentes, sem por isso cair em inibições inoportunas; a inspiração
antropológica que se expressa, quer em conservar símbolos e expressões significativas
para um determinado povo, evitando contudo o arcaísmo carente de sentido, quer
ainda no esforço por dialogar com a sensibilidade actual” (Ibidem).
2. A Novena em honra do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires
É na fidelidade a este espírito que nos propomos contribuir para a celebração de
uma Novena em honra do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, não só em
sintonia com a liturgia da Igreja que já celebra os seus louvores, sensíveis à
ressonância que a sua memória encontra ainda em largos sectores do povo cristão,
que ele acompanhou de perto, mas também procurando interiorizar o seu
pensamento, seguir o exemplo da sua vida e ainda conhecer melhor a doutrina da
Igreja, numa linguagem e num contexto mais actuais. Temos, porém, a felicidade
de a dedicar já ao Beato e não apenas ao Servo de Deus ou Venerável Bartolomeu
dos Mártires, já que estamos, cremos, perante a primeira novena organizada
depois da sua beatificação. A organização da proposta aqui apresentada procura
respeitar o significado e enquadramento bíblico, litúrgico, e popular das novenas. É
nosso propósito que seja utilizado este instrumento fácil e eficaz para melhor
conhecermos o que foi e é esta figura ímpar na história e na vida da Igreja
portuguesa, mas queremos também entrar na “sua escola”, “ir com ele à
catequese”, acolher o sempre actual “estímulo de pastor” que ele nos deixou,
participar do dinamismo intercessor que ele exerce junto de Deus por todos
aqueles que são hoje, mais de quatrocentos anos depois, os herdeiros de uma
acção e ministério zelosamente exercidos neste espaço geográfico.
Mais ainda: queremos dar a conhecer a pessoa, o pensamento, as propostas de
renovação, acolher os desafios lançados a uma Igreja que, em pelo século XXI,
carece ainda daquela “eminentíssima reforma”, já preconizada por ele há mais de
quatro séculos e meio, e sobretudo, rezar com ele, rezar como ele, na consciência
de que a oração “é a fonte de água viva que irriga todos os nossos actos de virtude,
vinho do céu que alegra o coração humano, balsamo que cura o sofrimento,
alimento da alma e língua para falarmos com Deus”.3
Com o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires seguiremos um itinerário de
vida, numa proposta que poderemos sintetizar no quadro seguinte:
VIDA DE BARTOLOMEU
DOS MÁRTIRES
3
DOUTRINA
BARTOLOMEANA
DOUTRINA
ACTUAL
1.º dia
A Infância e Formação
do Beato Bartolomeu
Estímulo de Pastores,
p. 136
João Paulo II,
Exortação Apostólica
“Pastores dabo
vobis”, n. 2
2.º dia
Actividade de professor
e nomeação episcopal
Estímulo de Pastores,
p. 241-2
João Paulo II,
Exortação Apostólica
“Pastores dabo
vobis”, n. 52
3.º dia
O zelo pastoral do novo
Arcebispo de Braga
Estímulo de Pastores,
p. 251
João Paulo II,
Exortação Apostólica
“Pastores gregis”, n.
31.
4.º dia
Formação do Clero
e fundação dos
Seminários
Catecismo ou Doutrina
Cristã e práticas
espirituais, p.162
BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES, Estímulo de Pastores, p. 203.
João Paulo II,
Exortação Apostólica
“Pastores dabo
vobis”, n. 63
5.º dia
A sua Doutrina: o amor
pela Verdade
Catecismo ou Doutrina
Cristã e práticas
espirituais, p. 254-55
Papa Francisco,
Encíclica “Lumen
fidei”, n. 23
6.º dia
A virtude da humildade
Estímulo de Pastores,
p. 228
Bento XVI, Encíclica
“Deus caritas est”, n.
35
7.º dia
A pobreza e o seu amor
pelos pobres
Catecismo ou Doutrina
Cristã e práticas
espirituais, p. 86-91
Bento XVI, Exortação
Apostólica “Caritas in
veritate”, n. 35-36
8.º dia
A formação cristã do
povo na sua Diocese
Catecismo ou Doutrina
Cristã e práticas
espirituais, p.39-40
Papa Francisco,
Exortação Apostólica
“Evangelii gaudium”
n. 237-238
9.º dia
A vida espiritual do
Beato Bartolomeu dos
Mártires
Catecismo ou Doutrina
Cristã e práticas
espirituais, p. 260-261
João Paulo II, Carta
Apostólica “Novo
Millennio ineunte”, n.
32.
3. Modo de realizar o Novena:
Numa recitação pessoal da Novena, poderão ler-se os textos que se apresentam no
todo ou em parte: sugeriria a leitura do primeiro, mais biográfico para um
conhecimento da personalidade do Beato Bartolomeu dos Mártires e o terceiro para
uma visão actual da doutrina aí sugerida, com as respectivas orações. Pela sua
dificuldade, deixaria para uma celebração comunitária a leitura (com eventual
explicação) dos textos retirados das obras de Frei Bartolomeu, Estímulo de Pastores e
Catecismo.
Para uma celebração comunitária, sugeriria o seguinte esquema:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Cântico [ proposta para o dia ]
Oração Inicial
Leitura dos três textos e respectiva Oração
Oração Final
Invocações finais e despedida
Cântico: “Prece” a Bartolomeu dos Mártires
No caso de a Novena ser integrada na Celebração da Eucaristia, o primeiro Cântico
seria substituído pelo Cântico de Entrada de acordo com a liturgia do dia, seguir-se-ia a
leitura dos textos da Novena para cada dia, substituindo o Acto Penitencial concluindo
com a Oração Colecta da Missa: Omitem-se, por isso, a Oração inicial, a Oração
proposta para cada dia e a Oração Conclusiva. Do ponto de vista musical, neste caso de
integração na Eucaristia, poder-se-ia cantar algum dos cânticos bartolomeanos no
Final, mas não durante a celebração. No dia litúrgico do Beato Bartolomeu dos
Mártires (18 de Julho) já se poderão utilizar os Cânticos propostos neste Guião para a
respectiva celebração e algum dos outros.
II – ORAÇÃO INICIAL
Abri, Senhor, os nossos corações
à Palavra do Vosso Filho Jesus Cristo
para que, a exemplo dos discípulos de Emaús,
também ela nos faça arder cá dentro o coração,
como tão eficazmente aconteceu
com o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
a fim de que, pelo nosso testemunho de fé e de caridade,
também nós possamos iluminar e aquecer
os corações dos homens, nossos irmãos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo
Ámen.
III – TEXTOS DE REFLEXÃO PARA CADA DIA DA NOVENA
1.º DIA – INFÂNCIA E FORMAÇÃO DE BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
Cântico: “Seduziste-me, Senhor” [Cantemos Todos, n. 762]
Bartolomeu dos Mártires, com o nome familiar de Bartolomeu Fernandes do Vale,
nasceu em Lisboa no dia 3 de Maio de 1514, de uma família abastada de bens da
terra, a que não faltavam também os bens do Céu: virtuosos, devotos, e dotados de
uma particular inclinação para repartir os seus bens com os pobres. Por isso, já desde
a tenra infância, Bartolomeu mostrou grande inclinação para o estudo e para a vida
piedosa criando desde cedo uma relação especial com os mais desfavorecidos que o
haveria de marcar para toda a vida. Antes de ir para a escola gostava sempre de
participar na Missa acompanhando seu avô, ao mesmo tempo que, com frequência,
se entretinha com os religiosos do Convento de S. Domingos de Lisboa. Desta forma,
foi despontando nele a vocação: aos 14 anos já tinha decidido consagrar a Deus a sua
juventude abraçando a vida religiosa, tão decidido que estava em seguir o conselho
que Cristo dera ao jovem rico: “se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o
aos pobres, e depois vem e segue-me” (Mt 19, 21).
Com este objectivo em mente, procurou o Prior do Convento de S. Domingos de
Lisboa e pediu-lhe que lhe desse o hábito religioso. Como eram já conhecidas as suas
qualidades e virtudes não foi difícil admiti-lo; no entanto quis o Superior expor-lhe
com toda a clareza os rigores da Ordem: abstinência perpétua, jejuns prolongados,
vigílias frequentes, grande pobreza no vestir, limitações no dormir, tudo propostas
capazes de quebrar as naturezas mais robustas quanto mais a de um adolescente de
14 anos. Mas Bartolomeu já tinha ponderado tudo isto e só temia uma coisa: não ser
admitido por causa da sua pouca idade e saúde débil. Quando o Prior de S. Domingos
acabou de lhe expor as observâncias da vida que ele procurava seguir, respondeu:
“Padre, trabalhos busco e aborreço mimos; por fugir de mimos que me sobejam e
provar trabalhos que desejo e sei que para a salvação me são necessários, busco a
vida religiosa. Não temo esses, nem me assustam outros maiores, porque que não há
corpo fraco onde o coração é forte”.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do “Estímulo de Pastores” de Frei Bartolomeu dos Mártires
O Senhor deu àquele que deveria dirigir a sua Igreja não o nome de capitão, nem de
rei, nem de pretor, mas sim de pastor. E entre muitas outras razões, uma vem a ser
esta: é que o ofício de pastor é avesso a toda a espécie de ruídos, é calmo como a
inocência das ovelhas, como o seu silêncio, a sua simplicidade. Com isto se quer
inculcar o silêncio com que Cristo desejou que a sua família vivesse, afastada dos
cuidados terrenos, com os olhos postos apenas nas coisas do céu. Também aos
súbditos ensinou a serem como as ovelhas, obedecendo com simplicidade, sem
murmurações e sem repontar, etc.
Não fica bem [como Pastor sábio e diligente] ser o último a conhecer os defeitos que
há na própria casa, como sabemos acontecer a tantos. Que uns se encarreguem da
administração de umas coisas e outros de outras; quanto a vós, olhai pela disciplina;
não a confieis a mais ninguém. Quando na vossa presença se tiver conversa algo
atrevida, ou aparecer qualquer modo de trajar menos honesto, aplicai-lhe logo
sanção, vingai a ofensa que vos é feita. A impunidade gera o atrevimento e este o
desregramento. A casa do bispo deve impor-se pela santidade, pela honestidade no
olhar, no andar, no vestir, etc.
PAI NOSSO, AVE-MARIA, GLÓRIA
Da Exortação Apostólica “Pastores dabo vobis” de João Paulo II
A formação dos futuros sacerdotes, tanto diocesanos como religiosos, e o assíduo
cuidado, mantido ao longo de toda a vida, em vista da sua santificação pessoal no
ministério e da actualização constante no seu empenho pastoral, é considerado pela
Igreja como uma das tarefas da maior delicadeza e importância para o futuro da
evangelização da humanidade.
Esta obra formadora da Igreja é uma continuação, no tempo, da obra de Cristo que o
evangelista Marcos indica com as seguintes palavras: “Jesus subiu a um monte e
chamou os que Ele quis. E foram ter com Ele. Elegeu doze para andarem com Ele e
para os enviar a pregar com o poder de expulsar demónios” (Mc 3, 13-15).
Pode afirmar-se que, na sua história, a Igreja reviveu sempre, embora com
intensidades e modalidades diversas, esta página do Evangelho, mediante a obra
formadora reservada aos candidatos ao presbiterado e aos próprios sacerdotes. Hoje,
porém, a Igreja sente-se chamada a reviver com um novo empenho tudo quanto o
Mestre fez com os seus apóstolos, solicitada como é pelas profundas e rápidas
transformações das sociedades e das culturas do nosso tempo, pela multiplicidade e
diversidade dos contextos em que anuncia e testemunha o Evangelho, pelo favorável
desenvolvimento numérico das vocações sacerdotais que se regista em diversas
Dioceses do mundo, pela urgência de uma nova constatação dos conteúdos e dos
métodos da formação sacerdotal, pela preocupação dos Bispos e das suas
comunidades com a persistente escassez de clero, pela absoluta necessidade de que a
nova evangelização tenha nos sacerdotes os seus primeiros novos evangelizadores.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus
que por meio de Vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo,
nos mostrastes a eficácia do desprendimento e a grandeza do serviço
como forma de nos identificarmos com Vossa perfeição,
ajudai-nos a colher e seguir o exemplo
do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
para que não tenhamos receio das dificuldades
nem nos deixemos enganar pelas ilusões de uma vida fácil.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Amen.
2.º DIA – ACTIVIDADE DE PROFESSOR E NOMEAÇÃO EPISCOPAL
Cântico: “Demos graças e louvores” [NRMS, 110, p 5]
Admitido no convento dominicano, Bartolomeu em breve chegou a atingir um elevado
grau de perfeição religiosa. Desde o seu Noviciado era modelo perfeito de pobreza, de
obediência, de devoção e de humildade. E como Deus o dotara de raras qualidades de
espírito tornou-se um dos religiosos mais notáveis da Ordem de S. Domingos em
Portugal. Muito jovem ainda, espantava os mais velhos com a sua sabedoria e
preparação de modo que cedo foi escolhido para ocupar cargos de responsabilidade:
depois de uma cuidada formação teológica, tornou-se Leitor de Artes e Teologia e
mais tarde Mestre de Teologia no Convento da Batalha; era tal o nível de ensino deste
professor que os seus cursos foram reconhecidos por Bula régia de El-Rei D. João III
com o grau de Licenciatura. Convidado para preceptor de D. António, futuro Prior do
Crato, ajudou a preparar essa figura cimeira da História de Portugal no período crítico
resultante da morte do Rei D. Sebastião e um dos principais candidatos ao trono; por
isso mesmo teve oportunidade de leccionar teologia em Évora, para gáudio dos
jesuítas que louvavam o seu saber, disso dando conta a Roma. Finalmente foi
nomeado Prior do convento de São Domingos.
Com a vacância da Diocese de Braga, por morte de Frei Baltasar Limpo, pensou a
rainha propôs ao então Provincial dos Dominicanos, Frei Luís de Granada, figura de
reconhecido prestígio, ocupar o lugar deixado vago pela morte de Frei Baltasar Limpo
na Metrópole bracarense; em vez de aceitar tão prestigiante e ambicionado lugar, Frei
Luís de Granada propôs logo o nome de Frei Bartolomeu dos Mártires.. Enorme foi a
resistência deste humilde professor de teologia, perante o provincial e a própria
rainha Dona Catarina, em aceitar um cargo de tão elevada responsabilidade, ao ponto
de o seu Provincial, Frei Luís de Granada não ter mais remédio que lhe impor essa
missão em nome da obediência de religioso, em sessão pública na presença dos
outros frades, no coro do convento. Em nome da obediência, aceitou em 8 de Agosto
de 1558. Mas caiu doente, de tal forma abalado pelo peso da responsabilidade que,
segundo o testemunho dos jesuítas, no mês de Novembro, o novo Arcebispo ainda se
encontrava “mal disposto”. Mesmo assim, abraçou com notável entusiasmo e
dedicação estas novas tarefas, sendo a sua grande preocupação a vida interior e a
oração. Trazia sempre escrito num pequenino caderno: “De estudo sem devoção e de
pregação sem preceder oração pouco proveito se pode esperar”, e sabemos bem,
pela fama e pelos escritos que deixou, ter levado bem a sério esta norma de vida.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do “Estímulo de Pastores” de Frei Bartolomeu dos Mártires
Sendo a honra prémio da virtude, devem os Bispos ensinar as suas ovelhas a
tributarem honras às pessoas, mais pela virtude do que pela ostentação. Donde se
segue que os que procuram a honra na ostentação induzem as suas ovelhas em erro,
fazendo-as crer que a ostentação é a verdadeira causa da honra. O Apóstolo S. Tiago
acusa de fazerem acepção de pessoas todos aqueles que prestam honras aos ricos por
causa do esplendor das suas vestes, e desprezam os pobres. E S. Bernardo escreve ao
Papa Eugênio: Vós, o pastor, ides todo recamado de ouro, com tão variegadas cores, e
as ovelhas, que apanham? Se pudesse dizê-lo, afirmaria que isto é pasto mais de
demónios do que de homens. Era assim que procedia Pedro? Era assim que pregava
Paulo? Era sem esse aparato que os Apóstolos e varões apostólicos entenderam que
se podia cumprir o preceito do Salvador: “Apascenta as minhas ovelhas”. Digo ainda
que os príncipes e nobres se riem mais de tal ostentação, do que mostram respeito
por ela. E os pobres sentem menos confiança em se aproximar de tais pessoas a pedir
conselho ou a confessar-se, etc.. Vêem-nas na boa vida e em banquetes, quando eles
vivem, andrajosos, na penúria e no sofrimento, mordem-se de inveja e murmuram. Se
os vissem viver em humildade, amá-los-iam e, com o seu exemplo, ganhariam mais
coragem para suportar os seus trabalhos.
Devo dizer que devem, por certo, procurar ser honrados e respeitados. Mas é preciso
distinguir honra e honra. Há duas espécies de honra: uma é aquela que o mundo
costuma tributar aos senhores e príncipes seculares e ricos; outra é a que os homens
costumam prestar aos varões santos e de reconhecida virtude. A primeira, não a
devem procurar, porque não devem dominar na herança do Senhor; a segunda, sim. O
que acontece, porém, é que procuram a primeira e pelos sobreditos meios. E assim, se
bem que evitam cair no desprezo contrário à primeira, não evitam o desprezo oposto
à segunda; antes pelo contrário, ao vê-los levar vida de ostentação, as pessoas
reputam-nos seculares e mundanos.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Exortação Apostólica “Pastores dabo vobis” de João Paulo II
A formação intelectual dos candidatos ao sacerdócio encontra a sua específica
justificação na própria natureza do ministério ordenado e manifesta a sua urgência
actual de fronte ao desafio da "nova evangelização", à qual o Senhor chama a Igreja no
limiar do terceiro milénio. “Se cada cristão - escrevem os Padres sinodais - deve estar
pronto a defender a fé e a dar a razão da esperança que vive em nós”, com muito
maior razão os candidatos ao sacerdócio e os presbíteros devem manifestar um
diligente cuidado pelo valor da formação intelectual na educação e na actividade
pastoral, dado que, para a salvação dos irmãos e irmãs, devem procurar um
conhecimento cada vez mais profundo dos mistérios divinos". Além disso, a situação
actual, profundamente marcada pela indiferença religiosa e ao mesmo tempo por uma
difusa desconfiança relativamente às reais capacidades da razão para atingir a verdade
objectiva e universal, e pelos problemas e questões inéditos provocados pelas
descobertas científicas e tecnológicas, exige prementemente um nível excelente de
formação intelectual, que torne os sacerdotes capazes de anunciar, exactamente num
tal contexto, o imutável Evangelho de Cristo, e torná-lo digno de credibilidade diante
das legítimas exigências da razão humana. Acrescente-se ainda que o actual fenómeno
do pluralismo, bem acentuado não só no âmbito da sociedade humana mas também
no da própria comunidade eclesial, requer uma particular atitude de discernimento
crítico: é um ulterior motivo, que demonstra a necessidade de uma formação
intelectual o mais séria possível.
Esta motivação pastoral da formação intelectual confirma quanto se disse já sobre a
unidade do processo educativo, nas suas diferentes dimensões. A obrigação do estudo,
que preenche uma grande parte da vida de quem se prepara para o sacerdócio, não
constitui de modo algum uma componente exterior e secundária do crescimento
humano, cristão, espiritual e vocacional: na realidade, por meio do estudo,
particularmente da teologia, o futuro sacerdote adere à palavra de Deus, cresce na sua
vida espiritual e dispõe-se a desempenhar o seu ministério pastoral. Para que possa
ser pastoralmente eficaz, a formação intelectual deve ser integrada num caminho
espiritual marcado pela experiência pessoal de Deus, de modo a poder superar uma
pura ciência conceptual e chegar àquela inteligência do coração que sabe "ver"
primeiro o mistério de Deus e depois é capaz de comunicá-lo aos irmãos.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus, fonte de sabedoria,
que inflamastes o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires
no amor das ciências sagradas
e o dotastes como especial virtude de humildade,
inspirai em nosso corações a vontade de melhor conhecermos os vossos caminhos
e a coragem de os seguir, mesmo perante os desafios que eles nos colocam,
na certeza de que assistis com a vossa graça
aqueles que verdadeira e sinceramente acolhem o vosso chamamento.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
3.º DIA – O ZELO PASTORAL DO NOVO ARCEBISPO DE BRAGA
Cântico: “A messe é grande” [NRMS, 94; A Igreja Canta, p. 313 ou CT , n. 726]
Escolheu como divisa “ardere et lucere” (inflamar e iluminar), inspirado na experiência
dos Apóstolos e Maria em dia de Pentecostes, sintetizando assim o seu ardor pastoral
e a vontade de iluminar as almas e as consciências, numa dedicação sem limites à sua
nova condição de Pastor. Para ele, ser Bispo, ao contrário do que era muito comum no
seu tempo, nada tinha a ver com a dignidade ou o prestígio do cargo, nem a
abundância das rendas recebidas, mas significava uma estreita relação com a cruz de
Cristo e o cuidado pelas almas que lhe foram confiadas, fazendo com que se tornasse
uma das principais personagens do seu tempo. Numa linguagem rara no seu tempo e
que agora nos parece tão familiar, dizia ele: “sou o médico principal de mil e
quatrocentos hospitais que são quantas as freguesias que tenho à minha conta”.
Desde a sua chegada a Braga procurou ter sempre diante dos olhos os exemplos dos
grandes Bispos que foram modelos; modelos para si próprio e para a sua missão
pastoral, mas também modelos que ele haveria de propor também a outros Bispos,
numa proclamada “eminentíssima reforma” da Igreja que defendeu corajosamente no
Concílio de Trento.
Foi precisamente aquando da sua deslocação para o Concílio, onde se haveria de
tornar uma das principais figuras pelas suas intervenções na ultima sessão do mesmo,
que ele teve oportunidade de contactar com os escritos dos Santos Padres, conhecer
personagens cimeiras como o Papa Pio IV e particularmente o grande arcebispo de
Milão, Carlos Borromeu. Este, pouco depois canonizado pela Igreja, rapidamente se
tornaria seu amigo e admirador, sendo o primeiro leitor e entusiástico divulgador do
resultado das pesquisas de Frei Bartolomeu sobre a vida e missão dos bispos: o livro
“Estímulo de Pastores”, obra que o haveria de celebrizar e ainda hoje constitui uma
referência, tal é a actualidade das suas sentenças, respigadas dos escritos de grandes
Santos como São Gregório, Santo Agostinho e particularmente São Bernardo, mas
também da sua sensibilidade pastoral e competência teológica.
A sua acção como Bispo da Diocese de Braga caracterizava-se por uma pregação
simples, uma clara exposição doutrinal, para que todos entendessem, visitando mais
que uma vez todas as mil duzentas e sessenta paróquias da Diocese de então, com um
cuidado especial pelas mais distantes, na geografia, mas também na fé. Dessa
preocupação deu conta no Concílio a respeito da língua litúrgica, afirmando: “se as
pessoas não entendem o que se diz, então para que se diz?”. Recomendava sempre a
brandura e a piedade na administração da justiça, defendendo que os encarregados
dessa tarefa tinham o dever de encaminhar os seus semelhantes para Deus, pelo que
todo e qualquer castigo devia ser decretado com lágrimas e dor de coração.
PAI NOSSO, AVE-MARIA, GLÓRIA
Do “Estímulo de Pastores” de Frei Bartolomeu dos Mártires
Ai daquele que, colocado em lugar elevado não irradia luz, mas apenas fumega
frouxamente, com apatia, por causa da avareza, do orgulho e da voluptuosidade! Esta
é a diferença entre o que aspira deveras à santidade e o que pretende principalmente
a aparência ou reputação de santo: o primeiro procura praticar as obras que sabe
serem mais do agrado de Deus, embora não sejam muito aplaudidas pelo mundo,
nem deem muito nas vistas; o segundo faz em primeiro lugar o que dá nas vistas do
mundo e lhe é mais agradável. Porque vos queixais, como se o múnus pastoral fosse
impedimento para a devoção? Não é ele exercício contínuo das mais sublimes
virtudes, a saber, da caridade, da justiça e da misericórdia? Procurai juntar-lhes os
actos internos e externos da virtude da religião, e ficará tudo completo. Exercemos
verdadeiramente o nosso múnus pastoral quando, pelo exemplo da nossa vida e
pregação, ganhamos as almas dos nossos irmãos; quando confortamos os doentes no
amor de Deus; quando abatemos o orgulho dos maus, ameaçando-os com os suplícios
horríveis do inferno; quando não transigimos com ninguém contra a verdade; quando,
finalmente, nos confiamos à amizade de Deus, sem temer as inimizades dos homens.
A mim, aterra-me o peso da minha debilidade, quando penso nas contas que tenho de
dar; como vou a enfrentar Aquele a quem não apresento nenhum ou quase nenhum
lucro do negócio que me confiou, quanto à salvação das almas? S. Gregório compara
uma Igreja sem bispo ao leito seco de um rio. Quando vem um bispo bom, é como
quando o rio volta a encher-se até às margens, irrigando os vales circunjacentes, para
os fertilizar. Uns produzirão trinta, outros sessenta, outros cem, e das línguas da terra
acumulada ao longo do rio brotam as flores que se desenvolvem até darem sazonados
frutos. Poderá um bispo dizer: Farto-me de pregar, mas não vejo fruto. Recorde,
então, as belas palavras que S. Bernardo escreveu ao Papa Eugénio que se queixava
disso: “Fazei o que está na vossa mão e é vosso dever, e Deus cuidará suficientemente
do que Lhe pertence, sem preocupação nem angústia da vossa parte: plantai, regai,
desvelai-vos e tereis cumprido a vossa obrigação. Deus dará o incremento, mas
quando Lhe aprouver. Deus, e não vós; mas se Ele não quiser, vós nada perdereis.
Reparti o pão do céu sem inveja nem indolência e estai preparado para responder
somente pelo talento que vos foi confiado. Se muito recebestes, dai muito; se pouco,
dai na mesma proporção, pois quem não é fiel no pouco, também o não é no muito.
Dai tudo quanto tendes, porque vos será pedida conta de tudo até ao último ceitil.
Ficai sabendo que a tranquilidade da vossa consciência depende do cumprimento
destes dois preceitos: pregação e exemplo. Mas, se quereis ser prudente, juntai-lhe
um terceiro: o amor da oração. E, assim, ficam estas três coisas: a pregação, o
exemplo e a oração, mas a principal é a oração; pois, embora a pregação e as obras
sejam virtudes necessárias, só a oração consegue graça e eficácia para as obras e para
a pregação.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Exortação Apostólica “Pastores gregis”, de João Paulo II
O ministério do Bispo enquanto anunciador do Evangelho e guardião da fé no Povo de
Deus não seria apresentado exaustivamente, se não fosse referido o dever da
coerência pessoal: o seu ensino continua através do testemunho e do exemplo duma
autêntica vida de fé. Se o Bispo, que ensina com uma autoridade exercida em nome de
Jesus Cristo, a Palavra escutada na comunidade, não vivesse o que ensina, daria à
própria comunidade uma mensagem contraditória. Deste modo, fica claro que todas
as actividades do Bispo devem ter como finalidade “a proclamação do Evangelho, «
poder de Deus para a salvação de todo o crente “ (Rom 1, 16). A sua tarefa essencial é
ajudar o Povo de Deus a prestar à palavra da Revelação a obediência da fé (Rom 1, 5) e
a abraçar integralmente a doutrina de Cristo. Poder-se-ia dizer que missão e vida estão
de tal forma unidas no Bispo que não se pode pensar nelas como duas coisas distintas:
nós, Bispos, somos a nossa missão. Se não a cumpríssemos, deixaríamos de ser o que
somos. É pelo testemunho da fé que a nossa vida se torna sinal visível da presença de
Cristo nas nossas comunidades.
O testemunho de vida torna-se para o Bispo como que um novo título de autoridade,
que se soma ao título objectivo recebido na consagração. Assim à autoridade vem
juntar-se a credibilidade. Ambas são necessárias: de facto, duma brota a exigência
objectiva de adesão dos fiéis ao ensinamento autêntico do Bispo; da segunda, a
facilitação para depositar confiança na mensagem. A este respeito, apraz-me retomar
as palavras escritas por um grande Bispo da Igreja antiga, Santo Hilário de Poitiers: “O
Apóstolo Paulo, querendo definir o tipo de Bispo ideal e formar com os seus
ensinamentos um homem de Igreja completamente novo, explicou qual era, por assim
dizer, o máximo da perfeição nele. Afirmou que devia professar uma doutrina segura,
conforme com o ensinamento, para estar em condições de exortar à sã doutrina e de
refutar aqueles que a contradizem. Por um lado, um ministro de vida irrepreensível, se
não é culto, conseguirá beneficiar-se só a si próprio; por outro, um ministro culto
perderá a autoridade que provém da cultura, se a sua vida não for irrepreensível. A
conduta a seguir está desde sempre fixada pelo apóstolo Paulo nestas palavras: ‘E tu
serve de exemplo em tudo pelo teu bom comportamento, pureza de ensinamentos,
gravidade, e pela linguagem sã e irrepreensível, para que os nossos adversários sejam
confundidos, por não terem mal algum a dizer de nós’” (Tito 2, 7-8).
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Infundi, Senhor em nossos corações a chama acesa do Vosso Espírito
para que, a exemplo do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
sejamos verdadeiras testemunhas do Vosso Reino
como nos propõe Jesus no seu Evangelho:
luz do mundo como portadores da chama da vossa Palavra
sal da terra como exemplo capaz de curar e de dar sabor
ao mundo que espera o nosso saber, disponibilidade e exemplo.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen
4.º DIA – A FORMAÇÃO DO CLERO E A FUNDAÇÃO DO SEMINÁRIO CONCILIAR
Cântico: “Fez-vos Cristo luz do mundo” [NRMS, 36; A Igreja Canta, p. 596]
Sabemos já que Frei Bartolomeu dos Mártires visitava com especial cuidado as
paróquias mais afastadas da sua Diocese, nomeadamente as da região mais afastada,
do Barroso, que haveriam de celebrizar algumas facetas do seu ministério pastoral.
Mas foi também daí que ele, face à falta de clero identificado com o viver daquelas
gentes, trouxe para Braga alguns rapazes para os educar e instruir a fim de serem um
dia sacerdotes e pastores enviados junto dos seus conterrâneos. Ele bem sabia que,
segundo a palavra do Senhor Jesus, os sacerdotes são especialmente o sal da terra e a
luz do mundo. Um bom sacerdote é um poderoso instrumento de Deus, capaz de
santificar uma paróquia inteira; ele sabia perfeitamente da importância e necessidade
de bons sacerdotes, bem formados e habilitados nas variadas dimensões que a vida
sacerdotal envolve: preparação teológica, equilíbrio mental, formação moral, etc.,
para além das qualidades humanas de que ele procurava dar exemplo, mesmo
compreendendo como ninguém as falhas dos seus Padres.
Nas visitas pastorais, a primeira preocupação do Arcebispo era informar-se
pessoalmente acerca do valor do sacerdote que estava à frente da freguesia; chamava
depois cada sacerdote em particular e, como bom mestre em teologia, por meio de
perguntas apropriadas, procurava conhecer os méritos e os conhecimentos deles.
Mesmo confrontado com a escassez de clero numa diocese tão grande como a sua –
quase todo o Norte de Portugal – era particularmente, rigoroso na admissão dos
candidatos. Ao nível da formação exigida, era tão rigoroso que até propunha sérios
conhecimentos em música, ao ponto de Roma lhe ter colocado algum freio, caso
contrário não encontraria quase ninguém capaz… Para os mais limitados, escreveu o
Catecismo, como apoio à pregação e para evitar eventuais erros na formação do seu
rebanho. A todos os candidatos ao sacerdócio mandava examinar, e examinava-os ele
mesmo, nunca cedendo a influências ou pedidos, dizendo que “se recorriam a pedidos
era por não terem méritos”.
Foi do cuidado com a formação dos seus Padres que promoveu, também como
aplicação das orientações do Concílio de Trento, a fundação do Seminário que, por
isso mesmo, se viria a chamar “conciliar”. De facto, depois de outras iniciativas como a
fundação do Colégio da Companhia de Jesus, com aulas públicas de Gramática,
Retórica e Artes, em que ajudava os alunos mais carenciados com a atribuição de
pensões, instituiu, no Paço Episcopal, o ensino da Teologia Moral, confiado aos seus
confrades dominicanos de cujos ensinamentos participavam não só os candidatos.
mas também os já sacerdotes. Logo que chegou do Concílio, pôs mãos à obra a
fundação do Seminário; vencidas as primeiras dificuldades e até resistências conseguiu
o contributo financeiro de algumas pessoas ricas poderosas, de tal modo que em
pouco tempo o Seminário de Braga se tornou viveiro de sacerdotes letrados e
virtuosos com que os Prelados proveram convenientemente as freguesias do
Arcebispado. O Seminário Conciliar de Braga foi o primeiro que houve em Portugal, e
ainda hoje se encontra em actividade para, no seguimento das orientações do
Concílio, “recolher os aspirantes ao sacerdócio para mais facilmente os poderem
educar e instruir convenientemente”.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do Catecismo de Frei Bartolomeu dos Mártires
A vós, ordenados no sagrado sacerdócio, lembro que conheçais a alteza de vosso grau
e ofício. Sois elevados acima do povo cristão, como mestres e capitães do exército de
Cristo, médicos das almas, dispensadores dos mistérios de Deus, legados de Deus ao
mundo, medianeiros entre Deus e povo, ministros da reconciliação dos homens com
Deus, tesoureiros das riquezas celestiais, estrelas do mundo escuro, anjos de Deus, de
cuja boca os outros hão-de requerer a ciência da salvação. Vós sois os espelhos em
que os outros se hão-de ver. Finalmente, vós sois aqueles de cuja vida depende o bem
ou o mal do mundo. É claro que, se o vosso zelo respondesse ao ofício, não haveria
tanta dissolução nos leigos, não andariam as ovelhas de Cristo tão fora do caminho do
Céu... É obrigado o pastor das almas a apascentá-las de sã e santa doutrina e com
obras e exemplos de santa vida, com fervorosas orações e gemidos diante do Senhor,
pedindo-Lhe, continuamente, que queira guiar, com sua graça e favor, as ovelhas que
lhe encarregou, nos perigosos caminhos deste mundo, para que cheguem aos pastos
eternos...
Esta é uma das coisas que muito se deve chorar na Igreja de Deus, sobretudo nas
igrejas de montes e lugares onde nunca, ou muito poucas vezes, há pregação. Os seus
habitantes nunca ouvem outra Palavra de Deus, nunca ouvem outra doutrina se não a
que lhes diz o seu pároco ao Domingo. Toda a semana tratam, falam e cuidam das
coisas deste mundo. Ao Domingo vão à casa de Deus buscar um bocado de
mantimento para a alma. O seu pastor é obrigado a ter-lhes feito o jantar espiritual,
quer dizer, ter estudado, cuidado e apreciado alguma santa doutrina, como melhor
puder, para que, juntas as ovelhas no dia do Domingo ou da Festa, lhe administre
aquele mantimento da alma, e eleve os sentidos distraídos, lhe desperte a memória
para se lembrarem das coisas de sua salvação, e ilumine um pouco o seu
entendimento, e aqueça a vontade em amor de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo...
O sacerdote e pastor que Deus ali pôs para lhes elevar os corações da terra, para lhes
ensinar a lei, e ele não o faz? Que se pode esperar se não que, assim como os corpos
morrem quando passam muitos dias sem lhe darem de comer, assim morram também
aquelas almas por falta do mantimento espiritual?
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Exortação Apostólica “Pastores dabo vobis” de João Paulo II
A vocação sacerdotal tem muitas vezes o seu primeiro momento de manifestação, nos
anos da pré-adolescência ou nos primeiríssimos anos da juventude. E até em pessoas
que chegam a decidir a entrada no Seminário mais adiante no tempo, não é raro
constatar a presença do chamamento de Deus em períodos muito anteriores. A
história da Igreja é um testemunho contínuo de chamadas que o Senhor dirige mesmo
em tenra idade. São Tomás, por exemplo, explica a predilecção de Jesus pelo apóstolo
João “pela sua tenra idade”, tirando daí a seguinte conclusão: “isto nos faz
compreender como Deus ama de modo especial aqueles que se entregam ao seu
serviço já desde a juventude”.
A Igreja toma ao seu cuidado estes germes de vocação, semeados no coração dos mais
pequenos, proporcionando-lhes, através da instituição dos Seminários Menores, um
solícito, ainda que inicial, discernimento e acompanhamento. Em várias partes do
mundo, estes Seminários continuam a desenvolver uma preciosa obra educativa,
destinada a proteger e fazer desabrochar os germes da vocação sacerdotal, a fim de
que os alunos a possam mais facilmente reconhecer e se tornem capazes de lhe
corresponder. A sua proposta educativa tende a favorecer, de modo tempestivo e
gradual, aquela formação humana, cultural e espiritual que conduzirá o jovem a
empreender o caminho para o Seminário Maior com uma base adequada e sólida.
"Preparar-se para seguir Cristo Redentor com ânimo generoso e coração puro": é este
o objectivo do Seminário Menor indicado pelo Concílio Vaticano II, no Decreto
“Optatam totius”, que traça desta forma o seu perfil educativo: os alunos “sob a
orientação paterna dos superiores, com a colaboração oportuna dos pais, levem uma
vida plenamente conforme à idade, espírito e evolução dos adolescentes, segundo as
normas da sã psicologia, sem omitir a conveniente experiência das coisas humanas e o
contacto com a própria família”. O Seminário Menor poderá ser também, na Diocese,
um ponto de referência da pastoral vocacional, com oportunas formas de acolhimento
e oferta de ocasiões informativas para aqueles adolescentes que andam à descoberta
da vocação ou que, já determinados a segui-la, se vêem obrigados a adiar a entrada no
Seminário por diferentes circunstâncias, familiares ou escolares.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor Jesus que chamastes os vossos discípulos
ao convívio e à participação da vossa vida, pelo exemplo e pelo ensino,
quando, “em casa, tudo lhes explicáveis” com especial cuidado e carinho,
ajudai-nos a acolher os exemplos de solicitude vocacional e dedicação
do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
na aceitação daqueles que vós escolhestes,
na formação daqueles a quem iluminais o entendimento e aqueceis o coração,
na missão daqueles a quem confiais o alegre anúncio do vosso Evangelho.
Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
5.º DIA – O SEU AMOR PELA VERDADE E COMPETÊNCIA DOUTRINAL
Cântico: “Os povos proclamam a sabedoria dos Santos” [NRMS, 59; A Igreja Canta, p.
619]
Conhecemos já a formação cuidada que caracterizou o crescimento de Frei
Bartolomeu dos Mártires desde os primeiros contactos com o Convento de São
Domingos de Benfica, ao reconhecimento dos seus méritos e competência quer pelo
Rei, quer pelos seus contemporâneos, confrades dominicanos, jesuítas e outros que o
escutavam avidamente. Frei Bartolomeu dos Mártires, nas palavras dos seus
biógrafos, “era livre em dizer a cada um o que entendia”; liberdade santa que dá
competência para defender a justiça e os direitos dos fracos mesmo contra a opressão
e tirania dos poderosos, fossem eles os governantes de então fossem os membros do
cabido bracarense que tinham esvaziado de conteúdo muitas das competências e
funções do Arcebispo. Havia, por isso, abusos e faltas que se cometiam na cidade,
havia males públicos que se espalhavam para outras terras; por isso, resolveu pôr um
ponto final nesta situação considerando que o Pastor e Médico de todos era ele.
Mesmo perante as maiores incompreensões, contrariedades e objecções, face a
direitos injustamente adquiridos, mas veementemente reclamados, Frei Bartolomeu
não hesitava em dizer o que a sua consciência lhe ditava, ainda que fosse ao Rei. Foi
assim que, um dia escreveu a D. Sebastião protestando contra a violação de alguns
direitos da Sé de Braga; a Filipe I escreveu exigindo que mandasse retirar de Braga uns
soldados que ele para lá enviara. E mais: numa destas cartas acrescentava que “se Sua
Majestade não ficasse contente, grande favor lhe prestaria aliviando-o da mitra”, quer
dizer: ou respeitava o seu pedido ou que o demitisse.
A este cuidado e exigência de seriedade não escapava o próprio Papa: quando esteve
na Corte Pontifícia notou o costume antigo de os Bispos estarem de pé nas reuniões
ao passo que os Cardeais estavam sentados; logo fez saber ao Papa que tal prática não
estava correcta ao que o Papa acedeu alterando tal costume antigo. Sabemos que foi
também por acção de Frei Bartolomeu que o arcebispo de Milão, Carlos Borromeu,
amigo de caçadas e de festanças, se transformou no grande São Carlos Borromeu. A
autoridade que ele exercia sobre os influentes e poderosos vinha simplesmente de
uma consciência clara sobre a verdade das coisas, de um enorme desprendimento de
qualquer interesse pessoal e da preocupação exclusiva com a glória de Deus.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do “Catecismo” de Frei Bartolomeu dos Mártires
O Mestre perfeito é Aquele em cuja vida se encontra toda a santidade, e em cuja
doutrina se encontra inteira verdade. “Se Eu sou Mestre e Senhor porque não Me
credes?” – dizia o Senhor. “Porque Me não recebeis por Mestre?” Estas palavras,
meus irmãos, ainda que, absoluta e perfeitamente, não as possa de si dizer senão a
Aquele que é fonte de toda a pureza, que de Si as disse, os verdadeiros penitentes
que, deixada a vida velha, e chorados e confessados os pecados passados, ficaram
novas criaturas em Jesus Cristo, membros vivos a Ele unidos e incorporados, em
alguma maneira podem tomar para si mesmos a voz de sua cabeça, e dizer aos
homens: — Quem de vós me poderá repreender de algum pecado?, porque, se alguns
pecados fiz nos tempos passados, já este homem pecador é defunto, já por virtude do
Sangue de Cristo sou novo homem, novamente nascido pelo Espírito Santo, ao qual
não se devem atribuir as maldades e carnalidades que com o velho Adão já estão
crucificadas e destruídas.
E daqui julgai, irmãos, com quanta diligência deveis procurar fazer verdadeira
penitência e confissão, pois por ela ficais feitos novas criaturas e já não importa como
é que fostes antes de fazerdes penitência. Diz mais o Senhor aos Judeus: “Se Eu vos
digo verdade, porque não credes em mim?” Nós prezamo-nos de nos chamarem
discípulos e filhos de verdade. Oh! Se o fôssemos na realidade como o somos no
nome!... São verdadeiros discípulos da verdade todos aqueles que amam a luz da
verdade com todo o seu coração e vivem de acordo com ela, e por ela são guiados em
todas as suas obras. A verdade é comparada à luz, a qual é agradável aos olhos sãos e
odiosa aos olhos doentes. Na nossa confissão e arrependimento, procuremos ser
filhos da verdade, porque esses fazem verdadeira e legitima confissão; chamo-lhe
verdadeira porque não só deve ser sem mentira e sem encobrir algum pecado que se
recorde, mas também sem hipocrisia e fingimento. Quais sejam os filhos e discípulos
da verdade e quais o não sejam, é algo de desconhecido e não podemos
manifestamente discernir uns de outros; por isso o Senhor, no seu Evangelho, dá-nos
um sinal para que, de alguma maneira, possamos conhecer se somos filhos de Deus e
da verdade, ou não: “Quem é de Deus, gosta de ouvir as palavras de Deus e a doutrina
celeste”.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Encíclica “Lumen Fidei” do Papa Francisco
“Se não acreditardes, não compreendereis” (Is 7, 9): foi assim que a versão grega da
Bíblia hebraica traduziu as palavras do profeta Isaías ao rei Acaz, fazendo aparecer
como central, na fé, a questão do conhecimento da verdade. Entretanto, no texto
hebraico, há um sentido diferente; aqui o profeta diz ao rei: “Se não o acreditardes,
não subsistireis”. Apavorado com a força dos seus inimigos, o rei buscava a segurança
que lhe poderia vir de uma aliança com o grande império da Assíria; mas o profeta
convida-o a confiar apenas na verdadeira rocha que não vacila: o Deus de Israel. Uma
vez que Deus é fiável, é razoável ter fé n’Ele, construir a própria segurança sobre a sua
Palavra. Este é o Deus que Isaías chamará mais adiante, por duas vezes, o Deus-Amen,
o Deus fiel (Is 65, 16), fundamento inabalável de fidelidade à aliança. Esta forma de
traduzir com a palavra “compreender”, que aceitava certamente o diálogo com a
cultura helenista, não é alheia à dinâmica profunda do texto hebraico; a segurança que
Isaías promete ao rei passa, realmente, pela compreensão do agir de Deus e da
unidade que Ele dá à vida do homem e à história do povo. O profeta exorta a
compreender os caminhos do Senhor, encontrando na fidelidade de Deus o plano de
sabedoria que governa os séculos. Esta síntese entre o “compreender” e o “subsistir” é
expressa por Santo Agostinho, nas suas Confissões, quando fala da verdade em que se
pode confiar para conseguirmos ficar de pé: “Estarei firme e consolidar-me-ei em Ti,
(…) na tua verdade”. Vendo o contexto, sabemos que este Padre da Igreja quer
mostrar que esta verdade fidedigna de Deus é, como resulta da Bíblia, a sua presença
fiel ao longo da história, a sua capacidade de manter unidos os tempos, recolhendo a
dispersão dos dias do homem.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus
que nos enviastes vosso Filho como Caminho, Verdade e Vida do mundo,
concedei-nos a coerência de fé e de vida
que resplandecia no Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
a fim de sermos, neste mundo, testemunhas credíveis
da fé que professamos e do Mestre que no Baptismo aceitámos seguir,
para que o mundo acredite tal vos pediu, na sua oração sacerdotal,
o Vosso Filho, Jesus Cristo,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
6.º DIA – A GRANDE HUMILDADE DO ARECEBISPO BRACARENSE
Cântico: “Bendito, Deus, nosso Pai” [NRMS, 115, p. 16]
A autoridade moral e a coerência de pensamento são uma das condições essenciais
para um eficaz exercício da autoridade, sobretudo quando é preciso denunciar os
erros de alguém. Conhecemos já a preocupação de Bartolomeu dos Mártires com um
exercício equilibrado da justiça, e isto só pode vir de uma mente marcada pela
humildade. A sua competência, o seu prestígio intelectual, o carinho dos seus
diocesanos mais simples, a sua condição de Arcebispo de Braga, tudo eram
ingredientes para suscitar atitudes de orgulho, sobranceria, soberba e até arrogância
em qualquer ser humano, e isso era frequente nos bispos de então, a avaliar por
algumas das suas afirmações no Estímulo de Pastores. Com Frei Bartolomeu, muito
pelo contrário.
Fiel à proposta da Imitação de Cristo, ele “procurava esconder-se aos olhos dos outros
e ser considerado de nenhum valor. Foi também isso que ele colheu do exemplo dos
grandes santos: quanto maiores eram os seus talentos, quanto maiores as suas
virtudes mais se escondiam aos olhos dos homens. Quando o escolheram para
Arcebispo de Braga, sabemos que ficou aflito, tentou recusar e caiu doente depois de
aceitar; com uma vida marcada pelo silêncio do seu convento, via-se de repente,
elevado a uma das principais Dioceses da Península Ibérica e uma das mais
prestigiadas do mundo. Temia a responsabilidade do governo de tantas almas, temia
que as honras do seu cargo prejudicassem a humildade em que sempre vivera. Por
isso, só a autoridade do Provincial dos Dominicanos o levou, em nome da obediência,
a aceitar, não sem exclamar: “procurei a santa Obediência, no princípio da minha vida,
para me livrar por meio dela, dos perigos do mundo. É ela que agora me obriga que
volte a enfrentar as ondas e tempestades desse mundo. A Deus tomo por testemunha
que só o poder da minha vida religiosa, que é poder Seu, e nenhum outro debaixo do
Céu me poderia obrigar”.
Esta sede de humildade acompanhou-o até à morte. Quando viajava fora da sua
Diocese, onde não era conhecido, tinha enorme prazer em caminhar a pé com o
religioso seu acompanhante habitual; quando pedia hospitalidade em algum convento
nunca revelava a sua dignidade episcopal a fim de ser tratado como qualquer simples
religioso; e se, por acaso, se vinha a descobrir quem era, logo se retirava para fugir às
homenagens que lhe prestavam. Um dos maiores actos de humildade viveu-o na vida
que levou depois de renunciar ao Arcebispado: depois de repetidos pedidos para que
Roma o aliviasse do governo da Diocese que durou vinte e dois anos, quando finalmente o conseguiu, retirou-se para o Convento de Santa Cruz (hoje Convento de São
Domingos) na cidade de Viana do Castelo, por ele mandado construir.
Da sua presença em Viana do Castelo deixou o testemunho de uma vida de simples
conventual: apesar de velho e cansado era pontual em todas as observâncias da
Ordem; dizia que desde que Sua Santidade aceitara à sua renúncia ao Arcebispado,
ficara como simples frade com todas as obrigações da sua profissão religiosa. Cultivou
uma especial relação com as pessoas vizinhas do convento, nomeadamente os mais
pobres, de tal modo que ainda hoje conserva um especial lugar no coração dos
pescadores da Ribeira que lhe puseram o título de “Arcebispo Santo”. Assistia com
seus bens aos mais pobres, dele se contando inúmeras histórias, documentadas
mesmo em algumas particularidades do próprio edifício do convento. Finalmente até
na morte quis ser humilde: tinha direito, como todos os Arcebispos, a ser sepultado na
Sé de Braga, acompanhado das honras próprias da sua dignidade; no entanto, depois
de ter vivido no Convento de Santa Cruz, numa pobre cela, ainda existente, hoje como
capela, os últimos anos da sua vida, aí faleceu a 16 de Julho de 1590, vindo a ser
sepultado na Igreja do mesmo convento onde se podem venerar os seus restos
mortais, num túmulo que pouco depois se tornou objecto de veneração.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do “Estímulo de Pastores” de Frei Bartolomeu dos Mártires
Os pastores que vão atrás de pompas, etc., anulam aquele elogio da Igreja, da qual
está escrito no livro do Cântico dos Cânticos 1, 4-5: “Sou morena, mas formosa. Não
repareis em eu ser morena, foi o sol que me descorou”, isto é, foi Cristo. Entendido à
letra, quer isto dizer que a Igreja, exteriormente, é negra, pela mortificação da cruz e
pelo desprezo de fausto exterior, mas interiormente é bela. Por isso, o pastor que, por
amor de Cristo, renuncia ao esplendor da sua posição, pode repetir também: “Não
repareis em eu ser morena, foi o sol que me descorou”, quer dizer, a falta de brilho
externo deve-se ao amor e à imitação de Cristo meu esposo. Por isso, se quanto a
adornos e aparência exterior sou negra, interiormente sou formosa. Com razão dizia
Nosso Senhor: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar a meu respeito”, isto
é, não Me rejeitar por causa da negrura exterior, nem por causa da abjecção que
escolhi no meu estado.
S. Bernardo, depois de clamar contra o fausto e aparato régio dos prelados,
acrescenta: A Igreja jaz em tristíssima paz, combatida pelos costumes dos seus
pastores. Não consegue afugentá-los nem fugir deles, como antigamente afugentava
os hereges que a perseguiam e fugia aos reis que a tiranizavam a tal ponto eles
prevaleceram e se multiplicaram sem conta. E conclui: A Igreja encontra-se
interiormente ferida e o seu mal alastra sem remédio que o sustenha. Dizem os bispos
mundanos: Se não nos rodearmos de fausto à altura da nossa posição, seremos
desprezados pelos seculares. Se tal razão fosse válida, porque é que o Senhor teria
vindo ao mundo num estado de aniquilamento, sabendo muito bem que havia de ser
desprezado?
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Encíclica “Deus caritas est”, de Bento XVI
A íntima participação pessoal nas carências e no sofrimento do outro torna-se um darse de mim mesmo ao outro: para que o dom não o humilhe, devo não apenas dar-lhe
qualquer coisa minha, mas dar-me a mim mesmo, devo estar presente no dom como
pessoa. Este modo justo de servir torna o agente humilde. Este não assume uma
posição de superioridade face ao outro, por mais miserável que possa ser de momento
a sua situação. Cristo ocupou o último lugar no mundo — a Cruz — e, precisamente
com esta humildade radical, nos redimiu e nos ajuda sem cessar. Quem se acha em
condições de ajudar há-de reconhecer que, precisamente deste modo, é ajudado ele
próprio também; não é mérito seu nem título de glória o facto de poder ajudar. Esta
tarefa é graça.
Quanto mais alguém trabalhar pelos outros, tanto melhor compreenderá e assumirá
como própria esta palavra de Cristo: “Somos servos inúteis” (Lc 17, 10). Na realidade,
ele reconhece que age, não em virtude de uma superioridade ou uma maior eficiência
pessoal, mas porque o Senhor lhe concedeu este dom. Às vezes, a excessiva vastidão
das necessidades e as limitações do próprio agir poderão expô-lo à tentação do
desânimo. Mas é precisamente então que lhe serve de ajuda saber que, em última
instância, ele não passa de um instrumento nas mãos do Senhor; libertar-se-á assim da
presunção de dever realizar, pessoalmente e sozinho, o necessário melhoramento do
mundo. Com humildade, fará o que lhe for possível realizar e, com humildade, confiará
o resto ao Senhor. É Deus quem governa o mundo, não nós. Prestamos-Lhe apenas o
nosso serviço enquanto podemos e até onde Ele nos dá a força. Mas, fazer tudo o que
nos for possível e com a força de que dispomos, tal é o dever que mantém o servo
bom de Cristo sempre em movimento: «O amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14).
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus
Que em vosso Filho Jesus Cristo,
nos destes o maior exemplo de humildade
e aos simples e humildes revelastes os mistérios do Vosso Reino,
concedei-nos a graça de viver com simplicidade de vida,
exibir como sinal da nossa identidade a beleza e ornamento interior,
acolher os mais humildes como sinal da vossa grandeza,
recusar qualquer tipo de ostentação, riqueza ou exibição pessoal
segundo o exemplo de Jesus Cristo “pobre e humilde”
que nos foi deixado pelo Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
7.º DIA – A POBREZA DE BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES E O SEU AMOR PELOS
POBRES
Cântico: “Nem só de pão vive o homem” [NRMS, 29, A Igreja Canta, p. 195]
Por diversas vezes tivemos a oportunidade de salientar a especial predilecção pelos
pobres testemunhada pelo Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires. Dela nos dão
conta muitos episódios assinalados pelos seus biógrafos, mas ainda mais a memória
de um povo que ele acompanhou de perto nos últimos anos da sua vida, memória
essa que perdura nas gentes mais simples e crentes. Mas só pode ter uma verdadeira
dedicação aos pobres quem alguma vez percebeu a pobreza como proposta do
Evangelho e se deu conta do lugar do pobre como “sacramento de Deus”, como gosta
de dizer a teologia de hoje.
Sabia o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, desde tenra idade, e nós sabemos
também, que o voto de pobreza é um elemento essencial da vida religiosa, de acordo
com o conselho de Cristo: “se queres ser perfeito vai, vende o que tens e dá-o aos
pobres” (Mt 19, 21). Ao contrário do jovem do evangelho que se retirou pesaroso
porque tinha muitos bens, o religioso renuncia aos bens da terra para procurar
exclusivamente os do Céu; isto porque, não condenando a riqueza em si mesma nem
a utilização dos bens da terra, o próprio Jesus proclama “bem-aventurados os
pobres”. Ora, Bartolomeu dos Mártires, ao abraçar a vida religiosa, deixara todos os
bens da terra, mas quando foi elevado à dignidade episcopal viu-se de novo senhor de
copiosas rendas. Mas nem por isso mudou de vida: a mesma pobreza que abraçara
como religioso conservou-a como “Arcebispo e Senhor de Braga”, título de que, aliás,
nunca abdicou, em nome da dignidade da sua Diocese. Assim, no seu paço episcopal
escolheu um pequeno quarto com uma cama feita de “três tábuas mal lavradas,
atravessadas sobre dois banquinhos do mesmo tipo; por cima, uma enxerga de palha
e, em cima dela, um colchão de pano grosso que já trouxera do seu convento.
No vestuário, a mesma pobreza. Não usava nada de linho e as suas túnicas eram de
“estamenha” (lá grosseira, “estopa” ou “tomentos”, a parte mais grosseira do linho),
material fraco mas que durava muito tempo. Por isso, gastava pouco com a sua
pessoa, recusava vestimentas ou capas novas, a fim de poder socorrer os mais
necessitados a quem chegava a dar as próprias roupas, como aconteceu com aquela
velhinha a quem ofereceu a capa para um vestido novo. Um dia em que teve
oportunidade de estar à mesa com o Papa, perante os talheres de prata que o
Pontífice usava, disse-lhe que em Portugal os havia bem melhores, em porcelana da
Índia e da China; quebravam mais depressa, mas eram muito mais baratos…
Foi esse espírito de pobreza que criou e fortaleceu a sua relação privilegiada com os
pobres: segundo o Evangelho, o rico deve olhar para o pobre como para um irmão
menos afortunado e, da sua riqueza, tem o dever de repartir com os indigentes para
lhes suavizar a vida. Por isso, um dos primeiros cuidados de Bartolomeu dos Mártires
como Arcebispo foi reduzir ao mínimo os gastos com a sua casa e a sua pessoa,
confiando a administração das rendas da Arquidiocese a pessoas que fossem de
confiança e afeiçoadas aos pobres. Tudo o que sobejava era distribuído em esmolas; a
muitos, pagava o aluguer de suas casas; às quintas e sextas-feiras dava esmola, à
porta, a mais de mil pessoas. Costumava trazer sempre no bolso algum dinheiro que
dava a todos quantos lhe pediam esmola. Soube um dia que uma mulher doente
estava com falta de roupa; dobrou uma das suas mantas e mandou-lha muito em
segredo. Na janela do seu quarto tinha um pano azul que servia de reposteiro; um dia,
veio ter com ele uma velhinha mal enroupada; ele não teve mais medidas e arrancou
o reposteiro que lhe entregou. Com os pobres dividia a comida da sua mesa e por eles
distribuía a sua pensão de Arcebispo. A história mais terna que se conhece é de uma
pobre viúva que nada possuía para ajudar uma filha que tinha para casar. Mandou-lhe
o Arcebispo que ao anoitecer estivesse junto da janela da sua cela. Então atou a
enxerga e a roupa da cama em que dormia e lançou-lhe tudo pela janela. Ainda hoje
se pode verificar, lavrado numa lápide por debaixo da mesma janela, o testemunho
deste gesto que define, sem mais palavras, a generosidade e respeito pelos pobres
que o caracterizava.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do Catecismo de Bartolomeu dos Mártires
Toda a sabedoria, justiça e santidade cristã consiste em crer, esperar, amar e fazer. A
fé e esperança sem caridade e obras (sem as quais não pode estar a caridade) ficam
mortas e não limpam nem tornam a alma justa, nem têm valor algum diante de Deus.
Por isso, convém que na alma resplandeçam todas as três verdades juntamente: fé,
esperança e caridade. E doutra maneira não pode haver Salvação... O exercício da
caridade, que são as obras que a caridade obriga a fazer, encontram-se nos preceitos e
Mandamentos que Deus nos deixou. Desses Mandamentos dois são os principais e
fundamentais, que são os preceitos da mesma caridade... A caridade é a suma da Lei
de Deus. Nela se encerra tudo quanto Deus mandou e tudo Ele mandou por amor
dela; e quem a tem, tudo tem; e quem a não tem, nada lhe aproveita quanto tem.
Quem a tem, tudo sabe, pois sabe e aprecia o miolo de todas as sagradas e santas
Escrituras. Quem a tem no coração e nos costumes, pode dizer com David: “Eu vi o fim
de toda a perfeição”, quer dizer o amplo mandamento da caridade.
Chama-se amplo porque alarga o coração para todos e enche-o de alegria e confiança.
É também amplo, como diz um Santo, porque é coisa fácil andar por ele, assim como
andar por caminho largo... A caridade é que torna suave e leve o jugo do Senhor. Sem
ela, nenhuma outra virtude aproveita... Esta é o cumprimento da lei. Esta, o vínculo da
perfeição. Esta é o caminho pelo qual Deus desceu dos Céus e veio ao encontro dos
homens. E ela só é também o caminho por onde os homens hão-de subir aos Céus.
Deste vale de lágrimas para o lugar onde Cristo está, não há outro caminho senão pela
caridade. Só ela mata todos os pecados, só ela vence todas as tentações, só ela
cumpre todos os Mandamentos e exercita todas as virtudes, e torna doces todos os
trabalhos; só esta diferencia os filhos da salvação dos filhos da perdição eterna...
Quanto tens de caridade, tanto tens de santidade e virtude. Se tens grande caridade,
és grande santo e justo; se tens pequena, assim tens pequena santidade e justiça.
Porque esta é a suma de toda a santidade, justiça e bondade e sem ela ninguém se
pode chamar bom. Por esta é renovada a nossa alma à imagem de Deus, e feita nova
criatura em Cristo... Esta caridade, rainha de todas as virtudes, contém em si dois
preceitos, a saber, um do amor de Deus e outro do amor do próximo... Amar o Senhor
de todo o coração e com todas as forças da nossa alma, não é outra coisa senão
coloca-lo antes de tudo, prezá-Lo e estimá-Lo mais que todas as coisas deste mundo e
que nós mesmos, quer dizer, amá-Lo e prezá-Lo mais que toda a honra, glória,
riquezas, e que todos os parentes e amigos, mulher e filhos. Finalmente, mais que a
nossa própria vida, carne e alma, estando prontos para antes perder tudo isto, que
ofendê-Lo e violar algum mandamento... E, por isso, convertamos todos nossos
afectos e forças da alma e do corpo a amar este Senhor. Porque, fazendo-o assim,
facilmente venceremos todos os afectos da carne, e cumpriremos com alegria todos
os Seus Mandamentos.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Exortação Apostólica “Caritas in Veritate” do Papa Bento XVI
Os pobres não devem ser considerados um “ fardo” [91] mas um recurso, mesmo do
ponto de vista estritamente económico. Há que considerar errada a visão de quantos
pensam que a economia de mercado tem estruturalmente necessidade duma certa
quota de pobreza e subdesenvolvimento para poder funcionar do melhor modo. O
mercado tem interesse em promover a emancipação mas, para o fazer
verdadeiramente, não pode contar apenas consigo mesmo porque não é capaz de
produzir por si só aquilo que está para além das suas possibilidades; tem de aurir de
outros agentes energias morais que sejam capazes de as gerar.
A actividade económica não pode resolver todos os problemas sociais através da
simples extensão da lógica mercantil. Esta há-de ter como finalidade a prossecução do
bem comum, do qual se deve ocupar também e sobretudo a comunidade política. Por
isso, tenha-se presente que é causa de graves desequilíbrios separar o agir económico
— ao qual competiria apenas produzir riqueza — do agir político, cuja função seria
buscar a justiça através da redistribuição.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor Jesus Cristo
que a todos propusestes o espírito de pobreza
como sinal de bem-aventurança e garantia dos bens celestes,
concedei-nos o espírito de desprendimento que animava
o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
para que sejamos acolhedores dos que mais precisam,
desprendidos e generosos na administração dos bens terrenos,
a fim de podermos acumular, no céu, aquele tesouro que não se corrompe
e alcançarmos aquela herança que prometeis aos que Vos servem,
qunado tudo possuiremos na comunhão convosco,
e com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
8.º DIA – A SOLICITUDE PELA FORMAÇÃO ESPIRITUAL DO POVO
Cântico: “Eu sou a luz do mundo” [NRMS, 115, p. 12]
Uma das mais notáveis biografias do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires é o
livro de Frei Luís da Sousa intitulado A vida do Arcebispo. A ela vão beber muitos
daqueles que pretendem escrever algo sobre ele, incluindo estas notas com que vimos
acompanhando os passos do Arcebispo Santo. Nele se encontram alguns episódios
retirados dos relatos das visitas pastorais que, de uma forma um tanto romanceada
mesmo, nos transmitem numa linguagem típica, cheia de ternura, a rudeza e
ignorância dos povos das aldeias que o Arcebispo visitava, nomeadamente aqueles que
para as bandas do Barroso o aclamavam com expressões de fé como “Bendita seja a
Santa Trindade que é irmã de Nossa Senhora!...” Imaginamos como terá sorrido
interiormente o nosso santo, mas também como terá sofrido na sua solicitude pastoral
e na responsabilidade perante tal entusiasmo e tal ignorância religiosa.
Jesus Cristo definiu-se a si mesmo como aquele “Bom Pastor que dá a vida pelas suas
ovelhas” (Jo 10, 11), exemplo que o Bartolomeu dos Mártires procurou acolher e levar
a peito. Tal como Jesus, também ele sabia que “merecem mais cuidados as que andam
tresmalhadas” (Is 53, 6 e Mt 18, 10-14 e Lc 15, 1-7 e Jo 10, 17). A sua solicitude por
uma justiça equilibrada levava-o a transportar consigo um caderno em que apontava
cuidadosamente os nomes dos que andavam no erro a quem depois chamava um por
um; não gostava de se servir da excomunhão pois lhe parecia duro lançar uma ovelha
fora do rebanho quando, como Pastor, tinha obrigação de procurar com todas as suas
forças que nenhuma se perdesse. Ao mesmo tempo, procurou instruir os mais simples
com palavras adequadas e sobretudo com uma ternura que amolecia os corações mais
empedernidos fossem eles de pessoas com uma vida irregular fossem mesmo alguns
clérigos mais desobedientes. Por isso, nos primeiros meses que esteve em Braga
pregou assiduamente durante o Advento e a Quaresma, além dos Domingos e
principais Festas litúrgicas. A sua pregação era simples, a doutrina clara, para que
todos entendessem. Passava a maior parte do ano nas visitas à vasta Arquidiocese e
destas visitas não o desviavam nem os rigores do Inverno, nem a aspereza dos
caminhos, nem os incómodos da saúde. Celebrava Missa, crismava, pregava,
catequizava, muitas vezes sentado no meio do povo nas serranias. Escrevia aos
Religiosos do Convento de Viana recomendando-lhes que fossem pregar pelas aldeias
aos Domingos e Festas de guarda, confessando e ensinando a doutrina.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Do “Estímulo de Pastores” de Frei Bartolomeu dos Mártires
Estávamos neste mundo cativos e presos com os grilhões do pecado e afeições
carnais; não suspirávamos nem tínhamos saudade dos bens celestiais. Por isso não
podia haver meio mais eficaz para libertar os nossos corações destas cadeias e para
alevantar nossos desejos e amores ao Céu, que o Senhor colocar nele a Sua sagrada
Humanidade... Ora vamos lá, irmãos! Que os membros não se separem da Cabeça,
pois se confessamos que nossa Cabeça está nos Céus, estejam com ela os membros
unidos e pegados pela fé, esperança e caridade, sendo certo que não se juntarão,
depois da morte, com a Cabeça na glória os membros que neste mundo morreram
apartados dela. Subiu o Senhor para que nos preparasse lugar e morada e para ir
abrindo o caminho diante de nós, como o havia dito o Profeta Miqueias. Por isso, da
nossa parte, nada mais é preciso que andar pelo caminho que Ele nos mostrou e
desejar chegar ao lugar em que ele foi morar. Esteja o nosso coração onde está o
nosso tesouro; se o corpo está na terra, a alma, que é águia de Deus, voe para lá. E
não lhe faltam asas, como diz Santo Agostinho, porque para isso te deram
entendimento e vontade; para isso te obrigaram a teres fé e amor, e para isso te
deram dois preceitos de amor a Deus e ao próximo, a fim de que, com duas asas,
voasses para lá. Ora, pois, em quaisquer pedras, de penas e tribulações, em que te
sentires ferido, levanta os olhos da tua alma ao Céu, vê Aquele que está à direita do
Pai, consola-te confiando nele e considerando que o Senhor não subiu a lugar tão
elevado senão depois de muito apedrejado neste mundo, assim como Ele o disse: “Foi
necessário a Cristo padecer muitos tormentos e assim subir à Sua glória”. Nesta
conformidade e confiança respira, consolando-te também com aquelas palavras de S.
João que diz: “Nós temos um Advogado diante do Pai que está nos céus, Nosso Senhor
Jesus Cristo”, porque, enquanto homem, intercede por nós, tanto para nos alcançar
perdão dos nossos pecados, como para nos alcançar a vitória em nossas tentações.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Exortação Apostólica “Evangelii gaudium”, do Papa Francisco
Tanto a acção pastoral como a acção política procuram reunir nesse poliedro o melhor
de cada um. Ali entram os pobres com a sua cultura, os seus projectos e as suas
próprias potencialidades. Até mesmo as pessoas que possam ser criticadas pelos seus
erros, têm algo a oferecer que não se deve perder. É a união dos povos, que, na ordem
universal, conservam a sua própria peculiaridade; é a totalidade das pessoas numa
sociedade que procura um bem comum que verdadeiramente incorpore a todos.
A nós, cristãos, este princípio fala-nos também da totalidade ou integridade do
Evangelho que a Igreja nos transmite e envia a pregar. A sua riqueza plena incorpora
académicos e operários, empresários e artistas, incorpora todos. A «mística popular»
acolhe, a seu modo, o Evangelho inteiro e encarna-o em expressões de oração, de
fraternidade, de justiça, de luta e de festa. A Boa Nova é a alegria dum Pai que não
quer que se perca nenhum dos seus pequeninos. Assim nasce a alegria no Bom Pastor
que encontra a ovelha perdida e a reintegra no seu rebanho. O Evangelho é fermento
que leveda toda a massa e cidade que brilha no cimo do monte, iluminando todos os
povos. O Evangelho possui um critério de totalidade que lhe é intrínseco: não cessa de
ser Boa Nova enquanto não for anunciado a todos, enquanto não fecundar e curar
todas as dimensões do homem, enquanto não unir todos os homens à volta da mesa
do Reino. O todo é superior à parte.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor Jesus, nosso Bom Pastor,
que tiveste compaixão das multidões
que andavam “cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor”
e as instruíeis demoradamente,
concedei à vossa Igreja e aos nossos pastores
a solicitude, sensibilidade, generosidade e competência
de que nos deixou exemplo o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,,
na procura daqueles que se encontram mais desviados do bom caminho,
e no cuidado com aqueles que vivem esquecidos dos compromissos da sua fé,
ou se sentem mais desanimados face ao peso da cruz de todos os dias.
Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
9.º DIA – A VIDA ESPIRITUAL DE BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
Cântico: “Eles receberam a bênção do Senhor” [NRMS, 129, p. 16]
Dissemos já que só um grande exemplo e vida interior podem conferir a alguém a
autoridade moral para corrigir os outros como é missão de um Pastor. Esse foi
certamente o grande argumento da acção pastoral do Bem-Aventurado Bartolomeu
dos Mártires e o que mais profunda memória deixou na vida da Igreja do seu tempo e
como testemunho para os dias de hoje. Conhecemos a importância do exemplo dos
santos na vida espiritual do nosso Arcebispo; sabemos que foi particularmente
marcado pelo caminho espiritual do célebre manual A Imitação de Cristo, sabemos do
exemplo do Apóstolo S. Paulo que, numa das suas Epístolas, confessa que castigava o
seu corpo e o reduzia à servidão para não se vir a condenar, ele que pregava a
salvação aos outros.
Se é assim que fazem os santos, era assim que fazia o Bem-Aventurado Bartolomeu
dos Mártires, numa exemplar vida de ascética ou mortificação. Já o seu espírito de
pobreza e humildade nos dão mostras da sua profunda vida espiritual, mas ele ia mais
longe. A sua vida foi uma constante mortificação; das suas condições de vida e
vestuário já falámos; ora também as suas refeições eram muito pobres: dois ovos, um
pouco de pão e um pouco de vinho misturado com água; em dias de jejum apenas
fruta. Também dormia pouco, tanto ocupado estava com o estudo e a oração,
deitando água nos olhos para se manter desperto, um truque que iniciou na vida
conventual e utilizou toda a vida.
Porém, mais do que a mortificação do corpo, é o amor de Deus que define a perfeição
da alma; é a pureza com que pratica todas as acções e a generosidade com que ele se
dedica ao serviço do Senhor: assim, era grande a sua devoção ao Santíssimo
Sacramento; celebrava com especial recolhimento a Eucaristia e, no Ofício divino, viase que lhe saía da alma o que pronunciava com a boca. Dizia que se devia invocar o
Espirito Santo com fervor e alvoroço. Quando estava nas cerimónias religiosas, se
havia algum intervalo entre uma e outra logo se recolhia consigo e absorvia em
oração. Acontecia, por vezes, que era tal o seu arrebatamento e concentração que não
bastava chamá-lo; era preciso puxarem-lhe pelas vestes para o fazerem voltar a si. De
São Domingos, fundador da sua Ordem, dizia-se que só falava de Deus e só falava com
Deus; foi esse o exemplo que o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires colheu e é
esse exemplo que nós somos convidados a colher dele, dos seus escritos e da memória
que ele deixou na Igreja que agora reconhece os seus méritos de santidade.
De facto, já reconhecido e aclamado como santo pelo povo de Viana do Castelo após a
sua morte, o Papa Gregório XVI declarou-o digno de veneração do povo de Deus em
23 de Março de 1845; João Paulo II, após ter reconhecido o milagre proposto para a
sua beatificação, proclamou-o Bem-Aventurado numa cerimónia realizada em Roma,
no dia 4 de Novembro de 2001, dia do santo do nome do próprio Papa, São Carlos
Borromeu, a quem o Papa, segundo as suas próprias palavras, quis oferecer a prenda
de aniversário, beatificando o seu grande amigo Bartolomeu dos Mártires.
PAI NOSSO, AVE MARIA, GLÓRIA.
Do Catecismo de Frei Bartolomeu
Depois que despires a veste impura e renunciares à vida segundo a carne, imita os que
esgalhavam as árvores e com os ramos nas mãos, glorificavam o Senhor; assim tu
também lança mão dos ramos dos exemplos e excelentes obras de virtudes das altas
árvores de Deus, que são os Santos e pessoas espirituais que Deus mandou ao mundo,
para que, por seus exemplos e doutrinas, sigas a Cristo. Uns são comparados a
oliveiras carregadas de azeitonas, quer dizer, aqueles em que resplandece caridade e
misericórdia, e dos quais diz a divina Escritura: “Estes são os varões de misericórdia,
cujas virtudes ficam em perpétua memória”. Nós, pecadores, colhemos os ramos
destes quando nos esforçamos em cumprir as obras de misericórdia segundo as
nossas possibilidades. Outros são comparados a palmeiras que conservam uma
perpétua verdura e nunca perdem as folhas; assim eles conservam a verdura da
castidade, e são constantes nas virtudes. E assim como a palmeira, no alto é larga e
estreita no pé, assim eles alargam seus corações para as coisas celestiais e eternas,
tomando pouco das coisas terrenas, estreitando-se no seu uso. E quando nisto os
imitamos, colhemos ramos de palma para honrar ao Senhor. Outros Santos são
comparados aos ciprestes que, direitos e altos se levantam ao céu. Por isso, com razão
os devotos e contemplativos das grandezas de Deus e mistérios divinos são
simbolizados nos ciprestes e nós, baixos e terrenos, que não podemos voar tão alto,
de alguma maneira, os arremedamos, colhendo seus ramos quando fazemos alguma
oração devota e nos ocupamos em meditar e considerar, segundo a nossa fraqueza, a
Paixão e os outros mistérios do nosso Redentor. Finalmente, quando nos ocupamos
em louvar e dar graças a Deus de todo o coração, por Seus infinitos benefícios,
fazemos como aqueles que, ao participar deles, com grandes clamores, diziam:
“Bendito é aquele que vem em nome do Senhor! Salva-nos, Senhor, nas alturas do
Céu!”. Assim nós, fazendo pouco caso da vida e saúde da carne, peçamos e
procuremos continuamente, a eterna saúde e salvação da nossa alma.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
Da Carta Apostólica “Novo Millenio inneunte” de João Paulo II
Se o Baptismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em
Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma
vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial.
Perguntar a um catecúmeno: “Queres receber o Baptismo?” significa ao mesmo tempo
pedir-lhe: “Queres fazer-te santo?” Significa colocar na sua estrada o radicalismo do
Sermão da Montanha: ”Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5,48).
Como explicou o Concílio Vaticano II, este ideal de perfeição não deve ser objecto de
equívoco vendo nele um caminho extraordinário, apenas acessível a algum génio da
santidade. Os caminhos da santidade são variados e apropriados à vocação de cada
um. Agradeço ao Senhor por me ter concedido, nestes anos, beatificar e canonizar
muitos cristãos, entre os quais numerosos leigos que se santificaram nas condições
ordinárias da vida. É hora de propor de novo a todos, com convicção, esta medida alta
da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve
apontar nesta direcção. Mas é claro também que os percursos da santidade são
pessoais e exigem uma verdadeira e própria pedagogia da santidade, capaz de se
adaptar ao ritmo dos indivíduos; deverá integrar as riquezas da proposta lançada a
todos com as formas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo e as formas mais
recentes oferecidas pelas associações e movimentos reconhecidos pela Igreja.
PAI NOSSO, AVÉ MARIA, GLÓRIA
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus,
abri os nossos corações para as coisas celestiais e eternas,
através do exemplo de vida interior dos vossos santos e eleitos,
a fim de que, seguindo hoje os caminhos apontados pelo Santo Arcebispo,
o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
também nós, fazendo pouco caso da vida e saúde da carne,
peçamos e procuremos continuamente,
a eterna saúde e salvação da nossa alma.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
IV – ORAÇÃO CONCLUSIVA
Senhor Jesus, nosso Bom Pastor,
que destes aos vossos discípulos o exemplo de humildade e ardente caridade,
e dele fizestes participar, de um modo especial,
o Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
numa dedicação desinteressada aos pobres e mais desprotegidos,
e lhe inspirastes um particular zelo pastoral
que o levou, por montes e vales, a percorrer a sua grande Diocese,
concedei-nos a graça… [ pode-se apresentar um pedido em concreto ]
que vos pedimos para a sua Canonização,
a fim de que o seu exemplo estimule à caridade
os fiéis do mundo inteiro
e a sua intercessão nos alcance
a comunhão convosco.
Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
V – INVOCAÇÃO E DESPEDIDA
V:/ O Senhor nos abençoe, nos livre de todo o mal e nos conduza à vida eterna.
R:/ Ámen.
V:/ Bendigamos ao Senhor
R:/ Graças a Deus.
VI – CÂNTICO FINAL
BEATO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
ANTÍFONA DE ENTRADA
(Ez 34, 11.23.24 e Jer 3, 15)
Eu cuidarei das minhas ovelhas, diz o Senhor.
Escolherei um pastor que as apascente.
Eu, o Senhor, serei o seu Deus.
Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração,
Eles vos apascentarão com sabedoria e inteligência.
INTRODUÇÃO AO ESPÍRITO DA CELEBRAÇÃO
Mesmo que a celebração da Eucaristia recorde o “dies natalis”, quer dizer, o dia do nascimento para o céu de
qualquer santo, é nas comemorações do quinto centenário do nascimento para este mundo do BemAventurado Bartolomeu dos Mártires que se integra a celebração em que nos encontramos. Nascido na
paróquia dos Mártires, na cidade de Lisboa, a 3 de Maio de 1514, Bartolomeu Fernandes do Vale, haveria de
assumir na sua vida e acção apostólica e passar para a História com o nome de Bartolomeu dos Mártires: dos
mártires pela sua dentificação com a paixão e morte do Senhor a exemplo das suas primeiras testemunhas que
o confessaram com o sangue; mártir na consagração da sua vida ao estudo, à reflexão e ao ensino da teologia;
mártir por ter consumido as suas energias até ao esgotamento na dedicação à Diocese de Braga então com
uma área que englobava toda a região mais a norte de Portugal, visitando e ensinando o povo mais simples,
marcado por uma fé tão vive e espontânea quento rude; mártir pela consagração dos tempos finais da sua vida
à contemplação e oração no convento de Santa Cruz (hoje São Domingos) em Viana do Castelo, onde viria a
falecer no dia 16 de Julho de 1590. No dia 4 de Novembro de 2001, o Papa João Paulo II procedia à sua
beatificação, oferecendo como prenda ao santo do seu nome, São Carlos Borromeu, no respectivo dia litúrgico,
a beatificação daquele que fora seu grande amigo e companheiro de lutas na reforma da Igreja. Por
coincidência, neste ano centenário do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires foi canonizado o próprio João
Paulo II.
ACTO PENITENCIAL
ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que dotastes de grande caridade apostólica
o bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires,
protegei sempre a vossa Igreja
de modo que, assim como ele foi glorioso na sua solicitude pastoral,
também nós sejamos, pela sua intercessão,
sempre fervorosos no vosso amor.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
LEITURA (1 Cor 9, 16-19.22-23)
«Ai de mim se não evangelizar!»
O desafio ao anúncio do Evangelho de que nos fala São Paulo foi claramente compreendido e assumido por
Bartolomeu dos Mártires: não só passou muito do seu tempo a pregar ao povo simples, “tornando-se fraco
com os fracos”, mas também criou as condições para uma eficaz evangelização, garantindo a fiabilidade da
doutrina pela elaboração do Catecismo e promovendo uma dinâmica de evangelização e liturgia, apostando na
formação do clero com a criação dos Seminários.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória,
é uma obrigação que me foi imposta.
Ai de mim se não anunciar o Evangelho!
Se o fizesse por minha iniciativa,
teria direito a recompensa.
Mas, como não o faço por minha iniciativa,
desempenho apenas um cargo que me está confiado.
Em que consiste, então, a minha recompensa?
Em anunciar gratuitamente o Evangelho,
sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere.
Livre como sou em relação a todos,
de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível.
Com os fracos tornei-me fraco,
a fim de ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para todos,
a fim de ganhar alguns a todo o custo.
E tudo faço por causa do Evangelho,
para me tornar participante dos seus bens.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 39 (40), 2 e 4ab.7-8a.8b-9.10 e 11bd (R. 8a e 9a)
Refrão: Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.
Esperei no Senhor com toda a confiança
e Ele atendeu-me.
Pôs em meus lábios um cântico novo,
um hino de louvor ao nosso Deus.
Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações,
mas abristes-me os ouvidos.
Não pedistes holocaustos nem expiações;
então clamei: «Aqui estou!”
De mim está escrito no livro da Lei
que faça a vossa vontade.
Assim o quero, ó meu Deus,
a vossa Lei está no meu coração».
Proclamei a justiça na grande assembleia,
não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.
Proclamei a vossa fidelidade e salvação
no meio da grande assembleia.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Jesus percorria todas as cidades e aldeias,
Proclamando o Evangelho do Reino.
EVANGELHO (Mt 9, 35-38)
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos».
Quantas vezes não terá pensado nas palavras deste Evangelho ao calcorrear as aldeias da sua extensa diocese,
confrontado com a ignorância do povo, com a insensibilidade do clero desse tempo, mas também com a avidez
de saber e a pureza e simplicidade de fé das gentes o Minho e Trás-os-Montes!... Bartolomeu dos Mártires
legou-nos a imagem de alguém “cheio de compaixão pelas ovelhas cansadas e abatidas” mas certamente alvo
especial da ternura de Deus que o enviava à procura das perdidas e ao encontro das que conhecia e chamava
pelo nome.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
Jesus percorria todas as cidades e aldeias,
ensinando nas sinagogas,
pregando o Evangelho do reino
e curando todas as doenças e enfermidades.
Ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão,
porque andavam fatigadas e abatidas,
como ovelhas sem pastor.
Jesus disse então aos seus discípulos:
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Pedi ao Senhor da seara
que mande trabalhadores para a sua seara».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO UNIVERSAL
Irmãos e irmãs:
Oremos a Jesus Cristo, o Bom Pastor, para que dê pastores santos à sua Igreja e nos guie
nos caminhos da verdade, dizendo:
R. Guiai-nos, Senhor, no caminho da vida.
1. Pela Igreja una, santa e apostólica, que o Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires amou
com inigualável fervor e serviu com a sua palavra e zelo apostólico, para que se deixe
conduzir pela acção sempre renovadora que o Espírito Santo nela inspira por meio dos
santos pastores, oremos, irmãos.
2. Pelo Papa Francisco, para que não esmoreça nos seus propósitos de restituir à Igreja a
verdadeira identidade de rosto de Cristo, particularmente presente nos mais pobres, e se
sinta estimulado pela colaboração e solidariedade de todos aqueles que se um dia
comprometeram a servir Jesus na “grande seara” da causa do Evangelho, oremos, irmãos.
3. Pelo nosso Bispo, Anacleto para que, a exemplo do Beato Bartolomeu dos Mártires, seja
“o sol da sua diocese, homem todo a arder em zelo, votado inteiramente à conquista das
almas para Cristo, a pregar sempre com o seu exemplo e frequentemente com a sua
palavra”, oremos, irmãos.
4. Por todos os fiéis da nossa Diocese para que, receptivos à acção e exemplo dos seus
Pastores, consigam encontrar-se com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e tenham a
coragem de O seguir nas mais variadas circunstâncias da sua vida, dando testemunho da sua
presença no mundo em que vivem, oremos, irmãos.
5. Por aqueles que tendo acolhido a luz do Evangelho, a deixaram ofuscar pelos cuidados do
mundo, e agora se encontram “cansados e abatidos”, para que o exemplo do “Arcebispo
Santo” os ajude a encontrar, no desprendimento das coisas terrenas, o jugo suave e o
caminho que os conduz ao verdadeiro tesouro indicado pelos santos, na imitação de Jesus
Cristo, pobre, humilde e servo, oremos, irmãos.
6. Por todos aqueles que se dedicam à causa da Evangelização para que sejam expressão de
uma Igreja disponível, que parte ao encontro dos outros, e “tornando-se fracos com os
fracos”, a todos transmitam a força que a “alegria do Evangelho” concede aos que o vivem e
amam, oremos, irmãos.
7. Pelos membros desta assembleia que celebra, neste dia, os louvores do Bem-Aventurado
Bartolomeu dos Mártires, para que saiba descobrir na Palavra de Deus, a luz das suas vidas,
e acolher nos Sacramentos, o força e o calor que a ternura de Deus, por meio deles, oferece
a cada um de nós, oremos, irmãos.
Senhor nosso Deus, fonte de toda a sabedoria e rico de misericórdia, que glorificastes o
Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires, e nos dais hoje a alegria de celebrar os méritos
deste nosso Pastor, escutai, com bondade, as súplicas que vos dirigimos, e concedei-nos a
graça de seguir os seus exemplos de vida e fervor apostólico. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ámen.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Olhai, Senhor,
para os dons que trazemos ao vosso altar,
ao celebrarmos a memória
do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
pastor vigilante e exemplo admirável de santidade,
e, pela virtude deste sacrifício,
dai-nos a graça de produzir abundantes frutos de boas obras.
Por Cristo, nosso Senhor.
Ámen.
Prefácio do Comum dos Pastores da Igreja
ANTÍFONA DA COMUNHÃO
(Jo 10, 10)
Eu vim para que tenham vida
e a tenham em abundância, diz o Senhor.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Nós Vos pedimos, Deus omnipotente,
que a participação na mesa celeste,
ao celebrarmos a memória do Bem-Aventurado Bartolomeu dos Mártires,
confirme e aumente em nós o poder da vossa graça,
para que, observando os seus ensinamentos,
conservemos intacto o dom da fé
e sigamos fielmente o caminho da salvação.
Por Cristo, nosso Senhor.
Ámen.
PROPOSTA MUSICAL
A – MISSA DA MEMÓRIA DO BEATO BARTOLOMEU
1. Entrada: “Eu cuidarei das minhas ovelhas”
2. Salmo Responsorial: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade”
3. Comunhão: “Eu vim para que tenham vida”
4. Final: Hino ao Beato Bartolomeu dos Mártires
B – Para a Liturgia das Horas poderá usar-se o Ofício do Comum do Pastores (A Igreja
Canta, p. 780-784)
C – Outros Salmos Responsoriais poderão ser procurados nas colectâneas conhecidas.
D – Propostas, para várias situações, mas sempre no contexto da doutrina ou da vida do Beato
Bartolomeu dos Mártires, como:
1. “Brilhe a vossa luz diante dos homens” (NRMS, n. 63, e A Igreja Canta, p. 610)
2. “Os povos proclamam a sabedoria… ” (NRMS, n. 59, e A Igreja Canta, p. 619)
3. “Porque Deus quis que fossem seus Pastores” (NRMS, n. 69, e A Igreja Canta, p. 610)
4. “Eu vim para que tenham vida” (NRMS, n. 70, e A Igreja Canta, p. 380)
5. “Em Vós. Senhor, está a fonte da vida” (NRMS, n. 67, e A Igreja Canta, p. 371)
6. “Aproximai-vos do Senhor” (Novo Cantemos Todos, p. 383)
7. “A sua mensagem estendeu-se” (Novo Cantemos Todos, n. 328)
8. “Que belos são…” (Cantemos Todos, n. 974)
E – Acrescentamos neste Manual:
1. O Hino ao Beato Bartolomeu dos Mártires. Pode ser cantado apenas a uma voz.
Disponível uma versão com acompanhamento de Órgão ou instrumentado para Banda
Filarmónica. Pode ser pedido por e-mail: [ [email protected] ]
2. O Cântico de Entrada da Missa própria do dia do Beato Bartolomeu dos Mártires.
Disponível, a pedido, o respectivo acompanhamento e uma versão para Coro.
3. O Salmo Responsorial da mesma Missa
4. Um cântico, ao gosto popular, que pode ser cantado na Novena: Prece a Bartolomeu
dos Mártires. Disponível, a pedido, o respectivo acompanhamento.
MÚSICAS
BEATO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
Cântico de Entrada
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
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 
 
  
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   
 
  
ção;
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-
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-
a - pas - cen - ta -
te - li
gên -
rão com sa - be - do
cia,
Eu
cui - da
-
-
SALMO RESPONSORIAL
Salmo 39 (40)
2 « 3 ««ˆ« «« . «« 2 « 3 œ»
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Manuel Luis
Eu
ve - nho,
Se -
nhor,
pa - ra
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ˆ« j
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&
Esperei no Senhor com to -
da a con -
fi
- an - ça
«« Jœ œ» œ»
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& W
ˆ« j
E Ele
a - ten - deu - me;
Pôs em meus lábios um
cân - ti - co
no - vo
ao
Deus
W
Jœ»» Jœ»» Jœ» Jœ»» »»˙
» » »» » » =”
======================
&
Um hino de lou -
Não vos agradaram sacrifícios nem oblações
Mas abristes-me os ouvidos
Não pedistes holocaustos nem expiações
Então clamei: "Aqui estou!"
De mim está escrito no Livro da Lei
Que faça a vossa vontade;
Assim o quero, ó meu Deus
A vossa Lei está no meu coração
Proclamei a justiça na grande assembleia
Não fechei os lábios, Senhor, bem o sabeis;
Proclamei a vossa fidelidade e salvação
No meio da grande assembleia
vor
nos - so
CÂNTICO DA COMUNHÃO
Eu vim para que tenham vida
Fernandes da Silva





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       
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
         
    
       
  




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



 

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



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
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
 
 
     



Eu
vim
pa - ra que
te - nham
vi - da
e
a
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 
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 
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
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       
te - nham em a - bun -
dân
  

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 
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ra que te - nham
dân -
vi - da
-
cia;
e
Eu
a
te -
vim
nham em
pa -
a - bun -
cia.

    
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



    

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
   

 



    






Louva minha al -
Louvarei o Senhor to -
ma
o
Se - nhor,
da a mi - nha
Feliz o que tem por auxílio o Deus de Jacob
O que põe sua confiança no Senhor seu Deus
Que fez o céu e a terra
O mar e quanto neles existe
Eternamente fiel à Sua palavra
Faz justiça aos oprimidos / e dá pão aos que têm fome
O Senhor dá liberdade aos cativos
O Senhor dá vista aos cegos
O Senhor levanta os abatidos
O Senhor ama os justos
O Senhor protege os peregrinos
Ampara o órfão e a viúva / e entrava o caminho aos pecadores
vi -
da.
AO BEATO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES
( 1514 - Centenário do Nascimento - 2014 )
Letra: Joaquim Gonçalves
(reelaborada)
Música: Jorge Alves Barbosa
 
 

 
 
 

















 
 



 
 
 
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 
 

 Pas - tor des - as - som- bra - do e des - te 
  


  

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
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

 
 
 


mi do,
Nem ho- mens nem dis - tân - ci as te - meu;
Do







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 
  
       

 
 
 
    
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  

 
      

   

 
Andante Moderato
Mi - nho e Trás - os - Mon - tes re - u -
ni
-
dos,
Al - dei - as
e
ci - da -
des per - cor -
  

   
 
   
  








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 
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




 

 
 
  



reu.
to
le - va o

 Dos Már - ti - res de Cris
 
     

   







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





 

 


 
 
 
  

Dos Már - ti - res de
Cris
to
le - va o
 
  
  

  













  

Bem
 
a - ven - tu ra do
 

  
 

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

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

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
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
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




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






 




REFRÃO
S
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Bem
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a - ven - tu
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ra
-
do
       

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 
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

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
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

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

 









  






no - me,
Ne- le re - ful - ge a luz
que a fé lhe deu;
Ser - vin - do os

  
 
 
 
   
 
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

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
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
   
 





 






 

no - me,
Ne- le re - ful - ge a luz
que a fé lhe deu;
Ser - vin - do os
 
      

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

























      





 
 

       



Bar - to - lo - meu
dos Már
ti - res
Ar - ce - bis - po San - to!
 
 
   
  






























 
   
  



Bar - to - lo - meu
dos
Már - ti - res,
Ar - ce - bis - po San
-
to!



.   
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
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
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
 


    

No céu, ve - la por nós,
Bar- to - lo  po - bres, ar - de e se con - so - me,
   


  
       
   
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

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
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

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 
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
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 
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me, No céu, ve - la por nós,
Bar- to - lo  po - bres,  ar - de e se con - so     
     
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
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
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  
      
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 
Ser - vin - do os po bres, ar- de e se con - so - me, No céu, ve - la por nós, Bar- to - lo 
  
              
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

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 
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        
 
  
 

  
 
 

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
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  
    
 
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    . 
  

   
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
  
 
  
meu.  No
céu,
ve - la por
nós, Bar - to lo - meu.

    

  
 

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
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  

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

   
 
 






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  
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    
  



 
meu.  No
céu,
ve - la por
nós, Bar
to lo- meu.

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
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    

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
 

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







   





   


meu.  No
céu,
ve - la por
nós, Bar - to - lo meu.
Ser -vin - do os po - bres se con- so - me e No
1
céu, ve - la por nós, Bar- to - lo -
2
Pastor desassombrado e destemido,
Nem homens nem distâncias temeu;
Do Minho e Trás-os-Montes reunidos
Aldeias e cidades percorreu.
Como em Natanael da Galileia,
Não houve em sua vida fingimento
Pregando ao povo simples, numa aldeia
Ou discursando no Concílio, em Trento
Dos Mártires de Cristo leva o nome
Nele refulge a luz que a fé lhe deu;
Servindo os pobres, arde e se consome;
No céu, vela por nós, Bartolomeu.
3
Como bom pai de família geria
Os bens da sua Igreja - os dons de Deus;
Abriu escolas de sabedoria
E os pobres eram os amigos seus.
5
Arauto da Verdade e do Amor
Ao seu rebanho deixou sã doutrina;
Vela por nós agora o Bom Pastor,
Ovelhas desta Igreja peregrina.
4
Com ágil pena, os Salmos comentando,
Do Pai que está nos céus cantou louvores;
Sábias sentenças 'inda vão jorrando
Do Catecismo e Estím'lo de Pastores.
6
Na Igreja, ficou imortal memória
No coração do povo, um suave canto
Que se ergue aos céus e proclama a glória
E a eterna vida do Arcebispo Santo.
PRECE
ao Beato Bartolomeu dos Mártires
Moreira das Neves
Jorge Alves Barbosa
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2. Por - tu - gal vos im
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Már- ti - res,
De - pois
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pie - do - sa -
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so o vos - so e -
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var - mos;
xem - plo,
A - qui nos
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que na
Por - que es - tais nos
gló - ria de al - gum
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céus,
di
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a,
che - ga - do o mo - men -
To - do o mun - do vos
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to de a - joe -
lhar - mos
te em ca - da
tem -
plo.
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po - vo que se
çais, nun - ca
lan - ça a vos - sos
vos
pés
es - que - çais de que sois
Nun - ca
por - tu -
vos
guês!
es - que -