50 Anos de Serviço com os Migrantes

Transcrição

50 Anos de Serviço com os Migrantes
Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
50 Anos de Serviço com os
Migrantes
PARÓQUIA DA POMPÉIA - MISSÃO SCALABRINIANA
(1959 -2009)
Jurandir Zamberlam
Lauro Bocchi
Giovanni Corso
Joaquim Filippin
Porto Alegre
2009
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50 anos de serviço com migrantes
50 anos com os migrantes - Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
./Jurandir Zamberlam, Giovanni Corso, Joaquim R Filippin, Lauro Bocchi.
Porto Alegre. Sólidus, 2009. 121 p.
1. História. 2.Migração.3.Imigração.4.Emigração. 5.Mobilidade Humana.I. Zamberlam, Jurandir.-II.Bocchi, Lauro. -III Corso, Giovanni.-IV.Filippin,
Joaquim.- V. Título.
CDU 312:25(816.5)
Capa: Mauro P. Pacheco
Diagramação: Eduardo Geremia
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO / 07
INTRODUÇÃO / 09
1. RAÍZES DA MISSÃO SCALABRINIANA NA PARÓQUIA NOSSA SENHORA
DO ROSÁRIO DE POMPÉIA EM PORTO ALEGRE / 11
Introdução / 11
Scalabrini, missionário / 12
Scalabrini, peregrino e fundador / 14
O grito do migrante no mundo / 16
O Brasil frente aos novos imigrantes / 17
O Serviço Social da PUC-RS / 19
O apelo da Igreja / 20
Conclusão / 22
2. OS PRIMEIROS PASSOS DA MISSÃO SCALABRINIANA NO CENTRO DE
PORTO ALEGRE - DÉCADAS DE 1950 e 1960 / 23
Introdução / 23
Missa para a comunidade de italianos / 24
Definição do local para a construção do Centro de Atendimento ao Migrante
/ 24
Estatuto Social do Novo Centro de Atendimento ao Migrante / 26
Transferência de sacerdotes / 27
A criação da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia / 28
O envolvimento das famílias italianas / 29
A postura inicial de superiores e a ampliação da equipe do CIBAI / 30
Boletins do CIBAI - jeito popular de comunicação / 31
Início das obras / 31
A contribuição do grupo de Senhoras Amigas das Obras dos Carlistas / 32
Galpão rústico / 33
Primeira missa solene na nova Igreja / 34
O trabalho pastoral na década de 60 / 34
Assistência social / 35
A verdadeira missão do CIBAI / 36
3. A DÉCADA DE 70 - MOVIMENTOS ESPIRITUAIS PREDOMINAM NO ATENDIMENTO DA POMPEIA / 39
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50 anos de serviço com migrantes
O novo pároco dos italianos e o serviço aos movimentos / 39
A convocação do Concílio Vaticano II / 40
A criação do CEPAM - Centro de Estudos da Pastoral Migratória / 42
O leque de serviços pastorais e a minimização da pastoral específica / 43
Os 25 Anos do CIBAI / 44
Avaliação da Pompéia / 44
O chamado de outras categorias de migrantes / 45
1980 - o Ano das Migrações / 45
O CIBAI visto por um migrante / 46
A auto avaliação do pároco / 46
Um Papa na Pompéia / 47
A conclusão das obras do Centro de Atendimento ao Migrante / 48
Os primeiros contatos com os hispano-americanos / 48
4. DÉCADA DE 1980 - ABERTURA PARA AS NOVAS MIGRAÇÕES / 49
A revitalização do CARISMA com novos serviços aos migrantes / 49
O atendimento aos hispano-americanos / 50
O testemunho do pároco / 51
A nova dinâmica - problemas e desafios / 52
Rita Bonassi e el Rincón de los Latino-americanos / 52
Imigrantes Latino-Americanos na grande Porto Alegre / 53
Metodologia e práticas pastorais com os migrantes / 55
A alegria e a coragem do serviço / 57
As anistias da década de 80 e o impacto no trabalho do CIBAI/Pompéia/ 57
O CIBAI enquadrado pela Polícia Federal / 58
O trabalho do CIBAI com presos estrangeiros / 60
Canta América sin Fronteras / 60
Emigrante ayuda a emigrante / 62
Imigrantes do interior / 62
5. A DÉCADA DE 1990 - A DIVERSIDADE INTERCULTURAL / 65
A retomada da caminhada, novos atores e questionamentos / 65
Novas obras / 66
Novos questionamentos e propostas / 66
Novas transferências / 67
Um Plano de Pastoral / 67
Inserção cultural / 69
As confraternizações dos grupos de italianos / 70
Refugiados e nova anistia / 71
Casa de Acolhida de imigrantes / 72
Memória dos imigrantes / 73
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
A retomada da pastoral com os italianos / 75
Missão popular com os imigrantes latino-americanos / 76
6. DÉCADA DE 2000 - ARTICULAÇÃO DO SERVIÇO COM REDES SOCIAIS E
INSTITUIÇÕES / 77
Primeiros passos da nova década / 78
Mulheres e a Pastoral Social do CIBAI / 79
Gente nova: novos rumos? / 79
As tradicionais dificuldades de ser uma Paróquia pessoal / 80
Articulações em rede no campo político / 81
Seminários e I Fórum Social das Migrações / 82
O trabalho junto às universidades / 83
Missa do migrante na Igreja Mãe / 84
Atendimento aos italianos e os programas radiofônicos semanais / 85
Pesquisas na área da Mobilidade Humana / 85
Leigos Scalabrinianos na Paróquia da Pompéia / 88
A missão de Florianópolis / 89
A missão no Porto de Rio Grande-RS / 90
7. O CIBAI E A POMPÉIA NA VISÃO DOS PESQUISADORES / 91
Introdução / 91
O CIBAI e a Pompéia para os migrantes / 92
Quem é o CIBAI e a Pompéia na visão dos padres / 92
A comunicação escrita do CIBAI/ Pompéia aos migrantes / 94
8. DESAFIOS PARA A CONTINUIDADE DA MISSÃO DA POMPÉIA E CIBAI / 97
ANEXO I - RECONHECIMENTO / 99
Às mulheres que prestaram serviço na Pompéia/CIBAI / 99
Aos voluntários estrangeiros que atuaram no CIBAI / 101
Aos serviços prestados como instituição a favor dos migrantes / 101
ANEXO II - EFEMÉRIDES / 103
ANEXO III - PADRES QUE TRABALHARAM NA POMPÉIA / CIBAI / 117
ANEXO IV - FOTOS / 119
Referências Bibliográficas / 121
Os Autores / 124
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
APRESENTAÇÃO
Pompéia: a casa do bom samaritano
"... Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto do homem, viu, e moveu-se de
compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia
seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao dono da pensão, recomendando:"Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que tiveres gasto a mais...". (Lc. 10, 33-35).
São 50 anos de dedicação e amor. Poder-se-ia ter feito mais, sim. Mas neste
momento de festa, queremos apenas lembrar o bem realizado. Não para buscar
glórias. Recordemos o Evangelho, fizemos apenas o que devíamos fazer.
Nestes 50 anos a Pompéia foi a "hospedaria" da passagem evangélica do bom
samaritano. Os leigos, as missionárias seculares, as irmãs scalabrinianas, os
coirmãos sacerdotes missionários e os próprios migrantes foram a mão de Deus
que se estendeu a milhares de migrantes. Para os migrantes, a Pompéia, nas pessoas que aqui trabalharam, foi o doce perfume da acolhida de Deus a restituir-lhes
dignidade, humanidade, cidadania e espiritualidade. Quantos migrantes sentiram
a Pompéia como a casa onde puderam conseguir seus documentos e assim sentirse "gente como os demais".
Os rostos dos migrantes mudaram seguindo o rumo histórico das migrações:
italianos, latino-americanos, orientais, e agora africanos. Os anos passam, as pessoas passam, mas a obra permanece e a caridade e o carisma scalabriniano vão se
inserindo na caminhada. Como dizia o Bem-aventurado Scalabrini: "o amor é
sempre jovem!". Que a Igreja da Pompéia siga sempre sendo identificada como a
"igreja dos migrantes"! Que mais bela identificação poderia servir para os missionários scalabrinianos?!
Aos sacerdotes scalabrinianos que doaram sua vida nesta obra do evangelho,
um agradecimento por tudo. Que o Espírito Santo mantenha vivo o carisma doado à Igreja e à sociedade através da pessoa do Bem-aventurado Scalabrini. Que os
migrantes tenham na igreja da Pompéia um lugar onde possam experimentar a
mão amorosa de Deus, a cura das feridas da nostalgia de sua terra, da solidão, do
desterro, da falta de documentos. Que cada migrante sinta que a Pompéia é a sua
casa. Um pequeno canto da Jerusalém celeste, mãe de todos os povos e culturas. A
Mãe Maria, N. Sra. de Pompéia acompanhe a todos no migrar da vida, rumo à
Pátria Celeste.
Pe. Adilson Pedro Busin, cs
Superior Provincial
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
INTRODUÇÃO
A reflexão que se tenta elaborar neste livro, partindo de dados escritos e
de testemunhos orais, é somente um gesto de homenagem aos atores (padres, religiosas, Amigos da Pompéia, voluntários, funcionários e migrantes),
que construíram a caminhada dos 50 anos da Pompéia. Não se pretende dar
a explicação final, pois interpretar a vida é sempre difícil por ser um ponto
de vista que colhe aspectos sem conseguir abraçar todo o processo. Antes
de tudo se quer ressaltar o fio condutor que fica como ponto de referência
constante: caminhar com os migrantes, servir os migrantes, ser migrante.
A história real fala muito mais do que o nosso relato. Mas com ele gostaríamos que todos os que fizeram e fazem parte desta caminhada pudessem sentir-se provocados com o próprio testemunho a tornar-se sempre
mais identificados com o carisma de Scalabrini no serviço aos migrantes e
construindo, assim a história da Pompéia em seu futuro.
Ao longo desta leitura encontrarás frequentemente a referência
"Pompeia/CIBAI Migrações" com sentido equivalente. Na verdade como
a pessoa humana tem corpo e alma, assim também acontece com esta entidade missionária a serviço dos Migrantes. De modo que a Pompéia é a
alma, pois compreende a dimensão religioso-espiritual e engloba a Paróquia Pessoal dos Imigrantes Italianos e a Missão com cura de almas dos
Imigrantes de todas as demais etnias. Por sua vez o CIBAI-Migrações é o
corpo desta obra, pois compreende a dimensão jurídica e social da mesma.
De fato o CIBAI ganhou personalidade jurídica em 16 de abril de l958 e em
30 de dezembro de 1959 foi criada a Paróquia da Pompéia cujo
cinquentenário estamos celebrando.
Convidamos a ler com os olhos e o coração voltados para a realidade
migratória de nossos tempos que nos propõe o desafio de sermos construtores de novas relações - culturais, sociais, políticas, jurídicas e religiosas na caminhada da humanidade por um novo mundo que todos sonhamos.
Os Autores
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
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RAÍZES DA MISSÃO SCALABRINIANA NA
PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE
POMPÉIA EM PORTO ALEGRE
Migram as sementes nas asas dos ventos.
Migram as plantas de continente a continente.
Migram as águas, os pássaros e os animais.
Migra o homem, ora em forma coletiva, ora isolada,
mas sempre instrumento da Providência que preside e
guia os destinos humanos, também através de catástrofes, para a meta, que é o aperfeiçoamento do homem,
sobre a terra e a glória de Deus nos céus.
(SCALABRINI)
Introdução
Celebrar o cinquentário da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de
Pompéia é resgatar as raízes de uma história que continua: servir aos
migrantes.
A Pompéia é uma paróquia diferente das outras: não tem território, mas
responde a necessidade de atender os imigrantes italianos que afluíam, aos
milhares, após a 2ª Guerra Mundial, dando continuidade àquele fluxo do
século anterior que tinha levado João Batista Scalabrini, bispo de Piacenza,
a fundar as Congregações dos Missionários de São Carlos (1887) e as
Missionárias de São Carlos (1895). O Código de Direito Canônico, cânone
5181 , contempla a possibilidade de criar paróquias pessoais, sem território,
para atender necessidades específicas.
Scalabrini, antes de morrer em 1905, tinha enviado à Sagrada Congre-
1 Diz o cânone 518:"Por via de regra a paróquia seja territorial, isto é, seja tal que
compreenda todos os fiéis de um determinado território; onde, porém, for conveniente,
constituam-se paróquias pessoais, em razão de rito, língua, nacionalidade dos fiéis de um
território, e também por outra razão determinada".
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gação Consistorial um pró-memória2 , fruto da sua viagem à América Latina. Anos depois (1914) a semente lançada germina com a instituição do
"Dia Mundial do Migrante" e em 1952 o Papa Pio XII publica a Exsul
Família, tratando explicitamente do tema das migrações como fenômeno a
ser imediatamente atendido por toda a Igreja Católica.
A Conferência Nacional dos Bispos, recém criada, acolhe o apelo do
Papa e, pela liderança de Dom Helder Câmara, cria, em 1952, a Comissão
Católica Nacional de Imigração. A Província Eclesiástica do Rio Grande
do Sul funda então o Secretariado Católico de Imigração (1953) para servir
os imigrantes que estavam chegando.
Scalabrini, missionário
Os apelos "silenciosos" dos que não têm voz podem se transformar em
grandes gritos para os ouvidos e coração de pessoas dedicadas ao serviço
de Deus nos irmãos. É o que aconteceu com João Batista Scalabrini diante
da gritante realidade migratória do século XIX3 .
Scalabrini nasceu, em 8 de julho de 1839, no século das grandes convulsões sociais e do progresso irresistível que sugava o sangue de grandes
massas de trabalhadores, verdadeiros construtores daquele progresso, que
os explorava em seus direitos básicos. Desejava ser missionário e o foi na
sua Itália, escutando a voz das operárias de tecelagem na sua paróquia de
COMO, dos doentes, das crianças e dos jovens. Depois, como bispo, ouve
o silêncio dos que partiam para longe, para as "Américas", à procura da
fortuna. A carta de um emigrante, recebida numa visita pastoral, resumia o
drama dos emigrantes: rubare o emigrare" (roubar ou emigrar).
2 O Pró-memória é uma proposta de organização e serviço pastoral de toda a Igreja aos
migrantes.
3 Fontes do relato: Cibai Migrações - uma obra da Congregação Scalabriniana. Porto
Alegre, 1993. RIZZARDO, Redovino. João Batista Scalabrini - Apóstolo dos Migrantes,
Porto Alegre, 2008
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EUROPA -1850 a 1900 - cerca de 60 milhões de europeus deixaram seus lares e
sua pátria em busca de melhores condições de vida.
ITÁLIA - durante o episcopado de Scalabrini, 1876 a 1905, emigraram 7 milhões
e 861 mil italianos.
DIOCESE DE PIACENZA, levantamento, pedido por Scalabrini para preparar a
visita pastoral, sobre 390 mil habitantes, 29 mil já tinham emigrado.
Há um texto escrito por Scalabrini, na década de 1880, conhecido como
"A Estação de Milão", onde ele observa a partida de centenas de famílias
emigrantes e descreve a situação daquelas pessoas. Aparece um sério
questionamento: O que fazer?
A Estação de Milão
1º - A capacidade de ler o momento e sensibilizar-se.
Há vários anos, em Milão, fui expectador de uma cena que deixou na alma um
sentimento de profunda tristeza. Passando pela estação, vi a vasta sala, os pórticos
laterais e a praça vizinha tomados por 300 a 400 pessoas, mal vestidas, divididas
em diversos grupos. Em suas faces, sulcadas por rugas precoces, transparecia o
tumulto dos afetos que agitavam seus corações. Eram anciãos curvados pela idade
e pelas fadigas, homens na flor da idade, senhoras que arrastavam os filhinhos atrás
de si ou os carregavam ao colo; meninos e meninas, todos irmanados por um só
pensamento, e guiados à única meta.
Eram emigrantes, chegados das diversas províncias da alta Itália, aguardando
com ansiedade o trepidante trem que os levaria para as margens do Mediterrâneo e
de lá partiriam para a longínqua América, onde esperavam ter fortuna menos hostil
e terra menos ingrata aos seus suores. Partiam, os pobrezinhos: uns chamados pelos
parentes que os haviam precedido no exílio voluntário; e outros, sem saber para
onde, levados por aquele instinto que faz migrar as aves. Iam para a América, de
onde tantas vezes ouviram dizer: lá há trabalho bem remunerado para toda a pessoa
de braços fortes e boa vontade.
Com lágrimas nos olhos, tinham-se despedido do torrão natal, que os ligava a
tantas lembranças agradáveis. Mas sem remorso abandonavam a pátria, já que ela
lhes era conhecida apenas sob duas formas odiosas: o recrutamento militar e a cobrança dos impostos! Pois, para o deserdado, a pátria é a terra que lhe dá o pão;
e lá, bem longe, esperavam encontrar o pão, menos escasso, menos suado.
2º - Questionamentos pessoais e a preocupação com o sentido de transitoriedade da vida pessoal e dos descendentes.
Parti comovido. Uma onda de sentimentos tristes me invadia o coração. Quantos
desenganos, quantas novas dores lhes prepara o futuro incerto! Quantos deles sairão vitoriosos na luta pela existência? Quantos não sucumbirão no burburinho das
cidades ou no silêncio das planícies desertas? E para quantos, mesmo achando o
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pão do corpo, sentirão a falta do pão da alma e perderão numa vida voltada só para
o material, a fé de seus pais?
Desse dia em diante, surpreendi-me muitas vezes com o pensamento voltado
para esses infelizes, e aquela cena relembra sempre outra não menos dolorosa, não
presenciada, mas percebida nas cartas dos amigos e no relacionamento com os
viajantes. Eu os vejo desembarcados em terra estranha, em meio a um povo que fala
uma língua que eles não entendem, vítimas fáceis das explorações desumanas. Vejoos banhar com seus suores e com suas lágrimas, um solo ingrato, uma terra que
exala miasmas pestilentos; alquebrados pelas fadigas, consumidos pela febre, suspiram em vão pelo céu da pátria distante e pela antiga pobreza da casa paterna; e,
finalmente, sucumbem sem a amizade de seus entes queridos que os consolem e
sem a palavra da fé que lhes aponte o prêmio prometido por Deus aos bons e oprimidos. E aqueles que triunfam na rude luta pela existência, ei-los no isolamento,
esquecidos completamente de qualquer princípio sobrenatural e de qualquer preceito da moral cristã, perdendo, dia após dia o sentimento religioso, que já não é
sustentado pelas práticas de piedade, acabam permitindo que os instintos brutais
substituam as aspirações mais elevadas.
Ante tão deplorável estado de coisas perguntei-me frequentemente: Que soluções se deve buscar? (...) Sinto-me humilhado na minha condição de sacerdote e
de italiano e me pergunto novamente: que fazer para socorrê-los?
Scalabrini, peregrino e fundador
Esses acontecimentos levam Scalabrini
a iniciar uma peregrinação para sensibilizar a Igreja, a sociedade italiana e todos os
homens de boa vontade, já que a caridade,
verdadeira trégua de Deus, não conhece partidos e ideologias, para juntos ajudar os que
eram compelidos a sair e elaborar uma legislação para resguardá-los das garras de
agentes recrutadores, pois lhe chegavam relatos dramáticos4 dos que tinham partido.
4 "Diga ao nosso bispo que sempre lembramos dos seus conselhos, que reze por nós e que
nos mande um sacerdote, porque aqui vivemos e morremos como bichos".
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Era necessário agir e de maneira organizada. Além de uma legislação adequada
para um fenômeno novo, Scalabrini compreende que era preciso caminhar com os
migrantes. Ele funda, então, as Congregações dos missionários (1887) e das
missionárias (1895) e a Sociedade São Rafael, empenhando também os leigos5
nessa empreitada. Para Jimenez (2005), a fundação dessas instituições fez com que
Scalabrini evoluísse de uma ação-sócio-caritativo-emergencial, para uma ação sócio-cívico-religiosa libertadora.
Assim, em 18876 , envia os primeiros missionários para o Brasil e Estados Unidos, dando-lhes como única riqueza e força um crucifixo, "companheiro indivisível
de suas peregrinações apostólicas", pedindo que cuidassem do homem todo:
defesa dos direitos dos migrantes, acolhida, hospedagem, catequese, sacramentos,
hospitais, escolas, imprensa e cooperativas.
Em 1904 o Bem-aventurado João Batista Scalabrini esteve em Porto Alegre e
visitou demoradamente os doentes, os profissionais de saúde da Santa Casa e rezou por eles na Capela do Senhor dos Passos.
Assim como os missionários Scalabrini
também se põe a caminho: em 1901 e 1904,
empreendeu duas longas viagens para conviver momentos intensos com os migrantes e
com seus missionários e missionárias respectivamente nos Estados Unidos, no Brasil e Argentina. Viagens difíceis, duras e estafantes,
mas seu grande coração exultava silenciosamente vendo que suas instituições davam certo. E foi nessas viagens que constatou haver
emigrantes de outras nacionalidades tão necessitados quanto os italianos.
Voltando para a Itália, propôs ao Papa Pio
X a formação de uma Comissão para todos os migrantes católicos. Morreu
antes, em 1º de junho de 1905.
5 Em 1896 chegaram ao RS os primeiros missionários scalabrinianos para atender as colônias de italianos.
6 No meio das missões, dentro do espírito scalabriniano, surgiram, em 1961, as Missionárias
Seculares Scalabrinianas.
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50 anos de serviço com migrantes
O grito do migrante no mundo
Fator determinante da presença dos Scalabrinianos na Pompéia foram
os milhares de refugiados e deslocados7 dispersos pela Europa após a Segunda Guerra Mundial. Dá-se início, então, a uma intensa migração caracterizada, por um lado, como uma imigração espontânea, sem nenhum tipo
de auxílio governamental, mas com o apoio de redes8 familiares e de empresas de patrícios, e, por outro lado, subvencionada e dirigida pelo Estado e por Organismos Internacionais.
Existe distinção entre refugiados (classificados como desabrigados e fora de seu
país) e deslocados (os que supostamente tinham um lar), mas ambas as categorias
estavam ameaçados ou sofrendo algum tipo de perseguição, violência generalizada, violação de direitos humanos, guerra, conflitos étnicos, políticos, econômicos e
religiosos. Essa distinção foi uma das várias nuanças introduzidas naquele período
do pós-guerra.
Em 1947 foram criados organismos multilaterais de recolocação desses
trabalhadores, como a OIR - Organização Internacional dos Refugiados, a
UNRAA - Administração de Assistência e Reabilitação das Nações Unidas.
Em 1951 sucede a OIR o CIME - Comitê para Migrações Européias9. Havia
interesses, por parte dos países de destino em processo de industrialização, que
buscavam mão-de-obra qualificada, como o caso do Brasil (PAIVA, 2008).
Diferente da OIR, o CIME ampliou seu trabalho para além da questão
dos refugiados, conforme estabelecem os artigos:
Art. 1º. Os fins e funções do CIME são: a) tomar medidas para o transporte a emigrantes, para os quais os meios de vida são deficientes e que não poderiam, de outra
forma ser transportados de países com excesso de população para países ultramari-
7 O termo "deslocados" é sinônimo de "desplaçados" em português e, em espanhol,
"desplazados".
8 Havia também um movimento de europeus residentes fora da Europa que passaram a
ajudar o CIME em seus países de origem facilitando a emigração.
9 Criado em 1951 por iniciativa dos Estados Unidos e Bélgica, passou a operar em fevereiro de 1952.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
nos que oferecem oportunidade para uma imigração ordenada; b) promover o aumento da emigração da Europa...
Art. 27, parágrafo 1º. - O Comitê cooperará com organizações internacionais, governamentais e não governamentais interessadas na emigração (PAIVA,p. 5, 2008).
De fato o CIME conseguiu a adesão de inúmeras organizações que colaboraram nesse processo. No Brasil se pode citar10 a National Catholic
Welfare Conference, International Catholic Migration Commission 11,
Lutheran World Federation e a International Social Service12 (com escritórios em Porto Alegre e diversas capitais de estados brasileiros).
O Brasil frente aos novos imigrantes
A conjuntura internacional fez com que o Brasil modificasse os mecanismos de sua política imigratória, especialmente porque necessitava de
uma mão-de-obra trabalhadora relativamente qualificada para atender às
demandas da industrialização. O Decreto-Lei nº. 7967/1945 reabre a imigração no pós-guerra. O Brasil começa a receber os deslocados da Grande
Guerra a partir de 1947. Somente em 1948 foi formada uma comissão mista Brasil e OIR (Dec. 25.796, de 10.11.48), a partir da qual o governo brasileiro comprometia-se a receber quotas de refugiados. Contudo, elas não
foram cumpridas. Em 5.07.1950 o Brasil e a Itália celebram o Acordo de
Migração (SALLES, 2004; PAIVA, 2008).
Segundo relatos de imigrantes italianos, com o fim da Guerra em maio
de 1945, a Itália se encontrava destroçada. O desemprego atingira todas as
camadas da sociedade. Isto levou à busca de trabalho no mundo e, especial-
10 Outras organizações deram apoio ao CIME: Entr'aide Ouvière International, Swiss
Ainda Abroad, Tolstoy Foundation, United HIAS Service, Catholic Relief Services, United
Ukranian American Relief Commitee e World Council of Churches.
11 No Brasil funcionou com o nome de Comissão Católica de Imigração, tendo como
presidente Dom Helder Câmara. Tinha ramificações nos estados como o Secretariado Católico de Imigração no Rio Grande do Sul.
12 No Brasil o Serviço Social Internacional possuía escritório nas cidades de São Paulo,
Belo Horizonte, Curitiba e em Porto Alegre, nesta a responsável pelo escritório, entre
1954 e 1964, era Francisca Reckziegel.
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mente na América. Muitos vieram a Porto Alegre através da "carta de chamada" de parentes, ou por firmas italianas, como a Fundação Massa Adria,
que se responsabilizavam pela estadia e por emprego.
Outros vieram pela OIR, UNRRA e CIME, seja porque não conseguiam a
"carta de chamada", ou porque eram "deslocados" ou "refugiados" da guerra.
Reckziegel (2007), afirma que os primeiros deslocados oriundos do velho continente com destino ao Rio Grande do Sul, Porto Alegre, eram abrigados numa
hospedaria improvisada, em um morro do Menino Deus, no vestiário de um
clube de futebol do Estádio dos Eucaliptos, em situação precária. Outros eram
encaminhados a hotéis e pensões baratas. Imediatamente as equipes de acolhida
encaminhavam os imigrantes para a Delegacia de Estrangeiros que lhes dava a
Carteira Modelo 19, documento com o visto de permanência e os habilitava ao
trabalho. Lá, na própria Delegacia de Estrangeiros, havia apoio para colocá-los
no primeiro emprego. Além de italianos vieram iugoslavos, gregos, tchecos, russos, holandeses, poloneses, austríacos, macedônios, lituanos e albaneses.
Os imigrantes italianos do pós-guerra eram alfabetizados e qualificados, pois ao sair
da escola aprendiam uma profissão, até mesmo os que viviam da agricultura. Os
ofícios mais comuns eram: pedreiro, marceneiro, alfaiate, carpinteiro, ferramenteiro,
costureira, barbeiro, padeiro, motorista, engenheiro e técnico (FACCHINETTI, 2008).
Até o ano de 1951 já haviam chegado ao Brasil 25.000 imigrantes classificados como refugiados ou deslocados da guerra. Para o Rio Grande do Sul, até o
final do ano de 1950, haviam chegado 1.789 imigrantes (RECKZIEGEL,1950).
O processo acelerou-se nos anos seguintes quando levas de imigrantes
europeus chegaram ao Rio Grande do
Sul, atingindo um total superior a 12
mil imigrantes, sendo mais da metade de italianos de Morano Calabro
(COSTA, 1978) e para o Brasil
112.000 europeus, através do CIME
- Comissão Intergovernamental para
as Migrações européias - e da Comissão Católica de Migrações
(Bassanezi, apud PAIVA, 2008).
Antônio Balestro, Francisca Reckziegel,
Fernando Gay da Fonseca e Heinz
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O Serviço Social da PUCRS
Na história dos serviços prestados a essas levas de imigrantes a Faculdade de Serviço Social da PUC, que na época funcionava no Colégio Rosário,
na Avenida Independência, esteve diretamente envolvida com os recémchegados da Europa, seja pela sua direção como por inúmeros alunos voluntários: Notburga Rosa Reckziegel13, Adi Pizzato, Isaura Weber, Inês
Tabajara, Josephina Margarida Reckziegel, que se deslocavam para as hospedarias, acompanhavam os imigrantes na regularização da documentação
e atendiam outras necessidades básicas. As famílias dos voluntários costuravam até roupas para os imigrantes. Participavam, também, pessoas ligadas às igrejas polonesa, ortodoxa e maronita. Os voluntários contavam com
o apoio irrestrito dos Irmãos Maristas (RECKZIEGEL, 2007).
À medida que as famílias de imigrantes deixavam a hospedaria eram
criados mecanismos aglutinantes, permitindo que as mesmas continuassem a se encontrar. Foram criados desta maneira curso do idioma português, mantido pelos Irmãos Maristas, a organização de um coral e grupos de
dança ucraniana. No final de 1952 realizou-se o I Festival dos Migrantes.
Aulas de português para imigrantes no
Colégio Rosário - 1951
13 Em 1950, apresentou o trabalho de conclusão do curso, abordando o tema 'O Problema dos deslocados e refugiados de guerra em nosso meio', onde contabilizou a existência de 1.789 imigrantes até aquele ano.
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O apelo da Igreja
Em 1952 o Papa Pio XII publica a Constituição Apostólica, a Exsul Família, sobre o Fenômeno Migratório passando a ser o documento oficial da
Igreja Católica que enfatiza a importância do serviço pastoral aos migrantes.
No ano seguinte, em 28 de janeiro de 1953, a Resolução dos Bispos da
Província Eclesiástica do Rio Grande do Sul cria o Secretariado Católico
da Imigração que tem uma finalidade bem prática: acolher, documentar,
conseguir emprego, moradia, escola, atender outras necessidades básicas e
acompanhar os imigrantes no processo de integração à sociedade. Desta
maneira o quadro de atenção do Secretariado abrange os aspectos jurídicos,
sociais, culturais e religiosos. A Resolução assim se expressa:
Na VI Conferência Episcopal da Província Eclesiástica de Porto Alegre, o Arcebispo e os Bispos da Província Eclesiástica de Porto Alegre, reunidos em conferência
na cidade de Porto Alegre, nos dias 27 e 28 de janeiro de 1953, resolveram: instituir
um Secretariado de Imigração, em Porto Alegre, para estudar a possibilidade de
localizar, no Estado, imigrantes, que por força de convênios internacionais, vêm
chegando ao Brasil. Numerosos e insistentes tem sido os apelos do Santo Padre a
favor dos que, por motivos políticos ou econômicos, se vêem obrigados a emigrar
em busca de uma nova pátria. É notório que boa parte dos imigrantes vindos em
anos passados ao Brasil, sofrem privações de toda ordem, iguais ou piores às dificuldades suportadas em suas terras de origem.
Caberá ao Secretariado influir junto às Comissões oficiais de Imigração no sentido
de serem aceitos no Brasil, de preferência, imigrantes católicos, a prol da conservação da unidade religiosa, poderoso fator de união nacional (COSTA, 1978, p. 1).
Em 28 de fevereiro de 1954, na inauguração do Monumento ao Migrante,
em Caxias do Sul, Dom Vicente Scherer avalia o trabalho de um ano do
Secretariado e informa que o serviço passa a atender a imigrantes de todas
as nacionalidades e credos:
... Condoído da sorte dos imigrantes desamparados e em correspondência às diretrizes do Papa, criou o Episcopado Rio-grandense, no ano findo, em Porto Alegre,
um Secretariado Católico de Imigração que está prestando bons serviços aos
migrantes que, sem distinção, acolhe à hora da chegada, abriga em modesta hospedaria própria e coloca em empregos adaptados à capacidade de cada um. Se esta
entidade não amplia o raio de sua ação benfazeja, deve-se, unicamente, à falta de
recursos" (COSTA, 1978, p. 1).
Segundo Reckziegel (2007), o Secretariado Católico de Imigração estava
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interligado à Comissão Nacional Católica de Imigração, tendo como Presidente D. Helder Câmara, e ao Serviço Social Internacional, constituindo uma verdadeira rede de serviços, de abrangência estadual, nacional e internacional.
Inicialmente o Secretariado tinha sua sede na Avenida Independência,
numa casa do senhor Fernando Gay da Fonseca. Pouco tempo depois foi
para um prédio antigo (hoje já demolido) da Rua Mariante, 600, antiga sede
do Clube Aliança de uma sociedade alemã cujo patrimônio pertencia à Paróquia Nossa Senhora da Piedade.
O Secretariado tinha a seguinte composição:
Pe. (depois bispo) Alberto Etges (representante da Província Eclesiástica)
Pe. Paolo Bortolazzo (assistente eclesiástico)
Dr. Fernando Gay da Fonseca (presidente) (foi senador da República)
Dr. Alaor Wiltgen Terra (advogado)
Alexandre Nikolaídis (leigo grego, ortodoxo, responsável pela Hospedaria)
Francisca Reckziegel (assistente social)
Lurdes Panatieri (secretária)
Antonio Balestro (estudante de direito) e Isabel Reckziegel (estudante serviço
social) eram voluntários (FONTE: BORTOLAZZO, Carta de 1978).
No prédio do Aliança havia uma hospedaria para acolher os migrantes, a
moradia do administrador, o quartinho destinado ao sacerdote e o escritório
do Secretariado com cinco escrivaninhas: para o advogado, o tradutor, as
duas secretárias e o padre.
- 1953
Clube Aliança
Hospedaria do
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Conclusão
O sonho profético de Scalabrini, o apelo da Igreja, diante da realidade
migratória do pós-guerra, é o cenário em que nasce a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia no centro de Porto Alegre.
Barros Cassal - 1958
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OS PRIMEIROS PASSOS DA MISSÃO
SCALABRINIANA NO CENTRO
DE PORTO ALEGRE - DÉCADAS DE 1950 e 1960
O apóstolo não pode permanecer fechado no templo. Como
o bom Pastor sai da tenda, sai da sacristia, vai em busca
das ovelhas dispersas nas planícies e nos montes, para
'pregar a todos Jesus Cristo e este crucificado', pronto a
dar a vida, pródigo de todas as forças físicas e morais.
(SCALABRINI)
Introdução
Os padres scalabrinianos, conhecidos também como carlistas, estavam servindo os imigrantes italianos em Porto Alegre na Vila Nova Itália, desde 11 de
junho de 1939 quando a Paróquia São José14 foi confiada à Congregação.
Como já foi visto anteriormente, frente ao apelo do Papa Pio XII, em 1952,
para que a Igreja servisse aos milhares de imigrantes deslocados e refugiados do
pós Segunda Guerra Mundial, os bispos riograndenses criaram a Comissão Católica de Imigração15 e procuraram o provincial dos carlistas para que um sacerdote
da congregação integrasse a referida Comissão. Assim, em julho de 1953, o Pe.
Paolo Bortolazzo passa a integrar a equipe. Durante todo aquele ano ele reside
provisoriamente na casa canônica da Paróquia São Pedro. A partir de 1954 ele
assume a Hospedaria dos Imigrantes na casa da Aliança Católica da Paróquia
Nossa Senhora da Piedade, tendo como administrador Nikolaídes, o grego (CIBAI:
Boletim Especial dos 25 Anos, 1978).
O missionário, além de assistente espiritual, auxiliava a equipe na procura de hospedagem, no encaminhamento da documentação, seja junto à
14 A Paróquia São José da Vila Nova foi erigida em 16 de setembro de 1929.
15 Oficialmente se denominava Secretariado Católico de Imigração, mas popularmente
passou a ser designado de Comissão Católica de Imigração.
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Delegacia dos Estrangeiros como nos Consulados, e na procura de emprego para os imigrantes. (BOLETIM DO CIBAI, set. 1985 e jul. 2003).
Missa para a comunidade de italianos
A partir do dia da páscoa, 18 de abril de 1954, os imigrantes italianos
começam a ter sua missa às 11 horas na matriz de Nossa Senhora da Piedade. A primeira missa foi rezada pelo Cônego Matias Vagner e explicada, em
italiano, pelo Pe. Ernesto Fabbian, capelão dos Imigrantes (Liv. Tombo da
Paróquia da Piedade, 1954, p.48), que substituía, o Pe. Paolo Bortolazzo,
em férias e realizando curso de aggiornamento na Europa (Liv. Tombo II,
Paróquia São José da Vila Nova, 1954, p.16).
Em março de 1955, Pe. Paolo Bortolazzo deixa o Secretariado. Pe.
Alessandro Mancini dá continuidade ao trabalho apostólico junto aos
imigrantes. Inicialmente ele reside na Hospedaria dos Imigrantes e depois se transfere para a Paróquia São José da Vila Nova (CORRADIN,
1966). Em março de 1956, Pe. Mancini dá início à missa dominical das
10h30 minutos para os italianos, na Capela Sagrado Coração de Jesus
no Colégio dos Anjos16 à rua Vigário José Inácio, 741, no centro de
Porto Alegre. Com a diminuição da imigração, a partir de 1957 os serviços de acompanhamento às famílias migrantes passaram a ser dos padres carlistas. Inicialmente eram atendidos no Colégio dos Anjos e a
partir de 1958 no CIBAI Migrações, à rua Barros Cassal, 220.
Definição do local para a construção do Centro de Atendimento ao Migrante
Em 14 de fevereiro de 1957 assume a missão Pe. Quintilio Costini com
a tarefa de encontrar uma área no centro da capital onde a Congregação
Scalabriniana pudesse fundar um verdadeiro Centro de Assistência aos
Migrantes (Liv. Tombo I da Pompéia). Nos primeiros três meses residia na
16 A capela fazia parte do complexo do Colégio-Pensionato das Irmãs Franciscanas da
Penitência e Caridade Cristã.
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Paróquia São José da Vila Nova. Vinha atender os imigrantes no Colégio
dos Anjos das Irmãs Franciscanas à rua Vigário José Inácio, 741. Rezava a
missa com sermão em italiano na Capela do Sagrado Coração de Jesus. Em
16 de maio de 1957, para melhor atender os imigrantes, Pe. Quintilio transferiu a residência da Vila Nova para um quarto do Colégio dos Anjos e
fazia as refeições no antigo Educandário São Luiz, dos Padres Guanelianos
(Servos da Caridade), à rua Lima e Silva.
No dia 19 de setembro de 195717, durante o retiro dos padres em Gujaporé (...)
formou-se uma comissão composta dos padres Bruno Paris, Mario Bianchi, Rodolfo
de Cândido e Florindo Ciman com a missão de em Porto Alegre, juntamente com o
Pe. Quintilio, escolher o lugar para a compra do terreno. No dia 24 de setembro a
comissão esteve em vários lugares, juntamente com o engenheiro Francisco Buturra,
e resolveu apoiar o Pe. Quintilio para que se decidisse comprar terreno e casas aos
números 220, 226 e 230 da rua Barros Cassal (Liv. Tombo I da Pompéia, p.2).
No mês de dezembro o Irmão Matteo Gheno ficou responsável pelas
necessárias reformas, que permitiram ao Pe Quintilio, no dia 10 de janeiro
de 1958, transferir a residência e o escritório de atendimento aos imigrantes para a atual sede. No dia 16 do mesmo mês são assinadas as primeiras
escrituras dos terrenos adquiridos.
Pe. Quintilio Costini assim descreve os primeiros passos:
Rapidamente o local transformouse num centro de irradiação para as
atividades entre os imigrantes e para
quantos procurassem buscar assistência e encaminhamento ao trabalho estável. Solicitada licença ao
Arcebispo, o qual, em 20 de abril
de 1958, aprova a aquisição e a
construção da capela e de um co-
Terreno do Cibai antes da
construção - 1958
Pes. Corradin e Delmi
17 Em junho de 1957, há um registro na Paróquia São José da Vila Nova, do qual se pode
deduzir que a Congregação já era proprietária de imóvel na Barros Cassal: As missões
realizadas nos dias 23 a 29 de junho, na capela Santa Rita, em Guarujá, foram preparadas pelas Irmãs de Jesus Crucificado... e os pregadores foram: Revdo. Pe Quintilio Costini,
carlista e encarregado dos imigrantes em Porto Alegre e arredores, com sede na Rua
Barros Cassal, 220 (Liv. Tombo, Paróquia São José, 1957, p. 16-v).
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légio e mais o que quiséssemos para que os scalabrinianos possam estabelecer uma
Comunidade Religiosa na rua Barros Cassal. A primeira construção, ainda em 1958,
foi uma capelinha dedicada à atual padroeira. Foi um imigrante napolitano que
trouxera da Itália, no fundo da mala, a estampa de Nossa Senhora da Pompéia e
ofereceu à nossa capela. (Arquivo Provincial, Carta de 1978).
Em seis de maio de 1958 o Arcebispo Dom Vicente Scherer reza a primeira missa na capela da Pompéia. Estavam presentes Pe. Ângelo Corso, Superior Provincial e Pe. Ugo Cavicchi, ecônomo da Congregação e outros carlistas,
bem como mais de 50 pessoas benfeitoras, especificamente convidadas para
a inauguração. Nessa mesma oportunidade Dom Vicente Scherer pede ao Pe.
Quintilio para que agilizasse o processo de fundação da Paróquia.
Estatuto Social do novo Centro de Atendimento ao
Migrante
A construção das obras planejadas exigia volumosos recursos financeiros. Para isso, foram iniciadas inúmeras atividades culturais e sociais com
a finalidade de arrecadar os primeiros fundos. Como o atendimento ao imigrante era o primeiro objetivo da presença da Congregação Scalabriniana
no Centro de Porto Alegre, Pe. Quintilio se preocupa em fundar um Centro
de Atendimento aos Migrantes. Pe Paolo Bortolazzo testemunha claramente a continuidade do projeto quando escreve:
A presença dos scalabrinianos no centro de Porto Alegre era pensada há muito tempo,
mas teve sua possibilidade concretizada quando, após a Publicação da Constituição
Apostólica Exsul Familia, o Episcopado Riograndense, analisando a realidade migratória em suas dioceses, resolveu constituir um Secretariado Católico de Imigração. Desde aquele momento foi vista como mais possível a presença da Congregação
dos Migrantes nessa iniciativa. Pe. Giovanni Simonetto, provincial, percebeu que era
a ocasião de partida para uma nova visão da Província em busca da redescoberta
vivencial da inspiração originária do Fundador, numa pastoral conforme ao nosso
fim específico no atendimento aos migrantes (BORTOLAZZO, 1978).
Neste sentido o Pe. Quintilio concretiza a criação do Centro, redige os
Estatutos Sociais com o nome de Centro Cultural Cívico e Assistencial
Nossa Senhora da Pompéia para a Emigração aprovados na Assembléia
de 16 de janeiro de 1958. O artigo 2º declara que o Centro será mantido
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pela Pia Sociedade dos Padres Carlistas, cuja sede e foro jurídico é a cidade
de Guaporé. Os extratos do Estatuto Social foram publicados no Diário
Oficial do Estado em 19 de março de 1958 e registrados no dia 15 de abril
do mesmo ano, no Cartório Especial de Títulos e Documentos, no Livro nº
5 de Registro de Pessoas Jurídicas, como sociedade civil, passando a ter
personalidade jurídica, com a denominação acima especificada.
Transferência de sacerdotes
Em outubro de 1958, Pe. Quintilio viaja à Europa. Com isso o projeto
inicial sofrerá profundas modificações. Quem o substitui é o Pe. Bruno
Todesco que permanece até 2 fevereiro de 1959, quando assumem os trabalhos pastorais e as construções Pe. Giuseppe Corradin e Pe. Emílio Delmi
(Livro Tombo I). Alteram o projeto, desistindo da construção de um colégio para atender os filhos dos imigrantes, adquirem mais uma faixa de 5
metros de largura na direção da Avenida Farrapos, sob número 214 e concentram todos os esforços em desenvolver o Centro de Assistência aos
Migrantes.
Em 11 de julho de 1959 modificam a denominação do Centro, passando
a denominar-se Centro Ítalo-brasileiro de Assistência aos Imigrantes18.
Assim, sob a denominação de CIBAI a missão scalabriniana, voltada para o
serviço aos migrantes, avança com a assistência espiritual dos padres residentes na Pompéia. Em 1 de julho de 1959 Pe. Giuseppe Corradin e Pe. Emilio
Delmi enviam uma correspondência a todos os párocos de Porto Alegre:
(...) Solicitamos a todos que façam um levantamento das Famílias de Italianos natos, da velha ou da nova imigração, e residentes na sua paróquia, preenchendo os
dados solicitados na folha anexa: nome, endereço atual para podermos iniciar um
serviço pastoral com essas famílias ... Se houver italianos necessitados de roupas,
remédios, alimentos, estamos em condição de atendê-los. Queremos dizer-lhe que
tudo o que faremos primeiro passará pelas mãos de V. Revma.
18 Mais tarde, em 1968, passou a ser chamado Centro Ítalo-brasileiro de Assistência e
Instrução às Migrações.
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A criação da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de
Pompéia
Embora o Pe. Giuseppe Corradin, logo que assume o encargo pelas obras,
tenha formalizado ao Arcebispo o pedido de criação da Paróquia Pessoal
para os fiéis de língua italiana, somente em 30 de dezembro de 1959 o
Decreto de criação da Paróquia é publicado, contendo:
• A finalidade: Criação da paróquia pessoal pro diversitate semonis
sue nationis (isto é, em favor da diversidade de língua ou nação)
para os imigrantes italianos.
• A nomeação do pároco: Pe. Giuseppe Corradin e o vigário paroquial, Pe. Emílio Delmi como missionários dos imigrantes italianos
para a Arquidiocese.
• A sede na rua Dr. Barros Cassal, 220, Porto Alegre.
• O pedido de construção de um templo que possa abrigar os fiéis.
• O desejo de que a paróquia abra seu serviço aos imigrantes de todas
as procedências.
• A Advertência para evitar o nacionalismo do país de origem dos
imigrantes.
• Os objetivos: amparar os imigrantes em meio às dificuldades especiais que, via de regra, encontram em terra e ambientes estrangeiros
e, acima de tudo, procurar manter a fidelidade desses seus filhos à fé
e aos costumes cristãos.
Chama atenção que o Decreto Episcopal não faz menção da padroeira
da paróquia, certamente porque já existia uma capelinha dedicada a Nossa
Senhora do Rosário de Pompéia, desde 1958.
Histórico da devoção à imagem de N. S. de Pompéia
Em 1875 em Pompéia, Itália, Bartolo Longo, recém convertido, ao fundar uma
obra filantrópica, escolhe "Maria" como padroeira, representada num quadro em
atitude de entregar o terço a São Domingos e a Santa Catarina de Sena. Pelas graças
alcançadas, logo os devotos quiseram construir um Santuário em Pompéia, multiplicando-se as romarias.
Os Imigrantes Italianos levaram a devoção para o mundo todo. Em 1920, algumas
senhoras de Porto Alegre mandaram confeccionar o conjunto de imagens de N.S.
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de Pompéia, S. Domingos e S. Catarina de Sena ao renomado escultor Zambelli,
em Caxias do Sul. Colocaram o conjunto de imagens na capela lateral da Igreja
Nossa Senhora das Dores. Em 1962 essas imagens foram transladadas para a
Pompéia, onde Nossa Senhora do Rosário de Pompéia ganhou um templo, Paróquia Pessoal dos Migrantes, que é a sede da paróquia dos italianos e da missão dos
hispano-americanos, para continuar a reunir seus filhos devotos (Boletim "A Família da Pompéia, outubro de 1985, p.2 e 3).
O envolvimento das famílias italianas
Os novos padres responsáveis começam os trabalhos na organização das
famílias italianas, visitando-as, cadastrando-as, motivando-as a serem participantes do processo de construção da Paróquia Missionária dentro do
carisma scalabriniano no serviço ao migrante. Assim, segundo Corradin,
em 1959, mais de 1.500 famílias já estavam envolvidas no "status animarum"
da futura paróquia italiana (Liv. Tombo I).
O trabalho de germinação do espírito missionário se desenvolveu com visitas metódicas às famílias, levando uma palavra amiga, conforto aos doentes, chamamento à
vida espiritual na família, nos grupos de famílias, bem como às celebrações e confraternizações na Paróquia, além de desenvolver o espírito solidário recolhendo as
contribuições financeiras espontâneas a cada mês (Boletim VOCE AMICA, 1961).
Embora a adesão de centenas de famílias italianas ao projeto de construção
de um Centro de Atendimento aos Imigrantes e de uma Igreja, há registros de
obstáculos oriundos da comunidade de italianos residente em Porto Alegre:
Os italianos que chegaram antes da Segunda Guerra, em geral, estão bem colocados e em franco progresso, porém não tem interesse em se unirem e às vezes combatem entre si ou até preferem se desconhecer. Os italianos que imigraram depois
da guerra nem sempre se aclimataram. Alguns, sem vontade de enfrentar os desafios que a nova realidade lhes colocava, querem retornar à Itália (Liv. Tombo I).
Nesse contato permanente com famílias imigrantes italianas aparecem
as dificuldades de sobrevivência de muitas delas. Por isso um dos primeiros passos do CIBAI foi organizar uma sala para atendimento médico, onde
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o Dr. Giorgio Brunet passou a atender gratuitamente todas as sextas feiras.
Outra iniciativa de serviço aos imigrantes foi a abertura da Escola Elementar para adultos, em março de 1961, funcionando à noite.
A postura inicial de superiores e a ampliação da equipe do
CIBAI
Além da dificuldade de conseguir recursos suficientes para dar início às
obras, havia a desconfiança de superiores que achavam o local inadequado
para o projeto. Assim o pároco descreve no Livro Tombo I:
Os superiores de Roma começaram a julgar que seria inútil enterrar dinheiro no
buraco da Barros Cassal, onde o Pe. Corradin teimava ficar. Este, com ajuda de
uma turminha de seminaristas começou a aterrar o banhado: picaretas, carrinhos de
mão e o padre na frente, sob o olhar de tanta gente que passava na calçada e se
admiravam (...). Pe. Raffaele Larcher, superior Geral da Congregação, em janeiro
de 1961, chega da Itália para dar o veredicto sobre o lugar: o encontrou limpo e
espaçoso e aprovou nossos planos. Com a renda das cadernetas e com as mensalidades de estacionamento era possível construir uma igrejinha para a Paróquia pessoal dos fiéis de língua italiana (p. 12).
Em outubro de 1960 chegam reforços que auxiliarão o Pe. Giuseppe
Corradin nas construções e no serviço
aos migrantes: Pe. Florindo Ciman, que
terá um papel significativo nas construções, Pe. Giovanni Molon, que se dedicará ao apoio espiritual às famílias
italianas e a leiga Natalina Corradin,
irmã do Pe. Giuseppe, que realizará um
intenso trabalho comunitário. Os préstimos dessa missionária leiga marcaram
a evangelização, na década de 1960, em prol dos imigrantes. Na década de
1980 ela parte para outra missão no Paraguai para colaborar com seu irmão
Pe Giuseppe Corradin para lá transferido. De lá retornou para a Itália, onde
hoje reside.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Boletins do CIBAI - jeito popular de comunicação
Em janeiro de 1960 Pe. Corradin começa a publicar bimestralmente o
Boletim VOCE AMICA como forma de manter a comunidade de imigrantes informada, motivada e unida. Em 1964 o Voce Amica foi substituído
pelo Boletim Informativo do CIBAI, mais tarde passou a denominar-se
Boletim Informativo "A Família da Pompéia".
Poesia della Vita
ANTES DE SAIR DA PORTA DE SUA CASA, O PADRE PENSA NO PERCURSO A FAZER NO CENTRO DA CAPITAL: MENSALIDADES A RECOLHER
MEDIANTE CADERNETA... AMOSTRAS GRÁTIS PARA O AMBULATÓRIO DO CIBAI... PUBLICIDADE PARA VOCE AMICA ... REPARTIÇÕES
PÚBLICAS... ENCOMENDAS DOS PADRES DAS PARÓQUIAS DO INTERIOR... VISITAR ALGUM ITALIANO QUE HÁ TEMPO ESPERA RECEBER A
VISITA DE UM SACERDOTE QUE LHE FALE NA SUA LÍNGUA.
GASTAM-SE AS SOLAS DOS SAPATOS E O FÔLEGO TAMBÉM, MAS É A
MISSÃO A CUMPRIR. ENTÃO: VAMOS!!!
(Boletim Voce Amica, n. 9, fevereiro de 1961).
Início das obras
Com a autorização do Superior Geral, Pe. Raffaele Larcher, para o início
das obras, Pe. Corradin começa adquirindo o material básico e dá andamento ao projeto arquitetônico. Ele tinha em mente a urgência da aquisição
de mais uma faixa de terreno na parte superior. Segundo ele, a Providência
Divina se manifesta em abril de 1962 através da visita de:
Mons. De Jardin e P. Francesco Milini, che avevano il compito di 'sesnibilizzare' la
collettività italiana allá celebrazione del décimo anniversario dell'Exsul Família,
visitano la nostra Missione e, entusiati dell'opera, ci lusingarono a chiedre um préstito
al Vaticano affine di comperare um altro appezzamento di terreno attíguo che unito
agli altri due già nostri, avrebbe reso possibile la costruzione di grandi opere
(CORRADIN, p.3).
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50 anos de serviço com migrantes
O resultado do pedido foi positivo, pois, no mesmo ano, o Pe. Ciman
que estava na Europa por problema de saúde trouxe cinco milhões de liras,
como empréstimo a serem pagos em dez anos e um milhão em doação.
Embora no contrato de empréstimo houvesse uma cláusula vedando a
aquisição de terrenos, Pe. Corradin e Pe. Ciman decidem adquirir o último
lote da atual área. O engenheiro Erwin Brand conclui o projeto que contemplava: uma garagem, na parte superior a Igreja, a residência dos padres,
além de escritórios e salas de atendimento.
Finalmente, em agosto de 1963,
Mutirão com os seminaristas
Pe. Corradin e o Pe. Ciman dão início às primeiras escavações e construção das obras, contando com as
fontes de renda: os estacionamentos
para carros, a renda das cadernetas
dos sócios, os chás beneficentes promovidos pelo grupo de mulheres, as
confraternizações com almoços e jantas, além das tradicionais rifas.
Em 1964, estando a garagem praticamente pronta, possibilitava o início
da construção da residência dos padres, concluída em maio de 1965. Alguns
meses depois, em 5 de setembro, começa a construção do templo (igreja)
sobre a garagem, com a benção da pedra fundamental de Dom Vicente Scherer.
À medida que a obra ia subindo, os Amigos da Pompéia iniciavam a campanha da telha de zinco para a cobertura da Igreja, com excelente resultado.
A contribuição do grupo de Senhoras Amigas das Obras
dos Carlistas
Em diversos registros Pe. Giuseppe Corradin engrandece a colaboração
das patronesses e demais senhoras na organização de iniciativas para arrecadar fundos destinados à construção da Igreja.
Uma dessas atividades está registrada no Boletim de dezembro de 1965:
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Temos o dever de informar aos amigos sobre o resultado do chá beneficente que foi
realizado no dia 27 de outubro no Clube Leopoldina... Reproduzimos aqui a nota
que foi publicada nos jornais da capital: Grande sucesso obteve o chá do CIBAI,
em prol das obras dos padres carlistas nesta capital, promovido por um grupo de
patronesses liderado pela dinâmica dona Paola Scarrone, sob o patrocínio da consulesa da Itália...Muito jubilosos pelo feliz êxito desta festa: 700 presenças, fartura
de gulodices, serviços em ordem, músicas bem executadas, sorteios sensacionais e
renda líquida de dois milhões, duzentos e cinqüenta e cinco mil cruzeiros.
Galpão rústico
Para congregar as famílias dos
migrantes e ter alternativa de renda para
as construções é construído, em 1966,
mais um galpão rústico onde passam a
ser realizadas as festas, jantares e almoços de confraternização. Em agosto de
1966 integra-se à comunidade religiosa
o Pe. Ernesto Fanni. Segundo Pe.
Corradin as obras da Igreja seguem em
ritmo muito lento, por falta de recursos.
Contribuições para coletar fundos para as construções
Cautelas numeradas, de vinte mil cruzeiros, pagáveis em 4 prestações, valendo a
entrada ao Teatro São Pedro, a oferta da telha e a participação ao sorteio de três
prêmios: 1º. Uma viagem de navio, ida e volta, para duas pessoas, à Itália. 2º. Uma
viagem aérea, ida e volta, para duas pessoas ao Rio de Janeiro. 3º. Uma panela de
forno "Favaretto" (Circular, dezembro de 1965).
Almoços beneficentes
O Padre diretor chama-nos de patronesses. Fazemos parte de um grupo de Senhoras Amigas das Obras dos Padres Carlistas. Em reunião, tomamos a iniciativa de
lançar uma série de almoços beneficentes. O amigo que aceita de participar, além
de aproveitar de uma hora em alegre confraternização, estará contribuindo, com
uma parcela da entrada, em prol das obras tão beneméritas (Circular, 1966).
Valorização dos sócios e colaboradores
Admiramos e agradecemos tanta generosidade, mas lembramos que é o Bom Deus
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50 anos de serviço com migrantes
quem retribuirá, lá no céu, aos colaboradores da sua igreja. Quem doa uma cadeira
à comunidade, deposita valores no banco de Deus (Informativo Cibai, abril de 1968).
Primeira missa solene na nova Igreja
Em 29 de junho de 1967 é celebrada a primeira missa solene na nova
Igreja. Meses depois chega o Geral dos Scalabrinianos alegrando-se com o
belo templo e diz: Agora a comunidade tem um templo, necessitamos empenhar-nos a dar uma comunidade a esse templo (Liv. Tombo I).
Assim, na década de 60 a 70 são construídos19: uma Igreja; a residência
capaz de abrigar mais de 12 sacerdotes; secretaria, escritórios de atendimento e salas para reuniões; salão para encontros, seminários e cursos. Só
faltava construir uma parte da garagem e o salão grande, o que ocorrerá no
início da década de 70. A empreitada tocada pelo Pe. Corradin e Pe. Ciman
não era fácil, seja pela carência de recursos, seja pela forte personalidade
dos dois - havia época que, em face da dificuldade de diálogo, Corradin se
comunicava com Ciman por carta -, mas prevaleceu uma gestão participativa
com efetiva contribuição e envolvimento de famílias de italianos, da ação
cotidiana de grupos de mulheres e voluntários anônimos.
O trabalho Pastoral na década de 60
Segundo escrito do Pe. Quintilio, o Centro de Atendimento aos Migrantes,
desde 1958, transforma-se rapidamente em local de irradiação para as atividades espirituais e apoio aos imigrantes e para quantos procurassem assistência. Ele relata como iniciaram a devoção a Nossa Senhora do Rosário
de Pompéia (aqui invocada como padroeira dos imigrantes) difundindo a
presença da imagem entre as milhares famílias italianas.
Um momento forte de engajamento para a comunidade italiana foi a
19 Pe. Corradin num momento do processo apresenta um projeto para "construir um
majestoso edifício" (mais de 10 andares), segundo documentos deixados por ele, para
"atender demandas não só dos carlistas, mas de outras congregações, da arquidiocese e da
CNBB".
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
chegada da estátua da Madonna di Pompei, em
1962, tendo a seus pés Santo Domingo e Santa
Catarina de Sena, transportada da Igreja das
Dores, onde estava desde a década de 1920.
Como forma de sensibilizar e engajar os que
visitavam a estatua da Madonna di Pompei foi
colocada num galpão de confraternização. Os
visitantes que por lá passavam se emocionavam e ao sair diziam: Vamos dar-lhe um templo. Segundo registro no Livro Tombo isto fez
crescer a presença de italianos nas missas rezadas na sua língua materna.
O reavivamento da fé dos imigrantes é reforçado pelas visitas às famílias, pela organização de grupos de famílias para a reza do terço nos meses
de maio e outubro, dedicados a Nossa Senhora.
Assistência Social
Nos boletins encontram-se vários trabalhos de assistência social realizados pelo CIBAI, como os transcritos a seguir:
Na Av. Montenegro, 345, o CIBAI mantém uma casinha com duas senhoras lá asiladas e mais um galpão onde guarda janelas e móveis usados que nos foram oferecidos para o futuro asilo dos idosos ou para socorrer algum necessitado (Junho de
1969).
Estamos iniciando uma nova construção logo atrás da Igreja: o novo salão e o
ambulatório médico. A melhor atividade, porém, é sempre a que estamos fazendo,
diretamente às famílias necessitadas, com o apoio de piedosas senhoras (Maio 1969).
Estamos ainda construindo os dois ambulatórios médicos que serão gratuitos para
os sócios. Ainda em projeto para o futuro, um moderno asilo para idosos (Informativo, dezembro 69).
Preocupamos-nos sempre com a visita aos enfermos e nos interessamos dos velhinhos que dependem dos nossos cuidados. Pensaremos também nos dois ambulatórios, por ora apenas com as paredes (Fevereiro de 1970).
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50 anos de serviço com migrantes
Os registros das primeiras preocupações voltadas para outras categorias
de imigrantes, além dos italianos, aparecem em 1967, quando o CIBAI inicia um levantamento junto às paróquias da capital sobre presença de categorias oriundas do interior do Estado do Rio Grande do Sul:
No nosso trabalho pastoral já levantamos o problema espiritual que envolve
os estudantes que, como mudas, são erradicados das paróquias do interior e plantados nesta capital, em terreno que bem conhecemos. Trata-se de almas. São como
imigrantes ... Por isso precisamos conhecer os nomes e endereços desses novos
imigrados, de origem italiana ou não, estudantes ou empregados... Nosso fundador
preocupou-se com os fiéis que emigraram... Nós, seus filhos, queremos desenvolver com eles um amplo plano de assistência espiritual (Carta aos Párocos, 1967).
A verdadeira missão do CIBAI
Em agosto de 1968 o Boletim Informativo faz novo chamamento para a
dimensão da Missão do CIBAI:
Há dez anos um sacerdote da Congregação carlista lançou esta semente
fértil da Barros Cassal. Surgiu o
CIBAI. Temos o desafio de sensibilizar mais membros da comunidade para que trabalhem apostolicamente em prol das migrações:
italianos, estudantes do interior, veranistas e domésticas.
O envolvimento na assistência espiritual a movimentos da
Arquidiocese
Em 1968 os sacerdotes carlistas do CIBAI começam a dar assistência a
movimentos, como a Associação dos ex-combatentes italianos da I e II
Guerra Mundial e o Serra Clube Vocacional. Em 1969 o SICA - Secretaria
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Interconfessional de Aconselhamento passa a funcionar no CIBAI e os padres carlistas passam a atuar como conselheiros. Em março de 1970 a
Arquidiocese acolhe o Cursilho da Cristandade que passa a ocupar o espaço físico da Pompéia. Pe. Florindo Ciman é nomeado diretor espiritual para
organizar e orientar os cursilhistas (Liv. Tombo I). No mesmo ano, em 1º de
setembro, a ADCE - Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do
Brasil inicia seus cursos e confraternizações nas dependências do CIBAI e
o padre Ciman assume o cargo de assistente espiritual dessa entidade.
1a. capela - 1958
Pe. Corradin e operários - 1973 Construção dos salões
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50 anos de serviço com migrantes
Celebração da missa na
nova Igreja - 1967
Celebração de um batizado (Igreja em construçao) - 1975
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
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A DÉCADA DE 70 MOVIMENTOS ESPIRITUAIS
PREDOMINAM NO ATENDIMENTO DA
POMPÉIA
Leigos, também vós deveis ser apóstolos, isto é,
homens de ação e sacrifício, zelosos pela honra de
Deus e da Igreja, pela salvação das almas. Podeis,
vós, embora leigos, exercer, no pequeno mundo que
vos circunda, o apostolado da palavra, usando uma
linguagem que edifique, nas conversas, nas instruções, no corrigir. O apostolado do exemplo, professando abertamente, sem respeito humano, a vossa fé!
O apostolado da caridade, socorrendo os pobres,
visitando os enfermos, consolando os aflitos, fazendo
o bem a todos. O apostolado da civilização, cooperando na destruição do pecado, que torna miseráveis
os povos e ao incremento da justiça que faz prosperar
as nações(...)!
A ação do clero tem limites que não consegue
ultrapassar, ou por deficiência dos meios, ou pela
limitação de formas, bem como por razões de
conveniência, ou por oposição que lhe é feita. O
leigo pode encontrar-se lá onde o padre não pode ir.
Freqüentemente, uma exortação sua é melhor
acolhida que a que vem da boca do padre (...).
Também o laicato tem o seu apostolado, a sua missão
apostólica.
(SCALABRINI)
O novo pároco dos italianos e o serviço aos movimentos
Pe. Giuseppe Corradin torna-se ecônomo provincial em 1971 e é substituído, na função de pároco pessoal dos italianos, pelo Pe. Mário Ginocchini.
Permanece como responsável financeiro da Pompéia o Pe. Florindo Ciman
e cooperador Pe. Ângelo Tedesco que se dedica à visitação das famílias e
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50 anos de serviço com migrantes
ao atendimento aos doentes, auxiliando na assistência espiritual aos movimentos (Livro Tombo I).
Em janeiro de 1971 o Boletim publica uma reflexão que redefine o foco
central da Missão da Pompéia, priorizando as pastorais voltadas para uma
prática tradicional:
As Novas Iniciativas: Para novas possibilidades que respondam às necessidades
da Igreja de hoje, há muito tempo o CIBAI coopera acolhendo movimentos - Renovação Cristã Carismática, Serra Clube, Jovens20, ex-combatentes cristãos, SICA21,
Cursilho, ADCE - que despertam a consciência de homens a fim de assumirem o
papel de batizados, estimulando ao apostolado leigo na dimensão social... Nesse
sentido a Escola de Corte e Costura, os almoços e jantas sociais nos salões de festas
são ajudas concretas às famílias... (p. 1).
Um ano após, em 1972, o Livro Tombo I, registra atividades pastorais e
ao mesmo tempo questiona a missão do CIBAI:
O CIBAI, dia-a-dia, revela-se como uma obra necessária, inspirada por Deus e
levada para frente por sacerdotes imbuídos do espírito scalabriniano. Desenvolvem
atividades pastorais em geral (missa, confissões, sacramentos, atendimento aos
doentes), atendem obras específicas: Cursilho da Cristandade, o SICA (Serviço
Interconfessional de Aconselhamento), organizam reuniões - confraternizações e
ajuda a indigentes. Mas é necessário nos colocar uma pergunta: o CIBAI está respondendo ao seu fim específico pelo qual foi criado? O que mais deveria ser
feito? Que testemunho estamos dando aos nossos seminaristas para a missão
específica?
A convocação do Concílio Vaticano II
O Boletim de outubro, ainda de 1972, reproduz uma reflexão partindo
de orientações do Concílio Vaticano II que convida as Congregações Religiosas para que voltem às suas fontes, a fim de revitalizarem suas obras no
espírito do carisma de seus fundadores, para, na diversidade de dons, melhor servir a Igreja em suas necessidades.
20 Atuaram no CIBAI os movimentos jovens do Emaús, Jato e Gen, Focolare.
21 O Serviço Interconfessional de Aconselhamento, obra pastoral e social, criada e mantida
pelas Igrejas católica Romana, Episcopal do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no
Brasil e Metodista começou o seu serviço em 1969.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
A Congregação dos padres Missionários de São Carlos, sensível a este
apelo, busca em seus capítulos congregacionais resgatar o seu fim específico
no atendimento aos migrantes. Assume como objetivo central de sua missão dar nova vida as obras criadas, realizando um trabalho profético-apostólico-missionário de comunhão com a Igreja, buscando maior integração e
complementação num trabalho do complexo fenômeno migratório.
Contudo, os passos em direção à missão específica foram lentos, como
se pode observar na programação do ano de 1975:
• Assistência aprimorada ao grupo de jovens que se reúne no CIBAI e
manter contatos com as famílias dos jovens que vem do interior ou
com o dono das firmas onde trabalham.
• Visitas programadas aos doentes no hospital e na residência.
• Reorganização do coral Pompéia.
• Cursilho de Cristandade, movimento providencial no CIBAI, continuidade do sacerdote em dar assistência espiritual.
• Programação do Movimento Familiar Cristão oportunizando curso
de noivos no CIBAI.
• Apoio ao SICA e Serra Clube das Vocações, pois somos membros
dos mesmos.
• Entrosamento maior entre o Centro de Estudos Migratório e o Setor
de Migrações.
• Acompanhamento às atividades culturais do grupo Dante Alighieri.
• Qualificação da redação do Boletim Informativo e maior controle do
fichário dos imigrantes que o recebem.
• Tentativa de desencadear uma pastoral junto aos portuários na zona
do CAIS de Porto Alegre.
• Maior dedicação à pastoral dos sacramentos (batizados, casamentos,
missas do 7º. e 30º. Dia).
Durante todo esse período, apesar das indefinições, os Boletins registram a preocupação com a migração: há orientações para troca da Carteira
de Estrangeiro, Modelo 19; programações da Semana das Migrações e o
Dia Mundial do Migrante, os encontros no CIBAI da equipe central de
Estudos Migratórios das duas Congregações scalabrinianas (masculina e
feminina).
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50 anos de serviço com migrantes
A criação do CEPAM - Centro de Estudos da Pastoral
Migratória
Em 1973 dá-se início o Centro de Estudos da Pastoral Migratória coordenado pelo Pe. Redovino Rizzardo, hoje bispo. Em 1979 assume o CEPAM,
Pe. Genoir Pieta, mais tarde, o Pe. Paolo Bortolazzo. Além de fazer levantamentos de opinião, assessorar cursos de formação, divulgar notícias22 sobre o fenômeno migratório na mídia, o Centro de Estudos produz inúmeras
obras sobre a mística do fundador e a vida dos missionários scalabrinianos:
• ... E Cantavam 23 , 1971 - Pe. Giuseppe
Corradin
• João Batista Scalabrini, 1974 - Pe. Redovino
Rizardo
• A Longa Viagem, 1975 - Pe. Redovino
Rizardo
• A emigração italiana na América, 1979 Pe. Redovino Rizardo
• Carlistas no Rio Grande do Sul, 1981 Pe. Redovino Rizardo
Outros trabalhos de pesquisa24 são publicados com o objetivo de despertar a consciência da problemática migratória junto à Igreja e à sociedade:
• Migração Brasileira no Paraguay, 1984 - Coordenação Pe. Paolo
Bortolazzo.
• Os Latino-americanos na grande Porto Alegre, 1986 - Coordenação do
Sociólogo Pe. Ernesto Goeth.
• Desafio do Êxodo Rural e urbanização, 1990 - Coordenação Pe. Paolo
Bortolazzo.
• Migrantes, 1990 - Coordenação Pe. Paolo Bortolazzo.
• Los inmigrantes en las universidades do Rio Grande do Sul, 1991 Coordenação Miguel e Luís Chamorro.
22 De autoria do Pe. Redovino Rizzardo.
23 O autor é o Pe. Giuseppe Corradin com a colaboração do Pe. Antonio Cerato, Pe. Pio
Fantinato e Pe. Genoir Pieta.
24 Com a coordenação do Pe. Paolo Bortolazzo.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
O leque de serviços pastorais e a minimização da pastoral
específica
No ano de 1974 o CIBAI é sede da Direção da Província de São Pedro,
do Centro de Estudos da Pastoral Migratória, do Movimento Cursilho da
Cristandade, dos Movimentos Emaús, Serra Clube Internacional das Vocações, Focolare, da Associação dos italianos cristãos ex-combatentes, do
Centro de Integração e Atualização Cultural (CIAC) e da Escola de Língua
Italiana. Assim, o fim específico da missão voltado teoricamente para os
migrantes se mantinha presente, porém as ações prioritárias eram dirigidas
para uma pastoral de característica diocesana. No boletim de abril de 1975
percebe-se claramente uma dicotomia entre as práticas pastorais, acima citadas, com os objetivos específicos do CIBAI:
O CIBAI Migrações tem como finalidade aprofundar a presença da Igreja no mundo e, especificamente: ampliar a família scalabriniana pela adesão de voluntários
(colaboradores) na promoção dos migrantes.
Incentivar o projeto scalabriniano na ação pastoral conjunta de sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas na busca da promoção dos migrantes.
Auxiliar financeiramente as missões scalabrinianas no Paraguai, Brasília e Vila Nova.
Procurar padrinhos de seminaristas carlistas.
Acolher jovens do interior.
Difundir as biografias de Scalabrini.
Levar a pastoral migratória às comunidades cristãs de origem dos que migram.
Despertar a consciência de ação nas comunidades cristãs sobre o fenômeno migratório.
Em 1976 o Livro Tombo I registra que o ano foi marcado por uma extraordinária atividade pastoral nos vários movimentos existentes no CIBAI.
Entretanto, nesse ano também, se encontram apenas alguns raros registros
de visitação às famílias de imigrantes:
Pe. Mário Ginocchini está visitando todas as famílias associadas à nossa comunidade, não apenas para colocar em dia o nosso fichário (seria muito pouco), mas,
principalmente, para aprofundar os laços que nos unem e, assim, sermos cada vez
mais Igreja, pois ela só existe onde há circulação de vida. E VIDA É AMOR.
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50 anos de serviço com migrantes
Os 25 anos do CIBAI
Em julho de 1978 a comunidade celebra os 25 anos do CIBAI, considerando que o inicio do serviço aos migrantes foi o ano de 1953 quando Pe.
Paolo Bortolazzo começa a integrar o Secretariado Católico de Imigração.
Por ocasião desse evento Frei Rovílio Costa, que coordena a redação do
Boletim Especial com o título: "1953 - CIBAI: 25 ANOS DE ATIVIDADES - 1978", publica um artigo no Cor- reio do Povo, onde aponta à sociedade desafios da problemática migratória:
Qual a função da igreja diante do novo
cenário migratório: urbanização (migração interna) e a continuação da
imigração estrangeira... Vivemos
num passado não tão distante dos
dias trágicos da "campanha de nacionalização", mas se vislumbra
hoje um novo cenário com uma
nova consciência da riqueza étnico-cultural. Que desafios isto nos
coloca? (Liv. Tombo I).
Avaliação da Pompéia
O editorial do Boletim de abril de 1979 volta a destacar que as práticas
pastorais da Comunidade da Pompéia estão voltadas para outras preocupações:
Dizem que na Igreja da Pompéia se encontram: uma discreta participação nas missas e na liturgia, um ótimo coral, um órgão maravilhoso e organistas fora de série.
Dizem, também que há muitos movimentos carismáticos que se servem dos locais
da Pompéia: Cursilho, Emaús, Serra Clube, Encontro de Empresários Católicos,
Políticos Católicos, Militares católicos, Focolarianos, Grupos de Jovens (JATO Juventude Amor Total) imigrantes do interior, Equipes de Nossa Senhora.
Mas dizem também que seria necessário: fazer com que os participantes nas missas
cheguem com maior pontualidade. Constituir um grupo que se responsabilize da
liturgia e que a comunidade participe mais no canto litúrgico. A Igreja precisa de ar
condicionado ou pelo menos de uma maior ventilação (p.1).
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
O chamado de outras categorias de migrantes
É um contínuo vai-e-vem nas prioridades pastorais da Pompéia. Porém
em 1979 são dados os primeiros passos para uma pastoral com outras categorias de imigrantes: agricultores reassentados, a comunidade chinesa inicia seus encontros bimestrais na Igreja da Pompéia e salão do CIBAI e,
finalmente desafiado pela Campanha da Fraternidade de 1980, a instituição
volta-se para os milhares de hispano-americanos que já estavam na grande
Porto Alegre.
1980 - o Ano das Migrações
No Boletim de março de 1980 a questão migratória passa a ser priorizada
pelo CIBAI. Nele se encontra uma reflexão com o título: o "ANO DAS
MIGRAÇÕES":
O ano de 1980 passará a ser conhecido, na historia da Igreja do Brasil, como o 'ano
das migrações', fruto da Campanha da Fraternidade25 que tem como tema:
'Fraternidade no mundo das migrações'. Também será marcado pela visita de João
Paulo II ao Brasil, peregrino como os quase 40 milhões de migrantes internos que
existem em nossa pátria; e, por fim, o 75º. Aniversário da morte de João Batista
Scalabrini, apóstolo dos migrantes.
João Paulo II durante o I Congresso Mundial de Pastoral Migratória de 1979 disse:
'Entendamo-nos bem: a pastoral dos migrantes não é somente trabalho dos missionários destacados'; é obra de toda a igreja local: sacerdotes, religiosos e leigos; é
toda a igreja local que deve zelar pelos migrantes, estar na acolhida, nos intercâmbios recíprocos.
Aqui na Igreja N.S. de Pompéia o ano das migrações deverá sensibilizar todos os
amigos a cerrarmos fileiras em torno desse objetivo comum, para que se tomem
iniciativas concretas e eficazes (p.1).
25 Mudanças de data do dia do Migrante. O dia do migrante foi instituído pela
Igreja em 1914. O Papa Paulo VI solicitou, em 1969, que todas as Conferências
Episcopais celebrassem devidamente esse dia. Em 1979 a Assembléia Geral da
CNBB, fixou o dia 25 de junho, caso caísse num domingo, ou, caso contrário, no
domingo anterior. Atualmente se celebra a Semana do Migrante na quarta semana
do mês de junho e o tema é uma continuidade da Campanha da Fraternidade que
acontece durante a quaresma.
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50 anos de serviço com migrantes
O CIBAI/Pompéia visto por um migrante
Nos arquivos da instituição há o depoimento de um imigrante em que o
mesmo faz uma análise comparativa da caminhada da comunidade:
Durante as décadas de 50 e 60 a presença dos padres carlistas foi importante para
animar a fé dos patrícios italianos: acolhiam na chegada, visitavam, orientavam,
ajudavam os mais carentes com alimentos, remédios e roupas, faziam a intermediação
com empresários para conseguir trabalho, celebravam missas, estimulavam a participarem nos grupos de famílias para a reza do terço, organizavam celebrações dos
santos e a devoção às diversas denominações de Nossa Senhora e promoviam confraternizações. Desempenharam um papel importante no processo de aculturação.
Na década de 70 as práticas pastorais dos carlistas começaram a voltar-se para
outras prioridades, pois a inserção dos italianos na sociedade portoalegrenese e nas
paróquias onde residiam tinha completado o ciclo natural, especialmente em razão
dos filhos dos italianos que aqui nasceram e ainda não era sentida a presença dos
hispano-americanos.
A auto-avaliação do Pároco
Pe. Mário Ginocchini, que foi pároco na década de 1970 durante 9 anos,
faz também sua avaliação e propõe novas prioridades norteadoras para o
trabalho pastoral da Paróquia e do CIBAI, com o título "Umas realidades e
considerações":
Realidades. Relembrando os nove anos e dois meses de responsabilidade quero
frisar que:
A - O setor pastoral e espiritual: 1. Foi colocada a celebração de uma missa
também pela parte de manhã. 2. A recitação diária do terço às 18 horas. 3. Foi
regulamentada a preparação anual para a primeira eucaristia e o crisma. 4. Foi
iniciada (ou incentivada para os movimentos existentes) a atuação na Igreja e nos
salões de vários movimentos carismáticos que visam a renovação espiritual das
pessoas, das famílias e dos futuros lares.
B - Uma Igreja: não se deve projetar por sua obra de sacramentalização, mas
quando realizada dentro das normas previstas demonstra sua vitalidade. É neste
sentido que de janeiro de 1971 a março de 1980, na Igreja da Pompéia foram realizados: 2.227 casamentos; 2.190 batizados; 1.125 crismas; 225 primeiras eucaristias; 3.275 atendimentos aos doentes; 112.000 comunhões distribuídas.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
C - O setor material: foram pagas as dívidas existentes, num total de 945.000,00
(cruzeiros). Foi construído o altar, colocado o piso do presbitério e do coro. Foi
feita a pintura interna e externa da casa. Foi renovada a iluminação da Igreja (Livro
Tombo I, p 24 e v, março 1980).
Considerações. E concluo com as seguintes sugestões:
1 - Aos quinze dias de janeiro de 1971 tomei conta do serviço nesta casa. Eu não
conhecia e ninguém sabia com exatidão qual era o programa a ser desenvolvido.
2 - Pelos estatutos nossos, onde há mais de um padre, o Superior não pode ser
ecônomo, portanto, eu errei em dispensar atendimento no campo econômico.
3 - Educado num sistema em prol das economias da casa, não poupei em aceitar
serviços pastorais e sociais fora do meu ambiente (...)
4 - Faço votos que agora, com a nova estrutura, a Igreja da Pompéia e o CIBAI,
realizem o carisma específico (...). Permito-me, concluindo, salientar que os novos
responsáveis realizem o trabalho em caráter preferencial em favor dos migrantes
(p. 25).
Um Papa na Pompéia
Em 1975 a Pompéia acolhe ao Cardeal Albino Luciani, patriarca de
Veneza, futuro Papa João Paulo I, que concelebra missa com Dom Vicente
Scherer no dia 7 de novembro de l975. Uma placa foi colocada no altar
para lembrar sua celebração na Igreja da Pompéia.
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50 anos de serviço com migrantes
A conclusão das obras do Centro de Atendimento ao
Migrante
Na década de 70 ocorrem algumas reformas na garagem e nos salões de
reuniões. Em 1978 a Província assume a tarefa de concluir a última etapa
do projeto previsto desde o início, ou seja, a construção da parte da garagem (nova) com dois pisos de aproximadamente 1.000m² e sobre a mesma
a construção do novo salão.
Em 1º de março de 1979 o novo salão é inaugurado com a presença
dos cursilhistas que naquele dia se apresentaram para a reunião-aula semanal, palestrando o Bispo Dom Antonio Cheuiche sobre o Documento
de Puebla (Livro Tombo I).
Os primeiros contatos com os hispano-americanos
Em 15 maio de 1979 encontra-se um relatório onde aparece o primeiro
envolvimento com os hispano-americanos:
Geralmente os migrantes uruguaios e chilenos que procuram o CIBAI, são jovens à
demanda de serviços ou de uma ajuda para voltar. Por ocasião do dia das mães, dia
13, foi possível o primeiro contato com os cônsules da coletividade uruguaia, chilena e argentina. As informações recebidas através dos consulados e confirmadas
pelo Delegado da Polícia são as seguintes: existem na grande Porto Alegre em
torno de 20 mil uruguaios legalizados e aproximadamente 4 mil clandestinos; 3 mil
argentinos; e 6 mil chilenos. Todos concordam que quem realmente pode dar uma
assistência aos migrantes integrados e aos clandestinos é a igreja. Para organizar
algo, não se deve apresentar de imediato o motivo exclusivamente religioso, pelo
menos para os uruguaios, mas um motivo de ordem social, de confraternização e
daí passar a uma assistência pastoral e social (p.1).
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DÉCADA DE 1980 ABERTURA PARA AS NOVAS MIGRAÇÕES
‘A migração é um bem e um mal'. É
indubitavelmente um bem, fonte de bem estar
para quem vai e para quem fica, verdadeira
válvula de segurança social, aliviando o solo do
excesso da população, abrindo novos caminhos
ao comércio e às indústrias, fundindo e aperfeiçoando as civilizações, alargando o conceito de
pátria, além dos limites materiais, fazendo do
mundo a pátria do homem; mas é sempre um
gravíssimo mal, individual e patriótico, quando
se deixa caminhar assim sem lei, sem freio, sem
direção, sem tutela eficaz (...).
'Onde estiver o povo que trabalha e sofre aí está
a Igreja' que tem a missão de 'evangelizar os
filhos da miséria e do trabalho'. A migração não
é problema só da Igreja de partida, nem só da
Igreja de destino; antes, sendo fenômeno e
problema universal, é problema da Igreja
universal. Portanto delineia-se a necessidade de
uma coordenação entre as Igrejas particulares.
(SCALABRINI)
A revitalização do CARISMA com novos serviços aos imigrantes
A discussão interna, entre constituir-se uma missão específica voltada aos
migrantes ou dedicar-se aos movimentos eclesiais e às exigências de uma paróquia tradicional, que se prolonga durante a década de 1970, é equacionada pelo
próprio Superior Geral dos Padres Carlistas, Pe. Giovanni Simonetto. Em 30
de janeiro de 1980 ele encaminha correspondência ao Cardeal D. Vicente Scherer
(Protocolo nº 454/80), onde faz uma reeleitura do carisma missionário
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scalabriniano, até então centrado no serviço aos imigrantes italianos, e diz que
a Congregação se dispõe a atender imigrantes de outras nacionalidades.
Em 17 de fevereiro do mesmo ano o Cardeal responde dizendo que aceita a
modificação do Decreto Episcopal originário26, de 1959, ampliando o serviço
dos missionários scalabrinianos no atendimento a todos os migrantes provindos de quaisquer países estrangeiros. No final de sua correspondência, porém,
faz uma ressalva: que os salões da Paróquia da Pompéia continuem servindo
aos movimentos espirituais da Arquidiocese. O novo decreto é assinado somente dois anos após, em 23 de maio de 1982, definindo um novo perfil (atribuições) para a paróquia da Pompéia, conforme Livro Tombo 1, p.31):
A reestruturação jurídica define que a Paróquia Pessoal dos Italianos continua, porém, agora, acrescida da Missio cum cura animarum para os imigrantes estrangeiros provindos de qualquer país (anexa à Paróquia Pessoal Nossa Senhora da
Pompéia). O próprio decreto afirma ser uma necessidade atender imigrantes de
outras origens, especialmente hispano-americanos, que em grande número chegam
ao nosso país, ficando o encargo espiritual dos mesmos à Congregação dos Missionários de São Carlos - pároco e vigários cooperadores da mesma Paróquia, com
sua jurisdição respectiva encarregados da mesma missão.
O atendimento aos hispano-americanos
Em abril de 1980, o novo pároco,
Pe. Pio Fantinato (Piodecimo), registra no Livro Tombo a 1ª reunião da
equipe destinada a reestruturar o
CIBAI no que se refere ao atendimento dos migrantes hispano-americanos... No mesmo mês o Superior Geral, Pe. Simonetto, em visita canônica
à paróquia, insiste fortemente sobre
este novo rumo do CIBAI.
26 O Decreto Episcopal foi alterado, somente dois anos após, em 23 maio de 1982, por
Dom Cláudio Colling (no. 224/82) autorizando, ampliando e definindo as novas atribuições da Paróquia pessoal Nossa Senhora da Pompéia.
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No Boletim de maio de 1980 há o registro de três novos acontecimentos:
Com grande alegria, a cada dois meses, a comunidade católica chinesa recebe a
visita do capelão que reúne os patrícios em nossa Igreja dos Migrantes. Está em
vias de organização o atendimento da comunidade católica japonesa. Os hispanoamericanos também irão ter, proximamente, o atendimento espiritual por parte do
CIBAI (p.4).
Em 1º de junho de 1980 é oficialmente iniciado o trabalho espiritual
com os hispano-americanos. A Pompéia, paróquia pessoal para os italianos, passa a abranger também, a "missio cum cura animarum para os
hispano-americanos" (teor do Decreto Episcopal). A data coincide com as
celebrações dos 75º aniversário de falecimento de Scalabrini e a colocação
de uma placa na Av. D. João Batista Scalabrini, no Bairro Sabará, Porto
Alegre. Estiveram presentes inúmeras autoridades brasileiras, cônsules e
imigrantes da Itália, Uruguai, Argentina e Chile. No mesmo dia ocorre o
lançamento do Livro Oração do Peregrino.
O testemunho do pároco
Em 2009, vinte nove anos após ter trabalhado na Pompéia, Pe. Pio
Fantinato testemunha o significado pessoal dessa inserção com a imigração:
Foi uma rica experiência para mim, que tinha ficado sempre no interior (Nova Bassano
e Guaporé), na formação e na pastoral, ainda bastante ordinária. Confesso que na época tinha receio de ir a Porto Alegre, grande
centro urbano, mas enfrentei com coragem
esse período. Foram 3 anos da minha vida
que recordo com carinho e gratidão. Foi iniciado o trabalho com os hispano-americanos, que dura até hoje sem esquecer o trabalho com os Italianos (lembro ainda com saudade dos amigos de Morano Calabro). Algumas famílias vizinhas frequentavam a nossa Igreja. A maioria participava na sua paróquia territorial, a nossa era uma simples
alternativa. Nada para eles fazíamos de especial. Quero testemunhar que o trabalho
em Porto Alegre foi para mim una nova descoberta do Carisma Scalabriniano
numa forma mais forte e vivaz (Agosto de 2009).
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A nova dinâmica - problemas e desafios
No mês de junho de 1980 é constituído um Conselho de Coordenação
dos imigrantes hispano-americanos formado inicialmente por uruguaios,
argentinos e chilenos e depois por imigrantes de outras nacionalidades.
A equipe logo percebe a desproporção de meios e recursos diante dos
múltiplos problemas decorrentes do complexo fenômeno migratório 27. Os
membros da equipe do CIBAI não dominava a língua espanhola. Foram
importantes as aulas ministradas pelo estudante peruano César Ramirez,
das quais se beneficiaram Pe. Pio Fantinato, Pe. Genoir Pieta, Pe. Alessandro
Ruffinoni e Rita Bonassi. Havia carência de profissionais na área jurídica,
especialmente pelo fato que uma nova Lei (Estatuto do Estrangeiro de 1980)
tinha sido estabelecida. Bonassi (2000) assim descreve o período:
No contato direto com os imigrantes, mergulhamos logo numa realidade
complexa, envolvendo todos os setores da sociedade. Causas econômicas, culturais
e sociais, entrelaçavam-se e confundiam-se no cotidiano desses imigrantes à procura de sobrevivência... De repente nos damos conta que artigos da nova lei excluíam,
negavam a cidadania, criminalizavam muitos imigrantes (p.105).
Rita Bonassi e el Rincón de los Latino-americanos
No dia 22 de junho, dia Nacional dos Migrantes
ocorre a primeira concentração e confraternização
dos imigrantes hispano-americanos. A partir de então o 2º domingo de cada mês passou a ser o dia do
encontro, inclusive com celebração das festas pátrias de cada nacionalidade. No Boletim de setembro28
de 1980 começa a surgir a página El Rincón de los
Latino-americanos em espanhol:
27 Estimativas dos jornais da época, como Zero Hora (27/11/83), sinalizava a existência
de mais de 80 mil latino-americanos no RS em situação de indocumentados.
28 É relançado a "Coleção de Cantos Populares da Região de Colonização Italiana no
RS", promovido pelo CIBAI Migrações, fruto de um paciente e minucioso trabalho de
pesquisa (a 1ª edição fora em 1972).
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Hogar Espiritual - El día 22 de junio los Padres Carlistas de Cibai Migrações
extendieron su gestión de ayuda esta vez hacia el migrante latino-americano. En
esta hora propícia tal gesto significa, para nosotros, clara oportunidad de encuentros
com personas de nuestro y otros países de habla hispana, a la sombra de la iglesia
católica (p.3).
Em 20 de outubro 1980 o sacerdote registra no Livro Tombo que frente
à necessidade de organizar um serviço específico no encaminhamento da
documentação aos imigrantes, foi convidada a assumir a pastoral social
do CIBAI a Missionária29 secular scalabriniana Margherita Bonassi, mais
conhecida como Rita. No seu livro "Canta, América sem fronteiras"
(2000), Rita detalha a dinâmica dos trabalhos pastorais:
Desde o começo, a idéia da participação foi permeando todo o serviço. Amadurecendo até se concretizar em projetos de ação nos diferentes setores inter-relacionados: espiritual, social, cultural, jurídico e recreativo. Um serviço com desdobramento político, pretendendo não somente uma assistência imediata, embora necessária, mas também uma luta permanente para uma verdadeira integração e para
mudanças legislativas. Caminante no hay camino, se hace camino al andar, era o
nosso lema e, passo após passo, vivíamos juntos entusiasmos, temores e esperanças
(p. 105).
Imigrantes Latino-Americanos na grande Porto Alegre
A partir dos dados de atendimentos aos imigrantes latino-americanos,
na década de 1980, se pode identificar um perfil dos mesmos:
• Razões das migrações: 70% dos imigrantes decidiram emigrar para a
região de Porto Alegre por motivos econômicos; 20% por razões político-econômico e 10%, exclusivamente por questões políticas.
• A faixa etária dos imigrantes: preponderavam (55%) jovens abaixo de
25 anos; e 35%, entre 26 a 35 anos; os demais, nas faixas superiores.
29 Rita marcará profundamente o CIBAI seja pelo serviço social e jurídico, como pela
visitação e organização dos migrantes. O Livro Tombo da Paróquia afirma que pelo serviço da mesma: o CIBAI está tomando sempre mais a fisionomia clara daquilo que deve
ser: paróquia dos migrantes ( p 31 e v.).
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• Presença maior era de imigrantes do sexo masculino (70%).
• Quanto à procedência desses imigrantes três nacionalidades se destacavam: uruguaia (35%), chilena (25%) e argentina (23%).
• Busca de orientação no CIBAI. A maioria, 67%, dirigia-se ao Centro de
Atendimento por indicação de amigo, parente e conhecido; 24% eram
encaminhados por Entidades e Órgãos Públicos; 9%, por Igrejas.
Outra pesquisa realizada, em 1986, pelo CEPAM - Centro de Estudos da
Pastoral Migratória -, com orientação do sociólogo Ernesto Goeth, do Setor de Migrações da CNBB, revela aspectos psico-sociais dos imigrantes,
como não guardavam na memória as dificuldades iniciais, por isto os deixavam "fechados" à situação dos que continuavam chegando. Por outro
lado, a pesquisa revela aspectos positivos do processo migratório a partir
dos valores trazidos do seio familiar e das instituições tanto do país de
origem como de destino: acolhida, apoio moral, direitos humanos e valorização cultural.
A síntese dos dados apurados:
Aspectos avaliados
Principais dificuldades enfrentadas:
Documentação e trabalho
56,0%
Idioma
24,0%
Costumes diferentes
22,0%
Falta de relacionamentos e amizades
19,0%
Adaptação inicial
18,0%
Moradia
14,0%
Vantagens oriundas da migração:
Trabalho/qualidade de vida
Liberdade
Estudo
Abertura do povo brasileiro
Novas amizades
72,0%
13,5%
10,7%
10,0%
6,7%
Aspectos avaliados
Sugestões para uma melhor integração:
- Por parte do imigrante:
Romper o isolamento, adaptação à sociedade 21,0%
Assimilação de novos costumes
5,6%
Capacidade (saber) lutar
4,5%
- Por parte da sociedade:
Nãodiscriminar, dar oportunidades
18,5%
Encontros de intercâmbio de integração
17,0%
Dar documentação e postos de trabalho
16,0%
- Por parte da Igreja:
Acolhida e orientação aos que chegam
19,0%
Agilização na documentação
17,4%
Igrejas divulgaremo serviço aos migrantes
11,2%
Apoio moral
9,6%
Defesa dos direitos dos migrantes
7,5%
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Metodologia e práticas pastorais com os migrantes
Dois focos centrais nortearam o trabalho pastoral com os migrantes na década de 1980, conforme os Relatórios Anuais e o livro de Rita Bonassi (2000):
Um, o serviço sócio-jurídico. No escritório do Centro de Pastoral
onde eram atendidos os imigrantes30 percebia-se o medo, a preocupação de muitos em se identificarem. Quando o responsável pegava a
caneta e a ficha de atendimento e perguntava o nome, a resposta era
imediata: "Para quê"? Havia necessidade de deixar de lado o registro de dados para dar espaço à conquista da empatia da pessoa, acolhêla e tranqüilizá-la. Muitos optavam em fazer a primeira sondagem
por telefone, evitando o risco de se exporem publicamente. O serviço
gracioso e o ambiente fraterno iam, aos poucos, rompendo o círculo
do medo e da desconfiança, e a pessoa passava a sentir-se bem acolhida e amparada.
Era um mundo novo que se descortinava ao Centro de Atendimento,
especialmente quando a equipe recomeçava a fazer visitas às famílias31:
As visitas nos revelavam a realidade dramática da vida dos imigrantes. O isolamento, o medo, a incerteza, criando uma situação própria para serem explorados pelos empregadores, uma vez que não tinham o amparo das leis sociais. Ao
abrirem a porta nos perguntavam receosos: "Quién le dio mi dirección?". Um
casal vivendo a angústia de ser descoberto, dizia: "Nós estamos sempre com a
mala pronta para qualquer ocorrência" (BONASSI, 2000, p.109).
Relatos da mesma autora feitos em palestra mostram o drama que
muitos imigrantes carregavam, especialmente os perseguidos políticos:
Certo dia chegou no CIBAI um jovem chileno com fortes sinais de transtorno.
Após ter-lhe oferecido uma xícara de café ele começou a revelar o drama que
estava vivendo internamente: Um dia três policiais chilenos fizeram uma imprevista incursão na minha casa, fato que ocorria com freqüência durante a
ditadura. Armados de metralhadora eles me imobilizaram e iriam me levar sob
30 Apenas como exemplo, o relatório das atividades assistenciais de 1987 apresenta:
2.100 atendimentos; 908 visitas a famílias, hospitais e presídios; 240 reuniões e encontros.
31 A listagem de endereços das famílias era elaborada pelo Conselho de Coordenação dos
latinos, pois a grande maioria dos latino-americanos que viviam no RS, no início da década de 80, eram fugitivos por problemas políticos e não podiam regressar ao país de origem.
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a acusação de atividade subversiva. Após terem violentado minha esposa sob
meus olhos, apontaram as armas em direção ao meu filho de dois anos, que
chorava gritando. Recolhi todas minhas forças, libertei-me do soldado que me
imobilizava e joguei-me encima de um deles e, roubei-lhe a arma e comecei a
atirar... Consegui fugir. O jovem levantou-se e com as mãos tapando o rosto
soluçava exclamando: O que podia fazer? Diga-me, o que podia fazer? Em
silêncio dirigi-me a Deus e pedi-lhe de tocar esse jovem com Seu amor. De
repente comecei a dizer-lhe: "Deus te ama, como também a eles...". Lentamente ele sentou-se e sussurrou: Eu sei, somente na Igreja posso sentir-me acolhido... com o perdão.
Outro foco foi a organização de encontros periódicos para que
os imigrantes pudessem sentir-se pessoas, encontrarem amigos, saborearem a liberdade, fortalecerem a cultura e a expressão de sua fé.
Nos encontros eram celebradas as datas significativas dos diferentes
países, com músicas típicas, exposições culturais, reuniões e debates.
O imigrante que deixa para trás sua terra e adota uma nova sociedade, passa pela experiência do desenraizamento afetando profundamente sua vida, pois tudo é diferente: língua, costumes, hábitos, clima fazem com que ele se sinta um estrangeiro no exílio e também na própria
terra. Depoimentos revelam as contradições da vida para o imigrante:
Cada día, en esta nueva cultura, la cual me enseña a vivir, sentí todo lo bueno
y el malo que es ser migrante. Enquanto outro dizia: El hecho de emigrar me
hizo crecer, abrir más horizontes y perspectivas, alimentar mi fe, sentir un Dios
cercano, compañero en el caminar, mismo en los momentos de mayor
preocupación y desconcierto. Uma senhora argentina dizia: La soledad y la
nostalgia, además de las muchas dificultades, me hacen sentir que ahora soy
migrante (BONASSI, 2000, p. 110).
A palavra saudade, extrañamiento e nostalgia, era a que mais aparecia fortemente nos encontros dos latinos e exprimia-se em gestos e
nos ritos. Os encontros dos e com os migrantes tornavam-se familiares inclusive para os brasileiros, apreciando suas expressões culturais: o canto, a dança, as datas significativas, as devoções dos santos
e patronos, as comidas e as bebidas típicas, os sotaques diferentes
(BONASSI, 2000). Cada pessoa tinha espaço para falar de seus familiares distantes, das cidades, dos costumes, por intermédio de fotos,
postais, livros, fitas e artesanato. Era a partilha da riqueza de suas
culturas. Descobria-se que "cada migrante é um amigo que ainda a
gente não conhece".
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A alegria e a coragem do serviço
Pe. Alessandro Ruffinoni, que atuou na Paróquia de 1982 - 1984, deixa
um registro no Livro Tombo I, que foi utilizado pelo Boletim da Pompéia,
quando de sua sagração episcopal.
Fui recebido com "abraço forte" do Pe. Pio Fantinato para o atendimento aos imigrantes de todas as nacionalidades. Tive que estudar o espanhol. Com a transferência do Pe. Pio para Portugal assumi a paróquia. Promovi atividades novas como a
visita aos operários do Pólo Petroquímico, aos "barracados"que estavam na TabaíCanoas, encontros com empregadas domésticas. Incentivei a organização do Fogón
Criollo, encontro de famílias latino-americanas. Dei uma especial atenção aos jovens imigrantes: América sin Fronteras e ao Grupo Jato (jovens brasileiros imigrantes internos). Introduzi a missa em italiano no primeiro domingo do mês e em
espanhol no segundo. Organizei o grupo de coordenação latino-americano integrado por leigos, missionárias, irmãs e sacerdotes. Vivi um momento muito triste quando
em 6 de outubro de 1982 fui assaltado no escritório do CIBAI e minha vida ameaçada
(cf. A Família da Pompéia, jan/fev, 2006).
As anistias da década de 8032 e o impacto no trabalho do
CIBAI/Pompéia
 A anistia de 1981
A primeira anistia já estava inclusa no Estatuto do Estrangeiro, Lei nº
6.815/1980, mas passou a vigorar a partir de 10 de dezembro de 1981, data
em que foi publicada a Lei nº 6.964 de 9 de dezembro de 1981, que acrescentou e alterou a primeira.
Até ser sancionada a segunda Lei houve muita confusão na informação
sobre a anistia, de maneira que muitos imigrantes irregulares foram até a
Polícia Federal pedindo o registro provisório, mas em troca foram multados e receberam a notificação de deixar o país. O Movimento de Justiça e
Direitos Humanos de Porto Alegre, coordenado pelo Dr. Jair Krischker
passou a orientar os imigrantes pela mídia pedindo que não fossem à Polícia Federal.
32 A descrição desse ponto foi extraída do livro de BONASSI (2000), páginas 75 a 90.
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Na realidade a anistia passou a vigorar de 10 de dezembro de 1981, por
um prazo de 120 dias. Embora o art. 134 da Lei 6.964/81 e seus parágrafos
e incisos fossem acessíveis para conseguir o registro provisório, os executores com a tramitação burocrática e seus critérios "seletivos" inviabilizaram
o aproveitamento da anistia para a maioria dos imigrantes irregulares. Estimava-se um número superior a 400 mil nessa situação no Brasil e apenas
27 mil conseguiram o registro provisório.
O CIBAI enquadrado pela Polícia Federal
Eis o que Bonassi (2000) narra sobre o episódio:
No começo de 1982, ainda em vigor o prazo da anistia, uma equipe da TV local
quis realizar, no CIBAI, uma reportagem sobre os irregulares e a anistia. No dia da
transmissão, porém, durante o jornal regional, a repórter, concluindo a matéria,
anunciou que os estrangeiros ilegais se dirigissem para o CIBAI, na Igreja da
Pompéia, ao invés de mencionar o único órgão competente para a emissão de documentos para estrangeiros, a Polícia Federal. Isto gerou fila de estrangeiros no CIBAI
e provocou a irritação na Polícia Federal, o que determinou abertura de uma
sindicância sobre a "instituição paralela que ousa interferir nos negócios federais".
Esclarecidos os equívocos o CIBAI recomeçou a ajudar os imigrantes
no preenchimento dos formulários, acompanhando-os até o órgão responsável. Inclusive, no último dia do prazo da anistia, 7 de abril de 1982, a
equipe do CIBAI foi com o carro e uma máquina de datilografia e instalouse ao lado do prédio da Polícia Federal, servindo aos imigrantes. No final
do dia, após às 17 horas, a equipe adentrou no saguão do prédio e aí mesmo
datilografava os formulários, cobertos pela massa de imigrantes, estes os
entregavam aos funcionários do Departamento do Estrangeiro.
Terminado o prazo legal da anistia chegou até o CIBAI um imigrante
com a situação irregular, dizendo que fora informado que a mesma havia
sido prorrogada. Ele estava com câncer e, segundo o Estatuto do Estrangeiro poderia permanecer no país como caso humanitário. Rita o acompanhou
até à Polícia Federal. Foi entregue o passaporte para o funcionário analisálo. Frente à demora da análise o imigrante argentino começou a ficar inquieto e com medo. Saiu sem ser visto e Rita solicitou a devolução do passaporte, para poder retornar no dia seguinte. Outro agente da Polícia Federal
resolveu chamar o chefe, este pediu para entrar no seu gabinete, abriu o
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Estatuto do Estrangeiro e leu pausadamente o art. 125, inciso XII: "Constitui infração introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar clandestino
ou irregular. Pena: detenção de um a três anos e, se o infrator for estrangeiro, expulsão".
A Equipe do CIBAI foi proibida de orientar qualquer migrante ficando
suspensa, por um ano, de comparecer à Polícia Federal para acompanhar
imigrante. Alguns meses depois, porém, com a troca da chefia, foi retomado o serviço normalmente.
 A anistia de 1988
Pela Lei nº 7.685 de 2 de dezembro de 1988 foi decretada nova anistia,
possibilitando aos estrangeiros ilegais e clandestinos a requererem registro
provisório desde que tivessem ingressado no território nacional até 1 de
julho de 1988 e nele permanecessem em situação ilegal.
Segundo Bonassi (2000) a estimativa de estrangeiros irregulares no país
era maior do que em 1981, porém, também por essa anistia, apenas 36.990
pessoas conseguiram o documento provisório por dois anos, prorrogado 90
dias antes do término.
No final dos dois anos, não houve divulgação pela imprensa e pelas autoridades sobre a necessidade de prorrogar o documento provisório nos últimos 90
dias. Muitos não encaminharam o pedido e perderam o direito de requisitar o
permanente. Outros perderam o direito pela demora da Polícia Federal em emitir o segundo documento provisório, sem a possibilidade de requisitar a transformação em permanente. O incrível aconteceu: famílias iam até a Delegacia
Regional da Polícia Federal para saber se chegara o pedido de prorrogação.
Como o prazo estava vencido o órgão responsável passou a notificar aquelas
famílias que lá compareciam, dando o prazo de oito dias para sair do país.
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O trabalho do CIBAI com presos estrangeiros
Foi a partir de 1984 que a equipe do CIBAI começou a visitar, mensalmente, latino-americanos no Presídio33 Central de Porto Alegre e na Penitenciária Estadual de Jacuí, em Charqueadas. Além de informá-los sobre os
processos, era um momento para os presos estrangeiros se conhecerem e
realizarem intercâmbio de vida. No final das visitas, era proposto um momento de reflexão, com tema escolhido pelos presidiários.
Logo nos primeiros encontros os imigrantes presos pediam que fosse
intercedido junto aos órgãos competentes, para que houvesse igualdade no
tratamento com os nacionais, e diziam, segundo Bonassi (2000): Somos
condenados pelo mesmo Código Penal, por que não temos os mesmos direitos? Eles não podiam desfrutar, normalmente, dos benefícios que os presos brasileiros recebiam, como, por exemplo, a remissão da pena: é descontado um dia de pena a cada três dias de trabalho realizado na penitenciária; a liberdade condicional, quando cumpridoum terço ou metade da pena;
a progressão de regime, passar de um regime fechado para um regime semiaberto ou aberto.
Após inúmeras tratativas um Juiz interpretou de forma diferente a legislação e passou a conceder liberdade condicional e a progressão do regime.
Essa interpretação foi seguida por outros juizes. Um grupo de oito latinos
do Presídio Central fizeram, inclusive, uma greve de fome para reivindicar
os direitos que lhes outorgava o mesmo Código Civil Brasileiro que os
condenava por erros praticados.
Canta América sin fronteras
A história tem nos mostrado que o elemento festivo é espontâneo e essencial na vida do povo latino-americano.
Nem a fome, nem a luta, nem os desastres impedem que se organize uma dança na
primeira oportunidade e que as lágrimas e as lutas sejam acompanhadas pelo canto.
33 Fizeram parte dessa equipe: Nora Coelho, Olívia Venegas, Miguel, Victor Hugo Sotto
Paiva, Rita Bonassi e Pe. Joaquim Roque Filippin ("A Família da Pompéia", jun. de 1985).
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América Latina poderia também ser chamada de continente musical. A quena, flauta índia dos Andes, a marimba, tambor africano da América Central, o atabaque
negro do Brasil e mil instrumentos e ritmos traduzem e acompanham a variedade de
cadências, a marcha cultural e histórica do continente. A festa não tem horas circunscritas. Vive-se certo 'estado de festa' que se conjuga, com uma lógica fora de
códigos e preconceitos, com o trabalho, com a dor, com a oração. A alegria, tanto
como a utopia, é uma característica essencial do espírito latino-americano
(Casaldaglia, apud BONASSI, 2000, p. 181).
Foi neste sentido que jovens participantes do Dia Latino que ocorria no 2º
domingo de cada mês, no CIBAI, sugeriram show latino em benefício de imigrantes carentes. Assim surge o primeiro Canta América sin Fronteras, realizado em 3 de outubro de 1981, organizado pelos próprios imigrantes. O show
(BONASSI, 2000) tornou-se um símbolo de liberdade, símbolo de cada povo que quer caminhar com esperança
e coragem, como atores de sua história. O show foi um forte sinal para os
imigrantes. Era um momento de protesto às ditaduras latino (inclusive a
brasileira) e um anúncio de liberdade para todos os povos.
Dos inúmeros shows que ocorriam merece destaque o Fogón Criollo
e a Peña Folclórica. O Fogón Criollo era um encontro cultural organizado com arte e criatividade pelos próprios imigrantes. Era realizado a
cada dois meses no último sábado à noite. As paredes da sala eram enfeitadas com mensagens, cartazes e desenhos dos diferentes costumes
e, no centro, pedaços de madeira e papel vermelho escondendo uma
lâmpada acesa, recriavam o ambiente do Fogón Criollo ao redor de uma
verdadeira fogueira. O encontro era marcado por fortes momentos: apresentação dos participantes, divisão em pequenos grupos que discutiam
determinado tema, plenária, momento espiritual e confraternização repartindo as comidas típicas trazidas por cada participante, ao mesmo
tempo que se apresentavam cantos e poesias dos diferentes países.
A Peña Folclórica, festa típica latino-americana, em que não somente se assiste a ela, mas se participa vibrando com cada música, cada
dança. Artistas se apresentam, seguido de bailes, comidas típicas (ex.
empanadas, chipas, rotillas, salteñas, além de doces e tortas variadas).
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50 anos de serviço com migrantes
Emigrante ayuda a emigrante
O projeto Emigrante ayuda emigrante teve início nos idos de 1985, dentro do espírito de comunhão e participação, e buscava, de maneira prática e
permanente, ajudar os irmãos hispano-americanos mais necessitados e
empobrecidos. A proposta buscava suporte em duas vertentes: famílias ou
pessoas imigrantes hispano-americanos para que contribuíssem mensalmente, de forma espontânea, com algo para ser partilhado; e famílias convidadas a participar no grupo Amigos da Pompéia, especialmente italianos e
brasileiros sensíveis a essa problemática social.
Esse projeto se estendeu por vários anos. Os recursos eram destinados
na aquisição de remédios, material escolar, roupas, calçados, alimentos
básicos, ajuda na documentação, em passagens para renovar ou buscar documentos, material para construção. O que chama atenção é que mais de
130 famílias de imigrantes com boas condições econômico-financeiras passaram a contribuir mensalmente para o projeto.
Imigrantes do interior
Pe. Pio Fantinatto, por ocasião do encontro Nacional do SPM - Serviço
Pastoral aos Migrantes-, descreve as primeiras ações com essa categoria de
imigrantes internos, os jovens:
Os jovens do interior, oriundos particularmente de municípios do RS e SC, chegam
por motivo de estudo e trabalho. Muitíssimos vivem em pensões ou casas de famílias. Longe de suas famílias, tradicionalmente religiosas, estes jovens não superam
o impacto com a grande cidade e automaticamente abandonam os valores morais e
religiosos de sua origem. Em geral são domésticas, trabalhadores em grandes firmas, lutando para a sobrevivência e para pagar-se o estudo.
Organizamos, ciclicamente, 'dias de encontro' espiritual, procurando despertar o
que está adormecido. A novidade da experiência é tentar organizar uma 'vida humana e espiritual' ao redor de seu ambiente de trabalho. Esses jovens não entram em
nenhum atendimento paroquial ordinário e por isso se nos parece que é uma missão
específica de nós carlistas (p.2).
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Há registros que o trabalho com Jovens imigrantes ligados às empresas
dos Grupos Zaffari e Tumelero estende-se por duas décadas. O primeiro
encontro ocorre em 21 de dezembro de 1980. Essa experiência floresce
desembocando na criação do Grupo JATO - Juventude Amor Total34. Na
celebração do Ano Internacional dos Jovens, em 1985, uma manifestação
da coordenação desse grupo encontra-se no Boletim de março daquele ano:
O Grupo JATO é um grupo de jovens migrantes do interior dos Estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que migraram para a capital do RS em
busca de trabalho e cultura. Aqui estamos trabalhando para podermos sobreviver e
estudar. Nessa busca sentimos necessidade de nos reunir para juntos crescer. Foi
pensando nisso que decidimos nos reunir, todos os sábados, na Igreja da Paróquia
Nossa Senhora do Rosário de Pompéia. Em nossas reuniões debatemos nossos problemas, compartilhamos nossas alegrias e procuramos buscar a Cristo (p.3).
34 Há registro do grupo de jovens formado por hispano-americanos denominado “América Sin Fronteira". Inúmeras chamadas são registradas no Boletim A Família Pompéia: Se
busca un joven dinâmico; un joven alegre que quiera integrarse y hacer amisad; un joven
que está en busca de un ideal; un joven latinoamericano... Si tenés guitarra, y sabes tocar
algo, por poco que sea vení, júntate a nosotros, y vamos alegrar la casa del Señor (Jun/jul
de 1983, p.3). Esses jovens, além do encontro semanal do grupo, promoveram diversos
Encontros Latino-americanos para jovens migrantes, auxiliavam no projeto "Emigrante
ayuda a emigrante".
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50 anos de serviço com migrantes
A outra frente foi com operários migrantes no Pólo Petroquímico. Em
abril de 1981 Pe. Mario Ginocchini, Pe. Mário Gazzoli e Rita Bonassi começaram a visitar famílias desses operários migrantes, realizando as "missões volantes". Segundo registros do Livro Tombo, eram operários que há
vários anos estavam sem assistência espiritual da paróquia de Triunfo. Essa
mesma equipe começou a atender os operários migrantes em Bagé, na Usina de Candiota.
A partir de fevereiro de 1983, com a chegada do Pe. Joaquim Filippin,
para atendimento específico aos imigrantes, e o Pe. Ângelo Ravanello para
auxiliar no Centro de Estudos, sistematiza-se o acompanhamento espiritual, aos sábados à tarde, de imigrantes funcionários da firma procedentes do
interior; assistência espiritual aos trabalhadores do Pólo Petroquímico, no
3º domingo, com equipe formada por Padre, Missionária secular, Irmã
Carlista, Irmã da Divina Providência e um leigo com celebração eucarística.
Também, no 3º domingo pela parte da tarde, ocorria o encontro e celebração com empregadas domésticas.
Pe. Antônio Bortolamai
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
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A DÉCADA DE 1990 A DIVERSIDADE INTERCULTURAL
A idéia da nacionalidade não é uma idéia convencional, mas real. Vários elementos concorrem para
concretizá-la: tradições históricas, comunhão de raças,
afeto ao lugar de origem, tradições locais ou de
família, glórias e dores comuns... Esta divisão é
necessária para o progresso moral e material da
humanidade. A diferença de talento das várias linhagens, a admiráve1 variedade de tendências, de aspirações, de afetos, que distinguem um povo de outro,
contribuem para criar aquele grande movimento
intelectual que faz a humanidade progredir e satisfaz
às novas necessidades dos tempos e dos lugares.
A divisão dos homens nas várias origens, nas várias
nações, gera a emulação, fonte primeira da atividade
moral, intelectual e material do gênero humano. Sem
dúvida, as lutas e os ciúmes entre nação e nação
produzem erros e muitas vezes também injustiças; mas
estas lutas mesquinhas, estas condenáveis cobiças
não excluem que a grande emulação, entre povo e
povo, a corrida trabalhosa para o melhor, onde cada
um procura preceder o vizinho e o adversário, não
sejam fautoras do progresso real e verdadeiro, e
portanto do bem.
(SCALABRINI)
A retomada da caminhada, novos atores e questionamentos
No início da década há um esforço em dinamizar serviços comunitários na dimensão sócio-cultural com os
migrantes, sob a coordenação da Irmã Claudete Rigoni.
Nesse sentido surge a cooperativa de costura, a dinamização
do Centro Cultural Latino-americano, a Semana da Cultura
hispano-americana e as exposições artesanais das nações
latino-americanas.
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50 anos de serviço com migrantes
Em 1991 o Pe. Antonio Bortolamai assume a paróquia, contando com o
Pe. Joaquim R. Filippin na assistência aos hispânicos e na administração
do CIBAI. O Pe. Paolo Bortolazzo permanece na direção do Centro de
Estudos da Pastoral Migratória e o Pe. Florindo Ciman continua com os
movimentos na assistência ao Cursilho e à ADCE. A Irmã Lúcia, que atuava nas terças e quintas-feiras à tarde com os carismáticos, desde a década
de 1970.
Dá-se início a pesquisa "Los inmigrantes en las universidades do RS",
com a colaboração dos irmãos Miguel e Luís Chamorro, ambos chilenos.
Segundo o Boletim de setembro de 1991, o estudo tinha como finalidade
saber quantos eram os hispano-americanos, quem e quais suas problemáticas que dificultavam seu processo de integração.
Novas obras
No mesmo ano, 1991, foram realizadas inúmeras obras como a
impermeabilização do pátio interno, a recuperação estrutural da torre e da
marquise da Igreja com respectivas pinturas e a construção da atual cozinha. Em março de 1992 os serviços na cozinha dos salões de festas foram
terceirizados. Em novembro de 1996 foram concluídas as obras de reforma
da Igreja com a troca do forro, a nova iluminação, serviço de som e nova
pintura.
Novos questionamentos e propostas
Surgem novos questionamentos sobre o caminho a ser trilhado pela Paróquia da Pompéia:
A Igreja da Pompéia, paróquia pessoal para os italianos e missão com 'cura de
almas' para os hispano-americanos, continua vazia de povo brasileiro e de imigrantes... Difícil organizar uma pastoral que atraia. Aparece gente nas celebrações das
missas de 7º dia. Em todo caso se tenta ajudar outras paróquias... Importante que os
nossos imigrantes não percam a fé e se integrem e participem em suas comunidades
onde residem. No primeiro e segundo domingo continuam as missas na língua dos
imigrantes italianos e espanhóis, seguidas dos almoços típicos...(Liv. Tombo, 1992).
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Existem, em Porto Alegre, em torno de 10.000 imigrantes italianos, destes aproximadamente 3.000 estão ligados ao CIBAI e 50.000 hispano-americanos. Dentre as
principais dificuldades enfrentadas pela comunidade do CIBAI e Igreja da Pompéia
está o fato de privilegiar o atendimento aos imigrantes atuais, o que afasta os italianos e o povo em geral (Fonte: Ficha da Visita Canônica do Superior Geral, 1995).
Uma tentativa de resposta a esta realidade foi a organização de um grupo
pastoral, mesclando italianos e imigrantes de diversos países da América Latina
- chilenos, uruguaios, argentinos, bolivianos, colombianos e peruanos.
O projeto "Migrante ajuda Migrante" que teve início em 1985, continua
e abre novas dimensões (1993), inicialmente com o nome de Tarde do
Migrante e depois Manhã do Migrante cujo foco passa a ser os imigrantes mais carentes, recebendo além de alimentos, roupas, sapatos, remédios
e cursos de formação.
Novas transferências
No ano de 1994 ocorrem mudanças na Instituição. O Pe. Genoir Pieta é
substituído pelo Pe. Jairo Guidini e o Pe. Paolo Bortolazzo reassume o
Centro de Estudos. Em 1993 a Irmã Marinês Biasibetti integra-se ao serviço social do CIBAI e em março de 1995 a Irmã Claudete Rigoni é transferida.
Com a saída do Pe. Antonio Bortolamai, em 26 de setembro de 1996, o
Pe. Genoir Pieta assume a função de pároco, permanecendo até agosto de
1998, quando foi substituído no cargo pelo Pe. Francesco (Franco) Mazzone.
Em 1997 a Ir. Marines deixa os serviços do CIBAI e em seu lugar assume a
Irmã Marizete Garbin. Chega também o Pe. Darciolei Jorge Volpato que,
com a Ir. Marizete passa a atender a pastoral dos hispano-americanos.
Um Plano de Pastoral
O Plano de Pastoral de 1997 pode ser visto como um exemplo que sintetiza
em parte a caminhada da década. Nele se percebe a continuidade de projetos e
ações oriundas das etapas anteriores surgindo novas ações que sinalizam um
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esforço no redirecionamento da finalidade específica da obra da Paróquia da
Pompéia. Mostra, também, em diagrama, a funcionalidade da instituição.
Os objetivos apontam as dimensões de ação.
• Servir aos migrantes (acolhida, orientação, defesa jurídica, integração e
apoio no crescimento da fé especialmente na comunidade local).
• Fomentar o crescimento da consciência crítica (junto aos diversos agentes
políticos e de pastoral, bem como à hierarquia das igrejas e à opinião pública
em geral, especialmente na necessidade de uma nova Lei dos Estrangeiros).
• Reforçar a construção do elo de comunhão e participação com os imigrantes e suas famílias (através de visitas, celebrações, confraternizações e
o Boletim "A Família da Pompéia)".
• Fortalecer a rede social de serviços aos migrantes (Centros de Pastoral
Migratória).
Na definição das prioridades aponta:
• Atenção especial aos imigrantes hispano-americanos, italianos, estudantes estrangeiros e aos refugiados (inclusive com ajuda financeira);
• Organização de grupos com formação de lideranças.
• Evangelização (nas celebrações, catequeses e visitas às famílias).
• Cultivo dos valores culturais (festas pátrias, das nações, das madres...).
• Manutenção do projeto "Migrante ajuda migrante".
Apresenta a estrutura de serviço do CIBAI/Pompéia, com 3 vertentes: no universo da Paróquia Pessoal, na Arquidiocese e na Congregação
Scalabriniana.
CIBAI MIGRAÇÕES
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Participação na vida e nas atividades da Arquidiocese
Participação na vida e nas atividades da Con gregação
Scalabriniana
A) FE ST AS: da Integração e participação da F es ta das Nações
B ) ATI VIDAD ES PAST O RAI S DE E VANG E LIZ AÇÃO
Li turgia e celebra ções - Cat equese e Sacram ent os
Visi tas dom iciliares - F orm ação
Aconsel ham ento personalizado
Grupos de Fa mí lias - Reuniões de pastor al
Encontros M ensai s - Celebração da S em ana do Migrante
Participação na Rom aria do M igrante
C) SE RVIÇO SO CI AL
Atendimento e assessoram ento s ocial e legal aos im igrantes
Ajuda em ergencial aos im igrantes e m ora dores de rua
Cas a de acolhida - E ncontros de Confraterni zação
Projeto “Criança” - Projeto “M igrante ajuda m igrante”
Grupo de Madres - Projeto R efugiados
Curso de L íngua Portugues a
Boletim Bi língüe “A Fam ília da P om péia”.
Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Inserção cultural
A década foi marcada pela continuidade e criação de novos eventos culturais. Como se pode perceber no diagrama apresentado, o leque de ação e participação do CIBAI foi vasto. Foi na década de 90 que se deu início à Festa de
Integração Latino-americana, ocorrida no dia 18 de setembro de 1991 e que se
sucederá nos anos seguintes. Também continua a inserção do CIBAI na Festa
das Nações em parceira com as Associações de Italianos, a Prefeitura de Porto
Alegre e os Consulados, realizada no Iguatemi Shoping Center no mês de setembro, com montagem de mais de 40 barracas com produtos artesanais, culinários e culturais, típicos dos países. Eis o que o Boletim "A Família da Pompéia"
descreve com o título: CIBAI un Paese differente:
Dobbiamo dirlo. Per prima volta CIBAI se è presentato. L'intenzione era semplice:
far presente la chiesa in maniera più sensibile e attenta ai migranti. Presente per
unire, per sommare e moltiplicare i valori sparsi nei nostri cuori. Il CIBAI non era
paese come gli altri: in mezzo a barrache italiane e ispano-americane e davanti a
tutte le altre, voleva essere "un ponte" e "una fonte": creare unione, servire. Esso
non è ristretto a poche persone, nella Pompéia chissà! Ma è un"paese" nascosto
dentro di ogni cuore che ama l'unità nella varietà e si batte per una nuova
envangelizzazione, con una promozione umana liberatrice e uma cultura. Per una
"civilità dell'amore". Quanti paesi "ponte e fonte" abbiamo scoperto con questa
festa! (nov. 1992).
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Outra iniciativa, que se torna tradição até os dias atuais, foi o Natal da
Criança Imigrante, iniciado em 20 de dezembro de 1992, por iniciativa do
Grupo de Madres latino-americanas.
As confraternizações dos grupos de italianos
Foram os italianos a razão primeira da criação da Paróquia de Nª. Sª. do
Rosário de Pompéia, especialmente para acompanhar pastoral e socialmente
aos que imigraram depois da Grande Guerra. Nas décadas de 60 e 70 a
organização de centenas dessas famílias e contribuintes espontâneos, assim como suas famosas confraternizações, alavancaram recursos para as
obras da Instituição. As imagens da Virgem do Carmo e do Rosário de
Pompéia eram levadas às casas dos italianos, em peregrinação, nos meses
de maio e outubro dedicados a Maria Santíssima. Mais tarde a pastoral da
Pompéia estimula a organização de grupos de famílias para encontros de
oração, celebrações eucarísticas e reflexões.
La Madonna nelle nostre case: Nel mese di ottobre, la statua della Madonna dei
Migranti passerà nelle famiglie italiane per portare la sua benedizione. Resterá un
giorno in ogni casa. Al sabato, poi, alle ore 20, si celebrerà la Messa nelle seguenti
famiglie (...) (A Família da Pompéia, set. 1985)
Com a responsabilidade da Pompéia em acompanhar pastoralmente os
hispano-americanos, a partir da década de 1980, houve relativo
distanciamento dos italianos. Para superar tal impasse um sacerdote foi
encarregado de visitar as famílias dos italianos, estimulando-as a ocupar o
espaço físico da Paróquia para os encontros das inúmeras Associações de
Italianos35 e promovendo confraternizações civis e religiosas das comunidades de origem. Eis um chamado:
Invitiamo il 2 settembre 1990 a tutti gli italiani, di nascita o di origine, di tutti i
35 A Pompéia sempre teve um estreito relacionamento com o Consulado italiano, com a
Associação de ex-combatentes de guerra, la Società Italiana di Porto Alegre, Camara del
Commercio, Comitês - Comitato Italiani all'Éstero-, COEMIT, as inúmeras associações
italianas: Regione Calábria, Lucchesi nel mondo, Trevisani nel mondo, Vicentini, Padovani,
Piemontesi, Lombardi. El Massolin de Fiori, Centro Calabrese, Unione Regionale Italiana, Patronato INCA. O IASI (Instituto de Assistência Social aos Italianos), entidade que
atende os imigrantes italianos mais carentes e que ainda hoje tem sede no CIBAI.
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gruppi, a participare di questo incontro e ci auguriamo che anche i gruppo di
italiani, tradizionali o nuovi, comincino loro stessi, a turno, a promuovere questi
incontri della prima domenica del mese oppure in altri occasioni.
Se gli immigrati Ispano-americani, i giovani immigranti dall'interno, i cantori del
CIBAI, i soci della ADCE, e altri, giá organizzano incontri di confraternizzazione,
perché noi italiani dobbiamo rimanere indietro nella stessa nostra parrocchia?
Basta incominciare (A Família da Pompéia, ago. 1990, p.3 e 4).
Freqüentemente era citada a frase de João Batista Scalabrini: Portare
ovunque ci sia un italiano il conforto della fede e il sorriso della Pátria que
expressa a espiritualidade dos imigrantes italianos.
Refugiados e nova anistia
Fato marcante foi o Projeto de Acolhida a Refugiados Angolanos. A proposta partiu da Irmã Rosita Milesi que atua no setor jurídico das scalabrinianas
em Brasília sendo formalizada, em 13 de agosto de 1993, pelo Dr. Jaime
Ruiz de Santiago, do ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados. Com relação ao assunto, o pároco da época deixa registrado no
Livro Tombo II, 1993, p.21: Vamos pensar, pois se formos decidir pelo carisma
a chamada é clara: 'Era estrangeiro (refugiado) e me acolheste'. A decisão
foi favorável: o CIBAI assume a coordenação do projeto
No dia 16 de dezembro de 1993 finalmente chega o primeiro grupo de refugiados.
Vieram 12 angolanos que foram assim distribuídos: 4 para a Caritas Arquidiocesana,
4 na casa Alberto Bins, cedida pela Província dos carlistas e 4 no litoral, Nova
Tramandaí.
Em 22 de março o CIBAI participa de reunião em Brasília para equacionamento de
dificuldades. Somente em 31 de agosto a direção do CIBAI consegue que uma
imobiliária celebre um contrato de locação com os angolanos que estavam numa
casa da província... Por outro lado surge um imprevisto: um refugiado teve que
amputar as duas pernas em razão de tuberculose óssea.
'A Família da Pompéia', junho de 94, faz uma análise da situação dos
refugiados, fruto das guerras fratricidas. A assistência oferecida pelo ACNUR
é insuficiente e até contraproducente para um processo de integração na
sociedade que os acolhe. A principal dificuldade dos que chegam e dos que
os acolhem é compreender as culturas diferentes e a opção não por uma
prática pedagógica assistencialista, mas participante.
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A anistia de 1998. Uma terceira anistia ocorreu, pela Lei nº 9.675 de 29
de junho de 1998, a estrangeiros em situação irregular, que entraram no
Brasil até aquela data. Praticamente foi a reedição da Lei 7685/88, que
apenas ampliou o prazo. Como nas duas anteriores, embora um número
significativo de estrangeiros se enquadrasse nessa situação, foi relativamente pequeno o número de imigrantes que se beneficiaram da mesma,
apenas 40.909. Os principais motivos que afastaram os estrangeiros foram
as condições estabelecidas em seus dispositivos: taxa individual elevada, o
medo do ilegal apresentar-se à Polícia Federal, imigrantes residiam em cidades onde não existia o serviço federal, documentos do país de origem
vencidos, empregadores de ilegais que não autorizavam o endereço da oficina onde trabalhavam e residiam os imigrantes, temendo a fiscalização da
Polícia Federal.
Mesmo diante das negociações e pressões do CIBAI as autoridades competentes, responsáveis pela anistia, usaram critérios que obstaculizaram a
maioria dos estrangeiros em situação ilegal a se beneficiar da Lei.
Casa de Acolhida de Imigrantes
O Plano Pastoral da Pompéia contemplava uma casa de Acolhida para
Imigrantes. Em setembro de 1994 o Livro Tombo II informa que o terreno
fica na Cidade de Deus, na Cavalhada. 'A Família da Pompéia' faz uma reflexão sobre a finalidade desse instrumento de apoio à pastoral migratória:
O terreno foi conseguido junto ao Secretariado da Ação Social do município. Já o
cercamos e está sendo colocada uma casa pré-moldada para proximamente darmos
continuação ao projeto de acolhida de refugiados. Esperamos conseguir, após debates, o tipo de projeto que realmente iremos implantar. Imigrantes e amigos da
Pompéia já estão dando sugestões, apresentando plantas para as futuras obras a
serem construídas. Este centro deverá sustentar e responder à pastoral de acolhida
que a Igreja quer dar aos imigrantes através do CIBAI Migrações.
Não será simples albergue: menos ainda quer ter um tom paternalista. Quer ser
promocional e de acompanhamento emergencial... Indispensável a presença dos
leigos ligados à obra de Scalabrini (Set. 1994).
No final de outubro a Casa de Acolhida recebeu os primeiros refugiados
angolanos (Liv. Tombo II, 1994).
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Alguns anos depois, em abril de 1997, com a finalidade de melhorar as
condições de acolhida na referida casa, é feita uma campanha, assim motivada pelo Boletim A Família da Pompéia:
O CIBAI há alguns anos construiu uma pequena casa para acolher os imigrantes
necessitados... Diante das dificuldades para conseguir realizar tudo o que se programou e pressionados pela urgência de dar um teto a alguns imigrantes muito
necessitados, estamos recorrendo a vocês, nossos amigos, para que nos ajudem a
levar adiante este projeto...(p.4).
No mês seguinte o Boletim agradecia especialmente à comunidade italiana, pela colaboração, relatando que a maioria das reformas necessárias
foram executadas. Relata, também, que pessoas de cinco países passaram
pela Casa de Acolhida. No mês seguinte informa a contribuição da comunidade hispano-americana, destacando as promoções do "Grupo de Madres"
e o mutirão realizado para adequar o ambiente físico daquela casa. Em abril
de 1998 é noticiado mais um chá beneficente para atender necessidades da
Casa de Acolhida.
Memória dos imigrantes
Já no final da década de 80 o CIBAI, juntamente com o Regional Sul III
da CNBB, Setor Migrações, inicia um Projeto "A Força da Memória Histórica do Imigrante" que perpassa as décadas seguintes. O Boletim a "Família da Pompéia" transcreve inúmeras reflexões, como a de julho de 1988:
Não se pode reduzir nossa vida de imigrantes a um acúmulo de acontecimentos
isolados. É preciso parar, refletir sobre o sentido do rumo de nosso peregrinar. Que
nos organizemos para recuperar a memória histórica (pessoal e coletiva), para
reavivar a consciência de nossa identidade de povos migrantes, defender e promover os direitos fundamentais... É preciso suscitar mais participação e solidariedade
para dar continuidade aos projetos existentes (p.1).
O projeto avançou com encontros periódicos36 onde, através de dinâmica participativa, cada imigrante relatava e interpretava sua história e a história daquele que caminha a seu lado como parte de uma mesma história.
36 O projeto avançou mais entre os hispano-americanos, especialmente em razão do "Fogón
Criollo" e os tradicionais encontros Regionais de Hispano-americanos.
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O Boletim traz histórias que resgatam um pouco da "memória do imigrante". Algumas, especialmente de italianos, em forma de biografias. Outras são relatos mais angustiantes de momentos vividos. Como exemplo
um jovem argentino que chega ao CIBAI cansado, desanimado, sem forças
para continuar a vida, expressando dor, sofrimento e até negação da pessoa
humana, mas que é sensível quanto à solidariedade.
Yo no vine a pedirte dinero. Hace dos años que estoy en Brasil y viví en San Pablo.
Siempre trabajé y no pude conseguir mi radicación. En la crisis actual no consigo
más un trabajo que me permita vivir con dignidad...ya no aguanto... quiero volver
a mi país. Yo tenía dinero, pero tuve que pagar el alquiler... compré el pasaje de
San Pablo hasta Porto Alegre... ¿Señorita, que hago ahora? ¿Qué puedo
hacer?...Fiz-lhe algumas perguntas e percebi que ele estava com fome. Ofereci um
prato de comida e antes de servir-se me agradeceu profundamente, retirando do
bolso um papel, envelhecido e me disse: Muchísimas gracias porque en realidad
tengo hambre, hace dos días que solo tomo agua, no tenía para comprar, y robar
tampoco puedo. Tengo siempre conmigo este poema que lo único que me permite
es tener esperanza:
QUE EL CANSANCIO NO DETENGA TU MARCHA...
QUE EL HAMBRE NO ENSUCIE TUS MANOS...
QUE SIEMPRE EXISTIRÁ EN UNO DE TUS CAMINOS UNA ESPERANZA...
Emocionado se pôs a comer. Ajudei-o com uma passagem até a fronteira. Muito
agradecido despediu-se e partiu dizendo: Que Dios te bendiga por el trabajo que
haces (A Família da Pompéia, julho de 1992).
Também se pode encontrar elementos que expressam manifestações cheias de fé e solidariedade:
... Cada día en esta nueva cultura, la cual me enseña a vivir, sentí todo lo bueno y
lo malo que es ser migrante...
... El hecho de emigrar me hizo crecer, abrir mis horizontes y perspectivas, alimentar mi fe... Dios siempre estuvo presente en todo momento, mismo en los momentos de mayor preocupación y desconcierto...
A frieza da pessoa me fez voltar mais e mais para Cristo e percebi que cada vez que
faço isso me sinto mais tranqüilo, crescendo internamente uma força espiritual maior para enfrentar as dificuldades que se apresentam...
... Tomo conciencia ahora también de que por el hecho de estar sola, sin familia,
sin mi calle, sin mi idioma, sin el olor de mi jardín, sin mis hermanos, mi madre,
puedo sentirme sola, pues HAGO PARTE DE UNA GRAN FAMILIA de la cual
comienzo hoy a sentirme orgullosa: LA GRAN FAMILIA DE EMIGRANTES, cada
uno con su historia, más con esa gran responsabilidad histórica de aporte,
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
afecto, sensibilidad y crecimiento, de coraje, de pasaje...
... Hace tan poquito que estoy tomando conciencia de lo que ser emigrante
significa, de la responsabilidad que eso encierra, de cuantos y cuantos emigrantes existen; la proximidad a la vida que Jesús y María llevaron ahora lo
sentí y espero que eso me haga sentir más fuerte y con esperanza de que no es
un calvario y sí una otra forma de vivir, una otra forma de mantener viva la fe, la
esperanza...
(Busca da Identidade) Hace nueve años que estoy en Brasil. Durante siete años
viví ilegal, trabajaba de un lado para otro, siendo muchas veces explotado. Pero
también tuve suerte de hacer buenas amistades, conocer otros lugares y culturas. Muchas veces he pasado hambre, frío... y cuántas puertas se me cerraron y
cuántas se abrieron... Tuve una alegría inmensa con la Amnistía de 1888. Conseguí
un 'Registro Provisório’, mi cartera de trabajo, cuenta bancaria... Pasé dos
años de tranquilidad, de trabajo y alegrías. Hoy, infelizmente me encuentro
nuevamente en la ilegalidad por haber dejado vencer mi 'Registro Provisório'.
Anímicamente me siento confuso: pienso que no soy un ladrón, un asesino, soy
solamente un ser humano, un trabajador que quiere construir un futuro... ¿Qué
alternativas me quedan? ¿Casarme con brasileña? ¿Tener un hijo brasileño?
¿Permanecer ilegal? ¿Volver a mi país? Yo sé que no soy el único en esta
situación... Me pasa por la mente lo que he perdido: años de trabajo, de
sufrimientos, luchas... y una vez más, volver a ser aquél que en la sociedad se
siente sólo un número.
A retomada da pastoral com os italianos
Em julho de 1998 assume a função de
pároco Pe. Francesco (Franco) Mazzone
o qual dá uma atenção especial às famílias e coletividade italianas. De fato consegue reaproximá-las mais intensamente
à Família da Pompéia. Os párocos e vigários paroquiais que o sucederam, a partir de 2000, entre eles o Pe. Valmir Baldo, Darciolei Volpato e Tacízio Pontel,
continuaram essa pastoral e reorganizaram diversos setores pastorais, como o
de Liturgia.
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50 anos de serviço com migrantes
Missão popular com os imigrantes latino-americanos
Em outubro de 1998 a Paróquia da Pompéia realizou uma Missão Popular junto aos migrantes latino-americanos na Grande Porto Alegre. A missão foi um verdadeiro mutirão contando com a participação dos padres
Scalabrinianos, Irmãs Scalabrinianas, noviços e um grupo de leigos, compondo uma equipe de 46 missionários.
Além de ser uma presença de fé e esperança junto aos irmãos migrantes, buscou-se
conhecê-los, acolhê-los e apoiá-los em suas necessidades. Em cada família visitada
fez-se um momento de oração e benção. No decorrer foram realizados encontros de
celebração comunitária, partilha, planejamento e avaliação. Foram visitadas em
torno de 800 famílias de Canoas, Viamão, Alvorada, Gravataí, Cachoeirinha e Porto Alegre. Na continuidade desta missão serão realizados encontros regionais por
municípios ('A Família da Pompéia', novembro de 1998).
Grupo de Missionários(as) da Missão Popular com imigrantes - 1998
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
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A DÉCADA DE 2000 ARTICULAÇAO DO SERVIÇO COM
REDES SOCIAIS E INSTITUIÇÕES
Foi então que confiando em Deus e na sua Providência,
ousei tentar alguma coisa (…). Fundei duas sociedades
que tivessem por objetivo diminuir aqueles males (...
perda da fé por falta de instrução religiosa, esquecimento da nacionalidade, por falta de estímulos, que
conservem vivo aquele sentimento, ruína econômica,
porque fácil presa da especulação). Duas sociedades:
uma formada de Sacerdotes, outra de leigos (São
Rafael). Uma religiosa, outra civil. Duas sociedades
que se ajudam e se completam reciprocamente. A
primeira é uma Congregação de Missionários que visa
principalmente o bem estar espiritual dos nossos
migrantes, a segunda principalmente ao seu bem-estar
material. Aquela alcança o seu objetivo, fundando
igrejas, escolas, orfanatos, hospitais por meio de
Sacerdotes unidos, como em uma família com votos
religiosos de castidade, de obediência, de pobreza,
prontos a voar onde são mandados, apóstolos, professores, médicos, enfermeiros, conforme a necessidade.
Esta, desaconselhando a migração, quando for arriscada, vigiando a obra dos agentes, para que não ultrapassem os limites da legalidade, aconselhando os
migrantes e orientando-os (combatendo o tráfico dos
brancos da parte dos agentes de migração, para
sustentar a assistência religiosa, desde a partida até a
chegada) à boa meta quando não podem fazer diversamente.
… Dirigir e assistir a migração é tarefa também do
Estado, que deve garantir a tutela moral e material,
com acordos internacionais e com legislação que
defenda os direitos humanos e civis dos migrantes,
proteja-os contra a ávida especulação dos recrutadores,
impeça o saque da poupança enviada às famílias, que
ficaram na pátria.
(SCALABRINI)
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50 anos de serviço com migrantes
Primeiros passos da nova década
Nos três primeiros anos (2000 a 2002) da nova década a equipe deu continuidade ao serviço de atendimento aos migrantes no campo jurídico e social,
na realização de confraternizações, nas celebrações religiosas e pátrias, nas
visitas a residências de idosos italianos, no acompanhamento a imigrantes
doentes nos hospitais e na assistência a uma rede de núcleos de famílias de
imigrantes em Porto Alegre e nos municípios de Canoas, Viamão, Alvorada,
Gravataí, Cachoeirinha, São Leopoldo, Guaíba e Esteio. Reforçam-se os encontros com jovens imigrantes vindos do interior do RS e estados vizinhos.
Com a chegada do Pe. Sérgio Geremia, em maio de 2001, acentua-se a
assistência aos hispano-americanos. Ele mesmo testemunha:
Um aspecto que considero importante na minha curta passagem pelo CIBAI foi
a atividade de visitas às famílias de latinos, juntamente com a Irmã Marizete
Garbin. Dávamos preferência a domicílios de famílias mais pobres. Com os
estudantes do noviciado conseguimos fazer um recadastramento e formar novos núcleos. Mas a constante troca de residência dificultava nosso trabalho de
nucleação e de formação de lideranças...
Trabalhar com os migrantes é contar com a imprevisibilidade, a precariedade, a
instabilidade, a surpresa da ausência e do vazio (marcar um encontro e ao chegar não encontrar ninguém). Este trabalho não pode se basear nos resultados
humanos quantitativos ou qualitativos
ideais. Tem que ser motivado unicamente pelo amor aos migrantes e pela fé no
Cristo Migrante. O missionário tem que
ir ao encontro do migrante, pois o mais
necessitado não aparece na Pompéia, ele
está escondido e é lá que deve se dirigir
o missionário, onde ele se esconde. Em
algumas periferias de Viamão e da zona
sul de Porto Alegre, nunca teria imaginado encontrar lugares de tão difícil
acesso e perigosos como onde estive.
Foi nesses lugares que encontrei os casos mais dramáticos. Só quem procura
o migrante o encontra, pois ele é como
Jesus: para achá-Lo precisa procuráLo (Carta, julho/2009).
Pe. Sérgio Geremio - Superior Geral
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Mulheres e a Pastoral Social do CIBAI
Em 2002, com a transferência da Ir. Marizete Garbin,
encerra-se o longo ciclo de quase 25 anos de atuação da
mulher na coordenação do serviço social aos imigrantes
no CIBAI. Todas elas eram mulheres identificadas com o
carisma scalabriniana: Rita Bonassi, leiga consagrada e
as três religiosas da Congregação Scalabriniana Claudete
Rigoni, Marines Biasibetti e Marizete Garbin. Mulheres
preparadas para a missão, imbuídas da vocação evangelizadora e da mística de Scalabrini, dedicaram-se, segundo os registros do Livro Tombo e dos
Boletins do CIBAI, de forma sensível e eficiente, com suas acuradas capacidades de escuta, de acolhida, de reflexão e de organização popular.
Irmãs... de muito trabalho e total dedicação e amor em prol dos migrantes. Em
nome dos milhares de imigrantes que acolheram, escutaram e ajudaram queremos
dizer-lhes um muito obrigado! As palavras são poucas para lhes agradecer. Então
que Deus lhes abençoe e recompense por tudo (Cf. cit. 'A Família da Pompéia').
Gente nova: novos rumos?37
Em dezembro de 2002 assumem o serviço da Pompéia/CIBAI os padres
Giovanni Corso e Joaquim Roque Filippin, respectivamente pároco e vigário paroquial. Preocupados em vivenciar o específico da missão scalabriniana
da Pompéia procuram manter as lideranças paroquiais comprometidas com
a causa do migrante e atuar interativamente com as demais paróquias da
Arquidiocese. Inicia-se uma nova etapa38 para a Paróquia e o CIBAI, sem
deixar de dar continuidade às atividades básicas: acolhida, assessoria jurídica e assistência social, visitas aos imigrantes italianos idosos, celebração
de missa no idioma do grupo de imigrantes e as tradicionais confraternizações e festejos.
37 De 1994 até final de 2002 não há nenhum registro no Livro Tombo II, o que dificulta
entender o processo paroquial.
38 A dificuldade de perceber a especificidade do fenômeno migratório fez com que nos
primeiros tempos o pároco começasse a dar assistência espiritual, nos finais de semana, ao
trabalho do Irmão Antonio Cechin na ilha dos Marinheiros.
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50 anos de serviço com migrantes
Em fevereiro de 2003, na preparação do Plano de Pastoral, duas questões foram apresentadas: O que é fundamental para quem faz parte de uma
paróquia pessoal, que não tem território, mas deve desenvolver um serviço
específico? Como trabalhar a identidade, a pertença do migrante com participação e organização? (Livro Tombo II, 2003). Em agosto a comunidade
coreana iniciou seus encontros mensais na Pompéia.
Na montagem do primeiro plano de pastoral ficou evidente que a
Pompéia/ CIBAI daria prioridade aos imigrantes estrangeiros no Brasil. O
trabalho com os núcleos nas periferias de Porto Alegre e nos municípios
circunvizinhos não receberá toda a atenção dada nas décadas anteriores,
mas não serão esquecidas as famílias mais necessitadas39.
As tradicionais dificuldades de ser uma paróquia pessoal
Registros, embora transcritos anos depois (2007 e 2009), revelam as
inúmeras dificuldades e a falta de percepção para a busca de uma qualidade
no trabalho pastoral realizado, desde a década de 1950, com muita dedicação e amor, apesar dos equívocos.
Sempre dizemos que os migrantes nos ensinam a viver novas dimensões a partir de
sua riqueza de fé, de cultura e maneira própria de viver. Assim foi (e é) duro, difícil
para os italianos aceitarem que esta Igreja também fosse dos latino-americanos.
Quando o Pe. Pio Fantinato começou a distribuir os espaços físicos para outras
nacionalidades, houve uma forte reação e afastamentos. Hoje o desafio está nos
latino-americanos em ajudar a receber os africanos e asiáticos, pois a finalidade da
Igreja da Pompéia é formar 'a família dos migrantes na Pompéia', acolhendo o diferente, tendo claro que o principal migrante, que foi Cristo, deixou o Pai Celeste e
colocou sua tenda entre nós... (Sermão do Bispo Scalabriniano D. Alessandro,
4.10.09).
Na preparação do I Fórum da Igreja Católica do RS, em 2007, lideranças
da Pompéia se reuniram para resgatar o sentido da Paróquia. O pároco assim registrou no Livro Tombo II:
39 Anos mais tarde ocorrerá uma abertura para acolhimento das famílias de emigrantes
brasileiros no exterior, permanecendo quase que ignorados os migrantes internos, que foi
um serviço pujante nas décadas de 80 e 90.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Hoje nos reunimos com representantes de diversas etnias e Amigos da Pompéia
para aprofundar um pouco da história da Paróquia Pessoal do Rosário de Pompéia.
Sentimos como é difícil para o povo entender um tipo de paróquia como a nossa:
pessoal, a serviço de grupos (migrantes) que normalmente não participam das
liturgias, testemunhando o acolhimento no campo da mobilidade humana (...).
No resgate da história da Pompéia feito pelas Irmãs Reckziegel, encontra-se, à guisa de conclusão, uma observação preciosa:
Ao tempo inicial da Paróquia da Pompéia, a Igreja era muito procurada para a
celebração de casamentos, enquanto os rituais religiosos de rotina tinham frequência
reduzida, pois a paróquia vizinha na Independência, Nossa Senhora da Conceição,
congregava os moradores da região.
Na Igreja da Pompéia, tendo como finalidade precípua a atenção aos imigrantes, as
linhas de ação variavam de acordo com as circunstâncias e dotes de cada novo
pároco, nem sempre privilegiando o essencial do carisma scalabriniano em
servir os migrantes. Assim, desde o início houve organização de corais, grupos de
oração, de liturgia, acolhida a movimentos espirituais, sociais e organização de
festas.
Mas é preciso reconhecer: o que nesta Paróquia se realiza, num trabalho aparentemente obscuro, é de um alcance extraordinário, pois a problemática migratória tomou contornos e proporções inimagináveis. A mobilidade das pessoas foge a qualquer tipo de controle social e os dados estatísticos mostram forte crescimento, o
que desafia a encontrarmos formas e caminhos que possibilitem estabelecer elos
com as forças vivas da Igreja e da sociedade, contando com mais adesões à causa
para ampliar e aprofundar a atenção que o migrante necessita e merece.
Articulações em rede no campo político
Desde a chegada40 dos dois novos sacerdotes os documentos41 mostram
uma preocupação na rearticulação da entidade na esfera política, na pesquisa da sociologia da mobilidade humana oferecendo subsídios à igreja e à
sociedade com a finalidade de modificar a atual legislação (Estatuto do
Estrangeiro), bem como descriminalizar o tratamento aos migrantes e combater a centralização. Firma-se o esforço para implantar nova Lei da Migração dentro da visão dos direitos humanos. Em 22 de abril de 2003 foi dado
40 Em abril de 2003 o CIBAI passa a contar com o serviço (voluntário) do professor e
pesquisador Jurandir Zamberlam.
41 Foram consultados: os Livros Tombos, os Boletins, correspondências, planos pastorais
e relatórios.
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o primeiro passo na articulação de uma rede de estudo e de serviços aos
migrantes, contatando com o Ministério Público Federal e tendo como elo o
Dr. Paulo Leivas Leite. A partir disso, vários outros juristas aceitaram reunirse para estudar as tendências e a legislação do Fenômeno Migratório42.
Seminários e I Fórum Social das Migrações
No dia 28 de julho no CIBAI ocorre o primeiro encontro com o grupo de
juristas e a advogada Ir. Rosita Milesi. Como frutos dessa parceria ocorrem
o Seminário "Direitos Humanos e Mercosul", de outubro de 2003 realizado
pelo CIBAI e Ministério Público Federal; a realização do Seminário, em
junho de 2004, "Direitos Humanos e Migração", em conjunto com a
UniLassale, UniRitter, Procuradoria Federal, o COMIG, e docentes e discentes da UFRGS e UNISINOS. Em agosto, desse mesmo ano, o Seminário na UNISINOS: Migrações e Mídias, aprofundando o debate como os
imigrantes são tratados pelos meios de comunicação.
Em meados de 2004 o CIBAI juntou-se ao SPM (Serviço Pastoral do
Migrante de São Paulo) para a realização do I Fórum Social das Migrações,
que aconteceu em janeiro de 2005, em Porto Alegre. O SPM coordenou o
conteúdo do evento, ficando ao CIBAI a responsabilidade da organização
do espaço físico e as ações logísticas prévias. O evento realizou-se e contou
com a presença de aproximadamente 600 participantes de mais de 40 países. Os debates foram globalizados com temas43 de inúmeras áreas.
A partir de março de 2006 foram realizadas inúmeras Audiências Públicas na Câmara Municipal de Porto Alegre lideradas pelo vereador Carlos
42 O primeiro trabalho sistematizado foram as informações contidas nos Censos
Demográficos do IBGE. Em setembro o mesmo foi apresentado aos bispos do RS e publicado na Revista Renovação da CNBB. Alunos da Unisinos e da URFGS dão início ao
levantamento do tipo de comunicação comunitária que o CIBAI desenvolve desde sua
origem.
43 Entre os temas abordados no I Fórum Social das Migrações estão a ética e migrações
no contexto mundial, os impactos da globalização na redistribuição espacial da população,
visão geral das migrações no mundo, emigrantes latinos no exterior, imigrantes no
Brasil,discriminação e violência, refugiados, brasileiros no exterior, tráfico de seres humanos e trabalho escravo, entre outros.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Todeschini sobre a situação dos
estrangeiros em Porto Alegre. Fruto dessas atividades o CIBAI consegue um encontro, em julho de
2007, com o Ministro da Justiça,
Dr. Tarso Genro, reivindicando a
importância e urgência de uma
nova anistia para os imigrantes
indocumentados. As articulações
avançam envolvendo outros representantes políticos, especialmente
os Senadores Paulo Paim e Pedro
Simon.
O trabalho junto às universidades
Em 2003 retoma-se de forma mais sistemática o trabalho com as universidades. O primeiro passo aconteceu com a Universidade do Vale dos Sinos, São Leopoldo, colaborando no Projeto Mídia e Migrações que buscava identificar as características da mídia comunitária, sendo escolhido o
Boletim Família da Pompéia como um dos focos de pesquisa. Em outubro
de 2004 em conjunto com o Programa de Pós Graduação de Comunicação
Social da UNISINOS, CEMCREI e COMIG foi promovido o Seminário:
Práxis, o desafio das migrações nas Mídias.
Desse trabalho com as universidades surge a preocupação com uma nova
e crescente realidade migratória temporária: os estudantes estrangeiros. A
voluntária Valesca Rezende, em visita ao IPA, UFRGS, PUC, ULBRA, identifica a presença de inúmeros estudantes africanos e asiáticos neste meio universitário. Motivados por esses contatos acadêmicos estrangeiros começaram a participar da Missa do migrante na Catedral. Fato marcante foi a presença de 27 estudantes da China Continental portando sua bandeira pátria.
O primeiro encontro da comunidade universitária estudantil de Cabo Verde, África,
na Igreja dos Migrantes ocorreu em abril de 2006. Presentes 14 cabo-verdenses
que participaram de uma celebração eucarística do dia da Páscoa, seguida de um
almoço com a comida típica do Arquipélago, o 'catchupa'. A comunidade estudantil vai preparar as comemorações do dia da independência de seu país (5/07) e da
padroeira Nossa Senhora das Graças (15/08) ('A Família da Pompéia', abril de 2006).
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Quem dará continuidade ao trabalho é o Pe. Lauro Bocchi e o professor
Jurandir Zamberlam, a partir do segundo semestre de 2007. A aproximação
com os estudantes universitários internacionais, como africanos44 , coreanos,
indianos, chineses e latino-americanos, passa a ser sistematizada. Os contatos motivaram a realização de uma pesquisa de campo com universitários
estrangeiros em todas as universidades do Rio Grande do Sul e um levantamento de dados secundários sobre os fluxos, as políticas e as tendências
curriculares dos principais países do mundo.
Como culminância da aproximação do CIBAI com as universidades realiza-se em junho de 2008, na PUC, o seminário: Emigração Brasileira e
em junho de 2009, na UFRGS, o Seminário: Direitos Humanos e as Migrações Contemporâneas, sendo debatida a questão dos migrantes na
Universidade.
Missa do Migrante na Igreja Mãe
A partir de abril de
2004 tem início a missa
mensal do migrante na
Catedral Metropolitana
no último domingo de
cada mês, celebração
esta que tem ultrapassado a dimensão religiosaespiritual. O Boletim 'A
Família da Pompéia' de
março/abril de 2004,
afirma: Nosso sonho é fazer da missa do migrante o momento de encontro das culturas da cidade. Na
realidade ela passa, também, a ser um gesto político mostrando à sociedade e
à própria Igreja o fenômeno das migrações na comunidade de Porto Alegre.
Inclusive algumas celebrações passaram a contar com a presença de imigrantes não cristãos, como de estudantes chineses, indianos e africanos.
44 Os estudantes africanos e os afro-descentes universitários constituíram uma Associação
própria.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Atendimento aos italianos e os programas radiofônicos
semanais
Na última década a comunidade italiana tinha começado novamente a
receber especial atenção da equipe do CIBAI, quando Pe. Franco retoma
iniciativas marcantes com acompanhamento específico às famílias e aos
grupos de oração em família dos italianos.
Ainda em Passo Fundo o Pe. Giovanni Corso, a pedido do sr. Carmine
Motta, inicia a participação no programa de rádio Domenica Italiana transmitida pela Guaíba, onde se incluía o tema Nostro Parroco. Ao assumir a
Paróquia da Pompéia Pe. Giovanni estreita as relações com as diversas entidades italianas, através de programas de rádios, feitos a partir da Igreja da
Pompéia: no Brasil (Rádio Guaíba) e na Argentina (Rádio Mendoza e Rádio Rosario). Também sistematiza contatos frequentes com o Centro
Calabrês, as inúmeras Associações italianas, o IASI com o intuito de motivar as famílias italianas a participarem da missa na língua vernácula no
primeiro domingo do mês. Reinicia a pastoral de visitação semanal, coordenada pelo Dr. Humberto Scorza, às famílias italianas, especialmente às
pessoas idosas e doentes. O livro Tombo II registra:
A prática sistemática de visitação às famílias dos imigrantes italianos revela como
é importante o contato com o migrante: a presença, a lembrança, a comunicação na
língua materna, a prece com o sacerdote, com o médico e com as pessoas que ao
acolhem desenvolve energias e uma real felicidade, especialmente nas pessoas idosas e enfermas.
Pesquisas na área da mobilidade humana
Nos primeiros tempos da década atual o CIBAI priorizou a categoria dos
imigrantes estrangeiros e mais tarde a categoria dos emigrantes brasileiros,
deixando a categoria dos imigrantes internos às paróquias de sua residência.
Reconhecendo que a questão migratória ultrapassa a prestação de serviços
diretamente aos migrantes, buscou integração com Centros de Acolhida e
Centros de Estudos Migratórios, CNBB, SPM, dioceses, paróquias e universidades a fim de aprofundar estudos sobre o fenômeno. Disto nasceram inúmeras experiências:
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50 anos de serviço com migrantes
Coordenação e execução de pesquisas solicitadas por Regionais da
CNBB. O CIBAI, a partir dos dados do IBGE, analisou as tendências dos
fluxos migratórios, por diocese dos estados do RS, SC, PR e SP. Realizou
uma pesquisa de opinião nas dioceses do RS, buscando auscultar o nível de
sensibilização da Igreja e da sociedade civil sobre a questão migratória.
Coordenou a publicação de um Manual para o Agente de Pastoral do
Migrante em parceria com o Regional Sul do SPM. Estudou os fluxos migratórios que geram desafios para a Igreja do RS.
Assessoramento de pesquisas em Dioceses. Em 2004, assessorou duas
dioceses de fronteira - Diocese de Dourados (Brasil) e do Alto Paraguai
(Paraguai), tendo como foco o Perfil do Migrante Brasileiro e Paraguaio na
Fronteira. Em 2005/2006 estudou a mobilidade humana na Diocese de Foz
do Iguaçu. Em 2006 pesquisou, em 10 municípios da Diocese de Criciúma,
Emigrantes Brasileiros no Exterior. A partir deste trabalho o Bispo D. Paulo de Conto visita seus diocesanos nos Estados Unidos:
Motivado pela pesquisa sobre a problemática migratória, realizada pelo CIBAI na
minha diocese, fui até Boston onde reside grande número de brasileiros e um significativo número de mais de 55 mil pessoas da Diocese de Criciúma que partiram...
O povo me aguardava em torno de Nossa Senhora Aparecida... e o ponto alto foi a
procissão, a reza do terço, a celebração eucarística, os cantos, a palavra do Bispo e
os números artísticos. Tudo era integração, comunhão e festa. No meio de tantos
irmãos pude escutar, aconselhar e abençoar...
Fazendo uma comparação, percebo que no passado as famílias vindas da Europa,
não deixavam ninguém para trás. Avós, pais e filhos, vinham unidos, na fé, com
força na oração, confiavam na esperança e na unidade. Hoje as famílias são desintegradas. Parte o marido, fica a esposa com os filhos. Partem os pais, ficam os
filhos com os avós. Partem os filhos, ficam os pais, muitos deles idosos e doentes.
Tanto no Brasil como principalmente no exterior surgem novas uniões matrimoniais, conseqüentemente novos filhos. Onde fica a família? A Igreja doméstica? É
uma nova pastoral que surge, pois todos precisam de Deus (A Família da Pompéia,
agosto de 2007, p. 1).
Subsídios para a Província de São Pedro com uma pesquisa (2006)
referente à questão dos brasiguaios (brasileiros no Paraguai) e outra (2007),
sobre a mobilidade humana em Vilas de Foz do Iguaçu para subsidiar um
Plano de Pastoral na criação da Paróquia Scalabriniana Bom Jesus do
Migrante daquela cidade.
Colaboração com os leigos scalabrinianos, organizando e publicando, em
português e espanhol, a Memória do 1º Congresso Mundial dos Leigos realiza86
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
do em 2005, em Piacenza. O livro de Redovino Rizzardo: João Batista Scalabrini,
Apóstolo dos Migrantes foi reeditado para alimentar a espiritualidade do leigo
e de todo agente de pastoral que atua no campo migratório.
Assessoria a acadêmicos e pesquisadores. A equipe do CIBAI subsidiou
trabalhos, monografias, dissertações e teses de acadêmicos e docentes sobre a problemática migratória, especialmente da UNISINOS, UFRGS, PUCRS, PUC-PR, UNILASALLE, UNIRITTER, UCPEL, USP, UFG, UDESC,
UFSC, Universidad de Madrid e Faculdades América Latina. Realizou estudo sobre a mobilidade humana temporária da categoria dos estudantes
internacionais (estrangeiros) que estudam fora de seu país de origem. Desta
pesquisa resultou a publicação do livro Estudantes Internacionais, no processo globalizador e na internacionalização do ensino superior, o surgimento
de uma Associação de Apoio ao Estudante Afro (AAEA) e os primeiros
passos para uma pastoral voltada para essa categoria de migrantes.
Publicações do CIBAI Migrações - 2003 a 2009
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50 anos de serviço com migrantes
Leigos Scalabrinianos na Paróquia da Pompéia
A presença leiga dentro do carisma congregacional sempre foi um desejo do fundador Scalabrini. Ele mesmo funda em sua diocese a Sociedade
São Rafael, entidade predominantemente leiga que passou a orientar os
emigrantes que saiam da Itália e acolhê-los nos Estados Unidos. Com o
transcorrer do tempo a Sociedade São Rafael foi tomando outras dimensões passando a constitui-se no que hoje é o movimento Leigo Scalabriniano.
Em palestra recente Pe. Alfredo Gonçalves (2007), atual provincial da Província de São Paulo, assim retrata o surgimento dos leigos scalabrinianos:
A atuação dos leigos nas Congregações masculina e feminina tem representado
uma renovação do carisma scalabriniano e do vigor missionário. Entusiasmados
com a descoberta da figura e obra de Scalabrini, acabam nos interpelando para uma
maior fidelidade criativa aos migrantes e ao fundador.
Neste sentido, expandiu-se nas três Províncias a criação de grupos de leigos e de
jovens scalabrinianos. Esses grupos constituíram-se a partir de um intenso programa de formação, por um lado, e de numerosas e diversificadas atividades com os
migrantes, por outro. Hoje podemos afirmar sem exagero que muitas paróquias se
revigoram e se reencontram com o carisma scalabriniano devido à presença e ação
de tais grupos de leigos e/ou jovens.
Embora o movimento leigo scalabriniano tenha surgido na Pompéia em
meados da década de 1990, sua presença ainda é bastante tímida na ação do
específico pastoral, porém mantém-se com as atividades sistemáticas de
encontros de oração, formação, retiros e atuação na esfera das celebrações
e confraternizações culturais. Há diversos registros nos Livros Tombo sobre o movimento leigo: Neste mês o grupo de leigos scalabrinianos está
recebendo novas adesões.... Há um investimento na organização e missão.
Que a semente produza frutos! Noutro ponto está registrado: Aconteceu
novo encontro dos Leigos Scalabrinianos em nossa Paróquia, após o retiro de Guaporé, para aprofundar os temas e preparar a visita da imagem de
Scalabrini em Porto Alegre no próximo ano, no mês de abril.
Mesmo se o movimento Leigo Scalabriniano não tenha dado passos significativos como grupo, a sua presença, como a de inúmeros outros leigos
(as) voluntários (as) que atuaram e atuam motivados pela mística de
Scalabrini, tem dado à história da Pompéia uma valiosa contribuição.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
A Missão de Florianópolis
Ainda na década de 90 a Província São Pedro dos padres carlistas, face
a crescente presença de imigrantes estrangeiros no litoral da grande
Florianópolis, assumiu, em 1997 a 2002, a Paróquia Santa Terezinha na
Prainha. No final de 2002 o responsável pela missão, Pe. Joaquim Filippin,
é transferido para a Pompéia, mas continua a orientação aos imigrantes por
meio de telefone e fax. Em 18 de julho de 2005 é reassumida a Missão em
Florianópolis, como extensão da Pompéia e do CIBAI. Inicialmente o Pe.
Joaquim marca presença uma semana ao mês. A partir de 2007 quem responde pela missão é o Pe. Giovanni Corso. Um dos pontos altos dessa
missão foi o curso de formação de Agentes da Pastoral Migratória, em 2008,
com a parceria da EMAR - Escola de Ministérios da Arquidiocese.
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50 anos de serviço com migrantes
A missão no Porto de Rio Grande - RS
No ano de 1972 a Província faz um levantamento no Porto de Rio Grande para abrir uma missão. Pe. Mário Ginocchini, então párroco da Pompéia,
dá parecer favorável (Relatório Provincial, 1972). Somente 35 anos após a
idéia começa a ser concretizada.
Em 20 de abril de 2007, Pe. Giovanni Corso e o professor Jurandir
Zamberlam fazem o primeiro contato com as autoridades eclesiásticas e
navais de Rio Grande, levantando dados para melhor entender o funcionamento do sistema portuário, em vista da abertura de uma nova missão junto
ao Porto de Rio Grande.
Contatos posteriores com o Bispo D. José Mário Stroeher, as Irmãs
Scalabrinianas e o Pastor Ruben Bonatto da Igreja Luterana que já atuava
no Porto, enfatizaram a importância da presença Scalabriniana junto aos
marinheiros, estivadores, administradores e suas famílias. Em fevereiro de
2009 o Provincial dos carlistas convida ao Pe. Giovanni Corso para assumir o cargo de capelão naquele Porto, o qual, imediatamente busca o
credenciamento junto às autoridades competentes. O novo capelão tem sua
sede provisória na Paróquia São Judas Tadeu, próxima ao Porto e conta
com uma equipe de pastoral do Apostolado do Mar formada por voluntários da marinha brasileira e da marinha mercante (da ativa e aposentados)46 .
46 Em razão das leis rigorosas impostas (especialmente a partir do 11 de setembro de
2001) pelo ISTS Code, órgão internacional que regula mundialmente o acesso aos portos,
o capelão formou uma equipe com pessoas ligadas direta ou indiretamente à atividade
portuária e mercantil.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
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O CIBAI E A POMPÉIA NA VISÃO
DE PESQUISADORES
"Todo estudo, toda disciplina se adquirem pela fé.
A autoridade daqueles que sabem é, antes de tudo,
a única razão daqueles que querem aprender".
"É exatamente da fé, como de todo afeto profundo
radicado no coração e vivamente sentido, que se
manifesta, se expande a comunicação para com os
outros. Uma fé que gosta de se esconder, que se fecha
em si mesma, que não tem de alguma maneira o
generoso instinto do apostolado, que não treme vendose só, que é indiferente à honra, à censura, não é mais
fé"
(SCALABRINI)
Introdução
Inúmeros trabalhos acadêmicos foram publicados sobre a relação
migrantes e o CIBAI/Pompéia: Bonassi (2000), Machado (2003 e 2005),
Fernandes (2003), Cogo (2004), Etcheverry (2007), Mota (20008), Machado & Muller (2008). Esses trabalhos tentam interpretar a visão dos migrantes
e de membros da equipe do CIBAI, especialmente, partindo dos conteúdos
do Boletim Informativo visto como uma forma de comunicação comunitária. A seguir, alguns elementos críticos extraídos dessas publicações.
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50 anos de serviço com migrantes
O CIBAI e a Pompéia para os migrantes
Há uma unanimidade dos pesquisadores quanto à visão do migrante sobre a Instituição: Es la institución de la Iglesia de la Pompeya que te ayuda
con los papeles. Essa é a definição mais clássica que caracteriza o CIBAI e
a Pompéia na visão dos migrantes. Há também os que com frequência afirmam: È la parrocchia dei imigranti italiani.
Porém, a Instituição, para os pesquisadores, além de ser uma mediadora
entre o estrangeiro sem documento e os órgãos públicos, tem exercido um
papel muito mais amplo. O CIBAI faz parte de uma Rede de serviços dos
padres e irmãs scalabrinianos (as) interligada com outros Centros de Atendimento de Migrantes no Brasil e de países, especialmente da América Latina, com vistas a agilizar processos de regularização de documentos e defender os migrantes em seus direitos fundamentais.
O CIBAI e a Pompéia na visão dos padres
Para os padres o CIBAI/Pompéia é uma Instituição que visa a estimular
diversos níveis de consciência: na sociedade civil, sobre o valor do fenômeno migratório; nas comunidades locais, provocando a mútua-ajuda e a
inserção dos migrantes; na Igreja, a prática da itinerância - acolhida e
visitação. Esse agir, segundo os pesquisadores, promove a valorização de
todas as culturas, visando o surgimento de uma única humanidade.
A entidade, na maioria das vezes, recebe imigrantes com escassos recursos para encaminhamento da documentação ou na busca de soluções frente
a outras carências. Por isso, o CIBAI também tem uma função assistencial,
pois o imigrante não vem pedir conselhos, vem pedir gestos, afirma o responsável pela assistência sócio-jurídica.
Para Etcheverry (2007) o CIBAI Migrações transita numa rede de construções de uma visão social como representante e elaborador de uma proposta sobre o fenômeno migratório. Ele não pode ser considerado como um
fenômeno isolado de outras questões sociais, como direitos humanos, trabalho, saúde, exclusão e inclusão social, distribuição da terra, acesso à água,
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uso da tecnologia, urbanização, ética das relações estado-cidadão, cidadania. Portanto, sua atuação vai desde as questões relativas à obtenção de
documentos, definição de políticas migratórias (nova legislação, concessão de anistias, minimização de taxas, desburocratização, descentralização)
até questões sociais mais variadas e a implementação de pesquisas sobre a
realidade migratória.
É uma instituição que além de acolher, promover eventos e reuniões
ligados diretamente a questões migratórias e de cidadania, relidos à luz de
sua missão evangelizadora, possibilita um espaço para que nos salões da
Pompéia nasçam partidos, organizem-se comitês políticos como "La Redota"
dos imigrantes uruguaios, aconteçam encontros de Centrais de Trabalhadores, de Sindicatos, da Via Campesina, Plenárias de Grevistas, reuniões de
Partidos Políticos e de movimentos ligados a questões sociais.
Os referidos pesquisadores, partindo de informações dos Boletins mensais da Pompéia / CIBAI, apontam elementos que constroem a figura atual
do estrangeiro imigrante: um passado de pobreza (deficiência) e um futuro
de integração à cultura local ou de retorno à pobreza. Para isso transcrevem pensamento extraído de editorial do Boletim:
De fato, o migrante é uma pessoa erradicada de seu ambiente nativo e está, portanto
numa fase de passagem, rumo a uma integração no país que o acolhe. Também o
migrante é uma pessoa com deficiência. Scalabrini comparava o migrante ao surdomudo: deixando sua terra, encontra uma língua estranha, costumes inesperados, idéias de vida diferentes; experimenta uma situação de tensão porque tenta expressar-se e
não é compreendido, imagina entender e cai no ridículo. Mas, se na raiz da migração
encontramos essa deficiência psico-social-cultural, que normalmente se supera pela
abertura ao novo e à acolhida do povo, há uma outra deficiência bem mais profunda:
aquela que nasce da lei que não concede os direitos fundamentais ao migrante, negando o documento de identidade e de residência, proibindo o trabalho e até a escola
para as crianças (Boletim A Família da Pompéia, maio de 2006).
Muitas mulheres migrantes já não viajam mais para acompanhar seus maridos, como ocorria anteriormente, mas saem de suas casas por conta própria,
em busca de melhores condições de trabalho, enfrentando a incerteza e a
insegurança de uma nova cultura, de uma nova realidade (Idem, out. 2006).
Etcheverry (2007) conclui que os atores do CIBAI/Pompéia:
Além de promoverem seus eventos e acolherem outros eventos que poderiam ser
considerados políticos, é no espaço da Paróquia da Pompéia que tem lugar os en-
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contros regulares de entidades formadas com base na filiação nacional e até política (...). Ao acolher e promover esses eventos e reuniões, o CIBAI Migrações coloca-se no centro das referencias sobre questões migratórias e, fundamentalmente, no
trânsito entre os discursos universalmente difundidos sobre questões migratórias e
cidadania, reproduzindo-os, não sem antes relê-los à luz de sua missão
evangelizadora.
Essa confluência de formas de atuação não tem como se furtar à produção de um
sujeito migrante, um pouco nos padrões internacionais e da literatura sobre migrações, que associam o fenômeno migratório à pobreza e à desigualdade social por
um lado, e que, por outro, destituem-no de sua capacidade de agente.
Predomina inconteste, especialmente no discurso dos mediadores, a idéia formada
no seio das organizações internacionais, que tem seus olhares focalizados em contextos geográficos e políticos frequentemente diferentes do das migrações entre
países latino-americanos, do estrangeiro imigrante como uma figura sem recursos
de sobrevivência no seu lugar de origem, que sai de seu país por não ter outra opção
de vida. A figura do estrangeiro imigrante atual é construída tendo um passado de
pobreza e um futuro de integração à cultura local ou de retorno à pobreza. De fato,
o migrante é uma pessoa erradicada de seu ambiente nativo e está, portanto numa
fase de passagem, rumo a uma integração no país que o acolhe, diz o site do CIBAI
Migrações (p. 119).
A comunicação escrita do CIBAI / Pompéia aos migrantes
Todos os pesquisadores citados se debruçaram sobre um instrumento de
comunicação denominado BOLETIM, uma forma de comunicação comunitária entre a instituição e os migrantes que teve início em janeiro de 1960
e perdura até os dias atuais. Esse elo de ligação recebeu denominações
diversas nesses 50 anos:
• De 1960 a 1963, o Boletim se denominava VOCE AMICA.
Era, redigido em dois idiomas, italiano e português. Possuía
um padrão bem definido e impresso em gráfica. Desde o início
deixava bem explícita a sua finalidade: manter informadas as
famílias imigrantes, amigas da Pompéia, colaboradoras associadas, do andamento das obras da Paróquia, dos acontecimentos
da vida dos italianos, das notícias de confraternizações, de avisos e de reflexões sobre temas espirituais.
• De 1964 a 1970, o Boletim passou a ser publicado com o nome
CIRCULAR DO CIBAI e impresso artesanalmente.
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• De 1970 a 1981, o Boletim passou a denominar-se INFORMATIVO DO CIBAI, mantendo fundamentalmente a mesma
linguagem e continua a ser impresso na instituição.
• A partir de janeiro de 1982, o Boletim passa a denominar-se A
FAMÍLIA DA POMPÉIA, oferecendo um espaço para a fala
dos imigrantes, procurando resgatar a memória do migrante e
introduzindo temas como globalização, Mercosul, migração
mundial e brasileira, problemática da terra e dos trabalhadores
migrantes internos e a questão da legislação. Com a chegada da
informática, o Boletim volta a ser impresso em gráfica.
Segundo a análise dos pesquisadores os objetivos que aparecem no Boletim do CIBAI/Pompéia são: unir os imigrantes; preservar culturas e tradições; ser agente de um processo educativo que ajude o crescimento dos
filhos; incentivar o sentido religioso. O fato de ser um instrumento de comunicação comunitária é reforçado por ser escrito em três idiomas: português, espanhol e italiano. Os três idiomas são trabalhados de forma equivalente na maioria das edições dos Boletins, mostrando a preocupação de
seus produtores em respeitar as diferenças, estimulando o multiculturalismo.
Além disso, o Boletim que contava com um site na internet www.paroquia
pompeia.com.br e mais tarde foi substituído pelo blog http://
pompeiacibai.zip.net. Com isso passa a atender familiares e conhecidos de
imigrantes nos países de origem e emigrantes brasileiros no mundo. A entrega do boletim é personalizada: alguns são entregues diretamente, outros, postados individualmente para os imigrantes cadastrados na entidade, aos bispos, aos Amigos da Pompéia e a instituições afins. Uma parcela é distribuída
na missa mensal da Catedral. A partir de 2007 passa também a ser enviado
via correio eletrônico atingindo um número significativo de leitores.
Os pesquisadores, como Machado (2003 e 2005) e Etcheverry (2007),
destacam as principais variáveis que ligam os imigrantes ao Boletim:
•
Religiosidade. Para os migrantes o vínculo com o Ser Superior lhes
dá o sentido da vida em qualquer lugar do mundo. A religiosidade
mantém as raízes, lhes dá segurança, especialmente quando a pessoa
vive em um país diferente do seu. O Boletim traz permanentemente
essa dimensão.
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•
Identidade cultural. A questão cultural da identidade lingüística
motiva muitos imigrantes a lerem o Boletim, procurando uma identificação com a língua, com a cultura e com as tradições de sua
terra natal.
•
Veículo de informações. O Boletim desempenha esse papel entre
os imigrantes, como mídia local dirigida. Serve como um canal de
troca entre os imigrantes. Nele, estes se vêem representados, ouvidos e convidados a expressar muitas de suas idéias.
A pesquisadora Machado (2005) afirma:
Na verdade, essa segurança que o Boletim busca transmitir aos migrantes
serve não só como base para manutenção de sua identidade, mas também como forma de construção de uma cidadania. E é a busca para entender melhor o que acontece com essas pessoas que migram - no que se
refere aos direitos e deveres que passam a ter no novo país - que empurra
essa discussão de identidade para o terreno da cidadania, uma vez que
essa é a parte integrante na construção da identidade cultural de um indivíduo (p.35).
Segundo o depoimento de um imigrante o Boletim escrito em castelhano
lembra sua língua natal, pois são poucas as vezes que se encontram textos
nessa língua, a não ser para quem entra na Internet, mas a maioria das pessoas de nacionalidade latino-americana não tem acesso à Internet.
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DESAFIOS PARA A CONTINUIDADE DA
MISSÃO DA POMPÉIA E CIBAI
Devemos persuadir-nos que hoje não basta o que bastava
tempos atrás.
Tempos novos, novas realizações; a novas chagas, novos
remédios; a novas artes de guerra, novos sistemas de defesa.
Hoje, como vos disse outras vezes, é necessário que o
sacerdote saia do templo, se quiser exercer uma ação salutar
no templo.
Porém, entendamo-nos:
saia do templo, mas depois de ter haurido luz e conforto da
piedade e da oração;
saia do templo, mas tendo sempre o olhar voltado para o
templo;
saia do templo, mas como o sol que sai de sua tenda, resplandecente da luz de Deus e do fogo da caridade
que ilumina, aquece, fecunda (…).
(SCALABRINI)
Dos inúmeros testemunhos colhidos e documentos analisados se pode retirar algumas sugestões para a continuidade da ação migratória evangelizadora
do CIBAI e da Paróquia pessoal da Pompéia em prol dos migrantes:
 É preciso analisar com uma consciência critica as tensões e pontos
equivocados que a caminhada gerou. Embora alguns missionários tenham trabalhado segmentando a pastoral da mobilidade humana é
preciso superar as distinções que fizeram parte do passado da história
evolutiva da Pompéia: pastoral dos italianos, pastoral dos latinos, pastoral dos asiáticos, pastoral dos africanos. Hoje o que se deve defender é uma pastoral orgânica dos migrantes, apostar na acolhida, no
processo de integração na sociedade onde vivem, defendendo seus
direitos fundamentais como cidadãos universais.
 O papel e a missão específica dos que assumem a mística
scalabriniana na Pompéia/CIBAI é de ser a Igreja dos migrantes,
pois aí eles encontram seu espaço, seu lugar. Encontram os missionários dos migrantes com o coração da universalidade. Pode haver mo97
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mentos de celebração religiosa nas línguas das etnias de cada um, mas
os missionários são de todos e os migrantes sabem que aí encontram
pessoas que acolhem, sem distinção de raça, de cor e de credo, pois
todos são seres humanos, filhos do mesmo Criador: Era peregrino e
me acolheste. Aí, os migrantes sabem que encontram agentes (missionários, missionárias, leigos e leigas) que acolhem, que consolam,
que orientam, que, enfim, ajudam a sentirem-se em casa, como Igreja
e como pátria.
 A busca da organização e orientação dos migrantes fez acontecer o
surgimento de formas associativas, como foram os núcleos de
migrantes. Esse caminho é viável, embora a experiência revela que
nada é fácil. Só acontecerá se houver união entre migrantes, padres
missionários, irmãs missionárias, seminaristas, leigos, agentes das
paróquias nos locais onde estão inseridos os migrantes.
 Elaboração de um projeto, que seja continuado, mesmo que o responsável mude. Isto exige pessoas colaboradoras, tempo e muita paciência. É fundamental identificar lideranças entre os próprios
migrantes, ter uma relação próxima com os párocos das áreas com
maior presença dessa realidade.
 Descentralização é o novo caminho: é impensável e impossível que
os migrantes cheguem até a Pompéia/CIBAI. Chegou o momento de
começar o processo da Pompéia/CIBAI ir até o migrante: localizálo, motivá-lo, organizá-lo e com ele celebrar a vida.
 Redimensionamento da presença leiga dentro da Pompéia/CIBAI que
deve ser motivada para o surgimento de um renovado grupo de leigos
scalabrinianos e grupo de jovens que entusiasmados pela figura e obra
de Scalabrini busquem e contribuam para uma renovação do carisma
scalabriniano e do vigor missionário em favor dos migrantes.
 A Pompéia/CIBAI tem um grande desafio: despertar na Igreja local
a sua responsabilidade com os migrantes, conforme os documentos
do Concilio Vaticano II, da CELAM e, especialmente, o Documento
de Aparecida que considera o migrante semente de evangelização.
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ANEXO
I
RECONHECIMENTOS
Às mulheres que prestaram serviço na Pompéia/CIBAI
A presença e a atuação da mulher na vida da Paróquia Nossa Senhora do
Rosário de Pompéia e do CIBAI foi relevante desde o começo: acudir os
serviços domésticos, atender ao imigrante na secretaria, cuidar da limpeza da
Igreja e salões, participar de festividades com vendas de rifas, preparar o
local e o almoço da confraternização, organizar e coordenar a liturgia, visitar
as famílias de imigrantes, visitar estrangeiros na prisão, dentre outros.
É bem presente na memória dos imigrantes que as estátuas que formam
o maravilhoso grupo de imagens na entrada da Igreja foram encomendadas
por um grupo de mulheres italianas, ainda nos idos de 1920, para a Igreja
de Nossa Senhora das Dores. Depois, em 1962, foram as mulheres imigrantes italianas do pós-guerra que conseguiram a doação dessas imagens
para a Paróquia da Pompéia.
Segundo registros, o grupo de Senhoras que se auto-intitulavam Amigas
das Obras dos Padres Carlistas (o padre as chamava de patronesses) tiveram um papel decisivo na fase de construção da Igreja e demais conjuntos
arquitetônicos. Seus nomes não constam nos Boletins, nos Livros Tombo,
nas correspondências e nos Relatórios da Pompéia, mas suas atividades
eram mencionadas mensalmente no Boletim Circular do CIBAI, pelo empenho na arrecadação de fundos seja com almoços beneficentes, como na
venda de rifas, promoções de desfiles de moda, busca de doações nas campanhas da telha, da cadeira, do banco, do metro de piso para a Igreja.
Menção especial deve ser feita à Natalina Corradin que veio da Itália,
no início da década de 60, a convite de seu irmão Pe. Giuseppe Corradin.
Atendia na secretaria e visitava os benfeitores para arrecadar recursos financeiros. Ótima cozinheira - foi famosa pelos almoços que preparava: eram
verdadeiros banquetes. Também um profundo reconhecimento a pessoa de
Ana Pressi que por muitos anos serviu como funcionária nesta missão.
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No serviço pastoral merecem destaque especial a missionária leiga Rita
Bonassi, como as demais colegas suas que atuaram direta ou indiretamente
com o CIBAI no serviço aos migrantes durante a década de 1980.
As Irmãs Scalabrinianas: Claudete Rigoni, Marinês Biasibetti e
Marizete Garbin que por quinze anos assumiram a pastoral social do
CIBAI, deixando as melhores recordações junto aos migrantes, aos padres
e aos Amigos da Pompéia. Das muitas leigas que tiveram uma atuação destacada, se pode mencionar Valesca Rezende46 que iniciou a pastoral com
migrantes universitários e que articulou de maneira eficiente a preparação
das missas na Catedral, nos primeiros anos dessa celebração eucarística.
Finalmente uma palavra de gratidão a todas às mulheres imigrantes que
atuaram na missão da Pompéia e CIBAI: brasileiras, italianas, chilenas,
uruguaias, argentinas, paraguaias, bolivianas, peruanas, colombianas,
equatorianas, panamenhas, mexicanas, costarriquenhas, hondurenhas, espanholas, alemãs, polonesas, libanesas, coreanas, entre outras. Nesse contexto destaque especial merece o Grupo de las Madres latino-america-
46 Valesca logo que foi residir em Campo Grande escreve uma carta para 'A Família da
Pompéia' onde revela uma surpresa: Vim para cá achando não haver trabalho com
migrantes... Descobri algumas coisas que me chocaram. Sábado fui visitar o asilo de
velhinhos e descobri 10 migrantes estrangeiros completamente abandonados e alguns
não sabem falar o português. Há um americano, um croata, uma italiana, um alemão,
além de bolivianos e paraguaios. Quase todos sem comunicação com o mundo, em cadeiras de rodas abandonados, sem famílias. Entabulei conversação em inglês, italiano e
portunhol, todos me responderam. Falando com a diretora ela me disse que os estrangeiros nunca foram identificados e se não sabem faltar português são tratados como os que
tem demência (Fev. 2007, p.4).
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nas, pelo espírito comunitário que desenvolveram, pela colaboração que incrementaram
e, especialmente, pelos encontros que promoveram com jovens, reunindo seus filhos na
convivência formativa e criadora. Igualmente
merece destaque o grupo de mulheres, coordenado por Terezinha Vasquez, que vem desenvolvendo atividades de geração de renda.
Assim expressa Pe. Sérgio Geremia, que trabalhou nesta Instituição e
hoje é o Superior Geral Scalabriniano, sobre o papel feminino na missão: a
ação pastoral feminina no CIBAI foi muito importante, especialmente porque demonstravam ter uma maior capacidade de escuta do que nós homens, quando preparadas e equilibradas para a missão. O antigo pároco,
Pe. Pio Fatinato, reforça essa visão ao afirmar que no serviço da acolhida e
visitação a mulher é muito mais generosa e sensível do que o homem.
Aos voluntários estrangeiros que atuaram no CIBAI
A presença de jovens de outras nacionalidades fazendo um estágio no
CIBAI foi uma grande oportunidade para testar sua capacidade no serviço
aos migrantes. Jovens oriundos de diferentes nacionalidades, vindos ao Brasil
para aprender a língua, envolveram-se em atividades com imigrantes idosos, no serviço de documentação e contato com outras culturas.
Aos serviços prestados como instituição a favor dos
migrantes
A Pompéia/CIBAI recebeu inúmeros destaques, pelos relevantes serviços
prestados, através de diversos sacerdotes. Foram homenageados por autoridades: Pe. Mário Ginocchini a Comenda Honorífica da Ordem do Mérito Cavalieri
Officiale, Pe. Giovanni Corso com o título de Cavaliere dell'ordine della Stella
della Solidarietá Italiana, concedidos pelo governo italiano. Pe. Mario
Ginocchini e Dom Alessandro Ruffinoni com o título de Gaúchos Honorários. Pe. Florindo Ciman e Pe. Giovanni Corso com o título de cidadãos portoalegrenses, pela Câmara de Vereadores. A Arquidiocese de Porto Alegre, em
2002, concede ao CIBAI Migrações o Prêmio Dom Vicente Scherer.
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Pe. Mário Ginocchini
Dom Alessandro
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ANEXO
II
EFEMÉRIDES
ANTECEDENTES
1896 - Os Padres carlistas chegam ao estado do RS, em Encantado.
1904 - O Fundador da Congregação dos Carlistas, Benaventurado João
Batista Scalabrini, passa por Porto Alegre, visita os doentes e os
profissionais de saúde da Santa Casa de Misericórdia e reza por
eles na Capela do Senhor dos Passos.
1939 - Os Padres carlistas assumem a Paróquia São José da Vila Nova.
1947 - Chegam os primeiros imigrantes refugiados e deslocados da 2ª.
Guerra Mundial. Até o final da década de 50, mais de 12 mil desembarcam em Porto Alegre, sendo aproximadamente 6 mil italianos da Calábria.
1950 - A acadêmica do curso de Serviço Social da PUCRS, Notburga Rosa
Reckziegel, escreve a Monografia de conclusão do curso: O Problema dos deslocados e refugiados da guerra em nosso meio, o
que estimula a inserção da PUC na acolhida, assistência e orientação aos imigrantes. Colocados inicialmente em hospedarias baratas, inclusive nas dependências do Estádio dos Eucaliptos, até receberem os documentos e o encaminhamento a um emprego.
1953 - No dia 28 de janeiro é criado o Secretariado Católico de Imigração, pelos bispos do RS. Em 9 de julho, o padre Carlista, Paolo
Bortolazzo assume a função de assistente espiritual no Secretariado, passando a residir na Hospedaria dos Alemães pertencente à
Paróquia Nossa Senhora da Piedade, na rua Mariante número 600.
Grupo de italianos, recém chegados da Europa, liderado por
Giuseppe Marramarco, inicia, aos domingos, encontros de oração na praça da Alfândega. Mais tarde o encontro dominical passa a ser na Capela Sagrado Coração de Jesus, no Pensionato dos
Anjos, rua Vig. José Inácio, 741.
1954 - No dia 18 de abril, os imigrantes italianos começam a ter uma
missa, na Igreja da Piedade, explicada na língua materna pelo
Pe. Ernesto Fabbian, pároco da Vila Nova e substituto do Pe.
Bortolazzo que estava em férias.
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1955 - Em março o Pe. Alessandro Mancini assume a função apostólica do Pe. Bortolazzo e transfere sua residência para a Paróquia São
José da Vila Nova.
1956 - Em março o Pe. Mancini inicia a celebração da missa dominical
para os italianos na Capela Sagrado Coração de Jesus, no
Pensionato dos Anjos, à rua Vigário José Inácio, 741.
A MISSÃO CARLISTA NA RUA BARROS CASSAL
1957 - Em 14 de fevereiro Pe. Quintilio Costini assume a missão com a
tarefa de adquirir uma área para fundar o Centro de Assistência aos
Migrantes. Inicialmente reside na Vila Nova, em seguida passa a
residir no Pensionato dos Anjos, de onde atende os imigrantes. No
dia 24 de setembro assessorado por uma comissão de coirmãos Padres Bruno Paris, Mario Bianchi, Rodolfo de Candido e Florindo Ciman - adquire as casas e terrenos dos números 220, 226 e
230, na rua Dr. Barros Cassal, sede atual da Paróquia da Pompéia.
Em dezembro o Irmão carlista Matteo Gheno inicia as reformas
das casas para acolher a missão.
1958 - Em 10 de janeiro Pe. Quintilio transfere residência e o escritório
de atendimento aos imigrantes para a atual sede. Em 20 de abril
Dom Vicente Scherer autoriza a Pia Sociedade dos Missionários
de São Carlos a estabelecer uma comunidade religiosa na rua Barros Cassal com o fim de dar assistência aos imigrantes italianos. É
construída uma capelinha que recebe o nome da atual padroeira.
A estampa de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia foi doada
pelo imigrante napolitano que a trouxera da Itália, no fundo da
mala. Dom Vicente celebra a primeira missa na capelinha em 6 de
maio, reunindo em torno de 50 pessoas. Imediatamente a imagem
de Nossa Senhora do Rosário da Pompéia é levada às centenas de
famílias pelo trabalho apostólico das mulheres imigrantes italianas, onde era rezado o terço na família ou em grupo de famílias,
especialmente nos meses de maio e outubro, meses dedicados a
Maria Santíssima (Liv. Tombo). Pe. Quintilio elabora e registra
os Estatutos Sociais do CIBAI. Em outubro Pe. Bruno Todesco
assume o posto de Pe. Quintilio.
1959 - Em 2 de janeiro nova mudança na direção dos trabalhos pastorais e
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
das construções: assumem os Padres Giuseppe Corradin e Emílio
Delmi, que adquirem mais uma faixa de terreno de 5 metros de
largura, em direção da Av. Farrapos. Organizam as famílias italianas como colaboradoras participantes do Centro de Atendimento e
da futura paróquia. Instalam um consultório médico onde o Dr.
Giorgio Brunet passa a atender gratuitamente às sextas feiras. Em
30 de dezembro o Arcebispo assina o Decreto de criação da
Paróquia Pessoal Nossa Senhora do Rosário de Pompéia.
1960 - Em janeiro começa a circular o Boletim Voce Amica, em português
e italiano, como forma de manter a comunidade de imigrantes informada, motivada e unida. Acolhida da imagem do Menino Jesus de
São Carlos. Em outubro chegam reforços humanos: Pe. Florindo
Ciman, Pe. Giovanni Molon e a leiga Natalina Corradin. Com o apoio
de seminaristas scalabrinianos de Guaporé, Pe. Corradin dá início ao
aterramento do banhado existente no interior dos terrenos.
1961 - Inicia a Escola Elementar para imigrantes adultos em período noturno. O Superior geral, Pe. Raffaele Larcher, na visita canônica de
janeiro, autoriza o início das obras, onde até então existiam cortiços internos (barracas) que serviam de estacionamento aos automóveis de vizinhos. São adquiridos materiais para início das obras.
1962 - O ano foi marcado pelo forte engajamento da comunidade italiana
motivada pela chegada da estátua da Madonna di Pompei, trazida
da Igreja das Dores. Foi colocada num galpão como forma de sensibilizar os que por aí passavam, onde era freqüente ouvir-se dos
visitantes: Vamos dar-lhe um templo! Em abril a Providência Divina (expressão do pároco) se manifesta pela presença de Mons. De
Jardin e do Pe. Francesco Milini que vendo o andamento da missão propõem levar um projeto solicitando empréstimo monetário
ao Banco do Vaticano, o que foi aprovado (cinco mil dólares pagáveis em dez anos). Com esse recurso o pároco adquire o último
lote na direção da Alberto Bins. O engenheiro Erwin Brand conclui o projeto que contemplava: garagem, Igreja, residência para
os padres, escritórios e salas de atendimento.
1963 - Em agosto Pe. Corradin e Pe. Ciman dão início às escavações e
construção das obras, contando como fontes de renda: o aluguel
dos estacionamentos, a renda das cadernetas dos sócios, os chás
beneficentes do grupo de mulheres, as confraternizações com almoços e jantas, além das tradicionais rifas.
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1964 - No final do ano dá-se início à construção da residência dos padres.
1965 - Em maio conclusão da garagem e da residência dos padres. Em
5 setembro lançamento da pedra fundamental para a construção
do templo (igreja). Presente o Arcebispo que deu a benção.
1966 - Construção de novo galpão rústico nos fundos do terreno para
congregar as famílias em confraternizações e ter mais uma alternativa de renda. Os ritmos da construção do templo diminui por falta
de recursos. Em agosto integra-se à comunidade o Pe. Ernesto Fanni.
Inicia-se a campanha da telha de zinco para cobertura da Igreja.
1967 - Em 29 de junho é rezada a primeira missa solene na nova Igreja. Meses depois chega o Padre Geral dos Scalabrinianos, alegrase com o belo templo e diz: Agora a comunidade tem um templo,
necessitamos empenhar-nos a dar uma comunidade a esse templo.
Primeiras preocupações da equipe do CIBAI para outras categorias
de imigrantes: levantamento nas paróquias da capital da presença de estudantes, domésticas e empregados.
1968 - Avança a preocupação para organizar um serviço que atenda
espiritualmente os estudantes do interior, domésticas e veranistas.
Envolvimento de sacerdotes do CIBAI na assistência espiritual a Movimentos: Associação de ex-combatentes italianos da 1ª e
2ª Guerra Mundial, o Serra Clube Vocacional.
1969- O CIBAI passa a ceder espaço para o SICA - Secretaria
Interconfessional de Aconselhamento - e os padres carlistas
atuam como conselheiros.
1970 - Em março a Arquidiocese solicita espaço físico para o grupo
de Cursilhos da Cristandade e o Pe. Florindo Ciman assume
a direção espiritual do movimento com os padres Cláudio
Bins, sj, Altamiro Rossato, cssr e Tadeu Canellas, do clero secular. Em 1º de setembro a Associação de Dirigentes Cristãos
de Empresas do Brasil (ADCE) inicia seus cursos, retiros e
confraternizações nas dependências do CIBAI e o Pe. Ciman
passa ser o assistente espiritual.
1971 - CIBAI patrocina o lançamento do livro feito pelo Pe Giuseppe Corradin
...E Cantavam. Pe. Corradin é substituído pelo Pe. Mário Ginocchini,
permanecendo na comunidade o Pe. Ciman (tesoureiro) e ingressando
o Pe. Ângelo Tedesco, este responsável pela visitação às famílias e
atendimento aos doentes. Presença de outros movimentos no CIBAI,
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
como dos Grupos de Jovens (Emaús, Gen, Focolare e JATO). Escola
de Corte e Costura voltada para as mulheres de imigrantes.
1972 - Concluída a Igreja. O Livro Tombo registra uma preocupação:
O CIBAI nessa caminhada está respondendo ao fim específico
pelo qual foi criado? O que mais deveria ser feito? Que testemunho estamos dando aos nossos seminaristas para a missão específica voltada à questão migratória?. Primeiras tratativas para
abertura de missão no Porto de Rio Grande.
1973 - Criação do CEPAM - Centro de Estudos da Pastoral Migratória que
produziu inúmeros livros sobre a espiritualidade de Scalabrini com a
atuação do Pe. Redovino Rizzardo (hoje bispo) e pesquisas de campo sobre a questão migratória (imigrantes estrangeiros, brasileiros
no Paraguai e imigrantes internos, fruto do êxodo rural) pelo trabalho dos Padres Paolo Bortolazzo, Genoir Pieta, Darciolei Volpato.
1974 - Preocupação em ampliar a Família da Pompéia e Scalabriniana
para melhor servir os migrantes. Remessas financeiras as missões
do Paraguai, Brasília e Vila Nova. Divulgação das biografias de
Scalabrini. Ações com as igrejas de origem e de chegada dos imigrantes internos. Lançamento do livro: João Batista Scalabrini,
profeta da Igreja peregrina de autoria do Pe. Redovino Rizzardo.
1975 - Tentativa de uma pastoral junto aos portuários na zona do cais
de Porto Alegre. Entrosamento maior entre o CEPAM e o CIBAI.
Acolhida ao Cardeal Albino Luciani, patriarca de Veneza e futuro
Papa João Paulo I. Ele reza missa na Igreja da Pompéia, sendo
colocada uma placa comemorativa no altar. Lançamento do livro A
Longa Viagem do Pe. Redovino Rizzardo.
1976 - Reestruturação das visitas às famílias de imigrantes italianas
associadas à Família da Pompéia. Campanha pelos desabrigados
do terremoto de Friuli, Itália.
1977 - A partir de agosto é introduzida a hora de adoração na primeira
quinta-feira do mês. Tem início a cruzada do Rosário em Família.
1978 - Celebração dos 25 anos do CIBAI (1953-1978), pela inserção
dos padres scalabrinianos com a questão migratória no centro de
Porto Alegre. Elaborado um boletim específico coordenado pelo
Frei Rovílio Costa e Pe. Paolo Bortolazzo.
1979 - Em 1º de março é inaugurado o novo salão com a presença de
Dom Antonio Cheuiche que abordou o Documento de Puebla aos
cursilhistas. Em 15 de maio o CEPAM faz os primeiros levantamen107
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tos em que demonstra a preocupação do CIBAI com a imigração hispanoamericana em Porto Alegre. Pe Genoir Pieta substitui o Pe. Redovino no
CEPAM, que faz o lançamento de novo livro A emigração italiana na
América. Tem início em dezembro os encontros bimestrais da comunidade chinesa na Igreja da Pompéia e nos salões de festa.
1980 - Em 30 de janeiro o Superior Geral, Pe. Giovanni Simonetto,
encaminha correspondência ao Cardeal Vicente Scherer para
que a Pompéia possa atender outras nacionalidades de imigrantes, o que é aceito. Em abril, o novo pároco, Pe. Pio Fantinato
(Piodecimo) registra a primeira reunião para a reestruturação dos
serviços. Em 1º de junho inicia o trabalho de atendimento aos
hispano-americanos, coincidindo com a data do 75º aniversário
de falecimento de Scalabrini. lançamento do livro Oração do Peregrino. O novo atendimento a imigrantes de outras nacionalidades
encontrou: pessoal que não dominava a língua espanhola, carência
de especialistas na área jurídica (estava mudando o Estatuto do
Estrangeiro). Em 22 de junho primeira concentração e confraternização dos imigrantes hispano-americanos, depois fixada no 2º. domingo do mês. Em setembro surge o Projeto El Rincón de los Latino-americanos. Em 20 de setembro integra-se à equipe do CIBAI
a missionária secular scalabriniana Margherita (Rita) Bonassi. Primeiro encontro com Jovens Imigrantes do interior vinculados às
Empresas Zaffari e Tumelero que desembocará no surgimento do
Grupo JATO - Juventude Amor Total. Lançamento da segunda edição do Livro ... E Cantavam, coleção de cantos populares da região
de colonização italiana do RS, do Pe. Giuseppe Corradin e do
livro Carlistas no Rio Grande do Sul, de Pe. Rodovino Rizzardo.
1981 - Inicia o Projeto Canta América sin Fronteras. Em 10 de dezembro passa a vigorar a nova Lei da Anistia aos imigrantes em situação irregular. Em abril de 1981 inicia-se o trabalho com operários migrantes e suas famílias no Pólo Petroquímico. A equipe era
formada pelo Pe. Mário Ginocchini, Pe. Mário Gazzoli e Rita
Bonassi, um leigo, uma Irmã Carlista e outra Irmã da Divina Providência que introduziram a chamada Missão Volante, que ocorria
sempre no 3º domingo de cada mês. A experiência estende-se também com os operários da Usina de Candiota, em Bagé. Outra
frente aberta foi com as domésticas, cujos encontros ocorriam no
3º domingo de cada mês pela parte da tarde. Em junho Pe.
Ginocchini despede-se e chega o Pe. Aldo Bortoncello.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
1982 - Em fevereiro o Pe. Alessandro Ruffinoni passa a fazer parte da
comunidade dos padres da Pompéia para atender especificamente
os imigrantes. Em outubro Pe. Piodecimo é substituído no cargo
de pároco pelo Pe. Alessandro e em seis de novembro sofre um
assalto no seu escritório de atendimento. A Anistia do governo
federal trouxe confusão, medo e repressão em razão de uma reportagem de órgão televisivo local. Houve forte reação do Delegado da Polícia Federal com o CIBAI. Resolvida a tensão o CIBAI,
junto com o Movimento de Justiça de Direitos Humanos de Porto
Alegre, presidido pelo Dr. Jair Krischke, passa a orientar os imigrantes e preparar a documentação a ser encaminhada aos órgãos
federais. Nos últimos dias a equipe do CIBAI monta o escritório
móvel numa Kombi, na frente do prédio da Polícia Federal.
1983 - Em fevereiro chega o Pe. Joaquim Roque Filippin para atendimento específico aos imigrantes hispano-americanos e o Pe. Ângelo Ravanello para ajudar no CEPAM. Reintroduzida a missa em
italiano no primeiro domingo do mês. Realizado o 1º encontro
Latino-americano para jovens migrantes. Em novembro a Província realizou a compra da velha sede do Centro de Pastoral da
Arquidiocese. Feitas algumas reformas o Centro de Estudos da
Pastoral Migratória se deslocou para aquele espaço.
1984 - Assume a paróquia Pe. Paolo Dal Grande. Pe. Alessandro Ruffinoni
e Pe. Genoir Pieta são transferidos. O Pe. Paolo Bortolazzo coordena o CEPAM, formando uma equipe com os clérigos Ivanor Reginatto
e Roberto Gasparetto e realizam a pesquisa Migração Brasileira no
Paraguay. A equipe de leigos imigrantes (Nora Coelho, Olívia
Venegas, Miguel, Victor Hugo Sotto Paiva), coordenada pelo Pe.
Joaquim Filippin e Rita Bonassi, começa a visitar e atender imigrantes estrangeiros presos no sistema presidiário da grande Porto Alegre. Além da atenção humana e espiritual foram inúmeros os
casos de remissão de pena, liberdade condicional, progressão de regime conseguido com esse trabalho pastoral (4 anos). Foi cercado o
pátio da Igreja e colocados os vitrais na capelinha.
1985 - Dá-se início ao projeto Emigrante ayuda Emigrante. Começa o
atendimento do CAIPA - Centro Ítalo-Brasileiro Assistencial Porto-alegrense para os italianos, na sede do CIBAI (hoje é o IASI).
Com recursos do Adveniat foi adquirido um carro para o trabalho
de assistência social. A missionária secular scalabriniana, Nuccia
Bernini, iniciou um trabalho de colaboração no CEPAM e CIBAI.
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Feitas reformas na garagem, pintados prédios da Igreja e residência dos padres. Renovada parte da rede elétrica e hidráulica.
1986 - Adquirido novo órgão para a Igreja. Promoção de cursos de português e espanhol. Início da pesquisa sobre Os Latino-americanos na grande Porto Alegre coordenada pela missionária Nuccia
Bernini do CEPAM e com a assessoria do sociólogo da PUC/RS,
Pe.Ernesto Goeth.
1987 - Pe. Paulo dal Grande e Pe. Genoir Pieta elaboram o Álbum do Centenário da Congregação. Impressa a 3ª edição do ... E Cantavam.
1988 - Em 2 de dezembro o Governo Federal edita a Nova Lei da Anistia.
O CIBAI realiza um intenso trabalho de apoio e ajuda financeira.
Rita Bonassi deixa o CIBAI e em seu lugar assume a Irmã Claudete
Rigoni, carlista. Pe. Joaquim intensifica a presença nos núcleos de
imigrantes em Porto Alegre e cidades satélites. Encaminhamento
de uma Associação (ASSEC) de ex-alunos carlistas em Porto Alegre. Dá-se início ao Projeto: A Força da memória histórica do
imigrante, estendendo-se por décadas com encontros, registros e
transcrições no Boletim da Pompéia.
1989 - O atendimento dominical dos almoços passa a ser terceirizado.
Inicia-se o Projeto Integración Latinoamericana para auxiliar os
carentes no pagamento de taxas a fim de regularizarem sua documentação por ocasião da Lei da Anistia.
1990 - Irmã Claudete Rigoni organiza a cooperativa de costura, o Centro Cultural Latino-americano, a Semana da Cultura hispanoamericano e a exposição artesanal das nações latino-americanas. Realizadas as pesquisas, sob coordenação do Pe. Paolo
Bortolazzo: Desafio do Êxodo Rural e urbanização e Migrantes fluxos e tendências .
1991 - Pe Antonio Bortolamai assume a paróquia, continuando o Pe. Joaquim Filippin na assistência aos hispânicos e na administração do
CIBAI, Pe. Paolo Bortolazzo na direção do CEPAM e Pe. Florindo
Ciman na assistência aos movimentos espirituais. Em setembro é
feita a pesquisa Los Inmigrantes en las universidades do RS pelos
irmãos Miguel e Luiz Chamorro. Inúmeras obras foram feitas, como
a impermeabilização do pátio interno, recuperação estrutural da
torre e da marquise da Igreja com respectivas pinturas. Construção
da atual cozinha. No dia 18 de setembro tem início a I Festa de
Integração Latino-americana que perdura até os dias atuais.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Envolvimento do CIBAI no Fest-Sul (Festiva Latino-americano de
arte e cultura popular (5 a 6 dezembro).
1992 - Com a aprovação da dupla cidadania italiana o CIBAI passa a
orientar o processo aos que o procuram. Tem início a I Festa das
Nações no Iguatemi Shoping Center envolvendo CIBAI, Associações de italianos, Prefeitura de Porto Alegre e consulados. Terá
continuidade até a década de 2002. Surge também o projeto Natal
da Criança, em 20 de dezembro coordenado pelo Grupo de Madres hispano-americanas que continua até hoje. Frente ao descontentamento de parte da Comunidade italiana em que afirmava que
era dada excessiva prioridade aos novos imigrantes hispano-americanos, foi buscada uma reorganização mesclando um grupo de
pastoral formado de italianos, chilenos, uruguaios, argentinos, bolivianos, peruanos e colombianos.
1993 - Em fevereiro a Irmã Marines Biasibetti, carlista, passa a auxiliar a
Irmã Claudete no atendimento aos migrantes. Em março tem início
o Projeto A Tarde do Imigrante (depois Manhã do Imigrante).
Em agosto tem início no CIBAI o Projeto de Acolhida a Refugiados Angolanos.
1994 - Pe. Jairo Guidini substitui o Pe. Genoir Pieta. Em setembro o CIBAI
consegue um terreno da prefeitura para construir uma Casa de Acolhida ao Imigrante, na Cidade de Deus, no Bairro Cavalhada. Pe.
Paolo Bortolazzo volta ao CIBAI.
1995 - Pe. Genoir Pieta assume a função de Pároco na Pompéia.
1996 - Em novembro foram concluídas as obras de reforma da Igreja com a
troca do forro, nova iluminação, serviço de som e nova pintura. Pe.
Antonio Bortolamai é transferido e no seu lugar retorna Genoir Pieta.
1997 - Em janeiro assume o serviço da pastoral social do CIBAI a Irmã
Marizete Garbin. É transferida a Ir. Marines Biasibetti. A comunidade italiana colabora incisivamente com recursos na Campanha
para fazer reformas na Casa da Acolhida ao Imigrante. Intensas
reflexões ocorrem pela beatificação de João Batista Scalabrini.
1998 - Assume a paróquia o Pe. Francesco (Franco) Mazzone, no lugar do
Pe. Genoir Pieta. Chega também o Pe. Darciolei Jorge Volapto.
Em julho Pe. Franco retoma o trabalho de visitação aos italianos,
reaproximando-os da Família da Pompéia. Ocorre uma nova Anistia a imigrantes estrangeiros em situação irregular. Em outubro realiza-se uma Missão Popular junto aos imigrantes hispano-ameri111
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50 anos de serviço com migrantes
canos na grande Porto Alegre. A missão foi um verdadeiro mutirão
envolvendo padres scalabrinianos, Irmãs scalabrinianas, noviços,
leigos e especialmente imigrantes.
1999 - Em março a Comunidade da Pompéia passa a contar com o Pe.
Tacízio Pontel. Acentuam-se os encontros dos núcleos de imigrantes nos diversos municípios para celebrar a eucaristia e confraternizando experiências de vida e formas de entre-ajuda. Pompéia
recebe o bispo norteamericano, Dom Rosazza, responsável pelos
migrantes de língua portuguesa nos Estados Unidos.
2000 - Em março assume a paróquia Pe. Valmir Baldo. O Pe. Darciolei
continua na coordenação dos Setores Sociais do Regional Sul III
da CNBB. O novo pároco, além de reorganizar diversos setores
pastorais, deu ênfase à Liturgia.
2001 - Em maio Pe. Sérgio Geremia passa a integrar os serviços pastorais,
dedicando-se especialmente a visita das famílias e a organização de
núcleos com os hispano-americanos, juntamente com a Irmã Marizete
Garbin, na região metropolitana. Pe. Tacízio Pontel é transferido.
2002 - Em março Ir. Marizete é transferida para a missão na África, após
cinco anos de dedicação. Semanalmente o grupo de leigos
scalabrinianos se encontram no CIBAI. Em dezembro toda a
equipe é substituída. Em dezembro assumem o serviço os padres
Giovanni Corso e Joaquim Roque Filippin.
2003 - Início da visita mensal às famílias na Ilha dos Marinheiros. Criado
o site da Paróquia pela voluntária Haidê Cecília Agostini. Em abril
o pesquisador, professor Jurandir Zamberlam, integra-se como voluntário aos serviços de pesquisa do CIBAI. No mesmo mês a direção do CIBAI inicia a formação de um grupo de estudos com
juristas, envolvendo Ministério Público Federal, Estadual, Movimento dos Direitos Humanos e Universidades. Pe. Giovanni Corso
dá início a três programas de rádio semanal, aos domingos, voltados para as comunidades italianas: Rádio Guaíba (Brasil) e
Rádios Rosário e Mendonza (Argentina). CIBAI, com apoio técnico da Visual Filme, produz um documentário sobre o serviço
aos migrantes com o título: Rostos. Com a coordenação do Dr.
Humberto Scorza tem início visita semanal do Pe. Giovanni
Corso aos imigrantes italianos idosos e aos doentes. Em julho celebração dos 50 anos da presença saclabriniana no Centro de Porto
Alegre. No mês de agosto um grupo de famílias católicas
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
coreanas inicia suas celebrações eucarísticas e confraternizações mensais na Pompéia. Inicialmente com assistência de um sacerdote daquele país, depois com um sacerdote da Pompéia. Em
setembro o CIBAI apresenta estudo da mobilidade humana, por
diocese, a partir dos dados do Censo 2000. Em outubro realiza-se o
Seminário Direitos Humanos e Mercosul.
2004 - Em abril organiza-se uma equipe de psicólogos, tendo Blanca
Morales e Carlos Nevado na coordenação, para apoio terapêutico
gratuito aos imigrantes necessitados no campo específico. Em maio
tem início a Missa mensal do Migrante, no último domingo do
mês, na Catedral Metropolitana. Em junho é realizado o Seminário Direitos Humanos e Migração envolvendo uma rede de instituições - CIBAI, Unisinos, UniRitter, UniLassale, Procuradoria Federal e COMIG. Em agosto seminário com a Unisinos com o tema
Migrações e Mídias. Publicado o estudo a partir dos dados do Censo
de 2000 sobre a migração, por diocese, nos estados do RS, SC, PR e
SP. Concluída pesquisa de campo e publicado o livro: Percepção do
Fenômeno Migratório em cidades das dioceses do RS. Também foi
concluída a pesquisa e publicada em livro: O Processo Migratório
no Brasil e os desafios da Mobilidade Humana na Globalização.
Publicada a pesquisa: Perfil do migrante brasileiro e paraguaio na
fronteira nas Dioceses de Dourados (Brasil) e Alto Paraná
(Paraguai). Tem início o Projeto Criança migrante coordenado pelo
voluntário uruguaio Roberto Figueroa.
2005 - Em janeiro o CIBAI acolhe os participantes do I Fórum Social das
Migrações, com participação de mais de 600 pessoas de 40 países.
Chega o Pe. Jairo Guidini como vigário cooperador. Publicados novos
livros: Pastoral dos Migrantes - subsídio e Memória do 1º Congresso
Mundial de Leigos Scalabrinianos. Em 18 de julho o CIBAI, através
do Pe. Joaquim Filippin, começa nova missão com os imigrantes
estrangeiros em Florianópolis, mantida até hoje. Presentemente o
Pe. Giovanni Corso é o responsável pelo atendimento na última semana do mês. Em setembro a RBS-TV monta um programa televisivo
com a colaboração do CIBAI e apresentado em horário nobre, durante
cinco dias sobre a questão migratória em Porto Alegre. Equipe do CIBAI
começa a voltar-se para a problemática dos emigrantes brasileiros
no exterior, contatando com a Diocese de Criciúma.
2006 - Articulação com a Câmara Municipal de Porto Alegre sendo realizadas diversas audiências públicas sobre a questão migratória
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50 anos de serviço com migrantes
no município. Em julho a direção do CIBAI tem uma audiência
com o Ministro da Justiça, Dr. Tarso Genro, e com os Senadores
gaúchos, reivindicando nova Anistia aos imigrantes em situação
irregular. Início da pastoral migratória com universitários oriundos
do exterior, especialmente da África, América Latina e da Ásia.
Publicados os livros: Memória - 1er Congreso Mundial de los
Laicos Scalabrinianos en Piacenza e os referentes às pesquisas:
Tendências da Migração fronteiriça na Região de Foz do Iguaçu;
A emigração da grande Criciúma na ótica de familiares - desafios
para a Igreja de origem e de destino. São assinados os Acordos
bilaterais entre Brasil-Argentina e Brasil-Uruguai sobre residência
dos trabalhadores migrantes.
2007 - Em março tem início da missa com familiares de brasileiros no
exterior. Em 14 de junho chega o Pe. Lauro Bocchi. Publicadas as
pesquisas: Emigrantes brasileiros no Paraguai - presença scalabriniana
e Foz do Iguaçu em contexto de mobilidade - Paróquia Bom Jesus
do Migrante. Campanha para arrecadar fundos para os atingidos pelo
terremoto no Peru (R$ 43 mil reais). Comunidade japonesa confraterniza nos salões do CIBAI. Participação no Fórum da Igreja
Católica no RS com tenda, oficina sobre a questão migratória e lançamento do livro Desafios para a Igreja do RS.
2008 - Pe. Lauro Bocchi e Jurandir Zamberlam iniciam a pesquisa com universitários estrangeiros na rede de Ensino Superior do RS. Pe. Lauro
assessora a organização e elaboração dos Estatutos de uma associação
de estudantes africanos e afrodescendentes. Celebração da independência do Guiné Bissau com estudantes e representantes de
Moçambique, Cabo Verde, Angola, Haiti, Burkina Faso. Reeditado
o livro escrito pelo Pe. Redovino Rizzardo, quando coordenador do
CEPAM: João Batista Scalabrini - Apóstolo dos Migrantes.
2009 - Direção Provincial efetua remanejo administrativo no CIBAI: Pe.
Lauro Bocchi designado pároco e diretor do CIBAI, Pe. Joaquim
Filippin, administrador, Pe. Giovanni Corso, encarregado da assistência espiritual à comunidade italiana, além de atender a Missão de Florianópolis e o Apostolado do Mar, no Porto de Rio
Grande. Publicadas duas novas pesquisas: Estudantes internacionais no processo globalizador e na internacionalização do ensino
superior; e Desafios das Migrações - buscando caminhos. Em conjunto com Sindicatos, Movimentos Sociais, Assembléia Legislativa
e Universidades, a Paróquia da Pompéia participa da Jornada con114
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tra a Violência e por Justiça Social, dando continuidade às reflexões do Tema da Campanha da Fraternidade. O CIBAI também foi
parceiro da UFRGS no Fórum de Direitos Humanos e as Migrações contemporâneas no Sul da América. Inicia-se o atendimento
aos imigrantes em situação irregular com a aprovação de nova Lei
de Anistia (no. 11.961 de 02.07.2009). Em novembro o Brasil promulga, através de Decretos do Presidente da República, dois Acordos Multilaterais sobre Residência para nacionais dos Estados parte do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) e dos associados,
Bolívia e Chile. Acontecimento que marca um importante passo na
integração regional e na defesa dos direitos dos Migrantes. Tem
início comemorações do cinquentenário da Pompéia com lançamento do livro: 50 ANOS DE SERVIÇO COM MIGRANTES
- Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia.
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50 anos de serviço com migrantes
Reunião para organização de uma associação de italianos (Entre os presentes: Giuseppe Marramarco, Dante
Barrone e Aldo Locatelli) - 1955.
Coral da Pompéia
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
ANEXO
III
PADRES QUE TRABALHARAM
NA PAROQUIA DA POMPEIA
DESDE SUA CRIAÇÃO EM 1959
Padres Scalabrinianos que iniciaram o trabalho de acolhida ao imigrante
no centro de Porto Alegre antes da criação da Paróquia da Pompéia.
1. No Secretariado Católico de Imigração
1953 - Pe. Paolo Bortolazzo
1955 - Pe. Ernesto Fabbian
1956 - Pe. Alessandro Mancini
2. Na sede antiga do CIBAI Migrações
1957 - Pe. Quintilio Costini
1958 - Pe. Bruno Todesco
Celebração dos 50 anos de sacerdócio Pe. Paolo Bortolazzo
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50 anos de serviço com migrantes
3. Relação dos sacerdotes scalabrinianos na Paróquia da Pompéia
de Porto Alegre-RS
Pároco
1959
Pe. Giuseppe Corradin
1971
Pe. Mario Ginocchini
1980
Pe. Pio Fantinato
1982
Pe. Alessandro Ruffinoni
1984
Pe. Paolo Dal Grande
1991
Pe. Antonio Bortolamai
1995
Pe. Genoir Pieta
1998
Pe. Francesco Mazzone
2000
Pe. Valmir Baldo
2002
Pe. Giovanni Corso
2009
Pe. Lauro Bocchi
Colaboradores
1959 - Pe. Emilio Delmi
1960 - Pe. Florindo Ciman
1960 - Pe. Giovanni Molon
1966 - Pe. Ernesto Fanni
1970 - Pe. Florindo Ciman
1970 - Pe. Ângelo Tedesco
1973 - Pe. Redovino Rizzardo
1979 - Pe. Genoir Pieta
1980 - Pe. Florindo Ciman
1980 - Pe. Genoir Pieta
1981 - Pe. Mario Gazoli
1981 - Pe. Aldo Bortoncello
1982 - Pe. Alessandro Ruffinoni
1982 - Pe. Florindo Ciman
1982 - Pe. Genoir Pieta
1983 - Pe. Joaquim Filippin
1983 - Pe. Ângelo Ravanello
1984 - Pe. Florindo Ciman
1984 - Pe. Joaquim Filippin
1984 - Pe. Paolo Bortolazzo
1991 - Pe. Florindo Ciman
1991 - Pe. Joaquim Filippin
1992 - Pe. Genoir Pieta
1993 - Pe. Darciolei Volpato
1994 - Pe. Jairo Guidini
1994 - Pe. Paolo Bortolazzo
1995 - Pe. Florindo Ciman
1995 - Pe. Darciolei Volpato
1995 - Pe. Jairo Guidini
1995 - Pe. Paolo Bortolazzo
1998 - Pe. Florindo Ciman
1998 - Pe. Darciolei Volpato
1999 - Pe. Tacízio Pontel
2000 - Pe. Florindo Ciman
2000 - Pe. Darciolei Volpato
2001 - Pe. Sergio Geremia
2002 - Pe. Florindo Ciman
2002 - Pe. Joaquim Filippin
2005 - Pe. Jairo Guidini
2007 - Pe. Lauro Bocchi
2009 - Pe. Florindo Ciman
2009 - Pe. Joaquim Filippin
2009 - Pe. Giovanni Corso
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ANEXO
IV
FOTOS VÁRIAS
Equipe organizadora do “Canta América sin Fronteras” - 1981
Voluntárias preparam almoço aos migrantes
carentes - 1993
Gereção de Renda no Fórum da Igreja Católica 2007
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50 anos de serviço com migrantes
A diversidade étnica da “FAMÍLIA DA POMPÉIA”.....
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ano XIII, fascículo 2, p. 118, 1953.
ARQUIVO PROVINCIAL. Documentos diversos sobre CIBAI e Paróquia
de Pompéia (1953-2009). Porto Alegre, 2009.
BONASSI, Margherita (Rita). Canta, América sem fronteiras - imigrantes
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BONASSI, Margherita. Caminhando migrantes com os migrantes. Disponível em: <http://www.scala-mss.net/pt/02aminhando.pdf>. Acessado em:
21 set. 2009
BORTOLAZZO, Paolo. O CIBAI antes do CIBAI. Porto Alegre, CIBAI
Migrações, 1978.
CENTRO ÍTALO-BRASILEIRO DE ASSISTÊNCIA E INSTRUÇÕES DE
MIGRAÇÕES.- uma obra da Congregação Scalabriniana. Porto Alegre,
CIBAI, 1993.
CIBAI MIGRAÇÕES. Boletins Informativos: VOCE AMICA, CIRCULAR
DO CIBAI, INFORMATIVO CIBAI e 'A Família da Pompéia'. Porto Alegre, janeiro de 1960 a outubro de 2009.
COGO, Denise (Coord.). Mídia, migração e interculturalidade. São
Leopoldo, UNISINOS, 2004.
CORRADIN, Pe. Giuseppe. Cenni Storici sulla Parrocchia personale degli
italiani a Porto Alegre. Porto Alegre, Arquivos da Província São Pedro, 1966.
COSTA, Rovílio. - "1953 - CIBAI: 25 ANOS DE ATIVIDADES - 1978".
In Boletim Especial "Família Pompéia". Porto Alegre, CIBAI, 1978.
ETCHEVERRY, Daniel. Identidade não é documento - narrativas de ruptura
e continuidade nas migrações contemporâneas. Porto Alegre, UFRGS, 2007.
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50 anos de serviço com migrantes
FACHINETTI, Luciana. Imigração italiana após a Segunda Guerra Mundial. Campinas, UNICAMP, dissertação de mestrado, 2008.
FERNANDES, Paulo Roberto. Mídia e Migrações no Mercosul - usos
midiáticos na constituição de experiências de interculturalidade de imigrantes na região de Porto Alegre. São Leopoldo, UNISINOS, 2003.
JIMENEZ, Gustavo. A sociedade São Rafael ontem e hoje: leitura sapiencial
dos fatos. In I Congresso Mundial dos Leigos Scalabrinianos. Piacenza.
Porto Alegre, Solidus: 2006.
LIVROS TOMBO I e II. Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia.
Porto Alegre, 1959 a 2009.
LIVRO TOMBO II. Paróquia São José da Vila Nova. Porto Alegre, 1950 a
1970.
MACHADO, Michelli. Boletim "a Família da Pompéia", construindo identidades culturais em parceria com os imigrantes. Porto Alegre. Disponível
em: <http://www.lume.ufrgs.br/bit stream /handle/10183/5863/
000521409.pdf? sequ ence=1>. Acessado em: 20 jul. 2009.
MACHADO, Michelli & MULLER, Karla. Identidade cultural do imigrante
e o boletim "A Família da Pompéia". In: UNIrevista - vol. 1, no. 3 (jul).
Porto Alegre, 2008.
MOTA, Thaís Duarte. Relações de poder no uso da linguagem em interações
face a face: estudo de caso em serviço de atendimento a estrangeiros de
origem latino-americana na cidade de Porto Alegre. São Leopoldo,
UNISINOS, 2008.
PAIVA, Odacir da Cruz. Migrações Internacionais pós Segunda Guerra Mundial: a influência dos EUA no controle dos deslocamentos populacionais
nas décadas de 1940 a 1960. In: Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP - USP, 08 A 12 setembro de
2008. CD-Rom.
RECKZIEGEL, Francisca e Isabel. Antecedentes no atendimento aos Imigrantes - contribuições ao levantamento de dados e informações sobre a
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Paróquia da Pompéia. Porto Alegre, CIBAI, 2007.
RECKZIEGEL, Notburga Rosa. O Problema dos deslocados e refugiados
de guerra em nosso meio. Porto Alegre, PUC, 1950 (Monografia).
SALLES, Maria do Rosário R. Imigração, Família e redes sociais: a experiência dos 'deslocados de guerra' em São Paulo, no pós Segunda Guerra
Mundial. In XIV Encontro de Estudos Populacionais. Caxambu, Minas
Gerais, 2004.
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50 anos de serviço com migrantes
AUTORES
Jurandir Zamberlam, professor universitário, pesquisador, autor e
co-autor de inúmeros livros, voluntário no CIBAI Migrações em Porto Alegre, RS.
Lauro Bocchi, religioso scalabiniano, mestrando em Ciências Sociais, pároco da Pompéia, diretor do CIBAI Migrações em
Porto Alegre, RS.
Giovanni Corso, religioso scalabriniano, professor universitário, coordena o atendimento aos imigrantes italianos em Porto
Alegre, aos marinheiros no Porto de Rio Grande, RS e
aos imigrantes em Florianópolis, SC.
Joaquim Roque Filippin, religioso scalabriniano, coordena o atendimento jurídico na regularização da documentação de imigrantes na grande Porto Alegre e junto aos órgãos competentes.
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Paróquia da Pompéia, uma Missão Scalabriniana
Coleção: Pastoral & Migrações
 Percepção do Fenômeno Migratório em cidades das Dioceses do Rio Grande
do Sul - Jurandir Zamberlam, Giovanni Corso, Mafalda Seganfredo, Teresinha
Zambiasi, Terezinha Santin, Joaquim Filippin, Alexandre Zamberlam - 2004
 O Processo Migratório no Brasil e os desafios da Mobilidade Humana na
Globalização - Jurandir Zamberlam - 2004
 Pastoral dos Migrantes - subsídio. - Serviço Pastoral dos Migrantes Regional Sul
- 2005
 Memória - 1º Congresso Mundial dos Leigos Scalabrinianos - Piacenza. - Jurandir
Zamberlam, Giovanni Corso, Jairo Guidini, Ivonete Teixeira - 2005
 Tendências da Migração fronteiriça na Região de Foz do Iguaçu - Jurandir
Zamberlam, Giovanni Corso, Regina C.M.Silva, Maria H. Pires, Alexandre
O.Zamberlam, Albino Matei, Zeni Carminatti, Jairo Francisco Guidini - 2006
 Memória - 1er Congreso Mundial de los Laicos Scalabrinianos en Piacenza Presencia Sudamericana. Jurandir Zamberlam, Giovanni Corso, Alejandro Olivero,
Carlos Nevado, Dirceu Bortollotti, Graziela Vera, Maria Alicia Marques - 2006
 A emigração da Grande Criciúma na ótica de familiares - desafios para a Igreja
de origem e de destino. Jurandir Zamberlam, Giovanni Corso, Wladymir Külkamp,
Ludgero Buss - 2006
 Emigrantes brasileiros no Paraguai - presença scalabriniana. - Jurandir
Zamberlam, Giovanni Corso, Joaquim Filippin, Eduardo Bresolin, Eduardo Geremia
- 2007
 Missão em contexto de mobilidade - Paróquia Bom Jesus do Migrante. - Jurandir
Zamberlam, Joel Ferrari, Giovanni Corso, Joaquim Filippin - 2007
 Desafios para a Igreja do Rio Grande do Sul - Jurandir Zamberlam, Giovanni
Corso, Lauro Bocchi, Joaquim R. Filippin, Egídia Muraro, Guillerme Ilarze - 2007
 João Batista Scalabrini - Apóstolo dos Migrantes. Redovino Rizzardo - 2008
 Desafios das Migrações - Buscando caminhos... Jurandir Zamberlam, Giovanni
Corso, Lauro Bocchi, Joaquim R. Filippin, Egídia Muraro - 2009
 Estudantes internacionais no processo globalizador e na interna-cionalização
do ensino superior - Jurandir Zamberlam, Giovanni Corso, Lauro Bocchi, Joaquim R. Filippin, Wlademyr Külkamp - 2009
 50 anos com os migrantes - Paróquia da Pompéia uma Missão Scalabriniana.
Jurandir Zamberlam, Giovanni Corso, Lauro Bocchi, Joaquim R. Filippin - 2009.
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RELIGIÃO E MOBILIDADE HUMANA ** Mestre e doutorando em Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro do Núcleo de Estudos da Religi...

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