Revista de Pediatria - SOPERJ Sociedade de Pediatria do Estado
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Revista de Pediatria Revista da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro Ano 10 - N° 1 • junho 2009 ISSN 1676-1014 Revisões em Pediatria Dislipidemias na Infância e na Adolescência: um caso de saúde pública? Maria Cristina Brito Faulhaber, Márcia Antunes Fernandes, Maria de Marilacc Lima Roiseman e Walter Taam Filho__ 4 O ensino da puericultura e da pediatria no Rio de Janeiro: a propósito do bicentenário da Faculdade de Medicina da UFRJ Clemax Couto Sant Anna__________________________________________________________________________ 16 Doença de von Gierke: estudo de revisão Frederico Henrique Salles Nunes___________________________________________________________________ 21 Relato de Caso Dificuldades no Diagnostico e Manejo da Acidemia Metilmalônica - Relato de Caso Sugestivo Raphaella de Oliveira Cunha Trindade, Raquel Siqueira Leonel de Paula, Carlos Alberto Bhering e Isaias Soares de Paiva ____________________________________________________________________________ 28 Ponto de vista Glicogenoses: uma visão geral para o pediatra Célia Regina Moutinho de Miranda Chaves____________________________________________________________ 35 Resumos de Teses e Dissertações Nível Plasmático de Lactato nas primeiras 24 horas de vida e Morbimortalidade Neonatal Aurora: Herminia Guimarães Couto Fernandez, Orientador: Adauto Dutra Moraes Barbosa_____________________ 38 Avaliação dos Níveis Séricos da Proteína C-Reativa na Infecção Neonatal Autor: Suyen Heizer Villela, Orientador: Adauto Dutra Moraes Barbosa, Co-orientador: Alan Araújo Vieira_________ 39 O primeiro ano de vida dura para sempre. Na ausência do leite materno, a fórmula infantil é o substituto adequado para a alimentação do lactente, durante o primeiro ano de vida.9 Programação metabólica Desenvolvimento cerebral Amadurecimento imunológico A programação metabólica indica a relação entre as experiências nutricionais e metabólicas no período crítico do desenvolvimento e as doenças que surgem na idade adulta a partir de mecanismos biológicos adaptativos.1 A proteína exerce papel fundamental na programação metabólica, já que o consumo excessivo deste nutriente no primeiro ano de vida está associado a um ganho acelerado de peso nessa fase e obesidade na vida adulta.2-8 Nestlé Nutrition: Expertise em Nutrição Infantil Tecnologia exclusiva no desenvolvimento de fórmulas infantis com proteína otimizada.* Referências Bibliográficas: 1. Motta MEFA, Araújo CMT, Silva GAP. Bases Conceituais da Alimentação da Criança; Temas de Pediatria n° 84; 2008: 18p. 2. Günther AL et al. Early protein intake and later obesity risk: which protein sources at which time points throughout infancy and childhood are important for body mass index and body fat percentage at 7 y of age? Am J Clin Nutr. 2007 Dec;86(6):1765-72. 3. Karaolis-Danckert N, et al. How early dietary factors modify the effect of rapid weight gain in infancy on subsequent body-composition development in term children whose birth weight was appropriate for gestational age. Am J Clin Nutr. 2007 Dec;86(6):1700-8. 4. Stettler N, et al. Weight gain in the first week of life and overweight in adulthood: a cohort study of European American subjects fed infant formula. Circulation. 2005 Apr 19;111(15):1897-903. 5. Günther AL, et al. The influence of habitual protein intake in early childhood on BMI and age at adiposity rebound: results from the DONALD Study.Int J Obes (Lond). 2006 Jul;30(7):1072-9. 6. Rolland-Cachera MF, et al. Influence of macronutrients on adiposity development: a follow up study of nutrition and growth from 10 months to 8 years of age. Int J Obes Relat Metab Disord. 1995 Aug;19(8):573-8. 7. Karaolis-Danckert N, et al. How early dietary factors modify the effect of rapid weight gain in infancy on subsequent body-composition development in term children whose birth weight was appropriate for gestational age. Am J Clin Nutr. 2007 Dec;86(6):1700-8. 8. Hoppe C, et al. High intakes of milk, but not meat, increase s-insulin and insulin resistance in 8-year-old boys. Eur J Clin Nutr. 2005 Mar;59(3):393-8. 9. American Academy of Pediatrics, Committee on Nutrition. Formula Feeding of Term Infants. In: Pediatric Nutrition Handbook. 5th ed, 2004; pp 87-97. NOTA IMPORTANTE: AS GESTANTES E NUTRIZES PRECISAM SER INFORMADAS QUE O LEITE MATERNO É O IDEAL PARA O LACTENTE, CONSTITUINDO-SE A MELHOR NUTRIÇÃO E PROTEÇÃO PARA ESTAS CRIANÇAS. A MÃE DEVE SER ORIENTADA QUANTO À IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA NESTE PERÍODO E QUANTO À MANEIRA DE SE PREPARAR PARA O ALEITAMENTO AO SEIO ATÉ OS DOIS ANOS DE IDADE DA CRIANÇA OU MAIS. O USO DE MAMADEIRAS, BICOS E CHUPETAS DEVE SER DESENCORAJADO, POIS PODE TRAZER EFEITOS NEGATIVOS SOBRE O ALEITAMENTO NATURAL. A MÃE DEVE SER PREVENIDA QUANTO À DIFICULDADE DE VOLTAR A AMAMENTAR SEU FILHO UMA VEZ ABANDONADO O ALEITAMENTO AO SEIO. ANTES DE SER RECOMENDADO O USO DE UM SUBSTITUTO DO LEITE MATERNO, DEVEM SER CONSIDERADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS FAMILIARES E O CUSTO ENVOLVIDO. A MÃE DEVE ESTAR CIENTE DAS IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO ALEITAMENTO AO SEIO – PARA UM RECÉM-NASCIDO ALIMENTADO EXCLUSIVAMENTE COM MAMADEIRA SERÁ NECESSÁRIA MAIS DE UMA LATA POR SEMANA. DEVE-SE LEMBRAR À MÃE QUE O LEITE MATERNO NÃO É SOMENTE O MELHOR, MAS TAMBÉM O MAIS ECONÔMICO ALIMENTO PARA O LACTENTE. CASO VENHA A SER TOMADA A DECISÃO DE INTRODUZIR A ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA É IMPORTANTE QUE SEJAM FORNECIDAS INSTRUÇÕES SOBRE OS MÉTODOS CORRETOS DE PREPARO COM HIGIENE RESSALTANDO-SE QUE O USO DE MAMADEIRA E ÁGUA NÃO FERVIDAS E DILUIÇÃO INCORRETA PODEM CAUSAR DOENÇAS. OMS – CÓDIGO INTERNACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE SUBSTITUTOS DO LEITE MATERNO. WHA 34:22, MAIO DE 1981. PORTARIA Nº 2.051 – MS DE 08 DE NOVEMBRO DE 2001, RESOLUÇÃO Nº 222 – ANVISA – MS DE 05 DE AGOSTO DE 2002 E LEI 11.265/06 DE 04.01.2006 – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – REGULAMENTAM A COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS PARA LACTENTES E CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA E TAMBÉM A DE PRODUTOS DE PUERICULTURA CORRELATOS. www.nestle.com.br/nutricaoinfantil *Quantidade e qualidade de proteína mais próximas do padrão de referência. Serviço de Atendimento Nutrição Infantil ao Profissional de Saúde 0800-7701599 Revista de Pediatria SOPERJ Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro Expediente Editor Carlos Alberto Bhering Conselho Editorial José Roberto de Moraes Ramos Clemax Couto Sant’Anna Maria Elizabeth Lopes Moreira Flavio Roberto Sztajnbok DiretoRIA DA SOPERJ TRIÊNIO 2007-2009 Presidente Maria de Fátima Goulart Coutinho Vice-Presidente Maria Elisabeth Lopes Moreira Secretária Geral José Roberto de Moraes Ramos 1º Secretário Silviano Figueira de Cerqueira 2º Secretário Ana Alice Amaral Ibiapina Parente 1º Tesoureiro Carmen Lúcia Leal Ferreira Elias 2º Tesoureiro Paulo Sérgio da Silva Branco Diretor de Cursos e Eventos Maria de Fátima Monteito P. Leite Diretor Publicação Flavio Roberto Sztajnbok Diretoria dos Direitos da Criança e do Adolescente Aramis Antonio Lopes Neto Diretoria de Integração com a Comunidade Armando Francisco do Souto Adeir Brasileiro 2 Darlan Buissa Diretoria Interinstitucional Cláudio Abuassi Eliana Diniz Calasans Gil Simões Batista Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes Marcelo Gerardin Poirot Land Yvani Yparraguirre Diretoria Adjunta de Cursos e Eventos Márcia Fernanda da Costa Carvalho Coordenação do Curso de Atualização Isabel Rey Madeira Coordenação de Certificação Diretoria de Publicação Ana Lúcia Ferreira Celise Regina Alves da Motta Meneses Eloísa Grossman Fabio Chigres Kuschnir Flavio Roberto Sztajnbok Marcio Moacyr de Vasconcelos Maria Angélica Varela Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes Comissão de Sindicância Naum Podkameni Sergio Elias Estefan Raimunda Izabel Pira Mendes Conselho Fiscal Hélcio Villaça Simões Ricardo do Rego Barros José Augusto da Silva Coordenação de Comitês Científicos Leda Amar de Aquino Coordenação do Curso PALS (Pediatric Advanced Life Support) Adriana Proença Regina Coeli Coordenação do Curso de Reanimação Neonatal Dr. José Dias Rego Dr. Antonio Carlos de Almeida Melo Diretoria de Coordenação das Regionais Paulo César Guimarães Luiz Ildegardes Alves de Alencar Presidentes Regionais Regional Médio Paraíba Itamar Alves Vianna Regional Norte Fluminense Sylvia Regina de Souza Moraes Regional Lagos Denise Garcia de F. Machado e Silva Regional Baixada Fluminense Antonio Martins dos Santos Cunha Regional Zona Oeste Lourenço Carlos de Mello Souza Regional Niterói Terezinha Martire Regional Serrana Sergio Vilhena Coutinho SOPERJ Rua da Assembléia, 10 sala 1812 Rio de Janeiro - RJ www.soperj.org.br Tel.: 21 2531-3313 Projeto gráfico: Celso Pupo Diagramação: DoisC Editoração Eletrônica e Fotografia. Impressão e fotolito: Reproarte Tiragem: 6.700 exemplares CONSELHO EDITORIAL: Revisores Nacionais: Maria Auxiliadora de Souza Mendes Gomes Adauto Dutra Moraes Barbosa Marcos Junqueira do Lago Maria Marta Regal de Lima Tortori Antônio Celso Calçado Alan Araújo Vieira Susana Maciel Wuillaume Paulo César Guimarães Revisores Internacionais: Guilherme Mendes Sant’Anna(Univerisdade McMaster) Cleide Suguihara (Universidade de Miami) Revisores Multidisciplinares: Adriana Rocha (fonoaudiologia) Maria Aparecida de Luca Nascimento (enfermagem) Márcia Correia de Castro (fisioterapia) Romeu Gomes (Sociologia e psicologia) Consultores Especiais: Presidentes dos Comitês Científicos da SOPERJ Editorial Onde as disciplinas se encontram Com o a globalização, o processo de aquisição do conhecimento na área médica se expandiu e hoje em dia é quase impossível que os profissionais estejam atualizados em relação a todas as descobertas e avanços do seu ramo de atuação. Por mais que um especialista queira entender de outras áreas, ele não será capaz de ser eficaz em todas. E foi neste contexto que a multidisciplinaridade conquistou espaço em todos os setores da saúde. A inserção da equipe multidisciplinar nos serviços de saúde e no corpo docente das pósgraduações reflete uma preocupação maior com a saúde integral do indivíduo. Neste sentido, a revista de Pediatria SOPERJ ao longo do tempo vem se estruturando a fim de priorizar profissionais cada vez mais capacitados a perceber a importância do diálogo entre as disciplinas. O espaço do corpo editorial destinado aos revisores multidisciplinares na revista de Pediatria SOPERJ reflete a forma de cuidado integral que a Pediatria tanto necessita e contribui, portanto, para o principal objetivo da Especialidade: O bem-estar da criança e sua família. Por isso, é com grande satisfação que escrevo estas palavras referentes ao editorial desta revista em nome de todos os profissionais de saúde que compõem a equipe multidisciplinar. Este é mais um espaço onde as disciplinas irão se encontrar! Adriana Duarte Rocha Doutora em Ciência-Saúde da Criança e da Mulher- IFF/FIOCRUZ Fonoaudióloga - Revisora multidisciplinar 3 Revisões em Pediatria Dislipidemias na Infância e na Adolescência: um caso de saúde pública? Dyslipidemias in childhood and adolescence: a public healthy problem? Resumo As dislipidemias na infância e na adolescência adquiriram maior importância entre as patologias mais estudadas neste século pelas repercussões que trazem na vida adulta. É uma das principais causas de morbidade e mortalidade em adultos em todo o mundo, com tendência a acometer pessoas cada vez mais jovens, em especial em países em desenvolvimento. A obesidade, a hipertensão arterial, o sedentarismo, o tabagismo estão entre os fatores de risco mais importantes para a instalação da doença aterosclerótica, hoje sabidamente uma doença inflamatória crônica que se inicia na primeira década de vida. Neste artigo de revisão apresentamos as mais recentes publicações, com os índices preconizados para avaliação das dislipidemias, os pontos de corte para as faixas etárias e a abordagem terapêutica. O artigo visa reforçar junto ao pediatra a importância de recomendar hábitos saudáveis de vida e de alimentação. Palavras-chave: dislipidemias, aterosclerose, criança, adolescente Maria Cristina Brito Faulhaber1 Márcia Antunes Fernandes2 Maria de Marilacc Lima Roiseman3 Walter Taam Filho4 1 Especialista (Médica pediatra e hebiatra) 2 Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense (Médica pediatra) 3 Mestre em Saúde da Criança (Cardiologista Pediátrica) 4 Doutor em Ciência dos Alimentos (Coordenador e Professor da Pós Graduação Universidade Veiga de Almeida) Endereço para correspondencia Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (SOPERJ) Maria Cristina Faulhaber, Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da UFRJ (Ambulatório de Adolescentes) Avenida Trompowiski sem nº Galeão CEP 21949 900 - Rio de Janeiro - RJ Summary Dyslipidemias in childhood and adolescence have become a matter of major importance among most studied pathologies this century from its repercussion in adult life. It’s one of the main causes of morbidity and mortality in adults around the world, tending to happen with younger people, especially in developing countries. Obesity, arterial hypertension, sedentary lifestyle and smoking are among the most important factors of risk to develop atherosclerosis disease, known as an inflammatory chronic disease that begins in the first decade of life. Keywords: dyslipidemias, atherosclerosis, children, adolescent 4 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 A doença aterosclerótica é uma doença inflamatória crônica, que se inicia na primeira década de vida, mas com um longo período pré-sintomático, caracterizado por obstrução progressiva da luz arterial por placas de ateroma e trombos, disfunção endotelial e processo inflamatório. É uma das principais causas de morbidade e mortalidade em adultos em todo o mundo, com tendência a acometer pessoas cada vez mais jovens, em especial em países em desenvolvimento (Levi et al., 2002). A patogenia mais encontrada nas doenças cardiovasculares (DCV) é, indiscutivelmente, a aterosclerose coronária, que pode acometer, inclusive, crianças e pacientes jovens. Monckberg, citado por Cresanta e colaboradores, examinou aortas de crianças que faleceram durante a 1ª guerra mundial e, em 1921, relatou que 36% de jovens com menos de 20 anos e 76% dos que tinham entre 20 e 25 anos, por ocasião do óbito, já apresentavam ateromatose da camada íntima da aorta. Em 1930, Zeek citou que a aterosclerose ocorre em qualquer idade. Holman et al (1958), no artigo: “Observations on The Natural History of Atherosclerosis”, analisaram mais de 2000 aortas e centenas de artérias coronárias em exames post-mortem de indivíduos de 1 a 40 anos de oito áreas geográficas: Estados Unidos, Espanha, África do Sul, Inglaterra, Porto Rico, Guatemala, Costa Rica e Columbia. Esses autores descreveram os estágios seqüenciais de desenvolvimento da aterosclerose: (1) estria gordurosa, (2) placa fibrosa, (3) complicação da lesão com hemorragia ou trombose e (4) doença clínica. Concluíram que todos os pacientes acima de 3 anos de idade tinham algum grau de estria gordurosa. O grau de estria gordurosa foi similar nas várias áreas geográficas do mundo e em todas ocorreu um rápido aumento destas estrias entre 8 e 18 anos de idade, sugerindo uma relação com as mudanças hormonais da puberdade. Concluíram, também, que a estria gordurosa é reversível, enquanto o potencial de reversibilidade da placa fibrosa é limitado. Em 1958, Holman lançou, no V Congresso Internacional de Pediatria, um questionamento da doença aterosclerose como um problema pediátrico. As manifestações clínicas da aterosclerose, em geral, surgem a partir da meia-idade. Entre os fatores de risco clássicos estão a obesidade, hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes mellitus, sedentarismo, tabagismo e história familiar positiva para doença cardiovascular. A relação entre fatores de risco específicos e aceleração do processo aterosclerótico, no adulto, está bem estabelecida. No caso da doença aterosclerótica, os efeitos dos fatores de risco associados potencializam-se e a probabilidade de eventos clínicos torna-se exponencialmente maior (WHO, 1998). Vários estudos mostram a importância da avaliação dos fatores de risco desde o início da vida para a prevenção da DCV na fase adulta, dentre eles o estudo de Bogalusa (Frerichs et al., 1976; Nicklas et al., 2002; Berenson et al., 1979). Este estudo foi iniciado nos EUA a partir de 1972 e se estende até os dias de hoje, foi o de maior impacto sobre os fatores de risco para a doença aterosclerótica na infância. Deu a origem a mais de 800 publicações sobre os fatores de risco para a doença coronariana na infância. Neste estudo foram selecionadas 22.000 pessoas de 5 a 14 anos de idade em uma comunidade semi-rural composta por brancos e negros, onde foram avaliados: dieta, tabagismo, atividade física, história familiar, dados antropométricos e dosagem de lipídeos séricos. Os dados foram coletados a cada 3 anos (Nicklas et al., 2002) a fim de traçar padrões de normalidade, detectar inter-relações entre os fatores de risco e determinar qual a tendência dos fatores se manterem com o crescimento. Através deste estudo, os autores concluíram que: • Os fatores de risco para aterosclerose e a hipertensão arterial sistêmica já são encontrados na infância. • Para cada idade há valores considerados normais para IMC, lipídeos séricos e pressão arterial. • Dieta, sedentarismo e tabagismo podem influenciar estes fatores (obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial). • A educação precoce pode modificar o risco de doença aterosclerótica coronariana. Outro estudo importante no enfoque preventivo cardiovascular na infância foi o Estudo de Muscatine em Iowa nos EUA, em 1970, que avaliou a saúde de escolares e reforçou os achados de Bogalusa, principalmente no que diz respeito à alteração do perfil lipídico durante o crescimento e desenvolvimento (Lauer et al., 1988). Uma coorte de crianças em Muscatine, Iowa, foi acompanhada desde 1971. Os fatores de risco foram avaliados entre as faixas etárias de 8 aos 18 anos de idade e em adultos jovens, dos 20 aos 33 anos. O estudo de Muscatine utilizou a ultrasonografia da artéria carótida de uma amostra desta coorte para avaliar a espessura média da íntima (EMI). Já havia sido demonstrado haver uma associação entre valores altos de EMI da carótida com a presença de calcificação da artéria coronária. Constatou-se que a EMI aumentada da carótida estava associada com aumento da concentração total de colesterol e outros fatores de risco, como pressão arterial elevada na infância. Em 1972, pesquisadores americanos, Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 5 canadenses, israelenses e russos desenvolveram um estudo multicêntrico, o “Lipid Research Clinics-Prevalence Study” cujo objetivo principal era determinar qual a distribuição dos níveis lipídicos na população infantil e sugerir critérios de normalidade para as frações lipídicas (Rifkind et al., 1983). Estudos epidemiológicos têm mostrado que as DCV seriam uma causa relativamente rara de morte na ausência dos principais fatores de risco (Beaghole, 2001). Stamler e colaboradores (1999) mostraram que, aproximadamente 75% dos casos novos dessas doenças ocorridos em países desenvolvidos, nas décadas de 70 e 80, poderiam ser explicados por dieta e atividades físicas inadequadas, expressas por níveis lipídicos desfavoráveis, obesidade e elevação da pressão arterial associados ao hábito de fumar. Panorama no Brasil Um dos grandes desafios da Pediatria deste milênio é a prevenção das doenças crônicas do adulto e do idoso, que geralmente tem raízes na infância, por vezes na vida intra-uterina1. Se o ambiente intra-uterino for desfavorável, o feto pode apresentar retardo de crescimento intra-uterino ou macrossomia, condições clínicas associadas ao desenvolvimento tardio de diabetes, doença cardiovascular, dislipidemia e hipertensão arterial2. Nos últimos anos as doenças do aparelho circulatório têm sido as principais causas de óbito no Brasil. Os dados mais recentes publicados pelo Ministério da Saúde mostram um aumento nas taxas de 2005 em relação a 2004, sendo as doenças cardiovasculares responsáveis respectivamente por 31,5% e 27,8% do total de óbitos3. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial houve mudanças no perfil epidemiológico, com aumento da prevalência de doenças crônicas não 6 transmissíveis, tais como as doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer, diabetes e obesidade. Muitas mudanças socioculturais ocorreram nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, trazendo consigo sedentarismo e alteração nos hábitos alimentares com maior consumo de gorduras e ácidos graxos4. As dislipidemias são consideradas um dos mais importantes fatores responsáveis pelo desenvolvimento das doenças cardiovasculares5. As dislipidemias na população pediátrica têm gerado crescente preocupação, justificando o aumento de pesquisas e diagnóstico, buscando antes a prevenção do que o tratamento. O objetivo deste artigo é fomentar esta preocupação entre os profissionais que lidam no dia a dia com nossas crianças e adolescentes, promovendo a discussão e a valorização da abordagem do perfil lipídico em suas consultas. No Brasil, existem estudos epidemiológicos sobre hipertensão primária na infância e adolescência onde a prevalência variou de 0,8% a 8,2% (Fuchs et al, 2001; Gus et al, 2004). Assim como já observado nos adultos, muitos destes trabalhos demonstraram uma freqüente associação de hipertensão arterial sistêmica com sobrepeso e obesidade. Em Campinas-SP, Moura e colaboradores (2001) encontraram uma prevalência de hipercolesterolemia de 35% numa população de escolares com idade de 7 a 14 anos. Giuliano (2001), em Florianopólis-SC, encontrou 10% de hipercolesterolemia, 22% de hipertrigliceridemia, 6% de níveis elevados de Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL-colesterol) e 5% de níveis baixos Lipoproteína de Alta Densidade (HDLcolesterol). Estudos nacionais sobre perfis lipídicos na infância e na adolescência relacionam-se frequentemente com o perfil nutricional. Pesquisa realizada em Campina Grande (PB), em 2007, procurou avaliar a associação entre obesidade e dislipidemias em adolescentes do ensino público e privado. Foi encontrada prevalência de dislipidemia em 66,7% dos estudantes avaliados, sendo que nestes constatouse alteração do HDL em 56,7%6. Já outro trabalho no Vale do Itajaí (SC), de 2005, avaliou o perfil lipídico de escolares de baixa renda e relacionou com obesidade, constatando apenas HDL baixo associado à presença de obesidade7. Em Maracaí (SP), durante 2002, foram avaliados 2029 escolares entre 7 e 17 anos, sendo avaliado o colesterol não HDL, que foi considerado um método confiável e de menor custo para investigação de dislipidemias em crianças e adolescentes8. Este trabalho comenta também o grande impacto adverso do sobrepeso e obesidade na criança e no adolescente sobre os valores de triglicerídeos. As Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias9 e o Programa Nacional de Educação sobre Colesterol (NCEP)5 nos Estados Unidos recomendam a determinação do LDL pela fórmula de Friedewald como alvo prioritário para avaliação do risco e tratamento para redução de lipídios. A fórmula consiste em LDL= colesterol total - HDL - triglicerídeos/5. Além de ser uma medida indireta, a fórmula não avalia outras partículas consideradas aterogênicas, não pode ser usada se triglicerídeos forem maiores que 400 mg/ dl e requer jejum de 12 horas. Por outro lado, o não HDL calculado pela diferença entre o colesterol total e o HDL, inclui todo o colesterol presente nas partículas de lipoproteínas consideradas potencialmente aterogênicas (LDL, VLDL, lipoproteínas de intensidade intermediária (IDL) e lipoproteína A) - e exclui o HDL, considerado anti-aterogênico. Além de ser um cálculo simples de obtenção do HDL, envolve baixo custo e não sofre influência dos valores de triglicerídeos, que não precisam ser mensurados, ha- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 vendo assim a vantagem adicional de não exigir jejum10. As concentrações de lipídios variam conforme a idade e o grau de maturação. Dados do NHANES de 1988-1994, em crianças e adolescentes com idades entre 4 e 19 anos mostraram um valor médio de colesterol de 165 mg/dl. Este valor sobe para 171 quando se especifica a faixa etária de 9 aos 11 anos de idade. Estes valores diminuem durante o desenvolvimento puberal para tornarem a aumentar depois. Estas constatações são importantes porque refletirão qual a época ideal para realização de screening e determinação dos pontos de corte do colesterol, pois as concentrações lipídicas são dependentes da idade e do grau de maturação. Fisiopatologia da Aterosclerose Recentes pesquisas mostram que o conceito vigente por longo tempo de aterosclerose como uma doença degenerativa, de evolução lenta, acometendo predominantemente idosos e com sintomas causados por uma obstrução mecânica no fluxo sangüíneo, não corresponde ao que efetivamente ocorre. O conhecimento da fisiopatologia desta doença tem evoluído desde o século passado, quando, na década de 70, a idéia da existência de relação direta entre lipídios e aterosclerose dominava o pensamento médico devido a estudos experimentais e clínicos demonstrando forte relação entre hiperlipidemia e formação de ateroma 11. Atualmente as evidências científicas demonstram que os mecanismos envolvidos na gênese da doença aterosclerótica são extremamente complexos e envolvem a interação de componentes genéticos, ambientais e resposta inflamatória. 11-14. Observando os componentes celulares e moleculares envolvidos no processo de desenvolvimento e evolução da aterosclerose podemos afirmar que se trata de um processo dinâmico, inflamatório e modificável, o que implica na possibilidade de intervenção. A palavra aterosclerose deriva do grego atero, que significa caldo ou pasta, e esclerose, que corresponde a endurecimento. A aterosclerose deve der vista como uma doença multifatorial, lenta e progressiva, resultante de uma série de respostas celulares e moleculares altamente específicas17. O acúmulo de lípides, células inflamatórias e elementos fibrosos, que se depositam na parede das artérias, são os responsáveis pela formação de placas ou estrias gordurosas, e que geralmente ocasionam a obstrução das mesmas. Na patogenia da doença aterosclerótica, um conjunto de fatores de risco, alguns clássicos e outros emergentes, têm sido correlacionados, tais como: • Marcadores inflamatórios • Proteína C-reativa, Interleucinas, Moléculas de Adesão, CD40,Amilóide A sérica. • Marcadores hemostáticos/trombóticos • Fibrinogênio, Fator von Willebrand, Pró-trombina fragmento1+2, Fatores V, VII e VIII, Dímero D, Fibrinopeptídeo A, PAI-1,Ativador Plasminogênio Tecidual. • Fatores Plaquetários • Agregação Plaquetária, Atividade Plaquetária, Tamanho e volume de Plaquetas. • Fatores Lipídicos • Lp(a), APO A e B, LDL-ox, Lípase A2. • Outros Fatores • Homocisteína, Microalbuminúria, ECA, Polimorfismo APOE, Agentes Infecciosos. Marcadores e fatores envolvidos na aterogênese, segundo Hackman GD and Anand SS, JAMA. 2003; 290:932-40.14 A incidência de doença coronariana depende, em geral, da prevalência de seus fatores de risco. Quanto maior a presença de fatores de risco para a aterosclerose, maior a probabilidade de incidir uma coronariopatia. Dentre os fatores de risco mais freqüentes estão a hipercolesterolemia, o hábito de fumar, a hipertensão arterial, a hipertrigliceridemia, a obesidade e a história familiar de cardiopatia isquêmica27. As lipoproteínas, particularmente as lipoproteínas de baixa densidade (LDLc) têm ocupado um papel de destaque na etiologia da doença aterosclerótica, ainda que, muitos indivíduos desenvolvam doença cardiovascular na ausência de anormalidades no perfil das lipoproteínas 15. Apesar de qualquer artéria poder ser afetada, os principais acometimentos se dão na aorta e nas artérias coronárias e cerebrais, tendo como principais conseqüências o infarto do miocárdio, a isquemia cerebral e o aneurisma aórtico. Cresanta e col 16 fazem referência ao trabalho de Monckberg no qual ele relata que ao examinar aortas de crianças que faleceram durante a 1ª guerra mundial constatou que 36% de jovens com menos de 20 anos e 76% dos que tinham entre 20 e 25 anos, por ocasião do óbito, apresentavam ateromatose da íntima da artéria. Anos após, Zeek 17, na década de 30, corroborou que a aterosclerose ocorre em qualquer idade. Holman e col 18 relataram, em 1958, que todas as crianças com três anos de idade ou mais já eram portadoras de estrias de gordura em aorta e que todas as pessoas com 20 ou mais anos de idade tinham estrias gordurosas nas artérias coronárias. Estas lesões vistas em crianças estão diretamente relacionadas com as lesões macroscópicas observadas mais tarde 19. Alguns estudos detectaram a preva- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 7 lência de placas ateroscleróticas superior a 40% nas autópsias de adultos jovens, sugerindo que o processo aterosclerótico ocorra precocemente20. De forma ainda mais contundente, Napoli et al 21 sugerem que a aterosclerose pode ter início ainda na fase de desenvolvimento intrauterino, podendo ser potencializada se a mãe apresenta hipercolesterolemia, e progredir lentamente na adolescência e apresentar manifestações clínicas na idade adulta. Dois estudos, o Pathobiological Determinants of Atherosclerosis inYouth (PDAY)22 e o Bogalusa Heart Study23 foram fundamentais para o entendimento de como as lesões se desenvolvem e sua precocidade, salientando a atenção que deve ser dada aos fatores de risco a ser iniciada na infância, deixando claro que aterosclerose deve ser encarada como um problema pediátrico. As seqüências de eventos fisiopatológicos que levam a aterosclerose são o resultado de uma interação de acentuada complexidade, envolvendo elementos sangüíneos, fluxo alterado e comprometimento da camada de revestimento do vaso. Isto implica em aumento da permeabilidade e ativação do endotélio, havendo migração de monócitos e ativação de células inflamatórias, proliferação de células da musculatura lisa e síntese de matriz, degeneração com depósito de gordura, necrose devida a oxidação lipídica, calcificação e ruptura da placa, recrutamento de plaquetas, fibrina e formação de trombos. A disfunção endotelial, desencadeada por diversos fatores como hipertensão arterial, diabetes, tabagismo e dislipidemias, inicia o processo aterogênico. A resposta inflamatória na aterogênese é mediada através de mudanças funcionais em células endoteliais, linfócitos T, macrófagos derivados de monócitos e células do músculo liso 15,24. A ativação destas células desencadeia a elaboração e interação de um extenso espectro de citoquinas, moléculas de adesão, fatores de crescimento, acúmulo de lípides e proliferação de células do músculo liso21. Adicionalmente, a resposta inflamatória pode ser induzida pelo estresse oxidativo, principalmente à oxidação da LDL-c 13,15,26. A penetração de lipoproteínas no espaço subendotelial, em especial LDL ativa a geração de glicoproteínas de adesão na superfície das células endoteliais e secreção de fatores de crescimento e citocinas responsáveis pela migração, proliferação celular e coagulação. Os monócitos penetram na camada íntima e no espaço subendotelial e transformam-se em macrófagos ativados que não reconhecem as moléculas de LDL oxidadas como próprias e as capturam. Ao atingirem sua capacidade de armazenamento dos lipídios, estes macrófagos são denominados de “foam cells”, ou seja, células espumosas. O acúmulo de lipídios intracelularmente nas células espumosas ou extracelularmente, dá origem às estrias lipídicas, que podem ser detectadas já nos primeiros anos de vida. O processo fibrótico que se segue possui uma cobertura composta por células musculares lisas e material abundan- te em colágeno e proteoglicanos que recobrem o núcleo necrótico repleto de lipídios. Com a progressão as placas podem se apresentar como estruturas com calcificações, ulcerações e áreas com sangramento de pequenos vasos. As placas que possuem o núcleo gorduroso mole são bastante instáveis podendo sofrer rompimento, liberando na corrente sangüínea material com potencial trombogênico, responsável pela maior parte das manifestações clínicas agudas da doença25. Etiologia Os fatores desencadeantes das dislipidemias podem ser genéticos e/ou ambientais28. As dislipidemias primárias são mais freqüentes que as secundárias29. De uma maneira geral, as dislipidemias de origem genética como a hipercolesterolemia familiar cursam com manifestações cardiovasculares mais precoces e de maior gravidade30. Uma desordem hereditária deve ser sempre considerada em crianças e adolescentes com pais e avós com história de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) precoce (≤55 anos); angina pectoris; doença vascular periférica; doença vascular cerebral e morte súbita assim como aumento dos níveis séricos de LDL-C; triglicerídeos e HDL-C baixos31. A elevação dos níveis de colesterol, LDL-C, triglicerídeos e a diminuição da HDL costumam ser mais acentuadas quando comparadas com as observadas nas de origem ambiental. (tabela 1) A dosagem dos níveis de colesterol e triglicerídeos tem relação direta como o Tabela 1 – Níveis séricos dos lipídeos, lipoproteínas e apolipoproteína B em crianças com dislipidemias genéticas28. Desordem das lipoproteínas Colesterol Total Triglicerídeos HDL-C LDL-C ApoB LDL-C/apoB Hipercolesterolemia familiar 323±44 86±36 44±8 262±45 219±42 1,22±0.22 Hiperlipemia familiar combinada 220±51 120±91 45±11 149±48 153±39 0.98±0.19 Hyperapobetalipoproteinemia 200±20 91±35 52±7 130±16 138±21 0,95±0.10 Normal 162±31 70±39 51±10 97±27 85±20 1,15±0.20 8 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 Tabela 2 – Classificação modificada de Fredrickson e recomendada pela OMS: Tipo Colesterol Total LDL-C Triglicerídeos Anormalidades das (TGL) lipoproteínas Causa Primária Causa Secundária I Elevado Baixa ou normal Elevado Deficiência de lípase lipoprotéica Deficiência de Apo C II Hipercolesterolemia familiar Lupus Excesso de quilomicrons Eritematoso sistêmico, Ia Elevado ou normal Elevada Normal Excesso de LDL Hipercolesterolemia Familiar Hipotireoidismo Ib Elevado Elevada Elevado Excesso de LDL e VLDL Hiperlipemia familiar combinada Síndrome Nefrótica, diabetes, anorexia nervosa III Elevado Baixa ou normal Elevado Excesso de quilomicron e IDL Familiar tipo III hiperlipoproteinemia Hipotireoidismo, diabetes, obesidade Normal Elevado Familiar combinada Diabetes Hiperlipidemia familiar Doença renal crônica IV Elevada ou Normal Excesso de VLDL hipertrigliceridemia V Elevada Normal Elevada Excesso de quilomicron e VLDL Hipertrigliceridemia Familiar Álcool, diurético, beta bloqueador Deficiência de ApoC VLDL=Lipoproteína de muito baixa densidade LDL= lipoproteínade baixa densidade IDL=lipoproteína de densidade intermediária Apo=apolipoproteína tipo de partícula elevada. Para algumas anormalidades lipídicas classificadas, a determinação do defeito metabólico e genético pode ser realizada. Contudo, para o clínico, é suficiente o conhecimento dos níveis de LDL, HDL e triglicerídeos32. A classificação modificada de Fredrickson e recomendada pela Organização Mundial de Saúde utilizam como critério diferencial a lipoproteína predominante. (tabela 2) As causas de dislipidemias secundárias mais observadas na infância e adolescência são as encontradas na obesidade, síndrome nefrótica, diabetes e hipotireoidismo. A obesidade é a causa secundária mais comum de dislipidemia e, ao contrário do que muitos clínicos pensam, a hipertrigliceridemia é mais freqüente que a hipercolesterolemia e está também associada com níveis reduzidos de HDL. Discretas elevações dos níveis séricos de LDL-C têm sido assinalados em 20% dos pacientes obesos. Causas Secundárias de Hipercolesterolemia em Pediatria Endócrinas aHipotireoidismo; Hipopituitarismo; Diabetes; Lipodistrofia; gravidez Exógena Drogas (corticóides, contraceptivos orais, isotrenoína; álcool;obesidade;dieta cetogênica Renais Síndrome Nefrótica; Insuficiência Renal Crônica; Síndrome hemolítica urêmica Hepáticas Atresia biliar; condições colestáticas; hepatites; cirrose biliar Outras Anorexia Nervosa; lupus eritematoso sistêmico; Síndrome de Klinefelter; hipercalcemia idiopática Doenças Metabólicas e de Depósito Doença de Nieman Pick; doença de Tay-Sachs; Sitosterolemia; porfiria Fatores de risco Obesidade A obesidade é considerada um critério para triagem de perfil lipídico em crianças e adolescentes33. No Brasil houve significativo aumento na proporção de adolescentes com excesso de peso: 3,9% dos garotos e 7,5% das garotas entre 10 e 19 anos, em 1974-1975 para 17,9% e 15,4% respectivamente, em 2002-2003. Em ambos os sexos, a freqüência da obesidade é maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do que nas regiões Norte e Nordeste e, dentro de cada região, tende a ser maior no meio urbano do que no meio rural34. A obesidade visceral confere pior prognóstico. Estudo realizado com cerca de 3000 indivíduos entre 5 e 17 anos mostrou que o predomínio de gordura na região tronco-abdominal, avaliada pela medida da cintura, estava relacionada a uma concentração adversa de TG, LDL, HDL e insulina, independente de raça, sexo, idade, peso e altura35. Um recente trabalho brasileiro mostrou a validação da circunferência abdominal como indicador de parâmetro clínico ligado à obesidade infanto-juvenil, substituindo dosagens laboratoriais que possam não estar ao alcance do profissional, como insulinemia e leptinemia36. Valores altos de índice de massa corporal (IMC = P/A2) têm sido associados Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 9 com história familiar positiva de doença cardiovascular (DCV) e com marcadores de DCV37, 38. Por outro lado, trabalhos mostram que uma história familiar positiva de DCV isoladamente é um fraco preditor de hiperlipidemia. A dislipidemia na infância pode estar associada ao desenvolvimento de obesidade na vida adulta, especialmente no sexo feminino, o que pode sugerir que haja algum mecanismo geneticamente determinado que explique a associação dessas variáveis39. Mesmo crianças obesas com níveis normais de LDL podem ter um perfil lipídico desfavorável, dada a proporção entre as subclasses de suas lipoproteínas. Quanto menor a partícula de LDL, provavelmente maior será seu poder de aterogênese, tendo as crianças obesas um maior percentual de LDL de padrão B (partículas menores) do que as crianças com peso normal para a estatura40. A distribuição da gordura corpórea tanto em adultos como em crianças e adolescentes deve ser avaliada, pois a concentração da gordura na região tronco abdominal (obesidade andróide) apresenta uma maior associação com a morbidade e mortalidade do que a concentração na região glúteo-femural (obesidade ginecóide). Trabalhos mostram que crianças e adolescentes obesos, principalmente com acúmulo de gordura abdominal, apresentam perfil lipídico desfavorável, caracterizado por níveis elevados de triglicerídeos, de LDL, de insulina e diminuídos de HDL, independente de raça, sexo, idade, peso e altura41. A obesidade está fortemente associada a um perfil lipídico adverso e essa relação é mais evidente em meninos que em meninas, sendo a mais significativa o aumento de VLDL42. As mudanças dos níveis lipídicos durante a puberdade são diferentes nos sexos masculino e feminino. Em indivíduos com IMC normal, o colesterol total, o LDL e o não HDL diminuem em ambos 10 os sexos durante a puberdade. A fração HDL diminui nos adolescentes do sexo masculino durante a adolescência, mas permanece o mesmo nas meninas43,44. O número de adipócitos é definido até cerca de 20 anos de idade, tornandose constante na idade adulta, quando cresce em tamanho. Este número é influenciado principalmente por fatores genéticos e hábitos alimentares. O adulto que teve ganho ponderal excessivo na infância terá maior dificuldade em perder peso na idade adulta. No emagrecimento, adipócitos perdem volume, mas quantitativamente seu número se mantém. Hoje se sabe que indivíduos obesos submetidos à cirurgia de redução gástrica dois anos depois mantinham o mesmo número de adipócitos, havendo um processo dinâmico de morte e reposição das células gordurosas. Anualmente 10% das células adiposas são renovadas. Trabalhos questionam se há relação causal entre hiperlipidemia na infância e eventos cardiovasculares na idade adulta. Sabe-se que 31% das crianças americanas têm IMC acima do percentil 85 e devem ser avaliadas quanto ao lipidograma. Resultados lipídicos normais devem ser rechecados a cada 3 a 5 anos45. aumento da pressão sangüínea, como também a carga de trabalho cardíaco e a demanda por oxigênio. Níveis elevados de catecolaminas também estimulam a liberação de ácidos graxos livres. Os vasos coronarianos também são sensíveis a tais efeitos, admitindo-se que a vasoconstrição crônica possa promover lesão endotelial, dando início ao desenvolvimento de placas ateroscleróticas ou à progressão de trombose local. Além disso, o monóxido de carbono (CO), um dos constituintes da fumaça do cigarro, ocasiona redução do conteúdo de oxigênio sangüíneo, o que pode ser um adjuvante para o desenvolvimento de isquemia miocárdica. Outros efeitos ocasionados incluem: alterações da coagulação, ativação plaquetária e interferência no metabolismo lipídico, que potencializam muito o risco de eventos isquêmicos em tabagistas. A incidência de infarto do miocárdio aumenta cerca de seis vezes nas mulheres e três vezes nos homens que fumam cerca de 20 cigarros por dia, comparativamente àqueles que nunca fumaram. Entre homens com menos de 65 anos, o tabagismo dobra o risco de morte cardiovascular, ao passo que em homens com idade igual ou superior a 85 anos, este risco é aumentado em apenas 20%. Tabagismo No Brasil, segundo dados da Comprev/Inca/MS e do Cebrid (Centro de Informações sobre Drogas), 90% dos fumantes experimentam o primeiro cigarro antes dos 13 anos de idade. O tabagismo é um importante e reversível fator de risco para doença coronariana provocando efeitos hemodinâmicos relacionados à ativação do sistema nervoso simpático. A nicotina estimula a liberação de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), as quais aumentam o ritmo cardíaco e a constrição vascular periférica. Como resultado, há um Sedentarismo O sedentarismo parece ser um dos fatores de risco mais importantes para doenças cardiovasculares na sociedade atual. É considerado um problema de saúde pública devido à elevada prevalência na população em geral. No estado de São Paulo, o sedentarismo atinge 79% da população, sendo mais prevalente que o tabagismo (38%), a hipertensão arterial sistêmica (22%), a obesidade (18%) e o alcoolismo (8%). Estudos epidemiológicos têm demonstrado uma relação inversa entre o nível de atividade física diária ou a condição física e o risco de Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 morbimortalidade cardiovascular. Nesse sentido, um estudo realizado por Paffenbarger e col. demonstrou que indivíduos ativos apresentam um risco 36% menor de morte por doença da artéria coronária que indivíduos sedentários, e esse risco será tanto menor quanto maior for a atividade física praticada46. Sabendo-se dos potenciais benefícios do exercício aeróbico um estudo procurou avaliar seus efeitos na fração não HDL do colesterol em crianças e adolescentes. Esta fração é calculada pela diferença entre o colesterol total e a fração HDL e mostrou ser um preditor melhor da morbidade e da mortalidade por DCV em adultos. O estudo concluiu que o exercício aeróbico não reduz a fração não HDL, porém melhora o percentual de gordura corporal e a capacidade aeróbica em crianças e adolescentes47. Reduzir o número de horas assistindo TV e usando computador pode ter um importante papel na prevenção da obesidade e na redução do IMC em crianças e adolescentes. Estas mudanças parecem estar mais relacionadas às alterações na ingesta excessiva de alimentos do que ao aumento na atividade física. Hipertensão arterial (HAS) O reconhecimento precoce de elevações anormais da pressão arterial (PA) em crianças e adolescentes é responsabilidade dos médicos de assistência primária. A incorporação da medição da PA no exame pediátrico rotineiro permite a descoberta da hipertensão assintomática significativa secundária a um distúrbio previamente ignorado e confirma que elevações discretas da PA são mais comuns do que se acreditava antigamente, sobretudo em adolescentes. Embora possa ser um sinal de uma doença cardíaca, endócrina ou renal, a PA elevada também pode representar um início precoce da hipertensão essencial. A prevalência de HAS em crian- A hipertensão arterial pode ser classificada em crianças e adolescentes como: Nomenclatura critério NORMAL PAS e PAD em percentis* <90 PRÉ HIPERTENSÃO PAS E/OU PAD em percentis* > 90 e < 95 ou sempre que PA > 120/80 mmHg HAS ESTÁGIO I PAS E/OU PAD em percentis* entre 95 e 99 acrescido de 5 mmHg HAS ESTÁGIO I PAS E/OU PAD em percentis* > 99 acrescido de 5 mmHg ças e adolescentes pode variar de 2% a 13%. Uma influência familiar sobre a PA pode ser identificada no início da vida. As crianças de famílias com hipertensão tendem a ter PA mais alta que as crianças de famílias normotensas**. Os irmãos de crianças com hipertensão apresentam uma PA significativamente mais alta que os irmãos de crianças com PA baixa.* Antes de uma criança ou adolescente ser diagnosticado como hipertenso devem ser realizadas várias aferições da PA. Fatores de risco devem ser observados, como história familiar, obesidade, erros dietéticos, tabagismo e sedentarismo. Cabe ressaltar a importante associação entre excesso de peso e PA predominantemente no adolescente. A ingestão de álcool, o uso de drogas (particularmente a cocaína) e a utilização de hormônios esteróides, anabolizantes e anticoncepcionais orais devem ser considerados como possíveis causas de HAS. O tratamento não-medicamentoso é obrigatório a partir do percentil 90 de pressão sistólico-diastólica, com ênfase para adoção de medidas em âmbito familiar, em especial a correção do excesso de peso. A presença de hiperten- são arterial por si não contra-indica a prática de esportes. Essa atividade deve ser estimulada, sob supervisão, como uma das modalidades de terapêutica não-medicamentosa. Um estudo comparativo do perfil lipídico, PA e aspectos nutricionais em adolescentes filhos de hipertensos e normotensos mostrou que há maiores níveis de PA e perfil lipídico mais desfavorável entre filhos de hipertensos, onde os níveis baixos de HDL foram o achado mais relevante e independente de variáveis antropométricas ou nutricionais. Diagnóstico Os pacientes pediátricos, acima de 2 anos, devem ser submetidos a dosagem do colesterol total, caso tenham: • História familiar positiva: casos de coronariopatias, acidentes vasculares cerebrais ou doenças vasculares periféricas em pais, avós, tios e irmãos com menos de 55 anos (sexo masculino) e abaixo dos 65 anos (sexo feminino). Considera-se coronariopatias: angina que exija tratamento, infarto agudo do miocárdio, casos de morte súbita, coronariopatia comprovada com estudo hemodinâmico, revascularização miocár- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 11 • • dica (cirúrgica ou por angioplastia com stent) e insuficiência cardíaca por coronariopatia. Relato de pais com dosagem do colesterol sérico acima de 240mg/dl. Pacientes que, com história familiar ou não, mas que apresentem dois outros fatores de risco, tais como: obesidade, sedentarismo, tabagismo, diabetes, hipertensão. Pacientes que são filhos adotivos e desconhecem a história familiar. Caso o valor do colesterol encontrado esteja acima de 170mg/dl, deve-se repetir a dosagem, solicitando-se o lipidograma completo: colesterol total e frações e triglicerídeos. O resultado deve ser avaliado utilizando-se as tabelas específicas por idade. Resultados com valores acima dos valores de referência devem ser repetidos. Medidas terapêuticas específicas devem ser instituídas se a média das duas últimas avaliações persistirem acima dos valores considerados normais. Tratamento A- Terapia Nutricional A terapia nutricional deve ser considerada a primeira medida terapêutica em todas as crianças e adolescentes com dislipidemia documentada. Entretanto, a eficácia da recomendação de dietas com baixo teor lipídico permanece baixa48. Nenhuma restrição de gorduras ou colesterol deve ser recomendada em crianças com menos de dois anos de idade, época de rápido crescimento e desenvolvimento e, conseqüentemente, maior necessidade calórica49. O plano alimentar deve considerar a idade, para que não haja prejuízos no crescimento e desenvolvimento. É recomendável contemplar questões culturais, regionais, sociais e econômicas, devendo ser visualmente atraente e com paladar agradável. A primeira opção deve ser a dieta 12 com baixos teores em gordura saturada e colesterol. Em 2002, a American Heart Association, com base no Commitee on Atherosclerosis, Hypertension and Obesity in theYoung (AHOY), sugeriu um algoritmo para tratamento das dislipidemias de acordo com o risco individual e o perfil lipídico obtido. Desta forma, todas as crianças com LDL-C >130mg/ dl devem ser acompanhadas. B- Atividade Física A atividade física constitui medida auxiliar para o controle das dislipidemias e tratamento da doença arterial coronária. A prática de atividade de exercícios físicos aeróbicos promove redução dos níveis plasmáticos de triglicerídeos, aumento dos níveis de HDL-C, porém sem alterações significativas sobre a concentração de LDL-C. De uma maneira geral, devemos conciliar a atividade de forma prazerosa para que a assimilação seja incorporada desde cedo e exercida de forma regular. C- Tratamento Medicamentoso das Dislipidemias Os pacientes que devem ser selecionados são os de alto risco que mantém LDL-C acima de 130mg/dl. Nestes casos recomenda-se uma monitorização contínua da dieta e acompanhamento clínico e laboratorial. O uso de medicamentos só deve ser considerado em crianças abaixo de 10 anos quando não houver resposta por um mínimo de 6-12 meses de terapia nutricional e exercícios. O tratamento farmacológico deve ser considerado em crianças com LDL-C persistente em níveis >190mg/dl ou naquelas com LDL-C de 160mg/dl na presença de fatores de risco como história familiar de coronariopatia precoce. O objetivo é manter LDL-C abaixo de Algoritmo para tratamento das dislipidemias em crianças e adolescentes: Estratificação de HF +/CT elevado nos pais / DAC Perfil lipídico em jejum Desejável LDL – C < 110 mg/dL Limítrofe LDL – C 110-129 mg/dL Elevado LDL – C > 130 mg/dL HDL – C < 35 mg/dL Desejável LDL – C < 110 mg/dL Repetir perfil lipídico em 5 anos Recomendação de padrão alimentar e de Estilo de vida Para redução de fatores de risco Limítrofe LDL – C 110-129 mg/dL Recomendção para fatores de risco Dieta fase I e Intervensão Reavaliação em 1 ano Persistentemente elevado LDL – C > 130 mg/dL Avaliação Clínica Exame físico e laboratorial Avaliar causas secundárias Avaliar doenças familiares Testar familiares Dieta fase I, depois fase II LDL – C alvo Minimo < 130 mg/dL Ideal < 110 mg/dL Repetir perfil lipídico com média de dosagem prévia Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 130mg/dl, com ponto ideal em torno de 110mg/dl50. Escolha do Medicamento: a - Resinas quelantes dos ácidos biliares Muito utilizadas no passado. Esses agentes ligam-se aos ácidos biliares na luz intestinal e diminuem sua recaptação, reduzindo, assim o colesterol. Utilizadas mais em crianças pela segurança uma vez que não são absorvidos. Dose: 4-5g/dia Efeitos colaterais: aumento dos níveis de triglicerídeos e interferem na absorção de vitaminas lipossolúveis e algumas medicações. Recomenda-se complementação de ácido fólico e vitamina D Limitações: queixas gastrointestinais (flatulência, dor, diarréia, etc.), sabor desagradável com pouca aceitação pelas crianças b - Inibidores da HMG CoA redutase (estatinas) As estastinas têm revolucionado o tratamento das dislipidemias, reduzindo a mortalidade por doença cardiovascular aterosclerótica em adultos. O seu uso só deve ser considerado em crianças acima de 10 anos, embora existam estudos em escolares com hipercolesterolemia familiar com resultados satisfatórios e sem efeitos adversos sobre o crescimento e maturação sexual9. Elas atuam diminuindo a síntese do colesterol endógeno, depletando o pool intracelular de colesterol e, conseqüentemente, disponibilizando um maior número de receptores de LDL-C com diminuição da LDLC circulante. Devem ser administradas por via oral, em dose única diária, preferencialmente à noite para os fármacos de curta meia-vida ou em qualquer horário naqueles com meia vida maiores, como a atorvastatina e a rosuvastatina. Os efeitos adversos são raros, sendo os de maior gravidade a hepatite, miosite e a rabdomiólise. Desta forma recomenda-se a dosagem dos níveis basais de creatinofosfoquinase (CK), de transaminases e a repetição na primeira reavaliação e a cada aumento da dose. As meninas devem ser advertidas quanto à necessidade de usar contraceptivos, pois a gravidez contraindica o seu uso. c - Ezetimiba Inibe a absorção de colesterol que atua na borda em escova das células intestinais, inibindo a ação da proteína transportadora. Têm sido observados melhores resultados quando empregada em associação com as estatinas, e devem ser utilizadas apenas em situações especiais. Dose: única diária- 10mg/dia defeito herdado no metabolismo do colesterol, outra é estender o uso de estatinas para crianças com risco de DCV por fatores modificáveis no estilo de vida. Atualmente não se sabe quantas crianças ou adolescentes preencherão os critérios para tratamento com estatinas pelos efeitos da obesidade, dieta inadequada ou sedentarismo. Cabe avaliar se o tratamento da obesidade na infância incorporará um poderoso arsenal de drogas usadas em adultos: betabloqueadores e diuréticos para hipertensão, aspirina para coagulopatias, insulina para diabetes e assim por diante. Uma vez que esta porta foi aberta, a indústria farmacêutica passará alegremente por ela. Será que ao invés de advertências sobre os perigos de fast food estaremos assistindo novos comerciais promovendo o uso de drogas redutoras de colesterol em crianças? Cabe uma reflexão sobre o imenso abismo existente entre tratar doenças com drogas e nossa relutância em instituir medidas preventivas de saúde pública52. Segundo a Academia Americana de Pediatria o uso de estatinas deve ser considerado em crianças com idade superior a 8 anos, com LDL ≥ 190 mg/dL (ou ≥ 160 mg/dL com história familiar de doença cardíaca ou ≥ 130 mg/dL se diabetes mellitus estiver presente ou se houver 2 fatores de risco adicionais), principalmente se não houver adesão a alterações na dieta nem mudanças no estilo de vida. Sabe-se hoje que as estatinas estão sendo prescritas nos EEUU para crianças a partir dos 8 anos de idade e que das ~ 75.000.000 de crianças abaixo dos 18 anos de idade estima-se que 17.000 podem estar em uso de estatinas51. Um interessante artigo aborda a controvérsia no tratamento farmacológico de crianças com estatinas. Uma coisa é tratar os raros casos de crianças com A Academia Americana de Cardiologia não utiliza mais os termos dieta fase I e II como referências para dietas saudáveis para o coração. A dieta fase I restringia a gordura total para não mais do que 30% do total de calorias, gordura saturada não mais do que 10% das calorias e o total de colesterol devia ser menor do que 300 mg/dia. A dieta fase II preconizava menos de 7% de gordura saturada e o total de colesterol menos do que 200 mg/dia. Atualmente é utilizada a dieta I para a população em geral, a dieta fase II para pacientes com níveis de colesterol considerados de alto risco (240 mg ou mais) ou que tenham antecedentes de IAM. Para pacientes com alto risco ou que sabidamente tenham doença cardiovascular é recomendada uma dieta com mudanças terapêuticas do estilo de vida (do inglês TLC - The- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 13 rapeutic Lifestyle Changes diet). Em crianças e adolescentes devemos calcular as calorias sempre em quantidade suficiente para promover crescimento e desenvolvimento normais e garantindo a manutenção ou ganho ponderal, conforme for o caso. Considerações Finais As concentrações de lipídios e de lipoproteínas aumentam durante a lactância, atingindo valores próximos aos dos adultos jovens por volta dos dois anos de idade. Este dado é importante para realização de recomendações de screening, visto que valores obtidos antes dos dois anos podem não refletir valores dos anos subseqüentes da infância ou valores do adulto. Estando estes valores dentro da normalidade, deve ser incentivada uma dieta saudável e estimulação da atividade física, não 1. I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência. Arq Bras Cardiol 2005; 85(6): 1-36. 2. Barker DJ. Fetal origins of coronary heart disease. BMJ 1995; 311: 171-4. 3. Brasil, Ministério da Saúde. Datasus. Disponível em http://datasus.gov.br/. Acessado em fevereiro de 2008. 4. Mendonça CP, dos Anjos LA. Aspectos das práticas alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento do sobrepeso/obesidade no Brasil. Cad Saúde Pública 2004; 20(3): 698-709. 5. National Cholesterol Education Program (NCEP). Report of the Expert Panel on Blood Cholesterol Levels in Children and Adolescents. Pediatrics. 1992; 89 Suppl: 495-554. 6. 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Arq Bras Cardiol.2007; 88(Supl.1):1-18. 14 Tabela 3 – Os valores de referência lipídica propostos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, através da I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência para a faixa etária de 2 a 19 anos são: Lipídeos Desejáveis (mg/dL) Limítrofes (mg/dL) Aumentados (mg/dL) CT <150 150-169 ≥170 LDL-C <100 100-129 ≥130 HDL-C ≥45 100-129 ≥130 TG <100 esquecendo que o prazer do esporte é fundamental para a consolidação do hábito de praticar exercícios. Também deve ser reforçado o combate ao tabagismo e limitado o número de horas em frente ao monitor de TV/computador/ videogame. No início da adolescência, toda criança a partir dos 10 anos de idade deve ter uma determinação do colesterol total. Caso haja fatores de risco familiares (doença arterial coronariana, HAS, dislipidemias), é indicado um lipidograma completo. Para valores de colesterol entre 150 e 170 deve ser orientado aos pais mudanças no estilo de vida, devendo o exame ser repetido anualmente. Valores acima de 170 já indicam a realização de análise completa dos lipídios e medidas de intervenção nas comorbidades existentes. 10. Srinivasan SR, Myers L, Berenson GS. Distribution and correlates of non-highdensity lipoprotein cholesterol in children: the Bogalusa Heart Study. Pediatrics.2002; 110(3):e29. - Coronary arterial wall and atherosclerosis in youth (1-20 years): a histologic study in a Northern Italy population. Int J Cardiol 1990; 28: 361-70. 11. Ross R, Harker L. Hyperlipidemia and atherosclerosis, Science. 1976; 193:1094-100. 12. Stein O, Thiery J, Stein Y. Is there a genetic basis for resistance to atherosclerosis? Atherosclerosis 2002; 160:1-10. 13. Hulthe J, Fagerberg B. 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Embora sempre seja recomendado atividade física e hábitos alimentares saudáveis na prevenção de dislipidemias, pode ser necessário introduzir uma estatina. Isto pode ser feito a partir dos: a) 6 anos de idade b) 8 anos de idade c) 10 anos de idade d) 12 anos de idade Avaliação 1. O aumento na incidência das doenças crônico degenerativas do adulto muitas vezes tem sua origem na infância. Dentre as principais causas podemos citar: a) obesidade e dislipidemias b) tabagismo e stress c) sedentarismo e uso de drogas d) erro alimentar e hipertensão arterial Preencher ficha na página 43 e enviar à SOPERJ Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p4-15, junho 2009 15 Revisões em Pediatria O ensino da puericultura e da pediatria no Rio de Janeiro: a propósito do bicentenário da Faculdade de Medicina da UFRJ The teaching of Child care and Pediatrics in Rio de Janeiro: concerning the bicentennial of Faculty of Medicine of UFRJ Clemax Couto Sant Anna1 Resumo Objetivo: revisão não sistemática da literatura sobre ensino da Pediatria e da Puericultura, buscando situar historicamente o tema por ocasião dos 200 anos de criação do ensino médico no país. Resultados: embora já se identifique livros sobre doenças na infância na época do Brasil Colônia, o ensino regular só veio a se firmar ao final do século XIX por influência de Moncorvo de Figueiredo. Só em 1937 foi criada a Clínica pediátrica médica e Puericultura e clínica da primeira infância, sob a responsabilidade do Prof. Martagão Gesteira, responsável pela formação de inúmeros profissionais no Brasil desde então. Conclusão: a Puericultura e a Pediatria são especialidades jovens e expandiram-se nas últimas décadas do período neonatal à adolescência 1 Doutorado (Professor Associado da Faculdade de Medicina da UFRJ) Endereço para correspondencia Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro Clemax Couto Sant´Anna R. Cinco de Julho 350 ap. 604 ---- Copacabana 22051-030-- Rio de Janeiro, RJ Palavras-chave: Puericultura, Pediatria, criança, adolescentes, ensino Objective: review on teaching of the Pediatrics and Child care, looking for to place the theme historically for occasion of the 200 years of creation of the medical teaching in Brazil. Method: non- systematic review of the literature. Results: although on already identifies books on childhood diseases at that time of Brasil Colônia, the regular teaching only starts at the end of the XIX Century for influence of Moncorvo de Figueiredo. Only in 1937 it was created the Clinic pediatric (Clínica pediátrica médica e Puericultura e clínica da primeira infância) under the responsibility of Prof. Martagão Gesteira, responsible for the countless professionals’ formation in Brazil ever since. Conclusion: the Child Care and the Pediatrics are young specialties.They expanded in the last decades of the period neonatal to the adolescence Keywords: Child care, Pediatrics, child, adolescent, Teaching 16 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p16-20, junho 2009 Notas sobre a Pediatria no mundo Na Antiguidade há registros de que a sociedade dava um tratamento pouco atencioso à criança. São correntes na literatura as referencias a infanticídio como prática religiosa ou como estratégia de controle populacional. Mesmo séculos mais tarde, a criança não era vista como um ser com direitos e dignidade a serem preservados. Práticas de trabalho escravo, por exemplo, são referidas nas tripulações de navios até a época dos descobrimentos. Do ponto de vista da Medicina, o primeiro livro sobre doenças infantis foi publicado em latim em 1472 por Paolo Begellardi Flumine (1). Após o Renascimento, os progressos trazidos no século XVII pelos descobrimentos e teorias desenvolvidas por Newton, Descartes, Bacon, dentre outros, conduziram ao aparecimento de sociedades médicas científicas e revistas médicas na Europa. Na América Latina ainda vigorava a apropriação de conhecimentos indígenas com os postulados da medicina tradicional no tratamento das doenças conhecidas à época. O século XVIII caracterizou-se pelos avanços no ensino da pediatria na Europa, baseado nos estudo dos sinais e sintomas. Começam a aparecer importantes trabalhos científicos, de autores como Corvisart e Bichat na França, Rosensteim, na Suissa e Codogan na Inglaterra. Destaca-se nesse período a descoberta da vacina antivariólica por Jenner (2). No século XIX, com o advento dos progressos trazidos pela Revolução industrial houve redução da mortalidade infantil nos países industrializados. Verificou-se grande progresso na Medicina, com a criação de várias especialidades médicas, dentre elas a Puericultura, clínica da criança sadia, nas línguas de origem latina. Médicos de todo o mundo acorreram à França para desenvolver formação em Puericultura e a Pediatria, dado o protagonismo da medicina francesa à época. Do mesmo modo, a cirurgia pediátrica passou a se desenvolver. Em 1802 foi inaugurado em Paris o primeiro hospital pediátrico do mundo, o Hôpital des enfants malades (1). Outros países, como a Inglaterra, Alemanha, Suíça, Bélgica, Espanha também experimentaram avanços. Começou a haver maior intercâmbio científico entre Europa e Estados Unidos, decorrendo disso os progressos na medicina americana. Paulatinamente na América Central e América do Sul vieram a se desenvolver ações voltadas para a proteção a infância (1, 2). A Pediatria no Rio As primeiras ações voltadas para o cuidado com a infância registradas no Brasil, são da época dos Padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta que se empenharam em trabalhos humanitários junto aos índios e a população que habitava o país naquela época. Há também relatos de outras ações pontuais por parte dos governantes no tempo da colônia. Francisco de Melo Franco autor de Tratado da educação física dos meninos, publicado em 1790, pode ser considerado o pioneiro da puericultura brasileira (3). Com a chegada ao Brasil de D. João VI e a corte portuguesa em 1808 foram criadas as Academias médico- cirúrgicas na Bahia e no Rio de Janeiro, com intervalo de alguns meses entre elas. Na época da regência, D. Pedro II promulgou decreto a 3 de outubro de 1832 que reorganizou o ensino médico no país, criou e deu autonomia de expedir diplomas às Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia. A primeira veio a se transformar na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil em 1937, atual Faculdade de Medicina da UFRJ. (1,3) O ensino da medicina infantil, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, começou vinculado ao da obstetrícia, como era comum na época, em 1833 na cadeira de Partos, doenças de mulheres pejadas e paridas e de recém-nascidos, cujo catedrático foi o Prof. Francisco Júlio Xavier. Só cinqüenta anos depois, em 1883, por sugestão de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, foi instituída a cadeira de Clínica médica e cirúrgica de crianças. Moncorvo de Figueiredo, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1872, especializou-se na França e junto com outros médicos de renome fundou a Policlínica do Rio de Janeiro em 1881 (3). Apoiado pelo imperador D. Pedro II, criou o primeiro curso livre de pediatria no Rio em 1882, portanto um ano antes de a Faculdade de Medicina iniciar curso idêntico, e o manteve até sua morte em 1901. Pelo seu protagonismo na criação da cadeira de moléstias de crianças e por sua obra científica é considerado o Pai da Pediatria Brasileira (1). Em 1883, a recém criada cadeira de Clínica médica e cirúrgica de crianças, teve como primeiro professor o Senador Cândido Barata Ribeiro, que se dedicava principalmente à ortopedia. Em 1910 foi substituído pelo Prof. Francisco Simões Correia, por sua vez, sucedido pelo Prof. Luiz do Nacimento Gurgel em 1925 (1,3). No século XIX a mortalidade infantil no Brasil alcançava cifras preocupantes. No Rio de Janeiro era da ordem de 250/ 1000 nascidos vivos e foi objeto de um artigo de José Pereira no primeiro número dos Anais Brasileiros de Medicina em 1847. Em 1891 foi fundado no Rio o Instituto de Proteção e Assistência a Infância, levando ao incremento de formação em pediatria de médicos brasileiros que se Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p16-20, junho 2009 17 Figura 1 - Bebe no andador. Ilustração do livro De arte medica infantium libri quatuor de Omnibonus Ferrarius. Século 16. Fonte: http://www.bium.univ-paris5.fr/histmed/debut.htm dirigiam, preferencialmente, a Portugal e Espanha (2). No início do século XX, destacou-se como um dos principais fundadores da pediatria no Brasil, a figura do Dr. Fernandes Figueira, autor de vários trabalhos, dentre eles, Eléments de sémiologie infantile, em 1903; Consultas práticas de higiene infantil e Patologia infantil. Fernandes Figueira foi o fundador da atual Sociedade Brasileira de Pediatria em 1910 e da qual foi o primeiro presidente, até seu falecimento em 1926. Além disso, foi fundador do serviço de Higiene infantil e assistência a infância, do Departamento Nacional de Saúde, em 1920 (3). Em 1911, a Reforma governamental Rivadávia, subdividiu o ensino de pediatria em: Clínica cirúrgica infantil e ortopedia e Clínica pediátrica médica e higiene infantil. De 1928 a 1939 o catedrático de ensino da pediatria foi o Prof. Luiz Pedro Barbosa, que em 1915 havia sido nomeado professor substituto de Clínica pediátrica médica e higiene infantil. Este iniciou o curso de pediatria na Policlínica de Botafogo e ampliou os quadros de assistentes da cadeira. Em novembro de 1937, no bojo de grandes reformas do ensino, o Governo decidiu criar as cadeiras de Clínica pediátrica médica e Puericultura e clínica da 18 primeira infância. Neste mesmo ano foi criada a Faculdade Nacional de Medicina e o Instituto Nacional de Puericultura (Lei 378 de 13.01.1937), inicialmente vinculado ao Ministério da Saúde e Educação e, mais tarde, à Universidade do Brasil. Nessa oportunidade, veio transferido da Bahia para o Rio de Janeiro, o Prof. Joaquim Martagão Gesteira, incumbido de dirigir o Instituto e a cátedra recém criada de Puericultura e clínica da primeira infância. Dentre as obras do Prof. Martagão Gesteira, des- tacam-se Higiene individual e social da criança, de 1942 e Pediatria de 1944. Graças a seu prestígio, foi planejado e edificado o Instituto de Puericultura da Universidade do Brasil, inaugurado a 1 de outubro de 1953, hoje Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG- UFRJ). O primeiro diretor foi o próprio Martagão Gesteira que ministrou aula inaugural de recém criada Cidade Universitária na Ilha do Fundão ( Fig2) e veio a falecer meses depois, em 1954. Nesse ano, houve concurso para catedrático, em função da vaga por aposentadoria do Prof. Luiz Pedro Barbosa em 1939, vencido pelo Prof. José Martinho de Rocha, que assumiu também a direção do Instituto. Em 1957, nova lei criou a Clínica pediátrica e puericultura, cujo primeiro professor no Rio, foi Martinho da Rocha.(3) O ensino da pediatria na atual UFRJ A história do IPPMG - UFRJ está intrinsecamente ligada ao ensino da pediatria no Rio de Janeiro e no Brasil, já que Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p16-20, junho 2009 seu projeto foi minuciosamente voltado para as atividades docentes, de pesquisa e de assistência. Além disso, havia a concepção de que não poderia haver estudo de puericultura num hospital com crianças doentes. A par das aulas ministradas pela cadeira no sexto ano da Faculdade Nacional de Medicina, o IPPMG começou a realizar diversos cursos de extensão universitária, especialização e aperfeiçoamento em puericultura e clínica da primeira infância. Durante a gestão do Prof. Martinho da Rocha, o IPPMG continuou a expandirse, foram criadas várias especialidades pediátricas e consolidou-se o Boletim do Instituto de Puericultura que vinha sendo publicado desde 1938, que circulou até 1971 e tinha indexação internacional (4). A Organização Mundial de Saúde realizou investigação sobre o ensino médico na América Latina em 1956, por Huges e Puffer. Naquele ano, das 79 escolas médicas avaliadas, ainda não havia o ensino da pediatria em 10. Enquanto a Argentina era o país onde havia a maior proporção de estudantes de pediatria, alcançando a taxa de 8/ 100.000 habitantes, no Brasil a taxa era de 2,4/100.000habs. Chamava a atenção para a insuficiência de laboratórios, de leitos e de professores, principalmente para as atividades práticas, enfatizando que o ideal é o ensino da pediatria em ambulatórios. Naquela época havia o conceito que o ensino da pediatria deveria perfazer 300 horas no currículo médico. Além disso, numa época que ainda vigorava a estrutura da cátedra, havia a compreensão de que o ideal seria o modelo departamental, isto é, um conjunto de professores, subdivididos em vários cursos, com laboratórios e estrutura administrativa complementar, muito semelhante ao que já havia no IPPMG desde sua fundação em 1953. Havia crítica, já naquela época, à sub- divisão entre pediatria e puericultura, uma vez que os aspectos de crescimento desenvolvimento, sociais e de prevenção de doenças só poderiam ser compreendidos em conjunto. Concluía o relatório apontando como falhas no ensino, o fato de que em muitas escolas os estudantes eram meros observadores de pacientes e que havia uma grande lacuna no que se refere à pesquisa em pediatria. A preocupação com o ensino da pediatria fez com que em outubro de 1961 viesse a se realizar a I conferência sobre o ensino da pediatria no Brasil, sob a coordenação do Prof. Renato Woiski, de Riberão Preto (5). Em 1969 aposentou-se o Prof. Martinho de Rocha e nesse ano veio transferido da Universidade Federal Fluminense o Prof. César Pernetta que assumiu a cátedra e a direção do IPPMG, cumprindo a disposição regulamentar da instituição. Cabe lembrar que a Lei 5540 de 28.11.1968 extinguiu o sistema de cátedras e instituiu o sistema departamental. Assim, o Prof. Pernetta em 1969 foi o primeiro chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina, cargo quer ocupou até ser jubilado em 1976 (Fig. 3). O Prof. Pernetta marcou o ensino da pediatria com sua inegável competência e carisma, além de ser autor de inúmeras obras até hoje consultadas, como Semiologia pediátrica, Diagnóstico diferencial em pediatria, Alimentação do lactente sadio, Terapêutica infantil e muitas outras. Até 1979 o ensino da Pediatria era feito em parte no quinto ano da graduação (Semiologia e clínica) e no sexto ano, no internato eletivo, cuja duração era de um ano. A partir de então, foi instituído o sistema de períodos no curso de graduação, no bojo da reforma universitária. Ao longo do tempo, outras mudanças de currículo conduziram a que o ensino da pediatria seja feito hoje em diversos períodos do curso médico, a partir do quarto período, alcançando o 12 0 período para os alunos que optarem pelo internato eletivo nessa disciplina. Em 1980 houve concurso para provimento de vaga de professor titular de pediatria, que foi vencido pelo Prof. Gerson Carakushansky que também assumiu a chefia do Departamento e mais tarde foi sucedido nessa função por vários outros professores eleitos pelo colegiado. O Prof. Gerson Carakushansky, geneticista - que publicou artigos e livros, como Semiologia básica do recémnascido e Doença genética em Pediatria, dentre outros, projetou a Pediatria da UFRJ em nosso meio - exerceu a titularidade até 2005, quando se retirou pela aposentadoria compulsória. Novo concurso naquele ano foi vencido pelo Prof. Antonio José Ledo A. da Cunha que assumiu o cargo de professor titular em 2006 (4). O Prof. Antonio Ledo que já havia sido diretor do IPPMG no período de 2002 a 2004, foi eleito Diretor da Faculdade de Medicina em 2006, cargo que exerce atualmente e que coincide com o fato de ter sido o primeiro pediatra a ocupar tal função na UFRJ. Epílogo As primeiras décadas do século XX foram marcadas pelas graves conseqüências sócio-econômicas decorrentes das duas Guerras Mundiais. Naturalmente os efeitos sobre as famílias e a sociedade repercutiram na saúde infantil de forma expressiva. Por outro lado, observouse que a medicina americana tornou-se mais forte ao fim da Segunda Guerra e, além disso, conhecimentos das áreas básicas, como microbiologia, imunologia, parasitologia, genética, bem como os conhecimentos da Psicanálise, Epidemiologia e Saúde Pública vieram a contribuir para o avanço da Pediatria Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p16-20, junho 2009 19 como especialidade médica. Mais tarde foram se consolidando as especialidades pediátricas, que incorporaram os avanços em vacinação - desenvolvidos desde Jenner, no século XVIII - e que levaram as grandes contribuições de Salk e Sabin, bem como no descobrimento progressivo dos antimicrobianos, na incorporação de novas tecnologias para diagnóstico e para procedimentos cirúrgicos e a partir dos anos 50, com a Pediatria Social e a consolidação da Seguridade Social. Cabe lembrar que a Puericultura ex- perimentou expansão de sua abrangência que hoje se estende do período neonatal (e pré-natal) a adolescência. Ao final do século XX constatava-se que diversos organismos internacionais desenvolviam ações de vigilância sobre a criança, como a ONU, Centro Internacional de Proteção a Infância, OMS, UNICEF, FAO e muitos outros. No entanto, só em 1959 foi divulgada a Declaração Universal dos Direitos da Criança que veio a originar no Brasil, em 1992, o Estatuto da Criança e do Adolescente. (1,2) 1. Carneiro G. Um compromisso com a esperança. História da Sociedade Brasileira de Pediatria - 1910-2000. Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Pediatria, 2000, 560p. 2. Figueroa E. La pediatría y la puericultura desde las sociedades primitivas hasta nuestros dias. Rev. Fac. Medicina 1995 18: 117-130 3. Martinho da Rocha J. Short chronicle of Brazilian Puericulture and Pediatrics. Bol.Inst. Puer. Univ. Brasil 1959: 16: 73-84. 4. Aires VLT, Aires R, Cunha AJLA. 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Verificou-se que a adesão ao tratamento é de vital importância para o controle da doença. 1 Graduação (Nutricionista) Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais - FHEMIG - Hospital Infantil João Paulo II. Endereço para correspondência Frederico Henrique Salles Nunes Rua Nilo 121A, Bairro: São Salvador Belo Horizonte, MG. e-mail: [email protected] Palavras-chave: Doença de von Gierke, Glicogenoses, Nutrição. The glycogenosis are glycogen storage diseases, the von Gierke disease is the more common of them, the metabolic complications of the disease include, hypoglycemia, lactic acidemia, hyperuricemia, hypercholesterolemia and hepatic adenoma. Our goal with this study was to make a review of the current knowledge concerning the disease von Gierke your characteristics and applied treatment. The adhesion to the treatment is of vital importance for the control of the disease. Keywords: Von Gierke disease, Glycogenosis, Nutrition. Introdução Como todos os erros inatos de metabolismo são individualmente raros e têm apresentações clínicas inespecíficas é comum o pediatra cogitá-los tardiamente1. Diagnosticar rapidamente é essencial para impedir o agravamento e a irreversibilidade dos sintomas, podendo representar a vida do paciente em alguns casos2. Objetivo Foi objetivo do trabalho atual, fazer uma revisão sobre a glicogenose tipo Ia, doença de depósito de glicogênio resultante da deficiência da enzima glicose-6-fosfatase com o intuito de dotar os pediatras, nutricionistas e demais profissionais da saúde de informações necessárias para o diagnóstico e tratamento adequado dos indivíduos acometidos por essa doença. Metodologia A revisão de literatura foi realizada através da seleção de artigos da base de dados Medline, Scielo e Google Acadêmico, com os artigos de periódicos médicos e nutricionais nacionais e internacionais mais importantes dos úl- timos vinte anos e livros nutricionais e médicos com informações relevantes sobre a glicogenose tipo Ia. Revisão Definição As Doenças Metabólicas Hereditárias são causadas por erros inatos do metabolismo e resultam da falta de atividade de uma ou mais enzimas específicas ou defeitos no transporte de proteínas3. São denominadas glicogenoses as afecções decorrentes de erro metabólico hereditário que resulta em anormalidade da concentração e/ou da estrutura do Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 21 glicogênio em qualquer tecido do organismo4. A glicogenose tipo I é caracterizada pela deficiência de glicose-6-fosfatase (G-6Pase), uma enzima composta por um sistema multicomponente que compreende o sítio ativo na superfície luminal do retículo endoplasmático e três translocases4. A glicogenose tipo Ia envolve a deficiência da unidade catalítica que é responsável por desfosforilar a glicose6-fosfato1,5. A entidade foi denominada doença de von Gierke em homenagem ao seu descobridor Edgar von Gierke4. Os tipo de glicogenose são descritos na tabela I. Diagnóstico A clínica que alia a história da doença e um bom exame físico contribui imensamente para um diagnóstico preciso através da identificação de sinais característicos de cada grupo de erros inatos do metabolismo2,6. Os primeiros sinais e sintomas que podem levar a investigação da presença TABELA I – TIPOS DE GLICOGENOSES. TIPO DENOMINAÇÃO ENZIMA DEFEITUOSA TECIDOS ATINGIDOS 0 Glicogenose A glicogênio sintetase Fígado, músculo Ia D. de von Gierke Glicose-6-fosfatase Fígado, rins e intestino IaSP Subunidade catalítica Fígado, músculos e intestino Ib Translocase 1 Fígado, músculos e intestino Ic Translocase 2 Fígado, músculos e intestino Id Translocase 3 Fígado, músculos e intestino II D. de Pompe α -1,4-glicosidade glicosidase lisossômica Coração, músculos e intestino III D. de Cori Amilo-1,6-glicosidase Fígado, músculos e coração IV D. de Andersen Amilo-(1,4 - 1,6)-transglicosidase Fígado V D. de McArdle Fosforilase do glicogênio do músculo Músculos VI D. de Hers Fosforilase do glicogênio do fígado Fígado VII Fosfofrutoquinase do músculo Músculos VIII Fosforilase hepática inativada Fígado e cérebro IX Fosforilase quinase Fígado e músculo X Fosforilase quinase dependente de AMP- cíclico Fígado, músculos XI Desconhecida Fígado e rins Adaptado de 4 22 de glicogenoses em recém-nascido são: quadro neurológico grave com manifestação precoce de convulsão e aumento de ácido láctico no sangue, hipoglicemia, convulsão, acidose metabólica, hiperuricemia e hepatomegalia4,7. A doença é descrita nos primeiros 28 dias de vida (período neonatal) quando os bebês costumam apresentar hipoglicemia após pequenos períodos de jejum ou após infecções. A hipoglicemia se caracteriza por palidez, suor frio e convulsões. Ao exame físico nota-se o aumento hepático, a obesidade troncular e a “face de boneca”7. O diagnóstico pela determinação da atividade enzimática só pode ser realizado em órgão com grande expressão da enzima exigindo uma biópsia hepática. São descritas atualmente 14 alterações genéticas diferentes capazes de alterar ou inativar a atividade da G-6Pase causando a doença de von Gierke, 5,9 podendo o diagnóstico baseado no DNA ser realizado em qualquer tecido disponível como sangue, pele ou em caso de teste pré-natal vilosidade corionica e aminiócitos10-12. A glicose-6-fosfatase é codificada pelo gene 17, LEI em estudo descreve que a informação para a codificação da enzima ocupa um espaço de 12,5 Kb e consiste de cinco exons, desse modo podem ocorrer varias alterações capazes de afetar a atividade da enzima7,13-15. Epidemiologia A glicogenose tipo Ia é de herança genética autossômica recessiva, ou seja, têm um risco de ocorrência de 25% a cada gestação de pais heterozigotos, apresentando incidência de 1:100.000 nascidos vivos3,16. Essa incidência pode estar subestimada, pois estudos indicam que muitas crianças morrem antes do diagnóstico da doença. A glicogenose tipo Ia representa cerca de 25% das glicogenoses4. Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 Fisiopatologia O glicogênio é um polímero de armazenamento encontrado no citosol de todas as células do organismo, entretanto está em maior concentração no fígado e músculo esquelético,17 a formação deste permite o acúmulo de glicose nas células sem aumentar a pressão osmótica dentro destas18. A degradação do glicogênio envolve três etapas: a liberação de glicose 1-fosfato do glicogênio; remodelação do glicogênio para que seja possível uma nova degradação e a conversão da glicose-1-fosfato em glicose-6-fosfato, para sua devida metabolização17. O glicogênio é um polímero de glicose ramificado unido através de ligações glicosidicas α-1,4 em sua cadeia linear e α-1,6 em suas ramificações que ocorrem a cada oito a dez unidades de glicose em cadeia linear, por isso a degradação do glicogênio necessita de varias enzimas. A fosforólise das ligações α-1,4 gera glicose-1-fosfato, já a quebra das ligação α-1,6 libera uma glicose livre, esse mecanismo produz cerca de 90% de glicose1-fosfato e 10% de glicose livre19,20. A glicose-6-fosfato então pode seguir três destinos: ser usada como substrato energético na glicólise, seguir pela via das pentoses-fosfato e gerar NADPH e derivados de glicose ou ser convertida à glicose livre sendo liberada na corrente sanguínea17. A glicose fosforilada (glicose-6-fosfato) não pode atravessar a membrana e difundir-se para fora da célula hepática, para a liberação da glicose é preciso a ação da enzima glicose 6-fosfatase que cliva a fosforila formando glicose livre e ortofosfato17. O metabolismo de glicogênio e os possíveis destinos da glicose são mostrados na figura I. A glicose 6-fosfatase está localizada no lado da luz da membrana do reticulo endoplasmático liso para onde a glicose 6-fosfato é transportada e en- tão hidrolisada à ortofosfato e glicose livre pela unidade catalítica da glicose6-fosfatase19. A doença de von Gierke se apresenta quando a atividade da unidade catalítica da glicose 6-fosfatase está ausente ou com atividade reduzida no fígado, rim e intestino. Quadro clínico e laboratorial Hipoglicemia Com a deficiência da glicose-6-fosfatase a glicose-6-fosfato principal produto da glicogenólise e gliconeogenese não pode ser convertida em glicose livre, o que torna impossível a travessia desta pela membrana citoplasmática. Como consequência apenas 8 a 10% da glicose retirada do glicogênio pode ser usada para o controle da glicemia, sendo que essa glicose é proveniente da quebra das ligações α-1,617. Com isso o fígado não é capaz de manter os níveis de glicose no sangue normais, ocorrendo a hipoglicemia. Há relatos que com o aumento idade há uma tendência para a diminuição da hipoglicemia pela redução do consumo energético4. Acidose Láctica A presença de glicose-6-fosfato em excesso no fígado dispara a glicólise, com o excesso de piruvato produzido o tecido não pode ser suprido de oxigênio suficiente para suportar toda a oxidação aeróbica desse nutriente. Com isso utiliza-se o metabolismo anaeróbico com produção de lactato, levando ao aumento dos níveis de lactato e piruvato no sangue17. Em situações normais o lactato é convertido no fígado em glicose por um ciclo de reações chamado de ciclo de Cori, realizando o processo de gliconeogênese, porém isso não ocorre na glicogenose tipo Ia, aumentando os níveis de Figura 1 – Metabolismo de glicogênio. - Adapatado de 4 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 23 lactato cerca de quatro vezes acima dos valores normais21. Mesmo com o tratamento ideal em que a glicose é mantida a níveis normais, a concentração de lactato não diminui a níveis de 3 a 5 mmoles/L valores considerados normais. Hiperuricemia A hiperuricemia resulta tanto da diminuição da depuração renal de urato secundária à competição com o ácido láctico e outros, quanto do aumento da produção do ácido úrico4,22. A glicose-6-fosfato acumulada é desviada para a via das pentoses fosfato, levando ao aumento da síntese de purinas, com a grande produção os produtos purínicos são degradados até ácido úrico21. A degradação do ATP se acelera em resposta à hipoglicemia e ao aumento dos níveis de glucagon e sua ressíntese requer glicose. Com a baixa disponibilidade de glicose livre para a distribuição aos tecidos, ocorre acúmulo de ADP que é convertido a ácido úrico4. A gota, os cálculos renais e a nefropatia são as consequências da hiperuricemia, a doença renal crônica de etiologia desconhecida também é uma complicação comum da glicogenose tipo Ia incluindo fibrose intersticial, atrofia tubular, focal e segmentar e glomeruloesclerose4,23. Hipofosfatemia Uma das consequências metabólicas da deficiência da G-6-Pase é a hipofosfatemia observada durante os episódios hipoglicêmicos, pois devido à impossibilidade de conversão da glicose-6-fosfato em glicose, o fosfato não é liberado da molécula de glicose-6-fosfato, resultando em baixa de fosfato intracelular livre. Como há necessidade do fosfato para outras atividades, ocorre desvio compensatório do fósforo extracelular para 24 o interior da célula gerando hipofosfatemia4,24,25. Hiperlipidemia Os níveis de triglicérides podem chegar a 4.000 a 6.000 mg/dl e o colesterol pode atingir 400 a 600 mg/dl com LDL elevado e HDL reduzido. A hiperlipidemia se deve ao aumento dos produtos da via glicolítica como o NADPH, NADH, fosfato, glicerol-3fosfato e coenzima A, essenciais para a síntese de colesterol e ácidos graxos. Os triacilgliceróis são sintetizados a partir de um ácido graxo ativado e um produto fosforilado de três carbonos, proveniente do catabolismo da glicose4,19. A hepatomegalia acentuada característica da glicogenose é atribuída mais à deposição de gordura no fígado do que ao acúmulo de glicogênio, causando tumefação dos hepatócitos4. Porém mesmo com o perfil lipídico alterado os pacientes mostram risco de doença coronariana e isquêmicas iguais a de um individuo normal4. O manejo da dieta associa-se com a queda dos níveis de triglicérides, mas estes não chegam a alcançar valores normais e a associação de clofibrato e niacina obtém sucesso no controle da trigliceridemia em pacientes que não responderam à dieta. Complicações renais Pacientes com glicogenose tipo Ia sob bom controle metabólico da glicemia ainda experimentam a longo prazo complicações da doença, eles continuam a sofrer de hiperlipidemia, hiperuricemia, hipercalciúria e acidemia láctica e doença renal crônica de etiologia desconhecida23. A nefropatia por gota e a nefrocalcinose podem estar presentes. A hipercalciúria provavelmente é um fenômeno secundário a alterações da acidificação renal4,26. Pacientes com glicogenose tipo I também manifestam hiperuricemia e hiperlipidemia que podem ser fatores independentes de risco para o desenvolvimento e a progressão da doença renal23. A disfunção renal é vista na maioria dos pacientes a partir da segunda década de vida4. Adenomas e neoplasias hepáticas A partir da segunda e terceira década de vida cerca de 50 a 70% dos indivíduos com glicogenose tipo I desenvolvem adenomas hepáticos, que podem levar a hemorragia aguda e transformação maligna, os tumores são múltiplos, pequenos e não capsulados4. Os pacientes do sexo masculino apresentam adenomas hepáticos na proporção de 2:1 em relação ao sexo feminino, sendo que a patogênese dos carcinomas em geral não esta elucidada, porém existem algumas hipóteses que incluem desequilíbrio da relação glucagon/insulina, sobrecarga de glicogênio celular e ativação de protooncogenes4. Tratamento O tratamento da doença de von Gierke é feito principalmente através da dieta. Os objetivos da dietoterapia são manter a homeostase da glicose para prevenir as reações hipoglicêmicas e fornecer proteínas e calorias suficientes para o balanço positivo de nitrogênio e para o crescimento normal evitando déficit de crescimento e as demais alterações metabólicas27. Deve-se atingir a Recommended Dietary Allowances (RDA). A distribuição de macronutrientes da dieta deve ter percentual de 30 a 45% de carboidrato oferecido na forma de amido de milho cru e os carboidratos totais deve atingir de 60 a 70% do total energético da dieta. A distribuição de lipídeos deve abranger de 20 a 25% das calorias sen- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 do seguida a mesma proporção de uma dieta comum para as gorduras monoinsaturada, poliinsaturada, saturada e colesterol, a proteína deve atingir de 10 a 15% 4,16,27. A frutose e a galactose são metabolizados à glicose-6-fosfato, portanto deve-se evitar o consumo de lactose, frutose e sacarose, que podem provocar acidose láctica, no entanto não há concordância cientifica sobre a restrição desses monossacarídeos4,16. Há duas abordagens dietoterápicas tradicionais para manter os níveis de glicemia dentro dos valores normais de referência; uma delas é alimentação contínua por sonda que é considerada o maior avanço no tratamento da glicogenose, a administração oral de polímeros de glicose de digestão lenta é outra conduta adotada para a manutenção dos níveis de glicemia podendo-se ainda fazer a combinação das duas técnicas4,16. Tanto através do tratamento com amido de milho cru como a Infusão noturna de glicose (ING) consegue-se bons resultados no controle da glicemia e da taxa de crescimento4. O uso do amido de milho cru para a manutenção da glicemia é recomendado a cada 2 a 4 horas, dependendo do intervalo de tolerância ao jejum relativo à atividade residual da enzima, em menores de 2 anos deve-se diluir 1,65 g/kg de peso/dose de amido de milho em 1:2 partes de água à temperatura ambiente, e para crianças maiores de 2 anos em intervalos de quatro horas na dose de 1,75 a 2,5g por kg de peso por dose. O amido deve ser dado com água fria, pois a mistura com água morna, quente ou limonada acelera sua hidrólise, não obtendo o efeito desejado4,8,28. O início da ING é realizado no hospital com taxa de infusão de glicose igual a 7mg/kg/min e posteriormente ajustada para 4-6mg/kg/min para manter a glicemia recomendando a solução de dex- trose a 25% ou 50 %. Na primeira noite a glicemia precisa ser controlada a cada quatro horas e antes da retirada a cada manhã. Para a infusão noturna de glicose é necessária a realização do cálculo da taxa basal de produção de glicose: y = 0,0014x³ - 0,214x² + 10,411x - 9,084, onde y = mg de glicose por minuto e x = peso em kg, o resultado representa a quantidade mínima de glicose necessária para manter a glicemia em níveis normais 4,16. A transição entre a ING e a alimentação e vice-versa deve ser bem controlada para impedir a hipoglicemia, a última refeição deve ser oferecida não ultrapassando três horas para o inicio da ING, já a primeira refeição deve ser oferecida antes de se interromper a ING, com antecedência mínima de 30 minutos antes da interrupção4,16. Entre 4 e 6 meses de idade é indicada a introdução de outros alimentos como é habitual na idade, porém carboidratos complexos devem ter ênfase na forma de aveia, cevada, arroz, massas e legumes, preterindo batatas e pães 4,16. O uso do amido de milho cru é recomendado após os dois anos de idade, pois das enzimas amilase pancreática e a glicoamilase intestinal responsáveis pela digestão de amido no organismo só a glicoamilase apresenta atividade comparada a de um adulto a partir do primeiro mês de vida, a atividade da amilase pancreática no período neonatal é considerada desprezível, só alcançando níveis comparados ao de um adulto aos dois anos de idade. No entanto sua atividade pode ser estimulada a partir do oitavo mês de vida, antes disso as crianças podem não apresentar digestão TABELA II – Tratamento da doença de von Gierke conforme a idade Idade Período do dia/Indicação Entre 0-12 meses Dia: Leite materno / leite de fórmula (com maltodextrina e sem lactose) a cada 2-3 horas. Dos 6 meses em diante substituir até as 6% como máximo e a maltodextrina para arroz na alimentação. Noite: Se possível, ANINC durante 12 horas (diminuindo progressivamente de 50% até 35% da energia diária). caso contrário alimentação freqüente. Entre 1-3 anos Dia: 3 refeições com AMPC e 2 refeições principais (preferencialmente AMPC). AMC a cada 4 horas (1,0 - 1,5 g/kg). Noite: ANINC durante 12 horas (35% da energia). AMC cada 4 horas (1,0 - 1,5 g/kg). Entre 3-6 anos Dia: 3 refeições com AMPC e 2 almoços (preferentemente AMPC). AMC cada 4-6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Noite: ANINC durante 12 horas (35% da energia). AMC cada 4-6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Entre 6-12 anos Dia: 3 refeições com AMPC e 2 almoços (preferentemente AMPC). AMC cada 6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Noite: ANINC durante 10 horas (30% da energia). AMC cada 6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Adolescentes Dia: 3 refeições com PCCS e 2 almoços (preferentemente AMPC). AMC cada 6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Noite: ANINC durante 10 horas (30% da energia). AMC cada 6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Adultos Dia: 3 refeições com AMPC e 2 almoços (preferentemente AMPC). AMC cada 6 horas (1,5 - 2,0 g/kg). Noite: ANINC durante 8-10 horas (25-30% da energia). AMC cada 6-8 horas (2,0 g/kg). ANINC e AMC intercalados nos períodos noturnos (férias / fim de semana). Adaptado de 29. Legenda: AMPC: amido de milho pré-cozido; AMC: amido de milho cru; ANINC: Alimentação noturna por infusão nasogástrica contínua. Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 25 adequada do amido4,16. O plano dietético deve ser feito cuidadosamente e revisado para proporcionar aqueles nutrientes essenciais, merecendo atenção especial o cálcio, devido ao limitado consumo de leite e a vitamina D. Além disso, o aumento do metabolismo dos carboidratos necessita de grandes quantidades de vitamina B129. A dietoterapia apresenta-se como um eficiente método para controle da doença. A avaliação do sucesso do tratamento pode ser realizada através dos níveis de lactato e acido úrico no sangue, o nível sérico de lactato reflete o estado metabólico recente decorrente da queda da glicemia no dia, enquanto que os níveis do ácido úrico e dos triglicérides refletem o controle a longo prazo16. O tratamento para portadores da doença de von Gierke conforme a idade é apresentado na TABELA II. O tratamento dietético da glicogenose é acompanhado da melhora das alterações renais. A rápida resposta ao tratamento pode explicar a razão pela qual a disfunção renal não é encontrada mais frequentemente4. O tratamento medicamentoso pode ser usado nos casos em que a dietote- rapia não é capaz de evitar as complicações metabólicas. O alopurinol pode ser usado em casos em que não se consegue controlar os níveis de ácido úrico8. Em casos de hipoglicemia grave devese administrar imediatamente uma solução de glicose por via intravenosa29. O transplante hepático pode ser considerado nos casos em que o manejo dietético não obtém sucesso, necessitando de frequentes internações. O transplante de fígado é considerado o procedimento mais complexo da cirurgia moderna, pois interfere em muitas funções do organismo. O sucesso da operação depende de uma boa infra-estrutura hospitalar, uma experiente e bem treinada equipe multiprofissional. 27,30. O transplante hepático é utilizado com sucesso nos casos de adenoma hepático com aumento gradativo, quando não se pode afastar a possibilidade da transformação maligna e que a ressecção esteja inviabilizada4. 1. Jardim LB, Ashton-Prolla P. Erros inatos do metabolismo em crianças e recém-nascidos agudamente enfermos: guia para o seu diagnóstico e manejo. J Ped 1996;72:63-72. Leone CR, Costa MTZ, Corradini HB. Erros inatos de metabolismo: Uma abordagem diagnóstica. Ped 1994;16:82-6. 7. Brunoni D. Avaliação Genético-Clínica do Recém-Nascido. 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Reis CVS, Penna FJ, Oliveira MCC, Roquete MLV. Glicogenose tipo I. J Ped 1999;75:27735. 5. Chou JY, Mansfield BC. Mutations in the Glucose-6-Phosphatase-α (G6PC) Gene that Cause Type Ia Glycogen Storage Disease. Hum Mut 2008;29:921-30. 6. Feferbaum R, Ceccon MEJ, Diniz EMA, 26 Prognóstico O descumprimento do tratamento resulta em sérias consequências metabólicas, com graves crises de hipoglicemia acompanhada de danos neurológicos4,31. O tratamento proposto atualmente apresenta significante melhora do quadro clínico, sendo refletido na melhora do prognóstico nos pacientes com glicogenose tipo Ia, com expectativa de vida ultrapassando a terceira década4. Devido à relativa raridade da doença não existem dados sobre a porcentagem de sobrevida de acordo com as diferentes faixas etárias. Conclusão O diagnóstico precoce dos erros inatos do metabolismo é de extrema importância para o inicio imediato do tratamento, sendo necessário conhecer a fisiopatologia para a adoção da dietoterapia ideal e para o indispensável aconselhamento familiar que compreenda principalmente, o prognóstico do paciente e a importância da adesão ao tratamento. Agradecimento Agradeço a Dr. Neuza Maria de Magalhães pelas opiniões criticas e incentivo na realização do trabalho e a Nutricionista do Hospital Infantil João Paulo II, Olindina Neme Barbosa Miranda pelas informações disponibilizadas. defects. Arch Dis Child 1990;65:59-67. 12. Lei KJ, Chen YT, Chen H, Wong LC, Liu J. Genetic Basis of Glycogen Storage Disease Type 1a: Prevalent Mutations at the Glucose-6-Phosphatase Locus. Am J Hum. Genet 1995;57:766-71. 13. Chevalier-Porst F, Bozon D, Bonardot A, Bruni N, Mithieux G, Mathieu M. Mutation analysis in 24 French patients with glycogen storage disease type 1a. F Med Genet 1996;33:358-60. 14. Lei KJ, Pan C, Shelly LL, Liu J, Chou JY. Identification of mutations in the gene for glucose-6-phosphatase, the enzyme deficient in glycogen storage disease type 1a. J Clin Invest 1994;93:1994-9. 15. Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria. Temas de nutrição em pediatria. Rio de Janeiro, 2004. 16. Basso, L. S.; Speridião, P. da G. L.; Fagundes Neto, U. Terapia Nutricional nas glicogeno- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 ses. [período na internet] 2006 [citado 2008 Out 07]. Disponível em: http://www.e-gastroped.com.br/sep06/glicogenoses.htm. 17. Berg JM, Tymoczko JL, Stryer L. Bioquímica. 4. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2004. 18. Fontes R. Metabolismo do Glicogênio. [período na internet] 2007 [citado 2008 Out 07]. Disponível em: http://users.med.up.pt/ ruifonte/PDFs/2006-2007/G08_MetGlicogenio.pdf. 19. Devlin TM. Manual de bioquímica com correlações clínicas. 4. ed. São Paulo, Edgard Blucher, 1998. 20. Fontes R. 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Em relação à dietoterapia para a doença de von Gierke é correto afirmar que: a) A frutose e a galactose são metabolizados à glicose-6-fosfato, portanto deve-se evitar o consumo de lactose, frutose e sacarose, que podem provocar hipofosfatemia b) A infusão noturna de glicose é o tratamento ideal, indicado a todos os paciente c) Não se deve atingir a Recommended Dietary Allowances (RDA) dos nutrientes. d) O amido deve ser dado com água fria, a mistura com água morna, quente ou limonada acelera sua hidrólise, não obtendo o efeito desejado. 28. Martins AM, Micheletti C, Vertemati T. Erros inatos de metabolismo grupo 3. [período na internet] 2007 [citado 2008 Nov 23]. Disponível em: www.unirio.br/dmp/Graduacao/ Medicina/Patologia/Erros%20Inatos%20 do%20Metabolismo.pdf. 29. Rake JP. Estudio Europeo sobre Glucogenosis Tipo I. Rijksunniversiteit [período na internet] 2006 Set [citado 2008 Out 07]. Disponível em: www.glucogenosis.org/docs/ ESGSDI.pdf. 30. Mies S. Transplante de fígado. Revista Associação Médica Brasileira, 1998;44:127-34. 31. Rennie J, Boylan G. Tratamento das convulsões neonatais. 2007. Arc Dis Child Fetal Neonatal 2007;92:148-50. Avaliação Questões artigo “Doença de von Gierke: estudo de revisão”. 1. Dentre os sinais e sintomas que podem levar a investigação da presença de glicogenoses em recém-nascido são, exceto: a) Convulsão b) Hepatomegalia c) Hiperglicemia d) Face de Boneca Preencher ficha na página 43 e enviar à SOPERJ Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p21-27, junho 2009 27 Relato de Caso Dificuldades no Diagnostico e Manejo da Acidemia Metilmalônica - Relato de Caso Sugestivo Difficulties in diagnosis and treatment of Methylmalonic Aciduria - Suggestive Case Report Introdução: A acidemia metilmalônica (AMM) é um erro inato do metabolismo (EIM) dos ácidos orgânicos. Existem duas formas clínicas : uma neonatal e outra tardia, a maioria com apresentação súbita no período neonatal. Os afetados apresentam sintomas graves, que muitas vezes os levam ao óbito, e são freqüentemente confundidos com septicemia, pois ambas as situações apresentam acidose e encefalopatia aguda. Objetivo: Relatar um recém-nascido com quadro sugestivo de AMM que evoluiu para o óbito por dificuldades e demora no diagnóstico e tratamento, visando a divulgação do conhecimento deste EIM. Materiais e Métodos: Estudo descritivo constando de relato de caso. Resultados: KSC, 22 dias de vida, foi trazido ao pronto-socorro com história de intolerância alimentar desde o nascimento. O RN estava desnutrido grau III e desidratado e foi internado na UTI neonatal. Considerado sepse e iniciado esquema empírico de antibioticoterapia. Após persistência do quadro, foi iniciado screening para EIM que mostrou aumento moderado de C3. Os ciclos de metronidazol, a suplementação de L-carnitina e megadoses de vitaminas foram feitos, como recomenda o protocolo. Com a dificuldade em se obter a fórmula láctea recomendada (XMTVI analog), foi tentada associação de TCM e leite 80056, sem sucesso. O início da referida fórmula láctea deu-se no 87º dia de internação, dois dias antes do óbito do neonato. Considerações Finais: Ressaltamos a necessidade do conhecimento da AMM, pois o prognóstico do paciente está relacionado ao tempo para instituir o tratamento adequado. As dificuldades em seguir o protocolo diagnóstico e terapêutico contribuem para um pior desfecho. Raphaella de Oliveira Cunha Trindade 1 Raquel Siqueira Leonel De Paula 2 Carlos Alberto Bhering 3 Isaias Soares De Paiva 4 1 Residencia Medica (Medico Residente em Pediatria) 2 Medico residente em pediatria (medico) 3 Doutor (coordenador uti neonatal) 4 Doutor (geneticista) Endereço para correspondencia Av Domingos Mariano 339 apto 504 Centro - Barra Mansa cep 27345-310 Palavras-chave: Acidemia Metilmalônica, Erro Inato do Metabolismo, Acidemias, Diagnostico, neonato 28 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 Introduction: Methylmalonic aciduria (MMA) is an inborn error of metabolism (IEM) of organic acids. We can find two clinical forms, the first, in neonatal period and the other with late onset. Most of cases show up in neonatal period.These patients are seriously injured and most of them have fatal outcome and the symptoms are frequently confused with sepsis, since both of situations present acidosis and acute encephalopathy. Objective: To relate a newborn with a suggested case of MMA who had a fatal outcome due to difficulties and delay in diagnosis and treatment, emphasizing the importance of knowing this disease. Materials and Methods: Descriptive study consisting of case report. Results: KSC, 22 days old, was brought to emergency with past of food intolerance since his birth.. The newborn was malnourished and dehydrated and was admitted to the Neonatal Intensive Care Unity. Sepsis was considered and empirical antibiotic therapy was introduced. A screening for IEM was started and has shown a moderate increase of C3. Metronidazole cycles, supplementation of L-carnitin and large doses of vitamins were done according to the recommended protocol for MMA´s treatment. Because of the difficulty to obtain the recommended milt formula (XMTV analog®), another association was tried and failed. The referred milt formula was introduced at the 87º day placed in hospital, two days before newborn’s death. Final Considerations: We emphasize the need of knowing MMA, because the prognosis is related to the early diagnosis and appropriate treatment. Difficulties to follow diagnosis and treatment protocols contribute to a worse outcome. Keywords: Methylmalonic Aciduria, Inborn Error Of Metabolism, Acidurias, Diagnosis, Newborn 1 - INTRODUÇÃO A acidemia metilmalônica (AMM) é um dos mais freqüentes erros inatos do metabolismo (EIM) dos ácidos orgânicos. O defeito bioquímico se localiza no metabolismo do propionato, na etapa de conversão de ácido metilmalônico a ácido succínico. Existem dois tipos de alterações básicas: o defeito na apoenzima (metilmalonil-mutase) e o defeito de coenzimas (metil B-12 e 5-desoxiadenosil-B12)1[i] . A maioria dos pacientes tem um defeito na conversão de metilmalonil CoA a succinil CoA pelo defeito de apoenzima (metilmalonil-mutase). Esse grupo é o mais comum e não responde a administração de vitamina B12. No outro grupo, com defeito de coenzimas, a vitamina B12 (1mg/dia) reduz significativamente a excreção do ácido metilmalônico2[ii] 3[iii] 4[iv] 5[v] 6[vi] 7[vii] . Clinicamente se podem diferenciar duas formas, uma neonatal e outra de início tardio1, sendo a maioria com apresentação súbita no período neonatal8[viii]. Em ambas as formas, se destacam a existência de cetoacidose, dificuldade de desenvolvimento e hipotonia muscular1. A AMM se apresenta com crises de descompensação que são precipitadas pela ingesta de proteínas e de vários aminoácidos, principalmente leucina. As manifestações neurológicas são hipotonia e convulsões mioclônicas que podem levar ao coma2 3 4 9[ix] 10[x]. Os afetados apresentam sintomas graves, que muitas vezes os levam ao óbito, e são freqüentemente confundidos com septicemia, visto que ambas situações se caracterizam por acidose e encefalopatia aguda8. Embora rara, a preva- lência da AMM é de 1 em 48000 na população geral11[xi]. É essencial que o pediatra se familiarize com a apresentação clínica dessas desordens, com uma investigação laboratorial mais adequada, com um melhor manejo na estabilização de pacientes criticamente doentes, e com a identificação daquelas crianças que poderiam se beneficiar de investigação e tratamento específicos12[xii]. O objetivo deste estudo é relatar um caso de um recém-nascido com quadro sugestivo de AMM que evoluiu para o óbito por dificuldades e demora no diagnóstico e tratamento, visando a divulgação do conhecimento deste EIM. 2 - MATERIAIS E MÉTODOS Estudo descritivo constando de relato Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 29 de caso. Os dados foram obtidos através de revisão de prontuário do paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da Santa Casa de Misericórdia de Barra Mansa - RJ. Foi realizada também entrevista com os médicos assistentes, além de pesquisa na Internet em base de dados da literatura médica (Bireme, PubMed e Scielo) utilizando os termos “methylmalonic aciduria”. 3 - RESULTADOS KSC, 22 dias de vida, procedente de Barra Mansa, filho de JSC, 20 anos, dona de casa, GII PI AI, tipo sanguíneo O positivo. Pré-natal completo (10 consultas). Mãe referiu perda de líquido a partir do sétimo mês de gestação e oligodramnia. Nasceu de parto cesáreo, no termo, na 38ª semana de gestação, sem evidências de asfixia. Pesou 2.990 gramas, mediu 46 centímetros, sendo classificado como adequado para a idade gestacional (AIG), tipo sanguíneo B positivo e de cor negra. Recebeu alta da maternidade com 48 horas de vida com aleitamento materno exclusivo. O neonato é filho de pais jovens, não consangüíneos, aparentemente saudáveis, sem história de óbitos neonatais precoces anteriormente. Nega casos semelhantes em grupo familiar próximo. Aos 22 dias de vida, o recém-nascido (RN) foi trazido ao pronto-socorro do hospital pela primeira vez. A mãe relatava história de intolerância alimentar desde o nascimento, com episódios de vômitos constantes e evacuações amareladas e amolecidas. Os vômitos eram pós-prandiais e a freqüência das evacuações aumentada. A mãe relatava também ter mudado o tipo de leite várias vezes sem sucesso. No 22º dia de vida, o RN mostrava desnutrição grave (grau III) e sinais de desidratação (irritado, olhos enco- 30 vados, fontanelas deprimidas, choro fraco e sem lágrimas, pulsos finos e elasticidade da pele diminuída), com descamação cutânea e hipotonia generalizadas, sem desconforto respiratório, anictérico, acianótico e afebril. Peso de 2.165g (percentil menor que 3). Exame físico segmentar sem anormalidades. O RN foi considerado desnutrido grau III e desidratado e internado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do referido hospital sendo instituída hidratação venosa (HV) (80ml/ Kg/ dia) com taxa de infusão de glicose (TIG) de 5,0 mg/ kcal/min e dieta oral por sucção (37 ml/ Kg/ dia) de LHO ou NAN I 3/3 hs. A HV foi suspensa no 5º dia de internação. Os exames complementares realizados durante a internação constam no apêndice 1. Tendo em vista persistência dos vômitos, foi iniciado o leite Pregestimil por gastróclise e Motilium com melhora relativa. Do 5º ao 34º dia de internação, evoluiu com estabilidade clínica e vômitos esporádicos e dificuldade de ganho de peso (Apêndice 2 gráfico do peso). No 35º dia, apresentou hipotonia, hiporreatividade, palidez cutâneo-mucosa e síndrome diarreica (fezes líquidas, 7 a 8 episódios por dia), necessitando de hidratação venosa. Foi considerada sepse e iniciado esquema empírico de antibioticoterapia (oxacilina e cefotaxime) mantidos por 10 dias. Evoluiu, nas duas semanas seguintes, apresentando hipoxemia corrigida com oxigenioterapia (no hood com FiO2 média de 0,3) que, por vezes, provocava episódios de hiperóxia. Havia também acidose metabólica necessitando de infusão de bicarbonato de sódio. Tentativas de diminuição ou retirada da infusão de bicarbonato de sódio produziram piora da acidose e, somente no 42º dia, foi possível sua retirada. O screening para EIM (“teste do pezinho alargado ou completo” - perfil tandem), colhido no 37º dia de vida, mostrou resultado negativo para aminoacidopatias, distúrbios do ciclo da uréia e galactosemia, além das doenças do teste de screening padrão. Foi observado aumento moderado de C3, uma acilcarnitina com excreção urinaria aumentada em ambas acidemias metilmalônica e propiônica. Esta alteração pode ser encontrada na AMM ou acidemia propiônica. Foi então sugerida realização de análise quantitativa dos ácidos orgânicos urinários. Aos 48 dias, seguindo orientação de especialista em EIM, foi iniciado ciclo de metronidazol por 5 dias, benzoato de sódio, biotina, tiamina, vitamina B12 e L-carnitina. Neste período, apresentou abalos de extremidades interpretados como crise convulsiva e iniciado dose de ataque de fenobarbital (10mg/ Kg) e manutenção de 5 mg/ Kg por 12 dias. Ocorreu, também, evento de desidratação grave e bradicardia com repercussão hemodinâmica necessitando de reanimação com ventilação com pressão positiva, masssagem cardíaca externa, adrenalina (3 doses), duas etapas rápidas de SF 0,9% (50 e 20 ml/ Kg), furosemida (3 doses), e reposição de bicarbonato de sódio. Persistia a acidose metabólica e necessidade de administração de bicarbonato de sódio. Aos 49 dias de internação, foi iniciado o leite 80056® por gastróclise e em bomba de infusão contínua (BIC) por 30 minutos. Após três dias de seu início, voltou a apresentar intolerância à dieta. Foi tentado aumentar a taxa calórica diariamente associando também o triglicerídeo de cadeia média (TCM). Aos 52 dias de internação, iniciou-se coleta de gasometria arterial diariamente com o objetivo de manter o bicarbonato acima de 18 mosm/l. Iniciou-se o segundo ciclo de metronidazol por 5 dias e programado repetição a cada 20 dias. Aos 70 dias de internação, por apresentar edema periférico e palpebral, iniciou- Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 se controle de proteínas plasmáticas, repondo albumina quando necessário. Evoluiu com alternância de desidratação e anemia e melhora relativa. No 84º dia foi iniciado o leite XMTVI analog na dose de 1g/ Kg/ dia com aumento progressivo de 0,5g/ Kg/ dia associado a NAN Soy e TCM. Evoluiu, entretanto, com persistência de acidose metabólica. No 89º dia, pesando 2.460g, apresentou episódio de hipotermia e bradicardia evoluindo para o óbito. 4 - REVISÃO DA LITERATURA Muitos erros inatos do metabolismo (EIM) surgem precocemente, e, freqüentemente no período neonatal. Os principais grupos de EIM com aguda e severa apresentação na infância incluem: defeitos do metabolismo de carboidratos (galactosemia clássica), defeitos no ciclo da uréia (deficiência da transcarbamilase ornitina), acidúria orgânica (acidúria propiônica), aminoacidopatias (hiperglicemia não cetótica), defeitos no metabolismo de ácidos graxos (deficiência da cadeia média acilCoA desidrogenase)13[i]. Acidúrias ou Acidemias Orgânicas são doenças hereditárias autossômicas recessivas causadas por deficiência severa da atividade de uma enzima, usualmente do metabolismo dos aminoácidos, resultando no acúmulo tecidual de um ou mais ácidos carboxílicos14[ii] 15[iii] (figura 1). Se comparada a outros grupos de EIM, as acidemias orgânicas são consideradas as doenças metabólicas mais freqüentes em crianças severamente enfermas16[iv] 17[v] e dos mais freqüentes grupos de enfermidades hereditárias do metabolismo18[vi] . A prevalência é provavelmente subestimada, uma vez que uma proporção substancial de casos permanece não diagnosticada ou diagnosticada erroneamente19[vii] . O quadro 1 demonstra a freqüência das acidemias Quadro 1 Quadro 2 orgânicas na população geral. A acidemia metilmalônica (AMM) é um dos mais freqüentes erros inatos do metabolismo (EIM) dos ácidos orgânicos. O defeito bioquímico se localiza no metabolismo do propionato, na etapa de conversão de ácido metilmalônico a ácido succínico. Existem dois tipos de alterações básicas: o defeito na apoenzima (metilmalonil-mutase) e o defeito de coenzimas (metil B-12 e 5-desoxiadenosil-B12)1. A maioria dos pacientes Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 31 Quadro 3 Quadro 4 tem um defeito na conversão de metilmalonil CoA a succinil CoA pelo defeito de apoenzima (metilmalonil-mutase). Esse grupo é o mais comum e não responde a administração de vitamina B12. No outro grupo, com defeito de coenzimas, a vitamina B12 (1mg/dia) reduz significativamente a excreção do ácido metilmalônico2 3 4 5 6 7. A forma de apresentação mais comum da doença é a de início súbito no período neonatal. Cetoacidose, dificuldade de desenvolvimento e hipotonia muscular estão presentes nas duas formas da doença, seja com início no período neonatal ou mais tardiamente1 As convulsões mioclônicas podem levar ao coma e as crises de descompensação são precipitadas pela ingesta proteica, principalmente de leucina 2 3 4 ii[ix] iii[x] .Os sintomas são geralmente graves e confundidos com septicemia devido a 32 ocorrência de acidose e encefalopatia aguda em ambas as situações.8 De acordo com a figura 2, que ilustra um protocolo laboratorial para o diagnóstico das acidúrias orgânicas, o recomendado seria a análise dos ácidos orgânicos que é feito por cromatografia gasosa ou, de preferência, por cromatografia gasosa associada à espectrometria de massa 20[viii] em amostras ocasionais de urina, devendo-se dar preferência à amostras colhidas durante crises de descompensação (Quadro 2). O diagnóstico correto de uma acidúria orgânica depende da identificação de vários metabólitos (ácidos orgânicos específicos). Muitas vezes, o diagnóstico é somente conseguido através da análise repetitiva de amostras coletadas em períodos distintos, especialmente durante descompensação metabólica, quando os níveis dos metabólitos anormais au- mentam sua concentração. Quando o diagnóstico não é conseguido por esse método, podem ser realizados testes de sobrecarga com substratos proximais ao bloqueio metabólico ou, excepcionalmente, pela determinação da atividade enzimática em células cultivadas (fibroblastos)21[ix] 22[x]. Em algumas ocasiões a criança afetada morre sem definição do diagnóstico da doença metabólica genética suspeita. Nestes casos, é essencial coletar amostras post mortem para esclarecimento diagnóstico e posterior aconselhamento genético e diagnóstico pré-natal. Os estudos mais importantes para essas situações são a determinação quantitativa de aminoácidos no plasma e líquido cefalorraquidiano, a determinação de ácidos orgânicos na urina e de acilcarnitinas em plasma, urina ou papel de filtro impregnado com sangue ou plasma8. O diagnóstico pré-natal em gravidezes de risco pode ser confirmado pela demonstração de diminuição significativa da atividade enzimática em vilosidades coriônicas e em fibroblastos23[xi]. O tratamento se baseia na restrição dos aminoácidos que se metabolizam a propionato e, em muitos casos, em preparados especiais que garantem o mínimo de proteína necessária para o crescimento1. As estratégias de tratamento estão resumidas no quadro 38. O tratamento deve ser fundamentado na prevenção do acúmulo de substâncias tóxicas com a restrição de ingesta protéica ou de outros substratos e inibição do catabolismo com a prevenção de infecções, jejum prolongado ou abuso alimentar; na eliminação dos metabólitos tóxicos por exsanguíneo transfusão, hemodiálise e, por medidas de suporte geral (correção do pH sérico, ventilação mecânica assistida e hidratação adequada)24[xii]. Para o caso das doenças metabólicas com apresentação aguda neonatal, o Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 tratamento deve iniciar o mais precocemente possível durante as crises metabólicas agudas, mesmo que a etiologia da doença seja ainda desconhecida. A terapia deve ser ampla e abranger vários grupos de doenças: acidúrias orgânicas, doenças do ciclo da uréia e defeitos no catabolismo de glicídeos e lipídeos. A retirada de toda a proteína da dieta durante as crises se faz necessária, uma vez que, a grande maioria das acidemias orgânicas é decorrente da falta de atividade enzimática em um passo do metabolismo dos aminoácidos. É também fundamental manter o anabolismo através da administração isocalórica ou hipercalórica (mais de 150 Kcal/ Kg/dia) além da infusão intravenosa de grande quantidade de líquidos para evitar a desidratação. Sonda nasogástrica com alto aporte de alimentação lipídica é bastante útil. Com a melhora do paciente, deve-se adicionar gradualmente proteína até atingir uma quantidade tolerável que é individual para cada afetado. Megadoses de vitaminas específicas também são indicadas para os pacientes durante os episódios agudos, visto que o defeito metabólico em várias acidemias orgânicas pode ocorrer ao nível da formação das coenzimas, derivadas das vitaminas e essenciais para as reações enzimáticas25[xiii]. Alguns estudos têm recomendado o emprego de metronidazol como parte da terapêutica desta entidade26[xiv] 27[xv]. O uso desta droga e de outros agentes antibacterianos intestinas na acidemia metilmalônica é relativamente recente e apresenta resultados animadores26 27 . A utilização desta droga se apóia na base teórica de tentar diminuir a produção de ácido metilmalônico pelas bactérias intestinais, síntese esta que alcança 30% do total 28[xvi]. Espera-se com o tratamento a longo prazo, o aumento do apetite e ganho de peso além da diminuição da eliminação urinária de ácido metilmalônico26 27. A terapia dietética de longo prazo é essencial para reduzir as concentrações dos metabólitos tóxicos e promover o desenvolvimento normal8. Suas metas visam estabilizar o balanço metabólico através da restrição dietética dos aminoácidos, isoleucina, metionina, treonina e valina, para manter a homeostase bioquímica. O aporte protéico inadequado pode resultar em déficit de crescimento em crianças, perda de peso, baixa concentração de albumina sérica, osteopenia em adultos e perda de cabelos em ambos. O aporte energético inadequado resulta em um déficit de crescimento e baixo peso. As fontes de energia recomendadas são: fórmula láctea de primeiro semestre, fórmula para acidemia para o primeiro ano (SHS XMTVI analog, Milupa OS1), polímeros de glicose, açúcar simples, saborizantes, triglicerídeos de cadeia média (TCM) e óleos vegetais. O quadro 4 apresenta os produtos dietéticos comercialmente disponíveis para o tratamento específico de algumas dessas doenças8. A determinação seriada da concentração urinária dos ácidos orgânicos é muito importante para verificar a adequação do tratamento dietético ou vitamínico. Através dos níveis plasmáticos de albumina e de aminoácidos, bem como a avaliação do desenvolvimento físico (peso e altura) pode-se monitorar o tratamento e o estado nutricional do afetado. A suplementação de L-carnitina (50 - 300mg/Kg/dia) tem sido bastante útil, pois os metabólitos tóxicos (ácidos) que se acumulam nas acidemias orgânicas se unem à carnitina para serem excretados, provocando déficit dessa substância que é essencial para o transporte de ácidos graxos para o interior da mitocôndria. A diminuição dos níveis teciduais de carnitina resulta, portanto, por um lado, na menor excreção desses metabólitos e, por outro, em déficit de produção de energia principalmente no músculo8. Os recentes avanços no diagnóstico e tratamento dos EIM têm significativamente melhorado o prognóstico de muitas dessas doenças. 5 - DISCUSSÃO Relatamos um lactente com quadro sugestivo de AMM, um EIM complexo, grave e isoladamente raro. É sabido que o diagnóstico das acidúrias orgânicas, na prática, não é realizado oportunamente e isto sempre leva a um pior prognóstico. Neste caso, após o resultado do teste do pezinho alargado, excluiram-se as patologias relacionadas com o ciclo da uréia, aminoacidopatias e a galactosemia, tendo sido observado um aumento moderado de C3, que pode ser visto em ambas as acidúrias propiônica ou metilmalônica. De acordo com o protocolo diagnóstico, a análise quantitativa dos ácidos orgânicos urinários deveria ter sido realizada20. Porém, por dificuldades burocráticas, institucionais e governamentais, custo elevado do exame e indisponibilidade de laboratório, não foi possível realizá-la. Deste modo, o tratamento foi iniciado para as acidúrias orgânicas, além da correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos com hidratação venosa, quando necessário, e reposição de bicarbonato de acordo com as gasometrias. Mesmo assim, o paciente evoluiu com piora progressiva, necessitando de reposição contínua de bicarbonato de sódio. Evoluiu também com episódios de edema periférico e periorbitário, sendo necessária a reposição de albumina. Os ciclos de metronidazol, a suplementação de L-carnitina e megadoses de vitaminas foram feitos, de acordo com o protocolo recomendado para tratamento de AMM 26 27. Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 33 Apesar de todos os esforços, com a fórmula láctea iniciada tardiamente, persistiu a acidose metabólica e o paciente nem chegou a recuperar o peso de nascimento, evoluindo a óbito. Ressaltamos as dificuldades do manuseio do paciente com um EIM complexo como a AMM. A maior dificuldade do caso foi obter o aporte nutricional adequado para o paciente. A fórmula láctea recomendada, XMTVI analog8, foi iniciada tardiamente. Diante da demora, foi tentada, sem sucesso, a associação do leite 80056 e TCM. Acreditamos que essas dificuldades devem ter contribuído para o desfecho. Apesar de ter sido seguido o protocolo de tratamento8, a impossibilidade de cumprir o protocolo de acompanhamento8 associada à não disponibilidade do leite recomendado foram os fatores mais influentes. 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer a AMM é importante, pois o prognóstico do paciente está relacionado ao tempo gasto para se chegar ao diagnóstico e, assim, instituir o tratamento adequado. As dificuldades de se seguir o protocolo diagnóstico e terapêutico contribuem para um pior desfecho. É essencial que o pediatra se familiarize com esta desordem, para que este diagnóstico seja aventado diante de situações clínicas semelhantes. 1. [i] SANJURIO CRESPO P, LABAYRU ECHEVERRIA M, INGUNZA AGUIRRE N, SASIETA ALTUNA M: Uso de metronidazol em cuatro casos de acidemia metil-malónica. An. Esp. Pediatr, 38(5), 9449-451, 1993. 2. [ii] MELENGELLO J: Pediatria. 5 Ed.: Editora Panamericana. Buenos Aires, 1999. 3. [iii] VOLPE J. Neurology of the newborn: 4 ed. Philadelphia: WB Saunders; 2000. 4. [iv] MENKES J. Child Neurology: 2 ed. Philadelphia: Lea & Febiger; 1980. 5. [v] MORENO-FUENMAYOR H, CHACIN C, LAGUNA E, GONZÁLEZ B: Acidosis metabólica com hiperglicinemia e hiperglicinuria y repuesta clínica a la vitamina B12. Arch Venez Puer Ped 45:130-7, 1982. 6. [vi] CHENEL C, WOOD C, GOURRIER E, ZITTOUN J, CAJADEWALL L, OGIER H: Neonatal hemolytic-uremi syndrome, methylmalonic acidúria and homocystinuria caused by intracellular vitamin B12 deficiency. Value of etiological diagnosis. Arch Fr Pediatr 50: 749-54, 1993. 7. [vii] GRUSZCZYNSKA B, MIELNICZUK Z, KATYNSKA B, PRONCEKA E: A case of vitamin B12-independent methylmalonic acidúria. Mater Med Pol 23:219-22, 1991. 8. [viii] CARMEN RV, WAJNER M: Acidúrias orgânicas: diagnóstico e tratamento. Artigo de Revisão. Revista AMRIGS, Porto Alegre, 45(1,2): 77-82, 2001. 9. [ix] CAMPISTOL J: Errores congénitos del metabolismo intermediario con repercusión neurológica. Aminoacidopatias. Acidúrias Orgânicas. In Aparício JM, Artiga J, Campistol J, Campos J, Casas C, Castro-Gago M, et al, eds. Neurologia pediátrica. Barcelona: Égon; p. 95-113, 2000.. 10. [x] SWAIMAN KF. Neurologia pediátrica. 2ed. St. Louis: Mosby/Doyma; 1996. 11. [xi] Massachusetts Department of Public Health: Newborn screening for metabolic disorders. N Engl J Med 288: 1299-1300, 1973. 12. [xii] BURTON BK: Inborn errors of metabo- lism in infancy: a guide to diagnosis. Pediatrics 102: e69, 1998. 13. [xiii] DESNICK RJ: Treatment of Genetic Disease. New York, Churchill Livingstone Inc., 1991. 14. [xiv] THOMPSON, G N; CHALMERS, R A; WALTER, J H; BRESSON, J L; LYONNET, S L; REED, P J; SAUDUBRAY, J M; LEONARD, J V, y HALLIDAY, T: The use of metronidazole in management of methylmalonic and propionic acidemias. Eur J Pediatr; 149: 792-796, 1990. 15. [xv] KOLETZKO, B; BACHMANN, C, y WENDEL, U: Antibiotic therapy for improvement of metabolic control in methylmalonic acidúria. J Pediatr; 117: 99-101, 1990. 16. [xvi] BAIN, M; JONES, M; BORRIELO, S P; REED, P J; TRACEY, B M; CHALMERS, R A, y STACEY, T E: Contribution of gut bacterial metabolism to human metabolic disease. Lancet 1:1078-1079, 1998. 34 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p28-34, junho 2009 Ponto de vista Glicogenoses: uma visão geral para o pediatra As glicogenoses são doenças genéticas de herança autossômica recessiva, secundárias a ausência ou deficiência enzimática envolvidas na síntese ou degradação do glicogênio1. Isto resulta em alteração na concentração ou estrutura do glicogênio de diversos tecidos do organismo2. São classificadas em doze tipos diferentes, nomeadas de acordo com o defeito enzimático específico e órgãos afetados. Subtipos são descritos, devido a diferentes características clínicas, bioquímicas e genéticas3. A glicogenose tipo I representa cerca de 25% do total das glicogenoses e é caracterizada pela deficiência da enzima glicose-6-fosfatase, responsável pela reação final do processo de glicogenólise e gliconeogênese. Portanto, os indivíduos com esta doença são incapazes de converter a glicose-6-fosfato em glicose livre para a circulação sangüínea4. Isto resulta no acumulo excessivo de glicogênio no fígado, rins e mucosa intestinal. O quadro clÍnico entre as glicogenoses às vezes é de difícil diferenciação, mas o tipo 1 é mais grave e de inicio mais precoce. A hipoglicemia, convulsão, hepatomegalia, cetose e acidemia láctica podem estar presentes no período neonatal ou apos alguns meses de vida. O fígado tem consistência habitual, superfície lisa e pode atingir a fossa ilíaca direita e esquerda.5 O pediatra deve ficar atento porque nos momentos de descompensação a acidose metabólica e a hiperlacticidemia podem levar a taquipneia sendo confundida com quadros respiratórios. Neste caso a gasometria arterial ou venosa, glicemia, ausculta pulmonar e hepatomegalia auxiliam no diagnostico. A hipoglicemia é associada ao jejum noturno ou prolongado e a intercorrencias infecciosas.Ela deve ser controlada porque episódios severos frequentes, podem causar dano cerebral e essas crianças tem a inteligência normal6. Por isso, os cuidadores devem ser orientados que a criança pode fazer hipoglicemia quando deixa de se alimentar ou apresenta vômitos após a refeição, pratica atividade física não usual ou quando ficar doente. Nestes casos, devem acessar rapidamente formulas líquidas de polímeros de glicose ou glicose (xarope Karo® ou dextrose) para normalizar a glicemia7. Muitos episódios de hipoglicemia são assintomáticos e podem diminuir com o aumento da idade8 Outros achados são: fácies de boneca, epistaxes, diarréia intermitente, retardo estatural que se instala logo e pode ser o quadro clinico dominante e adiposidade que pode ser exagerada e a musculatura diminuída. Mais tardiamente, pode-se encontrar: xantomas, alteração da retina, pancreatite, colelitiase, hipertensão pulmonar devido a produção anômala de aminas vaso ativas como serotonina e doença renal crônica com nefromegalia e hipercalciuria. O adenoma hepático geralmente ocorre durante ou após a puberdade, mas pode se desenvolver em qualquer idade e se transformar em hepatocarcinoma após muitos anos.9-10 Para fazer o diagnostico, associa-se o quadro clinico com testes de tolerância oral a glicose, glicemia e lactato em jejum e após dieta rica em carboidrato. O lactato é muito alto em jejum e diminui após a administração de glicose ou dieta. A biopsia hepática com dosagem da atividade enzimática e a analise molecular fazem o diagnostico definitivo.11,12 Esses pacientes também apresentam Célia Regina Moutinho de Miranda Chaves 1 1 Pediatra e Doutora em Clínica Médica/ Nutrologia (UFRJ); Chefe do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p35-37, junho 2009 35 hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, hiperuricemia, transaminases discretamente elevadas e risco aumentado de osteoporose.13 O artigo de revisão de Nunes F HS, descreve os princípios dietoterapicos da glicogenose tipo I ou Doença de Von Gierke com muita propriedade,mas alguns ponderações devem ser feitas.Porque o tratamento dietético dessa afecção altera significativamente o curso clinico e o prognostico.Por isso, é indispensável que o pediatra geral se familiarize com o diagnostico e tratamento nutricional dessa entidade clinica.O manejo dietético permite o melhor controle da hipoglicemia, metabolismo ósseo,crescimento e hiperlipidemia. Essas crianças dependem de fonte exógena de glicose por isso na época do diagnostico ou quando submetidos a um jejum prolongado como no caso de procedimentos cirúrgicos devem receber infusão endovenosa de glicose a 10%.. A base da terapia nutricional é alimentação sem açucares de rápida absorção e com alimentos ricos em amido. A utilização da infusão intragastrica continua durante a noite geralmente é necessária na fase inicial ate a adaptação á dieta podendo ser realizada por sonda ou gastrostomia. Utiliza-se glicose ou polímeros de glicose. A taxa de infusão do carboidrato é empírica com base na necessidade energética e glicemia. Existem algumas dificuldades com este procedimento,os familiares dessas crianças devem treinar a passagem da sonda naso ou orogastrica e o controle do gotejamento com o uso de bomba infusora. Alem disso, não é bem aceita por muitos pacientes, requer monitoração e possui o mesmo efeito do amido cru. Entretanto não há consenso sobre o seu tempo de utilização, um grupo sugere manter o tratamento durante todo o período de crescimento linear, isto é, 36 até o fim da adolescência14. Outros defendem que pode ser interrompida a partir do momento em que o paciente consegue obter controle metabólico e uma taxa de crescimento adequado através do tratamento com amido de milho cru3. Outros só indicam na fase inicial até a adaptação a dieta via oral, mas não recomendam para o tratamento domiciliar pelas dificuldades e risco de manuseio. Desta forma a utilização desse procedimento deve ser avaliado caso a caso de acordo com a evolução do paciente. A dieta deve ser fracionada em 5 a 6 refeições durante o dia, intercalando com o amido cru.O amido cozido comporta-se como um carboidrato de rápida absorção, por isso faz um pico na glicemia seguido por uma rápida queda dentro de 3 a 5 horas. Mas o amido cru se comporta como um carboidrato de absorção lenta, que libera glicose lentamente por hidrolise da amilase pancreática e fornece bastante glicose exógena por muitas horas Devido a atividade da amilase pancreática ser substrato induzida, o uso de amido de milho cru pode ser recomendado a partir do oitavo mês de vida, 14. Alem disso é possível a reposição exógena desta enzima antes da ingestão do amido. Alguns autores mantém o aleitamento materno a cada 3 horas junto com a suplementação de glicose diluída em água15. A introdução de outros alimentos pode ter início com idade entre 4 e 6 meses, dando prioridade a alimentos ricos em amido16. O macarrão parcialmente cozido, comporta-se como amido cru.A incorporação de alimentos de baixo índice glicêmico(< 55) torna a dieta mais aceitável e sociável.O fornecimento de uma a lista do indice glicêmico e de substituição para alimentos ricos em amido é útil.Por exemplo, uma colher das de sopa de amido de milho contem 8,3g de carboidrato então 2 colheres das de sopa podem ser trocadas por 1 de cereal ou meia xícara de flocos de milho sem açucar,, ou cevada, meia xícara de vegetais ricos em amido ou batata frita ou cozida17. A dieta deve seguir a recomendação energética da Dietary reference intakes for energy\ (2002)18 para indivíduos saudaveis de acordo com o sexo e faixa etária, sendo que 2\3 fornecida nas refeições e 1\3 no amido cru. O valor energético total deve ser constituído de: 60 a 70% de carboidratos complexos e com baixo índice glicemico, 25 a 30% de lipídeos preferencialmente em óleos vegetais com menos de 200mg de colesterol e, 10 a 15% de proteína19,20. A dieta com alto teor de proteína não é aconselhada porque é limitada a habilidade em converter aminoácidos em glicose livre e também pelo dano renal17.Alimentos e medicações com galactose e frutose (leite, frutas, e açúcar) devem ser evitados ou limitados e utilizado formulas infantis sem lactose. A Suplementação de Vitaminas e sais minerais principalmente de cálcio podem ser necessários devido a limitada ingestão de leite e frutas. Acompanhamento destes pacientes deve-se monitorizar periodicamente o crescimento, a ingestão energética e os parâmetros bioquímicos.A cada 3 meses : prova de função hepática, glicemia (deve ser mantida acima de 76mg/dl), triglicérides( abaixo de 290mg/dl), colesterol, microalbuminuria, acido úrico, uréia e creatinina. A cada 6 meses ultrasonografia abdominal e anualmente alfa feto proteína.21 A hiperuricemia e a dislipidemia não resolvem somente com a dieta por isso, para o tratamento da hiperuricemia recomenda-se Aluperinol 10mg por kg por dia em 3 doses; para Hiperlipidemia:Clofibrato, sinvastatina, Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p35-37, junho 2009 niacina e Óleo de peixe22. O transplante renal no caso de evolução para a insuficiencia renal crônica. O transplante hepático é recomenda- do para crianças com importante déficit estatural ou que não responderam ao tratamento dietético bem conduzido, necessitando de internações freqüentes, com grande prejuízo de sua qualidade de vida6 ou quando existe adenoma hepático devido a possibilidade da transformação maligno. 1. Castillo CD, Lagrutta FS. Manejo nutricional de la glucogenosis. Rev Chil Pediatr 1990; 61 (3):149-153. 2. Kannourakis G. Glycogen Storage Disease. Semin Hematol 2002; 39:103-106. 3. Moses SW. 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Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p35-37, junho 2009 37 Teses e Dissertações Nível Plasmático de Lactato nas primeiras 24 horas de vida e Morbimortalidade Neonatal Aurora: Herminia Guimarães Couto Fernandez Orientador: Adauto Dutra Moraes Barbosa Resumo Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Medicina: Área de Concentração: Pediatria Introdução: O desenvolvimento dos conhecimentos em medicina perinatal e a sofisticação das terapias de suporte nas unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN) têm permitido um melhor acompanhamento do binômio mãe-filho, intervenção precoce, com redução nos índices de mortalidade neonatal e aumento dos limites de viabilidade fetal. O lactato sérico tem sido usado como indicador de hipóxia e hipoperfusão tecidual, e sua dosagem é uma ferramenta que pode ser usada em pacientes criticamente doentes para detecção precoce da injúria tecidual e avaliação da gravidade, morbidade e mortalidade da doença. Objetivo: Avaliar o nível plasmático de lactato (NPL), nas primeiras 24 horas de vida, como preditor de morbimortalidade neonatal. Métodos: Estudo retrospectivo realizado numa unidade de terapia intensiva neonatal da rede privada em Niterói,RJ, onde foram revisados, no arquivo médico, os prontuários de todos recém nascidos internados no período de junho de 2005 a fevereiro de 2007. O nível plasmático de lactato, realizado à admissão dos pacientes neste setor, foi obtido nas primeiras 24 horas de vida, através de sangue coletado por punção arterial. Os pacientes foram divididos em dois grupos, baseados no melhor valor obtido através da curva ROC para predição de óbito neonatal, levando-se em consideração o nível plasmático do lactato à admissão. Resultados: O NPL à admissão que determinou melhores índices de sensibilidade - 72,7% (IC95% 39,1-93,7) - e especificidade - 64,3% (IC95% 56,3-71,8) - para óbito neonatal nos 3 primeiros dias de vida, foi > 4,2 mmol/L. A área sob a curva ROC foi de 0,660 (IC 0,5830,732). Na população estudada, onde a mortalidade foi de 6,5%, isso significa um valor preditivo positivo de 12,40% e um valor preditivo negativo de 97,13%. Foi observada associação entre um NPL superior a 4,2 mmol/L e óbito nos primeiros 3 dias de vida (χ2 = 4,518 p=0,0335 OR = 4,81 IC95% 1,23-18,86). As médias de peso de nascimento foram diferentes entre os grupos (t = 3,215 p =0,002). O grupo com NPL superior a 4,2 mmol/L apresentou aumento na freqüência de convulsão (χ2 = 7,661 p=0,0056 OR = 8,34 IC95% 1,74-39,99) e de recémnascido pequeno para a idade gestacional (χ2 = 6,478 p=0,0109). Conclusões: O nível plasmático de lactato, obtido no momento da admissão do recém nascido na UTI neonatal, dentro das primeiras 24 horas de vida, mostrou-se como um bom teste diagnóstico na predição de óbito nos primeiros 3 dias de vida, e seu valor plasmático maior ou igual a 4,2 mmol/L está associado a uma maior freqüência na ocorrência de convulsão neonatal e nascimento de recém-nascido pequeno para a idade gestacional. 38 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p38, junho 2009 Teses e Dissertações Avaliação dos Níveis Séricos da Proteína C-Reativa na Infecção Neonatal Autor: Suyen Heizer Villela Orientador: Adauto Dutra Moraes Barbosa Co-orientador: Alan Araújo Vieira Resumo O diagnóstico precoce de infecção ainda é um desafio para os intensivistas neonatais porque as manifestações clínicas nos recém-nascidos (RNs) são inespecíficas bem como os exames laboratoriais disponíveis. Nos últimos anos a proteína C-reativa (PCR) vem sendo estudada como marcador de infecção nos Rns. Objetivo - Avaliar a acurácia da PCR como teste diagnóstico de infecção neonatal. Metodologia – Estudo retrospectivo, onde foram revisados 190 prontuários de Rns internados no período de janeiro a dezembro de 2004, em uma UTI Neonatal da Rede Privada, do Município de Niterói. Estes Rns foram alocados em 4 grupos: Grupo 1 – RNs sem infecção; Grupo2 - RNs com infecção provada; Grupo 3 - com infecção presumida; Grupo 4 - Rns prematuros (<37s) com sofrimento respiratório, sem história e ou exames laboratoriais sugestivos de infecção, mas que fizeram uso de antibioticoterapia. Foram correlacionados os níveis séricos da PCR nos diferentes grupos, traçado a curva ROC (Receiver Operator Characterístic), determinado o melhor ponto de corte para o uso desta dosagem como marcador de infecção e determinado a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo. Observado os resultados dos níveis séricos da PCR no 5º e 10º dias de tratamento antimicrobiano. Resultados - A análise dos dados identificou uma especificidade de 100% e uma sensibilidade de 71,42% para diagnóstico de infecção em Rns, quando a PCR foi coletada em até 24h após o início da sintomatologia infecciosa. Foi observado uma correlação entre os valores da PCR e a evolução clínica. Conclusão - A PCR colhida com 24h de sintomatologia apresentou excelente especificidade; O melhor ponto de corte determinado pela curva ROC considerando inicialmente somente os casos de infecção provada e, posteriormente, todos os casos de infecção (provada e presumida) foi de 10mg/l; Observando a evolução do Rn com a queda dos valores da PCR, podemos abreviar o tempo de tratamento antimicrobiano com segurança; A utilização da PCR colhida com 24h de sintomatologia associada a exames laboratoriais e, principalmente a avaliação clínica do paciente, pode auxiliar no diagnóstico de infecção neonatal. Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p39, junho 2009 39 Normas para publicação A Revista de Pediatria SOPERJ, publicação científica da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (SOPERJ), divulga material destinado a elevar o padrão da prática pediátrica através de artigos de revisão e relatos de casos, submetidos a revisão editorial. Artigos de revisão são avaliações críticas e ordenadas da literatura em relação a um certo tema de importância clínica, com ênfase em fatores como causas e prevenção de doenças, seu diagnóstico, tratamento e prognóstico. Metanálises se incluem nesta categoria. Artigos de revisão devem limitar-se a 6000 palavras, excluindo referências e tabelas. As referências bibliográficas deverão ser atuais e em número mínimo de 30. Os relatos de casos devem limitar-se a 1000 palavras e a 20 referências. A Revista de Pediatria SOPERJ dá preferência ao envio de material submetido à publicação pelo site da SOPERJ (www. soperj.org.br) Instruções para envio de material por e-mail 1. Enviar para: [email protected] 2. Assunto: Escrever o título abreviado do artigo 3. Corpo da mensagem: Deve conter todas as informações da página de rosto, conforme instruções abaixo, seguidas de uma declaração em que os autores asseguram que (a) o artigo é original; (b) nunca foi publicado e, caso venha a ser aceito pela Revista de Pediatria SOPERJ, não será publicado em outra revista; (c) não foi enviado a outra revista e não o será enquanto estiver sendo considerada sua publicação pela Revista de Pediatria SOPERJ; (d) todos os 40 autores participaram da concepção do trabalho, da análise e interpretação dos dados, de sua redação ou revisão crítica e da leitura e aprovação da versão final; (e) não são omitidos quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e companhias ou pessoas que possam ter interesse no material abordado no artigo; (f) todas as pessoas que fizeram contribuições substanciais para o artigo, mas não preencheram os critérios de autoria, são citados nos agradecimentos, para o que forneceram autorização por escrito; e reconhecem que a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro passa a ter os direitos autorais, caso o artigo venha a ser publicado. (Obs.: Caso o artigo seja aceito para publicação, será solicitado o envio desta declaração com a assinatura de todos os autores.) 4. Arquivos anexados: Anexar dois arquivos separados, contendo respectivamente: (a) resumo, palavraschave, abstract, keywords, texto e referências bibliográficas, (b) tabelas e gráficos. Estes arquivos devem permitir a leitura pelos programas do Microsoft Office® (Word, Excel e Access). Instruções para envio de material por correio comum 1. Enviar para: Secretaria da SOPERJ Rua da Assembléia nº 10 - grupo 1812 – CEP: 20011- 901 Centro – Rio de Janeiro 2. Incluir uma carta de submissão, assinada por todos os autores, assegurando: (a) que o artigo é original; (b) que nunca foi publicado e, caso venha a ser aceito pela Revista de Pediatria SOPERJ, não será publicado em outra revista; (c) que não foi enviado a outra revista e não o será enquanto estiver sendo considerada sua publicação pela Revista de Pediatria SOPERJ; (d) que todos os autores participaram da concepção do trabalho, da análise e interpretação dos dados, de sua redação ou revisão crítica e da leitura e aprovação da versão final; (e) que não são omitidos quaisquer ligações ou acordos de financiamento entre os autores e companhias ou pessoas que possam ter interesse no material abordado no artigo; (f) todas as pessoas que fizeram contribuições substanciais para o artigo, mas não preencheram os critérios de autoria, são citados nos agradecimentos, para o que forneceram autorização por escrito; e reconhecendo que a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro passa a ter os direitos autorais, caso o artigo venha a ser publicado. 3. A Revista de Pediatria SOPERJ não se responsabiliza pelo eventual extravio de originais; recomendase que os autores guardem cópia de seus trabalhos enquanto sua publicação estiver sendo considerada pela Revista de Pediatria SOPERJ. 4. O original deve ser enviado em três cópias impressas em folha de papel branco, tamanho A4 (210x297mm); com margens de 25 mm em ambos os lados, espaço duplo em todas as seções; fonte Times New Roman, tamanho 11; páginas numeradas no canto superior direito, a começar pela página de rosto. Não usar Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p40, junho 2009 recursos de formatação, tais como cabeçalhos e rodapés. Utilizar preferencialmente o processador de textos Microsoft Word®; caso seja usado um processador diferente, empregar o formato ASCII. 5. Enviar uma cópia do original em disquete (não usar discos “zip”), que contenha apenas arquivos relacionados ao artigo. Diretrizes para a preparação do original Orientações gerais O original - incluindo tabelas, ilustrações e referências bibliográficas - deve estar em conformidade com os “Requisitos Uniformes para Originais Submetidos a Revistas Biomédicas”, publicado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (versão original da atualização de outubro de 2001 disponível em http://www.icmje.org/). Cada seção deve ser iniciada em nova página (ou quebra de página, em caso de envio do material por correio eletrônico), na seguinte ordem: página de rosto, resumo em português, resumo em inglês, texto, agradecimentos, referências bibliográficas, tabelas (cada tabela completa, com título e notas de rodapé, em página separada), gráficos (cada gráfico completo, com título e notas de rodapé em página separada) e legendas das figuras. A seguir, as principais orientações sobre cada seção: Página de rosto: Deve conter: (a) título do artigo, conciso e informativo, evitando termos supérfluos e abreviaturas; evitar também a indicação do local e da cidade onde o estudo foi realizado, exceto quando isso for essencial para a compreensão das conclusões; (b) versão exata do título para o idioma inglês; (c) título abreviado (para constar na capa e topo das páginas), com máximo de 50 caracteres, contando os espaços; (d) primeiro e último nome de cada um dos autores e iniciais dos nomes intermediários; (e) titulação mais importante de cada autor; (f) indicação de quais autores possuem Currículo Lattes; (g) endereço eletrônico de cada autor; (h) a contribuição específica de cada autor para o estudo; (i) instituição ou serviço ao qual o trabalho está vinculado; (j) nome, endereço, telefone, fax e ende-reço eletrônico do autor responsável pela correspondência; (k) nome, endereço, telefone, fax e endereço eletrônico do autor responsável pelos contatos pré-publicação; (l) fonte financiadora ou fornecedora de equipamento e materiais, quando for o caso; (m)contagem total das palavras do texto, sem referências bibliográficas. Resumo em português O resumo deve ter no máximo 250 palavras ou 1.400 caracteres, evitando o uso de abreviaturas. O resumo deve ser apresentado também em inglês. Todas as informações que aparecerem no resumo devem constar também no texto do artigo. O resumo deve ser estruturado, conforme descrito a seguir: Abaixo do resumo, fornecer três a seis descritores, que são palavras-chave ou expressões-chave que auxiliarão a inclusão adequada do resumo nos bancos de dados bibliográficos. Empregar descritores integrantes da lista de “Descritores em Ciências da Saúde”, elaborada pela BIREME e disponível nas bibliotecas médicas. Somente quando não houver descritores adequados na referida lista, usar termos novos. Resumo em inglês (abstract): O “abstract” deve ser uma versão exata do resumo para o idioma inglês, com o mesmo número máximo de palavras e com os subtítulos correspondentes. Os descritores devem fazer parte da lista de “Medical Subject Headings”, publicado pela U.S. National Library of Medicine, do National Institutes of Health. Corpo do artigo O texto pode variar de acordo com o tema. Sugere-se: Introdução: breve, em que os autores explicam qual a importância da revisão para a prática pediátrica, à luz da literatura médica. Objetivo: Informar por que a revisão da literatura foi feita, indicando se ela enfatiza algum fator em especial, como causa, prevenção, diagnóstico, tratamento ou prognóstico. Fontes dos dados: Descrever as fontes da pesquisa, definindo as bases de dados e os anos pesquisados. Informar sucintamente os critérios de seleção de artigos e os métodos de extração e avaliação da qualidade das informações. Síntese dos dados ou relato do caso(s): Informar os principais resultados da pesquisa bibliográfica; relatar o caso Conclusões: Correlacionar as idéias principais do artigo com as possíveis aplicações clínicas. OBS: Solicita-se enviar 3 perguntas sobre o tema do artigo de revisão de multipla escolha, com 5 opções Os resumos de teses e dissertações serão aceitos após análise do corpo editorial. Os relatos de casos devem obedecer ao Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p41, junho 2009 41 seguinte formato: (a) Introdução, relato do caso(s), discussão (b) Número máximo de palavras: 4000 (c) Referências: Máximo de 5. Referências 1. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. JAMA 1993;269:2282-2286. 2. Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas. Requisitos uniformes para originais submetidos a revistas biomédicas. J. Pediatr (Rio J.) 1997;73:213-24. 3. Haynes RB, Mulrow CD, Huth EJ, Altman DJ, Gardner MJ. More informative abstracts revisited. Ann Intern Med 1990;113:69-76. 4. BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciên- 42 cias da Saúde. DeCS - Descritores em ciências da saúde: lista alfabética 2.ed. rev. amp. São Paulo: BIREME, 1992. 111p. 5. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução no 196 de 10/10/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos. DOU 1996 Out 16; no 201, seção 1:21082-21085. Lista de Checagem Recomenda-se que os autores utilizem a lista de checagem abaixo para certificarem-se de que todo o material requerido está sendo enviado. Não é necessário anexar a lista. • Carta de submissão assinada por todos os autores (ou declaração no corpo da mensagem do e-mail) • Original em 3 cópias impressas (dispensado, em caso de envio por e-mail) • Cópia do original em disquete (dispensada, em caso de envio por e-mail) • Página de rosto com todas as informações solicitadas (no corpo da mensagem, em caso de e-mail) • Resumo em português e inglês, com descritores (integrante do primeiro arquivo anexado, em caso de e-mail) • Texto contendo o corpo do artigo (integrante do primeiro arquivo anexado, em caso de e-mail) • Referências bibliográficas no estilo Index Medicus, numeradas por ordem de aparecimento • Tabelas numeradas por ordem de aparecimento (integrante do segundo arquivo anexado, em caso de e-mail) • Gráficos numerados por ordem de aparecimento (integrante do segundo arquivo anexado, em caso de e-mail) • Figuras (original e 2 cópias) identificadas • Legendas das figuras Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p42, junho 2009 Ficha de Avaliação – Respostas I) Dislipidemias na Infância e na Adolescência: um caso de saúde pública? 1. a) M b) M c) M d) M e) M 2. a) M b) M c) M d) M e) M 3. a) M b) M c) M d) M e) M II) Doença de von Gierke: estudo de revisão 1. a) M b) M c) M d) M e) M 2. a) M b) M c) M d) M e) M 3. a) M b) M c) M d) M e) M 4. a) M b) M c) M d) M e) M Sócios: respostas no site www.soperj.org.br Não sócios: enviar à SOPERJ (R da Assembléia, 10, g 1812 - Centro - Rio de Janeiro, 20011-901 - RJ, junto com comprovação de depósito bancário de R$ 20,00 - Bradesco - ag. 2756-1, conta 1274-2. Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p43, junho 2009 43 44 Revista de Pediatria SOPERJ - v.10, no 1, p44, junho 2009 O primeiro ano de vida dura para Programação metabólica Desenvolvimento cerebral Amadurecimento imunológico 75% do desenvolvimento do cérebro ocorre ao longo dos dois primeiros anos de vida.1 Carências nutricionais nesse período podem ter conseqüências irreversíveis, uma vez que os circuitos cerebrais estão em formação.2,3 Concentrações ideais de proteínas, DHA, ARA e micronutrientes como ferro e zinco são fundamentais para o adequado desenvolvimento cerebral do lactente.3-5 Na ausência do leite materno, a Fórmula Infantil é o substituto adequado para a alimentação do lactente, durante o primeiro ano de vida.6 sempre. Nestlé Nutrition: Expertise em Nutrição Infantil Tecnologia exclusiva no desenvolvimento de Fórmulas Infantis com proteína otimizada.* Referências Bibliográficas: 1. Borghi E, de Onis M, Garza C et al; WHO Multicentre Growth Reference Study Group.Construction of the World Health Organization child growth standards: selection of methods for attained growth curves.Stat Med. 2006 Jan 30;25(2):247-65. 2. Rapoport J, Gogtay N. Brain neuroplasticity in healthy, hyperactive and psychotic children: insights from neuroimaging. Neuropsychopharmacology 2008;33:181-197. 3. Georgieff MK.Nutrition and the developing brain: nutrient priorities and measurement.Am J Clin Nutr. 2007 Feb;85(2):614S-620S. 4. Innis SM.Fatty acids and early human development.Early Hum Dev. 2007 Dec;83(12):761-6. 5. Lozoff B. Iron deficiency and child development.Food Nutr Bull. 2007 Dec;28(4 Suppl):S560-71. 6. American Academy of Pediatrics, Committee on Nutrition. Formula Feeding of Term Infants. In: Pediatric Nutrition Handbook. 5th ed, 2004; pp 87-97. NOTA IMPORTANTE: AS GESTANTES E NUTRIZES PRECISAM SER INFORMADAS QUE O LEITE MATERNO É O IDEAL PARA O LACTENTE, CONSTITUINDO-SE A MELHOR NUTRIÇÃO E PROTEÇÃO PARA ESTAS CRIANÇAS. A MÃE DEVE SER ORIENTADA QUANTO À IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA NESTE PERÍODO E QUANTO À MANEIRA DE SE PREPARAR PARA O ALEITAMENTO AO SEIO ATÉ OS DOIS ANOS DE IDADE DA CRIANÇA OU MAIS. O USO DE MAMADEIRAS, BICOS E CHUPETAS DEVE SER DESENCORAJADO, POIS PODE TRAZER EFEITOS NEGATIVOS SOBRE O ALEITAMENTO NATURAL. A MÃE DEVE SER PREVENIDA QUANTO À DIFICULDADE DE VOLTAR A AMAMENTAR SEU FILHO UMA VEZ ABANDONADO O ALEITAMENTO AO SEIO. ANTES DE SER RECOMENDADO O USO DE UM SUBSTITUTO DO LEITE MATERNO, DEVEM SER CONSIDERADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS FAMILIARES E O CUSTO ENVOLVIDO. A MÃE DEVE ESTAR CIENTE DAS IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO ALEITAMENTO AO SEIO – PARA UM RECÉM-NASCIDO ALIMENTADO EXCLUSIVAMENTE COM MAMADEIRA SERÁ NECESSÁRIA MAIS DE UMA LATA POR SEMANA. DEVE-SE LEMBRAR À MÃE QUE O LEITE MATERNO NÃO É SOMENTE O MELHOR, MAS TAMBÉM O MAIS ECONÔMICO ALIMENTO PARA O LACTENTE. CASO VENHA A SER TOMADA A DECISÃO DE INTRODUZIR A ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA É IMPORTANTE QUE SEJAM FORNECIDAS INSTRUÇÕES SOBRE OS MÉTODOS CORRETOS DE PREPARO COM HIGIENE RESSALTANDO-SE QUE O USO DE MAMADEIRA E ÁGUA NÃO FERVIDAS E DILUIÇÃO INCORRETA PODEM CAUSAR DOENÇAS. OMS – CÓDIGO INTERNACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE SUBSTITUTOS DO LEITE MATERNO. WHA 34:22, MAIO DE 1981. PORTARIA Nº 2.051 – MS DE 08 DE NOVEMBRO DE 2001, RESOLUÇÃO Nº 222 – ANVISA – MS DE 05 DE AGOSTO DE 2002 E LEI 11.265/06 DE 04.01.2006 – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – REGULAMENTAM A COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS PARA LACTENTES E CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA E TAMBÉM A DE PRODUTOS DE PUERICULTURA CORRELATOS. www.nestle.com.br/nutricaoinfantil *Quantidade e qualidade de proteína mais próximas do padrão de referência. Serviço de Atendimento Nutrição Infantil ao Profissional de Saúde 0800-7701599 O primeiro ano Programação metabólica de vida dura para Amadurecimento imunológico O primeiro ano de vida é decisivo para o amadurecimento do sistema imunológico.1 A nutrição nesse período é determinante para a formação de uma microbiota intestinal protetora com predominância de bifidobactérias.1 Probióticos, nutrientes que proporcionam efeito bifidogênico, nucleotídeos, DHA e ARA contribuem beneficamente para a formação do futuro padrão de resposta imunológica do lactente.1,2 Na ausência do leite materno, a Fórmula Infantil é o substituto adequado para a alimentação do lactente, durante o primeiro ano de vida.3 sempre. Desenvolvimento cerebral Nestlé Nutrition: Expertise em Nutrição Infantil Tecnologia exclusiva no desenvolvimento de Fórmulas Infantis com proteína otimizada.* Referências Bibliográficas: 1. Cummings JH, Antoine JM, Azpiroz F, Bourdet-Sicard R, Brandtzaeg P, Calder PC, Gibson GR, Guarner F, Isolauri E, Pannemans D, Shortt C, Tuijtelaars S, Watzl B. PASSCLAIM--gut health and immunity. Eur J Nutr. 2004 Jun;43 Suppl 2:II118-II173. 2. Prescott SL, Dunstan JA. Prenatal fatty acid status and immune development: the pathways and the evidence. Lipids. 2007 Sep;42(9):801-10. 3. American Academy of Pediatrics, Committee on Nutrition. Formula Feeding of Term Infants. In: Pediatric Nutrition Handbook. 5th ed, 2004; pp 87-97. NOTA IMPORTANTE: AS GESTANTES E NUTRIZES PRECISAM SER INFORMADAS QUE O LEITE MATERNO É O IDEAL PARA O LACTENTE, CONSTITUINDO-SE A MELHOR NUTRIÇÃO E PROTEÇÃO PARA ESTAS CRIANÇAS. A MÃE DEVE SER ORIENTADA QUANTO À IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA NESTE PERÍODO E QUANTO À MANEIRA DE SE PREPARAR PARA O ALEITAMENTO AO SEIO ATÉ OS DOIS ANOS DE IDADE DA CRIANÇA OU MAIS. O USO DE MAMADEIRAS, BICOS E CHUPETAS DEVE SER DESENCORAJADO, POIS PODE TRAZER EFEITOS NEGATIVOS SOBRE O ALEITAMENTO NATURAL. A MÃE DEVE SER PREVENIDA QUANTO À DIFICULDADE DE VOLTAR A AMAMENTAR SEU FILHO UMA VEZ ABANDONADO O ALEITAMENTO AO SEIO. ANTES DE SER RECOMENDADO O USO DE UM SUBSTITUTO DO LEITE MATERNO, DEVEM SER CONSIDERADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS FAMILIARES E O CUSTO ENVOLVIDO. A MÃE DEVE ESTAR CIENTE DAS IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO ALEITAMENTO AO SEIO – PARA UM RECÉM-NASCIDO ALIMENTADO EXCLUSIVAMENTE COM MAMADEIRA SERÁ NECESSÁRIA MAIS DE UMA LATA POR SEMANA. DEVE-SE LEMBRAR À MÃE QUE O LEITE MATERNO NÃO É SOMENTE O MELHOR, MAS TAMBÉM O MAIS ECONÔMICO ALIMENTO PARA O LACTENTE. CASO VENHA A SER TOMADA A DECISÃO DE INTRODUZIR A ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA É IMPORTANTE QUE SEJAM FORNECIDAS INSTRUÇÕES SOBRE OS MÉTODOS CORRETOS DE PREPARO COM HIGIENE RESSALTANDO-SE QUE O USO DE MAMADEIRA E ÁGUA NÃO FERVIDAS E DILUIÇÃO INCORRETA PODEM CAUSAR DOENÇAS. OMS – CÓDIGO INTERNACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE SUBSTITUTOS DO LEITE MATERNO. WHA 34:22, MAIO DE 1981. PORTARIA Nº 2.051 – MS DE 08 DE NOVEMBRO DE 2001, RESOLUÇÃO Nº 222 – ANVISA – MS DE 05 DE AGOSTO DE 2002 E LEI 11.265/06 DE 04.01.2006 – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – REGULAMENTAM A COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS PARA LACTENTES E CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA E TAMBÉM A DE PRODUTOS DE PUERICULTURA CORRELATOS. www.nestle.com.br/nutricaoinfantil *Quantidade e qualidade de proteína mais próximas do padrão de referência. Serviço de Atendimento Nutrição Infantil ao Profissional de Saúde 0800-7701599