Fisiologia - Faculdade Montenegro

Transcrição

Fisiologia - Faculdade Montenegro
R evi s ta
Bra si l ei ra
2009
Simpósio Internacional de
Atividades Físicas do
Rio de Janeiro - IPCFEX
d e
06, 07 e 08 de novembro de 2009
Fi si ologi a
Período para submissão de resumos:
De 3 de agosto a 18 de setembro de 2009
Local
d e
Fisiologia
exercício
do
IS S N 16778510
Fisiolog
do
exercí
Fisiologia
do
exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Fisiologia
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
do
exercício
Fisiol
Fisiologia
do
ex er c í c i o
Envie seu trabalho
Informações
B r a s i l e i r a
d o
Conferencistas Internacionais e Nacionais
Palestras e Mesas-redondas
Apresentações de Temas Livres
R e v i s t a
exercício
do
exer
F
i
s
i
o
l
o
g
exercício
Fisiologia
do
exercíc
F i s i o l o g i a do
do e xNUTRIÇÃO
ercício
Fisiologia
Fisiolog
do e x e r c í c i o
• Avaliação nutricional
de fisioculturistas
do e
xercí
F i s i o l o g i a CARDIOLOGIA
F i s i o l o g i a Fisiologia
do
e x e r c í c i o• Teste
do deecaminhada
x e r cdeí seis
c iminutos
o e x e r c í c i o
do
em cardiopatas
Fisiologia
F
i
s
i
o
l
o
g
i
a
exercício
do e x e r c í c i o
Fisiologia
Auditório da Escola Naval
(atrás do Aeroporto Santos Dumont)do
E-mail: [email protected]
Rua Almirante Silvio de Noronha, s/nº
Home Page: www.ipcfex.ensino.eb.br
Castelo - Rio de Janeiro - RJ
Fisiologia
ESTACIONAMENTO GRATUITO NO LOCAL
do
vol u me 0 8 - n úm ero 0 1 • J an /Abr 2 0 0 9
Telefone: 2543-3323
Ramal: 2044
exercício
Transporte do aeroporto até o local do evento
Realização
• Marcadores inflamatórios e exercícios físicos
do
exercício
• Atividade física durante a gestação
Fisiologia
do
exercício
no judô Fisiologia F i s i o l
F i s i o•lPrevalência
oalto
grendimento
i ade lesões
de
do
do e x e r c í c i o
do
exer
salto vertical em jogadores
e x e•rAnálise
c í c do
io
a
F i s i o l o g i a F i s i o l o gdei basquete
Fisiolo
F
i
s
i
o
l
o
i
a
exerc
c i o osteomioarticulares
•í Lesões
emg
jogadores
exerc
do e x e r c í c i o
do
de futsal
Fisiologia
do
ESPORTE
exercício
do
exercício
do
Fisiolog
ia Fisiologia
ESTÉTICA
do
gordura localizada
e x e r c í•cTratamento
i o dado
exercício
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 0 8 - nú m e r o 01 • J a n/M a r 2009
R evi s ta
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
Bra si l ei ra
Fisiologia
d e
exercício
do
Fisiolog
do
exercí
Fisiologia
do
exercício
Fi si ologi a
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Fisiologia
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
do
exercício
d o
Fisiologia
do
exercício
Fisiol
ex er c í c i o
exer
do
F
i
s
i
o
l
o
g
exercício
Fisiologia
do
F i sESPORTE
iologia
do
do
do
exercíc
e•x e
r c í c ide
o velocidade
F i s i o lcrítica
o g ia
Modelos
do
e
x
e
r
em nadadores juvenis c í c i o
Fisiologia
Fisiolog
do e x e r c í
• Mobilidade e equilíbrio em idosos Fisiologia
que praticam esporte
do e x e r c í c i o
do e xdeeesforço
r c de
í cidosos
i oatletas
• Comparação
e não atletas
exercício
Fisiologia
Fisiologia
F
i
s
i
o
l
o
g
i
a
exercício
do e x e r c í c i o
vol u me 0 8 - n úm ero 0 2 • A bri /Ju n 2 0 09
Fisiologia
do
IS S N 16778510
Fisiologia
do
exercício
• Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada
do
Fisiologia
do
exercício
Fisiologia
do
Fisiol
• Efeito de suplementos carboidratados Fisiologia
na glicemia de atletas
x e r c í c i o do e x e r c í c i o do
e IMAGÉTICA
exer
gia
F i s i o l o g i a F i s i o•l oEstimulação
audiovisual e simulação mental
Fisiolo
F
i
s
i
o
l
o
g
i
a
exercício
de competição esportiva
exerc
do e x e r c í c i o
do
Fisiologia
do
e x e r cSUPLEMENTOS
ício
exercício
Fisiologia
do
CARDIOLOGIA
do
exercício
do
Fisiologia
• Exercício físico na remodelação miocárdica
e x e r c •í Variabilidade
c i o da do
freqüência cardíaca
exercício
www.atlanticaeditora.com.br
v o l u m e 0 8 - nú m ero 02 • A b r/J u n 2009
R evi s ta
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
Bra si l ei ra
Fisiologia
d e
exercício
do
Fisiolog
do
exercí
Fisiologia
do
exercício
Fi si ologi a
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Fisiologia
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
do
exercício
d o
Fisiologia
do
exercício
Fisiol
ex er c í c i o
do
exer
F
i
s
i
o
l
o
g
exercício
Fisiologia
do
F i sESPORTE
iologia
do
do
do
exercíc
Fisiolog
e•x e
r c í c i o ao Fdestreinamento
isiologia
Adaptações
do e x e r c í c i o
• Efeitos de treinamento no futebol infantil
do e x e r c í
• Lesões osteomioarticulares em atletas
Fisiologia
fisiculturistas
do e x e r c í c i o
do
• Desenvolvimento
das capacidades físicas e motoras em crianças
Fisiologia
exercício
Fisiologia
exercício
Fisiologia
F
i
s
i
o
l
o
g
i
a
exercício
do e x e r c í c i o
Fisiologia
vol u me 0 8 - n úm ero 0 3 • J ul /Set 2 0 0 9
do
IS S N 16778510
Fisiologia
do
exercício
NUTRIÇÃO
do
exercício
Fisiologia
do
exercício
FISIOLOGIA
Fisiologia F i s i o l
Fisio
l
o
g
i
a
• Métodos de determinação do lactato
do
x e r c í c i o do e x e r
e x •e Exaustão
r c í cmuscular
i o doeme exercícios
resistidos
g i aisométrica máxima
F i s i o l o g i a F i s i o•l oForça
Fisiolo
F
i
s
i
o
l
o
g
i
a
exercício
do e x e r c í c i o
• Potência muscular e funcionalidade em idosos e x e r c
do
Fisiologia
do
• Nutrição e composição corporal de jovens
futebolistas
exercício
do
exercício
do
F i s i o l oCARDIOVASCULAR
gia Fisiologia
do
• Exercício resistido em circuito e pressão arterial
exercício
www.atlanticaeditora.com.br
do
exercício
v o l u m e 0 8 - nú m e ro 03 • J u l/S e t 2009
R e v i s t a
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
B r a s i l e i r a
FISIOLOGIA
d e
DO
FISIOLO
DO
EXERCÍCIO
EXERC
FISIOLOGI
DO
EXERCÍCI
FI SI OLOGI A
Brazilian Journal of Exercise Physiology
FISIOLOGI
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
DO
EXERCÍCI
D O
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
FISIO
E X E R C Í C I O
EXE
DO
F
I
S
I
O
L
O
G
EXERCÍCIO
FISIOLOGIA
DO
FISIOLOGIA
DO ESPORTE
EXERCÍCIO
DO
DO
EXERCÍC
FISIOLOGIA
FISIOLO
• Lesões no surfe DO E X E R C Í C I O
DO E X E R C
• Avaliação da flexibilidade e Pilates
FISIOLOGI
• Alongamento estático e desempenho DO
EXERCÍCI
da velocidade
DO E X E R C Í C I O
FISIOLOGIA
EXERCÍCIO
FISIOLOGIA
FISIOLOGI
F
I
S
I
O
L
O
G
I
A
EXERCÍCIO
DO E X E R C Í C I
vol um e 0 8 - nú me ro 0 4 • Ou t/ De z 2 0 0 9
FISIOLOGIA
DO
ISSN 16778510
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
CARDIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
FISIOLOGIA
DO
E
FISIO
EXE
LOGIA
F I S I O L O G I A F I S I OBIOENERGÉTICA
FISIOL
F
I
S
I
O
L
O
G
I
A
EXERCÍCIO
EXER
• ATP e exercício físico
DO E X E R C Í C I O
DO
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
FISIOLOGIA
DO
• Exercícios resistidos e pressão arterial
• Atividade física e prevenção cardiovascular
• Teste de caminhada de seis minutos em
cardiopatas
F I S Icardíaca
O L O GaoI Alongo
• Velocidade e freqüência
DO
E
X
E R C Í C I O DO
X Edos
R testes
C Í CdeIcorrida
O
EXERCÍCIO
F I S I O L OGENÉTICA
GIA
DO
• Miostatina
EXERCÍCIO
www.atlanticaeditora.com.br
DO
EXERCÍCIO
DO
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
v o l u m e 0 8 - n ú m e r o 0 4 • Out/Dez 2009
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 8 número 1 - janeiro/março 2009
EDITORIAL
Atividade física e aplicações clínicas, Paulo Tarso Veras Farinatti ................................................................................ 3
ARTIGOS ORIGINAIS
Marcadores inflamatórios em pacientes com doença arterial coronariana
submetidos a um programa regular de exercícios físicos, Sonia Aparecida de Morais,
Antonio Carlos da Silva Martins, Edison Sandoval Peixoto, Sebastião David Santos-Filho............................................. 4
Avaliação nutricional de fisiculturistas de academias da cidade de São Paulo,
Amanda Cristina Lugarezze, Ana Lucia Girasoli, Cinthya Correia Bezerra,
Karen Rejane Tanii Farinho, Neide Kaoru Hoshina, Patrícia Lima Araújo, Marcia Nacif ............................................... 9
Prevalência de lesões no judô de alto rendimento, Paloma Angel de Carvalho,
Samira Jirges Hanna, Marcelo Massayoshi Ohira, Henrique Koch, Luis Ricardo Revite,
Ricardo Xavier Pinto, Daiane Cardoso, Rafael Cusatis Neto ........................................................................................ 14
Análise do salto vertical em jogadores de basquete utilizando o alongamento
como preparação da flexibilidade, Juliano Angeli Romani,
Cristiane Mariana Rodrigues da Silva, Carlos Fornazzari ............................................................................................. 20
Relação entre alterações posturais e lesões osteomioarticulares em jogadores
de futsal, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Cintia Seefeld, Juliana Cardoso Alves ................................................ 24
Influência da atividade física, pressão arterial e variáveis antropométricas
da gestante sobre o peso do feto ao nascer, Janyny Galdino Onofre Spolador,
Marcos Doederlein Polito ............................................................................................................................................ 30
REVISÕES
Uso da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos localizados de gordura,
José Diego Botezelli, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme,
Maria Alice Rostom de Mello ...................................................................................................................................... 34
A importância do teste de caminhada de seis minutos em pacientes
com insuficiência cardíaca, Nivia Schmidt de Souza, Kellen Marcela Santos,
Letícia Alckmin Morgado, Elaine Cristina Martinez Teodoro ..................................................................................... 38
NORMAS DE PUBLICAÇÃO.................................................................................................................................. 45
EVENTOS ................................................................................................................................................................. 47
2
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Robert Robergs (USA)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Rosane Rosendo (SC)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Sebastião Gobbi (SP)
Douglas S. Brooks (EUA)
Steven Fleck (USA)
Emerson Silami Garcia (MG)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Martins (PB)
Vilmar Baldissera (SP)
Francisco Navarro (SP)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Atlântica Editora e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 /3361 9932
E-mail: [email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
Editor assistente – Publicidade
Guillermina Arias
[email protected]
Direção de arte
Assistente de vendas – Atendimento
Assinatura
Cristiana Ribas
Márcia P. Nascimento
1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00
[email protected]
[email protected]
www.eventoserevistas.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e MN-Metabólica.
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
3
Editorial
Atividade física e aplicações clínicas
Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti
Editor-Chefe da RBFEx
Tenho o prazer de apresentar o primeiro número
do volume deste oitavo volume da Revista Brasileira de
Fisiologia do Exercício (RBFEx). Continuando o processo de consolidação da revista, iniciamos o ano com um
Conselho Editorial renovado. Além disso, implanta-se
paulatinamente um sistema de submissão on-line que, no
decorrer do ano, deve começar a funcionar. A quantidade
de artigos submetidos vem aumentando a cada ano, permitindo com que a periodicidade da revista se mantenha
sem os percalços do passado. Faz parte dos nossos planos
aumentar o número de artigos por revista, visando, em
prazo médio, uma periodicidade trimestral.
O presente número da RBFEx traz oito artigos, seis
deles originais e duas revisões, cuja variedade de assuntos
reflete a riqueza da própria temática da revista. Inicialmente, a equipe da Universidade Federal Fluminense analisa
marcadores inflamatórios em cardiopatas praticantes de
exercício. Em seguida, temos um levantamento do perfil
nutricional e do conhecimento sobre nutrição em praticantes de fisiculturismo da cidade de São Paulo. O desporto
de rendimento é o assunto dos três artigos subseqüentes,
um deles dedicado ao salto vertical no basquete e dois com
foco nas lesões associadas à prática do judô e do futsal.
Fechando os artigos originais, chega-nos da Universidade
Estadual de Londrina interessante estudo sobre as relações
entre a prática de atividades físicas por parte da gestante
e características do feto no nascimento. Enfim, as revisões
da literatura apresentadas tratam de assuntos tão diversos
quanto a combinação do exercício físico com técnica nãoortodoxa de perda de gordura e a aplicação de teste de
caminhada em pacientes cardiopatas.
Bom proveito!
4
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Artigo original
Marcadores inflamatórios em pacientes com doença
arterial coronariana submetidos a um programa
regular de exercícios físicos
Inflammatory markers in patients with coronary artery disease submitted
to a regular program of physical exercises
Sonia Aparecida de Morais, Ft.*, Antonio Carlos da Silva Martins, M.Sc.**, Edison Sandoval Peixoto, D.Sc.***, Sebastião
David Santos-Filho, Ft., D.Sc.****
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da UFF, Professora de Fisioterapia Aplicada a Cardiologia do Centro
Universitário de Volta Redonda RJ, Responsável Técnica da Reabilitação Cardíaca do Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, **Médico, Professor de Fisioterapia Aplicada à Cardiologia do Centro Universitário de Volta Redonda RJ, Responsável administrativo do
Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, ***Médico, Professor Titular de Cardiologia da UFF, Niterói RJ, ****Professor Adjunto de
Biofísica e Fisiologia da Universidade Severino Sombra, Vassouras RJ
Resumo
Abstract
As doenças coronarianas, entre elas a aterosclerose, tornaram-se
a principal causa de morte. Esse problema é decorrente de aspectos
do estilo de vida moderno, entre eles alimentação irregular, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, estresse e o sedentarismo. Nosso
estudo tem por objetivo avaliar a importância do exercício físico
como recurso terapêutico no tratamento de pacientes com doença
arterial coronariana, correlacionando os benefícios do mesmo na
diminuição dos marcadores inflamatórios assim como no controle
dos fatores de risco e na morbidade cardiovascular. Os dados deste
estudo demonstram a importância dos marcadores inflamatórios
como preditores de risco para doença cardiovascular. A efetividade
do exercício físico no controle dos fatores de risco de doença cardiovascular, tendo como parâmetro os marcadores inflamatórios,
atinge múltiplos benefícios, que podem ser alcançados com alto
grau de segurança.
The coronary diseases, among them the atherosclerosis, are the
main cause of death. This problem is due to aspects of modern life
style, such as irregular dietary, tobacco, alcohol ingestion, stress,
and sedentarism. Our study aims at evaluating the importance of
physical exercise as a therapeutic tool to treat patients with coronary
artery disease, correlating benefits on inflammatory markers decrease
as well as risk factors control and cardiovascular morbidity. Data
showed the importance of inflammatory markers as predictors of
cardiovascular disease risk. The effectiveness of physical exercise on
prevention and control of cardiovascular disease risk factors, and
the inflammatory markers as a parameter, achieve multiple benefits
that can be reached with high security level.
Key-words: atherosclerosis, inflammatory markers, physical
exercise, rehabilitation.
Palavras-chave: aterosclerose, marcadores inflamatórios,
exercício físico, reabilitação.
Autor para correspondência: Sonia Aparecida de Morais, Rua São Francisco Xavier, Bloco E, 681/202, 20550-011 Rio de Janeiro, RJ,
Tel: (21) 2568-1371, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
As doenças coronarianas, entre elas a aterosclerose, tornaram-se a principal causa de morte na civilização moderna.
Esse problema é decorrente de muitos aspectos do estilo de
vida moderno, entre eles alimentação irregular, tabagismo,
ingestão de bebidas alcoólicas, estresse cotidiano e o sedentarismo [1].
Esses hábitos causam o desenvolvimento de fatores de
risco relacionados à aterosclerose. A formação de placas
ateroscleróticas ou ateromas está diretamente relacionada a
acidentes coronarianos, como o infarto, a doença isquêmica
do coração e a apoplexia [2].
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte
entre homens e mulheres, nos países desenvolvidos [3].
No inicio do século XX, a doença cardiovascular foi responsável por menos de 10% das mortes em todo o mundo e,
ao final deste século, responde por 50% de todas as mortes em
países desenvolvidos e 25% nos países em desenvolvimento
[4,5].
Os mediadores inflamatórios mais estudados como prováveis fatores prognósticos de risco de doenças cardiovasculares
são a proteína C-reativa (PCR), ICAMs, IL6, TNF alfa e a
P-selectina [6]. Desses, o que tem recebido maior atenção dos
pesquisadores é a PCR, a qual, quando elevada, está associada
a um risco aumentado para infarto agudo do miocárdico,
acidente vascular cerebral e morte cardiovascular [7,8].
Vários estudos têm evidenciado uma associação entre a
atividade física regular e a redução nos níveis dos diferentes
marcadores inflamatórios. Um dos prováveis mecanismos
de diminuição no risco cardiovascular relacionado com a
prática do exercício se relaciona com o impacto deste sobre
os diferentes marcadores inflamatórios [9,10].
Nosso estudo tem por objetivo avaliar a importância do
exercício físico como recurso terapêutico no tratamento de
pacientes com doença arterial coronariana correlacionando
os benefícios do mesmo na diminuição dos marcadores inflamatórios arteriais assim como no controle dos fatores de
risco e na morbidade cardiovascular.
Material e métodos
O estudo foi realizado com pacientes do Setor de Reabilitação Cardíaca no Centro de Cardiodiagnóstico do Méier,
Rio de Janeiro, RJ.
Em nosso estudo foram incluídos 14 pacientes com diagnóstico de doença arterial coronariana. Todos os pacientes
incluídos apresentavam eventos anteriores, como angioplastia, revascularização do miocárdio, ou infarto e todos eram
sedentários. Dez pacientes do sexo masculino (71%) e quatro
pacientes do sexo feminino (29%) com idades que variaram
de 60 a 80 anos. Todos os pacientes assinaram um termo de
consentimento esclarecido e receberam informações a respeito
dos procedimentos e objetivos da pesquisa.
5
Os pacientes foram submetidos a uma avaliação médica
e físico-funcional, além de exame bioquímico específico
– lipidograma, glicemia, proteína C reativa, cardiolepina,
homocisteína, imunoglobulina e fibrinogênio. Todos os
exames foram realizados em um mesmo laboratório sugerido
pelos pesquisadores para evitar erros de metodologia. Os
mesmos realizaram teste ergométrico para avaliação clínica e
funcional. Todos os pacientes participaram de um programa
de reabilitação cardíaca.
O programa proposto foi de 60 minutos de exercício físico
aeróbico, três vezes na semana, durante doze semanas. Os
pacientes iniciavam com 30 minutos de caminhada na esteira
e a seguir, 30 minutos de pedalada na bicicleta, seguidos de
alongamento global.
Todos os pacientes foram acompanhados e supervisionados durante a realização do programa de exercícios. Após
12 semanas de realização do programa, os pacientes foram
reavaliados individualmente.
Resultados
Na Tabela I mostramos os fatores de risco apresentados
pelos pacientes na primeira avaliação. Todos os pacientes eram
sedentários. Observa-se que 78% dos pacientes apresentaram
histórico de hipertensão arterial enquanto que outros 28%
eram tabagistas, 48% diabéticos, 42% acima do peso e todos
apresentaram dislipidemia.
Tabela I - Fatores de risco associados à doença arterial coronariana.
Paciente
RCV
JJB
AAB
HPG
OPC
FG
RFY
MGP
ACA
JAS
CVR
JBJ
ABS
AAC
ID
HA
DB
66
72
78
69
70
79
74
81
64
74
66
77
75
80
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Não
Não
Não
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
OB/
SP
SP
Não
Não
Sim
SP
Não
Não
Não
Não
SP
SP
Não
SP
Não
HD
TB
DP
SD
Sim
Sim
NS
Sim
Sim
Não
Sim
NS
Sim
Não
Não
Sim
Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
Não
Não
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
ID – idade; HA – hipertensão arterial; DB – diabetes; OB – obesidade;
SP – sobrepeso; HD – hereditariedade; TB – tabagismo; DP – dislipidemia; SD – sedentarismo; NS – não sabe informar.
Na Tabela II, apresentamos os parâmetros da avaliação
físico-funcional dos pacientes após inclusão no programa.
Aproximadamente 42% apresentaram índice de massa corporal (IMC) acima de 25, o que caracteriza sobrepeso. 50%
apresentaram circunferência abdominal fora das metas.
6
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Tabela II - Avaliação físico-funcional dos pacientes.
Peso
(kg)
78
72
57
89
89
68
73
70
72
84
80
71
82
74
Paciente
RCV
JJB
AAB
HPG
OPC
FG
RFY
MGP
ACA
JAS
CVR
JBJ
ABS
AAC
Altura
(cm)
169
169
164
162
172
168
172
170
170
166
164
169
171
172
IMC
27
25
21
34
30
24
24
24
25
30
30
25
28
25
CA*
(cm)
104
96
82
116
109
86
104
99
87
121
118
87
114
88
*Circunferência abdominal
Após o programa de reabilitação proposto, observamos
que aproximadamente 71% dos pacientes atingiram valores
de normalidade na maioria dos marcadores inflamatórios
estudados (Tabela III).
Os marcadores inflamatórios de maior expressão verificados em nosso estudo foram a PCR ultra-sensível, homocisteína e fibrinogênio.
Tabela III - Marcadores inflamatórios.
Paciente PCR
HC
IgG*
(mg/dL) (μmol/L) (GPL/
mL)
IgM*
(MPL/
mL)
FG
(mg/
dL)
RCV
JJB
AAB
HPG
OPC
FG
RFY
MGP
ACA
JAS
CVR
JBJ
ABS
AAC
7,8
0,7
0,2
4,0
4,5
8,9
2,0
0,7
0,8
0,7
8,3
0,8
0,5
0,8
318
295
440
540
600
459
320
323
515
287
321
395
540
451
0,06
0,07
1,41
0,14
0,15
7,42
0,70
0,08
7,20
0,08
0,08
7,10
2,43
7,42
11,3
17,0
12,7
13,0
14.0
17,4
6,5
5,8
17,2
7,0
10,4
16,9
7,1
9,4
8,9
3,8
9,3
2,0
2,6
9,1
1,0
1,2
9,2
9,3
9,8
1,3
9,3
8,9
*Tipos de Anti-cardiolepina; Proteína C reativa (PCR); Homocisteína
(HC); Lipoproteína de baixa densidade (LDL); Lipoproteína de alta
densidade (HDL); Imunoglobulina G (IgG); Imunoglobulina M (IgM);
Fibrinogênio (FG)
Na Tabela IV podemos observar que apesar de 48%
dos pacientes apresentarem diagnóstico de diabetes,
93% alcançaram as metas de normalidade da glicemia
de jejum.
Observamos ainda que 85,7% alcançaram valores satisfatórios de perfil lipídico e a maioria atingiu as metas de
normalidade.
Tabela IV - Glicemia e perfil lipídico.
Paciente
RCV
JJB
AAB
HPG
OPC
FG
RFY
MGP
ACA
JAS
CVR
JBJ
ABS
AAC
GCM TGC
74
107
104
97
94
84
98
87
101
114
80
74
78
86
88
35
52
112
193
138
101
46
247
46
120
115
80
82
LDL
(mg/dL)
60
43
47
80
82
64
73
53
147
50
62
53
77
74
HDL
(mg/dL)
40
63
44
60
38
39
47
72
35
62
38
73
44
45
VLDL
CT
7
7
10
22
39
28
18
9
20
20
15
9
7
11
110
113
101
164
159
131
121
134
202
121
103
115
105
110
Glicemia (GCM); Triglicerídeos (TGC); Lipoproteína de baixa densidade molecular (LDL); Lipoproteína de alta densidade molecular (HDL);
Colesterol total (CT); Colesterol (VLDL).
Discussão
Existem várias revisões da associação entre inatividade
física e risco de doenças cardiovasculares. As meta-análises
têm indicado o dobro de risco de doenças cardiovasculares
em indivíduos inativos quando comparados com os ativos
[11,12].
Nos estudos que têm avaliado a atividade física ocupacional, a inatividade (ou sedentarismo) está associada a 90% de
aumento de risco relativo de morte por doenças cardiovasculares [13,14]. Em nosso estudo, todos os pacientes apresentaram
estilo de vida sedentário na primeira avaliação.
Para Abramson et al. [10] alguns dos mecanismos envolvidos no controle das doenças cardiovasculares utilizando
a atividade física, que foram apresentados em trabalhos
científicos, incluem efeitos de diminuição da progressão da
arteriosclerose e da trombose, diminuição da pressão arterial
e isquemia, através de melhora da hemodinâmica local, e
também diminuição do perfil lipídico e melhora do quadro
de arritmia. Os mecanismos pelos quais o exercício a longo
prazo tem efeito protetor na arteriosclerose incluem o incremento significante da proporção de células T circulantes que
têm propriedades ateroprotetivas .
Para Ford [9] o exercício estimula um efeito protetor
nas células endoteliais e nas células T em pessoas com
aterosclerose. Existem também evidências de que o desenvolvimento da placa de aterosclerose está associado com o
processo inflamatório e que o exercício está associado por
sua vez com uma redução de marcadores inflamatórios –
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
proteína C-reativa, células sangüíneas brancas, fibrinogênio,
fator VIII–, sugerindo que o exercício está relacionado com
uma redução da inflamação. A melhor compreensão da
fisiopatologia e o desenvolvimento de tecnologias sensíveis
e específicas tornaram cada vez mais evidentes as possibilidades de detecção precoce e monitoração das doenças
cardiovasculares. Assim, o conceito dos marcadores foi
introduzido nos últimos anos. Um marcador pode refletir
a fisiopatologia da doença, predizer eventos futuros, bem
como indicar a presença da afecção ou danos a um órgão.
Um marcador pode também ser medido para avaliar o
progresso do tratamento [15].
Nossos resultados mostraram que 71% dos pacientes atingiram valores de normalidade dos marcadores inflamatórios,
além de alcançarem níveis satisfatórios de glicemia de jejum
e no lipidograma, com um programa de reabilitação com
exercício físico aeróbico.
Segundo Sigal et al. [13], o programa de exercícios para
pacientes com doença arterial coronariana é baseado na prescrição tradicional para o desenvolvimento do efeito do treino
em pessoas saudáveis. Porém, é modificado como indicado
pela condição cardiovascular e estado clínico geral do paciente.
Isso envolve um adequado programa individual de exercícios
com respeito ao modo, freqüência, duração, intensidade e
progressão do exercício. O programa de exercício proposto
em nosso estudo foi individualizado e adaptado ao paciente
respeitando as suas limitações.
Para Pescatello et al. [15] o exercício contínuo como andar,
correr, pedalar, nadar, aeróbica em grupo e remar são apropriados para o condicionamento de resistência cardiovascular.
A freqüência mínima é de 3 dias não consecutivos na semana.
Períodos de aquecimento e resfriamento de pelo menos 10
minutos, incluindo alongamento e exercícios de flexibilidade,
devem preceder e seguir o exercício de 20-40 minutos realizados tanto continuamente ou em intervalos [15,16].
Exercício em programas supervisionados é realizado em
intensidade moderada, de maneira confortável, geralmente
40-85% da capacidade funcional máxima (VO2máx), que
correlaciona com 40-85% da reserva de freqüência cardíaca
máxima ([freqüência cardíaca máxima – freqüência cardíaca
de repouso] x 40-85% + freqüência cardíaca de repouso), ou
55-90% da freqüência cardíaca máxima [17,18].
O grau de esforço percebido pode também ser usado para
monitorar a intensidade do exercício, com o objetivo de manter a intensidade em nível moderado. Qualquer programa de
exercício deve envolver uma progressão inicial lenta e gradual
da duração e intensidade do exercício [19,20].
Com o objetivo de encontrar a melhor terapêutica para
esta entidade em particular, a investigação clínica, por meio
do exercício físico, tem sido utilizada como um método de
intervenção promissor e que parece ser custo-efetivo. São
inúmeras as evidências sugerindo que o exercício físico regular não somente melhora a capacidade funcional, expressa
pelo aumento do VO2máx, como também reduz a morbidade
7
e, possivelmente, a mortalidade, justificando assim a sua
utilização terapêutica.
Conclusão
Os dados do nosso estudo demonstram a importância
dos marcadores inflamatórios como preditores de risco para
doença cardiovascular. No entanto, comparando com os
dados relatados na literatura notamos que sua plena utilização é limitada pelo alto custo e dificuldade de realização
técnica.
A efetividade do exercício físico no controle dos fatores de
risco de doença cardiovascular, tendo como parâmetro os marcadores inflamatórios arteriais, atinge múltiplos efeitos, que
podem ser alcançados com alto grau de segurança. Embora
em nosso estudo não tenhamos observado respostas significativas na redução de peso e da circunferência abdominal dos
pacientes, inúmeros estudos apontam para os benefícios de
um programa regular de exercícios. Estes benefícios incluem
capacidade funcional aumentada, diminuição dos fatores de
risco, redução dos sintomas de isquemia do miocárdio e subseqüente morbidade da doença coronária, melhora no perfil
lipídico sanguíneo, controle do peso e da hipertensão, e, em
pacientes diabéticos, tolerância à glicose. Além de melhoras
na perfusão do miocárdio, abandono do hábito de fumar e
bem estar psicossocial.
Referências
1. Ross R, Glomset JA. The pathogenesis of atherosclerosis I. New
Engl J Med 1976;295:369-77.
2. Roberts WC. Preventing and arresting coronary atherosclerosis.
Am Heart J 1995;130:580-600.
3. Mansur AP, Favarato D, Souza MFM, Avakian SD, Aldrighi
JM, Cesar LAM, et al. Tendência do risco de morte por doenças circulatórias no Brasil, de 1979 a 1996. Arq Bras Cardiol
2001;76:497-503.
4. Mansur AP, Souza MFM, Timerman A, Ramires JAF. Tendência
do risco de morte por doenças circulatórias, cerebrovasculares
e isquêmicas do coração em 11 capitais do Brasil de 1980 A
1998. Arq Bras Cardiol 2002;79:269-76.
5. Souza MFM, Timerman A, Serrano Junior CV, Santos RD,
Mansur AP. Tendências do risco de morte dor doenças circulatórias nas cinco regiões do Brasil no período de 1979 a 1996.
Arq Bras Cardiol 2001;77:562-8.
6. Framer JA, Torre, Amione G. Aterosclerose e inflamação. Curr
Atheroscler Rep 2002;2:132-38.
7. Ridker PM, Hennekens CH, Buring JE, Rifai N. C-reactive
protein and other markers of inflammation in the prediction of
cardiovascular disease in women. N Engl J Med 2000;342:83643.
8. Ridker PM: High sensitivity C-reactive protein: potential adjunct for global risk assessment in the primary prevention of
cardiovascular disease. Circulation 2001;103:1813-18.
9. Ford ES. Does exercise reduce inflammation? Physical activity and C-reactive protein among US adults. Epidemiology
2002;13:561-8.
8
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
10. Abramson JL, Vaccarino V. Relationship between activity and
inflammation among apparently middle-aged and older US
adults. Arch Intern Med 2002;162: 1286-92.
11. Fagard RH. Physical activity, physical fitness and the incidence
of hypertension. J Hypertens 2005;23:265-7.
12. Cornelissen VA, Fagard RH. Effect of resistance training on
resting blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled
trials. J Hypertens 2005;23(2):251-9.
13. Sigal RJ, Kenny GP, Wasserman DH, Castaneda-Sceppa C,
White RD. Physical activity/exercise and type 2 diabetes. A
consensus statement from the American Diabetes Association.
Diabetes Care 2006;29:1433-8.
14. Ross R, Janssen I, Dawson J, Kungl AM, Kuk JL, Wong SL
et al. Exercise-induced reduction in obesity and insulin resistance in women: a randomized controlled trial. Obes Res
2004;12:789-98.
15. Pescatello LS, Franklin BA, Fagard R, Farquhar WB, Kelley
GA, Ray CA. American College of Sports Medicine position stand. Exercise and hypertension. Med Sci Sports Exerc
2004;36:533-53.
16. Miller WC, Koceja DM, Hamilton EJ. A meta-analysis of
the past 25 years of weight loss research using diet, exercise or
diet plus exercise intervention. Int J Obes Relat Metab Disord
1998;21:941-7.
17. Jakicic JM, Clark K, Coleman E, Donnelly JE, Foreyt J, Melanson E et al. American College of Sports Medicine position
stand. Appropriate intervention strategies for weight loss and
prevention of weight regain for adults. Med Sci Sports Exerc
2001;33: 2145-56.
18. Marcus BH, Albrecht AE, King TK. The efficacy of exercise as
an aid for smoking cessation in women: a randomized controlled
trial. Arch Intern Med 1999;159:1229-34.
19. Lavrencic A, Salobir BG, Keber I. Physical training improves
flow-mediated dilation in patients with the polymetabolic syndrome. Arterioscler Thromb Vasc Biol 2000;20:551-5.
20. Boule NG, Haddad E, Kenny GP, Wells GA, Sigal RJ. Effects of
exercise on glycemic control and body mass in type 2 diabetes
mellitus: a meta-analysis of controlled clinical trials. JAMA
2001;286:1218-27.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
9
Artigo original
Avaliação nutricional de fisiculturistas
de academias da cidade de São Paulo
Nutritional assessment of bodybuilders of academies of São Paulo City
Amanda Cristina Lugarezze*, Ana Lucia Girasoli*, Cinthya Corrêa Bezerra*, Karen Rejane Tanii Farinho*, Neide Kaoru
Hoshina*, Patrícia Lima Araújo*, Marcia Nacif, D.Sc.**
*Alunas do Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, Docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade
Presbiteriana Mackenzie
Resumo
Abstract
Objetivo: Verificar o perfil nutricional e o conhecimento sobre
alimentação e nutrição de fisiculturistas de academias da cidade de
São Paulo. Material e métodos: Trata-se de um estudo transversal,
no qual participaram 13 fisiculturistas entre 21 e 40 anos de idade.
Aplicou-se um questionário de conhecimento sobre alimentação
e nutrição e foram avaliadas as variáveis antropométricas de peso,
estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais. Resultados:
Verificou-se um IMC médio de 28,20 kg/m2 (DP ± 2,73) e dentre
os atletas estudados, 100% dos indivíduos do gênero feminino e
55% do masculino apresentaram porcentagem de gordura dentro
dos parâmetros normais para culturistas. Quanto ao conhecimento
nutricional, 71% dos indivíduos não souberam qual deve ser a
proporção correta dos macronutrientes presentes na alimentação,
estes consideraram ser a proteína o macronutriente que mais deve
contribuir com as necessidades calóricas diárias. As vitaminas foram
consideradas por 57% dos indivíduos como fornecedoras de calorias
e 71% deles referiram o uso de suplementos alimentares. Conclusão:
É necessário o acompanhamento nutricional desta população visto
que a porcentagem de gordura da maioria encontra-se por volta
do limite mínimo recomendado para fisiculturistas. Também é
indispensável um trabalho de educação nutricional para manter
a performance, rendimento esportivo e saúde adequada destes
indivíduos.
Aim: To describe the nutritional profile and knowledge about
food and nutrition of bodybuilding practitioners in academies of
São Paulo City. Method: This was a cross-sectional study made with
13 bodybuilders between 21 and 40 years of age. A questionnaire of
knowledge about food and nutrition was applied and the anthropometric variables were evaluated for weight, height, circumferences
and body skin folds. Results: The mean BMI was 28.20 kg/m2 (DP
± 2.73). All the females and 55% of males showed percentage of
fat within the normal parameters for bodybuilders. As for the nutritional knowledge, 71% of individuals did not know the correct
proportion of nutrients in their diet. Mostly they considered that
protein should be the macronutrient which the higher contribution
for the daily caloric needs. Vitamins were considered by 57% of
individuals as supply calories and 71% admitted to use food supplements. Conclusion: The anthropometric characteristics of the sample
were within the expected for bodybuilders but the knowledge about
nutrition was very poor. Medical and nutritional monitoring would
be necessary because the percentage of fat was near the minimum
recommended for bodybuilders and to improve their knowledge
about the specific needs of this competition modality.
Key-words: nutritional assessment, corporal composition,
nutritional needs, food and nutrition education.
Palavras-chave: avaliação nutricional, composição corporal,
necessidades nutricionais, educação alimentar e nutricional.
Endereço para correspondência: Amanda Cristina Lugarezze, Rua Pereira de Avelar, 101, Vila Alpina, 03211-040 São Paulo SP, Tel:
(11) 7625-7012, E-mail: [email protected].
10
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
O fisiculturista é o indivíduo que pratica exercícios físicos
com peso, objetivando a modelagem corporal por meio do
desenvolvimento da massa muscular. Estes atletas enfatizam
principalmente a aparência física, a definição muscular e a
simetria do corpo. Essa modalidade esportiva é chamada
culturismo e seus praticantes geralmente combinam uma
dieta altamente seletiva e treinamento de força para alcançar
a melhor performance estética, evitando a mínima retenção
de fluido e gordura [1,2].
A dieta destes indivíduos deve ser individualizada e
estabelecida conforme a freqüência, a intensidade e a duração do treinamento realizado. Deve-se considerar diversos
fatores como a adequação energética, distribuição dos macronutrientes e o balanceamento adequado de vitaminas e
minerais [3]. Além disso, a maioria dos fisiculturistas associa
o treinamento à suplementação nutricional, ou seja, ingerem
uma alimentação geralmente hiperprotéica devido a grande
preocupação estética que se resume ao aumento da força e
massa muscular [4].
Na prática deste esporte, que é categorizado pelo peso
corporal, muitos atletas também costumam reduzir seu
consumo energético a fim de diminuir sua massa corporal
para, assim, incluírem-se em uma categoria de peso inferior,
com objetivo de obter vantagem sobre os outros competidores [3]. Os métodos de perda de peso incluem a restrição
de alimentos e bebidas, uso de laxantes e de diuréticos e
sessões em saunas [5]. Estes atletas chegam a perder dez
quilos de peso antes de começar uma competição e para
adquirir novamente o seu peso anterior chegam a dobrar
seu consumo calórico diário. Seu desempenho é levado mais
em consideração do que a sua própria saúde no momento
de decidir qual é o melhor método para a modificação de
sua composição corporal [4,5].
Devido ao fato de os hábitos alimentares de fisiculturistas na maioria das vezes serem errôneos, assim como o uso
indiscriminado de suplementos por um longo tempo e a
prática de exercícios intensos serem potencialmente danosos à saúde, é interessante que se avaliem as características
corporais destes indivíduos, pois estes dados podem servir
como o primeiro passo de uma avaliação completa do estado
de saúde do atleta.
Material e métodos
Trata-se de um estudo transversal, no qual participaram 13
fisiculturistas, voluntários, de ambos os gêneros, de academias
da cidade de São Paulo, com idade entre 21 e 40 anos.
Foi aplicada uma ficha de anamnese contendo dados sobre
idade, gênero, presença de enfermidades, consumo alimentar e
ingestão de suplementos. Também foi aplicado um questionário de conhecimento sobre alimentação e nutrição “Avaliação
do conhecimento nutricional do desportista” contendo 8
questões de múltipla escolha em que foram atribuídos valores
para as questões respondidas corretamente, somando 10 como
pontuação máxima.
Foram coletadas as variáveis antropométricas de peso,
estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais.
Utilizou-se uma balança digital da marca Plenna® (modelo
MEA-03184) com precisão de 100 gramas e capacidade de
150 quilos para avaliar a massa corporal; fita métrica com
escala em milímetros para aferir a estatura, e para medir as
circunferências de braço, de abdômen, de quadril, de punho,
de coxa e de panturrilha. As dobras cutâneas biceptal, triceptal,
subescapular, suprailíaca, peitoral, abdominal, coxa e panturrilha foram aferidas com o uso de um adipômetro clínico
da marca Sanny®. Cada dobra cutânea foi medida três vezes
em forma de circuito, sendo considerada como valor final a
média entre os três registros.
A partir de dados de peso e estatura calculou-se o índice
de massa corporal (IMC) que foi classificado segundo a Organização Mundial da Saúde [6].
A porcentagem de gordura foi calculada por Jackson e
Pollock [7] para os indivíduos do gênero masculino e por
Jackson, Pollock e Ward [8] para os indivíduos do gênero
feminino e classificada de acordo com a referência proposta
por Wilmore e Costill [9].
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário São Camilo por meio do
documento 047/05 e todos os participantes assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido.
Resultados
Foram avaliados 13 fisiculturistas com idade média
de 28,23 anos (± 5,15), sendo 84,6% (n = 11) do gênero
masculino e 15,4% (n = 2) do gênero feminino. Os dados
antropométricos podem ser visualizados detalhadamente na
Tabela I. As Tabelas II e III apresentam, respectivamente,
resultados para o IMC e percentual de gordura para a amostra
observada.
Tabela I - Idade e dados antropométricos de fisiculturistas. São
Paulo, 2008.
Variáveis
Idade (anos)
Peso (Kg)
Gordura Abs. (Kg)
Massa Magra (Kg)
Estatura (cm)
Média
28,23
84,30
5,27
79,00
172,00
DP
5,15
14,20
1,84
13,31
0,08
Mín.
21,00
61,50
2,09
55,58
154,00
Máx.
40,00
113,60
9,15
105,29
184,00
IMC (Kg/m2)
CB (cm)
CMB (cm)
DCT (mm)
% Gordura (fem)
% Gordura (masc)
28,20
37,60
36,10
4,90
8,50
5,90
2,73
3,25
3,37
1,53
1,60
1,75
24,51
29,00
26,80
2,70
7,36
2,89
33,55
42,00
40,30
7,70
9,62
9,15
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Os indivíduos apresentaram grande variação quanto
ao peso corporal (84,30 ± 14,20kg) e idade (28,23 ± 5,15
anos). Não houve grande variação em relação à estatura.
Esses dados são semelhantes aos encontrados em estudos
anteriores como o de Silva [2], no qual a variação de peso
corporal foi de 57,4 kg a 105,8 kg e a idade de 20 a 56
anos.
Tabela II - Índice de Massa Corporal de fisiculturistas. São Paulo,
2008.
IMC (kg/m2)
18,5 – 24,99
25 – 29,99
30 – 34,99
Classificação
Eutrófico
Sobrepeso
Obesidade I
N
1
9
3
%
7,7
69,2
23,1
Tabela III - Porcentagem de gordura (%G) corporal de fisiculturistas. São Paulo, 2008.
Homens
%G
< 5%
5 – 8%
> 8%
N
4
6
1
%
36,4
54,5
9,1
Mulheres
%G
< 6%
6 – 12%
> 12%
N
2
-
%
100,0
-
Discussão
Em relação ao Índice de Massa Corpórea (IMC) [10] a
maioria dos culturistas apresentou-se dentro da classificação
de sobrepeso, porém esse não é o método mais adequado para
se avaliar a massa corpórea destes indivíduos, pois sabe-se que
atletas geralmente são classificados como obesos, segundo
o IMC, devido a grande proporção de tecido muscular em
relação ao tecido adiposo [11,12].
Segundo Wilmore e Costill [9], sugere-se que a porcentagem de gordura corporal para culturistas esteja entre os
valores de 5 a 8% para homens e de 6 a 12% para mulheres.
Esses valores são semelhantes aos sugeridos também por
outros autores, como Pollock e Jackson [13] e Petrosky [14],
que são de 4 a 9% para homens e de 8 a 12% para mulheres.
Portanto, no presente estudo, os valores de porcentagem de
gordura encontrados (Tabela III), em 55% dos homens e
100% das mulheres, são considerados normais; 36% dos
homens estão abaixo da média e somente 9% estão acima
da média de acordo com Wilmore e Costill [9].
Os resultados médios de porcentagem de gordura
para mulheres (8,5% ± 1,60), encontrados no presente
estudo, mostraram-se adequados para a modalidade e os
encontrados nos homens (5,9% ± 1,75) mostraram-se
discretamente inferiores aos encontrados por Silva [2] e
outros estudos em culturistas brasileiros, que apresentaram
porcentagem média de gordura de 6,9%. Já em estudos
internacionais encontram-se variação de 6,8 a 9,9% para
homens. A diferença nos métodos de cálculo usados pelos
autores constitui um fator de dificuldade para comparações [2,15].
11
Quanto ao conhecimento nutricional da população estudada, pode-se dizer que é de nível intermediário mediante o
resultado obtido com a aplicação da “Avaliação de conhecimento nutricional do desportista” que apresentou média de
acertos de 52%. Este é um dado importante para ser levado
em consideração, visto que a idéia do que é uma alimentação
adequada pode influenciar diretamente os hábitos alimentares
dos indivíduos.
Conforme observado nesta avaliação, verificou-se que a
maioria dos culturistas (86%) considerava o carboidrato mais
energético do que os lipídeos. Segundo Sabino, que teve como
objetivo compreender a visão de mundo e a organização social
dos fisiculturistas das academias do Rio de Janeiro, alimentos
muito ricos em carboidratos são considerados indispensáveis
para os fisiculturistas, pois como dizem as proteínas associadas aos carboidratos “são fundamentais para fazer crescer o
músculo” [16].
Um fato muito importante a ser comentado se refere ao
conhecimento dos culturistas quanto à distribuição correta
dos macronutrientes, ou seja, carboidratos, proteínas e
lipídeos, pois apenas 14% dos indivíduos responderam a
questão corretamente e 71% escolheram a alternativa que
considera que 15% das calorias ingeridas diariamente devem
ser de origem glicídica, 60% de origem protéica e 25% de
origem lipídica. Este resultado condiz com o perfil de hábitos
alimentares observados em culturistas, no qual a quantidade
de proteínas ingeridas diariamente é elevadíssima, chegando
até a 64% do valor energético total, conforme citado na
literatura [5].
Em estudo realizado por Cabral et al. [3], com a Equipe
Olímpica Permanente de Levantamento de Peso do Comitê
Olímpico Brasileiro (COB), observou-se que a ingestão de
proteínas atendia às necessidades diárias, sendo de 14,53 ±
3,4% nos indivíduos do gênero masculino e 13,72 ± 2,48 nos
indivíduos do gênero feminino [3]. Estes resultados se mostram diferentes dos observados em culturistas talvez devido
aos diferentes objetivos de cada modalidade esportiva, na qual
os culturistas preocupam-se mais com a forma física enquanto
que levantadores de peso treinam unicamente objetivando o
aumento da força física.
É recomendado que praticantes de atividade física aumentem o consumo de proteínas para atender ao aumento
da quantidade de proteína utilizada como fonte de energia
pelo organismo durante os exercícios e reparar as lesões nas
fibras musculares. Exercícios de força requerem até 1,8 gramas
de proteína por quilo de peso corporal, segundo a Sociedade
Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). Em contrapartida,
segundo comentado por Cabral [3], esta quantidade está entre
1,5 a 2,5 g/kg de peso. É necessário consumir adequadamente energia e proteínas, pois o excesso de proteínas poderá,
em longo prazo, causar danos à saúde como hipercalciúria,
desidratação, aumento de trabalho hepático e renal, entre
outros [3,17].
12
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
De acordo com Cabral [3], a redução do consumo de
lipídeos ocorre em modalidades nas quais há controle rígido
do peso como os fisiculturistas. A SBME orienta que não se
deve ingerir dietas restritas em gorduras por muito tempo,
sendo as recomendações de lipídeos para atletas as mesmas dos
adultos sedentários, ou seja, 30% do valor calórico total da
dieta, com as mesmas proporções de ácidos graxos essenciais,
que são 10% de saturados, 10% de poliinsaturados e 10% de
monoinsaturados [12].
As vitaminas foram consideradas como fornecedoras
de calorias por 57% dos participantes do presente estudo, demonstrando o pouco conhecimento em relação aos
micronutrientes e, conseqüentemente, em relação à sua
importância. A inadequação do consumo de vitaminas pode
levar a deficiências nutricionais resultando em diminuição
da performance [18].
Quanto à ingestão de água, os participantes do estudo
referiram ingerir de 2 a 5 litros por dia, porém, o turnover
de água no organismo varia bastante conforme o clima, a
prática de exercício e o gênero do indivíduo, desta forma,
para verificar a adequação de hidratação seria preciso uma
avaliação mais aprofundada [19].
O uso de suplementos nutricionais foi referido por
71% dos fisiculturistas, sendo a maioria dos suplementos,
hiperprotéicos. Segundo a SBME, estudos recomendam que
suplementos protéicos devem estar de acordo com a ingestão
protéica, pois seu consumo excessivo não promove ganho de
massa muscular adicional, nem aumento do desempenho. A
suplementação de aminoácidos apresenta um baixo grau de
recomendação e, em geral, não deve ser usada a não ser em
algumas situações especiais [17].
Conclusão
O fisiculturismo apresenta controle dietético muito rígido. Isso, somado ao fato de que o estado nutricional pode
estar comprometido em virtude da porcentagem de gordura
corporal situar-se no limite inferior recomendado para esses
atletas, faz-se necessário um acompanhamento médico e nutricional para evitar agravos à saúde. A nutricionista deve fazer
valer seu papel de educadora nutricional sempre que possível,
conscientizando não só a população em geral, mas também
atletas, que têm necessidades nutricionais diferenciadas. Se o
conhecimento nutricional por parte de atletas e praticantes
de atividade física for aprimorado, parte dos mitos nos quais
acreditam, poderão ser eliminados e a aceitação destes indivíduos às mudanças visando melhorar seus hábitos alimentares
será facilitada. Com estas intervenções é possível manter tanto
a performance e rendimento esportivo como a saúde.
Referências
1. Iriart JAB, Andrade TM. Musculação, uso de esteróides anabolizantes e percepção de risco entre jovens fisiculturistas de um
bairro popular de Salvador, Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública
2002;18(5):1379-87.
2. Silva PRP, Trindade RS, De Rose EH. Composição corporal,
somatotipo e proporcionalidade de culturistas de elite do Brasil.
Rev Bras Med Esporte 2003;9(6):403-7.
3. Cabral CAC, Rosado GP, Silva CHO, Marins JCB. Diagnóstico
do estado nutricional dos atletas da equipe olímpica permanente de levantamento de peso do Comitê Olímpico Brasileiro
(COB). Rev Bras Med Esporte 2006;12(6):345-50.
4. Oliveira PV, Baptista L, Moreira F, Lancha Junior AH. Correlação entre a suplementação de proteína e carboidrato e variáveis
antropométricas e de força em indivíduos submetidos a um
programa de treinamento com pesos. Rev Bras Med Esporte
2006;2(1):51-5.
5. Short SH. Estudos de consumo dietético e conhecimento de
nutrição dos atletas e dos seus treinadores. In: Wolinsky I,
Hickson J, eds. Nutrição no exercício e no esporte. 2ª ed. São
Paulo: Roca; 2002.
6. World Health Organization – WHO. Obesity: preventing and
managing the global epidemic. Report of a WHO, consultation
on obesity. Geneva: WHO; 1997.
7. Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for predicting
body density of men. B J Nutrition 1978;40(3):497-504.
8. Jackson AS, Pollock ML, Ward ANN. Generalized equations
for predicting body density of women. Med Sci Sports Exerc
1980;12(3):175-82.
9. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício.
2a ed. São Paulo: Manole; 2001.
10. World Health Organization – WHO. Physical status: The use
and interpretation of anthropometry. In: Report of the WHO
Expert Committee. WHO Technical Report Series, 854. Geneva: WHO; 1995, 452p.
11. Lohmam TG. Advances in body composition assessment.
Current Issues in Exercise Science. Monograph 3.Champaign:
Human Kinetics; 1992. 150p.
12. Maesta N, Cyrino ES, Junior NN, Morelli MYG, Sobrinho
JMS, Burini RC. Antropometria de atletas culturistas em relação
à referência populacional. Rev Nutr 2000;13(2):135-41.
13. Pollock ML, Jackson AS. Measurement of cardiorespiratory
fitness and body composition in the clinical setting. Compr
Ther 1980;6(9):12-27.
14. Petrosky EL. Desenvolvimento e validação de equações generalizadas para a estimativa da densidade corporal em adultos
[tese]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria;
1995. p.1-124.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
15. Pedrosa RG, Falavigna G, Junior NN, Tirapegui J. Avaliação da
composição corporal de atletas. In: Tirapegui J, ed. Nutrição,
metabolismo e suplementação na atividade física. 1ª ed. São
Paulo: Atheneu; 2005.
16. Sabino C. O peso da forma: Cotidiano e uso de drogas entre
fisiculturistas. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGSA; 2004.
17. Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte - SMBE. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares
e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos
13
para a saúde. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte. Rev Bras Med Esporte 2003;9(2):1-13.
18. Rogero MM, Mendes RR, Ribeiro SML, Tirapegui J. Vitaminas
e atividade física. In: Tirapegui J, ed. Nutrição, metabolismo e
suplementação na atividade física. 1ª ed. São Paulo: Atheneu;
2005.
19. Guerra I, Gomes MR, Tirapegui J, ed. Hidratação no esporte.
In: Tirapegui J. Nutrição, metabolismo e suplementação na
atividade física. 1ª ed. São Paulo: Atheneu; 2005.
14
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Artigo original
Prevalência de lesões no judô de alto rendimento
Prevalence of injuries in high performance judo
Paloma Angel de Carvalho*, Samira Jirges Hanna*, Marcelo Massayoshi Ohira*, Henrique Koch*, Luis Ricardo Revite*,
Ricardo Xavier Pinto*, Daiane Cardoso*, Rafael Cusatis Neto**
*Acadêmicos do curso de fisioterapia do Centro Universitário Sant’anna, **Doutorado pela PUC-Campinas, Prof. de Delineamento
de Pesquisa da Uni Sant’anna, FCNM e UNAERP-Guarujá
Resumo
Abstract
Este estudo teve como objetivo verificar a prevalência de lesões
no judô de alto rendimento do Programa de Treinamento Olímpico.
Participaram deste estudo 39 atletas com idade entre 15 e 24 anos,
idade média de 17,5 anos. Foi aplicado um questionário elaborado
pelos autores, com 12 questões, sendo 8 fechadas, 2 mistas e 2 escalas.
Os resultados demonstraram que 28,9% do total de lesões foram em
ombro, 23,7% em tornozelo e 22,7% em joelho (χ2o = 22,02, χ2c =
9,49). Também foi observado que no ombro houve prevalência de
71,4% das luxações (χ2o = 22,0, χ2c = 9,49), seguido por tornozelo
com 47,8% das entorses (χ2o = 45,06, χ2c = 7,82) e joelho com 42,9%
das rupturas ligamentares (χ2o = 22,45, χ2c = 7,82). Concluiu-se que
a região do corpo mais acometida por lesão foi o ombro, sendo que
a luxação foi a lesão mais comum para essa região e a contusão foi
a lesão mais freqüente nos atletas estudados.
This study aimed to verify the prevalence of injuries in high
performance judo along the Olympic Training Program. A group
of 39 athletes participated of the study, 15 to 24 years-old, mean
17.5 yrs. A questionnaire was applied to collect data, including 12
questions: 8 closed, 2 mixed and 2 scales. The results showed that
28.9% of the total of injuries were in the shoulder, 23.7% in the
ankle, and 22.7% in the knee (χ2o = 22.02, χ2c = 9.49). It was also
observed that in the shoulder there was a prevalence of 71.4% of
the dislocations (χ2o = 22.0, χ2c = 9.49), followed by the ankle with
47.8% of sprains (χ2o = 45.06, χ2c = 7.82) and the knee with 42.9%
of ligament ruptures (χ2o = 22.45, χ2c = 7.82). In conclusion, the
shoulders were the regions more affected by injuries, mostly by
dislocation. Moreover the injury by impact trauma (bruise) was the
most frequent lesion in the studied athletes.
Palavras-chave: artes marciais, traumatismo em atletas,
fisioterapia esportiva, lesões no esporte.
Key-words: martial arts, traumatism in athletes, sporting physical
therapy, lesions in the sport.
Endereço para correspondência: Rafael Cusatis Neto, Rua Cruzeiro do Sul, 660, 08770-590 Mogi das Cruzes SP, Tel: (11) 99368624, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
O judô como vários outros esportes competitivos, requer
destreza de força, velocidade, resistência, habilidade e agilidade, logo as lesões traumáticas físicas acabam sendo inevitáveis
para todos que praticam esses esportes. Essas lesões podem ser
intrínsecas, com origem na atividade física do próprio atleta,
sendo ocasionadas normalmente pela “síndrome do uso excessivo”. Já as lesões traumáticas extrínsecas ocorrem por quedas
ou pancadas de origem no meio externo, sendo que ambas
podem ser, de certo modo, evitadas com condicionamento e
treinamento apropriados [1].
Ide & Padilha [2] apresentam um tipo de lesão que não
está associada a nenhuma técnica especifica, e sim as características do esporte que exigem muito contato corporal, essa
lesão é chamada hematoma auricular. Segundo os autores,
essa lesão está presente em 40% dos lutadores.
Fontel [3] encontrou como principais lesões: escoriações
de face; rupturas musculares; entorses; luxação nas articulações acrômio-claviculares, interfalangianas, escápulo-umeral
e cotovelo; fraturas de falanges, metatarso, metacarpo, tíbia,
fíbula, rádio, ulna, clavícula e costelas.
Torres [4] realizou um estudo epidemiológico pela análise
do prontuário de 220 lesões, em 19 modalidades esportivas,
dentre elas o judô. No geral, a lesão que mais acometeu os
atletas foi a muscular, com 54,09% de todas as lesões, as
lesões articulares ficaram com 23,63% e ligamentares com
22,27%. Os cinco esportes com mais casos de lesão em ordem
decrescente foram: basquetebol, com 55 atendimentos, ou
seja, 29,25%, em seguida o futebol com 43 atendimentos,
22,91% do total, o handball com 25 atendimentos, 13,29%
do total, o atletismo com 14 atendimentos, 7,49% do total e
o judô com 7 atendimentos e 3,72% do total. As lesões mais
freqüentes no judô não foram citadas, pois esse esporte não se
classificou entre os três com maior acometimento de lesão.
Carazzato J, Campos, Carazzato S [5] realizaram um
estudo de incidência de lesões traumáticas. Foram analisados
questionários de 6.955 atendimentos feitos na área de traumatologia esportiva, e nesse estudo o judô foi responsável pelo
menor número de atendimentos, sendo que a região mais
afetada foi o joelho principalmente com lesões meniscais e
ligamentares.
Castropil [6] encontrou a entorse de joelho como o mais
freqüente em esportes de contato, sendo que as maiores
complicações foram às lesões de ligamento colateral medial,
menisco medial e ligamento cruzado anterior.
Baffa & Barros Júnior [7] verificaram a predominância
de lesões no joelho, com 27 lesões (37,5%), seguida do
cotovelo, dedos e mão com 12 lesões cada um (16,6%), o
ombro apresentou 11 lesões (15,3%), dedos do pé, com 5
lesões (7%), punho e tornozelo, com 2 lesões cada (2,8%) e
coluna com 1 lesão (1,4%). A lesão mais comum foi a entorse,
com 36 ocorrências (45%), tendinites, com 13 ocorrências
(17%), fraturas e luxações obtiveram o mesmo valor, com 9
15
ocorrências cada (12%), contusões, com 8 ocorrências (10%)
lesões musculares, com 3 ocorrências (4%).
Santos, Duarte, Galli [8] realizaram um estudo analisando
algumas variáveis físicas como fator relevante para a ocorrência
de lesões em 42 judocas. As lesões encontradas foram: 16
judocas (38,1%) com entorses/torsões (joelho, tornozelo e
dedos); 12 judocas (28,6%) com luxações (ombro e joelho);
8 judocas (19%) com pancadas (choque com joelho, perna e
cabeça) e 6 judocas (14,3%) com distensões.
Carazzato et al. [9] realizaram um estudo de incidência
de lesões e atendimentos nos jogos Pan-Americanos de Mar
Del Plata, observaram que, entre as 425 lesões em atletas das
24 modalidades esportivas relacionadas, o judô foi o quarto
com maior número de lesões. No atletismo foram 42 lesões,
na natação 39, no voleibol 38 e no judô 34, sendo que 27
eram lesões exclusivas da área de traumatologia.
Carazzato, Cabrita, Castropil [10] encontraram o maior
número de lesões nas categorias superiores do judô, podendo
ser conseqüência do maior esforço realizado para alcançar
resultados melhores. A região mais acometida foi o ombro,
com 72,13%; seguida pelo joelho, com 63,59%; a mão, com
62,02%; o pé, com 53,49%; tornezelo, com 49,62%; lesões
auriculares, com 46,51% (as mais comuns) e cotovelo, com
41,87%. As lesões articulares foram as mais freqüentes.
Ejnisman et al. [11] encontraram oito casos de ruptura do
músculo peitoral maior em atletas do sexo masculino, todos
de nível competitivo. Dos oito atletas, dois eram praticantes
de judô e se lesionaram na competição.
Cortez [12] cita a articulação acrômio-clavicular como
sede de lesões em atletas de judô, ocorrendo nos mecanismos
traumáticos diretos ou indiretos, ou seja, ocasionada pelo
choque direto sobre o ombro ou pelo choque indireto que
atinge o braço e abala os ligamentos do ombro.
Tão importante como a lesão propriamente dita é a base
científica para o reconhecimento das lesões mais incidentes nas
modalidades esportivas, para que sejam corretamente aplicadas as medidas de controle, tratamento e prevenção [13].
Diante do exposto e levando-se em conta o alto índice
de trauma nos esportes de contato, este estudo se propôs
verificar a prevalência de lesões no judô de alto rendimento,
identificando a lesão mais comum, bem como o local mais
acometido por lesão. Além disso, os resultados obtidos poderão contribuir com trabalhos preventivos já focados nas
necessidades reais deste tipo de atleta.
Material e métodos
Participaram deste estudo 39 voluntários, todos atletas
praticantes de judô de alto rendimento do Programa Olímpico Projeto Futuro do Estado de São Paulo. Dos atletas
selecionados 33,33% eram do gênero feminino e 66,66% do
gênero masculino, com idade média de 17,5 anos, variando
entre 15 e 24 anos, com amplitude de 9 anos, média igual a
16 anos e mediana de 17 anos. Todos os sujeitos da pesquisa
16
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
e os responsáveis por esses foram esclarecidos quanto à finalidade da pesquisa e assinaram um termo de consentimento
informado, conforme resolução CNS 196/96.
Foi aplicado um questionário formulado pelos autores
com o intuito de verificar a prevalência de lesões em atletas
de judô de alto rendimento, o mesmo contendo 12 questões,
sendo 8 fechadas, 2 mistas e 2 escalas. Esses foram respondidos
e recolhidos no mesmo dia e pela mesma pessoa, após a leitura
e explicações de cada questão.
Os dados foram processados quantitativamente e qualitativamente por meio de freqüência e porcentagem, sendo
apoiado em teste interferêncial não paramétrico, face à natureza dos dados.
Foi aplicado o teste do qui-quadrado para verificar a homogeneidade entre as respostas dos judocas, sempre partindo
Ho de que não existia diferença significante entre as variáveis
em estudo com Ha de que poderiam ser diferentes. Para garantir a confiabilidade e o saber geral, o nível de significância ou
margem de erro foi estipulado em p < 0,05, aceito na área.
Resultados
Os resultados obtidos nos questionários demonstraram
que 15,4% dos judocas praticavam judô há menos de 5 anos;
43,6% praticavam judô de 5 a 10 anos e 41,0% praticavam
judô há mais de 10 anos. O teste do qui-quadrado resultou
em χ2o de 5,69, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05,
portanto não houve diferença significante na concentração
de 5 a 10 anos. Para o tempo de treino semanal, encontrou-se
que 2,6% dos atletas treinam 4 vezes por semana e 97,4%
treinam 5 ou mais vezes por semana, portanto houve significância na concentração de treinos em 5 ou mais vezes
por semana.
Quanto à carga horária diária de treino, observou-se que
71,8% dos judocas treinavam de 3 a 4 horas por dia e 23,1%
dos judocas treinavam mais de 4 horas por dia. O teste do
qui-quadrado resultou em χ2o de 5,68, com χ2c de 5,99, ngl
igual a 1 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na
concentração de 3 a 4 horas de treino diário.
Com referência ao nível de competição, 35,9% dos judocas eram de nível estadual, 35,9% de nível nacional e 28,2%
de nível internacional. O teste do qui-quadrado resultou em
χ2o de 0,44, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05, portanto
não houve diferença significante entre o nível de competição
dos atletas.
Os resultados evidenciaram que 79,9% dos atletas realizavam aquecimento/ alongamento antes dos treinos, 5,1%
realizavam aquecimento/ alongamento depois dos treinos,
7,7% realizavam antes e depois dos treinos e 10,3 nunca realizavam alongamento/ aquecimento. O teste do qui-quadrado
resultou em χ2o 144,31 , com o χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤
0,05, portanto houve diferença significante na concentração
de atletas que realizavam aquecimento e/ou alongamento
antes dos treinos e competições.
Quanto à freqüência de lesões em treinamento, observou-se
que 7,7% dos judocas já se lesionaram pelo menos uma vez,
30,8% dos judocas se lesionaram 2 vezes, 20,5% se lesionaram
3 vezes, 15,4% se lesionaram 4 vezes e 25,6% se lesionaram em
treinamento mais de 4 vezes. O teste do qui-quadrado resultou
em χ2o de 16,04, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante na concentração de judocas
que se lesionaram pelo menos 2 vezes em treinamento.
Quanto à freqüência de lesões em competição, observou-se
que 38,5% dos judocas se lesionaram pelo menos uma vez em
competição, 20,5% se lesionaram 2 vezes, 7,7% se lesionaram 3 vezes, 7,7% se lesionaram 4 vezes, 5,1% se lesionaram
mais de 4 vezes e 20,5% dos judocas nunca se lesionaram
em competição. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de
47,93, com χ2c de 11,07, ngl igual a 5 e p ≤ 0,05, portanto
houve diferença significante na concentração de judocas que
se lesionaram uma vez em competição.
Tabela I - Prevalência de contusão.
Ombro
Joelho
Cotovelo
Tornozelo
Virilha
Coxa
Total
F
7
9
3
3
2
1
25
%
28,0
36,0
12,0
12,0
8,0
4,0*
100
* Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência.
Tabela II - Prevalência de distensão.
Ombro
Joelho
Cotovelo
Tornozelo
Virilha
Coxa
Total
F
1
2
2
2
3
2
12
%
8,3
16,7
16,7
16,7
25,0
16,7
100
Na Tabela I, quanto à prevalência de contusões nos judocas, podemos observar que 28,0% das contusões encontradas
foram em ombro, 36,0% em joelho, 12,0% em cotovelo,
12,0% em tornozelo e 8,0% em quadril. O teste do quiquadrado resultou em χ2o de 30,67, com χ2c de 9,49, ngl
igual a 4 para p ≤ 0,05, portanto houve diferença significante
na concentração de contusões em joelho.
Quanto à prevalência de distensões nos judocas, os resultados apresentados na tabela II demonstram que 8,3% das
distensões foram em ombro, 16,7% em joelho, 16,7% em
cotovelo, 16,7% em tornozelo, 25,0% em virilha e 16,7%
em coxa. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 8,33,
com χ2c de 11,07, ngl igual a 5 e p ≤ 0,05, portanto não
houve diferença significante na concentração de distensão
em virilha.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Tabela III - Prevalência de fratura.
Ombro
Cotovelo
Tornozelo
Dedos (mão)
Clavícula
Total
F
3
2
1
2
1
9
%
33,3
22,2
11,1
22,2
11,1
100
Tabela IV - Prevalência de luxação.
Ombro
Joelho
Tornozelo
Dedos (pé)
Total
F
15
1
4
1
21
%
71,4
4,8*
19,0
4,8*
100
* Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência.
A Tabela III, quanto à prevalência de fraturas em judocas,
demonstra que 33,3% das fraturas ocorreram em ombro,
22,2% em cotovelo, 11,1% em tornozelo, 22,2% nos dedos
da mão e 11,1% na clavícula. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 17,28, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤
0,05, portanto houve diferença significante na concentração
de fraturas em ombro.
Observa-se, na tabela IV, quanto à prevalência de luxações em judocas, que 71,4% das luxações foram em ombro
e 19,0% em tornozelo. O teste do qui-quadrado resultou
em χ2o de 413,30, com χ2c de 3,84, ngl igual a 1 e p ≤ 0,05,
portanto houve diferença significante na concentração de
luxação em ombro.
Tabela V - Prevalência de entorse.
Ombro
Joelho
Cotovelo
Tornozelo
Dedos (mão)
Total
F
2
7
1
11
2
23
%
8,7
30,4
4,3*
47,8
8,7
100
17
χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença
significante na concentração de entorse em tornozelo.
Na Tabela VI, quanto à prevalência de rupturas em judocas, nota-se que 42,9% das rupturas foram em joelho, 28,6%
em tornozelo, 14,3% nos dedos da mão e 14,3% na coxa.
O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 22,45, com χ2c
de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença
significante na concentração de rupturas em joelho.
Quanto ao tipo de tratamento mais utilizado, os resultados demonstraram que 52,3% dos judocas utilizaram a
fisioterapia, 38,5% utilizaram medicamentos e 7,7% foram
submetidos à cirurgia. O teste do qui-quadrado resultou
em χ2o de 20,66, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05,
portanto houve diferença significativa na concentração de
judocas que utilizaram fisioterapia.
Em relação ao tempo de afastamento decorrente de lesão,
64,1% dos judocas permaneceram afastados por até 2 meses,
17,9% permaneceram afastados de 2 a 4 meses, 10,3% permaneceram afastados de 4 a 6 meses e 7,7% por mais de 6 meses.
O teste do Qui-quadrado resultou em χ2o de 83,83, com χ2c
de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença
significante na concentração de judocas que permaneceram
afastados por até 2 meses.
Para a região do corpo mais acometida por lesão, 28,9%
das lesões foram em ombro, 22,7% em joelho, 8,2% em
cotovelo, 23,7% em tornozelo e 6,2% nos dedos da mão.
O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 22,02, com χ2c
de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença
significante na concentração de lesões em ombro.
Em relação à média das respostas obtidas quanto à
importância do tratamento fisioterapêutico na reabilitação
dos judocas, esta foi de 8,77, sendo que 0 representa nada
importante e 10 significa extremamente importante. Quanto
ao rendimento dos mesmos na volta aos treinos, depois do
processo de reabilitação, a média obtida foi de 6,08, sendo
que 0 significa um rendimento péssimo comparado ao período
anterior à lesão, 5 significa um rendimento igual ao anterior
e 10 significa um rendimento excelente.
Discussão
* Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência.
Tabela VI - Prevalência de luxação.
Joelho
Tornozelo
Dedos (mão)
Coxa
Total
F
3
2
1
1
7
%
42,9
28,6
14,3
14,3
100,0
Na Tabela V, quanto à prevalência de entorse em judocas,
podemos observar que 8,7% das entorses foram em ombro,
30,4% em joelho, 47,8% em tornozelo e 8,7% nos dedos da
mão. O teste do qui-quadrado resultou em χ2o de 45,06, com
O judô, assim como outros esportes de contato, apresentam um elevado número de lesões entre praticantes
de vários níveis, como foi observado por Carazzato et al.
[9], durante atendimentos nos Jogos Pan-Americanos,
relacionando o número de atletas com o número de atendimentos o judô foi o esporte que mais provocou lesão. A
literatura relata um fenômeno caracterizado pelo excesso
de treinamento chamado de overtraining, esse apresenta
entre seus vários sintomas o aumento da incidência de
lesões [14]. Além disso, o overtraining é responsável pela
diminuição do desempenho levando a erros de execução
nas técnicas de ataque e defesa, facilitando a ocorrência de
lesões durante a luta [15].
18
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
O presente estudo não relacionou a lesão mais freqüente
nos judocas baseado no nível de competição, porém Baffa
[7] e Carazzato, Cabrita, Castropil [10] fizeram essa relação
em seus estudos e verificaram que quanto maior o nível de
competição, maior é o número de lesões. Essa relação pode
ocorrer devido a maior intensidade de treinamentos para
manter o nível [10].
Amatuzzi & Carazzato [16] verificaram que as lesões
causadas pelo judô foram mais comuns em membros inferiores, representando 70,5% do total das lesões encontradas,
sendo que 54,9% foram somente em joelho, seguido por
5,8% na coxa, 5,8% no tornozelo, 2,0% no pé e 2,0% na
perna. Já Pieter [17] e Yard et al. [18] em seus artigos sobre
os ferimentos mais comuns em artes marciais verificaram a
prevalência de lesões em membros superiores. Nesse trabalho,
se considerarmos o total de lesões somente em membros
inferiores teremos equivalência quanto à sua distribuição em
membro superior com 44,33% das lesões, membro inferior
com 50,52% e tronco com 5,15% das lesões, assim como no
trabalho de Carazzato, Cabrita, Catropil [10] que encontraram equivalência na distribuição das lesões.
A prevalência de lesões no judô foi estudada por Carazzato,
Campos, Carazzato [5] onde as lesões somente em joelho representaram 54,91% do total das lesões, seguido por 21,57%
em coluna. Outra pesquisa realizada, dessa vez na população
de atletas de jiu-jitsu, demonstrou que a articulação mais
acometida por lesões foi a do joelho com 37,7% das lesões,
seguida por cotovelo e dedos da mão com 16,6% e ombro
com 15,3% das lesões. Esses trabalhos vão de encontro com
os resultados obtidos, visto que foram observados 28,9% de
lesões em ombro, seguida por 23,7% em tornozelo, 22,7%
em joelho, seguido por porcentagens menores respectivamente
em cotovelo, dedos da mão, virilha, coxa, quadril, dedos do
pé e clavícula.
Considerando o tipo de lesão mais freqüente encontramos
25 contusões, 23 entorses, 21 luxações, 12 distensões, 9 fraturas e 7 rupturas (tendões e ligamentos) em um total de 97
lesões relatadas pelos 39 atletas que fizeram parte da pesquisa.
Quando relacionamos a lesão mais freqüente de acordo com
a região corpórea encontramos no ombro a prevalência de
luxação (71,4%), no joelho prevalência de rupturas (42,9%),
no cotovelo prevalência de fraturas (22,2%), no tornozelo
prevalência de entorse (47,8%), nos dedos da mão prevalência de fraturas (22,2%), na coxa prevalência de distensão
(16,7%), em outras regiões só foi relatado um tipo de lesão,
sendo virilha distensões, no quadril contusões, nos dedos do
pé luxações e na clavícula fraturas. O judô como esporte de
contato direto usa movimentos em cadeia fechada. Segundo
Carazzato, Cabrita, Castropil [10] acaba ocorrendo a preservação do aparelho motor principal e da alavanca principal que
são respectivamente músculos e ossos, e sobrecarga dos locais
onde ocorre o movimento, que são as articulações.
O retorno ao esporte após o tratamento obteve a média de
6,08, sendo que 5,00 representa um retorno com rendimen-
to igual ao anterior à lesão, logo podemos considerar que o
rendimento foi bem próximo do considerado anteriormente.
Este resultado concorda com Baffa & Barros Júnior [7] que
verificaram um rendimento igual ao anterior à lesão em 51,0%
dos atletas pesquisados.
O conhecimento preciso das principais lesões que acometem judocas de vários níveis é fundamental para estimular o
desenvolvimento do trabalho preventivo e suas vantagens, não
só para evitar lesões, o que nem sempre é possível, mais para
melhorar o rendimento do atleta no seu aspecto geral [19].
Conclusão
Em relação à prevalência de lesões, os resultados demonstraram que a região mais acometida por lesão foi o
ombro com maior índice de luxação, sendo que de todas as
lesões a mais comum foi a contusão. Concluiu-se também
que os judocas sofreram mais lesões em treinamento do que
em competição, mantendo-se afastados dos treinos por até
2 meses, sendo o tratamento mais utilizado a fisioterapia.
Por meio desse levantamento confirma-se a necessidade
de trabalhos voltados à prevenção das lesões mais comuns
para esse tipo de esporte, visando à melhora do rendimento
desses atletas.
Referências
1. Salter RB. Lesões músculoesqueléticas. Distúrbios e lesões do
sistema músculo-esquelético. 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi;
2001. p.662-65.
2. Ide BN, Padilha DA. Possíveis lesões decorrentes da aplicação
das técnicas do jiu-jitsu desportivo [online]. [citado 2006 Set
07]. Disponível em: URL: http://www.efdeportes.com.
3. Fontel E. As lesões mais comuns em competições de judô [online]; 1998; [citado 2006 Set 11]. Disponível em URL: http://
judoesporte.com/arquivos/lesoesmaiscomuns.html.
4. Torres SF. Perfil epidemiológico de lesões no esporte [tese].
Florianópolis: UFSC; 2004.
5. Carazzato JG, Campos LAN, Carazzato SG. Incidência de lesões
traumáticas em atletas de dez tipos de modalidades esportivas:
trabalho individual de duas décadas de especialista em Medicina
Esportiva. Rev Bras Ortop 1992;27:745-58.
6. Castropil W. Entorse de joelho em esportes de contato [online];
2002; [citado 2006 Set 16]. Disponível em: URL:http://www.
vivaesporte.com.br/artigos/orto1.cfm.
7. Baffa AP, Barros Junior EA. As principais lesões no jiu-jitsu.
Fisioter Bras 2002;3: 377-81.
8. Santos SG, Duarte MFS, Galli ML. Estudo de algumas variáveis
físicas como fatores de influência nas lesões em judocas. Revista
Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano
2001;3:42-54.
9. Carazzato JG, Rossi JP, Fonseca BB, Freitas HFG. Jogos PanAmericanos – Mar Del Plata-1995: incidência de atendimento
médico desportivo. Rev Bras Ortop 1995;30: 727-34.
10. Carazzato JG, Cabrita H, Castropil W. Repercussão no aparelho
locomotor da prática do judô de alto nível: estudo epidemiológico. Rev Bras Ortop1996;12:957-69.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
11. Ejnisman B, Andreoli CV, Pochini AC, Carrera EF, Abdalla RJ,
Cohen M. Ruptura do músculo peitoral maior em atletas. Rev
Bras Ortop 2002;37:482-88.
12. Cortez AC. Lesões do ombro – síndrome do impacto e lesões
do manguito rotador – parte II [online]; 2000; [citado 2006
Set 10]. Disponível em: URL: http://www.cdof.com.br/consilt.41.htm.
13. Cohen M, Abdalla RJ. Artes marciais. Lesões no esporte: diagnóstico, prevenção e tratamento. São Paulo: Revinter; 2003.
p.867-18.
14. Franchini E. Judô: desempenho competitivo. São Paulo: Manole; 2001. p.211-212.
19
15. Andrew JR, Harrelson GL, Wilk KE. Reabilitação física das
lesões desportivas. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2000. p.1-8.
16. Amatuzzi MM, Carazzato JG. Medicina do esporte. São Paulo:
Roca; 2004. p.326.
17. Pieter W. Martial arts injuries. Sci Med Sport 2005;48: 5973.
18. Yard EE, Knox CL, Smith GA, Comstock RD. Pediatric martial
arts injuries presenting to Emergency Departments, United
States 1990-2003. Sci Med Sport 2007;10(4):219-26.
19. Soares STM. Trabalho preventivo para lesões de ombro e cintura
escapular em atletas amadores de judô. Revista Brasileira Ciência
& Movimento 2003;11:29-34.
20
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Artigo original
Análise do salto vertical em jogadores
de basquete utilizando o alongamento
como preparação da flexibilidade
Vertical jump analysis of basketball players using stretching
to improve flexibility
Juliano Angeli Romani*, Cristiane Mariana Rodrigues da Silva*, Carlos Fornazzari*
Faculdade Anhanguera de Piracicaba*, Universidade Metodista de Piracicaba**
Resumo
Abstract
Este estudo tem como objetivo analisar a impulsão vertical
em jogadores de basquetebol após a aplicação de um protocolo de
alongamento do “tipo estático”. Foram avaliados 10 atletas do sexo
masculino que atuam na categoria mini, com média de idade entre
10 e 11 anos. O teste realizado para medir a impulsão dos jogadores
foi o Salto Vertical Máximo (SVM). A avaliação consistiu-se de 4
etapas: 1) Aquecimento geral inespecífico (corrida do tipo “trote”)
por 5 minutos; 2) Realização do SVM para o cálculo da média;
3) Realização do protocolo de alongamento do tipo estático dos
seguintes grupos musculares: ísquio-tibiais, quadríceps, glúteos,
tríceps sural, adutores e abdutores do quadril; 4) Realização de
uma nova bateria de SVM. Concluímos que houve uma diferença
estatisticamente de 2,0 cm para menos após o alongamento, sendo
este responsável por um efeito inibitório sobre a contração dos
grupos musculares do MMII e OTG´s.
The present research has as objective of study the analysis of the
vertical jump in basketball players after static stretching. Ten male
athletes, average age between 10 and 11 years old, were evaluated.
The Highest Vertical Jump (HVJ) test was performed to measure
players’ impulse. The evaluation consisted in four stages: 1) run at
a slow trot for five minutes to warm up; 2) HVJ test to estimate
average of jump impulse; 3) stretching of the following muscles
group: ischiotibial, quadriceps, gluteus, triceps sural, hip aductors
and abductors; 4) HVJ was applied again. As a result, this study
showed a statistical difference of less than two centimeters of HVJ
after stretching, which causes an inhibitory effect of the inferior
limbs and Golgi Tendon Organ (GTO).
Key-words: vertical jump, static stretch, impulse, flexibility.
Palavras-chave: salto vertical, alongamento estático, impulsão,
flexibilidade.
Endereço para correspondência: Juliano Angeli Romani, E-mail: [email protected], [email protected], cmrsilva@gmail.
com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
O mover-se está intimamente ligado à vida e as atividades
realizadas no dia a dia, sendo a flexibilidade um de seus aspectos, tendo uma grande importância nas diversas modalidades
esportivas e na reabilitação [1].
O basquetebol se tornou um dos esportes de equipe mais
populares nos Estados Unidos, e no mundo todo. O desenvolvimento de habilidades específicas como saltos, corridas
e movimentos em pivô se faz necessário. Como modalidade
competitiva o basquetebol evoluiu para um esporte que
desenvolve muito contato e movimentos de alta velocidade,
o que vem contribuindo para um aumento significativo de
lesões nos últimos anos [2].
Nas décadas de 60 e 70 já existia grande interesse em
entender como ocorria o processo de adaptação das fibras
musculares, identificando que o músculo aumentava seu
comprimento perante a adição de sarcômeros ao longo das
fibras musculares [3,4].
A conexão das pontes cruzadas dos filamentos de actina e
miosina no sarcômero é fundamental para determinar a força
que o músculo desenvolve durante a contração [5].
Gordon et al. [6] verificaram em um estudo que a força
desenvolvida pelo músculo é dependente do seu comprimento
e da sua interação dos filamentos de actina e miosina. Quando
ocorre o encurtamento muscular e de sarcômeros, os filamentos
de actina e miosina apresentam uma sobreposição exagerada
comprometendo a tensão ativa do músculo. O contrário também é verdadeiro, se o sarcômero for excessivamente alongado, os miofilamentos de miosina pouco se conectam com os
da actina causando um déficit na tensão ativa realizada pelo
músculo [7]. É importante ressaltar que este não é o único
motivo pelo qual o músculo não consegue desenvolver sua
força contrátil máxima, e que a integridade do Sistema Nervoso
Central (SNC) córtex motor e Sistema Nervoso Periférico
(SNP) unidades motoras também são influenciados por diversos
fatores como tipo e diâmetro da fibra muscular, quantidade de
recrutamento de unidades motoras [8].
A capacidade de sobreposição entre os filamentos de actina e miosina determinam o grau de tensão mecânica que o
músculo pode desenvolver ativamente [9].
A flexibilidade pode ser definida de forma operacional
como “uma qualidade motriz que depende da elasticidade
muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima
amplitude de movimentos necessária para a perfeita execução
de qualquer atividade física eletiva, sem que ocorram lesões
anatomopatológicas” [1:7].
Quanto maior for o comprimento muscular, maior será a
capacidade de desenvolver tensão, proporcionando um melhor rendimento da capacidade contrátil do músculo [10].
Estudos realizados em músculos isolados de rã comprovam
que o aumento das excursões de comprimento muscular é
necessário para que o músculo consiga desenvolver o máximo
de energia mecânica [11].
21
Cuillo et al. [12] demonstraram em seu estudo que, tanto
em humanos quanto em anfíbios, o músculo desenvolve um
maior trabalho quando a contração concêntrica precede um
alongamento em forma de contração excêntrica, do que após
uma contração isométrica. Em estudo realizado com idosos,
Feland et al. [13] concluíram que os alongamentos realizados
por 15 a 30 segundos repetidos quatro vezes em cada sessão,
cinco vezes por semana, por seis semanas produziram um
aumento de amplitude significativa em relação ao grupo
controle, porém os que alongaram por 60 segundos obtiveram
uma maior amplitude articular.
Kisner et al. [14] afirmam que os ganhos obtidos com
alongamentos de curta duração são transitórios e atribuídos a uma folga temporária entre as actinas e miosinas nos
sarcômeros, enquanto que os alongamentos que possuíam
duração de 20 minutos ou mais, teriam ganhos mais duradouros.
Em relação a alterações plásticas do sistema musculoesquelético, sabe-se que os alongamentos aplicados em uma proporção de 20 a 30% de sua amplitude fisiológica continuam a
se manifestar de forma estrutural mesmo após o relaxamento
muscular, sendo, portanto irreversíveis [15].
Considerando o exposto anteriormente, este trabalho tem
por objetivo avaliar a impulsão reproduzida em atletas de
basquetebol após uma preparação da flexibilidade através da
aplicação do alongamento muscular do tipo estático.
Material e métodos
Participaram deste estudo 10 atletas de basquetebol do
sexo masculino com idades entre 10 e 11 anos, que foram
selecionados e tiveram a participação voluntária. Antes da
coleta de dados os indivíduos foram esclarecidos acerca dos
objetivos e da metodologia a ser utilizada.
Teste SVM: O atleta mergulhava a ponta dos dedos da mão
em talco, tomava uma distância equivalente a uma passada
do banner que estava adaptado a uma parede e realizava o
movimento de salto assim que fosse solicitado. Ao saltar na
máxima amplitude o jogador batia com a mão sobre o banner
deixando uma marca, a qual era visualizada e anotada pelo
pesquisador.
O presente estudo envolveu quatro etapas: na primeira
etapa os atletas realizaram um aquecimento geral inespecífico
(corrida tipo trote) com duração de 5 minutos; na segunda
etapa os jogadores realizaram o teste Salto Vertical Máximo
(SVM) com três repetições, e a média foi calculada; feito
isto os voluntários foram submetidos a um protocolo de
alongamento ativo do tipo estático que consistia de três séries
com duração de 20 segundos cada, dos respectivos grupos
musculares: quadríceps, ísquio-tibiais, tríceps sural, glúteos,
adutores e abdutores do quadril.
O alongamento foi executado com o mínimo de compensações possíveis, com auxílio de um cronômetro para que o
tempo exato de duração e a sua eficácia fossem garantidos.
22
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Após o alongamento, por fim os atletas realizaram uma nova
bateria de SVM assim como na primeira etapa.
A altura atingida foi expressa em cm, através do auxílio de
um banner que foi adaptado a uma parede, onde o indivíduo
deixava sua marca ao realizar o salto. Antes da realização do
salto o atleta mergulhava os dedos em talco que ajudava o examinador a visualizar no banner a altura atingida pelo atleta.
Após cada atleta marcar a altura atingida, o examinador
apagava a marca e assim sucessivamente até o último atleta
realizar o salto para que não houvesse erro na marcação de
cada atleta.
Os resultados foram analisados estatisticamente pela aplicação do teste t Student para amostra pareada.
A realização deste experimento tem como objetivo analisar
a aplicação do alongamento em MMII como preparação da
elasticidade, em relação ao desenvolvimento do salto vertical,
verificando se há um ganho significativo na altura atingida
pelos atletas de basquetebol.
Resultados
Considerando as condições experimentais adotadas por
este estudo, o valor médio obtido para a impulsão vertical
pré-alongamento foi de 266,44 ± 34,34 cm com coeficiente
de variação de 13%. O valor obtido, após a aplicação do
protocolo de alongamento, foi de 264,44 ± 34,39 cm com
coeficiente de variação de 13%.
A diferença pré e pós alongamento foi 2,0 cm com p =
0,021 no valor médio da impulsão vertical máxima após a
intervenção proposta neste trabalho. Estes dados podem ser
visualizados na Figura 1.
Figura 1 - Análise do salto vertical expressa em cm antes e após
intervenção do alongamento pelo protocolo de 3 séries com 20
segundos de duração para os grupos musculares descritos anteriormente no estudo.
peutas, preparadores físicos recomendam o alongamento
tanto para prevenir lesões como para promover o aumento
da performance.
Uma revisão recente realizada por Herbert et al. [16] concluiu que o alongamento antes ou depois da atividade física
não previne a dor muscular ou a lesão muscular e que não há
evidências de aumento de performance do atleta.
Estudos foram realizados relacionando o aumento da
flexibilidade e a diminuição da incidência de lesões, Knapik
et al. [17] e Van Mechellen et al. [18] concluíram que o
alongamento antes da atividade física possa melhorar a performance para alguns esportes que necessitam da flexibilidade
como ginástica ou natação, porém para outros esportes pode
diminuir o rendimento do atleta, sendo que o aumento da
flexibilidade pode diminuir a força de contração muscular
num período de até uma hora.
Existem diversos tipos de alongamento, passivo, estático,
dinâmico, facilitação neuro-proprioceptiva, balístico e isométrico. Embora o alongamento estático seja o tipo usado
com maior freqüência, cada uma destas técnicas tem a sua
importância e recomendação.
Em nosso trabalho os atletas praticaram o alongamento de
forma ativa e do tipo estático, com uma repetição para cada
grupo muscular já citado na metodologia.
Avela et al. [19] investigaram o efeito do alongamento
passivo do músculo tríceps sural, e, após uma hora de alongamento, relataram uma queda de 23% da contração voluntária máxima, e de 43,8% no potencial de ação muscular,
sugerindo a redução do drive excitatório produzido pelo
motoneurônio-alfa.
Em nosso trabalho houve uma redução em média de
2,0 centímetros no salto vertical máximo produzido pelo
atleta, sugerindo uma inibição do drive excitatório do
motoneurônio-alfa, e também o relaxamento muscular
momentâneo produzido pelo Órgão Tendinoso de Golgi
(OTG), pois o tempo entre o alongamento e o salto foi
menor que 5 minutos.
Em contraproposta Wilson et al. [20] concluíram que
houve um aumento da performance no salto vertical após
o treinamento de 8 semanas de flexibilidade, 5,4% no Leg
Press (movimento do rebote) e 4,5% na contração concêntrica
pura, sugerindo que este ganho de performance foi devido
a capacidade de armazenar e reproduzir a energia elástica do
músculo durante o movimento de rebote.
Conclusão
Discussão
O alongamento antes da realização da atividade física é
uma prática comum em todos os níveis de esportes seja ele
competitivo ou profissional. Atletas, treinadores, fisiotera-
Concluímos com este trabalho que a flexibilidade é uma
propriedade intrínseca dos tecidos moles que determinam o
arco de movimento máximo sem que ocorra lesão ou ultrapasse o limite da plasticidade de um ou grupo muscular ou
articular.
O alongamento diminuiu em média 2,0 cm durante o
salto vertical, sugerindo uma diminuição da contração volun-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
tária máxima concêntrica e uma pequena inibição muscular
promovida pelo OTG (efeito transitório).
Sabemos que para o músculo desenvolver sua força
contrátil máxima é importante que os SNC e SNP estejam
íntegros e trabalhando de forma sinérgica. Outros fatores
como tipo, diâmetro da fibra, quantidade de recrutamento
de unidades motoras também podem influenciar na força
muscular máxima.
Porém estudos demonstram a importância do alongamento e a sua eficácia em promover o aumento da ADM (braço
de alavanca), contudo, é fundamental para prevenir lesões
por sobrecarga, e conseqüentemente promover um maior
rendimento ao atleta
Estudos mais detalhados sobre o alongamento e melhora da performance do atleta se faz necessário, e sugerimos
também a implantação de um programa de flexibilidade
contínuo para atletas no período de preparação (trabalho de
base) analisando o ganho de ADM e flexibilidade.
Referências
1. Araújo CGS. Body flexibility profile and clustering among
male and female elite athletes. Med Sci Sports and Exerc
1999;31(suppl5):115.
2. Safran MR, Mckeag DB, Van Camp SP. Manual de Medicina
Esportiva. São Paulo: Manole; 2002. p. 676-02.
3. Goldspink G. Sarcomere length during post natal growth of
mammalian muscle fibers. J Cell Sci 1968;3:539-48.
4. Williams PE, Goldspink G. Longitudinal growth of striated
muscle fibres. J Cell Sci 1971;9:751-67.
5. Mouncastle VB. Fisiologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara; 1982.
6. Gordon AM, Huxley AF, Julian FJ. The variation in isometric
tension with sarcomere length in vertebrate muscle fibers. J
Physiol 1996;184:170-92.
7. Durigon OFS. Stretching muscle. Part II - mechanical interactions. Rev Fisioter Univ São Paulo 1995;2(2):72-8.
23
8. Peter MM. Biomecânica do esporte e exercício. Porto Alegre:
Artmed; 2002. p.236-76.
9. Mattew PBC. Muscle spindles: their messages and their fusimotor supply. In: Brooks, VB. Handbook of physiology. Bethesda:
American Physiological Society; 1981.
10. Takarada Y, Iwamoto H, Sugi H, Hirano Y, Ishii N. Stretch
induced enhancement of mechanical work production in
long frog single fibers and human muscle. J Appl Physiol
1997;83(5):1741-48.
11. Cavagna G, Citterio G, Jacini P. Effects of speed and extend of
stretching on the elastic properties of active frog muscle. J Exp
Biol 1981;91:131-43.
12. Cuillo JV, Zarins B. Biomechanics of the neuromusculotendinous unit: relation to athletic performance and injury. Clin
Sports Med 1983;2(1):71-86.
13. Feland JB, Myrer JW, Schulthis SS, Fellinghan GW, Meason
GW. The effect of hamstring muscle group for increasing
range of motion in people aged 65 years of older. Phys Ther
2001;81(5):1110-17.
14. Kisner C, Colby LI. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998; p.141-77.
15. Suzuki S, Watanabe S, Uchino Y. Vertical semicircular canal inputs to cat extraocular motoneurons. Exp Brain Res
1980;41:45-53.
16. Herbert RD, Gabriel M. Effects of stretching before and after
exercising on muscle soreness and risk of injury: a systematic
review. BMJ 2002;325:468-70.
17. Knapik JJ, Jones BH, Bauman CL, Harris JM. Strength, flexibility and athletic injuries. Sports Med 14:277-88.
18. Van Mechelen W, Twisk J, Moledijk A. Subject-related risk
factors for sports injuries: a 1-yr prospective study in young
adults. Med Sci Sports Exerc 1996;28:1171-79.
19. Avela J, Komi PV, Kyröläinen H. Altered reflex sensitivity
after repeated and prolonged passive muscle stretching. J Appl
Physiol 1999;86:1283-91.
20. Wilson G, Baker D, Carlyon R. Periodization: The effect on
strength of manipulating volume and intensity. J Strength Cond
Res 1994;8(4):235-42.
24
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Artigo original
Descrição entre alterações posturais e lesões
osteomioarticulares em jogadores de futsal
Description of postural changes and osteomyoarticular
injuries in futsal players
Alisson Guimbala dos Santos Araujo*, Cintia Seefeld**, Juliana Cardoso Alves**
*Supervisor de Estágio do curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala, Especialista em Ortopedia e Traumatologia,
Mestre em Ciências do Movimento Humano, **Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala, da Associação Catarinense de Ensino
Resumo
Abstract
O Futsal é considerado um esporte em ascensão, onde os
atletas sofrem com o excesso de jogos e treinos, aumentando a prédisposição às lesões. O objetivo foi descrever as alterações posturais
e quais as lesões osteomioarticulares foram sofridas pelos jogadores
durante a Liga Nacional de Futsal. Foram avaliados 17 atletas com
média de idade 27 anos (± 6,21), sendo o Grupo A (GA) 11 atletas
com lesão e o Grupo B (GB) sem lesão, as lesões foram avaliadas
através do prontuário fisioterapêutico e a avaliação postural, por um
protocolo elaborado pelos pesquisadores sendo baseado em Kendall
et al. A estatística utilizada foi do tipo descritiva-quantitativa. Os
resultados mostraram que de acordo com a classificação utilizada,
as lesões mais encontradas foram as distensões musculares (50%)
e as tendinites (22,2%). As alterações posturais mais encontradas
foram cabeça protusa, hiperlordose lombar, entre outras. Não se
pode afirmar que ocorreram diferenças entre as alterações posturais
encontradas nos grupos lesionados e não lesionados, em todos os
segmentos analisados, sendo que os do grupo B (não lesionado)
estariam predispostos também a lesões osteomioarticulares, devido às
constantes sobrecargas nas estruturas musculo-esqueléticas sofridas
durante o desporto. Portanto, conclui-se que existe relação entre
alterações posturais e lesões dos atletas.
The Futsal is considered a sport on rise, where the athletes are
suffering with the excess of games and drills, increasing the risk of
injuries. The objective was to describe the postural changes and
what osteomyoarticular injuries were suffered by players during
the Futsal National League. Were evaluated 17 athletes 27 years
old (± 6.21), with in the Group A (GA) 11 athletes with injury
and Group B (GB) without injury. The lesions were evaluated by
physiotherapeutic records and postural evaluation by a protocol
developed by the researchers based on Kendall et al. The statistic
used was descriptive-quantitative. The results showed that in accordance with the classification used, the most frequent lesions
were: muscle distension (50%) and tendinitis (22.2%). The most
frequent postural changes were head protrusion, lumbar hyperlordosis, among others. It cannot be said that there were differences
between the postural changes found in the injured and non injured
groups in all segments analyzed. The group B (not injured) are also
predisposed to osteomyoarticular injury, due to constant overload
on the muscle-skeletal structure during the sport. Therefore, it is
concluded that exists a relationship between postural changes and
injuries in these athletes.
Key words: futsal, injuries, postural changes.
Palavras chaves: futsal, lesões, alterações posturais.
Endereço para correspondência: Cintia Seefeld, Rua Euzébio de Queiróz, 258, 89203-100 Joinville SC, Tel: (47) 3801-4616, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
Na cidade de Montevidéu (Uruguai) foi relatado na década de 30 o surgimento do futsal [1], sendo um dos esportes
em ascensão mundial, atraindo cada vez mais adeptos [2].
No Brasil é um dos mais difundidos, jogado por mais de 12
milhões de brasileiros, segundo a Confederação Brasileira de
Futebol de Salão (CBFS) [3].
As realizações de inúmeras ações motoras, com e sem a
posse de bola são características do perfil motor do jogador
de futsal [4]. As atividades funcionais incluem aceleração,
desaceleração, saltos, giros, viradas, e chutes, devido a essas
características do jogo, pode ser esperado um número vasto
de lesões em seus praticantes [5].
Diferentes fatores que predispõe a ocorrência de lesões
são observados na prática desportiva, em especial no futsal.
Alterações no quadril, joelho, tornozelo e pé estão ligados aos
fatores intrínsecos. Já condições do piso, iluminação da quadra
e tipo de calçado utilizado pelos atletas estão relacionados a
fatores extrínsecos [6].
As lesões ocorrem pela exaustão com que os atletas
trabalham perto dos seus limites máximos, levando assim a
uma grande exigência física predispondo às lesões [7], sendo
uma das maiores preocupações para os atletas, devido ao
fato de a competitividade exigir o retorno ao esporte o mais
rápido possível [8]. O fortalecimento específico, exigido nos
treinamentos, busca maior potência muscular, resistência aos
exercícios bem como equilíbrio entre os grupos musculares
agonistas e antagonistas durante o movimento. Mas, para que
tudo isso seja alcançado é importante à intensa e freqüente
supervisão e administração na intensidade e momentos mais
apropriados ao atleta [9].
As alterações posturais podem ser causadas devido o desequilíbrio entre a musculatura agonista e antagonista, consequentemente isso ocorre pela carga de treinamento intenso e
repetitivo causando hipertrofia e diminuição da flexibilidade.
Lesões decorrentes do superuso, como microtraumas devidos
ao atrito contínuo entre duas ou mais estruturas, levam a
quadros de tendinites, bursites entre outras, podendo estar
associadas ao excesso de treinamento [2]. Por isso, a avaliação
postural é bastante usada para prevenir e, futuramente, corrigir
possíveis alterações posturais existentes [10].
Um bom equilíbrio postural também leva o individuo a
ter boa saúde, um bom desempenho músculo-articular e ainda
uma melhor eficiência nos exercícios. Em posição ortostática,
o individuo deve apresentar uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga para conduzir a eficiência máxima no seu
corpo levando assim a uma postura adequada [11].
A importância que reside nas anomalias posturais representa
as alterações posturais que podem ser de ordem congênita ou
adquirida como, por exemplo, por doenças, hábitos, fraqueza
muscular entre outras [12]. As adaptações com pouco esforço
que os músculos antigravitacionais possuem características que
atuam sobre a manutenção da postura corporal [13].
25
Diante disso, o objetivo deste estudo foi descrever as alterações posturais e as lesões osteomioarticulares sofridas pelos
jogadores, durante a Liga Nacional de Futsal. Este estudo
baseou-se numa avaliação postural dos atletas e um estudo
epidemiológico das lesões entre fevereiro e agosto de 2008,
período que ocorreu a Liga Nacional de Futsal.
Material e métodos
Foram avaliados 17 atletas integrantes da equipe masculina
de Futsal de Joinville, com faixa etária entre 18 e 36 anos,
sendo que a média de idade foi de 27 anos (± 6,21), a média
de estatura 1,76 m (± 0,05), a média de massa corporal 76,2
kg (± 9,97) e o Índice de Massa Corpórea (IMC) teve a média
de 24,48 (± 2,42). O critério para inclusão na pesquisa foi
ser atleta da equipe, treinar e participar da Liga Nacional de
Futsal, tanto os com histórico de lesão quanto os sem históricos de lesão durante a competição.
A pesquisa obedeceu aos princípios éticos dispostos nas resoluções Nacionais 196/96 e 251/97, relacionadas a pesquisas
envolvendo seres humanos com número de protocolo 08032,
sendo aprovado pelo comitê de ética do Hospital Municipal
São José – HMSJ. Todos os participantes do estudo assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para a avaliação, o atleta foi encaminhado de forma individual a uma sala, onde era realizado um questionamento,
manuscrito logo após em uma ficha individual. Cada atleta
era questionado em relação a seu nome, idade, estatura,
massa corporal e posição na equipe. Em relação à ocorrência
de lesões, as mesmas eram levantadas através de seu prontuário fisioterapêutico, que se encontrava no Ambulatório de
Distúrbios Músculos-Esqueléticos da Faculdade Guilherme
Guimbala em Joinville/SC, o qual seguiu critérios definidos
por Ribeiro e Costa [1], adaptados pelos pesquisadores, sendo
que as lesões seriam classificadas como: distensão, contraturas,
tendinites e lesão de ligamento, ou seja, somente as lesões
não traumáticas.
Para se realizar uma boa avaliação postural, devem-se ter
critérios de padronizações, sendo o alinhamento postural
necessário. Uma postura adequada é aquela que envolve
uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, e conduz
à eficiência máxima do corpo [9]. Na realização da avaliação
postural do atleta os critérios foram baseados nas descrições
de Kendall, McCreary, Provance, Rodgers, Romani [11]
elaborando assim um Protocolo de Avaliação Postural pelos
pesquisadores (em anexo).
A avaliação postural foi realizada pelos três pesquisadores
que foram devidamente treinados para essa função, sendo que
os três analisaram o mesmo atleta durante o procedimento
e anotaram na ficha individual. A avaliação postural foi realizada em três dias, sendo dois dias consecutivos e um dia
intercalado, no período de 22 a 25 de julho de 2008. Cada
avaliação durou aproximadamente 15 minutos. No procedimento para a avaliação postural, o atleta foi posicionado a 3
26
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
metros de distância do avaliador, com pés paralelos e distância
de 10 cm, braços em posição neutra, solicitando ao atleta
que permanecesse na posição, não fazendo correções. Foram
avaliados os planos frontal anterior, frontal posterior, sagital
esquerdo e sagital direito.
A análise estatística dos dados foi realizada de forma
descritiva quantitativa. Para isso, foi utilizado à média, o
desvio-padrão e a porcentagem, tabulados e armazenados no
software Microsoft Excel 2003.
Resultados
Em relação aos 17 atletas avaliados, 11 atletas (76,5%)
sofreram lesões durante a liga, sendo que foram registradas 18
lesões osteomioarticulares e 6 atletas (23,5%) não sofreram
nenhuma lesão. Sendo assim definido como Grupo A (GA) os
atletas com lesão e o grupo B (GB) definido como os atletas
não lesionado.
Na tabela I, apresentou-se os tipos de lesões mais comumente encontrados, dos quais destacaram-se as distensões
musculares (50%) , que se caracteriza pelo rompimento das
fibras musculares [14], onde o mecanismo de lesão acontece
quando a articulação é forçada [15], seguidos de tendinite
(22,2%), proveniente de sobrecarga do tendão [14], lesão de
ligamento (16,7%) e por ultimo contraturas (11,1%).
Tabela I - Classificação das lesões segundo a etiologia.
Tipos de lesão
Distensão
Contraturas
Tendinites
Lesão de Ligamento
TOTAL
09 (50%)
02 (11,1%)
04 (22,2%)
03 (16,7%)
18
Os locais mais lesionados durante a prática do futsal foram coxas, joelhos e tornozelos, e as menos lesionadas foram
membros perna e pé, demonstrados na Tabela II.
Tabela II - Classificação das lesões segundo o segmento acometido.
Parte do corpo lesada
Coxa
Joelho
Perna
Tornozelo
Pé
TOTAL
11 (61,1%)
02 (11,1%)
01 (5,5%)
03 (16,7%)
01 (5,5%)
18
Com relação à avaliação postural, não se pode afirmar que
houve diferença entre as alterações encontradas nos grupos
lesionados e não lesionados, nos segmentos coluna cervical,
ombro, coluna lombar, pelve, joelho, tornozelo/pé, como
mostra a Tabela III.
Comparando as alterações posturais entre os atletas lesionados e não lesionados, conforme a tabela III verificou-se
uma diferença de porcentagem entre os dois grupos, sendo
na protusão da cabeça (≠ 34,4%), na protação do ombro (≠
38,5), na hiperlordose (≠ -44,9%) e na anteversão (≠ -28,9%).
Salienta-se ainda que no tornozelo apesar de haver diferença
entre as porcentagem, o número de atletas que apresentaram
essa alteração e igual com somente 1 atleta. Vale ressaltar
aqui que dos 11 atletas que sofreram lesão 11 apresentaram
cabeça protusa, desses mesmo 11 atletas somente 5 apresentaram retração ou protação no ombro, 4 hiperlordose e assim
sucessivamente. Relatando assim que 1 atleta pode apresentar
mais de uma alteração tanto no grupo lesionado como no
não lesionado.
Tabela III - Distribuição de porcentagem das alterações posturais
observadas nos atletas durante a Liga de Futsal.
Segmento
Cervical
Ombro
Col.
Lombar
Pelve
Joelho
Torno. /
Pé
≠ A-B
Alteração
Cabeça
protusa
Protacao
Retracao
Hiperlordose
Anteversão
Varo
Valgo
Inversão
Eversão
Abduzido
GA %
GB
%
11
5
5
84,6%
38,5%
38,5%
2
0
1
50%
0%
25%
4
6
5
1
1
1
8
30,1%
46,1%
38,5%
7,7%
7,7%
7,7%
61,5%
3
3
2
0
1
1
2
75%
75%
50%
0%
25%
25%
50%
34,6%
38,5%
13,5%
-44,9%
-28,9%
-11,5%
7,7%
-17,3%
-17,3%
11,5%
Discussão
Desde sua origem o futsal evoluiu-se consideravelmente
mas permanece em processo de expansão. Devido a esta continua evolução, deparou-se com divergências entre estudos já
realizados. No caso dos atletas de futsal, são verificados grandes
esforços, como, velocidade, agilidade e potência muscular, presentes nas ações de deslocamentos (laterais e para trás), saídas e
paradas rápidas, saltos, chutes e piques, sendo este esporte caracterizado pela realização de esforços intensos de curta duração
[16], resultando com uma freqüência cada vez maior em lesões
traumáticas e danos ao sistema músculo-esquelético [8].
As lesões de membros inferiores encontradas no presente
estudo foram discutidas por vários autores em seus trabalhos.
Raymundo et al. [17] verificaram uma alta incidência de
lesões em atletas de futsal, com predominância de lesões nos
membros inferiores (88,1%). O tornozelo é uma articulação
constantemente lesionada, sendo o entorse (lesão ligamentar)
descrita como lesão mais comum do meio esportivo [18,19].
Diferentemente dos resultados obtidos neste estudo, a distensão muscular foi destacada como a lesão que mais acometeu,
tendo como fatores predisponentes o desequilíbrio muscular
e a flexibilidade muscular precária [20].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Segundo os dados coletados relativos às lesões, a coxa foi
o segmento mais acometido seguido de pé e tornozelo, que
assemelham-se aos achados de Lindenfeld et al. [21] em estudo
com jogadores de futebol com idades entre 19 e 24 anos, que
observaram que o segmento mais freqüentemente acometido
foi o pé/tornozelo, seguido do joelho. Para Aglietti [22] as
distensões foram as mais freqüentes, com uma incidência
média de 20-25%, semelhante aos resultados obtidos neste
estudo, apresentando 50% das lesões.
Alterações posturais também têm sido identificadas em
atletas de diferentes modalidades esportivas em função da
grande sobrecarga músculo-esquelética imposta pelo treinamento [23]. Elas também podem ser geradas pelo desequilíbrio muscular, que se dá pela necessidade do organismo se
reorganizar em cadeias musculares e pelas especificidades de
cada modalidade [24,25].
A prevalência de lesões pode aumentar devido a gestos
específicos do esporte e erros na técnica de execução dos
movimentos [25]. Sendo a avaliação postural importante
na prevenção e correção das possíveis alterações posturais
existentes [10].
Watson [26] encontrou apenas 23% dos atletas com alteração dos joelhos para varo ou para valgo, diferentemente do
encontrado nesse estudo, no qual apresentou 41,2% joelhos
varos e 5,9% de joelho valgos.
A protração escapular ocorreu em 38,5% dos atletas lesionados, uma das causas desse desequilíbrio é a sobrecarga nos
exercícios de flexão dos membros superiores em programas
de exercícios propostos que geralmente está associada a uma
protração da cabeça [27].
A anteversão de pelve foi observada em 52,9% dos casos,
de uma forma geral, isso ocorre devido a retração dos músculos
flexores do quadril e extensores do joelho, que são os responsáveis por contribuir na formação da hiperlordose lombar que,
em decorrência, pode desencadeia um mecanismo compensatório de encurtamento na cadeia posterior causando assim a
cifose torácica e a protrusão da cabeça [28]. Já para Bienfait
[24] não há hiperlordose lombar sem anteversão pélvica. Nesta
pesquisa, foi detectada, que a maioria (66,7%), realmente
obtiveram hiperlordose associada com anteroversão.
Para que se possa minimizar a incidência de lesões esportivas, se deve ter a preocupação com a postura e o equilíbrio
muscular, pois estes devem ter o mesmo grau de importância
que os desenvolvidos pelos treinadores e preparadores físicos
para o desenvolvimento das qualidades especificas para um
bom desempenho [28].
Conclusão
Por ser um esporte de grande impacto nas estruturas osteomioarticulares, o futsal requer um bom condicionamento
físico e infra-estrutura apropriada do atleta. De acordo com
o objetivo de nosso estudo, verificamos uma possível relação
entre as alterações posturais e lesões osteomioarticulares nos
27
jogadores de futsal, pois encontramos diversas alterações
posturais devido, no ato desportivo os atletas necessitarem de
cargas extras para realizarem os movimentos ágeis, velozes e
precisos que são necessários. Deste modo ficam ainda mais
suscetíveis a predispor lesões.
Os resultados mostraram que as distensões musculares,
foram as lesões mais encontradas, ocasionadas durante a
pratica esportiva, observando ainda nas alterações posturais,
os maiores acometimentos foram a hiperlordose lombar, anteversão da pelve, joelho varo e pé abduzido. A qualidade para
a realização do treinamento e a biomecânica dos movimentos
envolvidos podem estar relacionadas a diversos fatores, pois
isso se afirma devido a presença das lesões musculares em conseqüência possivelmente das alterações posturais existentes.
Verificou-se, porém que se faz necessário mais estudos para
a avaliação das alterações e seqüelas que estes atletas poderão
apresentar em longo prazo.
Acredita-se na suma importância da intervenção da fisioterapia, a fim de realizar um trabalho de prevenção com atletas,
reduzindo os índices de alterações posturais e lesões estruturais
a longo prazo, pois com uma reabilitação adequada do atleta
os benefícios são evidentes, pois irá melhorar o desempenho
e redução do tempo de afastamento deste atleta.
Referências
1. Voser RC, Giusti JG. O futsal e a escola: uma perspectiva
pedagógica. Porto Alegre: Artmed; 2002. p.46.
2. Ribeiro CZP, Akashi PMH, Sacco ICN, Pedrinelli A. Relação
entre alterações posturais e lesões do aparelho locomotor em
atletas de futebol de salão. Rev Bras Med Esp 2003;9(2):9194.
3. Ribeiro RN, Costa LOP. Análise epidemiológica de lesões no
futebol de salão durante o XV Campeonato Brasileiro de Seleções Sub 20. Rev Bras Med Esp 2006;12(1):1-5.
4. Chagas MH, Leite CMF, Ugrinowitsch H, Benda RN, Menzel
HJ, Souza PRC et al. Associação entre tempo de reação e de
movimento em jogadores de futsal. Rev Bras Educ Fís Esp
2005;19(4):269-75.
5. Witvrouw E, Danneels L, Asselman P, D’Have T, Cambier D.
Muscle flexibility as a risk factor for developing muscle injuries
in male professional soccer players: a prospective study. J Sports
Med 2003;31:41-6.
6. Moreira D, Godoy JRP, Braz RG, Machado GFB, Santos HFS.
Abordagem cinesiológica do chute no futsal e suas implicações
clínicas. Rev Bras Cien Mov 2004;12(2):81-85.
7. Cohen M, Abdalla RJ, Ejnisman B, Amaro JT. Lesões ortopédicas no futebol. Rev Bras Ortop 1997;32(12):940-4.
8. Soares H, Neto CSP. Lesões intervenientes nas posições táticas
do Futsal. In: XXVII Simpósio Internacional de Ciências do
Esporte, 2004; São Paulo.
9. Bertolini GRF, Mello GL, Otowicz I, Ruaro JA, Aratani
MC, Fonseca S. Incidência de lesões no futebol em atletas
jovens e a importância da fisioterapia preventiva. Fis Mov
2003;16(3):71-7.
10. Verderi E. A importância da avaliação postural. Rev Dig 2003
Feb;8(57).
28
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
11. Kendall FP, McCreary EK, Provance PG, Rodgers MM, Romani
WA. Músculos: provas e funções. 5nd ed. São Paulo: Manole;
1995. p.52-116.
12. Alexandre NMC, Moraes MAA. Modelo de avaliação
físico-funcional da coluna vertebral. Rev Latino-Am Enf
2001;9(2):67-75
13. Bankoff ADP, Campelo TS, Ciol P, Zamai CA. Postura e
equilíbrio corporal: um estudo da relações existentes. Mov Per
2006;6(9):55-70.
14. Moreira D. Lesões Comuns na prática da corrida: atividade física
passo a passo. Brasília: Thesaurus; 2002. p.215-225.
15. Webb DR, Garrick JG. Lesões Esportivas: Diagnóstico e Administração. São Paulo: Roca; 2001. p.151-2.
16. Queiroga MR, Ferreira SA, Romanzini M. Perfil antropométrico
de atletas de futsal feminino de alto nível competitivo conforme
a função tática desempenhada em jogo. Rev Bras Cin Des Hum
2005;7(1):30-34.
17. Raymundo JLP, Reckers LJ, Locks R, Silva L, Hallal PC. Perfil
das lesões e evolução da capacidade física em atletas profissionais de futebol durante uma temporada. Rev Bras Ortop
2005;40(6):341-8.
18. Gould III, James A. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do
esporte. São Paulo: Manole; 1993. p.89-90.
19. Ladeira CE. Incidência de lesões no futebol: um estudo prospectivo com jogadores masculinos adultos amadores canadenses.
Rev Bras Fisioter 1999;4:39-47.
20. Andrews JR, Harrelson GL, Wilk KE. Reabilitação física das
lesões desportivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
p.198-204.
21. Lindenfeld T, Schimitt D, Hendy M., Mangini R, Noyes F. Incidence of injury in indoor soccer. J Sports Med 1994;22(1):36471.
22. Aglietti P, Zacccherotti G, Biase P, Latella F, Serni G. Injuries
in soccer: mechanism and epidemiology. Clin Prat Sports Inj
1994;18:277-284.
23. Wojtys EM, Ashton MJA, Huston IJ, Moga PJ. The association
between athletic training time and the sagittal curvature of the
immature spine. J Sports Med 2000;28(4):490-498.
24. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia e
tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus; 1995, p.95-98.
25. Magee DJ. Avaliação músculo esquelética. 3nd ed. São Paulo:
Manole; 2002, p.85
26. Watson AWS. Posture and participation in sport. J Sports Med
Phys Fitness 1983;23(3):231-9.
27. Guimarães AF, Mota AFS, Carneiro RMP, Fonseca RS. Incidência de desvios posturais dos freqüentadores de academias
em Goiânia. Rev Dig Vida Saúde 2003;2(5).
28. Júnior JN, Pastre CM, Monteiro HL. Alterações posturais em
atletas brasileiros do sexo masculino que participaram de provas
de potência muscular em competições internacionais. Rev Bras
Med Esp 2004;10(3).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
29
ANEXO A - PROTOCOLO DE AVALIAÇAO POSTURAL PROPOSTOS PELOS AUTORES
VISTA POSTERIOR
VISTA ANTERIOR
Coluna cervical
Antepé
( ) Reta
( ) Flexionada Lateralmente D/E
( ) Alinhado
( ) Abduzido D/E
Ombro
( ) Aduzido D/E
( ) Nivelados
( ) Elevados D/E
Articulações dos joelhos
( ) Deprimidos D/E
( ) Alinhada
( ) Valgo D/E
Escápula
( ) Varo D/E
( ) Neutra
( ) Abduzidas D/E
Patelas
( ) Aduzidas D/E
( ) Aladas D/E
( ) Alinhadas
( ) Patela mais alta D/E
Coluna torácica
( ) Patela rodada lateralmente ( ) Patela rodada medialmente
( ) Alinhadas
( ) Convexidade D/E
Espinhas Ilíacas Antero superiores
( ) Alinhadas
( ) Desalinhadas, mais alta D/E Coluna lombar
( ) Alinhadas
( ) Convexidade D/E
Altura das cristas ilíacas
( ) Alinhadas
( ) Desalinhadas, mais alta D/E Altura das cristas ilíacas
( ) Alinhadas
( ) Desalinhadas, mais alta D/E
Alinhamento do Tronco
Espinhas ilíacas póstero-superiores
( ) Alinhado
( ) Inclinação Lateral D/E
( ) Alinhadas
( ) Desalinhadas, mais alta D/E
( ) Rotação cintura escapular ( ) Rotação cintura pélvica
Fossa poplítea
Tórax
( ) Simétricas
( ) Mais profunda D/E
( ) Simétrico
( ) Assimétrico
Articulações do joelho
Articulações dos ombros
( ) Alinhados
( ) Ombro mais alto D/E
( ) Alinhados
( ) Valgo D/E
( ) Rotação medial D/E
( ) Rotação lateral D/E
( ) Varo D/E
Cotovelos
Articulação do tornozelo
( ) Alinhados
( ) Desalinhado D/E
( ) Alinhados
( ) Aumento flexão D/E
Pés
( ) Hiperextensão D/E
Clavículas
( ) Paralelos
( ) Abduzido D/E
( ) Simétricas
( ) Horizontalizada D/E
( ) Aduzido D/E
( ) Inversão
( ) Verticalizada D/E
( ) Eversão D/E
Fossas supraclaviculares
( ) Simétricas
( ) Assimétricas, diminuída D/E
VISTA LATERAL
Cabeça
( ) Neutra
( ) Inclinada Pra Frente
( ) Inclinada Pra Trás
Coluna cervical
( ) Curva Normal ( ) Aumento da Lordose
( ) Retificação da Lordose
Articulações do cotovelo
( ) Alinhada
( ) Aumento da flexão D/E
( ) Hiperextensão D/E
Articulações do ombro
( ) Alinhados
( ) Protração D/E
( ) Retração D/E
( ) Rotação Medial D/ E ( ) Rotação Lateral D/E
Coluna torácica
( ) Curva Normal ( ) Aumento da Cifose
( ) Retificação da Cifose
Coluna lombar
( ) Curva Normal ( ) Aumento da Lordose
( ) Retificação da Lordose
Pelve
( ) Posição Neutra ( ) Anteversão
( ) Retroversão
Articulações dos joelho
( ) Posição Neutra ( ) Flexionada
( ) Hiperestendidos
Art. Do tornozelo
( ) Posição Neutra ( ) Diminuído D/E
( ) Aumentado D/E
Percepção dos apoios dos pés
( ) Simétrico
( ) Antepé D/E
( ) Retropé D/E
30
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Artigo original
Influência da atividade física, pressão arterial
e variáveis antropométricas da gestante sobre
o peso do feto ao nascer
Influence of pregnancy physical activity, arterial blood pressure,
and anthropometric factors on birth-weight
Janyny Galdino Onofre Spolador*, Marcos Doederlein Polito, D.Sc.**
*Departamento de Educação Física, Centro de Educação Física e Esporte, Universidade Estadual de Londrina, **Departamento de
Educação Física, Centro de Educação Física e Esporte, Universidade de Londrina, Grupo de Estudo e Pesquisa em Respostas Cardiovasculares e Exercício – GECardio/UEL
Resumo
Abstract
O objetivo do estudo foi analisar o nível de atividade física da
gestante com o peso corporal, a pressão arterial durante a gestação e
o peso do recém-nascido. Trinta e sete gestantes foram submetidas a
um questionário de atividade física habitual e a medidas de pressão
arterial (PA) e peso corporal. As informações sobre peso e comprimento do bebê foram obtidas através do cartão do bebê. Foram
encontradas diferenças estatísticas para o peso corporal no início e
final da gestação (65,7 ± 15,7 e 78 ± 15,0 kg, p < 0,01) e diferenças
em relação ao percentual de mulheres que não se exercitavam antes
da gestação e durante a gestação (54,3% e 71,4%, p < 0,01). Em
relação à PA, houve relação significativa (R = 0,48; p < 0,01) entre
aumento de peso corporal durante a gestação e hipertensão arterial
sistólica. Não foram encontradas associações entre qualquer variável
estudada e o peso do feto ou sobre o nível de atividade física da
gestante. Concluindo, no presente estudo ocorreu relação significativa entre o aumento de peso corporal e hipertensão gestacional,
sobretudo em relação à pressão arterial sistólica.
The purpose of this study was to analyze the pregnancy physical
activity, body mass, arterial blood pressure, and birth-weight. The
sample was composed by 37 pregnant women. They answered a
physical activity questionnaire and were evaluated on arterial blood
pressure (BP) and anthropometry. The fetal data was obtained in the
hospital. The results showed significantly differences on maternal
body mass between before and after pregnancy (65.7 ± 15.7 e 78 ±
15.0 kg, p < 0.01) and the percentage of inactive woman before and
during pregnancy (54.3% e 71.4%, p < 0.01). There was significant
relation (R = 0.48; p < 0.01) between high body mass during pregnancy and systolic hypertension. There were no differences between
any variables and birth-weight or maternal physical activity status.
In conclusion, the present study identified significantly relation
between high body mass and gestational systolic hypertension.
Key-words: obesity, hypertension, exercise, pregnancy.
Palavras-chave: obesidade, hipertensão arterial, exercício,
gestação.
Endereço para correspondência: Marcos Doederlein Polito, Universidade Estadual de Londrina, Centro de Educação Física e Esporte,
Departamento de Educação Física, Rodovia Celso Garcia Cid Km 380, 86051-901 Londrina PR, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
Atualmente, doenças como obesidade e hipertensão arterial sistêmica podem ser desencadeadas ou agravadas durante
a gestação [1-5]. O aumento exagerado de peso durante a
gestação pode ser determinante sobre os desfechos gestacionais (como crescimento fetal e peso ao nascer), trazendo
implicações para a criança ao longo da vida, particularmente
em relação às doenças crônico-degenerativas [2]. Além das
possíveis complicações para o feto decorrente do ganho de
peso materno, podem ainda influenciar em tais complicações
os valores de pressão arterial da mãe [3]. Estudos relatam que
cerca de 7% das gestantes apresentam casos de hipertensão
gestacional, representando uma das mais importantes causas
de mortes materna e perinatal [5].
Dessa forma, torna-se importante adotar medidas para
evitar tais complicações durante a gestação. Uma das medidas
menos onerosas é a prática habitual de atividades físicas. Por
exemplo, foi verificado que mulheres praticantes de qualquer
atividade física antes da gestação reduziram em aproximadamente 35% o risco de desenvolver hipertensão gestacional
[6]. Por outro lado, mulheres sedentárias podem apresentar
um considerável declínio do condicionamento físico durante
a gravidez [7]. De forma semelhante, mulheres com prédisposição à obesidade podem prevenir seu desencadeamento
através de exercícios físicos regulares [8].
A literatura apresenta alguns dados sobre os efeitos da
atividade física em gestantes atletas [9,10] e não atletas em
diferentes países [6]. Contudo, são relativamente escassas
investigações nacionais envolvendo atividade física e características antropométricas e cardiovasculares de gestantes. Dessa
forma, o objetivo do presente estudo foi relacionar o nível
de atividade física da gestante com o peso corporal e pressão
arterial durante a gestação, e o peso do recém-nascido. Nossa
hipótese foi que a atividade física pode influenciar no comportamento da pressão arterial e do peso corporal da gestante.
Material e métodos
Esta pesquisa foi observacional sem qualquer intervenção
do investigador sobre a amostra. Foram avaliadas 37 gestantes
(27 ± 6 anos) e idade gestacional entre 34-40 semanas (37
± 2 semanas), atendidas no Hospital Universitário e no ambulatório do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual
de Londrina. Todas as gestantes declaram-se voluntárias a
participar do estudo e assinaram termo de consentimento livre
e esclarecido. A coleta de dados foi conduzida em dois momentos. No primeiro momento, foi realizada uma anamnese
através de questões pré-elaboradas sobre a saúde da gestante
antes e durante a gestação, aplicado o questionário de atividade física habitual de Baecke [11] e realizadas as medidas de
pressão arterial de repouso e peso corporal. A pressão arterial
de repouso foi aferida com equipamento automático (G-Tech,
BP3AF1-3, Brasil) seguindo as recomendações da V Diretrizes
31
Brasileiras de Hipertensão Arterial [12]. O peso corporal foi
obtido com as gestantes descalças e com roupas leves através
de balança digital (G-Life, Lumina, Brasil) com graduação
de 100 g. Os valores de estatura, pressão arterial de repouso
e peso corporal no início da gestação foram obtidos através
do cartão da gestante. No segundo momento, foram obtidas
informações sobre o peso e comprimento do bebê ao nascer,
através do cartão do bebê fornecido pela maternidade. Todas
as informações foram coletadas por um único e devidamente
treinado investigador.
A análise dos dados do cartão do bebê foi realizada de acordo com as curvas de crescimento da National Center for Helth
Statistics, utilizadas como curvas padrão no Brasil. Os valores
do IMC materno foram obtidos de acordo com os dados de
classificação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
[13], sendo utilizado o gráfico da curva de Atallah, o qual relaciona o IMC gestacional com a semana gestacional [13].
Para a análise dos dados, foi conduzida uma regressão
simples entre a variável independente nível de atividade física
e as demais. Também foi realizada a regressão múltipla tendo
como variáveis independentes o nível de atividade física e a
pressão arterial. As demais variáveis analisadas antes e durante
a gestação foram comparadas pelo teste t-Student. Em todos
os casos foi estabelecido p < 0,05 como significância estatística. Os dados foram analisados no programa Statistica 6.0
(Statsoft, EUA).
Resultados
A Tabela I ilustra os valores iniciais e finais de idade, idade
gestacional, peso corporal, pressão arterial sistólica (PAS) e
diastólica (PAD). Somente o peso corporal mostrou-se significativamente mais elevado no final da gestação em relação
aos valores iniciais. Em relação aos dados dos fetos, o peso ao
nascer foi de 3037,5 ± 516,9 g e o comprimento de 47,9 ± 2,3
cm. Nenhuma associação significativa foi encontrada entre o
peso e o comprimento do feto e os dados da mãe. Contudo, a
porcentagem de mulheres grávidas que faziam exercício físico
foi menor que as que não faziam. Analogamente, o número
de mulheres que eram fisicamente ativas antes da gravidez
diminuiu com o advento da gestação (Tabela II).
Tabela I - Valores de idade, idade gestacional, peso corporal, pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica da amostra antes e
durante o período gestacional (média±desvio padrão).
Variável
Início da
gestação
Idade (anos)
27 ± 6
Idade gestacional (semanas) Peso corporal (kg)
65,7 ± 15,7
PAS (mmHg)
112,5 ± 14,7
PAD (mmHg)
72,3 ± 10,4
Final da gestação
27 ± 6
37,3 ± 1,8
78,9 ± 15,0*
117,8 ± 18,8
71,8 ± 13,4
* diferença significativa (p < 0,01) em relação ao valor de início da
gestação
32
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Tabela II - Percentual da amostra que praticava atividades físicas
durante a gestação e antes da gestação.
Variável
Atividade física antes da gestação
Atividade física durante a gestação
Sim (%)
45,7
28,6
Não (%)
54,3
71,4*
* diferença significativa em relação ao percentual durante a gestação
Quanto ao IMC, observou-se um aumento no número
de mulheres classificadas com sobrepeso e obesas no final
da gestação em relação ao início (Tabela III). O número de
mulheres que se tornaram obesas e/ou hipertensas durante a
gestação também não foi significativo quando associado ao
nível de atividade física. Entretanto, observou-se um aumento
do percentual de mulheres que adquiriram tais problemas
no decorrer da gestação (Tabela IV). Nesse caso, a regressão
estatística acusou associação significativa entre o peso corporal
durante a gestação e o valor de PAS (p = 0, 003; R = 0,48).
O mesmo foi verificado para o IMC e PAS (p = 0,01; R =
0,42). Dessa forma, as mulheres mais pesadas ou com maior
IMC apresentaram valores mais elevados de PAS.
Tabela III - Classificação em relação ao IMC no início da gestação
e no final da gestação em porcentagem (%).
Classificação
Baixo peso
Peso adequado
Sobre- peso
Obesa
Início da ges- Final da
tação %
gestação %
14,2
8,6*
42,8
31,4*
22,8
34,2*
17,1
31,4*
* diferença significativa em relação ao percentual de início da gestação
Tabela IV - Percentual de mulheres que desenvolveram hipertensão
arterial e/ou obesidade durante a gestação.
Patologia
% acometidas
Hipertensão arterial
Obesidade
Hipertensão e obesidade
14,3
8,6
17,1
Discussão
O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia [14]
recomenda que as gestantes realizem 30 min de atividades
físicas diárias com intensidade leve a moderada. No entanto, tais recomendações não são comumente seguidas pela
população de mulheres grávidas. Por exemplo, um estudo
com 4.471 mulheres da cidade de Pelotas (RS) mostrou que
14,8% já realizavam algum tipo de atividade física anterior
à gestação e que durante algum período da gestação 12,9%
realizavam atividade física de lazer, e apenas 4,3% das mulheres entrevistadas foram ativas fisicamente durante a gestação
toda [15]. Tais resultados são divergentes do presente estudo,
no qual se observou que 45,7% das entrevistadas relataram
realizar algum tipo de atividade física antes da gestação e
28,6% durante algum período ou toda a gestação. Contudo,
há de se considerar a grande diferença amostral que indubitavelmente influenciou os dados. No entanto, no presente
estudo, observa-se o considerável declínio entre as mulheres
que se exercitavam antes da gestação e deixaram de exercitar
durante a gestação. Algumas razões identificadas na anamnese
como potenciais causas de inatividade física durante a gestação foram patologia ou indisposição durante a gravidez (9
mulheres) e falta de informações sobre a prática de exercícios
físicos durante a gravidez (4 mulheres).
A importância da prática de atividades físicas durante a
gestação pode se relacionar à diminuição de possíveis complicações, dentre as quais as alterações na pressão arterial de
repouso. O aumento da pressão arterial de repouso durante a
gestação pode ser extremamente complicado, tanto para a mãe
quanto para o feto [14]. Um estudo realizado com 609 casos
de morte materna mostrou que 23,3% destes casos foram por
complicações em razão da síndrome hipertensiva da gravidez,
sendo que 7,1% das mulheres desenvolveram a síndrome a
partir do terceiro trimestre [16]. A síndrome hipertensiva da
gravidez ocorre em 2-4% das gestações [17]. No presente
estudo, os resultados de gestantes que desenvolveram doença
hipertensiva não tiveram associação com o nível de atividade
física. Porém, houve um percentual significativo de mulheres
que desenvolveram a hipertensão gestacional durante a gravidez (14,3%) e de mulheres que desenvolveram a hipertensão
e a obesidade/sobrepeso (17,1%). Como já comentado, nosso
estudo contou com uma amostra relativamente reduzida, o
que pode ter influenciado nestes resultados. Contudo, valores
próximos foram encontrados em um estudo feito com 200
gestantes com idade gestacional de 37,6 ± 3,5 semanas [18].
Os autores encontraram 16% de casos de hipertensão gestacional, 33% de pré- eclampsia, 3% de hipertensão crônica e 5%
de pré-eclâmpsia relacionada à hipertensão crônica. Também
houve diferenças significativas em relação ao peso ao nascer,
sendo que as mulheres com pré-eclâmpsia deram à luz a fetos
com peso significativamente reduzido [18].
No presente estudo, também foi observado diminuição no
número de mulheres que se apresentavam antes da gestação
abaixo do peso e com peso adequado. Este fato pode estar
relacionado à redução do nível de atividade física e, principalmente, ao aumento da ingestão calórica diária acima do
recomendado (300 kcal adicionais) [8]. Um estudo descritivo
realizado com 240 gestantes em Recife (PE) também indicou
aumento do número de mulheres com sobrepeso e obesas no
final do terceiro trimestre de gestação. Neste estudo, os autores
apontam diferenças significativas no aumento excessivo de
peso em mulheres que já apresentavam um peso acima do
recomendado no início da gestação, naquelas que tinham
escolaridade maior ou igual a oito anos de estudo e naquelas
que viviam com o marido ou companheiro [19].
Além da possível influência da atividade física sobre os
valores de pressão arterial, o excesso de peso também pode
repercutir sobre o comportamento cardiovascular. Um estudo
realizado em seis capitais brasileiras constatou que o sobrepeso
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
ocorreu em 25% das gestantes adultas e houve relação direta
com alterações da pressão arterial [20]. No presente estudo,
também foi verificada associação significativa entre aumento
do peso corporal e hipertensão. Isso se deve a uma combinação de fatores ambientais (inatividade e excesso de peso, por
exemplo) com os fatores genéticos relacionados à hipertensão
(disfunção endotelial, por exemplo) [3,21]. Os resultados
do presente estudo mostraram diferença significativa entre
os percentuais de mulheres classificadas como sobrepeso e
obesas no início e no final da gestação (34,2% e 31,4%,
respectivamente). Um estudo já citado [19], interessante foi
a associação entre o IMC no início da gestação e o ganho de
peso durante a gestação, de forma que maior IMC no início
da gestação representou maior chance de peso excessivo no
fim da gestação. As complicações decorrentes do ganho de
peso excessivo da mãe podem repercutir diretamente sobre
o feto. Kac e Velasquez-Melendez [22] constataram que um
ganho de peso excessivo em 29,1% das mães associou-se à
macrossomia fetal.
Conclusão
Os resultados obtidos mostraram uma relação significativa
entre o aumento excessivo de peso e síndromes hipertensivas
na gravidez, sobretudo em relação à pressão arterial sistólica.
Também houve relação significativa quanto ao IMC e valores
de pressão arterial sistólica, sendo que quanto mais pesada e
com maior IMC tiver a gestante, maior o risco de desenvolver
hipertensão. Não houve relação entre ganho de peso e nível
de atividade física, assim como nenhuma variável associou-se
com o peso do bebê. Isto pode ter ocorrido por limitações do
estudo, como o número amostral. Entretanto, é consenso o
efeito do exercício físico para o controle da obesidade e da
hipertensão durante a gestação. Dessa forma, a prática de
atividades físicas pode ser importante no período gestacional
para contribuir com a qualidade de vida da gestante. Porém,
mais estudos sobre os efeitos da atividade física em gestantes
são necessários para atender esta área de atuação do profissional de educação física.
Referências
1. Finkelstein I, Bgeginski R, Tartaruga MP, Alberton CL, Kruel
FM. Comportamento da freqüência cardíaca e pressão arterial,
ao longo da gestação, com treinamento no meio líquido. Rev
Bras Med Esporte 2006;12:376-80.
2. Melo ASO, Assunção PL, Gondin SSR, Carvalho DF, Amorin
MMR, Benicio MHD, et al. Estado nutricional materno, ganho de peso gestacional e peso ao nascer. Rev Bras Epidemiol
2007;10:249-57.
3. Peraçol JC, Parpinelli MA. Síndromes hipertensivas da gestação: identificação de casos graves. Rev Bras Ginecol Obstet
2005;27:627-34.
33
4. Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro – SOCERJ. Recomendações da SOCERJ em cardiopatia e gestação.
Rev SOCERJ 2004:17:71-82.
5. Sass N, Atallah AN. Fisiopatologia da pré- eclampsia. Rev Bras
Hipertens 2005;8:103-5.
6. Sorensen TK, Williams MA, Lee I, Dashow EE, Thompson ML,
Luthy DA. Recreational physical activity during pregnancy and
risk of preeclampsia. Hypertension 2003;41:1273-80.
7. Hanlon TW. Ginástica para gestantes: o guia oficial da YMCA
para exercícios pré-natais. São Paulo: Manole; 1999.
8. Galtier-Dereure F, Boegner C, Bringer J. Obesity and pregnancy:
complications and cost. Am J Clin Nutr 2000;71:1242-8.
9. Bell R. The effects of vigorous exercise during pregnancy on
birth weight. Scand J Med Sci Sports 2002;5:32-6.
10. Kardel KR. Effects of intense training during and after
pregnancy in top-level athletes. Scand J Med Sci Sports
2005;15:79-86.
11. Florindo AA, Latorre MRDO. Validação do questionário de
Baecke de avaliação da atividade física habitual em homens
adultos. Rev Bras Med Esporte 2003;9:121-8.
12. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de
Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol
2007:89:24-79.
13. Fagundes AA, Barros DC, Duar HA, Sardinha LMV, Pereira
MM, Leão MM. Sistema de vigilância alimentar e nutricional
– SISVAN: orientações básicas para coleta, processamento,
análise de dados e informações em serviços de saúde. Ministério
da Saúde: Brasília; 2004.
14. Artal R, Toole MO, White S. Guidelines of the American
College of Obstetricians and Gynecologists for exercise during pregnancy and the postpartum period. Br J Sports Med
2003;37:6-12.
15. Domingues MR, Barros AJD. Leisure-time activity during
pregnancy in the 2004 Pelotas Birth Cohort Study. Rev Saúde
Pública 2007;41:173-80.
16. Vega CEP, Kahhale S, Zugaib M. Maternal mortality due to
artial hypertension in São Paulo city (1995 -1999). Clinics
2007;62:679-84.
17. Rodie VA. Pre-eclampsia and eclampsia: pathophysiology and
treatment options. Rev Bras Hipertens 2006;13:88-95.
18. Ferrão MHL, Pereira ACL, Gersogorin HCTS, Paula TAA, Rosa
RMC, Castro ECC. Efetividade do tratamento de gestantes
hipertensas. Rev Assoc Med Bras 2006;52:390-4.
19. Andreto LM, Souza AI, Figueiroa JN, Cabral-Filho JE. Fatores
associados ao ganho ponderal excessivo em gestantes atendidas
em um serviço público de pré-natal na cidade de Recife, Pernambuco, Brasil. Cad Saúde Pública 2006;22:2401-9.
20. Nuccia LB, Schimidta MI, Ducana BB, Fuchsa SC, Fleckb
ET, Brittoc MM. Nutritional status of pregnant women: prevalence and associated pregnancy outcomes. Rev Saúde Publica
2001;35:502-7.
21. Peraçoli JC, Parpinelli MA. Síndromes hipertensivas da gestação: identificação de casos graves. Rev Bras Ginecol Obstetr
2005;27:627-34.
22. Kac G, Velasquez-Meléndez G. Ganho de peso gestacional
e macrossomia em uma coorte de mães e filhos. J Pediatr
2005;81:47-53.
34
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Revisão
Uso da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos
localizados de gordura
The effect of phosphatidylcholine in the treatment of localized fat pads
José Diego Botezelli*, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme**, Maria Alice Rostom de Mello***
IB/UNESP Departamento de Educação Física, Mestrando em Educação Física.,**IB/UNESP Departamento de Educação Física.
Doutorando em Educação Física, ***IB/UNESP Departamento de Educação Física
Resumo
Abstract
Sabe-se que um dos processos mais utilizados para o tratamento
de pequenos e moderados depósitos de gordura é a lipoaspiração.
Porém esse método cirúrgico além de oneroso apresenta alto risco.
Em anos recentes, outro procedimento, a aplicação tópica de fosfatidilcolina, vem sendo empregado com o mesmo propósito. Embora
a forma injetável de fosfatidilcolina não tenha sido aprovada para
fins cosméticos no Brasil, o medicamento tem sido amplamente
utilizado. Recentemente, seu uso cosmético espalhou-se além das
clinicas médicas, chegando até as academias e salões de beleza. Isso
evidencia a urgência da realização de pesquisas visando ampliar
os conhecimentos sobre os efeitos da aplicação da fosfatidilcolina
com objetivos cosméticos. Assim sendo, na presente revisão serão
abordados alguns aspectos referentes ao exercício e à ação da fosfatidilcolina no controle da adiposidade, bem como seu emprego
no tratamento da gordura localizada bem como alguns efeitos
colaterais. São, também, apresentados dados referentes a estudos
em modelos animais.
It is known that one of the most used processes for treatment
of lower and moderate fat deposits is the liposuction. However
this method is very expensive and dangerous. Recently, the phosphatidylcholine procedure has been also applied for the correction
of fat deposits. Although injectable phosphatidylcholine has not
been approved for cosmetic purposes in Brazil, the drug has been
widely used. Its cosmetic use was spread out from medical clinics
to gyms and beauty parlors. This shows that researches aiming at
increasing knowledge about phosphatidylcholine use for cosmetic
purposes should be carried out urgently. Therefore, in this revision
some aspects referring to exercise and phosphatidylchilne action to
control adiposity will be pointed out, as well as its role in localized
fat treatment. Animal model studies are also shown.
Key-words: exercise, phosohatidylcholine, fat deposits, adiposity.
Palavras-chave: exercício, fosfatidilcolina, depósitos de gordura,
adiposidade.
Autor para correspondência: José Diego Botezelli, Rua Albert Einstein, 398, Jd. Universitário, 13607-331 Araras SP, Tel: (19) 3523-
8361, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
Um problema associado ao excesso de ganho de peso é
o acúmulo excessivo de gordura localizada. O procedimento
atualmente mais usado para a remoção desses depósitos de
gordura é a lipoaspiração [1]. Além do exercício e dos processos cirúrgicos, diversas outras técnicas de tratamento vêm
sendo utilizadas no combate aos depósitos localizados de
gordura, incluindo alguns medicamentos. Um desses fármacos
utilizados, em associação ou não ao exercício físico, é a fosfatidilcolina [2]. Todavia, a discussão das ações deste fármaco
no organismo é escassa, sendo tema de grande interesse para
a comunidade científica.
O exercício físico tem sido amplamente empregado,
isoladamente ou em associação com dietaterapia, na redução
da adiposidade corporal. Embora a utilização do treinamento
aeróbio seja a mais difundida, o treinamento intervalado,
segundo alguns autores, também pode produzir excelentes resultados, principalmente em programas de redução ponderal,
uma vez que parece induzir maiores adaptações metabólicas
e ser facilmente sustentado por tempos prolongados com
elevada intensidade de esforço [3]. A combinação de fosfatidilcolina e exercício físico tem demonstrado ser positiva, onde o
fármaco pode melhorar o desempenho aeróbio, fundamental
no tratamento de emagrecimento somado à dieta [4].
Fosfatidilcolina
A fosfatidilcolina é um fosfolipídio emulsificante que possui ação detergente e diminui a tensão superficial, formando
partículas menores de gordura na forma de triglicerídeos
[5]. Isso causa alteração na forma do adipócito, o que pode
explicar a redução de medidas nos locais onde a fosfatidilcolina foi aplicada.
Na atualidade já foram iniciadas investigações científicas, no sentido de desvendar o provável mecanismo de ação
lipolítica da fosfatidilcolina nos adipócitos de animais e de
humanos. Uma das hipóteses a ser considerada, é a de que
a fosfatidilcolina penetra no adipócito graças a seu caráter
anfipático. No citoplasma, a hidrólise da fosfatidilcolina pela
fosfolipase D gera o ácido fosfatídico, que levaria a ativação da
proteinaquinase C (PKC). Esta última ativaria a translocação
da lípase sensível ao hormônio (LSH), desde o citoplasma
do adipócito até o vacúolo que contém os triglicerídeos.
Assim, o LSH hidrolisaria os triglicerídeos em ácido graxos
e glicerol, que seriam posteriormente utilizados em outras
vias metabólicas e eliminados em pequenas quantidades pelo
aparelho urinário [6].
Outra hipótese a ser estudada, sugere a ativação de
receptores específicos de membrana e a destruição de adipócitos. Essa última seria desencadeada pela ativação da via
inflamatória [fosfolipase D e o fator de necrose tumoral alfa,
(TNF-α)], ou por uma ação irritante da fosfatidilcolina nos
adipócitos [6].
35
Os estudos sobre os efeitos medicinais da fosfatidilcolina são voltados principalmente para as doenças coronárias e pulmonares, mas há evidências de efeitos positivos
também no fígado e cérebro. Nas doenças hepáticas, a
fosfatidilcolina foi usada em casos de ingestão abusiva de
álcool, existem relatos de sucesso no tratamento tanto por
via oral quanto intravenosa [7,8], e na recuperação hepática
após danos causados por vírus, como o da hepatite [10].
No cérebro, este fosfolipídio é fornecedor da colina, essencial
na formação da acetilcolina, um importante neurotransmissor.
Nesta área, destaca-se o estudo de Chung et al. [10], que o uso
de fosfatidilcolina melhorou a memória de animais.
A fosfatidilcolina também foi utilizada com sucesso em
estudos no tratamento do diabetes [11,12].
A colina é, ainda, necessária ao metabolismo de gordura,
sendo que a ingestão de fosfatidilcolina mostrou-se eficiente
no tratamento de doenças cardiovasculares e redução das
concentrações séricas de colesterol. Essas reduções devem-se
à destruição de placas ateromatosas que circulam na corrente
sanguínea e causam o entupimento e, conseqüentemente,
um aumento da pressão arterial. A fosfatidilcolina aumenta
a solubilidade do colesterol atuando como agente emulsionante e inibindo a formação de placas na parede dos vasos
sanguíneos [13,15]. Contudo, há controvérsias em relação a
estes resultados.
Em relação ao acúmulo tecidual de gordura, existe o relato
de um estudo feito em animais por Takahashi e colaboradores
[16], em que a deficiência de fosfatidilcolina foi relacionada a
distúrbios na liberação de lipídeos pelas células. Neste estudo,
ratos recebiam dietas ricas ou pobres em colina durante duas
semanas. Quando a quantidade de colina era baixa, havia
distúrbios na liberação de gordura das células do intestino para
o sistema linfático. A suplementação oral de fosfatidilcolina
rapidamente corrigiu esta disfunção, confirmando a colina
como um fator extremamente importante na absorção de
gorduras através da membrana celular.
Fosfatidilcolina e depósitos localizados de gordura
Um grande problema do ganho excessivo de peso é o
aparecimento da gordura localizada. Este tipo de gordura
geralmente surge após perda de peso brusca ou surge naturalmente mesmo em pessoas magras. Ela é de difícil remoção e
mesmo com dietas e exercícios físicos freqüentes, os resultados
para a sua perda são pequenos.
Para a redução dos depósitos localizados de gordura, foram
sugeridos diversos tipos de exercícios, entre eles a ginástica
localizada e o lift. Essas duas modalidades visam reduzir o
excesso de tecido adiposo localizado na região onde a musculatura é recrutada durante a atividade. Contudo, estudos
recentes mostraram que, mesmo nesse tipo de atividade, a
gordura mobilizada é retirada de todas as partes do corpo e
não somente das regiões mais próximas a musculatura que
36
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
realiza a atividade. Por outro lado, mesmo não reduzindo
exclusivamente os depósitos localizados de gordura, esse tipo
de atividade pode ajudar a diminuir a adiposidade em diversas
partes do corpo, além de fortalecer a musculatura ativada, e
não pode ser descartada como alternativa no combate aos
depósitos localizados de gordura.
Um dos processos eficazes mais utilizados para o tratamento de pequenos e moderados depósitos de gordura é a lipoaspiração [1]. Esse método, porém, além de caro é arriscado,
pois envolve um procedimento cirúrgico. Em anos recentes,
outro procedimento, a aplicação tópica de fosfatidilcolina,
vem sendo empregado com o mesmo propósito. O uso cosmético da fosfatidilcolina tem origem na década de 80 na Itália
[17]. No Brasil, o uso da fosfatidilcolina para fins estéticos
teve inicio no final da década de 90 [2]. Os tratamentos à
base desse fármaco têm sido anunciados como Lipodissolve,
Lipoterapia, Lipolyse, Injeção de Massa Magra, entre outras
denominações [1,18-20].
Como efeitos colaterais da fosfatidilcolina foram relatados dor local passageira, eczema, urticária transitória e graus
variados de edema. O eczema e a maior parte dos edemas
desaparecem em 2 dias. Podem ocorrer, também, sensibilidade
localizada e edemas leves por semanas, equimoses e, mais
raramente, hematomas [1,18].
Os efeitos sistêmicos da aplicação subcutânea de fosfatidilcolina em seres humanos ainda não foram adequadamente avaliados.
Hexsel et al. [20] relataram alterações hepáticas e renais em 13
pacientes durante duas semanas subsequentes a dois tratamentos
com injeções subcutâneas de fosfatidilcolina. Náusea e dores
abdominais também foram apontados como efeitos colaterais
de aplicações subcutâneas de fosfatidilcolina [18].
Embora a forma injetável de fosfatidilcolina não tenha sido
aprovada para fins cosméticos no Brasil, existem evidências
clínicas de sua eficácia no tratamento da gordura localizada
[1,20]. O medicamento tem sido amplamente utilizado no
Brasil em diversas condições clínicas onde existem depósitos
de gordura em tecidos subcutâneos [20].
Receosa quanto ao emprego da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos localizados de gordura, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que regulamenta
o uso dos medicamentos no Brasil, publicou uma resolução,
em 9 de janeiro de 2003, proibindo o uso cosmético em nível
nacional da forma comercial do produto Lipostabil (Aventis
Pharma). Contudo, a forma manipulada do medicamento não
possui nenhum tipo de regulamentação, fato que aumentou
a procura pela fosfatidilcolina na forma manipulada. Recentemente o uso cosmético da fosfatidilcolina espalhou-se além
das clínicas médicas, chegando até as academias e os salões
de beleza.
Estudos experimentais
Do exposto anteriormente, conclui-se a urgência da
realização de pesquisas visando ampliar os conhecimentos
sobre os efeitos da aplicação da fosfatidilcolina com objetivos
cosméticos. Como existem limitações nas pesquisas com seres
humanos, torna-se interessante o desenvolvimento de modelos
experimentais adequados ao estudo desta questão.
Em um estudo recente, utilizando ratos tratados com
fosfatidil colina, via subcutânea por 5 semanas, constatou-se
redução da massa gorda e do peso total, sem a observação de
efeitos tóxicos [21].
Em nossos laboratórios, estão em andamento pesquisas
que visam analisar os aspectos da fosfatidilcolina, associada
ou não ao exercício, sobre a gordura subcutânea e o teor
de lipídios de diferentes órgãos, como o fígado, músculo
esquelético e sangue, além das concentrações hepáticas e
musculares de glicogênio em modelo experimental usando
ratos. Os resultados preliminares mostram que as concentrações de glicogênio foram reduzidas no fígado dos ratos
tratados com fosfatidilcolina, injetada via subcutânea, e
exercitados por natação durante quatro semanas e foram
inferiores àquelas mostradas por animais controles, não
submetidos a nenhum procedimento experimental assim
como àquelas apresentadas por animais submetidos apenas
ao protocolo de treinamento de natação. Não foram constatadas quaisquer diferenças estatísiticas entre os grupos nos
demais parâmetros availados. Tais resultados preliminares
sugerem que a aplicação tópica do medicamento pode exercer efeitos sistêmicos. Outras análises são necessárias para
confirmação dessa hipótese [22].
Conclusão
Embora os procedimentos mais adequados para o controle
da adiposidade sejam dieta de restrição calórica e/ou prática
regular de exercícios físicos, outros procedimentos, como
cirurgias e medicamentos são freqüentemente empregados
com a mesma finalidade. Um problema associado ao excesso
de ganho de peso é a gordura localizada. O procedimento
mais usado para a diminuição desses depósitos é a lipoaspiração. Contudo, outras técnicas como a aplicação tópica da
fosfatidilcolina vêm sendo utilizadas.
Apesar de a forma injetável da substância tenha sido
proibida pela Anvisa para fins cosméticos, ela está sendo
amplamente utilizada no país. Daí a necessidade de ampliar
o número de investigações sobre os efeitos sistêmicos da
aplicação da fosfatidilcolona e estabelecer modelos animais
apropriados para este tipo de estudo.
Referências
1. Markey AC. Liposuction in cosmetic dermatology. Clin Exp
Dermatol 2001;26(1):3-5.
2. Rittes PG. The use of phosphatidylcholine for correction of
lower lid bulging due to prominent fat pads. Dermatol Surg
2001; 27(4):391-2.
3. Ciolac EG, GuimarãeS GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esp 2004;4:319-24.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
4. Jäger R, Purpura M, Kingsley M. Phospholipids and sports
performance. J Int Soc Sports Nutr 2007;25:45.
5. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica.10a ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
6. Oliveira LM. Liporeducción no quirúrgica con fosfatidilcolina.
Int J Cosmet Med Surg 2003;2:6-9.
7. Lieber CS. Prevention and treatment of liver fibrosis based on
pathogenesis. Alcohol Clin Exp Res 1999;23(5):944-9.
8. Ma X, Zhao J, Lieber CS. Polyenylphosphatidylcholine attenuates non-alcoholic hepatic fibrosis and accelerates its regression.
J Hepatol 1996;24(5):604-13.
9. Donchenko V, Zannetti A, Baldini PM. Insulin-stimulated
hydrolysis of phosphatidylcholine by phospholipase C and
phospholipase D in cultured rat hepatocytes. Biochim Biophys
Acta 1994;1222(3):492-500.
10. Chung SY, Moriyama T, Uezu E, Uezu K, Hirata R, Yohena
N, Masuda Y, Kokubu T, Yamamoto S. Administration of
phosphatidylcholine increases brain acetylcholine concentration and improves memory in mice with dementia. J Nutr
1995;125(6):1484-9.
11. Kirsten R, Heintz B, Nelson K, Hesse K, Schneider E, Oremek
G, Nemeth N. Polyenylphosphatidylcholine improves the
lipoprotein profile in diabetic patients. Int J Clin Pharmacol
Ther 1994;32(2):53-6.
12. Mel’chinskaia EN, Gromnatskiĭ NI, Kirichenko LL. Hypolipidemic effects of alisat and lipostabil in patients with diabetes
mellitus Ter Arkh 2000;72(8):57-8.
13. Almazov VA, Freĭdlin IS, Krasil’nikova EI. Use of lipostabil to
correct lipid metabolism disorders in patients with ischemic
heart disease. Kardiologiia 1986;26(2):39-42.
14. Zeman M, Zák A, Stolba P. The effect of polyene phosphatidylcholine administration on lipid metabolism and glucose
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
37
tolerance in patients with hyperlipoproteinemia IIB. Sb Lek
1995;96(1):43-8.
Ozerova IN, Paramonova IV, Akhmedshanov NM, Perova NV.
Sinvastatin and Lipostabil induce beneficial changes in high
density lipoproteins phospholipids composition. Atherosclerosis
1999;144(1):33.
Takahashi Y, Mizunuma T, Kishino Y. Effects of choline deficiency and phosphatidylcholine on fat absorption in rats. J
Nutr Sci Vitaminol (Tokyo) 1982; 28(2):139-47.
Maggiori S. Traitement mesoterapique des xanthelasmas a la
phosphatidilcoline poluinsaturee (EPL). Anais: V Congres
Internacional de Mesotherapie. Paris: Dermatologie; 1988.
364p.
Rotunda AM, Kolodney MS. Injeções de mesoterapia e fosfatidilcolina: classificação, história e recapitulação. Cirurgia
Dermatológica 2006;32(4)465.
Moy LS. Phosphatydilcholine injections. A study measuring
decreased subcutaneous fat thickness. American Society for
Dermatological Surgery and The American Society for Micrographic Surgery and Cutaneous Oncology Combined Annual
Meeting; 2004.
Hexsel D, Serra M, Mazzuco R, Dal’Forno T, Zechmeister D.
Phosphatidylcholine in the treatment of localized fat. J Drugs
Dermatol 2003;2(5):511-8.
Bouri Junior W. Avaliação da composição corporal de ratos machos após a administração de fosfatidilcolina [dissertação]. São
José dos Campos: Universidade do Vale do Paraíba; 2006.
Botezelli JD, Mello MAR. Efeitos locais e sistêmicos da aplicação tópica de fosfatidil colina em ratos In: XXIX Simpósio
Internacional de Ciências do Esporte, 2006, São Paulo, SP.
Revista Brasileira de Ciência e Movimento 2006;14:80-80.
38
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Revisão
A importância do teste de caminhada de seis minutos
em pacientes com insuficiência cardíaca
The importance of six-minute walk test in patients with heart failure
Nivia Schmidt de Souza, Ft.*, Kellen Marcela Santos, Ft.*, Letícia Alckmin Morgado*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, Ft.,
M.Sc.**
*Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI), Pindamonhangaba, SP, **Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP/EPM),
Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica - Universidade Estadual Paulista (UNESP) Guaratinguetá –
SP
Resumo
Abstract
A Insuficiência Cardíaca (IC) caracteriza-se por ser uma síndrome clínica complexa, que pode resultar de várias anormalidades
estruturais e funcionais do coração, envolvendo múltiplos sistemas
e mecanismos compensatórios neuro-humorais. O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste prático que avalia de
maneira simples a distância máxima que o paciente pode andar, em
seu próprio ritmo, por seis minutos. Ele avalia a capacidade funcional
e o prognóstico de pacientes com IC. A avaliação da capacidade
funcional é necessária para que se prescrevam exercícios para pacientes com IC de forma adequada e também para avaliar a eficácia
da terapêutica utilizada. Este trabalho tem como objetivo avaliar a
importância do TC6M na avaliação da capacidade funcional e no
prognóstico de pacientes com IC. Conclui-se que o TC6M é uma
medida útil para avaliação da capacidade funcional e prognóstico
de pacientes com IC.
Heart failure (HR) is a complex clinical syndrome that may
result from many structural and functional abnormalities of the
heart, involving multiple systems and neurohumoral compensatory
mechanisms. The Six-Minute Walk Test (6MWT) is a simple, practical test that measures the maximal distance a patient can travel at
his/her own pace in six minutes. It assesses the functional capacity
and prognosis of patients with HF. The assessment of functional
capacity is necessary for the adequate prescription of exercise to such
patients and for assessing the efficacy of the treatment employed.
The aim of the present study was to analyze the importance of the
6MWT in the assessment of functional capacity and prognosis of
patients with HF. The 6MWT was concluded to be a useful measure
for the assessment of functional capacity and prognosis of patients
with HF, as it is a sub-maximal exercise test that imposes a lower
cardiovascular load.
Palavras-chave: insuficiência cardíaca, teste de caminhada de
seis minutos, teste de esforço.
Key-words: heart failure, six-minute walk test, exercise test.
Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro, Avenida Osvaldo Aranha, 1961, Vila Zélia,12600-000 Lorena SP,
Tel: (12) 3152-8023, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Introdução
A Insuficiência Cardíaca (IC) é definida como a incapacidade do coração em manter as demandas teciduais por
anormalidades na função ventricular e na regulação neurohumoral, resultando em sintomas como fadiga, dispnéia e
conseqüente intolerância ao esforço físico [1].
Aproximadamente 23 milhões de pessoas da população
mundial são portadoras de IC. No Brasil, estima-se que cerca
de 6,4 milhões de brasileiros sofram de IC, a qual representa a
terceira causa de mortalidade em diferentes grupos de doenças
cardiovasculares [1-3].
A IC resulta de anormalidades cardíacas intrínsecas e extrínsecas, onde vários mecanismos celulares estão envolvidos.
Independente da causa inicial da lesão ao coração, este vai
sofrer uma série de eventos que levarão finalmente a mudanças
profundas na sua geometria e eficiência mecânica [4].
O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é o mais
utilizado no mundo para avaliação do esforço submáximo e é
uma forma prática de avaliar a capacidade física em indivíduos
com limitação funcional, como por exemplo, em pacientes
com IC. Este teste ganhou grande importância tanto na prática clínica quanto em pesquisas nos últimos anos, além de ser
um método de custo reduzido. Os TC6M são administrados
em programas de reabilitação cardiopulmonar com intuito de
avaliar a capacidade física, monitorar a efetividade do tratamento e estabelecer o prognóstico dos pacientes [5,6].
Foi sugerido que o tipo de esforço durante o TC6M
assemelha-se à atividade diária, possibilitando ao paciente
determinar o ritmo da caminhada tolerada, o que é uma
vantagem adicional para aquele mais limitado fisicamente
e que certamente não toleraria o teste de esforço máximo,
porém o TC6M não substitui o teste de esforço, entretanto,
a intensidade da caminhada durante os seis minutos pode ser
influenciada pelo incentivo verbal [7,8].
Portanto, este estudo tem como objetivo analisar a importância do TC6M na avaliação da capacidade funcional e
no prognóstico de pacientes com IC.
Insuficiência cardíaca
A Insuficiência Cardíaca (IC) caracteriza-se por ser uma
síndrome clínica complexa, que pode resultar de várias anormalidades estruturais e funcionais do coração, envolvendo
múltiplos sistemas e mecanismos compensatórios neurohumorais [9,10]. Este processo é progressivo e ao surgir
disfunção ventricular, vários mecanismos compensatórios
serão ativados e irão contribuir para continuada progressão
do processo lesivo [4].
A IC pode ser considerada como o último estágio das
doenças do coração. A limitada tolerância ao esforço é freqüentemente a primeira e mais importante característica clínica da
doença, que reflete a redução na função cardíaca e alterações
nos reflexos, metabolismo, vascular e função muscular [11].
39
A insuficiência cardíaca é a doença cardiovascular mais
prevalente na prática clínica e carreia altos índices de morbidade e mortalidade, sendo um problema cada vez maior em
saúde pública. No Brasil, segundo o Sistema de Informações
Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS), a IC
foi a principal causa de internações entre as enfermidades do
aparelho cardiovascular, com 418.620 mil casos em 2001
[12,13].
A idade avançada, independentemente de sexo ou raça,
está relacionada ao seu pior prognóstico. O envelhecimento
da população e a queda da mortalidade por outras doenças
cardiovasculares que levam à insuficiência cardíaca congestiva
têm resultado no aumento da ocorrência dessa afecção e a
perspectiva é de que esses números continuem a aumentar
no Brasil e no mundo [14,15].
Etiologia
As causas mais comuns da IC na prática clínica são a redução da contratilidade miocárdica, freqüentemente associada
à cardiopatia isquêmica, miocardiopatia dilatada idiopática,
diabética, hipertensiva, valvar, inflamatória/infecciosa e
doença de Chagas. Também são causas de IC as condições
nas quais o coração é submetido à sobrecarga hemodinâmica
(sobrecarga de volume ou de pressão), distúrbios de freqüência cardíaca ou condições que interfiram no enchimento
ventricular [16,17].
“É uma síndrome que pode ser causada por qualquer doença que afete o coração, podendo mais de um fator etiológico
estar presente em um mesmo paciente, como por exemplo, a
doença arterial coronária e a hipertensão arterial” [18].
Classificação
A IC pode ser classificada de diversas formas. A classificação mais amplamente utilizada é a que obedece aos critérios
da New York Heart Association (NYHA), utilizada desde 1964,
segundo a qual o paciente pode ser classificado dentro de
quatro classes, tais como: Classe I: assintomático nas atividades usuais, classe II: assintomático em repouso e sintomas
desencadeados por esforços habituais, classe III: assintomático
em repouso, sintomas presentes em esforços menores que os
usuais, e classe IV: sintomas (fadiga, palpitações e dispnéia)
em repouso ou decorrentes de mínimos esforços [1].
Outra forma de classificar os pacientes com IC seria no
estadiamento da doença, em relação ao acometimento estrutural do coração e o grau de manifestação clínica prévia,
dividindo os pacientes em quatro estágios, sendo:
Estágio A: pacientes sem anormalidades ventriculares e
risco de desenvolver IC em virtude de condições comórbidas
que são fortemente associadas com o desencadeamento da IC,
tais como: hipertensão, coronariopatias e diabetes.
Estágio B: pacientes que desenvolveram a doença cardíaca
estrutural, a qual está fortemente associada com o desenvol-
40
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
vimento da IC, mas não apresentam sintomas de IC. Por
exemplo: hipertrofia ventricular esquerda, doença valvar
cardíaca assintomática com dilatação ventricular e Infarto
Agudo do Miocárdio (IAM) prévio.
Estágio C: pacientes que apresentam IC assintomática
prévia ou atual, associada com doença estrutural cardíaca.
Estágio D: pacientes com nítidos sintomas de IC em
repouso, apesar de máxima terapia farmacológica e que necessitam de intervenções especializadas. Por exemplo: pacientes
que não podem ter alta hospitalar, recorrência de hospitalização, pacientes com suporte inotrópico contínuo para alívio
sintomático ou em assistência circulatória [16].
Fisiopatologia
A Insuficiência cardíaca é uma condição em que ocorre
um dano funcional e estrutural difuso da miofibrila (necrose,
apoptose, isquemia ou inflamação) ou uma sobrecarga hemodinâmica excessiva, que provoca uma diminuição da força
contrátil do coração (fração de ejeção) e conseqüentemente
aumento nos volumes ventriculares com ou sem diminuição
do gasto cardíaco [19].
As manifestações periféricas da doença como a disfunção
endotelial, alterações musculares esqueléticas, anormalidades
de fluxo sanguíneo e do controle quimioreflexo ventilatório
são os maiores determinantes dos sintomas que geram a intolerância ao esforço [20].
Na IC a redução do débito cardíaco é o sinal inicial para
que vários mecanismos compensatórios sejam recrutados com
a finalidade de manter a perfusão dos órgãos-alvo. Frente a
uma doença cardíaca, mecanismos compensatórios são desencadeados, independente do agente causal, para sustentar
a perfusão de órgãos vitais e estabilizar o desempenho do
coração [18,20].
Esses mecanismos – sistema renina-angiotensina-aldosterona, sistema nervoso simpático e remodelamento ventricular – são mudanças anatômicas, funcionais e humorais que
tentam normalizar o gasto cardíaco frente a uma diminuição
patológica da função sistólica (fração de ejeção). Diante disso, muitos pacientes podem permanecer assintomáticos por
períodos de tempos variados [1,19,16].
O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) em
condições normais tem um importante papel na manutenção
da homeostase de sal e água, e, portanto, controle da pressão
arterial e a perfusão arterial. Na IC ocorre aumento da produção de renina pelo aparelho justaglomerular renal através
de duas vias principais: estimulação dos adreno receptoresβ1 do aparelho justaglomerular, secundário ao aumento da
atividade simpática, e ativação dos baroreceptores renais
pela queda da pressão hidrostática no glomérulo e arteríola
aferente [16].
A renina atua sobre o angiotensinogêneo convertendo
em angiotensina I, que é convertido em angiotensina II pela
enzima de conversão da angiotensina (ECA) [16].
A angiotensina II é um dos mais potentes vasoconstritores
e peptídeos mitogênicos produzidos sistêmica e localmente
no coração, pulmões, rins e endotélio. A IC é caracterizada
por concentrações teciduais e circulantes elevadas de angiotensina II, um vasoconstritor que aumenta a pós-carga e
causa hipertrofia de miócitos, apoptose, fibrose intersticial,
remodelamento cardíaco e vascular, e também aumenta a
liberação de catecolaminas [18,21].
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas da insuficiência cardíaca podem ser
parcialmente explicados pelo conjunto de mecanismos compensatórios utilizados pelo organismo para corrigir a redução
do débito cardíaco [22].
Pacientes com IC, freqüentemente são limitados pela
dispnéia e fadiga durante o exercício, os quais constituem
os principais sintomas clínicos da doença mesmo quando
assintomáticos em repouso. Porém, quando comparados a
indivíduos normais, apresentam baixa tolerância ao exercício
físico, acentuada resposta metabólica e respiratória para a
mesma intensidade de trabalho. Essa intolerância induz os
pacientes a interromperem o esforço físico precocemente,
contribuindo para a diminuição das atividades cotidianas,
pelo círculo vicioso de inatividade, piora da capacidade física e
redução da qualidade de vida. Esses sintomas são decorrentes
de complexa resposta fisiopatológica à disfunção ventricular e
da conseqüente diminuição da oferta de oxigênio aos tecidos
[23,10].
Os distúrbios respiratórios são freqüentes nos pacientes
com IC, que, entretanto, por estarem dormindo, na maioria
das vezes não os percebem. As manifestações mais comuns
são a síndrome da apnéia do sono e os distúrbios periódicos
ou oscilatórios da respiração, que acontecem no período de
vigília e também durante o sono [22].
Teste de caminhada de seis minutos
O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um
teste prático que mede de maneira simples a distância máxima que o paciente pode andar, em seu próprio ritmo, por
seis minutos. Ele apresenta-se como uma opção de baixo
custo e de boa tolerância, possibilita ao paciente determinar
a velocidade e a necessidade de realizar pausas, além de ser
preditor de sobrevida em pacientes com insuficiência cardíaca
[24,25,8].
O TC6M foi inicialmente utilizado para avaliar pacientes
com doenças respiratórias crônicas, tais como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e insuficiência respiratória.
O teste atraiu a atenção dos cardiologistas porque ele é fácil
de realizar e interpretar [26].
Seus objetivos incluem: avaliar a capacidade para prática
de esportes e outras atividades, o estado funcional do sistema
cardiovascular e/ou respiratório, programas de prevenção,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
terapêuticos e de reabilitação e predizer morbidade e mortalidade em candidatos a transplantes cardíacos [6].
Indicações e contra-indicações
As indicações para a realização do TC6M são: comparação
entre o pré e pós-tratamento de situações como: transplante
pulmonar, ressecção pulmonar, cirurgia de redução do volume
do pulmão, reabilitação pulmonar, DPOC, hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca; categoria funcional (somente
para pacientes usuários de única medição): DPOC, fibrose
cística, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica,
fibromialgia, pacientes idosos; e preditor de morbidade e
mortalidade: insuficiência cardíaca, DPOC e hipertensão
pulmonar primária [27].
As contra-indicações absolutas para o TC6M incluem as
seguintes: presença de angina instável há um mês e infarto agudo do miocárdio precedendo um mês. As contra-indicações
relativas incluem: freqüência cardíaca de repouso acima de
120 bpm, pressão arterial sistólica maior que 180 mmHg, e
pressão arterial diastólica maior que 100 mmHg [27].
Execução do teste
O TC6M deve ser realizado em um corredor reto, plano,
de preferência com 30 metros de comprimento, em ambiente
fechado, com uma cadeira disposta em cada extremidade da
reta demarcada. No entanto, ele pode ser feito em uma esteira
rolante, como alternativa em situações em que um corredor
não está disponível, porém os valores obtidos não serão fidedignos. O TC6M é um exame limitado por tempo e que pode
ser realizado a qualquer hora do dia [27,1,24,28].
Os pacientes devem ser instruídos a caminhar o mais rápido possível, sem correr, porém no ritmo máximo tolerado.
A cada trinta segundos o avaliador dirá uma frase de reforço
como “você esta indo bem” ou “mantenha este ritmo“. Se eles
se sentirem cansados, deverão interromper a caminhada por
alguns instantes, a fim de que descansem e continuem tão
logo se sintam capazes para isso [1].
Durante o teste o paciente deve usar roupas confortáveis,
calçados apropriados para caminhada, deve ter realizado uma
alimentação leve previamente, não deve ter se exercitado vigorosamente duas horas antes do início do teste e caminhar sozinho
para não haver alteração dos seus passos, pois estudos mostram
que pacientes que caminham em grupo apresentam aumento
da distância percorrida em seis minutos e caminham em ritmo
de competição, o que altera os resultados do teste [28].
Apesar de não ser preconizado pela American Thoracic
Society Statement, o teste pode ser realizado com acompanhamento do fisioterapeuta ao lado do paciente, impondo o ritmo
da caminhada e oferecendo estímulo verbal, pois essas atitudes
contribuem para a melhora no seu desempenho [25].
Todos os pacientes devem ser monitorados com freqüencímetro de pulso. A freqüência cardíaca deve ser anotada no
41
repouso, segundo, quarto e sexto minutos e após dois minutos
do término do teste. É fundamental aferir a pressão arterial
em repouso, no final e dois minutos após o término do teste.
Ao final do mesmo, os pacientes devem relatar o cansaço
subjetivo pela escala de Borg e anotar-se-á a metragem total
percorrida nos seis minutos [1].
A distância da caminhada é dividida em quatro níveis:
Nível I para os que caminharem uma distância menor do
que 300 metros, Nível II, entre 300 e 375 metros, Nível III
entre 375 e 450 metros e Nível IV distância maior do que
450 metros [29].
Um estudo mostrou que a mortalidade diminui à medida
que a distância percorrida aumenta. Distâncias maiores do
que 450 metros indicam bom prognóstico e entre 150 a 300
metros caracterizam pior prognóstico [29,30].
Importância da execução do TC6M em pacientes
com IC
O impacto econômico que a Insuficiência Cardíaca
(IC) ocasiona para a sociedade tem motivado o interesse
considerável dos programas de gerenciamento na IC em
identificar intervenções que sejam eficazes sob o ponto de
vista clínico e econômico. Portanto, o desenvolvimento de
métodos simples, que não exijam equipamento especial
de alto custo, é de grande importância na avaliação destes
pacientes [31].
A avaliação da capacidade funcional é necessária para que
se prescrevam exercícios para pacientes com IC de forma adequada e também para avaliar a eficácia da terapêutica utilizada.
Isso pode ser conseguido com a aplicação do TC6M, uma
vez que o mesmo reflete a análise de aspectos metabólicos do
miocárdio e o grau de resposta isquêmica ao esforço a que
está sendo submetido [28].
O TC6M propõe ser um exame submáximo que pode
reproduzir atividades físicas diárias dos pacientes e avaliar o
prognóstico de pacientes com IC [11].
Os centros para controle e prevenção de doenças reconhecem como atividades submáximas aquelas com intensidades
de 3 a 6 METS, os quais correspondem a uma intensidade
moderada para a maioria dos jovens e adultos de meia idade.
Para certificar-se de que todos os pacientes se submetem ao teste
submáximo, uma cuidadosa padronização foi proposta utilizando a escala de Borg, (Anexo A), na qual o nível de intensidade
submáximo é definido entre fácil e ligeiramente cansativo, o
qual se encontra entre os valores 11 e 13 na escala [11].
Método
Trata-se de uma revisão bibliográfica constituída por
artigos científicos que utilizou os seguintes bancos de dados:
Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de Engenharia de
Guaratinguetá, FEG – UNESP. As bases de dados consultadas
foram Medline, Scielo e Lilacs.
42
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
Foi realizado um levantamento bibliográfico utilizando
as seguintes palavras-chave: insuficiência cardíaca, teste de
caminhada de seis minutos, teste submáximo, six-minute walk
test, heart failure, sub-maximal test.
Foram selecionados apenas artigos publicados nos idiomas
inglês, espanhol e português, com ano de publicação compreendido entre 1996 a 2008.
Resultados e discussão
Vários e diferentes estudos têm investigado se a distância
percorrida durante o teste de caminhada é um indicador de
prognóstico em pacientes com IC crônica. A redução dos
níveis da capacidade funcional demonstrada por uma distância
percorrida < 300 m durante o TC6M foi provado ser um
preditor de mortalidade e morbidade, tanto em pacientes com
disfunção sistólica ventricular esquerda assintomática como
em pacientes com IC leve, moderada e avançada [26].
No estudo de Rubim et al. [13] com 179 pacientes portadores de IC nas classes II e III da NYHA, o objetivo foi
avaliar a utilidade do teste como indicador prognóstico e sua
contribuição na prática clínica desses pacientes, e verificouse que a média da distância percorrida durante o teste dos
pacientes que foram a óbito foi de 480 m e os pacientes que
não foram a óbito foi de 540 m, sendo assim observou-se
que a distância percorrida no TC6M foi um forte marcador
prognóstico para mortalidade nos portadores de IC, o que
condiz com o estudo realizado por Rostagno et al. [32] cujos
resultados sugeriram que a distância percorrida durante o
TC6M parece ser um preditor independente da sobrevida em
pacientes com insuficiência cardíaca de leve a moderada, e a
mortalidade foi significativamente maior no grupo de pacientes que percorreram menos de 300 m durante o teste.
Outro trabalho realizado foi o de Lawrence et al. [33],
que em seus estudos com 45 indivíduos (40 homens e 5
mulheres) com idade média de 49 anos, relacionou o VO2
pico e a distância percorrida no teste de caminhada de seis
minutos em pacientes com insuficiência cardíaca avançada
submetidos a avaliação para transplante cardíaco, e identificaram que a distância percorrida no TC6M é um forte preditor
do VO2 pico e que distâncias menores que 300 m previram
um aumento da probabilidade de morte ou internação para
transplante cardíaco no prazo de 6 meses, mas não previram
a longo prazo a sobrevida de eventos cardíacos.
Segundo Faggiano et al. [26], a distância percorrida durante o TC6M tende a aumentar quando o mesmo é repetido após
um curto período de tempo, porém parece permanecer estável
a partir do segundo e terceiro teste em diante, concordando
com Refsgaard [34] onde foi demonstrado que pacientes com
ICC foram capazes de percorrer uma distância estável no teste
de caminhada de seis minutos após a primeira realização do
teste, ou seja, à distância percorrida no segundo teste de caminhada foi maior que a distância do primeiro, condizendo
também com os estudos de Rubim [13] e Wu, Sanderson,
Bittner [35] nos quais foi observado que a média da distância
percorrida no pré-TC6M realizado na véspera dos pacientes
executarem exames mostrou ser significativamente menor do
que a média da distância do TC6M propriamente dito.
Segundo Guimarães et al. [8] e Faggiano [26], o incentivo
dado durante o teste tem grande efeito, pois a motivação
durante o exercício pode determinar um melhor desempenho
físico, como o aumento da distância percorrida, da freqüência
cardíaca e maior consumo de oxigênio, o que condiz com o
American Thoracic Society [27], o qual relata que o incentivo
aumenta significativamente a distância percorrida. Porém,
segundo Refsgaard [34], o encorajamento realizado durante
o teste contribui para que o paciente com IC seja capaz de
caminhar significativamente mais, no entanto, as variações
das instruções e do próprio encorajamento durante o teste
podem contribuir para diferentes resultados, afirmando ainda
que o TC6M deveria ser realizado com boas instruções e sem o
encorajamento do paciente, pois este é um teste de caminhada,
não uma conversa, e se isto for seguido, o TC6M fornecerá
informações suplementares válidas, dos efeitos do tratamento
e do estado físico do paciente.
No estudo realizado por Ingle et al. [36], com uma
população inicial de 1.592 participantes de 70 a 82 anos,
pertencentes a classe funcional de IC de I-IV da NYHA, que
apresentavam sinais clínicos de dispnéia, foi observado que
os pacientes que percorreram mais de 360 m tiveram maior
sobrevida em relação aos que caminharam 240 m, pois neste
segundo grupo, os pacientes (212) foram a óbito. Este fato
pode estar relacionado à idade avançada dos pacientes, sendo
a média de 76 anos e a maior intensidade dos sintomas ao
repouso, concordando com o estudo realizado por Rubim
[13], em que foi observado que a maior probabilidade de óbito
esteve relacionada à menor distância percorrida no TC6M e
a idade mais avançada, o que também se assemelha com o
estudo de Pires et al. [6] realizado com 122 indivíduos saudáveis, separados em três grupos (grupo 1: 20-40 anos; grupo 2:
40-60 anos e grupo 3: > 60 anos), no qual constatou-se que
quanto maior a idade, menor foi a distância percorrida. Este
fato pôde ser observado tanto em pacientes saudáveis, como
em pacientes com disfunção cardíaca.
De acordo com Faggiano [26], o TC6M pela sua simplicidade de realização, seu tempo de execução (6 minutos)
e aceitação (sintoma-limitado), tem mostrado ser um teste
submáximo, porém em relação ao consumo de oxigênio
(VO2) o teste se assemelha ao esforço máximo e isso pode
ser observado nos pacientes que apresentam quadros mais
severos de IC, o que se confirma no estudo de Guimarães et
al. [8] que demonstra que o TC6M, quando aplicado na sua
forma original, alcança níveis de esforço relativamente altos,
sugerindo que os determinantes da capacidade de exercício
submáximo e máximo neste grupo de pacientes, podem não
diferir.
Araújo et al. [25] em seus estudos compararam os resultados do TC6M realizado com estímulo verbal e com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
acompanhamento de um fisioterapeuta ao lado do paciente;
com a realização do TC6M somente com o estímulo verbal.
Em 30 pacientes separados em 2 grupos (grupo1: 14 portadores de doença cardíaca; grupo 2: 16 sem doença cardíaca),
sendo observado que o teste sem acompanhamento atingiu
um nível de esforço submáximo e no teste com acompanhamento a freqüência cardíaca atingida se assemelhou ao
esforço máximo em ambos os grupos, sugerindo que quando
o objetivo for avaliar a capacidade física, o acompanhamento
estimula um maior desempenho cardiovascular mais próximo
do máximo.
Segundo Santos e Brofman [37], no estudo com 30 pacientes portadores de insuficiência cardíaca, a qualidade de vida
foi relacionada com a distância percorrida no TC6M e com
a classe funcional de IC segundo a NYHA, e foi constatado
que há uma importante correlação entre estas variáveis, sendo
que quanto maior à distância percorrida no teste, melhor é
a qualidade de vida e quanto maior a classificação segundo a
NYHA, menor é a qualidade de vida desses pacientes.
Por outro lado, Opasich et al. [38] afirmam que em pacientes com IC de moderada a grave, a distância percorrida
no teste de caminhada de seis minutos não se relaciona com
a função cardíaca e apresenta uma pequena relação com a
capacidade de exercício, ou seja, não fornece informações
prognósticas que complementam ou substituem as informações obtidas pelo VO2 pico ou a classe NYHA, desse modo,
nessa população de pacientes o teste apresenta uma limitada
utilidade com indicador decisório na prática clínica.
Opasich et al. [39] aplicaram o teste de caminhada de seis
minutos em 2.555 pacientes, com idade média de 70 anos,
pós-cirurgia cardíaca admitidos no Departamento de Reabilitação Cardíaca Salvatore Maugeri Fundation e compararam
a média da distância percorrida no TC6M com as variáveis
idade, sexo, presença de comorbidades e Fração de Ejeção do
Ventrículo Esquerdo (FEVE), onde se observou que a distância percorrida em seis minutos foi significativamente associada
ao sexo, idade e presença de pelo menos uma comorbidade.
A FEVE teve fraca associação com teste, porém teve significativa correlação com a distância percorrida por homens.
Pôde-se observar também, que os homens caminharam mais
que as mulheres e que a presença de uma ou mais condições
comórbidas, afetou negativamente o desempenho no teste,
independente do sexo e idade.
Segundo a declaração da American Thoracic Society [27], o
TC6M avalia de forma global e integrada a resposta de todos
os sistemas envolvidos durante o exercício e os pacientes severamente prejudicados não impõem ritmo máximo durante o
teste, uma vez que escolhem sua própria intensidade e estão
autorizados a parar e descansar quando necessário. Porém, a
maioria das atividades de vida diária é realizada abaixo dos
níveis de esforço máximo, desta forma, pode-se dizer que o
teste de caminhada de seis minutos reflete melhor o nível
funcional e se assemelha com o esforço realizado nas atividades
físicas diárias.
43
Conclusão
Conclui-se que o TC6M é uma ferramenta útil, simples,
de baixo custo e de fácil realização para avaliação da capacidade
funcional e prognóstico de pacientes com IC, pois de acordo
com a distância percorrida pode-se determinar o real estado
físico do paciente.
Com relação as suas perspectivas de atuação, por tratarse de um teste submáximo ele impõe uma menor sobrecarga
cardiovascular, sendo mais seguro e melhor tolerado pelo
paciente, possibilitando-o determinar o ritmo da caminhada
tolerada, o que é uma vantagem para aqueles mais limitados
fisicamente e que certamente não tolerariam um teste de
esforço máximo.
Referências
1. Bueno AKM, Umeda IIK, Kawauchi TS. Fisioterapia na reabilitação de pacientes com miocardiopatias. In: UMEDA, I. I.
K. Manual de fisioterapia na reabilitação cardiovascular. São
Paulo: Barueri; 2006. p. 104-113.
2. Ramos RB, Fabri JRJ, Mansur APA. Insuficiência cardíaca no
Brasil e no mundo e avaliação de sua influência sócio econômica.
In: Nobre F, Serrano JRCV. Tratado de Cardiologia-SOCESP.
São Paulo: Barueri; 2005. p.733-734.
3. Freitas HFG, Chizzola PR, Markus MRP, Mansur AJ, Bocchi
EA. Prognóstico em portadores de insuficiência cardíaca sintomática grave. In: Barreto ACP, Bocchi EA, ed. Insuficiência
Cardíaca. São Paulo: Segmento; 2003. p.51.
4. Clausell N. Fisiopatologia da insuficiência cardíaca. In: Barreto ACP,
Bocchi EA, ed. Insuficiência Cardíaca. São Paulo; 2003. p.23-24.
5. Rodrigues SL, Viegas CAA. Estudo de correlação entre provas
funcionais respiratórias e o teste de caminhada de seis minutos
em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica.
J Pediatr 2002;28:324-28.
6. Pires SR, Oliveira AC, Parreira VF, Brito RR. Teste de caminhada de seis minutos em diferentes faixas etárias e índices de
massa corporal. Rev Bras Fisioter 2007;11:147-51.
7. Hendrican M, McKelvie RS, Smith T, McCartney N, Pogue J,
Teo KK, et al. Functional capacity in patients with congestive
heart failure. J Card Fail 2000; 6: 214-19.
8. Guimarães GV, Bellotti G, Bacal F, Mocelin A, Bocchi EA.
Pode o teste ergoespirométrico de caminhada de seis minutos
ser representativo das atividades habituais de pacientes com
insuficiência cardíaca? Arq Bras Cardiol 2002;78:553-56.
9. Dal Lago P, Stein R, Ribeiro JP. Exercício em pacientes com
insuficiência cardíaca: do dogma às evidencias. Revista da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul 2004;13:1-7.
10. Ferraz AS, Bocchi EA. Efeitos do treinamento físico na morbidade e mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca:
como implementar sua aplicação na prática clínica? Rev Soc
Cardiol Estado de São Paulo 2008;18:23-36.
11. Guimarães GV, Carvalho VO, Bocchi EA. Reproducibility
of the self-controlled six-minute walking test in heart failure
patients. Clinics 2008;63:201-6.
12. Almeida DR, Viegas RF, Silveira JA, Godoy H. Betabloqueadores: uma revolução na redução da morte súbita em insuficiência
cardíaca. Rev Soc Cardiol Estado do São Paulo 2008;18:2-7.
44
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
13. Rubim VSM, Neto CD, Romeo JLM, Montera MW. Prognostic value of the six-minute walk test in heart failure. Arq Bras
Cardiol 2006;86:120-125.
14. Villacorta H, Mesquita ET. Fatores prognósticos em portadores de insuficiência cardíaca congestiva. Arq Bras Cardiol
1999;72:343-52.
15. Oliveira JRMT, Seguro LFBC, Del Carlo CH. Como reduzir
custos e reinternações na insuficiência cardíaca. Rev Soc Cardiol
Estado de São Paulo 2008;18:37-43.
16. Nobre F, Serrano JRCV. Tratado de Cardiologia – Socesp. 1a
ed. São Paulo: Barueri; 2005.
17. Bocchi EA, Villas-Boas F, Perrone S, Caamano AG, Clausell
N, Moreira MC et al. I Diretriz latino americana para avaliação
e conduta na insuficiência cardíaca descompensada. Arq Bras
Cardiol 2005;85:1-48.
18. Barretto ACP, Bocchi EA. Insuficiência cardíaca. 1a ed. São
Paulo: Segmento; 2003.
19. Boo JFG. Entendiendo la insuficiência cardíaca. Arch Cardiol
Méx 2006;76:431-47.
20. Ferraz SF, Yazbek JRP. Prescrição do exercício físico para pacientes com insuficiência cardíaca. Revista da Sociedade de
Cardiologia do Rio Grande do Sul 2006;15:1-13.
21. Feitosa GS, Carvalho EN. Sistema renina-angiotensina e
insuficiência cardíaca: o uso dos antagonistas do receptor da
angiotensina II. Rev Bras Hipertens 2000;3:250-254.
22. Del Carlo CH, Ochiai ME, Cardoso JN, Lima MV, Barreto
ACP. Desenvolvimento sistêmico da insuficiência cardíaca. Rev
Soc Cardiol 2007;3:222-31.
23. Mesquita ET, Socrates J, Rassi S, Villacorta H, Mady C. Insuficiência cardíaca com função sistólica preservada. Arq Bras
Cardiol 2004;82:494-500.
24. Silva TLP, Sampaio LMM, Silva AB, Kunikoshita LN, Costa
D. Comparação entre o teste de caminhada de seis minutos
realizado no corredor e na esteira rolante em mulheres asmáticas.
Fisioter Mov 2007;20:137-44.
25. Araujo CO, Makdisse MRP, Peres PAT, Tebexreni AS, Ramos
LT, Matsuhita AM et al. Diferentes padronizações do teste de
caminhada de seis minutos como método para mensuração da
capacidade de exercício de idosos com e sem cardiopatia clinicamente evidente. Arq Bras Cardiol 2006; 86:198-205.
26. Faggiano P, D’aloia A, Gualeni A, Brentana L, Deicas L. The
6 minute walking test in chronic heart failure: indications,
interpretation and limitations from a review of the literature.
Eur J Heart Fail 2004;6:687-91.
27. American Thoracic Society. ATS Statement: guidelines for the
six-minute walk test. Am J Respir Crit Care Med 2002;166:11117.
28. Silva LG, Pontes CS. Teste de caminhada de seis minutos para
cardiopatas sob a óptica do fisioterapeuta. Inter fisio 2006
[online]. [citado 2800 Out 12]. Disponível em: URL: http://
www. interfisio.com.br/ index.asp?fid=271 &ac=6
29. Oliveira JRM, Guimarães GV, Barreto ACP. Teste de 6 minutos
em insuficiência cardíaca. Arq Bras Cardiol1996;67:373-374.
30. Rocha RM, Espírito Santo EP, Gouveia EP, Bittencourt MI,
Dowsley R, Meirelles LR, Salgado AP et al. Correlação entre
o teste de caminhada de seis minutos e as variáveis do teste
ergométrico em pacientes com insuficiência cardíaca: estudo
piloto. Rev SOCERJ 2006;19:482-86.
31. Rubim VSM. O teste de caminhada de seis minutos na insuficiência cardíaca [tese]. Rio de Janeiro: Universidade Federal
Fluminense; 2003.
32. Rostagno C, Olivo G, Comeglio M, Boddy V, Banchelli M,
Galanti G et al. Prognostic value of 6-minute walk corridor
test in patients with mild to moderate heart failure: comparison with other methods of functional evaluation. Eur J Heart
Failure 2003;5:247-52.
33. Cahalin LP, Mathier MA, Semigran MJ, Dec GW, Disalvo
TG. The six-minute walk test predicts peak oxygen uptake and
survival in patients with advanced heart failure. Bull Am Coll
Chest Phys 1996;2:325-332.
34. Refsgaard J. This is a walking test, not a talking test: the six
minute walking test in congestive heart failure. Eur Heart J
2005;26:749-750.
35. Wu G, Sanderson B, Bittner V. The 6-minute walk test: How
important is the learning effect? Am Heart J 2003;146:129133.
36. Ingle L, Rigby AS, Carroll S, Butterly R, King RF, Cooke CB
et al. Prognostic value of the 6 min walk test and self-perceived
symptom severity in older patients with chronic heart failure.
Eur Heart J 2007;28:560-568.
37. Santos JJA, Brofman PRS. Six-minute walk test and quality-oflife in heart failure. A correlative study with a Brazilian sample.
Revista de Insuficiência Cardíaca 2008;3:72-75.
38. Opasich C, Pinna GD, Mazza A, Febo O, Riccardi R, Riccardi
PG et al. Six minute walking performance in patients with
moderate-to-severe heart failure. Is it a useful indicator in
clinical practice? Eur Heart J 2001;22:488-96.
39. Opasich C, De Feo S, Pinna GD, Furgi G, Pedretti R, Scrutinio
D et al. Distance walked in the 6-minute test soon after cardiac
surgery: toward an efficient use in the individual patient. Chest
2004;126(6):1796-01.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
45
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
46
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009
47
Calendário de eventos
2009
Julho
18 a 26 de julho
Março
26 a 29 de março
Saúde Sport e Fitness
Centro de Convenções de Goiânia
Informações: (61) 3349-0101
[email protected]
VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Física
Informações: (011) 2714-5678
www.encontrophorte.com.br
[email protected]
Setembro
X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para
a Terceira Idade
Abril
3 a 7 de abril
Núcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de
Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
20 a 25 de Setembro
35º ENAPEF
Capão da Canoa, RS
Informações: www.apefrs.com.br
XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III
Congresso Internacional de Ciências do Esporte
Informações: [email protected]
17 e 21 de abril
II Congresso Internacional de Educação Física e
Qualidade de Vida
Universidade Católica de Brasília
Brasília, DF
Informações: www.ucb.br/edfisica/congresso
Novembro
6 a 8 de novembro
Maio
13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio
de Janeiro - SIAFis RJ
Auditório da Escola Naval
Rio de Janeiro, RJ
Informações: [email protected]
7 a 9 de maio
21o Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do
Esporte
9º Congresso Paulista de Medicina do Esporte
Centro de Convenções Rebouças
São Paulo, SP
Informações: www. medicinadoesporte.org.br
CURSO
11 a 17 de abril
Abril
Ciências da Performance Humana
UFRJ - Especialização Latu Sensu
EEFD / UFRJ
Informações: (21) 2562-6803 / 2562-6826 / 8122-0060
[email protected]
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 8 número 2 - abril/junho 2009
EDITORIAL
Novas perspectivas, Prof. Dr. Walace David Monteiro ............................................................................................... 51
ARTIGOS ORIGINAIS
Comparação entre diferentes modelos de obtenção de velocidade crítica
em nadadores juvenis: aplicações e considerações metabólicas,
Rodrigo Zacca, Flávio Antônio de Souza Castro .......................................................................................................... 52
Mobilidade funcional e equilíbrio de idosos praticantes de exercícios físicos
versus indivíduos sedentários, Fábio Marcon Alfieri, Aline Werner, Anieli Baciega Roschel ...................................... 61
Efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados na glicemia
de atletas do jiu-jitsu, José Fernando de Oliveira, Fernando Mauro de Mello e Silva,
Fabio Henrique Ornellas, Antonio Coppi Navarro, Francisco Navarro ........................................................................ 65
A comparação de esforço de idosos atletas e idosos não atletas no protocolo
de Bruce original, Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, Nathália Maria Resende,
Vivian Lamounier Camargos Resende Silva, Romeu Paulo Martins Silva Lamounier,
Foued Salmen Espindola, Rimmel Amador Guzman Heredia, Elmiro Santos Resende ................................................ 71
Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada de ambos os sexos
em diferentes velocidades, Sebastião Iberes Lopes Melo, Juliane de Oliveira,
Mário César Andrade, Raquel Pinheiro Gomes, Roberta Pires .................................................................................... 77
Estimulação cerebral auditiva e fótica: efeito agudo na memória de trabalho,
atenção concentrada e tempo de reação em criança com diagnóstico de hiperatividade
(TDAH), Maurício Rocha Calomeni, Nilo Terra Arêas Neto, Karla Osires Freire,
Bianca Kalil de Macedo Jakubovic, Vernon Furtado da Silva ....................................................................................... 84
Relação entre flexibilidade, composição corporal e índice de massa corporal
(IMC) de crianças do sexo feminino de Caratinga-MG,
Juliana Santos Anselmo, Marcus Vinicíus de Mello Pinto ............................................................................................ 90
RELATO DE CASO
Efeito do exercício físico na remodelação miocárdica: relato de caso,
Jefferson Petto, George Robson Ferraz, Anna Jessyca Lima Garrido,
Carla Laine Silva Santos, Priscila Ramos ...................................................................................................................... 95
REVISÃO
Variabilidade da freqüência cardíaca: método não-invasivo de avaliação
do limiar ventilatório, André Lopes, Vinicius Dias, Cintia Stocchero,
Giovani dos Santos Cunha, Álvaro R. de Oliveira ........................................................................................................ 99
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 106
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 108
50
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Martim Bottaro (DF)
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Robert Robergs (USA)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Rosane Rosendo (SC)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Sebastião Gobbi (SP)
Douglas S. Brooks (EUA)
Steven Fleck (USA)
Emerson Silami Garcia (MG)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Martins (PB)
Vilmar Baldissera (SP)
Francisco Navarro (SP)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 /3361 9932
E-mail: [email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
Editor assistente – Publicidade
Guillermina Arias
[email protected]
Direção de arte
Assistente de vendas – Atendimento
Assinatura
Cristiana Ribas
Márcia P. Nascimento
1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00
[email protected]
[email protected]
www.eventoserevistas.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
51
Editorial
Novas perspectivas
Prof. Dr. Walace David Monteiro
Editor Associado da RBFEx
O credenciamento de um periódico passa por diversos
requisitos. Além da qualidade dos artigos publicados e dos
órgãos em que o mesmo é indexado, considera-se a manutenção da periodicidade do veículo científico. Com relação
a este último quesito, é importante destacar que a RBFEx
vem recuperando sua periodicidade, o que permite pensar
em vôos mais altos. No ano passado, visando aumentar a
demanda de artigos submetidos, foram implantadas diversas
áreas relacionadas à fisiologia para submissão de artigos, o
que permitiu uma maior variedade do conteúdo publicado,
aumentando o número de leitores da revista.
A partir de 2009 outra importante mudança será implementada na RBFEx. A revista passará a ser trimestral,
adicionando desta forma um número a mais aos publicados
nos anos anteriores. Em grande parte, isso está sendo possível devido à quantidade de artigos que temos recebido,
bem como ao inestimável apoio da Editora Atlântica. Outro
importante aspecto a ser destacado diz respeito aos autores
provenientes de diferentes áreas da saúde, que têm identificado
na RBFEX uma alternativa para veicular o conhecimento por
eles produzido.
Caracteriza-se, portanto, a fisiologia do exercício como
área multidisciplinar de conhecimento. Essa, aliás, foi a premissa sob a qual se fundou a Sociedade Brasileira de Fisiologia
do Exercício. Desejava-se, naquele ano de 2002, criar um
espaço em que profissionais com diferentes formações, mas
interessados na temática, pudessem interagir e trocar idéias
sem preocupações corporativistas. A diversidade dos autores
que vêm publicando na RBFEx traduz essa concepção inicial,
o que nos deixa muito satisfeitos. Desse modo, não podemos
deixar de fechar o presente editorial sem conclamar os pesquisadores a submeter seus trabalhos à nossa revista, de maneira
a melhorá-la cada vez mais. Boa leitura!
52
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Artigo original
Comparação entre diferentes modelos de obtenção
de velocidade crítica em nadadores juvenis
Comparison between different models to determine the critical
speed in young swimmers
Rodrigo Zacca*, Flávio Antônio de Souza Castro*
*Laboratório de Pesquisa do Exercício – LAPEX – Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre
Resumo
Abstract
Velocidade Crítica (VC): máxima intensidade sustentável por
um período prolongado sem alcançar o VO2máx, ou seja, o limite
inferior da zona de intensidades severas. Objetivo: obter e comparar
valores de VC obtidos por meio de nove modelos de diferentes
números e combinações de distâncias, utilizando o mesmo grupo
de nadadores. Método: Onze nadadores juvenis (idade: 14,4 ± 0,5
anos, massa corporal: 60,6 ± 7,0 kg, estatura: 175,5 ± 5,2 cm,
envergadura: 182,2 ± 4,9 cm), com índice de participação em
Campeonatos Brasileiros participaram deste estudo. Para a determinação dos diferentes modelos de VC, os atletas realizaram, em nado
crawl, testes de 50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m e 1500 m sob
máxima intensidade. Para a determinação da VC1 foram utilizadas
as distâncias de 50 e 200 m; VC2, 100 e 400 m; VC3, 200 e 800
m, VC4, 400 e 1500 m, VC5, 50, 100 e 200 m; VC6, 100, 200 e
400 m; VC7, 200, 400 e 800 m; VC8, 400, 800 e 1500 m; e para
a VC9, 50, 100, 200 e 400 m. Resultados: VC1 (1,28 ± 0,07 m/s),
VC5 (1,27 ± 0,07 m/s) e VC9 (1,26 ± 0,07 m/s) apresentaram
maiores valores que VC4 (1,19 ± 0,09 m/s) e VC8 (1,19 ± 0,10
m/s). VC4 e VC8 foram semelhantes aos modelos VC2 (1,25 ± 0,07
m/s), VC3 (1,21 ± 0,07 m/s), VC6 (1,25 ± 0,07 m/s) e VC7 (1,20
± 0,07 m/s). VC6 foi similar a todos os modelos de VC. Conclusão:
distâncias percorridas em aproximadamente 60 segundos ou menos
parecem induzir a valores mais altos de VC comparados a outras
combinações, sugerindo assim a exclusão da distância de 50 m e,
se necessário, também a distância de 100 m na confecção de modelos para determinação da mesma. Por outro lado, a exclusão das
distâncias mais longas (800 m e 1500 m) parece não alterar o valor
da VC em relação aos modelos de VC confeccionados com inclusão
de distâncias percorridas em tempos superiores a 60 s.
Critical velocity (CV): maximum intensity sustainable for a long
time without achieving the VO2max, that is the lower limit of the
zone of severe intensity. Objective: To obtain and compare values of
CV obtained by means of nine models of different combinations of
numbers and distances, using the same group of swimmers. Methods:
Eleven young swimmers (age: 14.4 ± 0.5 years, body mass: 60.6 ±
7.0 kg, height: 175.5 ± 5.2 cm; upper arm span: 182.2 ± 4.9 cm ),
national level, participated in this study. To determine the different
types of VC, the athletes performed, in front crawl swimming, tests
of 50 m, 100 m, 200 m, 400 m, 800 m 1500 m under maximum
intensity. To determine the VC1 were used distances of 50 and
200 m; VC2, 100 and 400 m; VC3, 200 and 800 m; for the VC4,
400 and 1500 m; for the VC5, 50, 100 and 200 m; for VC6, 100,
200 and 400 m; for VC7, 200, 400 and 800 m; for VC8, 400, 800
and 1500 m; and for VC9, 50, 100, 200 and 400 m. Results: VC1
(1,28 ± 0,07 m/s), VC5 (1.27 ± 0.07 m/s) and VC9 (1.26 ± 0.07
m/s) showed higher values than VC4 (1.19 ± 0.09 m/s) and VC8
(1.19 ± 0.10 m/s). VC4 and VC8 models were similar to VC2 (1.25
± 0.07 m/s), VC3 (1.21 ± 0.07 m/s), VC6 (1.25 ± 0.07 m/s) and
VC7 (1.20 ± 0.07 m/s). VC6 was similar to all CV models analyzed.
Conclusion: distances walked in around 60 seconds or less seem to
lead to higher values of CV compared to other combinations, thus
suggesting the exclusion of the distance of 50 m and, if necessary,
also the distance of 100 m to build models for determining the same.
Furthermore, the exclusion of longer distances (800 m 1500 m)
does not seem to change the value of CV in relation of the modes
of VC that were built with inclusion of distances traveled in times
higher than 60 s.
Key-words: swimming, performance, critical power.
Palavras-chave: natação, desempenho, potência crítica.
Endereço para correspondência: Rodrigo Zacca, Rua Jarí, 619/1104 torre 3 Passo d´Areia 91350-170 Porto Alegre RS, Tel: (51)
9223-9076, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
Na natação, como outros esportes, tendo em vista o desempenho, o tempo despendido para os treinamentos precisa
ser otimizado. A busca pela praticidade nas sessões em piscina
e a necessidade de um protocolo confiável para avaliar o
estado de treinamento do atleta é constante, visto o grande
número de competições de alto nível a cada temporada e as
diversas atividades que um atleta possui além de seu treinamento. Faz-se necessário, então, que técnicos e responsáveis
diretos direcionem seus trabalhos de forma objetiva, rápida
e econômica, de modo que não se perca a qualidade durante
as sessões de treinamento.
Estabelecer o limiar anaeróbio individual (LAI) é um
passo importante para um bom desenvolvimento e controle
no treinamento de natação. Sem uma monitoração adequada
das condições físicas do nadador, não é possível verificar as suas
necessidades fisiológicas, prescrever com eficácia a dinâmica
das cargas e avaliar com precisão a evolução ou involução
produzida com o treinamento em um determinado período
de tempo [1]. Os testes utilizados para a avaliação do estado
fisiológico do atleta e prescrição das intensidades de nado
são, em sua maioria, semelhantes, baseados na relação entre
consumo de oxigênio (VO2), concentração de lactato sérico
([La]) e velocidade de nado [2]. No entanto, apesar da precisão na utilização de protocolos complexos e/ou invasivos,
o dispêndio de tempo em sua aplicação, aliado aos conflitos
éticos que envolvem os procedimentos com nadadores jovens
[3,4] são os principais motivos para uma busca constante de
metodologias práticas e não-invasivas. Nesse sentido, a velocidade crítica (VC) [5], as velocidades de 20 (V20) [6] e 30
minutos (V30) [7], os testes de 2000 m (T2000) [8] e 3000 m
(T3000) [9] e o esforço percebido (EP) [10], aparecem como
alternativas para técnicos de natação.
Muitos treinadores avaliam o estado de treinamento de
seus nadadores por meio de intensidades de nado equivalentes
ao limiar anaeróbio (LA) utilizando o EP [10-13]. No entanto,
apesar de diversos estudos [12,14,15] apresentarem uma forte
correlação entre o EP e a resposta do lactato sérico ao exercício
(BLRE), o EP mostra-se aplicável em um grupo restrito de
nadadores, pois exige uma boa base de treinamento para que
se nade séries longas com ajustes mínimos de intensidade
entre cada repetição [16].
A aplicação de testes longos como o T30 [7], por sua vez,
pode proporcionar informações para prescrição de intensidade
ainda mais subjetivas, principalmente quando aplicadas em
nadadores jovens e/ou com pouco tempo de experiência em
natação competitiva, já que os avaliados deveriam manter suas
velocidades de nado por longo tempo, necessitando de perfil
psicológico compatível com a demanda do teste [16].
A VC, máxima intensidade sustentável por um período
prolongado sem alcançar o VO2máx, ou seja, o limite inferior
da zona de intensidades severas [5,17,18] demonstra ser um
protocolo de fácil aplicação, pois há a possibilidade de se obtê-
53
la por meio de testes em máxima intensidade com distâncias
percorridas em tempos muito inferiores aos testes longos
como o T30 [19-23], por exemplo. Cabe ressaltar, também,
que a ausência de conflitos éticos envolvendo nadadores
jovens (pois a VC é uma metodologia não–invasiva), o baixo
custo e a rapidez em sua aplicação, resultam em trabalhos
mais objetivos, rápidos e econômicos, sem perder a qualidade
durante as sessões de treinamento.
Por meio de uma adaptação direta do conceito de potência
crítica (PC), previamente estudado por Monod & Scherrer
[24], Ettema [25], utilizou-se dados de recordes mundiais
datados em atletas de natação, corrida, ciclismo e patinação
de velocidade para predizer desempenho e explicar os limites
da resistência humana. Surgiu então o termo Velocidade
Crítica (VC). Alguns anos mais tarde, Wakayoshi et al. [26]
aprimoraram a VC definindo-a como um método simples e
não-invasivo para a avaliação e controle em natação.
Inicialmente, o conceito de VC foi aplicado em Swimming
Flume [26] como a máxima velocidade possível de ser mantida
por um longo período de tempo sem exaustão, a qual seria
obtida por meio da inclinação da reta (b) de regressão entre a
distância de teste ou de prova e o respectivo tempo, quando
a primeira é nadada à máxima velocidade.
Estudos [5,27,28] demonstraram que a VC pode ser estimada por meio dos melhores tempos oficiais de prova que
um nadador realizou em um determinado período. Em um
estudo [20] com 23 nadadores de nível nacional (idade: 15 a
20 anos), cujo interesse foi verificar o efeito do nível de desempenho aeróbio na relação entre freqüência de braçada em VC
(FBVC) e velocidade máxima do T30 (FBS30), os resultados
obtidos indicaram que o nível de desempenho aeróbio não
parece influenciar a relação entre FBVC e a FBS30. Assim,
a VC poderia fornecer informações de aspectos fisiológicos
e também servir um índice associado com a habilidade biomecânica, representando uma importante ferramenta para a
avaliação, prescrição e controle do treinamento [29].
A VC mostra-se aplicável principalmente para aqueles
atletas das categorias iniciais (infantil, juvenil) que ainda não
utilizam o EP por motivos citados anteriormente. Da mesma
forma, aplicar a VC na avaliação e controle de nadadores recreacionais em academias, clubes ou escolas, ocasionaria grande
praticidade na avaliação e controle dos mesmos. Ainda, a VC
é aplicável inclusive quando há um grande número de atletas
treinando simultaneamente, devido ao método simples de
obtenção dos dados (distância e tempo) e, sobretudo por se
tratar de procedimento individualizado e não-invasivo [30].
No entanto, Calis et al. [13] e Bishop et al. [31] acreditam
que a escolha das cargas empregadas para a determinação de
potência crítica podem nos levar a valores diferentes.
Wakayoshi et al. [32], por exemplo, que inicialmente
utilizaram quatro distâncias (50 m, 100 m, 200 m e 400 m,
utilizaram apenas duas (200 m e 400 m) em um estudo com
oito nadadores universitários treinados [33]. Outros estudos
também utilizaram modelos de quatro distâncias (Wrigth
54
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
por sessão. Antes da participação nos protocolos, os pais ou
responsáveis e os indivíduos foram informados de todos os
procedimentos inerentes aos testes, assinando um termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado
pelo CEP/UFRGS (nº 2007888).
& Smith [28] – 50 m, 100 m, 200 m e 1200 m; Vilas-Boas
et al. [1] – 50 m, 100 m, 200 m e 1500 m; Filipatou et al.
[34] – 50 m, 100 m, 200 m e 400 m). Rodrigues et al. [35]
avaliaram 51 nadadores de nível nacional (18 - 26 anos) utilizando duas distâncias (100 m e 400 m). Em um estudo com
29 nadadores, Reis et al. [21] também determinaram a VC
com apenas duas distâncias (200 m e 400 m), e definiramna como um ótimo indicador da influência do treinamento.
Assim, o objetivo deste estudo foi obter e comparar valores
de VC obtidos por meio de quatro modelos de dois componentes, quatro modelos de três componentes e um modelo de
quatro componentes, todos com diferentes combinações de
distâncias, utilizando o mesmo grupo de nadadores.
Determinação dos diferentes modelos de velocidade crítica
Para a determinação dos diferentes modelos de VC, os
atletas realizaram em nado crawl, testes de 50 m, 100 m, 200
m, 400 m, 800 m e 1500 m sob máxima intensidade. Os
testes máximos foram realizados durante um período de 16
dias, em ordem aleatória, com no mínimo 48 h de intervalo
entre a realização de cada um, em piscina de 50 m, aquecida, com temperatura da água controlada (28 ± 0,5º) e no
mesmo horário do dia. A VC foi determinada por meio do
coeficiente angular (b) da reta de regressão linear (Equação
1) entre as distâncias e os respectivos tempos obtidos em
cada repetição [26].
Material e métodos
Onze nadadores da categoria juvenil, filiados à Federação
Gaúcha de Desportos Aquáticos, com índice de participação
em Campeonatos Brasileiros de sua categoria e experiência
competitiva na modalidade de 5 ± 1,4 anos foram voluntários para este estudo. Os valores de estatura, massa corporal,
envergadura, especificações de prova e estilo são apresentados
na Tabela I.
Os atletas mantinham uma freqüência de seis a oito
sessões de treinos semanais e 6 a 8 km de distância nadada
Y=a+b*x
Onde:
y = valor de ordenada (eixo dos yy) → valor da distância
nadada (m)
Tabela I - Valores de estatura, massa corporal, envergadura, especificações de prova e estilo.
Indivíduo nº
Especialidade
Prova (m) / estilo
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
F
VEL
MF
VEL-MF
VEL-MF
MF
VEL
F
MF
VEL
MF
400/800/1500 CR
100 BO
200 CR
100/200 PE
100/200 PE
200 MED
50/100 CR
AGUAS ABERTAS
200/400 MED
100 BO
200 MED
Média
Desvio Padrão
Idade
(anos)
14
14
14
15
14
14
14
15
14
15
15
14,4
0,5
Estatura (cm)
Envergadura (cm)
188,5
171
176
175
173,5
168
178
173
178
176,5
173
175,5
5,2
195,5
178
181
182,5
179,5
176
183
182
182
183,5
181
182,2
4,9
Massa corporal
(kg)
73,4
64,2
67
52,3
60,5
47,7
61,5
63,6
57,1
57,1
62,3
60,6
7,0
MED = medley; BO = borboleta; PE = peito; CR= crawl; VEL = velocista; MF = meio fundista; F = fundista.
Tabela II - Valores médios com respectivos desvios-padrão (dp) dos tempos (s) obtidos nas distâncias de 50, 100, 200, 400, 800 e 1500 m.
Média ± dp
Distâncias (m) e respectivos tempos (s)
50 m
100 m
200 m
29,3 ± 1,6 s
65,6 ± 3,5 s
146,5 ± 7,5 s
400 m
305,0 ± 16,6 s
800 m
643,5 ± 36,7 s
1500 m
1230,9 ± 88,5 s
Tabela III - Valores médios e desvios-padrão (dp) dos nove modelos propostos neste estudo para a obtenção de VC (m/s).
Média
± dp
Velocidades (m/s) de cada modelo de VC
VC1
VC2
VC3
VC4
1,28 ±
1,25 ±
1,21 ±
1,19 ±
0,07
0,07
0,07
0,09
VC5
1,27 ±
0,07
VC6
1,25 ±
0,07
VC7
1,20 ±
0,07
VC8
1,19 ±
0,10
VC9
1,26 ±
0,07
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
x = valor de abcissa (eixo dos xx) → valor do tempo para a
distância nadada (s)
a = valor da ordenada na origem → valor ao qual a reta intercepta o eixo dos yy na origem do eixo dos xx (m)
b = valor da inclinação da reta → velocidade crítica (m/s)
Figura 1 - VC determinada por meio do coeficiente angular (b)
da reta de regressão linear por meio de modelos obtidos com duas
distâncias.
Para a determinação da VC1 foram utilizadas as distâncias
de 50 e 200 m; para a VC2 foram utilizadas as distâncias de
100 e 400 m; para a VC3 foram utilizadas as distâncias de
200 e 800 m, para a VC4 foram utilizadas as distâncias de
400 e 1500 m, para a VC5 foram utilizadas as distâncias de
50, 100 e 200 m; para a VC6 foram utilizadas as distâncias de
100, 200 e 400 m; para a VC7 foram utilizadas as distâncias
de 200, 400 e 800 m; para a VC8 foram utilizadas as distâncias de 400, 800 e 1500 m; e para a VC9 foram utilizadas as
distâncias de 50, 100, 200 e 400 m.
O programa Excel foi utilizado para a plotagem dos dados
e cálculo das equações de reta. Para a realização deste estudo foi
necessária a utilização de três cronômetros manuais a fim de
serem obtidos os tempos (t) para as distâncias (d) de 50 a 1500
m. Todos os atletas estavam envolvidos em seus programas de
treinamento, o qual se caracterizava por apresentar grandes
volumes e níveis de carga baixos a moderados. Previamente
ao início de cada teste, os atletas realizavam um aquecimento
determinado pelo treinador de aproximadamente 2000 m,
com intensidade moderada e estilos variados. Os testes foram
aplicados logo após o aquecimento. Cada atleta tinha direito à
apenas uma tentativa e a saída foi realizada de cima do bloco.
Os atletas foram verbalmente incentivados a realizar cada teste
em máxima intensidade. Logo a seguir, os atletas finalizavam
seus treinamentos.
Análise estatística
Para a comparação dos valores de VC1, VC2, VC3, VC4,
VC5, VC6, VC7, VC8 e VC9 foram calculadas as médias,
desvios padrão e erros padrão. Verificou-se a normalidade (Teste
de Shapiro-Wilk) e a esfericidade (Teste de Mauchly) dos dados.
Quando calculada a equação da reta de inclinação linear, foi
calculado o coeficiente de determinação (r2). Aplicou-se uma
Anova para medidas repetidas, com verificação dos efeitos
principais com Teste de Bonferroni. Quando necessário foi
utilizado fator de correção “Epsilon” de Greenhouse-Geiser.
Adotou-se como significância 0,05 para todas as análises. Os
cálculos foram realizados no pacote estatístico SPSS v. 12.0
Resultados
A Tabela II apresenta os valores médios (com respectivos
desvios-padrão) dos tempos obtidos nas distâncias de 50, 100,
200, 400, 800 e 1500 m.
A Tabela III apresenta os valores médios (com respectivos
desvios-padrão) de VC1, VC2, VC3, VC4, VC5, VC6, VC7,
VC8 e VC9.
55
VC1 (50 e 200 m); b) VC2 (100 e 400 m); c) VC3 (200 e 800 m); d)
VC4 (400 e 1500 m) e a média dos respectivos tempos obtidos em
cada repetição.
56
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Figura 2 - VC determinada por meio do coeficiente angular (b)
da reta de regressão linear por meio de modelos obtidos com três
distâncias.
A Figura 1 apresenta a VC determinada por meio do
coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio
dos modelos obtidos com duas distâncias (VC1, VC2, VC3
e VC4) e a média dos respectivos tempos obtidos em cada
repetição.
A Figura 2 apresenta a VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio dos
modelos obtidos com três distâncias (VC5, VC6, VC7 e VC8)
e a média dos respectivos tempos obtidos em cada repetição.
A Figura 3 apresenta a VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da reta de regressão linear por meio do
modelo obtido com quatro distâncias (VC9) e a média dos
respectivos tempos obtidos em cada repetição.
Figura 3 - VC determinada por meio do coeficiente angular (b) da
reta de regressão linear por meio de um modelo obtido com quatro
distâncias: VC9 (50, 100, 200 e 400 m) e a média dos respectivos
tempos obtidos em cada repetição.
A Tabela IV apresenta as diferenças significativas encontradas entre os nove modelos de VC propostos neste estudo
(F = (2,445; 24,454) = 14,940; p < 0,001; η2 =0,599).
Discussão
a) VC5 (50, 100 e 200 m); b) VC6 (100, 200 e 400 m); VC7 (200, 400
e 800m); VC8 (400, 800 e 1500 m) e a média dos respectivos tempos
obtidos em cada repetição.
O objetivo central deste estudo foi comparar os valores
de VC determinados a partir de nove modelos diferentes
com dois, três e quatro componentes. Os principais resultados encontrados foram: a) os modelos VC1(1,28 ± 0,07
m/s), VC5 (1,27 ± 0,07 m/s) e VC9 (1,26 ± 0,07 m/s), que
utilizaram a menor distância (50 m), apresentaram maiores
valores que os modelos VC4 (1,19 ± 0,09 m/s) e VC8 (1,19
± 0,10 m/s) que utilizaram a maior distância (1500 m); b)
Os modelos VC4 e VC8, no entanto, foram semelhantes
aos modelos VC2 (1,25 ± 0,07 m/s), VC3 (1,21 ± 0,07
m/s), VC6 (1,25 ± 0,07 m/s) e VC7 (1,20 ± 0,07 m/s); c)
a VC6 foi similar com todos os modelos de VC.
As diferenças encontradas entre os nove modelos para
obtenção dos valores de VC podem estar relacionadas às
rotas metabólicas predominantes utilizadas para percorrer
cada uma das seis distâncias utilizadas nesse estudo. A
capacidade metabólica é um dos fatores determinantes do
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
57
Tabela IV - Diferenças entre as médias dos modelos de velocidade crítica da vertical em relação as médias dos modelos de velocidade crítica
da horizontal.
VERTICAL (m/s)
Modelos de VC Utilizados (m/s)
50 e 200 m
VC1
100 e 400 m
VC2
200 e 800 m
VC3
400 e 1500 m
VC4
50, 100 e 200 m
VC5
100, 200 e 400 m
VC6
200, 400 e 800 m
VC7
400, 800 e 1500 m
VC8
50, 100, 200 e 400 m VC9
Horizontal (m/s)
VC1
VC2
1,28
± 0,07
1,25
± 0,07
-0,073
p=0.050
-0,089
p=0.001
VC3
VC4
VC5
VC6
VC7
VC8
VC9
1,21
± 0,07
1,19
± 0,09
0,081
1,27
p=0.003 ± 0,07
1,25
± 0,07
-0,077
p=0.033
-0,089
p=0.001
1,20
± 0,07
-0,081
p=0.003
0,01
0,055
p=0.004
desempenho do nadador, e seu treinamento deve ser prescrito para desenvolver a habilidade de gerar energia tanto
de forma aeróbia como anaeróbia [22]. A energia necessária
para nadar certa distância é suprida por três sistemas necessários para a contração muscular: 1) o sistema fosfagênio;
2) o sistema glicolítico e 3) o sistema oxidativo. Nadadores
de provas curtas utilizam predominantemente as reservas de
ATP-CP e o sistema glicolítico, ao passo que nadadores de
provas médias e longas utilizam principalmente o metabolismo oxidativo [6]. O interesse em verificar as interações e
relações de contribuição desses sistemas de energia, durante
o exercício máximo, surgiu na literatura entre 1960 e 1970
[23]. Em geral, tiros curtos são normalmente associados a
exercícios predominantemente anaeróbios. Muitas tabelas,
com o objetivo de atualização do predomínio energético em
função do tempo de esforço, basearam-se em antigos cálculos de Foxdal et al. [36] que utilizavam o déficit de oxigênio
como medidor de suprimento anaeróbio de energia.
No entanto, Ogita [22] relatou que a contribuição dos
sistemas de energia aeróbia e anaeróbia foi praticamente
igual em exercícios de 60 s em intensidade máxima, sugerindo que a contribuição do sistema aeróbio, mesmo em
distâncias curtas, não pode ser negligenciada. Ainda de
acordo com Ogita [22], observou-se que em tiros curtos
de 15 s, a energia aeróbia supria 15-20% da demanda
energética, e mais de 65% em tiros de 2-3 min. Gastin
[23] sugere que o método proposto por Foxdal et al. [36]
superestima consideravelmente a participação do metabolismo anaeróbio para o fornecimento de energia. Gastin
[23] analisou 30 estudos que relataram a contribuição do
sistema aeróbio durante exercícios máximos utilizando
0,072
p=0.024
1,19
± 0,10
0,059
0,071
1,26
p=0.023 p=0.030 ± 0,07
técnicas de modelagem matemática, e observou uma contribuição importante deste sistema nos exercícios de alta
intensidade. Com resultados semelhantes aos sugeridos por
Ogita [22], Gastin [23] sugere que a duração do exercício
máximo que resulta em iguais contribuições dos sistemas de
energia aeróbio e anaeróbio, está entre um e dois minutos,
e muito provavelmente em torno de 75 s. Estes resultados
mostram que o sistema aeróbio responde rápido às demandas de exercícios de alta intensidade, porém é incapaz de
manter a demanda energética do início do exercício. Não
existem dúvidas de que cada sistema de energia está melhor
preparado para suprir a energia requerida de exercícios com
as suas próprias características metabólicas, embora isto não
implique em exclusividade [23].
Em nosso estudo, a confecção de modelos de VC com
inclusão da distância de 50 m, induziu a maiores valores
de VC quando comparados a outras combinações que
utilizaram distâncias acima de 200 m ou maiores. A justificativa para este fato pode estar no fato de a distância de
50 m, quando em máxima intensidade, ser suprida preferencialmente pelo sistema de energia anaeróbio [23,22].
A similaridade encontrada entre os valores de VC4 e VC8
(modelos que utilizaram a distância de 1500 m para sua
determinação) com o valor de VC2, VC3, VC6 e VC7
(modelos que não utilizaram a distância de 50 m) pode
ser justificada. Isto por que a partir de, aproximadamente,
60 [11] a 75 s [23], parece existir uma predominância do
sistema aeróbio na ressíntese de ATP. Esta faixa de tempo
identifica a média de tempo encontrada em nosso estudo
para a menor distância (100 m = 65,6 ± 3,5 s), imediatamente após a de 50 m e utilizada na confecção dos modelos
58
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
de VC2 e VC6. Assim, baseado também nos resultados
encontrados em nosso estudo, acreditamos que quando
utilizarmos distâncias para confecção de modelos de VC,
que provavelmente serão percorridas em aproximadamente
60 segundos ou menos, os valores de VC serão superiores
aos modelos que não utilizarem estas distâncias.
Dekerle et al. [19], em um estudo com nadadores bem
treinados (18,6 ± 1,9 anos), sugeriu que a velocidade do teste
de 30 min (V30) não é diferente da VC obtida do modelo com
distâncias de 200 m e 400 m, mas é superestimada em 3,2%,
recomendando a distância de 200 m como provável limite
inferior na confecção dos modelos de VC. Greco et al. [20],
analisando 31 nadadores (grupo1: 10 a 12 anos; grupo 2: 13
a 15 anos), e utilizando VCI (25, 50 e 100 m), VCII (100,
200 e 400 m) e VCIII (50, 100 e 200 m), concluíram que a
distância utilizada na determinação da VC interfere no valor
obtido independente da idade cronológica, podendo provocar
diferentes adaptações quando utilizada para a prescrição do
treinamento. No grupo 1 (10 a 12 anos), a VCI (0,98 ± 0,17
m/s) apresentou maior valor que VCII (0,92 ± 0,16 m/s) e
VCIII (0,89 ± 0,18 m/s). No entanto, VCII e VCIII foram
similares. A mesma relação (VCI > VCII e VCIII; VCII ≅
VCIII) foi verificada no grupo 2. Ainda, o valor de VCI (0,98
± 0,17 m/s) do grupo 1 foi similar ao valor da velocidade
em limiar anaeróbio, assumido em 4mM, (V4mM= 0,97
± 0,12m/s), sendo maior que as velocidades mantidas em
testes de 20 (V20 = 0,92 ± 0,11 m/s) e 30 (V30 = 0,90 ±
0,11 m/s) minutos. No grupo 2, o valor de VCI (1,11 ± 0,11
m/s) foi maior que V4mM (1,02 ± 0,07 m/s), V20 (0,99 ±
0,09 m/s) e V30 (0,97 ± 0,09 m/s). No entanto, os valores de
VCII e VCIII foram similares à V4mM, V20 e V30. Assim,
estabeleceu-se que VCII e VCIII poderiam prever a maior
velocidade que poderia ser mantida por 20 ou 30 minutos,
independente da idade cronológica. Contudo, a relação
entre a VC e a velocidade em limiar anaeróbio (V4mM) é
dependente da distância empregada e da idade cronológica
na determinação dos modelos de VC, determinando, assim,
intensidade maior do que poderia ser mantida por 20 ou
30 min, independente da idade cronológica. Deste modo,
concluiu-se que a VC determinada com distâncias entre 50
e 400 m poderia ser utilizada na avaliação da capacidade
aeróbia de crianças e adolescentes, substituindo com vantagens os testes contínuos máximos com durações próximas a
20 ou 30 min. No presente estudo, a comparação entre os
nove diferentes modelos de determinação de VC apresentou
resultados semelhantes. A VC6, que foi determinada com
distâncias intermediárias, foi similar aos modelos de VC4 e
VC8, que utilizaram 1500 m como a distância mais longa
na sua determinação. Esta distância (1500 m) foi percorrida
no nosso estudo em 1230,9 ± 88,5 s, significando aproximadamente 20 min e 30 s, sendo assim muito semelhante ao
tempo utilizado na V20 por Greco et al. [20].
Reis et al. [21] avaliaram 29 nadadores (12,9 ± 1,15
anos; 54 ± 10,7 kg; 165,7 ± 9,4 cm) e verificaram que a
VC determinada por meio de dois componentes (200 m e
400 m) foi similar à velocidade média do teste de 2000 m.
Assim, os resultados encontrados em nosso estudo sugerem
que a exclusão das distâncias mais longas não irá alterar o
valor de VC em relação aos modelos de VC confeccionados
com inclusão de distâncias percorridas em tempos superiores a 60 s ou mais .
Ainda hoje encontramos treinadores que empregam
testes de 20 e 30 minutos para a avaliação do desempenho aeróbio de seus nadadores, ou ainda prescrevendo as
intensidades de nado baseadas em percentuais das velocidades encontradas nesses testes [6]. Porém, a aplicação
de testes longos como V20 e V30, ou ainda a utilização das
distâncias de 800 m e 1500 m como componentes de VC,
podem proporcionar valores ainda mais subjetivos (pois são
métodos de natureza não-invasiva) quando aplicados em
nadadores jovens e/ou até com pouco tempo de experiência
em natação competitiva.
Conclusão
Com base nos resultados encontrados em nosso estudo, não sugerimos a padronização de um único modelo
na determinação da VC em natação, pois as distâncias,
quando percorridas em aproximadamente 60 segundos
ou menos, parecem induzir a valores mais altos de VC
quando comparados a outras combinações, sugerindo
assim a exclusão da distância de 50 m e, se necessário,
também a distância de 100 m na confecção de modelos
para determinação da mesma. Por outro lado, a exclusão
das distâncias mais longas (800 m e 1500 m) parece não
alterar o valor da VC em relação aos modelos de VC
confeccionados com inclusão de distâncias percorridas em
tempos superiores a 60 s. Isto se torna mais um atrativo
para técnicos e treinadores que buscam praticidade em
suas sessões de treinamento, e também interessante para os
grupos de nadadores mais jovens e/ou menos experientes,
que praticam natação em nível de iniciação competitiva,
ou em nível recreacional.
Agradecimentos
Ao técnico Cristiano Klaser e equipe, pela dedicação e disponibilidade durante o período das coletas; Grupo de Estudos
em Esportes Aquáticos – GEEA UFRGS e ao Grupo de Pesquisa em Biomecânica e Cinesiologia – GPBIC UFRGS.
Referências
1. Vilas-Boas J, Lamares JP. Velocidade crítica: Critério para
a avaliação do nadador e para a definição de objetivos. XX
Congresso Técnico Científico da Associação Portuguesa dos
Técnicos de Natação 997a; 25 a 27 Abril, Setúbal, Portugal.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
2. David JS, Stephen RN, Hogg JM. Performance evaluation of
swimmers: Scientific Tools. Sports Med 2002;32(9):539-54.
3. Maglisho EW. Nadando ainda mais rápido. 1ª ed. Brasileira.
São Paulo. Manole; 1999.
4. Heck H, Mader A, Hess G, Mucke S, Muller R, Hollmann,
W. Justification of the 4mmol/L lactate threshold. Int J Sports
Med 1985;6:117-30.
5. Dekerle J, A Vanhatalo, M Burnley. Determination
of critical power from a single test. Science & Sports
2008;23(5):231-8.
6. Maglisho EW, Maglischo CW, Bishop RA. Lactate testing for
training pace. Swimming Tech 1982;19:31-7.
7. Olbrecht J, Madsen O, Mader A, Liesen H, Hollmann W.
Relationship between swimming velocity and lactic concentration during continuous and intermittent training exercises.
Int J Sports Med 1985;6(2):74-7.
8. Touretski G. 1993 Japan official swimming coach clinic. Japan
Amateur Swimming Federation 1994; p. 93-139.
9. Madsen O. Anaerobic training not so fast, there. Swimming
Technique 1982;19 (3):13-18.
10. Lima MCS. Proposta de teste incremental baseado na percepção subjetiva de esforço para determinação de limiares
metabólicos e parâmetros mecânicos do nado livre. Rev Bras
Med Esporte 2006;12(5):268-74.
11. Conconi F, Ferrari M, Ziglio PG, Droghetti P, Codeca L.
Determination of the anaerobic threshold by a noninvasive
field test in runners. J Appl Physiol 1982;52(4):869-73.
12. Seip RL, Senead D, Pierce E, Stein P, Weltman A. Perceptual
responses and blood lactate concentration: effect of training
state. Med Sci Sports Exerc 1991;23: 80-7.
13. Calis JFF, Denadai BS. Influência das cargas selecionadas na
determinação da Potência Crítica determinada no ergômetro
de braço em dois modelos lineares. Rev Bras Med Esporte
2000;6:1-4.
14. Demello JJ, Cureton KJ, Boineau R E, Singh MM. Ratings
of perceived exertion at the lactate threshold in trained and
untrained men and women. Med Sci Sports Exerc 1987;
19:354-62.
15. Hetzler RK, Seip RL, Boutcher SH, Pierce E, Snead D, Weltman A. Effect of exercise modality on ratings of perceived
exertion at various lactate concentrations. Med Sci Sports
Exerc 1991;23: 88-92.
16. Zacca R, Castro FAS. Velocidade crítica em nadadores juvenis:
determinação por meio de diferentes combinações de distância
de prova. XII Congresso de ciências do esporte e educação
física dos países de língua Portuguesa, 2008. Porto Alegre.
17. Dekerle J, Pelayo P, Clipet B, Depretz S, Lefevre, T, Sidney M.
Critical swimming speed does not represent the speed at maximal lactate steady state. Int J Sports Med 2005;26;524-30.
18. Gaesser GA, Poole DC. The slow component of oxygen uptake
kinetics in humans. Exerc Sport Sci Rev 1996; 24:35-71.
19. Dekerle J, Sidney M, Hespel JM, Pelayo P. Validity and
reliability of critical speed, critical stroke rate and anaerobic
capacity in relation to front crawl swimming performances.
Int J Sports Med 2002;23:93-8.
59
20. Greco CC, Denadai BS, Pellegrinotti IL, Freitas ADB, Gomide E. Limiar anaeróbio e velocidade crítica determinada em
nadadores de 10 a 15 Anos: Relações com a performance e
a resposta do lactato sanguíneo em testes de endurance. Rev
Bras Med Esporte 2003;9(1): 2-8.
21. Reis J, Alves F. Training induced changes in critical velocity
and v4 in age group swimmers. Biomechanics and medicine
in swimming X: proceedings of the Xth International Symposium on biomechanics and medicine in swimming. Portuguese
Journal of Sports Sciences 2006;6(Suppl 2):311-2.
22. Ogita F. Energetics in competitive swimming and its application for training. Biomechanics and medicine in swimming
X: proceedings of the Xth International Symposium on Biomechanics and medicine in swimming. Portuguese Journal of
Sports Sciences. 2006;6(Suppl 2):117-20.
23. Gastin PB. Energy system interaction and relative contribution
during maximal exercise. Sport Med 2001;31(10):725-41.
24. Monod H, Scherrer J. The work capacity of synergic muscle
groups. Ergonomics 1965;8:329-38.
25. Ettema JH. Limits of human performance and energy
production. Int Z Angew Physiol Einschl Arbeitphysiol
1966;22:45-54.
26. Wakayoshi K, Ikuta K, Yoshida T, Udo M, Morianti T, Mutoh
Y, Miyashita M. Determination and validity of critical velocity
as an index of swimming performance in the competitive
swimmer. Eur J Appl Physiol 1992a:64:153-7.
27. Vilas-Boas J, Lamares JP, Fernandes R, Durarte JA. Avaliação
do nadador e definição de objetivos através de critérios nãoinvasivos de simples implementação. Rev Ed Física e Desporto
Horizonte 1997b;14(80):22-30.
28. Wright B, Smith DJ. A protocol for the determination of critical speed as an index of swimming endurance performance.
In: Miyashita M, Mutoh Y, Richardson AB, eds. Med Sport
Science 1994;39:55-9.
29. Greco C, Pelarigo J, Perandini L, Figueira T, Denadai B.
Stroke rates corresponding to critical speed and the maximal
speed of 30 min in swimmers of different training status.
Biomechanics and medicine in swimming X: proceedings
of the Xth International Symposium on biomechanics and
medicine in swimming. Portuguese Journal of Sports Sciences
2006;6(Suppl 2):134-6.
30. Dekerle J, Brickley G, Sidney M, Pelayo P. Application of the
critical power in swimming?. Biomechanics and medicine in
swimming X: proceedings of the Xth International Symposium
on biomechanics and medicine in swimming. Portuguese
Journal of Sports Sciences 2006;6(2):121-3.
31. Bishop D, Jenkins DG, Howard A. The critical power function
is dependent on the duration of the predictive exercise tests
chosen. Int J Sports Med 1998;19:125-9.
32. Wakayoshi K, Yoshida T, Udo M, Harada T, Morianti T, Mutoh Y, Miyashita M. Does critical swimming velocity represent
exercise intensity at maximal lactate steady state? Eur J Appl
Physiol 1993;66:90-5.
33. Wakayoshi K, Yoshida T, Udo M, Kasai I, Moritani T, Mutoh
Y, Miyashita. A simple method for determining critical speed
60
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
as swimming fatigue threshold in competitive swimming. Int
J Sports Med 1992b;13:367-71.
34. Filipatou E, Toubekis A, Douda H, Pilianidis T, Tokmakids T.
Lactate and heart rate responses during swimming at 95% and
100% of the critical velocity in children and young swimmers.
Biomechanics and medicine in swimming X: proceedings
of the Xth International Symposium on biomechanics and
medicine in swimming. Portuguese Journal of Sports Sciences
2006;6(Suppl 2):132-3.
35. Rodrigues FA, Moreno D, Keskinen KL. Validity of a twodistance simplified testing method for determining critical
swimming velocity. Biomechanics and medicine in swimming
IX: proceedings of the IX International Symposium on biomechanics and medicine in swimming 2003. Université de
Saint-Etienne, France.
36. Foxdal P, Sjodin A, Ostman B, Sjodin B. The effect of different sampling sites and analyses on the relationship between
exercise intensity and 4.0mmol·-1 blood lactate concentration.
Eur J Appl Physiol 1991;63:52-4.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
61
Artigo original
Mobilidade funcional e equilíbrio de idosos praticantes
de exercícios físicos versus indivíduos sedentários
Functional mobility and balance of elderly who participate in a regular
exercise program versus sedentary individuals
Fábio Marcon Alfieri, M.Sc.*, Aline Werner**, Anieli Baciega Roschel**
*Doutorando em Ciências Médicas pela USP, Docente do Curso de Fisioterapia do UNASP- SP, **Curso de Fisioterapia do
UNASP-SP
Resumo
Abstract
Introdução: A senescência leva a uma série de modificações
fisiológicas sobre o corpo dos idosos, dentre elas a diminuição do
equilíbrio e mobilidade funcional, e o exercício físico regular pode
interferir neste aspecto. Objetivo: O presente estudo tem como
objetivo quantificar e comparar a mobilidade funcional e o equilíbrio em indivíduos praticantes de um grupo de voleibol adaptado
para a terceira idade, grupo de ginástica para a terceira idade versus
indivíduos idosos sedentários. Método: Participaram do estudo 75
idosos do Município de Itapecerica da Serra, dos quais 25 participam
da Seleção Melhor Idade de Voleibol Adaptado (Grupo 1 - 67,36
± 5,2 anos), 25 da Ginástica da Melhor Idade (Grupo 2 - 65,92 ±
4,3 anos) e outros 25 indivíduos sedentários do município (Grupo
3 - 67,39 ± 5,5 anos). Os voluntários realizaram os seguintes testes:
Timed Up & Go (TUG), Apoio Unipodal com olhos abertos e olhos
fechados e Bateria de testes de Guralnik. Os dados foram analisados
pelo teste de Anova, com significância de p < 0,05. Resultados: Os
resultados mostram que o Grupo 1 e o Grupo 2 obtiveram melhores resultados em todos os itens avaliados quando comparados ao
Grupo 3. Entretanto, o G1 obteve melhores resultados em três testes
quando comparado ao G2. Conclusão: Portanto, conclui-se que a
prática regular de exercícios físicos pode interferir positivamente no
equilíbrio e mobilidade funcional de idosos.
Introduction: The senescence consists on physiological changes
on elderly bodies, among them low balance and functional mobility,
and regular physical exercise may interfere on this aspect. Aim: This
study aims to quantify and compare functional mobility and balance
of an adapted group of elderly volleyball players, a group of elderly
regular exercise versus sedentary elderly individuals. Methods: The
study participants were 75 elderly from Itapecerica da Serra, São
Paulo, 25 of them participate in a elderly adapted volleyball team
(group 1 – 67.36 ± 5.2 years), 25 participate in a elderly regular
exercise group (group 2 – 65.92 ± 4.3 years) and 25 are composed
by a sedentary group from the municipal district (group 3 – 67.39
± 5.5 years). The volunteers perform the following tests: Timed
Up & Go (TUG), unipodal position with opened and closed eyes,
and Guralnik tests. Data were analyzed by Anova test, with p <
0.05 significance. Results: The results show that group 1 and group
2 achieved better results in every evaluated item when compared
with group 3. However, group one achieved better results in three
tests when compared to group 2. Conclusion: We concluded that
regular physical exercises may interfere positively on elderly balance
and functional mobility.
Key-words: elderly, postural control, physical exercise.
Palavras-chave: idosos, controle postural, exercício físico.
Endereço para correspondência: Fábio Marcon Alfieri, Rua Candal, 1/31, Jardim Amália, 05890-030 São Paulo SP, Tel: (11) 91728161, E-mail: [email protected], [email protected]
62
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
A melhoria das condições de saúde e a crescente expectativa de vida no mundo, bem como no Brasil, acarretam o
crescimento da população idosa [1].
A senescência leva a uma série de modificações fisiológicas
sobre o corpo dos idosos. Os sistemas sensoriais: visual, vestibular e sômato-sensorial, sofrem alterações como: diminuição
dos sensores proprioceptores dos músculos oculares, alterações
na própria estrutura do olho, diminuição do número das células vestibulares ciliares e nervosas, diminuição da velocidade
de condução nervosa e perda de receptores, diminuindo assim
a propriocepção. Estas alterações sensoriais associadas às modificações músculo-esqueléticas como diminuição da massa,
força e velocidade de contração muscular podem interferir
negativamente no controle postural dos idosos [1-7].
A capacidade de manutenção do controle postural na
posição ortostática bem como na realização de atividades
dependentes da estabilização postural, pode estar alterada
no idoso, pois o controle postural é influenciado pelos estímulos sensoriais bem como pela ação muscular [3,6,8-12].
Tais alterações podem fazer com que haja maior oscilação
corporal, bem como diminuição do controle e qualidade dos
movimentos. Um exemplo disto é o resultado de um estudo
composto por uma amostra de 310 idosos, dos quais 46,1%
apresentavam alterações do equilíbrio [8].
Tais alterações também podem interferir na eficiência da
marcha, em movimentos simples como levantar e sentar de
uma cadeira, além de gerar instabilidades e aumento do risco
de quedas [2,6,8,9].
Um fator agravante é a questão do sedentarismo que ajuda
a intensificar a perda de massa e força muscular, bem como
diminuição da excitabilidade sensorial [2,7]. Já a prática de
atividade física é sabidamente reconhecida como fator de
melhora nas condições de saúde nos indivíduos da terceira
idade. Dentre seus vários benefícios, fornece estímulos sensoriais que vão propiciar melhor capacidade de manutenção
do controle postural [11,12].
Porém, é importante avaliar o quanto de ganho sobre o
equilíbrio e a mobilidade alguns tipos de exercícios trazem,
especificamente os exercícios realizados em grupos. Desta
forma, o objetivo deste trabalho foi o de quantificar e comparar a mobilidade funcional e o equilíbrio em indivíduos
praticantes de um grupo de voleibol adaptado para a terceira
idade, grupo de ginástica para a terceira idade versus indivíduos idosos sedentários.
Material e métodos
Este estudo de caráter transversal foi aprovado pelo Comitê
de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Adventista de São
Paulo – UNASP, processo número 048/2008. Os voluntários
que decidiram participar assinaram termo de consentimento
livre e esclarecido para participação no estudo.
Foram incluídos no estudo indivíduos com idade entre
60 e 81 anos que realizassem atividade física duas ou mais
vezes por semana, por mais de seis meses e indivíduos que não
realizam nenhum tipo de atividade física, ou seja, sedentários.
Não foram incluídos indivíduos cardiopatas, portadores de
próteses articulares, indivíduos que tiveram fraturas em membros inferiores ou que foram submetidos a procedimentos
cirúrgicos há menos de seis meses.
Foram selecionados 75 idosos no Município de Itapecerica
da Serra, dos quais 25 participam da Seleção Melhor Idade de
Voleibol Adaptado, 25 da Ginástica da Melhor Idade e outros
25 indivíduos sedentários do município. Os voluntários foram
inicialmente submetidos à coleta de dados como idade, peso,
altura, e após isto realizaram os seguintes testes:
Teste Timed Up & Go (TUG) que avalia o nível de mobilidade do indivíduo, mensurando em segundos o tempo
gasto pelo voluntário para levantar-se de uma cadeira, sem
ajuda dos braços, andar a uma distância de 3 metros, dar a
volta e retornar. No início do teste, o voluntário estava com
as costas apoiadas no encosto da cadeira e, ao final, estava
encostado novamente. O voluntário recebeu a instrução “vá”,
para realizar o teste e o tempo foi cronometrado a partir da
voz de comando até o momento em que o voluntário apoiava novamente suas costas no encosto da cadeira. O teste foi
realizado uma vez para familiarização e uma segunda vez para
tomada de tempo [4,13,14].
No Teste de Apoio Unipodal foi pedido para o indivíduo
equilibrar-se em apenas um dos pés com olhos abertos e
depois com olhos fechados por no máximo 30 segundos. O
tempo que o voluntário conseguiu ficar apoiado somente em
um dos pés foi medido em três tentativas em cada condição
visual (olhos abertos e fechados) e foi considerada a melhor
das três tentativas (a que teve maior tempo) [14,15].
Por último, os voluntários realizaram uma bateria de testes Short Physical Performance Battery que é um conjunto de
testes que avaliam o equilíbrio estático e dinâmico. A bateria
de testes consistiu na avaliação do tempo (em segundos) que
o indivíduo conseguiu ficar com os pés juntos, com os pés
um na frente do outro (calcanhar de um pé do lado do hálux
do outro pé) e com um pé na frente do outro; o indivíduo
também foi avaliado quanto ao tempo (em segundos) que
demorou a andar normalmente uma distância de 4 metros e
por fim quanto de tempo (em segundos) levou para levantar
e sentar de uma cadeira durante 5 vezes [16].
Os testes foram realizados no local de treinamento dos
grupos e sempre com dois avaliadores para garantir segurança
aos participantes, pois um examinador marcou o tempo gasto
durante a execução dos testes e o outro acompanhou ao lado
do voluntário toda a execução do testes, com a finalidade de
evitar qualquer tipo de problema como um desequilíbrio que
levasse a uma queda.
Foi usada estatística convencional para determinar as
médias e desvio padrão dos dados que passaram pelo teste de
Kolmogorov-Sminorv com correção de Lilliefors para verificação
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
da normalidade. Para comparação dos resultados entre os grupos foi utilizado o teste de Tukey-Kramer (Anova) quando os
dados não apresentavam normalidade (TUG e na bateria de
testes de Guralnik) e o teste de Kruskal-Wallis (Anova) quando
os resultados apresentavam normalidade (apoio unipodal com
olhos abertos e olhos fechados). O nível de significância foi de
5%. Para análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico
GraphPad InStat [DATAASET1.ISD].
Resultados
Participaram do estudo 75 voluntários divididos em três
grupos: 25 indivíduos, sendo 5 homens e 20 mulheres no
grupo de voleibol adaptado (G1), 25 voluntários, sendo 5
homens e 20 mulheres no grupo de ginástica (G2) e 25 indivíduos, sendo 5 homens e 20 mulheres no grupo sedentário
(G3). A média de idade de cada grupo, bem como o índice
de massa corporal (IMC) estão disposto na Tabela I.
Tabela I - Distribuição da amostra segundo a idade e o índice de
massa corporal (IMC) dos grupos: G1- Voleibol, G2 Ginástica,
G3- Sedentários.
IMC (Kg/cm2)
Idade (anos)
G1 (n = 25)
26,92 ± 3,8
67,36 ± 5,2
G2 (n = 25)
25,83 ± 2,8
65,92 ± 4,3
G3 (n = 25)
28,85 ± 5,8
67,39 ± 5,5
Utilizando o teste de Anova, verificou-se que não há diferença significativa entre todos os grupos.
A Tabela II mostra os resultados referentes aos testes
aplicados entre os voluntários.
Tabela II - Comparação dos resultados dos grupos: G1- Voleibol,
G2- Ginástica, G3- Sedentários; das variáveis analisadas: teste
timed up and Go (TUG); apoio unipodal com olhos abertos (UOA);
apoio unipodal com olhos fechados (UOF) e bateria de testes de
Guralnik.
G1 (n = 25) G2 (n = 25) G3 (n = 25)
7,50 (± 2,1)b,c
TUG (s) 4,95 (± 0,6)
5,99 (± 1)a
UOA (s) 26,34 (± 8,5) 24,09 (± 8,7) 17,54 (± 9,8)b,c
UOF (s) 11,52 (± 8,8) 9,36 (± 8,16) 5,37 (± 3,3)b
Guralnik 11,56 (± 0,8) 11,76 (± 0,4) 10,47 (± 1,1)b,c
a - G1≠G2, b - G1≠G3, c - G2≠G3, diferenças consideradas quando p < 0,05, utilizando o teste de ANOVA.
Discussão
O presente estudo teve como principal finalidade avaliar
e comparar a mobilidade funcional e o equilíbrio de idosos
praticantes de atividade física versus idosos sedentários. Os
resultados obtidos indicam que os dois grupos de idosos que
praticam exercícios físicos apresentam melhores resultados
em comparação aos indivíduos sedentários.
Quanto ao TUG, este se correlaciona ao nível de mobilidade funcional, envolvendo equilíbrio dinâmico, velocidade
63
na marcha e maior facilidade em realizar atividades cotidianas,
como levantar e sentar e mudar de direção ao caminhar, sugerindo, assim, melhor resultado quanto à mobilidade funcional
dos indivíduos que realizam exercícios físicos regularmente
em comparação a indivíduos sedentários. Além disso, atividades que estimulam mais o tempo de reação, a agilidade,
coordenação motora associada a estímulos sensoriais, como
o voleibol, podem propiciar melhores resultados em comparação a atividades como a ginástica [4,6,13].
Indivíduos sem problemas com o equilíbrio realizam o
TUG em um tempo inferior a 10 segundos [4]. Neste estudo
verificou-se que nos grupos que realizam exercícios regularmente, nenhum voluntário realizou o teste em um tempo
superior aos 10 segundos, ao passo que no grupo de indivíduos sedentários, 4 voluntários realizaram-no em um tempo
superior, mostrando assim que indivíduos sedentários estão
mais propensos a apresentar problemas com o equilíbrio.
Alfieri et al. [6] também verificaram a influência de um
programa de exercícios multi-sensoriais sobre a mobilidade
funcional e verificaram que o grupo que estava treinando há 3
meses realizou o teste em 7,29 segundos ao passo que o grupo
inativo realizou o teste em 10,55 segundos, mostrando assim
que o exercícios físico interfere positivamente na mobilidade
funcional de idosos.
Ao avaliar o equilibro estático pelo apoio unipodal,
também foi verificado que os indivíduos ativos apresentam
melhores resultados, porém no apoio em que a visão foi retirada, apenas o grupo que realiza voleibol, teve valores maiores
em relação ao grupo sedentários, mostrando assim que tal
atividade pode permitir aos idosos praticantes deste tipo de
exercício, aprimoramento de outras aferências e estratégias
quando o sistema visual que é o principal fator para o controle
postural se encontra suprimido [11]. O melhor desempenho
na avaliação do equilíbrio estático por estes indivíduos é extremamente benéfico, pois ao declínio do equilíbrio estático
está associado à diminuição do desempenho na realização de
muitas atividades cotidianas, como levantar, sentar e caminhar, além de aumentar o risco de quedas [14,17].
Gaurchard et al. [11] comparando 40 idosos praticantes de
diferentes modalidades encontraram que indivíduos praticantes de atividade proprioceptivas, como ginástica leve e yoga,
apresentam melhores condições de controle postural do que
indivíduos que praticam atividades como natação, ciclismo
e corrida, devido a especificidade de cada tipo de atividade;
estas últimas são importantes para beneficiar seus participantes quanto à força muscular dos membros inferiores, porém
são menos benéficas quanto aos estímulos sômato-sensorias
que contribuem para o controle postural. Gauchard et al.[9]
e Alfieri [18] acrescentam que atividades que estimulam a
propriocepção tem um melhor impacto sobre a regulação e
precisão do equilíbrio, devido a inputs neurosensoriais que
estas atividades propiciam. Guralnik et al. [16] propõem uma
bateria de testes para avaliação física que envolve equilíbrio
estático e dinâmico. Comparando os grupos de voleibol e gi-
64
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
nástica não houve diferença estatisticamente significativa nesta
avaliação, no entanto quando comparados estes grupo com
os sedentários, houve diferença significativa. Desta forma,
esta bateria de testes confirma que exercícios são efetivos para
melhorar tanto o equilíbrio estático quanto dinâmico, bem
como a mobilidade funcional de indivíduos idosos, fazendo
com que o risco de quedas de participantes destes tipos de
atividades esteja diminuído.
Comparado o equilíbrio de um grupo de ginástica, grupo
de hidroginástica, grupo que praticava ambas as atividades
e grupo sedentário, Teixeira et al. [19] verificaram que o
grupo de ginástica foi o que apresentou melhores resultados
quanto à estabilidade, porém os autores relatam que existe
diferença variável na faixa etária dos participantes, o que
pode ter interferido nos achados, pois como o processo de
envelhecimento traz prejuízos no equilíbrio, tais diferenças
podem comprometer os resultados. No presente estudo, os
dados dos grupos referentes à idade e IMC mostram que
não há diferença significativa entre os grupos, o que exclui a
interferência destes fatores diretamente nos resultados.
Um aspecto importante de ser ressaltado é a questão de
que os indivíduos do presente estudo estão próximos da sétima
década de vida, na qual as alterações fisiológicas se acentuam
ainda mais, declinando o equilíbrio, a mobilidade, a força
muscular [18]. Desta forma, programas como estes que são
oferecidos a população idosa trazem benefícios como interação
social e melhora da independência funcional dos participantes, pois interferem positivamente sobre controle postural
dos mesmos, especialmente os programas que estimulam as
aptidões relacionadas ao controle postural. Acredita-se que
atividades como o voleibol adaptado possam proporcionar aos
seus participantes, estímulos sensoriais e músculo-esqueléticos
que fazem com que o controle postura (equilíbrio dinâmico
e estático) seja aprimorado.
Conclusão
Nesta população estudada, a prática de atividade física
regular mostrou condições favoráveis aos seus participantes na
realização de testes que mensuram a mobilidade e o equilíbrio,
provavelmente devido aos estímulos sensoriais e músculoesqueléticos que tais programas oferecem, especialmente atividades como voleibol, que pôde apresentar resultados melhores
quando comparados a ginástica e indivíduos sedentários.
Referências
1. Ruwer SL, Rossia AG, Simon LF. Equilíbrio no idoso. Rev Bras
Otorrinolaringol 2005;71(3):298-303.
2. Faria JC, Machala CC, Dias RC, Dias JMD. Importância do
treinamento de força na reabilitação da função muscular, equilíbrio e mobilidade de idosos. Acta Fisiatr 2003; 10(3):133-7.
3. Brown M, Sinacore DR, Ehsania A, Binder EF, Holloszy JO, Kohrt WM. Low-intensity exercise as a modifier of physical frailty
in older adults. Arch Phys Med Rehabil 2000;81:960-5.
4. Figueiredo KMOB, Lima KC, Guerra RO. Instrumentos de
avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2007;9(4):408-13
5. Zhong S, Chen CN, Thompson LV. Sarcopenia of ageing:
functional, structural and biochemical alterations. Rev Bras
Fisioter 2007;1(2):91-7.
6. Alfieri FM, Teodori RM, Montebelo MIL. Mobilidade funcional de idosos submetidos à intervenção fisioterapêutica. Saúde
Rev 2004;6(14):45-50.
7. Teixeira DC, Júnior SRRP, Lima DF; Gomes SC; Brunetto AF.
Efeitos de um programa de exercício físico para idosas sobre
variáveis neuro-motoras, antropométrica e medo de cair. Rev
Bras Educ Fís Esp 2007;21(2):107-20.
8. Maciel ACC, Guerra RO. Prevalência e fatores associados
ao déficit de equilíbrio em idosos. Rev Bras Ciênc Mov
2005;13(1):37-44.
9. Gauchard GC, Gangloff P, Jeandeal C, Perrin PP. Influence of
regular proprioceptive and bioenergetic physical activities on
balance control in elderly women. J Gerontol A Biol Sci Med
Sci 2003;58:M846-50.
10. Silveira CRA, Menuchim RTP, Simões CS, Caetano MJD,
Gobbi LTB. Validade de construção em testes de equilíbrio:
ordenação cronológica na apresentação das tarefas. Rev Bras
Cineantropom Desempenho Hum 2006;8(3):66-72.
11. Gauchard GC, Jeandel C, Tessier A, Perrin PP. Beneficial effect
of proprioceptive physical activities on balance control in elderly
human subjects. Neurosci Lett 1999;273:81-4.
12. Gauchard GC, Jeandel C, Tessier A, Perrin PP. Physical activity
improves gaze and posture control in the elderly. Neurosci Res
2003;45:409-17.
13. Podsiadlo D, Richardson S. The timed up & go: a test of basic
functional mobility for frail elderly persons. J Am Geriatr Soc
1991;39:142-8.
14. Rogers M, Rogers NL, Takeshima N, Islam M. Methods to
assess and improve the physical parameters associated with fall
risk in older adults. Prev Med 2003;36:255-64.
15. Gustafson AS, Noaksson ACG, Kronhed ACG, Möler M,
Möler C. Changes in balance performance in physically active
elderly people aged 73-80. Scand J Reabil Med 2000;32:16872.
16. Guralnik JM, Simonsick EM, Ferrucci L, Glynn RJ, Berkman
LF, Blazer DG, et al. A short physical performance battery assessing lower extremity function: association with self-reported
disability and prediction of mortality and nursing home admission. J Gerontol Med Sci 1994;49(2):85-93.
17. Islam MM, Nasu E, Rogers ME, Koizumi D, Rogers Nl,
Takeshima N. Effects of combined sensory and muscular
training on balance in Japanese older adults. Prev Med
2004;39(6):1148-55.
18. Alfieri FM. Distribuição da pressão plantar em idosos após intervenção proprioceptiva. Rev Bras Cineantropom Desempenho
Hum 2008;10(2):137-42.
19. Teixeira CS, Lemos LFC, Lopes LFD, Rossi AG, Mota CB.
Equilíbrio corporal e exercícios físicos: uma investigação com
mulheres idosas praticantes de diferentes modalidades. Acta
Fisiatr 2008;15(3):154-7.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
65
Artigo original
Efeitos da ingestão de diferentes suplementos
carboidratados na glicemia de atletas do jiu-jitsu
Effects of different carbohydrates supplements on glycemia
of jiu-jitsu athletes
José Fernando de Oliveira*, Fernando Mauro de Mello e Silva*, Antonio Coppi Navarro*, Francisco Navarro*, Fabio Henrique Ornellas**
*Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Fisiologia do Exercício – IBPFEX, Programa de Pós-Graduação em Fisiologia do
Exercício – Prescrição do Exercício da Universidade Gama Filho – UGF, **Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa em Fisiologia do
Exercício – IBPFEX
Resumo
Abstract
Mensurar as variáveis fisiológicas em situações específicas da
modalidade pode fornecer conhecimentos relacionados a aspectos da
solicitação energética da atividade, proporcionando condições para
um melhor entendimento da modalidade. Objetivo: este trabalho
teve como escopo investigar os efeitos da ingestão de diferentes
suplementos carboidratados, comercialmente disponíveis (Carbup e Gatorade) e com diferentes formas físicas (gel e líquido) no
comportamento da glicemia sanguínea durante uma competição
simulada de jiu-jitsu com três lutas consecutivas. Métodos: A amostra
foi composta por 09 (nove) voluntários do sexo masculino, saudáveis,
com faixa etária variando de 20 a 40 anos, praticantes de Jiu-Jitsu
com pelo menos 1 (um) ano de treinamento, os quais foram divididos em três grupos, onde um dos grupos ingeriu placebo (GP), o
segundo grupo Carb-up (GC) e o terceiro grupo Gatorade (GG).
Resultados: Os grupos GC e GG apresentaram aumento significativo
na glicemia após 20 minutos da ingestão de suplemento Carb-up e
Gatorade respectivamente, e também mantiveram maior glicemia ao
longo das coletas durante os intervalos entre os combates em relação
ao grupo placebo. Conclusão: A análise estatística dos resultados
forneceu indicativos que a suplementação ingerida pode beneficiar
a glicose otimizando uma melhora no desempenho.
Measuring the physiological variation in specific situations of
sport modality may increase knowledge related to characteristics
of energy demand through exercises and conditions to a better
understanding of sport. Objective: This work aims at investigating
the effects of different carbohydrate supplements consumption,
commercially available (carb-up and Gatorade) and with different
physical forms (gel and liquid) to analyze blood glycemia during a
simulated competition of jiu-jitsu. Methods: A sample composed by
nine male volunteers, healthy, 20-40 years and jiu-jitsu fighters, at
least during one year training, were divided into three groups, the
first was a placebo group (GP), the second group carb-up (GC),
and the third group Gatorade (GG). Results: The groups GC and
GG showed significant increase in blood glucose after 20 minutes
of supplement Carb-up and Gatorade intake respectively and
also had high blood glucose during collections during intervals of
fighting comparing with the placebo group. Conclusion: The statistical analysis of the results showed that supplement consumption
may be benefic for the glucose optimizing a better development
for the fighters.
Key-words: blood glucose, dietary supplements, carbohydrate.
Palavras-chave: glicemia, suplementos dietéticos, carboidratos.
Endereço para correspondência: Francisco Navarro, Rua Húngara, 249/113, Alto da Lapa, São Paulo SP, Tel: (11) 3862-6809, E-mail:
[email protected]
66
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
As artes marciais estão presentes em nosso país, desde o
início do século XX, e são atividades corporais que influenciaram e influenciam a nossa sociedade com seus valores, traços
culturais e participação popular [1]. Entre as diferentes artes
marciais o Jiu-jitsu é uma modalidade esportiva que vem
sofrendo uma crescente adesão de praticantes, por parte da
população em geral [2], sendo acompanhado conjuntamente
com um aumento da literatura científica na área, entretanto
ainda está longe de alcançar o conhecimento teórico científico
adquirido por outras modalidades de luta [3].
O Jiu-jitsu se originou de várias formas de lutas orientais
com características de ataque e defesa, podendo ser considerado a mãe de todas as artes marciais e sua precisa procedência
se perde no tempo sendo que as primeiras citações datam de
720 a.C. [4,5]. Seu objetivo é forçar a desistência do oponente
utilizando-se de técnicas de desequilíbrio, arremessos, imobilizações, estrangulamentos e chaves aplicadas nas articulações
do corpo. Os atletas são subdivididos de acordo com a graduação, a idade, e a massa corporal [6], sendo uma modalidade
que depende de uma boa capacidade neuro-muscular, além
de uma grande exigência técnica [7].
A duração de uma luta de Jiu-jitsu varia de 5 minutos para
atletas da faixa branca e até 10 minutos para os da faixa preta.
Em uma competição oficial, os competidores realizam vários
combates em um mesmo dia, muitos desses com intervalos
curtos (cerca de 10 a 15 minutos).
A importância do problema baseia-se na hipótese de que
os carboidratos trariam benefícios adicionais ao desempenho
[8], sendo os mesmos considerados os principais substratos a
proporcionar energia para as atividades intermitentes intensas
[9-11], e o seu consumo evitaria ou diminuiria algumas respostas que o exercício físico produz no organismo [12].
Sua característica é acíclica, pois os atletas utilizam-se de
diferentes seqüências de movimentos [13], demandando uma
maior influência das capacidades físicas de força muscular,
velocidade, potência, resistência (anaeróbia) e flexibilidade
[14]. Essa característica intermitente e de alta intensidade
provoca uma alternância nas concentrações de fosfocreatina
intramuscular e uma diminuição acentuada nas concentrações
de glicogênio [15,16].
Portanto, mensurar as variáveis fisiológicas em situações
específicas da modalidade pode fornecer conhecimentos
relacionados a aspectos da solicitação energética da atividade
[17,18], proporcionando condições para um melhor entendimento da modalidade e possíveis estratégias nutricionais e
de treinamento para aprimorar a performance do atleta, pois,
apesar da nutrição esportiva ter se tornado o objeto de diversos
estudos sobre o desempenho humano, não se sabe ao certo
como a suplementação aguda de determinados nutrientes
pode influenciar o desempenho nesse esporte.
Isto posto, este trabalho tem como objetivo investigar os
efeitos da ingestão de diferentes suplementos carboidratados,
comercialmente disponíveis (Carb-up e Gatorade) e com
diferentes formas físicas (gel e líquido) no comportamento
da glicemia sanguínea durante uma competição simulada de
jiu-jitsu com três lutas consecutivas.
Material e métodos
A amostra foi composta por 9 (nove) voluntários do sexo
masculino, saudáveis, com média de idade de 27 ± 6,1 anos,
participantes da equipe de competição da Geordashy Team
Jiu-jtsu, com pelo menos 1 ano de treinamento, todos filiados
à Federação do Estado de São Paulo de Jiu-jitsu. O trabalho
foi realizado nas dependências da Academia Corporall na
cidade de Campinas (SP).
Todos os atletas que concordaram em participar deste
estudo foram informados de todo o procedimento adotado
na proposta da investigação assinando logo após os esclarecimentos, um termo de consentimento.
Após o preenchimento do termo de consentimento, foram
coletados os seguintes dados para a caracterização da amostra:
idade (anos), estatura (cm), peso corporal (quilogramas) e
IMC (índice de massa corporal; kg/m2). As características da
amostra podem ser observadas na Tabela I.
Tabela I - Médias e desvio-padrão das características antropométricas dos atletas de jiu-jitsu.
Idade (anos)
Estatura (cm)
Massa corporal (kg)
IMC (kg/m2)
Médias e DP
27 ± 6,10
173,22 ± 7,29
84,02 ± 12,62
27,98 ± 3,65
Os atletas foram divididos de forma aleatória em três
grupos, os quais receberam a seguinte suplementação:
Grupo Placebo (GP) – ingestão de composto elaborado
através de suco Clight® sabor laranja, o qual possui 0 (zero)
gramas de carboidrato e 39 mg (miligramas) de sódio.
Grupo Carb-up (GC) - repositor energético Carb-up® em
gel sabor laranja, onde um sachê contém 25 g (gramas) sendo
17 g de carboidratos, 30 mg de sódio e 24 mg de potássio.
Grupo Gatorade (GG) - bebida esportiva Gatorade® sabor
laranja, onde 500 ml (mililitros) contém, 30g de carboidratos,
225 mg de sódio, 60 mg de potássio e 210 mg de cloreto.
Os respectivos suplementos foram ingeridos em momentos distintos, no primeiro momento (20 minutos antes
da competição), foram ingeridos 500 ml do composto para
o grupo Placebo e grupo Gatorade e 1 sachê de 25 gramas
para o grupo Carb-up, o qual ingeriu concomitantemente um
copo de água (250 ml). Nos intervalos entre as lutas 1 e 2 os
atletas ingeriram metade da dose inicial, e ao final da luta 3
não ingeriram composto algum.
A glicemia foi aferida antes da suplementação inicial (GI)
e 20 minutos após a mesma (G20’). Em seguida, foram realizadas três lutas de 8 (oito) minutos com pausa de 15 (quinze)
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
minutos, simulando situação oficial de competição com um
árbitro e um técnico para cada lutador. Todas as lutas foram até
o final independente de finalização antes do tempo. Durante
os 15 minutos de intervalo o repouso foi passivo.
Após cada combate, a glicemia era novamente aferida e os
tempos de coleta foram: glicemia logo após a luta (G.zero),
glicemia 7 minutos pós luta (G.7’) e glicemia 15 minutos
pós luta (G.15’).
Utilizando-se luvas cirúrgicas, após assepsia local com
álcool, foi realizada a punção com a utilização de lanceta
descartável na face palmar da falange distal do 3º dedo da
mão direita para todos os grupos. Era retirada uma gota de
sangue e colocada na zona reativa da tira de teste, e a glicose
foi determinada por fotometria de reflexão e seus resultados
foram expressos em miligramas por decilitro (mg/dl). Para
cada amostra, era passado algodão na superfície desejada
para retirada de possíveis gotas de suor, as quais poderiam
contaminar as amostras.
Para a avaliação da antropometria, foram utilizados os
seguintes equipamentos:
Utilizou-se o estadiômetro portátil da marca Sanny®,
com altura máxima de 210 cm e resolução de 1,0 milímetro
(mm), para aferição da estatura; utilizou-se uma balança digital Camry® modelo EB6171, com capacidade de 150 Kg e
variação de 0,1 kg, para a avaliação da massa corporal
A partir desses dados, foi calculado o índice de massa
corporal (IMC), o qual expressa a distribuição da massa corporal em relação à estatura. Ele é obtido a partir da divisão
do peso do indivíduo, em quilogramas, pelo quadrado de sua
altura em metros.
Para a verificação da glicemia foram utilizados os seguintes materiais e equipamentos: Glicosímetro portátil Accu-Check® Active
(Roche®), fita reagente do respectivo aparelho; lancetador AccuCheck® Softclix Pro (Roche®); luvas de látex para procedimento
(Satari®); álcool a 70° GL; algodão e material de consumo.
Para a análise estatística do presente estudo, os resultados
foram expressos em média e as diferenças entre os dois grupos foram obtidas, a partir do teste t-Student, e o índice de
significância adotado foi p ≤ 0,05.
Resultados
Os grupos GC e GG apresentaram aumento significativo
na glicemia após 20 minutos da ingestão de suplemento CarbUP e Gatorade respectivamente, conforme está demonstrado
67
na Tabela II e também mantiveram maior glicemia ao longo
das coletas durante os intervalos entre os combates em relação
ao grupo placebo.
As tabelas e gráficos abaixo representam os resultados
apresentados durante todo o procedimento experimental.
Gráfico 1 - Comportamento das concentrações glicêmicas no início da atividade e durante os intervalos entre os combates. Valores
expressos em mg/dl.
Discussão
Com relação à comparação da ingestão de diferentes suplementos a base de glicose numa concentração comercialmente
disponível durante uma competição simulada de jiu-jitsu com
3 lutas consecutivas, os resultados demonstraram que:
A forma física de ingestão do carboidrato (em gel ou
líquido) não exerceu grande influência na resposta metabólica, pois tanto o grupo Carb-up® como o grupo Gatorade®
obtiveram respostas semelhantes, corroborando com estudo
similar realizado [19].
Houve uma elevação rápida dos níveis iniciais da concentração glicêmica, nos grupos que receberam a suplementação
mostrando-se significativamente mais elevada (p < 0,05) que
os controles que receberam placebo. Esse resultado, é usualmente observado em outros estudos [20-22], os quais citam
que esse resultado aumenta a disponibilidade de glicose no
sangue favorecendo a utilização do carboidrato como combustível energético.
Nas fases pós-competição, verificam-se níveis glicêmicos
mais elevados, embora não seja significante estatisticamente,
nos grupos que ingeriram um suplemento carboidratado durante a atividade, facilitando, assim, a ressíntese dos estoques
de glicogênio muscular em função de uma maior permeabilidade da membrana muscular, efeito esse citado por estudos
Tabela II - Médias das concentrações glicêmicas no início da atividade e durante os intervalos entre os combates. Valores expressos em mg/dl.
Placebo
Carb-up
Gatorade
Antesda luta
GI
G20’
88,0
92,0
72,0
110,7*
80,0
118,7*
Primeiro Combate
G.zero
G.7’
G.15’
71,3
74,3
82,0
104,3
88,3
99,0
85,7
78,3
102,0
Segundo
G.zero
73,7
83,0
94,7
Combate
G.7’
77,3
89,7
89,0
G.15’
86,0
99,0
93,7
Terceiro Combate
G.zero
G.7’
G.15’
74,7
80,3
83,7
93,7
85,0
77,3
87,7
91,3
87,0
* p ≤ 0,05; GI – glicemia antes da suplementação; G20’ – Glicemia 20 minutos após a ingestão da suplementação; G.zero – glicemia logo após a luta;
G.7’ – glicemia 7 minutos pós luta; G15’ – glicemia 15 minutos pós luta.
68
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
ao investigarem a relação entre ingestão de carboidratos e o
desempenho atlético [10,21].
Esse resultado deve-se principalmente a combinação da
ingestão de carboidratos, antes e durante a competição, o qual
exerce um efeito adicional sobre a performance física quando
comparado com uma situação em que o carboidrato é ingerido somente em uma única fase da competição [21]. Estudos
apontam que a suplementação de carboidrato é eficiente para
o aumento do desempenho físico, e o mecanismo proposto
para isso é a manutenção da glicemia e a redução da taxa de
glicogenólise [23] atenuando assim, distúrbios homeostáticos
como a hipoglicemia.
Os carboidratos são considerados a fonte primária de
energia metabólica para o organismo, uma vez que seu catabolismo é um grande liberador de energia química, fornecendo
essencialmente combustível para o cérebro, medula, nervos
periféricos e células vermelhas do sangue [12,24].
No corpo humano, o carboidrato é estocado no citoplasma
celular dos músculos e no fígado como um polímero polissacarídico sintetizado a partir da glicose, chamado glicogênio;
a quantidade armazenada desse substrato é influenciada pelo
nível de exercício e pela ingestão diária de carboidrato, sendo
este o principal combustível para a contração musculoesquelética durante a atividade física, onde a depleção das reservas
endógenas é freqüentemente associada ao baixo rendimento,
podendo levar os atletas à fadiga [10,25,26].
O carboidrato é um composto orgânico que contém carbono, hidrogênio e oxigênio [10,27] podendo ser:
Simples - geralmente conhecidos como açúcares, e são
divididos em duas categorias: monossacarídeos, sendo os
principais a glicose, frutose e a galactose; e dissacarídeos como
sacarose, maltose e lactose.
Complexos - também conhecidos como amidos, geralmente são formados a partir da combinação de três ou mais
moléculas de glicose, conhecida como polissacarídeo.
Outro fator importante está na capacidade de um carboidrato em elevar a glicemia, assim foi proposto um sistema de
classificação dos carboidratos que seria o índice glicêmico, o
qual é uma ordenação de alimentos baseada na resposta da
glicose sanguínea pós-prandial [28].
Durante o processo de metabolização dos carboidratos,
eles precisam ser digeridos, absorvidos e transportados, entretanto é somente na forma de monossacarídeos que ocorre
a sua absorção intestinal, pois devido a curta permanência do
alimento na boca, a digestão oral dos carboidratos é muito
restrita, assim a maior parte ocorre na porção superior do
intestino delgado, onde o pH permite uma alta atividade de
enzimas específicas secretadas para o interior da luz intestinal
[29].
Acredita-se que as bebidas contendo entre 6 – 8% de glicose ou sacarose são absorvidas pelo organismo com a mesma
rapidez que a água [30], isto ocorre porque a absorção da água
é um processo passivo determinado pela diferença osmótica
entre as bordas luminal e celular da mucosa intestinal, enquan-
to que a absorção da glicose é realizada por um mecanismo
de transporte ativo envolvendo um processo dependente de
energia e da presença de sódio, sendo que essa absorção é
dependente da concentração da solução ingerida [31].
Após a digestão dos carboidratos pelas enzimas gastrointestinais, ocorre à entrada da glicose na corrente sanguínea sendo
transportado até o fígado, onde podem ser armazenados, ou
liberados na corrente sanguínea para que sejam levados a
outros tecidos, como o muscular [10,27].
Nos primeiros estágios da atividade física, a maior parte
da energia obtida dos carboidratos provém da degradação do
glicogênio muscular, o qual declina de maneira mais rápida e
intensa nos primeiros minutos do exercício sendo diretamente
proporcional a intensidade do mesmo [24]. À medida que
o exercício prossegue, a utilização do glicogênio muscular
decai em função da atividade fosforilase e do aumento do
seu transporte no sangue. Esse mecanismo garante que a
glicogenólise muscular esteja ligada a demanda de adenosina
trifosfato (ATP) [26,32].
Esses exercícios provocam uma elevação na captação de
glicose pelos músculos, desse modo, essa redução da dependência do glicogênio muscular é compensada por uma maior
dependência da glicose sanguínea e, na tentativa de se manter
níveis glicêmicos normais, o fígado libera glicose na corrente
sanguínea devido a uma ação direta do exercício, o qual induz um aumento da adrenalina e do glucagon, pois ambos
aceleram a liberação da glicose hepática [21].
Uma grande concentração de glicose na corrente sanguínea
aumenta a glicemia, sinalizando a liberação de insulina, a qual
é um hormônio responsável por estimular a síntese de glicogênio através da ativação da enzima glicogênio sintase [33].
O transporte de glicose para o músculo esquelético é regulado tanto pela insulina como pela atividade contrátil por
meio da ação dos transportadores de glicose nos músculos
(GLUT-4), os quais migram das vesículas no interior do citosol para a membrana plasmática, facilitando o transporte de
glicose para o interior do sarcoplasma, onde é utilizado para a
formação de ATP [26,34,33]. Portanto, as concentrações de
insulina no sangue diminuem durante o exercício de qualquer
duração, pois as próprias contrações musculares estimulam a
absorção da glicose no músculo, e sua diminuição durante a
atividade é necessária para evitar a hipoglicemia [35]. Quando
a concentração da glicose sanguínea diminui abaixo dos níveis
fisiológicos normais, ocasiona uma hipoglicemia cujos sintomas
são: suor, calafrios, náusea, tonturas e desconforto epigástrico
[36,35], além de uma perda da performance física [12,32].
A liberação da glicose hepática fica reduzida quando
carboidratos são consumidos durante os exercícios, pois essa
ingestão aumenta a disponibilidade de glicose no sangue e
mantém a capacidade do organismo em utilizá-la como fonte
de energia durante os exercícios [21]. Por outro lado, encontramos referência na literatura que a ingestão carboidratada
realizada de 30 a 60 minutos antes de iniciar uma atividade
física intensa, faz com que a glicose sanguínea aumente, esti-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
mulando a liberação de insulina, a qual associada à contração
muscular realizada no início do exercício pode diminuir as
concentrações sanguíneas de glicose provocando o que foi chamado de rebote hipoglicêmico [37]. Já outros autores citam
que utilizando intervalos menores, em torno de 15 minutos,
entre a ingestão e o início da atividade, esse tempo não seria
o suficiente para aumentar a insulina sanguínea, evitando o
rebote hipoglicêmico [38].
Assim, a glicose sanguínea tem um papel fundamental no
metabolismo, pois sua baixa disponibilidade no organismo
pode comprometer o desempenho dos músculos, bem como
funções do sistema nervoso central, portanto uma correta
reposição dos estoques desse nutriente deve ser realizada
durante todo o período de competição (antes, durante e
após), sendo que alguns aspectos devem ser considerados
como o tipo de carboidrato, o tempo de administração e a
concentração [39].
Conclusão
Tendo em vista os enfoques estabelecidos, inicialmente,
para o presente trabalho, isto é, a análise dos níveis de glicose
resultantes da ingestão de diferentes suplementos carboidratados em atletas de jiu-jitsu, as conclusões alcançadas pela
ponderação da teoria com a prática experimental forneceu
indicativos de que não há diferença significativa nos níveis
glicêmicos entre as formas físicas de ingestão (gel ou líquido)
de carboidratos.
O aumento da concentração de glicose no sangue resulta
em um aumento da absorção da mesma pelos músculos,
podendo provocar uma economia ou menor depleção dos
estoques de glicogênio muscular e hepático decorrentes da
suplementação, sendo que esse procedimento pode beneficiar
uma melhora no desempenho durante a competição.
Em conseqüência do tamanho da amostra, deve-se ter
cautela na generalização destes resultados, sugere-se, portanto, que mais estudos sejam realizados com a finalidade de
investigar os efeitos bioquímicos da ingestão de diferentes
suplementos carboidratados em atletas do jiu-jitsu.
Referências
1. Pinto Neto O, Magini M, Saba MMF. Análise cinemática de
um movimento de Kung-Fu: A importância de uma apropriada
interpretação física para dados obtidos através de câmeras rápidas. Revista Brasileira de Ensino de Física 2006;28:235-9.
2. Silva KA, Tahara AK. Fatores de adesão à prática do jiu-jitsu.
Motriz 2003;9:S186.
3. Souza I, Silva VS, Camões JC. Flexibilidade tóraco-lombar e
de quadril em atletas de jiu-jitsu. Revista Digital Buenos Aires
2005;82.
4. Borges OA. Jiu jitsu: Educação ou adestramento? Treinamento
Desportivo 1999;4:67-71.
5. Sugai VL. O Caminho do Guerreiro I. São Paulo: Gente;
2000.
69
6. Franchini E, Takito MY, Pereira JNC. Freqüência cardíaca e
força de preensão manual durante a luta de jiu-jitsu. Revista
Digital Buenos Aires 2003;9.
7. Gulak A, Moreira SR, Silva JU, Ronque VER, Silva KES.
Análise do desempenho motor em praticantes da modalidade
jiu-jitsu de Cascavel, PR. Motriz 2003;9:S131.
8. Silami-Garcia E, Rodrigues LOC, Faria MHS, Araújo-Ferreira
AP, Nassif-Leonel C, Oliviera MC et al. Efeitos de carboidratos
e eletrólitos sobre a termorregulação e a potência anaeróbia
medida após um exercício prolongado no calor. Rev Bras Educ
Fís Esp 2004;18(2):179-89.
9. Viñaspre PB. Hidratación y carbohidratos en deportes intermitentes. Apunts: Medicina de l’esport 1994;31:37-46.
10. Coyle EF. Carboidratos e desempenho atlético. Sports Science
Exchange 1997;9.
11. Davis JM, Jackson DA, Broadwell MS, Queary JL, Lambert
CL. Carbohydrate drinks delay fatigue during intermittent
high-intensity cycling in active men and women. Int J Sport
Nutr 1997;7:261-73.
12. Rombaldi AJ. Alguns efeitos bioquímicos da ingestão de carboidrato na realização de trabalho intermitente de alta intensidade
em ratos [tese]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa
Maria; 1996.
13. Hirata DS, Del Vecchio FB. Preparação física para lutadores de
Sanshou: proposta baseada no sistema de preparação de Tudor
O. Bompa. Revista Movimento e Percepção 2006;6:2-17.
14. Weineck EJ. Futebol total: O treinamento físico no futebol.
Guarulhos: Phorte; 2000.
15. Hargreaves M, Finn JP, Withers RT, Halbert JA, Scroop GC,
Mackay M, et al. Effect of muscle glycogen availability on
maximal exercise performance. Eur J Appl Physiol 1997;75:
188-92.
16. Balsom PD, Gaitanos GC, Söderlund K, Ekblom B. Highintensity exercise and muscle glycogen availability in humans.
Acta Physiol Scand 1999;165:337-45.
17. Jacobs I. Blood lactate implications for traini ng and sports
performance. Sports Med 1986;3: 10-25.
18. Franchini E, Takito MY, Bertuzzi RCM, Dal’Molin KMAP.
Nível competitivo, tipo de recuperação e remoção do lactato
após uma luta de judô. Rev Bras Cineantropom Desempenho
Hum 2004;6:7-16.
19. Lugo M, Sherman WM, Wimer GS, Garleb K. Metabolic
responses when different forms of carbohydrate energy are
consumed during cycling. Int J Sport Nutr 1993;3:398-407.
20. Bowtell JL, Gelly K, Jackman ML, Patel A. Effect of different
carbohydrate drinks on whole body carbohydrate storage after
exhaustive exercise. J Appl Physiol 2000; 88:1529-36.
21. Hargreaves M. Ingestão de carboidratos durante os exercícios:
efeitos no metabolismo e no desempenho. Sports Science
Exchange 2000;25.
22. Andrews JL, Sedlock DA, Flynn MG, Navalta JW. Carbohydrate loading and supplementation in endurance-trained women
runners. J Appl Physiol 2003;95:584-90.
23. Aoki MS, Pontes Júnior FL, Navarro F, Uchida MC, Bacurau
RFP. Suplementação de carboidrato não reverte o efeito deletério
do exercício de endurance sobre o subseqüente desempenho de
força. Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):282-7.
24. Rogatto GP. Hidratos de carbono: aspectos básicos e aplicados
ao exercício físico. Revista Digital Buenos Aires 2003;8.
70
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
25. Fairchild TJ, Fletcher S, Steele P, Goodman C. Rapid carbohydrate loading after a short bout of near maximal-intensity
exercise. Med Sci Sports Exerc 2002;34(6):980-6.
26. Hargreaves M. Metabolismo dos carboidratos e exercício físico.
In: Garret JRWE, Kirkendall DT. A ciência do exercício e dos
esportes. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 23-9.
27. Williams M. Nutrição para Saúde, condicionamento físico e
desempenho esportivo. São Paulo: Manole; 2002.
28. Foster-Powel K, Holt SH, Brand-Miller JC. International tables
of glycemic index and glycemic load values. Am J Clin Nutr
2002;76(1)5-56.
29. Maughan R, Glesson M, Grenhaff PL. Bioquímica do exercício
e do treinamento. São Paulo: Manole; 2000.
30. Coleman E. Aspectos atuais sobre bebidas para esportistas.
Sports Science Exchange 1996; 3:1-4.
31. Gisolfi CV, Summers RW, Schedl HP, Bleiler TL. Effect of
sodium concentration in a carbohydrate-electrolyte solution
on intestinal absorption. Med Sci Sports Exerc 1995;27:
1414-20.
32. Arruda M, Baganha RJ, Moreira RAC, Santos GFS, Tiburzio
AS. Efeitos da utilização de bebida hidroeletrolitica sobre a
33.
34.
35.
36.
37.
38.
39.
glicemia durante uma aula de ciclismo indoor. Movimento e
Percepção 2006;6:95-108.
Stancanelli M. Efeito ergogênico do caldo de cana [dissertação].
Campinas: Universidade de Campinas; 2006.
Prada ACB, Mello MAR. Modulação pelo exercício físico da
ação periférica da insulina durante a prenhez em ratas. Revista
Mackenzie de Educação Física e Esporte 2003;2:85-99.
Farrel PA. Diabetes, exercício físico e esportes de competição.
Sports Science Exchange 2004; 39.
Motta VT. Bioquímica Clínica: Princípios e interpretações.
Porto Alegre: Médica Missau; 2000.
Paredes CA. Efeitos da ingestão de líquidos carboidratados
administrados imediatamente antes e durante atividade física
intermitente, sobre os estoques de glicogênio muscular. Estudo
de caso [dissertação]. Santa Maria: Universidade Federal de
Santa Maria; 1997.
Robergs RA, Roberts SO. Princípios fundamentais de fisiologia
do exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo:
Phorte; 2002.
Peters SJ, Leblanc PJ. Metabolic aspects of low carbohydrate
diets and exercise. Nutr Metab 2004;7:1-8.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
71
Artigo original
A comparação de esforço físico de idosos atletas
e idosos não atletas no protocolo de Bruce original
The physical effort comparison between aged athletes
and aged non athletes in the original Bruce protocol
Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, M.Sc.*, Nathália Maria Resende, M.Sc.*, Vivian Lamounier Camargos Resende Silva,
M.Sc.*, Romeu Paulo Martins Silva Lamounier, M.Sc., Foued Salmen Espindola, D.Sc*, Rimmel Amador Guzman Heredia,
D.Sc**, Elmiro Santos Resende, D.Sc.**
*Laboratório de Bioquímica do Exercício e Saúde, Instituto de Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia –
UFU, **Setor de Cardiologia, Hospital de Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Resumo
Abstract
Objetivo: Avaliar a capacidade física de idosos atletas (IA) e idosos
não atletas (INA) submetidos ao protocolo de Bruce Original. Métodos: Foram estudados 22 idosos, 15 não atletas e 08 atletas (média de
idade 63 ± 2,16 anos), submetidos a teste ergométrico até exaustão
voluntária. Utilizamos o protocolo de Bruce Original como teste de
esteira. Avaliamos os seguintes parâmetros fisiológicos: Frequência
Cardíaca Máxima (FCM), Pressão Arterial Sistólica (PAS), Pressão
Arterial Média (PAM), Pressão Arterial Diastólica (PAD) e Duplo
Produto (DP), nos estágios: antes do teste (Estag 0), final do teste
(Estag Final), 5 (Estag 5’) e 15 (Estag 15’) minutos após o final do
teste. Resultados: Mostraram diferenças significativas para p < 0,05
da frequência cardíaca máxima entre os grupos antes e no final do
teste. Mas não mostraram diferenças significativas nos estágios 5’ e
15’ minutos após o final do teste. Já PAS, PAM, PAD e DP mostraram diferenças significativas para p < 0,05 em todos os estágios
entre os grupos, INA e IA. Conclusão: Os IA apresentaram ter uma
melhor capacidade física tendo uma maior permanência durante a
realização do teste. E sua recuperação após o teste foi mais acentuada
nas variáveis PAS, PAM, PAD e DP do que o grupo INA.
Objective: To assess physical capacity of aged athletes and non
athletes submitted to the original Bruce protocol. Methods: Twenty
two aged, 15 non athletes and 08 athletes, had been studied (average
of age 63 ± 2.16 years), submitted on ergometric test until voluntary
exhaustion. We use the original Bruce protocol as treadmill test.
We assess the following physiological parameters: Maximum Heart
Rate, Arterial Systolic Pressure, Arterial Medium Pressure, Arterial
Diastolic Pressure and Rate Pressure Product, in the stages, before,
at the end, and 5 and 15 minutes of recover. Results: It had shown
significant differences to p < 0.05 of the Maximum Heart Rate
between the groups, before and after the test. But it had not shown
significant differences in the stages 5 and 15 minutes after the end
of the test. Already, the Arterial Sistolic Pressure, Arterial Medium
Pressure, Arterial Diastolic Pressure and Rate Pressure Product had
shown significant differences to p < 0.05 in all the stages between
the groups, aged athletes and aged non athletes. Conclusion: The
aged athletes had presented greater physical capacity showing bigger
resistance and stay during the accomplishment of the test. They had
a marked recovery in the values of Arterial Systolic Pressure, Arterial
Medium Pressure, Arterial Diastolic Pressure and Rate Pressure
Product of that the aged non athletes.
Palavras-chave: idoso, atleta, aptidão física, teste ergométrico.
Key-words: aged, athlete, physical fitness, ergometric test.
Endereço de correspondencia: Aníbal Monteiro de Magalhães Neto, Rua Carajás, 212, Centro, 78600-000 Barra do Garças MT, Tel:
(34) 9121-8252 ou (66) 9988-4310, E-mail: [email protected]
72
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
O processo de envelhecimento implica modificações de
ordem psíquica [1], social e fisiológica [2]. Ocasionando
diminuições da força e resistência muscular, e da capacidade
aeróbia [3]. Tais ocorrências fisiológicas se refletem no desempenho motor, na qualidade de vida e na capacidade do
indivíduo para cuidar de si mesmo. O interesse científico
pela condição física da população idosa vem aumentando
consideravelmente.
A capacidade funcional do sistema cardiovascular declina
com o avançar da idade e pode ser considerado um fator de
risco [4]. Por outro lado, maior condicionamento cardiorrespiratório reduz a mortalidade por doenças cardíacas [5],
aumenta a independência e a qualidade de vida [6], e deve
ser prioridade em programas de exercícios que visam a melhora do sistema cardiovascular. Portanto, um adequado nível
de capacidade aeróbia é essencial para que o idoso consiga
caminhar, fazer compras, desenvolver atividades recreativas
e praticar esportes [7].
O exercício físico, por sua vez, pode melhorar as respostas
centrais e periféricas relacionadas à capacidade cardiorrespiratória e o bem-estar psicológico. Entretanto, a literatura
baseia-se que a realização dos exercícios devam compreender
as de intensidades que variam de 60 a 70% do VO2máx de indivíduos não idosos [7], e não para idosos. Por sua vez, Wilson
e Tanaka [4] mostram em sua meta análise que os estudos dão
ênfase para idosos sedentários comparados com idosos ativos
ou idosos atletas. Não tendo uma comparação entre os grupos
de idosos fisicamente ativos com os idosos atletas.
Nosso objetivo foi comparar o esforço físico de idosos
atletas (IA) e idosos não atletas (INA) submetidos ao teste
ergométrico. E com a hipótese de que não haverá diferença
significativa entre os grupos dos parâmetros fisiológicos
avaliados.
Material e métodos
O trabalho foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa
da UFU obedecendo aos preceitos da resolução do Ministério
da Saúde 196 de 1996.
Amostra, critérios de inclusão e exclusão
Foram comparados os seguintes critérios de inclusão de
ambos os grupos: a) Consideramos INA, os sujeitos inscritos
e participates do Programa Atividades Físicas e Recreativas
para Idosos da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia (AFRID-FAEFI-UFU) por mais
de 5 anos, que realizam exercícios físicos de 3 a 5 vezes por
semana, que não apresentem qualquer problemas do coração,
problemas pulmonares, problemas de rins, diabetes mellitus e
hipertensão arterial secundária; b) Consideramos IA, pessoas
acima dos 60 anos, do sexo masculino, praticantes de esporte
aeróbio de alta resistência (maratonistas) há mais de 5 anos
estando em período de atividade atlética plena, não sendo
inscritos no AFRID-FAEFI-UFU.
Utilizamos como critério de exclusão para ambos os grupos: 1) Exame de sangue fora dos padrões bioquímicos de
colesterol, creatina kinase, creatina kinase total, HDL, LDL,
triglicerides, ácido úrico, uréia, glicose e proteina C reativa;
2) Alteração da função ventricular sistólica e diastólica e
contratilidade segmentar pelo Exame Ecocardiográfico, modalidade bi-dimensional, modo M, color e doppler, conforme
padrões da Sociedade Americana de Ecocardiografia [8,9], 3)
Alterações no Eletrocardiograma (ECG) basal, nas arritmias,
infarto do miocárdio prévio, repolarização ventricular e alterações no segmento ST. As leituras foram feitas no monitor
(cardioscópio) e conferidas no registro em papel. O segmento ST foi considerado alterado em três ou mais complexos
consecutivos. O intervalo entre as realizações dos exames de
ECG e Ecocardiograma foi inferior a um mês. Utilizamos estes
rigorosos critérios de exclusões para obtermos o maior grau
de homogeneidade entre os participantes do estudo. Todos
assinaram o termo de consentimento e livre esclarecimento. O
grupo de INA foi composta por 15 idosos de ambos os sexos,
sendo 9 mulheres e 6 homens. O grupo de IA foi composto
por 8 idosos do sexo masculino altamente treinados.
Protocolo do teste de esforço
O teste de esforço foi realizado na esteira Ecafix® (Brasil).
O protocolo utilizado foi o de Bruce Original [10]. A monitorização foi contínua do eletrocardiograma de 12 derivações
acrescido de CM5, com o software Ergo PC 13 para Windows.
Todos os testes de esforço foram realizados sempre na presença
de um profissional experiente.
Parâmetros fisiológicos avaliados
A FCM foi monitorada pelo eletrocardiograma de 12
derivações ligado ao programa de computador. As aferições
das PAS e PAD foram realizadas pelo método auscultatório,
com esfigmomanômetro Tycos® (EUA). A PAM foi obtida pela
equação [11] PAM = PAD + [0,333 X (PAS – PAD)]. O DP
foi obtido pela multiplicação da FCM com a PAS do pico
do esforço. Foi permitindo que os idosos utilizassem apenas
as barras frontais de apoio da esteira ergométrica. Todos os
parâmetros fisiológicos mencionados foram avaliados no repouso, durante, no pico máximo do exercício e nos estágios
5 e 15 minutos após o encerramento do teste.
Interrupção do teste
O teste era interrompido por: exaustão; elevação da Pressão
Arterial Diastólica (PAD) >120mm/Hg nos normotensos e
>140mm/Hg nos hipertensos primários; elevação da PAS
>260mm/HG; queda sustentada da PAS; manifestação
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
clínica de precordialgia típica intensa; infradesnivelamento
do segmento ST > 3mm; supradesnivelamento do segmento
ST > 2mm em derivação sem presença de onda q, arritmia
ventricular complexa; aparecimento de taquicardia supraventricular sustentada, taquicardia atrial, fibrilação atrial, bloqueio átrioventricular de 2º e 3º graus, sinais de insuficiência
ventricular esquerda, falência dos sistemas de monitoração e/
ou registro [12].
73
O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício),
final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 5’
(após o término do exercício o idoso, era acomodado, passados cinco
minutos depois do encerramento do teste era verificado FC), 15’(esta
mesma medida de FC era realizada quinze minutos depois do encerramento do teste) . No eixo Y do gráfico está representando os valores
das FCs alcançadas durante todos os estágios sendo expressos em
batimentos por minuto (bpm). O teste t-student, mostrou diferença significativa p<0,05 nos estágios 0 e final entre os grupos INA e IA. Porém
Resultados
na recuperação após o exercício não demonstrou diferença entre as FC.
A análise estatística descritiva da média e desvio padrão
demonstrou os resultados das Variáveis Antropométricas (VA)
que não apresentaram diferença significativa entre os grupos,
demonstrando que os grupos estavam homogêneos. Os dados
são apresentados na Tabela I de ambos os grupos INA e IA.
A avaliação dos parâmetros fisiológicos da FCM mostrou
diferença significativa no estágio 0 e estágio final, entretanto
não houve diferença na FCM nos estágios 5’ e 15’ após o teste
(Figura 1). As PAS (Figura 2), PAM (Figura 3), PAD (Figura
4) e DP (Figura 5) mostraram diferença significativa nos estágios 0, final, 5’ e 15’ após o teste. Foi aplicado o teste t de
Student para amostras emparelhadas. Não houve comparação
estatística intergrupos. Em todos os casos, foi adotado nível
de significância de p < 0,05.
Figura 2 - Resultados das médias da Pressão Arterial Sistólica (PAS)
entre os grupos de INA e IA.
Tabela I - Variáveis antropométricas dos grupos INA e IA.
O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício),
VA
Idade (anos)
Peso (kg)
Altura (cm)
IMC
INA
X
65,13
62,46
160
24,25
Des Pad
5,35
9,59
8,17
3,36
IA
X
62,75
63,62
169,12
22,21
final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste),
Des Pad
3,24
7,42
7,16
1,94
5’ (após o término do exercício o idoso era acomodado, passados
cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAS),
15’(esta mesma medida de PAS era realizada quinze minutos depois
do encerramento do teste). O eixo Y do gráfico está representando os
valores das PAS alcançadas durante todos os estágios sendo expressos
Os valores X (média) e Des. Pad (Desvio Padrão) não demonstrou di-
em milímetros por mercúrio/ Hg (mmHg). Os valores uma diferença
ferença significativa pela análise estatística descritiva para p<0,05 nas
significativa de p < 0,05 em todos os estágios, 0, final, 5’ e 15’ após a
variáveis antropométricas (idade, peso, altura e IMC [Índice de Massa
sessão de exercício físico.
Corporal]) dos grupos Idosos não Atletas (INA) comparados ao grupo
de Idosos Atletas (IA).
Figura 3 - Resultados das médias da Pressão Arterial Média (PAM)
entre os grupos de INA e IA.
Figura 1 - Resposta da frequência cardíaca (FC) nos estágios pré, no
final o e após 5’ e 15’ do término do exercício físico agudo.
O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício),
final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste),
74
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
5’ (após o término do exercício o idoso era acomodado, passados
mesma medida do DP era realizada quinze minutos depois do encerra-
cinco minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAM),
mento do teste). O eixo Y do gráfico está representando os valores do
15’(esta mesma medida de PAM era realizada quinze minutos depois
DP alcançados durante todos os estágios sendo expressos pelo cálculo
do encerramento do teste). O eixo Y do gráfico está representando os
da FC do estágio multiplicados pela PAD do mesmo estágio obtendo um
valores das PAM alcançadas durante todos os estágios sendo expressos
valor absoluto. O teste t-student, mostrou diferença significativa p<0,05
em milímetros por mercúrio/ Hg (mmHg). Afirmaram uma diferença
entre os grupos INA e IA.
significativa de p < 0,05 nos estágios, 0, final, 5’ e 15’ após a sessão
de exercício físico.
Discussão
Figura 4 - Resultados das médias da Pressão Arterial Diastólica
(PAD) entre os grupos de INA e IA.
O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício),
final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 5’
(após o término do exercício, o idoso era acomodado, passados cinco
minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAS), 15’(esta
mesma medida de PAS era realizada quinze minutos depois do encerramento do teste) . O eixo Y do gráfico está representando os valores
das PAD alcançadas durante todos os estágios sendo expressos em
milímetros por mercúrio/ Hg (mmHg). Existe uma diferença significativa
de p < 0,05 em todos os estágios pré, no estágio final e nos estágio 5’
e 15’ após a sessão de exercício físico.
Figura 5 - Resposta do Duplo Produto (DP) nos estágios pré, no
final o e após 5’ e 15’ do término do exercício físico agudo.
O eixo X do gráfico está representando os estágios 0 (pré exercício),
final (logo após o idoso ter alcançado seu limite máximo no teste), 5’
(após o término do exercício o idoso, era acomodado, passados cinco
minutos depois do encerramento do teste era verificado a PAS), 15’(esta
Inicialmente vamos discutir algumas características específicas e potenciais limitações do presente estudo. Diferente
dos outros estudos da literatura, o grupo de INA foi composto
por nove voluntárias e seis voluntários todos considerados
idosos segundo Organização Mundial da Saúde. O conjunto
da amostra demonstra que as mulheres frequentam mais as
atividades que oferecem benefício através do exercício físico
do que os homens [13]. Já o inverso acontece com o grupo de
IA, tendo uma participação expressiva dos homens. Entretanto, a análise estatística descritiva pode demonstrar não haver
diferença significativa nas variáveis antropométricas entre os
grupos avaliados, tornando-os homogêneos.
Quando comparamos os valores médios da frequência
cardíaca no estágio 0 demonstrou haver diferenças entre os
grupos. A bradicardia foi observada em ambos os grupos,
entretanto, o grupo de IA este fator foi mais expresso. O
treinamento de endurance coloca o nódulo sinusal do coração
sob uma maior influência da acetilcolina, hormônio parassimpático que torna mais lenta a Frequência Cardíaca de
Repouso (FCR) [11], ao mesmo tempo, a atividade simpática
em repouso diminui. Esta adaptação ao treinamento explica
em partes as FCR mais baixas de muitos atletas de endurance
masters [11,14].
Já no parâmetro FCM ambos os grupos tiveram comportamentos semelhantes durante o teste conforme a literatura [11].
Além disto, o grupo de IA apresentou ter maior resistência
física durante o teste devido a possuírem um fluxo sanguíneo
aumentado com a intensidade do exercício. O débito cardíaco
voltava rapidamente durante a transição do repouso para o
exercício físico. Provavelmente, fatores de influxo periféricos
como quimiorreceptores, metabarroreceptores, monitoram o
estado físico e químico da musculatura envolvida no exercício
[11]. Tais fatores são capazes de modificar o fluxo anterógrado
vagal (parassimpático) ou simpático de forma a induzir respostas cardiovasculares apropriadas para as várias intensidades do
exercício físico mesmo estando diminuído em idosos [15,16].
Os efeitos do envelhecimento no mecanismo de ativação dos
metabarroreceptores e quimiorreceptores são desconhecidos.
Um melhor entendimento do controle destes mecanismos e
de suas interações pode aumentar nosso conhecimento das
limitações do exercício com envelhecimento.
A bradicardia observada em ambos os grupos, após o
exercício físico, em condições de repouso é um resultado
frequente, ocorrendo também na presente investigação [17-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
19]. Isto evidencia que o teste físico utilizado constitui-se de
exercício com intensidades variando de moderado a intenso e
de longa duração. Pois nesta intensidade as respostas cardíacas
diminuem logo após a sessão de treinamento, mesmo quando se utilizam exercícios aeróbios para membros superiores
[17-21].
Outro aspecto que merece ênfase diz respeito à prescrição
baseada na FCM para esta idade. No trabalho de Rondon et al.
[20], observou-se que a prescrição de intensidades de exercícios físicos baseada na FCM mostra valores significantemente
maiores que os valores obtidos a partir de testes submáximos.
Desta forma, é possível que as prescrições indiretas baseadas
em indivíduos jovens e de meia idade não se apliquem nos
idosos.
Neste estudo, avaliamos a frequência cardíaca de repouso
pré e pós exercício, monitoramos também o comportamento
das pressões arterial sistólica, média e diastólica, devidamente
padronizadas durante a realização dos testes nos mesmos grupos de indivíduos, permitindo-nos avaliar o comportamento
não só durante o exercício mais também nos períodos 5’ e 15’
que sucederam o teste.
Grande parte dos estudos [21,24,31] têm demonstrado
que o exercício físico agudo aeróbio provoca queda duradora
da pressão arterial no período de recuperação após exercício
físico, e que podem ser diversos fatores que influenciam essa
queda pressórica. Contudo, os mecanismos que determinam a diminuição da pressão arterial (PA) após uma única
sessão de exercício físico ainda não estão completamente
esclarecidos [17]. O aumento da excreção urinária de sódio
e, consequentemente, a diminuição da atividade da renina
plasmática [25] são respostas que estão sendo desenvolvidas
para explicar a diminuição da PA após o exercício físico. Em
nosso trabalho, os valores da PAS entre os grupos foram de
9 mmHg para o grupo INA e 12 mmHg para o grupo IA.
No entanto, na PAD do INA não houve alteração, e no IA
foi de 5 mmHg, ambos os grupos tiveram diminuídas as
medidas descritas na literatura que estão entre 9 e 15mmHg
[25,26]. Entretanto, não encontramos subsídios científicos
para sustentar nosso achado sobre a PAM que foi de 2 mmHg
para o INA e 4 nos IA.
Os resultados para o DP apresentam uma similaridade
quando comparada ao da FC em todos os estágios. Pode-se
entender que a escala crescente apresentada da solicitação
cardiovascular associada a cada estágio monitorado foi representado assim: (estag 0 < estag final < estag 5’ < estag
15’). Outro ponto de interesse foi que encontramos valores
superiores a 21000 do DP em ambos os grupos; valor muitas
vezes aplicado em pacientes com sintomas de angina pectoris
[27]. Contudo, não foi desencadeado desconforto por dores
no peito durante a realização do teste. Além do mais, há evidências de que a relação entre oferta e demanda de oxigênio
para o miocárdio seja alterada pela superposição de esforços
estáticos e dinâmicos com menor depressão do segmento ST
para um mesmo DP [28-31].
75
Conclusão
No presente estudo, os grupos analisados não apresentaram prevalência de altos níveis pressóricos, além de outros
fatores de risco cardiovasculares, o que sugere a necessidade da
adoção de medidas educativas, preventivas e terapêuticas em
relação a doenças cardiovasculares para a população de idosos.
É importante realçar a necessidade de mais estudos enfocando
qual a intensidade que deve ser empregada para obter melhores
benefícios no envelhecimento através do exercício físico. Tais
benefícios devem ser aproveitados como tratamento inicial
do hipertenso, visando assim, uma redução no consumo de
medicamentos. O exercício físico deve ser incorporado para
todas as idades não apenas para o idoso. Ambos os grupos
tiveram redução significativa dos níveis pressóricos logo após
o exercício, no entanto, o grupo de idosos atletas apresentou
melhores respostas cardíacas do que o grupo de idosos não
atletas. Neste estudo não nos preocupamos se os atletas tiveram esse desempenho por causa do exercício ou se isto é uma
consequência genética descoberta tardiamente.
Agradecimento
Ao colega técnico administrativo, Inri José Mussi, que nos
auxiliou com seu imenso conhecimento e na coleta dos dados.
Referências
1. Kim HS, Tanaka K. The assessement of functional age using
activities of daily living performance tests: a study of korean
women. J Aging Phys Activity 1995;(3):39-53.
2. Savioli NF, Ghorayeb N, Luiz CCC. Atleta idoso. In: Ghorayeb
N, Barros T, ed. O exercício: preparação fisiológica, avaliação
médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu;
2000.
3. Fleg JL, Lakatta, EG. Role of muscle loss in the age-associated
reduction in VO2máx. J Appl Physiol 1988;65:1147-51.
4. Wilson MT, Tanaka H. Meta analysis the age-associated decline
in maximal aerobic capacity in men. Relation to training status.
Am J Physiol Heart Circ Physiol 2000;(278): H829-34.
5. Katzmarzyk PT, Church TS, Blair SN. Cardiorespiratory fitness
attenuates the effects of the metabolic syndrome on all-cause
and cardiovascular disease mortality in men. Arch Intern Med
2004;164(10):1092-7.
6. Paterson DH, Govindasamy D, Vidmar M, Cunningham DA,
Koval JJ. Longitudinal study of determinants of dependence in
an elderly population. J Am Geriatr Soc 2004;52:1632-8.
7. Rondon MUPB, Forjaz CLM, Nunes N, Amaral SL, Barreto
ACP, Negrão CE. Comparação entre a prescrição de intensidade de treinamento físico baseada na avaliação ergométrica convencional e na ergoespirometria. Arq Bras Cardiol
1998;70:159-66.
8. Henry WL, De Maria A, Gramiak R, et al. Report of the
American Society of Echocardiography Committee on Nomenclature and Standards in Two-dimensional Echocardiography.
Circulation 1980;62:212-8.
76
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
9. Sahn DJ, De Maria A, Kisslo J, Weyman A. The Committee
on M- Mode Standardization of the American Society of
Echocardiography. Recommendations regarding quantitation
in M-mode Echocardiography: Results of a survey of echocardiographic measurements. Circulation 1978;58:1072-83.
10. Bruce RA. Exercise testing of patients with coronary artery
disease. Ann Clin Res 1971; (3):323-32.
11. McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício.
Energia, nutrição e desempenho humano. 5th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.
12. Kawamura T. Avaliação da capacidade física e teste ergométrico.
Rev Socesp 2001;11(3): 659-69.
13. Fontoura AS, Feijó C, Truccolo A, Antoniazzi R, Ramos M.
Efeitos de um programa de caminhada orientada em mulheres
hipertensas. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13(4):79-84.
14. Huang G, Shi X, Davis-Brezette JA, Osness WH, Resting heart
rate changes after endurance training in older adults: A metaAnalysis. Med Sci Sport Exerc 2005;37(8):1381-6.
15. Houssiere A, Najem B, Pathak A, Xhaët O, Naeije R, Van
de Borne P. Chemoreflex and metaboreflex responses to static hypoxic exercise in aging humans. Med Sci Sport Exerc
2006;38(2):305-12.
16. Poulin MJ, Cunningham DA, Paterson DH, Kowalchuk
JM, Smith WD. Ventilatory sensitivy to CO2 in hyperoxia
and hypoxia in older aged humans. J Appl Physiol 1993;75:
2209-16.
17. Haddad S, Silva PRS, Barreto AC, Ferrareto I. Efeito do treinamento físico de membros superiores aeróbio de curta duração
no deficiente físico com hipertensão leve. Arq Bras Cardiol
1997;69(3):169-73.
18. Gallo Junior L, Maciel BC, Marin Neto JÁ, et al. Sympathetic
and parasympathetic changes in heart rate control during dynamic exercise induced by endurance training in man. Braz J
Med Res 1989;22:631-43.
19. Katona PG, McLean M, Dighton DH, et al. Sympathetic and
parasympathetic cardiac control in athletes and nonathletes at
rest. J Appl Physiol 1982;52:1652-7.
20. Rondon MUP, Forjaz CLM, Nunes N, Amaral SL, Barreto CP,
Negrão CE. Comparação entre a prescrição de intensidade de
treinamento físico baseada na avaliação ergométrica convencio-
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
nal e na ergoespirométrica. Arq Bras Cardiol 1998;70(3):15966.
Bermudes AMLM, Vassallo DV, Vasquez CE, Lima EG.
Monitoração ambulatorial da pressão arterial em indivíduos
normotensos submetidos a duas sessões únicas de exercícios:
resistidos e aeróbios. Arq Bras Cardiol 2003;82(1):57-64.
Kenney MJ, Seals DR, Post exercise hypotension – key features, mechanisms and clinical significance. Hypertension
1993;22:653-4.
Forjaz CLM, Matsudaira Y, Rodrigues FB, et al. Post exercise
changes in blood pressure, heart rate and pressure product at
different exercise intensities in normotensive humans. Braz J
Med Biol Res 1998;31:1247-55.
Forjaz CLM, Santaella DF, Rezende LO, Barreto ACP, Negrão
CE. A duração do exercício determina a magnitude e a duração da hipotensão pós – exercício. Arq Bras Cardiol 1998;
70(2):99-104.
Seals DR, Hagberg JM, The effects exercise training on human
hypertensive: A review. Med Sci Sports Exerc 1984;16:20715.
Arrol B, Beaglehole R. Does physical activity lower blood pressure? A critical review of the clinical trials. J Clin Epidemiol
1992;45: 439-47.
Farinatti PTV, Assis BFCB. Estudo da frequência cardíaca,
pressão arterial e duplo produto em exercícios contra-resistência
e aeróbio contínuo. Revista Brasileira de Atividade Física &
Saúde 2000;5(2):5-16.
Bertagnoli K, Hanson P, Ward A, Attenuation of exerciseinduced ST depression during combined isometric and
dynamic exercise in coronary artery disease. Am J Cardiol
1990;(65):314-7.
Franklin BA, Bonzheim K, Gordon S, Timmis GC. Resistance training in cardiac rehabilitation. J Cardiopulm Rehabilit
1991;(11):99-107.
McCartney N, McKelvine RS, Martin J, Sale DG, McDougall
JD. Weight-training induced attenuation of the circulatory
response of older males to weight lifting. J Appl Physiol
1993;(47):1056-60.
Monteiro MF, Filho DS. Exercício físico e o controle da pressão
arterial. Rev Bras Med Esporte 2004;10(6):513-6.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
77
Artigo original
Dinâmica da marcha de praticantes de caminhada
de ambos os sexos em diferentes velocidades
Gait dynamics of individuals of both genders
walking in different speeds
Sebastião Iberes Lopes Melo, D.Sc.*, Juliane de Oliveira**, Raquel Pinheiro Gomes**, Mário César Andrade***, Roberta
Pires****
*Professor do Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), **Mestranda do Programa de Biomecânica do Movimento Humano Centro de
Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ***Coordenador do Laboratório
de Biomecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ****Educadora Física formada pelo Centro de Educação
Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Resumo
Abstract
O objetivo desta pesquisa foi comparar as características dinâmicas e espaço-temporais em praticantes de caminhada, considerando
gênero e velocidade. Participaram deste estudo 49 sujeitos, de ambos
os sexos (46,94% mulheres e 53,06% homens), com idade média de
28,32 (± 10,63) anos, tempo médio de prática de 28,11 (± 30,32)
meses e freqüência média de prática semanal de 3,39 vezes por semana. O dados foram coletados em uma esteira ergométrica Kistler
Gaitway modelo 9810SI, nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6
km/h. Os resultados apontaram diferenças significantes (p < 0,05)
nas características cinéticas da marcha entre homens e mulheres nas
variáveis TRP, CP, CAD e TDA. As variáveis PPF, SPF, TAP, TRP,
CP e CAD sofreram aumento significativo de seus valores médios
em pelo menos um dos ingressos de velocidade. O oposto ocorreu
com as variáveis TDA e TAS, que reduziram seus valores médios.
The aim of this study was to compare the dynamic and spatiotemporal characteristics of walking practitioners, considering gender
and speed. 49 subjects, both genders (46.94% women and 53.06%
men), average age 28.32 (± 10.63) years, average frequency of
walking 28.11 (± 30.32) months, and 3.39 times a week, participated to the study. Data were collected in a Kistler-Gaitway treadmill, 9810SI model, at speeds of 4 km/h, 5 km/h and 6 km/h. The
results pointed out significant differences (p ≤ 0.05) in gait kinetics
characteristics between men and women in the TRP, CP, CAD and
TDA variables. There was a significant increase in the mean values
of at least one speed in the variables PPF, SPF, TAP, TRP, CP and
CAD. The opposite occurred with TDA and TAS variables, which
had its mean values reduced.
Key-words: biomechanical, gait, gender, speed.
Palavras-chave: biomecânica, marcha, gênero, velocidade.
Endereço para correspondência: Sebastião Iberes Lopes Melo, Laboratório de Biomecânica CEFID-UDESC, Rua Pascoal Simone, 149
Coqueiros 88080-350 Florianópolis SC, Tel: (48) 3244-9451, E-mail: [email protected]
78
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
A caminhada é uma atividade fisica popular de baixo custo
e fácil acessibilidade, o que a torna uma alternativa para o
controle do peso corporal e manutenção da saúde, comumente
praticada por ambos os sexos em diferentes faixas etárias.
Entretanto, apesar dos indiscutíveis benefícios promovidos
por essa modalidade de exercício físico, a prática inadequada
pode levar a prejuízo de diversos sistemas, inclusive no aparelho locomotor.
Especula-se que as diferenças nas estruturas corporais entre
os gêneros possam influenciar nas características biomecânicas da marcha. Neste sentido, o estudo de Kerrigan et al. [1]
encontrou uma maior cadência e comprimento de passada
normalizada em mulheres. Chui e Wang e Waters e Mulroy
[2,3] acrescentam que a velocidade da marcha dos homens
é maior que das mulheres. Ferber et al. [4] afirmam que as
mulheres possuem uma alta velocidade angular e aumento da
rotação interna do quadril durante a marcha. Cho et al. [5]
atribuem as diferenças do padrão da marcha entre os gêneros
a fatores anatômicos e hábitos. Chui e Wang [2] sugerem que
algumas características intrínsecas como alinhamento esquelético, força muscular e parâmetros antropométricos podem
contribuir para as diferenças da performance da marcha entre
os gêneros.
No entanto, a influência destas variáveis nas características biomecânicas do movimento humano e as diferenças das
características cinéticas da marcha entre homens e mulheres
praticantes de caminhada têm sido pouco investigadas. Para
a análise destas características utiliza-se a descrição quantitativa de diferentes aspectos mecânicos da marcha que estão
ligadas às forças que causam o movimento observado e seu
papel no fenômeno analisado [6]. As variáveis cinéticas
incluem parâmetros como a força de reação do solo, a força
transmitida através das articulações, a potência transferida
entre os segmentos corporais e a energia mecânica dos segmentos [6], estas variáveis são diferentes nos indivíduos, seja
pelas características físicas, individualidade na maneira de
caminhar ou de acordo com a velocidade da execução do
movimento, entretanto, existem certas características que
permitem uma padronização [7]. Diante do que foi exposto,
este estudo tem como objetivo geral avaliar as características
dinâmicas e espaços-temporais da marcha de praticantes de
caminhada considerando o gênero e a velocidade e, como
objetivos específicos, comparar as características dinâmicas e
espaços-temporais da marcha entre homens e mulheres nas
velocidades de 4km/h, 5 km/h e 6 km/h e comparar estas
características entre as diferentes velocidades.
Material e métodos
Participaram deste estudo descritivo do tipo exploratório,
49 sujeitos praticantes de caminhada, de ambos os sexos
(49,94% mulheres e 53,06% de homens), com média de
idade de 28,32 (± 10,63) anos, tempo médio de prática
de 28,11 (± 30,32) meses e freqüência semanal média
de 3,39 vezes por semana. As médias de estatura e
massa corporal encontradas foram de respectivamente,
1,62 m e 58,2 kg para as mulheres e 1,74 m e 72,7
kg para os homens. Os indivíduos foram selecionados pelo
processo casual sistemático, através de abordagem direta e por
apresentarem os critérios para inclusão: praticantes de caminhada de forma regular (indivíduo que realiza a caminhada
na forma de atividade física por pelo menos duas vezes por
semana e no mínimo de três meses) e idade igual ou superior
a 20 anos. Após aprovação pelo Comitê de Ética de Pesquisa
do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a coleta
de dados teve início, utilizando-se como instrumentos de
medida: 1) Questionário auto-aplicável, padronizado, com
índices de confiabilidade: clareza 0,927, validade 0,934 e
fidedignidade 0,86, contendo 16 questões relacionadas ao
gênero, idade, dados referentes à prática de caminhada e
campos para o preenchimento das medidas antropométricas;
2)Esteira ergométrica Kistler Gaitway modelo 9810SI, com
duas plataformas de forças com sensores de carga de cristais
piezoelétricos acoplada à sua base; 3) Balança da marca Filizola
com precisão de 100 gramas; 4) Estadiômetro de madeira
com escala de medida de 0,1 cm. Para a aquisição dos dados
adotaram-se os seguintes procedimentos: 1) Aplicação do
questionário; 2) Pesagem dos sujeitos na balança e obtenção
da estatura para o cálculo do IMC; 3) Pesagem em uma das
plataformas do equipamento com aquisição de 2 segundos,
para posterior normalização dos dados pelo peso corporal;
4) Instrução dos sujeitos sobre o correto posicionamento na
esteira durante todo o teste, bem como do funcionamento
da mesma; 5) Tempo referente à adaptação dos indivíduos
ao equipamento, caminhando em velocidade confortável; 6)
Aquisição dos dados nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h e 6
km/h, sendo que o sujeito permanecia em cada velocidade
por dois minutos. O tempo de aquisição foi de 12 segundos a
uma freqüência de amostragem de 600 Hz. O processamento
dos dados foi realizado no programa Gaitway MD for Windows
versão 1.08. Foram selecionados como parâmetros da análise
da marcha as variáveis dinâmicas: Primeiro Pico de Força
(PPF), Segundo Pico de Força (SPF), Taxa de Aceitação do
Peso (TAP) e Taxa de Retirada do Peso (TRP) e, as variáveis
espaços-temporais: Comprimento do Passo (CP), Cadência
(CAD), Tempo de Duplo Apoio (TDA) e Tempo de Apoio
Simples (TAS).
Para tratamento na caracterização dos dados utilizou-se
a estatística descritiva (média, desvio padrão e coeficiente de
variação); para comparar as características das variáveis, entre
homens e mulheres, nas diferentes velocidades, utilizou-se o
teste t de Student. Para comparar o comportamento das variáveis com o incremento da velocidade utilizou-se análise de
variância Anova one-way, e para detectar em quais passagens
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
de velocidades houve diferenças utilizou o teste post hoc de
Tukey. Em todas as comparações adotou-se p ≤ 0,05.
Resultados
Os resultados estão apresentados segundo os objetivos
específicos do trabalho. Na Tabela I, estão dispostos os resultados da comparação das características dinâmicas e espaçotemporais da marcha entre homens e mulheres nas velocidades
de 4 km/h, 5 km/h e 6 km/h. Os resultados da comparação
das variáveis dinâmicas e espaços-temporais da marcha para os
três grupos (sexo masculino (M), sexo feminino (F) e ambos
os sexos (A)) entre as diferentes passagens de velocidade estão
dispostos na Tabela II.
Analisando a Tabela I, constataram-se diferenças estatisticamente significativas entre algumas características dinâmicas
da marcha de homens e mulheres. A variável cinética Taxa de
Retirada do Peso e as variáveis espaço-temporais, Comprimento do Passo e Tempo de Duplo Apoio foram significantemente
maior para o sexo masculino nas três velocidades. A variável
espaço-temporal Cadência foi significativamente maior para
as mulheres nas três velocidades.
A variável Primeiro Pico de Força apresentou o mesmo
valor médio entre os sexos na velocidade de 4 km/h. Com valores não significativos, o valor médio desta variável foi maior
na velocidade de 5 km/h para os homens e na velocidade de
6 km/h nas mulheres. A variável Segundo Pico de Força foi
maior no sexo masculino nas três velocidades, entretanto,
estas diferenças não foram estatisticamente significativas. A
variável Tempo de Apoio Simples, de forma não significativa,
foram maiores para os homens nas velocidades de 4 km/h
79
e 6 km/h, entretanto, seus valores médios foram iguais em
ambos os sexos na velocidade de 6 km/h. A Variável Taxa
de Aceitação de Peso apresentou valores médios maiores no
sexo masculino na velocidade de 4 km/h, entretanto, com
o aumento da velocidade, as mulheres apresentaram valores
médios maiores. Estas diferenças não foram estatisticamente
significativas.
Prosseguindo com a análise dos resultados da tabela I,
constatou-se que o coeficiente de variação das variáveis Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força, Comprimento
do Passo e Cadência mostraram-se homogêneos (CV% <
10%) em todas as velocidades em ambos os sexos. O Tempo
de Duplo Apoio e Taxa Retirada do Peso apresentaram média
variabilidade (11< CV% < 20). A variável Taxa de Aceitação
de Peso de modo geral mostraram média variabilidade, entretanto, apresentou-se bastante heterogênea (CV% >30)
nas velocidades de 5 km/h e 6 km/h no sexo feminino. Na
continuidade do estudo, fez-se a comparação de diferentes
variáveis dinâmicas e espaço-temporais entre as velocidades de
4 km/h, 5 km/h e 6 km/h, conforme apresentadas na Tabela
II, na página seguinte.
Através dos resultados apresentados na Tabela II, identificou-se que a velocidade produziu alterações significativas para
os níveis pré-estabelecidos em todas as variáveis analisadas.
Para verificar em que passagens de velocidade ocorreram estas
diferenças, aplicou-se a análise de post-hoc de Tukey, onde se
constatou: 1) Nas variáveis Taxa de Aceitação do Peso, Taxa
de Retirada do Peso, Comprimento do Passo, Cadência e
Tempo de Duplo Apoio houve diferenças significativas nas
três passagens de velocidade no grupo dos homens, das mulheres e de ambos os sexos; 2)Na variável Primeiro Pico de
Tabela I - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaços-temporais entre homens e mulheres nas velocidades de 4 km/h, 5 km/h
e 6 km/h.
VAR
S
4 km/h
PPF
M
F
M
F
M
F
M
F
M
F
M
F
M
F
M
F
X
1.08
1.08
1.05
1.07
7.05
6.78
6.29
4.96
0.65
0.61
103.83
108.40
0.30
0.27
0.41
0.40
SPF
TAP
TRP
CP
CAD
TDA
TAS
5 km/h
CV %
4.60
9.82
3.77
3.86
13.75
16.23
16.05
16.78
5.63
6.39
4.27
5.04
14.47
11.01
7.54
10.28
* Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos.
P
0.526
0.179
0.359
0.000*
0.002*
0.002*
0.019*
0.515
X
1.12
1.11
1.10
1,11
9.26
10.09
7.49
6.03
0,74
0.70
112,88
117,73
0.25
0.22
0,41
0.39
6 km/h
CV %
4.65
5.83
7.46
4.64
13.04
32.77
13.28
18.15
3.63
5.49
3.78
4.95
14.24
9.38
12.75
4.91
P
0.284
0.927
0.238
0.000*
0.000*
0.001*
0.000*
0,149
X
1.20
1.22
1.14
1.15
13.33
15.54
8.46
6.85
0.82
0.78
120.41
126.69
0.22
0.18
0.38
0.38
CV%
9.63
6.12
5.06
7.64
15.32
40.64
15.13
18.97
3.80
5.98
3.21
5.49
14.33
12.09
4.43
7.06
P
0.498
0.490
0.212
0.000*
0.001*
0.000*
0,000*
0.619
80
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Tabela II - Comparação dos valores das variáveis dinâmicas e espaço-temporais entre as diferentes velocidades.
VAR
PPF
SPF
TAP
TRP
CP
CAD
TODA
TAS
Sexo
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
X
4km/h
1.06
1.07
1.06
1.05
1.07
1.06
7.05
6.78
6.92
6.29
X
5km/h
1.12
1.11
1.11
1.10
1.11
1.10
9.26
10.09
9.65
7.49
X
6km/h
1.20
1.22
1.21
1.14
1.15
1.14
12.18
15.55
13.76
8.46
p
(P1)
0.016*
0.273
0.005*
0.008*
0.097
0.000*
0.000*
0.023*
0.000*
0.000*
P
(P2)
0.001*
0.000*
0.000*
0.171
0.054
0.008*
0.000*
0.000*
0.000*
0.006*
P
(P3)
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
M
F
A
4.96
5.67
0.65
0.61
0.63
103.8
108.4
105.9
0.30
0.27
0.29
0.41
0.40
0.41
6.03
6.81
0.74
0.70
0.72
112.8
117.3
115.1
0.25
0.22
0.24
0.40
0.39
0.40
6.85
7.70
0.82
0.78
0.80
120.4
126.6
123.3
0.22
0.18
0.20
0.38
0.38
0.38
0.004*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.837
0.166
0.253
0.036*
0.002*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.002*
0.000*
0.000*
0.071
0.653
0.056
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.000*
0.017*
0.022*
0.000*
* Valor significativo para os níveis pré-estabelecidos
P1 – Passagem de 4 km/h para 5 km/h; P2 – Passagem de 5 km/h para 6km/h; P3 – Passagem de 4 km/h para 6 km/h.
Força identificou-se diferença significativa em quase todas as
passagens de velocidade, com exceção do grupo feminino na
passagem de 4 km/h para 5 km/h; 3) Na variável Segundo Pico
de Força observou-se diferença significativa nas três passagens
de velocidade quando considerado o grupo misto. Porém,
não houve diferença significativa para o sexo masculino na
passagem de 5 km/h para 6 km/h e para o sexo feminino nas
passagens de 4 km/h para 5 km/h e 5 km/h para 6 km/h; 4)
No Tempo de Apoio Simples ocorreram diferenças significativas para os três grupos apenas na passagem de 4 km/h
para 6 km/h.
Discussão
No que se refere à comparação dos valores das diferentes
variáveis analisadas entre homens e mulheres, de um modo
geral, os homens apresentaram maiores valores nas variáveis
Taxa de Retirada do Peso, Comprimento do Passo, Tempo
de Duplo Apoio e Tempo de Apoio Simples, enquanto que
as mulheres apresentaram maiores valores de Segundo Pico
de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Cadência.
A ausência de diferenças estatisticamente significativas
entre homens e mulheres nas variáveis Primeiro Pico de
Força, Segundo Pico de Força e Taxa de Aceitação do Peso,
em todas as velocidades analisadas, aponta que homens e
mulheres responderam ao teste aplicado de forma semelhante,
possivelmente pelo fato de que a velocidade foi controlada e
induzida pela esteira.
Na variável Taxa de Retirada do Peso, observa-se que
os homens apresentam maiores valores, fato que pode ser
justificado pelo predomínio de massa magra no sexo masculino. A diferença hormonal é a justificativa mais evidente
da diferença de força muscular em homens e mulheres, visto
que a testosterona tem características anabólicas e androgênicas. Além disso, Viel [8] afirma que os músculos glúteos e
isquiotibiais estão fortemente ligados à fase de pré-oscilação
dos membros inferiores durante a marcha. Uma vez que esta
fase tem ligação direta com a força dos músculos extensores,
e conseqüentemente, com uma maior força de impulsão,
justifica-se o fato de os homens apresentarem maiores médias
para esta variável.
O Comprimento do Passo na velocidade de 4 km/h
apresentou maiores valores para os homens, mostrando-se
semelhante aos valores encontrados por Alencar et al. [9],
com 0,65 m para os homens e 0,62 m para as mulheres em
uma velocidade habitual de aproximadamente 4 km/h. Cho
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
et al. [5] também encontraram valores menores de comprimento de passo nas mulheres. Entretanto, estes dados vão de
encontro com o estudo de Ferber et al. [4] que encontraram
um aumento do comprimento do passo nas mulheres e atribui
este aumento a necessidade de manter a velocidade da marcha
pré-determinada. Além da variável Comprimento do Passo,
o Tempo de Duplo Apoio apresentou valores maiores para o
sexo masculino, o que pode ser explicado pela existência de
diferenças antropométricas relacionadas ao comprimento dos
membros inferiores entre homens e mulheres.
A variável Cadência apresentou-se significativamente
diferente entre homens e mulheres, sendo maior para o sexo
feminino nas três velocidades analisadas. Estes resultados
concordam com os obtidos por Tommy et al.[10], Alencar et
al. [9] e Cho et al. [5] que também encontraram valores de
Cadência maior para este grupo. Tal fenômeno pode indicar
uma forma de compensação de alguns fatores antropométricos. As características da marcha são dependentes de múltiplos
fatores como o limite mecânico imposto pelo comprimento
dos membros inferiores, massa corporal, momento da inércia
e o nível de carga tolerado pelo sistema músculo esquelético
[11]. Sacco [12] acrescenta ainda, que os fatores extrínsecos
são determinantes para as características da marcha. Para este
autor, características antropométricas, tais como estatura do
indivíduo e comprimento dos membros inferiores, correlacionam e influenciam parâmetros desta tarefa motora. Em
adição, Lima [13] destaca que o passo é uma característica
individual, estando relacionada com as dimensões corpóreas,
principalmente com o comprimento dos membros inferiores
e a capacidade de alongamento dos músculos.
Em relação aos coeficientes de variação este é definido
como o desvio-padrão expresso em porcentagem de média,
é a medida mais utilizada para medir a instabilidade relativa
de variável, considera-se que quanto menor o CV, maior será
a homogeneidade dos dados. Melo [14] considerou valores
do CV% até 10% como de baixa variabilidade, de 11 a 20%
como de média variabilidade, de 21 a 30% como de alta
variabilidade e maior que 30% como de variabilidade muito
alta. De forma geral, os coeficientes de variação mostraramse homogêneos, entretanto, as variavéis Tempo de Duplo
Apoio, Taxa Retirada de Peso e Taxa de Aceitação do Peso
apresentaram-se com média variabilidade, Melo et al. [7], em
um estudo sobre as características da marcha, relacionaram
a elevação nos índices de heterogeneidade ao piso móvel da
esteira. A variável Taxa de Aceitação de Peso apresentou-se
com alta variabilidade no sexo feminino nas velocidades de 5
km/h e 6 km/h. Vários estudos [6,15,16] utilizam esta variável
como medida de estabilidade e equilíbrio, entretanto, não
possuímos dados para aprofundar esta relação.
Analisando o comportamento das variáveis cinéticas
da marcha, sob influência do incremento da velocidade,
observou-se um aumento para os valores médios das variáveis
dinâmicas: Primeiro Pico de Força, Segundo Pico de Força,
Taxa de Aceitação do Peso e Taxa de Retirada do Peso; e variá-
81
veis espaciais: Comprimento do Passo e Cadência. Entretanto,
as variáveis temporais Tempo de Duplo Apoio e Tempo de
Apoio Simples tiveram redução dos seus valores.
Pode-se dizer que os valores das variáveis dinâmicas sofreram um aumento obedecendo a 2ª Lei de Newton, a qual
estabelece que a resultante das forças aplicadas a um ponto
material é igual ao produto de sua massa pela aceleração adquirida. Desta forma, a aceleração é diretamente proporcional
à força aplicada. O comportamento da variável Primeiro Pico
de Força que aumentou com o incremento da velocidade, é
semelhante aos resultados apresentados por Melo et al. [7] que
verificaram um aumento dos valores desta variável, também
nas passagens de velocidade de 4 km/h para 5 km/h, 5 km/h
para 6 km/h e de 4 km/h para 6 km/h, indicando que os
praticantes de caminhada enfatizam a utilização do calcanhar
na fase de apoio. Estes resultados também concordam com os
apresentados por Simon apud Sacco [12], no sentido de que
os picos de força variam de 0,5 a 1,5 vezes o peso corporal,
além de ter relação direta com a velocidade do movimento.
Observou-se ainda que, na passagem de 4 km/h para 5 km/h,
não houve diferença estatisticamente significava na variável
Primeiro Pico de Força para o grupo feminino.
Para a variável Segundo Pico de Força, os resultados vão de
encontro aos apresentados por Melo et al. [7], que registraram
a diminuição dos valores desta variável linearmente com o
aumento da velocidade. Contudo, o grupo masculino não
indicou diferença estatisticamente significativa na passagem
de 5 km/h para 6 km/h e o grupo feminino nas passagens de
4 km/h para 5 km/h e 5 km/h para 6 km/h. Admite-se que
tal resultado possa ser obtido por uma maior capacidade de
adaptação apresentada por estes grupos.
A Taxa de Aceitação de Peso é um indicador de uma série
de características relacionadas ao recebimento da carga pelos
membros inferiores. Costa et al.[17] afirmam que a força de
reação do solo não é medida direta de sobrecarga, mas apenas
um indicador de níveis de solicitação mecânica externa. Hennig [18], por sua vez, relaciona a acomodação do peso como
o choque do impacto e afirma que esta é influenciada pela
velocidade. Com o incremento da velocidade, há um aumento
dos valores médios dos picos de força, e simultaneamente,
uma redução do tempo para atingir estes picos.
A variável Taxa de Retirada do Peso pode ser definida como
a fase final de impulsão dos pés no solo, que é dada principalmente pela força dos músculos extensores do tornozelo.
Sendo o impulso diretamente proporcional a força aplicada
[19], pode-se dizer que a TRP é igualmente proporcional à
mesma força. Desta forma, justifica-se o comportamento desta
variável quando influenciada pela velocidade, uma vez que a
força aumenta para a aceleração.
A variável Cadência teve seus valores aumentados, enquanto o Tempo de Duplo Apoio e o Tempo de Apoio Simples
sofreram uma redução de seus valores médios. O incremento
da velocidade pode produzir o aumento dos valores de CAD
e a redução dos valores de TDA e TAS. Contudo, apesar
82
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
da diminuição dos valores médios da variável TAS, com o
incremento da velocidade, estas diferenças só foram estatisticamente significativas, em nosso estudo, das três passagens
analisadas, somente a de 4 km/h para 6 km/h. Sendo assim,
tanto a variável Taxa de Aceitação do Peso, quanto a variável
Taxa de Retirada do Peso aumentaram com o incremento da
velocidade, na tentativa de cumprir as solicitações do aumento
da cadência, induzidas pelo piso móvel.
Por fim, identificou-se um aumento estatisticamente
significativo dos valores médios da variável Comprimento
do Passo. Este fenômeno é explicado por Andrade et al. [20]
que afirmam que o comprimento do passo deve apresentar
um comportamento contrário ao apresentado na cadência, a
fim de ajustar a freqüência de passos à velocidade induzida.
Desta forma, o comportamento normal para esta variável,
quando submetida a um incremento de velocidade, é aumentar sua amplitude na tentativa de acompanhar o ritmo
imposto pela esteira.
Conclusão
Diante dos resultados apresentados e com base no referencial teórico consultado, concluiu-se que: 1) Homens e
mulheres demonstram diferenças em algumas características
da marcha, sendo que as variáveis Taxa de Retirada do Peso,
Comprimento do Passo e Tempo de Duplo Apoio apresentaram diferenças nas três velocidades; Primeiro Pico de Força
na velocidade de 5 km/h; Taxa de Aceitação do Peso a 4 km/h
e Tempo de Apoio Simples nas velocidades de 4 km/h e 5
km/h maiores para os homens; 2) As variáveis Segundo Pico
de Força e Cadência foram maiores para as mulheres nas três
velocidades, enquanto que a variável Primeiro Pico de Força
foi maior apenas na velocidade de 6 km/h e a Taxa de Aceitação do Peso foi maior nas velocidades de 5 km/h e 6 km/h; 3)
As variáveis Primeiro Pico de Força e Tempo de Apoio Simples
apresentaram valores semelhantes para homens e mulheres,
respectivamente, nas velocidades de 4 km/h e 6 km/h; 4) As
variáveis dinâmicas Primeiro Pico de Força, Segundo Pico
de Força, Taxa de Aceitação do Peso e Taxa de Retirada do
Peso e as variáveis espaço-temporal Comprimento do Passo
e Cadência sofreram aumento significativo de sua magnitude
em pelo menos uma das passagens de velocidade, indicando que estas variáveis estão diretamente relacionas ao fator
velocidade; 5) Variáveis temporais como Tempo de Duplo
Apoio e Tempo de Apoio Simples tiveram seus valores reduzidos significativamente em pelo menos uma das passagens
de velocidade, sugerindo relação inversamente proporcional
a este fator; 6) Em síntese, existem algumas diferenças no
padrão da marcha de homens e mulheres, porém não muito
discrepantes. Além disso, o aumento da velocidade influencia
o comportamento de variáveis dinâmicas e espaço-temporal da
marcha de indivíduos sadios, ora aumentado, ora diminuindo
seus valores médios.
Agradecimentos
Auxílio financeiro CNPq.
Referências
1. Kerrigan DC, Todd M, Della Croce U. Gender differences in
joint biomechanics during walking: normative study in young
adults. Am J Phys Med Rehabil 1998;77:2-7.
2. Chiu MC, Wang MJ. The effect of gait speed and gender
on perceived exertion, muscle activity, joint motion of lower
extremity, ground reaction force and heart rate during normal
walking. Gait Posture 2007;25:385-92.
3. Waters RL, Mulroy S. The energy expenditure of normal and
pathologic gait. Gait Posture 1999;9:207–31.
4. Ferber R, McClay DI, Williams DS. Gender differences in
lower extremity mechanics during running. Clin Biomech
2003;18:350–7.
5. Cho SH, Park JM, Kwon OY. Gender differences in three
dimensional gait analysis data from 98 healthy Korean adults.
Clin Biomech 2004;19:145-52.
6. Sacco ICN, Costa PHL, Denadai RC, Amadio AC. Avaliação
biomecânica de parâmetros antropométricos e dinâmicos durante a marcha em crianças obesas. In: VII Congresso Brasileiro
de Biomecânica, 1997, Campinas. Anais do VII Congresso
Brasileiro de Biomecânica, 1997. p. 447-52.
7. Melo SIL, Simas JPN, Andrade MC, Gonçalves J, et al. Análise
dinâmica da marcha de praticantes de caminhada em adultos
em diferentes velocidades. Anais do VIII Congresso Brasileiro
de Biomecânica, Florianópolis, 1999. p.625-30.
8. Viel E. Indicadores normativos para a observação da marcha, In:
A marcha humana, a corrida e o salto: biomecânica, investigações, normas e disfunções. São Paulo: Manole; 2001:138p.
9. Alencar JP, Pereira APJ, Holanda HRN. Análise cinemática da
marcha em adultos normais, de ambos os sexos na faixa etária
de 20 a 40 anos, recrutados na região de influência da UFPB.
Anais do IX Congresso Brasileiro de Biomecânica, Gramado,
2001. p.265-70.
10. Tommy O, Karszenia A, Öberg K. Basic gait parameters: Reference data for normal subjects, 10-79 years of age. J Rehabil
Res Dev 1993;30(2):210-33.
11. Abernethy B, Hanna A, Plooy A. The attentional demands
of preferred and non-preferred gait patterns. Gait Posture
2002;15:256-65.
12. Sacco ICN. Biomecânica da marcha humana: análise do andar
normal e aplicações clínicas. Apostila didática; 2001.
13. Lima TF. Caminhadas – teoria e prática. Rio de Janeiro: Sprint;
1998.
14. Melo SIL. Um sistema para determinação do coeficiente de
atrito (u) entre calçados esportivos e pisos usando o plano
inclinado [tese]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa
Maria; 1995. 221p
15. Tonon SC, Avila AOV. Alterações nos parâmetros da marcha
em amputados de membros inferiores no intervalo de três anos.
Anais do IX Congresso Brasileiro de Biomecânica, Gramado,
2001. p.236-41.
16. White SC, et al. Relation of vertical ground reaction forces to
walking speeds. Gait Posture 1996;4:167-208.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
17. Costa PHL, Duarte M, Amadio AC. Análise da força de reação
do solo e da atividade muscular em crianças durante o andar
no plano e o subir e descer escadas. VII Congresso Brasileiro
de Biomecânica, 1997, Campinas. Anais do VII Congresso
Brasileiro de Biomecânica, 1997. p.121-7.
18. Henning EM. Gait analysis and the biomechanics of human
locomotion. VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999,
Florianópolis. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999. p19-26.
83
19. Schaum D, Merwe VD, Willem C. Física geral. Rio de Janeiro:
MacGrawHill do Brasil; 1979.
20. Andrade MC, Melo SIL, Avila AOV, Kraeski MH. Análise
biomecânica da marcha atlética e caminhar em diferentes
velocidades. VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999,
Florianópolis. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 1999. p.101-6.
84
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Artigo original
Estimulação audiovisual e simulação mental
de competição esportiva: efeitos na pressão
arterial de atletas
Stimulation by light and sound and mental imagery of sports
competition: effects on arterial pressure in athletes
Mauricio Rocha Calomeni, M.Sc.*, Vernon Furtado da Silva, D.Sc.**
*Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora (LANPEM) – UCB/RJ, **Professor Universidade Castelo Branco,
Laboratório de Neuromotricidade (LABNEU-UCB/RJ), Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora (LANPEM)
Resumo
Abstract
Cada vez mais se sabe que fatores puramente cognitivos influenciam diretamente na performance de atletas, podendo maximizar ou
minimizar a performance competitiva. Então se torna importante
desenvolver meios de se controlar, por meio de métodos cognitivos,
variáveis fisiológicas que influenciam no desempenho atlético. O
objetivo do estudo foi verificar se a simulação mental (imagética)
associada à estimulação audiovisual interfere, fisiologicamente, de
forma semelhante à situação real, na pressão arterial de atletas. Foram
coletados os dados da pressão arterial antes de um treino, antes de
um jogo e após 5 sessões de imagética associada à estimulação audiovisual. Os resultados mostraram que essa intervenção se mostrou
eficiente em elevar a pressão sistólica a níveis superiores à situação de
jogo real, contudo esses resultados não se repetiram nos escores da
pressão diastólica. Conclui-se que a imagética de situações de jogo
associada aos estímulos audiovisuais pode ser uma boa ferramenta
no auxílio de treinadores para estabelecer níveis fisiológicos ótimos
para um bom desempenho esportivo.
Increasingly it is known that purely cognitive factors directly
influence the performance of athletes, can maximize or minimize
the competitive performance. So it is important to develop ways
to control, through cognitive methods, physiological variables
that affect athletic performance. The objective of this study was
to determine whether the mental simulation (imagery) associated
with audiovisual stimulation interferes, physiologically, in a similar way to the real situation in the blood pressure of athletes. We
collected data from blood pressure before a training session, before
a game and after 5 sessions of imagery associated with audiovisual
stimulation. The results showed that the intervention was effective
in raising the systolic pressure to levels higher than the actual situation of the game, but these results are not repeated in scores of
diastolic pressure. It was concluded that the imagery of situations
of audiovisual stimuli associated with the game can be a useful tool
in helping the coaches to establish optimal physiological levels for
a good sports performance.
Palavras-chave: treinamento autógeno, estimulação fótica,
estimulação acústica, pressão arterial.
Key-words: autogenic training, photic stimulation, acoustic
stimulation, blood pressure.
Endereço para correspondência: Mauricio Rocha Calomeni, Rua Frei Vitório, 186 Centro 28400-000 São Fidélis RJ, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
O cérebro humano, estrutura principal do sistema nervoso, é o grande maestro de todas as funções orgânicas e
fisiológicas que nos dão capacidade de sobreviver e interagir
com o meio físico em que vivemos, bem como, com as diversas situações proporcionadas por esse meio, incluindo nesse
contexto, as emoções, que dependendo da forma com que os
indivíduos as percebem, são capazes de causar alterações corticais que, em um efeito cascata, vão gerar reflexos em diversas
variáveis fisiológicas, como por exemplo, a pressão arterial.
Influenciando assim o desempenho, e por esse motivo, o ser
humano quando atleta em competição, terá sua performance
profundamente ligada à qualidade do seu comportamento
emocional e à maneira com que treinou para lidar com o
stress advindo dessas atividades.
A pressão arterial (PA) que conforme definida por Polito
e Farinatti 1 é a força exercida pelo sangue por unidade de
superfície da parede vascular, refletindo a interação do débito
cardíaco com resistência periférica sistêmica. Araújo e Arcuri
[2], de forma parecida, definem-na como o produto do débito
cardíaco e da resistência dos vasos periféricos, sendo elemento
fundamental da dinâmica sanguínea, que é um dos mais importantes parâmetros de avaliação do sistema cardiovascular.
Para estes mesmos autores, a pressão arterial pode, também,
ser utilizada como parâmetro para mensuração do nível de
estresse de um atleta frente a uma competição esportiva, pois
é profundamente influenciada pelas altas demandas físicas
e psicológicas que envolvem o treinamento de alto nível e
a competição esportiva. Fica claro, portanto, que o sistema
cardiovascular, participa ativamente das adaptações ao estresse,
estando, então, sujeito às influências neuro-humorais. Um
bom exemplo, que respalda essas afirmações, é um estudo de
Lipp [3], em que esse autor afirma que situações socialmente desafiadoras e estressantes, que nesse estudo podem ser
representadas pelas competições esportivas, representam um
estressor, cujos efeitos podem variar dependendo do nível de
controle que os respondentes exercem sobre suas emoções.
Uma das questões que intriga a técnicos e preparadores
em geral, refere-se ao porquê de alguns atletas conseguirem
ter um ótimo desempenho em competições, enquanto que
outros, com a mesma aptidão física e qualidade técnica, não
rendem o esperado. Uma possível resposta a essa questão pode
ser encontrada através do estudo do papel e do reflexo dos
fatores psicológicos no desempenho esportivo, pois, através
das afirmações já feitas, pode-se inferir que um indivíduo
submetido à influência de um agente estressor como, por
exemplo, uma competição esportiva, devido à demanda das
pressões psicológicas internas e externas sofridas pelo mesmo, pode ter seus níveis pressóricos aumentados de maneira
que prejudique sua performance. Sabe-se que o stress précompetitivo apresenta uma curva em forma de U-invertido
e para uma performance ideal o atleta deve apresentar níveis
pressóricos entre um patamar mínimo e máximo.
85
Assim, neste estudo, buscar-se-á induzir níveis pressóricos semelhantes a uma situação esportiva através, apenas, de
estímulos mentais associado à estimulação audiovisual. Para
isso, Schimidt e Wrisberg [4] definem prática mental, que
nesse estudo será abordada como imagética, como sendo
a recapitulação cognitiva ativa de uma habilidade física na
ausência de movimentos físicos explícitos. E a estimulação
audiovisual, cuja condição interativa com o cérebro, dá-se
em função da sucessão de estímulos (bombardeio) sobre a
retina com luz estroboscópica e a percepção dessa freqüência
pelo núcleo olivar e daí, ao tálamo, estrutura responsável por
receber e filtrar estímulos esternos [5]. Esta via de feedback
central juntamente com o sistema reticular ativado possibilita
uma freqüência de disparos para o córtex, o qual em poucos
minutos passa a acompanhar a freqüência que esta sendo
imposta [6].
Usando-se, pois, um protocolo de estimulação com níveis
altos de freqüência, pode-se hipotetizar aqui que via a “imaginação” de uma performance de esforço intenso, que em
situação real influencia a pressão arterial, poderia ser assim
simulada e apresentar um resultado em termos de níveis de
pressão arterial, similar ou próximo disto.
Material e métodos
A amostra componente do estudo em pauta é caracterizada por um montante de 8 indivíduos do gênero masculino,
integrantes de um time de basquete da cidade de Campos dos
Goytacazes e com idades entre 13 e 15 anos. Como definição prioritária, os mesmos não podiam apresentar qualquer
distúrbio visual, auditivo, físico ou mental e bom nível de
capacidade imaginativa. Todos pertencentes a uma mesma
classe social, integrantes de uma mesma equipe, e com o
mesmo volume de treino semanal, visando-se assim, manter
a maior homogeneidade possível.
Todos os participantes foram voluntários, tendo-se solicitado, de forma obrigatória, a concordância, por escrito, dos
pais ou responsáveis por eles.
De acordo com a metodologia proposta, inicialmente foi
aferida a pressão arterial de toda a amostra antes dos mesmos iniciarem uma sessão de treinamento rotineira, e não se
percebeu nenhum tipo de pressão ou stress sobre a amostra.
Em um segundo momento, 5 dias após o primeiro, aferiu-se
novamente essas mesmas variáveis, cerca de 30 min antes de
um jogo válido pelo campeonato estadual da categoria, onde
havia certa pressão pelo resultado, uma vez que o mando de
jogo era da equipe pesquisada. Buscou-se com isto, detectar
qual a possível influência que esta situação, possivelmente
estressante, causaria na variável dependente. Dois dias após
a conclusão dessa etapa, iniciou-se o momento experimental
da pesquisa. Uma hora antes do treino, os voluntários, individualmente, receberam, devidamente sentados de maneira
mais confortável possível, em uma sala apropriadamente
preparada, livre de ruídos externos, durante 10 minutos,
86
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
estímulos audiovisuais numa freqüência constante de 20 hz
(Beta), simultaneamente com a prática de imagética, e se
pedia aos atletas que rebuscassem mentalmente as emoções
e situações do jogo reais. Esse procedimento ocorreu, da
mesma forma, por 05 sessões consecutivas, realizadas uma
por dia, sendo a coleta dos dados experimentais da pressão
arterial aferidos durante o minuto final da última sessão de
estimulação cortical.
Os instrumentos necessários à operacionalização da
presente pesquisa serão de várias naturezas. Primeiramente
objetivando a potencialização (estimulação) cerebral dos
atletas foi utilizado um aparelho eletrônico computadorizado
denominado Sirius, fabricado pela Mindplace, composto por
óculos escuro com 4 leds na face interna de cada lente, um
fone de ouvido estéreo e um microprocessador no qual foi
programada a freqüência de ondas Beta constante em 20 Hz,
com duração de 10 minutos. Simultaneamente a essa estimulação, foram utilizados exercícios de imagética que consiste
em visualizações positivas de situações e sensações do jogo.
A pressão arterial foi mensurada através de um estetoscópio e
um esfigmomanômetro da marca Sanny previamente validado
e aprovado para uso clínico segundo os critérios da principal
agência nacional de padronização (Inmetro) e foi utilizado o
método auscultatório convencional.
Os dados oriundos dos procedimentos descritos acima foram analisados no programa SSPS10 for Windows,
utilizando-se as ferramentas descritivas média, desvio padrão,
escore mínimo e máximo. Para a análise de normalidade dos
dados dos escores da variável observada nessa pesquisa, foi
aplicado o teste de Shapiro-Wilk. De acordo com os resultados obtidos no teste de normalidade optou-se entre duas
ferramentas estatísticas diferentes, o instrumento paramétrico
Anova (Oneway) para comparações intergrupos, com teste
da hipótese principal sendo executado dentro da margem
probabilística, para a sua aceitação ou rejeição efetiva, de p
valor < 0.05 ou o teste não-paramétrico Chi-Square. Como
teste complementar adotou-se Post-Hoc, utilizou-se, também,
o teste de Tukey na identificação de significância entre médias,
em referência às três coletas de dados efetivadas.
a homogeneidade do grupo em termos dos testes repetidos.
A Tabela I mostra o número de indivíduos que formaram
o grupo, as médias obtidas na mensuração da variável pressão
arterial sistólica, nos três eventos que compuseram o estudo,
e completando ainda, de forma descritiva, estão dispostos os
limites superior e inferior dessas coletas bem como os desviospadrão, referentes aos mesmos.
Tabela I - Apresentação descritiva do número total de indivíduos em
cada grupo, com as respectivas médias, os desvios padrão e os limites
inferior e superior da pressão arterial sistólica do grupo.
N
Coleta Con8
trole
Coleta Jogo 8
Coleta Experi8
mental
Média
Desvio
Padrão
Limite
Inferior
Limite
Superior
122,5
7,0
110,00
130,00
132,5
8,8
120,00
150,00
137,6
15,8
120,00
160,00
Na observação dos dados apresentados na Tabela I,
nota-se claramente um aumento dos escores médios da
pressão arterial sistólica no decorrer das três coletas feitas.
Percebe-se, também, que na coleta experimental, o grupo
teve uma variação significativamente maior em relação aos
outros dois momentos que precederam a coleta experimental, o que é comprovado ao se observar os limites inferior e
superior de cada momento. Na Tabela II serão apresentados
os dados das inferências que podem ser feitas relativas aos
dados da pressão arterial sistólica do grupo nas três coletas
feitas para esse estudo. Serão mostradas as múltiplas correlações feitas através do teste post hoc com suas respectivas
significâncias.
Tabela II - Múltiplas correlações através do teste de Tukey HSD
com os índices de significância relativos a cada uma das comparações
inter-grupos dos valores da pressão arterial sistólica.
Coleta Controle
ColetaJogo
Resultados
Coleta Jogo
Coleta Experimental
Coleta Controle
Coleta Experimental
Sig.
,201
,035*
,201
,640
* Índice de significância p < 0,05
O teste de normalidade de Shapiro-Wilk mostrou que os
dados referentes à variável dessa pesquisa se encontram dentro
da curva de normalidade, todos com índices p > 0,05, credenciando assim o uso da ferramenta de análise de variância
Anova (Oneway) sobre todos os escores.
Os resultados obtidos desta ferramenta foram F = 3,737,
(gl1) 2, (gl 2) 21, p = 0,041 < 0,05. Ou seja, existiu uma
diferença entre as coletas feitas nos diferentes momentos, o
teste de homogeneidade de variância realizado para verificar
uma possível simetria do grupo, entre condições, revelou-se
não significativo com índice > 0,05 o que também caracteriza
Das várias inferências feitas das possíveis comparações
entre os três momentos vivenciados pela amostra dessa
pesquisa, conclui-se que para a variável pressão arterial sistólica somente houve significância na comparação entre as
coletas controle e experimental (0,035 < 0,05) e que entre
as outras comparações feitas, não apresentaram diferença
estatística significante entre os momentos. Na Figura 1 aparece a representação dos dados médios da pressão sistólica
listados na Tabela I onde se pode observar claramente um
aumento dos valores médios em cada coleta.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Figura 1 - Representação das médias e desvios padrão observados
na pressão arterial sistólica mensurados em mmHg, nas três coletas
que compuseram este trabalho.
87
A Tabela IV apresenta os dados relativos à inferência feita
através das várias possibilidades de comparação feitas entre os
momentos para a variável pressão arterial diastólica.
Tabela IV - Múltiplas comparações feitas entre os três momentos de
coleta de dados deste estudo, com os devidos índices de significância
relativos a cada comparação.
Coleta Controle
Coleta Jogo
Coleta Jogo
coleta Experimental
Coleta Controle
Coleta Experimental
Sig.
,175
,811
,175
,054
* Índice de significância p< 0,05
Assim como ao apresentado na tabela I, a Tabela III mostra
os dados descritivos obtidos da mensuração da pressão arterial
diastólica nas três coletas feitas no mesmo grupo de atletas,
sendo duas como controle antes de um treino em que se
acreditou não haver pressão psicológica e outra antes de um
jogo em que se observa que provavelmente houve essa pressão
e por último, antes de 5 sessões de estimulação audiovisual,
buscou-se vivenciar mentalmente situações e as sensações do
jogo. Os dados da média, desvio padrão e limites superior e
inferior estão dispostos a seguir.
Tabela III - Descrição do número de componentes de cada grupo
de coleta, as médias da mensuração da pressão arterial diastólica dos
grupos e os respectivos desvios padrão e limites inferior e superior.
N
Coleta Controle 8
Coleta Jogo
8
Coleta Experi8
mental
77,5
85,0
Desvio
Padrão
8,8
5,3
Limite
Inferior
70
80
Limite
Superior
90
90
75,0
9,4
63
90
Média
Da Tabela III pode-se dizer que a média da pressão
arterial diastólica, observada nos três momentos, descreve
uma curva com pico na coleta feita antes jogo, em que a
ansiedade e emoções vivenciadas eram reais, e decai no momento da coleta experimental, na qual os avaliados apenas
buscaram reviver estas vivências mentalmente, estando sob
efeito da estimulação audiovisual. Esse resultado indica que
a intervenção experimental, aparentemente, no que tange a
variável pressão arterial diastólica, não provocou nenhuma
adaptação, diferentemente ao observado na pressão arterial
sistólica. Nota-se também que essa variável não oscilou muito entre as três coletas caracterizando, que, assim, a pressão
arterial diastólica do grupo se manteve mais uniforme nos
três momentos o que pode ser comprovado pela análise dos
limites de cada momento.
Nota-se através de observação da tabela IV, que em nenhuma das possíveis comparações feitas dos valores da pressão
arterial diastólica se obteve índice significativo de p < 0,05,
porém um fato interessante se dá ao se observar a comparação
entre a coleta jogo e experimental cujo índice de significância
quase alcançou valor de p < 0,05. Contudo, diferentemente
do ocorrido na pressão arterial sistólica, que a relação entre
a coleta jogo e a coleta experimental apresentou uma reta ascendente, o valor médio da variável pressão arterial diastólica
na coleta experimental apresentou uma reta descendente ou
se comparar com os valores da coleta jogo, mostrando que
por algum motivo a estimulação audiovisual associada com a
imagética não provocou efeito algum nesse momento. A figura
2 apresenta os dados da tabela I onde se pode perceber que
os escores das três coletas foram bem próximos havendo um
pico na coleta jogo e uma queda para a coleta experimental,
ficando claro a falta de significância dessa variável nos três
momentos que formaram a coleta de dados.
Figura 2 - Apresentação gráfica das médias da pressão arterial
diastólica, com seus respectivos desvios padrão.
88
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Discussão
A literatura científica na área da neurociência mostra, por
meio de vários autores, cada vez mais a grande aplicabilidade
de tipos diferentes de estimulação cortical em várias áreas do
desenvolvimento humano tanto no controle de distúrbios e
síndromes relacionadas ao sistema nervoso central quanto
na performance e na aprendizagem motora [7-11]. Dentre
esses tipos de estimulação pode-se destacar a potencialização
por estímulos audiovisuais, como um meio eficaz, seguro e
de baixo risco para se otimizar a atividade cerebral de modo
que, com isso, o córtex trabalhe em uma freqüência que seja
favorável a atividade a qual se pretenda desempenhar [11].
Está também bastante comprovado que o treinamento mental
ou imagética pode proporcionar mudanças a nível cortical e
motor, influenciando dessa forma a concentração e a motivação em situações esportivas como também na correção
fina de movimentos desportivos complexos [12-16]. Estas
evidências de pesquisas sustentam a linha de comparação para
os resultados decorrentes da intervenção metodológica e da
análise dos dados dessa resultante.
Os primeiros dados observados foram referentes aos
valores da pressão arterial sistólica coletados antes de um
treino convencional, onde se esperava não haver nenhum tipo
agente que pudesse atuar como fonte de stress pré-competitivo
incidente sobre os atletas; essa coleta foi denominada coleta
controle. Estes dados mostram, como era previsto, que a
pressão arterial sistólica dos avaliados se manteve a níveis
normais, o que comprova que no momento da coleta não
havia sobre os atletas nenhum tipo de agente estressor que
pudesse influenciar nos valores desta variável.
O segundo momento que compôs este estudo foi caracterizado por uma coleta antes de um jogo em casa, válido pelo
campeonato estadual da modalidade, contra um time de grande popularidade. Nessa coleta procurou-se detectar o efeito
da situação esportiva descrita, na pressão sistólica da amostra,
visando caracterizar um possível stress pré-competitivo. Esta
coleta, a qual se chamou coleta jogo, através dos números
obtidos, demonstrou claramente como a ansiedade ocorre
na iminência de um jogo, que dependendo de como o atleta
percebe essa situação, pode ser classificada como estressante,
no grupo em questão essa situação, provocou um aumento
médio da variável de 8,2%.
O último momento dessa pesquisa, caracterizou-se por
um coleta após uma seqüência de 5 sessões de estimulação
audiovisual associada a imagética, onde se buscou fazer com
que os indivíduos vivenciassem mentalmente situações de
jogo, e assim verificar como essas mentalizações, potencializadas pela estimulação audiovisual, afetaram a pressão sistólica
da amostra.
Os dados, oriundos deste momento classificado como
coleta experimental mostraram que a vivência mental do jogo
aliada aos estímulos audiovisuais proporcionaram mudanças
no padrão cortical e desencadearam, nos atletas, mecanismos
neurais de luta e fuga que, ao preparar o organismo para a
ação, induziram um aumento de 12,6% na pressão sistólica
em relação à coleta controle.
Esses escores vão ao encontro do que é relatado pela literatura pesquisada para o trabalho, que diz que fatores puramente
cognitivos como as emoções e a ansiedade podem interferir
nos valores pressóricos [3,17] e também que o simples fato de
imaginar um movimento ativa as mesmas partes do cérebro,
responsáveis por esse movimento, havendo inclusive registros
de aumento de atividade eletromiográfica no músculo durante
a mentalização [13,14]. Portanto, ao buscar, mentalmente, as
situações do jogo, as regiões do córtex dos avaliados, responsáveis por processar esses estímulos, provavelmente, foram
ativadas fazendo que o corpo reagisse como se estivesse na
eminência real dessas situações.
Nas comparações possíveis feitas entre esses eventos,
observou-se que apesar de entre a coleta controle e a coleta
experimental ter havido um aumento de 8,2%, este não se
mostrou estatisticamente significante o que reforça a idéia de
que antes do jogo válido pelo campeonato estadual, apesar
dos vários agentes estressores provenientes dessa situação, os
avaliados estavam com níveis fisiológicos muitos próximos
dos encontrados em um treino e que estes níveis, de acordo
com o resultado do jogo, não se mostraram ideais para um
bom status de performance.
Outra comparação possível se dá entre a coleta jogo e a
coleta experimental, a qual seu índice de significância mostra
como essas duas situações, uma real e a outra mental, elevaram os níveis da pressão sistólica a valores bem próximos, o
que reforça o fato que a vivência mental põe o corpo em um
estado fisiológico similar ao que o próprio estaria diante da
situação real.
A última comparação possível referente à pressão sistólica
se dá entre a coleta controle e a coleta experimental. Essa
comparação demonstra de forma conclusiva o efeito da estimulação audiovisual associada à imagética sobre a pressão
sistólica da amostra da pesquisa. Esses dados validam também
a afirmação de que a estimulação audiovisual aliada à mentalização do jogo leva o corpo a adaptações fisiológicas, pelo
menos no que tange a pressão sistólica, semelhantes as que
ocorrem em uma situação de jogo real. Cabe agora discutir se
estes efeitos ocorrem, ou não, na pressão arterial diastólica.
A segunda variável observada foi à pressão arterial diastólica, os escores obtidos na mensuração dessa variável acabaram
discrepando dos dados colhidos da pressão sistólica, pois a
pressão diastólica teve um comportamento diferente não havendo uma crescente como no primeiro caso, adotando uma
curva com pico na coleta jogo e decaindo a valores médios, na
coleta experimental, inferiores à própria coleta controle. Para
esse fenômeno, pode-se encontrar explicação ao se analisar o
trabalho de Chaves e Cade [19], que observaram o efeito da
ansiedade na pressão arterial. Estas autoras afirmam que existe
uma forte relação entre a intensidade da ansiedade e a pressão
diastólica, e ao se transportar essa afirmação para esse trabalho,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
pôde-se explicar porque o pico da pressão arterial ter sido
proeminente na coleta jogo, pois o momento dessa coleta foi
minutos antes dos atletas disputarem um jogo oficial em que,
possivelmente, os níveis de ansiedade estivessem altos a ponto
de influenciar somente a pressão diastólica, diferentemente do
momento da coleta experimental que, apesar de os indivíduos
estarem vivenciando mentalmente as situações e emoções do
jogo, eles não estavam na eminência de nenhum jogo e com
certeza com os níveis de ansiedade muito mais baixos.
Outro fator que pode dar subsídio aos escores obtidos
nessa variável está nas afirmações de Lipp [3] que diz que
dependendo das emoções vivenciadas, essas podem afetar
somente a pressão sistólica, somente a diastólica ou a ambas.
Levanta-se assim a hipótese de que a situação de jogo real causou algum efeito, mesmo que estatisticamente insignificante,
na pressão arterial diastólica, devido à ansiedade em que os
atletas se encontravam antes do início do jogo. E percebe-se
que da coleta controle para coleta jogo houve um incremento
dos valores médios desta variável de 9,7% e que este efeito
não se repetiu quando apenas as emoções do jogo foram vivenciadas mentalmente e não vividas fisicamente. Mostrando,
dessa forma, que, pelo menos nesse caso, a estimulação aliada
à mentalização das emoções do jogo não produziu efeito sobre
a pressão arterial diastólica, talvez em virtude do nível baixo
de ansiedade que os avaliados se encontravam durante a coleta
experimental, ou talvez, devido à falta de vivências anteriores
de emoções do esporte pela razão de estarem em uma categoria de base, a infantil, e ainda não terem vivido fisicamente
grandes emoções relacionadas ao esporte que pudessem ser
revividas mentalmente a ponto de alterar significativamente
a pressão diastólica.
Conclusão
Conclui-se que a vivência mental das situações e emoções
vividas durante a prática esportiva (imagética) associada à
estimulação cortical por estímulos audiovisuais induziram
os indivíduos desta pesquisa, no que tange a pressão arterial
sistólica, a adaptações semelhantes às ocorridas antes de um
jogo real, credenciando esse tipo de intervenção como um
meio eficiente de proporcionar a atletas, valores da pressão
arterial sistólica dentro de patamares fisiológicos ideais a uma
boa performance esportiva sem que para isto seja necessário
grandes gastos de energia. Quanto à pressão arterial diastólica
os dados mostram que, neste caso, a intervenção feita não provocou o efeito esperado, porém, é prematuro afirmar que para
esta variável a imagética associada à estimulação audiovisual
seja ineficaz. Deve-se, primeiramente, buscar novas formas de
intervenção em populações diferentes com exigências esportivas mais altas e em situações de maior ansiedade.
89
Referências
1. Polito MD, Farinatti PTV. Respostas de freqüência cardíaca, pressão
arterial e duplo-produto ao exercício contra-resistência: uma revisão
da literatura. Rev Port Ciênc Desporto 2003;3(1):79-91.
2. Araújo TL, Arcuri EAM. Influência de fatores anátomofisiológicos na medida indireta da pressão arterial: identificação
do conhecimento dos enfermeiros. Rev Latinoam Enfermagem
1998;6(4):21-9.
3. Lipp MEN. Controle do estresse e hipertensão arterial sistêmica.
Rev Bras Hipertens 2007;14(2):89-93.
4. Schmidt RA, Wrisberg CA. Aprendizagem e performance motora: Uma abordagem da aprendizagem baseada no problema.
2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2001.
5. Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002.
6. Brady DB. Binaural-beat induced theta EEG activity and
hypnotic susceptibility. Northern Arizona University. Maio
1997. [citado 2007 Ago 12]. Disponível em URL: http://www.
portalmonroebrasil.com/
7. Fregni F, Marcolin MA. O uso da estimulação cerebral na
terapêutica dos transtornos neuropsiquiátricos: o papel da
estimulação magnética transcraniana na prática clínica. Rev
Psiquiatr Clín (São Paulo) 2004;31(5):221-30.
8. Rosa MA. Estimulação magnética trancraniana de repetição:
comparação da eficácia com a eletroconvulsoterapia [tese]. São
Paulo: Universidade de São Paulo; 2003.
9. Nasser JA, et al. Estimulação cerebral contínua (DBS) talâmica
para controle do tremor. Arq Neuropsiquiatr 2002;60(2B):429-34.
10. Paula MP. Neuroacústica estimulação e integração dos hemisférios cerebrais e suas habilidades. Manual versão 5.01 [online].
[citado 2008 Mar 09]. Disponível em URL: www.neuroacustica.
com/artigos.
11. Silva VF, Poly MWO, Ribeiro Júnior SMS, Calomeni MR, Pinto MVM, Silva ALS. Efeito agudo da estimulação cerebral,
através de luz e som, no tempo de reação motora de jovens
atletas. Revista Digital - Buenos Aires 2008;13(120).
12. Souza DOR, Silva VF. A importância do treinamento mental
na reorganização do equilíbrio corporal em gerontes. Fitness &
Performance Journal 2006;5(2):91-4.
13. Rodrigues EC, Imbiriba LA, Leite GR, Magalhães J, Volchanb
E, Vargas CD. Efeito da estratégia de simulação mental sobre o
controle postural. Rev Bras Psiquiatr 2003;25(Supl II):33-5.
14. Castro GG, Santos FCP. Treinamento mental na aprendizagem
do elemento reversão simples por crianças iniciantes na ginástica
artística de solo. Movimentum - Revista Digital de Educação
Física 2007;2:1-11.
15. Stecklow MV, Infantosi AFC, Cagy M. Alterações na banda
alfa do eletrencefalograma durante imagética motora visual e
cinestésica. Arq Neuropsiquiatr 2007;65(4A):1084-1088.
16. Souza APS, Scalon RM. O treinamento mental como uma
variável significativa na performance de atletas e na aprendizagem de habilidades motoras. Revista Digital - Buenos Aires
2004;10(75).
17. Loures DL. Estresse mental e sistema cardiovascular. Arq Bras
Cardiol 2002;78(5):525-30.
18. Chaves EC, Cade NV. Efeitos da ansiedade sobre a pressão arterial em mulheres com hipertensão. Rev Latinoam Enfermagem
2004;12(2):162-7.
90
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Artigo original
Relação entre flexibilidade, composição corporal
e índice de massa corporal (IMC) de crianças
do sexo feminino de Caratinga-MG
Relationship among flexibility, body composition and body mass
index of female children of Caratinga-MG
Juliana Santos Anselmo, Esp*, Marcus Vinícius de Mello Pinto, D.Sc.**
*Graduada em Educação Física, Pós Graduada em Fisiologia do Exercício e Treinamento Esportivo pelo Centro Universitário de
Caratinga/MG, **Fisioterapeuta, Professor e Pesquisador do Mestrado em Ciências da Reabilitação pelo Centro Universitário de
Caratinga
Resumo
Abstract
Este estudo identificou a relação entre os níveis de flexibilidade, a composição corporal e o índice de massa corpórea (IMC)
de crianças do gênero feminino, com idade entre 8 e 10 anos de
idade, da cidade Caratinga/MG. A flexibilidade é uma qualidade
física responsável pelo movimento angular de articulações. Tanto o
IMC quanto a composição corporal através de dobras cutâneas são
formas de se quantificar a gordura corporal, indicador de propensão
a doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e obesidade. Os
resultados obtidos mostraram que as meninas classificadas com o
“menor grau de flexibilidade” eram aquelas também classificadas com
as maiores porcentagens de gordura e IMC. Ao passo que aquelas
com “maior grau de flexibilidade” foram classificadas com o menor
percentual de gordura e IMC. A detecção do nível de flexibilidade
em crianças é mais uma ferramenta utilizada pelo profissional de
Educação Física antes da prescrição de exercícios físicos, podendo
favorecer na manutenção de índices adequados de flexibilidade e
massa corporal, contribuindo na adoção de hábitos saudáveis, no
decorrer de suas vidas.
This study identified the relationship among flexibility, body
composition and body mass index (BMI) of female children, 8-10
years old, of Carating/MG. Flexibility is a physical quality which is
responsible for joint range of motion. Both BMI and body composition through skinfold are methods to assess body fat, which indicates
probability to cardiovascular diseases, diabetes, hypertension and
obesity. Results showed that girls classified as “lower body flexibility”
were also classified with higher percentage of body fat and BMI. On
the other hand, those with “higher flexibility” had lower body fat
and BMI. Children flexibility level detection is another tool used by
physical education professionals before prescribing physical exercises,
which may help to maintain adequate flexibility and body mass,
contributing to healthy habits adoption for the rest of their lifes.
Key-words: flexibility, body composition, body mass index, children.
Palavras-chave: flexibilidade, composição corporal, índice de
massa corpórea, crianças.
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius de Mello Pinto, Pró-reitoria de Pesquisa e Extensão do Centro Universitário de
Caratinga – Unidade I, Av. Moacyr de Mattos, 49, Centro, 35300-049 Caratinga MG, Tel: (33)3329-4555, E-mail: [email protected],
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
O termo flexibilidade, também conhecido como mobilidade articular, assume diversos conceitos, principalmente
por sua grande abrangência e especificidade [1]. De acordo
com Dantas [2], a flexibilidade pode ser entendida como
qualidade física responsável pela execução voluntária de
um movimento de amplitude angular máxima, por uma
articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites
morfológicos, sem o risco de provocar lesão. Segundo Novaes e Vianna [3], a flexibilidade é definida também como a
qualidade física que condiciona a capacidade funcional das
articulações a movimentarem-se dentro dos limites ideais de
determinadas ações.
Existem diversos métodos para aferição dos níveis de
flexibilidade, geralmente utilizando movimentos de flexão
e extensão dos segmentos articulares. Marins e Giannichi
[4] apresentam três tipos de testes, que podem ser divididos
em angulares, lineares e dimensionais. Os testes angulares
fornecem de forma direta resultados em ângulos. Os lineares,
como o banco de Wells (1952) – também conhecido como
teste de sentar e alcançar –, caracterizam-se por expressar seus
resultados em uma escala de distância métrica, comumente
usados para aferir de forma indireta a flexibilidade da coluna
lombossacra e articulação do quadril, muito utilizado devido
a seu baixo custo e simples aplicação [5]. Os dimensionais,
como o Flexiteste [6].
Alguns autores têm focado seus estudos nos níveis de
flexibilidade alcançados por crianças e adolescentes através de
testes, dentre eles o de sentar e alcançar com o Banco de Wells
(1952), e comparações entre sexo, idade e medidas antropométricas [7-10], os quais vêm a sustentar este trabalho.
A composição corporal pode ser avaliada de várias formas, a antropometria tem sido largamente utilizada como
procedimento para esta avaliação, por ser um procedimento
não invasivo, econômico e prático, que permite em um curto
espaço de tempo o exame de muitas crianças, jovens ou adultos
[11]. Os valores de variáveis antropométricas, principalmente
da massa e estatura corporal, têm sido a forma mais utilizada
e aceita para a avaliação do status nutricional de crianças e
jovens [12].
Entretanto, a antropometria apresenta valores totais de
variáveis corporais, que podem apresentar limitações, pois são
resultantes do somatório de diferentes tipos de tecidos como
músculos, ossos, gordura e vísceras. Por isso, são necessários
outros procedimentos que especifiquem a proporção dos
diferentes tecidos corporais.
Dessa forma, o estudo da composição corporal, principalmente a avaliação da quantidade de gordura corporal e da
massa corporal magra, é muito importante durante a infância
e adolescência, pois pode especificar essas proporções.
Segundo Lohman [13], a composição corporal de crianças e jovens está mudando em uma direção desfavorável.
As crianças são mais obesas do que eram há 20 anos atrás.
91
As mudanças nos padrões de atividade física e nutrição
de hoje são responsáveis por essa alteração. Gortmaker et
al. [14], em seus estudos sobre a prevalência da obesidade
nos Estados Unidos, verificaram um aumento de 61% e
46%, respectivamente, para meninos e meninas, entre os
anos 1963-1965 e 1976-1980, para as idades entre 6 e
11 anos.
As relações entre a atividade física e obesidade configuram-se como objeto de estudo prioritário e as evidências na
literatura apontam associação entre o excesso de peso na
adolescência e agravos à saúde na idade adulta, pois o excesso
de gordura corporal, além de ser fator de risco para diversas
doenças, prejudica o desempenho físico.
A obesidade é um problema de saúde pública, principalmente em crianças e adolescentes em fase escolar, pois dificulta
o processo de crescimento físico e aprendizagem do indivíduo,
cabendo aos profissionais de Educação Física diagnosticar
estes problemas e prestar o devido auxílio na promoção de
qualidade de vida destes indivíduos.
Portanto, o objetivo deste estudo é analisar a relação entre os níveis de flexibilidade, o índice de massa corporal e a
composição corporal em crianças do gênero feminino na faixa
etária de 8 a 10 anos de Caratinga, Minas Gerais.
Objetivos específicos
1. Testar o nível de flexibilidade das crianças, através do teste
de sentar e alcançar com o banco de Wells.
2. Avaliar a composição corporal e o percentual de gordura
da amostra estudada, através da mensuração das dobras
cutâneas.
3. Determinar o índice de massa corporal (IMC), utilizando
suas respectivas medidas de peso e altura.
4. Realizar as correlações estatísticas entre os dados coletados.
Material e métodos
Este estudo caracteriza-se, conforme Gay [15], por ser do
tipo causal-comparativo. Neste estudo, as variáveis independentes (causas) são caracterizadas pela amostra populacional
pesquisada, e as variáveis dependentes (efeitos) são as variáveis antropométricas, da composição corporal e níveis de
flexibilidade.
A coleta de dados foi realizada em 20 crianças, do
gênero feminino, com idade entre 8 e 10 anos, residentes em Caratinga/MG. Para integrar-se à amostra foram
convidadas 10 (dez) crianças, nesta faixa etária, que
freqüentam aulas de ballet clássico, 2 (duas) vezes por
semana na academia Cia do Corpo, situada na mesma
cidade. A outra metade pesquisada foi composta por 10
(dez) crianças, convidadas pela primeira parte da amostra,
com a condição de que não fossem praticantes de qualquer
exercício físico.
92
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Todas as crianças foram testadas mediante o teste de
sentar e alcançar de Wells e Dillon [16], o qual se utiliza
como instrumento um flexômetro, que consta de um banco
de madeira graduado em forma de cubo assim dimensionado: largura (35 cm), altura (35 cm), comprimento (40 cm).
Na borda superior do banco encontra-se afixada uma escala
métrica a qual se estende 26 cm para fora, demarcando o
ponto zero [17].
A avaliada deve realizar um prévio aquecimento com leves exercícios de alongamento [18]. Sentada no solo, pernas
estendidas com as solas dos pés descalços apoiadas contra o
banco (encostado em uma parede). Com os braços estendidos
sobre a cabeça, a avaliada deve avançar à frente vagarosamente
com ambas as mãos paralelas tão distante quanto possível,
mantendo esta posição momentaneamente, o avaliador deve
apoiar os joelhos do avaliado, segurando-os com as mãos,
sem pressioná-los, para que se mantenham estendidos.
Computar a melhor de três execuções, como resultado final
do teste [18].
A fim de determinar e mensurar as dobras cutâneas necessárias foi utilizado um adipômetro científico. Para a estimação
da composição corporal e o percentual de gordura (%G)
utilizou-se a equação de regressão apresentada por Lohman
[19], para estimar a gordura corporal relativa em crianças e
jovens de 7 a 16 anos, que consta a seguir:
Mesmo após a coleta de dados, as crianças avaliadas não
puderam ser classificadas pela sua flexibilidade, de acordo com
os níveis atingidos durante o teste do Banco de Wells (1952).
Isto porque o protocolo não permite a classificação de crianças.
Contudo, as crianças pesquisadas foram divididas em dois grupos de acordo com os níveis atingidos durante o teste de sentar
e alcançar, comparativamente entre as mesmas (meninas com
maior flexibilidade, meninas com menor flexibilidade).
Deve ficar claro que não se pode afirmar que aquelas
intituladas com menor flexibilidade sejam pouco flexíveis,
frisando que não há uma tabela para que se possa classificá-las.
O fato é que esta divisão foi feita com comparações dentro
da própria amostra pesquisada, dividindo metade desta em
grupos de maior ou menor flexibilidade em relação às próprias crianças.
Gráfico 1 - Grau comparativo dos níveis de flexibilidade.
% G = 1,35 (TR + SE) - 0,012 (TR + SE)2 – C*
Onde: *C = constantes por sexo, raça e idade; %G = Percentual de
gordura; TR = Valor da dobra cutânea tricipital; SE = Valor da dobra
cutânea subescapular.
Este gráfico apresenta a divisão da amostra pesquisada em relação aos
níveis de flexibilidade apresentados no Teste de Sentar e Alcançar do
Utilizaram-se as constantes sugeridas por Lohman [19]
e, ainda, as constantes intermediárias por sexo, idade e raça,
sugeridas por Pires Neto e Petroski [20], em uma tentativa de
facilitar e dar maior precisão na estimação do % G.
Para a medição da massa corporal e da estatura corporal
seguiu-se o protocolo de Gordon et al. [21]. A massa corporal
foi registrada em quilogramas, utilizando-se uma balança
filizolla com precisão de 100 gramas. A estatura corporal foi
medida utilizando-se o estadiômetro da mesma balança, em
apnéia, após uma inspiração máxima.
Resultados e discussão
A literatura demonstra que a flexibilidade tem forte contribuição na eficácia do treinamento da força, da resistência
muscular e da resistência cardiovascular, melhorando a performance, tornando os atletas menos suscetíveis a lesões musculares [22]. Isso também é válido para as tarefas do cotidiano,
nas quais a flexibilidade desempenha um papel relevante
para a saúde geral e para a aptidão física especificamente na
prevenção de lombalgias, as quais representam forte indício
de redução da flexibilidade do quadril [1] e na manutenção
da postura corporal [8].
protocolo de Wells.
A mensuração das pregas cutâneas é uma técnica relativamente simples, pouco onerosa e de fácil manuseio e, sobretudo, apresenta alta fidedignidade, estimando o percentual
de gordura do indivíduo e permitindo sua classificação de
acordo com os protocolos e tabelas padrões.
Dentre os riscos para a saúde, Williams et al. [23], verificaram que a incidência de doenças cardiovasculares e outras
complicações para a saúde é consideravelmente alta quando
meninos e meninas ultrapassam 25% e 30% de gordura corporal relativa. Em seu estudo, as crianças com excesso de gordura
apresentaram maior pressão arterial sangüínea sistólica e diastólica, elevado colesterol total e relação do nível de colesterol
de baixa densidade (LDL) com o colesterol de alta densidade
(HDL). As dietas ricas em gordura, alto consumo de energia
combinado com baixo nível de atividade física habitual são os
principais fatores de riscos para o desenvolvimento de sobrepeso
e obesidade. A quantidade de gordura corporal é 45% resultante
de fatores não transmissíveis, 30% decorrentes da transmissão
cultural e 25% influenciados por fatores genéticos.
Considerando os resultados da composição corporal destas
meninas, e o percentual de gordura corporal, tornou-se possível classificar a amostra de acordo com a Tabela I.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Tabela I - Percentuais de Gordura (Crianças e Adolescentes de 7
a 17 anos).
Classificação
Excessivamente baixa
Baixa
Adequada
Moderadamente alta
Alta
Excessivamente Alta
%G
0,00 % a 12,00%
12,01 % a 15,00 %
15,01 % a 25,00 %
25,01 % a 30,00 %
30,01 % a 36,00 %
36,01% a 99,99 %
93
Neste sentido, ao se tratar dos resultados obtidos pelo
IMC, foi possível perceber que a maioria das crianças pesquisadas se encontra dentro dos padrões saudáveis para o índice
de massa corporal, como mostra o Gráfico 3.
Gráfico 3 - Classificação quanto ao IMC.
Fonte: Physical Test for Windows [17].
Os resultados obtidos pela composição corporal, em acordo com a Tabela I possibilitaram dividir a amostra de meninas
de acordo com seu grau de porcentagem de gordura corporal
como mostra o Gráfico 2.
Este gráfico apresenta a divisão da amostra pesquisada em relação à
Gráfico 2 - Classificação quanto à composição Corporal.
Este gráfico apresenta a divisão da amostra pesquisada em relação à
classificação dada pea composição corporal (percentual de gordura).
Através dos valores antropométricos de massa corporal
e estatura, pode-se identificar o Índice de Massa Corporal
(IMC). Para Fernandes Filho [24] o mesmo não diferencia
peso de gordura e peso livre de gordura. Assim não é sensível
às respectivas contribuições de massa muscular e gordurosa
ao peso corporal. O erro padrão da predição de percentual
de gordura do IMC foi de aproximadamente 5-6%, Pollock
apud Fernandes Filho [24]. Entretanto uma interpretação
cautelosa dos valores do IMCs deve ser feita como uma
medida direta do grau de gordura. As regras do IMC podem
implicar que quanto maior for o valor do IMC, maior será o
percentual de gordura; podendo este ser o caso de indivíduos
com muita massa magra. Aahperd apud Fernandes Filho [24]
prevê padrões saudáveis de aptidão para meninas entre 5 e
18 anos (Tabela II).
Tabela II - Padrões de aptidão saudáveis para IMC (Meninas de
5 a 18 anos).
Idade (anos)
5-9
10-11
12
13
14-16
17
18
Fonte: Aahperd apud Fernandes Filho [24].
IMC (Kg/m²)
14-20
14-21
15-22
15-23
17-24
17-25
18-26
classificação dada pelo Índice de Massa Corporal (IMC).
Ao compararem-se as classificações de composição corporal e IMC, dentre as meninas pesquisadas, percebe-se que 45%
das classificadas pela composição corporal como adequada,
foram classificadas pelo IMC como dentro do padrão saudável.
Outras 45% de percentual de gordura moderadamente alto,
foram igualmente divididas como IMC saudável. Somente
10% da amostra, que obteve como resultado da composição
corporal alta e excessivamente alta obteve como resultado do
IMC acima dos níveis recomendados.
Tabela III - Relação entre composição corporal e índice de massa
corporal (IMC).
% Amostra
45%
45 %
5%
5%
Classificação quanto
à composição
corporal
Adequada
Moderadamente alta
Alta
Excessivamente alta
Classificação quanto
ao Índice de Massa
Corporal
Saudável
Saudável
Acima do recomendado
Acima do recomendado
Ao buscar a relação entre a composição corporal das
meninas, seus respectivos índices de massa corporal e o grau
de flexibilidade das mesmas, tornou-se possível afirmar que
o primeiro e segundo têm relação direta com o último. Os
resultados obtidos mostraram que as meninas classificadas
com o “menor grau de flexibilidade” eram em maioria
aquelas também classificadas com os maiores percentuais de
gordura e índices de massa corporal. Ao passo que aquelas
com “maior grau de flexibilidade” foram em sua maioria
classificadas com as menores porcentagens de gordura e
índices de massa corporal. Estes resultados são apresentados
na Tabela IV:
94
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Tabela IV - Relação dos níveis de flexibilidade e a composição
corporal.
Teste de Flexibilidade
22,5 – 27,0
(menor flexibilidade)
27,5 – 33,5
(maior flexibilidade)
% G Ade- % G Modera- % G Alto/Excesquado
damente Alto sivamente Alto
15 %
30 %
5%
30 %
15 %
5%
Conclusão
Foi possível observar a relação existente entre composição
corporal, índice de massa corporal e flexibilidade. Percebeuse que quando se trata de composição corporal e IMC para
meninas desta faixa etária, estes dois tipos de mensuração da
massa corporal são pertinentes e mostram equivalências de
classificação.
A flexibilidade também pareceu sofrer influências pela
massa corporal, mas é importante salientar que o tamanho
da amostra não possui grande representatividade desta população, e que diversos são os fatores que influenciam nos
resultados dos testes.
É importante ressaltar que, dentro da amostra estudada, a
prática do ballet clássico, como atividade física, pareceu não
influenciar de maneira tão expressiva nos níveis de flexibilidade, pois a parte da amostra que o pratica (50%) se dividiu
igualmente entre os grupos de maior e menor flexibilidade.
Este fato se deu, talvez, por estarem a pouco tempo (em
média 5 meses) praticando-o. Ficou claro que a detecção
da flexibilidade pode ser uma ferramenta necessária aos
professores de Educação Física em sua prática diária antes da
prescrição de exercícios e demais atividades físicas. Exercícios
estes que podem favorecer para a diminuição ou manutenção
dos índices ótimos e massa corporal para as crianças, para
que carreguem ao longo da vida, hábitos saudáveis de dieta,
exercícios e cuidados com o corpo. Sugere-se: 1) que novos
estudos ramdomizados sejam implementados e com um N
mais expressivo; 2) intervenção biomecânica por eletromiografia com células de carga na dança.
Referências
1. Hall S. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara;
1993.
2. Dantas EHM. Flexibilidade, alongamento e flexionamento. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Shape; 1989.
3. Novaes JS, Vianna, Jéferson M. Personal training e condicionamento físico em academia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Shape;
1998.
4. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividade
física – guia prático. 2ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 1998.
5. Farias Júnior JC, Barros MVG. Flexibilidade e aptidão física
relacionada à saúde. Revista Corporis 1998;3(3):17-28.
6. Ghorayeb N, Barros T, ed. O exercício. S. Paulo: Atheneu;
1999.
7. Faria EI, Faria EW. Relationship of the anthropometric and
physical characteristics of male junior gimnasts to performance.
J Sports Med Phys Fitness 1989;29(4):369-78.
8. Böhme MTS. Aptidão física e crescimento físico de escolares
de 7 a 17 anos de Viçosa – MG. 3. Flexibilidade do Quadril.
Revista Mineira de Educação Física 1995;3(1):34-42.
9. Martins FOS. Avaliação das qualidades físicas de crianças através
do eurofit [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade Castelo
Branco; 1998.
10. Feldman D, Shier I, Rossignol M, Abenhaim L. Adolescent
growth is not associated with changes in flexibility. Clin J Sport
Med 1999;9:24-9.
11. Roche AF, Heymsfield SB, Lohman TG. Human body composition. Champaign: Human Kinetics; 1996.
12. WHO Working Group. Use and interpretation of anthropometric indicators of nutritional status. Bulletin of the World
Health Organization 1986; 64(6): 929-41.
13. Lohman TG. Advances in body composition assessment:
current issues in exercise science. Monograph 3. Champaign:
Human Kinetics; 1992.
14. Gortmaker SL, Dietz W, Sobol AM, Wehler CA. Increasing
pediatric obesity in the United States. Am J Dis Childr
1987;141:535-40.
15. Gay LR. Educational research: competencies for analysis and
application. 3a ed. Columbus: Merrill; 1987.
16. Wells KF, Dillon EK. The sit and reach – a test of back and leg
flexibility. Res Q Exerc Sport 1952;23:115-8.
17. Physical test for windows. Avaliação Física e Nutricional Computadorizada – Versão 2.5. Manual do Usuário; 1996.
18. American College of Sports Medicine. Guidelines for exercise
test and prescription. Philadelphia: Lippincott Williams and
Wilkins; 2000.
19. Lohman TG. Applicability of body composition and constants
for children and youth. Exerc Sport Sci Rev 1986;14(3):2527.
20. Pires Neto CS, Petroski EL. Assuntos sobre equações da gordura
corporal relacionadas à crianças e jovens. In: Carvalho S, ed.
Comunicação, Movimento e Mídia na Educação Física. Santa
Maria: UFSM; 1996. p.21-30.
21. Gordon CC, Chumlea WC, Roche AF. Stature, recumbent
length and weight. In: Lohman TG, Roche AF, Martorell R, eds.
Anthropometric standardization reference manual. Champaign:
Human Kinetics; 1988. p.3-8.
22. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força
muscular. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999.
23. Williams DPGoing SB, Lohman TG, Harsha DW, Sunivasan
SR, Webber LS, et al. Body fatness and risk for elevated blood
pressure, total cholesterol, and serum lipoprotein ratios in
children and adolescents. Am J Public Health 1992;82(3):35863.
24. Fernandes Filho J. A prática da avaliação física: testes, medidas
e avaliação física em escolares, atletas e academias de ginástica.
2a ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
95
Relato de caso
Efeito do exercício físico na remodelação miocárdica
Effect of physical exercise on myocardial remodeling
Jefferson Petto*, George Robson Ferraz**, Anna Jessyca Lima Garrido***, Carla Laine Silva Santos***, Priscila Ramos****
*Professor de fisiologia do exercício, angiologia e cardiologia da Faculdade Social - SSA, **Cardiologista do Setor de Fisioterapia Cardíaca da Clínica Escola da Faculdade Adventista da Bahia,***Curso de Fisioterapia da Faculdade Socia, ****Curso de Fisioterapia
da União Metropolitana de Educação e Cultura
Resumo
Abstract
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome que se caracteriza
pela incapacidade parcial do miocárdio em manter a adequada
ejeção do sangue ao sistema, acarretando uma diminuição da
capacidade funcional. Uma das características marcantes da IC é
o remodelamento miocárdio, que é uma resposta adaptativa do
músculo cardíaco a estímulos hemodinâmicos, neuro-hormonais
e fatores genéticos associados à modificação da forma, tamanho,
composição e função cardíaca. Estudos demonstram que a aplicação
de programas de exercício físico nessa população gera uma série
de efeitos benéficos, principalmente no que se refere ao aumento
da capacidade de resposta ao esforço. O presente trabalho relata
a melhora significativa da função cardíaca, devido a adaptações
cardiovasculares em especial da remodelação miocárdica de um
indivíduo com cardiomiopatia dilatada submetido a um programa
de exercício físico personalizado.
The heart failure (HF) is a syndrome characterized for partial
myocardial impairment in keeping the adequate ejection of blood
into the system, causing a reduction of functional capacity. One of
the outstanding characteristics of HF is the myocardial remodeling,
an adaptive response of heart muscle to hemodynamic responses,
neurohormone, and genetic factors associated to modification of
form, size, composition and heart function. Studies show that physical exercise programs performed with this population bring benefic
effects, mainly increasing strength capacity response. The present
work reports significant improvement of the cardiac function, due
to cardiovascular adaptations, particularly, myocardial remodeling
of an individual with dilated cardiomyopathy submitted to a personalized physical exercise program
Key-words: physical exercise, heart failure, myocardial remodeling.
Palavras-chave: exercício físico, insuficiência cardíaca,
remodelação miocárdica.
Endereço para correspondência: Jefferson Petto, Rua Areial de Baixo, 138/201, Bl. A, Largo Dois de Julho, 40060-210 Salvador BA,
Tel: (71) 9619-1061, E-mail: [email protected] ou [email protected]
96
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
O sistema cardiovascular assume como função primária
manter a homeostasia corporal através da distribuição adequada do sangue aos diferentes tecidos [1]. A insuficiência
cardíaca (IC) é uma síndrome que justamente compromete
essa função, já que é caracterizada pela diminuição da capacidade cardíaca de bombear e distribuir o sangue, de acordo
com a necessidade do organismo em manter o seu equilíbrio
funcional interno.
Uma das características marcantes da IC é o remodelamento miocárdio, que é uma resposta adaptativa do músculo
cardíaco a estímulos hemodinâmicos, neuro-hormonais e
fatores genéticos associados à modificação da forma, tamanho,
composição e função cardíaca [2].
Uma das alterações importantes da remodelação cardíaca
é a hipertrofia miocárdica, que ocorre em resposta a uma sobrecarga hemodinâmica crônica [3]. A hipertrofia miocárdica
pode ocorrer de duas formas: concêntrica, quando há uma
sobrecarga de pressão, aumentando a espessura da parede
ventricular desencadeada por um estímulo para síntese de
sarcômeros em paralelo; ou excêntrica, estimulada por uma
sobrecarga de volume provocando aumento do sarcômeros
em série, associado ao deslizamento de feixes de cardiomiócitos [4].
Esses eventos podem originar uma disfunção miocárdica
evidenciada pela diminuição da complacência ventricular,
bem como pela modificação da geometria cardíaca. O crescimento não-proporcional da densidade dos vasos também pode
ocorrer, ocasionando a diminuição da reserva coronariana,
com grande deficiência de oxigenação e de nutrientes para o
cardiomiócitos [4].
Apesar da hipertrofia ser uma resposta adaptativa, a longo
prazo pode representar um fator desencadeante para morbidade e mortalidade por eventos cardiovasculares [3].
Evidências demonstram a existência de tratamentos do
remodelamento miocárdico. Entre eles o tratamento medicamentoso, que tem como objetivo melhorar os sintomas e
retardar a evolução da disfunção ventricular em portadores
da IC [5].
A terapêutica medicamentosa é baseada na associação entre
diuréticos, inibidores da enzima de conversão da angiotensina
(IECA) e vasodilatadores. No entanto, entre esses apenas os
IECA e os bêta-bloqueadores (bloqueador bêta-adrenérgico
não-seletivo de terceira geração) conseguem reduzir os níveis
de mortalidade [6]. Um estudo feito por Chizzola et al. demonstrou que o carvedilol reduziu de forma significante o
risco de morte em indivíduos com cardiomiopatia dilatada,
inclusive promovendo o remodelamento miocárdico reverso
[5].
Recentemente tem sido aceito como tratamento da IC o
exercício físico, que tem como repercussões positivas a diminuição da atividade simpática em nível central e o aumento da
disponibilidade sanguínea periférica. Existem relatos de que a
redução da resistência vascular periférica diminui a pós-carga,
aumentando o volume sistólico e o débito cardíaco. Os ajustes
fisiológicos melhoram a capacidade funcional e conseqüentemente a qualidade de vida desses pacientes. Dessa forma, deve
ser entendido que um programa de condicionamento físico é
uma conduta terapêutica não farmacológica de grande importância no tratamento de pacientes portadores de IC [7].
Estudos apontam que a elaboração criteriosa e personalizada de um programa de exercício físico para portadores de
cardiomiopatia dilatada tem contribuído consideravelmente
para um prognóstico positivo desses pacientes além desses
pacientes terem subsídio favorável a relação custo-benefício
[6,8]. No entanto, em nossa pesquisa da literatura não foram
encontrados relatos da relação direta do exercício físico com
o remodelamento reverso miocárdico.
O presente relato justifica sua importância por evidenciar
a influência do exercício físico sobre o remodelamento reverso
miocárdico em indivíduo com cardiomiopatia dilatada. Salientamos que houve concordância por parte do paciente em
utilizarmos seus dados clínicos na apresentação desse relato.
Relato do Caso
BSA, sexo masculino, 46 anos de idade, sedentário, sobrepeso, abstêmio de tabaco, iniciando tratamento medicamentoso com Zaarpress, Lipless, Divelol, Monocordil e Digoxina,
apresenta-se, em janeiro de 2006, ao setor de fisioterapia
cardíaca da Faculdade Adventista da Bahia, com diagnóstico
clínico de cardiomiopatia dilatada, com os seguintes dados
clínicos relevantes: hipercolesterolemia elevada com diminuição do HDL-colesterol, bloqueio de ramo esquerdo severo,
volumes diastólico e sistólico finais de ventrículo esquerdo
(VE) respectivamente de 392 ml e 242 ml, massa ventricular
esquerda de 407 g e fração de ejeção de Teichholz de 38%.
Ao teste ergométrico (TE) de rampa verificou-se em repouso tensão arterial (TA) de 110 x 80 mmHg e freqüência
cardíaca (FC) de 72 bpm. Ao finalizar o TE, os seguintes
dados foram observados: FC máxima de 123 bpm, MAI de
42,1%, FAI de -5,9%, VO2máx 39,55 ml/kg.min com resposta
tensórica fisiológica sem arritmias e negativo para isquemia
miocárdica.
Após essa avaliação, o cliente foi submetido no mesmo
setor a um programa de exercício físico supervisionado, que
seguia a seguinte rotina: registro da TA e FC em repouso,
a cada 7 minutos durante o exercício e ao final da sessão,
sendo as alterações eletrocardiográficas e a FC observadas
continuamente por um monitor cardíaco. Antes do condicionamento eram realizados 15 minutos de alongamento global.
Após o alongamento o cliente era submetido a 10 minutos
de aquecimento em intensidade de 50%, 20 minutos de
condicionamento em intensidade de 70% e 5 minutos de
desaquecimento em intensidade decrescente. Ao término do
desaquecimento, era feito um relaxamento induzido de 10
minutos ou massoterapia podal. O programa era realizado
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
quatro vezes por semana, sendo aplicado 2 vezes em esteira e
2 vezes em bicicleta ergométrica. Os valores da intensidade
foram calculados através da fórmula de Karvonen utilizandose como base para os cálculos a FC de repouso e máxima
obtidas no TE. Essa primeira etapa do tratamento teve duração de um mês.
Após esse período, um novo TE foi realizado, obtendo-se
os seguintes dados: FC máxima de 159 bpm, MAI de 26,3%,
FAI de -20,9%, VO2máx 45,14 ml/kg.min. com resposta tensórica fisiológica sem a presença de arritmias e negativo para
isquemia miocárdica.
Com base nestes resultados foram feitos ajustes ao programa sendo modificada a intensidade do aquecimento de
50% para 60%, o tempo do condicionamento de 20 para
30 minutos em intensidade de 75% e a duração do desaquecimento de 5 para 3 minutos. Essa nova etapa durou três
meses e meio sendo realizado no final desse período um novo
ecocardiograma.
Discussão
No caso clínico apresentado, observa-se redução dos
volumes diastólico e sistólico finais. A redução do volume
diastólico (392 ml a 180 ml) se deve provavelmente a melhora
da capacidade de ejeção sanguínea ventricular. Já no que se refere ao volume sistólico ocorreu uma redução de 242 a 78 ml,
que se fundamenta no conceito da remodelação miocárdica,
ou seja, do fortalecimento do miocárdio possivelmente provocado pelas alterações histoquímicas (melhora da absorção
e utilização do Ca++, aumento da mioglobina muscular, aumento da capacidade de utilização dos substratos energéticos,
aumento das organelas responsáveis pela produção energética
e força muscular como retículo e mitocôndrias), levando a
um aumento na capacidade de ejeção [9]. Benefícios podem
ocorrer também na vasodilatação periférica, já que a redução
da pós-carga facilita o trabalho da musculatura ventricular
esquerda [10]. Além disso, outros fatores como os efeitos
neuro-humorais (aumento da ativação simpática e corticóides), o aumento da perfusão e a vascularização miocárdica
podem ter contribuído de forma significativa.
Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca [11], nos
portadores de insuficiência cardíaca, a melhora da classe
funcional obtida com o condicionamento físico é secundária
às adaptações periféricas ao exercício, não havendo correlação
entre a FEVE em repouso e a capacidade funcional.
No caso relatado, a FEVE apresentou um progresso
significativo de 38% para 43% e tal fato pode ter sido decorrente tanto das adaptações periféricas, corroborando com
a literatura [8,11], quanto da alteração nas fibras musculares
cardíacas, permitindo que o coração elevasse o seu poder de
contração.
No que se refere à redução da massa ventricular esquerda
(407 g a 290 g), observa-se que poucos estudos relatam o efeito
direto do exercício sobre o remodelamento reverso cardíaco.
97
Cannistra et al. [13] enfocam em seu estudo a ocorrência
de uma remodelação ventricular esquerda em pacientes que
sofreram um evento isquêmico e foram submetidos a programas de exercícios físicos com intensidade moderada a alta,
sendo observado que indivíduos que apresentaram um quadro
isquêmico pequeno, não obtiveram alterações significativas,
o que não pode ser considerado para indivíduos de grandes
infartos, já que tal processo é altamente heterogêneo.
Já é sabido que a utilização de medicamentos que provocam bloqueio do sistema renina-angiotensina é benéfica
em determinados indivíduos no que se refere à remodelação
cardíaca, ou seja, atenuação no processo de hipertrofia cardíaca
concêntrica secundária a hipertensão arterial. Nota-se que a
literatura aborda principalmente o processo de remodelação
em processos de hipertrofia concêntrica gerada pela hipertensão arterial sistêmica, em que, mediante a uma sobrecarga
de pressão, ocorre um aumento de sarcômeros em paralelo,
gerando uma hipertrofia ventricular concêntrica [4,12].
Contudo, este processo hipertrófico ainda é visualizado
como uma resposta cardíaca a uma determinada agressão, e
não como um meio de reversão de um determinado quadro
patológico [3].
Conclusão
Finalmente, diante dos resultados observados e baseados
na literatura torna-se precoce afirmar que o processo de remodelação reversa miocárdica foi primariamente oriundo do
programa de exercício físico, apesar do paciente se encontrar
sob tratamento medicamentoso há dois anos e este não ter
sido otimizado durante o programa, com objetivo principal
de comprovar a eficácia do exercício físico. No entanto, outras
pesquisas similares com uma amostra maior e grupo controle
devem ser efetuadas, para que a partir de uma análise ampla
possa ser plausível afirmar que o exercício físico promove
primariamente redução da dilatação cardíaca e estimar a
porcentagem de interação medicamentosa existente nesse
processo.
Referências
1. II Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia para Diagnóstico e Tratamento da Insuficiência Cardíaca. Arq Bras Cardiol
2002;79 [sup IV]:1-30.
2. Epitafi HB, Zornoff LAM, Matsubara BB, Paiva SAR, Inoue
RMT, Matsubara LS. Remodelação miocárdica após infarto
agudo de miocárdico experimental em ratos. Efeito do bloqueio
do sistema renina angiotensina aldosterona. Arq Brás Cardiol
2005;84(1):10-4.
3. Gonçalves G, Zornoff LAM, Ribeiro HB, Okoshi MP, Cordaro
FRS, Okoshi K, Padovani CR et al. O bloqueio do sistema renina-angiotensina atenua a remodelação cardíaca de ratos submetidos a estenose aórtica. Arq Bras Cardiol 2005;84(4):304-8.
4. Matsubara LS, Narikawa S, Ferreira ALA, Paiva SAR, Zornoff
LM, Matsubara BB. Remodelação miocárdica na sobrecarga
98
5.
6.
7.
8.
9.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
crônica de pressão ou de volume no coração de ratos. Arq Bras
Cardiol 2006;86(2):126-30.
Chizzola PR, Freitas HFG, Caldas MA, Costa JM, Meneghetti
C, Marinho NVS, et al. Efeitos do carvedilol na insuficiência
cardíaca por cardiomiopatia dilatada. Resultado de estudo
duplo-cego, randômico, com grupo placebo-controle (Estudo
Caribe). Arq Bras Cardiol 2000;74(3):233-7.
Thopson PD. O exercício e a cardiologia do Esporte. São Paulo:
Manole; 2004. 485p.
Negrão CE, Barreto AC P. Cardiologia do Exercício. São Paulo:
Manole; 2006. 354p.
Horning B, Maier V, Drexler H. Physical training improves
endothelial function in patients with chronic heart failure.
Circulation 1996;93:210-4.
Swynghedauw B. Molecular mechanisms of myocardial remodeling. Physiol Rev 1999;79:215-62.
10. Maiorana A., O’Driscoll P, Dembo L, Cheetham C, Goodman
C, Taylor R, et al. Effect of aerobic and resistance exercise training on vascular function in heart failure. Am J Physiol Heart
Circ Physiol 2000;279:1999-2005.
11. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol
2005;84(5):431-440.
12. Turner MJ, Robert J, Spina RJ, Kohrt WM, Ehsani AA. Effect
of endurance exercise training on left ventricular size and remodeling in older adults with hypertension. J Gerentol A Biol
Sci Med 2000;55(4):M245-51.
13. Cannistra LB, Davidoff RMB, Picard MH, Balady GJ. Moderate-high intensity exercise training after myocardial infarction:
Effect on left ventricular remodeling. J Cardiopulm Rehabil
1999;19(6):373-380.
ANEXO
Tabela I - Resultados obtidos no teste ergométrico de rampa antes e após a aplicação do programa.
FC máxima
MAI
FAI
VO2 máximo
Antes do programa
123 bpm
42,1%
- 5,9%
39,55 ml/kg.min
Após o programa
159 bpm
26,3%
- 20,9%
45,14 ml/kg.min
Tabela II - Resultados obtidos no ecocardiograma antes e após a execução do programa de exercício físico.
Volume diastólico final de VE
Volume sistólico final de VE
Massa ventricular esquerda
Fração de ejeção Teichholz
Antes do programa
392 ml
242 ml
407 g
38%
Após o programa
180 ml
78 ml
290 g
43%
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
99
Revisão
Variabilidade da frequência cardíaca: método nãoinvasivo de avaliação do limiar ventilatório
Heart rate variability: non invasive method of ventilatory threshold
evaluation
André Lopes*, Vinicius Dias*, Giovani dos Santos Cunha*, Álvaro R. de Oliveira*, Cintia Stocchero**
*Laboratório de Pesquisa do Exercício (Lapex) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), Porto Alegre, **Laboratório de Pesquisa do Exercício (Lapex) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Escola de Educação Física do Centro Universitário Metodista IPA da ESEF,
Porto Alegre
Resumo
Abstract
A intensidade de trabalho é uma das principais variáveis do
planejamento e aplicação do treinamento físico. Diversos métodos
são usados para quantificar este esforço, a frequência cardíaca é um
método comumente utilizado para determinação da intensidade de
exercício, utilizando-se para isso a estimativa da frequência cardíaca
máxima a partir da equação 220 – idade, esta equação gera a frequência cardíaca máxima e o percentual desta é usado para prescrição
do treinamento. A ergoespirometria e os limiares de lactato são
amplamente utilizados com a pretensão de mesurar a intensidade
do exercício. Contudo, o uso destas técnicas é questionado tendo
em vista as possíveis variações individuais, custo alto devido aos
equipamentos e necessidade de capacitação técnica bem desenvolvida. A possibilidade de utilização da frequência cardíaca para a
determinação dos níveis de intensidade de exercício de uma forma
não invasiva e criteriosa é importante para diminuir custos financeiros. Oscilações que ocorrem entre intervalos R-R ou entre dois
batimentos cardíacos instantâneos são chamadas de Variabilidade
da Frequência Cardíaca (VFC), sendo que este método é utilizado
no meio clínico para detecção de distúrbios cardíacos. Recentes
investigações demonstram que a VFC pode ser utilizada para avaliar
o controle neural sobre o coração de maneira muito precisa. Desta
forma, o uso da variabilidade da frequência cardíaca durante exercício físico pode ser uma alternativa para determinação dos limiares
de intensidade do exercício. O objetivo desta revisão é identificar a
possibilidade da utilização da variabilidade da frequência cardíaca
como um marcador de intensidade de exercício físico.
Exercise intensity is one of the main variables in planning and
implementing physical training. Many methods are used to quantify
this exercise intensity. Heart rate is a commonly used method to
determine it, which is generally done by estimating maximum heart
rate from the equation 220 - age. Maximal oxygen consumption
and lactate threshold are widely used in order to measure exercise
intensity. However, these techniques present limitations as they are
exclusive to laboratory and demand expensive equipments. Using
heart rate for determining precisely exercise intensity would be
easier and less expensive than the above techniques. Variations that
occur between RR intervals or between two consecutive heart beats
are called heart rate variability (HRV) and have been used in the
clinical set for detection of cardiac disorders. Recent investigations
have showed that HRV can be used to evaluate heart´s neural control
in a very accurate way. Moreover, heart rate variability utilization
during exercise can be an alternative method for determining exercise
intensity. This review intends to clarify if heart rate variability may
be used as an exercise intensity marker.
Key-words: heart rate, physical training, electrocardiogram.
Palavras-chave: frequência cardíaca, treinamento físico,
eletrocardiograma.
Endereço para correspondência: André Luiz Lopes, Laboratório de Pesquisa do Exercício (Lapex) da Escola de Educação Física (ESEF)
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51) 3308-5861, E-mail: andrelopes.efi@bol.
com.br
100
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Introdução
O limiar anaeróbio é um dos métodos mais utilizados, tanto como indicador de desempenho físico quanto na prescrição
do treinamento. Existem diversas evidências de que o limiar
anaeróbio (LAn) [1] correlaciona-se melhor com o desempenho de esportes de característica contínua e prolongada do
que o consumo máximo de oxigênio (VO2max) [2]. O LAn é
considerado o ponto no qual ocorre um desequilíbrio entre a
produção e a remoção do lactato [3]. Existem muitos métodos,
tanto invasivos como não-invasivos para a determinação do
LAn, porém não existe um consenso internacional sobre qual
o melhor método de determinação [4]. Os métodos invasivos
requerem várias coletas de sangue e tanto o ponto no qual
ocorre um aumento abrupto das concentrações de lactato
como o aumento não linear deste mesmo metabólito têm sido
utilizados para a determinação do LAn, necessitando ainda
inspeção visual das curvas plotadas [5,6]. Outros definem um
valor específico de lactato sanguíneo, como 2,0; 3,0 [5,7] ou 4
mmol [7,8]. Uma crítica que geralmente é feita aos métodos
de concentrações fixas é que os mesmos não levam em conta
o princípio da individualidade do atleta, superestimando a
intensidade de limiar de lactato. Além disso, trata-se de um
método invasivo e com custo elevado.
Esta crítica encontra suporte no estudo de Baptista et al.
[9] no qual foi verificado que o método fixo de 4 mmol.L-1
superestima as variáveis fisiológicas de remadores, como a
frequência cardíaca [10], lactato e potência quando comparado com o método Dmáx (sigla do termo em inglês maximal
distance), que respeita a individualidade biológica.
Uma opção para a resolução deste problema foi apresentada por Wasserman et al. [11] os quais desenvolveram
um método de determinação de LAn a partir de variáveis
ventilatórias, uma técnica não-invasiva e de baixo custo
financeiro. Este estudo demonstrou que as concentrações de
lactato apresentam uma forte correlação com a ventilação,
em função do tamponamento dos íons hidrogênio pelo íon
bicarbonato e subsequente eliminação na forma de dióxido
de carbono pela respiração [12]. Este excesso de dióxido de
carbono e uma diminuição do pH estimulam a ventilação,
que aumenta de uma forma não-linear. Este mecanismo pode
ser avaliado através da inspeção visual gráfica das variáveis
como a ventilação (VE), equivalentes ventilatórios (VE/VO2
e VE/VCO2), produção de dióxido de carbono (VCO2) e
pela razão de trocas respiratórias VCO2/VO2 (R) em função
do consumo de oxigênio ao longo do teste [4,11,12]. Assim
através deste método é possível identificar o LV1 e LV2 que
são cargas de trabalho associadas ao primeiro e ao segundo
aumento não linear da ventilação. Onde as intensidades de
exercício entre o LV1 e LV2 compreendem a zona aeróbia e
as intensidades acima de LV2 corresponde à zona anaeróbia.
Outros estudos têm proposto a determinação do LAn através
da R, no entanto, ainda não existe um consenso sobre qual o
valor que a R pode assumir, seja ele fixo ou variável. Adicio-
nalmente, vários estudos em nosso laboratório demonstram
a necessidade de utilização de uma técnica de determinação
de limiar mais simples e de menor custo financeiro [9,13],
visto que os equipamentos de ergoespirometria custam entre
R$40.000 e R$100.000, além da necessidade de pessoal
especializado.
Na expectativa de reduzir os custos e buscando facilitar
sua aplicabilidade, utiliza-se a frequência cardíaca [10] para a
determinação da intensidade de exercício físico. O uso da FC
é baseado em equações, as quais são baseadas em estimativas
da frequência cardíaca máxima, com a utilização das fórmulas
(220-idade) ou (210-idade x 0,65), estas, por sua vez, estão
sujeitas a um desvio padrão de aproximadamente ±12 bpm,
comprometendo muitas vezes o treinamento para pacientes
que necessitam de controle mais preciso pela presença de
arritmia, hipertensão arterial, isquemia, etc. Um método que
utiliza a frequência cardíaca para determinação do primeiro
limiar com boa precisão é o déficit de pulso, esta técnica que
consiste na realização de períodos de 8 minutos de exercício
em carga constante e no cálculo do somatório do número de
batimentos dos quatro minutos finais, menos o somatório
dos quatro minutos iniciais [14]. Apesar de este método estar correlacionado com o primeiro limiar ventilatório (LV1),
a necessidade de vários períodos de 8 minutos de exercício
torna o método pouco prático, além de não demonstrar correlação com o segundo limiar ventilatório (LV2), sendo uma
técnica muito pouco difundida no ambiente de prescrição
de treinamento [14].
Entretanto, a variedade de métodos trouxe sua contribuição ao meio esportivo e clínico, por outro aspecto causou
certa confusão na literatura. Diferentes autores denominaram
os mesmos fenômenos fisiológicos de diferentes maneiras ou
denominaram diferentes fenômenos com a mesma nomenclatura. Além deste problema conceitual, existe a necessidade de
equipamentos, utilização de equações matemáticas, dispêndio
financeiro, subjetividade e/ou mão-de-obra especializada,
por tudo isso o acesso à identificação dos limiares se tornou
muitas vezes impossibilitado, principalmente do ponto de
vista prático.
A busca por um método que possa contemplar a avaliação do exercício físico se faz justificada por todos os motivos
acima citados, desta forma propomos a variabilidade da
frequência cardíaca (VFC), como método de avaliação dos
limiares ventilatórios. Portanto, este artigo de revisão busca
subsídios teóricos na literatura para viabilizar a variabilidade
da frequência cardíaca (VFC) como método de identificação
do esforço durante a prática de exercício físico.
Variabilidade da frequência cardíaca
O controle neuroendócrino, que orquestra a máquina cardíaca, apesar de bastante preciso, não garante que o intervalo
entre dois ciclos cardíacos seja idêntico [10]. As oscilações que
ocorrem entre intervalos R-R (intervalo entre um ponto R
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
e outro no eletrocardiograma) ou entre dois ciclos cardíacos
instantâneos, são chamadas de Variabilidade da Frequência
Cardíaca (VFC) [10,15,16]. Tais oscilações têm aplicação
clínica por apresentarem correlação inversa com o risco de
morte por doenças cardiovasculares, ou seja, quanto maior a
VFC em repouso menor o risco de morte [17].
O cálculo da VFC é feito a partir dos intervalos R-R do
sinal eletrocardiográfico, os quais são registrados batimento
a batimento utilizando o recurso eletrocardiográfico ou frequencímetros portáteis. A Figura 1 mostra o momento exato
do intervalo R-R, o qual é usado para calcular a VFC.
Figura 1 - Representação do intervalo RR no eletrocardiograma.
A Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) trouxe
enorme avanço à pesquisa científica nessa área de investigação,
sendo que hoje a VFC é empregada, diversificadamente, em
investigações sobre a função autonômica cardíaca em áreas
como, a doença de Chagas [18], o diabetes mellitus [19], a
insuficiência cardíaca, o pós-infarto do miocárdio [20], a
doença pulmonar obstrutiva crônica [21] entre outras; além
de ser aplicada na avaliação de atletas e não-atletas durante
programas de treinamento físico [22] durante atividades físicas
corriqueiras do dia-a-dia [23].
A VFC representa as interações ocorridas principalmente
entre o sistema nervoso simpático e parassimpático no controle da frequência cardíaca, sendo um indicador não-invasivo
do controle neural sobre o coração [10].
Os cálculos para determinação da VFC são realizados
através de métodos no domínio da frequência, do tempo e
métodos não lineares. Os métodos do domínio da frequência
analisam a VFC com base no fato de a plotagem dos intervalos
R-R frente ao tempo ter um caráter ondulatório, gerando
assim uma onda que se assemelha a uma função senoidal [24].
A onda gerada pode ser decomposta através de modelos matemáticos em diferentes períodos de frequência. Estes períodos
de frequência são dividos em alta frequência (HF) que varia
de 0,4 a 0,15 Hz, baixa frequência (LF) de 0,15 a 0,04 Hz e
de muito baixa frequência (VLF) que é considerada < 0,04
Hz. O período HF representa a modulação parassimpática,
acredita-se que a LF represente a modulação simpática e que a
VLF esteja associada à resposta termorregulatória e ao sistema
renina-angiotensina [25].
A principal limitação desta análise do domínio da frequência é a necessidade de um sinal estacionário, sem grandes
101
oscilações, pois esse método não consegue determinar como
ocorrem as variações ao longo do tempo [26]. Os métodos
do domínio do tempo avaliam a dispersão da duração dos
intervalos R-R em relação à média de determinado período.
Os mais utilizados são o desvio padrão da média dos intervalos R-R do período (SDNN), a raiz quadrada da média dos
intervalos R-R sucessivos, e o número de intervalos R-R com
diferença sucessiva maior que 50 milisegundos (NN50) [17].
Esses índices estão intimamente associados aos do domínio da
frequência. Fronchetti [16] avaliou homens jovens e aparentemente saudáveis em diversos índices do domínio do tempo e
da frequência e constataram que houve forte correlação entre
os índices do domínio do tempo com a banda LF (r = 0,8) e
principalmente com banda HF (r = 0,9) [16]. A correlação
entre domínio do tempo e o componente LF do espectro de
frequência ainda está indeterminado. Alguns autores sugerem
que domínio do tempo estaria associado somente ao componente HF, o que seria uma limitação do método [17,26].
Outra possibilidade de avaliação da VFC é a utilização de uma
combinação entre domínio do tempo e da frequência. Nesse
método é realizada uma divisão (janelamento) do espectro
em períodos curtos e a densidade do espectro é calculada
para cada um dos períodos. Assim existe a possibilidade de
detectar como ocorrem as oscilações ao longo do tempo nas
diferentes bandas de frequência, evitando a necessidade de
um sinal estacionário [26]. A Figura 2 descreve os intervalos
R-R no período de 24 horas.
Variabilidade de frequência cardíaca e exercício
físico
Estudos recentes têm demonstrado que a variabilidade
da frequência cardíaca (VFC) pode ser utilizada para avaliar
o controle neural sobre o coração [17]. Outras investigações mostram que em exercício progressivo a VFC diminui
conforme ocorre o aumento da carga de trabalho. O ponto
onde a redução passa a ser significativamente menor que o
repouso está relacionado ao 1º limiar Ventilatório. O exercício físico progressivo causa alterações bem características no
controle neurovegetativo da FC, tornando-o uma ferramenta
importante para avaliar as respostas deste sistema a diferentes
níveis de estresse fisiológico, através da VFC [17]. No início
do exercício, há uma retirada parassimpática que é responsável pelo aumento inicial da FC. Em cargas mais elevadas
102
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
este aumento se dá pela ativação do sistema simpático, que é
desencadeado principalmente por quimioreflexos musculares
[27]. Apesar de a retirada progressiva do sistema parassimpático ser consenso na literatura, o aumento da estimulação
simpática sobre o coração nas cargas mais elevadas ainda gera
algumas controvérsias [17].
Alguns estudos indicam que o comportamento da VFC
em exercício parece estar de acordo com essas alterações da
modulação autonômica [1,10,16,23]. Em estudo realizado
com mulheres diabéticas em um teste progressivo em cicloergômetro, a VFC diminuiu progressivamente até estabilizarse em um valor menor que o de repouso. Foi demonstrado
também que a intensidade onde houve essa estabilização foi
um pouco menor que a intensidade onde foi identificado o
primeiro limiar ventilatório. Os autores acima denominaram
esse ponto de limiar de atividade vagal (threshold of vagal
activity, TVA), pois consideraram que esse ponto representa
a completa redução da atividade vagal no exercício com carga
progressiva. Resultado semelhante foi obtido por Lewis [28]
em indivíduos jovens e saudáveis, em que foi constatada uma
redução significativa na VFC conforme o incremento da carga
e encontraram uma correlação significativa entre a carga em
que a VFC atingiu 50 % do valor inicial e a carga máxima dos
indivíduos no teste, sugerindo a possibilidade de utilização
deste índice como indicador da carga máxima de trabalho.
Cottin et al.[15] mostram que a VFC diminui significativamente frente ao aumento da intensidade de exercício.
Identificou-se ainda que elevações na frequência respiratória
promovem reduções da VFC [15]. Parece haver também uma
somação dos efeitos, pois a diminuição da VFC é visivelmente
mais acentuada quando há aumento simultâneo nas duas
variáveis. Apesar de a redução ocorrida na VFC em exercício,
percebe-se claramente a manutenção de um pico na banda
HF do espectro de frequência.
A frequência onde esse pico ocorre coincide com a frequência respiratória demonstrando uma associação entre estas,
que pode ser oriunda da arritmia sinusal respiratória. A frequência respiratória aumentada durante o exercício constitui-se
então em um dos prováveis mecanismos responsáveis pela
redução da VFC em exercício.
Recentemente Cottin et al. [29] confirmaram seus achados
anteriores, a redução da VFC, avaliando-a no domínio tempofrequência, mas identificaram reduções mais significativas no
exercício realizado com carga acima do 2º limiar ventilatório
comparado ao exercício realizado com carga abaixo do 2°
limiar ventilatório. Além disso, verificaram diferenças entre
a densidade do período LF e da HF nas duas situações. Em
exercício abaixo do 2° limiar mostraram maior prevalência
da banda LF, enquanto que houve maior prevalência da densidade da banda HF quando os valores foram normalizados
(expressos como um percentual do total da VFC). Os autores
sugerem que essa diferença de prevalência possa ser utilizada
para identificar cargas acima e abaixo do 2° limiar, sugerindo
que a razão LF/HF seja um indicador dessa alteração [29].
Avaliando indivíduos idosos, Perini et al. [30] mostraram
resultados semelhantes, demonstraram que a densidade do
espectro da banda LF mantém-se constante até aproximadamente 40 % do VO2pico nos homens e 80% do VO2pico
dentre as mulheres, diminuindo progressivamente conforme
incremento da carga. A densidade do espectro da banda HF,
por outro lado, apresentou um aumento linear desde o início
do exercício. Os comportamentos diferentes apresentados pela
banda HF e LF sugerem uma clara modificação do controle
cardiovascular durante o exercício. Diferentemente da situação
de repouso do período HF não corresponde à atividade vagal em
exercício, estando nitidamente associada a alterações ocorridas
na ventilação conforme incremento da carga, enquanto que o
período LF apresenta comportamento mais compatível com a
resposta parassimpática ao exercício, sendo um indicador deste
mecanismo durante o exercício físico [30].
Baseando-se nesse comportamento, Cottin et al. [31]
investigaram a possibilidade de determinação dos limiares
ventilatórios através da VFC. Avaliando atletas profissionais
de futebol, em um protocolo com carga progressiva em esteira rolante, foram comparadas as velocidades encontradas
no 1° e 2° limiar ventilatório (LV1, LV2) com as velocidades
do LV1 e LV2 do componente de alta frequência (HFT),
respectivamente, e não encontraram diferenças significativas.
O HFT foi calculado multiplicando-se a densidade total do
espectro da banda HF pelo pico do espectro deste período.
Os autores propõem que a correlação encontrada se deve a
forte correlação existente entre o FHF e a arritmia sinusal
respiratória [15].
Realizou-se uma investigação em indivíduos não-treinados
e com uma metodologia de cálculo da VFC diferente, mas
encontraram também correlação significativa entre o LV2 e
o segundo limiar de VFC (r = 0,94). Constataram também
forte correlação entre o componente HF do espectro de
frequência e a ventilação, sugerindo também que a arritmia
sinusal respiratória justifique essa correlação [32].
O comportamento da VFC foi bastante semelhante nas
análises realizadas no domínio do tempo. Alonso et al. [33],
utilizando um protocolo de exercício num cicloergômetro
com carga progressiva, verificaram a resposta da VFC através
do cálculo do desvio padrão da média dos intervalos R-R de
cada minuto, e encontraram como resultado uma diminuição
progressiva da VFC até um valor estável e significativamente
menor do que o de repouso.
Outro método do domínio do tempo que tem sido estudado é a plotagem de Poincaré, que consiste na plotagem de um
intervalo R-R frente ao anterior [17,34]. Os índices derivados
desse método associam-se também aos limiares ventilatórios,
mas há divergências sobre qual o ponto de corte adequado à
determinação do limiar [35].
Analisando os resultados desses diferentes estudos é possível perceber, que apesar de a diversidade de protocolos de
exercício e diferentes métodos de análise da VFC utilizados,
todos observaram que a VFC diminui progressivamente,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
conforme ocorre o aumento da carga. Esse comportamento da
VFC assemelha-se ao comportamento da atividade parassimpática em exercício com carga progressiva, apresentando uma
diminuição progressiva. No entanto, essa resposta da VFC
em exercício físico progressivo não condiz com a elevação na
atividade simpática que é desencadeada frente ao exercício.
Polanczyk et al. [1] realizaram um estudo utilizando bloqueio parcial e total da modulação autonômica em situação
de repouso e de exercício e verificaram o comportamento da
VFC nos domínios do tempo e da frequência. Encontraram
diferenças significativas na resposta da VFC apenas após o
bloqueio parassimpático e o bloqueio duplo em situação de
repouso. Em exercício não foram constatadas diferenças significativas, apesar de uma pequena tendência a diminuição após
bloqueio parassimpático e bloqueio duplo. Com base nesses
resultados sugerimos que a atividade simpática não pode ser
detectada pela VFC e que, no exercício físico, a resposta da
VFC não representa a modulação autonômica do coração,
sofrendo grande influência de fatores não neurais [1].
Resultados apresentados por De Vitto [36] reforçam essa
afirmação, pois demonstram que a inibição central do sistema
simpático, através de infusão de moxonidina, não afeta a VFC
analisada no domínio do tempo e da frequência em situação
de repouso e de exercício em estado estável a 65 % do VO2máx
[36]. A exceção foi o índice SD2 da plotagem de Poincaré que
teve uma redução significativa no exercício realizado sob ação
da moxonidina comparada ao placebo, comportamento que
pode ser parcialmente explicado por uma inibição indireta
da moxonidina da atividade vagal. A resposta hormonal também foi avaliada, na tentativa de avaliar a eficácia da inibição
simpática central. A concentração de noradrelina teve menor
aumento, durante o exercício, comparado ao grupo placebo,
mas como não houve efeito sobre a VFC conclui-se que sua
influência sobre a VFC não é significativa [36]. No entanto,
o fato de a concentração de adrenalina não ter influência
pode ter confundido essa conclusão, tendo necessidade de
mais investigações sobre o tema. Durante a recuperação
pós-exercício há a possibilidade de se estimar a modulação
autonômica do coração, mas em exercício essa relação ainda
gera controvérsias [37]. Verificou-se a existência de diferenças no comportamento da VFC no domínio da frequência,
dependendo da forma como é expressa. Em valores absolutos
percebe-se claramente uma diminuição da densidade total
do espectro da VFC e uma diminuição da banda HF. No
entanto, quando os valores são normalizados ou expressos
em valores percentuais, há uma manutenção do HF e uma
diminuição do LF. Há indícios de que a banda VLF aumente
significativamente nas cargas mais elevadas. Tais constatações
reforçam as dúvidas existentes sobre se a VFC representa as
modulações autonômicas em exercício.
Sandercock et al. [38] ao realizarem uma revisão sobre
o assunto constataram que durante exercício a VFC não representa a modulação autonômica da FC, pois há estímulos
não neurais atuando, principalmente a arritmia sinusal respi-
103
ratória que tem grande influência na banda HF do espectro
de frequência.
Dewey et al. [39] sugere que o significado fisiológico da
VFC em repouso não pode ser aplicado à situação de exercício, pois há grande influência de fatores não neurais (metaboreflexos, distensão atrial e oscilações mecânicas na caixa
torácica oriundas da ventilação). O significado fisiológico
do comportamento da VFC em exercício pode ser inclusive
oposto ao da situação de repouso. Em estudo avaliando 1335
indivíduos idosos, houve uma forte correlação inversa entre
altos índices de VFC em exercício com carga progressiva e
morte por causas cardiovasculares, contrariando a correlação
existente em repouso [39].
No entanto, há necessidade de levar em consideração o
fato de que o nível de aumento da FC em exercício pode
influenciar na resposta da VFC, o que pode ser um fator de
confusão na interpretação dos resultados de Dewey [39].
Sugere-se esse cuidado, pois a VFC é avaliada a partir dos
intervalos R-R subsequentes e há uma relação inversa entre
FC e os intervalos R-R. O aumento da FC durante o exercício
diminui os intervalos R-R e consequentemente diminui a
VFC. Por isso, indivíduos que apresentem menores alterações
na resposta da FC em exercício tendem a apresentar maiores
índices de VFC [39].
Estudo realizado recentemente avaliou atletas de futebol de
categoria juvenil e mostrou ser possível a identificação do 2° limiar da frequência cardíaca em todos os sujeitos. Os resultados
deste estudo demonstram que o L2VFC, identificado na carga
em que a média de VFC (quando calculada pela Plotagem de
Poincaré, imbutida no frequêncímetro) é inferior a 2 ms está
em intensidade similar ao L2VFC, sugerindo ser um método
promissor para a identificação do L2VFC [40]. Assim sendo
os autores deste estudo especulam que o comportamento da
VFC, supostamente, corresponde aos limiares de transição
fisiológicas, tradicionalmente identificados por mudanças no
comportamento de variáveis ventilatórias, concentração de
lactato sanguíneo, FC, dentre outras variáveis [40].
Conclusão
Apesar de o significado fisiológico da VFC estar relacionado principalmente na identificação de anormalidades
dos processos cardíacos, as alterações da VFC em resposta
exercício progressivo nos sugerem que haja relação entre os
limiares ventilatórios e a VFC. A possibilidade de se avaliar
os LVs utilizando a VFC tornaria a identificação das zonas
de treinamento muito mais práticas e menos dispendiosas,
o que popularizaria o método e faria com que a precisão da
prescrição da intensidade se tornasse muito mais eficiente.
Assim, sugerimos a VFC como método de avaliação da condição cardiorrespiratória e, desta forma, proporcionando uma
ferramenta não-invasiva, de baixo custo e de fácil aplicação
para quantificação do esforço e prescrição precisa da intensidade do exercício físico.
104
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Referências
1. Polanczyk CA, Rohde L, Moraes R, Ferlin EL, Leite C, Ribeiro
JP. Sympathetic nervous system representation in time and
frequency domain indices of heart rate variability. Eur J Appl
Physiol 1998;79:69-73.
2. Bosquet L, Leger LLP. Methods to determine aerobic endurance.
Sports Med 2002;32;11:675-700.
3. Brooks G. Anaerobic threshold: review of the concept and directions for future research. Med Sci Sports Exerc 1985;17;1:2234.
4. Solberg G, Robstad B, Skjonsberg OFB. Respiratory gas exchange indices for estimating the anaerobic threshold. J Sports
Sci Med 2005;4:29-36.
5. Yeh MP, Gardner RM, Adams TD, Yanowitz FG, Crapo R.
Anaerobic threshold: problems of determination and validation.
J Appl Physiol 1983;55;4:1178-86.
6. Beaver WL, Wasserman K, BJ. W. Improved detection of lactate
threshold during exercise using a log-log transformation. J Appl
Physiol 1985;59;6:1936-40.
7. Heck H, Mader A, Hess G, Mucke S, Muller RWH. Justification of the 4-mmol/l lactate threshold. Int J Sports Med
1985;6;3:117-30.
8. Urhausen A, Weiler B, W. K. Heart rate, blood lactate, and
catecholamines during ergometer and on water rowing. Int J
Sports Med 1993;Suppl 1:20-3.
9. Baptista RR, Oliveira L, Figueiredo G, Contieri J, Loss JF,
Oliveira AR. Limiar de lactato em remadores: comparação
entre dois métodos de determinação. Rev Bras Med Esporte
2005;11:247-250.
10. Pascoal MA, Volanti VM, Pires CS, FC. F. Variabilidade da
frequência cardíaca em diferentes faixas etárias. Rev Bras Fisioter
2006;10(4):413-9.
11. Wasserman K, Mcilroy BM. Detecting the threshold of anaerobic metabolism in cardiac patients during exercise. Am J
Cardiol 1964;14:844-52.
12. Wasserman K, Whipp BJ, Koyl SN. Anaerobic threshold
and respiratory gas exchange during exercise. J Appl Physiol
1973;35;2:236-43.
13. Baptista RR, Cunha GS, Oliveira AR. Aspectos fisiológicos
e biomecânicos da produção de força podem ser usados no
controle do treinamento de remadores de elite. Rev Bras Med
Esporte 2008;14:427-30.
14. Roseguini BT, Narro F, Oliveira AR, Ribeiro. Estimation of lactate threshold from heart rate response to submaximal exercise:
the pulse deficit. Int J Sports Med 2006;27:1-7.
15. Cottin F, Médigue C, Lopes P, Leprêtre PM, Heubert R, Billat
V. Ventilatory thresholds assessment from heart rate variability
during an incremental exhaustive running test. Int J Sports
Med 2007;28:287-94.
16. Fronchetti L, Nakamura F, Aguiar C. Indicadores de regulação
autonômica cardíaca em repouso e durante exercício progressivo: Aplicação do limiar de variabilidade da frequência cardíaca.
Rev Port Cien Desp 2006;6-1:21-8.
17. Moraes Filho R, Ribeiro JP. Variabilidade da frequência cardíaca
como instrumento de investigação do sistema nervoso autônomo em condições fisiológicas e patológicas. JP Rev HCPA
2005;25(3):99-106.
18. Junqueira LF. Ambulatory assessment of cardiac autonomic
function in Chaga’s heart disease patients based on indexes of
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
R-R interval variation in the Valsalva maneuver. Braz J Med
Biol Res 1990;23:1091-102.
Pagani M, Malfatto G, Pierini S, Casati REA. Spectral analysis
of heart rate variability in the assessment of autonomic diabetic
neuropathy. J Aut Nerv Syst 1998;23:143-53.
Singh N, Mironov D, Armstrong PW, Ross AM, A. L. Heart rate
variability assessment early after acute myocardial infarction.
Circulation 1996;93(7):1388-95.
Pagani M, Lucini D, Pizzinelli PMS. Effects of aging and chronic obstructive pulmonary disease on RR interval variability. J
Aut Nerv Syst 1996;59:125-32.
Shin K, Minamitami H, Onishi S, Yamazaki H, M. L. Autonomic differences between athletes and nonathletes: spectral analysis approach. Med Sci Sports Exerc 1997;29(11):1482-90.
Paschoal MA, Petrelluzzi KFS, Gonçalves NVO, RV. M. Controle autonômico cardíaco durante a execução de atividade física
dinâmica de baixa intensidade. Rev Soc Cardiol 2003;5:1-11.
Oliveira DJ, Gomes MED,Guimarães HN, Aguirre LA. Síntese
de sinais de variabilidade da frequência cardíaca baseada em
modelagem não-linear. Rev Bras Eng Biomed. 2006;22(1):5162.
Montano N, Ruscone TG, Porta A, Lombardi F, Pagani M,
Malliani A. Power spectrum analysis of heart rate variability
to assess the changes in sympathovagal balance during graded
orthostatic tilt. Circulation 1994;90(4):1826-31.
Mansier P, Clairambault J, Charlotte N, Medigue C, Vermeiren C, Lepape G, et al. Linear and non-linear analyses of
heart rate variability: A minireview. Cardiovascular Research
1996;31:371-9.
Victor RG, Seals DR, Mark AL. Differential control of heart
rate and sympathetic nerve activity during dynamic exercise. J
Clin Invest 1987;79:508-516.
Lewis MJ, Kingsley M, Short AL, Simpson K. Rate of reduction
of heart rate variability during exercise as an index of physical
work capacity. Scand J Med Sci Sports 2007;17:696–702.
Cottin F, Papelier Y, Escourrou P. Effects of exercise load and
breathing frequency on heart rate and blood pressure variability
during dynamic exercise. Int J Sports Med 1999;20(4):232-8.
Perini R, Milesi S, Fisher NM, Pendergast DR, Veicsteinas A.
Heart rate variability during dynamic exercise in elderly males
and females. Eur J Appl Physiol 2000;82:8-15.
Cottin F, Médigue C, Papelier Y, Koralsztein JP, Billat V. Heart
rate variability during exercise performed below and above ventilatory threshold. Med Sci Sports Exerc 2004; 36:594-600.
Anosov O, Patzak, Kononovich Y, Persson P. High-frequency
oscillations of the heart rate during ramp load reflect the human
anaerobic threshold. Eur J Appl Physiol 2000;83:388-94.
Alonso DE, Forjaz CORL, Braga AM, Barretto AC, Negrão CE,
et al. Comportamento da frequência cardíaca e da sua variabilidade durante as diferentes fases do exercício físico progressivo
máximo. Arq Bras Cardiol 1998;71:787-92.
Rassi AJ. Compreendendo melhor as medidas de análise da
variabilidade da frequência cardíaca. Jornal Diagnósticos &
Cardiologia 2000;20.
Tulppo MP, Mäkikallio TH, Seppänen T, Laukkanen T, Huikuri
HV. Vagal modulation of heart rate during exercise: effects
of age and physical fitness. Am J Physiol Heart Circ Physiol
1998;274:424-429.
De Vito G, Galloway SDR, Nimmo MA, Maas P, McMurray
JJV. Effects of central sympathetic inhibition on heart rate
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
variability during steady-state exercise in healthy humans. Clin
Physiol Funct Imaging 2002;22:32–8.
37. Perini R, Veicsteinas A. Heart rate variability and autonomic
activity at rest and during exercise in various physiological
conditions. Eur J Appl Physiol 2003;90:317-25.
38. Sandercock GRHE, Brodie DA. The use of heart rate variability
measures to assess autonomic control during exercise. Scand J
Med Sci Sports 2006;16:302-13.
105
39. Dewey FE, Freeman JV, Engel G, Oviedo R, Abrol N, Ahmed
N, et al. Novel predictor of prognosis from exercise stress testing:
Heart rate variability response to the exercise treadmill test. Am
Heart J 2007;153:281-8.
40. Abad CCC, Barros RV, Oliveira FR, Lima JRP, Pereira B, Kiss
MAPD. O segundo platô da variabilidade da frequência cardíaca
indica o segundo limiar de transição fisiológica. Revista Digital
Buenos Aires 2007;12(114).
106
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
107
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
108
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 2 - abril/junho 2009
Calendário de eventos
Julho
18 a 26 de julho
VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Física
São Paulo, SP
Tel: (11) 2714-5678, www.encontrophorte.com.br
E-mail: [email protected]
Agosto
21 a 23 de agosto
9 a 12 de outubro
47º ENAF
Poços de Caldas, MG
Informações: www.enaf.com.br
15 a 17 de outubro
32º Simpósio Internacional Ciências do Esporte
São Paulo, SP
Informações: www.celafiscs.com.br
(11) 4229-8980 / 4229-9643
22 a 24 de outubro
6º ENAF BH
Chevrolet Hall, Belo Horizonte, MG
Informações: www.enaf.com.br
10a IHRSA Fitness Brasil
Latin American Conference & Trade Show, São Paulo, SP
Informações: (11) 5095-2699, www.fitnessbrasil.com.br
Setembro
4 a 6 de Setembro
X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a
Terceira Idade
Núcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de
Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Alagoas, MA
Tel: (82) 3322-2416
20 a 25 de Setembro
XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte
III Congresso Internacional de Ciências do Esporte
Salvador, BA
Informações: [email protected]
Outubro
7 a 9 de outubro
III Congresso Euroamericano de Motricidade Humana
Esporte, Intervenção e Transformação Social
Murcia, Espanha
Informações: (11) 3413-8430, www.redeuromh.com/
congressos.htm
Novembro
6 e 7 de novembro
5a Jornada Santista de Treinamento e Força
1º Simpósio Paulista de Atividade Física e Saúde
Gonzaga, Santos, SP
Informações: (13) 3285-6993 / 9735-4115
6 a 8 de novembro
13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio
de Janeiro - SIAFis RJ
Auditório da Escola Naval, Rio de Janeiro RJ
Informações: [email protected]
12 a 14 de novembro
7º Congresso Brasileiro de Atividade Física & Saúde
SBAFS
Porto de Galinhas, PE
Informações: www.cbafs.org.br
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 8 número 3 - julho/setembro 2009
EDITORIAL
Citius, altius, fortius: a qualquer preço?, Paulo Tarso Veras Farinatti, Jean-Louis Peytavin ...................................... 111
ARTIGOS ORIGINAIS
Nutrição e composição corporal de jovens futebolistas, José Augusto Rodrigues
dos Santos, Carlos Eduardo Gonçalves da Costa Vasconcelos ................................................................................... 113
Efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica máxima
em adolescentes não treinados, José Eduardo Lattari Rayol Prati,
Sergio Eduardo de Carvalho Machado, Edmilson Batista de Carvalho,
Vernon Furtado da Silva ............................................................................................................................................ 121
Incidência de lesões osteomioarticulares em atletas fisiculturistas,
Fabrício Rothier, Deotti Ibrahim, Artur Laizo, Heglison Custódio Toledo................................................................. 125
Relação entre a potência muscular dos membros inferiores e a funcionalidade
em idosos, Rodrigo Barbosa de Albuquerque, Oliveira Valéria Mota de Oliveira,
Aristides Rihan Geraldes Amândio, Antônio César Cabral de Oliveira ...................................................................... 132
Efeitos do treinamento em uma equipe de futebol infantil ao longo do macrociclo,
Daniel Medeiros Alves, Juan Carlos Perez Morales, José Francisco Gomes Schild,
Silvia Teixeira de Pinho ............................................................................................................................................. 137
Comparação entre diferentes métodos de determinação do limiar de lactato,
Mônica de Oliveira Melo, Cláudia Tarragô Candotti, Mateus Breyer......................................................................... 142
Efeito da combinação de exercícios com pesos sobre indicadores sanguíneos
da exaustão em praticantes de musculação, Carol Christina de Faria, Fábio Lera Orsatti,
Fernando Moreto, Roberto Carlos Burini .................................................................................................................. 148
REVISÃO
Características funcionais e fisiológicas do destreinamento: força e morfologia muscular,
Michel Arias Brentano,Tiago Santi ............................................................................................................................ 152
RELATO DE CASO
Exercício resistido em circuito regula a pressão arterial e pode melhorar
a síndrome do pânico, Gilzandra Lira Dantas Florencio, Ana Carla Gomes Canário,
Conceição de Maria L. N. de Melo, Ana Katherine da Silveira Gonçalves,
Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva ......................................................................................................... 160
OPINIÃO
Desenvolvimento das capacidades físicas e motoras nas aulas de Educação Física
para crianças de 10 a 13 anos, Stephan Moreno Tanzillo, Marcus Vinicius Grecco ................................................ 164
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 170
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 172
110
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Douglas S. Brooks (EUA)
Emerson Silami Garcia (MG)
Francisco Martins (PB)
Francisco Navarro (SP)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Martim Bottaro (DF)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Robert Robergs (USA)
Rosane Rosendo (SC)
Sebastião Gobbi (SP)
Steven Fleck (USA)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Vilmar Baldissera (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Atendimento
(11) 3361 5595 /3361 9932
E-mail: [email protected]
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
Editor assistente – Publicidade
Guillermina Arias
[email protected]
Direção de arte
Assistente de vendas – Atendimento
Assinatura
Cristiana Ribas
Márcia P. Nascimento
1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00
[email protected]
[email protected]
www.eventoserevistas.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
111
Editorial
Citius, altius, fortius:
a qualquer preço?
Paulo Tarso Veras Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx
Jean-Louis Peytavin, Editor executivo
O noticiário recente destacou o fato de atletas brasileiros terem sido pegos em exames anti-doping realizados em
Presidente Prudente/SP, tendo se valido da eritropoietina
para aumentar seu desempenho.
Em um conto de ficção científica, o autor americano
Ray Bradbury explora o tema da igualdade, imaginando um
desportista excepcional que tem de usar handicaps, como
solas de chumbo, para não ser superior aos concorrentes
com capacidades inferiores. Pouco a pouco, impondo-se
tal ideologia igualitarista, a beleza e a inteligência tornamse suspeitas para a maioria dos feios e dos medíocres. As
pessoas naturalmente bonitas passam a se esconder atrás de
máscaras e os inteligentes a fingirem-se de idiotas.
Ao contrário, em nossa sociedade promovemos e
adulamos o desportista fora dos padrões, muitas vezes
tolerando, às escondidas, a fraude do doping. Em longo
prazo, os resultados dessa valorização exacerbada podem
representar um ‘espelho’ da ficção de Ray Bradbury: sem
controle, a ajuda química tornar-se-á obrigatória para que
os atletas sejam, de novo, iguais na linha de partida. O
melhor ganhará, mas todos sobrecarregados em ‘aparentados’ da eritropoietina. Já se disse em certa oportunidade
que os desempenhos do Tour de France, por exemplo,
seriam impossíveis para ciclistas que não utilizassem esse
hormônio.
O doping desenvolveu-se rapidamente a partir dos
anos 1970, com o uso dos anabolizantes, anfetaminas
e beta-bloqueadores, mas sofisticou-se a partir dos anos
1990. Apesar da melhora da fiscalização, o futuro da
luta contra o doping é difícil e, para alguns, de sombrio
prognóstico. Existe uma progressiva expansão de seu uso
na juventude, especialmente no meio da musculação, no
qual circulam produtos sem controle, desde os clássicos
esteróides anabólicos até novidades como inibidores da
miostatina. Fala-se também em doping mental, usando-se
produtos inicialmente prescritos para os distúrbios de atenção das crianças (ritalina), distúrbios do sono (modafinil)
ou ainda para a doença de Alzheimer, a fim de aumentar
o desempenho em exames acadêmicos.
A Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
posiciona-se frontalmente contra todas as formas de doping. Para lá de efeitos colaterais frequentemente danosos,
extensivamente descritos pela literatura, a aceitação, ainda
que subreptícia, desse tipo de prática subverte os princípios
que deveriam reger as competições desportivas, como o
fair-play, ferindo de morte valores que emanam do assim
chamado ‘espírito desportivo’. O desenvolvimento tecnológico nas áreas de medicina, biomecânica, fisiologia do exercício, bioquímica, dentre outros campos do conhecimento
vem proporcionando as condições para que os limites de
desempenho sejam, a cada competição, redefinidos. No
entanto, tal desenvolvimento coloca-se a serviço do atleta
e, porque não dizer, da humanidade de forma geral. Fazer
do progresso tecnológico ferramenta a serviço da vitória
a qualquer custo, em detrimento da saúde dos atletas, da
lisura das competições e, portanto, do próprio desporto,
constitui atitude que deve ser condenada, por criminosa
e antiética.
Aqueles que fazem da pesquisa em fisiologia do
exercício sua área de atuação e interesse devem refletir
sobre os limites da aplicação do conhecimento científico
para melhorar o desempenho humano. Para além das
questões relativas ao doping, discutidas em profundidade
por diversos autores, nota-se que essa necessidade se faz tão
mais premente quando se percebem os avanços na área da
genética. É tênue a fronteira entre manipulação genética
indesejável e o desenvolvimento de formas éticas para
detecção de talentos, por exemplo. Não são poucos os que
consideram cabível a possibilidade de manipulação genética
para melhorar o desempenho atlético, não a entendendo
112
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
como forma de doping. Outros, porém, destacam ser frágil
a fronteira entre o desejo de conhecer melhor o potencial
de desempenho dos atletas desde idades precoces e a tentação de uma seleção arbitrária que nos remeteria aos ideais
eugênicos de ditaduras fascistas do passado.
Como se percebe, a discussão em torno do tema da
melhoria do desempenho humano é algo atual e envolve
aspectos que ultrapassam o ganho de milésimos de segundo
ou milímetros em provas atléticas. A aceitação ou recusa
do doping como recurso para “experimentar os limites do
homem” traduz uma visão de mundo. De um lado seus
defensores acenam com argumentos que se apóiam no cientificismo mais infame (é a ciência que desenvolve o doping
e não se pode barrar a ciência), em hipotéticas vantagens
econômicas (seria bom para a indústria farmacêutica etc)
ou em um falso liberalismo (é direito do atleta se drogar...).
De outro, alinham-se aqueles que defendem ser preciso
balizar o desejo de aumentar cada vez mais os limites do
corpo humano por valores éticos. Valores que, afinal, dão
base para as competições desportivas e, porque não dizer,
para a própria ciência – o entendimento de que, no fim
das contas, nada deveria ser mais importante do que os
próprios seres humanos...
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
113
Artigo original
Nutrição e composição corporal de jovens futebolistas
Nutrition and body composition in young football players
José Augusto Rodrigues dos Santos*, Carlos Eduardo Gonçalves da Costa Vasconcelos**
*Professor Associado com Agregação, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, **Licenciado em Desporto e Educação Física,
Professor Assistente, Escola Superior de Educação de Viseu, Instituto Politécnico de Viseu
Resumo
Abstract
Objectivo: Os défices nutricionais de desportistas adolescentes
podem afectar negativamente quer o seu rendimento desportivo quer
o seu desenvolvimento e maturação. Assim, este estudo pretendeu
caracterizar os hábitos de ingestão nutricional de jovens futebolistas
portugueses. Avaliamos também o perfil de composição corporal
da amostra. Material e métodos: A amostra foi constituída por 60
jogadores de futebol, do sexo masculino (14-16 anos de idade),
pertencentes a seis equipas participantes no Campeonato Nacional
de Juvenis: Braga, Chaves, Repesenses, Belenenses, Juventude de
Évora e Louletano. Os dados nutricionais foram obtidos por registo
de três dias consecutivos de consumo alimentar. A conversão dos
alimentos em nutrientes foi realizada pelo programa informático
Food Processor Plus, versão SQL. A determinação do perfil antropométrico e a composição corporal foram obtidos a partir da mensuração do peso, altura e pregas de adiposidade subcutânea tricipital
e subescapular. Estatística: média, desvio-padrão e valores mínimo
e máximo e amplitude. Resultados: Verificou-se um aporte calórico
médio diário de 2575 ± 470 kcal (1699-3689), correspondendo aos
seguintes consumos: hidratos de carbono 45,4 ± 4,1% (4,5 ± 1,1
g.kg-1.dia-1), gorduras 36,7 ± ,3% (1,6 ± 0,4 g.kg-1.dia-1) e proteínas
18 ± 2,5% (1,8 ± 0,4 g.kg-1.dia-1). Conclusão: Os jovens futebolistas
do presente estudo apresentam uma nutrição incompatível com
as necessidades energéticas do desporto que praticam. Além de
terem um aporte calórico total diário insuficiente, a distribuição
qualitativa pelos macronutrientes é desequilibrada, com um baixo
consumo de hidratos de carbono, e um elevado consumo de gorduras e proteínas.
Objective: Nutritional deficits can interfere negatively in growth
and biological maturation of the adolescents who practice sport,
in case of the energetic intake cannot sustain the increase of the
nutritional necessities originated by sportive training. Therefore,
we decide to characterize the food habits of young Portuguese
footballers trying to elucidate the compatibility between nutritional
habits and football practice requirements. We assess also the sample’s
body composition. Material and methods: The sample was constituted by 60 male football players 14 o 16 years old. These players
belong to six soccer teams who had participated in the age-related
National Championship of 2006/2007: Braga, Chaves, Repesenses,
Belenenses, Juventude de Évora and Louletano. Nutritional data
were registered by food intakes of three consecutive days. The conversion of foods in nutrients was carried through by the program
Food Plus Processor, version SQL. Anthropometric profile and
body composition had been achieved measuring weight, height,
triceps and sub-scapula skinfolds. Statistics: We used the descriptive
measures: average, standard deviation, minimum and maximum and
amplitude of the three days. Results: The daily average caloric intake
was 2575 ± 470 kcal (1699-3689), corresponding to the following
intakes: carbohydrates 45.4 ± 4.1% (4,5 ± 1,1 g.kg-1.dia-1), fats
36.7 ± 3.3% (1,6 ± 0,4 g.kg-1.dia-1) and proteins 18 ± 2.5% (1,8
± 0,4 g.kg-1.dia-1). Conclusion: The young footballers of this study
present a nutritional status incompatible with the requirements of
football practice. Besides their insufficient daily total caloric intake,
the qualitative distribution for the macronutrients is unbalanced,
with a low ingestion of carbohydrates and excessive consumption
of fats and proteins.
Palavras-chave: nutrição, macronutrientes, composição corporal,
jovens futebolistas.
Key-words: nutrition, macronutrients, body composition, young
footballers.
Endereço para correspondência: José Augusto Rodrigues dos Santos, Faculdade de Desporto, Rua Plácido Costa, 91, 4200-450 Porto
Portugal, E-mail: [email protected]
114
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
Nos últimos 20 anos, foi suficientemente investigada a
relação entre a nutrição e a performance desportiva. Não existe
dúvida alguma de que aquilo que o atleta ingere pode afectar a
sua saúde, o seu peso e composição corporal, a disponibilidade
de substratos durante o exercício, o tempo de recuperação após
exercício, e por último, a prestação desportiva [1,2].
Por conseguinte, a dieta do desportista deve ter por base a
satisfação das necessidades energéticas, de reparação tecidular
e aumento de massa muscular, através de uma ingestão adequada, equilibrada e variada de glícidos, gorduras, proteínas,
água, minerais e vitaminas.
Particularizando as recomendações nutricionais para os
futebolistas, verificamos que estes não necessitam de uma dieta
de treino diferente da generalidade dos desportistas [3].
Um jogo de Futebol envolve 90 minutos de actividade
intermitente de intensidade variada [4] e impõe uma forte
depleção nas reservas hepáticas e musculares de glicogénio [5].
Assim, a optimização das reservas de glicogénio pode fazer a
diferença entre ganhar ou perder [6].
As necessidades nutricionais variam ao longo da vida [7].
Como refere Beals [8], a adolescência é uma fase de rápido
crescimento e desenvolvimento com profundas implicações
nas necessidades nutricionais e energéticas. Défices energéticos
e nutricionais podem afectar negativamente quer o processo
de crescimento e maturação biológica quer o rendimento
cognitivo [8] e motor [5].
A literatura não é fértil em estudos na área de nutrição
em jovens futebolistas. Em Portugal, temos conhecimento de
apenas dois estudos [9,10].
Desta forma, e visando o alargamento dos conhecimentos
nesta área, pretendemos com este estudo averiguar quais são
os hábitos de ingestão nutricional dos jovens futebolistas
portugueses. Como estudo complementar determinamos
também a composição corporal da amostra.
do registo dos alimentos consumidos durante três dias consecutivos, sendo um dos dias de fim-de-semana.
O tratamento da informação contida nos registos alimentares foi realizado através do programa Food Processor
Plus® versão SQL (ESHA Research, Salem, Oregon), adaptada
à realidade portuguesa pelo Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
A composição corporal foi estimada a partir da medição das
pregas de adiposidade subcutânea tricipital e subescapular,
estimando-se a percentagem de massa gorda (%MG) através
das equações de regressão de Slaughter et al. [11]. Utilizamos
a estatística descritiva: média (X), desvio padrão (SD) e os
valores mínimos e máximos. Na análise dos dados utilizámos
o software SPSS versão 14.0.
Resultados e discussão
Frequência de ingestão nutricional
Da avaliação nutricional, retiramos algumas informações
colaterais que ajudam a caracterizar o comportamento alimentar dos atletas da nossa amostra.
Figura 1 - Representação gráfica da frequência de ingestão alimentar
da amostra.
Objectivos
Caracterização dos hábitos de ingestão nutricional e composição corporal de jovens futebolistas portugueses.
Material e métodos
A amostra do presente estudo foi constituída por 60
jogadores de futebol, do sexo masculino com idades compreendidas entre os 14 e os 16 anos. Os jogadores pertenciam
a seis equipas de futebol que participaram no Campeonato
Nacional de Juvenis na temporada de 2006/2007. As equipas
foram Braga, Chaves, Repesenses, Belenenses, Juventude de
Évora e Louletano. Todos deram o seu consentimento escrito
para a realização do estudo que foi aprovado pelo Comité de
Ética da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
A avaliação da ingestão nutricional foi realizada através
Podemos verificar que a distribuição das refeições no
decurso do dia é variável, identificando-se alguns casos que
desrespeitam as normas habituais para uma nutrição saudável.
Constatámos que 93% da nossa amostra toma o pequenoalmoço, o que dá um panorama satisfatório, uma vez que esta
refeição é fundamental para a reposição dos níveis energéticos
dos atletas, uma vez que sucede a um longo período de jejum
nocturno.
Somente 62% da nossa amostra realizam uma refeição
intermédia entre o pequeno-almoço e o almoço. Isto pode
levar a um período muito prolongado sem qualquer ingestão
de alimentos, caso os futebolistas tomem o pequeno-almoço
cedo (o que se verifica na maior parte dos casos). Desta forma,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
os futebolistas que não ingerem esta refeição correm o risco
de hipoglicemia que normalmente afecta quer o rendimento
desportivo quer o trabalho mental [12].
Somente 38% da nossa amostra realiza a ceia. A aversão
a esta refeição irá provocar um maior período de jejum nocturno, que pode ser prejudicial para a actividade desportiva.
No que se refere à refeição ao meio da tarde (lanche),
somente um futebolista não a realiza. A última refeição antes
do treino, é de crucial importância para providenciar energia
para os esforços físicos e mentais subsequentes, principalmente
em situações em que o almoço não foi adequado, sabendo-se
que os treinos podem durar mais de 90 minutos o que pode
promover situações de hipoglicemia, principalmente nos
treinos de elevada intensidade [13].
Quanto ao almoço e ao jantar, são duas refeições que a
totalidade dos futebolistas realiza, centralizando grande parte
da sua ingestão calórica nestas duas refeições. Isto pode ser
negativo, uma vez que a ingestão compactada de nutrientes
nestas duas refeições, fundamentalmente os derivados dos
hidratos de carbono, podem induzir elevações bruscas de
açúcar no sangue com a consequente libertação pancreática
de insulina. Ora, uma hiperinsulinemia pós-prandial pode
ser um factor tendencialmente armazenador de glucose no
adipócito sob a forma de triglicerídeos, o que pode redundar
em aumento de peso supérfluo com resultados nefastos não
só para o rendimento desportivo como para o perfil de saúde do atleta [12]. A eventual hiperinsulinemia pós-prandial
justifica o desdobramento do aporte calórico total por mais
refeições [14].
Consumo energético
Tabela I - Estatística descritiva referente ao consumo energético
da amostra.
Energia (kcal/
dia)
Energia
(kcal/kg/dia)
Média
DesvioPadrão
Mínimo
Máximo
2575
470
1699
3689
37,2
8,29
26,0
55,4
Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of
Canada and the American College of Sports Medicine [15], a
primeira preocupação nutricional que os atletas deverão ter é
o conhecimento das suas necessidades energéticas.
A única recomendação que encontrámos para jovens
futebolistas providencia-nos uma recomendação da ingestão
calórica diária variando entre as 3819 e 5185 kcal [16]. No
presente estudo (PE), verificamos que os valores médios da
nossa amostra estão muito abaixo destas recomendações.
Acresce que, ao analisar a amplitude de variação do PE,
verificamos valores muito baixos no patamar inferior o que
pode significar que estes sujeitos estejam em défice energético
115
dramático mesmo que relativizemos o consumo energético
ao peso corporal.
Outros estudos realizados em jovens futebolistas encontraram consumos energéticos superiores ao do PE, embora
demonstrem uma clara tendência para défices energéticos:
2983 kcal.dia-1 [17], 3619 kcal.dia-1 [18], 3952 kcal.dia-1
[19], 3030-3478 kcal.dia-1 [20], 3382-3912 kcal.dia-1 [9] e
3038 kcal.dia-1 [10].
Calculando o gasto energético correspondente ao metabolismo basal [21], verificamos um gasto metabólico basal
médio de 1710 kcal.dia-1, variando entre 1480 kcal.dia-1 em
relação ao sujeito mais leve e 1860 kcal.dia-1 para o sujeito
mais pesado. A este gasto calórico relacionado com o funcionamento dos vários sistemas orgânicos em repouso, temos
de acrescentar a termogénese alimentar, energia gasta para o
processamento dos alimentos, e que em média corresponde
aproximadamente a 10% do gasto calórico total [22].
Como as necessidades energéticas de um futebolista jovem
sobrelevam, em muito, as decorrentes do metabolismo basal e
termogénese alimentar, pensamos que o valor médio encontrado no nosso estudo (2575 kcal.dia-1) não está ajustado às
exigências energéticas dos jovens futebolistas.
Apesar de não termos nenhuma referência que nos providencie informação acerca da ingestão calórica por dia e por
quilograma de peso corporal e nos permita comparações,
pensamos que o valor médio da ingestão calórica da nossa
amostra demonstra, tendencialmente, um défice em termos
de consumo energético.
Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of
Canada and the American College of Sports Medicine [15],
ingestões energéticas baixas podem resultar em perda de
massa muscular, redução no aumento da densidade óssea,
risco crescente de fadiga, lesões e doenças. Com uma ingestão
energética deficitária, a massa gorda e alguma massa muscular
são utilizadas pelo corpo como “combustível”. Além disso,
se o aporte energético não for ao encontro ao aumento das
necessidades nutricionais originadas pelo treino e competição,
a prática desportiva intensa poderá influenciar negativamente
o crescimento e maturação biológica dos atletas adolescentes,
impedindo o normal desenvolvimento muscular e afectando
o desempenho cognitivo [8].
Glícidos
Tabela II - Estatística descritiva referente à ingestão de glícidos
da amostra.
Média
Glícidos (g/kg/
4,48
dia)
Glícidos (%VET) 45,4
Desvio- MíniPadrão mo
Máximo
Amplitude
1,1
2,8
9,2
6,4
4,1
36,5
55,2
18,7
Os glícidos assumem especial importância, pois são os
únicos substratos capazes de apoiar energeticamente o exer-
116
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
cício intenso durante longos períodos de tempo. Por isso, um
consumo adequado de glícidos é importante para manter os
níveis normais de glicemia durante o exercício e para ressintetizar o glicogénio muscular [2], sendo considerados os
elementos mais importantes na dieta de um futebolista [1].
Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of Canada
and the American College of Sports Medicine [15], um aumento
da intensidade do exercício irá aumentar a contribuição dos
glícidos como substracto energético. Embora o glicogénio
muscular seja o substrato energético principal que suporta os
esforços de maior intensidade característicos do futebol [23],
caso a glicose sanguínea não consiga ser mantida, a intensidade do exercício realizado terá de decrescer prenunciando
a fadiga [24].
A nossa amostra apresentou um consumo de glícidos correspondente a 45,4% do VET (valor energético total). Este
valor está muito longe da única recomendação que dispomos
para o consumo de glícidos em jovens futebolistas: 55-60%
[16]. O défice de glícidos que caracteriza a nossa amostra
corresponde a um panorama que não é original no âmbito
do futebol jovem no nosso país. Outros autores encontraram
consumos diários de glícidos desajustados para a prática desportiva: 48,7% [10]; 48,5-53,7% [9].
O consumo de glícidos, relativizado ao peso corporal,
também apresenta um valor muito baixo (4,48 ± 1,1 g.kg-1.
dia-1), quando comparado com os valores mínimos indicados para futebolistas por Hawley et al. [25] e Clark [10] (7
g.kg-1.dia-1).
Em estudos realizados em jovens futebolistas, Ruiz et al.
[20] encontraram valores entre 4,57 e 6,68 g.kg-1.dia-1, Iglesias
Gutierrez et al. [17], um valor médio de 5,6 g.kg-1.dia-1 e Caccialanza et al. [26] valores entre 4,9 e 5 g.kg-1.dia-1. Apesar de
serem valores coincidentes ou superiores aos encontrados no
nosso estudo, estão abaixo do recomendado para futebolistas
por Clark [1] e Hawley et al. [25].
Assim, seja em percentagem do aporte calórico total, seja o
consumo relativizado ao peso corporal, a ingestão média diária
de glícidos da nossa amostra é inadequada e incompatível com
as elevadas exigências energéticas dos treinos e competições.
Com este perfil de ingestão nutricional, as reservas de glicogénio no início de cada treino ou no início do jogo tenderão
a estar baixas. Com esforços de alta intensidade, como aqueles
que são característicos do futebol, com reservas diminuídas de
glicogénio muscular atinge-se mais rapidamente a depleção,
afectando desta forma a performance dos futebolistas. Como
refere Hargreaves [27], um défice marcado deste macronutriente afecta inexoravelmente o rendimento desportivo.
Lípidos
Segundo várias recomendações, uma dieta saudável não
deve ter mais do que 30% do aporte calórico total proveniente das gorduras. Manore et al. [2] e Kirkendall [28]
sugerem 15-25% do VET, Giovaninni et al. [29], valores
entre os 20-30% do VET, Papodopolou et al. [30] 25-30%
do VET e Wilmore & Costill [31] valores a rondarem os
30% do VET. Na única recomendação que dispomos para
jovens futebolistas, as propostas são idênticas com Leblanc
et al. [16] a recomendar um aporte entre 20-25% do VET
proveniente das gorduras.
Tabela III - Estatística descritiva referente à ingestão de lípidos da
amostra.
Média
Lípidos (g/dia) 105,4
Lípidos (%VET) 36,7
DesvioPadrão
23,5
3,3
Mínimo
59,4
29,5
Máximo
169,6
44,3
Amplitude
110,2
14,8
As DRI’s recomendadas pelo FNB [32] apontam para
valores entre os 25-35% em jovens dos 14 aos 18 anos, o
que representa uma excepção aos valores acima citados. No
entanto, parece-nos que este alargamento dos valores de
referência para o consumo de lípidos se deve ao facto destas
recomendações serem feitas especificamente para os indivíduos norte-americanos. Desta forma, estes valores traduzem
os hábitos alimentares deste país, onde as taxas de obesidade
infantil são muito elevadas.
Embora as modernas tabelas nutricionais valorizem o
aporte das gorduras vegetais, pensamos que uma redução
significativa do aporte de gorduras na dieta de um desportista
pode não ter efeitos negativos quanto à saúde nem afectar o
rendimento desportivo.
No nosso estudo, podemos verificar que a média (36,7%)
é superior a qualquer dos valores máximos das recomendações acima referidas, mesmo as DRI’s elaboradas para jovens
norte-americanos.
O excesso de lípidos na dieta pode constituir um factor
de risco para o rendimento e saúde de desportistas, seja pelo
contributo acrescido para o aumento do peso corporal dos
atletas seja para o eventual aumento da taxa de incidência
quanto a uma série de patologias cardiovasculares.
O consumo excessivo de gorduras é um facto já verificado
em muitos outros estudos. À excepção do estudo efectuado
por Giada et al. [33], onde se verificou uma percentagem de
28,3%, valor abaixo do máximo recomendado por diversos
autores, outros estudos evidenciam a tendência para consumos excessivos. Craven et al. [34], num estudo efectuado em
equipas da English Premier Division encontraram valores de
31,8%, enquanto que Kirkendall [28] encontrou os valores
mais elevados (42%).
Estudos em jovens futebolistas apresentam o mesmo panorama. Rico-Sanz [18] e Rico-Sanz et al. [19] encontraram
em equipas de juniores de elite, respectivamente, 30,1% e
32,4% do VET, Leblanc et al. [16] um valor médio de 34%
e Ruiz et al. [20] um valor entre os 38-39,1%. Quanto aos
estudos realizados em jovens futebolistas portugueses, Horta
[9] encontrou valores entre 30,6-33,6% e Silva [10] um valor
de 33,5% do VET.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Os valores médios elevados de ingestão de gorduras,
encontrados nos jovens futebolistas, correspondem a uma
tendência global, pelo menos na Europa, o que é reforçado
pelos estudos de Roland-Cachera et al. [35] que encontraram
valores de 36,9% e 41,3% em adolescentes franceses e ingleses,
respectivamente e Samuelson [36] que encontrou um valor de
34% do VET em jovens holandeses. Estes estudos incidiram
sobre populações de adolescentes não desportistas.
No presente estudo, embora os valores de consumo de lípidos não acarretem graves problemas epidemiológicos, podem
não corresponder a uma dieta adequada para desportistas, já
que o elevado consumo lipídico da nossa amostra corresponde
a um reduzido aporte de hidratos de carbono o que pode, em
determinados períodos de treino intenso e competição, não
providenciar substrato suficiente para a reposição, em tempo
útil, das reservas musculares de glicogénio.
Proteínas
Tabela IV - Estatística descritiva referente à ingestão de proteínas
da amostra.
MéDesviodia
Padrão
Proteínas (g/dia) 114,7 22,6
Proteínas (g/kg/
1,8
0,4
dia)
Proteínas (%VET) 18
2,5
Míni- Máxi- Amplimo
mo
tude
76,2 184,5 108,3
1,0
2,7
1,7
12,6
23,2
10,6
De acordo com Tipton & Wolfe [37], a ingestão proteica
adequada é essencial para atletas de desportos de equipa. As
proteínas, para além de providenciarem energia através da sua
degradação, são necessárias para o crescimento, manutenção e
reparação dos tecidos corporais [15]. Além disso, são importantes para a formação de enzimas, hormonas e anticorpos,
que ajudam a combater as infecções, diminuindo assim os
efeitos lesivos do treino e da competição.
Em termos totais, Seeley et al. [38] recomendam 0,8g.kg-1.
-1
dia , enquanto que outros autores defendem 0,85g.kg-1.dia-1
[32], 1,2 a 1,4 g.kg-1.dia-1 [2] e 1,4 a 1,7 g.kg-1.dia-1 [39]. Há
ainda que acrescentar que Tipton & Wolfe [37] recomendam
para atletas de força e velocidade consumos de 1,2-1,7g.kg-1.
dia-1, enquanto para atletas de endurance valores de 1,2-1,4g.kg-1.dia-1. Pensamos que os aportes proteicos têm de estar
ajustados ao perfil de treino. Assim, em períodos de ganho
de força e massa muscular podemos aumentar a quantidade
de proteínas ingerida, enquanto que em fases de manutenção
essa ingestão pode ser mais reduzida.
No nosso estudo encontrámos valores de ingestão proteica
de 1,8 g.kg-1.dia-1, que é um valor superior a qualquer uma das
recomendações acima citadas. A excessiva ingestão proteica
parece ser um traço característico da alimentação de outros
jovens futebolistas portugueses [9,10].
Relativizando o aporte proteico ao consumo energético total (VET) verificamos que a nossa amostra excede as recomen-
117
dações, já que Seeley et al. [38] recomendam 12%, Giovannini
et al. [29] 12-14%, enquanto Manore et al. [2] e Papodopolou
et al. [30] recomendam 12-15%. Rego [7] aconselha um
valor percentual de 15% para jovens desportistas, e um valor
semelhante é encontrado nas recomendações providenciadas
por Leblanc et al. [16] para jovens futebolistas.
Excessivos aportes proteicos parecem ter efeitos negativos
sobre a saúde do osso já que tendem a promover uma superior
taxa de excreção urinária de cálcio. No entanto, embora a
taxa de excreção urinária de cálcio aumente com uma elevada
ingestão proteica, aumenta também a taxa de absorção de
cálcio pelo osso [40].
De igual forma, a excessiva acidificação induzida pelo
aporte proteico fora das recomendações pode ser contrabalançado pelo efeito alcalinizante de uma ingestão adequada
de frutas e vegetais [41].
É de aceitar a hipótese de excessivos aportes proteicos poderem produzir alguns efeitos adversos, já que se comprovou
a toxicidade de alguns aminoácidos – metionina, cisteína e
histidina quando tomados em quantidade elevadas [42]. No
entanto, uma dieta normal, mesmo com aportes elevados de
proteínas não deve promover respostas metabólicas próximas
da toxicidade. No entanto, podemos especular que um habitualmente excessivo aporte proteico da dieta, pelo superior
trabalho hepático de desaminação que exige, aliado a digestões
mais difíceis e prolongadas e desidratação devido à perda de
água associada à excreção de azoto, pode interferir negativamente com a performance física. Acresce que as proteínas
em excesso podem ser transformadas em gordura onerando
o movimento humano com peso supérfluo.
Comparando com estudos realizados em desportistas, verificamos que Giada et al. [33] encontraram valores de 15,9%
do VET e Craven et al. [34], valores de 16,2%. Em jovens
futebolistas, Rico Sanz [18] e Rico-Sanz et al. [19] encontraram valores de ingestão de proteínas de 14,5% e 14,4% do
VET, respectivamente e Leblanc et al. [16], 17,5% do VET.
Já Ruiz et al. [20] encontraram valores entre 15,2% e 17,7%,
enquanto que no estudo de Caccialanza et al. [26] o consumo
percentual de proteínas se situa entre 16,6% e 17%. Nestes
últimos três estudos, encontramos valores mais coincidentes
com o nosso estudo. O mesmo se verifica se particularizarmos
para estudos realizados em jovens futebolistas portugueses:
17,8% [10], 15,7-17,8% [9].
No entanto, apesar do valor médio do presente estudo exceder as recomendações para a ingestão deste macronutriente,
parece-nos que este excesso não será um factor problemático
para atletas, pois está segundo Bilsborough & Mann [43],
abaixo dos valores de toxicidade proteica (25% do aporte energético total). De referir que mesmo o valor máximo do nosso
estudo (23,2%), encontra-se abaixo desse valor limite.
Pensamos que o problema da nossa amostra reside menos
no excessivo aporte de proteínas e mais no facto de o excesso
de ingestão proteica ser feito a expensas de um reduzido aporte
de hidratos de carbono, o que vai estabelecer um quadro nu-
118
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
tricional incompatível com esforços de elevada intensidade e
repetidos no tempo, como são os característicos do futebol.
Composição corporal
Tabela V - Estatística descritiva referente ao peso corporal, estatura,
índice de massa corporal e percentagem de gordura corporal.
Peso (kg)
Estatura (m)
IMC (P/E2)
Massa Gorda (%)
Média
66
1,74
21,8
13,7
DesvioPadrão
7,9
0,74
2
2,9
Mínimo
50,0
1,60
18,2
8,9
Máximo
90,5
1,88
27,2
21
Amplitude
40,5
0,28
9
12,1
A composição corporal é um aspecto importante para a performance de um futebolista, uma vez que um excesso de massa
adiposa actua como um “peso morto” em actividades nas quais a
massa corporal deve ser repetidamente levantada, contra a acção
da gravidade [44]. O mesmo autor complementa a afirmação
acima supracitada, referindo que em diferentes modalidades,
entre as quais o futebol, uma baixa quantidade de massa gorda
tem uma correlação positiva com a intensidade de treino.
Na nossa amostra, o valor médio no que diz respeito
ao Índice de Massa Corporal (IMC) é de 21,8. Segundo os
graus de classificação de obesidade elaborados por Garrow
[45], a nossa amostra encontra-se no grau 0 (grau da normalidade). Através desta classificação, e fazendo uma análise
individual dos jovens futebolistas, verificamos que 4 deles
apresentam valores superiores a 25 kg/m2, encontrando-se
no grau 1 (excesso de peso). No entanto, há que atentar que
o cálculo do IMC isoladamente tem as suas limitações. Isto,
porque como refere Rodrigues dos Santos [12], o IMC não
distingue a muscularidade do excesso de massa gorda. Sendo
assim, reforçamos os dados do IMC com a determinação da
percentagem de gordura corporal [11].
Bubb [46] apresenta valores de referência para a percentagem de massa gorda, de 5% a 13% para indivíduos
desportistas e 12% a 18% para sujeitos normais considerados
saudáveis. A percentagem média de massa gorda da nossa
amostra (13,7 ± 2,9%) excede ligeiramente os valores tidos
como recomendáveis para desportistas. Apesar de não termos
realizado correlações entre os vários indicadores nutricionais e
os indicadores de composição corporal, o elevado consumo de
gorduras, principalmente as gorduras saturadas, pode ser uma
explicação para que o nosso valor médio exceda ligeiramente
os valores recomendados [47].
Outros estudos verificaram, em futebolistas, valores médios de percentagem de massa gorda de 14,7% [48] e 10,6%
[49]. Os valores encontrados nestes dois estudos permitemnos verificar a diversidade das amostras quanto à composição
corporal. Como afirma Santos [50] os jogadores de futebol
necessitam de uma certa quantidade de massa gorda para funcionar quer como insulação quer como proteção em relação
aos choques e quedas. Os valores médios de massa gorda de
futebolistas profissionais da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª divisões, encontrados por Rodrigues dos Santos [50] foram de 11.5 ± 2.5.
Particularizando para estudos efectuados em jovens futebolistas, os valores encontrados foram todos inferiores ao do
nosso estudo, e dentro das recomendações para desportistas:
Ruiz et al. [20]: 11,4-11,9%, Rico Sanz [18]: 10% e Rico
Sanz et al. [19]: 7,6%.
Dada a amplitude da nossa amostra, pareceu-nos pertinente analisar pormenorizadamente os valores de %MG
de cada jovem futebolista. Sendo assim, uma percentagem
elevada (47%) da nossa amostra ultrapassa o valor máximo
recomendado para desportistas por Bubb [42] (13% MG).
Estes futebolistas possuem níveis de gordura corporal
incompatíveis com a condição de desportista, podendo trazer
consequências negativas para a performance desportiva. A este
respeito, Santos [12] refere que o excesso de peso pode ser um
obstáculo para o rendimento desportivo, pois um acúmulo
exagerado de gordura supérflua afecta a economia de esforço
e mesmo a coordenação motora.
Como fizemos a recolha dos dados no início da época, os
valores médios elevados da nossa amostra podem estar relacionados com o acúmulo normal de gordura no período de
transição. Acreditamos que o avançar do processo de treino
irá progressivamente reduzindo a massa gorda dos futebolistas
que estudámos.
Conclusão
Os dados do nosso estudo parecem evidenciar uma inadequada ingestão alimentar dos futebolistas que participaram
no Campeonato Nacional de Juvenis de Futebol, na época
desportiva 2006/2007, quer em termos quantitativos quer
em termos qualitativos.
Em termos quantitativos, a ingestão calórica diária dos
jovens futebolistas foi insuficiente para suportar as exigências
energéticas que o futebol exige. Já em termos qualitativos, os
jovens futebolistas apresentam um excesso de consumo de
gorduras e proteínas em detrimento dos hidratos de carbono.
Isto implicará uma maior dificuldade para suportar os esforços
prolongados de elevada intensidade característicos do futebol,
uma vez que os hidratos de carbono são o único macronutriente que pode ser metabolizado anaerobicamente.
No nosso estudo encontrámos uma percentagem de massa
gorda nos jovens futebolistas ligeiramente superior ao valor
recomendado para desportistas. Este valor parece-nos estar
associado com o excesso de consumo de gorduras (principalmente as saturadas), pelo que pensamos que os jovens futebolistas do nosso estudo devem ser objecto de uma intervenção
nutricional que reajuste este panorama nutritivo.
Referências
1. Clark K. Nutritional guidance to soccer players for training and
competition. J Sports Sci 1994;12(special issue):43S-50S.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
2. Manore M, Barr S, Butterfield G. Nutrition and athletic performance. Position of the American College of Sports Medicine,
American Dietetic Association and Dietitians of Canada. Med
Sci Sports Exerc 2000;32(12):2130-45.
3. Horta L. Nutrição no desporto. 2ª ed. Lisboa: Caminho, Colecção Desporto e Tempos Livres; 1996.
4. Ekblom B. Applied physiology of soccer. Sports Med
1986;3(1):50-60.
5. Hargreaves M. Carbohydrate and lipid requirements for soccer.
J Sports Sci 1994;12(Special Issue):13S-16S.
6. McMurray R, Anderson J. Introduction to nutrition in exercise
and sport. In: Wolinsky, Hickson J, eds. Nutrition in exercise
and sport. 2nd ed. Florida: CRC Press; 1994. p.1-11.
7. Rego C. Uma alimentação equilibrada para crescer…e vencer.
Comunicação Pessoal. Lisboa; 2003.
8. Beals K. Nutritional concerns of adolescent Athletes. In: I.
Wolinsky, J.Driskell (eds.). Nutritional applications in exercise
and sport. Florida: CRC Press; 2001. p 59-73.
9. Horta L. Factores de predição do rendimento Desportivo em
atletas juvenis de futebol [tese]. Porto: Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto; 2003.
10. Silva R. Hábitos nutricionais dos jovens futebolistas: estudo
descritivo do escalão júnior do campeonato nacional [dissertação]. Porto: Faculdade de Ciências de Desporto e Educação
Física da Universidade do Porto; 2003.
11. Slaughter MH, Lohman TG, Boileau RA, Horswill CA, Stillman
RJ, Loan MD et al. Skinfolds equations for estimation of body
fatness in children and youth. Hum Biol 1988;60(5):709-23.
12. Santos JAR. Controlo de peso em desportistas. Revista Treino
Desportivo 2005;28:38-43.
13. Hawley JA, Dennis SC, Noakes TD. Carbohydrate, fluid, and
electrolyte requirements of the soccer player: a review. Int J
Sport Nutr 1994;4(3):221-36.
14. Solomon TP, Chambers ES, Jeukendrup AE, Toogood AA, Blannin AK. The effect of feeding frequency on insulin and ghrelin
responses in human subjects. Br J Nutr 2008;100(4):810-9.
15. American Dietetic Association, Dieticians of Canada and the
American College of Sports Medicine. Nutrition and athletic
performance. J Am Diet Assoc 2000;100(12):1543-1556.
16. Leblanc J, Le Gall F, Grandjean V, Verger Ph. Nutritional intake
of French soccer players at the Clairefontaine Training Center.
Int J Sport Nutr Exerc Metab 2002;12(3):268-80.
17. Iglesias-Gutierrez E, Garcia-Roves PM, Rodriguez C, Braga S,
Garcia-Zapico P, Patterson AM. Food habits and nutritional
status assessment of adolescent soccer players: A necessary and
accurate approach. Can J Appl Physiol 2005; 30:18-32.
18. Rico-Sanz J. Body Composition and nutritional assessments in
soccer. Int J Sport Nutr 1998;8:113-23.
19. Rico-Sanz J, Frontera WR, Mole PA, Rivera MA, Rivera-Brown
A, Meredith CN. Dietary and performance assessment of elite
soccer players during a period of intense training. Int J Sport
Nutr 1998;8:230-40.
20. Ruiz F, Irazusta A, Gil S, Irazusta J, Casis L, Gil J. Nutritional intake in soccer players of different ages. J Sports Sci
2005;23(3):235-42.
21. Durnin J. Basal metabolic rate in man. FAO/WHO/UNU
Expert Consultation on energy and protein requirements
[online]; 1981. [citado 2007 Set 10]. Disponível em URL:
http://www.fao.org
119
22. Reed GW, Hill JO. Measuring the thermic effect of food. Am
J Clin Nutr 1992;63:164-9.
23. Bangsbo J, Mohr M, Krustrp P. Physical and metabolic demands
of training and match-play in the elite football player. J Sports
Sci 2006;24(7):665-74.
24. Coyle EF, Coggan AR, Hemmert MK, Ivy JL. Muscle glycogen utilization during prolonged strenuous exercise when fed
carbohydrate. J Appl Physiol 1986;61:165-72.
25. Hawley JA, Tipton KD, Millard-Stanford ML. Promoting
training adaptations through nutritional interventions. J Sports
Sci 2006;24(7):709-21.
26. Caccialanza R, Cameletti B, Cavallaro, G. Nutritional intake of
young Italian high-level soccer players: Under reporting is the
essential outcome. J Sports Sci Med 2007;6:538-42.
27. Hargreaves M. Metabolic responses to carbohydrate ingestion:
effects on exercise performance. In: DR Lamb and R Murray,
eds. Perspectives in Exercise Science and Sports Medicine.
Carmel: Cooper; 1999. p 93-124.
28. Kirkendall D. Nutrition and soccer performance. Science and
Football 1991;4: 32-5.
29. Giovannini M, Agostoni C, Gianni M, Bernardo L, Riva
E. Adolescence.: macronutrient needs. Eur J Clin Nutr
2000;54(Suppl.1): S7-S10.
30. Papodopolou S, Papodopolou S, Gallos G. Macro and micronutrient intake of adolescent Greek female volleyball players.
Int J Sport Nutr Exerc Metab 2002;12(1):73-80.
31. Wilmore J, Costill D. Physiology of sport and exercise. Champaign: Human Kinetics; 1994.
32. Food and Nutrition Board, Standing Committee on the
Scientific Evaluation of dietary Reference Intakes, Institute of
Medicine, National Research Council. Dietary reference intakes
for energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol,
protein and amino acids; 2002 [online]. [citado 2007 Set 12].
Disponível em URL: http://www.nap.edu
33. Giada F, Zuliani G, Baldo-Enzi G, Palmieri E, Volpato S,
Vitale S et al. Lipoprotein profile, diet and body composition
in athletes practicing mixed and anaerobic activities. J Sports
Med Phys Fitness 1996;36(3):211-16.
34. Craven R, Butler M, Dickinson L, Kinch R, Ramsbottom R.
Dietary analysis of a group of English First Division Players.
In: Spinks W, Reilly T, Murphy A, eds. Science and Football
IV. London: Routledge; 2002. p. 230-33.
35. Roland-Cachera M, Bellisle F, Deheeger M. Nutritional status
and food intake in adolescents living in Western Europe. Eur
J Clin Nutr 2000;54(Suppl.1): S41-S46.
36. Samuelson G. Dietary habits and nutritional status in adolescents over Europe. An overview of current studies in the Nordic
Countries. Eur J Clin Nutr 2000:54(Suppl 1)S21-S46.
37. Tipton KD, Wolfe RR. Protein and amino acid for athletes. J
Sports Sci 2004; 22:65-79.
38. Seeley R, Stephens T, Tate P. Anatomia e Fisiologia. Lisboa:
Lusodidacta; 1997.
39. Lemon P. Protein requirements of soccer. J Sports Sci
1994;12(Special Issue): 17S-22S.
40. Cloutier GR, Barr SI. Protein and bone health: literature
review and counselling implications. Can J Diet Pract Res
2003;64(1):5-11.
41. Heaney RP, Layman DK. Amount and type of protein influences bone health. Am J Clin Nutr 2008;87(5):1567S-1570S.
120
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
42. Garlic PJ. The nature of human hazard associated with excessive
intake of amino acids. J Nutr 2004;135 (Suppl 6):1633S1639S.
43. Bilsborough S, Mann N. A review of issues of dietary protein
intake in humans. Int J Sport Nutr 2006;16(2):129-52.
44. Reilly T. Science and soccer. London: E & Fn Sport; 1996.
45. Garrow JS. Treat obesity seriously. Clinical manual. London:
Churchill Livingstone; 1981.
46. Bubb W. Relative leanness. 2a ed. Champaign: Human Kinetics; 1992.
47. Doucet E, Almeras N, White MD, Despres JP, Bouchard C,
Tremblay A. Dietary fat composition and human adiposity. Eur
J Clin Nutr 1998;52(1):2-6.
48. Reilly T, Doran D. Kinanthropometric and performance profiles
of elite Gaelic footballers. J Sports Sci 1999;17:922.
49. Rienzi E, Massa JC, Cárter JE, Reilly T. Futbolista sudamericano
de elite: morfologia, analisis del juego y performance. Rosário:
Biosystem Servicio Informativo; 1998.
50. Santos JAR. Estudo comparativo, fisiológico, antropométrico
e motor entre futebolistas de diferente nível competitivo. Rev
Paul Educ Fis 1999;13(2):146-59.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
121
Artigo original
Efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força
isométrica máxima em adolescentes não treinados
Time of day effects in isometric strength development
in untrained adolescents
José Eduardo Lattari Rayol Prati*, Sergio Eduardo de Carvalho Machado**, Edmilson Batista de Carvalho***,
Vernon Furtado da Silva****
*Mestrando em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora – IPUB/UFRJ, **Doutorando
em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora – IPUB/UFRJ, Professor da Universidade
Castelo Branco - UCB, ****Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, RJ
Resumo
Abstract
O presente estudo investigou os efeitos do horário do dia no
desenvolvimento de força isométrica máxima em adolescentes não
treinados. Participaram do estudo 20 adolescentes na faixa etária
15 a 17 anos, gênero masculino. 10 participantes treinaram força
isométrica máxima no horário vespertino entre 15:00 h e 18:00 h
e os outros 10 treinaram o mesmo em horário diurno entre 7:00 h
e 10:00 h. Ambos os grupos foram submetidos a um teste de força
isométrica máxima para os músculos flexores de cotovelo para qual
foi utilizado um transdutor de força Biopac de modelo TSD130c. O
treinamento foi realizado em dias alternados, em horários vespertinos
para um grupo e diurno, para o outro. O programa ocorreu em 3
sessões semanais durante 4 semanas, onde 3 séries de 5 contrações
máximas com 5 segundos e intervalo de 1 minuto foram executados. Os resultados revelaram uma diferença significativa entre os
períodos, sendo p < 0,05, favorecendo o grupo treinado no horário
vespertino. Conclui-se que o treinamento de força isométrica realizado no horário vespertino produziu maiores ganhos de quando
comparados ao horário diurno para esses adolescentes.
The present study investigated the time of day effects in maximum isometric strength development in untrained adolescents. 20
male adolescents 15 to 17 years old participated in the study. 10
participants trained maximum isometric strength in the afternoon
between 3:00 and 6:00 pm, and 10 trained the same exercise, in the
morning between 7:00 and 10:00 am. Both groups were submitted
to a test of maximum isometric strength for the elbow flexor muscles
where a Biopac force transdutor model TSD130c was used. The
training was performed in alternate days, in the evening for a group
and in the morning for the other. The program was scheduled in 3
sessions/week during 4 weeks, where 3 sets of 5 maximum contractions for 5 seconds and 1 minute interval were performed. The results
demonstrated a significant difference among the periods, being p <
0.05, favoring the group in the evening schedule. It was concluded
that the isometric strength training accomplished in the evening
produced better results when compared to the training developed
during the morning for those adolescents.
Key-words: time of day, isometric strength, adolescents.
Palavras-chave: horário do dia, força isométrica, adolescentes.
Endereço para correspondência: José Eduardo Lattari Rayol Prati, Estrada do Mendanha, 1665, casa 59 Campo Grande 23087-286
Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected].
122
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
Nos últimos anos, muito se têm discutido em relação
à influência dos ritmos circadianos (as 24 h do ciclo circadiano completo) em vários índices do desempenho muscular. Sugere-se que os maiores ganhos seriam conseguidos
quando o treinamento fosse executado em um horário
particular. A especificidade temporal pode significar que,
independente do horário do dia, a adaptação ao treinamento
será maior se o treinamento for executado em um horário
particular [1].
Estudos relatam que o desempenho muscular máximo é
melhor geralmente mais para o final da tarde, no pico da curva
da temperatura corporal [2-4]. Outros estudos demonstram
que ocorre uma influência significativa de um ritmo circadiano na contração voluntária máxima [5] e no pico de torque
isocinético [2] caracterizada por uma acrofase (tempo do valor
do pico) atrasada pela tarde.
A magnitude da variação diária de força difere de acordo
com o grupo muscular testado, a modalidade da contração
e da duração do esforço, conforme mostra o estudo de Coldwells et al. [6] no qual se verificou uma variação de pico
de 17,9% para a extensão isométrica máxima do joelho. Os
achados de Deschenes et al. [5] verificaram um efeito significativo do horário do dia no pico do torque concêntrico
máximo dos músculos extensores do joelho a uma velocidade
angular de 3.14 rad s¯1.
Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo, verificar os efeitos do horário do dia no desenvolvimento de força
isométrica máxima em sujeitos destreinados.
Material e métodos
Amostra
transdutor do equipamento foi usado como elo central de uma
corrente de aço. Uma ponta da corrente estava fixada numa
base rígida e do outro lado foi posta uma barra reta curta ou
uma manopla padrão utilizada em salas de musculação. Para
tal foram adotados os seguintes procedimentos:
o indivíduo foi posicionado de pé, com os pés apoiados no
solo, joelhos levemente flexionados, estando o comprimento
da corrente ajustada para permitir que o cotovelo estivesse
numa posição de 90o determinado por meio de um goniômetro pelos pontos anatômicos acromial, epicôndilo lateral
do úmero e processo estilóide do rádio;
a pegada utilizada foi a de supinação para evitar possíveis
aumentos na co-ativação do tríceps braquial. Ao comando, o
indivíduo tinha que realizar a flexão de cotovelo o máximo que
pudesse durante 6 segundos, puxando a manopla presa à base
fixa, realizando assim, uma contração isométrica voluntária
máxima dos flexores de cotovelo.
Programa de treinamento
A carga de treinamento foi determinada através do teste de
força dinâmica máxima (1RM) na polia inferior do aparelho
pulley. A carga obtida no teste de 1 RM foi adotada durante o
treinamento isométrico máximo. O protocolo de treinamento
de força isométrica máxima consistiu de três sessões semanais
realizadas durante 4 semanas de treinamento. O treinamento
foi realizado por um grupo no horário diurno entre 7:00 h e
10:00 h e por outro grupo no horário vespertino entre 15:00
h e 18:00 h, com exercícios de flexão de cotovelo, estando a
uma angulação 90o, no aparelho de musculação (pulley baixo).
Foram realizadas 3 séries de 5 contrações isométricas máximas
de 5 segundos, com intervalo de 1 minuto entre cada uma
dentro dos respectivos horários.
Análise estatística
Foram selecionados 20 adolescentes do sexo masculino,
idade entre 15 e 17 anos, não treinados e não apresentando
qualquer distúrbio físico ou mental. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em dois grupos compostos por dez
indivíduos, um grupo referente ao horário matutino (7:00
h e 10:00 h) e o outro grupo referente ao horário vespertino
(15:00 h e 18:00 h).
O presente estudo atendeu as Normas para a Realização de
Pesquisa em Seres Humanos, Resolução 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde de 10/10/1996.
Avaliação da força muscular
Cada participante se submeteu a um teste de flexão
do cotovelo para se determinar a força isométrica máxima
dos músculos envolvidos, antes e depois do programa de
treinamento dentro do referido horário estabelecido para o
treinamento. Foi utilizado um transdutor de força Biopac de
modelo TSD130c (Biopac System Inc., Santa Barbara CA). O
A análise de dados foi realizada através de estatística descritiva, na qual se incluiu a relação de média e desvio padrão
das diferenças de ganhos obtidos pelos grupos. Além disto,
foi realizado um teste t pareado sobre os valores médios dos
grupos, e um Teste t de Student para amostras independentes
sobre os ganhos percentuais individuais, tendo como nível de
significância (p ≤ 0,05).
Resultados
Através da análise de dados comparando-se os valores médios, verificou-se que tanto o grupo matutino (GM) quanto o
grupo vespertino (GV) apresentaram aumentos significativos
de força. Porém o GV foi superior ao grupo diurno GM. Tais
resultados puderam ser observados quando foi aplicado o
teste t pareado comparando os resultados dos testes com os
resultados dos re-testes em cada um dos grupos, conforme
mostra a Tabela I.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
123
Tabela I - Teste t pareado para o GM e GV.
Testes
Média (kg)
Diferença entre teste e re-teste
p
Teste GM
22,77 ± 0,85
2,66 ± 0,12
0,000
Os percentuais de ganho de cada um dos indivíduos foram calculados aplicando a seguinte fórmula: % de ganho =
((Pós-teste x 100) / pré-teste) – 100. Portanto optou-se pela
utilização do teste t de Student para amostras independentes
presumindo variâncias equivalentes. Dessa maneira, verificouse que a diferença encontrada nas médias dos ganhos percentuais foi significativa (p = 0,000), revelando uma superioridade
do grupo vespertino em relação ao grupo diurno, conforme
mostra a Tabela II.
Tabela II - Teste t para amostras independentes.
Médias
Diferença entre as médias
de ganhos % do G2 – G1
P
Ganhos % GM Ganhos % GV
4,20 ± 0,37
5,73 ± 1,29
1,53 ± 0,82
0,000
Discussão
O presente estudo tem como objetivo verificar os efeitos
do horário do dia no desenvolvimento de força isométrica
máxima em adolescentes não treinados. Nossos resultados
mostraram uma superioridade do grupo que realizou treinamento no horário vespertino em relação ao que realizou no
horário matutino, apresentando valores mais significativos de
força isométrica máxima. Corroborando com nossos resultados, Gauthier et al. [7] verificaram em jovens saudáveis uma
maior eficiência neuromuscular (pico) às 18:00 h, juntamente
com uma maior ativação muscular também às 18:00 h em
contrações isométricas máximas e sub-máximas de flexão do
cotovelo. De maneira bastante semelhante, Gauthier et al.
[3] também observaram um pico de torque por volta das
17:55h.
A temperatura tem sido indicada como uma possível variável influenciadora nessa resposta da força. Muitos estudos
mostram que as diversas manifestações da força muscular
atingem seu ápice no período vespertino entre 14 e 19 horas
[8,10,11]. Partindo desse mesmo princípio, Cappaert [9] verificou que o horário vespertino propiciou melhores resultados
na realização de testes de força isocinético e isotônica de flexão
e extensão de joelho e isotônica de preensão manual. Porém,
independentemente da temperatura, os aumentos de força
são superiores no horário vespertino em relação ao matutino,
conforme indica o estudo de Racinais et al.[12]. Nesse estudo
foram demonstrados que quando os sujeitos eram expostos em
ambientes aquecidos ocorria aumento da potência muscular,
porém esse aumento era superior no horário vespertino em
relação ao matutino. Talvez esse aumento da temperatura
Re-teste GM
25,43 ± 0,73
Teste GV
26,98 ± 1,15
4,18 ± 0,20
0,000
Re-teste GV
31,16 ± 0,95
corporal, possa ser o desencadeador de um comando central
enviando informações adicionais vias cortico-espinais, aumentando assim, a frequência de disparos das unidades motoras
[13]. Entretanto, há de se ressaltar, que a temperatura parece
não ser a justificativa principal para o aumento da força
muscular, já que no estudo realizado por Racinais et al. [14]
foi verificado que uma exposição em ambiente quente, tanto
no horário vespertino quanto no matutino, não promoveu
efeitos passivos de aquecimento.
Diversas evidências levam a crer que as diferenças na força
muscular em diferentes horários do dia não ocorrem somente
por alterações na temperatura corporal [13]. Tais diferenças
também podem ser atribuídas a alterações de parâmetros como
níveis intracelulares do Pi, liberação de Ca2+ e sensibilidade
da fibra do músculo ao Ca2+14, além de diferenças hormonais
durante o dia, como observado através de concentrações de
cortisol plasmático, beta-endorfina e de catecolaminas na
urina [15].
O ritmo circadiano hormonal possui importantes flutuações durante o dia podendo influenciar diretamente nesse
processo. A relação testosterona/cortisol se dá de forma
diferente no horário vespertino (18:00 h) quando comparado ao horário diurno (6:00 h). Tais resultados foram
demonstrados pelo estudo de Bird e Tarpenning [16] onde
as concentrações de cortisol no pré-exercício foram significativamente mais baixas na sessão vespertina (18:00 h).
Isto resultou em um valor de pico mais baixo, acompanhado
por um aumento da testosterona, sugerindo um ambiente
catabólico reduzido.
Conclusão
Conclui-se que o horário vespertino foi o mais apropriado
para desenvolver maiores níveis de força isométrica máxima.
Com isso, atividades que necessitam desempenhar força isométrica máxima, como, por exemplo, a ginástica olímpica,
há necessidade de realizar exercícios estáticos específicos em
determinados ângulos. Partindo desses princípios, o horário
mais adequado para realização de treinamentos seria o vespertino.
Recomenda-se, portanto, que sejam realizados novos
estudos relacionados à força, em outros horários, como o
noturno, utilizando outros tipos de ação muscular, tais como
a concêntrica e excêntrica, e também a isocinética. Além disso,
sugerimos a utilização de diferentes equipamentos, como a
Eletroencefalografia quantitativa (EEGq), na busca de melhor
compreender a influencia dos horários do dia nos mecanismos
centrais relacionados à força muscular.
124
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Referências
1. Hill DW, Leiferman JA, Lynch NA, Dangelmaier BS, Burt SE.
Temporal specificity in adaptations to high intensity exercise
training. Med Sci Sports Exerc 1998;30:450-5.
2. Deschenes MR, Kraemer WJ, Bush JA, Doughty TA, Kim D,
Mullen KM et al. Biorhythmic influences on functional capacity
of human muscle and physiological responses. Med Sci Sports
Exerc 1998;30:1399-407.
3. Gauthier A, Davenne D, Gentil C, Van Hoecke J. Circadian
rhythm in the torque developed by elbow flexors during isometric contraction: effect of sampling schedules. Chronobiol
Int 1997;14:287-94.
4. Gauthier A, Davenne D, Martin A, Van Hoecke J. Time of day
effects on isometric and isokinetic torque developed during elbow flexion in humans. Eur J Appl Physiol 2001;84:249-52.
5. Callard D, Davenne D, Gauthier A, Lagarde D, Van Hoecke J.
Circadian rhythms in human muscular efficiency: continuous
physical exercise versus continuous rest. A crossover study.
Chronobiol Int 2000;17:693-704.
6. Coldwells A, Atkinson G, Reilly T. Sources of variation in back
and leg dynamometry. Ergonomics 1994;37:79-86.
7. Gauthier A, Davenne D, Martin A, Cometti G, Van Hoecke J.
Diurnal rhythm of the muscular performance of elbow flexors
during isometric contractions. Chronobiol Int 1996;13:13546.
8. Martin A, Carpentier A, Guissard N, van Hoecke J, Duchateau
J. Effect of time of day on force variation in a human muscle.
Muscle Nerve 1999;22:1380-7.
9. Cappaert TA. Time of day effect on athletic performance: an
update. J Strength Cond Res 1999;13:412-21.
10. Souissi N, Gauthier A, Sesboüé B, Larue J, Davenne D. Effects
of regular training at the same time of day on diurnal fluctuations in muscular performance. J Sports Sci 2002;20:929-37.
11. Wyse JP, Mercer TH, Gleeson NP. Time of day dependence of
isokinetic leg strength and associated interday variability. Br J
Sports Med 1994;28:167-70.
12. Racinais S, Blonc S, Hue O. Effects of active warm-up and
diurnal increase in temperature on muscular power. Med Sci
Sports Exerc 2005;37:2134-9.
13. De Mello MT, Tufik S. Atividade física, exercício físico e
aspectos psicobiológicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2004.
14. Racinais S, Chamari K, Hachana Y, Bartagi Z, Blonc S, Hue
O. Effect of an acute hot and dry exposure in moderate warm
and humid environment on muscle performance at different
times of day. Int J Sports Med 2006;27:49-54.
15. Garret JR WE, Kirkendall DT. A ciência do exercício e dos
esportes. Porto Alegre: Artmed; 2003.
16. Bird SP, Tarpenning KM. Influence of circadian time structure on
acute hormonal responses to a single bout of heavy-resistance exercise in weight-trained men. Chronobiol Int 2004;21:131-46.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
125
Artigo original
Incidência de lesões osteomioarticulares
em atletas fisiculturistas
Incidence of musculoskeletal injuries in bodybuilder athletes
Fabrício Rothier Deotti Ibrahim*, Artur Laizo**, Heglison Custódio Toledo***
*Graduando do Curso de Fisioterapia da Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) - Campus VI, Juiz de Fora/MG,
**Especialista em Cirurgia Geral pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Professor do curso de Fisioterapia da UNIPAC, ***Graduado em Educação Física, Especialista em Treinamento Desportivo de Alto Rendimento, Doutorando em Gestão do Conhecimento
Resumo
Abstract
O fisiculturismo é um esporte no qual os atletas buscam a melhor
formação muscular através da musculação. O objetivo do artigo
foi verificar a incidência de lesões osteomioarticulares em atletas
fisiculturistas de Juiz de Fora/MG. Foi elaborado um questionário
para os atletas contendo perguntas sobre as características de seu
treinamento e possíveis lesões ocorridas. Foram entrevistados 30
fisiculturistas de faixa etária variada. Mais da metade dos atletas
(86,6%) afirmou já ter sofrido alguma lesão decorrida do esporte.
O ombro, o cotovelo e a coluna foram os segmentos corporais mais
citados. Baseado nos resultados obtidos, concluímos que os atletas
fisiculturistas estão suscetíveis a diversos tipos de lesões, devido à
sobrecarga a que são expostos.
The bodybuilding is a sport in which athletes seek the best
training muscle through weight training. The aim of this study was
to verify the incidence of osteomioarticular lesions in bodybuilder
athletes’ of Juiz de For a/MG. A questionnaire about training and
possible lesions was applied. 30 bodybuilding athletes of different
ages were interviewed. More than half of the athletes (86.6%)
claimed to have already suffered lesions during practice. Among the
most cited lesions were the shoulder, the elbow and the column.
Based on the results, we concluded that the bodybuilding athletes
are susceptible to different types of injuries due to the overload
they are exposed to.
Key-words: bodybuilding, training, overload, injuries.
Palavras-chave: fisiculturismo, treinamento, sobrecarga, lesões.
Endereço para correspondência: Artur Laizo, Av. Barão do Rio Branco, 2644/302 Centro 36016-311 Juiz de Fora MG, Tel: (32) 32133705, E-mail: [email protected], [email protected]
126
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
O fisiculturismo é um esporte cujo objetivo é buscar através da musculação, ou seja, por meio de exercícios resistidos,
a melhor formação muscular, que visa o desenvolvimento do
volume e da definição dos músculos e da simetria corporal. A
estimulação das fibras musculares, pelo princípio da sobrecarga leva o tecido à fadiga, que associada a uma ingestão correta
de nutrientes e um repouso adequado para a reparação tecidual
ocorre o desenvolvimento dessas fibras [1-3].
O culturismo, como é chamado por alguns, teve início
no final do século XIX, quando surgiu um novo interesse no
idealismo do corpo humano. Nessa época a tradição antiga
de levantar pesos evoluiu dentro do esporte moderno. Com
o tempo, estes atletas começaram a perceber que não importava somente a força muscular, mas também uma maneira de
mostrar a definição e o volume dos músculos [1,2].
Surgiram, então, grandes nomes no fisiculturismo
internacional, tais como: Eugen Sandow (1890), Reg
Park (1950), Clarence Ross (1960), entre outros. Assim,
o fisiculturismo com toda essa competitividade, através
da Federação Internacional de Body Building (IFBB), no
começo do século XX, foi oficializado como um esporte,
em que se tem o objetivo de julgar o corpo mais musculoso
aparentemente [2].
O esporte se concretizou por volta dos anos 80 e 90.
Várias técnicas de treinamento foram sendo desenvolvidas
e muitos atletas, por estarem experimentando novos tipos
de treinamento, acabavam se lesionando de alguma forma
[1,2].
Os fisiculturistas observam que o tempo de repouso influencia tanto na recuperação dos músculos (desenvolvimento
muscular), quanto para a prevenção das lesões. O trabalho de
um culturista é muito intenso, pois requer um treinamento
periodizado de hipertrofia, resistência e força muscular. Por
ser um esporte em que o corpo é submetido ao extremo, em
alguma dessas etapas, surgem às lesões. Elas podem ter o
caráter ósseo, muscular ou articular (tendões, ligamentos e
cápsulas articulares) [3,4].
As lesões nos músculos, tendões ou ligamentos podem
ocorrer de vários modos. Um deles é o trauma direto, como
uma pancada com um objeto grosso ou agudo, causando
uma contusão (escoriação) ou uma laceração. Outro meio é
decorrente do esforço causado pelo uso excessivo dessas estruturas ou por um único episódio violento, como uma força
de estiramento súbito aplicada sobre um músculo que está
executando uma contração vigorosa, quando a força aplicada
é mais forte que a capacidade da estrutura resistir à ruptura,
como no caso do fisiculturismo [1].
A ruptura destas estruturas pode ser parcial ou completa
e pode ocorrer na ligação entre músculos e tendões, no tendão ou onde o tendão se liga com o osso. De certo modo, o
tendão ou músculo é vencido pela resistência pela qual está
trabalhando, e a área de menor resistência é o local da lesão.
Algumas fibras podem ser rompidas ou toda estrutura pode
se romper [1,5].
Na maioria dos casos o estiramento é leve, simplesmente
um estiramento dos músculos, sem uma ruptura apreciável.
Isso resulta em dor e desconforto aos movimentos, e um
espasmo muscular subsequente. Em lesões mais graves, com
rupturas de algumas fibras, os sintomas são mais fortes. A dor
e o desconforto são mais intensos e há edema e limitação dos
movimentos [1].
Os tendões são estruturas formadas por tecido conjuntivo denso (fibras de colágeno) que fazem a ligação entre o
músculo e o osso. Por isso, várias lesões tendíneas estão intimamente ligadas à fadiga sofrida pelo músculo, que, por sua
vez, é acometido na maioria das vezes por uma distensão ou
estiramento, que é o rompimento parcial ou total das fibras.
Por outro lado, pode-se ter apenas uma inflamação no tendão
gerada por excesso de sobrecarga, por alterações anatômicas
ou por traumas, que são chamadas de tendinites [5-7].
Como essas lesões são causadas principalmente por contrações excêntricas contínuas e intensas, outras estruturas podem
ser danificadas, como é o caso da fratura por stress, onde é
gerada uma contração tão forte que o tendão e o músculo
com o máximo de estiramento não suportam a sobrecarga
e acabam entrando em fadiga, gerando microtraumas nas
estruturas ósseas [5,10].
Nas articulações várias estruturas e tecidos podem ser
lesados, como os ligamentos, que são formados por tecido
conjuntivo fibroso relativamente inelástico e que tem a função
de unir ossos e outras estruturas anatômicas. Os ligamentos
podem ser danificados por excesso de esforço, por traumas
ou por alterações biomecânicas. Esses danos podem ser observados com o rompimento das fibras [6,5].
Outra estrutura ainda dentro da articulação é a bursa,
que são as “bolsas” contendo líquido sinovial e têm a função
de diminuir impactos e fricção nas estruturas articulares. A
inflamação deste tecido é causada por uma irritação crônica
da membrana sinovial, por aumento do atrito da bursa com
outras estruturas, ou por traumas, e dá-se o nome de bursite.
Pode ocorrer também luxações ou subluxações quando pelo
menos um osso, em uma articulação, é forçado para sair do
seu alinhamento normal e próprio, podendo ser total, como
é o caso da luxação, ou parcial, como é o caso da subluxação
[5,6].
O objetivo deste trabalho foi verificar a incidência das
lesões ósseas, musculares e articulares em atletas fisiculturistas
do sexo masculino na cidade de Juiz de Fora/MG.
Material e métodos
A metodologia empregada neste estudo tem caráter descritivo e quantitativo. Os atletas avaliados foram escolhidos
intencionalmente tendo como parâmetros de inclusão, apresentar mais de dois anos de treinamento sem grandes períodos
de pausa (mais de dois meses), ser do sexo masculino e realizar
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
treinamento na cidade de Juiz de Fora/MG.
A coleta dos dados foi realizada no período de 01 a 26 de
setembro de 2008, no horário de treinamento dos atletas e
nas próprias academias em que treinavam. Foram avaliados
30 fisiculturistas de 9 academias da cidade, com idade entre
19 e 41 anos. Os dados foram coletados após assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido.
Para a realização da pesquisa, todos os atletas responderam
a um questionário padronizado, composto de 15 questões
objetivas (Anexo). Essas perguntas informavam não só a
história patológica do atleta (HPP), como também sobre o
seu treinamento e se apresentavam algum tipo de lesão (óssea,
muscular ou articular) e suas características.
Obtiveram-se informações sobre o tipo de lesão que
mais ocorreu e qual a articulação mais acometida. Com a
relação dessas lesões os dados foram apresentados na forma
de planilhas eletrônicas construídas no programa Microsoft
Excel, onde houve a correlação do tipo de lesão, incidência
e local ocorrido.
Resultados
Dos 30 fisiculturistas entrevistados, observou-se à incidência de lesões em todas as idades (Tabela I).
127
Gráfico 2 - Tipos de lesões musculares (%).
Dentre as contraturas musculares os músculos mais citados foram os paravertebrais e rombóides. Em relação aos
estiramentos foram citados os músculos adutores (2%), bíceps
(2%), coluna vertebral – incluindo paravertebrais, trapézio
e rombóides (2%), deltóide (2%), isquiocrurais (2%) e, em
sua maioria, o músculo peitoral (8%). O grupo muscular
citado com lesão inflamatória ou mesmo lesão tendínea foi
o manguito rotador com 12%.
Do total das lesões citadas pelos atletas 46,0% foram lesões
tendíneas. Os tendões foram analisados em estiramentos,
inflamações ou tendinite, degenerações ou tendinose e/ou
rompimento total (Gráfico 3).
Gráfico 3 - Tipos de lesoões tendíneas (%).
Tabela I - Incidência de atletas.
Idade
Número de
atletas
Até 20 anos
1
20 – 25 anos
11
25 – 30 anos
6
30 – 40 anos
10
Mais de 40 anos 2
Porcentagem
3,3%
36,6%
20,0%
33,3%
6,6%
Do total dos entrevistados, 86,6% já sofreram alguma
lesão decorrida do fisiculturismo, sendo estas musculares,
tendíneas e/ou ligamentares (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Tipos de lesões (%).
Os tendões apresentados como estiramento foram o patelar, dos extensores de punho, do tríceps e do supra-espinhoso
com 2% cada. Em rompimento total foi apenas o tendão de
Aquiles. Na tendinite que teve o maior número de atletas
com tal lesão foram encontrados os tendões da porção longa
do bíceps (2%), do supra-espinhoso (2%), do tríceps (8%),
dos extensores de punho – epicondilite lateral (8%) e patelar
(14%). Como tendinose ou degenerações apenas um atleta
relatou nos extensores de punho.
Do total das lesões citadas pelos atletas 10,0% foram
lesões ligamentares. Esses tipos de lesões foram divididos em
rompimento parcial e rompimento total (Gráfico 4).
Gráfico 4 - Tipos de lesões ligamentares (%).
Do total das lesões citadas pelos atletas 44,0% foram lesões musculares. Essas lesões foram divididas em contraturas,
estiramento ou inflamação (Gráfico 2).
128
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Em relação à incidência de lesões ligamentares, apenas o
cruzado anterior (LCA) apresentou rompimento total, e os
ligamentos que estabilizam a articulação do ombro (não foram
diferenciados) foram citados em rompimentos parciais.
Em relação à localização das articulações acometidas, o
ombro e o cotovelo foram os segmentos corporais mais citados, seguidos por joelho, coluna vertebral e punho (Gráfico
5).
Gráfico 5 - Articulações acometidas (%).
Discussão
O treinamento de força, na maioria das vezes, está associado ao aumento de massa muscular, sendo um meio para
atingir uma hipertrofia adequada, como no caso do fisiculturismo, e para o aumento de força máxima e potência muscular,
importante para muitos outros esportes [11].
Os fisiculturistas buscam alcançar determinado padrão
estético peculiar a essa modalidade, ultrapassando os limites
fisiológicos humanos. Assim, os mesmos estão sujeitos a uma
série de lesões desprovidas de vários fatores relacionadas ao
treinamento. As possíveis causas dessas lesões são treinos
excessivos, uso impróprio das técnicas de treinamento ou a
combinação de ambos [7-9,12]. No presente estudo, os atletas
que relataram sentir alguma dor ou desconforto, 85,7% das
dores surgiram dos casos em exercícios moderados a pesados, contra apenas 7,1% em estado de repouso. Com isso,
observou-se que essas dores foram por excesso de carga e de
treinamento, pois, 96,6% dos atletas entrevistados treinavam
de uma a duas horas por dia e, 93,3% de quatro a seis vezes
por semana em que 89,9% diziam de maneira subjetiva,
treinar de pesado a muito pesado, se comparado à repetição
máxima (RM) de cada um [13].
Acredita-se que, apesar dos fisiculturistas treinarem por
anos com alto volume e intensidade, estes atletas apresentam
um nível de lesão osteomioarticular inferior aos da população
normal, devido ao desenvolvimento de maior resistência das
estruturas articulares causado pela maior deposição de fibras
colágenas nos tendões e ligamentos [15]. Estudos mostram
que alguns seguimentos corporais, como o ombro e o cotovelo, são mais provenientes às lesões devido ao fato de estarem
interligados ao grande número de estruturas musculares,
tendinosas e ligamentares que circundam a região [4,7,15].
Constatou-se, neste estudo, a ocorrência de todos os tipos de
lesões musculares, tendinosas e ligamentares.
Nas lesões musculares, observou-se que as contraturas
afetaram mais a região da coluna, pelo fato de a musculatura
da região de paravertebrais ou os multífidos ter mais a função
de estabilização e não de força, não aguentando a sobrecarga
imposta pelo atleta, como exercícios para membros inferiores
de cadeia cinética fechada, em que a sobrecarga na coluna é
maior, gerando nos pequenos músculos da coluna um espasmo
muscular [4].
Nos estiramentos foram citados músculos de diversas áreas
do corpo, como membros superiores, membros inferiores e
parte anterior do tronco. Vários atletas por compensarem
alguns músculos, acabam fadigando o que pode gerar a ruptura parcial da estrutura, ou seja, os estiramentos. No caso
dos estiramentos, o músculo mais citado foi o peitoral maior
com 8% de todas as lesões. Embora seja muito requisitado
pelos culturistas, pelo fato de ser um músculo sobressalente em
todas as poses, o peitoral maior auxilia em vários movimentos
do ombro sendo, portanto, sinergista em alguns exercícios,
como para o fortalecimento de ombro, bíceps e tríceps [1618]. Estudos demonstraram que vários exercícios para o
peitoral podem gerar de inflamações a estiramentos graves,
como mostra um estudo feito no Centro de Traumatologia
e Ortopedia da Universidade Federal de São Paulo, em que
mostra a incidência de inflamações e estiramentos do peitoral
maior em levantadores de peso [8].
Como inflamação, o manguito rotador foi citado como
10% de todas as lesões, pelo mesmo fato dos paravertebrais, os
quatro músculos do manguito (supra-espinhal, infra-espinhal,
sub-escapular e redondo menor) têm a função de estabilizar o
complexo articular do ombro. Por não ser o responsável por
proporcionar força aos movimentos do braço, o manguito
acaba sendo lesado por uso indevido dos atletas em exercícios inadequados que submetem a articulação a amplitudes
exageradas [5,4].
Nas lesões tendíneas, a tendinite foi à lesão mais acometida, com 34% de todas as lesões. Porém, vários atletas
não souberam diferenciar os tendões acometidos. Foi citado
apenas o tendão do supra-espinhoso na região do ombro, do
tríceps e dos extensores de punho na região do cotovelo e o
tendão patelar na articulação do joelho. Os mais acometidos
foram o tendão dos extensores de punho e do tríceps (16%).
A justificativa é o fato de que estes músculos auxiliam o movimento de vários exercícios para grupamentos musculares e
por serem músculos pequenos não suportam tal sobrecarga,
ocorrendo uma inflamação no complexo músculo-tendão,
pois com o tempo estas fibras não acompanham o desenvolvimento muscular [1,5,4,7].
No joelho o tendão patelar é composto por quatro músculos: vasto medial, vasto lateral, vasto intermédio e reto femural. Por isso, para hipertrofiar e recrutar todo o grupamento
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
muscular é necessário força excessiva, isto é, levantar muito
peso, inflamando assim o tendão, que ao passar dos anos não
suporta tal sobrecarga [1,5,4,7].
As lesões ligamentares foram poucas em relação aos outros tipos de lesões (musculares e tendíneas) com 10% das
lesões. Sendo um rompimento total de LCA, provavelmente
relacionado a sobrecargas na articulação ou por alterações
biomecânicas, e quatro rompimentos parciais no cotovelo e
ombro, talvez pelos mesmos fatores [1,5,19].
A lesão ligamentar pode ocorrer por excesso de esforço,
resultando em dano à substância ligamentar ou ao seu local
de ligação [4].
Vários são os ligamentos e estruturas que estão associados
ao complexo de articulações do ombro, porém, alguns são
mais suscetíveis a lesões pela própria biomecânica, como os
ligamentos glenoumerais, coracoumeral e os tendões dos
músculos subescapulares, supra-espinhoso, infra-espinhoso e
redondo menor que se fundem à cápsula articular. Entretanto
não foram analisados danos específicos na cápsula articular ou
de outras estruturas articulares, devido aos atletas não saberem
sobre a patologia acometida [4].
Neste estudo todas as articulações foram envolvidas, as
do ombro e do cotovelo foram as mais lesadas, junto a várias
estruturas que circundam a região ou até mesmo as que se
inserem, como o peitoral maior que se insere na tuberosidade
do úmero [15].
Na localização das lesões ligamentares e tendíneas, verificaram maior incidência de lesões no ombro em relação a
outros segmentos corporais entre os praticantes de musculação
[13]. Em um estudo realizado, o joelho foi o segmento mais
acometido na prática da musculação, seguido por ombro e
coluna [20].
Outro fator predisponente às lesões nos atletas fisiculturistas é o uso de drogas anabólicas. Relatou-se que o uso de
esteróides anabólicos gera maior risco de lesões sobre o sistema músculo-esquelético, pois a estrutura osteoarticular não
acompanha o crescimento muscular [21]. Afirma-se também
que, o uso de esteróides anabólicos leva a um aumento de força
desproporcional à capacidade de adaptação dos tendões e ligamentos e, em decorrência disso, muitos atletas experimentam
inflamações, inchaço e até ruptura dos mesmos [20].
As estruturas além de não suportarem o ganho rápido de
hipertrofia muscular, acabam se degenerando, como mostra
um estudo publicado pelo American Orthopaedic Society for
Sport Medicine, que mostra que o uso de esteróides anabolizantes em longo prazo causa degenerações musculares e
tendíneas [23].
O uso de alguma droga ou medicamento para ganho
de massa muscular foi mencionado por 80,0% dos entrevistados dos quais 90% já utilizaram anabolizantes, 37,5%
estimulantes e 8,3% diuréticos e/ou broncodilatadores, o que
pode ter favorecido às lesões. Os anabolizantes favorecem
o ganho muscular em um período curto de tempo o que
sobrecarrega não só os músculos como também os tendões e
129
os ligamentos, que não hipertrofiam como o tecido muscular
não suportando as tensões postas pelas altas cargas resistidas
do treinamento [21].
Em relação ao aquecimento, 90,0% dos atletas o realizavam antes do treinamento, sendo que destes, 92,5% até dez
minutos de duração. Estudos mostram que o aquecimento
bem feito do músculo trabalhado do dia pode, além de favorecer o ganho de força e hipertrofia, pode ajudar a prevenir
lesões músculo-esqueléticas, pois ocorre melhora do aporte
sanguíneo na região, aumentando a nutrição e oxigenação
tecidual, além de beneficiar a capacidade do músculo de
suportar grandes cargas em longo tempo, sem entrar em
fadiga [24].
Conclusão
Com a realização desta pesquisa podemos concluir que,
os atletas fisiculturistas estão sujeitos às mais variadas lesões
tendíneas, ligamentares e musculares, com grande incidência
na região da cintura escapular, como a articulação do ombro, e
no cotovelo. Contudo, ainda não se pode afirmar se os atletas
são mais ou menos vulneráveis às lesões apresentadas, pois são
poucas as literaturas sobre o assunto.
Outro fator relevante é o baixo número de lesões ligamentares em relação às lesões músculo-tendíneas.
Por ter sido um estudo exploratório, os resultados aqui
obtidos podem servir como base para estudos posteriores que
investiguem objetivamente, por meio de avaliações, a incidência e prevalência de lesões na prática de atividades físicas
em atletas fisiculturistas em academias de ginástica.
Referências
1. Schwarzenegger A, Dobbins B. Enciclopédia de fisiculturismo
e musculação. 2a ed. Porto Alegre: Artmed 2001; 800p.
2. História do Fisiculturismo no Brasil. Force Muscle [online].
[citado 2008 Ago 18]. Disponível em URL: http://www.
forcemuscle-artigos.blogspot.com
3. Fisiculturismo. Wikipédia: A Enciclopédia Livre [online].
[citado 2008 Ago 20]. Disponível em URL: http://www.
pt.wikipedia.org/wiki/Fisiculturismo
4. Hebert S. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 3a
ed. Porto Alegre: Artmed; 2003. 1631 p.
5. Prentice WE, Voight ML. Técnicas em reabilitação músculoesquelética. Traduzido por: Oppido T, Araújo MAQB. Porto
Alegre: Artmed; 2003.
6. Lopes A. Dicionário de Fisioterapia. 1a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2005; 200 p.
7. Greve JMD, Amatuzzi MM. Medicina de reabilitação aplicada
à ortopedia e a traumatologia. São Paulo: Roca; 1999. 444 p.
8. Ribeiro JRC. Musculação: modelo didático para prescrição
e controle das atividades. Belo Horizonte: Casa da Educação
Física; 2005. 226 p.
9. Monteiro A, Pagnani A. História do culturismo nacional.
Central do fisiculturismo. [citado 2008 Set 10]. Disponível em
URL: <http://www. centraldofisiculturismo.blogspot.com
130
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
10. Simões AP. Saiba tudo sobre fratura por stress. Webrun 2007.
[citado 2008 Ago 30]. Disponível em: URL: http://www.
webrun.com.br
11. Uchida MC. Manual de musculação: uma abordagem teóricoprática ao treinamento de força. 2a ed. São Paulo: Phorte;
2003.
12. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício.
2a ed. Traduzido por: Ikeda M. São Paulo: Manole; 2001.
709 p.
13. Oliva OJ, Bankoff ADP, Zamai CA. Possíveis lesões musculares e
ou articulares causadas por sobrecarga na pratica da musculação.
Rev Bras Ativ Fís Saúde 1998;(3)3:15-23.
14. Zaniqueli D. Futuro dos fisiculturistas. Cooperativa do fitness.
2003. [citado 2008 Set 11]. Disponível em URL: http://www.
cdof.com.br
15. Mcminn RMH, Abrahams PH, Hutchings RT. Atlas Colorido
de Anatomia Humana. 4a ed. Traduzido por: Wafae N. São
Paulo: Manole; 2000. 351 p.
16. Silva CC, Teixeira AS, Goldberg TBL. O esporte e suas implicações na saúde óssea de atletas adolescentes. Rev Bras Med
Esporte 2003;9(6):426-32.
17. Benno E, Andreoli CV, Pochini AC, Carrera EF, Abdala RJ,
Cohen M. Ruptura do músculo peitoral maior em atletas. Rev
Bras Ortop 2002;(37)11/12:482-8.
18. 5 Pecados cometidos no treino para peito. Hipertrofia Blog.
[citado 2008 Set 10]. Disponível em URL: http://www.hipertrofia.org
19. Neves SC. Lesão do ombro. Fisiculturismo. 2003. [citado
2008 Set 11]. Disponível em URL: http://www.fisiculturismo.
com.br
20. Rolla AFL, Zimbaoui N, Sampaio RF, Viana SO. Análise
da percepção de lesões em academias de ginástica de Belo
Horizonte: um estudo exploratório. Rev Brás Ciênc Mov
2004;(12)2:7-12.
21. Ferreira UMG, Ferreira ACD, Azevedo AMP, Medeiros RL,
da Silva CAB. Esteróides anabólicos androgênicos. Rev Bras
promoção Saúde 2007;(20)4:267-75.
22. Neto WMG. Musculação além do anabolismo. 2a ed. São Paulo:
Phorte; 2005. p189.
23. Beiner JM Jokl P, Cholewicki J, Panjabi MM. The effect of anabolic steroids and corticosteroids on healing muscle contusion
injury. Am J Sports Med 1999;(27)1:2-9.
24. Batista DA. Importância do aquecimento na atividade física.
Fisiculturismo. 2002. [citado 2008 Set 10]. Disponível em
URL: http://www.fisiculturismo.com.br
Anexo – Questionário aplicado ao atleta
1. Faixa etária
(
) Até 20 anos
(
) 20 a 25 anos
(
) 25 a 30 anos
(
) 30 a 40 anos
(
) Mais de 40 anos
2. É registrado em alguma federação?
(
) Não
(
) Sim,
(
) IFBB
(
) NABBA
(
) Outra (s): __________________________________________
____________
3. Pratica algum exercício físico além da musculação?
(
) Não
(
) Sim,
(
) Basquete
(
) Futebol
(
) Natação
(
) Vôlei
(
) Outro (s): __________________________________________
____________
4. Tem ou já apresentou algum problema de saúde (HPP)?
(
) Não
(
) Sim,
(
) Problemas no sistema cardíaco
(
) Problemas no sistema nervoso
(
) Problemas no sistema respiratório
(
) Outro (s): __________________________________________
____________
5. Utiliza alguma droga ou medicamento?
(
) Não
(
) Sim,
(
) Anabolizantes
(
) Estimulantes
(
) Corticóides
(
) Outra (s): __________________________________________
____________
6. Qual a frequência de treinamento diário?
(
) Uma a duas horas por dia
(
) Duas a três horas por dia
(
) Acima de três horas por dia
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
7. Qual a frequência semanal de treino?
(
) 2 vezes por semana
(
) 3 a 4 vezes por semana
(
) 4 a 6 vezes por semana
8. Qual a intensidade do seu treinamento quanto à carga?
(
) Leve
(
) Moderado
(
) Pesado
(
) Muito pesado
9. Há quanto tempo pratica esse esporte?
(
) Até 1 ano
(
) 1 a 2 anos
(
) 2 a 5 anos
(
) 5 a 10 anos
(
) Mais de 10 anos
10. Apresenta alguma disfunção no sistema músculo-esqueletico?
(
) Não
(
) Sim,
Qual? _____________________________________________
________________
11. Sente alguma dor ou desconforto?
(
) Não
(
) Sim,
11.1. Há quanto tempo?
(
) Até 1 semana
(
) 1 a 2 semanas
(
) 3 a 4 semanas
(
) Mais de 4 semanas
11.2. Quando aparece essa dor ou desconforto?
(
) Em repouso
(
) Ao exercício leve
(
) Ao exercício moderado
(
) Ao exercício pesado
11.3. Ela já foi diagnosticada?
(
) Não
(
) Sim,
Patologia: _____________________________________________
_____
131
12. Já sofreu alguma lesão decorrida do esporte?
(
) Não
(
) Sim,
12.1. Lesões musculares:
(
) Estiramento
(
) Inflamação
(
) Contratura
12.2. Lesões tendíneas:
(
) Tendinite
(
) Tendinose
(
) Paratendinite / Paratendinose
(
) Estiramento
12.3. Lesões ligamentares:
(
) Rompimento parcial
(
) Rompimento total
13. Qual a articulações acometidas pelas lesões?
(
) Joelho
(
) Ombro
(
) Tornozelo
(
) Cotovelo
(
) Coluna
(
) Quadril
(
) Outra (s): __________________________________________
_______________
14. Você faz algum tipo de aquecimento antes do treino?
(
) Não
(
) Sim,
(
) Até 5 minutos
(
) 5 a 10 minutos
(
) 10 a 15 minutos
(
) 15 a 20 minutos
(
) mais de 20 minutos
15. Você faz algum tipo de alongamento dos músculos exercitados no dia do treinamento?
(
) Não
(
) Sim
132
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Artigo original
Relação entre a potência muscular dos membros
inferiores e a funcionalidade em idosos
Relationship between muscle power in lower limb
and performance in elderly
Rodrigo Barbosa de Albuquerque*, Valéria Mota de Oliveira**, Amândio Aristides Rihan Geraldes***,
Antônio César Cabral de Oliveira****
*Laboratório de Qualidade de vida, Saúde, Fisiologia e Desempenho (LAQUASFIDE) – Instituto Batista de Ensino Superior de
Alagoas (IBESA), Faculdade de educação física do Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas – FACEF/IBESA, Laboratório
de Aptidão Física, Desempenho e Saúde - Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Alagoas (LAFIDES/DEF/
UFAL), Núcleo de Pós Graduação em Medicina/Universidade Federal de Sergipe, **(LAQUASFIDE), Faculdade de Educação
Física do Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas – FACEF/IBESA, ***Laboratório de Aptidão Física, Desempenho e Saúde
- Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Alagoas (LAFIDES/DEF/UFAL), ****Universidade Federal de
Sergipe, Núcleo de Pós Graduação em Medicina, Universidade Federal de Sergipe – NPGME/UFS
Resumo
Abstract
Objetivo: O objetivo deste estudo foi verificar a correlação entre
potência muscular dos membros inferiores e desempenho funcional
de idosas. Material e métodos: Compuseram a amostra 28 mulheres
com as seguintes médias de idade, estatura e massa corporal: 71 ±
5 anos; 1,52 ± 0,1 m; 65,15 ± 10 kg. Para medir o desempenho
funcional (DF), foram utilizados os seguintes testes: 1) Timed Up &
Go Test (TUGT) e, 2) sentar e levantar na cadeira cinco vezes (SLC).
Para a medida da potência foi utilizado o teste de subir escada. Para
a verificação dos níveis de correlação foi utilizado o teste de correlação de Pearson e adotou-se um nível de significância de p < 0,05.
Resultados: Os resultados médios para os testes funcionais foram:
6,06 ± 1,01 e 6,44 ± 1,42 seg., respectivamente para o TUGT e o
SLC. O resultado médio para o teste de potência foi de 239,56 ±
49,45 N. Tais resultados denotam que a amostra apresenta elevado
nível de desempenho funcional. Os resultados dos testes funcionais
não apresentaram correlações significativas com a potência muscular. Conclusão: Embora o reduzido tamanho da amostra possa ter
participação importante nos resultados, a ausência de correlação
significativa pode ser atribuída à homogeneidade e aos elevados
níveis de DF e PM dos sujeitos da amostra. Pode-se concluir que, em
idosos independentes, as correlações entre o desempenho funcional
e a potência muscular, não são significativas.
Objective: The purpose of the study was to verify the correlation
between muscle power of lower limb and functional performance of
the elderly. Methods: The sample was composed by 28 women with
the following averages of age, height and weight: 71 ± 5 years; 1.52
± 0.1 m; 65.15 ± 10 kg. To measure the functional performance
(FP), we used the following tests: 1) Timed Up & Go Test (TUGT)
and, 2) Five-Times-Sit-to-Stand Test (STS). To measure the muscle
power it was used the Timed Up and Down stairs test. The Pearson
correlation test was used to verify correlation level and a significance
level of p < 0.05 was adopted. Results: The medium term results
for the functional tests were: 6.06 ± 1.01 sec. and 6.44 ± 1.42,
respectively for TUGT and SLC. The medium result for the power
test was of 239.56 ± 49.45 N. Such results show that the sample
has high level of functional performance. The functional ability test
did not show significant correlation with muscle power. Conclusion:
Although the reduced sample size has an important participation in
the results, the absence of significant correlation could be assigned
to the homogeneity and the high levels of FP and muscle power
of sample subjects. We conclude that, in independent elderly, the
correlations between the functional performance and the muscle
power are not significant.
Key-words: elderly, functional performance, muscle power.
Palavras-chave: envelhecimento, desempenho funcional, potência
muscular.
Endereço para correspondência: Rodrigo Barbosa de Albuquerque, Rua Tupinambás, 78, Ponta Grossa 57014-820 Maceió AL, Tel:
(82) 8895-9691, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
A sarcopenia, caracterizada principalmente pela perda de
fibras musculares do tipo II (responsáveis pela maior produção de força e de potência muscular) tem proporcionado
importantes alterações na potência muscular de indivíduos
idosos [1]. O avanço da idade, caracterizado por uma série
de alterações morfológicas, bioquímicas e fisiológicas leva
especialmente a perda significativa da potência muscular.
Segundo Petrella et al. [2], a potência muscular, após os 50
anos de idade, sofre uma redução aproximadamente de 3 a
4% por ano que é cerca de duas vezes mais que as perdas na
força muscular. Os autores complementam os achados, sugerindo que o déficit na potência muscular pode ser um forte
contribuinte para a perda da mobilidade e risco de quedas em
idosos. Evidencias apontam que a potência muscular possui
um papel imperativo na realização das tarefas motoras da vida
diária (AFDD), sejam elas básicas (AFBDD), como: vestir-se,
banhar-se, transferir-se de uma cadeira para a posição em pé,
ou instrumentais (AIDD), incluindo o lidar com dinheiro,
fazer compras, andar longas distâncias [3]. Particularmente,
indivíduos idosos do sexo feminino podem alcançar níveis
abaixo do limiar para a realização de tarefas importantes
para uma vida independente [4]. Adicionalmente, Hruda et
al. [5] enfatizam a existência de uma forte relação positiva
entre a potência muscular e a capacidade de realizar tarefas
funcionais.
Quando comparada com a força muscular, estudo feito
com idosos com média de idade de 69 ± 6 anos demonstrou
que a potência muscular possui maior influência sobre a
performance funcional, até mesmo em adultos independentes
funcionalmente, embora os maiores níveis de relação tenham
sido encontrados naqueles idosos com menores escores iniciais
de potência. Capodaglio et al. [7] declaram que existem poucos estudos demonstrando a relação entre a potência muscular
e a performance funcional, utilizando idosos independentes
como amostra.
Vários autores [6,8] têm sugerido que déficit na potência
muscular está associado também a maiores riscos de quedas,
principalmente em indivíduos frágeis. Na Ucrânia, por
exemplo, os gastos com danos relacionados a quedas em
pessoas idosas chegam a aproximadamente um bilhão de
dólares por ano.
Para a medida da potência muscular anaeróbica, vários instrumentos têm sido utilizados, sendo, em sua grande maioria,
sofisticados e de difícil utilização operacional. Nesse sentido,
na tentativa de facilitar e permitir a utilização de pesquisas
analisando essa variável em estudos populacionais e sabendo
que a potência muscular é definida como o deslocamento de
uma determinada massa em uma determinada distância em
máxima velocidade Margaria et al. [9] propuseram uma técnica de verificação da potência muscular anaeróbica simples
e de baixo custo. A técnica proposta pelos autores parte da
premissa de que quando alguém sobe uma escada correndo,
133
em velocidade máxima e com máximo esforço, uma velocidade constante é atingida em aproximadamente um a dois
segundos e esta é mantida constante até cinco segundos,
sugerindo que a manutenção da velocidade na corrida de
uma dada distância (subindo escada) é independente da
velocidade. Sartorio et al. [10], em um estudo com sujeitos
do sexo feminino idosas e obesas, propôs uma modificação
do teste originalmente proposto, sendo este de maior facilidade de execução e apresentando um coeficiente de variação
para medidas repetidas menor que 5%. Tal modificação tem
sido amplamente utilizada em estudos com sujeitos obesos,
entretanto a técnica pode ser utilizada universalmente entre
as categorias etárias.
Em se tratando de sujeitos idosos é consensual a importância da potência muscular na manutenção de uma vida
independente principalmente em idosos frágeis, entretanto,
ainda não se tem evidências suficientes da verdadeira relação
entre essa variável e a capacidade funcional em idosos independentes funcionalmente.
Assim, o presente estudo tem como objetivo verificar os
níveis de correlação entre a potência muscular anaeróbica
verificada através do teste de subir degraus e a capacidade
funcional em tarefas selecionadas de idosos fisicamente independentes.
Material e métodos
Amostra
A amostra não probabilística e escolhida por conveniência foi composta por 28 indivíduos idosos com idade igual
ou superior a 60 anos (70,07 ± 5,12), do sexo feminino
e independentes funcionalmente. As participantes foram
selecionadas de um centro de convivência em Maceió
e, para compor a amostra, deveriam ser funcionalmente
independentes nas tarefas instrumentais do dia a dia, não
estarem envolvidas em programas de exercícios físicos regulares, não apresentarem diagnóstico de doenças físicas ou
mentais que impedissem a realização das tarefas funcionais
propostas. Os critérios selecionados foram avaliados através
da aplicação dos seguintes questionários: Multidimensional
Functional Assessment Questionnaire [11], para verificação
da independência nas atividades instrumentais do dia a dia;
Questionário geral cujo objetivo foi a verificação da idade,
e histórico de doenças. Tais instrumentos foram capazes de
identificar os sujeitos elegíveis para o estudo. A todos os
sujeitos foram dadas informações a respeito das datas dos
testes funcionais e os possíveis riscos e benefícios da participação deles na pesquisa. Um termo de consentimento
livre e esclarecido foi entregue a todas as participantes de
acordo com as recomendações da Convenção de Helsinque
e da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
Brasileiro para pesquisas envolvendo seres humanos. O
estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisas da
134
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Universidade Federal de Alagoas, sob o processo de número
008409/2004-57.
Medidas para a caracterização da amostra
As medidas de massa corporal e estatura foram utilizadas
para que a amostra fosse caracterizada. Ambas as medidas
foram realizadas com os sujeitos descalços, vestindo o mínimo
possível de roupa. A medida da massa corporal (expressa em
quilos) foi realizada em uma balança mecânica (Filizolla®,
Brasil) e a estatura (expressa em metro) através de um estadiômetro portátil (Seca®, Baystate Scale & Systems, USA). A
realização de todas as medidas antropométricas respeitou os
protocolos sugeridos por Lohman, Roche e Martorell [12].
Medidas da performance funcional
Para a verificação do desempenho funcional foram utilizados os testes de sentar e levantar da cadeira (sit-to-stand) e
o teste Timed up & Go, descritos abaixo.
Timed Up & Go Test
A versão utilizada neste estudo foi proposta por Podsiadlo e Richardson [13], em que, o indivíduo teria que se
levantar de uma cadeira com altura de 43 a 50 centímetros
com apoio para os braços, caminhar em linha reta a uma
distância de três metros, numa velocidade habitual, fazer a
volta, retornar à cadeira e sentar. Westhoff et al. [14] relataram
alta confiabilidade intra e inter classes (r = 0,99). O número
de tentativas foi feito de acordo com o mesmo protocolo;
apenas uma tentativa e o tempo gasto marcado em segundos.
Porém na presente pesquisa foi utilizada a modificação feita
por Geraldes [15], em que não se utilizou uma cadeira com
apoio para os braços e sim um banco de mesma altura, onde os
indivíduos não puderam utilizar as mãos para se levantarem.
O avaliado sentado com as duas mãos apoiadas nas coxas teve
que levantar, caminhar até um cone situado a uma distância
de três metros da cadeira, contorná-lo e, voltando à cadeira,
sentar na mesma.
ção do método proposto por Sartorio et al. [10]. Apesar de o
teste ter sido utilizado com indivíduos obesos, sua praticidade,
baixo custo e possibilidade de utilização em indivíduos de
qualquer idade nos incentivou a usá-lo em nosso estudo. O
coeficiente de variação entre medidas repetidas para o teste
utilizado neste estudo foi de 5% [18]. Para a realização do
teste, solicitou-se aos indivíduos que subissem uma escada
com três degraus com altura total de 49 cm, o mais rápido
possível; os degraus eram estruturados da seguinte forma: o
primeiro com 13 cm de altura, 24 cm de profundidade e 68
cm de largura; o segundo com 18 cm de altura, 24 cm de
profundidade e 68 cm de largura e o terceiro e último (plataforma), com 18 cm de altura, 67 cm de largura e mesma
dimensão na profundidade. A potência (W) mecânica foi
calculada, como proposto pelos autores acima citados, através
da seguinte fórmula: W = (Wbgh) / t, onde Wb seria o peso
do indivíduo; g seria a aceleração da gravidade (9,81 m/seg),
h e t seriam a distância vertical no teste e o tempo para a
realização do mesmo, respectivamente.
A tarefa foi executada da seguinte forma: o avaliado deveria, a partir da posição em pé, com os dois pés paralelos, o
mais próximo do primeiro degrau, subir o mais rapidamente
possível a escada. O teste não tem tempo máximo e foram
permitidas três tentativas, sendo computado como resultado
(através de um cronômetro) o menor tempo das três tentativas. O teste foi começado quando o indivíduo iniciasse o
movimento (levantasse um dos pés) e terminado quando o
mesmo pé tocasse o último degrau.
Tratamento estatístico
A correlação entre as variáveis do estudo foi calculada
através de técnicas de correlação simples (r de Pearson)
e através de correlação múltipla. O nível de significância
estatística foi fixado para um valor de p < 0,05. Todos os
cálculos foram realizados com o auxílio do SPSS 15.0® para
Windows (USA).
Resultados
Características dos sujeitos
Levantar e sentar da cadeira
A versão utilizada neste estudo foi proposta por Schenkman et al. [16]. O avaliado deveria, com os braços cruzados a
frente do tórax, levantar e sentar em uma cadeira, cinco vezes
consecutivas. Segundo Bohannon [17], este teste apresenta
moderados a elevados coeficientes de reprodutibilidade (testereteste), variando entre 0,66 e 0,88.
Medida da potência muscular
A potência muscular dos membros inferiores foi medida
através do teste de subir escada. Tal medida, é uma modifica-
Através das medidas utilizadas para caracterizar os indivíduos que compuseram a amostra do presente estudo, pode-se
observar que a média de idade foi de 70,07 ± 5,12 anos o
peso corporal de 65,15 ± 10,13 quilos e a estatura de 1,52
± 0,07 metros.
Além dos testes para caracterização da amostra, utilizou-se
os testes funcionais assim como os testes de potência muscular
dos membros inferiores para o teste da hipótese. Os resultados
destes testes podem ser observados na Tabela I.
Os resultados das correlações foram analisados utilizando-se
a correlação simples (r de Pearson). A matriz correlacional entre
os resultados das variáveis pode ser observada na Tabela II.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Tabela I - Característica antropométrica e testes funcionais.
Variáveis
N
28
28
28
28
Variação
Mínimo - Máximo
60,00 – 83,00
50,40 – 87,60
1,43 - 1,69
4,69 – 10,40
Idade (anos)
Peso (kg)
Estatura (m)
Levantar da
cadeira (seg)
Potência (N)
TUGT (seg)
M ± DP
70,07 ± 5,12
65,15 ± 10,13
1,52 ± 0,07
6,44 – 1,42
28
28
156,86 - 353,79
4,47 - 10,03
239,56 ± 49,45
6,06 ± 1,01
Tabela II - Matriz correlacional.
1.
2.
3.
Variáveis
Potência
TUGT (seg)
Levantar da cadeira (seg)
1
-
2
-,11
-
3
-,15
,44*
-
* Correlação significativa para um nível de 0,05
Discussão
Os resultados encontrados concordaram com nossa hipótese inicial, ou seja, apesar da existência de correlação entre as
variáveis analisadas, os níveis correlacionais apresentaram-se
baixos e não foi encontrada significância estatística. Pode-se
atribuir tal resultado, ao fato dos idosos, componentes deste
estudo, possuírem alto nível de aptidão física, ou serem
independentes funcionalmente. Além disso, é importante
levar em consideração as limitações metodológicas existentes
neste estudo, onde podemos destacar o tamanho da amostra
e a forma com que ela foi escolhida (não probabilística e por
conveniência).
Os resultados do presente estudo podem ser explicados
também, pelo fato dos indivíduos componentes de nossa
amostra possuírem valores elevados de potência muscular,
semelhante ao de indivíduos fisicamente ativos [5,3]. Tal
afirmação pode ser sustentada pela proposição de Buchner et
al. [19] sugerindo a existência de um limiar de aptidão muscular, em que altos níveis de força e/ou potência muscular não
representariam aumentos na performance funcional.
Ao compararmos os resultados encontrados no teste de
levantar e sentar da cadeira com os resultados encontrados
no estudo de Whitney et al. [20], realizado com idosos com
média de idade de 73 ± 5 anos, observamos que nossa amostra realizou tal tarefa em um tempo 48% mais rápido, o que
reforça que nosso estudo foi realizado com idosos com alto
nível de aptidão funcional. Naquele estudo os indivíduos
obtiveram uma média de 13,4 segundos para a realização
do teste, enquanto que em nosso estudo a média foi de 6,44
segundos. Mais além, ao compararmos os resultados de nosso
estudo com o estudo de Guralnik et al. [21], observou-se que
nossos idosos apresentaram resultados acima da média para
indivíduos de mesma média de idade.
135
Ao observarmos os resultados do Teste Timed Up & Go e
utilizando como referência o estudo de Podsiadlo e Richardson [13], que propõe a seguinte classificação quanto ao nível
de capacidade funcional: resultados menores que 10 segundos
classificam os sujeitos como normais; menores ou iguais a 20
segundos classificam os indivíduos como possuindo uma boa
mobilidade, condição de sair sozinho e se mover sem ajuda;
menor que 30 segundos classificam os indivíduos com problemas, não podem sair sozinhos e requerem ajuda e, menor
ou igual a 40 segundos indicam um alto risco de quedas.
Através dessas informações os indivíduos do presente estudo
classificam-se como normal. Mais além, ao compararmos nossos resultados com os resultados do estudo de Sousa e Sampaio
[22], realizado com idosos independentes funcionalmente e
que viviam na comunidade rural, com média de idade de 75
(± 5,00) anos, não observamos diferenças significativas, desde
que a média encontrada para a realização desse teste naquele
estudo foi de 6,0 ± 0,9 segundos.
Com relação ao nível de correlação, os resultados do presente estudo mostraram-se diferentes a maioria das evidências,
como no estudo de Bassey et al. [23], realizado com idosos
com baixo nível de aptidão, que demonstrou a existência de
correlação significativa entre a potência de membros inferiores
com a capacidade funcional. Entretanto, os resultados deste
estudo como mencionado acima, podem ser atribuídos a
existência de um pequeno tamanho amostral, ou ainda a não
sensibilidade dessa variável para indivíduos fisicamente ativos.
Do mesmo modo Suzuki, Bean e Fielding [24] realizaram um
estudo com mulheres idosas (75,4 ± 5,1 anos) e demonstrou
a existência de correlação significativa entre a potência dos
músculos flexores dos tornozelos e a performance funcional.
Não obstante, Petrella, Miller e Cress [25], em um estudo
feito com idosos independentes e dependentes parcialmente,
com médias de idade de 76,8 ± 5,8 e 77,6 ± 6,3 anos, respectivamente, demonstraram que a potência muscular foi um
preditor significativo de independência. Vale ressaltar que os
estudos citados apresentam resultados que propõem a participação da potência muscular como uma variável importante
na manutenção da independência funcional, resultados que
não demonstram semelhança com os encontrados no presente
estudo. Podendo-se atribuir tal feito pelo fato das médias de
idade dos idosos dos estudos citados, serem bem maior que
a dos indivíduos de nosso estudo.
Conclusão
De acordo com os resultados encontrados, nesta pesquisa,
conclui-se que, em idosos independentes, a potência muscular
não é preditora do desempenho em tarefas funcionais, ao
menos naquelas que se assemelham aos testes realizados no
presente estudo.
136
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Referências
1. Welle S. Cellular and molecular basis of age-related sarcopenia.
Can J Appl Physiol 2002;27:19-41.
2. Petrella JK, Kim J, Tuggle SC, Hall SR, Bamman MM. Age
differences in knee extension power, contractile velocity, and
fatigability. J Appl Physiol 2005;98: 211-20.
3. Macaluso A, Young A , Gibb KS, Rowe DA, De Vito G. Cycling
as a novel approach to resistance training increase muscle
strength, Power and selected functional abilities in healthy older
women. J Appl Physiol 2003;95:2544-53.
4. Skelton DA, Grieg CA, Davies JM, Young A. Strength, Power
and related functional abilities of healthy people aged 65 – 89
years. Age Ageing 1994;23: 371-7.
5. Hruda KV, Hicks AL, McCartney N. Training for muscle power in older adults: effects on functional abilities. Can J Appl
Physiol 2003;28(2):178-89.
6. Orr R, De Vos NJ, Singh NA, Ross DA, Stavrinos TM,
Fiatarone-Singh. Power training improves balance in healthy
older adults. J Gerontol 2006;61(1):78-85.
7. Capodaglio P, Capodaglio EM, Ferri A, Scaglione G, Marchi A,
Saibene F. Muscle function and functional ability improves more
in community-dwelling older women with a mixed-strength
training programme. Age Ageing 2005;34: 141-7.
8. Morley JE. A fall is a major event in the life of an older person.
J Gerontol 2002;57(8):M492-M495.
9. Margaria R, Aghemo P, Rovelli E. Measurement of muscular Power (anaerobic) in man. J Appl Physiol 1966;21(5):1662-4.
10. Sartorio A, Proeitti M, Mrinone EPG, Agosti F, Adorni F, Lafortuna CL. Influence of gender, age and BMI on lower limb
muscular power output in a large population of obese men and
women. Int J Obes Relat Metab Disord 2004;28:91-8.
11. McDowell L, Newel C. Measuring health: A guide to rating
scales and questionnaires. 23ª ed. New York: Oxford University
Press; 1996.
12. Lohman TG, Roche AF, Martorell R, eds. Anthropometric
standardization reference manual. Champaign: Human Kinetics; 1988.
13. Podsiadlo D, Richardson S. The Timed “Up & Go”: A test
of basic functional mobility for frail elderly persons. JAGS
1991;39(2):117-228.
14. Westhoff M, Stemmerik L, Buchner DM, Larson EB. Effects
of a low-intensity strength-training program on knee-extensor
strength and functional ability of frailaolder people. J Aging
Phys Act 2000;8:325-42.
15. Geraldes AAR. Efeitos do treinamento contra resistência sobre
a força muscular e o desempenho de habilidades funcionais
selecionadas em mulheres [dissertação]. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco; 2000.
16. Schenkman M, Hughes MA, Samsa G, Studenski S. The relative
importance of strength and balance in chair rise by functionally
older individuals. JAGS 1996; 44(12):1441-7.
17. Bohannon RW. Sit-to-stand test for measuring performance of
lower extremity muscles. Percept Mot Skills 1995;80:163-6.
18. Lafortuna CL, Agosti F, Marinone PG, Marazzi N, Sartorio A.
The relationship between body composition and muscle Power
output in men and women with obesity. J Endocrinol Invest
2004;27:854-61.
19. Buchner DM, Beresford AS, Larson EB, Lacroix AZ, Wagner EH.
Effects of physical activity on health status in older adults. II. Intervention studies. Annu Rev Public Health 1992;13:469-88.
20. Whitney SL, Wrisley DM, Marchetti GF, Gee MA, Redfern MS,
Furman JM. Clinical measurement of sit-to-stand performance
in people with balance disorders: Validity of data for the FiveTimes-Sit-to-Stand Test. Phys Ther 2005; 85: 1034-45.
21. Guralnik JM, Simonsick EM, Ferrucci L, Glyn RJ, Berckman
LF, Blazer D, et al,. A short physical performance battery assessing lower extremity function: Association with self-reported
disability and prediction of mortality and nursing home admission. J Gerontol 1994;49(2): M85-M94.
22. Sousa M, Sampaio J. Effects of progressive strength on the
performance of the functional reach test and the timed getup-and-go in an elderly population from the rural North of
Portugal. Am J Human Biol 2005;17:746-51.
23. Bassey EJ, Fiatarone, MA, O’Neill EF, Kelly M, Evans WJ,
Lipshitz LA. Leg extensor Power and functional performance
in very old men and women. Clin Sci 1992;82:321-7.
24. Suzuki T, Bean JF, Fielding RA. Muscle Power of the ankle
flexors predicts functional performance in community-dwelling
older women. J Am Geriatr Soc 2001;49:1161-7.
25. Petrella JK, Miller LS, Cress ME. Leg extensor Power, cognition,
and functional performance in independent and marginally
dependent older adults. Age Aging 2004;33(4):342-8.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
137
Artigo original
Efeitos do treinamento em uma equipe
de futebol infantil ao longo do macrociclo
Effects of training in an infant football team over macrocycle
Daniel Medeiros Alves*, Silvia Teixeira de Pinho*, Juan Carlos Perez Morales, M.Sc.**, José Francisco Gomes Schild, D.Sc.***
*Mestrando ESEF-UFPel, **EEFFTO-UFMG, ***ESEF-UFPel
Resumo
Abstract
O propósito do presente estudo foi analisar aptidão física de
futebolistas infantis ao longo de um macrociclo de treinamento. A
amostra foi composta por 16 atletas de futebol infantil, com estatura média de 1,74m (DP = 0,07) e peso corporal médio igual a 63
kg (DP = 6). Analisou-se a potência aeróbia (VO2max), velocidade
(T30m), força explosiva de salto vertical (SV) e de salto horizontal
(SH) em 4 momentos diferentes do macrociclo (P1, P2, P3, P4).
Para análise dos dados foram utilizadas estatística descritiva e ANOVA uni-fatorial de medidas repetidas, com correção de Bonferroni.
Os principais resultados foram os seguintes: VO2max = 13% (P1 x
P3) e -3,8% (P3 x P4); T30m = 4,1% (P1 x P2); SV= 5,26% (P2
x P3); SH = 2,13% (P1 x P3). Foi possível observar coerência dos
resultados com a proposta metodológica adotada, embora os resultados tenham se demonstrado abaixo do esperado.
The purpose of this study was to evaluate children’s physical
fitness of footballers over a macro training. The sample consisted
of 16 athletes from children’s football, with average height of 1.74
m (SD = 0.07) and average body weight equal to 63 kg (SD = 6).
We analyzed the aerobic power (VO2max ), speed (T30m), explosive
power of vertical jump (SV) and horizontal jump (HS) in 4 different
times of macro (P1, P2, P3, P4). Data analysis was used descriptive
statistics and one-way ANOVA with Bonferroni adjustment. The
main results were as follows: VO2max = 13% (P1 x P3) and -3.8%
(P3 x P4); T30m = 4.1% (P1 x P2), SV = 5.26% (P2 x P3); SH
= 2.13% (P1 x P3). It was possible to observe the consistency of
results with the methodology adopted, although the results have
been below expectations.
Key-words: football, training, fitness, periodization.
Palavras-chave: futebol, treinamento, aptidão física,
periodização.
Endereço para correspondência: Daniel Medeiros Alves, Rua Catulo Cearense, 104, 96055-460 Pelotas RS, E-mail: silvia_esef@
yahoo.com.br
138
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
O futebol é um desporto coletivo no qual o desempenho
dos atletas é determinado por uma série de fatores, tais como
físicos, técnicos, táticos e cognitivos [1]. Por ser um desporto
de ação/cooperação e por se tratar de um sistema complexo,
nem sempre fica claro quais fatores estão influenciando diretamente no rendimento da equipe.
O condicionamento físico representa um pré-requisito
para a performance técnica, tática e psíquica na competição
onde existe uma interdependência entre esses fatores [2].
Portanto a preparação física é considerada como um fator de
grande importância pelos futebolistas profissionais, exigindo
uma adequada estruturação e planificação do treinamento
[3].
Diferentes propostas metodológicas para o treinamento
desportivo são apresentadas na literatura mundial [4-7], e,
dentre as quais o modelo tradicional parece ser o mais indicado
para a preparação de atletas em fase de formação [6].
Poucos estudos sobre a aptidão física têm sido realizados
em atletas de futebol durante o período de formação. Neste
sentido procurou-se mostrar as alterações na aptidão física,
decorrentes de uma estruturação tradicional de treinamento
utilizada em uma categoria infantil de futebol.
Material e métodos
Amostra
A amostra foi composta por 16 atletas de futebol da
categoria infantil (sub-15), do futebol gaúcho, com estatura
média de 1,74 m (DP = 0,07) e peso corporal médio igual a
63 kg (DP = 6).
Os testes
A estruturação da periodização se deu de forma semestral,
onde foram planejados 2 “picos” de performance, porém o
primeiro priorizou a aquisição da forma desportiva enquanto
que o segundo visou a competição.
O período pré-competitivo (P1) enfatizou meios de preparação geral (mesociclo básico), e teve o seu volume aumentado
gradativamente. Durante o mesociclo de preparação especial,
o volume foi diminuindo enquanto a intensidade do treinamento foi aumentando, mantendo-se alta até as primeiras
semanas do período competitivo.
Após o término do período competitivo (P2), houve um
recesso (3 semanas) e logo a seguir iniciou-se o período précompetitivo (P3) com duração de 6 semanas. Neste período
foi adotado apenas um mesociclo de preparação especial de
volume acentuado. A intensidade foi gradativamente aumentada até as primeiras semanas do período competitivo (P4),
onde ainda foram utilizados meios de preparação geral.
Os meios de preparação são exemplificados no Quadro
1.
Durante os períodos competitivos (P2) e (P4), objetivouse ainda aquisição na forma física, porém a ênfase foi à manutenção. A lógica para isso foi primeiramente a redução do
volume e posteriormente a manutenção da intensidade, bem
como a priorização dos treinamentos de caráter mais especiais
(técnico-táticos).
Tratamento estatístico
Os dados foram analisados através do software spss 12.0.
Adotou-se estatística descritiva e ANOVA uni-fatorial de
medidas repetidas, com correção de Bonferroni para identificar diferenças significativas entre os períodos nas diferentes
variáveis dependentes. O nível de significância adotado foi
de p < 0,05.
Resultados
Para análise da aptidão física foram aplicados 4 testes: o
teste de Cooper de 12 minutos (Potência Aeróbia); o teste de
30 metros (Velocidade) e os testes de salto vertical e horizontal
(Força Explosiva) em quatro momentos (P1, P2, P3, P4) ao
longo do macrociclo de treinamento.
O treinamento
Após o esclarecimento a respeito dos procedimentos da
pesquisa, foi obtido um consentimento livre e esclarecido,
tanto do clube, quanto dos atletas. Os atletas, então, foram
submetidos a 5 sessões de treinamento semanais.
O modelo de treinamento que serviu como referência
para a elaboração da periodização foi o tradicional de cargas
distribuídas [6]. Foram identificados dois períodos competitivos, onde a segunda competição (segundo semestre) foi
considerada como a principal.
A Tabela I mostra os resultados encontrados nos testes
durante os diferentes momentos analisados permitindo observar o comportamento das variáveis analisadas durante os
diferentes momentos. Através da análise descritiva, observamse as médias dos testes em cada período, assim como o desvio
padrão.
A Tabela II demonstra a comparação entre os períodos,
demonstrando os momentos onde ocorrem diferenças
significativas. Para o VO2max foram encontradas diferenças
significativas entre P1x P3, P1 x P4 e P3 x P4. Em relação à
velocidade, os testes demonstraram diferenças significativas
nos períodos P1 x P2, P1 x P3 e P1 x P4. O teste de SV
demonstrou diferenças significativas entre os períodos P1 x
P4, P2 x P3 e P2 x P4 e de SH entre os períodos P1x P3, P1
x P4 e P2 x P4.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
139
Quadro 1 - Meios utilizados nos diferentes mesociclos.
Mesociclo
Meios de preparação
Pré-Competitivo (P1)
Competitivo (P2)
Pré-Competitivo (P3)
Competitivo (P4)
Res. aeróbia: Corridas continuas, fartlek, tiros, 1500 m (Mét. intervalado), Fartlek c/ bola.
Res. força: Circuitos, corridas na areia, flexões, abdominais
Res. anaeróbia: Suicídio, circuitos (1 a 3 min), tiros 100 m, (Mét. intervalado)
Potência: Saltos variados, (des)acelerações, tração.
Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação).
Flexibilidade: Alongamentos estáticos (método ativo).
Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrando ações técnicas (passe, cabeceio etc.)
Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, ênfase na apt. física.
Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação), c/ ou s/ bola.
Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrado ações técnicas (passe, cabeceio etc.)
Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, bola parada, finalização, jogos de passe.
Res. aeróbia: Tiros, 1500 m (Mét. intervalado), fartlek c/ e s/ bola.
Res. força: Circuitos, corridas na areia, flexões, abdominais.
Potência: Saltos variados c/ e s/ carga, (des)acelerações, tração.
Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação) e integrada ao
técnico-tático.
Flexibilidade: Alongamentos estáticos (método ativo).
Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrando ações técnicas (passe, cabeceio etc.)
Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, bola parada.
Velocidade: Sprints (5 a 30 m) c/ ou s/ mudança de direção, jogos velocidade (reação), c/ ou s/ bola e
integrando jogos técnico-táticos.
Coordenação: Skippings, corridas c/ obstáculos (cones, etc) e integrando ações técnicas (passe, cabeceio etc.)
Técnico-Táticos: Jogos reduzidos, ataque x defesa, coletivo, bola parada, finalização, jogos de passe, finalização.
Tabela I - Resultados dos testes aplicados durante os 4 diferentes períodos.
VO2max
(ml.Kg-1.min-1)
T30m (segundos)
SV (centímetros)
SH (metros)
P1
M
DP
P2
M
DP
P3
M
DP
P4
M
DP
44,1
4,26
49,1
3,03
49,9
1,59
48,0
1,67
5,12
41,9
1,88
0,18
3,88
0,14
4,91
41,8
1,92
0,19
4,29
0,17
4,89
44,0
1,92
0,21
4,34
0,16
4,91
44,6
1,95
0,21
3,93
0,17
M = média, DP = desvio padrão
Tabela II - Diferenças estatisticamente significativas na comparação
entre períodos.
VO2max
P1
P1
P2
P3
P4
SV
P2
*
*
P1
P1
P2
P3
P4
T30m
P3
*
*
*
P2
P3
*
*
P4
*
*
*
P4
*
*
P1
P1
P2
P3
P4
SH
P1
P2
P3
P4
P2
*
P3
*
P4
*
*
*
*
Gráfico 1 - Dinâmica do percentual de alteração das variáveis
analisadas.
P1
P2
*
*
*
P3
*
P4
*
*
* Diferenças significativas na comparação entre períodos com Teste de
Bonferroni
O Gráfico 1 mostra o percentual de alteração de cada variável
nos diferentes momentos. É possível observar que os principais
incrementos na aptidão física ocorreram em P1x P2. Somente o
SV que demonstrou maior ganho m P2 x P3 (5,26%). A principal queda ocorreu para o VO2max, em P3 x P4 (-3,8%).
140
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Discussão
Em relação a VO2max, é possível observar a maior diferença
descritiva em P1x P2 (11,3%), sugerindo uma tendência a
elevação da capacidade aeróbia. Essa tendência foi confirmada no período seguinte onde foi encontrada diferença
estatisticamente significativa para P1x P3 (13%). Embora
a elevação do estado de rendimento tenha se demonstrado
gradual, a diferença estatisticamente significativa foi encontrada no período em que foram adotadas cargas mais intensas.
Esses achados corroboram outro estudo [8] que encontrou
diferenças significativas na potência aeróbia após 6 semanas
de treinamento, utilizando metodologia de treinamento com
altas intensidades. De qualquer forma, é provável que a amostra do presente estudo tenha elevado o estado de rendimento
pelo processo metodológico, que iniciou com cargas menos
intensas e mais volumosas dos períodos iniciais.
A queda significativa de desempenho em P3 x P4 (-3,8%),
se deu, provavelmente, pela falta de estímulo adequado, pela
duração do período competitivo. Em relação a isso, alguns
estudos [9-11] verificaram diferenças entre as intensidades
de jogo e treinamento, sugerindo que os estímulos de treinamento podem não ser adequados para elevar o estado de
rendimento.
O futebol exige dos atletas um total de deslocamentos por
volta de 10 km, em que por volta de 60% dessa distância é
realizada em intensidades baixas a moderadas [12-16]. Por
outro lado, em grande parte do jogo a freqüência cardíaca
encontra-se por volta de 83% da freqüência cardíaca máxima. É provável que a exigência de uma partida infantil seja
inferior a de profissionais e juniores, porém a escassez de
estudos sobre essa categoria não permite confirmar tal suposição, embora seja possível identificar diferenças no nível de
aptidão física em diferentes categorias [17]. De forma geral,
os resultados se encontram em conformidade com estudos
realizados no futebol [18-20], ainda que pouco abaixo dos
índices esperados.
As alterações significativas nos índices de velocidade
aparecem em P1x P2 (4,1%), onde os índices mantiveram-se
semelhantes ao longo da temporada. Apesar de a manutenção dos índices para essa capacidade possa ser considerada
como positiva, esperava-se uma nova alteração positiva nos
índices em P2 x P3, principalmente pela ênfase dada a essa
capacidade. É provável que o efeito concorrente [21,22] de
outras orientações de treinamento, bem como uma inadequada organização da distribuição/interconexão da carga
possa ter interferido no processo de aprimoramento dessa
capacidade.
Em outro estudo, adotando metodologia diferente [23],
os índices de força rápida e resistência de força em futebolistas
juniores também foram decorrentes do período preparatório,
porém não ocorrendo o mesmo durante o período competitivo. Devido à grande relevância da capacidade de sprint para o
futebol [22], faz-se necessária uma reflexão sobre a metodo-
logia adotada, no que diz respeito à eficácia do treinamento
para essa capacidade.
Em relação à força explosiva (SH, SV) não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas encontradas
P1x P2. Para SV, diferenças significativas foram encontradas
durante o período competitivo (P2 x P3), enquanto SH teve
sua principal alteração em P1 x P3 (2,13%). Outra constatação foi aumento significativo encontrado em relação a P4 (SH
= 1,6%, SV = 1,4%), provavelmente pela redução gradual do
volume, de treinamento, nesse período do macrociclo.
Um dado interessante é que o maior incremento em SH
se deu em P1xP2 (2,13%) enquanto que para SV ocorreu
entre P2 x P3 (5,26%). Esse fato pode ser atribuído a uma
possível diferença na adaptação neuromuscular relacionada
ao ângulo da aplicação da força explosiva, que no presente
estudo ocorreu em diferentes momentos.
Um estudo [25] descreveu as alterações na força explosiva,
em futebolistas juniores após 8 semanas de preparação. Esse
estudo demonstrou um aumento significativo nos índices de
força explosiva, e força explosiva elástica. Outro estudo [26]
demonstrou os efeitos de 24 semanas de treinamento sobre
variáveis antropométricas e funcionais em atletas de futsal
juvenil, em que constatou uma alteração significativa na
composição corporal e sobre os índices obtidos nos testes de
impulsão horizontal e shuttle run. O mesmo não foi observado
nos testes sentar-e-alcançar, impulsão vertical e resistência abdominal. Esses resultados compatibilizam com os encontrados
no presente estudo, apesar de que se trate de modalidades e
metodologias de treinamento diferentes.
Possivelmente o tempo disponível durante P1 e P2 não
tenha sido suficiente para elevar a performance de maneira
mais efetiva, o que sugere que outras propostas metodológicas
poderiam ser mais efetivas.
Outro fator que pode ter interferido negativamente é a
concorrência entre as diferentes orientações de treinamento,
não permitindo um desenvolvimento considerável em múltiplas capacidades motoras, uma vez que elas se apresentam
de forma conjugada.
Conclusão
Os resultados mostram uma coerência com a proposta
metodológica tradicional, embora tenham demonstrado que
apenas a força explosiva (SH) foi aumentada nos dois períodos
pré-competitivos (P1 e P3). As alterações positivas nos testes
de salto, decorrentes do período competitivo (P4), podem
estar ligadas à manutenção na intensidade de treinamento
combinada à redução do volume.
Os índices de velocidade e potência aeróbia demonstraram
uma melhora apenas no período P1 x P2 e P1 x P3. Esses
índices apresentaram-se abaixo do desempenho esperado para
esses atletas, sugerindo que, apesar de o modelo de preparação
tenha sido eficaz, não foi suficiente para promover grandes
alterações na aptidão física.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Sendo assim, os objetivos do estudo foram atingidos,
possibilitando fornecer referências para futuras comparações
entre diferentes modelos de treinamento para futebol na
categoria infantil.
Referências
1. Alves DM, Pinho ST, Frisselli A. Estudo sobre o treinamento
de velocidade no futebol. In: XXIII Simpósio Nacional de
Educação Física & II Colóquio de Epistemologia do CBCE.
Anais. Pelotas; 2004. p32.
2. Weineck J. Futebol total. São Paulo: Phorte; 2000.
3. Correa DKA, Alchieri JC, Duarte LRS. Excelência na produtividade: a performance dos jogadores de futebol profissional.
Psicol Reflex Crítica 2002;15(2):447-60.
4. Forteza ADR. Direções de treinamento: novas concepções
metodológicas 2006; Rio de Janeiro: Phorte; 2006.
5. Gomes AC. Treinamento desportivo: Estruturação e periodização. Porto Alegre: Artmed; 2002.
6. Matveev LP. Preparação desportiva. Adaptado por: Gomes AC, Oliveira PR. Londrina: Centro de Informações Desportivas; 1996.
7. Verkhoshansky YV. Treinamento desportivo: teoria e metodologia. Porto Alegre: Artmed; 2001.
8. Santi-Maria T, Arruda M, Almeida AG, Campeiz JM, Hespanhol JE, Ramalho RA, et al. Effects of 6 week aerobic power
training in indoor soccer players under-20. J Sports Sci Med
2007; Suppl10:58.
9. Caixinha PF, Sampaio J, Mil-Homens PV. Variação dos valores
da distância percorrida e da velocidade de deslocamentos em
sessões de treino e em competição de futebolistas juniores. Rev
Port Cien Desp 2004;4(1):7-16.
10. Rodrigues V, Mortimer L, Condessa L, Coelho D, Soares D,
Garcia E. Exercise intensity in training sessions and official
games in soccer. J Sports Sci Med 2007 Suppl10:57.
11. Bangsbo J, Mohr M, Krustrup P. Physical and metabolic demands of training and match-play in the elite football player.
J Sports Sci 2006;24(7):665-74.
12. Bangsbo J. Energy demands in competitive soccer. J Sports Sci
1994;13(1):5-12.
13. Barros RML, Misuta MS, Menezes SP, Figueroa PJ, Moura
FA, Cunha AS, et al. Analysis of the distances covered by first
division Brazilian soccer players obtained with an automatic
tracking method. J Sports Sci Med 2007;6:233-42.
14. Guerra I, Barros TLN. Demandas fisiológicas no futebol. In:
Guerra I, Barros TLN. Ciência do Futebol. Barueri: Manole;
2004. p. 1-20.
141
15. Reilly T. Energetic of high intensity exercise (soccer) with particular reference to fatigue. J Sport Sci 1997;15:257-263.
16. Valker W. Distância percorrida e padrões de deslocamento
em atletas profissionais de futebol [dissertação]. São Paulo:
Universidade Federal de São Paulo; 2002.
17. Dias RMR, Carvalho FO, Souza CF, Avelar A, Altimari LR,
Cyrino ES. Características antropométricas e desempenho
motor de atletas de futsal em diferentes categorias. Rev Bras
Cineantropom Desempenho Hum 2007;9(3):297-302.
18. Balikian P, Lourenção A, Ribeiro LFP, Festuccia WTL, Neiva
CM. Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio de
jogadores de futebol: Comparação entre diferentes posições.
Rev Bras Med Esporte 2002;8(2):32-36.
19. Neto AS, Mascarenhas LPG, Bozza R, Ulbrich AZ, Vasconcelos
IQA, Campos W. VO2max e composição corporal durante a
puberdade: comparação entre praticantes e não praticantes de
treinamento sistematizado de futebol. Rev Bras Cineantropom
Desempenho Hum 2007;9(2)159-64.
20. Seabra A, Maia JA, Garganta J. Crescimento, maturação,
aptidão física, força explosiva e habilidades motoras específicas. Estudo em jovens futebolistas e não futebolistas do sexo
masculino dos 12 aos 16 anos de idade. Rev Port Cien Desp
2001;1(2):22-35.
21. Paulo AC, Souza EO, Laurentino G, Ugrinowitsch C, Tricoli
V. Efeito do treinamento concorrente no desenvolvimento da
força motora e da resistência aeróbia. Rev Mackenzie Ed Fis
Esp 2005;4(4):145-54.
22. Leveritt M, Abernethy PJ, Barry BK, Logan PA. Concurrent strength and endurance training: a review. Sports Med
1999;28(6):413-27.
23. Arruda M, Goulart LF, Oliveira PR, Puggina EF, Toledo N. Futebol: uma nova abordagem de preparação física e sua influência
na dinâmica da alteração dos índices de força rápida e resistência
de força em um macrociclo. Rev Trein Desp 1999;4(1):23-8.
24. Abrantes C, Maçãs V, Sampaio J. Variation in football players’
sprint test performance across different ages and e levels of
competition. J Sports Sci Med 2004;3(1):44-9.
25. Hespanhol JE, Maria TS, Silva LG, Arruda M, Prates J. Mudanças no desempenho da força explosiva após 8 semanas de
preparação com futebolistas da categoria sub-20. Mov Percep
2006;6(9):82-94.
26. Cyrino ES, Altimari LR, Okano AH, Coelho CF. Efeitos do
treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho motor de jovens atletas. Rev Bras Ciên Mov 2002;10(1):
41-6.
142
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Artigo original
Comparação entre diferentes métodos
de determinação do limiar de lactato
Comparing between different methods of determination
of lactate threshold
Mônica de Oliveira Melo*, Cláudia Tarragô Candotti, D.Sc.**, Mateus Breyer***
*Especialista em Biomecânica e Mestranda em Ciências do Movimento - Escola de Educação Física - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, **Professora do Curso de Educação Física e Fisioterapia e Coordenadora do Curso de Fisioterapia - Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, ***Graduado em Educação Física - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Resumo
Abstract
Com objetivo de comparar as intensidades de exercício associadas ao limiar de lactato identificadas por três métodos distintos,
amostras de sangue de 22 indivíduos foram coletadas no repouso
e a cada 3 minutos antes do final de cada estágio durante um teste
máximo progressivo em cicloergometro. Os métodos de identificação de LL foram: concentração fixa de 4 mml/l (OBLA), limiar
aeróbio individual (IAT) e transformação logarítmica (log-log). A
concordância entre os métodos foi avaliada por meio da técnica de
análise gráfica proposta por Bland e Altman. Foram encontradas
maiores concordâncias entre os métodos log-log versus IAT do que
os métodos IAT versus OBLA e log-log versus OBLA.
Aiming to compare the exercise intensity associate to lactate
threshold identified by three distinct methods, blood samples of 22
subjects were taken at rest and every 3 minutes before the end of
each stage during maximal progressive test on a bicycle ergometer.
The identification methods were: fixed blood lactate concentration
of 4 mmol/l (OBLA), individual anaerobic threshold (IAT), log-log
transformation model (log-log). The degree of agreement between
the methods was analyzed by the statistical procedure suggested by
Bland and Altman. As results, the degree of agreement was higher
between the log-log versus IAT than the IAT versus the OBLA and
the log-log versus the OBLA.
Palavras-chave: critério, prescrição, exercício aeróbio.
Key-words: guidelines, prescription, aerobic exercise.
Endereço para correspondência: Mônica de Oliveira Melo, Rua Demétrio Ribeiro, 112/ 302, Centro Histórico 90010-312 Porto Alegre
RS, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
Poucos assuntos têm gerado tanto debate no contexto
da ciência do exercício como o Limiar de Lactato (LL). As
divergências entre os pesquisadores se dão não só pela falta de
uma padronização metodológica, mas também pela falta de
concenso a respeito dos mecanismos que controlam a produção e remoção de lactato durante o exercício. Nesse contexto,
percebe-se que há basicamente duas correntes clássicas: de um
lado autores que acreditam que o aumento da concentração
de lactato está relacionada com baixos níveis de oxigênio nas
células musculares (hipóxia) [1], e outros autores que apostam numa explicação multifatorial para o fenômeno, a qual
pode incluir: regulação bioquímica que promove a glicólise
[2], aumento da atividade simpática[3], recrutamento progressivo de unidades motoras glicolítica [4-6], e diminuição
do balanço entre a remoção versus produção de lactato [7,2].
Não obstante, pelo menos a fins operacionais, parece haver
um acordo antre os autores de que o LL representa uma
intensidade de exercício a partir da qual a concentração de
lactato aumenta de forma exponencial [3], ou também uma
intensidade de exercício na qual a concentração de lactato
atinge um ponto fixo [8].
De qualquer forma, a resposta do lactato sanguíneo ao
exercício parece ter uma natureza trifásica. A resposta fisiológica conhecida é que durante intensidade leves e moderadas
de exercício (tipicamente <60% do consumo máximo de
oxigênio) não há acúmulo do lactato [9]. Nessa condição, o
lactato produzido difunde-se para fora das fibras musculares
por meio de moléculas transportadoras específicas da membrana celular, que pertencem à família dos transportadores
de monocarboxilatos ligados a prótons (MCTs) (difusão facilitada). À medida que o exercício continua, a concentração
de lactato diminui novamente, a atividade física pode continuar por muito tempo. Durante intensidades mais severas
(60-80%), a taxa de produção do lactato sangüíneo excede
sua taxa de captação a fim de o lactato muscular e sanguíneo
atinja altos níveis de steady-state do que o descanso. Quando
o máximo limite do exercício é atingido, há um progressivo
aumento do lactato no músculo e sangue, levando à fadiga
e à exaustão [10]. Assim, treinadores têm usado o LL como
um guia para prescrição de treinamento, onde intensidades
em torno do LL têm sido usadas no treinamento aeróbio intensivo, abaixo dessa intensidade, aeróbio extensivo e, acima
dela, anaeróbio.
Diante da utilidade prática, diversas metodologias de
aquisição e análise têm sido propostas para estimação do LL.
Classicamente, um método direto e simples consiste em coletar o lactato direto do sangue durante a realização de testes
máximos progressivos, plotar esses valores em função da carga
de trabalho e indentificar um ponto de quebra com base em
um critério, previamente determinado pelo pesquisador. De
acordo com Ribeiro [11], o critério de determinação do LL
pode ser resumidamente descrito a partir de três abordagens:
143
1) adoção de concentrações fixas de lactato e interpolação de
resultados; 2) uso de modelos matemáticos para avaliar as
curvas de lactato; e 3) estimativa visual de quebra nas curvas
de lactato. Nesse contexto, o que se observa é que a escolha do
critério escolhido implica no uso de diferentes nomenclaturas
para descrever o mesmo fenômeno, ou então na identificação
de fenômenos diferentes com mesma nomenclatura. Como
exemplo, na linha de estudos sobre limiares de lactato, alguns
autores sugerem tanto o uso do método de identificação individual ou IAT (Individual Anaerobic Threshold), proposto
por Stegmann, Kindermann & Schnabel [12] como o uso
do método de concentração fixa de 4 mml ou OBLA (Onset
of Blood Lactate Accumulation), investigado extensamente
por Heck, Mader, Hess [13], para identificar o fenômeno
conhecido como a máxima fase estável do lactato. Esse último
é descrito pela sigla inglesa MLSS (Maximal Lactate Steady
State), e é definido como a mais alta carga de trabalho que
pode ser suportada sem o acúmulo de lactato sangüínio.
De outra maneira, outros estudos têm usado o método de
transformação logarítmica (log-log), proposto por Beaver,
Wasserman & Whipp [14] para determinação do chamado
primeiro LL, ou intensidade de trabalho correspondente ao
início do aumento linear de lactato no sangue [15], enquanto
que outros estudos têm usado essa metodologia para identificar o segundo LL, ou simplesmente a intensidade imediatamente anterior ao aumento exponencial da concentração de
lactato [16]. O resultado disso, é que a intensidade associada
ao LL, pode variar simplesmente devido à escolha de um ou
outro modo de identificação e tornar difícil a comparação dos
resultados em pesquisas nesse campo de investigação. Além
disso, do ponto de vista prático, compromete a prescrição e
acompanhamento do desempenho, ora superestimando, ora
subestimando a intensidade ótima de treinamento aeróbio.
Considerando a importância da identificação do LL para
prescrição de treinamento, este estudo tem por objetivo
comparar intensidades de exercício associadas ao limiar de
lactato identificadas por três métodos diferentes.
Material e métodos
Amostra
A amostra foi composta por 22 indivíduos saudáveis, do
sexo masculino, com idade média de 25,1 ± 2,6 anos, com
massa corporal média de 73,3 ± 6,9 kg e estatura média de 164
± 3,7. Todos estavam engajados em atividades físicas regulares
(2 a 3 horas por semana), como caminhada, musculação e
ciclismo. O critério de exclusão foi que não tivessem histórico
de lesão músculo esquelético ou problemas cardiovasculares.
Os indivíduos foram informados dos procedimentos da
pesquisa, do possível desconforto do teste e assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), antes da
realização da avaliação. Este estudo foi aprovado pelo Comite
de Ética da universidade onde foi realizado.
144
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Protocolo
Antes do teste, os indivíduos foram familiarizados com o
equipamento e após foram submetidos a um teste máximo
progressivo contínuo em um cicloergômetro eletromagnético
(modelo SF, Funbec, Brasil), adaptado com guidão, selim e
pedaleiras similares as utilizadas no ciclismo. O teste consistiu
em pedalar na cadência fixa de 80 rpm até a exaustão, com
aumentos constantes da carga de 25 watts a cada três minutos.
O teste era interrompido quando o indivíduo manifestasse
verbalmente a impossibilidade de continuar ou quando não
conseguisse manter a cadência mínima de 80 rpm.
Aquisição e análise de dados
Amostras de sangue (25 μl) para mensuração do lactato
sangüíneo foram obtidas antes do início do teste, a cada três
minutos antes do final de cada estágio e imediatamente após
o final do exercício, utilizando um Accusport Lactate Analyzer
(Boehringer Mannhein, Mannhein, Germany) [17]. Após serem plotadas as curvas de lactato em função do tempo de teste,
a determinação do limiar de lactato foi realizada utilizando-se
três diferentes métodos: 1) método de identificação do limiar
anaeróbio individual (IAT) [12]; 2) método da concentração
fixa de 4mml/L (OBLA); e 3) método de transformação
logarítmica (log-log) [14]. Para o IAT, foi traçada uma linha
tangente a partir do ponto onde a concentração de lactato
durante a recuperação diminui e atinge o valor da maior
concentração de lactato observada no final do teste. O ponto
de intersecção dessa linha com a curva de lactato foi referido
como IAT. Para o limiar de OBLA, uma concentração sanguínea de 4 mm/l foi identificada por meio de interpolação
linear. No método de transformação logarítmica, o log da
concentração sanguínea de lactato foi registrado no eixo do
y como função do log da carga de trabalho no eixo de x. No
diagrama de dispersão dessa função, pôde-se observar uma
fase de incremento muito lento, imediatamente seguida de
uma fase de aumento abrupto, definindo claramente uma
transição (LL) na relação do acúmulo de lactato versus carga de
trabalho. Observando a distribuição dos pontos do diagrama
destacam-se duas fases lineares, onde o LL corresponde ao
ponto de intersecção entre duas retas de regressão, respectivamente em cada uma das fases. Essas análises foram realizadas
por dois fisiologistas experientes e caso houvesse discordância
entre os resultados encontrados, um terceiro fisiologista teria
acesso as curvas de LL para emitir seu parecer.
Tratamento estatístico
Inicialmente foi realizada a estatística descritiva, verificado-se os valores de média e desvio padrão para a carga de
trabalho referente ao LL, identificadas pelos três métodos
descritos. Após, foi verificada a normalidade dos dados (Shapiro Wilk) e a homogeneidade das variâncias (Levene Test).
Sendo comprovada a normalidade e homogeneidade dos dados, para verificar a presença de diferença entre as médias e o
desvio padrão das cargas foi realizada uma análise de variância
(ANOVA one-way). As diferenças foram identificadas usando
post-hoc test (Bonferroni Test). O grau de concordância entre
os métodos foi verificado usando procedimento sugerido por
Bland e Altman [18]. Os dados foram apresentados graficamente através da plotagem das diferenças entre os valores
obtidos pelos métodos contra o valor das suas médias. Foram
feitas as seguintes comparações: IAT versus log-log, IAT versus
OBLA e log-log versus OBLA. A média das diferenças (bias) e
o desvio padrão (dp) das diferenças entre os valores obtidos nas
comparações entre os métodos, expressados em watts, foram
calculados. Os limites de concordância foram mantidos no
bias ± DP. O nível de significância adotado foi p < 0,05
Resultados
Os valores de média e desvio padrão para a carga de
trabalho associada o LL definidas pelo OBLA, log-log e IAT
correspondenderam a 90,53 ± 10,69 (W); 131,25 ± 6,99 (W)
e 138,33 ± 7,66 (W), respectivamente. Ao comparar os valores
médios de carga de trabalho associadas ao LL, foi encontrada
diferença significativa entre: a) o log-log e OBLA e b) OBLA
e IAT. Por outro lado, não foram encontradas diferenças
significativas na comparação realizada entre as intensidades
identificadas pelos métodos log-log e IAT (Figura 1).
Figura 1 - Comparação entre os valores médios da carga de trabalho (W) correspondentes ao LL identificada por três métodos
diferentes.
* diferenças significativas (p < 0,05).
A Figura 2A ilustra a plotagen da diferença individual
do LL, identificado pelos métodos log-log versus OBLA
em função dos valores médios de ambas as estimativas. O
valor de bias encontrado foi de 27,38 (W) e os limites de
concordância superior e inferior foram 92,38 e -37,62 (W),
respectivamente.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Figura 2A - Análise gráfica da carga de trabalho do LL identificada pelo log-log e pelo OBLA em 21 sujeitos durante teste máximo
progressivo.
Ainda, quando os métodos log-log versus IAT foram confrontados, valores de 2,08 (W) para o bias e valores de 35,71
e -31,34 (W) para os respectivos limites de concordância
superior e inferior (Figura 2C) foram observados.
Figura 2B - Análise gráfica da carga de trabalho do LL identificada pelo IAT e pelo OBLA em 14 sujeitos durante teste máximo
progressivo.
Figura 2C - Análise gráfica da carga de trabalho do LL identificada pelo log-log e IAT em 14 sujeitos durante teste máximo
progressivo.
As diferenças estimadas de bias entre os métodos log-log
versus OBLA foram grandes quando comparadas as diferenças entre os métodos IAT versus OBLA e log-log versus
IAT. Para carga de trabalho, todos os valores permaneceram
dentro dos limites de condordância em todas as comparações
realizadas.
Discussão
O objetivo desse estudo foi comparar intensidades de
exercício associadas ao LL identificadas por três métodos
145
diferentes, obtidas durante o mesmo protocolo de cargas
progressivas. Nessa direção, foram escolhidos os métodos
OBLA, IAT e log-log, por representarem cada uma das categorias comumente adotadas na literatura, ou seja, adoção
de concentrações fixas de lactato, estimativa visual de quebra
nas curvas de lactato e uso de modelos matemáticos, respectivamente. Dentro das condições experimentais do presente
estudo, no qual não foram realizados testes com cargas contínuas para verificar os efeitos das intensidades determinadas
pelos diferentes métodos, o principal achado foi que a média
das cargas identificadas pelo OBLA, foi significativamente
menor quando comparada as médias das cargas do LL de
IAT e log-log (p < 0,05). Além disso, foi observado que não
houve diferenças significativas entre as médias das cargas
identificadas pelos métodos log-log e IAT (Figura 1).
Diversos autores têm identificado o LL por meio de uma
concentração fixa de 4mml/l [13,19,20]. Alguns autores têm
inclusive demonstrado que essa é uma intensidade adequada
para determinar indiretamente a máxima fase estável do lactato sangüíneo (MLSS). Operacionalmente, se a intensidade de
exercício associada ao LL é identificada pela determinação da
intensidade, na qual o lactato sangüíneo permanece em steady
state, então a terminologia MLSS é mais apropriada [3]. Nesse
contexto, Heck et al. [13], por exemplo, justificam a escolha
da concentração fixa de 4 mml/l, em função da maioria dos
sujeitos apresentarem, nesta intensidade de exercício, o máximo balanço entre produção e remoção de lactato. Embora
estes pesquisadores tenham proposto uma concentração fixa
de 4mml/L para determinar a MLSS, outros estudos verificaram que a concentração de lactato correspondente a esta
intensidade, pode variar de 3,0 a 5,5 mml/L. Mesmo com
esta variabilidade, o OBLA ainda é um dos critérios mais
utilizados para determinar a MLSS [21,22].
Todavia, devido a críticas na utilização de concentrações
fixas e a falta de individualização, alguns protocolos foram
desenvolvidos com o objetivo de estimar indiretamente a
MLSS. Nessa direção, Stegmann, Kindermann & Schnabel
[12] propuseram um protocolo que levava em consideração
a cinética individual do lactato durante o teste incremental,
chamado de IAT, pois segundo estes pesquisadores, embora
a concentração de lactato na MLSS seja aproximadamente
4mml/l, em seus estudos foi encontrada uma variação individual muito grande (1,5 – 7,0 mml/l). Sendo assim, eles
acreditavam que esta metodologia seria capaz de identificar
a MLSS de forma individualizada.
Segundo Beneke et al. [23], o limiar de OBLA e o IAT
parecem ser bastante representativos do MLSS em corrida e
ciclismo e inclusive são os métodos mais comumente usados
para a detecção de LL em remadores. Visando verificar se
estes dois métodos também teriam uma boa correlação com
o MLSS no remo, os pesquisadores usaram um teste máximo
em remoergômetro para comparar a carga de trabalho correspondente ao limiar de lactato entre os métodos OBLA e IAT.
O estudo concluiu não haver diferenças significativas entre
146
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
os dois métodos, porém, as cargas de trabalho identificadas
pelos mesmos foram sempre maiores que a carga de MLSS.
O presente estudo parece não corroborar com o resultado encontrado acima, uma vez que a média das cargas identificadas
pelo OBLA foi significativamente menor quando comparada
a médias das cargas do LL de IAT e log-log. Além disso, o
procedimento estatístico sugerido por Bland e Altman [18]
foi usado para expressar o grau de concordância entre os
valores dos limiares obtidos a partir dos métodos usados. Na
análise gráfica foi possível observar um erro médio de 27,38
(watts) para comparação de log-log versus OBLA e um erro
médio de 22,92 (watts) para a comparação de IAT versus
OBLA (Figuras 2A e 2B). A partir desses resultados, pode-se
verificar que o uso do log-log e possivelmente do IAT implica na determinação de uma carga de trabalho um estágio
acima daquela prevista pelo OBLA. Escolher um ou outro
critério de determinação nesse caso pode ser um fator ímpar
da prescrição e modulação da intensidade do treinamento e
consequentemente no sucesso do programa, pois o treinador
que desejar promover adaptações predominantemente aeróbias (abaixo do LL) pode equivocar-se ao escolher um critério
que teoricamente identifica um “limiar”, mas que na prática
esse limiar está associado a uma intesidade de treinamento
onde a glicólise aeróbia não dá conta da produção de ATP
para fornecer energia ao trabalho realizado.
Cabe lembrar que neste estudo o objetivo foi comparar as
cargas de trabalho correspondentes ao LL, sem a realização de
testes contínuos de carga constante para verificar a relação desses valores com a MLSS. Por essa razão, os resultados devem
ser analizados com cautela e somente suposições podem ser
realizadas com respeito às cargas de trabalho dos LL previstas
pelos critérios avaliados e seus efeitos crônicos no desempenho. Para que se tenha uma relação precisa entre os valores de
limiar e a MLSS, novas pesquisas devem ser realizadas.
Supõe-se que o fato de que as cargas de trabalho associadas
ao limiar de lactato terem sido significativamente menores no
método 4mml/l na comparação dos métodos IAT versus loglog indica que, neste estudo, o método de concentração fixa
subestimou a carga de limiar. Baptista et al. [21], comparando
o OBLA com um método que respeita a individualidade
fisiológica de cada indivíduo, chamado Dmáx, encontrou
justamente o oposto deste estudo, pois a carga de trabalho de
OBLA superestimou os valores de limiar. Considerando que
a detecção do LL é altamente dependente do protocolo realizado, essa diferença pode residir no fato de que a amostra do
estudo referido foi composta por atletas remadores, homens
e mulheres, submetidos a um protocolo diferente do presente
estudo em remoergômetro. Apesar disso, o mecanismo exato
que explica as diferenças na cinética do lactato entre diferentes
grupos são desconhecidos.
Beaver et al. [14] sugeriram o uso da transformação loglog, usando a concentração de lactato em cálculos matemáticos para determinar o LL. Estes pesquisadores concluíram
que o lactato apresenta uma abrupta transição de um lento
aumento para um rápido aumento na sua concentração
sangüínea. Este método acabou sendo aceito por muitos e
também criticado por outros que afirmavam, entre outras
coisas, que o log-log acaba “criando” um aparente ponto de
quebra antes inexistente [24]. Contudo, no presente estudo,
quando comparado o valor médio de carga do LL definida
por log-log com o LL de IAT, não foram observadas diferenças
significativas (Figura 1). Além disso, a análise gráfica permitiu
concluir que há uma boa concordância entre os métodos loglog e IAT, apresentando um valor de bias de 2,09 (W) (Figura
2C). Esses resultados indicam, dentro das condições experimentais deste estudo, que ambos os métodos identificam
as mesmas intensidades, porém cabe lembrar que o método
do IAT requer que sejam feitas coletas de sangue também
durante a fase de recuperação, o que aumenta os custos com
materiais necessários para a coleta, e a definição dos pontos
de quebra ainda é altamente dependente da experiência do
avaliador. Por essas razões, para circunstâncias em que o objetivo seja identificar uma intensidade associada ao LL com
maior praticidade, economia e objetividade, recomenda-se o
uso do log-log [14].
Há na literatura, uma enorme variabilidade de métodos,
fato este que ainda representa um dos maiores problemas
quando o objetivo é identificar LL ou fenômenos semelhantes,
principalmente naquilo que se refere à comparação entre os
estudos desse tipo [3,22]. Este trabalho utilizou um mesmo
protocolo de coleta e teve como principal foco comparar
diferentes critérios de identificação do LL, pois a determinação correta desta intensidade pode influenciar diretamente a
prescrição e acompanhamento do treinamento. Porém, são
necessários novos estudos objetivando comparar métodos,
avaliar os resultados obtidos nesse trabalho e se possível levar
em conta a utilização de outros tipos de protocolos e populações, para que se possa optar por este ou aquele método
com maior segurança.
Conclusão
Os resultados demonstram que não há diferenças significativas na determinação do LL entre os métodos OBLA
versus IAT e log-log, enquanto que o OBLA subestimou o
LL quando comparado aos outros métodos investigados.
Sugere-se o desenvolvimento de novos estudos que analisem
as respostas fisiológicas de indivíduos submetidos a testes de
carga contínua em intensidades associadas ao LL identificados
nos critérios usados neste estudo.
Referências
1. Wassermann K, Hansen JE, Sue SY, Whipp BJ. Principles of
exercise testing & interpretation; including pathophysiolgy and
clinical applications. 3 ed. Philadelphia: Lippincott Williams
& Wilkins; 1999.
2. Gladden LB. Muscle as a consumer of lactate. Med Sci Sports
Exerc 2000;32:764-71.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
3. Svedahl K, Macintosh BR. Anaerobic threshold: The concept and methods of measurement. Can J Appl Physiol
2003;28(2):299-323.
4. Seburn KL, Sanderson DJ, Belcastro AN, Mckenzie D. Effect
of manipulation of plasma lactate on integrated EMG during
cycling. Med Sci Sports Exerc 1992;24(8): 911-6.
5. Hug F, Faucher M, Kipson N, Jammes Y. EMG signs of neuromuscular fatigue related to the ventilatory threshold during
cycling exercise. Clin Physiol Funct Imaging 2003;23:208-14
6. Matsuura R, Ogata H, Yunoki T, Arimitsu T, Yano T. Effect
of blood lactate concentration and the level of oxygen uptake
immediately before a cycling sprint on neuromuscular activation during repeated cycling sprints. J Physiol Anthropol 2006;
25(4):267–73.
7. Brooks GA. Anaerobic threshold: review of the concept
and directions for future research. Med Sci Sports Exerc
1985;17(1):22-31.
8. Lucia A, Sánchez O, Carvajal A, Chicharro JL. Analysis of the
aerobic-anaerobic transition in elite cyclists during incremental
exercise with the use of electromyography. Br J Sports Med
1999;33:178-85.
9. Cabrera ME, Saidel GM, Kalhan SC. Lactate metabolism
during exercise: analysis by an integrative systems model. Am
J Physiol 1999;277(46):522-36.
10. Astrand P. Tratado de fisiologia do trabalho: bases fisiológicas
do exercício. Artmed: Porto Alegre; 2006.
11. Ribeiro JP. Limiares metabólicos e ventilatórios durante exercício. Arq Bras Cardiol 1995;64(2):171-81.
12. Stegmann H, Kindermann W, Schnabel A. Lactate kinetics and individual anaerobic threshold. Int J Sports Med
1981;2:160-5.
13. Heck H, Mader A, Hess G. Justification of the 4 mmol/l lactate
threshold. Int J Sports Med 1985;6:117-30.
147
14. Beaver WL, Wasserman KW, Whipp BJ. Improved detection of
lactate threshold during exercise using a log-log transformation.
J Appl Physiol 1985;59:1936-40.
15. Rosequini BT, Narro F, Oliveira AR, Ribeiro JP. Estimation
of the lactate threshold from heart rate response to submaximal exercise: the pulse deficit. Int J Sports Med. 2007;
28(6):463-9.
16. Candotti CT, Loss JF, Melo MO, La Torre M, Pasini M, Araújo
LD, Oliveira LN, Oliveira JR, LPO. Comparing the lactate and
EMG threshold of recreational cycling during incremental pedaling exercise. Can J Physiol Pharmacol 2008;86(5):272-8.
17. Baldari C, Guinetti L. A simple method for individual anaerobic
threshold as predictor of max lactate steady state. Med Sci Sports
Exerc 2000;32(10):1798-802.
18. Bland JM, Altman DG. Statistical methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet
1986;8:307-10.
19. Kindermann W, Simon G, Keul J. The significance of the
aerobic-anaerobic transition for the determination of work
load intensities during endurance training. Eur J Appl Physiol
1979;42:25-34.
20. Sjodin B, Jacobs I. Onset of blood accumulation and marathon
running performance. Int J Sports Med 1981;2(1):23-6.
21. Baptista RR, Oliveira LG, Figueiredo GB, Contieri JR, Loss
JF, Oliveira, AR. Limiar de lactato em remadores: comparação
entre dois métodos de determinação. Rev Bras Med Esporte
2005;11(4):247-50.
22. Denadai BS. Limiar anaeróbico: considerações fisiológicas e
metodológicas. Rev Bras Ativ Fís e Saúde 1995;1(2):74-88.
23. Beneke R, Hütler M, Leithäuser RM. Maximal lactate-steadystate independent of performance. Med Sci Sports Exerc
2000;32(6):135-9.
24. Myers J, Ashley E. Dangerous curves. A perspective on exercise,
lactate, and the anaerobic threshold. Chest 1997;111(3):787-95.
148
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Artigo original
Efeito da combinação de exercícios com pesos
sobre indicadores sanguíneos da exaustão
em praticantes de musculação
Effect of exercises combined with weight on blood markers related
to exhaustion in weight training
Carol Christina de Faria*, Fábio Lera Orsatti, D.Sc.*, Fernando Moreto**, Roberto Carlos Burini, D.Sc.***
*Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri), Depto. Saúde Pública, Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu/SP, **Biomédico, mestrando em Patologia, Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu/SP, (CeMENutri),***Professor Titular do
Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu, SP, Responsável pelo CeMENutri
Resumo
Abstract
Foram comparados os indicadores sanguíneos (de acidose e
hemoconcentração), de 21 homens (20-32 anos) treinados em
musculação e divididos em três grupos, segundo o número de exercícios executados: grupo 5 (n = 6) cinco exercícios, grupo 4 (n = 7)
quatro exercícios, grupo 3 (n = 8) três exercícios. Foram submetidos
à sobrecarga inicial de 80% de uma repetição máxima (1RM),
até a exaustão. O sangue foi coletado antes (At) e imediatamente
após (Ap) ao teste de exaustão (TE) para a análise de indicadores
hemogasimétricos: pH, pO2, pCO2, HCO-3, hemoconcentração
(Ht) e glicemia. O efeito do TE sobre cada variável foi avaliado
comparando-se os grupos por meio de ANOVA-medidas repetidas
para significância de p = 0,05. Houve significância (p < 0,05) na
elevação do Ht, glicose e pO2 e redução do pH, pCO2 e HCO-3.
Diferença significativa ocorreu entre os grupos apenas em relação ao
HCO-3, cuja maior variação foi registrada no grupo 4. Assim, esses
marcadores sistêmicos respondem a exaustão muscular de modo
semelhante ao envolvimento de três, quatro ou cinco grupamentos
musculares.
In this study, biochemical markers (eg., acidosis and hemoconcentration) are compared in 21 strength trained male individuals
(20-32 years) and divided in three groups, according to the number
of executed exercises: group 5 (n = 6) five exercises, group 4 (n = 7)
four exercises, group 3 (n = 8) three exercises. All individuals were
submitted to an overload exercise at 80% of one maximum repetition
(1RM) until exhaustion. Blood samples were drained before and
immediately after the test to hemogasometric parameters: pH, pO2,
pCO2, HCO-3, hemoconcentration (Ht) and glucose. Exhaustion
test (ET) effects over the blood markers were compared by means
of ANOVA with group significance level at p = 0.05. Ht, glucose
and pO2 elevation, and pH, pCO2 e HCO-3 reduction were significant. There was significant differences among the groups only in
relation to HCO-3 that showed higher variation in the group 4. The
data gathered suggest that those biochemical markers have similar
responses to ET encompassing three, four and five muscle groups.
Key-words: exhaustion test, 1RM-test, biochemical markers.
Palavras-chave: teste de exaustão, 1RM, indicadores sanguíneos.
Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri), Departamento
de Saúde Pública, UNESP – Universidade Estadual Paulista, Rubião Júnior 18618-970 Botucatu SP, Tel: (14) 3811-6128, E-mail: burini@
fmb.unesp.br.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
Sabidamente intensidade e duração do trabalho muscular são os principais indutores do ritmo de fadigamento
muscular. Esta por sua vez constitui o end-point para o
treinamento máximo e turning-point para o início fisiopatológico do exercício exaustivo. Por estas razões os indicadores
da fadiga muscular, e suas sensibilidades e especificidades,
são duplamente perseguidos pelos estudiosos dos limites
do treinamento e por aqueles do estresse metabólico do
exercício exaustivo.
Embora a etiologia complexa, a fadiga muscular pode
ser precipitada por fatores locais, intramusculares, sistêmicos e centrais. Nos exercícios de alta intensidade e curta
duração os fatores locais particularmente a transmissão
nervosa, recrutamento miofibrilar e utilização anaeróbia
de substratos energéticos parecem ser os mais importantes. Entretanto, para a continuidade do esforço físico, a
perfusão adequada do músculo com suprimento sanguíneo
de oxigênio e remoção de calor, CO2 e metabolitos ácidos
gerados pelo trabalho contrátil, são também importantes
[1].
Em humanos os estudos da transmissão dos impulsos
nervosos por intermédio da técnica se resumem a músculos
individualizados. Por sua vez a tipagem miofibrilar recrutada
e o consumo de substratos energéticos intramusculares são
estudos envolvendo biópsias de músculos, ainda dependentes de pendências éticas não universalizadas nas regiões
brasileiras. O uso da ressonância magnética do fósforo para
estudo cinético das vias fosfagênicas veio como alternativa
in vivo para o uso da biópsia, mas é limitante pela existência
e custo do aparelho [2]. Assim, o estudo local dos fatores
intramusculares da fadiga é de difícil execução restando o
estudo indireto pela variação dos indicadores sistêmicos
(sanguíneos).
Em estudo de protocolo de exaustão com pesos envolvendo jovens culturistas do gênero masculino verificou-se
que amostras de sangue venoso colhidas antes e após o
teste de exaustão individual (iniciando-se a 85% de 1RM)
diferiam nos indicadores de acidose, hemoconcentração,
glicemia e enzimas características de permeabilidade–lesão
muscular [3].
Posteriormente, em amostragem sanguínea antes e após o
conjunto de testes de exaustão em três exercícios: supino reto,
agachamento na máquina Hack e remada baixa no pulley, sem
descanso entre exercícios foi observado que a pCO2 prediz
50% e a aspartato aminotransferase 40% do total de repetições observadas nos 3 exercícios. Somadas essas 2 variáveis
a pCO2, hematócrito, HCO3- e fração cardíaca da creatina
quinase (CK-MB) o nível preditivo do esforço (repetições)
realizado se eleva a 92% [4].
Mais recentemente [5], esse protocolo foi repetido individualmente em 8 exercícios para grupamentos musculares
distintos. Em todos os 8 exercícios foram observados reduções
149
significativas do pH e HCO3- sanguíneos e elevações do lactato
e NH4 plasmáticos. Rosca direta, puxador alto, supino e mesa
flexora diferiram da flexão plantar do tornozelo em pé na
máquina e Hack pelo maior número de variáveis sanguíneas
alteradas e pela maior magnitude da acidose metabólica e
tamponantes (NH4+, lactato e HCO3-).
Assim considerando que grupamentos musculares distintos, quando submetidos a exaustão com pesos, apresentam
padrão bioquímico-sanguíneo semelhante (acidose metabólica, hemoconcentração e aumento da glicemia), mas de
magnitude de variação dependente do grupamento muscular
exercitado.
O presente estudo pretende investigar o impacto associado
da exaustão de 3, 4 ou 5 grupamentos musculares sobre esses
parâmetros bioquímicos-sanguíneos da exaustão muscular.
Material e métodos
Contou-se, neste estudo, inicialmente, com a participação de cinco trabalhos (ntotal=.40) Todos estes visavam a
promoção da exaustão muscular por meio de um mesmo
tipo de protocolo com exercícios resistidos. Contudo, dois
desses trabalhos (n = 19) foram excluídos do estudo, durante a fase analítica, pois apresentaram dados imprecisos.
A amostra em estudo foi composta por 21 jovens (20-32
anos) do sexo masculino que estavam de acordo com os
procedimentos investigativos e que obedeciam aos critérios
de inclusão: mínimo de três anos de prática de exercícios
com pesos, não tabagistas, não usuários de esteróides anabolizantes e não portadores de doenças metabólicas. Após
serem informados sobre o propósito desta investigação e os
procedimentos a serem adotados, assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido, em conformidade com
as instruções contidas na Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, processo n°
150/2000- CEP MVCR/asc
Avaliação da força muscular (1RM)
A força muscular foi determinada por meio do teste de
uma repetição máxima (1RM), envolvendo os segmentos
do tronco, membros inferiores e membros superiores como
descrito por Porto et al. [5]. O teste de 1RM foi realizado no
dia anterior ao protocolo de exaustão.
Protocolo de exaustão muscular
Determinada a carga máxima individual para cada exercício (1RM) [5], em dia anterior, cada um dos atletas realizou
(na manhã do dia seguinte) o protocolo para indução da
exaustão muscular após café da manhã de composição padronizada oferecido 60 minutos antes. Os exercícios foram
150
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
iniciados com carga individual de 80% de 1RM, realizando
o maior número de repetições possíveis sem auxilio externo.
Em seguida, com auxilio externo e sem interrupção do exercício, a carga foi reduzida em 20% para a continuidade das
repetições, e assim foram realizadas sucessivamente reduções
de 20% do peso, até a impossibilidade de continuidade de
realização do exercício com a carga mínima (20% de 1RM)
[5]. Esta incapacidade de continuidade do exercício configurou o estado de exaustão muscular.
Os exercícios abaixo foram selecionados para compor os
grupos por serem bastante populares:
Grupo com cinco exercícios (G5): Extensão do cotovelo,
desenvolvimento pela frente, supino reto, levantamento terra
e agachamento hack;
Grupo com quatro exercícios (G4): Supino reto, rosca direta
com barra, agachamento hack, tríceps no pulley;
Grupo com três exercícios (G3): Agachamento hack, supino
reto e rosca direta.
Nos momentos pré e imediatamente pós-exaustão, foram
avaliados os indicadores sangüíneos, por meio de amostras
coletadas da veia cubital, para análises hemogasimétricas (pH,
pO2, pCO2 e HCO-3) em aparelho de análise automática
(Cobas Mira Plus), glicose (glicose oxidase) e hematócrito
mediante centrifugação pelo método de Microhematócrito.
Análise estatística
O teste de Kolmogorov e Smirnov foi realizado para observar se as amostras tinham distribuição normal. Os resultados
foram agrupados mediante valores médios e desvio padrão
e, posteriormente, comparados por análise de variância
(ANOVA de medidas repetidas entre os momentos), grupos
(5, 4 e 3 exercícios) x momentos (pré e pós) com nível de
significância” p< 0,05.
Resultados
Ao compararmos os momentos pré e pós TE nos três
protocolos, observou-se queda significativa nos valores do pH
e pCO2 (pré > pós), porém, estes não apresentaram diferença
significativa entre os grupos (Tabelas I e II).
Em relação ao íon HCO-3, este foi o único parâmetro que
apresentou diferença significativa entre os grupos, sendo o
grupo quatro (G4) aquele que apresentou maior variação em
relação aos demais (Tabela II).
Para a variável PO2 os valores se elevaram significantemente
para todos os grupos (pré < pós), contudo, não houve variação
significativa entre esses mesmos valores (Tabelas I e II).
Os parâmetros correspondentes a hemoconcentração
(hematócrito) e substrato energético (glicose) acompanharam o pO2, pois aumentaram significativamente seus valores
em comparação ao momento pré, porém não apresentaram
diferença entre si (Tabelas I e II).
Tabela I - Valores hemogasimétricos, hemoconcentração e glicemia no momento pré-teste de exaustão com três, quatro ou cinco
exercícios.
Variável
pH
pCO2 (mmHg)
pO2 (mmHg)
HCO-3 (mmol/l)
Ht (%)
Glicose (mg/dl)
G3
7,3 ± 0,03
59,8 ± 5
24,7 ± 5,1
29,7 ± 2,2
46,8 ± 2,4
85,1 ± 3,0
G4
7,4 ± 0,03
44,7 ± 5,2
37,1 ± 14,8
25,2 ± 1,7
48,1 ± 6,6
88,0 ± 16,9
G5
7,4 ± 0,02
46,1 ± 3,6
4,2 ± 25,6
25,6 ± 2,1
46,3 ± 4,0
89,8 ± 4,6
Os valores são média ± desvio padrão; pH = concentração de H+ em
-log10, pCO2 = pressão parcial de dióxido de carbono; pO2 = pressão
parcial de oxigênio; Ht = hematócrito; Glicose = glicemia de jejum.
Tabela II - Delta percentual dos dados hemogasimétricos, hematócritos e glicemia após teste de exaustão com três, quatro ou cinco
exercícios.
Variável
pH
pCO2
(mmHg)
pO2
(mmHg)
HCO-3
(mmol/l)
Ht (%)
Glicose
(mg/dl)
G3
-1,8 ± 1,5
G4
-2,7 ± 0,8
-24,7 ±
-8,3 ± 26,3
17,3
106,6 ±
59,7 ±
112,4
56,8
-51,4 ±
-33,5 ± 9,1
7,9*
10,2 ± 5,4 9,1 ± 13,8
13,4 ± 20,5 8,6 ± 24,5
G5
-2,8 ± 1,2
p
ns
4,7 ± 24,0
ns
23,4 ±
28,3
ns
-36,4 ± 5,8 <0,001
6,0 ± 7,2
14,7 ±
10,7
ns
ns
*Diferença significativa do G3 e G5, Anova - one way (post hoc - Bonferroni). Os valores são média ± desvio padrão; pH = concentração
de H+ em -log10; pCO2, = pressão parcial de dióxido de carbono; pO2
= pressão parcial de oxigênio; Ht = hematócrito; Glicose = glicemia
de jejum.
Discussão
A fadiga muscular nos últimos anos tem sido o escopo de
investigação em inúmeras publicações pertencentes à área da
fisiologia do exercício [6,7]. O grande volume de trabalhos
publicados referentes a essa temática sinaliza o forte interesse
que os fisiologistas têm de compreender, em maior profundidade, esse mecanismo tão importante ao nosso corpo.
Sugere-se que a fadiga muscular seja possível mecanismo
protetor aos eventuais efeitos deletérios da integridade da fibra
muscular esquelética [8]. Sendo esta modulada pelo tipo, intensidade e duração do trabalho muscular, tipologia de fibras
musculares recrutadas, do nível de treinamento do sujeito e das
condições ambientais de realização do exercício [9-11].
Apesar dos estudos in vivo realizados em animais [12,13]
e em humanos [14,15] terem constituído ferramenta fundamental para o estabelecimento do estudo da fadiga central
em exercício prolongado, pouco se sabe sobre as possíveis
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
implicações sistêmicas que a fadiga periférica causa após
exercícios de curta duração e de alta intensidade.
O uso do teste de 1RM, como ponto de referência para o
teste de exaustão em grupamentos musculares, vem sendo sugerido pela literatura [16], assim como os indicadores de acidose
[5], variações hormonais [16-18] e de substratos energéticos
[11,19] e dos seus metabólitos como parâmetros sistêmicos dimensionadores da intensidade da fadiga (exaustão) [1,5,20].
Os protocolos de indução a exaustão aplicados, caracterizados pelo exercício contínuo e com intervalo mínimo de
recuperação entre as séries, com cargas diferentes, repercute
em respostas acentuadas nos indicadores do metabolismo
anaeróbio, gerando, consequentemente, produção crescente
de metabólitos com acúmulo de íons hidrogênio (H+) desencadeando o estado de acidose [20].
O organismo dispõe de mecanismos específicos que regulam a concentração de H+ no sangue denominados sistemas
tampões, sendo estes classificados em químicos ou fisiológicos
[20]. O bicarbonato (tampão químico) atua como agente de
rápida ação na manutenção ácido-básica, já o mecanismo de
hiperventilação (tampão fisiológico) entra em ação quando
os tampões químicos estão esgotados, ou seja, a segunda
linha de defesa entra em ação quando já ocorreu alteração
no pH [20].
Com o exercício intenso, há maior produção de dióxido
de carbono em virtude do tamponamento do lactato que se
acumula, em parte por causa da glicólise anaeróbica aumentada. O CO2 plasmático em excesso estimula imediatamente
o centro bulbar aumentando a freqüência e amplitude dos
movimentos respiratórios resultando em aumento na oxigenação sanguínea para eliminar este excedente [20].
O Ht e O2 aumentaram significativamente, sendo relacionado a fadiga muscular pelo aumento da viscosidade sanguínea e conseqüente redução no transporte de O2, remoção
do CO2 e outros metabólitos [21]. A glicemia aumentou
significativamente após o TE, provavelmente pela descarga
simpática, desencadeando a glicogenólise e neoglicogênese
hepática [5]. O teste de exaustão aplicado nos três protocolos
com carga inicial de 80% de 1RM mostrou causar estresse
sistêmico, pois alterou significativamente vários parâmetros
dimensionadores de intensidade da fadiga muscular. Contudo,
não diferiu entre os grupos, mostrando que a ordem e a quantidade de exercícios não interferiram na resposta sistêmica.
Conclusão
Os exercícios exaustivos provocaram de forma e intensidade semelhantes acidose metabólica, hemoconcentração e
elevação da glicemia. Portanto, a magnitude desses fatores
não tem correlação com o número de exercícios realizados.
Em outras palavras, adotar protocolo com elevado número de
exercícios não constitui condição indispensável para atingir
fatiga muscular de maior intensidade.
151
Referências
1. Cyrino ES, Burini RC. Modulação nutricional da fadiga. Rev
Bras Ativ Física Saúde 1997;2(2):67-74.
2. Santos MG, Dezan VH, Sarraf TA. Bases metabólicas da fadiga
muscular aguda. Rev Bras Ciên Mov 2003;11(1):07-12.
3. Petrício AM, Porto M, Burini RC. Alterações hemodinâmicas
do equilíbrio ácido básico e enzimáticas no exercício exaustivo
com pesos. Rev Bras Ativ Fís Saúde 2001;6:17-26.
4. Fett CA, Orsatti FL, Burini RC. Predição do volume de
exercícios com pesos para promoção da exaustão em três
grupos musculares de atletas mediante variações de componentes sanguíneos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
2005;4(1):17-21.
5. Porto M, Orsatti FL, Borges-Santos MD, Burini RC. Impacto
do exercício muscular exaustivo sobre indicadores sanguíneos
em praticantes de musculação. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2008;10(3):230-6.
6. Allen DG, Lamb GD, Westerblad H. Skeletal muscle fatigue:
cellular mechanisms. Physiol Rev 2008;88(1):287-332.
7. Dimitrov GV, Arabadzhiev TI, Mileva KN, Bowtell JL,
Crichton N, Dimitrova NA. Muscle fatigue during dynamic
contractions assessed by new spectral indices. Med Sci Sports
Exerc 2006;38(11):1971-9.
8. Williams JH, Klug GA. Calcium exchange hypothesis of skeletal
muscle fatigue: a brief review. Muscle Nerve 1995;18(4):421-34.
9. Davis M, Fitts R. Mechanisms of muscular fatigue. In: PD,
ed. ACSM´S resource manual: guidelines for exercise testing
and prescription. Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins;
2001. p. 184-90.
10. Enoka RM, Stuart DG. Neurobiology of muscle fatigue. J Appl
Physiol 1992;72(5):1631-48.
11. Metzger JM, Fitts RH. Fatigue from high- and low-frequency
muscle stimulation: contractile and biochemical alterations. J
Appl Physiol 1987;62(5):2075-82.
12. Danieli-Betto D, Germinario E, Esposito A, Biral D, Betto
R. Effects of fatigue on sarcoplasmic reticulum and myofibrillar properties of rat single muscle fibers. J Appl Physiol
2000;89(3):891-8.
13. Soares DD, Coimbra CC, Marubayashi U. Tryptophan-induced
central fatigue in exercising rats is related to serotonin content
in preoptic area. Neurosci Lett 2007;415(3):274-8.
14. Amann M, Dempsey JA. Locomotor muscle fatigue modifies
central motor drive in healthy humans and imposes a limitation
to exercise performance. J Physiol 2008;586(1):161-73.
15. Nookes TD, St. Clair Gibson A., Lambert EV. From catastrophe
to complexity: a novel model of integrative central neural regulation of effort and fatigue during exercise in humans: summary
and conclusions. Br J Sports Med 2005;39:120-4.
16. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força
muscular. 3ª ed. São Paulo: Artmed; 2006.
17. Komi PV. Força e potência no esporte. 2ª ed. São Paulo: Artmed; 2006.
18. Kraemer WJ, Ratamess NA. Hormonal responses and
adaptations to resistance exercise and training. Sports Med
2005;35(4):339-61.
19. Myburgh KH. Can any metabolites partially alleviate fatigue
manifestations at the cross-bridge? Med Sci Sports Exerc
2004;36(1):20-7.
20. Maughan R, Gleeson M. As bases bioquímicas do desempenho
nos esportes. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.
21. Brun JF, Bouchahda C, Chaze D, Benhaddad AA, Micallef JP,
Mercier J. The paradox of hematocrit in exercise physiology:
which is the “normal” range from an hemorheologist’s viewpoint? Clin Hemorheol Microcirc 2000;22(4):287-303.
152
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Revisão
Características funcionais e fisiológicas
do destreinamento: força e morfologia muscular
Physiological and functional characteristics of detraining:
strength and muscle morphology
Michel Arias Brentano*, Tiago Santi**
*Mestre em Ciências de Movimento Humano, **Graduado em Educação Física
Resumo
Abstract
Estudos têm demonstrado que o destreinamento causa reversões
nas adaptações morfológicas e fisiológicas alcançadas com o treinamento. Em período médio/longo há uma significativa redução na
força muscular dinâmica e estática concomitante com uma diminuição da atividade eletromiográfica. A atrofia das fibras musculares
ocorre tanto em atletas como em não-atletas, principalmente nas
fibras do tipo II. Quanto à imobilização, observa-se que períodos
entre 3-6 semanas reduzem a força concêntrica e excêntrica. Períodos
superiores a duas semanas causam atrofia muscular sendo esta a
maior conseqüência da imobilização, exacerbada com a imobilização
em posição encurtada. A redução na força está associada a menor
ativação muscular, diminuindo inclusive os receptores de acetilcolina
na placa motora.
Studies have shown that detraining leads to a reversal of the
morphological and physiological adaptations achieved through
training. In the medium/long term there is a significant reduction
in dynamic and static muscular force concomitant with reduced
electromyographic activity. In both athletes and non-athletes,
atrophy occurs mainly in the type II muscle fibers. Regarding immobilization, periods of 3 to 6 weeks are seen to reduce concentric
and eccentric force. Periods longer than two weeks cause muscular
atrophy, which is the greatest consequence of immobilization and
this consequence is exacerbated by immobilization in a shortened
position. The reduction in force is related to the reduced muscular
activation, while decreasing the acetylcholine receptors in the motor plate.
Palavras-chave: adaptações ao destreinamento, exercício físico,
inatividade, adaptações neuromusculares.
Key-words: detraining adaptations, exercise, inactivity,
neuromuscular adaptations.
Endereço para correspondência: Michel Arias Brentano, GPAT, Laboratório de Pesquisa do Exercício, UFRGS, Rua Felizardo, 750,
90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51)33085842, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
Quando se interrompe ou se reduz o treinamento, seja
em seu volume, intensidade ou freqüência, ou mesmo uma
associação destes, esta interrupção poderá implicar destreinamento, sendo este, um processo de descondicionamento que
afeta o desempenho através da diminuição da capacidade fisiológica [1]. Esta interrupção pode ser espontânea, ou condicionada devido a uma lesão, às vezes passível de imobilização.
Como resultado do destreinamento, verificamos reduções nas
adaptações morfológicas (massa corporal magra) e fisiológicas
(capacidade respiratória, força muscular) que influenciam de
forma negativa a funcionalidade das atividades de vida diária
em indivíduos comuns, ou no desempenho de atletas.
Sendo assim, o objetivo do presente estudo é revisar as
principais características funcionais e fisiológicas acarretadas
pelo destreinamento, causado pela interrupção completa ou
parcial do treinamento.
O destreinamento
Uma das mais importantes características do músculo
esquelético é a sua capacidade de adaptação a variados estados
e demandas funcionais, atividades neuromusculares e estímulos hormonais [2]. O treinamento físico implica em estresse
fisiológico, que provoca adaptações funcionais no músculo
para resistir a tal estresse. Por outro lado, o processo inverso,
ou seja, o destreinamento gera a reversão total ou parcial das
adaptações funcionais alcançadas em treinamento [2].
Em relação ao treinamento de força, a diminuição na
massa magra é mediada pela diminuição no tamanho e/ou
número de células musculares, especialmente as fibras tipo II
[3]. Teoricamente, a atrofia de fibras musculares extremamente hipertrofiadas (como é o caso de atletas altamente treinados
em força), especialmente fibras do tipo II, causa diminuições
na força muscular. Alterações hormonais podem também
contribuir para a atrofia. Por outro lado, uma redução na
condução neural das unidades motoras pode reduzir a força
máxima sem atrofia muscular [3]. Também é conhecido que
em destreinamento ocorrem diminuições na ativação voluntária máxima do músculo, e na força em adultos jovens,
acompanhadas de atrofia muscular [3].
Os dados encontrados até o momento sugerem que a força
muscular retorna aos níveis de controle após várias semanas de
destreinamento, através da reversão das adaptações hormonais
e neuromusculares. Além disso, a força muscular é mais bem
preservada durante o destreinamento se o programa incluir
contrações excêntricas [4].
Em relação às modalidades esportivas essencialmente
aeróbias (também conhecidas como esportes de endurance),
reduções no consumo máximo de oxigênio (VO2max) em
destreinamento são associadas a reduções na performance
em endurance [5-9]. Estas alterações são acompanhadas
por fatores como redução na atividade de enzimas oxi-
153
dativas [5-12], alterações cardiovasculares e respiratórias
[5,7,8,11,13].
Como as adaptações decorrentes do destreinamento são
variadas, a seguir, elas serão apresentadas separadamente.
Força muscular
Os estudos que avaliaram a força muscular constataram uma
redução na performance em períodos longos de destreinamento
[14]. Porém, esta redução não foi maior que 7-12% em 8-12
semanas de destreinamento [2], e 16-21% no mesmo período
para [15]. Períodos reduzidos de destreinamento, inferiores a
duas semanas, parecem não afetar os níveis de força isométrica,
sendo que uma pequena redução na força concêntrica pode ser
observada [16] (Tabela I). Esse efeito está associado com uma
diminuição da atividade muscular, além de atrofia muscular,
após 12 semanas de destreinamento [17].
Para atletas treinados em força, após um longo período de
interrupção de treinamento (12 semanas), a força excêntrica
diminui [18], o mesmo ocorrendo com a força isométrica
[18]. Entretanto, Hortobagyi et al. [18] constataram que a
força concêntrica não se altera de forma relevante (Tabela I).
A redução na força excêntrica pode estar associada com a atrofia das fibras tipo II, se existir um recrutamento preferencial
destas fibras [19] durante essa fase de movimento.
Em indivíduos não-atletas, a força máxima, de extensão do
joelho bilateral, diminuiu após 8 semanas [13] e 12 semanas de
destreinamento [15,20], permanecendo, porém, acima dos valores pré-treinamento. Já Housh et al. [21] verificaram que sujeitos
destreinados durante oito semanas após treinamento excêntrico
com pesos livres, não alteraram o seu pico de torque concêntrico
em pós-treinamento e pós-destreinamento (Tabela I). Neste caso,
o treinamento apenas excêntrico não parece ter sido um estímulo
suficiente para aumentar o pico de torque concêntrico isocinético.
Os ganhos na força muscular foram mantidos mesmo após as oito
semanas de inatividade, tanto para o membro inferior treinado
como para o não treinado. O aumento de força do membro
contralateral não treinado pode ser relacionado a fatores neurais
relacionados com o cross-education e/ou a contração muscular do
membro não-treinado para manter a posição e o equilíbrio na
realização do exercício do membro treinado [21].
Em um período de destreinamento e de longa duração
(30-32 semanas), mulheres treinadas em força reduziram sua
força máxima nos exercícios de pressão de pernas e extensão
de joelhos, mas não no agachamento [22], entretanto, após
um período de retreinamento, e uma nova interrupção de
quatro semanas, e mais sete semanas de retreinamento, apenas
o agachamento apresentou uma redução significativa. Estas
mesmas mulheres, quando submetidas ao retreinamento de 6
semanas, recuperaram seus níveis de força alcançadas ao final
do primeiro período de treinamento, contudo em um menor
espaço de tempo; enquanto que com as outras sete semanas de
retreinamento os níveis de força no agachamento e extensão
de pernas apresentaram significativos aumentos.
154
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Em indivíduos de meia idade ou idosos, a força máxima
não se altera em destreinamento de curta duração (3 semanas) e diminui se o destreinamento for de longa duração (24
semanas) [3].
Também em crianças observa-se a diminuição da força
durante o destreinamento: Feigenbaum et al. apud Mujika
e Padilla [2] constataram que crianças entre 7-12 anos, após
treinarem 8 semanas e destreinarem por mais 8, tiveram
uma queda semanal de 3% na força, sendo que, ao final de 8
semanas de destreinamento, os sujeitos atingiram os valores
de força do grupo controle; sugerindo que para se manter os
ganhos de força em crianças se deve manter a continuidade
do treinamento.
O pico de torque concêntrico parece diminuir de forma
uniforme, assim como o excêntrico, com o aumento da
velocidade angular de teste em destreinamento, não sendo,
portanto, alterado o padrão da curva de torque-velocidade
em função do destreinamento [15,20], porém, verificaramse reduções de força apenas nas velocidades mais baixas, sem
nenhuma alteração em velocidades altas.
A força relativa a testes de peso livre não se alterou em
atletas treinados em força no supino e no agachamento, após
12 semanas de destreinamento [18]; tais resultados foram
atribuídos a não alteração na força concêntrica, que segundo
Hortobagyi et al. [18], é determinante para a performance
em exercícios com pesos livres. De acordo com esta hipótese,
está o trabalho de Colliander e Tesch [20], que verificou uma
redução da força excêntrica em teste de 3-RM no agachamento com pesos livres, após destreinamento subseqüente a
treinamento de força apenas concêntrico, ou com contrações
mistas.
No entanto, Housh et al. [21] não observaram alterações
na força excêntrica máxima, após oito semanas de destreinamento, subseqüente a oito semanas de treinamento apenas
excêntrico com pesos livres, em sujeitos não atletas. Também
não encontrou reduções significativas na força excêntrica no
agachamento, após 5 meses de destreinamento seguintes a
oito semanas de treinamento de força [14].
No geral, a força muscular não é reduzida aos valores
pré-treinamento com o período de inatividade. No entanto,
Narici et al. [23] verificaram uma redução na força máxima
isométrica, após 40 dias de destreino, em taxas semelhantes
aos ganhos no treinamento isocinético do quadríceps, sendo
que ao final do período, os valores da força se mostraram
similares aos do início do treinamento.
Ativação muscular
A ativação muscular corresponde aos impulsos nervosos
transmitidos às unidades motoras recrutadas para produzir
força. A eletromiografia (EMG) tem servido como parâmetro para avaliar os níveis de ativação muscular durante a
contração [1].
Para atletas altamente treinados, após interromperem o
treinamento por longo período (12 semanas), não houve
alterações significativas na EMG de extensores e flexores de
joelho, tanto nas contrações isocinéticas quanto nas isométricas [18]. Apesar disso, Mujika e Padilla [2] afirmam que atletas
treinados em força apresentam uma diminuição na atividade
eletromiográfica em destreinamento, sendo que a queda na
produção de força está associada a este fenômeno.
Em sujeitos não-atletas, submetidos a destreinamento, os
valores médios de EMG, reduzem tanto nas ações dinâmicas
[17], como nas isométricas [17,23] (Tabela 1). Esta queda na
EMG pode estar associada a uma diminuição da sincronização
das unidades motoras; já para Hakkinen et al. [3], esta diminuição não ficou tão clara assim em indivíduos idosos e de meia
idade, submetidos a destreinamento de 3 ou 24 semanas.
A atividade muscular parece diminuir de forma mais
significativa nas primeiras quatro semanas de destreinamento
[17], sendo que as suas reduções no destreinamento podem
se comportar de forma semelhante ao seu aumento com o
treinamento, só que em sentido contrário [23]. Entretanto,
a ativação dos músculos antagonistas parece não ser influenciada com destreinamento de curta e longa duração – 3 e 24
semanas, respectivamente [3].
Tabela I - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações neuromusculares. Onde: 1-RM= uma repetição máxima; Exc=
excêntrica; Conc= concêntrica; Iso= isométrica; EMG= eletromiografia; n.s.= não significativo.
Referência
Thorstensson (1977)
Hakkinen & Komi (1983)
Coyle et al (1985)
Narici et al (1989)
Ishida et al (1990)
Colliander & Tesh (1991)
Staron et al (1991)
Hortobagyi et al (1993)
Housh et al (1996)
Hakkinen et al (2000)
Billeter et al (2003)
Condições
Período
5 meses
8 semanas
12 semanas
40 dias
8 semanas
12 semanas
30 semanas
2 semanas
8 semanas
3-24 semanas
3 anos
Treino
força
força
aeróbio
força
força
força
força
força
força
força
força
Força muscular
1-RM
Exc
- 16,3%
- 22%
n.s.
- 10,2%
- 24,9%
n.s.
- 12%
n.s.
- 5%
-
Exc
- 7,7%
n.s.
-
Isom
- 12%
- 15%
n.s.
- 7%
- 10,5%
-
EMG
- 6%
- 20%
- 11,4%
n.s.
-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Composição corporal
155
promover uma hipertrofia seletiva das fibras do tipo II, já que
estas respondem melhor ao treinamento intenso [14,18,25],
além da possibilidade de fatores genéticos influenciarem esta
seletividade, principalmente em atletas de alto nível [25].
Para sujeitos não atletas, o destreinamento de curta duração não altera significativamente a AST das fibras musculares,
porém destreinados em longo prazo, demonstram uma redução na mesma [3,22] (Tabela II), mas não suficiente para
que a AST alcance seu valor pré-treinamento, podendo esta
ser uma das explicações para a manutenção de algum nível de
força após o destreinamento [22]. Narici et al. [23] também
verificaram uma atrofia muscular de cerca de 10% no quadríceps após 40 dias de destreinamento; enquanto Houston
et al. [15] relataram que apenas as fibras do tipo IIb sofreram
reduções significativas na sua área após 12 semanas de destreinamento. Quando o treinamento consistiu em trabalho
aeróbico, também se verificou uma redução na AST após
destreinamento, inclusive conduzindo os valores aos mesmos
observados antes do treinamento [5].
Distribuição de fibras: Estudos mostram que nas semanas
iniciais, não há uma modificação na distribuição das fibras
musculares em geral. Porém em períodos maiores, como em
8 semanas de destreinamento, atletas treinados em força apresentam um aumento na proporção de fibras oxidativas [2].
No entanto, o destreinamento de longa duração (12 semanas)
não parece ter influenciado a distribuição dos percentuais de
fibras musculares [18] em atletas altamente treinados; em
contraste, atletas treinados aerobicamente, apresentam uma
redução do percentual de fibras IIa com um concomitante
aumento do percentual de fibras IIb, com as mesmas 12 semanas de destreinamento, sem apresentarem alterações no
tipo I [7], ou com conversões entre o tipo II e tipo I de fibras,
aumentando o percentual destas últimas [5], ou ainda sem
apresentarem alterações percentuais na distribuição de fibras
[5,24,26] (Tabela II).
Para indivíduos não atletas, o destreinamento causa um
aumento na proporção de fibras do tipo IIa com uma concomitante redução no percentual das fibras IIb [22] (Tabela II).
A massa corporal e a composição corporal de atletas
treinados em força, não se modificaram após 12 semanas de
destreinamento [18], assim como a dos atletas treinados em
endurance [10-12]. Já para indivíduos não atletas, a massa
corporal parece reduzir após destreinamento sem alteração
na composição corporal [17,22]. Entretanto, Colliander e
Tesch [20] verificaram um aumento no percentual de gordura corporal em um grupo que foi submetido a destreinamento de 12 semanas, após treinarem 12 semanas somente
com contrações concêntricas. Thorstensson [14] verificou
um aumento do percentual de gordura após 5 meses de
destreinamento. Para indivíduos idosos, o percentual de
gordura é diminuído após uma seqüência de treinamento,
destreinamento e retreinamento, enquanto aumenta para
indivíduos de meia idade em períodos longos de destreinamento [3]. Em contraste, Linossier et al. [24], não verificaram nenhuma alteração na composição ou peso corporal,
após sete semanas de destreinamento em sedentários após
treinamento aeróbio.
Massa corporal magra: Atletas treinados em força apresentam uma rápida diminuição na área de secção transversal
do músculo com o destreinamento, apesar de que pequenos
períodos de destreinamento parecem afetar apenas a área
das fibras tipo II [2]. O destreinamento de longa duração
parece induzir a uma grande diminuição da área de secção
transversa das fibras (AST), do tipo I e do tipo II, sendo
estas últimas mais afetadas [2]. Esta observação está de
acordo com as observações de Staron et al. apud Mujika
e Padilla [2], em 7 meses de destreinamento, atletas de
levantamento básico diminuíram em 37,1% a AST de suas
fibras musculares.
Em atletas treinados em força, no entanto, as fibras do
tipo I podem permanecer com sua AST inalterada após o
destreinamento de longo prazo, sendo encontrados resultados
significativos apenas nas fibras do tipo II [18,25] (Tabela II).
Isto foi atribuído ao regime de treinamento de tais atletas,
Tabela II - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações morfológicas. Onde: AST= área de secção transversal; F I = fibras
do tipo I; F IIa= fibras do tipo IIa; F IIb= fibras do tipo IIb;n.s.=não significativo.
Hakkinen et al (2000)
Condições
Período
5 meses
15 dias
8 semanas
12 semanas
40 dias
8 semanas
30 semanas
2 semanas
7 semanas
3-24 semanas
Billeter et al (2003)
3 anos
Referência
Thorstensson (1977)
Houston et al (1979)
Klausen et al (1981)
Coyle et al (1985)
Narici et al (1989)
Ishida et al (1990)
Staron et al (1991)
Hortobagyi et al (1993)
Linossier et al (1997)
Treino
força
aeróbio
aeróbio
aeróbio
força
força
força
força
aeróbio
força
Secção transversal e distribuição de fibras
AST total AST F I AST F IIa AST F IIb
n.s.
n.s.
n.s.
n.s.
- 11,9% - 5,9%
-10,6%
- 5%
n.s.
n.s.
n.s.
-14,2%
n.s.
- 6,4%
- 6,4%
n.s.
n.s.
-
%FI
n.s.
- 6,1%
n.s.
n.s
n.s.
n.s.
-
% F IIa
n.s.
n.s.
- 13%
+ 23,3%
n.s.
n.s.
-
% F IIb
n.s.
+ 3,1%
+ 14%
- 16,5%
n.s.
n.s.
-
força
-
+ 13%
-
- 13%
n.s.
- 25%
- 25%
156
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Interessante que, neste estudo, as alterações na distribuição
de fibras não acompanharam os mesmos níveis de alterações
observados na AST.
Cadeias de miosina: O treinamento de força, com ênfase
na força dinâmica explosiva, leva a um aumento da expressão
da cadeia leve de miosina (MyoLC), mostrando a tendência de
um fenótipo de fibras de contração rápida, já que um aumento
da proporção da MyoLC tem sido associada ao aumento da
velocidade de contração em humanos [25].
Funcionalidade muscular
Poucos estudos analisaram os efeitos do destreinamento
em atividades funcionais, sendo que a maioria envolve os
eventuais efeitos no desenvolvimento de potência em saltos
[3,18,24] e a velocidade de caminhada [3]. Por exemplo, a
potência muscular de atletas treinados em força, após 12 semanas de destreinamento, analisada através de salto vertical,
não mostrou nenhum resultado significativo [18]. Da mesma
forma, indivíduos não-atletas parecem não ter a potência
muscular influenciada por um destreinamento de curta ou
longa duração [3]. Ainda, a velocidade de caminhada em
sujeitos de meia idade e idosos, não demonstrou alteração
após 3 semanas, ou após 24 semanas de destreinamento [3].
Com o treinamento aeróbico de alta intensidade (sprint),
as melhoras na velocidade máxima e potência máxima em
indivíduos não-atletas, não foram alteradas com sete semanas
de destreinamento [24].
Percebe-se que ainda são escassas as informações sobre
essa questão. Entretanto, diferentemente dos níveis de força,
atividades funcionais parecem não sofrer uma influência
aguda do destreinamento, tanto em indivíduos atletas como
não-atletas.
A imobilização
A imobilização pode ser caracterizada como um processo pelo
qual um membro é privado, ao menos em parte, de seu movimento, durante alguns dias. Tal procedimento se faz necessário
em alguns casos de lesão, e é comum em traumas como a fratura.
Esta interrupção forçada parece ser mais severa do que a simples
inatividade sem abstenção do movimento (destreinamento), ao
menos no que tange à atrofia muscular [27].
Força muscular
A imobilização em períodos curtos diminui a força
excêntrica e concêntrica de forma significativa (Tabela III)
[4,28-30], tanto para o membro inferior imobilizado quanto
para o não imobilizado. A força isométrica também é reduzida
após períodos relativamente curtos de imobilização [27,31]
para extensores do joelho, sendo afetado pela redução tanto
o membro inferior submetido à imobilização como o não
submetido à imobilização [4].
A diminuição da força muscular após imobilização pode
estar associada à diminuição das proteínas contráteis [29,31].
A grande redução de força no membro imobilizado, encontrada por Hortobagyi et al. [4], pode ter sido potencializada
pela posição de imobilização com o músculo em um pequeno
comprimento (encurtado).
Estudos demonstram que o pico de torque dos extensores
do joelho, em indivíduos saudáveis submetidos à imobilização, diminui em todas as velocidades de teste isocinético,
assim como para os flexores – exceto na velocidade mais alta
de teste (3.14 rad.s-1) realizado por Deschenes et al. [31] –
sendo a redução média mais significativa para os extensores de
joelho [27,31]. A redução do torque isocinético dos extensores
do joelho tende a ser menor à medida que a velocidade de
contração aumenta [27,31]. A queda de força no quadríceps
é atribuída à redução da capacidade do sistema nervoso em
excitar o músculo [31]. Entretanto, deve ser considerado o
fato de a análise de força isocinética não imitar as condições
normais do uso da força muscular, somado ao fato de a diminuição temporária da coordenação, após a imobilização,
afetar a realização dos testes isocinéticos. Além disso, a força
isocinética é relacionada com os níveis funcionais iniciais
dos indivíduos, enquanto a fadiga muscular para contrações
isocinéticas é atribuída à estrutura muscular [27].
Grandes ganhos de força muscular com uso de contrações
excêntricas após a imobilização podem ser relacionados à grande quantidade de trabalho durante contrações excêntricas [4].
A força dinâmica tende a recuperar-se mais rapidamente com
retreinamento após a imobilização, se as contrações realizadas
no retreinamento envolverem contrações excêntricas [3],
sendo que o tempo de recuperação com contrações somente
excêntricas ou excêntricas combinadas com concêntricas seja
reduzido à metade do tempo necessário para a recuperação da
força com contrações somente concêntricas [3].
Enquanto atletas demonstram um déficit de 20% de
força após recuperação espontânea, Grimby et al. apud Hortobagyi et al. [4]), sujeitos não exercitados recuperaram-se
completamente após 12 semanas; sugerindo diferenças no
comportamento muscular de atletas e indivíduos inicialmente
inativos.
A imobilização em posição encurtada também pode ter um
efeito negativo na resistência muscular, devido ao aumento
da quantidade e rigidez de elementos musculares passivos,
Willians et al. apud Hortobagyi et al. [4]. Além disso, a diminuição da atividade das enzimas oxidativas em pacientes
com lesões [27,29], pode influenciar esse aspecto.
A resistência à fadiga muscular – mensurada após 30
repetições a 3.14 rad.s-1, dividindo o trabalho total produzido nas dez primeiras, pelo trabalho total produzido nas dez
últimas – aumentou após 2 semanas de imobilização dos
extensores e flexores do joelho [31], resultado este que não era
o esperado, sendo ele, contrário as observações de redução da
resistência isocinética, após quatro semanas de imobilização
de extensores do joelho [27].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Ativação muscular
157
aumento da degradação das mesmas é o mecanismo predominante da atrofia durante as primeiras semanas de imobilização
[4]. Outro estudo associou a indução à diminuição da força
por imobilização à atrofia do músculo ou de suas miofibrilas [31]. Entretanto, a atrofia das miofibrilas e do músculo
como um todo necessita de períodos de imobilização de pelo
menos 4-6 semanas [31]. Períodos mais curtos parecem não
estar relacionados com a atrofia muscular, porém isto não
foi demonstrado por Berg et al. [30] e por Hortobagyi et al.
[4], que encontraram uma atrofia de fibras tipo I e II após
3-4 semanas de imobilização. Geralmente a AST das fibras
tipo II é mais reduzida que a das fibras do tipo I, porém isto
não foi verdadeiro para o estudo de Hortobagyi et al. [4];
mas foi demonstrado por MacDougall et al. [32], que observaram uma redução de 25% para tipo I e 30% para tipo II,
que a diferença entre as duas áreas foi significativa, inclusive
comparando a razão entre tipos II e I de fibras, concluiu-se
que a atrofia afetou mais as fibras do tipo II, indicando uma
atrofia seletiva.
Nos períodos mais curtos de imobilização (9 ou 10 dias),
a diminuição da força muscular não se dá através da atrofia,
pois a degradação das proteínas contráteis é lenta, assim
como os ganhos de força iniciais não se dão por hipertrofia
nas primeiras semanas de treinamento; ambos fenômenos se
relacionam, portanto, a alterações neuromusculares [31].
A imobilização prolongada reduz significativamente a
AST das fibras musculares [3,27,28]. Entretanto, após um
re-treinamento seguinte a imobilização, Hortobagyi et al.
[4] verificaram um aumento da AST das fibras, sendo as
respostas diferentes em cada tipo de treinamento realizado:
as fibras tipo I hipertrofiaram 10, 11 e 4%, enquanto as do
tipo IIx mostraram uma hipertrofia de 16, 10, 5%, e as IIa de
16, 9 e 5% em indivíduos retreinados em contrações apenas
excêntricas, excêntricas-concêntricas e somente concêntricas,
respectivamente.
Estudos realizados em animais demonstram que a atrofia é
mais significativa quando a imobilização é em posição encurtada [27]. Trabalhos semelhantes, também demonstram que
a atrofia afeta mais músculos com maior proporção de fibras
tipo I; estes resultados confrontam a teoria de que o quadríceps
é mais suscetível à atrofia do que os ísquios tibiais, já que estes
são ricos em fibras tipo I, Johnson et al. apud Veldhuizen et al
[27]. Porém, das quatro porções do quadríceps, três são mono-
As diminuições de força muscular estão diretamente
associadas à redução da função neuromuscular, sendo que,
em períodos curtos de imobilização (9 ou 10 dias), a redução
da força parece ser conseqüência exclusiva da diminuição da
ativação neural, já que não se verifica atrofia muscular em
períodos tão reduzidos de imobilização [31].
A imobilização pode diminuir o potencial de reflexo, a
atividade EMG (Tabela III), a taxa de ativação das unidades
motoras, o potencial de repouso da membrana, os fatores neurotrópicos, e afeta as propriedades mecânicas do músculo [4].
A imobilização parece reduzir a EMG, de forma relacionada com a redução da força, tanto dinâmica quanto
isométrica [4,29]. Entretanto, parece não haver diferenças
no percentual de alteração da EMG quando comparadas as
forças excêntricas, concêntricas e isométricas. Assim como
a EMG diminui paralelamente a força, ela tende a reverter
este processo também de forma paralela à recuperação da
força após retreinamento subseqüente à imobilização [3]. A
recuperação da EMG parece ser também dependente do tipo
de contração utilizada no retreinamento. Hortobagyi et al. [4]
demonstraram que o maior nível de recuperação da EMG,
após a imobilização seguida de retreinamento, deu-se no teste
de contrações excêntricas, para indivíduos que treinaram
com contrações excêntricas ou mistas; e o menor valor, foi
observado em teste excêntrico para indivíduos que treinaram
somente com contrações concêntricas. Tais resultados sugerem que rápidas taxas de recuperação da atividade neural, e
conseqüentemente da força muscular, estão provavelmente
relacionadas com aspectos únicos do estiramento muscular.
Esses aspectos, estando associados a contrações excêntricas,
referem-se à resistência à fadiga, eficiência muscular, dissipação da energia potencial, reforço de elementos passivos, ou
recrutamento das unidades motoras [4].
Composição corporal
A massa corporal parece não ser influenciada pela imobilização, ao menos em períodos reduzidos [30,31]. Entretanto,
a atrofia muscular, é apontada como a principal conseqüência
da imobilização [27] (Tabela IV). Estudos in vivo sugerem que
a diminuição na taxa de síntese de proteínas, mais do que o
Tabela III - Relação dos trabalhos abordando a imobilização e adaptações neuromusculares. Onde: 1-RM= uma repetição máxima; Exc=
excêntrica; Conc= concêntrica; Iso= isométrica; EMG= eletromiografia; n.s.= não significativo.
Hortobagyi et al (2000)
Condições
Período
5 semanas
5-6 semanas
6 semanas
4 semanas
4 semanas
3 semanas
Treino
Força
Força
Força
Força muscular
1-RM
Exc
- 33%
- 23,2%
- 48%
Exc
- 35%
- 41%
- 19,9%
- 22%
- 45%
Isom
- 55%
- 48%
EMG
- 40%
Deschenes et al (2002)
2 semanas
-
-
-
- 17,2%
- 15,9%
Referência
McDougall et al (1977)
McDougall et al (1980)
Duchateau & Hainaut (1987)
Berg et al (1991)
Veldhuizen et al (1993)
-
158
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Tabela IV – Relação dos trabalhos abordando a imobilização e adaptações morfológicas. Onde: AST= área de secção transversal; F I = fibras
do tipo I; F IIa= fibras do tipo IIa; F IIb= fibras do tipo IIb; n.s.= não significativo.
Condições
Período
McDougall et al (1977) 5 semanas
McDougall et al (1980) 5-6 semanas
4 semanas
Berg et al (1991)
Veldhuizen et al (1993) 4 semanas
Hortobagyi et al (2000) 3 semanas
Referência
Treino
Força
Força
Força
Deschenes et al (2002) 2 semanas -
Secção transversal e
AST total AST F I
- 5%
- 25%
- 6,8%
- 21%
- 14,9%
- 13%
n.s.
articulares, e podem ser totalmente imobilizadas, enquanto
os ísquios tibiais são todos bi-articulares, não sendo possível
imobilizá-los por completo, não garantindo, portanto, que
eles não sejam ativados [27].
Distribuição de fibras: A hipótese da imobilização de um
segmento alterar a porcentagem de fibras musculares permanece inconclusiva. Hortobagyi et al. [4], em 3 semanas de
imobilização, verificaram a redução do percentual de fibras
do tipo I, o aumento do percentual de fibras IIx, porém sem
alteração no percentual das fibras IIa. Quando os sujeitos
foram submetidos ao retreinamento, houve aumento do percentual de fibras tipo I e IIa, e redução do percentual das fibras
tipo IIx. Entretanto Veldhuizen et al. [27] não observaram
esses efeitos após quatro semanas de imobilização do joelho,
o mesmo sendo observado em um período de imobilização
inferior a três semanas [31].
Cadeias pesadas de miosina (MHC): Níveis de RNA de
MHC sofreram alteração após imobilização e subseqüente
retreinamento [4], sendo que nas fibras do tipo I, ocorreu
uma diminuição e posteriormente o aumento da MHC na
imobilização e no retreinamento respectivamente, enquanto as
fibras IIa não modificaram sua expressão de MHC e as tipo IIx
aumentaram sua expressão na imobilização e permaneceram
inalteradas no retreinamento. As alterações na expressão da
MHC foram correlacionadas às alterações na força muscular
apresentadas no estudo. Estas alterações na expressão MHC
correlacionadas com mudanças no tamanho da fibra sugerem
uma razoável sincronização entre a expressão da MHC e o fenótipo muscular [4]. Esses autores ainda sugerem que o curso
da expressão do gene MHC pode ser alterado com exercício.
Quando o músculo é submetido à geração de força os genes
de miosina lenta são expressos e genes de MHC rápidos são
reprimidos. Em contrapartida, quando o músculo não é
ativado, os genes MHC rápidos são expressos por déficit de
ativação, como foi o caso do segmento imobilizado [4].
Conclusão
Resumidamente, observa-se que a redução da força é
acompanhada por uma redução na atividade elétrica do músculo e redução da área de secção transversa muscular, esta,
mais importante nas fibras tipo II, para treinados em força.
Além disso, conversões nos tipos de fibra musculares parecem
-
distribuição de fibras
AST F IIa
AST F IIb
- 30%
- 30%
- 7,1%
- 19,2%
- 10%
- 10%
-
-
%FI
n.s.
n.s.
- 9%
% F IIa % F IIb
n.s.
n.s.
n.s.
n.s.
n.s.
+ 7%
n.s.
n.s.
n.s.
ocorrer durante o destreinamento, com a conversão das fibras
do tipo IIb para IIa, em indivíduos treinados em força, e uma
conversão contrária para treinados aerobiamente. Ainda,
contrações excêntricas podem ser essenciais para promover
adaptações neurais e preservá-las em destreinamento. Os mecanismos fisiológicos mediadores dos ganhos e manutenções
da força excêntrica, parecem não serem os mesmos da que
interferem nas alterações na força concêntrica.
Referências
1. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força
muscular. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006.
2. Mujika I, Padilla S. Muscular characteristics of detraining in
humans. Med Sci Sports Exer 2001;33:1297-303.
3. Hakkinen K, Alen M, Kallinen M, Newton RU, Kraemer WJ.
Neuromuscular adaptation during prolonged strength training,
detraining and re-strength-training in middle-aged and elderly
people. J Appl Physiol 2000;83:51-62.
4. Hortobagyi T, Dempsey L, Fraser D, Zheng D, Hamilton G,
Lambert J, Dohm L. Changes in muscle strength, muscle fibre
size and myofibrillar gene expression after immobilization and
retraining in humans. J Physiol 2000; 524(Pt 1):293–304.
5. Klausen K, Andersen LB, Pelle I. Adaptative changes in work
capacity, skeletal muscle capillarization and enzyme levels during
training and detraining. Acta Physiol Scand 1981;113:9-16.
6. Fournier M, Ricci J, Taylor AW, Ferguson RJ, Montpetit RR,
Chaitman BR. Skeletal muscle adaptation in adolescent boys:
sprint and endurance training and detraining. Med Sci Sports
Exer 1982;14:453-6.
7. Coyle EF, Martin III WH, Bloomfield SA, Lowry OH, Holloszy
JO. Effects of detraining on responses to submaximal exercise.
J Appl Physiol 1985;59:853-9.
8. Coyle EF, Hemmert MK, Coggan A. Effects of detraining on
cardiovascular responses to exercise: role of blood volume. J
Appl Physiol 1986;60:95-9.
9. Wibon R, Hultman E, Johansson M, Matherei K, ConstantinTeodosiu D, Schantz PG. Adaptation of mitochondrial ATP
production in human skeletal muscle to endurance training and
detraining. J Appl Physiol 1992;73:2004-2010.
10. Houston ME, Bentzen H, Larsen H. Interrelationships between
skeletal muscle adaptations and performance as studied by detraining and retraining. Acta Physiol Scand 1979;105:163-70.
11. Moore RL, Thacker EM, Kelley GA, Musch TI, Sinoway LI, Foster VL, et al. Effect of training/detraining on submaximal exercise
responses in humans. J. Appl Physiol 1987; 63: 1719-24.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
12. McCoy M, Proietto J, Hargreaves M. Effect of detraining on
GLUT-4 protein in humans skeletal muscle. J Appl Physiol
1994;77:1532-6.
13. Costill DL, Fink WJ, Hargreaves M, King DS, Thomas R.,
Fielding R. Metabolic characteristics of skeletal muscle during
detraining from competitive swimming. Med Sci Sports Exerc
1985;17:339-43.
14. Thorstensson A. Observations on strength training and detraining. Acta Physiol Scand 1977;100:491-3.
15. Houston ME, Froese EA, Valeriote St P, Green HJ, Ranney
DA. Muscle performance, morphology and metabolic capacity
during strength training and detraining: a one leg model. Eur
J Appl Physiol 1983;51:25-35.
16. Gibala MJ, MacDougall JD, Sale DG. The effects of tapering
on strength performance in trained athletes. Int J Sports Med
1994;15:492-7.
17. Hakkinen K, Komi P. Electromyographic changes during
strength training and detraining. Med Sci Sports Exer
1983;15:455-60.
18. Hortobagyi T, Houmard JA, Stevenson JS, Fraser DD, Johns
RA, Israel R.G. The effects of detraining on power athletes.
Med Sci Sports Exerc 1993;25:929-35.
19. Nardone A, Romano C, Schieppati M. Selective recruitment of
high-threshold human motor units during voluntary isotonic
lengthening of active muscles. J Physiol 1989;409:451-71.
20. Colliander EB, Tesch PA. Effects of detraining following short
term resistance training on eccentric and concentric muscle
strength. Acta Physiol Scand 1992; 144:23-9.
21. Housh TJ, Housh DJ, Weir JP, Weir LL. Effects of eccentriconly resistance training and detraining. Int J Sports Med
1996;17:145-8.
22. Staron RS, Leonardi MJ, Karapondo DL, Malicky ES, Falkel
JE, Hagerman FC, et al. Strength and skeletal muscle adaptations in heavy-resistance-trained women after detraining and
retraining. J Appl Physiol 1991;70:631-40.
159
23. Narici MV, Roi GS, Landoni L, Minetti AE, Cerretelli P. Changes in force, cross-sectional area and neural activation during
strength training and detraining of the human quadriceps. Eur
J Appl Physiol 1989;59:310-9.
24. Linossier MT, Dormois D, Geyssant A, Denis C. Performance
and fibre characteristics of human skeletal muscle during short
sprint training and detraining on a cycle ergometer. Eur J Appl
Physiol 1997;75:491-8.
25. Billeter R, Jostarndt-Forgen K, Gunthor W Hoppeler H Fiber
type characteristics and myosin light chain expression in a world
champion shot putter. Int J Sports Med 2003;24:203-7.
26. Madsen K, Pedersen PK, Djurhuus MS, Klitgaard NA.
Effects of detraining on endurance capacity and metabolic
changes during prolonged exhaustive exercise. J Appl Physiol
1993;75:1444-51.
27. Veldhuizen JW, Verstappen FTJ, Vroemen JP, Kuipers H,
Greep JM. Functional and morphological adaptations following four weeks of knee immobilization. Int J Sports Med
1993;14:283-7.
28. MacDougall JD, Ward GR, Sale G, Sutton JR. Biochemical
adaptation of human skeletal muscle to heavy resistance training
and immobilization. J Appl Physiol 1977;43:700-3.
29. Duchateau J, Hainaut K. Electrical and mechanical changes
in immobilized human muscle. J Appl Physiol 1987;62:216873.
30. Berg HE, Dudley GA, Haggmark T, Ohlsen H, Tesch PA.
Effects of lower limb unloading on skeletal muscle mass and
function in humans. J Appl Physiol 1991;70:1882-5.
31. Deschenes MR, Giles JA, McCoy RW, Volek JS, Gómez AL,
Kraemer WJ. Neural factors account for strength decrements
observed after short-term muscle unloading. Am J Physiol
2002;2:578-83.
32. MacDougall JD, Elder GCB., Sale DG, Moroz JR, Sutton
JR. Effects of strength training and immobilization on human
muscle fibres. Eur J Appl Physiol 1980; 43:25-34.
160
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Relato de caso
Exercício resistido em circuito regula a pressão arterial
e pode melhorar a síndrome do pânico
Resistive exercise in-circuit system regulates blood pressure
and can improve panic syndrome
Gilzandra Lira Dantas Florêncio*, Ana Carla Gomes Canário*, Conceição de Maria LN de Melo*, Ana Katherine da Silveira
Gonçalves*, Maria José Penna Maisonnette de Attayde Silva*
*Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resumo
Abstract
O relato de caso visou descrever as respostas dos níveis pressóricos sanguíneos e o estado de humor, após 24 sessões de exercício
resistido em circuito com 3 fases de treinamento. Foi estudada uma
voluntária do sexo feminino, de 56 anos, sedentária, com diagnóstico
de hipertensão arterial sistêmica e síndrome do pânico, sem experiência com esse tipo de treinamento. Foi elaborado um protocolo
de exercício resistido, em sistema de circuito, com 24 sessões de
treinamento, realizadas em dias alternados e divididas em 3 fases. A
aferição da pressão arterial foi realizada em testes ergométricos feitos
antes e após as sessões de treinamento. Os sintomas da síndrome do
pânico foram auto-avaliados antes e após as sessões, evidenciando
melhora da sintomatologia. Houve diminuição da pressão arterial
sistólica no pós-esforço de 15,38% e uma diminuição da pressão
arterial diastólica no pós-esforço de 12,5%. Concluindo que o
exercício resistido em circuito, em intensidade moderada, realizado
três vezes por semana diminuiu a pressão arterial após treinamento
e melhorou a síndrome do pânico.
This case report describes the responses levels of blood pressure
and the mood, after 24 sessions of resistive exercises with three
stages of training. It was studied a 56 years old woman, sedentary,
with diagnosis of hypertension and panic syndrome, with no experience in training. A protocol of resistive exercise, in-circuit system,
with 24 training sessions conducted on alternate days and divided
into 3 phases was applied. The measurement of blood pressure was
performed in tests before and after the 24 sessions of training. On
the other hand, the symptoms of the syndrome of panic were selfassessed before and after the training sessions, showing improvement
in symptoms. There was a post-exercise decrease in systolic blood
pressure (15.38%) and in diastolic blood pressure (12.5%). Concluding, the resistive exercise, at moderate intensity, performed three
times per week decreased blood pressure after sessions of training
and improved the panic symptoms.
Key-words: resistive exercises, panic attacks, hypertension.
Palavras-chave: exercício resistido, síndrome do pânico,
hipertensão arterial.
Endereço para correspondência: Gilzandra Lira Dantas Florêncio, Rua Virginópolis, 80/603, Cond. Uruaçu IV, Nova Parnamirim,
59150-080 Parnamirim RN, Tel: (84) 9401-0404, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Introdução
O capitalismo trouxe a exigência para a humanidade de
uma situação financeira mais estável, o que acarretou a sobrecarga de trabalho no indivíduo e a dificuldade de dispor
de tempo para o lazer e prática de atividade física regular. O
sedentarismo vem sendo observado à medida que a tecnologia
avança, fazendo com que o indivíduo faça cada vez menos
esforço físico para realizar suas atividades cotidianas. Sendo
assim, é possível observar o aumento de doenças crônicodegenerativas e de patologias psiquiátricas [1].
A principal doença crônico-degenerativa é a hipertensão
arterial sistêmica sendo uma das maiores causas de morbidade
cardiovascular no mundo, acometendo entre 15% a 20% da
população adulta. É crescente a preocupação do surgimento
desta patologia também em crianças [2].
De acordo com as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
Arterial [3], o aparecimento da hipertensão é favorecido
pelo excesso de peso, sedentarismo, elevada ingestão de sal,
baixa ingestão de potássio e consumo excessivo de álcool.
Sendo recomendados programas de redução de peso, empregando aumento da atividade física e dieta hipocalórica
para todos os hipertensos com excesso de peso, tendo como
meta alcançar um índice de massa corporal (IMC) inferior
a 25 kg/m² e circunferência da cintura inferior a 102 cm
(homens) e 88 cm (mulheres). Porém enfatiza que a diminuição de 5 a 10% do peso corporal inicial já seja capaz de
reduzir a pressão arterial (SBC – Sociedade Brasileira de
Cardiologia, 2002).
Já a síndrome do pânico representa um problema importante de saúde mental. O aumento da ansiedade altera a
captação da serotonina cerebral e dispara o sistema nervoso
simpático, que produz noradrenalina em grandes quantidades, causando sintomas físicos, como: taquicardia, tremores,
sudorese, náusea, tensão muscular, parestesias e algumas
distorções de percepção do real. Fatores genéticos, ambientais e de experiências vividas de caráter sofrido, durante o
desenvolvimento da personalidade, parecem estar associados à
ansiedade clínica, sendo mais frequente em mulheres maiores
de 18 anos [1].
A prática de atividade física tem efeito oposto ao do
sedentarismo, aumentando o gasto calórico, melhorando o
transporte e captação de insulina. Os exercícios aeróbios, assim
como os exercícios resistidos, promovem um aumento do
metabolismo basal conhecido como metabolismo de repouso,
que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total,
contribuindo para a perda de peso e diminuição do risco de
desenvolver a hipertensão e outras doenças [4].
Da mesma forma, a prática sistemática de atividade física
é capaz de reduzir a ocorrência de sintomas de ansiedade e
depressão. E, apesar dos exercícios aeróbios serem os mais
indicados para pessoas hipertensas, pesquisas científicas
mostram que o exercício resistido também pode ser eficiente
e seguro para essa população [5].
161
O exercício resistido caracteriza-se pela contração de
músculos contra uma resistência externa e são comumente denominados exercícios de musculação. Essa atividade
quando de baixa intensidade, com pequenos pesos (cargas),
melhora a resistência muscular localizada causando discretas
elevações da pressão arterial durante o esforço, reduzindo-a
posteriormente [6].
O exercício resistido vem sendo utilizado em programas
de reabilitação cardíaca, promovendo benefícios com menos
riscos, contribuindo para a redução da pressão arterial de
repouso [7].
Os benefícios da atividade física para os transtornos
psiquiátricos vêm sendo estudados. Porém, a influência de
fatores como a intensidade, duração e o tipo de exercício ou
ainda a combinação entre eles sobre os aspectos psicológicos
necessitam de estudos mais rigorosos [5].
Relato de caso
VBC, do sexo feminino, com 56 anos, pesando 74,2 kg e
153 cm de estatura, IMC = 32, sedentária e sem experiência
prévia com exercício resistido. Apresentava diagnóstico de
hipertensão arterial sistêmica há dois anos, em acompanhamento cardiovascular regular, fazendo uso de atenolol 50
mg/dia. Os exames de controle excluíam complicações em
órgãos alvos. Apresentava ainda diagnóstico de síndrome do
pânico sem agorofobia, definido pelo psiquiatra segundo os
critérios de DSM-III-R, e com prescrição de clonazepam 2
mg/dia [8].
Foi orientada, pelos médicos assistentes, ao início de
atividade física para melhor controle das patologias de base.
Procurou uma academia de ginástica e, após ser orientada
sobre o propósito do acompanhamento, concordou em
participar do estudo, como voluntária, após assinatura do
consentimento livre e esclarecido.
No primeiro dia do estudo foi realizada anamnese e
avaliação física utilizando-se o protocolo de Guedes [9]. A
paciente foi submetida a um teste ergométrico em esteira na
Procárdio – Clínica Cardiológica, tendo sido realizado por um
cardiologista que utilizou o protocolo de Bruce e considerou
a voluntária como apta à realização de atividades físicas. Respondeu a um instrumento de avaliação emocional, adaptado
conforme protocolo de acompanhamento do Anxiety Disorder
Interview Schedule (ADIS-R), informando os sinais e sintomas
referidos no momento do exame e após oito semanas, assim
como a sua gravidade [8].
Após a avaliação físico-emocional, foi desenvolvido um
protocolo de treinamento de força em circuito com 24
sessões de treinamento divididas em 3 fases, desenvolvidas
no período de janeiro a março de 2006. Em cada fase, eram
modificados a carga, a intensidade e o volume de treinamento. A mudança de carga era feita após a realização de testes
de força de 1RM (uma repetição máxima). Os exercícios
foram executados durante 1 minuto alternando-se entre
162
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
membros superiores e inferiores sem interrupção entre os
mesmos (Tabela I).
Tabela II - Resultados do teste ergométrico realizado antes do início
(t = 0) e após 24 sessões de treinamento (t =1).
Etapa
Tabela I - Fases do programa de exercícios resistidos.
FASE 1
Esteira (aquecimento
5 min)
Puxada alta por trás
do pescoço
FASE 2
Esteira (aquecimento 5 min)
Desenvolvimento
na máquina
Mesa extensora
Leg press 45º
Peck deck
Máquina adutora
Rosca direta de
bíceps com halteres
Panturrilha sentado
em 90º
Tríceps no pulley
FASE 3
Esteira (aquecimento 5 min)
Hack machine
Crucifixo em banco horizontal com
halter
Remada baixa
Leg-press 45º
Puxada alta pela
Máquina abdutora frente e pegada
fechada
Supino reto em
Rosca francesa
banco horizontal
Tríceps
Panturrilha no calf
Mesa flexora
baixo
Tríceps no pulley
Remada Alta
A pressão arterial da voluntária era verificada em repouso,
durante o circuito e após a sessão. Ao final de oito semanas
a voluntária foi reavaliada na mesma clínica seguindo-se o
mesmo protocolo de avaliação físico-emocional.
Discussão
A atividade física representa um estresse fisiológico para
o organismo devido ao aumento da demanda energética
e a necessidade de dissipação de calor, produzindo ajustes
homeostáticos integrados durante a realização do exercício,
chamados de respostas fisiológicas ou efeitos agudos do exercício. Exemplos destes efeitos incluem sudorese, aumento da
frequência cardíaca, da ventilação pulmonar, da sensibilidade
à insulina e da secreção de catecolamina, bem como a redução
da atividade parassimpática e do fluxo sanguíneo esplênico. Ao
longo de semanas de exposição regular e repetitiva ao exercício,
desenvolvem-se adaptações morfofuncionais, chamadas de
efeitos crônicos, que aumentam a capacidade do organismo
responder aos estímulos agudos do exercício [10].
No presente estudo, observou-se que houve adaptações
crônicas, resultantes da ação do condicionamento físico
sobre o sistema cardiovascular. Essas modificações foram
observadas no teste ergométrico realizado após 24 sessões de
exercício resistido em forma de circuito observando redução
da frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e diastólica
e duplo produto.
Após a avaliação física inicial a paciente foi classificada
como tendo aptidão cardiorrespiratória boa. Ao final de oito
semanas a voluntária foi reavaliada na mesma clínica e com o
mesmo protocolo, tendo alcançado aptidão cardiorrespiratória
excelente (Tabela II).
FC
(t=0)
Repouso 61
1
93
2
109
3
126
4
146
Pós77
esforço
FC
(t=1)
65
97
109
141
141
87
PA
(t=0)
130/90
130/60
150/50
170/50
170/50
110/70
PA
(t=1)
125/80
130/80
140/80
160/85
160/85
130/80
DP
(t=0)
7930
12090
16350
21420
24820
8470
DP
(t=1)
8125
12610
15260
22560
22560
11310
Os valores da frequência cardíaca comparando-se os dois
testes ergométricos revelaram uma diminuição de 6,2% (- 4
bpm) no pré-esforço e de 11,5% (- 10 bpm) no pós-esforço
caracterizando melhoria do condicionamento cardiorrespiratório.
Negrão & Rondom [11] enfocam que não existem dúvidas sobre os benefícios fisiológicos da atividade física para a
pressão arterial, desde que praticada em intensidade de baixa
a moderada e duração de 30 a 45 minutos.
É importante ainda considerar que os pacientes hipertensos ativos possuem metade do risco de morte, por todas as
causas, comparado com hipertensos inativos [12].
Analisando o comportamento dos valores da pressão
arterial nesses mesmos testes, verificamos redução nos níveis
da pressão arterial sistólica de 15,38% (-20 mmHg) no pósesforço e um aumento de 10,4% no pré-esforço. Em relação
à pressão arterial diastólica houve uma diminuição de 12,5%
(-10 mmHg) no pós-esforço e não foi observada nenhuma
modificação no pré-esforço. Estes valores no pré-esforço podem ter sido influenciados pelo fato da voluntária ter feito
uma longa caminhada até a academia imediatamente antes da
realização do teste ergométrico realizado após oito semanas de
treinamento. No entanto a ocorrência dessa diminuição da
pressão arterial deve-se ao fato da mesma ter tido uma resposta
crônica ao exercício denominada de adaptação.
Quanto ao duplo produto foi possível perceber uma
redução de 2,4% (-195) no pré-esforço e observou-se uma
redução de 25,12% (-2840) no pós-esforço. Estes resultados
são concordantes com estudos que observaram a redução dos
parâmetros hemodinâmicos como efeito crônico do exercício resistido. Isso ocorre devido ao fato de que a resposta
fisiológica ao exercício resistido promove declínio da pressão
arterial por diminuição no débito cardíaco que está associada
ao decréscimo da frequência cardíaca, uma vez que não são
observadas alterações no volume sistólico [3,6,11,13,14].
A atividade física sistematizada pode acarretar diversos
benefícios tanto na esfera física quanto na mental do ser
humano proporcionando uma melhor qualidade de vida.
Evidenciando os benefícios da atividade física aeróbia para
a síndrome do pânico. Em relação às atividades físicas de
predominância anaeróbia, ainda não há consistência entre
os estudos encontrados, talvez em decorrência das variações
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
metodológicas [5].
Os efeitos do exercício resistido sobre a síndrome do pânico foram avaliados de forma subjetiva, podendo-se verificar
uma melhoria dos sinais e sintomas na patologia da voluntária.
Considerando os sintomas da síndrome do pânico, observouse melhora da sintomatologia emocional, auto-referida pela
paciente, no momento inicial e final da observação (Tabela
III). Um dado complementar favorável foi à remoção do
medicamento ansiolítico no final das sessões do treinamento
físico, que corroborou com os resultados positivos. A mesma
deixou de fazer uso da medicação, após a oitava sessão de
treinamento, mostrou-se mais independente e menos ansiosa,
sendo capaz de realizar suas atividades cotidianas como dirigir,
por exemplo. Demonstrando que a atividade física pode ser
um importante instrumento no controle da ansiedade, tanto
como terapêutica única nos casos mais leves, particularmente
a ansiedade aguda, reativa a uma situação circunstancial, como
um importante coadjuvante à psicoterapia ou à psicofarmacoterapia nos casos de maior gravidade [1,5].
Tabela III - Avaliação emocional do transtorno do pânico, adaptado ADIS-R.
Sintomatologia
T(0)- início do T(1)– após 8
estudo
semanas
Falta de ar ou asfixia
2
0
Sufocamento
2
0
Palpitação
3
1
Desconforto no peito
2
0
Sudorese
1
0
Vertigem
1
0
Náusea
0
0
Despersonalização
2
0
Parestesia
1
0
Ondas de calor
3
0
Tremores
3
0
Medo de morrer
3
0
Medo de perder o controle 3
0
0 – nenhum; 1- leve; 2-moderado; 3-grave; 4 - muito grave
De acordo com a observação, pode-se concluir que, o
exercício resistido está associado à redução da pressão arterial
e à melhoria dos sintomas da síndrome do pânico.
163
Conclusão
A prática de exercícios físicos de forma monitorada, pode
se tornar um poderoso coadjuvante no tratamento de diversas
enfermidades físicas e psicológicas, em especial, na terceira
idade, onde estas se fazem mais presentes.
Estudos interdisciplinares, em que o médico e o profissional da educação física possam interagir de forma harmônica,
em suas habilidades, poderiam trazer grandes benefícios à
saúde.
Referências
1. Araújo SRC, Mello MT, Leite JR. Transtornos de ansiedade e
exercício físico. Rev Bras Psiquiatr 2007;29(2):164-71.
2. Monteiro MF, Filho DCS. Exercício físico e controle da pressão
arterial. Rev Bras Med Esporte 2004;10 (6): 510-13.
3. IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Campos do
Jordão: SBC; 2002. p.13-4.
4. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte 2007;10(4):319-24.
5. Mello MT. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Rev
Bras Med Esporte 2005;11(3):134-42.
6. Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CMM, Santos DA, Nery SS, Tinucci T. Exercício resistido para o paciente hipertenso: indicação
ou contra indicação? Rev Bras Hipertens 2003;10: 119-24.
7. Bermudes AML, Vassallo DV, Vasquez EC, Lima EG. Monitorização ambulatorial da pressão arterial em indivíduos normotensos submetidos a duas sessões únicas de exercícios: resistido
e aeróbio. Arq Bras Cardiol 2003;82(1):57-64.
8. Barlow DH, Cerny JA. Tratamento psicológico do pânico. 2ª
ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1999.
9. Guedes DP. Controle do peso corporal: composição corporal,
atividade física e nutrição. Londrina: Midiograf; 1998.
10. Nóbrega ACL. O conceito de efeitos subagudos do exercício.
Rev Bras Educ Fís Esp 2006;20(5):85-6.
11. Negrão CE, Rondom MUPB. Exercício físico e controle barorreflexo da pressão arterial. Rev Bras Hipertens 2001;8:89-95.
12. Sharkey BJ. Condicionamento físico e saúde. 4ª ed. Porto
Alegre: Artmed; 1998.
13. MacCartney N. Role of resistance training in heart disease. Med
Sci Sports Exerc 1998; 30(10):396-402.
14. Carneiro JA, Silva KL, Moreira LS, Borges RO. Respostas cardiovasculares do treinamento resistido: uma revisão. Rev Port
Cienc Desporto 2003;3(1):79-91.
164
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Opinião
Desenvolvimento das capacidades físicas e motoras nas
aulas de educação física para crianças de 10 a 13 anos
Physical and motor development of 10-13 years old children
in physical education activities
*Stephan Moreno Tanzillo, **Marcus Vinicius Grecco
*Bacharel e Licenciado em Educação Física pela Universidade de Santo Amaro, **Educador Físico e Fisioterapeuta mestrando pela
Faculdade de Medicina da USP
Resumo
Abstract
Saúde abrange bem-estar físico, mental e social. Toda perturbação do desenvolvimento físico ou comportamento motor significa
desequilíbrio do conjunto. Debilidades físicas afetam negativamente
a atitude, coordenação motora, destreza ou a capacidade de coordenação. Na infância a capacidade motora e física é a chave que abre
à criança o mundo do conhecimento e maneiras de portar-se. O
plano elementar das experiências motoras e físicas funciona como
estímulo mental e incentivador de inteligência. Cada sucesso ou
insucesso motiva para aquisição de novos conhecimentos. Quanto
mais numerosas e variadas forem as atividades motoras da criança,
mais desenvolverá o organismo, seu preparo físico e o bem-estar
geral.
Health encloses physical, mental and social well-being. All
debilities of the physical development or motor behavior mean
disequilibrium of the set. Physical debilities affects the attitude, the
motor coordination, the dexterity or the capacity of coordination.
In infancy the motor and physical capacity is the key that opens
to the child the world of the knowledge and ways to behave itself.
The elementary plan of the motor and physical experiences functions as mental and encourages stimulation of intelligence. Each
success or failure motivates for acquisition of new knowledge. The
more numerous and varied they will be the motor activities of the
child, more will develop the organism, its physical preparation and
general well-being.
Palavras-chave: educação física, criança, capacidade física e
motora.
Key-words: physical education, children, capacity physical and
motor.
Introdução
Atualmente a qualidade de vida e a saúde figuram como
dimensões prioritárias. A atividade física é um componente
importante na adoção de um estilo de vida saudável como
preventivo de múltiplas doenças e morte prematura, com benefícios que podem se apresentar desde a infância até o estado
adulto. O estilo de vida sedentário vem sendo associado a diversas doenças, dentre elas, podemos citar as coronariopatias,
hipertensão, diabetes, obesidade. Essas doenças são processos
crônicos que podem ter seu início na infância [2-4].
Dar ao homem o conhecimento é libertá-lo do desconhecido, dando-lhe independência e autonomia. Neste sentido, o
papel do professor de Educação Física no ensino de habilidades motoras e da percepção corporal envolve muitas responsabilidades distintas. Estas requerem que o professor seja um
planejador e um motivador, não somente um apresentador
de informação e um avaliador de desempenho [1].
Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Ribeiro de Barros 81/31, 05027-020 Vila Pompéia SP, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Talvez a maior razão das pessoas serem espectadoras e não
participantes de um programa de atividade física seja o fato
de que elas não entendem o que a atividade física praticada
regularmente pode fazer por elas [2].
Desenvolvimento motor, conquanto esteja ocupado com
a aprendizagem e o desempenho de habilidades motoras, está
principalmente devotado a estudar aqueles comportamentos
sob o ponto de vista do desenvolvimento [1].
Não há dúvida de que a infância é o período mais adequado para o início de atitudes e comportamentos saudáveis.
Esse é um período em que a criança está em processo de
aprendizado constante e, portanto, aberta a novos conceitos.
É relevante que os pais, professores e pediatras, que são as
pessoas mais próximas delas, tenham hábitos saudáveis de
alimentação e atividade física, pois são modelos positivos
essenciais durante este processo de formação [2].
É preciso considerar o fato de que o maior grau de desenvolvimento de uma capacidade motora específica (força,
resistência, velocidade, etc.) pode somente ser alcançado se
outras capacidades forem também desenvolvidas a certo nível.
Por isso, o desenvolvimento de todas as capacidades motoras
deve ser harmonioso [2-5]. Há uma infinidade de atividades
das quais pessoas de ambos os sexos podem tomar parte,
atividades estas que não requerem habilidades excepcionais,
coragem, equipamentos sofisticados e caros ou instalações
faraônicas para praticá-las. A preferência deveria ser por atividades que permitissem às pessoas se ajustarem de acordo
com a sua aptidão, característica corporal e, acima de tudo,
desejo pessoal [2]. Por isso, programas escolares também
devem focar mudanças da educação e do comportamento
para incentivar o engajamento em atividades apropriadas
fora das aulas [6].
Aptidão física
Há uma preocupação quanto à condição física das crianças
e adolescentes, pois existe uma controvérsia sobre a ênfase
que deve ser dada à aptidão física em Programas de Educação
Física. A aptidão física é primariamente determinada pela prática de atividade física e é operacionalmente definida como o
desempenho atingido nos seguintes testes: potência aeróbica,
composição corporal, flexibilidade e força e resistência dos
músculos esqueléticos. A aptidão física é importante durante
a vida para desenvolver e manter a capacidade funcional para
as demandas vitais e promoção de saúde.
De acordo com a acentuação atribuída a determinadas
componentes da aptidão física é usual pensar em aptidão
física relacionada com o rendimento desportivo – motor (no
qual são avaliados um conjunto diversificado de componentes
ou capacidades que vão desde a força, velocidade, resistência,
etc.); ou com a saúde (para a qual os componentes se circunscrevem a capacidades supostamente relacionadas com a
saúde) [2,3,5,7].
165
A importância do Professor de Educação Física
Historicamente, a escola sempre refletiu o seu tempo,
sempre esteve a serviço dos interesses de um regime social
específico, e se assim não fosse, não existiria, teria sido eliminada. Embora se considere que a educação possa acontecer
em outros espaços sociais, é na escola o lugar por excelência,
onde o processo de construção do conhecimento se dá de
forma sistematizada. E é dentro dela que o professor convive
com as desigualdades de toda natureza e suas conseqüências
sociais, econômicas, políticas e culturais. Daí a necessidade de
refletirmos sobre como desenvolver a capacidade de pensar, de
decidir e de participar do Professor, no nosso caso o Professor
de Educação Física, para que este se torne um dos agentes do
processo de transformação. Portanto este professor deverá estar
comprometido com uma perspectiva de transformação da
sociedade em que vive o que quer dizer se dedicar a oferecer
condições para a formação de cidadãos conscientes.
O papel do professor no ensino de habilidades motoras
envolve muitas responsabilidades distintas. Estas requerem que
o professor seja um planejador de instrução, um apresentador
de informação, um avaliador de desempenho e um motivador.
O papel do professor no ambiente de instrução é intensamente
orientado para sua responsabilidade de determinar o que será
ensinado, como será ensinado, quais serão as condições de
prática e assim por diante. O trabalho do professor não termina
com o desenvolvimento de planos de aulas ou a apresentação de
instrução. Uma fase muito crítica do processo é a avaliação do
desempenho do estudante, que inclui a determinação do que o
estudante fez de errado e corretamente. O professor, então, tem
que comentar esta informação com o estudante para ajudá-lo
a melhorar a próxima tentativa de execução da habilidade. A
responsabilidade do professor como um motivador está envolvida em todos os aspectos do processo de instrução. O professor
tem que determinar o ambiente apropriado de instrução para
produzir no estudante um desejo de aprender a habilidade que
se está ensinando [1,6,8].
Vida sedentária: a importância da aptidão física
Atualmente, a qualidade de vida e a saúde se afiguram
como dimensões prioritárias, principalmente nas sociedades
ditas desenvolvidas ou em desenvolvimento. A atividade física
é uma componente importante na adoção de um estilo de
vida saudável, assim como preventivo de múltiplas doenças
e morte prematura, com benefícios presentes na adolescência
e durante o estado adulto.
Em relação às idades pediátricas, apesar de persistir alguma incerteza, acredita-se nos efeitos positivos da atividade
física para a saúde e nas conseqüências adversas de uma vida
sedentária – muitos fatores de risco de doenças crônicas se
iniciam na infância.
Estilo de vida sedentário vem sendo associado com coronariopatia, hipertensão, diabetes, obesidade no adulto. Essas
166
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
doenças são processos crônicos que podem ter seu início
na infância. Essa fase, portanto, é uma época importante
para promover atitudes saudáveis, como a prática de várias
atividades físicas e o desenvolvimento de habilidades motoras diversas. Por outro lado, é importante reconhecer as
particularidades do crescimento, desenvolvimento músculoesquelético, maturação sexual e a resposta termorregulatória
da criança para que se possam evitar os potenciais riscos de
lesões, treinamento físico de alta intensidade e especialização
esportiva no atleta infanto – juvenil.
Talvez um bom nível de aptidão física não seja necessário
para um mundo dominado por inovações tecnológicas, mas
é necessário desenvolver ao máximo nossas pontecialidades
mentais, para evitar doenças hipocinéticas e para se sentirnos bem, aproveitando ao máximo o que a vida tem para
oferecer [5,3,4,7].
Desenvolvimento motor: classificação e importância
Os termos aprendizagem motora e desenvolvimento
motor são muitas vezes confundidos e usados de maneira
intercambiável. Desenvolvimento motor, conquanto esteja
ocupado com a aprendizagem e o desempenho de habilidades motoras, está principalmente devotado a estudar aqueles
comportamentos sob o ponto de vista do desenvolvimento.
Por exemplo, da mesma maneira como a criança desenvolve
a capacidade de pular, que características parecem identificar
a maioria dos indivíduos em certas idades? Outro exemplo
de um tema importante no desenvolvimento motor é o que
distingue a criança do adulto em processos de memória [1].
Níveis desenvolvimentistas podem ser classificados de
muitas maneiras. O método mais popular, mas freqüentemente o menos acurado, é a classificação pela idade cronológica.
A “idade cronológica” ou idade do indivíduo em meses e/
ou anos é de uso universal e representa constantemente para
todos. Pelo conhecimento da data de nascimento de alguém,
podemos facilmente calcular sua idade em anos, meses e dias
[2]. Há também a “idade biológica” de um indivíduo que
fornece um registro do índice de seu progresso em direção
a maturidade e pode ser determinada medindo-se a idade
morfológica, fornecendo o tamanho atingido pelo indivíduo
(altura e peso) segundo padrões normativos, idade esqueletal/
óssea, fornecendo um registro da idade biológica do esqueleto
em desenvolvimento. A idade dental é outro meio preciso,
porém não freqüentemente usado para determinar a idade
biológica, e por último a idade sexual que é medida pela
maturação sexual é determinada pelo alcance variável de
características sexuais primarias e secundarias [6,8,9].
Na fase pré-escolar, as crianças estão aprendendo a pular,
correr, lançar, pegar e chutar. Esses movimentos, assim como
atividades recreativas que facilitam a adesão ao programa,
devem ser estimulados em crianças até quatro anos de idade.
Nesses primeiros anos de vida, não há indicação de nenhum
esporte específico e o mais importante é o estimulo das funções motoras que serão utilizadas nos movimentos comuns
do dia-a-dia. A maioria das crianças termina aos seis anos de
idade o desenvolvimento motor. Tornam-se, portanto, a partir
desse período, aptas para realizar as atividades motoras como
os adultos, ainda que sem a mesma perfeição de movimentos.
Para que ocorra aprimoramento do desenvolvimento motor,
ensinamentos básicos de esportes coletivos e individuais podem ser iniciados nessa fase [1,8-11].
Não há dúvida de que a infância é o período mais adequado para o início de atitudes e comportamentos saudáveis.
Esse é um período em que a criança está em processo de
aprendizado constante, e, portanto, aberta a novos conceitos.
É relevante que os pais, professores e pediatras, que são as
pessoas mais próximas delas, tenham hábitos saudáveis de
alimentação e atividade física, pois são modelos positivos
essenciais durante este processo de formação. Hoje sabemos
que se deve, em grande parte, ao estilo de vida sedentário o
aumento de risco de doenças coronarianas, assim como hipertensão, diabetes mellitus, obesidade e outras enfermidades
crônicas que acometem os adultos.
A adolescência costumava incluir a idade de 13 a 18 anos,
mas agora começa mais cedo, na idade de 10 anos, e não
termina até aproximadamente a idade de 20 anos [8,9].
As notáveis alterações na altura e no peso são facilmente
observadas, porém outras alterações igualmente importantes
como o crescimento do coração e dos pulmões é enorme, fator
básico na capacidade funcional crescente do adolescente. O
coração aumenta cerca de 50% em tamanho e quase dobra
de peso na adolescência.
Existe uma variedade ampla de habilidades motoras. Habilidades motoras tão diferentes, como arremessar uma bola no
futebol americano e tocar piano são incluídas sob a designação
genérica de habilidades motoras. Um meio de aumentar a
facilidade com que podemos aplicar conceitos e princípios da
aprendizagem à instrução em habilidades motoras é desenvolver categorias gerais de tais habilidades motoras baseadas em
algumas características comuns de varias aptidões motoras.
Um sistema é baseado na precisão do movimento exigida pela
habilidade; aqui as habilidades são classificadas como globais ou
como finais. Em segundo lugar, um sistema baseado na definição clara do ponto inicial e final de uma habilidade considera-a
como discreta ou continua. O terceiro sistema é baseado na
estabilidade do ambiente em que a habilidade é executada;
este ambiente pode ser estável ou fechado; ou pode ser muito
variável ou aberto. Por último, as habilidades podem ser classificadas de acordo com a maneira como o retorno da informação
sensorial é usado no controle ou produção do movimento.
Um sistema de circuito fechado usa o retorno da informação
enquanto um sistema de circuito aberto não usa [1].
O processo do desenvolvimento motor revela-se basicamente por alterações no comportamento motor. Todos nós
– bebês, crianças, adolescentes e adultos – estamos envolvidos
no processo permanente de aprender a mover-se com con-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
trole e competência, em reação aos desafios que enfrentamos
diariamente em um mundo em constante mutação. Podemos
observar diferenças desenvolvimentistas no comportamento
motor, provocadas por fatores próprios do indivíduo (biologia),
do ambiente (experiência), e da tarefa em si (físico/mecânico).
Podemos fazer isso pela observação das alterações no processo
(forma) e no produto (desempenho). Assim, um meio primário pelo qual o processo de desenvolvimento motor pode ser
observado é o estudo das alterações no comportamento motor
no decorrer do ciclo da vida. Em outras palavras, o comportamento motor observável real de um indivíduo fornece uma
“janela” para o processo de desenvolvimento motor, assim como
indicações para os processos motores subjacentes [6,8,9].
Benefícios da prática de atividade física associados à
saúde e ao bem-estar, assim como riscos predisponentes ao
aparecimento e ao desenvolvimento de disfunções orgânicas
relacionadas ao sedentarismo, são amplamente apresentados e
discutidos na literatura. Apesar de o maior número de estudos
envolver adultos, parece não haver dificuldade em selecionar
evidências de cunho biológico e psicoemocionais quanto às
vantagens de os adolescentes tornarem-se adequadamente
ativos fisicamente.
É preciso considerar o fato de que o maior grau de desenvolvimento de uma capacidade motora específica (força,
resistência, velocidade, etc.) pode somente ser alcançado se
as outras forem também desenvolvidas a certo nível. Por isso,
o desenvolvimento de todas as capacidades motoras deve ser
harmonioso.
É consensual o fato de os níveis moderados a elevados de
aptidão física representarem uma mais valia inquestionável na
qualidade de vida das crianças e jovens. Basta para tanto refletir
no empenhamento heterogêneo das crianças nas suas atividades
lúdicas de intensidade moderada a elevada, na forma sempre
diversificada com que respondem aos estímulos das aulas de
Educação Física, ou na sua tradução no estilo de vida ativo e
saudável. De acordo com a acentuação atribuída a determinadas
componentes da aptidão física é usual pensar em aptidão física
relacionada com o rendimento desportivo - motor - onde se
avaliam um conjunto diversificado de componentes ou capacidades que vão desde a força, velocidade, resistência, etc.; ou com
a saúde - onde os componentes se circunscrevem a capacidades
supostamente relacionadas com a saúde [1,2,4,8,9,12].
Aptidão física: definições das capacidades motoras e físicas
“Atividade física ideal é aquela que a pessoa gosta” [2]. A
atividade física é benéfica e pode interferir diretamente na
mudança de estilo de vida. É importante que você saiba que
só se pode prevenir ou tratar de forma adequada as chamadas
doenças crônico-degenerativas (como, por exemplo, doenças
das coronárias, hipertensão arterial, diabetes mellitus), a partir da identificação e quando possível remoção dos agentes
causadores. Estes agentes causadores ou responsáveis por estas
167
doenças são chamados fatores de risco. A base da prevenção
e tratamento das doenças crônico-degenerativas deve então
ser constituída de um tripé: exercício físico, alimentação e
controle do estresse.
A princípio, para que possamos oferecer uma resposta
adequada a esta questão, torna-se necessário, inicialmente,
entendermos o que vem a ser aptidão física. Conceitualmente,
aptidão física pode ser definida como a capacidade de todo
o nosso organismo, incluindo músculos, ossos, coração, pulmões e outros órgãos e sistemas, de trabalhar eficientemente
todo o tempo [10-11].
“A capacidade de executar tarefas diárias com vigor e vivacidade, sem fadiga excessiva e com ampla energia para apreciar
as ocupações das horas de lazer e para enfrentar emergências
imprevistas.”
“Então a aptidão física é a capacidade de durar, de continuar,
de resistir ao stress, de persistir em circunstâncias difíceis onde
uma pessoa destreinada desistiria. A aptidão física é o oposto de
estar fadigado com esforços ordinários, de falta de energia para
realizar as atividades da vida com entusiasmo, tornando-se
exausto em esforços físicos exigentes e inesperados...”
“É uma qualidade positiva, estendendo de uma escala da
morte até uma vida abundante.”
“Aptidão física é um estado dinâmico de energia e vitalidade
que permite a cada um não apenas realizar as tarefas diárias,
as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências
imprevisíveis sem fadiga excessiva, mas também ajuda a evitar
doenças hipocinéticas, enquanto funcionando no pico da capacidade intelectual e sentido uma alegria de viver.” [2]
Componentes da aptidão física
Para entendermos de que maneira os programas de atividade
física deverão interferir nos índices de aptidão física, torna-se
necessário considerar que aptidão física abrange a participação
de diferentes componentes motores, cada um recebendo diferentes estímulos mediante a realização de tipos particulares de
exercícios. Contudo, pelas implicações fisiológicas em termos de
esforços físicos, os componentes da aptidão física deverão, necessariamente, ser agrupados em duas categorias: aqueles voltados
à aptidão física relacionada à saúde e aqueles que se identificam
com a aptidão física relacionada às habilidades motoras, como
força, velocidade, flexibilidade e resistência aeróbia [7].
Resistência cardiorrespiratória
A primeira resposta do sistema cardiovascular ao exercício
é o aumento da freqüência cardíaca (FC) e a diminuição do
tônus vagal. Nas crianças, o tamanho do coração e o volume
sistólico são menores quando comparadas com o adulto e a
FC máxima é maior na tentativa de manter o débito cardíaco.
Com o treinamento, a FC de repouso mantém-se mais baixa,
mas a FC máxima não se altera. Ela apresenta relação inversa
168
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
com o aumento da idade. Os níveis da pressão sistólica vão
subindo de acordo com a elevação da carga do exercício e
raramente ultrapassam 200 mmHg. A pressão diastólica não
se eleva muito durante o esforço, sendo muitas vezes difícil o
controle, dependendo da idade da criança.
A resistência cardiorrespiratória é a capacidade que o nosso
organismo apresenta para que possamos realizar esforços físicos
por um longo período de tempo numa intensidade moderada.
Assim, é a resistência cardiorrespiratória que nos permite desenvolver inúmeras tarefas em nosso cotidiano, seja no trabalho ou
no lazer, e a enfrentar imprevistos que possam surgir quando
da realização de esforços físicos mais intensos.
Se, por um lado, consideramos que quando nosso organismo é exposto a um esforço físico, os músculos ativados
demandam quantidades crescentes de oxigênio, para que se
possa atender a produção de energia necessária à contração
muscular; e por outro, a resistência cardiorrespiratória está
relacionada com o nível de eficiência do coração, pulmões
e sistema circulatório em transportar oxigênio ao tecido
muscular; as pessoas que apresentam uma boa resistência
cardiorrespiratória tendem a se cansar menos nas atividades
diárias e a recuperar-se mais rapidamente, após a realização
de esforços físicos mais intensos [12-14].
Força e resistência muscular
Para efeitos práticos, a força pode ser definida como o nível
de tensão que podemos produzir em uma única contração máxima por um grupo muscular específico. Portanto, a força de
uma pessoa é diretamente proporcional ao desenvolvimento
apresentado pelos músculos que estão envolvidos no esforço físico: quanto mais desenvolvido for um músculo, maior deverá
ser a sua capacidade de gerar força. A resistência muscular, por
outro lado, refere-se à capacidade de realizar repetidas contrações submáximas. Deve-se observar que existe uma tendência
para que quando um grupo muscular se torne mais forte, via
de regra, também melhore sua capacidade para realizar repetidas contrações submáximas. Porém, não se deve confundir a
resistência muscular, com a resistência cardiorrespiratória que
depende, fundamentalmente, da função cardiorrespiratória e
não dos níveis de força muscular [15,16].
Flexibilidade
Definida como amplitude máxima possível de um dado
movimento de uma articulação especifica ou de uma série de articulações, a flexibilidade pode determinar a capacidade de uma
pessoa em movimentar o corpo com maior eficácia e facilidade.
Um nível de flexibilidade inadequado pode resultar no aumento
da probabilidade de ocorrer lesões músculo-esquelético, ou ainda, tornar impossível a realização de determinados movimentos.
A flexibilidade é controlada pela elasticidade apresentada pelos
músculos e pelos tecidos conectivos existentes nas articulações.
As articulações se mantém estáveis em razão dos ligamentos,
tendões e cápsulas articulares existentes em suas respectivas
estruturas, que são compostas, fundamentalmente, por tecidos
conectivos elásticos [2,5].
Quanto à eficiência mecânica, na criança é sempre constante independente da intensidade, entretanto está sempre
menor que a verificada em adultos. Quando considerado
o ambiente escolar, sugere-se a utilização de exercícios de
força em grupos, com exercícios individuais ou coletivos,
devido à facilidade de execução dos mesmos. No que se
refere à flexibilidade, sugere-se que os movimentos de
tronco são os que melhor identificam o comportamento
da flexibilidade total, corroborando a utilização do teste de
sentar-e-alcançar como um bom parâmetro para esta faixa
etária. Faz-se interessante ressaltar que a exacerbação de
um trabalho de hipermobilidade, sem um complemento
com exercícios de força, pode favorecer o aparecimento de
lesões ligamentares, principalmente após a adolescência,
pois um trabalho adequado e complementar de força tende
a estabilizar as articulações [7,16].
Aptidão relacionada à saúde
A aptidão física relacionada à saúde contempla aqueles
componentes motores cujos aspectos fisiológicos podem oferecer alguma proteção aos distúrbios orgânicos provocados por
um estilo de vida sedentário. As capacidades condicionais são
fundamentadas na eficiência do metabolismo energético. Elas
são determinadas pelos processos que conduzem à obtenção
e transformação de energia, isto é, os processos metabólicos
nos músculos e sistemas orgânicos.
Desse modo, os índices de aptidão física relacionada à
saúde tornam-se extremamente sensíveis ao desenvolvimento
de determinados tipos de programas de aptidão física e demonstram também uma influencia genética.
A resistência cardiorrespiratória, a força, a resistência
muscular, a flexibilidade e a velocidade são os componentes
da aptidão física relacionada à saúde. Portanto, todos nos
devemos apresentar um rendimento mínimo em cada um
desses componentes, independente dos aspectos hereditários e do meio em que vivemos. Ao nos envolvermos com
um programa de atividade física que procura atender a
participação desses componentes, estaremos usufruindo
dos benefícios da atividade física em termos de saúde,
basta que nos empenhemos em participar de programas
específicos, desde a infância até a idade adulta, que atendam
componentes motores realmente direcionados a um melhor
estado orgânico e funcional de nosso corpo. Aptidão física
relacionada à saúde engloba componentes que afetam a
qualidade da saúde [7,17].
VIDA => aptidão física => SAÚDE ÓTIMA
A quantidade e intensidade da atividade física das crianças
e jovens parecem não estar conforme as recomendações pre-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
169
conizadas para estes níveis etários. Estes aspectos devem ser
objeto de consideração pelos responsáveis pela implementação
de programas de atividade física na adolescência de forma a
proporcionar maior adesão [18,19].
A Educação Física revelou, em termos da proporção de
tempo despendido em atividade física de diferentes intensidades, que a atividade física despendida era sedentária ou leve. A
percentagem média de tempo despendida em atividade física
moderada à vigorosa não atingiu o critério recomendado o
qual preconiza que os alunos devem despender, pelo menos,
metade do tempo da aula de Educação Física em atividade
física significativa [2,4,12].
natação e ginástica olímpica. Outras atividades, especialmente
aquelas de natureza individual e provável de serem realizadas
ao longo da vida, precisam ser mais acessíveis e promovidas
de maneira atrativa. Aulas de educação física normalmente
dedicam algum tempo para instruções sobre a prática das
atividades, mas o tempo de aula é geralmente insuficiente para
desenvolver e manter condicionamento físico adequado. Por
isso, programas escolares também devem focar mudanças da
educação e do comportamento para incentivar o engajamento
em atividades apropriadas fora das aulas.
Conclusão
1. Magill R. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. 5ª ed.
São Paulo: Edgard Blucher; 2000.
2. Barbanti VJ. Aptidão física: um convite à saúde. 2ª ed. São
Paulo: Manole; 1990.
3. Barbanti VJ. Desenvolvimento das capacidades físicas básicas
na puberdade. Rev Paul Educ Fís 1989;3(5):31-44.
4. Guedes D. Atividade física, aptidão e saúde. Rev Bras Ativ Fís
Saúde 1995;1:18-35.
5. Barbanti VJ. Teoria e prática do treinamento desportivo. 2ª ed.
São Paulo: Edgard Blucher; 1997.
6. Gallahue DL. Educação física desenvolvimentista. Cinergis
2000;1:7-18.
7. Boheme MT. Aptidão física: aspectos teóricos. Rev Paul Educ
Fís 1993;7:52-5.
8. Gallahue D. Development physical education for today’s children. 1ª ed. Duduque: Brown & Benchmark;1993.
9. Gallahue D. Understanding motor development in children.1ª
ed. New York: John Willey & Sons; 1982.
10. Guedes D. Desempenho motor em crianças e adolescentes. Rev
Paul Educ Fís 1995;9:1-5.
11. Tourinho F. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos
maturacionais e funcionais. Rev Paul Educ Fís 1998;12:71-84.
12. Shepard RJ. Custos e benefícios dos exercícios físicos na criança.
Rev Bras Ativ Fís Saúde 1995;1:66-84.
13. Canill N. Health enhancing physical activity for young people:
statement of United Kingdom expert consensus conference.
Pediatr Exerc Sci 2001;13:12-25.
14. Horta L. Atividade física e prevenção primária das doenças
cardiovasculares. Ludens 1995;15:24-8.
15. Whithead E. Aptidão muscular. Horizonte 1986;8(16):136-41.
16. Liemohn W. Flexibility and muscular strength. Joperd
1988;3:37-40.
17. Bergmann G, Araújo MLB, Garlipp DC, Lorenzi TC, Gaya A.
Alterações anual no crescimento e na aptidão física relacionada
a saúde de escolares. Rev Bras Cineantropom Desempenho
Hum 2005;7:55-61.
18. Bailey R. The level and time of children’s physical activities: An
observational study. Med Sci Sport Exerc 1995;7:1033-41.
19. Souza OF, Pires Neto CS. Alteração anual do desenvolvimento
físico de meninos de 10 a 12 anos de idade. Rev Bras Ciên Mov
2002;10:19-24.
O estudo mostra que as profissões relacionadas à saúde
precisam tornar-se mais ativas em promover o condicionamento físico em crianças e jovens. Programas continuados
de educação física para crianças e adolescentes devem ser
oferecidos por profissionais da saúde. A Saúde Pública deve
ver a aptidão física de crianças e adolescentes como sendo de
sua responsabilidade em adição a medidas tradicionais como
imunização e investigação de escoliose.
Programas educacionais projetados para aumentar o conhecimento e o reconhecimento do papel e do valor do exercício na
aptidão física e na saúde são virtualmente inexistentes em escolas,
embora tais programas sejam comuns em faculdades e universidades. Esforços profissionais são necessários para desenvolver, testar
e publicar materiais educativos adequados para o uso em escolas.
Programas de treinamento precisam ser desenvolvidos e iniciados
para proporcionar professores escolares com conhecimentos
e habilidades para ajudar seus estudantes a atingir qualidades
cognitivas, afetivas e comportamentais associadas ao exercício,
saúde e condicionamento. Os professores também precisam dar
assistência nas formas de integrar outros aspectos da promoção
da saúde (boa nutrição e não fumar, por exemplo) nas instruções
sobre exercício e aptidão física. Os componentes educacionais
de avaliar, ensinar atividades de condicionamento físico e reconhecimento através de premiação devem ser complementares
e precisam ser coordenados para um programa compreensivo.
Programas de Educação Física em escolas é uma parte importante
do processo geral de educação e devem ser incentivados para
desenvolver e manter hábitos de prática de exercício ao longo
da vida e prover instruções sobre como adquirir e manter uma
aptidão física adequada.
A quantidade de exercício necessária para uma capacidade
funcional adequada e saúde nas várias idades não foi precisamente definida. Até que evidências definitivas estejam disponíveis, as atuais recomendações são que crianças e adolescentes
realizem 20-30 minutos de atividade física vigorosa ao dia. O
aspecto recreacional e de diversão do exercício devem ser enfatizados. As oportunidades de exercício físico na comunidade
devem ser expandidas. Há muitas possibilidades para crianças
interessadas em esportes como baseball, basquete, futebol,
Referências
170
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
171
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
172
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 3 - julho/setembro 2009
Calendário de eventos
2009
20 a 25 de Setembro
XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e
Setembro
18 a 20 de setembro
III Congresso Internacional de Ciências do Esporte
Salvador, BA
Informações: [email protected]
III Simpósio de Reabilitação Esportiva da USP-RP
Ribeirão Preto, SP
Informações: (16) 3630-5649
Setembro de 2009
X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a
Terceira Idade
Núcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de
Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Alagoas, MA
Informações: (82) 3322-2416
Novembro
6 a 8 de novembro
13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio
de Janeiro - SIAFis RJ
Auditório da Escola Naval
Rio de Janeiro, RJ
E-mail: [email protected]
CURSO
Julho
18 a 26 de Julho
VI Encontro Internacional Esporte e Atividade Fisica
Informações: (011) 2714-5678/2714-5677
e-mail: [email protected]
site: www.encontrophorte.com.br
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 8 número 4 - outubro/dezembro 2009
EDITORIAL
A oportunidade dos Jogos Olímpicos de 2016, Paulo Tarso Veras Farinatti ............................................................ 175
ARTIGOS ORIGINAIS
Lesões no surfe em São Francisco do Sul/SC, Alberto Sumiya,
Rafael Fernando Cezário, Alexandre Aguiar Wolanski,
Newton Nogueira Henriques..................................................................................................................................... 176
Comparação dos testes de campo de 2.400 m de Cooper e 3.200 m
de Weltman em homens saudáveis, Matheus Santos Cerqueira,
Guilherme Tucher, João Carlos Bouzas Marins .......................................................................................................... 181
Atividade física como fator de prevenção de risco cardiovascular,
Dihogo Gama de Matos, Leandro Otávio Apolinário Cantaruti,
Mauro Lúcio Mazini Filho, Rafael Pedrosa Savóia,
André Luiz Zanella, Moacir Marocolo Júnior............................................................................................................. 187
Avaliação da flexibilidade em indivíduos submetidos ao método Pilates,
Martha Arno, Fabiana Ferro Machado, Angélica Castilho Alonso .............................................................................. 191
Efeito agudo do alongamento estático sobre o desempenho da velocidade
de jogadores de futebol profissional, Wagner Antonio B. da Silva,
Igor Alexandre Fernandes, Cláudia de Mello Meirelles, Paulo Sérgio Chagas Gomes ................................................. 196
REVISÕES
Redução e manutenção da pressão arterial através de exercícios resistidos
com pesos, Maria da Graça Meurer Monteiro, Vanise Flores Bittencourt,
Rafaela Liberali, Fabio Henrique Ornellas, Francisco Navarro ................................................................................... 205
Bioenergética do metabolismo celular: ATP e exercício físico,
Diego Adão Fanti Silva, Rodrigo Luiz Vancini, Claudio Andre Barbosa de Lira,
Antonio Carlos da Silva, Viviane Louise Andrée Nouailhetas..................................................................................... 212
A importância do teste de caminhada de seis minutos na avaliação
da capacidade funcional de idosos hipertensos, Nina Araújo de Oliveira,
Thaís Miranda Costa, Elaine Cristina Martinez Teodoro ........................................................................................... 221
Miostatina, Fábio Eduardo de Almeida..................................................................................................................... 230
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 234
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 236
174
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Conselho Editorial
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Douglas S. Brooks (EUA)
Emerson Silami Garcia (MG)
Francisco Martins (PB)
Francisco Navarro (SP)
Luiz Fernando Kruel (RS)
Martim Bottaro (DF)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Robert Robergs (EUA)
Rosane Rosendo (SC)
Sebastião Gobbi (SP)
Steven Fleck (EUA)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Vilmar Baldissera (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
Centro 01037-010 São Paulo SP
Co Editor
Artmerkado Editora Técnica e Cultural Ltda
E-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Atendimento
(11) 3361 5595 / 3361 9932
E-mail: [email protected]
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Editor assistente
Guillermina Arias
[email protected]
Assinatura
1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
[email protected]
Projeto gráfico
Artmerkado Editora Técnica e Cultural Ltda
Marketing e Publicidade
José Gomes
[email protected]
Assistente de vendas – Atendimento
Márcia P. Nascimento
[email protected]
Direção de arte
Cristiana Ribas
[email protected]
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à
confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário
estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
175
Editorial
A oportunidade dos Jogos Olímpicos de 2016
Walace David Monteiro, Editor associado
Depois de três tentativas, o Brasil ganhou o direito de
sediar os XXXI Jogos Olímpicos da Era Moderna. Na rodada final, o Rio de Janeiro bateu Madrid por 66 votos a 32,
em campanha que começou em 1992 com a candidatura de
Brasília para abrigar os Jogos em 2000. Após duas tentativas
(2004 e 2012), a cidade do Rio de Janeiro finalmente conseguiu a indicação para sediar a competição em 2016. Agora
os cidadãos brasileiros terão de desembolsar cerca de R$ 26
bilhões (em uma primeira estimativa) para concluir a complexa estrutura necessária a realização do evento.
Talvez o primeiro passo na direção de um legado concreto
para a cidade e o país após os Jogos de 2016 seja superar a
desconfiança decorrente do que ocorreu nos Jogos Pan Americanos. Como se sabe, gastou-se na organização do Pan 2007
bem mais do que o previsto, deixando pífio legado em termos
de estrutura urbana e desenvolvimento do desporto. Não há
dúvidas de que o Rio de Janeiro tem condições de realizar de
forma brilhante os Jogos Olímpicos de 2016, mas cumprenos o papel de fiscalizar as autoridades no sentido de que o
faça com competência e honestidade na gestão de recursos.
Nesse contexto, no que pode se beneficiar e contribuir
a Fisiologia do Exercício como campo do conhecimento? É
lógico pensar que, para desenvolver a estrutura requerida para
a competição desportiva internacional de maior porte, esperase que as ciências do desporto sejam lembradas. Dentre outras
áreas do conhecimento, a Fisiologia do Exercício pode auxiliar
na detecção de futuros talentos e no direcionamento do treinamento de jovens atletas, com bases científicas e sólidas. Desse
modo, espera-se que recursos destinados à infra-estrutura para
a pesquisa na área sejam ampliados. Igualmente, é necessária
a formação de profissionais que sejam capazes não apenas
de realizar estudos científicos, mas também de efetivamente
aplicar os conhecimentos a Fisiologia do Exercício em sua
prática cotidiana.
O estímulo à pesquisa no âmbito do treinamento do
desporto e o incremento do potencial de técnicos e preparadores físicos em valerem-se do conhecimento produzido
para aumentar o desempenho e a segurança de seus atletas é
aspecto importante de uma política desportiva colocada na
perspectiva do longo prazo. Afinal, há que se superar a fase em
que festejamos como se fossem pérolas do desporto brasileiro
os resultados de atletas que treinam em outros países, sendo
treinados por técnicos cuja formação e atividades se deram
em realidades completamente diversas da nossa. Na verdade,
com isso reafirma-se o fracasso do Brasil em fomentar uma
política desportiva que frutifique por nossas próprias virtudes.
A Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício congratula-se com o Rio de Janeiro e com o Brasil de forma geral
pelo expressivo significado de sua indicação como sede olímpica. Partindo da premissa que isso não basta, porém, para a
construção de um legado para as gerações futuras, coloca-se
também à disposição dos responsáveis pela organização dos
Jogos Olímpicos para todo o apoio que se considere possa
ela oferecer. Temos a certeza de que, juntos, olharemos um
dia para trás na certeza de que aproveitamos essa oportunidade para alavancar o desporto nacional, aumentando a
oportunidade de acesso à sua prática aos brasileiros de forma
geral e proporcionando, enfim, as condições de o atleta de
rendimento desenvolver ao máximo seu potencial sem ter de
partir para centros mais desenvolvidos.
176
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Artigo original
Lesões no surfe em São Francisco do Sul/SC
Surf injuries in São Francisco do Sul/SC
Alberto Sumiya, M.Sc.*, Rafael Fernando Cezário**, Alexandre Aguiar Wolanski**, Newton Nogueira Henriques**
*Professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), **Acadêmicos do curso de Fisioterapia, Associação
Catarinense de Ensino (ACE – SC)
Resumo
Abstract
O surfe é um esporte amplamente conhecido, no qual o número de adeptos tem crescido mundialmente, fato que leva concomitantemente ao aumento da incidência de lesões. O objetivo
deste trabalho foi identificar as principais lesões e suas causas, os
segmentos corporais mais acometidos e a proporção daqueles que
adentraram no processo reabilitativo. A metodologia empregada para
a pesquisa foi descritiva, com utilização de questionário estruturado
de 16 perguntas, aplicado a 46 praticantes masculinos. As lacerações
foram o tipo de lesão mais citado (39,59%), seguidas por entorses
(18,75%), luxações (12,50%). Os segmentos corporais mais acometidos foram o joelho (22,45%), pé (18,37%), perna (14,30%),
tornozelo (12,24%), ombro (10,20%). Conclui-se que a maioria
dos entrevistados (86,96%) já sofreu algum tipo lesão decorrente da
prática do surfe, e que os membros inferiores são os locais de maior
predominância de lesões.
The surf is a widely known sport, in which the number of fans
increased worldwide, a fact that brings together the increasing incidence of injuries. The aim of this study was to identify the major
injuries and their causes, the body segments most affected and the
proportion of those who needed rehabilitation. The methodology
used for the research was descriptive, using structured questionnaire
of 16 questions with 46 male practitioners interviewed. The results
showed that lacerations were the most cited type of injury (39.59%),
followed by sprains (18.75%), dislocations (12.50%). The body
segments most affected were the knee (22.45%), foot (18.37%),
leg (14.30%), ankle (12.24%), shoulder (10.20%). We concluded
that the majority of respondents (86.96%) have suffered some
type of injury, and report lower limbs as the region of the highest
incidence of injury.
Palavras-chave: epidemiologia, lesões do esporte, lesões no
surfe, fisioterapia.
Key-words: epidemiology, sports injuries, surf injuries, physical
therapy.
Endereço para correspondência: Alberto Sumiya, Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 3 Vila Carli 85040-080 Guarapuava PR,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
O surfe é um esporte popular apreciado nas praias de 5
continentes tanto no nível amador quanto no competitivo. A
sua prática cresceu na última década e a indústria que a move
se tornou um negócio multimilionário. Dado que atrai mais
participantes a cada dia na esperança de altos ganhos quando se
atinge um alto nível. O Brasil, os Estados Unidos e a Austrália
são as três maiores potencias do surfe no mundo. No Brasil
estima-se aproximadamente 2,7 milhões de surfistas. Contudo,
apesar da relevância desse esporte, a literatura científica é ainda
inexpressiva, tendo poucas pesquisas nessa área [1].
Historicamente, o surfe era considerado o esporte dos reis
havaianos e somente eles podiam desfrutar do prazer de deslizar
sobre as ondas. O nascimento moderno da prática é atribuído ao
havaiano Duke Kahanamoku, que depois dos Jogos Olímpicos
de Estocolmo em 1912, dedicou-se a demonstrações por toda
a Europa, Austrália e Estados Unidos [2]. No Brasil, as primeiras pranchas foram trazidas por turistas. A primeira prancha
brasileira foi feita em 1938 pelos paulistas Osmar Gonçalves,
João Roberto e Júlio Putz, a partir da matéria de uma revista
americana, que dava medidas e o tipo de madeira a ser usada.
Competir ou treinar traz consigo um aumento simultâneo
no risco de lesões conseqüentes a busca da perfeição nas competições. A sobrecarga dos exercícios repetitivos provoca lesões
que podem estar relacionadas com as mais diversas causas, que
vão desde inabilidade técnica e audácia excessiva até as alterações climáticas e excesso de rigor na aplicação das regras. Os
mecanismos básicos envolvidos com a lesão também variam
muito e podem ser listados: o contato, a sobrecarga dinâmica
e a vulnerabilidade estrutural [4,5].
A epidemiologia tem se mostrado ao longo da história um
importante instrumento para identificar e muitas vezes prevenir lesões em diferentes situações, e hoje também no meio
esportivo, sendo muitas vezes utilizada como base para decisões
que envolvem o treino e o jogo [6]. Portanto, o objetivo deste
estudo é contribuir com a identificação das principais lesões que
acometem os praticantes de surfe, assim como suas causas e a
regiões mais acometidas, oferecendo assim uma visão detalhada
desse esporte na região de São Francisco do Sul/SC.
Material e métodos
Trata-se de uma pesquisa de campo, de caráter descritivo
e retrospectivo, sobre lesões crônicas e agudas relacionadas ao
surfe. Foi realizado primeiramente levantamento bibliográfico
para melhor entendimento do tema e, posteriormente, com o
estudo das fontes procedeu-se a elaboração de um questionário
estruturado de 16 questões (Figura 1). A coleta dos dados foi
feita no mês de setembro de 2007, em São Francisco do Sul/
SC, na localidade da Prainha. Participaram 46 praticantes de
surfe entre amadores e profissionais, somente do sexo masculino, com idade entre 19 e 44 anos, e média de prática de
9,9 anos nessa modalidade esportiva. Como procedimento
177
padrão foi explicado aos atletas as razões da pesquisa e da
utilização dos dados e, após entendimento e concordância do
entrevistado, aplicou-se o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e conseqüentemente as perguntas.
Resultados
A distribuição do número de lesões entre os participantes da
pesquisa aliada ao momento que a mesma ocorreu é apresentada
a seguir (Tabela I) juntamente com os dias de afastamento. A
análise demonstra que dos 46 sujeitos, somente 40 relataram
lesões, somente 1 elemento acusou ter se machucado durante
a competição, o que caracteriza de certa forma um público
majoritariamente amador. Em relação aos dias de afastamento
devido às lesões, evidenciou-se que 52,5% da população foi
forçada a ficar fora da prática desportiva, sendo uma maioria
expressiva mais que 14 dias de afastamento.
Tabela I - Distribuição das lesões conforme ocorrência, momento
e dias de afastamento.
Sofreu
lesão
sim
não
n
40
6
Momento da
lesão
Treinamento
Competição
n
Afastamento
n
39
1
1 a 7 dias
8 a 14 dias
> 14 dias
Não houve
2
4
15
19
Observou-se um total de 48 lesões, salientando-se que as
lacerações seguidas pelas entorses e luxações tiveram maior
caracterização. A localização topográfica das lesões marcou a
predominância dos membros inferiores (Tabela II). As dores
mencionadas como lesão referem-se a lesões sem definição
clínica por profissional especializado, mas que em contrapartida possui localização.
Tabela II - Distribuição das lesões segundo o tipo e a localização
segmentar.
Tipo de lesão
Laceração
Entorse
Luxação
Dor aguda
inespecífica
Dor crônica
inespecífica
Distensão
muscular
Dor muscular
Total
n
%
Localização da
lesão
19 39,59 Joelho
9
18,75 Pés
6
12,50 Perna
4
8,33
Tornozelo
n
%
11
9
7
6
22,45
18,37
14,30
12,24
4
8,33
Ombro
5
10,20
3
6,25
Coluna lombar
4
8,16
3
6,25
Cotovelo
Braço
Coluna cervical
Face
Coxa
Total
3
1
1
1
1
49
6,12
2,04
2,04
2,04
2,04
100
48 100
178
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Quanto aos agentes causais salienta-se que o impacto contra
a própria prancha foi o mecanismo de lesão mais presente,
seguidos pela virada e remada, nos quais a altura da onda estava para a maioria dos praticantes entre 0,5 e 1m (Tabela III).
Desses que sofreram lesões somente 10 submeteram-se a
processo reabilitativo, o que é preocupante do ponto de vista
da prevenção de novas lesões, pois a tendência à alteração
do gesto desportivo pode predispor a cronificações, principalmente se levarmos em consideração que quase 50% do
total, independente da reabilitação ou não, voltaram à prática
sintomáticos (Tabela IV).
Tabela III - Distribuição das lesões segundo a manobra e altura
da onda.
Manobra da lesão
Impacto contra a
prancha
Virada
Remada
Manobras aéreas
Peixinho
Subida na prancha
Floater
Impacto contra surfista/banhista
Tubo
Outras
n
13
%
29,54
Altura da onda
Até 0,5 m
n
15
9
6
3
3
3
3
1
20,45
13,64
6,81
6,81
6,81
6,81
2,27
Até 1 m
> 1 metro
Não especificou
19
5
1
1
2
2,27
4,54
Tabela IV - Distribuição dos indivíduos segundo processo de reabilitação.
Fisioterapia n
Sim
Não
N° sessões
10 1 a 10
30 11 a 20
Mais de 20
Não Informou
n
2
2
5
1
Retorno às
atividades
Sintomático
Assintomático
n
16
24
Discussão
Os critérios de catalogação do conceito de lesão nos
esportes, assim como os métodos investigativos encontram
ainda dificuldades para estabelecerem protocolos adequados
ao delineamento de diferentes estudos [7]. Contudo, de
acordo com o modelo multifatorial de causalidade de lesões
musculares, hoje vastamente aceito, é fundamental a aplicação
de medidas de proteção e prevenção específicas [8].
Nathanson et al. [9], em um estudo realizado com 1348
indivíduos, identificaram a freqüência, o padrão e o mecanismo das lesões no surfe. Relataram que havia 1237 lesões
agudas e 477 crônicas. As lacerações responderam por 42%
das lesões agudas, seguidas por 13% de contusões, 12% de
entorses e 8% de fraturas. O contato com a própria prancha
foi o mecanismo de lesão mais citado, perfazendo 55% do
total, com a prancha de outro surfista a ocorrência foi de 12%
e com o fundo do mar de 17%. Manobras de saída e de virada
apresentaram 16% de ocorrência. Nathanson et al. [10], em
outra pesquisa, verificaram os mesmos critérios levando em
consideração também os fatores de risco em uma população
de 32 competidores entre profissionais e amadores. Relataram
116 lesões da quais 89 ocorreram durante as competições.
Acrescentaram ainda que ondas no nível da cabeça ou mais
altas, somadas as condições de surfar em regiões de rochosas
ou perto de recifes ocasionam mais lesões do que aqueles lugares com fundo de areia. Nesse estudo as entorses mostraram
maior índice de lesão com 45%, sendo os membros inferiores
o local mais acometido, lacerações 35%, fratura ou luxações
11% e contusões diversas 10%.
Taylor et al. [11] analisaram lesões agudas e deficiências
crônicas em praticantes de surfe nas praias de Victoria na
Austrália. Participaram 646 indivíduos, 145 surfistas relataram 168 lesões agudas. O impacto com a própria prancha
ou outro surfista (36,3%) continuou sendo o mecanismo
de maior causa das lesões, o fundo do mar contribuiu com
17,9%. As lacerações (46,4%), entorses (28,6%), luxações
(10,7%), fraturas (8,9%), permaneceram no topo da lista
das lesões, assim como os membros inferiores (45,8%) como
localidade das mesmas, seguida da cabeça e face (26,2%). Os
que mencionaram deficiências crônicas eram problemas de
dores musculares e articulares, associadas também à rigidez.
Steinman et al. [12], no Brasil, ofereceram uma das primeiras visões sobre esse esporte. Por meio de um levantamento
abrangente, montaram um banco de dados, do qual 930
praticantes relataram 927 lesões que necessitaram atenção
médica ou que impediram a prática do surfe por um ou mais
dias em um período de três anos. A maioria das lesões foi de
natureza traumática (82,5%) e ocorreu durante a prática do
surfe recreacional (96,2%). As lesões mais comuns foram as
lacerações (44%), as contusões (16,9%) e as lesões músculoligamentares (15,5%); 38% das lesões atingiram os membros
inferiores, 17,9% os membros superiores e 15,6% a cabeça.
Base et al. [1] verificaram a ocorrência de lesões relatadas
por surfistas profissionais brasileiros, integrantes do circuito
brasileiro. Participaram do estudo 32 surfistas profissionais
que relataram 112 lesões. O ferimento corto-contuso foi
a lesão de maior ocorrência (33,9%), seguido das entorses
(25,9%), das contusões (14,2%), dos estiramentos musculares
(12,5%), das queimaduras (8,0%), das fraturas (5,3%).
Observa-se que existe similaridade nos resultados encontrados nesta pesquisa com os estudos citados acima,
quando comparamos os tipos de lesões e a predominância
regional delas. Portanto, as lacerações, seguidas pelas entorses e contusões tiveram maior relevância no contexto geral.
Os membros inferiores são os segmentos mais acometidos e
reflete os achados encontrados em nosso estudo. Excetuando
as lacerações, observa-se que as lesões musculares e ligamentares apresentadas juntas representam uma proporcionalidade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
significativa e que talvez sejam responsáveis pelos afastamentos
mais prolongados na amostra.
A gravidade das lesões pode ser considerada leve e talvez
isso tenha relação com a altura da onda que quanto mais alta
mais predispõem a queda dependendo da perícia técnica do
praticante. A população estudada, na sua grande parte, não
passou da altura de 1 metro. Outra característica a salientar é
o fundo do mar brasileiro que é basicamente de areia.
Jekel et al. [13] alegam que as lesões musculares são as
que com maior freqüência se apresentam e se tratam em medicina desportiva, responsáveis por um percentual de 42%,
seguido por 23% das lesões ligamentares. Segundo Armstrong
[14] e Smith [15], nessa instância a lesão pode parecer parte
integrante do processo de treinamento e da competição. O
fato é que para atletas altamente treinados pode haver algum
prejuízo ocasional, o qual quando exige tratamento, o mesmo
não parece requisitar nada além de um apropriado período de
recuperação. O baixo número de afastamentos e a presença
fraca dos praticantes do nosso estudo na reabilitação ou volta
sintomática a prática do esporte pode ter relação, portanto,
com essa constatação.
O joelho como visto neste estudo é a região mais afetada
e certamente a articulação mais exposta a lesões ligamentares, pois além de servir de apoio, sofre mudanças bruscas de
direção quando do gesto esportivo [16,17].
Os mecanismos de lesão mais citados coincidem com os
que são relatados por Nathanson [9] e Taylor [11], sendo
encontrados resultados próximos para impacto contra a própria prancha ou outro indivíduo. O que justifica, na visão
desses autores, a indicação do uso de materiais protetores e
acessórios diversos. O que nos faz pensar nesse caso nos fatores
externos relacionados a esse esporte como vento, temperatura,
e condições da onda.
Conclusão
Os resultados permitiram apontar que a prática do surfe
provoca lesões agudas e crônicas, e mesmo o hábito de realizar aquecimentos e alongamentos não são suficientes para a
prevenção de novas lesões. Foi observado um predomínio de
lesões em membros inferiores de caráter leve, considerando-se
o tempo de afastamento e o retorno que foram razoavelmente
curtos.
179
O aparecimento de lesões, portanto, é um evento multifatorial, no qual o bom rendimento esportivo vai ao encontro
do trabalho em equipe. Sugerimos mais estudos, já que a literatura na área é escassa, e esses possam levar em consideração
a biomecânica do esporte.
Referências
1. Base LH, Alves MAF, Martins EO, Costa RF. Lesões em surfistas
profissionais. Rev Bras Med Esporte 2007;13(4):251-3.
2. Mendez-Villanueva A, Bishop D. Physiological aspects of
surfboard riding performance. Sports Med 2005;35(1):55-70.
3. Pedrinelli A. Aspectos preventivos no esporte. Âmbito Med
Desp 1997;3(30):15-8.
4. Safran MR, McKeag DB, Van Camp SP. Manual de medicina
esportiva. Barueri: Manole; 2002.
5. Hillman SK. Avaliação, prevenção e tratamento imediato das
lesões esportivas. Barueri: Manole; 2002.
6. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Júnior JN, Padovani CR.
Lesões desportivas na elite do atletismo brasileiro: estudo a partir
de morbidade referida. Rev Bras Med Esporte 2005;11(1):43-7.
7. Vital R, Silva HGPV, Souza RPA, Nascimento RB, Rocha EA,
Miranda HF et al. Lesões traumato-ortopédicas em atletas
paraolímpicos. Rev Bras Med Esporte 2007;13(3):165-8.
8. Nathanson A, Haynes P, Galanis D. Surfing injuries. Am J
Emerg Med 2002;20(3):155-60.
9. Nathanson A et al. Competitive surf injuries: a prospective
surfing-related injuries among contest surfers. Am J Sports
Med 2007;35:113-7.
10. Taylor DM, Bennett D, Carter M, Garewal D, Finch CF. Acute
injuries and chronic disability resulting from surfboard riding.
J Sci Med Sport 2004;7(4)429-37.
11. Steinman J, Vasconcelos EH, Ramos RM, Botelho JL, Nahas
MV. Epidemiologia dos acidentes no surfe no Brasil. Rev Bras
Med Esporte 2000;6(1):9-15.
12. Jekel JF, Elmore JG, Katz DL. Epidemiologia, estatística e medicina preventiva. Porto Alegre: Artes Médicas; 1999.
13. Armstrong RB. Initial events in exercise, muscle damage and
fatigue. Med Sci Sports Exer 1990;22(4):429-35.
14. Smith LL. Acute inflammation: the underlying mechanism
in delayed onset muscle soreness? Med Sci Sports Exerc
1991;23(5):542-51.
15. Coz JL, Chos D. Mesoterapia e traumatologia esportiva. 2a ed.
São Paulo: Andrei; 1989.
16. Boschin LC, Cohen M. Artrotomia “versus” artroscopia: avaliação pós-operatória da reconstrução do LCA. Rev Bras de
Ortop 2002;37(1/2):23.
180
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Figura 1 - Questionário.
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
15
16
Qual é o seu nome?
Qual é a sua idade?
Quanto tempo você pratica o surf?
Qual é a freqüência semanal de treinos?
( ) 1x semana ( ) 2x semana ( ) 3x semana ( ) 4x semana
( ) 5x semana ( ) 6x semana ( ) 7x semana
Realiza algum tipo de aquecimento antes do treino ou competição? ( ) Sim ( ) Não
Sofreu algum tipo de lesão decorrente da prática do surf? ( ) Sim ( ) Não
Em que momento ocorreu essa lesão? ( ) Campeonato ( ) Treinamento
Houve afastamento?
( ) Não houve afastamento
( ) Houve afastamento de 1-7 dias
( ) Houve afastamento de 8-14 dias
( ) Houve afastamento maior ou igual há 15 dias
Qual o tipo de lesão ocorreu?
( ) Distensão Muscular
( ) Dor aguda Inespecifica
( ) Dor crônica inespecifica
( ) Fratura
( ) Dor Muscular
( ) Luxação
( ) Hipotermia
( ) Queimadura
( ) Outra. Qual? _______________________________
( ) Laceração
( ) Entorse
Qual a localização dessa lesão ou sintoma?
( ) Abdômen
( ) Mão
( ) Tórax anterior
( ) Punho
( ) Coxa
( ) Antebraço
( ) Joelho
( ) Cotovelo
( ) Perna
( ) Braço
( ) Tornozelo
( ) Ombro
( ) Pé
( ) Coluna Cervical
( ) Pelve
( ) Coluna Torácica
( ) Face
( ) Coluna Lombar
Qual o momento em que ocorreu a lesão?
( ) Manobras aéreas
( ) Impacto contra a prancha
( ) Peixinho
( ) Contato com o fundo mar
( ) Floater2
( ) Impacto com outro surfista ou banhista
( ) 360°
( ) Durante aquecimento
( ) Remanda
( ) Virada
( ) Outra. Qual? _______________________________
( ) Tubo
( ) Subida na prancha ou drop1 ou saída da água
Qual a altura aproximada da onda quando se lesionou?
( ) até 0,5m altura
( ) até 1m altura
( ) > 1m altura
Realizou Fisioterapia? ( ) Sim........( ) Não
Por quantas sessões realizou fisioterapia?
( ) 1 a 10 sessões
( ) 11 a 20 sessões
( ) Mais de 20 sessões
Retornou as atividades como? ( ) Sintomático ( ) Assintomático
1 É a entrada na onda – não é considerada uma manobra do ponto de vista do surfe de competição, porém é o primeiro passo no aprendizado.
2 Manobra que consiste em deslizar a prancha sobre a onda, retornando a mesma após ganhar velocidade e passar para outra sessão da onda.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
181
Artigo original
Comparação dos testes de campo de 2.400 m de Cooper
e 3.200 m de Weltman em homens saudáveis
Comparison between 2.400 m Copper and 3.200 m Weltman
field tests in healthy men
Matheus Santos Cerqueira, Esp.*, Guilherme Tucher, M.Sc.**, João Carlos Bouzas Marins, D.Sc.***
*Mestrando em Aspectos Biodinâmicos do Movimento Humano pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Professor da Fundação
Universitária de Itaperuna (FUNITA), **Professor da Fundação Universitária de Itaperuna (FUNITA), Professor da Faculdade de
Minas (Faminas), ***Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Resumo
Abstract
Objetivos: Comparar as respostas de VO2máx, tempo de duração
e o comportamento da velocidade e Freqüência Cardíaca (FC) ao
longo dos testes de corrida de 2.400 m e 3.200 m. Material e métodos:
Noventa e sete indivíduos do sexo masculino (23,28 ± 2,93 anos)
realizaram os dois protocolos de corrida. Para determinar as diferenças entre VO2máx, velocidade média e tempo de duração optou-se
pelo teste t de Student. Para a diferença da FC e velocidade por volta
em cada teste, utilizou-se da Anova com teste complementar post
hoc de Tukey. Considerou-se a significância de p < 0,05. Resultados:
Os resultados de VO2máx, velocidade média e tempo de duração
apresentaram diferenças significativas, onde o VO2máx e velocidade
foram maiores no teste de 2.400 m e o tempo de duração foi maior
no teste de 3.200 m. Em ambos os testes, a velocidade apresentou
um declínio a cada volta, com um ligeiro aumento apenas na última
volta, enquanto que a FC apresentou uma evolução a cada volta.
Conclusão: Os resultados de VO2máx, tempo de duração e velocidade
apresentaram diferença entre os testes. Em ambos os testes, a FC
apresentou um comportamento de elevação a cada volta, enquanto
a velocidade apresentou um declínio.
Objectives: This study aims to compare VO2max responses, time
intervals and the behavior of the speed as well as the heart rate (HR)
during the running tests of 2.400 m and 3.200 m. Methods: Ninety
seven male individuals aged 23,28 ± 2,93 years took the two running
protocols. In order to determine the differences among VO2max,
average speed and time intervals, the T test of student was used.
To check heart rate and running speed in each test Anova was used
along with post hoc of Turkey complementary test (considering p <
0.05). Results: The results of VO2max, average speed and duration time
showed significant differences, VO2max and speed were higher in the
2.400 m test and the duration time was greater in the 3.200 m one.
Both tests showed a decline in each lap and a slight increase in the
last one while the HR showed an increase in each lap. Conclusion:
The results of VO2max duration time and speed showed difference
between the tests. Whereas HR presented an increase at each lap
in both tests, the speed presented the opposite.
Key-words: heart rate, effort test, healthy men, VO2max.
Palavras-chave: freqüência cardíaca, teste de esforço, homens
saudáveis, VO2máx.
Endereço para correspondência: Matheus Santos Cerqueira, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Educação Física,
LAPEH 36571-000 Viçosa MG, Tel: (31) 3899-2076, E-mail: [email protected]
182
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
Testes de campo são formas alternativas de avaliação do
consumo máximo de oxigênio (VO2máx), que tem como vantagens o baixo custo, praticidade, além de não necessitarem
de equipamentos sofisticados [1]. Cooper [2] e Weltman et
al. [3] propuseram testes de corrida de campo com distâncias
diferentes que estimam de forma indireta o VO2máx. Para tanto,
os protocolos determinam apenas que o avaliado percorra a
distância determinada no menor tempo possível e que seja
registrado o tempo total da corrida, que será utilizado para o
cálculo do VO2máx. Contudo, tanto as diferenças de distâncias
quanto as equações que estimam o VO2máx dos testes podem
proporcionar diferenças entre os protocolos.
Diversas pesquisas foram realizadas envolvendo testes físicos de campo, entre elas pode-se citar estudos comparando a
resposta da freqüência cardíaca máxima (FCM) entre os testes
de campo de 2.400 m e 3.200 m [4]; comparando a resposta
da FCM do teste de 2.400 m com um teste de corrida em
esteira [1]; comparando o VO2máx entre dois testes de campo
de Cooper de 2.400 m e 12 minutos [5]; analisando o VO2máx
entre testes de campo de Cooper de 12 minutos, corrida de
vai e vem de Léger e em esteira em laboratório com análise de
gases [6]. Outros exemplos de estudos envolvendo testes de
campo foram os de Silva et al. [7] que buscaram determinar
a intensidade de treinamento aeróbico a partir do teste de
campo de corrida de 12 minutos de Cooper e Cantenhede et
al. [8] que analisaram o comportamento do lactato e glicose
durante teste de Cooper de 12 minutos. Contudo não foram
encontrados estudos que comparassem o teste de 2.400 m
frente ao de 3.200 m.
Apesar dos testes de corrida de 2.400 m e 3.200 m terem o mesmo objetivo, que é avaliar a capacidade aeróbica
(VO2máx), eles podem apresentar diferentes comportamentos
para algumas variáveis. Avaliando minuciosamente os testes
propostos por Cooper [2] e Weltman et al. [3], existem dados
importantes sobre o avaliado que muitas vezes são negligenciados. Informações como a velocidade de corrida, evolução
da freqüência cardíaca, tempo de duração e adequabilidade
do teste podem auxiliar na interpretação dos testes de forma
a indicar qual deles é mais apropriado para determinadas
populações.
Assim, os objetivos deste estudo foram: a) comparar as
respostas de VO2máx obtidas nos testes de campo de 2.400 m
de Cooper [2] e 3.200 m de Weltman et al. [3]; e b) analisar e
comparar as respostas dos testes quanto ao tempo de duração
e o comportamento da velocidade e FC ao longo do teste.
Material e métodos
Amostra
Participaram do estudo noventa e sete indivíduos do
gênero masculino, estudantes universitários de Educação
Física, com idade de 23,28 ± 2,93 anos (média ± desvio padrão), variando entre 19 e 38 anos, aparentemente saudáveis
e fisicamente ativos. Os avaliados se apresentaram como voluntários para a participação no estudo. A tabela I apresenta
as características básicas do grupo avaliado quanto à massa
corporal, estatura e índice de massa corporal (IMC).
Tabela I - Características dos avaliados participantes do estudo.
Parâmetro
Idade (anos)
Massa corporal (kg)
Estatura (cm)
IMC (kg/m2)
Média ± DP
23,28 ± 2,93
74,79 ± 9,61
177,71 ± 6,66
23,62 ± 2,20
Procedimento experimental
Antes de iniciarem os testes, os avaliados passaram por uma
triagem pré-atividade respondendo ao Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q) proposto por Thomas et al.
[9]. Os candidatos também preencheram um questionário de
risco coronariano do Michigan Heart Association [10], além de
um terceiro questionário padrão adotado pelo LAPEH [11].
Qualquer resposta positiva no questionário Par-Q, escore igual
ou superior a risco médio, ou a presença de algum fator de risco
cardíaco ou ortopédico, o candidato seria excluído do estudo.
Também foram feitas orientações aos avaliados para a realização
dos testes, seguindo as normativas da SBC [12].
O estudo obedeceu aos critérios de ética em pesquisas com
humanos, resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996 (CNS).
Todos os participantes foram informados por um termo de
consentimento sobre os riscos e benefícios envolvidos na realização dos testes, devendo assiná-lo para participação no estudo
e eram livres para abandonar a pesquisa em qualquer momento.
O estudo foi conduzido na Universidade Federal de Viçosa
(UFV) com os testes realizados em pista oficial de 400 m de
atletismo. Os sujeitos foram avaliados quanto ao desempenho
nos testes de campo de 2.400 m de Cooper [2] e de 3.200
m de Weltman et al. [3] para a obtenção da velocidade e FC
por volta, além do cálculo do VO2máx em cada um dos testes.
A ordem de realização dos testes de campo ocorreu de forma
aleatória e com intervalo entre os testes de uma semana. Os
indivíduos tinham a possibilidade de realização do teste na
parte da manhã ou da tarde, tendo que realizar o segundo
teste no mesmo horário do primeiro.
Em ambos os testes, o aquecimento correspondeu a 3
voltas na pista de atletismo totalizando 1.200 m. Na primeira
volta, realizaram uma caminhada rápida sendo a FC sugerida
para não exceder 120 bpm. A segunda volta foi em ritmo de
trote com a FC mantida entre 120 e 140 bpm; já a última volta
em ritmo de corrida lenta, em que a FC deveria ser mantida
entre 140 e 160 bpm. Na aplicação do teste, os indivíduos
foram orientados a manterem um ritmo constante máximo,
suficiente para terminar o teste, procurando evitar sprints
ou desacelerações acentuadas. Ao fim do teste foi realizado
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Foram empregados dois protocolos máximos no campo: o
protocolo de 2.400 m de Cooper [2] e o protocolo de 3.200
m de Weltman et al. [3]. Ambos os testes seguem a mesma
metodologia, que corresponde a correr o mais rápido possível a
distância determinada, sendo registrado o tempo para execução
do teste. Para o cálculo do VO2máx, empregou-se as seguintes
equações: no teste de 2.400 m utilizou-se a equação de estimativa
do VO2máx do ACSM [13] para o teste de 2.400 m [VO2máx =
483/Tempo(min)+3,5] e para o teste de 3.200 m de Weltman
et al. [3] a equação [VO2máx = 118,4 – (4,77* Tempo(min)].
Materiais
Cada indivíduo realizou os testes utilizando um monitor
de freqüência cardíaca (Polar®) modelo A1 com o acompanhamento de um anotador que registrava o tempo e a FC por volta.
Para o registro da massa corporal foi utilizada uma balança
(Welmy®), e um estadiômetro (Sanny®) para a medição da
estatura.
Figura 1 - Comportamento da FC e da velocidade em cada volta
ao longo do teste de 2.400 m.
195
a,b,c
235
a,b
190
a
185
230
a
225
A
180
220
FC
175
170
a,b,c,d 240
Velocidade (m/min)
Protocolos de testes
De acordo com a idade média dos avaliados e os valores de
VO2máx obtidos nos testes, o nível de condicionamento físico
dos avaliados para ambos os testes é classificado como “Bom”,
de acordo com a tabela proposta pelo AHA [14].
As Figuras 1 e 2 apresentam o comportamento da FC e
da velocidade em cada volta ao longo de cada teste.
Frequência cardíaca (bpm)
uma “volta à calma”, que correspondeu a uma volta na pista
caminhando em ritmo livre.
183
1
2
Velocidade
3
4
Voltas
215
5
210
6
As letras minúsculas representam diferença significativa da FC das voltas
com as demais com os seguintes significados: a - volta 1; b - volta 2;
c - volta 3; d -volta 4.
A - significa diferença da velocidade da volta 1 com as demais.
Análise estatística
Resultados
Figura 2 - Comportamento da FC e da velocidade em cada volta
ao longo do teste de 3.200 m.
190
a
185
a,b
a,b,c,d,e 240
a,b,c,d
a,b,c
235
a,b,c
Velocidade (m/min)
195
Frequência cardíaca (bpm)
Foram utilizados os procedimentos da estatística descritiva, como média, desvio-padrão, máximo e mínimo dos
parâmetros avaliados. Para provar o grau de normalidade
utilizou-se do teste de Kolmogorov-Smirnov. O teste T de
Student buscou diferença entre os protocolos de Cooper
e Weltman para o VO2máx, velocidade média de corrida e
tempo total de duração dos testes. Para a diferença da FC e
velocidade por volta em cada teste, utilizou-se da Anova com
teste complementar post hoc de Tukey. Em todos os casos
considerou-se a significância de p < 0,05. O pacote estatístico
utilizado foi o SPSS 16.0 para Windows.
230
a
225
180
220
175
A
170
165
FC
1
2
215
Velocidade
3
4
5
Voltas
6
7
8
210
As letras minúsculas representam diferença significativa da FC das voltas
A Tabela II apresenta os resultados de VO2máx, velocidade
e tempo de realização dos testes de Cooper de 2.400 m e
Weltman et al. de 3.200 m.
com as demais com os seguintes significados: a - volta 1; b - volta 2; c volta 3; d - volta 4; e - volta 5.
A - significa diferença da velocidade da volta 1 com as demais.
Tabela II - Análise estatística dos parâmetros dos testes de corrida de 2.400 m e 3.200 m.
VO2máx Cooper1
VO2máx Weltman1
Velocidade Cooper (m/s)
Velocidade Weltman (m/s)
Tempo Cooper (min)
Tempo Weltman (min)
Média
49,04
47,77
3,77
3,64
10’ 45”
14’ 48”
* Considerou-se p < 0,05; 1VO2máx em ml(kg.min)-1
Mínimo
32,28
19,90
2,38
2,58
8,75
11,95
Máximo
58,70
61,40
4,57
4,46
16,78
20,65
Amplitude
26,42
41,5
2,19
1,88
8,03
8,7
DP
5,00
7,67
0,41
0,37
1,26
1,60
P*
Resultado
< 0,05
Diferentes
0,02
Diferentes
< 0,05
Diferentes
184
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Nos dois testes, as figuras demonstram uma redução
da velocidade a cada volta, com exceção da última volta
que demonstra uma aceleração em relação à volta anterior.
Entretanto a velocidade de cada volta foi analisada estatisticamente, e os resultados demonstram que só houve diferença
significativa entre as voltas 1 e 5 do teste de 2.400 m e entre
as voltas 1 e 7 do teste de 3.200 m., ou seja, entre a primeira
e a penúltima voltas de cada teste, sendo este modelo obtido
em ambos os testes.
Discussão
Quanto ao VO2máx, os testes apresentaram diferença significativa, e com uma diferença entre os valores médios de
2,03%, com o maior valor observado no teste de 2.400 m..
Entretanto não é possível inferir qual teste proporcionou o
valor exato de VO2máx, pois não foi realizado um teste com
análise direta de gases para determinar o valor real dos avaliados, sendo esta uma limitação do estudo.
A média dos resultados obtidos no teste de 2.400 m.,
que aponta um VO 2máx de 48,75 ml(kg.min) -1, foram
superiores aos observados por Cerqueira et al. [15] com
VO2máx de 45,00 ml(kg.min)-1 utilizando o mesmo teste e
Pereira e Graup [16] que observaram um VO2máx de 44,24
ml(kg.min)-1 utilizando o teste de 12 minutos, ambos com
populações semelhante a deste estudo. O que demonstra
que estes resultados indicam uma consistência do perfil de
VO2máx neste grupo avaliado.
Já para o teste de Weltman et al. o valor do VO2máx (47,77
ml(kg.min)-1) foi inferior ao observado por Lima et al. [17]
(58,5 ml(kg.min)-1) que aplicaram o mesmo teste em jogadores de futsal com idade média de 18,6 anos. Isto é positivo
tendo em vista que se pode esperar que um grupo de atletas
tenha um VO2máx superior ao de não atletas, demonstrando,
assim, que o teste pode ser sensível para indicar as diferenças
entre os grupos populacionais.
Analisando o tempo de duração dos testes e considerando
que o tempo de duração ideal de um teste físico deve estar
compreendido entre oito a quinze minutos [11,18-20], podese fazer algumas considerações dos resultados obtidos nos
testes. No protocolo de 2.400 m., o tempo médio dos testes
foi de 10 minutos e 45 segundos. Nenhum avaliado ficou
abaixo do tempo mínimo de 8 minutos e apenas 1 avaliado
(1,03%) ultrapassou o limite superior de 15 minutos. Isto
indica que o teste de 2.400 m está totalmente adequado para
o perfil populacional avaliado neste estudo, homens em idade
universitária, aparentemente saudáveis e fisicamente ativos.
Já para o protocolo de 3.200 m, a média de duração dos
testes foi de 14 minutos e 48 segundos. Também neste teste
nenhum avaliado completou com um tempo inferior a faixa
limite ideal de 8 minutos. Porém, 44 avaliados (45,36%)
ultrapassaram o tempo máximo indicado como ideal de um
teste para avaliar o VO2máx. Esse teste demonstrou ser de longa
duração, sendo extremamente desgastante para a população
avaliada, de forma que a sua adoção para um grupo com estas
características deve ser feito de forma muito criteriosa.
Estes resultados apontam o teste de 2.400 m como um
teste que estabelece uma distância suficiente para que os
avaliados possam concluí-lo com um tempo compreendido
dentro da faixa considerada ideal de 8 a 15 minutos, para esta
população estudada.
Considerando o limite superior de 15 minutos para a
realização de um teste cardiorrespiratório, é possível determinar um padrão de referência do nível de condicionamento
mínimo indicado para um sujeito realizar os testes no limite
de quinze minutos. Para o teste de 2.400 m. recomenda-se
que o avaliado tenha um VO2máx igual ou superior a 35,5
ml(kg.min)-1, enquanto que para o teste de 3.200 m o valor
de referência do VO2máx é de 46,85 ml(kg.min)-1. Desta forma,
pode-se estabelecer que a indicação do teste de 2.400 m de
Cooper abrange uma amplitude maior de indivíduos aptos
para realizar o teste com o perfil da amostra estudada. Já o
teste de 3.200 m de Weltman et al. é mais indicado para indivíduos atletas com elevada capacidade aeróbica ou sujeitos
não atletas, porém bem treinados e que tenham um maior
nível de condicionamento físico.
Com relação à velocidade, os testes seguiram uma tendência inversamente proporcional entre a velocidade e a distância
percorrida. Para uma menor distância dos testes, maior a
velocidade média e máxima alcançadas. Estas diferenças de
valores de velocidade média entre os testes mostraram-se
significativas (p = 0,023) e que pode ser explicada pelo fato
de que, para a realização de um teste mais longo (3.200 m),
o indivíduo acaba tendo um maior desgaste físico, tendo que
controlar mais a velocidade da corrida em um ritmo mais
lento para conseguir finalizar o teste.
Comparando a velocidade de corrida de todas as voltas
entre si, foi constatado uma diferença significativa apenas
entre as volta 1 e 7 no teste de 3.200 m e 1 e 5 no teste de
2.400 m.. Nos dois testes ocorreu a mesma situação: a velocidade da 1ª volta foi a mais rápida, ocorrendo uma ligeira
redução da velocidade a cada volta até a penúltima volta, que
era a mais lenta e que apresentava valores significativamente
inferiores apenas ao da 1ª volta (mais rápida). Em seguida,
durante a última volta, ocorria uma aceleração em relação à
volta anterior, provocado pela busca de melhor rendimento
físico no teste. Em termos gerais, a velocidade manteve-se
em um ritmo constante durante todo o teste, com pequenas
oscilações na penúltima e última volta.
É interessante observar que em ambos os testes ocorreu
uma tendência de redução da velocidade obtida na primeira
volta frente às voltas que a sucederam, com exceção da última
volta, na qual ocorreu uma aceleração destacada, sendo isto,
apesar da fadiga instalada, causada provavelmente pelo fator
motivação, visando aprimorar o resultado final. Entretanto,
analisando estatisticamente a velocidade de cada volta, foi
demonstrado que apenas a primeira e a penúltima volta
apresentaram diferenças significativas em ambos os testes. Em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
síntese, o que ocorria era que a primeira volta dos testes era
a mais rápida, com redução gradativa da velocidade a cada
volta até atingir o menor valor na penúltima volta. Apenas
neste momento, os valores de velocidade da primeira volta (a
mais rápida) e a penúltima volta (a mais lenta) apresentavam
resultados diferentes estatisticamente.
Quando analisado o comportamento da FC ao longo dos
testes, foi observada uma elevação contínua e progressiva da
FC ao longo do teste. A elevação da FC a cada volta também
foi expressa, em termos estatísticos, pela diferença significativa
nos valores da FC obtida entre as voltas no Teste de Cooper,
o mesmo ocorrendo no teste de Weltman et al., conforme
apresentado nas figuras 3 e 4.
Estes resultados estatísticos permitem uma análise fisiológica, na qual fica claro que durante os testes não ocorre um
steady state clássico, mas sim uma progressão contínua da
FC. Isto ocorre provavelmente por ajustes hemodinâmicos
como o débito cardíaco, vasodilatação de áreas ativas, vasoconstricção de áreas inativas, maior necessidade de perda de
calor e fadiga muscular. Com isto, durante uma aplicação
de ambos os testes é necessário esperar as voltas finais para
registro da FCM. Outro fator que explica a elevação da FC
é pelo controle direto exercido pelo sistema nervoso autônomo, pelos seus ramos simpático e parassinpático. O ramo
parassimpático é responsável pelo controle da FC enquanto
que o ramo simpático estimula o aumento da FC [21-23].
Desta forma, nos segundos iniciais do exercício em que ocorre
elevação rápida da FC, conhecido como transiente inicial, é
mediado exclusivamente pela inibição parassimpática. Com
a continuidade do exercício ocorre ativação da atividade simpática, proporcional à intensidade do exercício e que acelera
progressivamente a FC [24].
Como limitações do estudo é possível destacar o fato de não
ter sido realizado um teste direto para análise do VO2, o que
não permite induzir qual dos dois testes estabelece o VO2máx
verdadeiro, ou se os registros são sub ou superestimados. Também não foi feita a dosagem de lactato ao final da prova, o que
poderia contribuir para indicar a intensidade do teste.
Conclusão
Os resultados de VO2máx apresentaram diferenças entre os
testes, não sendo, entretanto, possível inferir qual o teste que
proporcionou o valor exato de VO2máx, pois não foi realizado
um teste com análise direta de gases para determinar o valor
real dos avaliados.
Para a velocidade de corrida, houve diferença significativa nos resultados entre os testes, visto que o teste de 3.200
m representou uma velocidade mais baixa. Em ambos os
testes, a velocidade de corrida apresentou um declínio no
desenvolvimento do teste, ocorrendo um aumento apenas
na última volta.
Tomando como referência a indicação de tempo de duração ideal de um teste compreendido entre oito e 15 minutos,
185
o teste de 2.400 m apresentou-se como ideal para a população
testada no estudo. Também foi possível concluir que o teste de
2.400 m abrange uma maior quantidade de indivíduos, sendo
indicado para indivíduos com um nível de condicionamento
mais baixo, com um VO2máx a partir de 35,5 ml(kg.min)-1. Já
o protocolo de 3.200 m deverá ser proposto para indivíduos
com maior nível de condicionamento físico, com um VO2máx
igual ou superior a 46,85 ml(kg.min)-1.
O comportamento da FC tende a um aumento contínuo
ao longo do teste, independente do aumento da velocidade
de corrida, até atingir a FCM normalmente na última volta.
Seria interessante que este mesmo trabalho fosse realizado
com atletas de corrida para observar se ocorre o mesmo comportamento da velocidade e da freqüência cardíaca durante o
teste. Sugere-se também a aplicação em indivíduos do gênero
feminino.
Referências
1. Santos AL, Silva SC, Farinatti PTV, Monteiro WD. Respostas da
freqüência cardíaca em testes máximos de campo e laboratório.
Rev Bras Med Esporte 2005;3:177-80.
2. Cooper KH. Capacidade aeróbica. Coleção Educação Física
Mundial - Técnicas Modernas. 2a ed. Rio de Janeiro: Honor;
1972.
3. Weltman J, Seip R, Levine S, Snead D, Kaiser D, Rogol A.
Prediction of lactate threshold and fixed blood lactate concentrations from 3200-m time trial running performance in
untrained females. Int J Sports Med 1989;10:207-11.
4. Marins JCB, Fernandez MD. Comparação da freqüência cardíaca máxima por meio de provas com perfil aeróbio e anaeróbio.
Fitness e Performance Journal 2004;3:166-74.
5. Teixeira ASL, Custódio MRC, Costa ES, Matos Filho ST, Silva
EOFAF, Silva TC, et al. Comparação e classificação da capacidade aeróbica das cadetes da PMERJ e CBMERJ segundo seus
sistemas de avaliação, do exército brasileiro e Cooper. Rev Educ
Fís 2005;131:15-21.
6. Speck LM, Macedo HGC, Carvalho GB, Nunes Neto SR,
Barbosa Junior ACS, Forquim Junior WM, et al. Comparação
dos testes de Cooper e da universidade de Montreal com o teste
de medida direta de consumo máximo de oxigênio. Rev Educ
Fís 2007;136:13-9.
7. Silva EB, Gil EL, Cunha RSP. Teste de 12 minutos e intensidade
de treinamento aeróbio para militares com 18-53 anos de idade.
Rev Educ Fís 2002;126:4-9.
8. Cantanhede LAF, Alves MR, Tavares LA, Portinho PCA, La
Porta Júnior MAM, Martins MEA, et al. Análise do comportamento das curvas de lactato e glicose sanguínea em militares
do exército brasileiro durante o teste de 12 minutos. Rev Educ
Fís 2005;131:59-67.
9. Thomas S, Reading J, Shephard RJ. Revision of the Physical
Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q). Can J Sport Sci
1992;4:338-45.
10. Mcardle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do Exercício:
energia, nutrição e desempenho humano. 4a ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1998.
11. Marins JCB, Gianichi RS. Avaliação e prescrição de atividade
física: guia prático. 3a ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.
186
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
12. Sociedade Brasileira de Cardiologia. II Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Cardiologia sobre teste ergométrico. Arq Bras
Cardiol 2002;78(Supl II):1-18.
13. American College of Sports Medicine. Manual do ACSM para
avaliação da aptidão física relacionada à saúde. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2006.
14. American Heart Association. Guidelines for clinical exercise
testing laboratories. Circulation 1995;91:912-21.
15. Cerqueira MS, Rezende LS, Marins, JCB. Análise comparativa
de testes de campo para determinar o VO2 máximo em homens
saudáveis. In: XXX Simpósio Internacional de Ciências do
Esporte. São Paulo; 2007.
16. Pereira EF, Graup S. Aptidão física relacionada à saúde e ao
desempenho atlético de calouros de educação física. Revista
Digital - Buenos Aires 2007; 104:1-7.
17. Lima AMJ, Silva DVG, Souza AOS. Correlação entre as medidas direta e indireta do VO2max em atletas de futsal. Rev Bras
Med Esporte 2005;3:164-6.
18. Sharkey BJ. Condicionamento físico e saúde. 4a ed. Porto
Alegre: Artmed; 1998.
19. Neves CEB, Santos E. Avaliação funcional. Rio de Janeiro:
Sprint; 2003.
20. Pollock ML, Wilmore JL. Exercícios na saúde e na doença –
avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2a ed. Rio
de Janeiro: Medsi; 1993.
21. Almeida MB. Freqüência cardíaca e exercício: uma interpretação
baseada em evidências. Rev Bras Cineantropom Desempenho
Hum 2007;2:196-202.
22. Herdy AH, Fay CES, Bornschein C, Stein R. Importância da
análise da freqüência cardíaca no teste de esforço. Rev Bras Med
Esporte 2003;4:247-51.
23. Almeida MB, Araújo CGS. Efeitos do treinamento aeróbico sobre a freqüência cardíaca. Rev Bras Med Esporte 2003;9:104-12.
24. Ricardo DR, Almeida MB, Franklin BA, Araújo CGS. Initial
and final exercise heart rate transients: influence of gender,
aerobic fitness and clinical status. Chest 2005;127:317-28.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
187
Artigo original
Atividade física como fator de prevenção
de risco cardiovascular
Physical activity as cardiovascular risk factor prevention
Dihogo Gama de Matos*, Mauro Lúcio Mazini Filho*, Rafael Pedrosa Savóia*, André Luiz Zanella*,
Leandro Otávio Apolinário Cantaruti**, Moacir Marocolo Júnior***
*Programa de Pós-graduação Strictu Senso em Avaliação das Atividades Físicas e Desportivas, UTAD Portugal, **Programa de Pós
Graduação Lato Sensu em Musculação e Personal Trainer – UCB Barbacena/MG, ***Unipac Barbacena/MG
Resumo
Abstract
O número de pessoas com hipertensão arterial vem aumentando
a cada dia, e as doenças cardiovasculares representam, no Brasil, 32%
das causas de morte. A adoção de um estilo de vida que incorpore a
prática regular de exercícios físicos pode reduzir significativamente
os comprometimentos relacionados à hipertensão, como o diabetes,
hiperlipidemia e doenças cardiovasculares em geral. O objetivo do estudo foi revisar a literatura sobre os efeitos do exercício sobre fatores
de risco relacionados à hipertensão. Adicionalmente, apresentam-se
resultados de questionários sobre o perfil de risco de pacientes com
diagnóstico de hipertensão. Os benefícios do exercício podem ter
grande impacto sobre a saúde pública, porém, devem se inserir
dentro de um programa global de intervenção sobre os fatores de
risco cardiovasculares. Dentre alguns benefícios da atividade física
podemos citar a melhora da sensibilidade à insulina, levando a um
melhor controle glicêmico, aumento da fração HDL e diminuição
da LDL e redução de triglicerídeos sanguíneos. A composição corporal tende a melhorar, com diminuição do percentual da gordura
corporal e aumento da massa muscular. Mesmo com intensidade
de volume moderados, programas de exercício podem exercer efeito
protetor contra a doença arterial coronariana e demais causas de
mortalidade relacionadas à hipertensão. Os pacientes avaliados
exibiam evidente histórico familiar para diversos fatores de risco,
mas em sua maioria não fumavam. Quanto às atividades físicas,
grande parte a praticava, pelo menos duas vezes por semana, com
preferência pelas caminhadas.
The hypertension prevalence is increasing and in Brazil the cardiovascular diseases represent 32% of the death causes. The regular
practice of exercises may reduce the risk for the development of
health problems associated with hypertension, as diabetes, hyperlipidemia, and cardiovascular diseases in general. The purpose of the
present study was to review the literature on the possible effects of
regular exercise on the risk factors related to hypertension. Additionally, the results of questionnaires applied to hypertensive patients
to define their risk profile are presented. The benefits of exercise
practice may have a major impact on public health. However, it
must be part of a comprehensive program of intervention aiming
the reduction of cardiovascular risk factors. Some of the desirable
effects of regular exercising are: better insulin sensibility, improvement of glucose metabolism, increase of HDL and reduction of LDL
cholesterol fraction, reduction of triglyceride levels. Moreover, the
body composition probably improves, with a decrease of body fat
and increase of muscle mass. Moderate intensity and volume exercise
training may have a protective effect against coronary artery disease
and all-mortality causes related to hypertension. The evaluated
patients exhibited evident familiar history related to hypertension
risk factors, but they were mostly non smokers. Most of the patients
practiced exercise at least two times per week, and walking was the
preferred activity.
Key-words: hypertension, exercise, body composition.
Palavras-chave: hipertensão, exercício, composição corporal.
Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, Rua Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, E-mail:
[email protected]
188
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
Doenças cardiovasculares coronarianas, dislipidemias,
hipertensão, obesidade e diabetes formam um conjunto de
morbidades geralmente associadas entre si, constituindo-se
em graves problemas de Saúde Pública [1,2]. No Brasil, como
se sabe, tais morbidades são responsáveis por grande número
de mortes prematuras entre adultos. Por exemplo, em 1985,
um terço das mortes ocorridas foi provocado por causas cuja
origem se encontra nessas doenças. No que diz respeito à
população vitimada, cerca de 30% pertencia ao grupo etário
entre 20 a 49 anos de idade. No Município de São Paulo, a
proporção de mortes por essas causas foi de 37% [3].
A hipertensão arterial (HA) é considerada um dos fatores
de risco mais importantes para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares [4], representando no Brasil um dos problemas de saúde pública de maior prevalência na população,
capaz de levar ao óbito aproximadamente 40% dos indivíduos
acometidos [5]. O tratamento da HA é realizado por meio
de medicamentos e deve estar associado a uma mudança de
estilo de vida, como alterações no padrão alimentar e prática
regular de exercícios físicos [6].
No Brasil, 32,6% das causas de mortalidade foram atribuídos a comprometimentos cardiocirculatórios, constituindo-se
também na principal causa de mortes [7]. Um dos principais
fatores de risco para a doença cardíaca é a elevação crônica
da pressão arterial (PA). A redução de valores pressóricos,
mesmo em sujeitos normotensos, é um importante fator para
minimizar o risco de doença cardíaca [8]. A doença cardíaca
é a principal causa de morte nos EUA [9].
Cerca de 80% dos portadores de doença arterial coronariana (DAC) apresentam fatores de risco convencionais ou
clássicos, representados por hipertensão arterial sistêmica,
tabagismo, hipercolesterolemia, diabetes mellitus, idade
avançada, sexo masculino e antecedentes familiares, sendo
acrescentados, posteriormente, sedentarismo, estresse emocional e obesidade [10,11]. Há evidências de que o processo
aterosclerótico inicia-se na infância, progride com a idade
e exibe gravidade diretamente proporcional ao número de
fatores de risco apresentados pelo indivíduo [12], razão pela
qual se acredita que a prevenção primária das doenças cardiovasculares deve começar na infância, principalmente pelo
processo de educação para a promoção da saúde cardiovascular
com ênfase na importância da dieta e da manutenção de uma
prática regular de atividade física para toda a vida [13,14].
Exercícios, mesmo que em graus moderados, têm efeito
protetor contra a doença arterial coronariana e sobre todas
as causas de mortalidade e uma série de outros benefícios:
elevação do HDL-colesterol, redução de cifras na hipertensão
arterial sistêmica e auxílio na baixa do peso corporal [15,16].
São importantes estudos que busquem identificar os hábitos de pacientes com diagnóstico de hipertensão, facilitando
assim o planejamento de programas de intervenção. Sendo
assim, o presente estudo teve como objetivo analisar através
de um questionário o perfil de indivíduos hipertensos diagnosticados no tocante a diversos fatores de risco.
Materiais e métodos
Participaram do estudo, 18 indivíduos hipertensos diagnosticados de ambos os gêneros (8 homens e 10 mulheres),
com idade média compreendida em 57,89 anos (masculino)
e 60,25 anos (feminino), os quais responderam a um questionário sobre histórico familiar e nível de atividade física.
O questionário apresentou o histórico familiar das incidências de problemas cardíacos, hipertensão e diabetes.
Posteriormente foi levantado o nível de atividade física diária
dos avaliados, quais atividades eram as mais praticadas e também qual o programa de atividade física que eles gostariam
de participar.
Todos foram voluntários e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, conforme a resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde para experimentos com
humanos.
Resultados
Nos fatores de risco relacionados à hereditariedade, o
resultado indica uma predisposição a problemas arteriocoronarianas, pois a maioria apresenta incidências de fatores de
risco na família, como é observado na Figura 1.
Figura 1 - Histórico familiar e tabagismo.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Cardíaco
PA
sim
Diabetes
Cigarro
não
Quando os avaliados foram perguntados sobre o uso de
cigarros, o resultado foi satisfatório, pois 88,89% não fumam
e 11,11% fumam. Apesar de os indivíduos, que responderam
o questionário, serem hipertensos diagnosticados, 16,67% não
tomam medicação apesar da orientação medica.
Na segunda parte do questionário foram mapeados o nível
de atividade física, as atividades mais praticadas e as atividades
que os indivíduos gostariam de participar. De acordo com
as respostas obtidas, quanto à prática regular de atividade
física, podemos observar uma boa aceitação, pois a maioria
tem como rotina os exercícios físicos. Nos indivíduos que não
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
praticam atividades físicas, 25% possuem algum impedimento
para o exercício (ortopédico, cardíaco etc); 25% não se sentem
bem durante a prática o que pode indicar a falta de preparo
físico (fadiga) ou um problema cardiovascular; a maioria
apresentou como resposta a não prática de atividade física
como a falta de tempo chegando a 50% o índice.
Quanto à freqüência diária de atividade, 40% responderam que realizam atividades mais de quatro dias por semana;
20% responderam que realizam atividades até duas vezes por
semana; 40% responderam que realizam atividades ate três
vezes por semana.
Nas atividades mais praticadas foram encontradas atividades leves a moderadas indicando um exercício voltado à
saúde e à qualidade de vida, como demonstram os resultados
a seguir: 60% praticam caminhadas leves; 10% praticam corridas e ou bicicletas com intensidade moderada; 10% realizam
musculação; e 20% realizam natação ou hidroginástica.
Sobre os exercícios que os indivíduos mais gostariam de
praticar em um programa orientado, obtivemos como resultado o que demonstra a Figura 2.
Figura 2 - Preferência de atividade física orientada.
60
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
40
6,65
Musculação
Caminhadas
Hidroginástica
Discussão
O presente estudo buscou, além de uma breve revisão
bibliográfica, mostrar através de questionários o nível de
atividade física de indivíduos hipertensos e fatores de risco
cardiovascular. Durante muito tempo, persistiu a idéia de que
as doenças cardiovasculares seriam determinadas geneticamente, e que pouco poderia ser feito para sua prevenção. Porém,
o reconhecimento dos fatores de risco modificou essa visão.
Os resultados iniciais do primeiro projeto de intervenção
nos hábitos de vida de um grupo populacional, realizado na
Karélia do Norte, província finlandesa com altíssimas taxas de
incidência e de mortalidade por doença arterial coronariana,
mostraram a possibilidade de reduções importantes nesses
índices, através de ações abrangentes relacionadas ao estilo
de vida [17].
No que diz respeito a problemas cardíacos, Fuchs [18]
relatou, em Porto Alegre, uma incidência de 12,6% em indivíduos com hipertensão arterial sistêmica (>140/90 mmHg).
189
Quando se consideravam as pressões arteriais normalizadas
por anti-hipertensivos (pressão arterial >160/95 mmHg) a
incidência era de 19,2%. Lotufo [19], em São Paulo, encontrou 15,5% em hipertensos homens e 7,8% em mulheres, na
amostra atual, do total 15%, 47,3% eram homens hipertensos
e 52,7% mulheres. James e cols. [20] encontraram, também,
mais hipertensão arterial sistêmica em homens do que em
mulheres.
Já para a prevalência de diabetes, o Ministério da Saúde
[21] estima a prevalência, ajustada para a idade, mas com
limite de 120 mg/dl, de 7,6% em adultos de 30 a 69 anos.
No atual levantamento, glicemias entre 110 e 125 mg/dl
foram de 8,1%, e > 126 mg/dl foram de 7% e com aumentos
percentuais com o aumento das faixas etárias. Duncan et al.
[22], em Porto Alegre, encontraram 8,89% de diabéticos.
Cervato et al. [23] encontraram uma cifra inferior de 5% de
diabetes mellitus em adultos > 20 anos.
O hábito de fumar entre estudantes dos níveis médio e
fundamental no Brasil tem variado de 1 a 34% [24-27]. Em
1989, um estudo realizado em 10 capitais brasileiras apontou
o consumo de tabaco em 20% dos estudantes desses níveis
[24]. Entretanto, não há como desprezar a possibilidade de
que as campanhas antitabaco promovidas nos últimos anos
tenham, realmente, determinado uma redução importante
no número de indivíduos que iniciam o hábito na infância
ou adolescência.
A prática regular de atividade física tem sido recomendada
não apenas para a prevenção e reabilitação das doenças cardiovasculares, mas como estratégia importante de promoção de
saúde [25,26]. Apesar disso, as pesquisas no Brasil apontam
para uma freqüência de sedentarismo entre os adultos que
varia de 55,8 a 80,8% [27,28]. Os estudos em crianças e adolescentes, utilizando diferentes parâmetros, têm demonstrado
uma prevalência de sedentarismo de até 89,5% [23,24-26].
Em estudo realizado em estudantes de 14 a 15 anos, de ambos
os sexos, da rede pública de ensino de Niterói, utilizando o
PAQ-C [29,30], Silva e Malina [31] identificaram 89,5%
sedentários. Na presente investigação, em indivíduos de 7 a
17 anos e utilizando-se o mesmo instrumento de investigação
da atividade física, 93,5% dos estudantes foram considerados
sedentários, resultado não muito diferente do observado
por Silva e Malina [31]. Pelo estudo de Maceió ter incluído
indivíduos mais jovens, esperar-se-ia inclusive uma menor
prevalência dessa variável, considerando-se que o maior
decréscimo da atividade física ocorre na adolescência [32] e
que a participação em atividades físicas diminui com a idade
para todos os tipos de exercício.
Conclusão
A promoção de programas de atividade física deve ser
enfatizada a fim de aumentar a prática regular, notadamente
à prática nos dias de semana. Atividades como a musculação,
a caminhada/corrida, hidroginástica e a dança devem ser in-
190
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
cluídas, uma vez que são as mais populares e propiciam dessa
forma, uma maior aderência aos programas. A promoção da
prática regular possibilitará aos indivíduos o usufruto dos
benefícios sobre a saúde, tanto a curto como em longo prazo.
A prática de atividade física deve seguir uma freqüência
longitudinal fazendo parte do cotidiano de cada um, sendo
realizada em todo o período de seu desenvolvimento inclusive
desde sua juventude, para que os benefícios adquiridos com
sua prática sejam mais otimizados, refletindo assim uma vida
mais saudável, independente e duradoura.
Referências
1. Turner RWD. Coronary heart disease: the size and nature of
the problem. Postgrad Med 1980;56:538-47.
2. Zimmet ZP. Obesity, hipertension, carbohydrate disorders and
risk of chronic diseases. Med J Aust 1986;145: 256-62.
3. Ministério da saúde. Estatística de mortalidade: Brasil, 1985.
Brasília: Centro de Documentação; 1988.
4. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cusham WC, Green LA,
Izzo Junior JL, et al. National High Blood Pressure Education
Program Coordinating Committee. The seventh report of the
Joint National. JAMA 2003; 21;289(19):2560-72.
5. Fagard RH. Exercise characteristics and the blood pressure
response to dynamic physical training. Med Sci Sports Exerc
2001;33(6):484-92.
6. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM
para os testes de esforço e sua prescrição. 6ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2000.
7. Fundação Nacional de Saúde. Sistemas de informações de
mortalidade: mortalidade proporcional por grupos de causas
determinadas (indicador RIPSA C7), Brasil, 1998. [citado 2008
Nov 12]. Disponível em URL: www.funasa.gov.br.
8. Vasan RS, Larson MG, Leip EP, Evans JC, O’Donnell CJ,
Kannel WB, et al. Impact of high-normal blood pressure on the
risk of cardiovascular disease. N Engl J Med 2001;345:1291-7.
9. Whelton SP, Chin A, Xin X, He J. Effect of aerobic exercise
on blood pressure: a meta-analysis of randomized, controlled
trials. Ann Intern Med 2002;136:493-503.
10. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz
H,Kannel WB. Prediction of coronary heart disease using risk
factor categories. Circulation 1998;97:1837-47.
11. Fletcher GF, Balady G, Blair SN et al. Statement on exercise:
benefits and recommendations for physical activity programs
for all Americans: a statement for health professionals by the
Committee on Exercise and Cardiac Rehabilitation of the
Council on Clinical Cardiology, American Heart Association.
Circulation 1996;94:857-62.
12. Berenson GS, Srinivasan SR, Bao W, Newman WP 3rd, Tracy
RE, Wattigney WA. Association between multiple cardiovascular risk factors and atherosclerosis in children and young adults.
The Bogalusa Heart Study. N Engl J Med 1998;338:1650-6.
13. Kimm SY, Payne GH, Stylianou MP, Waclawiw MA, Lichtenstein C. National trends in the management of cardiovascular
disease risk factors in children: second NHLBI survey of primary
care physicians. Pediatrics 1998;102:E50.
14. Walter HJ, Hofman A, Vaughan RD, Wynder EL. Modification
of risk factors for coronary heart disease. Five-year results of a
school-based intervention trial. N Engl J Med 1988;318:1093-100.
15. Powell KE, Thompson PD, Caspersen CJ, Kendrick JS. Physical
activity and the incidence of coronary heart disease. Annu Rev
Public Health 1987; 8: 253-87
16. Paffeenberger Jr RS, Hyde RT, Wing AL, Lee IM, Jung DL,
Kampert JB. The association of changes in physical-activity level
and other lifestyle characteristics with mortality among men.
N Engl J Med 1993;328:538-45.
17. Puska P, Tuomileto J, Salone J, et al. Community control of cardiovascular diseases. Evaluation of a comprehensive community
program for control of cardiovascular diseases in North Karelia,
Finland 1972-1977.WHO: Copenhagen; 1981.
18. Fuchs FD. Hipertensão arterial sistêmica. Epidemiologia e
prevenção. Arq Bras Cardiol 1994;63:443-44.
19. Lotufo PA. Epidemiologia da hipertensão arterial sistêmica no
Brasil. In: SOCESP II – Cardiologia: Atualização e Reciclagem.
São Paulo: Atheneu; 1996. p. 327-31.
20. James AS, de Almeida-Filho N, Kaufman JS. Hypertension in Brazil: a review of the epidemiological evidence. Ethn Dis 1991;1:91-8.
21. Ministério da Saúde. Estudo multicêntrico sobre a prevalência
do diabetes mellitus no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde;
1991. 32p.
22. Duncan BB, Schimidt MI, Polanczyk CA, Hormrich CS, Rosa
RS, Achutti AC. Risk factors for non-communicable diseases
in a metropolitan area in the south of Brazil: prevalence and
simultaneity. Rev Saúde Pública 1993;27:43-8.
23. Cervato AM, Mazzili RN, Martins IS, et al. Dieta habitual e
fatores de risco para doenças cardiovasculares. Rev Saúde Pública
1997;31:227-35.
24. Barbosa MTS, Carline-Cotrim B, Silva Filho AR. O uso de
tabaco em estudantes de primeiro e segundo graus de dez
capitais brasileiras: possíveis contribuições de estatística multivariada para a compreensão do fenômeno. Rev Saúde Pública
1989;23:401-9.
25. International Federation of Sports Medicine. Physical exercise:
an important factor for health. Physicians and Sports Medicine
1990;18:155-156.
26. Bijnen F, Caspersen C, Mosterd W. Physical inactivity as a risk
factor for coronary heart disease: a WHO and International Society and Federation of Cardiology position statement. Bulletin
of the World Health Organization 1994; 72:1-4.
27. Bloch KV. Fatores de risco cardiovascular e para o diabetes
mellitus. In: I Lessa. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade: Epidemiologia das doenças crônicas não transmissíveis.
Rio de Janeiro: Hucitec; 1998.
28. Piccini R, Victora CG. Hipertensão arterial sistêmica em área
urbana no sul do Brasil: Prevalência e fatores de risco. Rev Saúde
Pública 1994;28:261-7.
29. CDC (Center for Disease Control and Prevention). Body mass
index-for-age- BMI is used differently with children than it is
with adults. Atlanta: CDC; 2001
30. Crocker PR, Bailey DA, Faulkner RA, Kowalski KC, McGrath
R. Measuring general levels of physical activity: preliminary
evidence for the Physical Activity Questionnaire for Older
Children. Med Sci Sports Exerc 1997;29: 1344-9.
31. Silva RCR, Malina RM. Nível de atividade física em adolescentes do município de Niterói Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde
Pública 2000;16:1091-7.
32. CDC (Center for Disease Control and Prevention). Physical
Activity and Health. A report of the surgeon general. Atlanta:
CDC; 1996.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
191
Artigo original
Avaliação da flexibilidade em indivíduos submetidos
ao método Pilates
Evaluation of flexibility in individuals submitted to Pilates method
Martha Arno, Ft.*, Fabiana Ferro Machado, Ft. M.Sc.**, Angélica Castilho Alonso, Ft. M.Sc.**
*Fisioterapeuta especialista no método Pilates, ** Fisioterapeutas e docentes
Resumo
Abstract
O objetivo do presente estudo foi avaliar a flexibilidade em
indivíduos saudáveis, antes e após a prática do método Pilates.
Métodos: Foram avaliados 21 indivíduos sedentários e praticantes
de atividade física, sendo 8 homens e 13 mulheres com idade entre
20 e 45 anos, utilizando o banco de Wells e o flexímetro da marca
Sanny. Foram realizadas três medições da amplitude de movimento:
a 1.ª antes de iniciarem as aulas, a 2.ª após 30 aulas e a 3.ª após 75
aulas individuais. Resultados: De acordo com os resultados obtidos,
utilizando o Banco de Wells, verificou-se uma melhora da flexibilidade da cadeia posterior (p ≤ 0,001). Nas avaliações realizadas com o
flexímetro, verificou-se um aumento significativo na amplitude das
seguintes articulações: coluna cervical: extensão (p = 0,04) e rotação
(direito p = 0,003 e esquerdo p = 0,001); extensão de ombro (direito
p ≤ 0,04 e esquerdo p = 0,007), flexão de quadril (direito p = 0,03
e esquerdo p ≤ 0,001). Conclusão: Pode-se concluir que o método
Pilates melhora a flexibilidade em sujeitos saudáveis nas articulações
da coluna cervical nos movimentos de extensão e rotação, extensão
de ombro, flexão de quadril e da cadeia posterior.
The objective of this study was to evaluate the flexibility of
healthy individuals before and after practicing the Pilates method,
in individual sessions. Method: Twenty one sedentary and physically
active individuals 20 to 45 years old were assessed (8 men and 13
women) using the Wells bench and a Sanny fleximeter. Three measurements of range of motion were taken: before the beginning of
the sessions, at the end of 30 sessions and at the end of 75 sessions.
Results: With the Wells bench, an improvement in the flexibility of
the posterior chain was observed (p £ 0.001). With the fleximeter,
a significant increase in the range of motion in the following articulations was observed: cervical column; extension (p = 0.04) and
rotation (right p = 0.003 and left p = 0.001); extension of shoulder
(right p £ 0.04 and left p = 0.007), hip flexion (right p = 0.03 and
left p £ 0.001). Conclusion: It may be concluded that the Pilates
method improves the flexibility of cervical column extension and
rotation, shoulder extension, hip flexion and the posterior muscular
chain of healthy individuals.
Key-words: Pilates, flexibility, evaluation.
Palavras-chave: Pilates, flexibilidade, avaliação.
Endereço para correspondência: Angélica Castilho Alonso, Rua Aquiráz, 156, 03654-040 São Paulo SP, Tel: (11) 9998-7682, E-mail:
[email protected], [email protected], [email protected]
192
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
Procedimentos
A flexibilidade é uma das variáveis da aptidão física relacionada à saúde, representando um fator fundamental para o
desempenho do corpo e do movimento, seja em modalidades
desportivas ou cênicas. Ela é definida como a mobilidade
passiva máxima de um dado movimento articular, descrita
em termos de amplitude articular: flexão, extensão, abdução,
adução e rotação. Junto com a força e a resistência é uma das
principais capacidades motoras para o desempenho tanto das
atividades da vida diária, quanto para os gestos mais complicados nos esportes [1].
O método Pilates tem sido divulgado aos atletas, portadores de doenças crônico-degenerativas, portadores de lombalgia
e a população geral, como um método que melhora a força, a
flexibilidade, a postura e a saúde em geral [2]. Esta melhora se
deve ao fato de os exercícios de Pilates enfatizarem o trabalho
nos músculos que são considerados a chave da boa postura:
as quatro camadas dos músculos abdominais, junto com os
glúteos e os músculos da parte inferior das costas [3,4]. Esses
músculos sustentam a coluna vertebral, os órgãos internos e
a postura. A força é adquirida junto com o alinhamento e a
flexibilidade, como se fosse um “fortalecer alongando” [5,6].
Nas últimas duas décadas houve uma grande popularização do método. Ele é utilizado no mundo todo por
companhias de dança, atletas profissionais e em academias
de ginástica. Há vários livros publicados e vídeos ensinando
o método. Alguns estudos verificaram a eficácia do método
na melhora da lombalgia [7-9].
Apesar de Pilates ser divulgado como um método que melhora força, equilíbrio e flexibilidade, há poucas pesquisas que
mensuram a melhora na flexibilidade de indivíduos saudáveis.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a flexibilidade em
indivíduos saudáveis, antes e após a prática do método Pilates.
Realizou-se, inicialmente, uma avaliação da flexibilidade
da região posterior do tronco e pernas e das articulações. A
medida da flexibilidade posterior do tronco e pernas consistiu
na utilização do banco de Wells, também conhecido como o
teste de sentar e alcançar [1,10]. As medidas de flexibilidade
das articulações seguiram o Manual de utilização do Flexímetro Sanny que foi o utilizado na pesquisa [11].
Para flexão e extensão da articulação do ombro; e flexão,
extensão, flexão lateral e rotação da articulação da coluna
cervical, o indivíduo foi posicionado sentado em uma cadeira
com os pés no chão em ângulo reto, os joelhos voltados para
frente fletidos em 90°, o rosto voltado para frente. Nesta posição inicial o flexímetro foi ajustado em zero. Realizou-se o
movimento e na posição final obteve-se o valor da amplitude
de movimento (ADM).
Para se obter o valor ADM de abdução horizontal da
articulação de ombro, da flexão de quadril com joelho fletido
e estendido ativamente e passivamente, o indivíduo foi posicionado sobre uma maca em decúbito dorsal. O flexímetro
foi ajustado em zero na posição inicial e a medição foi feita
na posição final.
A extensão da articulação do quadril foi medida com o
indivíduo em decúbito ventral e, para a obtenção dos valores da flexão plantar e dorsal do tornozelo, o indivíduo foi
posicionado em sedestação sobre a maca, sem contato do pé
com o chão.
Os sujeitos realizaram então 30 aulas, duas vezes por
semana, durante 60 minutos por um período de três meses e
meio. As aulas foram individuais e ministradas por professores certificados no Autêntico Pilates, utilizando os seguintes
aparelhos do Studio Pilates: Reformer, Mat, Wunda Chair,
Cadillac e Barris.
Após 30 aulas, os sujeitos foram submetidos a uma reavaliação, seguindo os mesmos procedimentos da primeira
avaliação. Continuaram com o programa e no final de 75
aulas foram submetidos a uma avaliação final.
Material e métodos
Trata-se de uma pesquisa experimental, prospectiva longitudinal, realizada em um Studio Pilates de São Paulo. Este
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade
Ibirapuera (n°242/06) de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa
envolvendo seres humanos.
Participaram da pesquisa 21 indivíduos saudáveis, sedentários e praticantes de atividade física, sendo oito homens
(38,1%) e 13 mulheres (61,9%) com idade média 29,4 ± 5,6
anos variando de 21 a 42 anos.
Os critérios de inclusão foram: 1) estar ciente e concordar
com o termo de consentimento livre e esclarecido; 2) ter entre
20 e 45 anos de idade; 3) apresentar exame médico apto a
realizar exercícios físicos; 4) ser formado em educação física
ou fisioterapia; 5) nunca terem praticado o método Pilates.
Como critérios de exclusão: Apresentar mais que três faltas
durante o programa.
Análise estatística
Foi realizada estatística descritiva das variáveis estudadas.
Para verificar a significância entre os três momentos de avaliação foi utilizado teste de medidas repetidas. Em seguida,
para verificar a diferença entre as avaliações duas a duas foi
realizado teste de comparação múltipla. Uma significância de
5% foi utilizada em toda a análise estatística.
Resultados
Os resultados obtidos com o teste de sentar e alcançar
demonstram uma melhora significante da flexibilidade da
cadeia posterior de tronco (p ≤ 0,001). No teste de comparação múltipla, foi observada diferença significante entre a 1ª
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
e 2ª avaliação (p = 0,01), entre 1.ª e 3.ª avaliação (p < 0,001)
e entre 2ª e 3ª (p < 0,001) (Tabela I).
Tabela I - Comparação da média das avaliações iniciais, intermediárias e finais da flexibilidade da cadeia posterior.
Mínimo
1.º Avaliação 130
2.º Avaliação 240
3.º Avaliação 105
Máximo
490,5
510
980
Média (± DP) p
344,8 (± 107)
392,4 (± 68,4) ≤0,001*
772,3 (± 234)
Análise para medidas repetidas; *p ≤ 0,05
Quanto à medida de flexibilidade da articulação do
ombro, não foi observada uma diferença significativa nos
movimentos de flexão e abdução horizontal. Na extensão,
porém, no teste de comparação múltipla, foi notada diferença
significante na extensão entre a 1ª e 2ª avaliação e entre a 1ª
e 3ª avaliação (Tabela II).
Tabela II - Comparação da média das avaliações iniciais, intermediárias e finais da extensão de ombro.
Mínimo
Ombro Extensão
Direito
1.º
20
2.º
22
3.º
15
Esquerdo
1.º
24
2.º
23
3.º
18
Flexão
Direito
1.º
100
2.º
96
3.º
110
Esquerdo
1.º
100
2.º
105
3.º
117
Abdução horizontal
Direito
1°
110
2.º
115
3.º
110
Esquerdo
1.º
90
2.º
115
3.º
110
Média (± DP)
Máximo
p
31,8 (± 6,4)
37,0 (± 6,6)
34,9 (± 7,6)
44
50
46
£ 0,04*
31,6 (± 5,5)
37,9 (± 7,6)
36,1 (± 8,1)
42
50
46
0,007*
123,9 (± 10,5)
126,8 (± 13,5)
125,2 (± 8,3)
140
155
142
0,67
124 (± 11,4)
128 (± 11,4)
127 (± 6,8)
140
152
140
0,18
127 (± 12,3)
131,8 (± 9,5)
129 (± 9,1)
150
160
150
0,07
123,7 (± 15,2)
130 (± 8,8)
129,9 (± 8,3)
150
155
150
0,06
Análise para medidas repetidas; *p ≤ 0,05
No movimento de flexão da articulação de quadril com
o joelho flexionado, foi notada diferença significativa entre
as três avaliações tanto no lado direito quanto no esquerdo,
porém no lado direito não foi observada diferença entre a 2ª e
193
a 3ª avaliação. Nos movimentos de flexão ativa da articulação
do quadril com o joelho estendido, foi observada diferença
significante entre as três avaliações. No teste de comparação
múltipla, constatou-se diferença significante entre a 1ª e a 2ª
avaliação, entre a 1ª e a 3ª e entre a 2ª e a 3ª. Na avaliação da
flexão passiva de quadril com o joelho estendido verificouse diferença significante entre as três avaliações. No teste de
comparação múltipla, constatou-se uma diferença significante
entre a 1ª e a 2ª avaliação, e entre a 1ª e a 3ª, porém não foi
observada diferença entre 2ª e 3ª (Tabela III).
Tabela III - Comparação da média das avaliações iniciais, intermediárias e finais dos movimentos do quadril.
Mínimo Média (± DP)
Máximo P
Flexão quadril - Com joelho em flexão
Direito
1.º
90
109,1 (± 10,5) 130
2.º
90
113,5 (± 10,0) 130
0,03*
3.º
97
116,1 (± 8,6)
130
Esquerdo
1.º
90
108,9 (± 9,6)
122
2.º
92
113,3 (± 9,6)
126
≤ 0,001*
3.º
99
116,8 (± 8,4)
134
Flexão quadril - Com joelho em extensão ativa
Direito
1.º
55
91,3 (± 18,3)
130
2.º
75
101,1 (± 14,3) 125
≤ 0,001*
3.º
85
106,5 (± 11,7) 130
Esquerdo
1.º
55
93,7 (± 16,3)
120
2.º
82
103 (± 10,7)
122
≤ 0,001*
3.º
95
109,5 (± 10,2) 129
Flexão quadril - Com joelho em extensão passiva
Direito
1.º
85
115,3 (± 17,7) 150
2.º
105
125,8 (± 10,9) 148
0,04*
3.º
31
125,4 (± 16,1) 141
Esquerdo
1.º
80
115,8 (± 18,2) 142
2.º
108
124,7 (± 10,1) 145
0,04*
3.º
38
125,9 (± 22,4) 148
Extensão
Direita
1.º
10
29,7 (± 7,5)
40
2.º
16
34,1 (± 7,2)
44
0,09
3.º
20
32,1 (± 7,1)
42
Esquerdo
1.º
14
30,5 (± 7,5)
40
2.º
13
34,5 (± 8,1)
46
0,11
3.º
20
33,1 (± 6,6)
43
Análise para medidas repetidas;* p ≤ 0,05
Quanto aos resultados obtidos após medida da flexibilidade da articulação do tornozelo, não foi observada diferença
194
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
significativa no movimento de flexão dorsal como também
no movimento de flexão plantar.
Discussão
Os músculos da cadeia posterior, ou seja, da estática,
têm grande importância na manutenção da postura, pois
sua função é impedir o desequilíbrio com uma ação reflexa
e inconsciente [12,13]. São eles: tríceps sural, isquiotibiais,
paravertebrais, trapézio superior e longo do pescoço. São
os músculos mais utilizados no dia-a-dia, tornando-se mais
fortes e mais encurtados, provocando compensações e desvios
posturais, ocasionando quadros álgicos, piora na realização de
atividades diárias e esportivas, fazendo com que o indivíduo se
torne cada vez mais inativo [8,14]. Sacco et al. [15] cita que
na prática da fisioterapia é comum pacientes apresentarem
encurtamento da cadeia posterior. O tratamento consiste
em promover um reequilíbrio das cadeias musculares. Os
exercícios de Pilates são uma boa alternativa para promover
a melhora da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior, melhorando assim a relação do equilíbrio agonista e
antagonista [7].
A diferença de um alongamento convencional passivo
para os exercícios básicos do método Pilates é que, durante a
realização dos exercícios do método, ocorre uma estabilização
pélvica feita pelo glúteo máximo, um trabalho isométrico dos
estabilizadores de escápula e um trabalho de fortalecimento
dos músculos abdominais, tornando o alongamento da cadeia
posterior mais eficaz [2,13,15].
Os resultados do presente estudo demonstram que após
o treinamento com o método Pilates, houve uma melhora
da flexibilidade da musculatura da cadeia posterior, dados
também encontrados por Segal et al. [2], que avaliaram
por meio do teste distância dedo chão a flexibilidade de
32 sujeitos que treinaram Mat Pilates após dois, quatro
e seis meses. Sekendiz et al. [16] verificaram os efeitos do
Pilates na flexibilidade da musculatura da cadeia posterior
em mulheres sedentárias também com o teste de sentar e
alcançar, os sujeitos praticaram Mat Pilates por cinco semanas e apresentaram melhora significante da flexibilidade, e
Bertolla et al. [14], em estudo recente, avaliou a flexibilidade
da musculatura posterior, utilizando o Banco de Wells e o
flexímetro com uma equipe de futsal de categoria juvenil.
Os atletas nesse estudo realizaram sessões de Mat Pilates em
grupo durante quatro semanas.
O que difere os estudos anteriores do atual foi que os
sujeitos realizaram exercícios de Mat Pilates no solo e em
grupo, sem o auxílio de molas e em cadeia cinética aberta. Já
no presente estudo, os sujeitos realizaram aulas individuais,
utilizando todos os aparelhos com molas do Studio Pilates,
que oferecem maior resistência aos membros trabalhados,
por vezes aumentando a dificuldade dos exercícios, por vezes
facilitando a execução, dependendo se o indivíduo está em
decúbito dorsal, sedestação ou posição ortostática. Em ambos
os métodos constatamos uma melhora significante da flexibilidade da musculatura posterior de tronco [15].
O músculo longo do pescoço realiza a anteflexão ou endireitamento da coluna cervical agindo bilateralmente para manter
a lordose cervical em seus limites fisiológicos. As porções oblíquas agem contra a tendência do aumento da lordose cervical
ocasionada pela ação da gravidade e também para impedir a
queda do lado oposto. Ele faz parte dos músculos da estática,
ajudando assim na manutenção da postura, evitando a queda
da cabeça à frente. Se não há atenção na manutenção correta da
postura, ocorre uma protrusão da cabeça [12,14]. Neste estudo
observou-se que após a prática do método Pilates, houve uma
melhora na extensão e rotação lateral da coluna cervical. Isso
não se deve a exercícios específicos para esta articulação, mas
sim ao trabalho de alongamento e fortalecimento axial realizado
nos aparelhos do Studio Pilates (Reformer, Baby Chair e Wall).
Nestes aparelhos os exercícios são realizados em decúbito dorsal
ou mesmo contra uma parede ou encosto reto, promovendo
um melhor alinhamento da coluna. Estes exercícios enfatizam
o conceito de “abrir espaço” entre as vértebras, auxiliando no
alongamento dos músculos da estática.
Springer [3] e Kolyniak et al. [7] afirmam que os exercícios
do método Pilates promovem a eliminação da tensão excessiva
desses músculos, o que melhora os movimentos de extensão
e rotação da coluna cervical.
Quanto à articulação do ombro, não foi notada diferença
na flexão e abdução de ombro, porém houve melhora na extensão. Assim como na coluna cervical, não foram realizados
exercícios específicos para a articulação do ombro. O trabalho
de fortalecimento com as vértebras da coluna alinhadas, os
estímulos neuromusculares provocados pelas contrações isométricas dos músculos estáticos aumentando assim seu comprimento e o uso correto da musculatura central, melhoraram
a organização da cintura escapular, permitindo um maior
“espaço” entre as articulações da coluna e cintura escapular,
facilitando assim o movimento de extensão da articulação do
ombro [3,7,17].
Nos movimentos de flexão de quadril bilateralmente com
os joelhos em flexão e extensão houve melhora significante
da flexibilidade. Diversos autores afirmam que a melhora na
flexibilidade do quadril se deve não somente ao alongamento
e otimização da musculatura estática posterior: espinhais,
isquiotibiais e tríceps sural, mas também à ênfase dada ao
“enrolamento” da coluna durante a flexão do tronco nos exercícios básicos de Pilates [2,3,7,18]. A utilização do Powerhouse
(centro de força) para se obter a curva “C” e a estabilização
escapular evita o tensionamento dos músculos do pescoço
e ombros. O enrolamento da coluna dissociando cada vértebra favorece a mobilidade intervertebral e cria um espaço
sacrolombar que melhora a hiperlordose e a flexibilidade na
articulação do quadril [7,12,18].
Sacco et al. [15] explica que a flexão de tronco é realizada
por um trabalho concêntrico dos oblíquos e reto do abdome.
Nos exercícios de Pilates, quando o gradil costal funciona
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
como ponte fixa, estes músculos levantam a parte inferior
da pelve, tendo um efeito de diminuição de lordose lombar.
A melhora do trabalho axial e conseqüente aumento da
ADM das articulações são observados mais no início do trabalho: a diferença significante foi observada entre a primeira
e segunda avaliação, e entre a primeira e a terceira, mas não
entre a segunda e a terceira. Como a flexibilidade de uma
articulação é dependente do seu grau de utilização, um programa de exercícios é mais efetivo no início, principalmente
em sujeitos sedentários que possuíam articulações até então
pouco utilizadas e provavelmente encurtadas [19].
Dentre os estudos encontrados, que avaliaram a flexibilidade de praticantes do método Pilates, nenhum realizou aulas
individuais, utilizando todos os aparelhos do Studio Pilates,
mas apenas exercícios de grupo no solo, o Mat. Diante disso,
sugere-se então que mais estudos sejam feitos utilizando os
aparelhos Reformer, Mat, Electric Chair, Wunda Chair, Baby
Chair, Barris, Cadillac e Wall.
Conclusão
De acordo com os resultados obtidos, verificou-se uma
melhora da flexibilidade da cadeia posterior, nos movimentos de extensão e rotação da articulação da coluna cervical,
extensão de ombro e flexão de quadril. Pode-se concluir que
o método Pilates pode melhorar a flexibilidade em sujeitos
saudáveis.
Referências
1. Araújo CG, Araújo DSMS. Flexiteste: utilização inapropriada de
versões condensadas. Rev Bras Med Esporte 2004;10(5):381-4.
2. Segal NA, Hein J, Basford J. The effects of Pilates training on
flexibility and body composition: an observational study. Arch
Phys Med Rehabil 2004;85(12):1977-81.
3. Springer K. O método Pilates e o benefício dos exercícios. In
Gallager SP, Kryzanoska R. O método Pilates de condicionamento físico. São Paulo: The Pilates Studios do Brasil; 2000.
p. 19-24.
195
4. Latey P. Updating the principles of the Pilates method – Part
2. J Bodyw Mov Ther 2002;6(2):94-101.
5. Pilates JH. Your health. New York: Presentation Dynamics;
1998.64p.
6. Pilates JH, Miller WJ. Pilates’ return to life through contrology.
New York: Presentation Dynamics; 1998.p. 6-24.
7. Kolyniak IÉG, Cavalcanti SMB, Aoki MS. Avaliação isocinética da musculatura envolvida na flexão e extensão do
tronco: efeito do método Pilates. Rev Bras Med Esporte
2004;10(6):487-90.
8. Blum CL. Chiropractic and Pilates therapy for the treatment
of adult scoliosis. J Manipulative Physiol Ther 2002;25(4):E3.
9. Geweniger V. Eine gesunde balance finden, Prophylaxe von
Rückenbeschwerden mit Pilates-Training. Pflegezeitschrift
2002;747-748.
10. Costa RF. Apresentação. In: Monteiro GA. Avaliação da flexibilidade: Manual de utilização do flexímetro Sanny. São Bernardo
do Campo: American Medical do Brasil; 2000: p.4-8.
11. Monteiro GA. Avaliação da flexibilidade: Manual de utilização
do flexímetro Sanny. São Bernardo do Campo: American Medical do Brasil; 2000. p. 6-18.
12. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
técnicas. São Paulo: Manole; 1998. p. 18.
13. Muscolino JE, Cipriani S. Rehabilitation and core stability – Pilates and the “Powerhouse”. J Bodyw Mov Ther 2004;8:122-30.
14. Bertolla F, Baroni BM, Leal Junior ECP, Oltramari JD. Efeito
de um programa de treinamento utilizando o método Pilates® na
flexibilidade de atletas juvenis de futsal. Rev Bras Med Esporte
2007;13(4):222-6.
15. Sacco ICN, Andrade MS, Souza PS et al. Método Pilates em
revista: aspectos biomecânicos de movimentos específicos para
reestruturação postural - estudos de caso. Rev Bras Ciênc Mov
2005;13(4):65-78.
16. Sekendiz B, Altun Ö, Korkozuz F, Akin S. Effects of Pilates
exercise on trunk strength, endurance and flexibility in sedentary adult females. J Bodyw Mov Ther 2007;11(4):318-326.
17. Souchard P. O stretching global ativo. São Paulo: Manole; 1996.
18. Gallagher SP, Kryzanovska R. O método Pilates. The Pilates®
Studios do Brasil; 2000. p. 9.
19. Cyrino ES, Oliveira AR, Leite JC, et al. Comportamento da
flexibilidade após 10 semanas de treinamento com pesos. Rev
Bras Med Esporte 2004;10(4):233-7.
196
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Artigo original
Efeito agudo do alongamento estático
sobre o desempenho da velocidade de jogadores
de futebol profissional
Acute effect of static stretching on sprint performance
of professional soccer players
Wagner Antônio B. da Silva, Esp.*, Igor Alexandre Fernandes, Esp.**, Cláudia de Mello Meirelles, Dra.***, Paulo Sergio
Chagas Gomes, Ph.D.****
*Laboratório Crossbridges da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, **Laboratório Crossbridges e Aluno do Programa de Pósgraduação Stricto Sensu da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, ***Laboratório Crossbridges, Universidade Gama Filho e
Professora da Escola de Educação Física do Exército, Rio de Janeiro, **** Coordenador do Laboratório Crossbridges e Professor do
Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro
Monografia apresentada no Programa de Pós-graduação Lato Sensu em Fisiologia do Exercício e Avaliação Funcional da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro.
Resumo
Abstract
O presente estudo investigou os efeitos de duas rotinas de alongamento estático de curta duração – 15 s e 30 s – sobre o desempenho do sprint de jogadores de futebol profissional. Vinte e cinco
atletas, alocados aleatoriamente em dois grupos, foram submetidos
ao teste de velocidade de 50 metros (TV50) em duas condições. Na
condição CON, o TV50 foi determinado logo após uma rotina de
aquecimento típica da prática do futebol. Na condição AE, além
do aquecimento específico, o TV50 foi precedido por rotinas de
alongamento estático com duração de 15 s (Gr15) ou 30 s (Gr30).
O TV50 demonstrou alta confiabilidade com CCI de 0,960 (P =
0,000), erro técnico da medida de 0,10 s e 1,62 % e ausência de
erro heterocedástico. Uma ANOVA com medidas repetidas não
identificou interação grupo x teste, porém, encontrou aumentos
significativos no TV50 de ambos os grupos (Gr15: 7,5 %, p =
0,000; Gr30: 6,8%, p = 0,000). Os resultados sugerem que rotinas
de alongamento, mesmo de curta duração, realizadas antes de uma
corrida de velocidade, promovem uma diminuição no desempenho.
Sendo assim, da mesma maneira como nas tarefas nas quais a força/
potência são variáveis determinantes do desempenho, o alongamento
estático não deve preceder atividades em que a velocidade é uma das
variáveis principais ao desempenho de excelência.
The purpose of the study was to investigate the effects of two
different static stretching routines of short duration – 15 s e 30 s –
on sprint performance in professional soccer players. Twenty-five
athletes, randomly allocated into two groups (Gr15 and Gr30), performed a 50 m running sprint (TV50) in two different conditions.
In the first condition (CON), the TV50 was determined just after
a typical soccer warm-up. In the second condition (AE), besides
the warm-up, TV50 was also preceded by different static stretching
routine of either 15 s (Gr15) or 30 s (Gr30). The TV50 showed to
be highly reliable with ICC of 0,960 (p = 0.000), typical error of
the measurement of 0.10 s and 1.62 % and no heterocedastic error.
Although an ANOVA with repeated measures did not identify a
group x test interaction, the main effect test was observed showing
that the time for TV50 significantly increased in both groups (Gr15:
7.5 %, p = 0.000; Gr30: 6.8%, p = 0.000). The results suggest
that short-duration static stretching performed prior to short sprint
decreases running performance. Likewise, in tasks in which strength/power is determinant of performance, static stretching routines
should not precede activities in which the sprint is an important
variable related to performance.
Key-words: muscle stretching exercises, flexibility, power, sports.
Palavras-chave: exercícios de alongamento muscular,
flexibilidade, potência, esportes.
Endereço para correspondência: Paulo Sergio Chagas Gomes, Centro de Pesquisas Interdisciplinares em Saúde, Universidade Gama
Filho, Rua Manoel Vitorino 625, 20748-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
Comumente, rotinas de alongamento estático precedem
a prática esportiva no intuito de garantir efeitos popularmente atribuídos a esta intervenção, tais como redução de
lesões musculares e esqueléticas e redução na dor muscular
tardia induzida pelo exercício. No entanto, de acordo com
revisões sistemáticas da literatura [1,2], não há evidências que
justifiquem tal procedimento. Ainda dentro desse contexto,
rotinas de alongamento também são aplicadas como atividade
condicionante no intuito de aumentar o desempenho em
atividades subseqüentes.
Em uma recente revisão da literatura, Rubini et al.[3]
concluíram que o desempenho da força, nas suas mais diferentes manifestações, é significativamente reduzido quando
precedido de rotinas de alongamento estático. Outros estudos, desde então, também têm relatado um déficit da força
induzido por esta intervenção [4,5].
Mesmo diante deste fato, esta prática ainda permanece
extremamente popular no cotidiano de inúmeras modalidades esportivas, com destaque para o futebol. Característica
197
importante para determinadas ações dentro dessa modalidade
[6], o desempenho de força explosiva, expresso por meio de
corridas de alta intensidade e curta distância (sprint), também
parece ser reduzido como conseqüência da aplicação dos
exercícios de alongamento estático[7-14]. Algumas dessas
investigações [7,9,12] têm atribuído os efeitos deletérios
sobre o desempenho do sprint à longa duração das rotinas de
alongamento. No entanto, a inferência desses achados deve
ser considerada com cautela, uma vez que rotinas aplicadas
durante essas investigações não se assemelham aos protocolos
adotados na prática esportiva.
Por outro lado, conforme observado na Tabela I, as investigações que contemplam rotinas de alongamento estático
com menor duração apresentam achados contraditórios sobre
o efeito que a intervenção exerce sobre o desempenho do sprint
nas mais variadas distâncias. Em parte, os resultados controversos podem ser explicados pela ausência de informações a
respeito da precisão da medida do tempo de sprint. Quando
disponíveis, essas informações envolvem apenas valores de
confiabilidade relativa, expressos através do coeficiente de
correlação intraclasse (CCI).
Tabela I - Efeitos agudos de rotinas de alongamento sobre o desempenho do sprint.
Estudo
Amostra
Presente estudo
25 jogadores de futebol
profissional
Método
Série x tempo
AE – 1 x 15s
AE – 1 x 30s
Siatras et al. [11]
11 H ginastas
AE – 1 x 30s
Fletcher e Jones [8]
97 H atletas de rugby
AE – 1 x 20s
Nelson et al. [9]
AE – 4 x 30s
Sayers et al. [10]
16 velocistas
(H e M)
18 velocistas
(H e M)
22 atletas
(11 H e 11 M)
11 M atletas de futebol
AE – 1 x 30s
Taylor et al. [12]
13 H atletas de netboll
AE – 2 x 30s
Fletcher e Anness [7]
Winchester et al. [13]
AE – 3 x 22s
AE – 1 x 30s
Distância (m)
Confiabilidade
50 m
CCI = 0,960
ETM 1,62 %
20
ND
20
CCI = 0,99
20
CCI = 0,99
50
CCI = 0,99
40
CCI = 0,99
30
CCI = 0,98
20
ND
Tempo de sprint
 7,5%
 6,8 %
 ND%
 1,9%
 1,3%
H 2,5%
M 1,4%
 1,8%
2,1%
 1,4%
20
 0,8%
ND
Little e Williams [16]
18 H atletas de futebol
6 min (total)
10
SD – 10m

(7 exercícios)
20
– 20min
Stewart et al.[17]
14 H atletas de rugby
AE - 1 X 45s
40
SD
ND
Vetter [18]
26 estudantes
AE – 1 x 30s
30
SD
(14 H e 12 M)
CCI = 0,98
Favero et al. [19]
10 H treinados
AE – 2 x 45s
40
SD
ND
AE – alongamento estático; CCI – coeficiente de correlação intraclasse; ETM – erro típico da medida; H – Homens; M – mulheres; ND
– Não disponível; SD – sem diferenças significativas.
Beckett et al. [14]
13 H atletas
AE – 1 x 20s
198
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
De acordo com Atkinson e Nevill [15], as variáveis que
expressam valores de confiabilidade absoluta, tais como erro
típico da medida (ETM) e os limites de concordância de
Bland-Altman, são mais apropriadas para determinar a precisão das medidas e, consequentemente, para interpretação
de achados associados a elas.
Isto significa que, quando considerados os resultados da
Tabela I, não é possível determinar se as pequenas alterações
percentuais no tempo de sprint são resultado do efeito induzido pelo alongamento ou apenas do erro associado à medida
desta variável.
De fato, as rotinas aplicadas na maior parte dos estudos
apresentados anteriormente são muito semelhantes àquelas
adotadas no cotidiano de diferentes práticas esportivas. Séries
simples e múltiplas de exercícios de alongamento com duração
de 20 s [8,14] e 30 s [10,11,13] parecem exercer efeitos discretos, contudo significativos, sobre o desempenho do sprint.
Considerando as características dessas rotinas, e o pequeno
efeito que elas exercem sobre a tarefa, é razoável especular que
exercícios de menor duração não exerceriam efeitos deletérios
sobre o desempenho do sprint. Embora haja relatos na literatura que rotinas de menor duração (15 s) possam exercer efeitos
significativos sobre os níveis de flexibilidade [20], intervenções
com essa característica ainda não foram contempladas como
variável independente nas investigações que têm como objeto
de estudo o desempenho do sprint.
Desta forma, o objetivo do presente estudo foi investigar
os efeitos de duas rotinas de alongamento estático – 15 s e
30 s – sobre o desempenho do sprint de 50 m em jogadores
de futebol profissional.
Materiais e métodos
A amostra foi constituída por 26 atletas voluntários, federados por um clube de futebol profissional da segunda divisão
do estado do Rio de Janeiro, que estavam em fase de preparação
para o campeonato estadual. Antes de iniciar a participação nos
procedimentos experimentais, todos os voluntários assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido em conformidade com as normas éticas estabelecidas pelo Conselho
Nacional de Saúde (Resolução 196/96). Este termo continha
informações pertinentes aos procedimentos experimentais,
assim como os possíveis riscos e desconfortos inerentes a estudos desta natureza. Os critérios de inclusão foram: 1) ausência
de lesão em um período anterior a seis meses a partir da data
do início dos testes; 2) idade entre 18 e 30 anos e 3) mesmo
início de treinamento para a pré-temporada. Vinte e seis atletas
foram assim selecionados para participar do estudo e alocados
aleatoriamente em dois grupos experimentais (Gr15 e Gr30),
cada um composto por 13 sujeitos. Subsequentemente, um
dos sujeitos foi excluído da amostra, com base na sua característica de outlier em relação ao grupo (vide detalhes a diante).
As características físicas dos participantes que completaram o
estudo são apresentadas na Tabela II.
Tabela II - Características físicas dos participantes do estudo.
Grupos (Média ± DP)
30 s
15 s
Idade (anos)
21 ± 2,0
21 ± 2,0
Estatura (cm)
175,3 ± 6,7
174,4 ± 5,3
Massa corporal (kg) 69,8 ± 4,4
68,6 ± 8,1
Procedimentos experimentais
Os procedimentos experimentais foram realizados em um
campo de grama natural em um total de quatro visitas. As
duas visitas iniciais foram realizadas em um período de três
dias (considerando o intervalo entre as visitas de 24 horas), e
na semana seguinte, da mesma maneira, foram realizadas as
visitas subsequentes. No intuito de evitar possíveis influências
do ciclo circadiano na variável dependente, as visitas foram
realizadas sempre no período da manhã. No início de todas
as visitas, todos os participantes, calçando chuteiras, foram
submetidos a um aquecimento específico constituído por
atividades desempenhadas na prática do futebol. Atividades
como saltos, diversas variações de corrida e outros exercícios
dinâmicos compuseram a rotina de aquecimento que tinha
duração aproximada de 10 minutos.
Na visita inicial, denominada condição controle um
(CON1), logo após o aquecimento, ambos os grupos foram
submetidos a três sprints máximos com distância de 50 metros. Na segunda visita, denominada condição alongamento
estático da semana um (AE1), após a realização da rotina de
aquecimento, os voluntários foram submetidos a rotinas de
alongamento estático, sendo que a duração dos exercícios
foi definida de acordo com o grupo (Gr15 ou Gr30) no qual
estavam alocados. Imediatamente após a aplicação das rotinas
de alongamento, os voluntários foram novamente submetidos
ao mesmo protocolo de sprint. Nas duas visitas subsequentes,
denominadas controle semana dois (CON2) e alongamento
estático semana dois (AE2) os procedimentos experimentais
realizados foram semelhantes aos descritos anteriormente. A
repetição dos procedimentos foi justificada pela necessidade
de determinar a confiabilidade da medida de sprint e assim
assegurar que, na presença de um possível efeito do alongamento sobre o desempenho nos testes de velocidade, este não
foi por causa do procedimento adotado e sim pelo tratamento
aplicado. A Figura 1 ilustra os procedimentos descritos acima.
Teste de Velocidade de 50 Metros (TV50)
Os intervalos entre os estímulos foram aqueles suficientes
para que os atletas retornassem ao ponto de partida, trotando
levemente, para iniciar um novo sprint. Para essa medida,
foram feitas demarcações no campo de futebol, sendo estas
referentes aos pontos de partida e chegada (50 m). Os voluntários foram orientados a manter a velocidade de execução da
tarefa até uma distância de aproximadamente 5 m após a linha
de chegada. Os tempos obtidos no TV50 foram aferidos com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
um cronômetro de mão (Technos, Modelo YP2151). Para
isto, um investigador se posicionava na linha de chegada e ao
mesmo tempo em que dava partida no cronômetro, indicava
para o voluntário o início da tarefa através de sinalização visual e sonora (apito). No momento em que os participantes
passavam pela linha de chegada, o pesquisador responsável
parava o cronômetro para registrar o tempo necessário para
o cumprimento da tarefa. O menor tempo (s) obtido nas três
tentativas foi registrado para a análise estatística dos dados.
199
máxima flexão de tronco buscando tocar a ponta dos pés com
a falange distal dos dedos. Os músculos flexores do quadril
foram alongados com o participante adotando a posição de
agachamento com um dos joelhos apoiado no gramado e o
outro flexionado a 90º. Os voluntários foram orientados a
inclinar o tronco para trás induzindo o alongamento através
de uma hiperextensão do quadril (Figura 2C).
Figura 2 - Exercícios de alongamento.
Figura 1 - Procedimentos experimentais.
Condição Controle (CON)*
AD
(10 min)
Condição Alongamento Estático (AE)*
AD
(10 min)
AE
Legenda
AD: Aquecimento dinâmico - Saltos, corridas
e movimentos específicos
AE: Alongamento estático - 3 exercícios - Grupo 15s (1 x 15s)
Grupo 30s (1 x 30s)
: 3 sprints máximos intervalados por 30s - Dist. 50 metros
*: Ambas as condições são realizadas duas vezes.
1ª semana (CON1 e AE1) 2ª semana (CON2 e AE2)
Protocolo de alongamento
Em ordem, os grupos musculares submetidos às rotinas de
alongamento estático em ambos os membros inferiores foram
os seguintes: 1) quadríceps; 2) isquiotibiais e 3) flexores do
quadril (Figura 2). Em todos os exercícios, os participantes
foram orientados a alcançar a posição na qual se encontrava
o limite da amplitude de movimento articular e expressá-la
oralmente a partir da sensação de maior desconforto. O tempo
de manutenção da posição de alongamento foi determinado
de acordo com o grupo no qual o sujeito estava alocado (Gr15
ou Gr30). Não houve intervalo entre os exercícios.
O exercício direcionado ao alongamento do quadríceps foi
realizado com o sujeito de pé, mantendo o equilíbrio através
da ajuda de um pesquisador. O voluntário, através de uma
pegada invertida (mão direita em contanto com o pé esquerdo
e mão esquerda com o pé direito), segurando no dorso do
pé, movimentou o calcâneo em direção a nádega enquanto
realizava simultaneamente um movimento de hiperextensão
do quadril (Figura 2A).
Para alongar os músculos isquiotibiais (Figura 2B), sentados com as pernas abduzidas e os braços completamente
estendidos, os participantes foram orientados a realizar uma
Análise estatística
A estabilidade da medida do tempo do TV50 foi determinada pelo coeficiente de correlação intraclasse (CCI)
utilizando os valores obtidos por cada um dos voluntários
nas condições CON1 e CON2. Valores de CCI também
foram determinados quando os dados de ambos os grupos
foram analisados em conjunto. O coeficiente de correlação de
Pearson entre a média e a diferença absoluta entre as CON1
e CON2 foi usado para identificação de um possível erro
heterocedástico.
O erro típico da medida (ETM) foi determinado através
da equação sugerida por Hopkins [21], em que a precisão das
medidas é determinada pela razão entre o desvio padrão das
diferenças obtidas entre pares de medidas (CON1 e CON2)
e a raiz quadrada do algarismo dois. O grau de concordância
entre os valores obtidos nas mesmas medidas foi determinado
através do método sugerido por Bland-Altman [22].
Uma análise de variância (ANOVA) de duas entradas (2
x 2 – grupo x teste) com medidas repetidas no segundo fator
foi usada para identificar os efeitos de duas durações de alongamento estático (15 s e 30 s) sobre o desempenho no sprint.
Em outra análise, a diferença absoluta entre os valores das
condições CON2 e AE2 foi expressa como valor percentual
da medida obtida na mesma condição CON2. O teste t de
Student independente foi aplicado para identificar possíveis
diferenças entre as modificações percentuais entre os grupos
(Gr15 e Gr30).
Com exceção das medidas de confiabilidade absoluta, as
análises foram feitas através do uso de um software disponível
comercialmente (SPSS, versão 17.0 para Windows, SPSS
INC; Chicago, IL). O limite de significância estatística foi
estabelecido em p < 0,05. Anterior ao uso da estatística paramétrica, a distribuição dos valores médios dos tempos do
TV50 obtidos por cada um dos grupos nas condições CON
e AE foi examinada através do teste de Shapiro-Wilk.
200
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Resultados
Tabela III - Variáveis associadas à confiabilidade da medida do
tempo TV50.
Uma análise preliminar com todos os sujeitos foi realizada
de modo a avaliar a característica dos dados observados.
O teste de Shapiro-Wilk identificou que os valores do
TV50 em CON1 não apresentavam distribuição normal (p
= 0,002) enquanto em CON2 mostrou valores limítrofes (p
= 0,053).
Subsequentemente, as diferenças entre os testes CON1
e CON2 foram usadas para o cálculo do gráfico box plot,
considerando-se como outlier qualquer diferença maior que
Q3 + (3*AIQ) e menor que Q1 – (3*AIQ), onde:
Q1 e Q3 são os quartis 1 e 3;
AIQ é o intervalo interquartílico ou Q3 – Q1.
Desta maneira o critério de corte foi estabelecido para
valores abaixo de -0,48 s e acima de 0,46 s. A partir deste
cálculo identificou-se um outlier que foi retirado da análise
subsequente, restando assim 25 sujeitos (Gr15 = 13 e Gr30
= 12), como observado na Figura 3.
Diferença entre medidas 1 e 2 (segundos)
Figura 3 - Identificação de outlier a partir das diferenças entre os
dois TV50 na condição sem alongamento (CON1 e CON2). Os
quatro casos mostrados são possíveis outliers, porém só um (-0,79) foi
considerado extremo, pois atingiu o critério de exclusão - diferença
maior que Q3 + (3*AIQ) e menor que Q1 – (3*AIQ).
0,50
•
0,25
0,48
•
0,29
0,00
-0,25
•
-0,50
-0,33
-0,75
-0,79
*
Um novo teste de Shapiro-Wilk demonstrou que a exclusão tornou a distribuição com características normais tanto
para CON1 (p = 0,070) quanto para CON2 (p = 0,139).
As medidas de confiabilidade relativa (CCI) e absoluta
(ETM) do tempo TV50 são apresentadas na Tabela III. Todos
os valores de CCI alcançaram significância estatística, com
o Gr15 apresentando maiores valores (r = 0,960; p = 0,000)
do que os obtidos pelo Gr30 (r = 0,894; p = 0,000). Quando
ambos o grupos foram analisados em conjunto, estes apresentaram valores de CCI de 0,939 (p = 0,000) .
Os valores de ETM absoluto e relativo de ambos os grupos em conjunto foram de aproximadamente 0,15 s e 2,4%
respectivamente, enquanto separadamente foram de 0,10 s e
1,6% para Gr15 e 0,19s e 3,0% para Gr30.
Média ± DP
Grupo 15 s
(N = 13)
CON1
CON2
Grupo 30 s
(N = 12)
CON1
CON2
Grupos 15 s +
30 s (N = 25)
CON1
CON2
ICC
R
ETM
P
s
%
6,36 ± 0,11
0,960
6,37 ± 0,94
0,000
0,10
1,62
6,30 ± 0,27 0,890
6,31 ± 0,27
0,000
0,19
3,0
6,33 ± 0,33 0,919
6,34 ± 0,34
0,000
0,15
2,41
CCI – coeficiente de correlação intraclasse; DP – desvio padrão; ETM –
erro técnico da medida (absoluto em s e relativo em %).
O grau de concordância entre os valores obtidos nas condições CON1 e CON2 podem ser observados nos gráficos de
Bland-Altman apresentados na Figura 4. Os valores médios
das diferenças entre CON1 e CON2, assim como os limites
de concordância para cada um dos grupos separadamente ou
em conjunto são apresentados na Tabela IV.
As correlações de Pearson entre a média dos valores obtidos
e a diferença absoluta entre as condições CON1 e CON2
para os Gr15 (r = 0,387; p = 0,191) e Gr30 (r = -0,013; p =
0,969) e para os grupos combinados (r = 0,210; p = 0,314) não
alcançaram significância estatística, caracterizando ausência
de erro heterocedástico.
Para a análise dos efeitos do alongamento sobre o desempenho no TV50 foram considerados apenas os testes realizados
nas condições CON2 e AE2, já que em análise preliminar
não foram observadas diferenças significativas entre CON1
e CON2 e AE1 e AE2. Os resultados da ANOVA não identificaram interação grupo x teste, porém, foram encontradas
diferenças significativas no efeito principal teste (CON2 x
AE2) tanto para o Gr15 (p = 0,000) quanto para Gr30 (p =
0,000), conforme Figura 5. Embora não reportados, os mesmos resultados foram encontrados quando as comparações
envolveram as condições CON1 e AE1.
Quando a diferença absoluta entre os valores das condições
CON2 e AE2 foi expressa como valor percentual da medida
obtida durante a condição CON2, o tempo de sprint após
o alongamento estático para Gr15 e Gr30 aumentou em
aproximadamente 7,5% e 6,8% respectivamente. O teste t
de Student independente também não identificou diferenças
significativas entre os grupos para estes valores percentuais
(p = 0,499).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Figura 4 - Gráficos de Bland-Altman para a caracterização do erro
nos momentos teste e reteste na condição sem alongamento (CON1
e CON2).
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
Média (segundos)
7,5
8,0
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
Média (segundos)
7,5
8,0
Diferença (segundos)
Diferença (segundos)
Diferença (segundos)
Grupo 15 s e 30 s(N = 25)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
-0,20
-0,40
-0,60
-0,80
-1,00
Grupo
Média ± DP das Limites de condiferenças (s)
cordância (s)
- 0,002 ± 0,146 - 0,2942 – 0,2896
-0,011 ± 0,169 - 0,3498 – 0,3281
- 0,024 ± 0,217 - 0,4106 – 0,4591
Discussão
Grupo 30 s (N = 12)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
-0,20
-0,40
-0,60
-0,80
-1,00
Tabela IV - Resultados da análise de Bland-Altman para cada
grupo individualmente e ambos em conjunto.
Grupo 15s (n = 13)
Grupo 30 (n = 12)
Grupos 15 s e 30 s
(n = 25)
DP – Desvio padrão.
Grupo 15 s (N = 13)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
-0,20
-0,40
-0,60
-0,80
-1,00
201
5,0
5,5
6,0
6,5
7,0
Média (segundos)
7,5
8,0
Os achados da presente investigação sugerem que até mesmo uma rotina de alongamento estático com três exercícios
realizados com uma única série de 15 s de duração é capaz
de induzir efeito deletério significativo sobre o desempenho
de um teste de velocidade de magnitude semelhante àquele
induzido por uma intervenção de maior volume (1 x 30 s).
Até onde se tem conhecimento, não há relatos sobre os
efeitos induzidos por rotinas de alongamento estático com a
característica aqui estudada (1 x 15 s) sobre o desempenho de
corridas de alta intensidade e curta distância. Diante da ausência de diferenças significativas entre as duas diferentes rotinas
de alongamento, os resultados aqui reportados não apóiam a
idéia que sugere a presença de uma relação de dose-resposta
entre o volume de alongamento (duração dos exercícios e o
número de séries) e a magnitude do efeito deletério induzido no desempenho. Entretanto, é importante lembrar que
exercícios de alongamento têm suas intensidades avaliadas
de maneira subjetiva, já que estas são limitadas pela sensação
subjetiva de dor, que pode ser bastante diferente entre sujeitos.
Comparando com os estudos apresentados na Tabela I, as
alterações percentuais resultantes da aplicação das duas rotinas
de alongamento estático adotadas na presente investigação
(7,5 % – 1 x 15 s vs. 6,5% – 1 x 30 s) foram bem maiores do
que aquelas reportadas por estudos anteriores. Independente
do volume de alongamento e da distância percorrida nos testes
de velocidade, grande parte das investigações tem relatado
pequenos ( 0,8 – 2,5%), mas significativos, efeitos sobre o
desempenho da tarefa executada. Segundo Winchester et al.
[13], rotinas com características semelhantes à adotada por
um dos grupos que compuseram a amostra do presente estudo
(1 x 30 s) foram suficientes para induzir efeito deletério sobre
o desempenho de atletas das mais diferentes modalidades
(diminuição do desempenho em torno de 1,8 %). Já Nelson
et al.[9] observaram que mesmo rotinas com maiores volumes
(4 x 30 s) parecem induzir efeitos deletérios de magnitude
semelhante (1,3 %) àqueles induzidos por menores volumes
de alongamento quando aplicados em sujeitos que apresentam
características semelhantes aos que compuseram a amostra do
estudo de Winchester et al. [13].
202
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Figura 5 - Comparação entre valores obtidos nas condições sem
alongamento (CON2) e após alongamento estático (AE2) para
ambas as rotinas de alongamento. Diferenças significativas entre as
condições CON2 e AE2 para ambos os grupos (p<0,05).
7,0
6,8
6,6
Tempo (s)
6,4
6,2
6,0
5,8
5,6
5,4
5,2
0,0
CON2
Condição
Grupo 15s
AE2
Grupo 30s
Diante da ausência de informações associadas à confiabilidade absoluta da medida adotada por estas investigações, a
inferência dos achados tem de ser considerada com cautela,
uma vez que não é possível determinar se as pequenas alterações percentuais nos tempos relatados nos diversos estudos
foram consequentes do efeito induzido pelo alongamento
ou do erro associado à medida desta variável. Dentro desse
contexto, um objetivo secundário da presente investigação
foi determinar os valores de confiabilidade relativa e absoluta
da medida, e assim assegurar que os resultados encontrados
aqui foram decorrentes de uma relação de causa e efeito entre
as diferentes rotinas de alongamento e o aumento no tempo
médio do TV50.
Os valores de CCI aqui observados, assim como a significância estatística alcançada por eles em cada grupo individualmente ou em conjunto, indicam alta reprodutibilidade no
tempo do TV50 quando o teste é realizado em dias diferentes.
Mesmo com características bem diferentes da medida frequentemente adotada em outras investigações (cronometragem
acionada por célula foto elétrica), a amplitude de valores de
CCI apresentados no presente estudo (R = 0,890 – 0,960)
são ligeiramente menores do que aqueles tradicionalmente
reportados na literatura (Tabela I).
Já a ausência de significância estatística das correlações
de Pearson entre a média dos valores das condições CON1
e CON2 e a diferença absoluta entre as mesmas condições
também obtidas por cada grupo individualmente ou em
conjunto, indica que a variável dependente investigada não
apresenta erro heterocedástico. A análise dos gráficos de
Bland-Altman confirma a ausência de relação linear entre as
diferenças absolutas entre as condições CON1 e CON2 e a
magnitude da medida do tempo do TV50.
Considerando a característica da medida adotada no
presente estudo, que além do provável erro consequente da
variabilidade biológica, poderia ser influenciada pela precisão
do investigador responsável, sua precisão foi determinada
através dos valores de ETM relativos e absolutos. A pequena
amplitude de valores obtidos através da análise dos dados de
cada grupo individual ou em conjunto, tanto para o ETM
absoluto (0,10 – 0,19 s) quanto relativo (1,6 – 3,0 %), tende
a confirmar a alta reprodutibilidade do TV50 quando este é
determinado em dias diferentes nas mesmas condições.
Diante da ausência de informações a respeito da precisão
da medida adotada pelas investigações resumidas na Tabela
I, a pequena, mas significativa, amplitude de alterações nos
tempos dos testes de velocidade ( 0,8 a 2,5 %) reportada
em seus resultados deve ser interpretada com cautela, principalmente se confrontada com os valores de ETM aqui
reportados. Obstante a este fato, os efeitos induzidos pelas
duas rotinas de alongamento adotadas no presente estudo
foram refletidos por aumentos de 6,5 a 7,5% no tempo médio
do TV50, estabelecendo assim uma relação de causa e efeito
entre a intervenção e o reduzido desempenho da tarefa, uma
vez que estes valores estão bem acima dos reportados para o
ETM (1,62 – 3,0 %).
A propriedade de rigidez passiva da unidade músculotendinosa e a influência que exercícios de alongamento exercem sobre ela podem ser indicadas como prováveis causas do
reduzido desempenho em provas de velocidade. A aplicação
do alongamento estaria associada à redução na rigidez passiva, sendo esta consequência das alterações nos componentes
mecânico e neuromuscular que atuam como mediadores da
força que resiste a mudanças no comprimento da unidade
músculo-tendinosa [23-27].
Conforme sugerido por Wilson et al. [28], a rigidez
músculo-tendinosa estaria diretamente associada a um maior
desempenho em ações concêntricas e isométricas, sendo
resultantes de um efeito induzido por essa variável sobre
a taxa inicial de desenvolvimento de força. Em sistemas
músculo-tendinosos rígidos, a transmissão de força produzida
pelo componente contrátil para os componentes elásticos
em série e, finalmente para o sistema esquelético estaria aumentada, o que consequentemente facilitaria a taxa inicial
do seu desenvolvimento[28]. O aumento na transmissão de
força estaria diretamente associado à rigidez ou ausência de
complacência do tecido tendinoso, que, por sua vez, reduziria
o atraso eletromecânico, definido como espaço de tempo
entre o aumento na atividade elétrica e a resposta mecânica
do músculo [29, 30].
Considerando a importância da rápida produção de força/
potência na fase de aceleração da curva de velocidade em ações
que envolvem alta velocidade e curta duração, é provável
que o efeito deletério induzido pelas duas diferentes rotinas
de alongamento estático adotadas na presente investigação
estejam associadas à fase inicial da tarefa. Sayers et al.[10]
corroboram nossa especulação uma vez que relataram que
exercícios de alongamento estático exercem efeito negativo
sobre a fase de aceleração do sprint.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
No entanto, outros mecanismos alternativos que estariam
associados à fase de velocidade constante do sprint [31] têm
sido propostos a partir dos eventos que acontecem durante a
fase de contato com o solo. Durante essa fase, o músculo ativo
é forçadamente alongado e há produção de trabalho negativo
com parte da energia mecânica sendo absorvida na forma de
energia potencial elástica de acordo com o grau de rigidez dos
componentes elásticos em série. Uma rápida transição para
fase de propulsão garante a utilização dessa energia em forma
cinética, aumentando assim a produção da força e eficiência
do movimento.
Desta forma, os achados de Kubo et al. [32], que relataram reduções significativas na rigidez dos tendões através da
medida de ultrassom, em conjunto com aqueles apresentados
por Kuitunen et al. [33] que relatam a existência de relação
inversa entre a rigidez músculo tendinosa e o tempo de
contato com o solo, indicam como potencial mediador do
efeito induzido pelo alongamento sobre o sprint a reduzida
capacidade de armazenar e reutilizar energia elástica na fase
excêntrica e concêntrica do ciclo alongamento-encurtamento,
respectivamente.
Segundo Komi e Gollhofer [34], além do estoque e liberação de energia elástica, dentro da fase excêntrica do ciclo,
o alongamento do músculo ativo também induziria uma
resposta reflexa a mudança do comprimento da unidade
músculo tendinosa, contribuindo para a produção de força
e rigidez. No entanto, Rosenbaum e Hennig [26] reforçam
os achados associados à reduzida capacidade de armazenar
energia elástica, uma vez que relataram redução significativa
na amplitude da resposta reflexa do tríceps sural em conjunto
com aumento no seu tempo de latência logo após a aplicação
de uma rotina de alongamento.
Conclusão
Diante dos resultados aqui apresentados e em vista dos
estudos anteriormente reportados, concluiu-se que os procedimentos muitas vezes utilizados em diversas modalidades
esportivas nos momentos que antecedem a sua prática, aqui
destacada a velocidade de alta intensidade e curta duração,
deve ser reconsiderada. As evidências disponíveis na literatura
não só indicam um pior desempenho nas tarefas em que a
velocidade é fator preponderante, mas também naquelas em
que a força/potência são requisitos básicos e necessários para
o melhor desempenho.
É importante que outros estudos sejam realizados de modo
a determinar de que maneira a intensidade dos exercícios
de alongamento pode interferir no desempenho destas e de
outras tarefas esportivas que envolvam a força, a potência e a
velocidade de alta intensidade e curta duração. É possível que
haja um efeito combinado entre a intensidade e a duração do
alongamento. O mesmo deve ser feito com o alongamento
balístico e a facilitação neuromuscular proprioceptiva.
203
Referências
1. Herbert RD, de Noronha M. Stretching to prevent or reduce
muscle soreness after exercise. Cochrane Database Syst Rev
2007(4):CD004577.
2. Herbert RD, Gabriel M. Effects of stretching before and after
exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic
review. BMJ 2002;325(7362):468.
3. Rubini EC, Costa AL, Gomes PS. The effects of stretching on
strength performance. Sports Med 2007;37(3):213-24.
4. Ogura Y, Miyahara Y, Naito H, Katamoto S, Aoki J. Duration
of static stretching influences muscle force production in hamstring muscles. J Strength Cond Res 2007; 21(3):788-92.
5. Siatras TA, Mittas VP, Mameletzi DN, Vamvakoudis EA.
The duration of the inhibitory effects with static stretching
on quadriceps peak torque production. J Strength Cond Res
2008;22(1):40-6.
6. Stolen T, Chamari K, Castagna C, Wisloff U. Physiology of
soccer: an update. Sports Med 2005;35(6):501-36.
7. Fletcher IM, Anness R. The acute effects of combined static
and dynamic stretch protocols on fifty-meter sprint performance in track-and-field athletes. J Strength Cond Res
2007;21(3):784-7.
8. Fletcher IM, Jones B. The effect of different warm-up stretch
protocols on 20 meter sprint performance in trained rugby
union players. J Strength Cond Res 2004;18(4):885-8.
9. Nelson AG, Driscoll NM, Landin DK, Young MA, Schexnayder IC. Acute effects of passive muscle stretching on sprint
performance. J Sports Sci 2005;23(5):449-54.
10. Sayers AL, Farley RS, Fuller DK, Jubenville CB, Caputo JL.
The effect of static stretching on phases of sprint performance in
elite soccer players. J Strength Cond Res 2008;22(5):1416-21.
11. Siatras TA, Papadopoulos G, Mameletzi DN, Gerodimos V,
Kellis S. Static and dynamic acute stretching effect on gymnasts’
speed in vaulting. Pediatr Exerc Sci 2003;15:383-391.
12. Taylor KL, Sheppard JM, Lee H, N. P. Negative effect of static
stretching restored when combined with a sport specific warmup component. J Sci Med Sport 2008. No prelo. doi:10.1016/j.
jsams.2008.04.004.
13. Winchester JB, Nelson AG, Landin D, Young MA, Schexnayder
IC. Static stretching impairs sprint performance in collegiate
track and field athletes. J Strength Cond Res 2008;22(1):13-9.
14. Beckett JRJ, Schneiker KT, Wallman KE, Danson BT, Guelf
KJ. Effects of static stretching on repeated sprint and change of
direction performance. Med Sci Sports Exerc 2009;41:444-50.
15. Atkinson G, Nevill A. Statistical methods for assessing measurement error (reliability) in variables relevant to sports medicine.
Sports Med 1998;24(4):217-38.
16. Little T, Williams AG. Effects of differential stretching protocols
during warm-ups on high-speed motor capacities in professional
soccer players. J Strength Cond Res 2006; 20(1):203-7.
17. Stewart MS, Adams R, Alonso A, Koesveld BVSC. Warm-up
or stretch as preparation for sprint performance? J Sci Med
Sport 2007;10:403-10.
18. Vetter RE. Effects of six warm-up protocols on sprint and jump
performance. J Strength Cond Res 2007;21(3):819-23.
19. Favero JP, Midgley AW, Bentley DJ. Effects of an acute bout
of static stretching on 40 m sprint performance: influence of
baseline flexibility. Res Sports Med 2009;17(1):50-60.
204
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
20. Madding SW, Wong JG, Hallum A, Medeiros J. Effect of
duration of passive stretch on hip abduction range of motion.
J Orthop Sports Phys Ther 1987;8(8):409-16.
21. Hopkins WG. Measures of reliability in sports medicine and
science. Sports Med 2000; 30(1):1-15.
22. Bland J, Altman D. Statistical methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet
1986;8:307-10.
23. Magnusson SP, Simonsen EB, Aagaard P, Gleim GW, McHugh
MP, Kjaer M. Viscoelastic response to repeated static stretching
in the human hamstring muscle. Scand J Med Sci Sports
1995;5(6):342-7.
24. Magnusson SP, Simonsen EB, Aagaard P, Kjaer M. Biomechanical responses to repeated stretches in human hamstring muscle
in vivo. Am J Sports Med 1996;24(5):622-8.
25. Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Costa
PB, et al. The time course of musculotendinous stiffness responses following different durations of passive stretching. J Orthop
Sports Phys Ther 2008;38(10):632-9.
26. Rosenbaum D, Hennig EM. The influence of stretching and
warm-up exercises on Achilles tendon reflex activity. J Sports
Sci 1995;13(6):481-90.
27. Avela J, Komi PV. Interaction between muscle stiffness and
stretch reflex sensitivity after long-term stretch-shortening cycle
exercise. Muscle Nerve 1998;21(9):1224-7.
28. Wilson GJ, Murphy AJ, Pryor JF. Musculotendinous stiffness:
its relationship to eccentric, isometric, and concentric performance. J Appl Physiol 1994;76(6):2714-9.
29. Muraoka T, Muramatsu T, Fukunaga T, Kanehisa H. Influence
of tendon slack on electromechanical delay in the human medial gastrocnemius in vivo. J Appl Physiol 2004; 96(2):540-4.
30. Wilson JM, Flanagan EP. The role of elastic energy in activities with high force and power requirements: a brief review. J
Strength Cond Res 2008;22(5):1705-15.
31. Mero A, Komi PV, Gregor RJ. Biomechanics of sprint running.
A review. Sports Med 1992;13(6):376-92.
32. Kubo K, Kanehisa H, Kawakami Y, Fukunaga T. Influence of
static stretching on viscoelastic properties of human tendon
structures in vivo. J Appl Physiol 2001; 90(2):520-7.
33. Kuitunen S, Komi PV, Kyrolainen H. Knee and ankle joint stiffness in sprint running. Med Sci Sports Exerc 2002;34(1):166-73.
34. Komi PV, Gollhofer A. Stretch reflexes can have an important
role in force enhancement during SSC exercise. J Appl Biomech
1997;13:451-60.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
205
Revisão
Redução e manutenção da pressão arterial através
de exercícios resistidos com pesos
Blood pressure reduction and maintenance by means
of resistance exercises
Maria da Graça Meurer Monteiro*, Vanise Flores Bittencourt*, Rafaela Liberali*, Fabio Henrique Ornellas**,
Francisco Navarro***
*Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho – UGF - Fisiologia e Prescrição do Exercício, **IBPEFEX
- Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício, ***Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade
Gama Filho – UGF – Fisiologia e Prescrição do Exercício, IBPEFEX – Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do
Exercício
Resumo
Abstract
A hipertensão é um dos fatores que contribuem para o aumento
das morbidades e mortalidade na sociedade atual, sendo necessária
uma modificação do estilo de vida, para prevenção ou tratamento.
Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar a influência
dos exercícios resistidos com peso, como uma forma de tratamento
não-farmacológico para a redução e manutenção da pressão arterial,
realizado através de levantamento bibliográfico, sendo delimitado
em: artigos científicos, livros, diretrizes e orientações sobre o assunto,
publicados a partir do ano de 2000. A inatividade física está relacionada ao risco de desenvolvimento de hipertensão, nesse sentido,
estudos com indivíduos de ambos os gêneros buscam analisar os
benefícios diretos e indiretos dos efeitos agudos e crônicos de um
treinamento de exercícios resistidos com pesos, para reduzir ou
manter a pressão arterial. Conclui-se que a atividade física regular
com exercícios resistidos com peso pode contribuir para reduzir e
manter a pressão arterial.
Hypertension is one of the factors that contribute to the increase
of morbidities and mortality in modern society, being necessary a
modification in lifestyle, either to prevent it or to treat it. Thus,
this study aims to analyze the influence of the resistance exercises
weighing as a non-pharmacological treatment to reduce and to
maintain blood pressure, achieving it through literature review in
books; guidelines; and articles about the subject, published after
2000. Physical inactivity is related to the risks of developing blood
hypertension; therefore, studies considering individuals of both
sex attempt to analyze the direct and indirect benefits of the acute
and chronic effects of resistance training with weight to reduce or
to maintain blood pressure. It is concluded that regular physical
activity with resistive exercises weighing can contribute to reduce
and to maintain blood pressure.
Key-words: hypertension, resistance exercises, blood pressure,
acute and chronic effects.
Palavras-chave: hipertensão, exercícios resistidos, pressão
arterial, efeitos agudos e crônicos.
Endereço para correspondência: Francisco Navarro, E-mail: [email protected]
206
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
A hipertensão arterial é uma doença que acomete os vasos
sanguíneos, coração, cérebro, olhos e pode causar paralisação
dos rins. A hipertensão, segundo o Ministério da Saúde, conforme dados de 2006, responde por grande parte das comorbidades e da mortalidade por problemas em órgãos alvos nos
países industrializados, sendo um dos mais importantes fatores
de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares,
cerebrovasculares e renais, sendo responsável por pelo menos
40% das mortes por acidentes vasculares encefálico (AVE),
25% de doença arterial coronariana e, em combinação com
diabetes, 50% dos casos de insuficiência renal terminal.
Estes índices podem ser alterados através de uma modificação do estilo de vida, como a adesão de medidas farmacológicas e não-farmacológicas de prevenção ou de tratamento.
Entre estas medidas destacamos a prática de atividade física
regular, associada a hábitos alimentares saudáveis, redução
de ingestão de bebidas alcoólicas e ao tabagismo, redução
do sobrepeso, diminuição dos níveis de estresse, restrição de
sódio, suplementação de potássio, cálcio e magnésio, controle
das dislipidemias e diabetes, e diminuição da concentração de
colesterol. Além desses fatores de risco, sabe-se que sua incidência é maior na etnia negra, aumenta com a idade, é maior
entre homens com até 50 anos, e em mulheres acima de 50
anos. Sendo essa doença, herdada dos pais em 90% dos casos.
O estudo pretende verificar através de um levantamento
bibliográfico a partir do ano de 2000, se a hipertensão arterial
pode ser controlada pelas mudanças fisiológicas induzidas
através do treinamento de exercícios resistidos com pesos.
Pressão arterial
Pressão arterial, conforme o Colégio Americano de Medicina do Esporte [1], é a força na qual o coração bombeia
o sangue através dos vasos, portanto podemos dizer que a
pressão arterial é o produto de dois fatores: da resistência
que o sangue encontra nas artérias versus o volume de sangue
que o coração bombeia a cada batida, ou seja, é determinada
pelo débito cardíaco e pela resistência periférica. Sabemos
que a resistência é proporcional ao diâmetro das artérias, que
variam dependendo da espessura de suas paredes internas e
da sua elasticidade, portanto quanto maior for a resistência,
maior será a pressão.
A pressão arterial varia muito durante o dia, conforme a
postura física do momento, bem como do esforço físico que
se esteja sendo realizado ou das emoções que estiver sentindo.
O estresse também tem um efeito marcante na elevação da
pressão.
Hipertensão
A hipertensão arterial é uma condição sistêmica com
alterações estruturais das artérias e do miocárdio, associadas
à disfunção endotelial, constrição e remodelamento da musculatura lisa vascular [2]. Essa condição clínica de natureza
multifatorial é caracterizada, conforme as Diretrizes Brasileiras
de Hipertensão [3], quando os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica aferidos obtiverem valores iguais ou superiores
a 140/90 mmHg sustentados em mais de uma ocasião e na
ausência de medicamentos anti-hipertensivos.
Picos da pressão arterial muito elevados podem contribuir
para aumentar o risco de doenças e danos nos órgãos-alvo,
como coração, rins, cérebro e vasos, com consequente aumento do risco cardiovascular [2], também com esses casos pode
ocorrer o rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes,
causando acidentes vasculares encefálicos, especialmente nos
hipertensos [4].
A hipertensão arterial pode ser classificada considerando
dois aspectos: a causa e a gravidade. Quanto à origem classificamos de primária ou essencial (quando não tem causa
identificada e acarreta danos aos órgãos alvo) responsável por
85% dos casos; e secundária (quando consequência de outra
patologia). Existem, também, alguns fatores complicadores
que aumentam o risco da hipertensão, como a hereditariedade, o tabagismo, o álcool, a obesidade, o sódio, o stress e
o sedentarismo.
A população hipertensa vem crescendo muito nos últimos
anos, com o aumento da expectativa de vida ou mesmo com
a prática de alguns hábitos que estimulam tal quadro. Inicialmente a hipertensão é assintomática, sendo uma doença
silenciosa, que com a sua evolução pode levar a morte.
Tratamento da hipertensão
Para tratamento da hipertensão existem basicamente
dois meios, o farmacológico, através de drogas hipotensoras
como os diuréticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores
diretos, inibidores da enzima conversora da angiotensina e
bloqueadores dos canais de cálcio. E os não farmacológicos,
baseados na modificação do estilo de vida, como no controle e
diminuição do peso, adoção de hábitos alimentares saudáveis,
abandono do álcool e do tabagismo e a prática de atividades
físicas regulares [5].
Exercício resistido com peso
O treinamento resistido com peso é aquele realizado de
forma dinâmica, com uso de implementos específicos ou
cargas livres, cujo objetivo é aumentar tanto a capacidade
quanto à habilidade para se levantar uma determinada carga
durante um movimento específico [6-7]. Trata-se de um tipo
de exercício no qual a contração muscular é realizada por um
determinado segmento corporal, contra uma força que se
opõe ao movimento [4].
Em geral, os exercícios resistidos com peso são realizados
em séries (sequências contínuas de repetições do movimento)
separadas por intervalos com duração variada, que podem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
ser ativos ou passivos. Dessa forma, algumas variáveis do
treinamento resistido com peso estão diretamente associadas
ao aumento das respostas cardiovasculares, principalmente
da pressão arterial (PA), como o número de séries, intervalos
de recuperação, carga mobilizada, tipos de exercícios e massa
muscular envolvida.
A inatividade física está relacionada ao maior risco de
desenvolvimento de hipertensão arterial [4], pesquisas têm
comprovado com evidências epidemiológicas que sustentam
a indicação da prática da atividade física como medida não
farmacológica para o tratamento da pressão arterial, promovendo reduções e controle através de seus benefícios [8-11].
Um procedimento seguro para conduzir um treinamento,
é ofertar subsídios adicionais à manipulação de variáveis associadas à sua intensidade absoluta e relativa (tipo de exercício,
intervalo de recuperação, número de repetições e séries, carga
mobilizada e velocidade de execução) [6]. Estes benefícios podem proporcionar mudanças fisiológicas agudas (imediatas),
e/ou e crônicas (tardias) [12].
Nos exercícios resistidos com pesos, a resposta aguda
tem relação direta com a sessão de treinamento, pode ser
imediata, durante a fase concêntrica e excêntrica, ou até
alguns minutos após o exercício, porque atua na frequência
cardíaca, pressão arterial, volume sistólico, débito cardíaco,
pressão intratorácica e pela sudorese normalmente associados
ao esforço [12]. Já os efeitos tardios, são aqueles observados
ao longo das primeiras 24 ou 48 horas (às vezes até 72 horas) que se seguem ao término do treino e apresentam uma
discreta diminuição nos níveis tensionais (especialmente em
hipertensos), na expansão do volume plasmático, melhora da
função endotelial e aumento da sensibilidade insulínica nas
membranas das células musculares.
Os efeitos crônicos do exercício resistido, também denominados de adaptações [12], decorrentes da frequência regular
e sistematizada das sessões de treino causam mudanças na
morfologia cardíaca, uma diminuição do estresse cardiovascular, bradicardia relativa de repouso, hipertrofia ventricular
esquerda fisiológica e o aumento do consumo máximo de
oxigênio [6].
Contudo, apesar dos benefícios, indivíduos com problemas cardiovasculares (hipertensão, enfarto, etc.) devem evitar
o bloqueio respiratório durante os exercícios resistidos com
peso, pois sofrem o risco de haver um pico anormal pressórico,
excedendo 200 mmHg, dependendo da força e da duração
deste bloqueio [13].
Estudos verificaram o efeito hipotensor após o exercício
resistido com peso. No estudo do comportamento subagudo
da pressão arterial após o treinamento de força em hipertensos
controlados [14], foram estudados 20 indivíduos de ambos os
gêneros (61 ± 12 anos) com hipertensão controlada por fármacos e participantes de um programa de exercícios, porém sem
experiência no treinamento de força. O estudo foi realizado
em três dias não consecutivos. Primeiramente, determinouse a carga de 10 repetições máximas em cada exercício da
207
sequência (supino-reto, leg-press horizontal, remada em pé
e rosca tríceps). A aferição da PA foi executada pelo método
auscultatório no momento pré-exercício, imediatamente
após o término de cada sessão e durante 60 minutos após o
término dos exercícios.
Neste estudo foi identificado que em ambas as sessões os
valores da PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD), medidos imediatamente após o término dos exercícios, foram mais elevados
(p < 0,05) que os do pré-exercício. O acompanhamento em
60 minutos exibiu, após 1 série, uma redução dos valores de
PAS apenas no 40º minuto, enquanto não foram encontradas
reduções para a PAD. Já após 3 séries, observou-se uma queda
dos níveis de PAS que perdurou por todo o período de monitoração. Para PAD, foram encontradas reduções apenas no
30º e 50º minuto pós-exercício. Concluiu-se que uma sessão
de treinamento de força pode promover reduções nos níveis
de PAS em indivíduos hipertensos medicados.
Após estudo em que a amostra constituía de 3 grupos,
“sedentários”, “treinamento resistido” e o grupo “treinamento
de resistência”, todos com homens e mulheres, adultos jovens
22 anos em média, normotensos, concluiu-se que a elevação
da PA que acontece durante o exercício de resistência com
peso não persiste dentro de 24 horas após a sessão de exercício
agudo dentro dos 3 grupos [15].
No estudo sobre o efeito hipotensivo do exercício físico de
força realizado em diferentes intensidades no mesmo volume
de trabalho [6], o objetivo era verificar o exercício contra resistência sobre os efeitos agudos tardios da PAS e PAD. Durante
3 dias, não consecutivos, 16 jovens foram submetidos a vários
exercícios (supino-reto, leg press, puxada no pulley, mesa flexora, desenvolvimento e rosca bíceps), organizado da seguinte
forma: no primeiro dia, foi realizado teste de 6 repetições
máximas (RMs) para cada exercício; no segundo dia, foram
feitos 3 séries de 6 RMs em cada exercício; e, no último dia,
foram realizadas 12 repetições com 50% de 6 RMs. As PAS e
PAD foram aferidas antes e após cada sequência, por método
auscultatório, e por monitoração ambulatorial, em ciclos de
10 minutos, em repouso absoluto durante 1hora. Os autores
concluíram que o exercício de resistência com peso, exerceu
efeito hipotensivo sobre a pressão arterial, principalmente
sobre PAS; o declínio absoluto da PAS não foi influenciado
pelas diferentes interações de carga e repetições; a magnitude
das cargas tendeu a favorecer a duração da redução da PAS; e
o número de repetições teve maior repercussão sobre a PAD
que sobre a PAS, mas por curto período de tempo.
Em outro estudo sobre a verificação das alterações provocadas pelo exercício contra resistência no indivíduo hipertenso
[16], verificou-se a possível redução na pressão arterial. A
amostra foi constituída por um indivíduo de 37 anos, do
gênero masculino, hipertenso, em tratamento farmacológico.
Ao iniciar o programa, este indivíduo foi submetido a uma
anamnese e ao teste de 1 RM. Todas as variáveis estudadas
foram mensuradas semanalmente, antes e após a sessão de
exercícios, com 5 minutos de descanso. Os exercícios foram
208
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
realizados no supino-reto, na remada barra curta, no leg press
(quadríceps e panturrilha), na cadeira extensora, na mesa
flexora e abdominal, com 3 sessões de exercícios semanais,
duração de 50 a 60 minutos, durante quatro meses, a 80% de
1RM. Nos resultados observa-se que a PAD e a PAS modificaram de forma positiva e significativa. Cada média mensal foi
calculada em cima dos valores obtidos nas médias semanais,
constituídas de coleta feita a cada dia de treinamento.
Autores testaram a hipótese de que o treino de resistência
de força reduz a pressão arterial em repouso [17], concomitante com reduções da atividade muscular do nervo simpático. A amostra contou com 12 adultos jovens que foram
submetidos a um programa de treinamento de resistência
de corpo inteiro realizados em 3 dias na semana, durante 8
semanas. Os indivíduos treinaram 3 séries, 10 repetições de
7 exercícios isotônicos.
No estudo a verificação da pressão arterial (n = 12; esfigmomanômetro automatizado) e MSNA (n = 8; microneurografia do nervo peroneal) foram medidas durante um período
de 5 minutos em repouso antes e após o exercício. Para o
grupo controle, participaram do estudo 13 adultos jovens.
A resistência aumentou significativamente no treinamento
de uma repetição máxima em todos os grupos musculares
treinados (p < 0,001), e diminuíram significativamente a
pressão sistólica Os resultados indicam que o treino de exercícios resistidos com pesos poderão exercer uma diminuição
no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares pela
redução da pressão arterial.
O objetivo de um estudo era verificar a PAS e a PAD, taxa
de coração (FC) e duplo-produto (DP) durante e depois da
extensão de joelho com execução unilateral e bilateralmente
até esgotamento [18]. A amostra era formada por 18 indivíduos saudáveis, sendo 6 homens e 12 mulheres, e o estudo foi
realizado através do treinamento de força, sendo executadas
3 séries de 12 repetições. A pressão arterial foi medida pelo
método auscultatório ao término de cada série e durante 20
minutos depois do exercício, com intervalos de 5 minutos.
Depois do exercício, não foi identificada nenhuma diferença
entre todas as variáveis observadas. Aparentemente, o modo
de desempenho do joelho em extensão unilateral não reflete
nas respostas cardiovasculares agudas, durante ou depois do
exercício. Porém, o desempenho bilateral mostrou tendência
para elevar os valores de PAS e DP em relação ao desempenho
unilateral, o que deve ser considerado em prescrições para
pessoas que precisam de cuidados especiais.
Outro estudo objetivou investigar sobre hipotensão de
pós-exercício em um único turno de exercício de resistência
de baixa-intensidade na pressão arterial de mulheres com
hipersensibilidade ao receptor para captopril [18]. A amostra
contou com 12 mulheres hipertensas fazendo uso de captopril,
sofreram 2 sessões experimentais: controle (40 minutos de
repouso sentado) e exercício de resistido com peso de baixaintensidade (6 exercícios de resistência com peso, 3 séries,
20 repetições, 40% de uma repetição máxima). A pressão
arterial foi medida no laboratório, antes e 120 minutos depois de exercício ou repouso. Além disso, a pressão arterial
ambulatória também foi medida 21 horas depois do exercício. Os resultados apresentaram diminuições significativas
nas pressões arteriais clínicas depois do exercício, mas não
depois do repouso e também não diferiram entre as sessões
experimentais. A conclusão dos autores foi que em mulheres
hipertensas com uso do medicamento de receptor de captopril, um único turno de exercício resistido com peso de baixa
intensidade reduz a pressão arterial. Esta redução persiste por
10 horas, durante o período acordado, enquanto as pacientes
estavam comprometidas nas atividades diárias delas, sendo
maior em pacientes com pressão arterial mais alta.
Um estudo comparou as respostas da PA pós-esforço em
mulheres hipertensas e normotensas [20]. O grupo hipertenso não utilizava medicação e apresentava valores de PA
significativamente mais elevados que o grupo normotenso,
após a execução de 15 repetições de 5 exercícios realizados em
circuito a 50% da carga de 1RM, no qual registrou a PA pósesforço durante 60 minutos e verificou-se redução significativa
somente na PAS de forma semelhante em ambos os grupos.
Verificou-se, em outro estudo, as respostas agudas tardias
da pressão arterial sistólica e diastólica pela execução de 3
sequências de exercícios resistidos com peso [13]. Foram
divididos aleatoriamente, em grupo 1 (G1) e grupo 2 (G2).
A sequência do G1 foi composta pelos exercícios: supino
horizontal, leg press inclinado, “puxada pela frente” no pulley
alto, desenvolvimento pela frente em pé, e rosca bíceps. Na
sequência de G2 constavam todos os exercícios de G1, mais o
exercício mesa flexora. No segundo dia, ambos os grupos realizaram 3 séries de 6RM em cada exercício, com um intervalo
de recuperação de 2 minutos entre as séries e os exercícios. No
último dia, 12 repetições foram realizadas em cada exercício,
com carga correspondente a 50% de 6 RM, sendo que G1
realizou os exercícios em forma de circuito, perfazendo um
total de 3 passagens, enquanto que G2 os realizou do mesmo
modo que no dia anterior. A PA foi aferida antes de iniciar
a coleta dos dados e imediatamente após o término de cada
sequência, durante 60 minutos.
Os autores concluíram que no grupo 1, o treinamento em
circuito apresentou reduções significativas até 50 minutos e,
para o treinamento de 6 RM, essas reduções foram também
de 50 minutos. No grupo 2, o treinamento de 6 RM ocasionou reduções significativas em todas as medidas, enquanto
que o de 12 repetições ocasionou redução até a 4ª medida.
Não foram identificadas reduções significativas na PAD em
nenhuma sequência de treinamento adotado, enquanto que
a PAS sofreu redução significativa pós-esforço.
No estudo de Lizardo et al. foram investigados os efeitos
de diferentes sessões de exercícios resistidos sobre a hipotensão
pós-exercício (HPE) [21]. A amostra contou com 11 indivíduos normotensos treinados, os quais realizaram, em dias
distintos, 4 sessões de exercícios resistidos com peso: 1) 2 séries
de 30 repetições a 30% de 1 repetição máxima (1 RM); 2) 2
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
séries de 8 repetições a 80% 1 RM; 3) 4 séries de exercícios
para membros superiores, sendo 30 repetições a 30% 1 RM;
e 4) 4 séries de exercícios para membros inferiores, com 30
repetições a 30% 1 RM.
Os exercícios realizados foram: supino reto, desenvolvimento, adução-ombros, puxador e rosca direta; leg press,
mesa extensora e flexora, flexão plantar e abdução quadril;
sendo todos os exercícios realizados a 30% e 80% de 1 RM. A
PAS, PAD, PAM e freqüência cardíaca foram mensuradas em
repouso no final dos exercícios e durante 120 minutos após.
Este estudo observou efeito hipotensivo na PAS após todas
as sessões, enquanto que a pressão arterial diastólica foi observada apenas após as sessões de 30% e 80% 1 RM. Valores
da PAD foram maiores 50 e 70 minutos após a sessão de
exercício de membros superiores quando comparados à sessão
de membros inferiores. Sendo assim os autores concluíram
que o volume, a intensidade e a massa muscular envolvida
e/ou a proximidade dos músculos exercitados em relação
ao coração podem influenciar no efeito hipotensor após os
exercícios resistidos com peso.
O estudo sobre a redução da pressão arterial em hipertensos tratados com medicamentos anti-hipertensivos após
um programa de treinamento físico [22], teve como objetivo
verificar o comportamento da PA após 4 meses de treinamento
em indivíduos hipertensos medicados. A amostra contou com
40 indivíduos sedentários. Os indivíduos foram divididos
em 2 grupos: grupo-treinamento (GT) e grupo-controle
(GC). Todos os sujeitos passaram por uma avaliação clínica
e física; o GT realizou 3 sessões semanais em dias alternados,
executando simultaneamente o treinamento aeróbio, de força
e flexibilidade.
O resultado do estudo demonstrou que no GT houve
uma redução de 9% na PAS e de 2,2% na PAD na análise
intragrupo. Nos intergrupos, o GT diferenças significativas
em relação ao GC na PAS, mas não na PAD.
Resultados e discussão
Os estudos encontrados realizaram treinos envolvendo
vários exercícios resistidos com peso. Os exercícios executados
foram: supino-reto; leg press horizontal ou inclinado; remada
vertical em pé ou sentado; flexão de joelho; extensão de tríceps;
puxada pela frente/atrás, baixa ou alta no pulley; extensão de
joelho (unilateral e bilateral); rosca bíceps; abdominais, supra
e infra; desenvolvimento; adução de ombro; e abdução de
quadril. A quantidade variou de 2 a 12 exercícios entre os
estudos, a intensidade de 30 a 80% de uma repetição máxima
(1 RM), variou também de 1 a 3 séries, e o tempo não foi
homogêneo sendo que alguns estudos foram realizados com
uma única sessão e outros com 3 sessões semanais durante
4 meses .
Alguns estudos apresentaram em seus resultados mudanças
positivas de forma significativa na PAD e PAS [14,16,17,19].
209
Da mesma forma nas duas metas-análise, a PAS e PAD de
repouso diminuíram para os indivíduos que foram expostos ao
treinamento resistido com peso [23,24]. Já em outro estudo,
depois do exercício, não foi identificada nenhuma diferença
entre todas as variáveis observadas [18].
Autores verificaram redução significativa pós-esforço,
somente na PAS [20,21,13], bem como, outro estudo em
que nos intragrupos e intergrupos, o grupo-treinamento
apresentou diferenças significativas na PAS em relação ao
grupo-controle, enquanto que a PAD foi verificada somente
na análise intragrupo [22]. Enquanto que um observou que
a redução na PAD ocorreu após as sessões de 30% e 80%
1RM e maiores 50 e 70 minutos após a sessão de membros superiores quando comparados à sessão de membros
inferiores [13]. Também se observa que o efeito isolado do
exercício sobre a redução e controle da pressão arterial parece depender de algumas variáveis, como a intensidade ou
o período de monitoração. Por exemplo, um determinado
estudo utilizou a maior quantidade de exercícios (n = 12),
no qual apesar da redução da PA, não foram identificadas
alterações significativas na pressão arterial após o esforço
[15]. Nesse caso, o período de acompanhamento foi de
24h, já outro, utilizou-se apenas de 2 exercícios (extensão de
joelhos unilateral e bilateralmente) e os autores identificaram
redução moderada na pressão arterial depois do exercício,
contudo no exercício bilateral de extensão de joelhos houve
uma tendência para aumento na pressão arterial sistólica
[18]. O declínio absoluto da PAS não foi influenciado pelas
diferentes interações de carga e repetições; a magnitude das
cargas tendeu a favorecer a duração da redução da PAS; e o
número de repetições teve maior repercussão sobre a PAD
que sobre a PAS, mas por curto período de tempo [6].
Conclusão
A maioria dos resultados encontrados nos estudos citados
sugere que exercícios resistidos com peso podem provocar
uma redução e manutenção da pressão arterial (em longo
prazo), sendo essa redução maior após os exercícios de menor
intensidade. A intensidade e o volume de treinamento podem
influenciar nos efeitos agudos ou crônicos em indivíduos
hipertensos medicados, porém é necessário que sejam mais
investigados para verificar a sua magnitude.
Por outro lado, exercícios resistidos com peso de alta intensidade não têm mostrado efeito hipotensor em indivíduos
hipertensos, e promovem picos pressóricos extremamente elevados durante a sua realização, sendo um agravante para lesões
em órgãos alvos. Nesse sentido, o exercício resistido com peso
supervisionado incluindo conjuntamente o trabalho aeróbio e
de flexibilidade mostrou-se eficaz como variável interveniente
para a redução, mesmo que temporária, e controle da pressão
arterial de repouso.
210
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Tabela I - Resumo dos estudos do efeito hipotensor após o exercício resistido com peso.
Autor
Casuística
Mediano et al. 20 indivíduos, 16H e 4M
2005 [14]
hipertensos/medicados
(61±12 anos)
Roltsch et al.
33 indivíduos, normotenso,
2001 [15]
3 grupos, sedentários,treino com
peso, treino resistência
(22±3,2 anos)
Polito et al.
16 indivíduos treinados
2003 [6]
9H (20±1 anos)
7M (21±5 anos)
Exercício
2 dias alternados 4 exercícios
1 e 3séries
10 RM
1 sessão aguda
6-12 rep
12 exercícios
60 a 80% 1RM
2 dias
alternados.
3séries 6RM
3séries 12 rep
6 exercícios
12 rep 50% 1RM
Lisboa et al.
2007 [16]
1 indivíduo
homem 37 anos
hipertenso medicado
3 vezes por
semana
4 meses
8 exercícios
80% 1RM
Carter et al.
2003 [17]
12 indivíduos, treino
(21±0,3 anos)
3 vezes por
semana.
8 semanas.
7 exercícios
Polito et al.
2004 [18]
18 indivíduos
6H e 12M normotensos
(33±11 anos)
3 séries
12 rep
2 exercícios
Melo et al.
2006 [19]
12 M
Hipertensas, medicadas
3séries
20rep
6 exercícios
40%1 RM
Fischer
2001 [20]
7M hipertensas
9M normotensas
5 exercícios
50% 1RM
Simão et al.
2005 [13]
Grupo 1
Grupo 2
3 sessões
15 rep.
circuito
3 séries, 12rep
circuito
3séries,6rep.
Lizardo et al.
2005 [21]
11 indivíduos
normotensos treinados
(23,9±4,3 anos)
40 hipertensos
medicados e sedentários
grupo treino
grupo controle
341 adultos, sedentários,
normotensos
12 estudos
Simão et al.
2008 [21]
Meta-análise
Cornelissen
et al.
2005 [24]
Kelley et al.
2000 [23]
320 adultos
normotensos ou hipertensos,
sedentários
Grupo treino (n=182)
Grupo controle (n=138)
11 estudos
4 sessões
dias distintos
3 x semana.
4 meses
1 sessão
1 sessão
Aferição
Met. Auscultatório
Pré-exercício-10min
Pós-exercício-60min
MAPA
Pós-exercício (24h)
Repouso (48h)
Met. Auscultatório
Pré-exercício
Met.ambulatórial
Pós-exercício(ciclos
de 10 até 60 min.)
Met. Auscultatório
Pré-exercício
Met.ambulatórial
Pós-exercício
Met. Auscultatório
Pré-exercício-5min
Pós-exercício: treino
controle
Met. Auscultatório
Pós-série
Pós-exercício:5/20min
uni e bilateral
Met. Auscultatório
Pré-exercício-120min
Pós-exercício: 10-21h
Met. Auscultatório
Pós-exercício-60min
Met. Auscultatório
Pré e Pós-exercício:
até 60min
G1 e G2
10 exercícios
Met. Auscultatório
5 mmss/5 mmii
Pré-exercício
30 e 80% 1RM
Pós-exercício
exercícios
Met. Auscultatório
Pré-exercício
Pós-exercício:
GT p/ GC
Met. Auscultatório
exercícios
Pré-exercício
convencionais ou
circuito
Pós-exercício
30 a 90% 1 RM
exercícios cirMet. Auscultatório
cuito,
Pré-exercício
convencional
Pós-exercício:
Grupo Treino p/
Grupo Controle
PAS
PAD


 s/
sig.
 s/
sig.





-

-







-





s/≠




5 exercícios
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Referências
1. American College of Sports Medicine. ACSM’s. Guidelines
for exercise testing and prescription. Philadelphia: Lippincott
Williams & Wilkins; 2000.
2. Brandão AP, Brandão AECM, Pozzan R. Epidemiologia da
hipertensão arterial. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo
2003;13:7-19.
3. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de
Hipertensão, Sociedade Brasileira de Nefrologia. V Diretrizes
brasileiras de hipertensão arterial. São Paulo; 2006.
4. Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L,
Nery SS, Tinucci T. Exercício resistido para o paciente hipertenso: indicação ou contra-indicação. Revista Bras Hipertens
2006;10:119-24.
5. Lopes HF, Barreto Filho JA, Riccio GMG. Tratamento-não
medicamentoso da hipertensão arterial. Rev Soc Cardiol Estado
de São Paulo 2003;1:148-155.
6. Polito MD, Simão R, Senna GW, Farinatti PTV. Efeito
hipotensivo do exercício de força realizado em intensidades
diferentes e mesmo volume de trabalho. Rev Bras Med Esporte
2003; 2:69-73.
7. Polito MD, Farinatti PTV. Comportamento da pressão arterial
após exercícios contra-resistência: uma revisão sistemática sobre
variáveis determinantes e possíveis mecanismos. Rev Bras Med
Esporte 2006;12:286-392.
8. Fuchs FD, Moreira WD, Ribeiro JP. Efeito do exercício físico
no tratamento da hipertensão arterial. Avaliação por ensaios
clínicos randonizados. Rev Bras Hipertens 2003;4.
9. Carreia MAMQ, Ribeiro JC, Caldas JA, Tavares LR, Nani E.
Resposta da pressão arterial ao esforço máximo em hipertensos
sob diferentes esquemas terapêuticos. Arq Bras Cardiol 2000;
75:281-284.
10. Negrão CE, Rondon MUPB, Lima EG. Aspectos do treinamento físico na prevenção de hipertensão arterial. Rev Bras
Hipertens 2001;4:7.
11. Umpierre D, Stein R. Efeitos hemodinâmicos e vasculares do
treinamento resistido: implicações na doença cardiovascular.
Arq Bras Cardiol 2007;89:256-262.
12. Araújo CGS. Fisiologia do exercício e hipertensão arterial: uma
breve introdução. Rev Bras Hipertens 2001;4(3):78-82.
211
13. Simão R, Fleck SJ, Polito M, Monteiro WD, Farinatti PTV.
Effects of resistance exercises on blood pressure in normotensive
individuals using different intensities, volumes and methodologies. J Strength Cond Res 2005;19(4):152-56.
14. Mediano MFF, Paravidino V, Simão R, Pontes FL, Polito
MD. Subacute behaviour of the blood pressure after power
training in controlled hypertensive individuals. Braz J Sport
Med 2005;11:347-40.
15. Roltsch, MH, Mendez T, Wilund KR, Hagberg JM. Acute
resistive exercise does not affect ambulatory blood pressure in
young men and women. Med Sci Sports Exerc 2001;33:881-6.
16. Lisboa G, Abreu DG, Cordeiro LS, Knifis F. Verificação das
alterações provocadas pelo exercício contra resistência no indivíduo hipertenso. Rev Educ Fís 2007;137:18-25.
17. Carter JR, Ray CA, Downs EM, Cooke WH. Strength training
reduces arterial blood pressure but not sympathetic neural activity
in young normotensive subjects. J Appl Physiol 2003;94: 2212-16.
18. Polito MD, Simão R, Nóbrega ACL, Farinatti PTV. Pressão
arterial, frequência cardíaca e duplo-produto em séries sucessivas
do exercício de força com diferentes intervalos de recuperação.
Rev Port Cienc Desp 2004;4:7-15.
19. Melo CM, Alencar Filho AC, Tinucci T, Mion Jr D, Forjaz CL.
Post exercise hypotension induced by low-intensity resistance
exercise in hypertensive women receiving captopril. Blood Press
Monit 2006;11:183-9.
20. Fisher MM. The effect of resistance exercise on recovery blood
pressure in normotensive and borderline hypertensive women.
J Strength Cond Res 2001;15:210-6.
21. Lizardo FHJ, Simões GH. Efeitos de diferentes sessões de
exercícios resistidos sobre a hipotensão pós-exercício. Rev Bras
Fisioter 2005;9:249-55.
22. Simão R, Manochio J, Serra R, Melo A. Redução da pressão
arterial em hipertensos tratados com medicamentos antihipertensivos após um programa de treinamento físico. Rev
SOCERJ 2008;21:35-41.
23. Kelley GA, Kelley KS. Progressive resistance exercise and resting
blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled trials.
Hypertension 2000;35:838-43.
24. Cornelissen VA, Fagard RH. Effect of resistance training on
resting blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled
trials. J Hypertens 2005;23:251-9.
212
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Revisão
Bioenergética do metabolismo celular:
ATP e exercício físico
Bioenergetics of cellular metabolism: ATP and physical exercise
Diego Adão Fanti Silva*, Rodrigo Luiz Vancini**, Cláudio André Barbosa de Lira**, Antonio Carlos da Silva**,
Viviane Louise Andrée Nouailhetas*
*Departamento de Biofísica da UNIFESP, **Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Resumo
Abstract
A constância do meio interno (homeostase) é crucial para a vida.
A habilidade dos organismos vivos em realizar trabalho (função)
depende do suprimento contínuo de energia, o qual é garantido
pelo fluxo energético do meio externo para nutrientes dentro da
célula. O fluxo ajustado de matéria prima (de energia) entre a célula
e o meio, seguido por consumo da célula e eliminação de produtos
para o meio celular caracteriza o estado estacionário. A liberação
de energia de nutrientes é acompanhada pela maquinaria bioquímica da célula através de reações químicas acopladas e associadas
seqüencialmente (vias metabólicas). Essas vias permitem a liberação
gradual de energia livre, estocada em ligações químicas entre átomos
dentro de moléculas biológicas (carboidratos, lipídios e proteínas),
em adequados pacotes energéticos os quais são usados para fosforilar
o ADP à ATP. Dessa maneira, a forma de utilização universal de
energia celular é conservada em ligações fosfatos da molécula de
ATP, a qual é considerada a moeda energética celular. As duas vias
metabólicas, aeróbia e anaeróbia, diferem em complexidade. Quanto
mais complexa a estrutura química da molécula orgânica, mais longo
é o tempo para degradá-la e mais alta é a produção de ATP. Logo,
o organismo prioriza uma ou outra via metabólica de acordo com
a demanda energética específica, a qual é estabelecida pelo modo,
intensidade, volume e freqüência da atividade física.
The constancy of the internal milieu (homeostasis) is crucial for
life. Living organism ability to perform work (function) depends
on a continual energy supply which is guaranteed by the medium
energy flux from the input of external medium from nutrients into
the cell. The adjusted flux of raw material (and energy) between the
cell and the medium, followed by cell consumption, and elimination
of degraded energetic products to the external medium characterizes
the steady state. The release of energy from nutrients is achieved by
the cell biochemistry machinery, through several sets of sequenced
chemical reactions (metabolic pathways). These metabolic pathways
allow the gradual release of free energy, stored in the chemical bonds
between atoms in the complex chemical structure of biological molecules (carbohydrates, lipids, and proteins), in adequate energetic
packages, which are used to phosphorylate ADP to ATP. Thus, the
universal useful form of the cell energy is conserved in the phosphate
bonds from the ATP molecule, which is considered the cellular
energetic coin. The two metabolic pathways, aerobic and anaerobic,
differ in complexity. The more complex the chemical structure of
the organic molecule, the longer the time to degrade it, and the
higher the ATP production is. Hence, living organism priories one
or other metabolic pathway according to specific energetic demand,
which is established by the mode, intensity, volume, and frequency
of physical activity.
Palavras-chave: exercício físico, ATP, metabolismo, energia livre,
bioquímica do exercício.
Key-words: physical exercise, ATP, metabolism, free energy,
biochemistry of exercise.
Endereço para correspondência: Viviane Louise Andrée Nouailhetas, Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Biofísica,
Rua Botucatu, 862 - 2º andar, 04023-062 São Paulo SP, Tel: (11) 5576-4583, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
As células do organismo, para assegurarem a capacidade
de executar suas diversas funções e manter constante o meio
ambiente intracelular (homeostasia), necessitam de um aporte
contínuo de energia do meio ambiente. Milhares de anos de
evolução foram necessários para tornar os mecanismos bioquímicos celulares eficientes nos processos de captura, transferência, armazenamento e utilização dessa energia, a fim de adequar,
quantitativamente, a sua produção ao seu consumo [1-3].
As células eucarióticas possuem duas vias metabólicas,
a aeróbia e a anaeróbia, para capturar e transferir a energia contida nos nutrientes disponíveis no meio ambiente
(carboidratos, lipídios e proteínas) [2,3]. A energia, que se
encontra armazenada nas ligações químicas entre os átomos
que constituem a estrutura molecular desses nutrientes, é direcionada para formação de novas ligações químicas presentes
em moléculas menos complexas, de tal modo que possa ser
aproveitada com o máximo de eficiência pelas células [4,5].
Para tanto, foi selecionada no organismo uma molécula com o
intuito de exercer o duplo papel de receber e fornecer energia,
o trifosfato de adenosina (ATP), sendo conhecida, por esse
motivo, como a moeda energética celular [1,2,4,6-8].
A Bioenergética, utilizando-se dos princípios da Termodinâmica aplicados à Biologia, estuda os eventos relacionados
aos fluxos energéticos responsáveis pela síntese de ATP e reposição das reservas celulares internas de energia [1-3,6,9,10].
Os conceitos da Bioenergética só podem ser compreendidos
com um conhecimento prévio de Bioquímica, já que todos os
processos envolvem reações químicas catalisadas por enzimas
[1,3,11]. Os princípios da Bioenergética constituem o alicerce
para o entendimento dos processos metabólicos que ocorrem
no organismo durante a atividade física, já que praticar qualquer exercício significa realizar trabalho e realizar trabalho nos
remete ao consumo de energia [12,13]. Assim, fica evidente
que o estudante ou profissional da área da saúde deve ter uma
boa base bioquímica para concatenar com clareza as idéias que
integram a Bioenergética Celular ao exercício físico, principalmente no que se refere ao direcionamento do fluxo energético
nas células enquanto o indivíduo se exercita [14].
Dessa forma, o objetivo deste artigo é enfatizar alguns
conceitos clássicos de Bioquímica integrados aos conceitos
clássicos de Termodinâmica, tendo como foco principal os
acoplamentos de reações químicas das vias metabólicas, as
quais fornecem energia em locais específicos para a execução
dos diversos trabalhos celulares, para o entendimento do metabolismo energético celular e suas aplicações à atividade física.
Bioenergética celular
Os seres vivos são diferentes dos demais objetos inanimados pelo seu complexo grau de organização molecular e
a sua incrível capacidade de realizar trabalho, desde o ato de
respirar e falar até a prática de algum esporte envolvendo a
213
ação coordenada de grandes massas musculares. Para tanto,
faz-se necessário um suprimento constante (fluxo) de energia
[15] do meio ambiente, que reponha na medida exata a energia consumida durante os diversos trabalhos celulares. Esse
suprimento constante de energia [15] caracteriza um estado
que é denominado de estado estacionário (steady state), em
oposição ao estado de equilíbrio. No estado de equilíbrio – um
deles representado pela morte – o organismo é incapaz de realizar qualquer troca de energia, calor, trabalho ou informação
com o meio ambiente, impossibilitando a manutenção da
homeostasia e, conseqüentemente, da vida [1-3].
Do ponto de vista da Termodinâmica, o fato de as células
serem um sistema aberto possibilita a manutenção do estado
estacionário, uma vez que elas podem interagir com o arredor,
trocando energia. Essa troca pode acontecer na forma de calor
(q) [1-3,16], ou seja, em função da diferença de temperatura
entre a célula e o meio ambiente, ou na forma de trabalho
(w), caracterizado por qualquer outra troca energética que
não seja por diferença de temperatura [1-3]. Além disso, a
célula, como sistema aberto, também pode trocar matéria com
o meio externo, seja para eliminar o que não é mais aproveitável no organismo, seja para repor os estoques de nutrientes
e matéria-prima dos órgãos e tecidos [2,3].
A reposição de energia é feita a partir dos nutrientes
presentes na alimentação, os quais, após serem digeridos e
absorvidos, fornecem os substratos energéticos que serão
processados no organismo: os carboidratos (glicose e frutose,
principalmente), os lipídeos (ácidos graxos e glicerol) [17] e
as proteínas (aminoácidos) [11]. Esses substratos apresentam,
armazenada nas ligações químicas de suas moléculas, energia,
a qual se encontra organizada de uma forma tal que possa ser
utilizada pelas células após os processos de captura e transferência [18]. Essa forma de energia, denominada de energia
livre, é a única que pode ser destinada para a execução dos
diversos tipos de trabalho celulares nos ambientes bioquímicos
apropriados, como os trabalhos de contração muscular [15,19]
digestão, excreção, entre outros. A outra forma de energia
encontrada nas células, a energia entrópica, é uma forma de
energia “degradada” e, portanto, não pode ser utilizada para
realizar trabalho, sendo dissipada na forma de calor [1,2,16].
Partindo-se do princípio de que: 1) há liberação de energia
na quebra de uma ligação química entre dois átomos; 2) quanto
maior o grau de complexidade bioquímica da molécula que está
sendo degradada, maior a reserva de energia na forma química,
sendo necessárias mais etapas para degradá-la completamente, e
3) apenas uma fração da energia liberada pode ser aproveitada
para realizar trabalho; pode-se concluir que os substratos energéticos devem ser processados no organismo em etapas. De fato,
se todas as ligações químicas dos substratos energéticos fossem
quebradas simultaneamente, haveria um aumento abrupto da
temperatura, já que se aproveitaria apenas uma pequena fração
da energia total liberada. A outra grande fração, liberada e
não utilizada, seria dissipada na forma de calor [1,16]. Como
as funções químicas celulares e a homeostasia dependem da
214
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
manutenção da temperatura por volta de 37º C, é preciso que
os substratos energéticos sejam degradados gradualmente a
moléculas menores, menos complexas e menos energéticas,
de modo que a energia seja liberada em pequenos “pacotes”.
Isso explica por que as vias metabólicas são, necessariamente,
constituídas por seqüências de reações químicas em cadeia, o
que permite a transferência dos “pacotes” energéticos para os
locais de síntese do ATP [6,10].
Portanto, verificamos que, em obediência aos princípios
da Termodinâmica (lei da conservação da energia, lei da entropia e conceito de energia livre), o catabolismo corresponde
ao processo que libera, gradualmente, a energia química dos
substratos energéticos ao passo em que os degrada, transferindo essa energia para os locais de síntese de ATP, a moeda
energética celular [6,11,20]. O ATP, ao ser hidrolisado no
ambiente bioquímico adequado (locais de consumo de energia), libera energia livre [13,20], capacitando a célula a realizar
os diversos trabalhos biológicos à temperatura relativamente
constante, dissipando o que não pôde ser aproveitado na
forma de calor. Essa quantidade de energia livre trocada é
denominada de variação de energia livre (ΔG, ou variação
de energia livre de Gibbs) [1-3,7].
Antes de discutirmos especificamente sobre o ATP e seu
papel no fornecimento de energia livre para os trabalhos celulares [4,15,20], vamos inicialmente entender como se processa a
transferência da energia obtida pela dieta para a moeda energética, isto é, como a energia química dos substratos energéticos
é utilizada para produzir as moléculas de ATP [21].
Princípios de transferência de energia livre
Muitas das reações químicas que ocorrem no organismo,
como a formação do ATP nas vias metabólicas [6,15], nem
sempre se processam naturalmente, ou seja, de forma espontânea. Isso porque essas reações são energeticamente inviáveis,
dependendo de um aporte de energia livre do meio. A fonte
de energia livre para essas reações vem da energia contida nos
substratos energéticos, a qual é transferida pelo princípio de
transferência de energia por acoplamento de reações químicas
exergônicas a endergônicas [1-3] (ver Figura 1). Esse princípio
se resume no seguinte exposto:
Figura 1 - Acoplamento de reações exergônica e endergônica.
B
A-Int
enzima
A
Reação exergônica
∆G < 0
Int
B-Int + calor
Reação endergônica
∆G > 0
A reação exergônica, ao se processar, libera, entre outros
produtos, um intermediário comum (Int) e uma quantidade
de energia livre. O intermediário comum e a energia livre
serão utilizados pela reação endergônica, a qual se processa
simultaneamente à exergônica. A velocidade é controlada pela
enzima que atua sobre as duas reações. Como a eficiência do
acoplamento não é de 100%, o excedente energético é dissipado na forma de calor.
Primeiro, é necessário que estejam envolvidas no processo
duas reações químicas simultâneas, sendo, necessariamente,
uma exergônica e outra endergônica. Isso significa que elas
devem, respectivamente, liberar e consumir energia livre para
se processar. Termodinamicamente, é fundamental entender
que uma reação exergônica é espontânea, natural, ou seja, o
seu processamento não depende de aporte energético do meio,
já que a energia livre dos produtos é menor que a dos reagentes
envolvidos na reação. Uma reação endergônica, por sua vez,
não é espontânea e só ocorre se receber um aporte energético,
pelo motivo de a energia livre dos seus produtos ser maior
que a dos seus reagentes. Assim, a reação exergônica apresenta
sempre uma variação de energia livre negativa (ΔGprodutos-reagentes
< 0), enquanto que na reação endergônica, essa variação
é sempre positiva (ΔGprodutos-reagentes > 0). Segundo, as duas
reações devem ter um intermediário comum. Isso significa
que um dos produtos da reação exergônica deve ser, necessariamente, um dos reagentes da reação endergônica. Terceiro,
a reação exergônica cede energia livre, que é imediatamente
transferida pelo intermediário comum, sendo armazenada
na formação de novas ligações químicas de moléculas mais
simples (produtos da reação endergônica), ou pode também
ser utilizada em outros processos endergônicos para realizar
trabalho. Quarto, pelo segundo princípio da Termodinâmica,
como a eficiência dos processos de transferência e consumo
de energia livre é obrigatoriamente inferior a 100%, em
toda transferência de energia haverá perdas na forma de
calor [1,16]. Assim, podemos concluir que o produto a ser
formado pela reação endergônica possui uma quantidade de
energia livre armazenada em suas ligações químicas inferior
à dos reagentes da reação exergônica. Finalmente, devemos
também lembrar que o acoplamento deve ocorrer na velocidade adequada, o que é controlado pela enzima que catalisa
as reações do mesmo [1-3].
Assim, é preciso ficar claro que nas etapas de preparação
para a transferência de energia livre nas vias metabólicas, a
variação de energia livre do acoplamento é geralmente próxima ao equilíbrio (ΔGtotal = 0), o que evita grandes perdas
de energia na forma de calor. Diferentemente, nas etapas de
transferência de energia ou realização de trabalho, ou seja, de
consumo de energia livre, tal variação é afastada do equilíbrio
(ΔGtotal < 0), isto é, a reação exergônica libera maior quantidade de energia livre que o processo endergônico consome [1-3].
É importante salientar que em uma via metabólica, os
acoplamentos que ocorrem com ΔG próximo de zero são
etapas reversíveis e obedecem à lei de ação das massas. Dife-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
rentemente, os acoplamentos com elevados valores de ΔG,
sejam eles positivos ou negativos, são irreversíveis, os quais
direcionam o fluxo energético nas vias metabólicas [1-3].
Uma vez entendido o princípio de transferência e consumo
de energia livre, podemos analisar os dois tipos de acoplamentos que o metabolismo dispõe para a mobilização de energia
livre na célula os acoplamentos desfosforilação/fosforilação e
oxidação/redução [1,2,22].
Acoplamento de reações de desfosforilação/fosforilação
O primeiro tipo de transferência de energia no organismo
dá-se por meio da utilização do grupo fosfato inorgânico (Pi)
[18] como intermediário comum, no chamado acoplamento
de reações de desfosforilação/fosforilação [22,23]. A reação de
desfosforilação, exergônica, ao se processar, quebra a ligação
química entre o grupo Pi e o restante da molécula, liberando
a energia livre (ΔG < 0). Essa energia livre é imediatamente
utilizada pelos reagentes da reação de fosforilação, endergônica, para a formação de um determinado substrato fosforilado
(ΔG > 0). Desse modo, podemos verificar que a transferência
de um grupo Pi de um substrato fosforilado para outro não
fosforilado resulta, em última análise, na transferência de
uma certa quantidade de energia livre de um substrato para
outro e, às vezes, de um local para outro na célula [18]. Vale
ressaltar que, em cada transferência, a quantidade de energia
livre excedente liberada é dissipada na forma de calor, em
obediência à lei da conservação da energia aplicada a sistemas
termodinamicamente classificados como abertos, como é o
caso das células do organismo [1-3].
Como exemplo desse tipo de acoplamento, temos a
produção de glicose-6-fosfato a partir de ATP e glicose (ver
Figura 2) [1-3].
Figura 2 - Produção de glicose-6-fosfato a partir de ATP e glicose.
Glicose
ATP
hexocinase
ADP + HDesfosforilação
(exergônica)
Pi
Glicose-6-fosfato + calor
Fosforilação
(endergônica)
A hidrólise do ATP a ADP, Pi e H+ (desfosforilação, reação
exergônica) libera uma quantidade de energia livre que é utilizada pela reação entre a glicose e o mesmo Pi (fosforilação,
reação endergônica), produzindo glicose-6-fosfato. A enzima
hexocinase catalisa o acoplamento. A energia excedente é
dissipada na forma de calor.
A hidrólise do ATP, ao se processar no ambiente bioquímico adequado, libera como produtos o difosfato de adeno-
215
sina (ADP), Pi, íons H+ e certa quantidade de energia livre
(ΔGprodutos-reagentes = -30,5 kJ/mol). Essa energia disponibilizada
é utilizada para processar a reação endergônica entre a glicose
e o fosfato (ΔGprodutos-reagentes = 13,8 kJ/mol), “energizando”
(fosforilando) a glicose a glicose-6-fosfato. Ambas as reações
ocorrem simultaneamente e são catalisadas pela enzima hexocinase. Esse acoplamento é energeticamente viável (ΔGtotal
= -16,7 kJ/mol), pois a energia livre liberada pela quebra da
ligação do Pi da molécula primária (ATP, no exemplo) é maior
do que a energia consumida para a ligação desse mesmo Pi ao
novo substrato químico (a glicose, no exemplo), sendo que
a energia excedente liberada é dissipada na forma de calor.
Ou seja, a energia do grupo Pi associado à glicose-6-fosfato é
inferior a desse mesmo grupo Pi associado ao ATP (segunda
lei da Termodinâmica)[1-3].
Acoplamento de reações de oxidação/redução
A segunda maneira de transferência de energia livre no
organismo dá-se através da transferência de pares de elétrons
por meio do acoplamento de reações de oxidação-redução
(ver Figura 3) [1-3].
Figura 3 - Acoplamento de reações de oxidação/redução.
NAD+ ou FAD
Reagente reduzido
desidrogenase
Produto oxidado
Oxidação
(exergônica)
2eNADH + H+ ou
FADH2 + calor
Redução
(endergônica)
A oxidação (reação exergônica) de um substrato energético
(reagente reduzido) libera pares de elétrons que são captados
por moléculas transportadoras de elétrons, NAD+ ou FAD,
as quais se reduzem (reação endergônica) a NADH + H+ ou
FADH2, respectivamente. O acoplamento é catalisado por
uma enzima do tipo desidrogenase. A energia livre excedente
é dissipada na forma de calor.
A oxidação de um substrato energético (reação exergônica)
cede um par de elétrons (intermediário comum), que é captado por moléculas transportadoras de elétrons, reduzindo-as
(reação endergônica). Como exemplo dessas moléculas, temos
a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+) e a flavina
adenina dinucleotídeo (FAD), que são reduzidas a NADH
+ H+ e FADH2, respectivamente. As reações de oxidação e
redução ocorrem simultaneamente, sendo catalisadas por
uma enzima do tipo desidrogenase. A energia livre excedente
é dissipada na forma de calor [1-3].
Os transportadores de elétrons do exemplo, NAD+ e FAD,
são as coenzimas envolvidas nos acoplamentos de oxidação/
redução das vias catabólicas [1,2,11].
216
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Vias metabólicas para produção de ATP
O catabolismo disponibiliza, por meio das vias metabólicas, a energia livre necessária para a síntese das moléculas de
ATP a partir da fosforilação do ADP. Uma via metabólica é
constituída por uma seqüência de reações químicas em cadeia,
organizadas de tal modo que os produtos da primeira reação
são os reagentes da segunda, e assim sucessivamente, até a
formação dos produtos finais [11]. A velocidade de cada reação
química pertencente à via metabólica é controlada por uma
enzima específica. A enzima que catalisa a reação química mais
lenta da via metabólica é conhecida como enzima limitante,
já que sua atividade determina a velocidade de processamento
de toda a via [1-3].
As células possuem duas vias, de complexidade variável,
capazes de sintetizar ATP: a via aeróbia e a anaeróbia.
Via aeróbia: via metabólica central
A via aeróbia, aqui entendida como a via metabólica central (ver Figura 4), constitui-se de quatro etapas: 1) glicólise,
2) descarboxilação oxidativa do piruvato a acetil-CoA, 3)
ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido cítrico, ou ainda ciclo dos
ácidos tricarboxílicos) e 4) cadeia respiratória (ou fosforilação
oxidativa) [2,7,24,25]. A via aeróbia, por corresponder a um
total de mais de 33 reações e depender do oxigênio molecular
fornecido pela circulação, é a via mais lenta na produção de
ATP, porém a com o maior rendimento.
Figura 4 - Via metabólica central.
Citoplasma
Mitocôndria
Glicose
Glicose
2ATP
+
2NADH + H
2 Piruvato
Descarboxilação
oxidativa
Citrato
Ciclo
de
Krebs
2 Acetil-CoA
Oxaloacetato
+
2NADH + H
6NADH + H+
Cada molécula de piruvato é transportada para dentro
da mitocôndria, onde sofre o processo de descarboxilação
oxidativa, produzindo acetil-CoA, NADH e CO2. Essa reação
química, catalisada por um complexo de três enzimas, conhecido como complexo da piruvato desidrogenase, apresenta
uma variação de energia livre de -33,4 kJ/mol [2,3].
O ciclo de Krebs, por sua vez, é caracterizado por um conjunto de oito reações químicas seqüenciais que se processam
na matriz mitocondrial. Inicia-se pela produção de citrato a
partir da condensação entre uma molécula de acetil-CoA,
oriunda da descarboxilação do piruvato, e uma molécula de
oxaloacetato, previamente existente na matriz [11,24]. Após
essa condensação, segue-se uma seqüência cíclica de sete reações químicas que promove a quebra oxidativa do citrato a
novo oxaloacetato, produzindo três moléculas de NADH +
H+, uma de FADH2, uma de trifosfato de guanidina (GTP) e
duas de CO2. A regulação do ciclo de Krebs dá-se tanto pelo
complexo da piruvato desidrogenase, que limita a disponibilidade de acetil-CoA (o combustível do ciclo de Krebs) quanto
pela enzima isocitrato desidrogenase, que catalisa a produção
de isocitrato a partir do citrato. A variação de energia livre
total do processo cíclico é de -50,3 kJ/mol [2,3,24].
A cadeia respiratória (ver Figura 5) é constituída por numerosos conjuntos de quatro complexos protéicos (enzimas)
associados a uma proteína de membrana do tipo sintase (ATP
sintase), todos localizados nas cristas da membrana interna das
mitocôndrias. Nesses complexos enzimáticos são introduzidas
as moléculas transportadoras de elétrons, NADH + H+ e
FADH2, de tal modo que a energia associada aos seus pares de
elétrons seja gradualmente degradada por meio de sucessivos
acoplamentos de oxidação/redução. Essa transferência dos pares
de elétrons processa-se dos substratos mais energéticos para os
substratos menos energéticos, reduzindo estes (reação endergônica) e oxidando aqueles (reação exergônica). Os substratos
que receberam os elétrons, ao serem reduzidos, podem doar esse
par para o substrato seguinte em um novo acoplamento. Nesse
processo de transferência, há a regeneração das formas oxidadas
dos transportadores de elétrons NAD+ e FAD, fundamental
para garantir a continuidade do metabolismo aeróbio [2,11,27].
2 FADH2
2 GTP
Figura 5 - Cadeia respiratória.
Cadeia
respiratória
Mitocôndria
4H+
28 ATP
A glicólise, constituída por uma cadeia de 10 reações
químicas sucessivas, corresponde à quebra citosólica de uma
molécula de glicose a duas de piruvato. Além do piruvato,
apresenta também, como produtos finais, duas moléculas de
ATP, duas de NADH + H+ e duas de água [11,26]. A enzima
limitante e reguladora da glicólise é a fosfofrutocinase-1
(PFK-1), que catalisa a produção de frutose-2,6-bisfosfato a
partir de frutose-6-fosfato. A variação de energia livre total
da glicólise é de -85 kJ/mol [1,2,26].
I
4H+
II
NAD+
NADH
III
ATP sintase
ADP + Pi
FAD
FADH2
H+
ATP
Ciclo de
Krebs
Piruvato
Glicose
2H+
Cit c, a, a3
IV
Matriz
Membrana interna
Membrana externa
Cit = citocromo.
O2
H2O
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
A energia livre liberada pelos acoplamentos é utilizada
para produzir um gradiente de prótons e, conseqüentemente,
um gradiente elétrico decorrente da separação de íons H+.
A energia livre desse gradiente é utilizada pela proteína de
membrana ATP sintase na fosforilação do ADP a ATP. O
substrato mais energético é o NADH, enquanto que o menos
energético é a molécula de oxigênio (O2), que, por sua vez, é
reduzida à água (H2O).
Podemos visualizar a cadeia respiratória como uma espécie de escada energética, em que cada degrau representa um
nível energético diferente. O degrau energético mais elevado
é aquele no qual o par de elétrons é introduzido na primeira
proteína da cadeia respiratória através do NADH, e o degrau
energeticamente mais inferior é aquele onde o par de elétrons
reage com a molécula de oxigênio (O2), que atua como receptor final, reduzindo-se à água [2,3,8].
A quantidade de energia livre associada a cada par de
elétrons processado na cadeia respiratória é utilizada para
separar prótons através da membrana interna da mitocôndria. Essa separação de prótons promove um acúmulo de
íons H+ no espaço entre as membranas interna e externa,
gerando um gradiente de prótons e um gradiente elétrico.
A energia armazenada nesse gradiente de prótons representa
uma fonte de energia livre, que é consumida pela proteína
ATP sintase para promover a fosforilação do ADP da matriz
mitocondrial a ATP. Como a produção de ATP [15] pela
cadeia respiratória depende da quantidade de energia livre
liberada pelos acoplamentos de oxidação/redução – energia
essa que será utilizada pelas reações de fosforilação do ADP
–, esse processo de síntese de ATP é também conhecido como
fosforilação oxidativa [2,3,22,28].
A via aeróbia, além de depender da presença do oxigênio
molecular como receptor final dos pares de elétrons – os quais
foram retirados dos substratos energéticos processados pela
glicólise [26] e ciclo de Krebs [24] – é também a via que produz maior quantidade de energia, fornecendo 32 moléculas
de ATP por molécula de glicose processada [11,24]. A energia
livre necessária para sintetizar essas 32 moléculas de ATP
equivale a 976 kJ/mol; como a energia livre total contida em
uma molécula de glicose é de 2.840 kJ/mol, podemos dizer
que a eficiência da via aeróbia é de 34%. Ou seja, a quebra
da glicose a seis moléculas de CO2 e seis de H2O, que se processa ao longo de toda a via aeróbia, libera uma quantidade
de energia livre que é aproveitada em 34% pelo organismo,
sendo o restante dissipado, gradualmente, na forma de calor.
Por ser a via mais complexa, tendo um total de 33 reações
químicas excetuando-se as envolvidas na cadeia respiratória,
e por depender do fornecimento adequado de oxigênio pela
circulação, é, evidentemente, a via mais lenta para a produção
de ATP [1,2,11].
A via aeróbia é aqui também chamada de via metabólica
central porque alguns de seus intermediários químicos não
precisam ser, necessariamente, produtos oriundos de suas
próprias reações, podendo provir da metabolização de outros
217
substratos energéticos, como lipídios e aminoácidos [2,11].
Esses substratos fornecem, depois de passarem por diversas
reações químicas preparatórias, produtos que podem entrar
como substratos intermediários da glicólise ou do ciclo de
Krebs. É como se a via metabólica central fosse um rio, e
as demais vias, como a lipólise e a proteólise, seus afluentes
[2,3,7,24].
Via anaeróbia
A via anaeróbia caracteriza-se pelos processos de produção
de ATP independentemente do suprimento de oxigênio. Isso
significa que essa via é capaz de disponibilizar energia livre
para o organismo em situações de carência de oxigênio, seja
porque não houve tempo suficiente para os ajustes biológicos
determinarem um aporte ideal de oxigênio (início do exercício, em que os sistemas respiratório e cardiovascular não
estão no máximo de sua eficiência), seja porque a demanda
por oxigênio excede o aporte máximo (exercício intenso, em
que os sistemas respiratório e cardiovascular já chegaram ao
seu limite) [7,14].
O organismo dispõe de duas vias anaeróbias, aqui referidas
como via anaeróbia de emergência primária e a via anaeróbia
de gatilho.
Via de emergência primária
A via anaeróbia de emergência primária, ou simplesmente
via de emergência primária (ver Figura 6), corresponde à
quebra citosólica da glicose em duas moléculas de piruvato
(glicólise), acrescentada de mais um acoplamento de oxidação/
redução, levando à produção de lactato a partir da redução
do piruvato [11,29].
Figura 6 - Via de emergência primária.
Glicose
2 Lactato
+
2 NAD
2 NADH+ + H+
2 ATP
2 Piruvato
A quebra oxidativa parcial da glicose a piruvato, seguida
pela redução deste último a lactato, também permite a recuperação do potencial redox do citoplasma, uma vez que reoxida
o NADH + H+ a NAD+. Por ser uma via independente de
oxigênio e processar-se em apenas 17 reações químicas, é a
menos complexa e mais rápida na produção de ATP se comparada à via aeróbia, porém com menor rendimento.
218
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Este último acoplamento ocorre porque: 1) o metabolismo encontra-se com um déficit relativo de oxigênio e 2)
não havendo oxigênio suficiente para a demanda energética,
automaticamente não há o processamento final dos elétrons
na cadeia respiratória, nem a síntese mitocondrial de ATP na
velocidade requerida. Logo, só resta ao organismo acrescentar
ou priorizar, sobre o metabolismo aeróbio central, a degradação citosólica da glicose até lactato, ao invés de piruvato,
para a produção da energia adicional requerida [29]. Essa
degradação, por produzir pouco ATP (apenas duas moléculas), precisa ser processada várias vezes, o que demanda
um elevado suprimento de glicose, como também de NAD+
para os acoplamentos de oxidação/redução da glicólise [26].
O suprimento de glicose é garantido pela presença e disponibilidade do glicogênio muscular [30,31]. O NAD+, por
não estar sendo regenerado pela cadeia respiratória, deve
ser regenerado por uma fonte alternativa, ou seja, é preciso
manter o potencial redox do citoplasma (manter a relação
entre [NAD+]/[NADH + H+]), a fim de dar continuidade
às reações da glicólise e, conseqüentemente, à produção de
energia. Isso se dá pela redução do piruvato a lactato (reação
endergônica), o que promove a reoxidação citoplasmática do
NADH + H+ a NAD+ (reação exergônica). Tal acoplamento
é energeticamente viável porque o potencial energético da
molécula de lactato é maior que o da molécula de piruvato,
o que justifica o fato de o lactato ser um substrato energético
que pode ser reaproveitado pelo organismo [29]. A variação
de energia livre total do acoplamento de redução do piruvato
a lactato é de -25,1 kJ/mol [1-3].
Em comparação com a via aeróbia (mais de 33 reações),
a via de emergência primária é menos complexa (17 reações)
e independe do oxigênio. Logo, mostra-se mais rápida na
produção de energia, embora seu rendimento seja bem menor, gerando apenas duas moléculas de ATP por molécula
de glicose processada [11]. Sua grande vantagem é que, ao
regenerar o potencial redox do citoplasma, permite a utilização da molécula de glicose proveniente da degradação do
glicogênio muscular [2,3,30].
A via de emergência primária foi aqui referida por esse
nome porque, em situações de emergência energética, ou
seja, elevada demanda por ATP associada a um suprimento
insuficiente de oxigênio, representa uma fonte primária de
energia livre da qual o organismo pode lançar mão. Em
situações mais graves e prolongadas de carência energética,
há a produção de corpos cetônicos, uma fonte de energia
alternativa proveniente dos lipídios [1-3].
Via de gatilho
Finalmente, a via ATP/PCr, aqui referida como via anaeróbia de gatilho, ou simplesmente via de gatilho (ver Figura
7), caracteriza-se pela transferência direta de energia da fosfocreatina (PCr) para o ADP, em um único acoplamento de
desfosforilação/fosforilação [11,18]. O fosfato de alta energia
da molécula de PCr é transferido para a molécula de ADP,
produzindo creatina (Cr) e ATP [32]. Essa única reação de
síntese de ATP é catalisada pela enzima creatinacinase (CK)
[33] e tem uma variação de energia livre total de -12,5 kJ/
mol [2,3,7].
Figura 7 - Via de gatilho.
ADP
PCr
CK
Pi
Cr
ATP
A regeneração do ATP através da via de gatilho resume-se
em um único acoplamento de desfosforilação/fosforilação,
catalisado pela enzima CK. A PCr é desfosforilada a Cr e
Pi (reação exergônica), ao mesmo tempo em que o ADP
é fosforilado a ATP (reação endergônica). Por ser uma via
muito simples, é a mais rápida na produção de ATP, embora
seja a de menor rendimento. Além disso, sofre uma limitação
parcial por estar diretamente relacionada à quantidade de
PCr nas células.
A via de gatilho é a via celular de menor complexidade,
sendo, portanto, a via mais rápida na produção de ATP.
Entretanto, é via de menor capacidade, pois sintetiza apenas
uma molécula de ATP por molécula de PCr processada.
Além disso, depende da quantidade de PCr armazenada na
célula, que é variável e limitada de acordo com o tipo de fibra
muscular [2,11,13].
A via de gatilho foi aqui referida por esse nome porque
está relacionada ao fornecimento energético inicial para a
realização dos trabalhos celulares, antes de qualquer outra via
[15]. Isso significa que é a via que fornece energia para o organismo durante os segundos iniciais dos trabalhos celulares,
enquanto as vias aeróbia e de emergência primária estão ainda
se processando. Além disso, essa via volta a ser priorizada todas
as vezes que ocorrer um aumento na intensidade da atividade
física, ou seja, quando houver uma demanda maior de energia,
exigindo novos ajustes das outras vias [7-34].
ATP como moeda energética
Depois de termos entendido os principais fundamentos de
transferência de energia livre pelos acoplamentos entre reações
exergônicas a endergônicas, podemos voltar à discussão que
deu origem a toda essa reflexão anterior: o ATP.
Pela análise das vias, verificamos que todas elas têm uma
função em comum, que é a produção ou regeneração do
ATP com o intuito de atender à demanda energética à qual
o organismo está sendo submetido. O ATP é uma molécula
que contém três ligações de grupos fosfatos das quais duas,
ao serem hidrolisadas, liberam energia livre e íons H+ [6,11].
O ATP foi selecionado durante o processo evolutivo por
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
encontrar-se em um nível energético intermediário em relação
aos diversos substratos fosforilados disponíveis no organismo.
Isso significa que há tanto moléculas fosforiladas mais energéticas quanto menos energéticas que o ATP (ver Tabela I).
Assim sendo, o ATP pode participar dos acoplamentos de
dois modos distintos: ora como o produto sintetizado por
uma reação endergônica, ora como o reagente de uma reação
exergônica. Daí a denominação do ATP de moeda energética
celular [2,3,6,7,34].
Tabela I - Valores da variação de energia livre (ΔG) da hidrólise do
ATP e de outros substratos fosforilados encontrados no organismo.
Fosfocreatina (PCr)
Acetil-CoA
ATP (ADP + Pi)
Glicose-1-fosfato
Glicose-6-fosfato
∆G (kJ/mol)
-61,9
-31,4
-30,5
-20,9
-13,8
Adaptada de Nelson & Cox, 2004 [2].
Um exemplo da participação do ATP como doador de
energia ocorre na síntese da glicose-6-fosfato durante a primeira fase da glicólise (ver Figura 2); diferentemente, o ATP
participa como um receptor de energia quando da sua síntese
pela PCr (ver Figura 7) [2,3,7,34].
As vias metabólicas, por possuírem diferentes graus de
complexidade, requerem uma quantidade de tempo diferente
para a produção do ATP. Assim sendo, é possível ao organismo,
ao enfatizar uma determinada via, adequar a velocidade da
produção de ATP ao seu consumo, buscando repor o mesmo
conforme a necessidade, evitando sua depleção [11,35]. Tal
capacidade de adequação possibilitou ao organismo impor
uma condição de homeostasia para a concentração de ATP
celular, obviamente dentro de certos limites. A concentração
normal de ATP nas células é por volta de 5mM e, durante
um trabalho intenso, pode cair, no máximo, para cerca de 4,7
mM sem prejuízo para a célula. Assim, evitam-se alterações do
potencial de membrana e dos gradientes iônicos, sustentam-se
os transportes ativos e ativos secundários, entre outros [2,3,34].
Desse modo, fica evidente que, de acordo com o tipo
exercício realizado, a produção de ATP deve ser ajustada
na tentativa de evitar carências ou desperdícios energéticos
[7,11,14,34]. Para ficar mais claro, vamos analisar três exemplos: 1) um atleta de elite na metade de uma maratona, 2)
um corredor a 10 m da linha de chegada em uma prova de
100 m rasos e 3) esses dois atletas nos segundo iniciais de
suas respectivas provas.
No caso do maratonista, essa prática corresponde a um
exercício aeróbio intenso e de longa duração, em que o atleta
já percorreu boa parte da prova e está administrando bem o
seu ritmo. Como se encontra, então, a produção de energia
pelo seu organismo nesse momento? Como sua demanda
energética é prolongada e intensa, e não apenas imediata,
sendo relativamente constante, podemos concluir que, das
219
duas vias em funcionamento, a mais requisitada e enfatizada
é a aeróbia. Isso porque o tempo de consumo de energia
é longo o suficiente para que os sistemas cardiovascular e
respiratório abasteçam os músculos com a quantidade de
oxigênio necessária, e o metabolismo aeróbio possa executar as mais de 33 reações para o processamento total da
molécula de glicose a CO2 e água, sucessivamente ao longo
da atividade. Apesar da via aeróbia ser priorizada, ocorre
também a produção anaeróbia de ATP, porém em menores
proporções [7,8,27,34].
Já em uma corrida de 100 m, o corredor que se encontra
próximo à linha de chegada está em exercício intenso, cuja
demanda por energia é máxima e imediata [36]. Nesse caso,
não há tempo hábil para que ocorram as mais de 33 reações
da via aeróbia e o fornecimento adequado de oxigênio pelos
sistemas cardiovascular e respiratório [8,11], assim como
não há tempo para regenerar o potencial redox do citoplasma. Nesse caso, a via enfatizada pelo organismo será a
anaeróbia de emergência primária, uma vez que sua menor
complexidade e independência do aporte adequado de oxigênio permitem uma produção de ATP e uma regeneração
do potencial redox do citoplasma mais rápidas. A pequena
quantidade de moléculas de ATP produzida é compensada
pela elevada quantidade de moléculas de glicose processadas
provenientes, principalmente, da reserva local de glicogênio
muscular [7,30,34].
Finalmente, como ocorre a disponibilidade de energia
livre para esses dois atletas nos segundos iniciais de suas
provas? Já podemos concluir que é necessária uma via cuja
produção de ATP seja imediata, ou seja, que produza energia
em questão de poucos segundos. A via aeróbia seria inviável,
assim como a anaeróbia de emergência primária, em virtude
de suas complexidades e tempos de produção de ATP [27].
Portanto, enquanto essas duas vias são disparadas e estão em
processamento, o ATP utilizado será aquele ressintetizado
pela via anaeróbia de gatilho, cuja pequena complexidade de
apenas um acoplamento possibilita a rápida disponibilidade de
novas moléculas de ATP nos locais de consumo, mantendo a
relação [ATP]/[ADP][Pi] praticamente constante [8,11]. Esse
processo de rápida regeneração do ATP pela via de gatilho
corresponde ao tamponamento temporal de energia. A via de
gatilho, embora seja requisitada nos momentos iniciais dos
exercícios – principalmente naqueles de alta intensidade – não
pode ser utilizada além de alguns segundos, devido à rápida
depleção de PCr nas células [7,11,34].
Em geral, apesar de todas as vias serem requisitadas durante o exercício, o organismo sempre prioriza aquela mais
adequada à demanda energética em função da intensidade e
do volume de trabalho realizado [7,11,36].
Conclusão
Assim, podemos afirmar que uma célula – e, conseqüentemente, um organismo – mantêm-se vivos enquanto tiverem
220
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
capacidade de capturar energia do meio ambiente, como
também de transferir, armazenar e utilizar essa energia, na
forma de energia livre, para a realização dos diversos trabalhos
celulares. Entender os mecanismos celulares que o organismo
lança mão para sintetizar ATP, assim como relacionar essa
síntese ao exercício físico, exige um conhecimento de Bioquímica integrado aos princípios da Termodinâmica aplicados à
Biologia, os quais regem a transferência e a transformação da
energia no organismo.
17.
18.
19.
20.
Referências
1. Morowitz HJ. Foundations of Bioenergetics. New York: Academic Press; 1978.
2. Nelson DL, Cox MM. Lehninger principles of Biochemistry.
4th ed. New York: WH Freeman and Company; 2004.
3. Berg JM, Tymoczko JL, Stryer L. Biochemistry. 6th ed. New
York: WH Freeman and Company; 2007.
4. Westheimer FH. Why nature chose phosphates. Science
1987;235:1173-8.
5. Lipmann F. Metabolic generation and utilization of phosphate
bond energy. Adv Enzymol 1941;1: 99-162.
6. Hanson RW. The role of ATP in metabolism. Biochem Educ
1989;17:86-92.
7. De Feo P, Di Loreto C, Lucidi P, Murdolo G, Parlanti N, De
Cicco A, et al. Metabolic response to exercise. J Endocrinol
Invest 2003;26:851-4.
8. Poole DC, Ferreira LF, Behnke BJ, Barstow TJ, Jones AM. The
final frontier: oxygen flux into muscle at exercise onset. Exerc
Sport Sci Rev 2007;35:166-73.
9. Rees DC, Howard JB. Structural bioenergetics and energy
transduction mechanisms. J Mol Biol 1999;293:343-50.
10. Nath S. A thermodynamic principle for the coupled bioenergetic
processes of ATP synthesis. Pure Appl Chem 1998;70:639-44.
11. Hargreaves M, Spriet L. Exercise metabolism. 2th ed. Champaign : Human Kinetics; 2005.
12. Coyle EF. Physical activity as a metabolic stressor. Am J Clin
Nutr 2000;72:512S-20S.
13. He ZH, Bottinelli R, Pellegrino MA, Ferenczi MA, Reggiani
C. ATP consumption and efficiency of human single muscle
fibers with different myosin isoform composition. Biophys J
2000;79:945-61.
14. Hamilton MT, Booth FW. Skeletal muscle adaptation to exercise: a century of progress. J Appl Physiol 2000;88:327-31.
15. Korzeniewski B. Regulation of ATP supply during muscle
contraction: theoretical studies. Biochem J 1998;330:1189-95.
16. Krustrup P, Ferguson RA, Kjaer M, Bangsbo J. ATP and heat
production in human skeletal muscle during dynamic exercise:
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
higher efficiency of anaerobic than aerobic ATP resynthesis. J
Physiol 2003;549:255-69.
Wolfe RR. Fat metabolism in exercise. Adv Exp Med Biol
1998;441:147-56.
Dzeja PP, Terzic A. Phosphotransfer networks and cellular
energetics. J Exp Biol 2003;206:2039-47.
Kushmerick MJ, Conley KE. Energetics of muscle contraction:
the whole is less than the sum of its parts. Biochem Soc Trans
2002;30:227-31.
Jeneson JA, Westerhoff HV, Kushmerick MJ. A metabolic
control analysis of kinetic controls in ATP free energy metabolism in contracting skeletal muscle. Am J Physiol Cell Physiol
2000;279:C813-32.
Fine EJ, Feinman RD. Thermodynamics of weight loss diets.
Nutr Metab (Lond) 2004;1:15.
Korzeniewski B. Regulation of oxidative phosphorylation in
different muscles and various experimental conditions. Biochem
J 2003;375:799-804.
Kornberg A, Rao NN, Ault-Riché D. Inorganic polyphosphate: a molecule of many functions. Annu Rev Biochem
1999;68:89-125.
Krebs HA. The history of the tricarboxylic acid cycle. Perspect
Biol Med 1970;14:154-70.
Papa S, Lorusso M, Capitanio N. Mechanistic and phenomenological features of proton pumps in the respiratory chain of
mitochondria. J Bioenerg Biomembr 1994;26:609-18.
Romano AH, Conway T. Evolution of carbohydrate metabolic
pathways. Res Microbiol 1996;147:448-55.
Scott C. Misconceptions about aerobic and anaerobic energy
expenditure. J Int Soc Sports Nutr 2005;2:32-7.
Slater EC. Mechanism of phosphorylation in the respiratory
chain. Nature 1953;172:975-8.
Shulman RG. Glycogen turnover forms lactate during exercise.
Exerc Sport Sci Rev 2005;33:157-62.
Geddes R. Glycogen: a metabolic viewpoint. Biosci Rep
1986;6:415-28.
Roach PJ. Glycogen and its metabolism. Curr Mol Med
2002;2:101-20.
Wyss M, Kaddurah-Daouk R. Creatine and creatinine metabolism. Physiol Rev 2000;80:1107-213.
McLeish MJ, Kenyon GL. Relating structure to mechanism
in creatine kinase. Crit Rev Biochem Mol Biol 2005;40:1-20.
Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Biochemistry of exercise
and training. 4th ed. New York: Oxford University Press; 1997.
Taylor DJ, Styles P, Matthews PM, Arnold DA, Gadian DG,
Bore P, Radda GK. Energetics of human muscle: exerciseinduced ATP depletion. Magn Reson Med 1986;3:44-54.
Gastin PB. Energy system interaction and relative contribution
during maximal exercise. Sports Med 2001;31:725-41.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
221
Revisão
A importância do teste de caminhada de seis
minutos na avaliação da capacidade funcional
de idosos hipertensos
The importance of six minute walk test in the evaluation
of the functional capacity of aged hypertensive patients
Nina Araújo de Oliveira, Ft.*, Thaís Miranda Costa, Ft.*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, M.Sc.**
*Faculdade de Pindamonhangaba – FAPI, Pindamonhangaba/SP, **Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP/EPM),
Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica – Universidade Estadual Paulista (UNESP) Guaratinguetá/SP,
Professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Pindamonhangaba – FAPI, Pindamonhangaba/SP
Resumo
Abstract
A grande incidência de hipertensão em idosos se dá por alterações anatômicas e fisiológicas que ocorrem principalmente no
sistema cardiovascular durante o envelhecimento. Uma das formas
de diminuir os níveis de pressão arterial em indivíduos hipertensos
é obtida por meio de mudanças nos hábitos de vida, uso de medicamentos e realização de exercícios físicos, sendo extremamente
importante a inclusão de uma avaliação dinâmica da capacidade
funcional dos idosos, hipertensos ou não, anteriormente ao início da
realização de um programa de exercícios. O Teste de Caminhada de
Seis Minutos (TC6M) é considerado um teste de exercício submáximo, simples de ser realizado, de baixo custo e bem tolerado pelos
pacientes, mesmo por aqueles com idades mais avançadas. Concluise que o TC6M impõe uma sobrecarga cardiovascular menor, sendo
considerado mais seguro para a avaliação da capacidade funcional
dos idosos hipertensos.
The considerable incidence of hypertension among the elderly
is due to anatomic and physiological changes that mainly occur
in the cardiovascular system throughout aging. Means to reduced
blood pressure levels in hypertensive individuals include a change
in life habits, the use of medication and physical exercise. It is also
extremely important to include a dynamic assessment of functional
capacity in elderly individuals (whether hypertensive or not) prior to
beginning any exercise regimen. The Six-Minute Walk Test (6MWT)
is considered a low-cost sub-maximum test that is easy to perform
and is well tolerated by patients, even those at more advanced ages.
In conclusion, the 6MWT imposes less cardiovascular load and is
considered safer for the assessment of functional capacity in hypertensive elderly individuals.
Key-words: aging, elderly, arterial hypertension, six-minute walk
test.
Palavras-chave: envelhecimento, idoso, hipertensão arterial, teste
de caminhada de seis minutos.
Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro, Avenida Osvaldo Aranha, 1961, 12600-000 Lorena SP, Tel: (12)
3152-8023, E-mail: [email protected]
222
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
Nas últimas décadas observou-se um crescente processo
de envelhecimento populacional, sendo este um dos maiores
triunfos da humanidade. Envelhecer ativamente faz com que
os indivíduos participem da sociedade, descobrindo potenciais
para o seu bem estar físico e mental, mantendo sua independência e autonomia [1].
A faixa etária que mais cresce em todo o mundo é o de
pessoas com 60 anos ou mais. Este processo relaciona-se a
uma redução nas taxas de fecundidade e da mortalidade,
acarretando um aumento da longevidade graças ao controle
das doenças infecto-contagiosas, da melhora nas condições
de vida e aos avanços da ciência [1,2]. O aumento da longevidade implica em mudanças no perfil epidemiológico com
aumento da prevalência de doenças crônicas e degenerativas
na população idosa [3].
O processo de envelhecimento é resultado de perdas estruturais e funcionais que facilitam o aparecimento de doenças
piorando a qualidade de vida. Dentre os aspectos negativos
do envelhecimento, destaca-se o aumento da prevalência de
doenças cardiovasculares (DCV), que são a principal causa de
morte no Brasil e nos demais países ocidentais. Sabe-se que
dentre várias DCV a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)
é potencialmente danosa ao sujeito idoso, independente de
sexo ou raça [4].
A HAS é definida como o aumento da pressão que o sangue exerce dentro das artérias acima dos valores considerados
como normais que, arbitrariamente, são representados por
140 x 90 mmHg [5]. As estimativas de prevalência da HAS
são altas, atingindo 50% da população idosa e apresentamse bastante heterogêneas na dependência de fatores como
idade, sexo, atividade física, níveis de estresse, histórico
etílico e familiar contribuindo para deteriorar o processo de
envelhecimento [6,7].
À medida que aumenta a idade cronológica das pessoas,
ocorrem alterações no sistema neuromuscular atingindo a
mobilidade do indivíduo, e nos sistemas cardiovascular e respiratório, com declínio da capacidade aeróbica e do consumo
máximo de oxigênio (VO2máx), ou seja, há transformações na
capacidade funcional do idoso [7].
Esse declínio dos sistemas orgânicos associados à hipertensão arterial pode ou não afetar a diminuição da capacidade
física do idoso, causando sua dependência e perda de autonomia [8]. Para que esses efeitos deletérios do envelhecimento
associados às doenças crônicas degenerativas, como a HAS,
diminuam são necessárias várias mudanças no estilo de vida do
indivíduo, tais como a prática regular de atividade física [6].
Entretanto, antes de se adotar um programa regular de
atividade física, que vise o cuidado com a saúde física e mental
do idoso, é necessário que ocorra uma avaliação da sua capacidade funcional dentro das suas limitações [9,2].
Um teste que tem sido amplamente aplicado e recomendado para a avaliação da capacidade funcional em idosos
de todo o mundo é o Teste de Caminhada de Seis Minutos
(TC6M) [10]. Seus objetivos incluem: avaliar a capacidade
aeróbica para a prática de esportes e outras atividades, como
também o estado funcional do sistema cardiovascular e/ou
respiratório saudável ou comprometido e ainda os programas
de prevenção e reabilitação cardiorrespiratórios. O TC6M
além de possuir uma boa correlação com VO2máx é facilmente
aplicado, tolerado, prático e de baixo custo [9].
Este trabalho tem, portanto, como objetivo verificar a importância do teste de caminhada de seis minutos para avaliar
a capacidade funcional de idosos hipertensos.
Envelhecimento
A grande heterogeneidade entre os idosos em todos os
seus aspectos sejam os morfológicos, funcionais, psicológicos e sociais, tem apresentado diferenças entre o conceito de
normalidade nesta população [2].
O que tem ocorrido de forma sustentada em toda população mundial é a longa sobrevivência. Este fato deve-se ao
processo de transição demográfica que resultou na transformação de toda estrutura etária da população, pois ocorreram
mudanças nos níveis de fecundidade e mortalidade, gerando
um crescimento e envelhecimento da população [11]. A
partir dessas mudanças e de outras, como as sociais e econômicas, transformou-se também o perfil epidemiológico
da população, sendo caracterizado por modificações nos
padrões de morbidade, invalidez e morte de uma população
específica [12].
Esta transição epidemiológica engloba três processos de
mudanças básicas: a substituição entre as primeiras causas
de morte das doenças transmissíveis por doenças crônicas
degenerativas ou não transmissíveis e de causas externas; o
deslocamento da maior carga de morbidade e mortalidade dos
grupos mais jovens aos grupos mais idosos e a transformação
do perfil de saúde da população, que antes sofria de processos
agudos os quais eram solucionados rapidamente por cura ou
óbito e que atualmente passa a ser mais susceptível aos fatores
de riscos e complicações das doenças crônicas degenerativas,
implicando na utilização dos serviços de saúde por várias
décadas, aumentando assim a expectativa de vida [3,11].
O processo de envelhecimento é um fenômeno biológico normal na vida de todos os seres vivos, não devendo
ser considerado uma doença, mas um processo dinâmico e
progressivo, com características e valores próprios, no qual
há modificações, dificultando a adaptação do indivíduo em
seu meio [13,14].
Pode-se dizer que ninguém está livre do envelhecimento,
e com a evolução de nossas vidas ocorrem transformações na
aparência, a pele se enruga em conseqüência de uma desidratação e há perda de elasticidade do tecido dérmico subjacente
[13]. Observa-se também um aumento da gordura corporal
total, com maior acúmulo preferencialmente na região abdominal [15].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Há redução do tecido muscular e conseqüentemente
perda da força, dificultando a locomoção e o equilíbrio [14],
diminuição da estatura devido à compressão das vértebras,
achatamento dos discos intervertebrais e mudanças motoras,
tais como: anteriorização dos ombros, inclinação da cabeça
para frente, acentuação da curvatura dorsal e flexão do joelho
[15]. Os órgãos dos sentidos são prejudicados e o coração
sofre modificações funcionais e anatômicas, facilitando a
atuação dos mecanismos fisiopatológicos das doenças crônicas
degenerativas [13].
Antes de representarem um risco de vida, estas doenças
constituem uma ameaça à autonomia e independência do
indivíduo, tendo como exemplo as limitações causadas por
fraturas após queda, as amputações e cegueira por causa do
diabetes e as doenças cardiovasculares como acidente vascular
encefálico, insuficiência cardíaca, doenças coronarianas e
hipertensão arterial [7].
Para que o envelhecimento seja uma experiência positiva,
isto é, uma vida mais longa acompanhada de oportunidades
contínuas de saúde, participação e segurança, adotou-se o
termo “envelhecimento ativo” desde o final de 1990 cujo
objetivo é aumentar a qualidade e a expectativa de uma vida
saudável para as pessoas que estão envelhecendo [1].
Mas para envelhecer de forma ativa é necessário que além
das medidas gerais de saúde se inclua a atividade física [7],
sendo que para o idoso esse complemento é essencial, resultando no alcance do nível desejável de capacidade funcional
para se viver independente [14].
Tanto para os adultos como pessoas na terceira idade, com
ou sem patologia associada, é necessário se determinar os mecanismos que são influenciados pelo exercício, como a capacidade
funcional e as funções cardiovascular e pulmonar [14].
Envelhecimento do sistema cardiovascular
O músculo cardíaco fornece ao coração a capacidade de
bombear uma variável quantidade de sangue. Quando há
uma presença de grande quantidade sanguínea chegando ao
coração, a força de contração do músculo cardíaco fica mais
elevada, ocorrendo um estiramento de suas fibras e câmaras.
Mas, quando apenas uma pequena quantidade chega, a força de contração é diminuída e as fibras cardíacas são pouco
estiradas [16].
O coração em repouso bombeia aproximadamente 5 litros/
minuto de sangue. Este volume é chamado débito cardíaco
(DC), podendo aumentar frente a exercícios ou diminuir em
casos de hemorragias [17]. Para que este volume sanguíneo
percorra todo o sistema circulatório é necessário que ele vença
a resistência que ocorre entre as paredes vasculares e o sangue,
chamada resistência vascular periférica (RVP). Essa resistência
pode aumentar ou diminuir, dependendo do comprimento e
diâmetro do vaso e da viscosidade sanguínea [16].
O coração alterna entre bombear sangue para as artérias
(sístole ventricular) e relaxar para receber sangue das veias
223
(diástole ventricular), período durante o qual nenhum sangue entra nas artérias. Mas, o fluxo nos capilares não sofre
qualquer alteração; tal fenômeno provém das propriedades
das paredes arteriais [16].
As artérias são constituídas por três camadas: a túnica
adventícia, a mais externa, composta de tecido conjuntivo; a
túnica média que possui musculatura lisa e fibras de colágeno
e elastina; e a túnica íntima revestida de tecido endotelial. Tais
camadas proporcionam às artérias uma força de tensão contra
a pressão exercida pelo sangue e a capacidade de se dilatarem
para reterem o excesso de sangue ejetado. Esta diferença de
pressão arterial produz uma pulsação que é um indicador da
atividade cardíaca [18].
O consumo máximo de oxigênio ou potência aeróbia
máxima (VO2máx) representa o maior valor de oxigênio consumido ao nível alveolar pelo indivíduo em um minuto, ou seja,
seus valores estão diretamente relacionados com a freqüência
cardíaca (FC), sendo que esta varia em torno de 60 a 80
batimentos por minuto, em indivíduos em repouso [19,17].
O coração possui um sistema de controle intrínseco, podendo funcionar sem influências nervosas, no qual a eficácia
de sua ação pode ser melhorada pela participação do sistema
nervoso central (SNC) através do sistema nervoso autônomo
(SNA), que por sua vez, é subdivido em sistema nervoso
parassimpático e simpático [20].
O sistema nervoso parassimpático produz sobre o coração
o efeito de reduzir a atividade cardíaca, através da diminuição
da freqüência e da força de contração cardíaca e da condução retardada dos impulsos nervosos. Isso ocorre durante os
períodos de repouso, fazendo com que o coração descanse e
conserve energia [16]. Porém, o sistema nervoso simpático
exerce efeitos quase que opostos sobre o coração, pois aumenta
a freqüência e a força de contração cardíaca e a velocidade
de condução do impulso, podendo elevar sua capacidade de
bombeamento em até 100%. Esta estimulação simpática
ocorre quando o indivíduo necessita de um fluxo sangüíneo
mais rápido pelo sistema circulatório, como durante uma
atividade física ou esforço [16].
Outra importante função desse sistema é regular a vasoconstrição e a vasodilatação das artérias, e principalmente
das arteríolas e veias. Isso ocorre por que normalmente essas
estruturas possuem um tônus vasomotor, devido à transmissão de impulsos simpáticos que as mantêm sempre em
estado moderado de constrição. Então, a regulação é feita
pelo aumento ou diminuição dos impulsos simpáticos, isto é,
quando há um aumento dos impulsos os vasos elevam seu grau
de constrição e quando há uma diminuição desses impulsos
ocorre a dilatação [20]. Além disso, as respostas reflexas do
simpático e parassimpático contribuem para a estabilização
e manutenção da pressão arterial sistêmica diante de diferentes situações fisiológicas, através de ajustes DC e resistência
vascular periférica [20].
O processo de envelhecimento no sistema cardiovascular
causa uma redução na capacidade cardíaca e uma diferença da
224
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
oxigenação arteriovenosa [14]. O coração de um idoso normal, com ou sem patologia, permanece do mesmo tamanho
ou torna-se ligeiramente menor do que na meia-idade [21].
No músculo cardíaco ocorre acúmulo de gordura principalmente nos átrios e septos interventriculares, podendo ou não
ocupar as paredes ventriculares. Observam-se também a substituição de células miocárdicas por tecido fibroso e o aumento
da resistência vascular periférica, podendo ocasionar uma
hipertrofia miocárdica concêntrica moderada, principalmente
no ventrículo esquerdo, diminuindo assim sua complacência
[22]. O pericárdio sofre alterações discretas, na maioria das
vezes por desgastes progressivos, quando ocorre o espessamento difuso e o aparecimento do aumento da taxa de gordura
epicárdica, sendo as cavidades esquerdas mais comprometidas
[22]. Já na camada mais interna, as alterações encontradas
são as proliferações, fragmentação e desorganização das fibras
colágenas e elásticas, resultando no espessamento e opacidade
endocárdica, sendo o átrio esquerdo o mais acometido [22].
A partir dos 30 anos de idade o VO2 máximo diminui
aproximadamente de 5- 15% por década devido ao processo
de envelhecimento e redução da capacidade cardíaca [14].
O débito cardíaco sofre uma redução de 30% a 40%, tanto
no repouso como durante o esforço. A freqüência cardíaca
de repouso é baixa, entretanto, durante o exercício ou outro
tipo de estímulo, a FC máxima decresce progressiva e linearmente com a idade [14]. Os batimentos cardíacos em repouso
diminuem de 6 a 10 batimentos por minuto, ocorrendo uma
rápida elevação durante a atividade física, sendo este fato
explicado pela diminuição no volume de sangue bombeado
pelo coração [14]. Já os indivíduos sedentários e não condicionados, poderão exceder 100 batimentos por minuto, tendo
em vista que os batimentos ectópicos ocasionais são comuns,
podendo ou não indicar uma cardiopatia [17,21].
Há uma grande influência do SNA sobre o desempenho
cardiovascular, visto que a eficácia dessa modulação sobre o
coração, vasos e, principalmente, as arteríolas diminui com o
envelhecimento, sendo que os mecanismos responsáveis por
estas alterações, ainda não foram identificados [22].
Com o envelhecimento ocorre um remodelamento na
parede das grandes artérias, tais como: dilatação da luz do
vaso e disfunção endotelial, as quais podem ser explicadas
pelo aumento da rigidez arterial, que, por conseqüência, eleva
a pressão sistólica e a de pulso e o aumento da espessura da
parede, principalmente da camada íntima [22].
A resistência vascular periférica é geralmente mais alta
nos idosos, devido à diminuição progressiva da quantidade
de elastina nas paredes arteriais e ao depósito de quantidades
variáveis de cálcio e colágeno nas paredes vasculares, causando
maior resistência nos vasos periféricos [23].
Para o controle da pressão arterial, o endotélio exerce uma
ação essencial, pois é responsável pela liberação de inúmeras
substâncias vasodilatadoras e vasoconstritoras. A disfunção do
endotélio causa um desequilíbrio na liberação destas substâncias,
criando uma prevalência dos vasoconstritores e contribuindo para
a instalação da hipertensão arterial. Entre as várias causas de disfunção endotelial, as mais notáveis são: obesidade, dislipidemia,
deficiência de estrogênio induzida por menopausa, alterações
causadas pelo envelhecimento e pela própria hipertensão. Todos
estes fatores são prevalentes entre os idosos [23].
Hipertensão arterial sistêmica no idoso
A interação de modificações próprias do envelhecimento
e as que decorrem de processos patológicos são responsáveis
pela apresentação clínica de várias enfermidades que se tornam mais graves nos idosos [24]. Com aumento da idade
aumenta o número de doenças crônicas, sendo a HAS um
dos mais importantes fatores de risco cardiovasculares, pois
atua acelerando as alterações próprias do envelhecimento [21].
Estabeleceu-se através de vários estudos que para ser considerado hipertenso o idoso deve apresentar pressão arterial
sistólica igual a 160 mmHg e pressão arterial diastólica igual a
90 mmHg. Isso pode ser explicado porque há uma tendência
do aumento da pressão arterial com a idade [24].
Nas últimas décadas, apesar do progresso de sua detecção
e tratamento, não ocorreu redução na sua prevalência, sendo
que nos idosos ela é superior a 50% e nas mulheres acima de
75 anos essa prevalência pode chegar a 80% [25].
Evidências epidemiológicas demonstram que o idoso
hipertenso apresenta maior risco cardiovascular do que o
normotenso de idade semelhante, estando diretamente relacionado com o aumento da Pressão Arterial Sistólica (PAS)
ou da Pressão Arterial Diastólica (PAD). Com o avançar da
idade, este risco é predominantemente influenciado pela
elevação da PAS definida como hipertensão arterial sistólica
isolada (HASI). Este evento é tipicamente apresentado por
idosos, sendo mais prevalente entre 65 e 89 anos [26,24].
O sistema cardiovascular com o passar dos anos sofre uma
série de alterações fisiológicas tornando o indivíduo mais propenso ao desenvolvimento da HAS e quando esta se instala,
ocorre diminuição da sobrevida e piora na qualidade de vida.
Desse modo, a HAS no idoso se caracteriza por apresentar
aumento da resistência vascular periférica com decréscimo
do débito cardíaco (redução da freqüência cardíaca e do volume sistólico) e volume intravascular, hipertrofia cardíaca e
diminuição do fluxo sanguíneo renal [26,27].
O processo de envelhecimento associado a várias doenças,
especialmente a HAS, pode ser amenizado pela prática de atividade física, que, por sua vez, é importante na prevenção do
declínio funcional e no aumento da sobrevivência, trazendo
mais benefícios à saúde cardiovascular [13,4].
Porém, quando esta atividade é realizada de forma inadequada, excedendo a capacidade do praticante, pode trazer
riscos. Desta forma, a avaliação da capacidade funcional é
necessária para que se prescrevam exercícios para pacientes
hipertensos, dentre outros, de forma adequada. Uma das
várias alternativas terapêuticas existentes para avaliação desta
capacidade é o teste de caminhada de seis minutos [28,29].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Teste de caminhada de seis minutos
Definição
O Teste da Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um
teste de esforço submáximo que se assemelha às atividades
diárias do indivíduo e permite uma avaliação objetiva da
sua condição física. Desta forma, a avaliação da capacidade
funcional é necessária para que sejam prescritos exercícios
aos pacientes cardiopatas de forma adequada e também para
avaliar a eficácia da terapêutica utilizada [29].
Em 1960, Balke desenvolveu um teste simples para avaliar
a capacidade funcional mediante a mensuração da distância
caminhada durante um período definido de tempo. Um teste
de doze minutos, então, foi desenvolvido para avaliar o nível
de aptidão física de indivíduos saudáveis. Em 1976, McGavin, adaptou este teste para avaliar pacientes com Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) [30,31].
Posteriormente, Butland et al. [32], em 1982, estudaram
a possibilidade de diminuir o tempo desse teste para seis
e dois minutos, com o objetivo de que a performance dos
pacientes com doenças das vias respiratórias fosse menos
exaustiva. Entretanto, o teste de caminhada de seis minutos
apresentou melhor correlação com o teste de doze minutos.
Desde então, o TC6M vem sendo amplamente utilizado para
avaliar a efetividade de diferentes modalidades de tratamento
nas áreas clínica e cirúrgica além da avaliação da capacidade
funcional [33,34].
A capacidade funcional pode ser obtida através da Classificação da New York Heart Association (NYHA) pelo teste
de esforço máximo e teste de esforço submáximo [29]. A
classificação da NYHA avalia o grau dos sintomas desencadeados por atividades diárias, porém devido à subjetividade
desses sintomas e por seu valor ser limitado, foi introduzido
o teste de esforço [29].
O teste de esforço máximo, com medida do VO2máx
tornou-se a avaliação mais objetiva e reprodutível, pois necessita de monitorização eletrocardiográfica e da saturação de
O2. Porém, devido ao seu alto custo e por não representar a
atividade diária do paciente e ainda necessitar de uma equipe
especializada e treinada para sua realização, o mesmo não é
muito acessível [35,36].
Aproximando-se mais das atividades normais do paciente,
o teste de esforço submáximo, representado pelo TC6M, tem
sido mais utilizado, possibilitando o paciente determinar o
ritmo da sua caminhada, tornando-se uma vantagem aos
mais limitados fisicamente e que não tolerariam o teste de
esforço máximo [29]. Além de ser de fácil execução, é seguro
e de baixo custo, necessitando apenas da monitorização da
Freqüência Cardíaca (FC), Freqüência Respiratória (FR) e
Pressão Arterial (PA) [37].
O teste de caminhada de seis minutos tem como principal objetivo avaliar, através das respostas do paciente, a
sua capacidade aeróbica, possibilitando identificar o estado
225
funcional de vários sistemas, como o cardiovascular e o
respiratório, indicando um prognóstico de morbidade e
mortalidade, proporcionando assim a criação de intervenções médicas e terapêuticas de prevenção e reabilitação do
paciente [38,31].
Indicações e contra-indicações
O teste de caminhada é útil na determinação da capacidade funcional de pacientes saudáveis ou que apresentam
graus de debilidade moderada ou grave, desde crianças até
idosos [31].
Outras importantes indicações são as medidas dos resultados encontrados antes e depois do tratamento de cardiopatias
ou pneumopatias, das evoluções pré e pós-operatórias e identificação de prognósticos de hospitalização e óbito, segundo
ilustra a Tabela I [36].
Tabela I - Indicações para a realização do teste de caminhada de
seis minutos.
Comparações Pré e Pós-tratamento
Transplante ou ressecção pulmonar
Cirurgia para redução do volume pulmonar
Reabilitação pulmonar e cardíaca
Hipertensão pulmonar
Terapia medicamentosa para DPOC e cardiopatias
Insuficiência cardíaca
Medida da Capacidade Funcional
DPOC
Fibrose cística
Insuficiência cardíaca
Doença vascular periférica
Pacientes idosos
Diagnosticar hospitalização e Óbito
DPOC
Insuficiência cardíaca
Hipertensão pulmonar
Estudos demonstram que esse teste tem sido também
empregado em outras diversas disfunções, como doença de
Parkinson, diabetes, fibromialgia, acidente vascular encefálico, insuficiência renal crônica, doença vascular periférica
oclusiva, transplante de fígado, artroscopia do joelho, artrite
e lombalgia crônica, avaliando desse modo, a mobilidade
funcional [10].
As contra-indicações do TC6M incluem história de angina instável, insuficiência congestiva aguda, estenose aórtica
grave, paciente com menos de cinco dias após infarto agudo
do miocárdio ou pós-cirurgia de enxerto coronariano, arritmias não controladas antes do exercício, tais como fibrilação
atrial, HAS em repouso (PAS = 180 mmHg e PAD = 100
mmHg), hipotensão (PAS = 80 mmHg e PAD = 50 mmHg)
e taquicardia (> 120 bpm) [31,36].
226
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Execução
O TC6M é um exame limitado por tempo e pode ser
realizado a qualquer hora do dia [39]. O corredor mais utilizado para a sua realização deve apresentar uma temperatura
confortável, podendo ser em um ambiente fechado ou ao ar
livre. Seu piso deve ser nivelado em toda sua extensão, com
superfície resistente, e que raramente haja fluxo de pessoas
transitando naquele local. Geralmente utiliza-se uma esteira
ou corredor de 30 metros onde o momento de realizar uma
curva deve ser marcado por um cone, e a linha de partida deve
ser demarcada por uma fita colorida no chão. Alguns estudos
demonstram que o TC6M pode também ser executado em
corredores de 20 ou 50 metros, sendo pouco viável a utilização de corredores menores, pois podem alterar o resultado
do teste [31].
Durante a realização do teste o paciente deve usar roupas
confortáveis, calçados apropriados, não deve ter realizado
exercício físico rigoroso, nem aquecimento duas horas antes
do início do teste e ter realizado previamente uma alimentação leve [36].
Antes do início da caminhada o paciente deve sentar-se
confortavelmente numa cadeira colocada na posição inicial,
por pelo menos 10 minutos, enquanto o examinador avalia
os sinais vitais (PA, FC, FR, saturação de O2) [31,36,40].
O paciente é posicionado no corredor, devendo andar
em ritmo máximo tolerável, porém sem correr durante seis
minutos. Pode realizar quantas pausas julgar necessárias, no
caso de fadiga extrema ou outros sintomas limitantes como
dor torácica, dispnéia, palidez, câimbras nas pernas, sudorese
e claudicação, retornando à caminhada logo que se sinta apto,
sem falar com as pessoas ao seu redor até chegar aos cones,
onde realizará a volta rapidamente em torno deles, retomando
a caminhada [31].
O TC6M é dependente de motivação, aprendizado e esforço, estando o encorajamento verbal associado a um aumento
da distância percorrida. Porém, a padronização do TC6M com
acompanhamento não utiliza apenas o encorajamento, mas
associa a presença do fisioterapeuta ao lado do paciente, impondo a manutenção do ritmo, que reflete em maior distância
alcançada, assim como todas as variáveis avaliadas, quando
comparadas ao TC6M sem acompanhamento [31,10].
As variáveis medidas pelo TC6M são as objetivas e as
subjetivas. A objetiva é a distância da caminhada total e as
subjetivas podem incluir dispnéia, fadiga e nível de esforço
para a realização das atividades de vida diária, medidas pela
escala de Borg modificada, conforme mostra a Tabela II [36].
O nível da distância de caminhada prevista para cada teste
realizado é determinado segundo as equações descritas por
Enrigth e Sherrill [40]: homens - distância TC6M (m) = (7,57
x altura cm) – (5,02 x idade) – (1,76 x peso kg) – 309 m,
mulheres - distância TC6M (m) = (2,11 x altura cm) – (2,29
x peso kg) – (5,78 x idade) + 667 m.
Tabela II - Escala de Borg Modificada
Escala de Borg Modificada
0 nenhum
0,5 muito, muito fraco (apenas observável)
1 muito fraco
2 fraco
3 moderado
4 qualquer coisa forte
5 forte (pesado)
6
7 muito forte
8
9
10 muito, muito forte (máximo)
Os fatores como sexo, idade, peso, altura, IMC, presença de patologias músculo esqueléticas ou outras patologias
limitantes e o encorajamento são variáveis independentes
que, quando associadas, podem influenciar o resultado do
teste [41].
A partir do cálculo da distância percorrida através dessas
equações, obtêm-se, então, os níveis de caminhada:
Nível 1 < 300 m;
Nivel 2, entre 300 e 375 m;
Nível 3, entre 376 e 450 m;
Nível 4 > 450 m.
Estudos comprovam que a relação do nível da distância
percorrida no primeiro teste não apresenta boa reprodutibilidade quando comparada ao segundo teste, em que ocorre
aumento da velocidade da caminhada, melhora do nível da
distância percorrida e da coordenação [31].
Além de avaliar as condições físicas do paciente, o TC6M
também avalia o consumo máximo de O2 (VO2 máximo)
durante sua realização, que é calculado pela fórmula VO2máx
= 0,03 x distância (m) + 3,98. Posteriormente, o VO2 é relacionado com a distância alcançada durante o teste e obtém-se
o consumo de O2 durante o esforço e a capacidade funcional
do indivíduo. Portanto, as variáveis VO2máx < 10 ml/kg/min
identifica paciente de alto risco, VO2máx > 18 ml/kg/min,
paciente de baixo risco e valores entre 10 e 18 ml/kg/min
definem paciente de médio risco [42].
Método
Trata-se de um estudo de revisão de literatura, no qual
foram utilizados artigos em português e inglês de revistas
indexadas nos bancos de dados Bireme, Pubmed e Comut da
Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, FEG – UNESP,
nas bases de dados Medline, Scielo e Lilacs, publicados entre
os anos de 1998 a 2008 além de livros e revistas do acervo
da biblioteca da Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI) e
acervo pessoal.
As palavras-chave utilizadas para busca dos artigos foram: envelhecimento, idoso, hipertensão arterial, teste de
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
caminhada de seis minutos, aging, elderly, hypertension, six
minute walk test.
Discussão
A pessoa idosa apresenta uma capacidade física semelhante à das pessoas jovens ativas. Isto significa que alguns
processos fisiológicos que diminuem com a idade, como a
capacidade aeróbica máxima, podem ser modificados pelo
exercício e pelo condicionamento físico, podendo melhorar
a eficiência cardíaca e a função pulmonar; ou seja, a prática
de atividade física contribui com respostas positivas para um
envelhecimento saudável quando realizada regularmente. Por
isso é um importante recurso para minimizar a degeneração
provocada pela idade e possibilita ao idoso manter um estilo
de vida melhor [36].
Estudos indicam que um programa de atividade física
para idosos é essencial, a fim de que se alcance um nível desejado de capacidade aeróbica para se viver funcionalmente
independente, sendo de extrema importância a inclusão de
uma avaliação dinâmica da capacidade funcional dos idosos,
hipertensos ou não, através de um teste de esforço submáximo.
Desse modo, o TC6M possibilita uma prescrição fisioterapêutica apropriada de exercícios, permite a análise de outras
terapêuticas utilizadas e identifica o paciente de alto risco [14].
No estudo de Trooster et al. [30], o teste de caminhada
foi realizado com indivíduos saudáveis entre 50 e 80 anos e
foi observado que quanto maior a idade, menor é a distância
percorrida, o que concorda com o estudo de Pires et al. [9] que
encontrou diferenças no grupo dos adultos quando comparados aos idosos. Isto pode ser explicado pelo fato de o efeito
do aprendizado ter sido maior na faixa etária mais jovem, pela
melhor tolerância ao exercício do mesmo grupo ou devido,
ainda, ao intervalo pequeno de descanso entre os testes.
Para Enrigth e Sherril [41] essa diferença da distância percorrida pode ser explicada pela diminuição da força muscular
global e da função pulmonar por ação fisiológica do processo
de envelhecimento, ressaltando que o TC6M torna-se um
importante instrumento de avaliação desta população.
Valenti et al. [43] avaliaram a correlação da distância percorrida com a idade, altura, peso e índice de massa corporal
(IMC) através do teste de caminhada de seis minutos em
indivíduos do gênero feminino saudáveis entre 45 a 58 anos de
idade. Eles verificaram que não houve correlação significativa
entre essas variáveis, ou seja, o teste de caminhada não foi
influenciado por elas, o que contradiz os estudos de Enrigth
et al. [36], o qual relatou que o teste de caminhada de seis
minutos pode ser influenciado por vários fatores como baixa
estatura, sexo feminino, idade avançada, obesidade, doenças
músculo esqueléticas e desmotivação.
Vários estudos têm demonstrado que a curta distância
percorrida tende a aumentar com a administração repetida
do teste de caminhada de seis minutos, podendo ser explicado
pelo efeito de familiarização com o teste, ou seja, a aprendiza-
227
gem [44]. Por outro lado, Rodrigues et al. [33] sugerem que
a magnitude do efeito de aprendizagem é bastante variável
de estudo para estudo.
Kervio et al. [45] aplicaram cinco TC6M em diferentes
horários e dias, em indivíduos com idade entre 60 e 70 anos
e observaram uma menor distância percorrida nos dois primeiros testes, considerando, então, necessário executar pelo
menos dois testes para o aprendizado do mesmo. Já Trooster
et al. [30] usaram um intervalo de duas horas e meia entre os
testes e observaram uma maior distância no segundo teste.
Wu et al. [44] observaram que a partir da realização do
terceiro teste de caminhada a distância percorrida tende
a um platô, havendo diferença entre os testes realizados
posteriormente, sugerindo a aplicação deste protocolo antes
de determinar a capacidade do exercício de um indivíduo,
o que contradiz com as postulações do American Thoracic
Society [31] no qual é relatado que nem sempre é necessária
a realização de um segundo teste.
Pires et al. [9] confirmaram as medidas do ATS e explicaram que essas contradições entre autores são devido ao uso
de protocolos diferentes, tamanhos variados de corredores e
realização do teste com acompanhamento e incentivo ou com
nenhuma destas duas condições. Neste mesmo estudo, os
autores encontraram diferenças no efeito do aprendizado no
grupo de adultos quando comparados aos idosos, demonstrando a sensibilidade que o teste de caminhada de seis minutos
tem em avaliar o desempenho e a capacidade funcional em
diferentes indivíduos.
Guyatt et al. apud Araújo et al. [10] relataram que outra
maneira de se aumentar a distância percorrida pode ser obtida
por meio do encorajamento verbal. Para Araújo et al. [10]
esta proposta é confirmada, pois o TC6M em indivíduos
idosos com acompanhamento de um fisioterapeuta ao lado,
impondo a manutenção do ritmo, refletiu em uma maior
distância percorrida, além de modificações em outras variáveis analisadas como as frequências cardíaca e respiratória,
diferente do TC6M sem acompanhamento, o que reforça os
estudos de Nery et al. [46], os quais observaram que a melhora
do desempenho dos pacientes durante o TC6M deve-se a um
simples encorajamento.
Segundo Araújo et al. [10], essa forma de padronização
do TC6M com acompanhamento estimula um maior desempenho cardiovascular, pois neste estudo verificou-se que
a distância percorrida pelos idosos com cardiopatias evidentes
aumentou em 15% e naqueles idosos sem cardiopatias esse
desempenho aumentou 12%.
Peeters e Mets apud Araújo et al. [10] demonstraram que
22% dos idosos com cardiopatia foram incapazes de concluir
o teste ergométrico, diferentemente do teste de caminhada de
seis minutos que todos foram capazes de realizar. Eles explicam
que este fato deve-se à velocidade da esteira e conseqüentemente à sensação de queda.
No estudo de Araújo et al. [10] todos os idosos foram
capazes de realizar o TC6M, apresentando boa tolerância ao
228
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
mesmo, não havendo necessidade de pausas ou interrupções
devido à presença de sintomas. Já quando submetidos ao
teste cardiopulmonar, dois pacientes idosos com cardiopatias
evidentes interromperam o teste devido a alterações eletrocardiográficas.
No estudo de Oliveira Júnior et al. apud Carreira et al.
[47], o teste de caminhada de seis minutos foi empregado para
avaliar o efeito dos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) no tratamento de portadores de cardiopatias.
Esse estudo mostrou que os inibidores da ECA aumentam
o desempenho dos cardiopatas e que este aumento, avaliado
pela distância percorrida, ocorre principalmente em um mês,
podendo perdurar até pelo menos três meses.
Pedroso et al. [48] realizaram o teste de caminhada de seis
minutos como avaliação da capacidade aeróbica de mulheres
hipertensas de 28 a 61 anos que se submeteram ao treinamento físico resistido durante oito semanas. Concluiu-se que não
houve diferença significativa na distância percorrida, sugerindo que o treinamento de força não proporcionou estímulos
suficientes para a melhora da capacidade cardiorrespiratória,
estando os valores da pressão arterial, freqüência cardíaca e
respiratória dentro dos limites da normalidade antes e depois
do teste de esforço.
Macanhan et al. [49] também confirmaram este achado
através do seu estudo, em que foram avaliados idosos diabéticos e hipertensos que realizavam alguma atividade física
regular como, por exemplo, a caminhada comparados com
idosos não diabéticos e hipertensos sedentários.
Vitorino [50] identificou que idosos hipertensos que realizaram o TC6M depois de uma intervenção fisioterapêutica
constituída por duas sessões semanais que objetivava o alívio
da dor, obtiveram um percurso máximo de 412 metros,
diferente do resultado encontrado antes do tratamento que
foi de 397 metros.
Reboredo et al. [51] relataram que há vários tipos de testes
que podem ser utilizados na avaliação da capacidade funcional, a qual é determinada pelo Consumo Máximo de Oxigênio
(VO2máx). Cahalin et al. apud Rocha et al. [42] evidenciaram
uma forte correlação entre a distância percorrida pelo TC6M
com o VO2máx, no qual a distância percorrida durante o teste
prediz o pico de VO2 e uma sobrevida a curto prazo.
Nery et al. [46] verificaram que os testes de avaliação das
capacidades física e funcional são importantes marcadores
de prognósticos e que auxiliam na tomada de medidas terapêuticas mais adequadas, sendo o TC6M um procedimento
cada vez mais utilizado.
Conclusão
No presente trabalho foi concluído que o Teste de Caminhada de Seis Minutos apresenta-se como uma opção de
baixo custo e de boa tolerância, além de representar melhor
a evolução diária do paciente, uma vez que se assemelha com
as atividades diárias por ele realizadas. É um procedimento
importante a ser aplicado nos pacientes mais limitados fisicamente e para aqueles incapazes de tolerar um teste máximo.
Por se tratar de um teste submáximo, ele impõe uma sobrecarga cardiovascular menor, sendo sua aplicação mais segura
para a avaliação da capacidade funcional de idosos hipertensos
permitindo, desse modo, a prescrição de exercícios de forma
adequada a este perfil de pacientes.
Referências
1. World Health Organization. Envelhecimento ativo: uma política de saúde; 2005.
2. Santana RR, Strottmann IB. Os fatores de risco da hipertensão
arterial sistêmica em indivíduos idosos (revisão de literatura).
XI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VII
Encontro Latino Americano de Pós-Graduação. São José dos
Campos: - Universidade do Vale do Paraíba; 2005.
3. Vieira VA, Castiel LD. Hipertensão arterial em idosos atendidos
em grupos de aconselhamento. Comentários a partir de um estudo descritivo preliminar. Psicol Ciênc Prof 2003;23(2):76-83.
4. Mendonça TT, Ito RE, Bartholomeu T, Tinucci T, Forjaz CLM.
Risco cardiovascular, aptidão física e prática de atividade física
de idosos de um parque de São Paulo. Rev Bras Ciênc Mov
2004;12:19-24.
5. Pessuto J, Carvalho EC. Fatores de risco em indivíduos com hipertensão arterial. Rev Latinoam Enfermagem 1998;6(1):33-9 .
6. Oliveira TC, Araújo TL, Melo EM, Almeida DT. Avaliação
do processo adaptativo de um idoso portador de hipertensão
arterial. Rev Latinoam Enfermagem 2002;4:530-536.
7. Matsudo SM, Matsudo VKR, Neto TLB. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Rev Bras Ciênc Mov 2000;8:21-32.
8. Ferreira FFP, Izzo H, Filho WJ. Impacto da capacidade física na
saúde percebida entre idosos em velhice avançada. Cad Saúde
Coletiva 2007;17:154-7.
9. Pires SR, Oliveira AC, Parreira VF, Britto RR. Teste de caminhada de seis minutos em diferentes faixas etárias e índices de
massa corporal. Rev Bras Fisioter 2007;11:147-151.
10. Araújo CO, Makdisse MRP, Peres PAT, Tebexreni AS, Ramos
LR, Matsushita AM, et al. Diferentes padronizações do teste de
caminhada de seis minutos como método para a mensuração
da capacidade de exercício de idosos com ou sem cardiopatia
clinicamente evidente. Arq Bras Cardiol 2006;86(3):198-205.
11. Lebrão ML. O envelhecimento no Brasil: aspectos da transição demográfica e epidemiológica. Cad Saúde Coletiva
2007;17:135-40.
12. Chaimowicz F. Epidemiologia e o envelhecimento no Brasil.
In: Freitas EV, et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan; 2006.
13. Zaslavsky C, Gus I. Idoso. Doença cardíaca e comorbidade.
Arq Bras Cardiol 2002;79: 635-9.
14. Miranda EP, Rabelo HT. Efeitos de um programa de atividade
física na capacidade aeróbica de mulheres idosas. Movimentum
- Revista Digital de Educação Física da Unileste; 2006.
15. Sampaio LR. Avaliação nutricional e envelhecimento. Rev Nutr
2004; 17(4):507-514.
16. Guyton AC, Hall JE. Fisiologia humana e mecanismos das
doenças. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.7.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
17. Polito MD, Farinatti PTV. Respostas de freqüência cardíaca,
pressão arterial e duplo produto ao exercício contra resistência:
uma revisão de literatura. Rev Port Ciências Desp 2003;3:79-91.
18. Moore A, Mangonl AA, Lyons D, Jackson SHD. The cardiovascular system in the ageing patient. Br J Clin Pharmacol
2003;56(3):254-60.
19. Rodrigues LOC, Garcia ES, Moreira MCV, Ribeiro GA. Avaliação da capacidade funcional através da medida consumo de
oxigênio em portadores de provável cardiopatia assintomática.
Arq Bras Cardiol 1999;73:1-5.
20. Angelis K, Santos MSB, Irigoyen MC. Sistema nervoso autônomo e doença cardiovascular. Rev Soc Cardiol 2004;13(3):1-7.
21. Baraldi GS, Almeida LC, Borges ACL. Perda auditiva e hipertensão: achados em grupos de idosos. Rev Bras Otorrinolaringol
2004;70:640-4.
22. Affiune A. Envelhecimento cardiovascular. In: Freitas EV.
Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2006.
23. Soares AM, Mion Junior D, Pierin A, Jacob Filho W. A importância de um programa de assistência multidisciplinar no
controle de pressão arterial no idoso hipertenso. Einstein (São
Paulo) 2007;5(2):137-42.
24. Amado TCF, Arruda IKG. Hipertensão arterial no idoso e
fatores de risco associados. Rev Bras Nutr Clin 2004;19:94-9.
25. Bloch KV, Rodrigues CS, Fiszman R. Epidemiologia dos fatores
de risco para hipertensão arterial - uma revisão crítica de literatura brasileira. Rev Bras Hipertens 2006;13:134-43.
26. Miranda RD, Perrotti TC, Bellinazzi VR, Nóbrega TM, Cendoroglo MS, Neto JT. Hipertensão arterial no idoso: peculiaridades na fisiopatologia no diagnóstico e tratamento. Rev Bras
Hipertens 2002;9:293-300.
27. Rosa RF, Franken RA. Fisiopatologia e diagnóstico da hipertensão arterial no idoso: papel da monitorização ambulatorial
da pressão arterial e da monitorização residencial da pressão
arterial. Rev Bras Hipertens 2007;14:21-4.
28. Bautmans I, Lombert M, Mets T. The six-minute walk test in
community dwelling elderly: influence of health status. BMC
Geriatr 2004; 23:4-6.
29. Silva LG, Pontes CS. Teste de caminhada de seis minutos para
pacientes cardiopatas sob a óptica do fisioterapeuta. Interfisio
2006. [citado 2009 Jan 12]. Disponível em URL: http:// www.
interfisio.locaweb.com.br
30. Trooster T, Gosselink R, Decramer M. Six minute walking
distance in healthy elderly subjects. J Eur Respir1999;14:270-4.
31. American Thoracic Society. ATS Statement: guidelines for the six
minute walk test. Am J Respir Crit Care Med 2002;166:111-7.
32. Butland RJ, Pang J, Gross ER, Woodcock AA, Geddes DM.
Two, six and twelve-minute walking test in respiratory disease.
Br Med J (Clin Res Ed) 1982;284(6329):1607-8.
33. Rodrigues SL, Mendes HF, Viegas CAA. Teste de caminhada de
seis minutos: estudo do aprendizado em portadores de doença
pulmonar crônica. J Bras Pneumol 2004;30:122-5.
34. Brook D, Davis AM, Naglie G. The feasibility of six minute and
two minute walk test in patient geriatric rehabilitation. Can J
Aging 2007;26:159-62.
35. Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). II Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre teste ergométrico.
Arq Bras Cardiol 2002;78(Supl.2).
229
36. Enright PL, McBurnie MA, Bitter V, Tracy RP, McNamara R, Arnold A, Newman AB. The 6-minute walk test: a
quick measure of functional status in elderly adults. Chest
2003;123(2):387-98.
37. Polcaro P, Lova RM, Guarducci L, Conti AA, Zipoli R, Papucci
M et al. Left ventricular function and physical performance on
the 6 min walk test in older patients after in patient cardiac
rehabilitation. Am J Phys Med Rehabil 2008;87(1):46-52.
38. Harada ND, Chiu V, Stewart AL. Mobility-related function in
older adults: assessment with a 6-minute walk test. Arch Phys
Med Rehabil 1999;80(7):837-41.
39. Silva TLP, Sampaio LMM, Silva AB, Kunikoshita LN, Costa
D. Comparação entre o teste de caminhada de seis minutos
realizado no corredor e na esteira rolante em mulheres asmáticas.
Fisioter Mov 2007;20:137-44.
40. Keeffe STO, Lye M, Domellan C, Carmichael DN. Reproducibility and responsiveness of quality of life assessment and
six minute walk test in elderly heart failure patients. Heart
1998;80:377-82.
41. Enright PL, Sherrill DL. Reference equations for the sixminute walk in healthy adults. Am J Respir Crit Care Med
1998;158:1384-7.
42. Rocha RM, Santo EPE, Gouveia EP, Bittencourt MI, Dowsley
R, Meirelles LR et al. Correlação entre o teste de caminhada
de seis minutos e as variáveis do teste ergométrico em pacientes com insuficiência cardíaca: um estudo piloto. Rev Socerj
2006;19(6):482-6.
43. Valentin VE, Valentin EE, Abreu LC. Análise do desempenho
de mulheres brasileiras adultas saudáveis no teste de caminhada
de seis minutos: estudo piloto. Fisioter Bras 2007; 8(Supl 6):6.
44. Wu G, Sanderson B, Bittner V. The 6-minute walk test: how
important is the learning effect? Am Heart J 2003;146:129-33.
45. Kervio G, Carre F, Ville NS. Reliability and intensity of the
six minute walk test in healthy elderly subjects. Med Sci Sports
Exerc 2003;35:169-64.
46. Nery RM, Manfroi WC, Barbisan JN. Teste de caminhada de
seis minutos na avaliação pré-operatório da cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev HCPA 2007;27(1)47-50.
47. Carreira MAMQ, Tavares LR, Leite RF, Ribeiro JC, Santos
AC, Pereira KG et al. Teste de esforço em hipertensos em uso
de diferentes inibidores da enzima conversora da angiotensina.
Arq Bras Cardiol 2003;80:127-32.
48. Pedroso MA, Simões RA, Bertato MP, Novaes PFS, Peretti A,
Alves SCC et al. Efeitos do treinamento de força em mulheres
com hipertensão arterial. Saúde Rev 2007;9(21): 27-32.
49. Macanhan FE, Do Valle PHC, Moreira PR, Barbosa EGS,
Guntzel AM, Foresti J et al. Comparação do desempenho no
teste de seis minutos de caminhada, entre um grupo de idosos
diabéticos e hipertensos que realiza caminhadas regulares, em
relação a um grupo controle sedentário não diabético e não
hipertenso. Revista de Fisioterapia da Universidade de Cruz
Alta 2000;2(2):67.
50. Vitorino PVO. Efeito do tratamento fisioterápico na atividade
física diária e na adesão ao exercício físico de idosos hipertensos
[tese]. Brasília: Universidade de Brasília; 2006.
51. Reboredo MM, Henrique DMN, Faria RS, Bergamini BC,
Bastos MG, Paula RB. Correlação entre a distância no teste de
caminhada de seis minutos e o pico de consumo de oxigênio em
pacientes portadores de doença renal crônico em hemodiálise.
J Bras Nefrol 2007;29:88-89.
230
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Revisão
Miostatina
Myostatin
Fábio Eduardo de Almeida*
*Graduando em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, estagiário do Laboratório de aptidão
física e performance humana da Universidade de Guaxupé - UNIFEG
Resumo
Abstract
A descoberta da miostatina, uma proteína que limita o desenvolvimento do músculo esquelético, é de grande importância para a
minimização da perda de massa muscular magra em indivíduos que
possuam patologias em que a distrofia e a atrofia muscular sejam
muito grandes. Estudos tentam descobrir como inibir essa proteína e
os possíveis efeitos colaterais causados pela mesma. Esta revisão tem
como objetivo analisar alguns dos estudos realizados e explanar sobre
os pontos mais importantes a serem estudados sobre a miostatina.
The discovery of myostatin, a protein that limits the development of skeletal muscle, is of great importance to minimizing the
loss of lean muscle mass in individuals who have diseases which
dystrophy and muscular atrophy are very large. Studies are trying
to figure out how to inhibit this protein and possible side effects
caused by the same. This review aims to evaluate some of the studies
and explain the most important points to be studied on myostatin.
Key-words: myostatin, protein, pathologies, skeletal muscle.
Palavras-chave: miostatina, proteína, patologias, músculo
esquelético.
Endereço para correspondência: Fábio Eduardo de Almeida, Loteamento Bela Vista, Muzambo, Caixa Postal 36, 37145-000 Alterosa
MG, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Introdução
Após sua descoberta inicial em 1997 por Lee e McPherron
[1], a miostatina tem levado vários pesquisadores a realizarem
trabalhos para descobrir seus mecanismos de funcionamento
e sua possível inibição para uso contra patologias em que a
perda de massa muscular seja avassaladora. Há alguns anos, foi
observado o primeiro ser humano com uma mutação genética
em seus níveis de miostatina, crescendo assim uma criança
extremamente forte e com grande volume muscular [2].
Estudos com animais vêm sendo realizados com freqüência, porém, falta saber se a inibição da miostatina em seres
humanos não causa nenhum efeito colateral considerado
deletério.
Mecanismo de funcionamento
A miostatina é uma proteína pertencente à família das
supercitocinas dos TGF-. Seu papel, além de regular a
proliferação de mioblastos durante o período embrionário e
a síntese de proteína no músculo esquelético após o período
embrionário, é o de regular negativamente a massa muscular
através de sua interação com o receptor ActIIb por sua junção
ativada com um propeptídeo [3-6]. Tem uma maior expressão
em músculo esquelético adulto e em desenvolvimento [7].
A miostatina, como outras proteínas da família TGF-, é
produzida e secretada por uma proteína precursora através do
processo proteolítico. A maioria da miostatina circulante em
soro é associada ao seu propeptídeo formando um pequeno
latente complexo [8]. Ela regula a massa muscular, agindo
diretamente nas células musculares, além de exercer efeitos
severos sobre a inibição da diferenciação de mioblastos dentro
dos miotubos e a regulação da sobrevivência das células [9].
Existem várias outras proteínas vinculadas a miostatina,
entre elas a folistatina, além de um fator de diferenciação do
crescimento associado a proteínas séricas (GASP-1) [10].
A via de miostatina, segundo Tobin e Celeste [11], regula
a massa muscular em inúmeros animais, desde peixes até seres
humanos. Pequenas expressões de miostatina foram encontradas nas células de Purkinje, nas glândulas mamárias, nos
cardiomiócitos e no tecido adiposo [9].
Segundo Wolfman et al. [12], a miostatina circula pelo
sangue juntamente de outras proteínas incluindo seu propeptídeo que mantém o terminal-C dímero em uma latente
de estado inativo. Esta latente forma de miostatina pode ser
ativada in vitro através de tratamento com ácido, porém, as
maneiras de se ativar a miostatina de maneira in vivo são
desconhecidas.
In vitro, a miostatina se torna inútil ao seu propeptídeo
após tratamento proteólico, produzindo um complexo biologicamente inativo que é impedido de se ligar as células
responsivas [10].
Para produzir um sinal in vivo, é necessário ativar a pequena latente complexa de miostatina através da remoção da
231
fração de propeptídeo. No caso dos TGF-, em que as formas
são pequenas análogas latentes complexas, a ativação pode
ocorrer através de métodos fisioquímicos e proteolíticos [8].
De acordo com Bogdanovich et al. [13], o aumento da
massa muscular devido a mutações na miostatina foram reportadas em bovinos, ratos e seres humanos. Segundo Schuelke
[2], o único caso de ser humano com mutação na miostatina
foi reportado em 2004.
Estudos com animais
Em estudos realizados por Zhu et al. [14] com ratos,
o grupo em que a miostatina foi bloqueada por completo
mostrou aumento no volume das fibras musculares. Não foi
observado aumento significativo no número de fibras musculares, sugerindo que o efeito hipertrófico da miostatina é
independente de seu efeito hiperplásico. Portanto, a função
da miostatina está envolvida mais com a hipertrofia do que
com a hiperplasia.
Outro estudo com ratos realizado por Bogdanovich et al.
[15] mostra que após três meses de injeções de anticorpos
bloqueadores de miostatina, os ratos incrementaram a massa
muscular, o peso corporal, o tamanho dos músculos e a força
muscular absoluta além de uma diminuição significativa na
degeneração muscular e as concentrações de creatina kinase.
Após o bloqueio da ação da miostatina em roedores, pôde
ser observado um grande incremento na massa muscular
através da desinibição das células musculares progenitoras não
havendo quaisquer efeitos colaterais deletérios [16].
Em estudo realizado por Lin et al. [17] também com ratos,
após o bloqueio da ação da miostatina, foi observado uma
diminuição no tecido adiposo e aumento muscular significativamente grande, sendo que, este aumento muscular está ligado
a redução na formação de gordura e, conseqüentemente, uma
queda na secreção de leptina.
Estudo conduzido por Tay et al. [18] com bovinos, em
que a miostatina teve perda de sua função, demonstrou que os
bovinos apresentaram um quadro de hiperplasia do músculo
esquelético mais conhecido como “double muscling”.
Girgenrath et al. [19] fizeram estudos com roedores, anulando a ação da miostatina, sendo que os dados constatados
foram de que a quantidade de fibras do tipo IIx de contração
rápida, podendo ser chamada também de fibra branca, era
maior do que as fibras do tipo I de contração lenta. Essas
diferenças na distribuição de fibras musculares foram acompanhadas pelas diferenças na expressão da miosina de cadeia
pesada na sua isoforma.
Durante estudo realizado por Taylor et al. [20] foi observado que devido à massa muscular representar o balanço entre
a replicação de células musculares, a síntese protéica, a quebra
de proteína muscular e a morte das células foi considerado a
possibilidade de a miostatina inibir o crescimento muscular
afetando um ou mais desses processos.
232
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
A relação com patologias
Conclusão
De acordo com Ma et al. [21], o incremento na concentração de miostatina está associada na perda de massa muscular
em homens com o vírus da AIDS. O aumento da miostatina
foi reportado também em animais experimentais que foram
expostos a um vôo espacial. Wehling et al. [4] também observaram uma grande perda de massa muscular em homens
HIV positivos ligados a miostatina.
O aumento na expressão de miostatina foi reportado em
modelos severos de atrofia muscular como imobilizações,
microgravidade e queimaduras em que os glicocorticóides
desempenham uma função importante [22].
A sua inibição ocorre em uma variedade de abordagens
terapêuticas que podem incrementar a massa muscular em
vários tipos de animais que possuem patologias humanas,
incluindo distrofia muscular [11].
A miostatina mostrou ter grande importância na limitação do crescimento muscular, porém, suas funções em
outros aspectos corporais como o coração, ainda está muito
obscura e necessita ser mais estudada. Ainda faltam muitas
respostas em relação ao ser humano quanto ao bloqueio e ao
mecanismo de funcionamento da miostatina, deve-se fazer
uma análise profunda para saber até onde é seguro bloqueá-la
e por que fazê-lo.
Outro fator preocupante é o uso de substâncias bloqueadoras de miostatina como droga para melhora no desempenho
e na estética de indivíduos cujo objetivo não seja o de auxiliar
no combate de patologias. Portanto, é de extrema importância
a realização de mais estudos seguros e confiáveis para que seja
feito o uso em seres humanos.
Mutações com seres humanos
Em 2004, uma mulher saudável, ex-atleta, deu a luz uma
criança após uma gravidez normal. A criança tinha uma
aparência extremamente forte, especialmente em suas coxas
e nas partes superiores dos braços. Foram realizados vários
exames para análise de tal acontecimento e, após as análises,
foi constatada uma inibição na miostatina, sugerindo assim,
fatores iguais, tanto para ratos, bovinos e seres humanos [9-2].
A mutação com o ser humano mostrou grande importância devido ao sucesso na anulação dos efeitos da miostatina,
sugerindo efeitos benéficos em quadros de patologia em seres
humanos sem efeitos colaterais deletérios, porém, ainda não
se sabe, se a função da miostatina está apenas na limitação
do crescimento do músculo esquelético, ou se também está
envolvida com o músculo cardíaco, os adipócitos e o cérebro.
Portanto, as intervenções terapêuticas sobre as funções da
miostatina podem acarretar efeitos colaterais, nestes, ou em
outros aspectos [1,6].
A manipulação da miostatina pode ser benéfica para aplicações na agricultura, nas doenças musculares como atrofia
ou distrofia muscular entre outras, porém, outro fator preocupante é o fato de ser utilizada como droga para aumento do
desempenho esportivo, já que existe um grande número de
modalidades esportivas em que o volume muscular é um fator
crucial, criando, assim, uma nova classe de doping [3,6,23].
A inibição da miostatina
A inibição da atividade da miostatina é um promissor
método terapêutico para restaurar a massa muscular e a força.
Potentes inibidores de miostatina incluindo a folistatina, a
miostatina propeptídeo, os anticorpos de miostatina, compostos químicos e receptores solúveis podem ser benéficos
para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento
de doenças musculares [24, 25].
Referências
1. Rodgers BD, Garikipati DK. Clinical, agricultural, and evolutionary biology of myostatin: A comparative review. Endocrine
Reviews 2008;29:513-34
2. Schuelke M, Wagner KR, Stolz LE, Hübner C, Riebel T, Kömen W et al. Myostatin mutation associated with gross muscle
hypertrophy in a child. N Engl J Med 2004;350: 2682-8.
3. Yamada AK. Hipertrofia do músculo esquelético: aspectos
fisiológicos, celulares e moleculares. 6ª Mostra Acadêmica
UNIMEP [online]. [citado 2009 Jun 13]. Disponível em URL:
http://www.unimep.br
4. Wehling M, Cai B, Tidball JG. Modulation of myostatin expression during modified muscle use. FASEB J 2000;14:103-10.
5. Lee SJ, McPherron AC. Regulation of myostatin activity and
muscle growth. Medical Sciences 2001;98:9306-11.
6. Artioli GG, Hirata RDC, Lancha Junior AH. Gene therapy,
genetic doping and sport: fundaments and implications for the
future. Rev Bras Med Esporte 2007;13:317-21.
7. Carlson CJ, Booth FW, Gordon SE. Skeletal muscle myostatin
m-RNA expression is fiber-type specific and increases during
hindlimb unloading. Am J Physiol 1999;277:601-6.
8. Hill JJ, Qiu Y, Hewick RM, Wolfman NM. Regulation of myostatin in vivo by growth and differentiation factor-associated
serum protein-1: A novel protein with protease inhibitor and
follistatin domains. Mol Endocrinol 2003;17:1144-54.
9. Ríos R, Fernández-Nocelos S, Carneiro I, Arce VM, Devesa J.
Differential response to exogenous and endogenous myostatin
in myoblasts suggests that myostatin acts as an autocrine factor
in vivo. Endocrinology 2004;145:2795-803.
10. Hill JJ, Davies MV, Pearson AA, Wang JH, Hewick RM, Wolfman NM et al. The myostatin propeptide and the follistatinrelated gene are inhibitory binding proteins of myostatin in
normal serum. J Biol Chem 2002;277: 40735-41.
11. Tobin JF, Celeste AJ. Myostatin, a negative regulator of muscle
mass: implications for muscle degenerative diseases. Curr Opin
Pharmacol 2005;5:328-32.
12. Wolfman NM, McPherron AC, Pappano WN, Davies MV,
Song K, Tomkinson KN et al. Activation of latent myostatin
by the BMP-1/tolloid family of metalloproteinases. Medical
Sciences 2003;100:15842-6.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
13. Bogdanovich S, Perkins KJ, Krag TOB, Whittemore LA,
Khurana TS. Myostatin propeptide-mediated amelioration of
dystrophic pathophysiology. FASEB J 2005;19:543-9.
14. Zhu X, Hadhazy M, Wehling M, Tidball JG, McNally EM.
Dominant negative myostatin produces hypertrophy without
hyperplasia in muscle. FEBS Lett 2000;474:71-5.
15. Bogdanovich S, Krag TOB, Barton ER, Morris LD, Whittemore
LA, Ahima RS et al. Functional improvement of dystrophic
muscle by myostatin blockade. Nature 2002;420: 418-21.
16. Wagner KR, Liu X, Chang X, Ellen RE. Muscle regeneration
in the prolonged absence of myostatin. Medical Sciences
2005;102:2519-24.
17. Lin J, Arnold HB, Della-Fera LA, Azain MJ, Hartzell DL,
Baile CA. Myostatin knockout in mice increases myogenesis
and decreases adipogenesis. Biochem Biophys Res Commun
2002;291:701-6.
18. Tay GK, Iaschi SPA, Bellinge RHS, Chong FN, Hui J. The
development of sequence-based-typing of myostatin (GDF-8)
to identify the double muscling phenotype in the goat. Small
Ruminant Res 2004;52:1-12.
19. Girgenrath S, Song K, Whittemore LA. Loss of myostatin expression alters fiber-type distribution and expression of myosin
20.
21.
22.
23.
24.
25.
233
heavy chain isoforms in slow and fast-type skeletal muscle.
Muscle & Nerve 2004;31:34-40.
Taylor WE, Bhasin S, Artaza J, Byhower F, Azam M, Willard
DH et al. Myostatin inhibits cell proliferation and protein synthesis in C²C¹² muscle cells. Am J Physiol Endocrinol Metab
2001;280:221-8.
Ma K, Mallidis C, Bahsin S, Mahabadi V, Artaza J, Cadavid
NG et al. Glucocorticoid-induced skeletal muscle atrophy is
associated with upregulation of myostatin gene expression. Am
J Physiol Endocrinol Metab 2003;285:363-71.
Gilson H, Schakman O, Combaret L, Lause P, Grobet L, Attaix D et al. Myostatin gene deletion prevents glucocorticoidinduced muscle atrophy. Endocrinology 2007;148:452-60.
Matsakas A, Diel P. The growth factor myostatin, a key regulator
in skeletal muscle growth and homeostasis. Int J Sports Med
2005;26:83-9.
Tsuchida K. The role of myostatin and bone morphogenetic proteins in muscular disorders. Expert Opin Biol Ther
2006;6:147-54.
Engvall E, Wewer UM. The new frontier in muscular dystrophy
research: booster genes. FASEB J 2003;17:1579-84.
234
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 4 - outubro/dezembro 2009
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.

Documentos relacionados

O efeito de um programa de exercício físico aeróbio combinado com

O efeito de um programa de exercício físico aeróbio combinado com El efecto de un programa de ejercício físico aeróbico combinado con los ejercicios de resistencia muscular localizada en la mejora de la circulacion sistemica y local. Estudio de un caso Introdució...

Leia mais

Fisiologia do Exercicio_2011

Fisiologia do Exercicio_2011 Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) ...

Leia mais

fisiologia - Faculdade Montenegro

fisiologia - Faculdade Montenegro Estudo sobre lesões em profissionais de ballet clássico e contemporâneo em Belo Horizonte/MG, Juliana Santos Anselmo, Adelina Lima Rocha, Elisangela Macedo Rufino, Jediane Souza Julio, Luciana Gobi...

Leia mais